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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO


DE TRABALHO DO SETOR DE
RETÍFICA EM UMA EMPRESA DE
LIMAS

Diego Otavio de Sousa Santiago (Unifran)


o.diego.santiago@gmail.com
Renato Luvizoto Rodrigues de Souza (Unifran)
rluvizoto@gmail.com
Natalia Caroline da Rosa (Unifran)
natalia_rosa123@hotmail.com
Marilia Giselda Rodrigues (Unifran)
marilia.rodrigues@unifran.edu.br

As indústrias de ferramentarias apresentam muitos acidentes e doenças


associadas ao trabalho. As indústrias produtoras de limas possuem em
grande parte um processo dependente diretamente do trabalho manual,
apresentando diversos setores como estampagem, retifica, tratamento
térmico, entre outros. Frente a relatos de dores e desconfortos no setor
de retifica e uma indústria de limas este trabalho possui como objetivo
desenvolver uma avaliação dos desconfortos associados às posturas de
trabalho no setor de retífica. O método de estudo contou com a
estrutura do estudo de caso, delineado pelos métodos e ferramentas:
Ficha de Descrição da tarefa, o Diagrama de Corlett e Manenica e o
Sistema de Análise de Posturas Ocupacionais
(OvakoWorkingPostureAnalysing System, OWAS). Foram
determinadas categorias de ações de acordo com a postura assumida
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durante a tarefa. Os resultados obtidos demonstraram que a exigência


de posturas estáticas é grande, sendo necessário a intervenção com a
finalidade de prevenção de possíveis constrangimentos a saúde do
trabalhador analisado. Desta forma, sugeriu-se melhorias de curto e
médio prazo, envolvendo adaptação das bancadas, do assento e
melhoria na segurança do equipamento.

Palavras-chave: Ergonomia, produção de limas, posturas de trabalho,


OWAS

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1. Introdução
As empresas têm buscado melhorar o desempenho operacional de seus sistemas de produção,
produzindo uma maior quantidade de bens e serviços utilizando os recursos disponíveis da
melhor maneira possível. Nesse contexto, as preocupações com as condições de trabalho são
frequentemente colocadas em segundo plano.

A ergonomia busca resgatar essas preocupações por meio de intervenções que diminuam as
inadequações das situações produtivas. Assim, a análise ergonômica tem como objetivos:
conceber situações de trabalho que não alterarão a saúde dos trabalhadores, permitindo que os
mesmos consigam exercer suas competências, simultaneamente num planejamento individual
e coletivo, deparando-se com possibilidades de valorização de suas capacidades (IIDA, 2005).

Nessa pesquisa, foi analisado um setor de uma empresa que se encaixa no contexto industrial
de ferramentaria, especificamente em uma indústria de limas. Apesar dos operadores
contarem com o auxílio de diversas ferramentas, parte considerável do processo é
desenvolvido de forma manual. As limas são ferramentas de aplicação geral, sendo utilizadas
de forma frequente em combinação com enxadas, serrotes, facões, motosserras e talhadeiras.

O trabalho desenvolveu-se com objetivo de buscar melhorias nas condições de trabalho,


apresentando recomendações com o intuito de minimizar os constrangimentos associados as
posturas adotadas pelo trabalhador. A adequação das condições de trabalho pode impactar de
forma positiva tanto na saúde do trabalhador, quanto na produtividade da empresa. São
objetivos específicos desta pesquisa:

 Investigar a ocorrência de dores e desconfortos no trabalhador responsável


pela retífica (associando sua atividade profissional e diagnosticando as
condições de trabalho em relação à postura requerida);
 Relacionar a postura adotada pelo trabalhador com as posturas apresentadas
pelo Método OWAS;
 Propor alternativas, com o objetivo de prevenir ou minimizar
constrangimentos posturais e acidentes.

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Esse trabalho se justifica pela ausência de dados ergonômicos relacionados ao trabalho em


uma indústria de limas e a falta de parâmetros posturais relacionados a elas, ratificando a
importância em desenvolver novas pesquisas com o intuito de propor melhorias para a
segurança e saúde no ambiente de trabalho, tendo potencial até mesmo para contribuir no
desenvolvimento do setor de limas.

