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Diversificação e consolidação
Editores
Moises Zucoloto
Robson Bonomo
Fruticultura Tropical:
Diversificação e consolidação
Volume II
Alegre – ES
CAUFES
2017
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-61890-91-9
CDU: 634.6
ORGANIZADORES
Moises Zucoloto
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (2006). Mestrado em
Produção Vegetal pela UFES (2009). Doutorado em Fitotecnia UFV (2012) e
Pós-Doutorado pela Universidade de Illinois-EUA (2014). É professor da
UFES/CCAE atuando em ensino universitário, extensão e pesquisa, com área
de atuação em Fruticultura.
Robson Bonomo
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFV (1992). Mestrado em
Engenharia Agrícola pela UFV (1994), Doutorado em Engenharia Agrícola
pela UFV (1999). É professor da UFES/CEUNES atuando em ensino
universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em irrigação, manejo
de irrigação, fertirrigação e gotejamento.
AUTORES
Erli Röpke
Técnico Agrícola – Graduado na Escola Agrotécnica Federal de Colatina-ES
(1983); Técnico de Projetos de Desenvolvimento da IECLB (1987/1997);
Empresário/proprietário da empresa Frucafé Mudas e Plantas Ltda
(1995/2017). Consultor na área de Fruticultura.
Moises Zucoloto
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (2006). Mestrado em
Produção Vegetal pela UFES (2009), Doutorado em Fitotecnia UFV (2012) e
Ph.D pela Universidade de Illinois-EUA (2014). É professor da UFES/CCAE
atuando em ensino universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em
Fruticultura.
Robson Bonomo
Graduado em Agronomia pela UFV (1992). Mestrado em Engenharia
Agrícola pela UFV (1994) e doutorado em Engenharia Agrícola pela UFV
(1999). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES). Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase
em Irrigação e Drenagem, atuando principalmente nos seguintes temas:
cafeicultura irrigada, irrigação, manejo de irrigação, fertirrigação e
gotejamento.
CAPÍTULO 1
Fruticultura Sustentável no Brasil ........................................................... 14
CAPÍTULO 2
Desafios do mamão ..................................................................................... 16
CAPÍTULO 3
I Simpósio Capixaba de Fruticultura e Trabalhos desenvolvidos pela
UFES com Frutíferas ................................................................................. 26
CAPÍTULO 4
A cultura da Goiabeira no Estado do Espírito Santo ............................. 41
CAPÍTULO 5
Aspectos de ecofisiologia e estratégias de manejo da bananeira ............ 57
CAPÍTULO 6
A pesquisa com espécies frutíferas no Incaper ........................................ 74
CAPÍTULO 7
A cultura do coqueiro no Espírito Santo .................................................. 88
CAPÍTULO 8
Fruticultura e a Agricultura Familia ..................................................... 101
CAPÍTULO 9
Principais prasgas das frutíferas no Norte do Espírito Santo .............. 114
CAPÍTULO 10
Cultivo do abacaxizeiro fertirrigado ...................................................... 129
Apresentação
Autores
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CAPÍTULO 1
Xico Graziano
Introdução
Existem forças civilizatórias que movem a humanidade. O avanço
tecnológico é uma delas, fruto das incessantes descobertas científicas,
verificada em todos os ramos do conhecimento. A globalização é outra força
incontrolável, arrebentando barreiras, na economia, na comunicação, nos
costumes sociais.
Sustentabilidade deve ser vista nesse prisma, o do avanço civilizatório.
Trata-se de um movimento inevitável, fruto da pegada ecológica, que se torna
crítica pelo aumento da população humana na Terra. A opinião pública global
respalda a defesa ambiental e a justiça social. Goste-se ou não, a agenda da
sustentabilidade se imporá. Nesse raciocínio, pode-se perguntar: vamos nós,
do agro, dominar a agenda da produção sustentável, e aplicá-la devidamente,
ou ficando reticentes, seremos obrigados a engoli-la de qualquer forma?
Queremos ser protagonistas, ou figurantes da agricultura sustentável?
Na fruticultura, como em qualquer ramo de produção agropecuária, as
variáveis ambientais tornam-se crescentemente fundamentais,
obrigatoriamente respeitadas pela cadeia de negócios, da roça até o
consumidor final. A rastreabilidade e, muitas vezes, a certificação de boas
práticas socioambientais se torna uma constante.
Existem, já, tecnologias avançadas que permitem conciliar a produtividade
com o respeito ao meio ambiente. Pode-se comprovar esse sucesso
agronômico no manejo de solos, na irrigação, no controle integrado de pragas
e doenças, por exemplo. Os processos tecnológicos avançados, embora ainda
não utilizados por todos os fruticultores, superam antigos problemas, como a
14
erosão, o uso perdulário da água, as intoxicações e contaminações causadas
pelo excesso de agrotóxicos.
Estamos, porém, ainda, no início do processo de construção da fruticultura
sustentável do futuro. E o Brasil, com sua especial tropicalidade, elevada
diversidade, tradição no campo, apresenta excelentes condições para vencer
esse desafio.
Para tanto, muita pesquisa, com geração de novos conhecimentos
tecnológicos, será necessária. Pesquisa pública e pesquisa nos laboratórios
privados ampliarão, e muito, a fronteira da qualidade ambiental na
fruticultura. Os defensivos agrícolas de quarta geração, não mais
“agrotóxicos”, baseados em moléculas seletivas e biodegradáveis, estão
chegando. Biodefensivos e controle biológico devem evoluir. Na tecnologia
de aplicação de defensivos se espera uma revolução.
A engenharia genética será capaz de gerar plantas mais resistentes,
produtivas, com elevada qualidade nutricional. Sistemas agroflorestais
crescerão, facilitados pelo Código Florestal nas propriedades familiares,
incentivando a fruticultura orgânica.
Após o Acordo geral sobre o clima, patrocinado pela ONU em dezembro
de 2015, em Paris, a economia global entrou na era do baixo carbono. Todos
os setores serão cobrados pela sua responsabilidade contra o aquecimento do
planeta. Emissões de gases de efeito-estufa, eficiência energética, custo
ambiental das tecnologias: abrem-se novas e difíceis equações na
competitividade global.
Estarão os produtores aptos para enfrentar os requisitos da
sustentabilidade? Estarão, para tanto, capacitados? Entenderão os requisitos
da sustentabilidade como obstáculos à sua rentabilidade, ou os enxergarão
como oportunidades de bons negócios?
Fornecer frutas com atestada qualidade socioambiental, direcionadas ao
varejo ou às fábricas processadoras, é a grande tarefa dos produtores rurais,
inseridos na cadeia produtiva da fruticultura nacional. Quebra de paradigmas
e muita pesquisa se vislumbram nos próximos anos. Sem conservadorismo,
acreditando na tecnologia, o Brasil será o líder mundial da fruticultura global.
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CAPÍTULO 2
Desafios do mamão
Introdução
O Entreposto Terminal de São Paulo da CEAGESP, mais conhecido como
ceasa de São Paulo, é um dos treze centros de abastecimento da CEAGESP e
um dos maiores do mundo. São comercializadas aqui, mais de 3 milhões de
toneladas por ano e mais de 11 milhões de quilos por dia. O seu abastecimento
exige o fornecimento, em um ano, de mais de 1.500 municípios de 24 estados
brasileiros e de 14 diferentes países. O varejo tradicional (54%) e a Região
Metropolitana de São Paulo (67%) concentram o destino dos produtos aqui
comercializados. É o local de convergência de produtos originários de
diferentes regiões do Brasil e dos diferentes agentes de produção, transporte
e comercialização: atacado, varejo e serviço de alimentação. É o local ideal
para compreender a realidade e implementar estratégias de mudança. A
qualidade e a quantidade do produto que aqui recebemos é o resultado da
tecnologia aplicada na produção e na pós-colheita, da aptidão agrícola do local
de produção e de uma boa parceria com ‘São Pedro’. O ceasa paulistano
comercializa 10% da produção brasileira de mamão, sendo 64% mamão Solo
e 36% mamão Formosa.
O Centro de Qualidade, Pesquisa e Desenvolvimento da CEAGESP foi
criado na CEAGESP, por demanda da Câmara Setorial de Frutas e a de
Hortaliças da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo, que consideraram como seus principais problemas do setor a
inexistência de padrões de qualidade e a má qualidade das embalagens. A
16
CEAGESP foi encarregada da operacionalização do então criado o ‘Programa
Paulista para a Melhoria dos Padrões Comerciais e de Embalagens de
Hortigranjeiros’, um programa de adesão voluntária e de auto-regulamentação
setorial. A CEAGESP contratou uma equipe de técnicos e começou o trabalho
em 1997.
O nosso trabalho começou com o desenvolvimento das normas de
classificação, uma linguagem de caracterização mensurável do tamanho e da
qualidade das frutas e hortaliças frescas, para ser utilizada na negociação entre
o produtor e o seu primeiro comprador.
Dedicamos muitas horas do nosso trabalho ao mamão com o
desenvolvimento das normas de classificação, a tentativa de acabar com o
mamão Formosa a granel em 2002, o apoio a pesquisas de pós-colheita de
mamão, a participação no Programa de Produção Integrada de Mamão, o
desenvolvimento de Guia de Variedades, de Padrões Mínimos de Qualidade,
de equivalência das diferentes denominações de classificação com uma
característica mensurável, de um sistema de informação de comercialização
semanal para os produtores de mamão, o desenvolvimento de um gabarito
visual de avaliação da qualidade do mamão e a determinação dos atributos
responsáveis pela diferenciação de valor do mamão Formosa, o estudo da
evolução da embalagem.
As Normas de Classificação de Mamão do então denominado ‘Programa
Brasileiro para a Modernização da Horticultura’ foram desenvolvidas por
demanda do MAPA-Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em
2002. Os países europeus importadores de frutas brasileiras exigiam que o
Brasil, como país exportador, tivesse padrões de qualidade e tamanho dos
produtos exportados. Foram feitas reuniões com produtores, pesquisadores e
técnicos de todas as regiões produtoras do Brasil, para se chegar a um
denominador comum. As normas de classificação abrangem a caracterização
dos grupos varietais, do tamanho e da qualidade, a morfologia do produto e
um glossário com os termos utilizados. A melhor característica mensurável
do tamanho e a amplitude de variação de tamanho tolerada dentro de cada lote
são definidas. A diferença de tolerância aos defeitos muito graves, graves,
leves e muito leves é utilizada para definir as diferentes categorias de
qualidade. No caso do mamão ficamos insatisfeitos, na época, com o conceito
de imaturo, que não estabeleceu o conteúdo mínimo de sólidos solúveis. Os
frutos de mamão de boa qualidade comercializados no ceasa paulistano
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apresentam um conteúdo de sólidos solúveis igual ou superior a 12º Brix.
Hoje, numa revisão da norma atual, faríamos mudanças na caracterização do
tamanho, da doçura e de alguns critérios de qualidade (Figura 1).
18
Existe grande diferença de valor do mesmo produto, no mesmo dia, entre
diferentes tamanhos e qualidades, na venda do atacado para o varejo. A
compreensão dos atributos que determinam a diferença de valor e da
importância de cada um é imprescindível para que o produtor consiga
melhorar o seu produto e a sua rentabilidade. Durante três anos, como parte
de um projeto de apoio do governo japonês aos produtores de Jaíba na
comercialização de frutas, foram adquiridas e avaliadas a cada semana, uma
caixa de mamão dos lotes de maior e menor valor no ceasa paulistano e no
ceasa de Contagem em Minas Gerais, de Mamão Formosa. Os lotes de menor
valor foram escolhidos entre os lotes vendidos normalmente, sem problemas
de descarte ou queima de preço. A avaliação utilizou o gabarito visual
desenvolvido pelo Centro de Qualidade, Pesquisa e Desenvolvimento da
CEAGESP, aferindo notas para cada atributo de cada fruto na caixa, com
exceção dos atributos e homogeneidade de tamanho e coloração, avaliados na
caixa. Os resultados mostraram uma diferença média de valor por qualidade
de 63% e máxima de 165%, entre lotes de mesmo tamanho e variedade, no
mesmo dia. Os atributos mais importantes na valoração do Mamão Formosa,
em ordem de importância são a homogeneidade de tamanho, a coloração da
polpa, coloração da casca, danos mecânicos, defeito de casca, conteúdo de
sólidos solúveis, sanidade, defeito de formação e defeito de polpa. As
operações mais importantes na diferenciação de valor são a classificação
(homogeneidade de tamanho e de coloração, a escolha do ponto de colheita
(coloração da polpa, da casca e conteúdo de sólidos solúveis), o manuseio
(dano mecânico. O gabarito de avaliação do Mamão Formosa pode ser
encontrado e baixado em www.hortibrasil.org.br (Figura 2 e 3).
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Figura 2. Gabarito de avaliação da qualidade do Mamão Formosa
20
Figura 3. Frutos considerados de maior e menor valor.
21
Todas as informações estão disponíveis em www.hortiescolha.com.br (Figura
4).
Figura 4. Equivalência
22
Figura 5. Transporte de mamão Formosa a Granel.
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A ocorrência de problemas pós-colheita em mamão é assustadora. A tese
de doutoramento de Elaine Costa-Cerqueira Pereira, orientada pelo professor
Ângelo Pedro Jacomino da ESALQ em 2014, mostrou uma triste realidade,
95% de lesões e 93% de podridão em mamão Golden, em embalagem de
madeira, transportado sem paletização e sem refrigeração e 52% de lesões e
29% de podridão, em caixa de papelão, paletizado e transportado refrigerado,
depois de 6 dias de armazenamento. Os dois lotes foram colhidos no mesmo
dia, da mesma lavoura e foram mantidos a 23ºC e 85% UR durante os nove
dias de avaliação.
O futuro da produção de mamão é preocupante. Ele vem sendo expulso,
como aconteceu no Estado de São Paulo, de outras regiões brasileiras como o
Jaíba. É urgente a incorporação aos mecanismos legais da Defesa Sanitária
Vegetal de regras que previnam a proliferação das pragas e moléstias
agrícolas. Hoje, os órgãos de governo federais e estaduais ligados à
agricultura não possuem mecanismos legais de prevenção da proliferação de
pragas e moléstias vegetais. O único mecanismo legal que permite a punição
pela promoção da proliferação de pragas e moléstias vegetais é do Ministério
do Meio Ambiente. O Artigo 61 da Lei 9605/98 determina que 'Disseminar
doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária,
à fauna, à flora ou aos ecossistemas’. Muitas culturas importantes foram
expulsas do Estado de São Paulo, como o mamão e o maracujá e muitas
técnicas como variedades resistentes, técnicas e insumos perderam
rapidamente a sua eficácia. Medidas simples como a exigência de erradicação
das lavouras abandonadas, a erradicação das plantas com virose, poderiam ter
sido utilizadas e evitado a situação atual. O atual sistema de manejo de solo
está destruindo os solos frágeis dos tabuleiros costeiros.
A competência e a dedicação dos técnicos da INCAPER viabilizaram a
Produção Integrada de Mamão e conseguiram regularizar o registro de
agrotóxicos para a cultura. A pergunta que fica é: As recomendações da
Produção Integrada estão sendo adotadas pelos produtores de mamão?
O futuro do consumo do mamão é preocupante. O sabor do mamão é feito
na produção. O conteúdo de sólidos solúveis não cresce depois da colheita. O
prazer no consumo depende do ponto de colheita do fruto. A colheita do fruto
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maduro exige maiores cuidados na produção, na colheita e na pós-colheita,
mas é o único caminho para um futuro promissor (Figura 6).
Como já dizia o Dr. Beauchamp, em 9 de março de 1999, numa conferência
do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos da América: _ Nenhum
alimento ou bebida, mesmo muito saudável, promoverá benefícios .... senão
for palatável e portanto não consumido ... Os consumidores têm nos dito, alto
e claro, que o sabor determina o prazer no consumo.
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CAPÍTULO 3
Moises Zucoloto
Jalille Amim Altoé Freitas
Bruna Beltrame Ronchi
Introdução
A fruticultura no Espírito Santo representa grande importância devido à
grande demanda de mão de obra e o capital gerado ao longo da sua cadeia.
Porém, segundo Carvalho et al. (2015), na última década, o Espírito Santo
vem diminuindo a produção de frutas, devido a redução das áreas de
mamoeiro e principalmente de maracujazeiro. Diante dessa situação, medidas
devem ser tomadas para estimular cada vez o fortalecimento dessa importante
área da agropecuária capixaba. Devido à enorme demanda em favor de
consolidar e diversificar a Fruticultura Capixaba, criou-se o I Simpósio
Capixaba de Fruticultura, associado também a divulgação dos resultados de
pesquisas desenvolvidas pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
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Figura 1. Porcentagem das diferentes classes que participaram do I Simpósio
Capixaba de Fruticultura.
O total de participantes foi de 602 pessoas durante todo o evento, o que fez
com que o auditório permanecesse praticamente cheio durante grande parte
do dia (Figura 2). Em destaque na figura 2, a presença de agricultoras
indígenas da aldeia Pau Brasil do munícipio de Aracruz-ES.
28
Figura 2. Vista frontal dos participantes no auditório Central do CEUNES
no dia do Simpósio – São Mateus - ES.
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Tabela 2. Detalhamento das despesas para a realização do I Simpósio
Capixaba de Fruticultura.
