Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL III
Profª Évelyn Cintra Araújo
2017
0
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
a) quanto ao procedimento: a execução pode ser comum, quando serve a uma generalidade de
créditos; ou especial, quando serve a alguns créditos específicos, como o alimentar (arts. 528 e 911),
contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910) e o fiscal (Lei nº 6.830/80).
A diferença é importante na medida em que o art. 780, CPC e a Súmula 27 do STJ permitem a
cumulação de execuções fundadas em títulos diferentes, desde que, é claro, se observe os requisitos
da cumulação previstos no §1º do art. 327, notadamente o inciso III, que exige a compatibilidade de
ritos. Sendo assim, apenas será possível a cumulação entre duas execuções contra o mesmo
executado se ambas forem comuns ou especiais da mesma natureza.
b) quanto ao título que se executa: pode ser execução fundada em título executivo judicial ou
execução fundada em título executivo extrajudicial. O procedimento varia de acordo com o título que
se pretende executar.
Se o título for judicial (art. 515), aplicam-se as regras do cumprimento da sentença (arts. 513
e ss), ou seja, a execução ocorre no mesmo processo donde originou o título, numa mera fase de
natureza executiva. Se, por outro lado, o título for extrajudicial (art. 784), a execução dar-se-á
mediante ação própria e processo autônomo, aplicando das regras previstas a partir do art. 829.
1
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Importante ressaltar que, quando o título judicial se formar sem prévio processo de
conhecimento, como no caso da sentença penal condenatória, da sentença arbitral e da decisão
homologatória de decisão estrangeira pelo STJ, não há que se falar em fase de cumprimento de
sentença, razão pela qual, nestes casos, tais títulos judiciais serão excepcionalmente executados por
meio de ação própria e processo autônomo. Todavia, esclarece-se ainda que, apesar de formalmente
a execução se dar por processo autônomo, adotam-se no seu curso as regras do cumprimento de
sentença (como o pedido de multa do art. 523, §1º etc).
Por conseguinte, segundo os incisos II e III, sobrevindo decisão que modifique ou anule a
sentença, total ou parcialmente, ficará sem efeito, nesta proporção, tal cumprimento, restituindo as
partes ao estado anterior1 e respondendo o exequente, objetivamente (inciso I), pelos prejuízos que o
executado venha a sofrer.
O cumprimento provisório da sentença será requerido pelo exequente mediante petição
escrita perante o juízo competente. E, não sendo eletrônicos os autos, tal petição deverá estar
acompanhada de cópia dos documentos previstos no art. 522, parágrafo único, cuja autenticidade
poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade. Tal exigência se justifica para
fins de formação de autos apartados, já que os autos principais subirão ao órgão ad quem para o
julgamento do recurso.
d) quanto ao tipo de providência executiva determinada pelo juiz (se depende ou não da participação
do devedor): a execução pode ser direta (ou execução por sub-rogação) ou indireta.
A execução direta ou por sub-rogação é aquela que o Judiciário dispensa a colaboração do
devedor para a efetivação da prestação devida, promovendo-a em seu lugar através da adoção de
medidas sub-rogatórias. É a execução típica das chamadas sentenças de conhecimento com efeito
executivo lato sensu. Ex: sentença de despejo. Ocorre comumente quando se condena o devedor à
prestação de uma obrigação de entregar coisa. Portanto, o regime de execução é o das chamadas
tutelas específicas das obrigações de entregar coisa (art. 498), que ocorre no bojo do próprio
processo de conhecimento (processo sincrético).
Já a execução indireta é aquela que, ao invés do Estado tomar as providências que deveriam
ser tomadas pelo devedor, ele o força, por meio de medidas coercitivas, a cumprir a prestação.
Portanto, há atuação do devedor no momento da efetivação da prestação mediante coerção indireta.
É a execução das sentenças mandamentais, que ocorre normalmente quando se condena o devedor à
prestação de uma obrigação de fazer/não fazer. Aqui também obedece ao regime de execução da
tutela específica, no entanto, tutela específica das obrigações de fazer ou não fazer (art. 497).
1
Nos termos do art. 520, §4º, tal restituição não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de
propriedade ou de outro direito real eventualmente realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos
causados ao executado.
3
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
1.3 PRINCÍPIOS
a) princípio da efetividade
Pelo princípio da efetividade, corolário do princípio maior do devido processo legal, o Estado-
juiz tem o dever de entregar uma tutela executiva que realmente satisfaça, de forma célere e
adequada, o direito reconhecido do autor. Portanto, não basta a entrega da tutela executiva;
necessário é a sua entrega efetiva.
Diante dessa inarredável realidade, que ora se impõe ao Poder Judiciário, é que se tema
ampliado os poderes do magistrado no sentido de poder promover, independentemente de
provocação, as medidas executivas adequadas ao caso concreto. Trata-se da consagração do
chamado poder geral de efetivação. Exemplos: tutela específica (arts. 497 c/c 536; e 537, NCPC).
b) princípio da atipicidade
Do princípio da efetividade, que atualmente tem concentrado nas mãos do juiz poderes
executivos, é que decorre o princípio da atipicidade dos meios executivos, no sentido de que, diante
do dever de entregar a tutela executiva mais justa, adequada e efetiva, poderá o magistrado valer-se
de outros meios executivos, que não necessariamente os tipificados em lei, que julgar necessários
para tal mister (§1º do art. 536).
A questão é se esse princípio encontra assento em todo e qualquer procedimento executivo,
inclusive aquele fundado em obrigação de dar quantia. Segundo uma parcela da doutrina (Cássio
Scarpinella Bueno, Marcelo Lima Guerra, entre outros), sim, é possível o juiz adotar quaisquer
medidas coercitivas, como multa p. ex., na execução por quantia certa para incrementar a medida
executiva típica dessa espécie executiva, que é a expropriação.
espontaneamente pelo devedor. Em último caso, não isso possível, deverá se converter o direito em
perdas e danos.
Essa é a orientação do art. 499, §1º: “a obrigação somente será convertida em perdas e
danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente”.
Nas execuções de dar quantia, o princípio se revela na faculdade dada ao credor entre
receber o dinheiro, produto da alienação dos bens penhorados, ou a imissão na posse destes
(adjudicação).
Todavia, face à humanização do direito, esse princípio tem sofrido mitigações quando se fala,
por exemplo, em impenhorabilidade de alguns bens do devedor; ou quando se aplica uma medida de
coerção indireta, forçando a pessoa do devedor a cumprir a obrigação com seu comportamento,
embora não se dá sobre o seu corpo, salvo no caso de prisão civil por dívida alimentar (art. 528, §5º,
NCPC)2.
f) princípio do contraditório
Segundo o art. 805, “quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz
mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”.
Algumas observações deverão ser feitas:
1ª) tal opção pressupõe que os diversos meios sejam igualmente eficazes (princípio da efetividade
deve ser respeitado).
Assim, se há dois bens, penhora deverá recair sobre aquele que gerar situação menos
gravosa (nesse contexto, se insere a questão das impenhorabilidades - bens necessários à
sobrevivência do devedor e de sua família; assim, o salário, as utilidades domésticas correspondentes
a um médio padrão de vida, os instrumentos necessários ou úteis ao exercício da profissão, o bem de
família).
2
Segundo Didier Jr., “conforme a orientação do STF, que ao julgar o RE n. 466.343-1, entendeu que nem mesmo para os
casos de depositário infiel é possível a utilização da prisão civil por dívida. Entendeu o STF que os tratados internacionais
ratificados no Brasil, que restringem a prisão civil por dívida à obrigação de alimentos, impedem que se admita a prisão
civil para o depositário infiel, mesmo com expressa autorização constitucional”.
6
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Esse princípio autoriza ainda a observância do art. 848, NCPC, podendo o exequente
requerer a substituição do bem penhorado por dinheiro, pois que não há outro meio mais eficaz de
satisfazer seu crédito, ainda que mais gravoso para o executado. Aliás, o NCPC estabeleceu, em seu
art. 835, §1º, a prioridade da penhora em dinheiro, só podendo o juiz alterar a ordem dos demais
bens ali previstos.
Todavia, não autoriza parcelamento de dívidas, abatimento de juros ou correção monetária.
O único parcelamento possível será o judicial previsto no art. 916, NCPC.
2ª) visa, num primeiro momento, impedir a execução abusiva (princípio da boa-fé), e, depois, o
executado;
4ª) o juiz pode aplicá-lo de oficio, ou seja, se o credor optar pelo meio mais gravoso, poderá o juiz
determinar que a execução se faça pelo meio menos oneroso (art. 836 – não efetivação da penhora
de bens se o valor for absorvido totalmente pelas custas).
No entanto, quedando-se inerte o juiz e o executado, no primeiro momento que lhe couber
falar nos autos, não se pronunciar acerca dessa onerosidade excessiva, haverá preclusão.
h) princípio da proporcionalidade
É manejada quando houver colisão entre os demais princípios, adotando a solução mais
razoável, adequada e proporcional. É muito comum o choque entre a dignidade da pessoa humana do
executado, que lhe garante a impenhorabilidade de alguns bens, e a efetividade da execução. Outro
caso é o choque entre o princípio da segurança e o da atipicidade dos meios executivos etc.
Exemplos:
1) aplicação do art. 805 – o juiz deverá dar a máxima proporcionalidade nesse caso;
2) art. 835 (exceto o dinheiro, que é prioridade, a ordem de nomeação de bens é relativa, sopesando
os princípios da efetividade, a favor do exequente, e o da dignidade da pessoa humana, a favor do
executado);
7
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
i) princípio da adequação – deve-se aplicar o meio executivo mais adequado para obter uma
satisfação mais justa e efetiva. Ex: a prisão civil é meio mais adequado para obter a satisfação do
crédito alimentar, pois, pela urgência deste, requer uma medida mais enérgica. O regime de
precatório nas execuções contra a Fazenda Pública é manifestação da adequação subjetiva. O
contraditório eventual é manifestação da adequação teleológica (o procedimento executivo serve
para obter cumprimento da obrigação devida, e não a discussões típicas do processo de
conhecimento).
k) princípio do desfecho único - segundo o qual a ação executiva se desenvolve com o único objetivo
de satisfazer o direito do exequente, não sendo sede adequada para se discutir mérito, o que deverá
ser objeto de ação autônoma.
Para fins de formação do processo executivo, aplica-se, via de regra, o determinado no art.
2º, segundo o qual “o processo começa com a iniciativa da parte, mas se desenvolve pelo impulso do
juiz”.
8
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Iniciada pela parte, mediante o exercício da ação de execução, surge a chamada demanda
executiva, que se materializa através da petição inicial.
Vale lembrar que a petição inicial, como peça vestibular do processo executivo autônomo, só
tem existência em execução de títulos extrajudiciais e, excepcionalmente, de títulos judiciais (art.
515).
Quanto à satisfação ou execução de direitos reconhecidos em títulos judiciais fundados em
obrigação de dar quantia (que não se enquadram nas exceções retro mencionadas), basta o credor
inaugurar a fase do cumprimento de sentença por mera petição simples (requerimento).
Todavia, num ou noutro caso, os requisitos dos arts. 319 e 320 deverão ser observados,
guardadas as devidas peculiaridades de cada procedimento.
Obs:. Quando o título judicial for sentença penal condenatória, estrangeira ou arbitral, e
acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo, o processo autônomo de execução correrá perante o
juízo cível competente (art. 516, III).
