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Alice Carrea - Deixe Ela Ir
Alice Carrea - Deixe Ela Ir
Nunca gostei de hospitais, mas nos últimos dias, é o único lugar no qual tenho ficado. Só
sairei daqui com a Manu, o que segundo os médicos, não demoraria muito, já que a menina vem
ganhando cada vez mais peso. O que é ótimo, assim posso parar de dormir em uma poltrona
desconfortável que já se tornou minha cama nesses 15 dias.
A exatamente quinze dias minha filha nasceu e minha mulher morreu, há oito dias eu
enterrei Amber e a quatro dias Manu abriu os olhos pela primeira vez, revelando que sua mãe
perdeu a aposta, já que seus olhos são idênticos ao meus e de Emma … Que por falar nela, não
para de me encher o saco.
— Eu sei! É Você quem manda. Mas, Luke, eu não sei trocar uma fralda se quer. Nunca
tive irmãos mais novos e essa é a minha primeira sobrinha, óbvio que iremos precisar de uma
ajuda... E capaz que amanhã Manu tenha alta... Posso agendar as entrevistas?
Minha irmã me lança um olhar pidão, o mesmo que me encanta desde que ela nasceu. Se
a Manu puxar a tia, eu estou fodido.
— Irei pensar nessa possibilidade. Agora cala a porra da sua boca ou vai acordar a Manu.
— Digo, indo até a porta do quarto, mas paro ao ouvir a voz da curiosa.
— Aonde você vai? — Sua pergunta faz com que me vire para trás e veja seu olhar
pidão.
— Comer alguma coisa... Fala logo o que você quer.
— Ótimo, me traz um Dr. Pepper e um muffin.
Pede enquanto pega seu Kindle da bolsa. Mal posso acreditar que a minha irmãzinha lê
pornografia nesse aparelho inofensivo, se soubesse disso, jamais teria presenteado ela com esse
negócio.
Vou andando em direção a cantina que fica no andar de baixo dos quartos, eu nem sequer
estava com fome, mas Emma consegue ser bem irritante quando coloca algo na cabeça, e ter uma
babá estava fora de cogitação para mim e Amber, já tínhamos entrado em um acordo que
daríamos um jeito sem babá, até do emprego ela teria saído... Mas as circunstâncias eram outras
agora.
— Droga. Você sempre consegue o que quer, Emm... — Minha voz morre ao momento
em que meu corpo se colide com o de outra pessoa, meus braços são ágeis e a envolvem para que
a moça não caia no chão. — Eu te peguei…
Naquele momento, um arrepio percorreu por meu corpo e uma paz inexplicável tomou o
meu coração, uma calmaria que, até aquele momento, só havia alcançado com a Manu em meus
braços.
Mas que porra é essa, Luke?
Mas que porra, Pâmela!
É a única coisa que consigo pensar ao ouvir o que Maggie diz – bem, estou nesse hospital
a quinze dias e é impossível não ter feito amizade com as enfermeiras, já que elas me picaram
mais vezes do que cheguei a namorar nessa vida.
— Mal consigo acreditar que terei que vender meus dois rins para pagar esse hospital…
— Falo sem acreditar, enquanto estico meu braço esquerdo para ela. — Mesmo com meu seguro
terei que pagar tudo isso? — Ela concorda com a cabeça, enquanto termina de coletar o meu
sangue para um possível último exame. — Vocês não conhecem uma coisa chamada SUS, não?
Nessas horas o meu Brasil faz falta.
— Você deveria agradecer, Pâm, o doutor Ryder colocou para pro bono sua cirurgia. —
Eu iria protestar, mas a mulher me cortou na hora. — Não, ele não vai fazer outra cirurgia para
retirar seus rins. Agora levanta daí e vai andar, você precisa ir ao banheiro se quiser receber alta.
— Sou capaz de cair dura que nem pedra se eu precisar pagar mais um dia desse hospital!
Drama sempre foi o meu forte, mas, o que esperar de alguém que cresceu assistindo as
novelas mexicanas nas telas brasileiras? Mas, nada me impediria de realmente cair dura como
pedra e ainda ser enterrada como indigente nesse país, por isso me levantei levando comigo o
porta soro.
— Bela calcinha da Hello Kitty
Ela diz, retirando as luvas para descartar com a agulha que foi usada a minutos atrás em
mim. Simplesmente me viro a ela dando a língua, enquanto tento cobrir minha bunda com a
camisola hospitalar, mas é praticamente impossível.
— Vou pagar caro e ainda pagar calcinha, eu te odeio, Maggie!
Dou risada, deixando-a no quarto e indo em direção ao corredor, onde geralmente faço
minhas caminhadas. Poderia descer para área verde, mas, lá eles não alimentam meu lado
fofoqueira e muito menos o lado fanfiqueira de Greys Anatomy.
Andando pelos corredores, meu sorriso morre aos poucos, como se nesse momento eu
compreendesse a gravidade da situação, tudo o que havia acontecido era o preço das minhas
próprias escolhas.
Nunca fui considerada inconsequente, se eu matava aula, era para estudar na biblioteca,
se eu estivesse em um show, era para trabalhar no caixa. Minha vida toda eu havia tentado me
planejar, já que ela era uma bagunça desde o momento que nasci. Fiz de tudo para não ser um
estorvo na vida de ninguém, e nesse momento, era um estorvo para mim mesma.
Como iria pagar por meus dias nesse hospital? Os diversos exames que precisei fazer e
até mesmo a maldita ambulância a qual me trouxe para cá… Eu estava mesmo fodida.
— Por que fui tão ingênua? — Resmunguei em português, enquanto ria. — Ok, não há
nada que eu não consiga lidar… Ainda tenho metade do meu salário do último ano, só preciso
encontrar uma família que me aceite depois de tudo isso… Minha LCC [1] já está vendo isso, eu
só preci…
Minha fala é interrompida junto à pequena dor que começa a crescer em meus pontos ao
colidir com alguém mais alto e forte que eu, naquele momento prendi minha respiração e fechei
meus olhos, temendo que cairia no chão. Mas, não houve impacto e nem sequer uma forte dor
como previa, no momento que abri meus olhos, pude ver um braço forte me segurando.
Lentamente subi minha cabeça em direção a quem me segurava, o ar que me faltava veio como
um sopro de alívio, fazendo eu me perder na imensidão do azul daqueles olhos.
É estranho dizer, mas aquele olhar me transmitia um alívio, como se todo peso tivesse
sido tirado da minha costas, mesmo com todos os romances que eu já assisti, eu não conseguia
dizer o que se passava através desses olhos que me fitavam com tanta profundidade.
— Você está bem? —Sua voz grave me tirou do transe, nunca pensei que uma voz cairia
tão bem em alguém como caia nele, meu Deus, que homem… — A senhorita precisa de ajuda?
Quer que chame um médico?
Ele perguntou com seu braço ainda envolvido aos meus. Balancei a cabeça, concordando,
tentando me lembrar de como falar.
— É... eu estou bem… — Limpei a garganta, me soltando e rindo nervosa pela cara de
confusão dele com minha língua nativa. — Sim, estou bem. Me desculpe, estava um pouco
avoada.
Eu não estava doida, mas pude perceber seus lábios se curvarem minimamente em um
sorriso, mas ele logo desfez, como se fosse proibido sorrir. Minhas sobrancelhas arquearam com
sua reação e quando ia perguntar se eu havia o machucado, uma voz chamou meu nome, me
fazendo virar.
— Aí está você, podemos conversar senhorita, Albuquerque? — O detetive Brown, que
estava cuidando do meu caso, perguntou.
— Eh… — Olhei para trás, vendo que o homem ainda estava ali, mas dessa vez,
intrigado olhando para o detetive. — Pode ser no meu quarto?
— Claro. A detetive Morgan já está lá à nossa espera. — Ele olha para o cara atrás,
acenando com a cabeça e então diz. — Daqui a pouco nós vemos O'Brien.
Então esse é o sobrenome dele… Mas, o que será que ele fez?
Me questiono, seguindo em frente, tentando relutar para não olhar para trás, mas não fui
forte o bastante, entretanto, ele já não estava mais lá. Em um passe de mágica, ele havia sumido,
mas seu olhar se impregnou em minha mente.
— Você poderia repetir seu depoimento mais uma vez? — A detetive Morgan me
questiona. Não sei o porquê, mas não consigo sentir um pingo de confiança ou empatia por essa
mulher. Preferia quando Brown vinha com seu outro parceiro.
— Claro…
Solto um profundo suspiro enquanto fechava meus olhos, me lembrando do dia em que o
meu “amor” tentou me matar.
DIAS ATUAIS
— Depois disso, você não se lembra de mais nada? — A morena me pergunta, de braços
cruzados.
— Exatamente, como eu disse nas últimas seis vezes…
Suspirei enquanto tomava um gole da minha água, então o detetive se levantou fechando
seu caderninho e parou na minha frente.
— Ok. Precisamos que você não saia do estado até tudo estar solucionado. Já
conversamos com a sua empresa de intercâmbio, a senhorita continuará residindo aqui no Texas,
e é de extrema importância que se lembrar de qualquer coisa, qualquer fala sobre lugares que ele
frequentava ou amigos dele, você me telefone. Bryan Mitte está na nossa lista há meses, e você é
a fonte mais próxima dele que temos. — Sua parceira já está na porta e então ele pega sua
jaqueta de couro se aproximando dela. — Não hesite em nos ligar, entendido? Se ele fizer
contato, nos ligue imediatamente!
Antes mesmo de eu responder, os dois me deixam sozinha no quarto, fazendo um arrepio
correr pelo meu corpo. Por que detetives tinham que me causar um arrepio? Ok, eu sei que nas
séries eles são sexy e atraente… Mas nossa, eles só me causam medo.
— Droga. — Praguejo, sem ao menos raciocinar tudo o que tive que repetir nas últimas
duas horas.
Me levanto rapidamente devido a cólica e corro para o banheiro segurando meu celular,
ao me sentar no vaso sanitário, abro o iMessage enviando uma mensagem a Maggie.
Eu: Pode trazer a minha alta 14:08
Pela primeira vez em todos esses dias dou uma risada verdadeira, como se um alívio
repentino tivesse me invadido e tirado todas as preocupações de meu ombro… Mesmo sabendo
que esse sentimento é momentâneo, eu sorrio e decido que preciso deixar ele me dominar.
ALGUNS MESES DEPOIS
— Já é a quarta babá que você demite em cinco meses. Já estou ficando cansada de tudo
isso. — Emma reclama, se atirando no sofá.
Eu sei, eu concordei em ter uma babá.
Mas… Não tem “mas”, nenhuma delas foi competente o suficiente para cuidar da Manu.
— Você sabe que nenhuma delas mereciam ou tinham capacidade de estar aqui. A loira
fumava mais que o Oliver, a segunda sempre saia da rota estipulada, colocando a vida da Manu
em perigo… Porque mandei a ruiva embora mesmo? — Essa eu realmente não me lembrava o
motivo, até tinha empatia pela moça. — Ah., me lembrei, você a demitiu e até agora não me
revelou o motivo.
— Tenho minhas razões. — Ela mostra a língua e fica de joelho sobre o couro. — Mas e
essa última? Foi a que mais durou, bateu o recorde de 46 dias, já estava até me acostumando com
os sapatos estranhos dela.
— Ela fazia a Manu dormir com Nick Minaj.
— NICKI Minaj — Ela me corrige. — Ok, você tem um ponto. — Eu sempre tenho um
ponto. — Eu peguei o contato de uma agência de Au Pair com a Spencer, ela e o Oliver tiveram
uma brasileira como babá. Como sabia que você dispensaria mais uma, pensei "por que não?”.
Geralmente elas são excelentes e sem contar que estão em um intercâmbio, então jamais fariam
algo de errado… Espero eu…
Sua voz foi morrendo e um bico nascendo em seu lábio, como se imaginasse alguma
coisa que pudesse dar errado. Essa é Emma, sempre pensando no melhor e pior das coisas ao
mesmo tempo, mas quem poderia julgar?
Minha irmã sempre teve que se preparar para o pior… Acho que isso é algo de família,
nunca nada pode ir bem o suficiente, onde tem os O´Brien, terá morte. Começou com nosso
cachorro, após isso os nossos pais, avós e agora Amber.
Com apenas 20 anos, Emma perdeu mais pessoas do que uma jovem deveria. Minha mãe
não foi a primeira pessoa a comprar absorvente para ela. Meu pai não trouxe chocolate todo mês
quando ela se tornou um bicho papão. Nossos pais não estavam na formatura do fundamental ou
do ensino médio, e nem em seu aniversário de 16 anos. Eles não viram ela reprovar três vezes na
sua habilitação, e meu pai não estava sentado comigo no sofá ameaçando o primeiro
namoradinho dela.
Era eu quem estava lá quando ela teve seu coração partido e eu que estarei de pé
aplaudindo mais uma formatura da minha irmã, quando ela finalmente se formar em psicologia.
Espero poder um dia caminhar com ela até o altar, como fiz questão que ela me acompanhasse
em meu casamento.
As vezes me pego pensando tanto nas coisas que minha irmã perdeu, que acabo me
esquecendo que também não tive eles em momentos importantes e tudo que eu mais desejava
nesse momento, era ter o abraço de minha mãe dizendo que um dia esse vazio irá passar e a mão
de meu pai sobre meu ombro, dizendo que sente orgulho de mim.
São coisas tolas, um homem de 33 anos pensando dessa maneira… Porém, há momentos
a qual acho que congelei em meus 24 anos, na última vez que vi meus pais com vida.
Todo o medo que senti a 9 anos atrás, parece estar se repetindo. Toda a insegurança que
tinha com Emma, estou revivendo com Manu.
Dessa vez sem ela.
Sem minha melhor amiga.
Longe da minha esposa.
Sem parte da minha vida.
— … Luke? Está me ouvindo?
Emma balança a mão esquerda em minha frente, já que a direita está segurando minha
filha que havia acordado.
— É.. sim… — Ela me lança um olhar ameaçador. — Não. Repita! — A menina bufou,
me passando minha filha.
— Eu já marquei uma entrevista com a moça hoje, será online e se dermos match, ela
começa o quanto antes possível. — Ela disse, já subindo a escada para seu quarto. — Trate de
fazer essa barba antes de ir trabalhar, você está horrível.
Gritou a última parte, como se fosse uma responsável de verdade.
— É, minha pequena, espero que você não seja como sua tia ou estou ferrado.
Tenho um resmungo em resposta, dou um sorriso subindo em direção ao meu quarto.
A coloco dentro do berço, ligando seu mobile e então vou até a minha suite, olhando o
meu reflexo no espelho. Não me lembro quando foi a última vez que fiz barba.
Eu sei, você me mataria se estivesse aqui… Daria de tudo para você brigar comigo…
— É só uma mudança, não irá matar ninguém… — Digo, olhando no espelho.
Meu olhar recai sobre a maquininha em seu carregador, mas não a pego. Se eu fizer
qualquer coisa de diferente, não seria mais o Luke da Amber, alguém que jamais deixarei de ser.
Talvez eu esteja predestinado a ser esse Luke, o qual carrega no rosto o cargo de viúvo culpado,
como muitos ficam após passar um dia em uma cela.
— Ok, amanhã você pode tentar novamente.
Olho para trás vendo minha irmã no batente da porta sorrindo, como se me
compreendesse como ninguém. Só que ela não me compreende.
Ninguém sabe o que estou sentindo. Eles acham que é uma dor passageira, quando na
verdade, é o meu interior agora, uma dor que ninguém irá apaziguar, e eu nem quero .
Essa é a dor que me lembra de quão real foi minha felicidade, ela me lembra todas as
manhãs que já tive minha chance de ser feliz e ninguém merece uma segunda chance no amor.
— Eu vou para o distrito, cuida da Manu?
Emma concorda com a cabeça e me lança um olhar recaído, carregado de tristeza.
— Não se esqueça que eu e ela precisamos de você, não há nada de errado em ser um
covarde de vez em quando.
Eu entendia o peso dessa frase.
Nosso pai não quis ser covarde.
Ela estava lá e eu não pude tampar seus olhos.
— Qualquer coisa me ligue.
Falei passando por ela e deixando um beijo em sua cabeça, fiz o mesmo com a Manu e
então fui até meu cofre, onde peguei minha arma e meu distintivo para então sair de casa.
Essa é a palavra que minha psicóloga usou para descrever todos esses meses que se
passaram.
Não acredito que seja negação… Eu apenas não sei o que sentir. Minha vida estava
perfeita, eu tinha um amor que me fez juras de amor a luz do luar e me destruiu a luz do dia, e
está tudo bem.
Nem todos os amores foram feitos para durar para sempre, alguns passam por sua vida e
deixam marcas, umas mais profundas que a outras, mas ainda sim, deixam. Foi bom enquanto
durou, eu o amei da única forma que sei amar, mas não posso falar por ele.
Felizmente ou infelizmente, Bryan me deixou com diversos efeitos colaterais nesses
últimos cinco meses. Não posso deixar os Estados Unidos, não consegui permanecer mais de
dois meses com nenhuma host family[2] e nem sequer quitei toda a minha dívida com o hospital
que me operou. Não posso deixar meu coração doer por ele e minha mente se questionar o
quanto eu falhei.
— Eu não posso dar razão para ela e falhar outra vez…
Eu era feita de falhas.
A falha de um golpe mal executado.
A falha de um aborto não sucessedido.
A falha de um amor não vivido.
Será que eu merecia mais uma chance? Que deveria continuar persistindo em ser alguém
quando na verdade eu tinha que ter desistido? Minha mãe disse para eu desistir, que eu estava
destinada a uma vida igual a dela e que Bryan não me amava de verdade.
É como se eu pudesse ouvir sua risada enquanto tragasse mais um de seus cigarros, me
dizendo que ela estava certa e eu errada. Mas não. Eu estava certa, só precisava acreditar mais
um pouco nisso.
— Eu vou conseguir, mamãe … Você ainda irá reconhecer isso.
Sussurrei para mim mesma antes de abrir meu notebook e ir logo acessando o link de
onde aconteceria minha próxima entrevista para uma nova família. Estava a dois dias tentando
dar match com alguém, mas sempre era incompatível. Ora eu não atingia todas as expectativas da
família, ora eu não sentia segurança na pessoa para me mudar para sua casa.
Eu tinha informações básicas de cada família que iria me entrevistar, essa última me
deixou com uma pulga atrás da orelha, já que não seria a host mom[3] ou o host dad[4], mas sim a
irmã do host dad do que me entrevistaria.
Mas tentaria segurar minha curiosidade e não perguntar nada durante a entrevista ou seria
obrigada a aceitar uma família onde eram apenas o host dad e a kiddo [5]de 15 anos… O que não
está na minha lista de preferências.
— Merda de com… — Uma voz surge e em seguida a imagem de uma loira totalmente
envergonhada do outro lado da tela me fazendo rir. — Ah, olá, “ Pâmela”. Não diga ao meu
irmão que você me viu xingar, ele me xingaria eternamente!
Ela me lança um olhar pidão de uma criança de cinco anos, que fica até difícil negar.
— Não costumo prometer as coisas para quem acabo de conhecer… Mas está bem, ele
jamais saberá disso!
— EBA! Já ganhou um ponto comigo. — Ela abre um sorriso que me dá inveja, pela
facilidade a qual ela finge sentir, já que seus olhos não deixam de me dizer o quão triste ela está.
— Acho que podemos dizer que começamos com o pé direito. Me fale sobre você!
Levo meu olhar até a aba de cima do chat vendo que seu nome é Emma O'Brien,
eventualmente abro um sorriso, me recordando do homem do hospital, até hoje me questiono se
ele era algum tipo de vítima como eu… Cheguei até mesmo criar uma vida para ele em minha
cabeça, onde ele se chamaria Henry e provavelmente seria professor de história para o ensino
médio.
Mas não posso deixar minha mente vagar no Henry, precisava ter foco ao invés de
imaginar aquele homem que carregava o mar em seu olhar.
— Bom, me chamo Pâmela Albuquerque, sou de Gramado, Brasil…
— Olha, vou ser verdadeira com você. De todas as meninas que estive em contato, você
foi a que mais me chamou a atenção e depois dessa entrevista, não tenho dúvidas de que você é
quem tem tudo do que estamos procurando e precisando. — Emma diz e em seguida leva uma
canudo até os lábios, provavelmente tomando água, já que Texas estava muito quente. — Me
diga, tem alguma objeção nos pedidos feitos por mim e por meu irmão? Ele é mais chatinho que
eu, mas sabe, ele é um bom pai e só está procurando o melhor para a filha.
— Bom, não vejo problema nenhum em não fumar e não colocar Nicki Minaj para a
Emanuelle. — Dou uma risada enquanto prendo os meus cachos, que estavam soltos até o
momento. — Sério, senhorita O’Br… — Ela me lança um olhar que me causa medo, o que é
estranho, já que descobri que a garota é até mais nova que eu. —... Emma. Eu realmente gostei
do seu perfil e tenho bastante experiência com bebês, como já disse, trabalhei em creche por
bastante tempo e sem contar, que Manu é uma graça.
— Ótimo! Além de suas exigências que é… — Ela desce o olhar para alguma anotação.
— Ter um quarto e banheiro privativo, te deixaremos com um cartão para suas alimentações,
sabemos que vocês brasileiros tem costume diferentes do nossos, ainda mais em relação a
almoços e também terá um carro só para você e todo gasto com ele será por nossa conta,
apenas pedimos para sempre que sair, deixe o rastreador do carro ligado, para a sua segurança
e a de Manu… Mas não se preocupe, não ficaremos monitorando todos os seus passos, é apenas
para uma urgência. Se não se sentir confortável, podemos deixar desligado quando você for sair
sozinha, mas está fora de negociação sair com a Manu sem o rastreador.
Não sei o motivo, mas isso não me incomoda. Pelo contrário, desde que Bryan está
desaparecido, é como se eu tivesse medo de sair sozinha, mas saber que alguém está vigiando
para onde eu for, me causa segurança, por isso não hesito em dizer:
— Quando começo?
Eu precisava de adrenalina.
Não estava conseguindo de forma saudável, mas ali eu conseguia me sentir um pouco
vivo. Como se nada tivesse mudado.
Com a mão direita segurei minha arma e olho para meu parceiro, Jordan, apontando o
local que deveria seguir. O negro então passa pela minha direita, me dando cobertura para
vasculhar o local que adentramos a poucos segundos.
A dois dias chegou um novo caso no distrito 53, uma quadrilha responsável por distribuir
drogas adulteradas em saídas de escolas por todo estado do Texas, traficando para Louisiana e
Novo México. Aos poucos vamos encontrando os pequenos bandos espalhadas pelas cidades,
porém não podemos agir e se não chegarmos à cabeça da facção, tudo será em vão.
Esse caso estava sob a jurisdição de outro distrito, mas não obtiveram sucesso. Não é
comum o Grisham aceitar casos de outros departamentos, ainda mais sendo relacionados a
tráficos, pois ele mandaria para o narcóticos, mas ele está determinado a resolver esse caso em
especial.
Fiz a contagem olhando para Moore e nos viramos apontando a arma para nosso possível
alvo, e como era de se esperar, o depósito estava vazio.
— Limpo. — Meu parceiro fala pela escuta para toda nossa equipe.
— Beleza. Eu, Brown e Morgan vamos entrar. Laurence fica dando cobertura de dentro
do carro. Não ascende porra de luz nenhuma.Vamos lá.
Aaron diz enquanto guardava minha arma em minha cintura. Peguei as luvas e calcei,
para então me aproximar da mesa onde havia um computador desligado
Logo a voz de Laurence toma conta da escuta.
— Pessoal, temos apenas poucos minutos. Consegui acessar as câmeras e eles estão a
cinco minutos de nós.
— Vamos ver se eles são burros o suficiente.
Comentei conectando um pen drive, para hackear e copiar todas as informações que
possuem ali.
Logo o restante da equipe chega e vão fazendo o mesmo que eu, calçando as luvas para
não deixar nenhuma evidência de que estivemos no local.
— Vasculhem tudo, como se fossem a mãe de vocês procurando drogas nas suas gavetas
durante a adolescência. Esses filhos da puta não vão escapar.
Aaron ordenou e foi logo abrindo uma gaveta e tirando de dentro um possível bloco de
cocaína.
— É aqui que guardam o “doce”...
— Sargento, já fotografei todos os documentos daqui. — Emory falou e se virou para
mim. — Conseguiu acessar?
— Só mais um minuto.
Falo, digitando os códigos de hackeamento do distrito, assim tudo de novo que for
acessado chegará no computador de Laurence.
— Brown, já colocou as escutas?
— Já sim, sargento, eles nem se quer vão desconfiar delas.
— Saiam daí, tem três carros vindo do oeste e um deles é do Malcom. Vocês têm menos
de 90 segundos. — Laurence avisa e todos me olham.
— Só mais dez… nove… vai porra… Pronto.
Digo, retirando o pen drive do computador. Desliguei minha lanterna e comecei a sair em
posição caso alguém aparecesse.
Fora do depósito, me dirijo até meu carro acompanhado de Jordan. Sem delongas, dou
partida no carro, saindo para longe do local.
— Bom trabalho, pessoal, nos vemos no distrito.
Levo a mão esquerda ao meu ouvido retirando a escuta e desligando o meu rádio, então
me viro para Moore, que mantinha os olhos fechados, não dá para julgar, ele estava no distrito a
dois dias seguidos lendo todas as informações vindas do 89.
— Juro que não entendi o interesse do Aaron por esse caso. Não era mais fácil ter
enviado para o Narcótico? — Questionei, fazendo-o abrir os olhos.
— Você conhece o ego do sargento, se a 89 não resolveu, ele terá que resolver. Beghe e
ele tem uma rixa e não é segredo para ninguém.
Ele voltou a fechar os olhos, como se não quisesse dar continuidade no assunto. Esse é
uns dos problemas dos detetives, sabem como mentir e não deixar informação nenhuma vazar,
mas também sabemos quando um ator está atuando, e Jordan sabe de mais coisas e não quer me
contar, só que eu irei descobrir.
— Os policiais Lewis e Santana ficarão responsáveis em anotar tudo o que for ouvido nas
escutas essa noite. Os dados do computador já estão com o serviço de inteligência e amanhã eles
entregam tudo detalhado. — Aaron diz relaxado, encostado no batente da porta. Foi graças a ele
que hoje sou detetive nessa unidade, a mesma unidade na qual meu pai trabalhou até sua morte.
— Vão para casa e amanhã nos encontraremos aqui, cedo.
— Sim, sargento. — Um coro se formou e todos começaram a se mover para o vestiário.
— O’Brien. — Me viro para ele, que me olha em reprovação. — Você é um detetive e
não um policial à paisana, de um jeito nessa sua cara ou amanhã só volte para deixar seu
distintivo.
Antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se vira entrando em sua sala, eu já
sabia que não adiantaria debater, terei que dar um jeito ou estarei suspenso da equipe.
Nossa equipe é composta por seis pessoas, sendo quatro detetives e dois policiais.
Laurence Panazzolo era a mais nova policial a se juntar ao 53, tínhamos nossas dúvidas sobre
seus talentos, mas a italiana está surpreendendo a todos cada vez mais, pela primeira vez tinha
visto Aaron ter uma parceira consigo, vamos dizer que no mundo policial ainda existe muito
machismo. Não é atoa que quando Emory Morgan conseguiu seu distintivo de detetive, surgiram
diversos boatos dela ter transado com os superiores para isso.
— Luke, se quiser te passo o telefone da minha cabeleleira. Ela faz um ótimo trabalho. —
Emory diz com seu tom sarcástico. Esse é uns dos motivos para ninguém querer trabalhar com
ela, as vezes ela passa do limite e não demonstra nenhum pingo de remorso. Essa é a mulher
mais fria que já conheci.
— Você gosta de brincar com fogo, não é, Morgan?
Oliver disse, retirando a arma da cintura e em seguida, retirando o colete a prova de bala,
assim como todos estavam fazendo.
— Estou sendo gentil, não quero perder nenhum dos meus colírios. Preciso ver pessoas
bonitas para desempenhar um bom trabalho. — Ela fecha o armário e pega sua arma,
posicionando no cinturão. — Laurence, te espero no carro. Disse a sua companheira de
apartamento, que se mantinha calada em toda conversa, logo a loira terminou de se arrumar e foi
pegando suas coisas para sair.
— Até amanhã, rapazes… — Laurence se aproxima de mim, colocando a mão sobre
meu ombro. — Luke, escute o sargento. Você sabe que ele não vai gostar nada de te ver assim
amanhã.
Ela sai me deixando com Jordan e Oliver, que estavam me encarando mas logo
disfarçam, me fazendo revirar os olhos.
— Quem ai sabe fazer a barba? Eu pago a cerveja.
Os dois dão risada pegando suas bolsas e saímos do vestiário em direção ao
estacionamento.
Por mais que desejasse continuar assim, teria que mudar. Não tinha que pensar apenas em
mim, precisava ao menos tentar seguir em frente pela Manu… Minha vida não poderia acabar,
por mais que eu sentisse que ela estava no fim, tinha feito uma promessa a Amber e iria cumprir.
