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COPYRIGHT © 2023 by Alice Carrea

É proibida a distribuição de toda ou qualquer parte desta história.


Os direitos da autora foram assegurados. Plágio é crime.
Esta é uma obra de ficção recomendada para maiores de dezoito anos.
Nomes, cidade onde a história majoritariamente se passa, personagens e acontecimentos
descritos aqui são frutos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com acontecimentos
reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Capa: Luana Berle | LB Design Editorial (@lbdesigneditorial)


Diagramação: Luana Berle | LB Design Editorial (@lbdesigneditorial)
Revisão de texto: Regiane Bevitorio (@Reh_books)
Artes: Adácia Raquel (@adacia_art)
PLAYLIST
NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
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EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Ei, tudo bem? Sei que está ansioso para virar essa página, mas vá por mim, ninguém
gosta de pular o primeiro episódio de uma série ou começar a assistir um jogo a partir do
segundo tempo.
Primeiramente, gostaria de agradecer por escolher 'DEIXE ELA IR' como sua próxima
leitura. Está com o meu primogênito em mãos, e espero que Luke e Pâmela sejam capazes de
curar suas marcas e mostrar que está tudo bem seguir em frente.
Entretanto, Ella e Luke são duas pessoas que, assim como nós, caem, se levantam,
tropeçam novamente, erram e precisam tomar decisões difíceis. Peço paciência com eles, pois eu
precisei de muita. Não foi fácil a jornada deles, e está tudo bem, a felicidade vem após uma
jornada dolorosa que deixa marcas.
Peço também que, como leitor, fique atento a qualquer sinal de desconforto ao ler esta
obra. O livro narra a história de um romance onde uma das partes é policial, então haverá a
descrição de assuntos que infelizmente são corriqueiros dentro de uma delegacia, como uso de
drogas, tentativa de abuso sexual, homicídio qualificado e privilegiado, tentativa de homicídio.
Devido à história dos nossos protagonistas, o luto é constantemente mencionado, assim como o
medo. Então, já sabe, se sentir desconforto, procure outras obras para se distrair. Está tudo bem;
somos todos cheios de marcas, e às vezes elas nos assombram.
Fora isso, desejo que #DEI aqueça o seu coração, assim como aqueceu o meu em dias
tenebrosos
Com todo amor e carinho,
a falsa Alice.
Para Milton, ou Favela ou pai.
Você não me planejou, não me viu nascer, mas me escolheu para
chamar de filha e me ama como tal.
Amo você, mas espero que não leia esse livro!
Te amar foi meu primeiro grande ato de coragem na vida. Meu segundo foi te deixar partir.
— Igor Pires, Todas as coisas que eu te escreveria se pudesse.
— Qual é o som do desespero? Se me questionassem há sete dias, eu diria que é um berro
de agonia ou o som do disparo de uma arma em sua direção... — Meu olhar recai sobre aqueles
rostos que a pouco estavam sorrindo com a descoberta da Manu, mas a comemoração durou
pouco tempo.. — Agora eu posso dizer, que o som do desespero é a ausência da sua voz pela
manhã, a falta da sua risada em momentos inapropriados e o silêncio do seu coração que já não
bate mais…
É inevitável não olhar para a mulher deitada dentro do caixão. De modo estranho, eu não
a reconheço mais, mesmo sabendo que aquela é a mulher que tanto amei e desejei, ao mesmo
tempo já não é ela, sua pele não carrega mais a coloração rosada, seu cabelo já não tinha brilho e
seus lábios, mesmo maquiados, não estão avermelhados.
— Amber Barker, sempre foi uma filha admirável, uma amiga fiel, uma esposa incrível e
sem dúvidas, uma mãe de se invejar...
Nunca imaginei estar ali, sobre aquele palco... Ou seria púlpito? Amber sempre me
corrigia, ainda mais para me despedir da pessoa que me ensinou a enxergar as cores novamente.
Conheci ela em um dos momentos mais difíceis da minha vida, havia acabado de perder meus
pais, tive que abdicar da minha carreira de militar e assumir a responsabilidade de criar uma
adolescente sozinho. Se não fosse pela Beer, provavelmente minha irmã não estaria comigo hoje
e eu teria até mesmo morrido em alguma guerra.
— Hoje iremos nos despedir de uma pessoa incrível pela última vez, não sou muito de
agradecer, mas, obrigado Amber Barker, por me ensinar a sorrir novamente e me deixar com um
motivo para acordar todos os dias.
Meu corpo e minha mente entraram em piloto automático. Não sei dizer quanto tempo
mais a cerimônia levou, mas tudo parece estar congelado, minha visão não quer perder de vista o
rosto já sem vida que está prestes a ser visto pela última vez. Uma vida inteira dentro de uma
caixa que jamais será aberta novamente... E em um piscar de olhos, aquele rosto que tanto
admirei e beijei já não está mais aparente.
O choro e as lágrimas vão diminuindo, as pessoas vão se afastando, e meu coração
dilacerando, como pode um humano tanta dor suportar e não haver nada que possa acalentar?
— Querido? — Minha atenção é tomada pela voz de minha sogra. Engraçado ver como
Daphne envelheceu tanto nos últimos dias. — Vá para sua casa... Eu cuido da recepção, qualquer
coisa digo que Manu e sua irmã precisavam de você.
Mesmo no momento mais doloroso de sua vida, essa mulher consegue pensar nos outros,
não é à toa quando digo que Amber era uma raridade, já que havia herdado a bondade de sua
mãe.
— Daphne, eu pre... — Não tive sequer tempo de concluir a frase, recebi o olhar que
todas as mães dão e causam arrepios. — Está bem, mas vou para o hospital então. Ficarei com
Emanuelle. — Falo, puxando-a para um abraço no qual fui obrigado a fechar os olhos para não
desabar.
— Minha filha era feliz ao seu lado, tenho certeza que ela não poderia ter escolhido
marido e nem mesmo um pai melhor para a minha neta... Obrigada por fazer ela feliz durante
esses anos...
Sua voz era fraca, mas ao mesmo tempo, carregada de amor e carinho ao falar de sua
falecida filha. Me afasto dela acompanhando seu olhar e vendo um sorriso verdadeiro, o qual eu
só tinha visto ela dar para Emanuella nos últimos dias.
— Se você precisar de qualquer coisa, me ligue, está bem? Como você mesma me
ensinou... Somos família.
Com um sorriso discreto ela se despede, me deixando ali, sozinho diante ao túmulo.
— “Aqui jaz uma filha, esposa e mãe” — Leio o que está na lápide e dou uma risada
fraca. — Você odiaria o que está escrito, e ainda mais essa pedra... Um post it seria mais a sua
cara... Não se preocupe, cuidarei bem da nossa filha... espero não te decepcionar.
Me despeço dela pela última vez e a deixo, sem ao menos olhar para trás, igual sempre
fiz quando ia viajar ou trabalhar, porque eu sei que se eu virar, vai doer demais, por não ter o
sorriso e nem o sussurro de um “te amo” vindo dela.
— Você sabe que não precisa manter a pose de forte para mim, né? Já passamos por
tantas coisas juntos... — Minha irmã fala assim que entro no carro, me viro para ela vendo seu
rosto avermelhado, com os olhos inchados, igual das vezes em que ela passava horas chorando
pelos nossos pais. — Se permita sofrer... Não existe vergonha alguma em chorar...
Sua mão tocou a minha, fazendo com que meu corpo todo tremesse, e pela primeira vez,
me permiti chorar. Um turbilhão de sentimentos passou por mim, primeiro o ódio por não
conseguir evitar o que aconteceu, em seguida o medo de fracassar com mais uma pessoa em
minha vida e por último, a saudade que já me atormentava.
— Droga. Droga! — Repetia enquanto socava com agressividade o volante à minha
frente. — Eu não deveria ter deixado ela sozinha. Sabia que a Manu poderia nascer...
— Nunca se culpe, Luke... Você e ninguém podia prever isso. — Emma me abraça
enquanto me permito chorar em seus braços.

Nunca gostei de hospitais, mas nos últimos dias, é o único lugar no qual tenho ficado. Só
sairei daqui com a Manu, o que segundo os médicos, não demoraria muito, já que a menina vem
ganhando cada vez mais peso. O que é ótimo, assim posso parar de dormir em uma poltrona
desconfortável que já se tornou minha cama nesses 15 dias.
A exatamente quinze dias minha filha nasceu e minha mulher morreu, há oito dias eu
enterrei Amber e a quatro dias Manu abriu os olhos pela primeira vez, revelando que sua mãe
perdeu a aposta, já que seus olhos são idênticos ao meus e de Emma … Que por falar nela, não
para de me encher o saco.
— Eu sei! É Você quem manda. Mas, Luke, eu não sei trocar uma fralda se quer. Nunca
tive irmãos mais novos e essa é a minha primeira sobrinha, óbvio que iremos precisar de uma
ajuda... E capaz que amanhã Manu tenha alta... Posso agendar as entrevistas?
Minha irmã me lança um olhar pidão, o mesmo que me encanta desde que ela nasceu. Se
a Manu puxar a tia, eu estou fodido.
— Irei pensar nessa possibilidade. Agora cala a porra da sua boca ou vai acordar a Manu.
— Digo, indo até a porta do quarto, mas paro ao ouvir a voz da curiosa.
— Aonde você vai? — Sua pergunta faz com que me vire para trás e veja seu olhar
pidão.
— Comer alguma coisa... Fala logo o que você quer.
— Ótimo, me traz um Dr. Pepper e um muffin.
Pede enquanto pega seu Kindle da bolsa. Mal posso acreditar que a minha irmãzinha lê
pornografia nesse aparelho inofensivo, se soubesse disso, jamais teria presenteado ela com esse
negócio.
Vou andando em direção a cantina que fica no andar de baixo dos quartos, eu nem sequer
estava com fome, mas Emma consegue ser bem irritante quando coloca algo na cabeça, e ter uma
babá estava fora de cogitação para mim e Amber, já tínhamos entrado em um acordo que
daríamos um jeito sem babá, até do emprego ela teria saído... Mas as circunstâncias eram outras
agora.
— Droga. Você sempre consegue o que quer, Emm... — Minha voz morre ao momento
em que meu corpo se colide com o de outra pessoa, meus braços são ágeis e a envolvem para que
a moça não caia no chão. — Eu te peguei…
Naquele momento, um arrepio percorreu por meu corpo e uma paz inexplicável tomou o
meu coração, uma calmaria que, até aquele momento, só havia alcançado com a Manu em meus
braços.
Mas que porra é essa, Luke?
Mas que porra, Pâmela!
É a única coisa que consigo pensar ao ouvir o que Maggie diz – bem, estou nesse hospital
a quinze dias e é impossível não ter feito amizade com as enfermeiras, já que elas me picaram
mais vezes do que cheguei a namorar nessa vida.
— Mal consigo acreditar que terei que vender meus dois rins para pagar esse hospital…
— Falo sem acreditar, enquanto estico meu braço esquerdo para ela. — Mesmo com meu seguro
terei que pagar tudo isso? — Ela concorda com a cabeça, enquanto termina de coletar o meu
sangue para um possível último exame. — Vocês não conhecem uma coisa chamada SUS, não?
Nessas horas o meu Brasil faz falta.
— Você deveria agradecer, Pâm, o doutor Ryder colocou para pro bono sua cirurgia. —
Eu iria protestar, mas a mulher me cortou na hora. — Não, ele não vai fazer outra cirurgia para
retirar seus rins. Agora levanta daí e vai andar, você precisa ir ao banheiro se quiser receber alta.
— Sou capaz de cair dura que nem pedra se eu precisar pagar mais um dia desse hospital!
Drama sempre foi o meu forte, mas, o que esperar de alguém que cresceu assistindo as
novelas mexicanas nas telas brasileiras? Mas, nada me impediria de realmente cair dura como
pedra e ainda ser enterrada como indigente nesse país, por isso me levantei levando comigo o
porta soro.
— Bela calcinha da Hello Kitty
Ela diz, retirando as luvas para descartar com a agulha que foi usada a minutos atrás em
mim. Simplesmente me viro a ela dando a língua, enquanto tento cobrir minha bunda com a
camisola hospitalar, mas é praticamente impossível.
— Vou pagar caro e ainda pagar calcinha, eu te odeio, Maggie!
Dou risada, deixando-a no quarto e indo em direção ao corredor, onde geralmente faço
minhas caminhadas. Poderia descer para área verde, mas, lá eles não alimentam meu lado
fofoqueira e muito menos o lado fanfiqueira de Greys Anatomy.
Andando pelos corredores, meu sorriso morre aos poucos, como se nesse momento eu
compreendesse a gravidade da situação, tudo o que havia acontecido era o preço das minhas
próprias escolhas.
Nunca fui considerada inconsequente, se eu matava aula, era para estudar na biblioteca,
se eu estivesse em um show, era para trabalhar no caixa. Minha vida toda eu havia tentado me
planejar, já que ela era uma bagunça desde o momento que nasci. Fiz de tudo para não ser um
estorvo na vida de ninguém, e nesse momento, era um estorvo para mim mesma.
Como iria pagar por meus dias nesse hospital? Os diversos exames que precisei fazer e
até mesmo a maldita ambulância a qual me trouxe para cá… Eu estava mesmo fodida.
— Por que fui tão ingênua? — Resmunguei em português, enquanto ria. — Ok, não há
nada que eu não consiga lidar… Ainda tenho metade do meu salário do último ano, só preciso
encontrar uma família que me aceite depois de tudo isso… Minha LCC [1] já está vendo isso, eu
só preci…
Minha fala é interrompida junto à pequena dor que começa a crescer em meus pontos ao
colidir com alguém mais alto e forte que eu, naquele momento prendi minha respiração e fechei
meus olhos, temendo que cairia no chão. Mas, não houve impacto e nem sequer uma forte dor
como previa, no momento que abri meus olhos, pude ver um braço forte me segurando.
Lentamente subi minha cabeça em direção a quem me segurava, o ar que me faltava veio como
um sopro de alívio, fazendo eu me perder na imensidão do azul daqueles olhos.
É estranho dizer, mas aquele olhar me transmitia um alívio, como se todo peso tivesse
sido tirado da minha costas, mesmo com todos os romances que eu já assisti, eu não conseguia
dizer o que se passava através desses olhos que me fitavam com tanta profundidade.
— Você está bem? —Sua voz grave me tirou do transe, nunca pensei que uma voz cairia
tão bem em alguém como caia nele, meu Deus, que homem… — A senhorita precisa de ajuda?
Quer que chame um médico?
Ele perguntou com seu braço ainda envolvido aos meus. Balancei a cabeça, concordando,
tentando me lembrar de como falar.
— É... eu estou bem… — Limpei a garganta, me soltando e rindo nervosa pela cara de
confusão dele com minha língua nativa. — Sim, estou bem. Me desculpe, estava um pouco
avoada.
Eu não estava doida, mas pude perceber seus lábios se curvarem minimamente em um
sorriso, mas ele logo desfez, como se fosse proibido sorrir. Minhas sobrancelhas arquearam com
sua reação e quando ia perguntar se eu havia o machucado, uma voz chamou meu nome, me
fazendo virar.
— Aí está você, podemos conversar senhorita, Albuquerque? — O detetive Brown, que
estava cuidando do meu caso, perguntou.
— Eh… — Olhei para trás, vendo que o homem ainda estava ali, mas dessa vez,
intrigado olhando para o detetive. — Pode ser no meu quarto?
— Claro. A detetive Morgan já está lá à nossa espera. — Ele olha para o cara atrás,
acenando com a cabeça e então diz. — Daqui a pouco nós vemos O'Brien.
Então esse é o sobrenome dele… Mas, o que será que ele fez?
Me questiono, seguindo em frente, tentando relutar para não olhar para trás, mas não fui
forte o bastante, entretanto, ele já não estava mais lá. Em um passe de mágica, ele havia sumido,
mas seu olhar se impregnou em minha mente.
— Você poderia repetir seu depoimento mais uma vez? — A detetive Morgan me
questiona. Não sei o porquê, mas não consigo sentir um pingo de confiança ou empatia por essa
mulher. Preferia quando Brown vinha com seu outro parceiro.
— Claro…
Solto um profundo suspiro enquanto fechava meus olhos, me lembrando do dia em que o
meu “amor” tentou me matar.

QUINZE DIAS ATRÁS


Me sentia cansada, como se não tivesse dormido o suficiente naquela noite, o que era
estranho, mesmo sem trabalhar, não me deixava sair da rotina, por mais que Bryan insistisse, eu
não deixaria que nada atrapalhasse meu trabalho daqui uma semana.
Esfreguei meus olhos me sentando na cama que se encontrava vazia, Bryan não estava
nela, provavelmente estava fazendo o nosso café. Como de costume, eu segui a caminho do
banheiro, mas antes de entrar, parei no corredor, pois ouvi sussurros vindos da sala, era a voz
de Bryan com um outro homem, algo me disse que não deveria, mas me aproximei para escutar
melhor o que ele dizia e não pude deixar de me assustar ao perceber que ele tinha uma arma em
sua mão, a qual balançava e apontava para o cara em sua frente.
— Eu já disse que ninguém me passa a perna e não adianta pedir pra morrer. Deixei
claro quem vai sofrer, será a sua filha. Ou você paga o que me deve, ou diga adeus a sua
preciosa Adele…
Não me permito ouvir o resto da conversa, meu instinto berra para sair dali o mais
rápido possível, eu só preciso pegar minhas coisas e o mais importante, o meu passaporte. Tento
não fazer barulho ao voltar para o quarto, mas em meio ao nervosismo, acabo chutando um
vaso de planta, emitindo um barulho. A casa não é grande, eu já posso ouvir seus passos se
aproximando e ele me chamando, minha primeira reação é correr para o quarto e trancar a
porta, mas ele logo começa a chutar a mesma
— Amor, abre. Não é nada disso que você está pensando.
Sempre é assim, essa frase é típica em novelas e filmes, mas, o fato é: sempre é o que a
mulher está pensando, e um pouco mais.
— Bryan, eu só quero ir embora, ok? — Falo, jogando tudo dentro de uma mala, me
certificando de que meus documentos estavam lá, mas minha fala pareceu tê-lo aborrecido
ainda mais, já que começou a socar com brutalidade a porta.
Olho para a janela e a abro, jogando a mala para fora, mas quando vou pegar impulso
para pular, ouço um disparo contra o trinco da porta e Bryan entra no quarto. Um medo
percorre todo meu corpo enquanto ele se aproxima, ainda assim, me viro em direção a janela,
pegando impulso e caindo de bunda.
Me viro para a minha mala pegando-a e começo a correr, sem me importar de estar
usando apenas uma camiseta e lingerie. Eu sei que ele estava atrás de mim, conseguia ouvir
seus passos, e é nesse momento que cometo meu maior erro: olhar para trás.
É então que vejo ele apontando a arma para mim. Solto a minha mala, parando de
correr e me virando lentamente.
— Solte essa arma… Vamos conversar, não é isso que você queria?
Tento não desviar o olhar dele, mas por dentro eu só quero fechar meus olhos e chorar
de medo, mas desvio o olhar ao ouvir uma mulher do outro lado da rua chamando a polícia
através do celular.
Foi como em um filme, eu ouço o primeiro disparo e o grito de quem estava próximo. Me
viro para o rosto que eu tanto havia me declarado, escutando o segundo tiro sendo disparado
contra mim. Se eu tivesse que definir o som do desespero, eu provavelmente diria que é esse. O
som que durava milésimos de segundos, mas os milésimos mais demorados e intensos de toda
minha vida.
Quando enfim a primeira bala chegou em mim, sinto meu corpo ser arrastado para trás e
com a segunda, eu caio sobre o chão da calçada. Uma dor insuportável me impede de respirar,
acredito que nem mesmo quando minha mãe havia me batido na infância, eu senti uma ardência
tão grande como essa.
Eu tinha um sonho, um amor e um propósito… Esse amor estava acabando com meu
propósito e enterrando o meu sonho, junto com toda paixão que poderia existir.

DIAS ATUAIS
— Depois disso, você não se lembra de mais nada? — A morena me pergunta, de braços
cruzados.
— Exatamente, como eu disse nas últimas seis vezes…
Suspirei enquanto tomava um gole da minha água, então o detetive se levantou fechando
seu caderninho e parou na minha frente.
— Ok. Precisamos que você não saia do estado até tudo estar solucionado. Já
conversamos com a sua empresa de intercâmbio, a senhorita continuará residindo aqui no Texas,
e é de extrema importância que se lembrar de qualquer coisa, qualquer fala sobre lugares que ele
frequentava ou amigos dele, você me telefone. Bryan Mitte está na nossa lista há meses, e você é
a fonte mais próxima dele que temos. — Sua parceira já está na porta e então ele pega sua
jaqueta de couro se aproximando dela. — Não hesite em nos ligar, entendido? Se ele fizer
contato, nos ligue imediatamente!
Antes mesmo de eu responder, os dois me deixam sozinha no quarto, fazendo um arrepio
correr pelo meu corpo. Por que detetives tinham que me causar um arrepio? Ok, eu sei que nas
séries eles são sexy e atraente… Mas nossa, eles só me causam medo.
— Droga. — Praguejo, sem ao menos raciocinar tudo o que tive que repetir nas últimas
duas horas.
Me levanto rapidamente devido a cólica e corro para o banheiro segurando meu celular,
ao me sentar no vaso sanitário, abro o iMessage enviando uma mensagem a Maggie.
Eu: Pode trazer a minha alta 14:08

Pela primeira vez em todos esses dias dou uma risada verdadeira, como se um alívio
repentino tivesse me invadido e tirado todas as preocupações de meu ombro… Mesmo sabendo
que esse sentimento é momentâneo, eu sorrio e decido que preciso deixar ele me dominar.
ALGUNS MESES DEPOIS

— Já é a quarta babá que você demite em cinco meses. Já estou ficando cansada de tudo
isso. — Emma reclama, se atirando no sofá.
Eu sei, eu concordei em ter uma babá.
Mas… Não tem “mas”, nenhuma delas foi competente o suficiente para cuidar da Manu.
— Você sabe que nenhuma delas mereciam ou tinham capacidade de estar aqui. A loira
fumava mais que o Oliver, a segunda sempre saia da rota estipulada, colocando a vida da Manu
em perigo… Porque mandei a ruiva embora mesmo? — Essa eu realmente não me lembrava o
motivo, até tinha empatia pela moça. — Ah., me lembrei, você a demitiu e até agora não me
revelou o motivo.
— Tenho minhas razões. — Ela mostra a língua e fica de joelho sobre o couro. — Mas e
essa última? Foi a que mais durou, bateu o recorde de 46 dias, já estava até me acostumando com
os sapatos estranhos dela.
— Ela fazia a Manu dormir com Nick Minaj.
— NICKI Minaj — Ela me corrige. — Ok, você tem um ponto. — Eu sempre tenho um
ponto. — Eu peguei o contato de uma agência de Au Pair com a Spencer, ela e o Oliver tiveram
uma brasileira como babá. Como sabia que você dispensaria mais uma, pensei "por que não?”.
Geralmente elas são excelentes e sem contar que estão em um intercâmbio, então jamais fariam
algo de errado… Espero eu…
Sua voz foi morrendo e um bico nascendo em seu lábio, como se imaginasse alguma
coisa que pudesse dar errado. Essa é Emma, sempre pensando no melhor e pior das coisas ao
mesmo tempo, mas quem poderia julgar?
Minha irmã sempre teve que se preparar para o pior… Acho que isso é algo de família,
nunca nada pode ir bem o suficiente, onde tem os O´Brien, terá morte. Começou com nosso
cachorro, após isso os nossos pais, avós e agora Amber.
Com apenas 20 anos, Emma perdeu mais pessoas do que uma jovem deveria. Minha mãe
não foi a primeira pessoa a comprar absorvente para ela. Meu pai não trouxe chocolate todo mês
quando ela se tornou um bicho papão. Nossos pais não estavam na formatura do fundamental ou
do ensino médio, e nem em seu aniversário de 16 anos. Eles não viram ela reprovar três vezes na
sua habilitação, e meu pai não estava sentado comigo no sofá ameaçando o primeiro
namoradinho dela.
Era eu quem estava lá quando ela teve seu coração partido e eu que estarei de pé
aplaudindo mais uma formatura da minha irmã, quando ela finalmente se formar em psicologia.
Espero poder um dia caminhar com ela até o altar, como fiz questão que ela me acompanhasse
em meu casamento.
As vezes me pego pensando tanto nas coisas que minha irmã perdeu, que acabo me
esquecendo que também não tive eles em momentos importantes e tudo que eu mais desejava
nesse momento, era ter o abraço de minha mãe dizendo que um dia esse vazio irá passar e a mão
de meu pai sobre meu ombro, dizendo que sente orgulho de mim.
São coisas tolas, um homem de 33 anos pensando dessa maneira… Porém, há momentos
a qual acho que congelei em meus 24 anos, na última vez que vi meus pais com vida.
Todo o medo que senti a 9 anos atrás, parece estar se repetindo. Toda a insegurança que
tinha com Emma, estou revivendo com Manu.
Dessa vez sem ela.
Sem minha melhor amiga.
Longe da minha esposa.
Sem parte da minha vida.
— … Luke? Está me ouvindo?
Emma balança a mão esquerda em minha frente, já que a direita está segurando minha
filha que havia acordado.
— É.. sim… — Ela me lança um olhar ameaçador. — Não. Repita! — A menina bufou,
me passando minha filha.
— Eu já marquei uma entrevista com a moça hoje, será online e se dermos match, ela
começa o quanto antes possível. — Ela disse, já subindo a escada para seu quarto. — Trate de
fazer essa barba antes de ir trabalhar, você está horrível.
Gritou a última parte, como se fosse uma responsável de verdade.
— É, minha pequena, espero que você não seja como sua tia ou estou ferrado.
Tenho um resmungo em resposta, dou um sorriso subindo em direção ao meu quarto.
A coloco dentro do berço, ligando seu mobile e então vou até a minha suite, olhando o
meu reflexo no espelho. Não me lembro quando foi a última vez que fiz barba.
Eu sei, você me mataria se estivesse aqui… Daria de tudo para você brigar comigo…
— É só uma mudança, não irá matar ninguém… — Digo, olhando no espelho.
Meu olhar recai sobre a maquininha em seu carregador, mas não a pego. Se eu fizer
qualquer coisa de diferente, não seria mais o Luke da Amber, alguém que jamais deixarei de ser.
Talvez eu esteja predestinado a ser esse Luke, o qual carrega no rosto o cargo de viúvo culpado,
como muitos ficam após passar um dia em uma cela.
— Ok, amanhã você pode tentar novamente.
Olho para trás vendo minha irmã no batente da porta sorrindo, como se me
compreendesse como ninguém. Só que ela não me compreende.
Ninguém sabe o que estou sentindo. Eles acham que é uma dor passageira, quando na
verdade, é o meu interior agora, uma dor que ninguém irá apaziguar, e eu nem quero .
Essa é a dor que me lembra de quão real foi minha felicidade, ela me lembra todas as
manhãs que já tive minha chance de ser feliz e ninguém merece uma segunda chance no amor.
— Eu vou para o distrito, cuida da Manu?
Emma concorda com a cabeça e me lança um olhar recaído, carregado de tristeza.
— Não se esqueça que eu e ela precisamos de você, não há nada de errado em ser um
covarde de vez em quando.
Eu entendia o peso dessa frase.
Nosso pai não quis ser covarde.
Ela estava lá e eu não pude tampar seus olhos.
— Qualquer coisa me ligue.
Falei passando por ela e deixando um beijo em sua cabeça, fiz o mesmo com a Manu e
então fui até meu cofre, onde peguei minha arma e meu distintivo para então sair de casa.
Essa é a palavra que minha psicóloga usou para descrever todos esses meses que se
passaram.
Não acredito que seja negação… Eu apenas não sei o que sentir. Minha vida estava
perfeita, eu tinha um amor que me fez juras de amor a luz do luar e me destruiu a luz do dia, e
está tudo bem.
Nem todos os amores foram feitos para durar para sempre, alguns passam por sua vida e
deixam marcas, umas mais profundas que a outras, mas ainda sim, deixam. Foi bom enquanto
durou, eu o amei da única forma que sei amar, mas não posso falar por ele.
Felizmente ou infelizmente, Bryan me deixou com diversos efeitos colaterais nesses
últimos cinco meses. Não posso deixar os Estados Unidos, não consegui permanecer mais de
dois meses com nenhuma host family[2] e nem sequer quitei toda a minha dívida com o hospital
que me operou. Não posso deixar meu coração doer por ele e minha mente se questionar o
quanto eu falhei.
— Eu não posso dar razão para ela e falhar outra vez…
Eu era feita de falhas.
A falha de um golpe mal executado.
A falha de um aborto não sucessedido.
A falha de um amor não vivido.
Será que eu merecia mais uma chance? Que deveria continuar persistindo em ser alguém
quando na verdade eu tinha que ter desistido? Minha mãe disse para eu desistir, que eu estava
destinada a uma vida igual a dela e que Bryan não me amava de verdade.
É como se eu pudesse ouvir sua risada enquanto tragasse mais um de seus cigarros, me
dizendo que ela estava certa e eu errada. Mas não. Eu estava certa, só precisava acreditar mais
um pouco nisso.
— Eu vou conseguir, mamãe … Você ainda irá reconhecer isso.
Sussurrei para mim mesma antes de abrir meu notebook e ir logo acessando o link de
onde aconteceria minha próxima entrevista para uma nova família. Estava a dois dias tentando
dar match com alguém, mas sempre era incompatível. Ora eu não atingia todas as expectativas da
família, ora eu não sentia segurança na pessoa para me mudar para sua casa.
Eu tinha informações básicas de cada família que iria me entrevistar, essa última me
deixou com uma pulga atrás da orelha, já que não seria a host mom[3] ou o host dad[4], mas sim a
irmã do host dad do que me entrevistaria.
Mas tentaria segurar minha curiosidade e não perguntar nada durante a entrevista ou seria
obrigada a aceitar uma família onde eram apenas o host dad e a kiddo [5]de 15 anos… O que não
está na minha lista de preferências.
— Merda de com… — Uma voz surge e em seguida a imagem de uma loira totalmente
envergonhada do outro lado da tela me fazendo rir. — Ah, olá, “ Pâmela”. Não diga ao meu
irmão que você me viu xingar, ele me xingaria eternamente!
Ela me lança um olhar pidão de uma criança de cinco anos, que fica até difícil negar.
— Não costumo prometer as coisas para quem acabo de conhecer… Mas está bem, ele
jamais saberá disso!
— EBA! Já ganhou um ponto comigo. — Ela abre um sorriso que me dá inveja, pela
facilidade a qual ela finge sentir, já que seus olhos não deixam de me dizer o quão triste ela está.
— Acho que podemos dizer que começamos com o pé direito. Me fale sobre você!
Levo meu olhar até a aba de cima do chat vendo que seu nome é Emma O'Brien,
eventualmente abro um sorriso, me recordando do homem do hospital, até hoje me questiono se
ele era algum tipo de vítima como eu… Cheguei até mesmo criar uma vida para ele em minha
cabeça, onde ele se chamaria Henry e provavelmente seria professor de história para o ensino
médio.
Mas não posso deixar minha mente vagar no Henry, precisava ter foco ao invés de
imaginar aquele homem que carregava o mar em seu olhar.
— Bom, me chamo Pâmela Albuquerque, sou de Gramado, Brasil…

— Olha, vou ser verdadeira com você. De todas as meninas que estive em contato, você
foi a que mais me chamou a atenção e depois dessa entrevista, não tenho dúvidas de que você é
quem tem tudo do que estamos procurando e precisando. — Emma diz e em seguida leva uma
canudo até os lábios, provavelmente tomando água, já que Texas estava muito quente. — Me
diga, tem alguma objeção nos pedidos feitos por mim e por meu irmão? Ele é mais chatinho que
eu, mas sabe, ele é um bom pai e só está procurando o melhor para a filha.
— Bom, não vejo problema nenhum em não fumar e não colocar Nicki Minaj para a
Emanuelle. — Dou uma risada enquanto prendo os meus cachos, que estavam soltos até o
momento. — Sério, senhorita O’Br… — Ela me lança um olhar que me causa medo, o que é
estranho, já que descobri que a garota é até mais nova que eu. —... Emma. Eu realmente gostei
do seu perfil e tenho bastante experiência com bebês, como já disse, trabalhei em creche por
bastante tempo e sem contar, que Manu é uma graça.
— Ótimo! Além de suas exigências que é… — Ela desce o olhar para alguma anotação.
— Ter um quarto e banheiro privativo, te deixaremos com um cartão para suas alimentações,
sabemos que vocês brasileiros tem costume diferentes do nossos, ainda mais em relação a
almoços e também terá um carro só para você e todo gasto com ele será por nossa conta,
apenas pedimos para sempre que sair, deixe o rastreador do carro ligado, para a sua segurança
e a de Manu… Mas não se preocupe, não ficaremos monitorando todos os seus passos, é apenas
para uma urgência. Se não se sentir confortável, podemos deixar desligado quando você for sair
sozinha, mas está fora de negociação sair com a Manu sem o rastreador.
Não sei o motivo, mas isso não me incomoda. Pelo contrário, desde que Bryan está
desaparecido, é como se eu tivesse medo de sair sozinha, mas saber que alguém está vigiando
para onde eu for, me causa segurança, por isso não hesito em dizer:
— Quando começo?
Eu precisava de adrenalina.
Não estava conseguindo de forma saudável, mas ali eu conseguia me sentir um pouco
vivo. Como se nada tivesse mudado.
Com a mão direita segurei minha arma e olho para meu parceiro, Jordan, apontando o
local que deveria seguir. O negro então passa pela minha direita, me dando cobertura para
vasculhar o local que adentramos a poucos segundos.
A dois dias chegou um novo caso no distrito 53, uma quadrilha responsável por distribuir
drogas adulteradas em saídas de escolas por todo estado do Texas, traficando para Louisiana e
Novo México. Aos poucos vamos encontrando os pequenos bandos espalhadas pelas cidades,
porém não podemos agir e se não chegarmos à cabeça da facção, tudo será em vão.
Esse caso estava sob a jurisdição de outro distrito, mas não obtiveram sucesso. Não é
comum o Grisham aceitar casos de outros departamentos, ainda mais sendo relacionados a
tráficos, pois ele mandaria para o narcóticos, mas ele está determinado a resolver esse caso em
especial.
Fiz a contagem olhando para Moore e nos viramos apontando a arma para nosso possível
alvo, e como era de se esperar, o depósito estava vazio.
— Limpo. — Meu parceiro fala pela escuta para toda nossa equipe.
— Beleza. Eu, Brown e Morgan vamos entrar. Laurence fica dando cobertura de dentro
do carro. Não ascende porra de luz nenhuma.Vamos lá.
Aaron diz enquanto guardava minha arma em minha cintura. Peguei as luvas e calcei,
para então me aproximar da mesa onde havia um computador desligado
Logo a voz de Laurence toma conta da escuta.
— Pessoal, temos apenas poucos minutos. Consegui acessar as câmeras e eles estão a
cinco minutos de nós.
— Vamos ver se eles são burros o suficiente.
Comentei conectando um pen drive, para hackear e copiar todas as informações que
possuem ali.
Logo o restante da equipe chega e vão fazendo o mesmo que eu, calçando as luvas para
não deixar nenhuma evidência de que estivemos no local.
— Vasculhem tudo, como se fossem a mãe de vocês procurando drogas nas suas gavetas
durante a adolescência. Esses filhos da puta não vão escapar.
Aaron ordenou e foi logo abrindo uma gaveta e tirando de dentro um possível bloco de
cocaína.
— É aqui que guardam o “doce”...
— Sargento, já fotografei todos os documentos daqui. — Emory falou e se virou para
mim. — Conseguiu acessar?
— Só mais um minuto.
Falo, digitando os códigos de hackeamento do distrito, assim tudo de novo que for
acessado chegará no computador de Laurence.
— Brown, já colocou as escutas?
— Já sim, sargento, eles nem se quer vão desconfiar delas.
— Saiam daí, tem três carros vindo do oeste e um deles é do Malcom. Vocês têm menos
de 90 segundos. — Laurence avisa e todos me olham.
— Só mais dez… nove… vai porra… Pronto.
Digo, retirando o pen drive do computador. Desliguei minha lanterna e comecei a sair em
posição caso alguém aparecesse.
Fora do depósito, me dirijo até meu carro acompanhado de Jordan. Sem delongas, dou
partida no carro, saindo para longe do local.
— Bom trabalho, pessoal, nos vemos no distrito.
Levo a mão esquerda ao meu ouvido retirando a escuta e desligando o meu rádio, então
me viro para Moore, que mantinha os olhos fechados, não dá para julgar, ele estava no distrito a
dois dias seguidos lendo todas as informações vindas do 89.
— Juro que não entendi o interesse do Aaron por esse caso. Não era mais fácil ter
enviado para o Narcótico? — Questionei, fazendo-o abrir os olhos.
— Você conhece o ego do sargento, se a 89 não resolveu, ele terá que resolver. Beghe e
ele tem uma rixa e não é segredo para ninguém.
Ele voltou a fechar os olhos, como se não quisesse dar continuidade no assunto. Esse é
uns dos problemas dos detetives, sabem como mentir e não deixar informação nenhuma vazar,
mas também sabemos quando um ator está atuando, e Jordan sabe de mais coisas e não quer me
contar, só que eu irei descobrir.

— Os policiais Lewis e Santana ficarão responsáveis em anotar tudo o que for ouvido nas
escutas essa noite. Os dados do computador já estão com o serviço de inteligência e amanhã eles
entregam tudo detalhado. — Aaron diz relaxado, encostado no batente da porta. Foi graças a ele
que hoje sou detetive nessa unidade, a mesma unidade na qual meu pai trabalhou até sua morte.
— Vão para casa e amanhã nos encontraremos aqui, cedo.
— Sim, sargento. — Um coro se formou e todos começaram a se mover para o vestiário.
— O’Brien. — Me viro para ele, que me olha em reprovação. — Você é um detetive e
não um policial à paisana, de um jeito nessa sua cara ou amanhã só volte para deixar seu
distintivo.
Antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se vira entrando em sua sala, eu já
sabia que não adiantaria debater, terei que dar um jeito ou estarei suspenso da equipe.
Nossa equipe é composta por seis pessoas, sendo quatro detetives e dois policiais.
Laurence Panazzolo era a mais nova policial a se juntar ao 53, tínhamos nossas dúvidas sobre
seus talentos, mas a italiana está surpreendendo a todos cada vez mais, pela primeira vez tinha
visto Aaron ter uma parceira consigo, vamos dizer que no mundo policial ainda existe muito
machismo. Não é atoa que quando Emory Morgan conseguiu seu distintivo de detetive, surgiram
diversos boatos dela ter transado com os superiores para isso.
— Luke, se quiser te passo o telefone da minha cabeleleira. Ela faz um ótimo trabalho. —
Emory diz com seu tom sarcástico. Esse é uns dos motivos para ninguém querer trabalhar com
ela, as vezes ela passa do limite e não demonstra nenhum pingo de remorso. Essa é a mulher
mais fria que já conheci.
— Você gosta de brincar com fogo, não é, Morgan?
Oliver disse, retirando a arma da cintura e em seguida, retirando o colete a prova de bala,
assim como todos estavam fazendo.
— Estou sendo gentil, não quero perder nenhum dos meus colírios. Preciso ver pessoas
bonitas para desempenhar um bom trabalho. — Ela fecha o armário e pega sua arma,
posicionando no cinturão. — Laurence, te espero no carro. Disse a sua companheira de
apartamento, que se mantinha calada em toda conversa, logo a loira terminou de se arrumar e foi
pegando suas coisas para sair.
— Até amanhã, rapazes… — Laurence se aproxima de mim, colocando a mão sobre
meu ombro. — Luke, escute o sargento. Você sabe que ele não vai gostar nada de te ver assim
amanhã.
Ela sai me deixando com Jordan e Oliver, que estavam me encarando mas logo
disfarçam, me fazendo revirar os olhos.
— Quem ai sabe fazer a barba? Eu pago a cerveja.
Os dois dão risada pegando suas bolsas e saímos do vestiário em direção ao
estacionamento.
Por mais que desejasse continuar assim, teria que mudar. Não tinha que pensar apenas em
mim, precisava ao menos tentar seguir em frente pela Manu… Minha vida não poderia acabar,
por mais que eu sentisse que ela estava no fim, tinha feito uma promessa a Amber e iria cumprir.
O primeiro passo para isso, era fazer a barba, que por mais que fosse algo bobo, para mim
seria algo completamente doloroso, mas tudo pela minha filha…
— Você não quis saber o porquê de não ter uma mãe? — Minha irmã questionava do
outro lado da linha, curiosa. — Já pensou que ele pode ser um assassino em série e matar todas
as mulheres que tem? Às vezes as outras babás descobrem e por isso estão pedindo a conta. Ele
pode até atirar em você. — Ela emite um som de como se levasse um tapa. — Desculpa.
Esqueci do seu ex.
Lara me arranca uma risada leve enquanto vou andando até o táxi que me levará para
casa de Emma, que, por sorte, passarei a morar nos próximos sete meses
— Já falei para você parar de assistir esse canal de casos reais, daqui a pouco vai estar
criando teorias até mesmo da vovó! Me diga que foi ela quem te bateu, isso deixará meu dia mais
alegre. — Entro no táxi, o motorista não faz questão de olhar para minha cara. — Já pensou na
possibilidade da mãe da neném ser que nem a nossa? Só que diferente de nós, o pai quis assumir
e não mandou abortar?
Falo sem me importar do motorista achar estranho, já que estávamos conversando em
português.
— Haha! Não sabemos se meu pai quis que me abortasse, nem sabemos se ele sabe da
minha existência. Ganhei de você e perdi para uma fedelha de quatro meses.
— Cinco! Aliás, você não tem que ajudar a vovó na cozinha?
— Tenho! Mas estou mais curiosa para saber como será seu primeiro dia, o trabalho
pode me esperar, mas a emoção que é sua vida não! — Posso até imaginar a posição que ela
estaria sentada, escorada no sofá com os pés sobre a mesinha de centro, e provavelmente com
alguma xícara de chá ao seu lado, para aguentar o clima de Gramado.
— Mas eu não quero que você seja demitida! Beijos e tchau.
Sem ao menos deixar minha irmã responder, desliguei o telefone na cara dela, o que me
resultaria numa lista imensa de palavrões que ela me mandaria por áudio no whatsApp.
Lara e eu sempre fomos o oposto uma da outra. Ela é desbocada, não leva desaforo para
casa e muito menos pensa nas consequências de seus atos. Poderia até dizer que ela sabe viver a
vida com intensidade, enquanto eu sempre fui a filha certinha. Bom, acredito que por eu ser a
mais velha aconteceu isso.
Fui criada pela Dona Filó, uma senhora encantadora, dona de uma pequena doceria no
coração de Gramado. Ela fez de tudo para não errar comigo, como tinha feito com sua filha, mas,
ela não sabia que não havia errado com Helena, algumas pessoas apenas foram predestinadas a
perdição e esse era o caso da minha mãe.
Por mais que eu tente, jamais conseguirei odiá-la, acima de tudo, ela é minha mãe e me
deu uma irmã a qual desde criança ajudei a criar e tentei ensinar o certo e errado de forma mais
leve do que aprendi.
Não podia pensar em Lara e nem em minha avó, se não um aperto já me tomava conta e o
desejo de desistir de tudo me dominava.
Fechei meus olhos deixando uma única lágrima escorrer sobre minha face. Uma lágrima
de saudade do cheiro da minha casa, do aconchego nos braços de minha avó, das madrugadas de
filme com minha irmã… Uma lágrima carregada de tanta emoção, de tudo aquilo que a boca não
consegue falar e o coração quem sofre ao sentir.
— Chegamos.
O taxista anuncia me fazendo abrir os olhos e focar a vista para a janela da casa. Não
pude deixar de observar o tamanho, era toda trabalhada em pedras claras… Uma casa um pouco
rústica para Austin, mas mesmo assim, carregava todo o ar moderno que a cidade tinha a
oferecer.
— Lá vamos nós…
Falei, já querendo sair do carro, mas ao mesmo tempo, o taxista travou as portas, me
fazendo olhar apavorada para ele. Um filme narrado por minha avó invadiu a minha mente e
quando me virei para o motorista, ele estava com a mão estendida esperando o dinheiro.
— Deu 97 dólares.
Uma onda de alívio se forma em meu rosto, me causando uma leve risada.
— Claro… O dinheiro! — Falei, pegando uma nota de 100 dólares e entregando na mão
do rapaz que destravou a porta. — Pode ficar com o troco…
Recebi um olhar de poucos amigos.
Uma coisa que jamais me acostumarei nesse país: dar gorjeta e as gorjetas serem sempre
um valor absurdo. Me lembro da vez que deixei dez dólares de gorjeta em uma manicure que
deixou minha unha em um estado deplorável, depois desse dia, eu mesma comecei a fazer minha
unhas.
Ao sair do táxi, retirei minhas malas do porta mala e fui caminhando pelo caminho de
pedras até a porta, com um pouco de dificuldade por conta das bagagens. Deixei tudo do meu
lado e levei minhas mãos aos meus cachos que haviam se bagunçado dentro do táxi para então
tocar a campainha, em menos de segundos a porta se abriu, revelando a imagem de uma mulher
menor que eu sorrindo de orelha a orelha.
— Que bom que você chegou! — Era Emma, a mesma garota que carregava o sorriso
contagiante e um olhar triste. — Eu não acredito que você realmente veio. — Ela me abraça e
dou uma risada retribuindo, como sentia falta desse tipo de contato.
— Sim, eu realmente vim! — Dei risada, levando a mão para minha mala.
— Nem pensar, pode deixar que eu levo. — A loira diz, pegando minhas malas e
puxando para dentro da casa. — Pâmela, bem vinda a sua nova casa.
Ela diz, esticando os braços me mostrando a sala, onde eu pude ver The Vampire Diaries
pausado na televisão.
Pode parecer bobeira, mas em menos de cinco minutos dentro daquela casa, já me sentia
acolhida e protegida por uma família.

— Bem, chegamos ao terceiro andar que será exclusivamente para o seu uso. Se não
gostar de alguma coisa, não hesite mudar, e de antemão, já peço desculpas pelo piano, se te
incomodar, podemos colocar na garagem…
Sua voz vai diminuindo, como se ela não quisesse fazer isso, então sem exitar nego com a
cabeça, me virando para ela.
— Não precisa, achei que ele completa o ambiente. A decoração está incrível, você leva
jeito!
— O mérito não é meu, e sim da minha mãe. Ela sempre amou designer. — Falou com
devoção e já mudou de assunto. — Deixarei você se acomodar, qualquer coisa estarei lá
embaixo. O que você acha de pizza para o jantar?
— Eu acho ótimo, te encontro lá embaixo?
— Sim, estarei com a Manu para vocês se conhecerem.
A garota falou e começou a descer a escada, me virei para o piano e sorri admirando a
“minha” sala, então peguei as duas malas pela alça e as puxei para a única porta que havia ali,
revelando um enorme quarto, bem maior do que um dia já tive.
— Bem vinda a sua nova casa, Pâmela!
Falei me jogando no colchão e fechando meus olhos para apreciar o momento.
Nunca pensei que poderia me reconhecer novamente por trás de tanto cabelo.
Enquanto dirigia, me olhava através do retrovisor.
Eu continuava sendo o mesmo de um ano atrás, mas meu interior mudou e eu já não era
mais o mesmo.
Esse é o problema do luto.
As pessoas podem até pensar que ele acabou, mas ele não tem data de validade, apenas
ajeitamos essa dor na nossa vida. Com o tempo ele não dói menos, apenas damos espaço para
momentos felizes, mas nesses momentos a dor te invade, querendo compartilhar essa felicidade
com quem já se foi.
Me sinto em uma montanha russa de sentimentos, e tenho que aprender a lidar com a
descida.
Paro o carro em frente a minha casa e a olho pela janela. Era a casa dos meus pais, que
passou a ser minha e da Emma, nunca pensamos em vender e provavelmente não será um desejo
nosso, cada cômodo dessa casa tem dedo de minha mãe e alguns detalhes de Amber. É uma
forma de mostrar à minha filha que duas mulheres que a amariam muito, haviam existido.
Saí do carro o travando e levei o olhar para a janela do terceiro andar, onde ficava o piano
de minha mãe.
Meu cenho se franziu ao ver que a luz estava acesa, não era comum subirmos naquele
andar. Algo estava errado, eu jamais me enganava.
Fui andando com a mão na cintura, preparado para sacar a arma se fosse necessario, abri
a porta da frente que estava destrancada… Maldita mania de Emma, já mandei ela passar a chave
na porra da porta sempre que eu sair.
Sinto o cheiro de pizza vindo da cozinha, era terça-feira e sempre pedíamos para o jantar.
Subo o primeiro andar, ouço um barulho vindo do quarto de Emma, então ando até a
porta dando duas batidas.
— Estou me trocando, já saio.
Caminho até o quarto de Manu vendo que a pequena está em seu berço, só então tiro a
mão da arma, quando me viro, vejo uma mulher entrando no quarto e automaticamente volto a
mão na arma, a sacando em direção a estranha.
— Mãos para cima.
Anúncio, fixando meu olhar ao dela.

Emma havia me avisado que seu irmão atrasaria e perguntou se poderíamos esperá-lo
para comer. Não vi problema algum nisso, até aproveitei para guardar algumas coisas.
Achei mais sensato ir me apresentar ao meu chefe no momento em que ele chegasse, sem
Emma intermediando as apresentações, sabia que ele era um homem rígido e iria mostrar que eu
estava ali para trabalhar e não perder tempo.
Eu não deveria ter descido.
Eu deveria ter ouvido Lara.
Eu estava mais uma vez diante de uma arma.
Minhas mãos se levantaram, como foi mandado. Eu nem sequer sabia como era meu
novo chefe… E se ele fosse apenas um assaltante?
Não conseguia enxergar seu rosto, por conta da escuridão. Mas o cano da arma brilhava e
me fazia tremer de pavor.
— Por…fa..vor a-a-baixa… — Tentei falar sem gaguejar. — Saí.. de.. Perto da neném…
Minha voz não saia firme, meus olhos lacrimejaram enquanto meu corpo todo tremia.
Eu não deveria ter dormido antes de orar.
Deveria ter ido em mais missas enquanto estava nesse país.
Minha avó tinha razão, estava pagando meus pecados por não ser virgem.
— LUKE. ABAIXA A PORRA DESSA ARMA.
A voz de Emma invade o quarto em um berro, enquanto acende a luz.
Além do meu soluço, o choro da Manu também dá para ser ouvido e o homem à minha
frente então abaixa a arma, guarda e pega a menina aos seus braços.
— Mas que merda foi essa? — A loira fala, indo até a suíte e voltando com um copo
d'água para mim, que ainda permanecia de braços para cima. — Toma essa água, você vai se
acalmar…
Ela diz me olhando e volta a olhar para o irmão, o qual ainda não tive coragem de
encarar. Eu não podia ficar mais um segundo naquela casa, sabendo que outra arma poderia ser
apontada para mim.
— Eu que pergunto. Quem é ela, e o que ela estava fazendo vindo para o quarto da
Manu?
Essa voz… Eu já ouvi em algum lugar…
— Eu te falei a semana toda, essa é a Pâmela, a Au pair. — Levanto o olhar para a garota.
— Pâmela, esse é o meu irmão, Luke O'brien, e ele é um detetive, por isso o uso da arma.
Meu olhar percorre para o loiro alto me fazendo arregalar os olhos e derrubar o copo de
vidro no chão, o estilhaçando.
Lá estava ele.
O homem da voz perfeita.
O dono do mar ao oceano.
Aquele que me tirou o sono por dias.
Nem sequer poderia acreditar, que o homem o qual fantasiei nos últimos 5 meses, seria o
meu chefe e estava segurando a filha que chorava em seus braços.
Luke O´Brien era o homem dos meus sonhos e eu estava fodida.
Se alguém me dissesse que eu iria me apaixonar, levar um tiro, ir para o hospital, esbarrar
em um homem, ficar obcecada por ele, que esse mesmo homem se tornaria meu chefe e que
apontaria uma arma para mim… Provavelmente eu iria rir da cara da pessoa e mandar ela se
internar.
Nem mesmo eu, que passei a infância assistindo Maria do Bairro conseguiria acreditar
em algo absurdo assim.
Ainda por cima, fui burra o suficiente para pisar em um dos cacos de vidro, eu só queria
um primeiro dia de trabalho tranquilo.
Você ganhou, vovó! Vou voltar a rezar…
— Você está bem mesmo? Podemos te levar ao hospital, vai que te dê uma infecção.
Emma dizia com Manu ao colo, enquanto Luke estava ajoelhado à minha frente fazendo
um curativo ao corte recém limpo.
Sim.
Ele está ajoelhado e eu não estou sabendo lidar.
— Não pense em hospital! Sou capaz de ir andando até o Brasil, mas o hospital está fora
de cogitação.
— Bom, o corte está limpo. Mas não sou médico… Eu causo os machucados e não os
cuido.
Nem pense Pâmela… Ok, tarde demais…
Luke se levantou retirando as luvas e as descartando junto com a sobra de material usado
no meu curativo.
— Depois disso, acredito que não precisamos mais de cerimônias para as apresentações
de vocês, até mesmo, porque eu estou azul de fome. — Emma disse, colocando a sobrinha sobre
o chiqueirinho da sala e deixando uma babá eletrônica ligada. — Agora… Pode me dizer que
corte de cabelo é esse?
A mais jovem perguntou, não pude deixar de levar o olhar ao meu chefe, tentando
decifrar qualquer tipo de reação em seu rosto, mas não encontrei nada. Seu semblante era
congelado, como se fosse incapaz de transmitir qualquer tipo de sentimento… Assim como no
dia que eu o conheci.
— Jordan me ajudou nisso, agora vamos comer? Estou morto de cansaço.
Ele não quis prolongar o assunto, sua irmã parecia compreender o que ele queria, e pelo
pouco que eu havia conhecido da garota, sua curiosidade iria a matar, mas não perguntaria mais
nada sobre o assunto.
Era estranho estar ali, logo atrás dele, mancando de dor a caminho da cozinha a qual
chamaria de minha por algum tempo. Ao chegar no ambiente já apresentado a mim, apenas me
sentei e observei os dois andarem de um lado para o outro, como se cada um tivesse sua função.
Em poucos segundos os pratos estavam sobre a mesa, assim como copos e bebidas, sendo
refrigerante e leite.
— Jamais me acostumarei com isso… — Falei depois de muito tempo calada, recebendo
dois pares de olhos azuis curiosos. — O leite… Vocês tomam leite com absolutamente TUDO.
— No seu país não é assim? — O único homem veio a questionar, me fazendo negar
enquanto pegava uma lata de coca e a abria.
— Não… É até raro vermos adultos tomando leite sempre. Geralmente é mais as crianças
e sempre acompanhado de algo como o chocolate em pó, açúcar ou aveia… Em refeições são
sucos, água ou refrigerante… Mas, nunca tomamos leite com comida e muito menos pizza!
A cabeça de Emma parecia explodir com essa informação, assim como a minha ficou nos
primeiros dias em solo estadunidense. O Brasil era totalmente diferente de todos os outros países,
principalmente quando se tratava de refeições. E eu particularmente, era bem mais team Brasil
do que team USA.
— Ok… Me conte mais sobre o seu país.
A garota disse enquanto colocava uma fatia de pizza no meu prato e em seguida, no dela.
Ela parecia estar realmente interessada na cultura brasileira, isso me animou, já havia me
esquecido como era se sentir acolhida por uma host family.
— Bem, em meu país não tem essa de pizza no almoço…
Comecei a dizer olhando para a loira, mas pude perceber que havia outro par de olhos me
olhando curioso. Ele parecia realmente interessado em saber mais sobre mim e de onde vim… O
que me levava a pensar, ele se lembra de mim também ou eu fui apenas uma garota qualquer a
qual ele esbarrou?

Não. Ele não se lembra de mim.


Já faz duas semanas que estou na casa dos O’Brien e parecem ser meses.
Manu e eu temos uma conexão maravilhosa, a pequena é calma, mas geniosa. Sem saber
falar, pede tudo com o olhar, e aí se não entendemos o que ela quer.
A rotina com uma bebê é mais intensa e exige uma responsabilidade dupla.
Toda terça e quinta ela tem natação, no primeiro dia Emma me acompanhou, mas hoje
estava sendo apenas eu e ela.
Luke era a pessoa com quem eu menos tinha contato dentro da casa, era como se ele não
aceitasse muito bem a ideia de eu estar lá, talvez seja por isso que tenham passado tantas babás
por lá.
Emma tinha me deixado a par de tudo durante esses dias, até contei para Lara que o meu
chefe não era um assassino e sim viúvo, o que me levou a me sentir mal por ter sonhado com
ele… Quando o conheci no hospital, ele havia acabado de perder a sua esposa, não quis ser
invasiva e perguntar como ela havia morrido, então acabei recorrendo a internet… O dia mais
feliz da vida deles, passou a ser o último para ela e o mais triste dele.
— Não conte ao seu pai, mas hoje você irá ouvir a melhor banda de todas… — Falei
olhando pelo retrovisor e sorrindo para a menina no bebé conforto. — Óbvio que estou falando
de One Direction, você deu sorte de não ser adolescente no auge da carreira deles… Ou iria
sofrer como eu sofro até agora.
Um resmungo partiu de Manu, me fazendo rir enquanto conectava o spotify no carro e
logo best song ever começou.

Já estava na metade da aula de Manu, eu permanecia sentada observando a menina bater


os braços gordinhos sobre a água aquecida, até o meu celular vibrar e chamar a minha atenção.
Era uma mensagem de Luke.
Ele nunca me mandava mensagem.
Luke O’Brien - Host dad: Boa tarde, Ella. 15: 28
Luke O’Brien - Host dad: Não conseguirei voltar para casa esta noite, se importa de
dormir com Manu? Minha irmã irá passar a noite na fraternidade de suas amigas e não dormirá
em casa. 15:30
Luke O’Brien - Host dad: Se não puder, não tem problema. Chamo uma babá para
passar a noite aí. 15:31
Ele só podia estar brincando. Chamar uma babá quando eu sou a au pair deles?
Não sei porque, mas senti ciúmes só de imaginar alguém cuidando da minha Manu…
Eu: Boa tarde, tudo bem?
Não se preocupe, será um prazer passar a noite com Manu. 15:32
Luke O’Brien - Host dad:
Sério que ele me mandou um emoji de joinha? Típica mensagem que meu avô me
mandaria.
Passo meu olhar pela conversa mais uma vez e então percebo…
Ele me chamou de Ella… Mais que apelido brega.
Não sei o motivo… Mas, mesmo sendo braga, o apelido mexeu comigo mais do que eu
gostaria.
— Não pense nisso, Pâmela, ele é seu chefe e ainda usa uma aliança de casado no dedo…
Eu amo o meu trabalho.
Não havia prazer maior do que poder solucionar os casos e dar um pingo de paz para as
famílias. A parte que eu não suportava, era o choro, as lamentações e questionamento do
“porquê?”.
Meu olhar estava recaído sobre uma mãe que se lamentava pelo corpo do filho baleado
no meio da rua. Ela tentava se aproximar para tocar no corpo, mas os policiais a impediam.
O local já estava cheio, a vizinhança curiosa gravando tudo e a perícia fotografando o
menino ao lado da bicicleta. Uma cena triste, que só me fazia pensar na minha filha.
— Vamos lá, não temos tempo a perder. — O sargento disse, se aproximando. — Jordan
e Luke, recolham os depoimentos dos moradores. Usem qualquer estratégia para arrancar
qualquer informação, isso não foi uma bala perdida, foi uma execução. Emory e Oliver,
acompanhem a mãe do garoto, colham o depoimento dela e se acharem necessário, emitem um
mandado de busca para os celulares da casa. Laurence e eu vamos voltar para o distrito e
vasculhar todas as câmeras, quem fez isso vai pagar.
Olho para meu parceiro, que está segurando fortemente seu bloco de anotações, sabia
muito bem a revolta que se formava dentro dele sempre que as vítimas eram crianças negras.
— Vamos descobrir quem fez isso, vamos lá.
Falei o chamando para atravessar a rua e ir em direção a um grupo de caras sentados em
uma mesa.
— Sabe o que mais me revolta? Que se fosse um garoto branco baleado, já estariam
entregando a cabeça do filho da puta.
Ele saiu na frente pegando seu distintivo para mostrar aos rapazes, que por sinal, não
fizeram questão de dizer uma palavra para ajudar no caso.
— Vocês não viram nada, é isso que estão dizendo?
Perguntei mais uma vez, já ficando sem paciência para o quarteto.
— Já disse, nenhum de nós tem nada para falar.
Meu olhar recaiu sobre o negro sentado em uma cadeira de ferro, o mesmo que falava
pelos outros três caras, olhei em direção a sua cintura a procura de um volume a mais que
representasse alguma arma, o que encontrei. Deduzo que provavelmente ele seria o dono da rua,
então nada passaria despercebido por ele.
— Cara, você vai continuar deixando matar sua gente?
Jordan falou, fazendo o cara se levantar e encarar ele, assim como os outros três se
levantaram, ficando posicionados atrás dele.
— Eu estou deixando matar a minha gente? Quem tem a porra de um distintivo é você e
não faz bosta nenhuma para denfender a sua gente. — Sua mão foi para o peito de Jordan,
fazendo com que eu me aproximasse, mas meu companheiro esticou o braço para me afastar. —
Então eu repito, não tenho nada para falar pra vocês.
— Diferente do que vocês pensam, eu estou aqui para fazer alguma coisa, cara. Se souber
de qualquer coisa, entre em contato comigo e mais ninguém.
Ele entregou um de seus cartões e deu as costas, esperei alguns segundos e fui atrás dele,
tínhamos ainda uma rua inteira para bater de porta em porta.

— Alak Harris tinha 9 anos, sua mãe, Adema, solteira que trabalhava como faxineira, não
estava em casa na hora do assassinato. Ele era um garoto que tinha boas notas na escola e
nenhum vizinho se queixou de má conduta, as outras crianças da rua disseram que era comum
ele andar de bicicleta pela rua sempre entre às 3 pm até umas 4 pm. As câmeras indicam que o
tiro partiu ao leste da rua, o pegando por trás, não conseguimos captar ninguém se movendo
pelo local e a numeração da balística não foi reconhecida…
Laurence termina de apresentar o caso enquanto olhamos para o quadro onde continham
duas interrogações ligadas à foto do garoto, uma para quem e outra para o motivo.
— Encham de dinheiro a porra o bolso dos informantes de vocês ou ninguém volta para a
casa hoje. — Aaron dizia, enquanto pegava sua jaqueta e a vestia. — Quando eu voltar, quero
informações e isso não é uma opção.
Ele estava quase na escada quando parou e se virou para trás, levando o olhar para cada
um dos cincos presentes.
— Vocês vão cuidar desse caso como se fossem com os filhos e irmãos de vocês, eu dei
minha palavra para aquela mãe, então não me façam passar vergonha com a incompetência de
vocês. — Ele voltou a andar. — Panazzolo, fica com O'Brien e Davis. Volto em uma hora.