2. Referencial Teórico
2.1 Ergonomia
O termo ergonomia se deriva das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras). A
ergonomia é uma ciência aplicada ao projeto de equipamentos, sistemas e tarefas e máquinas,
objetivando-se na melhoria da segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho (DUL;
WEERDMEESTER, 2012). Iida (2005, p.2), conceitua a ergonomia como “o estudo da
adaptação do trabalho ao homem” essa intervenção é alusiva a toda a situação em que há
contato ou relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.

No ano de 2000, a Internacional Ergonomics Association (IEA) adotou uma nova definição
da ergonomia, e atualmente este conceito é referência internacional. Essa definição aponta
que a ergonomia é a disciplina cientifica que visa compreender de forma fundamental as
interações entre seres humanos e demais componentes presentes em um sistema, é a profissão
que utiliza de teorias, dados e métodos por finalidade de buscar o bem-estar das pessoas e o
desempenho global dos sistemas (IEA, 2000).

Vale destacar que um importante aspecto na ergonomia é a interdisciplinaridade de seu


caráter, como citado abaixo por Falzon (2007):

“Seu objetivo é elaborar, com a colaboração das diversas disciplinas científicas que
a compõem, um corpo de conhecimentos que numa perspectiva de aplicação, deve
ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de
produção e dos ambientes de trabalho e de vida ” (p. 4).
Nesse sentido, a Associação Internacional de Ergonomia divide essas especializações em três
áreas, sendo elas a ergonomia física, ergonomia cognitiva e ergonomia organizacional. A
ergonomia física aborda características anatômicas, antropométricas, fisiológicas e
biomecânicas do homem em sua relação com a atividade física. Outra área de especialização é

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a ergonomia cognitiva que se preocupa na abordagem dos processos mentais, como a


percepção, memória, raciocínio e repostas motoras, relacionando-se às interações entre as
pessoas e outros componentes de um sistema. E, por fim, a ergonomia organizacional que
busca a otimização dos sistemas sócio-técnicos integrando sua estrutura organizacional, regras
e processos. (IIDA, 2005).

2.2 Saúde e posturas no trabalho


Segundo o Artigo 3º da Lei nº. 8080 (19/09/1990), “a saúde tem como fatores determinantes e
condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990).

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Pan-Americana Da Saúde No


Brasil (2001) são cinco grandes grupos que podem representar algum tipo de risco para a
saúde dos trabalhadores. Estes grupos são descritos no Quadro 1:

Quadro 1 - Grupos de riscos para a saúde dos trabalhadores

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Fonte: elaborado pelos autores com base em Ministério da Saúde do Brasil e Organização Pan-Americana Da
Saúde No Brasil (2001) p. 29

Essa pesquisa dará maior enfoque para as questões associadas ao grupo “Ergonômicos e
Psicossociais”, enfatizando principalmente as posturas de trabalho relacionadas às
inadequações do posto de execução da tarefa.

A postura de trabalho é, frequentemente, determinada pelo posto de trabalho ou pela natureza


da tarefa. Iida (2005) define postura como o estudo da disposição relativa de partes do corpo,
como cabeça, tronco e membros, no espaço. E ressalta que uma boa postura tem caráter
importante para que o trabalho seja realizado sem desconforto e estresse.

Laville (1977) aponta características que influenciam diretamente sobre a postura do


trabalhador, citando as exigências visuais, exigências de precisão de movimentos, exigências
da força a ser exercida, os espaços onde o operador atua e o ritmo de execução.

 Exigências visuais estão interligadas a precisão de detalhes, determinando a distância


olho-tarefa; o eixo visual será determinado de acordo com o plano situado,
determinando a orientação da cabeça; deve ser feita uma inspeção sobre a amplitude
do espaço, pois será determinante para a amplitude dos movimentos da cabeça.

 Exigências de precisão de movimentos geralmente necessita da imobilização dos


segmentos corporais que não estarão ativos no processo. A precisão aumenta caso o
movimento seja executado diante do plano frontal do corpo e muito próximo do eixo
corporal.