O primeiro passo para isso, era fazer a barba, que por mais que fosse algo bobo, para mim
seria algo completamente doloroso, mas tudo pela minha filha…
— Você não quis saber o porquê de não ter uma mãe? — Minha irmã questionava do
outro lado da linha, curiosa. — Já pensou que ele pode ser um assassino em série e matar todas
as mulheres que tem? Às vezes as outras babás descobrem e por isso estão pedindo a conta. Ele
pode até atirar em você. — Ela emite um som de como se levasse um tapa. — Desculpa.
Esqueci do seu ex.
Lara me arranca uma risada leve enquanto vou andando até o táxi que me levará para
casa de Emma, que, por sorte, passarei a morar nos próximos sete meses
— Já falei para você parar de assistir esse canal de casos reais, daqui a pouco vai estar
criando teorias até mesmo da vovó! Me diga que foi ela quem te bateu, isso deixará meu dia mais
alegre. — Entro no táxi, o motorista não faz questão de olhar para minha cara. — Já pensou na
possibilidade da mãe da neném ser que nem a nossa? Só que diferente de nós, o pai quis assumir
e não mandou abortar?
Falo sem me importar do motorista achar estranho, já que estávamos conversando em
português.
— Haha! Não sabemos se meu pai quis que me abortasse, nem sabemos se ele sabe da
minha existência. Ganhei de você e perdi para uma fedelha de quatro meses.
— Cinco! Aliás, você não tem que ajudar a vovó na cozinha?
— Tenho! Mas estou mais curiosa para saber como será seu primeiro dia, o trabalho
pode me esperar, mas a emoção que é sua vida não! — Posso até imaginar a posição que ela
estaria sentada, escorada no sofá com os pés sobre a mesinha de centro, e provavelmente com
alguma xícara de chá ao seu lado, para aguentar o clima de Gramado.
— Mas eu não quero que você seja demitida! Beijos e tchau.
Sem ao menos deixar minha irmã responder, desliguei o telefone na cara dela, o que me
resultaria numa lista imensa de palavrões que ela me mandaria por áudio no whatsApp.
Lara e eu sempre fomos o oposto uma da outra. Ela é desbocada, não leva desaforo para
casa e muito menos pensa nas consequências de seus atos. Poderia até dizer que ela sabe viver a
vida com intensidade, enquanto eu sempre fui a filha certinha. Bom, acredito que por eu ser a
mais velha aconteceu isso.
Fui criada pela Dona Filó, uma senhora encantadora, dona de uma pequena doceria no
coração de Gramado. Ela fez de tudo para não errar comigo, como tinha feito com sua filha, mas,
ela não sabia que não havia errado com Helena, algumas pessoas apenas foram predestinadas a
perdição e esse era o caso da minha mãe.
Por mais que eu tente, jamais conseguirei odiá-la, acima de tudo, ela é minha mãe e me
deu uma irmã a qual desde criança ajudei a criar e tentei ensinar o certo e errado de forma mais
leve do que aprendi.
Não podia pensar em Lara e nem em minha avó, se não um aperto já me tomava conta e o
desejo de desistir de tudo me dominava.
Fechei meus olhos deixando uma única lágrima escorrer sobre minha face. Uma lágrima
de saudade do cheiro da minha casa, do aconchego nos braços de minha avó, das madrugadas de
filme com minha irmã… Uma lágrima carregada de tanta emoção, de tudo aquilo que a boca não
consegue falar e o coração quem sofre ao sentir.
— Chegamos.
O taxista anuncia me fazendo abrir os olhos e focar a vista para a janela da casa. Não
pude deixar de observar o tamanho, era toda trabalhada em pedras claras… Uma casa um pouco
rústica para Austin, mas mesmo assim, carregava todo o ar moderno que a cidade tinha a
oferecer.
— Lá vamos nós…
Falei, já querendo sair do carro, mas ao mesmo tempo, o taxista travou as portas, me
fazendo olhar apavorada para ele. Um filme narrado por minha avó invadiu a minha mente e
quando me virei para o motorista, ele estava com a mão estendida esperando o dinheiro.
— Deu 97 dólares.
Uma onda de alívio se forma em meu rosto, me causando uma leve risada.
— Claro… O dinheiro! — Falei, pegando uma nota de 100 dólares e entregando na mão
do rapaz que destravou a porta. — Pode ficar com o troco…
Recebi um olhar de poucos amigos.
Uma coisa que jamais me acostumarei nesse país: dar gorjeta e as gorjetas serem sempre
um valor absurdo. Me lembro da vez que deixei dez dólares de gorjeta em uma manicure que
deixou minha unha em um estado deplorável, depois desse dia, eu mesma comecei a fazer minha
unhas.
Ao sair do táxi, retirei minhas malas do porta mala e fui caminhando pelo caminho de
pedras até a porta, com um pouco de dificuldade por conta das bagagens. Deixei tudo do meu
lado e levei minhas mãos aos meus cachos que haviam se bagunçado dentro do táxi para então
tocar a campainha, em menos de segundos a porta se abriu, revelando a imagem de uma mulher
menor que eu sorrindo de orelha a orelha.
— Que bom que você chegou! — Era Emma, a mesma garota que carregava o sorriso
contagiante e um olhar triste. — Eu não acredito que você realmente veio. — Ela me abraça e
dou uma risada retribuindo, como sentia falta desse tipo de contato.
— Sim, eu realmente vim! — Dei risada, levando a mão para minha mala.
— Nem pensar, pode deixar que eu levo. — A loira diz, pegando minhas malas e
puxando para dentro da casa. — Pâmela, bem vinda a sua nova casa.
Ela diz, esticando os braços me mostrando a sala, onde eu pude ver The Vampire Diaries
pausado na televisão.
Pode parecer bobeira, mas em menos de cinco minutos dentro daquela casa, já me sentia
acolhida e protegida por uma família.
— Bem, chegamos ao terceiro andar que será exclusivamente para o seu uso. Se não
gostar de alguma coisa, não hesite mudar, e de antemão, já peço desculpas pelo piano, se te
incomodar, podemos colocar na garagem…
Sua voz vai diminuindo, como se ela não quisesse fazer isso, então sem exitar nego com a
cabeça, me virando para ela.
— Não precisa, achei que ele completa o ambiente. A decoração está incrível, você leva
jeito!
— O mérito não é meu, e sim da minha mãe. Ela sempre amou designer. — Falou com
devoção e já mudou de assunto. — Deixarei você se acomodar, qualquer coisa estarei lá
embaixo. O que você acha de pizza para o jantar?
— Eu acho ótimo, te encontro lá embaixo?
— Sim, estarei com a Manu para vocês se conhecerem.
A garota falou e começou a descer a escada, me virei para o piano e sorri admirando a
“minha” sala, então peguei as duas malas pela alça e as puxei para a única porta que havia ali,
revelando um enorme quarto, bem maior do que um dia já tive.
— Bem vinda a sua nova casa, Pâmela!
Falei me jogando no colchão e fechando meus olhos para apreciar o momento.
Nunca pensei que poderia me reconhecer novamente por trás de tanto cabelo.
Enquanto dirigia, me olhava através do retrovisor.
Eu continuava sendo o mesmo de um ano atrás, mas meu interior mudou e eu já não era
mais o mesmo.
Esse é o problema do luto.
As pessoas podem até pensar que ele acabou, mas ele não tem data de validade, apenas
ajeitamos essa dor na nossa vida. Com o tempo ele não dói menos, apenas damos espaço para
momentos felizes, mas nesses momentos a dor te invade, querendo compartilhar essa felicidade
com quem já se foi.
Me sinto em uma montanha russa de sentimentos, e tenho que aprender a lidar com a
descida.
Paro o carro em frente a minha casa e a olho pela janela. Era a casa dos meus pais, que
passou a ser minha e da Emma, nunca pensamos em vender e provavelmente não será um desejo
nosso, cada cômodo dessa casa tem dedo de minha mãe e alguns detalhes de Amber. É uma
forma de mostrar à minha filha que duas mulheres que a amariam muito, haviam existido.
Saí do carro o travando e levei o olhar para a janela do terceiro andar, onde ficava o piano
de minha mãe.
Meu cenho se franziu ao ver que a luz estava acesa, não era comum subirmos naquele
andar. Algo estava errado, eu jamais me enganava.
Fui andando com a mão na cintura, preparado para sacar a arma se fosse necessario, abri
a porta da frente que estava destrancada… Maldita mania de Emma, já mandei ela passar a chave
na porra da porta sempre que eu sair.
Sinto o cheiro de pizza vindo da cozinha, era terça-feira e sempre pedíamos para o jantar.
Subo o primeiro andar, ouço um barulho vindo do quarto de Emma, então ando até a
porta dando duas batidas.
— Estou me trocando, já saio.
Caminho até o quarto de Manu vendo que a pequena está em seu berço, só então tiro a
mão da arma, quando me viro, vejo uma mulher entrando no quarto e automaticamente volto a
mão na arma, a sacando em direção a estranha.
— Mãos para cima.
Anúncio, fixando meu olhar ao dela.
Emma havia me avisado que seu irmão atrasaria e perguntou se poderíamos esperá-lo
para comer. Não vi problema algum nisso, até aproveitei para guardar algumas coisas.
Achei mais sensato ir me apresentar ao meu chefe no momento em que ele chegasse, sem
Emma intermediando as apresentações, sabia que ele era um homem rígido e iria mostrar que eu
estava ali para trabalhar e não perder tempo.
Eu não deveria ter descido.
Eu deveria ter ouvido Lara.
Eu estava mais uma vez diante de uma arma.
Minhas mãos se levantaram, como foi mandado. Eu nem sequer sabia como era meu
novo chefe… E se ele fosse apenas um assaltante?
Não conseguia enxergar seu rosto, por conta da escuridão. Mas o cano da arma brilhava e
me fazia tremer de pavor.
— Por…fa..vor a-a-baixa… — Tentei falar sem gaguejar. — Saí.. de.. Perto da neném…
Minha voz não saia firme, meus olhos lacrimejaram enquanto meu corpo todo tremia.
Eu não deveria ter dormido antes de orar.
Deveria ter ido em mais missas enquanto estava nesse país.
Minha avó tinha razão, estava pagando meus pecados por não ser virgem.
— LUKE. ABAIXA A PORRA DESSA ARMA.
A voz de Emma invade o quarto em um berro, enquanto acende a luz.
Além do meu soluço, o choro da Manu também dá para ser ouvido e o homem à minha
frente então abaixa a arma, guarda e pega a menina aos seus braços.
— Mas que merda foi essa? — A loira fala, indo até a suíte e voltando com um copo
d'água para mim, que ainda permanecia de braços para cima. — Toma essa água, você vai se
acalmar…
Ela diz me olhando e volta a olhar para o irmão, o qual ainda não tive coragem de
encarar. Eu não podia ficar mais um segundo naquela casa, sabendo que outra arma poderia ser
apontada para mim.
— Eu que pergunto. Quem é ela, e o que ela estava fazendo vindo para o quarto da
Manu?
Essa voz… Eu já ouvi em algum lugar…
— Eu te falei a semana toda, essa é a Pâmela, a Au pair. — Levanto o olhar para a garota.
— Pâmela, esse é o meu irmão, Luke O'brien, e ele é um detetive, por isso o uso da arma.
Meu olhar percorre para o loiro alto me fazendo arregalar os olhos e derrubar o copo de
vidro no chão, o estilhaçando.
Lá estava ele.
O homem da voz perfeita.
O dono do mar ao oceano.
Aquele que me tirou o sono por dias.
Nem sequer poderia acreditar, que o homem o qual fantasiei nos últimos 5 meses, seria o
meu chefe e estava segurando a filha que chorava em seus braços.
Luke O´Brien era o homem dos meus sonhos e eu estava fodida.
Se alguém me dissesse que eu iria me apaixonar, levar um tiro, ir para o hospital, esbarrar
em um homem, ficar obcecada por ele, que esse mesmo homem se tornaria meu chefe e que
apontaria uma arma para mim… Provavelmente eu iria rir da cara da pessoa e mandar ela se
internar.
Nem mesmo eu, que passei a infância assistindo Maria do Bairro conseguiria acreditar
em algo absurdo assim.
Ainda por cima, fui burra o suficiente para pisar em um dos cacos de vidro, eu só queria
um primeiro dia de trabalho tranquilo.
Você ganhou, vovó! Vou voltar a rezar…
— Você está bem mesmo? Podemos te levar ao hospital, vai que te dê uma infecção.
Emma dizia com Manu ao colo, enquanto Luke estava ajoelhado à minha frente fazendo
um curativo ao corte recém limpo.
Sim.
Ele está ajoelhado e eu não estou sabendo lidar.
— Não pense em hospital! Sou capaz de ir andando até o Brasil, mas o hospital está fora
de cogitação.
— Bom, o corte está limpo. Mas não sou médico… Eu causo os machucados e não os
cuido.
Nem pense Pâmela… Ok, tarde demais…
Luke se levantou retirando as luvas e as descartando junto com a sobra de material usado
no meu curativo.
— Depois disso, acredito que não precisamos mais de cerimônias para as apresentações
de vocês, até mesmo, porque eu estou azul de fome. — Emma disse, colocando a sobrinha sobre
o chiqueirinho da sala e deixando uma babá eletrônica ligada. — Agora… Pode me dizer que
corte de cabelo é esse?
A mais jovem perguntou, não pude deixar de levar o olhar ao meu chefe, tentando
decifrar qualquer tipo de reação em seu rosto, mas não encontrei nada. Seu semblante era
congelado, como se fosse incapaz de transmitir qualquer tipo de sentimento… Assim como no
dia que eu o conheci.
— Jordan me ajudou nisso, agora vamos comer? Estou morto de cansaço.
Ele não quis prolongar o assunto, sua irmã parecia compreender o que ele queria, e pelo
pouco que eu havia conhecido da garota, sua curiosidade iria a matar, mas não perguntaria mais
nada sobre o assunto.
Era estranho estar ali, logo atrás dele, mancando de dor a caminho da cozinha a qual
chamaria de minha por algum tempo. Ao chegar no ambiente já apresentado a mim, apenas me
sentei e observei os dois andarem de um lado para o outro, como se cada um tivesse sua função.
Em poucos segundos os pratos estavam sobre a mesa, assim como copos e bebidas, sendo
refrigerante e leite.
— Jamais me acostumarei com isso… — Falei depois de muito tempo calada, recebendo
dois pares de olhos azuis curiosos. — O leite… Vocês tomam leite com absolutamente TUDO.
— No seu país não é assim? — O único homem veio a questionar, me fazendo negar
enquanto pegava uma lata de coca e a abria.
— Não… É até raro vermos adultos tomando leite sempre. Geralmente é mais as crianças
e sempre acompanhado de algo como o chocolate em pó, açúcar ou aveia… Em refeições são
sucos, água ou refrigerante… Mas, nunca tomamos leite com comida e muito menos pizza!
A cabeça de Emma parecia explodir com essa informação, assim como a minha ficou nos
primeiros dias em solo estadunidense. O Brasil era totalmente diferente de todos os outros países,
principalmente quando se tratava de refeições. E eu particularmente, era bem mais team Brasil
do que team USA.
— Ok… Me conte mais sobre o seu país.
A garota disse enquanto colocava uma fatia de pizza no meu prato e em seguida, no dela.
Ela parecia estar realmente interessada na cultura brasileira, isso me animou, já havia me
esquecido como era se sentir acolhida por uma host family.
— Bem, em meu país não tem essa de pizza no almoço…
Comecei a dizer olhando para a loira, mas pude perceber que havia outro par de olhos me
olhando curioso. Ele parecia realmente interessado em saber mais sobre mim e de onde vim… O
que me levava a pensar, ele se lembra de mim também ou eu fui apenas uma garota qualquer a
qual ele esbarrou?
— Alak Harris tinha 9 anos, sua mãe, Adema, solteira que trabalhava como faxineira, não
estava em casa na hora do assassinato. Ele era um garoto que tinha boas notas na escola e
nenhum vizinho se queixou de má conduta, as outras crianças da rua disseram que era comum
ele andar de bicicleta pela rua sempre entre às 3 pm até umas 4 pm. As câmeras indicam que o
tiro partiu ao leste da rua, o pegando por trás, não conseguimos captar ninguém se movendo
pelo local e a numeração da balística não foi reconhecida…
Laurence termina de apresentar o caso enquanto olhamos para o quadro onde continham
duas interrogações ligadas à foto do garoto, uma para quem e outra para o motivo.
— Encham de dinheiro a porra o bolso dos informantes de vocês ou ninguém volta para a
casa hoje. — Aaron dizia, enquanto pegava sua jaqueta e a vestia. — Quando eu voltar, quero
informações e isso não é uma opção.
Ele estava quase na escada quando parou e se virou para trás, levando o olhar para cada
um dos cincos presentes.
— Vocês vão cuidar desse caso como se fossem com os filhos e irmãos de vocês, eu dei
minha palavra para aquela mãe, então não me façam passar vergonha com a incompetência de
vocês. — Ele voltou a andar. — Panazzolo, fica com O'Brien e Davis. Volto em uma hora.
Não importava quantas vezes eu assistisse esses filmes, eles sempre me surpreendiam.
Como se a cada vez assistida, eu percebesse coisas novas, algo jamais observado antes. Minha
intenção era assistir apenas o primeiro, ver Bella se apaixonando e nada mais, entretanto, estava
prestes a acabar Lua Nova e iniciar Eclipse, no dia seguinte eu não teria nada para fazer, talvez
conhecer um pouco mais a cidade ou algo do tipo… Mas, esses compromissos poderiam
começar após as 12 pm.
— Parem, não podem machucar um ao outro sem me machucar… — Cito a fala da cena
ao mesmo tempo que Kristen Stewart. Era palpável a dor que a personagem sentia, ela amava os
dois, mas de maneira diferente e não sabia explicar o porquê… — É difícil gostar de alg…
Meu celular toca, me interrompendo.
Meu olhar vai para a tela, indicando um número desconhecido.
Podia ver que já passava das uma da manhã, levo a mão até o mesmo o pegando e
atendendo.
— Alo? — Falo e recebo um silêncio do outro lado da linha. — Acho que você deve ter
ligado errado…
Falo e um gelo percorre meu corpo. Estranho, mas parecia ter ouvido a minha própria voz
pela ligação, como se o outro telefone estivesse no mesmo cômodo que eu. Levo a mão ao
controle e pauso o filme, olhando ao redor e vendo todas as janelas e cortinas fechadas. A pessoa
continuava sem falar nada do outro lado da linha, dando para ouvir apenas a respiração dela
agora.
Tirei o telefone do ouvido, printando a tela e no momento que fui desligar a chamada, um
barulho veio da porta da frente, me fazendo fechar os olhos de medo.
— Mas que porra, Emma. — Uma voz masculina toma conta do ambiente, me fazendo
voltar a respirar. — Já falei para você trancar a porta… — Me viro deixando o celular sobre a
almofada, vendo Luke, visivelmente irritado. — Ah, desculpe. Pensei que fosse a Emma…
Cansei de falar para ela trancar essa porta
Ele leva a mão para a nuca, a coçando envergonhado, dou um sorriso amarelo, levando a
mão para meus cachos e os prendendo em um coque com o lacinho que estava em meu pulso.
— Não precisa se desculpar, afinal, a casa é sua…
— Minha irmã está dormindo? — Ele pergunta se aproximando e sentando na poltrona à
minha frente.
— Não, ela saiu… — Ele me olha surpreso. — Acho que acabei de dizer algo que não
deveria, Emma vai me matar.
— Não, apenas estou surpreso dela não ter me pedido permissão. Amanhã eu falo com
ela sobre isso.
— Bom, Luke, vou deixar você à vontade… — Falei pegando minha coberta e meu
celular, mas na hora vejo que não desliguei a ligação e a pessoa ainda estava ligada.
Automaticamente desligo o telefone. — Merda… — Praguejei e vejo seu olhar sobre mim. —
Acabei ligando para minha irmã sem querer…
Minto desviando o olhar dele e então coloco o celular bloqueado no bolso, quando estava
prestes a pegar o balde de pipoca vazio, ele toca em minha mão, chamando a minha atenção.
— Podemos conversar? Prometo que será rápido.
Ele solta da minha mão e deixo o balde sobre a mesinha de centro e me sento. Em menos
de vinte e quatro horas já tínhamos conversado mais do que nas últimas semanas… Sendo que na
noite anterior, ele havia me visto chorar, me abraçado e quase me beijado. Pela manhã pedido
para que eu esquecesse, ou melhor, eu sugeri isso e ele aceitou de bom agrado… Agora, mais
uma conversa?
Ainda podia sentir meu coração acelerado pela ligação de alguns minutos atrás e ele me
vêm com essa… Deus, sou muito jovem para partir dessa para melhor…
— Aconteceu alguma coisa, Luke?
Falei quebrando o silêncio, pela primeira vez na noite, olhei seus olhos vendo que
estavam um pouco avermelhados, ele havia chorado ou estava levemente alcoolizado. Preferia
ficar com a primeira opção.
— Várias, na verdade. — Sua mão vai ao bolso da jaqueta de couro, que deveria ser mais
velha que eu, porém estava conservada e retira um papel de dentro. — Espero que não fique
brava comigo, mas tomei o direito de abrir sua correspondência e… — Ele me entrega o um
recibo com o meu nome, logo reconheço o emblema do hospital e vejo o valor da minha multa
mais a conta do mesmo pago. — Não iria conseguir ficar em paz sabendo o tamanho da sua
conta com o hospital…
— Você não presc…
— Precisava sim, não iria conseguir dormir sabendo de sua dívida. Você ainda tem muito
que conhecer nesse país para ser deportada.
— Luke… — Meu olhar ainda estava no papel, e nem se quer percebo que estava preste a
chorar até ver a lágrima cair contra o recibo, levanto o olhar para ele, que está sorrindo. — Eu
não tenho palavras para agradecer… Não sei como, mas ainda irei pagar a minha dívida com
você…
Um peso foi tirado de minhas costas.
Não era uma pessoa interesseira, mas também não era ingênua. Jamais recusaria ajuda em
uma situação dessa, ainda mais de alguém que eu sei que tem a condição para isso. Emma já
havia comentado sobre os seus falecidos pais, eles ainda recebiam uma bonificação pelo serviço
que o pai prestou ao país, o que não faria falta para eles, mas mudaria a minha vida.
— Eu sei um modo… Você só precisa ser sincera comigo… — Ele diz se levantando e
parando na minha frente.
Levo a lateral do dedo para enxugar minha lágrima e engulo a seco, levantando a cabeça
para olhar para ele. Não poderia imaginar o que ele desejava me perguntar, mas meu coração
dizia que não era nada bom.
— Diga… — Sussurro.
— Você é a garota do hospital?
Um silêncio tomou conta da sala.
Sua respiração dizia.
Seus olhos se entregavam.
Mas, sua boca queria negar.
— Que? Como assim? Que garota? — Ela se levanta mais uma vez, passando a mão
sobre seu cabelo, desfazendo seu coque.
— Apenas diga, sim ou não…
Insisti pela resposta enquanto deixava meus olhos focados em seu rosto. Com a cabeça
ela nega e se vira em direção a escada, acreditando que irá se livrar de me dar uma resposta.
— Eu quero que você diga.
Minha mão vai até a dela, a puxando em minha direção.
Envolvo meu braço sobre sua cintura, a obrigando se virar e olhar para meus olhos, assim
como fizemos no hospital.
Não saberia dizer se era o meu coração ou o dela que se encontrava acelerado. Podia
sentir sua respiração contra a minha, se tornando apenas uma.
Eu estava louco de me aproximar dela dessa maneira, e o mais insano, e que não queria
me afastar, estava gostando dessa sensação, como se fosse um adolescente prestes a dar seu
primeiro beijo.
— Diga, Pâmela… Era você no corredor do hospital ou não?
Mais uma vez pergunto, porém dessa vez, minha mão vai ao seu rosto a fazendo olhar
para meus olhos, sem ter chances de desviar de mim.
— Sim… — Ela sussurra. — Naquela manhã, no hospital… Era eu, Luke.
Uma simples frase foi capaz de fazer com que eu ignorasse meus princípios.
Foi um ato automático, como se estivesse programado para isso. Fecho meus olhos e em
um ato de insanidade, aproximo meu lábio ao dela. Esperava uma ardência sobre meu rosto,
sendo causada pelo tapa que imaginei receber.
Mas me enganei, e nunca fiquei tão feliz de estar errado em algo.
Seus lábios me cederam a um beijo.
Um beijo totalmente diferente de todos que já provei. Ao contrário do que sonhei, não era
nada calmo e suave. Continha uma chama, uma fervura crescendo entre nossos lábios.
Éramos como dois adolescentes beijando pela primeira vez, só que sem a parte ruim do
primeiro beijo.
Eu não queria me afastar, eu precisava de mais do que um beijo.
Meu corpo adormecido, estava reagindo ao toque. Sentia sua mão sobre meus fios o
puxando e não ligava dela me tocar dessa forma. Mas me incomoda quando ela se afasta de
forma brusca, sem dar um aviso sobre o fim.
— Isso não deveria ter acontecido… — Ela se afasta com a respiração mais pesada.
— Não mesmo. — Passo a mão pela minha nuca, sem saber o que dizer ou fazer.
— Mas eu preciso de mais.
Antes que eu pudesse dizer algo, ela já estava sobre meus braços novamente.
Seguro em sua cintura a puxando ainda mais para mim, para não ter chances dela escapar.
O beijo não foi diferente do outro, a única coisa que mudava, era que não estávamos mais
em território desconhecido. Queríamos aproveitar cada segundo como se fosse único e o último.
Tivemos que nos afastar pela maldita falta de ar, não queria, mas podia sentir seu peito
subir e descer mais rápido do que o normal.
— Isso foi um erro…
Ela diz balançando a cabeça, pega apenas o seu celular e sai correndo para a escada,
subindo em direção ao seu quarto.
Não me movo, apenas fico observando ela subir e rapidamente sumir do meu campo de
visão.
Já era terceira loja que eu entrava e saia em menos de cinco minutos. Aquela sensação de
estar sendo perseguida novamente, permanece dentro de mim.
Há alguns meses atrás, quando eu estava no parque com meu kiddo, me sentia insegura,
como se alguém estivesse nos vigiando. Comecei a ficar paranoica com isso, evitei sair com o
menino da casa por duas semanas, mas mesmo assim, sempre tinha um carro branco próximo à
janela do meu quarto. Nunca contatei a polícia por medo, se realmente fosse Bryan, ele poderia
tentar algo contra mim ou até mesmo, eu ser obrigada a voltar para o Brasil. Perdi essa família
por conta disso, mas logo essa sensação foi embora…
Agora ela voltou, desde aquela maldita ligação de ontem.
Minha mente berrava para sair da loja e ir embora para casa.
Meu coração implorava para ficar longe de casa o máximo possível.
Mais uma confusão que eu me colocava, sem ter resposta para ela.
Meu olhar checa todo o local em busca de algo - ou melhor, alguém - que eu não saberia
dizer. Minha boca se seca ao ver um rapaz de cabeça baixa usando uma máscara e o mesmo boné
do cara do estacionamento. Viro meu rosto discretamente e começo a andar de forma apressada
para fora da loja de roupas de inverno.
Olho para ambos lados, tentando me lembrar de onde eu havia vindo, mas quando me
viro para trás, vejo que o rapaz entrega para a vendedora o casaco e começa a andar para sair da
loja, apenas me viro para a esquerda em direção a escada rolante a qual saio andando na mesma,
sem me importar se havia alguém na minha frente. Quando chego ao topo dela, olho para baixo
vendo o moço olhando de uma lado para o outro, quando vou voltar a andar, ele olha para cima,
provavelmente me vendo, engulo a seco e começo a correr o mais rápido o possível.
Pela primeira vez, penso em ligar para polícia, mas não para os detetives do meu caso.
Emory Morgan e Oliver Brown não passam pela minha cabeça, mas sim, Luke O’Brien.
Coloco a mão dentro da bolsa a procura do meu celular e não consigo achar o mesmo
apenas com a mão. Abro a mesma e viro a cabeça em direção dela, empurrando minha carteira,
passaporte, carregador portátil, necessaire e chave do carro… Meu celular não estava nela. Eu
não havia guardado ele depois de colocar a música no carro.
— Não… Não… Não. — Falo em português, sentindo meus olhos arderem, eu não sabia
como sair dali, o inglês parecia algo que eu não soubesse e o medo me aterrorizava. — Apenas
preciso sair daqui.
Levei as mãos trêmulas para meu cabelo, fazendo um coque e começo a andar, ou
melhor, correr pelo shopping atraindo olhares para mim. Tentei desviar de algumas pessoas, mas
acabei me esbarrando nas outras, ouvindo alguns xingamentos. Eu até mesmo poderia jurar estar
ouvindo meu nome, mas não cometeria o mesmo erro duas vezes.
Minhas panturrilhas começavam a arder, enquanto subia outra escada indicando a saída
do local, mas não iria parar e nem me culpar por esse lugar ser um labirinto. Chego ao topo da
escada e dou uma respirada profunda, voltando a andar rapidamente, vendo a entrada principal
do shopping, sem me importar se me levaria para o estacionamento ou não, eu apenas precisava
sair do local.
Faltava pouco para que eu pudesse sair do estabelecimento, mas da forma mais
desengonçada o possível, acabo tropeçando no meu próprio pé, me fazendo cair no chão e
derrubando minha bolsa que não havia fechado.
