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Seleta de Krishnamurti

O livro "Seleta de Krishnamurti", do falecido ex-vice-presidente da ICK Carlos de Souza Neves, cuja capa reproduzimos acima, encontra-se esgotado. Trata-se de uma coletânea de
excertos de 160 obras de Krishnamurti, que Souza Neves selecionou durante doze anos e compilou sob uma taxonomia bastante abrangente, em cerca de 860 páginas e 136
capítulos.

O livro, originalmente editado pelo próprio autor no início do anos noventa, foi agora digitalizado pela ICK e está sendo publicado aqui, na íntegra, para leitura online.

Consideramos que a Seleta é uma excelente fonte de consulta e por isso resolvemos preservá-la e oferecê-la ao nosso público, desejando que possa ajudar a todos que buscam os
ensinamentos.

leia a orelha do livro

Atenção:
Em respeito ao trabalho do autor, estamos publicando o livro na íntegra, preservando todas as opiniões por ele expressadas, que devem ser vistas como estritamente pessoais, não
implicando em nenhuma relação da ICK com as mesmas.

leia a contracapa do livro

Um pedido:
Embora tenhamos revisado cuidadosamente todo o material digitalizado, procurando manter fidelidade ao original, pedimos aos leitores que porventura possuam um exemplar
impresso, que nos comuniquem quaisquer divergências que encontrem, pois o processo todo é muito sujeito a erros.

Prefácio
Entrei em contato com os livros de Krishnamurti há cerca de quarenta anos. Desde o início, comecei a perceber que as suas idéias estavam muito acima de tudo quanto eu tinha
lido em matéria de filosofia e religião. Os seus ensinamentos, no conjunto, constituem, sem dúvida, uma Mensagem de renovação religiosa, espiritual, para os nossos tempos e o
porvir. Ele fala repetidamente na inadiável mudança do homem, já que a atual crise social reflete o que o homem é.

Apresenta esta Seleta os ensinamentos de Krishnamurti por amostragem, através de seus cento e trinta e seis capítulos, dispostos em apropriada ordem, progressiva. Será de grande
utilidade, já que pouca gente dispõe de tempo para ler os seus cento e sessenta livros e panfletos. Além disso, setenta e cinco por cento deles, aproximadamente, se encontram
esgotados.

Não consta ter surgido no mundo obra de tal envergadura. Revela enorme trabalho de pesquisa, sacrifício e paciência. Beneficiará ela não só os religiosos, espiritualistas, de todas
as denominações, o grande público, como também os que trabalham nas áreas da educação, psicologia e psicanálise. Merece a iniciativa a gratidão e o apoio de todos os
interessados em Krishnamurti.

Myres Lourenço Lagioto

Eng.; ex-Presidente da ICK,

membro do atual Conselho Diretor

Introdução, Dados Históricos, Missão do Autor


Opiniões dos Diferentes Setores da Sociedade
As opiniões, abaixo, colhidas à última hora, seguem a ordem de entrega, que corresponde também à da digitação das mesmas no computador da gráfica. Outras deixaram de ser
incluídas, por não terem chegado a tempo, visto ter a obra entrado em fase de impressão.

É com satisfação que expressamos o nosso conceito sobre Krishnamurti e seus ensinamentos. Esse eminente indiano, conforme suas biografias, teria sido inspirado por elevadas
Entidades divinas para uma Mensagem de renovação do homem, visando à sua mutação, elevação espiritual.

As obras que dele lemos nos confirmaram essa impressão. As suas idéias, acima dos atuais padrões religiosos, destinam-se ao surgimento de um novo homem e de um novo mundo -
lançam princípios para a civilização do porvir. A presente Seleta constitui uma tentativa de visão global dos 160 livros do referido Iniciado.

O primeiro Representante do Movimento no Brasil (Ordem da Estrela) foi o General Raymundo Pinto Seidl (1914 - 1928). Nessa época o acompanharam os Generais Perminio
Carneiro Leão, José J. Firmino, Isidro de Figueiredo e Eugenio Nicoll. O General Caio Lustosa Lemos foi o primeiro Presidente da Instituição Cultural Krishnamurti, seguindo-se
posteriormente o General Hermes de Mello Portela.
Não poderia assim faltar aqui a opinião de um representante da classe. Esta Seleta, realizada por pessoa com a competência que a Obra revela, constitui inestimável trabalho de
pesquisa. Surge em época de crise, tornando-se oportuna a iniciativa. Merece o louvor e o apoio de todos.

Gen. Geraldo Rocha Lima

Ex-professor do Instituto Militar de Engenharia

São raros os verdadeiros gênios da raça humana. Criaturas que sobrevivem além da sua época e marcam novos rumos para a humanidade. Jiddu Krishnamurti foi indiscutivelmente
um desses. O seu pensamento atingiu as raízes da própria existência, apresentando ao mundo a antiga e tradicional sabedoria divina em roupagens modernas. Ele marcará, sem
dúvida, o mundo com a sua presença, que irá se transformar, à medida que o tempo passa, numa nova sociedade.

É difícil classificá-lo. Para uns ele é um filósofo; para outros um místico, um psicólogo, um sociólogo, etc., pois o seu pensamento está acima de rótulos, é atemporal. Ele se
preocupa muito com o nascimento de um novo ser. Livre, não condicionado pelas tradições, alguém que seja integralmente si mesmo.

Murillo Nunes de Azevedo

Prof. univ., Eng., escritor,

ex-Pres, da Soc. Teos., monge budista

Os mações, além dos estudos próprios, gozam de total liberdade de ler outras quaisquer doutrinas filosóficas ou teológicas. E sei que grande parte deles se acha familiarizada com
os ensinamentos de Krishnamurti.

Todos têm o dever de aperfeiçoar-se, renovar-se; e as obras daquele conceituado autor constituem uma das mais importantes fontes de iluminação espiritual.

João Conrado de Castro Ponte

33º Eminente Representante no Brasil do Supremo Conselho

Universal da Maçonaria Mista "Le Droit Humain".

Mirabeau Cesar Santos

33º Eminente Presidente da Assembléia Estadual

Legislativa Maçônica do Gr. Or. do RJ.

O professor Carlos de Souza Neves, ex-Secretário e Vice-Presidente da Instituição Cultural Krishnamurti, vem com a sua experiência brindar-nos com a síntese dos livros do
conceituado Pensador Indiano, aqui apresentada em seqüência apropriada.

A presente Obra certamente vem ao encontro da aspiração de muitos leitores e estudiosos do Senhor Krishnamurti, por oferecer-lhes maior facilidade para o estudo e
aprofundamento no conhecimento de sua Mensagem, cujo teor, pela transcendência, o faz muito apreciado nos meios artísticos.

Prof. João D'Ángelo, Tenor e atual Coordenador do Corpo

Artístico Coral do Teatro Municipal do RJ

João Carlos Dittert, Baixo do Teatro Municipal do RJ,

Prof. de Educ. Mus. e Diretor da Soc. dos Artistas Líricos

Brasileira

Jonas Travassos, Barítono do Teatro Municipal do RJ,

prof. de Educ. Mus. e Canto, e Vice-Diretor da Assoc. dos

Intérpretes da Arte.

Carlos de Souza Neves é jornalista, educador e escritor. Como jornalista, integra a Associação Brasileira de Imprensa e o Sindicato profissional do Rio de Janeiro. Educador,
trabalhou no Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e no Ministério da Educação. Na qualidade de escritor, bastaria a obra à vista para marcar-lhe a presença
no meio cultural.

Estudioso do pensamento filosófico e religioso, dedica-se há muitos anos ao exame da obra de Krishnamurti, que bem conhece desde quando o ouviu no Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, em 1935. Há mais de meio século analisa a obra do líder hindu, devotando-se a disseminá-la por escrito e por meio de palestras.

Krishnamurti (1895-1986), havido por muitos como veículo de Buddha e Cristo, a reencarnação ou evolução deles próprios, viajou o mundo inteiro a pregar. De suas idéias,
resultaram dezenas de livros que têm milhões de leitores e adeptos.

Presta o autor desta Seleta relevante serviço ao conhecimento de Krishnamurti, revelando-lhe posições fundamentais como a luta em prol da paz e contra a mundanidade, a
ignorância, o preconceito, o ódio e a luxúria.

Do notável líder religioso ficou a mensagem do amor universal por cima de crenças, ideologias e nacionalidades. "Eu sou todas as coisas. Porque sou a Vida".

Fernando Segismundo

Vice-Presidente da A.B.I.

No campo da Psicologia e da Psicanálise, possuem os ensinamentos de Krishnamurti muitas e valiosas contribuições. Como nós, sabemos que grande número de estudiosos e
profissionais da área têm lido, lêem, os livros do referido iluminado. A posteridade melhor avaliará a importância dos mesmos.

Alice Marques dos Santos

Nise da Silveira

(Médicas psiquiatras)

Thereza Nogueira Pessôa

Zuleica Poppe Siciliano


José Moreira P. de Almeida

(Psicólogos)

Muitos têm sido os membros da Academia Brasileira de Letras, além de nós, que têm demonstrado vivo interesse pelas obras de Krishnamurti, pela sabedoria de sua idéias e
poesias espirituais. Múcio Leão traduziu A Canção da Vida editada pela Instituição Cultural Krishnamurti do Brasil.

Dada a dificuldade de encontrar a maioria de suas obras, esgotadas, e de ler o grande número delas (cerca de 160), enaltecemos a iniciativa desta Seleta, que coloca ao alcance
dos interessados, por amostragem, uma visão global das mesmas.

Austragésilo de Ataíde

(Presidente)

Afranio Coutinho

Antonio Houiass

Ledo Ivo

(Acadêmicos)

Os valores espirituais estão fundamentalmente associados à vivência dos preceitos do Direito que Ulpiano definiu, com elegância e sabedoria.

Será a senda para que a Humanidade possa exercitar a solidariedade fraterna.

Os acrisolados ensinamentos de Krishnamurti - selecionados pelo ilustre autor desta obra - têm o condão de aprimorar atitudes e preferências, elevando espiritualmente os que
deles tiverem oportunidade de conhecer.

Geraldo Sampaio Vaz de Mello

Jurista, Secretário Geral do Instituto dos Advogados Brasileiros

Essencialmente, Krishnamurti era um singular e profundo psicólogo, cuja força inspiradora estava no conhecimento direto dos fatos ou fenômenos gerados das desarmonias
humanas.

Se me encantei com Jung, Karen Horney e Eric Fromn, bem maior foi o fascínio com a leitura do grande pensador hindu, cuja originalidade faz de sua mensagem facho
resplandecente a guiar os homens nos difíceis caminhos do auto-conhecimento.

De parabéns está pois Carlos Souza Neves, por nos dar fácil acesso a tão sábias idéias.

Raul de Souza Silveira

Membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros

Agraciado com significativa placa de prata pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, por 30 anos ininterruptos de serviços prestados como Conselheiro

(Jurista)

Introdução; A Mensagem de Krishnamurti


A apresentação de uma Obra como a presente é da maior significação, para dar-se uma idéia, embora incompleta, da grandeza do Senhor J. Krishnamurti e de sua Mensagem. No
tempo do Senhor Jesus Cristo, há 2.000 anos, na época, uma minoria da humanidade, amadurecida, reconheceu a magnitude de seu Ser e dos seus ensinamentos.

Só aos poucos foi a sua Revelação se estendendo no mundo. O mesmo ocorre com o Senhor J. Krishnamurti, nos tempos atuais. O Messias já veio, cumpriu a sua Missão, e já
retornou à sua Mansão celestial, e a maioria dos homens continua à sua espera. Magnos acontecimentos ocorreram em todo o planeta, mas a cegueira dos homens não permitiu
vislumbrá-los. Muitos tomaram deles breve conhecimento, mas não atinaram com a importância, preferindo continuar na tradição. Daí que esta Introdução, embora redigida em
curto tempo, precisa condensar a extensão e o esplendor dos Eventos.

A elaboração desta Seleta tornou-se para nós um dever de consciência. Desde criança, convivemos com pessoas que estudavam as Mensagens da Teosofia e de Krishnamurti. Em
1935, quando esse pensador iluminado veio ao Brasil, tivemos a felicidade de assistir a conferências que ele realizou no Rio de Janeiro. Levado por amigo íntimo do tradutor, nos
situamos, ambos, de pé, imediatamente atrás dele e de Krishnamurti.

Em 1938 iniciamos a leitura de livros de Krishnamurti, e, a partir de 1942, a freqüentar a Instituição Cultural Krishnamurti (ICK), do Brasil. Desde 1944, em nossas palestras
públicas, sempre que oportuno líamos textos do autor. Várias vezes apresentamos séries progressivas de seus ensinamentos, com troca de idéias.

Na altura de 1944, começamos a elaborar um índice dos ensinamentos mais expressivos de Krishnamurti, à medida que compulsávamos as suas obras, o qual passou por sucessivos
aperfeiçoamentos, útil às aludidas exposições, chegando a 15 cm de espessura.

Graças a ele temos igualmente podido transcrever excertos do autor em nossos livros, panfletos e artigos - em "Sociedade, Transição e Futuro" (RJ, 1982, 728 ps.) mais
abundantemente. Tendo assim obtido uma visão global das comunicações do autor, foi dito instrumento de grande valor para a organização da presente Seleta.

Há mais de 30 anos integramos o quadro de associados da ICK e, durante cerca de 15 anos, pertencemos ao Conselho dos Sócios Efetivos (11); de 1982 a 1987 exercemos na
Instituição o cargo de Diretor-Secretário; e de 1987 a 1991 o de Vice-Presidente. Inobstante, não passamos de mero estudioso da matéria; sobre ela nunca se chega a um fim,
também porque uma coisa é o saber teórico e outra a vivência prática.

Fomos levados à elaboração desta compilação por vários motivos. Um deles é a mais ampla divulgação da Mensagem do autor, pondo-a ao alcance de quem possa aproveitá-la.
Ela é mais conhecida do que se possa imaginar, mas superficialmente. Em qualquer ambiente social, religioso, acadêmico, universitário, militar, científico, do povo esclarecido, há
sempre quem conheça a importância de seus ensinamentos. Mas, conforme nossa observação, apenas um número reduzido de pessoas tem adquirido uma visão global dos mesmos.
A grande maioria restringe-se à leitura de uns poucos livros.

O resultado é que ficam com um conhecimento parcial, unilateral, sem a visão do todo. A presente Coletânea, salvo exceções, abrange as obras constantes da Bibliografia, em
número de 160. Optou-se por capítulos pequenos, de 4 a 8 páginas, salvo exceções, para facilitar a leitura individual e o estudo em grupos. Inclui cada um deles excertos
representativos, dentre os melhores encontrados.

Cerca de 1/5 dos livros da Bibliografia, os últimos, principalmente, não chegaram a ser traduzidos e editados em português, mas eles foram por nós consultados, sendo os textos
inovadores incluídos nos correspondentes capítulos. Como os ensinamentos do autor foram sendo crescentemente enriquecidos, ficaria esta Obra incompleta sem eles.
Outro motivo que nos levou à realização desta Seleta é que a Mensagem em referência, destinada ao presente-futuro, visa essencialmente à mudança do homem, procurando
elevá-lo a uma condição de pureza, maturidade, a nova dimensão espiritual. Com muita freqüência, diz Krishnamurti, em suas palestras, que tal transformação humana é urgente,
inadiável. Daí a oportunidade desta Iniciativa. As Escrituras cristãs, hindus e budistas igualmente se referem ao Juízo e purificação dos homens neste "fim de tempos".

A Bíblia, entre outros versículos, em Malaquias III,2; Zacarias XIII,9; Ezequiel XXVI, 25; Sofonias III,11-12, Isaías XIII,11, e Mateus, Marcos, Lucas, e o Apocalipse também, em
vários capítulos. Nessas fontes, os textos mais graves chegam a dizer que "os homens serão purificados como o fogo do ourives e o sabão dos lavandeiros, ficando livres das
imundícies, e humildes e pobres".

O Vishnu Purana destina o Livro IV, cap. XXIV, e o livro VI, cap. I, a profecias para este período de Kali yuga. No primeiro lê-se: "Restabelecerá (a Divindade) a justiça sobre a
terra, e os espíritos daqueles que vivem no fim da idade Kali serão despertados e por tal maneira se tornarão transparentes como o cristal". As previsões do Budismo encontram-se
nas Profecias dos Cinco Desaparecimentos, correspondendo a época atual ao quinto Desaparecimento, ocorrendo, no porvir, padecimentos, aflições, penúrias.

Krishnamurti trata do assunto em muitos de seus livros, como se verá nos capítulos próprios. Num deles, como exemplo - O Egoísmo e o Problema da Paz, lê-se: (...) Tendes de
pagar o preço da paz. Tendes de o pagar, voluntária e alegremente, e esse preço é o libertar-vos da luxúria, da malevolência, da mundanidade, da ignorância, do preconceito e do
ódio. Se ocorresse em vós mudança tão radical, poderíeis cooperar para o advento de um mundo pacífico e sensato.

Segue: Talvez não podeis evitar a Terceira Guerra Mundial, mas podeis 1ibertar o coração e a mente da violência e das causas que geram a inimizade e repelem o amor. Haverá,
então, neste mundo lúgubre, alguns homens puros de mente e de coração, de cujas obras germinará, por ventura, a semente de uma verdadeira civilização. Purificai vossas mentes e
corações, pois é somente pelas vossas vidas e vossos atos, que poderá haver paz e ordem. Não vos percais na promiscuidade das organizações, mas conservai-vos solitários e
singelos. (...) (Idem, ps. 26-27)

Iniciativa, autor da Seleta


Foi a presente Coletânea realizada aos poucos, num período de doze anos, sendo onze dedicados a pesquisa e reunião de dados, e um à organização, acabamento e revisão. Aqui
expressamos a nossa profunda gratidão e admiração pelo abnegado e desinteressado esforço de vários companheiros, todos de elevado nível, que durante três meses nos ajudaram
na conferência dos excertos integrantes de cada um dos 136 capítulos, com os respectivos livros e páginas, e na revisão de sinais convencionais e tipográfica. Também aos que
trabalharam nos serviços de composição, impressão e acabamento. Sem isso não teria sido possível a publicação imediata deste livro.

Representa esta Seleta a tentativa de uma visão global, por amostragem, dos ensinamentos de Krishnamurti. São eles de uma extensão e profundidade tais, que se torna difícil,
senão impossível, uma síntese perfeita. Por isso, não prescinde ela da consulta aos livros do autor, também para se ver o que precede e sucede aos textos reproduzidos. Tendo-se
resolvido editá-la com brevidade, dada a crise social, financeira, a crescente elevação dos preços, deixou-se de melhorá-la em detalhes, sendo publicada no estado. Foi exaustiva a
sua elaboração, mais ainda a conclusão e a revisão geral, em ritmo acelerado.

Quando uma pessoa revela interesse por um livro, é natural que deseje saber as credenciais do autor, a fim de poder avaliar a capacidade, o acesso às fontes, a orientação, a
seriedade da obra. Costumamos também proceder assim. Mas, adotando os ensinamentos de Krishnamurti, nos sentimos de certo modo constrangido. Ele recomenda que, para se
dissolver o "eu" (que quer ser alguém, projetar-se com sua auto-imagem), devemos manter a atitude de não saber, ser nada, ninguém, o anonimato.

O reconhecimento da importância própria é outro fator importante. Sócrates elogiou a ignorância, Platão também; o Cardeal Nicolau de Cusa, com sua obra "A Douta
Ignorância", se tornou figura proeminente. Mas Krishnamurti, com os dados constantes de vários dos capítulos adiante, desprezando os títulos, as distinções, a erudição da mente
computadorizada, e elogiando o saber real, não condicionado, ligado ao autoconhecimento, ultrapassou a todos. Se já pertencíamos ao clube, mais fortalecido ficamos nele.

Atendendo ao dever aludido, nos limitaremos a referências de atuações específicas, literárias e funções, exercidas. Possibilitou a realização desta Obra a nossa condição de
aposentado do Ministério da Educação e Cultura, onde por mais de 25 anos nos dedicamos ao Setor de Ensino Superior. Publicou o MEC os volumes que produzimos, sob o título
"Ensino Superior no Brasil - Legislação e Jurisprudência Federais", que, com as atualizações, atingiram 8 volumes de 600 a 800 páginas cada um. Cabia-nos também a função de
fiscalização de faculdades, e estudo de recursos, de processos de autorização e reconhecimentos, etc.

Marcado pelo signo de Peixes, com ascendente em Libra, atuamos no campo do Direito (Administrativo e correlacionados - Constitucional, Civil, Penal, Trabalhista), que
figuraram de nosso concurso para ingresso em cargo de nível superior no Serviço Público. Começamos a servir na Presidência da República, DASP, e depois passamos para o
MEC, submetendo-nos a concurso de títulos para o preenchimento de vagas disponíveis em carreira especializada, ramo do ensino superior. Integramos 12 comissões de inquérito e
especiais, por designação do Sr. Ministro de Estado, do Departamento de Assuntos Universitários e do Conselho Federal de Educação.

É interessante como atua o "destino"; se a pessoa dele escapa, de alguma forma, é por ele guindado de outra. Em 1945, nosso então amigo Francisco de Assis Grieco (hoje
embaixador) insistiu, repetidamente, para que efetuássemos a inscrição no concurso para diplomata, promovido pelo DASP (não havia o Instituto Rio Branco, criado em 1949) - e o
concurso realizou-se um ano depois - tendo em vista o estudo conjunto, troca de conhecimentos. Preferimos, no entanto, manter-nos no cargo de carreira em que estávamos, de
nível assemelhado. Porém, mais tarde, convidado, durante seis anos prestamos serviços de assessoria ao Ministério das Relações Exteriores, Departamento Cultural, inicialmente
sob a chefia do Ministro Scarabotolo.

Tendo nascido em dia, mês e ano em que coincidem duas datas nacionais, disseram-nos alguns astrólogos que nosso dharma estava ligado aos destinos do Brasil. Talvez por isso,
dever de funções, freqüentamos durante 25 anos não só os Tribunais Federais como a Câmara de Deputados e o Senado Federal, redigindo numerosos projetos e emendas para
congressistas amigos e também para Ministros.

Há 50 anos ingressamos na Sociedade Teosófica no Brasil (sucursal da The Theosophical Society, de Adyar, Madrasta, Índia). Desde 1944 realizamos palestras na Instituição e,
convidado, em outras. Além do aprofundamento na respectiva literatura, de longa data procuramos acompanhar os progressos da ciência, incluindo a psicanálise. Militamos
também no jornalismo, integrando os quadros da Associação Brasileira de Imprensa e da Ordem Internacional dos Jornalistas.

Desde cedo compreendemos que se vive numa época de exceção, e por isso evitamos maior envolvimento com assuntos mundanos, para nos dedicarmos aos espirituais e
correlacionados. Estudamos as predições para os nossos tempos, e escrevemos "Até 2.000... - Profecias Comparadas" (1976, 488 páginas). Além dos vaticínios sociais, tomamos
conhecimento das previsões no campo científico (terremotos, vulcões, degelo dos pólos, fenômenos no sol, lua, inversão da polaridade, etc.) Com relação, reunimos dados de
centenas de livros, também da literatura científica vinculada, chegando a elaborar um esboço de livro.

Por vários anos servimos na Universidade do Brasil (atual Federal do Rio de Janeiro), requisitado para o exercício de função gratificada, de assessoria, chefia de gabinete,
retornando posteriormente ao MEC. Aproveitamos a oportunidade para consultar grande número de livros de suas bibliotecas.

Reunimos excertos espiritualistas das obras filosóficas desde os pré-socráticos, até hoje, e também das teológicas e místicas de valor, sem esquecer as Escrituras hindus, budistas e
demais religiões, visando à elaboração de uma "Universália Espiritualista". O material coletado encontra-se em 4 grossos volumes, mas não há tempo nem condição de prosseguir
o empreendimento.

Isto em virtude de crises sociais crescentes e dos anos que restam para que graves ocorrências, anunciadas por previsões, confirmadas por Krishnamurti, atinjam o nosso planeta.
Com múltiplas atividades, reconhecemos a prioridade de se atender à demanda do elevado número de pessoas que, ultimamente, têm demonstrado grande interesse pelos
conhecimentos espirituais. Também por esse motivo, absorvido por vários encargos e sem tempo disponível, deixamos de aceitar convite para ingresso na Academia Interamericana
de Letras, renovando aqui nosso agradecimento ao seu ilustre Presidente.

Para a obra "Impacto de Krishnamurti", escrevemos, em 1986, o capítulo sobre o Brasil, a pedido do coordenador da mesma, D. Salvador Sendra, Secretário Geral da Fundação
Krishnamurti Hispanoamericana, de Porto Rico. Reúne ela dados sobre a projeção do Movimento de Krishnamurti em toda a Ibero-América, Espanha e Portugal. As 16 páginas
produzidas (incluindo a relação dos livros traduzidos e editados em português no Brasil) foram reduzidas a 12, para enquadrar-se nos limites da obra - abrangem as pág. 147-158.
Edição, direitos autorais
Para a publicação desta Obra, foi ela oferecida a muitas editoras, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília. Mas, sem revelar o motivo, algumas não demonstraram interesse.
Outras informaram que tinham já compromisso de edição de muitos livros, e só em outra oportunidade poderiam considerar a proposta. Duas queriam imprimi-la, porém num
próximo futuro, porque tinham publicado livros recentemente, ou adquirido aparelhamento moderno, dando a entender que estavam "sem caixa". Finalmente, uma concordava em
editar o livro imediatamente, se se conseguissem pessoas que comprassem antecipadamente cerca de 600 exemplares, pagando à vista.

Nessas circunstâncias, resolveu-se editar a Coletânea reunindo um grupo de pessoas que, retirando dinheiro de suas poupanças, emprestaram quantias significativas, com a
condição de permanecerem anônimas e de receberem as importâncias de volta com o primeiro resultado da venda, incluindo os juros e a correção monetária de praxe,
completando-se o restante com empréstimo bancário.

Por isso, dentro do capital disponível, decidiu-se editar 2.000 exemplares. Como a maioria das pessoas desconhece o mecanismo do mercado, com a nossa experiência procuramos
dar uma idéia. As Distribuidoras pedem cerca de 55% sobre o preço de capa, para colocarem um livro em todo o país. Isto porque elas dão 30% às livrarias, mais 5% se paga a
duplicata no prazo de 60 dias. Acima de certa quantidade de exemplares, o desconto é de 35% mais 5%. O vendedor na praça, colhendo os pedidos nos postos de venda, recebe 3%.

As poucas Distribuidoras nacionais dignas desse nome, só têm escritório em poucos estados. Em relação aos demais, dado o reduzido número de livrarias ou a insuficiente venda,
entregam os livros a Distribuidoras regionais, estaduais, que para isso ganham uns 10%. O editor fica assim com 45% para custear as despesas com a obra, serviços de datilografia
e outros, a composição, impressão, acabamento, as embalagens, gratificações, os transportes, a propaganda (anúncios em periódicos), as perdas sob múltiplas formas.

Por outro lado, há os exemplares com defeitos, extraviados e os numerosos que são doados a título de gentilezas, serviços prestados, autoridades, redação de jornais e revistas para
a divulgação, parentes e amigos, instituições espiritualistas, bibliotecas públicas, etc.

A Distribuidora só começa a pagar três meses depois de recebido o livro, porque ela leva um mês anunciando-o às livrarias, recebendo pedidos - o prazo normal de pagamento é de
60 dias. Por isso, para ressarcir, o mais depressa possível, os financiadores, com os juros e a correção monetária de praxe, a solução é a venda em reuniões de autógrafos, circular
a interessados, etc. Se no final algum ganho resultar, será ele aplicado em auxílios a instituições vinculadas, que lutam com dificuldades financeiras, e divulgação (panfletos,
anúncios).

A Convenção Internacional de Direitos Autorais de Berna, de 1886, e alterações posteriores, faculta e protege compilações, enciclopédias, antologias, seletas, de obras literárias,
conferências e sermões públicos, desde que mencionadas as fontes e o nome do autor. Deixa ela à legislação nacional a complementação da matéria.

No caso, a lei brasileira prevê: "Protegem-se como obras intelectuais e independentes (...), as coletâneas ou compilações, como seletas, compêndios, antologias, enciclopédias,
dicionários (...) Cada autor conserva, neste caso, o seu direito sobre a sua produção, e pode reproduzi-la em separado."

E ainda: "Não constitui ofensa aos direitos do autor: a reprodução de trechos de obras já publicadas (...), desde que apresente caráter científico, didático ou religioso, e haja a
indicação da origem e do nome do autor."

Omitem a Convenção e a Lei o tamanho dos textos que podem ser transcritos, e bem assim a quantidade deles, em relação ao total das obras. No caso dos livros de Krishnamurti, os
constantes da Bibliografia somam cerca de 22 mil páginas. Elas vão desde livrinhos com dezenas de páginas, (reduzido número, até 538 páginas, como "The Awakening of
Intelligence"), numa média de 140 páginas.

Mas esse número eleva-se a mais de 25 mil páginas, se forem considerados dezenas de panfletos que reúnem conferências avulsas, centenas de palestras isoladas, entrevistas,
discussões, poemas e outras produções, não incluídos em livros, citados por Susunaga Veeraperuma em "A Bibliography of Life and Teachings of Jiddu Krishnamurti" e "Suplement
to Bibliography of the Life and Teachings of Jiddu Krishnamurti" (Chetana (P) Ltd, Bombay, India, 1974 e 1982), atualizados até este último ano, omitindo as publicações até 1986.

Respeitou-se a Convenção e a Lei, limitando-se à transcrição de pequenos textos, todos com a citação da fonte, e as 807 páginas da presente Seleta (excluídas as do Prefácio, da
Introdução, dos Conceitos, da Bibliografia) representam cerca de 3% do total de páginas das obras do autor. Por sentença da Justiça dos Estados Unidos, os direitos autorais dos
livros de Krishnamurti até junho de 1968 pertencem à Krishnamurti Foundation of America, e as publicadas de julho de 1968 em diante, à Krishnamurti Fundation Trust, of
England, conforme informação de várias fontes, uma delas "The Years of Fulfilment", de Mary Lutyens.

No Brasil, os Estatutos da Instituição Cultural Krishnamurti, aprovados por Krishnamurti em 10-06-1935, através de seu Representante D. Rajagopal, e registrados, prevêem no
art. 2º: "A Instituição tem por fim: e) preparar, editar, vender e autorizar o preparo, edição, venda ou uso de livros, folhetos (...) e dispor dos direitos autorais relativos às mesmas
produções". Daí que as obras publicadas pela Editora Cultrix Ltda, até antes do passamento de Krishnamurti, em 1986, dizem: "Direitos de tradução para a língua portuguesa
cedidos com exclusividade pela Instituição Cultural Krishnamurti".

Não tendo esta Obra fins lucrativos, e dada a sua importância na época em que vivemos, ficam as Fundações Krishnamurti, existentes, livres para a reproduzirem com adaptação
ou não a outros idiomas, com total isenção de direitos autorais, desde já cedidos. Pode até ser dela realizada seleta menor, com escolha de capítulos e textos mais importantes, com
cerca de 200 páginas, para o grande público.

Orientação adotada
As matérias tratadas nos livros de Krishnamurti são múltiplas e interligadas. Na mesma página, de palestra ou conferência, começa ele com um assunto, passa a outros, direta ou
indiretamente relacionados, voltando ou não ao primeiro, obrigando ao destaque de texto ou textos vinculados a capítulo da Seleta.

Por outro lado, em numerosas obras do autor, os parágrafos são longos, chegando a uma e duas páginas, aproveitando-se, conforme a necessidade, trechos iniciais, intercalados ou
finais. Obrigou isso ao uso do sinal convencionado (...). Com freqüência o assunto de um excerto liga-se a dois ou mais capítulos, colocando-se no mais diretamente relacionado,
servindo também de pontes entre eles.

Com freqüência, usa Krishnamurti repetições como "há a autoridade dos livros, a autoridade da igreja, a autoridade do ideal, a autoridade de nossa própria experiência (...)."
Outro exemplo: "O corpo, que tem sido tão despojado, que tem sido tão mal usado, (...)". Abreviou-se assim: Há a autoridade dos livros (...) da Igreja (...) do Ideal (...), de nossa
própria experiência (...)".

Usa também Krishnamurti comumente expressões como "não é verdade?", "como já tenho dito", "ou o nome que quiserdes dar", "por favor prestem atenção", "o assunto não é para
rir". Igualmente, por economia de espaço, foram elas suprimidas, por não prejudicar o sentido, usando-se o sinal próprio (...).

Em outros casos, a supressão ocorreu porque a continuação da idéia vem adiante, sendo a matéria intercalada redundante (Krishnamurti repete muito), em nada esclarecendo,
enriquecendo, o principal. Trata de muitos assuntos sob vários ângulos.

Em cada capítulo há terminologias e ensinamentos próprios. Como Krishnamurti sempre falou de improviso, muitos textos parecidos possuem aspectos novos que ajudam a
entender particularidades. Optou-se pela repetição, não só como variação, mas como prova de coerência, visto se encontrarem em livros diferentes, de épocas diversas.

Os textos transcritos vão de 5 a 12 linhas; quando são longos demais, dividem-se em 2 ou 3, usando-se da mesma forma o sinal convencionado. Os capítulos, como já se disse, são
de 4 a 8 páginas, salvo exceções.

A seqüência dos textos, em cada capítulo, começa com os que apresentam, definem, a matéria, seguindo-se os que vão esclarecendo sucessivamente o assunto, e terminando com os
mais profundos, conclusivos ou sensibilizantes, obedecida a ordem do título.
Os títulos dos capítulos foram criados aproveitando-se as próprias palavras usadas por Krishnamurti nos mesmos, incluindo também aspectos a eles vinculados, para facilitar a sua
procura.

A ordem dos capítulos, em 4 grandes grupos (Conceitos, preliminares; Processos psicológicos; Assuntos específicos; e Temas sociais, mutação), segue um roteiro no qual a matéria
posterior depende do conhecimento da anterior, e os afins nas proximidades.

Nas obras do autor, como em outras, em geral, os trechos mais significativos de cada assunto encontram-se espalhados. Entretanto, nesta Coletânea eles se acham concentrados, já
que é formada da reunião de textos-chaves de cada tema, dando ao livro uma forma de compacto.

Há certa dificuldade na distribuição dos assuntos de Krishnamurti, porque eles não são de todo separáveis, mas entrelaçados. No entanto, para a sua exposição, foi feita a divisão
possível. Não é assim de se estranhar que, em trechos sobre um tema, se encontrem traços de outros.

Ele próprio diz: "Todas as nossas palestras estão encadeadas umas às outras. Não podeis levar apenas uma parte delas e dizer que ides "viver com essa parte". (...) (O Despertar da
Sensibilidade, pág. 146)

Da mesma forma, em outro livro: "Toda pergunta está relacionada com alguma outra. Todo pensamento está relacionado com outro, não é independente. A profissão, o caminho, a
educação, o autoconhecimento, estão todos intimamente relacionados entre si. (...) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 95)

Os livros de Krishnamurti, na maioria, possuem títulos originais que começam por Talks ou Conferences in (...). Para quebrar a monotonia, e apresentação mais atraente, as
edições em português, como as versões em outras línguas, a partir de 1944, receberam títulos extraídos dos assuntos predominantes em cada volume, não constantes do original.

Em virtude disso, as editoras internacionais dos originais, desde 1970, começaram a dar títulos apropriados às obras, começando a uniformização. A Bibliografia, no final,
indicando também os títulos ingleses, permite a identificação dos respectivos livros.

Respeitou-se igualmente a Declaração de Krishnamurti, publicada no Boletim nº 7 da Krishnamurti Foundation (Inglaterra), reproduzida na Carta de Notícias da ICK nº 3, de
julho-setembro de 1970 (capa detrás), que no final diz:

"Desde a década de 1920, tenho dito que não deve haver intérprete do Ensino, para desfigurá-lo e torná-lo um meio de exploração. Não há necessidade de intérpretes, porquanto
cada um deve observar as próprias atividades diretamente e não de acordo com alguma teoria ou autoridade. Infelizmente têm aparecido intérpretes, fato pelo qual não somos de
modo nenhum responsável.

Continua: Em anos recentes, vários indivíduos se têm declarado meus sucessores, por mim eleitos para disseminarem o Ensino. Tenho dito e repito agora que não há representantes
da pessoa ou do ensino de Krishnamurti, nem durante a sua vida, nem após o seu passamento. Lamento ter de dizer isto novamente".

A "Carta de Notícias" da ICK nº 254, de 1987, página 1, sob o título "Os ensinamentos de Krishnamurti", sem citar a fonte, reproduz texto com a seguinte redação: "Os
ensinamentos são importantes por si mesmos. Intérpretes ou comentadores apenas os desvirtuam. Convém ir diretamente à fonte, aos próprios ensinamentos e, não, através de
autoridades".

Dados biográficos de Krishnamurti


Passando à biografia de Krishnamurti (Jiddu), conforme as fontes existentes, nasceu ele a 11 de maio de 1885, na cidade de Madnapelle, a 240km ao norte de Madrasta, Índia.
Como oitavo filho, do sexo masculino, de pais brâmanes, recebeu o nome Shri Krishnamurti. Quando criança, astrólogo indiano previra que ele seria um grande homem, alguém
maravilhoso. Desde pequeno ajudava aos necessitados. Consta que, por esforços de vidas passadas, nascera sem "ego", isto é, com este dissolvido.

Após a morte de sua mãe, Jiddu Sanjeevamma, em 1905, o pai Jiddu Narianiah, coletor de rendas, juiz distrital, tendo-se aposentado, foi aceito para residir e trabalhar em Adyar,
Madrasta, Sede Internacional da The Theosophical Society, à qual pertencia. Lá o Sr. Leadbeater (Charles W.), com sua ampla e profunda clarividência, observando as vidas
pretéritas no menino Krishnamurti, chegara à conclusão de que as suas condições espirituais eram excepcionais (resultado de encarnações passadas). Daí ter Annie Besant e ele
próprio decidido encarregar-se do prosseguimento de seus estudos na Inglaterra.

Na época, a conclusão do curso de humanidades em estabelecimento importante, com currículo enriquecido e maior rigor no ensino, conferia o diploma de "bacharel em ciências e
letras". Jinarajadasa, que também estudou na Inglaterra, diz que o recebeu. (No Brasil, o Colégio Pedro II (do qual fomos aluno) o forneceu aos que nele concluíram os estudos até
1937, ano do Centenário).

Em virtude da vida espiritual transcendente e de compromissos com a sua Missão, recebeu posteriormente Krishnamurti ensinamentos de variados professores universitários e de
especialistas, em diferentes campos do saber, de interesse, e o intercâmbio com eles seguiu durante toda a sua vida.

Desde criança revelava Krishnamurti um progresso espiritual que se sobrepunha à mera intelectualidade. Por isso, paralelamente aos estudos mundanos, recebia oralmente
conhecimentos filosófico-religiosos (na educação, como brâmane), de teosofia e outros. As temporadas que passou na França lhe permitiram aprender também o francês. Além
disso, ele exercitava o autodomínio, o conhecimento de si próprio, recebia treinamento espiritual no Invisível.

O fato é que, em 1910, com apenas 15 anos de idade, caso inédito, revelou o amadurecimento e a experiência que lhe permitiram vencer a primeira etapa na Senda de
santidade-sabedoria (1ª Iniciação). Ao mesmo tempo, com a criação da Ordem da Estrela do Oriente em 11-01-1911, ficou como Chefe da mesma. Seguiram-se as condições para o
atendimento da 2ª etapa da referida via (2ª Iniciação) em 1912, da 3ª em 1922 e da 4ª, de Arhat, santidade-sabedoria, em 1925.

Essas ascensões espirituais são referidas na obra adiante citada, de Mary Lutyens (Krishnamurti - Os Anos do Despertar), biografia, pág. 45-46, 66, 68, 167, 291, 295, 297,
paralelamente a adaptações e provações, não obstante seu delicado corpo e saúde. Pois contraíra doenças e pestes na Índia, acompanhando a família, visto que seu pai estava
sujeito a mudança de local de trabalho. Sem esquecer os tremendos esforços, a purificação do amor, o agudo discernimento exigidos pela vida espiritual superior. Mas ele teve a
capacidade para suportar os referidos encargos e realizar a obra adiante relatada, com vigor sempre renovado, até o passamento em 17-02-1986.

No livro "Los Maestros y el Sendero" (versão do original inglês), faz Charies W. Leadbeater relato da Cerimônia da 1ª iniciação de Krishnamurti (no Invisível), que o autor, graças
à evolução espiritual que alcançara, teve a oportunidade de assistir. A obra foi escrita de 1924 a 1925, e a descrição aparece apenas na 1ª edição, sendo omitida nas seguintes.

A mencionada versão espanhola, da 1ª edição inglesa, foi publicada pela Biblioteca Orientalista (Editoral Teosófica), de Barcelona, Espanha, em 1927. Embora o relato não cite o
nome ao Sr. Krishnamurti, tudo indica que as cerimônias correspondem às que ele se submeteu, dada a excepcional magnitude, e uma série de circunstâncias pertinentes, que o
identificam.

Conforme a fonte, estiveram presentes, além do Senhor Maitreya (nome do Senhor Cristo na Índia), os Senhores Manu e Mahachoan, os principais Mestres de Sabedoria e muitos
outros Iniciados. Uma hoste de anjos pairava no ambiente, produzindo adequada música celeste. No relato se lê que o candidato era o mais jovem (de corpo físico) de quantos até a
data tinham sido apresentados para ingresso na Fraternidade.

E ainda que a excelente luz áurea do Senhor Buddha refulgira sobre os presentes à reunião, na bênção final. Ocorrências assemelhadas, excepcionais, suntuosas, se verificam na 2ª
Iniciação, relatada adiante, na mesma obra, pelo autor, com a presença mais objetiva do Senhor Buddha (pág. 124-132 e 162-170).

Lê-se ainda, na fonte, em trecho igualmente suprimido nas edições posteriores, o que segue: "O Instrutor do Mundo virá quando julgue oportuno, ainda que se nos diz que não há
de tardar. A Ordem da Estrela do Oriente se fundou faz treze anos para preparar o advento do Instrutor, reunindo em uma aspiração comum as gentes de todas as religiões e seitas
que esperam Sua vinda(...)" (pág. 207-208).
Posto que o Senhor Maitreya há escolhido a nossa Presidente (Sra. Annie Besant) para que anuncie Seu advento, nos parece razoável conjeturar que seus ensinamentos se
parecerão bastante às idéias que, com tanta eloqüência, há pregado ela durante os últimos trinta e seis anos. (...) Certamente que o advento de Cristo está relacionado com um fim,
porém não do mundo, mas de uma idade ou era, (...) (pág. 208).

Mas posteriormente a Dra. Annie Besant retificara a conjetura do Revdo. Charles Leadbeater, ao dizer repetidamente o que se segue, conforme palavras do próprio Sr.
Krishnamurti, na obra intitulada "Palestras em Auckland, 1934": "Sabeis, é extraordinaríssimo! A Dra. Besant disse a todos os membros, e eu costumava ouvir-lhe freqüentemente
dizer: Estamos nos preparando para um Instrutor do Mundo. Mantende aberta a vossa mente. Ele pode contradizer tudo o que pensais e dizê-lo de forma diferente"(...) (pág. 101).

Obra de Krishnamurti, Missão, histórico


A Missão de Krishnamurti no mundo teve início com a fundação da aludida Ordem em Adyar, Madras, Índia, com sucursais que se estenderam à grande maioria das nações da
época. Isto com o intuito de formar o ambiente, congregar pessoas amadurecidas, que aceitassem a vinda do Instrutor espiritual, preparo de trabalhadores para o recebimento e
divulgação de sua Mensagem.

Durante a fase inicial do Movimento, a cargo da Ordem da Estrela do Oriente, os filiados a esta seguiam Instruções que previam meditação, estudo e ação. Eram adotados livros de
autoria de Krishnamurti, como "Auto-Preparação", "Aos Pés do Mestre", etc., um de anônimos, "Despertai Filhos da Luz!", e, nos estudos, várias obras, de diferentes autores.

As reuniões realizavam-se nas sedes das Lojas da Sociedade Teosófica (The Theosophical Society), existentes na maioria dos países do mundo (capitais e cidades importantes), em
dias e horários diferentes. Teve a Ordem núcleos mundiais em Adyar, Índia; Ommen, Holanda; Ojai, Califórnia, EUA; Londres, Inglaterra; Paris, França; Sidney, Austrália;
Madrasta, Índia; Rio de Janeiro, Brasil.

Outros centros foram sendo criados. Os Boletins da Krishnamurti Foundation, de Londres, indicam os da Suíça (Saanen), Canadá, Bélgica, Dinamarca, Finlândia,
Alemanha-Áustria, Grécia, Indonésia, Israel, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, África do Sul, Shri Lanka (Ceilão), Suécia, Holanda (Amsterdã), Itália (Roma), e
outros.

Escolas de 1º e 2º graus, ou ambos, seguindo a orientação de Krishnamurti, existem junto a muitos centros, nos seguintes lugares: Ojai, Califórnia; Brockwood Park, Londres;
Andhra Pradesh (Rishi Valley), Índia; Varanasi (Rajghat), Índia; Madrasta, Índia; Bangalore (the Valley School), Índia; e Bombay, Índia.

No Brasil, Rio de Janeiro, desde 1926, como Agência da Order of the Star e, depois, como Agência do The Star Publishing Trust, foram editadas as obras de Krishnamurti
constantes da Bibliografia. Antes disso, as palestras de Krishnamurti saíam em "O Teosofista", órgão oficial da Sociedade Teosófica no Brasil.

Nessa condição foram impressos, em português, "O Mensageiro da Estrela" (1926-1927), "A Estrela" (1928-1929), o "Boletim Internacional da Estrela" (1928-1930), o "Boletim da
Estrela" (1931-1933). Criada a Instituição Cultural Krishnamurti pelo próprio Sr. Krishnamurti em 1935, passou a Entidade a editar a "Carta de Notícias" a partir de 1936, sem
interrupção até a presente data.

Com relação ao Brasil, cabe ainda informar que a comunicação da Sra. Annie Besant sobre a criação da Ordem da Estrela do Oriente - ela atuava como Protetora da mesma, foi
publicada em "O Teosofista" de julho de 1911. Em 13-09-1913 foi convidado para seu Representante no Brasil o então Major Raymundo Pinto Seidl, principal figura da Teosofia
no Brasil, partindo o convite do próprio Sr. Krishnamurti, como Chefe da Ordem, chegando a confirmação para o cargo em carta de 06-03-1914.

Os Atos da Ordem, como Instruções sobre a organização, Resoluções, Congressos e Eventos diversos, eram igualmente publicados em "O Teosofista". O Relatório que saiu no
número de janeiro de 1918 acusava 963 filiados aos Grupos de Auto-Preparação no Brasil, sendo cerca de 20.000 o número de filiados em todo o mundo. Já o Relatório divulgado
na referida revista de janeiro de 1927 registrava 2.345 como número de filiados no Brasil, omitindo o total mundial, mas a idéia que se tem é que passava de 40.000. O exposto
exemplifica o que teria ocorrido em todos os países da Terra, em que existira Representação e Grupos de Preparação da Ordem da Estrela.

Após a dissolução da Ordem da Estrela em 1929 (então sem "do Oriente"), a Missão de Krishnamurti, já em fase de maioridade e com recursos próprios, se tornou de todo
independente. Isso se deu também depois de ter Krishnamurti recebido provas de Advento, conforme exposto. A Ordem, com seus administradores, tivera lugar, se justificava numa
situação de regência, enquanto Krishnamurti era menor de idade física e estava sobrecarregado com outros encargos materiais e espirituais. Cumprido o seu Objetivo, esgotara a
Instituição a sua finalidade.

O trabalho a cargo da "The Star Publishing Trust" e Editoras vinculadas ficou posteriormente centralizado na "Krishnamurti Writings Inc.". Por fim, a partir de 1968 foram
criadas as Fundações que atualmente regem o Movimento (Krishnamurti Foundations of America; Krishnamurti Foundation Trust, Ltd., Londres; Krishnamurti Foundation India;
Fundación Krishnamurti Hispanoamericana). Foi conservada a Association Culturelle Krishnamurti, da França, e a Instituição Cultural Krishnamurti, do Brasil. Nos demais países
funcionam centros ou comitês.

Depois de 1968, permaneceram as edições de livros mais centralizadas em Ojai, Califórnia; Londres, Inglaterra; e Madrasta, Índia. Porto Rico para o acompanhamento,
coordenação, do movimento hispano-americano. Conferências eventuais, ou em outros países, eram proferidas em universidades, faculdades, teatros, estádios, rádios e televisões,
etc.

A "Carta de Notícias" de janeiro-junho de 1986 publicou um Relatório elaborado pelo próprio Krishnamurti, de uma reunião de todas as Fundações, que se realizou em junho de
1973, em Brockwood Park, Inglaterra. Nesse Relatório, assinado pelo próprio Krishnamurti, se lê o que segue:

"(...) Todos nós achamos que as Fundações não devem ser fragmentadas e sim trabalhar juntas como um todo, com o mesmo intuito e seriedade. Foi sobre isso que falamos. Hoje
existem quatro fundações, (...) Durante a minha existência elas promovem palestras, grupos de debate, seminários e concentrações. Elas são responsáveis pela preparação,
tradução e publicação de livros. (...) Elas produzem filmes, fitas de áudio e material para televisão. Encarregam-se da distribuição e assim por diante."

Segue: "Existem agora cinco escolas na Índia, um centro educacional com escola em Brockwood Park, na Inglaterra, e vai haver um centro educacional e uma escola nos Estados
Unidos, em Ojai. Todas essas escolas funcionam sob a orientação das Fundações Krishnamurti. ( ... )"

"As Fundações não têm autoridade na questão dos ensinamentos. A verdade jaz nos próprios ensinamentos. As Fundações cuidarão para que esses ensinamentos sejam mantidos
intactos, não sejam distorcidos ou corrompidos. As Fundações não estão autorizadas a permitir que haja propagandistas ou intérpretes dos ensinamentos.(...)" (pág. 11-12)

A vinda de um grande Instrutor iluminado neste "fim de tempos", com Missão destinada aos homens, é de longa data prevista em textos de várias religiões. Uma dessas fontes é o
aludido Vishnu Purana, principal obra de sabedoria dos hindus, com cerca de 560 páginas.

O Capítulo XXIV do Livro IV e o Cap. I do Livro VI, revelam a decadência dos homens e das instituições sociais que ocorreria na Idade Kali. No primeiro é prevista a vinda de
brâmane eminente, da família dos Vishnuyasas - seria uma espécie de enviado, avatar, da Divindade (Krishnamurti nasceu hindu brâmane).

Da mesma forma, revela a Bíblia que neste "fim de tempos" viria a este mundo, pela segunda vez, o Senhor Cristo (também chamado filho de Deus). Vê-se isto em Daniel VII:13;
Mateus XXIV:27-30); Marcos XIII:26,27; Lucas XXI:27; Hebreus IX:28; Colossenses III:4.)

Torna-se, no entanto, estranho que, com exceção de Hebreus IX:28, os demais versículos dizem que Ele viria "nas nuvens", e, em Mateus XXIV:27, que surgiria do Oriente para o
Ocidente, e Krishnamurti nasceu no Leste.

Na antiga Palestina, serviu-se o Senhor Cristo da mediação (veículo), de seu discípulo Jesus para a Mensagem Cristã. Evidenciam isso os seguintes textos da Bíblia: Mateus
XXVI:63-64; Marcos XIV:61-62; Lucas XXII:63,67-70, XXIII:2; João IV:25,26,29, VII:21,25-28, X:24-25, XI:25-27; Atos Apost. II:36, XVIII:5.
Da mesma forma, utilizara-se anteriormente o Senhor Buddha do veículo de seu discípulo Príncipe Sidharta, conforme relata C.W Leadbeater, em "Os Mestres e a Senda", pág.
46-47 (Veículos emprestados), e em La Vida Interna, v.II, pág. 340 (Recuerdo de los conocimientos pasados).

Outros textos da Bíblia igualmente prevêem que o Senhor Cristo viria neste "fim de tempos" também para atender ao Juízo dos homens (II Corintios V:10; Apocalipse XX:4, 12,
XIV:7, IV:2, 6, V:1, 6, 8; I Pedro IV:17, II Pedro II:4, 9; Daniel VII:9, 10, 26, VIII:17) para purificação dos mesmos (Ezequiel XXXVI:25; I Romanos V:3; Atos XIV:22; I Pedro
I:22; Hebreus I:3; Zacarias XIII:9; Daniel XI:35, XII:10); e promover justiça, afastar da Terra homicidas, ímpios, fornicadores, abomináveis, soberbos (Apocalipse XXI:8, II Pedro
I:22, II:11; Malaquias III:2, 5, IV:3).

A vinda "nas nuvens", anteriormente referida, pode significar vitorioso sobre as trevas ou que cumpriria seus misteres, na segunda parte de sua Missão supracitada, desde o
Invisível (planos Etérico, Astral-Mental).

Os versículos aludidos, das Escrituras cristãs, coincidem com outro trecho do Vishnu Purana, do mesmo Liv. IV, Cap. XXIV, assim resumido: A Entidade mencionada, com seu
poder irresistível, afastaria os dedicados à iniqüidade, os salteadores, etc., restabelecendo a justiça na Terra.

Em versículos do Bhagavad-Gita hindu, o Instrutor Krishna fala ao discípulo Arjuna: "Quando a Justiça decai, ó Bharata, e a injustiça se exalta, então Eu apareço" (IV:7) "Para
proteção dos bons e para destruição dos malfeitores, e para o restabelecimento firme da Justiça, de idade em idade, tenho nascido". (IV,8)

Na obra "La Doctrina Secreta" (6 volumes), publicada em 1985-1988, diz H.P. Blavatsky, na Introdução, vol. 1: "(...) No século XX, algum discípulo mais bem informado, e com
qualidades muito superiores, poderá ser enviado pelos Mestres de Sabedoria para dar provas definitivas e irrefutáveis de que existe uma Ciência chamada Gupta Vidyâ; (...)" (Ed.
Glem, Bs, As, 1943, pág. 38).

A mesma autora, H.P. Blavatsky, na obra "La Clave de la Teosofia" (terminada em 1890, antes do seu passamento em 1891), deu outra redação ao texto acima, no capítulo final
"Conclusão", a saber:

"Se a atual tentativa, cuja forma é nossa Sociedade, logra melhor resultado que as anteriores, subsistirá viçosa e robusta, quando chegar o momento espiritual do século XX. A
condição moral e intelectual dos homens haverá melhorado com a propagação das doutrinas teosóficas, desaparecendo até certo ponto os preconceitos dogmáticos.

Continua: Além de uma copiosa e inteligível literatura, o próximo impulso terá em sua ajuda uma corporação unida e numerosa, disposta a receber favoravelmente o novo portador
da tocha da Verdade. Haverá as mentes dispostas a compreender sua mensagem (...); em suma, uma organização (...) previsora de sua vinda (...)" (Ed. Bibl. Orientalista, Barcelona,
1910, pág. 219-220).

E. Duboc cap. de frag, Secretário-tesoureiro da Ordem da Estrela do Oriente na França, em ampla conferência intitulada "Madame Blavatsky e a volta de um Grande Instrutor",
realizada em Paris, a 18-4-1916, publicada em "O Teosofista" nº 70, de 07-02-1917, relaciona o "novo portador da tocha" com Krishnamurti, e a "organização previsora de sua
vinda" com a Ordem da Estrela do Oriente.

A obra "Conferências Teosóficas", de Anule Besant (Liv. Clas. Edit. Lisboa, 1926), reúne pronunciamentos da autora, de várias épocas, que não ultrapassam as duas primeiras
décadas. Na conferência intitulada "A Era de um Novo Ciclo" refere-se a Buddha e a Maitreya (nome de Cristo na Índia). Aí se lê:

"Tendo a raça ariana (..).Ele voltou e se manifestou como o Instrutor supremo. A última vez que veio, num corpo mortal, foi aquele que o mundo conhece pelo nome de Gautama, o
Senhor Buddha. ( ... ) (pág. 95)

Pregou e partiu: nas mãos do Seu sucessor (...) colocou o ensino destinado ao mundo. ( ... ) Conheceis esse sucessor ( ... ); o Rishi Maitreya. Os budistas chamam-no Bodhisattwa. (
... ) (pág. 96)

Há dois mil anos ( ... ) tomou o corpo preparado para Ele por um fiel discípulo, conservado afastado dos homens em um mosteiro essênio; foi então que apareceu nesse corpo com o
nome que os cristãos chamam Cristo; (...) (pág. 96-97)

Tais são as coisas que se passam hoje no mundo espiritual; são os preparativos (...) para sua manifestação; mais uma vez a Hierarquia oculta prepara a via do Senhor. (...) Não há
uma região no Ocidente que não esteja na atitude de espera, (...). (pág. 98)

Outras coisas há ainda (...) Falei do grande afluxo de espiritualidade, da vinda do Instrutor Supremo; falei dos sinais que, no mundo físico, fazem prever a Sua gloriosa missão. (...)
Embora Ele venha especialmente para dar a forma conveniente ao veículo através do qual o pensamento da sexta sub-raça deverá exprimir-se, a sua missão será no entanto
universal, ela influenciará os povos do mundo inteiro. (...) (pág. 108)

Eis o que nos reserva o ciclo menor que começa. Esta união vai ser uma das coisas que o Supremo Instrutor vai tomar possível. Ele que se juntará a tudo o que há de mais nobre no
Oriente e no Ocidente, Ele que unirá a espiritualidade de todas as grandes religiões do Ocidente, (...)" (pág. 114)

Por sua vez, com relação, escreve C.W. Leadbeater na obra "La Vida Interna" (Bibl. Orientalista, Barcelona, 1919):

"Quanto à próxima vinda de Cristo e à obra que há de realizar, vos remeto ao livro publicado pela Senhora Besant com o título "El Mundo Cambiante" (O Mundo de Amanhã). A
época de seu advento não está longe e o corpo que tomará há nascido já entre nós". (A Obra de Cristo) (v. I, pág. 32)

O mesmo autor, C.W. Leadbeater, na obra "Os Mestres e a Senda", trata de Atos suplementares, surgidos após a iluminação do Senhor Gautama, o Buddha. Dado o relacionamento
de Krishnamurti também com Ele, julgou-se oportuno o presente esclarecimento. Um dos Atos foi que, ao invés de o Senhor Buddha se limitar a misteres de natureza superior,
extraplanetários, resolveu continuar a prestar auxílio à Terra.

Isto no sentido de eventual ajuda a seu sucessor, a quem esteve ligado durante muito longa data, e de atuações especiais, em certas oportunidades. Outro foi e de retornar uma vez
por ano, para conceder bênçãos (Lua cheia de maio, cerimônia de Wesak), ocasião em que derrama uma torrente de energias espirituais. Isto porque, tendo acesso a planos mais
elevados, acima dos nossos, pode transmutá-las e transferi-las ao nível de nosso mundo. (Ed. Pensamento, S.Paulo, 1977, pág. 267, 268)

Em 1930 desligou-se Krishnamurti da Sociedade Teosófica, como também do Hinduísmo. Tinha isso de acontecer a partir das mudanças que vinham ocorrendo nele desde 1925,
principalmente em 1927. Sendo a sua Mensagem universal, viera ele para todos, e não apenas para os membros desta ou daquela entidade ou religião.