 Exigências da força a ser exercida está ligada a resistência dos comandos, pesos dos
instrumentos, cargas a deslocar. O nível e a direção em que a força é exercida
determinará a organização dos segmentos corporais a fim de opor uma força que
auxiliará a manter o equilíbrio postural.

 Os espaços onde o operador atua deve haver uma orientação e dimensionamento dos
planos de trabalho; implantação de comandos, instrumentos e materiais.

 E por fim, cita-se o ritmo de execução da tarefa que influencia na postura do operador.

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Portanto, esses elementos devem ser concebidos de forma que o trabalhador possa adotar uma
postura que, consiga na medida do possível respeitar o equilíbrio corporal e não provoque
sobrecarga circulatória, havendo a possibilidade de ser frequentemente alterada.

2.3 Sistema OWAS


O sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) foi desenvolvido na Finlândia
para analisar as posturas de trabalho na indústria de aço, sendo proposto por pesquisadores
finlandeses em conjunto com o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional (KARHU et al.,
1977).

O sistema abrange a compreensão das posturas adotadas pelo trabalhador, a carga e a força
utilizada, possuindo como objetivos:

 Catalogar posturas conciliadas entre as costas, braços, pernas e forças exercidas


onde será determinado qual o efeito resultante sobre o sistema músculo
esquelético;

 Examinar qual o tempo relativo gasto em determinada postura especifica para a


região corporal e concluindo o efeito resultante sobre o sistema músculo
esquelético.

Segunda Iida (2005), o sistema OWAS tem como base 72 posturas (ver exemplo na Figura 1)
típicas que resultam em combinações diferentes em relação as posições do dorso (4 posições
típicas), braços (3 posições típicas) e pernas (7 posições típicas).

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Figura 1 - Esquema postural do sistema OWAS.

Fonte: Iida (2005)


O Sistema OWAS utiliza as seguintes categorias de classificação:

 Classe 1 - Postura normal, os cuidados são dispensados considerando apenas casos


excepcionais;

 Classe 2 - A postura deve ser verificada quando acontecer uma próxima revisão
dos métodos de trabalho;

 Classe 3 - Postura que requer atenção em curto prazo;

 Classe 4 - Postura que requer atenção imediata.

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Nota-se que a partir da classe 2 já se faz necessário uma intervenção para adaptar o posto de
trabalho. No segundo caso, a intervenção deve ocorrer um curto espaço de tempo e, por fim,
caso a situação seja definida como Classe 4, a intervenção deve ocorrer de forma imediata.

A aplicação do sistema consiste em observar visualmente e registrar as posturas do


trabalhador e confrontar com as posturas apresentadas na Figura 1, atribuindo-lhe um código,
que vai ser classificado de acordo com as categorias já mencionadas.

3. Metodologia
Esta pesquisa foi desenvolvida a partir do método estudo de caso (YIN, 2005). Para a coleta
de dados foram utilizados questionários, registros fotográficos e em vídeos e observações
livres. Para a descrição e análise dos dados, foram utilizados os instrumentos: ficha de
descrição da tarefa (CAMAROTTO, 2007) e o sistema OWAS. Além disso, foi utilizado
também para a análise dos dados o software Ergolândia, o software apresenta 20 ferramentas
ergonômicas que podem ser utilizadas de forma gratuita, auxiliando na melhoria dos postos de
trabalho, possibilitando resultar em aumento da produtividade e diminuição dos riscos
ocupacionais (FBF SISTEMAS, 2010).

Inicialmente aplicou-se um questionário aos 10 trabalhadores da linha de produção,


procurando compreender como se dava o processo, quais as principais dificuldades da
operação e quais os principais desconfortos, além de um mapeamento geral da população
trabalhadora. Logo após a aplicação do questionário eram realizadas coletas de dados por
observação para identificar e registrar as posturas que poderiam causar algum tipo de
desconforto no trabalho. Foram realizadas gravações em vídeo e imagens, além da medição
do tempo de cada tarefa em cada setor.