Balanço a cabeça sem me importar muito com as coisas, apenas começo pegando o que
vejo pela frente, mas em meio a tudo que toco, não vejo meu passaporte e no chão mesmo,
começo a olhar para os lados desesperadamente, eu não poderia perder aquilo, não me
desgrudava dele jamais.
Olho para trás vendo que meu passaporte acabou parando no pé da pessoa que subiu a
escada, a mão do homem conhecido por mim o pega e me oferece.
— Acho que isso é seu. — Ele diz sorrindo, fazendo com que o ar me falte.
Eu não sabia se chorava, corria ou agradecia.
Não era exatamente a pessoa que eu desejava ver, mas bem na minha frente, estavam
Emory e Oliver. A mulher com seu semblante fechado de sempre e Oliver com um sorriso um
pouco amigável. Pego meu passaporte de sua mão e me levanto apressadamente olhando para
trás, à procura do rapaz de boné, mas não há um sinal dele.
— Está tudo bem ? — Oliver pergunta, me fazendo negar com a cabeça
— Ele está aqui, eu tenho certeza que vi ele.
No mesmo momento ambos levam a mão para a cintura, pegando suas armas e se
colocando em posição, e em instantes o segurança se aproxima e Oliver mostra seu distintivo.
— Você tem certeza? — A detetive questiona, pegando seu celular.
— Não sei, ele estava de máscara e boné, mas não parava de me seguir. Desde o
estacionamento.
— Recebemos uma informação que ele estaria em um carro branco a caminho do
shopping, por isso estamos aqui. — Ela se vira de costa para mim. — Danger 5304, preciso de
reforços no Royal shopping center. Fugitivo branco de 27 anos, ele estava com um SUV branco
roubado, início da placa RN8. O suspeito está usando um boné e uma máscara. — Ela logo
recebe uma confirmação da central e dizem que há viaturas a caminho.
— Emory, fica com ela. Irei atrás dele, avise Grishan e Laurence. Você. — Aponta para o
segurança. — Ordene fechar todas as saídas. Ninguém entra e ninguém sai.
O detetive logo sai pelas escadas de onde eu subi e me viro para a mulher, sem saber o
que dizer ou fazer.
— Vamos para sala de câmeras. Quero que você me conte tudo desde que chegou aqui.
Eu não sei dizer o que aconteceu ou quantas horas haviam se passado.
Minha cabeça doía, eu não conseguia pensar e me sentia sufocada sentada naquela sala e
sendo interrogada.
Depois de mostrar para Emory todos os meus passos dentro daquele shopping, fiquei
dentro da sala de câmeras com dois policiais, que se mostraram gentis comigo, se não me
engano, seus sobrenomes são Lewis e Santana, que deixaram escapar que Luke era colega de
trabalho deles. Não poderia imaginar que meu chefe é um dos detetive do meu caso, seria por
esse motivo que fui escolhida por Emma? Mas… Não faria sentido ele ficar surpreso com minha
história ou até mesmo, não apontaria uma arma para mim.
Mais uma vez eu me encontro confusa, sem saber o que fazer ou no que realmente
acreditar.
Durante o tempo todo dentro da sala de câmera, tentei ver se Luke chegava ou estava
com seus companheiros, mas não havia indícios dele e muito menos de Bryan dentro do
shopping.
O que me levou a ser conduzida para a delegacia, sem ter chance de pegar meu celular e
avisar a Luke do ocorrido.
Eu estava sozinha dentro da sala cinza e praticamente vazia. Tinha apenas uma mesa
retangular, quatro cadeiras e uma câmera posicionada para onde eu estava sentada. Olhei para o
grande espelho, me perguntando quem estaria do outro lado, será que Luke estaria alí? Ou
Emory estaria esperando eu dizer mais alguma coisa?
Toda aquela demora estava começando a me deixar agoniada, não sabia o certo o que
fazer. Eu deveria comer o sanduíche que me trouxeram? Ou isso me faria demonstrar alguma
coisa? Eles me achavam culpada?
Ok, ficar nessa sala já está me fazendo delirar.
— Desculpe a demora, senhorita Albuquerque.
Oliver entra na sala acompanhado de outro homem. Um mais velho, com alguns fios
grisalhos, tanto no cabelo como na barba. Seu rosto não me era desconhecido, provavelmente
teria visto ele no hospital, passei por tantos interrogatórios durante aqueles dias.
— Sou o sargento Aaron Grishan e venho acompanhando seu caso desde o início. — Ele
fala sem sorrir e vira a cadeira, se sentando. — O que você estava fazendo no shopping naquele
momento?
Ele pergunta, me fazendo arregalar os olhos, já tinha dito tudo para Emory, que foi bem
ríspida comigo, mas o tom usado pelo sargento me deixou ainda mais assustada.
— Bem… Eu não sei o certo, queria comprar alguns discos de vinil.
— Quais discos? — Ele questiona logo em cima, olhando em meus olhos.
— Eu não sei. — Respondo, levando a mão ao cabelo para refazer meu coque, eu estava
nervosa e não via a hora de sair daquela sala.
— Como não? Não iria comprar discos de vinil? Ou foi a primeira coisa que passou pela
sua cabeça? — Seu tom era como se estivesse me acusando de algo.
— Meu Deus, ele acha que sou uma criminosa
Falo sem pensar em português, fazendo tanto Oliver como Grishan estreitarem os olhos.
— Apenas em inglês, Pâmela. Ok? — Oliver pede e eu concordo com a cabeça. — Pode
repetir o que disse, por favor?
— Eu não sei qual disco fui comprar. — Suspiro pegando a garrafa d’água, dando um
gole do líquido. — Tem uma vitrola antiga no meu quarto e achei que seria interessante comprar
alguns discos…
— Humm… — O mais velho diz, enquanto mexe em alguns dos papéis que estavam
dentro da pasta amarela, logo pude ler “Mitte, Bryan”. Ele retira umas fotos de dentro e as
posiciona sobre a mesa à minha frente. Meus olhos passam pelas primeiras três fotos, me
fazendo ficar com a boca aberta e aterrorizada. — Reconhece algumas dessas pessoas.
— Sim… — Fecho meus olhos, tentando apagar essas imagens da memória, eram duas
fotos do homem que esteve na casa de Bryan e outra de uma criança de uns 3 ou 4 anos, ambos
com a cabeça decapitados de seu corpo. — Esse é o moço a qual falei para vocês… — Abro os
olhos, olhando para o detetive Brown. — Porque estão me mostrando isso? Essa é a filha dele?
— Pergunto, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— É sim, essa é a…
— Ou eu mato a doce Adele… — Repito a fala de Bryan. — Ai meu Deus. — Começo a
chorar, abraçando meu próprio corpo. — Como pude dormir ao lado de uma pessoa tão cruel
como Bryan?
— Isso que queremos saber. — Aaron diz, guardando as fotos e deixando apenas duas,
uma eu reconhecia, era do local onde eu havia sido baleada, tinha meu sangue na foto,
juntamente com a minha mala de roupa. A outra fotografia era de um táxi batido e o vidro do
parabrisa quebrado, não reconhecia de nenhum lugar e muito menos havia alguém na foto. —
Dentre tantas famílias que você passou por seu intercâmbio, porque justo a casa do detetive que
seu namorado matou a esposa?
— Me responda, como você foi parar na casa do Luke?
Eu não estava entendendo. Meu cérebro havia absorvido muitas informações nas últimas
horas, mas era como se estivesse na minha primeira aula de inglês, sem saber o que o professor
dizia.
Como o Bryan havia matado Amber O’Brien? Eu jamais havia me perguntado como ela
teria morrido e agora tudo parecia um enigma para mim.
— Eu não sei… Emma que se interessou por meu perfil… — Minhas pernas começaram
a se mexer involuntariamente. — Oliver, do que ele está falando? Você estava lá quando acordei
da cirurgia, você e Emory sabem o quão assustada e atordoada eu fiquei. — Meu olhar é
praticamente de súplica para o detetive Brown.
— Albuquerque. — Ele começa a mexer em alguns papéis e pega algumas folhas, me
entregando. — A meses estamos atrás do Bryan, se não fosse pelo seu caso, provavelmente não
teríamos um nome e nem mesmo um rosto para ele. Também estamos monitorando suas
ligações, e podemos ver uma quantidade suspeita de ligações feitas por telefones descartados. —
Ele aponta para as ligações anotadas no papel, todas com menos de 20 segundos. —
Acompanhamos cada mudança de família que você fez, mas não recebemos atualização dessa
sua última família. Mas, do nada, sua conta do hospital é paga, então Luke nos conta sobre sua
nova babá e… — Ele aponta para uma linha abaixo, mostrando uma chamada com mais de um
minutos dessa madrugada. — Bem, Bryan vem apresentando traços de dominador ligado ao
narcisismo. Ele ainda não consegue aceitar o fato de você ter sua independência...
Oliver continuou falando e eu apenas deixei um filme passar por minha mente. Ele me
ajudou a pagar meu intercâmbio, fez questão de que eu pudesse enviar uma quantia a mais todos
os meses para minha avó no Brasil. Bryan também me manipulou para mudar de cidade e ficar
perto dele, mesmo sabendo que eu tinha uma host family perfeita em Liberal, Kansa. Me
convenceu a ficar com ele ao invés do hotel e quando eu descobri quem ele era…
Ele me quis, quis conversar, tentou me explicar, mas já era tarde. Então para ele, não
tinha outra opção a não ser me ver morta.
Durante todos esses meses, ele estava me rondando, as ligações, sensações, eu não estava
louca. Ele realmente estava atrás de mim.
— Pâmela? Está me ouvindo? — Oliver pergunta, segurando na minha mão.
— Sim, continue…
— Ele foi atrás de você no shopping, não acreditamos quando soubemos, ele vem
fazendo com que andemos em círculo a meses. Mas, quando te vi, achei suspeito e chamei
reforços.
— Bryan está em uma caçada e você é a presa dele. — Aaron diz, chamando a minha
atenção e então se debruça sobre a mesa, se aproximando de mim. — Ele fará qualquer coisa e
com qualquer pessoa para te ter de volta, você viu o que ele fez com o drogado e a filha.
Sua fala me fez perder o ar, eu sabia muito bem a quem ele estava se referindo. Eu não
poderia carregar mais uma morte nas costas.
— O que e.. — Minha fala é interrompida pela porta sendo aberta bruscamente, fazendo
com que meu coração acelerasse ainda mais.
— Porra, tive que atravessar a merda da cidade para seu informante não ter nada
relevante? Você sabe que tudo isso consta para se tornar um detetive, né?
Falo bravo, estacionando o carro em frente ao distrito. Tínhamos saído da minha casa por
volta das oito e meia, demoramos para chegar no local marcado e o informante de Jordan se
atrasou para não ter nada que agregasse no caso. Como se não bastante, meu parceiro quis parar
duas vezes no caminho para o departamento, fazendo com que demorasse ainda mais.
— Lógico que sei. Ele sempre tem informações necessárias, mas dessa vez ele vacilou.
Ele diz, como se não fosse nada demais. Assim que passamos pela porta de entrada, vejo
o sargento Bartlett em seu posto, que apenas com a cabeça me chama. Vou até ele, que começa a
olhar para seus papéis sobre o balcão.
— Preciso que você atenda uma ocorrência para mim, furto em uma padaria.
— Isso não é meu trabalho, manda Lewis e Foley.
Sem ouvir sua resposta, dou as costas e começo a subir a escada, não sairia do
departamento sem falar com Grishan.
— O’Brien, é uma ordem do Grishan. — O bigodudo grita do balcão.
— Ótimo, ele diz na minha cara então. — Coloco minha digital no leitor e o portão se
abre para que possa subir.
Assim que chego no andar do serviço de inteligência, posso ver Emory praticamente
sentada na minha mesa, com os braços cruzado e Laurence e Jordan conversando baixo em sua
mesa, que por sinal, era a mais próxima da sala do Aaron, que não se encontrava em sua sala, já
que a porta estava aberta.
— Bom dia, meu colírio, não lembro de ter dormido com você. — Emory fala assim que
passo por ela, me fazendo virar para trás e olhar para a mesma.
— Vai se foder, Emory.
Ando até a mesa de Laurence, que se levanta ficando em minha frente, Jordan apenas
recua. Ele me conhece o suficiente para saber que não adiantaria falar comigo, eu iria falar com
Aaron agora, ele querendo ou não.
Grishan melhor do que ninguém sabe disso, antes dele ser meu sargento, se tornou da
minha família, já que era um dos únicos e leais amigo de meu pai, o antigo sargento do 53, que
só se ausentou do mesmo após sua morte precoce junto com a da minha mãe.
— Cadê ele? — Pergunto para a italiana.
— Ele está interrogando uma pessoa, melhor você esperar. — Ela diz, mas logo passo por
ela, indo em direção às salas de interrogatórios, sem ao menos guardar minha arma no cofre, o
que poderia ser algo grave para a corregedoria. — LUKE, SUA ARMA, FANCULO[9].
Ela grita me xingando em sua língua materna, posso ouvir ela começar a teclar no cofre
para guardar a arma dela, antes de vir atrás de mim. Vou passando pelas salas e vendo através
dos espelhos que não havia ninguém nelas, assim que chego na última, posso ver perfeitamente
através do espelho, Pâmela sentada e sendo interrogada por Aaron e Oliver.
Balanço a cabeça revoltado, indo abrir a porta, mas Laurence me segura. Sem me
importar a empurro contra a parede, fazendo com que ela caia no chão com tudo. Abro a porta da
sala cinco com brutalidade, atraindo os olhares para mim.
Naquele momento, meus olhos se encontram aos de Pâmela, que estão avermelhados e
cheios de lágrimas, a qual ela tenta segurar, mas falhava.
— MAS QUE PORRA ESTÁ ACONTENCENDO AQUI?
Minha garota estava chorando.
Não sei em qual momento ela passou a ser minha, mas ela estava chorando sentada de
frente aos meus dois colegas de trabalho.
Não me importo com Laurence que está caída no chão ou até mesmo com o tom de
preocupado de Jordan ao ver a amiga. Minha preocupação estava em Pâmela, em seu nariz
avermelhado, assim como seus olhos que estão carregados de lágrimas.
— O’Brien, fora. — Aaron diz se levantando, mas ignoro e vou andando em direção a
única mulher da sala.
— Você está bem? — Pergunto, tocando em sua mão, e em resposta, ela concorda com a
cabeça.
— EU MANDEI VOCE SAIR, PORRA. — O sargento berrou, me empurrando para fora
da sala.
— Você fica. — Oliver protesta quando Pâmela ameaça se levantar.
A porta é fechada e o mais velho me conduz para a sua sala. Me afasto dele, já que
conheço o caminho e não faço questão de olhar os meus colegas que estavam na mesa da
italiana. Ouço o barulho da porta se fechar e não me movo.
— Por que a Pâmela está aqui?
— Senta. — Ele ordena me ignorando, então faço o mesmo. — EU MANDEI SENTAR,
CARALHO. ESSA MERDA É A MINHA DELEGACIA E VOCÊ TRABALHA PARA MIM,
PORRA.
Naquele momento meu punho se fechou e me sento na cadeira de frente para sua mesa,
sem dizer uma palavra sequer.
— Agora, arma e distintivo na minha mesa. — Posso ouvir barulho de copos e líquido
serem despejado no mesmo.
— Você está brincando comigo? — Me viro olhando para ele, que se aproximava com
dois copos de whisky.
— Não estou. O que você acha que a corregedoria irá fazer ao saber que você entrou em
uma sala de interrogatório com sua arma? Só estou adiantando o serviço deles, acordei caridoso
hoje. — Um copo é oferecido para mim, mas nego então ele despeja o líquido no próprio copo e
vira de uma vez só. — Você tem noção o que Átilas, seu pai, diria só de te ver entrar em uma
sala daquele jeito? Bom, eu sei. Ele te arrancaria da sala pelo colarinho e tenho certeza que ele
mesmo te entregaria para os oficiais, agora pense no olhar de decepção de sua mãe, ao saber que
empurrou uma mulher. Sorte sua Mary estar morta, se não ouviria mais do que eu e seu pai já
ouvimos só por pisar nos seus tapetes.
Eu sabia o que ele estava fazendo, queria usar meus pais para me acalmar. Mas o que ele
não sabia, é que eu não era mais o garoto irresponsável que ele foi dar a pior notícia no Iraque,
não tinha mais 26 anos e muito menos era um soldado imprudente.
— Se vai ficar com esses joguinhos, vou me mandar daqui e não faço questão de voltar.
Meus olhos estão fixos ao dele, de uma coisa ele sabia, eu não voltaria atrás da minha
palavra e Aaron não quer perder uns dos seus melhores detetives.
— Quer que eu seja direto, ok. Sua babá quase foi morta por Mitte, o mesmo que estamos
caçando há um mês e hoje ele a perseguiu. — Ele anda até a sua porta, abrindo a mesma. —
Agora, pode sair e deixar suas coisas na mesa, não é isso que você quer?
— Porque estou sabendo disso apenas agora? — Digo, tentando assimilar os casos.
— Você tinha acabado de perder Amber quando pegamos o caso, demoraria muito tempo
para te deixar a par de tudo. Então é mais fácil apenas obedecer.
O homem de quase cinquenta anos se senta na sua cadeira e coloca os pés sobre a mesa,
leva a mão até o bolso pegando seu canivete a qual abriu e começou a girar em seu dedo.
— Então é só isso que tem a dizer?
— Luke, Pâmela Albuquerque presenciou uma ameaça, ela se tornou uma ponta solta
para Bryan. Estávamos atrás dele a meses, sabemos que os Mitte’s estão traficando drogas
batizadas para todo Texas e mandando mulas para outros estados, senão países. Se não fosse pela
sua babá, não teríamos nome e nem rosto para um dos nossos fugitivos. — Ele se endireita e
debruça na mesa. — Então, sugiro que afaste ela da sua família e irei acionar o programa de
proteção contra vítimas para ela. Hoje ele foi atrás dela, nada o impede de tentar novamente.
— Isso está fora de cogitação. — Falo sem pensar e me levanto. — E-eu, Manu está
apegada a ela, assim como Emma. Elas já perderam gente demais, não farei elas perderem outra
pessoa. — Me viro para ele, que está com uma das sobrancelhas levantadas, me questionando. —
Ela não estaria segura perto de todos nós?
— Você quer assumir esse risco?
— Sim.
— Se acontecer alguma coisa com ela, tomo seu distintivo de vez.
Sem dizer nada, apenas levanto uma continência para o mesmo e saio da sala. Ele saberia
o que isso significa, assim como eu e meu pai, Aaron também havia servido por nosso país.
— Você fica. — Oliver fala e volto a me sentar, mantendo o olhar em Luke, que passa
pela porta e logo se fecha. — Temos pouco tempo antes que Luke insista em voltar.
— Do que você está falando?
— Pâmela, preciso que você me ouça com muita atenção. — Levo a mão aos meus olhos,
enxugando as lágrimas que queriam descer e ele me empurra um papel.. — Você tem duas
opções, a primeira é se tornar minha informante oficial. Irá receber por cada coisa que fizer em
relação ao caso do Bryan, isso também te garante segurança. Ele te quer, e se ele te quer, iremos
te querer mais ainda. Sim, você será a nossa isca para ele, mas Luke não pode saber. — Ele diz
sério, me fazendo recuar. — O que Aaron disse é verdade, Bryan matou a Amber e O’brien não
sabe disso. Não sei como você foi parar na casa dele e não me interessa o que está acontecendo
entre vocês, mas, você tem que ligar a qualquer sinal do Bryan e não esconder, como escondeu
todas aquelas ligações.
Ele estava querendo que eu mentisse para Luke. Não poderia fazer isso, não era certo
mentir para a pessoa que a menos de 24 horas tirou um grande peso das minhas costas. Mas, eu
sentia que essa era a única opção a qual eu tinha.
— E.. E se eu não assinar isso? — Pergunto, receosa.
— Bem, você viu do que Bryan é capaz. Jack e Adele foram apenas um dos efeitos
colaterais que o Mitte deixou após você ter saído da vida dele. Teremos que te colocar no
programa de proteção. — Ele me empurra outro papel. — Você terá que abandonar tanto a sua
vida aqui no Texas, assim como a sua vida no Brasil.
— Eu, eu não sei o que fazer… — Olho para ambos papéis, sentindo a ardência em meus
olhos.
— Você sabe, só não quer aceitar.
— O que direi a ele? — Me refiro a Luke.
— Independente do que você assinar, diga a verdade… Você foi comprar disco de vinil e
seu ex-namorado estava te perseguindo. — Ele me entrega a caneta e encaro ambas as folhas,
sabendo que uma delas teria a minha assinatura.
Mais uma vez, Bryan tirava algo de mim.
Ou perderia a minha liberdade de continuar a minha vida, sendo quem sempre fui, ou
terei que me tornar o que jamais fui, uma mentirosa
Eu não queria falar com ninguém, ou melhor, naquele momento eu não poderia confiar
em ninguém presente naquele andar, exceto em uma pessoa, a única que eu não havia visto desde
que saí da sala do Aaron. Aqueles a qual eu confiava a minha vida, assim como eles confiavam a
deles em mim, estavam escondendo as coisas há mais de cinco meses. Não seria algo fácil
confiar neles novamente.
Não sabia dizer se estava demorando ou não, eu estava me sentindo sufocado dentro
daquele departamento e não via a hora de poder voltar para minha casa, mas só faria isso com
Pâmela junto a mim.
— Qualquer informação, irei entrar em contato com você, assim como peço para que
entre comigo. — A voz de Oliver toma conta do local assim que ele abre a porta.
Pâmela não responde, apenas emite um som de concordância. Olho para Brown, que
passa por mim dando dois tapas sobre minhas costas e nos deixa a sós no corredor, posso
observar o semblante de cansaço da garota e suspiro, então movo a cabeça para que ela me siga,
não direi nada para ela enquanto estivermos em um prédio cheio de câmeras.
— Venha, vou te levar embora… Seu carro está aqui? — Pergunto a ela enquanto
atravesso a grande sala para chegar na minha mesa e pegar alguns pertences.
— Não. Eu deixei no sho… — Ela começa a dizer, mas Jordan a interrompe.
— Está sim, pedi para que Santana fosse buscar. — O negro se aproxima e me joga a
chave dando uma piscada, pego a mesma e jogo a chave do nosso carro para ele.
Não estava nem perto do meu expediente terminar, também não avisei Aaron que iria sair
e muito menos que não pretendia voltar hoje. Mas, do modo que minha mente estava, não iria
conseguir trabalhar, então isso seria algo que deixaria para resolver depois.
Desço a escada na frente da garota, como de costume coloco a minha digital para abrir o
portão e espero que ela passe para poder fechar. Diferente das outras vezes, apenas passo reto
pela recepção, diferente dela, que fez questão de ir se despedir de Santana e Lewis, que estavam
no balcão.
Deixei ela para trás e saí do local andando até o carro. Me encosto no mesmo olhando
para a porta de entrada e me perguntando o que tanto ela havia conversado na sala de
interrogatório, de todas as pessoas para interrogá-la, porque Oliver e Aaron? Bem, só seria pior
se fosse Emory no lugar de Oliver.
Eu conhecia o tipo de interrogatório de Grishan, ele era frio e calculista, deixava as
pessoas confusas com suas palavras. De certa forma, era um interrogatório sujo, conseguia fazer
com que as pessoas acreditassem que haviam cometido coisas sem ao menos terem feito, mas sua
abordagem já havia feito diversos criminosos se confessarem com naturalidade.
Emory Morgan já se colocava no lugar do interrogando, ela confessa coisas que jamais
tinham acontecido a ela, tudo para ouvir o que deseja. Eu até me questionava, até que ponto eu a
conhecia, e sempre tinha a mesma resposta: eu não conheço Emory Morgan, sabia o básico sobre
sua vida, tanto que fui descobrir da existência de sua filha depois de dois anos trabalhando ao seu
lado.
Agora, Oliver… Ele deixava com que o suspeito e vítima se assustasse com o outro
detetive e depois sorria como se fosse seu melhor amigo, te convence que ele sabe o melhor para
você, pode ter certeza que ele garante um acordo para algum criminoso, o acordo será entre ele e
o agente penitenciário, para que ele tenha o pior tratamento o possível por trás das grades. Não
posso julgar, eu era assim… Acredito que sou até hoje, mas Amber mudou isso em mim. Sempre
acabávamos discutindo sobre os direitos humanos do cidadão, posso garantir que um policial e
uma assistente social casados, gerava diversas discussões no jantar ao falarem do seu dia, por
isso com os passar dos meses de casados, decidimos que não falaríamos sobre nossos trabalhos.
Estranho, como até nesse momento eu sinto falta dela. Mesmo estando aqui, parado
observando outra mulher sair da delegacia, eu penso em Amber. Acho que trocaria tudo, tudo
mesmo, até mesmo ter conhecido Pâmela, para mais uma discussão na hora do jantar ou um
último beijo que não pude dar, por estar atrasado para o trabalho. Se eu soubesse que seria a
última vez que estaria com ela, jamais sairia de casa.
— Luke? Se estiver me ouvindo, pisque três vezes? — A mão de Pâmela me sacode,
fazendo com que eu pisquei diversas vezes. — Droga, acho que você piscou demais… Não sei se
isso conta como um sim
Como pode? Mesmo após ter tido uma manhã infernal, a garota ainda era capaz de sorrir
e fazer com que um sorriso surgisse aos meus lábios.
— Você… Você. — Balanço a cabeça e abro a porta do carro para ela. — Vamos, entre
no carro.
Digo e espero ela entrar para fechar a porta, dou a volta entrando no mesmo e faço uma
careta vendo o banco tão para frente. Olho para o retrovisor vendo que o mesmo estava
desajustado, ou melhor, o carro todo estava. Agora ele continha um cheiro mais adocicado, a
qual se remetia a cookies. Era impossível seu estômago não indicar sinal de fome dentro desse
carro.
— O que você fez com o carro? — Perguntei, empurrando o banco para trás e ajustando o
retrovisor, então levei a mão para um mini boneco a qual mexia a cabeça no painel do carro.
— Emma disse que o carro seria apenas para o meu uso, oras. Apenas deixei com o meu
jeitinho. — Ela parou a cabeça do boneco que usava uma camiseta com “1D” escrito dentro de
um coração. — Não mexa com o Louis, ok? Tenho ciúmes dele. — Ela falou em um tom sério e
depois sorriu.
— Você só pode ser de outro planeta, não é possível, garota. — Soltei uma risada
enquanto saia com o carro do estacionamento.
— Posso saber o motivo?
— Primeiro a senhorita pode colocar o cinto de segurança e depois, quem consegue sentir
ciúmes de um boneco nessas circunstâncias? — Logo posso ouvir o som do cinto sendo puxado e
o click do mesmo.
— Se tem uma coisa que seu país vem me ensinando, é que tenho que viver um dia e
cada vez e a única certeza que posso ter, é que meu Louis estará no carro me esperando amanhã.
— Ela solta um suspiro, me fazendo virar para ela rapidamente e concordar com a cabeça.
— Como você está com tudo isso e porque não me falou sobre a perseguição?
— Eu não tinha como te falar sobre a perseguição, sendo que nem eu sabia dela, se
soubesse não teria ido para o shopping… Não acha? — Ela tenta fazer uma graça, mas me faz
olhar feio. — Tudo bem.. Eu apenas não quis acreditar que era ele me ligando, já perdi tanta
coisa por conta do Bryan, que tive medo de te contar sobre a ligação e você me chutar para fora
da sua casa. Eu não quero ter que me afastar de v… — Ela faz uma pausa, fazendo com que meu
coração acelere naquele momento. — Da Manu.
— Não te chutarei por causa dele… Pode ter certeza disso, mas você precisa me jurar que
jamais irá esconder as coisas de mim. Pela sua segurança e pela minha família, está bem? —
Meu olhar vai ao dela pelo retrovisor e posso ver seu semblante ficar sério, por um momento
temo ela não me responder.
— Eu juro. — Ela diz seria e me faz sorrir.
— Bom, agora coloca uma música para eu julgar mais um pouco o “seu” carro.
Não precisei dizer duas vezes para que sua mão fosse para o som do carro, e não acho
estranho quando uma música cantada por cinco garotos começa a tocar, me fazendo ligar o nome
do boneco a essa banda inexistente nos dias de hoje, e como eu sei disso? Tive que ouvir minha
irmã da mesma idade, chorar pela banda que se separou.
Agora, estou ouvindo One Direction com uma garota da idade da minha irmã, e que eu
desejava beijar.
O que eu estou fazendo com a minha vida?
— Não acredito que você chorou com isso. — Falo indignado, vendo a palavra “para
sempre” aparecer na tela. — Isso foi a pior coisa que já assisti em toda minha vida.
— Ah, desculpe aí, senhor não choro por nada. — Sua voz era de brava, como se eu
tivesse xingando alguém muito próximo dela.
— Ella, essa luta no final foi uma merda. Não tem como isso ser bom, juro que tentei
gostar.
Passamos quase duas horas assistindo o filme enquanto comíamos. A comida japonesa já
havia acabado e estamos deitado sobre a cama dela, me viro de lado para olhar melhor para ela,
que está emburrada com meus comentários.
— Então diz aí um filme bom para chorar?
— Não vou ser mentiroso, mas chorei com Marley e eu.
— Ainda bem, ou iria dizer que você não tem alma.
— Ei, mesmo se não tivesse chorado, ainda teria alma. — Empurro seu ombro, forçando
ela a olhar para mim.