Já haviam se passado mais de 5 horas desde que retornamos ao departamento. A todo


momento um de nós saía para coletar informações com os informantes, e sempre parecia que
estávamos andando em círculos.
A única coisa que sabíamos, era que vinha de uma gangue.
Anos em meio a guerra, vi de tudo, ou achava que havia visto. Em meus oitos anos na
polícia, sendo sete como detetive, também pensei já ter me deparado com todos os tipos de caso.
Já vi diversas mulheres morrerem sem motivos, homens se matarem por território, “amiga” matar
a outra por inveja, mulas[6] serem abandonadas em terrenos baldios… Mas nunca havia visto uma
gangue matar um criança inocente, sem ter qualquer vínculo com eles..
Aaron havia batido o martelo, esse caso seria nosso até o final e não importava quanto
tempo demorasse. Ainda podia ouvir a voz do homem ecoar por minha mente. “Eu não me
importo o que teremos que fazer ou como iremos fazer, escolhi cada um de vocês a dedo para
essa unidade, então não me façam me arrepender. Se fosse o filho de vocês, iriam querer que
fôssemos até o inferno para fazer justiça e iremos trazer esse gosto para a mãe do Alak e todas
as outras que perderam seus filhos sem motivo algum.”
Agora teremos dois grandes casos em andamento, ambos totalmente diferentes um do
outro, se Emma já estava reclamando da minha ausência durante os cinco meses que se
passaram, agora tudo iria se intensificar.
Não tinha noção de quantos dias eu não ficava em casa.
Parece que estamos andando em círculo com o caso do menino Alak, e que até mesmo
estávamos negligenciando a investigação do tráfico de cocaína batizada para os estados vizinhos.
Mas, eu não poderia culpar Aaron por conta disso, havia optado por fazer plantões
seguidos sem ter meus dias de descanso. Não me parecia correto estar em casa sabendo que há
outra mulher morando lá, sua presença me incomoda mais do que eu poderia imaginar, mas não a
ponto de eu querer ela longe, pela primeira vez sinto segurança em deixar minha filha com uma
estranha. Confuso, e no mínimo estranho, eu sei.
Ella - acredite, sou um desastre pronunciando seu nome - trazia uma calma a qual não
encontrava mais, fazia com que essa casa tivesse ganho vida mesmo depois de tanta morte. Ela
era como a brisa após a tempestade, conseguia sentir isso apenas de olhar para ela, sem ao menos
ter tido uma conversa inteira a sós… O problema era, eu já estava acostumado com o ventania
em noites chuvosas.
— Está tudo bem, senhor O´Brien? — Só então percebo que deveria estar olhando para
ela. A brasileira colocou minha filha sobre o carrinho a qual usávamos para ela dormir.
— Sim, estava apenas pensando sobre o trabalho.
Digo, o que não deixa de ser verdade, já que todo o pensamento começou a partir do
trabalho.
— Ah sim…
Seu tom de voz é desconfiado, e posso perceber que ela está nervosa, apenas de olhar
como sua respiração está descontrolada. Havia uma coisa que tinha percebido e passado a
admirar nos raros momentos que estava perto dela, toda vez em que se sentia nervosa ou ansiosa,
mexia em seu coque perfeito, o soltando e prendendo mais uma vez com facilidade.
— Eu vou comer alguma coisa, você está com fome? — Perguntei me levantando,
desejando que ela dissesse não, porém…
— Na verdade, estou sim!
Ela se levantou andando em direção a cozinha, praticamente dando saltinhos de
felicidade.
— Você sabe que não precisa de convite para comer, né? Acredito que Emma tenha te
falado que você tem acesso a casa toda a todo momento, afinal, você também mora aqui. —
Comentei indo até o armário e pegando a pasta de amendoim e o pão para fazer os sanduíches,
ao me virar, pude perceber seu olhar de julgamento, como se fosse me condenar a uma prisão
perpétua por ter matado seu bichinho de estimação. — Algum problema?
— Todo. Você não vai comer um sanduíche como almoço em seu dia de folga… Pode
guardar isso no armário. — Seu tom de voz era autoritário, me fazendo arquear as sobrancelhas e
automaticamente fazer com que suas bochechas ganhassem uma coloração mais rosada. —
Perdão, senhor O'Brien… Não quis mandar no senhor!
Ela começa a dizer algo em seu idioma e não deixo de rir com seu nervosismo, a ponto de
até usar seu idioma nativo, não tive outra opção a não ser rir, a ponto de colocar minhas mãos
contra o tórax e levemente jogar a cabeça para trás.
— Ah, Ella… — Balancei a cabeça voltando a olhar para ela, que levava a mão aos
cabelos mais uma vez, mas logo parou me olhando. — Eu te perdoou, mas para isso, tenho duas
condições.
— Quais?
— Primeiro, pare de me chamar de senhor, apenas me chame de Luke. Ok?
— Mas sen… — Fecho a cara e ela bufa como uma adolescente. — Ok, só Luke… Qual
é a outra condição?
— O que você falou em português?
Mais uma vez seu rosto fica vermelho como pimentão e tenho certeza que é algum
xingamento.
— Eudisseporra.. Vamos cozinhar?
A garota falou rapidamente e andou até a pia, onde abriu a torneira para higienizar as
mãos. Andei para perto dela, parando logo atrás, que quando se virou, levou um leve susto.
— O que você disse?
Questionei mais baixo, olhando os olhos castanhos esverdeados da garota que me fitava.
— Eu disse… Porra
Um simples palavrão foi capaz de mexer com o meu interior. Capaz de acender algo que
foi apagado no dia que Amber morreu e levou um pedaço de mim com ela.
— Acho melhor eu começar a cozinha… Ou a Manu pode acordar…
— É, você tem razão
Dou dois passos para trás sem tirar os olhos dela, mesmo com todo o resto do meu corpo
me julgando por isso. Eu sabia que era errado me sentir assim, eu não poderia me sentir assim.
Mas hoje, alguma coisa havia mudado, eu não sabia o que era, nem de onde surgia.
Porém, era uma sensação boa e familiar, uma sensação que me fez sorrir, não só com os lábios
como vinha fazendo a meses, dessa vez eu sorria com a alma.
Seu sorriso tem a capacidade de me tranquilizar e me deixar serena como um mar calmo.
Não sei como, mas naquela cozinha parecia estar acontecendo alguma coisa que só presenciei em
filmes da Disney… Pela primeira vez eu o vi leve, sem toda a tensão que ele carregava consigo
nas últimas semanas. Eu estava leve e me sentindo à vontade em sua presença.
— Espero que saiba cortar cebola, pois eu choro que nem uma criança quando corto.
Tentei suavizar o clima que se foi criando a segundos atrás.
Ando até os aventais e me questiono o porquê de tantos aventais, já que claramente nem
ele e muito menos Emma cozinham.
Vou até o meu chefe oferecendo um dos aventais, quando ele pega o tecido, nossas mãos
se tocam, e pela primeira vez desde o hospital, eu o toquei, fazendo com que meu corpo se
arrepiasse. Meus olhos vão de encontro aos dele, que antes tinham me passado tristeza, nesse
momento, estavam carregados de calmaria e paz.
Busquei ar para cortar o contato visual e me afastei vestindo o avental, e por fim, vou até
a geladeira pegando os ingredientes necessários e os colocando sobre a ilha da cozinha, vendo
que ele ainda me olhava, já com o avental.
— Vamos, detetive, essa cebola não se cortará sozinha! — Peguei apenas uma cebola e
joguei em sua direção, me surpreendendo com seu reflexo. — Você irá me agradecer depois de
comer o que irei fazer ou invés de pão.
Um sorriso convincente se esboçou em meus lábios enquanto pegava a bandeja de carne
recém comprada, e fui até a pia para picar, me concentrando para não cortar meu dedo ao invés
da carne.
Alguns minutos se passam e ouço uma fungada, quando me viro vejo Luke, um homem
que deve estar por volta dos seus 35 anos, com a ponta do nariz vermelha e olhos cheios de
lágrimas, enquanto pica a cebola em pedaços maiores do que o necessário.
— Mas que droga, eu não sabia que isso ardia tanto. — Ele praguejou, colocando a faca
sobre o balcão enquanto eu ria de modo nada discreto. — Você sabia, não é?
— Eu disse que chorava que nem uma criança…
Disse pegando um copo d’água e colocando um pouco do líquido na boca e segurando,
então me aproximei pegando os pedaços grandes e comecei a diminuir para refogar a carne.
— Para que essa água?
Não respondo até terminar de cortar, o que demora alguns segundos, então engulo a água
e me viro para ele.
— Para não chorar, agora deixe eu terminar o almoço ou vamos cear.
Fui até o fogão com a cebola, onde em uma panela a coloquei para dourar, juntamente
com o azeite e alho.
— E aí o que achou? — Pergunto sem ao menos colocar um pouco do arroz carreteiro
nos lábios, apenas esperando a reação do meu chefe.
— Hummm, isso daqui ficou magnífico. É isso que vocês comem no Brasil?
O dono da casa perguntou, enquanto colocava mais batata frita em seu prato, me fazendo
sorrir.
— Bom, temos isso e muito mais coisas gostosas.
— Pode ter certeza, que você irá me fazer provar cada uma delas.
Eu não sei o que aconteceu, o que era para ser um simples sanduíche de amendoim se
tornou em algo inexplicável, que nem sequer consigo colocar em palavras… Mas não posso ser
hipócrita comigo mesma, não me sentia leve dessa maneira desde um momento antes de Bryan
me deixar em uma tremenda bagunça e confusão de sentimentos, mas sei que esse sentimento
deve ser passageiro.
Não posso me iludir com uma gentileza.
Ele é Luke O´Brien.
Meu chefe
Viúvo.
E eu?
Sou apenas uma Au Pair com os dias contados nesse país.
— Pode ter certeza que irá amar tudo o que o meu país tem a te oferecer!
Hoje era o dia D.
Como diria o meu falecido pai, dia de diversão.
— Vamos lá. O ́ Brien e Brown, já estão com as identidades corretas?
Laurence pergunta enquanto checa as escutas de todos, suas habilidades com a tecnologia
me deixa abismado, não vejo uma policial tão habilidosa como ela desde que servia.
— Já sim. Sou Will Carson e ele é Christopher Lockwood.
Oliver diz enquanto arruma a bandana vermelha em sua cabeça. Há um tempo estamos
investigando a gangue que vem traficando droga batizada por várias regiões do Texas. Eu e
Oliver iremos finalmente finalizar uma compra que estamos negociando a semanas, para depois
prender Malcolm e seus capangas, com a intenção de começar a chegar aos cabeças da gangue.
— Doce. — Aaron chega na garagem já com seu colete a prova de bala. — A palavra de
ação será doce. Quando um de vocês a dizerem, entramos e fazemos a apreensão. Não quero um
banho de sangue, mas se for necessário, atirem para matar, quem me interessa ali é o Malcolm, o
resto é só brinde. — O sargento dizia, olhando para cada um de nós na roda. — Saímos em 5
minutos.
Me afasto de todos pegando meu celular e mandando uma mensagem para Emma,
conhecia a minha irmã e sabia que ela não dormiria até eu chegar em casa.
Eu: Irei ficar sem o meu celular,
qualquer coisa ligue aqui no departamento. 17: 02
Imediatamente recebo sua resposta.
Emma irmã: Se for preciso, seja covarde. 17:02
Dou um breve sorriso antes de guardar meu celular, juntamente com meu distintivo e
arma dentro do cofre. Ando até Oliver, pegando a arma do disfarce e a colocando na bota. Assim
como eu, ele também estava tenso, sabíamos o risco que assumimos em operações como essa.
— Só para relembrar. Estudamos juntos no colegial e eu quebrei seu nariz uma vez.
Fornecemos em escolas, universidades e festas. Eles parecem não confiar nem um pouco em nós.
— Errados não estão. — Oliver disse rindo, enquanto caminhamos para o nosso carro.
A partir daquele momento, não saberíamos mais nada sobre o restante da equipe, eles
estariam acompanhando cada passo nosso, porém não saberíamos onde eles estariam e nem se
quer ouviríamos eles.
— Ok, pessoal. Já estamos a caminho do local marcado, Malcom não está nem um pouco
confiante em nós, então tudo pode mudar a partir do momento que chegarmos lá.
Oliver falava para que todos pudessem ouvir pela escuta, a dele estava implantada ao
cinto de sua calça, já a minha no botão da calça, lugares quase impossíveis de serem notados.
O restante do caminho fomos em silêncio, fui dirigindo o mais rápido que poderia, sem
me importar com radares pelas ruas, já que por mais que estivéssemos em um carro de disfarce,
não deixava de ser um carro da polícia.
Em oito minutos chegamos ao terreno marcado, haviam apenas dois homens e nenhum
deles eram Malcolm, e muito menos avistamos seu carro.
— Fiquem atentos, Malcolm não está. — Disse e me viro para Oliver, enquanto diminuo
a velocidade do carro, mantenho o farol ligado para iluminar melhor o local e por fim, descemos
do veículo e vamos andando para perto de dois homens, sendo um hispânico e outro negro.
— Cadê o Malcolm? O combinado da compra é com ele. — Falo enquanto cruzo os
braços.
— Tivemos uma mudança no trajeto. Malcolm quer que eu leve um de vocês lá. — As
palavras vem do hispanico carregada de sotaque.
— O combinado não foi esse. Diz para ele que a compra foi cancelada.
Oliver disse, já dando as costas para voltar ao carro, seguro em seu ombro e o olho
negando com a cabeça.
— Não, cara. Estamos a tanto tempo querendo essa compra, os universitario vão surtar
com isso, você sabe.
— Você tem certeza, Christopher? Combinamos uma coisa e Malcolm vacilou.
Ele estava tentando me fazer mudar de ideia, provavelmente acreditava ser uma cilada,
assim como eu. Mas não teríamos outra chance tão cedo.
— Vamos lá, rapazes, pelo menos espero que seja um produto de qualidade.
Falei indo para dentro do carro deles, os dois sentandos na frente e o negro colocou sua
arma sobre o painel, na intenção de me intimidar.
— Então, é muito longe daqui? — O hispanico me olha pelo retrovisor. — Sabe né, é
aquela coisa. Tempo é dinheiro e não quero perder de vender ainda hoje na festa. — Eles não
respondem e então tento tirar alguma informação deles para que a equipe saiba onde vamos. —
Hum, sabiam que essa ponte é a melhor de Austin, Pennybacker para admirar os raios de noites
chuvos… — Comento assim que passamos pela ponte citada.
— Da a porra do celular.
O negro se vira para trás, apontando a arma para mim, automaticamente levanto as mãos.
— Calma, cara. Só quero puxar papo, não estou com uma escuta.
— A PORRA DO CELULAR OU EU ATIRO.
— Aqui, irmão. — Falo pegando o celular do bolso e entregando para ele, que joga por
fora da janela. — Bom, anotem aí. Ao leste da ponte Pennybacker.
— Por que ainda está falando, caralho. — Dessa vez o hispanico quem se irritou.
— Só estou dizendo para vocês anotarem. Vão ter que me trazer aqui depois e me
ajudarem a procurar meu celular.
Dei os ombros ficando relaxado no banco do carro, sabendo que a partir de agora, não
poderia dar mais informações para o sargento e o resto da equipe. Fui decorando cada rua que
passamos, caso fosse necessário um terceiro plano.
— Desce.
Eles disseram e saíram do carro olhando ao redor, era um lugar afastado da cidade, onde
tinha diversos galpões. Olho para qual iríamos entrar, vendo que havia um logo antigo, onde
estava escrito Lavanderia Marly, abro um sorriso e me aproximo deles, os tocando nos ombros.
— Sabiam que tenho um cachorro chamado Marly?
Não espero respostas deles, apenas vou indo ao centro do galpão, torcendo para que
Aaron ligasse o nome ao local.
— Aí está você cara. — Me aproximo de Malcom, o homem a quem eu tanto almejava
encontrar e toco em sua mão. — Essa sua mudança deixou meu amigo bravo, vai ser difícil fazer
negócios novamente com você desse jeito.
— Depois desse lote, vocês só vão fazer negócios comigo, isso aqui está um sabor.
— Diz aí, o que vocês andam colocando nessa droga?
— Acha mesmo que o Mitte passa a receita? — Ele ri e me entrega um pouco do pó para
sentir a textura. — Prova aí
— Um bom vendedor não prova dos seus produtos ou vai à falência. — Me aproximei
dele, pegando três bolos de dinheiro do bolso. — Aqui está a grana.
— Não tem $ 62.000,00. — Ele disse e dei de ombros, tocando no ombro dele.
— O restante está com o meu sócio, ele só paga depois de ver o produto. Posso ver?
Ele coloca o dinheiro no bolso e me chama com a cabeça para perto do carro, abre o porta
mala me mostrando os tijolos de cocaína. Olho para ele e em seguida, aos capangas dele, os
contando rapidamente, abro um sorriso e digo
— Vocês sete, deram doce para criança. — Ao mesmo tempo um estrondo.
— POLÍCIA. LARGUEM AS ARMAS.
Aaron anuncia a invasão e vejo todos correndo para trás dos carros, me abaixo pegando a
arma na bota e logo me escondo para ter uma proteção. Os disparos já rolavam, estávamos em
um a menos que eles, mas tínhamos a vantagem de já sabermos do ataque.
Olho ao redor à procura de Malcolm e ele tenta fugir pelos fundos e em seguida, olho
para Laurence, que está na mira de dois e antes de qualquer bandido, os meus em primeiro lugar.
— Malcolm está fugindo pelos fundos.
Aviso para que eles escutem, miro a minha ponto 40 na nuca do hispanico, que está de
costa para mim e atiro sem errar, seu corpo cai para frente e posso ver o agradecimento da
italiana ao me ver.
Começo correr atrás do fugitivo, o vendo indo para a direita, ele está a poucos metros de
mim, poderia muito bem acertar ele, mas o queremos vivo e sem ir para o hospital. Então
começo a dar tiros ao chão, para que ele ao menos se desequilibrasse, ele se vira para trás e
começa a atirar em minha direção.
A primeira passa longe de mim, a segunda passa pelo meu ombro, fazendo uma leve
ardência tomar conta do local, mas nada que me fizesse parar.
Ele se vira para a esquerda, mas logo duas viaturas de apoio o encurralam, ele até tentou
correr, mas os quatros policiais saíram do carro mirando na direção dele. Malcolm não teve outra
opção a não ser jogar a arma no chão e se render.
— Se ajoelha.
Ordenei chegando por trás, ele resiste a se ajoelhar, então o forço com a perna direita. O
policial Lewis pega a algema e o prende enquanto vou para frente dele e me abaixo, olhando em
seus olhos.
— Eu vou acabar com cada um de vocês… — Abro um sorriso e me levanto, o deixando
com os policiais, mas antes pego o rádio de um deles. — Power 5312[7]. Malcolm está preso. —
Passo um chamado para a equipe e logo tenho uma resposta.
— Entendido, volte ao galpão. — Aaron ordena.
Saio andando em direção ao galpão quando começo a sentir um líquido escorrer pelo meu
braço esquerdo, então me lembro do disparo. Paro no meio do caminho e levanto a manga da
blusa para ver onde a bala havia pego.
— Você está ferido? — É a voz de Emory que me faz levantar a cabeça.
— Não. Não foi nada de mais. — O que não deixava de ser verdade, qual policial não
havia passado por isso antes?
— Não? — Ela questiona se aproximando, e quando vou dizer algo, ela pressiona o dedo
contra o ferimento, me fazendo grunhir de dor. — Hum, está sim. Vamos para o hospital.
— Não, preciso ir… — Sou interrompido pela voz do meu superior.
— Hospital, O´Brien.
— Sim, sargento.

Como eu imaginava, não tinha sido nada de muito grave.


A bala passou de raspão pelo meu ombro, foi necessário apenas um ponto para que a
cicatrização fosse mais rápida, e com isso, tinha ganho dois dias longe do trabalho, esse é o
motivo de não vir ao hospital. Odiava ser afastado do meu trabalho.
Já estava prestes a passar para a recepção e me encontrar com o pessoal, quando uma das
secretarias me chama.
— Detetive O'Brien, temos um comunicado para ser entregue no endereço do senhor…
— Meu cenho se franziu sem entender, eu não tinha nenhuma dívida hospitalar, o departamento
se encarregava de pagar todas as pendências — Ela está ao nome de… — seu olhar vai para a
tela do computador. — Pâmela Albuquerque… Acreditamos que possa ser um engano, até
mandaremos para o distrito, entretanto o consluado insiste em dizer que esse é o endereço da
senhorita Albuquerque.
A jovem dizia de forma insegura, era como se pensasse nas palavras que iria usar
comigo. Apenas balancei a cabeça em concordância.
— É na minha casa mesmo, poderia pegar o comunicado por gentileza?
Ela me olha surpresa e diz que irá pegar, agradeço a moça e me despeço da mesma,
seguindo para a sala de espera do hospital.
— Como você está? — Laurence é a primeira a me ver e perguntar.
— Bem, apenas um ponto e dois dias sem ver vocês.
— Ótimo. Vocês fizeram um ótimo trabalho pessoal. — Aaron começa a dizer. —
O’Brien, vai para a casa e o restante para o distrito, preciso do relatório de todos até amanhã
cedo. Já o seu, Luke, espero no meu e-mail antes do anoitecer de amanhã.
Apenas concordo com a cabeça e começo a me despedir de todos, saio para fora do
hospital e vejo que o policial Lewis e Santana estão à minha espera para me levarem para casa.
Os dois até tentam puxar algum tipo de assunto, mas minha mente gira em torno do envelope que
está em minhas mãos.
O que você está devendo, Ella?
As noites de inverno sempre eram mais intensas.
Olhava meu reflexo pelo espelho do banheiro, com as mãos sobres as duas marcas em
meu corpo, elas tendiam doer mais em noites chuvosas como essa.
Sim. Marcas.
Bryan havia me marcado para o resto da minha vida, sempre que me olhasse no espelho,
saberia que ele teria passado por meu corpo de uma forma ou de outra.
Apenas de tocá-las, eu sentia um arrepio percorrer por meu corpo. Como se pudesse
sentir novamente minha pele se rasgando de forma bruta e rápida. Era uma sensação estranha,
uma sensação de violação, que definia o que ele teria feito comigo, violado todos os meus
sentimentos, me invadido de uma forma intensa, a qual jamais irei esquecer…
— Ele não te pertence mais…
Digo a mim mesma, segurando as lágrimas que jamais derramaria por alguém como
Bryan Fischer.
Vesti minha camiseta e sem ao menos finalizar meu cabelo, decidi descer e procurar
alguma companhia, minha psicóloga provavelmente diria que estou fugindo de meus problemas
e sentimentos, mas, prefiro dizer que estou apenas encarando a situação de forma escassa.
Saio do meu quarto segurando a babá eletrônica e desço as duas grandes escadas da casa,
vou diretamente para a sala, onde encontro Emma sentada no sofá, segurando seu kindle e
tomando um refrigerante americano.
— Insônia? — Pergunto para a loira, que se assusta. — Desculpe, não quis te assustar.
Dou uma risada me sentando no sofá com uma perninha de índio. Observo a garota que
baixa o aparelho, o deixando sobre seu colo e suspira me olhando.
— Não consigo dormir enquanto eles estão em missão… — Ela diz e provavelmente uma
interrogação se forma em minha face, forçando a loira a explicar. — O departamento do Luke,
eles tinham uma apreensão essa noite… Enquanto eles não me avisam que estão bem, não
consigo dormir…
— Geralmente essas operações demoram muito?
— Depende muito do caso. Pode haver confronto e troca de tiros, os bandidos podem
acabar se rendendo… Sem contar que tem a parte burocrática, registrar tudo o que ocorreu
durante a missão ou até mesmo, se eles precisam de auxílio médico…
Seu olhar fica vago ao dizer isso, era como se um filme rodasse em sua mente e a
torturasse. Emma também tinha seu próprio inferno e não sabia lidar com ele. Então decidi
mudar de assunto, por mais que eu desejasse saber mais, me afligia só em pensar que Luke
poderia se ferir.
— Qual livro você está lendo?

Já se passavam das 3 da manhã, as baladas da cidade já estavam todas fechadas, as ruas


encharcadas pela chuva e a casa em um silêncio exuberante.
Convenci Emma de dormir, dizendo que ficaria atenta caso chegasse mensagem para a
mesma. Foi difícil, mas ela acabou cedendo e dormindo no sofá. Eu me encontrava na cozinha,
segurando uma caneca de café, enquanto tinha atenção toda para a grande janela que dava para a
rua. Quando Luke chegasse, eu saberia.
Ansiava por sua volta, e nem sequer saberia qual desculpa usar caso ele me questionasse
o porquê de estar acordada.
— Qual é, Pamela… Ele não é seu pai, você não precisa dar explicação de tudo.
Reviro os olhos levando a caneca aos lábios e tomando o líquido quente. A cozinha foi
tomada pela luz azul e vermelha, assim que a viatura parou em frente a casa. Me levantei
deixando a caneca sobre a pia e fui para a sala tentar acordar Emma. Enquanto tentava acordar a
menina, a porta foi aberta, me fazendo virar para trás e vendo o homem com apenas metade da
camiseta vestida.
Automaticamente meu olhar foi para a entrada do quadril dele e começou a subir
lentamente sobre o abdômen definido, peitoral tatuado e por fim, seu ombro machucado…
MEU DEUS, QUE HOMEM GOSTOSO… Calma, aquilo é um ferimento a bala?
— Luke, você viu que seu ombro está ferido? — Falo, como se fosse uma surpresa e ele
ri, uma risada que me encanta.
— Eu acho que vi sim. — Ele deixa algumas coisas sobre o sofá e suspira cansado.
— Que pergunta besta a minha. É óbvio que você viu, ou melhor, você sentiu sua pele
rasgando, seus batimentos aceleraram e você provavelmente achou que iria morrer, já que é
assim que uma pessoa sensata baleada pensa.
Comecei a falar rapidamente, andando de um lado para o outro, enquanto a minha mão
esquerda foi para cima do local que havia sido baleada. Sempre que pensava em qualquer coisa
que envolvesse a arma, uma ansiedade me tomava.
— Ella, está tudo bem. — Subo o meu olhar e vejo que ele está praticamente colado a
mim. — Foi apenas um tiro de raspão, apenas levei um ponto e nada mais…
Seu olhar estava preocupado e então forcei um sorriso na intenção dele achar que estava
tudo bem, o que na verdade, não estava. Não estava sendo uma noite boa e tudo parecia estar
prestes a piorar.
— Ok… Eu acho que já vou me deitar…— Falei baixo para que apenas ele pudesse me
ouvir, me afasto um pouco dele, pegando meu celular sobre o sofá e o volto a olhar. — Boa
noite, Luke
— Espera, podemos conversar?
Meu corpo se paralisa, meu coração se acelera e minha respiração fica pesada. O que ele
teria para conversar comigo uma hora dessa?
— Sim… — Me virei para ele, que pegava suas coisas devagar.
— Podemos ir até a cozinha? Não desejo acordar Emma.
Concordo com a cabeça já andando em direção ao cômodo que eu estava a pouco. Minha
mente trabalhava para procurar todas as breves conversas que tivemos, em busca de uma falha ou
algum motivo para que ele me mandasse embora.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei me sentando na cadeira de frente para a dele.
— Na verdade, sim. — Ele mexe em alguns papéis apenas com uma mão, até encontrar
um envelope que eu conhecia muito bem. — Poderia me explicar que notificação é essa? — Ele
empurra o envelope lacrado para mim.
Diga adeus ao seu emprego, Pâmela, mais uma família vai te chutar.
— Luke, eu posso te explicar.
— Pode dizer. — Seu semblante era calmo, mas sua voz já estava um pouco mais
carregada.
— A quase sete meses eu sofri um acidente, e precisei ficar 15 dias no hospital… Meu
seguro cobriu apenas um terço das despesas, então tenho que arcar com todo o resto. Mas como
não consegui pagar tudo ao tempo estipulado, eles estão me cobrando um juros absurdo…
Falar sobre esse assunto mexia comigo. Bryan havia tirado tanta coisa de mim, que o
dinheiro era apenas uma das coisas. Ele levou a minha paz, a minha confiança e o meu amor…
Provavelmente levaria mais um emprego também.
— Que tipo de acidente você sofreu? Foi de carro? Dirigiu embriagada? Quebrou alguma
parte do corpo?
— Não e não… Eu… — Ele me olhava à espera que eu terminasse de falar, então
suspirei segurando na minha própria mão e apertando. Não teria como fugir, pela primeira vez eu
diria essas palavras em voz alta e não me sentia pronta para isso. — Eu fui baleada duas vezes
pelo meu namorado.
Olhava para garota ainda sem acreditar no que havia acabado de me dizer.
Essas palavras pareciam ter desbloqueado memórias a qual ela não gostaria de se
lembrar, já que seus olhos foram tomados pelas lágrimas. Obviamente eu precisava saber mais
sobre o ocorrido, afinal, era a segurança da minha família que poderia estar em risco. Mas,
Pâmela estava tão vulnerável, ela tentava não chorar, mas eu via que estava sendo um esforço
tremendo para ela.
Às vezes um sorriso é apenas mais uma máscara para esconder suas mágoas.
— Eu e Bryan namor…
— Você não precisa falar nada disso agora. — Cortei a garota, já estava tarde e eu não
desejava fazer ela remoer ainda mais sobre seu sofrimento.
— Eu preciso dizer, acho que estou a tanto tempo dizendo a mim mesma que está tudo
bem… Mas, não está. — Concordo com a cabeça, dando o tempo dela para continuar. —
Conheci Bryan ainda no Brasil, através de sala de conversa. Eu praticava meu inglês com
nativos. Nos tornamos amigos, ele me deu dicas de como fazer minha entrevista e tudo mais. Até
se ofereceu para pagar minhas despesas com o intercâmbio, mas eu neguei.
“Quando cheguei em Dallas, ele foi me visitar logo na primeira folga e foi ali que nos
tornamos mais do que amigos. Nós víamos a cada 15 dias, ele me dizia que não tinha como
viajar todo final de semana por conta do trabalho, até que com um ano de intercâmbio, decidi
pedir para trocar de família, quis vir para Austin e ficar mais perto dele. Eu consegui, mas
precisaria esperar uma semana até a outra au pair da família ir embora, iria ficar com a minha
LCC, mas ele me convidou para ficar na casa dele, então aceitei.”
Pâmela fechou os olhos e suspirou fundo, era uma história profunda da qual estamos
cansados de ouvir em depoimentos de estrangeiras. Me questionava o quão negligente as famílias
poderiam ser, ela era ainda uma garota de 20 anos, nem é considerada maior de idade em alguns
países, como o Estados Unidos,
— Foi horrível, eu acordei mais cedo do que o normal e ele estava ameaçando matar a
filha de um homem, ele segurava a arma com tanta precisão para o homem, que acreditei que
poderia até o matá-lo ali mesmo. Eu tentei fugir, mas ele me viu, ele me perseguiu pela rua,
mirando uma arma para mim, as pessoas vendo e todas paradas… Eu falhei, Luke. — Seu choro
começou a ganhar uma força a mais e eu queria a abraçar e dizer que ela não tinha culpa de nada.
— Quando eu parei de correr… Ele olhou nos meus olhos e atirou duas vezes… O homem que
eu amava, tentou me matar.
Não tinha me dado conta que estava com o punho fechado com força, até sentir um
formigamento na mesma. Abri ela e me levantei indo até a cadeira onde ela estava e sem ao
menos pensar, a abracei.
Não pensei no meu braço que estava dolorido.
Não pensei que poderia levar um tapa dela.
Não pensei em nada.
Apenas nela.
Em como ela estava fragilizada. Como ela precisava disso… De como eu precisava disso.
— Ei… Fica calma, você não teve culpa de nada…
Sussurrei a puxando para se levantar. Sua cabeça se deitou sobre o meu peito
parcialmente nú. Minha mão direita pousou por sua cabeça, acariciando seus cachos que se
encontravam soltos e bagunçados. Pude sentir seus braços se envolverem por meu quadril, de
forma que me transmitisse paz.
Eu não deveria me sentir em paz. Eu quem deveria trazer a paz para ela, mas seu toque
era capaz de me causar sensações a qual teria esquecido como era. Pâmela tinha esse poder sobre
mim, e eu não sabia lidar com a culpa que tomava meu peito por esse sentimento tranquilizador.
— Eu tenho… Deveria ter percebido…E agora, corro risco de ser deportada por dívidas
com o país. — Sua cabeça se levantou.
— Shiu… — Levei o indicador aos lábios dela. — Jamais repita uma coisa dessa, ok?
Com o mesmo indicador, enxuguei as lágrimas que insistiam em cair e fiquei admirando
seu rosto.
Pâmela não era loira e nem tinha olhos azuis, seu cabelo era ondulado e castanho, seus
olhos tinham uma mistura de cores que me fascinavam. Meus olhos desceram para o lábio, e foi
o meu pior erro.
Seus lábios tinham uma simetria perfeita, me lembrava até mesmo um coração, era uma
perdição… Eles me chamavam para beijá-o. Ela me olhava como se desejasse isso também.
— Ella… — Sussurro seu nome e em resposta, ela apenas morde o lábio inferior.
Minha cabeça começou a se aproximar dela e seus olhos se fecharam. Podia sentir seu
coração acelerando, assim como o meu estava.
Eu iria beijá-la.
— Luke? Você chegou?
A voz de Emma invadiu a cozinha, me fazendo se afastar de Pâmela, que se soltou de
meus braços e foi até a pia da cozinha.
— É, estou na cozinha.
Falei, coçando minha cabeça envergonhado com a situação. Minha irmã entrou no
cômodo coçando seus olhos e com o rosto marcado pelo kindle.
— Meu Deus, você está bem? Seu ombro… Seu rosto…
— Eu irei me deitar, boa noite a todos. — Pâmela falou rapidamente, passando de cabeça
baixa sem ao menos olhar para mim e Emma.
— O que está acontecendo? — Minha irmã perguntou, sem entender.
Eu não sabia o que estava acontecendo, tudo estava uma confusão. Mas, de uma coisa eu
tinha certeza, isso que eu estava sentindo já havia sentido antes e não foi com Amber, e sim com
a desconhecida do hospital.
— Eu fiz merda.
Culpa.
Esse sentimento está me corroendo por dentro.
Como posso trair a mulher que amo? Jamais faltei com fidelidade com Amber, mas
nunca foi tão difícil ser fiel. Entretanto, Pâmela está mexendo com a minha cabeça, ela invade
minha mente e bagunça meus sentimentos, de forma que só me senti assim uma única vez: no
hospital.
Seu sorriso me enlouquece.
Sua cantoria me encanta.
Seu cheiro me fascina.
Eu não posso pensar nela assim, ela é uma criança e eu sou casado. Não importa se
Amber não está mais aqui, fiz um voto de fidelidade para ela e vou cumprir.
Não cheguei a contar para Emma o que aconteceu na noite anterior, minha irmã ficou
mais preocupada com meu ombro, o que me livrou de seu julgamento.
O que me leva a lembrar que: Pâmela tinha uma dívida e não sabia como iria pagar.
Passei a noite pensando se devo me intrometer ou não, tomei o direito de abrir a correspondência
e sabia que com o salário a que pagava para ela, demoraria mais de dois anos para quitar sua
dívida, sem mencionar o juros que só aumenta a cada dia que passa.
— Ah, Luke, não se envolva. Ela é apenas uma desconhecida que você paga. — Falei
comigo mesmo enquanto segurava Manu em meu colo. — Mas, eu faria isso para qualquer
funcionário… Não teria nada de mais. — Amber me entenderia, ela era a pessoa mais solidária
que conheci e ajudar a pessoa que está cuidando da nossa filha, seria uma coisa a qual ela faria.
— É filha, iremos ajudar, o que acha?
Olhei para a garota que brincava com o controle da televisão, não importava quantos
brinquedos eu e Emma comprássemos para estimular a mesma, ela sempre preferia os não
estruturados.
Só sei disso graças a Pâmela, ela pode ser jovem e ter idade da minha irmã, mas tem um
conhecimento absurdo sobre crianças e principalmente sobre os bebês.
E mais uma vez meu pensamento foi levado a ela. Como tem sido todos os dias, desde
que ela chegou em minha vida.
— Que inf… — Manu levanta o olhar para mim e penso na primeira palavra com I. —
INVERNO. Isso, que inverno, né filha?
A garota dos meus olhos começa a rir como se tivesse visto a coisa mais engraçada do
mundo. Balanço a cabeça e a levanto, deixando apoiada sobre minha perna para poder abraçar a
menina.
— O que seria da minha vida sem você? Me diga, meu pequeno raio de sol?
Como resposta, sinto uma baba escorrer por meu rosto, desde que ela completou seu
sexto mês começou a babar mais do que o normal, já que um dos seus dentes começou a nascer,
o que vem se tornando nosso terror de noite.
— Luke? — A voz da Pâmela invade a brinquedoteca, me fazendo olhar para cima. Não
tínhamos nos encontrado desde ontem. — Posso pegar a Manu? Preciso arrumar ela para a
natação…
Ela fala enquanto olhava o seu pé, como se estivesse determinada a procurar uma agulha
no paliteiro. É errado dizer que ela fica ainda mais linda quando está com vergonha? Ou estaria
se sentindo intimidada?
Não havia pensado nessa possibilidade…
— Pode sim, mas antes, posso falar com você? — comecei a me levantar com Manu no
braço, mas acabo tendo uma pequena dificuldade por não conseguir apoiar o braço esquerdo, por
mais que não estivesse doendo, todas as vezes que fazia grande esforço, sentia o mesmo queimar.
A garota percebeu minha dificuldade e logo veio me ajudar, pegando a criança de meus braços.
— Obrigado.
— Você não deveria se esforçar tanto!
Seu olhar vem de encontro com o meu, um suspiro parte dela, que faz a quebra de contato
visual. Não sei dizer, mas isso foi como um tiro em meu coração.
Mas que caralho.
— Ficar com a minha filha não é um esforço.
— Não foi isso que eu quis dizer, me desculpe.
Ela disse, já se virando para sair com Manu, vou atrás segurando em seu ombro.
— Espere, você não me respondeu se poderíamos conversar ou não.
— Ok, eu já entendi… Não precisa dizer mais nada, irei arrumar as minhas coisas e ir
embora… — Sua voz vai perdendo a força enquanto abraça a Manu, uma confusão ainda maior
se forma dentro de minha cabeça.
— Calma, mas que porra você está falando?
— Você não pediu uma troca de au pair? Eu entendo, ninguém quer cobrança chegando
na sua casa.
— Nossa. Não, não é nada nisso. Podemos conversar ou não? — Meu tom de voz se
altera um pouco, fazendo ela arregalar os olhos. — Não quis ser grosso.
— Ok, pode dizer… Mas preciso realmente trocar a Manu, podemos conversar no quarto
dela?
— Está bem.
Falei passando pela frente dela e indo ao andar de cima, diretamente ao quarto da minha
filha.
Durante o pequeno percurso, fui pensando no que dizer para ela. Mas a verdade era que
eu não conseguia pensar em nada a não ser em ter ela em meus braços mais uma vez.
— Então… — Comecei a dizer enquanto ela colocava a Manu no berço para preparar a
bolsa da pequena. — Queria falar sobre ontem, de noite.
Ela parou no meio do quarto e se virou para mim, meu coração acelerou e podia ver que o
dela também, pelo modo que seu peito subia e descia descontrolado.
— Sobre ontem?
— Sim.
— Luke… Você é meu chefe. — Eu não ligo. — Tenho idade para ser sua irmã… —
Não. Não diga isso. — Acho que deveríamos esquecer o que aconteceu, ou melhor, o que não
aconteceu.
— Você tem certeza?
Não, não tenha certeza.
— Sim. Estávamos cansados e acabamos nos deixando levar no calor do momento.
Mas é assim que sabemos que os sentimentos são reais.
— Era exatamente isso que estava pensando.
Você é péssimo mentiroso, Luke O’brien.
— Ótimo.
— Tudo bem entre nós, então?
— Sim, chefinho. — Ela faz uma continência, que me força a sorrir.
— Vou deixar você arrumar ela então…
Falo, saindo do quarto.
O mesmo quarto que mirei uma arma para ela, que vi ela com seus cachos soltos pela
primeira vez e ouvi sua voz cantando uma música de ninar para minha filha. Mas, também foi o
quarto que minha esposa planejou e idealizou desde que descobriu a sua gravidez.
Eu estava pensando merda. Agindo como um babaca, tenho uma mulher e a amo, não
preciso e nem devo ter ninguém em minha vida.
No final das contas, ela estava certa. Devemos esquecer o que aconteceu, não passou de
uma besteira quase cometida pelo calor do momento.
Mas, seria a melhor besteira já cometida.
— CALMA. — Me assusto com seu berro, segurando ainda mais firme o volante. — Deixa
eu sentar para ouvir isso aí.
Reviro os olhos, voltando a prestar a atenção pelas ruas de Austin. Assim que entrei no
carro, liguei para minha irmã, já se faziam longos dias que não ouvia sua voz ou via seu rosto
sem ser por foto. Sentia falta de sua voz, de seus conselhos e suas loucuras.
— Eu já te contei. Não me faça repetir…
— Você acha que isso basta? Você está nesta casa a quase, o que? Um mês? —
Concordo com a cabeça, parando em um sinal e olhando para o celular. — O seu novo chefe é o
cara com quem você sonhou casando, ele te apontou uma arma e te tratou como se não existisse
por duas semanas, mas depois você cozinhou para ele e ele quase te beijou… Mas, alguém
atrapalhou?
— Nossa, você não é tão burra assim! Palmas para a Lara. — Olho para trás e vejo que
Manu está resmungando com o brinquedo. — Agora entra a melhor parte…
— VOCÊ VIU ELE PELADO?
— NÃO! — Sinto meu rosto queimar só com o pensamento disso vir acontecer. — Eu
disse para ele esquecer o que quase aconteceu e chamei ele de chefinho, dá para acreditar?
— Cara, se eu estivesse aí, iria esfregar sua cara nos asfalto.
Lara se levantou da cama e caminhou até o banheiro que era compartilhado por quatro
pessoas, ou melhor, agora três. Minha casa no Brasil não era luxuosa e nem grande. Sempre
dividia o quarto com minha irmã mais nova e até mesmo roupa, pelas manhãs sempre comia
cuca[8] e tomava um copo de leite com toddy. Era tudo diferente e mesmo com todas as
circunstâncias já vividas aqui nesse país, eu não voltava atrás.
Não sou ingrata, muito pelo contrário, sempre fui grata pelo o que dona Filó e seu Pedro
fizeram por mim, queria eu poder retribuir cada centavo. Mas não poderia ser como Helena,
minha mãe.
Voltar para Gramado será um erro, então farei de tudo para ficar nos Estados Unidos e
ajudar eles de uma forma ou de outra.
— Mas, não está! Então se contente com meu sorriso. — Dou um sorriso, estacionando o
carro.
— Como se sentiu com isso? Depois que conversou com ele, no caso?
— Virou minha terapeuta?
— Não, apenas não quero que guarde tudo para você.
— Agora tenho que ir, manda um beijo para o vovô e a vovó. Amo vocês.
Antes que ela pudesse responder, desliguei o telefone e joguei a cabeça contra o estofado
do carro, bufando.
— Me diga, Manu? Como vou falar dos meus sentimentos, se nem eu mesma sei sobre
eles?
Balancei a cabeça e desci do carro indo tirar a garota do cadeirão, em seguida pego a
bolsa e por fim, aciono o alarme do veículo.
Eu não menti quando disse a Luke sobre ele ser meu chefe ou a diferença de idade que há
entre nós. Mas, eu não me importava, eram apenas fatores irrelevantes para mim, porém não para
ele.
Ele aceitou tão bem minhas desculpas, ele se arrependia do nosso quase beijo.
Eu estava iludida, e me iludia sozinha.
Manu me olha com seus olhos pidões iguais aos de sua tia e começa a rir batendo
palminhas desengonçadas.
— Isso, ria da minha cara, daqui uns anos você vai me ligar lá no Brasil, e me pedir
conselhos e eu irei rir… Na hora, porque depois te ajudarei.
Ri com a menina enquanto entrava com ela na academia de natação, já estava
familiarizada com todas as pessoas do local. As meninas da recepção mexem com Manu,
fazendo com que a garota se engraçasse com todos.
Fui até o vestiário que estava movimentado, grande parte das crianças se encontravam
com as mães, algo que me deixava triste pela bebê que estava em meu colo, provavelmente
chegaria um dia que ela questionaria sobre sua mãe e isso iria doer. Não sei como será para ela,
mas jamais senti falta de meu pai.
Triste, mas a verdade. Não senti falta do meu pai, não tive vontade de chorar nos dias dos
pais ou julgar Deus por ter levado ele de mim. Não carrego um sobrenome que me ligue a ele e
não dou um rosto a ele.
Já Emanuela irá crescer em uma casa onde há quadros de sua mãe, carrega o sobrenome
Barker e até mesmo terá em sua memória o cheiro e voz de Amber, sentir saudade de alguém que
nem conheceu irá ser a coisa mais dolorosa que essa menina irá passar.
Tiro a roupa da loira e as guardo na sua bolsa, deixando apenas com o maio que tinha
vestido antes de sairmos. Nas primeiras aulas tinha dificuldade para colocar a toquinha nela,
agora era só entregar a chave do carro que ela se distraia, não demorava mais de um minuto para
isso.
Saímos do vestiário indo em direção a piscina e logo vejo que nossa professora titular não
estava lá, achei estranho e segurei com mais firmeza a bebê em meu colo.
— A professora Wilson não vem hoje? — Pergunto sem ao menos cumprimentar a
nadadora.
— Olá, senhora O’Brien. A Wilson deixou nossa academia, então estarei assumindo as
aulas dela. Não se preocupe, sei que todos ficam inseguros em entregar seus bebês para outra
pessoa, ainda mais na água. — Ela dá uma risada. — Mas estou aqui a mais tempo do que você
possa imaginar.
— É… Não sou O’Brien, por favor, me chame de Pâmela. — Falo, pensativa do que
fazer. — Está bem, estarei aqui caso ela não se adapte.
Começo a tirar o roupão dela e dou um beijo em sua cabeça antes de entregar Manu para
a professora, que logo sai andando em direção a piscina aquecida.
Luke ou Emma não haviam falado nada sobre casos assim, não sabia se tinha feito o
correto, mas se ela estava aqui, é porque a academia confiava nela… Então eu teria que confiar
também.
— Que eles não fiquem bravos.
Sussurrei, me sentando em umas das cadeiras próxima a piscina para observar atentamente a
aula.
Voltaria hoje ao trabalho, não podia dizer que estava 100% recuperado, meu ombro ainda
estava bastante dolorido nos momentos que o movia com rapidez, mas não iria forçar o mesmo
hoje. Conhecia muito bem o sargento que tinha, não estranharia se passasse o resto da semana
fazendo todo o trabalho burocrático do departamento.
Sempre gostei de estar antes do meu horário na delegacia, mas hoje estava sendo
diferente. Ao invés de ir direto para o trabalho, peguei um carro do aplicativo e me direcionei ao
hospital, onde estava sentado em uma cadeira aguardando o administrador hospitalar voltar com
todas despesas feitas por Pâmela.
— Bom, senhor O’Brien. — Ele empurra uma pilha de papel para minha frente. — A
senhorita Albuquerque ficou internada no período de 15 dias, deu entrada com a ambulância no
dia 07 de junho, às oito e vinte e sete da manhã e recebeu sua alta no dia 22 de junho, às três e
quarenta e oito da tarde. — Ele circulou as datas, me fazendo engolir seco, não era possível uma
coisa dessa. — Ela passou por uma cirurgia de emergência, mas o doutor acabou deixando pro
abono dele, então temos menos esse valor aqui. — Sua caneta aponta para os números grifados.
— Suas refeições, medicamentos, e todos os outros gastos, incluindo a ambulância, ficaram em
torno de $59.500,00. O plano de seguro de vida que a senhorita tem, cobriu 30% das despesas,
fazendo cair para $42.650,00. Ela pagou apenas $6.000,00 do valor, restando $36.650,00… — O
rapaz falava enquanto ia apontando para cada valor citado, porém ele pega outra folha, fazendo
uma careta. — Ela está com o pagamento atrasado a mais de 110 dias, fazendo o juros correr por
dia. A cada dia o juros é de 1,5… Ou seja, $549,75 vezes 112, totalizando mais de $98.222.
— Então, está me dizendo que ela tem uma pendência de $134.872,00? — Ele concorda
com a cabeça, me fazendo encostar na cadeira e suspirar. — Eu irei pagar.
— O senhor tem certeza?
— Sim, saindo daqui passarei no banco para acertar essa dívida. Nenhuma cobrança a
mais para a senhorita Albuquerque.
— Ok, só levará alguns minutos para que tudo seja finalizado.
— Enquanto isso, irei resolver outra coisa pendente, poderia me dizer onde consigo
encontrar o chefe da segurança?
— Está atrasado.
Aaron é o primeiro a notar minha presença. Retiro minha jaqueta, a colocando na cadeira
e concordo com a cabeça.
— Acabei tendo que passar no hospital para resolver algumas coisas, sargento, mas já
estou aqui.
— Ótimo. Nós iremos para rua dar um rosto para o Mitte. Você reveja todos os arquivos
dos últimos dez anos que tenham qualquer semelhança com o nosso caso. Se for preciso, chame
Lewis e Santana para te ajudar.
— Sim, sargento.
— Laurence fica com o Jordan hoje. Vamos lá.
Me sento na cadeira deixando uma frustração tomar conta, odiava a parte burocrática do
trabalho.
— Bem vindo de volta.
Jordan, meu parceiro, falou ao passar por mim.
— Cerveja no Johnny’s hoje a noite, é por minha conta.
Foi a vez de Oliver dizer, enquanto andava de costa sendo puxado por Emory, sua
parceira. Olho para o ambiente vendo que apenas Laurence estava no local, mexendo em alguns
papéis, mas logo se aproxima, trazendo um pen drive consigo.
— Como já sabia que ele iria te pedir isso… Fui adiantando para você, faltam apenas
alguns arquivos, e tem uma pasta separada com casos semelhantes. — Ela sussurra, como se
estivesse cometendo um crime. — Boa sorte e bem vindo de volta.
— Você é demais. Hoje a sua conta, eu pago!
— Ótimo, aturar o Aaron nos últimos três dias não foi nada fácil.
Ela riu e desceu as escadas que levava diretamente para a garagem. Esperei ouvir os
carros saírem, para enfim levar a mão ao meu bolso e pegar o pendrive que havia conseguido no
hospital, com as gravações do mesmo.
Eu não podia acreditar em tamanha coincidência, Amber havia morrido no dia 7 de
junho, o mesmo dia que Pâmela deu entrada ao hospital. Manu, teve alta no dia 22, igual a Ella…
Dia 22 também foi o dia em que me senti leve pela primeira vez, após 15 dias de dor e
sofrimento, o mesmo sentimento que sinto ao lado dela hoje em dia.
— Você está ficando louco, é apenas ironia da vida…
Tentei me convencer ao conectar o pendrive no computador, abrindo a única pasta, que
dentro havia subpastas com os nomes dos lugares no hospital. Não perdi tempo, fui diretamente
para a que estava nomeada como corredor central piso 4, todos os vídeos estavam organizados
por datas, o último era do dia 22 de junho, abri ele e acelerei o mesmo até chegar em meio dia,
me lembrava de ir comprar um lanche para Emma… Os minutos foram passando e meu olhar
atento na tela, olhando entre as duas entradas do corredor. Logo posso me ver andando como se
não estivesse em meu corpo, e então ela entra em cena.
Com seu cabelo solto, se apoiando em um porta soro e vestindo uma das camisolas de
hospital, a qual deixava sua bunda de fora revelando sua calcinha rosa da Hello Kitty. Eu acharia
fofo, se não estivesse apreensivo para o que estava por vir.
Rever aquela cena, fez com que todos sentimentos momentâneos voltassem. Meu coração
se acelerou ao ver nossos corpos se trombarem. Por pouco ela não cai no chão, mas meus braços
foram mais ágeis e a segurei. Meus olhos foram em direção aos dela, me perdendo em uma
imensidão de castanho misturado por verde, me esquecendo dos problemas por uma fração de
segundos.
Foi tão rápido. Tão intenso. Tão único.
Jamais duvidei do meu amor por Amber, construímos uma relação aos poucos, algo que
jamais imaginei viver. Mas, aquilo que assistia diante de meus olhos, era algo que só tinha visto
em filmes.
Poderia rever aquela cena por mais uma hora, porém algo me chamou atenção, Oliver se
aproximou. Eu não lembrava de ter visto ele naquele dia e nem se quer dele falar com Pâmela, eu
os deixei lá, sem ao menos questionar.
Oliver ou Emory não teriam me dito nada sobre isso, eu não me lembrava de nenhum
caso envolvendo uma brasileira desde que havia retornado ao trabalho… E pelo o que Pâmela
teria dado a entender, seu ex namorado não estava preso ou algo do tipo.
Então, só havia uma coisa a qual podia fazer, pesquisar sobre seu caso. Entro no banco de
busca do departamento e começo a digitar.
— Albuquerque, Pâmela…
— Alguém sabe da Laurence?
Oliver me perguntou enquanto se sentava com quatro garrafas de cerveja. Peguei uma e
agradeci com a cabeça, levei a bebida até meus lábios, sentindo o amargo sabor da cevada
descendo pela minha garganta, teoricamente não poderia estar bebendo, mas odiava ficar
dependente de remédios, então já tinha descartado todos eles.
Eu ainda não consegui entender. O arquivo que continha o nome de Pâmela estava
bloqueado no meu sistema. Tentei todas as senhas usadas pelo departamento e nenhuma entrou.
Aaron jamais me deixou por fora de algum caso, antes mesmo quando era extra oficial, que não
deveria ser registrado…. Mas, se estavam escondendo uma coisa de mim, eu iria descobrir ainda
essa noite.
— Ela disse que iria ficar até mais tarde no distrito, ela e o sargento tinham alguns
relatórios para revisar.
Jordan, meu parceiro, comentou relaxando sobre a cadeira, enquanto fazia sua garrafa se
mover lentamente sobre a mesa. Eu até iria comentar algo, mas logo a boca grande da Emory se
abriu.
— Sei bem o tipo de relatório. Esses dois vão tentar esconder até quando o
envolvimento? Esqueceram que somos detetives treinados? — Sua sobrancelha se arqueou.
— Do que você está falando? — Abri a boca pela primeira vez desde que sentamos no
bar.
— Vai me dizer que não desconfia? Sábado passado, Laurence chegou com o perfume do
Aaron impregnado na roupa.
— Eu sabia. Me deve 50 pratas, Oliver! — Jordan abriu a mão para que o amigo pudesse
colocar o dinheiro nela.
— Não, ainda não. Eles têm que assumir um relacionamento, o que duvido muito vindo
de Grishan .
— Vocês realmente apostaram isso? Se alguém me dissesse que vocês são policiais, eu
duvidaria muito. — Revirei os olhos, dando uma risada.
— Ah, o papai do ano também apostava em coisas assim. Aliás, até agora não me pagou
a aposta do caso dos Borgan.
— Mas você quem perdeu a aposta! — Rebati, fixando meus olhos ao dela.
— Teremos que tirar a prova amanhã. Tenho tudo anotado. — Ela dá de ombros,
relaxando sobre a cadeira. — Eu jamais perco uma aposta, você sabe muito bem disso
— Sabem o que isso está me lembrando? — Oliver fala, chamando a atenção de todos,
então apoia os dois braços na mesa. — O próximo treinamento está chegando, precisamos de
uma boa aposta.
— Tô dentro. Preciso de uma revanche da do ano passado. — Meu parceiro diz, coçando
a nuca.
— Teremos que rever nossas equipes. Agora temos Laurence no departamento… E por
mais que ela seja boa, não irá superar o Arnold, não irei perder para Emory. — Protesto. Por
mais que soe machista, Laurence é policial a apenas dois anos, não irei perder para Morgan mais
uma ano seguido.
— Está com medo de perder, O’Brien? — A doce voz da mulher soa como provocação.
— Para você? Nunca.
Solto risada me relaxando na cadeira, até mesmo esquecendo o que deveria fazer essa
noite. Mas, não poderia deixar de questionar ele sobre o caso.
— Aliás, como vão as coisas com Manu? Faz tempo que não vejo ela. — Jordan pergunta
curioso, fazia algumas semanas que o mesmo não ia até minha casa ou Emma levava Manu ao
distrito para passear.
— Se eu contar, vocês não vão acreditar! — Pego minha garrafa, virando o restante do
líquido dela e erguendo a mão para que tragam mais 4 garrafas. — Finalmente parei com uma
babá.
— Ok, agora os dois bonitões me devem 30 dólares cada. É tão fácil tirar dinheiro de
vocês
A única mulher na mesa pisca para Oliver, me fazendo balançar a cabeça em negação. Se
não conhecesse esses dois tão bem, até diria que rola ou já rolou alguma coisa entre eles.
— Droga, não poderia ter achado um defeito nela? — Oliver, o resmungão diz, pegando a
carteira e entregando o dinheiro para ela. — Mas e aí, como ela está saindo?
— Agradeça a sua esposa. Ela que indicou a agência para Emma. — Dei dois tapas no
ombro dele. — A garota é brasileira, veio em um intercâmbio cultural. Pâmela Albuquerque.
Digo o nome dela olhando para os três, em busca de uma reação. Emory age como se
fosse um nome qualquer, se a mulher não fosse detetive, poderia tentar a vida no cinema, tinha
beleza e um talento nato para qualquer tipo de encenação, era ótima em missões de infiltração. Já
Jordan, pegou o celular tentando disfarçar alguma coisa, se ele me olhasse, saberia que iria fazer
ele abrir o bico e Oliver disfarçou bebendo de sua cerveja já terminada.
Se antes eu achava que eles estavam escondendo alguma coisa, agora eu tinha certeza.
Mas os conhecia bem e nenhum deles iria abrir a boca para falar algo sem ter a permissão de
Aaron.
— Que nome peculiar. Típico do Brasil? — A única pessoa que tem coragem de olhar no
meu rosto pergunta, ela sabe que eu sei de algo.
— Acho que sim. Mas sabe o que é mais interessante? — Morgan acena com a cabeça
para que eu continuasse. — Ela estava no mesmo hospital que Manu nasceu.
— Isso é realmente interessante. Agora me diz, ela é bonita? Se encantou por uma
estrangeira? — Ela diz, tentando mudar o foco do assunto e me fazendo questionar o porquê da
sua pergunta.
— Emory, não começa. — Seu parceiro coloca a mão no braço dela.
— Só quero saber, ele ficou tão radiante em falar dela. Já deve ter superado Amber. — A
morena leva a sua nova garrafa de cerveja aos lábios, me fazendo virar os olhos.
— A próxima vez que você mencionar Amber ou insinuar alguma coisa sobre ela, me
esqueço que você é mulher e brigaremos como dois policiais.
Me levanto deixando uma nota de 20 dólares sobre a mesa e pegando minha jaqueta para
sair do bar.
Eu estava irritado com Aaron, por ter me escondido um caso.
Estou bravo com Jordan, por ser meu parceiro e mentir para mim. Se eu não confiasse
nele, em quem mais confiaria?
Com ódio de Emory, por falar de Amber como se tivesse sido só um caso na minha vida.
E o pior de tudo.
Estava sentindo raiva de mim mesmo. Por falar de Pâmela e deixar meu rosto revelar o
que ela me causa.
Era minha noite de folga.
Há um ano, provavelmente eu estaria em algum bar luxuoso com Bryan ou em um
restaurante a qual nem o nome conseguiria pronunciar.
Mas, nessa noite eu estava no sofá com um balde pipoca assistindo Crepúsculo com
Emma, que não parava de me atazanar falando de quão ruim o filme era.
— Olha, eu vou esquecer que você é praticamente minha patroa e te xingar!
Falei rindo e parando o filme bem no momento em que a Bella está olhando para Edward,
segundos antes dela quase ser esmagada pelo carro.
— Entenda, não tem como defender esse filme. Vampiros brilham? Ele está morto, como
vai engravidar ela? — Ela ri, jogando uma pipoca em minha direção e abro a boca, me fingindo
ofendida.
— Não sei o que está falando, como Caroline engravidou de um humano sem ao menos
transar com ele? Detalhe, ela estava morta e teoricamente a Jô também.
É minha vez de jogar a pipoca nela, enquanto rio com sua cara de desacreditada.
Emma e eu tínhamos muitas coisas em comum, sofríamos por banda morta — bem, eu
mais do que ela. Sua grande paixão era Taylor Swift. Vampiros? Enquanto eu amava a saga de
Stephenie Meyer, ela continha uma obsessão pela de Lisa Jane Smith e todo o universo a qual
cercava The vampire diaries.
Desde nossa entrevista, pude sentir que nos daríamos muito bem, e eu não estava errada.
Até nossas discussões eram divertidas e me fazia sentir como se tivesse uma amiga de verdade.
— Vou ter que te fazer reassistir o episódio novamente? A convenção gemini se
encarregou de tudo e você sabe disso.
— Ótimo, Bella estava viva e faz sentido Edward engravidar ela. — Quando fui tirar do
pause, seu celular começou a apitar, fazendo com que a atenção dela fosse totalmente ao
aparelho. — Hummm, sei bem como é um sorriso de apaixonada.
Dei risada pegando minha lata de coca e tomando um gole do melhor refrigerante de
todos, mesmo que Emma negasse. Nunca vi alguém ser tão do contra como essa garota, em
nenhum lugar do mundo Dr. Pepper seria o melhor refrigerante.
— São as meninas da faculdade. — Ela responde rápido, me fazendo arquear a
sobrancelha. — É… Você se importa de ficar de olho na Manu até meu irmão chegar? Acho que
logo ele está aqui… — Ela faz biquinho e deixa seus olhos brilharem como o do gato de botas.
— Luke te paga extra.
— Fechado!
— Obrigada! Obrigada! Obrigada! — Ela se levantou, fazendo uma dancinha enquanto
anda até a escada.
— Emma? — Ela se vira para mim. — Eu ficaria sem a extra, mas agora você garantiu
mais coca-cola para mim.
— Garota esperta… Ainda bem que não sou eu quem te paga!
Ela deu risada subindo os degraus da escada rapidamente, tenho certeza que se ela fosse
alguns centímetros mais alta, subiria pulando alguns degraus.
Olho para a televisão vendo que minha noite seria solitária, caso Manu não acordasse.
Então pego o controle voltando ao filme e dou um sorriso para Edward e Bella.
— Será nos três essa noite. — Puxo a coberta do sofá me aconchegando enquanto
presenciei umas das melhores cenas produzida pelo cinema mundial, não é atoa que mesmo
depois da estreia desse filme, ainda exista uma legião de fãs em todo mundo, inclusive no Brasil,
onde fizeram questão de gravar a lua de mel do casal.

