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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS 

2JEFAZPUB
2º Juizado Especial da Fazenda Pública do DF

Número do processo: 0740457-81.2021.8.07.0016
Classe judicial: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
(436)
AUTOR: GUALBERTO ROCHA DE OLIVEIRA
REU: DISTRITO FEDERAL
 

 
SENTENÇA
  
GUALBERTO ROCHA DE OLIVEIRA  ajuizou
ação de conhecimento c/c obrigação de fazer  em
desfavor do DISTRITO FEDERAL.
 

Afirma o autor ser Policial Militar do Distrito


Federal. Diz que  vem recebendo sua gratificação
natalina de forma inadequada, sem a inclusão do
auxílio-moradia e a etapa alimentação em seu cálculo.
 

Diante disso, requer a condenação do réu ao


pagamento das diferenças.
 

É o breve relatório, o qual é dispensado


pelo art. 38 da Lei nº 9.099/95.
 
Fundamento e decido.
 

Promovo o julgamento antecipado do pedido,


na forma do  art. 355, I, do Código de Processo Civil.  A
questão posta em juízo é, eminentemente, de direito e
os fatos alegados pelas partes se encontram
devidamente demonstrados pela documentação
acostada aos autos.
 

Não há questões preliminares ou prejudiciais a


serem apreciadas por este juízo. Estão presentes os
pressupostos de constituição e de desenvolvimento
válido e regular do processo, bem como verifico a
legitimidade das partes e o interesse de agir.

Passo ao exame do mérito.


A controvérsia consiste em determinar se a


requerente faz jus à inclusão do auxílio-moradia no
cálculo da gratificação natalina.
 

A carreira Policial Militar do Distrito Federal é


regida por regulamento específico, qual seja, a  Lei nº
7.289/84, e sua remuneração pela  Lei nº 10.486/2002.
Embora a lei mais recente preveja o direito ao
recebimento de “adicional natalino”, nenhuma das
duas normas estabelece a forma de se calcular a verba.
 

Neste E. Tribunal de Justiça se firmou o


entendimento de que, na ausência de previsão legal na
lei especifica que rege a Carreira de Policial Militar do
Distrito Federal, torna-se aplicável subsidiariamente as
previsões contidas no Regime Jurídico dos Servidores
Públicos Civis da União, das Autarquias e das
Fundações Públicas Federais.
Ainda, o Conselho Especial desta e. Corte
Justiça firmou o entendimento no sentido de que a Lei
Federal n.º 8.112/90  é aplicável em sede distrital,
inclusive com as alterações sofridas em seu texto ao
longo do tempo. Trago à colação arresto do e. Conselho
Especial, in verbis: 
 
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR PÚBLICO. IMPETRAÇÃO DIRIGIDA
CONTRA O DIRETOR-GERAL DA POLÍCIA CIVIL DO
DISTRITO FEDERAL. STATUS DE SECRETÁRIO DE
ESTADO. LEI DISTRITAL 3.656/05.
PRERROGATIVAS QUE REPERCUTEM NAS
ESFERAS ADMINISTRATIVA, FINANCEIRA E
PROCESSUAL. COMPETÊNCIA DO EG. CONSELHO
ESPECIAL PARA CONHECIMENTO E JULGAMENTO
DO MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ELE
IMPETRADO. AGENTE DE POLÍCIA DA POLÍCIA
CIVIL DO DISTRITO FEDERAL. PEDIDO DE
AFASTAMENTO REMUNERADO PARA
FREQÜÊNCIA A CURSO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL INTEGRANTE DE CONCURSO
PÚBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DE
PERITO DA POLÍCIA FEDERAL. DIREITO LÍQUIDO
E CERTO GARANTIDO. PRECEDENTES. 

