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Saúde ambiental e saúde do trabalhador

ARTIGO ARTICLE
na atenção primária à saúde, no SUS: oportunidades e desafios

Environmental and workers´ health, within the framework


of primary health care in the Brazilian National Health System (SUS):
opportunities and challenges

Elizabeth Costa Dias 1


Raquel Maria Rigotto 2
Lia Giraldo da Silva Augusto 3
Jacira Cancio 4
Maria da Graça Luderitz Hoefel 5

Abstract This paper has the purpose of contrib- Resumo O texto busca contribuir para a discus-
uting to the discussion of the crossing areas be- são dos entrecruzamentos entre os campos da saú-
tween Environmental Health and Workers´ de ambiental e da saúde do trabalhador, referen-
Health, in the Brazilian context of Labor, Pro- ciada no cenário brasileiro das relações produ-
duction, Environment and Health. This paper ção/trabalho, ambiente e saúde e nas mudanças
emerges in the context of the current organiza- na organização do SUS, com destaque para o pa-
tional changes of the Brazilian National Health pel da atenção primária à saúde (APS), e se desti-
System (SUS), with a major focus on Primary na a contribuir para as discussões no processo de
Health Care, having in mind, also, the prepara- preparação da 1ª Conferência Nacional de Saúde
tion of the 1st National Environmental Health Ambiental (1ª CNSA), prevista para ser realizada
Conference (1a CNSA) to be held in December of em dezembro de 2009. São descritos, de modo sin-
2009. So, historical and conceptual aspects of those tético, aspectos históricos e conceituais desses
1
Departamento de Medicina fields are described in a summarized manner, as campos, algumas das características compartilha-
Preventiva e Social,
well as some shared features and expected actions das e as ações esperadas do sistema de saúde, com
Faculdade de Medicina,
UFMG. Av. Alfredo Balena of the Health System, with emphasis to the role of destaque para o papel da APS e a importância do
190/817, Bairro Santa Primary Health Care and to the importance of diálogo com o movimento social. Finalizando, são
Efigênia. 301130-100 Belo
the dialogue with the social movement. Finally, identificados pontos para uma agenda de traba-
Horizonte MG.
bethdias@medicina.ufmg.br some topics for a common agenda were identified lho comum.
2
Departamento de Saúde by the authors. Palavras-chave Atenção primária à saúde, Aten-
Comunitária, Centro de
Key words Primary health care, Environmental ção básica de saúde, Saúde ambiental, Saúde do
Ciências da Saúde da
Universidade Federal do health, Occupational health and workers´ health trabalhador
Ceará.
3
Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães, Fiocruz.
4
Superintendência de
Vigilância e Proteção da
Saúde, Secretaria de Saúde
do Estado da Bahia.
5
Coordenação Geral de
Saúde do Trabalhador,
Departamento de Saúde
Ambiental e do Trabalhador,
Secretaria de Vigilância em
Saúde, Ministério da Saúde.
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Dias EC et al.

Introdução de ambiental (SA) e da saúde do trabalhador (ST)