Livros 7.440,00
Panfletos 970,00
Cartazes 858,00
Gráfica Bloquinhos 100,00
Crachás 567,00
Pastas 788,00
Faixas 150,00
Outdoor 205,00
Subtotal 11.078,00
Camisas 815,00
Aluguel de som e 500,00
tendas
Outras despesas Serviços da Projagro 3.000,00
Brindes 400,00
Divulgação 1.000,00
Outros 1.189,00
Subtotal 6.904,00
TOTAL DAS DESPESAS 26.546,00
Bananeira
Unidades demonstrativas foram instaladas na UFES-CEUNES para avaliar
a adaptação de materiais advindos da EMBRAPRA Mandioca e Fruticultura.
Destaca-se a cultivar BRS Princesa, do tipo maça, que além de ser resistente
ao mal-do-panamá, apresenta sabor de fruto semelhante a cultivar maça. Com
relação a cultivares do tipo Prata, a BRS Platina é uma alternativa para
agricultores familiares com baixo a média nível tecnológico, já que é
resistente a Sigatoka Negra e não demanda de grande nível tecnológico
quando comparada com a Prata-Anã (FISCHER et al., 2016).
Avaliou-se os padrões de crescimento de diferentes cultivares de bananeira
na unidade demonstrativa do CEUNES (Tabela 3) (RONCHI et al., 2016).
A cultivar Pacovan Ken apresentou maior potencial produtivo, com cerca
de 26,7 t ha-1, diferindo estatisticamente das demais cultivares do subgrupo
Prata. Outro fator a ser considerado se refere ao menor custo de produção, já
tanto a ‘Pacovan Ken’ quanto a ‘BRS Platina’ são resistentes a Sigatoka
Negra. Isso faz com que essas cultivares tornem-se excelentes opções para
produtores menos tecnificados, já que requerem menores investimentos.
A ‘BRS Princesa’, além de se destacar por ser resistente ao mal-do-
panamá, apresentou boa produtividade quando comparada a tradicional
cultivar Maça. Ainda, por meio de testes informais, o sabor dos frutos foi bem
aceito por provadores voluntários.
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Tabela3. Dias do plantio à emissão do cacho (DPEC), dias do plantio à
colheita (DPC) e produtividade de sete cultivares de bananeira no Norte do
Espírito Santo.
DPEC DPC Produtividade
Cultivar (Dias) (Dias) (t ha-1)
Prata-Anã 161 375 20,51 b
Pacovan Ken 187 365 26,76 a
BRS Platina 166 368 19,33 b
Maçã 192 402 12,34 c
BRS Tropical 197 375 8,85 c
Caipira 187 402 15,60 c
BRS Princesa 197 368 13,97 c
Média 183 379 16,76
Médias seguidas de letras iguais na coluna, não diferem entre si, pelo teste de
Scott Knott, ao nível de 5% de probabilidade.
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Citrus
A citricultura é tida com enorme potencial para a diversificação do Norte
do Estado. Visando essa oportunidade, dois porta-enxertos, sendo eles o
Citromelo Swingle e o Citrandarim Riverside e doze copas de lima ácida
Tahiti estão sendo testadas em São Mateus. Pretende-se obter resultados
suficientes para indicar as melhores combinações entre os porta-enxerto e
copas de lima ácida Tahiti para o Estado do Espírito Santo.
Ainda em relação a lima ácida Tahiti, está em desenvolvimento um
trabalho com diferentes dosagens e forma de aplicação de Paclobutrazol
(PBZ) com o objetivo de realizar o escalonamento da produção, já que a
concentração da produção tem afetado os lucros.
Mangueira
Em decorrência a alternância de produção em mangueiras ‘Ubás’ no
Espírito Santo, está em andamento um trabalho com diferentes doses de PBZ
e desponte dos ramos no município de Colatina (Figura 3). O experimento
está em seu segundo ano e visa identificar a dose ideal e se o desponte de
ramos é eficiente na uniformização do florescimento, garantindo assim,
menor alternância de produção.
Além disso, como as perdas pós colheita com frutos de manga ‘Ubá’ são
altas, avaliou-se a utilização de armazenamento refrigerado para reduzir tais
perdas. Verificou-se que frutos armazenados por quatorze dias a temperatura
de 15 °C podem ser comercializados em até 6 dias, já armazenados por 28
dias, os mesmos devem ser consumidos em até três dias.
Amostras de polpa de frutos de mangueira ‘Ubá’ foram enviados para a
Universidade de West Virginia University – EUA para determinação de
compostos antioxidantes, fenólicos e voláteis, já que é uma fruta pouco
estudada.
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Figura 3. Plantas antes (A) e depois da poda (B). Na foto consta o Senhor
Eduardo Glaber, proprietário da área.
Mamoeiro
Está em estudo a diagnose precoce de danos por injúria mecânica em frutos
de mamoeiro. O teste é feito por meio de tetrazólio, produto que reage em
locais onde a atividade das células é alta. Após testes preliminares, verificou-
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se que o composto reage com rapidez e é capaz de identificar os danos
causados por impacto, atrito e compressão, que culminam em danos
mecânicos e, consequentemente, depreciação dos frutos. Ainda, o
experimento visa identificar o mais rápido possível o dano e também, detectar
o local onde ocorreu. Também, pretende-se avaliar os diferentes tipos de
embalagens usados na cadeia produtiva do mamoeiro.
A equipe de trabalho da UFES realizou pesquisas com a cultivar Golden
visando estender o tempo de prateleira quando submetidas a diferentes
dosagens de vapor de etanol. Segundo Ronchi et al. (2016), as concentrações
usadas apresentaram alterações nas características dos frutos durante o
período de pós-colheita, como: firmeza, pH e perda de massa, se mostrando
uma técnica eficiente, de baixo custo e de fácil manuseio. Porém, novos
estudos devem ser feitos.
Abacaxizeiro
Avaliou-se diferentes frequências de fertirrigações de nitrogênio e potássio
em abacaxizeiro. Observou-se que tanto fertirrigações semanais como
mensais não interferiram na produção e qualidade dos frutos de abacaxizeiros
(RIBEIRO et al., 2015). As referidas informações estão detalhadas no
Capítulo 10.
Semelhante ao experimento de bananeira, citado anteriormente, está em
andamento a fertirrigação de abacaxizeiro por meio de aplicações semanais
de doses crescentes de Nitrogênio (128, 256, 384 e 640 kg/hectare/ano) e
Potássio (192, 384, 576 e 960 kg K2O/hectare/ciclo). O estudo visa identificar
a dosagem que apresente maior produção na região Norte do Espírito Santo.
Maracujazeiro
Em maracujazeiro, um grupo de pesquisa coordenado pela Professora
Milene Miranda Praça Fontes estuda a caracterização do genoma de espécies
cultivadas no Espírito Santo. O estudo visa o pré-melhoramento e o
estabelecimento de bancos de germoplasma, com intuito de gerar frutos mais
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produtivos e resistentes a doenças, além de agregar valor às características
não exploradas pelos produtores.
Em parceria com a Penitenciaria de São Mateus, Carítas Diocesana de São
Mateus e a Empresa Trop Frutas, realizou-se experimentos com a finalidade
de avaliar a influência dos estádios de maturação (45, 50, 55 e 60 dias após a
antese) e tratamentos pré-germinativos na germinação do maracujazeiro
amarelo. Diante dos resultados, verificou-se que o estádio de maturação
possui influência significativa na porcentagem de emergência das plântulas e
que frutos colhidos entre 50 e 55 dias após a antese apresentaram maiores
índices de germinação (RONCHI et al., 2015).
Physalis peruviana
A Physalys peruviana L. é uma fruta considerada exótica, originaria da
Amazônia e dos Andes. A fruta tem como característica o sabor doce e
expressivo conteúdo de vitaminas A e C, ferro e fósforo. A inserção de novas
culturas, como a Physalis ainda é inovadora no Espírito Santo, porém já
despertou o interesse na região, uma vez que vem sendo consumida no Norte
do estado do Espírito Santo tanto na forma in natura quanto em decorações
de bolos e doces.
Diante do contexto e da oportunidade de diversificação que a cultura pode
oferecer aos produtores do Norte do estado do Espirito Santo, alguns trabalhos
com Physalis peruviana estão sendo realizados no Campus da UFES em São
Mateus, como a caracterização fenológica das plantas; estádios de maturação
do cálice dos frutos e formas de armazenamento na germinação de sementes
e caracterização do ponto de colheita dos frutos. Esses estudos visam obter
conhecimentos do desenvolvimento da espécie na região Norte do Espírito
Santo e proporcionar informações sobre as épocas oportunas para a realização
das práticas culturais e produção de frutos de qualidade.
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Pretende-se criar uma unidade demonstrativa na UFES com todas as
culturas em potencial e outras vinte e duas nos onze municípios do Caparaó
Capixaba. Espera-se que o polo sirva como garantia de produção, implicando,
ainda, a confiança por parte dos produtores para a implantação de novas áreas
e a ampliação dos investimentos em áreas já existentes. Assim, haverá maior
necessidade de mão-de-obra e consequentemente, aumento do emprego e da
renda no campo, favorecendo a permanência do homem no campo. Ainda,
servirá como alternativa para pessoas alocadas nos grandes centros de forma
precária e desumana, a retornar para o campo e viverem em condições
confortáveis. Portanto, o Polo servirá como alternativa para uma região
dependente, quase que exclusivamente, da criação de bovinos e café.
Conclusões
A necessidade de pesquisas são incessantes, porém, a cada dia,
percebemos que as Instituições devem caminhar mais próximas das demandas
dos produtores e da iniciativa privada. Da mesma forma, os atores envolvidos
devem se aproximar das Instituições de pesquisa, pois só assim, todos serão
beneficiados.
Infelizmente, vivemos em um momento de instabilidade, no entanto, o
agronegócio é o propulsor da nossa economia a anos, o que faz com que
tenhamos esperança de dias melhores quando passarmos por essa turbulência.
Referências
CARVALO, A.J.C de; FREITAS, J.A.A.; PESSANHA, P.G.O. Situação da
Fruticultura Brasileira e Capixaba. In: ZUCOLOTO, M. SCHILDT, E.R.
COELHO, R.I. Fruticultura Tropical: Diversificação e consolidação. Alegre:
CAUFES, 2015. Capítulo 1, p.13-22.
FERREIRA, H. A. L.; SILVA, F. O dos R.; RONCHI, B. B.; FALQUETO,
A. R.; ZUCOLOTO, M. Relação entre as dimensões da terceira folha e a
área foliar total de bananeiras do tipo maçã. In: XXIV CONGRESSO
BRASILEIRO DE FRUTICULTURA. 24, 2016. São Luís – MA.
FISCHER, L de R. Fenologia e caracterização físico-química dos frutos de
bananeiras no Norte do Espírito Santo. 2016. 22 f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Bacharelado em Agronomia) - Centro Universitário Norte do
Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito, São Mateus.
39
FISCHER, L de R.; MACEDO, I.; KUHLCAMP, K. T.; BARROS, F. L de
S.; MOREIRA, S. O.; ZUCOLOTO, M. Correlações entre caracteres
morfoagronômicos e de reação a doenças em mamoeiro da cultivar Rubi
Incaper 511. In: XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA. 24., 2016. São Luis – MA.
OSIPI, E. A. F.; NAKAGAWA, J. Efeito da temperatura na avaliação da
qualidade fisiológica de sementes do maracujá- doce (Passiflora alata
Dryander). Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 27, n. 1, p.
179-181, 2005.
RIBEIRO, A. M. S. Produtividade e qualidade pós-colheita de
abacaxizeiro fertirrigado em função de diferentes parcelamentos de
nitrogênio e potássio. 2015. 32f. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Agricultura Tropical, Centro Universitário Norte do Espírito
Santo, Universidade Federal do Espírito, São Mateus.
RONCHI, B. B.; FISCHER, L de R.; EFFEGEM, C.; SILVA, F. O dos R da;
ZUCOLOTO, M. Qualidade pós-colheita de mamão cv. Golden submetido
ao vapor de etanol. In: XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA. 24., 2016. São Luis – MA
RONCHI, B. B.; FISCHER, L de R.; SILVA, F. O dos R. da; AMORIM, E.
P.; ZUCOLOTO, M. Fenologia de diferentes cultivares de bananeira no
estádio de florescimento no Norte do ES. In: XXIV CONGRESSO
BRASILEIRO DE FRUTICULTURA. 24., 2016. São Luis – MA.
RONCHI, B. B.; FISCHER, L de R.; SILVA, F. O dos R da; PELEGRINI, H.
R.; ZUCOLOTO, M. Germinação de sementes de maracujazeiro amarelo
em função do tratamento pré germinativo e do estádio de maturação. In:
XIX ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA,
XV ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO E V
ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA. 19., 2015. São José dos
Campos - SP. Anais. São José dos Campos: Universidade do Vale da Paraíba,
2015. 1 CD.
SILVA, F. O dos R da; ZUCOLOTO, M.; BARROCA, M. V.; RONCHI, B.
B.; FISCHER, L de R. Sistema radicular do abacaxizeiro ‘Pérola’ em
função do parcelamento da adubação e alternativas de manejo da
fertirrigação. In: XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA. 24., 2016. São Luis – MA.
40
CAPÍTULO 4
Erli Röpke
Introdução
A goiabbeira (Psidium guajava L.) tem sua origem na América Tropical e
é um alimento muito nutritivo, pois tem sais minerais e vitaminas,
principalmente a vitamina C. O Brasil é um dos maiores produtores de goiaba
do mundo, seguido por países como a Índia, Paquistão, México, Egito,
Tailândia, entre outros. Os Estados de São Paulo e Pernambuco são os maiores
produtores no Brasil.
42
Figura 1 – Paluma, Experimento Frucafé, Linhares-ES – foto Erli Röpke
43
2- Pedro Sato: goiaba vermelha, plantas vigorosas, fruto rugoso e
saboroso (Figura 2). Surgiu provavelmente no Rio de Janeiro e é muito
plantada nos Estados de SP e MG, como opção de goiaba para mercado
de mesa. Pós colheita razoável, porém, menos produtiva, se comparada
à Paluma.
44
3- Tailandesa: goiaba vermelha, frutos grandes e rugosos, produtiva e
com plantas vigorosas (Figura 3). Surgiu no Estado de SP, onde
expandiu-se rapidamente nos últimos 05 anos entre os produtores
como opção de goiaba para mesa. Esta cultivar não está registrada no
RNC (Registro Nacional de Cultivares), portanto sua multiplicação e
comercialização de mudas está ocorrendo de modo irregular. Também
sofreu ataque de Pinta preta (Guignardia psidii), doença não comum
em goiaba. Pós-colheita considerada boa.
45
4- Cortibel RM (Rugosa Média): goiaba vermelha, frutos rugosos de
sabor incomparável, plantas vigorosas e rústicas (Figura 4). Surgiu no
ES, fruto de melhoramento realizado pelo Sr. José Corti/Frucafé
Mudas. Muito indicada para o mercado de frutos de mesa e para
regiões mais frias e úmidas, pois é muito resistente à ferrugem,
bacteriose e antracnose. As maiores áreas de plantio desta cultivar
estão na região de Barbacena-MG, na região serrana do ES e em
Goiânia-GO. Pós-colheita dos frutos é satisfatório.
46
5- Cortibel RG (Rugosa Grande): goiaba vermelha, frutos rugosos e
grandes, plantas vigorosas e muito produtivas (Figura 5). Surgiu no
ES, fruto de melhoramento realizado pelo Sr. José Corti/Frucafé
Mudas. Muito indicada para o mercado de frutos de mesa, pois
apresenta tamanho médio/grande dos frutos, rugosidade, textura firme
e polpa crocante. Está expandindo por todo o Brasil. Pós-colheita
excelente com indicação para mercados distantes e até a exportação.
47
6- Cortibel SLG (Semi Lisa Grande): goiaba vermelha, frutos grandes e
saborosos, plantas vigorosas e muito produtivas (Figura 6). Surgiu no
ES, fruto de melhoramento realizado pelo Sr. José Corti/Frucafé
Mudas. Indicada para o mercado de frutos de mesa, pois apresenta
tamanho médio/grande dos frutos, textura firme da polpa e não libera
cheiro forte para ambiente quando está madura. Está expandindo-se
por todo o Brasil. Pós-colheita muito boa com indicação para mercados
distantes e exportação.
Espaçamento e plantio
Os espaçamentos utilizados pelos produtores e/ou recomendados podem
variar conforme relevo, tamanho do pomar e se o objetivo é para frutos de
mesa ou indústria. Para indústria recomenda-se 7m x 5m, média de 35m² a
40m² por planta. Pomares para frutos de mesa recomenda-se 6m x 3,5m,
média de 18m² a 25m² por planta. Há produtores aderindo à plantio mais
adensados, mas também, deverá intensificar as atividades de manejo, pois
pode trazer mais pragas e dificuldade na mecanização. Na Frucafé Mudas em
Linhares-ES, está sendo implantado um experimento (2017/2025) com 39
cultivares de goiabeira com 09 repetições, com espaçamentos que iniciam
com 6 x 3m (555 plantas/ha) até mais adensados com 3 x 2m (1.666
plantas/ha). Para o pequeno produtor, que dispõe de pouca área para plantio,
o adensamento pode ser uma excelente opção, podendo em alguns casos,
dobrar sua produtividade por hectare.
Irrigação
O manejo de pomar de goiabeira sem irrigação no ES é inviável, pois os
períodos de chuvas são curtos e muito mal distribuídos. Para colher goiaba o
49
ano todo é necessário irrigar, pois as plantas exigem quantidades diferentes
de água durante o ciclo. O sistema de irrigação mais indicado para goiabeira
é o de microaspersão com vazão entre 37 e 70 litros por hora. Há produtores
que utilizam microjets, microspray e gotejamento, até a primeira poda de
produção, com instalação dos microaspersores a partir desta fase. A
quantidade de água varia com a idade do pomar, tipo de solo e temperatura.