— Duvido muito, não sei nada sobre você! — Ela ri.
— Bom, minha cor favorita é verde militar, por causa do uniforme do exército. Meu
segundo nome é Átila, por ser o nome do meu pai, nasci no dia 22 de agosto. Acho que isso é um
bom começo.
Naquela noite, não quis mais beijar Pâmela. Me interessei por quem ela era, e me
surpreendi com suas coisas.
Pude descobrir além do que o sistema dizia sobre ela, sabia que sua cor favorita era verde
pastel e que amava coxinha, uma comida típica brasileira. Ela sempre quis ganhar um cachorro
de aniversário, mas sua avó nunca deixou ela ter, já que moravam em uma casa pequena e
tinham um comércio de doces. Também me lembrou que seu aniversário era três dias após o
natal, e quando criança, ela desejava que o Papai Noel mudasse seu aniversário para o mesmo dia
do nascimento de Jesus.
Não sei por quantas horas ficamos conversando e nem de onde surgiu tantos assuntos,
mas se dependesse de mim, os assuntos jamais acabariam e ela realizaria todos os seus sonhos
“nesse país bom de comida ruim”, como ela mesmo disse. E tive que levar a sério quando ela
disse que poderia dormir a qualquer momento, já que no meio de uma frase, ela acabou pegando
no sono e me deixando aqui, bobo enquanto admiro ela a dormir.
Eu queria sair dali e ir dormir na minha cama, não seria justo com nenhum de nós
dormirmos juntos. Mas não queria deixar ela pensar que eu estava a rejeitando.
— Só mais cinco minutinhos…
Digo para mim mesmo, fechando os olhos para piscar enquanto movia os dedos por seu
cabelo, mas dessa vez, meus olhos não se abriram e eu acabei adormecendo sem saber se estava
certo ou não.
Dois dias haviam se passado desde que Luke tinha ido atrás de mim.
Assim que acordei um vazio preencheu meu interior, ainda podia sentir o cheiro do seu
perfume em minha cama e seu abraço em meu corpo, se ele não tiver me abraçado durante a
madrugada, pode me chamar de esquizofrênica, porque senti até mesmo sua respiração contra
minha nuca.
Mas o sentimento de vazio passou, ao momento que peguei em meu celular vi três
mensagens de Luke.
“Luke: Bom dia, Ella.
Luke: Não quis te acordar, você estava dormindo tão bem que seria pecado te despertar.
Sai para trabalhar, então não pense em bobagens.
Luke: Poderia ter deixado um bilhete, mas minha letra é péssima. Vamos agradecer a
essa tecnologia. Até mais tarde.”
Não sei quantos minutos fiquei relendo essas mensagens, não me importei dele me
chamar de Ella, mesmo sabendo que devo cortar isso dele. É muito estranho ele me chamar de
“Ella”, quando no meu país tem a mesma pronúncia de “ela”.
Não tivemos tantos momentos a sós desde sexta-feira, mas ele esteve com o final de
semana cheio, nem sequer dormiu em casa de sábado para domingo, já que passaram a noite em
algum tipo de negociação.
Não entendi muito bem, mas Emma me explicou que as negociações é quando tem algum
refém sendo mantido preso pelo bandido, para ser a moeda de troca. Me arrepiei todinha, mas a
loira me garantiu que Aaron, o sargento que também era seu padrinho, era o melhor de todo o
Texas.
Na hora, senti um desconforto em ouvir o nome dele. Ele me pareceu tão frio dentro
daquela delegacia, mas nos retratos que tinham dentro dessa casa, ele parecia outra pessoa, ainda
mais quando ele estava em alguma foto com Emma.
Luke chegou apenas ontem de noite, totalmente cansado, já que eles tinham que
interrogar tanto a vítima como o bandido e depois fazerem um relatório detalhado de todos os
acontecimentos, o pouco que conversamos foi sobre a ação de graças e ele fez questão que eu
fosse com ele para a casa de Oliver e sua esposa. Compreendi completamente o fato de nossa
conversa ser rápida, então deixei que ele aproveitasse um pouco sua filha antes que os dois
dormissem.
Pode parecer doentio, mas do meu quarto fiquei observando ele brincar com ela através
da babá eletrônica. Ele sentado no chão com ela, enquanto ela fazia questão de ficar escalando
ele, era nítido a felicidade dos dois e cada vez que ela abria a boca para gargalhar, era como se eu
pudesse ouvir sua doce risada. Aquela cena era reconfortante e fez um vazio se abrir em meu
coração, é errado sentir inveja de uma bebê por ter o pai presente?
Hoje seria a consulta da Manu, já imaginava que começaremos a introdução alimentar, já
que estávamos apenas com o leite materno doado, que era sua única alimentação. Eu já estava a
caminho do consultório com a menina que brincava com a chave de casa no banco de trás.
Como sempre, estávamos com o som do carro ligado e eu cantava as músicas da minha
playlist, que eram de One Direction. Eu não conseguia desapegar, foram eles que através de
músicas me apoiaram a adolescência toda, então após o término deles, eu continuaria apoiando
cada um deles e faria de tudo para conseguir prestigiar o show de cada um em sua carreira
individual, já que não consegui realizar meu sonho, que era ver os cinco juntos em um palco.
Quando chegamos ao consultório, estacionei o carro e iria o desligar, mas não poderia
desligar o som bem ao meio de Drag Me Down, era um pecado para nós directioners não
finalizar essa música - e qualquer outra.
— ALL MY LIFE, YOU STOOD BY ME WHEN NO ONE ELSE WAS EVER
BEHIND ME. — Cantava olhando para trás e fazendo Manu gargalhar. — ALL THESE
LIGHTS THAT CAN’T BLIND ME. WITH YOUR LOVE, NOBODY CAN DRAG CAM
DOWN — Me viro para frente novamente e dou um berro. — PUTA MERDA
Falo em português, vendo Luke praticamente grudado na janela do carro rindo. Desligo o
som e o carro e então abro a porta, empurrando ele com a mesma.
— Não sei se você sabe, mas só tenho 20 anos! Está muito cedo para eu ter uma parada
cardíaca e hospital nesse país é muito caro. — Digo de forma dramática, enquanto ele vai tirando
Manu da cadeirinha.
— Não quis te assustar. — Ele ri e Manu acompanha ele, que menina puxa saco. — Seu
show estava ótimo, se essa coisa de babá não der certo, deve tentar a vida de artista.
Ele debocha, me fazendo revirar os olhos enquanto pegava a bolsa dela e a minha de
dentro do carro, e por mais que eu tentasse manter um semblante de brava, acabo rindo junto
com eles.
— Como você é besta, Luke. — Comento indo ao lado deles para entrarmos no
consultório.
— Quanta ofensa, não estou gostando, senhorita. — Ele olha para mim e eu estreito os
olhos, negando com a cabeça. — Me diga, filha, o que devemos fazer com ela? — Ele se vira
para a filha, que responde com resmungos. — Você tem razão, iremos fazer isso.
— Isso o que?
— Não podemos te contar agora, aguarde, senhorita Albuquerque, mas aguarde.
Ele diz abrindo a porta para que eu pudesse entrar, dei outra risada pegando a bebê no
colo para que ele possa ir até o balcão da recepção fazer a ficha da Manu.
Luke pega a filha da mão da médica e nos sentamos na cadeira de frente para sua mesa, a
doutora joga o palito no lixo e vem para perto de sua mesa.
— Bom, papais… — A médica fecha os olhos, percebendo o que havia acabado de
dizer. — Perdão. Papai e..?
— Babá, sou a babá dela.
Falo rapidamente, sentindo meu coração disparado, não tive coragem de olhar para Luke
e ver sua reação com o erro da doutora.
— Babá. — Ela repete, passando álcool na mão e senta na cadeira. — Manu está com 63
centímetros de altura e pesando 6,658 kg. Temos que levar em consideração que ela nasceu
prematura. Então são números surpreendentes. — Solto um suspiro aliviada, não sabia muito
sobre o peso e medidas dos bebês, mas a minha curiosidade fez com que eu pesquisasse tudo
pela manhã. — Iremos continuar com as vitaminas, para que ela possa se desenvolver ainda
mais. Também começamos a introdução alimentar, mas isso não significa que iremos tirar ela do
leite, os bebês precisam da vitamina do leite materno e mesmo sendo leite materno congelado,
ela precisa de todas as vitaminas.
A pediatra me entrega duas folhas, sendo elas cardápios para a nova alimentação da
Manu. Passo o olho rápido, já pensando em ligar para minha avó, eu não sabia cozinhar comida
para bebê e se dependesse de Luke e Emma, seriam aquelas papinhas industrializadas.
— Podemos estar dando frutinhas para ela também? Percebi que os dentes estão
incomodando bastante, acho que pode ser um modo dela aliviar a coceira, já que ela usa
brinquedos para isso. — Pergunto curiosa
— Pode sim, mas vamos focar em dar frutas que não sejam tão ricas em açúcar e para o
dente, pode fazer um picolé com leite materno, vai aliviar tanto na dor como na coceira. Agora
que vem a parte chata… Manu tem duas vacinas para tomar. As terceiras doses da pentavalente e
vip. Se desejarem, podemos dar agora mesmo.
Nessa hora me viro para Luke, que faz o mesmo, ele concorda com a cabeça e entendo.
— Sim, pode ser. — Engulo a seco, pegando a menina no colo e Luke me entrega sem
protestar.
Se eu já estava nervosa só de imaginar, não consigo imaginar como ele se sente ao saber
que sua filha irá sentir uma dor, mesmo que seja para o bem dela.
— Irei chamar a enfermeira. — A médica se levanta, saindo da sala.
— Obrigado. — Luke diz, me fazendo olhar confusa enquanto Manu resmunga no meu
colo. — Geralmente quem vem nas vacinas é a Daphne, não gosto da ideia de ver mais agulhas a
perfurando.
— Não precisa agradecer,
Ele não responde e a Dra. Geller volta para sala, acompanhada de uma enfermeira que
segura uma bandeja.
— Bom, a vacina será na perninha, pode tirar a calça dela.
Respiro fundo baixando a calça dela e em seguida dou um beijo em sua testa, que me
olha com os olhos azuis brilhando. A enfermeira se aproxima limpando o lugar da aplicação e
Manu já demonstra desconforto, dou um sorriso para ela.
— Você vai me dizer o que falou para o seu papai ou não? — Começo a conversar com
ela, que começa a se mexer, então levo a mão para a perna dela, a segurando com delicadeza.
— Irei aplicar a primeira.
— Hoje você vai provar sua primeira fru… — Paro de falar ao momento que a
enfermeira injeta a primeira agulha nela e Manu abre a boca chorando. — Oh, meu amor, calma.
Titia Pâm está aqui. — Abraço seu corpinho sem mexer muito nela, mas ela continha chorando,
fazendo com que meus olhos ardam. — Só mais uma picada e já vamos embora, ok? — Respiro
fundo, vendo a enfermeira se aproximar com a outra e mordo meus lábios inferiores com força.
— Um, dois, três e… Calma, já passou. Agora acabou.
Me levanto com ela após a enfermeira colocar o curativo em sua perna. Arrumo sua calça
e então a coloco em meu peito, para que se sinta protegida. Não me importo com as minhas
lágrimas ou o que está acontecendo ao nosso redor, apenas desejo que toda a dor que ele está
sentindo, sumisse.
— Calma, minha princesinha. — Beijo o topo da sua cabeça. — Essa dor já vai passar, eu
te prometo…
Já estávamos dentro do carro de Pâmela, eu dirigia enquanto ela estava no banco de trás
com Manu em seu colo. Eu era contra esse tipo de comportamento, sempre julguei pais que
faziam isso com seus filhos, mas hoje, eu pude ver que tanto a Manu, como Pâmela precisavam
ficar próximas umas das outras. Eu não imaginei que Ella iria chorar, mas mesmo com Manu
dormindo em seu colo, ela ainda deixava algumas lágrimas escorrer.
— Ella? — Chamo a garota olhando pelo retrovisor, ela levanta o olhar para mim. — Se
importa de passarmos em um lugar antes de irmos para a casa?
— Não me importo, só temos que passar em algum hortifruti depois, precisamos comprar
as coisas para a papinha da Manu.
— Vamos ao mercado, lá tem papinh…
— Nem pense em finalizar essa frase! Nada dessas papinhas industrializadas. — Ela
revira os olhos. — Estadunidenses tem uma mania chata!
— Vocês amam nossos fastfood! — Rebato, rindo.
— Você tem um ponto. — Ela dá um sorriso.
Aquele sorriso me desnorteia e eu tenho a certeza que estou ferrado.
Não estava me sentindo à vontade, estava com medo de como seria estar no mesmo
ambiente que todos os amigos de trabalho do meu chefe. E, mais nervosa ainda de ter que
encarar Aaron outra vez.
Nos últimos dias me senti tão bem, bom, para falar a verdade, após o ocorrido no
shopping concentrei toda minha raiva em Luke, por ter me ignorado. Mas depois de nossa noite
juntos, estava me sentindo leve, me sentindo eu mesma depois de um longo tempo, isso se não
pela primeira vez.
Agora, estávamos todos parados em frente a porta do detetive Brown, Luke já havia
apertado a campainha e eu segurava a Manu, enquanto as duas atrás de nós seguravam a
sobremesa.
Havia passado a manhã toda enrolando brigadeiro e colocando eles em seus copinhos,
pela primeira vez na vida, foi chato enrolar brigadeiro, já que não tinha Lara para ficar roubando
as minhas bolinhas, mas estava ansiosa para mostrar um pouco da minha cultura para eles.
Logo a porta se abre e podemos ver o detetive sorrindo enquanto segura uma garrafa de
cerveja em sua mão. Diferente das outras vezes que nos encontramos, ele está leve, sorrindo de
verdade.
— Luke! Só faltava vocês. — O detetive com cabelo escuro diz se aproximando do
amigo para um quase abraço, em seguida se vira para mim. — Pâmela, seja bem vinda a minha
casa.
— Muito obrigada, detetive Bro… — Ele me interrompe.
— Oliver. Aqui sou apenas o Oliver e você apenas a Pâmela, ok?
Dou um sorriso insegura, mas concordo com a cabeça. O anfitrião comprimenta o
restante das pessoas e faz questão de levar as travessas para a cozinha. Luke pega a Manu no
colo para que eu tire meu sobretudo. Logo uma mulher ruiva, alta, usando um vestido preto e
carregando um menino de uns três anos se aproxima, dando um falso sorriso, automaticamente
me viro para Emma, que quase revira os olhos.
— Vocês chegaram. — Ela deixa dois beijos na bochecha de Luke, mordo meus lábios
com força, desejando que ela se afaste dele. — Manuzinha, como você está linda, não acha,
Liam? — Ela se vira para o filho.
— Ela chupa pepeta mamãe. — O menino fala em resposta da mãe, me fazendo dar uma
risada, no mesmo momento a mulher se vira para mim.
— Ah.. Oi! Eu so-u a S-pen–cer. — Ela começa a falar pausadamente, fazendo com que
Luke feche a cara, mas faço um sinal discreto com a mão para que ele a deixe continuar. — Con-
se-gue me en-ten-der? — Mesmo estando com um sapato fechado, dobro meus dedos com força,
tentando controlar a minha cara.
— Compreendi muito bem, só fiquei com dúvida do porque falar assim. Quer chamar a
atenção da Manu? Ela está no colo do Luke, não no meu. — Aponto para a criança e dou um
sorriso. — Mas, caso prefira, também sei falar o português e o espanhol, não sei se sabe algum
idioma a mais que o inglês.
De longe posso ouvir uma risada e quando me viro, é Emory rindo sem ao menos
disfarçar, enquanto sua amiga se vira de costas, tentando passar despercebida, mas falha em sua
tentativa.
— Vejo que você já conheceu minha esposa e meu filho! — Oliver retorna e dessa vez
com uma garrafa de cerveja para Luke e outra para Daphne, que nega com a cabeça. — Sintam-
se em casa, temos bebidas na geladeira. — Ele diz e chama o amigo para se juntar aos outros
homens, mas antes de Luke, ir pego Manu em meu colo.
Olho para trás vendo que a esposa de Oliver não está mais presente e reviro os olhos,
chamando a atenção de Daphne e Emma.
— Não gosto dessa mulher. — A sogra de Luke diz.
— Te garanto que só o marido que gosta. — Emma quem diz dessa vez.
— Mal a conheci e já desgostei, temos que ficar mesmo?
Sim, eu tinha que ficar.
Luke está leve e feliz, mesmo não estando ao mesmo cômodo que ele, eu posso ouvir sua
gargalhando vindo da cozinha, sem ao menos o ver, podia imaginar ele com umas das mão em
seu peitoral enquanto ria, achava estranhamente atraente o modo a qual ele ria.
Mas, confesso que estava me sentindo um peixe fora d'água. Os homens estavam na
cozinha, todos conversando e bebendo. Emma conversava com Satine, fiquei surpresa ao
descobrir que Emory tinha uma filha, pelas poucas vezes que a vi, poderia jurar que essa mulher
era incapaz de sentir amor por outra pessoa a não ser por ela mesma. Até procurei Daphne com o
olhar, mas ela não estava em meu campo de visão.
— Acredito que a intenção da ação de graças é se unirem e não se isolar. — Uma voz
feminina chama minha atenção, entretanto logo posso perceber que não é de uma americana
nativa, devido o forte sotaque.
— Bom, não sei qual é a real intenção, já que é a minha primeira ação de graças pra
valer. — Dou uma risada para a loira, que me acompanha.
— Olha só, também é a minha primeira. — Ela bate sua taça de vinho em minha lata de
coca-cola quase vazia. — Acho que não tivemos a chance de nos apresentarmos em meio a toda
aquela confusão daquele dia. Prazer, Laurence Panazzolo. — Ela estende a mão a qual seguro e a
puxo para um beijo na bochecha e em contrapartida, ela me dá dois beijos, uma em cada
bochecha.
— Sou a Pâmela! Como é bom encontrar alguém que não tem medo de contato físico, de
onde você é? — Pergunto, animada.
— Sou de Nápoles, Itália. Conhece?
— Antes de vir para meu intercâmbio, jamais tinha saído do meu Estado.
— Está gostando daqui?
— Posso ser sincera? — Ela concorda com a cabeça, enquanto termina de beber seu
vinho. — A comida é horrível e as pessoas são bem…
— Secas? — Concordo com a cabeça, rindo. — Sei bem o que é isso, sofri nos meus
primeiros meses aqui, mas já me adaptei, ainda mais com o trabalho que tenho.
— Deixa eu ver, as estrangeiras se juntaram para fala mal do nosso país, mas não vão
embora daqui por nada? — Emory se senta ao meu lado com duas garrafas de cerveja na mão e
Laurence confirma. — Vocês gringos são muito mau agradecidos, deveria dar um jeito de
suspender o visto de vocês.
Ela diz em um tom sério enquanto revira os olhos, nesse momento meu corpo gela,
pensando na possibilidade dela realmente fazer isso.
— Respira, garota, não farei isso! Estou apenas brincando. — Ela diz rindo com a amiga
e me entregando uma das garrafas.
— Eu ainda vou precisar de um cardiologista nesse país! — Falo levando a mão na
garrafa de vidro, mas logo me afasto com a voz do sargento.
— Emory! Nem pense em dar isso a ela.
— Que isso, ela é maior de idade no país dela. — A morena argumenta.
— Se eu ver alguém dando bebida para ela ou para Emma, vão se ver comigo. Aqui elas
só bebem depois dos 21 anos. — Ele diz alto, chamando a atenção de todos, já que os rapazes se
aproximam na sala.
— Ok, sem graça. — Emory diz atrevida e antes que Aaron pudesse retrucar. — Agora
você é só o meu amigo e nada de ser meu chefe. Tira essa cara de bunda se não estraga o jantar.
— Todos riem, fazendo o sargento deles revirar os olhos.
Ela se levanta indo para próximo dos amigos, então a loira também se levanta e me faz
acompanhar ela para perto de todos. Por algum instinto maior, me aproximo de Luke, ficando ao
seu lado, mesmo que eu evite, me viro para ele e vejo que ele fez o mesmo, então um sorriso se
abre aos meus lábios e uma vontade incontrolável de tocar nele me domina, porém me contento.
— Estamos todos de acordo que ninguém deve deixar o Jordan chegar perto do peru esse
ano? — Oliver é quem diz.
— Realmente, ouvi boatos que é você quem gosta de um peru bem grandão. — O negro
rebate, arrancando uma risada de Emory.
— Quem cala consente, Oliver, então é verdade os boatos? — Luke entra na onde e de
forma discreta me entrega a sua garrafa de cerveja, olho para ele que pisca para mim e então
tomo um gole do líquido amargo.
— Se for o seu peruzão, é impossível não gostar.
Não sei o que deu na minha cabeça, mas na hora só consegui imaginar Luke pelado e
acabo me engasgando com a cerveja, chamando a atenção de todos para mim. Começo a tossir
sentindo o meu rosto ficar quente, e vai por mim, não é por causa do engasgo e sim com a
imagem que não sai da minha mente.
— Alguém traz água para ela. Não estou a fim de preencher nenhum relatório hoje. — O
comentário vem de Emory, que tira a garrafa da minha mão.
Logo um copo é posto em minha mão com água e vejo ser Luke me entregando, então
tomo todo o líquido rapidamente, me recompondo. Pisco três vezes rapidamente para que as
lágrimas parem de descer e quando me dou conta, todos estão me olhando, até mesmo Spencer e
Daphne, que não estavam presentes estão junto a nós.
— Tudo isso por falar no… — Emory começa a dizer, mas Oliver a interrompe na hora.
— Acho que já podemos nos sentar e comermos.
Olho para o detetive que cuida do meu caso, na intenção de agradecer e ele pisca, como
se entendesse o que eu desejava.
Os anfitriões levam todos até a sala de jantar, onde tem uma grande mesa posta e
decorada, como se fosse noite de Natal. Me sento com Emma ao meu lado direito e Manu em em
uma cadeira para alimentação ao meu lado esquerdo, Luke está a minha frente, o que me faz
sorrir. Não havia lugar melhor para se sentar a não ser próximos daqueles que me fazem sorrir
todos os dias.
— Vamos lá. — Oliver que estava na ponta da mesa se levanta, chamando a atenção de
todos. — Eu sou grato pela vida, pelo meu emprego e principalmente pela minha família. — Ele
se vira para a esposa e o filho que estão ao lado.
— Eu sou grata pela pelo meu esposo, meu filho e Deus, por proteger meu marido todos
os dias. — Spencer é quem diz, tenho que fazer um esforço para não revirar os olhos.
— Como todo ano digo e volto a dizer, sou grata pela Satine, que é a única razão que me
faz voltar para a casa todas as noites. — Emory diz olhando para filha, enquanto pega na mão
dela, me deixando totalmente intrigada para saber ainda mais sobre ela.
Logo Jordan diz os motivos de ser grato, em seguida é Daphne que deixa claro ser
extremamente grata pela neta, em seguida é Laurence e Aaron.
— Sou grata pela minha sobrinha, que trouxe vida a minha casa. — Emma diz olhando
para Manu, e então entendo que é minha vez.
— Sou grata pela minha família, que me dá todo apoio mesmo estando longe, pelo meu
emprego, que depois de tudo eu ainda consegui permanecer em uma família incrível com uma
kiddo incrível e pela vida. — Dou risada. — Nunca tive que batalhar tanto para permanecer viva
e vocês sabem disso. — Os detetives riem junto, deixando apenas quatro pessoa na mesa sem
entender nada.
— Acho que agora sou eu. — Luke olha para irmã. — Sou grato pela Emma, que foi o
meu presente de criança. — Se vira para os amigos. — Por vocês, que não saíram do meu lado
em nenhum momento durante esse ano. — Olha para Daphne. — Pela Daphne, que sempre será
minha familia. — Seu olhar vem até o meu, fazendo um arrepio percorrer por meu corpo. — Pela
Ella, que faz de tudo pela minha filha. — Seu olhar vai a menina que resmunga enquanto brinca
com a capinha do meu celular. — E principalmente por Manu, por ter ficado e me ensinado a
sorrir novamente, por ela ter lutado por 15 dias para viver e ser uma criança maravilhosa. — Seu
olhar volta ao meu e abro um sorriso discreto.
— Agora, para não termos nenhum imprevisto como ano passado. — Me viro para Oliver
e vejo o mesmo tirando o cloche[10] de cima da bandeja, fazendo todos rirem. — O pernil já está
fatiado, bom apetite para todos.
Oliver se senta e então todos começam a se servir, meu olhar se vira mais uma vez para
Luke, que permanece fixo a mim.
Eu estava completamente ferrada por ter me apaixonado por ele.
Não imaginei que ficaria nervoso com o jantar.
Ver o modo como Spencer falou com Ella, me fez repensar se teria sido uma boa ideia
termos aceitado o convite, as vezes me esqueço como essa mulher pode ser tão inconveniente.
Iria responder a mulher, mas Pâmela não baixou a cabeça para ela, o que me deixou um pouco
mais confortável.
Estávamos todos na mesa do jantar, comendo e conversando, tentava não ficar olhando
apenas para a garota a minha frente, entretanto não tinha como. A cada vez que ela se movia,
meu nariz era invadido por seu doce cheiro de cookies, mesmo com tantas comidas sobre a mesa,
era seu cheiro que me agradava.
— A melhor parte chegou! — Emma comenta, fazendo eu me virar para ela.
— Laurence e Pâmela. — Oliver chama a atenção das duas. — Aqui temos uma tradição.
— Ele levanta o osso da clavícula do peru. — Todo ano, duas pessoas são escolhidas para
quebrar a clavícula da sorte. E como é o primeiro ano de vocês, nada mais justo de serem vocês a
fazerem um pedido enquanto puxam.
— Qualquer pedido? — Pâmela pergunta enquanto se levanta.
— Qualquer pedido, e se você ganhar, seu pedido se realiza até a próxima ação de graças.
— Emory quem explica.
— Vamos lá então. — Laurence segura um lado do osso, enquanto Pâmela segura o
outro.
Posso ver que as duas fecham os olhos e ambas fazem o pedido em voz alta, porém em
sua língua materna, se tornando irreconhecível para o restante. A mesa toda estava concentrada
no ossinho, e por mais que não estivéssemos segurando, torcemos para uma delas e fizemos
nossos pedidos também.
Que um dia Amber possa me perdoar por gostar de outra mulher.
Fecho os meus olhos fazendo o meu pedido e só abro quando ouço o click do osso se
partindo, é idiota? Sim, mas todos comemoram quando Pâmela mostra que ficou com a maior
parte.
— Agora é só esperar, minha filha, em um ano seu pedido se torna realidade! — Daphne
diz sorrindo para Ella, que logo volta a se sentar próximo da Manu.
Aproveito que todos voltaram a conversar e me levanto indo em direção a Laurence, que
estava no aparador se servindo de vinho.
— Você tem um minuto?
Pergunto para a italiana que concorda com a cabeça enquanto deixa a garrafa de vinho
sobre o vidro. Ando até a sala, longe de todos e então coloco as mãos dentro do meu bolso, me
virando para ela.
— Aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta preocupada e eu nego com a cabeça.
— Não. Não agora, eu ainda não me desculpei com você depois daquele dia, mas e…
— Não pense em terminar, você não precisa se desculpar. Não agi certo escondendo as
coisas de você, somos uma equipe e se não tiver confiança, não tem nada… Não é?
— Você não tem culpa do meu descontrole, eu errei e é preciso pedir desculpa. Entendo
se você não aceitar.
— Luke O’Brien, suas desculpas estão aceitas. Agora para de ficar se remoendo com isso
e vamos curtir nossa noite. — Ela diz me abraçando. — Aliás, sabia que o português é bem
parecido com o italiano?
— Não, porque? — Pergunto curioso enquanto andamos até a sala de jantar.
— Eu entendi perfeitamente o pedido da sua babá!
Ela diz se afastando de mim enquanto sorri terminando sua taça de vinho, paro de andar
olhando ela e em seguida me viro para Pâmela, que me olha.
— Está tudo bem? — Ela sussurra enquanto segura a colher de comida da Manu.
Concordo com a cabeça me aproximando das duas e deixo um beijo na cabeça da minha
filha.
— Está sim, era uma bobagem de trabalho que estava falando com Laurence. — Digo
tocando em suas costas e acariciando lentamente enquanto ela leva a colher até a boca de Manu.
— Até no feriado vocês trabalham! Detetives. — Ela ri.
— Olha quem diz, é sua noite de folga e está dando comida para Manu.
— Ei! — Ela se vira para mim. — Cuidar da Manu é mais do que um trabalho, é um
prazer para mim.
Senti verdade em suas palavras, em seu olhar que brilhava ao falar de Emanuelle. Se
antes havia alguma dúvida, nesse momento eu tinha certeza que o que eu sentia por ela era mais
do que uma pequena atração.
— Hora da sobremesa! — Spencer anuncia me fazendo tirar a mão de Pâmela e me
afastar um pouco nervoso.
— Ainda bem, não aguentava mais esperar para provar esse… Como é o nome mesmo
Pâm? — Emma pergunta.
— Brigadeiro! É um doce típico do Brasil e não há que não ame, espero que vocês
gostem!
