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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE LIMEIRA/SP

Autos do processo n° X

IRMANDADE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE LIMEIRA, já


qualificado nos autos da AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, DANO MORAL
E PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA de numeração supra
indicada, movida por JANAINA PARO DE CAMARGO CUSTODIO E JOÃO
RAFAEL DE CAMARGO CUSTODIO, também já qualificados, por seu
advogado firmatário, com procuração anexa e escritório situado na Avenida
Marginal Leste, n. 3.600, Bloco II, 3º andar, Núcleo de Práticas Jurídicas – NPJ
da Faculdade Avantis, bairro dos Estados, cidade de Balneário Camboriú/SC,
onde recebe intimações, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência para,
nos termos dos artigos 350 a 351 do CPC, apresentar:

RÉPLICA

Pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

1. DA DEFESA DE MÉRITO

1.1 DANOS MORAIS

Na contestação, o contestante alega que o dano moral solicitado na


inicial não foi configurado, simplesmente com argumentos de que “o
contestante agiu conforme acordado no contrato”, mas com esses fundamentos
fica muito fácil alegar qualquer coisa, não é mesmo!? Poderíamos então alegar
que o autor não precisa pagar mais as mensalidades, ao ser questionado pela
inadimplência, alegar que ele agiu conforme acordado em contrato! Sem
qualquer indicação de fato sobre o contrato estamos nos referindo.
Que o autor participa de plano privado de assistência à saúde, é fato
incontroverso. O artigo 2º da Lei 12.764/12 (lembrado à fl. 252) em seus incisos
I e III, afirma, respectivamente, "que são diretrizes da Política Nacional, a
intersetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e no
atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista e a atenção integral
às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista,
objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a
medicamentos e nutrientes".

O tratamento por Terapia ABA, não está excluído da previsão de


cobertura contratual, é fato que esse tratamento é fundamental para reduzir os
impactos negativos do TEA na saúde do autor, fator determinante para a
procedência da ação. A terapia recomendada é fundamental para a
manutenção de relativa qualidade de vida para o autor. A vulnerabilidade do
autor reclama esta tutela. A Terapia ABA, comprovadamente, é indispensável
para assegurar a saúde do autor.

Mônica de A. Magalhães Serrano e Vidal Serrano Nunes Júnior


abordando a questão sobre "SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL E AS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA", na obra Manual dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, editora Saraiva, 2012, pág. 261, observam que "A saúde,
especificamente, passou a ser tutelada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), agência especializada da ONU, criada em 1946, que trouxe como
contribuição o conceito de saúde mais amplo, tal qual adotado nos dias atuais,
no sentindo de ser 'o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença e outros agravos'. Dessa feita, a ideia de saúde como
simples ausência de doenças foi superada, tendo ganhado novos horizontes,
tudo a garantir progressivamente melhor qualidade e dignidade à vida
humana".

Sendo assim, está mais do que comprovado que existe sim o dano moral
ao requerido negar a solicitação de custear o tratamento do menor feita pela
requerente. Afinal, a indenização por dano moral exige a coexistência de três
pressupostos: a prática de ato ilícito, ao qual já foi relatada, a ofensa à honra
ou à dignidade, ao qual está sendo impedido de poder efetuar o tratamento
conforme requerimento médico e poder amenizar as causalidades espelhadas
em decorrência da enfermidade, o menor se sente lesado ao ter seu
tratamento atrasado e sendo considerada como grave sua doença, traz
dificuldades de interação social em se comunicar e também em sua
sensibilidade sensorial e pela comprovação através de atestados médicos da
necessidade do menor de atendimento multidisciplinar, fica claro que a demora
pelo início do tratamento, trará prejuízos, e até possíveis danos irreversíveis,
pois atrasará seu desenvolvimento e o nexo de causalidade entre esses dois
elementos, ao qual está lúcido nos relatos dos fatos, ao se negar prestar os
devidos serviços o menor está sendo lesado, configurando assim danos morais
conforme arts. 186 e 927 do Código Civil e assim como demonstrado na
jurisprudência a seguir:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE


SAÚDE. CDC. PACIENTE. CRIANÇA PORTADORA DO
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA. SESSÕES
DE PSICOTERAPIA INDIVIDUAL E EM GRUPO,
EQUOTERAPIA E MAPEAMENTO GENÉTICO.
LIMITAÇÃO. CONTRATO. ROL DA ANS. NULIDADE.
DANO MORAL. I - As operadoras de seguro-saúde se
submetem às normas do CDC, Súmula 608 do e. STJ. II
- A limitação pela ré das sessões de psicoterapia e a
recusa de cobertura da equoterapia e do mapeamento
genético (?exoma?) prescritos ao autor, criança com três
anos e portadora do Transtorno do Espectro Autista, com
base no Rol da ANS e no contrato, é abusiva e, portanto,
nula, visto que restringe direitos fundamentais inerentes
à natureza do contrato, além de ser excessivamente
onerosa ao beneficiário do plano de saúde, art. 51, inc.
IV, § 1º, inc. II e III, do CDC. III - O Rol de Coberturas e
Procedimentos previstos pela ANS é exemplificativo, e
não exaustivo, e representa listagem de cobertura
mínima a ser observada pelos planos de saúde, assim
como a RN/ANS nº 428/17, Anexo II, que prevê o
número de sessões anuais de psicoterapia. IV - A
negativa de cobertura do tratamento necessário ao
beneficiário do plano de saúde no momento em que
necessitou do plano de saúde exorbitou o mero
aborrecimento e angústia para caracterizar evidente
violação aos seus direitos de personalidade. Mantida a r.
sentença de procedência dos pedidos cominatório e
indenizatório. V - Apelação desprovida.

(TJ-DF 07060633020208070001 DF 0706063-


30.2020.8.07.0001, Relator: VERA ANDRIGHI, Data de
Julgamento: 16/09/2020, 6ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE: 02/10/2020. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)
1.2 OBRIGAÇÃO DE FAZER
Conforme já relatado na inicial, o Transtorno do Espectro Autista,
interfere no comportamento, trazendo dificuldades na interação social, em se
comunicar, entre outras. Desse modo, é necessário o tratamento para a
garantia ao direito à saúde e à qualidade de vida,
tal necessidade que se comprova através dos laudos médicos trazidos
pelo autor.
Assim, levando em consideração a doutrina de DE SOUZA, José
Franklin. Direito das obrigações no Código Civil. Clube de autores, pág. 72 “na
obrigação de fazer o devedor se vincula a determinado comportamento,
consistente em praticar um ato, ou realizar uma tarefa, donde decorre uma
vantagem para o credor”, e também a Lei 9656/98 que determina a cobertura
obrigatória das doenças elencadas na CID 10 – Classificação Estatística
Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde, no qual em
seu capítulo V configura todos os tipos de Transtornos de Desenvolvimento
Psicológico, e determina o autismo como um subtipo do Transtorno Global de
Desenvolvimento, além disso não pode a lista da ANS estar acima da lei,
conforme pode – se perceber na jurisprudência abaixo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO COMINATÓRIA.
PLANO DE SAÚDE. PACIENTE. CRIANÇA
PORTADORA DO TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA. SESSÕES DE EQUOTERAPIA. MULTA
DIÁRIA. I - O agravado-autor, menor, é portador de
transtorno do espectro autista nível 2 e foi prescrito para o
seu tratamento pela médica neurologista pediátrica que o
assiste o acompanhamento terapêutico de equoterapia. II
- O plano de saúde pode limitar as enfermidades que
terão cobertura, mas não pode recusar o tratamento
prescrito pelo médico como necessário ao quadro clínico
do paciente. O Rol de Coberturas e Procedimentos
previstos pela ANS é exemplificativo, e não exaustivo, e
representa listagem de cobertura mínima a ser observada
pelos planos de saúde. Se o plano de saúde tem
cobertura para a patologia do agravado-autor, não pode
recusar a cobertura do tratamento equoterapia por não
constar do Rol da ANS e da sua tabela. III - A multa tem
por objetivo compelir a parte devedora a cumprir a
obrigação, conferindo efetividade ao pronunciamento
judicial. Quanto ao valor, não pode ser fixada em valor
ínfimo, que não atinja a sua finalidade inibitória do
inadimplemento, mas também não pode ser excessiva, a
ponto de gerar enriquecimento sem causa à parte
contrária, logo, devem ser observados os critérios da
razoabilidade e da proporcionalidade. Mantida
integralmente a r. decisão. IV - Agravo de instrumento
desprovido.

