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São Carlos, v.7 n.

23 2005
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Reitor:
Prof. Titular ADOLFO JOSÉ MELFI

Vice-Reitor:
Prof. Titular HÉLIO NOGUEIRA DA CRUZ

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

Diretor:
Prof. Titular FRANCISCO ANTONIO ROCCO LAHR

Vice-Diretor:
Prof. Titular RUY ALBERTO CORREA ALTAFIM

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

Chefe do Departamento:
Prof. Titular CARLITO CALIL JÚNIOR

Suplente do Chefe do Departamento:


Prof. Titular SÉRGIO PERSIVAL BARONCINI PROENÇA

Coordenador de Pós-Graduação:
Prof. Associado MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA

Coordenadora de Publicações e Material Bibliográfico:


MARIA NADIR MINATEL
e-mail: minatel@sc.usp.br

Editoração e Diagramação:
FRANCISCO CARLOS GUETE DE BRITO
MASAKI KAWABATA NETO
MELINA BENATTI OSTINI
TATIANE MALVESTIO SILVA
São Carlos, v.7 n. 23 2005
Departamento de Engenharia de Estruturas
Escola de Engenharia de São Carlos – USP
Av. Trabalhador Sãocarlense, 400 – Centro
CEP: 13566-590 – São Carlos – SP
Fone: (16) 3373-9481 Fax: (16) 3373-9482
site: http://www.set.eesc.usp.br
SUMÁRIO

Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em


alguns modelos estruturais
Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva 1

Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados


na mecânica do dano contínuo
José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença 33

Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de


aço e pórticos de concreto armado
Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini 61

Deslocamentos transversais em lajes-cogumelo


Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro 95

Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto


com análise da resposta numérica
Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto 121
UMA ADAPTAÇÃO DO MEF PARA ANÁLISE EM
MULTICOMPUTADORES: APLICAÇÕES EM ALGUNS
MODELOS ESTRUTURAIS
Valério da Silva Almeida1 & João Batista de Paiva2

Resumo
Apresenta-se uma adaptação dos procedimentos utilizados nos códigos computacionais
seqüenciais advindos do MEF, para utilizá-los em multicomputadores. Resolve-se o
sistema de equações lineares geradas mediante a rotina do PIM (Parallel Iterative
Method). São feitas adaptações deste pacote para se aproveitar as características
comuns do sistema linear gerado pelo MEF: esparsidade e simetria. A técnica de
resolução do sistema em paralelo é otimizada com o uso de dois tipos de pré-
condicionadores: a decomposição incompleta de Cholesky (IC) generalizado e o
POLY(0) ou Jacobi. É feita uma aplicação para a solução de pavimento com o
algoritmo-base totalmente paralelizado. Também é avaliada a solução do sistema de
equações de uma treliça. Mostram-se resultados de speed-up, de eficiência e de tempo
para estes dois modelos estruturais. Além disso, é feito um estudo em processamento
seqüencial da performance dos pré-condicionadores genéricos (IC) e do advindo de
uma série truncada de Neumann, também generalizada, utilizando-se modelos
estruturais de placa e chapa.

Palavras-chave: Multicomputadores; método dos elementos finitos; processamento


paralelo; pré-condicionadores; método dos gradientes conjugados.

1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista a crescente necessidade de se estudar modelos estruturais cada


vez mais complexos e que demandem grande quantidade de memória e tempo
computacional, é necessário o desenvolvimento de ferramentas que suportem estas
análises, já que as máquinas de processamento existentes têm demostrado que não
conseguem acompanhar a taxa de crescimento no tratamento de modelos complexos da
mecânica dos sólidos.
Desta forma, a utilização de máquinas para processamento paralelo é a opção
para a possível aplicação de sistemas estruturais mais sofisticados em análise numérica
via, por exemplo, método dos elementos finitos (MEF).
Nota-se que a partir do início da década de 60, algoritmos numéricos começaram
a ser desenvolvidos de forma a serem aplicados não somente em máquinas de

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP
2
Professor Associado do Departamento de Engenharia de Estruturas - EESC-USP, paiva@sc.usp.br

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2 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

arquiteturas seqüenciais mas também em paralelas, já que tais computadores poderiam


oferecer maior recursos em termos de velocidade e de tamanho de memória.
O avanço nas aplicações, mediante o método dos elementos finitos em
processamento paralelo, começou a ser feito naturalmente, explorando tais algoritmos
ou readaptando-os, de forma a resolver seus problemas intrínsecos. Citam-se os
trabalhos de NOOR & HARTLEY (1978) e o de NOOR & LAMBIOTTE (1979).
A partir da metade da década de 80, as implementações em computação paralela
começaram a ser realizadas de maneira volumosa, como por exemplo, o
desenvolvimento de um pseudocódigo realizado por ZOIS (1988a e 1988b).
Técnicas para otimizar as aplicações dos modelos de MEF começaram a ser
objeto de interesse para melhorar a potencialidade oferecida pelos computadores de
natureza paralela. Por exemplo, uma técnica precursora da utilização do tratamento da
estrutura em subdomínio para computação paralela foi o trabalho de LAW (1986).
Uma outra forma de otimização em tais computadores é a solução do sistema,
que é uma das etapas mais importantes de todo o processo e que despende mais tempo
para conclusão. A resolução do sistema linear empregada comumente é com o uso de
métodos diretos (Gauss, Cholesky). Entretanto, nos últimos quinze anos, têm-se
despontado o uso de métodos iterativos que, como maior vantagem, oferecem menos
dependência entre os dados dos diferentes processadores.
O grande problema gerado com o emprego de um método iterativo é a respeito
do condicionamento da matriz de rigidez, que leva a uma demora na convergência para
os deslocamentos. De sorte, uma outra maneira de otimizar a resolução do sistema
linear através de métodos iterativos é acelerar a convergência de sua resposta, utilizando
um pré-condicionador.
Nos últimos cinco anos vários tipos de pré-condicionadores têm sido objeto de
interesse para solução dos problemas via método dos gradientes conjugados. Na
literatura, uma gama muito grande de pré-condicionadores têm sido analisados e
implementados para a abordagem de problemas estruturais, citando-se os trabalhos de
SCHMIT & LAI (1994) e BITZARAKIS et al. (1997).
Percebe-se que a “migração” do MEF para este novo tipo de arquitetura já tem
sido feita desde a metade da década de 70, MIRANKER (1971). No Brasil, este campo
tem sido pouco explorado nos centros de pesquisas ligados a resolução de problemas da
engenharia estrutural, mostrando uma carência de estudo e de aplicação nesta área.
Assim, o trabalho aqui apresentado teve o intuito de mostrar uma forma para
resolução de um problema estrutural analisado via MEF em sistema de computadores de
memória distribuída, também conhecido por multicomputadores. Com isso, o trabalho
foi desenvolvido alterando-se as características intrínsecas do código, ou seja,
dividindo-se todas as etapas do algoritmo dentre os vários processadores (nós), sendo
que todos os procedimentos em paralelo foram desenvolvidos para funcionarem com
qualquer número de nós. Destaca-se que deu-se ênfase à montagem e a resolução do
sistema linear para análise em paralelo.
Para o primeiro procedimento, utilizou-se a técnica desenvolvida em REZENDE
(1995). A resolução do sistema linear já não apresenta vantagens quanto a sua
paralelização como no procedimento anterior. Assim, tem sido objeto de estudo a busca
de metodologias cada vez mais eficientes na sua otimização em arquitetura paralela.
Hoje em dia a técnica dos Gradientes Conjugados, com o uso de um adequado
pré-condicionador, tem se destacado na aplicação da resolução do sistema linear em
paralelo. Por isso, este trabalho pretendeu utilizar desta técnica com emprego do pré-
condicionador denominado decomposição incompleta de Cholesky (IC), que aqui fora

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 3

generalizado para a influência de qualquer combinação de espectros das colunas não


negligenciadas.
O computador que foi usado para a realização deste trabalho é o IBM 9900/SP,
que possui três nós com 256 Mbytes em cada um (ver TUTORIAL do IBM SP (1998)).
O sistema de troca de mensagens adotado é o PVM desenvolvido pela IBM, que é
denominado de PVMe (ver TUTORIAIS do CISC (1998)).

2 PROCESSAMENTO PARALELO

2.1 Arquiteturas de Computadores

O projeto na arquitetura de computadores engloba tanto o estudo da estrutura


isolada de cada um de seus componentes, como por exemplo, os tipos e a capacidade de
memória, os modelos de processadores, etc., como também o estudo entre essas
estruturas funcionando como um conjunto interdependente e sistematicamente
organizado no sistema computacional. Com relação a forma de organizar e interligar
esses componentes para realização de instruções, surgiram vários conceitos
(paradigmas) de organização de instruções para computadores, sendo o mais comum é o
tipo denominado de Máquina de von-Neumann (instruções dirigidas).

2.2 Computadores de alto desempenho

O conceito de desempenho em computação está ligado diretamente com o termo


taxa de execução, que representa o número de operações em ponto flutuante realizadas
por segundo pelo processador :flops (flow point operation per second). Esta taxa de
execução depende basicamente de três parâmetros, os quais influenciam na maior ou
menor taxa de execução, que são relacionados basicamente da seguinte forma:

(multiplicidade).(Concorrência)
taxa de execução = (2.1)
Ciclo

O ciclo indica o período em que estas operações são realizadas no processador.


A multiplicidade refere-se ao número de operações que se realiza em um ciclo.
O último fator é a concorrência, a qual indica o número de instruções que serão
realizadas em um mesmo ciclo.

2.2.1 Modelos de concorrência


A concorrência ou paralelismo é a forma de se obter com mais eficácia
poderosos computadores de alto desempenho. Paralelismo significa executar jobs de um
ou mais programas simultaneamente. Existem basicamente duas formas de executar
essa concorrência: o paralelismo descrito pela técnica de pipeline ou com o uso de dois
ou mais processadores interligados para executar uma mesma tarefa.
A técnica de pipeline consiste em realizar a concorrência das instruções
paralelamente em um processador, e tipo de paralelismo está em nível de hardware.
A outra forma de paralelismo se caracteriza pelo ganho na taxa de execução
obtido apenas dependente de se acoplar vários processadores existentes para realizarem
uma mesma tarefa. Mas, há a necessidade do programador desenvolver seu programa

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4 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

explorando esta arquitetura. Para esses modelos de concorrência, o grau de paralelismo


pode dar em diferentes níveis de tarefas, descritas a seguir:

• Processamento distribuído: esse tipo de processamento está em nível de


programa, ou seja, diferentes programas realizando diferentes tarefas, e as
variáveis (matrizes ou vetores) necessárias em outro (s) processador (es) são
transferidos pela interconexão existente no sistema de trocas de mensagens;
• Processamento paralelo: ocorre quando a paralelização está em nível de
rotinas e processos. Assim, para um mesmo programa, pode-se dividir suas
subrotinas e/ou partes do processo entre os vários processadores;
• Processamento vetorial: a paralelização está em nível de laços e/ou
instruções, sendo que a técnica mais empregada neste tipo de procedimento é
a técnica de pipeline.

2.2.1.1 Multiprocessadores
Uma maneira de aumentar o nível de paralelismo é realizar diferentes instruções
sobre os dados com o uso de vários processadores independentes simultaneamente.
Uma gama muito grande de computadores enquadram-se nesta classificação,
sendo que a forma de conexão entre eles (interconexão), o número de processadores
interligados (granulometria) e, principalmente, a arquitetura da memória (local ou
global) são parâmetros que distinguem os vários grupos de multiprocessadores
existentes.
O tipo de acesso à memória é um fator que abre caminho para duas novas formas
bem distintas de desenvolvimento de algoritmos para o maior aproveitamento de sua
arquitetura específica. Por um lado, há os computadores com memória global
(memória compartilhada), onde todos os processadores têm acesso a ela. Por outro lado,
existem os computadores onde cada processador tem sua memória local (memória
distribuída). Assim, as alterações são feitas localmente e os dados são conhecidos pelos
demais processadores mediante a troca de mensagem ocorrida pela rede. Com estes dois
tipos de modelos de sistemas existentes, são apresentadas, algumas vantagens e
desvantagens inerentes a ambos os paradigmas de memória:

Memória Compartilhada: conforme DeCEGAMA (1989) três problemas ocorrem com


este tipo de memória: conflito de software, de hardware e alto custo para escalabilidade.
O conflito de software ocorre quando dois ou mais processadores alteram a
mesma variável sem a devida sincronização das instruções. Sabe-se, então, que a
sincronização dos processos entre os vários processadores tem fator importante para
evitar este problema, que é conhecido como racing condition.
O conflito de hardware está ligado ao acesso simultâneo de um ou mais
processadores à memória, devendo-se também usar métodos de sincronização para o
controle de busca e envio de dados na memória pelos diferentes processadores
O terceiro empecilho que tem causado o não avanço deste tipo de arquitetura
refere-se ao alto custo para aumentar o número de máquinas que podem ser ligadas para
acesso à memória. Isto porque para se fazer uma arquitetura em que se tenha, por
exemplo, 8 processadores próximos e que tenham acesso à memória, é necessário
sistemas de controle de temperatura e de ligação entre processador e memória.
Memória Distribuída: conforme DeCEGAMA (1989), é mostrado que os computadores
de memória distribuída têm dois tipos de conflito que devem ser ressaltados.
O primeiro refere-se a forma de se particionar os dados entre os vários
processadores e trocando mensagens para atualizar as dependências entre as várias

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 5

partes divididas do mesmo problema. Contudo, estas trocas de mensagens acarretam


uma grande perda de tempo no processo e quanto mais dependente for o algoritmo
numérico mais lento é o envio e o recebimento de dados entre os processadores.
A outra forma de conflito é a pouca disponibilidade de compiladores
autoparalelizantes, ou seja, aqueles que averiguem os pontos que possam ser
implicitamente paralelizados sem a necessidade de adaptar os programas existentes para
computadores convencionais. Alega-se a insuficiência de tais compiladores devido a
complexidade que existe para este procedimento.
Mas estes dois problemas de conflito, destacados por DeCEGAMA (1989), têm
sido objeto de estudo para serem superados por pesquisadores do mundo inteiro desde
há última década (80), citando os trabalhos de NOOR & PETERS (1989), JOHNSSON
& MATHUR (1990), FARHAT & ROUX (1991). Estes autores procuram diminuir tal
empecilho, estudando novos procedimentos numéricos para se obter o mínimo possível
de trocas de mensagens. Isto fez com que novas rotinas, até então já bem definidas,
fossem abordadas sob outro enfoque como, por exemplo, a resolução de sistemas
lineares advindos do MEF, que de maneira geral, era resolvido mediante métodos
diretos. Começaram-se a explorar métodos iterativos para se resolver o mesmo
problema, citando-se o trabalho de SCHMIT & LAI (1994).

3 O MEF ADAPTADO AOS MULTICOMPUTADORES

Para a resolução de estruturas via MEF, o procedimento numérico necessário


para se obter os parâmetros do domínio da estrutura estudada é, sucintamente, dado por:
a) montagem da matriz de rigidez (KEL) dos elementos de uma estrutura: para
cada elemento, calcula-se sua matriz de rigidez local e esta é alocada na posição global
da matriz de rigidez da estrutura (K): elemento por elemento;
b) obtenção das ações nodais equivalentes (F): com as ações aplicadas na
estrutura, estas são transformadas em forças nodais, montando-se o vetor de ação (F);
c) solução do sistema linear e obtenção dos deslocamentos nodais (U): resolve-
se o sistema linear ([K]{U}={F}), obtendo os deslocamentos do domínio da estrutura;
d) cálculo das tensões de cada elemento: com as relações entre tensão-
deformação usadas pelo modelo, avaliam-se as tensões de cada elemento.

Como este método (MEF) é baseado em parâmetros que incluam todo o domínio
da estrutura, isto faz com que o sistema linear, principalmente a formação da matriz de
rigidez da estrutura, tenha dimensões proporcionais ao número de nós vezes o grau de
liberdade do modelo usado. Chega-se a uma dicotomia interessante: por um lado, a
maior discretização do problema leva a resultados mais próximos do real e, por outro
lado, quanto maior esta discretização, maior a necessidade de espaço físico de memória
e de manipulação de grande quantidade de dados pelo processador. Isto causa uma
limitação de custo e tempo. Assim, o impacto do processamento em paralelo com o uso
de metodologias de divisão do problema em subproblemas têm aberto um outro campo
de interesse na engenharia.

3.1 Técnica da subestruturação

A técnica da subestruturação consiste em se dividir o domínio da estrutura em


subestruturas entre pontos internos (nós internos) e pontos do contorno dessa sub-região
(nós externos). Dessa forma, para não se montar a matriz de rigidez com todos os

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parâmetros do domínio da estrutura, relacionam-se os nós internos do domínio com os


externos mediante a “condensação” da rigidez desses primeiros e associando-as aos
parâmetros externos do contorno da sub-região. Assim, tem-se no final, uma matriz de
rigidez apenas em função das incógnitas dos deslocamentos desses nós externos,
diminuindo relevantemente o sistema linear a ser resolvido. Após esses deslocamentos
dos nós externos de cada sub-região serem conhecidos, calcula-se os deslocamentos e as
tensões dos pontos internos. Esquematicamente, tem-se
1 /2
1
2

N O S IN T E R N O S
D O D O M IN IO 1 N O S IN T E R N O S
D O D O M IN IO 2

N OS DO CONTORNO

Ω1 : KΩ 1 , FΩ 1 Ω1 : UΩ 1 , σΩ 1
Cond. estática KΓ 1 , FΓ 1
⇒ K Γ1/ 2 , FΓ1/ 2 ⇒ UΓ½
Ω2 : KΩ 2 , FΩ 2 dos nós internos KΓ 2 , FΓ 2 Ω2 : UΩ 2 , σΩ 2

Figura 3.1 - Esquema da técnica de subestruturação em dois subdomínios

3.2 Decomposição em Domínio

Uma das formas mais imediatas de se usar o paralelismo em elementos finitos é


dividindo-se a malha gerada em sub-regiões. Este procedimento é conhecido como a
técnica da decomposição em domínio, a qual é empregada subdividindo-se o domínio
de um corpo em subdomínios tais que cada um ou vários são alocados em processadores
diferentes, independentemente. Esta forma de se resolver um problema de MEF tem
sido utilizado por muitos pesquisadores, citando-se os trabalhos de FARHAT & ROUX
(1991), SAXENA & PERUCCHIO (1992), BITZARAKIS et al. (1997) e ADELI &
KAMAL (1992), que aplicam a técnica de decomposição em domínio.
Para se otimizar a utilização da técnica da decomposição em domínio, deve-se
ter em mente que a divisão da malha não deve ser feita aleatoriamente. Isto porque,
como cada conjunto de subdomínios vai estar em um determinado processador, nada
impede que em cada um desses haja uma maior quantidade de graus de liberdade do que
em outro processador, podendo acarretar uma divisão da carga de trabalho desigual.
Outro critério também importante para a melhor utilização da técnica de decomposição
em domínio, é procurar gerar o menor número possível de nós na interface para que a
comunicação entre os processadores seja mínima, ver NASCIMENTO et al. (1997).
Aproveitando-se as técnicas da subestruturação, estas têm sido implementadas
recentemente no método da decomposição em domínio. O procedimento para esta
otimização consiste em se fazer com que as variáveis de cada domínio interno sejam
lançadas para as interfaces das subestruturas, sendo que os parâmetro da interface
podem ou não estar em um mesmo processador. Resolve-se o sistema particionado entre
os processadores apenas com os nós do contorno, fazendo as trocas de mensagens
necessárias entre os processos. Finalmente, para cada processador com posse dos
deslocamentos das interfaces dos subdomínios, calculam-se seus parâmetros internos.

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3.3 Simples particionamento do sistema linear

No procedimento anterior, mostra-se que para o emprego adequado daquela


técnica deve se preocupar, principalmente, com a forma em que a malha é dividida.
Com isso, quando se altera o número de processadores, o domínio é dividido de forma
diferente, comprometendo o desempenho do algoritmo desenvolvido. Mediante esse
“gargalo” apresentado acima e aproveitando-se o trabalho de REZENDE (1995),
propõe-se aqui uma outra alternativa de particionamento do domínio para a abordagem
em computadores de arquitetura paralela com memória distribuída: o simples
particionamento do sistema linear. Antes de se descrever o procedimento propriamente
dito, apresenta-se, de forma genérica, o que foi desenvolvido por REZENDE (1995).

3.3.1 Abordagem Nodal


Em REZENDE (1995) é proposto a montagem da matriz de rigidez via
abordagem nodal. Assim, determinam-se todos os elementos associados a um mesmo nó
e, então, uma varredura de todos os nós é feita e, desta forma, vai se contabilizando a
contribuição de todos os elementos para cada nó, montando então a matriz de rigidez da
estrutura linha a linha, esquematicamente tem-se
(a)
(b) x ...... x ...... x
4

3 [K5] x ...... x ...... x


(3 x 18)
1 4 =
2
(c)
3 •
1
6 •
[K]
5 • → K5
2
• (18 x 18)

Figura 3.2 - Montagem da matriz de rigidez c/ abordagem nodal em um modelo c/ três graus de
liberdade (Adaptado de Rezende (1995).

É observado na figura 3.2a, uma malha plana de uma estrutura genérica com a
numeração dos elementos e dos nós. Em 3.2b, mostra-se a montagem da matriz de
rigidez apenas dos parâmetros do nó 5, e na figura 3.22c esquematiza-se a alocação da
parcela referente ao nó 5 na matriz global.

3.3.2 Montagem da matriz de rigidez em paralelo via abordagem nodal


Mesmo o estudo realizado por REZENDE (1995) tendo sido feito pensando em
computadores de memória compartilhada, ou seja, todos os processadores têm
conhecimento de todas as variáveis do sistema, aproveita-se neste trabalho sua técnica
de abordagem nodal para a montagem da matriz de rigidez da estrutura em
computadores paralelo de memória distribuída.
Tal fato é possível porque em multicomputadores, para se aproveitar os vários
processadores trabalhando concorrentemente, pode-se dividir os graus de liberdade de
toda a estrutura dentre os vários processadores impostos e, via abordagem nodal, ir
montando linha a linha em cada processo uma subparte da matriz.
Este procedimento difere do apresentado pela técnica da decomposição em
domínio, porque neste último divide-se o domínio físico e no que é proposto aqui
divide-se o domínio dos graus de liberdade. A grande vantagem da técnica realizada
neste trabalho é que o balanceamento de cargas pode ser feito facilmente, já que apenas

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8 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

com o número total de graus de liberdade e com o número de processadores obtêm-se


uma divisão bem equilibrada. Como a quantidade total de graus de liberdade não
necessariamente é um valor múltiplo do número de processadores requeridos, a
diferença existente entre cada processador, no balanceamento da distribuição, é dada
pela seguinte relação apresentada na figura (3.3):
η= ( graus de liberdade) ∗ (n° nós ); (total de equações)
n = n° de processadores; ( n << η)
k = int(η/n)
resto = η- k ∗ n P1 P2 ••••• Presto PN-1 PN
Processador (n) ••••
P1 → Pn = k (*)
Se resto ≠ 0 n° de graus de (k+1) (k+1) •••• (k+1) •••• k k
P1 → Presto = 1 (**) liberdade
Total de k k •••• k •••• k k (*)
Fim de Se (η / n) 1 1 •••• (**)

Figura 3.3 – Pseudo-algoritmo e balanceamento da divisão de dados entre os


processadores

A abordagem nodal é realizada simultaneamente em todos os processos. O


mesmo procedimento é feito com o vetor de ações e com o vetor deslocamento. Na
figura (3.4) mostra-se o procedimento utilizado.
Faça em Paralelo

Leitura de Dados

P1 P2 •••••• PN-1 PN

K1= K2= ••••• KN-1= KN=

F1 = FN-1= FN=
F2 =
Instruções p/ a
resolução do sistema

Fim do Paralelo

Figura 3.4 - Esquema geral da técnica utilizada para o simples particionamento

3.4 Esforços por elemento

Os esforços que devem ser obtidos em nível de elemento são de fácil obtenção
em paralelo. Assim, neste trabalho usou-se os seguintes procedimentos:
- fazer com que todos os processadores conheçam os deslocamentos de toda estrutura;
- para cada processador, aplicando-se as relações entre deslocamento, deformação e
tensão-deformação, obter as deformações e os esforços elemento por elemento;
- todos os processadores (escravos), menos o primeiro (mestre), enviam seus valores de
deformação e esforços para o mestre imprimir.

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 9

Na figura (3.5), mostra-se esquematicamente o procedimento discutido neste item.

Faça em Paralelo

Resolução do
Sistema

U1 U2
••••• UN-1 UN

Uglobal

Uglobal Uglobal Uglobal Uglobal

εP 1
εP 2 •••• εP N −1
εP N

σP 1
σP 2
σP N −1
σP N

Enviam para
o processador

Imprime:

Fim Paralelo

Figura 3.5 - Esquema geral utilizado para a obtenção dos esforços em cada elemento

3.5 Esforços por nó

Os esforços obtidos por nós, aproveitando-se o procedimento realizado para se


obter os esforços por elementos, foram feitos da seguinte maneira:

• obtêm-se os esforços nodais deste elemento, alocando estes em um vetor {Aux} em


uma posição referente ao seu nó;
• ao final, todos os processadores enviam este vetor para o processador mestre e assim
faz-se uma somatória global destes esforços;
• um vetor é criado com o número de elementos que concorrem nodalmente;
• tira-se a média dos esforços por nó.
Esquematicamente, na figura (3.6), é apresentado o que fora feito neste item.

Ω1:
Ω2:
P1 9
P2 σ 1k + σ 9k nó k
1
7
{Aux}2 = . . . . . . . .
........
.. .......
k
..
{Aux}1 = σ k
7 nó k
.. Γ1/2
..
Figura 3.6 - Obtenção do vetor {Aux} nos diferentes processadores

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10 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

Após todos os processadores (np) montarem o vetor auxiliar ({Aux}), enviam-no


para o processador mestre, fazendo então a somatória dos esforços e, linha a linha,
obtendo os esforços nodais médios, ou seja:
np n _ nós { Aux}
• mestre: {Aux} = ∑ { Aux} j ; {Média_esforços} = ∑ ( )i
j =1 i =1 {Elem _ Conc}

4 RESOLUÇÃO DO SISTEMA LINEAR

4.1 Resolução do sistema linear em processamento paralelo

Com o início da utilização do processamento paralelo aplicado ao campo da


engenharia, principalmente para a resolução de um sistema linear, os métodos iterativos
começaram a se destacar. Isto pelo fato que estes métodos possuem características
adequadas a este tipo de arquitetura, como boa versatilidade e o procedimento onde se
faz, a cada iteração, o produto matriz-vetor.
A boa versatilidade no tratamento de sistemas esparsos significa que para
sistemas muito grandes, pode-se ao invés de se armazenar toda a matriz de rigidez em
banda de dimensão (n ⋅ m) , guarda-se - em vetores – apenas as posições diferentes de
zero, já que a matriz [K] não irá ser alterada.
Em relação ao produto matriz-vetor, a vantagem oferecida pelo método se
apresenta, principalmente, para aplicação em sistemas de multicomputadores, já que
pode-se dividir os dados da matriz entre os diversos processadores e se realizar o
produto sob estes diferentes dados em cada processador local, tendo-se que apenas após
este produto, atualizar globalmente o vetor resultante desta operação, trocando-se
mensagens.
Alguns trabalhos que comentam as vantagens de se aplicar os métodos iterativos
para análise em processamento em paralelo são: CUMINATO & MENEGUETTE
(1998), GROSSO & RIGHETTI (1988), LAW (1986) e BITZARAKIS et al. (1997).
Para o trabalho aqui apresentado, a resolução do sistema foi realizada via um
método iterativo denominado de método dos gradientes conjugados.

4.2 Método dos Gradientes Conjugados

O Método dos Gradientes Conjugados é aplicado sobre a matriz [K], sendo esta
simétrica e positiva definida.
O Método dos Gradientes Conjugados (GC) é baseado na estratégia do método
da descida íngreme. Nessa estratégia, é escolhido um ponto {U0}, como valor inicial, e
mediante uma série de aproximação {U1}, {U2}, {U3}...., {Un}.
Assim, aplicando as técnicas do cálculo variacional no sistema linear, chega-se a
expressão:

1
Φ(Up+αrp)= ({U p } + α ⋅ {rp }) T ⋅ [ K ] ⋅ ({U p } + α . ⋅ {rp }) − ({U p } + α . ⋅ {rp }T ) ⋅ {F }
2
(4.1)

onde {rp} é o vetor resíduo, dado por:

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 11

{rp} = {F } − [ K ] ⋅ {U 0 } (4.2)

O valor do escalar α para que Φ({Up}+α{rp} ) seja mínimo é

{rpT } ⋅ {rp }
α CRITICO = (4.3)
{rpT } ⋅ [ K ] ⋅ {rp }

e então, a próxima aproximação do vetor {U} será,

{U p +1 } = {U p } + α critico ⋅ {rp } (4.4)


Para o Método dos Gradientes Conjugados (GC) é usado a estratégia de sempre
ir buscando direções ortogonais {p0}, {p1}, {p2},....., {pn-1} às direções já calculadas no
passo anterior. Para cada uma dessas direções, se encontrará uma das coordenadas de
{U}, com isso, após n passos, que é a dimensão de {U}, o processo terminará e a
solução procurada é encontrada. A aproximação do vetor {U} fica neste processo:

{u j +1 } = {u j } + α j { p j } (4.5)

e a garantia para atingir a ortogonalidade das direções de {pi} e {pi+1} de forma que
sejam K- ortogonais é:

{ piT } ⋅ [ K ] ⋅ { p j } = 0 , para i ≠ j (4.6)

e o pseudo- algoritmo do Método dos Gradientes Conjugados é apresentado na figura


(4.1).
Os teoremas (4.1) e (4.2), que têm suas respectivas demonstrações em
CUMINATO & MENEGUETTE (1998) e LUENBERGER (1969), complementam os
critérios de convergência do método:

Teorema 4.1: Se as direções de busca {p0},....., {pn-1} são K-conjugados (K-ortogonais)


{ p Tj } ⋅ [ K ] ⋅ {r j }
e o escalar αj é escolhido da forma que: α j = − T então o processo
{ p j } ⋅ [K ] ⋅{ p j }
termina em, no máximo, n passos, onde n é a dimensão da matriz quadrada [K].
Teorema 4.2: Seja [K] simétrica e definida positiva, o algoritmo dos GC produz uma
seqüência de vetores {U0},.. , {Uj}.., com a seguinte propriedade:

κ −1 κ
{U } − {U j } ≤ 2 ⋅ {U } − {U 0 } K ⋅ ( ) (4.7)
K
κ +1

λmax
onde κ= e λmáx e λmín são, respectivamente, o maior e o menor autovalor de [K] e
λmin
κ é conhecido como número de condição.

Em relação ao que foi exposto nos teoremas (4.1) e (4.2), duas questões têm que
ser salientadas:

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12 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

1) Pelo teorema (4.1), o Método dos GC é matematicamente um método direto. Isto


porque se conhece inicialmente o número máximo de iterações. Mas, numericamente,
em virtude da limitada precisão numérica computacional existente, as direções
conjugadas não são precisamente alcançadas, fazendo com que - muitas vezes – o limite
de convergência não seja finito. Costuma-se chamá-lo , de método iterativo.

→ p0 = r0 = F - K U0 → rj+1 = rj - αj K pj
→j=1
r jT+1 ⋅ r j+1
→ βj =
→ Enquanto rj < ε (critério de parada) r jT ⋅ r j

r jT ⋅ r j → pj+1 = rj+1 + βj+1 pj


→ αj = → j =j + 1
p Tj ⋅ K ⋅ p j
→ Fim Enquanto
→ Uj+1 = Uj + αj pj

Figura 4.1 – Pseudo-algoritmo do método dos gradientes conjugados

2) Pelo teorema (4.2) e pela equação (4.7) dois fatores influenciam na convergência do
método dos gradientes conjugados: a aproximação inicial {U0} e no número de
condição (κ).

• Em relação a aproximação inicial, em geral, na literatura é comentado que este fator é


de pouca importância para a eficiência do método. Entretanto, no trabalho de SCHMIT
& LAI (1994) é apresentado um estudo de otimização onde se obtêm uma aproximação
inicial para o vetor {U0}. E nos últimos anos, a pesquisa na área de inteligência artificial
tem dado atenção a este item, onde a estratégia é criar bancos de dados de deformações
e/ou de esforços de determinados modelos estruturais e, assim, aplicar algoritmos
especiais - conhecidos como meta-algoritmos – para se otimizar a aplicação deste
método. No trabalho de GROSSO & RIGHETTI (1988) é feito um estudo introdutório
neste assunto para aplicação no MEF.
•Pela equação (4.9), nota-se que a influência da variação do número de condição (κ) na
convergência do método, é mais significativo do que a aproximação inicial {U0}, assim,
quanto maior é a diferença entre os autovalores da matriz [K], mais demorada é a
convergência do método. Assim, busca-se técnicas para se ter um número de condição
(κ) de [K] o mais próximo do valor unitário.

Nos últimos cinco anos, extensos estudos têm sido dedicados à busca de técnicas
matemáticas para se obter um número de condição (κ) o mais próximo do valor um.
A idéia básica é de ao invés de se resolver o sistema [ K ] ⋅ {U } = {F } , resolve-se
um sistema do tipo [ M ] ⋅ [ K ] ⋅ {U } = [ M ] ⋅ {F } , tal que a matriz obtida do produto seja o
mais próximo possível da matriz identidade. Esta matriz [M], é conhecida como pré-
condicionador, que nada mais é do que um acelerador de convergência para o método.

4.3 Pacote PIM

Para a implementação em paralelo do método dos Gradientes Conjugados (GC)


utilizou-se o pacote de subrotinas PIM, ver CUNHA & HOPKINS (1998), que foi
desenvolvido para a resolução em ambiente paralelo de sistemas lineares.

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 13

O pacote PIM, tem o intuito de dar total liberdade ao usuário no que se refere ao
armazenamento da matriz, bem como oferecer portabilidade aos diversos tipos de
ambientes de programação em computadores paralelos. Para se atingir estes dois
fatores, três pontos que são de responsabilidade do usuário para serem implementados
no método são:
• O produto matriz-vetor;
• A implementação com o pré-condicionador (se houver);
• Produtos internos dos escalares e critério de parada.

4.3.1 Produto matriz-vetor


Apresenta-se aqui a metodologia heurística desenvolvida para se poder
aproveitar as características advindas do modelo do MEF comum: simetria e
esparsidade. Para se realizar o produto matriz-vetor de um sistema em banda é
necessário efetuar o produto de cada valor da matriz duas vezes (menos para os valores
da primeira coluna que representam a diagonal principal), ou seja:

• Para a linha i, o valor [Kij] multiplica o valor do vetor {Uj}, armazenando


este valor na linha i (se i≠j);
• Para a linha j, o valor [Kij] multiplica o valor do vetor {Ui} e armazena-o em
j (se i≠j).

