Você está na página 1de 1

1

O Curioso Caso de Benjamin Button e a crítica ao conhecimento geral

No texto O conhecimento geral como obstáculo ao conhecimento científico, Gaston Ba-


chelard busca apresentar, através de inúmeros exemplos, as razões para considerar que a for-
mação de concepções universais são prejudiciais à investigação científica, chegando a alertar
que “há de fato um perigoso prazer intelectual na generalização apressada e fácil”. A crítica
construída tem como premissa a ideia de que muitas vezes a aparente clareza, e consequente
confiança, que as generalizações nos trazem, nos impedem de uma avanço científico, uma vez
que podemos chegar a um estado de conformação de um resultado final, nos alertando que
“essas leis gerais bloqueiam atualmente as ideias”.
O autor diz ainda que “a fecundidade de um conceito científico é proporcional a seu po-
der de deformação”, i. e., propõe que os conceitos científicos devem estar sujeitos a constan-
tes reformulações, agregando a si novas condições de aplicação do próprio conceito, defor-
mando a conceituação primitiva e possibilitando o aperfeiçoamento científico.
No que tange o filme O Curioso Caso de Benjamin Button, não podemos afirmar que
seja um filme de conteúdo científico, tema da texto mencionado, mas há algumas analogias
que podem ser feitas ainda que apenas a título de clareamento do pensamento expresso por
Bachelard em sobre o conhecimento geral.
Nos limitaremos a apenas uma relação, que pode ser pensada sobre o caráter da percep-
ção geral que temos sobre o ciclo da vida. É devido observar que o filme é uma ficção, mas
reflete bem a perspectiva do autor na medida em que apresenta o fato de que no decorrer de
nossas vidas, as nossas percepções de mundo vão se formando e se consolidando em conheci-
mentos gerais, a exemplo do percurso vital que parte da juventude à velhice.
Este percurso é um dos pontos que podem ser observados em analogia ao discurso de
Bachelard, isto porque o texto questiona as generalidades epistemológicas e é exatamente o
que é posto em xeque no filme ao apresentar um percurso vital que parte da velhice à juventu-
de. O autor não defende esse percurso, mas observa que há um certo fascínio nas generalida-
des que nos impedem de enxergar as razões mais profundas das coisas. Diante de fatos que
contradigam aquilo que temos como certo, nos comportamos com negação, a exemplo do pai
do Benjamin, que num primeiro momento o rejeitou num ato de não aceitação daquilo tido,
até então, como não natural. A trama segue, e em algum momento esta natureza, antes rejeita-
da por percepções gerais, se impõe, deformando concepções gerais preestabelecidas.

Você também pode gostar