têm sido tratadas superficialmente e reduzidas à
A atenção primária à saúde (APS) baseia-se em dimensão médico-assistencial.
métodos e tecnologias simplificadas, cientifica- A 1ª Conferência Nacional de Saúde Ambien-
mente fundamentadas e socialmente aceitas, dis- tal (1ª CNSA), a ser realizada em dezembro de
ponibilizadas ao alcance universal da população 20093, oportuniza a reflexão e a construção de
como primeiro nível de contato com o sistema propostas no fazer em saúde que contemplem
de saúde, provendo cuidados o mais próximo essas questões. Este texto busca contribuir para
possível aos lugares onde as pessoas vivem e tra- a discussão dos entrecruzamentos entre os cam-
balham. Esta proposta ganhou dimensão inter- pos da saúde ambiental e da saúde do trabalha-
nacional na Conferência sobre Cuidados Primá- dor, referenciados no cenário brasileiro das rela-
rios de Saúde realizada em Alma-Ata, em 1978. ções produção/trabalho, ambiente e saúde, que
No Brasil, esse conceito foi internalizado no conformam os modelos de desenvolvimento
arcabouço jurídico-institucional da saúde, ins- adotados no país e nas mudanças na organiza-
crito nos artigos 196 e 200 da carta constitucio- ção do SUS. Nessa perspectiva, são descritos, de
nal de 1988 e na regulamentação do Sistema Úni- modo sintético, aspectos históricos e conceituais
co de Saúde (SUS), pela Lei Orgânica da Saúde desses campos, características compartilhadas e
(Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990). Ele ori- ações esperadas do sistema de saúde, com desta-
enta práticas de saúde que buscam religar o co- que para o papel da atenção primária à saúde,
nhecimento fragmentado por meio de ações in- em diálogo permanente com o movimento so-
terdisciplinares e intersetoriais, contextualizan- cial, e identificados pontos para uma agenda de
do o processo saúde-doença nos ambientes de trabalho comum.
vida e de trabalho, com a finalidade de concreti-
zar o direito à saúde, em estreito diálogo com os
movimentos sociais organizados. Base conceitual: as relações
Os termos atenção primária à saúde (APS) e produção/trabalho-ambiente e saúde
atenção básica de saúde (ABS) têm sido empre-
gados para designar o primeiro nível de organi- As inter-relações produção/trabalho, ambiente e
zação da atenção no SUS. Após muita discussão, saúde, determinadas pelo modo de produção e
o termo ABS foi adotado pelo Ministério da Saú- consumo hegemônico em uma dada sociedade,
de nos documentos oficiais e designa a política são a principal referência para se entender as con-
estabelecida para essa área. Entretanto, o termo dições de vida, o perfil de adoecimento e morte
atenção primária à saúde (APS) tem sido cres- das pessoas, a vulnerabilidade diferenciada de
centemente utilizado por técnicos, pelo Conse- certos grupos sociais e a degradação ambiental e,
lho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde assim, para construir alternativas de mudança
(CONASS) e em documentos oficiais do SUS, capazes de garantir vida e saúde para o ambiente
nos três níveis de gestão1,2. Neste texto, optou-se e a população.
por utilizar, preferencialmente, a designação aten- Para a produção de bens e riquezas, são re-
ção primária à saúde. queridos matérias-primas, trabalho e tecnolo-
Apesar dos avanços registrados no país, ain- gia. Ao longo da história humana, particular-
da há muito por fazer, ao se considerar o lugar mente a partir do século XVI, no mundo ociden-
onde as pessoas vivem, circulam e trabalham tal, a natureza tem sido vista como uma fonte
como lócus privilegiado para a definição das pri- inesgotável de recursos para os empreendimen-
oridades de saúde, na perspectiva da complexida- tos humanos, provendo o processo produtivo
de envolvida no processo saúde-doença, a escas- de insumos e energia, permitindo a acumulação
sez de recursos financeiros e o aumento do poder de capital. O avanço científico-tecnológico mo-
técnico e político das comunidades, para o exercí- bilizado para a produção, guiado pelo mito da
cio do controle social do SUS. A verticalidade e a inesgotabilidade dos recursos naturais, induz a
centralização continuam desafiando a organiza- exploração sem limites. A ética instituída da su-
ção de ações de saúde de caráter transformador premacia dos humanos sobre os outros seres do
na atenção primária e, apesar do aumento da co- planeta reforça esse comportamento.
bertura, predominam atividades assistenciais em Entretanto, para que a produção aconteça, o
detrimento da vigilância e da promoção da saú- trabalho humano é, e sempre será, indispensável,
de. As questões de saúde decorrentes de proces- mesmo em situações de extrema automação. As-
sos socioambientais, objeto dos campos da saú- sim, o círculo virtuoso e perverso da economia se
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sustenta pela exploração da natureza e do traba- necessita ser integrado à agenda política das na-
lhador, gerando a degradação ambiental e as car- ções, o autor chama atenção para a necessidade