Em solos mais arenosos recomenda-se irrigar mais vezes (todo dia, por ex.) e
com menos tempo e, em solos mais argilosos pode-se irrigar com maior
quantidade de água e menor frequência (2 ou 3 vezes por semana, por ex.).
Pragas e Doenças
Do mesmo modo que a goiaba é um alimento importante para o ser
humano, também é para muitos insetos e microrganismos da natureza.
Portanto, é necessário um monitoramento constante do pomar, a fim de
realizar atividades de manejo adequados e fazer prevenção para as pragas não
danificarem o pomar e os frutos. Para que o produtor faça o manejo e
prevenção adequados das pragas, ele necessita em primeiro lugar de conhecer
as fases em que ocorre os danos as plantas ou aos frutos, horário de possível
ataque, condições favoráveis à sua proliferação vetores, inimigos naturais,
entre vários outros.
Para ajudar na identificação, a seguir será descrito algumas das pragas mais
importantes no cultivo de goiabeira no ES, numerando-as na sequência que
atacam desde a poda à colheita.
1- Tripes – inseto bem pequeno (tipo uma larva) de cor preto e/ou vermelho
que ataca os ponteiros da planta, botões florais e goiabas novas. Ataca o ano
todo, sendo mais intenso entre os meses de setembro a março. Controle com
pulverizações preventivas.
2- Ácaro branco - Inseto muito pequeno, praticamente invisível a olho nu.
Ataca as folhas novas do ponteiro da planta, deixando-as com tamanho menor,
retorcidas e com cor amarelo-claro (como se a planta estivesse num local
sombreado). Inibe o crescimento da planta e dos botões florais. Aparece
principalmente, em períodos que não chove. Fazer pulverizações contínuas
com produtos piretróides, o que pode intensificar o aparecimento de ácaros
no pomar. Controle preventivo com pulverizações de Calda Sulfocálcica e
inseticidas/acaricidas.
3- Psilídio – inseto pequeno que ataca a bordadura da folha, fazendo com que
50
essa se enrole e apresente uma cor roxeada. Causa grandes prejuízos se não
controlado logo no início, pois paralisa o crescimento da planta e dificulta o
controle. Pode ocorrer o ano todo, sendo mais intenso de fevereiro a outubro.
Controle com pulverizações no início da infestação.
4- Ferrugem – doença fúngica que ataca folhas e frutos. Nas folhas apresenta
áreas arredondadas na forma de um “pó” amarelo na parte inferior (de baixo)
das folhas. Nos frutos, ataca sua superfície. Maior ocorrência em períodos
chuvosos e quentes (janeiro a abril). Controle com podas adequadas e
pulverizações preventivas.
5- Gorgulho – inseto de tamanho médio (parece um caruncho de milho
gigante), de cor preto-acinzentado. Ataca os ponteiros da planta fazendo um
furo no ramo, paralisando seu crescimento. Nos frutos (tamanho de um
pêssego) fazem perfurações e depositam um ovo que se transforma numa
larva branca e grande, que inutiliza todo o fruto (não serve nem para a
indústria). No local perfurado aparece uma mancha escura do tamanho de
0,5cm. Ataca ano todo, sendo mais intenso de outubro a março. Controle com
eliminação e catação dos frutos atacados e pulverizações preventivas.
6- Moscas-das-frutas – mosca pequena, de cor preto-amarelada. Deposita os
ovos na fruta que se transformam em pequenas larvas brancas (bicho da
goiaba), tornando-o inútil para o mercado de fruto in natura. Ataca o ano todo,
sendo mais intenso de outubro a março. Controle com armadilhas de garrafas
pet, ensacamento dos frutos e pulverizações preventivas.
7- Antracnose – doença que ataca os frutos em fase de amadurecimento e
pós-colheita, provocando pequenas manchas pretas que vão crescendo e
amolecendo o fruto. Frutos que sofreram ataques de insetos (Ex. tripes,
ácaros, etc.) quando novos são mais susceptíveis ao ataque da Antracnose.
Controle de insetos no fruto, irrigação e adubação adequada podem evitar a
Antracnose. As primeiras colheitas sempre apresentam mais problemas com
Antracnose. Prevenção e controle através pulverizações com fungicidas.
Outras pragas que também podem atacar a goiabeira e seus frutos:
cochonilhas, formigas cortadeiras, ácaro vermelho, percevejos, besouros,
mosca branca, vaquinhas, lagartas, broca do tronco, nematoides, etc. Estas
pragas são chamadas de pragas secundárias, pois pomares bem cuidados
normalmente não apresentam problemas com essas pragas, mas mudanças
bruscas de clima podem dar condições para o desenvolvimento rápido de uma
praga ou doença. O uso excessivo de nitrogênio nas adubações, podem
51
provocar a proliferação mais rápida de várias pragas na goiaba. Não há muitos
produtos registrados para controle fitossanitário em goiabas no Brasil,
principalmente inseticidas. É necessário intensificar pesquisas e
posicionamento dos produtores de goiaba para aumentar o leque de produtos
registrados, para que a comercialização no mercado interno e as exportações
sejam seguras.
Podas
A poda é a atividade de manejo mais importante no cultivo da goiabeira,
tanto as podas de formação das plantas, quanto as podas de produção. A poda
pode determinar a quantidade e a qualidade dos frutos que serão colhidos,
portanto, o produtor deve investir em treinamento para não errar nas podas.
Até o terceiro ano de idade, as plantas de goiabeira estarão em formação,
mesmo já tento passado por cerca de três podas de produção. Até alguns anos
atrás, os produtores de todo Brasil utilizavam podas de formação de plantas
mais abertas e grandes (até 6m de diâmetro de copa), porém, com a expansão
da ideia de adensamento, cada vez mais os produtores estão compactando as
plantas com podas mais curtas, sendo toda a formação feita com tesoura de
poda, sem escoramento ou amarração de ramos. Se considerarmos um pomar
plantado em ambiente tropical, teremos a seguinte cronograma de poda: 1ª
poda de formação (entre 90 e 120 dias após o plantio) com o corte do ramo
principal (guia) cerca de 40cm de altura (Figura 7); 2ª poda de formação (entre
120 e 160 dias após plantio) com corte das ponteiras dos ramos laterais em
cerca de 30 a 40cm do tronco (Figura 8); 3ª poda de formação (entre 160 e
210 dias após o plantio) com corte novamente dos ponteiros dos ramos que
brotaram após a 2ª poda em cerca de 30 a 40cm. Após a 3ª poda a planta estará
com cerca de 20 ramos que vão crescer à vontade até ficarem maduros (com
pelo menos 6 pares de folhas no ramo de cor marrom). 1ª poda de produção
(cerca de 10 a 12 meses após o plantio) que consiste na poda drástica de todos
os ramos (podar na parte marrom) em cerca de 20 a 30cm da última poda
(Figura 9 e 10). Todos os ramos vão lançar de 1 a 3 brotos com botões florais
que darão origem à primeira colheita (cerca de 20 a 40kg de frutos por planta)
6 meses após a poda. 2ª poda de produção (ocorrerá cerca de 8 meses – 34 a
36 semanas após a 1ª poda de produção). 3ª poda de produção (ocorrerá cerca
de 8 meses – 34 a 36 semanas após a 2ª poda de produção) (Figura 11). 4ª
poda de produção (ocorrerá cerca de 8 meses – 34 a 36 semanas após a 3ª
52
poda de produção). Nesta fase, as plantas estarão com cerca de 36 a 40 meses
de idade e totalmente formadas com cerca de 200 ramos de produção, com
capacidade de produzir entre 600 e 800 frutos a cada 8 meses. É bom ressaltar
que algumas cultivares (Paluma, por ex.) necessitam de podas de produção
mais alongadas nos ramos e outras mais curtas (Cortibel RG, por ex.).
53
Figura 9 – Planta apta para a 1ª poda de produção
54
Manejo em talhões e ciclo de produção
A goiabeira é uma das poucas frutas que podem ser manejadas em
quaisquer regiões do Brasil (exceção para climas muito frios), e produzir o
ano todo. Para produzir o ano todo, o manejo do pomar em talhões é
fundamental, pois o produtor consegue seguir uma agenda de atividades que
coincide com o ciclo das plantas e frutos. Assim, o produtor pode alterar
volume de irrigação durante o ciclo, pulverizar e respeitar carência dos
produtos, fazer raleio dos frutos na hora certa, colher todos os dias numa
quantidade menor de plantas, entre outras. Há variações no ciclo das
cultivares entre a poda e o início da maturação dos frutos, por ex. a Cortibel
RM inicia com 165 dias, a Paluma com 175 dias e a Cortibel RG com 190
dias, podendo sofrer alteração para 10 dias menos ou mais, de uma região para
outra. Considerando que o ciclo entre uma poda de produção e outra, vai de
224 dias a 252 dias (32 a 36 semanas), o produtor deve criar uma agenda
semanal de atividades para cada talhão. Para as cultivares mais precoces
(Cortibel RM, Paluma), sugerimos um número mínimo de 08 talhões e para
as mais tardias (Cortibel RG), um mínimo de 09 talhões, ambos os casos com
podas de um novo talhão a cada 28 dias (04 semanas). Para garantir uma
produção semanal mais estável em volume de frutos, há produtores que fazem
podas a cada 14 dias, o que dobra o número de talhões.
Colheita e comercialização
Como descrito anteriormente, o produtor é que escolhe o dia que quer
colher. Mas é muito importante definir anteriormente para quem vai vender,
mercado de mesa (feiras, supermercados, CEASAs) ou para a indústria. O
ponto de colheita do fruto e sua embalagem vai determinar como este fruto
vai chegar ao consumidor final. As cultivares com melhor pós colheita, vão
fazer a diferença quando o mercado é mais longe ou quando o produtor
exportar. O resfriamento do fruto logo após a colheita e o transporte em
ambiente resfriado, também vão aumentar a vida útil dos frutos.
Normalmente, faz-se 2 ou 3 colheitas no pomar por semana, mas há
produtores que preferem colher todos os dias, assim, sempre terá frutos no
mesmo padrão de maturação. Há necessidade de mais pesquisas nesta área de
pós-colheita com goiabas, principalmente das novas cultivares.
55
Conclusão
A cultura da goiabeira é uma excelente opção de emprego e renda no
campo, pois proporciona colheita e faturamento o ano todo. Também é um
desafio, pois exige mais precisão e qualidade nas decisões e atividades dos
produtores. No ano de 2000, escrevi a frase a seguir em um documento para
um grupo de produtores em que prestava assistência técnica: “O SUCESSO
NO CULTIVO DA GOIABEIRA ESTÁ EM OBSERVAR
CONSTANTEMENTE O POMAR, SEGUIR AS RECOMENDAÇÕES E
NÃO DAR OUVIDO À PESSOAS QUE NÃO SÃO PRODUTORES DE
GOIABA”. (Erli Röpke – mar/2000).
56
CAPÍTULO 5
Introdução
Ecofisiologia compreende o estudo do funcionamento, da adaptação e da
eficiência de uma determinada espécie ou cultivar a um ambiente específico.
Os diversos processos são interdependentes e influenciados pelas interações
dos fatores água-solo-genótipo-atmosfera. Esses processos determinam o
crescimento, o desenvolvimento fenológico (Figura 1) e a produtividade da
bananeira, que também são regulados pela interferência humana.
O cultivo da bananeira no mundo abrange diferentes zonas climáticas. Em
cada ambiente predomina determinados estresses abióticos que limitam a
produtividade. Contudo, independentemente do padrão climático da região de
cultivo, as discussões atuais remetem para o predomínio de extremos e
variabilidade climática, que sugerem aumentos dos estresses de seca e calor.
Na maioria dos ambientes de cultivo, a bananeira está quase sempre sob
estresse, deslocada do seu ótimo fisiológico. Portanto, o entendimento da
ecofisiologia da bananeira fomenta a interferência para aumentar a segurança
produtiva, a sustentabilidade e a resiliência do cultivo. Isso envolve atuação
em desenvolvimento de cultivares tolerantes a esses estresses (Ravi et al.,
2013) e de estratégias de manejo em sintonia fina com as especificidades e
interações locais. Assim, objetiva-se com o presente texto apresentar algumas
informações sobre ecofisiologia e estratégias de manejo da bananeira.
57
Desenvolvimento fenológico, ecofisiologia e práticas culturais na
produção de banana
O ciclo de desenvolvimento da bananeira (Figura 1B) compreende quatro
estádios com duração média de 90 dias, a depender da cultivar e das condições
ambientais. No ciclo de produção da planta-mãe, no primeiro estádio,
denominado infantil, que se estende do pegamento até o surgimento da
primeira folha com 10 cm (F10) de largura de limbo (Soto Ballestero, 2008),
o crescimento é lento. Nos ciclos posteriores o rebento depende da planta-mãe
e quanto mais durar essa dependência, quando permanecerá com folhas
lanceoladas por inibição hormonal da mãe, maior será a sua produção.
A B
Figura 1. Representação do ciclo da bananeira, com adaptações das durações dos estádios para bananeira Prata
(A). Distribuição percentual da matéria seca em bananeira ‘Williams’ (AAA) durante os estádios fenológicos
ao longo do primeiro ciclo nos subtrópicos (B). Adaptação aproximada dos períodos para ’Prata-Anã’.
NOTA: Y: gema, desenvolvimento do filho; F10: primeira folha com 10 cm de largura; Fm: primeira folha
adulta característica da cultivar; DF: diferenciação floral; F: emissão da inflorescência; C: colheita do cacho.
FONTE: Donato et al. (2015). A - Adaptado e modificado de Soto Ballestero (2008). B - Adaptado e modificado
do original de Robinson & Galán Saúco (2010). Ilustrações: Pedro Ricardo Rocha Marques
58
partir do florescimento, pois podem constituir drenos, além de dificultar a
refrigeração do bananal e afetar a eficiência instantânea de uso da água. O
conhecimento das relações fonte–dreno entre órgãos ao longo do ciclo
(Figura1B) possibilita ao produtor direcionar o acúmulo de assimilados para
a produção e a continuidade do cultivo. No primeiro estádio, há acúmulo de
matéria seca (MS) na folha, dreno preferencial e no segundo estádio, no
pseudocaule, por apresentar grande desenvolvimento estrutural para suportar
o cacho. No terceiro e início do quarto estádio, a MS é alocada para o rizoma
e filhos jovens e, após o florescimento, é realocada simultaneamente para o
desenvolvimento do cacho e para o broto selecionado para ser a planta-filha.
No momento da colheita o cacho representa 30% à 50% da MS da planta.
A prática de desbaste realizada em época próxima à diferenciação floral é
essencial para assegurar a continuidade e equilibrar as relações fonte-dreno.
Dessa maneira, o pico de dreno de assimilados do seguidor coincide com o do
rizoma. O filho passa a ser independente e não compete diretamente com o
cacho. A remoção do excesso de netos diminui a competição posterior com o
cacho, além de assegurar a sincronia na família no momento da colheita
(Figura 2A), sem risco de atraso nos ciclos posteriores (Figura 2B).
A B
Figura 2. Família de bananeira Prata em primeiro ciclo de produção. Sincronia normal (A). Família sem
sincronia (B). Fotos: A: Sérgio Luiz Rodrigues Donato; B) Alessandro de Magalhães Arantes
A B C
Figura 3. Taxas de assimilação líquida de CO2 A e de transpiração E (A) e eficiência de carboxilação A/Ci da
cultivar Prata-Anã em função da lâmina de irrigação (%ETc) (B).Correlação entre taxas de assimilação líquida
de CO2 A e de transpiração E das cultivares Prata-Anã (AAB), Grande Naine (AAA), BRS Princesa (AAAB),
BRS Platina (AAAB) e FHIA-18 (AAAB) submetidas à lâminas de irrigação variando de 25 à 125% ETc (C).
Maio à novembro de 2011, Nova Porteirinha, MG.
Nota: mensurações realizadas às 14:00.
61
Tabela 1. Taxa fotossintética (A), taxa de transpiração (E), eficiência instantânea do uso da água (A/E),
eficiência de carboxilação (A/Ci), μmol CO2 m-2s-1/μmol CO2, temperatura foliar (Tleaf), avaliadas na terceira
folha de bananeiras tipo Maçã (‘Maçã’, ‘BRS Tropical’, ‘BRS Princesa’, Maçã, YB42-03; YB42-17, YB42-47
e ‘Caipira’), no primeiro ciclo de produção em diferentes épocas e horários. Guanambi, BA, 2010-2011
A(μmol CO2 m-2s-1) E(mmol H2O m-2s-1) A/E A/Ci Tleaf(oC)
Meses
08:00 h 14:00 h 08:00 h 14:00 h 08:00 h 14:00 h 08:00 h 14:00 h 08:00 h 14:00 h
Fev 15,51 Ca 11,64 Db 3,14 Cb 5,11 Da 5,00 Ba 2,29 Db 0,073 Ca 0,056 Cb 31,36 Cb 39,19 Aa
Mar 15,23 Ca 15,74 Ba 2,91 Cb 4,78 Da 5,20 Ba 3,36 Bb 0,067 Ca 0,071 Ba 31,88 Cb 35,68 Ca
Abr 15,12 Ca 13,72 Ca 2,27 Db 4,00 Da 6,81 Aa 3,97 Ab 0,070 Ca 0,060 Cb 34,57 Aa 35,01 Ca
Jul 24,05 Aa 19,19 Ab 4,51 Bb 7,65 Ba 5,39 Ba 2,57 Cb 0,110 Aa 0,090 Ab 29,59 Db 37,30 Ba
Ago 24,00 Aa 18,03 Ab 4,78 Bb 9,04 Aa 5,05 Ba 2,03 Db 0,114 Aa 0,083 Ab 31,08 Cb 39,93 Aa
Set 24,98 Aa 18,06 Ab 6,94 Ab 7,57 Ba 3,70 Ca 2,56 Cb 0,114 Aa 0,085 Ab 33,58 Bb 37,53 Ba
Nov 18,28 Ba 15,55 Bb 3,60 Cb 6,28 Ca 5,20 Ba 2,53 Cb 0,084 Ba 0,072 Bb 31,49 Cb 39,05 Aa
63
B
A
C D E
Figura 4. Bananal recém desfolhado e desbastado, com boa ventilação (A). Folha de ‘Prata-Anã pulverizada
com cal a 2% (B), Guanambi, BA. Mensurações com analisador de gás ao infravermelho (IRGA), modelo
LCPro+®, ADC BioScientific Ltda, em bananeiras ‘Prata-Anã’ clone Gorutuba, submetidas a diferentes
tratamentos de proteção solar, aos quatro meses após o transplantio - Tratamento P6 (1%) (C); Tratamento P1
(13,33) com detalhes dos clips para leitura de fluorescência da clorofila (D); Tratamento P10 (Glifosato) (E).
