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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
EMBRIOLOGIA HUMANA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
EMBRIOLOGIA HUMANA

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
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do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

MÓDULO I
APRESENTAÇÃO
1 SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO
1.1 ESCROTO
1.1.1 Testículos
1.1.1.1 Espermatogênese
1.2 EPIDÍDIMO
1.3 DUCTO DEFERENTE
1.4 DUCTO EJACULATÓRIO
1.5 GLÂNDULAS ACESSÓRIAS
1.5.1 Vesículas Seminais
1.5.2 Próstata
1.5.3 Glândulas Bulbouretrais
1.6 PÊNIS
1.7 URETRA MASCULINA
1.8 SÊMEN
1.8.1 Análise Laboratorial do Sêmen
1.9 ATO SEXUAL
1.10 TESTOSTERONA E OUTROS HORMÔNIOS SEXUAIS MASCULINOS
1.10.1 Controle das Funções Sexuais Masculinos pelos Hormônios Gonadotrópicos
da Glândula Hipófise Anterior – FSH e LH
2 SISTEMA REPRODUTOR FEMININO
2.1 MONTE PÚBICO
2.2 LÁBIOS MAIORES
2.3 LÁBIOS MENORES
2.4 VESTÍBULO
2.5 GLÂNDULAS VESTIBULARES MAIORES
2.6 CLITÓRIS

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2.7 HÍMEN
2.8 VAGINA
2.9 ÚTERO
2.10 TUBAS UTERINAS
2.11 OVÁRIOS
2.11.1 Ovulogênese
2.12 OS HORMÔNIOS FEMININOS
2.12.1 Funções dos Hormônios Gonadotrópicos da Adeno-hipófise no Controle do
Ciclo Mensal Ovariano
2.12.2 Ovulação
2.12.3 Funções dos hormônios ovarianos estradiol e progesterona
2.12.4 Funções dos esteroides – efeitos sobre as características sexuais primárias e
secundárias
2.12.5 Funções da progesterona
2.13 O CICLO ENDOMETRIAL E A MENSTRUAÇÃO
3 FERTILIZAÇÃO OU FECUNDAÇÃO E FORMAÇÃO DO ZIGOTO
4 IMPLANTAÇÃO OU NIDAÇÃO
5 DISCO GERMINATIVO BILAMINAR
5.1 OITAVO DIA DO DESENVOLVIMENTO
5.2 NONO DIA DO DESENVOLVIMENTO
5.3 DÉCIMO-PRIMEIRO AO DÉCIMO-SEGUNDO DIA DO DESENVOLVIMENTO
5.4 DÉCIMO-TERCEIRO DIA DO DESENVOLVIMENTO
5.5 CORRELAÇÕES CLÍNICAS
6 DISCO GERMINATIVO TRILAMINAR
6.1 GASTRULAÇÃO: FORMAÇÃO DO MESODERMA E DO ENDODERMA
EMBRIONÁRIOS
6.2 FORMAÇÃO DA NOTOCORDA
6.3 CRESCIMENTO DO DISCO GERMINATIVO
6.4 CORRELAÇÃO CLÍNICA
6.5 DESENVOLVIMENTO POSTERIOR DO TROFOBLASTO
6.6 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DA 4ª A 8ª SEMANA
6.7 PERÍODO FETAL

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MÓDULO II
7 ASPECTOS CLÍNICOS DA FUNÇÃO REPRODUTIVA E INFERTILIDADE
7.1 FUNÇÃO REPRODUTIVA NA MULHER E NO HOMEM
7.2 CAUSAS DA INFERTILIDADE NA MULHER
7.2.1 Problemas ovarianos
7.2.2 Endometriose
7.2.3 Fator cervical
7.2.4 Fator tubário
7.2.5 Fator uterino
7.2.6 Fator peritoneal
7.3 CAUSAS DA INFERTILIDADE NO HOMEM
7.3.1 Anomalias do Sêmen
7.3.2 Testes complementares à análise seminal de importância diagnóstica
7.3.3 Avaliação hormonal
7.3.4 Avaliação genética
7.3.5 Análise da estrutura da cromatina espermática
7.4 PROTOCOLOS PARA A INDUÇÃO DA OVULAÇÃO
7.4.1 Hiperestimulação ovariana
7.4.2 Esquemas de hiperestimulação ovariana
7.4.2.1 Citrato de clomifeno
7.4.2.2 Agonistas/Antagonistas do GnRH
7.4.2.3 Gonadotrofinas
7.4.2.4 Gonadotrofinas coriônicas
7.5 TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA
7.5.1 Relação Sexual Programada
7.5.2 Inseminação Intrauterina (IIU)
7.5.2.1 Conheça o passo a passo da técnica
7.5.3 Fertilização in vitro (FIV)
7.5.3.1 Conheça o passo a passo da técnica
7.5.4 Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI)
7.5.5 Transferência Intratubária de Gametas ou GIFT (Gamete Intrafallopian
Transfer)
7.5.6 Transferência Intratubárica de Zigotos ou ZIFT (Zygote Intrafallopian Transfer)

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MÓDULO III
8 CRIOPRESERVAÇÃO
8.1 SAIBA MAIS
8.1.1 Quais as vantagens dos crioprotetores?
8.1.2 Quais são os crioprotetores mais usados?
8.1.3 Quais amostras são susceptíveis à criopreservação?
8.2 TIPOS DE CRIOPRESERVAÇÃO
8.2.1 Lenta ou Computadorizada
8.2.2 Ultrarrápida
8.3 CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES
8.4 CRIOPRESERVAÇÃO DE OVÓCITOS
8.5 SAIBA MAIS ...
8.6 CRIOPRESERVAÇÃO DE EMBRIÕES
8.6.1 Pré-zigotos
8.6.2 Pré-embriões em clivagem
8.6.3 Blastocistos
8.7 BIÓPSIA DE EMBRIÕES OU DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-
IMPLANTACIONAL (PGD)
8.8 ASSISTED HATCHING
8.9 REMOÇÃO DE FRAGMENTOS DOS EMBRIÕES
9 NORMAS ÉTICAS PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO
ASSISTIDA (Resolução do Conselho Federal de Medicina n 2.013/13)
9.1 PRINCÍPIOS GERAIS
9.2 PACIENTES DAS TÉCNICAS DE RA
9.3 REFERENTE ÀS CLÍNICAS, CENTROS OU SERVIÇOS QUE APLICAM
TÉCNICAS DE RA
9.4 DOAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES
9.5 CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES
9.6 SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO
ÚTERO)
9.7 REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST-MORTEM

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MÓDULO IV
10 HEREDITARIEDADE – A BASE MENDELIANA
10.1 A BASE CROMOSSÔMICA DA HEREDITARIEDADE
10.2 TERATOGÊNESE
10.3 ABERRAÇÕES CROMOSSÔMICAS
10.3.1 Trissomia do Cromossomo 21 (Síndrome de Down)
10.3.2 Trissomia 18 - Síndrome de Edwards
10.3.3 Trissomia 13 – Síndrome de Patau
10.3.4 Síndrome de Turner - Monossomia do Cromossomo X
10.3.5 Síndrome de Klinefelter
10.3.6 Síndrome de Cri-du-chat (Miado de Gato)
11 BIOÉTICA E BIOLOGIA REPRODUTIVA
11.1 INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
11.1.1 Introdução Histórica
11.1.2 Bioética no Brasil
11.1.3 Princípios da Bioética
12 BIOÉTICA E A REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA
12.1 PROBLEMAS JURÍDICOS DECORRENTES DAS NOVAS TÉCNICAS DE
REPRODUÇÃO HUMANA
13 BIOÉTICA E CLONAGEM
14 CONCLUSÃO
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APRESENTAÇÃO

Este material de Embriologia Humana focaliza os aspectos essenciais,


clinicamente relevantes, da embriologia. Os recentes avanços da embriologia foram
tão importantes que o estudante frequentemente tem dificuldade em compreender
os fatos básicos do desenvolvimento tendo como fonte o quadro altamente
complexo que lhe é apresentando. Por isso, o objetivo desse material é oferecer ao
estudante ou profissional das áreas biológicas e da saúde uma apresentação
concisa, bem ilustrada, dos fatos essenciais do desenvolvimento humano sem omitir
os avanços recentes ou mudanças nos conceitos das ciências básicas.
Apresentamos também as origens genéticas e ambientais das malformações
genéticas. Além disso, como a embriologia assumiu uma grande importância prática
devido ao enorme progresso ocorrido com as técnicas de reprodução assistida, esta
obra contém capítulos relativos a esse assunto, bem como a polêmica envolvendo
as pesquisas científicas com embriões humanos. Além disso, visa enriquecer o
conhecimento dos interessados pela embriologia.

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MÓDULO I

1 SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

O sistema reprodutor masculino consiste em órgãos reprodutores externos e


internos. Os órgãos externos da reprodução no homem são o escroto e o pênis, ao
passo que os internos são os testículos (gônadas masculinas), epidídimo, ducto
deferente, ducto ejaculatório (sistemas de ductos de armazenamento e excreção), e
glândulas acessórias (vesículas seminais, próstata e glândulas bulbouretrais).

1.1 ESCROTO

O escroto é uma bolsa músculo cutâneo localizado posteriormente ao pênis


e sustentado pelo púbis. É uma continuação da parede abdominal, dividido por um
septo formando dois sacos, o direito e o esquerdo, cada um com um testículo e seu
respectivo epidídimo. Na adolescência, o escroto torna-se mais pigmentado e
coberto por pelos esparsos.
Uma camada de músculo liso chamada de dartos é encontrada no tecido
subcutâneo do escroto, apresentando a capacidade de responder às alterações de
temperatura. Quando está frio, a camada dartos contrai, promovendo o encosto dos
testículos no períneo (fato que coopera para a transferência de calor entre as
estruturas e facilita a absorção de temperatura do organismo por parte do escroto)
então, o escroto torna-se mais enrugado, curto e pigmentado. Estando quente, a
camada dartos relaxa-se, afastando os testículos do corpo (dificultando a troca de
energia entre escroto e organismo). Esses mecanismos visam manter uma
temperatura adequada para os testículos sintetizar os espermatozoides, bem como

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para manter a viabilidade dos mesmos, temperatura essa que deve estar entre 2 e
3°C (dois e três graus Celsius) abaixo da temperatura corpórea.

FIGURA 1  ÓRGÃOS REPRODUTORES MASCULINOS

FONTE: Herlihy e Maebius, 2002.

1.1.1 Testículos

No homem, os testículos correspondem fisiologicamente aos ovários nas


mulheres. São em número de dois, localizados no escroto, apresentam forma
ovoide, medindo cerca de 5 centímetros de comprimento e são naturalmente

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palpáveis, em que geralmente o esquerdo é relativamente mais baixo do que o
direito.
São os órgãos produtores de espermatozoides, compostos por um
emaranhado de tubos (túbulos seminíferos), sendo que, a partir da puberdade,
também produzem hormônios, sobretudo o testosterona, que são responsáveis
pelo desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos e o aparecimento das
características sexuais secundárias. Esses hormônios promovem o aumento da
massa muscular e óssea na puberdade, estimulam o crescimento das glândulas
sebáceas e a elaboração do sebo, estimulam os folículos pilosos para que façam
crescer a barba masculina e o pelo pubiano, ampliam a laringe e tornam mais grave
a voz.
No início da vida fetal, os testículos estão localizados na cavidade
abdominal, cerca de dois meses antes do nascimento descem para o escroto,
procedido de uma invaginação do peritônio chamada de processo vaginal, a partir da
qual se origina a túnica vaginal, camada mais externa dos testículos. Sob a túnica
vaginal, encontra-se um revestimento fibroso do testículo, conhecido como túnica
albugínea, uma camada densa de tecido conjuntivo fibroelástico, contendo células
musculares lisas espalhadas, especialmente na região adjacente ao epidídimo.
Septos fibrosos (estruturas de tecido conjuntivo que separa estruturas
anatômicas nos testículos chamadas lóbulos) (Figura 2A) estendem-se para dentro
da substância do testículo, dividindo-o em cerca de 250 lóbulos. Cada lóbulo contém
de um a três estreitos túbulos enovelados conhecidos como túbulos seminíferos, que
se fossem desenrolados em conjunto mediriam 500 metros, considerando os túbulos
seminíferos de ambos os testículos! As células reprodutoras masculinas (células
germinativas, os espermatozoides) (Figura 2B) estão localizadas no interior desses
túbulos, e as prematuras espermatogônias e os espermatócitos primários, na
periferia dos túbulos, mais próximo do epitélio germinativo.
Os túbulos seminíferos unem-se para formar uma série de túbulos retos
mais largos, que, por sua vez, formam uma rede conhecida como rede do testículo.
Cerca de 20 ductos eferentes deixam a extremidade superior da rede dos
testículos, perfurando a túnica albugínea e abrindo no epidídimo.

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FIGURA 2  ESTRUTURA DOS TESTÍCULOS

A. Gônada masculina. O testículo é formado por lóbulos que contêm túbulos seminíferos envolvidos
por células intersticiais. Observe a união entre o epidídimo e o ducto deferente. B. Espermatozoide
mostrando a cabeça, o corpo e a cauda. FONTE: Herlihy e Maebius, 2002.

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A espermatogênese (síntese de espermatozoides) desenvolve-se na
parede dos túbulos seminíferos pela diferenciação de células espermatogônicas,
onde estas, a partir da puberdade, passam a se multiplicar e vão se transformando
em espermatócitos primários, cada um destes, origina dois espermatócitos
secundáios, que sofrem a segunda divisão meiótica e originam cada um, duas
espermátides (Figura 3) que se diferenciam em espermatozoides. Os
espermatozoides recém-formados caem na cavidade interna dos túbulos seminíferos
e passam a se deslocar passivamente em seu interior, devido às contrações das
paredes dos túbulos e do fluxo de líquido presente dentro deles, até chegarem aos
epidídimos, onde serão maturados e armazenados até o momento da ejaculação.
Além das células reprodutoras, outras células são encontradas nos
testículos, como as células de Sertoli (que fornecem substâncias nutritivas, suporte
aos espermatozoides e realizam fagocitose de restos citoplasmáticos das
espermátides) (Figura 3) e as células intersticiais ou de Leydig (encontradas entre
os túbulos seminíferos e são responsáveis pela produção de testosterona).

FIGURA 3  CÉLULAS DE SERTOLI E SUA RELAÇÃO COM AS CÉLULAS


GERMINATIVAS

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Espermatócitos e espermátides recém-formados ocupam depressões nos aspectos basais da célula,
enquanto espermátides mais maduras situam-se nos recessos profundos, próximos do ápice.
FONTE: Junqueira e Carneiro, 2004.

1.1.1.1 Espermatogênese

Os túbulos seminíferos contêm grande quantidade de pequenas células


epiteliais germinativas denominadas espermatogônias, que estão dispostas em 2 a
3 camadas ao longo da margem externa do epitélio tubular. Elas proliferam
continuamente para se repor e, parte delas, se diferenciam por meio de estágios
definidos de desenvolvimento para formar os espermatozoides.
Na espermatogênese, algumas células se diferenciam e crescem para
formar os chamados espermatócitos. Esses espermatócitos, por meio do
processo de meiose, dividem-se em 2 estágios (pelo qual não há formação de novos
cromossomos, apenas a separação dos pares de cromossomos), formando 4
espermátides, cada uma contendo 23 cromossomos. As espermátides cessam o
processo de divisão celular e se transformam em espermatozoides.
Em cada espermatogônia, um dos 23 pares de cromossomos carrega as
informações genéticas que determinam o sexo eventual da criança. Esse par é
composto de um cromossomo X (denominado cromossomo feminino) e um
cromossomo Y (denominado cromossomo masculino). Durante a divisão meiótica,
os cromossomos que determinam o sexo são separados entre as espermátides, de
modo que metade dos espermatozoides contém o cromossomo Y e a outra metade
contém o cromossomo X. O sexo da criança é determinado no momento da
fecundação, dependendo de qual espermatozoide fertiliza o óvulo. Portanto, a
probabilidade de uma criança nascer com o sexo masculino ou feminino é de 50%
para ambos.
Quando são originalmente formadas as espermátides, a partir das
espermatogônias, elas ainda conservam as características comuns das células
epiteloides. No entanto, durante sua maturação, a maior parte do citoplasma
desaparece, e as espermátides começam a se alongar para formar os

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espermatozoides, compostos de cabeça, colo, corpo (ou peça intermediária) e
cauda. Para formar a cabeça, o material nuclear condensa-se numa massa
compacta e a membrana celular se contrai em torno do núcleo (Figura 4).
Na parte superior da cabeça do espermatozoide, existe uma saliência
denominada acrossoma, formada pelo aparelho de Golgi, contendo hialuronidase e
proteases, que desempenham papéis importantes para a penetração do
espermatozoide no óvulo. Os centríolos estão localizados e agregados no colo do
espermatozoide, ao passo que, as mitocôndrias estão dispostas em espiral em volta
do corpo (Figura 4).

FIGURA 4  ETAPAS DA ESPERMIOGÊNESE

Desenhos esquemáticos mostrando os estágios importantes na transformação da espermátide


humana em espermatozoide. FONTE: Junqueira e Carneiro, 2004.

A cauda é uma extensão afilada a partir do corpo, e é principalmente


derivada de um dos centríolos. Ela tem uma estrutura semelhante à de um cílio
(estruturas encontradas no epitélio respiratório e tubas uterinas). A cauda contém 2

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microtúbulos pareados no centro e 9 microtúbulos duplos dispostos em torno da
borda. Toda essa estrutura é denominada axonema.
Os movimentos flagelados da cauda para um lado e para outro dá
mobilidade ao espermatozoide. Esse movimento decorre do deslizamento
longitudinal para frente e para trás entre os túbulos anteriores e posteriores que
formam o axonema. Os espermatozoides normais movem-se em linha reta com
velocidade de 1 a 4 mm por minuto.
O pH também influencia na atividade locomotora dos espermatozoides.
Geralmente em meios neutros e ligeiramente alcalinos, como no sêmen ejaculado,
os espermatozoides têm um ambiente favorável a sua atividade, mas é bastante
reduzida em meios ligeiramente ácidos, e meios fortemente ácidos, que além do
mais, podem propiciar a morte dessas células. Sabe-se que os espermatozoides
podem viver por muitas semanas nos dutos genitais dos testículos e, que sua vida
nos órgãos genitais femininos é de apenas 1 a 2 dias.

1.2 EPIDÍDIMO

Primeira porção do sistema de ductos. Localiza-se na porção posterior dos


testículos (Figura 1). É um tubo enovelado em forma de C, longo (quatro a seis
metros) e intensamente enovelado sobre si mesmo. Internamente, o ducto
epididimário é revestido por epitélio pseudoestratificado, formado por células basais
arredondadas e por células prismáticas. Tal epitélio é apoiado numa lâmina basal
envolvida por tecido conjuntivo frouxo e fibras musculares lisas. Essa musculatura
lisa, por meio de contrações peristálticas, ajuda no transporte dos espermatozoides
em direção ao canal deferente, e também auxilia no processo da ejaculação.
Os espermatozoides encontrados nos túbulos seminíferos são imóveis,
portanto, incapazes de se locomoverem e fertilizar o óvulo. Porém, após ficarem por
aproximadamente 18 a 24 horas no epidídimo, os espermatozoides desenvolvem a
capacidade locomotiva, mas, nos epidídimos existem proteínas inibidoras que
impedem os movimentos flagelados dos espermatozoides, que só poderão
locomover-se depois da ejaculação. Os espermatozoides também se tornam

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capazes de fertilizar o óvulo, num processo denominado maturação. O epidídimo
secreta grande quantidade de um líquido que contém hormônios, enzimas e
nutrientes especiais fundamentais para a maturação dos espermatozoides.
Uma pequena quantidade de espermatozoide pode ser armazenada no
epidídimo, mas a maior quantidade é armazenada no epidídimo e na sua ampola.
Eles podem ser armazenados nessas porções durante um período de um mês,
mantendo sua fertilidade.

1.3 DUCTO DEFERENTE

Cada ducto deferente é uma continuação da cauda do epidídimo (Figura


2A). Nesse tubo, pode ser encontrado três túnicas, uma túnica mucosa interna, uma
muscular média e uma túnica fibrosa externa.
Em sua porção terminal, o ducto deferente apresenta uma dilatação, a
ampola, onde o epitélio fica mais espesso e onde desemboca a vesícula seminal. Na
porção intraprostática esse ducto denomina-se ducto ejaculatório.

1.4 DUCTO EJACULATÓRIO

Estrutura formada pela junção do ducto deferente e o ducto da vesícula


seminal; é a porção de menor extensão (cerca de dois centímetros e meio) e de
calibre mais reduzido. Em quase todo seu trajeto está situado no interior da próstata,
e desemboca no interior da uretra prostática junto de uma saliência denominada
colículo seminal.

1.5 GLÂNDULAS ACESSÓRIAS

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As vesículas seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais constituem as
glândulas acessórias do aparelho reprodutor masculino (Figura 5).

1.5.1 Vesículas Seminais

São bolsas membranosas saculiformes em número de duas, situadas


posteriormente à bexiga (Figura 5), próxima a sua base, constituindo cada uma de
um único tubo enovelado sobre si mesmo que emite vários divertículos e finaliza
superiormente em um fundo cego. Inferiormente sua extremidade torna-se estreita e
reta para formar o ducto da vesícula seminal, que se junta ao correspondente ducto
deferente para formar o ducto ejaculatório.
As vesículas seminais secretam um líquido espesso, rico em nutrientes
(principalmente o açúcar frutose), que representa 60% do sêmen, e se junta no
ducto ejaculatório com os espermatozoides carreados dos testículos pelo ducto
deferente. O sêmen consta de espermatozoides e elementos líquidos, sendo a
função destes últimos ativar os espermatozoides e facilitar a progressão dos
mesmos por meio de suas vias de passagem. A secreção das vesículas seminais faz
parte do líquido seminal e tem papel na ativação dos espermatozoides.

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FIGURA 5  ESQUEMA GERAL DO APARELHO REPRODUTOR MASCULINO

Observar as glândulas acessórias: vesículas seminais, próstata e glândulas bulbouretrais. FONTE:


Junqueira e Carneiro, 2004.

1.5.2 Próstata

A próstata é a maior glândula acessória do sistema reprodutor masculino,


além disso, é um órgão pélvico ímpar situado inferiormente à bexiga urinária (Figura
5), com grande parte da sua base, ou superfície superior, em contato com a bexiga e
com seu ápice dirigido para baixo. Consiste principalmente de musculatura lisa e
tecido fibroso, mas também contém glândulas. É atravessada em toda à sua

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extensão pela uretra e secreta um líquido fluido, leitoso e alcalino que neutraliza a
acidez vaginal e auxilia na manutenção da viabilidade dos espermatozoides.
A secreção das glândulas prostáticas é lançada diretamente na uretra por
meio de inúmeros dúctulos prostáticos (não visíveis macroscopicamente) e conferem
odor característico ao sêmen.

1.5.3 Glândulas Bulbouretrais

As glândulas Bulbouretrais (de Cowper) são duas formações arredondadas,


pequenas (do tamanho de uma ervilha), situadas nas proximidades da parte
membranosa da uretra e inferiormente à próstata de cada lado da uretra (Figura 5).
Durante a excitação sexual, elas liberam no lúmen uretral um líquido mucoso que
antecede a ejaculação cuja função ainda não é muito bem conhecida. Acredita-se
que a secreção destas glândulas contribua para a limpeza e lubrificação do canal
uretral antes da passagem dos espermatozoides.

1.6 PÊNIS

O pênis é o órgão masculino da cópula, é uma estrutura flácida quando não


está estimulada. Morfologicamente, a parte externa do pênis pode ser dividida em
raiz, corpo, que é a parte média, e glande (“cabeça”). A pele frouxa do corpo do
pênis dobra-se, envolvendo a glande e formando o prepúcio. Normalmente, a pele
do pênis é relativamente mais fina e pigmentada em relação ao restante do corpo, e
é uma área extremamente rica em terminações nervosas, o que determina grande
sensibilidade à estimulação sexual.
O corpo cilíndrico ou haste do pênis é composto por três massas de tecido
erétil, dois corpos cavernosos e um corpo esponjoso (Figura 6); capazes de
aumentar consideravelmente quando enchem de sangue, sustentado por tecido
conjuntivo fibroso e ainda coberto por uma pele fina e extremamente distensível.

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Os corpos cavernosos são duas colunas longitudinais localizadas
dorsalmente e formam a maior parte do pênis. A terceira coluna longitudinal é
conhecida como corpo esponjoso, encontra-se situado ventralmente e é atravessada
pela porção peniana da uretra, ou seja, o corpo esponjoso envolve a uretra peniana.
Apresenta duas dilatações, uma anterior (glande do pênis) e a outra posterior (bulbo
do pênis).

FIGURA 6  ESQUEMA DE UM CORTE TRANSVERSAL DE PÊNIS

FONTE: Junqueira e Carneiro, 2004.

1.7 URETRA MASCULINA

A uretra masculina faz parte tanto do sistema urinário quanto do sistema


reprodutor masculino, porque é um conduto comum para a micção e à ejaculação.
Mede cerca de 20 centímetros de comprimento (valor que pode variar de indivíduo
para indivíduo). Inicia-se no óstio interno da uretra, na bexiga urinária, e atravessa
sucessivamente a próstata, assoalho da pelve e o pênis, finalizando na extremidade

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desse órgão pelo óstio externo da uretra. São encontradas quatro porções na uretra
masculina: prostática, membranosa, bulbouretral e peniana.

1.8 SÊMEN

O sêmen (ejaculado durante o ato sexual masculino) é constituído pelos


líquidos do canal deferente, das vesículas seminais, da glândula próstata e das
glândulas mucosas, especialmente pelas glândulas bulbouretrais (de Cowper).
Sendo que, a maior parte do sêmen é constituída pelo líquido das vesículas
seminais (cerca de 60%), que é o último a ser ejaculado, e serve para lançar os
espermatozoides para fora do ducto ejaculatório e da uretra. O líquido prostático,
pela sua característica alcalina, funciona como uma substância que neutraliza a leve
acidez do pH do sêmen. O líquido prostático dá ao sêmen uma característica leitosa,
enquanto o líquido das vesículas seminais e das glândulas mucosas dá ao sêmen
uma consistência mucoide.
A quantidade habitual de sêmen ejaculado em cada coito é em média de
aproximadamente 3,5 ml, e em cada mililitro de sêmen há em média cerca de 120
milhões de espermatozoides. Portanto, em média 400 milhões de espermatozoides
estão presentes em cada ejaculação. Quando o número de espermatozoides
presentes no sêmen de um homem cai abaixo dos 20 milhões aproximadamente, o
indivíduo pode ser infértil. Apesar de apenas um espermatozoide fertilizar o óvulo,
há a necessidade de o sêmen conter muitos espermatozoides. Uma razão possível
para esse requisito é a necessidade das enzimas de muitos espermatozoides para
possibilitar a penetração de um deles por meio do revestimento protetor do óvulo.
Ao ser expelido dos folículos ovarianos para as tubas uterinas, o óvulo traz
consigo múltiplas camadas de células da granulosa. Antes de poder fertilizar o óvulo,
o espermatozoide deve primeiro, atravessar e, depois, penetrar o espesso
revestimento do óvulo propriamente dito, a zona pelúcida. Felizmente, o acrossoma
começa a liberar suas enzimas. Acredita-se que a hialuronidase entre outras

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enzimas seja particularmente importante para abrir passagem entre as células da
granulosa, de modo que o espermatozoide possa chegar até o óvulo e fertilizá-lo.
Ao chegar à zona pelúcida do óvulo, a membrana anterior do
espermatozoide se liga especificamente a uma proteína receptora na zona pelúcida,
com isso toda membrana anterior do acrossoma se dissolve rapidamente, e todas as
enzimas acrossômicas são logo liberadas. Ocorrem reações químicas e, dentro de
minutos, elas abrem passagem para a penetração da cabeça dos espermatozoides
por meio da zona pelúcida e, o material genético do espermatozoide penetra no
óvulo.

1.8.1 Análise Laboratorial do Sêmen

Após a realização da anamenese e exame físico, o médico pode solicitar a


análise seminal. Vale lembrar que o tempo para a produção dos espermatozoides –
desde o espermatócito primário, passando pela espermátide até espermatozoide –
leva em torno de 60 dias, portanto, uma análise seminal individual reflete as
variações biológicas que ocorreram nos últimos dois meses (PASQUALOTTO e
PASQUALOTTO, 2006). O período de abstinência para realização da análise
seminal deve ser entre dois a três dias. Para uma avaliação mais fidedigna e real da
espermatogênese, são recomendáveis no mínimo duas coletas de sêmen com
intervalo de tempo entre as coletas de aproximadamente 15 dias.
O sêmen é considerado normal quando (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1999):
a) a concentração de espermatozoides é superior a 20 x 106/ml;
b) o número total de espermatozoides é superior a 40 milhões;
c) a motilidade dos espermatozoides é superior a 50% das células com
progressão linear.
d) pelo menos 30% dos espermatozoides apresentam formas ovais
normais.
e) o volume espermático varia de 2 a 5 ml, com um valor médio de 3,2 ml.
f) pH entre 7,2 a 8, quando medido dentro de 1 hora após a ejaculação.

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g) 60% dos espermatozoides vivos no ejaculado.

Vários fatores podem interferir na formação do sêmen, causando a


infertilidade. Um aumento da temperatura dos testículos devido a uma febre
prolongada ou à exposição ao calor excessivo pode reduzir muito a contagem de
espermatozoides, reduzir o vigor de seus movimentos e aumentar a quantidade de
espermatozoides anormais no sêmen. A azoospermia (ausência total de esperma) é
devido a um distúrbio grave no interior dos testículos ou da obstrução ou ausência
dos vasos deferentes (em ambos os lados) (MANUAL MERCK, 2013).
Uma outra condição que pode prejudicar a produção do sêmen é a
varicocele, definida como:

[...] anomalia anatômica mais comum no homem estéril, é uma massa de


veias dilatadas e tortuosas no escroto, similares às veias varicosas. Essa
anomalia pode impedir a drenagem adequada do sangue dos testículos e,
consequentemente, elevando a temperatura e reduzindo a velocidade de
formação do esperma (MANUAL MERCK, 2013).

Ademais, a ejaculação retrógrada – quando o sêmen segue um caminho


diferente do habitual, reflui para a bexiga ao invés de seguir pela uretra – prejudica a
liberação do sêmen. A ejaculação retrógada pode ocorrer em homens submetidos a
uma cirurgia pélvica, sobretudo com a remoção da próstata, e nos homens
diabéticos ou até mesmo ser decorrente de um funcionamento anormal dos nervos
(MANUAL MERCK, 2013).

1.9 ATO SEXUAL

A ereção do pênis do homem é fundamental para o ato sexual, é o principal


efeito da estimulação sexual masculina e seu grau é proporcional ao grau de
estimulação, seja ela psíquica ou física.
A ereção é causada por impulso parassimpático que vai da parte sacral da
medula espinhal até o pênis. Esses impulsos causam vasodilatação das artérias
penianas, permitindo, dessa forma, que o sangue arterial flua sob alta pressão para
o tecido erétil do pênis. Esse tecido erétil é composto de grandes sinusoides

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venosos cavernosos, que normalmente estão relativamente vazios, mas que se
dilatam de modo acentuado quando o sangue flui para dentro deles sob pressão.
Esses corpos eretores também são circundados por forte revestimento fibroso, por
esta razão, a pressão elevada no interior dos sinusoides causa o bombeamento do
tecido erétil de tal modo que o pênis fica rígido e alongado.
A emissão e a ejaculação são o clímax do ato sexual masculino. Quando o
estímulo sexual fica extremamente intenso, os centros reflexos da medula espinhal
começam a emitir estímulos simpáticos que deixam a medula por L1 e L2 e vão até
os órgãos genitais, iniciando a emissão, precursora da ejaculação.
A emissão inicia-se tanto pela contração do ducto deferente quanto pela sua
ampola, ocasionando a expulsão do esperma para uretra interna. Em seguida,
contrações das vesículas seminais e do revestimento muscular da próstata expelem
o líquido seminal e o líquido prostático, forçando o esperma para diante. Todos
esses líquidos misturam-se ao muco já secretado pelas glândulas bulbouretrais,
formando o sêmen. O processo até esse ponto é a emissão.
O enchimento da uretra interna produz estímulos que são transmitidos à
região sacral da medula espinhal. Esses sinais na medula sacral, por sua vez,
excitam ainda mais a contração rítmica dos órgãos genitais internos, provocando,
também, contrações dos musculoesqueléticos isquiocavernoso e bulbocavernoso,
que comprimem as bases do tecido erétil do pênis. Esses efeitos aumentam ainda
mais os movimentos peristálticos em forma de ondas, da pressão dos ductos
genitais e da uretra, que projetam o sêmen da uretra para o exterior. Esse processo
é denominado ejaculação. Ao mesmo tempo, contrações rítmicas dos músculos
pélvicos e, até mesmo, de alguns dos músculos do tronco causam movimentos
projetivos da pelve e do pênis, que também ajudam a impelir o sêmen para os
recessos mais profundos da vagina e, talvez, mesmo até o útero, por meio do colo
uterino.
O organismo masculino é compreendido como todo esse período de
emissão e ejaculação. Quando ele termina, a excitação sexual masculina
desaparece quase totalmente em 1 a 2 minutos e a ereção cessa, um processo
denominado resolução.

