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O príncipe da coroa espelhada

João Gabriel Dutra*

Em um reino tão longínquo que se perdeu nos mapas, vivia o príncipe mais belo e gentil de
toda a história. Ele era amado por todos, seu reino era próspero e os trabalhadores
adoravam realizar serviços nas lavouras: eram muito bem pagos por ele. Isso se refletia
perfeitamente nas safras, as quais eram sempre fartas. Em seu reinado, ninguém passava
fome e até mesmo os mais miseráveis viviam de forma digna.

Certa vez, um rapaz encapuzado bateu às portas do palácio. Precisava falar com o príncipe
urgentemente. Após entrar na residência, encontrou Sua Alteza e apresentou-se. Era um
fidalgo vindo da Gália, e que, em homenagem ao reinado abundante do príncipe, trazia uma
bela coroa, feita do mais fino cristal de toda a Europa. Naturalmente, o porfirogênito
encantou-se com o presente, e, instantaneamente, colocou o artefato sobre a sua cabeça.
Não poderia estar mais deslumbrante. Com um sorriso, o fidalgo sai de cena.

Porém, pouco tempo depois da nova aquisição, as pessoas começaram a comportar-se de


forma diferente diante do príncipe. Seus criados estavam irascíveis, sempre obedecendo às
ordens de forma grosseira e brusca. O rapaz estranhou. Todavia, acreditava ser somente
um mal-entendido, assim continuando as suas atividades normalmente.

Em um dia específico, o príncipe iria realizar uma reunião de negócios com os comandantes
de reinos vizinhos, como costumava fazer anualmente. A confraternização fora um
tremendo fracasso, e as potências declararam guerra contra o reino. Era a primeira vez que
tempos tão tempestuosos instalavam-se sobre aquele reinado.

Os tempos se passaram e todo o território foi tomado pelos atacantes vizinhos. Na última
investida inimiga, eles desejavam tirar a vida do príncipe em seu castelo. Triste e confuso, o
rapaz perguntou ao seu assassino, antes de ser morto:

- Por que ficastes tão ferozes contra a minha pessoa? O que fiz para vós?

O correspondente respondeu:
- A tua coroa… é tão perfeitamente espelhada que mostra todas as nossas
imperfeições. Sempre que olhamos para ela, e comparamos à nossa face a tua,
sentimo-nos infinitamente inferiores a ti. Como pudeste ser narcisista a esse ponto?
Uma nação não merece um rei tão cruel.

Logo em seguida, o príncipe foi morto, inexoravelmente.

Moral: A crítica ou desaprovação de alguém reflete muito mais ele mesmo do que a ti.

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