Nova Porteirinha, MG, 2016. Fotos: A, C, D, E - Sérgio Luiz Rodrigues Donato. B - Alessandro de Magalhães Arantes.
64
daninhas em bananais, desde que aplicado em jato dirigido para evitar deriva,
pois há muitos casos de fitotoxicidade, com atraso no crescimento e emissão
dos filhos, principalmente sob condições estressantes para a planta não alvo
(Yamada & Castro, 2007). Há problemas com a sua exsudação radicular.
Tabela 2. Temperatura foliar (Tleaf), fotossíntese (A), transpiração (E) e eficiência instantânea de uso da água (A/E), mensuradas pela
manhã e à tarde, em bananeiras ‘Prata-Anã’ clone Gorutuba, submetidas a diferentes tratamentos de proteção solar, aos quatro e cinco
meses após o transplantio. Nova Porteirinha, MG, 2016
Planta/tratamento Tleaf(oC) A (µmol m-² s-1 deCO2) E (mmol m-² s-1 de H2O) A/E(EUA) Horário
Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde
P1 (13,33%) 30,7Cb 41,2Ba 23,44Ba 11,34Cb 5,03Cb 9,59Ca 4,65Aa 1,18Cb 08:00 12:54
P2 (13,33 % test) 30,9Cb 41,0Ba 13,83Cb 22,79Ba 4,29Cb 13,25Ba 3,22Ba 1,72Bb 08:15 13:00
P3 Protesol 34,3Bb 42,0Ba 24,60Ba 17,47Bb 7,01Bb 11,25Ba 3,51Ba 1,55Bb 08:30 13:06
P4 (6,66%) 35,2Bb 43,6Aa 25,56Ba 11,29Cb 8,30Bb 11,49Ba 3,07Ba 0,98Cb 08:37 13:25
P5 (6,66% test) 35,5Bb 42,4Ba 27,33Ba 22,01Ba 9,45Bb 15,86Aa 2,89Ba 1,38Bb 08:40 13:27
P6 (1%) 37,1Bb 41,8Ba 28,85Aa 21,22Bb 9,89Bb 13,05Ba 2,91Ba 1,57Bb 08:50 13:39
P7 (1% test) 36,6Bb 42,0Ba 23,64Ba 24,36Aa 8,04Bb 13,37Ba 2,94Ba 1,82Bb 08:57 13:45
P8 (5%) 38,2Ba 40,6Ba 26,89Ba 24,39Aa 11,77Aa 11,29Ba 2,28Ba 2,16Aa 09:07 13:49
P9 (5% test) 38,8Ba 41,0Ba 24,55Ba 17,10Bb 10,61Aa 10,78Ba 2,31Ba 1,58Ba 09:10 14:00
P10 Glifosato 42ª - 13,59C - 7,37B 1,83C - 09:20 14:10
Média 35,93 41,73 23,22 19,10 8,17 12,21 0,013 0,009 - -
Desvio padrão 3,46 0,91 5,29 5,12 2,36 1,85 0,003 0,002 - -
CV (%) 9,64 2,18 22,79 26,81 28,95 15,22 26,78 29,16 - -
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna, para tratamentos de proteção solar, e minúscula na linha, para horários
de avaliação, pertencem à mesma classe estratificada pela média e o desvio padrão (Y±Sy). Classes estabelecidas: a =
≥(Y+(2Sy)); b = ≥(Y+(Sy)) e <(Y+(2Sy)); c = Y±Sy: (≥Y-Sy) e <(Y+Sy); d = ≥(Y-(2Sy)) e <(Y-(Sy)); e = <(Y-(2Sy)); em que:
Y é a média da característica avaliada, e Sy é o desvio padrão da característica avaliada. Fonte: Elaboração dos autores.
65
eficiência de carboxilação à tarde, que ao fechamento estomático, pois as
taxas de transpiração são maiores à tarde, mesmo para temperaturas acima de
40 oC, embora a condutância estomática tenha reduzido.
A temperatura da folha da bananeira ‘Prata-Anã’ clone Gorutuba, pela
manhã, entre 8:00 e 9:20 h, quando realizadas as mensurações, aumentou de
30,8 até 38,2 oC, enquanto à tarde, entre 13:00 e 14:20 h, variou de 41 a 43 oC
(Tabela 2). A temperatura do ar pela manhã, nos mesmos horários, aumentou
de 26,8 até 29,7 oC e a umidade relativa decresceu de 56 para 46%. À tarde a
temperatura do ar aumentou de 32,1 para 34,5 oC e a umidade relativa
decresceu de 39 para 32% (EPAMIG, 2016).
A temperatura da folha aumenta com a elevação da temperatura do ar
(Figura 5). Com isso, a planta transpira mais, mesmo com diminuição da
condutância estomática e diminui a EUA (Lucena, 2013; Arantes et al., 2016).
A maior transpiração à tarde é favorecida também pela umidade do solo
decorrente da irrigação e evidencia a ativação desse mecanismo de
resfriamento da planta para diminuir o estresse térmico, ainda que a
temperatura da folha foi 8 oC superior à do ar nos horários mais quentes.
Figura 5. Correlação entre temperatura da folha de bananeira ‘Prata-Anã’ clone Gorutuba e temperatura do ar
(ºC) entre 8:00 e 14:00 h. Nova Porteirinha, MG, 2016.
Nota: Dados temperatura do ar - EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DE MINAS GERAIS –
EPAMIG. EPAMIG Norte - Campo Experimental do Gorutuba. Estação Meteorológica Automática de Nova
Porteirinha, MG, 2016.
Fonte: Elaboração dos autores.
A B C
45
43
Temperatura foliar ( C)
41
yˆ 08:00
33,424 0,001 * *x; r ² 0,98
39
yˆ 14:00
40,365 0,0007 * *x; r ² 0,98
37
35
33
1.111 1.611 2.111 2.611 3.111 3.611 4.111
Densidades Populacionais (pl ha-1)
D E F
Figura 6. Plátano ‘D’Angola’ com densidade de plantio de 1.111 plantas ha-1, aos 220 dias após o transplantio
(A) e na época da colheita, plantas tombadas (B); Com densidade de plantio de 4.166 plantas ha-1, aos 220 dias
após o transplantio (C) e na época da colheita, plantas em pé (D); Temperatura foliar (Tleaf) mensurada às 8:00
e às 14:00 h, na terceira folha de plátano ‘D’Angola’ submetida a diferentes densidades de plantio (E); Índice
de área foliar (IAF) de plátano ‘D’Angola’ em função de diferentes densidades de plantio e dias após o
transplantio (DAT) (F). Guanambi-BA, 2015. Elaboração dos autores. Fotos: Alessandro de Magalhães Arantes
69
A B C
Figura 7. Vigor de raízes de bananeira ‘BRS Platina’ adubada com esterco bovino e farinha de rocha (A);
presença intensa de minhocas na região de distribuição dos adubos orgânicos (B); vista do sistema radicular da
família(C). Fotos: A, B - Alessandro de Magalhães Arantes. C – Sérgio Luiz Rodrigues Donato
Considerações finais
O ideótipo de bananeira deve florescer precocemente, apresentar porte
reduzido, sem ser anã, e possuir cachos médios (Turner et al., 2014) de modo
a diminuir o tempo de exposição aos estresses abióticos. Isso assume grande
importância, particularmente diante da variabilidade climática e da universal
crise de recursos hídricos que limita a expansão do cultivo de bananeira.
Contudo, nas três últimas décadas vários genótipos resistentes às principais
doenças da bananeira e com alto potencial produtivo foram disponibilizados
aos agricultores do mundo inteiro por diferentes programas de melhoramento,
a maioria com baixo grau de adoção por agricultores com alegação
principalmente de problemas de mercado.
A despeito da importância do melhoramento genético, a solução desses
problemas perpassa a condução de experimentos em casa de vegetação e
principalmente no campo, que apresentem maior relevância fisiológica para
uma sintonia fina na definição de estratégias de manejo que possibilitem
maior especificidade no âmbito local. Isso possibilita construir soluções que
sigam as regras locais da interação homem-genótipo-ambiente de modo a
aumentar a segurança produtiva, a sustentabilidade e a resiliência do cultivo,
especialmente para regiões ou épocas com condições de estresses abióticos
em que há desajuste entre a ambiência e o ótimo ecológico para a espécie.
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73
CAPÍTULO 6
Introdução
O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural -
Incaper, comemorou recentemente seus 60 anos de história. No entanto, o
trabalho com fruticultura começou antes mesmo de sua criação. Ainda em
1952, foi fundada, no município de Domingos Martins, a Estação
Experimental de Vitivinicultura com o objetivo de introduzir e avaliar o
comportamento de genótipos de uva na Região Serrana do Estado. Algum
tempo depois, em 1984, em homenagem ao pesquisador que implantou a
fruticultura nessa região, a Estação Experimental passou a ser conhecida
como Fazenda Mendes da Fonseca. Atualmente, nessa fazenda funciona o
Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro Serrano, uma das
unidades de pesquisa do Incaper (Ventura & Girelli, 2014).
Outros marcos importantes nos trabalhos em fruticultura desenvolvidos
pelo Incaper nesses 60 anos foram: a introdução do primeiro pomar clonal de
citrus, em 1971, considerado o início da citricultura no estado; a avaliação e
introdução de novas cultivares de banana do tipo ‘Prata’, na década de 1980;
trabalhos com fitossanidade e melhoramento do mamoeiro, como a
introdução da cultivar Improved Sunrise Solo Line 72/12 e a seleção da
‘Baixinho de Santa Amália’, na década de 1980 (Ventura & Girelli, 2014).
74
Assim, o Incaper, em parceria com outras instituições públicas e privadas,
desenvolve ações de pesquisa, assistência técnica e extensão rural, a fim de
organizar as cadeias produtivas, aumentar a produtividade e melhorar a
qualidade das frutas produzidas no Espírito Santo. São realizadas ações de
pesquisa com abacaxi, acerola, banana, cacau, goiaba, citrus, mamão, manga,
uva, framboesa, pêssego e frutas nativas da Mata Atlântica, que contribuem
para o desenvolvimento da cadeia de fruticultura capixaba.
A descentralização da estrutura física e de pessoal do Instituto, que está
presente em todos os municípios do estado, com 85 escritórios, 12 fazendas
experimentais e 13 laboratórios em diversas áreas, possibilita que os
conhecimentos e tecnologias geradas sejam compartilhados com os
produtores de maneira mais dinâmica. Dessa forma, os trabalhos
desenvolvidos nos campos experimentais e laboratórios do Incaper,
contribuem, não só para a ciência, mas, para o desenvolvimento do campo,
com geração de renda e qualidade de vida ao produtor.
75
O aumento da produtividade, a redução dos custos, a melhoria do valor
agregado, a segurança alimentar e qualidade dos alimentos;
A recuperação e conservação ambiental;
A formulação e revisão da legislação agropecuária, de políticas públicas
e de mercado;
O desenvolvimento de projetos de ciência tecnologia e inovação de
forma diversificada, e;
A geração de publicações científicas e técnicas a partir dos resultados
das pesquisas.
Outras ferramentas importantes que estão sendo implementadas no Incaper
são: a carteira de projetos estratégicos, estruturantes e operacionais, que
correspondem a projetos de longo, médio e curto prazos; o programa de
registro e gestão de projetos, que armazena informações dos projetos em
planejamento, execução e encerrados do Instituto; os indicadores de pesquisa,
divididos em institucionais e pessoais, que quantifica os resultados obtidos
pelos pesquisadores e pelo instituto; e a discussão de um novo modelo de
geração de conhecimento.
Esse processo de geração do conhecimento tem por objetivo nortear que o
conhecimento e informação sejam produzidos com foco maior nas demandas
do público-alvo do Incaper, diminuindo a distância entre o produtor rural e o
pesquisador e visando o desenvolvimento sustentável do setor agropecuário
do estado do Espírito Santo. Segundo este processo, a partir das demandas de
pesquisa levantadas pelos extensionistas do Instituto junto ao seu público-
alvo, são elaborados os projetos de pesquisa. Esses projetos são,
primeiramente, avaliados pela instituição, sendo então, submetidos, pelo
pesquisador, a editais de financiamento para os quais se enquadra. Aprovado
o projeto de pesquisa, este é executado, e os resultados gerados
(conhecimento) são divulgados tanto para a comunidade científica quanto
para os produtores ou público demandante. Esse processo estabelece a
integração da pesquisa com a extensão rural e assistência técnica (Ater) em
diversos pontos, mas sempre resguardando as particularidades de cada área de
atuação do Instituto (Martins et al., 2014). Permite, ainda, que o recurso
investido no Incaper retorne ao público-alvo em forma de ciência e tecnologia
geradora de renda e qualidade de vida (Figura 1).
76
Figura 1: Resumo do processo de geração de conhecimento do Incaper.
77
Desde 2014, mais de 100 publicações com resultados de pesquisa em
fruticultura do Incaper foram publicadas em revistas nacionais, internacionais
e em eventos técnicos. Em 2015, o Instituto realizou o VI Simpósio do Papaya
Brasileiro, que reuniu, aproximadamente, 50 instituições da cadeia produtiva,
com representantes de 15 estados e três países. Além disso, o Incaper tem
registrada uma cultivar de mamão (‘Rubi Incaper 511’, primeira cultivar de
mamoeiro do Grupo Formosa capixaba) e uma de abacaxi (BRS Vitória), em
parceria com Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, além
de patentes registradas e concedidas.
Para quantificar o impacto de algumas das tecnologias geradas no
incremento de produtividade, na redução de custos e na agregação de valor, o
Incaper divulga, anualmente, o seu Balanço Social. Nele são descritas
algumas tecnologias, seu percentual de adoção e seu impacto econômico,
quantificados conforme metodologia de avaliação de impactos de tecnologias
agropecuárias desenvolvida pela Embrapa (Ávila et al., 2008). Na área de
fruticultura, foram incluídas seis tecnologias, que juntas, tiveram impacto
econômico superior a 77 milhões de reais em 2015 (Tabela 1).
78
As culturas frutícolas mais estudadas pelo Incaper são o mamoeiro,
abacaxizeiro, citrus e bananeira. Outros trabalhos com cacaueiro, goiabeira,
mangueira, lichia e frutas nativas são desenvolvidos, mas em menor escala.
Outros produtos tecnológicos do Incaper têm impacto direto na produção de
frutas, dentre eles, o Sistema de Informações Meteorológicas e o Boletim
Meteorológico Trimestral, o Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do
Estado do Espírito Santo (GeoBases) e o Sistema de Informações da Produção
Agropecuária Capixaba (Sipac) e o Boletim da Conjuntura Agropecuária
Capixaba. Abaixo serão descritos alguns resultados obtidos pelo Incaper
desenvolvidos nos últimos anos.
Mamoeiro
É para o mamoeiro que o Incaper tem resultados mais significativos ao
longo de sua história, com destaque para o System Approach, que é um
sistema de redução de risco de infestação por pragas e permitiu a exportação
do mamoeiro ainda na década de 1990; e para a ‘Rubi Incaper 511’, uma
cultivar do grupo Formosa, que por ser de polinização aberta permite o
reaproveitamento das sementes e reduz o custo de produção. Em um estudo
recente, essa cultivar teve melhor produção de frutos quando comparado a
outros oito genótipos de mamoeiro.
Nos últimos anos, o mamão permanece em destaque dentre as espécies
frutíferas estudada pelo Incaper, responsável por mais de 50% das publicações
de fruticultura. Foram desenvolvidos trabalhos nas áreas de fitopatologia,
entomologia, fisiologia, sementes, melhoramento de plantas, socioeconomia,
biologia molecular e farmacologia.
Na área de fitopatologia destacam-se os trabalhos com as viroses do
mamoeiro (mosaico e meleira), envolvendo manejo, epidemiologia e
dinâmica temporal, avaliação de plantas hospedeiras e vetores, alterações
físicas e fisiológicas nas plantas doentes e análise e associação de microRNAs
ao estresse causado pela virose. Para pinta preta, mancha de phoma e
corynespora estão sendo desenvolvidos trabalhos para seleção de materiais
genéticos tolerantes. Na área se entomologia, foram realizados trabalhos sobre
infestação e danos causados pela cochonilha-do-mamoeiro, mosca branca,
tripes e definição de escala de danos causados por pragas. Na área de sementes
foram avaliados a qualidade de compostos fenólicos, o envelhecimento
79
acelerado, a quebra de dormência e o impacto do armazenamento sobre as
sementes. No melhoramento, foi conduzido um novo ciclo de seleção entre e
dentro da ‘Rubi Incaper 511’, visando a melhoria do teor de sólidos solúveis.
