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DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

FICHAMENTO DA MEDITAÇÃO PRIMEIRA


[1] Há já algum tempo me apercebi de que (…) recebera grande quantidade de falsas opiniões
como verdadeiras e que o que depois fundei sobre princípios tão mal assegurados só podia ser
muito duvidoso e incerto; de forma que me era preciso empreender seriamente (…) desfazer-me
de todas as opiniões que até então aceitara em minha crença e começar tudo de novo desde os
fundamentos, se quisesse estabelecer algo firme e constante nas ciências. (p. 29, grifos nossos)

[2] (…) não será necessário, para atingir esse desígnio, provar que são todas falsas (…);
mas, (…) o menor motivo de dúvida que aí encontrar bastará para fazer-me rejeitar todas. (p. 30,
grifos nossos)

[3] Tudo o que recebi até o presente como mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos
ou pelos sentidos; ora, algumas vezes experimentei que tais sentidos eram enganadores, e é de
prudência jamais confiar inteiramente naqueles que uma vez nos enganaram. (p. 31, grifos nossos)

[5] Todavia, tenho de considerar aqui que sou homem e, por conseguinte, que costumo dormir
e representar-me em meus sonhos as mesmas coisas (…). E, detendo-me nesse pensamento, vejo tão
manifestamente que não há indícios concludentes nem marcas bastante certas por onde se possa
distinguir nitidamente a vigília do sono (…). (pp. 32-33, grifos nossos)

[6] (…) Todavia, há que confessar, pelo menos, que as coisas que nos são representadas no
sono são como quadros e pinturas, que só podem ser formadas à semelhança de algo real e verda-
deiro; e que, assim, pelo menos essas coisas gerais, a saber, olhos, uma cabeça, mãos e todo o resto
do corpo, não são coisas imaginárias, mas verdadeiras e existentes. (p. 33, grifos nossos)

[7] E (…) ainda que essas coisas gerais (…) possam ser imaginárias, é preciso confessar
todavia que há coisas ainda mais simples e mais universais, que são verdadeiras e existentes, da
mistura das quais (…) todas essas imagens das coisas que residem em nosso pensamento (…) são
formadas. (pp. 34-35, grifos nossos)

[8] (…) a aritmética, a geometria e as outras ciências dessa natureza, que só tratam de
coisas muito simples e muito gerais, (…) contêm algo de certo e indubitável. (p. 35, grifos nos-
sos)

[9] Todavia, há muito tempo tenho em meu espírito certa opinião de que há um Deus que pode
tudo e por quem fui criado (…). Ora, quem me pode assegurar que esse Deus não tenha feito com
que não haja (…) nenhuma grandeza, nenhum lugar, e que não obstante eu tenha os sentimentos de
todas essas coisas (…)? (…) pode ocorrer que ele tenha querido que eu me engane todas as ve-
zes (…). (pp. 35-36, grifos nossos)
DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

[10] (…) sou forçado a confessar que, de todas as opiniões que outrora recebera em minha
crença como verdadeiras, não há uma da qual não possa agora duvidar, não por algum inconsi-
deração ou leviandade, mas por razões muito fortes e maduramente consideradas (…) (p.36,
grifos nossos)

[12] Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte de verdade, mas
certo gênio maligno (…) que empregou toda sua indústria em enganar-me. (…) Considerarei a
mim mesmo como não tendo (…) nenhum sentido. (p. 38, grifos nossos)

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