Nesse sentido, em "A Arte da Libertação", diz ele: "(...) Quando digo que minha mensagem é para todos, não o faço para agradar à democracia (...) O que estou dizendo é para
todos, sem levar em conta a posição de cada um na vida, seja rico, seja pobre, sem levar em conta o seu temperamento, (...) O princípio hierárquico é nitidamente nocivo ao
pensamento espiritual. Dividir os homens em "altos" e "baixos" denota ignorância. (...) (pág. 35)

Percorreu Krishnamurti os cinco continentes; na América do Sul, proferiu palestras no Brasil, na Argentina, no Uruguai, Chile e México, em 1935. No Rio de Janeiro, no Estádio
do Fluminense e no Teatro Municipal; em São Paulo, também no Teatro Municipal da Capital. O Brasil e a França, como se disse, possuem Instituição Cultural Krishnamurti. Isto
porque se tornaram países principais na tradução e publicação dos livros no respectivo idioma, falado também em outras nações. Nos países em que isso não ocorre, existem
Comitês ou Centros Krishnamurti.

Além dos livros, palestras isoladas, poemas, etc, produzidos por Krishnamurti menciona Susunaga Veeraperuma, nos dois volumes das aludidas Bibliografias, do autor, 839 títulos
no 1º vol. e 106 no 2º vol. no total de 945 títulos de artigos publicados em jornais e periódicos sobre Krishnamurti, e 325 no 1º vol, e 285 no 2º vol. no total de 610, de trabalhos
biográficos sobre o autor. Somam 1.555 as duas espécies de artigos.

Mas Susunaga Veeraperuma se torna incompleto, porque se limita quase que exclusivamente a dados da língua inglesa. Não inclui o restante da Europa, América, Ásia e Africa, daí
que esse número talvez possa ser triplicado. Por outro lado, deve atingir a centenas o número de livros e publicações menores escritos em todo o mundo, apresentando e
comentando ensinamentos do autor. No Brasil, contam-se em dezenas os livros e panfletos e centenas de artigos, acerca de Krishnamurti.

Convidado a falar na Organização das Nações Unidas (O.N.U), após a conferência proferida, respondeu a muitas perguntas. No final, o Representante da Instituição, após breves
palavras, lhe fez a entrega de Placa de ouro, comemorativa, com inscrição que o reconhecia como o "Instrutor do Mundo". Sem nada responder, terminada a reunião, retirou-se
sem levar a Placa. Com essa atitude, revelou fidelidade ao princípio, que pregou, da inutilidade dos títulos, incluindo os espirituais.

A primeira fase do Movimento abrangeu, assim, o período de 1911 a 1929, quando foi dissolvida a referida Ordem da Estrela. Nela ocorreu a preparação, o amadurecimento. De
1925 a 1927, teve Krishnamurti um período no qual produziu poemas espirituais, constantes das obras "O Reino da Felicidade", "A Fonte da Sabedoria" (três poemas, no fim), "A
Canção da Vida", "A Busca", "O Amigo Imortal".

Caracteriza a segunda fase, de plenitude, expansão, o período de 1930 até o passamento de Krishnamurti, em 17 de fevereiro de 1986. O trabalho cresceu aceleradamente, os
livros, resultantes de conferências, foram traduzidos para todos os idiomas importantes.

Krishnamurti não veio acrescentar novos conhecimentos de cosmogênese, antropogênese e outros, de metafísica e revelação, de uma particular teologia. Ao contrário, os seus
ensinamentos são objetivos, práticos, para a vida diária, com terminologia nova, mundial. Têm em vista a mudança do homem e da sociedade, no presente-futuro.

Referem-se ao desmoronamento do velho, das tradições, concepções antigas, e estimulam uma nova compreensão, baseada na realidade, no discernimento, na percepção criadora.

Verifica-se que a Mensagem do Autor dirige-se igualmente ao homem novo, universal em todos os sentidos: ao cidadão do mundo, e não mais da nação; ao pensador global, não
limitado a determinada crença, filosofia, cultura ou ideologia; a mentalidade espiritual acima da setorização religiosa - isto numa época em que também ocorre o início do governo
mundial, já em formação, cujo embrião é a O.N.U.

Revelam um caráter simples e popular. Ele sempre falou para grandes auditórios públicos, também de destacadas instituições educacionais e culturais. São apreciados tanto por
pessoas espiritualmente preparadas, como pelas que nunca adquiriram nenhuma informação filosófico-religiosa.

Com freqüência, esclarece ele que a civilização do futuro depende do homem novo, purificado, amadurecido - elevado à dimensão do porvir, do ponto de vista do pensar-sentir,
ético, espiritual - a fim de que possa subsistir. Do contrário, seria ela de novo deteriorada pelos erros, excessos, vícios, poluições, perversidades e desordens verificados em nossos
tempos.

As verdades espirituais são eternas; o que tem progredido é o limite e a forma da apresentação, acompanhando a evolução do homem. Nos tempos pré-históricos havia doutrinas
gerais, para todos, e revelações particulares, para os amadurecidos. Seguiu-se uma literatura em parte simbólica, dependente de chaves para interpretação.

Por outro lado, conforme a história e a literatura teosófica, os cultos começaram nos tempos mais primitivos com a veneração de reis, considerados divinos, do Sol e da Lua, de
deuses. O culto do lar evoluiu para o da pátria, tribo, cidade, estado. Religiões antigas extinguiram-se (dos egípcios, caldeus, gregos, romanos, América pré-histórica, etc.). O
Budismo espalhou-se no Oriente e o Cristianismo, no Ocidente.

A partir da segunda metade da Idade Média, verificou-se crescente intercâmbio entre os dois hemisférios, e hoje, paralelamente a uma unidade sócio-econômica e política,
assiste-se a uma internacionalização religiosa e cultural. Nessas circunstâncias, a Mensagem de Krishnamurti - e sob outros aspectos a da Teosofia - vieram, ambas, inaugurar a
fase universal dos respectivos conhecimentos.

Coincide isso com a informação de Blavatsky (H.P), em "La Doctrina Secreta", de que estamos chegando ao meio da evolução em nosso planeta, aproximando-se os tempos em que
o pêndulo da evolução dirigirá decididamente sua propensão para cima, conduzindo a humanidade a mais alta espiritualidade. (vol. I, pág. 288-289)

Nessas circunstâncias, para compreender a Mensagem de Krishnamurti, é preciso considerar que a atual civilização se encontra em profunda crise, social e religiosa, e em
processo de declínio. Trata-se de um "fim de tempos", de um ciclo evolutivo que termina. Daí que ele critica, em ambos os campos, as instituições superadas, que tiveram a sua
época de validade, mas se acham em decadência, letra morta.

Sob o ponto de vista religioso, espiritual, a idade dos entes humanos, de modo geral, é de adolescência, juventude. Uma minoria possui certa maturidade, se encontra na idade
semi-adulta. Pode-se dizer que a maioridade mais definida é atingida quando o homem se dedica à prática da ioga, ascese, mística, com suas vias purgativa, iluminativa e unitiva.
Só então ele se torna senhor de si mesmo. Na fase atual, vive o homem com desequilíbrio do pensar-sentir, sob a influência maior ou menor da natureza inferior, da treva.

As religiões, com seus catecismos, leitura de textos teológicos, dogmas, cultos, atendem às pessoas nas aludidas idades. O conhecimento da ascese e da mística atrai os mais
adiantados. Mas os ensinamentos de Krishnamurti têm em vista elevar o homem à nova dimensão do presente-futuro. Ele dá a entender que essa transformação deve ser imediata,
sem o que a civilização não pode sair do caos em que se encontra. Isto porque a crise mundial resulta do somatório das crises individuais - cada homem reflete o que é. E para
mudar a sociedade é preciso regenerar os homens. Já antes se disse que as Escrituras prevêem um Juízo, uma purificação dos mesmos, em nossos tempos.

Por ignorância, inexperiência, e tendo em vista a explosão intelectual de nossos tempos, pensam os homens que a sabedoria resulta do acúmulo de conhecimentos. Mas
Krishnamurti mostra que isso só leva à expansão do "eu", ego, que constitui um centro, um complexo psíquico, formado com os pensamentos, sentimentos, experiências, etc.,
acumulados, presentes e passados. Acha-se localizado na alma, e se interpõe entre ela e o espírito, impedindo que maior influxo superior chegue ao homem. Uma síntese da cultura
é necessária para a pessoa vencer o desejo do conhecimento vulgar, infindável.

Daí que a religiosidade não consiste apenas em freqüentar a igreja, os ambientes religiosos, mas em levar os ensinamentos à prática, nas atitudes, comportamentos, atos, de cada
dia, de manhã à noite. O exercício da atenção, observação, investigação, levam à suspensão do pensamento, ao autodomínio do corpo, dos pensamentos e sentimentos, ao
esvaziamento da mente, à meditação, ao autoconhecimento (exercido nas relações principalmente). O "eu", o ego, é a origem do egoísmo, da ambição, do orgulho, da vaidade, etc.,
e ele precisa ser dissolvido para que a espiritualidade surja no homem.

Liberto desse centro de caráter inferior, fica o ser livre para atuar com discernimento, atrair a intuição (voz divina). E essa dissolução ocorre com a prática da simplicidade,
humildade, pela observação das expressões do "eu", ego, flagrando-as quando surgem, pois isso funciona como golpes de morte nelas, e pela atitude de ser nada, ninguém, porque
o "eu", ego, é que quer ser importante, alguém - deixar de alimentá-lo é dissolvê-lo.

A nova era do computador veio demonstrar que a mente humana não deve constituir-se em banco de dados, mas tornar-se livre, independente, e saber consultar, manipular os
bancos de dados, o que é completamente diferente.

É fundamental o conhecimento da diferença entre a alma e o espírito. As Escrituras fazem a distinção, mas pouco esclarecem; muitas obras místicas lançam luzes. A literatura
hindu e da teosofia são claras ("Ver os Sete Princípios do Homem", de Annie Besant). Nos capítulos sobre Alma e Espírito, adiante, foram reunidos dados a respeito. Favorece a
compreensão dos ensinamentos de Krishnamurti uma base de teologia (eclética), teosofia. Do contrário, podem ser eles interpretados erroneamente.

Como revela a história, nas épocas de progresso, tanto social como religioso, há sempre a luta entre os conservadores e os renovadores. Como na Idade Média, ainda hoje
autoridades eclesiásticas exercem pressão, e as pessoas delas dependentes ficam sem liberdade de expressão. Embora aceitem a renovação, são obrigadas a guardá-la para si
mesmas, sob pena de censura. Dificultam as aberturas.

Quem é Krishnamurti; fontes, Informações


Desde a criação da Ordem da Estrela do Oriente, a Sra. Emily Lutyens, Representante da mesma em Londres, e sua filha Mary Lutyens, acompanharam a vida do Sr. J.
Krishnamurti, viajando com ele freqüentemente para várias partes do mundo, e puderam reunir dados a seu respeito.
Em virtude da grande amizade e confiança de Krishnamurti em relação às duas Senhoras, ele sempre lhes escrevia relatando acontecimentos íntimos. Sabia também que elas tudo
registravam num Diário, para objetivos póstumos.

Além disso, receberam as informações reunidas pelo Sr. Shiva Rao, antigo membro do Parlamento indiano, que, igualmente, por longo tempo, convivera com J. Krishnamurti.
Pretendia escrever a biografia dele, mas faleceu antes de cumprir seu intuito.

Com a morte da Sra. Emily Lutyens, coube à sua filha, Mary Lutyens, escrever as obras intituladas: "Krishnamurti - The Years of Awakening" (Os Anos do Despertar);
"Krishnamurti - The Years of Fulfilment (Os Anos de Plenitude) e "Krishnamurti - The Open Door (A Porta Aberta).

No livro Palestras em Auckland, 1934", diz Krishnamurti: (...) E vós vos tendes preparado (...) e não importa que eu seja o Instrutor ou não. Ninguém vô-lo pode dizer, (...) porque
nenhuma outra pessoa pode sabê-lo, exceto eu próprio; e, mesmo assim, eu vos digo que isso não importa. Jamais contradisse isso, apenas digo: deixai isso de parte". (...) (pág.
101-102)

Em "A Fonte da Sabedoria" (Palestras em Eerde, Acampamento de Ommen, Holanda, de 1926-1928), sob o epígrafe "Quem traz a Verdade", revela Krishnamurti os encontros que
teve em sua ascensão espiritual:

Quando, no entanto, eu era rapazinho, costumava ver Shri Krishna (...) tal como é desenhado pelos hindus, pois minha mãe era devota de Shri Krishna. (...) Quando, crescendo em
idade, encontrei o Bispo Leadbeater e a Sociedade Teosófica, comecei a ver o Mestre K.H. e, desde então, o Mestre K.H. era para mim a finalidade.

Segue: Mais tarde ainda, e à medida que ia crescendo, comecei a ver o Senhor Maitreya (nome do Senhor Cristo na Índia). Foi isto há dois anos e via-O constantemente na forma
que perante mim era colocada. (pág. 57)

Faço-vos esta narrativa, não para obter autoridade nem criar uma crença, (...). Foi para mim uma luta constante encontrar a verdade, pois não me sentia satisfeito com a
autoridade de outrem. Quis por mim próprio descobrir e, naturalmente, tive de passar por sofrimentos para achar o que buscava. (pág. 57)

Ultimamente tem sido o Senhor Buddha a quem tenho visto e tem sido meu deleite e minha glória o estar com Ele. (pág. 57)

Tem-me sido perguntado o que entendo pelo "Bem Amado". Dar-vos-ei um significado, uma explicação que interpretareis como vos aprouver. Para mim, é tudo - é Shri Krishna, é o
Mestre K.H., é o Senhor Maitreya, é o Buddha e, no entanto, está para além de todas essas formas. (pág. 57)

Que importa o nome que Lhe derdes? Lutais pelo Instrutor do Mundo, por um nome? O mundo nada sabe acerca do Instrutor; alguns dentre nós, individualmente, sabem: alguns
acreditam por autoridade; outros têm sua própria experiência e conhecimento próprio.(...) (pág. 57)

Disse a mim próprio: enquanto não me unificar com todos os Instrutores, que eles sejam os mesmos é coisa que não tem importância, se Shri Krishna, Cristo, o Senhor Maitreya são
uma só pessoa, é coisa também sem grande conseqüência. (pág. 58)

Disse a mim mesmo: enquanto eu os vir no exterior, como em um quadro, uma coisa objetiva, estou separado, estou afastado do centro; quando, porém, tiver a capacidade, a força,
quando tiver determinação, quando estiver purificado e enobrecido, então essa barreira, essa separação desaparecerá. Não fiquei satisfeito enquanto esta barreira não foi
despedaçada, a separação não foi destruída. (...) (pág. 58)

Falei de vagas generalidades, que todos precisavam ouvir. Nunca disse: Eu sou o Instrutor do Mundo; agora, porém, que sinto que sou uno com o Bem Amado, eu o digo, não a fim
de vos impor minha autoridade, ou para vos convencer de minha grandeza ou da grandeza do Instrutor do Mundo, nem mesmo da beleza da vida ou da simplicidade da vida, mas
simplesmente para despertar o desejo em vossos corações e em vossas mentes de buscardes a Verdade. (...) (pág. 58-59)

Daí estar eu capacitado para vos dizer que sou uno com o Bem Amado - quer o interpreteis como sendo o Buddha, o Senhor Maitreya, Shri Krishna, o Cristo, ou qualquer outro
nome. (pág. 59)

No panfleto "Que o Entendimento Seja Lei" (conferência em Eerde, Ommen, Holanda, 1928) diz:

"Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da Verdade, desde que compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho seguidores.

"Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. (...) (pág. 4)

(...) Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. (...) A Verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações
só existem por causa das limitações humanas. (pág. 5)

(...) Eu sei o que sou; sei qual é a minha finalidade na Vida, porque sou a própria Vida, sem nome, nem limitação.

E porque sou a Vida, desejo instar-vos a adorar essa vida, não na forma que é Krishnamurti, porém a vida que reside dentro de cada um de nós. (...)" (pág. 16)

Em outro opúsculo "A Finalidade da Vida" (Conferência em Eerde, Ommen, Holanda, 1928): "Não desejo que me rendais culto; não desejo que acrediteis no que digo; não desejo
que façais de mim um santuário para vosso refúgio; (...) Porque o que vedes de mim, esta personalidade, este corpo, é coisa irreal, sujeita ao declíneo perecível." (...) (pág. 19)

Também em "A Arte da Libertação: "Pergunta: Não sois vós mesmo um guru?" Resposta: Podeis fazer de mim um guru, mas eu não o sou. Não quero ser guru, pela simples razão
de que não há caminho para a verdade. (...) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho. (...) Porque a verdade não tem caminho, para a
descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? (...) (pág. 123-124)

Entrevista de Krishnamurti em Londres, 20-06-1928 (Boletim Internacional da Estrela, de agosto de 1928): "Senhor, eu o tenho dito (...) Krishnamurti, como tal, não mais existe.
Assim como o rio entra no oceano e nele se perde, assim Krishnamurti entrou naquela vida (...). Assim (...) entrou nesse Oceano da Vida e é o Instrutor, pois no momento em que se
entra nessa Vida - que é cumprimento de todos os Instrutores - o indivíduo como tal cessa de existir". (pág. 20-21)

De novo, em "Que o Entendimento seja Lei": "Pergunta: Sois o Cristo de volta ao mundo? - Resposta: Amigo, quem julgais que eu sou? (...) Não estais interessado na Verdade;
estais interessado no vaso que contém a verdade (...). Eu vos digo que possuo essa água pura; possuo o bálsamo que purifica e que cura soberanamente. E me perguntais: Quem
sois? - Eu sou todas as coisas - porque sou a Vida." (pág. 21-22)

Igualmente, em "Palestras em Auckland, 1934" - "Pergunta: Sois o Messias?

Krishnamurti: Tem isso grande importância? Esta é (...) uma das perguntas que me têm sido feitas por toda parte (...). Ora, eu jamais neguei ou afirmei ser o Messias, o Cristo que
voltou; (...) Ninguém vô-lo pode dizer. Mesmo que eu o dissesse, isso seria (...) destituído de valor (...). (Palestras em Auckland, 1934, pág. 120)

Continua: "Assim, pois, (...) esforçai-vos para averiguar se o que estou dizendo é verdadeiro; (...) desembaraçar-vos-eis de toda autoridade, (...). Para os seres humanos realmente
criadores, inteligentes, não pode haver autoridade. (...)" (Idem, pág. 121)

Da mesma forma, em "Novo Acesso à Vida": "Pergunta: Como pretendeis justificar (...) que sois o Instrutor do Mundo?

Resposta: Não tenho interesse algum em justificá-lo. Não é o rótulo que importa, Senhores. O grau, o título não tem importância alguma: o que tem importância é o que sois.

Rasgai o título, pois, jogai-o na cesta de papéis, queimai-o, destruí-o, livrai-vos dele. (...)
Senhores, os títulos, sejam títulos espirituais, sejam títulos mundanos, são meios de explorar os outros. (...)" (pág. 45)

E ainda, em "Uma Nova Maneira de Viver": "Pergunta: A S.T. anunciou que vós sois o Messias e o Instrutor do Mundo. Por que deixastes a S.T. e renunciastes ao título de
Messias?

Krishnamurti: Agora, com relação ao título de Messias, a questão é muito mais simples. Eu nunca o neguei, e acho que não tem muita importância se o fiz ou não. O que para vós
deve importar é se o que digo é ou não a verdade."

Segue: "Portanto, não vos deixeis levar pelo rótulo, (...). Se eu sou o Instrutor do Mundo ou o Messias, ou o quer que seja, isso não tem importância nenhuma. Se o achais
importante, perdereis então a verdade do que estou dizendo, porque estais julgando pelo rótulo. (...) Um dirá que sou o Messias, outro dirá que não sou, e onde ficais? (...)" (pág.
149)

Por fim, em "Palestras na Itália e Noruega", 1933. "Pergunta: Foi dito que sois a manifestação do Cristo em nossos dias. Que tendes a dizer sobre isto?

Krishnamurti: Meus amigos, por que fazeis semelhante pergunta? (...) Perguntais porque quereis (...) julgar o que digo de conformidade com o padrão que possuís. (...) Isto é de mui
pequena importância e, além disso, como poderíeis saber o que sou ou quem sou, mesmo que eu vô-lo dissesse? (...)" (pág. 66)

Continua: "Desejais saber quem sou em virtude de estardes incertos (...). Não estou afirmando ser ou não o Cristo. (...) para mim a pergunta carece de importância. O que é
importante é saberdes se o que digo é verdadeiro; ( ... )" (pág. 66-67)

Segundo informações constantes da obra "Krishnamurti - Os Anos do Despertar", de Mary Lutyens (Ed. Cultrix, S.Paulo, 1978), teria o Mestre Universal começado a manifestar-se
em Krishnamurti por ocasião de reuniões importantes, com a presença de grande público, nos anos de 1925, 1926, 1927. (pág. 226, 227, 242, 278, 280).

À página 221, inicia a autora o capítulo "A Primeira Manifestação". Trata do Congresso da Estrela, na Índia, que teve lugar em Adyar, Índia, em 28-12-1925. (No artigo "Uma
Explicação", de Annie Besant, publicado em "O Teosofista" nº 155, de março de 1927, são confirmados os aparecimentos acima, e é informado que o Congresso da Estrela, de
1925, teve a presença de 7.000 pessoas).

No certame, estava Krishnamurti no final do discurso quando, referindo-se ao Mestre universal, disse:

"Ele só vem para os que querem, que desejam, que anseiam (...)"; e, de súbito, sua voz se modificou completamente e soou: "Eu venho para os que querem simpatia, os que desejam
felicidade, os que anseiam libertar-se (...). Venho para reformar e não para destruir, não venho demolir, senão construir."

Registra Mary Lutyens que muitos notaram não só a alteração para a primeira pessoa, como uma diferença de voz. A Sra. Annie Besant, Leadbeater e Raja (Jinarâjadâsa) tiveram
perfeita consciência da mudança. Na reunião final do congresso, teria a Sra. Besant declarado:

"(...) Este acontecimento (de 28 de dezembro) marcou a consagração definitiva do veículo escolhido (...) a aceitação final do corpo eleito há muito tempo (...). O advento começou
(...)" (pág. 226-227)

Igualmente, no livro "Krishnamurti - Los Años de Plenitud" (Ed. Edhasa, Barcelona, 1984) se lê que, em 1927, escrevia Krishnamurti ao Sr. C.W. Leadbeater: "Eu conheço meu
destino e meu trabalho. Sei com certeza, e com meu próprio conhecimento, que me estou fundindo na consciência do Mestre, e que Ele há de encher plenamente meu ser". (pág. 14)

Nessa mesma fonte ("Los Años de Plenitud") consta que a Sra. Besant, então acompanhada de Krishnamurti, teria feito declaração à Imprensa, nos E.U.A, assim concluindo:

"O Instrutor do Mundo está aqui" (pág. 14). Nas páginas 3, 12, 15, 249 desse livro, é repetida a 1ª manifestação do Instrutor universal em 28-12-1925, e outras em 1926 e 1927.

Ambas as obras acima fazem constantes referências a um "processo" de adaptação física, psíquica e espiritual, a que teria estado submetido Krishnamurti durante toda a sua vida.
"Os Anos do Despertar", pág. 169, 174-191; "Los Años de Plenitud", pág. 8, 36, 37, 73, 119, 121-126, 150, 184, 255. O "processo" consta igualmente do "Diário" de Krishnamurti,
vol. I e II.

Em algumas sessões do "processo", e mesmo em outras ocasiões, foi revelada a presença, quer dos Senhores Maitreya e Buddha, quer do Mestre K.H. Dos textos, deduz-se que o
processo tinha como objetivo não só a evolução individual de Krishnamurti, como a adaptação de seus veículos para a fusão de sua consciência com a do Senhor.

Verifica-se isso também em: "Os Anos do Despertar", pág. 48, 160-167, 179-181, 189, 196-197, 209, 225-227, 242, 250-251, 255-256); "Os Anos de Plenitude", pág. 12-13, 121,
125-126, 243, 245, 253).

Maitreya, Buddha; esclarecimentos


Krishnamurti, em textos anteriores reproduzidos de "A Fonte da Sabedoria", revela que teve relacionamento com o Senhor Maitreya (Cristo) e o Senhor Buddha. Além disso, em
outras fontes, transcritas, que entrou no Oceano da Vida, identificando-se com todas as coisas, porque se tornou a própria Vida.

Por outro lado, em "Que o Entendimento seja Lei", esclarece: "(...) Amigo, não vos preocupeis sobre quem eu seja; vós nunca o sabereis, (...)." (pág. 15)

Conforme Leadbeater (Charies W.) a ligação de Krishnamurti com o Senhor Buddha é muito anterior. Na obra "Las Últimas Vidas de Alcione" (Ed. Glem, Buenos Aires, 1958) -
Alcione é o pseudônimo de Krishnamurti, usado nessa e noutras obras da Teosofia para designá-lo em diferentes encarnações passadas - dá informações em tal sentido.

O autor, Leadbeater (Charles W.), não foi um homem vulgar; consta ter atingido o nível de Arhat (santidade-sabedoria) e, sendo possuidor de ampla e profunda clarividência,
demonstrada em muitas obras de pesquisa dessa natureza, podia realizar tais investigações.

Na vida XXIX, teria Krishnamurti nascido no ano 630 a.C, nas cercanias da cidade de Rajagrha, Índia, de pais brâmanes. No ano 588 a.C, depois de ter escutado muitos sermões
do Senhor Buddha, decidiu renunciar ao mundo e segui-Lo. (pág. 364-366)

Fizera então tal voto, e de, como Ele, Buddha, dedicar-se a mitigar o sofrimento e a trabalhar pela paz no mundo, prometendo a isso destinar as suas vidas futuras, até se
transformar, como Ele, num Salvador dos homens.

Depois de ouvir essa decisão, relata Leadbeater, teria o Senhor Buddha inclinado a cabeça e respondido: "Seja como dizes. Eu, o Buddha, aceito o voto que já não hás de quebrar e
ficará cumprido nos tempos futuros". Então lhe apertou a mão e o abençoou, enquanto Alcione caía prostrado a seus pés. (pág. 367)

Na vida seguinte (XXX do livro), teria Krishnamurti reencarnado também na Índia, no ano 624 d.C, nas cercanias da cidade de Kanyakubja, orla do Ganges. Desde criança
demonstrou tendência religiosa; aos 15 anos, atendendo às exigências, foi admitido como noviço do Monastério budista local.

Seguindo a vida ascética, dedicou-se aos respectivos estudos, indo além do obrigatório. Tornou-se eficiente predicador; responsável pela vasta biblioteca; amigo de seu superior, o
conhecido instrutor Aryasanga.

A convite deste, fora levado em peregrinação ao Tibet; conheceu no caminho muitos Monastérios, onde os integrantes se hospedavam. Chegou ao de Nepal, aí permanecendo
durante dois anos, e do qual, mais tarde, já com fama de sabedoria, intuição, bom conselheiro, se tornou abade. (pág. 373-383)

Em trechos transcritos de "A Fonte da Sabedoria", se viram as ligações que Krishnamurti teve, na presente encarnação, com o Senhor Cristo e o Senhor Buddha. Mary Lutyens, em
"Krishnamurti - Os anos do Despertar", confirma que ele atingira a evolução de Arhat em 1925.

O "Boletim Internacional da Estrela", editado no Brasil, número de agosto de 1928, publicou uma "Entrevista com Krishnamurti", que teve lugar em Londres, a 20 de junho do
mesmo ano. Os trechos abaixo são aqui de particular importância:

"Pergunta: Numerosos jornais da América relataram recentemente que havíeis declarado não serdes o Instrutor, porém somente a voz o Instrutor. Devemos tomar isso como sendo
a vossa atitude?

Krishnamurti: Não, senhor, receio que eles estejam inteiramente errados. Não se pode dar explicações a alguém que nos defronte sem ter idéia daquilo de que se trata, sem ser mal
compreendido. (pág. 20)

Pergunta: Qual é, pois, a realidade, do vosso ponto de vista?

Krishnamurti: A realidade é que eu sou o Instrutor.

Pergunta: Como surgiu a confusão?

Krishnamurti: Eles entenderam mal o que se pretende indicar pela idéia do "veículo do Instrutor". Confundem-se com isso (...). (pág. 20)

Pergunta: Como aconteceu que vários jornais fizeram distinção entre a personalidade de Krishnamurti e o Instrutor?

Krishnamurti: Senhor, eu o tenho dito muitas e muitas vezes (...) Krishnamurti, como tal, não mais existe. Assim como o rio entra no oceano e nele se perde, assim Krishnamurti
entrou naquela Vida que se acha representada por alguns como o Cristo, por outros como o Buddha, (...) o Senhor Maitreya. Assim, Krishnamurti (...) entrou nesse Oceano de Vida
e é o Instrutor (...) (pág. 20)

Pergunta: Haveis dito que sois o Buddha, o Cristo, o Senhor Maitreya (...) Como pode ser isto?

Krishnamurti: Sustento que todos os Instrutores do mundo atingiram essa Vida que é finalidade da mesma. Daí, sempre quando qualquer ser entra nessa Vida, que é a culminação
de toda a vida, então, ipso facto se torna o Buddha, o Cristo, o Senhor Maitreya, pois que ali não mais existe distinção. ( ... )" (pág. 21)

Referências ao Senhor Buddha são feitas também por Krishnamurti na obra "O Reino da Felicidade", nos seguintes termos:

"O Mestre é de todos, Ele é o Amante do Mundo, e nunca ficará satisfeito com dar o seu conhecimento e amor a alguns apenas. Ele vem para todos. Ele anseia por despertar a
beleza e a felicidade da vida em todos, (...) os que tivermos acendido a candeia do gênio em nós mesmos, tanto melhor poderemos entender, seguir e servir."

Eu falei a respeito do Buddha e seus discípulos, e (...) aqueles discípulos não podiam ter sido homens ordinários; eles eram exceções, (...) dando amor aos que necessitavam de
abrigo nas grandes alturas. Por isso, os que entendiam o grande Mestre, respiravam o mesmo ar perfumado e viviam no mundo dEle, puderam dar ao mundo uma parte daquela
eterna beleza. (...)" (pág. 16-17)

Outro trecho da mesma obra (O Reino da Felicidade), adiante, não esclarece se a menção diz respeito ao Senhor Buddha ou ao Senhor Maitreya (Cristo):

"Ansiava por chegar ao meu Guru, meu amor, meu Gênio, minha fonte de Felicidade; e, como já de outra vez na Índia eu O vi, mas não quando estava lutando ou tentando
aproximar-me dEle, mas sim quando estava em meu natural e no meu íntimo refervia uma fonte de felicidade."

Segue: "Eu o vi enchendo o céu, as folhas da relva, eu O vi em toda a extensão da árvore, eu O vi no seixo, eu O vi em toda parte, eu O vi em mim mesmo. E dessarte o meu templo
estava repleto, o meu Santo dos Santos estava completo. Eu era Ele e ele era eu mesmo, e essa era a Verdade para mim". (pág. 27)

Krishnamurti revela que o plano Divino constitui a fonte da Vida Una. Lá não mais se verifica distinção entre os Seres que, a partir desse nível, transmitem Sabedoria, Amor,
Energia. Ele expressa isso nos textos abaixo:

"Mas, (...) vós estais enamorados de rótulos, e não da Verdade. Como é possível dividir a Vida em Instrutor Universal e Bodhisattva? (...) Percebeis o que esta pergunta implica? O
que vos agrada atribuís ao Bodhisattva; e que vos desagrada atribuís ao Instrutor Universal ou - quem sabe? - a Krishnamurti." ("Que o Entendimento seja Lei", pág. 13)

"(...) Se desejais compreender o cume da montanha, deveis deixar o vale, e não permanecer nele, adorando, de longe, o alto da montanha. Amigo, não vos preocupeis sobre quem eu
seja; vós nunca o sabereis. Não desejo que aceiteis coisa alguma do que vos digo. (...)" (idem, pág. 15)

"Uni-vos com a Vida e vos unireis com todas as coisas. (...) Se estais enamorado da Vida, então vós vos unireis com a Vida, quer a chameis Buddha ou Cristo ("Que o Entendimento
seja Lei", pág. 19)

"O Buddha, o Cristo, e outros grandes Instrutores do mundo, foram ter à fonte da Vida. (...) Uma vez conhecendo a natureza e a suprema grandeza da Fonte, Eles mesmos se
tornaram essa Fonte, o Caminho e a Encarnação da Sabedoria e do Amor. Essa deveria ser a nossa finalidade. (...)" ("O Reino da Felicidade", pág. 54-55)

Na obra de Krishnamurti "A Canção da Vida" (4ª Ed, ICK 1982), lê-se também:

"Dessa Vida, imortal e livre,

Eu sou a eterna fonte; (VI, pág. 17)

Eis a Vida que eu canto.

Ali está a unidade de toda a Vida,

Ali está a silenciosa Fonte, (X, pág. 20)

Que nutre os vertiginosos mundos.

Ó vida, ó amado,

Só em ti está o perene amor,

Só em ti reside o eterno pensamento." (XXV, pág. 43)

Em resumo, os dados supra, juntamente com os que seguem, permitem compreender a expressão que ele tem usado para elucidar quem ele é, e a origem dos seus ensinamentos:
"não vos preocupeis sobre quem eu seja; vós nunca o sabereis."

O Senhor Maitreya (Mestre universal), conforme a obra citada, de Mary Lutyens ("Krishnamurti - Os Anos do Despertar"), teria começado a manifestar-se através de Krishnamurti
a partir de 1925 (a primeira vez em 28-12-1925) por ocasião do Congresso da Estrela, em Adyar, Madrasta, Índia (pág. 226-227, 242, 278, 287, 296-298).

A presença do Senhor Maitreya (Cristo) em Krishnamurti é também referida na obra "Krishnamurti - Los Anõs de Plenitud" (Ed. Edhasa, Barcelona, 1984, pág. 12, 13, 14 e 15.
Geoffrey Hodson, autor de numerosas obras teosóficas, de pesquisa clarividente, no seu livro "Thus have I heard" (Assim Tenho Ouvido), cap. XII - Fulgurações num camp-fire,
relata o que fora observado por pessoas capacitadas a ver no plano Astral, presentes ao Acampamento de Ommen, Holanda, em agosto de 1927.

Depois de citar numerosas entidades excelsas, presentes, da Grande Hierarquia que governa a Terra, descreve o que segue em relação a Krishnamurti (também conhecido como
Krishnaji):

"Quando ele fala, o espírito de Cristo desce, como uma grande inspiração coletiva, para as mentes e os corações de todos. Ela se aproxima mais e mais numa grande nuvem anular
de luz dourada. Adeja sobre nossas cabeças, desce ainda mais, delicada e lentamente, como tépida chuva de verão, até que todos ficam envoltos numa paz, beleza e amor que a
ninguém exclui.

Noite após noite, quando ele cessa de falar, ocorre um milagre. Duas mil e setecentas pessoas permanecem na mais absoluta quietude. Naquele silêncio, o esplendor dos
esplendores revela-se aos nossos olhos. A figura do Senhor aparece acima da cabeça de Krishnaji. Mais profundo é o silêncio. Estamos todos envolvidos pelo seu amplexo, cheio de
ternura e compaixão. Ainda mais próximo está o Senhor."

Outros sinais de Excelsa presença Divina em K.


A superior influência em Krishnamurti (também abreviado como K.), oriunda de planos acima do nível de sua consciência, foi muitas vezes exteriorizada por sinais de uma
Presença extraordinária e inexplicável, testemunhada por pessoas íntimas, que conviviam com ele e ajudavam em sua obra. Mary Lutyens, em "Krishnamurti - Los Anõs de
Plenitud", relata certos fatos, sendo significativos os trechos abaixo:

"Estávamos conversando (...). Subitamente K. experimentou um desfalecimento. O que sucedeu depois é impossível descrever, (...) algo demasiado (...) extraordinário (...). No rosto
de K. houve uma mudança. Os seus olhos se engrandeceram, se tornaram mais amplos e profundos, e tinham um aspecto tremendo, (...). Era como se houvesse uma presença
poderosa, que pertencesse a outra dimensão.(...)" (pág. 121)

"Depois da reunião, K. permaneceu (...). Por exemplo, (...) No exato momento de sentar-se, seus olhos adquiriram um aspecto diferente por alguns segundos. Era um olhar de
estranha imensidade, e de uma força tão arrebatadora que deixava a pessoa sem alento." E outro dia o seguinte:

"Estávamos falando e de repente esse olhar se expandiu novamente. Era tremendo e continha em si o fogo (...) e um fulgor de algo incrivelmente poderoso, como se a essência do
poder e de todos os poderes se encontrasse nele." (pág. 125)

Em 1º de agosto (...) "Esta manhã aquilo estava aí, invadindo e penetrando profundamente cada parte de nosso ser. Estava aí com doçura e vigor, com imensa generosidade e
desprendimento. Ainda que muito poderoso, também era suave e fácil de receber, como a graça (...)." (pág. 126)

"(...) de repente, essa incognoscível imensidade estava aí, não só na habitação e fora dela, senão também no profundo, em lugares mais recônditos (...) essa imensidade não deixava
pegada, estava aí pura, impenetrável e inacessível, e sua intensidade era fogo que não deixava cinza. Com ela a bem-aventurança (...)." (pág. 128)

"Que é esta coisa? - perguntei - Este poder? Que é o que há por trás de você? Eu sei que você sempre se tem sentido protegido, porém que ou quem o protege?" (pág. 201)

"Está aí, como se estivesse detrás de uma cortina - replicou (...)." (pág. 201)

"K. - Não temos descoberto por que esta criança foi mantida vazia desde então até agora. (...) Porém, como se produziu esse vazio com sua ausência de eu? Resultaria simples se
disséssemos que o Senhor Maitreya preparou este corpo e o manteve vazio. Essa seria a explicação mais simples, porém o mais simples é suspeitoso." (pág. 245)

Outra explicação seria que o ego de K. poderia ter estado em contato com o Senhor Maitreya e o Buddha e disse: "Eu me retiro(...). Porém também disso suspeito; (...)" (pág. 245)

"O Senhor Maitreya viu este corpo com um mínimo de ego, quis manifestar-se através dele, e então o corpo se manteve incontaminado. Amma dizia que o rosto de K. era importante
porque representava aquilo. Foi preparado para aquilo. (...) Qual é então, a verdade? Não sei (...)." (pág. 245)

"Outra coisa peculiar em tudo isto é que K. sempre se tem sentido atraído para o Buddha. É esta uma influência? Não o creio. É esta fonte o Buddha, o Senhor Maitreya? Qual é a
verdade? É algo que jamais descobriremos?" (pág. 245)

"Mary Zimbalist: Alguma vez se sente utilizado, sente que algo penetra em você?

K.: Eu não diria isso. Penetra na habitação quando falamos seriamente." (pág. 245) (parece que habitação representa o corpo de K. e também o ambiente).

A presença da divindade, acima referida, é descrita por Krishnamurti no livro que ele próprio escreveu, resultado do registro diário de ocorrências, o qual foi por isso intitulado
"Diário de Krishnamurti". Nessa obra, relata ele eventos que costumavam verificar-se em sua vida; talvez para dar uma idéia, se limitou ao período de junho de 1961 a janeiro de
1962. Faz aí também alusões ao "processo" de mudanças físicas, com padecimentos, a que sempre esteve sujeito, acontecidos no período, entremeado tudo isso com variados e
expressivos ensinamentos.

No Prefácio, diz Mary Lutyens: "Uma palavra se torna necessária para explicar um dos termos nele empregados: "o processo". Em 1922, aos 28 anos de idade, Krishnamurti
passou por uma experiência espiritual que mudou a sua vida, e a que se seguiram anos de aguda e quase contínua dor de cabeça e na espinha. Revela o manuscrito que "o
processo" (...) ainda prosseguira quase 40 anos depois, embora de forma bem atenuada."

Segue: "O "processo" era um fenômeno físico, que não se deve confundir com o estado de consciência a que Krishnamurti alude de várias maneiras nos cadernos, como "bênção", a
"outra coisa", "outra presença", "a imensidão", "aquela coisa singular", "o incognoscível", etc. (...)" E ainda: "Neste singular "diário", temos o que se poderia denominar o
manancial do ensino de Krishnamurti. Toda a sua essência aqui está brotando de sua fonte nativa. Assim como consta destas páginas, que "cada vez existe nesta bênção algo de
novo", uma qualidade "nova", um "novo" perfume, (...)." (pág. 5 e 6)

Como exemplos, reproduzem-se abaixo alguns excertos do mencionado "Diário":

"E durante a noite, ao acordarmos, o sentimento continuava. A cabeça doía quando estávamos a caminho para tomar o avião, e em vôo para Los Angeles. (...) (Diário de
Krishnamurti, pág. 9)

No carro, a caminho de Ojai, começou de novo a pressão e o sentimento de imensa vastidão. Não é que experimentássemos aquela vastidão; ela estava simplesmente ali; não havia
centro em que a experiência ocorresse, ou do qual surgisse. (...) A "coisa" durou mais de uma hora, e a cabeça continuava a doer muito. (idem, pág. 9-10)

Ao acordarmos, às duas horas, (...) sentíamos uma estranha pressão; era uma dor mais aguda, mais no centro da cabeça. Durou cerca de uma hora (...). E a cada vez o êxtase
aumentava; era uma alegria constante. (...) (idem, pág. 10)

Exatamente na hora em que nos deitamos, percebemos a presença do absoluto (...). Era uma bênção que não invadia apenas o quarto, mas parecia espalhar-se por toda a terra, de
ponta a ponta. (idem, pág. 12)

Sentados no interior do avião (...) inesperadamente, sentimos aquela mesma imensidão, a extraordinária bênção (...), trazendo consigo o sentimento do sagrado. Apesar do (...)
ambiente agitado, a "coisa" se manifestava. (...) (idem, pág. 20)

O processo prolongou-se por quase toda a noite; foi bastante intenso. É espantosa a resistência do corpo! (...) (idem, pág. 23)
A singular presença inundava o quarto esta manhã. Cada recanto do nosso ser foi invadido por aquela força poderosa que a tudo purificava com sua ação sagrada. (idem, pág. 23)

O aposento foi tomado por aquela bênção. Impossível descrever o que se seguiu; as palavras são coisas mortas (...); mas, este acontecimento transcendia qualquer palavra ou
descrição. Era o centro de toda a criação; uma seriedade purificadora que esvaziava o cérebro de todo pensamento e sentimento, e que tinha a força de um raio destruidor; de
incalculável profundidade, mantinha-se imóvel, impenetrável, de uma solidez tão delicada quanto os céus. (...) (idem, pág. 26)

Caminhávamos, (...). Ali, enquanto andávamos, surgiu aquela bênção sagrada, algo que quase podíamos tocar, e, interiormente, passávamos por transformações. (...) O imensurável
sobreveio, proporcionando um clima de paz. (idem, pág. 31)

Passeando ao longo do caminho (...), em meio a grande número de pessoas, sobreveio-nos aquela bênção, delicada como a folhagem, que continha enorme alegria. Mas,
transcendiam-na a imensidão da inabalável força e do inacessível poder. Nela se pressentia uma imensurável e insondável profundeza. (...) (idem, pág. 33)

Mas, a cada momento, havia destruição; não a destruição que visa a uma nova mudança - a mudança nunca é nova - porém a destruição total do que foi para que jamais volte a
ser. Não havia violência nessa destruição, (...). Eis a destruição criadora. (idem, pág. 33)

Esta manhã, (...). Ao sentarmos, sobreveio-nos aquela grande bênção e, imediatamente, sentimos a integral presença da impenetrável força; no âmago daquela imensidão, reinava o
silêncio. Era uma quietude inconcebível; (...) A imobilidade de todo movimento, a essência de qualquer ação, o próprio explodir da criação, que só ocorre neste silêncio. (idem,
pág. 34)

Ao acordarmos cedo, ocorreu-nos uma fulminante percepção, uma visão que parecia não ter fim. Não tinha origem nem direção, mas abrangia todas as visões e todas as coisas.
Ultrapassava os rios, as colinas, as montanhas, a terra, o horizonte e as criaturas. Nessa "visão" havia penetrante luz e incrível velocidade. O cérebro não podia acompanhar o que
acontecia, nem tampouco a mente era capaz de abarcá-la. Era pura luz dotada de irresistível celeridade. (idem, pág. 36)

Ao despertarmos houve uma explosão, um extravasamento deste poder, desta força. Era como uma torrente brotando das rochas, do fundo da terra. Havia nisto um estranho e
inconcebível êxtase, que nada tinha com o pensamento e o sentimento. (idem, pág. 37)

Durante a palestra, esta manhã, a bênção sagrada estava lá. Interpretá-la, individualmente, é destruir a sua indescritível natureza. Interpretar é distorcer. (idem, pág. 38)

Ao acordarmos de manhã, novamente deparamos com aquela força impenetrável e de abençoado poder. Despertou-nos a sensibilidade, e o cérebro estava dela consciente sem
reagir. (...) (idem, pág. 42)

Durante a palestra, lá estava aquela energia, intocável e pura; à tarde, no quarto, veio com a velocidade do relâmpago e desapareceu. Porém, de certo modo, sua presença é
constante, com estranha inocência e olhar imaculado. (idem, pág. 42)

Cada vez existe algo de "novo" naquela bênção, uma qualidade "nova", perfume; no entanto, é ela imutável. É o próprio incognoscível. (idem, pág. 43)

Ontem, ao entardecer, a "coisa" singular veio de repente numa sala que dava para uma rua de tráfego intenso; a pujante beleza daquele estado desconhecido extravasava os limites
do aposento, (...). Grandiosa e impenetrável, sua presença permaneceu viva a tarde toda e, mesmo à hora de nos deitarmos, se tornou insistente a bênção da imensa plenitude.
(idem, pág. 112)

(...) Diferente a cada aparição, exibindo sempre algo de novo, uma qualidade inédita, uma nuança sutil, ou um detalhe original antes não observado, aquele estado era inacessível
ao pensamento, à formulação de hábitos, ao processo acumulativo de memorização e análise. Provinha da ausência do tempo necessário ao ato de experimentar e da imobilidade
do cérebro em que cessava toda forma de pensar. (idem, pág. 112)

Após o leve jantar, falávamos de diversos assuntos (...). Enquanto a conversa prosseguia, a imensidão daquela bênção surgiu inesperadamente à nossa frente; imobilizados por sua
força devastadora, nossos olhos eram incapazes de vê-la, o corpo de senti-la e o cérebro de percebê-la sem a interferência do pensamento. (...) (idem, pág. 125)

(...) Em meio àquele ambiente descontraído, algo de extraordinário acontecia, que se prolongaria por toda a noite. (...) Bênção arrasadora, aquele raro fenômeno simplesmente
existia, indiferente a qualquer crítica ou avaliação. Fato inédito, sem conexão, no passado ou no futuro, era inacessível ao pensamento (...). Mas, por ser gratuita, dela jorrava a
imensidão do amor e da beleza. (...) (idem, pág. 125)

Krishnamurti e Teosofia
Os ensinamentos da Teosofia e de Krishnamurti completam-se.

Os primeiros, repetimos, apresentam os aspectos da cosmogênese, antropogênese, estudos comparados de religiões, filosofias e ciências, mostrando o relacionamento, a unidade.
Além disso, a genealogia do homem, seus princípios (que integram a alma e o espírito); os mundos invisíveis, seus habitantes; a vida após a morte; as leis da evolução; os
temperamentos verificados no homem e também na natureza; o Governo interno do mundo; etc. etc. e muitos dos ensinamentos de Krishnamurti sob outras formas de apresentação,
clássicas e não clássicas (novas). Universaliza a consciência, dá uma visão mais ampla, profunda, do mundo, da cultura, da vida. O condicionar-se ou não com esses conhecimentos
depende da atitude meramente intelectual ou atemporal, criadora; a intuição favorece o entendimento.

É a mensagem de Krishnamurti muito objetiva, simples e universal, destinando-se a todos, sem distinção de classe social, grau de instrução formal, religião, etc. (nisso também a
Teosofia). Exclui os dados culturais da Manifestação, da Verdade, quer dizer, os apresentados por revelação, limitando-se aos observáveis ou percebidos. Trata principalmente da
psicologia da evolução (elevação) espiritual, voltada para a educação, a mudança, a transformação do homem, agora, no sentido do atingimento de uma nova espiritualidade, do
presente-futuro, sob forma de apresentação que supera as anteriores. Krishnamurti não é contra a cultura, dando a entender que se deve dela tomar conhecimento, mas sob a forma
de um aprender que não acumula, não condiciona, não faz da mente computador, banco de dados. O simples conhecimento intelectual dos ensinamentos de Krishnamurti, sem a
prática constante do autoconhecimento, se por um lado, ilumina, por outro também condiciona.

Sobre o relacionamento dos Ensinamentos de Krishnamurti com a Teosofia, cabe expor a seguinte ocorrência. Em 1979, havia muitos anos que a Sra. Radha Burnier (atual
Presidente da Theosophical Society, mundial, no segundo mandato) era Presidente da Krishnamurti Foundation India, com sede em Madrasta. No livro "Krishnamurti - Biografia",
relata a autora, Pupul Jayakar:

"Em 28 de novembro de 1979, estávamos no Valle de Rishi. Radha Burnier tinha vindo de Madrasta (...). Uma manhã, antes do desjejum, Krishnamurti perguntou a Radha Burnier
se postularia à presidência da Sociedade Teosófica. Ela respondeu que não sabia. Ele disse: Que quer dizer com que não sabe? (pág. 425)

Subitamente a atmosfera se encheu de uma energia nova (...). Quando disse que esta era uma nova mística, ele não o negou. Depois falou novamente da Sociedade Teosófica e de
Radha Burnier convertida em Presidente.

Perguntei-lhe: Em um ponto você disse que Radha se encontra profundamente comprometida com a Krishnamurti Foundation, e em outro ponto disse que ela deve postular a
presidência da Sociedade Teosófica. Como concilia você ambas as declarações? (pág. 425-426)

Ele respondeu: Eu posso dizê-lo, outros não." E repetiu "Eu posso dizer qualquer coisa". (...)" (pág. 246)

A verdade abrange um aspecto exterior, mais ligado à consciência, às expressões objetivas, à cultura, e outra interior, mais relacionada com a vida, a religiosidade, tendente à
unidade subjetiva. Ambos se completam. Krishnamurti, como se verá, diz que a extroversão (movimento exterior da vida) e a introversão (movimento interior da vida) coexistem nos
indivíduos, não cabendo separação. Inobstante, a sua Mensagem focaliza mais o aspecto interior, do qual pouco cuida a grande maioria da humanidade.
Como intelectualidade não representa espiritualidade, pode uma pessoa ter alcançado, na instrução vulgar, o nível de terceiro grau, e, não obstante, na área religiosa, espiritual,
encontrar-se no primeiro ou no segundo grau. O contrário é também válido; tem-se conhecimento de que numerosos seres, no cristianismo e noutras religiões, que, na instrução
formal, não passaram do primeiro grau, e atingiram santidade-sabedoria. Por isso, esta Seleta não se destina às pessoas "cultas", mas a todos, revelando-se o amadurecimento na
capacidade de assimilação dos ensinamentos adiante apresentados. Sem uma base teológica mínima, eclética, incluindo a distinção entre alma e espírito, surgem as interpretações
pessoais, errôneas, que desvirtuam a compreensão dos textos.

No final do livro "Krishnamurti: Os Anos do Despertar", diz Mary Lutyens: "É claro que os ensinamentos de Krishnamurti mudaram de maneira considerável em todos esses anos e
continuam a mudar, à medida que ele procura novas palavras para exprimir uma verdade tão evidente para ele quanto a própria mão, mas tão difícil de explicar aos outros. (...)"
(pág. 287)

Torna-se oportuno esclarecer que, como se verá, a mudança não ocorreu nas idéias, mas apenas na forma de apresentá-las. A psicologia, a psicanálise, as ciências sociais e outros
ramos da cultura evoluíram geometricamente depois que ele começou a falar em 1920. No sentido de transcender, renovar, teve ele, deduz-se, de continuamente adequar seu
vocabulário, visando também a superar o tradicional, a terminologia cristalizada.

Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 1991.

Carlos de Souza Neves

Conceitos, Preliminares I
Finalidade da Vida; Desafios, Plenitude, Eternidade
Sabem o que é a vida? (…). Vou então explicar-lhes. Já viram os aldeões, vestidos de farrapos, sujos, perpetuamente esfomeados, trabalhando sem parar? Esta é uma parte da vida.
Adiante notarão um homem de carro, a mulher coberta de jóias, perfumada, com vários empregados. Este é outro aspecto da existência. Ali se acha aquele que voluntariamente
abriu mão das riquezas, que vive com simplicidade, anonimamente, como um desconhecido, que não se considera um santo. Também aqui temos outra parte da vida (…). (Ensinar e
Aprender, pág. 37)

Depara-se alhures com o homem que deseja tornar-se eremita, e existe ainda o que se torna devoto, o qual não deseja pensar, mas apenas seguir cegamente alguma coisa. Existe,
igualmente, aquele que pensa cuidadosamente, com lógica e sanidade, e que, ao descobrir que seus pensamentos são limitados, procura transcendê-los. Ele também compõe a vida.
E a morte, a perda de tudo, do mesmo modo faz parte da vida. A crença em deuses e deusas, em salvadores, no paraíso, no inferno, são outros fragmentos da existência. E o amor, o
ódio, o ciúme, a cobiça, tudo isso configura a vida (…). (Idem, pág. 37)

O que desejo discutir (…) é o problema da mente que se aplica a este vasto e complexo problema da existência. A existência não se restringe à obtenção ou conservação de um
emprego, mas encerra toda a esfera da existência psicológica, quase desconhecida para a maioria de nós (…). O problema da existência é este vasto complexo de guerras, classes,
castas, divisão - a perpétua batalha do homem contra o homem, em competição (…). (O Problema da Revolução Total, pág. 38)

(…) Pusemos este mundo em desordem, (…) porque não sabemos o que é viver. Viver não é essa coisa insípida, medíocre, disciplinada, que chamamos “nossa existência” (…). O
viver é transbordante de riqueza, é eterna transformação e, enquanto não compreendermos esse movimento eterno, nossa vida será, de certo, muito pouco significativa. (A Cultura e
o Problema Humano, pág. 97)

A experiência é uma coisa, o viver é outra. A experiência é uma barreira ao viver; agradável ou desagradável, impede o florescimento dele. A experiência já está encerrada na rede
do tempo, (…) no passado; tornou-se memória, que só toma vida como reação ao presente. A vida é o presente; não é experiência (…). A mente é experiência, o conhecido, não
pode pôr-se no “estado de viver”; (…). A mente só conhece a continuidade, e não pode receber o novo (…). A experiência tem de cessar para dar lugar ao viver. (Comentários
sobre o Viver, 1ª ed., pág. 29-30)

A vida é, e tem de ser, uma série de desafios e “respostas”. O desafio não acompanha nossos gostos e aversões, nem nossos desejos especiais, assumindo formas diferentes (…). E,
se temos a capacidade de responder ao desafio de maneira adequada, completa, direta, desaparece, então, o problema. (O que te fará Feliz?, pág. 99)

Mas, (…) o desafio da vida não é feito em nenhum nível determinado da existência. A vida não está num único nível, quer o econômico, quer o espiritual. A vida, (…) é um estado de
relação, em níveis diferentes; ela está sempre fluindo, (…) a expressar-se de maneiras diferentes; e feliz é o homem que tem a capacidade de enfrentar a vida de maneira completa,
em níveis diferentes e em todas as ocasiões. (Idem, pág. 99-100)

Podemos ver (…) que, num nível, buscamos conforto, bem-estar físico: queremos uma situação folgada, ter dinheiro, amor, posses, viajar e ter a possibilidade de fazer certas coisas.
(…) Noutro nível, um pouquinho mais profundo, queremos felicidade, liberdade, (…) ter a capacidade de fazer coisas espetaculares, grandiosas, magnificentes. (…) (Poder e
Realizações, pág. 36)

(…) E, se vemos um pouco mais profundamente, desejamos descobrir o que está além da morte, e o que é o amor, (…) trabalhar por um ideal, pelo estado perfeito. E, mais
profundamente ainda, aspiramos a descobrir o que é a Realidade, o que é Deus, o que é essa coisa tão fecunda e sempre nova. (…) Andamos à deriva, impelidos pelas
circunstâncias, até chegar a morte (…). (Idem, pág. 36).

Assim, pois, nunca nos acalmamos um pouco para fazer um exame de nós mesmos e procurar discernir o que estamos buscando. (…) Pois, em geral, somos medíocres. Não há nada
vital, nada novo, nada criador, em nós. Tudo o que criamos é tão vazio, tão vulgar e sem significação! Não cumpre, portanto, averiguarmos o que é que queremos? (Idem, pág. 36)

Pergunta: Vivemos, mas não sabemos por quê. Para muitos de nós, a vida parece não ter significação. Podeis dizer-nos qual é o significado e a finalidade do nosso viver?

