Você está na página 1de 1

O poema “as contradições do corpo” de Carlos Drummond de Andrade, apesar de ter sido

publicado na década de 80 no livro “o corpo”, dialoga com a estética das vanguardas


modernistas do início do século XX, sobretudo com o cubismo, que concebe o indivíduo
como um sujeito fragmentado, numa ruptura com o pensamento racional e lógico.
É relevante destacar que o cubismo surgiu, por um lado, influenciado pelas inovações pós-
impressionistas de Paul Cézanne, que inaugurou uma tendência a geometrizar o espaço na
obra pictórica, e por outro, em interação com o processo de crescente urbanização que
marcou as primeiras décadas do século passado.
No Brasil, com o marco do movimento modernista em 1922 na semana de arte moderna,
além da contribuição presente em outras das vanguardas europeias, como o surrealismo e
o futurismo, a fragmentação proposta pelo cubismo ganhou força entre diversos artistas
brasileiros, tal como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Érico Veríssimo,
etc.
No contexto da semana de arte moderna, a população brasileira, assim como os povos do
mundo todo, havia presenciado os horrores da Primeira Guerra Mundial, numa
demonstração de como o pensamento racional e científico poderia ser utilizado para causar
males sociais, fato que endossou a ideia, entre diversos campos da arte, o discurso
irracionalista, como um meio de fuga dessas mazelas assinaladas.
Voltando para Carlos Drummond de Andrade, após não uma, mas duas guerras mundiais,
temos um cenário em que ainda persiste a ditadura militar, e com ela, a degradação das
relações humanas, que, consequentemente, degradam o ser humano em si.
Neste texto, o autor contrapõe o corpo físico ao verdadeiro “eu”, que ele considera como a
verdadeira essência humana, e que, numa análise racional, talvez possa ser identificado
como o conjunto de signos que constituem o discurso interior dos indivíduos.
O centro de tensão semântica do texto se encontra no conflito entre o desejo do eu-lírico de
ter autonomia e se emancipar dos males físicos, e, por outro lado, o impedimento que o seu
corpo proporciona em relação a isso, de forma autoritária, tal como nos seguintes versos:
“meu corpo ordena que eu saia/em busca do que não quero/e me nega, ao se afirmar/
como senhor do meu eu/convertido em cão servil” (DRUMMOND, p, 7, grifo nosso)

Você também pode gostar