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“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
avançadas de produção”
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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
1. Introdução
As empresas têm buscado melhorar o desempenho operacional de seus sistemas de produção,
produzindo uma maior quantidade de bens e serviços utilizando os recursos disponíveis da
melhor maneira possível. Nesse contexto, as preocupações com as condições de trabalho são
frequentemente colocadas em segundo plano.
A ergonomia busca resgatar essas preocupações por meio de intervenções que diminuam as
inadequações das situações produtivas. Assim, a análise ergonômica tem como objetivos:
conceber situações de trabalho que não alterarão a saúde dos trabalhadores, permitindo que os
mesmos consigam exercer suas competências, simultaneamente num planejamento individual
e coletivo, deparando-se com possibilidades de valorização de suas capacidades (IIDA, 2005).
Nessa pesquisa, foi analisado um setor de uma empresa que se encaixa no contexto industrial
de ferramentaria, especificamente em uma indústria de limas. Apesar dos operadores
contarem com o auxílio de diversas ferramentas, parte considerável do processo é
desenvolvido de forma manual. As limas são ferramentas de aplicação geral, sendo utilizadas
de forma frequente em combinação com enxadas, serrotes, facões, motosserras e talhadeiras.
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2. Referencial Teórico
2.1 Ergonomia
O termo ergonomia se deriva das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras). A
ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de equipamentos, sistemas e tarefas e máquinas,
objetivando-se na melhoria da segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho (DUL;
WEERDMEESTER, 2012). Iida (2005, p.2), conceitua a ergonomia como “o estudo da
adaptação do trabalho ao homem” essa intervenção é alusiva a toda a situação em que há
contato ou relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.
No ano de 2000, a Internacional Ergonomics Association (IEA) adotou uma nova definição
da ergonomia, e atualmente este conceito é referência internacional. Essa definição aponta
que a ergonomia é a disciplina cientifica que visa compreender de forma fundamental as
interações entre seres humanos e demais componentes presentes em um sistema, é a profissão
que utiliza de teorias, dados e métodos por finalidade de buscar o bem-estar das pessoas e o
desempenho global dos sistemas (IEA, 2000).
“Seu objetivo é elaborar, com a colaboração das diversas disciplinas científicas que
a compõem, um corpo de conhecimentos que numa perspectiva de aplicação, deve
ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de
produção e dos ambientes de trabalho e de vida ” (p. 4).
Nesse sentido, a Associação Internacional de Ergonomia divide essas especializações em três
áreas, sendo elas a ergonomia física, ergonomia cognitiva e ergonomia organizacional. A
ergonomia física aborda características anatômicas, antropométricas, fisiológicas e
biomecânicas do homem em sua relação com a atividade física. Outra área de especialização é
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Fonte: elaborado pelos autores com base em Ministério da Saúde do Brasil e Organização Pan-Americana Da
Saúde No Brasil (2001) p. 29
Essa pesquisa dará maior enfoque para as questões associadas ao grupo “Ergonômicos e
Psicossociais”, enfatizando principalmente as posturas de trabalho relacionadas às
inadequações do posto de execução da tarefa.
Exigências da força a ser exercida está ligada a resistência dos comandos, pesos dos
instrumentos, cargas a deslocar. O nível e a direção em que a força é exercida
determinará a organização dos segmentos corporais a fim de opor uma força que
auxiliará a manter o equilíbrio postural.
Os espaços onde o operador atua deve haver uma orientação e dimensionamento dos
planos de trabalho; implantação de comandos, instrumentos e materiais.
E por fim, cita-se o ritmo de execução da tarefa que influencia na postura do operador.
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Portanto, esses elementos devem ser concebidos de forma que o trabalhador possa adotar uma
postura que, consiga na medida do possível respeitar o equilíbrio corporal e não provoque
sobrecarga circulatória, havendo a possibilidade de ser frequentemente alterada.
O sistema abrange a compreensão das posturas adotadas pelo trabalhador, a carga e a força
utilizada, possuindo como objetivos:
Segunda Iida (2005), o sistema OWAS tem como base 72 posturas (ver exemplo na Figura 1)
típicas que resultam em combinações diferentes em relação as posições do dorso (4 posições
típicas), braços (3 posições típicas) e pernas (7 posições típicas).