Desta forma, na figura (4.2) mostra-se esquematicamente o procedimento


empregado para se executar o produto matriz-vetor sendo a matriz em semibanda em
paralelo. Na figura (4.3), apresenta-se esquematicamente o procedimento em forma de
pseudocódigo da metodologia empregada para se fazer o produto matriz-vetor com a
matriz em semibanda. Resumidamente, tal procedimento é explicado como:

A B C D E F G H I a Aa+Bb+Cc+Dd+Ee+Ff+Gg+Hh+Ii
P1 J K L M N O P Q R b Ba+Jb+Kc+Ld+Me+Nf+Og+Ph+Qi+Rj
c Ca+Kb+ • • • •
d Da+Lb+ • • • •
P2 e Ea+Mb+ • • • •
f Fa+Nb+ • • • •
g Ga+Ob+ • • • •
h Ha+Pb+ • • • •
P3 i = Ia+Qb+ • • • •
j
k • • • • •
P4 l • • • • •
• • • • •
. • • • • • •
• • • • • •
• • • • •

Figura 4.2 – Produto matriz-vetor para multicomputadores


LEGENDA:
→ valores que devem ser conhecidos pelo processador 2
→ valores que devem ser conhecidos pelo processador 3
→ valores que devem ser conhecidos pelo processador 4

→ envio dos subprodutos

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14 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

• Para cada processador em cada passo, gera-se um vetor auxiliar ({Aux}) que
contenha as características do deslocamento ({U}), que é referente aos valores das
posições armazenadas em sua memória local e as posições que estão nos
processadores adjacentes que influenciam em seu produto local. Desta forma é
necessário fazer troca de mensagem destes valores não conhecidos por cada
processador.
• Para cada processador, obtêm-se os valores do vetor ({V}) resultante do produto
local, os quais foram gerados pelo próprio processo. Cria-se um outro vetor auxiliar
({S}) que armazena os valores de um produto local, advindo da simetria, mas, que
devem ser conhecidos pelos processadores adjacentes;
• Finalmente, em cada processador - menos o primeiro – somam-se os seus valores
resultantes locais com os produtos gerados pela simetria, ou seja o vetor ({S}), que
foram obtidos pelos outros processadores adjacentes.
P1 P2 Pn-1 Pn

{U}P1 {U}P2
{U}P2 {U}P3 {U}Pn-1
{Aux} = .... {Aux} = .... •• {Aux} = {Aux} =
{U}Pn
{U}Pk {U}Pn
{U}Pk

{V}P1= [K]{Aux} {V}P2= [K]{Aux} {V}Pn-1=[K]{Aux} {V}Pn=[K]{{U}Pn}

{S}= [K]{ {U}P1} {S}= [K]{ {U}P2} {S}=[K]{ {U}Pn-1} {V}Pn=


P3→Pn Pn {V}Pn+{S}Pn
P2→Pn {V}P2= {V}Pn-1=
{V}P2+{S}P2 {V}Pn-1+{S}Pn-1
Pi→Pj : processador i envia para os processadores (i+1) até j

Figura 4.3 – Procedimento esquemático do algoritmo para o produto matriz-vetor

4.3.2 Produto Interno


Conforme apresentado pelo algoritmo da figura (4.1), verifica-se a necessidade
de se realizar um produto interno do tipo α = {u T } ⋅ {v} = ∑i =1{u i } ⋅ {vi } , onde {u} e
n

{v} são vetores distribuídos dentro dos diversos processadores. Sem perda de
generalidade, assume-se que cada processador armazena n p elementos, onde n é o
total de graus de liberdade da estrutura e p é número de processadores.
Este procedimento computacional em paralelo pode ser dividido em três partes:
1. A computação local de cada processador é dada por β j =

n p
i =1
{u i } ⋅ {vi } para cada processador;
2. A acumulação dos valores de β j é feita através da seguinte forma
apresentada na figura (4.4), com um exemplo com 7 processadores em grupo
e obtêm-se: α = ∑ j =1 β j e armazena-se no processo pai
p

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 15

β1

β2 β3

β4 β5 β6 β7

Figura 4.4 – Modelo de transferência de dados em árvore

3. Transmite-se, assim, para todos os processadores o valor de α .

5 PRÉ-CONDICIONADORES

5.1 Introdução

A técnica do pré-condicionamento consiste em transformar a equação (3.1) em


um sistema equivalente do tipo:

~ ~ ~
[ K ]⋅ [U ] = [ F ] (5.1)

Para que isto não ocorra, as características da matriz pré-condicionadora [M]


tem quer ser as mesmas que a da matriz de rigidez [K], para garantir a equivalência de
sistemas e com isso as mesmas propriedades necessárias para o método dos GC. Além
disso, esta matriz [M] tem que ser uma boa aproximação da matriz [K], mas que tenha
uma estrutura tal que seja fácil obter a sua inversa. Em resumo, a técnica de pré-
condicionamento consiste em se pré-multiplicar o sistema linear de modo que a matriz
~
gerada pelo produto [ K ] = [ M ] −1 ⋅ [ K ] seja melhor condicionada que a matriz original
[K]. Isto é possível fazendo com que a matriz [M]-1 se aproxime de [K]-1. Ou seja, do
sistema inicial, pré-multiplica-se pela inversa da matriz pré-condicionadora:

([ M ] −1 ⋅ [ K ]) ⋅ {U } = [ M ] −1 ⋅ {F } (5.2)

~
a matriz de rigidez alterada ( [ K ] ) melhor condicionada é dada por:

~
[ K ] = [ M ] −1 ⋅ [ K ] (5.3)

de modo que quanto mais [M]-1 se aproxime de [K]-1, tem-se, no limite, a relação
~
lim κ ( K ) = 1 ou lim ite = 1 (5.4)
M-1→K-1 M-1→K-1

A estratégia numérica buscada no estudo destes pré-condicionadores é a


obtenção de uma matriz especial que seja a mais próxima possível da inversa de [K],

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16 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

contudo, com um reduzido esforço computacional para a sua montagem e a garantia da


eficácia para a convergência do sistema equivalente.

5.2 Algoritmo do método GC com pré-condicionamento

A adaptação do pseudo-algoritmo apresentado pela figura (4.1) do método dos


GC puro, considerando-se o efeito do pré-condicionamento, é feita da seguinte forma

~
{r p } = [ M ] −1 ⋅ {F } − [ M ] −1 ⋅ [ K ] ⋅ {U } (5.5)

Ou, implicitamente, pode se escrever a equação (5.5) da seguinte maneira:

~
{r p } = [ M ] −1 ⋅ {rp } (5.6)

Assim, a figura (5.1) apresenta o pseudo-algoritmo implícito para a implementação com


um pré-condicionador genérico.

→ r0 = F - K U0
→ rj+1 = rj - αj K pj
→ montar [M]-1 → z0 = [M]-1. r0
→ zj+1 = [M]-1. rj+1
→ p0 = z0 / j = 0
r jT+1 ⋅ z j +1
→ Enquanto (algum critério de parada) → βj =
r jT ⋅ z j
r ⋅zj
T

αj =
j
→ → pj+1 = zj+1 + βj+1 pj
p Tj ⋅ K ⋅ p j
→ j =j + 1
→ Uj+1 = Uj + αj pj
→ Fim Enquanto

Figura 5.1 – Pseudo-algoritmo do método GC com pré-condicionador

Foram implementados neste trabalho 2 tipos de pré-condicionadores:


decomposição incompleta de Cholesky (IC :Incomplete Cholesky), e o advindo de uma
série polinomial truncada, conhecido na literatura como POLY.

5.3 Decomposição Incompleta de Cholesky (IC)

O IC parte da idéia de se obter a matriz pré-condicionadora pela fatorização de


[K] em uma decomposição de Cholesky, ou seja

[ K ] = [ L] ⋅ [ LT ] (5.7)

onde [L] é uma matriz triangular inferior e [LT] é a sua transposta.


Nestas matrizes triangulares, os valores negligenciados podem ocorrer em
lugares arbitrários3 (mas fora da diagonal principal) e as posições (i,j) não nulas serão
indicadas por um conjunto P que é descrito a seguir:

3
Não tão arbitrários assim, pois dependendo da escolha destas posições, a matriz incompleta [L] pode
não ser positiva-definida.

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 17

P ⊂ PN ≡ { (i , j) | i ≠ j, 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ n } (5.8)

Desta forma, pode-se escolher um campo de preenchimento das matrizes [L],


onde o par (i,j) indicará as posições de todos os valores diferentes de zero.
Por exemplo, seja o campo dado pelo conjunto:

P1 ≡ { (i , j) ⎪ |i - j| ≠ 0, 1, 2 } (i, j = 1 ... n) (5.9)

Sendo este campo esquematicamente representado pelas seguintes posições indicadas


em P1:
0
aij → | i-j | = 0
c
a bij , dij → | i-j | = 1
[K] b
d
= cij , eij → | i-j | = 2
e
0 (i, j = 1 ... n)

Figura 5.2 –Campo considerado de [K] para montar [L]

Assim, ao se montar as matrizes [L], apenas as posições dadas pelo conjunto P1


serão consideradas e as demais serão anuladas.
Apresenta-se na figura (5.3), o pseudo-algoritmo conhecido na literatura – por
exemplo em GOLUB & LOAN (1984) - que constrói a matriz triangular inferior [L]
através da matriz original do sistema [K], sendo que este pseudo-algoritmo foi adaptado
para se armazenar a matriz [L] em banda, onde m é o comprimento de semibanda.

→ Faça i = 1, n aux = aux+1


→ Faça j = 1 , m Faça i=1, m

→ L(i,j) = K(i,j) se (aux ≤ m) a1=L(k,aux)

→Fim de Faça senão a1=0

→Fim de Faça se (j-k+i > m) a2=0


senão a2 = L(k,j-k+i)
Faça k=1, n
se (L(j,i) = 0) L(j,i)=0
L(k,1)= L(k ,1) senão
Faça i =2, m L(j,i) =L(j,i) - a2 ⋅ a1
L(k,i) =L(k,i) / L(k,1)
Fim de faça
Fim de Faça
Fim de faça
aux=1
Fim de faça
Faça j = k+1, n

Figura 5.3 – Pseudo-algoritmo da montagem de [L] no método IC

5.3.1 Variações dos espectros sobre L


Desenvolveu-se um algoritmo em que o espectro de influência sobre as posições
não nulas na matriz [L] são variáveis de entrada do problema. Pode-se, assim, ser
escolhido o comprimento de influência das diagonais a partir da diagonal principal,
como também a partir da última diagonal não nula, conforme figura (5.4).
Desta forma, utiliza-se o pseudo-algoritmo mostrado na figura (5.1), adaptando-
o para que as posições de influência determinada pelo campo de m1 e m2 sejam
consideradas, negligenciando os valores fora deste espectro para se montar [L].

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18 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

m1 m

0
[K] =
simétrico

Figura 5.4 – Espectro de influência de m1 e m2 sobre [K]

Como os valores de m1 e m2 podem não ser iguais, neste trabalho não poderia
ser utilizado a abreviatura apresentada em MEIJERINK & van der VORST (1977). Por
isso, criou-se uma referência específica para a abreviação do método para se incluir os
parâmetros m1 e m2.Como exemplo, considere um campo de P tal que m1 = 4 e m2 = 3.
Assim, o conjunto P será denominado de Pmm1 2 e será dado por:

P43 ≡ { (i , j) ⎪ |i - j| ≠ 0, 1, 2,3,m-3,m-2,m-1 } (5.10)

A notação para a utilização do método dos gradientes conjugados com este pré-
condicionador com influência genérica, será indicada por ICCG(m1,m2).

5.3.2 Paralelização do método IC


Nota-se pelo pseudo-algoritmo da figura (5.1) que este é próprio para se realizar
em programação seqüencial, já que a técnica em si é feita percorrendo-se todas as
linhas da matriz [K] e, então, a partir de cada linha, que chamaremos de linha-base,
altera-se as demais linhas e colunas abaixo desta linha–base, procedendo assim para
cada variação da linha-base. Para os diversos processadores que têm domínio sobre as
linhas que estão abaixo da linha-base, estes tem que esperar o processador que tem
controle da linha-base realizar a instrução sobre sua linha. Em seguida, este processador
envia esta linha para os processadores inferiores. Só então, estes podem realizar sua
instrução. Percebe-se, também, que se o (s) processador (es) tem (têm) domínio sobre as
linhas que estão acima da linha-base, e este (s) tem que ficar ocioso (s) esperando o
final do processo. A seguir, mostra-se de forma esquemática o procedimento discutido.

P1 Processador (P1) : ocioso

P2
LINHA-BASE
Processador (P2) envia linha-base p/
P3 e P4 e realiza seu processo
Processador (P3) : recebe linha-base e
P3
realiza seu processo

Processador (P4) : recebe linha


P4 base e realiza seu processo

Figura 5.5 – Obtenção da matriz [L] em programação paralela

5.4 Pré-condicionador Polinomial

O pré-condicionador polinomial é uma outra técnica para se obter a aproximação


da inversa da matriz [K], mediante uma aproximação para a inversa desta matriz com o

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 19

uso de uma expansão polinomial em potências de [K]. Parte-se, inicialmente, da


hipótese de que a matriz [K] tem que ser simétrica e positiva-definida e, então, pode-se
reescrevê-la da seguinte forma:

[ K ] = [ DS ] ⋅ ([ I ] + [ DS ] −1 ⋅ [ K ]) (5.11)

e, portanto, pode-se mostrar que se obtêm


∞ −
[ K ] −1 = {∑ {(−1) J ⋅ ([ DS ] −1 [ K ]) J }}[ DS ] −1 (5.15)
J =0

5.4.1 Pré-Condicionador Polinomial Incompleto


Neste trabalho, extrapolando o conceito da fatorização incompleta apresentada
no item anterior, aplicou-se esta técnica para a série polinomial.
Para cada aproximação da série pelo truncamento da potência, realizou-se
também um truncamento sobre o número de colunas da matriz que está sendo
multiplicada por ela mesma, ou seja, [ K ] J . Monta-se, então, a aproximação pela série,
considerando apenas as colunas que estejam mais próximas da diagonal principal, já que
são estes elementos que tem valores mais relevantes para obtenção da inversa de [K].
Em função da possibilidade de se variar o espectro de influência sobre o produto
da matriz por ela mesma, desenvolveu-se uma outra notação para especificar o tipo de
série polinomial e o número de diagonais (m1), a partir da diagonal principal, que serão
consideradas. Desta forma utilizando a notação apresentada anteriormente incluiu-se
apenas o número de diagonais, ou seja, a notação fica POLY (nT , m1).

5.5 Aplicações

Apresenta-se dois exemplos em que se comparam os dois métodos de pré-


condicionamento. Foram consideradas todas as colunas para o POLY, se indicará a
forma POLY(nT , m), onde m representa o comprimento de semibanda. Os resultados
foram obtidos em um microcomputador PENTIUM II 300 com 64 Mbytes e em
programação seqüencial.

5.5.1 Placa quadrada simplesmente apoiada


O modelo utilizado foi uma estrutura bidimensional de placa com elementos
DKT, sendo que as características geométricas do material e o tipo de carregamento é
apresentado a seguir. Também tem-se os resultados para o sistema sem o uso de pré-
condicionadores, considerando a matriz identidade como pré-condicionador.

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20 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

q
t = 1,0
L = 1,0
q=1
E = 10,92
ν = 0,3
q ε = 1E-4
{U0}T = {0..0...0....0}
norma euclidiana
aplicado ao resíduo
L
Figura 5.6 – Esquema da placa, sua orientação e parâmetros de geometria e do material

a) b)
Convergência compré-condicionadores
5000
Placa apoiada no bordo
10000
4500

9000
4000 ICCG(4,3)
ICCG(4,3) ICCG(6,8)
8000
3500 ICCG(6,8) POLY(0)
Número de iterações

POLY(0)
POLY(2,5)
POLY(2,5) 7000
3000 POLY(4,m)
POLY(4,m)
Identidade 6000
Identidade
Tempo (s)

2500

5000
2000

4000
1500

3000
1000

2000
500

1000
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000
0
Número de equações 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000
Número de equações

Figura 5.7a – Curva (número de iterações x N° de equações) para aplaca apoiada ao longo do
bordo
Figura 5.7b – Curva (tempo x N° de equações) para aplaca apoiada ao longo do bordo

Destaca-se o uso do ICCG (6,8) , que apresentou uma alta convergência tanto em
termos de número de iterações quanto em tempo.
O POLY(4,m), ou seja, o polinomial considerando-se todos os valores da matriz
[K] na montagem implícita da inversa de [K], demostrou alta convergência para o
número de iteração. Mas em função da grande quantidade de operações necessárias o
seu tempo de resposta foi deficitário. A adaptação adotada aqui para a montagem
incompleta do POLY(2,5), mostrou-se eficaz neste exemplo, sendo efetiva em termos
do baixo tempo necessário para convergência.

5.5.2 Chapa retangular com lados paralelos


Neste exemplo são apresentado os resultados de convergência, tanto em número
de iterações quanto em tempo, de uma estrutura plana formada por elementos de chapa.
O elemento finito utilizado para discretizar o modelo é o CST. Assim, na figura (5.8) é
mostrado a estrutura discretizada, a orientação dos elementos e as características
adotadas.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 1-32, 2005


Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 21

Modelo
E = 1,0
ν = 0,25
L L = 4,0
2 F = 1,0
t = 1,0
ε = 1E-4
{U0}T= {0..0...0....0}
norma euclidiana
L aplicado ao resíduo

Figura 5.8 – Esquema da chapa, sua orientação e parâmetros de geometria e do material

Número de Iterações x Número de Equações - Tempo x Número de Equações - Chapa


Chapa 1000

ICCG( 6,6)
ICCG(6,6)
ICCG( 4,3)
1200 ICCG(4,3)
750 Poly ( 0)
Poly (0)
Número de Iterações

Poly ( 2,5)
Poly (2,5)
Poly ( 4,m)

Tempo (s)
Poly (4,m)
Ident idade
800 Ident idade
500

400 250

0 0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 0 4000 8000 12000
Núm ero de Equações Núm e ro de Equaçõe s

Figura 5.9 – Curvas para a chapa

Para este exemplo, os resultados encontrados com o uso do pré-condicionador


ICCG(6,6) mostrou ser bem mais efetivo que os encontrados pelos demais pré-
condicionadores. O tempo de convergência com o uso do ICCG(6,6) foi
aproximadamente 60% menor que o encontrado pelo segundo melhor pré-condicionador
- Poly(2,5). Neste exemplo, o Poly(0) mostrou-se pouco eficiente quando comparado
com o exemplo anterior, apresentando nenhuma vantagem em relação ao método puro
dos gradientes conjugados (sem pré-condicionador). O Poly(4,m) não revelou bons
resultados de convergência nem em tempo e nem em número de iterações.

6 APLICAÇÕES EM PROCESSAMENTO PARALELO

6.1 Introdução

Este item apresenta dois exemplos de estruturas que foram analisadas em


processamento paralelo: pavimento e treliça tridimensional.
Para o primeiro caso, faz-se uma adaptação completa do código sequencial deste
modelo para computadores de arquitetura paralela. Assim, a ambientalização em
paralelo começa a partir da leitura de dados até a obtenção dos esforços de cada
elemento.
Com os resultados de tempo conseguidos com a variação do número de
processadores, fez-se assim a medida de desempenho de cada conjunto: número de
processador e pré-condicionadores. Tal análise é necessária para mostrar a menor ou
maior eficiência do uso do paralelismo nos dois exemplos com os pré-condicionadores
utilizados. Ressalta-se que os resultados são obtidos na máquina do CISC localizado no
campus da USP em São Carlos, sendo um computador com arquitetura paralela do tipo
IBM 9900/SP com 3 processadores com 256 Mbytes por nó, ver TUTORIAL do IBM
(1998) e TUTORIAIS do CISC (1998).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 1-32, 2005


22 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

6.2 Treliça Tridimensional

Rede A: 19208 elementos e 4901 nós


Rede B: 63368 elementos e 16021 nós
Rede C: 95048 elementos e 23981 nós

Figura 6.1 - Planta e perspectiva do modelo de treliça

A seguir, nas tabelas de (6.1) a (6.4), são apresentados os gráficos de speed-up


por número de processadores e de eficiência por número de processadores.
Para o caso dos pré-condicionadores advindo da decomposição incompleta de
Cholesky, escolheu-se 3 pré-condicionadores: ICCG(6,8), ICCG(4,3) e ICCG(3,1).
Rede A - Eficiência Rede B - Speed-up

100 3

2,5
75
2
Eficiência (%)

Speed-up

50 ICCG(6,8)
1,5
ICCG(6,8)
ICCG(4,3) ICCG(4,3)
ICCG(3,1) 1 ICCG(3,1)
Poly(0)
25 Poly(0)
Sem pré-condicionador 0,5 Sem pré-condicionador
Ideal Ideal
0
0
1 2 3
1 2 3
Número de Processadores Número de Processadores

Figura 6.2 –Eficiência e Speed-up da rede A

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 1-32, 2005


Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 23

Rede B - Eficiência Speed-up - Pavimento B

3
MPC - ICCG(6,6)
100
MPC - ICCG(3,1)
2,5
Mont ar Sist ema

75 Obt er esf orços


Eficiência (%)

2
Resolver KU=F - ICCG(6,6)

Resolver KU=F - ICCG(3,1)


50 ICCG(6,8)
1,5 Resolver KU=F - Poly(0)
ICCG(4,3)
ICCG(3,1)
Poly(0)
25 1
Sem pré-condicionador
Ideal

0,5
0
1 2 3
Número de Processadores 0
1 2 3
N úmero d e Pro cessad o res

Figura 6.3 – Eficiência e Speed-up da rede B

Os valores de speed-up e de eficiência encontrados para a treliça demonstram,


como era de se esperar, que o uso do paralelismo só se torna significativo quando tem-
se um número de equações do sistema relativamente grande, ou seja, a partir do modelo
B. Pelos valores encontrados para o modelo B, tanto para speed-up como para

Rede B - Tempo x Número de processadores Rede C - Tempo x Número de processadores


80000 ICCG( 6,8)

40000 ICCG(6,8) ICCG( 4,3)


ICCG(4,3)
ICCG(3,1 ) 60000 ICCG( 3,1)
Pol y(0)
30000
Tempo (s)
Poly(0)
Sempr é-condi ci onador
40000
Tempo (s)

Sem pré-
condicionador
20000

20000
10000

0
0
1 2 3
1 2 3
Núm ero de Processadores
Núm ero de Processadores

Figura 6.4 –Convergência em termos de tempo da rede B e C

eficiência, nota-se que com a maior quantidade de trocas de mensagens e também com a
maior dependência entre os diversos processadores, que ocorre com o uso dos pré-
condicionadores do tipo ICCG, a performance do sistema diminui a medida que
aumenta-se o número de processadores, no caso de 1, 2 e 3.
Por outro lado, um outro fator que, também, deve ser considerado na
performance do programa é o seu tempo comparativo de convergência para os diversos
pré-condicionadores sob os diversos processadores. Já que os medidores de desempenho
são parâmetros de comparação de eficiência do paralelismo no código computacional,
mas não mostrando a performance relativa de tempo entre os diferentes pré-
condicionadores. Por exemplo, o valor do speed-up para a rede B com o pré-
condicionador ICCG(6,8) foi de 1,9 enquanto que sem o uso de pré-condicionador
obteve-se um speed-up de 2,4, ambos com 3 processadores. Por outro lado, o tempo
requerido para resolver o sistema com o pré-condicionador ICCG(6,8) foi em torno de
5000 segundos e o tempo sem pré-condicionador foi da ordem de 15000 segundos.
Assim, na figura (6.4) é apresentado os tempos de resolução das diversas redes sob os
diversos aceleradores de convergência.
Para confirmar a eficiência em termos de tempo dos pré-condicionadores
ICCG(6,8) e ICCG(4,3) com 3 processadores, na figura (6.5) é plotado para as diversas
redes deste modelo, uma curva associando o número de graus de liberdade versus o
tempo de processamento, sendo que isto foi feito para três processadores.

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24 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

Treliça - 3 processadores

80000

ICCG(6,8)
ICCG(4,3)
60000 ICCG(3,1)
Poly(0)
Sem pré-condicionador
Tempo (s)

40000

20000

0
0 25000 50000 75000 100000
Número de equações

Figura 6.5 –Curva (Tempo x N° de equações) para a treliça

O último ponto da curva da figura (6.5) foi realizado em uma rede com 113288
elementos e 28561 nós, ou seja, com 85683 incógnitas no sistema linear.

6.3 Pavimento Quadrado

Para este modelo, discretizou-se a estrutura em elementos finitos de placa e de


viga formando o pavimento e foi considerado duas redes e a norma utilizada no método
dos gradientes conjugados é a norma euclidiana aplicada sobre o vetor resíduo e a
precisão é de 1E-4 (ε = 1E-4).

L = 600 cm
Redes adotadas
HVIGA = 50 cm
bVIGA = 10 cm Pavimento A:
L HLAJE = 7 cm 11250 elementos de placa e
Jtorção = 1E-4 cm4 314 elementos de viga;
E = 2500 kN/cm2
Pavimento B:
ν = 0,25
33800 elementos de placa
2
q = 1E-3 kN/cm e 534 elementos de viga;

Figura 6.6 –Esquema do pavimento analisado e suas características

Nas figuras (6.7) a (6.11), apresenta-se os valores de speed-up e de eficiência


para as duas redes adotadas. É mostrado estes valores de eficiência para todos os
processos relevantes para resolução do problema em MEF. Assim, obtêm-se valores de
tempo em ambiente paralelo para:
¾ Leitura de dados e montagem do sistema linear;
¾ Montagem do pré-condicionador do tipo ICCG (MPC);
¾ Resolução do sistema;
¾ Obtenção dos esforços.

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Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 25

Speed-up - Pavim ento A

3
MPC - ICCG(6,6 )

MPC - ICCG(3,1 )

2,5 Mo ntar Sistema

Obter e sfo rços

Resolver KU=F -
2 ICCG(6 ,6)
Resolver KU=F -
ICCG(3 ,1)

Speed-up
Resolver KU=F - Poly(0)

1,5

0,5

0
1 2 3
Núm ero de Processadores

Figura 6.7 – Speed-up para o pavimento A

E ficiência - P avimento A

100

75
Eficiência (%)

50
M P C - ICCG( 6,6)

M P C - ICCG( 3,1)

M ont ar S i st em a

Obt er esf or ç os
25 Resol v er K U=F - ICCG( 6,6)

Resol v er K U=F - ICCG( 3,1)

Resol v er K U=F - P ol y ( 0)

0
1 2 3
Nú m e r o d e Pr o ce s s ad o r e s

Figura 6.8 –Eficiência para o pavimento A

Speed-up - Pavimento B

3
MPC - ICCG(6,6)

MPC - ICCG(3,1)
2,5
Montar Sistema

Obter esforços
2
Resolver KU=F - ICCG(6,6)

Resolver KU=F - ICCG(3,1)


Speed-up

1,5 Resolver KU=F - Poly(0)

0,5

0
1 2 3

Número de Processadores

Figura 6.9 – Speed-up para o pavimento B

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26 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

Eficiência - Pavimento B

100

75

Eficiência (%)
50
MPC -ICCG(6,6)

MPC - ICCG(3,1)

Montar Sistema
25 Obter esforços

Resolver KU=F - ICCG(6,6)

Resolver KU=F - ICCG(3,1)

Resolver KU=F - Poly(0)

0
1 2 3
Número de Processadores

Figura 6.10 – Eficiência para o pavimento B

Em relação aos valores obtidos de eficiência para os diferentes procedimentos na


análise deste pavimento, apresenta-se a seguir conclusões preliminares destes resultados
encontrados:

Leitura de dados e montagem do sistema linear: averigua-se que em função deste


procedimento ser um caso em que o paralelismo é realizado sem a necessidade de trocas
de mensagens entre os processadores, ou seja, uma completa independência no
tratamento dos dados, os valores de eficiência tanto para o pavimento A quanto para B,
levaram a excelentes resultados de performance. Sem perda de generalidade, pode-se
afirmar que para este caso a eficiência é ideal para a abordagem em multiprocessadores.

Montagem do pré-condicionador do tipo ICCG: a montagem deste tipo de pré-


condicionador é um procedimento ineficiente no tratamento em ambiente paralelo,
principalmente a medida em que se aumenta a escalabilidade do sistema. Isto ocorre,
pois a montagem de uma matriz do tipo ICCG leva a ociosidade dos processadores que
já realizaram as mudanças sobre as suas linhas na matriz.

Resolução do sistema: o POLY(0) mostrou ser mais eficiente do que o do tipo ICCG,
chegando a ter para o pavimento B um speed-up de 1,52, ou seja, uma eficiência de
51%. Acredita-se que a eficiência para o pré-condicionador do tipo ICCG venha a se
evidenciar com o aumento do sistema linear e do número de processadores no ambiente
paralelo, conforme pode ser observado nas figuras de (6.7) a (6.10).

Obtenção de esforços: a obtenção dos esforços de todo o pavimento e o envio destes


valores para um único processador para impressão, mostrou ser o procedimento mais
ineficiente em todo o processamento paralelo neste modelo. Isto deve ter ocorrido, pois
para a obtenção dos esforços médio nos nós, tem-se que os elementos que concorrem
em um determinado nó não estejam armazenados no mesmo processador, assim há a
necessidade de trocas de mensagens, e em virtude de se realizar paralelismo em um
número pequeno de dados, isto causa um “gargalo” no tratamento destes dados em
paralelo.

A seguir, mostra-se as curvas de tempo versus número de processadores para as


duas redes analisadas sob os diferentes pré-condicionadores.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 1-32, 2005


Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 27

Tempo (s) x Número de Processadores


Pavimento A
10000

Tempo (s) 7500

5000

ICCG( 6,6)
2500 ICCG( 4,3)
ICCG( 3,1)
Poly ( 0)

0
1 2 3
Núm e r o de Pr oce s s adore s

Figura 6.11 – Convergência em termos de tempo do pavimento A

Tempo x N úmero de Processadores


Pavimento B
80000

60000
Tempo (s)

40000

ICCG( 6,3)
20000 ICCG( 6,6)
ICCG( 3,1)
P oly ( 0)

0
1 2 3
Núm e r o de Pr oce s s ador e s

Figura 6.12 – Convergência em termos de tempo do pavimento B

Conforme mostra as figuras (6.11) e (6.12), o pré-condicionador POLY(0)


demostra ser o mais eficiente para análise em paralelo para este modelo. Assim a
medida que aumenta-se o número de incógnitas do sistema a ser resolvido e com
aumento do número de processadores, percebe-se que o tempo para resolução do
sistema vai diminuindo.
O pré-condicionador ICCG(6,6) mostra-se mais eficiente em um único
processador em relação ao POLY(0), mas vai perdendo sua performance no sistema
com 2 processadores e começa lentamente a melhorar o tempo de resposta para 3
processadores, mas ainda não alcançando a performance em paralelo que o pré-
condicionador POLY(0) demostra.

7 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve o intuito de adaptar um código computacional advindo


do método dos elementos finitos aplicado na análise de uma estrutura por MEF em
multicomputadores. Convêm ressaltar que o ponto de “gargalo” para a otimização do
método em processamento paralelo ocorre justamente na resolução do sistema. Assim,

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 1-32, 2005


28 Valério da Silva Almeida & João Batista de Paiva

para se adaptar o MEF para este tipo de arquitetura, é necessário dar ênfase a esta fase,
sendo os demais procedimentos, de certa forma, corriqueiros na paralelização.
Para a montagem do sistema linear, utilizou-se o procedimento proposto por
REZENDE (1995). A grande vantagem oferecida por esta técnica, comparada com a
técnica da decomposição em domínio, é que para esta última é necessário aplicar um
pré-processador para se redividir a rede, de tal modo a se obter um balanceamento
equilibrado dentre os vários processadores. Na técnica aqui empregada, o
balanceamento de carga é obtido naturalmente.
Para a resolução do sistema linear, utilizou-se um método iterativo denominado
de gradiente conjugado. Esta técnica adequou-se bem na análise em multicomputadores,
pois, para cada passo, é necessário realizar um produto matriz-vetor, sendo este
procedimento bem adequado na realização em paralelo. Implementou-se este produto
levando-se em consideração a simetria e a esparsidade características do sistema. Com
isso, aumentou-se a dependência entre os diversos processadores, mas procurando-se
não perder o potencial oferecido pelo produto sob diversos processadores, e em virtude
dos resultados encontrados, este resultado demonstrou ser eficiente.
Implementou-se também a soma global de um escalar, que é originado do
produto interno local de cada processador, advindo tanto para a procura da direção que
resolva o sistema quanto para o escalar originado pela norma utilizada.
O grande obstáculo que existe na utilização do MGC é a dependência para
convergência do método em relação ao número de condição da matriz de rigidez.
Assim, o método pode se tornar eficiente ou ineficiente conforme as características
intrínsecas deste sistema.
Para solucionar este problema, é comum aplicar o pré-condicionamento sobre o
sistema, a fim de tornar o método mais eficaz. Assim, neste trabalho, inicialmente foi
proposto o estudo e a implementação de um tipo de pré-condicionador em paralelo:
decomposição incompleta de Cholesky (IC); considerando-se 3 e 6 diagonais na matriz
incompleta ([L]). Mas, generalizou-se este modelo em paralelo para poder considerar
qualquer combinação de diagonais extras na montagem de [L], além de se fazer um
estudo de convergência numérica em processamento seqüencial para o pré-
condicionador polinomial também generalizado advindo de uma série truncada (POLY).
Para este segundo caso, além de se utilizar o procedimento convencional para
aplicar o POLY, testou-se aqui em processamento seqüencial - como extensão da idéia
da decomposição incompleta - a montagem da inversa da matriz de rigidez pela
aproximação da série, levando-se em consideração apenas algumas colunas da matriz
originária, diminuindo-se, assim, o número de instruções a serem realizadas. Mostrou
esta adaptação resultados interessantes a serem estudados e implementados em
processamento paralelo, propondo-se a trabalhos futuros a sua utilização.
Aplicou-se, então, as duas técnicas generalizadas a alguns modelos estruturais
em processamento seqüencial. O que mostrou-se é que estes pré-condicionadores
trazem uma grande vantagem em termos de convergência, tanto em número de iterações
quanto em termos de tempo, se comparados a resolução do sistema sem o seu uso.
Para os exemplos em processamento paralelo, foi utilizada a técnica da
decomposição incompleta, além do pré-condicionador POLY(0). Dessa forma, analisou-
se 2 modelos estruturais: treliça tridimensional e pavimento.
Os resultados, embora sejam restritos a um pequeno número de computadores
(no máximo 3) aqui não são generalizados em virtude do restrito universo de
computadores utilizados. Tem-se sim o intuito de verificar qualitativamente a validade
dos modelos implementados neste campo e a potencialidade dos pré-condicionadores
em processamento paralelo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 1-32, 2005


Uma adaptação do MEF para análise em multicomputadores: aplicações em alguns modelos... 29

Para o exemplo da treliça tridimensional, percebe-se que o tempo de


convergência com o uso do ICCG (4,3) é um pouco inferior ao obtido pelo ICCG(6,8).
O segundo mostra uma convergência em termos de iteração um pouco menor que o
primeiro. Porém, em virtude da quantidade de operações serem maior no ICCG(6,8), em
geral, o ICCG(4,3) mostrou-se mais adequado para grandes sistemas. Ambos, quando
comparados com POLY(0), e sem o pré-condicionador, apresentaram valores da ordem
de 1 3 inferiores aos dois últimos. Vê-se também que a eficiência destes dois primeiros
foi de 63% para 3 processadores.
Para o pavimento analisado, por outro lado, o pré-condicionador POLY(0)
demostrou ser mais eficiente que o advindo da decomposição incompleta de Cholesky.
A eficiência alcançada com o uso deste pré-condicionador foi de aproximadamente 51%
com 3 processadores, ou seja, um speed-up de 1,52, enquanto que para a pequena
quantidade de processadores utilizados, a eficiência do ICCG não tenha se evidenciado.
Acredita-se que, em virtude do alto número de iterações para convergência deste
segundo modelo (aproximadamente 20% do total de incógnitas) o ICCG deve ter se
tornado ineficiente para este pequeno número de processadores, em virtude da sua
caraterística seqüencial. Todavia, conforme o aumento do número de processadores, a
sua potencialidade deve se evidenciar.
Ressalta-se que, os resultados encontrados para o pré-condicionador ICCG(6,6)
foram bem próximas as encontradas pelo ICCG(6,8). Contudo, como já salientado,
muitas vezes este último pré-condicionador pode levar a montagem da matriz
decomposta [L] com características positivas não-definidas, enquanto que o ICCG(6,6)
não apresentou este problema, preferindo-se então o uso deste.
De acordo com os resultados obtidos nos capítulos 5 e 6, acredita-se que o uso
dos pré-condicionadores ICCG(6,6) e ICGG(4,3) se tornaram eficientes frente ao pré-
condicionador POLY(0) ou Jacobi. Isto é verdade desde que o número de iterações
fique em torno de 5 a 10% do número de graus de liberdade do sistema. Nos exemplos
numéricos apresentados, em geral, isso ocorreu como demonstrado. Mas para o caso do
pavimento, conforme já salientado, este valor ficou na ordem de 20%, mostrando então
a não potencialidade desse tipo de pré-condicionador ou a pouca eficiência do POLY(0)
frente a este pequeno universo de processadores.
Supõe-se que isto tenha ocorrido em virtude do acoplamento de dois elementos
finitos, que atribuam diferentes valores em ordem de grandeza à matriz de rigidez. Para
o caso do pavimento isto se evidencia, já que a rigidez da viga é bem superior ao da
placa. Essa diferença relativa de rigidez leva a um aumento no número de condição (κ)
da matriz do pavimento, e com isso a convergência desse sistema se torna lento,
acarretando um maior tempo nos procedimentos paralelos a serem executados. Isto
demonstra ser mais ineficiente ainda nas técnicas onde o paralelismo se evidencia, ou
seja, no método da decomposição incompleta do Cholesky.