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1.10 TESTOSTERONA E OUTROS HORMÔNIOS SEXUAIS MASCULINOS

Os testículos produzem hormônios denominados androgênicos, sendo o


mais importante à testosterona. Esse hormônio é produzido pelas células
intersticiais de Leydig, situadas entre os túbulos seminíferos.
A testosterona é responsável por várias características que diferenciam o
corpo masculino do feminino. Mesmo durante a vida fetal, os testículos são
estimulados pela gonadotropina coriônica humana, produzida pela placenta, a
produzirem pequena quantidade de testosterona, mas não é produzida nenhuma
testosterona durante a infância até a idade de 10 a 13 anos aproximadamente. Logo
com a puberdade, a produção de testosterona aumenta bruscamente, e dura por
todo o restante da vida, diminuindo de maneira acentuada depois dos 40 anos de
idade para um terço do valor máximo por volta dos 80 anos de idade.
Por volta do 2º mês de vida embrionária, o novo ser em formação começa a
sintetizar testosterona, que é essencial para o desenvolvimento dos órgãos genitais
e traços masculinos. Quando se administra testosterona em uma grávida na qual o
novo ser em desenvolvimento é do sexo feminino, esse desenvolve órgãos sexuais
masculinos, e quando se retira os testículos do feto, esse desenvolve órgãos
sexuais femininos. Por essa razão, a presença ou ausência de testosterona no feto é
o fator determinante do desenvolvimento de órgãos genitais e de traços
característicos masculinos ou femininos. Isto é, a testosterona secretada pelas
cristas genitais e os testículos subsequentemente desenvolvidos é responsável pelo
desenvolvimento das características sexuais masculinas, incluindo o crescimento do
pênis e do escroto, em vez da formação do clitóris e da vagina. Ela também causa o

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desenvolvimento da glândula próstata, das vesículas seminais e dos dutos genitais
masculinos, suprimindo ao mesmo tempo a formação dos órgãos genitais femininos.
Uma outra função importante da testosterona durante a vida intrauterina do
feto é a descida dos testículos da cavidade abdominal para o escroto, que ocorre
frequentemente entre o 8º e 9º mês de gravidez. Quando o feto nasce sem essa
descida, a administração de testosterona pode resolver essa anormalidade; ou a
administração de hormônios gonadotrópicos, que estimulam as células intersticiais
dos testículos a produzirem testosterona. Se por acaso, mesmo com a administração
desses hormônios, os testículos não descerem, uma intervenção cirúrgica pode ser
necessária.
A secreção de testosterona após a puberdade faz o pênis, o escroto e os
testículos aumentarem de tamanho cerca de oito vezes até por volta dos 20 anos de
idade. Além disso, a testosterona faz com que se desenvolvam ao mesmo tempo as
características sexuais secundárias masculinas, começando na puberdade, e
terminando na maturidade. Essas características sexuais secundárias, promovidas
pela testosterona, além dos próprios órgãos sexuais, distinguem o homem da mulher
na distribuição de pelos corporais (no púbis, na face, no tórax, nas costas e aumenta
a quantidade de pelo por quase todo o corpo); na voz mais grave porque ela causa
hipertrofia da mucosa laríngea e o aumento da laringe, esses efeitos causam
inicialmente voz relativamente dissonante, “rachada”, mas que passa de modo
gradual à típica, voz profunda masculina e também aumenta a espessura da pele
em todo o corpo.
Além disso, uma das mais importantes características masculinas é o
desenvolvimento crescente da musculatura após a puberdade; os homens têm em
média um aumento da ordem de 50% da massa muscular em relação às mulheres.
No músculo, a testosterona aumenta o volume, a força muscular e o vigor, devido a
esses efeitos, a testosterona (ou, mais comumente, um andrógeno sintético em seu
lugar) é muito utilizada por atletas para melhorar seu desempenho.
Geralmente, o homem apresenta uma quantidade maior de hemácias do que
as mulheres. Essa realidade não está relacionada com a estimulação da produção
de eritrócitos diretamente pela testosterona, e sim, com o aumento do metabolismo
induzido por este hormônio. Também a retenção de cálcio e o aumento da matriz
extracelular óssea são condições promovidas pela testosterona. Dessa forma, esse

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hormônio nos ossos atua promovendo o crescimento ósseo em espessura e também
depositam quantidade substancial de sais de cálcio.

1.10.1 Controle das Funções Sexuais Masculinos pelos Hormônios Gonadotrópicos


da Glândula Hipófise Anterior – FSH e LH

Apesar de pouco divulgado, os hormônios gonadotrópicos LH (hormônio


Luteinizante) e o FSH (hormônio folículo-estimulante) secretados pela glândula
adeno-hipófise, têm papéis importantes no controle da função sexual masculina.
O LH atua nos testículos, mais especificamente, nas células intersticiais de
Leydig, estimulando-as a produzir a testosterona. A quantidade de LH secretada
pela adeno-hipófise está diretamente relacionada com a quantidade de testosterona
produzida pelos testículos.
O FSH atua na espermatogênese, ou seja, esse hormônio estimula as
espermatogônias a passar por divisão mitótica e se diferenciar em espermatócitos
nos túbulos seminíferos dos testículos.

2 SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

Assim como no masculino, o sistema reprodutor feminino é o conjunto de


órgãos encarregados da reprodução na mulher. É fisiologicamente composto de
órgãos gametógenos (produtores de gametas) e órgãos gametóforos (aonde
transitam os gametas) e de um órgão que abriga o novo ser vivo em
desenvolvimento. Anatomicamente, podemos separar os órgãos reprodutores
femininos em internos e externos; esses últimos em conjunto são chamados de

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vulva ou pudendo, e é composto pelo monte púbico, clitóris, lábios maiores, lábios
menores, vestíbulo, glândulas vestibulares maiores e hímen (Figura 7). Já os órgãos
femininos internos da reprodução incluem a vagina, o útero, as tubas uterinas e os
ovários.

FIGURA 7  ÓRGÃOS GENITAIS FEMININOS EXTERNOS

FONTE: Herlihy e Maebius, 2002.

2.1 MONTE PÚBICO

O monte púbico (de Vênus) é a mais anterior das estruturas anatômicas da


vulva (Figura 7); é uma elevação mediana firme e acolchoada, situada anterior a
sínfise púbica e é constituída principalmente de tecido adiposo recoberto de pelos

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(pelos pubianos), que após a puberdade se tornam espessos, longos e com
distribuição característica.
O monte de Vênus e os lábios maiores são revestidos por pele e de pelos,
ao contrário do resto da vulva, que é revestida de mucosa.

2.2 LÁBIOS MAIORES

São órgãos homólogos ao escroto no homem, compostos de duas pregas


arredondadas de tecido adiposo recoberto com pele (Figura 7); estende-se do monte
púbico para baixo e para trás, envolvendo o vestíbulo.
Os lábios maiores ficam mais evidentes e característicos com a puberdade,
quando os hormônios estrógenos começam a ser secretados com maior intensidade
pelos ovários e atuam nessa porção, aumentando a deposição de lipídios nas
células adiposas
As superfícies externas dessas pregas são recobertas com pelos, ao passo
que, as superfícies internas são lisas, umedecidas, glabras (sem pelos) e possuem
vários folículos sebáceos. Uma dobra de pele chamada de comissura anterior faz a
união anterior dos lábios maiores. Eles não são unidos posteriormente, embora as
partes terminais juntamente com a pele, unida as mesmas, são chamadas de
comissura posterior.

2.3 LÁBIOS MENORES

São duas pequenas pregas cutâneas localizadas medialmente aos lábios


maiores (Figura 7). Normalmente, a pele que os recobre é lisa, úmida e
relativamente vermelha. As pregas superiores se unem logo à frente do clitóris para
formar o frênulo. Na porção posterior, os lábios menores tornam-se menos

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caracterizados, porém, as extremidades parecem unir-se por uma prega transversal
da pele chamada frênulo dos lábios menores.

2.4 VESTÍBULO

É uma fenda localizada entre os lábios menores, pode ser encontrado no


interior desta fenda o hímen, o óstio da vagina, o óstio externo da uretra e as
aberturas das glândulas vestibulares maiores. Entre o óstio da vagina e o frênulo do
lábio menor há uma depressão rara chamada de fossa vestibular. O meato da
uretra é uma abertura de quatro a seis milímetros, localizado aproximadamente 2,5
cm posteriormente ao clitóris e imediatamente anterior ao óstio da vagina.
Múltiplas e pequenas glândulas uretrais (de Skene) circundam o orifício
uretral e são homólogas à próstata do homem. Essas glândulas abrem-se no interior
do vestíbulo, mediante um par de dúctulos, localizados lateralmente ao óstio da
uretra.

2.5 GLÂNDULAS VESTIBULARES MAIORES

Essas são homólogas as glândulas bulbouretrais do homem, em número de


duas, situadas profundamente e nas proximidades do vestíbulo da vagina, onde se
abrem seus ductos. Durante a relação sexual elas são comprimidas e estimuladas
secretando um muco, que serve para lubrificar a porção inferior da vagina. As
glândulas vestibulares menores, em número variável, têm seus minúsculos ductos
se abrindo no vestíbulo, entre os óstios da uretra e da vagina.

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2.6 CLITÓRIS

O clitóris é homólogo ao pênis, ou mais exatamente, dos corpos cavernosos;


apresenta-se como uma projeção em forma de uma ervilha, de tecido erétil com
nervos e vasos sanguíneos, que ocupa a porção apical do vestíbulo anterior da
vagina, não sendo atravessado pela uretra. Possui duas extremidades fixadas ao
ísquio e ao púbis. O clitóris apresenta um corpo e uma dilatação terminal chamada
de glande do clitóris. Embora bem menor em tamanho que a glande do pênis, a
glande do clitóris tem 4 vezes mais terminações nervosas.
O clitóris também é uma estrutura que apresenta a capacidade de se
alongar (crescer e tornar-se mais espesso) graças à presença de tecido erétil.

2.7 HÍMEN

O hímen é uma delgada membrana de tecido conjuntivo revestido por


mucosa e vascularizado que separa a vagina do vestíbulo. Pode estar inteiramente
ausente ou ainda integral e parcialmente presente, podendo ser variável em forma e
tamanho, sendo frequentemente encontrado na forma anular ou em crescente
(Figura 8).
Algumas situações são raras, como, a imperfuração e agenesia (ausência)
do hímen. O hímen pode desaparecer totalmente no período fetal ou se presente ao
nascimento, pode se romper na puberdade e/ou fase adulta pela penetração do
pênis ou decorrente de atividades normais da infância como abrir as pernas na
ginástica, andar de bicicleta, etc., ou mesmo na masturbação (DINIZ, 2003).
Geralmente, quando o hímen é flexível, ele não se rompe na primeira
relação sexual e, portanto não sangra. Contudo, o hímen que sangra na primeira
relação parece ser uma situação anatômica minoritária (DINIZ, 2003). Algumas
mulheres sangram na primeira relação, às vezes, pela ruptura de um hímen mais
rígido.

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Portanto, anatomicamente nem a presença nem a ausência do hímen pode
ser considerado como critério classificatório para a virgindade. Após a dilaceração
ou ruptura da membrana, restam pequenos fragmentos no local de inserção de sua
margem, são as chamadas carúnculas himenais.

FIGURA 8  ALGUMAS MODALIDADES DE HÍMEN

Hímen anular Hímen septado Hímen cribriforme “Introito” Multíparo

FONTE: Netter, 2004.

2.8 VAGINA

A vagina é um órgão tubular musculomembranoso mediano de 10 a 15 cm


de comprimento (Figura 9A), situada entre a bexiga e o reto. O termo vagina é
oriundo do latim e significa bainha, nome dado a essa estrutura por analogia
fisiológica, porque a vagina funciona como uma bainha ao ser penetrada pelo pênis
durante a relação sexual. Além de ser o órgão da cópula, ela dá passagem ao feto
durante o parto normal e mensalmente aos produtos da menstruação.
As paredes da vagina estão normalmente em íntima aposição uma com a
outra, formando um tubo colapsado. Apresenta um revestimento membranoso
interno, e uma musculatura com enorme capacidade distensível e de contração. A
membrana mucosa é classificada histologicamente como epitélio pavimentoso

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estratificado, que forma espessas pregas transversais que se mantém umedecida
por secreções cervicais.

FIGURA 9  ÓRGÃOS REPRODUTORES FEMININOS

A. Estrutura do úetro e trompas uterinas. B. Maturação do folículo ovariano.


FONTE: Herlihy e Maebius, 2002.

2.9 ÚTERO

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Esse é o órgão que aloja e garante um ambiente adequado para o
desenvolvimento do embrião e do feto, apresenta-se envolto pelo ligamento largo
(Figuras 9A e 10), tem em geral a forma de uma pera invertida, na mulher não
grávida, que em seu estado normal, mede aproximadamente 7,5 cm de comprimento
e 5 cm de largura.
Ele distingue-se em quatro partes: fundo, corpo, istmo e cérvix (colo)
(Figura 9A). O corpo comunica-se de cada lado com suas respectivas tubas
uterinas, e a porção acima do óstio das tubas uterinas é o chamado fundo do útero.
O corpo é a porção principal e estende-se até o istmo, uma região inferior
estreitada, curta, medindo cerca de 1 cm ou menos, a ele segue o colo do útero que
faz projeção na vagina e com ela se comunica pelo óstio do útero.

FIGURA 10  ÓRGÃOS INTERNOS DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

FONTE: Junqueira e Carneiro, 2004.

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O útero pode variar de forma, tamanho, posição e estrutura de acordo com a
idade, estado nutricional, nuliparidade ou multiparidade, volume da bexiga urinária e
do reto e, sobretudo, do estado de gestação.
Estruturalmente o útero apresenta três túnicas: uma interna ou endométrio,
que passa por modificações de acordo com a fase do ciclo menstrual, uterino ou da
gravidez; uma média ou miométrio, formado por fibras musculares lisas embebidas
em tecido conjuntivo, que consiste na maior parte da parede uterina e uma externa
ou perimétrio (Figura 9A), representada pelo peritônio.
As paredes do útero são espessas em razão da musculatura, porém, a
cavidade uterina é relativamente estreita no útero não gravídico. Mensalmente, o
endométrio passa por modificações (aumento do volume do endométrio com
formação de abundantes redes capilares) com a finalidade de se preparar para
receber o zigoto, ou seja, o futuro embrião. Não ocorrendo fertilização, toda essa
camada que se formou para receber o zigoto se descama, com hemorragia e,
concomitantemente, a eliminação sanguínea através da vagina e vulva, fenômeno
conhecido como menstruação.

2.10 TUBAS UTERINAS

As tubas uterinas, erroneamente chamadas de trompas de Falópio, são dois


tubos musculares flexíveis, em forma de cornetas de aproximadamente 12 cm de
comprimento que se relaciona com o útero e com o ovário (Figura 10), estendendo-
se do fundo do útero de cada lado, na direção da circunferência pélvica. Essas
estruturas estão incluídas na borda superior do ligamento largo do útero,
localizando-se entre a bexiga e o reto.
É interessante salientar que, as tubas uterinas, por estarem incluídas no
ligamento largo do útero, acompanham o útero na gravidez. Assim como no útero,
as tubas uterinas são formadas por três camadas: mucosa, muscular e serosa.
A camada mucosa, também chamada de interna, é revestida por epitélio
cilíndrico ciliado. A camada de musculatura lisa é formada por uma camada interna

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circular e uma externa longitudinal descontínua, e a camada serosa é formada
basicamente por tecido conjuntivo fibroso.
O óstio das tubas uterinas confere uma outra diferença existente entre o
homem e a mulher; elas permitem na mulher a comunicação da cavidade peritoneal
com o ambiente externo, por meio das tubas uterinas, cavidade uterina, canal
vaginal e vulva, comunicação essa inexistente no homem, onde a cavidade
peritoneal é dita fechada.
As tubas uterinas podem ser divididas em quatro partes, partindo do útero
para o ovário são: intramural (na parede do útero), istmo, ampola e infundíbulo
(Figura 10). O istmo abre-se na cavidade uterina, sendo continuado pela ampola,
uma parte dilatada e central da tuba, em que geralmente ocorre a fertilização, que
por sua vez, continua-se com o infundíbulo, estrutura em forma de funil cuja base se
encontra o óstio abdominal da tuba e é dotado em suas margens por progressões
digitiformes ou fímbrias, que se curvam e dobram-se em torno do ovário, mas, não
necessariamente está em contato direto com ele.
Quando um óvulo amadurece e é expelido do ovário, as fímbrias funcionam
como tentáculos, trazendo-o para o interior da tuba, onde pode ocorrer o encontro
com o espermatozoide e a consequente fertilização; os movimentos ciliares e
peristálticos conduzem o óvulo ou zigoto para o interior do útero.

2.11 OVÁRIOS

Os ovários (gônadas femininas) são frequentemente referidos como os


principais órgãos reprodutores da mulher, são duas estruturas ovoides (Figura 9A)
com cerca de 4 cm de comprimento, 2 cm de largura e 1,5 cm de espessura. Estão
localizados na porção superior da cavidade pélvica, um de cada lado do útero,
sustentado pelo mesovário.
São responsáveis pela produção de hormônios sexuais e gametas femininos
ou óvulos na puberdade. Esses hormônios são fundamentais para o controle do
desenvolvimento das características sexuais secundárias (deposição de lipídios nas
coxas, quadril, monte pubiano e em outras partes do corpo, com a finalidade de

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modelar o corpo feminino de acordo com suas características; aumento dos lábios
maiores e menores, clitóris; aparecimentos das mamas e entre outros) e atuam
sobre o útero nos mecanismos de implantação do óvulo fecundado e início do
desenvolvimento do embrião.
Antes da primeira ovulação, os ovários são frequentemente lisos e rosados,
mas após sucessivas ovulações tornam-se branco-acinzentados e rugosos devido
às características deixadas pelas subsequentes ovulações, e aos poucos vão se
atrofiando de modo que, nas idosas, o seu tamanho está consideravelmente menor.
Já no final do desenvolvimento embrionário, a menina contém nos seus
dois ovários todas as células que irão se transformar em gametas (óvulos). Essas
células, os ovócitos primários, encontram-se dentro de estruturas denominadas
folículos ovarianos. A partir da adolescência, com a puberdade, sob estimulação
hormonal, os folículos ovarianos começam a crescer e a desenvolver. Os folículos
em desenvolvimento secretam o hormônio estrógeno.
Mensalmente, apenas um folículo geralmente completa o desenvolvimento
e a maturação, rompendo-se e liberando o ovócito secundário (gameta feminino);
fenômeno conhecido como ovulação, discutido posteriormente. Após seu
rompimento, a massa celular resultante transforma-se em corpo lúteo (corpo
amarelo), que passa a secretar os hormônios progesterona e estrógeno. Com o
tempo, o corpo lúteo passa por um processo de involução e se converte em corpo
albicans (corpo branco), uma pequena cicatriz fibrosa que irá permanecer no
ovário (Figura 11).
O corpo albicans é considerado uma cicatriz deixada pelo ovócito que se
rompeu e partiu do ovário para as tubas uterinas.
Compreendemos que diferentemente dos homens, que têm um órgão (o
pênis) que possui várias finalidades (ter relações sexuais, reprodução e urinar), a
mulher tem vários órgãos diferentes para essas funções: vagina (canal muscular
que vai da vulva ao útero), que serve para ter relações sexuais funcionando como
órgão de cópula, passagem do feto e produtos da menstruação; a uretra (canal que
vai da vulva à bexiga), que serve para conduzir a urina do organismo para o meio
ambiente e o clitóris, que serve exclusivamente para o prazer sexual.
É importante ressaltar que a uretra no homem é comum tanto ao sistema
reprodutor quanto ao sistema urinário, diferentemente do que se observa nas

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mulheres, nas quais a uretra funciona única e exclusivamente para conduzir a urina
do ambiente interno para o externo.

FIGURA 11  DESENHO ESQUEMÁTICO DE OVÁRIO

Principais componentes ovarianos dee uma mulher em idade reprodutiva. FONTE: Junqueira e
Carneiro, 2004.

2.11.1 Ovulogênese

A ovulogênese ou processo de formação dos óvulos a partir das ovogônias


inicia-se na vida intrauterina, na fase de embrião e cessa somente na menopausa.
Ao longo da vida da mulher, fatores ambientais, como a radiação, podem atuar nas
ovogônias, comprometendo o material genético dessa célula e conduzindo a uma

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malformação genética do embrião. Esse é um problema que pode ocorrer em
mulheres que são mães tardiamente.
As ovogônias são células diploides (46 cromossomos) e grandes que por
divisões mitóticas originam os ovócitos primários, os quais passam por meiose,
sendo a primeira etapa chamada de reducional ou meiose I, pois, ocorre a redução
do número de cromossomos, de 46 para 23, no ovócito secundário. A meiose I no
ovócito primário (célula diploide) origina duas células haploides, o ovócito
secundário e o primeiro glóbulo polar (Figura 12). Essas duas células possuem
tamanhos diferentes, sendo que o ovócito secundário recebe a maior parte do
citoplasma e o corpúsculo polar é uma célula, pois, recebe uma menor quantidade
de citoplasma.
O ovócito secundário por sua vez origina o óvulo, na segunda etapa da
meiose, tida como equacional ou meiose II, pois, mantém o número haploide (23)
de cromossomos.

FIGURA 12  ESTÁGIOS DA OVULOGÊNESE, DESDE AS CÉLULAS


GERMINATIVAS ATÉ A FORMAÇÃO DO ÓVULO

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40
FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/biologia/ovulogenese.htm>. Acesso em: 22 fev.
2014.

O glóbulo polar logo se degenera e o ovócito secundário sofre a segunda


meiose, que só se completa se houver fertilização, pois ela acontece até a metáfase
II, então a divisão é interrompida. Se for fertilizado, a divisão continua e outra célula
é formada, o segundo glóbulo polar, que também se degenera. Após isso, a
maturação é completada.
Erroneamente, os livros didáticos e os leigos denominam o ovócito
secundário de óvulo, mesmo antes da fecundação. Acontece que o ovócito
secundário somente termina a segunda fase meiótica quando é penetrado pelo
espermatozoide e assim, deveríamos denominar óvulo somente a célula sexual
feminina que é penetrada pela célula sexual masculina.
O processo de gametogênese na mulher se repete todo mês, não se
completando caso não haja fertilização.
Podemos concluir que a ovulogênese difere da espermatogênese, entre
outros, pelo fato de que, na ovulogênese, a partir de uma célula primitiva forma-se 2
corpúsculos polares e apenas uma célula viável, o ovócito secundário, enquanto
que, na espermatogênese, a espermatogônia (célula primitiva) é capaz de formar no
final do processo 4 espermatozoides. Então, a gametogênese na mulher forma
apenas um gameta, ao passo que, no homem esse processo forma 4 gametas.
Além disso, com a puberdade, o processo de formação de gametas no
homem ocorre constantemente, todos os dias, diferentemente na mulher, que ocorre
apenas uma vez por mês.

2.12 OS HORMÔNIOS FEMININOS

As funções sexuais e reprodutivas na mulher podem ser divididas em duas


fases principais: a preparação do corpo para a concepção e o período de gestação.

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41
A reprodução começa pelo desenvolvimento de óvulos nos ovários. Nos
meados de cada ciclo menstrual, um só óvulo é expelido normalmente, porém,
raramente pode ser expelido mais de um óvulo para a cavidade abdominal por um
folículo ovariano. Esse óvulo atinge o útero pelas tubas uterinas e caso tenha sido
fertilizado por um espermatozoide é implantado na parede uterina e começa o
processo de implantação do futuro embrião.
Na época da puberdade, os dois ovários contêm de 400.000 a 500.000
óvulos. Cada óvulo é circundado por uma camada única de células da granulosa e é
denominado folículo primordial. São células consideradas gigantes e haploides,
enquanto que os espermatozoides são células microscópicas (visualizadas somente
no microscópico eletrônico com aumento de no mínimo de 1.200 vezes) e móveis
graças aos movimentos flagelados. Durante toda vida reprodutiva da mulher, apenas
cerca de 400 folículos se desenvolvem o suficiente para expelir seu óvulo; o restante
se degenera. Portanto, uma mulher ao longo da vida ovula 400 vezes desde que não
faça uso de métodos contraceptivos que impeçam a ovulação. Ao final do ciclo
reprodutivo, denominado menopausa, apenas alguns folículos primordiais
permanecem nos ovários, e mesmo esses se degeneram depois.
O sistema hormonal feminino, assim como no masculino consiste em três
hierarquias distintas de hormônios, o hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH),
secretado pelo hipotálamo, que atua na adeno-hipófise promovendo a liberação de
LH e FSH, que por sua vez, atuam estimulando os ovários a secretar os hormônios
ovarianos estrogênio e progesterona.

2.12.1 Funções dos Hormônios Gonadotrópicos da Adeno-hipófise no Controle do


Ciclo Mensal Ovariano

O período reprodutivo feminino normal se caracteriza por alterações rítmicas


mensais da intensidade da secreção dos hormônios femininos e por alterações
correspondentes nos próprios órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é denominado
ciclo sexual feminino ou ciclo menstrual. A duração desse ciclo é, em média, de 28

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42
dias, porém, mesmo em mulheres inteiramente normais podem ocorrer alterações na
duração desses dias tanto para mais quanto para menos.
Como vimos, as alterações ovarianas durante o ciclo sexual dependem
inteiramente dos hormônios gonadotrópicos secretados pela hipófise anterior. Os
ovários que não são estimulados por esses hormônios permanecem totalmente
inativos, como acontece naturalmente durante toda infância, quando não é
secretado nenhum hormônio gonadotrópico. A partir da idade de 8 anos,
progressivamente a hipófise começa a secretar cada vez mais hormônio
gonadotrópico, o que culmina no início dos ciclos sexuais mensais, que
normalmente, ocorre entre os 11 a 15 anos de idade, onde ocorre a menarca
(primeira menstruação) e esse período na vida das meninas é denominado
puberdade.
Os hormônios LH e FSH são pequenas glicoproteínas com peso molecular
de cerca de 30.000. A cada mês do ciclo sexual feminino, ocorre elevação e
diminuição cíclicas do FSH e LH, que por sua vez, causam alterações ovarianas
cíclicas na produção de estrógeno e progesterona.
Durante toda infância, os folículos primordiais não crescem, porém, na
puberdade, quando o FSH e o LH da glândula hipófise anterior começam a ser
secretados em grandes quantidades, todo ovário e muitos dos folículos nele contido,
começam a crescer. O primeiro estágio do crescimento folicular é o aumento do
óvulo propriamente dito e, o crescimento de células da granulosa; o folículo é
designado, então, folículo primário. Algumas semanas antes da ovulação,
desenvolve-se muitas camadas de células da granulosa. As células tecais
(localizadas ao redor das células da granulosa) se originam do estroma ovariano,
logo assumindo características epitelioides. Assim, essas células da granulosa e
tecais secretam os hormônios ovarianos estrogênio e progesterona.
No início de cada ciclo sexual, a concentração de FSH e LH aumenta
promovendo um crescimento acelerado das células tecais e granulosa em cerca de
20 folículos ovarianos a cada mês. Essas células, por sua vez, secretam um líquido
folicular contendo concentração elevada de estrogênio, um dos importantes
hormônios sexuais femininos. O acúmulo desse líquido no folículo faz aparecer no
meio da massa de células tecais e da granulosa, um antro, espaço no qual esse

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43
líquido fica retido. Nessa fase, o folículo em crescimento é denominado folículo
antral ou vesicular (Figura 13).

FIGURA 13  ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO FOLICULAR

FONTE: Disponível em: <http://eagaspar.com.br/mcguido/foliculogenese.htm>. Acesso em: 22 fev.


2014.

Com o crescimento do folículo vesicular, às células tecais e da granulosa


passam a se desenvolver, principalmente em um dos polos do folículo. É nessa
massa que o óvulo fica situado. Após uma semana ou mais de crescimento, antes,
porém, que ocorra a ovulação, um dos folículos começa a crescer mais do que todos
outros e, o restante deles começa a involuir (processo denominado atresia),
dizendo-se que esses folículos tornam-se atrésicos.
O processo de atresia é importante porque possibilita que apenas um dos
folículos possa crescer o suficiente para ovular. Esse folículo individual atinge o
tamanho de aproximadamente 1,5 cm por ocasião da ovulação.

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44
2.12.2 Ovulação

A ovulação na mulher com ciclo sexual feminino normal de 28 dias ocorre no


14° dia após o início da menstruação.
O LH é necessário para o crescimento final do folículo ovariano e ovulação,
ele desencadeia o “start” para ocorrer a ovulação. Na ausência desse hormônio,
mesmo quando está disponível grande quantidade de FSH, o folículo não consegue
evoluir até o estágio da ovulação.
Antes da ovulação, a adeno-hipófise aumenta bruscamente a produção de
LH e FSH (elevando-se por 6-10 vezes e atingindo seu pico máximo cerca de 16
horas antes da ovulação) (Figura 14). Esses dois hormônios (LH e FSH) agem em
sinergismo para provocar o aumento extremamente rápido do volume do folículo que
culmina na ovulação.

FIGURA 14  CONCENTRAÇÕES DOS HORMÔNIOS OVARIANOS DURANTE O


CICLO SEXUAL FEMININO NORMAL

FONTE: Guyton, 1988.

A luteinização é o processo pelo qual, sob estimulação do LH, as células da


granulosa sofrem rápidas alterações físicas e químicas, esse processo ocorre um dia
antes da ovulação e é continuado por aproximadamente um dia após ela ter

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ocorrido. Assim a massa de células da granulosa que ainda fica no ovário no local
da ruptura do folículo transforma-se no corpo lúteo.
O corpo lúteo secreta grande quantidade dos hormônios estrogênio e
progesterona. As células do corpo lúteo são grandes e apresentam inclusões
lipídicas, que lhes confere uma cor amarelada característica, da qual deriva o termo
lúteo, que significa amarelo.
Normalmente, o corpo lúteo cresce até 1,5 cm, atingindo esse estágio de
desenvolvimento cerca de 7 a 8 dias após a ovulação. Depois disso ele começa a
involuir e perde a sua função secretora, aproximadamente 12 dias após a ovulação,
tornam-se, então, o chamado corpo albicans, que durante as semanas
subsequentes é substituído por tecido conjuntivo.
A conversão das células da granulosa nas células luteínicas do corpo lúteo
requer a presença do LH. De fato, essa é a razão do seu nome. Também, na
presença contínua do LH, o crescimento do corpo lúteo é maior, sua secreção
aumenta e sua vida é prolongada.
Quando o corpo lúteo está ativo, como vimos, ele secreta grandes
quantidade de estrogênio e progesterona, que inibe a síntese do hormônio liberador
da gonadotropinas (GnRH) pelo hipotálamo, reduzindo, dessa forma, a produção de
LH e FSH (Figura 15); como consequência, durante esse período, nenhum novo
folículo começa a crescer no ovário. Entretanto, quando o corpo lúteo se degenera
totalmente, ao fim do 12° dia de sua vida (aproximadamente no 26° do ciclo sexual
feminino), a perda da supressão por feedback possibilita, agora, a glândula hipófise
anterior começar mais uma vez a secretar quantidades maiores de FSH e LH. Esses
dois hormônios promovem o crescimento de folículos, dando origem a um novo ciclo
ovariano. Ao mesmo tempo, a pequena secreção de progesterona e estrogênio leva
à menstruação pelo útero.

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46
FIGURA 15  OS HORMÔNIOS HIPOFISÁRIOS CONTROLAM A MAIORIA DAS
FUNÇÕES OVARIANAS

O Hormônio Folículo-Estimulante (FSH) estimula o crescimento dos folículos e a síntese de estrógeno


pelas células da granulosa. O hormônio luteinizante (LH) induz a ovulação e transforma a camada
granulosa e a teca interna em uma glândula endócrina, o corpo lúteo. Estrógeno e progesterona,
produzidos no ovário, agem no hipotálamo estimulando ou inibindo a secreção de Hormônio
Liberador de Gonadotrofina (GnRH). FONTE: Junqueira e Carneiro, 2004.

2.12.3 Funções dos hormônios ovarianos estradiol e progesterona

Os estrógenos e as progestinas são dois tipos de hormônios sexuais


ovarianos. Sem dúvida o mais importante dos estrógenos é o estradiol e das

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progestinas a mais importante é, sem dúvida, a progesterona. Os estrógenos
promovem principalmente o crescimento dos órgãos sexuais femininos nas meninas
e o desenvolvimento da maioria das características sexuais secundárias femininas.
Por outro lado, as progestinas destinam-se quase que totalmente à preparação final
do útero para a gravidez e das mamas para a amamentação.
Tanto o estrógeno quanto a progesterona são esteroides sintetizados pelos
ovários a partir do colesterol derivado do sangue, mas também, em pequeno grau,
da acetil coenzima A, e múltiplas moléculas dela podem combinar-se para formar o
núcleo esteroide apropriado.

2.12.4 Funções dos esteroides – efeitos sobre as características sexuais primárias e


secundárias

A principal função do estrógeno é de provocar a proliferação celular e o


crescimento dos tecidos dos órgãos sexuais e de outros tecidos relacionados à
reprodução.
Durante a infância, os estrógenos só são secretados em pequenas
quantidades, mas após a puberdade a quantidade de estrógenos secretados sob
influência dos hormônios gonadotrópicos hipofisários aumenta cerca de 20 vezes ou
mais. Nessa ocasião, órgãos sexuais femininos se transformam, passando do
padrão da criança para a do adulto. As trompas, o útero e a vagina aumentam,
todos, de tamanho. Além disso, a deposição de lipídios no monte pubiano e nos
lábios maiores aumenta consideravelmente, também ocorre o aumento dos
pequenos lábios.
O epitélio vaginal muda do tipo cuboide para o tipo estratificado na presença
dos estrógenos, tornando-se consideravelmente mais resistentes a traumas e
infecções do que o epitélio pré-puberal. O endométrio sofre proliferação acentuada e
ocorre o desenvolvimento das glândulas endometriais, que serão utilizadas
futuramente para ajudar a nutrição do zigoto que vai se implantar.
Os estrógenos promovem o depósito de gordura nas mamas, o
desenvolvimento dos tecidos do estroma mamário, e o crescimento de extensos

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48
sistemas de ductos. Os lóbulos e os alvéolos da mama desenvolvem-se em
pequeno grau, mas são a progesterona e a prolactina que causam o crescimento
determinativo e o funcionamento dessas estruturas. Em suma, os estrógenos
desencadeiam o crescimento das mamas e do aparelho mamário produtor de leite,
sempre também responsáveis pela aparência externa característica da mama
feminina adulta, mas não completam a conversão das mamas em órgãos produtores
de leite.
Os estrógenos também apresentam a capacidade de aumentar a atividade
osteoblástica, ou seja, de atuar nos ossos, aumentando a síntese de matriz
extracelular calcificada. Quando a menina entra na puberdade, sua altura se altera
agudamente. Entretanto, os estrógenos têm outro potente efeito sobre o crescimento
do esqueleto, que acaba por fazer cessar o aumento da altura, isto é, os estrógenos
causam a união precoce das epífises às hastes dos ossos longos. Esse efeito é
muito mais forte nas mulheres do que o efeito semelhante da testosterona nos
homens. Como consequência o crescimento feminino cessa naturalmente alguns
anos antes do masculino.
Os estrógenos causam o depósito de maior quantidade de gordura nos
tecidos subcutâneos, mamas, nádegas e coxas, produzindo o alargamento dos
quadris característicos das mulheres.

