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FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO

Cinira Melo – 8º semestre


1. Introdução

Crise na empresa:
• Necessidade de tutela pelo Estado;
• Recuperação de Empresas tem por objetivo proporcionar a superação da crise por meio de
negociação coletiva;
• Falência tem por objetivo realizar a liquidação do patrimônio.

A atividade empresarial é privada, porém o Estado se preocupa em intervir em razão da função social
da empresa.

Atividades não empresariais:


• Impossibilidade de tutela da crise pelo Estado (não gera benefício social);
• Regime da Insolvência civil (art 1.052 CPC/2015);
o Ocorre a liquidação do patrimônio para adimplemento dos credores (exceto os bens
impenhoráveis).
• Prevenção e tratamento ao superendividamento (Lei nº 14.181/2021) → para pessoas físicas.
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural,
sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor.
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa
natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem
comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação.

A Lei nº 11.101/05 (LRF) prevê os seguintes instrumentos para superação da crise da


empresa:

2. Recuperação de Empresas

2.1. Procedimentos

Recuperação Judicial
• Negociação é feita inteiramente dentro do poder judiciário.
• Procedimento comum (arts. 47 a 74 da LRF);
• Procedimento especial: aplica-se para microempresa e empresa de pequeno porte (arts. 70
a 72 da LRF).

Recuperação Extrajudicial – arts. 161 a 167 da LRF


• É a homologação de um acordo extrajudicial.
• Procedimento mais célere e simplificado

A recuperação sempre ocorrerá por meio de negociação coletiva. Não existe recuperação
compulsória.

2.2. Objetivos

O objetivo da recuperação de empresas é viabilizar a superação da crise econômico-financeira do


devedor a fim de permitir:
• A manutenção da fonte produtora;
• A manutenção dos empregos dos trabalhadores;
• A preservação dos interesses dos credores: fornecedores de matéria-prima, bancos,
prestadores de serviços.
Art. 47. LRF A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo,
assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

(...) “a Lei, não por acaso, estabelece uma ordem de prioridade nas finalidades que diz perseguir,
colocando como primeiro objetivo a “manutenção da fonte produtiva”, ou seja, a manutenção da
atividade empresarial em sua plenitude tanto quanto possível, com o que haverá possibilidade de
manter também o “emprego dos trabalhadores” Mantida a sociedade empresária, a atividade
empresarial e o trabalho dos empregados, será possível então satisfazer os “interesses dos
credores”.

2.3. Princípios

• Preservação da empresa: sustenta a necessidade de manutenção da atividade empresarial;

• Função social da empresa: necessidade de manutenção de todos os benefícios que a


atividade empresarial traz para a sociedade como um todo.

2.4. Viabilidade Econômica

A recuperação de empresas somente é aplicável às empresas viáveis, ou seja, àquelas que


potencialmente são capazes de gerar lucro.

(...) “a recuperação judicial é um instituto aplicável apenas para empresas viáveis a fim de que a
manutenção da atividade empresarial possa fazer gerar os benefícios sociais e econômicos que são
decorrentes do exercício dessa atividade.”

São os credores que definem a viabilidade ou não da empresa. Não há um mecanismo legal objetivo
que realize a aferição técnica dessa viabilidade.

3. Falência

3.1. Procedimentos - Arts. 75 a 160 da LRF

3.2. Objetivos

A falência é um processo judicial que tem como principal objetivo afastar o devedor do mercado.
A lei prevê requisitos objetivos que presumem o estado de falência (Art. 75, LRF).

Art. 75 A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades visa a


I - preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens dos ativos e recursos produtivos,
inclusive os intangíveis, da empresa;
II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de
recursos na economia e;
III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do
empreendedor falido à atividade econômica.
§1 º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual
sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios previstos na Lei nº 13
105 de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil)
§2 º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes
da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação
útil de ativos na economia.
*Inciso I e II – Hipótese em que um terceiro compra a empresa falida e continua a atividade. Os ex-funcionários
poderão ser recontratados pelo(s) novo(s) dono(s).
*Inciso III – Flash Start1. Após três anos da decretação da falência, o devedor poderá requerer em juízo
declaração de extinção das suas obrigações, retornando ao mercado “com o nome/CNPJ limpos”.

A falência poderá ser requerida pelo devedor (auto falência) ou pelo credor (pedido de falência).

Após a retirada do devedor do mercado, será determinada a constrição judicial dos bens do falido
(arrecadação), que será realizada a título universal, isto é, se estende a todos os bens do credor.

Em suma, são os objetivos do processo de falência:


• Afastar o devedor do mercado;
• Arrecadar os bens;
• Pagamento dos credores;

(...) “Em linhas bem rápidas, esquematizadas simplesmente para que se possa entender a situação
de falência (crise financeira + crise econômica insolúvel) em oposição à situação de recuperação
(crise financeira + crise econômica passageira), essa é a linha que se separa as situações às quais
o devedor empresário pode ser conduzido.”

