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E. T. A. Hoffmann, 1816
— Não, nunca!
Na verdade, era impossível negar que, na existência de
todo o mundo, não nasceu nenhuma criança mais linda que
a Princesa Pirlipat. Seu rostinho parecia tecido como se feito
de delicados fios de seda branca como lírios e vermelha
como rosas, e seus olhos eram de um azul vivo e cintilante,
e seu cabelo era tão bonito que era como se os cachos se
enrolassem em fios dourados brilhantes. Além disso,
Pirlipatita veio ao mundo com duas fileiras de minúsculos
dentes de pérola, com os quais mordeu o dedo do Chanceler
duas horas após o nascimento, quando ele quis examinar o
alinhamento mais de perto, de modo que ele gritou bem
alto: ‘Ó, minha nossa!’. Outros afirmam que ele berrou ‘Ai,
ui, ui!’, e as opiniões ainda hoje estão muito divididas sobre
isso. Em suma, Pirlipatita realmente mordeu o dedo do
Chanceler, e o país encantado agora sabia que a mente, o
espírito e a inteligência também residiam no lindo corpinho
angelical de Pirlipat. Como dito, tudo era só felicidade,
apenas a rainha estava muito ansiosa e inquieta, e ninguém
sabia por quê. Era especialmente estranho que ela
mandasse vigiar o berço de Pirlipat com tanto esmero. Além
do fato de as portas estarem vigiadas por guardas, duas
amas sempre estavam ao lado do berço, e outros seis
tinham que ficar ao redor dos aposentos noite após noite.
Mas o que parecia uma loucura completa e que ninguém
conseguia entender era que cada um desses seis guardas
precisava ficar com um gato no colo e acariciá-lo a noite
toda para que fosse forçado a prestar vigilância o tempo
todo. É impossível que vocês, caras crianças, possam
adivinhar por que a mãe de Pirlipat fez todos esses arranjos,
mas eu sei e já lhes contarei. Acontece que certa vez, na
corte do pai de Pirlipat, muitos reis excelentes e príncipes
muito agradáveis se reuniram, e por isso as coisas iam
muito bem, e muitas justas, apresentações de comédias e
bailes da corte aconteciam. O rei, para mostrar
corretamente que não lhe faltava nem ouro nem prata,
lançou mão do tesouro da coroa para esbanjar como se
devia. Assim, ele ordenou, ainda mais porque soube
secretamente pelo cozinheiro principal da corte que o
astrônomo da corte havia anunciado a hora da matança,
que se montasse um grande banquete com salsichas, jogou-
se na carruagem e até convidou todos os reis e príncipes
para tomarem apenas uma colherzinha de sopa e se
surpreenderem com as delícias que os aguardavam. Então,
ele falou com a rainha de um jeito bastante gentil:
— Já sabes, minha querida, como eu gosto das salsichas!
A rainha já sabia o que ele queria dizer com aquilo, pois
nada mais significava: ela própria, como antes já havia feito,
deveria se lançar à útil tarefa de fazer as salsichas. O
tesoureiro-chefe precisou entregar imediatamente na
cozinha uma grande vasilha dourada de fazer salsicha e as
caçarolas prateadas; acenderam uma grande fogueira de
sândalo, a rainha se amarrou no avental de cozinha
adamascado, e logo os benfazejos aromas adocicados da
sopa de salsicha fumegaram do caldeirão. O delicioso cheiro
penetrou até a câmara do Conselho de Estado; o rei,
tomado de um deleite interior, não conseguiu se segurar.
The End
Extra: Biografia de E. T. A. Hoffmann
Ernst Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann nasceu em
1776, em Königsberg, na antiga Prússia. Foi um escritor
romântico, compositor, desenhista e jurista alemão, mas
ficou conhecido por ser um dos maiores nomes da literatura
fantástica e do horror.