2.12.5 Funções da progesterona

Sem dúvida, a função mais importante da progesterona é a de promover as


alterações secretoras do endométrio, preparando, assim, o útero para a implantação
do zigoto.
Nas tubas uterinas, a progesterona tem atividade estimulatória da secreção
mucosa e também de estimular os movimentos peristálticos. Essa secreção mucosa
além de conter muco (glicoproteína) também contém substâncias nutritivas, que são
importantes para fornecer energia para o zigoto durante o sucessivo processo
mitótico que ele é submetido durante o seu percurso na tuba uterina antes de se
implantar no útero.

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A progesterona promove o desenvolvimento dos lóbulos e alvéolos
mamários, fazendo as células alveolares proliferarem, aumentando de tamanho e
assumirem natureza secretória, porém, ela não faz os alvéolos secretar leite, tarefa
exercida pela prolactina, hormônio secretado pela adeno-hipófise.

2.13 O CICLO ENDOMETRIAL E A MENSTRUAÇÃO

Em associação a produção cíclica de estrógeno e progesterona pelos


ovários, ocorre um ciclo endometrial que passa pelas seguintes fases: primeira, fase
proliferativa ou estrogênica; segunda, fase secretora ou progestacional e
terceira, a descamação do endométrio ou menstruação (Figura 16).
Fase proliferativa (fase estrogênica): no início de cada ciclo menstrual, a
maior parte do endométrio se descama pelo processo da menstruação. Após a
menstruação só permanece na base do endométrio original uma fina camada de
estroma endometrial, e as únicas células epiteliais remanescentes são as
localizadas nas partes profundas que restam das glândulas e criptas do endométrio.
Sob influência dos estrógenos, secretados em quantidades crescentes pelos
folículos vesiculares dos ovários durante a primeira parte do ciclo ovariano, as
células do estroma e as células epiteliais proliferam rapidamente. A superfície
endometrial é restabelecida dentro de 4 a 7 dias após o início da menstruação. Nas
duas primeiras semanas do ciclo sexual, ou seja, até a ovulação, o endométrio
aumenta muito de espessura, devido ao aumento crescente de células do estroma e
ao crescimento progressivo das glândulas endometriais, bem como ao crescimento
de vasos sanguíneos para o interior do endométrio; efeitos esses promovidos pelos
estrógenos. No momento da ovulação, o endométrio tem aproximadamente 2 a 3
mm de espessura.
Fase secretora (fase progestacional): durante a última metade do ciclo
sexual, tanto estrógenos como progesterona são secretados em grandes
quantidades pelo corpo lúteo. Os estrógenos causam ligeira proliferação celular
adicional e a progesterona produz considerável aumento do volume e do
desenvolvimento secretor no endométrio. As glândulas ficam muito tortuosas,

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substâncias secretoras se acumulam nas células epiteliais glandulares e as
glândulas secretam pequenas quantidades de líquido endometrial. Há um acúmulo
de lipídios e glicogênio nas células do estroma endometrial, bem como ocorre um
aumento do suprimento sanguíneo para o endométrio nessa fase. A espessura do
endométrio dobra aproximadamente durante a fase secretora, de modo que, ao final
do ciclo mensal, o endométrio tem espessura de 5 a 6 mm.
Todas essas alterações endometriais visam produzir um endométrio
altamente secretor, contendo grande reserva de nutrientes, capaz de proporcionar
condições apropriadas à implantação de um óvulo fertilizado durante a última
metade do ciclo mensal.
Menstruação: é causada por uma redução súbita tanto de progesterona
quanto dos estrógenos ao final do ciclo mensal do ovário. O primeiro efeito é a
menor estimulação das células endometriais por esses dois hormônios, seguida
rapidamente pela involução do próprio endométrio para cerca de 65% de sua
espessura anterior. Durante as 24 horas que precedem o início da menstruação, os
vasos sanguíneos que vão para as camadas mucosas do endométrio sofrem
vasoespasmo e isso promove o início da necrose do endométrio. Como
consequência, o sangue extravasa para os tecidos da camada vascular do
endométrio, e as áreas hemorrágicas crescem num período de 24 a 36 horas.
Gradativamente, as camadas externas necrosadas se descamam do útero no local
das hemorragias, até que aproximadamente 48 horas após o início da menstruação
todas as camadas superficiais do endométrio tenham se desprendido. O tecido
descamado e o sangue na cavidade uterina produzem contrações uterinas que
expelem o conteúdo uterino.
Durante a menstruação normal, são perdidos aproximadamente 40 ml de
sangue e outros 35 ml de líquido seroso. Esse líquido menstrual normalmente não
se coagula, pois uma fibrinolisina é liberada junto com o material endometrial
necrosado. Dentro de 4 a 7 dias do início da menstruação, a perda de sangue cessa,
pois a essa altura, o endométrio já foi totalmente reepitelizado.

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FIGURA 16  TRANSFORMAÇÕES QUE OCORREM NA MUCOSA UTERINA
(ENDOMÉTRIO) DURANTE UM CICLO MENSTRUAL

Notar também as transformações no ovário. FONTE: Herlihy e Maebius, 2002.

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52
3 FERTILIZAÇÃO OU FECUNDAÇÃO E FORMAÇÃO DO ZIGOTO

Quando ocorre a ovulação, o óvulo juntamente com as células da granulosa


a ele fixadas, a corona radiata, é expelido diretamente para a cavidade peritoneal,
tendo, então, de entrar em uma das tubas uterinas (Figura 17). A extremidade
fimbriada de cada tuba uterina circunda naturalmente o ovário, e a superfície interna
dos tentáculos fimbriados é revestida por um epitélio ciliado, cujos cílios batem
continuamente em direção ao óstio das tubas. Pode-se até ver uma corrente de
líquidos fluindo em direção ao óstio. Por esse meio é que o óvulo entra na tuba
uterina.

FIGURA 17  RELAÇÃO DAS FÍMBRIAS COM O OVÁRIO

Durante a ovulação, acredita-se que fímbrias varram o folículo que se rompe, colham o ovócito e o
conduzem para dentro da tuba uterina. FONTE: Sadler, 1997.

Após o coito, os primeiros espermatozoides são transportados ao longo do


útero até a extremidade ovariana das tubas uterinas dentro de 5 a 10 minutos. Isto é

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muitas vezes mais rápido do que a motilidade dos próprios espermatozoides pode
conseguir, o que indica que movimentos propulsivos do útero e das tubas uterinas
podem ser responsáveis por grande parte do movimento dos espermatozoides.
Entretanto, mesmo com essa ajuda, apenas 1.000 a 3.000 dos quase 500 milhões
de espermatozoides depositados na vagina conseguem percorrer a tuba uterina e
chegar próximo do óvulo.
Só é necessário um espermatozoide para fertilizar o óvulo. De fato, muitos
espermatozoides tentam efetivamente penetrar na zona pelúcida, mas só um
consegue. Uma vez que o primeiro espermatozoide atravessa a zona pelúcida,
ocorre uma reação de zona nessa camada amorfa que a torna impermeável a
outros espermatozoides (Figura 18).

FIGURA 18  REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS TRÊS FASES DA


PENETRAÇÃO NO OVÓCITO

Na fase 1, os espermatozoides rompem a barreira da corona radiata; na fase 2, um ou mais


espermatozoides penetram a zona pelúcida; na fase 3, um espermatozoide perde sua membrana
plasmática ao penetrar a membrana do ovócito. O detalhe mostra um espermatócito com seu capuz
acrossômico. FONTE: Sadler, 1997.

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Acredita-se que a reação de zona seja resultante da ação de enzimas
lisossomais liberadas pelos grânulos corticais existentes no citoplasma próximo à
membrana plasmática do óvulo. O conteúdo destes grânulos, que são liberados para
o espaço perivitelino, provoca mudanças na membrana plasmática do óvulo,
tornando-a igualmente impermeável aos espermatozoides.
Após o espermatozoide penetrar no óvulo, sua cabeça aumenta rapidamente
de volume, formando o pronúcleo masculino. Depois os 23 cromossomos do
pronúcleo masculino e os 23 cromossomos do pronúcleo feminino se dispõem de
modo a formar novamente um complemento completo de 46 cromossomos (23
pares) no óvulo fertilizado, ou seja, o zigoto.
Os principais resultados da fertilização são:
1. restauração do número diploide de cromossomos, metade dos
quais do pai e metade da mãe. Portanto, o zigoto contém uma nova
combinação de cromossomos que difere da de ambos os pais;
2. determinação do sexo do novo indivíduo. Um espermatozoide
portador de um X produzirá um embrião feminino (XX), enquanto um
espermatozoide portador de um Y produzirá um embrião masculino (XY).
Portanto, o sexo cromossômico do embrião é determinado na fertilização;
3. início da clivagem. Sem a clivagem, geralmente o ovócito degenera
24 horas após a ovulação.
A fertilização do óvulo ocorre normalmente logo após o óvulo penetrar na
tuba uterina. Após a fertilização, são necessários em média 3 a 4 dias para
transporte do zigoto até a cavidade do útero ao longo da tuba. Esse transporte é
realizado principalmente pela fraca corrente de líquido na tuba uterina propiciada
pela ação dos cílios do epitélio que reveste a tuba. Também é possível que as fracas
contrações das tubas uterinas auxiliem a passagem do zigoto.
Esse demorado transporte do zigoto pela tuba uterina possibilita a
ocorrência de vários estágios de divisão mitótica do zigoto, formando vários
blastômeros (Figuras 18 e 19). Primeiro, o zigoto se divide em duas células; estas
então se dividem em quatro blastômeros, oito blastômeros, e assim por diante
(Figura 18). No estágio de 12 blastômeros ou mais, obtém-se a mórula, uma bola
sólida de blastômeros (Figuras 18 e 19).

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FIGURA 19  REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS EVENTOS QUE
OCORREM DURANTE A PRIMEIRA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

A, Fertilização 12-24 horas após a ovulação. B, Estágio de 2 a 8 células. C, Mórula contendo 12-16
blastômeros (aproximadamente três dias após a fertilização). D, Estágio de blastocisto inicial
(aproximadamente quatro dias e meio). A zona pelúcida já desapareceu. Fase inicial da implantação
(blastocisto com aproximadamente seis dias de idade). O ovário mostra os estádios de transformação
de um folículo primário até um folículo de graaf, assim como um corpo lúteo. FONTE: Herlihy e
Maebius, 2002.

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FIGURA 20  REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO DESENVOLVIMENTO DE
UM ZIGOTO DESDE O ESTÁDIO DE DUAS CÉLULAS ATÉ O ESTÁGIO DE
BLASTOCISTO

O estágio de duas células é alcançado aproximadamente 30 horas após a fertilização; o de quatro


células em aproximadamente 40 horas; o de 12 e 16 células, em cerca de três dias; e o final do
estádio da mórula, em aproximadamente quatro dias. Durante esse período, os blastômeros estão
rodeados pela zona pelúcida, que desaparece ao fim do quarto dia. O blastocisto começa a se formar
no quinto dia. FONTE: Moore e Persaud, 2000.

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Mais ou menos no momento em que a mórula penetra a cavidade uterina,
um fluido começa a penetrar os espaços intercelulares da massa celular interna.
Gradualmente, os espaços intercelulares tornam-se confluentes e, finalmente,
forma-se uma cavidade única, a blastocele ou cavidade blastocística. Nesse
momento, o embrião é denominado blastocisto (Figura 19). As células da massa
celular interna, agora denominadas embrioblasto, localizam-se em um polo,
enquanto as da massa celular externa, ou trofoblasto, achatam-se e formam a
parede epitelial do blastocisto. A zona pelúcida já desapareceu, possibilitando que a
implantação se inicie.

4 IMPLANTAÇÃO OU NIDAÇÃO

No ser humano, células trofoblásticas situadas sobre o polo do embrioblasto


começam a insinuar-se entre as células epiteliais da mucosa uterina por volta do
sexto dia (Figura 20). A penetração e subsequente erosão das células epiteliais da
mucosa resultam da ação de enzimas proteolíticas produzidas pelo trofoblasto.
Entretanto, a mucosa uterina estimula a ação proteolítica do blastocisto, de modo
que a implantação resulta da interação entre trofoblasto e endométrio. Portanto, ao
fim da primeira semana do desenvolvimento, o zigoto humano passou pelos estádios
de mórula e blastocisto e começou sua implantação na mucosa uterina.
No momento da implantação, a mucosa do útero está na fase secretora,
durante a qual as glândulas e artérias uterinas tomam-se espiraladas e o tecido
toma-se túrgido (Figura 21). Em consequência disso podem ser reconhecidas no
endométrio três camadas: uma superficial, a camada compacta, uma intermediária,
a camada esponjosa, e a camada basal, delgada. Normalmente, o blastocisto
humano se implanta no endométrio ao longo da parede posterior ou anterior do
corpo do útero, onde ele se introduz entre as aberturas das glândulas.

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FIGURA 21  ESQUEMAS DE BLASTOCISTOS

À esquerda, representação esquemática de um corte através de um blastocisto humano recuperado


da cavidade uterina com aproximadamente quatro dias e meio. As células em azul representam a
massa celular interna, ou embrioblasto, e as células em castanho, o trofoblasto. À direita, desenho
esquemático de um corte de um blastocisto de uma macaca símia no nono dia de desenvolvimento.
As células do trofoblasto, localizadas no polo embrionário, começam a penetrar a mucosa uterina. O
blastocisto humano começa a penetrar a mucosa uterina por volta do quinto ou sexto dia do
desenvolvimento. FONTE: Sadler, 1997.

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FIGURA 22  ÚTERO NA FASE SECRETORA OU PROGESTACIONAL

Observar glândulas endometriais tortuosas e dilatadas nesta fase. FONTE: Junqueira e Carneiro,
2004.

5 DISCO GERMINATIVO BILAMINAR

A seguir é feito um relato dia a dia dos principais eventos que ocorrem
durante a segunda semana do desenvolvimento. Contudo, é preciso lembrar que
embriões com a mesma idade de fertilização não se desenvolvem necessariamente
com a mesma velocidade. De fato, foram encontradas diferenças consideráveis na
velocidade de crescimento embrionário mesmo nesses estádios tão precoces do
desenvolvimento.

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5.1 OITAVO DIA DO DESENVOLVIMENTO

No oitavo dia do desenvolvimento, o blastocisto encontra-se parcialmente


imerso no estroma endometrial. Na área sobre o embrioblasto, o trofoblasto
diferencia-se em duas camadas: (a) uma camada interna de células mononucleares,
o citrofoblasto, e (b) uma zona multinuclear sem limites celulares distinguíveis, o
sinciciotrofoblasto. No citotrofoblasto são observadas mitose, mas nunca no
sinciciotrofoblasto. Portanto, as células no citotrofoblasto se dividem e depois
migram para o sinciciotrofoblasto, onde vão fundir-se e perder suas membranas
individuais.
As células da massa celular interna, ou embrioblasto, também diferenciam-
se em duas camadas: (a) uma camada composta de pequenas células cuboides
adjacentes à cavidade blastocística, denominada camada hipoblástica ou
hipoblasto; e (b) uma camada de células colunares altas adjacentes à cavidade
amniótica, a camada epibástica ou epiblasto (Figura 22). As células de ambas as
camadas germinativas formam um disco plano e são conjuntamente conhecidas
como disco germinativo bilaminar.
Ao mesmo tempo, surge uma pequena cavidade no interior do epiblasto.
Esta cavidade aumenta de tamanho, tornando-se a cavidade amniótica. As células
epiblásticas adjacentes ao citrofoblasto são chamadas de amnioblastos e, juntas
com o resto de epiblasto, alinham-se na cavidade amniótica.
O estroma endometrial adjacente ao sítio de implantação é edematoso e
ricamente vascularizado. As glândulas, grandes e sinuosas, secretam muco e
glicogênio em abundância.

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61
FIGURA 23  DESENHO REPRESENTANDO UM BLASTOCISTO HUMANO,
PARCIALMENTE INSERIDO NO ESTROMA ENDOMETRIAL

O trofoblasto consiste em uma camada interna com células mononucleares, o citotrofoblasto, e uma
camada externa sem limites celulares inidentificáveis, o sinciciotrofoblasto. O embrioblasto é formado
pelas camadas germinativas, denominadas epiblasto e hipoblasto. A cavidade amniótica aparece
como uma pequena fenda. FONTE: Sadler, 1997.

5.2 NONO DIA DO DESENVOLVIMENTO

O blastocisto encontra-se alojado mais profundamente no endométrio, e o


defeito na superfície epitelial causado pela sua penetração é fechado por um
coágulo de fibrina. O trofoblasto exibe um progresso considerável de
desenvolvimento, particularmente do polo embrionário, onde aparecem vacúolos no
sincício. Ao se fundirem, estes vacúolos formam uma grande lacuna e, assim, esta
fase do desenvolvimento do trofoblasto é conhecida como estádio lacunar.
Simultaneamente, no polo embrionário, células achatadas, provavelmente
originárias do hipoblasto, formam uma membrana delgada, denominada membrana
exocelômica (de Heuser), que reveste a superfície interna do citrofoblasto. Esta

AN02FREV001/REV 4.0

62
membrana, juntamente com o hipoblasto, constitui o revestimento da cavidade
exocelômica (saco vitelino primitivo) (Figura 23).

FIGURA 24  DESENHO DE UM BLASTOCISTO HUMANO DE NOVE DIAS

O sinciciotrofoblasto mostra um grande número de lacunas. Observe as células achatadas que


formam a membrana exocelômica. O disco germinativo bilaminar consiste em uma camada de células
colunares epiblásticas e uma camada de células cuboides hipoblásticas. A lesão original na superfície
aparece fechada por um coágulo de fibrina. FONTE: Sadler, 1997.

5.3 DÉCIMO-PRIMEIRO AO DÉCIMO-SEGUNDO DIA DO DESENVOLVIMENTO

Do décimo-primeiro ao décimo-segundo dia do desenvolvimento, o


blastocisto apresenta-se completamente imerso no estroma endometrial, e o epitélio
superficial recobre quase a totalidade da lesão original da parede uterina. O
blastocisto faz agora uma pequena protrusão na luz do útero.

AN02FREV001/REV 4.0

63
O trofoblasto caracteriza-se, neste estádio, por espaços lacunares no
sincício, que formam uma rede intercomunicante. Isto é especialmente evidente no
polo embrionário; contudo, no polo não embrionário, o trofoblasto ainda consiste
basicamente em células citotrofoblásticas.
Ao mesmo tempo, células do sinciciotrofoblasto penetram mais
profundamente o estroma, erodindo o revestimento endotelial dos capilares
maternos. Esses capilares apresentam-se congestionados e dilatados, sendo
conhecidos como sinusoides.
As lacunas sinciciais tomam-se então contínuas com os sinusoides,
permitindo que o sangue materno invada o sistema. Enquanto o trofoblasto
prossegue com a erosão de um número cada vez maior de sinusoides, o sangue
materno começa a fluir através do sistema trofoblástico, estabelecendo assim a
circulação uteroplacentária.
Paralelamente, surge uma nova população de células entre a superfície
interna do citotrofoblasto e a superfície externa da cavidade exocelômica. Essas
células são derivadas das células do saco vitelino e formam o tecido conjuntivo
delgado e frouxo, o mesoderma extraembrionário, que irá preencher todo o
espaço entre a superfície externa do âmnio e a superfície interna da membrana
exocelômica. Grandes cavidades logo se formam no mesoderma extraembrionário e,
ao se tornarem confluentes, forma-se um novo espaço, denominado celoma
extraembrionário (cavidade coriônica) (Figura 25). Este espaço envolve o saco
vitelino primitivo e a cavidade amniótica, exceto na região onde o disco germinativo
está ligado ao trofoblasto pelo pedículo de ligação. O mesoderma extraembrionário
que reveste o citotrofoblasto e o âmnio é denominado mesoderma somatopleural
extraembrionário; o revestimento do saco vitelino é denominado mesoderma
esplancnopleural extraembrionário (Figura 25).
O crescimento do disco germinativo bilaminar é relativamente lento quando
comparado ao lado do trofoblasto; consequentemente, o disco apresenta-se muito
pequeno (0,1 - 0,2 mm). Enquanto isso as células endometriais adquirem forma
poliédrica e enchem-se de glicogênio e lipídios; os espaços intercelulares são
ocupados por exsudato, e o tecido apresenta-se edematoso. Essas mudanças,
conhecidas como reação tecidual, estão inicialmente confinadas à área

AN02FREV001/REV 4.0

64
imediatamente vizinha ao sítio de implantação, mais logo se espalham por todo o
endométrio.

FIGURA 25  DESENHO DE UM BLASTOCISTO HUMANO DE


APROXIMADAMENTE 12 DIAS

As lacunas trofoblásticas no polo embrionário estão em conexão aberta com os sinusoides maternos
no estroma endometrial. O mesoderma extraembrionário prolifera e preenche os espaços entre a
membrana exocelômica e o aspecto interno do trofoblasto. FONTE: Sadler, 1997.

5.4 DÉCIMO-TERCEIRO DIA DO DESENVOLVIMENTO

No décimo-terceiro dia do desenvolvimento, a lesão na superfície


endometrial costuma estar cicatrizada. Ocasionalmente, porém pode haver
sangramento no sítio de implantação resultante do aumento do fluxo sanguíneo nos
espaços lacunares. Como este sangramento ocorre em torno do vigésimo-oitavo dia
do ciclo menstrual, pode ser confundido com o sangramento menstrual normal,
levando a uma imprecisão no cálculo do dia esperado para o parto. O trofoblasto

AN02FREV001/REV 4.0

65
caracteriza-se pelo aparecimento de estruturas vilamentosas. As células dos
citotrofoblasto proliferam localmente e invadem o sinciciotrofoblasto, formando
colunas celulares cercadas por sincício. Estas colunas de células revestidas pelo
sincício são chamadas de vilosidades primárias (Figura 26).
Simultaneamente, o hipoblasto produz células adicionais que migram ao
longo da face interna da membrana exocelômica. Estas células proliferam e formam
gradualmente uma nova cavidade no interior da cavidade exocelômica. Esta nova
cavidade é denominada saco vitelino secundário ou definitivo (Figura 26). Esse
saco vitelino é bem menor do que cavidade exocelômica original ou saco vitelo
primitivo. Durante sua formação, grandes porções da cavidade exocelômica se
desprendem. Essas porções são representadas pelos cistos exocelômicos, que
são frequentemente encontrados no celoma extraembrionário ou cavidade
coriônica.
Paralelamente, o celoma extraembrionário expande-se para constituir uma
grande cavidade, conhecida como a cavidade coriônica. O mesoderma
extraembrionário que reveste o interior do citotrofoblasto passa então a ser chamado
de placa coriônica. O único ponto onde o mesoderma extraembrionário cruza a
cavidade coriônica é no pedículo de ligação (Figura 26). Com o desenvolvimento
de vasos sanguíneos, o pedúnculo transforma-se no cordão umbilical.

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66
FIGURA 26  DESENHO DE UM BLASTOCISTO HUMANO DE 13 DIAS

As lacunas trofoblásticas então agora presentes tanto no colo embrionário quanto no polo não
embrionário, e a circulação o uteroplacentária já está estabelecida. Observe as vilosidades primarias
e o celoma extraembrionário, ou cavidade coriônica. O saco vitelino secundário apresenta-se
totalmente revestido por endoderma. FONTE: Sadler, 1997.

Ao final da segunda semana o disco germinativo é representado por dois


discos apostos: o epiblasto, que forma o soalho da cavidade amniótica em expansão
contínua, e o hipoblasto, que forma o teto do saco vitelino secundário.
Em sua região cefálica, o disco hipoblástico apresenta um discreto
espessamento, denominado placa precordal. Essa é uma área de células colunares
que se prendem firmemente ao disco epiblástico sobreposto.

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67
5.5 CORRELAÇÕES CLÍNICAS

O sinciciotrofoblasto é responsável pela produção de hormônios, incluindo a


gonadotrofina coriônica humana (hCG). Ao final da segunda semana, são
produzidas quantidades suficientes de hormônios para serem detectadas por
radioimunoensaios, usados nos exames de detecção de gravidez.
Como 50% do genoma do embrião implantado são de derivação paterna,
ele representa um corpo potencialmente entranho que deveria ser rejeitado pelo
sistema imune materno. Há várias teorias que buscam explicar o motivo do concepto
não ser rejeitado, incluindo a resistência do sinciciotrofoblasto as células Killer e a
ausência de antígenos de transplante na superfície do sinciciotrofoblasto. No caso
de doenças autoimunes na mãe, como, por exemplo, o lúpus eritematoso sistêmico
(LES), a rejeição do embrião se dá por causa dos anticorpos gerados pela moléstia,
que atacam o concepto secundariamente.
A ocorrência de sítios de implantação anormais se dá mesmo no interior do
útero. Normalmente, o blastocisto humano implanta-se na parede anterior do corpo
do útero. Ocasionalmente, sua implantação acontece no óstio (abertura) interno do
colo uterino, de modo que, nos estádios mais tardios do desenvolvimento, a placenta
bloqueia a abertura (placenta prévia), causando sangramento grave e criando um
risco de vida potencial na segunda metade da gravidez e durante o parto.
Não é incomum a observação de sítios de implantação fora do útero,
resultando na gravidez ectópica ou extrauterina. A gravidez ectópica pode ocorre
em qualquer lugar da cavidade abdominal, do ovário ou da tuba uterina (Figura 26).
Contudo, 95% dos casos de gravidez ectópica ocorrem na tuba uterina, e a maioria
destes localiza-se na ampola.

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68
FIGURA 27  DESENHO REPRESENTANDO SÍTIOS ANORMAIS DE
IMPLANTAÇÃO DO BLASTOCISTO

1. Sítio de implantação na cavidade abdominal. O óvulo fertilizado implanta-se na maioria das vezes
na cavidade retouterina (bolsa de douglas), mas pode implantar-se em qualquer ponto revestido por
peritônio. 2. Implantação na região da ampola da tuba. 3. Implantação tubária. 4. Implantação
intersticial, isto é, na porção estreita da tuba uterina. 5. Implantação na região do óstio interno, que
resulta frequentemente em placenta prévia. FONTE: Sadler, 1997.

6 DISCO GERMINATIVO TRILAMINAR

6.1 GASTRULAÇÃO: FORMAÇÃO DO MESODERMA E DO ENDODERMA


EMBRIONÁRIOS

A gastrulação, o evento mais característico dos que ocorrem durante a


terceira semana, é o processo pelo qual se formam as três camadas germinativas
do embrião. A gastrulação se inicia com a formação da linha primitiva na superfície

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69
do epiblasto (Figura 28). No início, a linha primitiva é mal definida, mas, em um
embrião de 15-16 dias, ela é claramente visível como um sulco estreito com bordas
levemente salientes de ambos os lados. A extremidade cefálica da linha, conhecida
como nó primitivo, consiste em uma área um pouco saliente que circunda a
pequena fosseta primitiva.

FIGURA 28  EMBRIÃO AO FINAL DA SEGUNDA SEMANA DE


DESENVOLVIMENTO

A. Vista esquemática de um local de implantação ao fim da segunda semana. B. Vista representativa


de um disco germinativo ao fim da segunda semana de desenvolvimento. A cavidade amniótica foi
aberta para permitir observar o lado dorsal do epiblasto. Nota que o hipoblasto e o epiblasto estão em

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70
contato um com o outro e que a linha primitiva forma um sulco na região caudal do embrião. FONTE:
Sadler, 1997.

Em uma seção transversal por meio da região do sulco primitivo, vê-se que
as células têm forma de garrafa e que uma nova camada se forma entre o epiblasto
e o hipoblasto. Células do epiblasto migram em direção à linha primitiva para formar
o mesoderma e o endoderma intraembrionário. Ao chegar à região da linha, elas
assumem a forma de garrafa, destacam-se do epiblasto e deslizam por abaixo dele.
Esse movimento para dentro é conhecido como invaginação (Figura 29). Uma vez
invaginadas, algumas células deslocam o hipoblasto, criando, dessa maneira, o
endoderma embrionário, enquanto outras formam o mesoderma ao se disporem
entre o epiblasto e o endoderma recém-criado. As células que permanecem no
epiblasto formam, então, o ectoderma. Desse modo, o epiblasto, por meio do
processo da gastrulação, constitui a fonte de todas as camadas germinativas do
embrião (isto é, ectoderma, mesoderma e endoderma).

AN02FREV001/REV 4.0

71
FIGURA 29  A. VISTA ESQUEMÁTICA DO LADO DORSAL DO DISCO
GERMINATIVO DE UM EMBRIÃO DE 16 DIAS

Notar o movimento das células epiblásticas superficiais (linhas pretas contínuas) através da linha
primitiva e do nó, assim como a migração subsequente de células entre o hipoblasto e o epiblasto
(linhas interrompidas). B. Seção transversal da região cefálica da linha 15 dias, mostrando a
invaginação de células de epiblasto. As primeiras células a se moverem para dentro deslocam o
hipoblasto para criar o endoderma definitivo. Uma vez estabelecido o endoderma definitivo, o
epiblasto que se move para dentro forma mesoderma. FONTE: Sadler, 1997.

À medida que mais e mais células se colocam entre as camadas do


epiblasto e do hipoblasto, elas começam a se espalhar em direção lateral e cefálica.
Gradualmente, elas migram para além da borda do disco e entram em contato com o
mesoderma extraembrionário, que recobre o saco vitelino e o âmnio. Em direção
cefálica, elas passam por ambos os lados da placa precordal, para se encontrarem

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72
em frente a essa área, onde formam a placa cardiogênica ou formadora do
coração (Figura 29).

6.2 FORMAÇÃO DA NOTOCORDA

As células prenotocordais, que se invaginam na fosseta primitiva,


avançam em direção cefálica até alcançarem a placa precordal. Essas células
prenotocordais se intercalam no hipoblasto de tal maneira que, durante um curto
período, a linha média do embrião consiste em duas camadas celulares que formam
a placa notocordal. Á medida que o hipoblasto é substituído por células do
endoderma provenientes da linha, células da placa notocordal proliferam e se
destacam do endoderma. Elas formam, então, um cordão celular maciço, a
notocorda definitiva, subjacente ao tubo neural e que serve de base para o
esqueleto axial. Como o alongamento da notocorda é um processo dinâmico, a
extremidade cefálica forma-se primeiro, e as regiões caudais são acrescentadas,
enquanto a linha assume uma posição mais central. As células da notocorda e da
prenotocorda avançam, cefalicamente, até a placa precordal (futura membrana
bucofaringe) e, caudalmente, até a fosseta primitiva. No ponto em que a fosseta
forma uma endentação no epiblasto, um pequeno canal, o canal neuroentério
(Figura 30), liga, temporariamente, as cavidades dos sacos amniótico e vitelino.
A membrana cloacal forma-se na extremidade do disco embrionário. Essa
membrana tem estrutura semelhante à da placa precordal e consiste em células
ectodérmicas e endodérmicas intimamente aderidas, sem mesoderma interposto.
Quando a membrana cloacal aparece, a parede posterior do saco vitelino forma um
pequeno divertículo que se estende até dentro do pedículo de ligação. Esse
divertículo, o divertículo alantoentérico, ou alantoide, aparece por volta do 16º dia
do desenvolvimento (Figura 30). Apesar de, em alguns vertebrados inferiores, servir
como reservatório de produtos de secreção do sistema renal, no ser humano a
alantoide é rudimentar, mas pode estar envolvida em anomalias do desenvolvimento
da bexiga.

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73
FIGURA 30  FORMAÇÃO DA NOTOCORDA

As células prenotocordais migram através da linha primitiva, se intervalam no endoderma para formar
a placa notocordal e, finalmente, se destacam do endoderma para formar a notocorda definitiva.
Como esses eventos se dão em uma sequência cefálico-caudal, partes da notocorda definitiva se
estabelecem primeiro na região cefálica. A. Desenho de uma seção sagital através de um embrião de
17 dias. A porção mais cefálica da notocorda definitiva já está formada perto da placa precordal,
enquanto que as células prenotocordais caudais e essa região estão intercaladas no endoderma,
formando a placa notocordal. B. Micrografia eletrônica de varredura de um embrião de camundongo,
mostrando a região da placa precordal (setas). Em situação posterior a essa região e se estendendo
caudalmente está a placa prenotocordal (cabeças de setas). C. Seção transversal esquemática
através da região da placa notocordal. Logo a placa notocordal se destacará do endoderma para

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74
formar a notocorda definitiva. D. Micrografia eletrônica de varredura de um embrião de camundongo,
mostrando a separação da placa notocordal do endoderma. E. Vista esquemática, mostrando a
notocorda definitiva. F. Micrografia eletrônica de varredura de um embrião de camundongo,
mostrando a notocorda definitiva (setas) situada junto do tubo neural (nt). FONTE: Moore e Persaud,
2000.