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ESTUDO E APLICAÇÃO DE MODELOS
CONSTITUTIVOS PARA O CONCRETO
FUNDAMENTADOS NA MECÂNICA DO DANO
CONTÍNUO

José Julio de Cerqueira Pituba1 & Sergio Persival Baroncini Proença2

Resumo

No trabalho estudam-se alguns aspectos relativos à formulação teórica e à simulação


numérica de modelos constitutivos para o concreto, fundamentados na Mecânica do
Dano Contínuo, incluindo-se os chamados métodos simplificados de análise estrutural.
O modelo de dano proposto por Mazars para o concreto submetido a carregamento
proporcionalmente crescente é inicialmente considerado. Na sequência, analisa-se o
modelo constitutivo proposto por La Borderie em seus aspectos de formulação e
resposta numérica. O modelo é mais completo que o de Mazars, permitindo levar em
conta deformações permanentes e anisotropia, induzidas pela evolução do dano, e a
resposta unilateral do concreto submetido a solicitações com inversão de sinal. Um
outro aspecto em destaque no trabalho é a aplicação dos modelos estudados na análise
de estruturas em pórtico, incluindo-se ainda a técnica de divisão dos elementos
estruturais em estratos e um modelo dito simplificado. Neste último caso, o modelo de
Flórez-López é analisado e a simplificação consiste na definição prévia, sobre a
estrutura discretizada em elementos de viga e de coluna, de zonas de localização da
plastificação e do dano; no limite com a evolução do processo de carregamento,
aquelas zonas passam a se constituir em rótulas. Uma recente generalização do modelo
anterior, proposta por Álvares, é também considerada. Os resultados numéricos
fornecidos pelos modelos são confrontados com os experimentais de vigas em concreto
armado (biapoiadas e com diferentes taxas de armadura) e de um pórtico em concreto
armado.

Palavras-chave: concreto; modelos constitutivos; mecânica do dano.

Abstract

The work is related to some theoretical and numerical aspects of Continuum Damage
Mechanics (CDM) models for concrete, including simplified methods of structural
analysis. First of all, the damage model proposed by Mazars for the concrete under

1
Professor da Faculdade de Engenharia da UNOESTE, jjpituba@eng.unoeste.br
2
Professor Titular do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, persival@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n.23, p. 33-60, 2005


34 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

proportional increasing load is considered. In the sequence the constitutive model


proposed by La Borderie is analyzed in its aspects of formulation and numerical
response. This model is more complete than the Mazars one, allowing account for
permanent strains and anisotropy induced by the damage processes and also for
unilateral response of the concrete submitted to loadings with signal inversion is also
incorporated in its formulation. An additional aspect considered in the work is related
to the employment of the CDM models to the analysis of framed structures. The
modeling includes the technique of layer division of the structural elements and
implementation of a so called simplified model. In this case, the Flórez-López proposal
is analyzed, consisting of a previous definition of yielding and damage zones over the
assembly of beam and column elements. In the limit with evolution of the loading
process these zones becomes generalized hinges. Finally, a generalization of the
previous model proposed by Álvares is also considered. The numerical responses of
constitutive models are compared with the experimental ones of reinforced concrete
beams and of a reinforced concrete frame.

Keywords: concrete; constitutive models; damage mechanics.

1 INTRODUÇÃO

Uma lei constitutiva, ou modelo constitutivo é um modelo mecânico-matemático


que descreve idealmente o comportamento tensão-deformação do material, LUCCIONI
(1993).
Em geral, é bastante difícil formular uma lei constitutiva suficientemente geral
para reproduzir o comportamento de um material submetido a qualquer tipo de
solicitação. Devem-se restringir os modelos aos campos de interesse específico.
Muitos são os trabalhos que abordam diferentes leis constitutivas para o
concreto. A título de orientação pode-se citar, entre os mais difundidos: ASCE (1982),
CEDOLIN (1982), CHEN & SALEEB (1982) e XIAOQING et al. (1989).
Devido à sua complexidade de comportamento, a formulação de um modelo
constitutivo completo para o concreto se torna algo difícil. Modelos têm sido
formulados com base na teoria da elasticidade, da plasticidade, e, mais recentemente, na
mecânica do dano, cada qual fornecendo respostas coerentes com a situação estudada de
comportamento do concreto, porém nunca suficientemente gerais.
Segundo DRIEMEIER (1995), o conceito de dano foi inicialmente utilizado
para análise e descrição, em regime de ruptura, do comportamento de metais sob
carregamentos monotônicos ou cíclicos. Nos metais em regime de ruptura aparecem
microfissuras após o desenvolvimento de uma pronunciada plastificação. O conceito de
dano, por estar relacionado à evolução de microfissuras, aplica-se bem ao concreto uma
vez que:
- o desenvolvimento da microfissuração, pode ser considerado contínuo e se
inicia com baixas tensões ou deformações;

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n.23, p. 33-60, 2005


Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 35

- as deformações permanentes são também devidas ao processo de evolução de


microfissuras.

Os modelos de dano, essencialmente, admitem que a perda progressiva de


rigidez e de resistência do material é devida exclusivamente ao processo de
microfissuração. Nos últimos anos diversos modelos foram formulados podendo
classificá-los em escalares ou anisótropos, segundo a variável representativa de dano
seja de natureza escalar ou tensorial. A formulação de um modelo mecânico de dano
distribuído que contempla as perdas de rigidez e de resistência admite a presença, no
comportamento do material, de um ramo ‘softening’, ou de encruamento negativo, onde
se manifesta de modo evidente a degradação das características mecânicas.
Em vários trabalhos observam-se evidências experimentais do processo de
danificação no concreto, dentre eles pode-se citar: VAN MIER (1985), MAJI & SHAH
(1988), SPOONER & DOUGILL (1975) e SPOONER et al. (1976). Os vários trabalhos
concluem sendo a redução da rigidez mais evidente após o pico, é essencial a
caracterização do comportamento ‘softening’ para uma apropriada modelagem por uma
teoria contínua, do comportamento ‘pós-pico’.

2 ALGUNS ASPECTOS DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DO


CONCRETO

O concreto mesmo antes da aplicação de qualquer solicitação já apresenta um


estágio de microfissuração resultante do fenômeno de retração, mais liberação de calor,
que se desenvolve na fase inicial da cura.
O comportamento não-linear do concreto, evidenciado mesmo em baixos níveis
de tensão, é influenciado pela microfissuração inicial e pela sua propagação durante o
processo de carregamento. Também a microfissuração justifica a consideração da
anisotropia do material para fins de modelagem macroscópica ainda na fase da resposta
elástica.
É importante notar que a propagação das fissuras basicamente passa a se
desenvolver na fase de carregamento por incompatibilidade de deformações devido às
diferentes características de resistência e propriedades elásticas dos agregados graúdos e
argamassa. Tais incompatibilidades que se manifestam, sobretudo, na interface entre os
elementos citados são responsáveis, em particular, pela baixa resistência à tração do
concreto.
Um outro fenômeno também decorrente da evolução de microfissuras no
concreto é o aparecimento de deformações permanentes. A relação entre evolução de
microfissuras e deformações permanentes pode ser interpretada como uma
conseqüência da heterogeneidade do material e do atrito entre as faces rugosas das
fissuras, que impede, em caso de descarregamento, um fechamento total das mesmas.
Um último fenômeno característico do concreto, e materiais granulares em geral,
é a chamada resposta unilateral ou recuperação da rigidez do material que se manifesta
quando da inversão do carregamento.
Nota-se que o comportamento mecânico global do concreto também é
diretamente influenciado por fatores tais como textura e tamanho dos agregados, índice
de vazios, relação água-cimento, etc. Tais fatores são, de certa maneira, considerados
nas leis de evolução das variáveis que descrevem o dano quando da formulação de
modelos constitutivos.

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36 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

3 FORMALISMO DA MECÂNICA DO DANO CONTÍNUO

Os processos que ocorrem na microestrutura de um material, tais como


mudanças de porosidade, escorregamento ao nível de cristais, difusão e outros, têm
origem em microdefeitos constituídos por inclusões, ou mesmo vazios. Esses processos
contribuem, cada qual com sua parcela, na resposta não-linear dos sólidos observada
macroscopicamente. Os microdefeitos são genericamente referenciados como dano
inicial do material, sendo favorecedores da concentração de microtensões.
O processo evolutivo de danificação tem influência direta na resposta elástica do
material sendo evidenciado macroscopicamente por reduções de rigidez e resistência do
material. Por outro lado, aquele processo tem influência indireta na resposta
elastoplástica devido à redução da área resistente efetiva alterando, por conseqüência, a
velocidade com que se processam as deformações permanentes.
Na maioria dos materiais ditos granulares, sendo este o caso do concreto, tem-se
o dano como processo fundamental na sua resposta não-linear. Já nos metais, a
plasticidade precede a danificação e é a razão básica de sua resposta não-linear, sendo
sua evolução caracterizada pelo movimento de linhas de discordância (grosso modo,
defeitos de continuidade geométrica na distribuição das ligações atômicas). Esse
movimento produz deformações irreversíveis, não estando a ele associada uma mudança
significativa de volume. O aparecimento da danificação passa a influenciar na
velocidade com que o processo de plastificação se manifesta. Devido à relação indireta
entre evolução do dano e plasticidade, na formulação de um modelo constitutivo pode-
se propor um acoplamento dito cinético ao nível das leis de evolução das variáveis
internas representativas destes fenômenos. Um modelo com essas características
permite descrever o comportamento de um meio através da redução da rigidez e
resistência, além do aparecimento de deformações permanentes.
Dentro deste contexto, a Mecânica do Dano apresenta-se como uma teoria
adequada para a formulação de modelos constitutivos de materiais que apresentam
defeitos em sua microestrutura. Fundamentada nos princípios gerais da termodinâmica,
a Mecânica do Dano segue um formalismo resultante da combinação de conceitos e
métodos da termodinâmica com a consideração de variáveis internas, inserindo-se numa
teoria mais ampla denominada termodinâmica dos princípios irreversíveis. No entanto,
a sua particularidade está no conjunto de hipóteses fundamentais admitidas:

- os processos irreversíveis podem ser aproximados por uma seqüência de


estados de equilíbrio aos quais correspondem valores instantâneos de um número finito
de variáveis internas;
- as variáveis internas a serem escolhidas devem representar os processos
dissipativos dominantes;
- a resposta do meio depende exclusivamente de seu estado atual.

Dentro do formalismo que segue são desconsiderados efeitos não-mecânicos,


como por exemplo, a condução e a irradiação de calor.
Aplicando-se o princípio de balanço de energia (primeira lei da termodinâmica)
num processo dissipativo, o qual consiste numa transição entre dois estados
infinitamente próximos de equilíbrio termodinâmico, vale a seguinte relação
representada em termos de taxas:
Pe = U& + E& D + E& C (5.1)
onde:

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 37

Pe é a potência das forças externas


U& é a taxa de energia interna
E& C é a taxa de energia cinética
E& é a taxa de energia dissipada
D
Por sua vez a potência das forças externas é dada pela soma da potência das
tensões ( σ ⋅ ε& ) mais uma variação de energia cinética. Nessas condições, localmente a
relação anterior passa a ser expressa por:
σ ⋅ ε& = U& + E& D (5.2)
sendo que as grandezas envolvidas são aqui entendidas com referência à unidade de
volume.
Por outro lado, a segunda lei da termodinâmica, relacionada à produção de
entropia, estabelece que a taxa de energia dissipada é sempre positiva. Portanto,
considerando-se E& D >0 da (5.2) obtém-se a chamada “Desigualdade de Clausius-
Duhem”:
σ ⋅ ε& ≥ U& (5.3)
Processos nos quais a desigualdade (5.3) é verificada a cada instante são
denominados ‘processos termodinamicamente admissíveis’.
A energia interna pode ser expressa em função de um conjunto de variáveis,
chamadas de “variáveis de estado”, as quais definem localmente o estado do material.
As variáveis de estado, por sua vez, são expressas por funções contínuas no tempo, e
representam grandezas mensuráveis de forma direta ou indireta. De acordo com isto,
são classificadas, respectivamente, em variáveis observáveis e internas.
Admitindo-se pequenas deformações, em processos onde se caracteriza uma
deformação residual o tensor de deformações ε é normalmente representado em forma
aditiva pela soma das partes elástica ε e , recuperável, e permanente ε p , irrecuperável.
Assim sendo, o tensor de deformações ε, uma variável de estado observável, pode ser
expresso em termos de taxas por:
ε& = ε& e + ε& p (5.4)
Admitindo-se que a parcela permanente seja resultante de algum processo
interno dissipativo, levado em conta mediante uma variável interna, é razoável tomar
para variável de estado observável o tensor elástico das deformações ε e . Assim,
representando-se por ak o vetor que reúne o conjunto de variáveis internas associadas
aos mecanismos dissipativos dominantes, no caso plasticidade e dano, a densidade de
energia interna pode ser simbolizada por:
U=U(εe,ak) (5.5)
Assim sendo, a desigualdade de Clausius-Duhem (5.3) assume a forma:
∂U ∂U
σ ⋅ ε& ≥ e ⋅ ε& e + ⋅ a& (5.6)
∂ε ∂ ak k
Levando-se em conta a equação (5.4), segue que:
⎛ ∂U ⎞ e ∂U
⎜ σ − e ⎟ ⋅ ε& + σ ⋅ ε& − ⋅ a& ≥ 0
p
(5.7)
⎝ ∂ε ⎠ ∂ ak k
A relação anterior deve ser satisfeita considerando-se processos que envolvam
uma variação independente e qualquer das variáveis de estado, incluindo-se os
processos puramente elásticos (onde ε& p e a& k são nulos). Uma maneira para garantir
que (5.7) seja sempre satisfeita, seria impor:

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38 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

∂U ∂U
σ= e σ ⋅ ε& p − ⋅ a& ≥ 0 (5.8a,b)
∂ε e
∂ ak k
A relação (5.8a) representa uma lei de estado e o tensor de tensões σ passa a ser
caracterizado como a variável associada à variável de estado ε& e . Por analogia, o vetor
das variáveis termodinâmicas associadas às variáveis internas é definido por:
∂U
Ak = − (5.9)
∂ ak
Observe-se que σ e -σ são também associadas a ε e εp, respectivamente, pois,
considerando-se a decomposição do tensor das deformações:
∂U ∂U ∂ε e
= =σ
∂ε ∂ε e ∂ε
(5.10a,b)
∂U ∂U ∂ε e
= = −σ
∂ε p ∂ε e ∂ε p
Da hipótese de que εp é dependente do vetor de variáveis internas, em termos de
taxas é razoável admitir-se uma relação linear do tipo:
ε& p = B a& k (5.11)
onde B é uma transformação linear. Desse modo, a desigualdade (5.8b) passa a ser
representada por:
(B ∗σ + Ak ) ⋅ a& k ≥ 0 ou N ⋅ a& k ≥ 0 (5.12)
sendo B* uma transformação linear tal que σ ⋅ B a& k = B ∗σ ⋅ a& k .
A relação (5.12) mostra que a energia dissipada nos processos dissipativos é
positiva e que as leis de variação das variáveis internas devem ser tais que tal
desigualdade seja sempre verificada. Na proposição dessas leis reside, talvez, o aspecto
arbitrário da modelagem. Em geral segue-se uma das seguintes estratégias:

a) de um lado as leis de evolução podem ser derivadas diretamente com base na


resposta observada diretamente em nível de microestrutura;
b) de outro lado, admite-se a existência de um potencial de dissipação, escrito em
função das variáveis associadas, que engloba estados que podem ser atingidos sem
qualquer dissipação adicional de energia e de cuja variação derivam as leis de
evolução.

A primeira estratégia pode conduzir a leis que tenham aplicação restrita a


combinações de solicitações similares àquelas dos ensaios realizados.
A segunda estratégia tem um cunho mais teórico, porém com algumas vantagens
tais como: aplicação mais geral do modelo obtido, estrutura formal do modelo resultante
bastante próxima daquela obtida por outras teorias e manutenção de simetria do tensor
constitutivo.
No segundo caso, o modelo acaba por exibir uma estrutura semelhante a de
modelos elaborados pela teoria da plasticidade, por exemplo. O potencial com as
características descritas em b) implica na possibilidade de um descarregamento, pois o
estado resultante estará sempre no interior ou sobre a sua superfície. Além disso,
assumindo-se propriedades de convexidade para o potencial, as leis de evolução podem
ser expressas de modo a preservar vantagens do tipo manutenção de simetria do tensor
constitutivo, por exemplo. Sendo assim, o potencial F pode ser representado da seguinte
forma:

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 39

( )
F = F Ak ; ε e , a k ≤ 0 (5.13)
onde εe e ak aparecem como parâmetros. Resulta, pela normalidade:
∂F
a& k = λ& na condição de F = 0 (5.14)
∂Ak
ou
a& k = 0 se F < 0.
∂F
Note-se que é normal à superfície (lugar geométrico dos pontos que
∂Ak
verificam F = 0) do potencial e λ& é um escalar positivo, figura 1.
∂F
a& k = λ&
∂Ak

F = F ( Ak ; ε e , a k )

Figura 1 - Superfície do potencial de dissipação F.

Em resumo, o formalismo seguido pela Mecânica do Dano (PROENÇA, 1997)


apresenta três aspectos fundamentais: a escolha das variáveis internas, a forma a ser
adotada para a função densidade de energia interna e as equações que exprimem as leis
de evolução das variáveis internas.
Atendendo aos aspectos acima mencionados, podem-se formular modelos
constitutivos fenomenológicos termodinamicamente consistentes e que refletem, através
do conjunto de variáveis internas, os principais fenômenos físicos observados na
microestrutura. Apesar do natural questionamento sobre algumas considerações
teóricas, particularmente sobre as simplificações adotadas, este tipo de formulação pode
conduzir a uma modelagem bastante satisfatória dos fenômenos ocorridos no meio.

4 MODELOS CONSTITUTIVOS PARA O CONCRETO

4.1 Modelo constitutivo de Mazars (1984)

O modelo proposto por MAZARS (1984) vale para situações de carregamento


aplicado continuamente crescente aplicado e tem por hipóteses fundamentais:
- localmente o dano decorre de deformações de alongamento evidenciadas por
sinais positivos, ao menos um deles, das componentes de deformação principal (εi > 0);
- o dano é representado por uma variável escalar D (0 ≤ D ≤ 1) cuja evolução
ocorre quando um valor de referência para o ‘alongamento equivalente’ é superado;
- o concreto com dano comporta-se como meio elástico. Portanto, deformações
permanentes evidenciadas experimentalmente são desprezadas.
O estado de extensão é localmente caracterizado por uma deformação
equivalente, expressa como:

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40 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

~ε = < ε > 2 + < ε > 2 + < ε > 2 (6.1)


1 + 2 + 3 +
onde εi é uma componente de deformação principal e <εi>+ é a sua parte positiva
definida por:
1
[
<εi>+= ε i + ε i
2
] (6.2)
Neste modelo admite-se que o dano se inicia quando a deformação equivalente
atinge um valor de deformação de referência εd0, determinado em ensaios de tração
uniaxial em correspondência à tensão máxima.
Para um estado mais complexo de deformação o critério de dano é expresso
como
f( ~
ε , D) = ~
ε - S(D) ≤ 0 com S(0) = εd0 (6.3)
A lei de evolução da variável de dano é definida pelas seguintes condições:
• •
D=0 se f < 0 ou f = 0 e f < 0 (6.4a)
• • •
D = F( ~ε) < ~ε >+ se f=0 e f =0 (6.4b)
~
(•) indica variação no tempo e F( ε ) é uma função contínua e positiva da deformação
~
ε.
Considerando-se carregamento continuamente crescente ou radial, das curvas
tensão-deformação obtidas em ensaios uniaxiais de tração e compressão podem ser
determinadas as variáveis de dano DT e DC da seguinte maneira:
ε d0 (1 − A T ) AT
D T (~
ε ) = 1− ~ − (6.5a)
ε exp[B T ( ~
ε − ε d0 )]
ε d0 (1 − A C ) AC
D C (~
ε ) = 1− ~ − (6.5b)
ε exp[B C ( ~
ε − ε d 0 )]
onde AT e BT são parâmetros característicos do material em tração uniaxial, AC e BC são
parâmetros do material em compressão uniaxial e εd0 é a deformação elástica limite.
Para estados complexos de tensão, propõe-se uma variável de dano determinada
por uma combinação linear de DT e DC mediante a seguinte condição:
D = αT DT + αC DC ,sendo αT + αC = 1 (6.6)
onde os coeficientes αT e αC assumem valores no intervalo fechado [0,1], e representam
a contribuição de solicitações à tração e à compressão para o estado local de extensão
Finalmente, na sua forma secante, a relação constitutiva é expressa por:
σ = (1- D)D ε (6.7)
0
onde D é o tensor elástico de quarta ordem do material íntegro.
0
Nota-se que em ÁLVARES (1993) e PEREGO (1989) são evidenciadas algumas
dificuldades decorrentes da aplicação direta deste tipo de modelo na análise de
estruturas. São elas: uma instabilidade na resposta, visualizada na curva carga-
deslocamento pela irregularidade no seu desenvolvimento (‘non-smoth’) e uma não-
objetividade caracterizada por resultados mais rígidos com o refinamento da malha. Em
ÁLVARES (1993) foi adotado um procedimento iterativo para a regularização da
resposta e um outro procedimento para reduzir o problema de não-objetividade. Neste
último, o problema da dependência de malha provocada pela imposição de uma lei de
‘softening’ constante foi contornado com a determinação indireta do parâmetro BT em
função das dimensões do elemento finito, impondo-se como característica do material a
taxa de energia dissipada em um teste de tração uniaxial (Gf), também denominada de

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 41

energia de fratura. Logo, impondo-se AT =1 e calibrando-se BT, os parâmetros do


modelo passam a ser: AC, BC, εd0 e Gf.

4.2 Modelo constitutivo de La Borderie, Mazars & Pijaudier-Cabot (1991)

O modelo permite levar em conta o aspecto unilateral através da definição de


duas variáveis representativas do dano em tração e do dano em compressão. A ativação
de um ou outro processo de danificação é feita através de um controle sobre o sinal das
tensões principais. Consideram-se também deformações anelásticas devidas apenas ao
dano.
No modelo proposto por LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT
(1991) define-se o seguinte quadro de variáveis de estado e de variáveis associadas:

Tabela 1 - Variáveis de estado e variáveis associadas no modelo de dano


VARIÁVEIS DE ESTADO VARIÁVEIS
Primária Interna ASSOCIADAS
Tensão σ ε Deformação
Dano 1 D1 Y1 Taxa de energia livre 1
Dano 2 D2 Y2 Taxa de energia livre 2
Encruamento 1 z1 Z1
Encruamento 2 z2 Z2

No quadro acima D1 e D2 são variáveis de dano, Y1 e Y2 são as variáveis


associadas, interpretadas como taxa de energia liberada durante o processo de evolução
de dano, e Z1 e Z2 são variáveis associadas a z1 e z2 que, respectivamente, controlam o
processo de encruamento e estão inseridas nas funções representativas dos critérios de
danificação.
As relações entre as variáveis de estado e as associadas são dadas por um
potencial de estado do qual derivam as relações constitutivas. Neste modelo sugere-se o
potencial de energia livre de Gibbs(χ) como potencial de estado, adotando-se a seguinte
expressão:
σ + :σ + σ − :σ − ν
χ = χ(σ, D1, D2, z1, z2) = + + 0 (σ : σ − Tr 2 (σ ))
2E 0 (1 − D 1 ) 2E 0 (1 − D 2 ) 2E 0
β1 D1 β2 D2
+ f (σ) + Tr (σ ) + G 1 ( z1 ) + G 2 ( z 2 ) (6.8)
E 0 (1 − D1 ) E 0 (1 − D 2 )
onde σ+ e σ- são, respectivamente, as partes positiva e negativa do tensor de tensões, Tr(
σ) é o primeiro invariante do tensor de tensões, E é o módulo de Young do material
íntegro, ν é o coeficiente de Poisson do material virgem, β1 e β2 são os parâmetros
anelásticos a serem identificados. A função f(σ) controla as condições de abertura e de
fechamento da ‘fissura’:
f(Tr(σ)) = Tr(σ) quando Tr(σ) ∈ ]0,∞]
⎛ Tr(σ ) ⎞
f(Tr(σ)) = ⎜ 1+ ⎟ Tr(σ ) quando Tr(σ) ∈ [-σf,0] (6.9)
⎝ 2σ f ⎠
σf
f(Tr(σ)) = − Tr(σ ) quando Tr(σ) ∈ [-∞,-σf]
2
onde σf é a tensão de fechamento de fissura (parâmetro do modelo). Finalmente, G1 (z1)
e G2 (z2) são funções de encruamento.

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42 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

As leis de estado derivam do potencial (6.8) e definem as variáveis associadas


em função das variáveis de estado. Por exemplo, o tensor de deformações resulta de:
∂χ
ε= = ε e + ε an (6.10)
∂σ
onde εe é o tensor de deformações elásticas e εan é o tensor de deformações anelásticas.
Esses tensores são dados por:
σ+ σ− ν0
εe = + + (σ − Tr (σ ) I ) (6.11)
E 0 (1 − D 1 ) E 0 (1 − D 2 ) E 0
β 1 D1 ∂f β 2D2
e ε an = + I (6.12)
E 0 (1 − D 1 ) ∂σ E 0 (1 − D 2 )
onde I é o tensor identidade.
Por sua vez, as variáveis associadas às variáveis de dano resultam de:
∂χ σ + : σ + + 2β 1 f (σ )
Y1 = = (6.13)
∂D 1 2E 0 (1 − D 1 ) 2
∂χ σ − : σ − + 2β 2 Tr (σ )
Y2 = = (6.14)
∂D 2 2E 0 (1 − D 2 ) 2
Variáveis associadas às variáveis de encruamento também podem ser definidas,
propondo-se, neste caso, uma expressão resultante do ajuste sobre resultados
experimentais. A forma proposta é a seguinte:
∂G i ( z i ) ⎡ 1 ⎛ − zi ⎞ ⎤
1/ B i

Zi = = g i ( z i ) = ⎢ Yoi + ⎜ ⎟ ⎥ (i = 1,2) (6.15)


∂z i ⎢⎣ A i ⎝ 1 + z i ⎠ ⎥⎦
onde Ai, Bi e Yoi são parâmetros a serem identificados.
Nota-se que as variáveis Zi tem um valor inicial dado por Zi (zi = 0) = Yoi. As
expressões (6.15) definem, na verdade, um critério de danificação que caracteriza a
existência ou não de condições para a evolução do dano. Assim sendo, valem as
condições:

Se Yi < Zi então D i = 0 : a resposta é elástica linear.
• • • •
Se Yi = Zi e Y i > 0 então Z i = Yi e D i ≠ 0 .

4.3 Modelo constitutivo de Florez-López (1993)

Este modelo é foi proposto por FLÓREZ-LÓPEZ (1993), sendo baseado nos
‘modelos de dissipação concentrada’. O elemento é caracterizado pela combinação de
uma viga-coluna elástica e duas rótulas anelásticas de comprimento zero, posicionadas
nas suas extremidades, às quais está associada a energia dissipada. As deformações
generalizadas são:
{φ } = [ Fe ] { M } + {φr } (6.16)
r
As deformações de rótula {φ } são resultantes da soma das deformações
plásticas {φp} e das deformações devidas ao dano {φd}, onde {φr} = {φp} + {φd}. A
combinação da matriz de flexibilidade elástica [ Fe ] com o vetor de esforços ({ M
}T={Mi,Mj, N}) resulta nas deformações elásticas da viga-coluna.
Tendo-se em vista a definição das forças termodinâmicas associadas ao conjunto
de variáveis internas, o modelo postula a existência de um potencial termodinâmico:
χ = U*(M,D) + Up (α) (6.17)

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 43

A parcela U* contém a influência da danificação nas rótulas e a energia


potencial complementar W* da viga elástica.
1
U ∗ ( M , D) = { M} [ C( D) ]{ M} + W ∗
T
(6.18)
2
Up(α) é um ‘potencial plástico’ dependente de um conjunto de variáveis internas {α}T =
(α1,α2,...) que correspondem, por exemplo, ao encruamento plástico cinemático ou
isótropo e [C(D)] é a matriz de flexibilidade de um elemento danificado com duas
rótulas.
As leis de estado podem, agora, ser definidas na forma:

{ φ} e = φ − φ p = ⎧⎨ ∂∂χM ⎫⎬
{ } (6.19)
⎩ ⎭
As forças termodinâmicas conjugadas as variáveis de dano e reunidas no vetor
{G} são
⎧ ∂χ ⎫
{ G} = − ⎨ ⎬ (6.20)
⎩ ∂D ⎭
As forças termodinâmicas associadas aos parâmetros de encruamento plástico
{α} são
∂χ
{β} = − ⎧⎨ ∂α ⎫⎬ (6.21)
⎩ ⎭
A dissipação decorrente dos processos de evolução dos fenômenos de dano e
plasticidade deve ser positiva de modo a atender a segunda lei da termodinâmica, sendo:
ξ = {D & } T { G} + { φ p } { M} + { α& } {β} ≥ 0 (6.22)
Em FLÓREZ-LÓPEZ (1993) apresenta-se um procedimento de identificação
das leis de evolução das variáveis de dano e de plasticidade a fim de definir
completamente o modelo constitutivo. Estas funções deveriam ser específicas para cada
tipo de elemento estrutural variando de acordo com o tipo de concreto, distribuição de
armadura, etc.
As funções de plasticidade e de dano podem ser identificadas a partir das curvas
de M em função de φp e de D como função de G. FLOREZ-LÓPEZ (1993) propõe as
seguintes expressões para os critérios:
⎛ 1− d ⎞ p ⎛ 1− d ⎞ ⎛ ln(1 − d ) ⎞
f = M −⎜ ⎟cφ − 4⎜ ⎟M y g = G − ⎜⎜ G cr + q ⎟ (6.23a,b)
⎝4−d ⎠ ⎝4−d ⎠ ⎝ (1 − d ) ⎟⎠
onde c, My, Gcr e q são constantes características do elemento.
Os parâmetros c, My, Gcr e q não têm interpretações mecânicas bem definidas.
No caso, determinam-se essas constantes indiretamente através da resolução numérica
do sistema de equações não-lineares seguinte:
M = Mcr ⇒ d=0 M = Mp ⇒ φp = 0
dM
M = Mu ⇒ p =0 M = Mu ⇒ φ p = φ pu (6.24)

onde Mcr é o momento de fissuração, Mp é o momento de plastificação ou de
escoamento, Mu é o momento último e φ pu é a deformação plástica correspondente ao
momento último. Segundo FLOREZ-LÓPEZ (1993), estes parâmetros podem ser
obtidos da teoria clássica de concreto armado, podendo ainda ser estimados em função
de características conhecidas como: comprimento, área da seção transversal, quantidade
e distribuição de armadura e propriedades do concreto. Obviamente o desempenho do
modelo depende muito da qualidade dos métodos usados para os seus cálculos.

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44 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

4.3.1 Modelo Constitutivo de Álvares (1998)


O modelo original abordado na seção anterior contém apenas três coordenadas
para as tensões generalizadas ({ M }T = ( Mi, Mj, N ), ou seja, no modelo original não se
leva em conta a contribuição do esforço cortante nos elementos. ÁLVARES (1998)
introduziu mais três coordenadas para que esta contribuição fosse levada em conta. Na
análise de pórticos, a contribuição do esforço cortante na energia de deformação pode
ter uma importância relevante. A energia produzida pelo esforço cortante é um processo
dissipativo a mais a ser levado em conta.
Apresenta-se a seguir uma ilustração das tensões generalizadas admitas para o
elemento do modelo de ÁLVARES (1998) (figura 2).

Mj
Nj
Mi
Ni α Qj
Qi

Figura 2 - Tensões generalizadas do modelo de ÁLVARES (1998).

5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

5.1 Vigas em concreto armado

5.1.1 Características das Vigas Ensaiadas


As vigas em questão são biapoiadas com 2,40m de vão, seção transversal
retangular de 12X30cm, e com carregamento constituído por duas forças concentradas
aplicadas nos terços do vão. Três vigas deste tipo são consideradas, diferenciando-se
entre si pela quantidade e distribuição geométrica de armadura longitudinal inferior
(3φ10mm, 5φ10mm e 7φ10mm). A armadura longitudinal superior é constituída por
2φ5mm em todos os casos e a armadura transversal por φ5mm com comprimento de
90cm distribuídas a cada 12 cm. Maiores detalhes sobre a resposta experimental de cada
tipo de viga, colhida a partir de provas realizadas com controle de força, encontram-se
em ÁLVARES (1993). Na figura 3 são fornecidos os dados de geometria e armaduras.

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 45

P P

30

deslocamento
10 80 80 80 10
240
N1
Dimensões P 40
em cm 2φ5
30 27
5φ10
3

10 120 9
12
N1 - φ5 c/12 - c.90 N1

2φ5 2φ5
30 27 30 27
7φ10 3φ10
3
3

9 9
12 12
Figura 3 - Geometria e armação das vigas.

Na tabela 2 estão descritas as propriedades dos materiais empregados nas vigas.

Tabela 2 - Propriedades dos materiais empregados.


Propriedades do Concreto
Módulo de Young EC = 29200 Mpa
Coeficiente de Poisson ν = 0,2 (adotado)
Propriedades do Aço
Módulo de Young ES = 196000 Mpa

5.1.2 Análise Numérica


Adotaram-se para o concreto os modelos constitutivos de MAZARS (1984) para
carregamento proporcional, de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT
(1991) e de ÁLVARES (1998).
No caso do modelo de MAZARS (1984), os parâmetros foram determinados
conforme testes experimentais descritos em ÁLVARES (1993), estando seus valores
reunidos na tabela 3:

Tabela 3 - Parâmetros do modelo constitutivo de MAZARS (1984)


empregados na análise numérica das vigas.
Parâmetros do modelo de MAZARS (1984)
AT = 0,995 (adotado) Gf = 0,0016
AC = 0,85 BC = 1620
εd0 = 0,00007

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46 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

Na análise numérica só o concreto possui comportamento não-linear, para o aço


admite-se uma relação constitutiva elástica linear. Com relação à interação entre os dois
materiais, admitiu-se perfeita aderência entre o aço e o concreto, descartando-se assim
qualquer possibilidade de ocorrência de fenômenos decorrentes da perda de aderência
na zona de interface.
O modelo foi implementado em código de cálculo em elementos finitos
bidimensionais apresentado originalmente em ÁLVARES (1993). Fazendo-se uso das
simetrias de carregamento e de geometria, analisou-se, portanto, apenas metade da viga.
Z

Figura 4 - Discretização em elementos finitos bidimensionais.

Nos casos de média e alta taxa de armadura, a rede adotada na discretização das
vigas foi de 108 elementos finitos quadrangulares de 4 nós, sendo que para a viga com
menor taxa foi adotada uma rede de 342 elementos finitos de 4 nós.
Na tabela 4 reúnem-se os valores identificados para os parâmetros do modelo
constitutivo de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991).