9
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
POR OUTRO LADO, se a execução for fundada em título extrajudicial, nos termos do art. 781
do NCPC, é competente para o processo autônomo de execução:
1) foro do domicílio do executado; ou de eleição, se houver no título; ou da situação dos bens;
2) se o executado tiver mais de um domicílio, em qualquer um deles;
3) sendo desconhecido ou incerto o domicílio do executado, no lugar onde for encontrado ou do
foro do domicílio do exequente;
4) havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, no foro de qualquer deles;
5) foro do lugar do ato ou do fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o
executado.
A legitimidade ativa tem previsão legal no artigo 778 do NCPC. Nos termos do caput do
referido artigo, a legitimidade ativa é do credor a quem a lei confere o título executivo.
Também pode promover a execução, conforme o inciso I, o Ministério Público, nos casos
previstos em lei. Ou seja, o MP detém legitimidade para a execução, seja quando atuou no processo
de conhecimento como parte (em legitimidade ordinária – sentença condenatória contra o próprio
MP; ou em legitimidade extraordinária) ou como fiscal da ordem jurídica, quando então dependerá
de previsão legal (Ex: art. 100 do CDC).
Já o §1º do art. 778 elenca pessoas às quais é atribuída legitimidade ativa para promover ou
prosseguir na execução, em sucessão ao exequente originário (o qual independe do consentimento
do executado). São pessoas que não participaram da formação do título, mas que tornaram
sucessoras do credor, por ato inter vivos ou causa mortis.
Dessa forma, podem ser legitimados o espólio (quando os bens não foram partilhados); os
herdeiros e sucessores (quando os bens já foram partilhados)3; bem como o cessionário na cessão de
crédito (art. 286 a 298, CC) e o sub-rogado (art. 346 a 351, CC).
3
Se a morte do credor ocorrer após a promoção da execução, a sucessão no pólo ativo obedecerá o disposto no art. 110,
NCPC. Se a cessão for feita após a citação no processo de execução por título extrajudicial, não há necessidade de
obedecer ao disposto no art. 42, §1º, CPC, conforme STF (RE 97.461-0-AgRg-RJ).
10
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Segundo o artigo 779, NCPC, via de regra, a legitimidade recai sobre o devedor, reconhecido
como tal no título.
Mas poderá recair também sobre o espólio, herdeiros ou sucessores do devedor (em caso de
sua morte); sobre novo devedor, com o consentimento do credor (em caso de assunção da dívida do
arts. 299 a 303 do Cód. Civil); sobre o fiador do débito constante no título extrajudicial (que poderá
pagar a dívida, quando então ocorrerá sub-rogação e passará a ser novo credor do devedor); sobre
o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; e sobre o
responsável tributário.
É possível ao exequente fazer cumulação subjetiva, ou seja, promover a execução contra um
ou mais legitimados passivos (Ex: contra o devedor e o fiador, ao mesmo tempo), formando um
litisconsórcio passivo. A recíproca é verdadeira: poderá dois ou mais exequentes executarem o
mesmo e único devedor na parte que cabe a cada um ou a totalidade da dívida se solidários.
Entretanto, o que diverge a doutrina é quanto à possibilidade de litisconsórcio passivo
necessário na execução, aceitando-a em hipóteses restritíssimas (cônjuges casados em regime de
comunhão parcial ou total de bens etc).
Protesto pela preferência: credor com título legal de preferência pode intervir na execução e
protestar pelo recebimento do crédito de acordo com a preferência (art. 908, NCPC);
11
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Concurso especial de credores: ocorre quando várias penhoras recaírem sobre o mesmo bem.
Exercício do benefício de ordem pelo fiador: fiador pode exigir benefício de ordem, caso seja
ele o demandado.
É necessária a indicação de dois fatos jurídicos: a existência de título executivo líquido, certo
e exigível; e o inadimplemento do devedor.
a) Atributos do título
a.1) Certeza
A certeza do crédito diz respeito a não controvérsia quanto à sua existência. Isso ocorre
quando o título estiver formalmente perfeito, posto que atendidos todos os requisitos formais para a
sua constituição.
a.2) Liquidez
A liquidez do título diz respeito à determinação exata de seu valor. Os títulos extrajudiciais
deverão ser sempre líquidos. Por sua vez, os títulos judiciais poderão ser líquidos ou ilíquidos.
Quando ilíquidos, ou seja, quando não se sabe o quanto se deve, o valor deverá ser apurado
num procedimento intermediário entre a fase cognitiva e executiva4. Tal procedimento denomina-se
liquidação de sentença, previsto nos arts. 509 ao 512, do NCPC.
De acordo com o art. 509, há apenas duas espécies de liquidação:
4
Quando a sentença for penal condenatória, arbitral, estrangeira e acórdão do Tribunal Marítimo, a liquidação far-se-á
mediante processo autônomo, instaurado depois do processo de conhecimento e antes do processo de execução. Isso porque
em tais casos não houve processo de conhecimento prévio para que justificasse uma fase de liquidação, devendo esta ser
feita mediante a instauração de processo novo, que pressupõe exercício do direito de ação e citação do réu.
12
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
I - por arbitramento: ou seja, aquela que a apuração do valor de uma coisa, serviço ou prejuízo
depender de avaliação de quem tem conhecimento técnico, ou seja, de perícia. Ela é determinada
pelo juiz na sentença, convencionada pelas partes ou exigida pela natureza do objeto da liquidação;
II - pelo procedimento comum (antiga liquidação por artigos): quando a apuração depender de
alegação e prova de fato novo, conhecido e suscitado tão somente após a prolação da sentença (não
se rediscute a lide, tampouco se modifica a sentença - §4º, art. 509).
Proferida a sentença ilíquida, o credor ou o devedor poderá requerer a sua liquidação.
No caso da liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para apresentar pareceres
ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito,
observando, no que couber, o procedimento da prova pericial (art. 510 c/c arts. 464 a 480, NCPC).
Já na liquidação pelo procedimento comum, o juiz intimará o requerido, na pessoa de seu
advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, no prazo de 15 dias, oferecer
contestação, observando o procedimento comum do NCPC.
Vale lembrar que, tanto num quanto noutro caso, a liquidação poderá ser realizada na
pendência de recurso5, processando-se em autos apartados no juízo de origem, devendo, por
consequência, o liquidante promover a cópia das peças processuais para tanto.
Por fim, esclareça-se que, quando a apuração do valor depender apenas de cálculo
aritmético, reputa-se a sentença líquida (art. 786, parágrafo único, NCPC), podendo o credor
promover, desde logo, o cumprimento de sentença, porém instruindo o pedido com memória
discriminada e atualizada do cálculo (art. 524, NCPC).
Se o juiz perceber que há erros no cálculo, ou seja, que o valor aparentemente excede aos
limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base o
valor encontrado pelo contador judicial, nomeado pelo juiz (§§ 1º e 2º, art. 524),
Se a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do
executado, o juiz poderá executá-los, sob pena de crime de desobediência e de se reputar corretos os
cálculos do exequente (§§3º, 4º e 5º, art. 524).
5
Ainda que recebido no efeito suspensivo, pois o art. 512 do NCPC não faz tal distinção. Vide: TJ-SP - Agravo de
Instrumento AI 2359431720118260000 SP 0235943-17.2011.8.26.0000 (TJ-SP)
13
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
a.3) Exigibilidade
Por fim, a exigibilidade diz respeito ao direito à prestação do titular do crédito e que o dever
de cumprir essa prestação deve ser atual (dívida vencida).
b) Espécies de títulos
Somente a lei pode criar um título executivo ou integrá-lo ao rol de títulos executivos
(princípio da taxatividade e da tipicidade dos títulos executivos). Dessa forma, os títulos executivos
judiciais e extrajudiciais estão previstos no NCPC, respectivamente, nos arts. 515 e 784.
Dessa forma, são considerados títulos executivos judiciais nos termos do art. 515, NCPC:
14
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
(STJ, AgRg no REsp 1446433/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/05/2014, DJe 09/06/2014)
JURISPRUDÊNCIA CONTRA:
PROCESSUAL CIVIL. MULTAS DE TRÂNSITO. AÇÃO DESCONSTITUTIVA.
RECUPERAÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE MULTA. TÍTULO EXECUTIVO E
COISA JULGADA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA DE SENTENÇA EMINENTEMENTE
DESCONSTITUTIVA.
1. Hipótese em que a decisão monocrática deu provimento ao Recurso Especial a
fim de reformar o acórdão, que consignou: "considerando que a parte agravante,
em sua ação de conhecimento, não postulou a devolução de qualquer valor, mas
apenas a anulação da penalidade aplicada, não pode vir em sede de liquidação de
sentença, invocar questão que não foi objeto de pedido".
2. A demanda ajuizada questiona a sanção como um todo e busca sua
desconstituição. Sem adentrar vetustos debates sobre cargas de eficácia de
decisões, a desconstituição da multa aplicada pressupõe a declaração de sua
insubsistência por violação do devido processo legal. A alteração concreta produzida
pela eficácia constitutiva negativa não esgota os efeitos do repúdio à sanção
aplicada. O iter de rejeição à imposição estatal termina com a recuperação dos
valores, corolário inquestionável da declaração de inexistência da multa, ainda que
por motivos formais.
3. Decorrência disso é a alteração do CPC, que previu como título executivo não
mais a sentença exclusivamente condenatória, e sim aquela que "reconheça a
existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia" (art.
475-N, I, do CPC), possibilitando a execução de sentenças formalmente
declaratórias. Nessas situações, "não há razão alguma, lógica ou jurídica, para
submeter tal sentença, antes da sua execução, a um segundo juízo de certificação,
cujo resultado seria necessariamente o mesmo, sob pena de ofensa à coisa
julgada" (REsp 1300213/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe
18.4.2012).
4. Tal posição reforça o entendimento de que o "pagamento de multa de infração de
trânsito não exprime convalidação de vício, porquanto se julga da improcedente a
penalidade imposta, será devolvida, a importância paga, atualizada em UFIR, ou por
índice legal de correção dos débitos fiscais, conforme o art. 286, § 2º, do Código de
Trânsito Brasileiro".
5. Agravo Regimental não provido.
(STJ, AgRg no REsp 1018250/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 25/09/2014)
15
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
16
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
VIII e IX - sentença estrangeira homologada pelo STJ e a decisão interlocutória estrangeira, após a
concessão do exequatur à carta rogatória pelo STJ
Por se tratarem de atos de império de outro país soberano, as decisões judiciais estrangeiras
só terão validade e eficácia no território nacional após submeterem ao procedimento de
homologação perante o STJ, se sentenças, ou da concessão do exequatur (“cumpra-se”), também pelo
STJ, à carta rogatória do juízo estrangeiro, se decisões interlocutórias (arts. 960 ao 965 do NCPC).
Em ambos os casos, após a homologação da sentença ou após a concessão do exequatur à
carga rogatória quanto à decisão interlocutória, a respectiva execução far-se-á perante a Justiça
Federal (art. 109, X, CF)
IMPORTANTE: Títulos executivos extrajudiciais celebrados no estrangeiro não necessitam de
homologação no Brasil para terem eficácia executiva (§§2º e 3º do art. 784, NCPC).
I - títulos de crédito: são os mais conhecidos dentre os títulos extrajudiciais. São eles: cheque6, nota
promissória, debênture, letra de câmbio e duplicata.
Não há necessidade de protesto, salvo se desejar executar os responsáveis indiretos que não
o emitente-devedor (como os endossantes e os avalistas dos endossantes).
