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1.

Relações entre a história – ficção – mitologia no Mundo Antigo a partir das obras
de Homero (928 a.C.) e Hesíodo (750-650 a.C.);

Os gregos tinham a concepção do termo da paideia como um envolvimento de


doutrinas que abrangiam o corpo e a mente. A poesia seria posta a princípio para se
entender a concepção do mundo. Homero utilizou dos mitos em conjunto com as
histórias de homens para dar início a construção da paideia.

A história da formação do homem grego se dá no mundo aristocrático. Era dada a


concepção de homem superior usado os conceitos de arete, na qual se tinha um
entendimento que se aproximava da junção do ideal cavalheiresco (honra) com o
heroísmo do guerreiro. Então, Homero usa esse termo para ilustrar as qualidades
morais e espirituais dos grandes heróis que seriam os nobres e os deuses, além de
descrever essas qualidades o autor reconhece valores como a prudência e a
astúcia. Nota-se que esses heróis se tratavam uns aos outros com respeito e
honradez. Assim, esses mitos tornaram modelos para os homens que buscam ser
semelhantes aos seus heróis. Essas histórias ainda que fantásticas, buscavam a
formação do indivíduo ético, sábio e justo.

A Ilíada e a Odisseia são fontes que traçavam a vida da nobreza grega primitiva. O
seu trabalho influenciou o desenvolvimento da cultura grega, pois relata os
primórdios dessa sociedade.

A narrativa de Homero como se disse antes, constituía uma construção que


agrupava mito com a história, pois existem fatos verídicos nessas narrativas
comprovados arqueologicamente, provocando assim reflexões sobre sua poesia que
mesmo recebendo um tratamento poético seria guardadora de uma memória
histórica de tradição oral. Isso posto, remete-se a lembrança de Finley, que dizia que
as lacunas na história eram preenchidas pela a imaginação, tirando com isso a
caracterização de documento historiográfico, passando para um texto mítico.

A memória coletiva é induzida e motivada para se manter a tradição e o controle


dessa memória seria ligada as famílias de origem aristocratas, pois estas visavam o
prestígio e poder, passa-se então para os donos da memória pública.
Enquanto Homero ilustrava a vida do herói dento do domínio urbano, Hesíodo
revelava a realidade do campo, mostrando uma grande preocupação com conceitos
de trabalho e justiça, além de transmitir a importância que tinha o trabalho. Essas
histórias ainda que fantásticas, buscavam a formação de um cidadão ético, justo e
sábio, logo, era nesse modo de educação que pretendia educar cidadãos para viver
em sociedade.

No texto mito, memória e história de Moses Finley, o autor aborda que a poesia era
de grande importância para concebermos a forma que os gregos compunham sua
consciência histórica, abordando que o grande diferencial entre a história e a poesia
narrativa seria a temporalidade. A poesia épica não teria uma cronologia (datação),
pois no mito o tempo não passa logo, os deuses não envelhecem.

Hesíodo insere os deuses na forma que estes seriam regentes do destino do homem
e como o próprio homem, tendo assim, suas virtudes, fadigas e misérias. O poeta
remetia que a felicidade consistia no trabalho e no exercício da moralidade. Então,
na obra de Hesíodo propõe um fundamento filosófico para a narrativa temporalizada,
pois o conceito de mito já se tinha um conceito de temporalidade, sem sentido
evolutivo, mas de momentos de existência independente, prenunciando assim a
passagem de mito para o logos.
2. Relações entre a historiografia greco-romana e o humanismo/substancialismo em
R. G.Collingwood.

A historiografia greco-romana é humanista, pois afastou os deuses e personificou


as atividades humanas. As causas dessa mudança seriam por ações dos agentes
históricos, dos quais seriam pela a ação humana e essa ação dava-se por vontade
individual ou coletiva, visto que os tipos humanos são transformados a partir de
ações e experiências realizadas por homens no decorrer do tempo.

O substancialismo corresponde ao maior defeito da historiografia greco-romana.


Aludia uma teoria do conhecimento, do qual só o que era imutável era cognoscível,
porém, o imutável correspondia a ideia de substância da qual não é histórica.

