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Não podemos ter uma vida espiritual sozinhos.

A vida do Espírito é como uma semente que


precisa de terreno fértil para crescer. Este
terreno fértil inclui não só uma boa disposição
interior, mas também um ambiente favorável.
É muito difícil viver uma vida de oração num
ambiente onde ninguém ora ou fala com
carinho da oração. É quase impossível
aprofundar a nossa comunhão com Deus
quando aqueles com quem vivemos e
trabalhamos rejeitam ou até ridicularizam a
idéia de que há um Deus que ama. É uma
tarefa sobre-humana procurar fixar o coração
no Reino de Deus quando todos aqueles que
conhecemos e com quem convivemos têm o
coração fixo em tudo, menos no Reino de
Deus.
Não é, portanto, surpresa nenhuma que as
pessoas que vivem em ambiente secular - onde
o nome de Deus nunca é mencionado, a oração
é desconhecida, não se lê a Bíblia nunca e a
conversa sobre a vida no Espírito é
completamente ausente - não consigam
agüentar a sua dimensão de comunhão com
Deus por muito tempo. Descobri como sou
sensível ao ambiente em que vivo. Com a
minha comunidade, as palavras sobre a
presença de Deus na nossa vida brotam
espontaneamente e com grande facilidade.
Quando levamos a vida espiritual a sério,
somos responsáveis por criar um ambiente
onde a mesma possa crescer e amadurecer. E,
embora eventualmente não sejamos capazes
de criar o contexto ideal para uma vida no
Espírito, temos muito mais opções do que
geralmente pensamos. Podemos, por exemplo,
escolher amigos, livros, igrejas, arte, música,
lugares para visitar e gente com quem estar
que, no seu conjunto, contribuem para criar
um ambiente em que é possível à semente de
mostarda que Deus semeou em nós crescer até
atingir as dimensões de um grande planta.
Estas considerações de Henri Nouwen estão de
acordo com a sabedoria da Bíblia Sagrada que
nos recomenda enfaticamente o cultivo da vida
comunitária e das amizades espirituais com
vistas à qualidade e aprofundamento de nossa
experiência espiritual:
Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de
vós um coração mau e infiel, para se apartar do
Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros
todos os dias, durante o tempo que se chama
Hoje, para que nenhum de vós se endureça
pelo engano do pecado. Porque nos tornamos
participantes de Cristo, se retivermos
firmemente o princípio da nossa confiança até
o fim. (Hebreus 3.12-14)
E consideremo-nos uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras. Não
deixando a nossa congregação, como é
costume de alguns, antes admoestando-nos
uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que
se vai aproximando aquele dia. (Hebreus
10.24,25)
Quem deseja experimentar Deus tem que
andar perto de gente que anda com Deus. A
amizade com Deus implica a amizade com os
amigos de Deus. As pessoas íntimas de Deus