Pâmela diz animada enquanto a travessa vai passando por cada um, que pega uma doce
que estava sobre o papel. Levo o doce de chocolate aos lábios mastigando o mesmo e sentindo
um sabor incrível tomar conta da minha boca, era muito doce, mais do que estava acostumado,
porém não era enjoativo, poderia comer mais alguns dele sem problema algum.
— Isso aqui é incrível! — Satine é a primeira a exclamar. — Você vai ter que passar essa
receita!
Ella começa a falar do doce toda animada enquanto todos se saboreiam com o famoso
brigadeiro.
O jantar tinha sido incrível, até mesmo os comentários inconvenientes de Spencer não
estragou a noite. Já tínhamos deixado Daphne em sua casa, Manu dormia no cadeirão ao banco
de trás e Emma estava mal humorada comigo, por não deixar ela sair com as amigas da
faculdade.
Assim que parei o carro em frente de casa, ela desceu do mesmo e só não bateu a porta
por conta de Manu estar dormindo, solto um suspiro frustrado, Pâmela ri tirando o cinto de
segurança.
— Você ri porque não é sua irmã. — Dou risada saindo do carro e indo tirar Manu do
cadeirão.
— Ah,.pode ter certeza que sei como é isso, tenho uma “Emma” lá no Brasil, só que ela
tem 18 anos e se chama Maria Lara. — Ela diz pegando a bolsa da Manu e fechando a as portas,
travo o carro e espero ela entrar em casa para que eu entre.
— Maria Lara? — Ela concorda enquanto tranca a porta. — É a menina das fotos no seu
quarto?
— É sim, ela foi o meu presente também. — Ela diz baixo enquanto subimos as escadas
para o quarto de Manu. — Eu diria que ela é até mais rebelde que Emma, se eu dissesse que ela
não iria sair, ela riria da minha cara e sairia mesmo assim!
Ela dá os ombros enquanto tira o sobretudo, por mais que estejamos no inverno, dentro
de casa estava quente devido ao aquecedor que não desligamos.
— Seus pais não dizem nada? — Pergunto entrando no quarto de Manu, ela acende os
abajures e a luz azul, coloco a bebê sobre o trocador enquanto Pâmela escolhe uma roupinha para
minha filha.
— Bom, não temos pai e nossa mãe nunca morou com nós. — Ela diz me entregando um
body branco, e em seguida faz um coque deixando suas costas amostra.
— Eu sinto muito, não sabia que se…
— Não, meu pai não morreu. — Ela sorri. — Nunca soube quem é meu pai, minha mãe
nunca soube quem ele era… Como posso dizer, minha mãe é… — Ela parece envergonhada para
dizer.
— Acompanhante?
— Quase isso. — Ela diz já retirando o vestido da minha filha, que continua dormindo.
— Então fomos criadas pela minha avó desde pequena. Meus avós são senhores de idade, não
tinham mais pulso firme para nós criarmos, então eu meio que precisei criar ela. Mas, podemos
ver que não adiantou muito.
— Tenho certeza que você deu o seu melhor. — Falo baixo.— Afinal, vocês têm quase a
mesma idade.
— É, tenho orgulho de quem Lara se tornou. — Ela diz colocando Manu de barriga para
cima no berço. — Prontinho, ela está trocadinha e dormindo gostoso.
Ligo a babá eletrônica e me viro para a garota que organizava as coisas desarrumadas.
Fico observando cada movimento dela, como se estivesse assistindo o meu filme favorito pela
primeira vez.
— Agora sim posso ir deitar. — Ela se vira. — Luke?
— Oi… — Me aproximo um pouco.
— Obrigada por hoje… — Ela dá dois passos para frente.
— Eu quem preciso te agradecer por tudo… — Pego na sua mão. — Ainda não é meia
noite, então ainda posso ser grato…
— Pelo o que? — Pâmela morde seu lábio, me fazendo fechar os olhos e suspirar, então
abre eles novamente, balançando a cabeça em negação. — Por ter você. Sou grato por todos os
desastres que nos aconteceram e cruzaram o nosso caminho…
— Luke… — Levo o dedo aos lábios dela, a impedindo de continuar.
— Não diga nada. Deixa eu terminar. — Acaricio seu rosto. — Não vou dizer que sou
grato pela morte de Amber ou pelo sofrimento que Bryan te faz passar, mas sou grato por termos
sofrido ao mesmo tempo e que no meio desse sofrimento, tenhamos nos encontrado.
— Me beija… — Ela sussurra, fazendo meus lábios se curvarem em um sorriso.
— Você tem certeza?
— Nunca tive tanta certeza nesse mundo.
Eu não penso duas vezes, deslizo a minha mão para sua cintura puxando ainda mais para
mim. Pâmela fecha os olhos e sorriso levando meu nariz ao dela, deixando nossas testas coladas
uma na outra. Sinto sua respiração na minha, e então selo nossos lábios a um selinho, deixando
com que se torne um beijo calmo e adocicado. Nossas línguas se entendem, e não brigam por
espaço, como se fossem feitas para complementar uma a outra, poderíamos passar a noite toda
ali, se beijando e trocando carícias, já que sentia sua mão sobre minha nuca, fazendo desenhos
sobre minha pele.
Aos poucos o beijo vai ficando mais lento e é finalizado com uma sequência de três
selinhos, fazendo com que ela risse e deitasse a cabeça sobre o meu peito, ouvindo as batidas de
meu coração.
— Acho que estou viciada em seu beijo… Isso será um problema. — Ela diz.
— Não se preocupe, irei suprir seu vício sempre… — Sussurro enquanto desfaço o coque
dela.
No mesmo lugar que eu havia mirado uma arma para ela, estava me declarando de
maneira implícita para que apenas eu mesmo soubesse.
UM MÊS DEPOIS
A competição já tinha acabado, nunca pensei que pudesse ser tão emocionante montar
uma casinha. Daphne tinha uma cara de anjo, mas não parou de gritar nos nossos ouvidos e
sempre retirava alguma coisa de cima da bancada, colocando a culpa no elfo bagunceiro, que
hoje estava sentado na geladeira.
Manu assistia tudo da sua cadeirinha enquanto comia frutas cítricas, não entendia como
alguém podia não gostar de cenoura, mas amar essas frutinhas ruins.
Ao final da competição, Daph acabou dando o terceiro lugar para Luke, já que sua casa
nem teto tinha, Emma ficou em segundo lugar e eu em primeiro. Tivemos que ouvir Emma
fazendo um falso drama, dizendo que era injusto, já que eu trabalhei na confeitaria da minha avó,
não poderia mentir dizendo que ela estava errada. Mas, seu drama acabou no momento em que
decidimos que iríamos jogar jenga, nesse eu perdia todas as rodadas, mas tive sorte na mímica.
O fim da véspera de natal foi assim, pizza no chão da sala, jogos e músicas. Totalmente
diferente do que sou acostumada a fazer ou do que fiz no ano anterior, que passei com o que não
nomeio mais.
— Certeza que não quer dormir aqui? Você pode dormir no meu quarto e eu durmo com
a E…Emanuelle. — Luke diz coçando a nuca, me fazendo prender o ar e Daphne rir.
— Pode ficar tranquilo, filho, vou para casa e amanhã após a missa eu volto. — Ela dá
um beijo na bochecha do genro. — Não deixe a Emma abrir os presentes antes da hora. — Ela
pisca para mim e sai indo em direção ao seu carro.
Luke fecha a porta passando a chave e se virando para mim.
— O que achou da véspera dos O’Brien? — Ele perguntou vindo até mim e me
abraçando, sem receio algum, já que Emma havia subido com Manu para colocar a bebê que já
dormia no berço e em seguida iria dormir.
— Humm, deixe-me ver. — Faço uma cara de pensativa enquanto me envolvia em seus
braços. — Achei um natal bem competitivo, mas amei! — Dei risada, franzindo o nariz. — Pra
ficar melhor, só falta uma coisa!
— O que? — Ele pergunta, selando os nossos lábios.
— Assistirmos amanhecer parte 1!
— Tão imprevisível — Ele ri me abraçando de lado e começando a andar em direção a
escada para subirmos para o meu quarto.
— E você não disse não, admite que está amando e está doido para ver o Jacob sem
camisa novamente.
— Acho que estou mais ansioso para ver a Bella na lua de mel. — Olho para ele como se
estivesse ofendida e dou um leve beliscão em seu braço, antes de entrarmos no meu quarto. —
Ficou com ciúmes?
— Eu? Que isso? — Falo rindo enquanto tiro a babá eletrônica do suporte e coloco ao
lado da minha cama.
— Aram, me engano que eu gosto, Pâmela Albuquerque! — Ele tira sua pantufa e se
deita na cama, me puxando para seu lado. — Coloque logo esse filme!
— Seu pedido é uma ordem, Major! — Bato um continência rindo e pegando o controle.
— Muito bem, soldado, me lembrarei disso, pode ter certeza. — Ele beija minha cabeça e
agradeço por não estar olhando para ele, ou ele me viria vermelha como os laços de natal
espalhados pela casa.
O filme começou e foi impossível não repetir algumas falas, como de quando Edward vai
ver ela antes do casamento ou até mesmo quando ele se declara para ela em frente a todos no
casamento. Esse era o meu filme favorito de toda a saga, amava como foi elaborado toda a trama
e principalmente o fato de ver o Robert Pattinson ter falas em português, por menor que seja a
fala, ele falava português no filme e a cena logo, logo chegaria.
— Humm, agora que vejo a Bella na lua de mel? — Luke me provoca, fazendo eu me
virar para ele.
— Ei, não é para você olhar! — Falo rindo.
— Então acho melhor você vir fechar os meus olhos. — Ele diz me puxando para cima
dele. Minhas pernas se encaixam entre a sua cintura e deixo as mão em seu abdômen. — Ainda
consigo ver ela…
Ele mente com o olhar fixo no meu, então me debruço sobre ele, levando os meus lábios
para próximos ao dele, selando lentamente nossas bocas.
— Agora… — Dou outro selinho. — Você… — mais um. — Não vê mais…
Sussurro contra a boca dele dando início a um beijo, que tinha de tudo para ser calmo,
mas quando suas mãos se pousaram em minha cintura, uma chama dentro de mim acendeu, a
mesma chama que tento deixar apagada desde que tivemos nosso primeiro beijo a mais de um
mês.
Suas mãos começam a me guiar para que eu possa me mover por cima de seu quadril, não
é preciso de muito esforço para que possa sentir seu pau ganhando uma ereção por baixo de sua
roupa. Tento me controlar, mas deixo que um gemido escape por minha boca durante o beijo que
ele interrompe na hora,
— Se você quiser eu paro… — Ele diz ainda me pressionando contra o seu quadril e eu
nego com a cabeça, voltando a beijar ele.
Suas mãos começam a subir para dentro do meu pijama, um arrepio percorrer por todo o
meu corpo. Ninguém além de mim tinha tocado em minhas cicatrizes e ele estava preste a tocar
nelas, contraio a minha barriga, fazendo com que ele paresse o beijo e levasse o olhar para mim,
mas fecho os olhos na hora.
— Está tudo bem? — Ele leva uma das mãos para minha bochecha e eu concordo com a
cabeça. — Olha para mim.
Deixo um suspiro longo sair e abro meus olhos lentamente, enxergando a imensidão azul
me observando, com uma ternura e desejo.
— Luke… Eu estou marcada. — Posso ver uma pequena confusão em seu olhar, mas
logo ele compreende o que estou dizendo e abre um sorriso.
— Eu não me importo.
Ele diz me tirando de cima dele e me colocando deitada sobre a cama, respiro fundo
vendo que agora ele está por cima de mim, suas mãos vão para a blusa do meu pijama, a qual ele
começa a tirar lentamente e joga em qualquer lugar do quarto. Seu olhar não vai aos meus peitos,
mas sim recai sobre as duas marcas que carregava comigo a sete meses, as marcas que ligaram o
nosso destino de uma forma dolorosa.
Sua boca se aproxima delas e começa a deixar beijos sobre o local, fazendo com que meu
corpo se arrepiasse com cada toque. Fecho os olhos tentando controlar minhas emoções, eu não
aceitava aquelas marcas, mas ele estava aceitando por nós dois.
— Abra os olhos, quero que você veja como eu amo cada pedacinho do seu corpo. — Ele
manda e eu obedeço. — Isso… — Ele volta a beijar minha barriga enquanto me penetra com a
profundidade de seu olhar.
— Luke… — Solto um gemido. — Eu preciso de vo…
Minha fala morre ao momento que escuto um choro vindo da babá eletrônica ao lado da
minha cama, tanto o meu olhar como o de Luke se viram para ela, vendo que Manu acordou e
está com os braços levantados, esperando que alguém a pegue.
Nossos corpos estão congelados, como se tivéssemos sido pegos por alguém, mas na
verdade, ambos estão desejando que Emma vá pegar a bebê, mas isso não acontece, sabíamos
que Emma não acordaria por nada nesse mundo.
— Não se mexa, eu vou fazer ela dormir e já volto. — Luke salta da cama e me dá um
rápido beijo antes de sair do quarto quase correndo.
Puxo um travesseiro para o meu rosto, frustrada. Quando tiro o travesseiro, posso ver que
até Bella já transou com Edward e eu ainda não transei com Luke.
— Agora eu te entendo, como você aguentou por tanto tempo? — Pergunto para a
personagem que estava vomitando no filme.
Meu olhar vai até a babá eletrônica, vendo que Luke está com Manu aos braços, tentando
fazer ela dormir, posso até ouvir o diálogo entre eles.
— Se você dormir, papai te promete que quebro a promessa que fizemos e te dou
chocolate antes dos três anos. — Manu dá risada, puxando o cabelo dele. — Abrimos seu
presente antes do amanhecer? — Ela resmunga.
Dou uma leve risada pegando a babá eletrônica na mão e apertando o botão do
microfone.
— Eu estou ouvindo tudinho. — Luke se assusta, e eu posso perceber Manu me
procurando. — Traga ela para cá.
Deixo o aparelho sobre a cama e me levanto à procura da minha camiseta, pego ela
próxima à porta do meu banheiro e atiro do avesso, vestindo.
— Suas orações são fortes, vovó!
Falo entrando no banheiro e prendendo meu cabelo em um coque alto, e lavo o rosto com
água gelada, assim que saio do banheiro, posso ver Luke e Manu entrando ao quarto, ele está
segurando uma das mamadeiras de Manu, já com a fórmula que passamos a dar para ela assim
que fez sete mês.
— Acho que mais alguém quer assistir amanhecer! — Ele dá um sorriso como se pedisse
desculpa e eu dou risada, pegando a pequena no colo.
— E eu vou amar essa mini vampirinha.
Me deito na cama e coloco ela sentadinha no meio da cama, Luke se deita do outro lado
puxando as duas para perto de si.
Não era assim que eu imaginava finalizar a noite, tiveram tantas opções, que estaria
mentindo se dissesse que não gostaria que acabasse de outra maneira. Mas, jamais imaginei que
acabaria assim e não trocaria por nenhuma das minhas opções.
Dia 28 de dezembro chegou, eu estava animada, gostava dessa data e tentava apagar da
minha memória tudo o que já tinha ouvido de ruim sobre ela.
Certa vez ouvi dizer que o nascimento de um filho, é o renascimento de uma mãe, que a
partir daquele pequeno choro, uma nova mulher nasce. Eu deveria acreditar nisso, eu queria que
isso fosse real e sonhava em um dia poder sentir essa sensação a que todas as mães diziam,
bem… Todas, menos uma.
A minha mãe.
Era sempre nessa data que sua imagem invadia a minha mente, e sua voz rouca preenchia
os meus ouvidos como sussurros.
“Você não me serviu para nada, nem mesmo seu pai quis saber da sua existência, por
que eu vou querer você?”. Talvez essas fossem as palavras mais verdadeiras que ela tenha me
dito, mas não a mais dolorida de se escutar.
— Eu ainda não acredito nisso! Eu tenho uma foto e um autógrafo do Niall Horan, você
tem noção do que isso significa? É claro que não tem.
Ela dá um pulinho enquanto segura em meus braços, já que está usando salto e o gelo está
escorregadio. Paro de andar me virando para ela, balançando a cabeça enquanto a tiro do meu
braço e a pego no colo.
— Luke, o que está fazendo? Luke, estão olhando! — Ela diz rindo, enquanto bate no
meu braço fraco.
— Não estou nem aí. Só quero te mostrar que eu quem te pega no colo não é o Niall sei lá
do que. — Continuo andando até o carro. — Agora sim. — A coloco no chão e destravo o carro
abrindo a porta para ela.
Assim que ela entra, fecho a porta e dou a volta, entrando no carro e vendo que ela está
de lado sobre o banco retirando o sobretudo. Não ligo o carro ou coloco o cinto, apenas fico
admirando a mulher que vem me arrancando sorriso nos últimos meses.
— O que foi? — Ela pergunta com as bochechas rosadas.
— Você é maravilhosa, sabia? — Levo a mão para a perna dela, dando uma leve
apertada.
— Você está exager… — A puxo para mais perto de mim, beijando-a a impedindo de
continuar falando.
Suas mão vão para o meu pescoço, passando sua unha sobre minha nuca, mordo seu lábio
com força enquanto subo a mão para seus cabelos, começando a soltar seu penteado. Eu seria
capaz de despir ela nesse carro mesmo, mas tinha que me controlar, por enquanto.
— Precisamos ir. — Falo me afastando dela e ligando o carro, sem ao menos me importar
com cinto ou qualquer outra coisa.
Por um momento até pensei em ligar a sirene, mas sabia o que isso poderia acarretar para
mim no futuro, então me contentei em apenas infringir algumas leis que me dariam multas por
alta velocidade.
— Onde estamos indo? — Pâmela pergunta, dando risada.
— Pra qualquer lugar que eu possa ter você. — Olho para ela pegando em sua mão e
levando aos meus lábios, dando um beijo.
Em menos de dez minutos, paro meu carro em frente a um hotel, desço do mesmo indo
em direção de Pâmela, que já havia descido do veículo, já que o manobrista abriu a porta. Ela
começa a vestir seu sobretudo e eu seguro em sua mão, indo diretamente para o balcão da
recepção.
— Boa noite, quero uma suíte para dois. — Falo pegando minha carteira.
— Boa noite, não temos suítes disponi… — Deixo meu distintivo aparecer na carteira e
ela levanta a sobrancelha. — Deixe-me ver o que posso fazer para o senhor. — Pâmela vira de
costa segurando a risada, enquanto a moça digita em seu computador. — Suíte master,
apartamento 1.230. — Ela entrega o cartão da porta e eu dou um sorriso.
— Obrigado. — Puxo Pâmela para o elevador que acaba de abrir e sair um casal de
idosos.
— “Deixe-me ver o que posso fazer para o senhor”. — Pâmela imita a voz da
recepcionista, enquanto ri.
— Você vai fazer o que por mim? — Pergunto colocando ela contra o espelho e ouço sua
risada ir perdendo a força. — Diga, Pâmela. O que irá fazer por mim hoje… — Passo minha
barba por seu pescoço, descendo minha mão para sua perna.
— O que você quiser…
Meus olhos se encontram aos dela e ouço a porta do elevador se abrir, pego em sua mão e
começo a guiar pelo corredor, até chegar em nosso quarto. Abro a porta deixando ela entrar e em
seguida entro, fechando a mesma.
Não acendo a luz, tínhamos a luz do luar entrando pela enorme parede de vidro do hotel.
Levo a mão para minha cintura pegando minhas armas e deixando sobre o aparador do quarto,
junto com a minha carteira. Então me viro para Pâmela que está sentada na ponta da cama me
observando, tiro meu casaco deixando sobre o chão e vou me aproximando dela, enquanto abro
minha camisa de botões, pego na mão dela a levantando e puxando mais para mim.
Suas mãos finalizam de desabotoar minha camisa enquanto a minha faz com que o seu
sobretudo se deslize sobre seus ombros, levo a boca até o local nu o beijando e em seguida dando
um mordida.
— Você não faz ideia de como esperei por isso… Eu preciso de você… — Sussurro
deixando minha camisa cair sobre o chão.
— Me tenha. Aqui, agora… — Ela diz e balança a cabeça em negação.
— Eu te terei, mas não assim… — Com meus próprios pés, retiro meus sapatos e meias o
deixando sobre o chão, então mais uma vez, a pego no colo e ela me olha sem entender.
A levo para o banheiro a qual acendo a luz e vou diretamente para dentro do box,
deixando ela no chão encostada sobre a parede.
— Luke! — Ela exclama enquanto abro o mesmo, deixando a água morna cair sobre ela.
— Eu quero que nossa primeira vez seja com Pâmela que eu conheci naquele corredor do
hospital… — Passo a mão pelo cabelo dela o soltando e deixando molhar por inteiro e revelando
os cachos que eu sou apaixonado. — É com essa Pâmela que eu irei transar essa noite.
Olho para os olhos dela me aproximando mais ainda dela e colando nossas bocas em um
beijo cheio de ternura. Minhas mãos começam a deslizar de seu cabelo até sua nuca, desfazendo
o laço de seu vestido, que não caiu por estar molhado e colado em seu corpo. Me afasto dela
vendo que seus olhos estão fechados e sorrio.
— Abra seus olhos, quero ver suas reações através dele. — Começo a puxar o vestido
dela, que começa a deslizar para o chão, revelando seus seios nus.
Mordo meus lábios admirando cada um deles e sentindo minha boca salivar para tomá-
los. Não faço cerimônia, começo a massagear o direito com meu dedo indicador e polegar, subo
o meu olhar para Pâmela que comprime os lábios e nego com a cabeça.
— Ontem eu disse que queria você sóbria para se lembrar de todos os seus gemidos,
então solte eles… — Sussurro contra seu seio e passo a língua por sua auréola lentamente.
Com a mão aperto a outra ouvindo seu primeiro gemido, abro um sorriso me afastando
dela, terminando de tirar o vestido dela e deixando o tecido preto molhado em nossos pés. Meu
olhar recai por seu corpo, observando cada detalhe dele com desejo, querendo conhecer cada
centímetro de seu corpo.
— Porra. Você é muito gostosa. — Falo levando a mão para o botão da minha calça para
abrir ela, mas Pâmela me impede, fazendo isso por mim.
— Não é justo assim… — Ela abre meu zíper e desce minha calça deixando minha
cueca, já era notável a ereção do meu pau.
Meu olhar vai para a mão dela que começa a massagear meu pênis pênis coberto pelo
tecido molhado, seu corpo começa a se abaixar para se ajoelhar, mas eu a impeço, negando com
a cabeça.
— Eu te garanto que quero isso mais do que você imagina, mas eu quero desmoronar
dentro de você e não e na sua boca… Por enquanto. — Falo a colocando de frente para o vidro
do box embaçado e dando um tapa em sua bunda. — Lembra o que me disse no seu quarto? Que
meu desejo era uma ordem? Então, minha ordem hoje é que você gema o mais alto que
conseguir, eu sonhei tanto com seus gemidos, que preciso ouvir eles. — Digo dando outro tapa
em sua bunda coberta pela calcinha a qual me livro logo em seguida.
Levo a mão para minha cueca a fazendo com que deslize para o chão e então seguro em
meu pau com destreza, o masturbando lentamente enquanto admiro seu corpo nu rendido a mim.
Ando para mais próximo e passo meu pênis sobre seu glúteo, sinto seu corpo todo se enrijecer e
sorrio, ela não tinha dado lá atrás e eu seria o primeiro, não hoje, mas seria.
Com a mão esquerda a viro e ergo sua perna esquerda, deixando enroscada sobre meu
quadril, fixo o olhar ao dela, queria poder gravar suas reações em minha mente e o principal,
saber se ela se sentia confortável com isso, e tenho minha confirmação quando ela abre um
sorriso a qual retribuo, encaixando a minha glande em sua entrada, sentindo o quão lubrificada
ela já estava.
Seu olhos se fecham e mais um gemido saiu de sua boca, a seguro com firmeza em sua
cintura e movo meu quadril para frente, sentindo meu pau ser devorado por sua boceta, fazendo
com que eu soltasse um gemido de prazer.
Não espero para começar a me movimentar, vou começando lentamente e aumentando a
intensidade de minhas estocadas, tendo em troca arranhões em minhas costas, que causam leve
ardência ao entrar em contato com a água quente.
Deslizo minha mão por toda sua bunda, sentindo a maciez a qual tanto esperei para tocar
e vou subindo até suas costas, que estão em uma mistura do molhado d'água e de seu suor.
Começo a andar com ela para fora do box, sem me importar com a água ou molhar o quarto do
hotel todo. Naquele momento, só Pâmela me importava, apenas seus sentimentos e seus desejos.
— O que você quer, me diga? — Sussurro a pressionando contra a parede do corredor.
— Me… faça gozar. — Ela pede entre gemidos.
Subo minha mão por seu pescoço até chegar em seu maxilar, virando em minha direção.
— Você vai gozar, mas só quando eu mandar… e não vai ser agora…
Volto a andar com ela indo em direção a cama, onde me deito deixando ela por cima de
mim. Minha mão esquerda segura em sua cintura enquanto a direita desliza em direção ao seu
clítoris e com dois dedos começo a estimular, fazendo com que seus gemidos se intensifiquem
cada vez mais.
Eu não queria gozar agora, mas meu corpo não aguentaria mais. Estava a meses sem
transar, não tinha como evitar. Estando nessa posição, sentindo sua boceta deslizando com
facilidade em mim e gemidos, era tudo o que eu precisava para desmoronar.
— Ella, vou gozar. — Aviso a garota que fez questão de sentar mais profundo e dar uma
rebolada antes de se levantar.
Pâmela se coloca de joelhos sobre a cama e com as mãos segura meu pau, passando a
língua em em minha glande, deslizando ela por toda extensão até chegar no escroto. Solto um
gemido sentindo meu pênis pulsar e sua boca devorar o mesmo, o chupando e antes mesmo do
que eu imagino, ejaculo em sua boca, sentindo meu corpo todo se aliviar.
— Porra. — Falo vendo ela fechar os olhos para engolir minha ejaculação. — Boa
garota… Agora.. — A puxo, fazendo com que ela abra os olhos. — Você está autorizada para
gozar.
Coloco Pâmela deitada sobre o colchão úmido pelos nossos corpos, me coloco entre suas
pernas que estavam afastadas. Pego a perna direita erguendo um pouco ela, levo a mão para seu
pé que ainda calça o salto a qual me livro, jogando ao chão, beijo da ponta de seu pé desde o
começo e vou subindo os beijos até sua virilha, onde dou uma lambida, subo olhar para ela que
implora com os olhos para que eu a toque e me viro a perna esquerda, repetindo o mesmo
processo de tortura.
Chego em sua virilha e deslizo a língua até sua boceta recém fodida por mim, passo a
língua em sua entrada subindo até seu clitoris, dando uma leve sugada e ouço um gemido mais
agudo. Sorrio levando a mão esquerda até sua vulva onde deslizo um dedo movimentando
lentamente, em seguida incluo mais um dedo, fazendo movimentos um pouco mais rápidos.
Já a minha língua, começou a fazer movimentos circulares sobre seu clitóris, intercalando
com algumas sugadas em sua região, que já estava mais sensível. Sinto sua mão sobre minha
cabeça e suas pernas se fecharem contra meu pescoço, seu corpo se contorcia sobre o lenço já
bagunçado e eu intensificava ainda mais meus movimentos.
— Agora você pode gozar, amor. — Falo rapidamente, voltando a chupar seu ponto de
prazer.
Um gemido alto é solto por ela, suas pernas se enrijecem mais, seu corpo arqueia e sua
boceta se comprime por alguns segundos, chegando ao seu clímax. Tiro os dedos dela e os levo a
minha boca, o chupando lentamente.
Olho o corpo dela mole sobre a cama e me junto ao seu lado, sentindo minha respiração
acelerada.
— Isso… — Ela começa a dizer, mas sua respiração pesada não deixa que termine.
— Foi incrível? — Concluo para ela, rindo.
— Isso, isso… Por que demoramos… tanto?
— Você ainda não tinha vinte e um anos… — Posso ver uma luz se acender em seu
olhar, como se entendesse o motivo de minha demora. — Agora, o que acha de uma ducha e
pedirmos algo para comer?
— Acho uma ideia incrível… Você não desligou o chuveiro, né? — Ela pergunta se
sentando e eu me levanto, estendendo a mão para ela.
— Pior que não, somos péssimos, né? — Falo rindo, enquanto andamos até o chuveiro à
vontade com a companhia um do outro.
Eu estava leve.
Ela estava radiante.
Eu estava apaixonado.
Isso é errado, mas não ligava.
Porém, eu estava apaixonado pela minha babá, enquanto amava a minha esposa.
Um novo ano.
Novas promessas.
Uma nova mulher.
Era assim que me sentia, uma mulher diferente da garota que deixou Gramado, há quase
dois anos.
Pensei que o auge da minha felicidade fosse o momento que senti pela primeira vez um
avião decolar, eu sabia que quando ele estivesse ao céu, eu estaria rumo ao meu sonho. Só que eu
não sabia, que essa felicidade só chegaria após muitas lágrimas.
Eu achava que sabia o que era ser feliz. Acreditava que sabia o que era um amor e me
iludia achando que sentia prazer.
Luke chegou em minha vida para mostrar que eu estive errada durante todo esse tempo, e
hoje posso dizer que entendo o que todas princesas sentem ao encontrarem seu par perfeito.