Não importava quantas vezes eu assistisse esses filmes, eles sempre me surpreendiam.
Como se a cada vez assistida, eu percebesse coisas novas, algo jamais observado antes. Minha
intenção era assistir apenas o primeiro, ver Bella se apaixonando e nada mais, entretanto, estava
prestes a acabar Lua Nova e iniciar Eclipse, no dia seguinte eu não teria nada para fazer, talvez
conhecer um pouco mais a cidade ou algo do tipo… Mas, esses compromissos poderiam
começar após as 12 pm.
— Parem, não podem machucar um ao outro sem me machucar… — Cito a fala da cena
ao mesmo tempo que Kristen Stewart. Era palpável a dor que a personagem sentia, ela amava os
dois, mas de maneira diferente e não sabia explicar o porquê… — É difícil gostar de alg…
Meu celular toca, me interrompendo.
Meu olhar vai para a tela, indicando um número desconhecido.
Podia ver que já passava das uma da manhã, levo a mão até o mesmo o pegando e
atendendo.
— Alo? — Falo e recebo um silêncio do outro lado da linha. — Acho que você deve ter
ligado errado…
Falo e um gelo percorre meu corpo. Estranho, mas parecia ter ouvido a minha própria voz
pela ligação, como se o outro telefone estivesse no mesmo cômodo que eu. Levo a mão ao
controle e pauso o filme, olhando ao redor e vendo todas as janelas e cortinas fechadas. A pessoa
continuava sem falar nada do outro lado da linha, dando para ouvir apenas a respiração dela
agora.
Tirei o telefone do ouvido, printando a tela e no momento que fui desligar a chamada, um
barulho veio da porta da frente, me fazendo fechar os olhos de medo.
— Mas que porra, Emma. — Uma voz masculina toma conta do ambiente, me fazendo
voltar a respirar. — Já falei para você trancar a porta… — Me viro deixando o celular sobre a
almofada, vendo Luke, visivelmente irritado. — Ah, desculpe. Pensei que fosse a Emma…
Cansei de falar para ela trancar essa porta
Ele leva a mão para a nuca, a coçando envergonhado, dou um sorriso amarelo, levando a
mão para meus cachos e os prendendo em um coque com o lacinho que estava em meu pulso.
— Não precisa se desculpar, afinal, a casa é sua…
— Minha irmã está dormindo? — Ele pergunta se aproximando e sentando na poltrona à
minha frente.
— Não, ela saiu… — Ele me olha surpreso. — Acho que acabei de dizer algo que não
deveria, Emma vai me matar.
— Não, apenas estou surpreso dela não ter me pedido permissão. Amanhã eu falo com
ela sobre isso.
— Bom, Luke, vou deixar você à vontade… — Falei pegando minha coberta e meu
celular, mas na hora vejo que não desliguei a ligação e a pessoa ainda estava ligada.
Automaticamente desligo o telefone. — Merda… — Praguejei e vejo seu olhar sobre mim. —
Acabei ligando para minha irmã sem querer…
Minto desviando o olhar dele e então coloco o celular bloqueado no bolso, quando estava
prestes a pegar o balde de pipoca vazio, ele toca em minha mão, chamando a minha atenção.
— Podemos conversar? Prometo que será rápido.
Ele solta da minha mão e deixo o balde sobre a mesinha de centro e me sento. Em menos
de vinte e quatro horas já tínhamos conversado mais do que nas últimas semanas… Sendo que na
noite anterior, ele havia me visto chorar, me abraçado e quase me beijado. Pela manhã pedido
para que eu esquecesse, ou melhor, eu sugeri isso e ele aceitou de bom agrado… Agora, mais
uma conversa?
Ainda podia sentir meu coração acelerado pela ligação de alguns minutos atrás e ele me
vêm com essa… Deus, sou muito jovem para partir dessa para melhor…
— Aconteceu alguma coisa, Luke?
Falei quebrando o silêncio, pela primeira vez na noite, olhei seus olhos vendo que
estavam um pouco avermelhados, ele havia chorado ou estava levemente alcoolizado. Preferia
ficar com a primeira opção.
— Várias, na verdade. — Sua mão vai ao bolso da jaqueta de couro, que deveria ser mais
velha que eu, porém estava conservada e retira um papel de dentro. — Espero que não fique
brava comigo, mas tomei o direito de abrir sua correspondência e… — Ele me entrega o um
recibo com o meu nome, logo reconheço o emblema do hospital e vejo o valor da minha multa
mais a conta do mesmo pago. — Não iria conseguir ficar em paz sabendo o tamanho da sua
conta com o hospital…
— Você não presc…
— Precisava sim, não iria conseguir dormir sabendo de sua dívida. Você ainda tem muito
que conhecer nesse país para ser deportada.
— Luke… — Meu olhar ainda estava no papel, e nem se quer percebo que estava preste a
chorar até ver a lágrima cair contra o recibo, levanto o olhar para ele, que está sorrindo. — Eu
não tenho palavras para agradecer… Não sei como, mas ainda irei pagar a minha dívida com
você…
Um peso foi tirado de minhas costas.
Não era uma pessoa interesseira, mas também não era ingênua. Jamais recusaria ajuda em
uma situação dessa, ainda mais de alguém que eu sei que tem a condição para isso. Emma já
havia comentado sobre os seus falecidos pais, eles ainda recebiam uma bonificação pelo serviço
que o pai prestou ao país, o que não faria falta para eles, mas mudaria a minha vida.
— Eu sei um modo… Você só precisa ser sincera comigo… — Ele diz se levantando e
parando na minha frente.
Levo a lateral do dedo para enxugar minha lágrima e engulo a seco, levantando a cabeça
para olhar para ele. Não poderia imaginar o que ele desejava me perguntar, mas meu coração
dizia que não era nada bom.
— Diga… — Sussurro.
— Você é a garota do hospital?
Um silêncio tomou conta da sala.
Sua respiração dizia.
Seus olhos se entregavam.
Mas, sua boca queria negar.
— Que? Como assim? Que garota? — Ela se levanta mais uma vez, passando a mão
sobre seu cabelo, desfazendo seu coque.
— Apenas diga, sim ou não…
Insisti pela resposta enquanto deixava meus olhos focados em seu rosto. Com a cabeça
ela nega e se vira em direção a escada, acreditando que irá se livrar de me dar uma resposta.
— Eu quero que você diga.
Minha mão vai até a dela, a puxando em minha direção.
Envolvo meu braço sobre sua cintura, a obrigando se virar e olhar para meus olhos, assim
como fizemos no hospital.
Não saberia dizer se era o meu coração ou o dela que se encontrava acelerado. Podia
sentir sua respiração contra a minha, se tornando apenas uma.
Eu estava louco de me aproximar dela dessa maneira, e o mais insano, e que não queria
me afastar, estava gostando dessa sensação, como se fosse um adolescente prestes a dar seu
primeiro beijo.
— Diga, Pâmela… Era você no corredor do hospital ou não?
Mais uma vez pergunto, porém dessa vez, minha mão vai ao seu rosto a fazendo olhar
para meus olhos, sem ter chances de desviar de mim.
— Sim… — Ela sussurra. — Naquela manhã, no hospital… Era eu, Luke.
Uma simples frase foi capaz de fazer com que eu ignorasse meus princípios.
Foi um ato automático, como se estivesse programado para isso. Fecho meus olhos e em
um ato de insanidade, aproximo meu lábio ao dela. Esperava uma ardência sobre meu rosto,
sendo causada pelo tapa que imaginei receber.
Mas me enganei, e nunca fiquei tão feliz de estar errado em algo.
Seus lábios me cederam a um beijo.
Um beijo totalmente diferente de todos que já provei. Ao contrário do que sonhei, não era
nada calmo e suave. Continha uma chama, uma fervura crescendo entre nossos lábios.
Éramos como dois adolescentes beijando pela primeira vez, só que sem a parte ruim do
primeiro beijo.
Eu não queria me afastar, eu precisava de mais do que um beijo.
Meu corpo adormecido, estava reagindo ao toque. Sentia sua mão sobre meus fios o
puxando e não ligava dela me tocar dessa forma. Mas me incomoda quando ela se afasta de
forma brusca, sem dar um aviso sobre o fim.
— Isso não deveria ter acontecido… — Ela se afasta com a respiração mais pesada.
— Não mesmo. — Passo a mão pela minha nuca, sem saber o que dizer ou fazer.
— Mas eu preciso de mais.
Antes que eu pudesse dizer algo, ela já estava sobre meus braços novamente.
Seguro em sua cintura a puxando ainda mais para mim, para não ter chances dela escapar.
O beijo não foi diferente do outro, a única coisa que mudava, era que não estávamos mais
em território desconhecido. Queríamos aproveitar cada segundo como se fosse único e o último.
Tivemos que nos afastar pela maldita falta de ar, não queria, mas podia sentir seu peito
subir e descer mais rápido do que o normal.
— Isso foi um erro…
Ela diz balançando a cabeça, pega apenas o seu celular e sai correndo para a escada,
subindo em direção ao seu quarto.
Não me movo, apenas fico observando ela subir e rapidamente sumir do meu campo de
visão.

Eu não deveria ter a beijado.


Como eu poderia ter feito isso com Amber? Como posso ter traído a pessoa que esteve ao
meu lado nos meus piores momentos? Como posso ter tocado outra mulher debaixo do teto onde
planejamos criar nossa filha? Como pude ser um lixo de homem a esse ponto?
Eu não merecia todo o amor que recebi de Amber e muito menos os anos de fidelidade.
Me sentia sujo, envergonhado e decepcionado.
O pior de tudo é que eu havia gostado e parte de mim não se arrependia, não era nem
sequer digno de pedir perdão, já que meu sentimento de arrependimento não era verdadeiro.
Meu corpo havia reagido a uma mulher. Depois de meses sem ter uma ereção por prazer,
meu pau decidiu que a minha babá seria a pessoa perfeita para ele se interessar.
— Mas que droga, Luke. — Reclamo comigo mesmo, enquanto pego meu travesseiro e
cubro meu rosto.
Já faziam ao menos umas duas horas que eu estava na cama. Após ela subir fiquei,
esperando para ver se ela voltaria, mas isso não aconteceu, então vim direto ao meu quarto, onde
tomei uma banho gelado como a porra de um adolescente.
A culpa me corroía.
A culpa me doía.
Eu não podia deixar isso se repetir. Isso não iria se repetir, Pâmela também não era
merecedora de outro babaca em sua vida.
Ela era um brisa de ar fresco, que merece alguém fiel e verdadeiro ao seu lado, alguém
que a respeite até quando ela não estiver mais presente… E eu, estava longe de ser esse homem.

Eu beijei o meu chefe.


Eu beijei o meu chefe casado.
Eu beijei o meu chefe casado e viúvo.
Isso me fazia uma amante? Uma vagabunda? Ou cheirava a interesseira por ele ter pago
minha dívida?
Meu Deus… Eu sou uma amante vagabunda interesseira.
— Ok, respira e não surta. — Falei comigo mesma, enquanto pegava meu celular e ligava
para a Lara. — Vamos Lara, atende, atende, atende!
— Eu espero que você tenha matado alguém para me ligar às cinco horas da manhã.
Sua voz era mole, acompanhada por um bocejo. Coloco o celular no viva voz e o
posiciono ao lado do travesseiro, me deitando na cama.
— Eu beijei o meu chefe.
Falo de uma vez e quase que posso ver minha irmã despertar por completo.
— Ok, agora estou acordada de verdade. Pode me contar com detalhes?
Respiro fundo e então começo a dizer tudo para ela, desde o momento que ele chegou,
me entregou o papel do hospital, até o atual momento em que estou surtando no meu quarto.
— Agora estou na dúvida se sou uma amante, vagabunda, interesseira ou os três juntos.
— Bom, com base nas minhas experiências… — Minha irmã faz uma pausa dramática,
me deixando agoniada. — Você é uma biscate, vagabunda, gananciosa e sem caráter. — Prendo
a minha respiração, sem acreditar nas palavras da minha irmã. — Onde já se viu? Beijar um
homem viúvo que está afim de você? — Ela começa rir com o meu silêncio. — Eu daria de tudo
para ver sua cara agora
— Eu te mato, Maria Lara Albuquerque. — Solucei, enxugando uma lágrima que insistia
em descer.
— Quer realmente saber? — Resmunguei para que ela continuasse. — Você é apenas
uma jovem aproveitando seu intercâmbio como deve ser, seu chefe é viúvo e não cometeu
nenhum crime. A vida já foi difícil demais com você. Se permita errar, ser feliz sem culpa… Você
já perdeu muita coisa por causa da Helena, então não se sabote mais uma vez.
Soltei um suspiro, ficando em silêncio, enquanto olhava para o teto, refletindo sobre as
palavras da minha irmã mais nova.
Ela estava certa, eu não tinha que me culpar por algo que não havia motivo.
— Quando você se tornou a irmã responsável e sensata? — Falo, baixo quebrando o
silêncio.
— No momento que fiz a primeira cagada e você não estava ao meu lado para me
ajudar. — Sua fala me quebrou por dentro.
— Você sabe que sempre estarei aqui… A uma ligação de distância. — Dei risada, mas
por dentro desejava chorar por todos os sentimentos bagunçados dentro de mim.
Não era desse modo que pretendia aproveitar meu dia de folga.
Tinha a intenção de acordar após às dez horas, tomar um café da manhã, colocar meu
cronograma capilar em dia e sair.
Mas, nesse exato momento, estou em uma cafeteria qualquer, comendo um waffle com
mel e tomando um café horrível, sendo que não passam das oito horas.
Minha mente não me deixava dormir. Passei o restante da madrugada pensando em seu
hálito amargo de cerveja que virou meu sabor favorito, em suas mãos sobre meu corpo me
causando arrepios e sua ereção que não passou despercebida. Eu reprisei cada segundo em que
nossas bocas se tornaram uma só.
— Você não pode ficar pensando nisso, esqueça isso, cérebro maldido.
Resmunguei levando a caneca ao lábios e finalizando o café preto e amargo. Peguei
minha carteira deixando dez dólares sobre a mesa e me levantei indo para fora da cafeteria,
precisava me distrair e um shopping me parecia uma boa opção, estava querendo comprar alguns
discos de vinílico, já que em meu quarto tinha uma vitrola antiga e seria uma experiencia incrível
o som proporcionado por ela.
Entro no meu carro, deixando a bolsa no banco de passageiro e coloco o cinto de
segurança para começar a dirigir para shopping a umas cinco quadras da cafeteria. Como o local
era perto, não iria ligar o som, mas minha mente me forçava a voltar a voz de Luke e o som da
sua respiração. Precisava fazer com que elas sumissem de minha mente, então não me restava
outra opção a não ser ligar o som do carro e voltar a me sentir como uma garota de 13 anos
apaixonada por One Direction, e não uma vadia interesseira. No primeiro semáforo tiro o celular
da bolsa e o conecto no carro, colocando na playlist deles para tentar deixar minha mente viajar
ao som de Steal my girl.
Diferente das outras vezes, não presto atenção na letra da música e nem me entrego
berrando desafinada. O barulho não é capaz de calar minha mente, por mais que eu tente me
enganar, não consigo esquecer o beijo de Luke, esquecer sua mão sobre o meu corpo ou sua
maldita voz. Como se não bastasse ele invadir meus pensamentos, ainda teria que tentar ignorar
o fato dele dormir no andar de baixo do meu quarto.
— Vamos lá, pense em qualquer outra coisa! — Falo, olhando para o retrovisor e vendo o
carro branco atrás de mim, quase colado ao meu. — Isso, se concentre para não bater no veículo.
Batuquei sobre o volante e logo dei seta para esquerda, virando a esquina, volto a olhar
para o retrovisor e observo que o veículo também vira, me fazendo balançar a cabeça, voltando a
atenção para frente. Não demorou mais de 3 minutos para que eu chegasse ao shopping, conduzi
o veículo para o estacionamento subterrâneo, manobrando na primeira vaga a qual encontrei.
Quando tiro o cinto, dou um suspiro sentindo um arrepio por todo meu corpo. Um
sentimento estranho me preenche, fazendo com que eu feche a porta do carro novamente. Olho
para os dois lados do estacionamento, vendo se havia alguém por ali, apenas acabo vendo um
rapaz de costas, usando um boné, indo em direção a entrada do shopping.
— Que idiotice, você não precisa mais se intimidar.
Sorri para mim mesma, pegando minha bolsa e saindo do carro para ativar o alarme.
Após ter travado o veículo, vou para dentro do grande shopping de Austin, não tive tempo de
conhecer ele até agora, então pretendo aproveitar cada loja deste lugar, e relembrar como fazia
no Brasil com Lara, apenas entrar e não comprar. Por mais que ainda tivesse um dinheiro que
estava guardando para minha dívida, logo estaria desempregada novamente.

Já era terceira loja que eu entrava e saia em menos de cinco minutos. Aquela sensação de
estar sendo perseguida novamente, permanece dentro de mim.
Há alguns meses atrás, quando eu estava no parque com meu kiddo, me sentia insegura,
como se alguém estivesse nos vigiando. Comecei a ficar paranoica com isso, evitei sair com o
menino da casa por duas semanas, mas mesmo assim, sempre tinha um carro branco próximo à
janela do meu quarto. Nunca contatei a polícia por medo, se realmente fosse Bryan, ele poderia
tentar algo contra mim ou até mesmo, eu ser obrigada a voltar para o Brasil. Perdi essa família
por conta disso, mas logo essa sensação foi embora…
Agora ela voltou, desde aquela maldita ligação de ontem.
Minha mente berrava para sair da loja e ir embora para casa.
Meu coração implorava para ficar longe de casa o máximo possível.
Mais uma confusão que eu me colocava, sem ter resposta para ela.
Meu olhar checa todo o local em busca de algo - ou melhor, alguém - que eu não saberia
dizer. Minha boca se seca ao ver um rapaz de cabeça baixa usando uma máscara e o mesmo boné
do cara do estacionamento. Viro meu rosto discretamente e começo a andar de forma apressada
para fora da loja de roupas de inverno.
Olho para ambos lados, tentando me lembrar de onde eu havia vindo, mas quando me
viro para trás, vejo que o rapaz entrega para a vendedora o casaco e começa a andar para sair da
loja, apenas me viro para a esquerda em direção a escada rolante a qual saio andando na mesma,
sem me importar se havia alguém na minha frente. Quando chego ao topo dela, olho para baixo
vendo o moço olhando de uma lado para o outro, quando vou voltar a andar, ele olha para cima,
provavelmente me vendo, engulo a seco e começo a correr o mais rápido o possível.
Pela primeira vez, penso em ligar para polícia, mas não para os detetives do meu caso.
Emory Morgan e Oliver Brown não passam pela minha cabeça, mas sim, Luke O’Brien.
Coloco a mão dentro da bolsa a procura do meu celular e não consigo achar o mesmo
apenas com a mão. Abro a mesma e viro a cabeça em direção dela, empurrando minha carteira,
passaporte, carregador portátil, necessaire e chave do carro… Meu celular não estava nela. Eu
não havia guardado ele depois de colocar a música no carro.
— Não… Não… Não. — Falo em português, sentindo meus olhos arderem, eu não sabia
como sair dali, o inglês parecia algo que eu não soubesse e o medo me aterrorizava. — Apenas
preciso sair daqui.
Levei as mãos trêmulas para meu cabelo, fazendo um coque e começo a andar, ou
melhor, correr pelo shopping atraindo olhares para mim. Tentei desviar de algumas pessoas, mas
acabei me esbarrando nas outras, ouvindo alguns xingamentos. Eu até mesmo poderia jurar estar
ouvindo meu nome, mas não cometeria o mesmo erro duas vezes.
Minhas panturrilhas começavam a arder, enquanto subia outra escada indicando a saída
do local, mas não iria parar e nem me culpar por esse lugar ser um labirinto. Chego ao topo da
escada e dou uma respirada profunda, voltando a andar rapidamente, vendo a entrada principal
do shopping, sem me importar se me levaria para o estacionamento ou não, eu apenas precisava
sair do local.
Faltava pouco para que eu pudesse sair do estabelecimento, mas da forma mais
desengonçada o possível, acabo tropeçando no meu próprio pé, me fazendo cair no chão e
derrubando minha bolsa que não havia fechado.
Balanço a cabeça sem me importar muito com as coisas, apenas começo pegando o que
vejo pela frente, mas em meio a tudo que toco, não vejo meu passaporte e no chão mesmo,
começo a olhar para os lados desesperadamente, eu não poderia perder aquilo, não me
desgrudava dele jamais.
Olho para trás vendo que meu passaporte acabou parando no pé da pessoa que subiu a
escada, a mão do homem conhecido por mim o pega e me oferece.
— Acho que isso é seu. — Ele diz sorrindo, fazendo com que o ar me falte.
Eu não sabia se chorava, corria ou agradecia.
Não era exatamente a pessoa que eu desejava ver, mas bem na minha frente, estavam
Emory e Oliver. A mulher com seu semblante fechado de sempre e Oliver com um sorriso um
pouco amigável. Pego meu passaporte de sua mão e me levanto apressadamente olhando para
trás, à procura do rapaz de boné, mas não há um sinal dele.
— Está tudo bem ? — Oliver pergunta, me fazendo negar com a cabeça
— Ele está aqui, eu tenho certeza que vi ele.
No mesmo momento ambos levam a mão para a cintura, pegando suas armas e se
colocando em posição, e em instantes o segurança se aproxima e Oliver mostra seu distintivo.
— Você tem certeza? — A detetive questiona, pegando seu celular.
— Não sei, ele estava de máscara e boné, mas não parava de me seguir. Desde o
estacionamento.
— Recebemos uma informação que ele estaria em um carro branco a caminho do
shopping, por isso estamos aqui. — Ela se vira de costa para mim. — Danger 5304, preciso de
reforços no Royal shopping center. Fugitivo branco de 27 anos, ele estava com um SUV branco
roubado, início da placa RN8. O suspeito está usando um boné e uma máscara. — Ela logo
recebe uma confirmação da central e dizem que há viaturas a caminho.
— Emory, fica com ela. Irei atrás dele, avise Grishan e Laurence. Você. — Aponta para o
segurança. — Ordene fechar todas as saídas. Ninguém entra e ninguém sai.
O detetive logo sai pelas escadas de onde eu subi e me viro para a mulher, sem saber o
que dizer ou fazer.
— Vamos para sala de câmeras. Quero que você me conte tudo desde que chegou aqui.
Eu não sei dizer o que aconteceu ou quantas horas haviam se passado.
Minha cabeça doía, eu não conseguia pensar e me sentia sufocada sentada naquela sala e
sendo interrogada.
Depois de mostrar para Emory todos os meus passos dentro daquele shopping, fiquei
dentro da sala de câmeras com dois policiais, que se mostraram gentis comigo, se não me
engano, seus sobrenomes são Lewis e Santana, que deixaram escapar que Luke era colega de
trabalho deles. Não poderia imaginar que meu chefe é um dos detetive do meu caso, seria por
esse motivo que fui escolhida por Emma? Mas… Não faria sentido ele ficar surpreso com minha
história ou até mesmo, não apontaria uma arma para mim.
Mais uma vez eu me encontro confusa, sem saber o que fazer ou no que realmente
acreditar.
Durante o tempo todo dentro da sala de câmera, tentei ver se Luke chegava ou estava
com seus companheiros, mas não havia indícios dele e muito menos de Bryan dentro do
shopping.
O que me levou a ser conduzida para a delegacia, sem ter chance de pegar meu celular e
avisar a Luke do ocorrido.
Eu estava sozinha dentro da sala cinza e praticamente vazia. Tinha apenas uma mesa
retangular, quatro cadeiras e uma câmera posicionada para onde eu estava sentada. Olhei para o
grande espelho, me perguntando quem estaria do outro lado, será que Luke estaria alí? Ou
Emory estaria esperando eu dizer mais alguma coisa?
Toda aquela demora estava começando a me deixar agoniada, não sabia o certo o que
fazer. Eu deveria comer o sanduíche que me trouxeram? Ou isso me faria demonstrar alguma
coisa? Eles me achavam culpada?
Ok, ficar nessa sala já está me fazendo delirar.
— Desculpe a demora, senhorita Albuquerque.
Oliver entra na sala acompanhado de outro homem. Um mais velho, com alguns fios
grisalhos, tanto no cabelo como na barba. Seu rosto não me era desconhecido, provavelmente
teria visto ele no hospital, passei por tantos interrogatórios durante aqueles dias.
— Sou o sargento Aaron Grishan e venho acompanhando seu caso desde o início. — Ele
fala sem sorrir e vira a cadeira, se sentando. — O que você estava fazendo no shopping naquele
momento?
Ele pergunta, me fazendo arregalar os olhos, já tinha dito tudo para Emory, que foi bem
ríspida comigo, mas o tom usado pelo sargento me deixou ainda mais assustada.
— Bem… Eu não sei o certo, queria comprar alguns discos de vinil.
— Quais discos? — Ele questiona logo em cima, olhando em meus olhos.
— Eu não sei. — Respondo, levando a mão ao cabelo para refazer meu coque, eu estava
nervosa e não via a hora de sair daquela sala.
— Como não? Não iria comprar discos de vinil? Ou foi a primeira coisa que passou pela
sua cabeça? — Seu tom era como se estivesse me acusando de algo.
— Meu Deus, ele acha que sou uma criminosa
Falo sem pensar em português, fazendo tanto Oliver como Grishan estreitarem os olhos.
— Apenas em inglês, Pâmela. Ok? — Oliver pede e eu concordo com a cabeça. — Pode
repetir o que disse, por favor?
— Eu não sei qual disco fui comprar. — Suspiro pegando a garrafa d’água, dando um
gole do líquido. — Tem uma vitrola antiga no meu quarto e achei que seria interessante comprar
alguns discos…
— Humm… — O mais velho diz, enquanto mexe em alguns dos papéis que estavam
dentro da pasta amarela, logo pude ler “Mitte, Bryan”. Ele retira umas fotos de dentro e as
posiciona sobre a mesa à minha frente. Meus olhos passam pelas primeiras três fotos, me
fazendo ficar com a boca aberta e aterrorizada. — Reconhece algumas dessas pessoas.
— Sim… — Fecho meus olhos, tentando apagar essas imagens da memória, eram duas
fotos do homem que esteve na casa de Bryan e outra de uma criança de uns 3 ou 4 anos, ambos
com a cabeça decapitados de seu corpo. — Esse é o moço a qual falei para vocês… — Abro os
olhos, olhando para o detetive Brown. — Porque estão me mostrando isso? Essa é a filha dele?
— Pergunto, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— É sim, essa é a…
— Ou eu mato a doce Adele… — Repito a fala de Bryan. — Ai meu Deus. — Começo a
chorar, abraçando meu próprio corpo. — Como pude dormir ao lado de uma pessoa tão cruel
como Bryan?
— Isso que queremos saber. — Aaron diz, guardando as fotos e deixando apenas duas,
uma eu reconhecia, era do local onde eu havia sido baleada, tinha meu sangue na foto,
juntamente com a minha mala de roupa. A outra fotografia era de um táxi batido e o vidro do
parabrisa quebrado, não reconhecia de nenhum lugar e muito menos havia alguém na foto. —
Dentre tantas famílias que você passou por seu intercâmbio, porque justo a casa do detetive que
seu namorado matou a esposa?
— Me responda, como você foi parar na casa do Luke?
Eu não estava entendendo. Meu cérebro havia absorvido muitas informações nas últimas
horas, mas era como se estivesse na minha primeira aula de inglês, sem saber o que o professor
dizia.
Como o Bryan havia matado Amber O’Brien? Eu jamais havia me perguntado como ela
teria morrido e agora tudo parecia um enigma para mim.
— Eu não sei… Emma que se interessou por meu perfil… — Minhas pernas começaram
a se mexer involuntariamente. — Oliver, do que ele está falando? Você estava lá quando acordei
da cirurgia, você e Emory sabem o quão assustada e atordoada eu fiquei. — Meu olhar é
praticamente de súplica para o detetive Brown.
— Albuquerque. — Ele começa a mexer em alguns papéis e pega algumas folhas, me
entregando. — A meses estamos atrás do Bryan, se não fosse pelo seu caso, provavelmente não
teríamos um nome e nem mesmo um rosto para ele. Também estamos monitorando suas
ligações, e podemos ver uma quantidade suspeita de ligações feitas por telefones descartados. —
Ele aponta para as ligações anotadas no papel, todas com menos de 20 segundos. —
Acompanhamos cada mudança de família que você fez, mas não recebemos atualização dessa
sua última família. Mas, do nada, sua conta do hospital é paga, então Luke nos conta sobre sua
nova babá e… — Ele aponta para uma linha abaixo, mostrando uma chamada com mais de um
minutos dessa madrugada. — Bem, Bryan vem apresentando traços de dominador ligado ao
narcisismo. Ele ainda não consegue aceitar o fato de você ter sua independência...
Oliver continuou falando e eu apenas deixei um filme passar por minha mente. Ele me
ajudou a pagar meu intercâmbio, fez questão de que eu pudesse enviar uma quantia a mais todos
os meses para minha avó no Brasil. Bryan também me manipulou para mudar de cidade e ficar
perto dele, mesmo sabendo que eu tinha uma host family perfeita em Liberal, Kansa. Me
convenceu a ficar com ele ao invés do hotel e quando eu descobri quem ele era…
Ele me quis, quis conversar, tentou me explicar, mas já era tarde. Então para ele, não
tinha outra opção a não ser me ver morta.
Durante todos esses meses, ele estava me rondando, as ligações, sensações, eu não estava
louca. Ele realmente estava atrás de mim.
— Pâmela? Está me ouvindo? — Oliver pergunta, segurando na minha mão.
— Sim, continue…
— Ele foi atrás de você no shopping, não acreditamos quando soubemos, ele vem
fazendo com que andemos em círculo a meses. Mas, quando te vi, achei suspeito e chamei
reforços.
— Bryan está em uma caçada e você é a presa dele. — Aaron diz, chamando a minha
atenção e então se debruça sobre a mesa, se aproximando de mim. — Ele fará qualquer coisa e
com qualquer pessoa para te ter de volta, você viu o que ele fez com o drogado e a filha.
Sua fala me fez perder o ar, eu sabia muito bem a quem ele estava se referindo. Eu não
poderia carregar mais uma morte nas costas.
— O que e.. — Minha fala é interrompida pela porta sendo aberta bruscamente, fazendo
com que meu coração acelerasse ainda mais.

Eu dormi muito bem.


A meses não acordava depois das oito horas. E pela primeira vez, em um domingo estava
atrasado para o trabalho, não me orgulhava disso, mas o sorriso em meu rosto não deixava eu
mentir que eu havia gostado dos bons sonhos que tive.
Foi difícil pegar no sono, fiquei pensando nelas a todo momento, quando não era no
sorriso e no cheiro de Pâmela, pensava na decepção que estava causando em Amber. Não deveria
gostar desse tipo de sentimento causado pela minha funcionária… Mas ela me fazia tão bem,
cuidava de Manu como se fosse da família e até mesmo Emma irradiava um pouco mais com
Ella por perto, fico até me questionando o que minha doce esposa acharia caso estivesse aqui.
Obviamente não pelo fato de ter traído ela com a babá da nossa filha, mas sim da pessoa que ela
era e rondava por nossa família.
Tento não pensar nisso e apenas ir para o trabalho. Antes de sair do quarto, pego meu
revólver calibre 45 e o distintivo que fica ao lado da minha cama.
Vou pelo quarto de Manu para ver se ela ainda estaria dormindo, mas seu berço estava
vazio e arrumado, ela já deveria estar acordada e no andar de baixo. Um sorriso toma conta do
meu lábio e vou andando para escada, paro de andar na ponta da mesma, ouvindo a voz de
Emma e me lembro que ela tinha saído sem ao menos me informar.
— Aí está você. — Falo descendo e ouço ela saltar do sofá, assim que chego na sala,
posso ver seu semblante de assustada, provavelmente sabe o que irei falar. Não pude deixar de
notar que Jordan estava bem à vontade no sofá, como se a casa fosse sua. — Me atrasei muito?
— Olho para o negro, que confere o horário no relógio.
— Só o suficiente para passar a escritura da sua casa para meu nome. — Ele se levanta,
pegando sua jaqueta para sairmos.
— Pâmela está? — Pergunto a minha irmã, sem olhar para ela, enquanto colo meu
distintivo por dentro da camiseta .
— N-ão, ela saiu cedo… — Tento não demonstrar a decepção em meu olhar
— Ok, chegando conversamos e vê se mantém a por… — Olho para minha filha, que
está em seu tapete no chão. — Porta, apenas a porta trancada. — Me abaixo para minha filha,
dando um beijo sobre sua testa e me levanto, fazendo o mesmo com Emma, que sorri
envergonhada. — Estou falando sério, cheguei ontem e ela estava destrancada. Mantenha ela
trancada, ok?
— Está bem, até mais tarde. — Ela acena para Jordan, que retribuiu o gesto, indo para
fora.
Meu parceiro segue andando para o carro, mas eu paro na entrada e fico atento ao som da
fechadura, apenas quando ouço o click da trava que ando até o carro, entrando direto no banco de
motorista, fazendo com que Jordan me olhasse bravo.
— Você abandonou o carro ontem e eu que ando no banco de passageiro?
— As vantagens de ser um detetive e não um policial. — Respondo, mostrando meu
distintivo enquanto ele me entrega a chave.
— Então, ontem no bar…
— Você é a última pessoa que tenho que falar sobre isso. — Levo a chave na ignição do
carro. — Irei falar direto com o Aaron quando chegarmos ao departamento.
— Mas antes de irmos, tenho que ir ver um informante sobre o caso do garoto Alak.
— Vamos lá então.

— Porra, tive que atravessar a merda da cidade para seu informante não ter nada
relevante? Você sabe que tudo isso consta para se tornar um detetive, né?
Falo bravo, estacionando o carro em frente ao distrito. Tínhamos saído da minha casa por
volta das oito e meia, demoramos para chegar no local marcado e o informante de Jordan se
atrasou para não ter nada que agregasse no caso. Como se não bastante, meu parceiro quis parar
duas vezes no caminho para o departamento, fazendo com que demorasse ainda mais.
— Lógico que sei. Ele sempre tem informações necessárias, mas dessa vez ele vacilou.
Ele diz, como se não fosse nada demais. Assim que passamos pela porta de entrada, vejo
o sargento Bartlett em seu posto, que apenas com a cabeça me chama. Vou até ele, que começa a
olhar para seus papéis sobre o balcão.
— Preciso que você atenda uma ocorrência para mim, furto em uma padaria.
— Isso não é meu trabalho, manda Lewis e Foley.
Sem ouvir sua resposta, dou as costas e começo a subir a escada, não sairia do
departamento sem falar com Grishan.
— O’Brien, é uma ordem do Grishan. — O bigodudo grita do balcão.
— Ótimo, ele diz na minha cara então. — Coloco minha digital no leitor e o portão se
abre para que possa subir.
Assim que chego no andar do serviço de inteligência, posso ver Emory praticamente
sentada na minha mesa, com os braços cruzado e Laurence e Jordan conversando baixo em sua
mesa, que por sinal, era a mais próxima da sala do Aaron, que não se encontrava em sua sala, já
que a porta estava aberta.
— Bom dia, meu colírio, não lembro de ter dormido com você. — Emory fala assim que
passo por ela, me fazendo virar para trás e olhar para a mesma.
— Vai se foder, Emory.
Ando até a mesa de Laurence, que se levanta ficando em minha frente, Jordan apenas
recua. Ele me conhece o suficiente para saber que não adiantaria falar comigo, eu iria falar com
Aaron agora, ele querendo ou não.
Grishan melhor do que ninguém sabe disso, antes dele ser meu sargento, se tornou da
minha família, já que era um dos únicos e leais amigo de meu pai, o antigo sargento do 53, que
só se ausentou do mesmo após sua morte precoce junto com a da minha mãe.
— Cadê ele? — Pergunto para a italiana.
— Ele está interrogando uma pessoa, melhor você esperar. — Ela diz, mas logo passo por
ela, indo em direção às salas de interrogatórios, sem ao menos guardar minha arma no cofre, o
que poderia ser algo grave para a corregedoria. — LUKE, SUA ARMA, FANCULO[9].
Ela grita me xingando em sua língua materna, posso ouvir ela começar a teclar no cofre
para guardar a arma dela, antes de vir atrás de mim. Vou passando pelas salas e vendo através
dos espelhos que não havia ninguém nelas, assim que chego na última, posso ver perfeitamente
através do espelho, Pâmela sentada e sendo interrogada por Aaron e Oliver.
Balanço a cabeça revoltado, indo abrir a porta, mas Laurence me segura. Sem me
importar a empurro contra a parede, fazendo com que ela caia no chão com tudo. Abro a porta da
sala cinco com brutalidade, atraindo os olhares para mim.
Naquele momento, meus olhos se encontram aos de Pâmela, que estão avermelhados e
cheios de lágrimas, a qual ela tenta segurar, mas falhava.
— MAS QUE PORRA ESTÁ ACONTENCENDO AQUI?
Minha garota estava chorando.
Não sei em qual momento ela passou a ser minha, mas ela estava chorando sentada de
frente aos meus dois colegas de trabalho.
Não me importo com Laurence que está caída no chão ou até mesmo com o tom de
preocupado de Jordan ao ver a amiga. Minha preocupação estava em Pâmela, em seu nariz
avermelhado, assim como seus olhos que estão carregados de lágrimas.
— O’Brien, fora. — Aaron diz se levantando, mas ignoro e vou andando em direção a
única mulher da sala.
— Você está bem? — Pergunto, tocando em sua mão, e em resposta, ela concorda com a
cabeça.
— EU MANDEI VOCE SAIR, PORRA. — O sargento berrou, me empurrando para fora
da sala.
— Você fica. — Oliver protesta quando Pâmela ameaça se levantar.
A porta é fechada e o mais velho me conduz para a sua sala. Me afasto dele, já que
conheço o caminho e não faço questão de olhar os meus colegas que estavam na mesa da
italiana. Ouço o barulho da porta se fechar e não me movo.
— Por que a Pâmela está aqui?
— Senta. — Ele ordena me ignorando, então faço o mesmo. — EU MANDEI SENTAR,
CARALHO. ESSA MERDA É A MINHA DELEGACIA E VOCÊ TRABALHA PARA MIM,
PORRA.
Naquele momento meu punho se fechou e me sento na cadeira de frente para sua mesa,
sem dizer uma palavra sequer.
— Agora, arma e distintivo na minha mesa. — Posso ouvir barulho de copos e líquido
serem despejado no mesmo.
— Você está brincando comigo? — Me viro olhando para ele, que se aproximava com
dois copos de whisky.
— Não estou. O que você acha que a corregedoria irá fazer ao saber que você entrou em
uma sala de interrogatório com sua arma? Só estou adiantando o serviço deles, acordei caridoso
hoje. — Um copo é oferecido para mim, mas nego então ele despeja o líquido no próprio copo e
vira de uma vez só. — Você tem noção o que Átilas, seu pai, diria só de te ver entrar em uma
sala daquele jeito? Bom, eu sei. Ele te arrancaria da sala pelo colarinho e tenho certeza que ele
mesmo te entregaria para os oficiais, agora pense no olhar de decepção de sua mãe, ao saber que
empurrou uma mulher. Sorte sua Mary estar morta, se não ouviria mais do que eu e seu pai já
ouvimos só por pisar nos seus tapetes.
Eu sabia o que ele estava fazendo, queria usar meus pais para me acalmar. Mas o que ele
não sabia, é que eu não era mais o garoto irresponsável que ele foi dar a pior notícia no Iraque,
não tinha mais 26 anos e muito menos era um soldado imprudente.
— Se vai ficar com esses joguinhos, vou me mandar daqui e não faço questão de voltar.
Meus olhos estão fixos ao dele, de uma coisa ele sabia, eu não voltaria atrás da minha
palavra e Aaron não quer perder uns dos seus melhores detetives.
— Quer que eu seja direto, ok. Sua babá quase foi morta por Mitte, o mesmo que estamos
caçando há um mês e hoje ele a perseguiu. — Ele anda até a sua porta, abrindo a mesma. —
Agora, pode sair e deixar suas coisas na mesa, não é isso que você quer?
— Porque estou sabendo disso apenas agora? — Digo, tentando assimilar os casos.
— Você tinha acabado de perder Amber quando pegamos o caso, demoraria muito tempo
para te deixar a par de tudo. Então é mais fácil apenas obedecer.
O homem de quase cinquenta anos se senta na sua cadeira e coloca os pés sobre a mesa,
leva a mão até o bolso pegando seu canivete a qual abriu e começou a girar em seu dedo.
— Então é só isso que tem a dizer?
— Luke, Pâmela Albuquerque presenciou uma ameaça, ela se tornou uma ponta solta
para Bryan. Estávamos atrás dele a meses, sabemos que os Mitte’s estão traficando drogas
batizadas para todo Texas e mandando mulas para outros estados, senão países. Se não fosse pela
sua babá, não teríamos nome e nem rosto para um dos nossos fugitivos. — Ele se endireita e
debruça na mesa. — Então, sugiro que afaste ela da sua família e irei acionar o programa de
proteção contra vítimas para ela. Hoje ele foi atrás dela, nada o impede de tentar novamente.
— Isso está fora de cogitação. — Falo sem pensar e me levanto. — E-eu, Manu está
apegada a ela, assim como Emma. Elas já perderam gente demais, não farei elas perderem outra
pessoa. — Me viro para ele, que está com uma das sobrancelhas levantadas, me questionando. —
Ela não estaria segura perto de todos nós?
— Você quer assumir esse risco?
— Sim.
— Se acontecer alguma coisa com ela, tomo seu distintivo de vez.
Sem dizer nada, apenas levanto uma continência para o mesmo e saio da sala. Ele saberia
o que isso significa, assim como eu e meu pai, Aaron também havia servido por nosso país.
— Você fica. — Oliver fala e volto a me sentar, mantendo o olhar em Luke, que passa
pela porta e logo se fecha. — Temos pouco tempo antes que Luke insista em voltar.
— Do que você está falando?
— Pâmela, preciso que você me ouça com muita atenção. — Levo a mão aos meus olhos,
enxugando as lágrimas que queriam descer e ele me empurra um papel.. — Você tem duas
opções, a primeira é se tornar minha informante oficial. Irá receber por cada coisa que fizer em
relação ao caso do Bryan, isso também te garante segurança. Ele te quer, e se ele te quer, iremos
te querer mais ainda. Sim, você será a nossa isca para ele, mas Luke não pode saber. — Ele diz
sério, me fazendo recuar. — O que Aaron disse é verdade, Bryan matou a Amber e O’brien não
sabe disso. Não sei como você foi parar na casa dele e não me interessa o que está acontecendo
entre vocês, mas, você tem que ligar a qualquer sinal do Bryan e não esconder, como escondeu
todas aquelas ligações.
Ele estava querendo que eu mentisse para Luke. Não poderia fazer isso, não era certo
mentir para a pessoa que a menos de 24 horas tirou um grande peso das minhas costas. Mas, eu
sentia que essa era a única opção a qual eu tinha.
— E.. E se eu não assinar isso? — Pergunto, receosa.
— Bem, você viu do que Bryan é capaz. Jack e Adele foram apenas um dos efeitos
colaterais que o Mitte deixou após você ter saído da vida dele. Teremos que te colocar no
programa de proteção. — Ele me empurra outro papel. — Você terá que abandonar tanto a sua
vida aqui no Texas, assim como a sua vida no Brasil.
— Eu, eu não sei o que fazer… — Olho para ambos papéis, sentindo a ardência em meus
olhos.
— Você sabe, só não quer aceitar.
— O que direi a ele? — Me refiro a Luke.
— Independente do que você assinar, diga a verdade… Você foi comprar disco de vinil e
seu ex-namorado estava te perseguindo. — Ele me entrega a caneta e encaro ambas as folhas,
sabendo que uma delas teria a minha assinatura.
Mais uma vez, Bryan tirava algo de mim.
Ou perderia a minha liberdade de continuar a minha vida, sendo quem sempre fui, ou
terei que me tornar o que jamais fui, uma mentirosa
Eu não queria falar com ninguém, ou melhor, naquele momento eu não poderia confiar
em ninguém presente naquele andar, exceto em uma pessoa, a única que eu não havia visto desde
que saí da sala do Aaron. Aqueles a qual eu confiava a minha vida, assim como eles confiavam a
deles em mim, estavam escondendo as coisas há mais de cinco meses. Não seria algo fácil
confiar neles novamente.
Não sabia dizer se estava demorando ou não, eu estava me sentindo sufocado dentro
daquele departamento e não via a hora de poder voltar para minha casa, mas só faria isso com
Pâmela junto a mim.
— Qualquer informação, irei entrar em contato com você, assim como peço para que
entre comigo. — A voz de Oliver toma conta do local assim que ele abre a porta.
Pâmela não responde, apenas emite um som de concordância. Olho para Brown, que
passa por mim dando dois tapas sobre minhas costas e nos deixa a sós no corredor, posso
observar o semblante de cansaço da garota e suspiro, então movo a cabeça para que ela me siga,
não direi nada para ela enquanto estivermos em um prédio cheio de câmeras.
— Venha, vou te levar embora… Seu carro está aqui? — Pergunto a ela enquanto
atravesso a grande sala para chegar na minha mesa e pegar alguns pertences.
— Não. Eu deixei no sho… — Ela começa a dizer, mas Jordan a interrompe.
— Está sim, pedi para que Santana fosse buscar. — O negro se aproxima e me joga a
chave dando uma piscada, pego a mesma e jogo a chave do nosso carro para ele.
Não estava nem perto do meu expediente terminar, também não avisei Aaron que iria sair
e muito menos que não pretendia voltar hoje. Mas, do modo que minha mente estava, não iria
conseguir trabalhar, então isso seria algo que deixaria para resolver depois.
Desço a escada na frente da garota, como de costume coloco a minha digital para abrir o
portão e espero que ela passe para poder fechar. Diferente das outras vezes, apenas passo reto
pela recepção, diferente dela, que fez questão de ir se despedir de Santana e Lewis, que estavam
no balcão.
Deixei ela para trás e saí do local andando até o carro. Me encosto no mesmo olhando
para a porta de entrada e me perguntando o que tanto ela havia conversado na sala de
interrogatório, de todas as pessoas para interrogá-la, porque Oliver e Aaron? Bem, só seria pior
se fosse Emory no lugar de Oliver.
Eu conhecia o tipo de interrogatório de Grishan, ele era frio e calculista, deixava as
pessoas confusas com suas palavras. De certa forma, era um interrogatório sujo, conseguia fazer
com que as pessoas acreditassem que haviam cometido coisas sem ao menos terem feito, mas sua
abordagem já havia feito diversos criminosos se confessarem com naturalidade.
Emory Morgan já se colocava no lugar do interrogando, ela confessa coisas que jamais
tinham acontecido a ela, tudo para ouvir o que deseja. Eu até me questionava, até que ponto eu a
conhecia, e sempre tinha a mesma resposta: eu não conheço Emory Morgan, sabia o básico sobre
sua vida, tanto que fui descobrir da existência de sua filha depois de dois anos trabalhando ao seu
lado.
Agora, Oliver… Ele deixava com que o suspeito e vítima se assustasse com o outro
detetive e depois sorria como se fosse seu melhor amigo, te convence que ele sabe o melhor para
você, pode ter certeza que ele garante um acordo para algum criminoso, o acordo será entre ele e
o agente penitenciário, para que ele tenha o pior tratamento o possível por trás das grades. Não
posso julgar, eu era assim… Acredito que sou até hoje, mas Amber mudou isso em mim. Sempre
acabávamos discutindo sobre os direitos humanos do cidadão, posso garantir que um policial e
uma assistente social casados, gerava diversas discussões no jantar ao falarem do seu dia, por
isso com os passar dos meses de casados, decidimos que não falaríamos sobre nossos trabalhos.
Estranho, como até nesse momento eu sinto falta dela. Mesmo estando aqui, parado
observando outra mulher sair da delegacia, eu penso em Amber. Acho que trocaria tudo, tudo
mesmo, até mesmo ter conhecido Pâmela, para mais uma discussão na hora do jantar ou um
último beijo que não pude dar, por estar atrasado para o trabalho. Se eu soubesse que seria a
última vez que estaria com ela, jamais sairia de casa.
— Luke? Se estiver me ouvindo, pisque três vezes? — A mão de Pâmela me sacode,
fazendo com que eu pisquei diversas vezes. — Droga, acho que você piscou demais… Não sei se
isso conta como um sim
Como pode? Mesmo após ter tido uma manhã infernal, a garota ainda era capaz de sorrir
e fazer com que um sorriso surgisse aos meus lábios.
— Você… Você. — Balanço a cabeça e abro a porta do carro para ela. — Vamos, entre
no carro.
Digo e espero ela entrar para fechar a porta, dou a volta entrando no mesmo e faço uma
careta vendo o banco tão para frente. Olho para o retrovisor vendo que o mesmo estava
desajustado, ou melhor, o carro todo estava. Agora ele continha um cheiro mais adocicado, a
qual se remetia a cookies. Era impossível seu estômago não indicar sinal de fome dentro desse
carro.
— O que você fez com o carro? — Perguntei, empurrando o banco para trás e ajustando o
retrovisor, então levei a mão para um mini boneco a qual mexia a cabeça no painel do carro.
— Emma disse que o carro seria apenas para o meu uso, oras. Apenas deixei com o meu
jeitinho. — Ela parou a cabeça do boneco que usava uma camiseta com “1D” escrito dentro de
um coração. — Não mexa com o Louis, ok? Tenho ciúmes dele. — Ela falou em um tom sério e
depois sorriu.
— Você só pode ser de outro planeta, não é possível, garota. — Soltei uma risada
enquanto saia com o carro do estacionamento.
— Posso saber o motivo?
— Primeiro a senhorita pode colocar o cinto de segurança e depois, quem consegue sentir
ciúmes de um boneco nessas circunstâncias? — Logo posso ouvir o som do cinto sendo puxado e
o click do mesmo.
— Se tem uma coisa que seu país vem me ensinando, é que tenho que viver um dia e
cada vez e a única certeza que posso ter, é que meu Louis estará no carro me esperando amanhã.
— Ela solta um suspiro, me fazendo virar para ela rapidamente e concordar com a cabeça.
— Como você está com tudo isso e porque não me falou sobre a perseguição?
— Eu não tinha como te falar sobre a perseguição, sendo que nem eu sabia dela, se
soubesse não teria ido para o shopping… Não acha? — Ela tenta fazer uma graça, mas me faz
olhar feio. — Tudo bem.. Eu apenas não quis acreditar que era ele me ligando, já perdi tanta
coisa por conta do Bryan, que tive medo de te contar sobre a ligação e você me chutar para fora
da sua casa. Eu não quero ter que me afastar de v… — Ela faz uma pausa, fazendo com que meu
coração acelere naquele momento. — Da Manu.
— Não te chutarei por causa dele… Pode ter certeza disso, mas você precisa me jurar que
jamais irá esconder as coisas de mim. Pela sua segurança e pela minha família, está bem? —
Meu olhar vai ao dela pelo retrovisor e posso ver seu semblante ficar sério, por um momento
temo ela não me responder.
— Eu juro. — Ela diz seria e me faz sorrir.
— Bom, agora coloca uma música para eu julgar mais um pouco o “seu” carro.
Não precisei dizer duas vezes para que sua mão fosse para o som do carro, e não acho
estranho quando uma música cantada por cinco garotos começa a tocar, me fazendo ligar o nome
do boneco a essa banda inexistente nos dias de hoje, e como eu sei disso? Tive que ouvir minha
irmã da mesma idade, chorar pela banda que se separou.
Agora, estou ouvindo One Direction com uma garota da idade da minha irmã, e que eu
desejava beijar.
O que eu estou fazendo com a minha vida?

Eu havia mentido para ele enquanto olhava em seus olhos.