Por fim, em parceria com a UVV, foi observado o potencial anti-hipertensivo
do mamoeiro.
Abacaxi
Para o abacaxizeiro, diferentes estudos avaliaram a sua produtividade e
qualidade dos frutos em função das épocas de plantio, técnicas de indução
floral, qualidade de mudas micropropagadas, exigência térmica, dentre
outros. Nesses estudos também foi feita a caracterização da folha "D" em
função de épocas de plantio e indução floral e sua correlação com
características físicas e químicas de frutos. Para essa cultura também foi
publicada uma avaliação no uso de iscas para o manejo integrado de pragas.
Na área de fitopatologia, foi avaliado o comportamento de diferentes
materiais genéticos quando a resistência à fusariose, além de ter sido
desenvolvido, em parceria com a Ufes, um protocolo de diagnóstico
molecular de Fusarium guttiforme. Esse trabalho que deu origem a um
registro de patente, que está sob avaliação do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI).
Citrus
Para os citrus, os trabalhos de pesquisa do Incaper envolvem,
principalmente, a adaptabilidade de diferentes materiais genéticos e diferentes
combinações de copa e porta-enxerto. Nesses estudos ainda estão sendo
avaliados materiais genéticos que permitam o escalonamento da produção e
comercialização durante o ano.
Outro trabalho de grande importância é a manutenção de um banco de
germoplasma de citrus. Nesse banco estão disponíveis mais de 150 materiais
que foram avaliados e caracterizados e, alguns deles, estão aptos a fornecer
borbulheiras para produção de mudas. O trabalho com citrus, que envolve
atividades de pesquisa e assistência técnica do plantio a comercialização
desenvolvido no Polo de Tangerina, rendeu ao Incaper o Prêmio Inoves na
categoria Práticas Transformadoras. O Prêmio Inoves é uma iniciativa do
Governo do Espírito Santo e reconhece trabalhos inovadores, desenvolvidos
80
por servidores públicos, que modernizam a gestão, melhoram a vida do
cidadão e transformam a realidade.
Frutas Nativas
Nos últimos anos o Incaper passou a se dedicar a experimentação com
frutas nativas da Mata Atlântica associando dois objetivos principais: tornar
essas frutas conhecidas da população, por suas características organolépticas
e nutricionais; e ampliar a manutenção e restauração florestal com espécies
nativas por meio da conservação pelo uso. Esse conceito consiste na
preservação das espécies nativas pelos produtores rurais por elas serem fonte
de alimento e renda. Como resultados iniciais, foram avaliadas as
características físico-química, morfológicas e métodos de extração de polpa
de juçara, uvaia, cambuci, jabuticaba e de outras espécies frutíferas ou
potencialmente geradoras de produtos florestais não madeireiros. Ações dessa
natureza também contribuirá com outras políticas públicas do Governo do ES,
como o Programa Reflorestar.
Como resultado desse trabalho e visando a popularização do consumo, foi
publicado, em 2017, o livro Palmeira juçara: patrimônio natural da Mata
Atlântica no Espírito Santo (Guimarães & Souza, 2017). Esse trabalho
também foi laureado com o Prêmio de melhor projeto de instituição pública,
indicado pelo Conselho de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo a 12ª
Semana Estadual de Ciência e Tecnologia.
Parcerias
Nos trabalhos com fruticultura, o Incaper possui uma ampla rede de
parcerias, das quais podemos destacar: a Universidade Federal do Espírito
Santo - Ufes em seus três campi; a Universidade de Vila Velha – UVV;
diversos campi do Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes; o Instituto
Agronômico de Campinas – IAC; a Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira – Ceplac; a Embrapa; a Associação Brasileira dos Produtores e
Exportadores de Papaya - Brapex, dentre tantas outras. Essas parcerias
permitem a ampliação dos trabalhos e dos resultados gerados, seja pela soma
de saberes e de infraestrutura disponíveis, ou pela multidisciplinaridade com
que uma pesquisa pode ser abordada. Assim, esses parceiros são
corresponsáveis pelos resultados gerados pelo Incaper.
Perspectivas futuras
A pesquisa agropecuária brasileira viveu diferentes fases de
desenvolvimento, sempre relacionadas com as necessidades da sociedade em
cada época. Atualmente, a preservação ambiental e todas as variáveis que
envolvem essa discussão, devem ser consideradas como parte integrante do
modelo de desenvolvimento atual em qualquer processo de geração de
conhecimentos e de tecnologias. Portanto, não basta mais produzir frutas em
quantidade e com qualidade. É necessário associar essa produção à
conservação dos recursos naturais, uma vez que a água, a terra e a
biodiversidade são pilares para o desenvolvimento de uma agricultura
sustentável (Moreira et al., 2014).
Aliado a isso, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco, 2010) ressalta que o desenvolvimento da ciência
e da tecnologia devem ter como foco a redução dos desequilíbrios e da
exclusão social. Diante disso, a ciência deve se basear na erradicação da
pobreza, na harmonia com a natureza e no desenvolvimento sustentável,
integrando suas dimensões social, ambiental e econômica.
82
Diante desse cenário, apesar de toda a pesquisa em fruticultura já
desenvolvida pelo Incaper, ainda é necessário encontrar respostas para
grandes desafios atuais e futuros. Com base no Planejamento Estratégico do
Incaper e nas demandas levantadas nos Fóruns de Integração Pesquisa e Ater,
realizados pelo Incaper em 2014, algumas áreas de atuação estão sendo
priorizadas para as ações futuras na área de fruticultura do Instituto, como o
uso e conservação dos recursos naturais; adaptação e desenvolvimento
regional; mudanças climáticas; e fitossanidade e segurança alimentar.
Considerando a extensa devastação da Mata Atlântica ocorrida no Espírito
Santo, a pesquisa com frutas nativas da Mata Atlântica pode favorecer o
enriquecimento da cobertura florestal, bem como complementar a renda dos
produtores. O conhecimento as potencialidades dessas frutas aliada a ações de
divulgação de suas propriedades nutricionais contribuirão para que o
agricultor utilize áreas preservadas para obtenção de renda. Assim, o produtor
poderá extrair frutas de áreas preservadas e comercializá-las, ao mesmo tempo
que mantém a árvore nativa, promovendo uma integração entre a preservação
de recursos naturais e a adoção de modelos de desenvolvimento rural em bases
mais sustentáveis.
Cabe lembrar que o Novo Código Florestal indica que a exploração
agroflorestal sustentável, que não descaracteriza a cobertura vegetal existente
e não prejudica a função ambiental da área, é considerado de interesse social,
além disso, permite a exploração econômica da Reserva Legal. Essas áreas
poderão ser utilizadas para a produção comercial de frutas nativas. Visando
atender esse objetivo, estão em execução projetos que visam a caracterização
físico-química e nutricional de frutas nativas da Mata Atlântica com potencial
econômico e ambiental; a intensificação ecológica de plantações de arbóreas
nativas da Mata Atlântica em associação com a palmeira juçara para produção
de frutos; a investigação do potencial das espécies arbóreas nativas para o
desenvolvimento de boas práticas agrícolas em sistemas agrossilvipastoris; a
avaliação da recuperação de área de proteção permanente com palmáceas
nativas; o uso de espécies frutíferas em consórcio com cafeeiro; avaliação da
qualidade ambiental e rentabilidade da agrofloresta sucessional biodiversa,
dentre outros.
Por outro lado, pesquisas que visam o reaproveitamento de resíduos para
adubação podem favorecer o produtor por eliminar custos de produção, ao
mesmo tempo em que dão destinação adequada a resíduos que podem causar
83
problemas na área rural. Um exemplo de resíduo agrícola que pode causar
danos se mal utilizado é a palha do café, que favorece o surgimento de mosca
dos estábulos (Stomoxys calcitrans), prejudicial ao rebanho bovino. Trabalhos
para a utilização desse e outros de resíduos orgânicos para adubação do
abacaxizeiro e da bananeira estão sendo executados pelo Incaper.
Outra área de atuação de com boas perspectivas futuras é o
desenvolvimento de pesquisas que permitem produzir frutas de forma mais
segura, reduzindo o uso de agrotóxicos nas lavouras. Projetos sobre o controle
integrado de pragas e doenças, que envolvem, técnicas de manejo, material
genético resistente ou tolerante, avaliação de produtos naturais e químicos
sobre as principais pragas e sobre as culturas. Para isso, estão sendo
desenvolvidos os trabalhos nas seguintes áreas:
Controle biológico do ácaro rajado do mamoeiro;
Melhoramento genético do mamoeiro visando resistência à pinta
preta, mancha de phoma e corynespora;
Avaliação dos impactos na pós-colheita de mamoeiro pela aplicação
de produtos químicos para o controle de doenças fúngicas;
Identificação e manejo de insetos vetores do vírus da meleira do
mamoeiro;
Avaliação in vitro da resistência do Colletotrichum gloeosporioides
aos fungicidas utilizados em campo;
Manejo integrado de cochonilhas;
Avaliação fitotécnica e fitopatológica de cacaueiro cultivado a pleno
sol;
Viabilidade técnica e econômica de diferentes materiais usados no
ensacamento dos frutos da goiabeira;
Avaliação do controle de plantas daninhas com herbicidas em
lavouras de abacaxi;
Propagação in vitro e limpeza clonal de abacaxizeiro;
Avaliação e manejo nutricional de abacaxizeiro, dentre outros.
Com relação a adaptação e desenvolvimento regional, os trabalhos em
fruticultura em desenvolvimento no Incaper buscam adaptar materiais
genéticos e técnicas de manejo às condições edafoclimáticas das diferentes
regiões do estado, bem como, trabalhos de extensão que permitam o maior
engajamento e geração de renda aos produtores. Nesse sentido, estão sendo
84
desenvolvidas ações como a consolidação de polos de fruticultura, sendo os
principais deles, os polos de mamão, manga e tangerina (Costa & Costa,
2015); a estruturação e fortalecimento dos setores produtivos da agricultura
familiar; a inclusão de mulheres como empreendedoras rurais, dentre outras.
As principais ações de pesquisa voltadas para o desenvolvimento
regional são àquelas que visam a avaliação de novos cultivos ou novos
materiais genéticos. Por exemplo: avaliação de matérias genéticos de manga
Ubá; de tangerinas de mesa e de laranja em diferentes porta-enxertos; de
framboesa, amora-preta, uva, oliveira e pêssego.
Conclusão
O Incaper, por meio das soluções tecnológicas desenvolvidas,
recomendadas e/ou adaptadas, contribui sobremaneira para o
desenvolvimento da fruticultura no Espírito Santo. Além da geração de
conhecimentos aplicados, as atividades de assistência técnica e extensão rural
auxiliam na divulgação dos resultados obtidos aos produtores, permitindo que
esse conhecimento gere renda e qualidade de vida no campo. O fato das
pesquisas desenvolvidas serem baseadas em demandas do público-alvo do
Incaper faz com que a ciência e tecnologias geradas estejam alinhadas às
necessidades e potencialidades do nosso Estado. Desta forma, o Incaper se
consolida como um dos principais agentes de desenvolvimento da fruticultura
do Espírito Santo.
No entanto, diante de tantos desafios a serem vencidos, será necessário
agregar competências para que uma nova fruticultura, que produza frutas de
melhor qualidade e com segurança alimentar, diminuindo as desigualdades
sociais e conservando os recursos naturais. O Incaper precisará, cada vez
mais, ampliar as parcerias com outras instituições públicas e privadas de
pesquisa, ensino e de inovação tecnológica, bem como com o setor produtivo.
O apoio do Governo do Estado, com o fortalecimento do capital humano e
da infraestrutura, a modernização de laboratórios e campos experimentais,
bem como, no financiamento de projetos, é imprescindível para que o Incaper
avance ainda mais no desenvolvimento de pesquisas aplicadas ao produtor
rural. Cabe lembrar que segundo o Balanço Social de 2015, o impacto
85
econômico da atuação do Incaper rendeu R$ 1,19 bilhão de lucro social1.
Além disso, devido à participação da agricultura no produto interno bruto, as
inovações tecnológicas na agropecuária têm forte impacto na economia
capixaba.
Por fim, os pesquisadores do Incaper devem trabalhar continuamente para
obter as soluções para os problemas futuros da fruticultura capixaba, antes
que estes causem impactos negativos aos produtores rurais e ao meio
ambiente. Assim, é preciso planejar, em conjunto com a extensão rural, com
os agricultores e demais parceiros, os caminhos a serem percorridos pela
pesquisa para gerar ciência, tecnologia e inovação voltados para o
desenvolvimento sustentável da fruticultura do Espírito Santo.
Referências
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Vitória: Incaper, 2012. (Série Documentos, n° 204).
1
Lucro social é a somatório dos impactos econômicos das tecnologias geradas e dos
indicadores sociais internos, tais como encargos sociais, investimentos em capacitação e
desenvolvimento profissional, bem-estar e saúde, segurança do trabalho, dentre outros.
86
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Gestão estratégica da pesquisa no Incaper. Incaper em Revista, v.3-4, p.108-
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conhecimento no Espírito Santo. Incaper em Revista, v.3-4, p.06-33, 2014.
87
CAPÍTULO 7
Introdução
O coqueiro foi introduzido no Brasil no ano de 1553 pelos portugueses no
Estado da Bahia. Desde então assumiu papel muito importante em toda a
região costeira do Nordeste brasileiro, destacando-se os estados do Ceará,
Sergipe e Rio Grande do Norte, sendo assim os maiores produtores do país.
No Estado do Espírito Santo, o coqueiro chegou na década de 60 no município
de São Gabriel da Palha, de onde a partir da década de 90 se expandiu para os
municípios de Jaguaré, São Mateus e Conceição da Barra, motivado pelo
aumento do turismo no litoral capixaba.
Nos últimos anos, a cultura vem se destacando pelo país e o plantio do
coqueiro-anão para a produção de água de coco, tanto para o consumo in
natura, como para a indústria. Segundo pesquisas, o consumo de água de coco
no Brasil vem tendo um crescimento anual na ordem de 15 a 20%, passando
a concorrer nas prateleiras dos supermercados com os sucos e os refrigerantes.
Motivado por esse crescimento, algumas regiões não muito tradicionais (os
Estados de SP, MG e MT) vem tendo um aumento das suas áreas plantadas
com o coco anão irrigado, sendo que os estados do Espírito santo, Rio de
Janeiro e sul da Bahia vêm se destacando pela proximidade dos maiores
centros consumidores (RJ, SP e Belo Horizonte).
Exigências Edafoclimáticas
O coqueiro é uma planta essencialmente de clima tropical úmido, tendo
sua distribuição geográfica bem definida entre os Trópicos de Câncer e de
Capricórnio. Quando se fala em temperatura, pode-se dizer que o fator
88
limitante são as temperaturas amenas, sendo uma temperatura média em torno
de 27 ºC a ideal, com variações médias diárias entre 5 a 7 ºC para se ter um
bom desempenho da cultura. Temperaturas abaixo de 15 ºC causam
abortamento das flores e reduzem o número de flores femininas nas
inflorescências.
O coqueiro anão necessita de uma precipitação mínima anual de 1500mm,
com distribuição mensal não inferior a 130mm. Existem diferenças entre as
variedades, sendo as variedades anãs as mais sensíveis ao déficit hídrico,
tendo como consequência nessas condições, uma baixa emissão do número
de folhas e, consequentemente, do número de inflorescências, assim como
baixo pegamento de frutos e redução da qualidade dos mesmos. Por todos
esses motivos faz-se necessário o uso de irrigação para uma produção
satisfatória em regiões onde não se tem as condições ideais de precipitação
exigidas pela cultura.
Quando se fala em intensidade luminosa, o coqueiro é uma planta bastante
exigente, necessitando em torno de no mínimo 2000 horas anuais de
insolação, com um mínimo mensal de 120 horas (Frémondet et al., 1966).
Mesmo tendo um nível ótimo de radiação, o coqueiro pode não expressar seu
potencial, visto que este fator está diretamente ligado a disponibilidade de
água no solo e umidade relativa do ar. Em umidades relativas inferiores a 60%
o coqueiro reduz a abertura estomática e, consequentemente, a absorção de
água e nutrientes, já em níveis muito altos, essa umidade relativa propicia o
aparecimento de pragas e doenças.
O coqueiro é uma planta que se desenvolve nos mais distintos tipos de
solos, entretanto, tem preferência por solos mais arenosos. Devido ao seu
sistema de raízes fasciculadas, suas raízes tem dificuldades no rompimento de
camadas mais compactas de solos, assim como no desenvolvimento em solos
muito argilosos.
Colheita e Mercado
Na região sudeste do Brasil, faz-se a colheita dos frutos do coqueiro-anão
verde para consumo de água entre o sexto a oitavo mês após a abertura das
inflorescências, dependendo da época do ano e da finalidade do uso da água
(consumo in natura, praia, carrinho ou fábricas de envase). Colhe-se em
média de 1 a 2 cachos por planta em cada colheita, com um intervalo médio
de 45 dias uma da outra.
Um dado muito interessante observado em relação ao ponto de colheita é
que quanto mais cedo se faz a colheita dos frutos, maior é a produtividade.