6.3 CRESCIMENTO DO DISCO GERMINATIVO

Inicialmente achatado e quase redondo, o disco embrionário torna-se


alongado com uma extremidade cefálica larga e uma extremidade caudal estreita. A
expansão do disco embrionário ocorre principalmente na região cefálica; a região da
linha primitiva permanece mais ou menos do mesmo tamanho (Figura 31). O
crescimento e o alongamento da porção cefálica do disco são causados pela
migração contínua de células da região da linha primitiva em direção cefálica. A
invaginação de células da superfície na linha primitiva e sua migração subsequente
para a frente e lateralmente continua até o fim da quarta semana. Nesse estádio, a
linha primitiva mostra alterações de regressão, diminui rapidamente de tamanho e
logo desaparece.
O fato de a linha primitiva, situada na extremidade caudal do disco,
continuar a fornecer novas células até o final da quarta semana tem um significado
importante para o desenvolvimento do embrião. Na porção cefálica, as camadas
germinativas começam sua diferenciação específica no meio da terceira semana,
enquanto, na porção caudal, a diferenciação, ou formação das camadas
germinativas, continua nos segmentos caudais, enquanto as estruturas cefálicas
estão se diferenciando e o embrião cresce em um sentido cefalocaudal.

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75
FIGURA 31  A. DESENHO DO ASPECTO DORSAL DE UM EMBRIÃO DE 18 DIAS

O embrião é piriforme e mostra a linha primitiva e o nó em sua extremidade caudal. B. Fotografia de


um embrião humano de 18 dias, vista dorsal. Notar o nó primitivo e, estendendo-se dele, a notocorda.
O saco vitelino tem um aspecto algo mosqueado. O comprimento do embrião é 1,25 mm, e sua
largura, 0,38 mm. FONTE: Sadler, 1997.

6.4 CORRELAÇÃO CLÍNICA

A própria gastrulação pode ser perturbada por causas genéticas e


teratogênicas. A disgenesia caudal (sirenomelia) é uma síndrome na qual se
forma uma quantidade insuficiente de mesoderma na região mais caudal do
embrião. Como esse mesoderma contribui para a formação dos membros inferiores,
do sistema urogenital (mesoderma intermediário) e das vértebras lombossacras,
surgem anomalias nessas estruturas (Figura 32). Os indivíduos afetados
apresentando uma gama variada de defeitos, incluindo hipoplasia e fusão dos
membros inferiores, anomalias das vértebras, agenesia renal, ânus imperfurado e
anomalias dos órgãos genitais. Nos seres humanos, a condição está associada ao
diabete materno e a outras causas.

AN02FREV001/REV 4.0

76
FIGURA 32  SIRENOMELIA (DISGENESIA CAUDAL)

A perda de mesoderma da região lombossacra resultou na fusão dos brotos dos membros e outros
defeitos. FONTE: Sadler, 1997.

CORRELAÇÃO CLÍNICA

Algumas vezes, restos da linha primitiva persistem na região sacrococcígea.


Esses acúmulos de células pluripotentes proliferam e formam tumores conhecidos
como teratomas sacrococcígeos (Figura 33), que, frequentemente, contêm tecidos
derivados das três camadas germinativas. Esse tumor é o mais comum em recém-
nascidos e ocorre com a frequência de 1 em 37.000.

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FIGURA 33  TERATOMA SACROCOCCÍGEO

O teratoma sacrococcígeo é resultante de resto da linha primitiva. Esses tumores podem tornar-se
malignos e são mais comuns nas mulheres. FONTE: Sadler, 1997.

6.5 DESENVOLVIMENTO POSTERIOR DO TROFOBLASTO

No início da terceira semana, o trofoblasto se caracteriza pelas vilosidades


primárias, que consistem em núcleo central citotrofoblástico recoberto por uma
camada sincicial. Durante o desenvolvimento ulterior, células mesodérmicas
penetram o núcleo da vilosidade primária e crescem como vilosidade secundária
(Figura 34).
Ao fim da terceira semana, células mesodérmicas no núcleo da vilosidade
começam a diferenciar-se em células sanguíneas e pequenos vasos sanguíneos,
formando, dessa maneira, o sistema capilar da vilosidade. A vilosidade é agora
conhecida como vilosidade terciária (Figura 34) ou vilosidade placentária
definitiva. Os capilares da vilosidade terciária entram em contato com capilares que
se desenvolvem no mesoderma da placa coriônica e no pedículo de ligação. Esses

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78
vasos, por sua vez, estabeleceram comunicação com o sistema circulatório
intraembrionário; dessa forma é estabelecida a ligação entre a placenta e o embrião.
Portanto, quando o coração começa a bater na quarta semana do desenvolvimento,
o sistema de vilosidades está pronto para suprir o embrião com os nutrientes
essenciais e oxigênio.

FIGURA 34  DESENHOS ESQUEMÁTICOS, MOSTRANDO O


DESENVOLVIMENTO DE UMA VILOSIDADE

A. Seção transversal de uma vilosidade primária, mostrando o núcleo de células citotrofoblásticas


recoberto por uma camada de sincício. B. Seção transversal de uma vilosidade secundária com um
núcleo de mesoderma recoberto por uma camada simples de células citotrofoblásticas que, por sua
vez, está recoberta por sincício. C. O mesoderma da vilosidade mostra alguns capilares e vênulas.
FONTE: Sadler, 1997.

Enquanto isto, as células citotrofoblásticas das vilosidades avançam


progressivamente pelo sincício sobrejacente até alcançarem o endométrio materno.
Nesse ponto, elas estabelecem contato com extensões semelhantes que se
projetam de troncos vilosos vizinhos, formando, assim, uma fina capa
citotrofoblástica externa. Gradualmente, essa capa rodeia todo o trofoblasto e
prende firmemente o saco coriônico ao tecido endometrial materno. As vilosidades
que se estendem da placa coriônica até a decídua basal (placa decidual) são
denominadas vilosidades de ancoragem ou tronco. As visibilidades que saem dos
lados das vilosidades de ancoragem representam as vilosidades livres (terminais),
e é através delas que ocorrerá a troca dos nutrientes.

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79
A cavidade coriônica vai aumentando de volume e, por volta do 19º ou 20º
dia, o embrião está preso a sua capa trofoblástica somente por um estreito pedículo
de ligação (Figura 35). O pedículo de ligação desenvolve-se, posteriormente, no
cordão umbilical, que forma a ligação entre a placenta e o embrião.

FIGURA 35  DIAGRAMA MOSTRANDO UM EMBRIÃO PRÉ-SOMÍTICO E O


TROFOBLASTO AO FIM DA TERCEIRA SEMANA

Vilosidades terciárias e secundárias dão ao trofoblasto um aspecto radial característico. Espaços


intervilosos são encontrados em todo o trofoblasto e estão forrados pelo sincício. As células
citotrofoblásticas circundam totalmente o trofoblasto e estão em contato com o endométrio. O
embrião está suspenso na cavidade coriônica pelo pedículo de ligação. FONTE: Sadler, 1997.

6.6 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DA 4ª A 8ª SEMANA

A seguir apresentamos os principais acontecimentos embrionários da quarta


à oitava semana:

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80
4ª semana (Figura 36)
─ dobramento cefalicocaudal e lateral do embrião.
─ embrião reto ou ligeiramente curvo.
─ tubo neural se formando ou formado entre os somitos, mas
amplamente aberto nos neuroporos rostral e caudal.
─ desenvolvimento dos arcos faríngeos.
─ desenvolvimento do encéfalo anterior.
─ aparecimento dos brotos dos membros superiores e, posteriormente,
dos membros inferiores.
─ surgimento das fossetas óticas (futuros ouvidos internos) e placódios
ópticos (futuros olhos).
─ presença de cauda.
─ embrião em forma de C.

FIGURA 36  VISTA LATERAL DE UM EMBRIÃO DE APROXIMADAMENTE 28


DIAS, INDICANDO AS ESTRUTURAS

FONTE: Moore e Persaud, 2000.

5ª semana (Figura 37)


─ crescimento da cabeça excede o de outras regiões.

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81
─ brotos dos membros superiores e inferiores em forma de remo.
─ aparecimento dos raios digitais da mão aos 33 dias.
─ os braços desenvolvem-se um pouco antes do que as pernas.
─ nesta fase, o embrião apresenta movimentos espontâneos, como,
contrações do tronco e dos membros.

FIGURA 37  VISTA LATERAL DE UM EMBRIÃO DE APROXIMADAMENTE 32


DIAS, COM AS ESTRUTURAS INDICADAS

FONTE: Moore e Persaud, 2000.

6ª semana (Figura 38)


─ membros superiores mostram uma rápida diferenciação regional:
regiões do cotovelo e do pulso tornam-se identificáveis.
─ saliências entre os dois 1os arcos branquiais, formando o meato
acústico externo.
─ pigmento da retina começa a aparecer; o olho torna-se mais óbvio.
─ a cabeça é muito maior em relação ao tronco e mostra-se mais curvada
sobre a saliência cardíaca.
─ nesta fase, o embrião tem respostas reflexas ao toque.

AN02FREV001/REV 4.0

82
FIGURA 38  VISTA LATERAL DE UM EMBRIÃO DE APROXIMADAMENTE 42
DIAS, COM AS ESTRUTURAS INDICADAS

Saliências auriculares
formando a aurícula da
orelha externa

FONTE: Moore e Persaud, 2000.

7ª semana (Figura 39)


─ a comunicação entre o intestino primitivo e o saco vitelino encontra-se
agora reduzida a um ducto relativamente pequeno, o pedículo do embrião.
─ os membros passam por uma transformação considerável; surgem
chanfraduras entre os raios digitais nas placas das mãos, indicando os
futuros dedos.

AN02FREV001/REV 4.0

83
FIGURA 39  VISTA LATERAL DE UM EMBRIÃO DE APROXIMADAMENTE 48
DIAS, COM AS ESTRUTURAS INDICADAS

FONTE: Moore e Persaud, 2000.

8ª semana (Figura 40)


─ chanfraduras entre os raios digitais dos pés.
─ plexo vascular do couro cabeludo.
─ os dedos alongam-se e separam-se.
─ toda a evidência de cauda desaparece no fim desta semana.
─ cabeça ainda é desproporcionalmente grande.
─ as pálpebras são óbvias e os olhos se fecham no fim desta semana.
─ aurícula do ouvido externo começa a ganhar forma definitiva.
─ o intestino encontra-se ainda na porção proximal do cordão umbilical.

AN02FREV001/REV 4.0

84
FIGURA 40  VISTA LATERAL DE UM EMBRIÃO DE APROXIMADAMENTE 52
DIAS, MOSTRANDO AS ESTRUTURAS

FONTE: Moore e Persaud, 2000.

6.7 PERÍODO FETAL

O período fetal constitui um período que vai da nona semana até o


nascimento. Nessa fase, basicamente todos os órgãos estão formados, ocorrendo o
rápido crescimento dos mesmos. Um fato marca o fim do período embrionário e o
começo do período fetal que é o processo de ossificação no concepto. O embrião de
cartilaginoso passa a ter vários centros de ossificação.
A idade fetal pode ser estimada por meio da medida da cabeça-nádegas
(CR), diâmetro biparietal – diâmetro da cabeça entre as duas saliências parietais,
circunferência da cabeça, circunferência abdominal, comprimento do fêmur e
comprimento do pé, utilizando o ultrassom.
Clinicamente, o período gestacional é dividido em três trimestres. No final do
primeiro trimestre, já se formaram todos os principais sistemas. No final do primeiro

AN02FREV001/REV 4.0

85
semestre, já se formaram todos os principais sistemas. No final do segundo
trimestre, o feto pode sobreviver caso nasça prematuro. No terceiro semestre, o feto
atinge o máximo do seu desenvolvimento e com 35 semanas de gestação pesa
2.500 g.
A seguir apresentamos os principais acontecimentos durante o
desenvolvimento fetal:

9ª a 12ª semana
─ no início da nona semana, a cabeça constitui metade do comprimento
do feto.
─ com nove semanas, A face é larga, os olhos estão muito separados, as
orelhas tem implantação baixa e as pálpebras estão fundidas.
─ vários centros de ossificação estão presentes no feto com 12 semanas,
sobretudo, no crânio e nos ossos longos.
─ os membros inferiores estão menos desenvolvidos em relação aos
membros superiores.
─ A genitália externa masculina e feminina são muito semelhantes até o
final da nona semana. A diferenciação da genitália em ambos os sexos
acontece após a 12ª semana.
─ No início do período fetal, o fígado é o principal órgão da eritropoese
(formação dos glóbulos vermelhos do sangue). No final da 12ª semana, essa
atividade diminuiu no fígado e inicia-se no baço.
─ Entre a 9ª a 12ª semana, inicia-se a formação da urina, a qual é
lançada pelo feto no líquido amniótico.

13ª a 16ª semana


─ o crescimento é muito rápido e o tamanho da cabeça é mais
proporcional ao tamanho do feto.
─ membros inferiores estão mais desenvolvidos.
─ movimentos do feto já podem ser captados pelo exame de ultrassom e
ainda não podem ser percebidos pela mãe.
─ nessa fase, os ossos são claramente visíveis nas imagens por
ultrassom.

AN02FREV001/REV 4.0

86
─ os ovários já se diferenciaram e contêm folículos primordiais com
ovogônias, com 16 semanas.
─ a genitália externa já pode ser reconhecida com 14 semanas.
─ Os olhos ocupam uma posição anterior da face em vez de
anterolateral.

17ª a 21ª semana


─ o feto aumenta seu cumprimento CR em cerca de 50 mm.
─ os membros alcançam sua proporção relativa final, e os movimentos
fetais são comumente percebidos pela mãe.
─ a pele está coberta por um material gorduroso, denominado vernix
caseosa, constituído por secreção das glândulas sebáceas do feto e células
epidérmicas mortas, o qual funciona como um hidratante natural para a pele
do feto, evitando endurecimento e rachaduras.
─ com 20 semanas são visíveis as sobrancelhas e os cabelos e o corpo
do feto está coberto por uma delicada penugem denominada de lanugo, que
ajuda a manter a vernix caseosa presa à pele.
─ da 17ª 20ª semana, forma-se a gordura parda ou tecido adiposo
multilocular no feto, o qual tem função de produzir calor e proteger o recém-
nascido do frio.
─ com 18 semanas, o útero está formado e já iniciou-se a canalização da
vagina.
─ com 20 semanas, nos fetos masculinos, os testículos começam a
descer, mas ainda estão localizados na parede abdominal posterior, do
mesmo modo que os ovários nos fetos femininos.

21ª a 25ª semana


─ há um ganho substancial de peso. Apesar de ainda ser um tanto
magro, o feto já está bem mais proporcional.
─ com 21 semanas, começam os movimentos oculares rápidos.
─ com 24 semanas, os pneumócitos II (células epiteliais dos septos
interalveolares dos pulmões) começam a produzir o surfactante, um líquido

AN02FREV001/REV 4.0

87
tensoativo que mantém abertos os alvéolos pulmonares em
desenvolvimento.
─ o feto de 22 a 25 semanas, caso nasça, pode sobreviver se receber
cuidados intensivos, embora a chance de morrer seja alta devido à
imaturidade de seu sistema respiratório.

26ª a 29ª semana


─ com 26 a 29 semanas, os pulmões já são capazes de respirar o ar,
caso o feto nasça prematuramente.
─ o sistema nervoso já está desenvolvido e é capaz de dirigir os
movimentos respiratórios rítmicos e de controlar a temperatura do corpo.
─ com 26 semanas, os olhos se abrem e as unhas dos dedos do pé
tornam-se visíveis. As unhas dos dedos da mão estão presentes com 24
semanas. Notar que sempre as estruturas dos membros superiores formam-
se mais precocemente do que as dos membros inferiores.
─ o tecido subcutâneo já está bem desenvolvido e o feto perde o aspecto
enrugado da pele.
─ A eritropoese no baço termina com 28 semanas e a medula óssea
torna-se o principal local deste processo.

30ª a 34ª semana


─ o reflexo pupilar dos olhos à luz pode ser induzido com 30 semanas.
─ a pele é rosada e lisa.
─ os membros inferiores e superiores têm um aspecto rechonchudo.

35ª a 38ª semana


─ fetos com 35 semanas têm preensão palmar firme e exibem uma
orientação espontânea para a luz.
─ o sistema nervoso está maduro para realizar algumas funções
integrativas.

AN02FREV001/REV 4.0

88
─ no final da gestação, a maioria dos fetos são roliços, devido a gordura
subcutânea acumulada. A termo, a quantidade de gordura amarela é de
cerca de 16% do peso corporal.
─ os fetos normais pesam cerca de 3.400 g e possuem um comprimento
CR de 36 cm.
─ em fetos masculinos a termo, os testículos estão no escroto; nos
prematuros, comumente os testículos ainda não desceram.

A data provável do parto de um feto é de 266 dias ou 38 semanas após a


fertilização ou 40 semanas após a UMN (Última Menstruação Normal). Entretanto,
essa data pode variar. Aproximadamente 12% das crianças nascem uma ou duas
semanas após a data esperada do nascimento.

FIM DO MÓDULO I

AN02FREV001/REV 4.0

89
MÓDULO II

7 ASPECTOS CLÍNICOS DA FUNÇÃO REPRODUTIVA E INFERTILIDADE

Infertilidade é a incapacidade de um dos dois cônjuges, quer por causas


funcionais ou orgânicas, gerar gravidez por um período conjugal de no mínimo dois
anos, sem o uso de contraceptivos e com vida sexual normal (COPERLAND et al.,
1996).
Estudos têm demonstrado que 1 em cada 5 casais apresentam problemas
de infertilidade, dentre estes, 40% dos casos se devem à fatores masculinos e estão
ligados à produção dos espermatozoides (FILIPPINI, 2014).
A demanda por tratamentos para infertilidade vem crescendo, e isto se deve
aos seguintes fatos (CONCEIÇÃO e ALBUQUERQUE E SILVA, 2005):
1. as mulheres, por várias razões, vêm retardando a maternidade;
2. alta prevalência de doenças sexualmente transmissíveis;
3. maior acesso à informação sobre os tratamentos disponíveis.

7.1 FUNÇÃO REPRODUTIVA NA MULHER E NO HOMEM

Na mulher, é plenamente conhecido que a idade cronológica, simplesmente,


não espelha com fidelidade a função ovariana. Uma avaliação do patrimônio folicular
existente, independentemente da idade cronológica, pode ser realizada pela história
clínica de ciclos menstruais regulares, pelas provas que comprovam indiretamente o
mecanismo ovulatório normal e pela análise dos níveis do hormônio folículo
estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH) coletados no terceiro dia do
ciclo menstrual (THIESEN et al., 2002).

AN02FREV001/REV 4.0

92
Uma associação entre a idade da mulher e a redução da fecundidade tem
sido bem documentada. Esse declínio da fecundidade começa no início da quarta
década de vida e acelera-se no final da quarta década de vida e início da quinta
década de vida. Aproximadamente 30% dos casais em que a parceira tem de 35 a
44 anos são inférteis. As causas mais comuns da infertilidade feminina são: a)
problemas ovarianos, b) endometriose, c) fatores cervicais, d) fatores tubários, e)
fator uterino e f) fator peritoneal (THIESEN et al., 2002).
A produção de espermatozoides pode ter interferência de fatores como a
idade do indivíduo - quanto mais avançada a idade, menor a produção, sua
ocupação profissional - contato com substâncias tóxicas como agrotóxicos e
inseticidas, ou se trabalha em áreas de muito calor e, os antecedentes familiares -
se há doenças hereditárias envolvidas, ou casos de infertilidade familiar.
Outros antecedentes e alguns hábitos pessoais também podem determinar a
existência de espermatozoides com baixa motilidade (capacidade de movimento) e
vitalidade, entre eles: certos tipos de cirurgias, traumatismos, uso de drogas (tanto
entorpecentes quanto algumas substâncias químicas terapêuticas podem provocar
degeneração das células germinativas), álcool e temperatura elevada (MAEGAWA e
CENTA, 2000).
Os ftalatos – usados na produção de plástico e na manufatura de cosméticos
– fazem parte do grupo dos "disruptores endócrinos" e tem conhecido efeito negativo
sobre a fertilidade masculina. Entretanto, ainda existe pouca investigação em
relação à mulher, apesar da alta exposição a estes compostos químicos.
Esse estudo demonstrou que a exposição aos ftalatos - medida pelos níveis
de metabólitos de ftalato na urina – está associada com a redução da fertilidade,
quando avaliada a resposta ao tratamento de FIV. O número de ovócitos e o índice
de implantação foram inversamente proporcionais à concentração de ftalatos na
urina (SOUTER et al., 2013).
Outro fator que pode afetar a fertilidade nas mulheres é o trabalho noturno e
alteração do sono-vigília. Strocker et al. (2013), por meio de um estudo de meta-
análise que inclui artigos publicados entre 1969 e janeiro de 2013 sobre o impacto
de horários de trabalho não padrão (incluindo o trabalho noturno e turnos mistos),
sobre a fertilidade de 119.345 mulheres, constataram que aquelas que trabalhavam
alternando turnos diurnos e noturnos, tiveram 33% a mais de alteração menstrual do

AN02FREV001/REV 4.0

93
que aquelas que trabalham em horário regular, e um aumento de 80% na taxa de
infertilidade. As mulheres que trabalhavam apenas à noite apresentaram maior
índice de abortamento.

7.2 CAUSAS DA INFERTILIDADE NA MULHER

7.2.1 Problemas ovarianos

Os problemas ovarianos são a causa mais frequente de infertilidade


feminina, responsáveis por aproximadamente 30-40% de todos os casos de
infertilidade feminina. Os problemas ovarianos caracterizam-se fundamentalmente
pela ausência completa de ovulação (anovulação) ou por uma ovulação infrequente,
irregular ou ambas. As causas mais frequentes de anovulação crônica são disfunção
hipotálamo-hipofisária, síndrome dos ovários policísticos, hiperprolactinemia e
insuficiência hipotálamo-hipofisária. As causas restantes são raras, constituindo
quase que uma exceção (HALBE, 1995, THIESEN et al., 2002).
Determinar se a ovulação realmente ocorreu é uma parte importante da
investigação da infertilidade. A mensuração diária da temperatura corpórea basal
(temperatura do corpo em repouso), geralmente realizada imediatamente após o
despertar, pode ser utilizada para se determinar se e quando a ovulação ocorreu
(MANUAL MERCK, 2003). Uma baixa da temperatura corpórea basal sugere que a
ovulação está prestes a ocorrer, enquanto que uma pequena elevação persistente
de aproximadamente 0,25 a 0,5º C geralmente indica que ela ocorreu. Contudo, a
temperatura corpórea basal não é um indicador confiável ou acurado da ovulação.
No máximo, a temperatura corpórea basal prevê a ocorrência da ovulação em um
período de 2 dias.
As técnicas mais acuradas para verificar a ovulação incluem a monitorização
ultrassonográfica e os kits previsores da ovulação que detectam um aumento do
hormônio luteinizante (um hormônio que induz a ovulação), o qual atinge um
máximo na urina 24 a 36 horas antes da ovulação. Além disso, a concentração da

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94
progesterona no sangue ou de um de seus metabólitos pode ser mensurada. Um
aumento acentuado indica que a ovulação ocorreu (MANUAL MERCK, 2003).
Atualmente, há uma variedade de drogas utilizadas para induzir ovulação e
a escolha de qual deverá ser usada depende da causa da anovulação e se
pretendemos fazer apenas a indução da ovulação e coito programado (isto é,
orientação do casal para ter relações sexuais no período da provável ovulação) ou
inseminação intrauterina (IIU), ou se pretendemos usar técnicas de fertilização
assistida.
Nas pacientes portadoras de anovulação crônica e com níveis normais ou
elevados de estrogênios, como as portadoras de síndrome dos ovários policísticos,
devemos sempre iniciar com citrato de clomifeno, por ser uma droga mais barata e
com menor índice de complicações. A ação principal do citrato de clomifeno se dá
no hipotálamo, estimulando a liberação de GnRH e, consequentemente, de FSH
pela hipófise. O FSH levará ao recrutamento de uma população de folículos que se
desenvolverão até que um assuma a dominância, produzindo estradiol o suficiente
para desencadear o pico de LH, que levará à maturação final do folículo e à
ovulação (CONCEIÇÃO e ALBUQUERQUE E SILVA, 2005).
As gonadotrofinas são usadas para indução de ovulação em pacientes que
não responderam ao citrato de clomifeno; em portadoras de hipogonadismo
hipogonadotrófico; para promover superovulação em portadoras de infertilidade sem
causa aparente e em mulheres que serão submetidas à inseminação intrauterina.
São medicações de uso parenteral (intramuscular ou subcutâneo) de custo elevado
e que podem levar a complicações importantes, como, a gravidez múltipla e a
síndrome de hiperestimulação dos ovários (SHO). Esta tem, como distúrbio básico, o
aumento da permeabilidade vascular, com saída do líquido do espaço intravascular
para o espaço intersticial, com consequente hipovolemia (CONCEIÇÃO e
ALBUQUERQUE E SILVA, 2005).
Para saber mais sobre exames que permitam acompanhar a ovulação,
visando uma futura gestação e tratamento para estimular a ovulação, assista ao
vídeo Fator Ovariano no link abaixo:
http://www.centrodefertilidade.com.br/index.php?pg=causas_da_infertilidade-
fator_ovariano.

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95
7.2.2 Endometriose

É uma doença que acomete as mulheres em idade reprodutiva e que


consiste na presença de endométrio em locais fora do útero (PORTAL DA
ENDOMETRIOSE, 2014).
Os locais mais comuns da endometriose são: fundo do colo do útero, septo
reto-vaginal (tecido entre a vagina e o reto), trompas, ovários, superfície do reto,
ligamentos do útero, bexiga, parede da pelve e ureter (Figura 41).

FIGURA 41  NA ENDOMETRIOSE O TECIDO ENDOMETRIAL ADERE À


SUPERFÍCIE EXTERNA DOS ÓRGÃOS NA CAVIDADE PÉLVICA

FONTE: Herlihy e Maebius, 2002.

Assim, toda vez que a mulher menstrua, isso acontece dentro e fora do
útero, ou seja, onde existem essas células. O sangue, portanto, cai na cavidade

AN02FREV001/REV 4.0

96
abdominal. Uma vez implantado, o tecido endometrial responde ao ciclo hormonal e
libera sangue nos locais de implantação. Como nestes locais não há como escoar o
sangue produzido, frequentemente ocorre cisto, inflamação, dor ou infertilidade. O
principal sintoma da endometriose é a dor, às vezes, muito forte, na época da
menstruação.
Estima-se que 15% das mulheres entre 15 e 45 anos de idade possuem
essa doença. Esse percentual sobe para até 70% quando a mulher apresenta
história de infertilidade ou dor pélvica (PORTAL DA ENDOMETRIOSE, 2014).

7.2.3 Fator cervical

A cérvice uterina é uma entidade anatômica que separa a vagina, a qual se


encontra em contato com o meio exterior, do útero, que está em conexão aberta
com a cavidade peritoneal (MANUAL MERCK, 2013).
Na espécie humana, vários milhões de espermatozoides são depositados
na vagina, porém, somente algumas poucas centenas atingem a trompa uterina. Por
outro lado, sabe-se que a vida do espermatozoide na vagina não é longa, sua
permanência por mais de 35 minutos compromete irremediavelmente sua
capacidade de penetração no muco cervical e provavelmente sua capacidade de
fecundação. A vida média do espermatozoide na cavidade uterina também é breve,
devido a uma morte precoce ou, então, são fagocitados pelos leucócitos. Tanto o
sêmen como o espermatozoide têm propriedades antigênicas e uma
incompatibilidade entre estes e o muco cervical pode levar à esterilidade (MANUAL
MERCK, 2013).
A avaliação da interação muco cervical-sêmen é considerada como ponto
importante na investigação do casal infértil. As anomalias do colo uterino e as
alterações do muco cervical são relatadas como causas de infertilidade em
aproximadamente 10% a 20% das pacientes, mas entre os casais inférteis
cuidadosamente investigados, e excluindo-se o fator masculino, a verdadeira
incidência não é maior que 10% (CENTRO DE REPRODUÇÃO HUMANA, 2014).

AN02FREV001/REV 4.0

97
Alterações nas propriedades bioquímicas do muco são responsáveis por
mudanças na receptividade ao espermatozoide, impedindo ou facilitando a
passagem destes pelo cérvix. Durante o ciclo menstrual, o muco cervical permite a
penetração do esperma somente durante o período ovulatório, exercendo assim um
papel regulador na colonização espermática do trato genital superior (CENTRO DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2014).
O teste clássico para avaliação do papel potencial do fator cervical na
infertilidade é o Teste Pós-Coito (TPC). O TPC tem por objetivo avaliar a qualidade
do muco cervical, a presença e o número de espermatozoides móveis no trato
reprodutivo feminino após o coito.
O exame realizado 2 a 8 horas após uma relação sexual pode determinar se
o esperma consegue sobreviver no muco cervical. O exame é programado para ser
realizado na metade do ciclo menstrual, quando a concentração de estradiol
encontra-se mais elevada e a mulher está ovulando. Normalmente, o muco é claro e
pode ser distendido até 8 a10 centímetros sem romper. Ao microscópio, o muco
possui um aspecto semelhante a uma samambaia (Figura 42) e, na ampliação
máxima, pelo menos cinco espermatozoides são visíveis no campo. Os resultados
anormais incluem um muco nitidamente espesso, a ausência de espermatozoides e
a aglomeração de espermatozoides devido ao fato do muco possuir anticorpos
contra o esperma (MANUAL MERCK, 2014).

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FIGURA 42  VISTA ATRAVÉS DO MICROSCÓPIO ÓPTICO DO MUCO
CERVICAL CRISTALIZADO SEMELHANTE ÀS FOLHAS DE SAMAMBAIA

FONTE: Disponível em: <http://www.unifesp.br/dmorfo/histologia/ensino/colo/histofisiologia.htm>.


Acesso em: 24 fev. 2014.

Para entender como o exame é realizado assista ao vídeo Fator Cervical no


link abaixo:
http://www.centrodefertilidade.com.br/index.php?pg=causas_da_infertilidade
-fator_cervical.
Atualmente, o TPC vem sendo muito questionado como fator prognóstico na
infertilidade, devido às dificuldades na padronização da metodologia e dos
resultados. No entanto, sua realização rotineira nos permite avaliar a qualidade e
quantidade do muco cervical no período pré-ovulatório, o que é essencial para uma
adequada migração dos espermatozoides para o trato genital superior
(CONCEIÇÃO e ALBUQUERQUE E SILVA, 2005).

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99
7.2.4 Fator tubário

As tubas uterinas podem apresentar anomalias estruturais e funcionais. As


principais causas dos distúrbios são as infecções, a endometriose e a ligadura de
trompas (fechamento cirúrgico das tubas uterinas) como um meio de esterilização.
Para determinar se as tubas uterinas estão abertas, o médico solicita um
histerossalpingografia (radiografia especial do útero e das tubas uterinas) logo após
o término da menstruação. Esse exame é considerado muito doloroso e
desagradável por algumas mulheres, porém, apenas desconfortável por outras. Para
uma melhor avaliação das trompas utiliza-se a videolaparoscopia, um procedimento
cirúrgico que tanto serve para diagnóstico como para tratamento de algumas lesões
tubárias (CENTRO DE FERTILIDADE, 2014).

7.2.5 Fator uterino

O fator uterino pode ocorrer em 10 a 20% de pacientes inférteis. Embora as


anormalidades uterinas geralmente estejam associadas ao abortamento recorrentes
à infertilidade, determinadas anormalidades anatômicas do útero foram propostas
como causas de infertilidade.
Miomas uterinos podem estar associados ao abortamento. Alguns
pesquisadores especulam que a localização de miomas na cavidade endometrial
pode interferir com o transporte ou implantação de espermatozoides. A hemorragia
anormal associada a estes miomas pode não permitir preparo apropriado do
endométrio para a implantação bem-sucedida.
As anomalias uterinas são responsáveis por 15% das perdas gestacionais
do segundo trimestre e também estão associadas com apresentação fetal anormal,
descolamento prematuro de placenta e retardo de crescimento intrauterino. As
anomalias uterinas são classificadas de acordo com uma modificação da

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100
classificação de BUTTRAM e GIBBONS (1979) em úteros: unicorno, bicorno, didelfo
e septado (Figura 43).

FIGURA 43  ANOMALIAS UTERINAS


Útero unicorno: é bem raro. O tecido que forma o
útero não se desenvolve direito na mulher, e o
órgão tem apenas metade do tamanho do normal.
Além disso, só há uma tuba uterina, em vez de
duas. Apesar disso, na maioria dos casos a mulher
tem dois ovários.
Útero bicorno: é o mais comum. Em vez de
parecer uma pera de cabeça para baixo, o útero
parece mais um coração, com um recorte na parte
superior central.

Útero duplo ou didelfo: bastante raro. É quando o


útero tem duas cavidades internas, sendo que
cada uma delas pode levar a um colo do útero e a
uma vagina. A mulher pode assim ter duas
vaginas.
Útero septado: a cavidade interna do útero é
dividida por uma parede, chamada septo. O septo
pode ir só até metade do caminho ou chegar até o
colo do útero.

FONTE: Disponível em: <http://brasil.babycenter.com/a4000052/anomalias-anat%C3%B4micas-do-


%C3%BAtero#ixzz2uKf8BZAb>. Acesso em: 25 fev. 2014.