Bem, não sei se isso conta, já que estávamos olhando através de um espelho…
Lógico que conta, para tentar arrumar justificativas.
Eu não tinha muitas opções, Oliver foi claro quando disse que deveria ser extraoficial,
Luke e mais ninguém poderia saber. Não me sentia confortável com isso, na verdade, não me
sentia confortável com todas as escolhas que eu vinha fazendo nos últimos meses e em dentro de
24 horas, acabei cometendo as duas piores decisões da minha vida. Ou eu tentava me convencer
disso.
Se eu não tivesse assinado o termo de informante oficial, eu estaria longe da vida de
Manu, Emma e Luke. Eu estaria longe da vida de Pâmela Albuquerque, teria uma nova vida e
não desejava isso, mas para continuar na vida deles, teria que sustentar essa mentira até o dia da
prisão de Bryan e depois eu contaria tudo para ele.
A segunda coisa, era o nosso beijo. Se não fosse por esse maldito beijo, eu não teria saido
de casa, eu não teria sido perseguida, não teria assinado aquele termo e muito menos estaria
olhando para a boca do meu chefe a cobiçando, desejando beijá-la novamente e nunca mais
soltar.
Até mesmo quando ele murmurava o refrão de Little things, eu ainda queria o beijar. Sem
me importar dele estragar a música com sua voz desafinada. Pelo contrário, isso fazia com que
meu coração acelerasse ainda mais que o solo do Louis em Over again… Bryan não foi capaz de
fazer meu coração acelerar daquele modo.
Foi nesse exato momento que eu tive certeza de duas coisas.
A primeira coisa é, eu não amei Bryan Mitte, eu amei a vida que ele me ajudou a
conquistar nos Estados Unidos.
A segunda coisa foi, eu estava me apaixonando pelo meu chefe.
Minha cabeça não parava de rodopiar, não podia ser. Como posso comentar uma burrada
desse tamanho? Bastou um beijo, para eu me apaixonar? Que emocionada eu estava sendo.
Delírio.
Era isso, eu estava com febre ou tendo um delírio de tão cansada. Meu dia tinha sido
estressante e não passava das 3 horas da tarde. Tenho certeza que um copo de coca gelada
resolveria tudo, eu não era Bella Swan para me apaixonar antes mesmo de beijar. Ok, eu já havia
beijado ele, mas não era motivo para meu coração ficar acelerado.
— Chegamos.
Ele anunciou, fazendo com que eu retirasse o cinto rapidamente e descesse do carro com
as minhas coisas. Eu só queria poder subir para o meu quarto logo e ficar lá até esses
pensamentos de iludida sumirem.
Cheguei na porta e fui logo tentando abrir a mesma, mas pela primeira vez desde que eu
havia me mudado para cá, ela estava trancada.
— Sério isso, Emma?
Sussurro para mim mesma, Luke vem cobrando dela trancar as portas a semanas e justo
hoje ela decidiu trancar? Só por eu estar sem a minha chave?
— Disse alguma coisa? — Ele perguntou, se aproximando com a mão no bolso.
— Emma trancou a porta e estou sem a minha chave
Ele sorriu orgulhoso pela irmã e pegou sua chave abrindo a porta. Sério, um simples
sorriso foi capaz de acabar comigo de quinhentas maneiras diferentes.
— Bom, Manu está com a mãe da Amber e Emma saiu com as meninas da faculdade. —
Ele disse assim que entramos, ele trancou a porta e eu fui direto para a cozinha. Abri a geladeira
e peguei a última lata de coca-cola. Eu não poderia estar sozinha com ele nessa casa, mas
também não desejava ficar sozinha.
— Você vai voltar para o trabalho? — Me viro, vendo ele parado no batente da porta com
os braços cruzados.
— Não. Não irei te deixar sozinha…
Um peso desce do meu ombro.
Em meio a esse turbilhão de sentimentos e diversos acontecimentos, não sei ao certo se
estou segura sozinha ou não.
Pelo o que Oliver me falou, nos próximos dias Bryan deixaria a cidade. Uma
característica do fugitivo, então ele demoraria algum tempo para voltar a me “assombrar”, mas
não queria correr o risco.
— Obrigada. — Digo olhando para ele, que se aproxima um pouco de mim.
— Então, me diga o que os brasileiros fazem em seus dias de folga?
— Bem, os brasileiros comuns, geralmente se reúnem com a família e fazem churrascos
ou curtem o domingo de folga no sofá. — Dei de ombros, tomando um pouco mais da coca-cola,
tentando não ficar nervosa com sua aproximação.
— Ok, fico com a segunda opção. Não temos hambúrgueres para churrasco.
— Vocês são uma decepção para o Brasil. Onde já se viu assar milho e hambúrgueres?
Tem que ser picanha, linguiça e asinhas de frango… Humm, não pode esquecer do pão de alho e
queijo coalho. — Fecho os olhos suspirando, sentindo minha boca se encher de água. — Ai,
dessa parte eu sinto falta do meu Brasil.
Quando abro os olhos, posso ver que ele me olha como se admirasse um panda fofo. Ok,
eu estava ficando brega, até mais brega do que quando ele me chamava de Ella.
— Terá um dia em que você não reclame da nossa culinária?
— Quando esse dia chegar, eu não me chamarei Pâmela Albuquerque.
Falei passando por ele e o deixando na cozinha, estava prestes a ir para a escada quando
ele forçou uma tosse, me fazendo olhar para trás.
— Você não acha que fugir de mim te causou muita dor de cabeça? Então, o que acha de
assistirmos um filme e conversarmos?
— Luke… — Me aproximo dele e suas mãos vão para meus braços. — Eu preciso pensar
e absorver tudo que aconteceu nessas últimas 24 horas. Acho que meu cérebro está martelando
desde a madrugada. Podemos deixar a conversa e o filme para depois?
— Está bem, mas não irei sair dessa sala.
— Obrigada…
Sussurro, já me virando para sair, mas sua mão esquerda desliza por todo meu braço até
chegar na minha mão, sinto nossos dedos se encaixam um ao outro e ele me puxar contra seu
corpo. Não me importo com a última lata de coca-cola que cai sobre o chão, apenas me
concentro em seu olhar intenso sobre mim, enquanto envolve seus braços em minha cintura.
Nossas testas se encostam uma na outra, fazendo com que minha respiração tome a
mesma frequência que a dele, lentamente nossos narizes criam um leve atrito entre eles e meus
olhos se fecham ao mesmo tempo em que minha cabeça se deixa levar, naquele momento nossas
bocas se encontram mais uma vez. Não sei o que sentir, apenas me entreguei ao beijo que tanto
almejei durante o dia todo.
Diferente do nosso primeiro beijo, esse não exalava tesão e muito menos haviam faíscas.
Ele era calmo e sereno, na mesma proporção do mar em sua calmaria e de seu olhar doce e
compreensivo.
Não estava nem aí para meus princípios, muito menos para o autojulgamento que faria
assim que colocasse minha cabeça ao travesseiro. Eu precisava disso, eu precisava dele mais do
que ele precisava de mim e não sabia como iria lidar quando eu não o tivesse mais em minha
vida.
Aos poucos nosso beijo foi se cessando e finalizado com três curtos selinhos, me
arrancando um suspiro a qual nem eu mesma saberia decifrar.
— Vá descansar, eu limpo o chão. — Sussurrou contra meu lábio antes de dar um beijo
sobre a minha testa e se afastar de mim para ir até a lavanderia.
Eu estava fodida, como diria a minha avó, fodida de verde e amarelo.
Quanto tempo dura um luto?
Quando saber se está na hora de abandonar as roupas escuras e deixar de ter medo de
sorrir?
Quem sabe dizer o momento certo de se envolver com uma pessoa? Ou até mesmo deixar
que seu coração bata forte por outra mulher?
Isso seria considerado traição? As pessoas me julgariam por me sentir leve após ter
enterrado minha esposa a 6 meses?
Na verdade, teria data certa para tudo isso? Porque, por mais que outra pessoa mexa
comigo, jamais me esqueceria de Amber e seu lugar provavelmente jamais seria preenchido.
Então esse sentimento por Pâmela era real ou apenas um mecanismo do meu subconsciente para
me curar do luto?
Eram tantas confusões, que faziam com que evitasse Ella.
Após aquela tarde de domingo, comecei a refletir. Não acreditava estar sendo tão baixo a
ponto de querer continuar a desejando, na casa onde pedi a mãe da minha filha em casamento.
A culpa me consumiu e o arrependimento também, deveria ter ouvido Aaron e deixado
ele colocar ela no programa de proteção para testemunha, assim não lidaria com essa confusão a
qual estava metendo a garota.
Desde a perseguição não tive coragem de encarar ela por mais de 5 segundos, aproveitei
os momentos em que Emma estava em casa para a ver se ela estava bem, e sempre que minha
irmã não estava em casa, dava um jeito de não estar também.
— Cara, tá tudo bem? — A voz de Jordan me tira atenção do celular.
Estávamos no departamento preenchendo relatórios do caso de hoje.
Logo no início da semana fomos chamados em um terreno, onde haviam dois corpos
femininos. As garotas foram encontradas lá já sem vida, após serem usadas como mulas de
droga. Com o resultado da autópsia pôde ser concluído que ambas foram abandonadas com vida,
porém com a baixa temperatura do inverno, acabaram tendo hipotermia.
Tentamos de todos os modos interligar o caso com o Bryan, entretanto suas mulas são
descartadas com a barriga aberta, já o caso das asiáticas, tinham uma sutura mal feita no
abdômen, o que nos levou a trabalhar três dias consecutivos até encontrarmos os traficantes
responsável pelo serviço.
— Está sim. — Bloqueio o celular, vendo ele se aproximar da minha mesa.
— Sei que você ainda está puto, tem toda razão. Mas, não tente me enganar. — Ele socou
levemente uma das mãos. — Tem alguma coisa pegando e você não está me dizendo.
Mesmo que eu tenha ficado bravo com meus colegas, que passaram a se tornar da minha
família nos últimos anos, teria que relevar os últimos acontecimentos. Conhecia bem como as
coisas funcionam nos departamentos de polícia, e as últimas pessoas a terem voz para me dizer
qualquer coisa, seria Jordan e Laurence, já que ainda carregavam o título de policial e não
detetive. Oliver e Emory, os detetives do caso da Pâmela, alegaram não achar conveniente me
passarem o caso, já que ocorreu no mesmo dia que minha Amber faleceu. Todos tinham uma
justificativa, não que Morgan desejasse ter me dado uma.
Mas, Aaron era o único que ainda se mantinha calado diante do fato. Sabia muito bem
interpretar aquele homem, e ele ainda escondia alguma coisa.
— Cara… — Fecho o meu notebook e apoio os cotovelos na mesa, afundando minha
cabeça em minhas mãos. — Eu beijei a Pâmela e estou enlouquecendo com isso. — Falo de uma
vez por todas ao meu parceiro, que solta uma exclamação, me fazendo erguer a cabeça. — Ok,
pode me julgar. Estou fazendo isso a semana toda.
— Por que te julgaria?
— Eu sou casado. — Mostro minha aliança para ele.
— Cara, vai doer o que vou te dizer, mas… Você não carrega mais esse título de
“casado”, ele não te pertence nesse momento. — Ele dá um meio sorriso. — Hoje você é viúvo,
e acredito que esse título você jamais vai deixar de ter. É que nem escoteiro, uma vez escoteiro,
sempre escoteiro. Então não se cobre por algo que não errou, está tudo bem se envolver com
outras pessoas, você e de carne e osso. Mas… — Observo seu olhar, como se estivesse prestes a
me sentencear. — Ela ainda é considerada menor de idade, segundo nosso regimento da polícia
texana, transar com uma menor de ida..
— Jordan. Não fodi com a garota, eu só beijei ela. — Pego uma pasta e empurro para ele.
— Vai, volta para o seu trabalho e esquece o que falei. — Levantei às pressas, pegando minha
jaqueta para ir embora. — Se falar algo para alguém, eu mesmo tiro seu distintivo de policial e te
mando para a guarda da escola.
Digo e vou em direção às escadas pensativo, nunca tinha parado para pensar por esse
lado. Cogitar a ideia de me envolver com Pâmela era errado em tantos sentidos, que nem mesmo
tinha me tocado que ela ainda não atingiu a maioridade total. Jordan conseguiu me deixar ainda
mais confuso e me fazendo desejar ela, ainda mais.
Antes que eu pudesse deixar o prédio, vejo Emory, Oliver e Laurence chegando enquanto
riem. Iria passar reto, mas Oliver me para, colocando a mão no meu ombro.
— Spencer pediu para lembrar da ação de graças que será na nossa casa esse ano. —
Estava me esquecendo dessa data.
Todos os anos, nos reunimos na casa de alguém para passarmos a ação de graças e
dizermos sobre o que éramos gratos. Ano passado teria sido na casa da Emory, esse ano seria na
do Oliver, mas, depois que Amber se foi, essas datas perderam um pouco de sentido.
— Poxa, ca…
— Ela mandou eu te lembrar, que é o primeiro ano que teremos a Manu na ação de
graças, então todos temos que agradecer isso. Spencer já falou com Emma, vocês levam a
sobremesa, o convite se estende a Pâmela e é para chamar a Daphne também, como todos os
anos que ela passou conosco.
— Hum, vamos lembrar de não deixar o Jordan cortar o peru esse ano. — Emory falou,
dando uma risada fazendo com que eu e Oliver acompanhasse
— O que ele fez? — Laurence pergunta, curiosa.
— Ano passado ele foi todo empolgado para fazer as honras e derrubou o peru que
Emory passou dois dias preparando no chão. — Digo, me recordando perfeitamente da cena.
— Tadinho, vocês não comeram?
— Tá louca? Demos a parte que tocou no chão para ele e comemos o resto. Ação de
graças não é ação de graças sem o peru. — Emory falou, balançando a cabeça. — Até parece que
nunca comem… — Sua fala morreu no meio do caminho e seus olhos se arregalaram para a
amiga. — Ai meu Deus, essa vai ser a sua primeira ação de graças.
— Exatamente, não temos essas frescuras na Itália. — Ela dá os ombros e finaliza seu
café.
— Não repita isso perto da esposa do Oliver, ela é capaz de te dar uma aula das razões
para sermos gratos pela ação de graças. — Falo rindo, sendo acompanhado pelo o rapaz. — Pode
confirmar a minha família, ligarei hoje mesmo para Daphne. Bom, agora preciso ir, pessoal.
Falo me despedindo deles e saio em direção ao estacionamento, onde pego o meu carro
fornecido pelo departamento de polícia.
Eu tinha a intenção de ir diretamente para casa, mas no meio do caminho consigo me
lembrar que está sem coca-cola em casa desde domingo, nas últimas semanas quem sempre
restabelecia a geladeira com a bebida era Pâmela, já que não ficava sem. Porém, ela não dizia,
mas estava evitando sair para lugares longe e ainda mais de carro. Como sabia disso? Estava
acompanhando tudo pelo rastreador do carro.
— Primeira parada, supermercado.
Falei comigo mesmo, mudando o percurso que me levaria direto para falar com Ella.
Ignorada.
Era assim que me sentia durante esses dias. Já faziam cinco dias desde que menti para o
meu chefe, vulgo o cara a qual eu tinha beijado.
Não sabia dizer como me sentir, pelo fato dele não trocar mais de cinco palavras comigo,
isso incluindo “bom dia” ou “boa noite”.
Na verdade, sabia sim.
Eu estava com raiva.
Desejava gritar com ele e descontar toda a minha frustração sobre ele. Quem ele pensava
que era? Achava que poderia me beijar duas vezes e depois me ignorar? Era nítido o pavor que
ele sentia quando Emma saia de perto, então ele inventava qualquer desculpa para sair também.
Era frustrante ser tratada assim, em qualquer outra ocasião, eu apenas deixaria de
frequentar os mesmo lugares que a pessoa. Ignorar a rejeição a torna menos dolorosa, mas, eu
morava com ele e sempre que o via, seu olhar me lembrava que estava sendo rejeitada.
Durante o dia fiz de tudo para que pudesse esvaziar a minha mente, então acabei me
concentrando nas minhas aulas. Além do salário, moradia e alimentação, a família anfitriã
oferece um curso em alguma universidade próxima. Em meu primeiro ano optei por aprimorar
meu inglês, agora havia optado por aprender um terceiro idioma e acabei escolhendo o francês, já
que tinha conhecimento básico do espanhol, devido algumas novelas.
Assim que finalizei minha aula, desci para me distrair com Emma e Manu, que estavam
no tapete sensorial da bebê. Era incrível ver o amor e carinho que a mais jovem recebia de sua
tia. Bem, acredito que o amor de uma tia por sua sobrinha deve ser o amor mais intenso que
existe, pois não é sua filha e você deve amar como se fosse… Lara não é mãe e nem deseja ser,
mas só de imaginar minha irmã como mãe, meu coração se enche de amor por uma criança que
só existe em minha imaginação.
— Vamos, Manu, você consegue.
Emma falava, deitada de bruços, para que a menina encaixasse um cubo dentro do outro.
Pego o meu celular e aproveito para registrar o momento, como venho fazendo a cada nova
descoberta de Manu. Luke quase não parava em casa, e sempre perdia algumas coisas da filha,
então a mais ou menos duas semanas, quando seu dente finalmente começou a nascer, decidi
criar um email para ela e começar a enviar todas as fotos e vídeos para o mesmo, com pequenos
relatos do momento. Será uma forma de eternizar esses momentos de maneira que não estrague
ou se perca. Acredito que futuramente até mesmo ela goste de ver ou venha chamar a antiga babá
de brega. Nunca saberei, já que estarei muito longe dessa casa.
— Isso, Manu, muito bem! — Falo orgulhosa quando ela encaixa os três cubos, um
dentro do outro. — Ela está muito esperta, logo logo estará andando.
Falo voltando a me sentar no chão, enquanto revejo o vídeo.
Era incrível como a jovem O’brien carregava os traços de seu pai
Seus olhos azuis eram expressivos, conseguia compreender totalmente o que ela me pedia
apenas olhando. Seus lábios não eram grossos como os da tia, era mais fino, porém ainda sim,
tinha uma curvatura que imitava um coração. Por mais que Emanuelle tivesse nascido prematura,
ela era uma bebê com bochechas grandes e avermelhadas, e sempre que sorria ou gargalhava,
deixava amostra sua covinha a qual me encantava.
Já tinha visto diversas fotos de Amber pela casa, e o loiro do cabelo de Manu era idêntico
ao da mãe, mais claro do que de Luke, já que seu cabelo estava mais para um castanho claro.
Emanuelle Barker O’Brien, era uma criança maravilhosa. Conseguiu me encantar no
primeiro momento e fez com que me apegasse a ela.
Eu já estava acostumada com sua pequena mão segurando meu dedo sempre que dormia,
com seus pés teimosos a qual odiavam usar meias e sapatinhos, seu choro quando fazia manha
para ganhar colo e principalmente, por sua gargalhada que curava qualquer dia ruim.
Me doía apenas de imaginar que em alguns meses, serei apenas mais uma babá que
passou por sua vida, mas sempre irei me lembrar dela e mesmo de longe, continuarei a amando,
essa garota consegue fazer com que qualquer pessoa a sua volta a ame.
— Não diga uma coisa dessas, eu ainda não estou pronta para isso. — Emma ri se
deitando de costas no chão e então faço o mesmo.
— Pronta para o que?
A voz de Luke invade a sala, me fazendo olhar em sua direção e não pude deixar de notar
três fardos de coca-cola em seus braços, tentei segurar o sorriso, mas para a coca era impossível
não sorrir.
— Para ver a nossa pequena andando
Emma diz enquanto chama Manu com as mãos, entretanto a garota sai engatinhando até
eu, e deita a cabeça sobre a minha barriga. Volto a minha atenção para a mini querida e começo a
fazer um leve cafuné em seus fios loiros.
— Traíra, eu que troquei seu bumbum quando nasceu. — Falou, fazendo um drama me
levando a rir, assim como seu irmão. — E você não ria, também está me traindo. Só estou vendo
coca-cola aí. Cadê meu Dr. Pepper?
— A geladeira está cheia dele, não seja uma dramática, irmãzinha. — Luke diz, indo a
caminho da cozinha para deixar as bebidas.
— Serei sim! — Ela se levanta leva a mão ao cabelos, o prendendo em um rabo alto de
cavalo. — Irei fazer Manu dormir e tentar fazer uma lavagem cerebral para ela me amar mais do
que qualquer coisa. — Ela pegou a bebê que ainda estava sobre mim. — Vocês dois se virem
com o jantar, já estou começando a sentir fome.
Antes que eu pudesse protestar e dizer que iria colocar a bebê para dormir, Emma já
estava na escada, seguindo para o primeiro andar da casa. Me levantei sem saber ao certo o que
fazer, estava com fome, mas não estava com vontade de encarar outra batalha de silêncio.
Decidi que o melhor seria subir para o meu quarto, mas a voz de Luke fez com que eu
abortasse meu plano.
— Se você não me ajudar, serei obrigado a fazer sanduíche de geleia com leite, e você
vai julgar mais uma vez nossos gostos culinários. — Ele me mostrou um pacote de pão e um
frasco de geleia.
Balancei a cabeça sem dizer nada e andei até a cozinha, amarrando meu cabelo.
Não queria fazer nada que demorasse mais que o necessário, o quanto menor o tempo que
eu tivesse que ficar com Luke, seria melhor. Então vou diretamente para o freezer pegar uma
bandeja de carne congelada.
— Não precisa ficar aqui. — Falei para que ele percebesse que desejava ficar a sós.
— Irei te ajudar. — Ele disse sorrindo e indo lavar as mão na pia.
Não disse mais nada, eu não tinha nada a dizer e muito menos seria eu que puxaria algum
papo.
— Para quando está marcada a consulta de Manu mesmo?
Ele já sabia. Tinha anotado no calendário dela, que fica no quarto dela e até mesmo
falado para ele e Emma no café de ontem.
— Segunda-feira.
— Ok, irei com vocês.
Não digo nada, apenas coloco a bandeja de carne dentro de um refratário com água e um
pouco de fermento, vai por mim, isso descongelar qualquer carne em minutos, quando minha avó
me ensinou, fiquei de boca aberta. Ando novamente até a geladeira pegando alguns dentes de
alho em uma das gavetas e os levo até a tábua de cortar legumes, para começar a cortar o mesmo.
— O dia está frio, né? — Ele diz, tentando puxar assunto, bato a faca no dente de alho a
deixando lá e me viro para ele.
— É sério isso? — Cruzo os braços.
— O que? Estou apenas comentando do frio, esse inverno será bem intenso.
— Você passou a semana toda me evitando e agora quer vir falar sobre o clima?
— Eu não estava te evitando.
— Não? Você não teve coragem de me olhar por mais de cinco segundos, toda vez que
eu entrava em um cômodo que você estava, dava um jeito de sair e sem contar que essa conversa
está sendo mais comprida do que todas as palavras que trocamos durante esses dias.
— Pâmela, eu preciso que você entenda o meu lado.
— Entender o seu lado? Você me beijou duas vezes, não irei me fazer de sonsa e dizer
que não gostei. Agora, seja o mesmo homem que me beijou e diga que aquilo foi um erro ou
qualquer outra merda. — Ele tenta me interromper, mas nego com a cabeça. — Eu ainda não
terminei. Não haja como um moleque e me ignore, estou no meu local de trabalho e você ainda é
o meu patrão. — Levo a mão ao meu cabelo o soltando para prender em um coque. — Agora só
não me trate como se não eu soubesse lidar com isso, foram apenas dois beijos e não é como se
você estivesse afim de me dar um fora, te garanto que na faculdade de rejeição, eu já sou
graduada. — Minha voz é áspera, totalmente diferente do tom que uso com as pessoas.
Quando ele iria dizer alguma coisa, Emma volta para a cozinha, segurando uma babá
eletrônica.
— Manu já dormiu, o que vam… — Ela olha para mim e depois para o irmão, que não
está com uns dos melhores semblantes, na verdade, mal conseguiu falar nos últimos segundos.
— Acho que irei pedir comida para nós…
Ela dá alguns passos para trás e eu passo a mão sobre o rosto, negando com a cabeça.
— Eu perdi a fome, com licença, senhor O’Brien. — Falei saindo da cozinha, mas antes
mesmo de chegar na escada, volto indo direto para a geladeira e pegando duas latas de coca-cola
recém compradas por ele. — Obrigada pela coca-cola, senhor O’Brien.
Antes mesmo que eu pudesse ouvir qualquer coisa dele, saio de vez da cozinha, subindo
em direção ao último andar da casa, onde ficava meu espaço privativo.
Raramente Emma subia lá, e desde que cheguei, Luke jamais havia pisado lá. O que era
perfeito.
Nessa noite de inverno, apenas queria afogar minhas mágoas com coca-cola e amanhecer
parte dois, precisava chorar e colocar a culpa na visão de Alice.
Pedi para que Emma pedisse o jantar apenas para elas, decidi que o melhor a fazer era
ficar em meu quarto. Entendia toda frustração de Pâmela, mas também desejava que ele
entendesse o meu lado. Bem, nem eu compreendia o meu lado e isso me deixava um tanto
quanto desnorteado.
Assim que Ella foi para o seu quarto, fiz o mesmo. Não iria mais comer e só desejava
tomar um banho demorado e tentar colocar minha mente em ordem, sozinho, imerso em meus
pensamentos.
Porém, a única coisa que conseguia pensar, era que no quarto acima do meu, ela poderia
estar lá, me xingando ou até mesmo chorando. Sua fala estava impregnada em minha mente,
sobre a rejeição, o que me levava a questionar, será que eu realmente conhecia a Pâmela? Óbvio
que não conhecia, assim que ela chegou, fiz de tudo para ignorar e quando dei minha palavra que
estaria aqui por ela, eu fiz o que? A ignorei mais uma vez.
— A comida chegou.
Ouço a voz de minha irmã entrando em meu quarto, enquanto eu enxugava meu cabelo
com a toalha na suite. Meu quarto não era grande, mas também não era pequeno. Assim como
eu, Amber não fez questão de passar para o quarto principal da casa, que a alguns anos atrás era
ocupado por meus pais, mas recentemente se tornou o de Manu.
— Eu disse que não iria comer.
Joguei a toalha no cesto e apaguei a luz do banheiro, indo em direção ao closet, onde
peguei uma camiseta azul marinho e vesti.
— Eu não ouvi, acredita? — Dissimulada, era isso que minha irmã era.
— Engraçadinha. — Vou até minha cama e me sento, encostando na cabeceira, minha
irmã deixa as sacolas de comida sobre a cama e se senta em minha frente e coloca a mão sobre
minha perna.
— Vai esconder até quando as coisas de mim? — Sua fala faz com que meu olhar
encontre o dela. — Você não precisa me contar, caso deseje…. Mas, seja lá o que aconteceu
entre você e a Pâmela, saiba que sempre estarei te dando apoio. Como sempre teve e sempre terá.
— Como você sabe?
— Luke, você pode ser o mais velho. Mas, sou eu quem te conheço como a palma da
minha mão. — Ela sorri, me fazendo sorrir junto. — Seu olhar diz tudo, e sei que está perdido.
— Eu beijei a Pâmela. — Digo, encostando a cabeça na cabeceira e fechando os olhos.
— Eu sabia que era isso! — Ela diz toda orgulhosa, me fazendo questionar com o olhar.
— Desconfiei no dia que vi vocês na cozinha!
— Não sei como fiz isso, não sei como tive coragem de trair a Amber dessa forma… Isso
vêm me corroendo a dias.
— Luke, acho que não preciso ser uma especialista em relacionamentos… Mas, você não
traiu a Amber. — Reviro os meus olhos com suas palavras, não iria ouvir o mesmo discurso duas
vezes no mesmo dia.
— Não adianta me dizer que ela deseja que siga minha vida, eu fiz um voto para e irei
cumprir.
— Vamos de fatos dolorosos? — Antes que ela pudesse me deixar responder, se levantou
indo até o banheiro e logo voltou com uma escova de dente. — Essa escova de dente está
completamente seca, posso tocar nela e ver que ninguém a usa a mais de meses. Me diga, quando
foi a última vez que você viu alguém usando ela?
Ela entrega a escova na minha mão e se senta ao meu lado. Toco nas sardas e desço o
dedo para o cabo dela, vendo que havia os números 06 escritos nelas. Amber tinha uma mania de
registrar o mês da próxima troca de escova, jamais deixando ultrapassar de três meses.
Com o objeto na mão, fecho os meus olhos, tentando reprisar a imagem dela escovando
seus dentes, mas apenas um breu toma conta da minha mente. Eu não me lembrava, nem sequer
sei se ela havia escovado os dentes naquela manhã, já que sai para trabalhar e ela ainda estava
dormindo.
Eu não me lembrava de nada que aconteceu em seu último dia de vida, não me lembrava
do pijama que ela estava usando para dormir e nem se ela tinha tomado o seu copo de água, que
sempre esperava eu me deitar para pedir. Naquela manhã ela teria comido cereais ou frutas?
Qual foi a última roupa que ela usou com vida? Nunca irei saber, uma vez que cheguei ao
hospital e suas roupas foram rasgadas e descartadas,
Eram tantas últimas coisas que não me lembrava e jamais poderia me recordar.
Um vazio se forma dentro de mim. Um buraco capaz de segurar toda a minha alma e
retirar a pouca alegria que me resta.
— Você não se lembra, né? — A voz calma da minha irmã me faz abrir os olhos. — E
está tudo bem não lembrar, ela não está aqui para te cobrar sobre o corte de cabelo ou qualquer
coisa. — Sua mão vem a minha, a segurando. — Ela se foi… — Sua voz sai mais fraca, Emma
também a perdeu. — E está tudo bem seguir em frente. Está tudo bem sorrir e ser feliz, você me
ensinou isso quando os papais se foram e eu estou aqui para te mostrar que está tudo bem. Eu ter
ido a festa a qual prometi a mamãe que nunca ia, não me fez ser uma péssima filha, ou até
mesmo me apaixonado por um idota a qual o papai prometeu matar se me machucasse. — Ela
deu uma risada chorosa. — Está tudo bem ele não ter matado e eu ter passado dias chorando por
um rapaz. Isso não me fez ser uma pessoa traíra e muito menos o papai um traidor, por não ter
cumprido sua palavra.
“Nos prometemos coisas para aquele momento. Você jurou lealdade para ela, até que a
morte os separasse e ela separou. Amber morreu, e você está aqui, vivo, arrumando modos de ser
feliz. O luto sempre irá permanecer aí, dentro do seu coração. Com o tempo ele irá se amenizar,
mas nunca irá sumir. Você pode se casar mais uma, duas ou três vezes, o lugar que a Amber
ocupa no seu coração, ninguém irá tirar, a pessoa apenas irá se igualar ao seu primeiro amor…
Você foi o último amor dela, mas não significa que ela vá ser o seu último.”
Só percebo que estou chorando, quando sua mão vem ao meu rosto enxugando as
lágrimas que caiam, então puxo minha irmã para um abraço e deixo um suspiro pesado escapar.
— Se você acha que a vida está te dando uma oportunidade de recomeçar, deixe essa
oportunidade ficar e não tenha medo de nada. — Ela diz se afastando e limpando as próprias
lágrimas. — Bom, agora eu vou comer e sair, sou jovem demais para passar uma sexta-feira
dentro de casa.
— Precisamos conversar sobre essas suas saídas sem me informar, nem se quer sei com
que você anda saindo. — Digo levando as mãos para trás da minha nuca e ela se levanta
animada, me ignorando completamente.
— Como eu estou atrasada, você leva a comida da Pâmela ou a pobrezinha vai ficar
morrendo de fome.
Ela pega sua comida e sai rapidamente do quarto, me fazendo balançar a cabeça. Eu sabia
que um dia ela iria crescer, só que também pensei que estaria pronto para ver minha irmã se
tornando responsável e eu estava enganado, jamais estarei pronto para ver ela amadurecer.
— O que você vai fazer, Luke Átilas O’Brien? — Me pergunto olhando para a escova de
dente na minha frente, então a pego e a coloco no criado mudo ao lado da cama, junto com uma
foto minha com Amber no dia do nosso casamento, passo o dedo sobre a fotografia fechando os
olhos na esperança de tentar sentir sua pele mais uma vez. — Eu nunca irei te esquecer… Essa é
uma promessa que te faço depois de morta e não há ninguém que me faça quebrar…
Quando abro meus olhos, me viro para a frente, vendo aquela sacola de comida e por
mais que relutava para levar até Pâmela, não deixaria a menina com fome.
A quem estou tentando enganar, eu quero vê-la.
Eu estou parado nessa porta a mais de cinco minutos.
Era estranho estar nesse aqui em cima, já que evitei por muito tempo ter acesso ao
mesmo.
Meu pai planejou cada detalhe dessa casa, incluindo o terceiro andar dela, para que minha
mãe pudesse tocar seus instrumentos sem ter interferências de outros sons, sendo da rua ou da
própria casa.
Quando minha mãe atravessava essa portas, podíamos saber que ela demoraria para sair
do quarto, já que seu piano estaria alí, poderíamos berrar pela mesma e ela jamais escutaria
através das paredes acústicas. Um dos meus passatempos favoritos da infância, era entrar
escondido em seu quarto de música e poder observar ela sentada em seu piano tocando suas
composições próprias… Seus dedos deslizavam com uma leveza sobre as teclas.
Com o passar dos anos, Amber foi desmontando o quarto de minha mãe à meu pedido,
até mesmo foi feito uma reforma acrescentando um banheiro maior e um closet para o mesmo, já
que minha irmã dizia querer o quarto de minha mãe, mas nunca tomou coragem de trazer suas
coisas para cá, a única coisa que eu sabia que estaria alí era o piano. Emma jamais deixou que
alguém tirasse ele de casa, e eu respeitava essa decisão dela.
— Vamos lá, Luke, é só bater. — Falo rapidamente, dando dois pulinhos como se
estivesse me preparando para correr uma maratona, o que não deixava de ser, só que uma
maratona de sentimentos confusos.
Com a mão vazia, dou três toques fortes na porta, já que a mesma também era acústica,
então o som sairia mais fechado. Bato meus pés repetidamente, sentindo uma ansiedade tomar
conta de mim, não sei o porquê, mas ela parece estar demorando séculos para abrir a porta.
— Emma do céu, eu sempre me esque… — A garota abre a porta enquanto está virada
para a televisão pausando a mesma, não deixo de sorrir, vendo que em sua cabeça estava uma
espécie de toca brilhante, em um tom claro de verde.
Acho que esse verde, passou a ser o meu favorito.
— LUKE. — Ela quase berra ao se virar, retira a toca rapidamente e a joga em qualquer
lugar do quarto.
— Bom, se meu cabelo estivesse maior, eu te deixava me chamar de Emma,
— O que está fazendo aqui? — Ela pergunta com suas bochechas vermelhas, enquanto
tenta esconder o corpo atrás da porta.
— A comida chegou e Emma me mataria se mais uma babá fosse embora por minha
culpa…
— Ah… Não estou com fome. — Ela vai fechar a porta mas coloco meu pé, impedindo
que se feche.
— Calma… Posso entrar? — Posso ver no seu interior ela entrar em um conflito e depois
de muito morder o interior da sua bochecha, ela concorda com a cabeça. — Obrigado.
Falo passando pela porta e indo para próximo de sua cama. Antes de qualquer coisa, meu
olhar percorre por todo cômodo. Por mais que eu não conhecesse Pâmela direito, o ambiente
exalava a ela.
Sobre a cama tinha uma almofada em formato de coca, e uma espécie de varal cheias de
fotos, e no criado mudo ao lado da cama pude perceber ter uma babá eletrônica, conectada
diretamente ao quarto de minha filha. Na penteadeira podia se notar uma quantidade absurda de
potes, provavelmente todos de cabelo, já que ela sempre se mostrou muita vaidosa com seus
cachos, que eram uma das coisas mais bonitas que ela tinha.
Antes que meu olhar pudesse observar todo o resto do cômodo, posso ver o pé direito
dela se batendo contra o carpete, vou subindo o meu olhar por sua perna nua até chegar o no
tecido da camiseta que ela usa, onde congelo. Engulo em seco pensando se ela estaria usando
apenas isso ou não. Ouço um pigarro vindo dela e volto a subir meu olhar diretamente ao seus
olhos.
— E… Não te perguntamos, mas acho que você come comida japonesa, não é?
— Como. Se era só isso, pode deixar a comida sobre a cama e ir, eu sei usar um hashi. —
Ela diz com os braços cruzados.
Deixo as comida sobre a cama como ela disse e a olho mais uma vez antes de me virar e
começar a andar em direção a porta. Foi apenas o movimento de me virar que vejo pela minha
visão periférica a postura brava dela se desfazer, então me viro rapidamente, a pegando com a
cabeça baixa, fazendo com que ela se assuste.
— Na verdade, não é só isso. É preciso falar ou vou surtar.
— Então diga. — Ela volta a cruzar os braços e eu fico em silêncio. — Vamos, Luke,
diga…
Eu não sabia o que dizer, eu nem sequer sabia se ela iria aceitar me ver.
—Pâmela… Eu… é… — Começo a gaguejar.
— Que ótimo, não tem nada para dizer.
— Não, eu tenho. — Respiro fundo, fechando os olhos e logo os abro. — Eu preciso me
desculpar com você, fui um tremendo imbecil essa semana. Não vou pedir que você me entenda,
já que nem eu mesmo consigo me entender… Mas, por mais que em algumas atitudes eu
demonstre, não estou te rejeitando. — Meus olhos estão fixos aos dela, poderia não ser o
discurso de desculpa mais belo que ela tenha ouvido, mas sem dúvidas seria o mais verdadeiro.
— Sei que você não tem culpa das minhas confusões, mas está tudo muito confuso para mim,
são tantas coisas que até para mim está sendo difícil se adaptar.
— Sabe, Luke, já passei por tantas coisas nesses últimos anos, que se estivesse dando
tudo certo na minha vida, eu mesma iria me beliscar para ver se estou realmente acordada. —
Uma risada nervosa sai por parte da brasileira. — Não sei se quero saber da sua confusão,
mesmo já imaginando o que deve se tratar. Só não me deixe mais confusa, já está sendo muito
difícil para mim acreditar nas pessoas ao meu redor, então não faça com que eu desacredite de
sua palavra, assim como você tem feito nessa última semana.
“O que eu disse mais cedo, é verdade. Não ache que dois beijos tenham nos dado um
status de relacionamento, sou apenas a sua babá a qual acabou beijando no calor do momento,
então é só não fazer mais isso.”
—Não, não é isso. — Me aproximo dela, pegando em sua mão. — Te juro que você não é
“só minha babá”. Eu jamais beijaria alguém se essa pessoa não fosse importante para mim.
Porra, você não faz ideia de como foi difícil te ignorar essa semana e como é pior ainda não te
beijar.
— Então por que faz isso? Porque me ignora?
— Pensar em você me parece tão errado, de diversas maneiras… Eu sou seu chefe,
Pâmela. Isso pode soar como subordinação, pode custar sua tão sonhada vida nos Estados Unidos
ou até mesmo, o meu emprego, já que você é treze anos mais nova….E sem contar que acabei de
perder a minha esposa. Eu não podia me sentir atraído por outra mulher, mas você. — Minha
mão sobe sobre o braço dela. — Você me faz ignorar todos os sinais de alerta que minha
consciência berra. Sua boca me atrai de uma maneira que não sei dizer.
Falo mais baixo, me aproximando ainda mais de seus lábios e quando vou a beijar, ela
vira a cabeça, fazendo com que me afaste.
— Luke, enquanto estiver com essas dúvidas… Não me beije. Eu não preciso de mais
uma confusão em meio a esse turbilhão.
Sua fala me desmonta, mas eu havia buscado isso.
— Está bem, me perdoe. — Dou um sorriso de canto, me afastando para sair do quarto.
— Por favor, coma! Emma é uma exagerada, então acho que você irá gostar de alguma coisa que
ela pediu.
— Espera. — Me viro para ela. — Janta comigo? Mas, terá que assistir amanhecer
comigo.
Um sorriso floresce nos meus lábios enquanto recuo para perto da cama, onde ela já
estava e abria as embalagem de comida.

— Não acredito que você chorou com isso. — Falo indignado, vendo a palavra “para
sempre” aparecer na tela. — Isso foi a pior coisa que já assisti em toda minha vida.
— Ah, desculpe aí, senhor não choro por nada. — Sua voz era de brava, como se eu
tivesse xingando alguém muito próximo dela.
— Ella, essa luta no final foi uma merda. Não tem como isso ser bom, juro que tentei
gostar.
Passamos quase duas horas assistindo o filme enquanto comíamos. A comida japonesa já
havia acabado e estamos deitado sobre a cama dela, me viro de lado para olhar melhor para ela,
que está emburrada com meus comentários.
— Então diz aí um filme bom para chorar?
— Não vou ser mentiroso, mas chorei com Marley e eu.
— Ainda bem, ou iria dizer que você não tem alma.
— Ei, mesmo se não tivesse chorado, ainda teria alma. — Empurro seu ombro, forçando
ela a olhar para mim.
— Duvido muito, não sei nada sobre você! — Ela ri.
— Bom, minha cor favorita é verde militar, por causa do uniforme do exército. Meu
segundo nome é Átila, por ser o nome do meu pai, nasci no dia 22 de agosto. Acho que isso é um
bom começo.
Naquela noite, não quis mais beijar Pâmela. Me interessei por quem ela era, e me
surpreendi com suas coisas.
Pude descobrir além do que o sistema dizia sobre ela, sabia que sua cor favorita era verde
pastel e que amava coxinha, uma comida típica brasileira. Ela sempre quis ganhar um cachorro
de aniversário, mas sua avó nunca deixou ela ter, já que moravam em uma casa pequena e
tinham um comércio de doces. Também me lembrou que seu aniversário era três dias após o
natal, e quando criança, ela desejava que o Papai Noel mudasse seu aniversário para o mesmo dia
do nascimento de Jesus.
Não sei por quantas horas ficamos conversando e nem de onde surgiu tantos assuntos,
mas se dependesse de mim, os assuntos jamais acabariam e ela realizaria todos os seus sonhos
“nesse país bom de comida ruim”, como ela mesmo disse. E tive que levar a sério quando ela
disse que poderia dormir a qualquer momento, já que no meio de uma frase, ela acabou pegando
no sono e me deixando aqui, bobo enquanto admiro ela a dormir.
Eu queria sair dali e ir dormir na minha cama, não seria justo com nenhum de nós
dormirmos juntos. Mas não queria deixar ela pensar que eu estava a rejeitando.
— Só mais cinco minutinhos…
Digo para mim mesmo, fechando os olhos para piscar enquanto movia os dedos por seu
cabelo, mas dessa vez, meus olhos não se abriram e eu acabei adormecendo sem saber se estava
certo ou não.
Dois dias haviam se passado desde que Luke tinha ido atrás de mim.
Assim que acordei um vazio preencheu meu interior, ainda podia sentir o cheiro do seu
perfume em minha cama e seu abraço em meu corpo, se ele não tiver me abraçado durante a
madrugada, pode me chamar de esquizofrênica, porque senti até mesmo sua respiração contra
minha nuca.
Mas o sentimento de vazio passou, ao momento que peguei em meu celular vi três
mensagens de Luke.
“Luke: Bom dia, Ella.
Luke: Não quis te acordar, você estava dormindo tão bem que seria pecado te despertar.
Sai para trabalhar, então não pense em bobagens.
Luke: Poderia ter deixado um bilhete, mas minha letra é péssima. Vamos agradecer a
essa tecnologia. Até mais tarde.”
Não sei quantos minutos fiquei relendo essas mensagens, não me importei dele me
chamar de Ella, mesmo sabendo que devo cortar isso dele. É muito estranho ele me chamar de
“Ella”, quando no meu país tem a mesma pronúncia de “ela”.
Não tivemos tantos momentos a sós desde sexta-feira, mas ele esteve com o final de
semana cheio, nem sequer dormiu em casa de sábado para domingo, já que passaram a noite em
algum tipo de negociação.
Não entendi muito bem, mas Emma me explicou que as negociações é quando tem algum
refém sendo mantido preso pelo bandido, para ser a moeda de troca. Me arrepiei todinha, mas a
loira me garantiu que Aaron, o sargento que também era seu padrinho, era o melhor de todo o
Texas.
Na hora, senti um desconforto em ouvir o nome dele. Ele me pareceu tão frio dentro
daquela delegacia, mas nos retratos que tinham dentro dessa casa, ele parecia outra pessoa, ainda
mais quando ele estava em alguma foto com Emma.
Luke chegou apenas ontem de noite, totalmente cansado, já que eles tinham que
interrogar tanto a vítima como o bandido e depois fazerem um relatório detalhado de todos os
acontecimentos, o pouco que conversamos foi sobre a ação de graças e ele fez questão que eu
fosse com ele para a casa de Oliver e sua esposa. Compreendi completamente o fato de nossa
conversa ser rápida, então deixei que ele aproveitasse um pouco sua filha antes que os dois
dormissem.
Pode parecer doentio, mas do meu quarto fiquei observando ele brincar com ela através
da babá eletrônica. Ele sentado no chão com ela, enquanto ela fazia questão de ficar escalando
ele, era nítido a felicidade dos dois e cada vez que ela abria a boca para gargalhar, era como se eu
pudesse ouvir sua doce risada. Aquela cena era reconfortante e fez um vazio se abrir em meu
coração, é errado sentir inveja de uma bebê por ter o pai presente?
Hoje seria a consulta da Manu, já imaginava que começaremos a introdução alimentar, já
que estávamos apenas com o leite materno doado, que era sua única alimentação. Eu já estava a
caminho do consultório com a menina que brincava com a chave de casa no banco de trás.
Como sempre, estávamos com o som do carro ligado e eu cantava as músicas da minha
playlist, que eram de One Direction. Eu não conseguia desapegar, foram eles que através de
músicas me apoiaram a adolescência toda, então após o término deles, eu continuaria apoiando
cada um deles e faria de tudo para conseguir prestigiar o show de cada um em sua carreira
individual, já que não consegui realizar meu sonho, que era ver os cinco juntos em um palco.
Quando chegamos ao consultório, estacionei o carro e iria o desligar, mas não poderia
desligar o som bem ao meio de Drag Me Down, era um pecado para nós directioners não
finalizar essa música - e qualquer outra.
— ALL MY LIFE, YOU STOOD BY ME WHEN NO ONE ELSE WAS EVER
BEHIND ME. — Cantava olhando para trás e fazendo Manu gargalhar. — ALL THESE
LIGHTS THAT CAN’T BLIND ME. WITH YOUR LOVE, NOBODY CAN DRAG CAM
DOWN — Me viro para frente novamente e dou um berro. — PUTA MERDA
Falo em português, vendo Luke praticamente grudado na janela do carro rindo. Desligo o
som e o carro e então abro a porta, empurrando ele com a mesma.
— Não sei se você sabe, mas só tenho 20 anos! Está muito cedo para eu ter uma parada
cardíaca e hospital nesse país é muito caro. — Digo de forma dramática, enquanto ele vai tirando
Manu da cadeirinha.
— Não quis te assustar. — Ele ri e Manu acompanha ele, que menina puxa saco. — Seu
show estava ótimo, se essa coisa de babá não der certo, deve tentar a vida de artista.
Ele debocha, me fazendo revirar os olhos enquanto pegava a bolsa dela e a minha de
dentro do carro, e por mais que eu tentasse manter um semblante de brava, acabo rindo junto
com eles.
— Como você é besta, Luke. — Comento indo ao lado deles para entrarmos no
consultório.
— Quanta ofensa, não estou gostando, senhorita. — Ele olha para mim e eu estreito os
olhos, negando com a cabeça. — Me diga, filha, o que devemos fazer com ela? — Ele se vira
para a filha, que responde com resmungos. — Você tem razão, iremos fazer isso.
— Isso o que?
— Não podemos te contar agora, aguarde, senhorita Albuquerque, mas aguarde.
Ele diz abrindo a porta para que eu pudesse entrar, dei outra risada pegando a bebê no
colo para que ele possa ir até o balcão da recepção fazer a ficha da Manu.

Luke pega a filha da mão da médica e nos sentamos na cadeira de frente para sua mesa, a
doutora joga o palito no lixo e vem para perto de sua mesa.
— Bom, papais… — A médica fecha os olhos, percebendo o que havia acabado de
dizer. — Perdão. Papai e..?
— Babá, sou a babá dela.
Falo rapidamente, sentindo meu coração disparado, não tive coragem de olhar para Luke
e ver sua reação com o erro da doutora.
— Babá. — Ela repete, passando álcool na mão e senta na cadeira. — Manu está com 63
centímetros de altura e pesando 6,658 kg. Temos que levar em consideração que ela nasceu
prematura. Então são números surpreendentes. — Solto um suspiro aliviada, não sabia muito
sobre o peso e medidas dos bebês, mas a minha curiosidade fez com que eu pesquisasse tudo
pela manhã. — Iremos continuar com as vitaminas, para que ela possa se desenvolver ainda
mais. Também começamos a introdução alimentar, mas isso não significa que iremos tirar ela do
leite, os bebês precisam da vitamina do leite materno e mesmo sendo leite materno congelado,
ela precisa de todas as vitaminas.
A pediatra me entrega duas folhas, sendo elas cardápios para a nova alimentação da
Manu. Passo o olho rápido, já pensando em ligar para minha avó, eu não sabia cozinhar comida
para bebê e se dependesse de Luke e Emma, seriam aquelas papinhas industrializadas.
— Podemos estar dando frutinhas para ela também? Percebi que os dentes estão
incomodando bastante, acho que pode ser um modo dela aliviar a coceira, já que ela usa
brinquedos para isso. — Pergunto curiosa
— Pode sim, mas vamos focar em dar frutas que não sejam tão ricas em açúcar e para o
dente, pode fazer um picolé com leite materno, vai aliviar tanto na dor como na coceira. Agora
que vem a parte chata… Manu tem duas vacinas para tomar. As terceiras doses da pentavalente e
vip. Se desejarem, podemos dar agora mesmo.
Nessa hora me viro para Luke, que faz o mesmo, ele concorda com a cabeça e entendo.
— Sim, pode ser. — Engulo a seco, pegando a menina no colo e Luke me entrega sem
protestar.
Se eu já estava nervosa só de imaginar, não consigo imaginar como ele se sente ao saber
que sua filha irá sentir uma dor, mesmo que seja para o bem dela.
— Irei chamar a enfermeira. — A médica se levanta, saindo da sala.
— Obrigado. — Luke diz, me fazendo olhar confusa enquanto Manu resmunga no meu
colo. — Geralmente quem vem nas vacinas é a Daphne, não gosto da ideia de ver mais agulhas a
perfurando.
— Não precisa agradecer,
Ele não responde e a Dra. Geller volta para sala, acompanhada de uma enfermeira que
segura uma bandeja.
— Bom, a vacina será na perninha, pode tirar a calça dela.
Respiro fundo baixando a calça dela e em seguida dou um beijo em sua testa, que me
olha com os olhos azuis brilhando. A enfermeira se aproxima limpando o lugar da aplicação e
Manu já demonstra desconforto, dou um sorriso para ela.
— Você vai me dizer o que falou para o seu papai ou não? — Começo a conversar com
ela, que começa a se mexer, então levo a mão para a perna dela, a segurando com delicadeza.
— Irei aplicar a primeira.
— Hoje você vai provar sua primeira fru… — Paro de falar ao momento que a
enfermeira injeta a primeira agulha nela e Manu abre a boca chorando. — Oh, meu amor, calma.
Titia Pâm está aqui. — Abraço seu corpinho sem mexer muito nela, mas ela continha chorando,
fazendo com que meus olhos ardam. — Só mais uma picada e já vamos embora, ok? — Respiro
fundo, vendo a enfermeira se aproximar com a outra e mordo meus lábios inferiores com força.
— Um, dois, três e… Calma, já passou. Agora acabou.
Me levanto com ela após a enfermeira colocar o curativo em sua perna. Arrumo sua calça
e então a coloco em meu peito, para que se sinta protegida. Não me importo com as minhas
lágrimas ou o que está acontecendo ao nosso redor, apenas desejo que toda a dor que ele está
sentindo, sumisse.
— Calma, minha princesinha. — Beijo o topo da sua cabeça. — Essa dor já vai passar, eu
te prometo…
Já estávamos dentro do carro de Pâmela, eu dirigia enquanto ela estava no banco de trás
com Manu em seu colo. Eu era contra esse tipo de comportamento, sempre julguei pais que
faziam isso com seus filhos, mas hoje, eu pude ver que tanto a Manu, como Pâmela precisavam
ficar próximas umas das outras. Eu não imaginei que Ella iria chorar, mas mesmo com Manu
dormindo em seu colo, ela ainda deixava algumas lágrimas escorrer.
— Ella? — Chamo a garota olhando pelo retrovisor, ela levanta o olhar para mim. — Se
importa de passarmos em um lugar antes de irmos para a casa?
— Não me importo, só temos que passar em algum hortifruti depois, precisamos comprar
as coisas para a papinha da Manu.
— Vamos ao mercado, lá tem papinh…
— Nem pense em finalizar essa frase! Nada dessas papinhas industrializadas. — Ela
revira os olhos. — Estadunidenses tem uma mania chata!
— Vocês amam nossos fastfood! — Rebato, rindo.
— Você tem um ponto. — Ela dá um sorriso.
Aquele sorriso me desnorteia e eu tenho a certeza que estou ferrado.

Alguns minutos se passaram e dirigia em silêncio.


Tentava raciocinar o que meu coração desejava me dizer, mas minha mente se fazia de
desentendida e ignorava todos os sentimentos.
Eu estava ficando doido e só tive a certeza no momento em que parei o carro na frente da
casa da minha sogra. Suspiro fundo, retirando o cinto de segurança e me virando para trás.
— Chegamos!
— Onde estamos? — Ela pergunta pegando Manu, enquanto eu saio do carro para abrir a
porta para ela.
— Essa é a casa da Daphne, avó da Manu.
Pâmela congela seu semblante assim que saí do carro, não consigo compreender sua
reação e nem entendo o motivo de eu ter vindo até aqui com ela.
Pego as bolsa e começo a andar segurando nas costas de Pâmela, para poder guiar ela até
a porta e antes que eu pudesse apertar a campainha, a porta se abre, fazendo com que eu retirasse
a mão rapidamente da minha babá, me parecia errado tocar em outra mulher e alguém visse,
ainda mais sendo a mulher a qual queria beijar loucamente.
— Ouvi o barulho do carro e tinha certeza que era você! — Daphne exclama limpando a
mão em seu avental e olha para Pâmela abrindo um sorriso. — Você deve ser Pâmela, a babá
brasileira?
— É… Sou eu mesma. — Ela diz meio sem jeito e Manu resmunga, acordando.
— Entre, está frio aí fora
Ela abre espaço e deixo com que pâmela entre primeiro, fecho a porta sentindo um cheiro
maravilhoso vindo da cozinha, me fazendo olhar para ela.
— Que cheiro maravilhoso, está fazendo seus bolos?
— Estou sim, está na hora de seguir com a vida e deixar o que me faz feliz me fazer feliz.
Antes de Amber falecer, Daphne era apaixonada por fazer bolos. Tinha seu próprio
negócio, mas depois da morte da filha, fechou as portas se queixando que a vida já não tinha
mais o mesmo sabor. Não conheci o meu sogro. Francis, morreu quando Amber entrou na
universidade, devido a um câncer, então a família se compunha apenas das duas mulheres, até
Amber falecer.
— É para alguma encomenda? — Questiono.
— Não, esse é apenas para eu voltar a pegar o jeito! — Ela se vira para Pâmela. — Oh,
minha querida, seu braço irá cair de ficar com ela no colo, meu filho. — Volta a olhar para mim.
— Mostre a casa para ela, e deixem a Manu no berço! Vocês não vão embora até minha neta
acordar, depois venham para a cozinha, irei arrumar a mesa para o nosso café.
Ela diz sorrindo e sai da sala, indo em direção a cozinha.
— Bem, vamos lá? — Falo deixando ela passar para frente. — Daphne não é uma mulher
que gosta de casas grandes, sua paixão sempre foi sua confeitaria que ela fechou a seis meses. —
Digo e Pâmela olha para trás.— Quando Amber morreu, ela não quis saber de mais nada, apenas
de Manu, acho que agora está… — Engulo a seco.
— Não precisa falar mais nada…
— Preciso, sim. Ela está seguindo em frente, e ninguém pode julgar. — Abro a porta de
um dos quartos, que antes era de Amber e agora passou a ser de Manu.
Até a seis meses atrás, esse quarto tinha uma quantidade absurda de fotos da Amber,
desde criança até sua vida adulta, também tinha a cama da Amber e alguns pertences dela de
quando ela vinha passar o final de semana aqui para não ficar sozinha em casa, já que eu
trabalhava aos finais de semana e Emma saia bastante.
Agora, as paredes que antes eram roxas, tomaram uma cor azul clara e todas as fotos se
resumiram em apenas 4 porta retratos. O primeiro era da formatura do ensino médio de Amber,
estava ela, a mãe e o pai, lembro muito bem da minha esposa falando de como seu pai tinha
orgulho de finalmente sua filha está entrando na faculdade.
Logo ao lado era uma foto minha e de Amber em nosso casamento, eu achei que aquele
fosse o dia mais feliz da minha vida, mas eu estava enganado. A terceira foto era do chá
revelação da Manu, Amber tinha certeza que seria um menino, já até tinha escolhido o nome
dele, mas eu tinha certeza que seria uma menina, na foto eu estou ajoelhado beijando a sua
barriga grande. E por último, uma foto da Manu, no dia mais feliz da minha vida, quando ela
finalmente saiu do hospital e não corria risco de ficar com sequelas, o que era estranho, já que
era o mesmo dia que meu coração disparou pela primeira vez por minha babá.
Devo ter passado um bom tempo vendo essas fotos, já que não percebi Pâmela colocando
minha filha sobre o berço. Só saio do transe no momento que Ella toca em meu ombro, olho para
sua mão e depois para o seu rosto, vendo um sorriso triste se abrir em seus lábios.
— O amor de vocês é praticamente palpável pela foto… Manu teve sorte de ter pais que a
amam.
— Ela também tem sorte de te ter. — Falo pegando em sua mão e com meus olhos fixos
ao dela, logo a porta é aberta, fazendo com que Pâmela se afastasse rapidamente.
— O café está pronto, vamos comer? — Daphne diz olhando para mim e depois para a
Pâmela rapidamente.
— Vamos, estou azul de fome! — Digo puxando Daphne para que Ella pudesse se
recuperar do susto.
Logo posso ouvir os passos da brasileira atrás de nós e me questiono o que estava
fazendo da minha vida.
— Bom, não sei se ainda tenho mão boa para cozinhar, então sejam sinceros e comam à
vontade.
A mulher com poucos fios de cabelo grisalho falou, se sentando em uma das cadeiras,
esperei que Pâmela se sentasse para que eu pudesse fazer o mesmo.
Olhei para a mesa e vi que havia pães caseiros, um bolo de chocolate e vários tipos de
cookies, fora as bebidas como café, chá e leite.
— Só pelo cheiro, eu tenho certeza que está uma delícia. — Pâmela disse com convicção.
— Não seja precipitada, pode estar horrível. — Daphne riu, enquanto se servia de café.
— Acredite, cresci dentro de uma pequena doceria, reconheço um bolo gostoso só pelo
cheiro.
— Hum, sua mãe é confeiteira? — Eu não sabia nada sobre a família da Pâmela, então
olhei curioso para ela, que negou com a cabeça, provando um dos cookies.
— Fui criada por meus avós, e minha avó tem uma pequena doceria em gramado, já meu
avô tem uma kombi de caldo de cana.
— O que seria caldo de cana? — Pergunto curioso enquanto coloco leite em um copo,
vendo a pâmela rir do meu copo, já sabia até o motivo.
— Acho que aqui vocês não tem esses costume, mas no Brasil pegamos a cana de açúcar
e esprememos ela em uma máquina, para que todo o caldo que fica dentro dela saia, então
colocamos gelo pra beber, eu gosto dela bem gelada com limão! Fica uma delícia, é comum as
pessoas irem em feiras para tomar caldo de cana com pastel.
— Pastel? — É a vez da Daphne perguntar.
— Preciso fazer uma imersão gastronômica urgente com vocês.
— Ah, antes que eu me esqueça, viemos aqui para te convidar para a ação de graças
desse ano. Irá ser na casa do Oliver com a Spencer, eles fazem questão que você vá.
— Já te disseram que mentir é feio? Aquela mulher só faz questão do dinheiro, duvido
muito que ela queira receber alguém na casa dela.
— Quem é essa? — Pâmela que pergunta, curiosa.
— A mulher do detetive Oliver, e a Daphne tem razão e uma hora o Oliver vai acordar
para a vida.
— Não vai beber nada, querida? — A dona da casa pergunta, enquanto tento disfarçar
minha risada tomando leite, eu já tinha percebido uma coisa: Pâmela não gostava de café e muito
menos chá, só bebia coca-cola, leite com toddy e água.
— Hum, eu aceito… — Ela olha para as três opções de bebida e leva a mão no café. —
Café!
— Mentirosa, ela quer coca-cola!
— LUKE! — Ela quase voa em mim, me fazendo gargalhar e Daphne se levanta indo até
a geladeira pegando uma lata da bebida.
— O que? Eu sei que você não toma nada que tem na mesa. — Dou os ombros pegando
um pedaço do bolo e mordendo o mesmo. — Isso aqui está incrível, Daph.
Exclamei e logo um choro toma conta da cozinha, vindo do quarto de Manu, vou me
levantar para ir pegar ela, mas Pâmela é mais rápida.
— Eu pego e aproveito para ver se preciso trocar ela, fique aí.
Acho estranho Daphne não se mover ou protestar que ela iria trocar a neta, já que era uma
briga entre ela e Emma para saber quem daria banho na Manu e tals. Mas, assim que Pâmela saí
da cozinha, ela se levantou vindo até mim.
— Eu amei ela, você tem a minha benção. — Ela dá um beijo na minha testa e saí da
cozinha falando alto. — Pode deixar que troco minha neta!
Eu fiquei paralisado.
Não sabia se havia entendido certo e muito menos o que ela queria dizer.
Daphne não estava batendo bem da cabeça.
Assim como eu, já que dei um sorriso, mesmo sem desejar.
— Acho que a primeira fruta deveria ser banana ou mamão. — Meus olhos intercalam
entre as duas frutas com dúvida. — Não sei. Não quero estragar a primeira experiência
gastronômica dela. — Olho séria para Luke, que ri da minha cara.
Ontem depois que chegamos de Daphne, entramos em um consenso que estava muito
tarde para dar qualquer tipo de comida para ela. Não sabíamos como ela iria reagir, seu estômago
poderia estranhar, poderíamos dar algo que desse uma cólica ou algo do tipo.
Manu estava sobre sua cadeirinha, ela estranhou no momento que colocamos ela sentada
pela primeira vez, mas assim que deixamos alguns talheres de silicone sobre a mesinha
embutida, ela se distraiu. Enquanto Luke e eu, discutimos sobre qual seria a primeira fruta que
daríamos para ela.
— Ella, eu tenho certeza que ela não se lembrará como foi! Então, vamos dar qualquer
uma. — Ele levanta e pega um kiwi e um morango.
— Você é péssimo, sabia? Quero só ver daqui uns seis anos quando ela nem se quer
lembrar mais de mim, a culpa vai cair todinha sobre você! — Me aproximo dele pegando o
morango de sua mão e o comendo.
Naquele momento pude ver um brilho surgir nos olhos de Luke, tentei não sorrir, porém
foi algo a qual não consegui evitar, foi mais forte que eu, quando dei conta, meus lábios já
estavam curvados.
— Vamos fazer assim, cortamos todas as opções e colocamos na frente dela e deixamos
que ela escolha. Pode ser, meu bem? — Naquele momento, me faltou o ar. Como seis letras,
formando duas palavras, poderiam mexer comigo dessa forma? — Pâmela? Está me ouvindo? —
Suas mãos vêm para o meu braço, me fazendo piscar diversas vezes e levantar o olhar para seu
rosto.
— Estou sim! Vou picar as sementes. — Digo, me afastando dele.
— Picar as sementes? Certeza? — Ele ri enquanto se aproxima de mim na pia, segurando
algumas frutas.
— Você me entendeu Luke Atilas O’Brien! — Mostro a língua para o meu chefe,
enquanto pego as uvas de sua mão.
— Você está ficando muito abusada, Pâmela Albuquerque.
— Você disse que eu deveria me sentir em casa, então é isso que estou fazendo… —
Digo sorrindo e voltando a minha atenção para as frutas, picando cada uma em um tamanho que
dê para ela segurar e não se engasgar.
— E eu estou amando te ver assim.
Sem aviso, ele se aproxima por trás de mim, colando nossos corpos. Seguro a faca com
força, como se ela fosse me impedir de me virar e o beija-lo. Eu não podia beijar ele novamente,
tinha feito uma promessa para mim mesma, que não ficaria em meio a sua confusão. Mas, esse
homem tornava tudo muito difícil, principalmente no momento que ele deixou um beijo sobre a
minha bochecha. Não me lembrava dele ter beijado esse local antes.
Eu iria jogar a minha promessa aos ares, iria tacar o fodasse para a confusão dele, mas no
momento que solto da faca para me virar de frente para ele, ouço um barulho de algo caindo,
quando nos viramos, era Manu derrubando as espátulas no chão e começando a chorar.
Obrigada, Deus. Serei persistente nessa promessa
Agradeço mentalmente.
— Deixa eu terminar isso, ou essa pequena vai nos odiar por deixar ela com fome e
estragar seu momento com a comida.
Falo fazendo um coque em meus cachos, na intenção de fazer o calor do meu corpo
baixar. O que era totalmente controverso, já que estávamos no inverno com a neve se
aproximando.
— Frutas cortadas!
Digo após colocar banana, kiwi, morango, uva, mamão e mirtilo em um pratinho com
ventosa, que Emma comprou especialmente para esse momento.
— Como minha filha me ama, ela vai comer o mirtilo primeiro! — Luke diz todo
animado, enquanto tira os “brinquedos” da mão da Manu.
— Ela vai comer o morango, a minha fruta favorita! Né, Manu? — Pergunto para a bebê,
que bate palma vendo eu colocar o prato em sua frente.
Depois de prender o prato no suporte da sua mesinha, fico ao seu lado direito, enquanto
Luke se posiciona ao esquerdo. Meu corpo se inclina para ficar da altura da bebê, apenas para
captar o exato momento em que ela irá escolher sua fruta.
Era uma coisa simples, mas estava sentindo meu coração acelerar, como se minha vida
dependesse disso, uma sensação estranha e boa tomava conta de mim. Eu era apenas a babá de
Manu, para ela e todos dessa casa, mas sentia que essa menina era um motivo para sorrir, tão
pequena e já tinha sofrido perdas. Emanuelle era um raio de sol na vida de todos ao seu redor,
incluindo a mim.
— Vamos, pequeno sol, não me faça passar vergonha na frente da titia Ella… — Luke
diz todo animado e eu dou risada.
A mãozinha gordinha direita da Manu pega um morango.
— Isso, meu amor! Prova essa! — Falo animada, tentando conter os pulinhos que desejo
dar. Mas, em seguida, com a outra mão, ela segura um mirtilo, fazendo Luke ficar apreensivo.
— Vamos, filha, você vai amar!
A menina olha para ambas frutas criando uma tensão no lugar, tanto eu como meu chefe
estamos ansioso e a bebê fica olhando para as duas frutas com cores chamativas, os segundos
parecem se tornar minutos e o silêncio predomina a cozinha, pode parecer loucura, mas chego a
prender a respiração como se estivesse preste a desvendar algum mistério de scooby doo.
Mal consigo acreditar no momento que ela leva ambas mão na boca, colocando as duas
frutas em sua boca, naquele momento me viro para Luke, que está na mesma posição que eu e
rindo da situação, me fazendo rir junto.
Antes que eu pudesse dizer, somos surpreendidos por um flash em nossa direção e
quando me viro, vejo Emma segurando uma máquina polaroid enquanto espera a foto ser
revelada.
— Eu precisava registrar a primeira vez que minha sobrinha come! — Ela diz
naturalmente enquanto balançava a foto e andava em direção à geladeira. — Isso foi mais
emocionante do que ficar na fila de espera para a The Eras Tour. — Ela diz, colocando um ímã
em cima da foto na geladeira.
Dou apenas uma risada sem graça, me aproximando da geladeira e vendo a foto recém
tirada. Ela captou o exato momento que me viro para o Luke e ele está olhando para mim
também. Manu está em nosso meio com as duas mãos sujinhas na boca.
Essa simples foto, passou a ser a minha favorita. Ela se tornaria uma lembrança das
poucas vezes que me senti completa.
Já era quinta feira, quase o Estados Unidos todo estaria comemorando a data de hoje.
Desde que entrei para o 53, nunca trabalhei na última quinta-feira de novembro. Minha
mãe sempre foi apaixonada pela ação de graças, então meu pai sempre exigiu que sua equipe
tivesse folga e se reunissem, quando Aaron assumiu o departamento após a morte do meu pai,
manteve essa tradição.
A cada ano comemoraremos na casa de alguém, no último ano tinha sido na Emory e esse
ano seria no Oliver. Eu já estava pronto, não vestia nada de muito especial, apenas uma calça
jeans e uma camisa branca, Manu estava brincando ao chão da sala, já que Pâmela arrumou a
menina primeiro e depois foi se arrumar.
— Porque suas tias tinham que ser enroladas? — Pergunto para minha filha, enquanto
meu olhar vai para o relógio em meu pulso. Me levanto do sofá indo até a ponta da escada, onde
decido chamar elas. — MENINAS, IREMOS NOS ATRASAR.
Pâmela também ouviria, já que estava se arrumando com Emma, depois de muita
persistência da loira. Quando volto a me sentar novamente, a campainha toca, vou até o halls de
entrada olhando pelo olho mágico e vejo que é Daphne, abro a porta no mesmo momento, dando
um sorriso para minha sogra.
— Daphne, pensei que iria ir te buscar! — Estico minhas mãos para segurar uma travessa
que ela trazia consigo.
— Meu filho, já tive uma menina com a idade das meninas, sabia que elas iriam te
atrasar. — Ela ri e se aproxima dando um beijo em minha bochecha e depois vai andando até a
sala, retirando seu casaco. — Emma comentou que levaríamos a sobremesa, então achei melhor
fazer uma torta.
— O cheiro está maravilhoso. — Coloco a torta sobre a mesa junto com a travessa com
os doces que Pâmela fez. — Ella preparou um doce do seu país, não me lembro o nome… Mas,
me parece ser bom.
— Você não provou? — Ela me pergunta curiosa.
— Pâmela não me deixou chegar perto deles… Acho que podemos provar, não é?
— Não chegue perto dos brigadeiros! — A voz de Pâmela preenche a sala fazendo, que
me vire para ela no mesmo instante.
Naquele momento eu poderia dizer que perdi o ar pelo susto a qual levei, mas estaria
enganado. Ela estava magnífica, usando um vestido azul um pouco acima do joelho, suas pernas
estavam cobertas por uma meia calça fina, trazendo uma elegância para si, foi irresistível não
descer o olhar para seus pés, pela primeira vez eu a via usando um salto. Nunca a enxerguei
como uma menina, do mesmo modo que enxergava minha irmã, mas pela primeira vez, eu via
uma puta mulher sexy nela e não era pelo seu batom vermelho ou seus cabelos totalmente
definidos, seu olhar me prendia e me convidaram a si de um modo que não sabia dizer.
— Você não comeu, né? — Pâmela me perguntava e eu não sabia o que dizer, ou melhor,
eu não conseguia fazer nada a não ser admirar sua beleza.
— Fique tranquila, filha. Ele não tocou nos seus doces! — Daphne passa na minha frente
pegando nos braços de Pâmela e a levando até Manu. — Você está incrível, querida.
As duas começaram uma conversa e eu fui até a cozinha, precisava beber algo para me
recompor. Estava parecendo um menino de 16 anos que não sabia se controlar em nenhum dos
sentidos.
— Você está bem? — A voz da minha irmã interrompe meus pensamentos, fazendo eu
me virar para ela.
Emma estava linda, como sempre, ela havia escolhido um vestido amarelo claro cheio de
flores pequenas. A única coisa que não gostei, foi da abertura em umas das pernas e se fosse em
qualquer outro lugar, não deixaria ela usar, mas estaríamos em família e os rapazes do
departamento jamais faltariam com respeito com a minha irmãzinha.
— Quando foi que você cresceu assim? Você ainda é aquela menininha que me
implorava para fazer trancinhas no seu cabelo. — Digo me aproximando dela e apertando suas
bochechas, sabendo que ela odiaria.
— Essa menininha cresceu e agora beija na boca! — Ela diz e sai correndo de mim.
— EMMA MARY O’BRIEN! — Grito seu nome indo atrás dela, encontrando a minha
irmã atrás da minha sogra e de Ella com Manu no colo, que a olham confusa.
— Ação de graças! Nada de brigar comigo. — Ela ri.
— Sorte sua que estamos atrasados, ou te trancaria nessa casa até fazer 30 anos. — Falei
pegando minha jaqueta e a colocando. — Vamos, damas? Não posso deixar o Jordan estragar
nosso jantar. — Falo indo até a porta e abrindo a mesma.
Pâmela da uma risada colocando Manu no chão rapidamente, vestindo um sobretudo, por
conta da baixa temperatura fora de casa, logo pega minha filha e sua bolsa saindo na frente, em
seguida Emma passa por mim já vestindo seu sobretudo e levando a travessa com as bolinhas de
chocolate de Ella, por fim Daphne sai de casa, então tranco a porta vendo que as meninas -
incluindo Daphne - tinham uma pequena discussão, enquanto Ella arrumava Manu no cadeirão.
— Como eu sou a avó e não vejo minha neta todos os dias, irei atrás com ela. — Daphne
fala e sem dar tempo de Pâmela dizer algo, continua. — Emma estava fugindo do Luke, para
nossa segurança é bom que ela vá atrás também, assim não provoca meu menino. Pâmela vai na
frente com Luke, e está tudo resolvido.
A mais velha me olha dando um sorriso e logo entrou no carro, segurando sua torta.
Pâmela me olha sem saber o que fazer e então dou os ombros, transmitindo que não posso fazer
nada, se Daphne falou, está falado.
O percurso até a casa do Oliver não era tão demorado, levamos uns 20 minutos para
chegarmos e durante todo percurso, tivemos que ouvir Emma berrando as músicas de sua artista
favorita, pude perceber Pâmela se segurando para não começar a cantar igual a minha irmã, o
que me levou a pensar que ela se retrai quando está perto de muitas pessoas, como se tivesse
medo de ser ela mesma.
Eram tantas coisas a qual eu vinha reparando nesses últimos dias, que me perguntava,
qual será a próxima surpresa vindo dela?