Quanto mais tempo os cachos já em ponto de colheita ficam na planta, maior
é o esgotamento da mesma, podendo assim diminuir a qualidade dos frutos
dos cachos seguintes, assim como aumentar o abortamento de flores
femininas. A colheita para o consumo in natuta está diretamente ligada ao
90
clima, em períodos de bastante calor, principalmente no verão a demanda por
esse fruto é bem grande, o que estimula o produtor a estar sempre com a
colheita em dia.
Em períodos de temperaturas mais amenas e muito chuvosos nos grandes
centros consumidores, o consumo de agua diminui, reduzindo também desse
modo a colheita. Nesses períodos é de suma importância a atuação das
fábricas envasadoras, pois podem estar em plena produção, absorvendo esses
frutos que o mercado não pode absorver no momento ideal de colheita,
mantendo assim plantas sem excesso de frutos. Outro dado interessante é que
as fábricas envasadoras geralmente pagam pelo volume de água envasado, e
não por unidades, desse modo, os frutos podem ser colhidos para esse fim
num ponto de maturação de melhor rendimento de volume por fruto, que
geralmente é mais novo do que se colhe para o mercado. A atuação das
fábricas envasadoras também tem um efeito sobre os preços pagos pelo
mercado, visto que captam um grande volume de produção, diminuindo assim
a oferta e com isso, dando maior estabilidade na manutenção dos preços.
A região norte do Estado do Espírito, juntamente com o Sul do Estado da
Bahia vem se destacando com grandes áreas de cultivo do coco anão, motivo
esse que tem atraídos grandes fábricas envasadoras, algumas já instaladas e
operando na região e outras em projetos futuros.
Calagem e adubação
É recomendado fazer a calagem para se atingir uma saturação de bases
entre 60 e 70%. A calagem deve ser feita em área total quando o teor de Al
no solo na camada de 0 a 20 cm de profundidade estiver acima de 5 mmol/dm3,
estando abaixo desse valor, recomenda-se efetuar a calagem somente na área
onde é feita a adubação, na projeção da copa.
Sobral (1998) determinou uma extração e exportação de nutrientes para o
coqueiro, considerando uma produtividade de 200 frutos por planta/ano, em
kg/ha/ano de: 87,71; 12,44; 169,77; 6,02; 9,48; 7,85 e 92,0 para N, P, K, Ca,
Mg, S e Cl, respectivamente. Observado um alto valor para o cloro (Cl), sendo
então considerado como um macro nutriente para o coqueiro.
Para a determinação de níveis críticos de nutrientes no tecido foliar, é feito
a coleta a partir de folhas medianas da copa das plantas, sendo a folha nº 9 e
folha nº 14 um padrão de referência. É recomendado se fazer a coleta de folhas
91
e análises foliares pelo menos a cada seis meses. Segue tabela abaixo com os
níveis críticos foliares para macro e micronutrientes.
92
É necessário ressaltar que as quantidades indicadas nas tabelas 2 e 3 podem
variar em função de alguns fatores, tais como: clima predominante na região
(temperatura, umidade relativa do ar, pluviometria), tipo de solo, técnicas de
manejo (sistema de irrigação usado, fontes dos nutrientes aplicados, formas
de aplicação dos nutrientes, etc.).
O coqueiro é uma cultura que tem uma característica muito particular, pois
depois que se inicia a sua produção encontramos numa mesma planta frutos
em todas as suas fases de formação, que vão desde a diferenciação floral até
93
o ponto de colheita. Desta forma, sugere-se realizar o parcelamento das
adubações o maior número de vezes possível, mantendo a planta sempre num
ótimo estado de nutrição.
Pragas do coqueiro
1 – Rhynchophorus palmarum Linnaeus, 1764 (Coleóptera:
Curculionidae): Broca-do-olho-do-coqueiro
O adulto é um besouro de cor preto-opaca e aveludada, com 45 a 60mm de
comprimento e 15 a 18mm de largura (Bondar, 1940). A fêmea faz sua postura
na parte tenra do coqueiro, pondo cinco ovos/dia, podendo totalizar 250 ovos
em um único ciclo. Em laboratório, Wilson (1963), observou os seguintes
dados biológicos; período de incubação dos ovos – 64 a 88 horas, período
larval – 33 a 62 dias, período pupal até a saída do casulo – 18 dias, a partir do
nono dia após a saída do casulo a fêmea começa a fazer a postura de ovos por
um período de 25 dias. A longevidade dos adultos é em média 127,5 dias para
os machos e 44,8 dias para as fêmeas.
Essa espécie (R. palmarum) ocorre desde a Argentina até a Califórnia,
onde, segundo Silva et al. (1968), fazem postura e se reproduzem em várias
espécies de plantas além do coqueiro, como por exemplo: babaçu, bacabá,
cana-brava, cana-de-açúcar, dendezeiro, palmeira imperial. Esse besouro tem
o hábito diurno, fazendo seu vôo nas horas mais quentes do dia e podendo ser
encontrado em qualquer época do ano (Sanches et al., 1993).
Após a postura, as larvas passam a se alimentar dos tecidos meristemáticos
da planta, fazendo galerias para todas as direções, que quando são intensas e
numerosas podem causar a fermentação do palmito e, consequentemente, a
morte da planta (Bondar, 1940). Esse besouro também é o principal agente
transmissor do nematóide Bursaphelenchus cocophilus, agente causal da
doença conhecida como anel-vermelho, doença letal para o coqueiro.
Medidas de controle: recomenda-se eliminar as plantas mortas da
lavoura, queimando-as ou usando as mesmas como isca, pulverizando
inseticidas específicos para a praga, eliminando assim tanto as larvas que nela
se encontram como os adultos que atraídos pelo cheiro da fermentação que ali
viriam a fazer postura. Também é recomendado que se evitem os ferimentos
na estrutura das plantas durante os tratos culturais, visto que esses ferimentos
atraem o besouro. Outra forma de controle é o uso de armadilhas, a mais usada
é a em forma de alçapão, onde é colocado em seu interior iscas, sendo a mais
94
usada pedaços de cana-de-açúcar (Moura et al., 1991), sendo que também hoje
já se encontra no mercado um feromônio a base de Rhynchophorol, onde
dessa forma os besouros capturados devem ser coletados periodicamente e
mortos.
Doenças do coqueiro
1 – Thielaviopsis paradox: Resinose do coqueiro
96
A resinose do coqueiro é uma doença causada por um fungo que ataca o
sistema vascular das plantas, obstruindo os vasos, impossibilitando a
translocação de seiva e nutrientes, depauperando a planta, e podendo até levar
a morte da mesma. Os seus sintomas mais visíveis são o aparecimento de um
líquido marrom-avermelhado que escorre através de rachaduras no tronco. A
sua contaminação ocorre facilmente através de insetos vetores, solo
contaminado, água contaminada e ferramentas usadas nos tratos culturais e na
colheita. Essa doença teve seu primeiro registro no Brasil no ano de 2004, e
desde então tem se alastrado por todas as regiões produtoras do país.
Medidas de controle: deve-se procurar fazer o controle dos principais insetos
vetores, evitando dessa forma sua entrada em lavouras ainda livres dessa
doença, visto que se apresenta como o principal fator de entrada em áreas
ainda livres. É recomendado que as plantas em estágios mais avançados da
doença sejam erradicadas da lavoura, visto que o fungo pode sobreviver por
um longo período nos restos culturais. Em plantas em estágios iniciais da
doença recomenda-se fazer uma raspagem da estipe na região atacada e
pulverizar a ponto de escorrimento com a seguinte mistura: para 100 litros de
água usa-se 300g de tiofanato metílico + 500g de ureia + 200g de cloreto de
potássio + 200g de cloreto de sódio (sal grosso). Após a secagem da estipe
recomenda-se pincelar piche ou alcatrão vegetal na área onde foi feita a
raspagem.
97
fazer o uso de fungicidas específicos quando identificado os sintomas iniciais
da doença.
98
Tabela 4. Defensivos registrados para a cultura do coqueiro no estado do ES
Registro Cadastro Produto Classe
3801 682 Abamex Acaricida/Inseticida
14807 635 Azamax Inseticida/Acaricida
458791 362 BacControl WP Inseticida microbiológico
15716 1288 Difcor 250 EC Fungicida
703 2 Envidor Acaricida
892 292 Marshal 200 SC Inseticida/Acaricida
9195 400 Match EC Inseticida
1706 170 Oberon Inseticida/Acaricida
8813 0 Orkestra SC Fungicida
3893 439 Ortus 50 SC Acaricida
8005 88 PotenzaSinon Acaricida/Inseticida
3102 116 RMD-1 Feromônio
4299 147 Roundup Transorb Herbicida
695 71 Safety Inseticida
2894 99 Score Fungicida
107 643 Talento Acaricida
8396 156 Tecto SC Fungicida
618895 91 Vertimec 18 EC Acaricida/Inseticida
Acesso em: 07 de abril de 2017, http://idaf.es.gov.br. Consulta de Produtos
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WILSON, M. Investigations into the development of palm weevil
Rynchophorus palmarum. Tropical agriculture, v.40, p.185-196, 1963.
100
CAPÍTULO 8
Introdução
A agricultura brasileira experimentou importantes transformações nas
últimas décadas, especialmente nos últimos 10 anos. Tais mudanças se devem
em parte pela urbanização do país, especialmente com a migração rural-
urbana, gerando cada vez mais aglomerados urbanos (Figuras 1 e 2). Até
meados da década de 1960 o país era caracteristicamente rural, pois a maior
parte da população brasileira vivia nas zonas rurais. A partir da década de
1960 inicia-se um processo de profunda transformação do país com a
formação de grandes aglomerados urbanos, cidades de médio e grande porte,
resultante do processo de industrialização do Brasil. De acordo com o Censo
Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para os
anos compreendidos entre 1940-2010, vê-se que no último Censo, o do ano
de 2010, apenas 14% da população residiam nas zonas rurais, com tendências
de redução ainda mais significativa nas próximas décadas.
101
250.000.000
200.000.000
150.000.000
100.000.000
50.000.000
0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Total Urbana Rural
Figura 1 – Evolução da população brasileira, segundo Censo Demográfico
do IBGE, 1940-2010 - Fonte: Censo Demográfico Dados Históricos (vários
anos).
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Urbana Rural
Figura 2 – Evolução da população urbana e rural em termos percentuais,
1940-2010 - Fonte: Censo Demográfico Dados Históricos (vários anos).
104
Casos de sucesso e recomendações da fruticultura no contexto da
agricultura familiar
1) Cultivo da gravioleira
Na Bahia e em Pernambuco existem experiências bem sucedidas no cultivo
de gravioleira (Annona muricata). Na região do baixo Sul da Bahia,
especialmente nos municípios de Wenceslau Guimarães, Teolândia, Gandu,
dentre outros, os produtores rurais buscaram alternativas econômicas,
principalmente após a grande crise do cacau da década de 1980, dentre elas a
gravioleira como uma lavoura alternativa. Os primeiros cultivos dessa fruta
foram implantados com poucos conhecimentos sobre o manejo de produção.
Pouco a pouco com o crescimento local da demanda por essa fruta foram
adquirindo conhecimento técnico a fim de praticar bom manejo da cultura,
além de boas práticas na colheita, pós-colheita e processamento da fruta no
âmbito da propriedade. Os produtores começaram a perceber que produzir
graviola era um bom negócio, já que o mercado absorvia toda a produção com
preços atrativos, tanto da fruta fresca quanto daquela destinada à
agroindústria, tanto no mercado local como também exportando para outros
estados brasileiros. Estudo realizado por Freitas (2012) na região do baixo
sul da Bahia revela que a graviola representa uma importante fonte de renda
para os agricultores locais, predominando na lavoura os agricultores
familiares, já que o tamanho médio dos pomares, segundo esse autor, era de
3,25 ha, sendo que quase 50% deles possuíam áreas de até 2 ha. Esse é um
cultivo que exige uso intensivo e qualificado de mão de obra nas diversas
etapas do cultivo. Quando isso não ocorre, o risco e o comprometimento total
ou parcial da produção, sobretudo nas operações que estão associadas
diretamente aos frutos, como ensacamento e controle das brocas do fruto e da
semente. Assim pode-se prejudicar a produção comercial da graviola que
ocorre após cerca de quatro anos após o plantio e a expectativa futura de
produção. Os produtores locais daquela região são relativamente organizados
e contam com apoio do SENAR, SEBRAE, Universidades Estaduais baianas
(UESB e UESC), CEPLAC, ADAB e diversas entidades privadas. Os
produtores receberam diversos treinamentos em relação às técnicas de
produção (podas, polinização, adubação, controle de pragas, ensacamento de
frutos, colheita, pós-colheita, processamento da fruta, etc). Algumas técnicas
que não eram usuais nos pomares, após os treinamentos passaram a ser
105
adotadas por um número expressivo de produtores que resultaram em
elevação significativa da produtividade e qualidade de frutos. Pode-se citar
dentre essas técnicas, a polinização, podas, adubação, controle fitossanitário
e a forma de colheita dos frutos, as quais promoveram um forte incremento
na produtividade dos pomares.
A média de produção da região estava em cerca de 6 toneladas/ha, mas
com a adoção dessas novas tecnologias, diversos produtores têm alcançado
produtividades entre 20 a 38 toneladas/ha. Outro grande avanço que foi
observado, diz respeito às operações de pós-colheita e pré-processamento na
propriedade. Antes, essas operações eram realizadas de maneira inadequada,
o que colocava em risco a qualidade (principalmente riscos de contaminação
por microrganismos), podendo em algum momento afetar significativamente
o mercado. Um importante trabalho de esclarecimento e capacitação dos
produtores foi realizado na região, os quais foram orientados no sentido de
construir um galpão totalmente asséptico, para recepção, descascamento e
extração e congelamento da massa da graviola para atender ao exigente
mercado de polpas e outros derivados, preconizando as boas práticas de
colheita, pós-colheita e processamento da fruta. A grande maioria dos
produtores aderiu à construção desses galpões e o mercado vem crescendo
com solidez.
Diante dessa situação, pode-se afirmar que os bons produtores têm
auferido uma receita bruta variando de R$40.000,00 a 80.000,00/ha/ano,
dependendo da produtividade e da sazonalidade do preço no mercado. Isso
tem levado à expressividade econômica da lavoura, tornando a Bahia a
principal região produtora dessa fruta no país. Atualmente, muitos são os
produtores que têm na gravioleira sua principal fonte de renda, dinamizando
o mercado local e propiciando à sua família um bom padrão de vida na
propriedade rural onde residem, com moradias adequadas e infraestrutura
como energia elétrica, água, estradas, etc., além de meios de transporte de
elevado padrão para a família, boas escolas para os filhos, etc. Essa é uma
realidade para aqueles produtores que adotam maior nível de tecnificação, têm
uma produção organizada e um mercado solidificado para a comercialização
da produção. Boa parte desses produtores não desejam ampliar o tamanho dos
pomares de gravioleira, por uma razão muito simples: a região não dispõe de
mão-de-obra, portanto, poderão incorrer em grande risco de fazer um
investimento que não obterá sucesso, já que poderá ocorrer maior número de
106
operações (podas, polinização, etc.) que atualmente são feitas principalmente
por membros da família, e ao aumentar o tamanho da propriedade, essas
deixariam de ser realizadas, afetando negativamente a produtividade dos
pomares. Situação parecida ocorre também como os pequenos produtores de
graviola no município de Chã Grande em Pernambuco, os quais têm logrado
êxito nas suas atividades também em pequenas propriedades.
2) Cultivo da pinha
Outro exemplo é a produção de pinha ou fruta-do-conde (Annona
squamosa). Há poucos anos era comum encontrar pomares de pinheira
variando entre 20 a 80 ha. Levando-se em conta que a elevada intensidade do
uso mão-de-obra para as diversas operações de manejo nas plantas,
principalmente na produção, muitos médios ou grandes produtores
abandonaram essa atividade. Por outro lado, os pequenos produtores e
agricultores familiares foram ganhando espaço nessa cultura, em diversas
regiões produtoras do país, especialmente no estado da Bahia, Alagoas,
Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais. O município de Presidente Dutra,
localizado na microrregião de Irecê, Bahia, considerada a maior região
produtora de pinha do país, tem se destacado na produção para os mercados
do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador, etc. Em Presidente Dutra o
predomínio é de pequenos produtores, que têm nesse cultivo sua principal
fonte de renda. A economia desse município está alicerçada fortemente na
produção dessa fruta. Várias são as instituições que com o tempo passaram a
apoiar os produtores, destacando-se as instituições governamentais baianas
(ADAB, Universidades, etc), na adoção de novas tecnologias de produção,
melhorando a produtividade e a qualidade dos frutos, inclusive produzindo
em período de entressafra de outros estados a partir do uso de podas,
polinização, nutrição e indução da floração para produzir em épocas de
melhores preços no mercado.
Percebe-se também que os produtores estão cada vez mais preocupados
com a qualidade da fruta, especialmente no que se refere ao tamanho, formas
de colheita e embalagem utilizada (Souza et al., 2016). Pouco a pouco estão
substituindo as caixas de madeira que causam atrito às cascas dos frutos
manchando-os e depreciando o valor no mercado pelas caixas de papelão com
ou sem tampa de acordo com mercado de destino. As frutas com maiores
preços devem ter peso igual ou superior a 300 g, pois o tamanho influencia
107
fortemente o preço praticado no mercado. Os pequenos produtores de pinha
com senso empreendedor zelam para obter essas características do fruto e
auferem maior lucratividade.