6
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O CHEQUE:
a) apesar de o cheque ser legalmente considerado ordem de pagamento à vista, a Súmula 370 do STJ entende que
importa em dano moral a apresentação antecipada de cheque pós-datado;
b) por outro lado, o prazo prescricional do cheque, que é de 6 meses, período em que o mesmo terá força executiva, é
contado a partir do fim do prazo para a sua apresentação ao sacado (banco), que, por sua vez, contar-se-á em 30 dias, se
cheque da mesma praça, ou em 60 dias, se de praça distinta, a partir da emissão (e não do pós-datamento). Passados os 6
meses + 30 dias, ou os 6 meses + 60 dias, o cheque deixa de ser um título executivo, não podendo mais ser executado,
ocasião em que a força executiva deverá ser resgatada pela ação monitória, que é uma ação de conhecimento de rito
especial (arts. 700 e ss, NCPC).
c) quanto aos demais títulos, os prazos prescricionais são variáveis, a depender do executado (3 anos do vencimento do
título, se o executado for o emitente ou o avalista; 1 ano do protesto, se o executado for endossante ou avalista de
endossante; ou 6 meses da data em que pagou a dívida ou em que foi demandado a pagar, para o co-responsável regredir
contra os demais).
17
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Por outro lado, em razão do princípio da circularidade dos títulos de crédito, é obrigatória a
instrução da inicial com o título original7, não se admitindo a instrução da petição com fotocópias,
ainda que autenticadas, sob pena de nulidade da execução.
Tal exigência se justifica pois, em virtude da possibilidade da alta circulação dos títulos de
crédito por meio de endosso, evita-se a circulação irregular e a multiplicidade de ações fundadas no
mesmo título. Assim, a jurisprudência tem admitido, excepcionalmente, a instrução com cópia
autenticada do título, apenas quando este não for cambial (STJ, AgRg nos EDcl no Ag 183.404/SP, 4ª
T., j. 09.09.2003, rel. Min. Barros Monteiro).
7
Em se tratando de processos digitais, a Lei 11.419/06 regula o tratamento do documento original, corroborado no art.
425, §2º, NCPC.
18
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
IV- o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado
por tribunal;
Dispensam-se testemunhas, pois há o reconhecimento da idoneidade desses sujeitos em
atestar o acordo de dívida ou da obrigação entre as partes sem vício. Exemplo clássico são os TAC’s
(termos de ajustamento de conduta) perante o MP.
Segundo Daniel Amorim Neves (2016, p. 1.446), há divergência doutrinária a respeito da
homologação realizada perante os “advogados dos transatores”, “sendo mais adequado não
interpretar literalmente o dispositivo (no plural), admitindo-se ser a homologação realizada perante
um só advogado constituído por ambas as partes.”
Se porventura, o ato depender de homologação judicial, o título será considerado judicial,
nos termos do art. 515, II, do NCPC. Dessa forma, conclui-se que, no caso da atuação do conciliador
ou do mediador, nesse caso, para se considerar a sua homologação um título extrajudicial, é
necessário que seja fora do juízo.
V - contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele
garantido por caução.
Tratam-se todos de direitos reais de garantia, sendo a hipoteca a garantia dada por meio de
bem imóvel; o penhor, por bens móveis. Já a anticrese é instituto de direito real em que o credor
retém imóvel do devedor percebendo seus frutos até o pagamento total do crédito. Já a caução pode
ser real (quando se confunde com a hipoteca, penhor e anticrese em alguns casos), ou fidejussória
(quando houver fiança).
Vale lembrar que esses contratos de garantia podem ser celebrados por terceiros, não
devedores, que a partir de então passam a ter responsabilidade patrimonial. Dessa forma, o
exequente poderá executar exclusivamente o devedor, ou apenas o garante, ou ambos, em
litisconsórcio passivo facultativo.
19
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
resultar morte. Assim, nestes últimos casos, o recebimento do crédito (prêmio) dependerá de prévio
processo de conhecimento.
Todavia, entende de modo diverso Daniel Amorim Neves (2016, p. 1.447), para quem: “o
contrato de seguro de acidentes pessoais do qual resulte morte possa ser compreendido como título
executivo, porque nesse caso não existem as dificuldades referentes à prova da existência e extensão
da incapacidade, motivo que aparentemente retirou o contrato de seguro de acidentes pessoais do
rol dos títulos executivos.”
20
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Por fim, não se pode deixar de notar que o NCPC sutilmente acrescentou na redação deste
inciso a exigência do evento morte. Há quem afirme que o objetivo do legislador foi o de excluir
definitivamente os contratos de seguro de acidentes pessoais que resulte morte do rol dos títulos
extrajudiciais; e outros que já defendem que não passou de uma condição de exigibilidade da
obrigação.
21
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Por fim, nota-se que a respectiva certidão diz respeito apenas a obrigações de pagar, não
podendo ser inscritas em dívida ativa as demais obrigações. Neste caso, caberá ao ente público ajuizar
prévio processo de conhecimento para a formação de título judicial, ou processo de execução se
tratar de outro título extrajudicial.
XII - todos os demais títulos, aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.
O rol do art. 784 é meramente exemplificativo e várias leis especiais criam títulos
extrajudiciais:
22
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Observação final: o credor por título executivo extrajudicial pode ajuizar ação de conhecimento, a fim
de obter título executivo judicial (STJ e art. 785 NCPC).
23
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Além da existência do título, também deve ser apontado pelo exequente o inadimplemento,
que ocorre sempre que o devedor deixa de satisfazer a obrigação certa, líquida e exigível (art. 786,
NCPC).
Para que haja inadimplemento é necessário que eventuais termos, condições ou encargos
estejam satisfeitos, se existirem (art. 514, NCPC), bem como cumpridos todos os deveres recíprocos
pela parte (art. 787, NCPC). Para tanto, deverá o credor provar que cumpriu com sua parte do
contrato (art. 798, I, d – trata-se da aplicação da exceção do contrato não cumprido – exceptio non
adimpleti contractus).
IV – pedido
O pedido imediato é a indicação do tipo de execução que deseja quando por mais de um
modo puder ser efetuada (art. 798, II, NCPC). Ex: na ação de alimentos é possível satisfazer o crédito
por várias técnicas: prisão civil, expropriação ou desconto em folha de pagamento.
O pedido mediato é o bem da vida que se deseja a satisfação. Ex: indicação do valor do
crédito devido.
Quando o pedido mediato for de prestações sucessivas (art. 323, NCPC), as prestações vão
se somando à medida que forem vencendo, incluindo-as no pedido independentemente de
declaração expressa do autor. Muitas vezes, nesses casos, mister se faz complementar a penhora. A
cada constrição de bens deve-se abrir prazo para o devedor se manifestar.
Quando se tratar de pedido decorrente de obrigação alternativa e a escolha couber ao
credor, este a indicará na petição inicial (§1º do art. 800, NCPC). Se couber ao devedor, este deverá,
em até 10 dias após a citação, exercer a opção e realizar a prestação (art. 800, caput).
V - valor da causa: esse requisito não é necessário para a petição simples da fase de cumprimento de
sentença.
24
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
VI - indicação das provas: restringe-se à prova documental. De acordo com o art. 798, I, NCPC, ao
propor a execução, incumbe ao exequente instruir a petição inicial com:
- o título executivo extrajudicial (para grande parcela da doutrina, a ausência da juntada do título
executivo na petição inicial trata-se de falta de interesse de agir. Mas há quem diga se trata de falta
de pressuposto processual específico. De todo modo, leva à nulidade da execução, pois nulla executio
sine titulo);
- o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura (conteúdo – parágrafo único, art.
798);
- a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;
- da prova, se for o caso (obrigações sinalagmáticas) do adimplemento da contraprestação pelo
credor.
2) intimações: o artigo 799 do NCPC determina que o exequente deverá requerer a intimação de
algumas pessoas, tais como:
- do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens
gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária, sob pena de ineficácia da alienação
judicial (art. 804, NCPC);
- do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto,
uso ou habitação;
- do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa
de compra e venda registrada;
25
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
3) medidas urgentes: o exequente pode, ainda, requerer medidas cautelares (art. 799, VIII, NCPC).
26
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
I - os bens inalienáveis (por lei ou por ato voluntário): não se justifica admitir a penhora de bens que
não podem ser alienados, pois tal ato constritivo precede à alienação judicial na execução. Ex: bens
públicos e bens doados ou alienados com cláusula de inalienabilidade.
II - móveis, pertences e utilidades domésticas: desde que não sejam valor elevado ou que
correspondam a um “padrão médio de vida”. A questão, na prática, é tormentosa, mas a
jurisprudência atual tende a incluir entre os bens impenhoráveis aqueles que, apesar de não serem
imprescindíveis ao funcionamento da residência, mostram-se necessários ao lazer do executado
(aplicação do art. 6º da CF/88, que garante o lazer como direito social do cidadão). Há ainda muita
discussão a respeito de determinados bens, como freezer, lava-louças, secadora de roupas, DVD etc,
27
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
propondo, então, a doutrina a consideração de uma “média nacional de conforto”, baseada em dados
do IBGE, como critério objetivo para aferição da impenhorabilidade de bens móveis residenciais.
III - vestuários e pertences pessoais: desde que também não sejam de elevado valor, ou que garantam
a mínima dignidade do executado. Seriam, portanto, facilmente penhoráveis roupas para o extremo
frio, normalmente destinadas para viagem em lugares de temperaturas muito baixas; ou roupas e
acessórios de luxo etc. Não se pode esquecer também que certos acessórios são de elevado valor,
mas ainda sim são impenhoráveis por ter valor sentimental, como a aliança de núpcias. Portanto, o
juiz deverá analisar caso a caso sob as balizas da razoabilidade.
8
Informativo 409/STJ, 3.ª Turma, REsp 1.059.781/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01.10.2009; Informativo 435/STJ,
3.ª Turma, REsp 1.150.738/MG, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.05.2010
28
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
9
sustento e de sua família ;
- saldo de salário quando do recebimento do próximo salário – muito polêmico ainda10;
- penhora de até 30% das verbas salariais, em analogia ao percentual máximo permitido para
empréstimo consignado feito perante instituições financeiras11.
V - bens necessários ou úteis ao exercício profissional: aplica-se apenas às pessoas físicas12, entre as
quais se insere, de acordo com o §3º do art. 833, o produtor rural. O maior problema deste inciso é
que se considera impenhoráveis não só bens necessários como também os úteis ao exercício da
atividade laborativa, ou seja, aqueles que ajudam, mas que, sem eles, o trabalho seria executado da
mesma forma. Isso tem gerado interpretações demasiadamente extensivas.
VII – materiais necessários para as obras em andamento: salvo se a própria obra for objeto de
penhora, ou as dívidas relativas ao próprio bem, inclusive para a sua aquisição (§1º do art. 833).
VIII – pequena propriedade rural trabalhada pela família: existem 2 definições legais para o caso, uma
pela Lei nº Lei 8.629/1993 (pequena propr. Rural = 1 a 4 módulos fiscais), e outra pela Lei nº
4.504/196 (propriedade familiar = imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo
agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e
o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e
eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros). Segundo o STJ, aplica-se a 2ª definição para fins
de impenhorabilidade.