Krishnamurti: (…) Que entendemos por “vida”? O viver não é, em si, a sua própria finalidade, a sua própria significação? (…) Por que estamos tão insatisfeitos com a nossa vida,
por que ela é tão vazia, tão frívola, tão monótona?. (…) Desejamos algo mais, algo superior àquilo que costumamos fazer. (…) (A Arte da Libertação, pág. 193-194)

Positivamente, senhor, o homem que está vivendo com plenitude, (…) que vê as coisas como são, está satisfeito com o que tem, não está confuso; está lúcido e, por conseguinte, não
pergunta qual é a finalidade da vida. Para ele, o próprio viver é o começo e o fim. Nossa dificuldade, pois, é que, sendo nossa vida vazia como é, queremos encontrar uma
finalidade para a vida, e lutamos por alcançá-la. (Idem, pág. 194)

Tal finalidade da vida não passa de produto intelectual, inteiramente irreal; quando a finalidade da vida é solicitada por uma mente estúpida e embotada, essa finalidade há de ser
também vazia. O nosso problema, por conseguinte, consiste em como tornarmos rica a nossa vida, não de dinheiro, etc., mas interiormente rica (…). A realidade só pode ser
compreendida no viver, e não no fugir. (…) A vida é relação, (…) é ação em relação; (…). (A Arte da Libertação, pág. 194-195)

Vamos então discorrer sobre a finalidade da vida (…). Em primeiro lugar, quando discutimos um assunto dessa natureza, devemos por certo fazê-lo com muito empenho, e não com
uma mentalidade acadêmica, erudita ou superficial, porque isso não nos leva a parte alguma. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 48-49)

(…) A vida, por certo, implica ação diária, pensamento diário, sentimento diário (…). Implica as lutas, as dores, as ânsias, os enganos, as tribulações, a rotina do escritório, dos
negócios (…). Por “vida” entendemos não uma só esfera ou camada da consciência, mas o processo total da existência, que é a nossa relação com as coisas, com as pessoas, com
as idéias. É isso o que entendemos por vida - e não uma coisa abstrata. (Idem, pág. 49)

Cumpre-nos averiguar muito claramente o que entendemos por finalidade, se há finalidade. Podeis dizer que há uma finalidade: alcançar a realidade, Deus, ou o que quiserdes.
Para alcançarmos esse alvo, porém, precisamos conhecê-lo, (…) conhecer a extensão, a profundidade do mesmo. (…) Uma vez que a realidade é o desconhecido, a mente que busca
o desconhecido deve primeiro libertar-se do conhecido (…). (Idem, pág. 50)

(…) Para descobrir a finalidade da vida, a mente precisa estar livre de medida; (…). Que é mais importante: descobrir a finalidade da vida ou libertar a mente de seu próprio
condicionamento, para depois investigar? Talvez, quando a mente estiver livre de condicionamento, essa liberdade, em si, seja a finalidade. (…) (Idem, pág. 51)

O requisito primordial, portanto, é a liberdade, e não a busca da finalidade da vida. Sem liberdade, é bem óbvio que não podemos encontrá-la; sem ficarmos livres de nossas
pequeninas necessidades, nossos desígnios, ambições, de nossa inveja e malevolência, (…) como é possível investigar ou descobrir a finalidade da vida? (Idem, pág. 52)

(…) Afinal, senhores, para descobrir a verdade, ou Deus, (…) preciso primeiro compreender a minha existência, (…) a vida em torno de mim e em mim, pois, de outro modo, a
busca da realidade se transforma em mera fuga da ação de cada dia; e, como a maioria de nós não compreende a ação de cada dia, visto que para a maioria de nós a vida é
servidão, dor, sofrimento, angústia, dizemos: “Pelo amor de Deus, dizei-nos como fugir disto”. É o que queremos, os mais de nós: um narcótico, para não sentirmos as dores e as
penas da vida. (…) (Idem, pág. 53)

(…) A verdadeira simplicidade da inteligência, isto é, o ajustamento profundo ao movimento da vida, só advém quando, mediante percebimento compreensivo e correto esforço,
começamos a desfazer as múltiplas camadas de resistência autoprotetora. Somente então, teremos a possibilidade de viver espontânea e inteligentemente. (Palestras em Ojai,
Califórnia, 1936, pág. 105)

(…) Entretanto, é unicamente através da dúvida, (…) da crítica, que podeis preencher-vos; e a finalidade da vida é o preenchimento, não o acúmulo, não a consecução (…). A vida
é um processo de busca, (…) não para um fim particular, mas para libertar a energia criadora, a inteligência criadora no homem; é um processo de movimento eterno, desimpedido
de crenças, grupos de idéias, dogmas, (…) conhecimento. (Palestras em Adiar, Índia, 1933-1934, pág. 8-9)

(…) O viver realmente exige abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio, grande simplicidade, (…) experiência. Requer uma mente capaz de pensar com toda clareza, não
tolhida pelo preconceito ou pela superstição, pela esperança ou pelo medo. Tudo isso é a vida, e, se não estais sendo educados para viver, vossa educação é (…) sem significação.
(A Cultura e o Problema Humano, pág. 35)

Como a nuvem perseguida pelos ventos através do vale, é o homem (…). O homem não tem alvo, está cego para a finalidade da vida; e nele - e portanto no mundo - domina o caos e
a desintegração. (A Finalidade da Vida, pág. 3)

E qual é a finalidade da vida? É a liberdade da vida, a libertação da vida de todas as coisas, (…) depois de havermos passado por todas as experiências (…). (Idem, pág. 3)

Desejo mostrar-vos que, para preencherdes a vida, como eu a preenchi, deveis acolher alegremente (…) toda experiência, quer agradável, quer desagradável (…) (Idem, pág. 3)

Para o indivíduo autoconsciente, há sujeito e objeto (…). Mas a finalidade da existência, a plenitude do indivíduo, é realizar em si próprio - sem objeto ou sujeito - a Totalidade,
que é a vida pura. Portanto, é na subjetividade do indivíduo que o objeto realmente existe. (…) (Experiência e Conduta, em Carta de Notícias de maio-junho de 1941, pág. 4)

(…) Nele reside o começo e o fim, a origem e a meta. Em criar uma ponte entre o começo e o fim consiste o preenchimento do homem. (…) Enquanto não vos compreenderdes a vós
mesmos, (…) não penetrardes em vossa própria plenitude, podeis ser dominados, presos à roda da luta contínua. (…) (Idem, pág. 4)

Alcançar a Verdade é desdobrar a vida, é dar-lhe a mais ampla possibilidade de expressão. Para mim, a única meta, o único mundo que é eterno, (…) absoluto, é o mundo da
verdade. (…) (A Finalidade da Vida, pág. 4)

O homem a quem essa visão se manifestou, tem sempre diante de si, ainda que empenhado nas lutas do mundo, esse alvo eterno. Embora ele peregrine por entre as coisas
transitórias, ainda que se perca nas sombras, sua vida será sempre guiada por esse alvo, que é a libertação de todos os desejos, (…) experiências, (…) tristezas, dores e lutas. (…)
(Idem, pág. 4)

Na sombra do presente, está preso o homem. Cavar uma passagem, através do presente, para o eterno, eis a finalidade do homem. Deve todo ser humano entregar-se à tarefa de
perfurar esse túnel, que representa o caminho direto para se alcançar a vida. (Idem, pág. 8)

E esse túnel, que é o único caminho que conduz ao preenchimento da vida, está dentro de vós mesmos. Nesse túnel não há regressar, porque lançais para trás o que removeis de
vossa frente. Não podeis ir senão para diante, (…) pois, do contrário, cessará o progresso como tal. (…) (Idem, pág. 8)

O propósito último da existência individual é realizar o ser puro, em que não há separação, que é a realização do Todo. O preenchimento do destino do homem é ser a totalidade.
(…) A individualidade é apenas um fragmento da Totalidade (…). (Experiência e Conduta, em Carta de Notícias de maio-junho de 1941, pág. 3)

(…) Mas a finalidade da existência, a plenitude do indivíduo, é realizar em si próprio - sem objetivo ou sujeito - a totalidade que é a vida pura. (…) No indivíduo estão o começo e o
fim. Nele reside a totalidade de toda experiência, de todo pensamento, de toda emoção. Nele está toda a potencialidade, e a sua tarefa é realizar essa objetividade no subjetivo.
(Idem, pág. 4)

(…) Em criar uma ponte entre o começo e o fim consiste o preenchimento do homem. (…) Na civilização atual, entretanto, a coletividade está se esforçando para dominar o
indivíduo, sem respeitar o seu desenvolvimento, mas é o indivíduo que importa. (…) Então ele já não será dominado pela moralidade, pela estreiteza, pelas convenções e
experiências de sociedades e grupos. (Idem, pág. 4)

Fui procurar por mim mesmo o propósito da vida, e encontrei-o sem a autoridade de outrem. Penetrei nesse oceano de libertação e felicidade, onde não há limitação nem negação,
porque ele é o preenchimento da vida. (Vida em Liberdade, IV, em Carta de Notícias de 1945, nº 1 a 6, pág. 23)

Educação; Conceito, Pouco Criadora, Não Espiritual


Se a vida tem um significado mais alto e mais amplo, que valor tem nossa educação se nunca descobrirmos esse significado? Podemos ser superiormente cultos; se nos falta, porém,
a profunda integração do pensamento e do sentimento, nossas vidas são incompletas, contraditórias (…). (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 10)

A educação não é um simples exercício da mente. O exercício leva à eficiência, mas não produz a integração. A mente que foi apenas exercitada é o prolongamento do passado,
nunca pode descobrir o que é novo. Eis por que, para averiguarmos o que é educação correta, cumpre-nos investigar o total significado do viver. (Idem, pág. 12)

Educação não significa, apenas, adquirir conhecimentos, nem coligir e correlacionar fatos; é compreender o significado da vida como um todo. Mas o todo não pode ser alcançado
pela parte(…). (Idem, pág. 13)

O objetivo da educação é criar entes humanos integrados e, por conseguinte, inteligentes. Podemos tirar diplomas e ser mecanicamente eficientes, sem ser inteligentes. A
inteligência não é mera cultura intelectual; não provém dos livros, nem consiste em jeitosas reações defensivas e asserções arrogantes. (Idem, pág. 13)

O homem que não estudou pode ser mais inteligente do que o erudito. Fizemos de exames e diplomas critério de inteligência, e desenvolvemos mentes muito sagazes, que evitam os
problemas humanos vitais. Inteligência é a capacidade de perceber o essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si próprio e nos outros: eis em que consiste a educação.
(Idem, pág. 13-14)

A educação deve ajudar-nos a descobrir valores perenes, para que não nos apeguemos a fórmulas ou à repetição de slogans; deve ajudar-nos a derrubar as barreiras nacionais e
sociais, em lugar de as reforçar, porquanto essas barreiras geram antagonismo entre homem e homem. Infelizmente, o nosso atual sistema de educação nos torna servis, mecânicos
e fundamentalmente incapazes de pensar; embora desperte nosso intelecto, deixa-nos interiormente incompletos (…). (Idem, pág. 14)
Sem uma integral compreensão da vida, os nossos problemas individuais e coletivos só tenderão a crescer, em profundidade e extensão. O objetivo da educação não é o de produzir
simples letrados, técnicos e caçadores de empregos, mas homens e mulheres integrados, livres de todo temor; porque só entre tais entes humanos pode haver paz perene. (Idem, pág.
14)

O que atualmente chamamos educação é um processo que consiste em acumular informações e conhecimentos, tirados dos livros, o que qualquer pessoa que saiba ler pode
conseguir. Uma educação dessa espécie oferece-nos uma forma sutil de fuga de nós mesmos e (…) cria, inevitavelmente, sofrimentos cada vez maiores. (…) (Idem, pág. 17-18)

O progresso técnico resolve certos problemas para certas pessoas, num dado nível, mas ao mesmo tempo gera problemas mais vastos e profundos. Viver num só nível, desprezando
o processo total da vida, é atrair desgraças e destruição. A maior necessidade e o problema mais urgente de todo indivíduo é adquirir uma compreensão integral da vida, que o
habilite a enfrentar suas sempre crescentes complexidades. (Idem, pág. 19)

O saber técnico, embora necessário, de modo algum resolverá as nossas premências interiores e conflitos psicológicos; e porque adquirimos saber técnico sem a compreensão do
processo total da vida, a técnica se tornou meio de destruição. O homem que dividir o átomo mas não tiver amor no coração, transforma-se em monstro. (Idem, pág. 19)

Sem a compreensão de nós mesmos, a mera operosidade conduz à frustração, com suas inevitáveis fugas através de atividades maléficas de todo gênero. Técnica sem compreensão
leva à inimizade e à crueldade, o que costumamos disfarçar com frases bem-soantes. De que serve encarecermos a importância da técnica e nos tornarmos entidades eficientes, se o
resultado é a mútua destruição? (…) (Idem, pág. 20)

Quando se atribui à função toda a importância, a vida resulta em estúpida e monótona, rotina mecânica e estéril (…). O acúmulo de fatos e o desenvolvimento de capacidades, a
que chamamos educação, privou-nos da plenitude da vida de integração e ação. Porque não compreendemos o processo total da vida, apegamos-nos à capacidade e à eficiência,
que por essa razão assumem importância tremenda. O todo, porém, não pode ser compreendido pela parte; (…). (Idem, pág. 21)

A educação correta, não descurando do cultivo da técnica, deve realizar algo de importância muito maior, que consiste em levar o homem a experimentar o processo integral da
vida. Tal experiência colocará a capacidade e a técnica nos seus devidos lugares. (…) (Idem, pág. 22)

A educação moderna, desenvolvendo o intelecto, fornece teorias e mais teorias, fatos e mais fatos, mas não nos faz compreender o processo total da existência humana. Somos
altamente intelectuais; desenvolvemos mentes astutas e vivemos num emaranhado de explicações. O intelecto se satisfaz com teorias e explicações, a inteligência não; e, para a
compreensão do processo total da existência, é necessária uma integração da mente e do coração na ação. A inteligência não está separada do amor. (Idem, pág. 76-77)

Está claro, pois, que do simples cultivo do intelecto, isto é, do desenvolvimento das capacidades e conhecimentos, não resulta inteligência. Há distinção entre intelecto e
inteligência. Intelecto é o pensamento funcionando independente da emoção (sentimento), e inteligência é a capacidade de sentir e raciocinar; (…). (Idem, pág. 77)

Com nossa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, (…) embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos tornando
cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. (…) A erudição é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas, se a mente e o coração estão sufocados pela
erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma explicação, a vida se torna vazia e sem sentido. (…) Nossa educação nos está tornando cada vez mais superficiais;
não nos ajuda a compreender as camadas profundas do nosso ser, e nossas vidas se estão tornando cada vez mais desarmônicas e vazias. (Idem, pág. 78-79)

O saber, o conhecimento de fatos, embora em constante crescimento, é por sua própria natureza limitado. Já a sabedoria é infinita, abarcando tanto o saber como a esfera da ação.
Se nos apoderamos de um ramo, pensamos que temos a árvore toda. O intelecto jamais nos levará ao todo, porque ele é apenas um segmento, uma parte. (Idem, pág. 79)

Agora você pensa (…) o que você é? Vamos examinar juntos sem paixão. Você é o nome, a forma, o corpo. Você é o que pensa, o resultado da educação, se a teve. E a educação é
tão desvirtuada que só lhe dá condição de se tornar engenheiro, escrevente, isto ou aquilo. Você não é educado para entender a beleza, a totalidade da vida. É dada a você grande
quantidade de conhecimento, de forma que possa agir com ou sem destreza no mundo.

Isso não é educação. É apenas uma pequena parte da educação. Educação é o cultivo do ser humano total, seu desabrochar, o florescer da mente humana, não mutilada pela
especialização. Portanto, o que somos? Somos uma série de palavras, de idéias, uma memória repetitiva, a continuidade da convicção? Isso é tudo? (…) (Mind without Measure,
pág. 62)

Naturalmente, a todos nós interessa a ação, o que é necessário fazer; e “o que é necessário fazer” é geralmente ditado pelo mundo que nos cerca. Isto é, sabemos que temos de
ganhar o sustento em dada função, como engenheiro, cientista, advogado, funcionário de escritório(…); e a isso se restringe a nossa superficial cultura, nossa educação. (Da
Solidão à Plenitude Humana, pág. 71)

Nossa mente está ocupada, na maior parte do dia, com o meio de ganharmos o nosso sustento, o modo de nos ajustarmos ao padrão de nossa sociedade. Nossa educação limita-se
ao cultivo de capacidades e à “memorização” de uma série de fatos (…) de acordo com as necessidades de certa sociedade, uma sociedade que se está preparando para a guerra.
(Idem, pág. 71-72)

A industrialização exige mais cientistas, mais físicos, mais engenheiros, e, por conseqüência, torna-se necessário cultivar essa camada da mente, pois é isso que interessa em
primeiro lugar à sociedade. (Idem, pág. 72)

(…) E surge, assim, em nossa vida, uma contradição entre esse nível mental, supostamente educado, e aquela atividade mental profunda, inconsciente, contradição de que bem
poucos se dão conta. E, se dela nos damos conta, passamos simplesmente a buscar alguma espécie de satisfação (…). (Idem, pág. 72)

(…) E, assim, cada um é educado para certa profissão, mas a totalidade do seu ser fica por descobrir, não revelada, e, por conseqüência, vê-se o homem num perene conflito
interior. (…) (Idem, pág. 72)

Quase todos fazemos, na vida diária, alguma coisa em franca contradição com o que sentimos ser a verdadeira coisa que desejamos fazer. Temos responsabilidades e deveres que
nos escravizam e dos quais gostaríamos de livrar-nos, e a fuga que empreendemos assume aspecto de especulação, de teorias (…). Há inumeráveis formas de fuga, inclusive o
beber, mas nenhuma delas resolve o nosso conflito interior. (…) (Idem, pág. 72-73)

Temos técnicos de maravilhosa capacidade, e que acontece? A técnica está sendo empregada pelos especialistas como meio de mútua destruição. É isso que os governos querem.
Querem técnicos, não querem entes humanos, por que os entes humanos se tornam perigosos (…). (O Que Te Fará Feliz?, pág. 66)

Assim sendo, o novo critério não é o mero cultivo de uma técnica, o que não significa que devais rejeitar a técnica, senão que se ajude a criar um ente humano integral, o qual
adquirirá a técnica pelo experimentar. (…) (Idem, pág. 66)

A educação é coisa muitíssimo diferente. Seu fim não é só o de ajudar-vos a obter empregos, mas também ensinar-vos a enfrentar o mundo. (…) No mundo há guerras e divisões de
classe, e luta entre as classes. No mundo, cada um quer uma posição melhor, subir, subir sempre (…) Há, pois, uma luta constante, não só dentro de nós mesmos, mas também
contra todos os nossos semelhantes. (…) (Debates sobre Educação, pág. 6-7)

A educação, por conseguinte, deve ter a finalidade de habilitar-nos para resolver todos esses problemas. (…) Isto é que é educação - e não apenas passar nuns poucos exames,
entregar-se a certos estudos (…). A educação apropriada é aquela que ajuda o estudante a enfrentar esta vida, a compreendê-la, não se deixando sucumbir, ser esmagado por ela
(…). (Idem, pág. 7)

(…) Vossa educação deve ajudar-vos a compreender essa pressão, para que não cedais a ela, e possais rompê-la, tornando-vos um indivíduo, um ente humano capaz de iniciativa
própria e não apenas um seguidor do pensar tradicional. (…) (Idem, pág. 7)

Infelizmente, a educação, hoje em dia, vos prepara para vos submeterdes, adaptardes, ajustardes e esta sociedade de aquisição. (…) E sois considerado um cidadão respeitável
enquanto vos submeteis, (…) sois ambicioso, ávido, corrompendo e destruindo a outros em vossa busca de posição e poderio. Sois educado para vos adaptardes à sociedade; mas
isso não é educação, é apenas um processo de condicionar-vos para vos ajustardes a um padrão. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 27).

A verdadeira função da educação não é preparar-vos para serdes um funcionário, um juiz ou um primeiro-ministro, porém ajudar-vos a compreender toda a estrutura desta
sociedade corrompida e permitir-vos crescer em liberdade, de modo que sejais capazes de quebrar todas as prisões e criar uma sociedade diferente, um mundo novo. (Idem, pág.
27-28)

Há necessidade de indivíduos revoltados, não parcialmente, porém totalmente revoltados contra o “velho”, pois só tais indivíduos poderão criar um novo mundo, um mundo não
baseado na aquisição, no poder e no prestígio. (Idem, pág. 28)

(…) Assim, a verdadeira função da educação é não só ajudar-vos a “descondicionar-vos”, mas também ajudar-vos a compreender o inteiro processo do viver, dia a dia, para que
possais crescer em liberdade e criar um mundo totalmente diferente do atual. (…) Eis por que a educação deve ser um processo de educar tanto o educador como o estudante.
(Idem, pág. 28)

O educador não é mero transmissor de conhecimentos; é um homem que mostra o caminho da sabedoria, da verdade. (…) A busca da verdade é religião; (…) Sem a busca da
verdade, a sociedade depressa decai. Para criarmos uma nova sociedade, cumpre a cada um de nós ser um verdadeiro mestre, o que significa que devemos ser, simultaneamente,
discípulo e mestre, que temos de educar-nos a nós mesmos. (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 120)

Que implica a idéia de “exemplo”? Se a função do mestre é de ser um “exemplo”, não está ele então, consciente ou inconscientemente, impondo um padrão ao moço, ao estudante?
O ajustamento a um padrão, por mais nobre que seja esse padrão, (…) pode libertar o indivíduo do temor? Porque, é bem de ver, o estudante é educado para fazer face à vida, para
compreender a vida, e não para enfrentá-la como comunista, ou capitalista (…) diferentemente condicionado. (…) (O Problema da Revolução Total, 1ª ed., pág. 28-29)

E se o próprio educador se torna o guia, o exemplo, o herói, não está ele então instilando o medo no espírito do jovem, do estudante? (…) É provável que, no fundo, isto vos enfade,
porque supondes já terdes passado da idade de receber educação. Que tem a idade a ver com a educação? A educação é um “processo” que dura toda a vida, e não só na idade
escolar. Nessas condições, se se quer um mundo novo (…), é necessário criar-se uma inteligência de nova ordem, (…) sem medo. (…) (Idem, pág. 29)

Serão vãs estas perguntas? (…) O verdadeiro professor, perito em sua especialidade, poderá ter suas aulas gravadas em fitas distribuídas em larga escala, podendo um colega seu,
de menor capacidade, utilizá-las para instruir os alunos. Assim, a responsabilidade pelo bom ensino pode ser tirada de mãos individuais, embora haja quase sempre necessidade de
um instrutor. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 116)

A educação é o modo de se descobrir a nossa relação com todas essas coisas, (…) com os entes humanos e com a natureza. Mas a mente cria idéias (…) tão poderosas (…) que nos
impedem de ver além. Enquanto existe temor, existe tradição (…) imitação. Uma mente que só imita, é mecânica (…). Poderá produzir certas ações, (…) resultados; mas nunca é
criadora. (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 18)

Enquanto sois jovem (…) sede descontentes, investigai, interrogai os vossos mestres - se eles são estúpidos, fá-los-eis inteligentes, interrogando-os - de maneira que, ao deixardes
esta escola, (…) estejais progredindo em madureza, em inteligência; e continueis aprendendo, toda a vida, até morrerdes, como ente humano inteligente. (Idem, pág. 19)

Vejo, pois, e espero que estejais vendo, que a autoridade destrói a inteligência. A inteligência (…) só pode surgir quando há liberdade - liberdade de pensar, de sentir, de observar,
de interrogar. Mas, se vos constranjo, faço-vos tão estúpidos como eu. Em geral, é isso o que acontece nas escolas; o mestre pensa que sabe tudo e que vós nada sabeis. Que sabe o
mestre? Só matemática e geografia. Não (…) investigou as coisas mais importantes da vida, mas troveja (…) como um primeiro sargento. (Idem, pág. 27)

Assim, pois, o que mais importância tem, numa escola como esta, é que, em vez de vos disciplinarem para fazerdes o que vos mandam, vos ajudem a compreender, a ser inteligentes
e livres, para poderdes enfrentar todos os problemas da vida. Isso requer um mestre competente, (…) que sinta verdadeiro interesse por vós (…). E é dever dos estudantes, tanto
quanto dos mestres, criar tal estado de coisas. Não obedeçais; descobri por vós mesmos a maneira de refletir sobre um problema. (…) (Idem, pág. 27)

O que em geral acontece é que, quando começais a interrogá-lo, ele quer disciplinar-vos; ele não tem paciência, tem suas ocupações, falta-lhe amor para (…) conversar convosco
sobre os enormes problemas da existência (…). Incumbe aos mestres, aos pais e a vós, o dever de cooperar para a formação dessa inteligência. (Idem, pág. 27-28)

A maioria das pessoas, parece-me, reconhece que o atual sistema de educação falhou, uma vez que produziu guerras, decomposição moral, etc.; e também, com exceção de muito
poucas pessoas, deixou de existir o pensar criador. (…) (Visão da Realidade, pág. 134)

A questão, sem dúvida, é esta: (…) Vemos que, no mundo inteiro, a educação falhou, uma vez que se está produzindo, cada vez mais, destruição (…). A educação até agora tem
servido para alimentar o industrialismo e a guerra; (…). (Nosso Único Problema, pág. 22)

(…) É bem evidente, sem dúvida, que o próprio educador necessita de educação - e o educador sois vós; porque o ambiente doméstico é tão importante como o ambiente escolar.
Tendes, pois, em primeiro lugar, de vos transformar a vós mesmos, a fim de proporcionardes ao vosso filho o ambiente adequado; porque o ambiente fará dele ou um bruto, um
técnico insensível, ou um homem inteligente e cheio de sensibilidade. (…) (A Arte da Libertação, pág. 228)

Pergunta: Um instrutor pode ajudar-nos a despertar a intuição?

Krishnamurti: (…) Há diferentes espécies de instrutores; (…) o verdadeiro instrutor, num sistema educativo, não ensina, porém estimula o aluno a aprender. (…) (Uma Nova
Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 97)

Ora, (…) qual a verdadeira função do instrutor? (…) O que pode fazer é dizer: olhai nesta direção, e provavelmente vereis (…). O instrutor não pode forçar-vos, não pode
intimidar-vos; só pode dizer-vos: Olhai, amigo! Olhai na direção que estou indicando (…). (Idem, pág. 98)

(…) A educação não vai só até à idade de vinte e um anos, mas dura até a morte. A vida é como um rio; nunca é estática, está sempre em movimento, cheia de atividade e de
riquezas. (…) (Debates sobre Educação, pág. 9)

A função primária da educação não é a de libertar a mente de suas próprias experiências, que são condicionadas, para que possa haver uma vida criadora e se conheça aquela
coisa inexprimível, criadora, que chamamos Deus ou a Verdade? (Idem, pág. 109)

É muito importante ter bom gosto, desde a infância, ter ensejo para apreciar a beleza, a boa música, a boa literatura, para que a mente se torne muito sensível, e não grosseira e
pesada. (…) Asseguro-vos que a apreciação e o amor da beleza, é sumamente importante e sem ele nunca se poderá achar a “coisa real”. Passamos, porém, pela escola e pela vida,
debaixo de coerção e disciplinas; e a isso chamamos educação, (…) viver. (Idem, pág. 146)

O pleno desabrochar da mente só pode acontecer quando há percepção clara, objetiva, impessoal, livre de qualquer espécie de imposição. Não se trata de o que pensar, mas de
como pensar lucidamente. (…) (Cartas às Escolas I, pág. 18-19)

Quando a mente, o coração e o corpo estão, os três, em completa harmonia, então o desabrochar acontece naturalmente, de maneira fácil e em plenitude. É este o nosso trabalho
como educadores, é esta a nossa responsabilidade, e a profissão de educar assume então na vida toda a sua grandeza. (Idem, pág. 19)

Se compreendermos o verdadeiro sentido da palavra responsável e o que hoje se passa no mundo, vemos que a responsabilidade se tornou irresponsabilidade. (…) (Idem, pág. 34)

Quando compreendemos que representamos toda a espécie humana, a nossa resposta é total e não parcial. A responsabilidade tem então um sentido inteiramente diferente. Temos
de aprender a arte desta responsabilidade. Se compreendermos plenamente que cada um, psicologicamente, é o mundo, então a responsabilidade torna-se amor a que nada resiste.
(…) (Idem, pág. 34)
Aprender, Disciplina; Sentido Vulgar e Transcendente
Aprender não é acumular conhecimentos. Qualquer cérebro eletrônico é capaz de acumular conhecimentos. O conhecimento, por conseguinte, não é de grande relevância; tem
certa utilidade, mas não aquela desmedida importância que os entes humanos lhe atribuem. Mas o ato de aprender requer uma mente muito ágil. (…) (A Suprema Realização, pág.
9)

A mente que interpreta, que traduz, que tem uma tradição ou conhecimentos acumulados - essa mente é incapaz de aprender, por que está funcionando num estreito canal. Não é
uma mente capaz de atuar, de aprender, cheia de energia e de vitalidade. (…) Porque só a mente que está aprendendo é nova; a mente nova pode ver as coisas de maneira nova,
com clareza, rejeitar o que é falso e perseguir o verdadeiro. (Idem, pág. 10)

O que compreendemos por aprender? Geralmente é entendido como memorização, acumulação, armazenamento para uso, especializado ou não, conhecimento de idioma, leitura,
escrita, comunicação, etc. Os modernos computadores podem fazê-lo melhor. São extraordinariamente rápidos. Então qual a diferença entre nós e o computador? O computador
deve ser programado. Também fomos programados de várias maneiras: tradição, a chamada cultura, conhecimento. E programados igualmente como hindus, budistas, cristãos,
comunistas e tudo o mais. (…) (Last Talks at Saanen, 1985, pág. 146-147)

Quando é que aprendemos? Não me refiro à acumulação de conhecimentos, que é uma coisa muito diferente. (…) Por “aprender” entendo um movimento não acumulador, um
perene fluir, que é aprender, aprender, sem jamais acumular. O cérebro eletrônico acumula conhecimentos, possui conhecimentos; mas não pode aprender. (…) Só se aprende
quando há um movimento, um movimento constante, de investigação, exploração ou compreensão, sem nenhuma atividade de acumulação. (A Suprema Realização, pág. 21-22)

Não sou contra o conhecimento. Existe diferença entre o aprender e o adquirir conhecimentos. Cessa o aprender quando só há acúmulo de conhecimentos. O aprender independe de
qualquer aquisição. Ao se dar demasiada importância ao conhecimento, deixa de haver o aprender. Quanto maior o número de informações acumuladas, mais segura, mais certa se
torna a mente, cessando, portanto, o aprender. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 72)

Não há o “movimento de aprender” quando há aquisição de conhecimentos; as duas coisas são incompatíveis, contraditórias. O “movimento do aprender” implica um estado em
que a mente não tem, guardada como conhecimento, nenhuma experiência. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 166-167)

O conhecimento se adquire, ao passo que o aprender é um movimento constante, que não é um processo “aditivo” ou “aquisitivo”; por conseguinte, o “movimento do aprender”
implica um estado em que a mente nenhuma autoridade tem. Todo conhecimento supõe alguma autoridade, e a mente que se fortificou na autoridade do conhecimento de modo
nenhum pode aprender. (…) (Idem, pág. 167)

(…) Ora, o que geralmente chamamos “aprender” é exatamente esse mesmo processo de adquirir novas informações e acrescentá-las ao “estoque” de conhecimentos que já
possuímos. (…) Por “aprender” não entendo acrescentar ao que já se sabe. Só se pode aprender quando não há nenhum apego ao passado, como conhecimento, isto é, quando
vedes uma coisa nova e não a traduzis em termos de “conhecido”. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 167)

(…) A mente que está aprendendo é uma mente “inocente” , ao passo que a mente que está apenas adquirindo conhecimentos é velha, estagnada, corrompida pelo passado. A mente
“inocente” percebe instantaneamente, aprende a todas as horas, sem acumular, e só essa mente é amadurecida. (Idem, pág. 167)

Falamos também sobre o aprendermos a respeito de nós mesmos. Aprender implica um movimento não acumulativo (…) Só há movimento quando há um constante fluir, a forte
corrente. E é isso o que o aprender implica; aprender, não só acerca de coisas exteriores e de fatos científicos, mas também a respeito de nós mesmos, porque “o que somos” é uma
coisa que está constantemente a mudar, uma coisa dinâmica, versátil. (A Questão do Impossível, pág. 101-102)

Para aprendermos sobre o que somos, a experiência trazida do passado em nada pode ajudar-nos; pelo contrário, o passado põe fim ao aprender e, por conseguinte, à ação
completa. Espero tenhais visto bem claramente este fato, ou seja, que estamos lidando com um movimento sempre vivo, da vida. Esse movimento é o “eu”. Para compreender esse
“eu” tão sutil, é necessária intensa curiosidade, persistente vigilância, compreensão não acumulativa. (…) (Idem, pág. 102)

Penso existir um “processo” de aprender sem nenhuma relação com o desejo de ser ensinado. Vendo-nos confusos, não raro desejamos encontrar alguém que nos ajude a viver sem
confusão e, por conseguinte, só estamos aprendendo e adquirindo conhecimentos com o fim de nos ajustar a um certo padrão; e, a meu ver, essas maneiras de aprender conduzirão,
invariavelmente, não só a mais confusão, senão à deterioração da mente. (O Homem Livre, pág. 153)

Julgo haver um aprender de espécie diferente, (…) que é investigação de nós mesmos e em que não há mestre nem discípulo, seguidor nem guru. Ao começarmos a investigar o
funcionamento da própria mente, ao observarmos o próprio pensar, nossas atividades e sentimentos de cada dia, não podemos então ser ensinados, porque não há ninguém para
nos ensinar. A investigação não pode então basear-se em autoridade alguma (…). (Idem, pág. 153)

Antes disso, porém, temos de compreender o significado da palavra “aprender”. (…) Não ides aprender nada deste orador (…). Podemos, pois, rejeitar completamente a
autoridade, para considerarmos a questão do aprender (…); aprender pela observação de sua própria psique, de seu “eu”. O aprender requer liberdade, requer grande curiosidade
e, também, intensidade, paixão, espontaneidade. (…) (Fora da Violência, pág. 20-21)

Não há aprender quando a mente espera ser ensinada e trata tão só de acumular conhecimento na forma de memória. No processo de ser ensinado, (…) há instrutor e discípulo, o
que sabe e o que não sabe; (…). Recomendável seria tratarmos de compreender (…) a falsidade dessa distinção (…); para aprender, necessitamos de muita humildade. Quem diz
“eu sei”, realmente não sabe. O que sabe é coisa passada, morta. (…) (O Homem Livre, pág. 121)

Apega-se à autoridade, evidentemente, porque teme a incerteza, a insegurança; teme o desconhecido, o (…) amanhã. (…) Mas, penso que só nesse estado de humildade completa -
que é o estado da mente que está sempre pronta a reconhecer que não sabe - só nesse estado há possibilidade de aprender. (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 13)

Nós estamos aprendendo; por conseguinte, não pode haver julgamento e não pode haver avaliação. Quando se está aprendendo, a mente está sempre atenta e nunca acumulando;
(…) não há acumulação em que nos basearmos para julgar, avaliar, condenar e comparar. (…) Porque a mente que está aprendendo está sempre nova; é sempre uma mente
indagadora, (…) nunca disposta a aceitar a autoridade e avaliar segundo essa autoridade. É uma mente jovem; e é inocente, nova, porque está sempre aprendendo. (…) (Uma Nova
Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 32)

Assim, “aprender” tem dois significados: aprender para adquirir conhecimentos, a fim de que eu possa funcionar com o máximo de eficiência em certos campos; ou aprender
acerca de mim mesmo, de modo que o passado - o pensamento - não possa em nenhum momento interferir. Dessa maneira, posso observar, e minha mente é sempre sensível. (Fora
da Violência, pág. 53-54)

Não apenas a mente, mas também o corpo, têm de estar altamente sensíveis. Não se pode ter um corpo embotado, indolente, pesadamente alimentado de carne e de vinho e tentar
meditar - não faz sentido. Portanto, (…) veremos que a mente tem de estar altamente desperta, sensível e inteligente, inteligência esta que não nasce do conhecimento. (O Mundo
Somos Nós, pág. 33)

(…) Expressemo-lo de outro modo: aprende-se algo de memória, de modo que isso se armazena como conhecimento no cérebro (…); quando se vai à faculdade ou à universidade,
acumula-se uma grande quantidade de informação em forma de conhecimentos e, de acordo com esses conhecimentos, atua-se (…). A outra forma de aprender - à qual estamos
muito pouco acostumados, por sermos tão escravos dos hábitos, da tradição e de toda classe de conformidade - é observar sem a companhia do conhecimento prévio, olhar algo
como se fora novo e o olhássemos pela primeira vez. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 203)

Nesta arte de aprender - na qual se acumulam os conhecimentos registrando somente as coisas que são indispensáveis a uma ação eficiente - não se registra nenhuma reação
psicológica; o cérebro emprega os conhecimentos onde a função e a destreza são necessárias e, não obstante, o cérebro está livre para não registrar na área psicológica. É muito
árduo achar-se tão totalmente alerta que se registre só o que é necessário (…). Alguém me insulta, (…) me adula, me chama disto (…) não há registro. (…) (Idem, pág. 215)
Registrar e, ainda assim, não registrar, de modo que não haja desenvolvimento do “eu”, da estrutura egocêntrica. A estrutura do “eu” aparece somente quando há um registro de
tudo aquilo que não é necessário; ou seja, o conceder importância ao nome, à própria experiência, (…)opiniões e conclusões; tudo isso significa a intensificação da energia do
“eu”, o que é sempre um fator de distorção. (Idem, pág. 215)

A arte de aprender dá esta clareza extraordinária, e uma grande destreza na ação; porém, sem essa claridade, a destreza gera o sentimento da própria importância, quer esse
sentimento se identifique consigo mesmo, quer com um grupo ou nação. O sentimento da própria importância nega a clareza. Sem claridade não pode haver compaixão, e porque
não há compaixão, a destreza se tornou tão importante. Se não há um despertar da inteligência (…) Essa inteligência tem sua própria ação; essa ação não é mecânica e, portanto, é
ação sem causa. (Idem, pág. 215)

Alguns dos alunos desta escola já estão envelhecidos, pois sua única preocupação é obter conhecimento e não aprender. O aprender encontra-se fora do tempo. (…) Impende
compreender a psique da pessoa em que se deu a mutação. Esta ocorreu quando ela negou o tempo. Vocês superaram o passado. Já não são hindus, nem cristãos. Assim
transformados, (…) como agirão nesse novo estado? (…) Descubram-no vocês próprios. (Ensinar e Aprender, pág. 81)

Para aprender, requer-se o escutar, e quando escutais há atenção. Estamos vendo, pois, que, para aprender, necessita-se de silêncio, atenção e observação. Esse processo, em seu
todo, é o aprender - não é acumular - é ir aprendendo, aprender agindo, em vez de “ter aprendido” e agir. São dois processos completamente diversos. Nós estamos aprendendo
quando estamos examinando, (…) observando - e isso não é o mesmo que ter aprendido e, depois, observar. Os dois movimentos são inteiramente diferentes. (Viagem por um Mar
Desconhecido, pág. 106)

O que agora estamos fazendo é “aprender agindo”, porque vós não estais sendo ensinados. Aqui não há instrutor nem discípulo. Não há guru de espécie alguma. Porque cada um
tem de alumiar seu caminho com sua própria luz e não com a luz de outrem. Se caminhardes com a luz de outrem, ela vos levará à escuridão. (Idem, pág. 106)

O aprender está no agir e não no ser ensinado (exceto tecnologicamente; tecnologicamente, tenho de ser ajudado a compreender o cérebro eletrônico, etc.). Ninguém pode
ensinar-vos, e vós mesmos é que tendes de iniciar esse aprender. O que outro ensina não é a verdade. O seguidor destrói a verdade, tanto quanto o guru a destrói. Por conseguinte,
vós tendes de aprender; e o aprender está no agir. Eis a beleza do aprender. Esse aprender torna-se uma alegria, um deleite (…). (Idem, pág. 107)

Só aprendemos quando a mente está de todo quieta; (…) Se, por exemplo, estais escutando o que se está dizendo com idéias, opiniões, com conhecimentos anteriormente adquiridos,
ou se estais comparando o que ouvis com o que outro disse, não há aprender. Só podeis aprender, escutando. Escutar é um ato silencioso; só a mente que está em silêncio, mas ao
mesmo tempo em plena atividade, pode aprender. (A Suprema Realização, pág. 22)

(…) Pois estamos sempre satisfeitos com o conhecido; mas, se arranharmos a crosta do conhecido, não encontramos nada, depara-se-nos o vazio, o vácuo. E, por certo, é muito
importante que saiba a mente viver de modo integral dentro desse vazio, desse silêncio (…). Eis por que devemos compreender o que significa “aprender”. Além de certo limite,
nada mais podemos aprender, pois nada há que aprender, não há instrutor que possa ensinar-nos. E a esse ponto temos de chegar (…). (Visão da Realidade, pág. 204)

Só quando a mente se acha nesse estado de vazio em que não há conhecimento, (…) não há mais o experimentador aprendendo, acumulando - só então existe aquele esforço
criador, podendo expressar-se através de vários talentos e artes, sem causar mais sofrimentos. (Idem, pág. 204)

(…) O que se entende por disciplina? Conheceis o significado comum dessa palavra: controlar, subjugar, forçar o pensamento, pelo exercício, pelo exercício da vontade, a
ajustar-se a um padrão mais nobre. A disciplina supõe resistência, moldagem da mente, manter o pensamento numa certa direção, etc. (…). Na disciplina há divisão, ou seja,
“aquele que disciplina” e “aquilo que é disciplinado” - e por isso existe conflito perene. (…) (O Homem Livre, pág. 97)

A palavra “disciplina” significa aprender de um homem que sabe; supõe-se que vós não sabeis e tendes de aprender dele. (…) Mas, aqui, não a vamos empregar com o sentido de
aprender de outro, mas, sim, com o significado de observar a si próprio. A observação de si próprio exige uma disciplina em que não haja repressão, imitação, obediência, (…)
ajustamento; (…). O próprio ato de aprender é, em si, disciplina, já que requer muita atenção, grande energia e “intensidade”, e instantaneidade da ação. (Fora da Violência, pág.
21)

A disciplina imposta pelos pais, pela sociedade, pelas organizações religiosas, é ajustamento. Contra esse ajustamento vem a revolta - o pai quer obrigar o filho a fazer certas
coisas, este se rebela, etc. - tal é a vida baseada na obediência e no ajustamento; e há o contrário: rejeitar o ajustamento, para fazer o que se entende. (…) (A Questão do
Impossível, pág. 24)

Pergunta: É evidente que deve haver alguma espécie de disciplina nas escolas, mas como exercê-la?

Krishnamurti: É fato, senhor, que fizeram experiências na Inglaterra e noutros países, nas quais as escolas não tinham disciplina de espécie alguma; permitia-se às crianças
fazerem o que bem entendessem (…). Essas escolas não ignoram, naturalmente, que as crianças necessitam de alguma espécie de disciplina, no sentido de orientação; não com
rigorosos deveres e proibições, mas disciplina consistente de alguma espécie de advertência, sugestão ou alusão (…). (A Arte da Libertação, pág. 86-87)

Quando se examina a (…) disciplina, quer se trate de disciplina imposta, quer de autodisciplina, percebe-se que ela é uma forma de ajustamento, interior ou exterior, a um dado
padrão, memória, experiência. E nós nos rebelamos contra essa disciplina. (…) Entretanto, é fácil perceber que há necessidade de certa disciplina na vida - disciplina que não seja
mero conformismo, ajustamento a um padrão, não baseada no medo, etc.; porque, se nenhuma disciplina existe, não se pode viver. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 122-123)

A palavra disciplina, na sua raiz, significa aprender. E para aprender acerca de alguma coisa (…) é preciso disciplina; (…). O próprio ato de aprender é disciplina, o que liberta de
toda repressão, de toda imitação. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 49-50)

(…) Muito poucos no mundo somos disciplinados, (…) no sentido de estar aprendendo. A palavra “disciplina” deriva do vocábulo discípulo, (…) aquele cuja mente está aprendendo
- não de uma pessoa particular, ou de um guru, de um mestre, de um predicador, ou por meio de livros, senão que aprende através da observação de sua própria mente, de seu
próprio coração; aprende de suas próprias ações. E esse aprender requer certa disciplina. (…) Onde há amoldamento, obediência e imitação, nunca existe o ato de aprender - há
apenas seguimento, (…). (La Llama de la Atención, pág. 23)

Disciplina não significa reprimir e controlar, nem tampouco ajustamento a um padrão ou a uma ideologia; significa que a mente vê “o que é” e aprende de “o que é”. A mente é
então sobremodo desperta, vigilante. (…) (A Questão do Impossível, pág. 24)

Compreendendo-se a liberdade, compreende-se também o que é disciplina. (…) A liberdade e a disciplina se acompanham sempre, não são coisas separadas. (…) A mente que está
aprendendo, observando, vendo realmente “o que é”, não está interpretando “o que é” em conformidade com os seus desejos, seu condicionamento, seus particulares prazeres.
(Idem, pág. 24)

Como sabem, liberdade é algo que a maior parte de nós não quer. Desejamos libertar-nos de determinada coisa, das necessidades ou das pressões imediatas (…). Liberdade não é
licenciosidade, não é fazer o que apetece - a liberdade exige uma disciplina tremenda, que não é a disciplina do soldado, (…) da repressão e do conformismo. (O Mundo Somos Nós,
pág. 49)

Jovens, Idosos; Distinção Psíquica, Física Irrelevante


Pergunta: Tendes uma mensagem especial para a juventude?

Krishnamurti: Senhores, há muita diferença entre os jovens e os velhos? A juventude, os moços, se têm qualquer grau de vitalidade, estão cheios de idéias revolucionárias, cheios de
descontentamento. (…) Têm de ser assim, pois do contrário seriam já velhos. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 80)

Como dizia, se os jovens não têm aquele descontentamento revolucionário, são já velhos; e os velhos são aqueles que estiveram descontentes outrora, mas se estabilizaram. Querem
segurança, (…) permanência, seja em seus empregos, seja em suas almas. Querem certeza nas idéias, nas relações ou na propriedade. (…) (Idem, pág. 80)

Se em vós, que sois jovens, existe um espírito de indagação que vos faz desejar a verdade relativa a qualquer coisa, (…) e se não estais presos pela tradição, sereis então os
regeneradores do mundo, os criadores de uma nova civilização, de uma nova cultura. Mas, à semelhança de nós outros, (…) da velha geração, os jovens também desejam
segurança, certeza. (…) Por conseguinte, submetem-se e aceitam a autoridade dos mais velhos. (…) (Idem, p. 81)

O descontentamento, que é a própria chama da indagação, da busca, da compreensão - esse descontentamento baixa de nível na mediocridade, tornando-se apenas desejo de um
emprego melhor, de um casamento rico, de um diploma. (…) Sem dúvida, o que é essencial para os velhos e para os novos é que vivam integralmente, completamente. Para se viver
integral e completamente é necessário liberdade (…); e só pode haver liberdade quando há virtude. A virtude não é imitação; a virtude é o viver criador. (…) (Idem, pág. 81)

Não estou interessado em guiar-vos (…) para adotardes determinado padrão. Mas nós estamos muito interessados no problema da transformação. (…) Por exemplo, (…) quando
jovens, somos muito insatisfeitos, descontentes; investigamos, tateamos, enveredamos por diferentes caminhos, buscando o saber, o esclarecimento; procuramos um guru, um
Mestre que possa ajudar-nos a sair do nosso descontentamento e pôr fim à nossa busca (…). (O Problema da Revolução Total, pág. 50)

No momento em que encontramos alguém capaz de dar-nos o saber, um método de ação, (…) de vida, acaba a nossa insatisfação, e ficamos a seguir tal padrão de pensamento
durante anos e anos. É o que acontece com a maioria de nós, não? (…) no momento em que me junto a um grupo, esperando que isso produzirá a transformação, acaba-se o
descontentamento. (…)(Idem, pág. 51)

(…) Para os jovens, o mundo é cruel demais; para eles, o que as gerações mais velhas fizeram do mundo é aterrador demais. Não há lugar para eles, (…) estão perdidos; então
viciam-se em drogas e na bebida; todos os tipos de coisas estão acontecendo com os jovens no mundo: comunidades, orgias sexuais, fugas para a Índia, para gurus, para encontrar
alguém que lhes diga o que fazer - alguém em que possam confiar. (Perguntas e Respostas, pág. 72)

Eles vão lá, jovens, inocentes, sem saber; e os gurus lhes dão a sensação de que estão sendo protegidos e guiados - isso é tudo o que eles querem. Eles não conseguem isso de seus
pais, dos padres (…), de seus psicólogos, porque (…) estão igualmente confusos (…). (Idem, pág. 72)

De igual modo, a geração mais velha está na mesma posição, só que expressam isso com mais sofisticação. (…) Mas ninguém pode servir de guia, nem pode iluminar ninguém.
Somente você mesmo pode fazer isso; mas você deve ficar completamente só. Isso é o que amedronta velhos e jovens. (…) Entenda isso de uma forma bem profunda (…). (Idem,
pág.72)

Vocês, jovens, da nova geração, só poderão criar um mundo totalmente diferente se forem educados para serem livres (…). Por isso, é muito importante, enquanto são jovens, serem
verdadeiros revolucionários - o que significa não aceitar coisa alguma, mas inquirir sobre todas as coisas a fim de descobrir a verdade. Só então poderão criar um mundo novo.
Caso contrário, ainda que os chamem por um nome diferente, vocês estarão perpetuando o mesmo velho mundo de miséria e destruição que sempre existiu até agora. (O Verdadeiro
Objetivo da Vida, pág. 162)

Pergunta: Muitos jovens já me têm dito: “Sentimo-nos frustrados; não sabemos o que fazer na crise atual (…)”

Krishnamurti: Há muitas questões encerradas nessa pergunta. (…) Em primeiro lugar, sentimo-nos frustrados. Desejais uma coisa e não a obtendes; sentis-vos derrotados (…).
Desejais um emprego, não o conseguis (…). Desejais desposar uma dama, não o podeis (…). Ambiciono poder e posição, sou contrariado (…). Há, portanto, frustração constante.
(Uma Nova Maneira de Viver, pág. 20-21)

Porque há vácuo em vós mesmos, sentis-vos vazios - econômica, psicologicamente, e espiritualmente vazios. Julgais possível preencher o vosso vazio com a obtenção do que
desejais. Mas, se atentardes bem, descobrireis que jamais podereis preencher esse vazio. (…) Isso é um fato psicológico. (Idem, pág. 21)

Mas, que é esse vazio? (…) Para o compreenderdes, é preciso que abandoneis as tentativas de o preencher. Tentar enchê-lo equivale a querer encher um balde furado. O líquido
estará sempre a vazar (…). (Idem, pág. 21)

É no próprio problema que está contida a solução, e não fora dele. Assim sendo, se compreendêssemos a frustração e todas as suas conseqüências, todas essas questões poderiam
ser resolvidas de modo relativamente simples. (Idem, pág. 21)

Se considerarmos atentamente todos esses problemas (…) A única solução para o conflito e a confusão é, afinal, a Verdade, que liberta. Para fazerdes vir a vós a Realidade ou a
Verdade, é necessário que estejais livres de todos os vínculos (…). Se trabalharmos com este empenho, faremos nascer a claridade dentro de nós. (Idem, pág. 22-23)

Que entende por “envelhecer”? Envelhecendo por longa permanência no trabalho? Envelhecendo em termos de rotina, de tédio? Que quer dizer ao aludir à idade? O que o torna
mais velho? O organismo vai-se desgastando? Por que motivo? Será em virtude de doença, ou por haver repetição no próprio viver, como uma máquina que trabalha sem cessar? A
psique se mantém adormecida; funciona apenas pelo hábito. Desse modo, é rápido o envelhecimento do corpo. (Ensinar e Aprender, pág. 73-74)

Por que envelhece a psique? Ela tem mesmo de envelhecer? Penso que não. Será a idade adiantada apenas um hábito? Já repararam em como os velhos comem, como falam? Será
possível manter a psique extraordinariamente jovem, viva, ilesa? Poderá ela conservar essa vitalidade, sem jamais perdê-la em decorrência do hábito, da idéia de segurança, de
exigências da família e de responsabilidades? Por certo, isso é possível, o que impõe a destruição de quanto construíram. (Idem, pág. 34)

Pergunta: Um dia sucede ao outro, e a velhice e a morte se vão aproximando inexoravelmente. (…) Ensinai-me a enfrentar a velhice e a morte com serenidade.

Krishnamurti: Que se entende por velhice? (…) O organismo físico evidentemente se gasta pelo longo uso. Isso é velhice? Ou velhice é a deterioração da mente? Uma pessoa pode
ser jovem, sadia, forte e, no entanto, ser velha, se sua mente já estiver encaminhada para a deterioração. (O Homem Livre, pág. 161)

Que se entende, pois, por velhice? (…) Referimo-nos ao estado da mente que envelheceu por não ter “inocência”. (…) A mente está velha quando não é “fresca”, quando só pensa
em termos de passado (…). Eis a mente que não é jovem. E pode a mente tornar-se nova, inocente, fresca? Pode renovar-se a cada momento, de modo que nunca envelheça? Ora,
este é que é o nosso problema (…). (Idem, pág. 161)

Quais são os fatores da deterioração? (…) Só a mente pura pode aprender, não aquela carregada de conhecimentos e, portanto, já velha. Assim, como pode a mente tornar-se nova,
fresca, purificada? Compreendeis (…)? (Idem, pág. 162)

Não importa se o organismo físico é novo ou velho, a mente se acha velha quando está fixada, moldada, funcionando numa rotina, num círculo de medo; e como pode ela tornar-se
viçosa (…)? (O Homem Livre, pág. 162)

(…) Ora, só se morrer para o passado, para tudo o que conhece. (…) Seria possível morrer para “minha casa”, (…) “meu deus”, “minha necessidade”, “minha crença”, “minha
tradição”, para todas as impressões, compulsões, influências que me formaram, e ao mesmo tempo estar cônscio de minha família, da beleza de uma árvore, (…) de uma flor, (…)
do céu? (Idem, pág. 162)

Pergunta: Dizeis que as pessoas de idade estão sempre inquietas (…). Nunca vistes pessoas mais novas fazerem a mesma coisa? (…)

Krishnamurti: Ora, sabe-se que os jovens são grandes imitadores (…). São o mesmo que macacos, para imitar. Vêem alguém fazer uma coisa, e imediatamente a fazem também. Já
não notastes como as crianças gostam de vestir-se de modo igual? (…) É forte nos jovens o processo imitativo; e, por isso, quando observam os mais velhos, se põe a imitá-los; e,
uma vez que tanto os mais velhos como os jovens não estão bem cônscios do que estão fazendo, o círculo vai-se dilatando cada vez mais. (Debates sobre Educação, pág. 86)

Os mais velhos põem uma veste sagrada, e os jovens põem também uma veste sagrada. Uns velhos põem turbantes, e os jovens põem também turbantes. (…) Mas, o que é importante
para vós é que observeis a vós mesmos, que estejais cônscios de vós mesmos, de vossas ações. (…). Deixareis então de praticá-las. (…) (Idem, pág. 86-87)
Assim, o mundo se encontra em tamanha desgraça porque não existe aquela capacidade de criar. Para vivermos criadoramente, não podemos ficar na simples imitação, seguir
Marx, ou a Bíblia, ou o Bhagavad-Gita. (Novo Acesso à Vida, pág. 82)

A atividade criadora é gerada pela liberdade, e só pode haver liberdade quando há virtude, e a virtude não é resultado do processo do tempo. A virtude vem quando começamos a
compreender o que é, em nossa existência de cada dia. (Idem, pág. 82)

Logo, para mim, a divisão entre velhos e moços é um tanto absurda. Senhores, a maturidade não é questão de idade. Embora, na maioria, sejamos mais velhos, nós somos infantis,
temos medo (…). Os que são velhos buscam a permanência, (…) garantias confortadoras, e os moços querem também a segurança. (Idem, pág. 82)

Não há, pois, diferença essencial entre velhos e moços. Como disse, a maturidade não reside na idade: vem com a compreensão (…). A preservação dessa energia para a
investigação, para descobrir a realidade, requer muita educação - educação que não seja simples conformidade a um padrão (…). (Idem, pág. 82)

Temos de aprofundar esta questão da seriedade, porque a vida é um movimento em ação. Não podemos ficar inertes (…). Estamos colhidos no movimento do que foi, e os moços
dizem: “Nós somos a nova geração.” Não são. Para compreender tudo isso, temos de investigar o que é a ação em liberdade. (…) Pode a mente libertar-se de seu condicionamento,
e podem também libertar-se as células cerebrais (…) que têm seus próprios padrões de reação? (A Importância da Transformação, pág. 38-39)

O investigar requer paciência; os jovens são impacientes, querem resultados instantâneos, e isso significa que ainda não compreenderam o processo total do viver. Se se
compreender a totalidade do viver, virá uma ação instantânea, inteiramente diferente da ação imediata da impaciência. (…) (A Questão do Impossível, pág. 18)

Dependência, Emancipação; Paternalismo, Liberdade


Quando somos muito novos, criancinhas, dependemos da mamãe para ganharmos nosso leite. Precisamos de proteção, vigilância, carinhos. À mesma lei então sujeitas as aves e
todos os animais. É uma coisa natural. Mas, se, depois de crescermos, continuamos dependendo de alguém para nossa felicidade, (…) conforto, orientação, segurança, então, como
resultado dessa dependência, surge o temor. (…) A dependência faz-nos embotados, insensíveis, medrosos. (…) A dependência a que me refiro é a dependência psicológica, a busca
psicológica de proteção. (…) (Debates sobre Educação, pág. 165)

Quando vocês dizem que amam alguém, não dependem interiormente dessa pessoa? Enquanto forem crianças, naturalmente dependerão de seus pais, de sua professora, de seus
guardiães. Eles precisam cuidar de vocês, alimentá-los, vesti-los e abrigá-los. Vocês precisam ter a sensação de segurança, (…) de que alguém está cuidando de vocês. (O
Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 71)

Mas o que acontece geralmente? À medida que vocês crescem, essa sensação de dependência continua a existir (…). Não observaram já em pessoas mais velhas, em seus pais e
professores? Notaram como eles ainda dependem emocionalmente de suas esposas ou maridos, de seus filhos ou de seus próprios pais? (Idem, pág. 72)

Quando cresce, a maioria das pessoas ainda continua apegada a alguém (…) a ser dependente. Se não tiverem alguém em quem se apoiarem, que lhes dê a sensação de conforto e
segurança, as pessoas se sentem sós (…). Elas se sentem perdidas. Essa dependência que temos em relação aos outros é chamada de amor; mas se vocês observarem isso de perto,
verão que dependência é medo, e não amor. (Idem, pág. 72)

A maioria de nós tem medo de ficar só, (…) de pensar por si mesmo, medo de sentir profundamente, de explorar e descobrir todo o significado da vida. Por isso essas pessoas dizem
que amam a Deus, e elas dependem daquilo a que chamam Deus; mas não é Deus, não é o desconhecido, é algo criado pela mente. (Idem, pág. 72)

Fazemos o mesmo com um ideal ou uma crença. Creio em alguma coisa, ou entrego-me a um ideal, e isso me dá grande conforto; mas removam o ideal, (…) a crença, e eu estarei
perdido. Ocorre o mesmo com um guru. (…) É também isso o que ocorre quando vocês dependem dos pais ou dos professores. É natural, e é certo, que isso ocorra quando vocês são
jovens; mas, se continuarem dependentes depois de maduros, isso os tornará incapazes de pensar, de ser livres. Onde há dependência, há medo, e, onde há medo, há autoridade,
não amor. (…) (Idem, pág. 72)

Há dependências físicas de que podemos tornar-nos cônscios (…), como a dependência do fumo, das drogas, da bebida e outros estimulantes físicos de que dependemos
psicologicamente. Em seguida, as diversas formas de dependência psicológica. Estas têm de ser observadas mui atentamente, já que se interpenetram, estão mutuamente
relacionadas; (…) dependência de uma pessoa, de uma crença, de uma relação, de um hábito psicológico de pensamento. (…) (A Questão do Impossível, pág. 115)

Ora, para a maioria de nós, as relações com outrem estão baseadas na dependência econômica ou psicológica. Essa dependência cria temor, gera (…) possessividade, dá lugar a
atritos, suspeitas, frustrações. (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 52)

A dependência econômica de outrem pode talvez ser eliminada pela legislação e organização adequada, mas me refiro especialmente àquela dependência psicológica de outrem
que é a manifestação da ânsia pela satisfação pessoal, pela felicidade, etc. (…) (Idem, pág. 52)

Não sei se já notastes que quase todos nós desejamos certa espécie de segurança, (…) de alguém em quem possamos amparar-nos. Como a criança que se agarra à mão da mãe,
precisamos de alguma coisa a que nos agarrarmos, (…) precisamos de quem nos ame. (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 50-51)

Porque nos acostumamos a arrimar-nos a outros, a depender de outros para nos guiarem e ajudarem, quando nos vemos entregues a nós mesmos ficamos confusos, cheios de medo,
sem saber que fazer, que pensar, como agir. Sentimo-nos inteiramente perdidos, inseguros, incertos. E daí surge o temor (…). (Idem, pág. 51)

(…) Mas, posso em algum tempo estar em segurança, (…) protegido, por maiores que sejam as defesas que tenho, exterior e interiormente? Que segurança haverá, se meu banco
falir amanhã, se meu pai ou minha mãe morrer amanhã (…)? E, interiormente, existe alguma segurança nas minhas idéias? (…) (Idem, pág. 53)

(…) Sempre que dependemos, temos medo; e onde há temor, não há amor. Onde existe amor, não estais sós. Só existe o sentimento de solidão quando sentimos medo, quando não
sabemos que fazer. (…) e, quando existe temor, estais completamente cegos. (…) (Idem, pág. 55)

Ao vos observardes interiormente, não descobris dois princípios ativos: o medo e o prazer? Não vedes que o prazer assume diferentes formas - ora é busca de Deus, ora desejo de
ser pessoa importante (…)? Como dissemos, medo e prazer constituem nossos principais movimentos (…); e porque, inconscientemente, tendes medo, vos tornais apegado,
dependente de alguma pessoa - vossa mulher, vosso marido ou vosso guru. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 156)

Eis, pois, o que a dependência implica. Ora, temos a possibilidade de libertar-nos dessa dependência? Porque, em geral, gostamos de ser possuídos. (…) Gostamos de pertencer a
alguém, (…) a um grupo (…) padrão de ação, para termos o sentimento de estar vivendo virtuosamente. Desse modo, observando bem a dependência, podeis ver, por vós mesmos,
que na base dela está o medo. (…) (Idem, pág. 156-157)

Um dos nossos numerosos problemas parece ser o da dependência - esta nossa dependência de pessoas, para nossa felicidade, dependência de capacidade (…). E a questão é: Pode
a mente, em algum tempo, estar totalmente livre de toda dependência? (…) (Transformação Fundamental, pág. 69)

Naturalmente, não estamos falando da dependência superficial; mas, no nível mais profundo, encontra-se aquela dependência psicológica, de certa segurança, de certo método que
garanta à mente um estado de permanência; (…). (Idem, pág. 69)

Por que é que dependemos? Psicologicamente, interiormente, dependemos de uma crença, um sistema, uma filosofia; pedimos a outrem uma norma de conduta; procuramos
instrutores, em busca de uma maneira de vida (…). Tem a mente possibilidade de libertar-se dessa idéia de dependência? Com isso não quero dizer que a mente deva conquistar a
independência - o que só seria uma reação à dependência. (…) (Idem, pág. 69)

(…) Talvez, se pudermos examinar este problema de maneira verdadeiramente inteligente, com plena atenção, talvez então possamos descobrir que não é, em absoluto, a
dependência que constitui o problema, que ela é apenas um modo de fugirmos a um fato mais profundo. (Transformação Fundamental, pág. 70)
Como dizia, por que dependemos e fazemos da dependência um problema? (…) Qual é, pois, esse fator mais profundo? É a mente detestar e temer a idéia de estar só? E será que a
mente conhece esse estado que está evitando? (…) (Idem, pág. 71)

Mas, se sou capaz de perceber o fator que é o meu depender de uma pessoa, de Deus, da oração, de certa capacidade, (…) fórmula ou conclusão que chamo “crença” - talvez então
eu possa descobrir que tal dependência resulta de uma exigência interior a que nunca prestei atenção, nem levei em conta. (Idem, pág. 71)

Considero, com efeito, essa questão sumamente importante. Porque, enquanto aquela solidão não for realmente compreendida, sentida, penetrada, dissolvida (…), enquanto
persistir este sentimento de solidão, será inevitável a dependência, nunca seremos livres, nunca poderemos descobrir por nós mesmos o que é verdadeiro, o que é religião. (Idem,
pág. 71-72)

Enquanto estou dependendo, tem de haver alguma autoridade, tem de haver imitação, (…) compulsão, sob diferentes formas, (…) disciplinamento segundo dado padrão. Pode, pois,
a mente descobrir o que é “estar na solidão”, e passar além - de modo que seja posta em liberdade e não dependa mais das crenças, dos deuses, dos sistemas, das orações, nem de
coisa alguma? (Idem, pág. 72)

Enquanto há apego, dependência, tem de haver “exclusão” (separação). Depender de nacionalidade, (…) grupo, (…) raça, (…) pessoa ou crença é evidentemente um fator de
separação. Assim, é provável que a mente esteja sempre, como entidade separada, a buscar isolamento e a evitar um fator mais profundo, que realmente é separativo: o processo
egocêntrico de seu próprio pensar, que gera solidão. (…) (Idem, pág. 72)

A dependência não é a negação da liberdade? Tirem-se-lhe a casa, o marido, os filhos, as posses - que é um ente humano, se tudo isso lhe é retirado? Em si próprio, ele é
insuficiente, vazio, sem rumo. Assim, por causa desse vazio, de que tem medo, ele depende (…). Assim, estais vendo que temos agora três questões: a sensibilidade, a dependência e
o medo? Três coisas relacionadas entre si. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 23-24)

(…) Se o indivíduo é suficientemente sensível, torna-se cônscio de sua medonha vacuidade - desse abismo sem fundo, que não se pode encher com o vulgar entretenimento das
drogas, (…) das diversões sociais; (…). Sabendo disso, cresce o medo. (…) A questão, pois, agora, é de ultrapassarmos esse vazio, essa solidão, não de aprendermos a depender de
nós mesmos, ou de disfarçarmos permanentemente o nosso vazio. (Idem, pág. 24-25)

Pergunta: Como é possível libertarmo-nos da dependência psicológica de outros?