O histórico é o acontecimento transitório e a substância que acontece um fato, ou


seja, os agentes do acontecimento não seriam de interesse do historiador. Então, se
o fato histórico for uma substância estaria fora da história.

A metafísica substancialista via o homem como um ser imutável, logo, não se


modificava a partir da interferência do meio. Então, se o indivíduo nascesse ruim se
manteria ruim para sempre.

Por causa da ideia substancialista fez com que vários acontecimentos históricos
ficassem sem entendimento por parte dos historiadores.
3. Princípios e contribuições do historiador grego Políbio de Megalópe (c. 198-117
a.C.) para a investigação e metodologia histórica;

Políbio escreveu suas narrativas com base nas fontes confiáveis, além de tecer
críticas aos eventos históricos, sendo assim, um trabalho historiográfico investigativo
e interpretativo. O autor, exigia que sua construção histórica fosse verdadeira e que
suas fontes fossem analisadas metodicamente, assim como ao exame preciso dos
locais onde esses fatos ocorreram. Assim, foi conferido a importância da geografia
para a construção da escrita histórica.

O autor afirmava que o historiador mais admirável era o que presenciava os


acontecimentos por meio de viagens cansativas. Políbio viajou muito com a guarda
romana e nessas viagens são feitas abordagens dos locais, então o historiador seria
uma testemunha ocular da história.

A construção historiográfica de Políbio estabelecia a ordem cronológica dos eventos.


Sua historiografia seria pragmática e universal, portanto, uma história escrita em um
processo único que visava fornecer lições políticas e militares, além de relatar de
forma crítica e ponderada as causas políticas e sociais.

O historiador Políbio tinha um entendimento que sua construção historiográfica não


serviria para entreter, mas para ser um instrumento de ensino. Seu trabalho
apresentou uma visão histórico-universal, além de reflexões metodológicas.
Tornando assim, uma fonte confiável para o estudo do mundo helenístico.

Toda o argumento proposto por Políbio seria de uma construção ajustada em um


discurso fidedigno dos acontecimentos.
4. Conceitos, usos e sentidos da escrita biográfica e autobiográfica na Antiguidade
greco-romana;

O uso da biografia e da autobiografia podem apresentar dificuldades no âmbito da


documentação histórica, pois pode relaciona-los como gêneros literários e a partir
dessa premissa, pode-se questionar as formas que esses documentos foram
escritos em relação aos acontecimentos e relações sociais passadas.

A terminologia biografia e autobiografia não foram utilizadas pelos gregos, esse


termo biografia só começa ser usado no século V d.C. e a autobiografia no final do
século XVIII. Contudo, é notado que existem tipos de narrativas na antiguidade que
tem aproximação com esses termos.

Na antiguidade helenística a descrição biográfica não era considerada histórica. A


construção histórica era baseada em acontecimentos vividos pela coletividade,
consistindo assim em uma investigação da memória social. Pode-se observar tanto
por Heródoto como Tucídides que faziam suas narrativas privilegiando as ações de
grupos coletivos.

Nota-se que a escrita na história da antiguidade é caracterizada por ações de


grupos. Caso o historiador descrevesse ações individuais em seus relatos, valia-se
da intenção de não valorizar o papel do indivíduo no desenrolar dos acontecimentos
históricos.

Essa biografia helenística acabaria não se encaixando nos temas centrais da


história. Porém, no século XIX, busca-se nesses documentos um estudo rigoroso
desses textos para o estabelecimento de interpretações, objetivando investigações
sobre a linha de continuidade.

O discurso biográfico helenístico seria o uso de anedotas para descrever


diretamente o indivíduo e pequenos trechos do episódio da vida agrupado com as
características de caráter do biografado. Existiria outro contexto literário para
descrever o caráter específico do sujeito, nesse caso tem-se o nome de encomium.
Esse tipo de discurso era voltado para a retórica e consistia em elogiar e valorizar o
personagem descrito.
Com o surgimento da Macedônia, a biografia muda de conceito. Passa-se a narrar
indivíduos de importância histórica, aproximando assim a biografia de reis com a
história política.

É afirmado a inexistência da autobiografia no mundo greco-romano antigo.

A escrita grega tem manifestações na biografia romana de Plutarco e Suetônio.


