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O que está subentendido em "Codinome

Beija-Flor"

     Quando alguém comete um erro, ainda que gostemos ou amemos tal pessoa, é difícil
perdoar. Alguns podem simplesmente forjar o perdão e alimentar a mágoa solitariamente
durante dias, meses, anos. Mas a maturidade nos garante: o melhor é simplesmente
perdoarmos apenas quando temos a capacidade do perdão. E se não a temos no momento,
que não perdoemos. E é sobre isso que fala a primeira estrofe de Codinome Beija-Flor.

     O eu lírico inicia a música relatando que o erro cometido pela pessoa com a qual se
relacionava amorosamente é, no momento, imperdoável. Ele diz que o perdão, no instante,
seria uma grande mentira. Acabar o relacionamento, amorosamente falando, é certo, mas
tornar-se amigos depois, não. Já não existe “clima” pra isso.
     Portanto, na primeira estrofe o eu lírico refere-se a si mesmo e aos seus sentimentos e
sensações.
     Mas qual seria o tal erro imperdoável?
     O próprio eu lírico começa a nos revelar, agora se referindo à outra pessoa. Os bons
modos eram uma farsa. Na verdade, o relacionamento dos dois era baseado numa rede de
segundas, terceiras, quartas, quintas intenções e não em um amor propriamente dito. Talvez
um gostar pequeno, mas nada que chegasse perto de um grande amor.
     Até que se chega aos versos “desperdiçando o meu mel, devagarzinho, flor em flor,
entre os meus inimigos, beija-flor”.
     Neste ponto uma análise racional e emocional se faz necessária. Racionalmente e
emocionalmente falando, fica clara a razão de o codinome escolhido ser “beija-flor” e não
outro qualquer.
     O beija-flor é um animal poligâmico, que tem como 90% de sua alimentação o néctar
das flores. Ele simplesmente suga o “mel” de todas as flores que encontrar, enquanto
houver necessidade, de todas as flores, sem distinção ou preferência. O beija-flor não se
prende a uma flor em especial. E o beija-flor também não é um animal domesticável. Ele
voa por onde quiser voar.
     Agora que a escolha do codinome está justificada, o eu lírico nos diz ter protegido o
verdadeiro nome da pessoa por amor. Isto nos faz acreditar que o erro cometido pela tal
pessoa é grande a ponto de prejudicá-la e menosprezá-la caso alguém venha a ter
conhecimento.
      Quanto ao verso “nunca diga nunca, meu amor”, talvez a pessoa estivesse justificando-
se e jurando nunca mais cometer o mesmo erro novamente, já que a sua intenção sempre foi
a de ser perdoada. E eu lírico, num lampejo de sabedoria, relembra que não se pode
prometer aquilo que não se tem certeza de que cumprirá.
     E então, chegamos ao clímax da questão. Afinal, qual foi, pela última vez, o erro da
pessoa com a qual o eu lírico se relacionava? Seria uma traição?
     Posso estar bastante equivocada ou brutalmente certa, mas, para mim, o erro foi a
prostituição. Por este motivo, o nome da pessoa é protegido em um codinome, pois, caso
alguém soubesse disso, sairia prejudicada. Por isso, o eu lírico diz: “para qualquer um na
rua, beija-flor”. Por isso a quarta estrofe: o eu lírico desconhecia a atitude da pessoa e
imaginava a ter apenas para si, mas não era bem assim.
     E então o desfecho perfeito: os melhores versos, em minha opinião, estão na última
estrofe. “Você sonhava acordada, um jeito de não sentir dor. Prendia o choro e aguava o
bom do amor.”.
      E qual o lado bom do amor? Qual o lado bom de um sentimento que, na visão do eu
lírico, só nos faz sofrer? Bem, subentendo que o lado bom do amor é fazer amor.

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