i l d lí i i il d i i
1 - Se o Diretor-Geral da Polícia Civil do Distrito
Federal, por força de lei distrital, é elevado à
categoria de Secretário de Estado, resulta evidente
que a competência para o julgamento de mandados
de segurança contra ele impetrado é do eg.
Conselho Especial deste Tribunal, nos termos do
art. 8º, inciso I, letra "c" do Regimento Interno da
Casa. 
2 - Já é assente na jurisprudência deste eg. Tribunal,
que o servidor do Distrito Federal, aprovado em
concurso público para cargo público federal, ainda
que em estágio probatório, tem direito líquido e
certo de afastar-se de suas funções para freqüentar
o respectivo curso de formação, com dispensa do
ponto e mediante paga de sua remuneração.  A
falta de norma regulamentadora específica
não impede o reconhecimento desse direito,
pois deve o intérprete, diante do silêncio do
diploma legal regente, buscar o direito em
outra legislação, quando esta for compatível,
contemplando assim o sistema normativo
como um todo. Na hipótese presente, aplicam-
se as disposições da Lei 8.112/90, inclusive com
suas alterações posteriores, como é o caso das
que advieram da Lei 9.527/97, porquanto a Lei
Distrital 197/91, que a incorporou em seu
ordenamento jurídico, não faz qualquer
ressalva a esse aspecto, permitindo concluir
que qualquer modificação havida naquele
diploma legal tem incidência imediata aos
servidores do Distrito Federal.
(20060020087062MSG, Relator NATANAEL
CAETANO, Conselho Especial, julgado em
27/02/2007, DJ 17/04/2007 p. 106) 
[negritei] 

 
Acerca da gratificação natalina, disciplina a Lei nº
8.112/90:
 

Art.  63.    A gratificação natalina  corresponde a


1/12 (um doze avos)  da  remuneração  a que o
servidor fizer jus no mês de dezembro, por mês de
exercício no respectivo ano.
Parágrafo  único. A fração igual ou superior a 15
(quinze) dias será considerada como mês integral.
Art.  64.    A gratificação será paga até o dia 20
(vinte) do mês de dezembro de cada ano.
Parágrafo único. (VETADO).
Art.  65.    O servidor exonerado perceberá sua
gratificação natalina, proporcionalmente aos meses
de exercício, calculada sobre a remuneração do mês
da exoneração.
Art. 66.  A gratificação natalina não será considerada
para cálculo de qualquer vantagem pecuniária.
[negritei]
 

Dessa forma, apenas compõem a gratificação


natalina os itens integrantes da remuneração do
servidor.
 

Os  artigos 1º e 2º da Lei nº 10.486/2002, que


dispõe sobre a remuneração dos militares do Distrito
Federal, por seu turno, excluem da remuneração os
direitos pecuniários, dentre eles o auxílio-moradia e
auxílio-alimentação. 
 

Alia-se a isso o fato de que a  Lei nº


7.479/1986  também exclui as indenizações da
remuneração dos Militares do Distrito Federal. A nova
redação do art. 54 da Lei nº 7.479/1986 e os artigos 1º e
2º da Lei nº 10.486/2002  trazem a opção do legislador
por excluir o auxílio-alimentação  e o auxílio-moradia
da composição da remuneração dos militares do
Distrito Federal.
 

D t t f h
Destarte, forçoso reconhecer que o
Auxílio/Etapa-Alimentação e o Auxílio-Moradia não
fazem parte da base de cálculo da remuneração e não
devem integrar a base de cálculo da gratificação
natalina.
 

Nesse sentido, colaciono os seguintes julgados:


 

JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA.


ADMINISTRATIVO. LICENÇA-ESPECIAL NÃO
GOZADA. INATIVIDADE. CONVERSÃO EM
PECÚNIA. BASE DE CÁLCULO. PROVENTOS DA
INATIVIDADE. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. AUXÍLIO-
MORADIA. EXATIDÃO DOS CÁLCULOS
FORMULADOS NA SEARA ADMINISTRATIVA.
RECURSO DA PARTE AUTORA CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. RECURSO DA PARTE RÉ CONHECIDO E
PROVIDO. I. Trata-se de recursos interpostos pelas
partes em face da sentença que julgou procedente
em parte os pedidos elencados na inicial para
condenar a parte ré ao pagamento de R$ 5.003,17 a
título de diferença de valores quando da conversão
da licença especial em pecúnia proveniente da
inclusão das parcelas de auxílio-alimentação. II. Na
situação dos autos a parte autora é regida pelas
Leis 7.289/84 e 10.486/02, sendo que a previsão
legal para a conversão da licença-especial em
pecúnia para os militares é diversa das normas
relativas à conversão da licença-prêmio em
pecúnia para os servidores civil. Assim, destaca-se
que quando do exercício da licença especial o seu
pagamento será conforme a sua
remuneração.  Contudo, de acordo com os
artigos 1º e 2º da Lei 10.486/02 a remuneração
dos militares corresponde às rubricas
indicadas no artigo 1º da Lei, enquanto que o
artigo 2º estabelece, além da remuneração
estabelecida, outros "direitos pecuniários",
dentre os quais o auxílio-alimentação e o
auxílio-moradia.  Portanto, não obstante a parte
autora sustentar o caráter permanente das verbas