(TJ-DF 07290584020208070000 DF 0729058-


40.2020.8.07.0000, Relator: VERA ANDRIGHI, Data de
Julgamento: 02/12/2020, 6ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE: 21/01/2021. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)

Diante do exposto, entende – se que o plano de saúde deve sim cobrir


o tratamento solicitado.

1.3 LITIGÂCIA DE MÁ-FÉ


Assim como já alegado anteriormente, o requerido se recusa sem
fundamentos em atender à solicitação efetuada pela mãe com atestado
médico, tendo em vista que o plano de saúde não pode abster-se de
atendimento para tratamentos de doenças, em exceção do rol taxativo dos
casos elencados no artigo 10° da Lei 9656/98 - Lei de Planos de Seguro,
também levando em consideração as alterações realizadas nesta lei, em que
determina a cobertura obrigatória das doenças elencadas na CID 10 –
Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas
Relacionados à Saúde, no qual em seu capítulo V configura todos os tipos de
Transtornos de Desenvolvimento Psicológico, e determina o autismo como um
subtipo do Transtorno Global de Desenvolvimento.
Destarte, o argumento em que não há cobertura dentro do rol de
procedimentos da ANS não tem procedência, pois uma listagem emitida por um
órgão regulador não se sobressai ao determinado por uma lei, mais específica
ao caso em questão a Lei 9.656/98.

Sendo assim, gostaria de entender em que momento houve má-fé ou


busca de vantagem fácil alterando a verdade dos fatos?! Os fatos são claros! O
menor tem sim direito sobre os serviços solicitados ao prestador requerido. O
que nos leva a entender que se trata de caso reverso, no qual a própria
prestadora de serviço age de má-fé ao se negar a prestar os devidos
tratamentos, se abstendo de algo tratado sobre a luz das legislações aqui já
elencadas, aos quais garantem o direito ao menor, a mesma está se negando e
atrasando, interferindo de maneira desenfreada no desenvolvimento desta
criança, tendo como base na jurisprudência citada abaixo:

Ação cominatória promovida por consumidor, portador de


autismo, contra plano de saúde, julgada parcialmente
procedente. Insurgência exclusiva da operadora. Dever do
convênio de disponibilizar tratamento terapêutico
alternativo solicitado por equipe médica (ABA). Aplicação
da Súmula 102 deste Tribunal de Justiça de São Paulo.
Litigância de má-fé da operadora, suscitada pelo apelado,
não configurada. Sentença mantida. Recurso desprovido.

(TJ-SP 10018888120178260554 SP 1001888-


81.2017.8.26.0554, Relator: Nilton Santos Oliveira, Data
de Julgamento: 16/07/2018, 3ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 16/07/2018)

Na doutrina, NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA ANDRADE


NERY, “Código de Processo Civil e legislação Processual Civil extravagante
em vigor”, RT – Legislação, São Paulo, 1994, p. 248, conceituam o litigante de
má-fé como “a parte ou interveniente que, no processo, age de forma maldosa,
como dolo ou culpa, causando danos processual à parte contrária. É o
improbus litigator, que se utiliza de procedimentos escusos com o objetivo de
vencer ou que, sabendo ser difícil ou impossível vencer, prolonga
deliberadamente o andamento do processo procrastinando o feito. As condutas
aqui previstas, definidas positivamente, são exemplos do descumprimento do
dever de probidade estampado no art. 14 do CPC”.

Caracterizando assim o cenário em questão.

Estando devidamente rebatidos os fatos, fundamentos e documentos


apresentados pelo autor,

REQUER

Digne-se Vossa Excelência receber e autuar essa réplica juntamente


com os documentos que a instrui, e a seguir:

- Julgar totalmente procedente os pedidos do autor;

Pede deferimento
Local X, data XX/XX/XXXX.

Advogado X - OAB X

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