3.3. Princípios

• Celeridade e economia processual: busca de maior efetividade no pagamento dos


credores.

• Par conditio creditorum


o “Condições paritárias para os credores”;
o Princípio que justifica a existência do processo de falência;
o Execução individual x Execução concursal - cria um concurso de credores, ou seja,
uma classificação dos créditos (art. 83 e 84);
o Classificação de créditos - caso não haja bens para todos, ocorrerá um rateio
proporcional

4. Aspectos Históricos (Slides)

5. Devedor Sujeito à Falência e à Recuperação de Empresas

5.1. Sujeitos
• Empresário Individual;
• Sociedade Empresária;
• EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) – MP nº 1.040/21.

LRF, Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência
do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.

5.2. Não Sujeitos


• Regime da Insolvência Civil (art 1052 CPC);
• Não exercem atividade econômica;
o Pessoas naturais;
o Pessoas jurídicas sem fins econômicos – Associações, Fundações, Organizações
Religiosas, Partidos Políticos.

1
https://www.migalhas.com.br/depeso/320329/o-fresh-start-na-falencia-e-na-liquidacao-extrajudicial
• Exercem atividade econômica (partilhar lucro) de natureza não empresarial (MP nº 1.040/21)
o Sociedades simples (art. 982, CC);
o Cooperativas (art. 982, p. ú., CC);
o Sociedade Unipessoal de Advocacia (art. 15, Lei nº 8.906/94);
o EIRELI registradas em cartório (natureza não empresarial).

5.2.1. Sociedades empresárias expressamente excluídas – Art. 2º, LRF

Art. 2º Esta Lei não se aplica a:


I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de
previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade
seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às
anteriores.

5.3. Situações Excepcionais


• Produtor Rural
Regime híbrido no qual o produtor escolhe se quer ou não ser empresário.
Para que o produtor rural tenha o direito de pedir recuperação judicial, ele deve ser empresário,
ou seja, ter registro na Junta Comercial antes do início de sua atividade (STJ).

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas
as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará
equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural
e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária,
pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os
efeitos, à sociedade empresária.

• Sociedades Despersonificadas (sem registro) – Art. 986 e 996, CC


o Sociedade em comum (de fato) – pode ter a falência decretada, mas não pode pedir
a Recuperação.
o Sociedade em conta de participação: sócios participante e ostensivo - por não ter
personalidade jurídica, não pode ter a falência decretada e nem pedir Recuperação.

• Consórcios e consorciadas (arts. 278 e 279, Lei nº 6.404/76);


Não podem ter a falência decretada e nem pedir recuperação.

• Companhias aéreas (arts. 198 e 199, LRF).


A partir de 2005, é possível ter a falência decretada e o direito de pedir Recuperação.

6. Competência e Insolvência Transnacional

7. Verificação e habilitação de créditos

Procedimentos que culminam na consolidação da lista de credores (Quadro Geral de Credores).


Quadro Geral de Credores: documento consolidado pelo administrador judicial que mencionará a
importância e a classificação de cada crédito na data do requerimento da recuperação judicial ou da
decretação da falência.

7.1. Verificação de créditos

7.1.1. Conceito
Tudo começa a partir de uma relação de credores apresentada pelo devedor (livros contábeis e
documentos comerciais e fiscais).

Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros
contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem
apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas
especializadas.

7.1.2. Responsável
O Responsável é o Administrador Judicial. O Administrador é nomeado pelo juiz para auxiliar na
condução dos processos de falência e recuperação judicial.

7.1.3. Fase Administrativa


• Relação de credores apresentada pelo devedor
o Recuperação Judicial: junto com a petição inicial.
o Falência: no prazo de 5 dias após a publicação da sentença que decreta a falência.

• Publicação de edital (prazo de 15 dias em dias corridos – Art. 189)


Art. 7, § 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art. 99 desta
Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial
suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.

• Petição endereçada ao administrador judicial. Pedidos:


o Habilitação de crédito: inclusão do crédito omitido na relação de credores ou,
o Divergência: retificação do crédito mencionado na relação de credores.

• Verificação pelo administrador judicial (45 dias)


o Análise da documentação entregue pelos credores e dos registros contábeis do
devedor.
o Apresentação de nova relação de credores.
o Publicação de novo edital.
Art. 7º, § 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na
forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no
prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo
indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei
terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.

7.1.4. Fase Judicial – Art 8 º a 17 LRF


✓ Impugnação de créditos

• Legitimados: o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público


(bem atuante).

• Prazo: 10 dias contados da publicação do segundo edital (Art. 7 º, § 2 º)

• Endereçamento: juízo da falência ou da recuperação judicial.

• Autuação em conjunto: impugnações relativas ao mesmo crédito.

• Procedimento
o Manifestação do credor em 5 dias;
o Manifestação do devedor e do Comitê em 5 dias;
o Parecer do administrador judicial, acompanhada de laudo, em 5 dias;
o Decisão saneadora julgamento antecipado ou produção de provas;
o Quadro geral provisório.

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