gas biológicas, sociais, psíquicas, econômicas, de se romper com a falsa dicotomia entre a defe-
políticas, culturais que afetam a saúde dos traba- sa da saúde e do emprego e evitar fragmentar,
lhadores e de suas famílias, produzindo desigual- artificialmente, a defesa da natureza, das necessi-
dades sociais e ambientais em uma cultura legiti- dades dos trabalhadores e das comunidades em
madora desse processo de desenvolvimento. geral que habitam os lugares. Nessa perspectiva,
Nesse contexto, tem sido observado, de modo a discussão da sustentabilidade deve incluir a exis-
mais visível a partir dos anos setenta, um “acor- tência e a qualidade do trabalho, as condições de
dar coletivo” para os riscos decorrentes das for- vida e saúde dos trabalhadores, de modo articu-
mas de apropriação dos recursos naturais e de lado com a luta pela democracia e a justiça social.
geração e disposição dos resíduos resultantes4. Foge aos objetivos deste texto o aprofunda-
As críticas ao modelo de desenvolvimento pura- mento dessas questões; porém, a qualidade do
mente econômico e seus impactos sobre as con- ambiente e da vida e saúde dos trabalhadores e
dições de vida, a saúde e doença e sobre o ambi- da população podem ser considerados como
ente têm aproximado os campos da saúde do denominador comum que alicerça os entrecru-
trabalhador e da saúde ambiental5,6. O encontro zamentos das áreas de saúde ambiental e da saú-
desses campos disciplinares articula-se, no pla- de do trabalhador.
no teórico, pela visão sistêmica da relação socie- Na perspectiva da saúde, o ambiente deve ser
dade-natureza e pela centralidade do modo de entendido como território vivo, dinâmico, cons-
produção definido pelo modelo de desenvolvi- tituído por processos políticos, históricos, eco-
mento adotado e se concretiza no processo saú- nômicos, sociais e culturais, no qual se materia-
de-doença. Os territórios abrigam diferentes pro- liza a vida humana, por meio de políticas públi-
cessos produtivos, que não mais se restringem cas formuladas utilizando o conhecimento dis-
ao interior das fábricas e indústrias, determinan- ponível, com a participação e controle social13.
do a distribuição diferenciada da exposição dos Assim, as ações de saúde ambiental e saúde do
indivíduos e coletivos, aos agentes, cargas e ris- trabalhador devem estar articuladas nos servi-
cos de dano para a saúde, e assim o perfil de ços de saúde, uma vez que os riscos gerados dire-
adoecimento7. Minayo e Lacaz8 destacam essa ta e indiretamente pelos processos produtivos
questão entre os novos-velhos desafios para o afetam o meio ambiente e a saúde das popula-
campo da saúde do trabalhador. Lacaz9 retoma ções e dos trabalhadores de modo particular. Os
o tema, enfatizando a importância de se resgatar trabalhadores podem ser considerados como
conhecimentos e práticas do campo da saúde do “canários sentinelas” levados ao subsolo pelos
trabalhador para a redefinição das pautas de ação. mineiros do século passado, para avaliar a qua-
A desigualdade na distribuição da exposição lidade do ar no interior das minas, avisando-os
aos fatores de risco para a saúde tem sido de- do perigo, quando o ar se tornava rarefeito.
nunciada pelo movimento da justiça ambiental,
também denominado ambientalismo popular ou
dos pobres10, ao afirmar que a maior carga de Ações de saúde ambiental
exposição aos riscos tecnológicos e ambientais e de saúde do trabalhador no SUS
gerados pelos processos de produção e consumo e o papel da atenção primária à saúde
recai sobre os trabalhadores de baixa renda, gru-
pos sociais discriminados, povos étnicos tradici- A incorporação do papel das relações produção/
onais, populações marginalizadas nas periferias trabalho-ambiente e saúde na determinação do
das grandes cidades11. processo saúde-doença da população pode ser
Segundo Firpo12, o conceito de justiça ambi- identificada no sistema público de saúde brasi-
ental é estratégico para compreender e integrar a leiro, desde sua criação, em práticas de controle
teoria e as intervenções técnicas e políticas nas de vetores de doenças e de saneamento básico.
áreas de saúde do trabalhador e da saúde ambi- Também, os trabalhadores têm sido atendidos
ental, por considerar os problemas ambientais – pela rede de serviços de saúde, apesar desse aten-
incluindo a saúde dos trabalhadores e os ambi- dimento não contemplar a centralidade dos pro-
entes de trabalho – como resultantes do modelo cessos produtivos na determinação da saúde-
de desenvolvimento econômico e social que con- doença, nem a perspectiva do direito à saúde,
centra renda e poder. Além de considerar a temá- com universalidade de acesso ao cuidado inte-
tica ambiental como um desafio civilizatório, que gral. Por muitos anos, apenas os trabalhadores
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registrados no regime da Consolidação das Leis lidade de vida e à sustentabilidade. A vigilância