9
Informativo 553/STJ, 2ª Turma, REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, j. 25.11.2014, DJe 5.12.2014
10
a favor: Informativo 554/STJ, 2ª Seção, EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10.12.2014, DJe
19.12.2014; STJ, 3.ª Turma, REsp 1.330.567/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16.05.2013, DJe 27.05.2013; STJ, 2.ª Seção,
REsp 1.230.060/PR, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13.08.2014, DJe 29.08.2014; contra: STJ, 1.ª Turma, REsp
1.164.037/RS, rel. Min. Sérgio Kukina, rel. p/ acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20.02.2014, DJe 09.05.2014
11
STJ, 4.ª Turma, EDcl no REsp 1.284.388/MT, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24.04.2014, DJe 30.04.2014.
Enunciado 59/FONAJE: “Admite-se o pagamento do débito por meio de desconto em folha de pagamento, após
anuência expressa do devedor e em percentual que reconheça não afetar sua subsistência e a de sua família, atendendo
sua comodidade e conveniência pessoal”.
12
Segundo o STJ, às microempresas e empresas de pequeno porte também, quando a atividade destas confundir com a do
sócio.
29
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
XII - créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária,
vinculados à execução da obra: busca proteger o direito dos consumidores que adquirem imóveis
pelo regime de incorporação imobiliária, pois, “eventual penhora desse crédito levaria a
interrupção da obra ou a inviabilidade de sua regularização, em detrimento dos interesses dos
consumidores adquirentes que em nada contribuíram para a dívida exequenda da
incorporadora” (DANIEL AMORIM, p. 2016, p. 1.475).
13
STJ, 2.ª Seção, REsp 1.230.060/PR, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13.08.2014, DJe 29.08.2014.
14
Nos termos da Súmula 449, a vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem
de família para efeito de penhora.
30
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
ATENÇÃO/Observações importantes:
1ª) o inciso I do art. 3º da Lei nº 8.009, que trazia a exceção à impenhorabilidade do bem de família
para execução de crédito de trabalhador do próprio lar (doméstico), foi REVOGADO pela Lei
complementar nº 150/15, tornando, agora, impenhorável.
2ª) o STJ entende que o bem de família é impenhorável independentemente do seu valor. Por outro
lado, já decidiu também que imóvel desocupado pode ser penhorado, ainda que seja o único do
devedor.
Sabe-se que as obrigações, que estão lastreadas pelo patrimônio do devedor, possuem dois
elementos: um de natureza material e estática, que é o débito (no direito alemão, schuld); e outro de
ordem processual e dinâmico, a responsabilidade (haftung).
31
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Normalmente, os dois elementos se conjugam, ou seja, quem deve, responde com seu
patrimônio pela dívida.
Mas nem sempre isso ocorre.
É possível que haja dívida, mas não a responsabilidade (Ex: dívida prescrita e dívida de jogo).
A recíproca também é verdadeira: não haja dívida, porém alguém ser responsável por ela.
Exemplo: sócio é responsável pela dívida da sociedade nos casos previstos em lei (art. 795, NCPC); o
fiador é subsidiariamente responsável pela dívida do devedor afiançado (art. 794 – benefício de
ordem; sub-rogação do credor original se pagar a dívida); espólio ou sucessores são responsáveis
pelas dívidas do de cujus no limite das forças da herança e na proporção da parte que lhe couber (art.
796, NCPC c/c arts. 1792 e 1821, Cód. Civil).
SITUAÇÃO DIFERENTE é aquela em que um terceiro que não é responsável pela dívida, mas,
ainda assim, sofre a penhora de um bem que adquiriu (ou que esteja em sua posse) do devedor que
está sendo executado. Esse terceiro não é parte, e tal penhora é injusta, podendo se opor através dos
chamados embargos de terceiro, salvo se enquadrar numa das exceções do art. 790, NCPC.
Portanto, há responsabilidade patrimonial de terceiro, sendo seus bens atingidos pela
execução APENAS nos casos expressos do art. 790, que diz: “são sujeitos à execução os bens (....)
Cuidado para não confundir com a semelhante hipótese prevista no art. 792, I, que trata da
ineficácia de negócio jurídico feito em fraude à execução. Ali, o legislador refere-se à transferência de
bem, também objeto de ação real ou reipersecutória, mas por ato inter vivos e, portanto,
fraudulenta.
Neste caso, tal negócio é fraudulento e ineficaz, podendo o exequente fazer a execução
recair sobre o bem que está na posse ou propriedade do terceiro-adquirente, que nada poderá fazer,
não cabendo sequer a oposição de embargos de terceiro.
De toda sorte, fato é que a transferência do bem, seja por causa mortis ou por ato inter vivos,
não impede a prática de atos executivos em favor do credor. Ratifica tal entendimento o
processualista e então ministro do STF, Teori Albino Zavascki (apud DIDIER JR, 2010, p. 263, v. 5): “A
transferência, mortis causa ou por ato inter vivos, de bem objeto de ação real, não inibe a atividade
executiva em favor do credor”.
15
“Tem entendido a doutrina e a jurisprudência que se faz necessária a participação do sócio no processo de execução,
assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa, mediante embargos à execução, para que o juiz possa
desconsiderar a personalidade jurídica e alcançar os bens dos sócios, até então terceiros” (DANIEL AMORIM, 2016, p.
1.479).
33
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
IV – do cônjuge ou companheiro, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua
meação respondem pela dívida.
Esse inciso deve ser interpretação à luz do art. 73, §1º, III do NCPC, segundo o qual “ambos
os cônjuges serão necessariamente citados para a ação fundada em dívida contraída por um dos
cônjuges a bem da família.”, corroborada na lei civil material, nos arts. 1.643 e 1.644, que trata da
solidariedade entre os cônjuges pela dívida contraída por um deles para compra de coisas necessárias
à economia doméstica ou de empréstimos para a aquisição de tais coisas.
Assim, há uma presunção de que as dívidas, contraídas por um cônjuge que beneficie a
ambos, devem ser respondidas pelos bens particulares dos dois, independentemente do regime de
bens em que são casados.
Registre-se que tal presunção é relativa, o que significa dizer que é possível a prova em
contrário por um dos cônjuges ou companheiro de que não foi beneficiado e que, portanto, não é
responsável. Isso pode ser feito mediante embargos de terceiro, se seu interesse seja tão somente se
livrar da penhora injusta sobre bem imóvel (art. 842 c/c art. 674, §2º, NCPC), da qual será
obrigatoriamente intimado, salvo se o regime for de separação absoluta de bens; ou mediante
embargos à execução, caso tenha a intenção de discutir o débito ou alegar a nulidade da execução16.
Caso o bem imóvel penhorado seja indivisível, o art. 843 do NCPC entende que o bem deverá
ser alienado inteiramente, pelo preço da avaliação, no mínimo, e depois entregue a quota-parte ao
cônjuge alheio à execução.
16
É pacífica a doutrina e jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça quanto ao entendimento de que o cônjuge ou
companheiro não devedor tem legitimidade para os embargos à execução e embargos de terceiro, o que parece confirmar
o entendimento de condição simultânea de parte e terceiro desse sujeito (Súmula 134, STJ).
34
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
- quando pender ação real ou reipersecutória (desde que tenha sido averbada no respectivo registro
público) => para título executivo judicial.
- quando pender processo de execução (desde também tenha sido averbada no registro dos bens
penhoráveis – art. 828) => em caso de execução de título extrajudicial.
- quando pender hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial no processo onde foi (desde
que averbada no registro do bem hipotecado ou constritado)
- quando pender ação capaz de reduzir o devedor à insolvência
- nos casos previstos em lei
Para a configuração da fraude à execução é necessária a comprovação apenas do elemento
objetivo (eventus damni), consistente no dano causado ao credor-exequente pela alienação ou
oneração do bem objeto de penhora (apesar de que nas 3 primeiras hipóteses, não há necessidade de
provar tal dano, apenas na 4ª – redução à insolvência). Exemplo: se o devedor deve 50 mil, mas tem
um patrimônio de 500 mil, só haverá dano ao credor-exequente se ele alienar mais que 450 mil dos
seus bens.
Em contrapartida, os elementos subjetivos (scientia e consilium fraudis) não precisam ser
provados, sendo presumidos, pois a alienação de bens, responsáveis pela dívida, na pendência de
ação judicial que a discute, pressupõe a ciência de fraude do devedor e o conluio fraudulento entre
este e o terceiro adquirente.
O STJ estabelece o momento em que tais presunções ocorrem. Assim, para tal Corte
presume-se:
- a ciência de fraude do devedor: quando este tiver a inequívoca ciência da existência de ação judicial,
o que se dá, por óbvio, apenas por meio da citação (processo autônomo) ou intimação (cumprimento
de sentença), sendo os atos fraudulentos cometidos antes desse momento processual considerados,
em regra, como fraude contra credores.
- o conluio fraudulento com o terceiro adquirente: a partir do registro da penhora do bem alienado
(Súmula 375, STJ). Tal presunção de má-fé do terceiro adquirente é relativa, portanto, admite-se
prova em contrário mediante embargos de terceiro (art. 674, §2º, II, NCPC). Importante destacar que,
caso o registro da penhora não seja efetuado, o terceiro adquirente tem o ônus de provar a sua boa-
fé (§2º do art. 792).
Todavia, em ambos os casos é possível, caso o credor-exequente proceda à averbação da
causa no registro competente (como exigem os incisos I, II e III do art. 792), que se antecipe o marco
35
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
de tais presunções (agora, absoluta) já ao momento da propositura da ação, dado o efeito erga
omnes da averbação.
Por fim, recorda-se que a fraude à execução se assemelha à chamada fraude contra credores,
na medida em que em ambas há alienação de bens pelo devedor a terceiros, tornando-o insolvente.
PORÉM, diferenciam pelas seguintes características:
VI – cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em
ação autônoma, de fraude contra credores.
“É curiosa a previsão do art. 790, VI, do Novo CPC. Sendo o ato anulado, o bem retorna ao
patrimônio do devedor, de forma que passa a responder por suas obrigações, mas não por meio de
responsabilidade secundária, já que o responsável patrimonial nesse caso é o devedor. O dispositivo
só teria sentido se o ato fosse considerado ineficaz, porque nesse caso o bem de propriedade do
adquirente, que obviamente não é devedor, responderia pelas obrigações deste.” (DANIEL AMORIM,
2016, p. 1.485).
17
Os planos de existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos não se confundem. Ato ou negócio inexistente é
aquele realizado sem a observância de seus elementos, quais sejam, agente, objeto e forma. Ato ou negócio inválido é
aquele que, embora existente, foi realizado com vício ou defeito na manifestação de vontade do agente, seja por erro,
coação, lesão, estado de perigo, fraude ou simulação; ou em observância aos seus requisitos, quais sejam, por agente
capaz, com objeto lícito, possível, determinado ou determinável e mediante forma prescrita ou não defesa em lei. Por fim,
ato ou negócio ineficaz é aquele, apesar de existente e válido, não produz efeitos por pender alguma condição, termo ou
encargo. O termo, segundo o STJ, a partir do qual se reputa um negócio ineficaz por fraude à execução, é a citação ou a
intimação do réu para a execução (autônoma ou incidental ao processo de conhecimento/cumprimento de sentença).
36
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Segundo o art. 793, o exequente não poderá promover a execução sobre outros bens do
devedor enquanto não excutida a coisa que se achar em seu poder em direito de retenção. Isso
ocorre quando o credor se achar na posse de bem pertencente ao devedor, em exercício ao direito de
retenção, como ocorre quando é depositário (arts. 643 e 644 do CC), mandatário (arts. 664 e 681, CC),
locatário (art. 35 da Lei 8.245/91), hospedeiro (arts. 647, I e 649, CC) ou o credor pignoratício (art.