Não estava me sentindo à vontade, estava com medo de como seria estar no mesmo
ambiente que todos os amigos de trabalho do meu chefe. E, mais nervosa ainda de ter que
encarar Aaron outra vez.
Nos últimos dias me senti tão bem, bom, para falar a verdade, após o ocorrido no
shopping concentrei toda minha raiva em Luke, por ter me ignorado. Mas depois de nossa noite
juntos, estava me sentindo leve, me sentindo eu mesma depois de um longo tempo, isso se não
pela primeira vez.
Agora, estávamos todos parados em frente a porta do detetive Brown, Luke já havia
apertado a campainha e eu segurava a Manu, enquanto as duas atrás de nós seguravam a
sobremesa.
Havia passado a manhã toda enrolando brigadeiro e colocando eles em seus copinhos,
pela primeira vez na vida, foi chato enrolar brigadeiro, já que não tinha Lara para ficar roubando
as minhas bolinhas, mas estava ansiosa para mostrar um pouco da minha cultura para eles.
Logo a porta se abre e podemos ver o detetive sorrindo enquanto segura uma garrafa de
cerveja em sua mão. Diferente das outras vezes que nos encontramos, ele está leve, sorrindo de
verdade.
— Luke! Só faltava vocês. — O detetive com cabelo escuro diz se aproximando do
amigo para um quase abraço, em seguida se vira para mim. — Pâmela, seja bem vinda a minha
casa.
— Muito obrigada, detetive Bro… — Ele me interrompe.
— Oliver. Aqui sou apenas o Oliver e você apenas a Pâmela, ok?
Dou um sorriso insegura, mas concordo com a cabeça. O anfitrião comprimenta o
restante das pessoas e faz questão de levar as travessas para a cozinha. Luke pega a Manu no
colo para que eu tire meu sobretudo. Logo uma mulher ruiva, alta, usando um vestido preto e
carregando um menino de uns três anos se aproxima, dando um falso sorriso, automaticamente
me viro para Emma, que quase revira os olhos.
— Vocês chegaram. — Ela deixa dois beijos na bochecha de Luke, mordo meus lábios
com força, desejando que ela se afaste dele. — Manuzinha, como você está linda, não acha,
Liam? — Ela se vira para o filho.
— Ela chupa pepeta mamãe. — O menino fala em resposta da mãe, me fazendo dar uma
risada, no mesmo momento a mulher se vira para mim.
— Ah.. Oi! Eu so-u a S-pen–cer. — Ela começa a falar pausadamente, fazendo com que
Luke feche a cara, mas faço um sinal discreto com a mão para que ele a deixe continuar. — Con-
se-gue me en-ten-der? — Mesmo estando com um sapato fechado, dobro meus dedos com força,
tentando controlar a minha cara.
— Compreendi muito bem, só fiquei com dúvida do porque falar assim. Quer chamar a
atenção da Manu? Ela está no colo do Luke, não no meu. — Aponto para a criança e dou um
sorriso. — Mas, caso prefira, também sei falar o português e o espanhol, não sei se sabe algum
idioma a mais que o inglês.
De longe posso ouvir uma risada e quando me viro, é Emory rindo sem ao menos
disfarçar, enquanto sua amiga se vira de costas, tentando passar despercebida, mas falha em sua
tentativa.
— Vejo que você já conheceu minha esposa e meu filho! — Oliver retorna e dessa vez
com uma garrafa de cerveja para Luke e outra para Daphne, que nega com a cabeça. — Sintam-
se em casa, temos bebidas na geladeira. — Ele diz e chama o amigo para se juntar aos outros
homens, mas antes de Luke, ir pego Manu em meu colo.
Olho para trás vendo que a esposa de Oliver não está mais presente e reviro os olhos,
chamando a atenção de Daphne e Emma.
— Não gosto dessa mulher. — A sogra de Luke diz.
— Te garanto que só o marido que gosta. — Emma quem diz dessa vez.
— Mal a conheci e já desgostei, temos que ficar mesmo?
Sim, eu tinha que ficar.
Luke está leve e feliz, mesmo não estando ao mesmo cômodo que ele, eu posso ouvir sua
gargalhando vindo da cozinha, sem ao menos o ver, podia imaginar ele com umas das mão em
seu peitoral enquanto ria, achava estranhamente atraente o modo a qual ele ria.
Mas, confesso que estava me sentindo um peixe fora d'água. Os homens estavam na
cozinha, todos conversando e bebendo. Emma conversava com Satine, fiquei surpresa ao
descobrir que Emory tinha uma filha, pelas poucas vezes que a vi, poderia jurar que essa mulher
era incapaz de sentir amor por outra pessoa a não ser por ela mesma. Até procurei Daphne com o
olhar, mas ela não estava em meu campo de visão.
— Acredito que a intenção da ação de graças é se unirem e não se isolar. — Uma voz
feminina chama minha atenção, entretanto logo posso perceber que não é de uma americana
nativa, devido o forte sotaque.
— Bom, não sei qual é a real intenção, já que é a minha primeira ação de graças pra
valer. — Dou uma risada para a loira, que me acompanha.
— Olha só, também é a minha primeira. — Ela bate sua taça de vinho em minha lata de
coca-cola quase vazia. — Acho que não tivemos a chance de nos apresentarmos em meio a toda
aquela confusão daquele dia. Prazer, Laurence Panazzolo. — Ela estende a mão a qual seguro e a
puxo para um beijo na bochecha e em contrapartida, ela me dá dois beijos, uma em cada
bochecha.
— Sou a Pâmela! Como é bom encontrar alguém que não tem medo de contato físico, de
onde você é? — Pergunto, animada.
— Sou de Nápoles, Itália. Conhece?
— Antes de vir para meu intercâmbio, jamais tinha saído do meu Estado.
— Está gostando daqui?
— Posso ser sincera? — Ela concorda com a cabeça, enquanto termina de beber seu
vinho. — A comida é horrível e as pessoas são bem…
— Secas? — Concordo com a cabeça, rindo. — Sei bem o que é isso, sofri nos meus
primeiros meses aqui, mas já me adaptei, ainda mais com o trabalho que tenho.
— Deixa eu ver, as estrangeiras se juntaram para fala mal do nosso país, mas não vão
embora daqui por nada? — Emory se senta ao meu lado com duas garrafas de cerveja na mão e
Laurence confirma. — Vocês gringos são muito mau agradecidos, deveria dar um jeito de
suspender o visto de vocês.
Ela diz em um tom sério enquanto revira os olhos, nesse momento meu corpo gela,
pensando na possibilidade dela realmente fazer isso.
— Respira, garota, não farei isso! Estou apenas brincando. — Ela diz rindo com a amiga
e me entregando uma das garrafas.
— Eu ainda vou precisar de um cardiologista nesse país! — Falo levando a mão na
garrafa de vidro, mas logo me afasto com a voz do sargento.
— Emory! Nem pense em dar isso a ela.
— Que isso, ela é maior de idade no país dela. — A morena argumenta.
— Se eu ver alguém dando bebida para ela ou para Emma, vão se ver comigo. Aqui elas
só bebem depois dos 21 anos. — Ele diz alto, chamando a atenção de todos, já que os rapazes se
aproximam na sala.
— Ok, sem graça. — Emory diz atrevida e antes que Aaron pudesse retrucar. — Agora
você é só o meu amigo e nada de ser meu chefe. Tira essa cara de bunda se não estraga o jantar.
— Todos riem, fazendo o sargento deles revirar os olhos.
Ela se levanta indo para próximo dos amigos, então a loira também se levanta e me faz
acompanhar ela para perto de todos. Por algum instinto maior, me aproximo de Luke, ficando ao
seu lado, mesmo que eu evite, me viro para ele e vejo que ele fez o mesmo, então um sorriso se
abre aos meus lábios e uma vontade incontrolável de tocar nele me domina, porém me contento.
— Estamos todos de acordo que ninguém deve deixar o Jordan chegar perto do peru esse
ano? — Oliver é quem diz.
— Realmente, ouvi boatos que é você quem gosta de um peru bem grandão. — O negro
rebate, arrancando uma risada de Emory.
— Quem cala consente, Oliver, então é verdade os boatos? — Luke entra na onde e de
forma discreta me entrega a sua garrafa de cerveja, olho para ele que pisca para mim e então
tomo um gole do líquido amargo.
— Se for o seu peruzão, é impossível não gostar.
Não sei o que deu na minha cabeça, mas na hora só consegui imaginar Luke pelado e
acabo me engasgando com a cerveja, chamando a atenção de todos para mim. Começo a tossir
sentindo o meu rosto ficar quente, e vai por mim, não é por causa do engasgo e sim com a
imagem que não sai da minha mente.
— Alguém traz água para ela. Não estou a fim de preencher nenhum relatório hoje. — O
comentário vem de Emory, que tira a garrafa da minha mão.
Logo um copo é posto em minha mão com água e vejo ser Luke me entregando, então
tomo todo o líquido rapidamente, me recompondo. Pisco três vezes rapidamente para que as
lágrimas parem de descer e quando me dou conta, todos estão me olhando, até mesmo Spencer e
Daphne, que não estavam presentes estão junto a nós.
— Tudo isso por falar no… — Emory começa a dizer, mas Oliver a interrompe na hora.
— Acho que já podemos nos sentar e comermos.
Olho para o detetive que cuida do meu caso, na intenção de agradecer e ele pisca, como
se entendesse o que eu desejava.
Os anfitriões levam todos até a sala de jantar, onde tem uma grande mesa posta e
decorada, como se fosse noite de Natal. Me sento com Emma ao meu lado direito e Manu em em
uma cadeira para alimentação ao meu lado esquerdo, Luke está a minha frente, o que me faz
sorrir. Não havia lugar melhor para se sentar a não ser próximos daqueles que me fazem sorrir
todos os dias.
— Vamos lá. — Oliver que estava na ponta da mesa se levanta, chamando a atenção de
todos. — Eu sou grato pela vida, pelo meu emprego e principalmente pela minha família. — Ele
se vira para a esposa e o filho que estão ao lado.
— Eu sou grata pela pelo meu esposo, meu filho e Deus, por proteger meu marido todos
os dias. — Spencer é quem diz, tenho que fazer um esforço para não revirar os olhos.
— Como todo ano digo e volto a dizer, sou grata pela Satine, que é a única razão que me
faz voltar para a casa todas as noites. — Emory diz olhando para filha, enquanto pega na mão
dela, me deixando totalmente intrigada para saber ainda mais sobre ela.
Logo Jordan diz os motivos de ser grato, em seguida é Daphne que deixa claro ser
extremamente grata pela neta, em seguida é Laurence e Aaron.
— Sou grata pela minha sobrinha, que trouxe vida a minha casa. — Emma diz olhando
para Manu, e então entendo que é minha vez.
— Sou grata pela minha família, que me dá todo apoio mesmo estando longe, pelo meu
emprego, que depois de tudo eu ainda consegui permanecer em uma família incrível com uma
kiddo incrível e pela vida. — Dou risada. — Nunca tive que batalhar tanto para permanecer viva
e vocês sabem disso. — Os detetives riem junto, deixando apenas quatro pessoa na mesa sem
entender nada.
— Acho que agora sou eu. — Luke olha para irmã. — Sou grato pela Emma, que foi o
meu presente de criança. — Se vira para os amigos. — Por vocês, que não saíram do meu lado
em nenhum momento durante esse ano. — Olha para Daphne. — Pela Daphne, que sempre será
minha familia. — Seu olhar vem até o meu, fazendo um arrepio percorrer por meu corpo. — Pela
Ella, que faz de tudo pela minha filha. — Seu olhar vai a menina que resmunga enquanto brinca
com a capinha do meu celular. — E principalmente por Manu, por ter ficado e me ensinado a
sorrir novamente, por ela ter lutado por 15 dias para viver e ser uma criança maravilhosa. — Seu
olhar volta ao meu e abro um sorriso discreto.
— Agora, para não termos nenhum imprevisto como ano passado. — Me viro para Oliver
e vejo o mesmo tirando o cloche[10] de cima da bandeja, fazendo todos rirem. — O pernil já está
fatiado, bom apetite para todos.
Oliver se senta e então todos começam a se servir, meu olhar se vira mais uma vez para
Luke, que permanece fixo a mim.
Eu estava completamente ferrada por ter me apaixonado por ele.
Não imaginei que ficaria nervoso com o jantar.
Ver o modo como Spencer falou com Ella, me fez repensar se teria sido uma boa ideia
termos aceitado o convite, as vezes me esqueço como essa mulher pode ser tão inconveniente.
Iria responder a mulher, mas Pâmela não baixou a cabeça para ela, o que me deixou um pouco
mais confortável.
Estávamos todos na mesa do jantar, comendo e conversando, tentava não ficar olhando
apenas para a garota a minha frente, entretanto não tinha como. A cada vez que ela se movia,
meu nariz era invadido por seu doce cheiro de cookies, mesmo com tantas comidas sobre a mesa,
era seu cheiro que me agradava.
— A melhor parte chegou! — Emma comenta, fazendo eu me virar para ela.
— Laurence e Pâmela. — Oliver chama a atenção das duas. — Aqui temos uma tradição.
— Ele levanta o osso da clavícula do peru. — Todo ano, duas pessoas são escolhidas para
quebrar a clavícula da sorte. E como é o primeiro ano de vocês, nada mais justo de serem vocês a
fazerem um pedido enquanto puxam.
— Qualquer pedido? — Pâmela pergunta enquanto se levanta.
— Qualquer pedido, e se você ganhar, seu pedido se realiza até a próxima ação de graças.
— Emory quem explica.
— Vamos lá então. — Laurence segura um lado do osso, enquanto Pâmela segura o
outro.
Posso ver que as duas fecham os olhos e ambas fazem o pedido em voz alta, porém em
sua língua materna, se tornando irreconhecível para o restante. A mesa toda estava concentrada
no ossinho, e por mais que não estivéssemos segurando, torcemos para uma delas e fizemos
nossos pedidos também.
Que um dia Amber possa me perdoar por gostar de outra mulher.
Fecho os meus olhos fazendo o meu pedido e só abro quando ouço o click do osso se
partindo, é idiota? Sim, mas todos comemoram quando Pâmela mostra que ficou com a maior
parte.
— Agora é só esperar, minha filha, em um ano seu pedido se torna realidade! — Daphne
diz sorrindo para Ella, que logo volta a se sentar próximo da Manu.
Aproveito que todos voltaram a conversar e me levanto indo em direção a Laurence, que
estava no aparador se servindo de vinho.
— Você tem um minuto?
Pergunto para a italiana que concorda com a cabeça enquanto deixa a garrafa de vinho
sobre o vidro. Ando até a sala, longe de todos e então coloco as mãos dentro do meu bolso, me
virando para ela.
— Aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta preocupada e eu nego com a cabeça.
— Não. Não agora, eu ainda não me desculpei com você depois daquele dia, mas e…
— Não pense em terminar, você não precisa se desculpar. Não agi certo escondendo as
coisas de você, somos uma equipe e se não tiver confiança, não tem nada… Não é?
— Você não tem culpa do meu descontrole, eu errei e é preciso pedir desculpa. Entendo
se você não aceitar.
— Luke O’Brien, suas desculpas estão aceitas. Agora para de ficar se remoendo com isso
e vamos curtir nossa noite. — Ela diz me abraçando. — Aliás, sabia que o português é bem
parecido com o italiano?
— Não, porque? — Pergunto curioso enquanto andamos até a sala de jantar.
— Eu entendi perfeitamente o pedido da sua babá!
Ela diz se afastando de mim enquanto sorri terminando sua taça de vinho, paro de andar
olhando ela e em seguida me viro para Pâmela, que me olha.
— Está tudo bem? — Ela sussurra enquanto segura a colher de comida da Manu.
Concordo com a cabeça me aproximando das duas e deixo um beijo na cabeça da minha
filha.
— Está sim, era uma bobagem de trabalho que estava falando com Laurence. — Digo
tocando em suas costas e acariciando lentamente enquanto ela leva a colher até a boca de Manu.
— Até no feriado vocês trabalham! Detetives. — Ela ri.
— Olha quem diz, é sua noite de folga e está dando comida para Manu.
— Ei! — Ela se vira para mim. — Cuidar da Manu é mais do que um trabalho, é um
prazer para mim.
Senti verdade em suas palavras, em seu olhar que brilhava ao falar de Emanuelle. Se
antes havia alguma dúvida, nesse momento eu tinha certeza que o que eu sentia por ela era mais
do que uma pequena atração.
— Hora da sobremesa! — Spencer anuncia me fazendo tirar a mão de Pâmela e me
afastar um pouco nervoso.
— Ainda bem, não aguentava mais esperar para provar esse… Como é o nome mesmo
Pâm? — Emma pergunta.
— Brigadeiro! É um doce típico do Brasil e não há que não ame, espero que vocês
gostem!
Pâmela diz animada enquanto a travessa vai passando por cada um, que pega uma doce
que estava sobre o papel. Levo o doce de chocolate aos lábios mastigando o mesmo e sentindo
um sabor incrível tomar conta da minha boca, era muito doce, mais do que estava acostumado,
porém não era enjoativo, poderia comer mais alguns dele sem problema algum.
— Isso aqui é incrível! — Satine é a primeira a exclamar. — Você vai ter que passar essa
receita!
Ella começa a falar do doce toda animada enquanto todos se saboreiam com o famoso
brigadeiro.

O jantar tinha sido incrível, até mesmo os comentários inconvenientes de Spencer não
estragou a noite. Já tínhamos deixado Daphne em sua casa, Manu dormia no cadeirão ao banco
de trás e Emma estava mal humorada comigo, por não deixar ela sair com as amigas da
faculdade.
Assim que parei o carro em frente de casa, ela desceu do mesmo e só não bateu a porta
por conta de Manu estar dormindo, solto um suspiro frustrado, Pâmela ri tirando o cinto de
segurança.
— Você ri porque não é sua irmã. — Dou risada saindo do carro e indo tirar Manu do
cadeirão.
— Ah,.pode ter certeza que sei como é isso, tenho uma “Emma” lá no Brasil, só que ela
tem 18 anos e se chama Maria Lara. — Ela diz pegando a bolsa da Manu e fechando a as portas,
travo o carro e espero ela entrar em casa para que eu entre.
— Maria Lara? — Ela concorda enquanto tranca a porta. — É a menina das fotos no seu
quarto?
— É sim, ela foi o meu presente também. — Ela diz baixo enquanto subimos as escadas
para o quarto de Manu. — Eu diria que ela é até mais rebelde que Emma, se eu dissesse que ela
não iria sair, ela riria da minha cara e sairia mesmo assim!
Ela dá os ombros enquanto tira o sobretudo, por mais que estejamos no inverno, dentro
de casa estava quente devido ao aquecedor que não desligamos.
— Seus pais não dizem nada? — Pergunto entrando no quarto de Manu, ela acende os
abajures e a luz azul, coloco a bebê sobre o trocador enquanto Pâmela escolhe uma roupinha para
minha filha.
— Bom, não temos pai e nossa mãe nunca morou com nós. — Ela diz me entregando um
body branco, e em seguida faz um coque deixando suas costas amostra.
— Eu sinto muito, não sabia que se…
— Não, meu pai não morreu. — Ela sorri. — Nunca soube quem é meu pai, minha mãe
nunca soube quem ele era… Como posso dizer, minha mãe é… — Ela parece envergonhada para
dizer.
— Acompanhante?
— Quase isso. — Ela diz já retirando o vestido da minha filha, que continua dormindo.
— Então fomos criadas pela minha avó desde pequena. Meus avós são senhores de idade, não
tinham mais pulso firme para nós criarmos, então eu meio que precisei criar ela. Mas, podemos
ver que não adiantou muito.
— Tenho certeza que você deu o seu melhor. — Falo baixo.— Afinal, vocês têm quase a
mesma idade.
— É, tenho orgulho de quem Lara se tornou. — Ela diz colocando Manu de barriga para
cima no berço. — Prontinho, ela está trocadinha e dormindo gostoso.
Ligo a babá eletrônica e me viro para a garota que organizava as coisas desarrumadas.
Fico observando cada movimento dela, como se estivesse assistindo o meu filme favorito pela
primeira vez.
— Agora sim posso ir deitar. — Ela se vira. — Luke?
— Oi… — Me aproximo um pouco.
— Obrigada por hoje… — Ela dá dois passos para frente.
— Eu quem preciso te agradecer por tudo… — Pego na sua mão. — Ainda não é meia
noite, então ainda posso ser grato…
— Pelo o que? — Pâmela morde seu lábio, me fazendo fechar os olhos e suspirar, então
abre eles novamente, balançando a cabeça em negação. — Por ter você. Sou grato por todos os
desastres que nos aconteceram e cruzaram o nosso caminho…
— Luke… — Levo o dedo aos lábios dela, a impedindo de continuar.
— Não diga nada. Deixa eu terminar. — Acaricio seu rosto. — Não vou dizer que sou
grato pela morte de Amber ou pelo sofrimento que Bryan te faz passar, mas sou grato por termos
sofrido ao mesmo tempo e que no meio desse sofrimento, tenhamos nos encontrado.
— Me beija… — Ela sussurra, fazendo meus lábios se curvarem em um sorriso.
— Você tem certeza?
— Nunca tive tanta certeza nesse mundo.
Eu não penso duas vezes, deslizo a minha mão para sua cintura puxando ainda mais para
mim. Pâmela fecha os olhos e sorriso levando meu nariz ao dela, deixando nossas testas coladas
uma na outra. Sinto sua respiração na minha, e então selo nossos lábios a um selinho, deixando
com que se torne um beijo calmo e adocicado. Nossas línguas se entendem, e não brigam por
espaço, como se fossem feitas para complementar uma a outra, poderíamos passar a noite toda
ali, se beijando e trocando carícias, já que sentia sua mão sobre minha nuca, fazendo desenhos
sobre minha pele.
Aos poucos o beijo vai ficando mais lento e é finalizado com uma sequência de três
selinhos, fazendo com que ela risse e deitasse a cabeça sobre o meu peito, ouvindo as batidas de
meu coração.
— Acho que estou viciada em seu beijo… Isso será um problema. — Ela diz.
— Não se preocupe, irei suprir seu vício sempre… — Sussurro enquanto desfaço o coque
dela.
No mesmo lugar que eu havia mirado uma arma para ela, estava me declarando de
maneira implícita para que apenas eu mesmo soubesse.
UM MÊS DEPOIS

A melhor época do ano havia chegado.


Não me lembro de ter abóboras ou fantasma espalhadas pela casa quando me mudei, mas
nas últimas semanas, a casa estava lotada de laços, guirlandas, luzes natalinas e até mesmo do
elfo kevin estava perdido pela casa.
Emma e Luke me contaram sobre uma tradição antiga de sua família, seus pais sempre
colocavam um elfo escondido pelos cômodos da casa e sempre que eles acordavam, havia algo
de errado feito pelo brinquedo, Emma até relembrou da vez em que o “Kevin” cortou o cabelo
dela enquanto dormia e disse que ficou chateada com os pais quando descobriu que era eles
quem faziam todas as travessuras durante o mês de dezembro.
Eles queriam que Manu tivesse essa tradição desde seu primeiro ano de vida, por mais
que ainda fosse muito nova para compreender, porém, mesmo tendo apenas sete meses, ela
sempre batia palmas ao encontrar o duende em seu novo local.
Isso fazia com que meu coração doesse.
Eu estava feliz, para ser bem verdadeira, não fazia ideia da última vez que me senti tão
leve como estava no último mês. O meu “chefinho” e eu estávamos muito bem, depois do jantar
de ação de graças algo mudou entre nós e quase todos os dias tínhamos um tempo apenas
“nosso”. Todas as sextas acabamos assistindo um filme juntos após Manu dormir, aproveitamos
que Emma saia com as amigas da faculdade e curtimos o “nosso momento”. Tinha até
conseguido fazer com que ele assistisse os três primeiros filmes da saga de crepúsculo.
Mas isso um dia iria acabar, sabia que doeria em mim, mas teria que voltar para minha
família no Brasil, porém esse era motivo de dor para daqui cinco meses e não para o dia de hoje.
— Me fale mais sobre essas meninas! — Lara fala através da chamada de vídeo.
— Elas são legais, mais velhas que eu, mas todas como eu estão com os dias contados
aqui. — Dou risada enquanto corto o papel de presente.
A uns quinze dias decidi ouvir a minha psicóloga, não poderia passar meu intercâmbio
todo sem ter feitos memórias boas e amigas. Entrei em contato com a minha LCC que me
adicionou no grupo de au pair 's de Austin e fiquei surpresa com a quantidade de au pair que
morava próximo a mim.
Através de conversas, marcamos de sair para bares universitários da cidade, já que era os
únicos que não exigiam identidade, era um saco ser considerado menor de idade nesse país, mas
apenas por mais alguns dias. Saímos duas vezes apenas, mas mantemos contato todos os dias
através de mensagens e já até me sentia como se fossemos íntimas. Até mesmo trocamos dicas
de como lidarmos com os Kiddos.
— Só isso que você tem a dizer? Sério, Pâmela? — Ela para de bater a clara em neve, me
olhando desacreditada.
— Bate isso ou vovó te bate com uma colher de pau! — Dou risada fazendo um laço
roxo, que seria colocado no presente de Emma.
— Pâmela Albuquerque, você nunca foi a bares e agora está indo, então pode me contar
tudo. — Ela volta a mexer o fuê batendo de um modo que voasse as claras de ovos nela mesma.
— Eu odeio isso. — Ela revira os olhos me fazendo rir, então ela larga tudo e pega o celular na
mão e anda com ele até o banheiro e tranca a porta. — Agora longe dos ouvidos da vovó… Me
diga, vocês já transaram?
— LARA! — Grito com ela, sentindo minhas bochechas esquentarem. — Não, estamos
nos conhecendo apenas!
— Nadinha além de beijos? — Suas sobrancelhas arquearam.
— Tchau, Lara! — Mando um beijo.
— Você não se atreva! — Ela aponta o dedo brava.
— Te amo, te ligo 00h. — Desligo imediatamente rindo da cara dela e me preparando
para os áudios.
Bloqueio o celular e volto a minha atenção aos presentes sobre a minha cama. Nunca
pensei que comprar presentes para as pessoas seria tão difícil. Emma e Luke tinham de tudo que
o dinheiro pudesse comprar, assim como Manu, tive que recorrer a Giovanna, umas das au pair
que morava perto de mim, ela disse que daria uma camiseta do brasil ao seu namorado, que era
estadunidense.
Foi aí que uma luz se acendeu, eles poderiam ter de tudo, mas não conheciam muito
sobre o meu país, até me questionava se eles sabiam qual era a bandeira do Brasil. Então optei
em dar presente que eram apenas do meu país, pensei que não chegaria a tempo, mas ontem no
final da tarde chegou uma caixa que minha irmã enviou no começo do mês.
Nela tinham camisetas da seleção brasileira, havaianas brancas e chocolate biss. Para
Luke, Emma e Daphne inclui os três presentes, para Manu foi apenas a camiseta e a havaianas,
tínhamos entrado em consenso que ela não comeria doce até seus três anos, esperava que Luke e
Emma mantivessem essa palavra após eu ir embora.
Os presentes estavam todos embrulhados, o de Emma com laço roxo, Daphne azul, Manu
rosa e Luke verde.
Eu já tinha tomado banho e colocado meu pijama natalino, ele tinha as mangas e a calça
quadriculada em preto e vermelho, enquanto a estampa era preta com um papai noel na diagonal,
cobrindo parte da escrita “feliz natal” em inglês. Todos estariam com os pijamas iguais e usando
pantufas de renas natalinas.
Me olho no espelho pela última vez, dando uma amassada em meus cachos que estavam
soltos, como sempre. Dou um sorriso ao meu próprio reflexo antes de voltar para a cama e pegar
os embrulhos. Saio do quarto descendo as enormes escadas que me levam para a sala, onde já
posso sentir um delicioso cheiro de biscoito sendo assado.
Antes mesmo de pisar no último degrau, posso ver Emma dançando Cruel Summer -
Taylor Swift, com Manu em seu colo, enquanto Luke tira foto das duas rindo. Olho ao lado e
vejo Daphne sentada no sofá, com um sorriso nos lábios, mas o olhar é triste. Só de ver ela
assim, um aperto surge em meu coração.
— Você chegou! Agora sim podemos começar nossa competição. — Emma é a primeira
a me notar.
—Competição? — Pergunto indo até a árvore e deixando os presentes debaixo dela.
— Sim! Todos os anos na véspera fazemos uma competição da melhor casa de biscoito,
eu sou a jurada e quem ganha acaba tendo a casa posta na mesa de natal amanhã. — Daphne
explica se levantando do sofá.
— Vocês são cheios de tradições, eu amei! — Falo animada.
— Vocês não fazem tradições no Brasil? — Luke pergunta, olhando para mim.
— Na verdade, sim! Sempre temos o amigo oculto, só podemos cear quando dá 00h e
depois da ceia que abrimos os presentes, geralmente com alguém vestido de papai noel e
entregando os presentes.
Pode parecer maluquice, mas vi o olhar de Luke e Emma ascenderem como árvore de
natal, como se tivessem uma ideia brilhante.
— Ano que vem teremos papai noel.

A competição já tinha acabado, nunca pensei que pudesse ser tão emocionante montar
uma casinha. Daphne tinha uma cara de anjo, mas não parou de gritar nos nossos ouvidos e
sempre retirava alguma coisa de cima da bancada, colocando a culpa no elfo bagunceiro, que
hoje estava sentado na geladeira.
Manu assistia tudo da sua cadeirinha enquanto comia frutas cítricas, não entendia como
alguém podia não gostar de cenoura, mas amar essas frutinhas ruins.
Ao final da competição, Daph acabou dando o terceiro lugar para Luke, já que sua casa
nem teto tinha, Emma ficou em segundo lugar e eu em primeiro. Tivemos que ouvir Emma
fazendo um falso drama, dizendo que era injusto, já que eu trabalhei na confeitaria da minha avó,
não poderia mentir dizendo que ela estava errada. Mas, seu drama acabou no momento em que
decidimos que iríamos jogar jenga, nesse eu perdia todas as rodadas, mas tive sorte na mímica.
O fim da véspera de natal foi assim, pizza no chão da sala, jogos e músicas. Totalmente
diferente do que sou acostumada a fazer ou do que fiz no ano anterior, que passei com o que não
nomeio mais.
— Certeza que não quer dormir aqui? Você pode dormir no meu quarto e eu durmo com
a E…Emanuelle. — Luke diz coçando a nuca, me fazendo prender o ar e Daphne rir.
— Pode ficar tranquilo, filho, vou para casa e amanhã após a missa eu volto. — Ela dá
um beijo na bochecha do genro. — Não deixe a Emma abrir os presentes antes da hora. — Ela
pisca para mim e sai indo em direção ao seu carro.
Luke fecha a porta passando a chave e se virando para mim.
— O que achou da véspera dos O’Brien? — Ele perguntou vindo até mim e me
abraçando, sem receio algum, já que Emma havia subido com Manu para colocar a bebê que já
dormia no berço e em seguida iria dormir.
— Humm, deixe-me ver. — Faço uma cara de pensativa enquanto me envolvia em seus
braços. — Achei um natal bem competitivo, mas amei! — Dei risada, franzindo o nariz. — Pra
ficar melhor, só falta uma coisa!
— O que? — Ele pergunta, selando os nossos lábios.
— Assistirmos amanhecer parte 1!
— Tão imprevisível — Ele ri me abraçando de lado e começando a andar em direção a
escada para subirmos para o meu quarto.
— E você não disse não, admite que está amando e está doido para ver o Jacob sem
camisa novamente.
— Acho que estou mais ansioso para ver a Bella na lua de mel. — Olho para ele como se
estivesse ofendida e dou um leve beliscão em seu braço, antes de entrarmos no meu quarto. —
Ficou com ciúmes?
— Eu? Que isso? — Falo rindo enquanto tiro a babá eletrônica do suporte e coloco ao
lado da minha cama.
— Aram, me engano que eu gosto, Pâmela Albuquerque! — Ele tira sua pantufa e se
deita na cama, me puxando para seu lado. — Coloque logo esse filme!
— Seu pedido é uma ordem, Major! — Bato um continência rindo e pegando o controle.
— Muito bem, soldado, me lembrarei disso, pode ter certeza. — Ele beija minha cabeça e
agradeço por não estar olhando para ele, ou ele me viria vermelha como os laços de natal
espalhados pela casa.
O filme começou e foi impossível não repetir algumas falas, como de quando Edward vai
ver ela antes do casamento ou até mesmo quando ele se declara para ela em frente a todos no
casamento. Esse era o meu filme favorito de toda a saga, amava como foi elaborado toda a trama
e principalmente o fato de ver o Robert Pattinson ter falas em português, por menor que seja a
fala, ele falava português no filme e a cena logo, logo chegaria.
— Humm, agora que vejo a Bella na lua de mel? — Luke me provoca, fazendo eu me
virar para ele.
— Ei, não é para você olhar! — Falo rindo.
— Então acho melhor você vir fechar os meus olhos. — Ele diz me puxando para cima
dele. Minhas pernas se encaixam entre a sua cintura e deixo as mão em seu abdômen. — Ainda
consigo ver ela…
Ele mente com o olhar fixo no meu, então me debruço sobre ele, levando os meus lábios
para próximos ao dele, selando lentamente nossas bocas.
— Agora… — Dou outro selinho. — Você… — mais um. — Não vê mais…
Sussurro contra a boca dele dando início a um beijo, que tinha de tudo para ser calmo,
mas quando suas mãos se pousaram em minha cintura, uma chama dentro de mim acendeu, a
mesma chama que tento deixar apagada desde que tivemos nosso primeiro beijo a mais de um
mês.
Suas mãos começam a me guiar para que eu possa me mover por cima de seu quadril, não
é preciso de muito esforço para que possa sentir seu pau ganhando uma ereção por baixo de sua
roupa. Tento me controlar, mas deixo que um gemido escape por minha boca durante o beijo que
ele interrompe na hora,
— Se você quiser eu paro… — Ele diz ainda me pressionando contra o seu quadril e eu
nego com a cabeça, voltando a beijar ele.
Suas mãos começam a subir para dentro do meu pijama, um arrepio percorrer por todo o
meu corpo. Ninguém além de mim tinha tocado em minhas cicatrizes e ele estava preste a tocar
nelas, contraio a minha barriga, fazendo com que ele paresse o beijo e levasse o olhar para mim,
mas fecho os olhos na hora.
— Está tudo bem? — Ele leva uma das mãos para minha bochecha e eu concordo com a
cabeça. — Olha para mim.
Deixo um suspiro longo sair e abro meus olhos lentamente, enxergando a imensidão azul
me observando, com uma ternura e desejo.
— Luke… Eu estou marcada. — Posso ver uma pequena confusão em seu olhar, mas
logo ele compreende o que estou dizendo e abre um sorriso.
— Eu não me importo.
Ele diz me tirando de cima dele e me colocando deitada sobre a cama, respiro fundo
vendo que agora ele está por cima de mim, suas mãos vão para a blusa do meu pijama, a qual ele
começa a tirar lentamente e joga em qualquer lugar do quarto. Seu olhar não vai aos meus peitos,
mas sim recai sobre as duas marcas que carregava comigo a sete meses, as marcas que ligaram o
nosso destino de uma forma dolorosa.
Sua boca se aproxima delas e começa a deixar beijos sobre o local, fazendo com que meu
corpo se arrepiasse com cada toque. Fecho os olhos tentando controlar minhas emoções, eu não
aceitava aquelas marcas, mas ele estava aceitando por nós dois.
— Abra os olhos, quero que você veja como eu amo cada pedacinho do seu corpo. — Ele
manda e eu obedeço. — Isso… — Ele volta a beijar minha barriga enquanto me penetra com a
profundidade de seu olhar.
— Luke… — Solto um gemido. — Eu preciso de vo…
Minha fala morre ao momento que escuto um choro vindo da babá eletrônica ao lado da
minha cama, tanto o meu olhar como o de Luke se viram para ela, vendo que Manu acordou e
está com os braços levantados, esperando que alguém a pegue.
Nossos corpos estão congelados, como se tivéssemos sido pegos por alguém, mas na
verdade, ambos estão desejando que Emma vá pegar a bebê, mas isso não acontece, sabíamos
que Emma não acordaria por nada nesse mundo.
— Não se mexa, eu vou fazer ela dormir e já volto. — Luke salta da cama e me dá um
rápido beijo antes de sair do quarto quase correndo.
Puxo um travesseiro para o meu rosto, frustrada. Quando tiro o travesseiro, posso ver que
até Bella já transou com Edward e eu ainda não transei com Luke.
— Agora eu te entendo, como você aguentou por tanto tempo? — Pergunto para a
personagem que estava vomitando no filme.
Meu olhar vai até a babá eletrônica, vendo que Luke está com Manu aos braços, tentando
fazer ela dormir, posso até ouvir o diálogo entre eles.
— Se você dormir, papai te promete que quebro a promessa que fizemos e te dou
chocolate antes dos três anos. — Manu dá risada, puxando o cabelo dele. — Abrimos seu
presente antes do amanhecer? — Ela resmunga.
Dou uma leve risada pegando a babá eletrônica na mão e apertando o botão do
microfone.
— Eu estou ouvindo tudinho. — Luke se assusta, e eu posso perceber Manu me
procurando. — Traga ela para cá.
Deixo o aparelho sobre a cama e me levanto à procura da minha camiseta, pego ela
próxima à porta do meu banheiro e atiro do avesso, vestindo.
— Suas orações são fortes, vovó!
Falo entrando no banheiro e prendendo meu cabelo em um coque alto, e lavo o rosto com
água gelada, assim que saio do banheiro, posso ver Luke e Manu entrando ao quarto, ele está
segurando uma das mamadeiras de Manu, já com a fórmula que passamos a dar para ela assim
que fez sete mês.
— Acho que mais alguém quer assistir amanhecer! — Ele dá um sorriso como se pedisse
desculpa e eu dou risada, pegando a pequena no colo.
— E eu vou amar essa mini vampirinha.
Me deito na cama e coloco ela sentadinha no meio da cama, Luke se deita do outro lado
puxando as duas para perto de si.
Não era assim que eu imaginava finalizar a noite, tiveram tantas opções, que estaria
mentindo se dissesse que não gostaria que acabasse de outra maneira. Mas, jamais imaginei que
acabaria assim e não trocaria por nenhuma das minhas opções.
Dia 28 de dezembro chegou, eu estava animada, gostava dessa data e tentava apagar da
minha memória tudo o que já tinha ouvido de ruim sobre ela.
Certa vez ouvi dizer que o nascimento de um filho, é o renascimento de uma mãe, que a
partir daquele pequeno choro, uma nova mulher nasce. Eu deveria acreditar nisso, eu queria que
isso fosse real e sonhava em um dia poder sentir essa sensação a que todas as mães diziam,
bem… Todas, menos uma.
A minha mãe.
Era sempre nessa data que sua imagem invadia a minha mente, e sua voz rouca preenchia
os meus ouvidos como sussurros.
“Você não me serviu para nada, nem mesmo seu pai quis saber da sua existência, por
que eu vou querer você?”. Talvez essas fossem as palavras mais verdadeiras que ela tenha me
dito, mas não a mais dolorida de se escutar.

HÁ QUASE DOIS ANOS ATRÁS


Eu consegui.
Não conseguia acreditar que eu finalmente havia conseguido uma host family e poderia
finalmente fazer o meu tão sonhado intercâmbio de au pair. Confesso que teve um momento que
nem eu mesma acreditei em mim, mas tinham pessoas à minha volta que torciam por mim, como
a vovó, o vovô, Lara e Bryan.
Sem essas quatro pessoas, eu não conseguiria me dedicar a isso. Vô Pedro arriscou sua
vida para me ensinar a dirigir, antes mesmo de enfrentar a autoescola, não poderia correr o risco
de ser reprovada e arcar com o custo reprovar. Dona Filó sempre deu um jeito de economizar
para ajudar com os gastos do intercâmbio, até mesmo deixou de dar seu tão sagrado dízimo para
inteirar o que faltava do meu passaporte. Por mais que minha irmã diga que não me apoia viajar,
posso perceber que ela vem sendo mais presente na doceria da vovó e tem dado menos trabalho
para todos, é a sua forma de dizer “pode ir, irei assumir seu lugar aqui e não darei dor de
cabeça”, bem, duvido muito da parte da dor de cabeça, Maria Lara tem apenas 16 anos, óbvio
que mesmo eu estando longe, ela vai aprontar MUITO ainda.
Bryan também teve um papel importante para tudo isso, mesmo eu nunca ter visto ele
pessoalmente, sou eternamente grata por ele. Desde que comecei a estudar por conta própria o
inglês, comecei a participar de chats com nativos para treinar a minha conversação, não tinha o
costume de manter contato com a pessoa depois do dia da conversa, mas com ele foi diferente,
ele pegou o meu telefone e até mesmo aprendeu a lidar com o WhatsApp por mim. Estamos nos
tornando grandes amigos, ele até me disse que se eu passasse na entrevista em alguma família do
Texas ou próximo, seria o meu guia em meus dias de folga. Parece idiota, mas sinto que nossos
sentimentos não são apenas de uma amizade e não posso esperar a hora de ligar para ele e contar
que em menos de um mês estarei em solo estadunidesse. Agora, eu precisava contar para minha
avó e irmã, que estão na confeitaria que fica na parte da frente da nossa casa, esperando para
saber como me saí na entrevista.
Desligo o computador e saio do quarto rapidamente, sem ao menos prender o cabelo e
colocar tudo o que vovó exigia para entrarmos na confeitaria. Eu estava animada e nada iria me
parar de hoje até o dia em que eu pisasse nos Estados Unidos.
— Adivinhem quem é a mais nova Au Pair com host family? — Praticamente berro
entrando pela porta que interligava a cozinha com o salão da confeitaria, sem me importar se
teria alguém, já que sabia que estaria vazio.
Porém, meu sorriso morreu ao ver quem estava de frente com o expositor de doces, como
se estivesse escolhendo alguns dos doces, mas eu sabia que estava apenas olhando para criticar.
— O que você está fazendo aqui, mamãe? — Pergunto indo de frente para ela.
Helena Albuquerque é uma mulher bonita, aparentemente elegante, bem, de boca
fechada, já que seus dentes estão todos amarelados devido ao alto consumo de cigarro e não
duvidaria muito de até mesmo drogas. Eu era a filha mais parecida com ela, nossos cabelos eram
iguais e o formato da boca também. Já meus olhos, ela insiste em dizer que eram iguais do
“cafajeste” do meu pai, não poderia afirmar, já que ela era apenas o brinquedinho a que ele
pagava para desestressar.
— Você sabe, as fofocas rodam muito rápido pelo bairro. Ouvi dizer que umas das
minhas filhas ingratas iria embora do país, mas esses vizinhos não sabem nem diferenciar qual
das duas eram. Bem, agora descobri. — Ela diz levando a unha do dedo indicador na minha
bochecha e deslizando lentamente.
— Agora que você já sabe, pode ir embora. Não é, minha filha? — Vovó diz, enquanto
leva a mão no ombro da minha mãe, que a fuzila com o olhar.
— Tire essa mão imunda de mim, sua velha asquerosa. — Ela diz puxando o ombro,
posso ver a tristeza consumir os olhos de minha avó e isso me corta o coração.
— Você deveria ir embora, Helena. Não percebeu que não é bem vinda em nenhum
lugar? — Lara que estava no caixa diz.
— Olha só. — Ela bate palma. — Quando eu digo que tenho duas filhas ingratas,
ninguém acredita. Bem, filhas não, vocês são duas falhas. — Helena se vira para mim. — Agora
me diga… Você não serviu para fazer o seu pai se apaixonar por você, não serviu para ser um
aborto e o que te faz pensar que será alguém fora do Brasil? Seu destino é acabar como eu.
Irônico né? Você irá se tornar a pessoa que mais odeia.
DIAS ATUAIS
Meus pensamentos são dispersos ao ouvir meu celular vibrar sobre minha perna. Pisco
três vezes levantando o mesmo e atendendo a ligação, sem ao menos ver quem é.
— FELIZ ANIVERSÁRIO! — Em coro as três pessoas que mais amo dizem.
— Ai, meu Deus! Vocês lembraram. — Falo com os olhos cheios de lágrimas.
— Como se fossemos esquecer o aniversário da minha neta intercambista mais amada. —
Vovô diz, colocando o seu boné.
— Mas eu sou a única!— Ele pisca para mim.
— Menina esperta. — Ele gargalha, me fazendo rir. — Agora seu velho tem que ir
espremer algumas cana, te amo, “fia”. — O senhor diz, mandando um beijo e dando um selinho
na vovó antes de sair.
— Minha filha, como queria poder te abraçar. — Vovó quem diz. — Prometo que daqui
a cinco meses te abraço muito forte! — Dou um sorriso.
— Pronto, agora ela é minha! — Lara sai correndo com o celular e posso ouvir a vovó
gritando com ela.
Uma simples ligação aqueceu o meu coração, me fez sentir como se estivesse em casa
novamente.

Era pra ser um dia perfeito.


Emma fez questão de preparar meu café da manhã, até tomou coca-cola comigo dizendo
que eu deveria ser grata por ela. Passamos a tarde indo de lugar em lugar pegar mimos de graça
em lojas por ser meu aniversário, Manu quem amou, já que adora andar de carro para todo lado.
Já estávamos em casa, jogadas no sofá da sala assistindo a primeira temporada de the
vampire diaries.
— Acho que deveríamos jantar tacos essa noite… — Falo mexendo no meu celular, sem
prestar atenção na tela.
— Também acho, vamos pedir? — Ela levanta a cabeça e a olho por cima do celular.
— Não vai esperar o seu irmão? — Posso ver um meio sorriso em seus lábios, mas de
forma triste.
— Ele vai ficar preso no trabalho…Ele não te avisou? — Ela levanta a sobrancelha.
— A é, avisou! — Ele não me avisou, ele nem sequer havia me mandado “bom dia” hoje.
— Vamos pedir então. — Volto a olhar para o celular, vendo que havia mensagens no grupo de
Au Pair.
Giovana Au pair: Quem anima ir para o Bem Brasil? 15:28
Giovana Au pair: Podemos até comemorar seu aniversário @Pâmela Albuquerque. O
que acham? 15:29
Olho para aquela mensagem e as respostas das meninas agitando a ideia de Gio. Elas já
haviam cogitado essa ideia a alguns dias, mas tinha a expectativas de ao menos no meu
aniversário transar com Luke, mas… Essa noite faria algo que jamais fiz na vida. Eu tomaria um
porre.
Eu: Às 21 horas no Bem Brasil �� �� 15:31

Não sei que horas são ou quantas caipirinhas já bebi.


Pela primeira vez, me senti uma jovem adulta irresponsável e com amigas.
— Que cretino! — Amanda quase grita, me empurrando mais uma caipirinha. — Olha,
não é por nada, mas nem uma mensagem ele mandou… VAMOS TE LEVAR PARA
CONHECER OS GRINGOS ! — Ela gritou levantando as mãos e derrubando um pouco da
bebida em si mesma.
— Acho que está na hora de irmos embora. — Mandy, uma au pair portuguesa diz,
apontando para os garçons que já desmontavam as mesas.
— BLEH! — Apoio a cabeça na mesa. — Vou pedir um uber… Mas antes, banheiro.
— Te esperamos. — Gio comenta enquanto pega a bolsa.
— Não precisa, já vou pedir um carro. Podem ir. — Falo mole, dando um sorriso sem ter
coragem de levantar.
— Ok, avisa quando chegar. — Mandy diz mandando um beijo e saindo com as meninas.
Retribuo o gesto e começo a guardar os presentes em uma única sacola.
Assim que tomo coragem, me levanto colocando o sobretudo, me sinto um pouco zonza.
Começo a andar em direção ao banheiro, mas logo parei.
— Quer saber, esquece o banheiro! — Digo indo na direção oposta do banheiro, que me
leva ao bar.
— Para fechar com cha… — Começo a pedir, mas o barman que estava lavando os
copos me olha estranho e diz.
— O que? — Só então que percebi que estava falando em português.
— Ah, me vê uma última cerveja. — Ele me olha erguendo a sobrancelha e então abro a
bolsa deixando uma nota de dez dólares no balcão e ele me entrega uma garrafa já aberta.
Dou um sorriso e saio andando para o lado de fora do estabelecimento, sentindo minhas
pernas começarem a falhar.
— Acho melhor pedir meu carro. — Dou risada pegando meu celular e quase derrubando
a cerveja, aperto o botão para ligar, mas a tela mas não acende. — Ops… — Aciono o botão
novamente e aparece que está sem bateria. — Vamos ter que ir andando, perninhas. — Falo
começando a andar enquanto bebo um gole da cerveja.
De longe esse era o caso que eu não precisava hoje.
Assim que cheguei no departamento, tinha planejado sair cedo, passar na floricultura e ir
para a casa. Mas tudo mudou quando recebemos um caso de assassinato.
Dois mortos, Amélia Smith, mulher de 28 anos e seu filho, David Smith, de 3 anos.
Ambos mortos por arma de fogo dentro da própria casa, dois vizinhos ligaram para o 190 ao
ouvirem o grito do menino, mas quando a viatura chegou, já não havia ninguém na casa e ambos
estavam sem vida.
— Senhor Smith… — Falo entrando na sala de interrogatório, acompanhado de
Laurence. — Eu sinto muito por sua perda. Essa é uma dor a qual ninguém deveria passar.
Coloco os papéis sobre a mesa e me sento à frente de um homem branco, de 1,70 de
altura, igual a discrição a qual havíamos recebido de umas das vizinhas que alegaram ter ouvido
um grito pela manhã.
— Eu… eu não entendo como isso aconteceu… — Ele diz, colocando os cotovelos na
mesa e afundando a cabeça nas mãos.
— Senhor, sou a policial Panazzolo e esse é o detetive O’Brien. Estaremos responsáveis
pelo caso e prometemos ao senhor que o responsável pela morte de sua esposa e seu filho irá
pagar. — A loira toca na mão dele, querendo trazer toda atenção para si. — Você poderia nos
dizer o que fez pela manhã?
— Amelia e eu sempre acordamos cedo, temos costume de fazer yoga juntos… O
pequeno David dorme até as 7h30, ele nunca acorda antes disso, então temos um tempo para nós.
Tomamos o café juntos, e só às 7h30 que meu filho acorda, nunca antes desse horário. Saio para
trabalhar e Amélia quem arruma David e leva ele para a escola…
Olho para Laurence que havia notado a mesma coisa que eu, ele havia mencionado duas
vezes o horário que seu filho acorda. No depoimento da vizinha, ela mencionou que o grito
aconteceu por volta das 7h25, bem no momento que ela sai para ir pegar a condução para o
trabalho.
— Entendo, senhor, você sabe me dizer se alguém tinha algo contra sua esposa ou até
mesmo o senhor? Algum comportamento estranho dentro de casa ou alguém rondando a casa de
vocês durante esses dias? — Laurence pergunta, anotando algo em seu caderno.
Levo o olhar de maneira discreta para o mesmo e vendo que havia a palavra “sapato”
escrita. De onde estava sentado, não conseguiria ver o que ele calçava sem levantar suspeita e
minha companheira pôde perceber isso, passou a mão pelos papéis fazendo com que eles caíssem
sobre o chão e pediu um “desculpa”, então rapidamente me abaixei para pegar os papéis e olhei o
sapato que ele usava.
— Você me lembrou de alguma coisa… O nosso jardineiro vinha perturbando bastante
ela, Amélia até cogitou a ideia de mandar ele embora, pois deixava suas rosas estragarem… Mas,
estava pensativa devido a insegurança e medo que ele pudesse reagir de forma pejorativa. — Ele
diz rapidamente, sem precisar pensar muito em uma pessoa que pudesse receber a culpa.
— O jardineiro? — Pergunto e ele concorda com a cabeça. — O senhor Mendes, humm.
— Pego alguns papéis analisando os print de umas conversas com o homem citado. — Eles
vieram trocando bastante mensagens no último mês, Amélia até mesmo disse algo sobre largar o
marido para ficar com ele… — Posso ver a mão do suspeito se fechar.
— Sabe, não sei como você pode aguentar… Ser traído, pela esposa que tanto ama… —
Laurence pega na mão dele, chamando a atenção para si novamente, então quando ele a olha e
ela abre um sorriso. — Eu não aguentaria um terço do que você aguentou, estar trabalhando e
meu marido me traindo… Só Deus sabe o que eu seria capaz de fazer.
— Por um jardineiro ainda… — Ele sussurra, colocando a mão na cabeça.
— Se fosse eu, eu acho que… Bem, não sei o que seria capaz de fazer. Se pegasse
mensagens como a que vi no celular dela… — Laurence se levanta, ficando de costa para ele,
que levanta a cabeça imediatamente.
— Me diga, o que você teria feito? — Ela se vira e senta novamente na mesa, levando
seu copo de café aos lábios.
— Não sei, me diga o que você faria. Eu acho que não conseguiria pensar na hora, talvez
choraria, não sei….
— Eu mataria, acordaria mais cedo que ela e atiraria nela... Até que a morte os separe, ela
me prometeu isso e só a morte pode separar. — Ele diz com os olhos fechados de modo frio, me
fazendo dar um sorriso, ele iria confessar.
— Bom, senhor Smith, iremos oferecer um acordo caso o jardineiro assuma o que fez.
Talvez conseguimos reduzir a causa do culpado ou fazer um belo acordo para ele.
— É possível fazer um acordo? — Ele me olha e eu concordo com a cabeça. — Como?
— Ele pode se sentir culpado e entregar a arma do crime e confessar o que fez. O caso
será apurado e iremos alegar que ele cooperou com a polícia. Já sabemos que foi um homem,
branco, de 1,70 usando um sapato social preto, pelas pegadas, uma numeração 44. Ele parece ser
homem com dinheiro o suficiente para ter um revólver, até mesmo sustentar sua mulher. — Me
levanto pegando os papéis e Laurence ameaça se levantar, mas ele segura a mão da italiana.
— Como se um pobre como aquele jardineiro tivesse dinheiro para ter um Rt 856
executive grade. — Ele comenta com desprezo.
— Realmente. Mas o senhor é um homem poderoso, com dinheiro para comprar qualquer
arma, não é? — Laurence rouba atenção para ela novamente.
— Sim.
— Então me diga, como foi sua manhã… Não deixe o jardineiro pegar o seu acordo. Ele
não pode pegar mais nada do que é seu…
— Eu a matei e não aquele desgraçado.
— Ele quem matou seu filho? Aquele jardineiro reuniu seu filho com a sua esposa? Para
fazer ela feliz uma última vez?
— Não, não era para ele ter acordado. Ele quem iria encontrar a mãe, mas ele viu tudo e
eu entrei em desespero e acabei atirando nele também.
— Muito obrigada pela sua confissão. — Laurence levanta e ele agarra a mão dela.
— E o acordo? — Ele segura a loira com força.
— A, pode deixar, irei pedir para os agentes penitenciários terem um tratamento mais que
especial com você. — Empurro ele para longe dela.
— SEUS CRETINOS. — Ele empurra a mesa e leva a mão ao copo de café, jogando na
cara da Laurence. — EU VOU MATAR VOCÊ, SUA PUTA.
O homem tenta desferir um soco no rosto da policial, mas seguro sua mão.
— Acho melhor se acal… — A porta é aberta por Aaron e Oliver.
— Pra caixa, agora. — O sargento ordena que levem ele para o andar sem câmera. Oliver
pega o culpado e o algema. — Você está bem? — Pergunta para Laurence e não vejo a resposta,
indo atrás de Oliver.
— Não. Vamos por ele na cela e amanhã ele vai ser sentenciado.
— Não lembro de ter passado o departamento para você, O’Brien. — Aaron passa por
mim indo até o seu detetive que descia com o senhor Smith. — Você deveria amarrar o seu
cadarço ou cai da escada. — Ele diz, empurrando o assassino escada para baixo.
— Filha da PUTAA. Quero o meu advogado. — Ele berra do chão, sem conseguir se
levantar.
— Deveria ter pensado nisso antes de se entregar. — Oliver diz sorrindo, enquanto
coloca um soco inglês na mão direita.
— Vamos esquecer os seus crimes de hoje cedo, agora vamos focar apenas na ameaça
que fez contra a policial e a bebida que jogou nela. — Aaron coloca a arma sobre a mesa e
começa a levantar a manga da camiseta. — A, se você tivesse tocado nela… — Ele dá uma
cabeçada no homem, me fazendo fechar os olhos.
— Aaron.
— JÁ DISSE, PORRA. ESSE É A MINHA DELEGACIA, NÃO QUER, SAI
CARALHO. — Ele grita, empurrando o homem contra parede e dando um soco em seu rosto, a
qual não duvido que ele desejasse que fosse em mim.
Olho para Oliver que da os ombros, se aproximando do homem e o nocauteia com um jeb
de direita, emendado com uma joelhada frontal.
— Cara, ninguém ameaça as nossas meninas, e… O próprio filho? Sério que ele fez isso.
— Ele se afasta para dar outro jeb no homem, que já está atordoado.
Balancei minha cabeça levando a mão na cabeça e me viro para subir de volta para o piso
da inteligência, mas estranho ao ver Emory descer com um sorriso nos lábios.
— Acho bom você ir para esse endereço ou sua babá será deportada por se embriagar na
rua. — Ela me entrega o papel e vai para dentro da “caixa” fechando a porta, sabia que ela
aprovava esse tipo de comportamento.
— Calma, ela disse o que? — Falo comigo mesmo, vendo que o endereço era perto de
casa e estava com o nome do Santana anotado no papel.

Não perdi tempo apurando informações.


Apenas peguei o meu carro e liguei a sirene indo até o local, preocupado. Tentei ligar
para Pâmela mas seu celular estava desligado, o que fez com que criasse diversas teorias do que
poderia ter acontecido.
Quando cheguei ao local, pude ver a viatura de Santana e Lewis parada na rua e ambos
do lado de fora, quando desci do carro, Lewis veio até mim e explicou sobre ter recebido uma
ocorrência de uma mulher bebendo na rua, o que é crime quando não se esconde a marca com o
saco ou sacola. Eles logo a reconheceram e decidiram ligar para o departamento antes de
qualquer coisa.
— Muito obrigado, rapazes, agora eu cuido dela. — Falo tirando a menina do carro, que
estava com sacolas e até mesmo com um faixa de aniversário… O aniversário que não tive
tempo para parabenizá-la.
— Eu NÃO quero vocêee. — Ela diz rindo, enquanto a coloco no carro. — Meu Deus,
sua cabeça é tão lindaaaa. — Suas mão vão para minha cabeça, enquanto prendo o cinto de
segurança dela.
— Você vai se arrepender de dizer isso amanhã. — Dou risada entrando e fechando a
porta do carro.
— Você não deveria estar aquiii, batizei a noite de noite sem “Lucas”! Gostou? É o seu
nome no meu país. — Ela ri abrindo a janela e colocando o rosto para fora, como se fosse um
cachorrinho.
— Fecha sua janela ou vai pegar uma gripe.
— Se eu ficar dodói, você vai continuar me beijando? — Ela me olha como se eu tivesse
três olhos e prefiro não responder, focando em chegar em casa. — LUCAS OMBRO, me
respondaaa. — Faço careta sem entender metade da frase.
— Vamos, chegamos. — Desligo o carro e saio para tirar ela do mesmo, mas quando
chego na porta, ela já está fora do carro olhando para o céu que começa a derramar os flocos de
neve. — Vamos entrar, está gelado aqui.
— Não vou entrar! — Ela começa a rodar com os braços para cima.
— Para, Pâmela. Você vai cair. — Me aproximo por precaução.
— BLÊ! Você é chAAA. — Ela escorrega no gelo e corro a pegando, envolvo meus
braços em sua cintura e suas mão agarram minha jaqueta. — ato… — Seus olhos vem ao meu e
dou um sorriso.
— Eu disse que iria cair… — Ela não desvia o olhar e abre a boca três vezes para falar e
não diz nada. — Diga.
— Transa comigo essa noite? — Ela diz sem desviar o olhar ou ficar vermelha.
— Pâmela…
— Você não me quer, é isso? Sou apenas uma distração para você? — Ela pergunta com
os olhos lacrimejando.
— Não, não diga isso. — Toco o rosto dela. — Amanhã falamos sobre isso. — Ela se
solta do meu braço brava e começa a andar, parecendo uma criança quando não pode colocar o
dedo na tomada. — Me espera.
— Saí, Luke. — Antes que ela pudesse tocar na maçaneta, seguro o braço dela, a
empurrando contra a porta. — Me solta.
— Não vou transar com você hoje, porque está bebada. — Aproximo meu rosto dela,
passando minha barba sobre seu pescoco. — Quando for transar com você, quero que esteja
sóbria e se lembre de cada toque meu e cada gemido seu. — Colo nossas testas, sentindo a
respiração dela ficar mais pesada e meu corpo se esquenta. — Você não faz ideia de como eu te
quero, de quantos banhos frios tive que tomar esse mês, mas agora… — Dubo a mão para o rosto
dela, virando para mim com tudo. — Só essa porra de bebedeira que me segura, então vá toma a
porra de um banho e dormir. — Falo mais alto, me afastando dela contra a minha vontade.
Pâmela me olha sem dizer nada e leva a mão para a maçaneta da porta, entrando em casa
e indo em direção da escada. Fecho os meus olhos controlando minha respiração e sentindo a
minha ereção doer.
— Caralho…
A maior mentira que te contam é que você não se lembra da noite anterior após a
bebedeira.
Já se passavam das 14 horas e eu ainda não tive coragem de nem sequer pegar no meu
celular, que por sinal havia recebido diversas mensagens desde que acordei.
Minha mente relembrava cada segundo de ontem, principalmente quando uma viatura me
abordou e comecei a berrar o nome do Luke. Eu estava com vergonha, como olharia na cara do
Santana depois de dizer que ele não era o policial que eu queria? Ou melhor, como irei olhar na
cara do Luke depois de pedir para ele transar comigo e chamar ele de ombro?
— Lucas Ombro, sério isso, Pâmela? — Pergunto me levantando e não sentindo a
maldita tontura, tudo graças aos remédios que Luke deixou ao lado da minha cama antes de ir
trabalhar.
Sabia que ele não tinha dormido comigo, mas não sei em que momento ele entrou no meu
quarto e deixou uma bandeja para mim. Nela tinha suco de laranja, remédios e frutas, não posso
me esquecer do bilhete onde dizia “Espero que a ressaca não seja das pesadas, tenho planos para
você essa noite. Com carinho, Luke O’Brien”, confesso que demorei um pouco para
compreender, ele não mentiu quando disse que sua letra era horrível, mas fiz questão de colocar
esse simples bilhete em um post it em meu mural de fotos.
Tentei não criar nenhuma teoria com o “tenho planos para você essa noite”, do jeito que
sou, era capaz de até minha menstruação descer, mesmo eu tendo um ciclo menstrual perfeito.
Estava despreocupada com Manu, Daphne havia passado para buscar ela na noite passada
e só entregaria ela na manhã de amanhã. Então, minha única obrigação era colher toda a minha
vergonha e encarar meu celular, com medo do que poderia encontrar nele.
Tiro o celular do carregador e saio do quarto desbloqueando o mesmo, enquanto ignoro
todas as mensagens e ligações, deslizei as conversas no Whats, abro o meu iMessage e vendo
notificações na conversa com o Luke.

Chefinho O’Brien : Bom dia. 9:00


Chefinho O’Brien : Dormiu bem? 9:00
Chefinho O’Brien : Espero que sim, temos um compromisso hoje às 20
horas. 9:01
Chefinho O’Brien : Já acordou? 11:28
Chefinho O’Brien : Ok, a ressaca deve estar sendo uma das piores. 12:00
Chefinho O’Brien : Mandei almoço para você, mas você não atendeu, ele irá passar
aí a cada um hora com uma nova comida. 12:30
Chefinho O’Brien : Não se preocupe, não é sanduíche. 12:31
Chefinho O’Brien : Estou começando a ficar preocupado, devo mandar uma viatura
para casa? 14:21
Leio cada uma das mensagens com um sorriso nos lábios. Mesmo estando no trabalho,
ele estava se preocupando comigo.
Começo a digitar uma resposta para ele quando ouço o som da campainha, olho para a
porta descendo os últimos degraus, indo em direção a mesma que abro antes mesmo de olhar no
olho mágico.
— Finalmente, tem alguém bem preocupado. — A entregadora diz, me dando uma
sacola. — Boa apetite!
— Obrigada. — É a única coisa que consigo dizer antes dela virar as costas e sair.
Fecho a porta com o pé e começo a vasculhar a sacola, vendo que vinha de um
restaurante italiano e tinha coca-cola gelada. Coloco tudo sobre a mesa e começo a abrir as
embalagens, sentindo meu apetite começar a abrir com o cheiro, quando me sento, vejo a tela do
meu celular começar a brilhar com uma foto do Luke e da Manu aparecendo, era uma chamada
de vídeo dele. Arregalo os meus olhos prendendo o cabelo rapidamente e então atendo sua
chamada.
— Se ela não atender, vo… — Ele fala ele mesmo dentro do carro. — A, você atendeu!
Já recebeu sua comida?
— Já sim, foi culpa dela de eu não ter te respondido. — Falo dando um sorriso
envergonhado, mas não por não ter respondido ele.
— Ótimo, o importante é você comer. Emma saiu e só chega de noite, Manu está com
Daph e eu só chego às 08 horas, ok? Deixe a porta trancada e esteja pronta.
— Pronta para que? — Pergunto sentindo meu coração disparar.
— Você acha mesmo que irei deixar seu aniversário passar abatido?
— Precisamos ir. — Posso ouvir a porta do carro se abrir e reconheço a voz de Jordan.
— E ia, Pâmela. — Ele diz do fundo e eu arregalo os olhos.
— Oie.. Eh, ok. Estarei pronta, eu acho.
— Até mais tarde. — Ele sorri antes de desligar a chamada e eu fico olhando para o nada,
sentindo uma pequena crise chegar.
— Eu não tenho roupa!
No relógio indicava 19h48, estava sentada em minha cama enquanto me encarava no
espelho a mais de 40 minutos. Estava pronta desde 18h, com medo de me atrasar ou ele dizer que
vamos sair mais cedo.
Não sabia como me maquiar ou que roupa usar, nem se quer sabia onde iríamos e o que
iríamos fazer. Lara passou a tarde toda tentando me acalmar, parece bobo, mas eu tinha um
encontro com o meu chefe.
— É só um encontro, vocês já moram juntos, por que o nervosismo? — Me questiono ao
me levantar e me olhar no espelho mais de perto.
Não fazia ideia de onde ele me levaria, poderíamos muito bem apenas dar uma volta no
quarteirão, como poderíamos ir para um restaurante, por isso optei por um vestido preto onde
deixa minhas costas amostra, um salto baixo e alisei os meus cachos, para o prender em um
coque. Estava insegura, não sabia se estava bonita o suficiente ou se estava de acordo com o
lugar que iríamos, mas agora não havia mais tempo para me trocar.
— Vamos logo, antes que eu desista! — Falo pegando minha bolsa e meu sobretudo e
indo para fora do quarto.
Desço as escadas me segurando para não dar meia volta e inventar uma dor de cabeça, o
que não seria mentira, já que ela estava começando a doer por ansiedade. Mas, não é possível, já
que vejo a porta abrir, prendo a respiração ao ver o dono da casa entrar segurando um buquê de
rosas com hellebores verdes.
Por um momento me esqueci como se respirava, e apenas fiquei o encarando na porta,
enquanto ele fazia o mesmo. Estávamos presos em nossos olhares, sem saber o que dizer ou
como reagir.
— Você está maravilhosa… — Ele quem diz, andando até a ponta da escada a qual eu
termino de descer. — Sei que isso não justifica, mas isso é para pedir perdão por ontem, não
poderia ter deixado de te parabenizar. — Ele me entrega o buquê que levo próximo de meu nariz,
sentindo o aroma das flores. — E isso… — Levanto meu olhar a sua outra mão, só então
percebendo uma caixa de jóia. — É para você, um presente meu e de Manu. — Ele abre a caixa
revelando o colar com um pingente de coração.
— Luke… Ele é lindo… — Levo os dedos na jóia a com todo cuidado do mundo.
— Posso? — Ele pergunta e eu concordo com a cabeça me virando de costa para o
mesmo, sinto o gelado da jóia entrar em contato com a minha pele e fecho os olhos controlando
minhas emoções, eu não podia ser tão sentimental, isso iria acabar em breve.
— Como ficou? — Perguntei me virando para ele e abri meus olhos.
— Ficou perfeito, vamos? — Concordo com a cabeça indo até o hall de entrada e
deixando o buquê sobre o aparador e em seguida vestindo meu sobretudo.
— Você não me disse onde iríamos, não sei se estou de acordo…
— Você está perfeita! — Ele diz abrindo a porta do seu carro para mim, abro um sorriso
entrando no mesmo.
— Então, sobre ontem…
— Não tem nada sobre ontem, pode ficar tranquila. Ok? — Ele diz colocando o meu
cinto e me olhando.
Mordo meu lábio, deixando minha vontade falar mais alto que minha vergonha e então
aproximo ainda mais dele, colando nossos lábios em um beijo. Que foi totalmente diferente de
qualquer outro beijo que já tínhamos dado antes.
— Por mais que eu ame fazer isso… — Ele diz se afastando e eu dou risada. — Vamos
nos atrasar se eu não começar a dirigir agora.
— Então acelera, detetive! — Ele liga o carro e logo sai com o mesmo. — Não vai me
dizer onde vamos?
— Você pode abrir o porta luvas e pegar o envelope que está dentro? — Faço o que ele
pede. — Agora pode abrir o envelope e pegar o que tem dentro.
Arqueio a sobrancelha, mas mesmo assim faço o que ele diz, retiro de dentro dois
ingressos e começo a ler sem entender, mas ao ver o nome do artista, arregalo os olhos, quase
dando pulos no banco do carro.
— VOCÊ ESTÁ ME LEVANDO AO SHOW DO NIALL HORAN? — Pergunto e ele
concorda com a cabeça, dando risada.
— Era para eu te entregar isso ontem, mas surpresa!
Me aproximo dele dando vários beijos em sua bochecha.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — Me afasto voltando a analisar as letras douradas no
convite. — Como você conseguiu? Tentei comprar esses ingressos a meses, mas não consegui.
— Ter um distintivo te dá muitas vantagens.
Ele diz dando de ombros e eu só consigo sorrir sentindo meu coração bater rapidamente,
sem acreditar que realizaria um quinto do meu sonho.
Pâmela estava radiante, mesmo com os olhos um pouco manchados pelas lágrimas.
Ficamos no mezanino durante o show, tendo uma vista perfeita do palco. Ela até desejou
ir para baixo, para tentar chegar próximo ao palco, mas expliquei que não seria possível, por
conta da arma que estava em minha cintura, mas prometi que da próxima vez ficaremos
próximos ao palco.
Durante todo o show, pude ver um brilho em seu olhar, e uma alegria que jamais tinha
enxergado nela. Ela estava leve e a todo momento insistia em me agradecer pelo presente. O
show já tinha acabado e ela estava olhando para o palco, sem acreditar no que havia vivido nas
últimas três horas.
— Detesto atrapalhar seu momento. — Ela se vira para mim com os olhos lacrimejando e
sorrindo. — Mas, se você quiser uma foto com ele, temos que ir logo.
— Você está falando sério? — Ela pergunta sem acreditar e eu concordo com a cabeça.
— Homem do céu, vamos logo! — Ela me puxa e eu começo a rir, indo atrás dela enquanto
seguro seu sobretudo e sua bolsa. — Calma, para onde é?
— Por aqui! — Saio na frente, levando ela em direção a área restrita do teatro.

