Você está na página 1de 12

Contextos Clínicos, 10(2):197-208, julho-dezembro 2017

Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2017.102.05

Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

Eating disorders: An interdisciplinary challenge

Camila Peixoto Farias


Universidade Federal de Pelotas. Av. Duque de Caxias, 250, Fragata,
96030-000, Pelotas, RS, Brasil. pfcamila@hotmail.com

Alberto Manuel Quintana, Luísa da Rosa Olesiak


Universidade Federal de Santa Maria. Av. Roraima, 1000, Cidade Universitária, Camobi,
97105-970, Santa Maria, RS, Brasil. albertom.quintana@gmail.com, luisa_drolesiak@hotmail.com

Resumo. Na clínica psicanalítica atual, bem como nos diversos serviços de


atenção à saúde, temos nos deparado com significativa incidência de pato-
logias alimentares. Nesse contexto, ganham destaque os efeitos violentos do
sofrimento psíquico sobre o corpo e sobre o comportamento, o que eviden-
cia a importância do trabalho interdisciplinar nesses casos. Neste estudo,
objetivou-se conhecer como médicos e nutricionistas pensam o trabalho in-
terdisciplinar que o tratamento das patologias alimentares exige. A coleta de
dados foi realizada em um hospital universitário do interior do Rio Grande
do Sul. Realizou-se um total de 18 entrevistas individuais semiestruturadas
com médicos e nutricionistas. Todas as entrevistas foram exploradas a partir
da análise de conteúdo, o que possibilitou o levantamento de questões fun-
damentais, discutidas sob a perspectiva da Psicanálise. As determinações
da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que normatiza as
condições das pesquisas que envolvem seres humanos foram respeitadas.
A análise das entrevistas conduziu à interdisciplinaridade como eixo princi-
pal em torno do qual os dados foram discutidos. Os aspectos que se destaca-
ram são a valorização do trabalho interdisciplinar, o desafio de dialogar com
profissionais que trabalham com diferentes concepções de corpo, a formação
precária e a preponderância do cuidado fragmentado.

Palavras-chave: anorexia, bulimia, psicanálise.

Abstract. In contemporaneity psychoanalytic practice, as well as in mul-


tiple health services, we have been facing a significant incidence of eating
disorders. In that context, the violent effects of the physical suffering upon
body and behavior take relevance, which points out to the importance of
the interdisciplinary work on these cases. This article aimed to compre-
hend how physicians and nutritionists perceive the interdisciplinary work
that is demanded by eating disorders. Data collection was conducted in
an university hospital in Rio Grande do Sul. There were administered 18
interviews with physicians and nutritionists. All interviews were explored
by content analysis, which enabled the gathering of fundamental issues,
discussed by the Psychoanalysis’ perspective. Norms according to Reso-
lução 466/2012 and to the Conselho Nacional de Saúde (Brazilian National
Health Council), that norm the conditions of research with human beings,
were respected. Interdisciplinarity was the main axis on which the data

Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo
permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

were discussed. The aspects that were emphasized are the value of the
interdisciplinary work, the challenge of establishing dialogue with profes-
sionals that work with different conceptions of body, the precarious train-
ing and the prevalence of care fragmentation.

Keywords: anorexia, bulimia, psychoanalysis.

Introdução logias tem colocado questões de grande enver-


gadura para a Psicanálise, principalmente no
Na clínica psicanalítica atual, bem como que se refere ao seu tratamento e o trabalho
nos diversos serviços de atenção à saúde, te- interdisciplinar que ele exige.
mos nos deparado com significativa incidên- Tendo isso em vista, primeiramente, faz-se
cia de patologias psíquicas cujos sintomas são importante, retratar a perspectiva e dinâmica
predominantemente ligados ao registro do relacional segundo a qual se concebe os sujei-
corpo e do comportamento. Dentre essas pato- tos com patologias alimentares, para a partir
logias destacam-se as alimentares, em especial de tal alicerce procurar abrir caminhos para
a anorexia e a bulimia (Cobelo et al., 2010; Fa- se pensar as possibilidades de diálogo com as
rias e Cardoso, 2010; Fernandes, 2006). demais áreas implicadas no tratamento des-
Em linhas gerais, segundo Fernandes sas patologias.
(2006), a anorexia caracteriza-se por uma re- A problemática da alimentação, especial-
cusa a alimentar-se e a manter o peso cor- mente nas últimas décadas, tem sido objeto de
poral em uma faixa normal mínima, o que várias investigações científicas (Oliveira e Oli-
geralmente vem acompanhado de amenor- veira, 2008; Prado et al., 2011a, 2011b; Bechara
reia nas meninas. Já a bulimia é caracteriza- e Kohatsu, 2014; Vasconcelos, 2015). Nota-se
da por episódios repetidos de compulsões um privilégio no estudo dos comportamentos
alimentares, acompanhados por comporta- alimentares em suas manifestações objetivas
mentos compensatórios inadequados, tais e quantificáveis, especialmente voltadas para
como vômitos auto-induzidos, mau uso de prevenção de doenças e redução de peso, em
laxantes e diuréticos, jejuns ou exercícios fí- detrimento do interesse nas suas significações
sicos excessivos, sem que se evidencie uma e nas funções que tais comportamentos de-
perda de peso tão significativa como ocorre sempenham na dinâmica do funcionamento
na anorexia. Em geral, é comum a ambas um psíquico dos sujeitos. Dessa forma, a partir da
temor intenso de ganhar peso, assim como perspectiva psicanalítica, compreender a mon-
uma perturbação na percepção da forma e tagem psíquica que está subjacente à resposta
do peso corporal (Fernandes, 2006). através das patologias alimentares é impres-
Quando acomete crianças ou adolescen- cindível como alicerce para o processo tera-
tes, as patologias alimentares resultam em pêutico (Farias e Cardoso, 2010).
graves consequências emocionais, psicosso- Constata-se, nas patologias alimentares, a
ciais e físicas, com uma taxa de mortalidade presença de um modo peculiar de defesa que
de 10% a 15% (Gonzaga e Weinberg, 2012). envolve, dentre outros aspectos, um curto-
Dessa forma, a identificação precoce e o trata- -circuito do trabalho de elaboração psíquica e
mento adequado são de grande importância a consequente convocação dos registros cor-
para que o paciente tenha melhor prognósti- poral e comportamental (Pirlot e Cupa, 2012).
co, além de minimizar os efeitos físicos, psí- Isso indica a presença de um modo singular
quicos e sociais nocivos. de funcionamento psíquico que se fundamen-
As pesquisas sobre patologias alimenta- ta em um traumático não estruturante, o qual
res, especialmente nas últimas décadas (Cor- aponta para uma violência psíquica radical
dás, 2004; Fernandes, 2006; Scazufca e Berlink, que ultrapassa os limites de uma violência que
2004; Brusset, 2003; Jeammet, 1999; Cobelo et seria constitutiva e subjetivante (Borges, 2012).
al., 2010; Farias e Cardoso, 2010; Carvalho et Freud (2006 [1920]) sustenta que o trauma
al., 2016), destacam a importância de se consi- seria a consequência do excesso de excitação,
derar os fatores psíquicos que atuam na base do rompimento da proteção que defenderia o
desses quadros. Além disso, apontam que o órgão anímico contra as excitações. Diante do
aumento significativo dos casos dessas pato- traumático, o processo de elaboração psíqui-