do Trabalho (CLT) e seus dependentes conta- em saúde ambiental resulta do conjunto de ações
ram com assistência à saúde provida pela Previ- e serviços prestados por órgãos e entidades pú-
dência Social. blicas e privadas, visando ao conhecimento e à
O campo da saúde do trabalhador é definido, detecção ou prevenção dos determinantes e con-
no artigo 6º da Lei no 8.080/90 como conjunto de dicionantes do meio ambiente que interferem na
atividades que se destina, através de ações de vigilân- saúde humana. Tem a finalidade de recomendar
cia epidemiológica e sanitária, à promoção e prote- e adotar medidas de promoção da saúde ambi-
ção dos trabalhadores, assim como visa à recupera- ental, prevenção e controle dos fatores de riscos
ção e reabilitação da saúde dos trabalhadores sub- relacionados às doenças e outros agravos à saú-
metidos aos riscos e agravos advindos das condições de, em especial: água para consumo humano; ar;
de trabalho consideradas como atribuições do SUS. solo; contaminantes ambientais e substâncias
De acordo com o princípio da universalidade, tra- químicas; desastres naturais; acidentes com pro-
balhadores são todos os homens e mulheres que dutos perigosos; fatores físicos; e ambiente de
exercem atividades para seu próprio sustento e trabalho. O tema ganhou destaque internacional
ou de seus dependentes, qualquer que seja a for- a partir da Conferência das Nações Unidas sobre
ma de inserção no mercado de trabalho, nos se- Meio Ambiente realizada em Estocolmo, em 1972.
tores formal e informal da economia14,15. Na atualidade, abrange discussões e iniciativas
A organização das ações de saúde do traba- de governo e da sociedade civil, sobre a diversi-
lhador na rede de serviços de saúde do SUS cons- dade biológica; biossegurança; consentimento
titui um processo sociopolítico e técnico em cons- prévio informado (PIC); os poluentes orgânicos
trução, iniciado nos anos oitenta, a partir de ali- persistentes (POPS); os movimentos transfron-
anças solidárias entre sindicatos de trabalhado- teiriços de resíduos perigosos; as mudanças cli-
res e técnicos dos serviços públicos de saúde, de máticas; as armas bacteriológicas e químicas; a
hospitais universitários, da fiscalização do Tra- proteção da camada de ozônio e o Protocolo de
balho e da Previdência Social, conformando os Montreal; questionamento sobre os modelos de
Programas de Saúde do Trabalhador (PST). En- desenvolvimento econômico e social, entre ou-
tretanto, apesar da prescrição constitucional, re- tras questões.
gulamentada pela Lei Orgânica da Saúde, esta- No plano institucional, em 1974, foi criada
belecer a responsabilidade do SUS de prover aten- no Ministério da Saúde a Divisão de Ecologia
ção integral à saúde dos trabalhadores há mais Humana e Meio Ambiente, na Secretaria Nacio-
de vinte anos, pode-se dizer que o SUS ainda não nal de Ações Básicas de Saúde (SNABS). Em 1987,
incorporou, de forma efetiva, em suas concepções, essa divisão foi transformada na Subsecretaria
paradigmas e ações, o lugar que o “trabalho” ocu- de Ecologia Humana e Saúde Ambiental, com
pa na vida dos indivíduos e suas relações com o atribuições nas áreas de saúde do trabalhador,
espaço socioambiental. Entre as dificuldades en- de saneamento e saúde ambiental, de ecologia
frentadas pelos serviços de saúde para cuidar dos humana, ecotoxicologia, emergências, desastres
trabalhadores, considerando sua inserção no e acidentes de trânsito. Apesar da fragmentação,
processo produtivo, destaca-se a invisibilidade chamam atenção o espectro ampliado de respon-
dos danos decorrente das políticas de ocultamen- sabilidades e a opção pela atenção primária de
to desenvolvidas pelos empregadores e do des- saúde como base de ação. Entretanto, foram
preparo dos profissionais de saúde para lidar poucos os avanços conseguidos, em decorrência
com essas questões16. da escassez de recursos humanos e orçamentári-
A criação da Rede Nacional de Atenção Inte- os compatíveis com a missão e da falta de pres-
gral à Saúde do Trabalhador (RENAST), em 2002, são social efetiva.
apoiada pelos Centros de Referência em Saúde Em maio de 1991, a SNABS foi extinta. A saú-
do Trabalhador (Cerest) abriu possibilidades de de ambiental foi incorporada à Secretaria Nacio-
avanços. Em 2005, a Portaria MS no 2.437 reori- nal de Vigilância Sanitária (SNVS), na Divisão de
entou a organização da RENAST, reforçando o Ecologia Humana e Saúde Ambiental (DIEHSA),
papel dos Cerest e definindo a atenção básica de com a atribuição de “participar na formulação e
saúde como porta de entrada do sistema16. implementação das políticas de controle das agres-
Conceitualmente, a saúde ambiental17 com- sões ao meio ambiente, de ecologia humana, de
preende práticas intra e intersetoriais e transdis- produção de insumos e equipamentos para a saú-
ciplinares sobre as relações dos seres humanos de e de ambientes e condições de trabalho” Poste-
com o ambiente, com vistas ao bem-estar, à qua- riormente, a Coordenação-Geral de Vigilância
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Ambiental em Saúde (CGVAM), vinculada ao ção de riscos para a saúde dos trabalhadores, da
Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI), na população e o ambiente e aqueles responsáveis pela
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), assu- atenção integral, a vigilância e a reparação dos agra-
miu a prevenção e controle dos fatores de risco vos. Nessa perspectiva, o SUS deve desenvolver
físicos, químicos e biológicos presentes no meio práticas de saúde inovadoras, envolvendo equipes
ambiente, relacionados a doenças e agravos à saú- multidisciplinares que incorporem, além de seus
de. Em 2003, o CENEPI foi incorporado à Secre- princípios e diretrizes próprios, outros como o da
taria de Vigilância em Saúde (SVS). A Área Técni- precaução e o poluidor-pagador, originários da
ca de Saúde do Trabalhador (COSAT) foi vincu- área ambiental, em estreito diálogo com os movi-
lada à Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária mentos e organizações da sociedade civil.
e, posteriormente, à Secretaria de Políticas de Saú- A organização do sistema de saúde brasileiro,
de e à Secretaria de Atenção à Saúde (SAS). na atualidade, está norteada pelo Pacto pela Saú-
Na reorganização do Ministério da Saúde de e em Defesa do SUS, documento pactuado por
definida no Decreto no 6.860, publicado em 28 de técnicos do Ministério da Saúde, o Conselho Na-
maio de 2009, a Coordenação-Geral de Vigilân- cional de Secretários Municipais de Saúde (CO-
cia em Saúde Ambiental (CGVAM) e a Coorde- NASEMS) e o Conselho Nacional de Secretários
nação-Geral de Saúde do Trabalhador (CGSAT) Estaduais (CONASS) e aprovado pela Comissão
foram reunidas no Departamento de Vigilância Intergestores Tripartite (CIT) e pelo Conselho
em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, na Nacional de Saúde (CNS), no início de 200618.
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Esse O componente Pacto pela Vida definiu como
processo, orientado pelo paradigma que corre- prioridade a consolidação da atenção básica de
laciona produção/trabalho, ambiente e saúde e saúde como eixo ordenador das redes de aten-
pela pressão de setores dos movimentos sociais, ção à saúde do SUS, financiada pelas três esferas
começa a desenhar possibilidades de ação inte- de gestão do SUS, para atender as necessidades
grada nesses campos e tem sido seguido por es- de saúde da população e conseguir a equidade
tados e municípios, no país11. social. A Política Nacional de Atenção Básica
No Brasil, a referência normativa básica para (PNAB) define as estratégias para sua operacio-
a promoção da saúde ambiental está inscrita na nalização e consolidação19.
Constituição Federal de 1988, particularmente nos A atenção primária à saúde é caracterizada
Artigos 23 (incisos 6, 7 e 9), 196 e 200, (incisos 2 e pelo conjunto de intervenções de saúde, no âm-
8) e Artigo 225, regulamentados na Lei Orgânica bito individual e coletivo, abrangendo atividades
da Saúde de 1990. Eles orientam as ações de vigi- de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamen-
lância sanitária; vigilância epidemiológica; a par- to e reabilitação. É desenvolvida por meio de prá-
ticipação na formulação da política de saneamen- ticas gerenciais e sanitárias, democráticas e parti-
to básico, a colaboração na proteção do meio cipativas, que privilegiam o trabalho em equipe,
ambiente, nele compreendido o do trabalho; o dirigidas a populações de territórios (território-
controle e fiscalização de serviços, produtos e subs- processo) delimitados. Utiliza tecnologias de ele-
tâncias de interesse para a saúde, entre outros. vada complexidade e baixa densidade, que de-
Conhecimentos e técnicas da epidemiologia, do vem resolver os problemas de saúde de maior
planejamento e das ciências sociais são utilizados frequência e relevância das populações, sendo
para articular um conjunto de ações destinadas a considerado o contato preferencial dos usuários
controlar os determinantes da saúde da popula- com o sistema de saúde.
ção que vive em um dado território, na perspecti- Entre as características da atenção primária à
va da integralidade do cuidado e a abordagem saúde que favorecem a inserção de ações de saúde
individual e coletiva dos problemas de saúde13. ambiental e de saúde do trabalhador destacam-
se o enfoque da territorialização e a proposta das
Possibilidades para a saúde ambiental redes de atenção à saúde. O enfoque do território
e a saúde do trabalhador na atenção permite a delimitação e caracterização da popula-
primária à saúde na atualidade ção e de seus problemas de saúde, a criação de
vínculo de responsabilidade entre os serviços de
Na compreensão atual, as áreas ou campos saúde e a população adscrita, bem como a avali-
temáticos saúde ambiental e a saúde do trabalha- ação do impacto das ações. Também facilita o
dor compartilham a característica da transversali- reconhecimento e/ou a identificação de situações
dade, exigindo políticas públicas que articulem os de risco para a saúde, originários nos processos
setores sociais responsáveis pela produção e gera- produtivos e em situações de trabalho, conferin-
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do concretude às relações produção/trabalho- Outra estratégia inovadora na APS é a cria-