1433, I e II, CC).
1.4.5.4 Responsabilidade de imóvel submetido ao regime de direito de superfície (art. 791, NCPC)
Primeiramente, há que se esclarecer que o direito real de superfície, previsto nos arts. 1.369 a
1.377 do Código Civil, é uma concessão, gratuita ou onerosa, atribuída pelo proprietário a outrem do
direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura
pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
Portanto, surgem 2 direitos reais sobre o imóvel, de titulares diferentes: os direitos e
obrigações vinculados ao terreno; e aqueles vinculados à construção ou à plantação.
O art. 791 trata, de forma inédita, da penhora sobre bem imóvel sujeito ao regime do direito
de superfície. Sendo executado o proprietário, somente o terreno responderá pela satisfação do
37
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
a) Embargos à execução
a.2) prazo (art. 915 – contados a partir da citação, nos termos do art. 231, NCPC).
Apesar de, na execução por quantia certa, o executado ser citado para pagar o devido em 03
dias (art. 829, NCPC), o prazo para opor os embargos à execução será de 15 dias (art. 915, NCPC).
Quando houver mais de um embargado, o prazo para oferecer embargos conta-se da
juntada de cada comprovante de citação, salvo se tratar de cônjuges ou companheiros, quando será
contado da juntada do último (art. 915, §1°, NCPC). Também continua não aplicando aos embargos o
dobro de prazo para litisconsortes com advogados diferentes (art. 229 do NCPC) por força da previsão
do art. 915, §3°, NCPC).
Lembrando que a citação na execução, agora no NCPC, é feita por correio, e não mais por
oficial de justiça. Todavia, quando a citação for por hora certa ou por edital, e o executado não
oferecer embargos, será nomeado curador especial como representante do executado para tanto.
De acordo com o art. 914, o oferecimento de embargos não depende de garantia do juízo
(penhora, depósito ou caução).
Em regra, os embargos não possuem efeito suspensivo (art. 919, NCPC).
Todavia, preleciona o §1º do art. 919 que o efeito suspensivo poderá ser concedido
excepcionalmente DESDE QUE, a requerimento do embargante, estejam satisfeitos os requisitos para
a concessão da tutela provisória (fumus boni iuris e periculum in mora, ou seja, a relevância do
fundamento dos embargos e o fundado receio de dano caso não haja a suspensão da execução), e
esteja a execução garantida por penhora, depósito ou caução.
Obviamente que, se o efeito suspensivo for apenas parcial, a execução será apenas em parte
suspensa (art. 919, §3º c/c 921, I, NCPC).
Todavia, mesmo que se tenha atribuído efeito suspensivo, poderá a execução seguir quando
exequente garantir o juízo (aplicação analógica do art. 525, §10, NCPC).
Por fim, vale ressaltar a nova redação dada ao §5° do artigo em referência que,
acertadamente, estabelece que a suspensão não impede substituição, o reforço ou a redução da
39
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
penhora, e não simplesmente a apenas “a penhora” (como dispunha o velho CPC), uma vez que
obviamente a 1ª penhora já houve, por ser requisito essencial para a concessão daquele efeito.
É ampla a defesa do executado em sede de embargos à execução. O amplo rol está elencado
no artigo 917 do NCPC, que prevê as seguintes hipóteses:
I – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação => redação mais apurada, substituindo a
anterior que falava em nulidade da execução, por não ser executivo o título apresentado.
I – penhora incorreta ou avaliação errônea => ATENÇÃO: considerando que, na execução por quantia
certa, o executado é citado para pagar em 3 dias, sob pena de sofrer penhora (art. 829, caput e §1º),
ou para oferecer embargos à execução em 15 dias (art. 915), tal defesa não será cabível se os
embargos forem oferecidos antes de findo o prazo para o pagamento (ou seja, antes dos 3 dias), uma
vez que não terá ainda ocorrido a penhora. Neste caso, o executado poderá arguir a incorreção por
petição simples em 15 dias contados da ciência do ato (novidade – art. 917, §1º).
III – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções => são 2 defesas diferentes. Os casos
que podem ensejar excesso estão elencados no mesmo art. 917, §2º, NCPC. Alegado excesso de
execução, o executado deve indicar o valor que entender correto sob pena de tal defesa não ser
conhecida pelo juiz se houver outros fundamentos, ou sob pena de rejeição liminar dos embargos, se
for o único fundamento dos embargos (art. 917, §§3° e 4º, I e II, NCPC).
IV – retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa.
V – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução => novidade (alinhando ao que ocorre na
contestação do processo de conhecimento). A arguição de impedimento e suspeição far-se-á de
acordo com os arts. 146 e148 do NCPC, ou seja, por petição simples criando um incidente.
VI – qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento =>
exemplos: prescrição, extinção da obrigação (pagamento, novação, subrogação etc),
inconstitucionalidade de lei, exceção do contrato não cumprido, etc.
a.5) procedimento
porém processados em autos apartados, e instruídos com cópias de peças processuais relevantes, que
poderão ser declaradas autênticas, sob a responsabilidade pessoal do advogado (art. 914, §1º, NCPC).
Se os embargos forem intempestivos; manifestamente protelatórios (ato atentatório à
dignidade da justiça – art. 918, parágrafo único); ou nos casos de indeferimento da petição inicial ou
improcedência liminar da demanda, o juiz os rejeitará liminarmente (art. 918, NCPC).
Da decisão que indefere a petição inicial dos embargos caberá o recurso de apelação (art.
331), neste caso desprovido de efeito suspensivo (art. 1.012, §1º, III, 1ª parte, NCPC), pois a extinção
dos embargos sem resolução do mérito deve produzir efeitos imediatos por favorecer o exequente e
a execução (aplicação do princípio da efetividade).
TODAVIA, sendo recebidos os embargos, será o exequente-embargado intimado para que,
no prazo de 15 dias, ofereça sua defesa. Daí, ou o juiz julga imediatamente o pedido (art. 355) ou
designa audiência, proferindo sentença (art. 920, NCPC).
Caso os embargos sejam julgados procedentes, cabe apelação no seu duplo efeito
(devolutivo e suspensivo). Por outro lado, se julgados improcedentes, a exemplo da sentença que
extingue os embargos sem resolução do mérito, caberá apelação também apenas no efeito
devolutivo, conforme art. 1.012, §1º, III, 2ª parte, NCPC.
b) Impugnação à execução
transcorrido o prazo do art. 523, NCPC (o executado é intimado para, em 15 dias, pagar o débito, sob
pena de multa e honorários de advogado, ambos em 10% cada, e sob pena de penhora). Lembrando
que, ao contrário dos embargos, aplica-se aqui o prazo em dobro do art. 229 em caso de litisconsortes
litigando com advogados de escritórios de advocacia distintos, nos termos do §3º do art. 525.
O conteúdo da impugnação à execução ou a matéria de defesa é bem mais limitada do que
nos embargos, e está prevista no art. 525, §1º, do NCPC, a saber:
I – falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;
II – ilegitimidade de parte;
III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação – nos termos dos §§12, 13, 14 e 15 do
art. 525, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título judicial fundado em lei ou
ato normativo considerado inconstitucional ou incompatível com CF pelo STF, em controle
concentrado ou difuso, antes do trânsito em julgado da decisão exequenda. É a chamada “coisa
julgada inconstitucional” – hipótese de relativização da coisa julgada fora das hipóteses da rescisória;
IV – penhora incorreta ou avaliação errônea – pois esta ocorre no mesmo prazo de que dispõe o
executado para impugnar, ou seja, após o prazo de 15 dias para pagar o débito (art. 523). Todavia,
alegações da defesa, posteriores ao término do prazo para impugnação, inclusive relativa à novas
penhoras e avaliações, o executado poderá formulá-las mediante simples petição em 15 dias,
contados da ciência do fato ou da intimação do ato (§11 do art. 525).
V – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções – caso o executado alegar excesso de
execução, deverá declarar o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e
atualizado de seu cálculo (§4º do art. 525), sob pena de rejeição liminar da impugnação, se o excesso
for o seu único fundamento, ou não ser examinada tal alegação, se houver outros fundamentos (§5º);
VI – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VII – qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença.
A impugnação à execução também independe de garantia do juízo e, via de regra, não
possui efeito suspensivo (§6º do art. 525).
Todavia, excepcionalmente poderá o juiz atribuir esse efeito quando, a requerimento do
executado, houver garantia do juízo (por penhora, caução ou depósito) e a demonstração da
relevância dos fundamentos e do perigo de grave dano ou de difícil reparação caso haja o
prosseguimento da execução.
42
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
ATENÇÃO – Casos em que a execução, de certa forma, prosseguirá mesmo que tenha sido
atribuído efeito suspensivo:
- atos de modificação (substituição, reforço ou redução) da penhora ou de avaliação dos bens podem
ser realizados (§7º);
- se a impugnação for parcial (parte do objeto da execução), a execução prosseguirá quanto à parte
restante (§8º);
- se deduzida por um dos executados, não suspenderá a execução contra os que não impugnaram
(§9º);
- se o exequente caucionar a execução, este terá o direito de prosseguir com a execução (§10).
A exceção de pré-executividade foi muito usada antes da última reforma do CPC, pois que
antes era necessário garantir o juízo para a interposição dos embargos, o que era dispensável se se
tratasse de exceção de pré-executividade.
Atualmente, não há mais tanta utilidade uma vez que se tornou desnecessária a garantia do
juízo para impugnar ou embargar à execução. Todavia, ainda é utilizada quando o executado perde o
prazo para impugnar ou embargar à execução para alegar questões supervenientes ou que devam ser
conhecidas de ofício; ou em procedimentos de execução especial, onde ainda se exige a garantia do
juízo para oferecer defesa.
Serve, basicamente, para alegar as matérias de ordem pública, que podem ser conhecidas de
ofício, como a falta de pressupostos processuais ou de condições da ação; bem como qualquer
matéria que tivesse prova pré-constituída, como prescrição, pagamento, compensação, ausência de
título, impenhorabilidade, novação, transação, etc.
43
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
O devedor ainda pode defender-se com o oferecimento de ações autônomas que podem
influenciar a execução. É o caso da ação rescisória, da ação de revisão ou anulação de negócio
jurídico, a consignação em pagamento.
O ajuizamento desse tipo de ação não impede a execução do título (art. 784, §1°, NCPC). Por
serem tais ações conexas com a execução, os processos devem ser reunidos.
Ajuizada a ação autônoma, seu objeto não pode ser discutido em sede de embargos na
execução, sob pena de litispendência. Nesses casos, a ação autônoma é recebida como verdadeiros
embargos à execução.
44
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
2 EXECUÇÕES EM ESPÉCIE
2.1 EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA (certa ou incerta)
As execuções das obrigações de fazer, não fazer e de entregar coisa observam regramentos
diversos em razão do título em que são fundadas. Veja o quadro abaixo:
Fazer e não Fazer Arts. 497, NCPC Arts. 815 e ss., NCPC
Art. 498, caput, NCPC (coisa Arts. 806 a 810, NCPC (coisa
Entregar coisa certa) certa)
Nas execuções de obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, fundadas em título
judicial, vigora o princípio da primazia da tutela específica, o que implica prioridade do juiz em
entregar de forma imediata, direta e específica o bem da vida ao credor.
Isso só é possível mediante o proferimento de uma sentença mandamental, que é, a
princípio, condenatória. Porém, ela não se limita a condenar, pois também ordena (mandado) que
as partes cumpram a condenação disposta na sentença. Os provimentos mandamentais, portanto,
têm uma carga mista (condenação + execução).