l j i l i ã ú i d
que almeja incluir na conversão em pecúnia da
licença especial,  deve-se ressaltar que  o
regramento dos militares se distingue dos
civis por conta do auxílio-alimentação e
auxílio-moradia ora em análise não estarem
incluídos no conceito de "remuneração", não
sendo admita a interpretação legal para
incluir como remuneração as rubricas que
constam expressamente como direitos
pecuniários.  III. Assim,  e face a ausência de
previsão expressa da base de cálculo para a
conversão da licença-especial em pecúnia, mostra-
se correto o entendimento adotado pela
Administração Pública no âmbito administrativo
quando promoveu os cálculos para o pagamento da
conversão com fulcro nos proventos a serem
auferidos pelo autor quando passou para a
inatividade.  Neste ponto, convém destacar a
distinção estabelecida pela Lei 10.486/02 quanto
aos proventos da inatividade, visto que o seu artigo
21, VI, inclui o auxílio-moradia, enquanto inexiste o
pagamento do auxílio-alimentação. Portanto,
devem ser mantidos os cálculos efetuados quando
do pagamento no âmbito administrativo da
conversão em pecúnia da licença-especial, visto ter
incluído o valor recebido a título de auxílio-
moradia e excluído aquele referente ao auxílio-
alimentação. IV. Enfim, constatada a exatidão dos
pagamentos efetuados pela administração pública,
deve a sentença ser reformada para julgar
improcedentes os pedidos elencados na inicial. V.
Recurso da parte autora conhecido e não provido.
Recurso da parte ré conhecido e provido para
julgar improcedentes os pedidos formulados na
inicial. VI. Condeno a parte autora vencida ao
pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios que fixo em 10% do valor
corrigido da causa, contudo suspendo a
exigibilidade na forma do art. 98, § 3º, do NCPC,
que ora defiro. 
(Acórdão 1216477, 07374002620198070016,
Relator: GABRIELA JARDON GUIMARAES DE
FARIA,  Segunda Turma Recursal, data de
j l 20/11/2019 bli d PJ
julgamento: 20/11/2019, publicado no PJe:
22/11/2019. Pág.:  Sem Página Cadastrada.)

JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA.


ADMINISTRATIVO.  RECURSO DO DF. LICENÇA
ESPECIAL NÃO GOZADA. CONVERSÃO EM
PECÚNIA. PRETENSÃO DE INCLUIR AS RUBRICAS
DE AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO E AUXÍLIO-MORADIA
NA BASE DE CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. LEI N. 10.486/2002.   RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. 1.  Trata-se de recurso
ajuizado pelo Distrito Federal contra a sentença
que, ao julgar procedente o pedido da inicial, o
condenou a pagar à parte autora a quantia de R$
33.975,50 (trinta e três mil, novecentos e setenta e
cinco reais e cinquenta centavos), a título de
diferença de licença especial convertida em
pecúnia, referente às parcelas de etapa alimentação
e auxílio moradia, corrigido monetariamente desde
a data do pagamento e acrescido de juros de mora
desde a citação. 2.  Em suas razões recursais, o
réu/recorrente aponta o caráter indenizatório, e
não remuneratório do auxílio-alimentação auxílio-
moradia. Requer a improcedência da demanda. 3. 
Inicialmente, se faz imprescindível à resolução da
demanda a distinção das legislações aplicáveis aos
servidores públicos civis e aos militares do Distrito
Federal. A licença prêmio por assiduidade, prevista
na redação original do artigo 87 da Lei n.º
8.112/1990, referente a servidores civis, difere-se da
licença especial estabelecida no artigo 68 da Lei n.o
7.479/1986, referente aos Bombeiros-Militares do
Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. A licença
especial em pauta é a autorização para
afastamento total do serviço, relativa a cada
decênio de tempo de efetivo serviço prestado,
concedida ao bombeiro-militar que a requerer, sem
que implique em qualquer restrição para a sua
carreira. 4.  Diferencia-se, ainda, a remuneração
dos servidores públicos civis e da remuneração dos
militares. Conforme os ditames do artigo 68 da Lei
Complementar n.º 840/2011, que dispõe sobre o