ambiente e saúde e possibilitando as ações de vi- ção dos Territórios Integrados de Atenção à Saú-
gilância e a oferta de assistência adequada às ne- de (TEIAS)22, que centraliza a gestão da saúde na
cessidades de saúde dessa população. atenção básica, integra as unidades de produção
O conceito de território transcende a dimen- de saúde existentes nas regiões e macrorregiões
são de espaço geográfico fixo. Ele está em perma- de saúde, investe nas lacunas e vazios de serviços,
nente construção, apresentando características estabelecendo uma política de regulação e gestão
epidemiológicas, demográficas, políticas e soci- regional com responsabilidades objetivas e trans-
ais dinâmicas, que se traduzem no confronto parentes nos diversos níveis da rede.
cotidiano entre as demandas de saúde, expressas
pelos atores sociais e a oferta de serviços. Porém, As ações de saúde ambiental e saúde
mesmo esse enfoque ampliado de territorializa- do trabalhador na atenção primária à
ção tem sido criticado por não contemplar toda saúde: pontos para uma agenda de trabalho
a complexidade dos fatores de risco para a saú-
de, decorrentes de processos produtivos, e as Considerando que a gestão municipal é res-
possibilidades de ação. ponsável pela operacionalização da APS, deve-se
Outro conceito de referência na APS é o de estar atento às especificidades das formas e es-
rede de cuidado, que considera os lugares insti- tratégias assumidas nos mais de 5.500 municípi-
tucionais de oferta de serviços assistenciais como os brasileiros23. Desse modo, a diversidade das
nós de rede, entre eles o domicílio, na atenção situações e arranjos institucionais é um dos prin-
domiciliar terapêutica; as unidades básicas de cipais desafios a ser enfrentado para a definição
saúde; as unidades ambulatoriais especializadas, de um “modelo” de inserção de ações de saúde
os centros de apoio psicossocial; as residências ambiental e de saúde do trabalhador na atenção
terapêuticas e os centros de especialidades, como, primária à saúde. Outra dificuldade decorre da
por exemplo, de odontologia, de saúde sexual e pouca tradição no desenvolvimento de ações de
reprodutiva; de saúde do trabalhador, os lares vigilância à saúde nesse nível de atenção, quando
abrigados, de convivência para idosos, de aten- comparadas às práticas assistenciais curativas. A
ção paliativa. Nesse modelo, a APS é considerada solução para esses impasses parece estar no es-
como centro de comunicação dessa rede hori- treito contato com a realidade local e no perma-
zontal, responsável por resolver a grande maio- nente diálogo com o movimento social.
ria dos problemas de saúde; organizando os flu- Nesse sentido, é possível estabelecer diretri-
xos e contrafluxos das pessoas na rede e respon- zes básicas para serem retrabalhadas no nível
sabilizando-se pela saúde dos cidadãos20. local, que se traduzam em práticas transforma-
O funcionamento adequado das redes de aten- doras. Um ponto de partida para pensar as ações
ção à saúde depende do apoio de tecnologias de de saúde ambiental e saúde do trabalhador na
informação, como os cartões de identificação e os atenção primária à saúde são as normas e pres-
prontuários eletrônicos que facilitam o seguimen- crições existentes. As principais referências para
to do paciente e o agendamento eletrônico de pro- este exercício são: a Norma Operacional em Saú-
cedimentos ambulatoriais mais complexos e de de do Trabalhador (NOST) de 199824; as Instru-
apoio diagnóstico e terapêutico nas centrais de ções Normativas de Vigilância em Saúde do Tra-
regulação; racionalizando o tempo de consulta e balhador (VIST) e de Saúde Ambiental (SINV-
liberando os profissionais para ações de promo- SA)25 de 2005. Apesar do papel da atenção pri-
ção e prevenção. A proposta da rede de atenção mária não estar explicitado nas competências
está em sintonia com a de “linhas de cuidado”, municipais relativas ao SINVSA, estas podem ser
que integra e articula as ações de promoção da adaptadas ao atual modelo de gestão. Esses ins-
saúde, organizadas e programadas para condi- trumentos oferecem subsídios para a discussão
ções ou doenças de maior relevância, que reque- e elaboração de diretrizes condizentes com as
rem cuidados continuados de longa duração ou necessidades atuais. O Quadro 1 sintetiza essas
por especificidades de grupos populacionais em prescrições e pode facilitar as discussões.
função de risco e vulnerabilidade, na perspectiva Estudo recente26 realizado para identificar
da integralidade. Linhas de cuidados têm sido ações de saúde do trabalhador desenvolvidas pela
desenhadas para os agravos como hipertensão, ou junto à APS, a partir da consulta aos dirigen-
diabetes, desnutrição, ou para os ciclos de vida, tes da área, a registros na literatura técnico-cien-
como gestação, crescimento e desenvolvimento, tífica e anais de congressos e reuniões técnicas da
entre outros21. saúde pública/saúde coletiva e mostras da Saúde
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Quadro 1. Ações de saúde ambiental e de saúde do trabalhador na APS segundo normas vigentes em 2009.