198 Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017


Camila Peixoto Farias, Alberto Manuel Quintana, Luísa da Rosa Olesiak

ca falha, e, com ele, falha o domínio do prin- devido de laxantes, prática excessiva de exercí-
cípio do prazer, pois o aumento do fluxo de cios físicos, entre outros (Fernandes, 2006; Fa-
excitação estaria além do tolerável, impedin- rias e Cardoso, 2009, 2010). Estamos diante de
do o trabalho de processamento psíquico e sujeitos extremamente frágeis psiquicamente,
submetendo, assim, o psiquismo a uma única que utilizam seus corpos e sua relação com o
tarefa, a de tentar dominar tal excitação (Car- objeto comida como recurso de sobrevivência
doso, 2010). psíquica, mesmo que isso, muitas vezes, ame-
Assim, nas patologias alimentares vemo- ace a vida (Chervet, 2011).
-nos diante de uma lógica traumática em que Seguindo a perspectiva psicanalítica, o
o que está em jogo, como resposta, é a tentativa foco do tratamento não deve estar nos sin-
de dominação, por meio da descarga, de ele- tomas corporais, mas na montagem psíquica
mentos excessivos e irrepresentáveis presentes que está subjacente; uma vez que as manifes-
no psiquismo (Farias e Cardoso, 2010). A ideia tações corporais nas patologias alimentares
de descarga pressupõe um retorno direto da são uma resposta, uma forma de defesa à ex-
excitação pulsional (que parte inicialmente do citação excessiva que ameaça o funcionamen-
corpo e chega ao psiquismo para ser processa- to psíquico (Farias e Cardoso, 2009; Brusset,
da) do psiquismo para o corpo, sem passar, no 2003; Jeammet, 1999). Nessa perspectiva, o
entanto, por um trabalho de simbolização, de tratamento das patologias alimentares vai na
elaboração. Dessa forma, a excitação pulsional direção da elaboração psíquica, do processa-
não consegue ingressar em um circuito pulsio- mento do excesso de excitação que ameaça
nal, em um trabalho de mediação, de simboli- as fronteiras egoicas e corporais (Cardoso e
zação, tendo que ser descarregada imediata- Monteiro, 2012).
mente no domínio corporal, de forma repentina A eliminação dessas manifestações corpo-
e disruptiva (Borges, 2012). Assim, há uma con- rais sem que haja uma elaboração psíquica,
vocação do corpo, fonte de alívio momentâneo sem que um caminho de processamento psí-
da excitação, que toma o lugar do trabalho de quico seja construído, poderá resultar em seu
elaboração psíquica (Marinov, 2001). deslocamento para outras manifestações cor-
Segundo Cardoso (2010), esse aspecto in- porais ou comportamentais (Cardoso e Mon-
dicaria a singularidade da temporalidade dos teiro, 2012). Segundo Fuks (2003, p. 152),
processos psíquicos implicados no traumá-
tico, o tempo do imediato, do não-mediado. [...] se nos limitamos a identificar e agir sobre os
Estaríamos, então, diante de um modo de comportamentos alimentares e seus efeitos somá-
funcionamento psíquico específico em que ticos e psíquicos sem levar em conta os processos
a possibilidade de representar encontrar-se- estruturais e históricos que os ‘solicitam’, o resul-
-ia dificultada, o que se constituiria em uma tado é nulo, pobre e proclive à repetição ou a uma
condição fundamental dessa modalidade de substituição, não benéfica, da sintomatologia.
resposta e a base de sua repetição compulsiva
(Chervet, 2011). É fundamental considerar a montagem
Encontramos, portanto, nas patologias ali- psíquica subjacente às patologias alimentares,
mentares, a presença de um excesso pulsional construindo uma compreensão psicodinâmica,
que se constitui como uma ameaça de morte sob pena, se nos restringirmos à busca pela eli-
narcísica, em outras palavras, como uma ame- minação de tais sintomas, de limitar a compre-
aça de desestruturação egoica. Diante de tal ensão desses casos e, assim, reduzir o alcance
ameaça, a descarga do excesso pulsional via terapêutico e o sucesso do tratamento (Fernan-
corpo torna-se urgente, como única forma de des, 2006; Cobelo et al., 2010; Farias e Cardoso,
sobrevivência psíquica possível (Farias e Car- 2009). Além disso, sua complexidade clínica é
doso, 2009). Tendo em vista a ameaça de de- tida como um aspecto fundamental a ser consi-
sestruturação que tais patologias comportam, derado, pois são patologias que reverberam de
constituem-se em casos em que está em jogo a forma violenta sobre o corpo.
auto-conservação narcísica. Embora o foco do tratamento das patolo-
Como destacado, a forma de resposta, de gias alimentares, na perspectiva psicanalítica,
defesa do ego diante do excesso pulsional que não seja os sintomas corporais, suas reverbe-
o ameaça de desestruturação, é a descarga, é a rações sobre o corpo não podem ser negligen-
convocação do corpo. A convocação do corpo ciadas. Pesquisadores dedicados ao estudo e
nas patologias alimentares implica em jejuns ao tratamento da anorexia e da bulimia, como
prolongados, vômitos auto-induzidos, uso in- Scazufca e Berlink (2004), Fernandes (2006),

Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017 199


Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

Brusset (2003), Jeammet (1999), Farias e Car- terdisciplinar, uma vez que ele se constitui em
doso (2010) e Weinberg e Berlink (2010), res- uma forma de compreender temas complexos,
saltam a importância de uma abordagem que a partir da construção de um processo que
considere a complexidade diagnóstica e clíni- permite a articulação entre diferentes áreas.
ca no tratamento dessas patologias. Tal com- Assim, a interdisciplinaridade não se refere a
plexidade se deve, especialmente, aos efeitos uma teoria ou método específico, mas a uma
violentos do sofrimento psíquico sobre o cor- estratégia que articule fragmentos disciplina-
po e sobre o comportamento de tais pacientes; res e o diálogo dos saberes (Minayo, 2010).
efeitos estes que podem, em casos mais graves, É importante destacar que o trabalho inter-
conduzi-los à morte. disciplinar, conforme sua especificidade coloca
Esses pacientes estão expostos a riscos algumas nuances. Entre elas constata-se que no
que exigem atenção constante e que indicam trabalho interdisciplinar uma disciplina pode-
a importância fundamental do trabalho inter- rá possuir certo destaque diante de outras em
disciplinar nesses casos. Encaminhar e man- função de ter mais acúmulo de conhecimento
ter contato com profissionais de outras áreas e mais tradição acerca da temática. Isto, contu-
que acompanham o paciente tendo por obje- do, não pode resultar em uma desconsideração
tivos tanto o estabelecimento de diálogo sobre das contribuições das demais disciplinas (Mi-
o caso como a atenção para comportamentos nayo, 2010).
ou manifestações corporais que possam estar Neste artigo, parte-se da perspectiva psica-
indicando riscos para saúde ou para a vida, nalítica, compreendendo que as patologias ali-
torna-se de grande importância. Dessa forma, mentares possuem uma base psíquica, em bus-
o trabalho interdisciplinar é fundamental para ca de subsídios que favoreçam a construção de
que se possa construir intervenções adequadas possibilidades de diálogo com médicos e nu-
à singularidade do funcionamento psíquico e tricionistas – principais profissionais implica-
das manifestações sintomáticas dos sujeitos dos juntamente com a psicologia no tratamen-
com anorexia e bulimia. to de tais patologias. Para isso considera-se de
Segundo Minayo (2011), a interdisciplina- grande relevância conhecer como tais profis-
ridade constitui uma articulação de várias dis- sionais pensam o trabalho interdisciplinar que
ciplinas em que o foco é o objeto para o qual o tratamento das patologias alimentares exige.
não basta a resposta de uma área só. A autora
destaca que é o objeto que vai convocar as dis- Método
ciplinas que devem compor a abordagem in-
terdisciplinar. A complexidade das patologias
alimentares, da montagem psíquica subjacen- Delineamento
te e de suas reverberações sobre o corpo e o
comportamento convocam além da psicanáli- O estudo proposto caracteriza-se como
se, especialmente a medicina e a nutrição para uma investigação teórico-clínica de caráter
a construção de um trabalho interdisciplinar. qualitativo e exploratório, alicerçada no refe-
Entretanto, cabe ressaltar que outras discipli- rencial teórico da Psicanálise. Entende-se que
nas podem ser convocadas dependendo da tal delineamento permite o aprofundamento
singularidade de cada caso. dos significados que os sujeitos dão a suas
Trabalhar com pacientes com patologias ações e relações (Turato, 2013).
alimentares é desafiador para psicanalistas,
especialmente em função das intensas manifes- Participantes
tações corporais que colocam, na maioria das
vezes, em risco a saúde e a vida (Cobelo et al., A coleta de dados foi realizada em um hos-
2010; Farias e Cardoso, 2010; Fernandes, 2006). pital universitário do interior do Rio Grande
Médicos e nutricionistas também são desafia- do Sul. Tal hospital oferece atendimento clí-
dos por essas patologias, principalmente pelos nico com médicos endocrinologistas e nutri-
aspectos psíquicos que estão subjacentes às ma- cionistas para a população em geral, consti-
nifestações corporais e comportamentais (Al- tuindo-se como serviço de referência em sua
varenga e Scagliusi, 2010; Bechara e Kohatsu, região de abrangência. Os setores selecionados
2014; Palma et al., 2013; Bordignon et al., 2014). para pesquisa foram o Serviço de Nutrição e
Diante desses desafios é de extrema rele- Dietética e os Ambulatórios de Endocrinologia
vância o diálogo entre as diferentes áreas como (infantil e adulto). No momento da realização
alicerce para a construção de um trabalho in- da pesquisa não havia atuação de profissionais

200 Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017


Camila Peixoto Farias, Alberto Manuel Quintana, Luísa da Rosa Olesiak

da psicologia nesses setores. No ambulatório entrevistas não foram baseadas em perguntas,


de endocrinologia infantil havia a expectati- mas conduzidas a partir de eixos norteadores
va que uma profissional da psicologia come- (primeiro contato com as patologias alimen-
çasse a atuar em breve. Tendo isso em vista e tares, diagnóstico, condução do tratamento,
também considerando os principais sintomas encaminhamentos para outros profissionais,
que caracterizam as patologias alimentares: o trabalho interdisciplinar, maiores dificuldades
comprometimento da relação com a comida, e desafios, casos marcantes), a respeito dos
seus efeitos em termos nutricionais e também quais os participantes eram convidados a fa-
para o funcionamento do organismo como um lar. O entrevistador intervinha visando apon-
todo, a medicina e a nutrição foram as áreas tar questões para aprofundar o conteúdo das
delimitadas para participar da pesquisa. narrativas sobre os eixos em questão, de forma
Os participantes foram contatados pessoal- a responder os objetivos do estudo. Todas as
mente em seu setor de atuação. Como critério entrevistas foram gravadas, com o consenti-
de inclusão dos médicos e nutricionistas, os mento dos participantes, e, posteriormente,
profissionais deveriam trabalhar no Serviço de transcritas na íntegra, para fins de análise.
Nutrição e Dietética ou nos Ambulatórios de
Endocrinologia (infantil e adulto). Os profissio- Procedimentos de análise dos dados
nais que não se encontravam realizando ativi-
dades nos setores selecionados no momento da Todas as entrevistas foram exploradas a
pesquisa (férias, licenças, etc.) foram excluídos. partir da análise de conteúdo proposta por
No período da coleta de dados, foram en- Bardin (2011) e Turato (2013), segundo a qual
trevistados os profissionais que trabalhavam os elementos são categorizados a partir de cri-
no referido hospital e que se adequavam aos térios de relevância e repetição. Utilizou-se
critérios de inclusão da pesquisa. O número uma perspectiva de refinamento da análise
de entrevistados seguiu o critério de saturação de conteúdo, desenvolvida por Turato (2013),
teórica dos dados no caso dos nutricionistas, que propõe uma escuta do implícito, da análi-
ou seja, a coleta de dados foi realizada até que se das entrelinhas, alicerçada por conceitos da
os dados obtidos se tornassem redundantes ou Psicanálise. Em outras palavras, a análise dos
repetitivos, não sendo relevante sua continui- dados foi orientada pela escuta e transferência
dade (Fontanela et al., 2008). No caso dos mé- instrumentalizada do pesquisador em relação
dicos, todos que atuavam nos ambulatórios de ao texto. Nesse sentido, os dados obtidos nas
endocrinologia do hospital foram entrevista- entrevistas foram organizados sob a forma de
dos. A amostra esgotou-se antes da saturação temas-eixo, que possibilitaram a análise e o le-
dos dados. Participaram deste estudo 12 nutri- vantamento de questões fundamentais, discu-
cionistas (11 mulheres e 1 homem) e 6 médicos tidas sob a perspectiva da Psicanálise.
endocrinologistas (4 mulheres e 2 homens).
Considerações e aspectos éticos
Técnicas e procedimentos
de coleta de dados Neste estudo seguimos as determinações
da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional
Os dados foram coletados após a anuência de Saúde (Brasil, 2012), que normatizam as
do Hospital Universitário e da aprovação da condições das pesquisas que envolvem seres
pesquisa no Comitê de Ética da instituição. humanos. Os participantes foram informados
A coleta de dados consistiu na realização de sobre o tema da investigação e suas implica-
entrevistas individuais semiestruturadas, a ções, sendo esclarecidos seus direitos enquan-
partir de contato pessoal com os nutricionis- to participantes de pesquisa, recebendo, antes
tas do Serviço de Nutrição e Dietética e com da execução das entrevistas, um Termo de
os médicos endocrinologistas que atuavam Consentimento Livre e Esclarecido, em cópia
em ambulatórios de endocrinologia do hos- dupla, para autorização de sua participação
pital. O convite para as entrevistas foi reali- no estudo a ser realizado. As entrevistas fo-
zado pessoalmente no local de trabalho dos ram realizadas em sala reservada, com total
profissionais. Tais entrevistas aconteceram em privacidade e sem interrupções. Além disso,
horários escolhidos pelos participantes, em lo- clarificou-se para os profissionais as questões
cal adequado no próprio ambiente hospitalar éticas e de sigilo relacionadas à identidade dos
e tiveram a duração média de 40 minutos. As participantes da pesquisa. Isso possibilitou

Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017 201


Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

que eles se sentissem mais à vontade durante Ninguém consegue com as patologias alimenta-
a entrevista, especialmente para falar sobre as- res tratar sozinho. Eu acho que tem que ser in-
pectos ligados a instituição e ao trabalho com terdisciplinar sempre, e a equipe, o ideal, sonho...
outros profissionais. Seria a equipe, se reunir uma vez por semana
para discutir, trocar, pensar junto as interven-
As atividades de campo do estudo ocor-
ções, mas acho que é um desafio (M5).
reram apenas após a aprovação do comitê
de ética da instituição em que foi realizada, Com relação ao tratamento das patologias ali-
sendo o projeto aprovado sob número CAAE mentares eu acho que é impossível fazer um tra-
57059116.3.0000.5346. Com o objetivo de pre- tamento sozinha, eu acho que tem que ser feito
servar o anonimato dos participantes, as falas um tratamento com profissionais de várias áreas:
serão apresentadas com a seguinte legenda: nutrição, psicologia, medicina. Eu acho que sozi-
letra N ou M (Nutricionistas ou Médicos) se- nha na tua área é muito mais difícil de conseguir
guida de um número que identifica o sujeito um bom resultado (N3).
no grupo profissional a que pertence.
Os participantes destacam que o sucesso
Resultados e discussão terapêutico do tratamento das patologias ali-
mentares, e de seu próprio trabalho nesses ca-
A análise dos dados, orientada pela escuta sos, está ligado a possibilidade de um trabalho
e transferência instrumentalizada dos pesqui- conjunto com outros profissionais. Isso indica
sadores em relação ao texto das entrevistas, que entre médicos e nutricionistas há o reco-
indicou questões fundamentais que se referem nhecimento da importância do trabalho inter-
a valorização, os desafios e os obstáculos do disciplinar para o tratamento da anorexia e da
trabalho interdisciplinar no tratamento das bulimia, bem como a valorização dos outros
patologias alimentares. Dessa forma, a inter- campos de saberes nas suas especificidades.
disciplinaridade surgiu como eixo principal Além disso, destacam a importância do diálo-
em torno do qual os dados foram discutidos. go como principal alicerce para a construção
de um trabalho interdisciplinar. Os profissio-
Interdisciplinaridade nais indicam que o diálogo permite através do
olhar direcionado ao outro o reconhecimento
As questões relativas ao tema da interdisci- de seu papel e a abertura para um processo de
plinaridade foram divididas em três categorias consideração e respeito acerca da sua profis-
principais: Reconhecimento da importância são e atuação, de modo a contemplar um bom
do outro: valorização do trabalho interdisci- alcance terapêutico.
plinar; Grandes desafios: o mesmo paciente, Nesse sentido, Romano (1999) pontua que
diferentes corpos; e Cada um no seu quadrado: pertencer a uma equipe com profissionais de
formação precária e cuidado fragmentado. diferentes áreas não significa exercer um tra-
balho interdisciplinar de fato. Para que a in-
terdisciplinaridade possa ocorrer Cachapuz
Reconhecimento da importância
(2006) destaca que é fundamental a construção
do outro: valorização do trabalho de relações menos verticais entre as diferentes
interdisciplinar disciplinas e isso não ocorre pela simples jus-
taposição ou complementação entre elas, e sim
Segundo Fazenda (2008) a interdisciplina- a partir do estabelecimento de trocas entre os
ridade pressupõe a abertura de canais de cola- campos, tendo em vista o paciente em torno
boração e comunicação com o saber de outros do qual se constitui a equipe.
profissionais. Nessa linha, os médicos e nutri- Na mesma direção, Fazenda (2008) enfatiza
cionistas entrevistados destacaram que o trata- que o exercício da interdisciplinaridade impli-
mento das patologias alimentares se constitui ca na escuta do diferente, assim como na dis-
em um grande desafio que exige o apoio de ponibilidade de perceber os limites da própria
outros profissionais para ser enfrentado. área. Segundo o autor, o que define a presença
da interdisciplinaridade é a construção de um
Eu acho bem importante essa questão interdisci-
espaço de diálogo, marcado pela disponibili-
plinar no caso das patologias alimentares, acho
que a gente consegue resultados muito melhores dade para aprender, pelo respeito pela espe-
quando tu trabalha em equipe, dialogando, do cificidade do campo de saber do outro e pela
que eu tentar abraçar o caso sozinha, que eu sei percepção da insuficiência do próprio saber
que eu não vou ter sucesso (M6). para o avanço do processo terapêutico. Morin