Tabela 4 - Parâmetros do modelo constitutivo de LA BORDERIE,


MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991) empregados na análise numérica das vigas.
Parâmetros do modelo de LA BORDERIE, MAZARS
& PIJAUDIER-CABOT (1991)
Y01 = 1,46 E -04 MPa B1 = 0,62
Y02 = 0,15 E -01 MPa B2 = 1,50
A1 = 2,10 E +03 MPa -1
β1 = 1,80 MPa
A2 = 7,00 E +00 MPa -1
β2 = -40,0 MPa
σf = 3,50 MPa

Uma versão unidimensional deste modelo foi implementada num programa em


elementos finitos estratificados em camadas (EFICoS - Eléments Finis à Couches
Superposées) para análise de vigas e estruturas em pórtico. Cada elemento, portanto, é
uma viga discretizada em vários estratos (figura 5).

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 47

v θ
u
L Elemento de viga
X

Y
Viga estratificada
H Gi Z X

Camada n° K
Gi
YK

bK

Figura 5 - Elemento finito empregado.

Com esse modelo as análises numéricas foram desenvolvidas fazendo-se uso das
simetrias de carregamento e geometria, considerando-se, portanto, apenas metade da
viga. Para as barras de aço adotou-se um modelo elastoplástico, além de se admitir
perfeita aderência entre aço e concreto.
Em todos os casos a rede adotada na discretização das vigas foi de 20 elementos
finitos e 21 nós adotando-se, ainda, 15 camadas na discretização da seção transversal.
No caso da viga com baixa taxa de armadura, dentre as 15 camadas definiu-se 1 camada
de aço; no caso da viga com média taxa de armadura utilizaram-se 2 camadas de aço, e
na viga com alta taxa de armadura foram utilizadas 3 camadas de aço.
Em relação ao modelo constitutivo de ÁLVARES (1998), os parâmetros
utilizados foram os seguintes:

Tabela 5 - Parâmetros do modelo constitutivo de ÁLVARES (1998)


empregados na análise numérica das vigas.
Parâmetros do modelo de ÁLVARES (1998)
VIGA 3φ10.0mm VIGA 5φ10.0mm VIGA 7φ10.0mm
Si = 0,03735m2 Si = 0,03824m2 Si = 0,03900m2
(0,12X0,311) (0,12X0,318) (0,12X0,326)
φpu = 0,008 φpu = 0,01 φpu = 0,013
Mu = 33,60 kN.m Mu = 48,00 kN.m Mu = 54,80 kN.m
Mp = 6,40 kN.m Mp = 8,00 kN.m Mp = 12,80 kN.m
Mcr = 0 Mcr = 0 Mcr = 0
c = 35217,00 c = 40718,28 c = 37474,15
Q = -0,0175 Q = -0,03335 Q = -0,0403
My = 6,465 kN.m My = 8,06 kN.m My = 13,00 kN.m

Os valores de Mu, Mp e φpu foram calculados pelas respostas experimentais de


cada viga. Para o parâmetro Mcr foi adotado um valor nulo em todas as vigas, pois se
admitiu que o dano existe desde o início da aplicação de qualquer carga.

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48 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

Na análise fez-se uma homogeneização da seção transversal composta de


concreto e aço, transformando a área de aço numa área equivalente de concreto,
assumindo que a toda seção transversal fosse composta apenas de concreto. Esta
homogeneização está apresentada em LANGENDONCK (1962) baseada na Norma
Brasileira de cálculo de peças de concreto armado. A expressão abaixo é sugerida:
Si = Sc + (n-1) Sf (7.1)
onde:

Si é a área da seção ideal (homogeneizada)


Sc é a área de toda seção transversal (concreto + aço)
Sf é área de aço existente na seção transversal (armadura longitudinal)
n é o coeficiente que relaciona o módulo de elasticidade do concreto (Ec) e do aço (Es),
ou seja
E
n= s (7.2)
Ec
Foram utilizados 4 nós e 3 elementos na discretização de metade da viga.
Alguns testes foram realizados com uma rede mais refinada, porém os resultados
encontrados foram os mesmos. O modelo de ÁLVARES (1998) foi implementado no
programa EFICoS, com a opção por apenas uma camada para discretizar a seção
transversal toda de concreto, devido à homogeneização empregada.
Os confrontos dos resultados numéricos e experimentais estão ilustrados a seguir
nas curvas carga aplicada por deslocamento vertical no meio do vão das vigas.
45,00

40,00

35,00

30,00
Experimental
Força (kN)

25,00
Experimental

20,00 MAZARS (1984)

15,00 LA BORDERIE, MAZARS &


PIJAUDIER-CABOT (1991)
10,00 ÁLVARES (1998)

5,00

0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00

Deslocamento (mm)

Figura 6 - Resultados numéricos - viga 3φ 10.0mm

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 49

70

60

50

Experimental
Força (kN)

40
Experimental

30 MAZARS (1984)

LA BORDERIE, MAZARS &


20 PIJAUDIER-CABOT (1991)
ÁLVARES (1998)

10

0
0 2 4 6 8 10 12

Deslocamento (mm)

Figura 7 - Resultados numéricos - viga 5φ10.0mm

80

70

60

50
Experimental
Força (kN)

40 Experimental

30 MAZARS (1984)

LA BORDERIE, MAZARS &


20 PIJAUDIER-CABOT (1991)
ÁLVARES (1998)
10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16

Deslocamento (mm)

Figura 8 - Resultados numéricos - viga 7φ10.0mm

Das figuras 6, 7 e 8 pode-se interpretar que o modelo de LA BORDERIE,


MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991) apresenta os melhores resultados em todos
os casos. O modelo de MAZARS (1984) apresenta resultados satisfatórios nas vigas de
5φ10.0mm e de 7φ10.0mm, porém na viga de 3φ10.0mm sua resposta numérica resulta
numa curva mais rígida, um pouco acima da nuvem de pontos experimentais. Já o

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50 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

modelo de ÁLVARES (1998) apresenta curvas mais rígidas, acima da nuvem de pontos
experimentais para as três vigas.
Nota-se que no modelo de MAZARS (1984) a dissipação de energia é
decorrente somente do processo de danificação, pois deformações residuais e
plastificação das armaduras não são consideradas. Ocorre que na viga de 3φ10.0mm o
panorama de fissuras é mais localizado. Tendo menos armadura o concreto apresenta tal
configuração de fissuras e as deformações residuais, por efeito do engrenamento dos
agregados, se fazem mais significativas, resultando numa maior dissipação. Essa pode
ser a razão para a menor precisão do modelo de Mazars no caso da viga com pouca taxa
de armadura. Já o modelo de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT
(1991) apresenta bons resultados, pois leva em conta as deformações residuais e a
eventual plastificação de armaduras.
No caso do modelo de ÁLVARES (1998), pela curva resultante nota-se que é
possível recuperar a carga última que as vigas suportam, porém não se consegue
descrever de forma satisfatória todo o comportamento não-linear. Imagina-se que este
fato é devido à concepção do modelo admitir os efeitos de dano e plasticidade
concentrados em rótulas, permanecendo as barras com comportamento elástico. No caso
das vigas, pelos fenômenos que ocorrem, provavelmente existe uma intensidade maior
de energia dissipada do que aquela reproduzida pelo modelo. O processo de
homogeneização também é um fator a ser levado em conta na obtenção das respostas
fornecidas pelo modelo.

5.2 PÓRTICO EM CONCRETO ARMADO

5.2.1 Características do Pórtico Ensaiado


O pórtico possui dois andares com um vão total de 5,70 m e uma altura total de
4,60 m. As seções transversais utilizadas para as vigas foram de 30 X 40 cm, e para as
colunas foram de 40 X 30 cm. Todos os membros do pórtico possuem armadura
longitudinal composta por 8 barras de φ20.0 mm e armadura transversal de φ10,0 mm c/
12,5cm. Maiores detalhes encontram-se em VECCHIO & EMARA (1992). Segue-se
uma ilustração do pórtico em concreto armado assim como as seções transversais de
vigas e colunas.

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Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 51

700 kN 700 kN
A 300

400 Q

A B B
B B
1600

4600 400

A
B B B B
1800
Dimensões
em mm

400

900 400 3100 400 900 800


5700
Figura 9 - Detalhes do pórtico em concreto armado.

300

φ10
30 φ10
20 400

20
20
4φ20
50

300
Seção A 120
300

50
4φ20
20
20

20
* 320
30 20 20 20 20
Dimensões Seção B
75 50 75 em mm
30 20 20 30 4φ20 4φ20
Figura 10 - Seções Transversais A e B.

O ensaio experimental envolveu primeiramente a aplicação de uma força axial


total de 700 kN para cada coluna, mantendo esta força constante durante o ensaio. A
força lateral foi então aplicada, incrementando-a sucessivamente até ser atingida a
capacidade última do pórtico.
A seguir estão descritas as propriedades dos materiais constituintes do pórtico.

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52 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

Tabela 6 - Propriedades dos materiais empregados na confecção do pórtico em concreto armado


Propriedades do Concreto
Módulo de Young EC = 38200 Mpa
Propriedades do Aço
Módulo de Young ES = 192500 Mpa
Tensão de Plastificação fy = 418 Mpa
Tensão Última fu = 596 Mpa

5.2.2 Análise Numérica


Para a análise numérica do pórtico adotou-se para o concreto os modelos
constitutivos de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991) e de
ÁLVARES (1998).
Inicialmente faz-se a descrição dos parâmetros utilizados pelo modelo LA
BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991).

Tabela 7 - Parâmetros do modelo constitutivo de LA BORDERIE,


MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991) empregados na análise numérica do pórtico.
Parâmetros do modelo de LA BORDERIE, MAZARS
& PIJAUDIER-CABOT (1991)
Y01 = 3,35 E -04 MPa B1 = 1.10
Y02 = 0,15 E -01 MPa B2 = 1,50
A1 = 3,00 E +03 MPa -1
β1 = 1,00 MPa
A2 = 7,00 E +00 MPa-1 β2 = -40,0 MPa
σf = 3,50 MPa
A rede adotada na discretização da estrutura foi composta por 30 elementos e 30
nós, sendo empregados 10 elementos por coluna e 5 elementos por viga, além da
estratificação das seções transversais em 10 camadas sendo utilizadas 2 camadas de aço
dentre as 10 referidas conforme a geometria da seção da viga e da coluna (figura 4.8).
Para o modelo de ÁLVARES (1998) a tabela a seguir ilustra os valores dos
parâmetros utilizados na simulação numérica da estrutura.

Tabela 8 - Parâmetros do modelo constitutivo de ÁLVARES (1998)


empregados na análise numérica das vigas.
Parâmetros do modelo de ÁLVARES (1998)
VIGAS COLUNAS
φpu = 0,0167 φpu = 0,006
Mu = 189,00 kN.m Mu = 273,00 kN.m
Mp = 161,00 kN.m Mp = 253,00 kN.m
Mcr = 0,00814 kN.m Mcr = 0,02773 kN.m
c = 50700000,00 c = 154000000,00
Q = -1005,37 Q = -1169,70
My = 218,00 kN.m My = 384,00 kN.m

Em CIPOLLINA, A.; LÓPEZ-INOJOSA, A.; FLÓREZ-LÓPEZ, J. (1995) foram


obtidas as propriedades das seções mediante teorias de concreto armado. A inércia e a
área da seção transversal foram obtidas pela transformação da área de aço numa seção
equivalente de concreto. Aqueles autores sugerem um módulo de elasticidade de um
material homogeneizado sendo igual a 26,33 x 10+06 MPa.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n.23, p. 33-60, 2005


Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 53

Na discretização da estrutura foram utilizados 6 elementos e 6 nós


correspondendo um elemento para cada viga e coluna. Devido à homogeneização da
seção transversal não houve a necessidade de discretizar a mesma em camadas,
considerando-a como uma seção única de um material fictício.
A seguir apresenta-se o confronto entre as respostas numéricas e experimental
ilustradas em forma de curvas força horizontal aplicada e deslocamento horizontal no
andar superior do pórtico.

350,0

300,0

250,0
Força (kN)

200,0 ÁLVARES (1998)

150,0
Experimental

100,0
LA BORDEIRE, MAZARS
& PIJAUDIER-CABOT
50,0 (1991)

0,0
0,0 50,0 100,0 150,0 200,0

Deslocamento (mm)

Figura 11 - Resultados numéricos do pórtico em concreto armado

Os resultados apresentados pelo modelo de ÁLVARES (1998) são satisfatórios,


levando-se em conta o pequeno esforço na obtenção dos parâmetros, por se tratar de um
modelo bastante simplificado, além do baixo número de iterações apresentado pelo
programa durante a resolução numérica do problema (evidenciando assim um pequeno
esforço computacional).
Em VECCHIO & EMARA (1992) é relatado que o pórtico experimentou a
primeira fissura na força de 52,25 kN, na viga situada no primeiro andar do pórtico. Na
simulação numérica as variáveis de dano atingiram valores positivos para esta mesma
viga (elemento 6, nós 2 e 5, figura 12) na força de 38,68 kN. Os valores de dano nos
outros membros do pórtico permaneceram nulos nesta fase de carregamento. No teste
experimental fissuras na base das colunas ocorreram com força de 93,00 kN. A primeira
plastificação no teste experimental ocorreu com força de 264 kN na viga do primeiro
andar. Deformações plásticas surgiram na simulação pela primeira vez no mesmo
elemento (elemento 6, nó 2, figura 12) com força de 249 kN. A plastificação na base das
colunas ocorreu em 323 kN e na simulação em 306 kN. A carga última observada
durante o experimento foi de 332 kN, entretanto na simulação o valor obtido foi de
323,70 kN. A discretização do pórtico utilizada na simulação numérica está ilustrada na
figura a seguir:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n.23, p. 33-60, 2005


54 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

3 3 4

2,00
2 4
6
5
2

2,00
1 elemento 5

1 Medidas em m 6

3,50
Figura 12 - Discretização adotada na simulação numérica com o modelo de ÁLVARES (1998)

O mecanismo de falha do pórtico em concreto armado obtido na simulação


numérica pelo modelo de ÁLVARES (1998) está indicado na figura abaixo:

0.85 0.85
0.18 0.19

0.08 0.86 0.86 0.08


0.0 0.0

rótula anelástica-plástica

0.91 rótula anelástica sem plasticidade 0.91

Figura 13 - Estado do pórtico na carga última (rótulas plásticas e de dano). plástiano).

165700.
165700.

162500.
61620.
100900.
61780.
100700.
162500.

204800.
204800. Figura 14 - Estado do pórtico na carga última
(diagrama de momentos fletores em kN.mm)

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n.23, p. 33-60, 2005


Estudo e aplicação de modelos constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica... 55

Para o caso do modelo de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT


(1991), o valor numérico da força para ocorrência da primeira fissuração foi de 64,07
kN. Durante o desenvolver da curva carga x deslocamento este modelo melhor se
aproximou dos resultados experimentais, porém ainda apresentando um comportamento
mais rígido que a curva experimental. A carga última não foi capturada pelo modelo,
tendo sido atingido um valor de 307 kN. Vários testes foram feitos, entre eles o
refinamento do incremento de deslocamento, mas pensa-se que isso é devido a fatores
paramétricos do modelo, evidenciando assim uma razoável sensibilidade com relação a
variação dos seus parâmetros. Nas simulações numéricas com os dois modelos
empregou-se o controle de deslocamento, para evidenciar a resposta do pórtico no
regime pós-pico (ramo ‘softening’). No modelo de LA BORDERIE, MAZARS &
PIJAUDIER-CABOT (1991) houve muitas iterações, dando uma amostra do esforço
computacional bastante elevado se comparado ao modelo de ÁLVARES (1998).
Em resumo, o modelo proposto por ÁLVARES (1998) apresenta um
comportamento semelhante à curva experimental até a região próxima do processo de
início de dano. Apesar de não haver uma aderência total à resposta experimental, o
modelo permite capturar a carga última de forma bastante satisfatória. Já o modelo LA
BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991) acompanha melhor a curva
carga x deslocamento no trecho que segue à primeira fissuração, porém não consegue
capturar a carga última do pórtico.
Para o caso deste pórtico em concreto armado, que apresenta apenas forças
nodais, o modelo de ÁLVARES (1998) se comportou de forma satisfatória, pois nesse
pórtico evidenciou-se uma concentração maior de fenômenos dissipativos nos nós, tais
como plasticidade e dano, diferentemente no que se passou nas vigas do exemplo
anterior. Parece assim, bastante razoável a hipótese assumida por este modelo de
concentração destes fenômenos em rótulas. Há, entretanto, a ocorrência de fenômenos
nas barras, logo o modelo de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT
(1991) melhor se adaptou ao exemplo pois o mesmo leva em conta dano e deformações
anelásticas nas barras.
O que se deve ressaltar é que o esforço computacional envolvido na análise
numérica do pórtico em concreto armado por parte do modelo de ÁLVARES (1998) foi
muito menor que o modelo de LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT
(1991). Entretanto a dificuldade na obtenção dos parâmetros deste modelo é
compensada pela boa qualidade dos resultados evidenciados no exemplo em questão.

6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho abordam-se modelos constitutivos para o concreto


fundamentados na Mecânica do Dano, considerando-se aspectos relativos à sua
formulação teórica e aplicação na simulação numérica do comportamento de estruturas.
Destacam-se, nas aplicações, os chamados métodos simplificados de análise estrutural.
Com relação ao campo numérico, pode-se destacar a utilização do modelo
proposto por ÁLVARES (1998). Tal modelo leva em consideração fenômenos
importantes que ocorrem no concreto tais como a plasticidade e o dano, destacando-se
entre as vantagens que apresenta, o emprego de elementos finitos de barra e o seu
esforço computacional reduzido. Outro destaque é a potencialidade apresentada pelo
modelo proposto por LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-CABOT (1991),
porém para o caso do pórtico verificou-se sua grande sensibilidade paramétrica. Já o

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n.23, p. 33-60, 2005


56 José Julio de Cerqueira Pituba & Sergio Persival Baroncini Proença

modelo de MAZARS (1984) apresentou resultados satisfatórios considerando-se as


hipóteses simplificadoras adotadas pelo mesmo.
Como considerações gerais entende-se que o modelo de MAZARS (1984) pode
ser estendido para sua aplicação em situações mais próximas da realidade, desde que
sejam incorporados recursos como: a plastificação das armaduras, localização de
deformações permanentes e a consideração da interação entre o concreto e a armadura.
Para o modelo proposto por LA BORDERIE, MAZARS & PIJAUDIER-
CABOT (1991) sugere-se um estudo da sensibilidade paramétrica do modelo.
Outra sugestão seria o emprego de procedimentos que visem uma aplicação mais
prática na obtenção dos parâmetros do modelo de ÁLVARES (1998), como, por
exemplo, uma identificação dos momentos necessários com valores definidos na Norma
para concreto armado. Dessa forma o modelo possui grande potencial de aplicação ao
cálculo da carga de ruína de pórticos em concreto armado. Os argumentos citados e
outros de igual importância constituem, sem sombra de dúvidas, um amplo campo de
pesquisas a ser explorado.

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ANÁLISE DINÂMICA BIDIMENSIONAL NÃO-LINEAR
FÍSICA E GEOMÉTRICA DE TRELIÇAS DE AÇO E
PÓRTICOS DE CONCRETO ARMADO

Rogério de Oliveira Rodrigues1 & Wilson Sergio Venturini2

Resumo

Este trabalho trata da análise dinâmica bidimensional de treliças de aço e pórticos de


concreto armado, onde estudam-se os efeitos da não-linearidade física desses materiais
e os efeitos da não-linearidade geométrica de tais estruturas. Neste contexto, define-se
a equação geral que descreve o comportamento de estruturas discretizadas por
elementos finitos, utilizando-se o Princípio dos Trabalhos Virtuais para estruturas em
movimento. Para a integração temporal dessa equação, utiliza-se um método implícito
de integração numérica, onde adota-se um processo previsor-corretor com auxílio das
equações generalizadas de Newmark. Na análise da não-linearidade geométrica,
define-se o campo de deformações através de uma função quadrática dos
deslocamentos, que ocorrem ao longo de cada elemento finito, sendo que para treliças
planas consideram-se todas as parcelas provenientes de tal relação e para pórticos
planos desprezam-se os termos que contém produtos de parcelas de ordem superior.
Para descrever a posição de equilíbrio do sistema estrutural ao longo do processo de
integração numérica, utiliza-se a formulação Lagrangeana atualizada que resulta na
dedução das matrizes de rigidez incrementais secante e tangente. Com relação à não-
linearidade física do aço, elabora-se uma modelagem numérica através da utilização
de um diagrama tensão x deformação bilinear, destacando-se os modelos cinemático,
isotrópico e independente. Já para a não-linearidade física do concreto armado,
elabora-se uma modelagem numérica através da utilização do modelo proposto pelo
CEB, onde corrige-se o valor do momento de inércia em função do grau de fissuração
do elemento. Esta modelagem contempla, também, o comportamento para
carregamento cíclico e sua inversão. Para finalizar, apresentam-se exemplos
numéricos com posterior análises qualitativa e quantitativa dos resultados.

Palavras-chave: Dinâmica estrutural; comportamento não-linear.

1
Doutor em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, ror@dec.feis.unesp.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, venturin@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


62 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

1 INTRODUÇÃO

A análise realista do comportamento estático e dinâmico de sistemas estruturais


é, sem dúvida, um dos principais objetivos almejados pelo Engenheiro de Estruturas nas
últimas quatro décadas.
Com a disseminação da informática ocorrida ao final da década de oitenta, e
principalmente em função do aumento vertiginoso da capacidade de armazenamento,
gerenciamento e processamento de dados aduzido pelos computadores de pequeno
porte, o Engenheiro de Estruturas passa a ter acesso a equipamentos e programas
computacionais que possibilitam uma análise estrutural baseada em modelos mais
refinados, proporcionando um aumento da segurança e diminuição de custos dos
projetos e das construções.
Atualmente, em função do avanço científico e tecnológico, a realização de
análises dinâmicas não-lineares se torna cada vez mais premente, tendo em vista a
necessidade de se simular, da forma mais realista possível, o comportamento estrutural
de edificações e equipamentos existentes, tais como fundações aporticadas de máquinas,
pontes rodoviárias e ferroviárias sujeitas à grandes deslocamentos, edifícios altos
submetidos à ação do vento e estruturas em geral sujeitas à vibrações induzidas por
abalos sísmicos.
Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo principal analisar o
comportamento dinâmico de treliças planas de aço e pórticos planos de concreto
armado, considerando-se as não-linearidades física e geométrica, através da
implementação, de forma aprimorada, da formulação Lagrangeana atualizada para
descrever a posição de equilíbrio de tais estruturas. Para a consideração da não-
linearidade física dos materiais, utiliza-se uma relação tensão x deformação bilinear
para elaborar os modelos físicos cinemático, isotrópico e independente para o aço e uma
relação momento x curvatura proposta pelo CEB para o concreto armado.

2 EQUAÇÃO DO MOVIMENTO PARA UM SISTEMA ESTRUTURAL


DISCRETO

A equação do equilíbrio que governa a resposta dinâmica de um sistema


estrutural discreto pode ser obtida utilizando-se o Princípio dos Trabalhos Virtuais para
estruturas em movimento, HENRYCH(1990), através da aplicação de um deslocamento
virtual infinitesimal e cinematicamente compatível com o sistema analisado.
Relacionando-se os deslocamentos genéricos dos pontos situados sobre o eixo de cada
elemento com os seus respectivos deslocamentos nodais, através de funções de forma
apropriadas, associando-se a deformação longitudinal com tais deslocamentos e
utilizando-se o processo de expansão e acumulação para todo o sistema estrutural
discreto, obtém-se, finalmente, a equação geral do movimento dada pelo sistema de
equações fornecido pela equação (1), ARGYRIS et al.(1991).

•• •
⎛ ⎞
M D + C D + FR ⎜ D⎟ = FE ( t ) (1)
~ ~ ~ ~ ⎝ ~⎠ ~ ~

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 63

onde “ F E ” são os esforços externos dependentes apenas do tempo; “ F R ” são as forças


~ ~
restauradoras dependentes dos deslocamentos globais “ D ” e da relação tensão x
~
deformação; enquanto que “ M ” é a matriz de massas consistente e “ C ” é a matriz de
~ ~
amortecimento do tipo Rayleigh.

3 INTEGRAÇÃO DA EQUAÇÃO GERAL DO MOVIMENTO

Para a integração temporal da equação (1) pode-se utilizar o método implícito de


Newmark, onde a idéia básica do método é dada pela previsão do valor das acelerações
ao final do intervalo de tempo que se deseja conhecer. Com isso, aplicando-se as
equações generalizadas de Newmark, pode-se prever, também, o valor dos
deslocamentos e das acelerações ao final do mesmo intervalo de tempo. Na seqüência,
utiliza-se um processo iterativo onde, ao final de cada iteração, faz-se uma correção nos
valores dos deslocamentos e suas derivadas temporais, em função da última resposta
encontrada. Quando for atingida uma determinada tolerância para o resíduo das forças
dinâmicas, assume-se que os últimos valores obtidos estão corretos e inicia-se
novamente o processo de integração para o próximo intervalo de tempo. Tal
procedimento é ilustrado pela figura 1, onde pode-se visualizar de forma global todos os
passos descritos anteriormente.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


64 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

• •• ⎧ •
⎛ ⎞⎫
fornecer p / t = 0 ⇒ D0 e D 0 ⇒ D 0 = M − 1 ⎨ F E ( 0 ) − C D 0 − F R ⎜⎝ D 0⎟⎠ ⎬
~ ~ ~ ~ ⎩ ~~ ~ ~ ~ ⎭

k = 1 ⇒ n o passos ; n = k ; t = n ∆ t

•• •• • • •• ••
Dk = Dn−1 ; Dk = Dn−1 + (1 − γ ) ∆t Dn−1 + γ ∆t Dk
~ ~ ~ ~ ~ ~
• •• ••
⎛1 ⎞
Dk = Dn−1 + ∆t Dn−1 + ⎜⎝ 2 − β⎟⎠ ∆t 2 Dn−1 + β ∆t 2 Dk
~ ~ ~ ~ ~

⎛ ⎞ •• •
⎛ ⎞
R~ ⎜⎝ Dk⎟⎠ = FE ( n ∆t ) − M
~
Dk − C Dk − FR ⎜⎝ Dk⎟⎠
~
~ ~ ~ ~ ~ ~

⎛ ⎞
R ⎜⎝ Dk⎟⎠ V
~ ~
〈ε
FE ( n ∆t )
~

F
⎧ ⎛ ⎞⎫
⎪ ∂ FR ⎜ Dk⎟ ⎪
⎪ 1 γ ~ ⎝ ~ ⎠⎪ ⎛ ⎞
⎨M 2 +C + ⎬∆ D k = R ⎜ Dk ⎟
⎪ ~ β ∆t ~ β ∆t ∂ Dk ⎪ ~ ~ ⎝ ~ ⎠
⎪ ~

⎩ ⎭

• • •• ••
γ 1
Dk = Dk + ∆ Dk ; Dk = Dk + β ∆t ∆ Dk ; Dk = Dk + ∆ Dk
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ β ∆t 2 ~

Figura 1 - Diagrama de blocos do método de Newmark.

4 NÃO-LINEARIDADE GEOMÉTRICA PARA TRELIÇAS PLANAS

Dado um sistema estrutural discreto em equilíbrio estático, formado por um


conjunto de elementos contidos no plano (X,Y), as forças restauradoras de tal sistema e
suas respectivas derivadas são obtidas, respectivamente, através da primeira e segunda
derivações da energia de deformação em relação aos deslocamentos nodais, conforme
mostram as equações (2) e (3).
⎛ ⎞ ∂U
FR ⎜⎝ D⎟⎠ = ∂ (2)
~ ~ Dj
⎛ ⎞
∂ FR ⎜ D⎟
~ ⎝ ~ ⎠ ∂
2
U
= (3)
∂ Di ∂ Di ∂ D j
Neste trabalho, optou-se pela escolha da formulação Lagrangeana atualizada
para descrever a posição de equilíbrio do sistema estrutural ao longo do processo de
resolução numérica. Tal formulação preconiza que ao final de cada incremento de

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 65

carregamento deva ser feita uma atualização das coordenadas do sistema, através de
uma sucessão de posições de equilíbrio conforme ilustra a figura 2, permitindo-se que o
mesmo venha a ter grandes deslocamentos.
2
Incremento 2 2 x ,2u
y ,2v 2
B
2
O
2
θ0
2
Incremento 1 A
1
y ,1v 1 1
x,u Conf. equilíbrio 2
1
B 2
1
O L=2A2B
1
A
1
θ0
0
y ,0v Conf. equilíbrio 1
1
L=1A1B
0 0 0
O 0 x,u
L
0 0
A B
Conf. equilíbrio 0

Figura 2 - Atualização de coordenadas para um elemento genérico.

Dessa forma, a energia de deformação de cada elemento, considerando-se o


problema como sendo incremental, é dada pela equação (4).
1
( )
2
Ue = 2 ∫Ve E m+1 ε x d Ve (4)
onde “m+1εx” é a deformação total do elemento ocorrida até a configuração de equilíbrio
“m+1”.
Expressando-se a variação da deformação que ocorre durante o incremento “n”,
tem-se que:
∆ n ε x = m +1 ε x − m ε x (5)
onde “mεx” é a deformação total do elemento ocorrida até a configuração de equilíbrio
“m”.
Substituindo-se a equação (5) na equação (4) e efetuando-se as operações
matemáticas, obtém-se:
1 2 n m
(
Ue = 2 ∫Ve E ∆ ε x + 2 ∆ ε x ε x + ε x d Ve
n m 2
(6) )
Como “mεx” não depende dos deslocamentos ocorridos durante o incremento
“n”, qualquer derivação em relação à esses deslocamentos se anula. Para incrementos
suficientemente pequenos valem as simplificações impostas pela adoção de pequenas
rotações, com isso pode-se reescever a expressão da energia de deformação em função
das parcelas que contribuem na rigidez, CORRÊA(1991), como mostra a equação (7):
1
Ue = 2 ∫Ve E∆ ε x d Ve + ε x ∫Ve E∆ ε x d Ve
n 2 m n
(7)
onde a primeira parcela fornecerá o acréscimo de energia ocorrido durante cada
incremento “n” e a segunda parcela fornecerá a energia acumulada até a configuração
de equilíbrio “m”, valendo a relação n=m+1.

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66 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

Com o objetivo de ilustrar tal procedimento, apresenta-se a dedução das matrizes


de rigidez para um elemento de barra simples, cujo campo de deformações é fornecido
pela equação (8).
2
u2 − u1 + 1 ⎛⎜ u2 − u1⎞⎟
εx L
=
2⎝ L ⎠
(8)

Substituindo-se a equação (8) em (7) e efetuando-se o desenvolvimento


matemático da mesma, obtém-se a energia de deformação de cada elemento em função
da soma de cinco parcelas. Substituindo-se o resultado na equação (2), derivando-se
cada uma das parcelas obtidas em relação aos deslocamentos nodais após a integração
das mesmas e organizando-se o resultado na forma matricial, obtém-se a equação de
equilíbrio do sistema dada por:
⎡ 3 ∆ϕ 2 3 ∆ϕ 2 ⎤
⎧ E A ⎡ 1 − 1⎤ 1 E A ⎡ 3∆ϕ − 3∆ϕ ⎤ 1 E A ⎢ 2 − ⎥
+ + ⎢ 2 ⎥+
⎨m ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎩ L ⎣− 1 1 ⎦ 2 L ⎣− 3∆ϕ 3∆ϕ ⎦ 3 L ⎢− 3 ∆ϕ 3 ∆ϕ 2 ⎥
m m 2

⎢⎣ 2 2 ⎥⎦ (9)
m
N ⎡ 1 − 1⎤ ⎫ ⎧⎪ ∆ n u1 ⎫⎪ ⎧− m N ⎫ m+1
⎢ ⎥⎬ ⎨ ⎬+⎨ ⎬= f E
m
L ⎣− 1 1 ⎦ ⎭ ⎪⎩∆ n u2 ⎪⎭ ⎩ m N ⎭ ~

Dessa forma, a matriz de rigidez secante de cada elemento fica definida pela
equação (10), sendo que cada parcela corresponde aos termos que aparecem entre as
duas primeiras chaves da equação (9).
n n 1 n 1 n n
kS= k 0 + 2 k1 + 3 k 2 + k G (10)
~ ~ ~ ~ ~
De forma análoga, a matriz de rigidez tangente é dada pela seguinte equação:
n n n n n
kT= k 0+ k1+ k2 + kG (11)
~ ~ ~ ~ ~

sendo que “ n k 0 ”, “ n k 1 ”, “ k 2 ” e “ n k G ” são as mesmas matrizes dadas em (9), ou


n

~ ~ ~ ~
seja:
⎡ 3 ∆ϕ 2 3 ∆ϕ 2 ⎤
E A ⎡ 1 − 1⎤ E A ⎡ 3∆ϕ − 3∆ϕ ⎤ E A ⎢ − ⎥ m
N ⎡ 1 − 1⎤
kT = m ⎢− 1 1 ⎥ + m ⎢− 3∆ϕ 3∆ϕ ⎥ + m ⎢ 3 2∆ϕ 2 2 ⎥+
n
⎢ ⎥
L⎣ ⎦ L⎣ ⎦ L⎢ 3 ∆ϕ 2 ⎥ m
L ⎣− 1 1 ⎦
⎢⎣− 2
~
2 ⎥⎦
(12)
Convém ressaltar que neste procedimento a soma entre as matrizes de rigidez
elástica “ n k 0 ” e geométrica “ n k G ” permanece constante durante todas as iterações
~ ~
necessárias para a obtenção do equilíbrio, visto que as mesmas só dependem de
parâmetros relativos à configuração de equilíbrio anterior. Já as matrizes de rigidez
incrementais são atualizadas a cada iteração pelos acréscimos de deslocamentos que
ocorrem durante a aplicação do incremento de carregamento, conforme ilustra a figura
3. Cabe ressaltar que este mecanismo também é válido para o cálculo da matriz de
rigidez secante.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 67

1 1
KT= K + K incrementais
1 *
1
~ ~
Iteração 2 ~ 1 1 x ,1u
y ,1v B
1 1 1
K T = K 0+ K G = K
1 *
~ ~ ~ ~
Iteração 1 1
A 1
θ0
∆ u21
Conf. equilíbrio 1
∆1θ1
B’
Conf. intermediária A’
∆1θ2

∆1u1
∆1v1 ∆1v2
0
y ,0v Incremento 1
0
x ,0u
Conf. equilíbrio 0
0 0
A B
Figura 3 - Atualização da matriz de rigidez tangente para um elemento genérico.