As lesões miometriais capazes de provocar infertilidade são as seguintes: (a)


hipoplasias uterinas – defeitos de desenvolvimento da musculatura uterina, por má
resposta aos estímulos hormonais; (b) miomas uterinos – os submucosos
perturbando a superfície de implantação da gestação, e os intramurais perturbando

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101
a contratilidade normal da musculatura; (c) adenomiose – a fibrose progressiva que
afetará a gestação da mesma forma que os miomas (THIESEN et al., 2002).
As lesões endometriais ligadas à infertilidade podem ser de cinco tipos: (a)
metrose de receptividade – o endométrio não responde aos estímulos hormonais. O
processo costuma ser temporário; (b) pólipos endometriais; (c) sinéquias –
aderências intracavitárias, por vezes extensas, por vezes em apenas um ponto, mas
provocando uma metrose de receptividade específica, que só curará com o
tratamento da sinéquia; (d) endometrite – as endometrites crônicas podem estar
ligadas a micro-organismos habituais nas infecções ginecológicas, ao bacilo de Koch
e a simples processos inflamatórios decorrentes de miomas submucosos ou áreas
de adenomiose próximas ao endométrio; (e) metaplasia óssea ou ossificação
endometrial – presença de tecido ósseo na cavidade endometrial, por metaplasia ou
resíduos fetais ou embrionários. A semiologia da cavidade endometrial inclui, além
dos exames de avaliação anatômica, o estudo histológico da mucosa endometrial
(THIESEN et al., 2002).

7.2.6 Fator peritoneal

O fator peritoneal é um conjunto de disfunções da cavidade peritoneal. Sua


incidência é vista em torno de 11% entre os diversos fatores da infertilidade
conjugal. Assim sendo, o acometimento pode atingir a captação ovular, os gametas
e até mesmo o desenvolvimento do corpo lúteo. Os fatores peritoneais incluem
aderências peritubárias ou periovarianas, que geralmente resultam de doença
inflamatória pélvica ou cirurgia, e endometriose (THIESEN et al., 2002).

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102
7.3 CAUSAS DA INFERTILIDADE NO HOMEM

7.3.1 Anomalias do Sêmen

Análise seminal deve ser coletada preferencialmente por masturbação após


um período de abstinência sexual de 48 a 72 horas, e analisado por laboratório com
experiência. São necessárias no mínimo duas amostras com intervalo de 15 dias
entre as coletas para minimizar as chances de erros por variações sazonais ou
alterações momentâneas da espermatogênese (ZERATI FILHO, 2010).
A avaliação do sêmen deve ser completa, em todos os seus parâmetros,
com atenção especial ao volume ejaculado, pH, concentração de leucócitos,
motilidade e à morfologia e concentração dos espermatozoides.
O volume seminal abaixo de 1,0 ml sugere ejaculação retrógrada ou
obstrução dos ductos ejaculatórios. O pH ácido sugere obstrução dos ductos
ejaculatórios e quando alcalino, infecção. A presença de leucócitos em concentração
superior a 1 milhão/ml é suspeita de infecção. Alterações na concentração,
motilidade e morfologia dos espermatozoides são comuns a todas as causas de
infertilidade (ZERATI FILHO, 2010).
A infertilidade masculina não consiste em uma doença, mas em uma
síndrome que resulta de desordens adquiridas ou congênitas. A maioria dos
indivíduos inférteis é saudável, assintomáticos e têm poucas alterações ao exame
físico. No entanto, a infertilidade pode ser a manifestação inicial de uma doença
sistêmica, pois a maioria dos homens inférteis apresenta oligozoospermia (redução
no número de espermatozoides inferior a 20x106 espermatozoides/ml),
astenozoospermia (motilidade inadequada) ou teratozoospermia (espermatozoides
com morfologia anormal), que indica alterações quantitativas e qualitativas na
espermatogênese (MAEGAWA e CENTA, 2000).
A azoospermia (ausência total de esperma) é em razão de um distúrbio
grave no interior dos testículos ou da obstrução ou ausência dos vasos deferentes

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103
(em ambos os lados). A ausência de frutose (um açúcar produzido pelas vesículas
seminais) no sêmen indica ausência dos vasos deferentes ou das vesículas
seminais ou obstrução dos condutos ejaculatórios.
A varicocele, a anomalia anatômica mais comum no homem estéril, é uma
massa de veias dilatadas e tortuosas no escroto, similares às veias varicosas. Essa
anomalia pode impedir a drenagem adequada do sangue dos testículos e,
consequentemente, elevando a temperatura e reduzindo a velocidade de formação
do sêmen.
Mais raramente, o sêmen segue uma direção contrária à habitual
(ejaculação retrógrada), isto é, ele reflui para o interior da bexiga ao invés de ir em
direção ao pênis. Esse distúrbio é mais comum nos homens submetidos a uma
cirurgia pélvica, sobretudo a remoção da próstata, e nos homens diabéticos. A
ejaculação retrógrada também pode ser decorrente de um funcionamento anormal
dos nervos.

7.3.2 Testes complementares à análise seminal de importância diagnóstica

Experiências clínicas revelaram que não é exatamente o número absoluto


de espermatozoides que prediz o prognóstico de fertilidade, mas a sua capacidade
funcional. O desenvolvimento de um teste com grande poder para predizer a
fertilização pelos espermatozoides é o objetivo primordial de qualquer laboratório de
pesquisa em andrologia (PASQUALOTTO, 2007).
Segundo Pasqualotto (2007), apenas as provas de função espermática –
como reação acrossômica, receptores de manose na superfície dos
espermatozoides, interação espermatozoide-muco cervical, testes da penetração
espermática, níveis de creatina quinase, espécies reativas de oxigênio, capacidade
antioxidante total e peroxidação lipídica – podem dar informações referentes à
probabilidade de esse homem vir a engravidar a sua parceira. Esses testes podem
auxiliar na indicação de cirurgias para infertilidade masculina, até ajudar a escolher a
técnica mais apropriada para reprodução assistida, com uma boa relação custo-
benefício.

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104
7.3.3 Avaliação hormonal

As recomendações atuais para avaliação endócrina no homem infértil são:


concentração espermática <10 x 106 espermatozoides/ml, disfunção erétil, outros
sinais e sintomas de baixos níveis de testosterona ou endocrinopatia relacionada. A
avaliação inicial deverá incluir níveis séricos de testosterona e hormônio folículo
estimulante. Caso a testosterona esteja baixa, avaliar testosterona total, livre e
globulina de ligação hormonal sérica, hormônio luteinizante e prolactina pela manhã.
Muito embora endocrinopatias sejam encontradas em 10% dos homens testados,
endocrinopatias clinicamente significativas são encontradas em <2% dos homens
(PASQUALOTTO, 2007).

7.3.4 Avaliação genética

Os fatores genéticos mais frequentemente relacionados à infertilidade


masculina são: aberrações cromossômicas e microdeleções do cromossomo Y.
A síndrome de Klinefelter (47, XXY) é a mais frequente das aberrações
cromossômicas entre os homens inférteis, atingindo 7 a 13% dos azoospérmicos,
podendo haver indivíduos com esta síndrome e cariótipo em mosaico (46, XY/47,
XXY e outros), com graus variáveis de comprometimento da espermatogênese. São
também importantes as alterações estruturais envolvendo autossomos e/ou
cromossomos sexuais (PASQUALOTTO, 2007).
No braço longo do cromossomo Y, um gene ou um complexo de genes
chamado de fator de azoospermia (AZF) tem sido localizado, o qual é considerado
como responsável pela produção de um ou mais fatores, até agora não identificados,
necessários para a espermatogênese normal. A região do AZF tem sido subdividida
em AZF-a , AZF-b, AZF-c. A lesão das últimas duas regiões parece resultar em
azoospermia ou severa oligospermia. A região AZF-c, inclui o chamado “deleted-in

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105
azoospermia gene” ou DAZ. Essas deleções são muito pequenas para serem vistas
citogeneticamente, mas observa-se nos fenótipos histológicos: ausência de células
germinativas, ausência de células pós-meióticas, quantidades variadas de células
germinativas em diferentes estágios incluindo espermatozoides maduros
(MAEGAWA e CENTA, 2000).

7.3.5 Análise da estrutura da cromatina espermática

Evidências recentes sugerem que a integridade da cromatina do DNA seja


muito importante para a fertilidade masculina. A estrutura da cromatina do
espermatozoide (proteínas associadas ao DNA) pode ser mensurada por vários
métodos, incluindo os ensaios Tunnel e Cometa, assim como citometria de fluxo
após tratamento com ácido e coloração dos espermatozoides com laranja de
acridina (PASQUALOTTO, 2007).
Esses testes avaliam o grau de fragmentação de DNA que ocorre após
tratamento químico do complexo DNA-cromatina dos espermatozoides e que podem
refletir indiretamente a integridade da qualidade do DNA dos espermatozoides. DNA
fragmentado em excesso raramente ocorre em homens férteis, mas pode ser
encontrado em 5% dos homens inférteis com qualidade seminal normal e 25% dos
homens inférteis com análise seminal alterada. Esse teste pode detectar infertilidade
que porventura não tenha sido diagnosticada em uma análise seminal
(PASQUALOTTO, 2007).
As causas de fragmentação do DNA incluem fatores ambientais (fumo
poluição atmosférica, hipertermia) e doenças (infecção e varicocele). A indicação
para a pesquisa do DNA dos espermatozoides é a presença de infertilidade sem
causa aparente (idiopática).

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106
7.4 PROTOCOLOS PARA A INDUÇÃO DA OVULAÇÃO

A indução da ovulação é muito importante na maioria das técnicas de


reprodução assistida, visando à maior produção de ovócitos II e, consequentemente,
maiores chances de gravidez.
Nesse tratamento, a indução é realizada com o uso de medicamentos que
atuam na hipófise ou que atuam diretamente nos ovários, estimulando a ovulação.
Estes medicamentos aumentam a oferta do hormônio folículo-estimulante (FSH) aos
ovários durante certo período de tempo, o que vai estimular o crescimento dos
folículos.
O objetivo da estimulação do ovário no caso da reprodução assistida é obter
um maior número de ovócitos nos dois ovários e evitar a atrofia dos folículos que
entram em desenvolvimento, permitindo um maior número de ovócitos disponíveis.
O controle para que se obtenha somente o número de ovócitos desejados é feito
através de ecografia transvaginal e dosagem de hormônios. O destino destes
ovócitos vai depender depois da técnica de reprodução assistida a ser utilizada
(CERQUEIRA, 2014).

7.4.1 Hiperestimulação ovariana

Pode-se aumentar o FSH e o LH pelo aumento de sua síntese e liberação


endógena (citrato de clomifeno) ou por meio de administração exógena
(gonadotrofinas). Quando administramos FSH, estimulamos a formação de
moléculas que podem influenciar a responsividade da teca ao LH. Por outro lado,
quando administramos LH estimulamos a formação de moléculas que podem
influenciar a responsividade da granulosa ao FSH. O LH estimula a síntese e a
formação de esteroides sexuais masculinos, testosterona e androgênios. O FSH, por

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107
meio do processo de aromatização, metaboliza o androgênio em estrogênio
(CORNEL et al., 2014).

7.4.2 Esquemas de hiperestimulação ovariana

7.4.2.1 Citrato de clomifeno

O citrato de clomifeno é a droga de primeira escolha para ciclos de coito


programado ou de inseminação intrauterina, mas não é em geral a primeira opção
para estimulação ovariana em ciclos de fertilização in vitro, a menos que se queira
viabilizar uma estimulação com custos mais acessíveis e em mulheres jovens. A
dose utilizada em geral é de 100 mg/dia, por um período de 5 dias. Doses superiores
a 150 mg/dia podem ser utilizadas, porém com resultados insatisfatórios. Vale
lembrar que sendo um antiestrogênico o citrato de clomifeno altera a qualidade do
endométrio (CORNEL et al. 2014).

7.4.2.2 Agonistas/Antagonistas do GnRH

Estão disponíveis em injeções “depot” (de depósito) mensais e injeções


diárias, que podem ser administradas por via subcutânea ou intramuscular. A injeção
subcutânea é de fácil administração e causa muito menos dor. São administrados
entre o 21º e 23º dia do ciclo anterior ao ciclo de estimulação ovariana, em injeção
única; ou diariamente em conjunto com as gonadotrofinas para estimulação
ovariana.
Os agonistas do GnRH “depot” inicialmente têm ação de liberação das
gonadotrofinas endógenas (FSH e LH), porém após 3 a 4 dias iniciam a inibição total
das gonadotrofinas. Os antagonistas do GnRH promovem a inibição das

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108
gonadotrofinas endógenas e são administrados diariamente em conjunto com a
administração das gonadotrofinas.
Assim, os análogos/antagonistas do GnRH são utilizados primariamente nos
protocolos de supressão da hipófise em reprodução assistida, para reforçar o
controle do ciclo da mulher e da estimulação dos ovários. Atuam na prevenção de
um evento hormonal denominado pico de LH, o qual promove a ovulação prematura.

7.4.2.3 Gonadotrofinas

As gonadotrofinas podem ser de origem humana (menotropinas) ou


recombinantes. A humana (menotropina) pode conter FSH e LH ou somente FSH.
A menotropina altamente purificada, que contém FSH e LH, teve seu
desenvolvimento baseado na “teoria de duas células”, onde a reprodução natural
depende da ação coordenada dos dois hormônios FSH e LH. O LH tem ação
importante tanto na maturação do ovócito, quanto no preparo do útero, permitindo
que se obtenha melhores embriões e taxas mais elevadas de implantação e
gravidez. Por isso, a menotropina altamente purificada, que contém FSH e LH,
permite uma diminuição dos custos, além do que não se faz necessário a utilização
de outras injeções contendo apenas LH.
As gonadotrofinas promovem a estimulação ovariana, com crescimento e
desenvolvimento de múltiplos ovócitos. Podem ser administradas por injeção
subcutânea ou intramuscular. A injeção subcutânea é de fácil administração e causa
muito menos dor, além de permitir a autoaplicação. A menotropina altamente
purificada, que contém FSH e LH, oferece tratamento de alta qualidade, com custo
efetivo, para casais inférteis.

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7.4.2.4 Gonadotrofinas coriônicas

As gonadotrofinas coriônicas podem ser de origem humana ou


recombinantes, simulam a ação do LH, e auxiliam a amadurecer os folículos
ovarianos (ovócitos).
São as drogas de escolha para promover a ovulação, depois da estimulação
e desenvolvimento folicular, apresentando comprovada eficácia e segurança. Há
produtos de administração subcutânea e intramuscular.

7.5 TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Denominamos como Reprodução Assistida o conjunto de técnicas onde


uma equipe multidisciplinar tem participação estreita no acompanhamento do
desenvolvimento folicular, detecção e indução da postura ovular, facilitação ou
mesmo realização do encontro dos gametas (CORNEL, 2014).
As Técnicas de Reprodução Assistida (TRA) são divididas em métodos de
baixa e métodos de alta complexidade. Entre as técnicas de baixa complexidade
podemos incluir o coito programado e a inseminação intrauterina (IIU), que
apresentam a vantagem de menores custos, além de não precisarem ser realizadas
em centros de reprodução assistida. Entre as técnicas de alta complexidade
incluímos a fertilização in vitro (FIV) convencional e a injeção intracitoplasmática de
espermatozoide (ICSI) (em inglês, intracytoplasmatic sperm injection)
(ABDELMASSIH, 2001).

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7.5.1 Relação Sexual Programada

Esse é o tratamento básico da infertilidade. Se a avaliação do casal


determina função tubária, desenvolvimento folicular, desenvolvimento endometrial, e
análise de sêmen normais, a gravidez pode ser tentada pela relação sexual com
hora marcada.
A técnica é realizada para garantir que os espermatozoides estejam na tuba
uterina no momento em que o óvulo é liberado do ovário e comece a mover-se pela
tuba uterina. O tratamento pode incluir um ultrassom para determinar o
desenvolvimento folicular e o desenvolvimento do revestimento uterino. A
gonadotrofina coriônica pode ser administrada para induzir a ovulação e estabelecer
o momento da relação sexual.

7.5.2 Inseminação Intrauterina (IIU)

Esse procedimento, também conhecido como “inseminação artificial”,


envolve a colocação de esperma lavado, no útero, através do colo, com um pequeno
cateter (Figura 44). O esperma pode ser colhido do marido ou pode ser utilizado
esperma congelado de doador.

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111
FIGURA 44  IMAGEM ESQUEMÁTICA DA INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA (IIU).

FONTE: Disponível em: <http://www.spdm.org.br/blog/quando-tratar-com-inseminacao-intrauterina/>.


Acesso: 28 fev. 2014.

A IIU é frequentemente realizada após tentativas fracassadas de relações


sexuais programadas ou se houver uma interação muco cervical/espermatozoide
anormal, pouco muco, ou muco hostil, que torna o espermatozoide inviável. No
último caso, os espermatozoides são injetados depois da barreira cervical, para
permitir que eles se movam em direção à tuba uterina e atinjam o óvulo.
As variações no procedimento incluem o uso de medicamentos para
produzir folículos múltiplos e liberar mais de um óvulo, de modo a atingir a
fertilização.
As vantagens da IIU são:
─ pouco invasivo,
─ menos comprometimento emocional,
─ menor consumo de tempo.
As desvantagens da IIU comparada a FIV e ICSI:
─ a fertilização pode não ocorrer,
─ risco de gravidez múltipla,
─ as tubas devem estar desobstruídas.

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112
Os índices variam entre 12,5 e 18% de gravidez por ciclo, em mulheres até
35 anos. Os principais fatores dos baixos índices de sucesso estão na incapacidade
de avaliar a qualidade dos óvulos liberados.

7.5.2.1 Conheça o passo a passo da técnica

O primeiro passo é a indução da ovulação, realizada com objetivo de


selecionar folículos pré-ovulatórios, com diâmetros médios de 18 mm (no máximo
quatro) e endométrio trilaminar, apto a receber os embriões. É importante sincronizar
o dia da inseminação com o dia da ovulação, através da monitorização da ovulação,
com acompanhamento da ultrassonografia transvaginal observando o número, o
sincronismo e tamanho dos folículos, assim como a espessura endometrial, para
administração de hCG (Gonadotrofina Coriônica Humana), em média 36 h antes da
inseminação. A preparação dos espermatozoides deverá ser feita para selecionar os
de melhor morfologia e de boa motilidade. No dia da inseminação, com os
espermatozoides já capacitados, são seguidas as etapas (CORNEL et al., 2014):
─ introdução do espéculo vaginal;
─ embrocação da vagina com soro, para promover a assepsia do colo
uterino e paredes vaginais;
─ aspiração do muco cervical;
─ introdução do cateter com os espermatozoides capacitados (0,5 ml), na
cavidade uterina, onde serão depositados;
─ retirada do espéculo;
─ repouso no leito por 10 min.

7.5.3 Fertilização in vitro (FIV)

A Fertilização in vitro com Transferência de embriões (FIV-TE) é


provavelmente a mais utilizada das técnicas de reprodução assistida. É
frequentemente conhecida como “bebê de proveta” e tem ajudado aos casais

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113
inférteis conceber e dar à luz por mais de três décadas, pois o primeiro caso de
sucesso de FIV foi 1978 e ocorreu na Grã-Bretanha. Desde então, milhares de
bebês foram concebidos através da FIV.
Para que uma gravidez ocorra, um óvulo deve ser liberado do ovário e unir-
se a um espermatozoide. Essa união, chamada de fertilização, normalmente ocorre
dentro da tuba uterina. Durante o processo de FIV, contudo, esta união ocorre no
laboratório após a coleta dos óvulos e do esperma. Os óvulos fertilizados são então
transferidos para o útero para continuar o desenvolvimento (VARELLA, 2014).
A indicação desta técnica implica numa busca apurada da causa básica da
infertilidade conjugal, obtida a partir de uma avaliação clínica e laboratorial completa
realizada em ambos os parceiros (CORNEL et al., 2014).
São indicações de fertilização in vitro:
─ doença tubária,
─ disovulias e/ ou anovulias em falha de tratamentos anteriores,
─ endometriose,
─ problemas cervicais,
─ infertilidade “sem explicação”,
─ falha da IIU.
A indicação definitiva da FIV deve ser precedida de algumas reflexões, em
que pesem seu alto custo, a necessidade de procedimento mais invasivo e a
utilização de medicamentos de estimulação da foliculogênese associados com
alguns riscos para a mulher. Além disso, não se pode esquecer o aumento na taxa
de gestações múltiplas que é responsável diretamente por muitos dos custos das
gestações obtidas pelas técnicas de fertilização in vitro e também pelo aumento das
complicações fetais (CORNEL et al., 2014).
A opção de tratamentos mais conservadores deve sempre ser levada em
conta nos casais com tubas pérvias e sem fator masculino mais acentuado
(moderado ou severo). Causas de subfertilidade deverão ser tratadas antes de
iniciadas as tentativas de FIV, uma vez que não só as taxas de concepção natural,
mas também as da própria FIV podem ser melhoradas com tais cuidados.
Geralmente, na ausência de fatores absolutos de infertilidade, tais como a
obstrução tubária bilateral e fator masculino severo, deve-se oferecer a estes casais
de três a seis ciclos de estimulação e inseminação. Em casais onde a mulher

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114
apresenta idade superior a 40 anos encontra-se apoio na literatura para se oferecer
a FIV como tratamento de primeira opção, não se desprezando, contudo o
tratamento prévio de fatores que venham a afetar negativamente o resultado final.
É consenso na literatura que a presença de hidrossalpinge ao exame
ultrassonográfico da pelve feminina, reduz de maneira significativa os resultados da
FIV ou com ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides). A salpingectomia
prévia, na situação citada, recebe apoio da literatura e das principais sociedades
internacionais, como maneira mais eficiente de aumentarem-se as taxas de sucesso
do tratamento. Não se encontra na literatura consenso quanto a garantir-se
melhores resultados com a ICSI nos casos onde a FIV pode ser utilizada.
O maior determinante de sucesso das técnicas de fertilização in vitro é sem
dúvida a idade da mulher, ou seja, idade inferior a 35 anos.

7.5.3.1 Conheça o passo a passo da técnica

De acordo com Cornel et al. (2014), a FIV-TE é realizada como se segue:

a) Identificação
O líquido folicular é recebido e aliquotado em placas de Petri onde, sob
visão microscópica os ovócitos são identificados e classificados quanto a sua
maturidade.

b) Classificação ovocitária
Existem várias classificações, porém a mais utilizada e aconselhada é
descrita como se segue:
─ Vesícula Germinativa – células do cumulus e da corona aderidas ao ovócito e
vesícula germinativa presente no citoplasma. O ovócito está em Prófase (P).
─ Ovócito Imaturo – células da corona compactadas com células do cumulus
apresentando algum grau de dispersão. Ovócito em geral em Metáfase I (M1).
─ Ovócito Pré-Ovulatório – células da corona ainda aderidas e as do cumulus bem
dispersas. O primeiro corpúsculo polar já liberado. Ovócito em Metáfase II (M2).

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115
─ Ovócito Pós-Maduro – Corona ausente com intensa dispersão das células do
cumulus. O primeiro corpúsculo polar é ainda visível e o ovócito permanece em
metáfase II.
─ Ovócito Luteinizado – ausência de corona e a arquitetura das células do cumulus
é representada como uma massa gelatinosa.
─ Ovócito Degenerado ou Atrésico – cumulus retraído com células escassas ao
redor do ovócito. Podem ser identificados diferentes sinais de anormalidades
como: citoplasma retraído e escurecido, vacúolos, zona pelúcida (ZP) fraturada ou
rota e ainda ZP vazia.

c) Processamento Seminal
O sêmen coletado após período de liquefação é avaliado quanto às suas
características biofísicas e passa então por técnica de processamento com a
associação de lavagens, centrifugações e migrações (swim-up, centrifugação em
gradientes descendentes ou outros), em meios específicos (isolate, pure-sperm ou
outros) que visam à separação do plasma seminal e seleção dos espermatozoides
mais móveis e capazes para a inseminação dos ovócitos.

d) Inseminação dos Ovócitos


Após período de incubação de 2 a 3 horas em meio de cultura específico
(HTF, Ham F10 ou outros) e enriquecido 10 a 20% com fonte de proteína (albumina,
soro materno ou substitutos sintéticos) em ambiente a 5% de CO2, 37°C e 90% de
umidade, os ovócitos maduros recebem os espermatozoides processados (100- 200
x 103 espermatozoide/ml/ovócito ).

e) Verificação da Fertilização
A fertilização é confirmada 17 a 20 horas após a inseminação quando é
observada a presença dos pró-núcleo feminino e masculino.

f) Verificação da Clivagem
A clivagem embrionária com a formação dos pré-embriões é observada na
maioria dos protocolos publicados, após período de mais 24 horas da fertilização
confirmada, isto é, por volta de 48 horas após a inseminação dos ovócitos. Alguns
autores aconselham a identificação da clivagem precoce, avaliada 25 a 29 horas

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116
após a inseminação, como maneira mais eficiente para a identificação do melhor
pré-embrião para a transferência.

g) Classificação dos Pré-Embriões


Vários sistemas de classificação dos pré-embriões estão disponíveis na
literatura especializada. Quase a totalidade dos métodos baseia-se na equivalência
de tamanho e número de blastômeros, porcentagem e características da
fragmentação.
Um bom pré-embrião para a transferência é aquele com maior número,
equivalência de tamanho entre os blastômeros e ausência ou menos de 20% de
fragmentação visível no espaço peri-vitelínico.

h) Transferência dos Pré-Embriões


A transferência do(s) pré-embrião(ões) pode ser realizada com 48 horas (2-
4 células), 72 horas (6 -10 células) ou 120 horas (mórula ou blastocisto) após o dia
da coleta e inseminação dos ovócitos.
A decisão do número de pré-embriões para a transferência deverá estar
calcada em fatores que equilibrem a melhor chance de gestação com a menor
possibilidade de ocorrência da gemelaridade ou multigestação. Assim sendo, como
o número de pré-embriões é o fator determinante desta última ocorrência, este
deverá ser diminuído até limites mínimos que garantam taxa de gestação aceitável.
Estudos demonstram que é possível a utilização da transferência de pré-
embrião único em inúmeras situações clínicas com boa taxa de sucesso. Quando
não se observam estas condições, a transferência de até 4 pré-embriões só parece
receber apoio da literatura em idade superiores a 40 anos na mulher, sendo que
muitos autores demonstram resultados bastante aceitáveis com transferência nunca
superior a 2 pré-embriões em idades inferiores.

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117
7.5.4 Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI)

A injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) é um procedimento


de reprodução assistida, indicado para homens que tenha um número reduzido de
espermatozoides e/ou tais gametas se apresentam com pouca mobilidade. A seguir
são descritas as etapas da ICSI, de acordo com ARAGUAIA (2014).
Um dos primeiros passos consiste na estimulação dos ovários, com a
finalidade de provocar o desenvolvimento dos folículos, mediante uso de alguns
hormônios, por um período de aproximadamente duas semanas. Com bastante
frequência, a mulher se submeterá a exames de ultrassom, a fim de precisar, com
exatidão, o momento da ovulação. Ocorrendo tal evento, e sob sedação leve, a
paciente terá seus folículos ovarianos aspirados, utilizando-se de uma agulha e um
aparelho especial de sucção.
Quanto aos espermatozoides, geralmente é feita a coleta do sêmen do
companheiro nesse mesmo dia. Em laboratório, os espermatozoides, em meio de
cultura especial, serão selecionados e, depois, passarão pela capacitação (processo
que ocorre naturalmente no muco cervical feminino, promovendo o amadurecimento
desses gametas). Por outro lado serão separados os ovócitos mais maduros.
Depois, as células que os circundam serão removidas, em um processo denominado
desnudação (MUNDO EDUCAÇÂO, 2014).
Após tais procedimentos, utilizando-se de pipeta de sucção, agulha especial,
microscópio e micromanipuladores; cada espermatozoide será injetado diretamente
em um ovócito (Figura 45). Depois, os zigotos serão colocados em meio de cultura
em uma placa de petri, tubo de ensaio ou proveta; e depois direcionados a uma
incubadora, ficando ali por cerca de dezoito horas. Caso ocorra o desenvolvimento
de embriões, alguns deles serão transferidos para o útero materno, utilizando um
cateter especial que os direcionará até a cavidade uterina (MUNDO EDUCAÇÃO,
2014).
No Brasil, permite-se que sejam implantados no máximo quatro embriões no
útero da futura gestante; sendo recomendado o congelamento dos embriões

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118
excedentes e, caso os pais autorizem, depois de três anos, tais embriões podem ser
utilizados na pesquisa científica.

FIGURA 45  INJEÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA DE ESPEMATOZOIDES (ICSI)

FONTE: Disponível em: <http://www.ibrra.com.br/tratamentos/injecao_citoplasmatica.php>. Acesso


em: 03 mar. 2014.

Os óvulos para ICSI são obtidos exatamente da mesma maneira que na FIV.
Após a retirada do óvulo, as células que circundam cada óvulo são cuidadosamente
removidas. Os óvulos são examinados sob um microscópio e apenas aqueles
considerados maduros estão adequados para a injeção. Em geral, 70% dos óvulos
obtidos estão adequados para a ICSI (ENGRAVIDE, 2014).
O espermatozoide é lavado e preparado. O óvulo e o espermatozoide são
então colocados em um microscópio especial com micromanipuladores acoplados.
Um micromanipulador mantém o óvulo no lugar, enquanto o outro é utilizado para
injetar o espermatozoide no óvulo. Os procedimentos restantes são similares aos da
FIV padrão com respeito à incubação dos óvulos e transferência dos embriões
resultantes (ESPERANDO O MELHOR: FILHOS. BLOGSPOT, 2014).
Casos em que a ICSI pode ser recomendada:
─ número muito baixo de espermatozoide móveis com morfologia normal;

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119
─ problemas com acoplamento e penetração do espermatozoide no
óvulo;
─ anticorpos antiespermatozoides (proteínas imunológicas ou protetoras
que atacam e destroem o espermatozoide), os quais prejudicam a
fertilização;
─ falha anterior de fertilização com cultura e métodos de fertilização de
FIV padrão;
─ ausência de espermatozoide no fluido seminal.

Vantagens da ICSI (FERRING, 2014):


─ procedimento mais eficaz para a infertilidade masculina;
─ soluciona problemas de qualidade do espermatozoide.

Desvantagens da ICSI (FERRING, 2014):


─ possibilidade de transmitir a infertilidade para a prole;
─ exigências técnicas;
─ preço/custos.

7.5.5 Transferência Intratubária de Gametas ou GIFT (Gamete Intrafallopian


Transfer)

Essa técnica de reprodução assistida envolve a primeira e a segunda etapa


da fertilização in vitro, isto é, superovulação, monitoração folicular e crescimento
endometrial (FERRING, 2014). A retirada dos óvulos dos folículos nos ovários (em
geral, transvaginalmente com anestesia local) ocorre por aspiração e é monitorada
por ultrassom.
Uma amostra de esperma previamente lavada e preparada é obtida. Os
óvulos e os espermatozoides são então colocados juntos em um cateter.
Normalmente, transferem-se dois óvulos em cada tuba.
Posteriormente, realiza-se uma laparoscopia na paciente e uma pequena
câmera é colocada logo abaixo do umbigo na região pélvica. A tuba uterina é então

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120
apanhada utilizando instrumentos especiais e o cateter contendo os óvulos e os
espermatozoides é inserido na tuba uterina. Os óvulos e os espermatozoides são
injetados no interior da tuba uterina.
A ideia é desviar-se das barreiras físicas do transporte normal do óvulo e
dos espermatozoides devido a aderências, endometriose e problemas imunológicos.
Embora o procedimento coloque o óvulo e os espermatozoides em estreita
proximidade, reforçando a chance de encontro, não há garantia de fertilização.
Casos em que recomenda-se a GIFT (FERRING, 2014):
─ endometriose com tubas desobstruídas;
─ hostilidade do muco cervical/disfunção;
─ falha da IIU.
Vantagens da GIFT (FERRING, 2014):
─ ambiente natural para fertilização;
─ menos exigências técnicas.
Desvantagens da GIFT (FERRING, 2014):
─ fertilização não confirmada;
─ as tubas devem estar desobstruídas;
─ anestesia geral.

7.5.6 Transferência Intratubárica de Zigotos ou ZIFT (Zygote Intrafallopian Transfer)

Essa técnica é uma variante da GIFT. Na ZIFT, depois de realizada a


retirada e seleção de ovócitos e espermatozoides, pelas mesmas técnicas da FIV,
os gametas são postos em contato in vitro, num meio de cultura adequado durante
18 a 24 horas. Após a fecundação, realiza-se uma laparoscopia e transfere-se o(s)
embrião(ões) para as trompas uterinas.

FIM DO MÓDULO II

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121
MÓDULO III

8 CRIOPRESERVAÇÃO

A palavra “criobiologia” tem origem do termo grego “kruos” (exprime a


ideia de frio) e é definida como o estudo da vida a temperatura extremamente baixa.
Dessa maneira, fica claro que os termos criopreservação e congelação não são
sinônimos. O primeiro significa preservar células, guardando-as a baixas
temperaturas, enquanto o segundo é a mudança do estado líquido para sólido
(BONHO, 2009).
A criobiologia tem permitido a preservação de células por tempos
prolongados, geralmente com a manutenção de suas propriedades biológicas, uma
vez descongeladas. Todas as células dos mamíferos funcionam com uma pequena
variação de temperatura, que vai de 37ºC a 39ºC, e todas contêm água, tornando
possível a criopreservação se forem resfriadas em nitrogênio líquido a 196º C. Isso
significa que as células toleram a exposição a temperaturas não fisiológicas e a
mudança do estado líquido para o sólido, já que o gelo se forma em uma
temperatura pouco abaixo de 0º C. Os danos sofridos pelas células dos mamíferos
durante a criopreservação estão diretamente ligados à velocidade de resfriamento e
aquecimento das células (CONEL et al., 2014).
Com o desenvolvimento das técnicas de reprodução assistida, a
criobiologia passou a despertar grande interesse, pois exerce papel essencial na
manutenção da fertilidade. Participa diretamente na criopreservação de
espermatozoides, óvulos, embriões, tecidos testiculares e ovarianos. A
criopreservação tem como principal objetivo: manter a integridade estrutural e
viabilidade celular após submeter essas células a baixas temperaturas por um
determinado período. Esse processo produz danos celulares conhecidos como
crioinjúrias (BONHO, 2009).