Para forçar o devedor ao cumprimento imediato e específico da obrigação, o juiz pode
adotar mecanismos processuais de coerção indireta, independentemente de requerimento da
45
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
parte, como a cominação de multa diária pelo inadimplemento (astreintes) 18 , cujo valor e
periodicidade será determinada pelo juiz de acordo com o caso concreto. Trata-se do poder geral de
efetivação do juiz.
Todavia, caso o juiz, entenda ser mais efetivo e razoável (princípio da proporcionalidade),
poderá adotar providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente
(art. 497, 2ª parte), por meio da sentença executiva lato sensu, consistente também numa
condenação, porém o Estado é quem satisfará o direito do credor, mediante a adoção de
providências ou medidas de sub-rogação ou de substituição no lugar do devedor, como busca e
apreensão (quando a coisa não é entregue em tempo hábil a quem cabia tal obrigação); remoção de
pessoas e coisas; desfazimento de obras (obrigação de não construir em determinado terreno);
impedimento de atividade nociva (como o fechamento da indústria poluente até que haja a
instalação de filtros apropriados) etc. Trata-se, portanto, de medidas de coerção direta.
No entanto, nos termos do art. 499 do NCPC, se não for possível a tutela específica ou a
obtenção da tutela pelo resultado prático equivalente, seja porque o bem a ser entregue pereceu
por culpa do devedor; seja porque o fazer ou o não fazer se tornou impossível, como, por exemplo,
a indústria que não consegue instalar os filtros antipoluentes diante de sua falta no mercado local, a
obrigação se converterá em perdas e danos (tutela genérica).
Também haverá conversão em perdas e danos se o autor abrir mão da tutela específica,
preferindo a indenização19, ou seja, se ele requerer a tutela genérica. Vê-se, portanto, que a
execução de tais obrigações é regida pelo princípio da primazia tutela específica, anteriormente já
estudado.
18
A astreinte – multa cominada pelo juiz para assegurar o cumprimento de sua decisão – é uma criação do direito
francês que tem por objetivo forçar o réu a adimplir, tendo, portanto, caráter coercitivo.
É importante observar que, exatamente em razão de sua natureza coercitiva, a astreinte é devida
independentemente da indenização. Assim, como ensina Marinoni, “se a ordem do juiz, apesar da multa, não for
suficiente para convencer o réu a adimplir, ela poderá ser cobrada independentemente do valor devido em face da
prestação inadimplida e do eventual dano provocado pela falta do adimplemento na forma especifica e no prazo
convencionado”.
A multa cominada pelo juiz objetiva coagir o réu a cumprir a obrigação e, portanto, para que seja uma forma
autêntica e eficaz de pressão sobre a vontade do réu, é imprescindível que seja fixada com base em critérios que
permitam atingir sua finalidade: garantir a efetividade da tutela jurisdicional. Assim, sua fixação deve ser balizada por
critérios subjetivos, sobretudo a capacidade econômica do devedor. A periodicidade da multa pode variar. Não precisa
ser ela diária. Os Tribunais vem entendendo ser cabível a multa mesmo quando a execução for contra a Fazenda
Pública. Ademais, é possível cumular as astreintes com a multa do artigo 77 do CPC. A multa somente poderá ser
cobrada após a formação de coisa julgada.
19
Importante esclarecer que o juiz não permitirá a conversão da obrigação em perdas e danos caso perceba que o credor
fez tal opção por mero capricho, a fim de onerar o devedor, quando este poderia ter entregue, sem maiores prejuízos para
si, a obrigação àquele in natura.
46
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Convertida que seja em perdas e danos, estes serão apurados em incidente cognitivo à
execução, cuja decisão será executada em procedimento executivo próprio para as obrigações por
quantia certa. Importará, portanto, a conversão também do rito: da tutela específica para
cumprimento de sentença.
OBS. FINAL: caso o 3º não realize a prestação ou o faça de modo incompleto ou defeituoso, o exequente poderá requerer ao juiz, no
prazo de 15 dias, que o autorize a conclui-la ou repará-la à custa do 3º. Este será, neste caso, ouvido num prazo de 15 dias, quando
então o juiz determinará a avaliação do custo das despesas necessárias, condenando-o a pagá-lo.
47
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Já as obrigações infungíveis, pela sua própria natureza, não permitem a prestação do serviço
por terceiro, quando então, nos termos do art. 821, o juiz assinará prazo para que o executado
pessoalmente cumpra com a obrigação.
Havendo recusa ou mora do executado, a obrigação se converterá em perdas e danos, a ser
apurada em incidente ao processo executivo, e seguirá as regras da execução por quantia certa.
Vale ressaltar que, fungível ou infungível a obrigação, será sempre possível ao credor optar pela
conversão em perdas e danos.
Por outro lado, em se tratando de obrigação de não fazer, determina o art. 822 que o juiz, a
requerimento do exequente, mandará citar o executado para que desfaça o ato no prazo que fixar.
Havendo recusa ou mora, o exequente requererá ao juiz que se determine o desfazimento (por um
terceiro) às custas do executado.
Se não for possível o desfazimento do ato, ou quando o credor assim preferir, a obrigação de
não fazer será convertida em perdas e danos, observando aqui também o procedimento da execução por
quantia certa.
Nessa execução também existem duas fases: a fase da execução voluntária e a fase da execução
forçada.
Em se tratando de coisa certa, citado, o executado terá 15 dias para entregar a coisa (art. 806).
Em se tratando de coisa incerta, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe
couber a escolha (art. 811). Se a escolha couber ao exequente, esse o fará na petição inicial (art. 811,
parágrafo único). Qualquer das partes poderá impugnar a escolha feita pela outra no prazo 15 dias,
quando então o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo o perito de sua nomeação (art. 812).
Num ou noutro caso, citado, o executado pode ter três condutas:
1) entregar a coisa;
2) oferecer embargos no prazo de 15 dias; ou
3) permanecer inerte.
48
Se o executado entregar a coisa, a obrigação será considerada satisfeita e a execução só
prosseguirá se for para pagamento de frutos ou ressarcimento de prejuízos (art. 807). Importante
observar que caso a coisa já tenha sido alienada a terceiro, será expedido mandado contra este, que
poderá se insurgir mediante embargos de terceiro desde que a deposite antes (art. 808).
De outro giro, se o executado NÃO entregar a coisa, este estará sujeito à multa por dia de
atraso no cumprimento da obrigação, fixada pelo juiz ao despachar a inicial, bem como lhe será
expedido mandado de imediata imissão na posse (se bem imóvel) ou busca e apreensão (se bem
móvel), nos termos do art. 806, caput e §§1º e 2º.
Por fim, há que se falar em conversão da obrigação de entrega de coisa em perdas e danos
nos casos do art. 809, ou seja, quando a coisa se deteriorar, não for entregue ao exequente, não for
encontrada, ou não reclamada do poder de terceiro adquirente.
Quanto às benfeitorias indenizáveis feitas na coisa pelo executado, aplica-se o art. 810 do
NCPC.
As principais fases procedimentais da execução por quantia certa contra devedor solvente,
seja fundada em título judicial ou extrajudicial, são:
1. Fase da proposição: quando o exequente promove a execução. Esta é a única fase em que há
distinções a depender do título que se executa, ou seja, caso trate de cumprimento de sentença ou
processo autônomo de execução.
2. Fase da apreensão: na qual ocorre a sua apreensão (penhora) e avaliação;
3. Fase da transferência: em que o bem apreendido e avaliado é alienado e, portanto, transformado
em dinheiro, numa verdadeira expropriação do executado;
4. Fase da satisfação do crédito: na qual o dinheiro apurado é entregue ao exequente nos limites do
seu crédito (pagamento).
ATENÇÃO: nos casos de sentença arbitral, sentença estrangeira e sentença penal condenatória, onde
a execução será por processo autônomo, embora se aplique as regras do cumprimento de sentença, o
executado será CITADO, e não intimado, conforme §1º do art. 515.
Por fim, tal petição deverá ser instruída com demonstrativo discriminado e atualizado do
crédito, que deverá conter o índice de correção monetária; os juros e respectivas taxas; os termos
inicial e final dos juros e correção monetária; a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
e a especificação de eventuais descontos obrigatórios realizados (art. 524, incisos II, III, IV, V e VI).
Pois bem: intimado (ou citado), dispõe o art. 523 que o executado20 terá 15 dias para
cumprir voluntariamente a dívida, acrescidos de custas, se houver.
Não havendo o pagamento voluntário no prazo, aduz o §1º do mesmo artigo que o débito
será acrescido de multa de 10% e de honorários advocatícios no mesmo percentual (os quais serão
proporcionais caso o pagamento for parcial - §2º), bem como será expedido, desde logo, o mandado
de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação (§3º do art. 523); além de a sentença
poder ser levado a protesto, nos termos do art. 517, NCPC.
Paralelamente, também após transcorrido o prazo do art. 523 sem o pagamento voluntário,
começará a fluir o prazo de 15 dias para o executado, se quiser, oferecer a impugnação ao
cumprimento de sentença, de acordo com o art. 525, caput e seus parágrafos (oportunamente já
estudados).
Por se tratar de processo autônomo, é sabido que a sua deflagração dá-se por petição inicial,
que deverá observar os requisitos gerais do art. 319 (com exceção dos meios de prova e da opção
quanto à audiência de conciliação) e os específicos dos arts. 798 e 799.
Dessa forma, à título de revisão, deverá nela conter:
- juízo competente (arts. 781 e 782);
20
Antes de o vencedor requerer o cumprimento da sentença, o vencido pode comparecer em juízo e pagar o valor que
entende devido, apresentando memória de cálculo. Trata-se de pagamento espontâneo pelo executado, nos termos do
art. 526 do NCPC.
51
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
- os nomes e qualificação das partes (arts. 778 e 779 c/c art. 798, II, b);
- os fatos e fundamentos jurídicos (art. 786): consistente em mencionar os dados do título executivo
extrajudicial (rol do art. 784), bem como o inadimplemento do executado;
- o pedido é a satisfação do direito, ou seja, o cumprimento da obrigação, embora possa também o
exequente pleitear medidas urgentes, quando necessário (art. 799, VIII);
- a indicação dos bens suscetíveis de penhora, sempre que possível (art. 798, II, c);
- os requerimentos de intimações das pessoas enumeradas no art. 799;
- o valor da causa, que é o valor da dívida atualizada até a propositura da ação, conforme
demonstrativo de débito atualizado (conteúdo: art. 798, parágrafo único), que instruirá a inicial (art.
798, I, b);
- a propósito, a inicial deverá estar instruída também com: o título executivo; a prova da ocorrência
de termo ou condição, ou da contraprestação em obrigação sinalagmática (art. 798, I, b, c, d).
Despachando a inicial, o juiz determina a citação do executado para pagar a dívida, mais 10%
de honorários advocatícios21, no prazo de 3 dias, sob pena de penhora (art. 829, §1º); ou, se preferir,
no prazo de 15 dias oferecer embargos à execução (art. 915) ou requerer parcelamento da dívida (art.
916).
Vale lembrar que, após o despacho da inicial, o exequente tem o direito de averbar, em
registro público, a certidão de admissão da execução para conhecimento de terceiros (arts. 799, IX, e
828).