Efetuando-se o mesmo procedimento para o elemento de treliça plana, tem-se


que o campo de deformações é dado pela equação (13).
v' 2 u' 2
εx = u ' +
2
+
2
(13), onde

u2 − u1 ( v2 − v1)
u' = ϕ = ; v ' = θ0 =
....(14)
L L
Substituindo-se a equação (13) na equação (7) e promovendo-se o
desenvolvimento matemático da mesma, obtém-se a energia de deformação de cada
elemento em função da soma de nove parcelas. Derivando-se cada uma das parcelas
obtidas em relação aos deslocamentos nodais após a integração das mesmas,
substituindo-se o resultado na equação (2) após a igualdade entre as forças
restauradoras e as forças externas e organizando-se o resultado na forma matricial, a
matriz de rigidez secante de cada elemento fica definida pela equação (15).
n n 1 n 1 n n n
kS= k 0 + 2 k1 + 3 k 2 + kSN + k G (15)
~ ~ ~ ~ ~ ~
onde

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68 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

⎡1 0 − 1 0⎤
⎢ 0 0⎥
EA 0 0
k 0 = m ⎢⎢ − 1 ⎥
n

~ L 0 1 0⎥
⎢ ⎥
⎣0 0 0 0⎦
⎡ 3∆ϕ ∆ θ0 − 3∆ϕ − ∆ θ 0 ⎤
⎢ ⎥
E A ∆θ ∆ϕ − ∆ θ 0 − ∆ϕ ⎥
k 1 = m ⎢⎢ − 3∆ϕ0 − ∆
n

~ L θ 0 3∆ϕ ∆ θ 0 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ − ∆ θ 0 − ∆ϕ ∆ θ0 ∆ϕ ⎥⎦
⎡ 3 ∆ϕ 2 3 ∆ϕ 2 ⎤
⎢ 0 − 0 ⎥
⎢ 2 2 ⎥
3 ∆ θ0 3 ∆ θ0
2 2
⎢ ⎥
EA⎢ 0 0 − ⎥
n 2 2
k 2 = m ⎢ 3 ∆ϕ 2 3 ∆ϕ 2 ⎥
L ⎢ ⎥

~
0 0
⎢ 2 2 ⎥
⎢ 3 ∆ θ0
2
3 ∆ θ0
2 ⎥
⎢ 0 − 0 ⎥
⎣ 2 2 ⎦
⎡ ∆ θ0 2 ∆ϕ ∆ θ 0 ∆ θ0
2
∆ϕ ∆ θ 0 ⎤
⎢ − − ⎥
⎢ 4 4 4 4 ⎥
⎢ ∆ϕ ∆ θ 0 ∆ϕ 2 ∆ϕ ∆ θ 0 ∆ϕ 2 ⎥
EA⎢ − − ⎥
k SN = m ⎢ ∆4 2 4 4 4
n

θ0 ∆ϕ ∆ θ 0 ∆ θ0 ∆ϕ ∆ θ 0 ⎥
2
~ L ⎢
⎢ − 4 −
4 4 4 ⎥
⎢ ∆ϕ ∆ θ ∆ϕ 2 ∆ϕ ∆ θ 0 ∆ϕ 2 ⎥
⎢− 0
− ⎥
⎣ 4 4 4 4 ⎦
⎡1 0 −1 0 ⎤
m ⎢ 0 − 1⎥
N⎢0 1
k G = m ⎢− 1 0 1 0 ⎥⎥
n
...(16)
~ L
⎢ ⎥
⎣ 0 −1 0 1⎦

De forma análoga, a matriz de rigidez tangente é dada pela seguinte equação:


n n n n n n
k T= k 0+ k1+ k 2 + k TN + k G (17)
~ ~ ~ ~ ~ ~

sendo que “ n k 0 ”, “ n k 1 ”, “ n k 2 ” e “ n k G ” são as mesmas matrizes dadas em (16) e a


~ ~ ~ ~
n
matriz k TN ” é dada por:
~
⎡ ∆ θ02 ∆ θ0
2

⎢ ∆ϕ ∆ θ0 − − ∆ϕ ∆ θ0⎥
⎢ 2 2 ⎥
⎢ ∆ϕ 2 ∆ϕ 2 ⎥
E A ⎢ ∆ϕ ∆ θ0 − ∆ϕ ∆ θ0 − (18)
n 2 2 ⎥
k TN = m L ⎢ ∆ 2 ⎥
θ ∆ θ
2
~ ⎢ − 0
− ∆ϕ ∆ θ0 0
∆ϕ ∆ θ0 ⎥
⎢ 2 2 ⎥
⎢ ∆ϕ 2 ∆ϕ 2 ⎥
⎢− ∆ϕ ∆ θ0 − ∆ϕ ∆ θ0 ⎥
⎣ 2 2 ⎦
Analogamente para o elemento de pórtico plano, tem-se que o campo de
deformações é dado pela equação (19).

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 69

1 L v' 2 u' 2
ε x = u'+ L ∫0 2 dx − y v' '+ 2 − y u' v' ' (19), onde

u' = ϕ =
u2 − u1 ; v' = d + 2 e x + 3 f x 2 ; v' ' = 2 e + 6 f x ....(20), sendo
L

d = θ1 ; e =
− 2 θ1 − θ2 + 3 θ0 θ1 + θ2 − 2 θ0 ( v2 − v1)
L
; f=
L L 2
; θ0 =
....(21)
Substituindo-se a equação (19) na equação (7) e promovendo-se o
desenvolvimento matemático da mesma, obtém-se a energia de deformação de cada
elemento em função da soma de vinte parcelas. Derivando-se cada uma das parcelas
obtidas em relação aos deslocamentos nodais após a integração das mesmas,
substituindo-se o resultado na equação (2) após a igualdade entre as forças
restauradoras e as forças externas e organizando-se o resultado na forma matricial, a
matriz de rigidez secante de cada elemento fica definida pela equação (22).
n n 1 n 1 n n n n
kS= k 0 + 2 k1 + 3 k 2 + kSN + kSF+ k G (22)
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
onde
⎡ EA EA ⎤
⎢ mL 0 0 − m
0 0 ⎥
⎢ L
12EI 6EI 12EI 6EI ⎥
⎢ 0 − ⎥
⎢ m 3
L m
L
2 m
L
3 m 2 ⎥
L ⎥
⎢ 4EI 6EI 2EI
⎢ 0 − ⎥
n ⎢ m
L m
L
2 m
L ⎥
k0 = ⎢ EA ⎥
~
⎢ 0 0 ⎥
⎢ m
L ⎥
⎢ 12EI 6EI ⎥
⎢ −
m 3 m 2⎥
⎢ L L⎥
⎢ 4EI ⎥
⎢sim. ⎥
⎣ m
L ⎦

⎡ 3ϕ ϕ ϕ 3ϕ ϕ2 ϕ ⎤ ⎡ 12 ϕ11 6ϕ12 12 ϕ 6ϕ13 ⎤


⎢ m 1 − m2 − 3 − m 1 − 4 ⎥ ⎢ 0 0 − m 311 ⎥
⎢ L ⎥
m 3 m 2 m 2
⎢ L 30 ⎥
m
10 L 30 L 10 L L L L
⎢ 6ϕ1 ϕ1 ϕ2 6ϕ ϕ1 ⎥ ⎢ 12 ϕ1 6ϕ1 12 ϕ 12 ϕ 6ϕ1 ⎥
⎢ − m1 ⎥ ⎢ m 3 m 2 − m 311 − m 31 m 2

⎢ L ⎥
m m
⎢ 5 L 10 10 L 5 L 10 ⎥ L L L L
⎢ 2ϕ1 L ϕ3
m
ϕ ϕ L⎥
m
⎢ 4 ϕ1 6ϕ 6ϕ 2 ϕ1 ⎥
⎢ − 1 − 1 ⎥ ⎢ m − m 122 − m 21 m ⎥
30 ⎥ + E I ⎢ L ⎥
k1 = E A ⎢ 15 30 10 L L L
n

~ ⎢ 3ϕ1 ϕ ϕ4 ⎥ ⎢ 12 ϕ11 6ϕ ⎥
⎢ m − m2 ⎥ ⎢ 0 m 3 − m 13 ⎥
⎢ L 10 L 30 ⎥ ⎢ L L2 ⎥
⎢ 6ϕ1 ϕ ⎥ ⎢ 12 ϕ1 6ϕ ⎥
⎢ m − 1 ⎥ ⎢ m 3 − m 21 ⎥
⎢ 5 L 10 ⎥ ⎢ L L ⎥
⎢ 2ϕ1m L ⎥ ⎢ 4 ϕ1 ⎥
⎢ sim. ⎥ ⎢sim. ⎥
⎣ 15 ⎦ ⎣ m
L ⎦
(23a)

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


70 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

⎡ 3ϕ2 3ϕ2 ⎤
⎢ 1
0 0 − 1
0 0 ⎥
⎢ 2m L 2m L ⎥
⎢ ϕ5 ϕ5 ⎥
⎢ ϕ6 0 −m ϕ7 ⎥
⎢ m
L L ⎥
⎢ ϕ8m L 0 − ϕ6 ϕ9 m L ⎥
k2 = E A ⎢ ⎥
n

~ ⎢ 3ϕ2 ⎥
⎢ 1
0 0 ⎥
⎢ 2m L ⎥
⎢ ϕ5 ⎥
⎢ m − ϕ7 ⎥
⎢ L ⎥
⎢⎣ sim. ϕ10m L⎥⎦

⎡ ϕ2 ϕ ϕ2 ϕ ⎤
⎢ϕ14 − ϕ1 − 3 ϕ1 − ϕ14 ϕ1 − 4 ϕ1 ⎥
⎢ 40m L 120 40m L 120 ⎥
⎢ 6 ϕ1 ϕ1 ϕ2 6 ϕ1 ϕ1 ⎥
⎢ ϕ1 ϕ1 ϕ1 − ϕ1 ϕ1 ⎥
⎢ 20m L 40 40m L 20m L 40 ⎥
⎢ m mL ⎥
⎢ ϕ1 L ϕ 3 ϕ ϕ ⎥
ϕ1 ϕ1 − 1 ϕ1 − 1 ϕ1⎥
n ⎢ 30 120 40 120
kSN = E A ⎢ ϕ2 ϕ4 ⎥
~ ⎢ ϕ14 − ϕ ϕ ⎥
⎢ 40m L
1 120 1 ⎥
⎢ 6 ϕ1 ϕ1 ⎥
⎢ ϕ − ϕ ⎥
⎢ 20m L
1 40 1 ⎥
⎢ ⎥
⎢ ϕ1m L ⎥
⎢⎣sim. ϕ1 ⎥
30 ⎦

⎡12 ϕ 12 ϕ ϕ 6ϕ ϕ 12 ϕ15 12 ϕ1 ϕ11 6ϕ1 ϕ13 ⎤


⎢ 15 1 11 1 12
− m 3 − m 3 ⎥
⎢ Lm 3 m
L3 m
L2
L L L ⎥
m 2
⎢ 12 ϕ1
2
6ϕ1
2
12 ϕ1 ϕ11 12 ϕ1
2
6ϕ1 ⎥⎥
2
⎢ − −
⎢ m 3
L m 2
L m 3
L m 3
L L ⎥
m 2
⎢ ⎥
4 ϕ1 6ϕ1 ϕ12 6ϕ1 2 ϕ1 ⎥
2 2 2

EI ⎢ m
− m 2 − m 2 m ⎥
n L L L L ⎥
kSF = 2 ⎢
~ ⎢ 12 ϕ15 12 ϕ1 ϕ 6ϕ1 ϕ13⎥
− m 2 ⎥
11
⎢ m 3 m 3
⎢ L L L ⎥
12 ϕ1 6ϕ1 ⎥
2 2

⎢ − m 2 ⎥
⎢ L ⎥
m 3
L
⎢ 4 ϕ1 ⎥
2
⎢ sim. ⎥
⎢⎣ m
L ⎥⎦

⎡ 1 1 ⎤
⎢ mL 0 0 − m 0 0 ⎥
L
⎢ 6 1 6 1 ⎥
⎢ 0 − ⎥
⎢ 5m L 10 5m L 10 ⎥
⎢ 2mL 1 m
L⎥
⎢ 0 − − ⎥
n 15 10 30 ⎥
kG= N ⎢
m
1
~ ⎢ 0 0 ⎥
⎢ m
L ⎥
⎢ 6 1 ⎥
⎢ −
5m L 10 ⎥
⎢ ⎥
⎢ sim. 2mL ⎥
⎢⎣ 15 ⎥⎦
...(23b)

sendo

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 71

ϕ 1 = ∆ϕ
ϕ 2 = ∆ n θ1 + ∆ n θ 2 − 12∆ θ 0
ϕ 3 = 4 ∆ n θ 1 − ∆ n θ 2 − 3∆ θ 0
ϕ 4 = − ∆ n θ 1 + 4 ∆ n θ 2 − 3∆ θ 0
ϕ 5
=
1
100
(9 ∆ θ + 9 ∆ θ − 2 ∆ θ ∆ θ − 3 6 ∆ n θ ∆ θ − 3 6 ∆ θ ∆ θ + 2 1 6 ∆ θ )
n
1
2 n
2
2 n
1
n
2 1 0
n
2 0 0
2

ϕ 6
=
1
300
(6 ∆ θ + ∆ θ + 2 ∆ θ ∆ θ − 5 4 ∆ θ ∆ θ + 6 ∆ θ ∆ θ + 5 4 ∆ θ )
n
1
2 n
2
2 n
1
n
2
n
1 0
n
2 0 0
2

ϕ 7
=
1
300
(∆ θ + 6 ∆ θ + 2 ∆ θ ∆ θ + 6 ∆ θ ∆ θ − 5 4 ∆ θ ∆ θ + 5 4 ∆ θ )
n
1
2 n
2
2 n
1
n
2
n
1 0
n
2 0 0
2

ϕ 8
=
1
300
(8 ∆ θ + 3 ∆ θ − 4 ∆ θ ∆ θ − 1 2 ∆ θ ∆ θ − 2 ∆ θ ∆ θ + 2 7 ∆ θ )
n
1
2 n
2
2 n
1
n
2
n
1 0
n
2 0 0
2

ϕ 9
=
1
300
(− 2 ∆ θ − 2 ∆ θ + 6 ∆ θ ∆ θ − 2 ∆ θ ∆ θ − 2 ∆ θ ∆ θ − 3 ∆ θ )
n
1
2 n
2
2 n
1
n
2
n
1 0
n
2 0 0
2

ϕ 10
=
1
300
(3 ∆ θ + 8 ∆ θ − 4 ∆ θ ∆ θ − 2 ∆ θ ∆ θ − 1 2 ∆ θ ∆ θ + 2 7 ∆ θ )
n
1
2 n
2
2 n
1
n
2
n
1 0
n
2 0 0
2

∆ θ1 ∆ θ2
n n
ϕ 11 = − − + ∆ θ0
2 2
2∆ θ1 ∆ θ2
n n
ϕ 12 = − − + ∆ θ0
3 3
∆ θ1 2∆ θ2
n n
ϕ 13 = − − + ∆ θ0
3 3
ϕ ϕ ϕ
ϕ 14 = 3

n
θ1 + 4

n
θ2 − 2
∆ θ0
120m L 120m L 40m L
ϕ 12 ϕ 13
ϕ 15 = − ∆
n
θ1 − ∆
...(24)
n
θ2 + ϕ 11 ∆ θ 0
2 2
De forma análoga, a matriz de rigidez tangente é dada pela seguinte equação:
n n n n n n n
k T= k 0+ k1+ k 2 + k TN + k TF+ k G (25)
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

sendo que “ n k 0 ”, “ n k 1 ”, “ k 2 ” e “ n k G ” são as mesmas matrizes dadas em (23) e as n

~ ~ ~ ~
n n
matrizes “ k TN ” e “ k TF ” são dadas por:
~ ~
⎡ ϕ2 ϕ3 ϕ2 ϕ4 ⎤
⎢2ϕ14 − ϕ1 − ϕ1 − 2ϕ14 ϕ1 − ϕ1 ⎥
⎢ m
10 L 30 m
10 L 30 ⎥
⎢ 6 ϕ1 ϕ1 ϕ2 6 ϕ1 ϕ1 ⎥
⎢ ϕ1 ϕ1 ϕ1 − ϕ1 ϕ1 ⎥
⎢ m
10 L 20 m
10 L m
10 L 20 ⎥
⎢ m m ⎥
⎢ ϕ1 L ϕ 3 ϕ 1 ϕ 1 L ⎥
⎢ ϕ1 ϕ1 − ϕ 1 − ϕ1⎥
n 15 30 20 60
k TN = E A ⎢ ϕ2 ϕ4

~ ⎢ ⎥
⎢ 2 ϕ − ϕ ϕ
14 m 1 30 1 ⎥
⎢ 10 L ⎥
⎢ 6 ϕ1 ϕ1 ⎥
⎢ ϕ1 − ϕ1 ⎥

m
10 L 20 ⎥
⎢ ϕ1m L ⎥
⎢ sim. ϕ ⎥
⎣⎢ 15 1 ⎥⎦

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


72 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

⎡ 24 ϕ 48 ϕ1 ϕ 24 ϕ1 ϕ 24 ϕ15 48 ϕ1 ϕ11 24 ϕ1 ϕ13 ⎤


⎢ 15 11 12
− − ⎥
⎢ m L3 m 3
L m 2
L m 3
L m 3
L m 2
L ⎥
⎢ 24 ϕ
2
12 ϕ
2
48 ϕ ϕ 24 ϕ
2
12 ϕ
2 ⎥
⎢ 1 1

1 11

1 1 ⎥
⎢ m 3
L m 2
L m 3
L m 3
L m 2
L ⎥
⎢ ⎥
8 ϕ1 24 ϕ1 ϕ12 12 ϕ1 4 ϕ1
2 2 2
⎢ ⎥
EI ⎢ m − m 2 − m 2 m ⎥
n L L L L
kTF = 2 ⎢ ϕ ⎥
~ ⎢ 24 ϕ15 48 1 ϕ 24 ϕ1 ϕ13 ⎥
− m 2 ⎥
11
⎢ m 3 m 3
⎢ L L L
2 ⎥
24 ϕ1 12 ϕ1 ⎥
2

⎢ m 3 − m 2 ⎥
⎢ L L ⎥
⎢ 8 ϕ1 ⎥
2

⎢ sim. ⎥
⎢⎣ m
L ⎥⎦
...(26)

5 MODELO FÍSICO NÃO-LINEAR PARA O AÇO

Para introduzir a não-linearidade física na análise de estruturas treliçadas de aço


sujeitas à ações dinâmicas, faz-se necessário a implementação numérica de modelos
com endurecimento linear para carregamentos cíclicos, tais como os modelos
cinemático, isotrópico e independente, através do desenvolvimento de equações
matemáticas que simulem o comportamento estrutural do aço e da criação de um
algoritmo computacional adequado que armazene toda a história anterior da relação
tensão x deformação dos elementos estruturais.
Para o desenvolvimento de tais equações admite-se que um elemento seja
solicitado por um acréscimo de tensão “∆σr”, de tal forma que haja uma alteração no
comportamento estrutural definida pela passagem do regime de trabalho elástico para o
regime de trabalho plástico. A figura 4 ilustra tal procedimento através do gráfico
tensão x deformação, onde a tensão atuante na iteração “r” ultrapassa a tensão de
escoamento “σyr-1” da iteração anterior “r-1”.
σ

σ Er A

R∆σEr
∆σE r
ET

∆σr σ r
1
B
(1-R)∆σE r
σyr-1
σr-1 C
E ε
1
O ε
r-1
εyr-1 εr

∆εr

Figura 4 - Variação incremental da tensão e deformação para o caso unidimensional.

Da figura 4 obtém-se diretamente as seguintes relações:


∆ε = ε −ε
r r r -1
(27)
∆ σE = E ∆ ε
r r
(28)
σ E = σ r -1 + ∆ σ E
r r
(29)
σ = σ + ∆σ
r r -1 r
(30)

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 73

onde “∆εr” é a variação da deformação ocorrida durante a iteração “r”; “εr” é a


deformação final da iteração “r”; “εr-1” é a deformação final da iteração “r-1”; “∆σEr” é a
variação da tensão elástica ocorrida durante a iteração “r”; “σEr” é a tensão elástica final
da iteração “r”; “σr-1” é a tensão final da iteração “r-1”; “σr” é a tensão final da iteração
“r”; “∆σr” é a variação da tensão ocorrida durante a iteração “r”.
Calculando-se o valor de “∆σr”, tem-se:
∆σ =
r
(σ − σ ) + (σ
r
y
r -1
y
r -1
−σ
r -1
) (31)
ou, simplesmente,
∆σ =
r
( σ − σ ) + (1 − R ) ∆ σ
r
y
r -1
E
r
(32)
Aplicando-se a lei de Hooke na equação (32), obtém-se:
∆σ =
r
(ε − ε ) E
r
y
r -1
T + (1 − R ) E ∆ ε
r
(33)
Por semelhança de triângulos, tem-se:
ε − εy
r-1
∆ε
r r

r = (34)
∆σ E R ∆σ E
r

ou, simplesmente,
ε − εy = R ∆ε
r r -1 r
(35)
Substituindo-se a equação (35) na equação (33), obtém-se:
∆ σ = R E T ∆ ε + (1 − R ) E ∆ ε
r r r
(36)
r
Portanto, para a obtenção da tensão “σ ” substitui-se a equação (36) na equação
(30), resultando:
σ = σ + E − E R + ET R ∆ ε
r r -1
( r
(37) )
Calculando-se, agora, a variação da deformação plástica “∆εPr” ocorrida durante
a iteração “r”, tem-se:
∆ εP
= ∆ ε − ∆ εE
r r r
(38)
Aplicando-se a lei de Hooke na equação (38), obtém-se:
∆σ
r
∆ εP ε
r
= ∆ −
r
(39)
E
Substituindo-se a equação (36) em (39) e rearrumando-se os termos, encontra-
se:
⎛ E − ET ⎞
∆ εP ⎟∆ε
r
= R⎜
r
(40)
⎝ E ⎠
Resta, agora, definir o valor do fator de redução “R”, que é dado pela relação
entre a reta “A-B” e a reta “B-C” da figura 4, logo:
σE − σy
r r -1
AB
R= = (41)
∆ σE
r
BC
Na seqüência, destacam-se os dois casos particulares que podem ocorrer em
função dos valores da tensão final “σr-1” e do acréscimo de tensão “∆σr”. O primeiro
caso particular é mostrado pela figura 5, onde a tensão “σr” não ultrapassou a tensão de
escoamento.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


74 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

σ
ET
σyr-1 1

σr
∆σr

σr-1
E ε
1
O ε εr εyr-1
r-1

∆εr

Figura 5 - Variação incremental da tensão no regime elástico.

Neste caso, a tensão "σr" é dada pela equação (42):


σ = σ + E ∆ εr
r r -1
(42)
r
sendo que a variação da deformação plástica “∆εP ” é nula. Cabe ressaltar que fazendo-
se R=0 e substituindo-se nas equações (37) e (40), encontra-se o mesmo resultado já
obtido.
O segundo caso particular é mostrado pela figura 6, onde a tensão “σr-1” já
ultrapassou a tensão de escoamento.

σ
σr

∆σr
σr-1 ET
1
σyr-1

E
1
ε

O εyr-1 εr-1 εr

∆εr

Figura 6 - Variação incremental da tensão no regime plástico.

Neste caso, a tensão “σr” é dada por:


σ = σ + ET ∆ ε
r r -1 r
(43)
r
Já a variação da deformação plástica “∆εP ” é dada pela equação(39), logo,
calculando-se o valor de “∆σr”, tem-se:
∆ σ = ET ∆ ε
r r
(44)
Substituindo-se a equação (44) em (39) e rearrumando-se os termos, obtém-se:
⎛E− ⎞
∆ ε P = ⎜⎝ EE T ⎟⎠ ∆ ε r
r
(45)

Analogamente ao primeiro caso, fazendo-se R=1 e substituindo-se nas equações


(37) e (40), encontram-se as equações (43) e (45), respectivamente.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 75

Uma vez equacionado todo o problema e admitindo-se que sejam conhecidos o


valor da tensão e o valor da deformação ao final da iteração “r-1”, pretende-se calcular
o valor da tensão ao final da iteração “r” e, se houver, a respectiva variação da
deformação plástica.
Calculando-se inicialmente o valor da deformação ao final da iteração “r”,
obtém-se a variação da deformação ocorrida durante a iteração “r” e o valor dos demais
parâmetros através das equações já descritas anteriormente.
Assim, com o valor de “∆εr”, pode-se obter o valor de “σr” e com isso calcular a
força normal atuante no elemento em função da sua deformação.
A determinação da variação da deformação plástica é necessária para que se
possa corrigir o valor do módulo de deformação longitudinal no transcorrer do processo
incremental, uma vez que para variação não nula utiliza-se o módulo tangente.
Neste contexto, desenvolveu-se uma rotina de cálculo que é apresentada na
figura 7 de maneira esquemática, onde é mostrada a seqüência de cálculos a serem
executados para a obtenção dos parâmetros já mencionados.
Para a utilização da rotina de cálculo contida na figura 7 deve-se, na
inicialização do processo de cálculo, zerar o valor de “εr-1” e de “σr-1” e, na seqüência,
atribuir à tensão de escoamento máxima “σSr-1” o valor de “σy0” e à tensão de
escoamento mínima “σIr-1” o valor de “σy0” com sinal negativo. A partir deste ponto,
através da introdução do valor atualizado da deformação, calcula-se o valor de “σr” e de
“∆εPr” para o elemento em questão e, para finalizar, promove-se a atualização da
deformação. Deve-se lembrar que todos os valores já mencionados são específicos para
cada um dos elementos pertencentes ao sistema estrutural.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


76 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

∆ε = ε − ε
r r r-1

∆ σE = E ∆ ε
r r

σ E = σ r-1 + ∆ σ E
r r

V ⇐ ∆ ε 〉0 ⇒ F
r
alongamento encurtamento

σ 〈σS σ ≤ σI
r-1 r-1
F⇐ ⇒V F ⇐ ⇒V
r-1 r-1

σE 〉 σS σE 〈σI
r r-1 r r-1
R =1 F⇐ ⇒V F⇐ ⇒V R =1

σE − σS σE − σI
r r-1 r r-1

R=0 R= R=0 R=
∆ σE ∆ σE
r r

σ =σ
r r-1
(
+ E − ER + ET R ∆ ε ) r

para alongamento com R 〉 0: para encurtamento com R 〉 0:

σS = σ r σI = σr
r r

σ I = σS − 2 σ y0 σ S = σ I + 2 σ y0
r r r r
p / end. cin. p / end. cin.

σI = σ max , I σS = σ max ,S
r r
p / end. ind. p / end. ind.

σI = − σS σS = − σI
r r r r
p / end. isot. p / end. isot.

E − ET
∆ εP = R∆ ε
r r
E
ε =ε
r-1 r

Figura 7 - Rotina de cálculo para não-linearidade física do aço.

Cabe ressaltar que nesta rotina é feita a separação do cálculo para os casos de
alongamento e encurtamento, tendo em vista a atualização das tensões de escoamento
correspondentes à cada modelo de endurecimento e à utilização correta da equação que
calcula o valor do fator de redução “R”.

6 MODELO FÍSICO NÃO-LINEAR PARA O CONCRETO ARMADO

O modelo proposto pelo CEB(1985) consiste no cálculo de uma curvatura média


dada pela seguinte equação:
1
rm
= 1 − ξ0
1
r1
(
⎛1
+ ξ0 ⎜ +
1 ⎞
⎝ r2 r2N ⎠
⎟ ) (46)

onde “1/rm” é a curvatura média para flexão combinada com força axial; “1/r1” é a
curvatura total no Estádio Ia para flexão simples; “1/r2” é a curvatura total no Estádio II

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 77

para flexão simples; “1/r2N” é a curvatura devida ao efeito do momento fletor causado
pela força normal atuando no centro geométrico da seção total no Estádio Ia e “ξ0” é o
coeficiente de distribuição.
Dessa forma, uma vez calculada a curvatura média, pode-se calcular o momento
de inércia médio “IM” através da seguinte equação:

1 M
IM = ⎛ (47)
1 ⎞ ECM
⎜ ⎟
⎝ r m⎠
Admitindo-se que sejam conhecidos o valor da força normal e o valor do
momento fletor que atuam em um elemento finito qualquer, bem como as suas
características geométricas, calcula-se o novo valor do momento de inércia que será
utilizado no cálculo das forças restauradoras, em função da fissuração do concreto que
ocorre no mesmo, através do algoritmo mostrado pela figura 8, sendo que tal algoritmo
contempla o processo de carregamento e de descarregamento.

CALCULAR x1, x2, I1, I2, A1

CALCULAR Mr, M0, ξ0


V F
ξ0=0
V F V F
Mmáx=0 M>Mmáx

I=I1 Descarregamento Descarregamento

CALCULAR 1/r1, 1/r2, 1/r2N, 1/rm

CALCULAR IM

I= IM

Figura 8 - Diagrama de blocos para o modelo físico do CEB.

7 ANÁLISE NUMÉRICA

7.1 Exemplo T1

A estrutura treliçada deste exemplo é composta por apenas um elemento


biapoiado, solicitada por uma força constante “F” com o tempo, conforme ilustra a
figura 9.

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78 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

Y
F=10,0 kN
ω1=4478,4793 rad/s
1 X 2 F
A=1,0 cm2
E=21000,0 kN/cm2
1
ET=0,0 kN/cm2
γ=7,70.10-5 kN/cm3
σESC=15,0 kN/cm2
200,0 cm

Figura 9 - Treliça constituída por apenas um elemento finito.

Efetuando-se uma análise dinâmica através da consideração da não-linearidade


física do material, o comportamento estrutural é ilustrado pelas figuras 10 e 11.

F
(kN)

Fmax=15,0000

t= n . 0,5.10-4 s

F=5,0325

0 80 n

Figura 10 - Gráfico tempo x força do elemento “1” com ∆ t =0,5.10-4s.

Dmax=0,2138

D
(cm)

t= n . 0,5.10-4 s
D=0,1189

0 80 n

Figura 11 - Gráfico tempo x deslocamento do nó “2” com ∆ t =0,5.10-4s.

A figura 10 mostra que o elemento “1” começa a trabalhar no regime elástico até
atingir a tensão de escoamento. Neste instante, tal elemento passa a trabalhar no regime

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 79

plástico perfeito, pois ET=0,0 kN/cm2, até o início do processo de descarregamento. A


partir deste ponto, o elemento “1” volta a trabalhar no regime elástico de forma
permanente.
A figura 11 mostra uma alteração do comportamento da estrutura após a
plastificação, pois a mesma não consegue retornar à sua posição de equilíbrio inicial,
uma vez que a deformação plástica acumulada durante o processo de plastificação do
elemento “1” é irreversível.
Cabe ressaltar que este resultado coincide com a resposta analítica obtida por
CASTIGLIONI(1978), mostrando a eficácia do modelo não-linear físico elaborado.

7.2 Exemplo T2

A estrutura treliçada deste exemplo é composta por dois elementos, solicitada


por uma força constante “F” com o tempo, aplicada no nó de união entre os elementos,
conforme ilustra a figura 12.

F=300,0 kN
F ω1=1750,2745 rad/s
A=6,4516 cm2
E=20684,271 kN/cm2
ET=5000,0 kN/cm2
127,0 cm 1 γ=7,70.10-5 kN/cm3
σESC=24,0 kN/cm2
Y
1 2

2 X 3

219,9704526 cm 219,9704526 cm
Figura 12 - Treliça constituída por dois elementos finitos.

Efetuando-se uma análise dinâmica através da consideração das não-linearidade


física e geométrica, o comportamento estrutural é ilustrado pelas figuras 13 e 14.
F=484,7539
F=431,7540
F
(kN)

F=159,4031
0 F=174,4908 F=152,5697
7 t= n . 1,0.10-4 s n

46 80 160

Figura 13 - Gráfico tempo x força do elemento “1”.


D=5,6904
D=5,2342

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80 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

D
(cm)

D=4,1999

0 t= n . 1,0.10-4 s n
34 80 160
Figura 14 - Gráfico tempo x deslocamento do nó “1”.

Analisando-se o gráfico tempo x força da figura 13, percebe-se que ocorreu a


plastificação do material nos intervalos de tempo n=7 e n=46, uma vez que houve uma
alteração da curva durante o carregamento e o descarregamento inicial. Na fase de
carregamento o material plastificou com uma variação de tensão igual ao valor da
tensão de escoamento, sendo que na fase de descarregamento o material plastificou com
uma variação de tensão igual ao dobro do valor da mesma tensão. Isto ocorreu em
virtude da utilização do modelo físico cinemático, ilustrando o efeito Bauschinger de tal
modelo na análise estrutural dinâmica. O gráfico tempo x deslocamento da figura 14
também mostra tal efeito, uma vez que a estrutura não consegue retornar à sua posição
inicial e, da mesma forma, não consegue atingir o deslocamento máximo que ocorreu no
intervalo de tempo n=34. Uma vez cessada as perdas por plastificação, o material volta
a trabalhar no regime elástico de forma permanente.

7.3 Exemplo T3

Este exemplo é composto por uma treliça de banzos paralelos que reproduz a
estrutura da viga principal de uma ponte metálica, cujos apoios estão situados nas
extremidades do banzo inferior, conforme ilustra a figura 15, sendo as características
físicas e geométricas de todos os elementos dadas por: A=1,0 cm2 ; E=21000,0 kN/cm2 ;
ET=5000,0 kN/cm2 ; γ=7,70.10-5 kN/cm3 ; σESC=24,0 kN/cm2.

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 81

6 7 8

5 6
200,0 cm
Y
7 8 9 10
11 12 13
X 5
1
1 2 2 3 3 4 4

4x200,0=800,0 cm

Figura 15 - Viga principal de uma ponte metálica treliçada.

O carregamento desta estrutura é composto por uma força “F” com valor igual a
120,0 kN, produzida por um aparelho hipotético que se movimenta ao longo do
tabuleiro que está situado no nível do banzo inferior da ponte. Como o tabuleiro é
composto por vigas simples que se apoiam em transversinas situadas nos nós “1”, “2”,
“3”, “4” e “5”, as forças aplicadas em cada um desses nós são dadas pelas respectivas
reações de apoio de cada transversina, cujos valores serão alterados a cada incremento
de tempo “ ∆ t ”, conforme trem-tipo mostrado na figura 16.

Movimento realizado a cada 60,0 kN


incremento de tempo
40,0 kN
40,0 kN
20,0 kN
20,0 kN

200,0 cm 200,0 cm
Figura 16 - Carregamento da viga principal da ponte treliçada.

Para a realização de uma análise dinâmica com amortecimento, deve-se,


inicialmente, obter as freqüências naturais e os modos de vibração de tal estrutura,
sendo que a figura 17 apresenta os dois primeiros modos de vibração com os
respectivos valores das freqüências naturais.

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82 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

ω1=480,8398 rad/s ω2=960,3259 rad/s

Figura 17 - Primeiro e segundo modo de vibração da estrutura.

Com o valor calculado das duas primeiras freqüências naturais do sistema


estrutural, pode-se obter as constantes de amortecimento do tipo Rayleigh para duas
diferentes frações do amortecimento crítico, dadas pelas relações (48).
⎧⎪λ k = 1,39 . 10 −5 s
p / ξ1 = ξ2 = 1 o ⇒ ⎨
o
⎪⎩λ m = 6,408 s −1
(48)
⎧⎪λ k = 1,39 . 10 − 4 s
p / ξ1 = ξ2 = 10 o o ⇒ ⎨
⎪⎩λ m = 64,08 s −1
Estes valores permitem a realização de uma análise completa do comportamento
estrutural da ponte, conforme resultados apresentados na tabela 1.

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 83

Tabela 1 - Deslocamentos máximos obtidos no nó “3”, na direção global “Y”, em “cm”.


DESLOC.: NÓ 3
ξi
DIREÇÃO: Y GLOBAL
ξ1=ξ2=0% ξ1=ξ2=1% ξ1=ξ2=10%
L -2,9019] - -
ANÁLISE NLG -2,9222 - -
ESTÁTICA NLF -6,6110 - -
DNL -6,7299 - -
L +3,6857 +2,9420 +1,7249
-3,6104 -2,9763 -2,2122
NLG +3,6774 +2,9377 +1,7240
ANÁLISE -3,6179 -2,9943 -2,2315
DINÂMICA NLF +0,0527 +0,0503 +0,0333
-4,9039 -4,7529 -3,4703
DNL +0,0528 +0,0503 +0,0333
-4,9354 -4,7809 -3,4862

Obs: L - comportamento linear; NLG - comportamento não-linear geométrico; NLF -


comportamento não-linear físico; DNL - comportamento duplamente não-linear;

Comparando-se os resultados obtidos via comportamento linear e não-linear


geométrico, percebe-se que os deslocamentos máximos da análise dinâmica são
superiores aos deslocamentos máximos da análise estática. Já quando se introduz o
comportamento não-linear físico ocorre fenômeno oposto ao mencionado anteriormente.
Embora não se tenha um padrão definido, deve-se ressaltar que na análise dinâmica
tem-se inversão de deslocamentos, com conseqüente inversão de esforços nos elementos
estruturais, logo, é indispensável este tipo de análise em problemas que tenham o
carregamento variando com o tempo. Passando-se, agora, para a análise dos resultados
como um todo, percebe-se que o efeito na não-linearidade geométrica é desprezível e
que o efeito da não-linearidade física é significativo, para o problema em questão.
Como não se pode prever quando tais efeitos sejam relevantes, é necessário que se
processe todas as alternativas de análise, para que se possa avaliar o comportamento da
estrutura de forma correta.
A tabela 1 apresenta, também, os valores dos deslocamentos máximos do nó “3”
quando se consideram as duas frações de amortecimento já descritas anteriormente, com
isso percebe-se que quanto maior forem os valores das frações do amortecimento
crítico, menor serão os deslocamentos obtidos.
Para visualizar tal efeito, a figura 18 ilustra o comportamento da estrutura
considerando-se dupla não-linearidade e taxa de amortecimento igual a ξ1=ξ2=10%.
Analisando-se tal gráfico, percebe-se que a taxa de amortecimento é bem elevada, pois
a estrutura praticamente para de se movimentar em um período muito curto de tempo.
Finalizando-se, deve-se ressaltar que o ponto de estabilização da estrutura se altera com
o valor da taxa de amortecimento utilizada, pois com ξ1=ξ2=1% obtém-se dESTÁVEL=-
1,47 cm e com ξ1=ξ2=10% obtém-se dESTÁVEL= -1,37 cm, encontrados via análise
dinâmica com comportamento não-linear.