Plutarco apresenta uma narrativa cronológica, no qual descrevia os atributos do
biografado até a sua morte, comentando formas de retirar lições sobre as virtudes do
indivíduo. Suetônio fazia descrições estabelecidas em episódios que apresentavam
características do biografado em várias abordagens, objetivando a construção total
de seu caráter sem dar críticas. Pode-se dizer que essas descrições são estáticas.

É notado traços da biografia grega presentes na narrativa biográfica romana no que


diz respeito na descrição do caráter do indivíduo e o uso de anedotas para destacar
as descrições desse caráter. Percebe-se a oposição da biografia e do encomium,
pois a biografia era vista como uma descrição sobre a realidade da pessoa descrita
e o encomium seria uma versão descomprometida com a veracidade do caráter
descrito do indivíduo.

A biografia antiga nem sempre se mostra nítida. É observado que existem diferenças
de narrativas dos autores. As anedotas seria um parâmetro central para analizar o
uso da biografia na construção histórica, pois a partir dessa narrativa se teria uma
abordagem na reconstrução de um caráter. Contudo, é pedido cautela no uso das
anedotas para a construção histórica.

Percebe-se que o historiador deve ter cuidado sobre a noção de individualidade, já


que nos textos antigos é abordado a construção histórica com base no coletivo.

Existem preocupações com o uso da biografia como documento histórico. O


emprego dessas fontes seria para contrapor com os fatos abordados por outras
fontes, fazendo críticas ou analises dessas narrativas. Outro fator seria que essas
fontes podem mostrar relações sociais ausentes nos registros históricos.

5. Perspectivas do exercício da história em autores da Antiguidade:

XENOFONTE- Faz uma narrativa da vida do rei persa Ciro. Constrói uma história
que descrevia as conquistas do rei, narrando os feitos acontecidos a partir do que
ouviu e da investigação por conta própria. Ele escreve uma história a partir dos
relatos dos heróis. Pode-se dizer que sua construção histórica seria a “história vista
por cima”.

HECATEU DE MILETO- Escreveu a partir de críticas dos relatos de seus


contemporâneos, atribuindo em um escritor que descreveria a verdade em suas
narrativas.

HERÓDOTO- Promoveu suas investigações, cujo o resultado se transformou em


escrita. Promoveu um jogo comparativo entre as informações orais de diversas
comunidades que teve acesso, demostrando uma preocupação em dizer a verdade.
Ele estabelece que as visões das testemunhas dos fatos precisariam da confirmação
de seu olho para serem consideradas verdadeiras. Mostra interesse em construir
uma memória sobre os feitos humanos respaldada de uma prática investigativa na
qual poderia conferir um estatuto de verdade. Fala que o objetivo da sua obra era de
registrar tudo o que ouviu, porém ele desconfia do que ouve. Heródoto escreve as
suas narrativas a partir do método investigativo é observado que a partir de
Heródoto começa a prevalecer entre os historiadores um esforço de se distanciar
dos poetas.

TUCÍDIDES- Escreve sobre a guerra entre atenienses e espartanos ocorridas nas


últimas três décadas do século V a.C..Ele procura demostrar que os fatos que
escolheu para narrar são os maiores. Com base em seu conhecimento militar e
arqueológico, faz críticas e aponta falhas nas obras de Homero. Tucídides observa
que a investigação de caráter verdadeiro dos fatos é feita através de evidências e de
vestígios arqueológicos, constituindo assim, a diferenciação essencial entre a
história e a poesia. Ele se coloca como um historiador interessado na verdade,
possível de descoberta a partir do que viu e em menor escala do que ouviu. Coloca-
se como o único historiador capaz de tornar um acontecimento verdadeiro e útil para
a posteridade, pois ele foi uma testemunha dos fatos ocorridos.

POLÍBIO- Adota uma postura já presente em Heródoto e valorizada por Tucídides


que seria a investigação através dos olhos. Afirmava que o historiador mais
admirável era que presenciava os acontecimentos por meio de viagens cansativas.
Então via-se que a autoridade do historiador era construída na medida em que
promovia o exercício fatigoso da investigação. Políbio promove uma separação
considerável entre a história e poesia, tanto que afirma que a história não deve
escrever textos agradáveis para emocionar o público. De toda forma, o autor procura
distanciar de Tucídides, cuja obra tem dimensão poética. Então, toda a
argumentação proposta por Políbio seria a construção de uma história pautada em
um discurso verdadeiro sobre o que aconteceu.