202 Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017


Camila Peixoto Farias, Alberto Manuel Quintana, Luísa da Rosa Olesiak

(2015) reforça essa ideia destacando que a in- cuidados em saúde se apresenta de forma
terdisciplinaridade além de significar troca e desafiadora e complexa. Um dos principais
cooperação exige que as diferentes disciplinas desafios para o trabalho interdisciplinar com
possam não apenas se reunir, mas também essas patologias é a perspectiva a partir da
dialogar, construir caminhos de forma conjun- qual cada profissional olha para o corpo do
ta. O autor ainda destaca que a integração de paciente, nesses casos, palco privilegiado de
diferentes formas de pensar, revela a interliga- expressão das manifestações patológicas.
ção destas. Nesse sentido, a interdisciplinari-
dade permite a construção de um pensamento Grandes desafios: o mesmo paciente,
alicerçado na complexidade que possibilita diferentes corpos
ligar as áreas e saberes que são tratados e es-
tudados, na maioria das vezes, de forma frag- A forma de a psicanálise pensar o corpo
mentada e independente. diferencia-se da nutrição e da medicina. O cor-
No que se refere ao reconhecimento da po psicanalítico apresenta-se diferente de um
importância do trabalho interdisciplinar, os corpo biológico, anatomopatológico, objeto de
participantes deram destaque também ao enri- estudos médicos e nutricionais. Para a psica-
quecimento profissional que a constituição de nálise, esse corpo é reconhecido como subje-
uma equipe interdisciplinar para o tratamento tivo, é um corpo que vai além das queixas de
das patologias alimentares propicia: “A gente ordem somática e já não se reduz ao conceito
vai aprendendo um pouquinho também de de organismo, é um todo em funcionamento
cada área, a gente já começa a ter uma visão atravessado pela história de cada sujeito (Fer-
mais ampla, então eu acho que é muito interes- nandes, 2002; Lazzarini e Viana, 2006).
sante, muito enriquecedor” (N1). Freud foi construindo o estatuto do corpo
em psicanálise, observando a influência do
Com o trabalho em equipe tu acaba tendo um re- psiquismo sobre o corpo e a importância dos
torno bem maior não só pro paciente, mas até pra conteúdos inconscientes na formação dos sin-
ti enquanto profissional, o teu trabalho vai sendo tomas, o que o levou a romper definitivamente
enriquecido, tem esse retorno profissional, esse
com o organicismo. Através da escuta das pa-
crescimento e esse reconhecimento (N6).
cientes histéricas, a pulsão foi delineando-se e
Essa relação faz a diferença pro paciente em di- demarcando sua importância, especialmente
versas áreas, mas no transtorno alimentar é enquanto matéria-prima para constituição do
fundamental. E a conduta terapêutica também é corpo psicanalítico. A ordem orgânica foi as-
mais correta, mais acertada, são vários profissio- sim subvertida, dando lugar a um corpo pul-
nais que participam da mesma conduta. Então a sional, erógeno (Viana, 2004).
chance de cada um construir um olhar mais com- O sujeito de que se ocupa a psicanálise
plexo é maior (M1). não é um ser exclusivamente psíquico nem,
obviamente, exclusivamente corporal, mas é
Em consonância com os entrevistados, Cos- o sujeito que se constitui nesse encontro en-
ta (2007) destaca que a interdisciplinaridade é tre o psíquico e o corporal, nessa intersecção
conceituada pelo grau de integração entre as entre o corpo e o psiquismo que é realizada
disciplinas e a intensidade de trocas entre os pela pulsão (Viana, 2004). A resultante desse
profissionais, sendo que cada profissional de- encontro entre o psíquico e o somático (consi-
veria sair enriquecido desse processo. A autora derando nesse encontro a presença do outro)
destaca ainda que o trabalho interdisciplinar pode ter como palco de expressão o psiquis-
deveria ampliar os horizontes dos profissio- mo e/ou o corpo. Nas patologias alimentares,
nais, conduzindo-os a perceber outras dimen- como indicado, a excitação não alcança um
sões e nuances das situações trabalhadas. processamento psíquico e descarrega-se no
Como pode ser percebido através das fa- corpo, sendo o corpo, portanto, nesse caso, o
las dos profissionais entrevistados, o traba- palco privilegiado de expressão do pulsional
lho interdisciplinar é considerado como de (Fernandes, 2002).
grande importância para o tratamento das Trabalhar com pacientes com patologias
patologias alimentares, sendo propulsor de alimentares é especialmente desafiador para
um cuidado integral e de um olhar comple- psicanalistas pelas intensas manifestações
xo ao paciente, de maneira a permitir um corporais que colocam, na maioria das vezes,
crescimento profissional. Contudo, percebe- em risco a saúde e a vida. Já para médicos e
-se que a abordagem interdisciplinar nos nutricionistas o desafio está relacionado com

Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017 203


Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

a relevância de aspectos psíquicos para com- Acredita-se que não só a singularidade de


preensão das manifestações corporais, como cada área profissional deva ser respeitada e
indicam as falas a seguir: considerada em um trabalho interdisciplinar,
mas também a singularidade de cada paciente,
É muito difícil o tratamento da anorexia e da bu- de sua história de vida. Trata-se de compreen-
limia, sozinho eu acho que é impraticável, impra- der a relação singular que esse sujeito estabe-
ticável. Porque não é só orgânica a questão, tem lece com o objeto comida, em outras palavras,
aspectos psicológicos... Eu não conheço muito
trata-se de construir uma análise não causal de
bem essa parte, mas sei que tem (M5).
seus investimentos e de sua patologia, e sim
Assim ó, eu vejo a nutricionista que for acom- uma análise complexa da dinâmica psíquica e
panhar essas patologias interligada com outros das manifestações corporais (Fernandes, 2006;
profissionais, por que se não, não vejo de outra Farias e Cardoso, 2009, 2010). Assim, nas pa-
forma conseguir orientar qualquer coisa, ou mui- tologias alimentares é fundamental que os as-
to menos reverter a situação, porque pelo que sei pectos médicos, nutricionais e psíquicos pos-
mais ou menos é mais uma questão psicológica, sam ser pensados de forma articulada. Essa
do que de alimentação (N6). articulação é imprescindível enquanto alicerce
para a construção de um olhar complexo para
Dessa forma, percebe-se que o saber refe- os pacientes com anorexia e bulimia.
rente ao outro campo metodológico se apre- O trabalho interdisciplinar deve possibilitar,
senta, muitas vezes, como estranho aos demais assim, a construção de intervenções alicerçadas
profissionais, desconhecido à sua prática e for- em um diálogo que se dá entre a singularida-
mação teórica. Tendo isso em vista, trabalhar de do paciente e a singularidade dos saberes
no sentido de construir a interdisciplinaridade que constituem a equipe. Mas, para que isso
pressupõe uma ação de coragem, pois exige seja possível, os participantes indicaram alguns
romper com regras institucionais que trans- obstáculos que precisam ser vencidos. Desta-
cendem um discurso hierarquizado de um caram-se como principais obstáculos a serem
saber sobre o outro. As teorias demonstram transpostos: a formação precária – o pouco co-
crenças construídas no transcorrer de um pro- nhecimento acerca dessas patologias – e a difi-
cesso ideológico e histórico que resultaram em culdade de construírem um espaço de diálogo
um pensamento fragmentado e descontextua- com profissionais de áreas diferentes.
lizado acerca do objeto de estudo (Peña, 2001).
Para que a interdisciplinaridade possa ocorrer
Cada um no seu quadrado: formação
de fato no tratamento das patologias alimen-
tares é fundamental que a equipe possa cons- precária e cuidado fragmentado
truir uma linguagem comum rompendo com
essa lógica fragmentada e descontextualizada. Feuerwerker (2003) retrata que a aborda-
Tal linguagem comum é fundamental espe- gem interdisciplinar presume interações e
cialmente para integrar os diferentes olhares rupturas de fronteiras, bem como, mudanças
dirigidos ao corpo do paciente e para alicerçar na lógica de poder, na maioria das vezes, cen-
o diálogo entre os profissionais, o diálogo da tralizado em áreas e disciplinas específicas.
equipe com o paciente e o diálogo de cada pro- Os participantes indicam uma formação aca-
fissional com o paciente (Cobelo et al., 2010). dêmica e profissional precária no que se re-
A construção dessa linguagem comum se- fere as patologias alimentares, a qual se deve
gundo Bucaretchi (2003), deve também preser- principalmente a abordagem superficial dessa
var um lugar específico e respeitado para cada temática em seus cursos de formação profis-
profissional ao longo do processo de tratamen- sional, o que mantém um isolamento e uma
to. Peduzzi et al. (2013) enfatizam a importân- fragmentação na construção dos saberes: “Para
cia da manutenção das especificidades de cada falar a verdade eu na faculdade não vi nada
área em uma equipe interdisciplinar. O diálogo sobre patologias alimentares, vi alguma coisa
entre a diversidade de concepções teóricas e na residência e em alguns congressos” (M2).
metodológicas presentes em uma equipe inter-
A gente teve uma disciplina sobre patologias
disciplinar torna-se de grande relevância para alimentares e a gente estudou um pouco de ano-
a construção de um espaço de mobilidade, de rexia, um pouco de bulimia, e também na parte
circulação, de respeito e acolhimento, qualida- de psicologia, que a gente tem uma matéria só de
des fundamentais para o manejo de pacientes psicologia e aí a gente estuda um pouco as causas
tão frágeis psiquicamente (Cobelo et al., 2010). e como tratar, mas de forma bem superficial (N3).