AN02FREV001/REV 4.0

124
Vários fatores interferem no aparecimento dessas crioinjúrias: o tipo de
célula criopreservada, os reagentes utilizados (crioprotetores), a velocidade de
queda da temperatura, o local onde a célula foi armazenada e a forma de
descongelamento das amostras.
Atualmente, existe um bom conhecimento na criopreservação de sêmen e
de embriões, com a obtenção de ótimos resultados. Porém, os estudos se
concentram na busca de melhores técnicas de criopreservação de tecidos ovarianos
e de óvulos, já que os resultados de fertilização e gestação utilizando essas células
criopreservadas ainda são pouco animadores.
O principal objetivo de um programa de congelamento é causar o mínimo de
dano possível no momento em que os gametas, embriões e tecido germinativo
estiverem expostos a uma temperatura muito baixa não fisiológica. Quando os
espermatozoides, os ovócitos, os zigotos e os pré-embriões estão expostos às
soluções hipermolares, reagem a elas perdendo água. Quando alguns componentes
são adicionados ao meio de criopreservação, a relação entre sobrevida e
temperatura pode ser drasticamente alterada. A sobrevida das células e tecidos
vivos criopreservados depende em grande parte do meio crioprotetor. Dessa
maneira, a utilização de agentes crioprotetores adequados é indispensável para
prevenir danos às células e tecidos germinativos (CORNEL et al., 2014).
Os protocolos usados hoje em dia envolvem, essencialmente, técnicas que
permitem a desidratação da célula, prevenindo a formação de gelo intracelular, que
pode causar danos pelo arrebentamento e dispersão das organelas celulares, ou por
provocar quebras da membrana citoplasmática. Quando os gametas ou embriões
são colocados em um meio contendo um agente de crioproteção intracelular, a água
sai da célula devido à alta concentração extracelular de crioprotetores. Isso causa o
encolhimento da célula até o equilíbrio osmótico ser atingido pela difusão lenta dos
crioprotetores para o interior celular (CORNEL et al., 2014).
Para prevenir o super-resfriamento durante o congelamento, um cristal de
gelo é introduzido num processo controlado chamado "seeding". Isso contribui para
a desidratação intracelular. Um correto equilíbrio entre a velocidade de
congelamento e a concentração do crioprotetor diminui os danos que o
congelamento pode causar nas estruturas celulares no processo de desidratação.
Se a taxa de resfriamento é muito rápida, a água não pode sair suficientemente

AN02FREV001/REV 4.0

125
rápido da célula e, ocorre a formação intensa de cristais de gelo (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).
A taxa de penetração dos crioprotetores depende da temperatura; o
equilíbrio é ativado rapidamente em altas temperaturas. Por essa razão, ovócitos e
embriões são usualmente colocados no meio de crioproteção em temperatura
ambiente. Entretanto, como alguns crioprotetores, como o dimetilsulfóxido (DMSO),
são tóxicos em elevadas concentrações, esse é frequentemente usado em baixas
temperaturas para reduzir os efeitos adversos.
Se o resfriamento final ocorre a uma temperatura relativamente alta (>
30°C), a célula carrega mais gelo intracelular do que se o resfriamento for mais
demorado, com baixas temperaturas (< 80°C). Assim, para proteger a célula
naquela situação, o descongelamento deve ser realizado rapidamente, induzindo a
uma rápida dispersão do gelo. Inversamente, amostras resfriadas a < 80°C devem
ser descongeladas mais lentamente para permitir a reidratação gradual e evitar o
risco de arrebentamento da célula. Dessa maneira, amostras descongeladas são
usualmente expostas progressivamente em diluições mais baixas de crioprotetores
para removê-los da célula gradativamente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).

8.1 SAIBA MAIS ...

8.1.1 Quais as vantagens dos crioprotetores?


─ estabilizam proteínas intracelulares;
─ reduzem a formação de gelo intracelular;
─ moderam o impacto da concentração de eletrólitos intra e
extracelulares;
─ são hidrossolúveis;
─ baixa toxicidade mesmo em concentrações elevadas;
─ facilmente permeáveis às membranas da célula.

8.1.2 Quais são os crioprotetores mais usados?


Dimetilsulfóxido (DMSO), Propanodiol (PROH) e Glicerol (GLY) – agentes celulares
com pequenas moléculas – facilmente permeáveis à membrana celular. DMSO e

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126
PROH são frequentemente usados para congelamento de embriões em estágio de
pouca divisão celular, e o glicerol é sempre usado para blastocistos.
Sacarose – substância extracelular com grandes moléculas não permeáveis.
Apresenta efeito osmótico, acelerando a desidratação da célula. Não pode ser usada
isoladamente, é utilizada junto a crioprotetores intracelulares padrão.

8.1.3 Quais amostras são susceptíveis à criopreservação?


─ espermatozoides;
─ ovócitos;
─ tecido ovariano;
─ pré-zigotos em estágio de pró-núcleo;
─ embriões em estágio clivado;
─ embriões em blastocisto.

8.2 TIPOS DE CRIOPRESERVAÇÃO

8.2.1 Lenta ou Computadorizada

─ interação das amostras com substância crioprotetora – equilíbrio;


─ transferência para recipiente apropriado;
─ colocados na máquina de congelamento computadorizada;
─ programação das rampas de congelamento;
─ “seeding”;
─ decréscimo lento da temperatura (até 30 ou 40°C);
─ transferência para cilindro contendo nitrogênio líquido (-196°C) onde
são armazenados.
─ deve haver um correto equilíbrio entre a velocidade de congelamento e
a concentração do crioprotetor.
A criopreservação lenta é uma técnica amplamente difundida, porém,
apresenta um custo relativamente alto devido à necessidade de equipamentos
sofisticados e, ademais, permite a formação de cristais de gelo intracelulares (CGI),

AN02FREV001/REV 4.0

127
que ocorre durante a realização do processo de congelação, responsáveis por
danos celulares irreversíveis durante a criopreservação (CARVALHO et al., 2011).

8.2.2 Ultrarrápida

A criopreservação consiste em colocar a amostra em substância


crioprotetora altamente concentrada por um rápido período e, posteriormente colocá-
la no nitrogênio líquido. Nesse processo, não se formam cristais de gelo, a amostra
não é desidratada e pode ser descongelada quando necessário em banho-maria a
37°C para remover o crioprotetor em um só passo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).
Gordts et al. (1990) relataram quatro casos de gravidez após o
congelamento ultrarrápido de embriões. No estudo, alta taxa de sobrevivência foi
observada em embriões congelados em pró-nucleos comparados a embriões
clivados. Em contrapartida, Lai et al. (1996), utilizando técnica de congelamento
ultrarrápido, reportaram taxa de sobrevivência de 83% e de nascidos 16% com
embriões clivados.
A vitrificação é uma técnica ultrarrápida de criopreservação e baseia-se no
contato direto com uma solução que contém crioprotetores altamente concentrados,
portanto, viscosa. Durante esse processo, a amostra é resfriada suficientemente
rápida a temperaturas criogênicas (>10.000ºC/min) e se transforma em um “vidro”
sólido, daí, o nome vitrificação (CARVALHO et al., 2011).
Os protocolos para vitrificação de embriões, espermatozoides e óvulos vêm
sendo muito adotados devido à simplicidade na sua execução, rentabilidade
econômica e velocidade do procedimento de preservação (CARVALHO et al., 2011).

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128
8.3 CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES

A criopreservação é a uma técnica muito antiga e segura de congelamento


de espermatozoides. Os espermatozoides ficam estocados em tanques com
nitrogênio líquido a menos 196°C, por tempo indeterminado para conservar sua
estrutura física e funcional (figura 46).
No início da década de 1950, foi descrito o primeiro caso de gravidez e
nascimento humano, por técnica de inseminação artificial, utilizando sêmen
descongelado, após ter sido estocado por até seis semanas em gelo seco a – 70 C.
Na década seguinte, em 1964, foram descritos nascimentos de humanos por meio
de inseminação artificial, utilizando sêmen congelado e armazenado em nitrogênio
líquido por até cinco meses. Também foi publicado o caso de um paciente que, em
1979, aos dezessete anos, foi submetido a tratamento para um câncer de testículo e
orientado a criopreservar seu sêmen. Em 2002, nasceu seu filho, por meio de
reprodução assistida, utilizando o sêmen criopreservado há 21 anos (BONHO,
2009).

FIGURA 46  CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES

FONTE: Disponível em: <http://invida.med.br/tratamento/criopreservacao/>. Acesso em: 03 mar.


2014.

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129
Desde a criação do primeiro banco de sêmen, diversos autores publicaram
suas experiências com a criopreservação de espermatozoides. Concluíram que, nas
gestações decorrentes de inseminação artificial com sêmen criopreservado, as taxas
de aborto, de gestação ectópica, de malformações fetais, o peso ao nascimento e a
relação do sexo masculino: feminino foram as mesmas da população em geral.
Com o desenvolvimento da técnica de injeção intracitoplasmática de
espermatozoides (ICSI) em 1992, disponibilizou-se uma nova perspectiva
terapêutica para os casais inférteis devido a um fator masculino grave, pela
utilização de espermatozoides oriundos de programas de doação de sêmen,
ressurgindo a ideia da criação dos bancos de sêmen (BONHO, 2009).
Os bancos de sêmen podem ser classificados em homólogos e heterólogos.
Os homólogos armazenam sêmen para o “uso próprio”, enquanto que os
heterólogos têm a finalidade de doação.
Com o surgimento da AIDS, os bancos de sêmen de doador passaram a ter
grande preocupação com a qualidade e estocagem do sêmen, sendo as amostras
liberadas apenas após um prazo de no mínimo seis meses, período em que se
completa a investigação sorológica do doador (BONHO, 2009).
As indicações da criopreservação de espermatozoides são as seguintes
(CORNEL, 2014):
─ criopreservação terapêutica: manutenção de fertilidade em homens a
serem submetidos à quimio ou radioterapia ou cirurgias que possam
comprometer o potencial fértil (dissecção do retroperitôneo, ressecção
endoscópica da próstata, cirurgias envolvendo o colo da bexiga). A presença
de tumores ou outras neoplasias, aliada às terapias de erradicação podem
ter como resultado a indução de oligozoospermia ou mesmo de
azoospermia, sendo que essas alterações podem ser temporárias ou
definitivas.
─ inseminação artificial ou fertilização in vitro com sêmen de
doador: formação de banco de sêmen.
─ inseminação com sêmen do parceiro: nos casos de ausência
temporária ou definitiva do mesmo, baixa frequência sexual e disfunção erétil
em procedimentos de inseminação intrauterina ou fertilização in vitro.

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130
─ preservação do material genético: pacientes que desejam ser
submetidos à vasectomia poderão guardar amostras de sêmen para serem
utilizadas no futuro procedimentos de reprodução assistida.
─ criopreservação dos espermatozoides obtidos durante
microcirurgias para reconstrução do sistema reprodutivo (reversão de
vasectomia) ou por técnicas cirúrgicas do epidídimo ou do parênquima
testicular (aspiração microcirúrgica do epidídimo; biópsia convencional ou
microcirúrgica do testículo), para futura utilização em micromanipulação de
gametas.
─ criopreservação de sêmen de indivíduos que trabalham em
profissões de alto risco (mergulhadores de elevada profundidade, pilotos,
indústrias químicas, exposição a agrotóxicos e pesticidas e exposição a
radiações ionizantes).
Todos os pacientes que desejam criopreservar amostras seminais devem
realizar, previamente ao procedimento, os seguintes exames: HIV I e II; Grupo ABO;
Fator Rh; Clamídia, Ureaplasma, Micoplasma, Gonorréia, Espermograma,
Espermocultura, entre outros. Os marcadores de hepatite e AIDS devem ser
repetidos após 3 meses da coleta para afastar o risco de resultado falso negativo
devido à janela imunológica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO
HUMANA, 2006).

8.4 CRIOPRESERVAÇÃO DE OVÓCITOS

A criopreservação de ovócitos humanos ainda é uma metodologia em


desenvolvimento, apesar das primeiras gestações pós-descongelamento já terem
sido descritas em meados da década de oitenta (RED LATINOAMERICANA
REPRODUCCÍON ASISTIDA, 2014).
A criopreservação de ovócitos humanos e seu armazenamento por tempo
indeterminado podem beneficiar tanto pacientes com neoplasias que apresentam
risco de tornarem-se estéreis após a terapia quanto mulheres que pretendem
postergar a gravidez.

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131
Para que a criopreservação do ovócito seja possível, é feito um estímulo
medicamentoso na paciente; esse estímulo é realizado anteriormente à extração de
seu óvulo - feita por punção transvaginal auxiliada por ultrassom. Algumas vezes é
necessário mais de um ciclo de estimulação ovariana para que seja produzida uma
quantidade mínima necessária que garanta uma coleta bem-sucedida (CLÍNICA DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2014).

8.4.1 Criopreservação de tecido ovariano

Enquanto a criopreservação do sêmen está disponível para homens, os


protocolos de preservação de ovócitos permanecem aquém do desejado e ainda
não há método apropriado para crianças pré-púberes.
As vantagens da criopreservação do tecido ovariano no lugar dos ovócitos
incluem a abundância de ovócitos disponíveis numa fase de maturação em que são
menos susceptíveis aos danos potenciais do procedimento, além de dispensar o uso
de técnica de reprodução assistida (SOCIEDADE BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO
HUMANA, 2014).
Uma desvantagem a ser considerada é a possibilidade de se reimplantar
células cancerosas em pacientes já tratadas. Dessa forma, a criopreservação de
tecido ovariano, embora promissora, precisa ser mais bem estudada antes de ser
oferecida como alternativa para preservação da fertilidade (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO HUMANA, 2014).

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132
8.5 SAIBA MAIS ...

Criopreservação de Gametas - Uma Esperança para Pacientes com Câncer. Relatos


de Casos

Caso 1
Um jovem de 20 anos de idade se apresentou em 1990 com câncer de
testículo que apresentava 2 componentes, 60% carcinoma embrionário e 40%
teratoma maduro/imaturo, sendo realizada orquiectomia inguinal esquerda. Seis
meses depois, uma metástase pulmonar foi detectada e quimioterapia (carboplatina,
ciclofosfamida e etoposide) foi prescrita. Seu sêmen foi criopreservado antes da
quimioterapia no Idant Laboratories (New York, EUA), demonstrando uma análise
seminal básica pré-congelamento adequada (concentração 40x106/ml, motilidade
progressiva 40% e morfologia normal 30%). O sêmen foi congelado usando-se
glicerol como crioprotetor, e assim mantido por 12 anos. Uma análise seminal foi
realizada antes que sua esposa fosse submetida à estimulação ovariana e mostrou
azoospermia completa após centrifugação em alta velocidade.
Sua esposa, de 32 anos, foi estimulada com uma combinação de agonista
do hormônio liberador de gonadotrofina (aGnRH), gonadotrofinas (rFSH) e
gonadotrofina coriônica humana, sendo a seguir realizadas aspiração folicular
transvaginal e cultura embrionária. Após descongelamento do sêmen, os
espermatozoides com alta motilidade foram isolados pela separação por gradiente
descontínuo e depois lavados com fluido tubário humano (HTF, Irvine Scientific,
Santa Ana, EUA) suplementado com proteína. A ICSI foi realizada apenas em
ovócitos em metáfase II. Dois embriões foram transferidos, usando cateter macio,
através do colo uterino no terceiro dia após a aspiração ovocitária guiada por
ultrassonografia transabdominal. Uma gravidez única se desenvolveu e um bebê do
sexo feminino nasceu (peso de 3480 g e altura de 50 cm) após cesariana com 39
semanas de gestação.
Caso 2

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133
Um paciente com 33 anos foi encaminhado para esta unidade antes de
iniciar quimioterapia (regime baseado em vincristina, ciclofosfamida, adriamicina,
ifosfamida e etoposide) e radioterapia (2.100 cGy, divididos em 26 seções) por
apresentar tumor neuroectodérmico primitivo em couro cabeludo. Seu sêmen foi
criopreservado na Androlab (Curitiba, Brasil), demonstrando uma adequada análise
seminal básica pré-congelamento (concentração 278x106/ml, motilidade progressiva
30%). O sêmen foi congelado usando um tampão com gema de ovo (TEST Yolk
Buffer, Irvine Scientific, EUA) como crioprotetor e mantido congelado por 16 meses.
Sua esposa, com 32 anos, teve sua estimulação ovariana realizada com
uma combinação de agonista do hormônio liberador de gonadotrofinas (aGnRH),
gonadotrofinas (rFSH) e gonadotrofina coriônica humana. Um total de 18 ovócitos
em metáfase II foram aspirados e submetidos à ICSI, sendo formados 15 embriões.
Três embriões foram transferidos três dias após a aspiração ovocitária guiada por
ecografia transabdominal usando cateter macio. Os doze embriões restantes foram
criopreservados. Uma gravidez única se desenvolveu e um bebê do sexo feminino
nasceu (peso de 2750 g e altura de 48 cm) após cesariana com 39 semanas de
gestação.

Discussão
Estes relatos demonstram que a criopreservação de sêmen permite ao
homem portador de neoplasia se tornar pai, até mesmo se submetido a tratamentos
agressivos, como orquiectomia, quimioterapia e radioterapia, ainda que os
espermatozoides permaneçam congelados por longo período. Todo esforço deve ser
feito para encaminhar pacientes com câncer para a criopreservação de sêmen antes
de se iniciar a quimio e radioterapia.
A criopreservação do sêmen antes do início de um tratamento que provoque
esterilidade permite o emprego de técnicas de reprodução assistida, especialmente
a micromanipulação de gametas, bastando que uma amostra com pequeno número
de espermatozoides esteja disponível.
Uma preocupação no manejo dos pacientes com câncer é que até 90%
deles terão azoospermia poucas semanas após o início da quimioterapia, e apenas
20-50% reassumem a espermatogênese dois a três anos após término do
tratamento.

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134
Outro importante aspecto é a necessidade do congelamento de
ovócitos/tecido ovariano em mulheres jovens que se apresentam com câncer,
oferecendo a possibilidade de elas terem sua fertilidade restaurada após terapias
esterilizantes. Algum sucesso tem sido relatado usando-se esta técnica. O
entendimento da criopreservação de ovócitos e tecido ovariano é desejável para se
oferecer essa tecnologia também a pacientes com risco maior de falência ovariana
prematura. Existe uma preocupação legítima no que diz respeito ao risco potencial
de se reintroduzir células malignas com o transplante ovariano, dependendo do tipo
de câncer. No entanto, há um interesse grande no desenvolvimento de técnicas de
maturação in vitro de ovócitos, para que não haja necessidade de se transplantar o
tecido ovariano para o organismo da mulher para esse fim.
Sendo assim, com os recentes desenvolvimentos nas tecnologias de
reprodução assistida, as pacientes com câncer devem ser encorajadas a
preservarem seu potencial reprodutivo. Atualmente, um ou dois ciclos de fertilização
in vitro pré-tratamento com a criopreservação de embriões é a melhor opção. A
criopreservação de tecido ovariano, ovócitos imaturos ou maduros é uma técnica em
desenvolvimento e pode ser considerada para algumas pacientes. Se a falência
gonadal é um resultado provável, as esperanças recaem sobre as intensas
evoluções na estocagem de tecido ovariano. Em vista disso, o desenvolvimento
dessa nova tecnologia é muito desejável pela sua alta aplicabilidade em pacientes
jovens que venham a ser submetidas, com sucesso, a tratamentos agressivos contra
as mais diversas neoplasias.
O ressurgimento da indicação de criopreservação ovariana se deve à
melhoria da taxa de sobrevivência a longo prazo em pessoas jovens, portadoras de
doenças malignas, as quais são submetidas a tratamentos agressivos com terapias
oncológicas modernas, incluindo quimioterapia e radioterapia. Como resultado, um
grande número de pacientes jovens tem sido curado de suas neoplasias, mas
permanecem com a falência ovariana.
É importante salientar que mesmo com sêmen criopreservado por longo
período é possível conseguir-se uma gravidez viável. É importante oferecer aos
pacientes que serão submetidos à quimio e/ou radioterapia esta possibilidade,
embora eles possam não estar pensando em se tornar pais naquele momento.

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135
A criopreservação de sêmen deve ser, portanto, parte de uma rotina no
manejo terapêutico para preservar a fertilidade em homens jovens com doenças
neoplásicas.

FONTE: Schuffner et al., 2004.

8.6 CRIOPRESERVAÇÃO DE EMBRIÕES

A criopreservação de embriões é indicada nos seguintes casos, segundo


Cornel et al. (2014):

− preservar os pré-embriões formados após ciclos de fiv/icsi, reduzindo


o risco de gravidez múltipla e aumentando a chance de gravidez por ciclo;
− aumentar a possibilidade de concepção em pacientes que não
apresentem endométrio adequado após indução;
− permitir posterior transferência embrionária em pacientes com
hiperestimulação ovariana;
− permitir a posterior transferência em casos de não sincronia dos
ciclos de doadora e receptora;
− permitir a doação de embriões a casais impossibilitados de produzir
seus próprios embriões;
− possibilitar o armazenamento de embriões para pacientes a serem
submetidas à quimio/radioterapia ou cirurgia ginecológica radical.

8.6.1 Pré-zigotos

O pré-zigoto, estágio de desenvolvimento do óvulo após a penetração do


espermatozoide, caracteriza-se pela presença, no centro da célula, de dois
corpúsculos separados, que representam as cargas cromossômicas provindas do
óvulo e do espermatozoide, os pró-núcleos.
Quando congelados pré-embriões em estágio de pró-núcleo, a seleção pode
ser feita unicamente por meio da classificação baseada na posição, no alinhamento
e no número de nucléolos, por isso a maioria dos centros prefere efetuar o

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136
congelamento após clivagem. A vantagem da criopreservação nesse estágio
consiste no fato dos pró-núcleos não apresentarem a decondensação dos núcleos,
na qual um novo ser geneticamente identificado é formado, portanto diminui
questões éticas associadas ao congelamento embrionário (CORNEL et al., 2014).
É de extrema importância congelar o pré-zigoto antes do desaparecimento
dos pró-núcleos, para garantir melhores resultados. A morfologia dos pré-zigotos
descongelados é, geralmente, semelhante a sua aparência pré-congelamento,
porém, ocasionalmente, o citoplasma é mais claro e há reduzido número de
organelas em torno das estruturas pró-nucleares (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).
Após o descongelamento os nucléolos são frequentemente vistos
espalhados dentro dos pró-núcleos apesar de seu prévio alinhamento nas junções
pró-nucleares antes do congelamento. Pode ocorrer a condensação de dois pró-
núcleos em um grande pró-núcleo durante o processo de criopreservação. Deixado
em cultura por 15-24 horas, o pró-núcleo saudável completa o processo de
fertilização, e prossegue para primeira clivagem, o que indica verdadeiramente a
sobrevivência após o descongelamento; < 5% dos pré-zigotos que parecem estar
saudáveis após o descongelamento falham no seguimento deste padrão.

8.6.2 Pré-embriões em clivagem

Como em óvulos em estágio de pró-núcleo, os pré-embriões em clivagem se


desenvolvem após o descongelamento e resultam em taxas aceitáveis de gestação.
São comumente congelados, semelhantemente aos pré-zigotos, em soluções 1,5 M
de propanodiol associadas à sacarose (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).
Os pré-embriões clivados podem ser congelados quando se encontram com
2 a 8 células, sem necessidade de restrições com relação ao momento da
criopreservação (CORNEL et al., 2014). Além dessa vantagem, o congelamento
nesse estágio permite melhor seleção embrionária, conforme as características
morfológicas e consequentemente permite otimizar as taxas de sobrevivência e

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137
implantação. Tornou-se mais comum escolher os melhores embriões para
transferência a fresco e congelar todos os outros com boa morfologia somente após
ter sido feita a seleção a fresco.
O descongelamento pode resultar em pré-embriões com blastômeros vivos e
mortos, o que se apresenta como a desvantagem desse processo, já que a
avaliação da viabilidade torna-se mais difícil. Cultivar esse pré-embrião por 18 a 24
horas pode confirmar viabilidade, se ocorrer uma ou duas divisões nesse período.
Em geral, um pré-embrião que possui mais de 50% de blastômeros viáveis no
descongelamento é considerado um sobrevivente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).
Não existe evidência convincente de que a perda de um ou dois blastômeros
é claramente danosa para os pré-embriões no seu desenvolvimento inicial. Apesar
disso, tem sido relatado que pré-embriões humanos inteiramente intactos
demonstram uma taxa de implantação mais elevada do que aqueles parcialmente
intactos (CORNEL et al., 2014).
Devem ser congelados nesse estágio os embriões remanescentes, após
transferência, com características morfológicas satisfatórias – zona pelúcida íntegra,
clivados no dia 2 para dia 3, que apresentarem blastômeros simétricos ou com
discreta assimetria e com menos de 50% de fragmentação. Os demais embriões
devem ser mantidos em cultura até dia 5, quando serão congelados somente os
blastocistos viáveis (SOCIEDADE BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO HUMANA,
2006).

8.6.3 Blastocistos

A grande maioria dos centros de reprodução assistida prefere implantar


embriões no estágio de mórula, pois, entendem que prolongar o cultivo embrionário
até o estágio de blastocisto e criopreservá-lo pode resultar em problema futuro da
sua implantação devido a blastocele, pois por ser preenchida por água, pode formar
cristais de gelo quando a temperatura é reduzida, causando danos tanto à massa

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138
interna celular, quanto ao trofoblasto. Para resolver esse problema, muitos
pesquisadores têm colapsado a blastocele por micromanipulação.
Cota et al. (2011) avaliaram 292 ciclos de congelamento e descongelamento
de blastocisto, sendo que a idade média das mulheres de 34,35 anos. Os
pesquisadores obtiveram 604 blastocistos descongelados e desses 482 blastocistos
sobreviveram, sendo a taxa de sobrevivência do blastocisto de 80% e a taxa global
de gravidez por ciclo de descongelamento de 44,5%.
Atualmente, ao descongelar embriões, as taxas de sobrevida flutuam entre
40 e 100%. Essas taxas têm relação, acima de tudo, com o potencial biológico dos
embriões, previamente ao congelamento. É altamente provável que aqueles
embriões que não sobrevivem ao serem descongelados, são os mesmos que não
teriam atingido o desenvolvimento embrionário até a implantação (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO HUMANA, 2006).

8.7 BIÓPSIA DE EMBRIÕES OU DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-


IMPLANTACIONAL (PGD)

O Diagnóstico Genético Pré-Implantacional ou PGD (Preimplantation


Genetic Diagnosis) pode ser feito por retirada de um blastômero do embrião, sem
danificar o mesmo, para analisar doenças genéticas.
O diagnóstico genético pré-implantacional serve para diagnosticar possíveis
alterações cromossômicas como, por exemplo, a Síndrome de Down, síndrome de
Klinefelter, Síndrome de Patau; antes de transferir o embrião para o útero materno.
O PGD também permite identificar o sexo dos pré-embriões, a fim de evitar graves
doenças transmitidas de mãe para filho, como a hemofilia tipo A (CONGRESSO
REPRODUÇÃO, 2014).
Além disso, pode-se realizar biópsia do primeiro corpúsculo polar, também
denominado diagnóstico genético pré-concepcional (Figura 47), a biópsia do
segundo corpúsculo polar (FIGURA 48), a biópsia de blastômeros em estágio de
clivagem (Figura 49) ou a biópsia de células do trofoblasto (CERQUEIRA et al.,
2014).

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139
Teoricamente, o melhor método de biópsia de embriões é utilizar células do
trofoblasto devido à maior quantidade de células para análise genética em
comparação a biópsia do primeiro corpúsculo polar.
Segundo a Resolução nº 2.013/13 do Conselho Federal de Medicina, o
diagnóstico genético pré-implantacional do embrião pode ser utilizado nos seguintes
casos:

[...] diagnóstico de alterações genéticas causadoras de doenças no embrião


e [...] tipagem do sistema HLA do embrião, com o intuito de seleção de
embriões HLA-compatíveis com algum filho(a) do casal já afetado por
doença, doença esta que tenha como modalidade de tratamento efetivo o
transplante de células-tronco ou de órgãos.

FIGURA 47  BIÓPSIA DO PRIMEIRO CORPÚSCULO POLAR (DIAGNÓSTICO


PRÉ-CONCEPCIONAL)

FONTE: Disponível em: <http://www.embryofetus.com.br/diagnosticogenericopreimplantacional >.


Acesso em: 04 mar. 2014.

AN02FREV001/REV 4.0

140
FIGURA 48  BIÓPSIA DO SEGUNDO CORPÚSCULO POLAR

FONTE: Disponível em: <http://www.embryofetus.com.br/diagnosticogenericopreimplantacional >.


Acesso em: 04 mar. 2014.

FIGURA 49  BIÓPSIA DE BLASTÔMEROS EM ESTÁGIO DE CLIVAGEM

FONTE: Disponível em: <http://www.embryofetus.com.br/diagnosticogenericopreimplantacional>.


Acesso em: 04 mar. 2014.

Até agora, as três maiores aplicações do PGD são (FGO, 2014):


a) determinação do sexo de um pré-embrião por meio da técnica de
FISH (Fluorescent "in situ" Hibridization) usando "probes" (pedaços de
DNA marcados) específicos para os cromossomas X ou Y, ou por
análises de sequências cromossômicas usando a técnica de PCR

AN02FREV001/REV 4.0

141
(Polymerase Chain Reaction) a fim de se determinar e evitar doenças
ligadas ao sexo;
b) detecção de certas aneuploidias (alterações da quantidade e
constituição dos cromossomos) e anomalias cromossômicas estruturais
em casos de translocações balanceadas no pré-embrião;
c) detecção de defeitos genéticos, envolvendo um único gene (tais
como fibrose cística, anemia falciforme, doença de Tay-Sachs) e outras
doenças comuns com alterações genéticas.

8.8 ASSISTED HATCHING

O procedimento do assisted hatching (AH) foi introduzido no final de 1980 e


consiste da dissecção parcial da zona pelúcida (PZD) – realização de um furo na
zona pelúcida no estágio de pré-embrião antes da transferência intrauterina – a fim
aumentar as chances de implantação (ABDELMASSIH, 2001).
O AH pode ser realizado nos embriões em qualquer estágio de clivagem (de
2 blastômeros até blastocisto), utilizando o ácido de Tyrode’s ou laser.

AN02FREV001/REV 4.0

142
FIGURA 50  ETAPAS DA TÉCNICA DE ASSISTED HATCHING. NOTAR A ZONA
PELÚCIDA PERFURADA (SETA BRANCA) NA FIGURA E

FONTE: Disponível em: <http://www.ivf-clinic-india.com/Laser-Assisted-Embryo-Hatching.php>.


Acesso em: 10 mar. 2014.

As principais indicações do assisted hatching são (ABDELMASSIH, 2001):


─ pacientes com idade avançada;
─ pacientes com diminuição da reserva ovariana;
─ espessamento da zona pelúcida;

AN02FREV001/REV 4.0

143
─ coloração anormal da zona pelúcida;
─ fragmentação citoplasmática excessiva;
─ embriões com morfologia pobre e baixas taxas de crescimento.

8.9 REMOÇÃO DE FRAGMENTOS DOS EMBRIÕES

Os fragmentos citoplasmáticos são componentes da membrana do


citoplasma que foram expelidos das superfícies dos ovócitos fertilizados e
blastômeros dos pré-embriões. Os pré-embriões com excessiva fragmentação (>
20%) têm uma taxa de implantação mais baixa do que aqueles sem fragmentação
Vários fatores podem ser responsáveis pela formação de fragmentos: condições de
cultivo, competência citoplasmática, integridade genética, cromossomos não
balanceados, alterações da cariocinese e citocinese e embriões congelados
(ABDELMASSIH, 2001).
Fragmentos de citoplasma podem ser removidos, por sucção delicada, após
a abertura de um furo na zona pelúcida. Não há evidências de que a remoção de
fragmentos interfere com o subsequente desenvolvimento dos pré-embriões, desde
que realizada de modo adequado; pelo contrário, esse procedimento beneficia os
pré-embriões com fragmentação (ABDELMASSIH, 2001).
A remoção de fragmentos tenta imitar o processo natural de eliminação de
células apoptóticas durante o desenvolvimento embrionário. Na realidade, o papel
dos processos apoptóticos durante o desenvolvimento dos pré-embriões humanos
precisa ser mais bem estudado.

AN02FREV001/REV 4.0

144
9 NORMAS ÉTICAS PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO
ASSISTIDA (Resolução do Conselho Federal de Medicina n 2.013/13)

9.1 PRINCÍPIOS GERAIS

Nos princípios gerais dessa resolução são destacados os pontos cruciais


das técnicas de reprodução assistida (RA) no Brasil, objetivando auxiliar a resolução
dos problemas de reprodução humana e facilitando o processo de procriação:

[...] A idade máxima das candidatas à gestação de RA é de 50 anos.


[...] o consentimento informado será obrigatório para todos os pacientes
submetidos às técnicas de reprodução assistida.
[...] as técnicas de RA não podem ser aplicadas com a intenção de
selecionar o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y) ou qualquer
outra característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar
doenças ligadas ao sexo do filho que venha a nascer.
[...] o número máximo de ovócitos e embriões a serem transferidos para a
receptora não pode ser superior a quatro. Quanto ao número de embriões a
serem transferidos faz-se as seguintes recomendações: a) mulheres com
até 35 anos: até 2 embriões; b) mulheres entre 36 e 39 anos: até 3
embriões; c) mulheres entre 40 e 50 anos: até 4 embriões; d) nas situações
de doação de óvulos e embriões, considera-se a idade da doadora no
momento da coleta dos óvulos.
[...] em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso de técnicas de RA, é
proibida a utilização de procedimentos que visem a redução embrionária.

9.2 PACIENTES DAS TÉCNICAS DE RA

Essa resolução representou um avanço aos direitos homoafetivos em nosso


país, pois, dispõe do seguinte item: “é permitido o uso das técnicas de RA para
relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito da objeção
de consciência do médico.”