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84 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

t= n . 2,0.10-4 s

0 80 160 n

DESTÁVEL=1,37

D
(cm)
D=3,4862

Figura 18 - Gráfico tempo x deslocamento do nó “3”.

7.4 Exemplo P1

Este exemplo é composto por uma viga em balanço discretizada por dez
elementos solicitada por uma força “F” aplicada na extremidade livre, conforme ilustra
a figura 19.
As características físicas e geométricas de todos os elementos são dadas por:
b=733,2348419 cm ; h=0,8798818102 cm ; EC=0,6894757 kN/cm2

Efetuando-se uma análise estática de tal forma que a força seja aplicada
incrementalmente em 80 passos iguais, obtém-se a resposta da estrutura conforme
ilustra a figura 20. O gráfico contido em tal figura mostra a influência da não-
linearidade geométrica no comportamento da estrutura, uma vez que o deslocamento
máximo obtido no nó “11” é da mesma ordem de grandeza que o seu comprimento.

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 85

F=1,7792888.10-3 kN

Y F

1 X 10

1 11

10x25,4=254,0 cm

Figura 19 - Viga em balanço constituída por dez elementos.

0 0,4448 0,8896 1,3344


1,7792 F
(kN)
.10-3

D=78,4174

D=131,2104 D=178,4425

D D=161,2025
(cm)

Figura 20 - Gráfico força x deslocamento do nó “11”.

Tal resposta coincide com os resultados obtidos por ORAN et al.(1976) via
formulação incremental Euleriana, comprovando a eficácia do procedimento
incremental adotado para o elemento de pórtico plano.
Um fato importante deve ser ressaltado quando se compara estes resultados com
os obtidos via comportamento linear, pois quando se realiza este tipo de análise

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


86 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

encontra-se um valor de deslocamento máximo (dL=338,6667 cm) muito maior que o


valor encontrado (dNLG=178,4425 cm).

7.5 Exemplo P2

A estrutura aporticada deste exemplo é composta por uma viga biengastada


discretizada por seis elementos finitos, solicitada por uma força constante “F” com o
tempo, aplicada no nó central, sendo que neste mesmo ponto tem-se um peso “P” fixo,
conforme ilustra a figura 21.
As características físicas e geométricas de todos os elementos são dadas por:
b=2,54 cm ; h=0,508 cm ; γ=1.10-15 kN/cm3 ; ES=0,0 kN/cm2 ; EC=6894,757
kN/cm2

F=2,846862 kN
P=7,4102.10-4 kN
ω1=609,0516 rad/s

Y F

1 X 6

1 P 4 7

6x8,4667=50,80 cm

Figura 21 - Viga biengastada discretizada por elementos finitos.

Efetuando-se uma análise dinâmica com não-linearidade geométrica, obtém-se a


resposta da estrutura conforme ilustra a figura 22.

t= n . 0,5.10-4 s n

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 87

0 80

D=-0,0347

D
(cm)
D=2,5381
Figura 22 - Gráfico tempo x deslocamento do nó “4”.

O gráfico tempo x deslocamento contido na figura 22 mostra o comportamento


de uma viga biengastada que possui um peso fixado no meio do vão, sendo que tal
resultado é praticamente exato e pode ser comprovado através da confrontação com os
resultados obtidos por ORAN et al.(1976). Efetuando-se o mesmo tipo de comparação
feita ao final do exemplo 7.4, tem-se que o deslocamento obtido utilizando-se
comportamento linear (dL=20,3183 cm) é bem maior que o valor obtido na análise que
foi realizada (dNL=2,5381 cm), comprovando, mais uma vez, a necessidade de se efetuar
uma análise mais realista.

7.6 Exemplo P3

Este exemplo é composto por um pórtico biengastado de concreto armado,


discretizado por doze elementos finitos, conforme ilustra a figura 23, onde as
características físicas de todos os elementos são dadas por: fCK=2,6 kN/cm2 ; fCTK=0,268
kN/cm2 ; ES=21000,0 kN/cm2 ; EC=3050,0 kN/cm2 ; γ=2,5.10-5 kN/cm3.

Seção transversal dos elementos F 6


5 8 9
5 9
2,5 cm
4x50,0=200,0 cm
2φ16,0 mm
30,0 cm

2φ16,0 mm 4x50,0=200,0 cm

2,5 cm Y
12
15,0 cm 1 1 13
X
Figura 23 - Pórtico simples biengastado discretizado por elementos finitos.

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88 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

O carregamento da estrutura é composto por uma única força concentrada “F”,


ver figura 23, cujo módulo cresce linearmente até t=0,016s, diminui linearmente até
t=0,032s e permanece igual a zero para t>0,032s.
Efetuando-se uma análise estática e dinâmica considerando-se valores distintos
para a força aplicada, obtém-se os resultados apresentados nas tabelas 2, 3 e 4,
ilustrados pelas figuras 24 e 25.

Tabela 2 - Deslocamentos máximos obtidos no nó “5”, na direção global “X”, em “cm” ”, para
t≥0,0 s.
DESLOC.: NÓ 5 p (kN)
DIREÇÃO: X p=8,0 p=16,0 p=24,0
GLOBAL
ANÁLISE L +0,0377 +0,0754 +0,1131
ESTÁTICA DNL +0,0310 +0,0656 +0,1229
L +0,0539 +0,1078 +0,1617
ANÁLISE -0,0347 -0,0694 -0,1041
DINÂMICA DNL +0,0425 +0,0904 +0,1580
-0,0216 -0,0339 -0,0369
ANÁLISE L +0,0397 +0,0794 +0,1191
DINÂMICA -0,0081 -0,0162 -0,0243
COM DNL +0,0330 +0,0671 +0,1079
AMORTEC. -0,0060 -0,0089 -0,0033
Obs: L - comportamento linear; DNL - comportamento duplamente não-linear.

Tabela 3 - Deslocamentos máximos obtidos no nó “5”, na direção global “X”, em “cm”, para
t≥0,032 s.
DESLOC.: NÓ 5 p (kN)
DIREÇÃO: X GLOBAL p=8,0 p=16,0 p=24,0
+0,0346] +0,0693 +0,1040
L (+0,0000) (+0,0000) (+0,0000)
ANÁLISE -0,0347 -0,0694 -0,1041
DINÂMICA +0,0216] +0,0550 +0,1043
DNL (+0,0000) (+0,0105) (+0,0337)
-0,0216 -0,0339 -0,0369
Obs: L - comportamento linear; DNL - comportamento duplamente não-linear; (no) -
valor médio do deslocamento;

Tabela 4 - Deslocamentos finais obtidos no nó “5”, na direção global “X”, em “cm”, para t=∞ s.
DESLOC.: NÓ 5 p (kN)
DIREÇÃO: X GLOBAL p=8,0 p=16,0 p=24,0

ANÁLISE L +0,0000 +0,0000 +0,0000


DINÂMICA
COM
AMORTEC. DNL +0,0000 +0,0031 +0,0155

Obs: L - comportamento linear; DNL - comportamento duplamente não-linear.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 89

Analisando-se os resultados obtidos pelos três tipos de análise, conforme mostra


a tabela 2, percebe-se um aumento no valor dos deslocamentos quando se realiza a
análise dinâmica sem amortecimento e uma diminuição de tal valor quando se realiza a
mesma análise com amortecimento, caracterizando o efeito do amortecimento do tipo
Rayleigh utilizado neste trabalho. Já a comparação entre os resultados obtidos pelos
dois tipos de comportamento fica um pouco sem efeito em função de se ter empregado
valores diferentes para o momento de inércia, pois para comportamento linear utiliza-se
o momento de inércia da seção bruta e para comportamento não-linear físico utiliza-se o
momento de inércia da seção homogeneizada.
Na continuidade da apresentação dos resultados, a tabela 3 mostra os
deslocamentos máximos do nó “5” obtidos após a retirada total do carregamento
externo. Analisando-se os dados contidos em tal tabela, percebe-se que os valores
médios encontrados via comportamento linear são iguais a zero, indicando que a
estrutura fica oscilando em torno da sua posição de equilíbrio inicial. Quando se
considera dupla não-linearidade, percebe-se que tal fato também ocorre para p=8,0 kN,
pois neste caso nenhum elemento fissurou. Já o mesmo não acontece para p=16,0 kN e
p=24,0 kN, pois devido à fissuração de alguns elementos de discretização a estrutura
fica oscilando em torno de uma posição de equilíbrio deslocada, conforme ilustra a
figura 24.
O fato descrito anteriormente também pode ser constatado quando se introduz o
amortecimento na resolução da estrutura, conforme resultados contidos na tabela 4, pois
neste caso a estrutura apresenta um deslocamento final diferente de zero somente nos
casos em que ocorre a fissuração de alguns desses elementos. A figura 25 ilustra o
comportamento da estrutura quando se efetua este tipo de análise.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


90 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

D
(cm)
D=0,1043
D=0,1580

D=-0,0369 DMÉDIO=0,0337 n

0 t= n . 0,4.10-3 s 80 160

Figura 24 - Gráfico tempo x deslocamento do nó “5”, sem amortecimento, para p=24,0 kN.

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Análise dinâmica bidimensional não-linear física e geométrica de treliças de aço e pórticos... 91

D
(cm)
D=0,1079

D=0,0155

D=-0,0033

0 n
80 160
t= n . 0,4.10-3 s

Figura 25 - Gráfico tempo x deslocamento do nó “5”, com amortecimento, para p=24,0 kN.

8 CONCLUSÕES

No presente trabalho, procurou-se implementar as não-linearidades física e


geométrica na análise dinâmica de estruturas reticuladas planas através da utilização de
um procedimento incremental / iterativo. Uma vez estabelecida toda a teoria referente
ao assunto em questão, desenvolvem-se programas computacionais que permitem a
realização de vários tipos de análise numérica, possibilitando a visualização do
comportamento estrutural de tais sistemas de uma forma mais realista.
Neste contexto, os problemas que foram resolvidos no item 7 mostraram, por
exemplo, que os deslocamentos obtidos via comportamento linear nem sempre são
menores que os deslocamentos obtidos via comportamento não-linear e que as forças
atuantes nos elementos estruturais podem mudar de sentido quando se realiza uma
análise dinâmica. Dessa forma, se a análise estrutural for feita de forma inadvertida, os
resultados obtidos podem conduzir o calculista de estruturas ao erro, pois o mesmo
estará projetando outro tipo de estrutura e não aquela idealizada inicialmente.
Uma vez que for feita a opção por uma análise mais refinada, o calculista de
estruturas deve estar habilitado a fornecer os dados da estrutura de forma coerente e
deve saber interpretar os resultados obtidos de acordo com a teoria utilizada na análise
escolhida.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


92 Rogério de Oliveira Rodrigues & Wilson Sergio Venturini

A primeira dificuldade encontrada no fornecimento de dados para a realização


de uma análise dinâmica não-linear é dada pela escolha conveniente do valor do
intervalo de tempo “ ∆ t ”, pois a seleção inadequada de tal valor poderá ocasionar
problemas de instabilidade numérica. Neste sentido, o autor deste trabalho recomenda
que uma primeira avaliação seja feita tomando-se um valor para “ ∆ t ” contido no
seguinte intervalo T/120 ≤ ∆ t ≤ T/30.
A segunda dificuldade encontrada está relacionada com o valor do incremento
de carregamento que deve ser aplicado no sistema estrutural, pois a escolha de um valor
muito grande poderá provocar a violação de algumas premissas envolvidas na
elaboração da teoria, podendo-se citar, como exemplo, as simplificações decorrentes da
admissão de pequenas rotações para o elemento finito. Para isso, recomenda-se a
utilização de pequenos incrementos de carregamento, que podem ser obtidos através de
sucessivas tentativas.
Outro fator importante está relacionado com o valor escolhido para a tolerância
do erro de cálculo “ε”, que é o fator responsável pela verificação do equilíbrio do
sistema, pois um valor muito elevado provoca imprecisão na resposta e um valor muito
pequeno não produz o equilíbrio almejado. Neste trabalho, o autor utilizou um valor
para tal tolerância contido no seguinte intervalo 2.10-6 ≤ ε ≤ 2.10-3, sem prejuízo na
obtenção dos resultados encontrados, ressaltando-se que tais valores são maiores que a
precisão numérica das variáveis empregadas nos programas elaborados.
Uma vez sanada algumas dúvidas quanto ao fornecimento de dados da estrutura,
é fundamental que o calculista se inteire da teoria envolvida na elaboração de
programas computacionais usuais, para que o mesmo possa analisar de forma correta os
resultados fornecidos por tais programas. Neste sentido, os exemplos contidos no item 7
procuraram, na medida do possível, relacionar as respostas obtidas para alguns tipos de
estruturas com os modelos físicos apresentados nos itens anteriores. Convém salientar,
que tais exemplos serviram, também, para validar tais modelos e o procedimento
numérico que foi adotado neste trabalho.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Elsevier Science. v.5.

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373p.

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concreto armado. São Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São
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RODRIGUES. R. O. (1997). Analise dinâmica bidimensional não-linear física e


geométrica de treliças de aço e pórticos de concreto armado. São Carlos. Tese
(Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 61-93, 2005


94
DESLOCAMENTOS TRANSVERSAIS EM LAJES-
COGUMELO

Tatiana Theophilo Silvany1 & Libânio Miranda Pinheiro 2

Resumo

Lajes-cogumelo são sistemas estruturais que apresentam uma série de vantagens em


relação aos sistemas convencionais. Por outro lado, com a retirada das vigas, surgem
alguns problemas como o deslocamento transversal das lajes, a estabilidade global do
edifício e a punção da laje pelo pilar. Este trabalho concentra-se no estudo dos
deslocamentos transversais das lajes-cogumelo, procurando-se fazer a comparação
entre deslocamentos calculados por diferentes processos. São abordados conceitos
básicos para o cálculo desses deslocamentos, o estado de fissuração a ser adotado na
determinação da rigidez e os efeitos da fluência e da retração do concreto. Foram
feitos três exemplos de aplicação. Com base nos resultados obtidos, verifica-se que os
valores dos deslocamentos calculados por diferentes processos dependem muito da
rigidez considerada, uma vez que é grande a influência do estado de fissuração nos
deslocamentos da laje.

Palavras-chave: concreto armado; lajes-cogumelo; deslocamentos transversais.

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho serão consideradas lajes-cogumelo sem capitéis, que são


sistemas estruturais bastante atraentes no ponto de vista econômico e arquitetônico,
possibilitando tetos planos e com isso a liberdade na definição dos espaços internos.
Este tipo de estrutura proporciona também facilidades na execução das fôrmas e no
projeto e na execução das instalações.
Por outro lado, com a eliminação das vigas, surgem alguns problemas como os
deslocamentos transversais das lajes, a estabilidade global do edifício e a punção da
laje pelo pilar. Este trabalho se concentrará no estudo dos deslocamentos
transversais; sabe-se que em lajes-cogumelo esses deslocamentos são maiores do
que os das lajes apoiadas sobre vigas, para uma mesma rigidez e um mesmo vão.
O estudo desses deslocamentos é de grande importância, porque podem
causar uma série de problemas que prejudicam o desempenho satisfatório da
estrutura. A ocorrência de deslocamentos que ultrapassem determinados limites

1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, tatianasilvany.ssa@ftc.br
2
Professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, libanio@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


96 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

podem causar desconforto aos usuários, danos a elementos não-estruturais e


interferência no funcionamento da própria estrutura.
A determinação do valor do deslocamento envolve um grande número de
variáveis. Há uma série de fatores que têm influência sobre os deslocamentos,
podendo ser citados: ações de serviço e história do carregamento, retração e
fissuração do concreto, fluência, resistência do concreto, processo construtivo etc. A
consideração adequada dos parâmetros de cálculo é de fundamental importância para
que se chegue a valores próximos dos que irão ocorrer durante a vida útil da peça.
Para a determinação dos deslocamentos existem tabelas baseadas na teoria
das placas elásticas, processos aproximados e processos numéricos que facilitam o
cálculo desses deslocamentos, como o dos elementos finitos, que será utilizado neste
trabalho.
Um ponto muito importante é a determinação da rigidez, que está bastante
interligada com o problema da fissuração do concreto. A fissuração tem influência
sobre a rigidez do elemento e determinar o grau de fissuração da peça é uma tarefa
difícil, mesmo porque a fissuração é um fenômeno que ocorre progressivamente,
dependendo dos momentos fletores e, à medida que esta ocorre, há uma
redistribuição de momentos.
Nas lajes em que a taxa de armadura é muito pequena, a razão entre a rigidez
da seção não-fissurada e a rigidez da seção fissurada (EIg/EIcr) é muito grande;
assim, a quantidade de fissuras tem uma influência importante no deslocamento
transversal final.
O objetivo principal deste trabalho consiste em fazer uma análise dos
deslocamentos transversais em lajes-cogumelo. Será feito um estudo comparativo
entre os deslocamentos obtidos por diferentes processos de cálculo.
Serão observados resultados obtidos por programas de elementos finitos, que
fazem análise elástica linear e análise considerando a não-linearidade física do
concreto. Também serão estudados processos simplificados para cálculo dos
deslocamentos, como o processo das vigas cruzadas e o processo de Rangan. Dos
três exemplos considerados, em um deles serão feitas comparações dos
deslocamentos obtidos teoricamente com resultados experimentais relativos a uma
laje de edifício.

2 BASES PARA CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS

Há uma série de fatores que têm influência sobre os deslocamentos, podendo


ser citados: ações de serviço e história do carregamento, retração e fissuração do
concreto, fluência, resistência do concreto, processo construtivo etc.

2.1 Combinação das ações

O cálculo dos deslocamentos é feito para as ações de serviço; estas procuram


quantificar as ações efetivamente atuantes na peça, durante sua vida útil. São
definidas combinações de ações que tentam representar, da forma mais próxima do
real, o carregamento atuante.
Nas ações de serviço não são aplicados os coeficientes de majoração
utilizados no dimensionamento da seção. Segundo a NBR 8681 (1984) deve ser
tomado γf = 1, salvo exigência em contrário, expressa em norma especial. Para a
verificação da segurança em relação ao estado limite de deformações excessivas,

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 97

devem ser admitidas as combinações quase-permanentes de utilização, de acordo


com o anexo da NBR 7197 (1989).
As combinações quase-permanentes, definidas na NBR 8681/1984, são
aquelas que podem atuar durante grande parte do período de vida da estrutura. As
ações permanentes são consideradas com seus valores característicos e as ações
variáveis, com seus valores quase-permanentes, ψ2 Fq.
m n
Fd , uti = ∑ Fgi,k + ∑ ψ 2, j ⋅ Fqj,k (1)
i =1 j= 1

Fd,uti é a ação de cálculo para a verificação dos estados limites de utilização


Fgi,k é a ação permanente característica
Fqi,k é a ação variável característica
ψ2 é o fator de combinação para as combinações quase-permanentes

A Norma Americana, o ACI 318 (1989), não define um fator de redução para as
ações variáveis na verificação dos deslocamentos; é apenas especificado que as
ações não devem estar multiplicadas pelos fatores de majoração aplicados no
dimensionamento. Quando os limites de deslocamentos são fornecidos, é feita a
indicação do carregamento a ser utilizado para a verificação. Os deslocamentos
considerados são o deslocamento imediato da ação variável e o deslocamento das
ações de longa duração que ocorrem depois da instalação dos elementos não-
estruturais. Segundo MACGREGOR (1992), para a estimativa do deslocamento das
ações de longa duração, é desejável considerar a parcela quase-permanente das
ações variáveis (geralmente de 20% a 30% da ação variável).
No CEB-FIP MC90 é indicado que, para a verificação dos estados limites de
utilização, deve-se considerar a combinação freqüente das ações, no cálculo dos
deslocamentos ao longo do tempo, e a combinação rara das ações, para o cálculo do
deslocamento imediato.

2.2 Rigidez

Um ponto muito importante é a determinação da rigidez, que é o produto do


módulo de elasticidade pelo momento de inércia. O módulo de elasticidade do
concreto, Ec, depende dos módulos de elasticidade da pasta de cimento e do
agregado. Pode-se notar que as expressões para cálculo de Ec estão em função da
resistência à compressão. A influência do módulo de elasticidade do agregado em Ec é
muito grande; portanto, este aspecto também deve ser observado na determinação do
módulo de elasticidade a ser utilizado no cálculo dos deslocamentos.
A rigidez está bastante interligada com o problema da fissuração do concreto, a
qual tem influência sobre o momento de inércia da seção. Determinar o grau de
fissuração da peça é uma tarefa difícil. A fissuração ocorre quando os momentos
solicitantes excedem o valor do momento de fissuração, causando uma redução da
rigidez à flexão. Quando a fissuração ocorre em uma determinada região, os
momentos são redistribuídos para as regiões adjacentes não-fissuradas. Esta
redistribuição de momentos provoca mais fissuração e nova redistribuição.
A NBR 6118 (1978) permite o cálculo do deslocamento transversal de lajes
considerando a rigidez do concreto não-fissurado (estádio I) e o de vigas considerando
a rigidez do concreto fissurado (estádio II). Normalmente as peças fletidas de concreto

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


98 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

armado estão parte no estádio I e parte no estádio II. Nas seções mais solicitadas,
geralmente há fissuração, mas à medida que se afasta dessas regiões tem-se seções
não-fissuradas. Desta forma é desejável considerar um grau de fissuração
intermediário entre o da seção não-fissurada e o da completamente fissurada.
Branson desenvolveu uma relação empírica para o cálculo do momento de
inércia efetivo de uma seção de concreto, sujeita a momentos fletores maiores que o
momento de fissuração. A expressão, baseada em ensaios de vigas biapoiadas e
vigas contínuas, é dada por:

⎛ M cr ⎞
3
⎡ ⎛ M ⎞ 3⎤
Ie = ⎜ ⎟ I g + ⎢1 − ⎜ cr ⎟ ⎥ I cr (2)
⎝ Ma ⎠ ⎢⎣ ⎝ M a ⎠ ⎥⎦

Ie é o momento de inércia efetivo


Ig é o momento de inércia da seção não-fissurada, sem considerar a armadura
Icr é o momento de inércia da seção completamente fissurada
f ct ⋅ I g
Mcr é o momento de fissuração, dado por M cr =
yt
fct é a resistência do concreto à tração
yt é a distância da linha neutra até a fibra mais tracionada, desprezando a
armadura
Ma é o momento máximo atuante

A expressão de Branson foi desenvolvida para vigas, mas também tem sido
adotada para calcular o deslocamento de lajes parcialmente fissuradas. Esta é a
expressão indicada no ACI 318 (1989) para considerar a perda de rigidez devida à
fissuração, no cálculo dos deslocamentos transversais.
A expressão 2 refere-se ao momento de inércia efetivo para fissuração ao
longo do vão de viga biapoiada ou entre pontos de momento nulo de vigas contínuas.
No caso de elementos contínuos, o código do ACI permite que o momento de inércia
efetivo final seja tomado como a média dos valores relativos à seção de momento
positivo e às seções de momento negativo, Ie = (Iem + (Iel + I e 2 ) / 2 ) / 2 , onde Ie1 e Ie2 são
os momentos de inércia das seções de momento negativo (nos apoios contínuos) e Iem
é o momento de inércia da seção de máximo momento positivo. MACGREGOR (1992)
recomenda uma média ponderada para obtenção do momento de inércia efetivo final,
I e = 0,70 I em + 0,15(I e1 + I e 2 ) para o caso de vigas contínuas nas duas extremidades
e I e = 0,85 I em + 0,15 I e1 para vigas contínuas em uma extremidade.
O momento de inércia deve ser determinado com base na combinação rara
das ações, isto porque uma vez que determinado valor da ação atuou na peça e
provocou fissuração, essa fissuração não é reversível com a retirada da ação. O
momento Ma (da expressão 2) é definido no ACI 318 (1989) como o momento máximo
atuante no elemento estrutural, para o nível de ações do instante para o qual está
sendo calculado o deslocamento. Porém, vários autores propõem que seja modificada
a definição de Ma para o maior momento fletor que já tenha atuado no elemento até o
instante para o qual está sendo calculado o deslocamento [SCANLON e THOMPSON
(1990), MACGREGOR (1992)].
No caso de edifícios de vários pavimentos, o processo construtivo pode gerar
ações que são maiores que as ações de serviço e provocar um grau de fissuração
maior que o provocado por essas ações de serviço. Neste caso as estimativas dos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 99

deslocamentos imediatos devem ser feitas com o momento de inércia correspondente


ao carregamento das ações de construção; essas ações são estudadas no item 2.4.
Na determinação do momento de fissuração, um dos parâmetros utilizados no
cálculo é a resistência do concreto à tração na flexão. A expressão do ACI 318 (1989)
para o cálculo da resistência à tração é baseada em resultados de ensaios de corpos-
de-prova de concreto simples, que não são afetados pelo fenômeno da retração. Os
valores de resistência obtidos estão no intervalo de 7 fc′ a 12 fc′ (psi). A expressão
indicada no ACI é 7,5 fc′ (psi), que corresponde a 0,62 f c′ (MPa). Nas lajes de
concreto armado, entretanto, acontece o fenômeno da retração e essas peças
normalmente não apresentam liberdade de movimento. Então a retração provoca o
aparecimento de tensões de tração na peça. Para levar em conta a existência dessas
tensões de tração, faz-se uma redução da resistência à tração no cálculo do momento
de fissuração. Para os casos de lajes que apresentam continuidade, o valor
recomendado da resistência à tração é 4 fc′ (psi) ( 0,33 f c′ em MPa) [SCANLON e
MURRAY (1982)].
Para o cálculo do momento de fissuração, de acordo com a Norma Brasileira,
são consideradas as recomendações do anexo da NBR 7197 (1989). A verificação da
formação de fissuras pode ser feita calculando-se a máxima tensão de tração do
concreto no estádio I, concreto não-fissurado e comportamento elástico linear dos
materiais, com iguais módulos de deformação do concreto à tração e à compressão. O
momento fletor que vai corresponder à iminência da formação da fissura é
f ctm I
M cr = . Desprezando o efeito da armadura, a expressão se reduz a
h − xI
bh2
M cr = fctm , na qual fctm é a resistência do concreto à tração na flexão. O valor de
6
é dado por: fctm = 1,2 ftk para peças de seção T ou duplo T e fctm = 1,5 f tk para
fctm
peças de seção retangular. ftk é a resistência característica do concreto à tração axial
e pode ser determinada através do ensaio de compressão diametral do cilindro
padrão. No caso de não ser realizado o ensaio, a NBR 6118 (1978) fornece
expressões para o cálculo do ftk em função do fck: ftk = fck / 10 para fck ≤ 18 MPa e
ftk = 0,06 fck + 0,7 MPa para fck > 18 MPa.

2.3 Retração e fluência

Quantificar a parcela dos deslocamentos decorrente da retração e da fluência


não é uma tarefa fácil. Há vários fatores que influem na deformabilidade do concreto.
Pode-se citar: tipo e quantidade de cimento, relação água/cimento, granulometria dos
agregados, idade e temperatura da peça (amadurecimento do concreto), umidade
ambiente, tamanho e forma da peça etc.
As normas de cálculo permitem que sejam utilizados multiplicadores a serem
aplicados nos deslocamentos imediatos, para a obtenção dos deslocamentos finais.
Comparações entre valores de deslocamentos medidos e calculados, apresentados
por RANGAN (1976), indicaram que, calculando separadamente as parcelas do
deslocamento correspondente aos efeitos da fluência e da retração e somando com o
deslocamento imediato, melhores são os resultados obtidos.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


100 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

Na NBR 6118/1978, para as ações de longa duração, permite-se avaliar os


deslocamentos finais como o produto do valor do deslocamento imediato pela relação
das curvaturas final e inicial, na seção de maior momento em valor absoluto. A
εc + εs
curvatura é χ = , sendo que εs é considerado constante; para o concreto,
d
εcf = 3εci no caso de aplicação do carregamento logo após a execução e εcf = 2εci no
caso de aplicação do carregamento seis meses após a concretagem.
Segundo o ACI 318 (1989), os deslocamentos adicionais, devidos à fluência e à
retração dos elementos fletidos, devem ser determinados pela multiplicação dos
deslocamentos imediatos causados pelas ações de longa duração pelo fator
ξ
λ= 1, sendo ξ um fator que depende do tempo de atuação das ações e ρ ′ a
1 + 50ρ′
A′
taxa de armadura de compressão dada por s .
bd
As normas de cálculo também fornecem indicações de como se calcular o
coeficiente de fluência e a deformação por retração para que se possa calcular as
parcelas de deslocamento devidas a esses fenômenos.

2.4 Processo construtivo

Durante a construção podem ocorrer situações que agravam o problema dos


deslocamentos, tais como:
• a armadura superior da laje pode sair da sua posição durante a concretagem ou
durante a preparação para a concretagem, quando os trabalhadores caminham
sobre elas, diminuindo a altura útil da laje; com isso, a rigidez nas regiões de
momentos negativos é substancialmente reduzida, levando a maior fissuração,
maiores momentos positivos e, conseqüentemente, maiores deslocamentos;
• lajes do primeiro piso quando suportadas por escoras que, no solo, se apoiam em
placas de tamanho insuficiente para prevenir recalques, sofrem deslocamentos
mesmo antes da desforma;
• o método construtivo pode resultar em ações de construção que ultrapassam as de
serviço; ações de construção, devidas às escoras ou ao armazenamento de
materiais em lajes de pouca idade, podem ser altas o suficiente para causar
grandes fissuras nas lajes e aumentar os deslocamentos iniciais e finais;
• cura inadequada causa excessivas fissuras devidas à retração.
Nos edifícios de vários pavimentos o processo construtivo normalmente produz
ações de construção que atingem altos valores. As lajes são concretadas e se apoiam
nas lajes inferiores, anteriormente concretadas, através de um sistema de fôrmas e
escoras (figura 1). A figura 2 apresenta esquematicamente a história de carregamento
de uma laje de edifício com vários pavimentos.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 101

Figura 1 - Sistema de lajes, fôrmas e escoras

Durante a construção, as ações sobre a laje aumentam a cada nova laje


concretada, atingindo o carregamento máximo quando se encontra no nível mais baixo
do sistema de escoramento. Quando as escoras acima da laje são retiradas, no
instante t1 da figura 2, a laje passa a estar sob a ação do seu peso próprio. Ainda
observando a figura 2, no instante t2 são aplicadas as ações permanentes adicionais e
em um instante t3, qualquer, são consideradas as ações variáveis atuando sobre a
laje.

Figura 2 - Esquema da história de carregamento de lajes de edifícios

As ações de construção atuam durante um pequeno período da vida útil da


estrutura e são, geralmente, maiores que as ações de serviço. Segundo SCANLON e
THOMPSON (1990), para levar em conta as ações de construção, o cálculo dos
deslocamentos para as ações de serviço deve ser feito com a rigidez à flexão
associada às ações de construção. Essas ações de construção são da ordem de 2 a
2,3 vezes o peso próprio da laje. Então é indicado que para o cálculo do momento de
inércia efetivo seja tomado como momento máximo atuante Ma = 2,3 Mpp ou Ma = Mpp +

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102 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

Mv, o maior dos dois valores (Mpp é o momento máximo devido à ação do peso próprio
e Mv é o momento máximo devido às ações variáveis). Se o processo construtivo for
conhecido, outros fatores podem ser utilizados.
Um processo simples para a determinação das ações de construção foi
proposto por GRUNDY e KABAILA (1963). O ACI 435.9R-1991 comenta que
processos mais refinados para determinar as ações de construção foram propostos
por outros autores, dando resultados semelhantes aos de Grundy e Kabaila.
Um aspecto importante é que as ações de construção, quando atuam em
concretos novos, provocam fluência maior do que em concretos carregados após um
tempo maior. Isto causa deslocamentos que aumentam com a permanência da carga
e, mesmo que essas ações sejam retiradas após um determinado tempo, não
reduzem os deslocamentos.

3 PROCESSOS DE CÁLCULO

A determinação dos deslocamentos transversais em lajes pode ser feita


através de vários processos. Pela teoria clássica das placas elásticas, baseada na
teoria de placas delgadas e isotrópicas, o deslocamento é determinado através da
conhecida Equação de Lagrange:

∂4w 2∂ 4 w ∂ 4 w p
+ + = (3)
∂x4 ∂x2∂y2 ∂y4 D

TIMOSHENKO e WOINOWSKY-KRIEGER (1959) catalogaram soluções para


essa equação, para vários casos de placa isolada. Soluções aproximadas também são
dadas, utilizando coeficientes tabelados de acordo com as condições de apoio e a
razão entre as dimensões da laje. Para um painel interno de laje apoiada sobre
pilares, é indicado coeficiente para calcular o deslocamento no meio do vão.
Algumas aproximações foram feitas, nas quais uma laje armada nas duas
direções é tratada como dois sistemas que trabalham em uma direção e são
ortogonais, permitindo que seja aplicado o processo para cálculo de deslocamentos de
viga. Essas aproximações se baseiam no Processo dos Pórticos Equivalentes, que
como o Cálculo Direto são indicados para a determinação dos momentos fletores no
ACI 318 (1989) para lajes regulares, ou seja, lajes apoiadas em pilares alinhados
formando painéis retangulares.
Propostas de análise de lajes-cogumelo como pórticos contínuos foram feitas
no meio da década de trinta, na Alemanha. Nos Estados Unidos, Peabody apresentou
um processo baseado na análise de pórtico elástico, que foi incluído no subseqüente
código do ACI denominado “Design by Elastic Analysis”. No final dos anos cinqüenta,
uma extensa pesquisa realizada na Universidade de Illinois resultou no refinamento da
análise dos pórticos equivalentes. Esse trabalho serviu de base para que em 1971
fosse incluído no código do ACI o processo dos pórticos equivalentes, para a
determinação dos momentos em lajes. No entanto, no código não foi feita nenhuma
recomendação do uso do processo para o cálculo dos deslocamentos; e isso também
ocorre na versão de 1989.
Vanderbilt, Sozen e Siess descreveram um processo para o cálculo dos
deslocamentos, baseado no processo dos pórticos equivalentes; a descrição desse
processo também é feita no ACI 435.6R (1974). NILSON e WALTERS (1975) também

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Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 103

desenvolveram um processo para cálculo dos deslocamentos, baseado no Processo


dos Pórticos Equivalentes.
É desejável a consideração da fissuração no cálculo dos deslocamentos.
Utilizando o conceito de inércia efetiva, em que o momento de inércia é reduzido de
acordo com a razão entre o momento de fissuração e o momento aplicado no
elemento, KRIPANARAYANAN e BRANSON (1976) incluíram o efeito da fissuração no
processo desenvolvido por Nilson e Walters, no qual a rigidez é modificada pelo uso
de uma média ponderada do momento de inércia efetivo, calculado para as regiões de
momento positivo e de momento negativo.
RANGAN (1976, 1986) propôs o cálculo do deslocamento no meio de um
painel de laje apoiada sobre pilares, considerando a soma dos deslocamentos obtidos
para uma faixa na direção dos pilares e no maior vão e para outra faixa perpendicular
à anterior e no meio do vão. Cada faixa é tratada como viga, suportando ações
uniformemente distribuídas e com momentos aplicados junto aos apoios. SCANLON e
MURRAY (1982) propuseram um processo similar, mas utilizaram um carregamento
equivalente uniformemente distribuído e os momentos reais aplicados na estrutura.
GHALI (1989) calcula o deslocamento, no meio do vão da faixa central e da
faixa dos pilares, por meio dos valores das curvaturas da seção do meio do vão e dos
apoios de cada uma das faixas. Os efeitos da fissuração, fluência e retração são
levados em conta na determinação da curvatura de cada seção.
O ACI 435.9R (1991) apresenta o processo das vigas cruzadas. O
deslocamento no centro da laje também é dado pela superposição da média dos
deslocamentos das faixas dos pilares com o deslocamento das faixas centrais. Esses
deslocamentos são calculados com base nos momentos obtidos no Processo dos
Pórticos Equivalentes ou no Cálculo Direto do ACI.
RESHEIDAT (1985) apresenta um processo simplificado para calcular
deslocamentos em lajes de concreto armado. O modelo é baseado numa relação
momento - deslocamento bilinear, em que é considerada a influência da armadura. Na
referência citada, há uma rotina na linguagem de programação Fortran, automatizando
os cálculos do modelo proposto.
Com o desenvolvimento na área computacional, é crescente a utilização dos
processos numéricos, como a analogia de grelhas e os elementos finitos. A analogia
de grelhas foi usada inicialmente por Marcus (vide TIMOSHENKO e WOINOWSKY-
KRIEGER, 1959). O procedimento consiste em substituir as lajes por um conjunto de
vigas, admitidas como equivalentes à estrutura original. Esse processo apresenta a
dificuldade de se definirem as propriedades das barras equivalentes. Programas de
computadores para a resolução de grelhas foram empregados inicialmente por
Lighfoot. Atualmente, além da análise linear, tem sido introduzida a não-linearidade
física na analogia de grelhas; pode-se citar por exemplo o trabalho de CARVALHO
(1994).
No ínicio, os programas de elementos finitos também realizavam apenas a
análise elástica linear, mas atualmente há processos que consideram a fissuração na
análise de placas. Uma revisão dos modelos de fissuração propostos para a análise
de placas com elementos finitos é feita no ASCE Task Committee (1982).
SCANLON e MURRAY (1982) propuseram uma modificação nas propriedades
do material elástico linear, baseando-se na inércia equivalente desenvolvida por
Branson, para representar a redução da rigidez devida à fissuração. GRAHAM e
SCANLON (1985) implementaram no programa de elementos finitos de análise de
placas, SAP IV, uma rotina que insere as modificações propostas por Scanlon e
Murray.