— Eu ainda não acredito nisso! Eu tenho uma foto e um autógrafo do Niall Horan, você
tem noção do que isso significa? É claro que não tem.
Ela dá um pulinho enquanto segura em meus braços, já que está usando salto e o gelo está
escorregadio. Paro de andar me virando para ela, balançando a cabeça enquanto a tiro do meu
braço e a pego no colo.
— Luke, o que está fazendo? Luke, estão olhando! — Ela diz rindo, enquanto bate no
meu braço fraco.
— Não estou nem aí. Só quero te mostrar que eu quem te pega no colo não é o Niall sei lá
do que. — Continuo andando até o carro. — Agora sim. — A coloco no chão e destravo o carro
abrindo a porta para ela.
Assim que ela entra, fecho a porta e dou a volta, entrando no carro e vendo que ela está
de lado sobre o banco retirando o sobretudo. Não ligo o carro ou coloco o cinto, apenas fico
admirando a mulher que vem me arrancando sorriso nos últimos meses.
— O que foi? — Ela pergunta com as bochechas rosadas.
— Você é maravilhosa, sabia? — Levo a mão para a perna dela, dando uma leve
apertada.
— Você está exager… — A puxo para mais perto de mim, beijando-a a impedindo de
continuar falando.
Suas mão vão para o meu pescoço, passando sua unha sobre minha nuca, mordo seu lábio
com força enquanto subo a mão para seus cabelos, começando a soltar seu penteado. Eu seria
capaz de despir ela nesse carro mesmo, mas tinha que me controlar, por enquanto.
— Precisamos ir. — Falo me afastando dela e ligando o carro, sem ao menos me importar
com cinto ou qualquer outra coisa.
Por um momento até pensei em ligar a sirene, mas sabia o que isso poderia acarretar para
mim no futuro, então me contentei em apenas infringir algumas leis que me dariam multas por
alta velocidade.
— Onde estamos indo? — Pâmela pergunta, dando risada.
— Pra qualquer lugar que eu possa ter você. — Olho para ela pegando em sua mão e
levando aos meus lábios, dando um beijo.
Em menos de dez minutos, paro meu carro em frente a um hotel, desço do mesmo indo
em direção de Pâmela, que já havia descido do veículo, já que o manobrista abriu a porta. Ela
começa a vestir seu sobretudo e eu seguro em sua mão, indo diretamente para o balcão da
recepção.
— Boa noite, quero uma suíte para dois. — Falo pegando minha carteira.
— Boa noite, não temos suítes disponi… — Deixo meu distintivo aparecer na carteira e
ela levanta a sobrancelha. — Deixe-me ver o que posso fazer para o senhor. — Pâmela vira de
costa segurando a risada, enquanto a moça digita em seu computador. — Suíte master,
apartamento 1.230. — Ela entrega o cartão da porta e eu dou um sorriso.
— Obrigado. — Puxo Pâmela para o elevador que acaba de abrir e sair um casal de
idosos.
— “Deixe-me ver o que posso fazer para o senhor”. — Pâmela imita a voz da
recepcionista, enquanto ri.
— Você vai fazer o que por mim? — Pergunto colocando ela contra o espelho e ouço sua
risada ir perdendo a força. — Diga, Pâmela. O que irá fazer por mim hoje… — Passo minha
barba por seu pescoço, descendo minha mão para sua perna.
— O que você quiser…
Meus olhos se encontram aos dela e ouço a porta do elevador se abrir, pego em sua mão e
começo a guiar pelo corredor, até chegar em nosso quarto. Abro a porta deixando ela entrar e em
seguida entro, fechando a mesma.
Não acendo a luz, tínhamos a luz do luar entrando pela enorme parede de vidro do hotel.
Levo a mão para minha cintura pegando minhas armas e deixando sobre o aparador do quarto,
junto com a minha carteira. Então me viro para Pâmela que está sentada na ponta da cama me
observando, tiro meu casaco deixando sobre o chão e vou me aproximando dela, enquanto abro
minha camisa de botões, pego na mão dela a levantando e puxando mais para mim.
Suas mãos finalizam de desabotoar minha camisa enquanto a minha faz com que o seu
sobretudo se deslize sobre seus ombros, levo a boca até o local nu o beijando e em seguida dando
um mordida.
— Você não faz ideia de como esperei por isso… Eu preciso de você… — Sussurro
deixando minha camisa cair sobre o chão.
— Me tenha. Aqui, agora… — Ela diz e balança a cabeça em negação.
— Eu te terei, mas não assim… — Com meus próprios pés, retiro meus sapatos e meias o
deixando sobre o chão, então mais uma vez, a pego no colo e ela me olha sem entender.
A levo para o banheiro a qual acendo a luz e vou diretamente para dentro do box,
deixando ela no chão encostada sobre a parede.
— Luke! — Ela exclama enquanto abro o mesmo, deixando a água morna cair sobre ela.
— Eu quero que nossa primeira vez seja com Pâmela que eu conheci naquele corredor do
hospital… — Passo a mão pelo cabelo dela o soltando e deixando molhar por inteiro e revelando
os cachos que eu sou apaixonado. — É com essa Pâmela que eu irei transar essa noite.
Olho para os olhos dela me aproximando mais ainda dela e colando nossas bocas em um
beijo cheio de ternura. Minhas mãos começam a deslizar de seu cabelo até sua nuca, desfazendo
o laço de seu vestido, que não caiu por estar molhado e colado em seu corpo. Me afasto dela
vendo que seus olhos estão fechados e sorrio.
— Abra seus olhos, quero ver suas reações através dele. — Começo a puxar o vestido
dela, que começa a deslizar para o chão, revelando seus seios nus.
Mordo meus lábios admirando cada um deles e sentindo minha boca salivar para tomá-
los. Não faço cerimônia, começo a massagear o direito com meu dedo indicador e polegar, subo
o meu olhar para Pâmela que comprime os lábios e nego com a cabeça.
— Ontem eu disse que queria você sóbria para se lembrar de todos os seus gemidos,
então solte eles… — Sussurro contra seu seio e passo a língua por sua auréola lentamente.
Com a mão aperto a outra ouvindo seu primeiro gemido, abro um sorriso me afastando
dela, terminando de tirar o vestido dela e deixando o tecido preto molhado em nossos pés. Meu
olhar recai por seu corpo, observando cada detalhe dele com desejo, querendo conhecer cada
centímetro de seu corpo.
— Porra. Você é muito gostosa. — Falo levando a mão para o botão da minha calça para
abrir ela, mas Pâmela me impede, fazendo isso por mim.
— Não é justo assim… — Ela abre meu zíper e desce minha calça deixando minha
cueca, já era notável a ereção do meu pau.
Meu olhar vai para a mão dela que começa a massagear meu pênis pênis coberto pelo
tecido molhado, seu corpo começa a se abaixar para se ajoelhar, mas eu a impeço, negando com
a cabeça.
— Eu te garanto que quero isso mais do que você imagina, mas eu quero desmoronar
dentro de você e não e na sua boca… Por enquanto. — Falo a colocando de frente para o vidro
do box embaçado e dando um tapa em sua bunda. — Lembra o que me disse no seu quarto? Que
meu desejo era uma ordem? Então, minha ordem hoje é que você gema o mais alto que
conseguir, eu sonhei tanto com seus gemidos, que preciso ouvir eles. — Digo dando outro tapa
em sua bunda coberta pela calcinha a qual me livro logo em seguida.
Levo a mão para minha cueca a fazendo com que deslize para o chão e então seguro em
meu pau com destreza, o masturbando lentamente enquanto admiro seu corpo nu rendido a mim.
Ando para mais próximo e passo meu pênis sobre seu glúteo, sinto seu corpo todo se enrijecer e
sorrio, ela não tinha dado lá atrás e eu seria o primeiro, não hoje, mas seria.
Com a mão esquerda a viro e ergo sua perna esquerda, deixando enroscada sobre meu
quadril, fixo o olhar ao dela, queria poder gravar suas reações em minha mente e o principal,
saber se ela se sentia confortável com isso, e tenho minha confirmação quando ela abre um
sorriso a qual retribuo, encaixando a minha glande em sua entrada, sentindo o quão lubrificada
ela já estava.
Seu olhos se fecham e mais um gemido saiu de sua boca, a seguro com firmeza em sua
cintura e movo meu quadril para frente, sentindo meu pau ser devorado por sua boceta, fazendo
com que eu soltasse um gemido de prazer.
Não espero para começar a me movimentar, vou começando lentamente e aumentando a
intensidade de minhas estocadas, tendo em troca arranhões em minhas costas, que causam leve
ardência ao entrar em contato com a água quente.
Deslizo minha mão por toda sua bunda, sentindo a maciez a qual tanto esperei para tocar
e vou subindo até suas costas, que estão em uma mistura do molhado d'água e de seu suor.
Começo a andar com ela para fora do box, sem me importar com a água ou molhar o quarto do
hotel todo. Naquele momento, só Pâmela me importava, apenas seus sentimentos e seus desejos.
— O que você quer, me diga? — Sussurro a pressionando contra a parede do corredor.
— Me… faça gozar. — Ela pede entre gemidos.
Subo minha mão por seu pescoço até chegar em seu maxilar, virando em minha direção.
— Você vai gozar, mas só quando eu mandar… e não vai ser agora…
Volto a andar com ela indo em direção a cama, onde me deito deixando ela por cima de
mim. Minha mão esquerda segura em sua cintura enquanto a direita desliza em direção ao seu
clítoris e com dois dedos começo a estimular, fazendo com que seus gemidos se intensifiquem
cada vez mais.
Eu não queria gozar agora, mas meu corpo não aguentaria mais. Estava a meses sem
transar, não tinha como evitar. Estando nessa posição, sentindo sua boceta deslizando com
facilidade em mim e gemidos, era tudo o que eu precisava para desmoronar.
— Ella, vou gozar. — Aviso a garota que fez questão de sentar mais profundo e dar uma
rebolada antes de se levantar.
Pâmela se coloca de joelhos sobre a cama e com as mãos segura meu pau, passando a
língua em em minha glande, deslizando ela por toda extensão até chegar no escroto. Solto um
gemido sentindo meu pênis pulsar e sua boca devorar o mesmo, o chupando e antes mesmo do
que eu imagino, ejaculo em sua boca, sentindo meu corpo todo se aliviar.
— Porra. — Falo vendo ela fechar os olhos para engolir minha ejaculação. — Boa
garota… Agora.. — A puxo, fazendo com que ela abra os olhos. — Você está autorizada para
gozar.
Coloco Pâmela deitada sobre o colchão úmido pelos nossos corpos, me coloco entre suas
pernas que estavam afastadas. Pego a perna direita erguendo um pouco ela, levo a mão para seu
pé que ainda calça o salto a qual me livro, jogando ao chão, beijo da ponta de seu pé desde o
começo e vou subindo os beijos até sua virilha, onde dou uma lambida, subo olhar para ela que
implora com os olhos para que eu a toque e me viro a perna esquerda, repetindo o mesmo
processo de tortura.
Chego em sua virilha e deslizo a língua até sua boceta recém fodida por mim, passo a
língua em sua entrada subindo até seu clitoris, dando uma leve sugada e ouço um gemido mais
agudo. Sorrio levando a mão esquerda até sua vulva onde deslizo um dedo movimentando
lentamente, em seguida incluo mais um dedo, fazendo movimentos um pouco mais rápidos.
Já a minha língua, começou a fazer movimentos circulares sobre seu clitóris, intercalando
com algumas sugadas em sua região, que já estava mais sensível. Sinto sua mão sobre minha
cabeça e suas pernas se fecharem contra meu pescoço, seu corpo se contorcia sobre o lenço já
bagunçado e eu intensificava ainda mais meus movimentos.
— Agora você pode gozar, amor. — Falo rapidamente, voltando a chupar seu ponto de
prazer.
Um gemido alto é solto por ela, suas pernas se enrijecem mais, seu corpo arqueia e sua
boceta se comprime por alguns segundos, chegando ao seu clímax. Tiro os dedos dela e os levo a
minha boca, o chupando lentamente.
Olho o corpo dela mole sobre a cama e me junto ao seu lado, sentindo minha respiração
acelerada.
— Isso… — Ela começa a dizer, mas sua respiração pesada não deixa que termine.
— Foi incrível? — Concluo para ela, rindo.
— Isso, isso… Por que demoramos… tanto?
— Você ainda não tinha vinte e um anos… — Posso ver uma luz se acender em seu
olhar, como se entendesse o motivo de minha demora. — Agora, o que acha de uma ducha e
pedirmos algo para comer?
— Acho uma ideia incrível… Você não desligou o chuveiro, né? — Ela pergunta se
sentando e eu me levanto, estendendo a mão para ela.
— Pior que não, somos péssimos, né? — Falo rindo, enquanto andamos até o chuveiro à
vontade com a companhia um do outro.
Eu estava leve.
Ela estava radiante.
Eu estava apaixonado.
Isso é errado, mas não ligava.
Porém, eu estava apaixonado pela minha babá, enquanto amava a minha esposa.
Um novo ano.
Novas promessas.
Uma nova mulher.
Era assim que me sentia, uma mulher diferente da garota que deixou Gramado, há quase
dois anos.
Pensei que o auge da minha felicidade fosse o momento que senti pela primeira vez um
avião decolar, eu sabia que quando ele estivesse ao céu, eu estaria rumo ao meu sonho. Só que eu
não sabia, que essa felicidade só chegaria após muitas lágrimas.
Eu achava que sabia o que era ser feliz. Acreditava que sabia o que era um amor e me
iludia achando que sentia prazer.
Luke chegou em minha vida para mostrar que eu estive errada durante todo esse tempo, e
hoje posso dizer que entendo o que todas princesas sentem ao encontrarem seu par perfeito.
Ele era o meu par perfeito, eu poderia não ser o seu e estava tudo bem. Tem amores que
são feitos para serem eternos, mesmo que a outra parte desse amor não esteja mais presente.
Já haviam passado as festividades de final de ano, Emma retornou para faculdade antes
mesmo do dia 06 de janeiro, assim como Manu voltou com suas aulas de natação.
Luke estava trabalhando mais do que o normal, por mais que ele evitasse comentar sobre
os casos do departamento, na noite anterior ele chegou bem frustrado e se sentindo de mãos
atadas, achava que não estava fazendo o suficiente pelo caso de um garoto negro que havia sido
assassinado a mais de dois meses, até disse que não tinha mais coragem de olhar para a mãe do
garoto e dizer que não tinham nenhuma informção para entregar a ela.
Ele estava mal e pela primeira vez, eu quem dei o “colo” para ele e fiquei o observando
dormir. Era estranho o que tínhamos, já passava de algo casual, mas não o suficiente para ser
concreto, ficava ainda mais estranho se pararmos para pensar que ele me pagava toda semana…
Já poderia até ouvir a risada de Helena dizendo que sou igual a ela, mas jamais seria como minha
mãe. Diferente dela e seus clientes, havia mais do que o respeito entre mim e Luke, um
sentimento verdadeiro, ao menos de minha parte.
Manu já estava em sua terceira aula de natação do ano, como todas as outras, não me
sentia segura de entregar ela para essa professora. Sempre um aperto me tomava o peito, uma
angústia que nunca senti antes, não me sentia bem e esse aperto não foi embora nem no momento
em que saímos do ginásio.
Manu também não estava bem, ela sempre é bem calma, mas desde que a troquei ela, não
parava de chorar, começou com um choramingo que foi se intensificando conforme nos
aproximamos do carro.
— Prometo que só vamos abastecer e quando chegarmos em casa, te dou um banho
quentinho e colo até você dormir, ok? Agora a titia vai ter que te colocar na cadeirinha, só não
chora ou eu fico nervosa e o carro morre… O que é péssimo nessa neve e fica pior se
demorarmos muito, já que pode vir uma nevasca. — Falo rapidamente, ficando nervosa enquanto
a coloco no bebê conforto. E como imaginava, Manu abre um berreiro, me deixando nervosa e
mais insegura. — Calma, meu amor, vamos ouvir música? Sei que você gosta de Frozen, então
vamos cantar! — Dou um beijo em sua testa fechando a porta do carro e indo para o banco do
motorista, a primeira coisa que faço é colocar a música na playlist da disney, vendo que ela chora
ainda mais.
Respiro fundo com os olhos fechados enquanto colocava o cinto, olho para a bebê mais
uma vez, que chorava enquanto mexia os braços. Eu sabia que não era fome, frio ou sono. Se
fosse dor eu perceberia, o choro de manha dela era totalmente diferente, então tinha algo
frustrando ela, mas precisava focar em chegar em casa ou enfrentar uma queda de neve, odiava
dirigir em dias de neve ou chuvas.
— Me perdoe, princesinha, mas vou ter que me concentrar aqui… Prometo me redimir
assim que chegarmos em casa! — Falo dando partida no carro enquanto mordo meu lábio
inferior.
Vou sair com o carro da vaga, mas acabo parando, já que um carro preto tinha a
preferência, entretanto o motorista liga e desliga o pisca, indicando que eu poderia sair, agradeço
com uma buzina e por fim saio do estacionamento.
Tento manter total atenção na pista, devido ao gelo que estava escorregadio em alguns
pontos de Austin, mas não conseguia evitar olhar pelo retrovisor. Ver Manu desse modo partia o
meu coração e me deixava ainda mais angustiada, ela não era uma criança chorona, pelo
contrário, era totalmente calma.
O semáforo se fechou e olhei para trás novamente, pegando em seu pé com uma das
mãos, mas assim que fui me virar para frente, meu coração se aperta ainda mais, olhando o carro
atrás de mim, me viro para frente levando as mãos para o volante e olhando novamente ao
retrovisor, tentando ter certeza se era o mesmo carro preto do estacionamento.
— É apenas um carro preto, Pâmela. — Falo pra mim mesma, dando seta para a direita,
indicando que viraria para o lado de minha casa, mas assim que o semáforo se abre, viro o
volante para esquerda indo por um caminho totalmente diferente.
Torci para que o carro seguisse para direita, assim como ele sinalizou, mas não, ele virou
o carro bruscamente para esquerda, fazendo com que eu acelerasse o veículo. Olho rapidamente
para o lado, levando umas das mão para minha bolsa e procurando meu celular e o pegando, com
o dedão desbloqueei o mesmo, colocando sobre o meu colo, desliguei o som do carro fazendo
com que Manu chorasse ainda mais e então acionei a siri.
— Siri, ligar para Chefinho “O’Brien” no viva voz.
— Ok , ligando para +1 513-476-3436.
— Vamos, Siri… — Falo virando para a direita, enquanto confirmo que ele está atrás de
mim.
— Esse número está fora de área ou desligado, deixe o seu recado após o sinal.
— MERDA! — Soco o volante sentindo minhas mãos tremularem, colocando na lista
telefônica e logo aparece na tela um aviso sobre o celular estar com menos de 10% de bateria. —
Não, não, não!
Falo desesperada, voltando a olhar para a pista e endireitando o carro, que estava quase
atravessando na contra mão. Engulo a seco sentindo um gelo me dominar, mesmo sabendo que
precisava de concentração nesse momento.
— Vamos lá, você consegue! — Falo pegando o celular novamente com a mão esquerda
e deslizando pelos contatos até o telefone de Emory. Coloco para ligar e o deixo no viva,
voltando a atenção total na rua, que já não era mais conhecida por mim. — VAMOS, EMORY!
ATENDE. — Grito desesperada assustando ainda mais a Manu
— Detetive Morg..
— Emory!! — A corto enquanto viro o carro para a direita sem sinalizar.
— Pâmela, tudo bem? Que berreiro é esse?
— Emory, estou sendo perseguida e não sei mais o que fazer. — Falo rapidamente,
segurando o choro na garganta, olhando para o retrovisor e virando para a esquerda, perdendo o
carro preto de vista , então aproveito para acelerar o máximo que eu aguentaria.
— Onde você está? — Ela pergunta séria e posso ouvir os seus passos.
— Eu não sei, estava chegando ao posto do 4545 S Lamar Blvd, tive que mudar o trajeto!
— Meu celular emite outro aviso, agora sobre a baixa temperatura repentina. — Preciso que seja
rápida, estou sem bateria!
— Eu preciso que você mantenha ele ligado! — Ouço a voz de Laurence. — Estou
rastreando ele!
— Eu tenho carregador na bolsa. — Falo esticando a mão na bolsa, mas devido a um
virada que dou, acabo derrubando a mesma. — Não, não! — Ouço três apitos vindo do meu
celular. — Não! — Deixo uma lágrima escorrer e mais três apitos soaram do celular, indicando
que o mesmo está prestes a desligar.
— Me desc… — A voz de Laurence some e meu celular desliga.
— Não, não, não!! — Sinto as lágrimas invadiram meus olhos e escorreram por meu
rosto.
Não sabia onde estava, não conseguia saber se ainda havia um carro atrás de mim devido
a neve que começou a cair e não podia fazer nada para proteger Manu.
Eu estava com raiva.
Eu estava com medo.
Estava me sentindo a pior pessoa do mundo por submeter Emanuelle a isso.
Sempre pensei estar preparado para tudo, já havia visto de tudo em meus anos servindo
ao meu país, seja no exército ou na polícia. Mas, depois de Manu, comecei a enxergar as coisas
com outro olhar e ver que haviam muitas coisas que não esperava.
Estavamos com um caso de tentativa de estupro de vuneravel, Lilly Cooper. Era só mais
um dia corriqueiro na vida da família, o pai saiu com a filha e parou para abastecer, só que a
menina pediu para ir ao banheiro e seu pai, James, deixou e ficou abastecendo o veículo. Ele se
deu conta da demora da filha e foi atrás no banheiro do posto de gasolina e no momento que
ouviu a voz de um homem vindo de dentro do banheiro feminino, não exitou em entrar. Ainda
conseguia ver sua expressão de dor e sua voz de inconformado ao dar seu depoimento, ele se
sentia culpado, como se tivesse falhado em seu papel de pai.
O estuprador tentou fugir, mas graças às descrições e bravura de Lilly, que lutou contra o
cara e acabou arranhando seu rosto, conseguimos encontrar.
— Quantas mulheres? — Jordan diz, apoiando as mãos sobre a mesa.
— Já disse, só falo na presença do meu advogado. — O estuprador, branco, diz olhando
para mim e ignorando completamente a presença de meu amigo.
Respiro fundo apoiando as mãos na mesa, enquanto Jordan anda até ele e se senta na
mesa, o tampando da câmera.
— Você se acha superior, não é? Homem branco e que abusa de mulheres. — Meu
parceiro se aproxima mais do acusado e põe a mão em seu ombro, apertando com força. — Você
não vai ter a porra de um advogado. Você não terá paz pro resto da sua vida e eu farei questão de
todos na cadeira saberem que você e a porra de um jack [11]e pode ter certeza, que de lá você só
sai morto. — A voz de Jordan era fria e calculista, esse homem era tudo o que ele e qualquer
outro humano com caráter odiava, estuprador e racista.
— Agora você pode res… — Começo a falar mas Emory entra na sala do interrogatório
apressada, e para ela estar desse modo, alguma coisa séria estava acontecendo.
— Pâmela e Manu estão sendo perseguidas. — Ela não chega a explicar, apenas me
levanto sem me importar com o interrogatório e saio da sala apressadamente, indo até o cofre
onde estava a minha arma e meu celular.
— Onde elas estão? — Pergunto desbloqueando meu celular e vejo que havia uma
chamada perdida dela.
— Não conseguimos localizar, o celular dela desligou. — Emory diz enquanto pega sua
jaqueta e veste.
Abro o aplicativo de rastreador e digito a placa do carro, que antes era de Amber e agora
passou a ser de uso da Pâmela. Logo o aplicativo indica que o carro está em E Stasseney Ln, um
sentido totalmente oposto a nossa casa.
— Já sei onde ela está. — Falo indo para a escada.
— Eu dirijo. — Jordan aparece atrás de mim e vejo Santana e Lewis subindo as escadas,
provavelmente indo assumir o meu posto e de Jordan.
Eu não sabia o que senti naquele momento.
Não podia ser o Luke. Pai amoroso ou amante apaixonado.
Teria que ser o Major O’Brien, com instinto de sobrevivência e sede de sangue. Quem
fosse que estivesse perseguindo minhas garotas, morreria por minhas mãos.
Jordan assumiu o volante enquanto eu peguei o celular para verificar a localização, a
sirene foi ativada, mas não só a de nosso carro, olhei para trás vendo que Emory e Oliver
estavam colados em nosso carro, Laurence e Aaron ao lado e mais três viaturas logo atrás.
Não sei dizer quanto tempo levamos para chegar na rua indicada, porém era uma rua
totalmente longa, onde ligava vários becos isolados.
— Ok, chegamos na localização. Vamos nos dividir em duas equipes, as viaturas para o
lado Norte da rua e o departamento para o Sul, entre em todas as vielas. — A voz de Aaron é
transmitida pelo rádio.
Jordan diminui a velocidade do veículo e eu estreito a minha vista para enxergar na
pequena nevasca que começava a cair, dificultando nossa visão.
— ACELERA ESSA MERDA, JORDAN! — Grito com ele que até pisa no acelerador,
mas devido ao caminho de neve, não é possível ser rápido.
Olho para os lados vendo que havia uma viela, sem ao menos informar meu companheiro
abro a porta do carro pulando do mesmo e começo a correr em direção a aquela viela. Pego a
arma em minha mão direita apoiando na esquerda que seguro uma lanterna. Ao ir adentrando na
pequena rua, sinto meu coração bater mais rápido, elas estavam ali.
Não me importo com os passos atrás de mim e não faço questão de ver quem era.
Continuo olhando atentamente, até ver um carro parado, no meio do nada.
Meu coração desacelera.
Minha mente pensa no pior.
Sem ao menos estudar as possibilidades de ser uma cilada, saio correndo em direção ao
carro que começava a ficar coberto pela neve.
Apenas corro, como se não houvesse o amanhã. Sentindo meus pés se afundavam na neve
fria e meu pulmão ardia para respirar. Parei ao lado do carro e comecei a limpar as janelas, vendo
Pâmela encolhida ao banco do carro com Manu no colo, essa cena me destrói, pois mesmo com
os olhos fechados, ela derruba as lágrimas.
Tento abrir a porta, mas estão trancadas e ela parece relutar para ver quem é, como
estivesse com medo de ser o seu pesadelo.
— PÂMELA! — Grito seu nome, fazendo com que ela me olhe.
Um alívio toma o rosto dela.
É como se meu coração voltasse a bater às vendo.
Ela não exita em abrir a porta e não espero que ela saia do carro, eu mesmo a puxo e às
abraço, deixando com que minha arma e lanterna cair sobre a neve.
Manu fica entre nós e resmunga, mas não me importo, apenas preciso sentir elas.
— Me-me des-cul… — Ela começa a falar soluçando, mas a corto.
— Não se desculpe. — Afasto ela um pouco, levando a minha mão ao rosto dela e
secando sua lágrima com minhas luvas. — Eu.. — Tento falar mas as palavras me faltam, então
a beijo.
A beijo querendo dizer o medo que senti de perder ela.
A beijo para agradecer a proteção com a minha filha.
A beijo por apenas precisar disso.
Sem ao menos me importar com quem visse, eu não me importava com ninguém naquele
momento, apenas com elas.
— Vamos, vou levar vocês para a casa. — Falo pegando minha filha no colo e a cobrindo
com minha própria jaqueta, enquanto com o outro braço, envolvo na cintura dela para que se
proteja do frio.
— Albuquerque. — Aaron fala assim que se aproximamos dela. — Fico feliz que esteja
bem. Ho… Amanhã irei precisar de seu depoimento, por hora, descanse. — Ele vira para mim.
— Jordan e Laurence levarão vocês para casa, o resto iremos vasculhar o território e ir em busca
de alguma pista do filho da puta.
— Era um carro preto… — Pâmela diz baixo, olhando para Aaron. — Ele nos seguiu
desde a academia de natação.
São as únicas coisas que ela diz antes de voltar a andar.
Chegamos ao carro acompanhado de Laurence, vou para o banco de trás com a minha
filha e Ella, logo Jordan entra no lado do motorista e se vira para trás, me entregando a minha
arma molhada pela neve.
— Acho melhor isso ficar com você. — Pego o agradecendo em silêncio.
O caminho até minha casa foi em silêncio.
Pâmela deitada sobre meu peito e Manu dormindo em meus braços, meus amigos atentos
a rua e a todo momento Laurence olhava pelo retrovisor. Não demoramos muito para chegar,
meus colegas insistiram em ficar, mas disse que não precisava.
Assim que entramos em casa, Emma estava parada na na sala e seu olhar indicava que
havia chorado, provavelmente alguém havia avisado a ela sobre o ocorrido. Sua primeira reação
foi pegar Manu no colo e abraçar. Pude perceber o olhar de culpa de Pâmela a consumir, mesmo
não tendo ninguém a culpando. Então ela pede licença e sobe para o seu quarto, fico dividido
entre ir atrás dela e ficar com a minha filha.
Por mais que me doesse, naquele momento fiquei ali com Emma e Manu.
Nunca havia me sentido tão apavorado como com os pensamentos de algo acontecer com
Emanuelle.
Eu poderia não estar sendo um irmão perfeito ou um marido que honre suas palavras, mas
jamais poderia falhar como pai e naquele momento, minha filha precisava de mim… Ou eu quem
precisava ainda mais dela.
Eu não me lembro de ter convidado e muito menos aberto a porta para que ele entrasse.
Ele chegou de maneira silenciosa e foi ficando, se acomodando como se pudesse chamar meu
corpo e mente de “Lar”, mas na verdade, o medo não era bem vindo e eu não sabia como
expulsá-lo.
Havia momentos que eu não me lembrava dele, que ele passava despercebido dentro de
mim, mas ele se cansou de ficar escondido e voltou a me assombrar.
Nunca tive medo de chuva, escuro ou qualquer tipo de animal. Meus medos eram de
acontecimentos e agora haviam se tornado de caráter. As pessoas poderiam ser cruéis, de modo
que não poderia me proteger e proteger a ninguém ao meu redor.
Eu sabia qual era a coisa certa a se fazer, mas eu não queria agir de forma certa. Uma vez
na vida iria ser irresponsável e ignorar minha mente que mandava eu ir embora, não queria
perder o que conquistei através dele, do medo.
— Pâmela? — A voz dele invade a minha mente, me fazendo virar e ver a pessoa que me
faz querer tomar a decisão errada. — Eu bati, mas você não me ouviu…
Ele diz enquanto tiro a toalha de meu cabelo e me viro de costa para esconder as lágrimas
que ainda desejavam cair.
— Ah… Estava distraída. — Falo colocando a toalha na costa da cadeira e indo pegar
uma escova de cabelo. — Onde está Manu? — Pergunto passando a escova em meu cabelo
enquanto o olho pelo espelho.
— Emma ficou com ela, disse que dormiria com ela em seu quarto. — Vejo ele se
aproximar, e dou dois passos para o lado, me esquivando dele. — Não faz isso, por favor… —
Me viro para ele.
— Luke… eu a coloquei em perigo hoje… — Meu olhos voltam a derrubar lágrimas e
os braços dele me puxam para um abraço.
— Shiu… Não foi culpa sua, você não tem culpa de nada… — Levanto meu olhar para
ele, deixando minhas lágrimas escorrerem mais uma vez. — Isso jamais será sua culpa, ok? —
Ele me leva até a cama, me fazendo sentar.
— Mas, e se tivesse acontecido algo? E se eu não tivesse conseguido fugir?
Não consigo impedir as lágrimas, meu coração se aperta apenas de imaginar e um novo
medo se instala em mim, o medo do futuro, o medo do mundo que Emanuelle ainda terá que
enfrentar e eu não estarei aqui para enxugar suas lágrimas, como fiz hoje.
— Mas não aconteceu… — Ele pega a escova de minha mão e começa a passar por meus
fios lentamente. — Você acha que não penso nisso todos os dias? Que o “se…” não me apavora?
— Ele faz uma pausa. — Meus pais morreram quando eu estava no exército, não presenciei a
morte deles, mas Emma sim… Emma viu nossos pais morrerem, em nossa casa de campo, tudo
por meu pai ser detetive. Ele ser um homem da lei, causou o maior trauma na minha irmã e por
pouco, não custou a vida dela…
“Pode ter certeza, que todos os dias eu penso se algo acontecer com a Manu… A tantas
pessoas que juram acabar comigo ou com as pessoas próximas a mim, que às vezes me pergunto
se sou a melhor pessoa para estar com ela. Mas, quando vejo o sorriso dela, quando me aproximo
ou quando me arranca uma risada com suas descobertas, eu tenho certeza que sou a pessoa mais
capacitada para estar com ela, já que sou a pessoa que mais amo aquela menina.”
Ele coloca a escova na cama sem ter terminado de escovar meu cabelo e me vira ele, sua
mão direita vai para meu rosto, enxugando minha bochecha e a esquerda, segurando uma das
minhas mãos.
— Então, pode ter certeza que eu jamais deixaria minha filha com você caso não
confiasse em ti. Confio na vida da Manu em suas mãos de olhos fechados.
Suas palavras causam uma mistura de sentimentos em meu coração, ao mesmo tempo que
ele se acalma, volta acelerar de emoção, algo inexplicável e um sentimento jamais sentido.
— Luke.
É a única palavra que consigo dizer antes de me ajoelhar sobre a cama e levar as mãos
para seu rosto o puxando a um beijo, que é retribuído na mesma intensidade.
Tínhamos conexão desde o primeiro beijo, mas naquele momento, eu tinha certeza que
nossas bocas foram feitas para se encaixarem uma à outra.
Uma sensação de que ao lado dele, eu poderia enfrentar tudo e a todos. Ele era a peça do
quebra-cabeça que faltava em minha vida, e assim como ele confiava a vida de sua filha em
minhas mãos, eu confiava a minha vida e o meu futuro a ele.
— Eu preciso de você. — Ele diz me deitando sobre a cama, e eu abro um sorriso.
— Você já me tem, não percebeu ainda? — Pergunto levando minha mão para a camisa
dele e começando a tirá-la para me livrar da roupa.
— Você não deveria me dizer essas coisas, as palavras carregam um grande peso. —
Dessa vez me calo, tentando não criar expectativas que possam me frustrar futuramente, afinal,
ele estava me despindo com a mão que ainda carregava uma aliança que pertence a Amber.
Tiro esses pensamentos da minha mente, deixando com que o ciúmes de alguém que não
está mais aqui vá embora e volto a me concentrar no homem, que beija meu pescoço fazendo
com que meu corpo todo reaja a seu toque.
Fecho os meus olhos, apenas sentindo seus beijos descerem de meu meu pescoço para
meus seios e por fim, minha barriga. Seu lábio sela lentamente minhas duas marcas, a qual
jamais aceitarei, mas diferente de mim, Luke as aceita e todas as vezes que a vê, faz questão de
demonstrar isso.
— Abra seus olhos… Queria tanto que você as visse da maneira que eu as vejo. — Abro
os olhos como ele pede e me apoio em meus braços para o observar. Primeiro ele beija uma das
cicatrizes e depois a outra. — Se não fosse por elas… — Sua língua passa por meu umbigo. —
Hoje você não estaria aqui.
Ele pega em minha cintura e me vira de costa rapidamente, me fazendo dar uma risada.
Ouço o som de algo caindo, e deduzo ser minha escova, mas não consigo dizer nada, já
que meu corpo arqueia com seu beijo por minhas costas fazendo com que eu segure os gemidos
de prazer.
— Não se segure, ninguém irá nos escutar. — Ele diz tirando meu short, fecho os meus
olhos envergonhada ao me lembrar da calcinha que estava usando essa noite. — Amei a
calcinha da Hello Kitty.
— Pode ter certeza que não estava em meus planos terminar a noite assim…
— Quer que eu pare? — Viro a cabeça em sua direção.
— Você não é doido. — Digo tentando não soar desesperada.
— Não sou mesmo.
Ele sorri e começa a descer minha calcinha por minha perna até que ela esteja no chão.
Sinto suas mãos por meu glúteo os apertando fortemente, puxo meu travesseiro o abraçando com
força, enquanto deixo meu corpo aproveitar cada segundo de prazer.
De forma inesperada, sinto sua boca por meu bumbum e suas mão irem afastando elas,
mordo meu lábio no momento que sua língua desliza para meu ânus. Minhas pernas se fecham
enquanto minha boceta pulsa de prazer e por mais que tente não gemer, acaba sendo impossível.
Luke alcançava lugares jamais tocados por outras pessoas, com tão pouco me dava mais
prazer do que um dia imaginei ser possível sentir. Ele tinha esse poder de deixar sua marca, ser
único.
— Relaxa… — Ele sussurra e desliza a língua para cima e para baixo, fazendo com que
eu vá afastando minhas pernas lentamente.
Dois de seus dedos deslizaram em direção a minha boceta e me penetraram sem ao
menos avisar ou me estimular. Seus dedos deslizam com facilidade, causando um pequeno
barulho devido ao ar, mas ignoramos focando apenas em meus gemidos que vão ganhando mais
força, conforme seus movimentos vão se intensificando.
— Lu..Luke. — O chamo. — Eu preciso de você…Agora!
Falo arqueando meu corpo contra meu colchão, meu corpo não aguentava mais, suplicava
por ele. Eu precisava dele, assim como ele precisava de mim, já que não precisei pedir mais uma
vez para que ele parasse tudo e retirasse o restante de sua roupa.
Mais uma vez, suas mãos me viram fazendo meus pequenos seios balançarem com o
gesto, olho para ele que se posiciona entre minhas pernas, desço o olhar para seu pau, vendo que
não precisaria de estímulo e abro um sorriso, sentindo minha boca salivar por ele.
— Você tem camisinha? Minha carteira ficou no quarto. — Ele pergunta e eu nego com a
cabeça. — Eu estou limpo…
— Eu também. — Ele não diz mais nada, segura em seu pau e encaixa em minha boceta,
sem ao menos dar alguns segundos para ela, me penetra.
Reviro os olhos de prazer deixando meus gemidos saírem, sem me preocupar com
alguém ouvir. Seus movimentos são fortes, violentos e prazerosos.
Nossos corpos se chocando causam barulhos, mas não mais alto que nossos gemidos e
nossas respirações. Suas mãos apertavam meus seios enquanto as minhas puxam fortemente os
lençóis, enquanto uma de minhas pernas é colocada sobre seu ombro, o mesmo que carrega uma
marca de bala.
É uma foda cheia de sentimentos que não conseguimos falar, quase selvagem, com
olhares profundos. As palavras ficam escondidas, mas os sentimentos expostos ao momento que
chegamos ao ápice juntos e gozamos, como se estivéssemos programados para esse momento.
Pode não ter sido a transa mais demorada de minha vida ou a mais romântica, mas eu
tinha certeza que era a melhor de todas, com todos os sentimentos jamais dito sendo revelado
entre eu e ele.
Acordar com Luke ao meu lado, estava sendo umas das coisas que mais amava nesse
país, até fazia uma pequena manha para não levantarmos, mas, meu chefe era muito pontual e
não cedia minhas manhas.
Nas outras manhãs, Luke sempre pegava Manu e a trocava, enquanto eu e Emma
preparamos o café, mas hoje, foi diferente. Daphne apareceu cedo em casa, com seus pães e
bolos, acabamos tomando café todos juntos e Luke pediu para que ela ficasse com a Manu,
alegando que hoje eu não poderia trabalhar.
Tentei me controlar, mas tive que chutar sua perna por debaixo da mesa para chamar sua
atenção, mas ele me ignorou completamente, como se o chute não tivesse o afetado de modo
algum.
Antes mesmo das 08h, restavam apenas nós dois em casa e por mais que eu desejasse
aproveitar com ele, Aaron fez questão de ir nos buscar para nos levar ao departamento. Tinha
que confessar, apesar de sua cara fechada e muitas vezes ser rude comigo ou com quem estava ao
seu redor, eu estava começando a me simpatizar com ele. Não que justificasse seu modo frio,
mas ele era um sargento e já deveria ter visto de tudo nessa vida, sem contar que podia ver em
seus olhos a preocupação e responsabilidade quando se trata de Emma.
Diferente do outro interrogatório, dessa vez ele não fez questão de irmos para uma das
salas e nem se quer proibir Luke de participar. Estávamos todos, sem exceção, até mesmo Lewis
estava presente na cozinha enquanto eu relatava o que havia acontecido. Laurence digitava
rapidamente em seu notebook, registrando cada palavra a qual dizia, já Emory estava com um
dos braços cruzados e o outro tomando seu segundo copo de café sem açúcar. Jordan, se
encontrava apoiando na cadeira atento a cada fala, como se estivesse ouvindo uma palestra
motivacional, já Oliver e Aaron estavam lado a lado, fazendo alguns comentários entre eles,
provavelmente pontuando algo para reverem depois.
Luke estava sentado ao meu lado, com sua mão esquerda sobre minha perna, dando
pequenos apertos, para me apoiar.
Está era a primeira vez que me sentia confortável dando um depoimento, não me sentia
invadida por ter acabado de sair de uma cirurgia ou por ter sido pega olhando para o meu chefe
sem ao menos imaginar que um dia ele seria meu chefe, também não sentia como se cada palavra
minha, eles fossem usar contra mim.
— Bem, conseguimos as gravações da escola de natação e o carro que te perseguiu era
um veículo roubado. A dona deu queixa dois dias antes do ocorrido e não bateu com as
descrições do perseguidor. — O detetive do meu caso quem diz.
— Lewis? — Aaron chama atenção do policial. — Chamei você e Santana aqui, para que
sejam os encarregados de vigiar a casa dos O’Brien e irão acompanhar a Albuquerque nos
compromissos fora de casa nos momentos que O’Brien não estiver.
— Eu acho que não… — Começo a dizer, mas Emory me interrompe.
— Bryan não é o tipo que para de perseguir sem conseguir o que quer. Se não quer que o
seu pescoço seja o próximo cortado, acho melhor seguir as instruções. — Ela diz, como se não
fosse nada demais.
— Emory. — Luke repreende a detetive, que revira os olhos.
— Para conseguirmos prender ele, precisamos da Pâmela. Então sejamos francos com
ela, a garota não é nenhuma criança que não sabe o que está acontecendo. — Ela diz indo mais
uma vez até a cafeteira para preencher seu copo.
— Está bem, aceito os guarda-costas. — Falo tentando fazer uma graça na intenção de
suavizar o clima tenso, mas acabo não arrancando nenhum sorriso, a não ser uma risada de
Lewis.
— Todos trabalhando. — Aaron anuncia e sai da cozinha, sendo seguido por todos,
menos Luke.
— Terei que ter eles comigo mesmo? — Pergunto fazendo biquinho, enquanto me
levanto.
— Sim, senhorita, e não adianta fazer essa cara! — Ele me puxa para um abraço e dá um
beijo no meu nariz, que está franzido.
— Oh, mundo cruel. — Levo a mão para a testa, como se fosse desmaiar.
— Minha rainha do drama. — Ele riu me puxando para um beijo, a qual não faço drama
para retribuir.
— O’BRIEN. — Aaron grita, fazendo eu me afastar do Luke. — SEM BEIJOS NA
MINHA DELEGACIA. — Arregalo os olhos para Luke, que ri ainda mais, silabando a palavra
“câmera”, posso não me ver, mas tenho certeza que minhas bochechas estão mais vermelhas que
a unha de Laurence.

Já fazia algumas horas que eu estava em casa, não me sentia confortável sabendo que
haviam dois policiais do outro lado da rua, que se negavam entrar para dentro de casa. Ao menos
aceitaram o café e um bolo que preparei para eles, precisavam de bebida quente para aguentar o
frio que estava do lado de fora.
Aproveitei que estava a sós em casa, e coloquei MariMar, especificamente a
transformação de Bella, amava os capítulos dessa novela e não tinha muito tempo para assistir
aqui, já que eles não entendiam nem o português e nem o espanhol.
— Viu o sorriso da Adélia? Sempre igual. — Falo junto com a protagonista e em seguida
levo a lata de coca aos meus lábios.
— Por que tem dois policiais do lado de fora de casa? — Me assusto com Emma
chegando e rapidamente dou pause na televisão. — Ui, assistindo porno?
— QUE? Óbvio que não. — Dou risada, tirando do pause vendo a cara de confusa dela.
— Só consegui entender o “Bella”. — Ela tenta dizer com o sotaque. — Você gosta de
personagens com esse nome, né? — Emma se deita no sofá e joga os pés para cima do meu colo.
— Seria um belíssimo nome para minha filha! — Falo dando risada.
— Acho que meu irmão lutaria para ser outro nome. — Ela diz naturalmente, fazendo
com que me vire para ela com os olhos arregalados. — Ah, qual é? Vocês acham mesmo que
escondem algo? Todos já sabem que vocês estão juntos.
— Como assim? — Falo sentindo minhas bochechas queimarem, mesmo sabendo que
depois do episódio no distrito, era verdade.
— Vocês dois são péssimos em esconder as coisas, no dia da discussão da cozinha eu já
sabia. Acha que quem fez ele subir atrás de você? Meu irmão tem a cabeça mais dura que a
parede.
— E você nunca me falou nada? — Digo jogando sua perna para fora do meu colo.
— Humm, é que era como ler um livro vendo vocês! Chega a ser fofo demais. — Ela faz
uma careta.
— E para você tudo bem? — Pergunto com receio, afinal, ela quem me contratou e era
super ligada com Amber.
— Você trouxe para meu irmão algo que pensei ter morrido junto com Amber. Só eu sei
como foram esses meses após a morte dela… — Os olhos de Emma se enchem de lágrimas. —
Jamais falaria algo para meu irmão por ele seguir em frente!
Fico sem saber o que falar, pois não era totalmente verdade.
Luke não tinha seguido em frente, a tela de bloqueio ainda era uma foto dele com ela. A
aliança ainda estava em seu dedo e em todo esse tempo, eu jamais havia pisado em seu quarto.
— Só de um tempo a ele, o que ele viveu com ela foi muito intenso. — Emma diz como
se pudesse ler meus pensamentos.
— Como eles eram? — Pergunto o que sempre quis perguntar, mas nunca tive coragem.
— Acho que isso só ele pode te responder. — Ela se levanta pegando sua mochila que
estava no chão. — Agora deixa eu ir me arrumar que ainda irei sair.
— Onde a senhorita vai? — Fico de joelhos no sofá.
— Depende, se for para falar para o meu irmão, dormir com as meninas da república,
agora se for minha amiga perguntando, para uma boate. — Ela pisca do pé da escada, fazendo
com que eu dê risada.

Depois de muito insistir, Luke me disse que iríamos a uma festa.


Não sabia ao certo o que vestir, então recorri a Emma antes que ela saísse. Por fim, dentre
tantas opções que a loira me mostrou, acabei optando pelas minhas roupas mesmo, uma meia
calças escuras, saia preta e uma blusa colada da mesma cor. O que ganhava destaque para a
jaqueta de couro e um enorme cachecol.
A estudante de psicologia decidiu sair cedo de casa, para que seu irmão não questionasse
onde ela iria e ela ser obrigada a mentir na cara dele, o que sobraria para mim mentir por ela.
— Acho que vou pedir minhas férias. — Luke anuncia ao entrar no meu quarto, me
assustando e fazendo com que eu quase borre o meu batom. — Não gosto de saber que tem dois
marmanjos na porta da minha casa observando você, sem contar que Lewis já demonstrou
interesse em Emma.
— Já disse que não tenho dinheiro para ir para o hospital! Não me assuste assim. — Falo
rindo, sentindo meu coração acelerado. — Mas… O Lewis é bonitinho, Emma e…
Paro de falar ao ver a cara fechada do Luke, se mordendo de ciúmes por algo que nem
aconteceu com a irmã dele. Tenho dó dos futuros namorados de Emma e Emanuelle, só com a
cara que ele fez com a minha frase, já pude ver o pobre Jasper Lewis ser morto.
— Ok, não está mais aqui quem falou. — Falo rindo, me virando para o espelho e
voltando a me arrumar.
— Ótimo. — Ele diz se aproximando e me abraçando por trás. — Aliás, cadê minha
irmã? — Pergunta beijando meu pescoço, me causando arrepios.
— Dormir na república. — Falo rapidamente, sentindo o beijo dele descer pelo pescoço.
— Ótimo. Quero te foder nessa saia. — Abro meus olhos deixando o batom cair no chão
e sem me importar se estava fechado ou não.
— Vamos nos atrasar… — Sussurrei sentindo minha boceta pulsar por ele.
— Não temos horas para chegar e prometo que seremos rápidos.
Com isso ele me convenceu.
Vejo através do espelho ele pegar a carteira e tirar uma camisinha de dentro, em seguida
começa a baixar a calça. Antes que ele pudesse levar a mão para minha meias calças eu começo a
baixar a mesma, recebendo um olhar de repreensão dele.
— Nem pense estragar essa meia calça. Me custaram 30 dólares, quase metade do meu
salário semanal. — Falo rindo, retirando ela e jogando na cama.
— Está me dizendo que não te pago bem? — Sinto sua mão bater em minha bunda com
força, fazendo com que eu solte um gritinho.
— Estou sim… — Sinto outro tapa e dessa vez solto um gemido.
— Você vai ver só. — Mordo meus lábios vendo ele abrir o preservativo e colocando em
seu pau que já estava ereto. — Quero que se olhe no espelho. — Ele ordena e fixo meus olhos no
meu reflexo no espelho.
Minhas mãos se apoiam sobre o espelho gelado, para meu corpo ganhar um apoio.
Sem preliminares.
Sem aviso.
Sem beijos.
Ele me penetra, de forma intensa e invasora.
De uma maneira brusca a qual me deixa ainda mais excitada.
De frente para aquele espelho, transamos, gememos e nos declaramos mais uma vez
através de olhares intensos e um clímax jamais alcançado por mim.
— Meu cabelo ficou horrível. — Pâmela reclama enquanto tenta ajeitar seus cachos.
— Ele está perfeito. — Comento puxando ela para meus braços.
— Juro! Nunca mais teremos uma rapidinha antes de sair, você bagunçou meu cabelo e
não deixou eu lavar ele. — Ela faz um bico a qual dou um selinho rápido. — Aí, tinha que parar
o carro tão longe da boate? Se eu soubesse que era uma balada, tinha colocado tênis, vai ter que
me carregar no colo na hora de ir embora. — Ela ri como uma criança ardilosa.
— Você é uma pequena peste, sabia? — Olho nos seus olhos.
— Uma pequena peste que você não larga. — Ela pisca e eu sabia que tinha razão.
— Não, senhorita, por aqui! — Falo quando ela me puxa para o final da fila.
A puxo de volta levando para a entrada do camarote onde havia uma pequena fila, mas
não iria precisar enfrentar a fila, por o segurança ser antigo policial do 53.
— O’Brien, você por aqui. — Ele aperta minha mão. — Se soubesse se você e Davis
estariam aqui, aproveitaria a festa também.
— E ai, cara. — Solto da mão dele, puxando Pâmela para meu lado. — Jordan está aqui?
— Está sim, com uma loirinha. Pensei que tinham combinado. — Ele diz abrindo a
corrente para liberar nossa entrada.
— Não combinamos, trouxe Ella para sua primeira balada americana. — Wees se vira
para Pâmela, olhando para a minha mão em sua cintura e depois subindo o olhar para mim, como
se fosse cúmplice de um crime meu e por fim, coloca nossas pulseiras do camarote.
— Curtam a festa, prometo não falar nada para ninguém. — Ele ri abrindo a porta e
posso perceber Pâmela se afastar ao ir entrando.
Não entendo sua atitude, talvez boates não sejam muito os lugares que ela goste de ir,
poderia ter errado feio na escolha de lugar.
— Ei? — Faço com que ela olhe para mim e me aproximo de seu ouvido por conta da
música alta. — Está tudo bem?
— Tudo ótimo. — Ela diz indo até um dos sofá que ficava no mezanino vip.
Tentei entender essa mudança de humor repentina, talvez ela não gostasse de baladas,
assim como eu ou eu tinha feito algo a qual ela não gostou? Mas, não me lembrava de ter dito
nada demais.
— Então tá… Né. — Balanço a cabeça indo em direção dela, que retirava sua jaqueta de
couro e o cachecol. — Você quer beber alguma coisa? — Pergunto me sentando ao seu lado e
levando a mão para sua perna, a acariciando por cima da meia calça de 30 dólares.
— Não. — Ela nem sequer olha para mim.
— Quando quiser, é só avisar, ok? — Falo olhando para ela que concorda com a cabeça.
— Quer dançar?
— Não.
— Quer me dizer o que aconteceu? — Pergunto retirando a mão da perna dela.
— Não. — Abro um sorriso dando risada, fazendo ela olhar para mim.
— Então aconteceu algo. — Pisco para ela, que fica mais irritada ainda.
— Droga. — Murmura levando a mão para meus cachos.
— Me conta, o que aconteceu? — A puxo para mais perto de mim.
— É bobagem… — Posso ver sua bochecha ganhar um rubor.
— Se te deixou assim, pode ter certeza que não é bobagem. — Levo a mão para sua
bochecha, a acariciando.
— Ok… Seu amigo… Ele acha que sou sua amante…
Naquele momento minha mão para se mover em seu rosto e perco as palavras sem saber
o que dizer. Posso ver uma pequena decepção se formar nos olhos dela e um nó em minha
garganta, por fazer ela ficar assim.
— Viu só? Você também…
— Lógico que não. Não diga uma coisa dessa.
Minha boca disse palavras que eu não acreditava, no fundo eu também achava que ela era
a minha amante, apenas não queria aceitar o tamanho pecado que estava cometendo com a
mulher que eu amava.
Amber havia sido aquela que me ensinou a ver o céu azul novamente, segurou na minha
mão enquanto minha irmã chorava, foi um amor construído através de uma amizade. Um amor a
qual jurei que seria eterno e desejei que fosse.
— Você diz uma coisa, mas seus olhos dizem outra. — Sua voz me faz voltar a atenção
para ela.
— Você não enten… — Sou interrompido por uma voz familiar.
— Luke! Você aqui? — Sua voz era mais de espanto do que surpresa.
— Com licença, preciso ir ao banheiro. — Pâmela diz se levantando e passando por mim
e por Jordan.
Olho para ela indo e em seguida ao meu amigo, sem saber o certo o que fazer, mas acabo
ficando ali, nesse momento eu não saberia o que dizer e acreditava que não havia o que dizer em
um situação dessa.

Ele pensava o que todos pensavam.


Eu não passava de uma simples amante e Luke não teve coragem de mentir, dizendo que
não era isso.
Me sentia humilhada por mim mesma, eu não deveria ser tão carente a ponto de achar
que todos os homens que dizem palavras bonitas a mim realmente estão afim de me assumir, no
fim eu era como Helena… Mas, ao menos minha mãe sabia o lugar dela e não se iludia como eu
havia feito.
Poderia muito bem ir embora, sem ao menos avisar Luke, porém minha bolsa e casaco
haviam ficado na mesa.
— Droga. Porque estou chorando? — Falo comigo mesma em portugês, enquanto ando
em busca de um banheiro para que eu possa chorar de verdade.
Eu sei, nada maduro. Mas não poderia evitar, me sentia como a Pâmela de 13 anos
chorando por um amor jamais correspondido de um cantor internacional. Só que a diferença era,
eu tinha 21 anos, responsável por mim a ponto de morar em um país a qual não nasci e estava
apaixonada por meu chefe viúvo 13 anos mais velho que eu.
Chego ao banheiro e vou direto a pia, abrindo a torneira agradecendo de não estar tão
lotado, odiava ter a atenção tomada para mim em momentos como esse.
Jogo aguá sobre meu rosto uma, duas, três vezes e mantenho os olhos fechados, tentando
ignorar o barulho vindo de fora e a música que estava sendo cantada dentro do banheiro.
Parece até loucura, mas quando percebo que o som do banheiro se cessa e abro os olhos
lentamente vendo um reflexo logo atrás de mim, fazendo com que me esquecesse o motivo a
qual estava chorando e grito assustada.
— MEU DEUS. — Me viro ficando de frente com a garota que estava mais pálida que
um papel. — Emma? Você está bem? — Pergunto dando uma fungada, enquanto passo a mão
por meu rosto molhado.
— Você está sozinha aqui? — Ela pergunta e posso jurar ver sua mão trêmula.
— Não, seu irmão está aqui. Quer que chame ele? Te fizeram alguma coisa? — Começo
a ficar preocupada pelo modo que ela estava.
— NÃO. — Ela grita se aproximando e pegando em minhas mãos.
— Ok… O que está acontecendo?
— Por que você estava chorando? — Ela muda de assunto.
— Por… Isso não vai funcionar. Pode me dizer ou chamo seu irmão. — Falo cruzando os
braços, como se estivesse implicando com minha irmã.
— Eu estou com um amigo… — Pelo seu tom, eu sabia que não era apenas uma amigo.
— Da faculdade? — Levanto a sobrancelha e ela concorda, desviando o olhar. — Está
mentindo.
Nesse momento um flash invade a minha mente.
Consigo me lembrar das palavras de Wees, o segurança e então abro a boca, surpresa.
— Não me diga que… — Levo a mão para meus cachos o prendendo em um coque. —
MEU DEUS. VOCÊ ESTÁ AQUI COM O JORDAN?
Seus olhos azuis perdem a cor, como se estivesse prestes a morrer.
— Com..mo vo… — Ela começa a gaguejar.
— Respira. Vamos, é só respirar. — Abano ela com a minha própria mão. — Jordan está
conversando com o seu irmão e o segurança falou sobre uma loira com ele.
— Meu irmão vai me matar… — Posso ver o medo tomar conta de seu olhar e dou um
sorriso genuino.
— Ele nem imagina que você está aqui, desconversei quando ele perguntou de você…
— Pam…Você não pode contar isso para o meu irmão, ok? Ele me deserda e mata Jordan
se chegar a desconfiar de algo. — Ela praticamente me implora, e nem se quer duvido se ela não
se ajoelharia se não estivesse em um banheiro de balada.
— Emma… Não vou contar nada para ele…Mas, você não deveria esconder nada do seu
irmão. Ele daria a vida por você, te garanto que não iria te deserdar por algo assim… — Sou
sincera com minhas palavras, o carinho e preocupação que ambos tinham um pelo o outro era
lindo de se ver.
— Eu sei… Mas, não diz nada, ok?
— Está bem, agora me deixe ir ou seu irmão vem atrás de mim. — Me aproximo dando
um beijo em sua bochecha e ela se assusta com meu ato.
— Você ainda não me disse o motivo do choro. — Dou uma risada indo até a porta do
banheiro.
— Tchau, Emma! Te vejo em casa. — Falo saindo do banheiro sem acreditar no que
tinha acabado de descobrir.
— Eu não acredito… Jordan e Emma… — Falo em português sem prestar atenção e
acabo sentindo meu corpo se colidir com o de outra pessoa, fecho meus olhos imediatamente me
preparando para o impacto no chão.
— Te peguei… — Abro meus olhos vendo que Luke estava com um dos braços envoltos
em minha cintura e o outro nas minhas costas.
Involuntariamente deixo um sorriso se esboçar sobre meus lábios, me esquecendo do
motivo do meu choro e lembrando da primeira vez em que eu o vi.
— É, você me pegou, mais uma vez.
Eu não sabia o que tinha acontecido. Era para ser uma noite divertida, queria mostrar as
coisas que a Pâmela ainda não conhecia. Mas, antes mesmo de 00h já estávamos em casa.
Não transamos, como imaginei que faríamos. Não tomamos banho juntos e nem sequer
tivemos um beijo de “boa noite". Quando saí do banho, ela já estava dormindo de costas para
mim e com sua própria coberta.
Me assustei ao acordar e ver a cama vazia, era como se meu coração sentisse o mesmo.
Um sentimento ruim de vazio dentro de mim. Não gostava desse sentimento, já havia me
prendido nele a algum tempo e não desejava que ela voltasse a me assombrar.
Saio da cama sem me importar de vestir uma roupa para sair do quarto, eu apenas queria
a ver e tentar compreender o que passava por sua cabeça, mesmo não sabendo o que se passava
na minha própria cabeça.
Chego à sala e vejo que a casa estava toda arrumada, diferente de como estava na noite
anterior. Começo a procurar Pâmela pelos cômodos, e no momento que chego na cozinha posso
ouvir o som da máquina de secar roupa. Ando até a lavanderia e a vejo de costas para a porta,
usando seu fone enquanto balançava a cabeça, dobrando as roupas de Manu.
Essa era uma visão que desejava que se tornasse cotidiana em minha vida, era algo que
fazia meu coração se aquecer e me fazia duvidar se esse sentimento era apenas uma paixão
transformada pelo excesso de tesão e pela situação que minha vida estava no momento em que
ela chegou ao meu mundo.
Isso me assustava, me amedrontava.
Um sentimento que era para ser tão puro, me parecia errado. Era confuso, me dava medo,
mas não tanto medo como de pensar nessa casa sem Pâmela.
— Ah, você já acordou. — Sua voz me tira dos meus pensamentos.
— Me assustei ao não te ver na cama. — Digo relaxando os braços enquanto ela retirava
seu fone e o pendurava ao pescoço.
— Eu tenho deveres a fazer, negligenciei eles nos últimos tempos, mas irei focar em não
os deixá-los de lado. — Ela diz virando de costa e levando a mão para o cesto de roupa.
— Você sabe que não pre… — Minha fala é interrompida por ela.
— Esse é o meu trabalho. Sou paga para manter as coisas de Manu organizada.
— Pâmela, você não é uma simples babá nessa casa. Sabe disso… — Pego em seu braço,
a fazendo olhar para mim.
— Então o que eu sou, Luke? Estou tendo dificuldade para entender o meu papel aqui…
Eu não tenho uma resposta.
Eu sou péssimo, não deveria ter colocado ela em minha confusão mental.
Eu sabia o lugar de Amber na minha vida, soube desde o momento em que a vi chegando
em meu batalhão, vestido sua roupa social em um sol de mais 40°C. Eu soube que ela seria a
mulher para a minha vida, quando segurou a minha mão após eu descobri a morte de meus pais,
tive a confirmação disso diversas vezes, quando me ajudou a criar Emma ou quando disse “sim”
no altar para mim. A última confirmação desse amor, tinha 8 meses de vida.
Amber foi a responsável pelo homem que sou hoje… Mas, e Pâmela?
O que ela era em minha vida?
— Nem você entende, Luke. — Ela pega o cesto para sair, mas a puxo, impedindo.
— Você… — Pego sua mão a levando para meu peito, fazendo o cesto cair no chão. —
Está sentindo ele? O jeito que ele fica descontrolado ao seu lado? — Ela concorda com a cabeça.
— Não vou mentir para você e dizer que entendo o seu papel na minha vida…Mas, é você quem
me faz sentir como um adolescendo descobrindo sua primeira paixão. Você é a garota que me
faz desviar do caminho de casa apenas para comprar coca-cola. Você… Você… — As palavras
travam em minha boca e engulo a seco. — Você é a minha calmaria em meio a tempestade da
vida, pode não ser o bastante nesse momento… Mas saiba que você não é a “babá” ou minha
“amante”. Me odeio por fazer com que você se sinta assim…
Foi aí que eu percebi, Amber foi a mulher para minha vida, e já Pâmela era a mulher da
minha vida.
Seus olhos me fitam e sua boca tenta se mover, mas nenhum som é emitido por ela. O
silêncio me causa um pequeno desespero, repasso mentamnete tudo o que foi dito, tentando
achar o meu erro para o silêncio dela.
— Diga alguma coisa…
— Você quem vai dobrar a roupa que caiu… — Ela abre um sorriso, me fazendo rir.
— Pra te ver sorrindo assim, eu faço qualquer coisa.
Aproximo meus lábios do dela selando nossa boca. De início, ela tenta ser resistente, mas
acaba se entregando de forma exuberante. Meu lábio faz uma pequena sucção sobre o seu, e ela
demonstra gostar.
Me perguntava como era possível estar no céu e no inferno ao mesmo tempo. Seu beijo
me levava ao paraíso, mas com o pecado nos rondando e atormentando.
Era viciante.
Único.
Como se eu tivesse ido ao inferno, meu corpo queimava de tesão, minha ereção não era
apenas algo passageiro de todas as manhãs. Eu precisava dela, meu corpo pedia por ela.
— Eu quero a sua… — Minha frase morre.
— AI, MEU DEUS. — Emma grita fazendo com que eu me afaste de Pâmela na hora,
assustado. — SABIA QUE EXISTE QUARTO? — Ela grita correndo em direção a cozinha.
— Eu juro que irei matar a minha irmã… — Sussurro para Pâmela, que está mais
vermelha que um pimentão.