Ele era o meu par perfeito, eu poderia não ser o seu e estava tudo bem. Tem amores que
são feitos para serem eternos, mesmo que a outra parte desse amor não esteja mais presente.
Já haviam passado as festividades de final de ano, Emma retornou para faculdade antes
mesmo do dia 06 de janeiro, assim como Manu voltou com suas aulas de natação.
Luke estava trabalhando mais do que o normal, por mais que ele evitasse comentar sobre
os casos do departamento, na noite anterior ele chegou bem frustrado e se sentindo de mãos
atadas, achava que não estava fazendo o suficiente pelo caso de um garoto negro que havia sido
assassinado a mais de dois meses, até disse que não tinha mais coragem de olhar para a mãe do
garoto e dizer que não tinham nenhuma informção para entregar a ela.
Ele estava mal e pela primeira vez, eu quem dei o “colo” para ele e fiquei o observando
dormir. Era estranho o que tínhamos, já passava de algo casual, mas não o suficiente para ser
concreto, ficava ainda mais estranho se pararmos para pensar que ele me pagava toda semana…
Já poderia até ouvir a risada de Helena dizendo que sou igual a ela, mas jamais seria como minha
mãe. Diferente dela e seus clientes, havia mais do que o respeito entre mim e Luke, um
sentimento verdadeiro, ao menos de minha parte.
Manu já estava em sua terceira aula de natação do ano, como todas as outras, não me
sentia segura de entregar ela para essa professora. Sempre um aperto me tomava o peito, uma
angústia que nunca senti antes, não me sentia bem e esse aperto não foi embora nem no momento
em que saímos do ginásio.
Manu também não estava bem, ela sempre é bem calma, mas desde que a troquei ela, não
parava de chorar, começou com um choramingo que foi se intensificando conforme nos
aproximamos do carro.
— Prometo que só vamos abastecer e quando chegarmos em casa, te dou um banho
quentinho e colo até você dormir, ok? Agora a titia vai ter que te colocar na cadeirinha, só não
chora ou eu fico nervosa e o carro morre… O que é péssimo nessa neve e fica pior se
demorarmos muito, já que pode vir uma nevasca. — Falo rapidamente, ficando nervosa enquanto
a coloco no bebê conforto. E como imaginava, Manu abre um berreiro, me deixando nervosa e
mais insegura. — Calma, meu amor, vamos ouvir música? Sei que você gosta de Frozen, então
vamos cantar! — Dou um beijo em sua testa fechando a porta do carro e indo para o banco do
motorista, a primeira coisa que faço é colocar a música na playlist da disney, vendo que ela chora
ainda mais.
Respiro fundo com os olhos fechados enquanto colocava o cinto, olho para a bebê mais
uma vez, que chorava enquanto mexia os braços. Eu sabia que não era fome, frio ou sono. Se
fosse dor eu perceberia, o choro de manha dela era totalmente diferente, então tinha algo
frustrando ela, mas precisava focar em chegar em casa ou enfrentar uma queda de neve, odiava
dirigir em dias de neve ou chuvas.
— Me perdoe, princesinha, mas vou ter que me concentrar aqui… Prometo me redimir
assim que chegarmos em casa! — Falo dando partida no carro enquanto mordo meu lábio
inferior.
Vou sair com o carro da vaga, mas acabo parando, já que um carro preto tinha a
preferência, entretanto o motorista liga e desliga o pisca, indicando que eu poderia sair, agradeço
com uma buzina e por fim saio do estacionamento.
Tento manter total atenção na pista, devido ao gelo que estava escorregadio em alguns
pontos de Austin, mas não conseguia evitar olhar pelo retrovisor. Ver Manu desse modo partia o
meu coração e me deixava ainda mais angustiada, ela não era uma criança chorona, pelo
contrário, era totalmente calma.
O semáforo se fechou e olhei para trás novamente, pegando em seu pé com uma das
mãos, mas assim que fui me virar para frente, meu coração se aperta ainda mais, olhando o carro
atrás de mim, me viro para frente levando as mãos para o volante e olhando novamente ao
retrovisor, tentando ter certeza se era o mesmo carro preto do estacionamento.
— É apenas um carro preto, Pâmela. — Falo pra mim mesma, dando seta para a direita,
indicando que viraria para o lado de minha casa, mas assim que o semáforo se abre, viro o
volante para esquerda indo por um caminho totalmente diferente.
Torci para que o carro seguisse para direita, assim como ele sinalizou, mas não, ele virou
o carro bruscamente para esquerda, fazendo com que eu acelerasse o veículo. Olho rapidamente
para o lado, levando umas das mão para minha bolsa e procurando meu celular e o pegando, com
o dedão desbloqueei o mesmo, colocando sobre o meu colo, desliguei o som do carro fazendo
com que Manu chorasse ainda mais e então acionei a siri.
— Siri, ligar para Chefinho “O’Brien” no viva voz.
— Ok , ligando para +1 513-476-3436.
— Vamos, Siri… — Falo virando para a direita, enquanto confirmo que ele está atrás de
mim.
— Esse número está fora de área ou desligado, deixe o seu recado após o sinal.
— MERDA! — Soco o volante sentindo minhas mãos tremularem, colocando na lista
telefônica e logo aparece na tela um aviso sobre o celular estar com menos de 10% de bateria. —
Não, não, não!
Falo desesperada, voltando a olhar para a pista e endireitando o carro, que estava quase
atravessando na contra mão. Engulo a seco sentindo um gelo me dominar, mesmo sabendo que
precisava de concentração nesse momento.
— Vamos lá, você consegue! — Falo pegando o celular novamente com a mão esquerda
e deslizando pelos contatos até o telefone de Emory. Coloco para ligar e o deixo no viva,
voltando a atenção total na rua, que já não era mais conhecida por mim. — VAMOS, EMORY!
ATENDE. — Grito desesperada assustando ainda mais a Manu
— Detetive Morg..
— Emory!! — A corto enquanto viro o carro para a direita sem sinalizar.
— Pâmela, tudo bem? Que berreiro é esse?
— Emory, estou sendo perseguida e não sei mais o que fazer. — Falo rapidamente,
segurando o choro na garganta, olhando para o retrovisor e virando para a esquerda, perdendo o
carro preto de vista , então aproveito para acelerar o máximo que eu aguentaria.
— Onde você está? — Ela pergunta séria e posso ouvir os seus passos.
— Eu não sei, estava chegando ao posto do 4545 S Lamar Blvd, tive que mudar o trajeto!
— Meu celular emite outro aviso, agora sobre a baixa temperatura repentina. — Preciso que seja
rápida, estou sem bateria!
— Eu preciso que você mantenha ele ligado! — Ouço a voz de Laurence. — Estou
rastreando ele!
— Eu tenho carregador na bolsa. — Falo esticando a mão na bolsa, mas devido a um
virada que dou, acabo derrubando a mesma. — Não, não! — Ouço três apitos vindo do meu
celular. — Não! — Deixo uma lágrima escorrer e mais três apitos soaram do celular, indicando
que o mesmo está prestes a desligar.
— Me desc… — A voz de Laurence some e meu celular desliga.
— Não, não, não!! — Sinto as lágrimas invadiram meus olhos e escorreram por meu
rosto.
Não sabia onde estava, não conseguia saber se ainda havia um carro atrás de mim devido
a neve que começou a cair e não podia fazer nada para proteger Manu.
Eu estava com raiva.
Eu estava com medo.
Estava me sentindo a pior pessoa do mundo por submeter Emanuelle a isso.
Sempre pensei estar preparado para tudo, já havia visto de tudo em meus anos servindo
ao meu país, seja no exército ou na polícia. Mas, depois de Manu, comecei a enxergar as coisas
com outro olhar e ver que haviam muitas coisas que não esperava.
Estavamos com um caso de tentativa de estupro de vuneravel, Lilly Cooper. Era só mais
um dia corriqueiro na vida da família, o pai saiu com a filha e parou para abastecer, só que a
menina pediu para ir ao banheiro e seu pai, James, deixou e ficou abastecendo o veículo. Ele se
deu conta da demora da filha e foi atrás no banheiro do posto de gasolina e no momento que
ouviu a voz de um homem vindo de dentro do banheiro feminino, não exitou em entrar. Ainda
conseguia ver sua expressão de dor e sua voz de inconformado ao dar seu depoimento, ele se
sentia culpado, como se tivesse falhado em seu papel de pai.
O estuprador tentou fugir, mas graças às descrições e bravura de Lilly, que lutou contra o
cara e acabou arranhando seu rosto, conseguimos encontrar.
— Quantas mulheres? — Jordan diz, apoiando as mãos sobre a mesa.
— Já disse, só falo na presença do meu advogado. — O estuprador, branco, diz olhando
para mim e ignorando completamente a presença de meu amigo.
Respiro fundo apoiando as mãos na mesa, enquanto Jordan anda até ele e se senta na
mesa, o tampando da câmera.
— Você se acha superior, não é? Homem branco e que abusa de mulheres. — Meu
parceiro se aproxima mais do acusado e põe a mão em seu ombro, apertando com força. — Você
não vai ter a porra de um advogado. Você não terá paz pro resto da sua vida e eu farei questão de
todos na cadeira saberem que você e a porra de um jack [11]e pode ter certeza, que de lá você só
sai morto. — A voz de Jordan era fria e calculista, esse homem era tudo o que ele e qualquer
outro humano com caráter odiava, estuprador e racista.
— Agora você pode res… — Começo a falar mas Emory entra na sala do interrogatório
apressada, e para ela estar desse modo, alguma coisa séria estava acontecendo.
— Pâmela e Manu estão sendo perseguidas. — Ela não chega a explicar, apenas me
levanto sem me importar com o interrogatório e saio da sala apressadamente, indo até o cofre
onde estava a minha arma e meu celular.
— Onde elas estão? — Pergunto desbloqueando meu celular e vejo que havia uma
chamada perdida dela.
— Não conseguimos localizar, o celular dela desligou. — Emory diz enquanto pega sua
jaqueta e veste.
Abro o aplicativo de rastreador e digito a placa do carro, que antes era de Amber e agora
passou a ser de uso da Pâmela. Logo o aplicativo indica que o carro está em E Stasseney Ln, um
sentido totalmente oposto a nossa casa.
— Já sei onde ela está. — Falo indo para a escada.
— Eu dirijo. — Jordan aparece atrás de mim e vejo Santana e Lewis subindo as escadas,
provavelmente indo assumir o meu posto e de Jordan.
Eu não sabia o que senti naquele momento.
Não podia ser o Luke. Pai amoroso ou amante apaixonado.
Teria que ser o Major O’Brien, com instinto de sobrevivência e sede de sangue. Quem
fosse que estivesse perseguindo minhas garotas, morreria por minhas mãos.
Jordan assumiu o volante enquanto eu peguei o celular para verificar a localização, a
sirene foi ativada, mas não só a de nosso carro, olhei para trás vendo que Emory e Oliver
estavam colados em nosso carro, Laurence e Aaron ao lado e mais três viaturas logo atrás.
Não sei dizer quanto tempo levamos para chegar na rua indicada, porém era uma rua
totalmente longa, onde ligava vários becos isolados.
— Ok, chegamos na localização. Vamos nos dividir em duas equipes, as viaturas para o
lado Norte da rua e o departamento para o Sul, entre em todas as vielas. — A voz de Aaron é
transmitida pelo rádio.
Jordan diminui a velocidade do veículo e eu estreito a minha vista para enxergar na
pequena nevasca que começava a cair, dificultando nossa visão.
— ACELERA ESSA MERDA, JORDAN! — Grito com ele que até pisa no acelerador,
mas devido ao caminho de neve, não é possível ser rápido.
Olho para os lados vendo que havia uma viela, sem ao menos informar meu companheiro
abro a porta do carro pulando do mesmo e começo a correr em direção a aquela viela. Pego a
arma em minha mão direita apoiando na esquerda que seguro uma lanterna. Ao ir adentrando na
pequena rua, sinto meu coração bater mais rápido, elas estavam ali.
Não me importo com os passos atrás de mim e não faço questão de ver quem era.
Continuo olhando atentamente, até ver um carro parado, no meio do nada.
Meu coração desacelera.
Minha mente pensa no pior.
Sem ao menos estudar as possibilidades de ser uma cilada, saio correndo em direção ao
carro que começava a ficar coberto pela neve.
Apenas corro, como se não houvesse o amanhã. Sentindo meus pés se afundavam na neve
fria e meu pulmão ardia para respirar. Parei ao lado do carro e comecei a limpar as janelas, vendo
Pâmela encolhida ao banco do carro com Manu no colo, essa cena me destrói, pois mesmo com
os olhos fechados, ela derruba as lágrimas.
Tento abrir a porta, mas estão trancadas e ela parece relutar para ver quem é, como
estivesse com medo de ser o seu pesadelo.
— PÂMELA! — Grito seu nome, fazendo com que ela me olhe.
Um alívio toma o rosto dela.
É como se meu coração voltasse a bater às vendo.
Ela não exita em abrir a porta e não espero que ela saia do carro, eu mesmo a puxo e às
abraço, deixando com que minha arma e lanterna cair sobre a neve.
Manu fica entre nós e resmunga, mas não me importo, apenas preciso sentir elas.
— Me-me des-cul… — Ela começa a falar soluçando, mas a corto.
— Não se desculpe. — Afasto ela um pouco, levando a minha mão ao rosto dela e
secando sua lágrima com minhas luvas. — Eu.. — Tento falar mas as palavras me faltam, então
a beijo.
A beijo querendo dizer o medo que senti de perder ela.
A beijo para agradecer a proteção com a minha filha.
A beijo por apenas precisar disso.
Sem ao menos me importar com quem visse, eu não me importava com ninguém naquele
momento, apenas com elas.
— Vamos, vou levar vocês para a casa. — Falo pegando minha filha no colo e a cobrindo
com minha própria jaqueta, enquanto com o outro braço, envolvo na cintura dela para que se
proteja do frio.
— Albuquerque. — Aaron fala assim que se aproximamos dela. — Fico feliz que esteja
bem. Ho… Amanhã irei precisar de seu depoimento, por hora, descanse. — Ele vira para mim.
— Jordan e Laurence levarão vocês para casa, o resto iremos vasculhar o território e ir em busca
de alguma pista do filho da puta.
— Era um carro preto… — Pâmela diz baixo, olhando para Aaron. — Ele nos seguiu
desde a academia de natação.
São as únicas coisas que ela diz antes de voltar a andar.
Chegamos ao carro acompanhado de Laurence, vou para o banco de trás com a minha
filha e Ella, logo Jordan entra no lado do motorista e se vira para trás, me entregando a minha
arma molhada pela neve.
— Acho melhor isso ficar com você. — Pego o agradecendo em silêncio.
O caminho até minha casa foi em silêncio.
Pâmela deitada sobre meu peito e Manu dormindo em meus braços, meus amigos atentos
a rua e a todo momento Laurence olhava pelo retrovisor. Não demoramos muito para chegar,
meus colegas insistiram em ficar, mas disse que não precisava.
Assim que entramos em casa, Emma estava parada na na sala e seu olhar indicava que
havia chorado, provavelmente alguém havia avisado a ela sobre o ocorrido. Sua primeira reação
foi pegar Manu no colo e abraçar. Pude perceber o olhar de culpa de Pâmela a consumir, mesmo
não tendo ninguém a culpando. Então ela pede licença e sobe para o seu quarto, fico dividido
entre ir atrás dela e ficar com a minha filha.
Por mais que me doesse, naquele momento fiquei ali com Emma e Manu.
Nunca havia me sentido tão apavorado como com os pensamentos de algo acontecer com
Emanuelle.
Eu poderia não estar sendo um irmão perfeito ou um marido que honre suas palavras, mas
jamais poderia falhar como pai e naquele momento, minha filha precisava de mim… Ou eu quem
precisava ainda mais dela.
Eu não me lembro de ter convidado e muito menos aberto a porta para que ele entrasse.
Ele chegou de maneira silenciosa e foi ficando, se acomodando como se pudesse chamar meu
corpo e mente de “Lar”, mas na verdade, o medo não era bem vindo e eu não sabia como
expulsá-lo.
Havia momentos que eu não me lembrava dele, que ele passava despercebido dentro de
mim, mas ele se cansou de ficar escondido e voltou a me assombrar.
Nunca tive medo de chuva, escuro ou qualquer tipo de animal. Meus medos eram de
acontecimentos e agora haviam se tornado de caráter. As pessoas poderiam ser cruéis, de modo
que não poderia me proteger e proteger a ninguém ao meu redor.
Eu sabia qual era a coisa certa a se fazer, mas eu não queria agir de forma certa. Uma vez
na vida iria ser irresponsável e ignorar minha mente que mandava eu ir embora, não queria
perder o que conquistei através dele, do medo.
— Pâmela? — A voz dele invade a minha mente, me fazendo virar e ver a pessoa que me
faz querer tomar a decisão errada. — Eu bati, mas você não me ouviu…
Ele diz enquanto tiro a toalha de meu cabelo e me viro de costa para esconder as lágrimas
que ainda desejavam cair.
— Ah… Estava distraída. — Falo colocando a toalha na costa da cadeira e indo pegar
uma escova de cabelo. — Onde está Manu? — Pergunto passando a escova em meu cabelo
enquanto o olho pelo espelho.
— Emma ficou com ela, disse que dormiria com ela em seu quarto. — Vejo ele se
aproximar, e dou dois passos para o lado, me esquivando dele. — Não faz isso, por favor… —
Me viro para ele.
— Luke… eu a coloquei em perigo hoje… — Meu olhos voltam a derrubar lágrimas e
os braços dele me puxam para um abraço.
— Shiu… Não foi culpa sua, você não tem culpa de nada… — Levanto meu olhar para
ele, deixando minhas lágrimas escorrerem mais uma vez. — Isso jamais será sua culpa, ok? —
Ele me leva até a cama, me fazendo sentar.
— Mas, e se tivesse acontecido algo? E se eu não tivesse conseguido fugir?
Não consigo impedir as lágrimas, meu coração se aperta apenas de imaginar e um novo
medo se instala em mim, o medo do futuro, o medo do mundo que Emanuelle ainda terá que
enfrentar e eu não estarei aqui para enxugar suas lágrimas, como fiz hoje.
— Mas não aconteceu… — Ele pega a escova de minha mão e começa a passar por meus
fios lentamente. — Você acha que não penso nisso todos os dias? Que o “se…” não me apavora?
— Ele faz uma pausa. — Meus pais morreram quando eu estava no exército, não presenciei a
morte deles, mas Emma sim… Emma viu nossos pais morrerem, em nossa casa de campo, tudo
por meu pai ser detetive. Ele ser um homem da lei, causou o maior trauma na minha irmã e por
pouco, não custou a vida dela…
“Pode ter certeza, que todos os dias eu penso se algo acontecer com a Manu… A tantas
pessoas que juram acabar comigo ou com as pessoas próximas a mim, que às vezes me pergunto
se sou a melhor pessoa para estar com ela. Mas, quando vejo o sorriso dela, quando me aproximo
ou quando me arranca uma risada com suas descobertas, eu tenho certeza que sou a pessoa mais
capacitada para estar com ela, já que sou a pessoa que mais amo aquela menina.”
Ele coloca a escova na cama sem ter terminado de escovar meu cabelo e me vira ele, sua
mão direita vai para meu rosto, enxugando minha bochecha e a esquerda, segurando uma das
minhas mãos.
— Então, pode ter certeza que eu jamais deixaria minha filha com você caso não
confiasse em ti. Confio na vida da Manu em suas mãos de olhos fechados.
Suas palavras causam uma mistura de sentimentos em meu coração, ao mesmo tempo que
ele se acalma, volta acelerar de emoção, algo inexplicável e um sentimento jamais sentido.
— Luke.
É a única palavra que consigo dizer antes de me ajoelhar sobre a cama e levar as mãos
para seu rosto o puxando a um beijo, que é retribuído na mesma intensidade.
Tínhamos conexão desde o primeiro beijo, mas naquele momento, eu tinha certeza que
nossas bocas foram feitas para se encaixarem uma à outra.
Uma sensação de que ao lado dele, eu poderia enfrentar tudo e a todos. Ele era a peça do
quebra-cabeça que faltava em minha vida, e assim como ele confiava a vida de sua filha em
minhas mãos, eu confiava a minha vida e o meu futuro a ele.
— Eu preciso de você. — Ele diz me deitando sobre a cama, e eu abro um sorriso.
— Você já me tem, não percebeu ainda? — Pergunto levando minha mão para a camisa
dele e começando a tirá-la para me livrar da roupa.
— Você não deveria me dizer essas coisas, as palavras carregam um grande peso. —
Dessa vez me calo, tentando não criar expectativas que possam me frustrar futuramente, afinal,
ele estava me despindo com a mão que ainda carregava uma aliança que pertence a Amber.
Tiro esses pensamentos da minha mente, deixando com que o ciúmes de alguém que não
está mais aqui vá embora e volto a me concentrar no homem, que beija meu pescoço fazendo
com que meu corpo todo reaja a seu toque.
Fecho os meus olhos, apenas sentindo seus beijos descerem de meu meu pescoço para
meus seios e por fim, minha barriga. Seu lábio sela lentamente minhas duas marcas, a qual
jamais aceitarei, mas diferente de mim, Luke as aceita e todas as vezes que a vê, faz questão de
demonstrar isso.
— Abra seus olhos… Queria tanto que você as visse da maneira que eu as vejo. — Abro
os olhos como ele pede e me apoio em meus braços para o observar. Primeiro ele beija uma das
cicatrizes e depois a outra. — Se não fosse por elas… — Sua língua passa por meu umbigo. —
Hoje você não estaria aqui.
Ele pega em minha cintura e me vira de costa rapidamente, me fazendo dar uma risada.
Ouço o som de algo caindo, e deduzo ser minha escova, mas não consigo dizer nada, já
que meu corpo arqueia com seu beijo por minhas costas fazendo com que eu segure os gemidos
de prazer.
— Não se segure, ninguém irá nos escutar. — Ele diz tirando meu short, fecho os meus
olhos envergonhada ao me lembrar da calcinha que estava usando essa noite. — Amei a
calcinha da Hello Kitty.
— Pode ter certeza que não estava em meus planos terminar a noite assim…
— Quer que eu pare? — Viro a cabeça em sua direção.
— Você não é doido. — Digo tentando não soar desesperada.
— Não sou mesmo.
Ele sorri e começa a descer minha calcinha por minha perna até que ela esteja no chão.
Sinto suas mãos por meu glúteo os apertando fortemente, puxo meu travesseiro o abraçando com
força, enquanto deixo meu corpo aproveitar cada segundo de prazer.
De forma inesperada, sinto sua boca por meu bumbum e suas mão irem afastando elas,
mordo meu lábio no momento que sua língua desliza para meu ânus. Minhas pernas se fecham
enquanto minha boceta pulsa de prazer e por mais que tente não gemer, acaba sendo impossível.
Luke alcançava lugares jamais tocados por outras pessoas, com tão pouco me dava mais
prazer do que um dia imaginei ser possível sentir. Ele tinha esse poder de deixar sua marca, ser
único.
— Relaxa… — Ele sussurra e desliza a língua para cima e para baixo, fazendo com que
eu vá afastando minhas pernas lentamente.
Dois de seus dedos deslizaram em direção a minha boceta e me penetraram sem ao
menos avisar ou me estimular. Seus dedos deslizam com facilidade, causando um pequeno
barulho devido ao ar, mas ignoramos focando apenas em meus gemidos que vão ganhando mais
força, conforme seus movimentos vão se intensificando.
— Lu..Luke. — O chamo. — Eu preciso de você…Agora!
Falo arqueando meu corpo contra meu colchão, meu corpo não aguentava mais, suplicava
por ele. Eu precisava dele, assim como ele precisava de mim, já que não precisei pedir mais uma
vez para que ele parasse tudo e retirasse o restante de sua roupa.
Mais uma vez, suas mãos me viram fazendo meus pequenos seios balançarem com o
gesto, olho para ele que se posiciona entre minhas pernas, desço o olhar para seu pau, vendo que
não precisaria de estímulo e abro um sorriso, sentindo minha boca salivar por ele.
— Você tem camisinha? Minha carteira ficou no quarto. — Ele pergunta e eu nego com a
cabeça. — Eu estou limpo…
— Eu também. — Ele não diz mais nada, segura em seu pau e encaixa em minha boceta,
sem ao menos dar alguns segundos para ela, me penetra.
Reviro os olhos de prazer deixando meus gemidos saírem, sem me preocupar com
alguém ouvir. Seus movimentos são fortes, violentos e prazerosos.
Nossos corpos se chocando causam barulhos, mas não mais alto que nossos gemidos e
nossas respirações. Suas mãos apertavam meus seios enquanto as minhas puxam fortemente os
lençóis, enquanto uma de minhas pernas é colocada sobre seu ombro, o mesmo que carrega uma
marca de bala.
É uma foda cheia de sentimentos que não conseguimos falar, quase selvagem, com
olhares profundos. As palavras ficam escondidas, mas os sentimentos expostos ao momento que
chegamos ao ápice juntos e gozamos, como se estivéssemos programados para esse momento.
Pode não ter sido a transa mais demorada de minha vida ou a mais romântica, mas eu
tinha certeza que era a melhor de todas, com todos os sentimentos jamais dito sendo revelado
entre eu e ele.
Acordar com Luke ao meu lado, estava sendo umas das coisas que mais amava nesse
país, até fazia uma pequena manha para não levantarmos, mas, meu chefe era muito pontual e
não cedia minhas manhas.
Nas outras manhãs, Luke sempre pegava Manu e a trocava, enquanto eu e Emma
preparamos o café, mas hoje, foi diferente. Daphne apareceu cedo em casa, com seus pães e
bolos, acabamos tomando café todos juntos e Luke pediu para que ela ficasse com a Manu,
alegando que hoje eu não poderia trabalhar.
Tentei me controlar, mas tive que chutar sua perna por debaixo da mesa para chamar sua
atenção, mas ele me ignorou completamente, como se o chute não tivesse o afetado de modo
algum.
Antes mesmo das 08h, restavam apenas nós dois em casa e por mais que eu desejasse
aproveitar com ele, Aaron fez questão de ir nos buscar para nos levar ao departamento. Tinha
que confessar, apesar de sua cara fechada e muitas vezes ser rude comigo ou com quem estava ao
seu redor, eu estava começando a me simpatizar com ele. Não que justificasse seu modo frio,
mas ele era um sargento e já deveria ter visto de tudo nessa vida, sem contar que podia ver em
seus olhos a preocupação e responsabilidade quando se trata de Emma.
Diferente do outro interrogatório, dessa vez ele não fez questão de irmos para uma das
salas e nem se quer proibir Luke de participar. Estávamos todos, sem exceção, até mesmo Lewis
estava presente na cozinha enquanto eu relatava o que havia acontecido. Laurence digitava
rapidamente em seu notebook, registrando cada palavra a qual dizia, já Emory estava com um
dos braços cruzados e o outro tomando seu segundo copo de café sem açúcar. Jordan, se
encontrava apoiando na cadeira atento a cada fala, como se estivesse ouvindo uma palestra
motivacional, já Oliver e Aaron estavam lado a lado, fazendo alguns comentários entre eles,
provavelmente pontuando algo para reverem depois.
Luke estava sentado ao meu lado, com sua mão esquerda sobre minha perna, dando
pequenos apertos, para me apoiar.
Está era a primeira vez que me sentia confortável dando um depoimento, não me sentia
invadida por ter acabado de sair de uma cirurgia ou por ter sido pega olhando para o meu chefe
sem ao menos imaginar que um dia ele seria meu chefe, também não sentia como se cada palavra
minha, eles fossem usar contra mim.
— Bem, conseguimos as gravações da escola de natação e o carro que te perseguiu era
um veículo roubado. A dona deu queixa dois dias antes do ocorrido e não bateu com as
descrições do perseguidor. — O detetive do meu caso quem diz.
— Lewis? — Aaron chama atenção do policial. — Chamei você e Santana aqui, para que
sejam os encarregados de vigiar a casa dos O’Brien e irão acompanhar a Albuquerque nos
compromissos fora de casa nos momentos que O’Brien não estiver.
— Eu acho que não… — Começo a dizer, mas Emory me interrompe.
— Bryan não é o tipo que para de perseguir sem conseguir o que quer. Se não quer que o
seu pescoço seja o próximo cortado, acho melhor seguir as instruções. — Ela diz, como se não
fosse nada demais.
— Emory. — Luke repreende a detetive, que revira os olhos.
— Para conseguirmos prender ele, precisamos da Pâmela. Então sejamos francos com
ela, a garota não é nenhuma criança que não sabe o que está acontecendo. — Ela diz indo mais
uma vez até a cafeteira para preencher seu copo.
— Está bem, aceito os guarda-costas. — Falo tentando fazer uma graça na intenção de
suavizar o clima tenso, mas acabo não arrancando nenhum sorriso, a não ser uma risada de
Lewis.
— Todos trabalhando. — Aaron anuncia e sai da cozinha, sendo seguido por todos,
menos Luke.
— Terei que ter eles comigo mesmo? — Pergunto fazendo biquinho, enquanto me
levanto.
— Sim, senhorita, e não adianta fazer essa cara! — Ele me puxa para um abraço e dá um
beijo no meu nariz, que está franzido.
— Oh, mundo cruel. — Levo a mão para a testa, como se fosse desmaiar.