As gravações em vídeo auxiliaram posteriormente a compreender a permanência em


diferentes combinações das posições do braço, dorso e perna. Ao final no expediente foi
aplicado o diagrama de áreas dolorosas de Corlett e Manenica (1986). Após o levantamento
de todos os dados notou-se que o setor de retífica apresentava maiores complicações, onde
foram relatados ocorrência de acidentes e dor pelo trabalhador presente no mesmo. Desta
forma os demais setores foram descartados, focando no setor de retífica. Logo após a seleção

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do posto a ficha de descrição da tarefa foi utilizada para fornecer uma visão mais detalhada
sobre o posto de trabalho e sobre a tarefa. Posteriormente aplicou-se o sistema OWAS,
utilizando apenas as informações levantadas do funcionário da retífica.

A partir dos resultados obtidos aplicando as ferramentas e métodos ergonômicos de avaliação


postural, foram feitas sugestões para que houvesse uma correção postural e adequação do
posto de trabalho ao operador, que se forem adotadas podem contribuir na busca do conforto
aos operadores, evitando o aparecimento ou desenvolvimento de doenças ocupacionais e
aumentando a produtividade.

4. Resultados
4.1 Descrição e caracterização da empresa e do produto produzido
A empresa estudada possui mais de 30 anos de atuação no setor de ferramentaria, atuante no
mercado de ferramentas manuais, no caso limas e grosas. Está localizada no interior do estado
de São Paulo. A empresa conta com um portfólio de mais de 150 tipos de limas diferentes.
Além de possuir a própria marca, possui também pedidos de outras marcas que terceirizam
sua produção. Esses produtos são produzidos em um processo de produção em que atuam dez
funcionários diretamente ligados à produção e três funcionários no setor administrativo.

O processo produtivo é composto por um sistema de produção puxado em que a produção da


empresa é determinada de acordo com os pedidos em carteira. Todos os tipos de produtos
desta indústria passam pelo mesmo processo, diferenciando-se apenas a matéria-prima
utilizada para cada produto, o método empregado em cada picagem e os tempos de produção.
O processo produtivo da fábrica está dividido em 8 setores, de acordo com cada processo
realizado.

4.2 Recorte de análise


A empresa disponibilizou dados a respeito de afastamentos por lesões por esforços repetitivos
ou distúrbios. Com base nesses dados foram realizadas análises que permitiram compreender
que houve um aumento no número de afastamentos por DORT nos últimos anos. Além disso,
no setor de retífica destacam-se a ocorrência de dois acidentes graves, acarretando o
afastamento definitivo do colaborador da empresa. Segundo relatos do responsável do setor

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ambos os casos foram acidentes de trabalho gravíssimos com sérias lesões em membros
superiores.

Além desses dados, foram levantados dados gerais relacionados ao trabalho na empresa, estes
dados estão resumidos abaixo:

 Horário de trabalho - jornada de trabalho de oito horas, das 07:00 às 17:00, com pausa
para o almoço de 1h e 30 minutos e para o café da tarde de 30 minutos;

 Produção mensal em média de 30.000 unidades por mês, com picos de 55.000
unidades;

 Os processos de trabalho são essencialmente manuais, com a utilização de ferramentas


pesadas;

 A população trabalhadora é formada por homens e mulheres com formação média até
o ensino fundamental.

Além dos acidentes ocorridos no setor de retífica, no questionário realizado no início da


pesquisa, esse setor foi destacado como um dos responsáveis pelas reclamações relacionadas a
desconfortos e riscos no trabalho.

A Figura 2 destaca a área é realizada a retífica e, devido aos acidentes e reclamações, foi o
local de desenvolvimento desta pesquisa na empresa.

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Figura 2 - Layout do processo com destaque do recorte de análise

Fonte: Autor.
O sistema produtivo conta com as etapas de: estamparia, martelete, retífica, picagem, acerto,
tratamento térmico, revenimento e expedição. Conforme destacado na Figura 2, a pesquisa foi
realizada na retífica.

Nesse posto, trabalho um operador do sexo masculino, com 67 anos, que possui mais 30 anos
de experiência no setor de ferramentaria, tendo passado por diversas empresas. Para uma
melhor compreensão do processo produtivo foi desenvolvida uma Ficha de Descrição da
Tarefa, conforme é apresentado no Quadro 2.