— Tem certeza que ninguém está escutando? — Minha irmã pergunta do outro lado da
chamada de vídeo.
— Absoluta, e se tiverem, ninguém entende o português mesmo.
— Então continue! — Lara se senta na cama e eu continuo picando o tomate para o
pastel.
Logo após sermos flagrados por Emma, Daphne ligou dizendo que viria almoçar conosco
e para tirar o clima de constrangimento e vergonha que estava sentindo, decidi que seria pastel
para o almoço.
— Não tem mais, ele estava prestes a me pedir um… Aquilo que você sabe, e a Emma
chegou. — Falo sentindo minha bochecha queimar novamente.
— Faltam detalhes, me conte detalhadamente!
— LARA! Óbvio que não. — Reviro os olhos e em seguida, junto o tomate com a cebola
e o pimentão, para fazer o vinagrete.
— Você é tão sem graça, aff… — Ela prende o cabelo me fazendo observar uma marca
em seu pescoço.
— Maria Lara Albuquerque. Que marca é essa no seu pescoço? — Sua mão vai ao
pescoço e um sorriso diabólico surge nos lábios dela.
— Eu errei, fui Chico e tive recaída com o Diego.
Lara sempre foi uma menina mais para frente, enquanto eu demorei para perder o BV,
minha irmã não teve dificuldade para perder a virgindade. Não foi surpresa para ninguém quando
aos 15 anos, ela apareceu namorando o Diego Moraes, um garoto que estudava na mesma escola
que nós duas, sendo apenas um ano mais velho que ela.
Pensamos que Lara iria sofrer com esse relacionamento, ainda mais pelo fato da pequena
fama que ele carregava em nosso colégio, mas fiquei surpresa ao saber que ela terminou com ele
apenas para poder se relacionar com o amigo Diego e para dar o troco, ele acabou ficando com a
melhor amiga dela, vingança de adoslecente. Depois disso, os dois começaram uma “batalha”,
sempre faziam questão de atrapalhar qualquer relacionamento que o outro pudesse ter e
acabavam um na cama do outro.
Vovó sempre dizia que isso acabaria em casamento, mas eu conhecia a minha irmã e ela
nunca o amou, mas sempre amou o fato dele não a ter superado.
— Ele não estava namorando a filha do diretor? — Pergunto confusa, enquanto despejava
o molho sobre a penela.
— Estava, mas dei meu jeito para que não estivesse mais. Se ele não me deixou em paz
com o Bruno, não deixarei ele com ninguém.
— Até quando vocês vão continuar com isso? Ou melhor, até quando você vai continuar?
Está na cara que ele te ama, mas você só quer a atenção dele e nada mais.
— Até mesmo a 8.374 km de distância você consegue ser chata? — Ela revira os olhos.
— Eu me importo com você!
— Pois deveria se importar com o gostosão que está atrás de você. — Ela diz rindo,
fazendo um “oie” com a mão, me viro para trás, vendo Luke parado nos observando. — OIEE,
CUNHADO. — Ela grita como se ele fosse entender alguma coisa.
— Tchau, Lara!!
— NÃOOO… — Ela grita, mas desligo mesmo assim.
— Sua irmã? — Ele pergunta e eu concordo. — Ela se parece com você.
— Você é uma das poucas pessoas que diz isso. — Dou risada colocando o primeiro
pastel para fritar.
— Ela tem uma leveza como você! — Me viro arqueando a sobrancelha.
— Depois vou querer saber mais dessa “leveza”, agora fora da minha cozinha. — Falei
mexendo a mão, como se estivesse o expulsando.
— Nem um beijinho? — Ele faz um biquinho.
— Nem um!
— Então não vou! — Ele cruza os braços e eu reviro os olhos, ficando na ponta do pé e
beijando a bochecha dele para o irritar.
— Agora tchau, ou ficará sem pastel. — Falo me virando para o fogão para poder virar o
pastel.
— Malvada. — Ele diz e dá um tapa fraco em minha bunda antes de sair.
— TONTO! — Grito dando risada.

Emma, Daphne e Luke estavam sentados na mesa e saboreando o pastel com vinagrete.
Meu olhar era de pura curiosidade a cada mordida que eles davam.
— Então… — Pergunto curiosa, sem ao menos conseguir comer o meu pastel de carne
com queijo.
— Isso daqui… — Daphne diz e em seguida dá outra mordida na massa crocante.
— Meu Deus! — Emma leva uma lata de Dr. Pepper aos lábios.
— Como eu passei a minha vida sem comer pastel? — Luke questiona, pegando mais um
para comer.
— Isso significa que gostaram?
Uma mistura de “Sim!”, “lógico” e “claro!” me arrancaram uma risada aliviada.
— Ufa, agora posso comer em paz. — Dou um sorriso dando uma mordida no pastel e
me sentindo um pouco no Brasil.
Quando distinguir um sonho da realidade?
Minha vida era uma mistura de sonho com pesadelo, e com toda certeza, estava na parte
mais gostosa do sonho, aquela que não desejamos acordar mesmo com uma vontade abundante
de ir ao banheiro.
Entre altos e baixos, eu estava tendo uma vida perfeita. Estava no país a qual amava,
tendo um emprego incrível, rodeada de amigos que em toda a minha vida desejei e tendo alguém
para me abraçar em noites frias, como essa de fevereiro.
Luke era a pessoa que fazia eu perder a minha sanidade e ignorar minha consciência. Me
sentia um pouco irracional perto dele, não tinha medo de nada e ninguém, eu sabia que ele
estaria ali para me segurar, como fez diversas vezes nesses meses.
Por conta dele e de Manu, eu estava me perguntando se voltar para o Brasil era uma
opção. Eu não queria, sentia que o meu país não era mais o meu lar, meu lar era aqui, em Texas,
nos braços de Luke. Mesmo não sabendo se ele se sentia como a minha morada.
— Major? — Falo sem pensar enquanto minha atenção era para o filme à nossa frente.
Depois de fazer ele ver todos os filmes de crepúsculo mais de uma vez comigo, ele está
me fazendo ver o seu filme preferido “sunshine - alerta estrelas” ou seria “solar”? Não prestei
muito atenção enquanto ele falava sobre o filme, só conseguia focar em seu sorriso e brilho em
seu olhar, bem diferente de quando eu o conheci.
— Diga, soldado. — Ele beija minha cabeça que estava sobre seu peito.
— Posso te fazer uma pergunta? — Levanto o olhar para ele, que pausa o filme para me
dar atenção.
— Todas que você desejar. — Abro um sorriso fraco, sem saber ao certo o que eu estava
prestes a perguntar.
— Se não quiser, não precisa responder… Ok? — Ele concorda com a cabeça, com um
olhar curioso. — Como ela era?
Ele me parece confuso com a minha pergunta. Talvez não devesse perguntar sobre
Amber para ele, mas desde a minha conversa com Emma, não conseguia esquecer.
— Ah… Amber? — Balanço a cabeça sentindo meu coração se encolher como uma
caroço. — Bem… Eu não sei, ela era apenas ela…
— Deixe, vamos voltar ao filme. — Falo me deitando novamente sobre o seu peito, para
não ter que olhar mais.
— Não, se você me perguntou tem motivo, então irei te responder… — Volto a olhar
para ele, que parece um pouco pensativo. — Sabe, em todos esses meses, ninguém me perguntou
nada sobre ela… — Ele solta uma leve risada.
— Porque as pessoas tem senso, eu que sou uma idiota! Esquece, sério, não precisa
responder.
— Ei, calma. É bom poder falar dela, afinal, ela é a mulher que amei e amo, mãe da
minha filha. — Sinto a minha garganta secar. — Sabe, Amber era um raio de sol, uma pessoa
alegre e disposta a ajudar a todos. Foi ela que me trouxe a cor de volta para minha vida, ela foi a
mulher que tirou o meu chão me dando a notícia da morte de meus pais, mas foi o meu alicerce
para me reerguer e criar a Emma.
“ Sabe? Pensei que não conseguiria criar uma menina sozinho, eu não sabia nada sobre a
vida de um ‘pai’, tinha apenas 26 anos. Mas, a assistente social me ajudou, suas visitas eram
semanais, passaram a ser praticamente um dia sim e o outro não e quando vi, já estava
apaixonado. Pensei que não era possível sentir um amor tão grande como aquele… Nunca
imaginei que seria recíproco, já que ela estava de casamento marcado. Mas… “
Ele fecha os olhos como se estivesse revivendo o passado em sua mente. Aquilo doeu,
me doeu saber que ele ainda a amava. Me doeu saber que ela era o amor da sua vida. Me doeu
mais ainda, ao saber que esse nunca seria o meu lar… Aqui era o lar dela, era ela que estava em
quase todas as fotos da casa.
— Em uma sexta-feira de inverno como essa, ela bateu na porta pedindo para ficar, para
sempre. Ela me escolheu sem ao menos termos nos envolvido ou saber o que eu realmente sentia.
Fui o escolhido para passar ao seu lado até o resto de sua vida…
Ele abre os olhos e posso ver uma lágrima que deseja cair, me sentei na cama levando a
mão ao rosto dele e acariciando lentamente, igual ele fez a mim em todas vezes que chorei ao
seus braços. Por mais que estivesse doendo em mim, precisava ser a pessoa que o ajudaria a
suportar essa dor, assim como ele foi para mim.
— Não precisa segurar… Chora. — Sussurro o puxando para mim.
— Não tenho esse direito, se eu tivesse ficado ao seu lado… Ficado aqui, ela não teria
entrado naquele táxi… Não teriam batido nela… — Minha mão que antes estava se
movimentando em seu cabelo, para de se mover e meu coração dispara.
— Ela… Não mo…morreu no parto? — Não sabia se deveria perguntar ou não, mas eu
precisava saber.
— Não… Um carro atirou nos pneus do táxi o fazendo bater contra um poste… — Ele
engole a seco e eu faço o mesmo. — Ela estava praticamente tendo a Manu, o taxista relatou que
ela tirou o cinto de segurança por senti que já estava na hora… — Ele se levanta da cama e
começa a andar de um lado para o outro. — Não sei como nossa filha sobreviveu… — Vejo o
brilho de uma lágrima escorrendo por seu rosto. — Quando a ambulância chegou, Emanuelle já
tinha nascido, Amber a segurava com todo cuidado para que ela não tivesse contato com nenhum
vidro… Mas, devido a complicação que ela já teve na gestação e o impacto da batida, ela teve
uma hemorragia…
— Eu.. eu.. — Tento falar mas meus olhos ardem derramando lágrimas e as palavras me
faltam. A meses, Luke carregava uma culpa nas costas, uma culpa a qual ele não tinha.
Todo sonho vira um pesadelo.
Meu sonho, não passava de uma farsa prestes a se tornar pesadelo.
Eu era a culpada. Aaron tinha razão em me culpar. Se eu não tivesse pulado aquela
janela, Bryan não teria roubado um carro e atirado em um táxi. De forma indireta, eu havia
matado a esposa do homem que estava apaixonada e não tinha coragem de revelar isso a ele.
Meu pesadelo particular tinha acabado de começar e eu não fazia ideia de como acordar.
Falar sobre quem morreu, torna a partida ainda mais real.
Amber estava morta… Eu tinha que aceitar, era difícil, uma pessoa tão jovem partir de
modo tão trágico. Mas, essa era a realidade.
A realidade doía, ela machucava e não tinha cura. O tempo mascarava, nem ele poderia
curá-la.
Pâmela havia me abraçado, e chorou junto as minhas lágrimas. Nenhum de nós dois disse
mais nada, eu não tinha o que dizer e ela respeitou isso. A noite passou e ela adormeceu, não tive
coragem de me mexer. Não estava com sono, mas precisava dormir, o tão esperado treinamento
havia chego e minha mente teria que estar totalmente voltada a ganhar a aposta desse ano, ou
seria motivo de chacota para Emory o ano todo.

Não sei quando dormir, mas sei o exato momento que me despertei. Meus braços ficaram
vazio outras vez, passei a mão pela cama e ela não estava lá, me virei para o lado a tempo de a
ver entrando no banheiro, até pensei em ir me juntar a ela, mesmo não entendendo a necessidade
absurda de Pâmela com seus banhos, já havia reparado, sempre que acordava tomava um banho e
a cada dois dias o primeiro banho era o que ela lavava o cabelo, se fossemos sair, outro banho,
assim como ao chegarmos e sempre antes de deitar tomava o seu último banho.
Não que nós, estadunidenses não tivessem o costume com os banhos, garanto que os
europeus quem tinham esse problema, mas um banho após chegarmos do trabalho já bastava, não
segundo a brasileira que tinha minha casa como lar.
Me levanto da cama pegando o meu relógio e vendo que faltam pouco para às sete, deixo
o mesmo onde estava e ando até o banheiro, vendo minha garota em frente a pia escovando os
dentes.
— Bom dia, meu amor. — Digo com a voz um pouco mais rouca que o normal pela noite
mal dormida.
— Romria. — Ela diz com a escova na boca, impossibilitando de ser compreendida.
— Acho que você precisa de uma fonoaudióloga. — Dou risada a abraçando por trás e
beijando seu pescoço. — O que acha de um rápido banho? — Beijo novamente, vendo seu corpo
se arrepiar por inteiro.
— Humm… — Ela cospe na pia. — Você vai se atrasar, não quero ser motivo de
zombaria. — Ela dá um sorriso.
— Prometo que serei rápido…
— Emory disse para eu te atrasar, quer mesmo que eu apoie o inimigo? — Ela se vira
para mim, se sentando na pia.
— Ela é uma peste… — Murmuro tirando a camiseta dela, fazendo com que seus
mamilos fiquem à mostra.
— Mas, vou te dar um incentivo para ganhar. — Ela olha nos meus olhos pela primeira
vez e vejo que falta algo em seu olhar. — Se você ganhar… Hoje deixo você me prender e fazer
o que quiser com o meu corpo.
— Isso que eu chamo de incentivo. — Passo a língua pelos lábios, desejando tomar seus
seios com minha boca.
— Então vá tomar seu banho. — Ela diz descendo da pia e pegando sua camisa para
vestir. — Já pegou sua farda? — Ela pergunta, voltando para a pia enquanto eu retiro minha
cueca e ando para o box.
— Ainda não, pode pegar lá para mim? Está no closet, cuecas eu tenho aqui. — Ligo o
chuveiro deixando a água gelada cair por meu corpo, me arrependendo de não ter deixado a
mesma esquentar.
— No seu quarto?
— Aram. Tem algum problema?

Eu estava parada na porta do quarto dele.


Nunca tinha entrado no quarto, quem sempre limpava era a diarista.
Nunca havíamos dormido em seu quarto ou tomado banho nele. Esse era o quarto deles, o
quarto do casal feliz a qual eu arruinei.
Isso estava me consumindo, precisava contar a verdade para ele, mas até o dia do
treinamento acabar, teria que manter um sorriso no rosto e fingir que nada aconteceu.
— É só um quarto, pode entrar. — Ouço a voz de Emma logo atrás de mim.
— É, eu sei… — Me viro para ela sorrindo fraco.
— Quer que entre e pegue o que tem que pegar? — Ela pergunta e eu concordo. — Está
bem, ele precisa da farda, né?
— Como você sabe? — Ela ri e eu me lembro de Jordan.
Emma passa por mim e abre a porta do dormitório, evito olhar para dentro, mas quando
ela acende a luz, meu olho percorre por todo o quarto.
Tinha uma cama enorme grudada à parede, ao lado podia ver os criados mudos, de um
lado com um abajur e do outro uma foto, não precisava ser nenhum gênio para saber que era
Luke e Amber na foto.
O quarto não era denso, mas carregava um toque feminono nele, um toque dela.
Ele era dela.
Ele não era meu.
A casa que queria que fosse o meu lar, não era minha, era dela. Tudo dela.
— Aqui está! — Emma me entrega o uniforme de Luke em um cabide para que não
amasse.
— Obrigada. — Digo já me virando para subir ao meu quarto.
— Pâmela?
— Diga. — Me viro.
— Ele ama você, não precisa ficar insegura… — Ela diz e se vira indo em direção ao
quarto de Manu, provavelmente para acordar a sobrinha antes do tempo.
Fico parada um tempo na ponta da escada, sem entender muito o que ela acabou de dizer.
Como ela poderia dizer algo desse modo para mim? Será que seu irmão havia dito algo?
Estava tão na cara o meu ciúmes? Eu não tinha o porque ter ciúmes… Eu estava sendo cruel e
imatura.
Mas, se ela não tivesse morrido… eu não estaria aqui. Eu tive parte de culpa em sua
morte. Se… essa palavra mudaria tudo em nossas vidas.
— Aguenta essa língua só algumas horas… — Sussurro para mim mesma enquanto subo
as escadas para meu quarto.
Entro no mesmo e posso sentir o cheiro de Luke predominando o ambiente.
Não era perfume ou loção, era seu cheiro.
Um cheiro natural, aconchegante e viciante.
— Conseguiu encontrar? — Pergunta enquanto arruma o cabelo em frente ao espelho,
usando apenas uma toalha em sua cintura.
Ainda era possível ver gotículas de água escorrendo por toda suas costas, o tornando
ainda mais sexy. Eu sabia muito bem o que estava escondido debaixo dessa toalha, eu desejava
tanto o corpo por debaixo, como a alma do dono.
Eu o queria, o amava, e em poucas horas, estaria longe de sua vida para sempre, eu iria o
perder. Por mais que minha mente ignorasse, meu coração sentia.
Eu não estava preparada para isso.
Quando me disseram que o amor doía, pensei que era mentira. Procurei essa dor em
vários lugares, mas nunca encontrei, apenas confirmando que era mentira.
Mas hoje, eu sabia.
O amor não só doía, como me destruiria. Não conseguia imaginar uma vida sem Luke e
Manu. Eu não estava preparada para a despedida…
— Pâmela? — Ele está na minha frente.
Meus olhos ardem e minha garganta trava, eu não conseguia falar e só desejava chorar.
Um sentimento de incapacidade, uma vontade absurda de contar toda a verdade para ele e
declarar todo o meu amor a ele, mas… Isso só iria antecipar a minha partida.
Como doía.
— Está tudo bem, meu amor? — Concordo com a cabeça, sendo abraçada por ele. —
Então por que chora?
— Eu.. eu.. — Fecho os olhos para mentir para ele. — Acho que estou de TPM. — Forço
uma risada, enxugando minhas lágrimas.
— Está com dor? — Concordo com a cabeça. — Por que não descansa? Peço para Daph
ficar com Manu.
— Não! Eu quero ficar com a Manu, vou me sentir melhor com ela…
— Tem certeza? — Concordo com a cabeça e ele sela nossos lábios. — Vou me trocar
então.
Entrego a farda para ele com um fraco sorriso nos lábios, enquanto observo cada
movimento dele. Como se estivesse gravando a cena em minha memória.
— Já estou ficando atrasado… — Diz para si mesmo e então me levanto, pegando o sua
gravata e o entregando.
— Deixa eu arrumar para você. — Sussurro me posicionando à sua frente e começando a
doar o nó.
A cada dobrada, eu olhava em seus olhos e via o brilho. O mesmo brilho que demorou
para aparecer, junto a um sorriso verdadeiro e uma risada sincera. Luke demorou seis meses para
se permitir sorrir novamente, não poderia tirar isso dele novamente.
— Você está maravilhoso. — Digo o abraçando, depois de arrumar sua gravata.
— Desse jeito vou ter que pedir para mandar outro em meu lugar e ficar aqui. — Suas
mãos deslizam por meus cachos.
— Nem pensar, pode ir e acabar com a Emory! Faça ela te pagar cerveja, Lau já me disse
que a aposta está grande. — Dou uma risada, me afastando dele e pegando sua arma para o
entregar.
— Volto assim que o treinamento acabar. — Ele pega a arma a colocando na cintura e em
seguida me puxa para um beijo casto a qual me entreguei, como se fosse o último. — Preciso
ir…
— Vou descer com você…
Ele sorri e eu não retribui. Pego em sua mão e saímos do quarto, indo diretamente para a
sala, onde Emma estava com Manu.
Luke vai até as meninas, dando um beijo na testa de cada uma e dizendo que as amam.
— Não esquece de trancar a porta antes de sair. — Diz para a irmã.
— E você, seja um covarde! — Ela diz em resposta.
Ele caminha até a porta, e eu o acompanho.
Meus olhos vão aos dele como da primeira vez que nos conhecemos.
Meus lábios se grudam aos dele, em um beijo voraz, como se minha língua estivesse
decorando cada centímetro da sua. Mas, não era um beijo quente, era um beijo saudoso, como se
fosse o último.
Pois seria o último.
Ali, em frente a porta, demos nosso último beijo.
Ele ainda não sabia, eu já sentia.
— Te vejo de mais tarde, amor.
— Tome cuidado, major…
Ele se foi me venerando e voltaria me odiando.
Hoje era dia D.
Dia de treinamento. Dia de acabar com Emory e sair mais um ano como a equipe
vencedora.
Normalmente, eu estaria animado com isso, desde que entrei para a polícia, esses
treinamentos eram como o nosso parque de diversão. Tudo era planejado com muita cautela,
simulado em lugares diferentes com situações a qual jamais havíamos visto, para nos
preparamos.
Mas, esse ano estava sendo diferente. Não me sentia tão animado, algo estava me
incomodando e não sabia decifrar o que era. O que foi diferente nos últimos meses? Poderia
acreditar que eu já não sou mais o mesmo.
— Bom dia, O’Brien. — A voz do capitão Bartlett me chama atenção. — Chegou uma
pacote para você, está na sua mesa.
— Bom dia, obrigado, sargento. Sabe o que é? — Pergunto, subindo as escadas.
— Não. Mas foi a senhorita Albuquerque que mandou. — Um sorriso começa a surgir
em meus lábios.
— Vou ver do que se trata!
— Nada disso, O’Brien. Para a viatura, agora. — Aaron diz descendo as escadas junto
com os detetives e policiais do meu departamento.
— Sim, sargento. — Falo descendo as escadas, mesmo sendo contra a minha vontade, já
que queria saber sobre o que se tratava o pacote.

Já estávamos todos no local do treinamento, havíamos passado por três tipos de treino
diferentes e agora seria o momento, a cada ano era uma surpresa diferente, ano passado tivemos
que lidar com uma simulação de um atentado em um colégio, por mais que fosse apenas
simulações, mexiam com nossa cabeça, pois era algo que aconteciam constantemente em
diversos lugares.
Estávamos todos em uma oficina aeronáutica, onde teríamos um avião desabilitado para o
treinamento e logo após seria descartado. Todos se encontravam em volta de Aaron, enquanto a
alguns metros, podíamos ver o Tenente oficial e o Capitão, ambos avaliam o desempenho das
equipe e direcionam se todos deveriam continuar ou não, incluindo o nosso sargento, não
tínhamos espaço para erros.
— Tem 7 agentes disfarçados de atiradores, eles estão com uma indicação em suas
roupas. Mas, também terá os passageiros, então atentos ou vocês estão fodidos comigo depois.
— Ele olhou para cada um de nós seis, incluindo Lewis, já que ele e Santana eram nomes com
grande potencial para se tornarem detetives. — Vocês são apenas seis, então se virem para se
livrar de todos. O tempo limite é de 10 minutos, mas vão fazer em menos de 7 minutos e 54
segundos. Que foi o tempo do distrito 89. Existem duas entradas indicadas pelo mapa, se virem
para achar uma terceira.
— O esgoto. — Jordan diz, apontando na planta do avião. — Tem uma grande caixa de
esgoto no banheiro, podemos abrir uma entrada por lá, fica afastado da cabine do piloto, onde
provavelmente terá alguém e os outros estão espalhados entre os corredores e as duas entradas…
Ninguém vai estar vigiando o banheiro.
— Façam como quiserem. Vocês têm três minutos para se alinharem. — Ele entrega a
planta para Laurence. — Se me envergonharem, digam adeus ao distintivo de vocês.
Ele se afasta e Emory se vira olhando para mim com um sorriso diabólico no rosto. Eu
sabia o que ela queria dizer e gostava.
— Eu, Oliver e Lewis somos uma equipe, vocês três outra, quem derrubar mais, ganha.
— Ela pisca enquanto entrega as armas de paintball para sua equipe.
— Beleza. — Falo fazendo o mesmo. — Laurence e eu ficamos com a primeira entrada,
que é a de acesso de bagagem pelo chão, Jordan entra pelo banheiro. Emory é boa com escalada,
então se livra de quem estiver na cabine. Oliver e Lewis ficam na segunda entrada, tem bastante
espaço por baixo, já que é usado para carregar objetos de portes grandes. — Vou delegando as
tarefas enquanto cada um vai pegando os equipamentos necessários. — Temos um recorde a
bater, e particularmente não estou a fim de perder meu distintivo. — Todos concordam e
colocam seus óculos de proteção e a escuta em seus ouvidos, já estamos vestidos com os coletes
a prova de bala.
— Que a melhor equipe tenha as bebidas de hoje paga. — Oliver diz piscando para
Emory.
— CINCO. — O tenente começa a contar e saímos correndo em direção ao avião. —
QUATRO. — Chego embaixo da entrada um, que seria pela parte inferior do avião. — TRÊS. —
Olho para Laurence que abre um sorriso. — DOIS. — Meu olhar vai para cima já me
preparando para desparafusar o avião. — VALENDO.
Rapidamente, Laurence e eu começamos a tirar os parafusos da portinha de acesso, ao
total eram seis e em menos 30 segundos todos estavam no chão, assim como as ferramentas. Dei
apoio para que ela pudesse entrar primeiro e em seguida ela me puxa para cima, fazendo com
que ambos estivessem dentro da aeronave.
— Dentro. — Sussurro na escuta.
— Aqui também. — Lewis diz.
— Falta pouco… — Jordan anuncia.
Eu me encontrava praticamente abaixado, devido a altura do compartimento, Laurence
passava a mão por todo o “teto” até achar a porta de saída.
— Tem um explosivo grudado na saída. — Ouço a voz de Oliver pela escuta.
— Aqui também. — A italiana anuncia após abrir o mínimo da porta.
— Alicate. — Anúncio me aproximando dela, retirando o mesmo do meu cinturão. — Eu
corto e você atira. — Olho para ela que concorda, posicionando a arma.
De modo lento e minucioso, levando a porta e passo a ponta do alicate em direção ao fio
de aço, pressiono o mesmo até ouvir o “click” dele se rompendo, olho para minha parceira que
concorda com a cabeça.
— Menos um. — Oliver anuncia e eu abro a porta com tudo, sendo seguido por um
disparo da loira em direção ao agente vestido de atirador.
— Menos dois. — Ela quem diz indo para a parte de cima do avião, faço o mesmo e
começo a analisar o perímetro.
Estávamos na pequena cozinha do avião, ali não se encontrava mais nenhum atirador e
atrás da cortina, estaríamos no corredor da primeira classe.
— Cabine do piloto, livre. — Emory diz. — Já já me encontro com vocês.
— Indo para primeira classe. — Jordan anuncia e abro a cortina.
Há dois homens, um virado em minha direção e outro para a entrada oposta. Antes que
ele pudesse levantar a arma em minha direção, miro em seu peito, disparando contra ele, posso
ouvir outro disparo, quando levanto o olhar é Jordan acertado o segundo atirador.
— Aqui foi mais um. — Lewis anuncia.
— Já foram seis, falta apenas um. — Laurence diz enquanto começa a andar em direção a
classe econômica, sendo seguida por mim e Jordan.
— Ele só pode estar com… — Emory diz chegando a classe econômica e um dos
comissários de bordo se levanta, tirando a arma do casaco para sua direção.
Naquele momento, imaginei que já teríamos nos ferrado, haviam duas pessoas na minha
frente. Mas, sou surpreendido com Laurence agindo de forma rápida e dando três disparos nas
costas do criminoso.
— Muito bem pessoal. — Ouço a voz do capitão. — Distrito 53 estabeleceu um novo
recorde de 6 minutos e 28 segundos.

Demoramos menos de duas horas para chegarmos ao estacionamento do departamento


53, o caminho todo viemos ouvindo Aaron nos xingando através do rádio, devido a falha e
Emory por pouco não ter sido acertada por um dos agentes.
— Apesar de quase termos deixado minha filha sem mãe, fizemos um bom trabalho. —
Morgan disse, soltando seu cabelo.
— O que importa, é que depois dos relatórios vocês bancam a minha cerveja. — Jordan
dá risada, afrouxando a gravata enquanto subimos as escadas.
— Como não sou eu quem vou pagar, vou chamar até Pâmela. Daph vai ficar com Manu
mesmo. — Coloquei minha digital no leitor para abrir o portão. — Você deveria chamar sua
namorada, Jordan. Ou está com medo de apresentar a loira pra nós?
— Loira? — Ele pergunta, assustado.
— É, Wees falou que você estava com uma loira na boate. Acabei não conhecendo ela.
— Vou andando até minha mesa.
— Escondendo as coisas de nós? — Oliver pergunta, mas não me atento a resposta.
Tinha me esquecido da caixa de Pâmela, então ao me sentar, comecei a abrir a mesma
que estava leve, como se não houvesse nada dentro dela, não sei o porquê, mas sinto um certo
incômodo enquanto vou abrindo a mesma. Logo percebi que tinha apenas um pen drive e com
ele um pedaço de papel escrito “Bom filme - B.M”. Não era a letra da Pâmela, nem sequer a
assinatura dela.
— Pessoal, venham aqui. — Eles me ignoram e continuam falando. — CALEM A
BOCA E VENHAM AQUI. — Grito chamando a atenção deles enquanto conecto o pendrive no
meu notebook.
— O que foi? — Laurence pergunta.
— Recebi esse pen drive em nome da Pâmela, mas essa não é a letra dela. — Entrego o
bilhete para ela e vou abrindo a pasta onde está escrito “O beijo da babá”
— Estranho…
— Vamos ver isso logo. — Oliver quem diz, apertando o play enquanto eu vou pegando
o meu celular.
Disco o número da Pâmela, e começa a chamar, mas ela não atende, vai direto para a
caixa postal.
Tento ligar novamente e então ergo a cabeça em direção a tela do notebook, vendo uma
gravação. Na hora meu corpo se gela e deixo o meu celular cair.
“— Alô? — Um silêncio. — Acho que você deve ter ligado errado…”
Era a Pâmela, sendo gravada no telefone enquanto estava sentada no sofá da minha casa,
na sala, logo reconheci o dia. Foi logo após eu chegar do bar, no dia em que nos beijamos pela
primeira vez.
— Puta merda. — Emory quem diz.
— Alguém liga para Santanta. — Jordan diz, indo até sua mesa.
— Ele não atende a nenhum chamado. — Oliver diz, desligando o celular.
— Tem mais coisas. — Laurence acelera o vídeo e começa a passar diversos dias, todas
são gravações de Pâmela, o dia do Natal, ela fazendo compras, no shopping e vários outros
momentos dela e de Manu juntas.
Não precisava ser nenhum detetive, até mesmo um adolescente saberia quem havia
enviado esse pendrive e feito essas gravações.
— B. M… — Falo tendo a atenção de todos para mim. — Bryan Mitte.
Era difícil pensar que daria adeus a essa casa.
A mesma casa que passou a ser minha morada nos últimos 5 meses, que mais pareciam
anos.
Não sentaria mais a frente de Emma e ficaríamos discutindo coisas fúteis, não passaria
horas vendo ela performar Taylor Swift e muito menos iríamos brigar para saber qual vampiro é
o melhor. Eram tantas recordações que levaria para a minha volta ao Brasil, que tenho até medo
de não saber lidar com elas.
— Então, o que acha? — Emma pergunta enquanto coloca mais fruta na frente de Manu.
— Sobre o que mesmo? — Pergunto levando minha caneca aos lábios.
— Você não ouviu nada do que te falei? — Concordo com a cabeça segurando a risada e
ela bufa. — Não tenho tempo de repetir, mas é sobre a festa de um ano da Manu! — Ela se
levanta guardando o celular na bolsa. — Obviamente vai ser alguns dias depois do aniversário
em si, mas vamos fazer. Precisamos começar a nos organizar, então vou marcar um dia para que
a Daph venha aqui e começamos a organizar.
Engulo a seco abrindo um sorriso para me mostrar ansiosa com a comemoração.
— O que seu irmão disse sobre?
— Ele só vai pagar! — Ela riu dando um beijo na bochecha da sobrinha e depois
começou a andar. — Até mais tarde!
— Emma? — A chamo e ela para na entrada da cozinha e eu me levanto indo até ela e a
abraçando. — Muito obrigada por ter me escolhido, você não faz ideia de como mudou a minha.
Ela é pega desprevenida, mas não pensa muito antes de retribuir o meu abraço, suspirei
fundo tentando controlar as lágrimas que queriam escorrer.
— Ok, hoje assistiremos crepúsculo com pipoca e sua coca-cola. Não aceite fazer nada
com o meu irmão, combinado? — Ela se afasta piscando diversas vezes para não chorar. —
Agora preciso ir… — Concordo com a cabeça e ela se afasta novamente, mas para e volta a olhar
para mim. — Ella, obrigada você por ter aceitado ser nossa au pair, e acabar fazendo um papel
além da sua obrigação… Você trouxe alegria para nossas vidas.
Ela pisca e sai.
E eu fico ali, com o coração aquecido e partido, sabendo que ela seria apenas umas das
pessoas a qual eu machucaria quando contasse a verdade.
— Espero que um dia, vocês possam me perdoar… — Falo baixo me virando para Manu,
que estava com um morango na mão, rindo de tudo. — Seria tão mais fácil se todos rissem como
você, minha pequena.
Ando até ela a tirando de sua cadeira de alimentação, e aproveito para pegar seu pratinho
com frutas para levar até meu quarto.
— Vamos, hoje você vai me ajudar fazer minhas malas enquanto conversamos sobre a
melhor banda de todas e porque a One Direction! — Dou um beijo em sua bochecha

Já havia fechado uma mala, com a maioria das minhas roupas. Ainda faltava guardar
meus produtos e decorações que estavam espalhadas pelo quarto, não queria deixar nada para
trás, não sabia como seria a reação de Luke, então tinha que estar com tudo preparado caso ele
me quisesse ainda hoje fora de sua casa.
— Acho que deveríamos fazer um último jantar, assim seu papai fica feliz quando
chegar. — Me viro para Manu que está sentada em minha cama com meu celular na boca. —
Vamos pedir para o tio Santana nos levar ao mercado? — A garota solta o meu celular e começa
a bater palma resmungando, ela amava ir ao mercado. — Ótimo, vou mandar mensagem para ele
e nós vamos!
Me sento na cama pegando o celular babado e o limpando em minha própria roupa, entro
diretamente na conversa com o Javier e começo a digitar.

Eu: SANTANINHAAAA! 13:44


Eu: Vamos ao mercado? 13:44
Eu: Preciso comprar algumas coisa para o jantar de hoje 13:45

Envio a mensagem e começo a prender o meu cabelo em um coque. Não iria trocar meu
pijama, já estava acostumada a fazer coisas do cotidiano de pijama mesmo, quando me mudei
para USA, achava totalmente estranho esse costume, mas agora sempre ia ao mercado de pijama,
apenas vestia um sobretudo por cima, devido ao inverno de Texas, que por sinal estava chegando
ao fim.
— Vamos descer, meu amor? — Perguntei vendo ela esticar os braços em minha direção,
dou risada a pegando em meus braços mais uma vez e olhando o meu celular.
Santana e Lewis sempre respondiam as mensagens no mesmo instante, mas hoje, estaria
apenas Santana devido ao treinamento do departamento. Ano passado foi a vez de Javier, então
esse ano seu parceiro quem foi. Até falei para ele ficar aqui dentro, comigo e Manu, mas negou
dizendo que ficaria na viatura. Percebo que ele não respondeu a mensagem, então ando com
Manu até a janela do meu quarto e avisto a viatura ao outro lado da rua, como eles sempre
paravam.
Balanço a cabeça dando risada, imaginando o que tanto teria para fazer dentro de uma
viatura o dia todo. Sabia que ele e o amigo sempre ficavam jogando cartas, mas e hoje? Será que
ele era do tipo que estaria lendo algum romance ou assistindo uma partida de futebol?
— Vamos descobrir o que o titio está fazendo! — Falo para Emanuelle enquanto deixo o
meu celular sobre a cama.
Abro a porta de meu quarto e um arrepio percorre pelo meu corpo, uma sensação ruim,
como se meu lugar fosse naquele quarto e não devesse sair dele.
— É, vou sentir falta desse quarto. — Digo e Manu começa a chorar. — Oh, minha
princesa, não precisa chorar. Vamos falar da sua festa? Tenho certeza que seu aniversário de um
ano será a coisa mais linda desse mundo. Tenho certeza que sua tia vai inventar de fazer de
enrolados, mas você prefere Frozen, não é? — Olho para ela, que faz um bico enquanto
descemos as escadas. — Você pode se vestir de Elsa, quem sabe vocês não convencem o papai a
ser o Olaf?
Chego à beira da escada sentindo o meu corpo inteiro gelar.
Minha garganta se seca e se não fosse por Manu em meus braços, eu provavelmente
cairia naquele último degrau.
— Olá, amor.
— Bryan… O que está fazendo aqui? — Pergunto sentindo minhas mãos tremerem
enquanto o observo sentado em uma cadeira de frente para a escada.
Em sua mão havia uma faca, manchada de vermelho, que deduzo ser sangue… E apoiado
em sua perna, posso ver uma arma preta. Meus olhos ardem, só em recordar o dia a qual vi uma
arma pela primeira vez, que por ironia do destino, era Bryan que a segurava e usou essa mesma
arma para tentar me matar a luz do dia.
— Eu senti sua falta, não sentiu a minha? — Diz ele com uma voz doce e dá um sorriso
sem mostrar os dentes. — O que, amor, não precisa chorar! Eu estou aqui agora.
Ele se levanta e eu subo um degrau apertando Manu em meus braços.
Isso não poderia estar acontecendo, em todos os meus pesadelos, nunca havia cogitado
algo como isso, Mitte não podia estar aqui, eu tinha que acordar desse pesadelo, eu só poderia
estar dormindo.
— Por favor… Vai embora. — Peço a ele enquanto subo a escada lentamente de costa.
— Nem mais um passo. — Sua voz muda, para a mesma a qual ouvi quando ele ameaçou
o pai de Adele e eu paro de me mexer quando aponta a arma para as costas da Manu. — Ou eu
mato ela.
O medo me toma.
Não tinha medo de morrer, estranho, não sabia quando havia perdido esse medo. Mas, só
de imaginar uma vida onde Emanuelle não estivesse, me apavorava. Não conseguia me imaginar
em um mundo sem essa menina.
Eu daria a minha vida pela dela, faria de tudo para a ver sã e salva, não importava as
decisões a qual iria precisar tomar.
— Está bem… — Falo descendo um degrau. — Guarda essa arma… Por favor. — Peço
e ele abre um sorriso novamente.
— Claro, meu amor. — Coloca a arma na cintura, mas continua segurando a faca. — O
que acha de fazer um almoço para nós? Temos muito o que conversar, não acha?
Era incrível como sua expressão mudava assim como sua voz, era como se existisse dois
dele e eu não sabia qual eu mais temia.
Estávamos na cozinha a menos de 10 minutos.
Eu preparava os sanduíches com as mãos trêmulas, sem ao menos conseguir segurar a
faca para passar a pasta de amendoim ao pão.
Bryan havia me obrigado a colocar Emanuelle na cadeirinha, com lágrimas no olhos e um
sorriso forçado, fiz o que ele exigiu e corri começar a preparar os sanduíches dele, o olhando
pelo reflexo da janela de vidro, ele oferecia frutas a garota, que se recusava a comer e por dentro,
eu apenas orava para que ela comesse e desse um sorriso, tinha medo do que ele seria capaz caso
fosse contrariado por uma bebê.
— Seus sanduíches estão prontos. — Falo colocando três sanduíches em um prato e indo
até a mesa, o entregando.
— Pega algo para mim beber, amor? — Mordo meus lábios indo até a geladeira e
pegando uma lata de coca-cola e o entregando, sem abrir ou pegar um copo.
— Agora eu preciso ir colocar a Manu para dormir, está dando o horário da soneca
dela… — Minto, Manu só dormia por volta das quatro da tarde.
Vejo em seu olhar que ele não gostou. Seu sanduíche é largado sobre o prato e ele se
levanta rapidamente, vindo em minha direção e colocando a mão em meu cabelo, o puxando com
força.
— VAI MENTI PRA MIM, VAGABUNDA? — Ele grita me fazendo chorar e Manu se
assusta, chorando junto.
— Bry..Bryan. — Tento não gaguejar. — Você está me..me machucando. — Fechos os
olhos sentindo as lágrimas escorrerem.
— Me desculpe, amor. — Ele solta o meu cabelo e me abraça. — Fica calma, tá? Não
vou machucar você.
Eu estava vivendo um inferno e não sabia o que poderia fazer para reagir.
Se eu tentasse fugir, não colocaria apenas a minha vida em risco e sim a de Emanuelle.
Teria que dar a ele o que ele queria, uma Pâmela apaixonada, por mais que sorrir fosse a
coisa mais dolorida a se fazer nesse momento.
— Está bem… Vem, vamos comer. — Me afasto dele, sentindo meus lábios tremerem ao
sorrir.
A farsa teria que começar até Luke chegar.

Esse dia parecia não passar.


Não consegui subir até o meu quarto, e nem sequer pegar o telefone da casa.
Bryan parecia ter pensado em tudo, desde trazer as coisas de Manu para sala, até as
fechaduras da porta de entrada.
Emanuelle estava dormindo em seu carrinho a uns 20 minutos. Tinha dado seu leite e fiz
de tudo para que ela dormisse, não conseguiria pensar em algo como ela sorrindo para Mitte.
Estávamos na sala, assistindo o filme Gente Grande, Bryan ria como se assistisse o filme pela
primeira vez, era como se ele realmente acreditasse nesse teatro de família feliz. Eu nem sequer
conseguia prestar atenção, meu corpo apenas estava rejeitando sua presença, sentia vontade de
vomitar a todo momento que ele me chama de “amor”, meu corpo doía a cada toque que ele me
dava, sua presença me causava náuseas.
— Olha, amor. — Me viro para ele. — Ela dormiu. — Ele sorri. — Agora, você é toda
minha…
Me falta o ar.
Meu coração errou a batida.
Um desespero toma meu corpo, fazendo com que ele se enrijeça.
— O..qu..que? — Gaguejo.
— Estou com saudade de te ter… — Ele beija minha bochecha e eu me levanto.
— Amor, deixa eu apenas colocar ela no berço… Ela…Ela pode acordar. — Falo já
pegando Manu no colo.
— Você tem razão, vamos lá.
Naquele momento, eu me sentia a pior pessoa do mundo pelo o que eu iria fazer.
Fecho os meus olhos e belisco com tudo a perninha de Manu, a fazendo acordar
chorando.
Meu corpo se despedaça, não consigo segurar as lágrimas que escorrem por eu ter a
machucado.
— AAAAAA. — Ele retira a arma da cintura e começa a bater em sua cabeça com a
mesma. — Faz ela calar a boca. AGORA.
Começo a ninar a bebê rapidamente.
— Calma, princesinha da tia… — Balanço ela de um lado para o outro. — Vou só
colocar ela no berço, fica aqui me esperando e eu serei toda sua… Ok?
Olho para ele que concorda, ainda batendo o cano do revólver na cabeça.
Eu não podia vacilar, precisava colocar Manu em segurança antes de tentar qualquer
coisa, então subi diretamente para o quarto dela, enquanto massageava o local do beliscão.
— Me perdoa, meu amor. Eu prometo que foi para o seu próprio bem. — Sussurro
entrando no quarto e a levando para o berço.
Entrego a chupeta em sua boca e coloco seu mordedor ao redor dela no berço.
Rapidamente ligo a babá eletrônica, para poder a observar lá de baixo.
— Eu vou deixar você aqui sozinha… — Olho ao redor procurando algo para forrar o
chão. — Não tente sair do berço, fica brincando deitadinha… — Pego vários cobertores de seu
closet e o jogo no chão ao lado do berço. — Eu amo você. — Sussurro para ela enquanto ligo o
mobile para distraí-la.
Saio do quarto com a chave na mão e o tranco, penso em um lugar para que eu possa
esconder a chave e então vejo o quarto de Emma aberto, sem pensar duas vezes jogo a chave
para dentro dele, ouvindo os passos de Bryan pela escada.
— Por que está demorando? — Ele aparece no início do corredor e eu começo a andar até
ele.
— Já estava indo. — Engulo em seco, me aproximando dele. — Querido?
— Hum. — Olho para ele enquanto desço a escada
— Como você entrou aqui? — Paro de costas para a cadeira que ele havia sentado e
deixado sua faca.
— Sua chefe tem mania de deixar a porta aberta, né? — Ele ri, e eu fico ainda mais
apavorada, como ele sabia disso? — Eu venho observando vocês a tempo, quero só ver como o
detetive vai se sentir ao saber que por causa da irmãzinha eu estou dentro da casa dele.
Levo minhas mãos para trás tentando alcançar a faca, mas ele vira para mim rapidamente
e eu levanto a mão para meu cabelo.
— Quer saber do meu plano?
— Que..quero.
— Mandei entregar um presente para ele em seu nome, fiz um filme do beijo de vocês,
sabia? — Sem ao menos ter a minha resposta, ele volta a falar como se estivesse contando uma
piada. — Ele vai saber de tudo, que você me ajudou a matar a esposa dele…
— ISSO É MENTIRA. — Grito e ele gargalha, me ignorando.
— Enfim, ele também vai saber do acordo que você fez de mentir para ele e por fim,
saber que estou aqui. Ele vai vir, pronto para te salvar…Mas, eu vou acabar com a vida dele bem
na sua frente. E você será minha novamente.
Ele quer matar o Luke.
Mais uma pessoa que poderia morrer por minha culpa.
Eu deveria ter ido embora quando tive oportunidade, deveria ter aceitado entrar no
programa de proteção. Todos estariam salvos e eu não carregaria mais uma morte em minhas
mãos.
— Você não..Não precisa matar ele. — Fecho os olhos tentando não demonstrar
sentimentos. — Podemos ir embora agora, só eu e você. Ninguém vai saber para onde vamos e
seremos felizes… — Ando para perto dele, dando um sorriso. — O que acha? Podemos ir para
qualquer lugar do mundo, conhecermos outros países, outros continentes. Você não queria ir para
Europa? Podemos ir. — Falo rapidamente. — O que acha? — Balanço a cabeça em
concordância.
Ele não responde, não com palavras.
Não deveria ter dito nada, podia ver o quão transtornado ele estava e minhas palavras
haviam o irritado ainda mais.
Seu olhar era fixo ao meu enquanto andava em minha direção, tento me afastar mas suas
mão vão ao meu coque, o puxando para perto dele.
— Está com medo que ele morra, né vadia? — Ele diz contra meu pescoço, fazendo meu
corpo se arrepiar com repúdio ao seu toque. — Aqui está ela… — Quando vou olhar para trás,
sinto o gelado da faca em meu pescoço. — Não tenho o costume de matar duas pessoas com a
mesma faca…
Posso sentir a pressão aumentar ao local, mas não sentia dor. Eu estava anestesiada pelo
medo.
— Mas hoje será um dia diferente. — Ele diz subindo a lâmina da faca para meu rosto,
onde faz um corte a qual só percebo quando vejo o sangue escorrendo.
Mais uma vez, ele conseguiu me marcar.
— Javier já se foi. — As palavras me faltam e meu olhos se enchem de sentimentos a
qual não consigo expressar. — Agora vai ser você. — Ele sorri mostrando a faca com o sangue a
qual ele faz questão de passar a língua. — E depois, ela. — Seu sorriso cresce e o meu desespero
aumenta.
— Por…favor, só me mata e deixa ela em paz. — Sussurro sentindo a ponta da faca
sendo pressionada contra minha clavícula.
— Metade do seu desejo, é uma ord… — Ele para de falar.
Três toques soam do telefone que estava no bolso de Bryan.
“Por favor Deus… Que seja qualquer pessoa, menos o Luke.”
Ele se afasta, pega o telefone da casa dando um sorriso ainda maior me mostrando o
visor escrito “Luke O’Brien”.
Não era um treinamento.
Não era um caso qualquer.
Era a minha família que corria risco e eu iria até o inferno para proteger aqueles que eu
amo.
Tinha tantas coisas se passando por minha cabeça, que não conseguia raciocinar direito.
Antes mesmo de sairmos do distrito, emitimos um sinal para as viaturas próximas irem
até minha casa, Santana não estava respondendo nenhum chamado e não demorou para termos
uma resposta, Javier Santana estava morto, a mais ou menos 6 horas.
Um dos meus, estava morto enquanto protegia a minha família e eu nem sequer podia me
dar tempo para lamentar. Mas, eu iria me vingar por ele, nem que isso seja a última coisa que eu
faça.
— Black 5314. — Aaron diz através do rádio. — Quero que todos prestem atenção. Já
mandei duas viaturas para isolar o quarteirão para quando chegarmos e tudo indica ter dois
adultos na casa e uma bebê. — Fechos os meus olhos, socando o painel do carro.
Minha filha corria risco mais uma vez.
Eu deveria ter ficado em casa.
Não deveria ter as deixado.
— O’Brien vai tentar o contato inicial. Ninguém se atreva acionar a sirene ou pisar na
calçada da casa dos O’Brien. — A voz do meu sargento é calma, mas sei que ele teme tanto
quanto eu. — Teremos três ambulância de prontidão, mas espero usar apenas o carro do IML.
Respiro fundo abrindo os olhos e vendo que Jordan já parou o carro em frente a minha
casa, do outro lado da rua. A viatura de Santana ainda está lá, e me pergunto como Bryan havia
conseguido…
Em poucos segundos outros carros param em volta de minha casa, formando uma meia
lua na rua. Meu sargento se aproxima com as mãos no colete a prova de balas, sendo seguido por
todo o meu esquadrão. Laurence é a única com um computador na mão e logo entendo o motivo,
é um drone para sobrevoar pela casa e ver se conseguimos capturar algo pelas janelas.
— É bem provável que ele queira falar apenas com você, Luke. — Aaron me olha. —
Você está preparado?
— Estou. — Falo pegando meu celular, discando o número do telefone de casa.
— Oliver, Jordan, estejam preparados caso precisemos invadir.
Os dois concordam e se afastam indo até o porta malas do carro de Oliver.
Emory se posiciona ao meu lado, me dando apoio e por fim clico para ligar, logo o
coloco no viva voz e antes do quarto toque, o telefone é atendido.
— Residência dos O’Brien, em que posso ajudar? Se desejar falar com Amber O’Brien,
terei que te matar também. Caso for falar com Emma O’Brien, a agradeça por mim.
Sua voz era carregada de desdém, fazendo piadas na intenção de tentar me ferir. E ele
conseguiu, apenas não poderia demonstrar isso a ele.
— Bryan?
— Bingo. Pensei que não iria saber, já que é a primeira vez que nos falamos. — Ele ri e
posso ouvir seus passos.
— O que você quer na minha casa?
— Calma, vamos por partes. Não acha que eu deveria te presentear? — Ouço um
gemido de dor vindo do fundo, e tenho certeza que é de Pâmela, Laurence apenas me confirma
mostrando pelo computador que ele está a puxando para o andar de cima, onde as janelas não
darão acesso ao drone.
Nesse momento, eu paraliso, o que ele vai fazer com ela?
Onde estava minha filha?
— Ainda está aí?
— Ele está sim, mas acho que é mais interessante você falar comigo. — Emory tomou o
celular de minha mão.
— E você seria quem?
— Aqui quem faz as perguntas sou eu. Ou se esqueceu que em todos os seus fracassos eu
estava lá? Aliás, acho que tem um espaço para você na mesma cela do Malcolm, o que acha?
— Humm, a loirinha você não é… Então só deve ser a detetive Emory. Que pena que é
uma mulher ou até conversaria com você. Passa para para o O’Brien ou desligo
Arranco o celular da mão de Emory.
— Onde está minha filha?
— A adorável Manu? Ela está dormindo ou era pra estar… Ela chorou tanto quando…
— Meu sangue sobe pelas veias.
— É MENTIRA, LU.. — Ouço a voz de Pâmela e em seguida o som de um tapa, sendo
seguido por um disparo e em seguida o telefone desliga.
Meu celular cai no chão e não penso duas vezes antes de correr em direção a minha casa.
— DAVIS, BROWN, AGORA. — O sargento autoriza o arrombamento da porta com o
[12]
ariete .
Eles empurram uma, duas e na terceira vez, a porta cai.
Em formação entramos dentro de casa.
Minhas garotas estavam em apuros e dessa vez o culpado não escaparia.
Pâmela
Foi tudo muito rápido.
Estávamos na sala, ele me obrigou a subir, colocando o cano da arma em minhas costas.
Ele quis mexer com a cabeça de Luke, foi mais forte que eu, eu gritei e apanhei, caindo no chão.
Mais uma vez ele me colou em frente a uma arma, ele iria atirar em mim. Ele atirou, mas
fui mais rápida e chutei sua mão, fazendo com que a arma caísse debaixo da minha cama.
— EU MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA. — Ele me dá outro tapa e eu me seguro na
minha cama.
Ele se abaixou para pegar a arma, e eu corri até a porta, a abrindo.
Um estrondo veio do andar de baixo, eu iria sair.
— Fecha a porta ou eu atiro em você… — Minhas mãos involuntariamente se levantam e
eu dou dois passos para trás, ele realmente iria atirar. — Fecha a porta. — Faço o que ele manda.
— Senta na cama e não faça nada.
— Dei..deixe e..eu fa..lar com ele… Ai vamos embora… — Tento falar mas ele me
ignora, indo até a janela e fechando a cortina. — Bryan… — Me levanto, tendo a arma mirada
para mim. — Já causamos dor de mais para essa família… Me deixe tentar um acordo…
Podemos fugir com o meu carro… Podemos, podemos ir para o México ou qualquer outro lugar.
— Vou me aproximando dele.
— NÃO, NÃO. — Ele bate na cabeça, fechando os olhos. — Você estragou tudo
novamente. — Ainda com a arma em minha direção, ele abre os olhos. — Eu tentei. Tentei ser
melhor para você. — Ele ri e meus olhos lacrimejam. — MAS VOCÊ TINHA QUE
ACORDAR. — O cano do revólver bate contra sua cabeça novamente. — Agora.. Agora eu vou
acabar com isso… E VOCÊ É A CULPADA. — Ele coloca a arma em sua boca.
— Bryan… Não faz is…
Minha voz some, no momento em que a porta é aberta.
Me viro para trás e tudo parece estar acontecendo em câmera lenta. Vejo Luke parado
com a arma apontada para Bryan, que me puxa para frente do seu corpo.
Nunca pensei em como iria morrer, mas pelo visto morreria nos braços de uma antiga
paixão, em frente ao meu grande amor.
Eu não era uma romântica, sonhadora.
Na verdade, sempre fui mais realista… Mas, tinha vivido duas grandes histórias de amor,
a primeira com um final trágico e a segunda se repetiria. Eu estava destinada a um final triste a
qual não estaria aqui para o assistir.
Meu olhar partiu para Bryan, que grita algo que não escuto, não queria que ele fosse a
última coisa que veria antes de morrer.
Então, me viro para Luke, o vendo com a arma apontada em nossa direção. Meus olhos
ardem em tristeza, pensando nos momentos a qual não viveríamos juntos. Meu coração se destrói
com a lembrança de nosso último beijo e minha boca lamenta, os inúmeros “eu te amo” que
jamais direi a ele.
Mas, eu sorri. O vendo pela última vez, me defendendo com sangue nos olhos, como
jamais alguém havia feito antes.
— Eu te am..
Não termino de falar, meu corpo se amolece ao momento que vejo uma bala indo em
direção a ele e outras duas vem em direção de Bryan, apenas sinto o meu corpo sendo jogado ao
chão.
Olho para o lado esquerdo e está Bryan, deitado em uma poça de sangue que começa a se
formar, ele está com os olhos abertos, tentando me chamar.
Me viro, olhando em direção a Luke, deitado no chão, com os olhos fechados. Sem força
para me levantar, me rastejo até ele.
— Luke… Luke, acorda. — Começo a balançar seu corpo, passo a mão por cima do seu
colete e a mesma sai manchada de vermelho. — SOCORROOO. ELE ESTÁ SANGRANDO. —
Grito para quem fosse que estivesse subindo. — Voc..Você não pode…Não va..vai fazer isso…
— Me deito sobre o seu peito, chorando. — Eu..eu te amo.. Você não po..de me deix…ar…
Eu não consigo mais falar nada, a voz me falta, assim como o sentido da vida.
Estava em dúvida, me questionando se havia desviado de uma bala ou perdido o grande
amor da minha vida.
Qual é o som do desespero?
Me perguntei sobre isso diversas vezes, e tinha chegado à conclusão que era o som de
uma arma disparando em sua direção. Mas, hoje eu sabia que não era esse o som.
O som do desespero, era o som da espera.
A espera de uma resposta.
A espera que aquela pessoa a qual amamos vá acordar.
A espera causava desespero, e sentada nessa cadeira de hospital, eu entendia o que era
desespero.
Foi tudo muito rápido. Oliver e Emory chegaram no quarto, pude ver o medo pela
primeira vez aos olhos de Emory e uma compaixão de Oliver a mim. Tentaram me afastar dele,
mas sentia que se soltasse sua mão, eu estaria o abandonado.
O caminho parecia ser eterno, a espera era aterrorizante. Não me deixaram o acompanhar
assim que chegamos ao hospital, fui forçada a me separar dele.
E agora, estava aqui.
Em uma sala de espera.
Ouvindo o silêncio, com medo de ter que lidar com a ausência de sua voz.
— Está demorando muito. — Emma quem diz se soltando dos braços do padrinho
enquanto chora. — Eu.. Eu… não posso perder o meu irmão também…. — Ela perde a força
mais uma vez.
Como eu iria olhar para ela a partir de agora?
Ela se sentia culpada por não ter trancado a porta, mas mal sabia ela que quem iria
carregar toda essa culpa era eu.
Jordan tentou a acalmar quando ela chegou, mas foi aos braços de seu padrinho que ela
desmoronou. Eu a entendia, era de um abraço familiar que ela precisava, eu só desejava o colo de
minha avó nesse momento.
Um médico se aproximou, fazendo todos os policiais se levantarem, meus olhos se
encheram de esperança para as notícias que ele vinha trazer.
— Boa noite, sargento. — Ele estende a mão para o sargento. — Me disseram que era
para informar o senhor sobre a situação de Bryan Mitte. — Não só eu, mas todos se sentem
frustrados por não ser notícias de Luke. — Infelizmente o senhor Mitte não resistiu. Ele estava
com uma alta quantidade de cocaína em seu organismo, com uma grande quantidade de sangue
perdido, seu caso agravou levando ele a ter uma parada cardíaca durante o procedimento.
É errado se sentir aliviada com a morte de alguém que cheguei a amar?
Eu não teria mais medo de sair a rua e me preocupar em ser perseguida. Não precisava
mais me preocupar com a minha segurança e nem daqueles que eu amo…
Por causa de Bryan, eu perdi muita coisa… Até mesmo um amigo, por causa dele perdi
Santana e sua filha perdeu um pai.
Eu queria chorar, eu precisava chorar, mas não tinha mais lágrimas. Eu simplesmente não
consegui chorar pela morte de meu ex-namorado.
— Familiares do detetive O’Brien? — Um outro médico chega à sala de espera.
Dessa vez eu me levantei, segurando na mão de Emory, que não me soltou desde o
momento que chegamos a esse hospital.
— Diga, Doutor, como o meu irmão está? — Emma pergunta enquanto limpa as lágrimas
em seus olhos.
— Graças a Deus ocorreu tudo bem. A bala chegou a perfurar sua pele, mas não chegou a
causar nenhum dano a qual não conseguíssemos resolver. O que mais nos preocupou, foi a
costela fraturada devido ao impacto, mas nada que cinco semanas com medicamento e em
repouso não resolva.
Um misto de sentimento tomava conta de mim, não sabia se ria de alegria, se chorava ou
me ajoelhava para agradecer.
— Ele já está no quarto e pediu para que sua irmã e a senhorita Albuquerque fossem o
ver. Infelizmente hoje não iremos liberar as visitas, ele precisa descansar, mas deixarei as duas
irem ver ele. — Ele diz olhando para Emma, que se vira para mim com os olhos cheios de
lágrimas e me estende a mão.
Pego em sua mão e começamos a andar em direção aos quartos do paciente, não havia
prestado atenção em qual quarto seria e em nenhuma outra instrução que o médico havia dado,
eu apenas precisava ver o meu Luke.
Emma bateu na porta e logo em seguida entrou, entrei junto a ela, fechando a mesma e
ficando ali, parada o vendo.
Um alívio me tomou conta, uma vontade absurda de chorar que eu nem sequer conseguia
controlar.
— Me desculpa, eu juro que pensei ter trancado a porta. Eu juro mesmo, mas acho que
não tranquei. Sabia que eu deveria, mas… — Emma começou a chorar, segurando a mão do
irmão.
— Emma… Você não teve culpa. Ele daria o jeito dele. — Luke disse calmamente,
enquanto a puxava para um abraço. — Agora… Pare de chorar… Preciso de um favor seu…
— Diga. — Tento não ser curiosa e deixar os dois conversarem sozinhos, então meu
olhar vai aos meus pés, sem me importar de estar usando apenas uma pantufa.
— Vá para a casa da Daphne e fique com ela e Manu, amanhã assim que amanhecer, me
traga ela. — Eu sabia como ele se sentia, queria estar com ela nesse momento, mas não sei se eu
era a melhor pessoa para cuidar de uma criança depois do dia de hoje.
— Não, eu vou fic…
— Emma, eu preciso que você fique com ela. Quero ela com as pessoas que a amam, por
favor. Se não eu mesmo me levanto e vou até ela.
— Está bem, mas não se esforça. Ok? Eu amo você, meu covarde.
— Eu também amo você, minha garotinha.
Ainda olhava para meus pés, mas era impossível não ouvir a conversa deles. Só levanto
meu olhar quando Emma passa por mim, acariciando o meu braço.
Tento não demonstrar fraqueza, não queria que ele me visse chorar.
Mas ele estava alí, olhando para mim com vida…
Era um turbilhão de sentimentos, que eu não conseguia controlar.
Queria gritar e brigar com ele, por ter entrado naquele quarto.
Queria agradecer a ele, por ter entrado e me salvado.
Queria beijar ele por estar respirando.
Queria dizer o quanto eu o amava.
— Você…
Eu não consigo dizer, minha garganta trava e as lágrimas começam a rolar. Luke apenas
esticou a mão e ando até sua maca, me sentando na beirada da mesma.
Meu peito queima enquanto soluço e eu mal consigo olhar.
Mas eu sentia com sua respiração um pouco mais calma do que o normal, mas ela estava
ali e seu coração batia, podia não ser por mim, mas ele batia.
— Você sabe que não precisa chorar, né? — Ele pergunta, levando a mão lentamente
para meu cabelo, o acariciando.
— Sim…Eu preciso… — Olho para ele enxugando o meu rosto com a costa de minha
mão. — Você, poderia ter morrido… Não deveria ter entrado…Eu coloquei Manu em perigo…
Não..não sei o que faria caso acon…
Meu coração desmorona, não conseguia nem imaginar se algo tivesse acontecido com
Emanuelle, minha vida acabaria junto a dela, eu não suportaria algo como isso.
— Não diga mais nada, não aconteceu nada com ela… Ela está bem e em segurança. —
Ele me abraça apenas com um braço e deito minha cabeça sobre seu ombro de forma delicada.
— Tive tanto medo de te perder… — Engulo em seco.
— Você não vai me perder.. — Olho para ele. — Prometo.
— Mesmo se eu tiver feito uma coisa muito ruim? — Meus olhos lacrimejam novamente.
— Nada seria tão ruim…
— Luke… — As lágrimas escorrem. — Me perdoa?
— Pelo o que?
Chegou a hora.
Agora eu teria que dizer tudo, sem me importar se Oliver acharia ruim ou não. Eu não
poderia esconder mais nada dele, eu não aguenta mais toda essa verdade presa em minha
garganta.
— Bryan.. ele quem, é. — Fechos os olhos respirando, fundo. — Ele quem foi o culpado
pela Amber… Por causa de mim, hoje você não tem o amor da sua vida…
Essas palavras me destruíram, não por contar a verdade. Mas sim, por eu sentir que não
sou o amor da vida dele.
— Pâmela, abra os olhos. — Ele pede e eu nego com a cabeça. — Por favor…
Respiro fundo sentindo o meu corpo trêmulo e abri meus olhos lentamente, vendo suas
íris azuladas fitando meu rosto.
— Você nunca teve e jamais terá culpa da morte de Amber. — Ele não estava bravo e
nem zangado, mas parecia magoado.
— Luke.. Eu sinto muito… — Me aproximo da cama, segurando sua mão.
— Eu também sinto… Você não faz ideia de como sinto, talvez o que eu vá dizer, me
tornar o pior marido do mundo… Mas, em meio às tragédias, nossos caminhos se cruzaram.
— Eu queria ter te contado antes…
— Mas o termo de confidencialidade não deixava, eu sei… — Ele já sabia. — Eu já sabia
de tudo e em momento algum eu te culpei por isso.
— Você não vai me ex…
— Te expulsar? — Concordo com a cabeça. — Jamais. Seu lugar é aqui, até que você
decida que não é mais.
— Não tem outro lugar que eu deseje ir. — Me aproximo dele. — Major?
— Sim, soldado? — Encosto nossas testas olhando em seus olhos e não digo nada,
aquelas palavras pareciam não querer sair agora. — Eu sei, soldado… Eu também.
Não sei o que senti, mas era algo jamais sentido por mim antes.
Pela primeira vez, sentia que estava em casa, que tinha um lar que me defenderia de tudo
e todos, como havia feito. E que esse “lar” também me aceitava, com todos os meus defeitos e
falhas
Pensamos que estamos preparados para tudo em nossa vida. Mas a verdade é que não
estamos preparados nem sequer para um terço do que vivenciamos no dia a dia.
Ainda estava um pouco atordoado, alguns flash invadiam a minha mente de modo
conturbado, mas me lembrava perfeitamente da sensação de angústia e insuficiência que senti
naquele sábado, ou melhor, que ainda sentia.
Minha filha, o ser que jurei proteger mais do que qualquer coisa nesse mundo, esteve em
perigo e eu não estava lá para ajudar.
O meu amigo, companheiro de trabalho, que estava em prontidão para defender minha
filha, precisou de mim e eu também não estava lá.
Eu havia prometido que nada de ruim aconteceria com Pâmela, mas também falhei com
ela. Assim como falhei com meus pais e minha esposa.
Diariamente falhamos, mas nunca estamos preparados para conviver com as falhas, ao
menos eu não estava.
— No que você tanto pensa? — Pâmela me pergunta, fazendo eu a olhar.
Já haviam se passado quatro dias da minha cirurgia, receberia alta ainda hoje e Pâmela
não deixou o hospital em momento algum. Por mais que eu tenha insistido, ela não arredou o pé
do hospital e se contentou em dormir em uma poltrona segurando minha mão durante a noite.
— Em Javier… — Uma expressão triste toma seu rosto, compreendia o que ela sentia.
— O corpo dele já foi enviado para Santiago de Compostela… Queria ao menos poder
me despedir dele de forma digna.
— Lewis fará isso por nós. Mas, queria ao menos prestar condolências à fil...
Sou interrompido por duas batidas na porta e em seguida o doutor Ryder entra em meu
quarto acompanhado da enfermeira Maggie.
— Boa tarde, detetive e senhorita Albuquerque. — Ele diz espalhando o álcool em sua
mão. — Vim apenas verificar como está sua incisão e te dar alta, antes que uma certa pessoa saia
andando de calcinha da hello kitty pelo hospital. — Vejo a bochecha de Pâmela ficar vermelha.
— MAGGIE. — A enfermeira dá de ombros, enquanto faz o curativo em tórax.
— Você não pediu segredo! — Ela dá risada enquanto aperta lentamente a incisão,
verificando se não sairá pus ou algum sangramento.
— Huumm, ótimo. — Ele diz olhando o procedimento. — O senhor já está liberado. —
Diz para mim e se vira para Pâmela. — E a senhorita, não o deixe voltar para o trabalho nas
próximas quatro semanas. Conheço bem o paciente que tenho, então se for preciso, prenda ele
em uma cama até sua costela melhorar.
— Pode deixar, doutor. — Ella diz sorrindo. — Muito obrigada, por tudo.
— Não há que agradecer, no final do mês vocês me pagam e ficamos quites. — Ele e a
enfermeira riem saindo da sala após entregar o papel para Pâmela.
— Vou ligar para Emory e depois te ajudo a se vestir, ok? — Ela disse se aproximando
de mim e selando nossos lábios antes de sair do quarto.