Krishnamurti: Por que dependemos psicologicamente de uma coisa? Evidentemente porque, interiormente, somos insuficientes, pobres, vazios, (…) nos vemos tão sós! E é essa
solidão, esse vazio, essa extrema pobreza, esse enclausuramento em nosso “eu”, que nos faz depender de uma pessoa, de nosso saber, de nossa propriedade, de opiniões (…).
(Verdade Libertadora, pág. 123)

Ora, pode a mente tornar-se perfeitamente cônscia do fato de sua solidão, sua insuficiência, seu vazio? É muito difícil perceber esse fato (…) porque estamos sempre procurando
fugir-lhe; (…) escutando o rádio e entretendo-nos de outras maneiras, (…) pelo depender de pessoas e de idéias. (Idem, pág. 123)

Para conhecermos nosso próprio vazio, temos de olhá-lo diretamente; mas não podemos fazê-lo se nossa mente estiver sempre buscando distração (…). E essa distração assume a
forma de apego a uma pessoa, à idéia de Deus, (…) dogma ou crença, etc. (Idem, pág. 123-124)

Assim, ao compreender a futilidade, a total inutilidade de tentar preencher o vazio com a dependência, o saber, a crença, estará a mente capacitada a encará-lo sem temor. E pode
a mente continuar a encarar esse vazio, abstendo-se de avaliação? (…) (Verdade Libertadora, pág. 124)

Quando a mente se acha perfeitamente cônscia de que está a fugir de si mesma; quando compreende a futilidade dessa fuga e percebe que o próprio processo de fuga gera medo -
(…) ela poderá encarar o que é. (…) (Idem, pág. 124)

Mas, para descobrirmos isso por nós mesmos, temos de compreender o “processo” da fuga. Na própria compreensão da fuga, a fuga se detém e a mente se torna capaz de
observar-se. Ao observar-se, não deve haver avaliação, nem julgamento. O fato, em si, se torna então importante (…); a mente, por conseguinte, já não está vazia. (…) (Idem, pág.
125)

Podemos, pois, encarar, sem nenhuma avaliação, o fato de nosso vazio psicológico, nessa solidão, causador de tantos outros problemas? (…) Então, aquilo que temíamos, por ser
solidão, vazio, já não é vazio. Já não há, então, dependência psicológica de coisa alguma; então, o amor já não é apego, porém coisa totalmente diferente, e as relações têm outra
significação. (Idem, pág. 125)

Naturalmente, a grande maioria das pessoas vivem a fugir de si mesmas. Mas, pelo fugirdes de vós mesmos, vos tornastes dependentes. A dependência se torna mais forte e as fugas
mais essenciais, em proporção com o medo do que é. A esposa, o livro, o rádio, adquirem extraordinária importância; (…). Porque me sirvo de minha mulher como meio de fugir de
mim mesmo, estou apegado a ela. Tenho de possuí-la (…); e ela gosta de ser possuída, porque também se está servindo de mim. É uma necessidade comum de fuga (…).
(Comentários sobre o Viver, 1ª ed. pág. 198)

Isso está bastante claro. (…) Mas por que foge uma pessoa? De que foge? De sua própria solidão, seu próprio vazio, daquilo que é. Se fugirdes do que é, sem o verdes, é bem
evidente que não o compreendereis; portanto, em primeiro lugar, deveis parar, deixar de fugir, pois, só então, podereis observar a vós mesmos, tal como sois. Mas não podeis
observar o que é, se estais sempre a criticá-lo (…). Vós o chamais solidão e fugis dele; e a própria fuga ao que é, é medo. Tendes medo dessa solidão, desse vazio, e a dependência é
o manto com que o cobris. (…) (Idem, pág. 198)

Nada podeis fazer a esse respeito. Tudo o que fizerdes será sempre uma atividade de fuga. (…) Podereis ver, então, que não sois diferentes nem estais separados daquela vacuidade.
Sois aquela insuficiência. O observador é o vazio observado. Depois, se fordes mais longe, não lhe dareis mais o nome de solidão; cessou a verbalização; e, se fordes mais além,
(…) a coisa conhecida como solidão não existirá mais; ocorrerá o completo desaparecimento da solidão, do vazio, do pensador, do pensamento. Só isso põe fim ao temor. (Idem,
pág. 198-199)

Desejo examinar convosco o problema da liberdade. (…) Muito se fala da liberdade - liberdade religiosa e liberdade de o indivíduo fazer o que deseja. (…) Mas eu penso que
podemos considerá-la de maneira muito simples e direta, e chegar, talvez, à solução verdadeira. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 16)

E, para poderdes observar, (…) deve a vossa mente estar livre de preocupações (…). Não deve estar ocupada com problemas, com tribulações, com especulações. É só com a mente
muito tranqüila que se pode observar realmente, porque, então, a mente é sensível à beleza extraordinária. E talvez tenhamos aqui a chave de nosso problema da liberdade. (Idem,
pág. 16)

Pois bem, que significa ser livre? Consiste a liberdade em poderdes fazer o que acaso vos convém, em irdes aonde vos aprouver, em pensar o que quiserdes? (…) A mera
consciência de se ter independência, significa liberdade? Muita gente neste mundo é independente, mas pouquíssimos são livres. Liberdade implica grande soma de inteligência,
não? (…) (Idem, pág. 16)

Pode-se ver que exteriormente não somos livres. Em nossos empregos, (…) religiões, (…) pátrias, (…) relações, (…) idéias, crenças e atividades políticas, não somos livres.
Interiormente, também, não somos livres, porque não conhecemos nossos “motivos” (…) impulsos, compulsões, exigências inconscientes. Assim, não há liberdade, nem interior nem
exteriormente (…). Mas, em primeiro lugar, cumpre-nos perceber esse fato, pois em geral recusamo-nos a percebê-lo; sofismamos a respeito dele, encobrimo-lo com palavras, com
idéias, etc. O fato é que, tanto na esfera psicológica, como na exterior, desejamos segurança. (…) (O Passo Decisivo, pág. 203)

Mas, se estais interessado na libertação total (…) de todas as dependências psicológicas; se isso vos interessa realmente, não pedireis então nenhum método, nenhuma “maneira”.
Fazeis, nesse caso, uma pergunta muito diferente (…). Perguntais, então, se podeis ter a capacidade de vos libertardes da dependência (…) (Poder e Realização, pág. 62-63)

Quando sei que posso ter aquela capacidade, então o problema deixa de existir. (…) Entretanto, porque não tenho a capacidade, quero ser ensinado. E crio, assim, (…) uma pessoa
que irá libertar-me, salvar-me. E dessa pessoa fico dependente. (Idem, pág. 63-64)
O simples desejo não resulta em liberdade. (…) Todos desejam ser livres e, por conseguinte, querem exprimir-se - falar de sua raiva, sua brutalidade, ambição, espírito de
competição, e assim por diante (…). Liberdade não é fazer o que a pessoa quer, porque o homem não pode viver isolado. Até o monge, o sannyasi, não se sente livre para fazer o
que bem entender; é obrigado a lutar pelo que deseja, a manter luta íntima, a questionar-se dentro de si mesmo. A liberdade interior requer imensa inteligência, sensibilidade,
capacidade de compreensão. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 27)

(…) Ou a liberdade é algo inteiramente diferente da reação, algo de autônomo, livre de motivo, independente de qualquer inclinação, tendência e circunstância? (…) Ou a
liberdade é um estado de espírito tão intensamente ativo e vigoroso, que lança para longe toda e qualquer forma de dependência, de servidão, de conformismo e aceitação? (…) Tal
liberdade implica solidão completa (…). Liberdade dessa espécie significa, de certo, “estar só”. (…) (Como Viver neste Mundo, pág. 57)

(…) Mas a liberdade não existe nem pode existir cercada de limitações. (…) Por exemplo: dizeis que vossos pais ou mestres sabem o que é certo e o que é errado; pelo menos
pensais que eles sabem. (…) Sabeis (…) o que a religião disse, o que disse o sacerdote, (…) o que aprendestes na escola, o que diz a tradição. E viveis dentro desses limites, dessa
clausura. (…) Pode ser livre um homem que vive numa prisão? (Novos Roteiros em Educação, pág. 31-32)

Visto isso, pois, o que devemos fazer é arrasar as muralhas que nos cercam e descobrir por nós mesmos o que é real, o que é verdadeiro, benéfico. Cumpre-nos experimentar,
investigar, e não apenas seguir alguém; (…). (Idem, pág. 32)

Não há liberdade intelectual; e liberdade significa energia, vitalidade, “intensidade”; a liberdade vos proporciona extraordinária energia. Mas, essa liberdade vós a rejeitais
totalmente, aceitando a autoridade (…) do professor, (…) de vossos guias espirituais; e essas pessoas não são espirituais, pois se arvoram em guias dos outros. Não sois livres,
intelectualmente; e, moralmente, sois sentimentais, devotados a certa divindade ou pessoa. Isso não produz energia, mas, sim, medo. Só há energia quando perdeis completamente
de vista o vosso “eu”, quando há total ausência do “eu”. (…) (O novo Ente Humano, pág. 128)

O homem livre, (…) que nada teme, que tem uma mente lúcida, cujo coração é vigoroso, forte, enérgico - nunca necessita de ajuda. E nós, vós e eu, temos de manter-nos de pé,
completamente sós, sem ajuda de ninguém. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 176)

Só quando se exige liberdade completa e se mantém essa liberdade, pode-se encontrar, pelas corretas vias de acesso, a realidade (…) que libertará o homem. Mas, uma das coisas
mais difíceis é percebermos que precisamos estar completamente sós, inteiramente entregues a nós mesmos. (Idem, pág. 176)

Só existe amor quando não há nenhuma forma de utilização e dependência. As exigências psicológicas, com sua inconstância e eterna busca, que levam à substituição de uma
dependência por outra, de uma crença por outra, de um compromisso por outro, é a própria essência do “eu”. Adotar uma idéia, um método, ou um dogma, ou pertencer a alguma
seita, é a origem e a essência do eu. (…) Ao libertar-se das exigências psicológicas, atinge o homem a maturidade. Dessa liberdade nasce uma paixão livre de motivo ou busca de
recompensa (Diário de Krishnamurti, pág. 66)

A dependência psicológica das coisas se manifesta por meio de miséria e conflito sociais. Por sermos pobres interna, espiritual e psicologicamente, pensamos que podemos
enriquecer-nos por meio de posses (…). Sem resolver fundamentalmente a pobreza psicológica do ser, a mera legislação social ou o ascetismo não podem solucionar o problema da
ganância, da ansiedade. (…) (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 25)

Maturidade, Seriedade, Verdadeiro, Falso; Conceitos


Assim, (…) percebemos a necessidade de uma revolução fundamental na própria estrutura do cérebro; “estrutura”, não no sentido biológico, porém estrutura de nosso pensar, o
padrão de nossos pensamentos, impulsos, ânsias. Para promover a revolução fundamental, necessita-se de grande quantidade de energia: e essa energia só pode tornar-se existente
quando há madureza - não a madureza que pensamos poder alcançar mediante o ajuntamento de muitos fragmentos. Mas, como suscitar essa madureza? (…) (Uma Nova Maneira
de Agir, 1ª ed., pág. 95)

Percebe-se a necessidade dessa revolução; (…). E como produzir essa madureza e essa energia? O indivíduo está amadurecido - não em relação ao tempo, à idade, etc. -
amadurecido, rico, completo, quando é capaz de olhar, de observar, de viver sem amargor, sem medo, sem desejo de preenchimento, pois isso denota falta de madureza. (…) (Idem,
pág. 95)

Quando compreenderdes, quando perceberdes, realmente, que não há, fora de vós, ninguém que possa ajudar-vos - nem deuses, nem gurus, nem políticos, ninguém - já não vos
achareis no estado de madureza? Estareis então livres do medo de errar, do medo de não fazer o que é certo. (…) (Idem, pág. 97)

Mas, para mim, a madureza é algo completamente diferente. Acho possível tornarmo-nos amadurecidos sem passar por todas as pressões e tribulações do tempo. Estar
completamente amadurecido, qualquer que seja a idade do indivíduo, significa ser capaz de enfrentar e resolver imediatamente qualquer problema que se apresente, em vez de
“transportá-lo” para o dia seguinte. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 168)

Assim, pois, ser “amadurecido” é aprender; não é “adquirir conhecimento”. (…) Mas achar-se no estado de madureza a que me refiro, significa a pessoa ver a si própria tal como
é realmente, momento a momento, sem acumular conhecimentos a respeito de si própria; porque essa madureza implica rompimento com o passado, e o passado é, essencialmente,
um empilhamento de conhecimentos. (Idem, pág. 168-169)

Mas, voltemos à nossa questão: como promover a madureza instantânea? A essa madureza está associada a energia; como produzi-la? Ou não existe método algum e o necessário é
apenas perceber a verdade, isto é, que depender de alguém, de (…) sistema ou filosofia, de um guru, é falta de madureza; perceber essa verdade instantaneamente. (Uma Nova
Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 102)

Senhor, para descobrirdes se Deus existe, deveis estar livre da idéia de Deus. Para descobrir, é necessário investigar, perquirir, indagar, interrogar. Isso, por certo, faz parte da
madureza. O fazer perguntas corretas, investigar corretamente, exige energia. (Idem, pág. 103)

A maturidade não vem com o tempo nem com a idade. Não existe intervalo entre o presente e o amadurecimento; (…). A maturidade é aquele estado no qual cessou toda forma de
escolha; só os imaturos escolhem e conhecem o conflito nascido da escolha. Na maturidade não existe direção qualquer, mas, sim, aquela que não vem da escolha.

(…) Qualquer espécie de conflito revela imaturidade. Não existe amadurecimento psicológico, a não ser o inevitável processo orgânico de crescimento. Maturidade é a
compreensão que transcende todo e qualquer conflito. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 63-64)

(…) Senhores, a maturidade não é questão de idade. Embora, na maioria, sejamos mais velhos, nós somos infantis, temos medo do que pensa a sociedade. (…) Os que são velhos
buscam a permanência, (…) e os moços querem também a segurança. Como disse, a maturidade não reside na idade: vem com a compreensão. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 82)

Estávamos falando sobre madureza? (…) A madureza tem alguma relação com a idade da pessoa? Tem alguma relação com a experiência, o saber, a capacidade? Tem alguma
relação com a competição e a acumulação de dinheiro? Se não, que é a madureza? Está ela em alguma relação com o tempo? (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 74)

(…) Assim, só a mente inocente é madura, e não aquela que acumula conhecimentos milenares. O conhecimento é necessário e tem significado num certo nível; mas o
conhecimento, o saber, não produz claridade, inocência. Só há inocência quando todo conflito terminou. Quando a mente já não está se movendo em nenhuma direção determinada,
uma vez que todas as direções foram compreendidas; acha-se ela, então, nesse estado de originalidade, que é a inocência, e, daí, pode atingir a imensidade onde se encontra o
Supremo; só então a mente é madura. (Idem, pág. 75)

Essa “qualidade”, essa madureza - devemos fazê-la depender do tempo, das circunstâncias, das inclinações ou de uma dada tendência? É ela como um fruto que amadurece
durante o verão e está prestes a cair no outono; que necessita de tempo, de muitos dias de chuva, de sol (…)? (…) Acho que não há tempo a perder e que devemos amadurecer de
pronto, não biológica ou fisiologicamente, porém interiormente tornar-nos total e completamente amadurecidos. (Como Viver neste Mundo, pág. 69)
Desejaria (…) discutir convosco o problema da busca e o que significa ser “sério”. (…) As pessoas ditas religiosas estão supostamente em busca da verdade, de Deus. (…) (Da
Solidão à Plenitude Humana, pág. 21)

Uma pessoa pode buscar, mas, se lhe falta “seriedade”, sua busca será dispersa, esporádica, desconexa. A “seriedade” acompanha sempre a busca, e é bem evidente que vos
achais aqui porque sois “sérios”. (…) (Idem, pág. 21-22)

Certamente, até os maiores cientistas têm de abandonar todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova; e se vós sois sérios, esse abandono do conhecimento, da
crença, da experiência tem de efetuar-se realmente. Os mais de nós somos um tanto “sérios”, quando se trata de nossas próprias conclusões, mas eu acho que isso de modo nenhum
é seriedade. (…) O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de abandonar as suas conclusões porque percebe que só assim está capacitado para investigar. (Idem, pág. 27)

Todo homem deve ser sério, porque só os sérios são capazes de viver uma vida completa, total. Essa seriedade não exclui a alegria, a jovialidade; mas, enquanto existir medo, não
haverá possibilidade de saber o que significa ter uma grande alegria. O medo parece ser uma das coisas mais comuns da vida (…). (Fora da Violência, pág. 57)

Estive a considerar o que significa ser sério. Em geral, temos a impressão de que somos bastante sérios; entretanto, nunca indagamos qual deve ser o estado da mente que de fato é
séria - de fato, e não apenas séria “em relação a alguma coisa”. (…) Tal é o caso do homem que toma “seriamente” uma bebida ou que “seriamente” se devota a uma idéia, (…)
causa, (…) compromisso, e se esforça por levá-lo a bom termo. (Encontro com o Eterno, pág. 19)

Consideramos “sérias” as pessoas que têm um conceito, idéia ou ideal a que se consagram lógica, brutal, impiedosamente, ou com certa simpatia humana. (…) É sério aquele que
segue determinado plano de ação (…), vivendo de acordo com tal padrão e, portanto, condicionado? Tal pessoa, para mim, não é de modo algum séria (…). (Idem, pág. 20)

Por “pessoa séria”, não entendo o indivíduo que está ligado a dado padrão de crença e que funciona em conformidade com essa crença; em geral, esse indivíduo é tido como ente
maravilhoso e sério; mas eu não o chamo “sério” (…). Também a pessoa que se devotou a determinado movimento, e dessa linha não se desvia, é considerada pessoa muito séria;
mas eu não a chamo “séria”. (…) (A Suprema Realização, pág. 11)

Assim, pela palavra “sério” entendemos coisa muito diferente. (…) Por “mente séria” entendo aquela que percebe o que é verdadeiro - não de acordo com um certo padrão de
crença ou certa autoridade (…). (Idem, pág. 11-12)

Pois bem, que é “estar sério, ser sério”? Podemos mostrar-nos sérios a respeito de coisas muito superficiais. Quando (…) uma jovem quer comprar um sari, poderá dispensar (…)
toda a sua atenção (…). (A Cultura e o Problema Humano, pág. 103)

Assim, pois, pode-se ser sério a respeito de coisas falsas. Mas, se começais realmente a investigar o que significa ser sério, vereis que há uma qualidade de seriedade que não se
traduz em atividade em torno de coisas falsas, que não é moldada segundo um padrão. (Idem, pág. 103)

(…) Somos muito sérios em relação a certas coisas que nos proporcionam grande prazer, satisfação; desejamos a todo custo cultivar esse prazer - seja o prazer do sexo, seja o do
preenchimento de uma ambição - um prazer qualquer. Mas bem poucos de nós são sérios no tocante ao percebimento do problema da existência, dos conflitos, das guerras, das
ânsias, dos desesperos, da solidão, do sofrimento.

Ser sério em relação a essas coisas fundamentais significa aplicar a elas uma atenção contínua, e não um simples e esporádico interesse (…). Aquela seriedade deve constituir a
base de nosso pensar, viver e agir; (…). Quanto mais sérios formos, interiormente, tanto mais madureza teremos. A madureza nada tem que ver com a idade (…). Não é questão de
acumular incontáveis experiências ou um saber imenso. (…) Só é possível essa madureza com o conhecimento mais amplo e mais profundo de nós mesmos. (Como Viver neste
Mundo, pág. 68-69)

Que entendeis por “seriedade”? Ser sério, ardoroso, implica naturalmente a capacidade de descobrir o que é verdadeiro. (…) Se a mente está acorrentada pelo saber, pela crença,
(…) à mercê das influências condicionadoras (…), pode ela descobrir alguma coisa nova? (…) (Visão da Realidade, pág. 42-43)

(…) A mente dividida por desejos distintos, cada qual a arrastá-la numa direção diferente, é capaz (…) de descobrir o que é verdadeiro? Por conseguinte, não é muito importante
possuirmos autoconhecimento, aplicar-nos seriamente à operação de compreender o “eu” com todas as suas contradições? (…) (Idem, pág. 43)

(…) Porque seriedade (…) supõe (…) aplicação ao aprender, quer dizer, aplicar toda a atenção a estudar não apenas determinada matéria, uma particularidade da vida, porém o
todo da vida, que é um campo imenso. (…) Sério, ardoroso, apaixonado, “intenso”, é aquele que procura compreender o inteiro processo da consciência, ou seja, o todo da vida.
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 110)

Por conseguinte, para o homem sério, que deseja aprender, o primeiro requisito é que esteja livre para investigar - isso significa não ter medo; que esteja livre para olhar,
observar, criticar; que seja inteligentemente cético, não aceite opiniões. (…) Como antes dissemos, quando caminhamos com a luz de outrem, essa luz nos levará à escuridão - não
importa quem seja o que nos oferece a luz. Mas, para podermos caminhar com a luz de nossa própria compreensão, é preciso atenção e silêncio e, por conseguinte, muita seriedade.
(Idem, pág. 110)

Pergunta: Que significa “ser sério”? Tenho a impressão de não ser “sério”.

Krishnamurti: Investiguemos (…). Não vou definir o que é “ser sério”; não aceiteis definições de espécie alguma. Se um homem deseja descobrir uma nova maneira de vida - uma
vida livre de violência, ( …) de total liberdade interior, e a esse descobrimento devota seu tempo, sua energia, seus pensamentos, tudo - a essa pessoa eu chamaria de homem sério.
Esse homem não se deixa facilmente desviar de seu intento; poderá buscar entretenimentos, mas sua rota está traçada. Isso não significa ser dogmático, obstinado, inadaptável. Ele
está pronto a prestar ouvidos a outros, a considerar, examinar, observar. (A Questão do Impossível, pág. 19)

Pode acontecer que, nessa seriedade, um homem se torne egocêntrico; esse egocentrismo, de certo, o impedirá de examinar; mas o “homem sério” tem de prestar ouvidos aos
outros, examinar, indagar constantemente; isso significa que ele deve ser altamente sensível. (…) Esse homem, pois, está sempre a escutar, a buscar, a investigar, a descobrir - com
um cérebro sensível, uma mente sensível, um coração sensível - que não são coisas separadas; está a investigar com esse todo (…). (Idem, pág. 19)

A mente vulgar, superficial, pode também tornar-se mui “séria”; mas, quando se torna “séria”, torna-se também algo absurda. Não sei se já notastes como as pessoas de mente
vazia se mostram, freqüentemente, muito sérias. São muito loquazes, tomam ares importantes (…); entretanto, continua a ser uma mente muito pouco profunda. (Experimente um
Novo Caminho, pág. 9)

E há, também, a mente muito lida, muito hábil no argumentar, no analisar, capaz de aduzir citações, extraídas de seu vasto reservatório de conhecimentos. Como muito bem sabeis,
esse tipo de mente é solerte, incisiva, hábil, mas eu não a chamaria de mente séria, nem tampouco à mente superficial que quer mostrar-se séria. (…) (Idem, pág. 9-10)

Chamo séria à pessoa que está constantemente olhando, observando, atenta a si própria e a outros, observando seus próprios gestos, palavras, sua maneira de falar, (…) de andar;
e que está também atenta às coisas que a cercam, às pressões, às tensões, à influência do ambiente, da “cultura” em que se criou, e à totalidade de seu próprio condicionamento.
(…) Só essa mente é capaz de exame refletido, de dedicar sua energia a descobrir algo além das coisas construídas pelo homem - algo que se possa chamar Deus. (…) (Idem, pág.
10)

(…) Para que possam ser resolvidos esses dois problemas fundamentais, a violência e o sofrimento, temos de ser sérios e possuir também certa capacidade de percebimento, de
atenção, porquanto ninguém pode resolvê-los para nós. (…) Para o homem sério, as autoridades perderam toda a importância. É claro que não tem sentido dependermos de
nenhuma autoridade (…). (A Essência da Maturidade, p. 10-11)

Ao que parece, há muito pouca gente verdadeiramente séria. Pela palavra “sério”, entendo ter a capacidade de examinar um problema até o fim e resolvê-lo. Resolvê-lo, não
conforme as inclinações pessoais ou o temperamento de cada um, ou sob pressão do ambiente, porém deixando tudo isso de parte e investigando até o fim a verdade relativa a dada
questão. Essa seriedade parece um tanto rara. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 10)
A maior parte de nós, em ficando graves, perde o senso de alegria. A seriedade sem alegria, (…) em muitos casos é artificial, e por isso deve ser evitada. (…) (O Reino da
Felicidade, pág. 26)

(…) Se cultivardes a seriedade com a alegria que decorre do fato de o terdes em vosso coração (o Eterno), como parte de vós mesmos, então essa seriedade se torna deleite em vez
de se tornar morbidez e expressões rudes. (…) (Idem, pág. 26)

Assim, pois, o descobrimento do que é verdadeiro no falso é a origem do descontentamento - não só naquilo que o orador diz, mas (…) no que dizem os políticos, (…) vossos gurus,
(…) livros (…). Ver o que é falso, ver também a verdade no falso, e ver a verdade como verdadeira. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 81)

Pensar negativamente é o começo da inteligência. E dessa inteligência tendes necessidade, para poderdes investigar o que é verdadeiro e o que é falso nas coisas que o homem
aprendeu desde a infância, como religião, como dogma, como crença (…). Dessa inteligência necessitais para questionar, (…) investigar, (…) descobrir o que é verdadeiro por vós
mesmos e sem precisardes ser instruído por outra pessoa sobre o que é a verdade. (…) (Idem, pág. 81)

Que é o falso? É falso tudo aquilo que o pensamento há acumulado - psicologicamente, não tecnologicamente. Noutras palavras, o pensamento há acumulado o “eu” e o “meu”,
com suas recordações, sua agressão (…) separatividade, suas ambições, sua competência, (…) imitação, seu medo; (…). De modo que o pensamento, como o “eu”, que em essência
carece por completo de realidade, é o falso. Quando a mente compreende o que é o falso, então aí está a verdade. (…) Uma mente que é ambiciosa, (…) que quer lograr algo, (…)
que é agressiva, competitiva, imitativa, (…) não pode compreender o que é o amor. (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 157-158)

O verdadeiro e o falso não dependem de vossa opinião, ou daquilo que já sabeis, ou de vossa experiência. Porque (…) é apenas a continuação do velho condicionamento,
modificado de várias maneiras pela educação. Por conseguinte, vossa experiência não é o fator que indica o que é verdadeiro ou o que é falso. Tampouco o é o vosso conhecimento,
porquanto o verdadeiro e o falso estão constantemente a alterar-se, a mover-se, constantemente ativos, dinâmicos, nunca estáticos.

E se tentais discerni-los com vossas opiniões, juízos, experiência, tradição, nunca descobrireis por vós mesmos o que é verdadeiro, principalmente se estais sob o domínio da
autoridade - se vossa mente está a obedecer. A mente, então, (…) é incapaz de explorar, de descobrir. E a verdade tem de ser descoberta a cada minuto, e nisso consiste sua beleza.
Sua beleza é sua energia. (…) (A Suprema Realização, pág. 10)

Percebendo o artifício com que enganastes a vós mesmos, podeis então ver o falso como falso. A luta, a perseguição de uma ilusão é o fator desintegrador. Todo conflito, (…) vir a
ser, é desintegração. Quando há percepção do artifício com que a mente enganou a si própria, resta, então, só o que é. (…) Só nessa transformação há integração. (Comentários
sobre o Viver, 1ª ed., pág. 194)

Conhecimento, Especialização, Excesso Prejudicial


Por que vivemos acumulando conhecimentos? Fazemo-lo para alcançar a segurança, que aliás é essencial em certo aspecto de nossa existência. Pensam alguns que o conhecimento
é meio de descobrimento. (…) O conhecimento não impede o descobrimento? Como pode a mente descobrir coisas novas, se, na sua totalidade, ela está preparada para juntar
conhecimentos, saber? (…) A mente que possui conhecimentos, (…) saber, deve ficar livre deles, para poder descobrir; (…) (Debates sobre Educação, pág. 227)

Pergunta: Qual a diferença entre a acumulação da memória técnica ou dos afazeres do dia-a-dia, e a acumulação da memória emocional?

Krishnamurti: Isso é muito simples, senhor. Por que o cérebro, como depósito da memória, dá tanta importância ao conhecimento - tecnológico, psicológico e relacionados? Por
que o ser humano tem dado tão extraordinária importância ao conhecimento? Possuo um escritório, torno-me um importante burocrata, o que significa que tenho conhecimento de
como realizar certas funções, e me torno pomposo, estúpido, grosseiro. (Exploration into Insight, pág. 53)

Pergunta: É isso um desejo inato?

Krishnamurti: Isso dá segurança, obviamente. Dá status. O ser humano adora o conhecimento identificado com o intelecto. O erudito, o estudioso, o filósofo, o inventor, o cientista,
estão todos apegados ao conhecimento e têm criado coisas maravilhosas no mundo, como ir à Lua, construir novos tipos de submarinos, etc. Têm inventado as mais extraordinárias
e admiráveis coisas, sendo irresistível a maravilha desse conhecimento, e nós o aceitamos. (…) (Idem, pág. 53)

(…) Portanto, tem-se desenvolvido uma desordenada admiração, quase chegando à veneração, do intelecto. Isso se aplica a todos os livros sagrados e sua interpretação. (…)
Precisamos, pois, descobrir uma harmonia natural em que o intelecto atue com perfeita lucidez, em que emoções e afeições, cuidado, amor e compaixão funcionem saudavelmente,
e o corpo, que tem sido tão despojado, (…) mal usado, volte a sua condição própria. Como você consegue isso? (Idem, pág. 53-54)

Pergunta: Como se pode fazer a distinção entre o conhecimento e a descoberta do novo?

Krishnamurti: É claro, senhor. Quando o conhecimento interfere, não há descoberta do novo. Deve haver um intervalo entre o conhecimento e o novo; do contrário você está
apenas considerando como novo o velho. (…) Por que há divisão entre a mente, o coração e o corpo? Vê-se isso. Como pode essa divisão chegar a um fim naturalmente? Como
você faz isso - através de esforço, (…) dos ideais que temos sobre harmonia? (Idem, pág. 54)

Krishnamurti: Perguntávamos ontem por que o conhecimento se tem tornado tão importante como meio de iluminação. Aparentemente, todos os mestres religiosos têm insistido
sobre o conhecimento, não só no Oriente senão também no Ocidente. E como a tradição é tão forte neste país, resulta realmente importante descobrir que papel representa todo
esse pensar sistematizado na consecução da iluminação. (…) (Tradición y Revolución, pág. 143)

Quando se tem desenvolvido destreza em algo, isso confere certo sentimento de bem-estar, de segurança. E tal destreza, nascida do conhecimento, tem que se tornar
invariavelmente mecânica em sua ação. Destreza na ação é o que se tem buscado, porque ela nos dá certa posição na sociedade, certo prestígio. Vivendo nesse campo todo o tempo,
(…) tal conhecimento e destreza se tornam não só aditivos, senão que terminam por constituir um processo mecânico e reiterativo que, pouco a pouco, adquire seus próprios
incentivos, sua própria arrogância e poder. Nesse poder encontramos segurança. (La Totalidad de la Vida, pág. 214)

Atualmente, a sociedade exige de nós mais e mais destreza - quer seja o indivíduo um engenheiro, um tecnólogo, um cientista, um psicoterapeuta, etc. - porém existe um grande
perigo em buscar essa destreza que provém dos conhecimentos acumulados, porque nesse crescimento não há claridade. Quando a destreza se torna sumamente importante na vida,
não só por ser o meio de ganhar a subsistência, senão porque o indivíduo é educado totalmente para esse propósito (…), então a destreza produz invariavelmente certo sentimento
de poder, de arrogância e vaidade. (Idem, pág. 214)

O orgulho, a arrogância e a inveja decorrentes da eficiência em determinada função, nos levam à competição, à desordem, à discórdia e à infelicidade. A plena compreensão da
vida traz um novo significado à atividade humana. Reduzir a vida ao nível estreito e fragmentado da luta pelo pão, pelos prazeres do sexo, da riqueza, da ambição, é fomentar
desespero e interminável sofrimento. O cérebro opera na área especializada do fragmento, nas atividades egocêntricas, dentro do estreito limite do tempo. Por ser um fragmento, é
incapaz de ver o todo da vida. Por mais hábil e refinado que seja, o cérebro desenvolve uma ação limitada, parcial. É a mente que contém o cérebro e não o contrário, e só ela
poderá compreender o todo. (Diário de Krishnamurti, pág. 102-103)

Tecnologicamente, os cientistas têm ajudado a reduzir as enfermidades, a melhorar os meios de comunicação, porém também têm incrementado o poder devastador das armas
bélicas - o poder de assassinar de uma só vez um número imenso de pessoas. Os homens de ciência não vão salvar a humanidade; nem o farão os políticos. (…) Os políticos buscam
poder, posição e empregam todos os estratagemas (…). E exatamente o mesmo ocorre no chamado mundo religioso - a autoridade hierárquica, (…) em nome de alguma imagem
criada pelo pensamento. (La Llama de la Atención, pág. 100-101)

A quem chamamos cientistas? Aos que trabalham em laboratórios e que, fora de tal atividade, são seres humanos como nós, com preconceitos (…), com igual cupidez, ambição e
crueldade. Salvarão eles o mundo? Estão salvando o mundo? Não se estão utilizando do conhecimento técnico mais para destruir do que para curar? Em seus laboratórios podem
estar buscando conhecimento e compreensão, mas não o fazem movidos pelo “eu”, pelo espírito de competição, pelas paixões (…)? (Autoconhecimento, Correto Pensar -
Felicidade, pág. 166)

(…) Atuando como cientista, artista, padre, advogado, técnico ou fazendeiro, o cérebro é essencialmente produto da especialização. Incapaz de transcender os próprios limites, de
sua atividade emanam o status social, os privilégios, o poder e o prestígio, que ele, o cérebro, cria para proteger-se. Incapaz de ver o todo, a mente especializada, com seu desejo de
fama e poder, é a origem de todo conflito social. (Diário de Krishnamurti, pág. 102)

O especialista é incapaz de conceber o todo; vive para a sua especialidade, ocupação mesquinha do cérebro condicionado para ser religioso ou técnico. O talento e a aptidão do
homem tendem a fortalecer o egocentrismo e sua ação é sempre fragmentada e conflitante. A capacidade humana só tem significado quando a mente atinge a compreensão global
da vida. Caso contrário, a eficiência, um dos subprodutos da aptidão individual, torna seu portador implacável e indiferente à totalidade da vida (…) (Idem, pág. 102)

(…) O cientista utiliza o seu saber para alimentar a vaidade, assim também o professor, (…) os pais, (…) os gurus - todos querem ser alguém no mundo. (…) Que sabem eles? Só
sabem o que está nos livros (…) ou o que experimentaram, sendo que suas experiências dependem do seu fundo de condicionamento. Os mais de nós, pois, estamos cheios de
palavras, de conhecimentos, a que damos o nome de saber; e sem esse saber vemo-nos perdidos. O que existe, pois, é o temor, oculto logo atrás da cortina das palavras e dos
conhecimentos; (…). (Novos Roteiros em Educação, pág. 114)

Assim, onde há temor, não há amor; e o saber sem o amor é destrutivo. É o que está acontecendo no mundo, atualmente. Por exemplo, sabe-se como é possível alimentar todos os
seres humanos do mundo, mas não se começa a pôr isso em prática. (…) Se se desejasse realmente pôr fim à guerra, haveria possibilidade de fazê-lo, mas nada se faz, pelas mesmas
razões. Assim, pois, o saber sem o amor não tem significação alguma. (…) (Idem, pág. 114)

Os problemas que se apresentam a cada um de nós e, portanto, ao mundo, não podem ser resolvidos pelos políticos nem pelos especialistas. Esses problemas não resultam de causas
superficiais, (…). Os especialistas podem oferecer-nos planos de ação cuidadosamente elaborados, mas não são as ações planejadas que irão trazer-nos a salvação, mas tão
somente a compreensão do processo total do homem, isto é, de vós mesmos. Os especialistas só têm capacidade para tratar de problemas num nível exclusivo, com o que aumentam
os nossos conflitos e a nossa confusão. (O Caminho da Vida, pág. 25)

(…) Ora, para vos tornardes alguma coisa, precisais especializar-vos, (…) e tudo que se especializa logo morre, declina, porque a especialização implica sempre falta de
adaptabilidade. Só o que é capaz de adaptação, de flexibilidade, pode subsistir. (…) (A Arte da Libertação, pág. 134)

(…) Está visto, pois, que a especialização é prejudicial à compreensão do processo do “eu”, que é autoconhecimento, uma vez que a especialização não permite a pronta
adaptabilidade; e tudo o que se especializa não tarda a morrer, a definhar. (Idem, pág. 135)

Assim, para se compreender a si mesmo, o indivíduo precisa de extraordinária flexibilidade, e essa flexibilidade lhe é negada, se ele se especializa - na devoção, na ação, no saber.
(…) (Idem, pág. 135)

Ora, será que a compreensão de nós mesmos requer especialização? O especialista conhece só a sua especialidade (…). Mas o conhecimento de nós mesmos requer especialização?
Acho que não, pelo contrário. A especialização implica a restrição do processo total de nosso ser (…). Uma vez que precisamos compreender a nós mesmos como processo total,
não podemos especializar-nos. Porque especialização significa exclusão (…). (Solução para os nossos Conflitos, pág. 74)

Pois bem (…) Atribuímos importância à feitura do instrumento, e esperamos, assim, por meio do instrumento, conhecer a vida; eis a razão por que a educação moderna é um
verdadeiro fracasso; porque só tendes técnica, (…) cientistas maravilhosos, portentosos físicos, matemáticos, construtores de pontes, conquistadores do espaço - e daí? Estais
vivendo? Somente como especialistas; mas, pode um especialista conhecer a vida? Só deixando de ser especialista. (O Que te fará Feliz?, pág. 63)

Requer então a inteligência especialização, a inteligência que é a percepção integral do nosso processo? E pode essa inteligência ser cultivada mediante qualquer forma de
especialização? Pois é isso que está acontecendo (…). O sacerdote, o médico, o engenheiro, o industrial, o homem de negócios, o professor - temos a mentalidade da
especialização. E julgamos que, para alcançar a forma suprema da inteligência - que é a verdade, (…) Deus, que não se pode descrever - julgamos que para alcançá-la precisamos
tornar-nos especialistas. (…) (El Despertar de la Inteligencia, pág. 77)

(…) Você não pode dividir a vida em vida tecnológica e vida não tecnológica. É o que vocês têm feito, e é por isso que levam uma dupla vida. Então nos perguntamos: “É possível
viver tão plenamente que a parte esteja incluída no todo? (…) Atualmente levamos uma dupla vida; (…). É assim que vocês dividem a vida e, portanto, ela é um conflito entre as
partes. E nós nos referimos a algo por completo diferente, a um modo de viver no qual não haja divisão nenhuma. (…) (Idem, pág. 79)

Vede, em primeiro lugar, como a mente acumula saber e por que o faz; vede onde o saber é necessário, e onde ele se torna um empecilho à liberdade. É óbvio que, para fazermos
qualquer coisa - conduzir um carro, falar uma língua, executar um trabalho técnico - precisamos do saber. Precisamos de grande abundância de saber; quanto mais eficaz, (…)
mais objetivo, (…) mais impessoal, melhor; mas nós nos estamos referindo àquele saber que condiciona psicologicamente. (Fora da Violência, pág. 133)

O “observador” é o reservatório do saber. O “observador”, por conseguinte, pertence ao passado, ele é o censor, a entidade que julga com base no saber acumulado. O mesmo ele
faz com respeito a si próprio. Tendo adquirido dos psicólogos conhecimentos sobre o “eu”, acredita o observador que conhece a si próprio. Ele se olha com esses conhecimentos e,
por conseguinte, não se olha com olhos novos. (…) (Idem, pág. 133)

É possível libertar a mente do passado, por inteiro, e, se o é, como poderemos esvaziá-la? Em certos setores, o conhecimento trazido do passado é essencial. (…) Não podemos
esquecer, pôr à margem, todos os conhecimentos técnicos que o homem adquiriu através de séculos; mas eu estou falando a respeito da psique, que tem acumulado tantos conceitos,
idéias e experiências e se acha aprisionada nessa consciência que tem por centro o observador. (A Importância da Transformação, pág. 14)

Cabe-nos descobrir por nós mesmos (…). O conhecimento, com efeito, tem muita importância e significação. Se desejais ir à Lua, necessitais de extraordinários conhecimentos
tecnológicos; (…). Mas, esse próprio saber se torna sério empecilho quando queremos descobrir uma maneira de viver totalmente harmoniosa (…). O saber é o passado, e, se
vivemos de acordo com o passado, então, é óbvio, surge uma contradição: o passado em conflito com o presente. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 24)

Agora, ao perceberdes que o pensamento perpetua o prazer e o medo (…) - qual o estado de vossa mente ao perceberdes essa verdade? E qual o estado da mente que sabe quando o
pensamento é necessário, quando deve ser empregado, logicamente, objetivamente, equilibradamente, e sabe também que o pensamento, que é reação do conhecimento, ou seja, do
passado, se torna um obstáculo a uma maneira de viver isenta de contradição? (…) (Idem, pág. 27)

Há, pois, uma ação que vem quando a mente está vazia de todo movimento de pensamento, exceto aquele movimento que é necessário quando o pensamento deve funcionar. A mente
é então capaz de dar atenção aos fatos da vida diária. Mas, é ela capaz de funcionar dessa maneira se sois muçulmano, budista, hinduísta, e estais condicionado por esse fundo?
Não o é, evidentemente. (…) Porque, se a psique não for transformada, continuareis a fazer, exteriormente, as mesmas coisas - modificadas, talvez, mas sempre segundo o velho
padrão. (Idem, pág. 27)

Que lugar tem o conhecimento na transformação do homem? (…) O conhecimento é necessário na vida diária, quando vamos ao trabalho, (…) exercemos diversas habilidades, etc.;
é necessário no mundo tecnológico, (…) científico. Porém, na transformação da psique, do que somos, tem o conhecimento algum lugar? (La Llama de la Atención, pág. 80)

(…) Perguntamo-nos se esse conhecimento psicológico pode alguma vez transformar radicalmente o homem, para convertê-lo em um ser humano totalmente descondicionado.
Porque se há qualquer forma de condicionamento no psíquico, no interno, é impossível encontrar a verdade. A verdade é uma terra sem caminhos, e chega a nós quando nos
livramos de todos os condicionamentos. (Idem, pág. 81)

Ora, o conhecimento é evidentemente essencial, pois, do contrário, não poderíamos funcionar de maneira nenhuma. (…) Mas o conhecimento impede também a clareza de
percepção. O que quer que sejais, cientista, músico, artista, escritor – é só nos intervalos em que vossa mente está livre de seus conhecimentos, que há movimento criador. (…) (O
Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 177)

A criação, pois, é algo que, não estando sujeito às limitações da mente ordinária, não é continuo. (…) Mas uma mente que seja capaz de ficar silenciosa conhecerá aquele estado
que é eternamente criador; e essa é a função da mente (…). A função da mente não consiste apenas em sua parte mecânica, (…) de coordenar as coisas, (…) de destruir e tornar a
coordenar. Tudo isso constitui a nossa mente ordinária, a mente comum, que recebe sugestões (…) do inconsciente, mas (…) na rede do tempo. (…) (Poder e Realização, pág. 85)

(…) Essa mente é produto da técnica; e quanto mais se cultivar a técnica, o “como”, o método, o sistema, tanto menos se conhecerá “a outra coisa”, o estado criador. Entretanto,
temos necessidade da técnica (…). Mas quando essa mente mecânica, a mente que está ligada à memória, à experiência, ao conhecimento, quando essa mente existe só e funciona
sozinha, sem a outra parte, é óbvio que ela só pode conduzir à destruição. (…) (Idem, pág. 85-86)

(…) A técnica pode trazer-nos essa liberdade em que está ausente o “eu”? Só quando o “eu” está ausente, há o poder de criar; a técnica, pelo contrário, dá apenas mais força ao
“eu”, ou o distrai, modificando-o ou expandindo-o – e isso por certo não nos dá o poder criador. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 131)

O saber é uma outra forma de propriedade, e o homem que possui saber está satisfeito com ele; para ele, o saber é um fim em si. Tem ele a convicção (…) de que o saber resolverá
(…) os problemas (…). É muito mais difícil, para o homem de saber, livrar-se de suas posses, do que para o homem de dinheiro. É extraordinária a facilidade com que o saber toma
o lugar da compreensão e da sabedoria. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 227-228)

O aumento da prosperidade e dos conhecimentos científicos, no mundo, não trará felicidade maior. Poderá atender, em maior escala, às nossas necessidades físicas (…). Poderá
proporcionar mais confortos e comodidades – mais banheiros, melhores roupas, mais geladeiras, (…) carros. Mas essas coisas não resolvem nossos problemas fundamentais, que
são muito mais profundos e prementes, e estão dentro de nós. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 111)

Pergunta: Do que dizeis, concluo claramente que a cultura e o saber são empecilhos. Empecilhos a quê?

Krishnamurti: É óbvio que o saber e a cultura constituem um empecilho à compreensão do novo, do atemporal, do eterno. O desenvolvimento de uma técnica perfeita não vos torna
criador. Podeis saber pintar maravilhosamente, possuir a técnica, mas podeis não ser um pintor criador. Podeis saber escrever poemas tecnicamente perfeitíssimos, mas podeis, no
entanto, não ser poeta. Ser poeta implica (…) a capacidade de receber o novo, sensibilidade para reagir às coisas novas. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 151)

Como mecânico, cientista, engenheiro, etc., necessitais da continuidade da memória, pois do contrário não podereis exercer vossas funções. Mas a continuidade do pensamento
como feixe de lembranças relativas ao “eu” e ao “meu”, e as reações desse pensamento condicionado, tudo isso é tempo psicológico, medo. (…) Assim, para que o medo termine, é
necessário que o pensamento termine. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 24)

(…) A humildade é importante, porque a mente sem humildade não pode aprender. Poderá acumular conhecimentos, reunir mais e mais informações, mas (…) são coisas
superficiais. Não sei por que tanto nos orgulhamos do nosso saber. Tudo se encontra em qualquer enciclopédia, e é tolice acumular conhecimentos para satisfação do orgulho e da
arrogância pessoal. (Idem, 1ª ed., pág. 213)

(…) A mente que está abarrotada de fatos, de conhecimentos, será capaz de receber qualquer coisa nova, inesperada, espontânea? Se a vossa mente está repleta do conhecido,
haverá espaço para receber alguma coisa procedente do desconhecido? Não há dúvida de que o saber se refere sempre ao conhecido e com o conhecido tentamos compreender o
desconhecido, essa coisa que ultrapassa todas as medidas. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 151)

(…) O que é eterno não pode ser procurado; (…). Ele se apresenta quando a mente está tranqüila; e a mente só pode estar tranqüila quando é simples, quando já não está
armazenando, condenando, julgando, pensando. Apenas a mente simples pode compreender o Real, e não a mente repleta de palavras, de conhecimentos, de ilustração. A mente que
analisa, que calcula, não é uma mente simples. (Percepção Criadora, pág. 106-107)

Mente Computadora, Memória, Programação, Repetição


Como já sabemos, a maioria de nós traz o passado para o presente, e o presente se torna mecânico. Se observardes vossa própria vida, vereis quanto é mecânica! Funcionais qual
uma máquina, como imitação perfeita do cérebro eletrônico. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 151)

(…) É preciso, pois, examinar a questão da memória. Memória, conhecimento, experiência, todo o acúmulo de dados científicos e técnicos, são da maior importância quando se
trata de executar um trabalho material. (Idem, pág. 151)

Nas coisas de que necessitamos para viver, a memória deve funcionar com o máximo de eficiência, qual um cérebro eletrônico. Este é capaz de coisas as mais extraordinárias:
pintar, escrever poemas, traduzir, e até dirigir uma orquestra. Mas esse cérebro eletrônico só pode funcionar com os dados que lhe são fornecidos, por associação, etc. (Idem, pág.
151)

E, quando se faz uma pergunta ao cérebro eletrônico, devem-se usar termos precisos; senão, ele não responderá. Por isso mesmo, há hoje todo um conjunto de cientistas
empenhados em investigar a questão da ação na linguagem; mas não é este o assunto que nos interessa no momento. (Idem, pág. 152)

Ora, há máquinas que pensam: os cérebros eletrônicos, os computadores. Nosso pensar se processa de maneira semelhante? É ele reação da memória, que são as experiências
armazenadas, individuais e coletivas, reação à qual se junta a reação nervosa? (…) O desafio constituído pela pergunta põe em ação o mecanismo do pensamento e vem então a
reação. (…) Ora, de que fundo (background) procede a vossa resposta? ( O Passo Decisivo, pág. 19)

Pode-se ver (…) que nossa mente, nosso intelecto, se tornou mecânico. Somos influenciados em todos os sentidos. Tudo o que lemos deixa-nos sua impressão, e toda propaganda,
sua marca. O pensamento é sempre convencional e, assim, o intelecto e a mente se tornaram mecânicos, como uma máquina. Exercemos mecanicamente nossas ocupações,
mecânicas são nossas mútuas relações, e nossos valores são simplesmente tradicionais. (…) (O Passo Decisivo, pág. 201)

É então muito importante que lancemos uma olhada em nossas relações; não só nas relações íntimas, senão também na relação que estabelecemos com o resto do mundo. (…) Eu
posso ser um muçulmano e você (…) um hindu. Minha tradição diz: “Eu sou muçulmano” – tenho sido programado como um computador para repetir “Eu sou muçulmano” – e
você repete “Eu sou hindu”. (…) (La Llama de la Atención, pág. 18)

O pensamento inventou o computador. Vocês precisam entender a complexidade e o futuro do computador; ele vai superar o homem em seu pensamento, ele vai mudar a estrutura
da sociedade e (…) do governo. (…) O computador possui uma inteligência mecânica; ele pode aprender e inventar. O computador vai tornar o trabalho humano praticamente
desnecessário – talvez duas horas de trabalho por dia. Essas são as mudanças que estão chegando. (…) (A Rede do Pensamento, pág. 17-18)

Quando consideramos a capacidade do computador, então temos de nos perguntar: o que deve fazer o ser humano? O computador vai assumir o comando das atividades do
cérebro. E o que, então, acontecerá no cérebro? Quando as ocupações de um ser humano forem assumidas pelo computador, pelos robôs, qual será o destino do ser humano? (Idem,
pág. 18)

Nós, seres humanos, fomos “programados” biologicamente, intelectualmente, emocionalmente, psicologicamente, durante milhares de anos, e vivemos a repetir o padrão do
programa. Nós paramos de aprender e devemos indagar se o cérebro humano (…) será capaz de aprender e transformar-se imediatamente numa dimensão totalmente diferente.
(Idem, pág. 18)

Se não formos capazes disso, o computador, que é muito mais capaz, rápido e exato, irá assumir o comando das atividades do cérebro. Isso não é uma coisa casual; este é um
assunto por demais sério, desesperadamente sério. O computador pode inventar uma nova religião. Ele poderia ser programado por um douto especialista (…). E nós, se não
estivermos cônscios do que está acontecendo, seguiremos essa nova estrutura produzida pelo computador. (…) (Idem, pág. 18)

(…) Os computadores eletrônicos são muito semelhantes à mente humana, só que nós somos um pouco mais engenhosos – pois somos seus criadores; mas eles funcionam
exatamente como nós (…), por meio de reação, repetição, memória. (…) Por conseguinte, o problema urgente é este: Como libertar o intelecto e a mente? Porque, se não há
liberdade, não pode haver ação criadora. (…) E isso exige capacidade de raciocinar, de sentir, para quebrarmos a tradição e destroçarmos todas as muralhas que erguemos para
nossa segurança. (…) (O Passo Decisivo, pág. 201)
Se penetrardes mais na questão do pensar, alcançareis um estado mental em que dizeis: “Não sei”. (…) Aí é que está a diferença entre o computador eletrônico e a mente humana.
(…) “Não sei” representa um extraordinário estado mental, quando realmente o compreendemos. (…) E não é necessário dizermos “Não sei”, para que a mente esteja sempre a
aprender, (…) fresca, inocente, jovem? Só a mente jovem diz “Não sei”. (…) (A Suprema Realização, pág. 47)

O nosso ego, (…) personalidade (…) é inteiramente formada pela memória (…) Não há nenhum lugar ou espaço onde haja claridade (…). Vocês podem investigar isto: se estiverem
indagando seriamente, verão que o “eu”, o ego, é todo memória, lembranças. (…) Nós funcionamos, (…) vivemos da memória. E, para nós, a morte é o fim dessa memória. (A Rede
do Pensamento, pág. 104)

Qual a função da memória? (…) Esse aprendizado desenvolve a memória, porque precisais dessa memória para poderdes desempenhar satisfatoriamente uma função qualquer. (…)
Mas eu temo a memória psicológica: as coisas que me dissestes, as ofensas, as lisonjas, os insultos que me dirigistes. (…)

Há, por conseguinte, as imagens que eu formei acerca de vós e as imagens que a meu respeito formastes. Essas memórias se conservam e se acrescentam continuamente. Essas
memórias é que irão reagir. Por conseguinte, o pensamento, sendo resultado da memória, é sempre velho; nunca é novo e, portanto, nunca é livre. (…) (Viagem por um Mar
Desconhecido, pág. 176)

A memória, na forma de conhecimento, de acumulação de experiências, de coisas que o homem vem juntando há milhões de anos – a memória é o passado, consciente ou
inconsciente; nela estão depositadas todas as tradições. E com tudo isso vindes para o presente, para o agora e, por conseguinte, não estais realmente vivendo. Estais “vivendo”
com as lembranças, as cinzas frias de ontem. Observai a vós mesmos (…). (O Despertar da Sensibilidade, pág. 151 -152)

Será bem formada a mente que repete, como um gramofone, tudo o que lhe foi dito? Nisto tem consistido a nossa educação. Conhecer fatos, datas, citá-los uma vez por ano, na
ocasião dos exames. Podemos chamar isso de cultivo de uma mentalidade criadora? (…) Mas o simples acúmulo de conhecimentos, sinônimo de desenvolvimento da memória, é
apenas um processo aditivo. Ele não forma um espírito lúcido, criterioso (…). (Ensinar e Aprender, pág. 111)

Entretanto, uma boa memória tem o seu valor, não só para a lembrança de certas coisas, mas para o preparo técnico ou especializado. Então, em que ponto a memória interfere
com uma mente sã, apta a explanar, investigar, descobrir? Que relação existe entre a memória e a autêntica liberdade? (Idem, pág. 111)