i j ídi d id úbli i i d
regime jurídicos dos servidores públicos civis do
Distrito Federal, a remuneração é constituída de
parcelas e compreende os vencimentos; as
vantagens relativas às peculiaridades de trabalho;
as vantagens pessoais; as vantagens de natureza
periódica ou eventual; e, inclusive as vantagens de
caráter indenizatório. Já os artigos 1º e 2º da Lei n.
10.486, de 4 de julho de 2002, que dispõe sobre a
remuneração dos militares do Distrito Federal,
excluem da remuneração os direitos pecuniários,
dentre eles o auxílio-moradia e auxílio-
alimentação. 5.  Ademais, a Lei n. 7.479, de 2 de
junho de 1986, que aprova o Estatuto dos
Bombeiros-Militares do Corpo de Bombeiros do
Distrito Federal, teve a sua redação alterada pela
Lei n. 10.486/2002, excluindo as indenizações da
remuneração dos Bombeiros-militares do Distrito
Federal. 6.  Também não se aplica aos militares a
norma contida no artigo 41 da Lei n. 8.112/1990,
aplicável aos servidores civis, de que a
remuneração é o vencimento do cargo efetivo,
acrescido das vantagens pecuniárias permanentes
estabelecidas em lei. 7.  Evidenciadas as referidas
distinções, não se aplica à situação em contexto os
precedentes relacionados à licença-prêmio dos
servidores públicos civis. 8.  De acordo com a nova
redação do artigo 54 da Lei n. 7.479/1986 e com os
ditames dos artigos 1º e 2º da Lei n. 10.486, de 4 de
julho de 2002,  verifica-se a opção do legislador
por excluir o auxílio-alimentação e o auxílio-
moradia da composição da remuneração dos
militares do Distrito Federal. 9.  Nesse contexto,
não merece prosperar a tese do autor de que o
Auxílio/Etapa-Alimentação e o Auxílio-Moradia
fazem parte da base de cálculo da sua última
remuneração, devendo integrar a base de cálculo
da indenização da conversão da sua licença
especial em pecúnia. 10.  Sentença reformada para
julgar improcedentes os pedidos iniciais.
11.    Recurso conhecido e provido. 12.    Sem
condenação ao pagamento de custas processuais e
honorários advocatícios, ante a ausência de
recorrente vencido (art. 55 da Lei nº 9099/95). 13. A
ú l d j l i á d ó dã
súmula de julgamento servirá de acórdão,
conforme inteligência dos artigos 2º e 46 da Lei n.
9.099/95, e em observância aos princípios
informadores dos Juizados Especiais.   
(Acórdão 1221356, 07435251020198070016,
Relator: CARLOS ALBERTO MARTINS FILHO, 
Terceira Turma Recursal, data de julgamento:
10/12/2019, publicado no PJe: 12/12/2019. Pág.: 
Sem Página Cadastrada.)
[negritei] 
 

Ante o exposto, julgo  IMPROCEDENTE  o pedi


resolvo o mérito, com fulcro no art. 487, I do Código de Pro

Sem custas e sem honorários advocatícios, na form


Após o trânsito em julgado, não havendo out


arquivem-se os autos com as cautelas de estilo.

Sentença registrada nesta data. Publique-se. Intim


 

  
BRASÍLIA, DF, 8 de outubro de
 
ACÁCIA REGINA SOARES D
Juíza de Direito Substitu

* Documento datado e assinado eletronicamente

A i d l t i t ACACIA REGINA SOARES DE SA


Assinado eletronicamente por:
ACACIA REGINA SOARES DE SA
08/10/2021 21:44:38

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