nos ajudam a colocar Deus no foco. Primeiro
seguimos os passos dos íntimos de Deus, até
que aos poucos seguimos os passos de Deus.
Esta parece ser a recomendação do apóstolo
Paulo: Sede meus imitadores, como também
eu de Cristo (1 Coríntios 11.1); Sede, pois,
imitadores de Deus, como filhos amados
(Efésios 5.1). Primeiro você imita Paulo, que
imita Cristo, que imita Deus. Depois você imita
Cristo, que imita Deus. Até o dia quando você
fica face a face com Deus.
Quem são as pessoas com quem você convive,
pergunto eu? Com quem as palavras sobre a
presença de Deus na vida brotam com
facilidade? E quem são as pessoas com quem
você convive com quem as palavras de
murmuração, as fofocas, as maledicências, as
doenças mutuamente são retroalimentadas?
Quem são as pessoas com quem você convive
que só servem para ficar cutucando as suas
feridas, e você cutucando as feridas delas?
Quem são as pessoas com quem você convive
que trazem para a mesa da conversa a Palavra
de Deus? Trazem para a mesa da conversa a
necessidade da oração e da intercessão? Que
valorizam a comunhão?
Palavras de Henri Nouwen novamente:
“Mesmo nessas ocasiões, a competição
arraigada, muitas vezes inconsciente entre as
pessoas, as impedem de se revelarem umas às
outras e de estabelecerem relações que durem
mais que a própria festa. Quantas relações que
você tem que duram apenas o momento da
festa? Onde somos sempre bem-vindos nossa
ausência não importa muito. E onde todo
mundo pode ir e é bem-vindo nenhuma
ausência é particularmente notada.
Geralmente há bastante comida e bastante
pessoas para comer a comida, mas muitas
vezes parece que a comida perdeu o seu poder
de criar comunidade. Não raro saímos da festa
mais conscientes de nossa solidão do que
quando entramos”.
Eu lamento muito que esta fala do Henri
Nouwen “Por que tantas festas e reuniões
amigáveis nos deixam tão vazios e tristes?”, se
aplique também a muitas das nossas
celebrações, do que nós chamamos dos cultos.
Por que muitas celebrações, cultos nos deixam
tão vazios e tristes?
É porque nós não nos aproximamos das
pessoas. Nós chegamos depois que começa e
saímos antes de terminar. Nós não nos
olhamos nos olhos, nós não intercedemos uns
pelos outros. E quando perguntamos como
você está, é uma pergunta politicamente
correta, pro-forma, que não está esperando
uma pergunta sincera.
Por que é que anos de convivência com igreja
mantém pessoas tão superficiais?
É porque elas convivem com a igreja, mas não
convivem sequer com um irmão, com uma
irmã. Convivem com o auditório, mas não
convivem com uma pessoa sequer. Não abrem
o coração, não confessam seus pecados, não
compartilham suas dores. Dão desculpas de
que não encontraram. Mas na verdade, na
minha opinião, é que são muito seletivas. Elas
querem sim, compartilhar as suas dores,
chorar, confessar pecados, conversar e
desenvolver amizades. Mas com pessoas
especiais.