— Minha rainha do drama. — Ele riu me puxando para um beijo, a qual não faço drama
para retribuir.
— O’BRIEN. — Aaron grita, fazendo eu me afastar do Luke. — SEM BEIJOS NA
MINHA DELEGACIA. — Arregalo os olhos para Luke, que ri ainda mais, silabando a palavra
“câmera”, posso não me ver, mas tenho certeza que minhas bochechas estão mais vermelhas que
a unha de Laurence.
Já fazia algumas horas que eu estava em casa, não me sentia confortável sabendo que
haviam dois policiais do outro lado da rua, que se negavam entrar para dentro de casa. Ao menos
aceitaram o café e um bolo que preparei para eles, precisavam de bebida quente para aguentar o
frio que estava do lado de fora.
Aproveitei que estava a sós em casa, e coloquei MariMar, especificamente a
transformação de Bella, amava os capítulos dessa novela e não tinha muito tempo para assistir
aqui, já que eles não entendiam nem o português e nem o espanhol.
— Viu o sorriso da Adélia? Sempre igual. — Falo junto com a protagonista e em seguida
levo a lata de coca aos meus lábios.
— Por que tem dois policiais do lado de fora de casa? — Me assusto com Emma
chegando e rapidamente dou pause na televisão. — Ui, assistindo porno?
— QUE? Óbvio que não. — Dou risada, tirando do pause vendo a cara de confusa dela.
— Só consegui entender o “Bella”. — Ela tenta dizer com o sotaque. — Você gosta de
personagens com esse nome, né? — Emma se deita no sofá e joga os pés para cima do meu colo.
— Seria um belíssimo nome para minha filha! — Falo dando risada.
— Acho que meu irmão lutaria para ser outro nome. — Ela diz naturalmente, fazendo
com que me vire para ela com os olhos arregalados. — Ah, qual é? Vocês acham mesmo que
escondem algo? Todos já sabem que vocês estão juntos.
— Como assim? — Falo sentindo minhas bochechas queimarem, mesmo sabendo que
depois do episódio no distrito, era verdade.
— Vocês dois são péssimos em esconder as coisas, no dia da discussão da cozinha eu já
sabia. Acha que quem fez ele subir atrás de você? Meu irmão tem a cabeça mais dura que a
parede.
— E você nunca me falou nada? — Digo jogando sua perna para fora do meu colo.
— Humm, é que era como ler um livro vendo vocês! Chega a ser fofo demais. — Ela faz
uma careta.
— E para você tudo bem? — Pergunto com receio, afinal, ela quem me contratou e era
super ligada com Amber.
— Você trouxe para meu irmão algo que pensei ter morrido junto com Amber. Só eu sei
como foram esses meses após a morte dela… — Os olhos de Emma se enchem de lágrimas. —
Jamais falaria algo para meu irmão por ele seguir em frente!
Fico sem saber o que falar, pois não era totalmente verdade.
Luke não tinha seguido em frente, a tela de bloqueio ainda era uma foto dele com ela. A
aliança ainda estava em seu dedo e em todo esse tempo, eu jamais havia pisado em seu quarto.
— Só de um tempo a ele, o que ele viveu com ela foi muito intenso. — Emma diz como
se pudesse ler meus pensamentos.
— Como eles eram? — Pergunto o que sempre quis perguntar, mas nunca tive coragem.
— Acho que isso só ele pode te responder. — Ela se levanta pegando sua mochila que
estava no chão. — Agora deixa eu ir me arrumar que ainda irei sair.
— Onde a senhorita vai? — Fico de joelhos no sofá.
— Depende, se for para falar para o meu irmão, dormir com as meninas da república,
agora se for minha amiga perguntando, para uma boate. — Ela pisca do pé da escada, fazendo
com que eu dê risada.
— Tem certeza que ninguém está escutando? — Minha irmã pergunta do outro lado da
chamada de vídeo.
— Absoluta, e se tiverem, ninguém entende o português mesmo.
— Então continue! — Lara se senta na cama e eu continuo picando o tomate para o
pastel.
Logo após sermos flagrados por Emma, Daphne ligou dizendo que viria almoçar conosco
e para tirar o clima de constrangimento e vergonha que estava sentindo, decidi que seria pastel
para o almoço.
— Não tem mais, ele estava prestes a me pedir um… Aquilo que você sabe, e a Emma
chegou. — Falo sentindo minha bochecha queimar novamente.
— Faltam detalhes, me conte detalhadamente!
— LARA! Óbvio que não. — Reviro os olhos e em seguida, junto o tomate com a cebola
e o pimentão, para fazer o vinagrete.
— Você é tão sem graça, aff… — Ela prende o cabelo me fazendo observar uma marca
em seu pescoço.
— Maria Lara Albuquerque. Que marca é essa no seu pescoço? — Sua mão vai ao
pescoço e um sorriso diabólico surge nos lábios dela.
— Eu errei, fui Chico e tive recaída com o Diego.
Lara sempre foi uma menina mais para frente, enquanto eu demorei para perder o BV,
minha irmã não teve dificuldade para perder a virgindade. Não foi surpresa para ninguém quando
aos 15 anos, ela apareceu namorando o Diego Moraes, um garoto que estudava na mesma escola
que nós duas, sendo apenas um ano mais velho que ela.
Pensamos que Lara iria sofrer com esse relacionamento, ainda mais pelo fato da pequena
fama que ele carregava em nosso colégio, mas fiquei surpresa ao saber que ela terminou com ele
apenas para poder se relacionar com o amigo Diego e para dar o troco, ele acabou ficando com a
melhor amiga dela, vingança de adoslecente. Depois disso, os dois começaram uma “batalha”,
sempre faziam questão de atrapalhar qualquer relacionamento que o outro pudesse ter e
acabavam um na cama do outro.
Vovó sempre dizia que isso acabaria em casamento, mas eu conhecia a minha irmã e ela
nunca o amou, mas sempre amou o fato dele não a ter superado.
— Ele não estava namorando a filha do diretor? — Pergunto confusa, enquanto despejava
o molho sobre a penela.
— Estava, mas dei meu jeito para que não estivesse mais. Se ele não me deixou em paz
com o Bruno, não deixarei ele com ninguém.
— Até quando vocês vão continuar com isso? Ou melhor, até quando você vai continuar?
Está na cara que ele te ama, mas você só quer a atenção dele e nada mais.
— Até mesmo a 8.374 km de distância você consegue ser chata? — Ela revira os olhos.
— Eu me importo com você!
— Pois deveria se importar com o gostosão que está atrás de você. — Ela diz rindo,
fazendo um “oie” com a mão, me viro para trás, vendo Luke parado nos observando. — OIEE,
CUNHADO. — Ela grita como se ele fosse entender alguma coisa.
— Tchau, Lara!!
— NÃOOO… — Ela grita, mas desligo mesmo assim.
— Sua irmã? — Ele pergunta e eu concordo. — Ela se parece com você.
— Você é uma das poucas pessoas que diz isso. — Dou risada colocando o primeiro
pastel para fritar.
— Ela tem uma leveza como você! — Me viro arqueando a sobrancelha.
— Depois vou querer saber mais dessa “leveza”, agora fora da minha cozinha. — Falei
mexendo a mão, como se estivesse o expulsando.
— Nem um beijinho? — Ele faz um biquinho.
— Nem um!
— Então não vou! — Ele cruza os braços e eu reviro os olhos, ficando na ponta do pé e
beijando a bochecha dele para o irritar.
— Agora tchau, ou ficará sem pastel. — Falo me virando para o fogão para poder virar o
pastel.
— Malvada. — Ele diz e dá um tapa fraco em minha bunda antes de sair.
— TONTO! — Grito dando risada.
Emma, Daphne e Luke estavam sentados na mesa e saboreando o pastel com vinagrete.
Meu olhar era de pura curiosidade a cada mordida que eles davam.
— Então… — Pergunto curiosa, sem ao menos conseguir comer o meu pastel de carne
com queijo.
— Isso daqui… — Daphne diz e em seguida dá outra mordida na massa crocante.
— Meu Deus! — Emma leva uma lata de Dr. Pepper aos lábios.
— Como eu passei a minha vida sem comer pastel? — Luke questiona, pegando mais um
para comer.
— Isso significa que gostaram?
Uma mistura de “Sim!”, “lógico” e “claro!” me arrancaram uma risada aliviada.
— Ufa, agora posso comer em paz. — Dou um sorriso dando uma mordida no pastel e
me sentindo um pouco no Brasil.
Quando distinguir um sonho da realidade?
Minha vida era uma mistura de sonho com pesadelo, e com toda certeza, estava na parte
mais gostosa do sonho, aquela que não desejamos acordar mesmo com uma vontade abundante
de ir ao banheiro.
Entre altos e baixos, eu estava tendo uma vida perfeita. Estava no país a qual amava,
tendo um emprego incrível, rodeada de amigos que em toda a minha vida desejei e tendo alguém
para me abraçar em noites frias, como essa de fevereiro.
Luke era a pessoa que fazia eu perder a minha sanidade e ignorar minha consciência. Me
sentia um pouco irracional perto dele, não tinha medo de nada e ninguém, eu sabia que ele
estaria ali para me segurar, como fez diversas vezes nesses meses.
Por conta dele e de Manu, eu estava me perguntando se voltar para o Brasil era uma
opção. Eu não queria, sentia que o meu país não era mais o meu lar, meu lar era aqui, em Texas,
nos braços de Luke. Mesmo não sabendo se ele se sentia como a minha morada.
— Major? — Falo sem pensar enquanto minha atenção era para o filme à nossa frente.
Depois de fazer ele ver todos os filmes de crepúsculo mais de uma vez comigo, ele está
me fazendo ver o seu filme preferido “sunshine - alerta estrelas” ou seria “solar”? Não prestei
muito atenção enquanto ele falava sobre o filme, só conseguia focar em seu sorriso e brilho em
seu olhar, bem diferente de quando eu o conheci.
— Diga, soldado. — Ele beija minha cabeça que estava sobre seu peito.
— Posso te fazer uma pergunta? — Levanto o olhar para ele, que pausa o filme para me
dar atenção.
— Todas que você desejar. — Abro um sorriso fraco, sem saber ao certo o que eu estava
prestes a perguntar.
— Se não quiser, não precisa responder… Ok? — Ele concorda com a cabeça, com um
olhar curioso. — Como ela era?
Ele me parece confuso com a minha pergunta. Talvez não devesse perguntar sobre
Amber para ele, mas desde a minha conversa com Emma, não conseguia esquecer.
— Ah… Amber? — Balanço a cabeça sentindo meu coração se encolher como uma
caroço. — Bem… Eu não sei, ela era apenas ela…
— Deixe, vamos voltar ao filme. — Falo me deitando novamente sobre o seu peito, para
não ter que olhar mais.
— Não, se você me perguntou tem motivo, então irei te responder… — Volto a olhar
para ele, que parece um pouco pensativo. — Sabe, em todos esses meses, ninguém me perguntou
nada sobre ela… — Ele solta uma leve risada.
— Porque as pessoas tem senso, eu que sou uma idiota! Esquece, sério, não precisa
responder.
— Ei, calma. É bom poder falar dela, afinal, ela é a mulher que amei e amo, mãe da
minha filha. — Sinto a minha garganta secar. — Sabe, Amber era um raio de sol, uma pessoa
alegre e disposta a ajudar a todos. Foi ela que me trouxe a cor de volta para minha vida, ela foi a
mulher que tirou o meu chão me dando a notícia da morte de meus pais, mas foi o meu alicerce
para me reerguer e criar a Emma.
“ Sabe? Pensei que não conseguiria criar uma menina sozinho, eu não sabia nada sobre a
vida de um ‘pai’, tinha apenas 26 anos. Mas, a assistente social me ajudou, suas visitas eram
semanais, passaram a ser praticamente um dia sim e o outro não e quando vi, já estava
apaixonado. Pensei que não era possível sentir um amor tão grande como aquele… Nunca
imaginei que seria recíproco, já que ela estava de casamento marcado. Mas… “
Ele fecha os olhos como se estivesse revivendo o passado em sua mente. Aquilo doeu,
me doeu saber que ele ainda a amava. Me doeu saber que ela era o amor da sua vida. Me doeu
mais ainda, ao saber que esse nunca seria o meu lar… Aqui era o lar dela, era ela que estava em
quase todas as fotos da casa.
— Em uma sexta-feira de inverno como essa, ela bateu na porta pedindo para ficar, para
sempre. Ela me escolheu sem ao menos termos nos envolvido ou saber o que eu realmente sentia.
Fui o escolhido para passar ao seu lado até o resto de sua vida…
Ele abre os olhos e posso ver uma lágrima que deseja cair, me sentei na cama levando a
mão ao rosto dele e acariciando lentamente, igual ele fez a mim em todas vezes que chorei ao
seus braços. Por mais que estivesse doendo em mim, precisava ser a pessoa que o ajudaria a
suportar essa dor, assim como ele foi para mim.
— Não precisa segurar… Chora. — Sussurro o puxando para mim.
— Não tenho esse direito, se eu tivesse ficado ao seu lado… Ficado aqui, ela não teria
entrado naquele táxi… Não teriam batido nela… — Minha mão que antes estava se
movimentando em seu cabelo, para de se mover e meu coração dispara.
— Ela… Não mo…morreu no parto? — Não sabia se deveria perguntar ou não, mas eu
precisava saber.
— Não… Um carro atirou nos pneus do táxi o fazendo bater contra um poste… — Ele
engole a seco e eu faço o mesmo. — Ela estava praticamente tendo a Manu, o taxista relatou que
ela tirou o cinto de segurança por senti que já estava na hora… — Ele se levanta da cama e
começa a andar de um lado para o outro. — Não sei como nossa filha sobreviveu… — Vejo o
brilho de uma lágrima escorrendo por seu rosto. — Quando a ambulância chegou, Emanuelle já
tinha nascido, Amber a segurava com todo cuidado para que ela não tivesse contato com nenhum
vidro… Mas, devido a complicação que ela já teve na gestação e o impacto da batida, ela teve
uma hemorragia…
— Eu.. eu.. — Tento falar mas meus olhos ardem derramando lágrimas e as palavras me
faltam. A meses, Luke carregava uma culpa nas costas, uma culpa a qual ele não tinha.
Todo sonho vira um pesadelo.
Meu sonho, não passava de uma farsa prestes a se tornar pesadelo.
Eu era a culpada. Aaron tinha razão em me culpar. Se eu não tivesse pulado aquela
janela, Bryan não teria roubado um carro e atirado em um táxi. De forma indireta, eu havia
matado a esposa do homem que estava apaixonada e não tinha coragem de revelar isso a ele.
Meu pesadelo particular tinha acabado de começar e eu não fazia ideia de como acordar.
Falar sobre quem morreu, torna a partida ainda mais real.
Amber estava morta… Eu tinha que aceitar, era difícil, uma pessoa tão jovem partir de
modo tão trágico. Mas, essa era a realidade.
A realidade doía, ela machucava e não tinha cura. O tempo mascarava, nem ele poderia
curá-la.
Pâmela havia me abraçado, e chorou junto as minhas lágrimas. Nenhum de nós dois disse
mais nada, eu não tinha o que dizer e ela respeitou isso. A noite passou e ela adormeceu, não tive
coragem de me mexer. Não estava com sono, mas precisava dormir, o tão esperado treinamento
havia chego e minha mente teria que estar totalmente voltada a ganhar a aposta desse ano, ou
seria motivo de chacota para Emory o ano todo.
Não sei quando dormir, mas sei o exato momento que me despertei. Meus braços ficaram
vazio outras vez, passei a mão pela cama e ela não estava lá, me virei para o lado a tempo de a
ver entrando no banheiro, até pensei em ir me juntar a ela, mesmo não entendendo a necessidade
absurda de Pâmela com seus banhos, já havia reparado, sempre que acordava tomava um banho e
a cada dois dias o primeiro banho era o que ela lavava o cabelo, se fossemos sair, outro banho,
assim como ao chegarmos e sempre antes de deitar tomava o seu último banho.
Não que nós, estadunidenses não tivessem o costume com os banhos, garanto que os
europeus quem tinham esse problema, mas um banho após chegarmos do trabalho já bastava, não
segundo a brasileira que tinha minha casa como lar.
Me levanto da cama pegando o meu relógio e vendo que faltam pouco para às sete, deixo
o mesmo onde estava e ando até o banheiro, vendo minha garota em frente a pia escovando os
dentes.
— Bom dia, meu amor. — Digo com a voz um pouco mais rouca que o normal pela noite
mal dormida.
— Romria. — Ela diz com a escova na boca, impossibilitando de ser compreendida.
— Acho que você precisa de uma fonoaudióloga. — Dou risada a abraçando por trás e
beijando seu pescoço. — O que acha de um rápido banho? — Beijo novamente, vendo seu corpo
se arrepiar por inteiro.
— Humm… — Ela cospe na pia. — Você vai se atrasar, não quero ser motivo de
zombaria. — Ela dá um sorriso.
— Prometo que serei rápido…
— Emory disse para eu te atrasar, quer mesmo que eu apoie o inimigo? — Ela se vira
para mim, se sentando na pia.
— Ela é uma peste… — Murmuro tirando a camiseta dela, fazendo com que seus
mamilos fiquem à mostra.
— Mas, vou te dar um incentivo para ganhar. — Ela olha nos meus olhos pela primeira
vez e vejo que falta algo em seu olhar. — Se você ganhar… Hoje deixo você me prender e fazer
o que quiser com o meu corpo.
— Isso que eu chamo de incentivo. — Passo a língua pelos lábios, desejando tomar seus
seios com minha boca.
— Então vá tomar seu banho. — Ela diz descendo da pia e pegando sua camisa para
vestir. — Já pegou sua farda? — Ela pergunta, voltando para a pia enquanto eu retiro minha
cueca e ando para o box.
— Ainda não, pode pegar lá para mim? Está no closet, cuecas eu tenho aqui. — Ligo o
chuveiro deixando a água gelada cair por meu corpo, me arrependendo de não ter deixado a
mesma esquentar.
— No seu quarto?
— Aram. Tem algum problema?
Já estávamos todos no local do treinamento, havíamos passado por três tipos de treino
diferentes e agora seria o momento, a cada ano era uma surpresa diferente, ano passado tivemos
que lidar com uma simulação de um atentado em um colégio, por mais que fosse apenas
simulações, mexiam com nossa cabeça, pois era algo que aconteciam constantemente em
diversos lugares.
Estávamos todos em uma oficina aeronáutica, onde teríamos um avião desabilitado para o
treinamento e logo após seria descartado. Todos se encontravam em volta de Aaron, enquanto a
alguns metros, podíamos ver o Tenente oficial e o Capitão, ambos avaliam o desempenho das
equipe e direcionam se todos deveriam continuar ou não, incluindo o nosso sargento, não
tínhamos espaço para erros.
— Tem 7 agentes disfarçados de atiradores, eles estão com uma indicação em suas
roupas. Mas, também terá os passageiros, então atentos ou vocês estão fodidos comigo depois.
— Ele olhou para cada um de nós seis, incluindo Lewis, já que ele e Santana eram nomes com
grande potencial para se tornarem detetives. — Vocês são apenas seis, então se virem para se
livrar de todos. O tempo limite é de 10 minutos, mas vão fazer em menos de 7 minutos e 54
segundos. Que foi o tempo do distrito 89. Existem duas entradas indicadas pelo mapa, se virem
para achar uma terceira.
— O esgoto. — Jordan diz, apontando na planta do avião. — Tem uma grande caixa de
esgoto no banheiro, podemos abrir uma entrada por lá, fica afastado da cabine do piloto, onde
provavelmente terá alguém e os outros estão espalhados entre os corredores e as duas entradas…
Ninguém vai estar vigiando o banheiro.
— Façam como quiserem. Vocês têm três minutos para se alinharem. — Ele entrega a
planta para Laurence. — Se me envergonharem, digam adeus ao distintivo de vocês.
Ele se afasta e Emory se vira olhando para mim com um sorriso diabólico no rosto. Eu
sabia o que ela queria dizer e gostava.
— Eu, Oliver e Lewis somos uma equipe, vocês três outra, quem derrubar mais, ganha.
— Ela pisca enquanto entrega as armas de paintball para sua equipe.
— Beleza. — Falo fazendo o mesmo. — Laurence e eu ficamos com a primeira entrada,
que é a de acesso de bagagem pelo chão, Jordan entra pelo banheiro. Emory é boa com escalada,
então se livra de quem estiver na cabine. Oliver e Lewis ficam na segunda entrada, tem bastante
espaço por baixo, já que é usado para carregar objetos de portes grandes. — Vou delegando as
tarefas enquanto cada um vai pegando os equipamentos necessários. — Temos um recorde a
bater, e particularmente não estou a fim de perder meu distintivo. — Todos concordam e
colocam seus óculos de proteção e a escuta em seus ouvidos, já estamos vestidos com os coletes
a prova de bala.
— Que a melhor equipe tenha as bebidas de hoje paga. — Oliver diz piscando para
Emory.
— CINCO. — O tenente começa a contar e saímos correndo em direção ao avião. —
QUATRO. — Chego embaixo da entrada um, que seria pela parte inferior do avião. — TRÊS. —
Olho para Laurence que abre um sorriso. — DOIS. — Meu olhar vai para cima já me
preparando para desparafusar o avião. — VALENDO.
Rapidamente, Laurence e eu começamos a tirar os parafusos da portinha de acesso, ao
total eram seis e em menos 30 segundos todos estavam no chão, assim como as ferramentas. Dei
apoio para que ela pudesse entrar primeiro e em seguida ela me puxa para cima, fazendo com
que ambos estivessem dentro da aeronave.
— Dentro. — Sussurro na escuta.
— Aqui também. — Lewis diz.
— Falta pouco… — Jordan anuncia.
Eu me encontrava praticamente abaixado, devido a altura do compartimento, Laurence
passava a mão por todo o “teto” até achar a porta de saída.
— Tem um explosivo grudado na saída. — Ouço a voz de Oliver pela escuta.
— Aqui também. — A italiana anuncia após abrir o mínimo da porta.
— Alicate. — Anúncio me aproximando dela, retirando o mesmo do meu cinturão. — Eu
corto e você atira. — Olho para ela que concorda, posicionando a arma.
De modo lento e minucioso, levando a porta e passo a ponta do alicate em direção ao fio
de aço, pressiono o mesmo até ouvir o “click” dele se rompendo, olho para minha parceira que
concorda com a cabeça.
— Menos um. — Oliver anuncia e eu abro a porta com tudo, sendo seguido por um
disparo da loira em direção ao agente vestido de atirador.
— Menos dois. — Ela quem diz indo para a parte de cima do avião, faço o mesmo e
começo a analisar o perímetro.
Estávamos na pequena cozinha do avião, ali não se encontrava mais nenhum atirador e
atrás da cortina, estaríamos no corredor da primeira classe.
— Cabine do piloto, livre. — Emory diz. — Já já me encontro com vocês.
— Indo para primeira classe. — Jordan anuncia e abro a cortina.
Há dois homens, um virado em minha direção e outro para a entrada oposta. Antes que
ele pudesse levantar a arma em minha direção, miro em seu peito, disparando contra ele, posso
ouvir outro disparo, quando levanto o olhar é Jordan acertado o segundo atirador.
— Aqui foi mais um. — Lewis anuncia.
— Já foram seis, falta apenas um. — Laurence diz enquanto começa a andar em direção a
classe econômica, sendo seguida por mim e Jordan.
— Ele só pode estar com… — Emory diz chegando a classe econômica e um dos
comissários de bordo se levanta, tirando a arma do casaco para sua direção.
Naquele momento, imaginei que já teríamos nos ferrado, haviam duas pessoas na minha
frente. Mas, sou surpreendido com Laurence agindo de forma rápida e dando três disparos nas
costas do criminoso.
— Muito bem pessoal. — Ouço a voz do capitão. — Distrito 53 estabeleceu um novo
recorde de 6 minutos e 28 segundos.
Já havia fechado uma mala, com a maioria das minhas roupas. Ainda faltava guardar
meus produtos e decorações que estavam espalhadas pelo quarto, não queria deixar nada para
trás, não sabia como seria a reação de Luke, então tinha que estar com tudo preparado caso ele
me quisesse ainda hoje fora de sua casa.
— Acho que deveríamos fazer um último jantar, assim seu papai fica feliz quando
chegar. — Me viro para Manu que está sentada em minha cama com meu celular na boca. —
Vamos pedir para o tio Santana nos levar ao mercado? — A garota solta o meu celular e começa
a bater palma resmungando, ela amava ir ao mercado. — Ótimo, vou mandar mensagem para ele
e nós vamos!
Me sento na cama pegando o celular babado e o limpando em minha própria roupa, entro
diretamente na conversa com o Javier e começo a digitar.
Envio a mensagem e começo a prender o meu cabelo em um coque. Não iria trocar meu
pijama, já estava acostumada a fazer coisas do cotidiano de pijama mesmo, quando me mudei
para USA, achava totalmente estranho esse costume, mas agora sempre ia ao mercado de pijama,
apenas vestia um sobretudo por cima, devido ao inverno de Texas, que por sinal estava chegando
ao fim.
— Vamos descer, meu amor? — Perguntei vendo ela esticar os braços em minha direção,
dou risada a pegando em meus braços mais uma vez e olhando o meu celular.
Santana e Lewis sempre respondiam as mensagens no mesmo instante, mas hoje, estaria
apenas Santana devido ao treinamento do departamento. Ano passado foi a vez de Javier, então
esse ano seu parceiro quem foi. Até falei para ele ficar aqui dentro, comigo e Manu, mas negou
dizendo que ficaria na viatura. Percebo que ele não respondeu a mensagem, então ando com
Manu até a janela do meu quarto e avisto a viatura ao outro lado da rua, como eles sempre
paravam.
Balanço a cabeça dando risada, imaginando o que tanto teria para fazer dentro de uma
viatura o dia todo. Sabia que ele e o amigo sempre ficavam jogando cartas, mas e hoje? Será que
ele era do tipo que estaria lendo algum romance ou assistindo uma partida de futebol?
— Vamos descobrir o que o titio está fazendo! — Falo para Emanuelle enquanto deixo o
meu celular sobre a cama.
Abro a porta de meu quarto e um arrepio percorre pelo meu corpo, uma sensação ruim,
como se meu lugar fosse naquele quarto e não devesse sair dele.
— É, vou sentir falta desse quarto. — Digo e Manu começa a chorar. — Oh, minha
princesa, não precisa chorar. Vamos falar da sua festa? Tenho certeza que seu aniversário de um
ano será a coisa mais linda desse mundo. Tenho certeza que sua tia vai inventar de fazer de
enrolados, mas você prefere Frozen, não é? — Olho para ela, que faz um bico enquanto
descemos as escadas. — Você pode se vestir de Elsa, quem sabe vocês não convencem o papai a
ser o Olaf?
Chego à beira da escada sentindo o meu corpo inteiro gelar.
Minha garganta se seca e se não fosse por Manu em meus braços, eu provavelmente
cairia naquele último degrau.
— Olá, amor.
— Bryan… O que está fazendo aqui? — Pergunto sentindo minhas mãos tremerem
enquanto o observo sentado em uma cadeira de frente para a escada.
Em sua mão havia uma faca, manchada de vermelho, que deduzo ser sangue… E apoiado
em sua perna, posso ver uma arma preta. Meus olhos ardem, só em recordar o dia a qual vi uma
arma pela primeira vez, que por ironia do destino, era Bryan que a segurava e usou essa mesma
arma para tentar me matar a luz do dia.
— Eu senti sua falta, não sentiu a minha? — Diz ele com uma voz doce e dá um sorriso
sem mostrar os dentes. — O que, amor, não precisa chorar! Eu estou aqui agora.
Ele se levanta e eu subo um degrau apertando Manu em meus braços.
Isso não poderia estar acontecendo, em todos os meus pesadelos, nunca havia cogitado
algo como isso, Mitte não podia estar aqui, eu tinha que acordar desse pesadelo, eu só poderia
estar dormindo.
— Por favor… Vai embora. — Peço a ele enquanto subo a escada lentamente de costa.
— Nem mais um passo. — Sua voz muda, para a mesma a qual ouvi quando ele ameaçou
o pai de Adele e eu paro de me mexer quando aponta a arma para as costas da Manu. — Ou eu
mato ela.
O medo me toma.
Não tinha medo de morrer, estranho, não sabia quando havia perdido esse medo. Mas, só
de imaginar uma vida onde Emanuelle não estivesse, me apavorava. Não conseguia me imaginar
em um mundo sem essa menina.
Eu daria a minha vida pela dela, faria de tudo para a ver sã e salva, não importava as
decisões a qual iria precisar tomar.
— Está bem… — Falo descendo um degrau. — Guarda essa arma… Por favor. — Peço
e ele abre um sorriso novamente.
— Claro, meu amor. — Coloca a arma na cintura, mas continua segurando a faca. — O
que acha de fazer um almoço para nós? Temos muito o que conversar, não acha?
Era incrível como sua expressão mudava assim como sua voz, era como se existisse dois
dele e eu não sabia qual eu mais temia.
Estávamos na cozinha a menos de 10 minutos.
Eu preparava os sanduíches com as mãos trêmulas, sem ao menos conseguir segurar a
faca para passar a pasta de amendoim ao pão.