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Posteriormente foi introduzida a consideração do comportamento elastoplástico


do concreto nos programas de elementos finitos. CORRÊA (1991) propôs a utilização
do modelo elastoplástico, baseado no diagrama momento-curvatura trilinear, buscando
representar melhor o comportamento bidimensional das lajes de concreto armado,
principalmente com relação à fissuração e ao escoamento das armaduras.

3.1 Processo de Rangan

Este processo foi desenvolvido por RANGAN (1976, 1986) e RANGAN e


McMULLEN (1978). Com ele obtém-se uma estimativa do deslocamento transversal
final em lajes-cogumelo, de forma bem simplificada.
O deslocamento wu em um ponto no centro de um painel de laje retangular é
dado pela soma dos deslocamentos centrais de duas faixas perpendiculares da laje,
tratadas como vigas de largura unitária. A faixa na linha dos pilares, na direção do
maior vão, tem um deslocamento wp no meio do vão, e a faixa na direção
perpendicular, na região central, sofre um deslocamento wc, também no meio do vão.
O modelo está representado na figura 3.
O deslocamento total wu é dado por:

wu=wp+wc (4)

Os deslocamentos wp e wc são dados pelas expressões:

βp l 1l 31n
wp = ( Fi + λ Ft ) (5)
Ec I p

βc l 2 l 32 n
wc = ( Fi + λ Ft ) (6)
Ec Ic

Ip momento de inércia, por unidade de largura, da faixa dos pilares


Ic momento de inércia, por unidade de largura, da faixa central
βp coeficiente de deslocamento elástico em um painel interior de laje-cogumelo,
para porções da laje (vigas de largura unitária), para a faixa dos pilares
(βp= 1/384)
βc coeficiente de deslocamento elástico em um painel interior de laje-cogumelo,
para porções da laje (vigas de largura unitária), para a faixa central
(βc= 2/384)
l1, l1n vãos maiores teórico e livre, respectivamente
l2, l2n vãos menores teórico e livre, respectivamente
Ec módulo de elasticidade do concreto
Fi ação total por unidade de área (permanente + variável)
Ft ação de longa duração por unidade de área (permanente + parcela da carga
variável de caráter permanente)
λ fator de multiplicação aplicado aos deslocamentos iniciais, para a determinação
dos deslocamentos adicionais, segundo o ACI 318 (1989)

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Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 105

Figura 3 - Modelo para cálculo dos deslocamentos (RANGAN, 1976)

Substituindo as expressões de wp e wc em (4) obtém-se:

βp l 1l 31n ⎡ l ⎛ ⎞
3

wu = (Fi + λ Ft ) ⎢1 + Ip βc 2 ⎜⎜ l 2n ⎟⎟ ⎥ (7)
Ec Ip ⎢⎣ Ic βp l 1 ⎝ l 1n ⎠ ⎥⎦

Rangan levou em conta a redução do momento de inércia devida à fissuração.


Estudos feitos por TAYLOR (1970) e HEIMAN (1977) constataram que a fissuração na
faixa dos pilares é maior que na faixa central. Assim, Rangan adotou a faixa dos
pilares totalmente fissurada e a faixa central parcialmente fissurada.
O momento de inércia Ip é tomado como momento de inércia da seção
fissurada Icr, e o momento Ic, como média aritmética entre o momento de inércia da
seção geométrica Ig e o da seção fissurada. O momento de inércia de uma faixa de
laje fissurada (com intervalos usuais de αe=Es/Ec) por unidade de largura é,
aproximadamente, 5ρd3, sendo ρ é a taxa média de armadura de tração. Assim, na
faixa dos pilares, o momento de inércia é dado por I p = 5ρ d 3 . Na faixa central o
I cr + I g
momento de inércia é tomado como I c = e pode ser aproximado para 0,6Ig ,
2
0,6h3
porque Icr é muito pequeno em relação a Ig. Sendo Ig=h3/12, tem-se I c = . E
12
ainda, admitindo que h=1,2d, tem-se: I c = 0,0864 d 3 .
Substituindo os valores das inércias Ip e Ic na expressão 7, obtém-se:

βp l 1 (Fi + λ Ft ) ⎛ l 1n ⎞ 3 ⎡ ⎤
3
βc l 2 ⎛ l 2 n ⎞
wu = ⎜ ⎟ ⎢1 + 58 ρp ⎜ ⎟ ⎥ (8)
5 ρp E c ⎝ d ⎠ ⎢ βp l 1 ⎜⎝ l 1n ⎟
⎠ ⎥
⎣ ⎦

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106 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

Um estudo paramétrico, feito por RANGAN e McMULLEN (1978), mostrou que


a expressão 8 é relativamente insensível a alguns dos parâmetros. Com uma
reavaliação dos resultados obtidos, ela foi simplificada:

l 1 (Fi + λ Ft ) ⎛ l 1n ⎞
3
w u = K1 K2 ⎜ ⎟ (9)
90 ρ Ec ⎝ d ⎠
p

K1 = 1,0 para painéis interiores


K1 = 1,3 para painéis exteriores com vigas rígidas de borda
K1 = 1,6 para painéis sem vigas de borda
K2 = (l2n/l1n) ≥ 0,5
d é a média das alturas úteis das duas faixas

A viga é considerada rígida se sua largura e a parte que excede a espessura


da laje são, no mínimo, uma vez e meia a espessura da laje (ver figura 4).

Figura 4 – Viga considerada rígida, segundo Rangan

Rangan simplifica mais a expressão, tomando o valor de ρp = 0,006 (segundo


Rangan este valor não varia muito). Tem-se então:

l (Fi + λ Ft ) ⎛ l 1n ⎞
3
w u = K1 K2 1 ⎜ ⎟ (10)
7 Ec ⎝ d ⎠

3.2 Processo das Vigas Cruzadas

Todas as aproximações que analisam as lajes como um sistema de vigas


perpendiculares podem ser denominados genericamente de processo das vigas
cruzadas. Há algumas variações entre as propostas dos vários autores, mas a base
dos processos é a mesma.
O que é aqui denominado processo das vigas cruzadas é o apresentado no
ACI 435.9R (1991) e indicado em MACGREGOR (1992). A laje é tratada como vigas
de largura unitária e ortogonais, na linha dos pilares e na região central da laje. O
deslocamento no meio do vão de cada viga de largura unitária é calculado usando a
equação dos deslocamentos de vigas elásticas.

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Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 107

w=
5 l 2n
48 E c I e
[
M m − 0,1 ( M 1 + M 2 ) ] (11)

ln vão livre na direção considerada


Ec módulo de elasticidade do concreto
Ie momento de inércia efetivo, obtido com a expressão 2.2
Mm, M1 e M2 momentos no meio-vão e nos apoios, determinados com o Processo
dos Pórticos Equivalentes ou com o Cálculo Direto

O deslocamento total é dado pelo deslocamento da faixa central somado à


média dos deslocamentos das faixas dos pilares, na direção ortogonal.

3.3 Análise Elastoplástica com Diagrama Momento-Curvatura Trilinear

Há uma disponibilidade muito grande de programas de elementos finitos com


análise elástica linear, havendo também programas que consideram o comportamento
elastoplástico do concreto.
A análise elastoplástica com o processo dos elementos finitos em lajes de
concreto armado tem sido feita através de duas aproximações. A primeira considera o
diagrama momento-curvatura, que representa os vários estágios de comportamento
do material, e a segunda que considera a placa estratificada em camadas
superpostas, que possibilitam a representação de variações nas propriedades do
material ao longo da espessura. Em CORRÊA (1991) encontra-se um breve histórico
da aplicação da análise elastoplástica com o processo dos elementos finitos.
Neste trabalho serão calculados deslocamentos utilizando o programa de
elementos finitos que incorpora a rotina para considerar o comportamento
elastoplástico do concreto, proposto por CORRÊA (1991), em que é utilizado o modelo
não-estratificado. Nesse modelo, o comportamento do material é representado por um
diagrama momento-curvatura trilinear, sendo que cada estágio do comportamento do
concreto armado (concreto não-fissurado, concreto fissurado e escoamento das
armaduras) é representado por uma linha reta, como se pode observar na figura 5.
No diagrama momento-curvatura da figura 5, supõe-se que o comportamento
não-elástico começa com o aparecimento da primeira fissura no ponto A, com
endurecimento linear e mudança de endurecimento no ponto B. As descargas são
sempre paralelas ao trecho elástico inicial. Então, no modelo adotado, a partir do
ponto A surgem deformações irreversíveis.

DB DC
H ′B = e H ′C = (12)
1 − DB / DA 1 − DC / DA

DA, DB e DC rigidezes à flexão da placa, relativas aos trechos OA, AB e BC,


respectivamente

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108 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

Figura 5 - Diagrama momento-curvatura trilinear

O endurecimento do material é o aumento da tensão de escoamento à medida


que ocorre deformação plástica. Os parâmetros de endurecimento, correspondentes
aos trechos AB e BC, são dados pelas seguintes expressões:
Para a definição do diagrama é necessária a determinação dos pontos A, B e
C. O ponto A é o ponto de fissuração. Para determiná-lo despreza-se a presença da
armadura, a seção é considerada homogênea e o módulo de elasticidade é Ec (vide
figura 6). O momento MA (momento de fissuração Mcr) e a curvatura associada são
dados por:

2 f tk
M A = ftk bh2 / 6 e χA = (13)
Ech

Figura 6 - Fissuração do concreto

No ponto B supõe-se que as armaduras iniciam o escoamento, ou seja, a


tensão normal σs atinge o valor da resistência característica do aço à tração fyk. É
desprezada a contribuição do concreto tracionado e as tensões de compressão no
concreto são consideradas proporcionais às deformações, com módulo de deformação
Ec (vide figura 7). O momento MB e a curvatura χB, para seção retangular com
armadura simples, são dados por:

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Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 109

ε yk
M B = f yk A s (d − x / 3) e χB = (14)
d−x

E sA s
x = − m + m2 + 2md e m =
Ecb

Figura 7 - Escoamento das armaduras

No ponto C a região mais comprimida do concreto atinge a resistência


característica fck, enquanto as armaduras escoam com tensão σs = fyk. Na distribuição
de deformações podem ocorrer duas situações. A primeira em que a deformação na
fibra mais comprimida do concreto está compreendida entre 0,20% e 0,35% e a
deformação do aço já atingiu o valor de 1%. E a segunda em que a deformação do
concreto atinge o valor de 0,35% enquanto no aço a deformação está entre εyk e 1%. É
feita a substituição do diagrama parábola-retângulo de tensões de compressão do
concreto pelo retângulo equivalente, como permite a NBR 6118 (1978) (figura 8). O
momento MC e a curvatura χC para seção retangular com armadura simples são dados
por:

0,0035 0,010
M C = 0,8xbf ck (d − 0,4 x) e χ C1 = ou χ C2 = (15)
x d−x

A s fyk
x= e adota-se a menor curvatura entre χC1 e χC2.
0,8bfck

Figura 8 – Deformações e tensões na seção

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


110 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

O modelo proposto por Corrêa é simples e, através das aferições feitas,


comprovou bom desempenho. O desenvolvimento desses modelos busca
representações mais realistas do comportamento bidimensional de lajes de concreto
armado, principalmente com relação aos fenômenos da fissuração e do escoamento
da armadura.
A implementação computacional foi feita para elementos triangulares de placa,
com três graus de liberdade por nó. O comportamento elastoplástico é analisado para
carregamento estático monotonicamente crescente. A solução de problemas não-
lineares, como a análise elastoplástica de placas, é feita através de um processo
incremental iterativo. A análise da placa é feita através de incrementos de ações, em
que é necessário fornecer os seguintes dados: número de incrementos de ações e
parcela da ação para cada incremento, número máximo de iterações por incremento,
valores das tolerâncias em força e em deslocamento para verificar a convergência e
os dados do diagrama momento-curvatura.
Esses dados do diagrama momento-curvatura que devem ser fornecidos para
a análise são: momento de fissuração (ponto A), momento de escoamento das
armaduras (ponto B), parâmetros de endurecimento dos trechos AB e BC.

3.4 Implementação de Graham e Scanlon

Para incluir o efeito da fissuração em programas de elementos finitos de


análise linear, SCANLON e MURRAY (1982) propuseram a utilização da relação
tensão-deformação ortotrópica, com redução na rigidez à flexão em cada direção.
Essa redução de rigidez é feita baseada no momento de inércia equivalente
recomendado no código do ACI. Essas modificações foram implementadas por
GRAHAM e SCANLON (1985), por meio de uma subrotina, no programa SAP IV. Os
procedimentos da rotina são apresentados a seguir.
Os momentos nas direções x e y são calculados inicialmente para a laje não
fissurada. Uma vez que as ações aplicadas são suficientes para exceder o momento
de fissuração, as propriedades dos materiais são reduzidas e os momentos são
novamente calculados usando uma relação tensão-deformação ortotrópica para o
estado plano de tensão (expressão 19). A rigidez à flexão é reduzida em cada direção,
utilizando a expressão do momento de inércia efetivo dado no código do ACI 318
(1983) (e que foi mantido na versão de 1989). O grau de fissuração (α), ou a redução
da rigidez, em cada direção, é dado pelas expressões 16. As propriedades dos
materiais são reduzidas na mesma proporção, como pode ser visto nas expressões 17
e 18.

I ex I ey
αx = αy = (16)
I gx I gy

Ex = α xEc Ey = α yEc (17)

νx = α x ν νx = α x ν (18)

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Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 111

⎡ Ex E y νx ⎤
⎢ 0 ⎥
⎧ σ x ⎫ ⎢1 − ν x ν y 1 − νx νy ⎥⎧ ε ⎫
⎪ ⎪ ⎢ E x νy Ey ⎥⎪ x ⎪
⎨σy ⎬ = ⎢ 0 ⎥⎨ ε y ⎬ (19)
⎪τ ⎪ ⎢ 1 − ν x ν y 1 − νx νy ⎥⎪ ⎪
⎩ xy ⎭ ⎢ 0 0 G xy ⎥ ⎩γ xy ⎭
⎢ ⎥
⎣ ⎦

O módulo de elasticidade transversal sofre uma redução no seu valor, depois


da fissuração, mas quantificar essa redução é uma tarefa difícil. Hand; Pecknold e
Schnobrich, fazendo análises por elementos finitos, chegaram à conclusão de que o
cálculo do deslocamento não é sensível ao valor reduzido de Gxy depois da fissuração.
Por simplicidade, o módulo de elasticidade transversal antes da fissuração é utilizado
mesmo depois da peça fissurada.
No cálculo do momento de inércia efetivo, o efeito das tensões geradas pela
restrição à retração do material pode ser considerado no cálculo do momento de
fissuração Mcr , através da redução da resistência à tração.
A análise da laje é repetida usando as constantes reduzidas, e subseqüentes
iterações são feitas até não haver fissuração adicional. Um esquema da rotina de
fissuração iterativa pode ser visualizada na figura 9.
Para fazer a análise incluindo a consideração da fissuração há uma entrada
adicional de dados para a subrotina de fissuração, em que são fornecidos os dados da
armação da laje e o estado de fissuração de cada elemento.
Pode-se fazer a análise da laje através de estágios de carregamento. As ações
são divididas em parcelas e são calculados os deslocamentos da laje para cada nível
de ação. Com esse procedimento se obtém uma aproximação em degraus ao longo do
diagrama momento-curvatura, melhor que uma única aproximação da rigidez da laje
no nível do momento máximo de serviço.
Nas análises feitas através de estágios de carregamento, os elementos que
fissuram em um nível de ações devem ser considerados já fissurados no início da
resolução dos níveis de ações subseqüentes. Para indicar a existência de elementos
já fissurados no início de uma análise, deve-se fornecer os valores das propriedades
reduzidas e do grau de fissuração para aqueles elementos. Neste caso, o fluxograma
da figura 9 não começa com o cálculo dos momentos elásticos, mas com os
momentos obtidos com o uso da rigidez reduzida.

4 EXEMPLO

Foram feitos três exemplos (SILVANY, 1996). Será aqui apresentado um deles.
É a análise de deslocamentos em uma laje-cogumelo estudada por PINHEIRO e
SCANLON (1993), que utilizaram o processo das vigas cruzadas e o processo dos
elementos finitos através do programa SAP IV, com as modificações apresentadas no
item 3.4. Aqui serão calculados os deslocamentos utilizando o programa de elementos
finitos de CORRÊA (1991), apresentado no item 3.3. Também será feita uma
estimativa do deslocamento utilizando as expressões de Rangan.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


112 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

Início

Cálculo dos momentos elásticos

Cálculo da inércia efetiva para cada elemento nas direções x e y, I ex e I ey

Cálculo do grau de fissuração α x e α y

Redução das propriedades dos materiais E c e ν

Cálculo dos novos coeficientes de rigidez

Cálculo dos novos valores de momento, deslocamento e


grau de fissuração para o novo momento

Verificação se
ocorre fissuração
Sim Não
adicional, isto é, Fim
menores valores de
αx e αy

Figura 9 - Rotina iterativa para considerar a fissuração (GRAHAM, 1984)

4.1 Dados do Pavimento

A figura 10 representa o pavimento. Trata-se de uma laje plana maciça de


concreto armado, com 24 cm de espessura e distância de piso a piso de 3,66 m. É

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 113

utilizado concreto com fc′ = 28 MPa, peso específico de 25 kN/m3 e ν = 0,2. O aço
utilizado tem fy = 414 MPa, o módulo de elasticidade Es = 203 GPa. O módulo de
elasticidade do concreto é calculado a partir do fc′ através da expressão
E c = 5000 fc' (MPa), de acordo com o ACI 318 (1989). Assim, Ec = 26458 MPa.

Figura 10 - Forma do pavimento

Pinheiro e Scanlon calculam o deslocamento para carga total pt = 9,5 kN/m2.


Foram feitas variações no comprimento do vão externo, na resistência do concreto à
tração e nas dimensões dos pilares. Foram considerados quatro casos que estão
esquematizados na tabela 1.

Tabela 1 - Casos considerados

Comprimento do Dimensões do Dimensões do Resistência à


Caso vão externo (m) pilar externo (cm) pilar interno (cm) tração (MPa)
1 4,57 30/91 30/122 0,62 fc'
2 7,32 30/91 30/122 0,62 fc'
3 4,57 30/91 30/122 0,33 fc'
4 4,57 30/46 30/61 0,33 fc'

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


114 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

Para a resistência do concreto à tração, utilizaram-se os valores do ACI


318 (1989), nos casos 1 e 2, e os valores sugeridos por SCANLON e MURRAY
(1982), nos casos 3 e 4.
Na determinação dos deslocamentos considerando a fissuração é necessário
conhecer a armação da laje. Em PINHEIRO e SCANLON (1993) é fornecida a área de
aço utilizada, que foi determinada através do Processo dos Pórticos Equivalentes e do
Cálculo Direto do código do ACI 318. Na determinação dos deslocamentos pelo
processo das vigas cruzadas, a laje é dividida em faixas, que são consideradas em
cada direção separadamente, e é considerada a área de aço da direção em questão.
Quando é utilizado o programa SAP IV com as implementações de GRAHAM e
SCANLON (1985), a laje é considerada ortótropa e, desta forma, é fornecida a área de
aço nas duas direções da laje.
Como já foi mencionado, neste trabalho são determinados os deslocamentos
utilizando o programa de elementos finitos com a análise elastoplástica descrita no
item 3.3. Nessa análise as relações constitutivas do material são dadas através do
diagrama momento-curvatura (M-χ), que é fornecido na entrada de dados. Para
montar o diagrama (M-χ) é necessário conhecer a área de aço. O elemento de placa é
considerado isótropo, o diagrama (M-χ) é considerado para a flexão segundo um único
eixo de atuação. A área de aço utilizada na determinação do diagrama (M-χ) é a
média aritmética das áreas de aço nas direções x e y.
A modelagem feita para a resolução da estrutura no programa de CORRÊA
(1991) foi a mesma utilizada no programa SAP IV com as implementações de Graham
e Scanlon; só que a malha utilizada conta com elementos finitos de menor dimensão.
Desta forma pôde ser feita a comparação dos resultados obtidos.

4.2 Resultados

Na tabela 2 são apresentados os valores dos deslocamentos no centro do


painel interno para a carga total. Na tabela 3 indica-se o aumento percentual que
ocorre no deslocamento quando é considerada a fissuração. Na tabela 4 apresenta-se
a comparação entre os deslocamentos, calculados considerando a fissuração,
tomando como referência aqueles calculados pelo programa de Corrêa.
Em Pinheiro e Scanlon, os valores dos deslocamentos calculados através do
processo das vigas cruzadas foram feitos seguindo dois caminhos: o caminho 1, que
considera a faixa dos pilares na direção x e a faixa central na direção y, e o caminho 2,
que considera a faixa dos pilares na direção y e a faixa central na direção x.
Pinheiro e Scanlon concluíram que ocorre uma grande variação dos
deslocamentos obtidos utilizando os caminhos 1 e 2; essa variação é decorrente dos
grandes momentos na faixa dos pilares no vão maior, que causam um elevado grau de
fissuração. Assim os deslocamentos no vão maior das faixas dos pilares é muito
grande em comparação com os obtidos para as outras faixas. Foi observado que o
menor dos valores de deslocamento é o melhor para representar o deslocamento no
centro do painel interno, quando se toma como referência o valor obtido utilizando o
processo dos elementos finitos.
Na tabela 2 e na figura 11 são apresentados os valores dos deslocamentos
obtidos pelos diversos processos. O processo 1 é o das vigas cruzadas para a média
dos valores dos caminhos 1 e 2 e o processo 2 indica o menor valor entre os dos
caminhos 1 e 2. O processo 3 é o cálculo dos deslocamentos utilizando o processo de
Rangan (expressão 9). O processo 4 é a análise elástica utilizando o programa SAP
IV, o processo 5 é a análise com o SAP IV com a inclusão da rotina que considera a

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 115

fissuração e os processos 6 e 7 são as análises elásticas e elastoplásticas,


respectivamente, realizadas no presente trabalho.

Tabela 2 - Deslocamentos no centro do painel interno para carga total

Processo Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4


1. Vigas Cruzadas 1 1,15 0,98 2,27 2,82
2. Vigas Cruzadas 2 0,73 0,69 1,61 2,38
3. Rangan 2,05 2,06 2,05 2,22
4. SAP IV sem fissuração 0,56 0,53 0,56 0,74
5. SAP IV com fissuração 0,75 0,70 1,50 2,02
6. E. F. linear 0,57 0,53 0,57 0,77
7. E. F. elastoplástico 0,72 0,66 1,65 2,35

Tabela 3 - Aumento no deslocamento, decorrente da fissuração

Processo Aumento Percentual


Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Elementos Finitos (SAP IV) 34% 32% 168% 173%
Elementos Finitos (Corrêa) 26% 25% 189% 205%

Tabela 4 - Valores relativos dos deslocamentos considerando a fissuração

Comparação Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4


Vigas Cruzadas 1 1,60 1,48 1,38 1,20
Vigas Cruzadas 2 1,01 1,05 0,98 1,01
Rangan 2,85 3,12 1,24 0,94
Elementos Finitos (SAP IV) 1,04 1,06 0,91 0,86
Elementos Finitos (Corrêa) 1 1 1 1

2,5
Deslocamento (cm)

2
1. Vigas cruzadas 1
1,5 2. Vigas cruzadas 2
3. Rangan
1 4. SAP IV sem
fissuração
0,5 5. SAP IV com
fissuração
0 6. E.F. linear
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 7. E.F. elastoplástico
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4
Processo de cálculo

Figura 11 - Gráfico de barras representando os deslocamentos

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


116 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

4.3 Análise dos Resultados

Os dados da tabela 2 podem ser melhor visualizados no gráfico da figura 11.


Pode-se observar que os deslocamentos elásticos obtidos com as análises por
elementos finitos foram bastante próximos. Os resultados considerando a fissuração
para os casos de resolução com elementos finitos e o menor valor do caso das vigas
cruzadas também apresentaram boa concordância. Os valores de deslocamentos
obtidos com o processo de Rangan foram os maiores verificados, com exceção do
caso 4. Utilizando o processo de Rangan, a diferença entre os valores dos
deslocamentos para os casos 1, 2 e 3 é muito pequena, pois o referido processo não
considera a influência dos vãos adjacentes e nem o valor da resistência do concreto à
tração; é considerada uma única configuração de fissuração.
Para as análises considerando a fissuração, observa-se que para as
estimativas de deslocamentos utilizando o valor da resistência à tração indicado no
ACI 318 (1989), casos 1 e 2, os resultados foram um pouco menores para o caso da
análise elastoplástica. Quando é utilizado o valor da resistência à tração recomendado
por SCANLON e MURRAY (1982), casos 3 e 4, as estimativas dos deslocamentos são
menores para a resolução utilizando o SAP IV. Na tabela 3 verifica-se que para os
casos 1 e 2 o aumento do deslocamento decorrente da fissuração é maior para a
análise com o programa SAP IV. Nos casos 3 e 4, o aumento do deslocamento
decorrente da fissuração é maior para os resultados obtidos através do programa de
Corrêa.
Os resultados obtidos utilizando Rangan são independentes da resistência à
tração considerada nos cálculos (o deslocamento para os casos 1 e 3 são idênticos).
Para os casos em que o valor da resistência à tração é calculado pela indicação do
ACI 318 (1989), os valores de deslocamento obtidos utilizando Rangan são muito
maiores que os deslocamentos obtidos com os outros processos. Com o valor da
resistência à tração reduzido obtém-se resultados mais próximos, pois os outros
modelos alcançam uma configuração de fissuração mais próxima daquela considerada
por Rangan.

5 CONCLUSÕES

Realizou-se um estudo comparativo de deslocamentos transversais em lajes-


cogumelo. Foi utilizado o programa de elementos finitos proposto em CORRÊA (1991),
que faz análise elástica e análise elastoplástica, e foram também considerados os
deslocamentos obtidos com o programa SAP IV, implementado com uma subrotina
para considerar a fissuração do concreto. Também foram estudados processos
simplificados, como o processo de Rangan e o processo das vigas cruzadas.
Rangan desenvolveu um processo bem simplificado que fornece a estimativa
do deslocamento de maneira rápida. Nos três exemplos desenvolvidos por SILVANY
(1996), um dos quais foi aqui apresesentado, observa-se que essas estimativas são
as maiores, conclusão que também foi obtida por FIGUEIREDO FILHO (1989).
Fazendo uma comparação entre Rangan e a análise numérica utilizando
diagrama momento curvatura trilinear (item 3.3), observa-se que à medida que são
consideradas condições que permitam uma maior fissuração na análise elastoplástica,
os resultados dos dois processos se aproximam. Nos cálculos de Rangan é
considerado um modelo único de fissuração, em que a laje está bastante fissurada. É
considerado que a faixa dos pilares está totalmente fissurada e a faixa central

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


Deslocamentos transversais em lages-cogumelo 117

parcialmente fissurada. A estimativa dos deslocamentos poderia ser melhorada se o


estado de fissuração da peça pudesse ser determinado para cada caso em particular.
Procurou-se comparar deslocamentos medidos em estruturas reais com os
deslocamentos calculados. Infelizmente, é muito difícil o trabalho de coleta de dados
dos estudos experimentais, para que se possa fazer uma comparação entre
resultados. Foi possível estudar o pavimento cujo deslocamentos foram registrados
por TAYLOR (1970), no exemplo 3 da dissertação de SILVANY (1996). A escolha
desse pavimento também foi influenciada pelo fato de que ele é um pavimento de forro
construído sobre uma edificação já existente. Desta forma a ação de construção se
resume no peso próprio da estrutura, aplicada na data da desforma.
No citado exemplo 3, houve boa concordância entre a estimativa dos
deslocamentos imediatos e o valor medido. No entanto, a estimativa dos
deslocamentos aos 850 dias, feita com os procedimentos do ACI 209R (1992),
subestimou o valor medido em 37%. TAYLOR (1970) apresentou duas justificativas
para a grande relação do deslocamento final sobre o deslocamento inicial que ocorreu
na estrutura:
a) o concreto utilizado para a execução do pavimento tem características para grandes
deformações por fluência e por retração;
b) no carregamento inicial, uma grande área da laje estava sujeita a pequenas tensões
de flexão e a fissuração inicial foi pequena. Ao longo do tempo, sob ação constante,
vão se formar novas fissuras.
A estimativa feita utilizando o processo de Rangan foi muito próxima do valor
do deslocamento medido. É válido ressaltar que este processo considera a laje
bastante fissurada.
Observando os resultados dos três exemplos, verifica-se que a proximidade
dos deslocamentos calculados por diferentes processos depende da rigidez
considerada. O processo de Rangan adota uma única configuração de fissuração;
então, quando são consideradas condições que permitam uma maior fissuração da
peça (menor resistência à tração, por exemplo), os resultados obtidos com o programa
de elementos finitos e com o processo das vigas cruzadas se aproximam dos
resultados de Rangan.
Não se pôde fazer afirmações conclusivas, visto que só foi analisado um
exemplo com dados experimentais, o que é muito pouco. Faltam dados experimentais,
sendo necessários mais exemplos para que possa ser feita uma avaliação dos
processos de cálculo. Vale ressaltar que devem ser estudados outros processos de
cálculo que não foram aqui considerados, como por exemplo a analogia de grelhas.
Ao final do trabalho, pode-se destacar pontos importantes que necessitam de
mais estudos. Um desses pontos são as ações que atuam nas lajes durante a fase de
construção, nos prédios de vários pavimentos, em que é utilizado o processo
construtivo com fôrmas e escoras. Outro aspecto importante é o efeito do tempo nos
deslocamentos. No presente trabalho, foram colocadas as recomendações do ACI
209R (1992) para a estimativa do deslocamento devido à fluência e devido ao
arqueamento por retração. Fazem-se necessários mais estudos nessa área, pois esta
é uma grande parcela do deslocamento final.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 95-120, 2005


118 Tatiana Theophilo Silvany & Libânio Miranda Pinheiro

6 AGRADECIMENTOS

Ao CNPq, pelas bolsas de mestrado e de pesquisador. Ao Marcos Vinícios


Natal Moreira, aluno de Engenharia Civil na EESC – USP, pela colaboração na revisão
deste artigo.

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COMPORTAMENTO DE CONECTORES DE
CISALHAMENTO EM VIGAS MISTAS AÇO-
CONCRETO COM ANÁLISE DA RESPOSTA
NUMÉRICA
Gustavo Alves Tristão1 & Jorge Munaiar Neto2

Resumo
As vigas mistas aço-concreto têm sido bastante utilizadas na engenharia civil, tanto no
Brasil como no contexto mundial. O comportamento adequado deste elemento
estrutural faz-se pela interação entre ambos os materiais, a qual é garantida por
conectores de cisalhamento. O presente trabalho apresenta uma visão geral do
comportamento das vigas mistas aço-concreto, e, principalmente o estudo do
comportamento estrutural de conectores de cisalhamento. Para tanto, faz-se uma
simulação numérica dos conectores tipo pino com cabeça (stud) e perfil “U” formado a
frio, por meio de uma modelagem do ensaio experimental tipo “Push-out”, cujos
resultados são confrontados com valores experimentais obtidos de ensaios realizados
em laboratório. Para a simulação numérica utiliza-se um código de cálculo com base
nos Método dos Elementos Finitos (MEF), cujas ferramentas disponibilizadas permitem
análises dos modelos em regime de não-linearidade física e geométrica. Os modelos
numéricos apresentam como variáveis de interesse o número de conectores na laje de
concreto, a quantidade de armadura inserida no concreto, o diâmetro do conector tipo
pino com cabeça (stud), a resistência do concreto, a espessura e posição de soldagem
do conector tipo perfil “U” formado a frio. A variação desses parâmetros tem como
finalidade a determinação da resistência última e da relação força-deslocamento dos
conectores, bem como avaliar a concentração de tensão e deformação nas partes
constituintes dos modelos.

Palavras-chave: conector de cisalhamento, viga mista aço-concreto, análise numérica.

1 INTRODUÇÃO

Os sistemas estruturais compostos, como as lajes mistas aço-concreto (lajes


de concreto com forma de aço incorporada), os pilares mistos aço-concreto (pilares de
aço revestidos ou protegidos por concreto e preenchidos com concreto) e as vigas
mistas aço-concreto (lajes de concreto sobre vigas de aço), têm sido bastante
1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, tristao@sc.usp.br
2
Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, jmunaiar@sc.usp.br

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 121-144, 2005


122 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

utilizados nas obras de engenharia civil.


No caso de vigas mistas, para um comportamento adequado desse elemento
estrutural faz-se necessária a interação entre ambos os materiais, a qual é garantida
por elementos metálicos denominados conectores de cisalhamento, cujas principais
funções são a de transferir fluxo de cisalhamento na interface da viga mista, bem
como impedir a separação vertical entre laje de concreto e perfil de aço, movimento
conhecido como “uplift”.
Dentre os conectores flexíveis mais utilizados na construção civil, citam-se os
tipos pino com cabeça (stud) e o perfil “U”, sendo que o primeiro caracteriza-se por ter
um rápido método de execução e equivalência na resistência em todas as direções
normais ao eixo do conector. Pesquisas recentes vêm sendo desenvolvidas,
objetivando a formulação de expressões que permitam determinar a resistência ao
cisalhamento dos conectores, em especial o tipo pino com cabeça (stud) e o tipo perfil
“U”, para lajes de concreto convencional e de alta resistência.
Essas expressões são de natureza empírica e têm origem em ensaios do tipo
“Push-out”, cuja análise dos resultados é feita dentro de um contexto global do sistema
misto, impossibilitando, na maioria das vezes, uma avaliação adequada de aspectos
particulares de interesse, como por exemplo, a concentração de tensões na região do
conector, fator de grande influência na determinação da força de ruptura.
Dentre os objetivos do presente trabalho, destaca-se a proposta de um modelo
numérico com utilização do código de cálculo ANSYS 5.7, que simule
satisfatoriamente o ensaio tipo “Push-out” recomendado pelo EUROCODE 4 (1994) e
pela norma britânica BS 5400 (1979). Como resultado principal é analisada a relação
entre a força e deslocamento no conector, podendo-se ainda, em caráter
complementar, avaliar os níveis das tensões em qualquer região do modelo, nos
estados limites de utilização e último.