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Classe 2 - A postura deve ser verificada quando acontecer uma próxima revisão
dos métodos de trabalho;
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Nota-se que a partir da classe 2 já se faz necessário uma intervenção para adaptar o posto de
trabalho. No segundo caso, a intervenção deve ocorrer um curto espaço de tempo e, por fim,
caso a situação seja definida como Classe 4, a intervenção deve ocorrer de forma imediata.
3. Metodologia
Esta pesquisa foi desenvolvida a partir do método estudo de caso (YIN, 2005). Para a coleta
de dados foram utilizados questionários, registros fotográficos e em vídeos e observações
livres. Para a descrição e análise dos dados, foram utilizados os instrumentos: ficha de
descrição da tarefa (CAMAROTTO, 2007) e o sistema OWAS. Além disso, foi utilizado
também para a análise dos dados o software Ergolândia, o software apresenta 20 ferramentas
ergonômicas que podem ser utilizadas de forma gratuita, auxiliando na melhoria dos postos de
trabalho, possibilitando resultar em aumento da produtividade e diminuição dos riscos
ocupacionais (FBF SISTEMAS, 2010).
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do posto a ficha de descrição da tarefa foi utilizada para fornecer uma visão mais detalhada
sobre o posto de trabalho e sobre a tarefa. Posteriormente aplicou-se o sistema OWAS,
utilizando apenas as informações levantadas do funcionário da retífica.
4. Resultados
4.1 Descrição e caracterização da empresa e do produto produzido
A empresa estudada possui mais de 30 anos de atuação no setor de ferramentaria, atuante no
mercado de ferramentas manuais, no caso limas e grosas. Está localizada no interior do estado
de São Paulo. A empresa conta com um portfólio de mais de 150 tipos de limas diferentes.
Além de possuir a própria marca, possui também pedidos de outras marcas que terceirizam
sua produção. Esses produtos são produzidos em um processo de produção em que atuam dez
funcionários diretamente ligados à produção e três funcionários no setor administrativo.
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ambos os casos foram acidentes de trabalho gravíssimos com sérias lesões em membros
superiores.
Além desses dados, foram levantados dados gerais relacionados ao trabalho na empresa, estes
dados estão resumidos abaixo:
Horário de trabalho - jornada de trabalho de oito horas, das 07:00 às 17:00, com pausa
para o almoço de 1h e 30 minutos e para o café da tarde de 30 minutos;
Produção mensal em média de 30.000 unidades por mês, com picos de 55.000
unidades;
A população trabalhadora é formada por homens e mulheres com formação média até
o ensino fundamental.
A Figura 2 destaca a área é realizada a retífica e, devido aos acidentes e reclamações, foi o
local de desenvolvimento desta pesquisa na empresa.
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Fonte: Autor.
O sistema produtivo conta com as etapas de: estamparia, martelete, retífica, picagem, acerto,
tratamento térmico, revenimento e expedição. Conforme destacado na Figura 2, a pesquisa foi
realizada na retífica.
Nesse posto, trabalho um operador do sexo masculino, com 67 anos, que possui mais 30 anos
de experiência no setor de ferramentaria, tendo passado por diversas empresas. Para uma
melhor compreensão do processo produtivo foi desenvolvida uma Ficha de Descrição da
Tarefa, conforme é apresentado no Quadro 2.
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Aplicando a ficha de descrição da tarefa, notou-se que a cadeira não possuía regulagem, as
bancadas onde as limas brutas e finalizadas são colocadas são baixas, necessitando a
inclinação do dorso do trabalhador, o rebolo do esmeril não possui nenhuma proteção, esse
conjunto de fatores submetem o funcionário a posições desconfortáveis. A ficha de descrição
auxilio no entendimento mais profundo sobre a tarefa, auxiliando no desenvolvimento do
trabalho.
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Figura 3 - Trabalhador separando as limas a serem Figura 4 - Trabalhador colocando as limas a serem
esmerilizadas. esmerilizadas próximo a sua bancada.
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Fonte: autores
Nesse momento (Figura 5) o trabalhador faz a regulagem do gabarito, nota-se que as posturas
assumidas nesta atividade são parecidas com as posturas assumidas na atividade 1. Porém, o
dorso do funcionário fica inclinado em grande parte do tempo.