Consideremos o problema de outra maneira. A memória, sem dúvida, é tempo (…). Isto é, (…) cria o ontem, o hoje, o amanhã. A memória de ontem condiciona o hoje e, portanto,
molda o amanhã. Isto é, o passado, através do presente, cria o futuro. (…) Assim, através do tempo, esperamos alcançar o atemporal, (…) o eterno. (…) Pode-se captar o eterno na
rede do tempo, por meio da memória, que pertence ao tempo? (A Arte da Libertação, pág. 114)

O atemporal só pode ter existência quando cessa a memória, que é o “eu” e o “meu”. Se percebeis a verdade aí contida – isto é, que através do tempo não se pode compreender ou
captar o atemporal – podemos então entrar no problema da memória. A memória de coisas técnicas é essencial; mas a memória psicológica, a que mantém o “eu” e o “meu”, a que
dá identificação e continuidade pessoal, essa é de todo prejudicial à vida e à realidade. (…) (Idem, pág. 114)

São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é a afirmação do “eu”, tal como o é a imitação. Chegar a uma conclusão é erguer uma muralha ao redor de si mesmo, uma
proteção segura, que impede a compreensão. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 249)

Quando não há acumulação, não existe o “eu”. Uma mente oprimida pela acumulação é incapaz de acompanhar o célere movimento da vida, (…) de uma vigilância profunda e
flexível. (Idem, pág. 249-250)

A função do cérebro é registrar, como o faz um computador. Ele registra o prazer, e o pensamento o provê de energia e de impulso para perseguir o prazer. (…) Então o
pensamento diz que tem de haver mais, e persegue esse “mais”. (…) É possível registrar só aquilo que é absolutamente necessário e nenhuma outra coisa? Nós registramos
continuamente tantas coisas desnecessárias, e desse modo erigimos a estrutura do “eu”, do “mim” mesmo – “eu” me sinto ofendido; “eu” não sou o que deveria ser (…). A
totalidade desse registrar é uma ação que outorga importância ao “eu”. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 201)

A atividade de acumular, adicionar, é obstáculo à compreensão do Real. Onde há acumulação, há vir-a-ser do “ego”, que causa conflito e dor. O desejo acumulador, que busca o
prazer e evita o sofrimento, é um vir-a-ser. A vigilância não é atividade de acumulação, porquanto está sempre descobrindo a verdade, e a verdade só pode existir onde não houver
acumulação, (…) imitação. Um esforço da parte do “ego” não pode nunca trazer-nos liberdade, uma vez que todo esforço implica resistência, e só é possível dissolver a resistência
se houver vigilância imparcial, discernimento livre de esforço. (…) A percepção da verdade é libertadora (…). (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 268-269)

A meditação é a purificação da mente de todas as suas acumulações; é expurgá-la da capacidade de adquirir, de identificar, de vir a ser; expurgá-la da expansão do “eu”, do
preenchimento do “eu”. A meditação é o libertar a mente da memória, do tempo. O pensamento é produto do passado (…). O pensamento é a continuidade dessa atividade
acumuladora que é o vir-a-ser, e nenhum resultado é capaz de compreender ou sentir aquilo que não tem causa. O que se pode formular não é o Real, e a palavra não é a
“experiência”. A memória, a criadora do tempo, é um obstáculo entre nós e o Atemporal. (Idem, pág. 269)

A memória, como processo identificador, empresta continuidade ao ego. A memória, pois, é uma atividade circunscrita e estorvante. Sobre ela está edificada toda a estrutura do
ego. Estamos considerando a memória psicológica, não a memória relativa à linguagem, aos fatos, ao desenvolvimento de uma técnica, etc. Toda a atividade do ego é um obstáculo
no caminho da verdade; (…). (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 269-270)

O conhecimento condicionado é um empecilho a que conheçamos a Realidade. Vem-nos a compreensão depois de cessarem todas as atividades da mente – quando ela estiver de
todo livre, silenciosa, tranqüila. O ansiar é sempre atividade acumuladora e dependente do tempo; o desejo de um objetivo, (…) de saber, de experiência, desenvolvimento,
preenchimento, até mesmo o desejo de Deus ou da Verdade, é um empecilho. Deve a mente expurgar-se de todos os empecilhos por ela criados, para que surja a suprema sabedoria.
(Idem, pág. 270)

Desse modo, você está cônscio da extensão em que seu cérebro está sendo programado? (…) Se está ciente de que está programado, condicionado, você pergunta: “Foi o
conhecimento que me condicionou?” Aparentemente foi. Então por que é que a estrutura da psique é essencialmente baseada no conhecimento? Você entende? A psique, o “mim”,
o “eu”, é essencialmente um movimento do conhecimento, (…) que é uma série de memórias. (The World of Peace, pág. 20-22)

O que é necessário registrar e o que não é necessário registrar? O cérebro está ocupado todo tempo registrando e, portanto, não há tranqüilidade, (…) quietude; ao passo que, se
há claridade com relação ao que se deve e ao que não se deve registrar, então o cérebro está mais quieto – e isso é parte da meditação. (La Totalidad de la Vida, pág. 201)

Registrar só o que é absolutamente indispensável (…). É algo maravilhoso (…), porque então há verdadeira liberdade – liberdade com relação a todo o conhecimento acumulado, à
tradição, à superstição e à experiência, coisas que têm edificado esta enorme estrutura à qual o pensamento se aferra em sua condição de “eu”. Quando o “eu” está ausente, surge
a compaixão, e essa compaixão traz consigo claridade. Com essa claridade, há entendimento. (Idem, pág. 202)

Onde há registro desnecessário, não há amor. Se se quer compreender a natureza da compaixão, há de se investigar o problema do que é o amor, e descobrir se existe amor sem
nenhuma forma de apego, com todas as complicações, (…) prazeres e temores associados ao apego. (Idem, pág. 202)

Intelecto, Erudição, Sapiência; Mediocridade, Talento


Acho necessário compreender todo o mecanismo do pensamento porque, se não o compreendermos, haverá inevitavelmente irracionalidade, pensar desequilibrado, e isso,
naturalmente, não é uma maneira saudável de pensar. Precisamos de uma razão clara, de pensamento lógico, preciso. (…) (A Mutação Interior, pág. 72)

Porque a mente, o cérebro é incapaz de - verdadeira, desapaixonada e objetivamente - olhar, observar, sentir, perceber, com perfeito equilíbrio, de maneira sã, não pode
evidentemente ir muito longe. Assim, cumpre-nos descobrir o que é pensar e, ao mesmo tempo, descobrir a contradição existente entre o pensador e o pensamento. Enquanto existir
essa contradição, é inevitável o esforço e, por conseguinte, o conflito. (Idem, pág. 72-73)
O pensamento é sempre particular, limitado, dividido; em si mesmo, ele é incompleto e não pode jamais tornar-se completo. (…) O que (…) o pensamento crie, filosófica ou
religiosamente, é ainda parcial, limitado, fragmentário, e é parte da ignorância. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 66)

A experiência que se acumula no cérebro como memória é o conhecimento, e a reação a essa memória é o pensar. O pensamento é um processo material - nada há de sagrado nele.
A imagem que adoramos como algo sagrado continua sendo parte do pensamento. O pensamento é sempre dividido, separativo, fragmentário, (…) jamais é completo acerca de
nada. (…) (La Llama de la Atención, pág. 85)

Todas as nossas ações se baseiam no pensamento; portanto, toda essa ação é limitada, fragmentária, dividida, incompleta - jamais pode ser holística. O pensamento, quer seja do
maior dos gênios - pintores, músicos, cientistas - ou o insignificante pensamento de nossa atividade cotidiana, é sempre limitado, fragmentário, dividido. Qualquer ação que nasça
desse pensamento tem de originar conflito. (…) (Idem, pág. 85)

O intelecto tem o poder de raciocinar, de reunir dados, qual um computador, para funcionar de forma objetiva e sã. (…) Ele examina, explora. Mas, se o intelecto está condicionado
por exigências e preconceitos pessoais, (…) por seu meio cultural, ele é incapaz de explorar, (…) de compreender. O intelecto jamais descobrirá a solução desses problemas. (O
Novo Ente Humano, pág. 94)

O intelecto, a mente, como tal, só é capaz de repetir, de recordar-se, e está sempre fabricando palavras novas e reajustando palavras velhas; (…) vivemos apenas de palavras e
repetições mecânicas. Isso, evidentemente, não é criação (…). (A Educação e o Significado da Vida, pág. 146)

(…) Porque a intelectualidade, sem aquela força criadora da realidade, não tem significação alguma; só leva à guerra, a mais misérias e sofrimentos. É possível, pois, a existência
daquele estado criador, ao mesmo tempo em que está funcionando a mente mecânica, a mente técnica? Uma coisa exclui a outra? (Poder e Realização, pág. 86)

Só há exclusão do Real, sem dúvida, quando o intelecto, que é a parte mecânica, assume a máxima importância; quando as idéias, as crenças, os dogmas, as teorias, as invenções
do intelecto se tornam sumamente importantes. Mas, quando a mente se acha em silêncio e a realidade criadora se manifesta, então a mente ordinária tem significação de todo
diferente. (…) (Idem, pág. 86)

(…) A mente ordinária, então, estará também numa revolta contínua contra a técnica, o “como”. Conseqüentemente, ela não mais pedirá o “como” e não mais se preocupará com a
virtude. A mente silenciosa, (…) que se acha num estado de completa tranqüilidade, (…) que é o desconhecido, a força criadora do real, essa mente não necessita de virtude.
Porque, nesse estado, nunca há luta. Só a mente que luta para “vir a ser” necessita de virtude. (Idem, pág. 86)

Assim, pois, enquanto atribuirmos exagerada importância ao intelecto, à mente que adquire saber, ilustração, experiência e lembranças, não existirá a “outra coisa”. Pode-se, em
certas ocasiões, ter rápidas visões da “outra coisa”; mas essas visões são reduzidas imediatamente às medidas do tempo, resultando daí o desejo da repetição das experiências e o
fortalecimento da memória. (…) (Idem, pág. 86-87)

(…) Ser apenas prendado ou talentoso em alguma área, isso, evidentemente, não indica capacidade de criar. Acho que a ação criadora nasce da capacidade de ver a vida como
uma totalidade e não fragmentariamente, de pensar e sentir como um ente humano completamente integrado. (…) (Visão da Realidade, pág. 74)

A paz não é uma idéia oposta à guerra. A paz é um modo de vida; (…) porque só haverá paz quando compreendermos o viver de cada dia. (…) O culto do intelecto, em oposição à
vida, conduziu-nos à atual frustração, com suas inumeráveis vias de fuga. Essas vias de fuga se tornaram muito mais importantes do que a compreensão do próprio problema. (A
Arte da Libertação, pág. 248)

A presente crise nasceu do culto do intelecto, e foi o intelecto que dividiu a vida numa série de ações opostas e contraditórias; foi o intelecto que negou o fator de unificação que é o
amor. (Idem, pág. 248)

O intelecto encheu o nosso coração, que estava vazio, com as coisas da mente; e só quando a mente está cônscia do seu próprio raciocinar, é capaz de se transcender a si mesma;
só então haverá o enriquecimento do coração. Só o incorruptível enriquecimento do coração pode trazer paz a este mundo louco e cheio de lutas. (Idem, pág. 248)

Pergunta: É verdade que não podemos servir-nos da razão para descobrir o que é verdadeiro?

Krishnamurti: Senhor, que se entende por razão? A razão é pensamento organizado, como a lógica são idéias organizadas (…). E o pensamento, por mais inteligente, (…) vasto,
(…) erudito que seja, é limitado. (…) O pensamento nunca pode ser livre. O pensamento é reação, reação da memória; é “processo” mecânico. Ele poderá ser razoável, (…) ser
são, (…) ser lógico, mas é limitado. (O Passo Decisivo, pág. 197)

É como os computadores. E o planejamento nunca pode descobrir o que é novo. O intelecto adquiriu, acumulou (…) experiências, reações, lembranças; e quando essa coisa pensa,
está condicionada e, portanto, não pode descobrir o novo. Quando, porém, esse intelecto compreendeu todo o processo da razão, da lógica, do investigar, do pensar - não rejeitou,
mas compreendeu - então ele se torna quieto. (…) E então esse estado de quietude pode descobrir o que é verdadeiro. (Idem, pág. 197)

A compreensão provém do saber? Ou o saber impede a compreensão criadora? Parecemos pensar que, se acumulamos fatos e conhecimentos, se possuímos um saber enciclopédico,
ficaremos livres dos grilhões que nos prendem. Isso simplesmente não é verdadeiro. O antagonismo, o ódio e a guerra não deixaram de existir (…). O saber não é necessariamente
um preventivo contra essas coisas; pelo contrário, pode estimulá-las e favorecê-las. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 226-227)

Embora haja atualmente tanto saber, em tão variados campos, isso não fez cessar a brutalidade do homem para com o homem, mesmo entre membros do mesmo grupo, nação ou
religião. É possível que o saber nos esteja tornando cegos para um outro fator, que bem pode representar a solução real de toda esta confusão e miséria. (Idem, pág. 227)

A paixão pelo saber é como outra paixão qualquer; oferece uma fuga aos terrores do vazio, da solidão, da frustração, do ser nada. A luz do saber é um manto suntuoso, debaixo do
qual está a escuridão (…). A mente tem pavor a esse desconhecido e, por essa razão, foge para o saber, (…) as teorias, as esperanças, a imaginação; e justamente esse saber
constitui obstáculo à compreensão do desconhecido. (…) A compreensão do “eu” é a libertação das prisões do saber. (Comentários sobre o Viver, pág. 24)

Sempre nos aplicamos a uma coisa armados de saber, (…) de conclusões já formadas, e com esses padrões de pensamento atravessamos a existência; o saber, por conseguinte, se
torna um obstáculo ao descobrimento da Verdade. Se desejo conhecer a verdade a respeito de mim mesmo, tenho de descobrir a mim mesmo, a cada minuto, exatamente como sou, e
não como fui ou como desejo ser. (Viver sem Temor, pág. 15)

Assim, pois, a mente que quer descobrir o que é verdadeiro, tem de estar livre do saber. Se observardes, porém, vereis que vossa mente está sempre a acumular conhecimentos, a
armazenar conhecimentos (…) Nossas mentes nunca estão livres para serem tranqüilas, porque estão repletas de conhecimentos, de saber. Sabemos demais, mas na verdade nada
sabemos sobre coisa alguma, e com essa imensa carga às costas queremos ser livres. (Idem, pág. 15-16)

Mas o fato é que não estamos cônscios disso; e (…) resistimos, por acharmos que o saber é essencial à libertação. Ora, por certo, o saber é um empecilho, um obstáculo ao
descobrimento do que é verdadeiro. A Verdade tem de ser uma coisa viva, totalmente nova a cada segundo; e como pode a mente que acumula saber, conhecimento, compreender o
que é desconhecido? Chamai-o Deus, (…) Verdade (…). (Idem, pág. 16)

(…) Também, para fugir de nós mesmos, a instrução se torna extraordinariamente importante; mas o saber, evidentemente, não é o caminho da realidade. A mente precisa estar de
todo vazia e tranqüila, para que a realidade possa despontar. Mas uma mente que vive alardeando o seu saber, uma mente afeiçoada a idéias e crenças, e sempre a tagarelar, essa
mente é incapaz de receber “o que é”. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 66-67)

É bem claro que a erudição e o saber representam um empecilho à compreensão do que é novo, do infinito, do eterno. Positivamente, a aquisição de uma técnica perfeita não nos
faz criadores. Podeis saber pintar maravilhosamente, dominar a técnica, mas talvez não sejais um pintor criador. Podeis saber escrever poemas, com a máxima perfeição técnica,
mas é possível que não sejais poeta. (Solução para os nossos Conflitos, pág. 25)

Ser poeta implica a capacidade de receber coisas novas, ter sensibilidade para o que é novo, original. Mas, para a maioria de nós, o saber, a erudição, se tornou devoção, e
julgamos que com o saber seremos criadores. Uma mente abarrotada de fatos e saber é capaz de receber o que é novo, súbito, espontâneo? Se vossa mente está repleta do
conhecido, haverá nela espaço para receber o que vem do desconhecido? Certo, o saber vem-nos sempre do conhecido; e com o conhecido queremos compreender o desconhecido,
o imensurável. (Idem, pág. 25)

Positivamente (…) é preciso que haja a eliminação, pelo entendimento, do processo do conhecido. (…) A sua natureza mesma está fixada no conhecido, no tempo; e como pode uma
mente em tais condições, cujos alicerces se assentam no passado, no tempo, ter a experiência do atemporal? (…) Só pode vir à existência o desconhecido quando o conhecido é
compreendido, dissolvido, posto de parte. (…) (Idem, pág. 26)

Quando dizemos que a erudição ou o saber é um empecilho, não nos referimos ao conhecimento técnico - saber dirigir um automóvel, manejar uma máquina - ou à eficiência
proporcionada por tal conhecimento. Temos em mente coisa muito diversa: aquele sentimento de felicidade criadora que nenhuma soma de saber ou erudição nos pode dar. (…)
(Idem, pág. 27)

Era um homem instruído, versado em literatura clássica, e que costumava fazer citações dos antigos em abono dos seus próprios pensamentos. Seria mesmo de admirar que ele
tivesse pensamentos independentes dos livros. Naturalmente, não há pensamento independente; todo pensamento é dependente, condicionado. (…) Pensar é ser dependente; o
pensamento não pode, nunca, ser livre. (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 166)

(…) Mas aquele homem dava muita importância à erudição; estava carregado de saber, e o erguia bem alto. Começou logo falando em sânscrito e ficou muito surpreso e até um
pouco chocado, ao ver que o sânscrito não era entendido. (…) (Idem, pág. 166)

É singular a importância que damos à palavra impressa, aos chamados livros sagrados. Os letrados, assim como os leigos, são gramofones; repetem sempre as mesmas coisas,
embora se mudem os discos; importa-lhes o saber, e não o viver, o experimentar. O saber é um empecilho ao experimentar. (…) O saber é um apego, como a bebida; o saber não
traz compreensão. O saber pode ser ensinado, a sabedoria não; precisa-se estar livre do saber, para que venha a sabedoria. (…) (Idem, pág. 167)

Aquele homem se considerava vastamente erudito e, para ele, o saber era a própria essência da vida. A vida sem o saber era pior do que a morte. Seu saber não se cingia a uma ou
duas matérias, mas abarcava muitos aspectos da vida; (…). Tinha um orgulho extraordinário de seu saber e, como bom exibicionista, usava-o para impressionar; diante dele, os
outros se calavam, respeitosos. Como nos espanta o saber, e que reverente respeito tributamos ao homem que sabe! (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 203-204).

O saber condiciona. O saber não dá liberdade. (…) O saber não é fator criador, pois o saber é contínuo, e o que tem continuidade nunca pode levar ao implícito, ao imponderável,
ao desconhecido. O saber é um empecilho ao manifesto, ao desconhecido. O desconhecido não pode ser vestido com o conhecido. (…) (Idem, pág. 204)

Há descobrimento, não quando a mente está repleta de saber, mas quando o saber está ausente; só então há quietude e espaço, e nesse estado é que se realiza a compreensão, o
descobrimento. Não há dúvida de que o saber é útil, no seu nível próprio; noutro nível, porém, ele é positivamente nocivo. Quando o saber é utilizado como meio de
autoglorificação, para nos encher de vento, ele é então danoso, gerando divisão e inimizade. A expansão do “eu” (…) é desintegração. (…) (Idem, pág. 204)

Pergunta: Por que será que quase todos os seres humanos, salvo seus talentos e capacidades, são medíocres? Eu sei que sou medíocre (…)

Krishnamurti: Você está cônscio de que é medíocre? (…) Os grandes pintores, (…) músicos, (…) arquitetos, têm capacidade e talentos extraordinários, mas em sua vida quotidiana
são como você e eu, como qualquer outra pessoa. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 118)

(…) Se você está cônscio de que é medíocre, o que isso significa? Você pode ter grande talento como escritor, escultor, músico, professor, mas isso tudo é um adorno exterior, uma
aparência exterior, que esconde uma pobreza interior. Sendo pobres interiormente, estamos sempre nos esforçando por ser algo mais nobre. (Idem, pág. 118)

(…) As tentativas de preencher essa insuficiência (…), tudo isso é um ato de mediocridade. A sensação de mediocridade aparece como respeitabilidade exterior. E existe outro tipo
de revolta contra a mediocridade: os hippies, os cabeludos, os barbudos, os últimos marginais. O mecanismo é o mesmo. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 118)

(…) Ou você se integra numa comunidade, pois interiormente não há nada em você; integrando-se, você se torna importante, e há ação. Quando você está cônscio dessa
mediocridade, dessa total sensação de insuficiência, dessa sensação de frustrante solidão profunda, você percebe que ela está oculta em todo tipo de atividades. (…) (Idem, pág.
118-119)

Essa mediocridade, que todos nós parecemos ter, pode ser rompida quando não há sensação de comparação, de mensuração. Isso lhe dá uma liberdade imensa. Quando há
liberdade psicológica completa, não há sensação de mediocridade. Você está inteiramente fora dessa classe - existe então um estado mental totalmente diferente. (Perguntas e
respostas, pág. 119)

Em geral, vivemos num ambiente de agressão, violência, brutalidade e, como os que nos rodeiam, somos impelidos pela ambição, pelo impulso de preencher-nos. Qualquer talento
que tenhamos - qualquer insignificante capacidade para pintar quadros, escrever poemas, etc. - exige “expressão”, e disso fazemos uma coisa de enorme importância, por meio da
qual esperamos conquistar glória ou renome. Em graus diferentes, tal é a vida de todos nós, com todas as suas satisfações, frustrações e desesperos. (Experimente um Novo
Caminho, pág. 51)

O talento pode tornar-se uma maldição. O “eu” pode servir-se de nossas capacidades para sua proteção própria, e o talento se torna então o meio de glorificação do “eu”. O
homem bem dotado poderá oferecer os seus dotes a Deus, conhecendo o perigo que eles representam; mas esse homem está cônscio dos seus dotes, pois do contrário não iria
oferecê-los, e é essa consciência de ser ou de ter alguma coisa que precisa ser compreendida. A oferenda do que uma pessoa é ou tem, com o propósito de ser humilde, é vaidade.
(Reflexões sobre a Vida, pág. 224)

Pergunta: Sou inventor, e acontece que inventei várias coisas que foram utilizadas nesta guerra. Considero-me infenso ao assassínio, mas que fazer de minha capacidade? (…) O
espírito inventivo me impulsiona.

Krishnamurti: Qual dos dois problemas - segundo o vosso pensar-sentir - é mais importante (…): o poder de matar ou a capacidade inventiva? (…) (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 88-89)

(…) Se só vos interessa o inventar, a mera expressão do vosso talento, deveis então descobrir por que lhe atribuís tanta importância. A vossa capacidade não vos proporciona uma
via de fuga da vida, da realidade? Não é então o vosso talento uma barreira às relações com os semelhantes? (Idem, pág. 89)

Ser é estar em relação, e nada pode existir no isolamento. Assim, pois, sem autoconhecimento, a vossa capacidade inventiva torna-se perigosa para o próximo e para vós mesmo.
(Idem, pág. 89)

Vossa profissão contribui para o extermínio de vosso semelhante? (…) Se o resultado final da presente civilização é o assassínio em massa, que significação tem o vosso talento?
(…) (Idem, pág. 89)

Precatai-vos do mero talento. Com autoconhecimento, o anseio de preenchimento pessoal se transforma. O anseio de preenchimento traz a sua própria frustração e desilusão,
porquanto o desejo de preenchimento pessoal resulta da ignorância. (Idem, pág. 89-90)

O fato é que existe essa complexidade, e pretendemos alterar o fato em termos de tempo, e não em termos de existência. Isto é o que se chama mediocridade. Não estou empregando
essa palavra comparativamente, isto é, entendendo que um homem deve ser inteligente, mais brilhante, mais genial, mais apto para criar. (…) Entretanto, se a traduzis em termos de
mais e de menos (…) ficareis extraviados (…). (O Problema da Revolução Total, pág. 39)

(…) A mente medíocre é incompleta. Não falo agora da mente que quer ser mais; mais inteligente(…); da mente que não é criadora e por isso luta para ser criadora: escrever
poemas (…). Estou falando da mente que é medíocre. Agora, vereis (…) que a mente pede logo uma definição: “que é medíocre”? De posse da definição, refletireis de acordo com
ela e a aceitais ou rejeitais. (…) (Idem, pág. 39-40)
Cumpre-nos, por conseguinte, investigar o que é “mediocridade” - não a definição, não “como tornar a mente que é medíocre (…) diferente do que é”. Temos realmente de
descobrir por nós mesmos o que é mediocridade, e não como nos tornarmos menos ou mais medíocres; (…). E a mente que não está procurando tornar-se algo seria essa mente
medíocre, estacionária? (…) (Idem, pág. 40)

Da investigação sobre o que é mediocridade, resulta a pergunta: “Que é criação?” Se um homem pinta um quadro, escreve poemas, profere uma conferência, ou utiliza seus
poderes como meio de compelir outros, a fim de tornar mais importante a sua pessoa - isso é criação? Ou criação é coisa totalmente diversa? (…) (O Problema da Revolução Total,
pág. 41)

Quando a mente compara - porque, em razão do seu temor ou seu desejo de certeza, ou de mais segurança econômica, ela deseja “vir a ser” - não está aí a mente medíocre, vale
dizer, a mente medrosa? Enquanto houver temor, tem de haver comparação, (…) o processo de “vir a ser”, da imitação, do ajustamento. Não é, pois, a mediocridade o estado
próprio da mente que (…) encontra aí um modo fácil de apaziguar o seu descontentamento? (Idem, pág. 42-43)

Não é, pois, medíocre a mente que sempre se está esforçando por “vir a ser”, não só neste mundo aquisitivo, mas também no chamado mundo espiritual, que subentende o princípio
hierárquico? - “Vós sabeis e eu não sei; vós sois o guru que me guia (…)”. Todo esse processo mental denota um espírito medíocre. O “vir a ser”, fora do que é - “Sou pequeno;
sou ignorante; sou isto e quero tornar-me aquilo, (…) o mais excelente” (…); esse perene vir-a-ser, no desejo de mais, (…) não é a causa de todo descontentamento? (…) (Idem,
pág. 43)

(…) Vosso próprio desejo de transformar a vossa mente medíocre numa coisa superior, vos está impedindo de ser criador - não a criação que consiste em escrever poemas, por mais
geniais e mais maravilhosos que sejam. Aquela criação que é atemporal, não ligada a nenhum (…) grupo, (…) religião; que é a Verdade, (…) Deus, (…) aquela criação não pode
ser alcançada pela mente medíocre. A criação, porém, só vem quando a mente está frente a frente com o fato, e quieta. (Idem, pág. 44)

O fato da mediocridade, e a mente em presença desse fato, sem ter o desejo de alterá-lo, constitui o “estado de ser” em que se dissolve a mediocridade. Mas isso requer grande
vigilância por parte da mente, e não se pode estar vigilante quando há medo (…). O medo nos torna embotados, priva-nos da inteligência. (…) (Idem, pág. 44-45)

Pergunta: Como posso deixar de ser medíocre?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, precisais saber o que é mediocridade (…). Os homens medíocres podem possuir carros luxuosos, residências suntuosas, ou podem viver num
cortiço. Podem ter certa pujança mental, e em geral a têm. (…) (Visão da Realidade, pág. 223)

(…) Se reconheço que sou medíocre, estúpido, obtuso, e quero tornar-me menos medíocre, mais inteligente, mais instruído, essa própria exigência de mais, esse esforço para
tornar-me mais, não denota um estado mental medíocre? (..) (Idem, pág. 223)

A mente que tem um motivo, que persegue o ideal, a coisa que ela acha deveria ser, a mente que se está disciplinando, controlando, moldando, que está lutando para ser diferente
do que é - essa mente não é medíocre? (…) Reconhecendo-se medíocre, estúpida, obtusa, ávida, invejosa, ambiciosa, cruel, etc., a mente diz: “Preciso tornar-me não medíocre”; e
esse esforço (…) não é a essência mesma da mediocridade? (Idem, p. 223)

(…) No esforço para se tornar alguma coisa, a mente foge do fato real para o ideal (…). Estais a perseguir, a adorar o ideal que “projetastes”. Por essa razão, nunca há (…)
riqueza criadora, (…) vossa energia está sendo dissipada constantemente na luta para vos preencherdes, chegardes a ser alguma coisa. (Idem, pág. 223-224)

(…) Mas se, ao contrário, puderdes viver com isso que percebeis que é estúpido, e compreendê-lo, penetrá-lo completamente, sem o julgardes nem condenardes, vereis, então, que
há de surgir um estado completamente diferente; isso, porém, exige atenção total, e não a distração que é o esforço de “vir a ser alguma coisa”. (Idem, pág. 225)

Quando a mente está livre do “conhecido”, ela é uma mente nova, uma mente “inocente”. Acha-se num estado de criação, imensurável, inominável, fora do tempo. (…) Ele não
pode ser “chamado”, porque uma mente medíocre não pode chamar a si a imensidade. Toda mediocridade deve acabar, e existirá então “outro estado”. A mente não pode
imaginar aquele estado de imensidade. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 229-230)

(…) Para mim o gênio é a pessoa que distingue a sua meta, cujo entusiasmo está sempre vivo, que marcha firmemente para o seu alvo, que luta incessantemente para conservar
clara a Visão, que nunca se deixa abater pelas coisas insignificantes da vida, por perturbações mundanas ou familiares, mas que durante todo o tempo está empurrando essas
coisas para o lado e tentando conservar a Visão sempre diante de si clara e pura. Ao passo que o homem ordinário, burguês, é asfixiado pelo mundo; ele não vê a Visão, mas, ao
contrário, sucumbe à influência do meio (…). (O Reino da Felicidade, pág. 15)

Classes, Isolamento, Complexo, Auto-imagem do Ego


Agora, se atentardes bem, vereis que esta sociedade está baseada no espírito de classe, que é, ainda, espírito de segurança. (…) Assim como as crenças separam as pessoas,
limitam-nas, conservando-as divididas, assim também a possessividade, expressando-se sob a forma de espírito de classe e transformando-se em nacionalismo, separa as pessoas.
(…) (Palestras em Auckland, 1934, pág.20)

Para compreender a violência, cumpre haver percepção clara da violência (…). O nacionalismo, o antagonismo de classe, o espírito de aquisição, a desenfreada ambição de poder,
as inumeráveis crenças (…) eis os fatores da violência. (O Caminho da Vida, pág. 19)

O apetite de ganho, que é a base de nossa atual civilização, dividiu o homem contra o homem. Em nosso desejo de possuir, de dominar as idéias, os sentimentos e o trabalho
alheios, fizemos uma separação de nós mesmos em classes, governos de classe, lutas de classe, guerras de classe, (…). (Idem, pág. 19)

E há também a luta de classes - não emprego a expressão “luta de classes” no sentido comunista, mas tão somente para constatar um fato, sem interpretá-lo seja de que maneira
for. Vê-se a divisão das religiões (…). (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 50)

(…) Ao verdes que a distinção de classe é coisa falsa, que ela cria conflito, sofrimento, divisão entre pessoas - ao perceberdes essa verdade, ela própria vos liberta. A percepção
mesma dessa verdade é transformação (…). (O que te fará Feliz?, pág. 128)

Por conseguinte, a compreensão da natureza do conflito exige, não a compreensão de vosso conflito individual, porém a compreensão do conflito total, (…) esse conflito total que
inclui o nacionalismo, as diferenças de classe, a ambição, a avidez, a inveja, o desejo de posição e prestígio, o desejo de poder, de domínio, o sentimento de medo, de culpa, de
ansiedade (…) - a totalidade da vida. (…) Uma de nossas dificuldades é que funcionamos fragmentariamente, cada um numa só seção ou parte - como engenheiro, artista, cientista,
negociante, advogado, físico - como entidade dividida, fragmentária. E cada fragmento está em guerra com outro fragmento, desprezando-o ou sentindo-se superior a ele. (Viagem
por um Mar Desconhecido, pág. 25)

Ora, se examinarmos a nossa vida, as nossas relações com os outros, veremos que são um processo de isolamento. (…) Vivemos em relação com alguém só enquanto essa relação
nos satisfaz, (…). Mas, no momento em que ocorre em nossas relações uma perturbação que gera desconforto em nós, abandonamos essas relações. (Novo Acesso à Vida, pág. 143)

(…) Assim, se examinarmos as nossas vidas e observarmos as nossas relações, vemos que elas constituem um processo em que levantamos resistência uns contra os outros, em que
erguemos uma muralha, por cima da qual olhamos e observamos os outros; mas conservamos sempre a muralha e permanecemos atrás dela, quer seja uma muralha psicológica,
quer seja uma muralha material, uma muralha econômica, uma muralha nacional. (Idem, pág. 144)

Se prestais atenção ao que estou dizendo e o seguis sem esforço, encontrareis a solução correta; e o descobrimento da solução correta é a revolução no centro. (…) Para a maioria
de nós existe um centro, que é o “eu”, o “ego” (…). E o fazer cessar completamente esse centro é a única revolução verdadeira; (…). (Percepção Criadora, pág. 27)

Devemos tomar o conteúdo de nossa consciência e olhá-lo. A quase todos nós nos recalcam desde a infância (…). E quando o indivíduo se sente ferido, constrói um muro ao redor
de si mesmo. E a conseqüência disso é que nos isolamos mais e mais (…). As ações que procedem desse trauma psicológico são obviamente neuróticas. (…) Quando digo: “Estou
ferido” - não fisicamente, senão internamente, psicologicamente, na psique - que é que se sente magoado? Não é por acaso a imagem, a representação (conceito) que o indivíduo
tem de si mesmo? (…) (La Llama de la Atención, pág. 16)

(…) Todos temos uma imagem de nós mesmos: um vê-se como grande homem, ou como homem muito humilde; outro acha-se um grande político, com todo o orgulho, a vaidade, o
poder, a posição; e isso cria a imagem (…) de si mesmo. Se possuímos um título de doutor ou somos dona-de-casa, temos a correspondente imagem de nós mesmos. Cada um tem
uma imagem de si mesmo (…). O pensamento criou essa imagem e é ela que fica magoada. É possível, então, não ter nenhuma imagem de si mesmo? (Idem, pág. 16)

Por conseguinte, muito depende de considerar o problema (…). Cada um de nós tem uma imagem de si mesmo, em geral uma imagem algo lisonjeira, e dessa base é que olhamos a
coisa que nos causa dor ou prazer. (O Descobrimento do Amor, pág. 94)

Tendes, pois, uma imagem de vós mesmos - como sois, ou como deveríeis ser ou deveis ser - e dessa imagem olhais a coisa que se chama “problema”. Há, pois, a imagem e o
problema, e procurais então “aproximar” a imagem ao problema, ou interpretais o problema de conformidade com o padrão estabelecido por essa imagem. (…) (Idem, pág. 94-95)

Pois bem. O problema nunca será resolvido enquanto a imagem existir - a imagem do que deveríeis ser, ou a imagem de si própria que a mente criou, graças a seu saber, à história,
à tradição de família, a todas as formas de experiência. Estais cônscio, não da imagem, porém do problema, enquanto o que aqui estamos tentando fazer não é resolver o problema,
porém, sim, (…) a estrutura da imagem; porque, se nenhuma imagem tivermos de nós mesmos, podemos resolver o problema. (Idem, pág. 95)

O indivíduo, em geral, tem de si próprio a imagem de que é um ser humano extraordinário, ou um homem mal sucedido na vida, um infeliz que precisa preencher-se, ou um homem
vaidoso, ambicioso - bem sabeis que imagens a maioria das pessoas têm de si próprias. (…) Ora, se eu tenho uma imagem de mim mesmo, essa imagem terá de contradizer os fatos
da existência diária, e só sou capaz de olhar os fatos diários com os olhos dessa imagem. Por conseguinte, o problema é criado pela imagem e não pelo próprio fato. (Idem, pág. 95)

Quando somos inferiores, temos o impulso de sentir-nos superiores; (…). Quer dizer: por mim mesmo, sou insignificante, vazio, superficial, e por isso desejo máscaras: (…) a
máscara da superioridade e da nobreza, (…) da seriedade, (…) a máscara com a qual afirmamos procurar a Deus. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 209-210)

(…) Um homem que é feliz, que ama, não ambiciona posses, não se entusiasma pelo bom êxito, pelo poder, pela posição ou pela autoridade. Os infelizes, os aflitos, é que buscam o
poder e o bom êxito como refúgios de sua própria insuficiência. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 131)

Como é estranho o desejo de se exibir ou de ser alguém. Invejar é odiar, e a vaidade corrompe. Como é difícil a simplicidade e a autenticidade! A autenticidade é, em si, uma tarefa
das mais árduas, ao passo que o desejo de se tornar alguém oferece pouca dificuldade. É muito fácil fingir ou representar, mas é extremamente complexo sermos aquilo que somos;
(…). Portanto, se formos inteligentes, abriremos mão da pretensão de sermos alguém ou alguma coisa. (Diário de Krishnamurti, pág. 165)

Portanto, é extremamente difícil sermos o que somos. (…) Mas, para que procedamos assim, para que deixemos de ser alguém, é preciso desvendar a nossa face oculta, expô-la sem
medo, a fim de a compreendermos. A compreensão de nossas ânsias e desejos ocultos vem da plena consciência deles (…); dessa forma, o puro ato de ver destrói aquela estrutura
psicológica, libertando-nos do sofrimento e do desejo de ser alguém. (…) (Idem, pág. 166)

Agora, o interrogante deseja saber (…). Servimo-nos das coisas, das posses, não como meras necessidades, mas como meios de satisfazer uma necessidade psicológica (…). Isto é, a
propriedade se torna um meio de engrandecimento próprio. A maioria de nós aspira a títulos, posição, posses, terras, virtudes, fama; e tudo isso implica (…) uma necessidade
psicológica (…) (Que estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 128)

Vemos, pois, que baseamos as nossas relações no auto-engrandecimento. E enquanto nos servirmos de pessoas, de idéias, de coisas, para nosso engrandecimento próprio, tem de
haver violência. (…) No mundo dos negócios ou no mundo social, na política, como escritor, (…) poeta, queremos que reconheçam nossos méritos, (…) bom êxito; o problema, pois,
é, com efeito, muito mais interior e psicológico, do que exterior e objetivo. (…) (Idem, pág. 129-130)

Enquanto nos servirmos dos conhecimentos técnicos para promoção e glorificação do indivíduo ou do grupo, as necessidades do homem não serão organizadas. É o desejo de
segurança psicológica, por meio do progresso técnico, que está destruindo a segurança física do homem. Há conhecimentos científicos suficientes para alimentar, vestir e dar casa
ao homem; mas o uso apropriado desses conhecimentos é negado enquanto houver nacionalidades separativas, com governos e fronteiras soberanos, que, por sua vez, suscitam as
lutas de classe e de raça. (…) (Arte da Libertação, pág. 247)

Como dizia, o saber é essencial em certos níveis da vida, para podermos viver. Mas, afora isso, qual é a natureza do saber? Que queremos dizer quando afirmamos que o saber é
necessário para acharmos a Deus, ou que o saber é necessário para nos conhecermos a nós mesmos (…)? Aqui, entendemos o saber como “experiência”. (…). Esse saber não é
utilizado pelo “ego”, pelo “eu” para se fortalecer a si próprio? (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 113)

Utilizamos, pois, o conhecimento como meio de fortalecer o “ego”, o “eu”. Já não observastes os Pundits, ou vosso pai, (…) ou vosso mestre - já observastes como todos eles estão
“inchados” de saber? Já observastes como o saber dá o sentimento de expansão do “eu”, o “eu sei e tu não sabes” (…). Assim, gradualmente, o saber, que é meramente
informação, é usado por vaidade e se torna o sustento, a nutrição do “ego”, do “eu”. (…) (Idem, pág. 113-114)

(…) O cientista utiliza o saber para alimentar a vaidade; assim também o professor; (…) os pais, (…) os gurus - todos querem ser alguém no mundo. (…) (Novos Roteiros em
Educação, pág. 114)

Que sabem eles? Só sabem o que está nos livros; ou (…) o que experimentaram, sendo que suas experiências dependem do seu fundo de condicionamento. Os mais de nós, pois,
estamos cheios de palavras, de conhecimentos, a que damos o nome de saber; e, sem esse saber, vemo-nos perdidos. (…) (Idem, pág. 114)

Desse modo, onde há temor, não há amor; e o saber sem amor é destrutivo. É o que está acontecendo no mundo atualmente. (…) (Idem, pág. 114)

Se quisermos criar uma sociedade sã e feliz, precisamos principiar por nós (…). Em lugar de conferirmos importância a nomes, rótulos e termos, geradores de confusão, devemos
desembaraçar a mente de tudo isso e observar-nos sem paixão. (…) Vemos, em torno de nós e em nós próprios, desejos e ações exclusivistas a redundarem no empobrecimento das
relações. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 19)

Por conseguinte, cumpre descobrir, não se há algo maior do que o conhecido, que nos impele para o desconhecido e, sim, perceber o que existe em nós que está criando confusão,
guerras, diferenças de classe, esnobismo, desejo de fugir, através da música, da arte, e de muitos outros modos. Importa, sem dúvida, que as coisas sejam vistas como são (…) para
nos vermos exatamente como somos. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 251)

Distinções, Respeitabilidade, Títulos, Ignorância


A maioria de nós aspira à satisfação de ocupar certa posição na sociedade, porque temos medo de ser ninguém. A sociedade é formada de tal modo que o cidadão que ocupe
posição respeitável é tratado com toda cortesia (…) Esse anseio de posição, de prestígio, de poder, de ser reconhecido pela sociedade como pessoa de destaque, representa desejo
de dominar os outros, e esse desejo de domínio é uma forma de agressão. (…) E qual é a causa dessa agressividade? O medo, não? (Liberte-se do Passado, pág. 37)

O marajá gosta de mostrar que é algo, ostentando seus carros, seus títulos, sua posição, suas riquezas. O professor, o pundit convenceu-se de que é alguma coisa, em virtude do seu
saber. Desejais também mostrar que sois “alguma coisa” entre vossos colegas de classe. (…) (Debates sobre Educação, pág. 126)

Se sois interiormente rico, não sentis nenhuma necessidade de ostentar-vos, porque essa riqueza é bela em si mesma. Mas visto temermos a nossa pobreza interior, assumimos ares
importantes. Assim faz o “sannyasi”, assim fazem os primeiros-ministros e os ricos. Tirem-se-lhes o poder, o dinheiro, a posição, e vede como ficam sem brilho, estúpidos, vazios!
(…) (Idem, pág. 126-127)
Todos nós, velhos e jovens, desejamos ser altamente respeitáveis (…) Respeitabilidade implica reconhecimento por parte da sociedade; e a sociedade só reconhece o que teve êxito,
o que se tornou importante, famoso, e despreza o resto. Por isso, adoramos o êxito e a respeitabilidade. E quando pouco vos importa se a sociedade vos considera respeitável ou
não, quando não buscais êxito, não desejais tornar-vos alguém, existe então intensidade - e isso significa que não existe medo, nem conflito, nem contradição, interiormente; por
conseguinte, dispondes de abundante energia para acompanhardes o fato “até o fim”. (O Passo Decisivo, pág. 171)

Sabem o que a palavra “respeitabilidade” significa? Vocês são respeitáveis quando são considerados (…) pela maioria (…) E o que a maioria das pessoas respeita (…)? Respeitam
as coisas que elas mesmas desejam e que projetaram como meta ou ideal; (…). Se você é rico e poderoso, ou tem grande reputação política, ou escreveu livros de sucesso, você é
respeitado pela maioria. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 117)

(…) O que você diz pode até ser um completo disparate, mas, quando você fala, as pessoas ouvem porque o consideram um grande homem. E quando você, dessa forma, conquistou
o respeito da maioria, o fato de a multidão o seguir, dá-lhe uma sensação de respeitabilidade, (…). Mas o chamado pecador está mais próximo de Deus do que o homem respeitável,
porquanto o respeitável está coberto de hipocrisia. (Idem, pág. 117)

Um dos empecilhos ao viver criador é o medo, e a respeitabilidade constitui manifestação desse medo. Os indivíduos respeitáveis, moralmente agrilhoados, não conhecem o integral
e verdadeiro significado da vida. Estão encerrados dentro dos muros da sua virtude, nada podem enxergar além deles. (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 147)

Sua “moralidade de vidraças coloridas”, com base em ideais e crenças religiosas, nada tem em comum com a realidade; e, quando atrás delas se abrigam, estão vivendo no mundo
das próprias ilusões. A despeito da moral pessoalmente imposta, e com que se comprazem, as pessoas respeitáveis acham-se também em confusão, sofrimento e conflito. (Idem, pág.
147-148)

A respeitabilidade é um flagelo, um mal que corrói a mente e o coração. Insinua-se furtivamente; destrói o amor. Ser respeitável é sentir-se vitorioso, é talhar para si mesmo uma
posição no mundo, construir em torno de si uma muralha de segurança, daquela segurança que vem com o dinheiro, o poder, o sucesso, e a capacidade ou a virtude. Este
isolamento arrogante gera ódios e antagonismos nas relações humanas que constituem a sociedade.

Os homens respeitáveis são sempre a nata da sociedade, e, como tais, causadores de conflitos e sofrimentos. (…) Estão sempre na defensiva, cheios de medo e de suspeitas. O medo
habita-lhes os corações, e por isso a indignação é sua virtude. A virtude e a piedade são suas defesas. (…) Os homens respeitáveis nunca podem estar abertos para a Realidade,
(…). A felicidade lhes é negada porque evitam a Verdade. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 25-26)

Se quisermos criar uma sociedade sã e feliz, precisamos principiar por nós, (…). Em lugar de conferirmos importâncias a nomes, rótulos e termos, geradores de confusão, devemos
desembaraçar a mente de tudo isso (…). (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 19)

Senhores, os títulos, sejam títulos espirituais, sejam títulos mundanos, são meios de explorar os outros. (…) É só isso que fazeis; não percebeis que sois, vós mesmos, explorados e
que portanto criais o explorador (…). Vivemos sob a influência de títulos, de palavras, de frases, destituídos de significação; eis porque interiormente estamos vazios e sofremos.
(…) (Novo Acesso à Vida, pág. 45)

(…) Divisão é ilusão. A divisão em grupos, raças, nacionalidades, é fictícia. Somos entes humanos, não separados por nomes e rótulos. Quando os rótulos se tornam mais
importantes do que tudo o mais, ocorre a divisão, e lá vêm as guerras e outros choques. (A Luz que não se Apaga, pág. 121)

Os rótulos parecem dar satisfação. Aceitamos a categoria a que supostamente pertencemos, como uma explicação satisfatória da vida. Somos adoradores de palavras e de
etiquetas; parecemos nunca ultrapassar o símbolo, (…). Intitulando-nos isto ou aquilo, seguramo-nos contra futuras perturbações, e quedamo-nos satisfeitos. (…) (Comentários
sobre o Viver, pág. 172)

(…) Aquele que busca a verdade é um homem religioso e não tem necessidade de etiquetas, tais como “hinduísta”, “muçulmano”, “cristão”. (…) Se tivéssemos amor, (…) caridade
em nossos corações, não faríamos o menor caso de títulos (…). Porque os nossos corações estão vazios, enchem-se de coisas pueris (…). Francamente, isso é falta de maturidade.
(…) (A Arte da Libertação, pág. 19-20)

(…) Um homem sensato não pertence a grupo algum, não ambiciona posição na sociedade, pois isso só produz guerra. Se fôsseis realmente sensatos, pouco vos importaria o nome
que vos dessem; não veneraríeis os rótulos. Mas rótulos, palavras, se tornam coisas importantes quando o coração está vazio. (…) (Idem, pág. 20)

(…) Para sermos entes humanos amadurecidos, precisamos desfazer-nos desses brinquedos absurdos, que são o nacionalismo, a religião organizada, o seguir alguém, política ou
religiosamente. Se tendes verdadeiro interesse nisso, então, naturalmente, vos libertareis de todos os atos infantis, de adotardes determinados rótulos: nacionais, políticos ou
religiosos; e só então teremos um mundo pacífico. (…) (Idem, pág. 21)

(…) Afinal de contas, os títulos, as posições, os diplomas, as riquezas, são utilizados como meios (…) de sobrevivência psicológica, de certeza, de segurança psicológica. E
enquanto estivermos à procura de segurança psicológica, através das coisas, tem de haver disputa em torno das coisas. ( Nós Somos o Problema, pág. 31)

(…) Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. Bem sei que (…) a verdade nada tem que ver com as personalidades
mesquinhas e tirânicas que adorais, (…). A verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas. (Que o
Entendimento seja Lei, pág. 5)

Esta é a opinião (…). Todos quereis ser alguém no Estado, ou ter o título de “Sir” ou de “Lord” ou algo semelhante, e isto se baseia no espírito de posse, nas possessões; e isto se
tornou moral, verdadeiro, (…) (Palestras em Auck1and, 1934, pág. 18)

(…) Afinal de contas, se tirardes o nome, o título, a propriedade, os vossos diplomas de B.As e M.As, que resta de vós? Perdeis toda a importância, (…). Sem vossa propriedade, sem
vossas medalhas, etc., nada sois. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 36-37)

Reflitamos juntos. Por que desejam as pessoas ser famosas? Em primeiro lugar, porque é vantajoso (…); e, também, porque proporciona muito prazer, (…). Se sois conhecido em
todo o mundo, vos sentis importante, (…) imortalizado. Desejais ser famoso, conhecido e falado no mundo inteiro, porque interiormente não sois ninguém. (…) (A Cultura e o
Problema Humano, pág. 48)

(…) Interiormente, nenhuma riqueza tendes, (…) e, por isso, desejais ser conhecido no mundo exterior. Mas, se sois rico interiormente, então pouco vos importa serdes conhecido ou
desconhecido. (Idem, pág. 48)

(…) Minha mente, percebendo a sua própria insuficiência, sua pobreza, põe-se a adquirir posses, diplomas, títulos (…); e desse modo se fortalece no “eu”. Sendo o centro do “eu”,
a mente diz: “Preciso transformar-me” - e põe-se a criar incentivos para si. (…) (Claridade na Ação, pág. 107)

Podeis ter todos os graus acadêmicos do mundo, mas, se não conheceis a vós mesmos, sois extremamente estúpido. (…) Sem autoconhecimento, o cuidar meramente de colecionar
fatos (…) é uma maneira muito estúpida de existir. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 117)

(…) Podeis ser capaz de citar o Bhagavad Gita, o Upanishads, o Alcorão e a Bíblia, mas, se não conheceis a vós mesmo, sois tal qual um papagaio a repetir palavras. (…) (Idem,
pág. 117)

Psicologicamente, terminar o conflito é “ser nada”; e a maioria de nós tem medo de enfrentar o “ser nada” (…). Mas, afinal de contas, que sois vós? Que são todos os VIPs (very
important people) - a gente muito importante? (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 40)

(…) Tirem-se-lhes os títulos, as posições, as decorações, todas essas bugigangas, e eles ficam reduzidos a nada. E quer-me parecer que nós, a gente comum, também estamos
tentando, de várias maneiras, tornar-nos algo; mas, interiormente, não somos absolutamente nada. E por que não ser nada? Sede nada (…). (Idem, pág. 40-41)
Vós sois nada. Podeis ter vosso nome e vosso título, propriedades e depósitos nos bancos, podeis ter poder e fama; todavia, apesar de todas estas defesas, sois o mesmo que nada.
Podeis não estar perfeitamente cônscio deste vazio, deste nada, ou podeis simplesmente não desejar estar cônscio dele; ele existe, entretanto, não importa o que façais para evitá-lo.
(…) (Comentários sobre o Viver, pág.89)

Uma das camadas ou seções deste fundo é a ignorância. A ignorância não deve ser confundida com a mera falta de informação. A ignorância é a falta de compreensão de si
próprio. (…) A ignorância existirá enquanto a mente não desvendar o processo mediante o qual cria suas próprias limitações, e bem assim o processo da ação auto-induzida. (…)
(Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 26)

Ignorância é uma coisa, e o “estado de não saber” outra coisa muito diferente; as duas nenhuma relação têm entre si. Uma pessoa pode ser muito ilustrada, muito hábil, muito
eficiente e talentosa e, apesar disso, ser ignorante. Há ignorância quando não existe autoconhecimento. O homem ignorante é aquele que não se conhece, que não conhece suas
próprias ilusões, vaidades, invejas, etc. (…) (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 182)

A paixão pelo saber é como outra paixão qualquer; oferece uma fuga aos terrores do vazio, da solidão, da frustração do ser nada. A luz do saber é um manto suntuoso, debaixo do
qual está uma escuridão que a mente não pode penetrar. A mente tem pavor a este desconhecido e por esta razão foge para o saber, para as teorias, as esperanças, a imaginação; e
justamente este saber constitui um obstáculo à compreensão do desconhecido. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 24)

(…) Mas, não é fácil pôr de parte o saber. Ser ignorante não é ser destituído de saber. A ignorância é falta de autopercebimento; e o saber é ignorância quando não há
compreensão das atividades do “eu”. A compreensão do “eu” é a libertação das prisões do saber. (Idem, pág. 24)

Só se está liberto do saber, quando se compreende o processo da acumulação, a base do impulso para a acumulação. O desejo de acumular é o desejo de segurança e de certeza.
Esse desejo (…) é a causa do temor, o qual destrói toda comunhão. (…) A acumulação é resistência egocêntrica, e o saber torna mais forte esta resistência. A adoração do saber é
uma forma de idolatria, e nunca dissolverá o conflito e o sofrimento (…) (Idem, pág. 24-25)

(…) Ignorância não significa a falta de conhecimentos técnicos, (…) de leitura de muitos livros filosóficos: ignorância é a falta de conhecimento próprio. Ainda que uma pessoa
tenha lido muitos livros filosóficos e sagrados e seja capaz de citá-los, essas citações, que representam uma acumulação de palavras e experiências alheias, não libertam a mente da
ignorância. (…) (A Arte da Libertação, pág. 24)

Tenho procurado explicar que a ignorância, a malevolência e a luxúria causam aflição e que, se não eliminarmos esses obstáculos, originaremos inevitavelmente o conflito, a
confusão e a miséria exteriores. A ignorância - a falta de conhecimento de nós mesmos - é o maior dos males. Impede o correto pensar e dá importância primária às coisas
secundárias, (…) a vida se torna vazia, pesada e rotineira. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 106)

É bem perceptível o processo do sofrimento, (…). E faltando-nos o amor, o prazer assume toda a importância.