Ações Descrição Prescrição/Norma


Assistência Atendimento ao acidentado do trabalho e ao trabalhador Norma Operacional de Saúde do
suspeito ou portador de doença relacionada ao trabalho, Trabalhador (NOST)
assegurando a orientação e acesso a serviços de referência
para garantir atenção integral

Vigilância a) Mapeamento das atividades produtivas desenvolvidas Norma Operacional de Saúde do


no território para apoiar o planejamento de ações Trabalhador (NOST)
promoção da saúde (antecipação); vigilância sanitária e Instrução Normativa de
epidemiológica e adequação da assistência Vigilância em Saúde do
b) Cadastramento da população adscrita no território Trabalhador, 2005
considerando a ocupação exercida (preenchimento Ficha Instrução Normativa de
A) Vigilância em Saúde Ambiental
c) Participação na vigilância de ambientes e processos de (SINVSA)
trabalho, para identificação das situações de risco e
definição de medidas de correção ou mitigação
d) Participação na vigilância da saúde de trabalhadores
expostos a situação de risco e investigação
epidemiológicae) Orientação dos trabalhadores

Notificação a) Notificação de agravos à saúde relacionados ao Norma Operacional de Saúde do


trabalho, alimentando o sistema de informações dos Trabalhador (NOST)
órgãos e serviços de vigilância e as bases de dados do SUS Instrução Normativa de
b) Contribuição para a sistematização e análise dos dados Vigilância em Saúde do
sobre agravos à saúde relacionados ao trabalho para Trabalhador, 2005
orientar as ações de vigilância, a organização dos serviços Instrução Normativa de
e outras ações em saúde do trabalhador Vigilância em Saúde Ambiental
(SINVSA)
Portaria GM/MS nº 1.172/2004

Planejamento Planejamento, execução e avaliação de ações de Norma Operacional de Saúde do


e gestão assistência e vigilância em saúde do trabalhador e de Trabalhador (NOST)
saúde ambientalParticipação nos processos de Instrução Normativa no 1
mobilização social pela Saúde Regulamenta a Portaria GM/MS
nº 1.172/2004

da Família, no período 2003-2008, revelou que A estratégia da atenção primária ambiental