AN02FREV001/REV 4.0

145
9.3 REFERENTE ÀS CLÍNICAS, CENTROS OU SERVIÇOS QUE APLICAM
TÉCNICAS DE RA

As clínicas, centros ou serviços que aplicam técnicas de RA são


responsáveis por todas as etapas dessas técnicas, tais como: coleta, manuseio,
conservação, distribuição, transferência e descarte de material biológico humano
para a paciente de técnicas de RA, devendo apresentar como requisitos mínimos:

1 - um diretor técnico responsável por todos os procedimentos médicos e


laboratoriais executados, que será, obrigatoriamente, um médico registrado
no Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição;
2 - um registro permanente (obtido por meio de informações observadas ou
relatadas por fonte competente) das gestações, nascimentos e
malformações de fetos ou recém-nascidos, provenientes das diferentes
técnicas de RA aplicadas na unidade em apreço, bem como dos
procedimentos laboratoriais na manipulação de gametas e embriões;
3 - um registro permanente das provas diagnósticas a que é submetido o
material biológico humano que será transferido aos pacientes das técnicas
de RA, com a finalidade precípua de evitar a transmissão de doenças;
4 - Os registros deverão estar disponíveis para fiscalização dos Conselhos
Regionais de Medicina.

9.4 DOAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES

Quanto à doação de gametas, a Resolução CFM nº 2.013/13, adota os


seguintes critérios:

A doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial.


Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa.
A idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e 50
anos para o homem.
[...] Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará
que um(a) doador(a) tenha produzido mais que duas gestações de crianças
de sexos diferentes, numa área de um milhão de habitantes.
[...] Não será permitido ao médico responsável pelas clínicas, unidades ou
serviços, nem aos integrantes da equipe multidisciplinar que nelas prestam
serviços, participarem como doadores nos programas de RA.

AN02FREV001/REV 4.0

146
9.5 CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES

Quanto à criopreservação de gametas e/ou embriões, a Resolução


estabelece que:

As clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozóides,


óvulos e embriões e tecidos gonádicos.
[...] no momento da criopreservação os pacientes devem expressar sua
vontade, por escrito, quanto ao destino que será dado aos embriões
criopreservados, quer em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento
de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los.
Os embriões criopreservados com mais de cinco anos poderão ser
descartados se esta for a vontade dos pacientes, e não apenas para
pesquisas de células-tronco, conforme previsto na Lei de Biossegurança.

9.6 SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO


ÚTERO)

A gestação de substituição será utilizada desde que exista um problema


médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética ou em caso de
união homoafetiva, respeitando-se os seguintes princípios:

1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos


parceiros num parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau –
mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima), em
todos os casos respeitada a idade limite de até 50 anos.
2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou
comercial.
3 - Nas clínicas de reprodução os seguintes documentos e observações
deverão constar no prontuário do paciente: termo de consentimento
Informado assinado pelos pacientes (pais genéticos) e pela doadora
temporária do útero, consignado; relatório médico com o perfil psicológico,
atestando adequação clínica e emocional da doadora temporária do útero;
os riscos inerentes à maternidade; a impossibilidade de interrupção da
gravidez após iniciado o processo gestacional, salvo em casos previstos em
lei ou autorizados judicialmente; a garantia do registro civil da criança pelos
pacientes (pais genéticos), devendo esta documentação ser providenciada
durante a gravidez; se a doadora temporária do útero for casada ou viver
em união estável, deverá apresentar, por escrito, a aprovação do cônjuge
ou companheiro.

AN02FREV001/REV 4.0

147
9.7 REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST-MORTEM

É possível o uso de gametas criopreservados de pacientes falecidos, desde


que tenham deixado uma autorização prévia específica para o uso do material
biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente.

FIM DO MÓDULO III

AN02FREV001/REV 4.0

148
MÓDULO IV

10 HEREDITARIEDADE – A BASE MENDELIANA

O padre católico e professor chamado Gergor Mendel (Figura 51) propôs


os fundamentos básicos da hereditariedade, a partir das suas experiências com
ervilheiras de cheiro. Apesar do cuidado da sua interpretação e da minúcia e
objetividade com que apresentou o resultado do seu trabalho aos biólogos da
época, as suas pesquisas e consequentes conclusões permaneceram na
escuridão por 35 anos (CERQUEIRA et al., 2014b).

FIGURA 51 − GREGOR MENDEL (1822-1884)

FONTE: Disponível em: <http://biologia-


ap.no.comunidades.net/index.php?pagina=1196451636>. Acesso em: 04 mar. 2014.

AN02FREV001/REV 4.0

151
Nas três décadas que se seguiram à contribuição de Mendel, passos
gigantes foram dados na compreensão da natureza das células e da reprodução
celular. Em 1902, Walter Sutton (1877-1916) propôs que os genes estão nos
cromossomos. Na década de 40, a genética começou a usar bactérias e vírus
para o estudo detalhado da organização e estrutura dos genes. Mais ou menos
nessa época, acumularam-se evidências de que o DNA era o repositório da
informação genética. James Watson e Crick descreveram a estrutura
tridimensional do DNA em 1953, entrando na era da genética molecular.
Em 1966, a estrutura química do DNA e o sistema pelo qual ele
determina a sequência de aminoácidos das proteínas tinham sido
desenvolvidos. A reação em cadeia da polimerase, uma técnica para a rápida
amplificação de pequenas quantidades de DNA foi desenvolvida em 1983. Em
1990, a terapia gênica foi usada pela primeira vez para tratar doenças genéticas
humanas nos Estados Unidos, e foi iniciado o Projeto Genoma Humano, o que
promoveu uma nova era na genética.

10.1 A BASE CROMOSSÔMICA DA HEREDITARIEDADE

A informação genética é codificada na estrutura molecular dos ácidos


nucleicos, que existem em dois tipos: ácido desoxirribonucleico (DNA) e o ácido
ribonucleico (RNA). Os ácidos são polímeros que consistem em unidades
repetidas chamadas nucleotídeos. Cada nucleotídeo consiste em um açúcar, um
fosfato e uma base nitrogenada. A maioria dos organismos possui sua
informação genética no DNA, mas alguns vírus a levam em RNA.
Os veículos de informação genética dentro das células são os
cromossomos, que consistem em DNA e proteínas associadas. As células de
cada espécie têm um número característico de cromossomos. Por exemplo, as
bactérias normalmente possuem um único cromossomo; as células humanas
possuem 46; as células de um pombo têm 80. Cada cromossomo tem um
número grande de genes.

AN02FREV001/REV 4.0

152
Os processos de mitose e meiose garantem que cada célula filha receba
um conjunto completo de cromossomos de um organismo. A mitose é a
separação dos cromossomos replicados durante a reprodução das células
somáticas (não sexuais). A meiose é o pareamento e a separação de
cromossomos replicados durante a divisão das células sexuais para produzir
gametas (células reprodutivas).
No nível mais simples, podemos pensar em um gene como unidade de
informação que codifica uma característica genética. Muitos genes codificam
características especificando a estrutura das proteínas. A informação genética é
primeiro transcrita do DNA para o RNA, que é então traduzida na sequência de
aminoácidos de uma proteína.
As mutações gênicas afetam apenas a informação genética de um único
gene; as mutações cromossômicas alteram o número ou a estrutura de
cromossomos, e, portanto, em geral afetam muitos genes.

10.2 TERATOGÊNESE

Podemos definir teratogênese como a interferência nos mecanismos


normais de embriogênese que resultam em desenvolvimento anormal ou
abortivo.
Para Sales et al. (2008), um teratógeno é:

qualquer agente ambiental, infeccioso ou nutricional capaz de produzir


perturbações no desenvolvimento ou malformação congênita no feto
após a exposição da mãe a ele.

O aparecimento de anomalias genéticas devido a exposição aos agentes


potencialmente teratogênicos pode sofrer interferências de acordo com o
período de exposição da gestante, do tipo do agente em que foi exposto, da
duração da exposição e da dose exposta (SIAT/UFBA, 2014).
A teratogênese pode ser induzida por vários agentes externos que
interferem no desenvolvimento do embrião. Como por exemplo, substâncias
químicas (aspirina talidomida, metilmercúrio, cocaína, álcool, tetraciclina, ácido

AN02FREV001/REV 4.0

153
valproico, carbonato de lítio, warfarina, dietilestilbestrol, andrógenos e altas
doses de progesterona, etc.); agentes biológicos (infecciosos), tais como
citomeglovírus, vírus do herpes simples, vírus da imunodeficiência humana -
HIV, vírus da rubéola, vírus da varicela, Toxoplasma gondii, Treponema
pallidum; e agentes físicos, tal como a radiação ionizante.
Os teratógenos agem por meio de um número relativamente limitado de
mecanismos patogênicos, produzindo morte celular, alterações no crescimento
dos tecidos (hiperplasia, hipoplasia ou crescimento assincrônico), interferência
na diferenciação celular ou em outros processos morfogenéticos. Esses
mecanismos afetam eventos básicos do organismo em desenvolvimento e
geralmente suas consequências atingirão mais de um tecido ou órgão
(SCHÜLER-FACCINI, SANSEVERINO e NETTO, 2014).
A fase embrionária é a mais prejudicada pelos teratógenos, podendo
afetar várias estruturas. O desenvolvimento do embrião é facilmente perturbado
durante a formação dos tecidos e órgãos, sendo o tipo de anomalia dependente
de quais partes destes tecidos e órgãos estarão mais susceptíveis no momento
de ação do teratógeno. Segundo Sales et al. (2008), um teratógeno pode afetar
os seguintes órgãos em períodos específicos:

[...]cérebro; de 24 a 40 dias, os olhos; de 20 a 40 dias, o coração; de 24


a 36 dias, os membros; de 45 dias em diante, a genitália. A fase fetal é
menos atingida, porém estruturas como o cérebro, o cerebelo, o
sistema endócrino e o urogenital continuam se diferenciando, e, por
isso, são suscetíveis aos teratógenos.

Nos humanos, o sistema nervoso apresenta juntamente com o coração,


uma sensibilidade mais prematura, com maior vulnerabilidade para doenças do
tubo neural, ocorrendo durante o período de 15 a 30 dias, visto que ao
fechamento do tubo neural ocorre entre o 23º e 26º para o neuróporo cefálico e
26º e 30º para o neuróporo caudal (ALBERTO et al., 2010).
As manifestações da ação de um agente teratogênico na espécie
humana podem ser agrupadas em classes principais: (1) morte do concepto ou
infertilidade; (2) malformações; (3) retardo de crescimento intrauterino e; (4)
deficiências funcionais, incluindo-se aqui o retardo mental. Esses danos podem
tanto ter uma causa genética como ambiental e, muitas vezes, uma combinação
destas duas (etiologia multifatorial). Estima-se que aproximadamente 15% de

AN02FREV001/REV 4.0

154
todas as gestações reconhecidas terminem em aborto e que de 3% de todos os
recém-nascidos vivos apresentem algum defeito congênito (SCHÜLER-
FACCINI, SANSEVERINO e NETTO, 2014).
A anencefalia é uma malformação congênita originada de uma
neurulação anormal, resultando na ausência de fusão das pregas neurais e da
formação do tubo neural na região do encéfalo. Existem inúmeros fatores que
podem causar esta anormalidade. Relatos afirmam que o trabalho de mães
gestantes na agricultura tem sido associado com defeitos congênitos de recém-
nascidos, pois grande quantidade de herbicidas gera efeitos teratogênicos
quando testados em animais de laboratórios. O ácido valproico, medicação
usada para o tratamento de epilepsia, se utilizado durante a gestação, interfere
no metabolismo do ácido fólico e aumenta o risco de malformações do tubo
neural. A administração de 0,4mg de ácido fólico meses antes e durante as
primeiras semanas da gravidez reduz o risco de espinha bífida e anencefalia
(ALBERTO et al., 2010).

10.3 ABERRAÇÕES CROMOSSÔMICAS

O material genético do homem consiste em aproximadamente 6 a 7


milhões de pares de bases de DNA organizados em 23 pares de cromossomos,
formando dezenas de milhares de genes, que controlam todas as funções de
nosso organismo. Dos 23 pares de cromossomos encontrados nas células
somáticas humanas 22 pares são semelhantes em ambos os sexos e são
denominados autossomos. O par restante compreende os cromossomos
sexuais, de morfologia diferente entre si, que recebem o nome de X e Y. No
sexo feminino existem dois cromossomos X e, no masculino existem um
cromossomo X e um Y (USP, 2014).

AN02FREV001/REV 4.0

155
FIGURA 52 - CARIÓTIPO NORMAL DO SEXO FEMININO (46, XX)

FONTE: Disponível em: <http://www.virtual.epm.br/cursos/genetica/htm/base.htm>. Acesso em:


04 mar. 2014.

No processo de formação dos gametas (espermatozoide e óvulo) o


material genético, antes duplicado (2n), é dividido pela metade, por um processo
denominado de meiose. O homem pode gerar espermatozoides 23, X e 23, Y,
enquanto que a mulher gera somente óvulos 23, X. Uma divisão errada dos
cromossomos, no processo de meiose, pode formar espermatozoides e óvulos
com alterações cromossômicas.
As alterações cromossômicas – cromossomopatias – podem ser
numéricas ou estruturais. As anomalias cromossômicas numéricas estão
presentes quando dois cromossomos não se separam durante uma divisão
celular, seja mitose ou meiose, ocorrendo como consequência uma alteração no
número de cromossomos. Esse fenômeno determina a formação de células ou
indivíduos com menos de 46 cromossomos (hipodiploides) ou mais de 46
cromossomos (hiperdiploides). As alterações cromossômicas são responsáveis
pela frequência de 60% dos abortamentos espontâneos precoces (PARKER,
2007).

AN02FREV001/REV 4.0

156
As aberrações numéricas podem ser divididas em dois grupos: as
euploidias, onde as células contêm múltiplos haploides de cromossomos, isto é,
69 cromossomos, 92 cromossomos, e assim por diante.
Como exemplos de aberrações numéricas têm as aneuploidias, ou
seja, um aumento ou diminuição de um ou mais cromossomos, em um ou mais
dos 23 pares, mas não de todos. O mecanismo cromossômico mais comum da
aneuploidia é a não disjunção (não separação dos cromossomos de seus
pares), durante a meiose.
São tipos de aneuploidias:
− trissomia: presença de 1 cromossomo a mais em um dos 23
pares. Por exemplo, trissomia do par de cromossomos número 21
(Síndrome de Down), trissomia do 13 (Síndrome de Patau) e trissomia
do 18 (Síndrome de Edwards).
− monossomia: ausência de 1 cromossomo em um dos 23 pares.
Como exemplo de aneuplodia, podemos citar a monossomia do
cromossomo X (Síndrome de Turner).
As aberrações estruturais dos cromossomos resultam de uma ou
várias quebras em diferentes porções dos braços cromossômicos, seguida de
reconstituição em uma combinação anormal. Os rearranjos estruturais são
classificados em equilibrados e não equilibrados.
Os rearranjos não equilibrados ocorrem quando o conjunto
cromossômico possui informações a mais ou a menos. Os rearranjos não
balanceados envolvem (USP, 2014):
− deleção: resulta em desequilíbrio do cromossomo por perda de um
segmento cromossômico. Uma deleção pode ser terminal ou intersticial
(Figura 53);

AN02FREV001/REV 4.0

157
FIGURA 53 – EXEMPLOS DE DELEÇÃO CROMOSSÔMICA

FONTE: Nussbaum, 1991.

− duplicação: aparenta ser bem menos nociva que a deleção. As


duplicações podem originar-se por crossing-over desigual ou por
segregação anormal da meiose num portador de uma translocação ou
inversão;
− cromossomos em anel: ocorre quando as extremidades livres,
após deleções terminais, são unidas (Figura 54).

FIGURA 54 – CROMOSSOMO EM ANEL

FONTE: Nussbaum, 1991.

− isocromossomos: são cromossomos que apresentam deficiência


total de um dos braços e duplicação completa do outro (Figura 55);

AN02FREV001/REV 4.0

158
FIGURA 55 – EXEMPLO DE ISOCROMOSSOMO

FONTE: Nussbaum, 1991.

− cromossomos dicêntricos: Apresentam dois centrômeros;


− translocação: Dois cromossomos sofrem quebras e ocorre a união
de um segmento cromossômico a uma região fraturada de outro.
Existem dois tipos principais: translocações recíprocas (quebra de
cromossomos não homólogos, com trocas recíprocas de segmentos
soltos) e translocações robertsonianas (cromossomos acrocêntricos
que se fundem próximos à região do centrômero com perda dos braços
curtos).
Os rearranjos equilibrados ou balanceados ocorrem quando o
conjunto cromossômico possui o complemento normal de informações. Todas as
informações genéticas estão presentes, mas organizadas de modo diferente. Um
exemplo de rearranjo equilibrado é a inversão, ou seja, ocorrência de duas
quebras em um cromossomo unifilamentoso durante a interfase e a soldadura
em posição invertida do fragmento ao restante do cromossomo. A inversão é dita
paracêntrica se as quebras ocorrerem em um mesmo braço cromossômico, e é
denominada pericêntrica se o fragmento cromossômico invertido incluir o
centrômero (BRASIL ESCOLA, 2014).

AN02FREV001/REV 4.0

159
10.3.1 Trissomia do Cromossomo 21 (Síndrome de Down)

Síndrome de Down foi a primeira anomalia cromossômica detectada na


espécie humana, sendo essa descoberta realizada por Lejune, Gautier e Turpin,
em 1959. A doença é causada pela presença de um cromossomo a mais no par
de número 21.
Síndrome de Down, uma das mais comuns anomalias cromossômicas
em crianças recém-nascidas, é caracterizada por retardamento mental e uma
face característica do paciente. Sua incidência na população varia entre 1:800 a
1:1.000 (BARROSO, 2014). Possui relação direta com a idade da mãe.
A maioria dos pacientes com síndrome de Down apresenta cariótipo com
47 cromossomos, em consequência da trissomia do 21 (figura 56).

FIGURA 56 − CARIÓTIPO DE UM MENINO COM SÍNDROME DE DOWN

FONTE: Parker, 2007.

AN02FREV001/REV 4.0

160
O seu diagnóstico pode ser feito ainda intraútero, no período pré-natal,
sendo indicada uma investigação genética no material fetal quando a idade da
mãe for superior a 35 anos. Apenas aproximadamente 25% dos embriões que
possuem a Síndrome de Down conseguem nascer, a sua grande maioria (75%)
evolui para aborto ou morte fetal durante a gestação.
O diagnóstico, após o nascimento, é realizado por meio do quadro
clínico do recém-nascido e do estudo genético. O recém-nascido apresenta
pouco tônus muscular e pode parecer “mole” por meses ou mesmo anos. É
muito comum a presença de malformações congênitas específicas em indivíduos
com síndrome de Down.
O sinal clínico constante em todos os pacientes é a deficiência mental.
Embora a maioria dos pacientes apresente um QI na faixa de 25 a 50, pode ser
educável e capaz de aprender a ler e escrever. Outras alterações morfológicas
são frequentes: malformações cardíacas congênitas (defeitos no septo,
tetralogia de Fallot). Noventa por cento de todos os pacientes com Down têm
uma significativa perda da audição (BARROSO, 2014).

10.3.2 Trissomia 18 - Síndrome de Edwards

Essa síndrome envolve a trissomia do cromossomo 18 (Figura 57). Sua


prevalência varia entre 1:6.000 a 1:8.000 nascimentos e mais de 90% dos
embriões portadores dessa trissomia evoluem para aborto espontâneo (PORTAL
SÃO FRANCISCO, 2014a).

AN02FREV001/REV 4.0

161
FIGURA 57 − CARIÓTIPO DE UM MENINO COM SÍNDROME DE EDWARDS

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAqN4AI/principais-


cromossomopatias>. Acesso em: 05 mar. 2014.

A criança apresenta retardo do crescimento físico e mental,


deformidades no tórax, rins em forma de ferradura, orelhas deformadas e com
implantação profunda, deformidades da flexão dos dedos, defeitos cardíacos e
diversas características físicas, como (MELDAU, 2014):
− crânio disfórmico;
− face triangular com testa alta e plana;
− maxilares recuados;
− occipital proeminente;
− lábio leporino e/ou fenda palatina;
− pescoço curto com pelos em excesso;
− mamilos pequenos;
− presença de hérnia inguinal ou umbilical;
− manutenção dos punhos cerrados é característico;
− pé torto congênito é comum;
− encurtamento do hálux (dedão do pé);
− rugas nas palmas das mãos e plantas dos pés;

AN02FREV001/REV 4.0

162
− nos meninos é comum a ocorrência de criptorquidia, já nas
meninas é comum a hipertrofia de clitóris com hipoplasia dos grandes
lábios.

Durante a gravidez, a cavidade amniótica apresenta grande quantidade


de líquido amniótico (hidrâmnio) e a placenta é muito pequena em mulheres que
geram crianças com essa síndrome.
O seu diagnóstico pode ser feito ainda intraútero, no período pré-natal,
sendo indicada uma investigação genética no material fetal quando a mãe
apresenta idade avançada. O diagnóstico, após o nascimento, é realizado por
meio do quadro clínico do recém-nascido e do estudo genético (PORTAL SÃO
FRANCISCO, 2014a).

10.3.3 Trissomia 13 – Síndrome de Patau

Sua prevalência varia entre 1:8.000 a 1:12.000 nascimentos.


Aproximadamente 98% dos embriões portadores da trissomia 13 evoluem para
aborto espontâneo ou óbito fetal (IMUNOREPRO, 2014).
Crianças com essa síndrome raramente sobrevivem além dos seis
meses. Apresentam deficiência mental, malformações graves do sistema
nervoso central, orelhas malformadas, defeitos do couro cabeludo, microftalmia,
fenda bilateral do lábio e/ou palato e polidactilia.
A causa da trissomia do 13, na maioria dos casos, é a não separação do
cromossomo no momento da formação do gameta, geralmente, o gameta de
origem materna (90% dos casos). Está relacionada com o aumento da idade
materna.

AN02FREV001/REV 4.0

163
10.3.4 Síndrome de Turner - Monossomia do Cromossomo X

A Síndrome de Turner é uma cromossomopatia sexual, caracterizada


pela monossomia do cromossomo X (Figura 58), sendo, portanto, encontrada
em meninas.
A incidência da Síndrome de Turner é de cerca de 1 em 8.000 meninas
nascidas. É responsável por casos de abortos espontâneos cromossomicamente
anormais (aproximadamente 18%) (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2014b). Além
disso, a anormalidade cromossômica da monossomia do X é a anormalidade
genética mais comum observada em seres humanos nascidos vivos.
A constituição cromossômica, em metade dos casos, é 45, X
(IMUNOREPRO, 2014); a outra metade tem diversas anormalidades no
cromossomo sexual. O erro na gametogênese (não disjunção) que causa a
monossomia do X, quando pode ser identificada, está no gameta paterno, em
até 80%; isto é, de regra é o cromossomo X paterno que está ausente.
Os indivíduos acometidos desta doença têm estenose da aorta, baixa
estatura, pescoço alado, tórax largo com mamilos proeminentes e amplamente
espaçados. Ademais, apresentam anomalias renais e cardiovasculares, genitália
permanece juvenil, ovários são atrofiados e desprovidos de folículos, portanto,
essas mulheres não procriam, exceto em poucos casos relatados de Turner
férteis; não desenvolvem as características sexuais secundárias ao atingir a
puberdade, sendo, portanto, identificadas facilmente pela falta desses
caracteres. As portadoras dessa síndrome não menstruam (isto é, tem
amenorreia primária) e possuem pele frouxa devido à escassez de tecidos
subcutâneos, o que lhe dá aparência senil (MUTERLE, 2014).

AN02FREV001/REV 4.0

164
FIGURA 58 − CARIÓTIPO DE UMA PACIENTE COM SÍNDROME DE TURNER
(MONOSSOMIA DO CROMOSSOMO X)

FONTE: Parker, 2007.

10.3.5 Síndrome de Klinefelter

A síndrome é caracterizada por um cromossomo X adicional (47, XXY)


(Figura 59). Sua incidência é de 1,18 em 1.000 nascimentos, em que os
indivíduos apresentam fenótipo masculino, com 22 pares de cromossomos
autossomos e três cromossomos sexuais (XXY). A presença de um cromossomo
X adicional interfere com a produção de testosterona (CENTRO HOSPITALAR
DE COIMBRA, 2014).
Essa síndrome é a causa mais frequente de hipogonadismo e
infertilidade em indivíduos do sexo masculino (PORTAL SÃO FRANCISCO,
2014c). Mais de 10% dos homens com infertilidade e 3% daqueles com câncer
de mama têm o síndrome de Klinefelter. (CENTRO HOSPITALAR DE
COIMBRA, 2014).

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165
FIGURA 59 − CARIÓTIPO DE PACIENTE COM SÍNDROME DE KLINEFELTER

FONTE: Disponível em: <http://www.ghente.org/ciencia/genetica/klinefelter.htm>. Acesso em: 05


mar. 2014.

Os indivíduos com a Síndrome de Klinefelter possuem eunucoidismo,


hipoplasia dos testículos, ausência de pelos secundários, exceto um pequeno
crescimento da barba, debilidade mental. Desde a infância, observa-se
tendência para os membros compridos, com predomínio da parte inferior dos
membros e, portanto para o tipo longilíneo.
O atraso da linguagem (51%), o atraso motor (27%) e problemas
escolares (44%) complicam o desenvolvimento destas crianças (CENTRO
HOSPITALAR DE COIMBRA, 2014) e alguns estudos discutem sobre
comportamentos antissociais e o gosto por provocar delitos contra a propriedade
alheia desses indivíduos.

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166
10.3.6 Síndrome de Cri-du-chat (Miado de Gato)

A síndrome de Cri-du-chat está associada à deleção de parte do braço


curto do cromossomo 5 (Figura 60). Sua prevalência varia de 1:20.000 a
1:50.000 recém-nascidos (IMUNOREPRO, 2014).

FIGURA 60 − CARIÓTIPO DE MENINA COM SÍNDROME DE CRI-DU-CHAT

FONTE: Disponível em: <http://biovida12.blogspot.com.br/2008/01/sndrome-do-choro-do-


gato.html>. Acesso em: 05 mar. 2014.

As crianças afetadas por essa doença apresentam choro fraco, parecido


com o miado do gato, microcefalia, retardo mental e doença cardíaca congênita.
Algumas crianças também apresentam problemas renais, ortopédicos e no
aparelho respiratório, além de alterações gastrointestinais (NÚCLEO
CRIDUCHAT, 2014).

AN02FREV001/REV 4.0

167
11 BIOÉTICA E BIOLOGIA REPRODUTIVA

11.1 INTRODUÇÃO À BIOÉTICA

O termo Bioética surgiu em 1970 e, significa o estudo da moralidade da


conduta humana no campo da ciência da vida (CURSO TÉCNICO EM
FARMÁCIA, 2010). É interessante destacar que a Bioética engloba uma série de
dilemas morais e éticos, tais como o aborto, manipulação de células tronco,
clonagem, relação médico-paciente, pesquisa com seres humanos e animais. Na
verdade, muito de ética foi discutido sobre pesquisa com seres humanos após
1945, devido às atrocidades com seres humanos nos campos de concentração.
Alguns documentos surgiram após esse período para salvaguardar os seres
humanos, como o Código de Nuremberg (1947), Declaração dos Direitos
Humanos (1948) e Declaração de Helsinki (1964).
Um aspecto importante da Bioética é que ela não está restrita às
Ciências da Saúde, mas, também abarca conteúdo das Ciências Biológicas e
Sociais. Ela tem implicações nas vidas de todos nós, ela é feita pelos seres
humanos para os seres humanos. Por essa razão, nas sociedades constituídas
para estudos de Bioética, nos congressos de Bioética, não se vê a hegemonia
dos médicos, dentistas, enfermeiros ou profissionais das áreas de saúde.
Encontramos também, juristas, filósofos, sociólogos, psicólogos, teólogos,
economistas, entre outros. Alguém poderia se perguntar: O que é que o
economista tem a ver com a vida? Muito, pois os planos econômicos
governamentais, por exemplo, geram-se desemprego ou não, garantem a vida
ou garantem a morte de tantas pessoas (DUSILEK, 2014).
A Bioética tem uma proposta interdisciplinar e transdisciplinar, por
exemplo, os Comitês de Éticas em Pesquisa, que avaliam as pesquisas com
seres humanos e animais, são compostos por profissionais das mais diversas
áreas do conhecimento, como veterinários, biólogos, médicos, dentistas,

AN02FREV001/REV 4.0

168
filósofos, advogados, teólogos, etc. Mas para isso é preciso pensar a partir de
um novo paradigma para a ciência e para o conhecimento. É difícil entender
esse transdisciplinar dentro da nossa formação cartesiana de disciplinas
distintas, que são consideradas, erroneamente, como disciplinas totalmente
independentes e isoladas, que mascaram a unidade da ciência. O que parece
evidente nesse modelo de ciência, em que, com certeza, todos foram formados,
é de se vivenciar uma total solidão na práxis. Isso gera tensão resultante do
isolamento na tomada de decisões éticas. Também gera ou reforça o
desagregamento da atividade profissional.
Portanto, a Bioética permeia questões e dilemas éticas/bioéticas que
surgirão na vida profissional e ajudarão os profissionais a se posicionarem sobre
tais questões. Para Junqueira (2011), sem esses conceitos básicos de Bioética:

[...] dificilmente alguém consegue enfrentar um dilema, um conflito, e se


posicionar diante dele de maneira ética. Assim, esses conceitos (e
teorias) devem ficar bem claros para todos nós. Não se pretende impor
regras de comportamento (para isso, temos as leis), e sim dar
subsídios para que as pessoas possam refletir e saber como se
comportar em relação às diversas situações da vida profissional em
que surgem os conflitos éticos.

11.1.1 Introdução Histórica

De fato, em pleno século XX, a Humanidade presenciou casos


verdadeiramente chocantes, ligados principalmente a eventos belicistas
(CERQUEIRA et al., 2014c).
No caso da Primeira Grande Guerra, o físico alemão Fritz Haber
estudou processos para a criação de bombas de gás, por meio da sua síntese
de amoníaco e matando milhares de soldados em seus testes.
Na Segunda Guerra, pessoas, incluindo crianças, eram levadas aos
campos de concentração para trabalhos forçados e tiradas partes de seus
pertences e corpos: dentes de ouro e cabelos para serem vendidos. Além disso,
eram testadas novas técnicas operatórias e de enxertos utilizando os serem
humanos, tudo ao bel-prazer dos nazistas

AN02FREV001/REV 4.0

169
Indubitavelmente, a Bioética serve de instrumento para balizar os
avanços científicos, respeitando a dignidade do ser humano.

11.1.2 Bioética no Brasil

No Brasil, a Bioética é recente, data da década de 90, com a inserção


da disciplina em curso de graduação e de pós-graduação, criação de núcleos e
sociedades científicas, assim como promoção de seminários, simpósios e
congressos, (CORDEIRO e TRUJILLO, 2003b), criação da Sociedade Brasileira
de Bioética e a instituição da Resolução nº. 196 do Conselho Nacional de Saúde
(196).
A Resolução 196/96 fornece um direcionamento para uma análise de
pesquisa, de forma a harmonizar critérios e exigências em pesquisas
envolvendo seres humanos (CORDEIRO e TRUJILLO, 2003b).
Essa Resolução fundamentou-se em documentos internacionais de
onde emanaram declarações e diretrizes sobre estas pesquisas e incorporou
sob a ótica do indivíduo e das coletividades os quatro referenciais básicos da
bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa
assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos
sujeitos da pesquisa e ao Estado (GOLDIM, 2014).
Com a instituição da Resolução 196/96, criaram-se os Comitês de Ética
em Pesquisa (CEP) nas instituições de ensino e pesquisa. Os Comitês devem
ter caráter multi e transdisciplinar, não devendo haver mais do que a metade de
seus membros pertencentes à mesma categoria profissional (GOLDIM, 2014). O
CEP foram criados para defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua
integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro
de padrões éticos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Dessa maneira e de acordo com a Res. CNS 196/96, “toda pesquisa
envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de
Ética em Pesquisa” e cabe à instituição onde se realizam pesquisas a
constituição do CEP (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

AN02FREV001/REV 4.0

170
Em relação às pesquisas com animais e mesmo a utilização dos
mesmos para aulas práticas nos cursos de ciências da saúde e biológicas,
recomenda-se os princípios do 3Rs (replacement, reduction, refinement),
substituição, redução e refinamento) (CORDEIRO e TRUJILLO, 2003a), na
tentativa de reduzir o número de animais para esses fins, utilizando-se de outros
recursos, como aulas com modelos computadorizados e a utilização do menor
número possível de animais em um experimento, porém, mantendo-se a
qualidade das aulas e pesquisas.

11.1.3 Princípios da Bioética

Os princípios da Bioética foram propostos primeiro no Relatório Belmont


(1978) para orientar as pesquisas com seres humanos e, em 1979, Beauchamps
e Childress, em sua obra Principles of biomedical ethics, estenderam a utilização
deles para a prática médica, ou seja, para todos aqueles que se ocupam da
saúde das pessoas. A utilização desses princípios para facilitar o enfrentamento
de questões éticas é muito comum entre os americanos e os brasileiros
(UNIFESP, 2011).
A seguir explicaremos cada um dos princípios que regem a Bioética:
O princípio de não maleficência: de acordo com este princípio, o
profissional de saúde tem o dever de, intencionalmente, não causar mal e/ou
danos ao seu paciente. Considerado por muitos como o princípio fundamental
da tradição hipocrática da ética médica, tem suas raízes em uma máxima que
preconiza: “cria o hábito de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos, não
causar danos” (LOCH, 2014).
Um profissional que propuser um tratamento médico a um paciente ou
até mesmo uma proposição de pesquisa com o ser humano, deve vê-lo pela
óptica física, psicológica, social e cultural e , acima de tudo, deve desejar o
melhor para o indivíduo, para restabelecer sua saúde, para prevenir um agravo,
ou para promover sua saúde (UNIFESP, 2011).