2 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DOS CONECTORES

Os conectores de cisalhamento são classificados em flexíveis e rígidos. Nesse


trabalho é estudado o comportamento apenas dos conectores flexíveis, em particular o
tipo pino com cabeça (stud) e o tipo perfil “U”. A flexibilidade dos conectores depende
da relação entre força e deslocamento, a qual surge em resposta ao fluxo de
cisalhamento longitudinal gerado pela transferência de força entre laje de concreto e a
viga de aço. O comportamento flexível é representado pela ductilidade da relação
força-deslocamento no conector, conforme figura 1 extraída de Alva (2000).
O comportamento dúctil dos conectores flexíveis caracteriza-se pela
redistribuição do fluxo de cisalhamento longitudinal, de modo que, sob carregamento
crescente e monotônico, o conector continua a se deformar, sem romper, mesmo
quando próximo de atingir sua resistência máxima, permitindo que os demais
conectores, pertencentes à mesma viga mista, atinjam também suas resistências
máximas.
Nesse caso, pode-se admitir espaçamentos iguais entre conectores,
objetivando otimizar a execução da viga mista. Conseqüentemente, o colapso de uma
viga mista devido à ruptura da ligação aço-concreto será do tipo dúctil. A figura 2
ilustra os conectores tipo pino com cabeça (stud) e tipo perfil “U”.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23 p. 121-144, 2005


Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 123

FORÇA
Fu = força última

Fu

CONECTOR FLEXÍVEL

CONECTOR RÍGIDO

DESLOCAMENTO

Figura 1 - Relação força-deslocamento para conectores de cisalhamento

Conector tipo pino com cabeça (stud) Conector tipo perfil “U” formado a frio
Figura 2 - Exemplos de conectores tipos pino com cabeça e perfil “U” formado a frio

O pino com cabeça (stud) é soldado à mesa do perfil por meio de uma pistola
automática ligada a um equipamento específico de soldagem. O processo é iniciado
ao se encostar a base do pino ao material-base (mesa superior do perfil), quando
então aperta-se o gatilho da pistola, formando-se o arco elétrico provocando,
conseqüentemente, a fusão entre o pino e o material-base. Quanto ao perfil “U”, esse
deve ser soldado com uma das mesas assentada sobre a viga de aço, e com o plano
da alma perpendicular ao eixo longitudinal da viga.
Malite (1993) apresenta os resultados experimentais de ensaios tipo “Push-
out” para conectores de cisalhamento do tipo perfil “U” formado a frio com espessura
de chapa de 2,66 e 4,76 mm. Os modelos de ensaios são semelhantes aos
apresentados no EUROCODE 4 (1994) e na norma inglesa BS 5400. Para cada
espessura e posição do conector, foram ensaiados três modelos idênticos para laje de
concreto aos 28 dias de idade, em que o deslocamento relativo entre laje de concreto
e perfil metálico foi medido por meio de quatro relógios comparadores (posicionados
juntos aos conectores) com sensibilidade de leitura de 0,001 mm. As figuras 3 e 4
apresentam um esquema geral dos modelos ensaiados por Malite (1993).
Os ensaios foram conduzidos até que os modelos atingissem a ruptura efetiva,
sendo que para efeito de acomodação do modelo, aplicou-se inicialmente 40 kN de
carregamento, em duas etapas, seguido de um descarregamento total. Após
acomodação do modelo, aplicaram-se etapas de carregamento de 20 kN, com um
intervalo de 1,5 minuto entre as leituras dos deslocamentos de duas etapas
consecutivas.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 121-144, 2005


124 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

As formas de ruptura apresentadas nos modelos foram a ruptura do aço do


conector junto a solda e ruptura do concreto. O primeiro modo de falha caracterizou-se
para o conector com espessura de 2,66 mm, e o segundo modo para o conector com
espessura de 4,76 mm.
É importante destacar que quanto à posição do conector, ou seja, a direção do
fluxo de cisalhamento, não houve grandes diferenças em relação à resistência última
do conector. Porém as relações força-deslocamento para os conectores na posição 1
resultaram mais dúcteis que os conectores na posição 2.

Figura 3 - Esquema geral dos modelos ensaiados por Malite (1993) [4]

POSIÇÃO I POSIÇÃO II

Figura 4 - Posições do conector tipo perfil “U” no modelo de ensaio

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23 p. 121-144, 2005


Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 125

3 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Os conectores de cisalhamento atuam como elementos de aço imersos em


concreto. O colapso do sistema misto geralmente ocorre quando o material do
conector atinge a ruptura devido à redução gradual da resistência e rigidez do
concreto na zona de compressão triaxial (zona de influência), localizada
imediatamente em frente ao conector, como ilustra a figura 5. A redução da restrição
triaxial desta zona é conseqüência da fissuração que ocorre no concreto quando o
conector aplica uma força concentrada na laje. Segundo Oehlers (1989), existem três
modos de fissuração na laje, ilustrados também na figura 5, e descritos como:
laje

armadura
força concentrada
zona de influência

fissuração por
fissuração por fendilhamento
fendilhamento
fissuração normal às bielas
de compressão
fissuração por
rasgamento

Figura 5 - Tipos de fissuração na laje devida à força concentrada

• fissuração devida ao rasgamento, propagando-se nas laterais do conector, e que


depende da força de compressão no plano da laje. Quando este modo de fissuração
ocorre na direção da zona de influência, tem-se pouco efeito na resistência do
conector.
• fissuração que se propaga na direção das bielas de compressão do concreto.
• fissuração por fendilhamento em frente ao conector. A propagação dessas fissuras
diminui a restrição triaxial na zona de influência.

A fissura por fendilhamento, neste caso, é mais nociva ao concreto, tendo


como conseqüência a ruptura do conector. É importante salientar que a armadura
transversal não evita o fendilhamento do concreto, mas limita a propagação das
fissuras.
Portanto, a resistência ao cisalhamento do conector está diretamente ligada à
resistência e à rigidez do material do conector e da laje de concreto, tendo a armadura
transversal da laje um papel importante apenas no seu confinamento.
Algumas expressões empíricas baseadas em ensaios tipo “Push-out” são propostas
para determinação da resistência ao cisalhamento dos conectores tipos pino com
cabeça (stud) e perfil “U” formado a frio, para ambos os tipos para laje de concreto
maciça:

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 121-144, 2005


126 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

a) EUROCODE 4 (1994)
A resistência de cálculo do conector tipo pino com cabeça (stud) (qrd) em N, é
assumida como o menor dos seguintes valores.
πd 2
0,8f u ( )
q rd = 4
γv
(1.a)
0,29αd 2 f ckE c
q rd =
γv
(1.b)
onde, fu = resistência à ruptura do aço do conector; d = diâmetro do conector; fck =
resistência característica à compressão do concreto (MPa); Ec = módulo de
⎛ h cs ⎞ h
elasticidade do concreto (MPa); α = 0,2⎜ + 1⎟ para 3 ≤ cs ≤ 4 ; α = 1,0 para
⎝ d ⎠ d
h cs
> 4 ; γv= 1,25 ; hcs = altura do conector.
d

b) NBR-8800 (1986)
Resistência nominal do conector tipo pino com cabeça (stud) (qn) em N:
q n = 0,5A sc f ck E c ≤ A sc f u
(2)
onde, Asc = área da seção transversal do conector; Ec = 42γ 1c,5 f ck (MPa); γc = peso
específico do concreto em kN/m3.

De acordo com a NBR-8800 (1986), o uso da expressão (2) aplica-se para


concreto com fck menor ou igual a 28 MPa.

c) MALITE et al. (1998)


Resistência nominal do conector do tipo perfil “U” formado a frio (qn) em kN:
q n = 0,00045tL f ck E c
(3)
onde, t = espessura da chapa do conector em mm, L = comprimento do conector em
mm, E c = 42 γ 1c,5 f ck (Mpa).

O uso da expressão (3) aplica-se para concreto com fck entre 20 e 28 MPa e
peso específico superior a 22 kN/m3.

A expressão (3) deriva da expressão proposta AISC-LRFD (1994), para perfil


“U” laminado, mantendo-se iguais as espessuras da mesa e da alma do conector, as
quais são características dos perfis formados a frio. Os resultados da expressão (3)
mostraram-se compatíveis quando comparados com os resultados experimentais do
ensaio “Push-out” realizado por Malite (1993).

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23 p. 121-144, 2005


Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 127

4 ASPECTOS REFERENTES À MODELAGEM NUMÉRICA

A complexidade da análise multiaxial, nos campos das tensões e das


deformações, pode dificultar na maioria das vezes a elaboração de formulações
analíticas referentes ao ensaio “Push-out”, provável razão pela qual quase sempre têm
sido propostas expressões empíricas que representam o comportamento dos
conectores de cisalhamento. Com a evolução dos micro-computadores e dos códigos
de cálculo, a análise multiaxial para as estruturas de um modo geral deixa de ser um
problema.
Desta forma, é proposto no presente trabalho um modelo numérico
tridimensional que simule satisfatoriamente o ensaio experimental tipo “Push-out” para
conectores pino com cabeça (stud) e perfil “U” formado a frio, cuja simulação numérica
é realizada por meio da utilização do ANSYS 5.7. Pelas simetrias verificadas com
referência à geometria e à solicitação do modelo para o ensaio experimental “Push-
out”, considerou-se apenas metade do modelo experimental, para a elaboração do
modelo numérico.

4.1 Elementos finitos adotados

Os modelos numéricos propostos foram elaborados a partir de quatro tipos de


elementos finitos disponibilizados na biblioteca interna do código de cálculo ANSYS
5.7, e estão apresentados a seguir. É importante observar que todos os elementos
adotados têm apenas três graus de liberdade por nó, referentes às translações em x, y
e z (coordenadas locais), uma vez que não há o interesse na quantificação da rotação
dos elementos.
Para a discretização da laje de concreto foi utilizado o elemento concreto armado
tridimensional SOLID 65, constituído por oito nós (figura 6a). O SOLID 65 permite simular
fissuração na tração (nas três direções ortogonais) e esmagamento na compressão, bem como
um comportamento com não-linearidade física, o que permite avaliar deformações plásticas.
Possibilita ainda a inclusão das barras de armadura na forma de taxas, denominada armadura
dispersa, as quais são resistentes apenas à tração e à compressão. No entanto, caso seja de
interesse, este elemento permite ainda a introdução das barras de armadura na forma discreta,
procedimento esse adotado para os modelos numéricos do presente trabalho.
Para simular o comportamento do perfil metálico e dos conectores de cisalhamento,
utiliza-se o elemento sólido estrutural tridimensional SOLID 45 (figura 6b). Assim como o SOLID
65, o SOLID 45 também possui oito nós, e permite considerar a plasticidade e a ortotropia do
material.
As barras de armaduras dispostas na laje de concreto são discretizadas com o
elemento barra tridimensional LINK 8, constituído por nós de extremidades inicial (I) e final (J).
Como ilustrado na figura 7, o eixo x do elemento é orientado segundo o seu comprimento. Vale
ressaltar que nenhuma flexão no elemento pode ser considerada, porém, é disponibilizada ao
usuário a possibilidade de se admitir a ocorrência de deformação plástica.

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128 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

P 4 P 4
5 O 5 O

6 6
M M
N N
z z
2 ARMADURA 2
L φ
y L
3 y
3
θ
x K x
K
I SISTEMA DE
1 I COORDENADAS DO
J 1 ELEMENTO
(a) (b) J

Figura 6 – Elemento finito tipo SOLID 65 (a) e Elemento finito tipo SOLID 45 (b)

J
x

I
Figura 7 - Elemento finito tipo LINK 8

Nas interfaces entre conectores de cisalhamento e laje de concreto foram considerados


elementos de contato, objetivando simular a ocorrência de possíveis deslocamentos relativos
entre conector e concreto da laje. Foi utilizado o elemento de contanto definido pelo ANSYS 5.7
como superfície-superfície, que surge do trabalho em conjunto dos elementos TARGE 170
(como superfície alvo) e CONTAC 173 (como superfície de contato). No caso particular do
modelo numérico proposto, as faces dos elementos de concreto na interface laje-conector foram
consideradas como superfície alvo, enquanto que as faces dos elementos dos conectores foram
consideradas como superfície de contato.
Para se estabelecer uma rigidez entre ambas as superfícies, alvo e contato, é
necessário informar ao ANSYS o valor de um fator de rigidez normal de contato, identificado por
meio do parâmetro FKN. Este parâmetro controla a intensidade de penetração e afastamento
entre ambas as superfícies, razão pela qual tem grande influência na convergência durante o
processamento do modelo. Além disso, pode-se por meio do elemento de contato quantificar a
pressão que o conector exerce no concreto.

4.2 Condições de contorno e solicitação

Como o modelo numérico leva em conta apenas a metade do modelo


experimental “Push-out”, restringiu-se o deslocamento segundo a direção X
(coordenada global) da alma do perfil metálico em toda sua extensão (na vertical).
Além disso, a face inferior da laje de concreto é restringida nas três direções, no plano
XY e também na direção normal a este plano (coordenadas globais), objetivando
garantir a estabilidade do modelo, quando da aplicação das forças no perfil metálico.
Os conectores de cisalhamento estão solidarizados à mesa do perfil metálico,
objetivando garantir que os nós comuns aos elementos dos conectores e da mesa da
viga de aço tenham compatibilidade de deslocamentos em todas as direções. Vale
mencionar ainda que os nós pertencentes à laje de concreto e à mesa do perfil

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23 p. 121-144, 2005


Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 129

metálico foram acoplados apenas na direção X, objetivando minimizar a rotação da


laje em do eixo Z.
A solicitação é aplicada na face superior do perfil metálico, na forma de pressão, cuja
intensidade é definida por meio da divisão da força de ruptura estimada pela área da
seção transversal do perfil metálico. As direções das coordenadas globais para os
modelos é apresentada na figura 10.

4.3 Modelos de não-linearidade física adotados para o aço e concreto

O código de cálculo ANSYS 5.7 possibilita a consideração da não-linearidade


física dos materiais, com base em alguns critérios de resistência. Nos modelos
numéricos em questão, para o aço do conector e do perfil metálico, adota-se o
comportamento elasto-plástico multilinear com encruamento isótropo. Já para o aço da
armadura, considera-se o comportamento elasto-plástico perfeito. Esses dois
comportamentos são associados ao critério de Von Mises, e as relações tensão-
deformação são ilustradas na figuras 8 e 9, respectivamente.

σ PONTOS σ ε
a 0,7fy 0,7fy/E
σd
σc E 3=tangφ f y − 0,7f y
σb E 2=tangγ b fy εa +
σa E1=tangβ
E1
fu − fy
c fu εb +
E=tangα
E2
εa εb εc εd ε d fu 1

Figura 8 - Comportamento elasto-plástico multilinear com encruamento isótropo

fy

Ε = ta n g α
ε

Figura 9 - Comportamento elasto-plástico perfeito

Para o concreto, adotam-se o modelo concreto e o modelo elástico não-linear.


O modelo concreto é baseado no critério de ruptura para o estado multiaxial de
tensão, proposto por “Willam-Warnke”, e capaz de simular o esmagamento na
compressão e a fissuração na tração. Já o modelo elástico não-linear permite a
consideração de uma relação não-linear entre tensão e deformação, para o qual
adotou-se o comportamento para o concreto, descrito pela relação tensão-deformação
foi extraída do CEB-FIB (1991).

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130 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

No modelo com conector tipo pino com cabeça (stud) foi adotado o modelo concreto
praticamente em toda laje, exceto nos elementos finitos sujeitos às vinculações de base da laje,
em que se utiliza o modelo elástico não-linear.
Por outro lado, para os modelos com conector tipo perfil “U” formado a frio utiliza-se o
modelo concreto nas regiões da laje próximas aos conectores, pois são essas regiões
submetidas a tensões de compressão e de tração consideradas elevadas quando comparadas
às correspondentes resistências. Em contrapartida, nas regiões da laje onde as tensões não são
elevadas adota-se o modelo elástico não-linear, desde que as tensões de tração, quando
verificadas, resultem próximas da resistência à tração do concreto (ft). Essa verificação deve-se
ao fato de o modelo elástico não-linear adotar para esforços de tração o mesmo comportamento
(σ x ε) adotado para esforços de compressão e, portanto, inconsistente com o comportamento
real do concreto verificado experimentalmente.

5 RESULTADOS DA ANÁLISE NUMÉRICA

Apresentam-se a seguir resultados da análise numérica de modelos com


conectores dos tipos pino com cabeça (stud) e perfil”U” formado a frio, ambos em laje
de concreto maciça.
Vale ressaltar que a força total estimada foi aplicada em pequenos
incrementos, que variam dentro de um intervalo entre 100 e 250, adotando como
critérios de convergência a variação dos deslocamentos com tolerância para
convergência de 0,001, bem como uma tolerância de 1 mm para penetração entre as
superfícies alvo e de contato.

5.1 Modelo Numérico com Conector stud 13 mm

A simulação numérica referente ao conector tipo pino com cabeça (stud) foi
feita por meio de um modelo denominado de PHS-1, cujas dimensões e propriedades
dos materiais respeitaram aquelas adotadas nos ensaios experimentais tipo “Push-
out”, realizados por Kalfas (1997). O modelo consiste basicamente de dois pinos com
cabeça (stud), em cada laje, com 13 mm de diâmetro e 75mm de comprimento,
espaçados entre si 250 mm. A discretização do modelo PHS-1 é apresentada na figura
10.
As tabelas 1 e 2 apresentam as propriedades dos materiais para as fases de
comportamentos linear e não-linear, em correspondência às figuras 8 e 9. Já a tabela
3 apresenta as propriedades para o concreto, onde são especificadas as
correspondentes resistências à compressão do concreto (fck) e à tração (ft).

Tabela 1- Propriedades do aço do conector e do perfil metálico

σa σb σc σd E Ea Eb Ec
MATERIAL 2 2 2 2 2 2
(kN/cm )
2
(kN/cm )
2 (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm )

AÇO DO
28,0 40,0 49,6 49,6 20000 200 20 0
CONECTOR

AÇO DO
17,5 25,0 40,0 40,0 20500 205 20,5 0
PERFIL

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Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 131

Tabela 2 - Propriedades do aço da armadura


2 2
MATERIAL fy (kN/cm ) E (kN/cm )

AÇO DA ARMADURA 50,0 21000

Tabela 3 - Propriedades do concreto


2 2 2
MATERIAL E (kN/cm ) fck (kN/cm ) ft (kN/cm )

CONCRETO 2782 1,71 0,2

A figura 11 ilustra como resultado a relação entre força e deslocamento do


conector do modelo numérico PHS-1, confrontado com três resultados mais
representativos, dentre os nove ensaios experimentais realizados por Kalfas et al.
(1997). A força total aplicado no modelo foi dividida igualmente entre os dois
conectores. O valor adotado para a rigidez normal de contato (FKN) foi 500.

Stud
Laje de
concreto
Perfil
met

Y
Z
PLANO
XZ

X Figura 10 - Malha de elementos finitos do modelo PHS-1

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132 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

50

FORÇA POR CONECTOR (kN)


40

30

20 EXPERIM EN T AL 1
EXPERIM EN T AL 2

10 EXPERIM EN T AL 3
PH S-1

0
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0
D ESLO C AM EN TO (m m)

Figura 11 - Relação força x deslocamento por conector, para o modelo numérico PHS-1

Por uma análise com referência à figura 11, é possível identificar uma
concordância bastante satisfatória do resultado do modelo PHS-1 quando comparado
com os resultados experimentais, até o valor de força igual a 37,75 kN, a partir do qual
não mais apresentou convergência, em correspondência a uma tolerância de 0,001
com referência à diferença entre deslocamentos sucessivos.
É importante destacar que as tensões nas armaduras resultaram baixas
comprovando, como já comentado em capítulos anteriores, a sua função de apenas
confinar o concreto. As tensões de Mises no concreto na região da laje imediatamente
abaixo do conector resultaram elevadíssimas em alguns elementos (figura 14),
provavelmente devido à significativa pressão de contato entre conector e concreto,
como ilustrado na figura 12.

FORÇA POR CONECTOR DE 37,75 kN

3
2
1

Figura 12 - Pressão de contato (kN/cm2) entre o conector e o concreto, modelo PHS-1

O comportamento da pressão de contato ao longo da solicitação é apresentada na


figura 13 com referência as posições ilustradas na figura 12.

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Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 133

30
POSIÇÃO 1

POSIÇÃO 2

POSIÇÃO 3
20
POSIÇÃO 4

10

0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0

FO RÇA PO R CO NECTOR (kN)

Figura 13 - Relação pressão de contato x força por conector, modelo PHS-1

A figura 15 ilustra as tensões de Mises em apenas um conector, uma vez que


o comportamento dos dois conectores é igual. As posições no conector (figura 15)
indicadas pelos números 1, 2, 3 e 4 representam regiões para as quais serão plotadas
relações entre tensão de Mises e força no conector (figura 16).

FORÇA NO MODELO DE 75,5 kN

Figura 14 - Tensão(kN/cm2) na laje de concreto, região circundante ao conector, modelo PHS-1

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134 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

Percebe-se por meio do figura 16 a redistribuição de tensões que ocorre ao


longo do comprimento do conector. Vale destacar que em nenhuma região do
conector foi atingido o valor da tensão de escoamento (fy).

FORÇA POR CONECTROR


DE 37,75 kN

4
3
2
1

Figura 15 - Estado de tensão (kN/cm2) no pino com cabeça (stud), modelo PHS-1

Para o mesmo modelo, é apresentada na figura 17 a evolução das fissuras na


laje de concreto, em correspondência às etapas de forças no modelo de 10, 30, 40 50,
60 e 75,5 kN. As fissuras na laje são provocadas pela fissuração do concreto na tração
e pelo esmagamento do concreto na compressão.
Por uma análise com relação às etapas ilustradas na figura 17, as fissuras nos
primeiros incrementos de força iniciam-se na região circundante ao conector e, com o
aumento da força, se expandem pela laje de concreto.

35

POSIÇÃO 1
30 POSIÇÃO 2

POSIÇÃO 3
25 POSIÇÃO 4

20

15

10

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40

FORÇA POR CONECTOR (kN)

Figura 16 - Relação tensão x f orça no conector, modelo PHS-1

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Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 135

10 kN 30 kN 40 kN

50 kN 60 kN 75,5 kN

Figura 17 - Progressão das fissuras na laje de concreto, modelo PHS-1

5.2 Modelos numéricos com conector tipo perfil “U” formado a frio

Para os modelos numéricos com conectores tipo perfil “U” formado a frio,
adotou-se como referência o modelo experimental ensaiado por Malite (1993). Foram
modelados conectores perfil “U” de 2,66 e 4,76 mm de espessura nas posições I e II,
apresentadas na figura 4, em um total de quatro modelos numéricos, aqui
denominados de PHU-AI, PHU-AII, PHU-BI e PHU-BII. Nesse caso, as letras A e B
referem-se às espessuras adotadas, enquanto que os números I e II referem-se às
posições dos conectores. As propriedades adotadas para os materiais estão
apresentadas nas tabelas 4, 5 e 6.

Tabela 4 - Propriedades do aço do conector e do perfil metálico (referente à figura 8)

σa σb σc σd E Ea Eb Ec
MATERIAL 2 2 2 2 2 2
(kN/cm )
2
(kN/cm )
2 (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm ) (kN/cm )

AÇO DO
17,35 24,78 35,37 35,37 19900 199 19,9 0
CONECTOR

AÇO DO
17,40 37,73 54,26 54,26 19900 199 19,9 0
PERFIL

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136 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

Tabela 5 - Propriedades do aço da armadura (referente à figura 9)


2 2
MATERIAL fy (kN/cm ) E (kN/cm )

AÇO DA ARMADURA 50,0 21000

Tabela 6 – Propriedades do concreto


2 2 2
MATERIAL E (kN/cm ) fck (kN/cm ) ft (kN/cm )

CONCRETO 3215 2,67 0,28

Apresenta-se na figura 18 a discretização referente aos modelos com conector


perfil “U” formado a frio, tomando nesse caso como base o modelo PHU-BI.

Laje de
concreto Armadura Perfil
metálico

Perfil “U”

Figura 18 – Visão geral da discretização para os modelos com conector perfil “U” formado a
frio

Nas figuras 19 e 20, para os modelos numéricos AI, AII, BI e BII, apresentam-
se relações entre força por conector e deslocamento obtido no modelo numérico,
confrontadas com os resultados dos ensaios experimentais realizados por Malite
(1993). Para todos os modelos numéricos, o valor de FKN adotado foi 500.
Todas as relações entre força por conector e deslocamento dos modelos
numéricos apresentam basicamente um mesmo comportamento, ou seja, a fase inicial
apresenta um comportamento linear governado pelo fator FKN, e a partir de uma
determinada força, a relação começa a apresentar um comportamento fortemente não-
linear, devido a não-linearidade física dos materiais, principalmente do aço do conector
e do concreto da laje.

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Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 137

120
110
100
90
80
70
60
50
AI-1
40 AI-2
30 AI-3
20 PHU-AI
10
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

DESLOCAMENTO (mm)

120
110
100
90
80
70
60
50 AII-1
40 AII-2
30 AII-3
20 PHU -AII
10
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

D E SL O C A M E N T O (m m )

Figura 19 – Relação força por conector x deslocamento, modelos PHU-AI e PHU- AII

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138 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

200

175

FORÇA POR CONECTOR (kN)


150

125

100

75
BI-3
BI-2
50
BI-1
25 P H U-BI

0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
D E SL O C A M E N TO (mm)

200
FORÇA POR CONECTOR (kN)

150

100

BII-3
50 BII-2
BII-1
PHU-BII

0
0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3,0
DESLOCAM ENTO (mm)

Figura 20 – Relação força por conector x deslocamento, modelos PHU-BI e PHU-BII

A distribuição de tensões (de Mises), no conector, com referência à força


última para cada modelo é ilustrada na figura 21, para os modelos PHU-AI e PHU-AII,
bem como na figura 22, para os modelos PHU-BI e PHU-BII. O comportamento do
conector ao longo da solicitação nos modelos PHU-AI e PHU-AII, assim como para os
modelos PHU-BI e PHU-BII são apresentadas nas figuras 23 e 24, respectivamente,
por meio da relação entre tensão e força no conector. Os valores das tensões (de
Mises) foram tomados a partir dos nós indicados na linha 1 (figuras 21 e 22), ou seja,
posições 1, 2, 3, 4, 5 e 6 (ao longo da altura do perfil “U”).

Linha 1 Linha 1

Figura 21 – Distribuição de tensões de Mises (kN/cm2) no conector perfil “U”, modelos PHU-AI
e PHU- AII

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Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 139

Linha 1
Linha 1

Figura 22 – Distribuição de tensões de Mises (kN/cm2) no conector perfil “U”, modelos PHU-BI
e PHU- BII

O comportamento do conector ao longo da solicitação (figura 23) nos modelos


PHU-AI e PHU-AII são semelhantes, ou seja, inicialmente para a posição 1, as
tensões aumentam rapidamente até atingir a tensão de proporcionalidade (σa) de
17,35 kN/cm2. A partir desse instante, os elementos localizados nas posições número
2 e 3 começam a ser responsável por uma maior parcela de força, e
conseqüentemente, um aumento nas tensões até atingirem a tensão de escoamento
(fy) igual a 24,78 kN/cm2.

30
POSIÇÃO 1 POSIÇÃO 2
25 POSIÇÃO 3 POSIÇÃO 4
POSIÇÃO 5 POSIÇÃO 6
20

15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

FORÇA NO CONECTOR (kN)


(a)

35
P O SIÇ Ã O 1 P O SIÇ Ã O 2
30 P O SIÇ Ã O 3 P O SIÇ Ã O 4
P O SIÇ Ã O 5 P O SIÇ Ã O 6
25

20

15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

FO R Ç A N O C O N E C T O R (kN )
(b)

Figura 23 – Relação tensão x força, (a) modelo PHU-AI, (b) modelo PHU-AII

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 121-144, 2005


140 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

35
PO S IÇ Ã O 1 P O S IÇ Ã O 2
PO S IÇ Ã O 3 P O S IÇ Ã O 4
30
PO S IÇ Ã O 5 P O S IÇ Ã O 6

25

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160

F O R Ç A N O C O N E C T O R (kN )
(a)

30
PO S IÇ Ã O 1 P O S IÇ Ã O 2
PO S IÇ Ã O 3 P O S IÇ Ã O 4
25
PO S IÇ Ã O 5 P O S IÇ Ã O 6

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160

F O R Ç A N O C O N E C T O R (kN )
(b)
Figura 24 – Relação tensão x força, (a) modelo PHU-BI, (b) modelo PHU-BII

Observa-se na figura 24 a redistribuição de tensões que existe ao longo da altura do


conector, fato este que justifica as tensões elevadas nos três elementos finitos que apresentam
cor vermelha (figura 22), mesmo estando na região da alma mais afastada da mesa do perfil
metálico. Essa redistribuição de tensões ocorre quando o elemento de posição 1 atinge a tensão
de proporcionalidade (σa) de 24,78 kN/cm2 e logo depois os elementos de posições 2 e 3,
atingem a tensão de escoamento do aço do conector (fy) de 24,78 kN/cm2.
A pressão de contato entre conector e laje de concreto também foi medida em todos os
modelos, pois por meio desta têm-se a real tensão que o conector transmite para a laje de
concreto. As figuras 25 e 26 apresentam a distribuição da pressão de contato para força de 81
kN e 139 kN, respectivamente. Vale mencionar que o contato é estabelecido apenas na parte
comprimida.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23 p. 121-144, 2005


Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 141

FORÇA DE 81 kN Linha 2

Linha 1

(a) (b)
Figura 25– Comparação da pressão de contato entre os modelos (a) PHU-AI e (b) PHU-AII,
referente à força de 81 kN.

FORÇA DE 139 kN

Linha 1

Linha 2
(a) (b)
Figura 26– Comparação da pressão de contato entre os modelos (a) PHU-BI e (b) PHU-BII, referente à
força de 139 kN

As figuras 27 e 28 apresentam para os modelos PHU-AI; PHU-AII e PHU-BI; PHU-BII a


relação pressão de contato x força no conector, respectivamente, o qual os valores foram
tomados a partir dos nós indicados na linha 1 e linha 2 figuras 25 e 26.

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 7, n. 23, p. 121-144, 2005


142 Gustavo Alves Tristão & Jorge Munaiar Neto

5
POSIÇÃO 1
POSIÇÃO 2
4 POSIÇÃO 3

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

FORÇA NO CONECTOR (kN)

10
P O S IÇ Ã O 1
P O S IÇ Ã O 2
8
P O S IÇ Ã O 3

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

FO R Ç A N O C O N E C T O R (kN )

Figura 27– Relação pressão de contato x força, modelos PHU-AI e PHU-AII

15

12 PO SIÇ Ã O 1
PO SIÇ Ã O 2
9
PO SIÇ Ã O 3

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160

F O R Ç A N O C O N E C T O R (kN )

15

PO S IÇ Ã O 1
12
PO S IÇ Ã O 2
9 PO S IÇ Ã O 3

0
0 20 40 60 80 100 120 140

FO R Ç A N O C O N E C T O R (kN )

Figura 28– Relação pressão de contato x força, modelos PHU-BI e PHU-BII

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Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas mistas aço-concreto com... 143

Por meio das figuras 27 e 28 pode-se observar que as maiores pressões de


contato, localizam-se na região perto da solda do conector com o perfil metálico.

6 CONCLUSÕES

A proposta do presente trabalho objetivou avaliar o comportamento dos


conectores de cisalhamento dos tipos pino com cabeça e perfil “U” formado a frio, por
meio de análise numérica tridimensional do ensaio tipo “Push-out”. Para tanto foram
analisados conectores stud de 13 mm, bem como perfis “U” formados a frio, de 2,66 e
4,76 mm de espessura, em duas posições diferentes.
Os resultados dos modelos numéricos, analisados com referência à relação
entre força e deslocamento por conector, resultaram satisfatórios quando confrontados
com resultados experimentais. Adicionalmente, foram analisados outros aspectos de
interesse nos modelos numéricos, como por exemplo, a concentração de tensão nos
conectores, de difícil obtenção em ensaios experimentais.
Análises com relação aos conectores tipo perfil “U” formado a frio,
identificaram a não ocorrência de grandes diferenças com relação à força última do
conector de mesma espessura, ou seja, a diferença entre os modelos PHU-AI e PHU-
AII foi de aproximadamente 3,5%, enquanto que a diferença entre os modelos PHU-BI
e PHU-BII foi 5%. Porém, identificou-se uma grande influência da posição com relação
à ductilidade do conector, ou seja, conectores na posição I têm comportamento mais
dúctil quando comparados àqueles na posição II, fato de grande importância quando o
colapso de uma viga mista dá-se devido à ruptura da ligação.
As armaduras na laje de concreto em todos os modelos numéricos
apresentaram tensões muito inferiores à tensão de escoamento do aço, aspecto que
confirma como função principal desse elemento o confinamento do concreto,
aumentando assim a sua resistência.
As tensões na laje de concreto apresentaram-se bastante elevadas na região
do conector. Além disso, foi constatado que as fissuras, nos primeiros incrementos de
força, iniciaram-se na região circundante ao conector e, com aumento da força, se
espalham por toda a laje de concreto. Vale ressaltar que ambos os aspectos
verificados confirmam comentários apresentados em outros trabalhos realizados por
outros pesquisadores
Por uma análise criteriosa dos elementos de contato, acredita-se que a
perturbação identificada na relação tensão x força, para algumas posições no
conector, deve-se ao fato de nessas regiões a pressão e a penetração de contato
serem elevadas, quando comparadas a outras regiões do conector.
Finalmente, vale destacar que a simulação numérica do ensaio “Push-out”
possibilita analisar o comportamento dos conectores de cisalhamento, não somente
sobre o aspecto global, ou seja, relação força x deslocamento, mas também aspectos
localizados como tensões e deformações nos componentes do modelo. A análise
numérica do ensaio “Push-out” pode representar uma economia de tempo e dinheiro,
quando comparada à análise experimental.

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7 AGRADECIMENTOS

Agradecemos à CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual esta pesquisa não
poderia ter sido realizada.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVA, G. M. S. (2000). Sobre o projeto de edifícios em estrutura mista aço-


concreto. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos -
Universidade de São Paulo.

AMERICAN INSTITUTE OF STEEL CONSTRUCTION. (1994). AISC-LFRD –


Load and resistance factor design. Chicago.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1986). NBR 8800 –


Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios. Rio de Janeiro.

BRITISH STANDARD INSTITUTION. (1979). BS 5400 – Steel, concrete and


composite bridges. Part 5: Code of pratice for design of composite bridges. London.

COMITE EURO-INTERNATIONAL DU BETON. (1991). CEB-FIP model code 1990.


Bulletin dÏnformation, n.203-205.

EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. (1994). ENV 1994-1-1:


Eurocode 4 –Design of composite steel and concrete structures. Part 1-1: General
rules and rules for buildings. Brussels.

KALFAS, C. et al. (1997). Inelastic behaviour of shear connection by a method based


on FEM. Journal of Construction Steel Research, v.44, p.107-114.

MALITE, M. (1993). Análise do comportamento estrutural de vigas mistas aço-


concreto constituídas por perfis de chapa dobrada. São Carlos. Tese (Doutorado) -
Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo.

OEHLERS, D. J. (1989). Splitting induced by shear connectors in composite beams.


Journal of Structural Engineering, v.115, p.341-362.

TRISTÃO, G. A. (2002). Comportamento de conectores de cisalhamento em vigas


mistas aço-concreto com análise da resposta numérica. São Carlos. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo.

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