ainda são incipientes, particularmente na litera- (APA), proposta chancelada pela OPAS em 1990,
tura formal. Mais de 50% dos registros perten- como ação preventiva e participativa em nível
cem à chamada bibliografia informal, aparecen- local, é orientada pelo reconhecimento do direito
do como temas livres e apresentações nas reuni- dos seres humanos de viver em um ambiente sau-
ões técnicas da área. Esses resultados sugerem dável e de serem informados sobre os riscos para
que, apesar das dificuldades, técnicos da rede de sua saúde e bem-estar, bem como de suas res-
serviços de saúde têm desenvolvido experiências ponsabilidades e deveres em relação à proteção,
inovadoras nesse nível de atenção, em especial, conservação e recuperação do ambiente e da saú-
atividades educativas com trabalhadores e capa- de. Outras estratégias de ação no nível local, en-
citação das equipes técnicas e dos Agentes Co- tre elas a Agenda 21 Local, os Municípios Saudá-
munitários de Saúde (ACS) e de assistência; se- veis, o Desenvolvimento Local Integrado e Sus-
guida da vigilância, incluindo a notificação e o tentável, também se baseiam na compreensão de
mapeamento das atividades produtivas no terri- que a construção da saúde se realiza além dos
tório de atuação. espaços e práticas das unidades de saúde, ocor-
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rendo no cotidiano da vida, nos ambientes dos distintos, por vezes em outro município, muitas
processos produtivos e na dinâmica da vida das vezes distantes, como no caso dos trabalhadores
cidades e do campo27. migrantes recrutados para o corte da cana, para
Outra aproximação do tema, no âmbito da colher laranja ou café. Qual seria o limite das
saúde do trabalhador, refere-se à alternativa de ações de saúde ambiental e de saúde do traba-
se considerar as prioridades já definidas para a lhador na APS nesses casos? Como organizar o
APS, como a hipertensão, o diabetes, o atendi- cuidado de pessoas que vivem em um território e
mento de gestantes e crianças, a prevenção do trabalham em outro? Como romper com o viés
câncer de colo uterino, entre outras, para se inse- assistencial? O que fazer com as situações de ris-
rir a questão do trabalho e das relações de pro- co geradas em um território, mas cujos impac-
dução na linha de cuidado. Porém, é importante tos se fazem sentir em inúmeros outros?
lembrar que esta alternativa destaca os aspectos Outra dificuldade compartilhada com o con-
assistenciais, em detrimento das ações de vigi- junto do SUS é o gargalo no acesso aos níveis
lância e do enfoque de território. mais complexos do sistema, a exames e clínicas
Outra questão a ser considerada se refere à especializados. Se não resolvido, acarreta o des-
possibilidade de que a RENAST e em particular crédito e invalida o esforço despendido na ponta
os Cerest possam servir como referência técnica para acolher e cuidar das pessoas.
para ações de saúde do trabalhador e de saúde A integralidade do cuidado também não está
ambiental na atenção primária à saúde. Entre- resolvida. Apesar dos esforços, nos níveis federal
tanto, para que isto ocorra, é necessário revisar o e estadual do SUS, de descentralizar as ações de
papel desses centros de referência, uma vez que vigilância de modo a serem assumidas na capila-
estudo recente de acompanhamento do desen- ridade da rede, no mundo real da APS, predomi-
volvimento da RENAST, em Minas Gerais26, nam as ações assistenciais.
mostrou que muitas vezes a articulação com a Como efetivar a vigilância? Como lidar com
APS, mediada pela qualificação das equipes, tem os interesses econômicos poderosos da grande
servido apenas para ampliar a demanda do Ce- empresa que polui e degrada a saúde da popula-
rest sem efetivamente incorporar a APS como ção e o ambiente e simultaneamente com a fragi-
porta de entrada do sistema. lidade do despreparo técnico das equipes, a falta
Finalizando essas reflexões, é importante des- de suporte laboratorial e de referência dos níveis
tacar questões que necessitam ser valorizadas e mais complexos do sistema e de suporte social?
discutidas na agenda dos técnicos, gestores e do Como utilizar melhor os instrumentos existen-
controle social do SUS, ao se propor o desen- tes, por exemplo, a informação sobre a ocupa-
volvimento de ações de saúde do trabalhador e ção, preenchida pelo ACS na Ficha A da APS,
de saúde ambiental na APS, como por exemplo, para as ações de vigilância epidemiológica?
a sobrecarga das equipes da APS. Observa-se que No plano da gestão, como superar as dificul-
os ACS e os profissionais das equipes da APS já dades, frequentemente relatadas pelas equipes,
executam atividades no campo da saúde ambi- decorrentes das prescrições centralizadas e vincu-
ental e de saúde do trabalhador. Assim, o desafio ladas a metas a serem cumpridas e ao financia-
seria a requalificação dessas ações, na perspecti- mento, pelos níveis federal e estadual, que des-
va das relações produção/trabalho-ambiente e consideram a realidade local? Como trabalhar em
saúde. Para isto, é essencial sensibilizá-los e pre- equipe se o cafezinho dos ACS é espacialmente e
pará-los para reconhecer os processos produti- qualitativamente separado dos médicos e enfer-
vos que ocorrem no seu território e suas reper- meiros? Como capacitar os profissionais da APS
cussões sobre o viver e o adoecer das pessoas. para desenvolver ações de saúde do trabalhador,
Também, é importante rever o conceito ope- se eles não conseguem encaminhar suas próprias
racional de território, de modo a contemplar demandas por contratos justos e condições de
questões como a contiguidade das exposições aos trabalhos adequadas e com menos adoecimento?
fatores de risco, a mobilidade das pessoas que São questões importantes para a agenda de
circulam seja para trabalhar ou por outros mo- trabalho da 1ª Conferência Nacional de Saúde
tivos. Se é mais fácil pensar a organização das Ambiental (1ª CNSA), convocada por decreto
ações de saúde ambiental e saúde do trabalha- presidencial publicado em 14 de maio de 2009,
dor na APS considerando as atividades produti- que tem por objetivo definir “diretrizes para polí-
vas domiciliares, ou de “fundo de quintal”, ela se ticas públicas integradas no campo da saúde am-
torna complexa quando se trata propor o cuida- biental, a partir da atuação transversal e interse-
do de trabalhadores que trabalham em locais torial dos vários atores envolvidos com o tema”.
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Considerações finais Apesar de avanços importantes no arcabou-
ço jurídico institucional e nas práticas de saúde
Procuramos neste texto identificar aspectos do pública, ainda que isoladas e fragmentadas, e da
referencial teórico e características compartilha- crescente valorização e mobilização social em tor-
das pelos campos da saúde ambiental e saúde do no dessas questões, as políticas públicas, em es-
trabalhador; os avanços conceituais e na legisla- pecial as políticas de saúde, não têm conseguido
ção vigente e algumas das dificuldades para sua lidar adequadamente com essas questões.
concretização nos serviços de saúde, ressaltando O encontro dos campos disciplinares da saú-
a oportunidade surgida com a reorientação do de do trabalhador e da saúde ambiental nos ter-
modelo de atenção do SUS, que privilegia a APS ritórios onde se concretizam as relações socieda-
como organizadora desse processo. de-natureza sinaliza possibilidades de novas prá-
Os desafios são muitos e complexos. Conju- ticas de saúde no SUS, em especial na atenção
gam mudanças no cenário macro, no “mundo primária à saúde, ordenadora do atual modelo
do trabalho” e no perfil dos trabalhadores de- de cuidado. Cidadãos e profissionais de saúde
correntes da reestruturação da produção, em são convidados a criar práticas diferenciadas de
escala global, na qual o Brasil se destaca entre os Saúde Pública e a realização da 1ª Conferência
países emergentes. Novos e velhos padrões de Nacional de Saúde Ambiental (1ª CNSA) é opor-
produção e consumo se relacionam com o am- tunidade para o encontro, a discussão e a criação
biente e saúde e se expressam no viver, adoecer e de alternativas, na busca de mais saúde e vida
morrer dos trabalhadores e da população e na para o planeta.
degradação ambiental.

Colaboradores

EC Dias e J Cancio trabalharam na concepção


teórica, elaboração e redação final do artigo e
RM Rigotto, LGS Augusto e MGL Hoefel contri-
buíram na redação e revisão final do artigo.
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Dias EC et al.

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