AN02FREV001/REV 4.0

171
O princípio de beneficência: a beneficência tem sido associada à
excelência profissional desde os tempos da medicina grega, e está expressa no
Juramento de Hipócrates: “Usarei o tratamento para ajudar os doentes, de
acordo com minha habilidade e julgamento e nunca o utilizarei para prejudicá-
los” (KIPPER, 2007).
De uma maneira prática, isso significa que temos a obrigação moral de
agir para o benefício do outro. Este conceito, quando é utilizado na área de
cuidados com a saúde, que engloba todas as profissões das ciências
biomédicas, significa fazer o que é melhor para o paciente, não só do ponto de
vista técnico-assistencial, mas também do ponto de vista ético. É usar todos os
conhecimentos e habilidades profissionais a serviço do paciente, considerando,
na tomada de decisão, a minimização dos riscos e a maximização dos
benefícios do procedimento a realizar (LOCH, 2014).
O princípio de respeito à autonomia: autonomia é a capacidade de
uma pessoa para decidir fazer ou buscar aquilo que ela julga ser o melhor para
si mesma. De acordo com esse princípio, as pessoas têm “liberdade de decisão”
sobre sua vida. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi adotada
pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1948), manifesta logo no seu início
que as pessoas são livres (UNIFESP, 2011) e, portanto, não podem sofrer
coerção de qualquer natureza, serem forçadas a seguir um tratamento médico
ou até mesmo participarem de uma pesquisa científica.
Já o respeito à autonomia significa ter consciência deste direito da
pessoa de possuir um projeto de vida próprio, de ter seus pontos de vista e
opiniões, de fazer escolhas autônomas, de agir segundo seus valores e
convicções. Respeitar a autonomia é, em última análise, preservar os direitos
fundamentais do homem, aceitando o pluralismo ético-social que existe na
atualidade (LOCH, 2014).
O princípio de justiça: a justiça está associada preferencialmente com
as relações entre grupos sociais, preocupando-se com a equidade na
distribuição de bens e recursos considerados comuns, numa tentativa de igualar
as oportunidades de acesso a estes bens (LOCH, 2014). De acordo com o
princípio da justiça, é preciso (UNIFESP, 2014):

AN02FREV001/REV 4.0

172
respeitar com imparcialidade o direito de cada um. Não seria ética uma
decisão que levasse um dos personagens envolvidos (profissional ou
paciente) a se prejudicar. É também a partir desse princípio que se
fundamenta a chamada objeção de consciência, que representa o
direito de um profissional de se recusar a realizar um procedimento,
aceito pelo paciente ou mesmo legalizado.

12 BIOÉTICA E A REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA

A Ciência tem caminhado a passos largos, quase desenfreados, em que


o ser humano é o ator principal. A ciência promete com seus resultados
promover a melhor qualidade de vida e promover a saúde do ser humano,
porém, até onde podemos ir, afinal, nesta questão científica e progressista?
No campo da Reprodução Assistida, há marcos recentes do avanço da
ciências (FONTES, 2014):
− o primeiro bebê-proveta foi uma menina, chamada Louise Brown, e
nasceu a 25 de julho de 1978, na Inglaterra;
− em 1996, nasceu a ovelha Dolly mediante a fusão do núcleo de
uma célula retirada da glândula mamária de uma ovelha de 6 anos com
o óvulo de outra ovelha (figura 61), no Roslin Institut de Edimburgo.

AN02FREV001/REV 4.0

173
FIGURA 61 – ESQUEMA DE CLONAGEM DA OVELHA DOLLY

FONTE: Disponível em: <http://www.ghente.org/temas/clonagem/index_dolly.htm>. Acesso em:


10 mar. 2014.

Dentro do campo da Reprodução Assistida inúmeras são as questões


éticas e bioéticas. Portanto, forneceremos alguns questionamentos, baseando-
se em Cerqueira et al. (2014c):

− É legítimo manipular formas de vida humana ainda que estas


não tenham nascido?
− Deve se realizar uma fecundação estritamente "artificial" quando
a natureza não o permitiu?
− No caso de uma inseminação com esperma de um doador
anônimo: o doador não tem nenhuma responsabilidade sobre o seu
filho genético? Não tem o direito de reclamar os seus direitos de
paternidade?
− Um filho não tem o direito de saber quem é o seu pai?
− É legítimo que uma mulher leve dentro da sua barriga o filho de
outras pessoas?

AN02FREV001/REV 4.0

174
− Que pensar quando os embriões congelados são destruídos
após a fecundação? Não se está se destruindo um potencial ser
humano? O que se deve fazer com os que ficam congelados?
− É legítimo fazer experiências com embriões humanos?

12.1 PROBLEMAS JURÍDICOS DECORRENTES DAS NOVAS TÉCNICAS DE


REPRODUÇÃO HUMANA

Várias são as questões jurídicas decorrentes da Reprodução Assistida,


tais como: o congelamento de embriões para posterior implantação no corpo da
mãe, o congelamento de espermatozoides e óvulos, o que fazer com os
embriões excedentes e não implantados no útero materno, o problema das
mães de substituição, etc. (OMMATI, 1998).
Por exemplo, as técnicas de GIFT e ZIFT se utilizam da técnica de
congelamento de embriões e dai surgem questões palpitantes, como: por quanto
tempo se deve deixar esse material congelado? O que fazer com o material
congelado excedente? (OMMATI, 1999).
Por exemplo, um embrião pode ficar congelado por até 20 anos. Em
outubro de 2010, nasceu um menino saudável a partir de um embrião congelado
há 20 anos.
A técnica foi aplicada no Instituto Jones de Medicina Reprodutiva, da
Escola de Medicina de Eastern Virginia, em Norfolk, na Virgínia. A mãe da
criança, com 42 anos, tinha tentado engravidar por meio de fertilização in vitro
dez anos atrás. O que aconteceu foi que, na época, ela e o marido receberam
embriões de um casal que tinham se submetido à fertilização in vitro. Esse casal
conseguiu ter um filho em 1990, e doou anonimamente os embriões que
sobraram. Isso significa que a última criança que nasceu tem um irmão em
algum lugar, que foi concebido ao mesmo tempo, mas que é 20 anos mais velho!
O caso foi relatado em um artigo científico na publicação especializada "Fertility
and Sterility", da Sociedade Americana para a Medicina Reprodutiva. No Brasil,
o recorde é de uma mulher do interior de São Paulo que deu à luz um bebê

AN02FREV001/REV 4.0

175
nascido de um embrião que ficara congelado por oito anos (Figura 62) (O
ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

FIGURA 62 – BEBÊ BRASILEIRO, LUIZ HENRIQUE, QUE NASCEU DE


EMBRIÃO CONGELADO POR 8 ANOS

FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0903200801.htm>. Acesso


em: 10 mar. 2014.

Um dos problemas da reprodução assistida é a superestimulação


hormonal, com o objetivo de coletar vários óvulos num mesmo ciclo menstrual e
obter vários embriões. Por razões de segurança médica, implantam-se quatro
embriões, tendo-se, dessa forma, uma grande probabilidade de ocorrência de
gêmeos. Contudo, há um grande problema – o excedente de embriões, então o
que fazer?
Segundo Ribeiro et al. (2006), o feto ou embrião também têm seus
direitos:

O ordenamento jurídico brasileiro confere proteção ao nascituro –


pessoa por nascer, o ser humano concebido e desenvolvido no ventre
materno – e à pessoa – ser humano nascido. Contudo, não trata da
questão envolvendo o embrião excedentário, isto é, aquele não
implantado no útero materno, proveniente de fertilização em
laboratório. Tal abordagem, atualmente, é de suma importância, tendo
em vista as constantes inovações científicas que utilizam de processos
como a fertilização in vitro e as pesquisas com células-tronco
embrionárias humanas.

AN02FREV001/REV 4.0

176
Quando duas células sexuais se unem, formando uma só célula, temos
um ser humano, pelo menos em potencial. Por consequência, os embriões
sobrantes não podem de forma alguma ser destruídos, em respeito aos
princípios assegurados no artigo 5º de nossa Constituição. O grande problema é
que nossa Constituição também garante como direito fundamental a intimidade,
a vida privada, honra e imagem das pessoas (art. 5º, X), gerando um conflito de
princípios: o direito à vida do embrião versus o direito à intimidade da mulher.
Perguntamo-nos, então: pode a mulher pedir a destruição dos embriões
sobrantes? (OMMATI, 1998).
Segundo Ommati (1999), a resposta é negativa:

Quando há choque de princípios, como no caso em tela, esse choque é


resolvido não com a eliminação de um princípio, mas com a valoração,
no caso concreto, dos princípios. Assim, nesse caso, o princípio da
vida humana, e mais, da dignidade da vida humana é mais importante
do que intimidade, vida privada, ou qualquer outro princípio que se
queira invocar no caso concreto. A própria Constituição foi toda
estruturada para defender a vida e a dignidade da pessoa humana.

Além da proteção constitucional da vida humana, o Código Civil, no seu


artigo 4º, dispõe o artigo citado: “Art 4º. A personalidade civil do homem começa
do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do
nascituro”.
Apesar do ordenamento jurídico em favor da vida do embrião, o
Conselho Federal de Medicina (CFM) por meio da Resolução nº 2.013/2013,
autorizou as clínicas de reprodução a descartarem embriões congelados há
cinco ou mais anos, desde que com a permissão expressa dos pais. Assim, os
embriões podem ser descartados ou doados para pesquisas científicas com
células-tronco embrionárias.
Essa mesma Resolução do CFM garante aos casais homossexuais o
direito de recorrer à reprodução assistida para ter filhos. A norma anterior previa
que qualquer pessoa poderia ser submetida ao procedimento, mas era vaga e
deixava margem para diferentes interpretações. A Resolução nº 2.013/2013
explicita, pela primeira vez, o direito dos casais homoafetivos, um marco na luta
pelos direitos civis dos homossexuais, embora faça uma ressalva ao estabelecer

AN02FREV001/REV 4.0

177
que será "respeitado o direito da objeção de consciência do médico" (JORNAL
DA CIÊNCIA, 2013).
Resta abordar o problema das mães de substituição. A prática de mães
de substituição, ou “barriga de aluguel” como usualmente se conhece, fere o
princípio da dignidade humana, por representar a comercialização da vida. A
“barriga de aluguel”, como o próprio nome revela, pressupõe uma
contraprestação pecuniária que, para muitos doutrinadores, deve de todo modo
ser inibida. Entretanto, há de ser admitida nas hipóteses em que se verifica o
princípio da beneficência, quando parente próximo disponibiliza seu corpo, sem
interesses econômicos, a fim de que o ser concebido nela se desenvolva até o
nascimento.
A resolução do CFM nº 2.013/2013 estabelece que o “útero de
substituição” deve vir de uma familiar separada por no máximo quatro graus de
parentesco. Isso significa que, caso precisem, tanto um homem como uma
mulher podem pedir para a irmã, a mãe, a avó, a tia ou a prima carregarem o
bebê. O limite anterior era para parentes de primeiro ou segundo graus, o que
excluía tias e primas. O pagamento por uma barriga de aluguel continua proibido
(JORNAL DA CIÊNCIA, 2013).
O tema “barriga de aluguel” já foi tema de novela da Rede Globo de
Televisão e estampa as manchetes dos jornais com uma certa frequência.
Vejamos o caso de Fernanda que descobriu que não poderia ter filhos aos
13 anos. A funcionária pública nasceu com deficiência uterina e, segundo ela,
precisou retirar o órgão após a primeira menstruação, quando teve cólicas tão fortes
que a levaram para o hospital. Ela se casou aos 20 anos e tentou adotar uma
criança, mas não conseguiu. Em 2011, sua mãe, Maria da Glória, de 52 anos, foi
submetida a exames que revelaram a ótima saúde para gerar os bebês e, então
Fernanda doou os óvulos e seu esposo, os espermatozoides, obtendo-se quatro
embriões em laboratório. Dois foram implantados no útero de sua mãe que deu à luz
duas meninas (Figura 63), em 07 de janeiro de 2013 (CARVALHO, 2013).

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178
FIGURA 63 – GÊMEAS NASCIDAS DO ÚTERO DE SUBSTITUIÇÃO DA AVÓ, AS
QUAIS APARECEM NO COLO DA ENFERMEIRA E AO LADO DA MÃE
BIOLÓGICA

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/01/e-de-tirar-o-chapeu-diz-


obstetra-sobre-avo-que-gerou-netas-em-go.html>. Acesso em: 10 mar. 2013.

Há alguns defensores da prática de “barriga de aluguel” remunerada,


pois, alegam que não se trata de venda de criança, mas de remuneração por
serviços prestados, sendo a “locadora do útero” uma profissional com direito à
recompensa. Mas será que esses defensores estão certos: é correto
comercializar a própria vida, e o próprio corpo?
O que passa na cabeça de uma mãe de aluguel é difícil de conceber.
Mesmo, realizando testes psicológicos em uma mulher que deseja pôr a
disposição seu útero, o que dizer da influência dos hormônios da gestação sobre
seu cérebro e geração do sentimento materno. Vejamos o que os autores
Fernandi e Casali (2007) pensam sobre a prática de mães de substituição:

em determinadas circunstâncias, deve ser terminantemente vedada,


em decorrência do princípio da dignidade humana. Ora, a mulher que
se dispõe a carregar o embrião por nove meses se apega ao ser que
cresce dentro de suas entranhas. Como fica o sentimento dessa
mulher, quando da entrega desse filho, que ela ajudou a nascer? Ela
raciocina, com toda razão, que esse filho é muito mais dela do que do

AN02FREV001/REV 4.0

179
casal que com ela contratou. Ora, foi ela que suportou todas as
dificuldades durante nove meses e, muitas vezes, aprendeu a amar o
bebê, que, de estranho, passou a ser o seu bebê.

Normalmente uma série de dúvidas de cunho jurídico se faz presente


com relação à barriga de aluguel. Se a dona do “útero de aluguel” vier a sofrer
algum dano físico ou falecer por causa da gestação, o “locatário” terá algum tipo
de responsabilidade? A receptora do esperma poderá reclamar alimentos?
Como será determinada a maternidade? Em uma disputa judicial deverá ser
concedida a guarda da criança àquela cujo patrimônio genético serviu de base
para a nova vida, ou à mulher que durante nove meses alugou o seu corpo para
que o embrião pudesse nela se desenvolver? Ou a quem se propõe a educá-la?
(BERTOTTI, 2008).

13 BIOÉTICA E CLONAGEM

A clonagem humana reprodutiva pela transferência de núcleo de células


somáticas levanta diversos aspectos – éticos, sociais, econômicos e científicos.
Segundo, Tavares (2005), a clonagem de um organismo envolve:

uma técnica chamada transferência de núcleo da célula somática, onde


o núcleo de um óvulo (contendo seu material genético) é removido e
substituído pelo núcleo de uma célula somática retirada do corpo de
um adulto.

Após isso, o óvulo reconstituído é estimulado a se dividir em vários


blastômeros até o estágio de blastocisto e é então implantado no útero de uma
fêmea (figura 64), permitindo a continuidade de seu desenvolvimento até o
nascimento. Esse tipo de reprodução é chamada de clonagem reprodutiva.

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180
FIGURA 64 - ILUSTRAÇÃO ESQUEMÁTICA DA CLONAGEM REPRODUTIVA

FONTE: Disponível em: <http://www.ghente.org/temas/clonagem/index_txr.htm>. Acesso em: 10


mar. 2014.

A única diferença entre a clonagem reprodutiva e a clonagem


terapêutica e que o blastocisto nessa última não é implantado no útero de uma
fêmea e, sim, usado para cultura de tecidos (Figura 65) para desenvolver uma
linhagem de células-tronco que será utilizada para pesquisas ou aplicações
clínicas (TAVARES, 2005).

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181
FIGURA 65 - ILUSTRAÇÃO ESQUEMÁTICA DA CLONAGEM TERAPÊUTICA

O blastocisto não é implantado no útero e, sim colocado em meio de cultura em placa de petri
para a obtenção de células-tronco para fins terapêuticos. FONTE: Disponível em:
<http://www.ghente.org/temas/clonagem/index_txr.htm>. Acesso em: 10 mar. 2014.

Pesquisas científicas em clonagem reprodutiva com animais têm


demonstrado que nessa ocorre uma incidência acentuada desordens fetais e
óbito durante a gravidez, bem como de malformação entre os recém-nascidos.
Portanto, então, uma séria ameaça à saúde do indivíduo clonado, não somente
no nascimento, mas potencialmente em todos os estágios de sua vida – sem
qualquer benefício compensatório evidente para o indivíduo que arcasse com
esse risco (JORNAL DA CIÊNCIA, 2003).
O cientista escocês Ian Wilmut, que se tornou famoso pela clonagem da
ovelha Dolly, afirma que praticamente todos os animais que foram clonados nos
últimos anos a partir de células não embrionárias apresentaram problemas.
Entre os diferentes defeitos observados nos pouquíssimos animais que
nasceram vivos após inúmeras tentativas, observam-se: placentas anormais,
gigantismo em ovelhas e gado, defeitos cardíacos em porcos, problemas

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182
pulmonares em vacas, ovelhas e porcos, problemas imunológicos, falha na
produção de leucócitos, defeitos musculares em carneiros (ZATZ, 2004).
Aproximadamente 5-6 dias depois que um óvulo humano é fertilizado, o
mesmo é denominado blastocisto e consiste de cerca de cem células, sendo que
a maioria delas já estão especializadas para formar a placenta. Muitos países
que permitem a terapêutica de fertilização in vitro (FIV) permitem a utilização de
embriões para pesquisa científica com células-tronco, à semelhança do Brasil.
As células-tronco são classificadas em células-tronco embrionárias e
células-tronco adultas. As células-tronco embrionárias são totipotentes podem
originar qualquer um dos mais de 200 tipos celulares encontrados em nosso
corpo, além de se autorreplicarem em novas células-tronco embrionárias (Figura
66). Assim, as mesmas podem ser usadas para restaurar órgãos lesados por
doenças, como no caso de doenças neurológicas, diabetes, problemas
cardíacos e doenças sanguíneas.

FIGURA 66 – CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS

FONTE: Disponível em: <http://celulastroncors.org.br/celulas-tronco-2/>. Acesso em: 10 mar.


2013.

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183
As células-tronco adultas não possuem essa capacidade de se
transformar em qualquer tecido. Na fase adulta, as células-tronco encontram-se,
principalmente, na medula óssea e no sangue do cordão umbilical, mas cada
órgão do nosso corpo possui um pouco de células-tronco para poder renovar as
células ao longo da nossa vida. Por exemplo, as células musculares vão originar
células musculares, as células de fígado vão originar células de fígado, e assim
por diante (LEITE, 2003).
As primeiras células-tronco humanas induzidas foram produzidas em
2007, a partir da pele. E tem sido daí que são retiradas as células para
reprogramação, mesmo que teoricamente, qualquer tecido do corpo possa ser
reprogramado. O processo de reprogramação se dá pela inserção de um vírus
contendo 4 genes. Esses genes se inserem no DNA da célula adulta, como, por
exemplo, uma da pele, e reprogramam o código genético. Com este novo
programa, as células voltam ao estágio de uma célula-tronco embrionária e
possuem características de autorrenovação e capacidade de se diferenciarem
em qualquer tecido, como na figura mais abaixo (Figura 67). Estas células são
chamadas de células-tronco de pluripotência induzida ou pela sigla iPS (do
inglês induced pluripotent stem cells) (INSTITUTO DE PESQUISA COM
CÉLULAS-TRONCO, 2014).

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184
FIGURA 67 – ESQUEMA MOSTRA COMO É FEITA A REPROGRAMAÇÃO
DAS CÉLULAS DA PELE ATRAVÉS DA INSERÇÃO DOS VETORES VIRAIS

FONTE: Disponível em: <http://celulastroncors.org.br/celulas-tronco-2/>. Acesso em: 10 mar.


2014.

14 CONCLUSÃO

Esse curso enfocou todos os eventos desde a fertilização até o


nascimento, abordando os processos de gametogênese, fecundação, clivagem,
gastrulação, morfogênese e organogênese. Assim, buscou-se compreender o
fenômeno biológico normal desde a proliferação de uma única célula, o zigoto,
até a formação de um novo ser. Assim, procuramos destacar os principais
eventos ao longo das semanas de desenvolvimento embrionário e fetal.
Também enfocamos os agentes teratogênicos que interferem no
desenvolvimento embrionário e abordamos as principais cromossopatias.

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185
Técnicas de reprodução humana assistida, como indução à ovulação e a
fertilização in vitro, bem como as causas da infertilidade foram apresentados ao
longo do curso. Uma discussão ampla foi apresentada sobre as técnicas de
reprodução assistida e pesquisa com células-tronco, balizando o leitor por meio
da Bioética.
Assim, não pretendemos com esse curso esgotar os temas de
Embriologia Humana, contudo, embasar e subsidiar o participante no
entendimento do maravilhoso e misterioso desenvolvimento humano.

FIM DO MÓDULO IV

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186
GLOSSÁRIO

Albicans: branco.

Andrógeno: Hormônio que estimula a atividade dos órgãos sexuais masculinos


acessórios e promove o desenvolvimento das características sexuais
masculinas.

Anejaculação: ausência de ejaculação, orgasmo e sensação ejaculatória.

Aspermia: ausência de fluido ejaculado na presença de orgasmo e sensação


ejaculatória, o mesmo que orgasmo seco.

Astenospermia: motilidade menor que 50% de espermatozoides progressivos.

Azoospermia: ausência de espermatozoides.

Blastocisto: conceito do estado pós-mórula. Contém as seguintes partes:


embrioblasto que dará origem ao embrião, trofoblasto que formará a placenta e
uma cavidade blastocística.

Contagem de espermatozoides: o número de espermatozoides em uma


ejaculação. Também chamada concentração de espermatozoides e expressa
como o número de espermatozoides por mililitro.

Corpo lúteo: uma estrutura que se forma no local de um folículo ovariano após
este liberar um ovócito. O corpo lúteo libera estrógeno e progesterona, dois
hormônios necessários para a manutenção da gravidez; se esta acontece, o
corpo lúteo funciona por cinco ou seis meses; se não acontece, ele para de
funcionar.

Criopreservação: método para preservação de pré-embriões, espermatozoides


e ovócitos, mantendo-os em baixa temperatura ( 196ºC). As células são
protegidas dos danos causados pelo congelamento e posterior aquecimento, por
substâncias chamadas crioprotetores.

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187
Diagnóstico pré-implantacional: diagnóstico genético realizado a partir da
aspiração de um ou mais blastômeros de um pré-embrião, obtido por FIV ou
ICSI, através de micromanipulação, antes do mesmo ser transferido para o útero
materno.

Ejaculação: expulsão do sêmen para o exterior.

Embrião: termo usado para descrever os estágios iniciais do crescimento de um


novo ser, a partir da fecundação até a oitava semana de gravidez.

Espermatozoides: gameta masculino ou célula reprodutora masculina, a


carrega a informação genética do indivíduo do sexo masculino para o ovócito
proveniente do indivíduo do sexo feminino.

Esterilidade: uma condição irreversível que impede a concepção. Ex.:


vasectomia e ligadura das trompas uterinas.

Estrógeno: hormônio que estimula o desenvolvimento das características


sexuais secundárias femininas e controla o curso do ciclo menstrual.

Fertilização assistida: Inclui as técnicas de Reprodução Assistida em que a


fertilização é obtida artificialmente pelas técnicas de micromanipulação (ICSI,
PZD, etc.).

Fertilização in vitro (FIV): a FIV é o procedimento de reprodução assistida


amplamente utilizado em vários distúrbios da fertilidade. A FIV é um processo
que envolve várias etapas: hiperestimulação ovariana para produção de
ovócitos, coleta dos ovócitos dos ovários, por via vaginal, utilizando-se uma
agulha fina visualizada por ultrassom, fecundação – encontro do espermatozoide
e óvulo – em placa de petri em laboratório e transferência do(s) embrião(ões)
para o útero.

Fertilização: processo que consiste no encontro da célula reprodutiva masculina


com a feminina, com a combinação do material genético. Pode ocorrer dentro da
tuba uterina (in vivo) ou em uma placa de Petri (in vitro).

Feto: é o desenvolvimento depois do estágio embrionário, o período fetal


começa no final da oitava semana. Nessa fase, praticamente todos os órgãos já
estão formados e, daí concluem o seu desenvolvimento.

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188
Folículos: são estruturas preenchidas por fluidos existentes no ovário, os quais
contêm os ovócitos liberados quando da ovulação.

Gameta: uma célula reprodutiva. O espermatozoide em homens, o óvulo em


mulheres.

GIFT (Gamete Intrafallopian Transfer - Transferência Intratubária de


Gametas): técnica de reprodução assistida em que os espermatozoides
processados e os ovócitos colhidos anteriormente por aspiração transvaginal
são transferidos diretamente para as trompas por laparoscopia. A fertilização
ocorre in vivo.

Gonadotrofina Coriônica Humana (Human Chorionic Gonadotropin, HCG):


o hormônio produzido no início da gravidez que mantém o corpo lúteo
produzindo progesterona. É o hormônio detectado no teste de gravidez tanto na
urina quanto no sangue.

Gonadotrofinas: hormônios produzidos na adeno-hipófise e que controlam a


função reprodutiva: Hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio luteinizante
(LH).

Gravidez clínica: identificação do batimento cardíaco fetal.

Hidrâmnio: excesso de líquido amniótico.

Hidrocele: acúmulo de fluido no escroto. Pode estar presente ao nascimento ou


se desenvolver mais tarde.

Hidrossalpinge: acúmulo de líquido distendendo uma trompa uterina.

Hiperespermia: volume ejaculado maior que 5,0 ml.

Hipogonadismo: função ovariana ou testicular inadequada ou insuficiente, com


prejuízo da produção de espermatozoides e ovócitos, assim como por níveis
baixos ou ausentes de FSH e LH.

Hipospadia: é um defeito congênito do pênis, onde o meato (abertura) uretral


pode estar localizado em qualquer ponto ao longo da haste peniana ou no
períneo. Na mulher, pode ocorrer a abertura da uretra na vagina. A correção é
sempre cirúrgica.

Hipospermia: volume ejaculado menor que 2,0 ml.

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Hipotálamo: estrutura no cérebro que controla o funcionamento das principais
glândulas endócrinas. O hipotálamo produz hormônios e se relaciona
fisiologicamente e anatomicamente com a glândula hipófise.

Histerectomia: remoção cirúrgica do útero.

Histeroscopia: exame visual do útero, usando um instrumento chamado


histeroscópio.

Hormônio folículo-estimulante (Follicle Stimulating Hormone, FSH):


hormônio produzido pela adeno-hipófise que estimula o desenvolvimento
folicular e a espermatogênese (desenvolvimento dos espermatozoides).

Hormônio Liberador de Gonadotrofinas (Gonadotropin Releasing Hormone,


GnRH): hormônio produzido pelo hipotálamo que atua na glândula hipófise,
promovendo a produção e liberação do FSH e LH, os quais irão atuar nas
gônadas.

Hormônio Luteinizante (Luteinizing Hormone, LH): hormônio produzido pela


glândula hipófise. No homem, o LH estimula a espermatogênese e a produção
de testosterona. Na mulher, o LH estimula a produção de estrógeno e a
ovulação.

Implantação (Embrião): processo de inserção do embrião no interior do tecido


uterino. Também chamada de nidação. A implantação ocorre através do
trofoblasto do blastocisto, o qual posteriormente origina o sinciciotrofoblasto – o
primórdio da placenta.

Impotência: incapacidade do homem de manter relações sexuais. A causa é


física ou psíquica.

Indução de Ovulação: tratamento médico realizado para iniciar a ovulação,


mediante a utilização hormonal.

Infertilidade: é a incapacidade de conceber de um casal após um ano de


relações sexuais não protegidas.

Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (Intracytoplasmic Sperm


Injection, ICSI): procedimento de micromanipulação no um espermatozoide é

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190
injetado diretamente no interior do óvulo para possibilitar a fertilização. Após
isso, o embrião é, então, transferido para o útero.

Inseminação Artificial: é o processo de introdução dos espermatozoides


diretamente no interior da vagina ou no útero. É indicada nos seguintes casos:
baixo volume de sêmen, baixa concentração ou motilidade diminuída dos
espermatozoides ou problemas do muco cervical.

Inseminação Intrauterina (Intrauterine Insemination, IUI): procedimento no


qual o médico coloca os espermatozoides diretamente no interior do útero
através do colo uterino, usando um cateter.

Insuficiência Ovariana: a incapacidade do ovário de responder à estimulação


do FSH proveniente da hipófise.

Laparoscopia: exame da região pélvica, usando um pequeno telescópio,


denominado laparoscópio.

Lúteo: amarelo.

Mórula: estágio após a formação do zigoto, caracterizado por 16 células ou


mais, antes da formação do blastocisto.

Motilidade dos espermatozoides: a capacidade dos espermatozoides de


nadar.

Necrozoospermia: condição na qual todos os espermatozoides estão mortos.

Normozoospermia: ejaculado sem alterações segundo os critérios de


normalidade.

Ovócito fertilizado: ovócito que foi penetrado por um espermatozoide, ou seja,


foi fecundado.

Ovócito: gameta feminino; célula reprodutiva feminina.

Ovogônia: célula que dá origem aos ovócitos primários durante a ovulogênese.

Ovulação: a liberação do ovócito a partir do folículo ovariano. Em um ciclo


endometrial de 28 dias, ocorre no 14º dia.

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191
Pico do Hormônio Luteinizante (Pico do LH): a liberação de hormônio
luteinizante (LH) que causa liberação de um ovócito maduro a partir do folículo
ovariano.

Polizoospermia: concentração espermática maior que 250 milhões/ml ou maior


que 600 milhões por ejaculado.

Pré-embrião: conceito durante as primeiras divisões até a fase de blastocisto.

Pré-zigoto: o ovócito penetrado apresenta o pró-núcleo e o segundo corpúsculo


polar. Estágio antes da fusão dos pró-núcleos masculino e feminino.

Processamento do sêmen: técnicas laboratoriais que removem o plasma


seminal e procuram isolar espermatozoides móveis.

Progesterona: hormônio produzido pelo corpo lúteo durante a segunda metade


de um ciclo endometrial. Esse hormônio espessa o endométrio para o
recebimento do futuro concepto, caso tenha havido fecundação, fornecendo
suprimento sanguíneo e nutritivo para o embrião.

PZD (Partial Zone Dissection, Abertura Parcial da Zona Pelúcida): técnica de


fertilização assistida em que é feita uma abertura na zona pelúcida do ovócito
por micromanipulação que facilita a penetração do espermatozoide.

Reação acrossômica: reação na qual ocorre a liberação de enzimas do


acrossoma do espermatozoide, após adesão na zona pelúcida do ovócito e, que
facilitam a penetração do espermatozoide no ovócito.

Reprodução assistida: inclui as técnicas utilizadas no tratamento da


infertilidade conjugal para obtenção de uma gravidez sem relação sexual.

Síndrome de Hiperestimulação Ovariana: efeito colateral do tratamento de


hiperestimulação ovariana, causando uma grande produção de estradiol que
pode levar, nos casos graves, a derrame pleural, pericárdico, ascite,
desequilíbrio hidroeletrolítico, hipovolemia e fenômenos tromboembólicos.

Swim-up: técnica de processamento ou beneficiamento do sêmen em que se


obtêm espermatozoides de alta qualidade. A amostra do sêmen é centrifugada e
recoberta por meio de cultura e incubada a 37ºC. Essa técnica baseia-se na
velocidade de progressão direcional dos espermatozoides, com a separação de

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192
espermatozoides de alta qualidade e ótima motilidade daqueles com problemas
de motilidade, com alterações estruturais e/ou mortos.

Técnicas de Reprodução Assistida: Técnicas que visam resolver a


infertilidade de casais, as quais envolvem terapias hormonais utilizadas na
indução da ovulação, além de técnicas para aumentar a fertilização do ovócito
pelo espermatozoide.

Teste pós-coito (TPC): exame microscópico do muco cervical realizado após a


relação sexual para determinar a interação e compatibilidade do muco com o
espermatozoide.

Testosterona: hormônio masculino que estimula a espermatogênese e a


formação de características sexuais secundárias masculinas.

Transferência de blastocisto: Os blastocistos, formados cinco dias após a


fertilização, produzidos in vitro, são posteriormente transferidos para o útero.

Transferência de embrião: colocação de um zigoto, que foi fertilizado in vitro,


no interior do útero ou da tuba uterina de uma mulher.

Transferência Intratubária de Gameta (Gamete Intrafallopian Transfer,


GIFT): Técnica em que ovócitos e espermatozoides são colocados no interior
das tubas uterinas, mediante uma cânula especial, para que ocorra a fertilização
in vivo.

Transferência Intratubária de Embriões: técnica de reprodução assistida


semelhante à FIV, em que os pré-embriões obtidos são transferidos para as
trompas uterinas.

Tubas uterinas (Trompas): ductos através dos quais os ovócitos passam até
chegar ao útero. Local no qual ocorre a fertilização ou fecundação.

Ultrassonografia: exame utilizado no lugar dos raios X para visualizar os


órgãos reprodutores.

Útero de aluguel (cessão temporária de útero, mãe substituta): utilização do


útero de uma outra mulher, que não a mãe biológica, para receber os pré-
embriões gerados por técnicas de reprodução assistida.

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Vasectomia: Procedimento cirúrgico de ligadura dos ductos deferentes para o
controle de natalidade.

ZIFT, Zigote Intrafallopian Transfer: Técnica de reprodução assistida em que


os pré-embriões são transferidos diretamente para as trompas por laparoscopia.

Zigoto: estágio após a união do pró-núcleo masculino e pró-núcleo feminino.


Geralmente observado 18 a 24 horas após inseminação ou fertilização.

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194
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