Meu corpo doía, não importava o quão delicado eu tentasse ser, até mesmo o ato de
respirar fundo me causava um enorme desconforto, mas era necessário forçar a respiração ou a
tosse a cada uma hora.
Oliver e Emory foram nos buscar no hospital para nos levar para casa. Emma e Manu
ainda estavam na Daphne e só chegariam hoje, já que a casa teve que ficar interditada para
perícia e depois uma pequena reforma para reparar os estragos causados por Bryan.
Não sabia o motivo, mas sentia um olhar estranho vindo de Brown, não era pena ou raiva.
Algo tinha acontecido e ele não queria me contar, o conhecia muito bem, e fato dele estar
dirigindo e não Emory, só me confirmava.
— Laurence acabou de me avisar que o último andar ainda não poderá ser usado, então
ela pediu para que descessem as malas de Pâmela. — Emory diz, guardando o celular.
— Ah, ok. — Ella diz e olho para ela sem entender o motivo de suas malas estarem
arrumadas. — Eu iria te contar tudo no sábado, então achei melhor deixar minhas coisas prontas
caso tivesse uma reação negativa… — Ela fez um bico.
— Achou mesmo que eu iria te expulsar? — Tento rir, mas a dor não permite.
— Nunca achei que encontraria com o homem do hospital novamente.
— Você sabe como me amolecer, não é?
— Sempre.
— Pelo amor de Deus. Ver vocês dois no mesmo ambiente me causa gastura e olha que já
vi muita coisa por essa vida.
Era incrível como mesmo sendo uma mulher de quase 30 anos, Emory conseguia agir
como uma adolescente rebelde.
— Você precisa parar de ser assim, tão mal amada. — Digo para a provocar.
Mesmo tendo 4 anos a mais que ela, fazia de tudo para a irritar quando estávamos fora do
trabalho.
— Chegamos.
Oliver diz parando o carro em frente a minha casa.
Ele sai do carro e não vai abrir a porta para Pâmela ou Emory, mas sim para mim, me
ajudando a descer do veículo.
Olho para a casa vendo que já não tinha a mesma porta escolhida por minha mãe.
Pela primeira vez, algo de minha mãe tinha sido substituído e não apenas acrescentado
algo.
Uma sensação de não ser mais meu lar me toma, essa não era mais a minha casa.
Vejo Ella parada em frente a porta aberta, já que Emory entrou na casa sem se importar
de não ser a dona. Tento decifrar o que tanto ela está pensando, mas é quase impossível ler seus
pensamentos. Então apenas toco em sua cintura, chamando sua atenção.
— Não precisa mais ter medo, o pesadelo já passou…
— Você tem razão, não é necessário mais temer. — Ela sorri, me dando a mão, então
entramos juntos indo até a sala, onde me sentei na poltrona.
Oliver entra e se senta em minha frente, Emory está afastada falando no celular e por suas
expressões, acredito ser com Sattine e Ella ajeita as almofadas para que me sinta mais
confortável.
Olho para meu amigo que tenta desviar o olhar, então o encaro ainda mais, o intimidando.
— Ok, não acho justo vocês não saberem ainda. — Eu sabia, tinha algo acontecendo.
— Saber o que? — Pergunto com a voz séria, enquanto Pâmela se mantinha imovel.
— Você cala a porra da sua boca. — Vejo Emory se aproximando e guardando o celular
em seu bolso.
— Não. Eles precisam saber.
— Não agora.
— DA PARA OS DOIS FALAREM, PORRA.
Eu, Oliver e Emory olhamos para Pâmela, que está com as bochechas ruborizadas.
— Desculpa… — Ela começa a soltar o cabelo. — Agora fala.
— Pâmela, você será deportada em dez dias. — Emory quem diz, fazendo a sala ficar em
um tremendo silêncio.
O mar deveria acalmar depois da tempestade, mas dessa vez, ele recuou para trazer a
tsunami em nossas vidas.
Eu não poderia ter ouvido direito.
Tinha que ter cera no meu ouvido.
Precisava de um cotonete ou um cardiologista.
— Como assim deportada? — Dou risada.
— Seu contrato com a agência foi suspenso, devido à sua situação com Bryan. Você
apenas continuou com eles, por você ser uma testemunha… A sua LCC foi informada do último
acontecimento e ficou sabendo da relação de vocês, o que não é “proibido”, mas por questão de
“aparências”, eles acharam melhor quebrar seu contrato, fazendo com que você perca o visto.
Estamos tentando achar uma brecha, mas o consulado já foi informado sobre sua deportação,
mas conseguimos ganhar alguns dias para acharmos outro modo de você ficar legalmente no
país… Se você desejar, é claro. — Os três pares de olhos se voltam a mim. — Você deseja?
Quem disse que os que não vivem mais, não podem atrapalhar, estavam enganados.
Mesmo dentro de um necrotério, Bryan Mitte ainda me causa pesadelos.
Ir ou não ir embora?
Rever minha família ou lutar para ficar em uma família?
Eu não sabia o que pensar.
Não sabia o que responder.
Nem sequer sabia se ainda iria precisar responder algo.
Eu estava quieta, sem dizer nada.
A sala parecia pequena para todos os companheiros de Luke e sua irmã e sua sogra, que
haviam chegado logo após nós.
Emory conversava com um advogado através do telefone para ver uma forma de mudar
meu visto sem sair do país, enquanto Laurence e Luke estavam pesquisando algo no notebook.
Jordan, Oliver e Aaron estavam sentados em outro sofá, falando sobre algo a qual não era capaz
de prestar atenção. Emma estava com Manu ao colo, que chorava e Daphne… Não fazia ideia de
onde ela estava.
O choro de Manu não parava e meu coração dilacerava.
Tudo ao redor parecia estar em câmera lenta, mas o choro dela não, ele penetrava em
minha mente.
Levanto o olhar a procura de apenas uma pessoa, ele me olha e me ajuda em silêncio.
Precisava pensar, sem ninguém falando na minha cabeça, sem ninguém querendo pagar meus
estudos para ficar aqui ou me dando um falso emprego apenas para mudar o status de meu visto,
o que seria inútil, já que dificilmente conseguiria com a minha ficha “criminal”, devido os
últimos acontecimentos, todas as vezes que dei meus depoimentos ficaram registrado no sistema.
— Ok pessoal. Acho que hoje já deu, eu preciso descansar e vocês irem trabalhar. —
Luke diz se levantando com dificuldade, ele precisava estar deitado em repouso e não se
preocupando com os meus problemas.
Não tenho certeza se me despedi deles, ou não. Só sei que em poucos minutos, a casa
estava vazia e apenas o choro de Manu ecoando pela sala, já que ninguém conseguia a acalmar.
Me levantei do sofá pela primeira vez indo em direção a Emma, que tentava ninar a bebê, então a
peguei no colo vendo seus olhos lacrimejados.
Meu coração que estava a um turbilhão, se acalma. Um pequeno sorriso surgiu aos meus
lábios, era uma sensação estranha e louca, não poderia me sentir assim, eu não podia me sentir
completa apenas com ela em meus braços. Não era certo, mas era assim que me sentia.
— Vem… Vou te fazer dormir… — Sussurro para a menina, que vai parando de chorar
aos poucos.
Não olho para trás, não queria que sentissem pena de mim. Então apenas subo para o
quarto de Manu e fecho a porta, para termos o nosso momento.
— Agora somos só eu e você, não precisa mais chorar, minha pequena. — Falo em
português, indo até a poltrona e me sentando com ela, que leva a mão até minha boca e eu finjo
morder, arrancando uma gargalhada dela. — Isso, gosto de te ver assim e não chorando. Sabe, a
vida já foi muito dura com você, então ria sempre que tiver oportunidade, mas não se prive de
chorar, apenas veja se a situação merece suas lágrimas… Mesmo não sabendo o que vai
acontecer em menos de uma semana, acho que você precisa saber, tudo que está aqui dentro do
meu coração.
“É loucura, né? Mas, você conseguiu preencher o meu coração de uma forma que não
sabia que era possível, titia ama tanto você, se me pergunto se não enlouqueci.”
Manu começa a falar, de seu jeitinho de bebê, mas que eu consigo compreender, nossa
conexão faz com que eu compreenda e então sorrio, passando a mão por seu cabelinho loiro a
qual tanto amo.
— Eu amo você, minha pequena.

Já havia dado banho em Emanuelle, dado seu leite e a feito dormir.


Ela dormia com um anjo, ela era um anjo.
Me levanto da poltrona e dou um beijo em dois dedos meus e em seguida levo eles para a
testa da menina que em alguns meses faria seu primeiro ano de vida.
Pego a babá eletrônica a colocando no bolso da minha calça e vou até a porta do quarto a
abrindo, na hora levo um pequeno susto, já que Luke estava prestes a abrir a porta.
— Você não deveria estar de pé. — Falo meio sem jeito, enquanto saía do quarto
fechando a porta.
— E você não deveria ficar me evitando. — Desço o meu olhar não querendo o encarar.
— Ela dormiu? — Ele pergunta e eu concordo com a cabeça. — Que bom, acho que agora nós
quem precisamos, os últimos dias foram difíceis.
— Eu vou para meu quar… — Ele me interrompe.
— Não será possível, ainda não conseguiram limpar ele por completo.
— Ah… — Não digo mais nada.
— Suas coisas estão em meu quarto, vamos. — Ele me estende a mão e penso se devo ir
ou não. — Por favor.
Concordo com a cabeça, segurando em sua mão.
Não tinha mais como evitar, eu entraria em seu quarto.
Ele abre a porta e espera que eu entre, olho ao redor vendo que minhas malas, as mesmas
que eu arrumei para ir embora a quatro dias, estavam lá.
— Pode entrar. — Olho para ele, então entro.
Por mais que me sentisse em casa, nessa casa, não sentia que esse era o meu quarto. Não
era o meu lugar ali, naquele quarto ou naquela cama.
— Vamos tomar um banho? Irei precisar de sua ajuda.
— Vamos, já tomou seus remédios? — Ele concorda com a cabeça, enquanto vai em
direção à suíte do quarto.
Eu o sigo e não consigo deixar de reparar na bancada daquele banheiro, era como se
Amber jamais tivesse ido embora. Tinham duas escovas de dente, junto ao perfume dele eu
poderia reconhecer um perfume feminno, fora os outros acessórios.
Como eu poderia me despedir ali? Com todas as coisas dela me encarando? Isso era
demais para mim, eu realmente não podia aguentar mais isso.
— Não… Desculpa, mas não dá. — Olho para Luke. — Vou chamar a Emma.
Saio do banheiro o deixando lá, em seu memorial da sua falecida esposa.
Acabo não chamando Emma, apenas desço indo diretamente para a lavanderia, sem
responder ao chamado de Emma. Pego meu celular no bolso contrário que se encontra a babá
eletrônica e vou diretamente ao Whatsapp, clicando na conversa de Lara e a ligando por chamada
de vídeo, que não demorou para atender.
— Que cara de chupa cú é essa? — Lara fala, enquanto pausa o que estava assistindo.
— Chego ainda essa semana no Brasil. — Abro um sorriso enquanto as lágrimas descem
de meus olhos.
Eu tinha que fazer uma escolha, iria voltar para a minha família e parar de lutar por um
lugar que claramente não me cabia.

Ela me deixou no banheiro, sem ao menos me explicar o que aconteceu.


Pâmela não tinha respondido ao Oliver, se ela queria ficar ou não. Precisava saber de sua
resposta, seu silêncio estava me matando e quando pensei que conseguiria saber o que ele
desejava, Ella simplesmente saiu, me deixando ali sem entender nada
Eu queria ir atrás dela, dizer que queria que ela ficasse, falar todos os motivos do porquê
ela tinha que ficar, mas eu não consegui. Algo me impedia de ir lá, era mais forte que eu.
Logo Emma estava entrando em meu banheiro, sem ao menos se importar como eu
estaria, ela me olha sem entender.
— O que você fez? — Pergunta brava.
— Eu? — Ela concorda com a cabeça. — Nada. Íamos tomar banho, mas…
— Você ainda diz “mas”? — Ela revira os olhos. — Luke Átila O’Bryan, olha ao redor
desse banheiro. Você é um insensível do caralho. — Ela diz e sai do banheiro batendo a porta,
assim como Pâmela.

Fiquei em meu quarto por mais de duas horas.


Não conseguia dormir, mesmo estando com sono.
Minha mente trabalhava para entender o que estava acontecendo, o porquê dela estar tão
distante.
Olho para o lado vendo Amber, sorrindo enquanto eu o abraçava por trás. Pego o quadro
suspirando fundo. Querendo que ela estivesse aqui, ela conseguiria me ajudar, independente de
qualquer coisa, ela me diria a coisa certa a fazer e me xingaria.
— Como eu queria ter você aqui… Você me ajudaria com essa situação, seria mais fácil.
— Fecho os olhos. — Eu sei, tenho que ir atrás dela, sei exatamente o que devo fazer e quero
fazer. Mas, e se ela me disser não? — Abro os olhos olhando para o retrato dela e a coloco sobre
o criado-mudo. — Pare de enrolar e vai lá.
Falo comigo mesmo me levantando, não sabia ao certo o que iria dizer, como diria. Mas
eu estava determinado a isso, eu já sabia como iríamos resolver o nosso problema.
Passo pelo quarto de Emma e nenhuma delas está lá, vou até o de Manu e está vazio.
Então desço as escadas, indo em direção a sala, mas paro vendo as meninas em frente ao
notebook.
Minha irmã segura minha filha em seu colo, com uma feição triste, enquanto Pâmela
digita rapidamente, nenhuma delas percebem a minha presença, então permaneço em silêncio.
— Pronto, comprado para depois de amanhã, cedo. — Pâmela diz.
— O que vocês compraram? — As assusto fazendo com que Ella derrubasse o notebook
no chão, me permitindo ver o site da companhia aérea.
Mesmo sem ter uma resposta, me arrependi de ter perguntado.
Ela decidiu me deixar, no mesmo momento em que decidi fazer ela ficar.
Como era possível perder dois amores em menos de um ano?
Perdi minha melhor amiga, minha esposa e mãe da minha filha de forma brutal.
Agora, estava perdendo minha companheira, minha alma gêmea… Mas, dessa vez, não
para a morte e sim para a vida.
Eu não conseguia entender como todos estavam aqui, rindo em uma “festa de despedida”.
Era como se comemorassem a morte de alguém, estavam comemorando a partida de Pâmela,
com bebidas e pizza.
— Vai ficar com essa cara até que horas? — Emory pergunta, me entregando uma garrafa
de cerveja, mas a olho bravo. — Que pena, não pode beber, né? — Ela leva a garrafa aos lábios.
— Não tem outra pessoa para ir encher, não? — Falo querendo me levantar, mas ela
coloca a mão sobre meu ombro, me forçando a ficar sentado e sentindo dor. — Isso dói, caralho.
— Se você não for levantar para ser gentil com a Pâmela, vai ficar sentado e dando o
sorriso mais falso do mundo. — Ela diz brava, ainda apertando o meu ombro. — Essa garota tem
apenas 21 anos e já viu e passou por muita coisa. Então deixe que ela tome suas próprias
decisões, sem ter inseguranças por causa de suas próprias confusões. Me entendeu? — Olho para
ela, que estava com a sobrancelha arqueada esperando uma resposta.
— Entendi.
— Ótimo! — Ela abre um sorriso, se levantando. — Aaron, hoje ela pode beber, né?
Não ouço a resposta dele e fico com as palavras de Emory ecoando em minha mente.
Odiava isso, mas ela tinha razão. Eu não poderia atrapalhar a escolha dela, mesmo meu
coração dizendo que ela não queria isso, ou era apenas eu que não desejava isso para ela.
Levanto meu olhar a procura da mulher que me arranca suspiros, a encontro olhando para
mim e nesse momento, meu coração dispara, como de um adolescente.
Não preciso forçar um sorriso, como Morgan mandou, meu lábios de forma involuntária
se curvam em um sorriso a qual ela retribuiu, mexendo com toda a minha estrutura. E foi aí que
eu percebi o quanto eu a amava, era desesperador.
Era a minha despedida.
Meu corpo voltaria para o Brasil, mas minha alma e coração ficariam aqui, nessa casa,
nessa sala de jantar.
Eu estava partindo, mas não queria.
Eu estava partindo, mas se ele me pedisse, eu ficaria.
Eu estava partindo, mas isso era a coisa mais difícil que faria em toda minha vida.
Estávamos em uma batalha, nos encarando, mas sem coragem de falarmos um com o
outro. Não queria que fosse assim, mas desde que ele viu em meu computador, tudo mudou…
Ou foi antes disso e eu apenas não tinha percebido.
Emma aparece em minha frente, me roubando a atenção.
— Está bem? Ainda dá tempo de você desistir? — Ela diz baixo, para que apenas eu a
escutasse.
— Está sim, não irei voltar atrás. Estou ansiosa para rever minha família. — Ela dá uma
risada fraca.
— Sua boca diz uma coisa, mas seus olhos contam outra coisa, sabia? — Ela me
questiona e eu nego com a cabeça.
— Você pode ficar por outros motivos, não precisa ser necessariamente esse que está na
sua cabecinha. Você tem o nosso apoio.
— Está na hora de eu reencontrar a minha família.
— E abandonar essa aqui? — Ela diz olhando para Manu, que estava no colo de Daphne.
— Não posso ocupar um lugar que não é meu, você sabe disso…
— Às vezes, o que nós acreditamos não é a verdade. — Ela diz e se afasta, me deixando
ali, pensativa.
Decido voltar a olhar para Luke, mas ele não está mais ali e em nenhum outro lugar.

A maioria já havia ido embora.


Emma teria ido dormir na casa de Emory, para ficar com Satine. Amanhã cedo elas
estariam aqui para me levar ao aeroporto. Daphne ainda estava aqui com Emanuelle, a garota
dormiria com sua avó e esse seria o meu último contato com ela.
Eu não estava preparada, era uma sensação horrível. Parte do meu coração estava
morrendo e a outra parte chorava.
Olho para mulher que começava a ter mais fios de cabelos brancos e abro meus braços
para a abraçar.
— Pode ter certeza, que te levarei em meu coração. — Digo fechando os olhos para não
chorar.
— Nunca duvidei disso. Muito obrigada por tudo o que fez pelo meu filho e pela minha
neta. Farei questão de lembrar a ela quem foi a brasileira que mais amou ela nesse mundo. — Eu
estava chorando e não iria privar minhas lágrimas.
— Obrigada… — Sussurro me afastando e abrindo os meus olhos e me virando para
Luke, que carregava a filha em seus braços.
Manu me olhou esticando os braços e fui me aproximando, limpando as lágrimas de
meus olhos.
— P..paeLA! — Ela diz e eu paro no meio do caminho. — PaeLAA!
Emanuelle acaba de dizer sua primeira palavra.
Olho para Luke sem acreditar e ele faz o mesmo.
Não sabia como agir, mas sentia meu coração transbordar de felicidade em meio a
tristeza.
— Ela acabou de dizer sua primeira palavra. — Daphne quem diz e me viro para ela, que
sorri de felicidade, mas em seus olhos, posso notar uma pequena dor.
— E foi para você! — Luke é quem diz, com um sorriso nos lábios e os olhos cheios de
lágrimas.
Vou até ele e a pego no colo e a abraço fortemente.
— Eu amo tanto você. — Falo chorando, enquanto a abraço. — Pode ter certeza, que esse
foi o meu melhor presente de despedida do mundo. — Beijo sua bochecha.
— PaeLAA! — Ela fala novamente, babando em minha bochecha e eu choro.
Choro por saber que não sentirei mais essa baba em meu rosto, choro por saber que
perderei os outros primeiros momentos da vida dela, choro por sentir que estou abandonando ela.
— Eu amo você. — Falo dando um último beijo em sua bochecha. — Acho melhor você
pegar ela… Ou levo ela comigo. — Falo tentando rir, mas sabendo que seria verdade.
Daphne se aproxima tirando Manu de meus braços e eu me afasto, vendo a menina fazer
tchau para mim com as mãos, fiz o mesmo, mandando um beijo para ela.
Vejo Manu ir para casa de sua avó pela última vez.
Não os acompanho até o lado de fora, apenas ando até o sofá a qual me sento e me
permito chorar por alguns minutos, um ciclo estava se encerrando e eu teria que aceitar.
— Você está bem? — Levanto a cabeça, concordando. — Não minta para mim.
Ele se senta ao meu lado e leva a mão para minha perna, a acariciando.
— É triste dizer adeus para as pessoas que amamos. — Confesso.
— Então por que está dizendo adeus?
— Nem tudo nessa vida é fácil, aprendemos muito com a dor. Por mais que no momento
não entendemos, nós aprendemos. — Ficamos em silêncio por alguns segundos. — Como está
sua dor?
— Está suportável, só quando está próximo do horário do remédio que ela se torna
insuportável. — Mais silêncio. — Que horas é o seu voo?
— Às 11 da manhã… Acho melhor eu ir arrumar minhas coisas. — Digo e ele se levanta.
— Boa noite, major.
Digo dando um sorriso pequeno e indo até a escada sem dizer nada, quando estou no
terceiro degrau, paro de subir sentindo meu coração acelerar.
— Soldado?
Me viro para ele, o vendo de pé, me olhando.
Não penso em nada.
Apenas sigo o que meu coração manda, ignorando totalmente a minha mente.
Então desço a escada e corro até sua direção, me jogando em seus braços, ouvindo um
pequeno gemido de dor, mas ele faz questão de não se afastar.
Nossos olhos se encontram, uma chama acende neles e nossas bocas se encontram e
decidem se aprofundar em um beijo. Estava longe de ser nosso primeiro beijo, não seria o último
da noite, mas elas sabiam que dessa vez, a despedida estava se aproximando.
Como era possível sentir saudade de algo que ainda não partiu? Mesmo tendo a boca dela
grudada a minha, eu já sentia falta.
Com ela ao meu lado, toda dor se tornava suportável e todos os momentos se tornavam
especiais. Eu não estava preparado para me despedir.
— Me faça sua, pela última vez. — Ela pede assim que se afasta de mim.
Sua mão vai para a alça do vestido a qual usava, fazendo com que ele deslize sobre seu
ombro direito e depois faz o mesmo com o lado esquerdo. Pâmela não era uma mulher com
muito peito, eles eram do tamanho perfeitos para mim, por isso o tecido não tem dificuldade de
deslizar por seu corpo até chegar ao chão.
Desço os olhos para seus pés, admirando até mesmo a cor clara de seu esmalte e vou
subindo por sua perna, notando sua cicatriz que havia ganho andando de bicicleta quando era
criança. Poderia admirar cada parte de seu corpo, cada pelinho a qual ela carrega em si e a cada
cicatriz marcada em sua pele.
Pâmela era uma mulher marcada, tanto por marcas visíveis quanto invisíveis, e se eu
tivesse o poder, curaria cada uma delas para apagar as más lembranças de sua mente.
— Você sempre será o meu melhor pecado… — Falo a puxando para meu corpo. Seus
seios batem contra a camisa a qual estava usando, e mesmo com o tecido da roupa, eu pude sentir
o quão rígidos seus mamilos estavam.
Desço minhas mãos no mesmo e começo a apertar com força. Como algo tão macio era
capaz de liberar o meu pior lado? Eu não sabia.
— Você me disse, que se eu ganhasse no treinamento, poderia fazer o que quisesse com
você… — Beijo o seu pescoço, descendo minha mão esquerda para sua calcinha de renda e
acariciando ao redor de sua virilha. — Hoje, eu irei te cobrar isso…
Minhas mãos se desgrudam dela, e vão até minha calça, retirando o meu cinto. Posso ver
os olhos castanhos de Ella tomarem um tom esverdeado, assim como das outras vezes que ela
esteve com prazer.
— Estique as mãos. — Ordeno vendo ela obedecer, colando ambos os punhos, abro um
sorriso passando o cinto em volta dele e o apertando, para que ela não possa se mover.
Uma de minhas mãos, se direciona até a cintura de Pâmela e a guio até a parede da
escada, onde a posiciono colada. Ela estava ali, pronta para se entregar para mim da maneira que
eu quisesse, mas eu apenas a queria, do modo mais carnal que eu poderia a ter. Queria ver suas
feições de prazer e ouvir seus gemidos.
Com os olhos presos aos dela, começo me livrando de minha roupa, vou abrindo botão
por botão da minha camisa, enquanto vejo ela desviar o olhar para meu peitoral. Deixo o tecido
cair sobre o chão e então abri minha calça, me livrando dela e de minha cueca.
Eu não precisava me tocar, apenas o olhar de desejo dela era o bastante para minha
ereção aparecer. Não precisamos de preliminares e nada para prolongar, apenas precisamos nos
sentir completos e só me sentiria assim dentro da mulher que eu amava em segredo.
Afastei sua calcinha para o lado, sem ao menos olhar lá, com a mão esquerda segurei meu
pênis e a direita apoiei na parede, ao lado da cabeça de Pâmela. Sem aviso ou pedido, o penetrei
para dentro dela, vendo seu corpo ser pego desprevenido.
Ela geme, e eu entendo que quer mais, então me movo lentamente, deslizando cada vez
mais para dentro. Pego suas mãos e estico seus braços em cima de sua cabeça, a deixando na
ponta do pé. Não permito que ela desça os braços, o seguro com força, sem me importar que
causaria ou não marcas.
Seus gemidos vão se intensificando à medida que vou acelerando meus movimentos, a
ponto de ver seus pequenos seios se moverem em nosso ritmo. Em momento algum ela desviou o
olhar ou falamos, apenas estávamos concentrados um no outro e em nossos gemidos. Deslizei
minha mão para seu pescoço o pressionando, ela gostou, pude ver em seu olhar.
Sinto seu corpo se amolecer e meu pau pulsar ao mesmo tempo, seu gemido indica seu
clímax próximo e então não me privo, sem me importar, deixo com que meu pau goze, me
fazendo soltar um gemido de prazer que é acompanhado do clímax atingido por Pâmela.
Aos poucos fui parando de me mover e saio de dentro dela, desci seu braço retirando o
cinto de seu pulso. Nossos olhares se encontraram e ali, pudemos ter certeza que nossa última
vez tinha acabado de acontecer.

As horas se passaram, e preferimos o silêncio na companhia um do outro. Não sabíamos


ao certo o que dizer e se havia algo para dizer.
Pâmela lutou contra o sono, mesmo eu insistindo para que ela dormisse, ela lutou até o
último segundo, já eu estava alí, acordado deslizando minha mão sobre suas costas nua e
sentindo sua respiração contra o meu peitoral, enquanto estávamos deitado sobre o sofá.
O relógio indicava cinco da manhã, a despedida se aproximava, e eu ainda não havia
achado palavras certas para isso. Na verdade, acredito que não existem palavras para esse
momento. Iríamos terminar um relacionamento que nunca foi concreto, me despediria de uma
babá que nunca foi apenas uma babá … Me despediria de um amor que nunca soube.
Eu não poderia fazer isso, eu não era capaz de ver seu olhar triste partindo e levando o
restante de meu coração contigo para o outro lado do continente. Seria covardia da minha parte?
Sim, mas às vezes a vida exige que sejamos covardes e esse era o momento.
Com todo o cuidado do mundo, fui a retirando de meu corpo e a deixando no sofá. Cubro
seu corpo com o lençol a qual usávamos e comecei juntar minha roupa e me vestir, uma dor
tomou conta das minhas costas, mas nada se comparava com a dor que meu coração sentia, então
não me importei de ir me medicar rapidamente.
Após me vestir, me sentei na poltrona com a agenda de anotações e uma caneta, onde
pensei em palavras que poderia dizer a ela, mas nenhuma parecia ser o bastante para o que eu
desejava dizer. Fiquei encarando aquela folha até achar as palavras que ela merecia, mesmo
sentindo que dentre todas as palavras existentes, nenhuma carregaria o peso do que estava
sentindo naquele momento.
Após um tempo, coloquei a folha dobrada debaixo do celular de Pâmela e me abaixei
dando um último beijo em sua cabeça, com os olhos lacrimejados.
— Espero que um dia você possa me perdoar, por ser um covarde… — Sussurro e me
levanto, me afastando dela.
Pego a chave do meu carro e vou para a porta, vendo que ela dormia serenamente sobre o
sofá, então saio de casa a vendo pela última vez.
Assim acabou uma história de amor, que começou de modo conturbado e terminou com
corações dilacerados.

Acordo assustada achando que estou atrasada, mas é apenas um carro na rua de modo
acelerado.
Olho para os lados e vejo que Luke não está, mesmo que seu cheiro se faça presente no
lugar. Meu primeiro pensamento é que ele foi para seu quarto, mas logo começo a mudar de
ideia no momento que vejo uma folha de baixo do meu celular. Reconheço a caligrafia nas
palavras “Para Ella.”
Antes mesmo de abrir, eu sinto meus olhos lacrimejarem, acendo a luz do abajur e então
abro a carta deixada ao meu lado.
“ Soldado, Ella ou meu amor.
Nessa manhã, eu sinto o peso das palavras a qual desejo evitar, esse é o momento que
ambos tentamos evitar, mas não adianta evitar o inadiável. A cada palavra registrada é uma
tentativa falha de palavras a qual busquei e não encontrei.
Recordo-me do dia em que nos esbarramos pela primeira vez, posso ter demorado para
lhe reconhecer, mas jamais me esquecerei da paz a qual senti ao te segurar em meus braços, e
se alguém me contasse o caminho que iríamos trilhar juntos, eu riria da cara da pessoa.
Nesses meses passamos por tantas coisas, tendo um começo estranho, um meio
confortável e um final inacreditável. Compartilhamos nossas lágrimas, desejos e alegrias. Nos
tornamos bons amantes que tentam se esconder de todos, mas estávamos apenas nos
escondendo de nós mesmos.
Foram meses que passaram rápidos e intensos ao seu lado, meses a qual não
conseguirei me esquecer jamais e eu só tenho a agradecer por eles.
Com todo o meu amor,
Major O’Brien”
Estou em prantos abraçada a essa carta.
Ele preferiu não se despedir, preferiu me deixar partir, quando eu ainda tinha esperança
de ficar.

Os minutos foram se passando, e eu lia e relia aquela carta em meio às lágrimas. Ainda
não acreditava, ele não poderia ter ido sem ao menos ter se despedido de mim.
Emma, Laurence e Emory chegaram e se assustaram ao ver o meu estado, não tive forças
nem sequer para me vestir, apenas com a ajuda delas que sai daquele sofá.
Agora estávamos a caminho do aeroporto de Austin/ Bergstrom. Elas tentavam me
animar, mas minha mente só conseguia pensar em tudo que vivi e passei neste país. Eram sonhos
e pesadelos que se tornaram responsáveis pela Pâmela que voltaria para sua casa.
Mesmo que seja estranho chamar outro lugar de casa, teria que me acostumar, lá deveria
ser o meu lar, ao lado de meus avós e minha irmã.
— Chegamos. — Emory quem diz, assim que estaciona o carro.
Olho para o grande aeroporto querendo não entrar no mesmo, mas sabia que era
necessário e os ciclos se fechavam.
— Vamos lá! — Falo forçando um sorriso, enquanto saía do carro.
As meninas pegam minhas malas do porta malas e as colocam em um carrinho, vamos
diretamente fazer ao check in e em seguida despachar a mala, já que faltavam uma hora e meia
para o meu voo.
Não queríamos prolongar muito a despedida, então dispensamos um café pelo aeroporto e
fomos logo para o portão de embarque.
— É aqui que deixamos você. — Laurence quem diz e abro os braços para a abraçar.
— Obrigada por tudo, minha italiana favorita. — Falo dando risada, já que ela era a única
italiana que eu conhecia.
— Vê se não arruma confusão em seu país. Ok? — Ela diz se afastando de mim e
concordo com a cabeça.
— Detetive Morgan! — Me viro para a mulher que cuidou do meu caso durante quase
um ano.
— Sim, Albuquerque.
— Sabia que eu te achava uma vadia metida? — Pergunto rindo.
— E o que te fez pensar diferente? — Ela arqueou a sobrancelha.
— Nada, ainda te acho, mas passei a gostar de você. — Falo a puxando para um abraço.
— Eu devo minha vida a você e a Oliver, essa é uma dívida que jamais irei conseguir retribuir.
— Seguro o soluço em minha garganta e ela se afasta para me olhar.
— Eu sei como, viva a sua vida e não se prenda ao passado. Quem vive de passado,
esquece de viver. — Podia enxergar dor em seu olhar, algo me dizia que essa frase era mais para
ela do que para mim mesma.
Mas, não argumentei, pois tinha uma loira segurando as lágrimas me fazendo desabar.
— Assim fica difícil! — Digo pegando nas mãos de Emma, que está com o rosto
vermelho. — Eu não tenho palavras para expressar o que você se tornou na minha vida, de como
a menina maluquinha que me entrevistou me fizesse amar tanto.
— Você não deveria ir. — Ela quem diz, e posso sentir a dor em sua voz.
— Eu preciso…
— Você se tornou parte da minha família, não acredito que estou te deixando ir.
— Ei, estaremos a uma ligação de distância. — Digo a abraçando. — Prometa que irá
cuidar do seu irmão e da Manuzinha? — Ela concorda com a cabeça. — Quero atualizações
diárias sobre Manu, ok?
— Pode deixar.
— Me prometa só mais uma coisa… Que vai contar aquilo para o seu irmão, vai ser pior
se ele descobrir de outra maneira…
— Eu irei contar… — Ela se afasta. — Amo você, fã de banda morta.
— Eu também te amo, Polly Pocket versão Swift. — Dou risada limpando algumas
lágrimas. — É hora de dizer tchau!
Digo pegando minha mala de mão e acenando para elas pela última vez.
Começo a andar em direção a moça que conferia as passagens e passaporte, entrego os
meus para ela e me viro para trás, mas não a procura das meninas, e sim dele.
Tinha esperança que ele aparecesse, mas ele não apareceu.
E assim se encerra minha história de amor.
Me confirmando que nem todos os amores são para sempre.
ALGUMAS HORAS ANTES

Eu não sabia para onde ir, eu não sabia o que fazer.


Estava dando voltas no quarteirão na esperança de ver ela sair de casa, mas isso não
aconteceu.
Eu precisava sair dali, ou iria impedir ela de ir.
Dirigi sem rumo, sem saber o certo onde pararia e o destino me levou para a porta dela,
para casa de Daphne, que se tornou uma mãe para mim.
Acho que é no colo de uma mãe que um filho vai sempre que está perdido.
Quando me vejo, já estou de pé na porta da mesma, com o dedo na campainha. Não
pensei que a acordaria, para dizer bem a verdade, eu não fazia ideia de que horas eram.
A porta se abriu, uma mulher com seus cinquenta dois anos, que ainda vestia seu pijama e
segurava uma xícara de chá, me olhou confusa.
— Filho? — Ela diz dando espaço para que eu entrasse em sua casa. — Está tudo bem?
Pensei que apenas nos veríamos mais tarde…
Ela fecha a porta e deixa sua xícara sobre o aparador do hall de entrada, me sento no sofá
com os braços apoiados no joelhos e cubro meu rosto com a mão.
Não estava tudo bem, eu não deveria estar ali, eu não sabia o que fazer.
— Tudo bem… Não precisa dizer nada. — Minha sogra se senta ao meu lado e começa a
acariciar minha cabeça. — É difícil deixar quem amamos partir, ainda mais quando essa escolha
é nossa e temos o poder de mudar, né? — Levanto o meu olhar para ela.
— O que eu posso fazer? Ela decidiu ir, não posso privá-la de sua escolha.
— Você pediu para ela ficar? — Fico em silêncio. — Então, me diga o que te impede de
fazer com que ela fique?
Amber me impedia, como eu poderia deixar outra mulher tomar o lugar dela? Como
deixaria outra assumir o que era dela? Era apenas Amber que me impedia de amar Pâmela do
modo que ela realmente merecia.
Queria poder dizer tudo isso, mas seria crueldade de minha parte colocar meus
pensamentos em palavras, não podia ser ingrato com quem tanto me amou e ajudou.
— Ah… entendi. — Ela diz olhando para minha mão, e nem se quer eu havia percebido
que estava girando a aliança de casamento em meu dedo. — Sabe, eu sou a pessoa que mais amei
e amo Amber… — Ela segura em minhas mãos. — Não vou dizer que é fácil conviver com a
ausência dela, perder meu marido não foi nada comparado a perder ela. Um buraco se abriu em
meu peito e tenho certeza que jamais se fechará novamente.
Seus olhos estão lacrimejados e ela não tenta esconder a dor que era falar sobre Amber,
essa seria a primeira vez que falávamos dela depois de seu velório.
— Eu não posso fazer isso com ela. — Assumo o que me impede de ir atrás de Pâmela.
— Fazer o que? Ser feliz? Permitir que o pai da filha dela seja feliz com uma pessoa
incrível, que daria a vida por Manu se for necessário? Me diga, Luke, você acha mesmo que
Amber gostaria de uma vida de sofrimento para você?
— Eu fiz uma promessa para ela…
— Meu filho, você honrou essa promessa até o último suspiro dela. Minha filha foi a
pessoa mais feliz ao seu lado, realizou quase todos os sonhos. Se casou com um homem bom,
teve uma vida incrível e morreu realizando seu maior sonho, se tornando mãe. — Meus olhos
estão iguais ao de Daph, tomados pelas lágrimas. — Agora permita que Manu tenha uma
segunda mãe tão incrível como a dela, se permita viver uma segunda história de amor, permita a
Pâmela ter a chance de escolher se deseja ir ou ficar. — Ela levanta minha mão e toca na aliança
de ouro. — Permita minha filha descansar, liberte-a para que você seja liberto… Deixe ela ir,
para que Pâmela fique… Apenas deixe ela ir.
Suas palavras me deixam sem saber o que dizer.
Mas ela tinha razão, assim como Jordan e Emma.
Eu tinha que deixar ela ir.
Eu tinha que ir atrás de Pâmela.
— Eu preciso ir. — Falo enxugando minhas lágrimas e me levantando e indo até a porta.
— Daph? — Me viro para ela, enquanto ainda estava sentada no sofá. — Você também deveria
deixar ele ir… — Dou um sorriso fraco, abrindo a porta e indo em direção ao carro.
Eu iria atrás de Pâmela, nem se fosse preciso parar o avião.
Eu sabia a rota que me levaria em direção ao aeroporto, eu tinha tempo para isso, mas
antes eu precisava fazer uma coisa ou não seria feliz por completo.

Violetas sempre foram suas flores favoritas, por isso eram elas que eu carregava em
minha mão enquanto andava em meio ao túmulo até chegar ao de Amber.
Uma sensação me invade, uma nostalgia, saudade e tristeza.
Me ajoelhei de frente para sua lápide, vendo sua foto sorrindo, alegre com vida,
totalmente diferente da mulher que enterrei a dez meses.
— Faz tempo que não venho aqui, mas vir toda semana me deixava em um loop infinito
de dor e sofrimento… — Falo colocando o buquê sobre a grama verde. — Emanuelle está cada
dia mais linda, ela tem o seu cabelo e os olhos da minha família. Uma mistura perfeita de nós
dois… Ela é uma menina inteligente, ama a natação, como você mesmo disse que ela iria gostar,
e odeia os brinquedos que compramos, ela prefere os não convencionais, deve estar se
perguntando como sei o que é “brinquedos não convencionais”, bem, Pâmela me ensinou, ela foi
uma au pair que passou por nossa casa. E ainda por cima, o nome dela foi a primeira palavra de
Manu, que foi a menos de 24 horas.
“Ela fez um trabalho incrível com a nossa filha, daria a vida por Manu se fosse necessário
e a defenderia de qualquer pessoa, sem se importar se isso custaria sua vida ou não… Igual a
você. Tenho certeza que vocês duas se tornaram ótimas amigas.
Agora, porque estou te contando tudo isso? Bem, eu a amo.
Pâmela chegou em minha vida na semana mais difícil de todas, para nós dois. Nossos
caminhos foram traçados através de tragédias, que você já deve saber aí de cima, não tivemos um
romance fácil, cheio de medos, inseguranças e até mesmo uma perseguição que poderia ter
custado nossas vidas..
Hoje ela está partindo, sem ao menos ter ouvido que eu a amo. Porque fui covarde
quando não deveria ser. Eu deixei ela ir, quando deveria ter feito ela ficar. Mas, posso mudar
isso. Porém, para isso acontecer eu…”
Minha mão direita vai até a esquerda e começa a retirar a aliança de meu dedo anelar.
Seria a primeira vez que tiraria ela, era como se parte de minha vida estivesse naquele pedaço de
ouro, mas não deixava de ser mentira, parte de mim ficaria ali, junto a Amber.
— Eu tenho que te deixar. Não foi uma decisão fácil e nem rápida, mas é necessária. Eu
tentei lutar contra isso, entretanto meu coração não me deixa, eu tenho que tentar. Por mim, por
ela e pela nossa filha.
Pego a aliança dando um beijo na mesma e a coloco junto ao buquê.
— Nunca irei te esquecer ou deixar de te amar, mas te deixarei partir. Até uma outra vida,
meu amor, minha melhor amiga.
Ali, eu a deixo pela última vez.
Do mesmo jeito em que a deixei pela primeira vez, sem olhar para trás, mas dessa vez,
para a libertar.

Me ensinaram a ter fé e esperança, já que são as últimas coisas que morrem.


Mas, nunca me foi ensinado a viver com frustração quando elas partem.
Tinha uma ilusão em minha mente, eu esperava que ele chegasse ao menos para um
último beijo e eu pudesse ter para quem olhar para trás, mas ele não veio.
Ele me deixou.
— Você está bem? — Lara pergunta, me olhando.
— Aram… — Volto a olhar para ela.
— Então por que não para de olhar para trás? Vai ficar com torcicolo.
— Você tem razão. — Dou um sorriso e olho para a lata de coca em minha outra mão,
mas não sinto vontade de tomar.
— Vovô está super ansioso por sua chegada! Avisou a rua toda de sua volta. — Ela diz
tentando me animar.
— Também estou morrendo de ansiedade.
— Você sempre foi uma péssima mentirosa! Com saudade, ok. Mas, ansiosa? — Ela ri.
— Idiota. Não tem nenhum bolo para fazer não? — Pergunto e o sorriso dela diminui. —
O que foi, Lara?
— Nada. — Arqueio uma sobrancelha. — Ok, abriu uma nova confeitaria aqui, mais
moderna, com mais variedades… Ai você já viu.
— Por que não me contaram?
Pergunto a ela, mas ela não responde, devido ao toque de anúncio.
“Atenção, senhores passageiros.
Esta é a última chamada para o voo CDA 1924, com destino a Guarulhos, São Paulo,
Brasil.
Repetindo, esta é a última chamada para o voo CDA 1924, com destino a Guarulhos, São
Paulo, Brasil.”
— Ou você vai, ou você fica.. Você quem decide. — Lara diz, dando um sorriso triste.
— Te vejo amanhã, quando chegar em São Paulo, te aviso.
— Amo você. — Ela diz e finaliza a ligação.
Me levantei pegando minha mala e andando até a fila de embarque, mas antes passo pela
lata de lixo jogando a lata de coca-cola cheia.
Entrego meu passaporte com a minha passagem para a atendente que logo me entrega,
me desejando uma boa viagem.
Suspiro fundo e pela última vez olho para trás, mas ele não estava lá.
— Diga adeus ao seu lar, Pâmela. — Uma lágrima escorre e eu começo a andar pelo
corredor infinito.
Meu corpo entra no piloto automático. Passo pelos comissários de bordo, guardo minha
mala e vou até o meu acento, L 45. Peço licença para as pessoas e me sento virada para a janela.
Ali, deixaria minhas lágrimas rolarem.
Deixaria o meu amor para trás.
Deixaria a menina que amo como filha.
Saí do brasil como uma menina feliz e retornaria como uma mulher, mas não feliz.
Não via felicidade em voltar para um lugar que não me pertencia mais, mas era
necessário.
Um ciclo se encerrava e eu era muito grata por ter vivido ele de modo intenso e
verdadeiro.
Com amizades construídas e uma família a qual sempre amaria.
— Obrigada por tudo, Texas. — Falo assim que ouço os motores serem ligados e em
seguida o avião começa a andar pela pista.
Fecho os meus olhos, me preparando para a decolagem, o frio já tomava a minha barriga,
mas…
“Senhores passageiro,
Aqui quem fala é o comandante Aguilera. Peço desculpa por interromper nosso voo.
Todos devem se manter em seus respectivos lugares, agradeço a compreensão e em
poucos minutos retornaremos nosso voo.”
— Eu só posso ter jogado pedra na cruz e acertado o pingulim de Jesus. — Falo em
português, recebendo um olhar estranho da moça que estava ao meu lado.
Todos do voo começam a falar juntos, questionando as aeromoça se havia algo de errado
com o motor ou algo do tipo, prefiro ignorar os comentários. Pego meu fone da minha bolsa de
mão e o conecto ao celular, mas ao momento que iria colocar minha playlist da One Direction, a
aeromoça começa a falar.
— Pedimos para que todos se mantenham calmos, nosso avião passará por uma inspeção
policial.
Meu coração acelera, a ponto de errar suas batidas.
Mil e umas teorias começaram a invadir minha mente, não podia brincar com o destino,
mas do modo que eu atraia azar, era bem capaz de minha mala ter sido trocada ou que eu tenha
sido associada a qualquer coisa relacionada ao Bryan.
Fecho meus olhos tentando controlar minha respiração.
Não seria possível, eu estava delirando, porque até meu nome eu estava escutando.
— Pâmela! — Eu ouço a voz dele.
Do meu Luke, eu estava realmente delirando.
— Abra seus olhos. Quero que você me veja. — Ele diz e eu tenho certeza que é ele.
Abro os olhos lentamente, vendo ele parado ao lado da poltrona. Alguns olhares curiosos
estão virados para nós e até mesmo alguns celulares estão gravando.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto, sentindo meu corpo tremendo.
— Eu não posso deixar você ir… Eu errei, eu fui covarde em te deixar essa manhã.
Estava com medo da despedida, medo de ter que te ver pela última vez. Então eu percebi o que já
estava óbvio, eu não posso te deixar ir. Aqui é o seu lugar, em meus braços é sua morada e com
os meus beijos você encontrará o conforto.
Meu peito se enche de ar e de minha boca as palavras somem. Ele estava aqui, ele parou
um avião por mim.
— Mas… Meu vist…
— Me deixe terminar. — Ele diz e eu concordo. — Você apareceu na minha vida em
meu pior momento, quando eu já não era mais eu. Você não me tirou do fundo do poço, você
também estava lá. Mas, me ensinou que não era o fim do mundo, me ensinou como achar outra
saída… Você ensinou a todos ao seu redor a pintar novas cores, a não ser o preto e branco. Não
posso ser um covarde e te deixar ir..
Ele começa a se ajoelhar e eu arregalei os meus olhos, me levantando com as mão sobre a
boca, sem acreditar no que estava por vir.
— Pâmela Albuquerque, você aceita se casar comigo?
Mesmo quando eu achava que estava tudo perdido, não estava.
Após o tsunami, veio o arco-íris.
Agora bastava eu decidir se abandonava a ilha ou se iria me reerguer ali
TRÊS ANOS DEPOIS

Se a quase quatro anos atrás alguém me disse que hoje eu estaria casada, com o mesmo
homem que apontou uma arma para mim, no meu primeiro dia no trabalho, eu mandaria essa
pessoa se internar.
Mas, nesses últimos anos eu aprendi que tudo nessa vida é possível.
Eu tinha perdido a esperança, estava prestes a decolar, quando o detetive - que hoje é meu
marido - parou o avião para pedir que eu ficasse e me casasse com ele. Pode ter sido a minha
maior loucura, sair daquele avião sem saber se eu realmente conseguiria me casar com ele e não
ser deportada, mas o resultado foi um casamento planejado em menos de três semanas, com
direito a minha irmã e meus avós na cerimônia.
Quando é para ser, Deus dá o seu jeito.
Tanto é que estava acontecendo a primeira ação de graças na nossa casa. Após nosso
casamento, decidimos começar a nossa história em uma casa nossa.
Admirava as histórias daquela casa, grandes mulheres moravam lá. Mulheres a qual faço
questão de falar sobre elas para minha filha, mas lá jamais seria a minha casa. Hoje a casa era de
Emma, mas isso é história para outra hora, né?
— Você precisa de ajuda? — Lara entra na cozinha me oferecendo uma taça de
espumante, a qual neguei.
— Não, já levo o peru e podemos começar a tradição. — Falo abraçando minha irmã,
que veio passar o final de ano comigo. — Por que não está lá?
— Seu irmão é um chato, não me deixa pegar Manu no colo, dizendo que irei derrubar
ela como da última vez.
— Seu noivo está certo. — Dou risada me afastando dela, mas logo paro de rir, me
sentindo zonza.
Um.
Dois.
Três.
É sempre assim, eles vêm e vão. Basta respirar e contar.
— Você está bem? Está pálida! — Lara diz e eu penso em uma desculpa.
— Eu esqueci do pediatra da Manu, foi ontem. Droga. — Dou risada abrindo o forno e
pegando o peru para levar para a mesa.
Minha irmã me olha desconfiada antes de me deixar sozinha na cozinha.
— Se você estragar a minha surpresa, juro que te coloco de castigo! Vai ficar sem ouvir
One Direction por um dia. — Falo baixinha com a minha barriga.
Sim, eu estava grávida de 5 semanas, não havia sido planejada, mas aconteceu na hora
certa.
Emanuelle já estava com uma idade maravilhosa, com seus quatro aninhos. Até já havia
perguntado se ganharia uma irmãzinha, já que não conseguia brincar de boneca com Max, nosso
cachorro.
— Disse alguma coisa, meu amor?
Meu corpo todo se estremece ao ouvir sua voz.
A mesma voz que me fez perder o sono e me acalmou em dias tenebrosos.
Engraçado, que mesmo após quatro anos, ainda me sinto uma adolescente descobrindo
sua primeira paixão. O que não deixava de ser mentira, já que a cada dia eu me apaixonava mais,
seja pela nova ruguinha que ele tenha ganho ou a cada marca nova em seu corpo.
— Disse sim, para o peru não cair. Deus me livre de virar a chacota de ação de graças,
ninguém pode tirar o cargo de Jordan. — Falo rindo e ele me abraça por trás, beijando meu
pescoço e meu corpo todo treme por ele.
— Eu amo tanto você… — Ele diz e eu me derreto.
— Não mais do que eu. — Me viro o empurrando. — Agora saí da minha cozinha ou
ficará sem o brigadeiro.
— Como você é malvada. — Ele gargalhou e me rouba um selinho antes de ir para fora
da cozinha e se juntar com nossos convidados.
Não demorei muito para passar o peru ao prato a qual seria servido e em seguida o tiro da
bancada, indo devagar com ele para fora da cozinha.
Me concentro para nada tirar a minha atenção, era uma ave grande, já que aos pouco a
turma foi crescendo. Mesmo sendo um ano difícil, com perdas e ganhos, ainda éramos uma
família grande, com nossas tradições e costumes.
Por isso, todo cuidado era pouco. E eu estava certa, pois vi Max, nosso Pastor belga,
corria em minha direção e antes que eu pudesse desviar do mesmo, estávamos no chão.
Eu, ele e o peru assado.
A casa ficou em silêncio.
Todos se olhavam sem ter coragem de dizer nada.
— Finalmente eu não sou o único. — Jordan diz, fazendo uma comemoração. — Chupa
essa, Morgan!
Todos riem e Lara e Luke quem vêm me ajudar, enquanto o meu cachorro fica latindo,
encarando o peru no chão.
— Agola, mamãe? Acabo cumida? — Manu me pergunta e eu dou risada, pegando minha
filha do coração aos braços.
— Acho que sim, pequena.
— Vou pedir as pizzas! — Minha cunhada anuncia e eu faço careta, passando minha filha
para Lara.
— Acho melhor não!
— Por que? — Ela me pergunta e então eu suspiro.
— Bem, não era para ser assim… Tinha tudo planejado, mas Max fez o favor de derrubar
nosso peru. — O cachorro resmunga, abaixando as orelhas. — Está tudo bem, amigão. — Dou
risada e todos estão me olhando, esperando terminar o motivo de estar negando a pizza. — Mas,
acho que não é uma boa ideia, porque tem um serzinho aqui que se enjoa apenas de imaginar o
cheiro de uma pizza
Falo passando a mão na minha barriga lentamente e todos ficam olhando em choque, aos
poucos a ficha começa a cair e o primeiro a vir me abraçar é meu marido.
— Você está falando sério? — Concordo com a cabeça e sinto meu corpo ser retirado do
chão por um de seus braços, enquanto todos comemoram conosco.
Uma vez, me perguntei qual era o som do desespero.
Até hoje não sei dizer com convicção.
Porém, hoje eu te pergunto.
Qual é o som da alegria?
A resposta é simples: Família.

FIM.
Meu Deus, eu finalmente consegui *pulinhos de alegria*
Não teria como começar estes agradecimentos sem mencionar Deus. Acredito que Ele me
presenteou com esse dom - ou esquisitice; juro, não é normal viver com diversas vozes em sua
cabeça. Sem Ele, nada disso estaria acontecendo.
Patricia, Junior, não teria chegado até aqui sem vocês. Não há palavras que possam
definir o que sinto. "Eu amo vocês" ou "sou grata por tudo" parecem pequenos, mas saibam que
sou quem sou hoje graças a vocês. O amor de vocês, com começo perturbador, meio complicado
e um final incrível, me inspira, principalmente a ser uma pessoa melhor. Sou grata por ser filha
de vocês.
Aos meus irmãos, Kaio, Revis, Priscila, Gabrielle, Thaysa, Giovanna e Beatriz, do mais
velho para o mais novo (assim não tem briga, hahaha), uns presentes desde que nasci, já outros
foram chegando e conquistando esse título de irmão. Obrigada por me aturarem e apoiarem a
cada conquista. Amo vocês.
Família e amigos, não citarei todos os nomes, ou o agradecimento se tornará um segundo
livro, hahaha. Muito obrigada por todo apoio nos últimos meses, por não me acharem uma
antissocial nos nossos almoços, mesmo quando muitas vezes nem saía do quarto. Obrigada pelas
palavras de incentivo. Amo vocês.
Não poderia deixar de agradecer a você, leitor, que chegou até aqui e chorou, surtou ou
simplesmente suspirou com a história da au pair com o detetive. Obrigada pelo seu tempo, pelo
seu sorriso e todas as emoções que a história possa ter te trazido. Amo cada um de vocês.
E à minha equipe do "Lágrimas, Tiro e Betagem" - Amanda, Regiane, Livia, Rayssa,
Alanis e Maria - obrigada por apontarem os erros e suspirarem nos momentos de tranquilidade.
Ok, elas me xingaram um bocadinho, mas está tudo bem. Não sei como nossos caminhos se
cruzaram, mas sou grata e amo cada uma de vocês. Obrigada por tudo!
Agradeço também a Marcielle, que me ajudou em tudo e teve paciência comigo. Serei
eternamente grata a ti!
Ao meu time de parceria e publicidade, meus muitíssimos obrigada! Cada um de vocês
desempenha um papel fundamental neste lançamento.
Obviamente, eu teria que agradecer a Kiera Cass - isso mesmo, a autora - e à sua obra "A
Seleção". Se não fosse pelo meu amor pelo romance de America e Maxon, eu não estaria relendo
pela quarta ou quinta vez o livro responsável por me aproximar da minha pessoa:
"Se eu matar alguém, ela é a pessoa que eu ligo para me ajudar a arrastar o corpo pela
sala. Ela é minha pessoa."
Pâmela é a minha pessoa, com seu jeito fechado, que me julgava com o olhar por usar
batom vermelho às 6h50 da manhã. Nossos caminhos foram traçados através de um livro.
Não somos amigas a vida inteira, vai por mim, não fiz questão alguma de tentar me
enturmar com ela, mas nos tornamos amigas para a vida toda.
Nunca fui de cultivar amizades, pelo contrário, sempre enjoei delas e me afastei das
pessoas, acreditando que as amizades são passageiras e apenas as lembranças são eternas.
Mas Pâmela mudou isso, estamos à beira de 8 anos de convivência, que vem se
intensificando cada vez mais a ponto de nos tornarmos família.
Sem ela, esse sonho não estaria se realizando. Pâmela é a responsável por me apresentar à
leitura nacional, por tirar meus personagens do papel.
Obrigada por me emprestar seu nome.
Obrigada por apontar os meus erros.
Obrigada por me incentivar todos os dias.
Obrigada por me aturar durante esses anos.
Obrigada por ser uma luz quando acredito que tudo está perdido.
Obrigada pelo contrato de amizade vitalício; se um dia quiser o rasgar, apenas dorme que
passa, você sabe de muita coisa da minha vida!
Obrigada por ser a minha pessoa.
Eu amo você.

[1]
Local Child Care Coordinators: a pessoa responsável por coordenar as Au Pairs da região.
[2]
Host Family: família anfitriã responsável pela Au Pair.
[3]
Host Mom: Mãe da criança a qual a Au Pair cuida .
[4]
Host Dad: Pai da criança a qual a Au Pair cuida.
[5]
Kiddo: gíria usada pelas Au Pair para se referir a criança.
[6]
Mula: mulheres usadas para tráfico de drogas.
[7]
Power 5312: identificação do detetive Luke pelo rádio, cada policial tem sua palavra de identificação, sendo seguido pelo
número do departamento e em seguida, os dois últimos números do distintivo.
[8]
Cuca: é um bolo de tabuleiro feito com ovos, farinha de trigo, manteiga e coberto com açúcar.
[9]
Fanculo: porra, foda-se ou merda em italiano.
[10]
Cloche = cúpula usada para cobrir o prato.
[11]
Jack: Jack significa um homem sem limites morais na busca pelo sexo, muitas vezes tendo comportamentos abusivos
[12]
Ariete: equipamento usado para forçar o arrombamento de porta.

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