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Quadro 2 - Ficha de descrição da tarega

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Fonte: elaborado pelos autores

Aplicando a ficha de descrição da tarefa, notou-se que a cadeira não possuía regulagem, as
bancadas onde as limas brutas e finalizadas são colocadas são baixas, necessitando a
inclinação do dorso do trabalhador, o rebolo do esmeril não possui nenhuma proteção, esse
conjunto de fatores submetem o funcionário a posições desconfortáveis. A ficha de descrição
auxilio no entendimento mais profundo sobre a tarefa, auxiliando no desenvolvimento do
trabalho.

4.3 Resultados da aplicação do método OWAS


A coleta de dados foi feita por meio de observações sistemáticas das ações e tarefas realizadas
pelo trabalhador. Esta etapa foi auxiliada com o registro de imagens e filmagens para análise
comparativa.

As figuras 3 e 4 apresentam os posicionamentos adotados pelo trabalhador nesta primeira fase


do trabalho, e o esforço realizado pelo mesmo para desempenhar a função. Nota-se que o
funcionário mantém o dorso inclinado, apresentando angulações que podem prejudicar sua
coluna.

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Figura 3 - Trabalhador separando as limas a serem Figura 4 - Trabalhador colocando as limas a serem
esmerilizadas. esmerilizadas próximo a sua bancada.

Fonte: autores Fonte: autores


Para desempenhar a atividade o funcionário utiliza as mãos, que se mantém posicionadas
abaixo dos ombros, e faz o transporte de um lote de limas a serem esmerilizadas de uma
bancada a outra (Figura 4), o lote segundo relato do trabalhador possui carga inferior a 10 kg.

Esta atividade é desempenhada em um curto período de tempo, porém exige a inclinação do


funcionário em grande parte deste tempo, desta maneira e por meio de análise e auxilio do
software Ergolândia foi constatado que há a necessidade de correções em um futuro próximo.

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Figura 5 - Trabalhador regulando o rebolo.

Fonte: autores

Nesse momento (Figura 5) o trabalhador faz a regulagem do gabarito, nota-se que as posturas
assumidas nesta atividade são parecidas com as posturas assumidas na atividade 1. Porém, o
dorso do funcionário fica inclinado em grande parte do tempo.

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Figura 6 - Trabalhador esmerilhando a lima.

Figura 7 - Trabalhador conferindo o acabamento.

Fonte: autores Fonte: autores

Durante a esmerilagem (Figura 6) e a conferência (Figura 7) o trabalhador precisa acomodar-


se (sentar) para realizar ambas atividades, nota-se que apesar da cadeira possuir o
movimentando giratório em 360°, não possui regulagem, fazendo com que os pés do
trabalhador não toquem no chão.

Essa atividade exige que o trabalhador mantenha seu dorso inclinado durante todo o tempo.
Apesar da atividade não demandar que o operador faça muita força, a realização da
esmerilagem exige muito a movimentação do braço direito do funcionário, principalmente do
cotovelo, que permanece flexionado em grande parte do tempo. Destaca-se que o cotovelo foi
o segmentado do corpo com maior incidência de reclamação no diagrama de áreas dolorosas.

Essa situação foi verbalizada, destacando as dores no cotovelo.

Olha, normalmente eu não sinto dores [...], mas sempre sinto uma dorzinha na
coluna, sinto muita canseira na minha mão, mas o braço é o que mais dói,
principalmente meu cotovelo” (Funcionário da Retífica).
Segundo Másculo (2011), movimentos de rotação do antebraço e o flexionamento dos dedos e
punhos, interligados à força e à repetitividade, podem ocasionar uma tendinite (Inflamação
que sucede no tendão, onde há a união do músculo ao sistema ósseo) no lado interno do
cotovelo.

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4.4 Resultados obtidos por categoria na classificação do método OWAS


Foi observado que a maior parte do tempo o trabalhador desenvolve assumindo posturas que
podem causar desconfortos, havendo a necessidade de correções em um futuro próximo.

Para esclarecimento tabulou-se os códigos e classificação da categoria de ação no Quadro 3.

Quadro 3 - Posições correspondentes na execução do preparo e esmerilagem e categoria de


ação.