Não só existe essa espécie de sofrimento, mas há também (…) o sofrimento causado pela ignorância. Há ignorância, mesmo quando somos bem ilustrados, dotados de vasta cultura
e experiência, das aptidões com que se ganha fama, notoriedade, dinheiro. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 138)

(…) A ignorância não se dissipa com o acumular fatos e informações; isso o computador pode fazer muito melhor do que a mente humana. Ignorância é a total ausência de
autoconhecimento. Em maioria, somos superficiais e vulgares, (…). Essa ignorância engendra toda espécie de superstição, perpetua o medo, gera a esperança e o desespero e todas
as invenções e teorias da mente astuciosa. (…) (Idem, pág. 138-139)

Verdade, Proximidade, Realidade Viva, Sem Caminhos


Não precisamos procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que está muito longe de nós. Ela é a verdade da mente, a verdade das suas atividades, momento a momento. Se
estamos cônscios dessa verdade, (…) tal percebimento liberta a consciência ou a energia que é inteligência, amor. Enquanto a mente se servir da consciência como atividade do
“eu”, o tempo tem de existir, com todas as suas tribulações, (…) conflitos, (…) malefícios e (…) ilusões (…); só quando a mente, compreendendo esse processo total, cessa de
existir, pode haver o amor. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 127)

O que é conhecido não é o Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego” busca, por força
de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela afirmação. (…) Podeis ler sobre o Real, o que é de lamentar, podeis palrar a seu respeito, o que é desperdício de
tempo, mas não é isso o Real. Quando dizeis que, pensando na verdade, estais mais capacitados para solucionar vossos problemas e sofrimentos, significa isso que vos estais
servindo de uma suposta verdade, (…); como (…) qualquer entorpecente, não tarda a resultar, daí, o sono e a insensibilidade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 264-265)

O importante, pois, é que se compreenda por que razão a mente está sujeita a ser perturbada. Que é esta perturbação? (…) Sem começarmos com o que está perto, queremos chegar
longe; mas só podemos ir longe, se começarmos com o que está muito perto de nós. E começar com o que está perto significa estar livre da ambição, do desejo de ser algo, do
desejo de ser bem sucedido na vida, célebre, famoso (…), tudo isso denunciando o “eu”, o “ego”. (Viver sem Temor, pág. 58)

A compreensão do conflito, pois, na vida de relação, é de importância primacial, (…). Como podemos conhecer o que está perto de nós, quando desconhecemos nossa própria
esposa? Positivamente, precisamos começar com o que está perto, para alcançar o que está longe; (…). (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 51-52)

Nessas condições, para compreendermos aquilo que representa o mais alto, o supremo, o real, precisamos começar muito de baixo, muito perto de nós; isto é, precisamos averiguar
o valor das coisas, das relações e das idéias com que nos ocupamos cada dia. (Novo Acesso à Vida, pág. 14)

E sem compreendê-las, como pode a mente buscar a realidade? Pode inventar a “realidade”, pode copiar, pode imitar; tendo lido muitos livros, pode repetir a experiência alheia.
Mas isso, por certo, não é o real. Para experimentar o real, a mente deve deixar de criar; porque tudo o que ela criar (…), estará sempre subordinado ao tempo, (…). (Idem, pág.
14)

(…) Para chegar longe, precisamos começar com o que está perto. Isso não requer nenhuma renúncia extraordinária, mas um estado de elevada sensibilidade; (…) e só nesse
estado de sensibilidade pode-se receber a verdade - a qual não é para os insensíveis, os indolentes, os desatentos. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 28-29)

Mas o homem que começa com o que está perto, que está cônscio dos seus gestos, sua fala, sua maneira de comer, de falar, sua conduta - para este há a sensibilidade de penetrar
muito extensamente, muito amplamente nas causas do conflito. (Idem, pág. 29)

Não podeis subir muito se não começais por baixo: não quereis ser simples, não quereis ser humildes. (…) Assim, um homem que realmente desejasse achar, conhecer a verdade,
(…) estar aberto para a verdade, teria de começar muito perto de si, deveria avivar a própria sensibilidade, mediante vigilância, tornando sua mente apurada, clara e simples. Uma
mente assim não anda em busca dos seus próprios desejos. (…). Só assim é possível a paz; porque essa mente descobre o imensurável. (Idem, pág. 29)

A verdade não pode ser acumulada. O que se acumula é sempre destruído, (…). A verdade nunca fenece, porque só pode ser encontrada de momento a momento, em cada
pensamento, cada relação, cada palavra, cada gesto, num sorriso, numa lágrima. E se vós e eu pudermos achá-la, e vivê-la - o próprio viver é o descobrimento dela - não seremos
então propagandistas, mas entes humanos criadores; (…). (Poder e Realização, pág. 42)

(…) A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento a momento. O que é acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória
é produto do tempo (…). O que tem duração não é eterno. A eternidade está no agora. (…) (O que te fará Feliz? pág. 129)

A mente desejosa de transformação futura (…) nunca poderá achar a verdade. Porque a verdade é uma coisa que deve vir momento a momento; que precisa ser descoberta de novo;
(…). Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. (…) (Idem, pág. 129)
(…) A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não quando nos
preparamos para recebê-la. (…) Assim, pois, uma mente que está presa na rede de palavras, não pode compreender a verdade. (Idem, pág. 108)

(…) Não vos choqueis, não vos sintais desapontados - a verdade nem sempre é aprazível. A verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a verdade é amável, delicada,
generosa e encantadora para aqueles que compreendem. (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 4)

A verdade só pode vir a vós quando vossa mente e coração são simples e claros, e existe amor no vosso coração, e não se vosso coração está cheio das coisas da mente. (…) E ela
só pode vir quando a mente está vazia, quando a mente desiste de criar. Ela virá, então, sem a chamardes. Virá veloz como o vento, sem ser pressentida. A verdade vem no escuro e
não quando estamos à sua espreita, desejando-a. Ela surge súbita como a luz do sol, pura como a noite, mas, para a receber, deve o coração estar cheio e a mente, vazia. (…) (O
que te fará Feliz?, pág. 79)

A verdade não tem continuidade, porque está além do tempo; e o que tem continuidade não é a Verdade. A Verdade é para ser percebida instantaneamente, e esquecida -
“esquecida”, no sentido de que não a levamos conosco como lembrança da Verdade que foi percebida. E porque vossa mente está livre da memória, a qualquer instante (…) a
Verdade reaparecerá. (Experimente um Novo Caminho, pág. 107)

(…) Só existe a verdade quando estais livres da dor, da ansiedade, da agressividade que ora vos enchem a mente e o coração. Ao perceberdes tudo isso e alcançardes aquela
bênção chamada amor, conhecereis então a verdade do que se está dizendo. (A Outra Margem do Caminho, pág. 13)

Ora, a verdade tem um lugar permanente? A verdade ocupa um ponto fixo? A verdade tem morada, ou é uma coisa dinâmica, viva, e portanto sem pouso certo? A verdade está em
movimento constante; mas se dizeis que ela é um ponto fixo, tereis então de achar um guru que vos leve a esse ponto, e o guru se tornará necessário para vos apontar o caminho.
(…) (A Arte da Libertação, pág. 121)

(…) Por outras palavras, quando procurais o guru não estais em busca a verdade, buscais segurança num nível diferente, (…). Mas é a verdade permanência? Não sabeis, (…). Mas
não ousais declarar que não sabeis, porque o reconhecer que não sabemos é uma experiência verdadeiramente devastadora. (Idem, pág. 123)

Mas, sem dúvida, tendes de sofrer uma devastação antes de descobrirdes a verdade; precisais achar-vos naquele estado de incerteza, de total frustração, sem possibilidade de fuga;
tendes de ser posto frente a frente com o vácuo, o vazio, sem nenhuma passagem por onde fugir. Só então achareis o que é verdade. Mas especular sobre a verdade, pensar na
verdade, é negar a verdade. (Idem, p. 123)

Vossos pensamentos e especulações a respeito da verdade não têm validade. Toda idéia é produto do pensamento, e o pensamento é memória (…) Assim, para o homem que busca a
verdade, o guru é inteiramente desnecessário. A verdade não está longe, a verdade está muito perto, naquilo que pensais e sentis, em vossas relações com vossa família, vosso
vizinho, com a propriedade e as idéias. (Idem, pág. 123)

Procurar a verdade em alguma esfera abstrata é pura ideação, e a maioria de nós procura a verdade por essa maneira, como um meio de fugir à vida. A vida nos esmaga, é
sobremodo exigente e dolorosa, (…). Conseqüentemente, procuramos um guru para nos ajudar a fugir; (…) a ele nos apegamos. (Idem, pág. 123)

A realidade não é algo abstrato ou teórico, (…) a realidade está na compreensão da vida de relação, no estarmos cônscios, a todos os momentos, do nosso falar, da nossa conduta,
da maneira como tratamos as pessoas, (…) como consideramos os outros; porque a conduta correta significa virtude, e aí se encontra a realidade. (…) (Por que não te Satisfaz a
Vida, pág. 150-151)

(…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho - só para as coisas mortas pode haver um caminho. Porque a verdade não tem caminho, para a
descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? Se procurais um guru, é porque não sois
aventuroso, estais apenas à procura (…) de segurança. (…) (A Arte da Libertação, pág. 123-124)

(…) Essa realidade é um ser eterno no presente, e não no futuro; ela está no agora imediato, não no futuro remoto. Para compreender esse agora, essa eternidade, a mente deve
estar livre do tempo, o pensamento deve cessar. Todavia, tudo que estais fazendo atualmente só serve para cultivar o pensamento, condicionar a mente, e por isso nunca há para vós
o novo, (…). (Idem, pág. 124)

Enquanto existe o processo de pensamento, não pode existir a verdade (…). Não podeis criar tranqüilidade à força, (…) tornar a mente serena, (…) forçar o pensamento a parar.
Cumpre-nos compreender o processo do pensamento e transcender o pensamento; só então a verdade libertará o pensamento de seu próprio processo. (Idem, pág. 124)

Nasce a verdade quando a mente está de todo tranqüila, numa tranqüilidade não artificial, não “feita”; surge essa tranqüilidade só quando há compreensão; e essa compreensão
não é difícil, mas exige toda a vossa atenção. É negada a atenção quando viveis apenas no cérebro, e não com todo o vosso ser. (Idem, pág. 125)

A verdade, portanto, não é para as pessoas respeitáveis, nem para os que desejam a expansão, o preenchimento do seu próprio “eu”. A verdade não é para os que buscam
segurança e permanência; porque a permanência que buscam é meramente o oposto da impermanência. Presos que estão na rede do tempo, buscam aquilo que é permanente; (…)
Por conseguinte, o homem que deseja descobrir a realidade tem de sustar a busca - o que não significa que deva contentar-se com o que é. (Idem, pág. 214)

Pelo contrário, um homem que está todo empenhado no descobrimento da verdade deve ser, interiormente, um revolucionário completo. Não pode pertencer a nenhuma classe,
nação, grupo ou ideologia, (…); (…) a verdade não pode ser encontrada nas coisas feitas pela mão ou pela mente. (…) (Idem, pág. 125)

A verdade vem a todo aquele que está livre do tempo, que não se está servindo do tempo como meio de auto-expansão. O tempo significa memória, (…). Enquanto existe o “ego”, o
eu”, o “meu”, em qualquer nível (…), ele está sempre dentro da esfera do pensamento. Onde está o pensamento está o oposto, porque o pensamento cria o oposto; e enquanto existe
o oposto não pode existir a verdade. (…) (Idem, pág. 125)

Existe um caminho que leva ao desconhecido? Há sempre caminho para o conhecido, mas nunca para o desconhecido. (…) (Poder e Realização, pág. 93)

Se a Realidade é o conhecido - assim como nossa casa, cujo caminho conhecemos - então a coisa é muito simples: podeis abrir um caminho para lá. Podeis ter então uma
disciplina, (…) várias formas de yoga, (…), a fim de não vos desviardes do alvo. (…) (Idem, pág. 93)

(…) Mas a Realidade é algo que se conhece? E se a conhecemos, isso é o Real? Por certo, a Realidade é algo que se manifesta momento a momento, e que só se pode encontrar no
silêncio da mente. Não há caminho para a verdade (…), porque a Realidade é o incognoscível, o inominável, o impensável. (…) (Poder e Realização, pág. 93)

(…) O que podeis pensar a respeito da verdade é produto de vosso fundo mental, vossa tradição, vosso saber. Mas a verdade nada tem em comum com o saber, (…) a memória, (…)
a experiência. Se a mente pode criar um Deus - como de fato cria - isso por certo não é Deus, (…). (Idem, pág. 93-94)

Não há caminho para a Verdade. A Verdade tem de ser descoberta, mas nenhuma fórmula existe para o seu descobrimento. O que é formulado não é verdadeiro. Tendes de
lançar-vos ao mar desconhecido, e este mar desconhecido sois vós mesmos. Tendes de pôr-vos a caminho, para o descobrimento de vós mesmos, mas não de acordo com algum
plano ou padrão, (…). O descobrimento traz alegria - não a alegria que é lembrada, que é comparada, mas a alegria que é sempre nova. O autoconhecimento é o começo da
sabedoria, em cuja tranqüilidade e silêncio se encontra o Imensurável. (Comentários sobre o Viver, pág. 95)

(…) A mente limitada, ainda a mais instruída e apta a discutir eruditamente, é incapaz de buscar algo totalmente novo. O que pode fazer é apenas “projetar” suas próprias idéias
ou provocar um estado “devocional” ou estático. Estamos, portanto, entrando num mar desconhecido, e cada um tem de ser seu próprio capitão, piloto e marujo. (…) Não há guia,
e esta é a beleza da existência. (…) Essa viagem é um “processo” de autoconhecimento (…) (O Homem Livre, pág. 95)

Para descobrir a verdade, não há caminho algum. Tendes de entrar no mar desconhecido - o que não é desanimador nem empresa aventurosa. Quando desejais achar algo de novo,
quando estais investigando (…), vossa mente tem de estar muito tranqüila (…). Se a mente está repleta de fatos, de saber, eles atuam como empecilhos ao que é novo. A dificuldade
está em que, para a maioria de nós, o saber se tornou tão importante, de significação tão preeminente, que está sempre intervindo em tudo o que é novo, (…). Assim, o saber e a
cultura são empecilhos, para aqueles que desejam investigar, (…) compreender o que é atemporal. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 153)

Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do coração, mas um
preenchimento constante, (…) na ação. O inquirirdes sobre a verdade implica que acreditais em um caminho para a verdade, e esta é a primeira ilusão a que estais presos. Nisso há
imitação, deformação. (…) Digo que cada um deve descobrir por si próprio o que é a verdade, mas isso não significa que cada um deva delinear um caminho para si próprio, (…)
(Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 111-112)

A verdade se encontra no mar - do qual não existe mapa - do autoconhecimento. (…) Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da
verdade. Os que se aprofundaram no autoconhecimento são flexíveis. Sabemos que uma das causas da resistência é a especialização; e outra causa é a imitação. (…) (O Egoísmo e
o Problema da Paz, pág. 221)

É só quando o pensamento está libertado dos valores materiais criados pela mão ou pela mente, que nos é dada a visão da verdade. Não há senda conducente à Verdade. Tendes de
navegar por mares sem roteiros para a encontrardes. A realidade não pode ser comunicada a outro; porquanto, o que se comunica é o que já se sabe, e o que é sabido não é o Real.
(…) (O Caminho da Vida, pág. 10)

Sinto que ninguém pode guiar outrem à verdade, porque a verdade é infinita; é uma terra sem caminhos, e ninguém pode dizer-vos como encontrá-la. Ninguém pode ensinar-vos a
ser artista; alguém poderá apenas dar-vos os pincéis e a tela e mostrar-vos as cores a usar. (…) Só quando estais absolutamente desnudo, livre de todas as técnicas, livre de todos
os instrutores, é que descobris. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 42)

(…) Precisais buscar a verdade por vós mesmos, como indivíduos, visto que ela mora em vós, não no exterior. Quando o indivíduo se houver compreendido a si mesmo, viverá num
ambiente de perfeita harmonia e não contribuirá para a desordem do mundo. (Coletânea de Palestras, 1930-1934, pág. 22)

Pergunta: Vós alcançastes a Realidade. Podeis dizer-nos o que é Deus?

Krishnamurti: Senhores, como sabeis que alcancei a Realidade? Para o saberdes seria necessário que tivésseis também alcançado a Realidade. (…) E que importância tem
compreender a Realidade alcançada por outro homem, (…) conhecer esse homem? (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 114)

Ora bem, quereis que eu vos diga o que é a Realidade. Mas pode o indescritível ser expresso em palavras? Pode-se medir o imensurável? Pode-se aprisionar o vento numa mão
fechada? (…) No momento em que traduzis o incognoscível no que conheceis, não é mais o incognoscível o que traduzistes (…) (Idem, pág. 116)

(…) Conseqüentemente, em vez de procurardes aquele homem que alcançou a Realidade, ou perguntardes o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção à percepção do
“que é”? Encontrareis, então, o desconhecido, ou, antes, o desconhecido virá ao vosso encontro. (…) (Idem, pág. 117)

(…) Não pode a realidade manifestar-se àquele que quer “vir a ser”, àquele que luta; ela só pode manifestar-se àquele em que há o “ser” (…) que compreende o “que é”. Assim
como a solução de um problema está contida no próprio problema, assim também a realidade está contida no “que é”, e se formos capazes de compreender o “que é”,
compreenderemos a Verdade. (…) (Idem, pág. 117)

(…) Assim, pois, não está longe de nós a Realidade, mas nós a distanciamos, (…). A Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o atemporal
existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está preso na rede o tempo. (…) Essa libertação só é possível mediante meditação correta, que significa ação
completa. (…) (Idem, pág. 117)

Busca da Verdade; Meios de Fuga, Busca sem Motivo


Vejamos, pois, se nos é possível examinar juntos este problema real da busca, (…). Pela busca, é possível achar algo novo? Por que buscamos, e que é que buscamos? Qual o
motivo, o processo psicológico que nos impele a buscar? (…). Sem a compreensão desse estímulo, a mera busca será muito pouco significativa, (…). Mas, se pudermos descobrir
todo o mecanismo desse processo de busca, então é bem possível que cheguemos a um ponto em que não há mais busca - e talvez seja esse o estado necessário para o aparecimento
de algo novo. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 21-22)

(…) Por certo, aquilo que é novo não pode ser reconhecido. O reconhecimento só ocorre através da memória, da experiência acumulada a que denominamos saber. Se
reconhecemos uma coisa, essa coisa não é nova, (…) tudo o que achamos é coisa já experimentada, procedendo portanto do “fundo”, da memória. (…) Deus, a verdade, (…) não é
reconhecível, deve ser algo totalmente novo; (…). (Idem, pág. 23)

Não vos parece importante investigarmos o que é que estamos buscando, e por que buscamos alguma coisa? Por que existe em nós esta extraordinária ânsia de procurar e achar, e
por que desperdiçamos tanta energia nesta luta? (…). É bem provável que a mente só possa descobrir o que se acha além das medidas do tempo, quando não está mais a buscar -
mas isso não significa deva ela estar contentada, satisfeita. (…) (Visão da Realidade, pág. 215)

(…) E por que é que buscamos? É por nos sentirmos muito perturbados, muito descontentes com o que somos? Se somos feios, queremos ser belos; se somos ambiciosos, queremos
preencher a nossa ambição; se temos talento, queremos tornar esse talento mais vigoroso; (…) se somos medíocres, queremos brilhar; se somos intelectuais, queremos dar
significação à vida; se somos religiosos, queremos achar o que reside além da mente, indagando, rogando, rezando, sacrificando, cultivando, disciplinando, etc. (…). (Idem, pág.
218)

Esse esforço intenso, esse processo de ajustamento é a nossa vida, (…). Nossa vida é um perpétuo campo de batalha, de manhã à noite, e, ignorando a significação dessa luta,
recorremos a outra pessoa, (…). Entregamo-nos às crenças, aos livros, aos guias (…).(Visão da Realidade, pág. 218-219)

Assim, pois, que é que desejamos? Vendo-nos atribulados, queremos paz, vendo-nos em conflito, queremos acabar com o conflito. (…) Lutamos para obter uma coisa, e, depois de
obtê-la, seguimos avante, querendo mais. Nossa vida é uma série de exigências de conforto, de segurança, posição, preenchimento, felicidade, reconhecimento, e temos também
raros momentos em que desejamos descobrir o que é a verdade, o que é Deus. (…) (Idem, pág. 219)

(…) Andamos de um padrão para outro, de uma gaiola para outra, de uma filosofia ou sociedade para outra, esperando encontrar a felicidade, (…) nas relações com pessoas, (…)
de um retiro tranqüilo (…). E achamos que, se não buscarmos, iremos deteriorar-nos, estagnar-nos (…). (Idem, pág. 219-220)

Ora, não vos parece de todo fútil essa busca? Estar cativo na gaiola de dada disciplina, o ser impelido de uma gaiola, de um sistema, de uma disciplina para outra, isso,
evidentemente, não tem significação alguma. Assim sendo, devemos investigar (…) por que buscamos. (…) (Idem, pág. 220)

Ora, pode-se perceber e compreender imediatamente que é vã toda busca em que há “motivo”? (…) A verdade não se acha no futuro, e se (…) descobrirdes a inutilidade da vossa
busca, então esse próprio ato de escutar é o experimentar da verdade, e a busca cessará então. Vossa mente já não estará subordinada a “motivos”, intenções. (Idem, pág. 221-222)

Nessas condições, a questão não é de como libertar a mente do “motivo”. A mente não pode (…) libertar-se do “motivo” porque a mente, em si, é causa e efeito, é resultado do
tempo. (…) Mas se puderdes escutar e ver a verdade de que, enquanto houver “motivo” na busca, essa busca é toda vã, sem significação, conduzindo apenas a mais aflições e
sofrimentos, (…) vereis que a vossa mente susta a busca, porque já não tem “motivo” algum. (…) (Idem, pág. 222)

Percebestes, por vós mesmos, a futilidade desta eterna busca com um “motivo” e, por conseguinte, a vossa mente está silenciosa, quieta, não há movimento algum de busca; e essa
total tranqüilidade da mente pode ser o estado em que se torna existente o atemporal. (Idem, pág. 222)

Comecemos pelo que está perto, para irmos longe. Que entendeis por “busca”? Estais em busca da Verdade? E ela pode ser achada pela busca? (…) Busca implica conhecimento
prévio, implica algo que já se sentiu e conheceu. (…) A verdade é algo que podemos conhecer, apanhar e guardar? O conhecimento que dela temos, não é uma “projeção” do
passado e portanto (…) simples lembrança? (…) E a mente não deve estar tranqüila para que a Realidade possa existir? A busca é esforço para ganhar o mais ou o menos (…); e
enquanto a mente for o ponto de concentração, o foco do esforço, do conflito, pode ela estar tranqüila alguma vez? Pode a mente tornar-se tranqüila por meio de esforço? (…)
(Reflexões sobre a Vida, pág. 76-77)

Veremos. Investiguemos a verdade, em relação à busca. Para o buscar, necessita-se da entidade que busca, separada da coisa buscada; e existe essa entidade separada? O
pensador, o experimentador, é diferente ou distinto de seus pensamentos e experiências? (…) Temos, pois, de compreender a mente, o processo do “eu”. Que é essa mente que
busca, que escolhe, que tem medo, que nega e justifica? Que é o pensamento? (Idem, pág. 77)

A palavra “buscar” - tentar alcançar, descobrir - implica que já conhecemos mais ou menos o que desejamos achar. Ao dizermos que estamos buscando a verdade, ou Deus, (…) já
devemos ter na mente a respectiva imagem ou idéia. (…) Na meditação, a primeira coisa que se percebe é a inutilidade do buscar; porque a coisa buscada é predeterminada pelo
nosso desejo; (…). (Fora da Violência, pág. 77-78)

A verdade não é uma coisa que se possa experimentar. A verdade não pode ser buscada e achada. Está fora do tempo. E o pensamento, que é tempo, nenhuma possibilidade tem de
buscá-la e “pegá-la”. (…) Quando a mente está a buscar uma experiência, por mais maravilhosa que seja, isso significa que o “eu” a está buscando - o “eu”, que é o passado, com
todas as suas frustrações, aflições, esperanças. (A Questão do Impossível, pág. 72)

(…) Esse estado psicológico que cessa de buscar a experiência não significa paralisia mental; ao contrário, é a mente aditiva, acumulativa, que começa a definhar. Acumular é um
ato mecânico, repetitivo; tanto a renúncia quanto a mera aquisição são atos mecânicos de imitação. Torna-se livre a mente que destrói este mecanismo de acumulação e defesa;
dessa maneira ela se torna indiferente ao ato de experimentar. (Diário de Krishnamurti, pág. 51)

Enquanto existir uma entidade a buscar e uma coisa a ser buscada, tem de existir o experimentador, aquele que reconhece e que constitui o núcleo (…) egocêntrico. Desse centro se
originam todas as atividades, nobres e ignóbeis: desejo de riquezas e poder, (…) impulso de buscar a Deus, (…). (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 46)

Quando a mente detém a busca por ter compreendido o total significado da busca, não cairão por si mesmas as limitações que ela a si própria impôs? E ela não se torna então o
Imensurável, o Desconhecido? (Idem, pág. 47)

Vós sois simples e ignorante? Se realmente o fôsseis, encontraríeis um grande deleite no iniciar a verdadeira busca; (…) A sabedoria e a verdade vêm ao homem que diz,
verdadeiramente: “Sou ignorante, não sei”. São os simples, os inocentes, e não os que estão repletos de saber, que verão a luz, porque eles são humildes. (Reflexões Sobre a Vida,
pág. 140)

Sabedoria, Não se Aprende de Outros nem de Livros


Pergunta: Que é sabedoria? É diferente do saber?

Krishnamurti: - Que é saber? Por certo, o saber é o princípio acumulador que existe em todos nós, e que é a memória. (…) Saber é um processo de verbalização; e tudo aquilo que
foi acumulado, e que é experiência, memória, ou saber, nunca trará verdade. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 79)

(…) A experiência, pois, é um processo de reação da mente condicionada; e onde há o saber ou o acúmulo de experiências, lembranças, palavras, símbolos, imagens, não pode
haver compreensão. Só pode surgir a compreensão quando estamos livres do saber. (…) (Idem, pág.80)

Assim, pois, a compreensão não é o resultado de acumulação, e sabedoria não é saber. A sabedoria é independente do saber. (…) A sabedoria tem existência momento a momento,
ao passo que o saber nunca pode livrar-se do passado, do tempo. A sabedoria é livre do tempo, (…). O homem que sabe pode não ser sábio, porque o seu próprio conhecimento
nega a sabedoria. (…) (Idem, pág. 80)

A memória é experiência acumulada e o que está acumulado é o que se sabe, e o que se sabe é sempre coisa passada. Com essa carga de lembrança é possível descobrir-se (…) o
Atemporal? Não é necessário estarmos libertos do passado para que possamos conhecer o Imensurável? (…) A sabedoria não é memória acumulada, porém, antes, suprema
receptividade para o Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 178-179)

(…) Se tenho um problema e desejo realmente compreendê-lo, não devo aplicar-me a ele com a mente cheia de preocupação e agitação. Tenho de fazê-lo com a mente livre; porque
só a mente passível, a mente vigilante, é capaz de compreensão. A mente que é capaz de estar silenciosa está apta a receber a verdade. (…) A verdade é totalmente nova, livre. A ela
não podemos chegar-nos com idéias preconcebidas, não é ela a experiência alheia. (…) (Nosso Único Problema, pág. 74)

(…) Sabedoria não é acumulação de conhecimentos e experiência; a sabedoria não se adquire nos livros, (…). Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que
está tranqüila encontrará o Atemporal, que é Imensurável, surgido na existência. (…) (Idem, pág. 77)

(…) Sabedoria não é algo que se experimente ou se encontre em algum livro. A sabedoria não é coisa que se possa experimentar, (…) captar, acumular. Pelo contrário, a sabedoria
é um “estado de ser” em que não há acumulação de espécie alguma; não se pode acumular sabedoria. (Que Estamos Buscando?, 1ª Ed, pág. 217)

Digo que a sabedoria não pode ser comprada. A sabedoria não se encontra no processo de,acumulação; não é o resultado de inúmeras experiências; nem é adquirida pelo estudo. A
sabedoria, a vida mesma, só pode ser entendida quando a mente estiver livre desse senso de busca, dessa procura de conforto, dessa imitação, pois estes são apenas meios de fuga
(…). (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 163-164)

(…) A sabedoria não é uma coisa que venha por meio de orientação, do seguir, por meio da leitura de livros. Não podeis aprender a sabedoria de segunda mão; entretanto, é isto o
que estais tentando fazer. Assim, dizeis: “guiai-me, auxilai-me, libertai-me”. (…) (Idem, 1933, pág.194)

(…) O conhecimento nada tem que ver com a sabedoria. A sabedoria não pode ser comprada; é natural, espontânea, livre. Não é mercadoria que possais comprar de vosso guru,
instrutor, ao preço de disciplinas. (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 101-102)

Ora, confiamos demais no saber. O homem que escreve um livro sobre a mente ou que disserta a respeito da mente, aceitamo-lo como autoridade. Damos um nome ao seu
pensamento, e o esposamos. Nunca nos pomos a investigar o inteiro processo do nosso pensar, para descobrirmos por nós mesmos. E é por isso que temos tantos líderes, cada um
fazendo valer a sua autoridade, e nos dominando. E pode alguém lançar fora tudo isso e descobrir as coisas por si mesmo? Porque (…) o saber é um obstáculo à compreensão.
(Viver sem Temor, pág. 14)

Se um homem deseja construir uma ponte, para isso ele necessita, naturalmente, de saber, (…) de uma certa capacidade técnica. Mas, pode-se ter de antemão o conhecimento, isto
é, a compreensão, de uma coisa viva? O que chamais “eu” é uma coisa viva, da qual não se pode ter conhecimento prévio. Pode-se ter experiências a ele relativas, ou conhecer o
que outros disseram a seu respeito, mas se um de nós se põe a examinar a si mesmo, com um conhecimento prévio, nunca descobrirá o que é realmente. (…) (Idem, pág.14)

Com nossa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos tornando
cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria não pode ser substituída pela erudição, (…). (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed, pág. 78)

(…) A erudição é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas se a mente e o coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma
explicação, a vida se toma vazia e sem sentido. (…) (Idem, pág. 78)

O saber, o conhecimento de fatos, embora em constante crescimento, é por sua própria natureza limitado. A sabedoria é infinita, abarcando o saber bem como a esfera da ação; se
nos apoderarmos de um ramo, pensamos que temos a árvore toda. O intelecto jamais nos levará ao todo, porque ele é apenas um segmento, uma parte. (Idem, pág. 79)

Não é válida a experiência de outro para a compreensão da realidade. Entretanto, as religiões organizadas, no mundo inteiro, baseiam-se na experiência de outro, e, por
conseguinte, elas não estão libertando o homem, porém, ao contrário, prendendo-o a um determinado padrão e instigando os homens uns contra os outros. (…) (O Caminho da
Vida, pág. 27)

(…) Sabeis, a maioria de nós deseja adquirir sabedoria ou verdade por meio de outrem, mediante algo vindo do exterior. Ninguém vos poderá transformar num artista; só vós
próprios podereis fazê-lo. É isto que desejo dizer: posso dar-vos tinta, pinceis e tela, mas vós próprios tendes de vos tornar o artista, o pintor. (…) (Palestras na Itália e Noruega,
1933, pág. 40-41)

Imaginais que qualquer sociedade ou livro vos pode dar sabedoria? Livros e sociedades podem fornecer-vos noções; (…). Se a sabedoria pudesse ser adquirida por meio de uma
seita ou sociedade religiosa, todos seríamos sábios, (…). A sabedoria, porém, não se adquire por essa forma. A sabedoria é a compreensão do fluxo contínuo da vida ou da
realidade, e somente é aprendida quando a mente está aberta e vulnerável, isto é, quando a mente não está mais embaraçada pelos seus próprios desejos de auto-proteção, reações
e ilusões. (…) (Palestras no Brasil, pág. 48)

Vamos averiguar o que entendeis por sabedoria, (…). Podeis conhecer, ou adquirir a sabedoria, ou só é possível conhecer fatos, e adquirir sapiência? Por certo, sapiência e
sabedoria são duas coisas diferentes. Podeis saber tudo a respeito de uma coisa; mas será isso sabedoria? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed, pág. 84-85)

A sabedoria terá de ser adquirida aos poucos, em vidas consecutivas? Sabedoria será acumulação de experiência? Aquisição implica acumulação; experiência implica resíduo. (…)
Esse processo de acumulação será sabedoria (…) Pode o homem que sabe ser sábio? O homem que sabe não é sábio, e o que não sabe é sábio. (Idem, pág. 85)

A acumulação, pois, nunca é sabedoria, porquanto só pode haver acumulação daquilo que se conhece; e o que se conhece não pode, nunca, ser o desconhecido. (…) (Idem, pág. 86)

A verdade não pode ser acumulada. Ela não é experiência. Ela é “experimentar” - em que não há experimentador nem experiência. Conhecimento implica alguém que acumula,
que junta; (…) A sabedoria é como o amor; e, privados desse amor, queremos cultivar a sabedoria, (…) (Idem, pág. 86)

A sabedoria é sempre vigorosa, sempre nova. Como se pode conhecer o novo, quando há continuidade? (…) Só quando há findar, há o novo, que é criador. Mas queremos continuar
(…) e a mente em tais condições nunca pode conhecer a sabedoria. Pode conhecer, apenas, a sua própria projeção, suas próprias criações. (…) A verdade não pode ser procurada.
A verdade só surge quando a mente está vazia de todo conhecimento, todo pensamento, toda experiência; e isso é sabedoria. (Idem, pág. 86-87)

Assim, perceber o processo integral de nós mesmos é o começo da sabedoria. A sabedoria não é algo que se possa comprar nos livros, (…) aprender de outras pessoas, #(…)
acumular pela experiência. (…) (Viver sem Confusão, pág. 70)

A experiência é simples memória; e a acumulação de lembranças ou de conhecimentos não é sabedoria. A sabedoria, sem dúvida, é o experimentar a cada momento, sem
condenação nem justificação; é a compreensão (…) de cada reação, de modo que a mente vá ao encontro de cada problema por maneira nova. (…) (Idem, pág. 71)

A erudição não é comparável com a inteligência, erudição não é sabedoria. A sabedoria não é comerciável, não é artigo que se possa comprar pelo preço de estudo e da disciplina.
Não se encontra sabedoria nos livros; não pode ser acumulada, guardada ou armazenada na memória. A sabedoria vem pela negação do “eu”. Ter a mente aberta é mais
importante do que aprender (…). A sabedoria não pode ser adquirida pelo temor e pela opressão, mas só pelo exame e pela compreensão dos incidentes de cada dia, nas relações
humanas. (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed, pág. 78)

Uma vida primitiva não é uma vida espiritual. O primitivo tem tanto medo como o chamado civilizado, e a diferença é só que seus temores são mais rudimentares, mais superficiais.
Mas, em certo sentido, é necessário que o indivíduo “sofisticado”, eminentemente culto, muito sabedor se torne primitivo. Precisa tornar-se novo, “inocente”, morrer para todo o
saber que acumulou. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 59)

(…) A compreensão do “eu” é o começo da sabedoria, e sabedoria não é reação. Só quando compreendo todo o processo da reação, que é condicionamento, só então existe um
centro sem ponto, que é a sabedoria. (Que Estamos Buscando?, lª ed, pág. 215)

(…) Por conseguinte, o autoconhecimento é o começo da sabedoria. A sabedoria não se compra nos livros; (…) não é experiência; (…) não é a acumulação de nenhuma espécie de
virtude, nem o evitar o mal. A sabedoria só vem pelo autoconhecimento, pela compreensão de toda a estrutura, de todo o processo do “eu”. (Viver sem Confusão, pág. 52)

Assim, pois, o autoconhecimento é o começo da sabedoria, e sem a sabedoria não pode haver tranqüilidade. Sabedoria não é sapiência. A sapiência é um obstáculo à sabedoria, à
revelação do “ego”, momento a momento. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 97)

(…) A sabedoria não tem autoridade; ela vem à existência quando a mente começa a compreender as profundezas e amplidões da sua própria natureza, sobre as quais não é
possível especular. (…) (Claridade na Ação, pág. 147)

(…) Para descobrirmos o que é criador, precisamos proceder de maneira nova. A mente deve estar vazia, livre de todo saber, livre da memória. Só então existe a possibilidade de
relações de uma nova espécie, de um mundo novo. (Idem, pág. 147)

Não há caminho para a sabedoria. Se algum caminho existe, então a sabedoria é coisa formulada de antemão, já imaginada, conhecida. (…). A experiência e o saber, uma vez que
são contínuos, abrem um caminho para suas próprias projeções, e por isso são sempre entraves. A sabedoria é a compreensão do que é, momento a momento, sem acumulação de
experiência e conhecimento. O que se acumula não dá liberdade para compreender, e sem liberdade não há possibilidade de descobrimento; (…). A sabedoria é sempre nova,
sempre fresca, e não há nenhum meio de a acumularmos. O meio destrói o que é novo, (…) espontâneo. (Comentários sobre o Viver, pág. 94)

Vede, (…). Não interpreteis “sem conhecimento” como um estado de ignorância. Ser “sem conhecimento” é possuir a sabedoria; porque o conhecimento tem continuidade, e a
sabedoria não tem. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 29)

(…) A mente silenciosa - mas não silenciada - só ela pode perceber o Imensurável. A solução do problema (…) está na compreensão das relações; por conseguinte a meditação é o
começo do autoconhecimento e o autoconhecimento é o começo da sabedoria. (…) Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que está tranqüila encontrará o
Atemporal, que é o Imensurável, surgido na existência. (…) A mente tem de ser induzida a recebê-lo de maneira nova, de cada vez; e a mente que acumula saber, virtude, é incapaz
de receber o eterno (Nosso Único Problema, pág. 77)

Originalidade Espiritual; Mente de Segunda Mão


Quer-me parecer que muito raramente fazemos a nós mesmos uma pergunta fundamental; e, quando a fazemos, em geral a ela respondemos em conformidade com nosso gosto
particular, nossa fantasia ou crença, e, conseqüentemente, a pergunta original - a pergunta essencial, fundamental - fica sem resposta. (…) E eu penso que não só devemos fazer
perguntas fundamentais, mas também procurar descobrir as respostas verdadeiras, originais. (O Descobrimento do Amor, pág. 139)

Nesta manhã desejo falar sobre o processo de ajustamento; isto é, desejo averiguar se existe alguma coisa de original, (…) completamente isenta de ajustamento e que não seja
mera abstração, uma simples idéia, porém fato tão real como qualquer fato da vida diária. Assim sendo, a pergunta fundamental que fazemos a nós mesmos é esta: até onde é
possível eliminar o ajustamento? É possível eliminar inteiramente o ajustamento e, desse modo, permitir a existência do original? (…) (Idem, pág. 139)

Por certo, só livres do ajustamento poderemos descobrir por nós mesmos o que é original, essencial, verdadeiro; e, a menos que nós próprios o descubramos, viveremos sempre uma
vida “falsificada”, (…) de “segunda mão”, de imitação. (…) (Idem, pág. 140)

Por “ajustamento” entendo o processo no qual o “pensamento” e o “pensador” estão sempre a moldar-se por um padrão, sempre a imitar, a repetir, a sujeitar-se a um
determinado padrão ou ideal, em suas relações. Esse ajustar-se é a norma de nossa vida, o padrão diário de nossa existência; e estamos agora a interrogar-nos se esse ajustamento
pode terminar. (Idem, pág. 140)
E devemos também perguntar-nos se a terminação do ajustamento causa desordem e por essa razão somos obrigados a ajustar-nos; ou se, terminando o ajustamento, ocorre o
descobrimento de algo totalmente original, não “falsificado” ou de “segunda mão”. (Idem, pág. 140)

Em geral, nossa vida é sem originalidade. Não sabemos, por nós mesmos, o que é original, nem mesmo se existe algo que se possa chamar “original”. A meu ver, a palavra
“original” é de ordinário mal empregada. Falamos, muitas vezes, sobre literatura “original”, um quadro “original”, uma maneira “original” de pensar ou de expressar-nos; (…).
Não me parece adequado o emprego da palavra “original” em tais casos. Há certa coisa original que as religiões de todo o mundo (…) sempre andaram buscando. (…) (Idem, pág.
140)

Agora, antes de tudo mais, estamos totalmente cônscios desse processo de ajustamento que se verifica em cada um de nós. (…) É bem evidente que, quanto mais esforços fazemos,
tanto maiores se tornam o conflito e a confusão e, por conseguinte, (…) nossa aflição e dor. Cabe-nos, pois, averiguar se é possível vivermos sem esforços, isto é, vivermos
originalmente e, por conseguinte, livres de todo ajustamento. (Idem, pág. 141)

Ora, para se alcançar esse ponto, devemos primeiramente estar cônscios (…) da natureza da mente que se ajusta. (…) Todo ajustamento implica esforço, não? E quando há esforço
(…) não há verdadeiras relações. Se me esforço para ser bondoso, afetuoso ou cortês para convosco, isso nada significa. A bondade, a delicadeza, a afeição emanam de um estado
mental em que não existe esforço algum; (…) (Idem, pág. 141 142)

Em relação a certas coisas externas, superficiais, há uma natural necessidade de ajustamento, (…). Aqui, eu me “ajusto” vestindo esta espécie de traje; na índia, me “ajusto” de
outra maneira, vestindo trajes diferentes. (…) (Idem, pág. 142)

Mas, tenho necessidade de “ajustar-me” ao veneno do nacionalismo? (…) a um dado padrão de existência, uma certa maneira de pensar que a sociedade procura impor-me e, em
virtude da qual, minha mente é moldada pela religião organizada, pelas influências econômicas e sociais? (…) (Idem, pág. 142)

Superficialmente, o ajustamento, a adaptabilidade, são necessários; porém, interiormente, profundamente, o ajustamento acarreta esforço e, por conseguinte, imitação. Enquanto
está a imitar, a esforçar-se por ajustar-se, a mente está a isolar-se; por conseguinte, não há para ela relações, e o que faz é apenas aumentar o medo. (Idem, pág. 147)

Assim, para a mente que leva essa carga constituída pelo medo, o ajustamento, o pensador, não é possível a compreensão daquilo que se pode chamar o original. (…) Quando a
mente humana está livre de todo temor, não está então - em seu desejo de saber o que é original - em busca de prazer para si própria, nem de nenhuma via de fuga e, por
conseguinte, em sua investigação já não existe autoridade alguma. (…) (Idem, pág. 148)

É possível a mente achar-se sempre em ação, diretamente, espontânea e livremente, de modo que nunca tenha um momento de tempo? Porque o tempo é pensamento periférico. (…)
O pensamento jamais pode ser original. Podeis usar palavras, que pertencem ao passado, expressar o original, mas o original não pertence ao tempo. Por conseguinte, para
descobrir o original deve a mente estar inteiramente livre do tempo do tempo - do tempo psicológico; (…). (O Despertar da Sensibilidade, pág. 150)

(…) Só então a mente tem a possibilidade de descobrir, por si própria, o que é original - descobri-lo não como mente individual, porém como ente humano. Não existe mente
“individual”, absolutamente. Somos totalmente relacionados. Compreendei isso, (…). A mente não é uma coisa separada; é uma totalidade. Todos vivemos a ajustar-nos, todos
temos medo, todos estamos a fugir. E, para compreendermos, cada um de nós - não como indivíduo, porém como ente humano total - o que é o original, precisamos compreender a
totalidade do sofrimento humano. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 148)

(…) Do contrário, somos entes humanos “de segunda mão”; e porque somos imitações, entes humanos falsificados, o sofrimento nunca tem fim. Assim, pois, o findar do sofrimento
é, em essência, o começo do original. (…) (Idem, pág. 148)

Estamos, pois, aprendendo, e esse aprender nunca é ajustamento a nenhum padrão; (…) Quer se trate de padrão estabelecido por Buda, por Cristo, por Sankara, quer do padrão de
vosso guru favorito, o aprender nenhuma relação tem com ele. Por que no ajustamento cessa todo aprender e, por conseguinte, nunca há originalidade. E nós estamos descobrindo
por meio do aprender, com originalidade. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 34)

Conforme o dicionário, a palavra “autoridade” deriva de “autor”: “aquele que lança uma idéia original, que cria alguma coisa inteiramente nova”. Esse homem estabelece um
padrão, um sistema baseado em suas idéias; (…). O seguidor aceita a “autoridade”, a fim de alcançar o que promete o seu sistema de filosofia ou de idéias; a esse sistema se
apega, dele fica dependente (…). O seguidor, pois, é um ente humano sem originalidade; assim é a maioria das pessoas. (…) (A Questão do Impossível, pág. 22)

Poderão pensar que têm idéias originais, na pintura, na literatura, etc., mas, essencialmente, já que estão condicionados para seguir, imitar, ajustar-se, tornaram-se entes humanos
de “segunda mão, (…). Esse é um dos aspectos da natureza destrutiva da autoridade. (Idem, pág. 22)

(…) Afinal de contas, por individualidade entendemos a qualidade que encerra originalidade, força criadora, a qualidade de singularidade criadora. (…) Se examinarmos a nossa
conduta de cada dia, nossa cotidiana maneira de pensar, veremos que o processo de nossa ação é imitação contínua, mero copiar. (…) E porque vivemos imitando, copiando, não
somos, absolutamente, indivíduos.

Citamos o que disse fulano de tal, o que disse Sankaracharia, Buda ou Cristo, porque se tornou nosso padrão de existência; nunca procuramos descobrir, achar a verdade por nós
mesmos, mas repetir o que outras pessoas descobriram, (…). Quando tomamos a experiência alheia, (…) para padrão de nossa ação, ela (…) é uma mentira. (…) (Que Estamos
Buscando?, 1ª ed., pág. 140)

Ao compreendermos a total estrutura do sofrimento, pondo, portanto, fim ao sofrimento, teremos então a possibilidade de encontrar (…) aquela coisa extraordinária que é a origem
de toda a vida, aquela fantástica energia, que está sempre a “explodir”. Essa energia não é um movimento em direção alguma e, por conseguinte, “explode”. (O Descobrimento do
Amor, pág. 149)

Senhores, (…). Já experimentastes alguma vez reunir toda a vossa energia - física, emocional, mental, visual, (…) e “com ela ficar”, completamente, tranqüilamente? (…) Se a
energia tem algum movimento em qualquer direção (…) está sendo dissipada. Mas, quando toda a nossa energia fica completamente imóvel, inicia-se um movimento que é original
e, por conseqüência, “explosivo”. (…) (Idem, pág. 149)

Experimentai o, uma ocasião, e vede se sois capaz disso. Mas, para tanto, requer-se uma grande soma de inteligência, extraordinária vigilância; (…). Se puderdes reunir toda a
vossa energia, sem esforço, vossa mente estará então transbordante de energia, sem atrito de espécie alguma. Verifica se, então, uma “explosão” - e, dessa explosão, surge o
original. (Idem, pág. 149)

Vós não estais habituados a investigar, (…) a observar-vos; costumais ler o que outras pessoas dizem, a citar Sankara, Buda (…). Bom seria que nunca dissésseis uma palavra que
não represente um descobrimento feito por vós mesmos, (…) que vós mesmos não conheçais. Isso significa lançar para o lado todos os gurus, todos os livros sagrados ou religiosos,
todas as teorias, tudo o que disseram os filósofos - embora tenhais de conservar os vossos livros técnicos e científicos. (O Novo Ente Humano, pág. 63)

Nunca digais nada que não compreendais, que vós mesmos não tenhais descoberto. Vereis, então, como a atividade da mente sofrerá uma extraordinária transformação. Ora, nós,
entes humanos “de segunda mão”, queremos descobrir uma maneira de viver realmente livre do tempo, porque o pensamento é tempo, e o tempo forma as coisas gradualmente.
Gradualidade implica tempo. (Idem, pág. 63-64)

(…) O pensamento funciona no tempo; penso na vida como movimento de um ponto para outro e, agora, estamos inquirindo se existe uma maneira de viver em que o tempo não
exista absolutamente. O que nos interessa é a mudança, a revolução, a total mutação da estrutura mesma das células cerebrais; de outro modo, não será possível criar-se uma nova
cultura, uma nova maneira de viver - um viver numa dimensão inteiramente diferente. (…) (Idem, pág. 64)

(…) Sois capazes de citar uma dúzia de livros, mas não conheceis a vós mesmos. Sois entes humanos “de segunda mão”, e os problemas exigem uma mente de “primeira mão”, que
esteja diretamente em contacto com o problema, não uma mente (…) embotada. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 24)

Para esse homem que total e completamente rejeita a palavra, o símbolo e sua influência condicionadora, a Verdade não é uma coisa de segunda mão. Se o tivésseis escutado
realmente, senhor, saberíeis (…) que a aceitação da autoridade é a negação mesma da Verdade, (…) que devemos ficar fora de toda cultura, tradição e moralidade social. (…) Ele
rejeita totalmente o passado, seus instrutores, seus intérpretes, suas teorias e fórmulas. (A Outra Margem do Caminho, pág. 12)

Vede, senhor, (…). Cada um tem de descobrir a Verdade por si próprio. A Verdade não é uma coisa “de segunda mão”. Não podeis adquiri-la por intermédio de um guru, de um
livro. Para conhecê-la, tendes de aprender; (…). E a beleza do aprender é o “não saber”. (…) A Verdade não é uma coisa “de segunda mão”; para descobrirdes, precisais de
paixão, de “intensidade”. Inteligente, pois, é a mente que está aprendendo, e não aquela que repete o que aprendeu. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 160)

(…) Compreendemos a vida, se temos a mente cheia de coisas ditas por outras pessoas, se seguimos a experiência, o saber alheio? Ou só vem a compreensão quando a mente está
quieta? - mas não quando foi aquietada, (…). Com o indagar, procurar, perscrutar, a mente se torna, inevitavelmente, tranqüila, e então o problema revela todo o seu significado;
(…). (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 190)

(…) Positivamente, senhor, o homem de saber, o letrado, nunca pode conhecer a verdade; pelo contrário, o saber e a erudição devem cessar. A mente precisa ser simples, para
compreender a verdade, e não estar cheia do saber de outras pessoas (…). (Idem, pág. 190)

Temos vivido em conflito por milhares e milhares de anos, submetendo-nos, obedecendo, imitando, repetindo (…); temo nos convertido em pessoas de segunda mão, sempre citando
a algum outro, o que o outro disse (…). Temos perdido a capacidade, a energia para aprender de nossas próprias ações. Somos os responsáveis por nossas próprias ações (…) - não
a sociedade ou o meio, (…). Em um semelhante aprender descobrimos muitíssimo (…). Se vocês sabem como ler esse livro, então não têm de ler nenhum outro livro - exceto, por
exemplo, livros técnicos. (…) (La Llama de la Atención, pág. 24)

(…) Em outras palavras, percebe a mente o problema do controle, da disciplina, da autoridade e das correspondentes reações -estão vocês (…) alertas a toda essa estrutura? (…).
Se vocês percebem todo esse problema (…) - que implica ajuste a um modelo - porque o hão observado, (…) vivido, (…) vigiado atentamente, então isso é original e próprio de
vocês; o outro é de segunda mão. (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 109)

Para a maioria de nós, isso é de segunda mão, porque somos gente de segunda mão (…). Todo nosso conhecimento é de segunda mão, como o são nossas tradições, (…). Vemos
então que se trata de nossa própria percepção direta e não um conhecimento de segunda mão, aprendido de outro? Se foi aprendido de outro, então deve ser descartado em sua
totalidade, (…). Se desprezaram o que outros - incluindo o que lhes fala - hão dito, então realmente estão aprendendo, não é verdade? (Idem, pág. 109-110)

Que é para vocês o pensar? (…) Quase todos nós temos nos tornado pessoas de segunda mão; lemos muitíssimo, vamos a uma universidade e acumulamos uma grande quantidade
de conhecimentos, de informação que se deriva do que outras pessoas pensam ou do que outros têm feito. E nós citamos esse conhecimento que temos adquirido e o comparamos
com o que se está dizendo. Não há nada original, só repetimos, repetimos, repetimos. (…) (La Llama de la Atención, pág. 14)

(…) Quando tendes esse desejo, essa capacidade de vos encher com o Seu gênio, com a Sua força, com a Sua nobreza, então vós próprios vos enobreceis e aprendeis a refletir a Sua
divina originalidade, todas as fontes de beleza, todas as fontes de criação; e as tentativas de ser original, belo, criador, são de pouco proveito se não tivermos a compreensão e a
capacidade de alcançar a fonte das coisas. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 28)

Deus, Nomes, Atributos: Absoluto, Supremo, Inefável


Pergunta: Que é Deus?

Krishnamurti: Conheceis o aldeão, o simples; para ele Deus é aquela pequena imagem, diante da qual deposita flores. Povos primitivos chamam o trovão seu Deus. (…) Há gente
na Índia, atualmente, que adora árvores. (Debates sobre Educação, pág. 137)

Ides a um templo. Lá vedes uma imagem suave, enfeitada de flores, e fazeis puja diante dela. Podeis ir mais além e criar uma imagem na vossa mente, uma idéia nascida da vossa
tradição, do vosso fundo; e a essa imagem chamais vosso Deus. (…) Isso é Deus? Ou Deus é algo inimaginável, imensurável pela mente? (Idem, pág. 137)

Deus é algo completa e totalmente insondável por nós, e Ele se manifesta quando está quieta a nossa mente, sem projetar, sem lutar. Quando a mente está tranqüila, tem-se então a
possibilidade de saber o que é Deus. (Idem, pág. 137-138)

O Deus por vós inventado não é Deus. A coisa feita pela mão, a imagem do templo, não é Deus, e também a coisa “feita” por vosso pensamento não é Deus. E é disso que viveis: da
imagem feita pela mão ou pela mente. (O Novo Ente Humano, pág. 151)

Mas, se realmente desejais investigar se existe ou não uma realidade atemporal, fora do campo do pensamento, cumpre-vos, então, compreender a natureza do pensamento. Mas, se
meramente perguntais: “posso achar Deus?”, podeis achá-lo, (…) mas não será a Verdade, (…) o Real. (Idem, pág. 151)

Minha doutrina difere (…). Eu nunca disse que não há Deus. O que eu disse é que só existe Deus conforme se manifesta em cada um de nós, e que, quando houverdes purificado
aquilo que está dentro de vós mesmos, achareis a Verdade. É claro que Deus existe; mas não vou empregar a palavra Deus, porquanto ela assumiu um significado muito especial e
estreito.

Para uns ela sugere um punho possante (…); para outros, um ser de longas barbas; para outros, uma Inteligência Onipotente, Onisciente e Suprema. Isso eu prefiro chamar Vida,
porque nos aproxima mais da Verdade. (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 11)

Pergunta: Que pretendeis ao dizer que não há Deus?

Krishnamurti: Eu nunca disse que não há Deus. Tenho dito muito claramente. Para descobrir se há ou não há Deus, é necessário abolir, apagar da mente todo e qualquer conceito
relativo a Deus. (…) precisais apagar da mente todas as “informações” que tendes a respeito de Deus. (A Mutação Interior, pág. 69)

As pessoas que vos deram tais “informações” podem estar muito enganadas; tendes de descobrir tudo por vós mesmo. E, para o descobrirdes por vós mesmo, deveis livrar-vos de
todas as autoridades, compreender a estrutura total (…) (Idem, pág. 69)

Se não há compreensão de tudo isso, a mera busca daquilo que chamais Deus nada significa. Deus é algo extraordinário, não imaginável por nenhuma espécie de crença. Vós
tendes de descobri-lo. (…) Para descobrirdes, deveis primeiramente estar livre (Idem, pág. 69-70)

Pergunta: Pode explicar o que é Deus?

Krishnamurti: Que entende você por Deus? Eu jamais emprego a palavra “Deus” para indicar algo que não seja Deus. O que o pensamento tem inventado não é Deus. Se isso tem
sido inventado pelo pensamento, segue dentro do campo do tempo, (…) do material. (Tradición y Revolución, pág. 291)

Krishnamurti: Porém ele pode inventar Deus devido a que não poder ir mais longe. O pensamento conhece suas limitações, por isso trata de inventar o ilimitado a que chama Deus.
Essa é a situação. (Idem, pág. 291)

A vida é muito complexa, e a mente, mais complexa ainda e dotada de extraordinárias capacidades; (…). O centro que acumula é o “eu”, o “ego”, e, portanto, toda ação
procedente desse centro poderá, apenas, aumentar o problema. A Realidade, Deus (…) deve ser algo totalmente novo, nunca dantes experimentado, completamente original; (…).
(Percepção Criadora, pág. 42)

Entretanto, toda igreja, toda organização religiosa, toda seita está sempre a falar de Deus; e os que crêem em Deus têm visões que fortalecem a sua crença. Ora, o que podemos
reconhecer é sempre coisa já conhecida e, portanto, não pode ser o verdadeiro. O que é verdadeiro nunca foi anteriormente conhecido e, por conseguinte, a mente deve
compreendê-lo de maneira nova, como coisa nova; (…) (Idem, pág. 42-43)
(…) Afinal, o atemporal, a eternidade, o inefável é isto: quando a própria mente é o desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do tempo, de ontem, do saber, de
experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente jamais chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Idem, pág. 44)

(…) Para o encontro com a vida, necessita se de vulnerabilidade e não da muralha respeitável da virtude, onde o “eu” se isola. O Supremo não pode ser atingido; não há caminho,
(…) aperfeiçoamento (…) progressivo, para chegar se lá. A Verdade tem de vir, ninguém pode ir a ela, e a virtude cultivada não leva ninguém aonde ela está. O que se pode atingir
não é a Verdade, mas o nosso próprio desejo, projetado; e é só na Verdade que se encontra a felicidade. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 31)

Senhores, Deus não é uma coisa que se pode adquirir como se adquire (…) uma virtude. É algo incomparável, atemporal, inimaginável, inefável: não podeis ir a Ele. Ele deve vir a
vós, e tão somente quando o vosso espírito não mais está buscando. (…) Quando a mente já não compara, não adquire - só a essa mente que está tranqüila pode a Realidade
manifestar-se; (…). Tereis (…) a mente que já não compara, já não adquire, a mente que ingressou num “estado de ser” - e nesse ser a Realidade penetra. (O Problema da
Revolução Total, pág. 48)

Pergunta: Vós atingistes o real. Podeis dizer o que é Deus?

Krishnamurti: Como sabeis que atingi o real? Para sabê-lo, seria necessário que vós também o tivésseis alcançado. (…) Ora, por certo, meu atingimento da realidade nada tem que
ver com o que estou dizendo, e o homem que venera outro homem, por ter esse outro alcançado a realidade, está, em verdade, rendendo culto à autoridade e, por conseguinte,
nunca encontrará a verdade. (…) (A Primeira e Última Liberdade, pág. 257)

Desejais que eu vos diga o que é a realidade. Pode o indescritível ser posto em palavras? Pode-se medir o imensurável? (…) Se o formulais, é o real? Naturalmente que não, (…).
No momento em que traduzis o incognoscível no conhecido, ele deixa de ser o incognoscível. Entretanto, é isso o que buscamos, (…) (Idem, pág. 258)

Conseqüentemente, em vez de perguntar quem atingiu o real ou o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção e vigilância ao que é? Encontrareis então o desconhecido,
ou, melhor, ele virá ao vosso encontro. Se compreenderdes o que é conhecido, experimentareis aquele silêncio extraordinário, não provocado, não forçado, aquele vazio criador, no
qual, e só nele, a realidade pode surgir. (…)

Vereis, pois, que a realidade não está longe; o desconhecido não está longe de nós; ele se acha em o que é. Assim como a solução de um problema se encontra no problema, assim
também a realidade se encontra em o que é; se podemos compreendê-lo, conheceremos então a verdade. (Idem, pág. 259)

O que importa é que o indivíduo compreenda a si mesmo, e se ponha frente a frente consigo mesmo, com aquela pobreza que sempre evitamos, com aquele vazio a que todos nos
furtamos. E quando compreendermos isso, quando o experimentarmos (…) - só então haverá uma possibilidade de passarmos além e de descobrirmos o que é a verdade, ou o que é
Deus. (Nós Somos o Problema, pág. 34)

Procurando compreender o mundo exterior, chegaremos ao interior, e este, corretamente seguido e verdadeiramente compreendido, conduzirá ao Supremo. Essa realização não
deriva da fuga e só ela proporcionará paz e ordem universal (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 106-107)

A Realidade, ou Deus, (…) não se alcança por meio de conflito. Pelo contrário, é imprescindível a extinção do “eu”, do centro de acumulação de conhecimentos, de virtude, de
experiência (…). Só então, sem dúvida, é possível surgir aquele estado de Realidade. (A Renovação da Mente, pág. 25-26)

(…) Esta é a nossa vida: um vão processo de mentir, enganar, tentar tornar-nos algo importante, lutar para dominar, reprimir. E pensais que essa vida tem alguma relação com a
Realidade, a Bondade, a Beleza, Deus, com algo que não é de procedência humana? Entretanto (…) queremos trazer para ela aquela Realidade e tratamos de freqüentar o templo,
de ler livros sagrados, (…). Queremos trazer aquela imensidão, aquela imensurabilidade para dentro do “mensurável”. E tal coisa é possível? (O Homem Livre, pág. 182)

Vedes como a mente engana a si própria? Podeis trazer o desconhecido, aquilo que não pode ser experimentado, para dentro do “condicionado”, para o reino do conhecido? Claro
que não. (…) O mais que podeis fazer é observar o funcionamento de vossa própria mente, que é o campo do conflito, da angústia, do sofrimento, da ambição, do preenchimento, da
frustração. Isso vós podeis compreender, e suas estreitas fronteiras podem ser derrubadas. (…) Quereis “capturar” Deus e prendê-lo na gaiola do “conhecido” - a gaiola que
chamais “o templo”, “o livro”, “o guru”, “o sistema”, e com isso vos satisfazeis. Assim agindo pensais que vos estais tornando muito religiosos. (…) (Idem, pág. 182)

Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? (…) A criação liberta a mente da mediocridade e da deterioração. E se é este o estado que procuro, necessito de visão muito
clara, a fim de não criar ilusão e de libertar a mente para o verdadeiro descobrir; o que significa que ela, a mente, deve achar-se totalmente tranqüila, para descobrir. Porque o
estado criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus não pode ser chamado: ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. (…) (Poder e Realização, pág. 39-40)

Para mim há Deus, uma vivente, eterna realidade. Mas essa realidade não pode ser descrita; cada um precisa realizá-la por si. Quem quer que procure imaginar o que é Deus, (…)
a verdade, apenas está procurando uma fuga, um abrigo da rotina diária do conflito. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 96)

Muitos dentre nós sentem que há uma vida verdadeira, algo de eterno, mas são tão raros os momentos em que sentimos isso, que esse algo de eterno se vai retraindo mais e mais e
nos parecendo menos real. (Coletânea de Palestras, pág. 43-44)

Mas, para mim, há realidade; há uma realidade eterna e vivente à qual podeis chamar Deus, imortalidade, eternidade (…). Há alguma coisa viva, criadora, que não pode ser
descrita, porque a realidade frustra toda descrição. (…) Não podeis saber o que seja amor pela descrição de outrem; para conhecerdes o amor é preciso que vós mesmos o
experimenteis. (…) (Idem, pág. 44)

Digo-vos que não posso descrever, não posso exprimir em palavras essa vivente realidade que está além de toda idéia de progresso, (…) de crescimento. Cuidado com o homem que
tenta descrever essa vivente realidade; ela não pode ser descrita, tem de ser experimentada, vivida. (Idem, pág. 44)

Para mim, existe uma realidade, uma verdade viva e imensa; e para compreendê-la é necessária absoluta simplicidade do pensamento. O que é simples é infinitamente sutil, o que é
simples é extremamente delicado. (…) (A Luta do Homem, pág. 136)

Afirmo que existe essa realidade viva, chamai-a Deus, ou como quiserdes, e que ela não pode ser encontrada nem sentida pela busca. Tudo que implica busca, implica contraste e
dualidade. (…) (Idem, pág. 137)

(…) Digo que existe uma realidade viva; chamai-a Deus, Verdade ou o que quiserdes, (…) - mas, para compreender isto, é preciso haver suprema inteligência e, portanto, não pode
haver conformidade, (…) mas sim o exame ou a dúvida de todas as coisas, falsas e verdadeiras, nas quais a mente está presa. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 15)

David Bohm: Contudo, penso que as pessoas achavam que Deus era uma base que não era indiferente à humanidade. Veja, elas podem tê-la inventado, mas era nisso que elas
acreditavam (…)

Krishnamurti: (…) uma tremenda energia, possivelmente. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 58)

Se uma vez houverdes entrado, houverdes respirado a frescura, a serenidade, a tranqüilidade desse Reino, então aquelas coisas que são reais, (…) o fôlego da vida (…) nunca
poderão ser esquecidas. (…) Somente então é que podeis saber que não estais seguindo cegamente as pegadas de outrem; somente então é que estais seguindo o Absoluto, o Eterno.
Somente então sereis uno com Aquele que tem o seu ser em todas as coisas. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 83)

Imensurável, Incausado, Altíssimo, Vida, Ser Único


É possível pensar a respeito do Real? (…) Podemos pensar a respeito do Incognoscível? Podemos pensar, meditar no Atemporal, quando nosso pensamento é o resultado do
passado, do tempo? (…) O pensamento que resulta de uma causa não será jamais capaz de formular o Incausado. Ele só pode ocupar-se do conhecido, (…). (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 263-264)
(…) Nessa liberdade, nessa solidão, há uma compreensão que transcende todas as criações da mente. Não indaguemos se a mente pode jamais ficar livre do condicionamento, da
influência; averiguaremos isso à medida que formos avançando no autoconhecimento e na compreensão. O pensamento, que é um resultado, não é capaz de compreender o
Incausado. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 249)

Várias vezes tenho explicado (…). Para compreender o incriado, o não artificial, o pensamento-sentimento deve transcender aquilo que foi criado, o resultado do “eu”; (…). E só
com essa libertação, só quando o observador e o observado desaparecem, há o Imensurável. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 127)

O que foi criado não pode pensar no Incriado. Pode pensar somente nas próprias criações, que não são o Real. (…) Podeis especular acerca do incognoscível, mas não podeis
pensar a seu respeito. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 251)

(…) A realidade não é o Incriado? Não deve, pois, a mente desistir de criar, de formular, para que possa compreender o Incriado? Não deve a mente-coração ficar absolutamente
quieta e silenciosa para conhecer o Real? (Idem, pág. 54)

No fim de tudo, para compreender a Vida, Deus, o Desconhecido, (…) têm a mente e o coração de estar não preparados, inseguros. Na vitalidade da insegurança reside o Eterno.
(Palestras em New York City, 1935, pág. 39)

Só pode haver verdadeiramente entendimento, alegria real de viver, quando houver completa unidade, ou quando não mais existir o ponto fixo, isto é, quando a mente e o coração
puderem acompanhar livres e rápidas as ondulações da Vida, da Verdade. (Idem, pág. 43)

Compreender a imortalidade, a Vida, é coisa que exige grande inteligência (…). Isso exige um incessante discernimento que só pode existir quando houver constante penetração, o
demolir das paredes da tradição, da aquisitividade e das reações autoprotetoras. Podeis fugir para alguma ilusão a que chamais paz, imortalidade, Deus, porém isso não terá
realidade. (…) (Idem, 1935, pág. 44)

O que, porém, há de libertar a mente e o coração da tristeza e das ilusões é o pleno apercebimento do eterno movimento da Vida. Este só é discernido quando a mente está livre do
centro, daquele centro de consciência que é limitado. (Idem, pág. 45)

Assim, aquela realidade imensurável, inominável, que nenhuma palavra tem, aquela realidade só se manifesta quando a mente está toda livre e silenciosa, num estado de criação. O
estado de criação não é um simples estado alcoólico, estimulado; mas quando uma pessoa compreendeu e passou por esse processo de autoconhecimento, e se acha livre de todas
as reações de inveja, ambição e avidez, ver-se-á, então, que a criação é sempre nova e, por conseguinte, sempre destrutiva. (O Passo Decisivo, pág. 178)

E a criação nunca pode existir dentro da estrutura da sociedade, (…) de uma individualidade limitada. (…) E, quando há aquela criação, dá-se a total destruição de todas as coisas
que um homem acumulou, e, por conseguinte, existe sempre o novo. E o novo é sempre verdadeiro, imensurável. (Idem, pág. 178)

(…) Essa ação criadora pode ser a Realidade, o Altíssimo, o Sublime, e enquanto a mente não tiver conhecimento desse estado criador, todo o seu pensar só haverá de produzir
novos sofrimentos. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 19)

No silêncio, na tranqüilidade suprema, detida a incansável atividade da memória, está o Imensurável, o Eterno. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 272)

É possível pensar a respeito do Real? Podemos ser capazes de formular, de imaginar e especular sobre o que pensamos ser o Real, mas é isso o Real? Pode se pensar a respeito do
incognoscível? Podemos pensar, meditar no Atemporal, quando nosso pensamento é o resultado do passado, do tempo? O passado é sempre o conhecido e o pensamento que está
baseado no passado só pode criar o conhecido. Por conseguinte, pensar na verdade é estar preso nas redes da ignorância. (…) O pensamento que resulta de uma causa não será
jamais capaz de formular o Incausado. (…) (Idem, pág. 263-264)

Digo que a Vida é uma só, embora as expressões da Vida sejam múltiplas. (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 9)

(…) A Verdade, tal como a Vida, é como o raio do sol; se sois sensato, abrir-lhe-eis as janelas; se não (…) descereis as cortinas. Se estivésseis enamorados da Verdade, essas
imagens não teriam mais valor (…). (Idem, pág. 11)

Quando estiverdes enamorados da Vida e puserdes esse amor acima de todas as coisas, (…) desaparecerá então esta estagnação que chamais moral; o que ocupará vosso
pensamento será, então, o quanto estais enamorados da vida (…).