Nós somos chamados por Deus a


relacionamentos, porque no fundo, no fundo
toda pessoa é especial.
James Houston, no seu livro Mentoria
Espiritual, diz assim: “Tendo em vista seu
objetivo de criar organizações inteligentes,
muitas empresas hoje veem nos seus
funcionários qualificados o seu maior
patrimônio. A expressão feedback tornou-se
palavra do momento no contexto dessa
interação dinâmica. Pedir feedback, dar
feedback, receber feedback, agir com base no
feedback. Em última análise, os melhores
funcionários não são simplesmente os mais
qualificados tecnicamente, e sim, aqueles cujo
maior grau de crescimento pessoal está
comprometido com o futuro da empresa. O
êxito de uma empresa depende, portanto, não
só da lucratividade, mas também da eficácia de
sua mão de obra. É por isso que se está
investindo tanto em técnicas de mentoria”.
Esse dar feedback, receber feedback, oferecer
feedback é mais ou menos assim: “Eu sinto que
você reage desproporcionalmente às críticas
que recebe. Você é uma pessoa não muito
aberta a ouvir quem discorda de você. Eu acho
que se você acolhesse mais uma crítica que é
feita contra você, você iria crescer.
Feedback é quando uma pessoa oferece a você
um olhar de fora sobre você. Mas essa pessoa
precisa conviver com você, prestar atenção em
você, ouvir você, ter informações a seu
respeito. Ela precisa conquistar o seu respeito,
a sua admiração e a sua confiança. Aí então,
ela diz assim: “Posso lhe dizer uma coisa? E
você diz: “Pode”.
A qualidade da sua vida depende da qualidade
das pessoas com quem você convive e da
qualidade dos relacionamentos que você
constrói com quem você convive.
Eu perguntaria a você: Você tem amigos que
põem o dedo na sua cara? Você é transparente
o suficiente com as pessoas para que elas
tenham como pôr o dedo na sua cara? Ou você
vive com uma máscara toda vez que está em
público, mesmo na presença das pessoas que
lhe são mais íntimas?
Quero adiantar pra você uma coisa: É
impossível viver com máscara na frente da
mulher e dos filhos. Ninguém consegue ser um
mascarado 24h por dia. E se seus filhos não
põem o dedo na sua cara, numa relação
espiritual, o que eu quero dizer, numa relação
de amor e de ajuda, um dia eles vão virar a
cara pra você.
Se as pessoas que convivem com você não têm
liberdade, se você não as acolhe, não as recebe
para que elas coloquem o dedo na sua cara, o
que as empresas chamam de feedback, e que
são superficiais no mundo corporativo, e que
na igreja, na comunidade da fé, na comunidade
cristã, as pessoas acabam virando as costas
para nós e isso é pior do que ter um dedo na
cara.
Elas perdem o respeito por nós, já não ouvem
mais o que nós falamos. Já não se importam
mais com a nossa companhia, porque nós
vivemos mascarados. E você sabe, o Senhor,
nosso Deus, não gosta de mascarados, e ele,
cedo ou tarde, para o bem dos mascarados, faz
com que a máscara caia.
Essa relação entre Paulo e Barnabé é adulta, é
madura. Ela é profunda, é verdadeira. É nesta
relação que acontece o que o autor dos
Provérbios diz que “como o ferro ao ferro se
afia, também o amigo ao seu amigo”. Eu
sempre penso que ferro quando afia com ferro
sai faísca, por causa do atrito.
Eu pergunto: Você é o tipo de gente que pula
dos relacionamentos quando esquenta?
Quando atrita? E quando sai faísca? Então,
você não vai crescer. Porque você sempre vai
encontrar alguém que vai achar bonitinha a sua
máscara por algum tempo. Porque é verdade o
que se atribui a Abraham Lincoln: “É possível
enganar a todos por algum tempo, alguns o
tempo todo, mas não é possível enganar todo
mundo o tempo todo”.
Esta relação de Paulo com Barnabé me ensina
muito sobre a superficialidade das nossas
comunidades cristãs; a superficialidade das
nossas vidas. Mas ensina também muito a
respeito da possibilidade de profundidade das
nossas vidas.
Não importa o que fazemos nessa grande
comunidade cristã, importam sim, os
relacionamentos que construímos enquanto
fazemos o que fazemos.
Não importa quanta gente sabe de nós, porque
uma pessoa só é campo missionário
suficientemente grande, e talvez o maior
desafio ou campo missionário mais desafiador
que nós temos é a pessoa que está mais
próxima de nós. Por quê? Porque a qualidade
da nossa vida depende da qualidade das
pessoas com quem nós nos relacionamos e da
qualidade dos relacionamentos que
desenvolvemos com as pessoas com quem nos
relacionamos.
Eu encorajo você de todo o meu coração a ser
transparente, autêntico, com uma, duas, três
pessoas. Construir relacionamentos de
autenticidade, de verdade. Pessoas com quem
você não precisa usar máscaras para estar
junto.
Eu encorajo que você encontre pessoas,
amigos. Abra-se, conviva com elas como quem
diz assim: Eu estou pronto a que você coloque
o dedo na minha cara, porque eu respeito
você. Você é meu amigo. Eu confio no seu
amor e no seu interesse legítimo por mim,
então, pode me confrontar. Eu confio em você.
Esse é o caminho do nosso crescimento
espiritual, do aprofundamento da qualidade da
nossa vida.
Eu oro a Deus que possamos dizer a respeito
da ibab o que o apóstolo Paulo disse à igreja de
Roma: “Meus irmãos, eu mesmo estou
convencido de que vocês estão cheios de
bondade, e plenamente instruídos, sendo
capazes de aconselhar-se uns aos outros”.

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