Bryan havia me obrigado a colocar Emanuelle na cadeirinha, com lágrimas no olhos e um
sorriso forçado, fiz o que ele exigiu e corri começar a preparar os sanduíches dele, o olhando
pelo reflexo da janela de vidro, ele oferecia frutas a garota, que se recusava a comer e por dentro,
eu apenas orava para que ela comesse e desse um sorriso, tinha medo do que ele seria capaz caso
fosse contrariado por uma bebê.
— Seus sanduíches estão prontos. — Falo colocando três sanduíches em um prato e indo
até a mesa, o entregando.
— Pega algo para mim beber, amor? — Mordo meus lábios indo até a geladeira e
pegando uma lata de coca-cola e o entregando, sem abrir ou pegar um copo.
— Agora eu preciso ir colocar a Manu para dormir, está dando o horário da soneca
dela… — Minto, Manu só dormia por volta das quatro da tarde.
Vejo em seu olhar que ele não gostou. Seu sanduíche é largado sobre o prato e ele se
levanta rapidamente, vindo em minha direção e colocando a mão em meu cabelo, o puxando com
força.
— VAI MENTI PRA MIM, VAGABUNDA? — Ele grita me fazendo chorar e Manu se
assusta, chorando junto.
— Bry..Bryan. — Tento não gaguejar. — Você está me..me machucando. — Fechos os
olhos sentindo as lágrimas escorrerem.
— Me desculpe, amor. — Ele solta o meu cabelo e me abraça. — Fica calma, tá? Não
vou machucar você.
Eu estava vivendo um inferno e não sabia o que poderia fazer para reagir.
Se eu tentasse fugir, não colocaria apenas a minha vida em risco e sim a de Emanuelle.
Teria que dar a ele o que ele queria, uma Pâmela apaixonada, por mais que sorrir fosse a
coisa mais dolorida a se fazer nesse momento.
— Está bem… Vem, vamos comer. — Me afasto dele, sentindo meus lábios tremerem ao
sorrir.
A farsa teria que começar até Luke chegar.
Meu corpo doía, não importava o quão delicado eu tentasse ser, até mesmo o ato de
respirar fundo me causava um enorme desconforto, mas era necessário forçar a respiração ou a
tosse a cada uma hora.
Oliver e Emory foram nos buscar no hospital para nos levar para casa. Emma e Manu
ainda estavam na Daphne e só chegariam hoje, já que a casa teve que ficar interditada para
perícia e depois uma pequena reforma para reparar os estragos causados por Bryan.
Não sabia o motivo, mas sentia um olhar estranho vindo de Brown, não era pena ou raiva.
Algo tinha acontecido e ele não queria me contar, o conhecia muito bem, e fato dele estar
dirigindo e não Emory, só me confirmava.
— Laurence acabou de me avisar que o último andar ainda não poderá ser usado, então
ela pediu para que descessem as malas de Pâmela. — Emory diz, guardando o celular.
— Ah, ok. — Ella diz e olho para ela sem entender o motivo de suas malas estarem
arrumadas. — Eu iria te contar tudo no sábado, então achei melhor deixar minhas coisas prontas
caso tivesse uma reação negativa… — Ela fez um bico.
— Achou mesmo que eu iria te expulsar? — Tento rir, mas a dor não permite.
— Nunca achei que encontraria com o homem do hospital novamente.
— Você sabe como me amolecer, não é?
— Sempre.
— Pelo amor de Deus. Ver vocês dois no mesmo ambiente me causa gastura e olha que já
vi muita coisa por essa vida.
Era incrível como mesmo sendo uma mulher de quase 30 anos, Emory conseguia agir
como uma adolescente rebelde.
— Você precisa parar de ser assim, tão mal amada. — Digo para a provocar.
Mesmo tendo 4 anos a mais que ela, fazia de tudo para a irritar quando estávamos fora do
trabalho.
— Chegamos.
Oliver diz parando o carro em frente a minha casa.
Ele sai do carro e não vai abrir a porta para Pâmela ou Emory, mas sim para mim, me
ajudando a descer do veículo.
Olho para a casa vendo que já não tinha a mesma porta escolhida por minha mãe.
Pela primeira vez, algo de minha mãe tinha sido substituído e não apenas acrescentado
algo.
Uma sensação de não ser mais meu lar me toma, essa não era mais a minha casa.
Vejo Ella parada em frente a porta aberta, já que Emory entrou na casa sem se importar
de não ser a dona. Tento decifrar o que tanto ela está pensando, mas é quase impossível ler seus
pensamentos. Então apenas toco em sua cintura, chamando sua atenção.
— Não precisa mais ter medo, o pesadelo já passou…
— Você tem razão, não é necessário mais temer. — Ela sorri, me dando a mão, então
entramos juntos indo até a sala, onde me sentei na poltrona.
Oliver entra e se senta em minha frente, Emory está afastada falando no celular e por suas
expressões, acredito ser com Sattine e Ella ajeita as almofadas para que me sinta mais
confortável.
Olho para meu amigo que tenta desviar o olhar, então o encaro ainda mais, o intimidando.
— Ok, não acho justo vocês não saberem ainda. — Eu sabia, tinha algo acontecendo.
— Saber o que? — Pergunto com a voz séria, enquanto Pâmela se mantinha imovel.
— Você cala a porra da sua boca. — Vejo Emory se aproximando e guardando o celular
em seu bolso.
— Não. Eles precisam saber.
— Não agora.
— DA PARA OS DOIS FALAREM, PORRA.
Eu, Oliver e Emory olhamos para Pâmela, que está com as bochechas ruborizadas.
— Desculpa… — Ela começa a soltar o cabelo. — Agora fala.
— Pâmela, você será deportada em dez dias. — Emory quem diz, fazendo a sala ficar em
um tremendo silêncio.
O mar deveria acalmar depois da tempestade, mas dessa vez, ele recuou para trazer a
tsunami em nossas vidas.
Eu não poderia ter ouvido direito.
Tinha que ter cera no meu ouvido.
Precisava de um cotonete ou um cardiologista.
— Como assim deportada? — Dou risada.
— Seu contrato com a agência foi suspenso, devido à sua situação com Bryan. Você
apenas continuou com eles, por você ser uma testemunha… A sua LCC foi informada do último
acontecimento e ficou sabendo da relação de vocês, o que não é “proibido”, mas por questão de
“aparências”, eles acharam melhor quebrar seu contrato, fazendo com que você perca o visto.
Estamos tentando achar uma brecha, mas o consulado já foi informado sobre sua deportação,
mas conseguimos ganhar alguns dias para acharmos outro modo de você ficar legalmente no
país… Se você desejar, é claro. — Os três pares de olhos se voltam a mim. — Você deseja?
Quem disse que os que não vivem mais, não podem atrapalhar, estavam enganados.
Mesmo dentro de um necrotério, Bryan Mitte ainda me causa pesadelos.
Ir ou não ir embora?
Rever minha família ou lutar para ficar em uma família?
Eu não sabia o que pensar.
Não sabia o que responder.
Nem sequer sabia se ainda iria precisar responder algo.
Eu estava quieta, sem dizer nada.
A sala parecia pequena para todos os companheiros de Luke e sua irmã e sua sogra, que
haviam chegado logo após nós.
Emory conversava com um advogado através do telefone para ver uma forma de mudar
meu visto sem sair do país, enquanto Laurence e Luke estavam pesquisando algo no notebook.
Jordan, Oliver e Aaron estavam sentados em outro sofá, falando sobre algo a qual não era capaz
de prestar atenção. Emma estava com Manu ao colo, que chorava e Daphne… Não fazia ideia de
onde ela estava.
O choro de Manu não parava e meu coração dilacerava.
Tudo ao redor parecia estar em câmera lenta, mas o choro dela não, ele penetrava em
minha mente.
Levanto o olhar a procura de apenas uma pessoa, ele me olha e me ajuda em silêncio.
Precisava pensar, sem ninguém falando na minha cabeça, sem ninguém querendo pagar meus
estudos para ficar aqui ou me dando um falso emprego apenas para mudar o status de meu visto,
o que seria inútil, já que dificilmente conseguiria com a minha ficha “criminal”, devido os
últimos acontecimentos, todas as vezes que dei meus depoimentos ficaram registrado no sistema.
— Ok pessoal. Acho que hoje já deu, eu preciso descansar e vocês irem trabalhar. —
Luke diz se levantando com dificuldade, ele precisava estar deitado em repouso e não se
preocupando com os meus problemas.
Não tenho certeza se me despedi deles, ou não. Só sei que em poucos minutos, a casa
estava vazia e apenas o choro de Manu ecoando pela sala, já que ninguém conseguia a acalmar.
Me levantei do sofá pela primeira vez indo em direção a Emma, que tentava ninar a bebê, então a
peguei no colo vendo seus olhos lacrimejados.
Meu coração que estava a um turbilhão, se acalma. Um pequeno sorriso surgiu aos meus
lábios, era uma sensação estranha e louca, não poderia me sentir assim, eu não podia me sentir
completa apenas com ela em meus braços. Não era certo, mas era assim que me sentia.
— Vem… Vou te fazer dormir… — Sussurro para a menina, que vai parando de chorar
aos poucos.
Não olho para trás, não queria que sentissem pena de mim. Então apenas subo para o
quarto de Manu e fecho a porta, para termos o nosso momento.
— Agora somos só eu e você, não precisa mais chorar, minha pequena. — Falo em
português, indo até a poltrona e me sentando com ela, que leva a mão até minha boca e eu finjo
morder, arrancando uma gargalhada dela. — Isso, gosto de te ver assim e não chorando. Sabe, a
vida já foi muito dura com você, então ria sempre que tiver oportunidade, mas não se prive de
chorar, apenas veja se a situação merece suas lágrimas… Mesmo não sabendo o que vai
acontecer em menos de uma semana, acho que você precisa saber, tudo que está aqui dentro do
meu coração.
“É loucura, né? Mas, você conseguiu preencher o meu coração de uma forma que não
sabia que era possível, titia ama tanto você, se me pergunto se não enlouqueci.”
Manu começa a falar, de seu jeitinho de bebê, mas que eu consigo compreender, nossa
conexão faz com que eu compreenda e então sorrio, passando a mão por seu cabelinho loiro a
qual tanto amo.
— Eu amo você, minha pequena.
Acordo assustada achando que estou atrasada, mas é apenas um carro na rua de modo
acelerado.
Olho para os lados e vejo que Luke não está, mesmo que seu cheiro se faça presente no
lugar. Meu primeiro pensamento é que ele foi para seu quarto, mas logo começo a mudar de
ideia no momento que vejo uma folha de baixo do meu celular. Reconheço a caligrafia nas
palavras “Para Ella.”
Antes mesmo de abrir, eu sinto meus olhos lacrimejarem, acendo a luz do abajur e então
abro a carta deixada ao meu lado.
“ Soldado, Ella ou meu amor.
Nessa manhã, eu sinto o peso das palavras a qual desejo evitar, esse é o momento que
ambos tentamos evitar, mas não adianta evitar o inadiável. A cada palavra registrada é uma
tentativa falha de palavras a qual busquei e não encontrei.
Recordo-me do dia em que nos esbarramos pela primeira vez, posso ter demorado para
lhe reconhecer, mas jamais me esquecerei da paz a qual senti ao te segurar em meus braços, e
se alguém me contasse o caminho que iríamos trilhar juntos, eu riria da cara da pessoa.
Nesses meses passamos por tantas coisas, tendo um começo estranho, um meio
confortável e um final inacreditável. Compartilhamos nossas lágrimas, desejos e alegrias. Nos
tornamos bons amantes que tentam se esconder de todos, mas estávamos apenas nos
escondendo de nós mesmos.
Foram meses que passaram rápidos e intensos ao seu lado, meses a qual não
conseguirei me esquecer jamais e eu só tenho a agradecer por eles.
Com todo o meu amor,
Major O’Brien”
Estou em prantos abraçada a essa carta.
Ele preferiu não se despedir, preferiu me deixar partir, quando eu ainda tinha esperança
de ficar.
Os minutos foram se passando, e eu lia e relia aquela carta em meio às lágrimas. Ainda
não acreditava, ele não poderia ter ido sem ao menos ter se despedido de mim.
Emma, Laurence e Emory chegaram e se assustaram ao ver o meu estado, não tive forças
nem sequer para me vestir, apenas com a ajuda delas que sai daquele sofá.
Agora estávamos a caminho do aeroporto de Austin/ Bergstrom. Elas tentavam me
animar, mas minha mente só conseguia pensar em tudo que vivi e passei neste país. Eram sonhos
e pesadelos que se tornaram responsáveis pela Pâmela que voltaria para sua casa.
Mesmo que seja estranho chamar outro lugar de casa, teria que me acostumar, lá deveria
ser o meu lar, ao lado de meus avós e minha irmã.
— Chegamos. — Emory quem diz, assim que estaciona o carro.
Olho para o grande aeroporto querendo não entrar no mesmo, mas sabia que era
necessário e os ciclos se fechavam.
— Vamos lá! — Falo forçando um sorriso, enquanto saía do carro.
As meninas pegam minhas malas do porta malas e as colocam em um carrinho, vamos
diretamente fazer ao check in e em seguida despachar a mala, já que faltavam uma hora e meia
para o meu voo.
Não queríamos prolongar muito a despedida, então dispensamos um café pelo aeroporto e
fomos logo para o portão de embarque.
— É aqui que deixamos você. — Laurence quem diz e abro os braços para a abraçar.
— Obrigada por tudo, minha italiana favorita. — Falo dando risada, já que ela era a única
italiana que eu conhecia.
— Vê se não arruma confusão em seu país. Ok? — Ela diz se afastando de mim e
concordo com a cabeça.
— Detetive Morgan! — Me viro para a mulher que cuidou do meu caso durante quase
um ano.
— Sim, Albuquerque.
— Sabia que eu te achava uma vadia metida? — Pergunto rindo.
— E o que te fez pensar diferente? — Ela arqueou a sobrancelha.
— Nada, ainda te acho, mas passei a gostar de você. — Falo a puxando para um abraço.
— Eu devo minha vida a você e a Oliver, essa é uma dívida que jamais irei conseguir retribuir.
— Seguro o soluço em minha garganta e ela se afasta para me olhar.
— Eu sei como, viva a sua vida e não se prenda ao passado. Quem vive de passado,
esquece de viver. — Podia enxergar dor em seu olhar, algo me dizia que essa frase era mais para
ela do que para mim mesma.
Mas, não argumentei, pois tinha uma loira segurando as lágrimas me fazendo desabar.
— Assim fica difícil! — Digo pegando nas mãos de Emma, que está com o rosto
vermelho. — Eu não tenho palavras para expressar o que você se tornou na minha vida, de como
a menina maluquinha que me entrevistou me fizesse amar tanto.
— Você não deveria ir. — Ela quem diz, e posso sentir a dor em sua voz.
— Eu preciso…
— Você se tornou parte da minha família, não acredito que estou te deixando ir.
— Ei, estaremos a uma ligação de distância. — Digo a abraçando. — Prometa que irá
cuidar do seu irmão e da Manuzinha? — Ela concorda com a cabeça. — Quero atualizações
diárias sobre Manu, ok?
— Pode deixar.
— Me prometa só mais uma coisa… Que vai contar aquilo para o seu irmão, vai ser pior
se ele descobrir de outra maneira…
— Eu irei contar… — Ela se afasta. — Amo você, fã de banda morta.
— Eu também te amo, Polly Pocket versão Swift. — Dou risada limpando algumas
lágrimas. — É hora de dizer tchau!
Digo pegando minha mala de mão e acenando para elas pela última vez.
Começo a andar em direção a moça que conferia as passagens e passaporte, entrego os
meus para ela e me viro para trás, mas não a procura das meninas, e sim dele.
Tinha esperança que ele aparecesse, mas ele não apareceu.
E assim se encerra minha história de amor.
Me confirmando que nem todos os amores são para sempre.
ALGUMAS HORAS ANTES
Violetas sempre foram suas flores favoritas, por isso eram elas que eu carregava em
minha mão enquanto andava em meio ao túmulo até chegar ao de Amber.
Uma sensação me invade, uma nostalgia, saudade e tristeza.
Me ajoelhei de frente para sua lápide, vendo sua foto sorrindo, alegre com vida,
totalmente diferente da mulher que enterrei a dez meses.
— Faz tempo que não venho aqui, mas vir toda semana me deixava em um loop infinito
de dor e sofrimento… — Falo colocando o buquê sobre a grama verde. — Emanuelle está cada
dia mais linda, ela tem o seu cabelo e os olhos da minha família. Uma mistura perfeita de nós
dois… Ela é uma menina inteligente, ama a natação, como você mesmo disse que ela iria gostar,
e odeia os brinquedos que compramos, ela prefere os não convencionais, deve estar se
perguntando como sei o que é “brinquedos não convencionais”, bem, Pâmela me ensinou, ela foi
uma au pair que passou por nossa casa. E ainda por cima, o nome dela foi a primeira palavra de
Manu, que foi a menos de 24 horas.
“Ela fez um trabalho incrível com a nossa filha, daria a vida por Manu se fosse necessário
e a defenderia de qualquer pessoa, sem se importar se isso custaria sua vida ou não… Igual a
você. Tenho certeza que vocês duas se tornaram ótimas amigas.
Agora, porque estou te contando tudo isso? Bem, eu a amo.
Pâmela chegou em minha vida na semana mais difícil de todas, para nós dois. Nossos
caminhos foram traçados através de tragédias, que você já deve saber aí de cima, não tivemos um
romance fácil, cheio de medos, inseguranças e até mesmo uma perseguição que poderia ter
custado nossas vidas..
Hoje ela está partindo, sem ao menos ter ouvido que eu a amo. Porque fui covarde
quando não deveria ser. Eu deixei ela ir, quando deveria ter feito ela ficar. Mas, posso mudar
isso. Porém, para isso acontecer eu…”
Minha mão direita vai até a esquerda e começa a retirar a aliança de meu dedo anelar.
Seria a primeira vez que tiraria ela, era como se parte de minha vida estivesse naquele pedaço de
ouro, mas não deixava de ser mentira, parte de mim ficaria ali, junto a Amber.
— Eu tenho que te deixar. Não foi uma decisão fácil e nem rápida, mas é necessária. Eu
tentei lutar contra isso, entretanto meu coração não me deixa, eu tenho que tentar. Por mim, por
ela e pela nossa filha.
Pego a aliança dando um beijo na mesma e a coloco junto ao buquê.
— Nunca irei te esquecer ou deixar de te amar, mas te deixarei partir. Até uma outra vida,
meu amor, minha melhor amiga.
Ali, eu a deixo pela última vez.
Do mesmo jeito em que a deixei pela primeira vez, sem olhar para trás, mas dessa vez,
para a libertar.
Se a quase quatro anos atrás alguém me disse que hoje eu estaria casada, com o mesmo
homem que apontou uma arma para mim, no meu primeiro dia no trabalho, eu mandaria essa
pessoa se internar.
Mas, nesses últimos anos eu aprendi que tudo nessa vida é possível.
Eu tinha perdido a esperança, estava prestes a decolar, quando o detetive - que hoje é meu
marido - parou o avião para pedir que eu ficasse e me casasse com ele. Pode ter sido a minha
maior loucura, sair daquele avião sem saber se eu realmente conseguiria me casar com ele e não
ser deportada, mas o resultado foi um casamento planejado em menos de três semanas, com
direito a minha irmã e meus avós na cerimônia.
Quando é para ser, Deus dá o seu jeito.
Tanto é que estava acontecendo a primeira ação de graças na nossa casa. Após nosso
casamento, decidimos começar a nossa história em uma casa nossa.
Admirava as histórias daquela casa, grandes mulheres moravam lá. Mulheres a qual faço
questão de falar sobre elas para minha filha, mas lá jamais seria a minha casa. Hoje a casa era de
Emma, mas isso é história para outra hora, né?
— Você precisa de ajuda? — Lara entra na cozinha me oferecendo uma taça de
espumante, a qual neguei.
— Não, já levo o peru e podemos começar a tradição. — Falo abraçando minha irmã,
que veio passar o final de ano comigo. — Por que não está lá?
— Seu irmão é um chato, não me deixa pegar Manu no colo, dizendo que irei derrubar
ela como da última vez.
— Seu noivo está certo. — Dou risada me afastando dela, mas logo paro de rir, me
sentindo zonza.
Um.
Dois.
Três.
É sempre assim, eles vêm e vão. Basta respirar e contar.
— Você está bem? Está pálida! — Lara diz e eu penso em uma desculpa.
— Eu esqueci do pediatra da Manu, foi ontem. Droga. — Dou risada abrindo o forno e
pegando o peru para levar para a mesa.
Minha irmã me olha desconfiada antes de me deixar sozinha na cozinha.
— Se você estragar a minha surpresa, juro que te coloco de castigo! Vai ficar sem ouvir
One Direction por um dia. — Falo baixinha com a minha barriga.
Sim, eu estava grávida de 5 semanas, não havia sido planejada, mas aconteceu na hora
certa.
Emanuelle já estava com uma idade maravilhosa, com seus quatro aninhos. Até já havia
perguntado se ganharia uma irmãzinha, já que não conseguia brincar de boneca com Max, nosso
cachorro.
— Disse alguma coisa, meu amor?
Meu corpo todo se estremece ao ouvir sua voz.
A mesma voz que me fez perder o sono e me acalmou em dias tenebrosos.
Engraçado, que mesmo após quatro anos, ainda me sinto uma adolescente descobrindo
sua primeira paixão. O que não deixava de ser mentira, já que a cada dia eu me apaixonava mais,
seja pela nova ruguinha que ele tenha ganho ou a cada marca nova em seu corpo.
— Disse sim, para o peru não cair. Deus me livre de virar a chacota de ação de graças,
ninguém pode tirar o cargo de Jordan. — Falo rindo e ele me abraça por trás, beijando meu
pescoço e meu corpo todo treme por ele.
— Eu amo tanto você… — Ele diz e eu me derreto.
— Não mais do que eu. — Me viro o empurrando. — Agora saí da minha cozinha ou
ficará sem o brigadeiro.
— Como você é malvada. — Ele gargalhou e me rouba um selinho antes de ir para fora
da cozinha e se juntar com nossos convidados.
Não demorei muito para passar o peru ao prato a qual seria servido e em seguida o tiro da
bancada, indo devagar com ele para fora da cozinha.
Me concentro para nada tirar a minha atenção, era uma ave grande, já que aos pouco a
turma foi crescendo. Mesmo sendo um ano difícil, com perdas e ganhos, ainda éramos uma
família grande, com nossas tradições e costumes.
Por isso, todo cuidado era pouco. E eu estava certa, pois vi Max, nosso Pastor belga,
corria em minha direção e antes que eu pudesse desviar do mesmo, estávamos no chão.
Eu, ele e o peru assado.
A casa ficou em silêncio.
Todos se olhavam sem ter coragem de dizer nada.
— Finalmente eu não sou o único. — Jordan diz, fazendo uma comemoração. — Chupa
essa, Morgan!
Todos riem e Lara e Luke quem vêm me ajudar, enquanto o meu cachorro fica latindo,
encarando o peru no chão.
— Agola, mamãe? Acabo cumida? — Manu me pergunta e eu dou risada, pegando minha
filha do coração aos braços.
— Acho que sim, pequena.
— Vou pedir as pizzas! — Minha cunhada anuncia e eu faço careta, passando minha filha
para Lara.
— Acho melhor não!
— Por que? — Ela me pergunta e então eu suspiro.
— Bem, não era para ser assim… Tinha tudo planejado, mas Max fez o favor de derrubar
nosso peru. — O cachorro resmunga, abaixando as orelhas. — Está tudo bem, amigão. — Dou
risada e todos estão me olhando, esperando terminar o motivo de estar negando a pizza. — Mas,
acho que não é uma boa ideia, porque tem um serzinho aqui que se enjoa apenas de imaginar o
cheiro de uma pizza
Falo passando a mão na minha barriga lentamente e todos ficam olhando em choque, aos
poucos a ficha começa a cair e o primeiro a vir me abraçar é meu marido.
— Você está falando sério? — Concordo com a cabeça e sinto meu corpo ser retirado do
chão por um de seus braços, enquanto todos comemoram conosco.
Uma vez, me perguntei qual era o som do desespero.
Até hoje não sei dizer com convicção.
Porém, hoje eu te pergunto.
Qual é o som da alegria?
A resposta é simples: Família.
FIM.
Meu Deus, eu finalmente consegui *pulinhos de alegria*
Não teria como começar estes agradecimentos sem mencionar Deus. Acredito que Ele me
presenteou com esse dom - ou esquisitice; juro, não é normal viver com diversas vozes em sua
cabeça. Sem Ele, nada disso estaria acontecendo.
Patricia, Junior, não teria chegado até aqui sem vocês. Não há palavras que possam
definir o que sinto. "Eu amo vocês" ou "sou grata por tudo" parecem pequenos, mas saibam que
sou quem sou hoje graças a vocês. O amor de vocês, com começo perturbador, meio complicado
e um final incrível, me inspira, principalmente a ser uma pessoa melhor. Sou grata por ser filha
de vocês.
Aos meus irmãos, Kaio, Revis, Priscila, Gabrielle, Thaysa, Giovanna e Beatriz, do mais
velho para o mais novo (assim não tem briga, hahaha), uns presentes desde que nasci, já outros
foram chegando e conquistando esse título de irmão. Obrigada por me aturarem e apoiarem a
cada conquista. Amo vocês.
Família e amigos, não citarei todos os nomes, ou o agradecimento se tornará um segundo
livro, hahaha. Muito obrigada por todo apoio nos últimos meses, por não me acharem uma
antissocial nos nossos almoços, mesmo quando muitas vezes nem saía do quarto. Obrigada pelas
palavras de incentivo. Amo vocês.
Não poderia deixar de agradecer a você, leitor, que chegou até aqui e chorou, surtou ou
simplesmente suspirou com a história da au pair com o detetive. Obrigada pelo seu tempo, pelo
seu sorriso e todas as emoções que a história possa ter te trazido. Amo cada um de vocês.
E à minha equipe do "Lágrimas, Tiro e Betagem" - Amanda, Regiane, Livia, Rayssa,
Alanis e Maria - obrigada por apontarem os erros e suspirarem nos momentos de tranquilidade.
Ok, elas me xingaram um bocadinho, mas está tudo bem. Não sei como nossos caminhos se
cruzaram, mas sou grata e amo cada uma de vocês. Obrigada por tudo!
Agradeço também a Marcielle, que me ajudou em tudo e teve paciência comigo. Serei
eternamente grata a ti!
Ao meu time de parceria e publicidade, meus muitíssimos obrigada! Cada um de vocês
desempenha um papel fundamental neste lançamento.
Obviamente, eu teria que agradecer a Kiera Cass - isso mesmo, a autora - e à sua obra "A
Seleção". Se não fosse pelo meu amor pelo romance de America e Maxon, eu não estaria relendo
pela quarta ou quinta vez o livro responsável por me aproximar da minha pessoa:
"Se eu matar alguém, ela é a pessoa que eu ligo para me ajudar a arrastar o corpo pela
sala. Ela é minha pessoa."
Pâmela é a minha pessoa, com seu jeito fechado, que me julgava com o olhar por usar
batom vermelho às 6h50 da manhã. Nossos caminhos foram traçados através de um livro.
Não somos amigas a vida inteira, vai por mim, não fiz questão alguma de tentar me
enturmar com ela, mas nos tornamos amigas para a vida toda.
Nunca fui de cultivar amizades, pelo contrário, sempre enjoei delas e me afastei das
pessoas, acreditando que as amizades são passageiras e apenas as lembranças são eternas.
Mas Pâmela mudou isso, estamos à beira de 8 anos de convivência, que vem se
intensificando cada vez mais a ponto de nos tornarmos família.
Sem ela, esse sonho não estaria se realizando. Pâmela é a responsável por me apresentar à
leitura nacional, por tirar meus personagens do papel.
Obrigada por me emprestar seu nome.
Obrigada por apontar os meus erros.
Obrigada por me incentivar todos os dias.
Obrigada por me aturar durante esses anos.
Obrigada por ser uma luz quando acredito que tudo está perdido.
Obrigada pelo contrato de amizade vitalício; se um dia quiser o rasgar, apenas dorme que
passa, você sabe de muita coisa da minha vida!
Obrigada por ser a minha pessoa.
Eu amo você.
[1]
Local Child Care Coordinators: a pessoa responsável por coordenar as Au Pairs da região.
[2]
Host Family: família anfitriã responsável pela Au Pair.
[3]
Host Mom: Mãe da criança a qual a Au Pair cuida .
[4]
Host Dad: Pai da criança a qual a Au Pair cuida.
[5]
Kiddo: gíria usada pelas Au Pair para se referir a criança.
[6]
Mula: mulheres usadas para tráfico de drogas.
[7]
Power 5312: identificação do detetive Luke pelo rádio, cada policial tem sua palavra de identificação, sendo seguido pelo
número do departamento e em seguida, os dois últimos números do distintivo.
[8]
Cuca: é um bolo de tabuleiro feito com ovos, farinha de trigo, manteiga e coberto com açúcar.
[9]
Fanculo: porra, foda-se ou merda em italiano.
[10]
Cloche = cúpula usada para cobrir o prato.
[11]
Jack: Jack significa um homem sem limites morais na busca pelo sexo, muitas vezes tendo comportamentos abusivos
[12]
Ariete: equipamento usado para forçar o arrombamento de porta.