E para julgar segundo a Verdade, é preciso que estejais apaixonados pela Vida; mas, então, nunca julgareis, em circunstância alguma. (…) (Idem, pág. 12)

(…) A Verdade, que é a vida, nada tem com pessoa alguma nem com organização alguma. (…) Não me interessam sociedades, religiões, dogmas; o que me interessa é a Vida,
porque eu sou a Vida. Não almejais a Vida e o preenchimento da Vida, que é a Verdade; (…). (Idem, pág. 14)

A vida está a todo momento em um estado de nascença, de surgir, de vir a ser. Nesse surgir,(…) vir a ser por si mesmo, não há continuidade, nada que se possa identificar como
sendo permanente. A vida está em constante movimento, em ação; cada momento dessa ação jamais existiu anteriormente e jamais existirá de novo. Cada novo momento, porém,
forma uma continuidade de movimento. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 89-90)

O movimento da vida não tem continuidade. Está a cada momento surgindo, vindo à existência, estando, portanto, num estado de ação, de fluxo perpétuo. (…) (Idem, pág. 90)

Afinal, que é a vida? É uma coisa sempre nova, (…). Uma coisa que se está sempre transformando, sempre criando um sentimento novo. Hoje jamais é igual a ontem, e esta é a
beleza da vida. Podemos, vós e eu, enfrentar cada problema de maneira nova? (…) Nunca podereis, se estais carregado das lembranças de ontem. (…) (A Primeira e Última
Liberdade, 1ª ed., pág. 262)

A plenitude da vida só é possível quando a mente-coração estiver integralmente vulnerável ao movimento da vida, sem nenhum obstáculo artificial e autocriado. A riqueza da vida
advém quando a carência, com suas ilusões e valores, tiver cessado. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 61)

Uni-vos com a vida, e vos unireis com todas as coisas. (…) Se estais enamorado da Vida, então vós vos unireis com a Vida, quer a chameis Buda ou Cristo, (…). (Que o
Entendimento seja Lei, pág. 19)

Existe um movimento, um processo de vida, sem fim, que pode ser chamado infinito. Pela autoridade e imitação, nascidas do medo, cria a mente para si própria múltiplas falsas
reações, e por meio delas limita-se a si própria. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 19-20)

A Vida é livre, incondicionada, ilimitável e, para atingi-la, é preciso não trilhar um caminho qualquer (…), limitado, restrito. Pois a Verdade é o todo e não a parte. A ela não
podereis chegar com mentes não adestradas, apenas meio evoluídas, e com semi-evoluídas emoções, pois ela é a perfeita harmonia, o perfeito equilíbrio da mente e do coração, que
é a Vida. (…) (Boletim Internacional da Estrela, set. de 1929, pág. 22)

(…) Quando já houverdes reconhecido essa Lei, que é universal, a Vida una em todas as coisas, então vivereis em verdadeira amizade e afeição a todos. (O Reino da Felicidade,
pág. 69)

Mas, primeiramente, (…) tendes de tornar esse templo, que é o corpo físico, perfeito, forte e realmente belo. Cada gesto, cada movimento, cada ação (…) deve ser apurado e belo, e
deve representar o templo em que habita a Eternidade (…). (O Reino da Felicidade, pág. 25)

(…) É só na essência criadora da Realidade que se verifica o término do conflito e da aflição. (…) Esse anseio de vir a ser nasce da ignorância, pois o presente é que é o Eterno. É
só na solidão da Realidade que se encontra a plenitude; na chama da criação não há “outro”; só há o Ser único. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 139-140)

(…) Mas, para que compreendam o eterno, precisam eles saber que a Verdade é uma só, que a Vida é uma só, embora essa Vida se expresse de muitas maneiras. (A Finalidade da
Vida, pág. 5)

Livre é o homem que vive no Eterno/ Porque a Vida é. (A Canção da Vida, 4ª ed., 1982 VI, 11, pág.13)

Ali está a unidade de toda a Vida/ Ali está a silenciosa Fonte/ que nutre os vertiginosos mundos. (Idem, X, 2, pág. 20)

Dessa Vida, imortal e livre/ Eu sou a eterna fonte/ Eis a Vida que eu canto. (Idem, VII, 8, pág. 17)

Desconhecido, Conhecido, Atemporal; Real, Eterno


Tenho sustentado, (…) que a mente precisa ser livre do conhecido para achar algo que pode ser chamado “o desconhecido”. (…) Ora, pode a mente ser libertada de todas as suas
suposições, crenças, dogmas, hábitos de pensamento? Expressando-o diferentemente: Pode a mente tornar se simples, para ser capaz de uma experiência completamente nova - e
não uma experiência baseada em coisas velhas, (…) projetada? Pode a mente estar aberta para o Desconhecido (…), e estar cônscia ao mesmo tempo do conhecido, como fato
presente? (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 59)

(…) Poderá a mente transcender o pensamento, que é resultado do conhecido? Não pode, evidentemente; porque, quando o pensamento procura passar além, o que ele segue é sua
própria “projeção”. O pensamento não pode experimentar o desconhecido, só pode experimentar o que ele próprio “projetou”, que é o conhecido. (…) Assim, a mente precisa
findar - o que significa que deve estar quieta, meditativa. (…) É só quando a mente está tranqüila, não tendo sido obrigada a ficar tranqüila, que existe a possibilidade de
experimentar o desconhecido. (Que Estamos Buscando?, pág. 135-136)

Temos de estar livres de toda crença, o que quer dizer de todo medo, para sabermos se existe uma Realidade, um estado Atemporal. Para descobrir é preciso estar liberto - liberto
do medo, da avidez, da ambição, da inveja, da competição, da desumanidade; só então a mente estará lúcida, sem obstáculos, sem conflito nenhum. Só uma mente assim é serena e
apenas a mente serena pode descobrir se existe o eterno, o inominável. (O Mundo Somos Nós, pág. 50)

O Eterno é sempre o desconhecido para a mente que acumula. O que se acumula são lembranças - e a memória é sempre o passado, sempre presa ao tempo. O que resultou do
tempo não pode compreender o Atemporal, o Desconhecido. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 222)

(…) Só no desconhecido há renovação; é no desconhecido que há criação, e não na continuidade. Assim, precisais sondar o desconhecido, mas, para tanto, não podeis ficar
apegado à continuidade do conhecido; porque o “eu” e a constante repetição do “eu” recaem no campo do tempo, com suas lutas, (…) realizações, (…) lembranças. (…) Para
investigar o desconhecido, a mente precisa tornar-se o desconhecido. (…) (A Arte da Libertação, pág. 129-130)

Quando a mente coração é ampla, profunda e tranqüila, acontece o Real. Se a mente busca um resultado, por nobre e digno que seja, se está interessada em vir a ser, já não é
ampla e infinitamente flexível. Ela deve ser tal como o Desconhecido, para receber o Incognoscível. Deve estar inteiramente tranqüila, para que o Eterno seja. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 121)

Para estarmos cônscios de algo que não seja parte da projeção do conhecido, torna-se necessária a eliminação, por meio da compreensão, do processo do conhecido. Por que a
mente está sempre apegada ao conhecido? Não é porque a mente está sempre em busca da certeza, da segurança? Sua natureza intrínseca é o conhecido, o tempo.

Como pode esta mente, que está alicerçada justamente no tempo, no passado, conhecer o atemporal? Ela pode conceber, formular, imaginar o desconhecido, mas tudo isso é
absurdo. O desconhecido só pode se manifestar quando o conhecido é compreendido, dissolvido, abandonado. (A Primeira e Ultima Liberdade, 1ª ed., pág. 152)

Ora, a única liberdade verdadeira é a que consiste em estar livre do “conhecido”. (…) O conhecido tem seu lugar próprio, (…). Preciso conhecer certas coisas para que possa
“funcionar” na vida de cada dia. Se eu não soubesse onde resido, perder-me-ia. E há o saber acumulado das ciências, da medicina e de várias tecnologias, o qual se vai
acrescentando constantemente. (Experimente um Novo Caminho, pág. 39-40)

Tudo isso está contido no campo do “conhecido”, e tem seu lugar próprio. Mas o “conhecido” é sempre mecânico. Toda experiência que tivestes, seja do passado remoto, seja
apenas de ontem, está no campo do “conhecido”, e daí, desse fundo, reconheceis toda experiência ulterior.

No campo do conhecido, há sempre apego, com os concomitantes temores e desesperos; e a mente aprisionada nesse campo, por mais extenso e amplo que seja, não é livre. Poderá
escrever livros (…) saber como se vai à lua (…) - mas essa mente está ainda aprisionada na esfera do conhecido. (Idem, pág. 40)

(…) Dentro desse campo, pode-se produzir, (…) inventar, (…) pintar quadros, fazer as coisas mais extraordinárias (…); nada disso, porém, é criação. Essa perene busca de grandes
feitos e de expressão pessoal é de todo em todo pueril, pelo menos para mim. (Idem, pág. 41)

Ora, estar livre de tudo isso é estar livre do “conhecido”; é o estado da mente que diz: “Não sei” - e que não está procurando resposta. Essa mente se acha, toda ela, num estado de
“não procura”, de “não expectativa”; e só nesse estado pode-se dizer “compreendo”. É o único estado em que a mente é livre, e desse estado podeis olhar as coisas conhecidas
(…). Do conhecido não tendes possibilidade de ver o desconhecido; (…). (Idem, pág. 41)

A Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está preso na rede
do tempo. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117)

Ora, o que continua não tem renovação. (…) Mas é esse findar que nos apavora, não percebendo que só no findar pode haver renovação, criação, o desconhecido (…).

É só quando morremos em cada dia para tudo o que é velho, é que pode haver o novo. Não pode existir o novo onde existe a continuidade - pois o novo, o criador, o desconhecido, o
eterno, Deus, (…). (Viver sem Confusão, pág. 31)

Mas é possível à mente pôr de lado todo o seu saber, (…) experiências, (…) lembranças, (…) achar-se naquele estado de desconhecimento? Esse é o mistério (…). Não pode a mente
tornar-se, ela própria, o desconhecido, ser o desconhecido? (…) (Poder e Realização, pág. 77)

Isso requer (…) uma liberdade extraordinária das prisões do conhecido. A mente está sempre tentando, com a carga do conhecido, apoderar-se do desconhecido. Mas quando a
mente está liberta do passado (…) - da experiência, (…) memória , (…) conhecimento - ela é então o desconhecido, e para essa mente não existe a morte. (Idem, pág. 77)

Para conhecer o desconhecido, deve a mente ser, ela própria, o desconhecido. A mente tem sido até agora o resultado do conhecido. Que sois vós senão uma acumulação de coisas
conhecidas: vossas tribulações, (…) vaidades, (…) ambições, dores, realizações e frustrações? Tudo isso é conhecido, o conhecido do tempo e do espaço; e enquanto a mente estiver
funcionando dentro da esfera do tempo, do conhecido, jamais poderá ser o desconhecido; (…). (Percepção Criadora, pág. 87)

Pois bem (…). Afinal, o atemporal, a eternidade inefável é isto: quando a própria mente é o desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do tempo, de ontem, do saber,
de experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente jamais chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Percepção Criadora, pág. 44)

Para que o desconhecido venha à existência, a mente precisa estar completamente vazia; não pode haver o experimentar da realidade, porque o experimentador é o “eu”, com
todas as suas lembranças acumuladas, tanto conscientes como inconscientes. O “eu”, que é o resíduo de tudo isso, diz: “Estou experimentando”; mas aquilo que ele pode
experimentar é apenas a sua própria projeção. O “eu” não pode experimentar o desconhecido; só lhe é possível experimentar o conhecido, o que foi projetado de si mesmo, (…)
criação do pensamento como reação do passado. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 35-36)

Senhores (…). Ora, um caminho só pode conduzir a algo que já é conhecido, e o que é conhecido não é a verdade. Quando conheceis alguma coisa, deixa ela de ser a verdade,
porque é coisa do passado, (…) estacionária. Por essa razão, o que é conhecido está enredado no tempo, e por conseguinte não é a verdade, (…) o real. (…) Mas a realidade é o
imensurável, o desconhecido. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 92)
Vós não podeis conhecer, o “desconhecido”. Só podeis conhecer o que já experimentastes e, portanto, sois capaz de reconhecer. O “desconhecido” não é reconhecível; e, para a
manifestação dessa imensidade, é preciso que termine o “conhecido”. É necessária a libertação do “conhecido”. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 97)

Não há possibilidade de falar do “desconhecido”. Não há palavra nem conceito (…) A palavra não é a coisa; e a coisa precisa ser percebida diretamente. (…) E isto é (…) difícil:
perceber uma coisa com “inocência”. Perceber uma coisa com amor - amor jamais contaminado pelo ciúme, pelo ódio, pela ira, pelo apego, pela posse. (…) Porque é só então,
nesse estado livre do “conhecido”, que a “outra coisa” pode manifestar se. (Idem, pág. 97)

(…) Quando compreenderdes a vida, encontrareis o desconhecido; porque a vida é o desconhecido, vida e morte são a mesma coisa. (…) (A Arte da Libertação, pág. 131)

(…) A vida é o desconhecido, assim como a morte é o desconhecido, como a verdade é o desconhecido. A vida é o desconhecido; mas nós nos aferramos a uma insignificante
expressão dessa vida, e isso a que nos apegamos é simples memória, um pensamento que não se completou; por conseguinte, (…) é uma coisa irreal, (…) (Idem, pág. 131)

Só quando a mente e o coração, vulneráveis, defrontam a vida, o desconhecido, o imensurável, é que se dá o êxtase da verdade. Quando a mente não se acha sobrecarregada de
valores, de lembranças, com crenças preconcebidas e é capaz de defrontar o desconhecido, nesse mesmo defrontar nasce a sabedoria, a beatitude do presente. (Palestras em New
York City, 1935, pág. 50)

(…) Assim, pois, para se encontrar o que é real, o que é Deus, deve haver liberdade - precisamos estar livres do temor, (…) do desejo de segurança interior, (…) do medo do
desconhecido. E só então, por certo, estaremos aptos a “experimentar” o desconhecido (…), e saberemos se existe Deus. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 38)

Conceitos, Preliminares II
Experimentação Divina; Insondável pela Mente, Crença
Pergunta: Como posso experimentar Deus em mim?

Krishnamurti: Que entendemos por experiência? (…) Quando é que dizemos: “Tive uma experiência?” Dizemo-lo apenas quando reconhecemos a experiência, isto é, quando existe
um experimentador separado da experiência. Isso significa que o nosso experimentar é um processo de reconhecimento e acumulação. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág.
34)

Só posso experimentar quando há o reconhecimento da experiência, e reconhecimento é recordação, memória; e a memória é, obviamente, o centro do “eu”. Isto é, todo processo
de reconhecimento e de acumulação de experiência é o “eu”, e o “eu” diz, então: “tive uma experiência”. (…) (Idem, pág.34)

Ora, o interrogante indaga: “Como posso experimentar Deus em mim?” Deus, a Realidade, (…) é coisa suscetível de experimentar-se, de reconhecer-se, de modo que se possa
dizer: “Tive uma experiência de Deus”? Evidentemente, Deus é o desconhecido; Deus não pode ser conhecido. No momento em que o conheceis, já não é Deus; é algo
autoprojetado, reconhecido, isto é, memória. É por isso que o crente nunca poderá conhecer Deus; e visto que a maioria de vós crê em Deus, jamais conhecereis a Deus, porque
vossa própria crença vo-lo impede. (…) (Idem, pág. 34-35)

A crença é o resultado do conhecido. Podeis crer no desconhecido, mas tal crença nasceu do conhecido, é parte do conhecido, que é memória. (…) Por essa maneira, a memória
cria o desconhecido, e passa a crer nele como um meio de experimentar o desconhecido. (Idem, pág. 35)

Para que o desconhecido venha à existência, a mente precisa estar completamente vazia; não pode haver o experimentar da realidade, porque o experimentador é o “eu”, com
todas as suas lembranças acumuladas, tanto conscientes como inconscientes. O “eu” (…) diz: “Estou experimentando”; mas aquilo que ele pode experimentar é apenas a sua
própria projeção. O “eu” não pode experimentar o desconhecido; (…). (Idem, pág. 35-36)

Só uma mente livre pode conhecer “o que é” - essa coisa indescritível, que não pode ser expressa em palavras. (…) Descrevê-la significa cultivo da memória; significa verbalizá-la,
situá-la no tempo; e o que é do tempo nunca pode ser o atemporal (Idem, pág. 36)

O que importa, pois, não é o que credes ou o que descredes, mas, sim, o compreender o processo integral, o conteúdo total de vós mesmos; (…). Quando a mente está de todo
tranqüila, quieta, sem senso de aceitação ou rejeição, (…) acumulação, quando existe esse estado de tranqüilidade, no qual o experimentador não existe - só então sentimos aquilo
a que podemos chamar Deus (…) e há, nesse momento, um estado de criação, que não é expressão do “eu”. (Idem, pág. 36)

(…) O passado é sempre o conhecido e o pensamento que está baseado no passado só pode criar o conhecido. Por conseguinte, pensar na Verdade é estar preso nas redes da
ignorância. (…) A Verdade é um estado no qual deixou de existir a chamada atividade do pensamento. O pensar, como sabemos, é o resultado do processo do tempo, do passado,
(…) da auto-expansão, (…) do mover-se do conhecido para o conhecido. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 263-264)

O que é conhecido não é Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego” busca , por força
de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela afirmação. Como pode a mente que está em busca de certeza, de estímulo, de animação, pensar naquilo que não
tem limites? (…) (Idem, pág. 264)

Pelo pensamento não se pode conceber o imensurável, porque o pensamento tem sempre medida. O sublime não está encerrado na estrutura do pensamento e da razão, nem
tampouco é produto da emoção e do sentimento. A negação do pensamento é ação, (…) é amor. Se estais em busca do sublime, não o achareis; ele deverá vir a vós se tiverdes boa
sorte e essa “boa sorte” é a janela aberta de vosso coração, e não do pensamento. (A Outra Margem do Caminho, pág. 56)

Percebendo-se, pois, essa extraordinária complexidade, não acreditais necessário investigar se é possível chegarmos àquela revolução, (…) transformação interior, sem nenhuma
interferência da mente? (…) Pode a mente transformar se? Sei que há momentos em que ela percebe a Realidade, que se manifesta sem ter sido chamada nem solicitada. Nesses
momentos, a mente é o Real. (…) (Poder e Realização, pág. 71)

(…) Quando o “eu” já não está lutando, consciente ou inconscientemente, para tornar-se algo, quando o “eu” está de todo inconsciente de si mesmo, nesse momento se verifica
aquele estado de devoção, (…) de Realidade. Nesse momento, a mente é o Real, é Deus. (Idem, pág. 71)

Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? (…) A criação liberta a mente da mediocridade (…). E, se é este o estado que procuro, necessito de visão muito clara, (…)
significa que ela, a mente, deve achar-se totalmente tranqüila, para descobrir. Porque o estado criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus não pode ser chamado;
ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. (…) (Idem, pág. 39-40)

(…) Assim, Deus, ou a Verdade, (…) é uma coisa que vem à existência momento a momento, e que só acontece num estado de liberdade e espontaneidade, (…). Deus não é coisa da
mente, não se manifesta por meio de autoprojeções; só vem quando há virtude, que é liberdade. Virtude é ver diretamente o fato como ele é, e o ver o fato é um estado de felicidade.
Só quando a mente transborda de felicidade, quando está tranqüila, sem nenhum movimento próprio, (…) projeção do pensamento, consciente ou inconsciente - só então desponta
na existência o eterno. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 184)

Agora, que é a realidade, (…) Deus? Deus não é a palavra, a palavra não é a coisa. Para conhecer aquilo que é imensurável, que não é do tempo, a mente deve estar livre do
tempo, (…) de todo pensamento, (…) de todas as idéias relativas a Deus. Que sabeis de Deus ou da Verdade? Nada sabeis (…). Só conheceis palavras, experiências alheias, ou
alguns momentos de experiências, um tanto vagas, de vós mesmos. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 183)

(…) O desconhecido não é algo que possa ser “experimentando” pela mente; só o silêncio pode ser “experimentado”, e nada mais (…). Se a mente “experimentar” qualquer coisa,
menos o silêncio, está ela apenas projetando os seus próprios desejos, e essa mente não está silenciosa; (…) (Idem, pág. 184)
(…) Assim, pois, para se encontrar o que é real, o que é Deus, (…) deve haver liberdade - precisamos estar livres do temor, (…) do desejo de segurança interior, (…) do medo ao
desconhecido. E só então (…) estaremos aptos a “experimentar” o desconhecido, (…) e sabermos se existe Deus. Mas, se o homem que crê em Deus ou (…) não crê em Deus se
atém a essa conclusão, fica (…) cativo da ilusão. Só posso conhecer aquela “coisa”, (…) compreendê-la, experimentá-la diretamente, quando não sou egocêntrico, (…) não estou
condicionado pela crença, pelo temor, pela avidez, pela inveja, etc. (Nós Somos o Problema, pág. 38-39)

O pensamento pode colocar-se, e com efeito se coloca, em níveis diferentes: o estúpido e o profundo, o nobre e o gentil e o ignóbil; mas isto é sempre pensamento (…). O Deus do
pensamento é sempre um Deus da mente, da palavra. O pensar em Deus não é Deus, e sim mera reação da memória. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 168)

A mente que desejar achar-se num estado em que possa manifestar se o novo - seja Deus, seja a Verdade, (…) essa mente, sem dúvida, deve cessar de adquirir, de acumular, deve
pôr de parte todo o seu saber (…) (A Renovação da Mente, pág. 24)

A Realidade, ou Deus, (…) não se alcança por meio de conflito. Pelo contrário, é imprescindível a extinção do “eu”, do centro de acumulação, (…). (Idem, pág. 25)

O abandono da personalidade, do “eu”, não se dá por ato de vontade; a travessia para a outra margem não é uma atividade dirigida para um fim ou ganho. A Realidade apresenta
se na plenitude do silêncio e da sabedoria. Não podeis chamar a Realidade, ela deverá vir por si mesma; não podeis escolher a Realidade, ela é que deverá escolher-vos. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 84-85)

Dizeis, porventura, que desejais modificar-vos, mas alguma coisa há que impede a transformação. Explicações não alteram coisa alguma. Dizer que o “ego” é um obstáculo, é
simples explicação, (…). Desejais que eu descreva a maneira de vencer os obstáculos; mas precisamos achar um meio de saltar a barreira; se possível, precisamos lançar-nos à
corrente, ousadamente, aventurosamente, em vez de ficarmos sentados na margem a especular. (Que Estamos Buscando?, pág. 93)

Que nos está impedindo de dar o salto? O que no-lo impede é a tradição, que é memória, que é experiência (…). Tanto nos satisfazemos com palavras, com explicações, que não
damos o salto, mesmo percebendo a necessidade de saltar. Alvitra-se que não ousamos lançar-nos à corrente porque temos medo do desconhecido. Mas, é-me possível saber o que
acontecerá, é-me possível conhecer o desconhecido? Se eu o conhecesse, não haveria então temor algum - e não seria o desconhecido. Nunca me será dado conhecer o
desconhecido, se não me aventuro. (Idem, pág. 93-94)

Será o temor que nos está impedindo de lançar-nos à aventura? Que é temor? Só pode haver temor em relação com alguma coisa, ele não existe em isolamento. Como posso temer a
morte, (…) uma coisa que desconheço? Só posso temer o que conheço. Quando digo que temo a morte, estarei mesmo com medo do desconhecido, ou estou com medo de perder o
que me é conhecido? (…) (Idem, pág. 94)

Alma, Sentimento, Intelecto, Vida, Desejo, Temporal


Pergunta: Credes na alma?

Krishnamurti: (…) Pois bem; existe alma? A alma como entidade espiritual, não? - ou como caráter? Senhores, que entendeis por “alma” (…)? Referis-vos à psique? Estamos
perguntando (…) se a alma, a entidade psicológica, existe. Existe, evidentemente, (…). (O que te Fará Feliz, pág. 56- 57)

Portanto, (…) Será realidade ou ilusão aquilo que se denomina alma, e será ela única? Existe ela separadamente e exerce a sua influência sobre o ser fisiológico ou psicológico?
Chegaremos nós, pelo estudo dos tecidos e fluidos orgânicos, a saber o que é o pensamento, (…) a mente, a saber o que é essa consciência que jaz oculta na matéria viva? (…)
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 12)

Por essa razão deveis despertar, deveis abrir todas as janelas e portas de vossas almas e partir em busca da única Realidade da vida; e não vos deveis perder em tentativas febris e
vãs, em corredores e becos escuros. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 62)

(…) Que temos em vista, quando falamos a respeito da alma? Referimo-nos a uma consciência limitada. Para mim, há somente a vida eterna - em contraste com essa consciência
limitada que chamamos o “eu”. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 122)

Enquanto houver tal consciência de separação, do “eu”, da personalidade, não pode existir a realização da verdade; (…). (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág.24)

(…) Não é sempre a ação do “ego”, o sentimento do “meu”, um processo de limitação? Vamos averiguar se a expansão pessoal conduz à Realidade, ou se a Realidade só se
manifesta depois de desaparecer a personalidade, o “ego”. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 187)

(…) Qual o interesse que pomos em descobrir a verdade acerca da natureza e das atividades do “ego”, da personalidade? A meditação, a disciplina espiritual nenhum significado
tem se em primeiro lugar não estiver bem claro para nós esse ponto. (…) (Idem, pág. 195)

Pergunta: Quereis dizer que inteligência e consciência individual são palavras sinônimas?

Krishnamurti: A consciência é o resultado da continuidade identificada. A sensação, o sentimento, a racionalização e a continuidade da memória identificada constituem a
consciência individual, (…) (Idem, pág. 216)

O amor, é evidente, não é sentimento. Ser sentimental, ser emotivo, não significa ter amor, porque o sentimentalismo e a emoção são meras sensações. O indivíduo religioso que
chora por causa de Jesus ou de Krishna (…) é apenas sentimental, emotivo. Está entregue à sensação, que é um processo do pensamento. (…)

O sentimentalismo, a emotividade, são puras formas de auto-expansão. Estar cheio de emoção não significa ter amor, porque uma pessoa sentimental pode tornar-se cruel quando
os seus sentimentos não são correspondidos, quando não consegue dar expansão aos seus sentimentos. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 224)

(…) Ficai cônscios do sentimento de vir a ser; com o sentimento vem a sensibilidade, a qual começa a revelar tudo quanto se contém no vir a ser. O sentimento é endurecido pelo
intelecto e pelas numerosas e sutis racionalizações, (…). (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 43)

Presentemente, a educação moderna está desenvolvendo o intelecto, oferecendo cada vez mais explicações da vida, teorias e mais teorias. (…) A mente - o intelecto - fica satisfeita
com essas inúmeras explicações, mas a inteligência não, pois para entender tem de haver completa unidade da mente e do coração na ação. (Palestras na Itália e Noruega, 1933,
pág. 125-126)

O tempo, pois, é uma ilusão (…) O desejo tem tempo, a sensação tem tempo, mas o amor nada tem que ver com o tempo. O amor é um “estado de ser”. (…) (Visão da Realidade,
pág. 230)

(…) Assim, intelectualmente, estais sendo tolhido, sufocado, controlado, moldado e, por conseguinte, (…) não há possibilidade de libertação. Tampouco a há do ponto de vista
emocional - mas não deis à palavra “emocional” o sentido de “sentimentalismo”. Um ente sentimental é perigoso: pode tornar-se estúpido, insensível. (…) (Uma Nova Maneira de
Agir, 1ª ed., pág. 122)

O adestramento do intelecto não produz inteligência. (…) Há uma enorme diferença entre intelecto e inteligência. O intelecto é o mero pensamento funcionando independentemente
da emoção (sentimento). (…) pode-se ter grande intelecto, mas não se ter inteligência. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 125)

(…) Uma inteligência que é produto do desejo, da expansão do “ego”, há de estar sempre a criar resistência e não pode, jamais, dar-nos a tranqüilidade. Essa inteligência
protetora do “ego” é produto do tempo, do impermanente, e não pode, portanto, jamais, conhecer o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 215)

(…) Desenvolvemos uma certa qualidade de inteligência, em nossa atividade de expansão pessoal; com a nossa avidez, (..) instinto aquisitivo, (…) conflitos e penas, (…). Pode essa
inteligência compreender o Real (…)? (Idem, pág. 201)

(…) O essencial é sabermos se essa inteligência que foi cultivada na expansão do “eu” é capaz de perceber ou descobrir a verdade; (…) Para descobrir-se a verdade, é necessário
que estejamos livres da inteligência que está ligada à expansão do “ego”, porquanto esta é sempre (…) limitante. (Idem, pág. 201)

Ora, que é a mente? Ela não é apenas uma série de reações aos desafios que estão sempre a assaltar-nos, mas também uma série de lembranças, conscientes ou inconscientes, as
quais estão constantemente moldando o presente em conformidade com o condicionamento. (…) Observai e vereis que vossa mente é uma série de desejos, mais o impulso a
preenchê-los (…) (O Homem Livre, pág. 41)

Há, pois, uma diferença entre o intelecto e a mente. O intelecto é “separativo”, “funcional”, não pode ver o todo; ele funciona dentro de um padrão. E a mente é a totalidade que
pode ver o todo. O intelecto está contido na mente; mas o intelecto não contém a mente. (…) É a capacidade da mente que percebe o todo, e não o intelecto. (O Passo Decisivo, pág.
272)

(…) Há uma atividade diferente que não procede do “ego” e que cumpre ser encontrada. Uma inteligência diferente é necessária para compreender-se o Atemporal, pois é só este
que nos pode libertar de nossas lutas e sofrimentos incessantes. A inteligência que agora possuímos é produto do desejo de satisfação e segurança, material e espiritual, é resultado
da cupidez, (…) da auto-identificação. Tal inteligência é incapaz de compreender o Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 215-216)

Pergunta: Como podemos ultrapassar essa inteligência limitada?

Krishnamurti: Se ficarmos passivamente vigilantes de suas atividades complexas e inter-relacionadas. Com essa vigilância, as causas que nutrem a inteligência do “ego”
extinguem-se sem esforço auto-consciente. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 216-217)

Assim, pois, enquanto atribuímos exagerada importância ao intelecto, à mente que adquire saber, ilustração, experiência e lembranças, não existirá “a outra coisa”. Pode-se em
certas ocasiões ter rápidas visões da “outra coisa”; mas (…) são reduzidas imediatamente às medidas do tempo, (…). (Poder e Realização, pág. 86-87)

(…) O culto do intelecto, em oposição à vida, conduziu-nos à nossa frustração, com suas inumeráveis vias de fuga. (…) A presente crise nasceu do culto do intelecto, que dividiu a
vida numa série de ações opostas e contraditórias; foi o intelecto que negou o fator de unificação, que é o amor. (…) (A arte da Libertação, pág. 248)

Ora, dividimos a mente em pensamento, razão, intelecto; mas (…) a mente é, para mim, inteligência, inteligência que se cria, mas obscurecida pela memória; a mente, que é
inteligência, está (…) confundida com aquela consciência do “eu”, resultado do ambiente. (…) (A Luta do Homem, pág. 65)

(…) A vida, por certo, implica ação diária, pensamento diário, sentimento diário (…). Implica as lutas, as dores, as ânsias, os enganos, as tribulações, a rotina do escritório, dos
negócios, (…). Por “vida” entendemos não uma só esfera ou camada da consciência, mas o processo total da existência, que é a nossa relação com as coisas, com as pessoas, com
as idéias. É isso o que entendemos por vida - e não uma coisa abstrata. (Novo Acesso à Vida, pág. 49)

(…) O viver realmente exige abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio, grande simplicidade a par de abundante experiência. Requer uma mente capaz de pensar com toda a
clareza, não tolhida pelo preconceito ou a superstição, pela esperança ou pelo medo. Tudo isso é a vida, e se não estais sendo educados para viver, vossa educação é
completamente sem significação. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 35)

Que é “desejo”? E por que separamos o desejo da mente? (…) Em primeiro lugar, precisamos saber o que é o desejo, para podermos examiná-lo com mais profundidade. (…)
“Experimentai” realmente a coisa sobre que estamos falando, e, desse modo, as palavras terão significação. (Realização sem Esforço, pág. 14-15)

Como se origina o desejo? Pode-se dizer com segurança que ele nasce do perceber ou ver, do contato, da sensação - depois o desejo. (…) Primeiro vedes um automóvel, depois vem
o contato, a sensação, e, por fim, o desejo de possuir o carro, conduzi-lo. (…) A seguir (…) há conflito. Nessas condições, na própria realização do desejo há conflito, dor,
sofrimento, alegria, (…). A entidade criada pelo desejo (…) está identificada com o prazer (…). O desejo, que nasce da percepção-contato-sensação, está identificado com aquele
“eu” que deseja apegar-se ao que é agradável e afastar de si o que é doloroso. (…) (Idem, pág. 15)

Vamos, pois, investigar, descobrir o que é desejo. Com a compreensão do desejo vem a disciplina - disciplina não imposta por ninguém, que não é ajustamento nem repressão,
porém uma disciplina inerente à própria compreensão do desejo. Como disse, desejo é apetite, aspiração, ânsia não preenchida. E, ou cedemos a essa ânsia, (…) desejo, ou o
reprimimos, porque a sociedade nos diz que devemos reprimi-lo, porque as religiões organizadas preceituam que devemos transmutá-lo, etc. (…) (A Suprema Realização, pág. 43)

Temos desejo, que é, na realidade, reação a um apetite. Desejo ser uma coisa, e “reajo”. Essa reação depende da intensidade de meu sentimento. Se é intenso o sentimento,
imperiosa a emoção, o preenchimento é então quase imediato, seja em pensamento, seja em ato. (…) (A Suprema Realização, pág. 44)

O desejo, reação a uma sensação a que se deu continuidade pelo pensamento, busca seu preenchimento; e, nas várias formas de preenchimento, há sempre contradição. Dessa
contradição vem o conflito; e onde há conflito há esforço. O desejo, pois, gera o esforço, se não compreendemos o seu “processo” total. (Idem, pág. 44)

Tendes um prazer, sexual ou trivial, e pensais nele; criais em vossa mente imagens, símbolos, palavras. E, quanto mais pensais nesse prazer, tanto mais intenso ele se torna. E essa
intensidade exige preenchimento. Mas nesse preenchimento há uma contradição, pois desejais também preencher-vos em outros sentidos.

(…) Por conseguinte, para fugirdes à contradição, à dor causada pelo conflito, dizeis ser necessário reprimir o desejo. Mas, não é importante reprimir o desejo, moldá-lo,
sublimá-lo, porém, sim, compreendê-lo, compreender o que lhe dá substância, intensidade, urgência de preenchimento. Compreendido isso, tem o desejo significação
completamente diferente. (Idem, pág. 45)

(…) A mente, que é também vontade, é a fonte do esforço, das intenções, dos motivos conscientes e inconscientes - o centro do “eu” e do “meu” e (…), por mais longe que tente
alcançar, pode esse centro produzir uma transformação fundamental em si mesmo? (Claridade na Ação, pág. 27)

(…) Só pode haver revolução quando a mente cessa de funcionar no campo do tempo, porque então se torna possível a existência de um elemento novo, independente do tempo. (…)
Podeis chamar esse elemento “Deus” ou “a Verdade”. (…) (Idem, pág. 28)

Há duas espécies de vontade - a vontade que nasce do desejo, da carência, do anseio - e a vontade do discernimento, da compreensão, (…). (Palestras em Ojai, 1936, pág. 94)

(…) A vontade resultante do desejo baseia-se no esforço consciente da aquisição, (…). Este esforço consciente ou inconsciente de querer, de ansiar, cria a totalidade do processo do
“eu”, e daí surgem o atrito, a tristeza e a cogitação do além. Desse processo surge também o conflito dos opostos (…) (Idem, pág. 94-95)

Ora, não há vontade divina, mas apenas a vontade simples, comum, do desejo: a vontade de obter sucesso, de estar satisfeito, de ser. Essa vontade é uma resistência, e é fruto do
medo que guia, escolhe, justifica, disciplina. Essa vontade não é divina. Ela não está em conflito com a chamada vontade divina, mas, (…) é uma fonte de tristeza e de conflito,
porque é a vontade do medo. Não pode haver conflito entre a luz e a treva; onde existe uma, não existe a outra. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 103)

Pergunta: Podeis (…) explicar a diferença existente entre mudança na vontade e mudança de vontade?

Krishnamurti: Mudança na vontade é apenas o resultado de dualidade na consciência, e mudança de vontade tem lugar na plenitude de nosso ser integral. (…) (Palestras em
Ommen, Holanda, 1936, pág. 46)

Uma é mudança de grau e a outra é mudança de espécie. O conflito da carência ou a mudança do objeto do desejo é apenas mudança na vontade, mas com a cessação de toda
carência dá-se a mudança de vontade. (Idem, pág. 46)

Mudança na vontade é uma submissão à autoridade do ideal e da conduta. Mudança de vontade é discernimento, inteligência, na qual não há conflito da antítese. Nesta última,
existe um profundo e espontâneo ajustamento; na primeira, há compulsão por meio da ignorância, da carência e do temor. (Idem, pág. 46)

Se, quando escutais (…), fazeis algum esforço, isto é ainda resultado do conhecido. Quase todos nós vivemos pela ação da vontade, (…). A vontade de “vir a ser”, ser, é ação do
conhecido, (…). Por conseguinte, a ação da vontade não pode encontrar nunca o que é real. (…) (Viver sem Temor, pág. 17)

Nota: Conforme fontes orientais e ocidentais, incluindo Escrituras, a alma e seu campo abrange sentimento, emoção, paixão; mente concreta, temporal, intelecto, correspondente
inteligência; vida, prana, princípio vital; e desejo-vontade, kâma, vinculado ao Id da psicanálise. Aqui foram incluídos textos correspondentes, de Krishnamurti.

O “Eu”; Natureza Psicológica, Atividades Abrangidas


Em nossas recentes reuniões, tratamos da importância de se compreenderem as tendências do “eu”. Porque, afinal de contas, as pessoas que pensam mais seriamente não podem
deixar de saber que o “eu” é a verdadeira causa de todas as nossas iniqüidades e sofrimentos. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 73)

Pode-se ver que o pensamento tem fabricado o “eu”, o “eu” que se tornou independente, o “eu” que tem adquirido conhecimentos, o “eu” que é o observador, o “eu” que é
passado, o passado que atravessa o presente e se projeta a si mesmo. Este é ainda o “eu” produzido pelo pensamento, e esse “eu” se tem tornado independente do pensamento (…)
(La Verdad y la Realidad, pág. 231)

(…) Esse “eu” tem um nome, uma forma. Tem uma etiqueta chamada X ou Y ou João. Identifica-se com o corpo, com o rosto; há a identificação do “eu” com o nome e com a forma,
( … ) e com o ideal que quer seguir. Também com o desejo de mudar o “eu” por alguma outra forma de “eu”, por outro nome. Este “eu” é produto do tempo e do pensamento. O
“eu” é a palavra: elimino a palavra e que é o “eu”? (Idem, pág. 131)

E esse “eu” sofre. O “eu” que sofre é você. O “eu”, em sua grande ansiedade, é a grande ansiedade de você. (…) De modo que esse “eu” se move na corrente da cobiça, (…) do
egoísmo, do temor, da ansiedade, etc. (…) Enquanto vivemos, estamos envolvidos nessa corrente; (…). Essa corrente é o “egocentrismo” (…); essa expressão inclui todas as
descrições do “eu” que acabamos de fazer. E, quando morremos, o organismo morre, porém a corrente egocêntrica continua. (Idem, pág. 232)

O que o pensamento produz é sempre produto dele próprio e, portanto, coisa do tempo. Não há dúvida de que esse todo é o “eu” o “ego”, quer superior, quer inferior (…). O “eu”,
portanto, é um feixe de lembranças (…). Não existe entidade espiritual identificada como “eu” ou distinta do “eu”; porque, quando dizeis que existe uma entidade espiritual
separada do “eu”, ela é ainda um produto do pensamento (…) e pensamento é memória. Assim, o “vós” e o “eu”, superior ou inferior, (…) é memória. (A Arte da Libertação, pág.
127)

(…) O “eu” é, apenas, reação, e, por conseguinte, o findar da reação é o findar do “eu”. Eis por que importa se compreenda todo o processo do “eu”, (…) do pensar. (…) O “eu” é
mecânico e, por conseguinte, só pode reagir mecanicamente; e para se passar além necessita-se de auto-conhecimento completo. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 214)

Através do grande desenvolvimento da habilidade, temos fortalecido em nossa consciência a estrutura e a natureza do “eu”. O “eu” é violência, (…) cobiça, inveja, etc. (…).
Enquanto exista o centro, o “eu”, toda ação será distorcida. (…) Desta maneira, pode-se desenvolver uma grande capacidade, porém a essa capacidade falta equilíbrio, harmonia.
(…) (La Totalidad de la Vida, pág. 157)

Em primeiro lugar, (…) o “eu” são as várias qualidades, virtudes, idiossincrasias, esperanças, paixões, valores, que tenho cultivado, as lembranças que conservei (…). O “eu”, que
se acha identificado com a propriedade, a casa, a família, um amigo, uma esposa, um marido, com experiência; o “eu” que cultivou certas virtudes, (…) que deseja preencher-se,
que tem lembranças inúmeras, agradáveis e desagradáveis - este “eu” diz: “tenho medo; quero a garantia (…) de continuidade.” (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág.
117)

Posso, pois, estar cônscio da minha avidez, (…) inveja, momento a momento? Estes sentimentos são expressões do “eu”, do “ego” (…). O “ego” é sempre o “ego”, em qualquer
nível que o coloquemos. Seja “superior”, seja “inferior”, o “eu” está sempre compreendido na esfera do pensamento. (…) (Percepção Criadora, pág. 109)

(…) O “eu” é um feixe de lembranças, e isso é tempo, e a mera continuação no tempo não leva ninguém ao eterno, que está fora do tempo. Só se extingue o temor da morte, quando
o desconhecido penetra vosso coração. (…) (A Arte da Libertação, pág. 131)

(…) O “eu” é mecânico e, por conseguinte, só pode reagir mecanicamente; e para se passar além, necessita-se auto-conhecimento completo. (…) Ora, nós habitualmente agimos de
um centro que tem um ponto, que é o “eu” (…); é esse o centro de onde reagimos; (…). (Que Estamos Buscando? pág. 214)

Sabeis o que entendo por “eu”? Com essa palavra quero significar a idéia, a memória, a conclusão, a experiência, as várias formas de intenções, confessáveis e inconfessáveis, o
esforço consciente para ser ou para não ser, a memória acumulada do inconsciente, da raça, do grupo, do indivíduo, da tribo, etc., tudo isso, quer projetado exteriormente como
ação, quer projetado espiritualmente como virtude; a luta que daí resulta é o “eu”. (…) A totalidade desse processo constitui o “eu”; (…). (Quando o Pensamento Cessa, pág. 75)

O “eu” é egotista, suas atividades, por mais nobres que sejam, são separativas e geram isolamento. (…) Conhecemos também aqueles momentos extraordinários em que o “eu” é
inexistente, em que não há tendência para esforço ou luta, e que ocorrem quando existe o amor. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 75)

O que entendemos por “eu”? (…) “São todos os meus sentidos, (…) sentimentos, (…) imaginação (…) exigências românticas, (…) posses, (…) marido, (…) esposa, (…) qualidades,
(…) lutas, (…) conquistas, ambições, (…) aspirações, (…) infelicidade, (…) alegrias” - tudo isso seria o “eu”. Você pode acrescentar mais palavras, mas a essência dele é o centro,
o “eu”, meus impulsos (…). A partir desse centro, ocorre toda ação; (…) as nossas aspirações, (…) ambições, desavenças, (…) desacordos, (…) opiniões, julgamentos, experiências,
estão centrados nisso. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 9)

(…) Pensamos que, no processo do tempo, no crescer e transformar-se, o “eu” se tornará, no fim, realidade. Tal é nossa esperança, nosso anelo: que o “eu” se tornará perfeito
através do tempo. Que é esse “eu”? É um nome, uma forma, um feixe de lembranças, esperanças, ilustrações, ânsias, dores, sofrimentos e alegrias passageiras. (…) (Claridade na
Ação, pág. 142)

(…) Mas existe o “eu” que não é meu corpo, o “eu” que é minha compreensão acumulada, (…) as riquezas que juntei - não o “eu” físico, mas o “eu” psicológico, que é memória e
que desejo continue a existir, que não quero que finde. Em verdade, não é a morte que tememos, mas esse findar. Desejamos continuidade. (…) (Arte da Libertação, pág. 128)

Que é o “eu”? Se uma pessoa observa realmente a si própria, observa que o “eu” é uma massa de experiências acumuladas, de mágoas, de prazeres, de idéias, conceitos, palavras.
É o que somos: um feixe de memórias (lembranças). (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 169)

Todos nós somos, psicologicamente, o resultado de nosso ambiente educacional e social. A sociedade, com seus códigos de moralidade, suas crenças e dogmas, suas contradições,
seus conflitos, suas ambições, sua avidez, sua inveja, suas guerras - é o que nós somos. (Idem, pág. 169)

Memória identificada com a propriedade, a família, o nome - isso é o que cada um de nós é, (…). Podemos ter certa capacidade para escrever poesias ou pintar quadros; podemos
ser bastante sagazes nos negócios, ou muito sutis no interpretar determinada teologia; mas o que na realidade somos é um feixe de coisas lembradas - as mágoas, as dores, as
vaidades, os preenchimentos e frustrações do passado. (…) (Idem, pág. 169)

Nunca percebemos (…) por que existem em nós diversas entidades, que gravitam todas em torno do “eu”. O “eu” é constituído dessas entidades, que são meros desejos, sob várias
formas. Desse conglomerado de desejos surge a figura central, o “pensador”, a vontade do “eu” (…). (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 67)

Existe essa entidade complexa chamada “ego”, com todas as suas agonias, seu sofrer, suas ânsias, seu desejo de preenchimento, de “vir a ser”, de domínio, de posição, de
segurança, seu desejo de ser alguém, de “expressar-se” de diferentes maneiras. (…) Com esse “ego” vou olhando as coisas e, de acordo com ele, traduzindo-as; conseqüentemente,
é muito natural pensar-se que nada existe de novo, uma vez que tudo está sendo contaminado pelo passado. (Experimente um Novo Caminho, pág. 64)
Ora, o que acontece quando se acumulou conhecimento, experiência? Qualquer outra experiência que vocês tenham é imediatamente traduzida em termos de “mais e mais”, e
vocês nunca estão realmente experimentando, mas (…) amontoando; e esse amontoar é o processo da mente, que é o centro do “mais e mais”. O “mais e mais” é o “eu”, o ego, a
entidade (…) preocupada em acumular, seja negativa ou positivamente. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 139)

Que centro é esse? Sem dúvida, é o “eu”, o “ego”, a mente, (…) tão sensível, sobremodo hábil e capaz de compreender uma tão grande variedade de experiências, de armazenar
inúmeras lembranças, que pode inventar, que sabe planear um avião (…). Esse centro, máquina complexa, de potencialidades ilimitadas, está circunscrito pela idéia do “eu”: meu
prazer, minha segurança, minhas vaidades, minhas posses, meu progresso, meu preenchimento. (Percepção Criadora, pág. 52-53)

É um centro de afeição, de ódio, de prazeres efêmeros, de inveja, avidez e sofrimento. E posso realizar uma revolução nesse centro, de modo que o “eu” se torne inexistente?
Porque o “eu” é a fonte de todo sofrimento, (…). Ainda que o “eu” tenha satisfações passageiras, alegrias e afeições superficiais, ele está constantemente multiplicando problemas
e produzindo sofrimento. Por mais alto ou em qualquer nível que se coloque o “ego”, ele estará sempre compreendido no campo do pensamento (…) (Idem, pág. 53)

(…) A atividade egocêntrica do “eu” é um processo temporal. É a memória que dá continuidade à atividade do centro, que é o “eu”. Se observardes a vós mesmos, e vos tornardes
cônscios desse centro de atividade, vereis que ele é só processo de tempo, de memória, de experiência, e de tradução de cada experiência de acordo com a memória. (…) (A
Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)

Quero, pois, averiguar o que é esse centro e ver se é realmente possível dissolvê-lo, transformá-lo, desarraigá-lo. Que é o “eu” da maioria de nós? É um centro de desejo, que se
manifesta sob várias formas de continuidade (…). É o desejo de ser mais, de perpetuar a experiência, de enriquecimento por meio da aquisição, lembranças, sensações, símbolos,
nomes, palavras. (Claridade na Ação, pág. 103)

Se observardes bem, vereis que não existe nenhum “eu” permanente, mas só memórias - a memória do que eu fui, do que eu sou e do que deveria ser; vereis que ele é o desejo de
“mais”, o desejo de um saber maior, de uma experiência maior, desejo de uma identidade contínua, identidade com a casa, com o país, com idéias, com pessoas. Esse processo se
desenvolve não só consciente, mas também nas camadas mais profundas, nas camadas inconscientes da mente, e, por conseguinte, esse centro, que é o “eu”, é mantido e nutrido
pelo tempo. (Idem, pág. 103)

Tudo isso, pois, constitui o “eu” , (…) - o “eu” que está sempre a desejar “mais”, sempre insatisfeito, sempre lutando por mais experiência, mais sensações, cultivando a virtude a
fim de reforçar-se em seu centro; por essa razão, ele nunca é virtude, mas tão somente expansão de si próprio, sob o disfarce de virtude. Aí tendes o que é o “eu”, ele é o nome, a
forma, o sentimento que se oculta atrás do símbolo, (…) luta para adquirir, reter, expandir-se ou diminuir-se, cria uma sociedade aquisitiva, cheia de conflito, competição,
crueldade, guerra, etc. (Idem, pág. 104)

(…) O centro é o “eu”, que tanto é físico como emocional e intelectual. O “eu” cria o espaço que o circunda, porque o centro existe. E, já que o centro existe e cria o espaço, e se
este é o único espaço que o homem tem possibilidade de conhecer, nesse caso não há liberdade nenhuma. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 136)

Portanto, psicologicamente, não se pode evitar a dor, se se está psicologicamente em busca de prazer. Desejamos uma coisa, e não desejamos outra. A exigência de continuação de
dado prazer é o centro de onde pensamos, funcionamos e atuamos - centro que se pode chamar “ego”, “eu”, “personalidade”; (…) Onde há um centro, há sempre espaço em torno
dele, espaço no qual ocorre a ação do medo e do prazer. (…) (A Importância da Transformação, pág. 121)

Tendes de trabalhar muito diligentemente para descobrirdes as atividades de vossa mente, como funciona, suas ações egocêntricas, o “eu” e o “não-eu”; deveis “familiarizar-vos”
inteiramente convosco e com os truques que a mente pratica consigo mesma, as ilusões e falácias, a criação das imagens, e as idéias românticas que nutrimos. A pessoa que é capaz
de sentimentalidade, é incapaz de amar, a sentimentalidade gera brutalidade, crueldade, violência, e não amor. (Fora da Violência, pág. 79)

A questão sobre que temos discutido é a seguinte: Como é possível reconhecer as várias atividades do “eu” e suas formas sutis, atrás das quais a mente se abriga? (…) A ação
baseada em idéia é uma forma do “eu”, (…). Assim, a idéia, posta em ação, se transforma em meio de dar continuidade ao “eu”. (…) A busca de poder, de posição, de autoridade,
a ambição, etc., são formas do “eu”, (…). (Quando o Pensamento Cessa, pág. 74)

(…) Mas a verdade se manifesta de momento a momento, quando a mente é capaz de libertar-se de todas as acumulações. Porque quem acumula é o “eu”, e ele acumula para se
impor, (…) dominar, (…) expandir se, (…) preencher-se. Só com a libertação do “eu” pode a verdade manifestar-se (…) (Nós Somos o Problema, pág. 85-86)

Ora, antes de perguntardes: “pode o eu evolver?”, tendes de saber o que é o “eu”. Dizer “o eu evolve” não tem sentido. Que é o “eu”? O “eu” são vossos móveis, vossa casa,
vossos livros, vossa memória, lembranças de prazer e dor - o “eu” é um feixe de “memórias”. É mais alguma coisa? Dizeis que o “eu” é espiritual, que nele existe uma essência
espiritual. (…) Não é isso uma invenção do pensamento? (…) Não aceiteis nada, nem mesmo o vosso “eu”, porque, para descobrirdes a Verdade, a mente deve estar livre do “eu”
(…) “eu superior” e “eu” é a mesma coisa - uma pura invenção dualista. (O Novo Ente Humano, pág. 30)

O “ego”, esse feixe de lembranças, é o resultado do passado, produto do tempo, e esse “ego”, por mais que evolva, será capaz de conhecer o Atemporal? Pode o “eu”, com o
tornar-se maior, mais nobre, no correr do tempo, sentir o Real? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 142)

Ora, a inocência é algo não contaminado, algo totalmente novo, fresco; é um “estado de descobrimento”, no qual a mente é sempre jovem. Para averiguardes isso, (…) não podeis
continuar a transportar essa carga do passado. O passado (…) tem de findar, para que a mente possa descobrir aquela “coisa nova”; e ele deve chegar a seu fim, sem que seja
necessário esforço, disciplina, controle ou repressão. O “velho” não pode achar “o novo”, (…). (Experimente um Novo Caminho, pág. 64)

Compreendeis o problema? Essa entidade, o ego, é produto do tempo, (…) de um milhar de experiências, (…) de contradições, batalhas, ansiedades, (…) da “culpa” (sentimento de
culpa), do sofrimento, da aflição, do prazer. É o resíduo do passado, (…) nenhuma possibilidade tem de descobrir o novo. O novo não pode ser posto em palavras; é algo
imensurável, energia sem causa, sem fim, sem começo; e, para que a mente possa encontrar-se neste estado de criação, o velho, o ego, deve findar. Mas como fazê-lo findar? (Idem,
pág. 64-65)

Quando observais, não em termos de tempo, essa consciência integral; quando o pensamento já não é escravo do tempo, já não é uma reação, e se acha em completa quietude,
então, por estar o cérebro totalmente quieto, não mais “experimentando”, será possível penetrar até às raízes da consciência total. Só então se verificará a verdadeira mutação,
(…) transformação. (…) (Idem, pág. 68)

(…) Assim sendo, o que me parece importante é essa investigação do “eu”, de “mim”, para se conhecer o “eu” tal qual é, com suas ambições, invejas, exigências agressivas,
falácias, divisão em “superior” e “inferior” - de tal maneira que não só seja revelada a mente consciente, mas também a inconsciente, o repositório da antiga tradição (…). O
conhecimento da totalidade do “eu” significa o seu fim. (…) (Transformação Fundamental, pág. 60)

Consciência, Unidade, Ego, Superego, conforme o Autor


Para compreendermos (…) precisamos entender a questão da consciência. Que entendemos por consciência? (…) A consciência, de certo, é um processo de reação a um estímulo, a
que chamais experiência. Isto é, há um desafio, que é sempre novo; mas a reação é sempre velha. (…) Essa experiência recebe uma designação (…) ela é boa ou má, agradável ou
dolorosa. (…) Assim, a consciência, nos diferentes níveis, é o processo total do experimentar (…). Esse processo total, (…) chama-se consciência. (…) A memória é o armazém, o
registro, e é a memória que intervém, que reage ao estímulo; e a esse processo chamamos consciência. (…) (Arte da Libertação, pág. 53-54)

(…) Por consciência entendemos (…) o pensamento, o sentimento e a ação, conscientes ou inconscientes. (…) Os sentidos, que criam o sentimento, e as fórmulas, os conceitos, as
idéias, a opinião, a crença positiva ou negativa - tudo isso está compreendido no campo da consciência. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 111)

A consciência constitui toda a esfera de nosso pensamento, todo o campo da idéia e da ideação. O pensamento organizado se torna idéia, da qual resulta ação; e a consciência se
constitui de muitas camadas de pensamento, ocultas e patentes, conscientes e inconscientes. É a esfera do conhecido, da tradição, da memória do que foi. É o que temos aprendido,
o passado em relação ao presente. (Experimente um Novo Caminho, pág. 38)
O passado transmitido através de séculos, o passado da raça, da nação, da comunidade, da família; os símbolos, as palavras, as experiências, o choque dos desejos contraditórios;
as inumeráveis lutas, prazeres e dores; as coisas que aprendemos de nossos antepassados e as modernas tecnologias que se lhes acrescentaram - tudo isso constitui a consciência, é
o campo do pensamento, (…) do conhecido, e nós vivemos na superfície desse campo. (…) (Idem, pág. 38)

Se olhamos o conteúdo da consciência encontramos recordações, temores, ansiedades, o “eu creio” e o “eu não creio”, todos produtos do tempo. E o pensamento diz que isto é
tudo que tenho, devo protegê-lo, defendê-lo (…). O movimento do pensar tem sua origem na memória; ainda que pense em liberdade, segue pertencendo ao passado. Portanto, não
pode produzir mudança radical. (…) (Tradición y Revolución, pág. 95-96)

A consciência, tal como a conhecemos, pertence ao tempo, é um processo de registro a acumulação de experiência, nos seus diferentes níveis. Tudo o que ocorre no interior dessa
consciência é sua própria projeção; tem qualidade própria e é mensurável. Durante o sono, ou essa consciência se fortalece ou sucede algo de todo diferente. Para a maioria de
nós, o sono fortifica a experiência, é um processo de registrar e acumular, no qual há expansão, mas não renovação. (…) Esse processo de vir a ser tem de cessar completamente,
(…). (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 37)

O outro ponto é: “Não é necessário despejarmos tudo o que está oculto nos labirintos do subconsciente para nos descondicionarmos?” Como disse, a consciência é constituída de
diferentes camadas. Primeiro, temos a camada superficial, e abaixo desta a memória, porque sem memória não há ação.