TIMEU- Políbio faz crítica, pois considera o historiador ignorante, já que este
procurou o caminho mais fácil para o método investigativo que seria o uso da
audição. Timeu utiliza apenas o exercício de consulta das obras realizadas. O autor
também recebe outras acusações de Políbio sobre conceitos retirados pela sua
imaginação, apresentando na sua construção historiográfica afirmações falsas e
intencionais.

LUCIANO SAMÓSATA- Toma Tucídides como modelo e dizia que o historiador não
deveria ter medo e antes de tudo ser amigo da franqueza e verdade. Ele tinha uma
compreensão que o historiador deveria ser um deus, por assumir um lugar quase
divino que o levasse a narrar os fatos com a perspectiva de quem os vê do alto,
observando tudo com imparcialidade. Então, o historiador não deveria criar fatos,
apenas ordená-los de modo a tornar a história mais clara possível. Ele utiliza em seu
discurso o não abandono por completo da poesia, enfatiza dizendo que deveria
utilizar a poesia sem exagero no intuito de embelezar a sua narrativa.

ARISTÓTELES- Aponta distinções entre a poesia e história. Para ele a história conta
os feitos particulares que realmente aconteceu ao passo que a poesia imitava o
possível.
HORÁCIO- Retratava que na antiguidade a poesia não estava associada a ideia de
ficção, visto que a poesia da antiguidade, se associava ao possível, campo ao qual a
história também se associava, ainda que o concebesse de forma diferenciada.

CÍCERO- Estabeleceu marcas que tornavam a oratória singular aos outros gêneros
discursivos. Ele considerava a história próxima a oratória, pois a oratória era feita
por “elegantes narrativas”. Ele argumenta que a poesia se distanciava tanto da
história como da oratória, pelo fato de que as últimas se interessariam pelas coisas
que aconteceram. Preconiza que o historiador deveria articular a descrição dos fatos
com a arte da eloquência, pois desse modo seria possível inovar a tradição da
historiografia romana. Cícero via que na construção da história deveria conter
elementos para dar embelezamento e eloquência. Convida historiadores e oradores
para se apropriarem uns dos outros, pois a história permitiria aos oradores uma
construção de discursos verdadeiros e a eloquência pomposa dos oradores
permitiria aos historiadores um discurso mais ornamentado e aprazível. Com esse
movimento recíproco esses dois gêneros poderiam se tornar mais acreditável.
Então, mostra a importância da oratória para a investigação histórica assim, a
história se tornaria mais compreensível e agradável.

TITO LÍVIO- Para o autor, a história permitia reencontrar modelos que já se foram,
então reuniu documentos da história primitiva de Roma e uniu em uma única
narrativa. O seu texto fazia uma representação no embate de bons e maus
exemplos, tendo como função a busca da consciência romana (uma maneira de
elevar a moral de sua época, após décadas de guerra civil). A sua narrativa fala
sobre as origens da cidade, fundação e período da monarquia, além de trazer na
sua história elementos decorrentes da escrita grega, no momento que faz
comparações com o herói grego para explicar as origens de Roma, misturando
assim, ações divinas com ações humanas. A historiografia de Tito Lívio é uma
narrativa de ficção, traz consigo emoção e subjetividade. A história serviria para
ensinar e educar.

FÁBIO PICTOR- Fez um registro histórico assinalando os fatos ano a ano (annales).
QUINTILIANO-Alertava aos oradores a evitarem a história. Via que o conceito de
história enquanto narrativa estava associado à poesia.

DIONÍSIO DE HALICARNASSO- Escreveu no prefácio de seus manuscritos um


método historiográfico que informava o assunto escolhido, as fontes utilizadas e os
detalhes da sua obra. Interessou em apontar regras que deveriam ser seguidas pelo
historiador. Além de citar as fontes, Dionísio descrevia cada um dos seus
movimentos enquanto historiador ele opta por escolher um discurso misto, pois via
que poderia alcançar eleitores variados.

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