No Vale do Rio Gavião, localizado na região de clima semiárido do
Sudoeste da Bahia, uma importante região produtora de pinha, apesar de
existir poucos produtores, esses estão organizados há mais de dez anos,
realizando conjuntamente a compra das embalagens (caixas de papelão
padronizadas), o transporte para o CEAGESP, além de compartilhar as
informações relacionadas ao mercado. Nessa região todos os produtores são
pequenos e usam excelente tecnologia de produção e tratam a atividade de
maneira empresarial, sendo um grande exemplo de que os pequenos podem
obter excelente resultado econômico quando adotam adequadamente a
tecnologia disponível, e consideram as características do mercado (qualidade
da fruta, detalhes de colheita, pós-colheita, embalagem, transporte e relação
adequada com os compradores) na tomada de decisão.
3) Cultivo do maracujá
Outro exemplo de atividade frutícola que vem se tornando em uma opção
para os pequenos produtores é a cultura do maracujazeiro. Atualmente, em
função de diversos problemas relacionados à cultura, poucos são os
produtores de tamanho médio, isto é, áreas superiores a 20 ha. A grande
maioria dos produtores é de pequenos (predominando áreas entre ½ a 3
hectares). Esse cultivo vem apresentando uma série de limitações para os
produtores, devido a ocorrência de pragas (insetos, ácaros e patógenos),
muitas de difícil controle, além da escassez de defensivos registrados para a
cultura, aliado a fortes oscilações de mercado de fruta fresca e da indústria.
Em algumas regiões a falta ou o excesso de chuvas tem prejudicado o
cultivo; mesmo nas regiões irrigadas mais tradicionais, e mesmo naquelas em
que o padrão esperado de chuvas tem alterado muito nos últimos cinco,
gerando reduzido volume de água nas represas, açudes e até mesmo de água
subterrânea, impedindo a prática de irrigação. Apesar disso, muitos
produtores de maracujá têm seu sustento por anos seguidos com essa frutífera.
Para tanto várias recomendações são fundamentais para o sucesso na
atividade e, os pequenos produtores mais esclarecidos têm obtido bons
resultados econômicos. Algumas recomendações básicas que se aplicam a
todos os tamanhos de produtores são: evitar que o novo pomar seja plantado
108
próximo ao pomar antigo (item fundamental); nunca fazer mudas próximas
ao pomar de maracujá a fim de evitar a transmissão de doenças, especialmente
as viroses; realizar adequadamente pulverizações para controlar as pragas;
colher as frutas na planta para o mercado de fruta fresca; escolher
adequadamente seus parceiros para a comercialização, seja indústria ou fruta
fresca; zelar pela qualidade da fruta (frutas grandes, ausentes de manchas,
especialmente a antracnose, ponto adequado de maturação, embalagem
adequada, etc.).
4) Outros cultivos
Muitas outras frutíferas podem e são cultivadas por pequenos produtores,
podendo ser destacadas algumas nas quais os pequenos fruticultores têm
obtido êxito. A banana do grupo Terra, tem sido cultivado principalmente por
pequenos produtores no baixo sul da Bahia há muitos anos com resultados
econômicos bastante positivos. Naquela região encontra-se a principal zona
produtora de banana do grupo Terra do Brasil. Os pequenos produtores
recebem assistência técnica de órgãos governamentais e privados, e têm
logrado excelentes resultados nos últimos anos, entretanto, é importante frisar
que produtores que não seguem as recomendações técnicas usualmente não
obtêm boa rentabilidade, em função da baixa produtividade e da qualidade da
fruta. Essa banana é afetada por diversos fatores, merecendo destaque, o
ataque de nematoides, Sigatoka Negra, moleque da bananeira, irregularidade
das chuvas (especialmente nos últimos quatro anos). Os pequenos
bananicultores precisam estar organizados para receberem orientações
técnicas e assim obterem boa produção e comercialização a preço justo das
frutas.
A goiabeira passou a ser uma frutífera adequada para pequenos produtores
pois exige elevada intensidade de mão de obra principalmente na etapa de
poda e colheita. A grande maioria dos pequenos produtores de goiaba,
utilizam a variedade Paluma, por ter boa aceitação no mercado de fruta fresca
e na indústria de processamento. O produtor deve ter cautela ao escolher esta
frutífera para produção. Deve estar atento à origem das mudas, as quais devem
ser propagadas por estaquia enraizada, devem apresentar total sanidade,
especialmente em relação à presença de nematoides formadores das galhas
nas raízes (fato que inviabiliza o cultivo em poucos anos após o plantio).
109
Várias pragas atacam a goiabeira e seus frutos, com destaque para o inseto
psilídeo, nematoides (pragas chaves), mosca das frutas, gorgulho dos frutos,
ferrugem nas folhas, flores e frutos, antracnose (especialmente na pós-
colheita). Portanto, é uma frutífera ideal para pequenos fruticultores
tecnificados, pois apresenta boa lucratividade, mas exige tratos intensivos e
cuidados permanentes no combate às pragas. A colheita da goiabeira requer
intensivo uso de mão-de-obra, já que não há métodos de colheita mecânica.
Os frutos em estádio “de vez” são destinados para mercado de fruta fresca e
os maduros são destinados para agroindústria para processamento de polpas,
doces, etc. O fruto ao atingir o estádio de maturação para fruta fresca que não
for colhido naquele dia, certamente no dia seguinte terá como destino o
processamento industrial. Dessa forma o pequeno produtor de goiaba, deverá
fazer um levantamento a respeito do mercado destino, incluindo a
comercialização da fruta fresca e para o processamento. Nesse sentido será
preciso levar em consideração o volume e o custo de transporte até o mercado
alvo.
Importante levar em consideração que os melhores casos de sucesso de
produtores de goiaba, ocorrem quando há agroindústrias de processamento na
região e facilidade de comercializar a fruta fresca. Nos últimos anos os preços
de goiaba, tanto para indústria como para o mercado in natura, têm sido muito
atrativos para os produtores. A produtividade de goiabeiras Paluma, pode
atingir entre 50 a 75 toneladas/ha para produtores que usam boa tecnologia de
produção, incluindo irrigação.
A citricultura pode também vir a ser uma ótima opção para os pequenos
produtores, como ocorre na região do Recôncavo baiano (Cruz das Almas e
outros municípios da região) e no estado de Sergipe. Os pequenos citricultores
nessas regiões produzem laranjas, lima ácida Tahiti, limas, etc. Usualmente
não são muito tecnificados, mas obtêm dessa cultura a principal fonte de
renda.
No mercado brasileiro a citricultura é fortemente dominada por grandes
produtores, especialmente no estado de São Paulo, entretanto, há nichos de
mercado que podem ser explorados pelos pequenos produtores em diversas
regiões do país. Nesse sentido o sucesso de um pequeno citricultor depende
de diversos fatores, como descritos a seguir: 1) escolha adequada do terrenos
onde será implantado o pomar; 2) aquisição de mudas de boa procedência
(viveiristas registrados no Ministério da Agricultura); 3) escolha correta das
110
variedades e plantios nos espaçamentos recomendados; 4) manejo adequado
das plantas daninhas, pragas; 5) irrigação de preferência localizada, quando
houver necessidade e disponibilidade de água; 6) conhecimento do mercado
local e regional para comercialização da sua produção; etc. O pequeno
citricultor poderá escolher as variedades que usualmente proporcionam
melhor comercialização, como acontece com a laranjeira Bahia (ou de
Umbigo), que apresenta uma colheita na meia estação (maio a agosto, a
depender da região), entretanto, é importante saber que esta variedade não se
presta para processamento industrial.
Outra variedade que pode ser adotada é a Hamlin, que apresenta
precocidade na produção, cuja colheita ocorre entre abril a maio. Ainda as
variedades Natal e Valência poderão ser adotadas caso deseje colher nos
meses de outubro a novembro. Portanto, se for desejo do citricultor, ele poderá
fazer um pomar com diversas variedades de laranjeiras e colher as frutas desde
abril até novembro.
No caso de optar pela lima ácida Tahiti (popularmente chamada de “limão”
Tahiti) o pequeno citricultor deverá ter um cuidado redobrado em relação ao
mercado. Será preciso conhecer bem a questão da sazonalidade de preços e
ofertas dessa fruta, que em condições normais, são observados preços baixos
no primeiro semestre e preços elevados entre setembro a novembro. Portanto,
deverá conhecer: o mercado local e regional para escoar sua produção; se há
possibilidade de comercializar seus frutos em parceria com outros produtores;
se os preços praticados no primeiro semestre são compatíveis com a sua
expectativa; se o clima na região permite a realização da indução floral, etc.
O mangustão pode também ser uma fruteira apropriada para pequenos
produtores e agricultores familiares, especialmente em condições ambientais
adequadas como é o caso da região litorânea do Espírito Santo e da Bahia.
Entretanto, o produtor necessita de conhecimento a respeito dessa frutífera,
pois essa inicia florescimento após 8 anos do plantio da muda e começa sua
produção plena a partir dos 12 ou 15 anos de idade. Apesar desse largo período
juvenil para entrar em produção, trata-se de uma frutífera de elevada
rentabilidade para pequenos pomares. O agricultor familiar ou o pequeno
produtor poderá intercalar outros cultivos anuais e ou semi perenes para
auferir rentabilidade enquanto o mangustão não iniciar a produção.
Várias outras fruteiras poderiam ser recomendadas para a agricultura
familiar. Em algumas circunstâncias até mesmo fruteiras tradicionais,
111
cultivadas por médios e grandes produtores, para o agricultor familiar ou do
pequeno produtor obter êxito necessita de um estudo detalhado do mercado
(preços, distância entre o pomar e o destino final da produção, etc). Por outro
lado, existem frutas consideradas de menor expressão econômica no cenário
da fruticultura brasileira, como por exemplo: pitanga, acerola, rambutão,
umbu, cajá, dentre muitas outras. Essas frutas se produzidas próximas às
zonas de comercialização (fruta fresca e ou processamento) poderão ser
lucrativas, pois reduziriam consideravelmente os custos de transporte, item
importante na composição dos custos dos produtores.
Importante ainda é lembrar que, as mudanças nos hábitos alimentares
podem abrir novas possibilidades para o agricultor familiar. A cada ano novas
descobertas são obtidas nas composições de várias frutas (muitas ainda sem
grande expressão econômica) em relação aos seus valores nutracêuticos. Os
teores de substâncias antioxidantes (carotenoides, flavonoides, ácido
ascórbico, etc, presentes nas cerejas, açaí, pupunha, guariva, araticum, pequi,
dentre muitas outras) estão cada vez mais valorizados pelos consumidores, na
prevenção de doenças cardiovasculares, envelhecimento precoce, canceres,
etc. Frutas ricas nestes componentes poderão ser importantes para os
agricultores familiares garantirem mercado, preço justo, e estabilidade e
sustentabilidade econômica. Os meios de comunicação têm dado grande
apoio na divulgação da qualidade nutracêutica de diversas frutas,
especialmente os telejornais, telenovelas, revistas especializadas em nutrição,
assim como, a facilidade do uso das redes sociais para divulgar os benefícios
para a saúde pela ingestão das frutas.
Conclusão
A fruticultura é uma importante opção para a agricultura familiar, mas para
o produtor lograr êxito necessita adotar manejo adequado. A escolha da
frutífera a ser cultivada deve levar em consideração as exigências do mercado
local ou regional, as possibilidades de mecanização e automação, os nichos
de mercado, os custos de produção e de transporte, dentre outros. Muitas são
as opções de frutíferas e variedades que o produtor pode escolher para
implantar sua lavoura, no entanto, deve observar também adequação ao solo
e clima da região onde se deseja cultivar. Ademais, o contexto atual exige
também um agricultor familiar empresarial no sentido de produzir bem, com
qualidade, respeito ao meio ambiente e à saúde dos consumidores, pois o
112
sucesso dos produtores contribui não apenas para melhoria da qualidade de
vida da sua família, mas gera também a dinamização da economia local.
Bibliografia consultada
FREITAS, A. L. G. E. Caracterização da produção e do mercado da
graviola (Annona muricata L.) em municípios da região Sul da Bahia.
Vitória da Conquista – BA: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
2012. 104p. (Dissertação – Mestrado em Agronomia).
SOUZA, I. V. B.; SÃO JOSÉ, A. R.; SILVA, J. C. G. da; BOMFIM, M.
P.; JESUS, J. S. de. The development of custard apple flower bud under
nitrogen and potassium nutrition. Revista Brasileira de Fruticultura,
Jaboticabal , v. 38, n. 2, e-507, 2016.
113
CAPÍTULO 9
1. Introdução
Dentre os problemas fitossanitários da fruticultura na Região Norte do
Espírito Santo as pragas requerem especial atenção, tanto pelos problemas que
podem causar ao provocar redução na produção das culturas, como nos casos
em que, incorretamente identificadas, ocasionam aumento nos custos de
produção e contaminação ambiental por resíduos de pesticidas utilizados
desnecessariamente. Assim, é importante a correta identificação das pragas
que ocorrem nas principais culturas e os meios adequados a serem
empregados no seu controle.
De maneira geral, os insetos ou ácaros pragas podem provocar danos
diretos à produção, quando afetam ou danificam os frutos a serem colhidos,
ou danos indiretos, quando atacam outras partes da planta e provocam redução
na capacidade produtiva da mesma.
2. Pragas do Mamoeiro
As principais pragas do mamoeiro na região norte do Espírito Santo são
ácaros e cigarrinhas, que podem ser controladas nos focos iniciais de ataque
(reboleiras) desde que detectados precocemente, o que evitaria aplicações de
produtos em área total e em menor quantidade e custo para o produtor. Para
tanto, seria indicado o treinamento para detecção do ataque dessas pragas para
114
o pragueiro ou fitossanitarista, uma vez que o mesmo já inspeciona
periodicamente o pomar para verificação da ocorrência de viroses. Outra
característica importante do mamoeiro que deve ser verificada no caso de
aplicação de produtos para controle de pragas é a grande sensibilidade da
planta à fitotoxicidez provocada pelos referidos produtos, daí a importância
de aplicar apenas os produtos registrados e já testados na cultura.
A B
115
pelos adultos e larvas ao se alimentarem. As folhas apresentam inicialmente
pontuações amareladas ao longo das nervuras que depois secam e se rasgam
nesses locais das lesões (Figura 2A e 2B). O controle é feito através da
pulverização de acaricidas. Recomenda-se duas pulverizações em sequência
quando verificada a necessidade de controle do ácaro, a primeira visando
controlar adultos e ninfas e, após sete dias, outra para controlar os ácaros
originados dos ovos que não foram controlados na primeira aplicação.
A B
116
A B
3. Pragas do Maracujazeiro
3.1. Lagartas - Dione juno juno e Agraulis vanillae vanillae (Lepidoptera:
Nymphalidae)
117
Ao se alimentar das folhas do maracujazeiro, as lagartas dessas borboletas,
quando em infestações severas, podem provocar redução da capacidade
produtiva das plantas. Sinais de surtos de lagartas desfolhadoras podem ser
detectados com antecedência ao se observar borboletas amarelo-alaranjadas
sobrevoando as plantas durante o dia, ou mesmo a presença de fezes das
lagartas no solo próximo das plantas. É importante essa detecção precoce do
ataque de lagartas porque o controle biológico com Bacillus thuringiensis só
é eficaz se o produto for ingerido pelas lagartas. Mesmo a aplicação de
inseticidas químicos requer a adoção da prática quando as lagartas ainda estão
pequenas, situação em que a eficiência é maior.
119
Moscas das frutas podem também ocorrer provocando queda de frutos, em
cujo interior se observam as larvas dessa mosca. É possível o monitoramento
de adultos com armadilhas e pulverização de inseticidas na forma de iscas
tóxicas para seu controle.
Também tem sido verificada com frequência a ocorrência de mosca
minadora, cujas larvas provocam lesões características nas folhas em forma
de serpentina (Figura 6), mas ainda não foi avaliado com precisão se essa
praga pode provocar redução de produção ou não. Observações de campo
indicam que mesmo em infestações severas, a produtividade do pomar é
satisfatória e compatível com o conjunto de práticas culturais adotadas.
Percevejos da família Coreidae podem causar problemas em lavouras
devido à sucção de seiva. São facilmente reconhecidos pela dilatação em
forma de folha na perna posterior. As ninfas preferem os botões florais e frutos
novos, enquanto os adultos atacam folhas, ramos e frutos em qualquer idade.
As partes atacadas tendem a murchar e, em casos extremos, os botões e frutos
novos geralmente caem.
4. Pragas da Goiabeira
4.1. Gorgulho - Conotrachelus psidii (Coleoptera: Curculionidae)
A fêmea desse besouro faz uma perfuração em frutos verdes onde deposita
seus ovos, recobrindo-os posteriormente. As larvas vão eclodir no interior dos
frutos, alimentar-se de sua polpa e depois de completada a fase larval, sair dos
120
frutos e se transformar em pupa no solo (Figura 7A). Os frutos apresentam
lesão característica nos locais da postura dos ovos e são impróprios para
consumo devido ao dano provocado pelas larvas (Figura 7B). De difícil
controle, recomenda-se a pulverização de inseticidas ou ensacolamento dos
frutos no caso de goiaba para mesa quando os mesmos estiverem no tamanho
de uma azeitona.
A B
121
Figura 8. Sintoma inicial característico do ataque do psilídeo da goiaba,
encarquilhamento e posterior secamento das bordas das folhas. Foto: Inorbert
de Melo Lima.
122
Figura 9. Larva da mosca das frutas se alimentando da polpa do fruto.