Todavia, caso o oficial de justiça não encontra o executado, mas encontra bens penhoráveis,
procederá ele já o arresto22 de tantos bens quantos bastem para garantir a execução (art. 830). Tal
21
Se o executado efetuar o pagamento do débito no prazo legal, os honorários são reduzidos pela metade (art. 827, §1º) e a
execução se extingue (art. 924, II). Por outro lado, se o pagamento não ocorrer e a execução prosseguir, o juiz pode elevar o
percentual dos honorários até 20%, em consideração ao trabalho realizado pelo advogado do exequente (art. 827, §2º).
Tratam-se novos honorários, distintos daqueles sucumbenciais, fixados pela sentença na fase cognitiva; são relativos à fase
executiva.
22
Há julgados reconhecendo a possibilidade do arresto on-line, senão vejamos:
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EXECUTADOS NÃO
LOCALIZADOS. ARRESTO PRÉVIO OU EXECUTIVO. ART. 653 DO CPC. BLOQUEIO ON LINE.
POSSIBILIDADE, APÓS O ADVENTO DA LEI N. 11.382/2006. APLICAÇÃO DO ART. 655-A DO CPC, POR
ANALOGIA.
1.- "1. O arresto executivo, também designado arresto prévio ou pré-penhora, de que trata o art. 653 do CPC, objetiva
assegurar a efetivação de futura penhora na execução por título extrajudicial, na hipótese de o executado não ser
encontrado para citação.
52
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
arresto não é uma cautelar, mas uma espécie de pré-penhora, a qual se converterá em penhora após
a efetiva citação do executado (1º - pessoal, em 2 dias distintos, num prazo de 10 dias após o arresto;
2º - com hora certa, se houver, no caso anterior, suspeita de ocultação do executado; 3º - por edital,
se frustradas as duas anteriores).
Por outro lado, sendo encontrado o executado, e não efetuado o pagamento no prazo de 3
dias, o oficial de justiça, com o mandado de citação, penhora e avaliação, procederá de imediato a
penhora dos bens indicados na inicial pelo exequente, ou pelo executado, desde que aceitos pelo juiz
(art. 829, §§1º e 2º).
Penhorados os bens, o executado deverá ser intimado (art. 829, §1°).
a) Penhora e depósito
a.1) limites ou objeto da penhora - artigo 831, NCPC, restringe-se à parcela do patrimônio suficiente
para pagar a dívida, excluindo os impenhoráveis (arts. 832 e 833 – já estudados).
2. Frustrada a tentativa de localização do executado, é admissível o arresto de seus bens na modalidade on-line (CPC,
art. 655-A, aplicado por analogia). (...)." (REsp 1.370.687/MG, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, DJe
15/08/2013).
2.- Recurso Especial provido, para permitir o arresto on line, a ser efetivado na origem. (REsp 1338032/SP, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2013, DJe 29/11/2013)”.
53
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
- ineficácia relativa dos atos de disposição de bens: se o bem penhorado for de valor igual ou inferior
ao da dívida não poderá ser alienado, sob pena de fraude à execução.
- conservação dos bens: evitando a dilapidação patrimonial, principalmente a dos bens penhorados;
- conferir efeito suspensivo aos embargos à execução e à impugnação ao cumprimento de sentença;
- estabelecer o direito de preferência (art. 797, 908 e 909) => a penhora estabelece o direito de
preferência do credor que a procedeu em primeiro lugar, se tiverem a mesma hierarquia. Todavia,
havendo concurso de credores, ou seja, de hierarquias diferentes, seguem-se primeiramente as
regras de direito material (dívidas trabalhistas, dívidas tributárias, hipoteca etc) e depois as de direito
processual (tem preferência o credor que primeiro realizou a penhora).
a.3) ordem de preferência da penhora – esta estabelecida no art. 835, onde a prioridade é a penhora
de dinheiro, prevista no inciso I (cf. dispõe o §1º do mesmo artigo); já a ordem, nas demais hipóteses,
é relativa, podendo o juiz alterá-la de acordo com as circunstâncias do caso concreto. No caso de o
crédito estar garantido por direito real, a penhora deve recair sobre o bem objeto da garantia (§3º).
a.5) lugar e tempo da penhora – segundo art. 845 do NCPC, os bens devem ser penhorados em
qualquer lugar que estejam, preferindo-se aqueles que estão no foro da execução (art. 848, III). Caso
não tenham bens no foro da causa e não for possível fazer por termo nos autos (§1º do art. 845),
realiza-se a execução por carta (art. 845, §2º), penhorando, avaliando e alienando os bens no foro da
situação, ou seja, no juízo deprecado (art. 914, §2º).
Quanto ao tempo, os atos de penhora deverão realizar-se em dias úteis, das 6 às 20 horas (art.
212, NCPC). Todavia, o §2° do art. 212 estabelece que, excepcionalmente, independentemente de
autorização do juiz, pode a penhora ser realizada no período de férias forenses, feriados ou dias úteis
fora do horário estabelecido no artigo.
Por fim, a substituição da penhora pode-se dar por iniciativa de qualquer das partes (art. 848
– quando a ordem de penhora não foi obedecida; quando recair sobre bens fora do juízo, havendo
outros no foro da execução; quando recair sobre bens embaraçados, havendo outros livres; incidir em
bens de baixa liquidez; etc) ou por iniciativa exclusiva do executado (art. 847 – desde que comprove
ser menos onerosa e que não trará prejuízos ao exequente). Os requisitos da iniciativa exclusiva são
cumulativos ao passo que, na iniciativa de qualquer das partes, trata-se de hipóteses isoladas.
b) Avaliação
Para que haja a expropriação, é necessário antes proceder a avaliação do bem, com a
56
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
descrição das características, do estado e do valor do bem (art. 872). Regra geral deve ser realizada
pelo oficial de justiça (art. 154, V e 870 NCPC); mas, caso sejam necessários conhecimentos técnicos
especializados e o valor da execução o comportar, o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo de 10
dias para a entrega do laudo (art. 870, parágrafo único).
Nos termos do art. 871, não se procederá a avaliação:
I - quando uma das partes aceitar a estimativa feita pela outra;
II – se tratar de títulos ou mercadorias com cotação em bolsa;
III - títulos da dívida pública, ações de sociedades e títulos de crédito negociáveis na bolsa, cujo valor
será o da cotação oficial do dia;
IV – veículos automotores ou bens cujo preço de mercado é conhecido por pesquisas em órgãos
oficiais ou anúncios de venda divulgados em meios de comunicação.
Obviamente que também não haverá avaliação se o bem for dinheiro.
É possível a realização de nova avaliação nas hipóteses do art. 873 (erro ou dolo do avaliador;
alteração posterior do valor; fundada dúvida sobre o valor da 1ª avaliação).
23
III - o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de superfície, concessão de uso especial para fins de moradia
ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre bem gravado com tais direitos reais;
IV - o proprietário do terreno submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de
moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos reais;
V - o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora anteriormente averbada, quando a penhora
recair sobre bens com tais gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na execução;
VI - o promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda
registrada;
VII - o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda
registrada;
VIII - a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado.
58
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
O pagamento será feita pelo arrematante, via de regra, de imediato (art. 892). Todavia, é
possível o interessado adquirir o bem em prestações nos termos do art. 895 (proposta de aquisição
por escrito, até o início do 1º leilão, de valor não inferior ao da avaliação; ou até o início do 2º leilão,
por valor que não seja vil; sempre 25% de entrada e o restante em até 30 prestações, tudo garantido
por caução ou hipoteca).
No caso de atraso no pagamento de qualquer das parcelas, incidirá multa de 10% sobre a
parcela inadimplida mais as vincendas (§4º); e, em caso de inadimplemento, o exequente poderá
requerer a resolução da arrematação ou promover, em face do arrematante, a execução do valor
devido (§5º).
Obviamente que a proposta de pagamento à vista prevalece à de pagamento parcelado
(§7º), e, se houver mais de uma proposta de pagamento parcelado em iguais condições, o juiz
decidirá pela formulada em primeiro lugar; porém, se de diferentes condições, decidirá pela mais
vantajosa, qual seja, a de maior valor (§8º).
Obs: a arrematação global (de vários bens) tem preferência em relação às arrematações
individuais (art. 893). Por outro lado, se o imóvel permitir divisão, poderá ser alienado parcialmente
(art. 894), mas, se não encontrar licitantes, será alienado em sua integralidade (§1º).
- prorrogação (art. 900), transferência (arts. 888) e suspensão do leilão (art. 899)
O leilão deve ser realizado dentro do expediente forense; caso o contrário, deverá
prosseguir no dia útil imediato, na mesma hora em que teve início, independentemente de novo
edital (art. 900).
Eventualmente, é possível o juiz mandar publicar a transferência do leilão caso este não se
realize por qualquer motivo (art. 888).
Por fim, será suspensa a arrematação assim que o produto da alienação for suficiente para
pagar o crédito do exequente e as despesas da execução (art. 899).
Por outro lado, também se admite o desfazimento da arrematação por iniciativa do próprio
arrematante, que dela poderá desistir (revogação ou desistência), nos termos do §5º:
- se provar, nos 10 dias seguintes ao da arrematação, a existência de ônus real ou gravame não
mencionado no edital;
- se, antes de expedida a carta de arrematação ou a ordem de entrega, o executado requerer o
desfazimento (invalidação, ineficácia ou resolução);
- se foi citado para responder a ação autônoma anulatória, desde que apresente a desistência no
prazo desta resposta.
Acolhida a desistência, libera-se o depósito feito.
62
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
De acordo com o art. 904, há satisfação do crédito pela entrega do dinheiro ou pela
adjudicação dos bens penhorados.
A entrega do dinheiro se dá na forma do artigo 905, ou seja, o juiz expedirá, a favor do
exequente, mandado de levantamento de dinheiro depositado para segurar o juízo ou produto da
alienação dos bens, bem como o faturamento de empresa ou outros rendimentos de coisas ou
empresas penhoradas, caso, claro, não houver outros exequentes ou credores com privilégio.
Tal mandado poderá ser substituído pela transferência eletrônica do valor depositado para
conta indicada pelo exequente (art. 906, parágrafo único).
Pago ao exequente o principal, os juros, as custas e os honorários, o restante deverá ser
restituído ao executado (art. 907).
Quanto à origem, os alimentos podem ser legítimos (devidos por força de lei, parentesco,
matrimônio ou união estável); voluntários (por força de negócio jurídico inter vivos como transação
ou causa mortis como o legado); ou indenizativos (decorrentes de ato ilícito – aplica-se o art. 533,
NCPC/procedimento próprio/não aplica técnica da prisão civil, a qual se restringe aos alimentos do
Direito de Família).
Quanto à estabilidade, os alimentos podem ser definitivos quando estipulados em decisão
final do juiz; ou provisórios, quando concedidos por tutela provisória de urgência, seja de natureza
cautelar (quando muitos os denominam de alimentos provisionais), seja de natureza antecipada, em
ambos os casos com o objetivo de garantir a subsistência do exequente e os gastos do processo
enquanto se discute o mérito24.
24
Para Didier Junior (2010, p. 691), não há nenhuma diferença substancial entre alimentos provisórios e provisionais,
considerando que ambos têm natureza satisfativa, sendo a diferença meramente terminológica. Ademais, com o NCPC, a
distinção perdeu ainda mais a importância já possuem requisitos comuns para a concessão, que, nos termos do art.
300, são a probabilidade do direito (fumus boni iuris) e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil ao processo
(periculum in mora).