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Essa atividade exige que o trabalhador mantenha seu dorso inclinado durante todo o tempo.
Apesar da atividade não demandar que o operador faça muita força, a realização da
esmerilagem exige muito a movimentação do braço direito do funcionário, principalmente do
cotovelo, que permanece flexionado em grande parte do tempo. Destaca-se que o cotovelo foi
o segmentado do corpo com maior incidência de reclamação no diagrama de áreas dolorosas.
Olha, normalmente eu não sinto dores [...], mas sempre sinto uma dorzinha na
coluna, sinto muita canseira na minha mão, mas o braço é o que mais dói,
principalmente meu cotovelo” (Funcionário da Retífica).
Segundo Másculo (2011), movimentos de rotação do antebraço e o flexionamento dos dedos e
punhos, interligados à força e à repetitividade, podem ocasionar uma tendinite (Inflamação
que sucede no tendão, onde há a união do músculo ao sistema ósseo) no lado interno do
cotovelo.
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Fonte: autores
Por mais que o trabalho não exija muita força do trabalhador, os mesmos movimentos são
repetidos inúmeras vezes durante o dia, o que pode ser agravante e causador desta dor.
De acordo com as determinantes de posturas listadas por Laville (1997), pode-se dizer que a
retífica exige um grau de precisão na finalização da lima, portanto faz com que seja necessária
uma exigência visual por parte do trabalhador para que essa precisão seja alcançada.
Os movimentos também precisam ser precisos, afinal a lima deve apresentar característica
planas em suas superfícies, desta forma utiliza-se um gabarito que auxilia este processo, onde
a lima é posicionada entre o gabarito e o rebolo. Essa junção de equipamentos elimina a
necessidade de que uma força maior seja empregada na tarefa.
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A cadeira: A cadeira poderia oferecer regulagem para que o funcionário melhore sua
postura, afinal a atual cadeira não oferece essa possibilidade. Abaixar a altura do
esmeril também ajudaria o funcionário a manter o dorso ereto, conseguindo melhorar
ainda mais sua postura.
5. Considerações finais
O posto de trabalho estudado conta com o auxílio de uma retífica, entretanto, todo restante da
atividade é feita de forma manual. A experiência do funcionário na função é crucial para que
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sejam atingidos os resultados da produção e para que o mesmo não se acidente, visto a falta
de proteção nas máquinas e os relatos de acidentes nesse e em outros setores da produção.
Por meio do método de registros, diagrama das áreas dolorosas de Corlett e Manenica e a
análise de dados feitas a partir do sistema postural do método OWAS, foi possível identificar
quais os principais constrangimentos do trabalhador. A análise das posturas permitiu
evidenciar ainda que nenhuma delas pode ser considerada totalmente aceitável, devendo ser
repensadas em futuro próximo.
Vale ressaltar que por mais que as análises sejam feitas por meio dos métodos, as
variabilidades encontradas nos postos de trabalho são diversas e os métodos apresentam
limites quando a sua aplicação. Durante o questionário o operador relatou não sentir
desconfortos, apontando somente o cotovelo como um local de desconforto moderado. Em
outro momento, durante as entrevistas, o operador citou também dores na coluna, que
conforme o operador estava associado às posturas do trabalho.
Verificou-se que podem ser realizadas melhorias em diferentes frentes do setor de retífica.
Para que essas melhorias tenham impactos positivos sobre a produção e à saúde do
trabalhador, as mesmas devem ser implantadas com a participação do trabalhador do setor.
Além disso, essas recomendações são oriundas de um estudo que considerou elementos
pontuais do trabalho do operador, assim estudos que compreendam de forma mais
aprofundada todo o entorno no qual o trabalho se desenvolve são necessários.
REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção, e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília (DF):
Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Saúde; 1990.
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DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard. Ergonomia prática. 3. ed. rev. e ampli. São Paulo:
Edgard Blucher, Blucher, 2012.
FBF Sistemas. (2008). Ergolândia (Versão 5.0) [software]. Belo Horizonte, MG.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2005.
LAVILLE, A. ERGONOMIA. São Paulo, Brasil: EPU, Ed. da Universidade de São Paulo,
1977.
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