5. Pragas da Bananeira
5.1. Broca da bananeira - Cosmopolites sordidus (Coleoptera:
Curculionidae)
As larvas broqueiam o rizoma da bananeira, provocando morte de raízes e
redução da capacidade produtiva da planta. Se forem utilizadas mudas sadias
ou tratadas com inseticidas, só haverá necessidade de controle a partir da
emissão dos primeiros cachos, a partir do qual o monitoramento e o controle
devem ser sistemáticos. É possível realizar o monitoramento com iscas de
pseudocaule (tipo telha ou tipo queijo) espalhadas no cultivo. Detectada a
presença dos primeiros adultos, faz-se necessário o controle, agora com as
mesmas iscas tratadas com inseticidas químicos ou biológicos. Detalhe a se
destacar é que com o emprego de inseticida biológico, o besouro se infecta na
isca tratada e geralmente é encontrado morto, com o fungo esporulado, em
outro local, frequentemente sob a palha seca nos pseudocaules das plantas.
123
5.2. Tripes - Caliothrips bicinctus (Thysanoptera: Thripidae)
Esses insetos raspam os frutos, deixando-os ásperos com aspecto de
pequenas bolhas na superfície no início do ataque, sintoma que evolui para o
escurecimento dos frutos. O mau aspecto desses frutos os tornam de difícil
aceitação para comercialização. Como medida de controle recomenda-se a
eliminação dos restos florais e do coração, além da proteção dos cachos com
sacos plásticos de coloração azul.
124
6.2. Broca do pecíolo ou broca da ráquis foliar - Amerrhinus ynca
(Coleoptera: Curculionidae)
A larva do besouro vai broquear o pecíolo ou ráquis foliar do coqueiro, que
apresentam sinais característicos de escorrimento de uma resina escura
através dos orifícios de respiração. Como não há controle químico
recomendado, deve-se optar pela retirada e destruição total de folhas atacadas
em caso de infestação mais severa. A simples retirada das folhas das plantas
não é suficiente, pois as larvas podem continuar se desenvolvendo nas folhas
que não forem destruídas.
7. Pragas do abacaxizeiro
7.1. Cochonilha do abacaxi - Dysmicoccus brevipes (Hemiptera:
Pseudococcidae)
Essa praga transmite o vírus da murcha do abacaxizeiro (wilt) e desperta
mais cuidados em função da cultivar plantada e de sua suscetibilidade à essa
doença. Requer especial atenção na instalação do plantio com mudas sadias,
se necessário com a realização de controle químico dessas mudas. Inspeções
periódicas do plantio e controle dos focos iniciais de ataque também se fazem
necessários.
Figura 10. Fruto de abacaxi com sintoma de ataque e polpa danificada pela
broca do fruto. Foto: Cesar Fanton.
8. Literatura Consultada
BARBOSA F.R. (Ed.). Goiaba: Fitossanidade. Embrapa Semi-Árido
(Petrolina, PE). - Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. 63p.
(Frutas do Brasil, 18).
127
BENASSI A.C., FANTON C.J., SANTANA E.N. 2013. O cultivo do
coqueiro-anão-verde. Tecnologias de produção. Incaper, Vitória-ES, 120p.
CORDEIRO Z.J.M. (Org.). Banana: Fitossanidade. Embrapa Mandioca e
Fruticultura. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de
Tecnologia, 2000. 121p. (Frutas do Brasil, 8).
GALLO D., NAKANO O., NETO S.S., CARVALHO R.P.L., BATISTA
G.C., FILHO E.B., PARRA J.R.P., ZUCCHI R.A., ALVES S.B.,
VENDRAMIM J.D., MARCHINI L.C., LOPES J.R.S., OMOTO C. 2002.
Entomologia agrícola. Piracicaba, FEALQ, 920p.
MARTINS D.S., FORNAZIER M.J., FANTON C.J., QUEIROZ R.B.,
ZANUNCIO JUNIOR J.S. 2016. Pragas do mamoeiro. In: Manejo de pragas
de fruteiras tropicais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.37, n.293,
p.72-81.
MATOS A.P. (Org.) Abacaxi. Fitossanidade. Embrapa Mandioca e
Fruticultura. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de
Tecnologia, 2000. 77p. (Frutas do Brasil, 9).
SANTOS FILHO H.P., JUNQUEIRA N.T.V. (Ed.). Maracujá:
Fitossanidade. Embrapa Cerrados. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2003. 85p. (Frutas do Brasil, 32).
128
CAPÍTULO 10
Introdução
O cultivo de abacaxizeiro (Ananas comosus (L.) Merril) tem aumentado
no estado do Espírito Santo e possui grande potencial de extensão, uma vez
que se adapta bem às condições edafoclimáticas. Portanto, novas técnicas
devem ser adotadas pelos produtores para elevar aspectos de qualidade e
produtividade, para maximizar a comercialização.
O Espírito Santo possui produção de aproximadamente 42 milhões de
frutos com rendimento médio em torno de 16.855 frutos ha-1 (IBGE, 2016).
Média considerada baixa, já que em um hectare é possível inserir 40 mil
plantas.
A maior parte dos plantios de abacaxizeiro do estado do Espírito Santo
concentram-se na região Litoral Sul, que abrange os municípios de
Marataízes, Itapemirim e Presidente Kennedy, onde a umidade relativa do ar
é elevada favorecendo o cultivo do mesmo. A produção é destinada não só
para o abastecimento local, mas também a mercados urbanos de outros
estados, sobremaneira o Rio de Janeiro (Cunha & Shintaku, 2011).
129
Fertirrigação
Quando comparado a outras culturas, o abacaxizeiro possui necessidades
hídricas relativamente reduzidas, todavia, a demanda de água é permanente e
depende do estádio de desenvolvimento das plantas. É imprescindível o
fornecimento de irrigação à cultura em épocas críticas do ciclo de cultivo, em
que períodos de déficit hídrico coincidam com as fases de enraizamento,
crescimento vegetativo e formação do fruto, onde a demanda hídrica é
máxima e constante (Almeida & Souza, 2011). O adequado suprimento de
água é indispensável para o crescimento e desenvolvimento da cultura, com
reflexo positivo na produção, possibilitando gerar frutos com tamanho
padronizado, assim como o fornecimento aos mercados no período de
entressafra, com maior retorno econômico (Melo et al., 2006).
Devido à baixa dependência hídrica e nutricional do abacaxizeiro, são
poucas as pesquisas nessa área, no entanto, é imprescindível seu
aprimoramento. Nesse sentido, uma técnica bastante importante que pode
contribuir para o melhor desenvolvimento do abacaxizeiro é a fertirrigação.
A fertirrigação é a técnica de aplicação de adubos juntamente com a água
do sistema de irrigação, ou seja, a combinação das práticas de fertilização e
irrigação onde os adubos minerais são injetados na água de irrigação que
assim torna-se “enriquecida” (Trani et al., 2011). A fertirrigação, apesar de
poucos dados estatísticos que comprovem, está sendo muito usada pelos
produtores de frutas e verduras (Villas Bôas & Souza, 2008).
Sua introdução agrega inúmeras vantagens por combinar dois principais
fatores essenciais no crescimento e desenvolvimento das plantas: água e
nutrientes, visto que aplicando os fertilizantes em menor quantidade e com
maior frequência, pode-se manter um teor de nutrientes no solo em
quantidades exigidas nas diferentes fases do ciclo da cultura, o que leva a um
aumento na eficiência do uso de nutrientes pelas plantas e, consequentemente,
maior produtividade.
Dentre as outras vantagens pode-se citar: maior aproveitamento dos
equipamentos de irrigação, menor compactação e redução dos danos físicos
às plantas com a redução do tráfego de máquinas dentro da área; redução de
contaminação do meio ambiente devido ao melhor aproveitamento dos
nutrientes móveis no solo quando aplicados via irrigação localizada;
diminuição da utilização de mão de obra. Além disso, permite a implantação
de plantios adensados, fator importante de produção para o abacaxizeiro,
130
tendo como vantagem o aumento da produtividade e da rentabilidade
(Bengozi et al., 2007).
Esta técnica, quando utilizada racionalmente, pode proporcionar melhor
desenvolvimento das plantas e qualidade dos frutos, proporcionando aumento
na competitividade do fruticultor (Simão et al., 2004). Assim, a fertirrigação
não deve ser praticada de forma empírica com base apenas na experiência do
produtor e em recomendações genéricas. O uso incorreto pode levar a má
utilização dos nutrientes pela cultura, desequilíbrio ambiental e prejuízos
econômicos para o produtor (Sousa et al., 2002).
De acordo com Souza (1999), a ordem decrescente de extração e acúmulo
de nutrientes obedece a seguinte ordem de exigência de macronutrientes:
potássio (K), nitrogênio (N), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S) e
fósforo (P), e de micronutrientes: cloro (Cl), ferro (Fe), manganês (Mn), zinco
(Zn), cobre (Cu) e boro (B). Como se pode observar, o K é o macronutriente
mais acumulado e extraído em maior quantidade, seguido do nitrogênio, ao
passo que o P é acumulado em menor quantidade. Quanto aos micronutrientes
o Cl e o Fe são os elementos absorvidos em maiores quantidades.
Segundo Teixeira et al. (2002), a influência desses elementos reflete-se,
basicamente, sobre a produtividade e qualidade do fruto. O potássio (K)
aumenta o teor de sólidos solúveis e acidez, mudança de coloração, aumenta
a massa média e o diâmetro do fruto, a firmeza da casca e da polpa e reduz o
escurecimento interno do fruto. Enquanto, o nitrogênio atua no aumento da
produção, tamanho e massa dos frutos, porém, tende a reduzir os teores de
sólidos solúveis e acidez (Paula et al., 1985). Em relação ao fósforo, o
abacaxizeiro é pouco exigente e sua importância para a planta ocorre na fase
de diferenciação floral e no desenvolvimento do fruto (Malézieux &
Bartholomew, 2003).
A recomendação de adubação convencional tem variado de 6 a 10 g
N.planta-1, a fosfatada de 1 g a 4 g P2O5.planta-1 e a potássica de 4 g a 15 g
K2O. planta-1 de acordo com Souza (2000).
Conforme Boas et al. (2006), quando se pretende utilizar a fertirrigação
deve-se avaliar, além da questão econômica, as características das fontes de
fertilizantes empregadas. Elas devem apresentar alta solubilidade e poucas
impurezas para que a concentração final do nutriente na solução seja, de fato,
a calculada. Ainda, evitar entupimentos dos emissores, principalmente dos
131
gotejadores, corrosão dos equipamentos e incompatibilidade com outros
produtos.
133
O pH, do mesmo modo que a acidez, está associado ao processo de
amadurecimento dos frutos e podem ser utilizados como parâmetros
auxiliando na determinação do ponto de colheita (Reinhardt & Medina, 1992).
De modo geral, o pH da polpa do abacaxi ‘Pérola’ se enquadra entre 3,7 a
3,9 (Gonçalves & Carvalho, 2000). Neste estudo apresentou valores que
variaram de 4,17 a 4,23 (Tabela 2). Esse valor corrobora com os valores
encontrados por Pereira et al. (2009), que obtiveram em seus trabalhos valores
entre 4,07 e 4,38. Franco (2010) em cultivo fertirrigado, observou pouca
variação do pH que ficou entre 3,9 a 4,0. Vale destacar que os frutos colhidos
nos trabalhos citados pertenciam a cultivar Pérola e também estavam no
mesmo estádio de maturação utilizado no trabalho.
A acidez titulável, por sua vez, varia de 0,6% a 1,6% e é expressa em
porcentagem de ácido cítrico, por ser o ácido presente em maior quantidade e
contribuir com 80% da acidez total (Carvalho & Botrel, 1996).
A variável acidez titulável apresentou média de 0,41% de ácido cítrico
(Tabela 2). Essa média foi superior ao encontrado por Cunha et al. (2007),
com valor de 0,35% de ácido cítrico. Esse valor está dentro da faixa de 0,20 a
0,43 % de ácido cítrico destacado por Guarçoni & Ventura (2011); próximos
aos 0,42% obtidos por Araujo et al. (2012).
A relação SS/AT encontrou-se entre 32,59 a 36,40 (Tabela 2). Esta relação
corresponde ao balanço entre doçura e acidez. No presente trabalho a acidez
titulável foi relativamente baixa o que contribuiu para maiores valores de
SS/AT quando comparado aos resultados de outros autores (Franco, 2010;
Ribeiro et al., 2011; Lopes et al., 2014; Andrade et al., 2015).
A fertirrigação também favorece maior facilidade e flexibilidade no
parcelamento da adubação, o que permite melhor ajuste no fornecimento de
nutrientes de acordo com a marcha de absorção da cultura, nos diferentes
estádios de desenvolvimento (Souza et al., 2012) contribuindo para minimizar
as perdas por lixiviação (Duenhas et al., 2002). Essa técnica ajusta-se bem à
fertilização do abacaxizeiro, que é exigente em nutrientes, como maior
expressão para o potássio e o nitrogênio.
134
Tabela 2. Sólidos Solúveis (SS), pH, Acidez titulável (AT) e Ratio (SS/AT)
do abacaxizeiro ‘Pérola’ em função de diferentes alternativas de manejo da
fertirrigação. São Mateus – ES, 2015
SS pH AT RATIO
Tratamentos
(ºBrix) (% ác. cítrico) (SS/AT)
Não-Irrrigado 14,36 a 4,18 a 0,41 a 35,25 a
Irrigado e Não-Fertirrigado 14,38 a 4,18 a 0,44 a 32,59 a
Fertirrigação (Doses Crescentes) 13,47 b 4,22 a 0,40 a 34,79 a
Fertirrigação (67 % da adubação) 14,01 ab 4,17 a 0,43 a 33,64 a
Fertirrigação 2 vezes na semana 13,83 ab 4,23 a 0,38 a 36,40 a
Média Geral 14,01 4,20 0,41 34,54
CV (%) 2,70 1,72 10,07 11,01
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si, ao nível de 5%
de probabilidade, pelo teste de Tukey.
135
trabalhando com o abacaxizeiro ‘Gold’ e adubação de N e K em cobertura e
parceladas em quatro aplicações.
Para Chitarra & Chitarra (2005), a massa considerada ótima para os
abacaxis do cultivar Pérola está entre 1,0 kg e 1,4 kg. Dessa forma, os frutos
produzidos estão em conformidade com o recomendado para a cultura e
adequados para comercialização.
Com relação à produtividade, mesmo não ocorrendo diferenças entre os
esquemas de parcelamento da adubação com nitrogênio, a média geral obtida
de 56.253,72 kg ha-1 é 110% maior que a produtividade estimada de 26.706
kg ha-1 para o Brasil no ano de 2014 (IBGE, 2016). Isso indica que o potencial
produtivo do abacaxizeiro pode ser amplificado através da adoção de novas
práticas agrícolas capazes de aprimorar o cultivo.
O parcelamento do nitrogênio é recomendado pela sua alta mobilidade no
solo, característica acentuada em condições de solos arenosos, alto índice
salino dos adubos que o contêm e baixa exigência inicial das culturas, sendo
o nutriente mais fornecido via água de irrigação (Borges & Silva, 2011).
Ressaltando que, apesar do efeito não significativo do parcelamento da
adubação com nitrogênio, as massas médias dos frutos e as produtividades
obtidas se mostraram compatíveis com as características descritas para o
cultivar.
Quanto aos parcelamentos das adubações potássicas, semanal (K= 35) e
mensal (K= 9), as massas médias dos frutos com coroa e as produtividades
variaram de 1,39 kg a 1,50 kg e de 53.381,410 kg ha-1 a 57.851,680 kg ha-1,
respectivamente (Tabela 3).
No parcelamento da adubação potássica aplicado uma vez na semana (K=
35), a massa média do fruto com coroa e a produtividade foram menores em
relação aos demais parcelamentos (Tabela 3), enquanto houve uma tendência
de maiores massas e produtividades nos tratamentos parcelados mensalmente
(K= 9) e em 4 aplicações ao longo do ciclo da cultura.
136
Tabela 3. Massa média de frutos com coroa (kg) e produtividade (kg.ha-1) do
abacaxizeiro ‘Pérola’, decorrentes do parcelamento da adubação com
nitrogênio (N) e potássio (K). São Mateus – ES, 2015
Variáveis
Tratamentos
MASSA DE FRUTOS (kg) PRODUTIVIDADE (kg.ha-1)
Parcelamentos da adubação Nitrogenada
1. N= 54 1,472 a 56.650,16 a
2. N= 27 1,505 a 57.888,22 a
3. N= 7 1,416 a 54.495,19 a
4. N= 4 1,459 a 56.121,88 a
Média Geral 1,463 56.253,72
CV (%) 6,22 6,22
Parcelamentos da adubação Potássica
1. K= 70 1,467 ab 56.443,99 ab
2. K= 35 1,388 b 53.381,41 b
3. K= 9 1,504 a 57.851,68 a
4. K= 4 1,494 a 57.478,37 a
Média Geral 1,463 56.253,72
CV (%) 6,22 6,22
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si, ao nível de 5%
de probabilidade, pelo teste de Tukey.
N= 54 aplicações (Parcelamento da adubação em duas vezes na semana); N= 27
aplicações (Parcelamento da adubação semanalmente); N= 7 aplicações (Parcelamento
da adubação mensal); N= 4 aplicações (Parcelamento da adubação em quatro vezes),
durante o ciclo da cultura.
K= 70 aplicações (Parcelamento da adubação em duas vezes na semana); K= 35
aplicações (Parcelamento da adubação semanalmente); K= 9 aplicações (Parcelamento
da adubação mensal); K= 4 aplicações (Parcelamento da adubação em quatro vezes),
durante o ciclo da cultura.
Conclusão
Diante do exposto verifica-se que a fertirrigação é uma prática agrícola que
deve ser analisada não somente visando a maior eficiência nas fertilizações,
mas também como facilidade na aplicação de fertilizantes e otimização da
mão de obra.
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