204 Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017


Camila Peixoto Farias, Alberto Manuel Quintana, Luísa da Rosa Olesiak

A gente estuda, mas assim na época da minha fa- Mas o que eu percebo assim num todo, num con-
culdade, a gente estudou bem pouco, a gente até junto, é difícil, é um desafio, é muito difícil tra-
comentava assim, que era uma coisa tão impor- balhar em equipe e a gente percebe que todos são
tante, que tava crescendo e continua crescendo focados cada um no seu cantinho, então construir
o número de casos até hoje. Mas estudei muito um diálogo exige investimento e disposição para
pouco, não tenho muito conhecimento (N7). trocar com o colega, não é simples (N8).

Gonzaga e Weinberg (2012) indicam que Percebe-se através das falas dos profissio-
os pacientes com patologias alimentares, na nais que o trabalho interdisciplinar no trata-
maioria das vezes, iniciam o tratamento tar- mento das patologias alimentares está mais no
diamente; um dos motivos apontados para plano do ideal – do que acham que deveria ser
isso ocorrer é a dificuldade dos profissionais feito – e menos no campo da prática, no qual
em detectar os sintomas e reconhecer esses ainda se constitui em um grande desafio.
quadros clínicos. Esses dados estão alinha- Como pontua Figueiredo (2004), o trabalho
dos ao relato dos participantes que sinalizam interdisciplinar não se dá de modo automáti-
o desconhecimento ou o conhecimento pre- co, é um processo que precisa ser construído.
cário acerca dessas patologias, o que acaba Segundo a autora, a escuta do sujeito – como
comprometendo a possibilidade de diagnós- ética que norteia a prática psicanalítica – deve
tico precoce e mesmo de diagnóstico da ano- nortear também a construção do trabalho em
rexia e da bulimia. equipe interdisciplinar. Deslocar o foco da
Considera-se esse cenário bastante preo- patologia, dos sintomas, para o sujeito, para
cupante, pois se trata de pacientes que apre- sua singularidade, para seu sofrimento, é fun-
sentam riscos de desestruturação psíquica e damental para que se possa construir espaços
também de reverberações corporais provo- de diálogo, de troca entre profissionais de di-
cadas pela problemática psíquica que podem ferentes áreas. É fundamental, pois desloca
colocar em risco a saúde e a vida. Além do também o foco do saber de cada um – sem
diagnóstico dessas patologias, acredita-se desconsiderá-lo – e incentiva uma construção
que a formação precária termina por compro- conjunta, complexa.
meter também o processo terapêutico, pois, Segundo Costa (2007), o trabalho interdis-
segundo Peduzzi et al. (2013), ela se constitui ciplinar deve ser visto como um processo que
em um fator que dificulta, que inibe o diálogo demanda o repensar dos papéis, das relações
com profissionais de outras áreas, comprome- de poder e dos conteúdos já instituídos e pré-
tendo a construção de um trabalho interdis- -estabelecidos. Figueiredo (2004) nos indica
ciplinar. Segundo os autores, isso pode tam- que seria fundamental para efetivação de um
bém acentuar o temor que frequentemente é trabalho em equipe, especialmente em se tra-
encontrado entre os profissionais de que no tando de uma equipe interdisciplinar, que ao
contato com outros saberes, seu próprio sa- invés de nos perguntarmos “[...] o que pode-
ber seja questionado ou algum não saber seja mos fazer pelo paciente, perguntarmos o que
evidenciado. Esse contexto acaba, portanto, ele pode fazer para sair de tal ou tal situação
favorecendo o isolamento dos profissionais e com nosso suporte” (p. 81).
a fragmentação do cuidado. As intervenções, como aponta Figueiredo
A escuta do outro e o diálogo são aspectos (2004), devem ser constantemente discutidas
fundamentais do trabalho interdisciplinar e e avaliadas levando em conta suas reverbera-
também, segundo os entrevistados, seus maio- ções tanto para o paciente quanto para a equi-
res desafios: “as pessoas gostam de trabalhar pe. Tendo isso em vista, a autora propõe que
no seu quadrado, na faculdade é isso que é en- as intervenções da equipe sejam da ordem da
sinado. É muito difícil, porque a gente não tem invenção, movidas pelo questionamento e não
essa cultura da interdisciplinaridade, todos delimitadas a priori, o que torna imprescindí-
nós, todas as áreas da saúde” (M4). vel a constituição de um espaço de diálogo.
Em uma equipe interdisciplinar é funda-
Uma coisa é tu dizer que o trabalho é interdisci- mental que os profissionais tenham uma dis-
plinar, outra coisa é ele realmente ser interdis-
posição para aprender: aprender com os ou-
ciplinar. Não é cada um fazer sua parte, vários
profissionais ir ali atender o paciente e nem con- tros profissionais e aprender com o paciente,
versar, o ideal é que se discuta o caso, tenha diá- para que juntos possam construir caminhos
logo, troquem opiniões. E juntos vão decidindo que conduzam o tratamento a um maior al-
por onde ir (N2). cance terapêutico (Figueiredo, 2004). Como in-

Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017 205


Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

dicam os entrevistados, esse é um dos grandes minhos interdisciplinares. Assim, a constitui-