Fonte: autores

Por mais que o trabalho não exija muita força do trabalhador, os mesmos movimentos são
repetidos inúmeras vezes durante o dia, o que pode ser agravante e causador desta dor.

De acordo com as determinantes de posturas listadas por Laville (1997), pode-se dizer que a
retífica exige um grau de precisão na finalização da lima, portanto faz com que seja necessária
uma exigência visual por parte do trabalhador para que essa precisão seja alcançada.

Os movimentos também precisam ser precisos, afinal a lima deve apresentar característica
planas em suas superfícies, desta forma utiliza-se um gabarito que auxilia este processo, onde
a lima é posicionada entre o gabarito e o rebolo. Essa junção de equipamentos elimina a
necessidade de que uma força maior seja empregada na tarefa.

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O funcionário dispõe de espaço para desempenhar sua tarefa e se locomover quando


necessário, em que o ritmo é imposto de acordo com os pedidos, com um ritmo considerado
aceitável pelo próprio funcionário.

4.5 Diagnóstico e recomendações

 A bancada de trabalho: Foram notadas posturas impróprias que podem comprometer


a saúde do funcionário, partindo deste princípio, a bancada onde o funcionário recolhe
e coloca as limas a serem esmerilizadas e a bancada onde as limas finalizadas serão
colocadas poderiam ser elevadas ou reguláveis não havendo a necessidade de que o
mesmo se curve.

 A cadeira: A cadeira poderia oferecer regulagem para que o funcionário melhore sua
postura, afinal a atual cadeira não oferece essa possibilidade. Abaixar a altura do
esmeril também ajudaria o funcionário a manter o dorso ereto, conseguindo melhorar
ainda mais sua postura.

 Ferramentas de trabalho: O esmeril não possui nenhuma proteção em seu rebolo, o


que cria uma situação de risco. Sugere-se a implantação de um protetor no rebolo.
Esse protetor, deverá ser transparente para não atrapalhar o campo de visão do
funcionário, conforme a observação percebeu-se que esse campo de visão é
fundamental para que o trabalhador consiga realizar sua operação.

 Ginastica laboral e pausas programadas: Iida (2005) considera que pausas de 10


minutos a cada hora de trabalho, são suficientes para recuperação da fadiga em
trabalhos moderados. Implantar a ginastica laboral poderia auxiliar ainda mais o
funcionário, buscando a melhoria da saúde e evitar possíveis lesões decorrentes de
esforços repetitivos e algumas doenças ocupacionais.

5. Considerações finais
O posto de trabalho estudado conta com o auxílio de uma retífica, entretanto, todo restante da
atividade é feita de forma manual. A experiência do funcionário na função é crucial para que

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sejam atingidos os resultados da produção e para que o mesmo não se acidente, visto a falta
de proteção nas máquinas e os relatos de acidentes nesse e em outros setores da produção.

Por meio do método de registros, diagrama das áreas dolorosas de Corlett e Manenica e a
análise de dados feitas a partir do sistema postural do método OWAS, foi possível identificar
quais os principais constrangimentos do trabalhador. A análise das posturas permitiu
evidenciar ainda que nenhuma delas pode ser considerada totalmente aceitável, devendo ser
repensadas em futuro próximo.

Vale ressaltar que por mais que as análises sejam feitas por meio dos métodos, as
variabilidades encontradas nos postos de trabalho são diversas e os métodos apresentam
limites quando a sua aplicação. Durante o questionário o operador relatou não sentir
desconfortos, apontando somente o cotovelo como um local de desconforto moderado. Em
outro momento, durante as entrevistas, o operador citou também dores na coluna, que
conforme o operador estava associado às posturas do trabalho.

Verificou-se que podem ser realizadas melhorias em diferentes frentes do setor de retífica.
Para que essas melhorias tenham impactos positivos sobre a produção e à saúde do
trabalhador, as mesmas devem ser implantadas com a participação do trabalhador do setor.
Além disso, essas recomendações são oriundas de um estudo que considerou elementos
pontuais do trabalho do operador, assim estudos que compreendam de forma mais
aprofundada todo o entorno no qual o trabalho se desenvolve são necessários.

REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção, e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília (DF):
Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Saúde; 1990.

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