63
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
- Cumprimento de sentença (arts. 528 a 533, NCPC): se o título executivo for judicial (ainda que se
peça prisão civil, pondo fim a antiga divergência doutrinária sobre tal possibilidade). O
cumprimento de sentença é aplicável seja no caso de alimentos fixados em sentença (alimentos
definitivos) ou em decisão interlocutória (alimentos provisórios), conforme prevê o art. 531 do
NCPC.
Se tratar de alimentos provisórios, ou fixados em sentença ainda não transitada em julgado,
o cumprimento de sentença ocorrerá em autos apartados (art. 531, §1º); e, se tratar de alimentos
definitivos, processará nos mesmos autos (art. 531, §2º).
Outra grande inovação é que o cumprimento de sentença de alimentos também pode ser
promovido no juízo do domicílio do exequente (art. 528, §9º), além dos juízos já previstos
genericamente para qualquer cumprimento de sentença no art. 516 do NCPC (juízo que decidiu a
causa; domicílio do executado; local onde se encontram os bens).
- Processo autônomo de execução (arts. 911 a 913, NCPC): se os alimentos estiverem definidos
em título extrajudicial (Ex: acordo referendado por MP, Defensoria ou advogados dos transatores –
art. 784, IV; ou alimentos reconhecidos em escritura pública – art. 784, II).
64
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
2.3.3 Desconto em folha (art. 529, se título judicial; ou art. 912, se título extrajudicial)
2.3.4 Expropriação de bens (art. 528, §8º, se título judicial; art. 913, se extrajudicial)
O exequente pode optar por receber o crédito por meio de constrição do patrimônio do
executado. Mas, atenção, se o exequente optar pela expropriação de bens (penhora), não se
admite a prisão civil (art. 528, §8º).
25
“A regra é interessante porque geralmente se estabelecia como teto de desconto o valor de 30% da remuneração, e
no caso de cumulação de prestações vencidas e vincendas o valor será superior a esse por expressa autorização legal.”
(NEVES, 2016, p, 1.708).
65
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
Vale lembrar que, por serem os alimentos, na verdade, obrigação de pagar quantia certa, o
procedimento segue o rito comum, aplicando o disposto nos arts. 523 a 527 (cumprimento de
sentença) ou as regras dos arts. 824 e ss. (processo autônomo de execução por quantia certa), a
depender se trata de título executivo judicial ou extrajudicial, porém, com algumas particularidades:
- prioridade da penhora de crédito do devedor (aluguéis ou outros rendimentos): é possível,
inclusive, que o terceiro efetue o pagamento, por depósito bancário, diretamente ao credor-
alimentando;
- em caso de penhora em dinheiro, eventual concessão de efeito suspensivo aos
embargos/impugnação à execução não obsta ao exequente levante mensalmente a importância
(parte final do §8º do art. 528, NCPC);
- em caso de concurso de credores (muitas penhoras sobre o mesmo rendimento), a preferência é
para o pagamento do crédito alimentar sempre.
2.3.5 Prisão civil (art. 528, se título judicial; art. 911, se título extrajudicial)
Por fim, caso preferir o exequente E se tratar das 3 últimas parcelas anteriores ao
ajuizamento da execução, bem como das que se vencerem em seu curso (art. 528, §7º, e Súm. 309,
STJ), faz-se a execução por prisão civil, que nada mais é que uma medida de coerção indireta, que
busca pressionar o executado ao cumprimento da obrigação.
Por meio deste procedimento, o juiz determinará, a requerimento do exequente, a citação
(se processo autônomo) ou intimação (se cumprimento de sentença) pessoal do executado para,
em 03 dias:
1) pagar o débito;
2) provar que já pagou; ou
3) justificar a sua absoluta impossibilidade.
Se o débito é pago ou o executado comprova o pagamento, haverá a extinção da execução.
Por outro lado, se o executado justifica o inadimplemento comprovando fato que gerou a
impossibilidade absoluta do pagamento (§2º), a prisão não será decretada e a execução também será
extinta, “podendo o exequente requerer a instauração da execução por quantia certa contra devedor
66
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
solvente pelo procedimento comum, nos próprios autos ou em autos apartados” (NEVES, 2016, p.
1.711).
MAS, se o executado não pagar ou se a justificativa não for aceita, o juiz decretará a PRISÃO
do executado pelo prazo de 1 a 3 meses (§3º), o qual deverá ser cumprida em regime fechado,
separado dos demais presos comuns (§4º).
Vale lembrar que, no caso específico do cumprimento de sentença, além de decretar a
prisão, o juiz também mandará PROTESTAR o pronunciamento judicial, nos moldes do art. 528,
§1º, bem como da regra genérica do art. 517.
Por fim, algumas considerações merecem ainda ser feitas quanto à prisão civil:
- o prazo máximo da prisão é de 3 meses (cf. NCPC e o CPC/73) ou de 60 dias (cf. Lei de
Alimentos)? Tal divergência, que remonta desde a égide do CPC de 73, permanece, dando azo ao
surgimento de 3 correntes doutrinárias, a saber:
1ª) aplica-se o prazo de até 3 meses em caso de alimentos provisionais, e o prazo de até
60 dias para os alimentos definitivos (Profº Ricardo Avelino);
2ª) aplica-se o prazo de até 60 dias, independentemente dos alimentos, uma vez que
lei especial derroga a geral (Araken de Assis);
3ª) aplica-se o prazo máximo de 3 meses, independentemente dos alimentos, uma vez que
lei posterior (NCPC de 2015) derroga lei anterior (Lei de Alimentos, Lei n. 5478/68). Este
entendimento, defendido por Marinoni, Barbosa Moreira e o próprio STJ, parece ser o que
irá prevalecer.
- se o prazo for extrapolado, cabe habeas corpus para o seu relaxamento; caso contrário, se o
interesse do executado for apenas discutir a medida coercitiva, por ter ela natureza civil e não penal,
deverá interpor agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, NCPC);
- a prisão não é uma medida satisfativa, pois o cumprimento da pena não elide a dívida do
executado, que deverá ser satisfeita por outros meios (§5º);
- cumprida a pena, não pode o devedor ser mais preso pelas mesmas parcelas, ainda que continuem
vencidas, mas sim pelas posteriores que forem vencendo.
67
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
2.4 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (art. 100, CF; e arts. 534 e 535; e 910, NCPC)
2.4.2 Procedimento
Nos termos do art. 534, o exequente requererá o cumprimento de sentença contra a F.P.,
apresentando demonstrativo discriminado e atualizado do crédito. Não haverá intimação para
pagamento voluntário, sob pena de multa, deixando bem claro o §2º do referido artigo que tal multa
não se aplica à F.P.
Na verdade, a F.P. é intimada na pessoa de seu representante judicial para, no prazo de 30
dias, impugnar a execução, podendo alegar quaisquer das matérias arroladas no art. 535
(praticamente as mesmas previstas genericamente no art. 525 para a impugnação ao cumprimento
de sentença, exceto penhora incorreta ou avaliação errônea, por razões óbvias). Se houver alegação
de excesso de execução, caberá à executada declarar de imediato o valor correto, sob pena de seu
68
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
a.1) Precatório27:
É uma ordem de pagamento, expedida pelo Poder Judiciário, contra as Fazendas Públicas, em
virtude de decisão judicial transitada em julgado que reconheça obrigação de pagar.
Na prática, a sua expedição segue o seguinte rito: instruído e assinado pelo juiz da causa, o
pedido de precatório é dirigido ao Presidente do respectivo Tribunal, que deverá inscrevê-lo até dia
1° de Julho, requisitando ao órgão fazendário competente a inclusão de verba necessária no
orçamento geral da entidade de direito público, cujo pagamento deverá ser feito até o final do
exercício financeiro seguinte (cf. §5º, art. 100, CF), com correção monetária. Teoricamente, o não
pagamento do precatório no prazo acarretaria intervenção judicial (arts. 34 a 36, CF). Entretanto, a
alegação de falta de recursos é tida como justificativa plausível.
No entanto, percebe-se que surgirá uma ordem cronológica de apresentação de precatórios
inscritos contra o ente público, a qual deverá ser obedecida no momento do pagamento, exceto os
créditos que gozam de preferência (art. 100, §1º, CF; e Súmula 655, STF e Súmula 144, STJ).
Dessa forma, existem 3 “filas” diferentes de precatórios (art. 100, §§1º e 2º):
26
CUIDADO: nos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública, não é necessário o credor requerer o cumprimento de
sentença. Transitada em julgada a sentença, haverá a requisição de pagamento ou a expedição de precatório, de ofício (art.
17 Lei 10.259/01 e art. 13 Lei 12.153/09).
27
O precatório consiste no modo encontrado pelo sistema jurídico brasileiro para que pudessem ser cumpridas, observada a
ordem do requerimento, as decisões judiciais transitadas em julgado que condenam os entes públicos ao pagamento de
importâncias pecuniárias. Importante se faz consignar que o precatório é apenas um meio necessário ao cumprimento das
decisões judiciais que condenem a Fazenda Pública, e não um título autônomo desvinculado da obrigação que o originou.
69
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
• precatório alimentar28 cujo titular tenha 60 anos ou mais, ou seja, portador de doença
grave;
• precatório alimentar de outros titulares;
• precatório geral.
Caso a ordem dos precatórios não seja observada (§6º), o Presidente do Tribunal
determinará, a requerimento de qualquer credor preterido, e depois de ouvido o chefe do Ministério
Público, o sequestro da quantia devida (não é cautelar; tem natureza satisfativa). A questão é quem
será o legitimado passivo: a Fazenda Pública ou o credor que foi privilegiado? Segundo a melhor
doutrina, ambos, formando um litisconsórcio passivo.
Com o advento da EC 62, há também a possibilidade de sequestro no caso de não alocação
orçamentária dos recursos necessários ao pagamento do crédito inscrito no precatório, ocasião em
que só a F.P. que responderá.
Trata-se de sistema mais simplificado, não se aplicando o regime dos precatórios, consistente
na expedição de mera ordem judicial de pagamento de valores definidos em lei como de pequeno
valor, cabendo à F.P. creditar o valor respectivo no prazo de 2 meses mediante depósito na agência
de banco oficial mais próxima da residência do exequente (art. 535, §3º, II, NCPC), sob pena de
sequestro da quantia.
De acordo com o art. 17, § 1º, da Lei 10.259/2001, e art. 97, §12, ADCT, consideram-se de
pequeno valor os créditos que não excederem a:
• 60 salários mínimos para a União;
• 40 salários mínimos para Estados e DF; e
• 30 salários mínimos para os Municípios.
Todavia, o ente público pode fixar, por lei própria, valor menor, desde não seja inferior ao
teto do maior benefício do RGPS (§4º, art. 100). Em Goiás, o RPV goiano foi fixado em 20 salários
28
Os precatórios alimentares são aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementares,
benefícios previdenciários e indenizações por morte ou invalidez, fundadas em responsabilidade civil (§1º do art 100, CF).
70
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo
29
Mesmo que o resultado da referida decisão seja desfavorável à Fazenda Pública, não há que se falar em reexame
necessário já que tal oportunidade foi dada quando do proferimento da sentença de conhecimento condenatória, a qual deu
origem ao título executivo.
Da sentença que julgar os embargos à execução contra a F.P. cabe recurso de apelação no seu duplo efeito (devolutivo e
suspensivo), ao contrário do que preleciona o artigo 1.012, V, NCPC. Isso porque o recebimento da respectiva apelação só
no efeito devolutivo é ineficaz, pois não será possível promover execução provisória, já que o procedimento do precatório
pressupõe trânsito em julgado, ou seja, definitividade da decisão.
71