desafios no tratamento das patologias alimen- ção de perspectivas interdisciplinares deveria
tares: construir espaços de escuta e troca entre se iniciar na formação para se concretizar de
os profissionais de diferentes áreas. modo singular em cada equipe de acordo com
Quando não há essa disponibilidade para os vínculos nela estabelecidos, bem como ten-
o diálogo e para a aprendizagem, encontrar- do em vista a singularidade do paciente para o
-se-á uma reunião de profissionais, em que qual se dirige o cuidado.
cada um faz sua parte de forma isolada, indo Nos setores do hospital onde foram reali-
na contramão da construção de um trabalho zadas as entrevistas não havia profissionais da
interdisciplinar (Costa, 2007; Fazenda, 2008; psicologia atuando, o que comprometia as pos-
Figueiredo, 2004; Peduzzi et al., 2013). Isso in- sibilidades dos médicos e nutricionistas cons-
dica um cuidado fragmentado, em que o foco truírem um trabalho interdisciplinar e assim o
principal é a doença – e, muitas vezes, somente alcance das possibilidades de tratamento para
o sintoma que diz respeito à área do profissio- bulimia e anorexia oferecidas pela instituição.
nal – e não o sujeito e sua complexidade. Nesse sentido, destacamos como uma das prin-
Dessa forma, um dos grandes desafios do cipais limitações do estudo não contar com par-
tratamento das patologias alimentares é cons- ticipantes da área da psicologia. Tendo isso em
truir intervenções que rompam com uma lógi- vista, um dos possíveis desdobramentos deste
ca de cuidado fragmentada e dessubjetivante, estudo é uma pesquisa junto a psicólogos(as)
ou seja, construir intervenções alicerçadas no sobre o tratamento da anorexia e da bulimia, o
diálogo entre a singularidade do paciente e a que se considera de grande importância para
singularidade das áreas dos profissionais en- seguir avançando na discussão da temática.
volvidos no tratamento, como forma funda- Por fim, considera-se que a clínica da ano-
mental de operacionalização de possibilidades rexia e da bulimia é rica e fecunda pelos de-
terapêuticas mais eficazes. safios cotidianos que coloca, não apenas ao
saber, mas, sobretudo, ao fazer psicanalítico,
Considerações finais especialmente no que se refere ao seu diálogo
com outros saberes. Não podemos negligen-
Esta pesquisa demonstrou que embora os ciar as especificidades metodológicas ineren-
profissionais médicos e nutricionistas entre- tes a cada área do saber, bem como a percep-
vistados valorizem e considerem fundamental ção acerca da patologia e do paciente que elas
o trabalho interdisciplinar para o tratamento engendram, pois é somente a partir do conhe-
da anorexia e da bulimia, na prática eles en- cimento dessas especificidades que o diálogo
contram vários obstáculos para sua efetivação. com profissionais de outras áreas poderá ser
Os principais obstáculos apontados foram a possível e poderá consolidar um maior alcance
formação precária para trabalhar com tais pa- terapêutico nos casos de anorexia e bulimia.
tologias e a dificuldade de construir espaços
de diálogos com profissionais de outras áreas. Referências
Isso coloca em evidência a importância da
anorexia e da bulimia serem abordadas de for- ALVARENGA, M.S.; SCAGLIUSI, F.B. 2010. Trata-
ma mais aprofundada nos cursos de formação mento nutricional da bulimia nervosa. Revista de
em nutrição e medicina. Isso possibilitará aos Nutrição, 23(5):907-918.
profissionais de tais áreas conhecimento que https://doi.org/10.1590/S1415-52732010000500020
lhes dê ferramentas para a realização do diag- BARDIN, L. 2011. Análise de conteúdo. Lisboa, Edi-
ções 70, 229 p.
nóstico precoce de tais patologias e para o di- BECHARA, A.P.V.; KOHATSU, L.N. 2014. Tra-
álogo com outros profissionais envolvidos no tamento nutricional da anorexia e da bu-
tratamento, visando a construção conjunta de limia nervosas: aspectos psicológicos dos
intervenções que conduzam a um maior alcan- pacientes, de suas famílias e das nutricionis-
ce terapêutico. tas.  Vínculo,  11(2):7-18. Disponível em: http://
Nesse contexto, considera-se também im- pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
prescindível a abertura de espaços desde a arttext&pid=S1806-24902014000200003&lng=pt
&tlng=pt. Acesso em: 10/02/2016.
formação acadêmica que vão ao encontro de
BORDIGNON, J.A.; COUTINHO, V.F.; FERNAN-
discussões entre diferentes saberes, visando DES, A.C. 2014. Anorexia: Aspectos clínicos e nu-
permitir desde a formação o diálogo com di- tricionais. Revista Inova Saúde, 3(1):58-82. Disponí-
ferentes disciplinas e abordagens, de modo a vel em: http://periodicos.unesc.net/Inovasaude/
ampliar as possibilidades de construção de ca- article/view/1312/1621. Acesso em: 11/02/2016.

206 Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017


Camila Peixoto Farias, Alberto Manuel Quintana, Luísa da Rosa Olesiak

BORGES, G.M. 2012. Neurose traumática: fundamen- FAZENDA, I.C.A. 2008. Interdisciplinaridade: histó-
tos e destinos. Curitiba, Juruá editora, 172 p. ria, teoria e pesquisa. Campinas, Papirus Editora,
BRASIL. 2012. Ministério da Saúde. Resolução n° 143 p.
466, de 12 de dezembro de 2012. Sobre Pesquisa FERNANDES, M.H. 2002. Entre a alteridade e a au-
Envolvendo Seres Humanos. Conselho Nacional sência: O corpo em Freud e sua função na escuta
de Saúde. Disponível em: http://conselho.saude. do analista. Revista Percurso, 29(2):51-64.
gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: FERNANDES, M.H. 2006. Transtornos Alimentares.
01/11/2015. São Paulo, Casa do Psicólogo, 303 p.
BRUSSET, B. 2003. Conclusões terapêuticas. In: B. FEUERWERKER, L. 2003. Educação dos profissio-
BRUSSET; C. COUVREUR; A. FINE (orgs.), A nais de saúde hoje - problemas, desafios, pers-
Bulimia. São Paulo, Escuta, p. 173-184. pectivas, e as propostas do Ministério da Saúde.
BUCARETCHI, H.A. 2003. Anorexia e bulimia ner- Revista da ABENO, 3(1):24-27.
vosa: a constituição psíquica. In: H.A. BUCA- FIGUEIREDO, A.C. 2004. A construção do caso
RETCHI (org.), Anorexia e Bulimia nervosa – uma clínico: uma contribuição da psicanálise à psi-
visão multidisciplinar. São Paulo, Casa do Psicó- copatologia e à saúde mental. Revista Latinoa-
logo, p. 27-42. mericana de Psicopatologia Fundamental, 7(1):75-
CACHAPUZ, D.R. 2006. Psicologia hospitalar: um 86.
olhar interdisciplinar no atendimento a crianças e FONTANELLA, B.J.B.; RICAS, J.; TURATO, E.R.
adolescentes. Rev. SBPH, 9(2):43-66. Disponível em: 2008. Amostragem por saturação em pesquisas
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ab qualitativas em saúde: contribuições teóricas.
stract&pid=S1516-08582006000200004. Acesso em: Cadernos de Saúde Pública, 24(1):17-27.
02/03/2016. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000100003
CARDOSO, M.R. 2010. Violência, domínio e trans- FREUD, S. 2006 [1920]. Além do princípio de pra-
gressão. In: M.R. CARDOSO; C.A. GARCIA, zer. In: S. FREUD; J. STRACHEY (ed.), Além do
Entre o eu e o outro: espaços fronteiriços. Curitiba, princípio de prazer, psicologia de grupo e outros tra-
Juruá, p. 103-113. balhos. Rio de Janeiro, Imago, p. 13-156. (Edição
CARDOSO, M.R.; MONTEIRO, R.G. 2012. Constru- standard brasileira das obras psicológicas com-
ções e figurabilidade em análise: vias de abertu- pletas de Sigmund Freud, v. 18).
ra à representação? In: E. MARRACCINI; M.H. FUKS, M.P. 2003. O mínimo é o máximo: uma apro-
FERNANDES; M.R. CARDOSO; S. RABELLO ximação da anorexia. In: R.M. VOLICH; F.C.
(orgs.), Limites de Eros. São Paulo, Primavera FERRAZ; W. RANÑA (orgs.), Psicossoma III:
Editorial, p. 137-156. interfaces da psicossomática. São Paulo, Casa do
CARVALHO, B.; VAL, A.C.; RIBEIRO, M.M.F.; Psicólogo, p. 147-158.
SANTOS, L.G. 2016. Itinerários terapêuticos de GONZAGA, A.P.; WEINBERG, C. 2012. Editorial.
sujeitos com sintomas anoréxicos e bulímicos. Cadernos da CEPPAN - Revista de Transtornos Ali-
Ciência & saúde coletiva, 21(8):2463-2473. mentares, 10:3.
https://doi.org/10.1590/1413-81232015218.16452015 JEAMMET, P. 1999. Abordagem psicanalítica dos
CHERVET, B. 2011. Compulsion, répétition et re- transtornos das condutas alimentares. In: R.
duction. In: B. CHERVET (org.), La compulsion de URRIBARRI (org.), Anorexia e Bulimia. São Pau-
répétition. Paris, PUF, p. 7-36. lo, Escuta, p. 29-50.
https://doi.org/10.3917/puf.cherv.2011.02.0007 LAZZARINI, E.R.; VIANA, T.C.O. 2006. Corpo
COBELO, A.W.; GONZAGA, A.P.; WEINBERG, C. em Psicanálise. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
2010. Contribuições da Psicanálise para o tra- 22(2):241-250.
tamento dos transtornos alimentares. In: A.P. https://doi.org/10.1590/S0102-37722006000200014
GONZAGA; C. WEINBERG (orgs.), Psicanálise MARINOV, V. 2001. Le Narcissisme dans les trou-
de Transtornos Alimentares. São Paulo, Primavera bles de conduites alimentaires. In: J. MCDOU-
editorial, p. 263-279. GALL; V. MARINOV; F. BRELET-FOULARD;
CORDÁS, T.A. 2004. Transtornos alimentares: classi- J. LANOUZIÈRE, Anorexie, addictions et fragilités
ficação e diagnóstico. Archives of Clinical Psychia- narcissiques. Paris, PUF, p. 37-69.
try, 31(4):154-157. https://doi.org/10.3917/puf.marin.2001.01.0037
https://doi.org/10.1590/S0101-60832004000400003 MINAYO, M.C. 2010. Disciplinaridade, interdis-
COSTA,R.P.2007.Interdisciplinaridadeeequipesdesaú- ciplinaridade complexidade. Emancipação,
de: concepções. Mental, 5(8):107-124. Disponível em: 10(1):435-442.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ https://doi.org/10.5212/Emancipacao.v.10i2.435-442
arttext&pid=S1679-44272007000100008&lng=pt&tl MINAYO, M.C. 2011. Da inteligência parcial ao
ng=pt. Acesso em: 04/02/2016. pensamento complexo: desafios da ciência e da
FARIAS, C.P.F.; CARDOSO, M.R. 2009. A singulari- sociedade contemporânea. Política & Sociedade,
dade do ato na bulimia. Pulsional revista de Psica- 10(19):41-56.
nálise, 22(3):54-65. MORIN, E. 2015. Introdução ao pensamento complexo.
FARIAS, C.P.F.; CARDOSO, M.R. 2010. Incorpo- 5ª ed., Porto Alegre, Sulina, 120 p.
ração e Expulsão do outro na Bulimia. In: A.P. OLIVEIRA, S.I.; OLIVEIRA, K.S. 2008. Novas pers-
GONZAGA; C. WEINBERG (orgs.), Psicanálise pectivas em educação alimentar e nutricio-
de Transtornos Alimentares. São Paulo, Primavera nal. Psicologia USP, 19(4):495-504.
editorial, p. 142-156. https://doi.org/10.1590/S0103-65642008000400008

Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017 207


Patologias alimentares: um desafio interdisciplinar

PALMA, R.F.M.; SANTOS, J.E.; RIBEIRO, R.P.P. ROMANO, B.W. 1999. Princípios para a prática da
2013. Evolução nutricional de pacientes com psicologia clínica em hospitais. São Paulo, Casa do
transtornos alimentares: experiência de 30 anos Psicólogo, 145 p.
de um Hospital Universitário. Revista de Nutri- SCAZUFCA, A.C.M.; BERLINCK, M.T. 2004. Sobre
ção, 26(6):669-678. o tratamento psicoterapêutico da anorexia e da
https://doi.org/10.1590/S1415-52732013000600006 bulimia. In: M.R. CARDOSO (org.), Limites. São
PEDUZZI, M.; NORMAN, I.J.; GERMANI, A.C.C.G.; Paulo, Escuta, p. 89-106.
SILVA, J.A.M.; SOUZA, G.C. 2013. Educação TURATO, E.R. 2013. Tratado da metodologia da pes-
interprofissional: formação de profissionais de quisa clínico-qualitativa: Construção teórico-episte-
saúde para o trabalho em equipe com foco nos mológica, discussão comparada e aplicação nas áreas
usuários. Revista da Escola de Enfermagem da USP, da saúde e humanas. Petrópolis, Vozes, 685 p.
47(4):977-983. VASCONCELOS, F.A.G. 2015. The construction
https://doi.org/10.1590/S0080-623420130000400029 of scientific knowledge in Food and Nutri-
PEÑA, M.D.L.J.P. 2001. Interdisciplinaridade: uma tion: Analysis of dissertations and theses in the
questão de atitude. In: I.C.A.P. FAZENDA (org.), Brazilian post-graduation programs in Nutri-
Práticas interdisciplinares na escola. 8ª ed., São Pau- tion. Revista de Nutrição, 28(1):5-16.
lo, Cortez, p. 57-64. https://doi.org/10.1590/1415-52732015000100001
PIRLOT, G.; CUPA, D. 2012. Approche psychanalytique VIANA, D.A. 2004. Figurações da Corporeidade. Por
des troubles psychiques. Paris, Armand Colin, 336 p. uma concepção psicanalítica de corpo pelas bordas da
PRADO, S.D.; BOSI, M.L.M.; CARVALHO, M.C.V.S.; pulsão. Rio de Janeiro, RJ. Dissertação de mes-
GUGELMIN, S.A.; SILVA, J.K.; DELMASCHIO, trado. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
K.L. 2011a. A pesquisa sobre Alimentação no 105 p.
Brasil: sustentando a autonomia do campo Ali- WEINBERG, C.; BERLINK, M.T. 2010. A hiperati-
mentação e Nutrição. Ciência & Saúde Coleti- vidade das anoréxicas: uma defesa maníaca? In:
va, 16(1):107-119. A.P. GONZAGA; C. WEINBERG (orgs.), Psica-
https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000100015 nálise de Transtornos Alimentares. São Paulo, Pri-
PRADO, S.D.; BOSI, M.L.M.; CARVALHO, mavera editorial, p. 102-120.
M.C.V.S.; GUGELMIN, S.A.; SILVA, J.K.; DEL-
MASCHIO, K.L. 2011b. Alimentação e nutrição
como campo científico autônomo no Brasil: con-
ceitos, domínios e projetos políticos. Revista de
Nutrição, 24(6):927-937. Submetido: 16/08/2016
https://doi.org/10.1590/S1415-52732011000600013 Aceito: 01/09/2017

208 Contextos Clínicos, vol. 10, n. 2, Julho-Dezembro 2017

Você também pode gostar