Imediatamente abaixo está o desejo de ser, de “vir a ser”, o desejo de realizar. Se vos aprofundardes mais, encontrareis um estado de completa negação, de incerteza, de vazio.
Esse total constitui a consciência. (…) (A Arte da Libertação, pág. 117)

Pois bem, enquanto houver o desejo de ser, de “vir-a-ser”, de realizar, de obter, há de haver o fortalecimento, nas muitas camadas da consciência, do “eu” e do “meu”; e o
esvaziamento dessas muitas camadas só é possível quando compreendeis o processo de “vir a ser” (Idem, pág. 117)

Quando um problema não é solúvel conscientemente, pode o inconsciente ajudar a resolvê-lo? Que é o consciente e que é o inconsciente? Existe uma linha precisa onde um acaba e
o outro começa? Tem o consciente um limite que não pode ultrapassar? (…) O inconsciente é uma coisa separada do consciente? São os dois dissimilares? Na falta de um, o outro
começa a funcionar? (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 133-134)

Ora, sabemos que existe a mente consciente e a mente inconsciente, mas a maioria de nós funciona apenas no nível consciente, na camada superficial da mente, e toda a nossa vida
(…) se limita a isso. Vivemos na chamada mente consciente e nunca damos atenção à mente inconsciente, mais profunda, da qual nos vem ocasionalmente uma mensagem, uma
sugestão; mas essa sugestão não é atendida, ou é adulterada. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 174)

Nosso problema (…) é este; existe, de fato, um estado único, e não dois estados, como sejam o consciente e o inconsciente; só há um “estado de ser”, que é a consciência, embora
gostemos de dividi-la em consciente e inconsciente. Mas a consciência é sempre do passado, nunca do presente; (…). Nunca estamos conscientes do agora. (…) Observai os vossos
corações e as vossas mentes, e vereis que a consciência funciona sempre entre o passado e o futuro, sendo o presente mera passagem do passado para o futuro. (…) (Que Estamos
Buscando, 1ª ed., pág. 175)

A mente consciente está claramente procurando uma saída do problema, e essa saída é uma conclusão satisfatória. Não é a mente consciente, ela própria, constituída de
conclusões, positivas ou negativas, e será capaz de procurar algo diferente? (…) Não há dúvida de que a mente consciente é constituída do passado, está fundada no passado, (…).
Ela é incapaz de examinar o problema sem a cortina protetora de suas conclusões; é incapaz de estudar, de estar silenciosamente cônscia do próprio problema. Conhece, apenas,
conclusões agradáveis ou desagradáveis, e só é capaz de acrescentar, a si própria, mais conclusões, mais idéias, mais fixações. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 134)

Krishnamurti: Voltemos a isto. Penetrando na consciência, e vendo quão fragmentária ela é, pode naturalmente uma (parte dos fragmentos) transformar-se na outra (a total). Então
viriam juntos, porque temos dividido a vida em consciente e inconsciente, oculto e revelado. Este é o ponto de vista psicanalítico, psicológico. Para mim, pessoalmente, isto não
ocorre. Não separo o consciente do inconsciente. Mas aparentemente, para a maioria de nós, há essa divisão. (The Awakening of Intelligence, pág. 386)

(…) Dá-se a verdadeira integração quando, por todas as camadas da consciência, existe percepção e compreensão (…). As numerosas partes adversas e contraditórias da nossa
consciência só podem integrar-se quando já não existe a causa dessas divisões; dentro do padrão do “eu” só pode haver conflito; nunca integração, plenitude. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 134)

Krishnamurti: (…) Se não há conteúdo, não há consciência. Dentro da consciência há muitos fragmentos; não é um único conteúdo sólido. Existem diferentes níveis, atitudes,
características, atividades, (…). Tudo isso é a consciência total. Uma parte dessa consciência total, um fragmento, assume importância; então diz: “eu sou a consciência”, ou “eu
não sou a consciência”, “eu sou isto”, “eu não sou isto”. (Tradición y Revolución, pág. 148)

Nossa consciência (…) está ocupada com os próprios conceitos e conclusões, assim como com as idéias de outra gente; está cheia de temores, ansiedades e prazeres, e, junto a
ocasionais expressões de alegria, está a dor. Essa é nossa consciência. Esse é o padrão da existência que levamos. (La Totalidad de la Vida, pág. 192)

É de algum modo possível produzir uma mudança radical na própria consciência? Porque, se isso não é possível, estamos vivendo perpetuamente em uma prisão com nossas idéias,
(…) conceitos - vivendo em um campo (…) de confusão, incerteza, instabilidade. E ao indivíduo parece que, se se move de um lugar a outro desse campo, terá mudado grandemente;
porém continua no mesmo campo. Enquanto vivemos dentro do campo a que chamamos nossa consciência, (…) ainda assim não há nesse campo uma transformação humana
fundamental. (Idem, pág. 192)

O “eu” é uma entidade total. Conquanto falemos de “consciente” e “inconsciente”, só existe de fato um estado: a consciência. Conhecemos a arte que chamamos “o consciente”; a
outra parte, porém, é muito difícil de conhecer-se; entretanto, a mente é um processo total que inclui tanto a consciência interior como a consciência periférica, o oculto bem como
o manifesto. Ora, pode uma pessoa tomar conhecimento dessa consciência total que é o “eu”, com seus desejos, suas ânsias, seus temores, seus impulsos, sua luta constante para
aperfeiçoar- se, sua ânsia de preenchimento - (…) sem fortalecer a atividade do “eu”? E pode todo esse processo do “eu” terminar? (…) (Percepção Criadora, pág. 5-7)

Ora, pode uma pessoa tomar conhecimento dessa consciência total que é o “eu”, com seus desejos, suas ânsias, seus temores, seus impulsos, sua luta constante para aperfeiçoar-se,
sua ânsia de preenchimento - (…) sem fortalecer a atividade do “eu”? E pode todo esse processo do “eu” terminar? Por certo, ele não pode extinguir-se por um ato de volição, (…)
de nenhum artifício, nem pela repetição de frases, (…). (Idem, pág. 57-58)

(…) Se vos tornardes indiscriminadamente cônscios do “eu” em todas as suas atividades; cônscios de todo o processo do nosso pensar, tanto o cognitivo como o oculto; se
perceberdes sem julgamento nem condenação, produzireis infalivelmente aquela revolução no centro. A mente se tornará então sutil num grau extraordinário, espantosamente ativa
e vigilante (Idem, pág. 59)

Tende (…) e vereis que a ação criadora é uma coisa que nasce quando a mente está tranqüila, quando o “eu” está totalmente ausente. A atividade criadora que conhecemos
ocasionalmente, resultante de agitação, não é a mesma coisa que a ação criadora livre do centro. A ação criadora livre do centro não é temporal, porque não é invenção da mente;
(…). Mas a criação a que me refiro não é para dar-nos satisfação, é algo totalmente desconhecido, (…) e virá apenas quando a mente, perfeitamente cônscia do processo do “eu”,
compreende a significação deste e, por conseguinte, não mais o nutre de experiência. (Percepção Criadora, pág. 60)

(…) Como indivíduos, tendes que compreender o processo da consciência por meio do discernimento direto, sem escolha. A autoridade do ideal e do desejo impede e perverte o
verdadeiro discernimento. Quando há carência, quando a mente está cativa dos opostos, não pode haver discernimento. As reações psicológicas impedem o verdadeiro
discernimento. Se dependermos da escolha, do conflito dos opostos, criaremos sempre a dualidade em nossas ações, (…). (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 13-14)

(…) Descobrimos, assim, uma coisa muito interessante, ou seja, que todo conhecimento é o passado, todo conhecimento tecnológico vem dele, e esse passado se “projeta”,
modificado pelo presente, no futuro. Assim, vós como entidade sois o passado, (…) vossas “memórias”, (…) tradições, (…) experiência. Acabamos de ver, pois, que o “vós”, o “eu”,
o “ego”, o “superego”, tudo é passado. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 141)

(…) Queremos que esse “eu” subsista e se torne perfeito, e, por conseguinte, dizemos que além do “eu” está um “super-eu”, um “eu” mais alto, uma entidade espiritual atemporal.
Mas, visto que a pensamos (…) está ainda dentro da esfera do tempo, (…). (Claridade na Ação, pág. 142)
A mente, ao perceber a sua própria impermanência, a sua transitoriedade, anseia por um estado permanente, e esta própria ânsia cria o símbolo, a sensação, a idéia, a crença, a
que nos apegamos. Temos, pois, o “eu” transitório, e o “super-eu”, o “eu superior”, que consideramos permanente; e a mente, buscando o permanente, cria a dualidade, o conflito
dos opostos. (…) (Idem, pág.143)

Mas, em primeiro lugar, não estais cônscios da existência de uma entidade diferente, o “eu” superior, que controla o inferior? Há em cada um de nós uma coisa que existe
separadamente, e que guia, molda, observa cada pensamento. (…) Como nasceu esta entidade separada? Não é ela um resultado da mente, (…) do pensamento? É, evidentemente;
(…). Se eu não a tivesse pensado, ela não poderia existir; (…)

E o que é produto do pensamento pode ser uma entidade espiritual, separada do pensamento? Pode ser uma entidade atemporal, uma coisa eterna, que transcende o processo do
pensamento? Se é uma entidade atemporal, então não me é possível pensá-la, porquanto só sou capaz de pensar dentro dos limites do tempo. (…) (Claridade na Ação, pág. 64-65)

Posso, pois, estar cônscio (…). O “ego” é sempre o “ego” em qualquer nível que o coloquemos. Seja “superior”, seja “inferior”, o “eu” está sempre compreendido na esfera do
pensamento. (…) (Percepção Criadora, pág. 109)

(…) Podeis situar o “eu” num nível qualquer, podeis chamá-lo “eu superior” ou “eu inferior”, mas isso representa ainda o processo do pensar; e, se não se compreende o
pensamento, o seu pensar (…) continua sendo um processo de fuga. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 74)

Que é essa ânsia extraordinária de subsistir, que tem cada um de nós? E o que é que subsiste, (…)? Certo, o que continua é o nome, a forma, a experiência, o conhecimento, e
várias lembranças. (…) O dividirdes a vós mesmos em “eu superior” e “eu inferior” não tem aqui cabimento, porque sois e continuais a ser (…) a soma de todas aquelas coisas.
(…) (Idem, pág. 82)

Assim, o todo da consciência, embora o chameis “superior” ou “inferior”, é memória. (…) E nesse campo, que é a consciência, não existe nada novo. (…) E o pensamento é
memória, não importa se vossa própria memória ou memória acumulada de um milênio de propaganda. (…) O pensamento jamais poderá promover aquela revolução. (Viagem por
um Mar Desconhecido, pág. 185)

Consciente, Subconsciente, Inconsciente, Camadas


Estive mostrando quanto é trivial o consciente, com suas atividades superficiais, sua perene tagarelice, etc.; e o inconsciente é também muito trivial. O inconsciente, como o
consciente, só se torna importante quando o pensamento lhe dá continuidade. O pensamento tem seu lugar próprio, sua utilidade (…) em assuntos técnicos, etc., mas o pensamento é
de todo fútil, quando se trata de operar aquela radical transformação. Quando percebo que é o pensamento que dá continuidade, está terminada a continuidade do pensador. (A
Mente Sem Medo, 1ª ed., pág. 51)

Conhecemos o que é o consciente; sabemos que vivemos, nos movemos, funcionamos dia a dia (…). Entretanto, há as camadas ocultas do inconsciente, as quais governam o
consciente, pois (…) são muito mais vitais e muito mais ativas do que a chamada mente superficial. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 33)

A mente consciente ocupa se do imediato, do limitado presente, ao passo que a inconsciente está sob o peso dos séculos e não pode ser represada ou desviada por alguma
necessidade imediata. O inconsciente tem a qualidade de tempo profundo, e a mente consciente, com sua recente cultura, não pode haver-se com ela de acordo com as suas
necessidades passageiras. Para erradicar a autocontradição, a mente superficial precisa compreender esse fato e estar em repouso - o que não significa dar vazão às inúmeras
pressões da mente oculta. Quando não há resistência entre a manifesta e a oculta, então esta, porque tem a paciência do tempo, não violará o imediato. (O Verdadeiro Objetivo da
Vida, pág. 23)

Precisamos despertar a plena capacidade da mente superficial, que vive na atividade cotidiana, e também compreender a mente oculta. Ao compreender a mente oculta. Ao
compreender a mente oculta, estabelece-se um viver total, em que a autocontradição, com sua alternância de tristeza e felicidade, desaparece. É essencial que nos familiarizemos
com a mente oculta e com seus processos; mas é igualmente importante não nos ocuparmos dela em excesso ou dar-lhe importância indevida. Só quando compreender o superficial
e o oculto, poderá a mente ir além de suas limitações e descobrir a atemporal bem aventurança. (Idem, pág. 24)

(…) Educar apenas a mente consciente sem compreender a inconsciente acarreta contradição em nossas vidas, (…). A mente oculta é muito mais dinâmica do que a superficial. A
maioria dos educadores está apenas interessada em fornecer informações ou conhecimento à mente superficial, preparando- a para conseguir um emprego e ajustar-se à sociedade.
(…) Tudo o que a chamada educação faz é sobrepor-lhe uma camada de conhecimento e técnica, e dotá-la de certa capacidade para ajustar-se ao ambiente. (O Verdadeiro Objetivo
da Vida, pág. 22-23)

Uma vez que haja percepção e compreensão dos poderes e capacidade das muitas camadas da mente oculta, os detalhes poderão concatenar-se sábia e inteligentemente. O
importante é a compreensão da mente oculta, e não a mera educação da mente superficial no sentido de adquirir conhecimento, conquanto este seja necessário. Essa compreensão
da mente oculta liberta a mente total de conflito, e só então haverá inteligência. (Idem, pág. 24)

Não sei quantos de nós estão cônscios de que existe um subconsciente, de que há diferentes camadas em nossa consciência. Parece-me que a maioria de nós só está cônscia da
mente superficial, das atividades diárias, (…). Não temos percebimento da profundeza, da importância, da significação das camadas ocultas; e às vezes, graças a um sonho, uma
mensagem, ficamos cônscios de que há outros “estados de ser” (…) (A Arte da Libertação, pág. 116)

O inconsciente é o depósito oculto do passado, individual e coletivo. É o repositório de séculos de propaganda, de toda experiência e conhecimento, das tradições e complexidades
da raça. Agora, por mais engenhoso que vós sejais, que o analista seja, a mente consciente não pode abeirar se do inconsciente por meio de análise. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 130)

Pela análise só se pode arranhar a superfície do inconsciente, não se pode penetrá-lo muito profundamente - como creio que a maioria dos analistas concordaria, atualmente. A
mente consciente foi educada, “treinada” numa determinada direção, adquiriu conhecimentos técnicos em certas especialidades, para que a pessoa possa ganhar a vida (…) - mas
por essa maneira não é possível abeirar-nos do inconsciente. (Idem, pág. 130)

O inconsciente, que é o “oculto”, tem de ser considerado negativamente. (…) Estar cônscio de uma coisa negativamente (…) é olhá-la e escutá-la sem resistência, sem condenação,
sem rejeição. Do mesmo modo, é possível ficarmos cônscios, “sem escolha” da totalidade do inconsciente - e esse é o percebimento negativo. (Idem, pág. 130-131)

A mente oculta, inexplorada e não compreendida, com sua parte sua parte superficial que foi “educada”, entra em contacto com os desafios e exigências do presente imediato. A
superficial pode reagir adequadamente ao desafio; mas, por haver uma contradição entre a mente superficial e a oculta, qualquer experiência da mente superficial só fará
aumentar o conflito entre ela e a oculta. (…) A mente superficial, experimentando o externo sem compreender o interno, o oculto, só produz um conflito mais profundo e mais
amplo. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 24)

O inconsciente, embora essa palavra sugira algo oculto, de que não temos percebimento, faz também parte do conhecido; ele é o passado. Podeis desconhecer o inteiro conteúdo do
inconsciente, (…) não o terdes examinado, observado, mas provavelmente tendes sonhos, comunicações procedentes daquela vasta região subterrânea da mente. Ela existe, e é o
conhecido, porque é o passado. Nela nada existe de novo; (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 39)

Existe inconsciente? (…) Se há inconsciente, de que maneira poderá a mente consciente descobri-lo? (…) Ao que sei, o inconsciente é o passado, a herança racial, o depósito da
totalidade do esforço humano; um nível muito profundo existente em cada um de nós. De que maneira pode a mente consciente descobrir esse depósito, (…) coisa oculta, cuja
existência admitimos? (…) (A Essência da Maturidade, pág. 24)

Não sei se já notastes que, no momento em que se vê algo sem o pensamento, não há observador, só há observação. Quando olhais para uma nuvem, sem vossas lembranças
acumuladas relativas às nuvens, estais apenas observando. Da mesma maneira temos de observar o inconsciente; e quando observais assim, negativamente, existe inconsciente?
Não apagastes completamente o inconsciente com todo o seu conteúdo? Há, pois, um percebimento imediato da totalidade da consciência. (…) (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 69)

A mente consciente é incitada, impelida, tangida ou coibida pelo inconsciente. Podeis pensar que sois, exteriormente, uma pessoa muito pacata, sem ambições; mas por baixo,
profundamente oculto, está o clamor que vos vai no coração - vossos impulsos, compulsões, desejos, motivos. O inconsciente é o reservatório de todo o passado da humanidade, não
apenas do passado do vosso existir, mas o de vosso pai (…) ancestrais, (…) nação, da humanidade; as tradições raciais, os preconceitos de casta; tudo isso está contido no
inconsciente. (Autoconhecimento, Base da Sabedoria, pág. 82-83)

(…) Sem dúvida, todo o campo mental - o consciente e o inconsciente - está condicionado pela nossa particular cultura. Isso é bastante óbvio. (…) No campo do inconsciente se
acham todas as tradições, o resíduo, assim o herdado como o adquirido, de todo o passado do homem, (…) (Transformação Fundamental, pág. 56-51)

Minha vida e a vossa se acham num estado de fragmentação, de fracionamento. Vivemos uma vida dualista, dizendo uma coisa, fazendo outra, pensando uma coisa e dizendo coisa
diferente. Contradição, dualidade - eis a vida que estamos vivendo. E eu estou perguntando: Por quê? Por que está a vida tão fragmentada? (…) (Palestras com Estudantes
Americanos, pág. 64)

A mente oculta é muito mais potente que a superficial, por mais que esta seja instruída e capaz de se ajustar; e isso não é algo tão inexplicável. A mente oculta ou inconsciente é o
repositório das memórias raciais. A religião, a superstição, o símbolo, as tradições (…) de uma raça, a influência, tanto da literatura sagrada como da profana, de aspirações,
frustrações, maneirismos e variedades de alimento - tudo isso está enraizado no inconsciente. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 23)

Os desejos manifestos e secretos, com suas motivações, esperanças e medos, suas tristezas e prazeres; e as crenças, sustentadas através de pressões por maior segurança,
traduzindo-se de várias maneiras - essas coisas também estão contidas na mente oculta, que não só tem essa extraordinária capacidade de reter o passado residual, como tem
também a capacidade de influir no futuro. Indícios de tudo isso são apresentados à mente superficial através de sonhos e de várias outras formas, quando ela não está totalmente
ocupada com os acontecimentos cotidianos. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 23)

A mente oculta não é nada de sagrado, (…) a ser temido, nem requer um especialista para expô-1a à mente superficial. Mas, graças à enorme potência da mente oculta, a mente
superficial não pode haver-se com ela como desejaria. A mente superficial é em grande parte impotente em relação à sua própria parte oculta. Por mais que procure dominar, dar
forma ou controlar a mente oculta, devido às suas exigências e objetivos sociais imediatos, a mente superficial só consegue arranhar a superfície da mente oculta; e então há um
hiato de contradição entre ambas. Procuramos vencer essa divisão através da disciplina, (…) várias práticas, sanções, etc.; mas não conseguimos (Idem, pág. 23)

É possível ao ente humano livrar-se totalmente do passado, de modo que se torne novo e olhe a vida de maneira inteiramente diferente? O que chamamos “o inconsciente” - não
importa se relativo a passado de cinqüenta ou de dois milhões de anos - não tem existência real. Resíduo racial, tradição, motivos secretos, anseios, prazeres (…). Está sempre na
consciência. Só há consciência, embora não percebamos o seu conteúdo total. (…) todas as nossas atividades, no âmbito do inconsciente, do consciente, do passado, do futuro etc.,
estão contidas nesse campo. (…) (A Importância da Transformação, pág. 10)

É possível estar-se livre em todo o campo da mente, tanto o chamado inconsciente, como no consciente? Como já dissemos, não existe tal coisa - o inconsciente. Só existe o campo
da consciência. Podemos estar cônscios de determinada seção do campo, e não estar cônscios do restante. Se não estamos cônscios do restante, não compreenderemos a totalidade
do campo. Infelizmente esse campo foi dividido em consciente e inconsciente, (…). Tornou-se moda estudar o inconsciente. (…) (Idem, pág. 47)

A revolução implica, por certo, um percebimento total de toda a estrutura psicológica do “eu”, consciente e inconsciente, e que esteja totalmente livre dessa estrutura, sem pensar
em “tornar-se outra coisa”. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 91)

(…) Como estive dizendo (…), se não há compreensão do inconsciente, toda “mudança” psicológica é simples ajustamento a um padrão estabelecido pelo inconsciente. E a crise
atual (…) exige uma revolução. (Idem, pág. 91)

(…) Podemos tentar compreender o inconsciente por meio de exame e análise, mas isso obviamente não produzirá revolução. Podeis modificar, reformar; mas (…) não é revolução,
não é completa libertação do passado. Necessita-se de uma mente jovem, nova, “inocente”, e essa mente só pode existir quando nos libertamos psicologicamente do passado. (Idem,
pág. 92)

Se, a fim de compreender a estrutura total do “eu”, de extraordinária complexidade, procederdes passo a passo, descobrindo camada por camada, examinando cada pensamento,
sentimento e motivo, ver-vos-eis todo enredado no processo analítico; que vos levará semanas, meses, anos; e quando admitimos o tempo no processo de autocompreensão, temos
de estar preparados para toda espécie de deformação, porquanto o “eu” (…) se move, vive, luta, deseja, nega; (…) (Liberte-se do Passado, pág. 27)

(…) Descobrireis, assim, por vós mesmos, que não é esse o caminho que deveis seguir; (…) que a única maneira de olhardes a vós mesmos é fazê-lo totalmente, imediatamente, fora
do tempo; e só podeis ver a totalidade de vós mesmos quando a mente não está fragmentada. O que vedes em sua totalidade é a verdade. (Idem, pág. 27)

Necessitamos de mudança social (…). Quer conscientes, quer inconscientes, todas nossas ações produzem conflito em nossa existência. O consciente é racional, sua atividade,
deliberada. O inconsciente é muito mais forte do que o consciente. Olhai para dentro de vós mesmos, profundamente, não de acordo com Freud ou outro - olhai-vos realmente. E,
para olhardes, deveis estar livres para olhar. Se dizeis: “Isto é correto” ou “Isto é errado”, “Isto é bom” ou “Isto é mau” (…), nesse caso não estais livres para olhar, (…)
observar, para penetrar neste imenso campo da consciência.

O inconsciente, como já disse, é muito forte. Ele é o repositório racial, coletivo, e nos governa muito mais do que a mente consciente; e, também, tem seus próprios motivos,
impulsos, alvos. Envia-nos mensagens através de sonhos (…). Assim, a menos que se opere aquela revolução radical, fundamental, o conflito humano durará infinitamente. (…)
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 115-116)

Durante o sono, e freqüentemente nas horas de vigília, quando cessa completamente o vir a ser, quando terminou o efeito de uma causa, então, aquilo que está além do tempo, além
da medida de causa e efeito, surge na existência. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 37-38)

Se não pode achar uma conclusão satisfatória, a mente consciente desiste da busca e torna-se quieta; e nessa mente superficial, agora tranqüila, o inconsciente faz surgir,
subitamente, uma solução. Ora, a mente inconsciente, a mais profunda, é diversa (…)? O inconsciente não é também constituído de conclusões e memórias raciais, grupais e
sociais? Certo, o inconsciente é também o resultado do passado, do desejo, e a diferença consiste, apenas, em estar submerso, e à espera; e, quando solicitado, envia à superfície as
suas próprias conclusões ocultas. Se forem satisfatórias, a mente superficial as adota; se não, fica (…) esperando encontrar por milagre uma solução. Se nenhuma solução
encontra, reconcilia-se, exausta, com o problema, (…). (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 134-135)

Inconsciente Coletivo; Consciência da Humanidade


Estamos tentando olhar a totalidade da vida; e a vida é imensa, não são simplesmente as camadas superficiais de nossa existência diária. A vida é infinita, extraordinariamente
sutil, fluida, móvel, sem posição estática; e não é possível compreender a totalidade desse extraordinário movimento da vida com a mente consciente, com todas as suas crenças,
conceitos, idiossincrasias, seu ponto de vista fragmentário, porque tal ponto de vista não pode dar percebimento total. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 86)

(…) Percebemos, pois, o fato de que o nosso pensar é condicionado pelo passado, o qual se projeta para o futuro; (…) porque não há dois estados tais como o passado e o futuro,
mas só um estado que inclui todo o passado - o consciente e o inconsciente, o coletivo e o individual. O passado coletivo e o individual, reagindo ao presente, produzem certas
reações que criam a consciência individual; (…). E no momento em que temos o passado, temos inevitavelmente o futuro, porque o futuro não passa de continuidade do passado,
modificado, (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 176-177)

O que conhecemos na vida, atualmente, é uma série de lutas, de ajustamentos, de limitações, de coerções contínuas. E, nesse processo, não há, nunca, renovação, jamais ocorre
algo novo. Ocasionalmente, surge uma sugestão, porém, é traduzida pela mente consciente e posta em conformidade com o padrão das nossas conveniências de cada dia. (…)
(Poder e Realização, pág. 82)
O inconsciente tem um papel muito importante em nossa vida. A maioria de nós não conhece o inconsciente, a não ser através de sonhos, (…) de ocasionais sugestões ou mensagens
relativas a coisas que estão ocultas. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 67)

No inconsciente estão enraizadas não só as reações comuns do indivíduo, mas também as reações coletivas da raça a que pertence, no meio cultural em que foi criado - (…) a
tremenda acumulação de experiência humana, através das idades. Tudo isso lá está, no inconsciente. Descobrir todo o inconsciente por meio de análise, de investigação gradual, é
absolutamente impossível; (…) (Idem pág. 68)

(…) Quando a mente é posta tranqüila, artificialmente, a camada superficial da mente pode receber mensagens, não apenas do seu próprio inconsciente, mas também do
inconsciente coletivo; e essas mensagens são traduzidas segundo o condicionamento da mente. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 157)

Isso não é questão de análise, porquanto não se pode analisar o inconsciente. Há especialistas, bem sei, que tentam fazê-lo, mas não o creio possível. O inconsciente não pode ser
analisado pelo consciente. Já vos digo porquê. Através de sonhos, sugestões, de símbolos, de mensagens diversas, tenta o inconsciente comunicar-se com a mente consciente. Essas
sugestões e mensagens requerem interpretação, e a mente consciente as interpreta conforme seu próprio condicionamento, suas peculiares idiossincrasias. (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed. pág. 15)

(…) A mente consciente é moldada pela inconsciente; e é muito difícil compreender os secretos motivos, intenções e compulsões do inconsciente, porque não somos capazes de
conseguir acesso ao inconsciente pelo esforço consciente. É negativamente que devemos abeirar-nos dele, e não pelo processo positivo da análise. (…) (Idem, pág. 50)

O inconsciente é o depósito oculto do passado, individual e coletivo. É o repositório de séculos de propaganda, de toda experiência e conhecimento, das tradições e complexidades
de raça.(…). (O homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 130)

A mente consciente não pode, jamais, perceber a totalidade. A mente consciente é a mente individual, ao passo que a mente inconsciente nunca é individual. A mente inconsciente é
a raça, a experiência coletiva da humanidade. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 85)

Aqui estamos tratando de observar o movimento da consciência e sua relação com o mundo, e de ver se essa consciência é individual, separada, ou se é o total da humanidade.
Desde a infância se nos educa para sermos indivíduos, cada qual com uma alma separada; (…) (La Llama de la Atención, pág. 103)

O cérebro - que se desenvolveu através dos tempos, milhões e milhões de anos - é o cérebro comum da humanidade. Podemos não gostar de constatar isso, porque estamos
acostumados à idéia de que nossos cérebros são individuais. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 113)

(…) O indivíduo não é um processo isolado, separado do todo, mas, sim, o “processo total da humanidade”; por conseqüência, os que sentem verdadeiro interesse e desejam
realizar uma revolução de valores, radical e fundamental, esses devem começar por si mesmos. (A Arte da Libertação, pág. 28)

Portanto, primeiro temos de olhar nossa consciência, ver de que está composta, qual é o seu conteúdo. Devemos perguntar-nos se esse conteúdo da consciência (…) é de fato uma
consciência individual. Ou se essa consciência individual, que cada um de nós sustenta como separada de outras consciências, não é individual em absoluto? Ou é a consciência da
humanidade? (La Llama de la Atención, pág. 82)

Por favor, escutem (…). Somente observem (…) o que estamos dizendo: a consciência com que nos temos identificado como indivíduos é em absoluto individual? Ou é a consciência
da humanidade? Ou seja, que a consciência, com todo o seu conteúdo de angústia, recordação, dor, atitudes nacionalistas, crenças, cultos, etc., é invariável em todo o mundo. Onde
se encontre o homem, está sofrendo, competindo, lutando; está ansioso, cheio de incerteza, soçobro, desespero, desalento, crendo em supersticiosos disparates. Isso é comum a toda
a humanidade, quer seja na Ásia, aqui ou na Europa. (Idem, pág. 82-83)

De modo que nossa consciência, com a qual nos temos identificado como nossa consciência “individual”, é uma ilusão. É a consciência do resto da humanidade. O ser é o mundo, e
o mundo é cada um de nós. (…) Toda a vida têm lutado como indivíduos, como algo separado do resto da humanidade; e quando descobrem que a consciência de cada um de vocês
é a consciência do resto da humanidade, isso significa que cada um de vocês é a humanidade, não um indivíduo separado, (…) (La Llama de la Atención, pág. 83)

Espírito-mente, Atemporal, Vida, Amor, Vontade (Eterna)


Se, quando escutais (…), fazeis algum esforço, isto é ainda resultado do conhecido. (…) Notai que todo conhecimento, toda experiência fortalece a vontade, o conhecido, o “eu”, o
“ego”, e que essa vontade, esse “eu” nunca pode perceber claramente o que é verdadeiro, jamais achar a Deus (…) porque seu Deus é o conhecido. (Viver sem Temor, pág. 17)

Só quando o espírito se encontra num estado de correspondência com o desconhecido, só então há a possibilidade de criação, que é a Verdade. (…) (Idem, pág. 17)

Se pensais que sois uma entidade espiritual ou realidade, o que significa isso? Não implica um estado imortal fora do tempo que é eterno? Se ele é eterno, então não tem
crescimento; pois aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. (…) (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 95)

(…) Se essa essência espiritual é supostamente amor, inteligência, verdade, então como pode ser cercada por essas trevas que confundem (…)? (Idem, pág. 95)

(…) E, todavia, esta mente está em busca de alguma realidade que evidentemente deve achar-se fora do tempo; (…) Sendo a mente o único instrumento com que podemos sentir,
experimentar, é fora de dúvida que, no movimento de experimentar a Realidade, a mente é da mesma qualidade que a Verdade, o Atemporal, não achais? (Poder e Realização, pág.
70)

(…) Onde estais, aí está Ele, e onde estou, aqui Ele está; e quando alguém tem vivido o gozado nesse Reino, está com Ele. Porque tereis encontrado a vós mesmos, tereis encontrado
o verdadeiro “Eu”; e uma vez que o tenhais encontrado, podereis sempre voltar à Fonte. (O Reino da Felicidade, pág. 83-84)

Tendes então a chave de todo o conhecimento, tendes sempre o poder de ser parte da Eterna Compaixão, da Fonte Eterna de todas as coisas.(…) (Idem, pág. 84)

(…) Tal força, tal poder para a luta, tal poder de dar energia para a criação, é o Reino da Felicidade. Se um homem encontrar tal força e ao mesmo tempo tal alegria, tal luta e ao
mesmo tempo tal êxtase na vida, tal crescimento e ao mesmo tempo a forma perfeita - tal homem descobrirá que tem dentro de si um Companheiro Eterno, (…) (Idem, pág. 91)

(…) Sois o templo externo, e ardendo dentro de vós está o Eterno, o Santo dos Santos, no qual podereis entrar e adorar à vontade, longe do mundo, (…) de todos os tumultos e
perturbações. (O Reino da Felicidade, pág. 25)

(…) Mas todos são feitos pelas mesmas mãos, (…) com a mesma argila, (…) produto da mesma roda que gira e gira. Na essência nós somos iguais, mas no mundo da forma somos
diferentes; e de acordo com essas diferenças varia a nossa compreensão da Verdade. Quanto maiores fordes, quanto mais houverdes sofrido, (…) mais houverdes gozado, mais
próximos estareis da unidade com essa Essência. (…) (Idem, pág. 65)

(…) Já expliquei o que entendo por individualidade: o estado em que a ação se realiza com entendimento, libertada de todos os padrões - sociais, econômicos ou espirituais. É a
isso que chamo verdadeira individualidade, por ser ação nascida da plenitude do entendimento (…). (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 52)

Todos vós deveis entrar nesse Reino da Felicidade. (…) Aquele a quem adoramos é o nosso Altar, (…) a Fonte de todas as coisas. Ele está acima de argumentos, (…) de discussões,
de ambições pessoais, de lutas pessoais; Ele é o nosso “Eu”. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 70)

Enquanto puderdes (…) só podeis refletir a pureza desse Reino quando houverdes encontrado o vosso verdadeiro Ser (Self), quando viverdes eternamente nesse Reino e O tiverdes
como Eterno Companheiro. Então tereis em vós essa paz que dá imensa força e poder (…) Aquela Voz que está sempre chamando, (…) (Idem, pág. 89)

(…) Ó Amado,/ O Ser do qual tu és o todo,/ Procura o caminho do iluminado êxtase. (A Canção da Vida, 4ª ed., 1982, III, 2, pág. 10)
(…) Ó Amado,/ O Ser do qual tu és o todo,/ Dança a Canção da Eternidade. (Idem, 111, 4, pág. 10)

(…) Ó Amado, o Ser do qual tu és a totalidade,/ Está em fusão para unir-se ao incorruptível. (Idem, III, 6, pág. 11)

O Ser, o Amado,/ A oculta e integral beleza,/ É a imortalidade do amor. (Idem, VI, 3, pág. 15)

Ó Vida, Ó Amado,/ Só em ti está o perene amor,/ Só em ti reside o eterno pensamento. (Idem, XXV, 3, pág. 43)

(…) Ó Amado,/ O Ser do qual tu és o todo,/ Marcha para o centro de todas as coisas. (Idem, III, 3, pág. 10)

Ó amigo!/ Procura o Amado,/ Nos secretos recessos do teu coração./ (…) (Idem, XXI, 3, pág. 35)

Inteligência, para mim, não é o conhecimento tirado dos livros. Podeis ser mui eruditos e, apesar disso, estúpidos. Podeis haver lido muitas filosofias e, apesar disso, desconhecer a
beatitude do pensamento criativo, o qual somente pode existir (…) pelo constante apercebimento das coisas estúpidas do passado e das que estiverem sendo criadas. Somente então
virá à existência o êxtase do que é verdadeiro. (Palestras em New York City, 1935, pág. 21)

(…) Tendes pois de estar enamorados da Vida. Isso exige grande inteligência, não informações ou conhecimentos, porém essa grande inteligência que desperta quando defrontais a
Vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração estiverem por completo vulneráveis em face da Vida. (Idem, 1935, pág. 60)

(…) A vida é o desconhecido, assim como a morte é o desconhecido, como a verdade é o desconhecido. A vida é o desconhecido; mas nós nos aferramos a uma insignificante
expressão dessa vida, e isso a que nos apegamos é simples memória, (…). A mente se apega a essa coisa vazia, chamada memória, e memória é a mente, o “eu”, (…) (A Arte da
Libertação, pág. 131)

Assim, pois, depende da mente que a Verdade seja absoluta ou eterna. (…) Mas a mente que está cônscia de tudo o que se passa interiormente, e percebe a verdade aí contida, essa
mente é atemporal; só essa mente pode saber o que existe para além das palavras, dos nomes, do permanente e do transitório. (Novos Roteiros em Educação, pág. 142-143)

(…) Quando o “eu” já não está lutando, consciente ou inconscientemente, para tornar-se algo, quando o “eu” está de todo inconsciente de si mesmo, nesse momento se verifica
aquele estado de devoção, aquele estado de Realidade. Nesse momento, a mente é o Real, é Deus. (…) (Poder e Realização, pág. 71)

(…) Não há então, no centro, uma revolução, uma transformação fundamental? (…) Então, não há mais temor. A mente, em si mesma, é o desconhecido; é o novo, “o não
contaminado”. Por conseguinte, é o Real, o incorruptível, independente do tempo. (Idem, pág. 73)

O adestramento do intelecto não produz inteligência. Antes, a inteligência surge quando se age em perfeita harmonia, intelectual e emocionalmente. (…) O intelecto é o mero
pensamento funcionando independentemente da emoção (sentimento).

Quando o intelecto, divorciado da emoção (sentimento), é adestrado numa direção particular, pode-se ter grande intelecto, mas não se tem inteligência, porque na inteligência há a
capacidade inerente de sentir tanto como a de raciocinar, (…) intensa e harmoniosamente. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 125)

(…) Inteligência é o resumo de vossas experiências, que vos proporciona, não somente a razão, mas também essa outra capacidade que se denomina intuição. (Coletânea de
Palestras, 1930-1935, pág. 16)

(…) A mente, porém, que só quer “vir a ser” não pode compreender o “ser”. É a compreensão do “ser”, (…) daquilo que somos, que produz uma extraordinária exaltação, a
libertação do pensamento criador, da vida criadora. (Debates sobre Educação, pág. 97)

(…) Inteligência é a verdade, a plenitude, a beleza e o amor mesmo. E nenhum mestre, nem disciplina alguma, vos conduzirão a ela. (…) (A Luta do Homem, pág. 89)

Eu vos asseguro que, quando houver completa nudez, completa falta de esperança, então num momento assim, de vital insegurança, nascerá a chama da suprema inteligência, a
beatitude da verdade. (Palestras em New York City, 1935, pág. 24)

Há duas espécies de vontade - a vontade que nasce do desejo, da carência, do anseio, - e a vontade do discernimento, da compreensão. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág.
94)

A vontade resultante do desejo, baseia-se no esforço consciente de aquisição, (…). Este esforço consciente ou inconsciente de querer, de ansiar, cria a totalidade do processo do
“eu”, e daí surgem o atrito, a tristeza e a cogitação do além. Desse processo surge também o conflito entre os opostos.(…) (Idem, pág. 94-95)

O que estou dizendo é que, para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reações autoprotetoras
(…). Tendes pois de estar enamorados da vida. Isto exige grande inteligência, (…) (Palestras em New York City, 1935, pág. 60)

(…) Não há respostas para a vida; a vida é uma “coisa viva”, de momento a momento, e o homem que busca uma resposta para a vida está buscando a estagnação da
mediocridade. (…) (As Ilusões da Mente, pág. 44)

A vida é como o rio - fluente, célere, fugitiva, sempre em movimento. Ides ao encontro da vida com o pesado fardo da memória, da experiência; e por isso, naturalmente, nunca
tendes contato com a vida. Vosso contato (…)e, gradualmente, o saber e a experiência se tornam os fatos mais destrutivos da vida. (Novos Roteiros em Educação, pág. 149-150)

(…) Por certo, uma vida que tem significação, que contém as riquezas da verdadeira felicidade, não pertence ao tempo. Como o amor, a vida é atemporal; (…) (A Arte da
Libertação, pág. 160)

(…) A vida, o amor, a realidade são sempre novos e são necessários mente e coração viçosos para compreendê-los. O amor é sempre novo, mas esse frescor é estragado pelo
intelecto mecânico, com as suas complexidades, ansiedades, ciúmes e assim por diante. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 112-113)

O amor não pertence ao tempo, não é alcançável por meio de esforço consciente, (…) de disciplina, de identificação, pois tudo isso faz parte do processo do tempo. A mente, que só
conhece o processo do tempo, não pode reconhecer o amor. O amor é a única coisa eternamente nova. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 126)

Nossa questão (…). Onde há ação do “eu” há amor. O amor não é do tempo, não podeis praticar o amor, pois isso seria uma atividade consciente do “eu”, que espera, por meio do
amor, alcançar um resultado. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 211)

(…) Uma vez que os mais de nós temos cultivado a mente, (…) não sabemos o que é o amor. Falamos a respeito do amor; (…) mas, no momento em que estou consciente de que
amo, entrou em atividade o “eu” e, conseqüentemente, o amor deixou de existir. (Idem, pág. 211-212)

O amor não pode ser cultivado. Só encontrareis o amor nas relações; (…) quando existe o amor, que é a sua própria eternidade, não há então a busca de Deus, porque o amor é
Deus. (A Arte da Libertação, pág. 195)

Ora, não há vontade divina, mas apenas a vontade simples, comum, do desejo: a vontade de obter sucesso, de estar satisfeito, de ser. Essa vontade é uma resistência, e é fruto do
medo, que guia, escolhe, justifica, disciplina. Essa vontade não é divina. Ela não está em conflito com a chamada vontade divina, mas (…) é uma fonte de tristeza e de conflito,
porque é a vontade do medo. Não pode haver conflito entre a luz e a treva; onde existe uma, não existe a outra. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 103)

(…) Se assim estiverdes apercebidos, há uma nova espécie de vontade ou de compreensão, que não é a vontade do conflito ou da renúncia, mas da plenitude, que é divina. Esta
compreensão é a aproximação da realidade, que não é produto da vontade de conseguir, da vontade da ansiedade e do conflito. A paz é dessa totalidade, dessa compreensão.
(Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 27-28)
(…) Quando começardes a discernir, por meio da experiência, como a ação nascida da carência cria sua própria limitação, então haverá mutação de vontade. Até então há apenas
mudança na vontade. É a atividade automantenedora da ignorância (…). A mudança fundamental de vontade é inteligência. (Palestras em Ommem, Holanda, 1936, pág. 17)

Nota: Segundo várias fontes, orientais e ocidentais, incluindo Escrituras, formam o espírito e seu campo a mente abstrata, atemporal, respectiva inteligência (manas sem kâma);
amor, sabedoria, puro, vida, buddhi, origem da intuição; e vontade, unidade divina (atam). Foram aqui reunidos textos pertinentes, de Krishnamurti.

Inteligência, Discernimento, Percebimento, Conceitos


Pergunta: Que é inteligência?

Krishnamurti: (…) A maioria das pessoas se satisfaz com uma definição do que é inteligência. (…) A mente inteligente é aquela que investiga, (…) observa, aprende, estuda. E isso
significa o quê? Que só há inteligência quando não há medo, quando estais disposto a rebelar-vos contra toda a estrutura social, a fim de descobrir o que é Deus, (…) a verdade
relativa a qualquer coisa. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 19)

Inteligência não é sapiência. Se pudésseis ler todos os livros do mundo, isso não vos daria inteligência. A inteligência é coisa muito sutil; ela não tem ancoradouro. Surge quando
compreendeis o processo total da mente (…). A inteligência, pois, surge com a compreensão de vós mesmos; e só podeis compreender-vos em relação com o mundo das pessoas, das
coisas, e das idéias. Inteligência não é coisa adquirível, como a sapiência; ela surge (…) quando não há medo; quando há sentimento de amor, (…). (Idem, pág. 19)

Compreender o falso como falso, perceber o verdadeiro no falso, reconhecer o verdadeiro como verdadeiro, eis o começo da inteligência. (…) (Reflexões sobre a Vida, 1ª ed., pág.
58)

Vamos investigar juntos o que é a inteligência. (…) Um dos fatores da inteligência é o de investigar e descobrir; explorar a natureza do falso, porque na compreensão do falso, no
descobrimento do que é ilusão, está a verdade, que é inteligência. (La Llama de la Atención, pág. 113)

A inteligência tem uma causa? O pensamento tem uma causa. Um indivíduo pensa porque possui experiências passadas, informação e conhecimento acumulado através do tempo.
Esse conhecimento nunca é completo, tem de andar junto com a ignorância, (…). O pensamento, por força, tem de ser parcial, limitado, fragmentado, porque é o produto do
conhecimento, (…). O pensamento criou as guerras e os instrumentos da guerra (…). O pensamento criou todo o mundo tecnológico. (…) (Idem, pág. 113-114)

Que é inteligência? Inteligência é perceber o ilusório, o falso, o irreal e descartá-lo; não afirmar meramente que é falso e continuar no mesmo, sem descartá-lo por completo. (…)
Ver, por exemplo, que o nacionalismo, com todo o seu patriotismo, seu isolamento, sua estreiteza de idéias é destrutivo, (…). E ver a verdade disso, é descartar o falso. Isso é
inteligência. (…) Inteligência não é a engenhosa busca de argumentos, de opiniões contraditórias que se opõem umas às outras. (…) A inteligência está mais além do pensamento.
(La Llama de la Atención, pág. 127-128)

Não desejo ser parcialmente inteligente, mas inteligente de maneira integral. Quase todos nós somos inteligentes “em camadas”, vós provavelmente num sentido, e eu em outro.
Alguns de vós sois inteligentes nas atividades comerciais, outros nas (…) de escritório, etc. As pessoas são inteligentes de diferentes maneiras, mas não somos integralmente
inteligentes. Ser integralmente inteligente significa existir sem o “eu”. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 78)

Inteligência não é acumulação de experiências e de conhecimento. Inteligência é o mais alto grau de sensibilidade. Ser sensível a todas as coisas, aos pássaros, à sordidez, à
pobreza, à beleza de uma árvore, à formosura de um rosto, ao ocaso, às cores, (…) ao sorriso de uma criança, às lágrimas, ao riso, à dor, à agonia, à angústia, às desditas (…) - ser
totalmente sensível a tudo significa ser inteligente. E não podemos ser inteligentes se cuidamos apenas de reprimir ou de ceder. Só podemos ser sensíveis quando há compreensão.
(A Suprema Realização, pág. 44)

Que é inteligência? Um homem que está assustado e ansioso; que é invejoso e ávido; cuja mente está copiando, imitando, cheia de saber e da experiência de outros; cuja mente é
limitada, controlada, moldada pela sociedade, pelo ambiente - esse homem é inteligente? Vós o chamais inteligente, mas não o é, (…). (Novos Roteiros em Educação, pág. 152)

(…) Estar consciente de tudo isso, sem opção, sem ser tragado pela complexidade das questões vitais, sem resistir ao fluxo avassalador da vida, é ser inteligente. Implica também
não depender das circunstâncias e, portanto, estar apto a compreender e a libertar-se da influência e das condições ambientais. (…) Mas, a inteligência supera todas as barreiras,
livre de qualquer objetivo de ganho individual ou coletivo. (…) A capacidade de destruir o passado psicológico é a essência da inteligência, (…). O sofrimento é a negação da
inteligência. (Diário de Krishnamurti, pág. 81)

Tem o amor uma causa? Dissemos que a inteligência não tem causa - é inteligência, (…) é luz. Quando há luz, não é minha luz ou a luz de vocês. O sol não é o sol de vocês ou meu
sol; é a claridade da luz. Tem o amor uma causa? Se não tem, então o amor e a inteligência caminham juntos. (…) (La Llama de la Atención, pág. 120)

Devemos discutir também a natureza da inteligência. A compaixão tem sua própria inteligência, o amor tem sua inerente inteligência. Vamos investigar o que é inteligência.
Certamente, não pode ser ela encontrada em livros. Conhecimento não é inteligência. Onde há amor, compaixão, há a beleza de sua própria inteligência. A compaixão não pode
existir se você é hindu, católico, protestante, budista ou marxista.

O amor não é produto do pensamento. No entendimento da natureza do amor, compaixão, que é negar tudo aquilo que não é, ver o falso no falso é o início da inteligência. (…) Ver
a natureza da desordem, e terminá-la, não continuá-la dia após dia, mas cessá-la - o fim é percepção imediata, que é inteligência. (Mind Without Measure, pág. 58-59)

Estamos perguntando o que é inteligência. Esperteza não é inteligência. Ter grande quantidade de conhecimento sobre vários assuntos - matemática, história, ciência, poesia,
pintura - não constitui atividade da inteligência. O investigador do átomo pode ter extraordinária capacidade de concentração, imaginação, investigação, discussão, formulação de
hipóteses e mais hipóteses, teorias e mais teorias, mas tudo isso não é inteligência. (…) (Idem, pág. 59)

Inteligência, para mim, não é o conhecimento tirado dos livros. Podeis ser mui eruditos e, apesar disso, estúpidos. Podeis haver lido muitas filosofias e, apesar disso, desconhecer a
beatitude do pensamento criativo, o qual somente pode existir quando a mente e o coração começarem a se libertar (…) pelo constante apercebimento das coisas estúpidas (…).
Somente então virá à existência o êxtase do que é verdadeiro. (Palestras em New York City, 1935, pág. 21)

Que é conhecimento? (…) A inteligência utiliza-se dos conhecimentos, pois ela é a capacidade de pensar com clareza, objetividade, sensatez, naturalidade. Conseqüentemente, é
isenta de emoção, preconceito, preferências ou inclinações pessoais. Inteligência é a capacidade de compreensão direta. (…) Inteligência é a qualidade característica da mente
sensível, viva, consciente. Ela não se prende a nenhum juízo ou avaliação pessoal, e faculta imparcialidade e lucidez ao pensamento. A inteligência em nada se deixa envolver. (…)
(Ensinar e Aprender, pág. 19)

Inteligência não é inventividade, memória, ou mero exercício verbal. É muito mais do que isso. Por bem informados e talentosos que sejamos, em certo aspecto da existência, somos
ignorantes em outros sentidos. O acúmulo de conhecimentos não reflete, necessariamente, uma mente inteligente. Tampouco a capacidade e o talento. Mas a sensível percepção da
vida, de seus problemas, (…) contradições, (…) aflições e alegrias, revela sabedoria. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 81)

A maioria pensa que inteligência é resultado da aquisição de conhecimento, informação, experiência. Por ter grande soma de conhecimento e experiência, acreditamos ser capazes
de fazer face à vida com inteligência. Mas a vida é uma coisa extraordinária, nunca é estacionária; como o rio, está fluindo constantemente, nunca pára. (…) (O Verdadeiro
Objetivo da Vida, pág. 139)

A inteligência só é possível quando há liberdade real em relação ao ego, (…) ao “eu”, isto é, quando a mente já não seja o centro da busca de “mais e mais”; quando ela já não
está subjugada pelo desejo de experiência maior, mais vasta, mais expansiva. (…) A compreensão de todo esse processo é o autoconhecimento. Quando alguém se conhece tal como
é, sem um centro acumulador, desse autoconhecer provém a inteligência capaz de fazer face à vida; e essa inteligência é criativa. (Idem, pág. 140)

A dimensão diferente só pode operar através da inteligência; se não há essa inteligência, ela não pode operar. Dessa forma, na vida diária ela só pode operar quando a inteligência
está funcionando. A inteligência não pode operar quando o velho cérebro está ativo, quando há qualquer forma de crença e aderência a qualquer fragmento particular do cérebro.
Tudo isso é falta de inteligência. (…) Quando se descobre a limitação do velho, esta mesma descoberta é inteligência. (The Awakening of Intelligence, pág. 412)

(…) Para mim, inteligência é a mente e o coração em plena harmonia; e então verificareis, por vós mesmos (…), o que é essa realidade. (Palestras em Auckland, 1934, pág.
112-113)

A inteligência é a essência mesma da divindade; mas é evidente que a inteligência tanto pode criar como destruir, que ela governa e dirige as emoções - é o impulso que nos
propele para o nosso alvo. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 56)

(…) A inteligência pode e deve encontrar por si mesma a Verdade, deve aprender a viver sua própria vida no Reino da Felicidade. Sem um espírito cultivado e uma inteligência
inata, não vos será possível aproximar-vos do alvo. (…) (Idem, pág. 56)

O êxtase da Realidade encontra-se pela inteligência desperta e no mais alto grau de intensidade. Inteligência não significa cultivo da memória ou da razão, mas, sim, uma
percepção da qual é banida a identificação e a escolha. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 199)

Uma inteligência desperta tem um discernimento profundo, verdadeiro, em todos os problemas psicológicos, nas crises, nos bloqueios, etc.; não é uma compreensão intelectual, não
é um (…) conflito. Ter discernimento é uma questão humana, é despertar esta inteligência; ou, tendo esta inteligência, existe o discernimento (…). Em um discernimento assim, não
há conflito; (…) A partir desse discernimento, que é inteligência, surge a ação (…) instantânea. (La Totalidad de la Vida, pág. 177)

Porém, se se acham atentos a todas essas coisas e estão insatisfeitos (…) A chama do descontentamento, devido a não haver saída, (…) não haver um objeto no qual satisfazer-se, se
converte em uma grande paixão.

(…) Visto que a compaixão está relacionada com a inteligência, não há inteligência sem compaixão. E só pode haver compaixão quando houver amor, o que é completamente livre
de todas as recordações, ciúmes pessoais e assim por diante. (O Futuro da Humanidade, pág. 70)

Essa paixão é inteligência. Se vocês não se encontram perturbados nestas coisas superficiais (…), essa chama extraordinária se intensifica. Isso produz na mente uma qualidade de
profundo e instantâneo discernimento (…), e a ação provém desse discernimento. (La Totalidad de la Vida, pág. 178)

Há uma inteligência que seja incorruptível, não baseada em circunstâncias, não pragmática, não egocêntrica, quer dizer: não fracionada, total? Há uma inteligência que seja
impecável, sem frestas, que abarque toda a manifestação do homem? Para inquirir sobre isto, deve o cérebro estar livre de qualquer conclusão, (…) de movimento egocêntrico, (…)
de medo, de sofrimento. Quando há o fim do sofrimento, há paixão. (…) Não há paixão “por” alguma coisa.

A paixão existe per se, por si mesma (…). Assim, se tem que descobrir (…) como se aproximar dessa paixão, que não é luxúria nem tem nenhum motivo. Há tal paixão? (…) Quando
o sofrimento chega ao fim, há amor e compaixão. E quando há compaixão, (…) então essa compaixão tem sua própria quintessência e inteligência. Isto é, não pertence ao tempo
nem a teoria alguma, a nenhuma tecnologia, a ninguém; tal inteligência não é pessoal nem universal, nem as palavras a exprimem. (Last Talks at Saanen, 1985, pág. 138-139)

(…) Inteligência é a atividade do todo da vida, e essa inteligência não é sua nem minha. Não pertence a nenhum país ou povo, como o amor não é cristão ou hindu, etc. Portanto,
(…) pesquisem sobre tudo isto, porque nossas vidas dependem disso. Somos pessoas desafortunadas e miseráveis, sempre em conflito. (…) Temos aceitado isso como parte da vida.
Mas se investigarmos tudo isso, dá-se o despertar daquela inteligência, e, quando ela se acha em operação, ação, só então há correta ação. (Mind Without Measure, pág. 59)

Não é a inteligência de um homem engenhoso, não estamos falando disso. Agora opere com essa inteligência, que não é sua nem minha - que não é do Dr. Shaimberg, do Dr. Bohm
ou de outra pessoa. Esse discernimento é inteligência universal, inteligência global ou cósmica. Avançando mais nisso, tenha um discernimento na dor que não é a dor do
pensamento. Então, nesse discernimento há compaixão. (La Totalidad de la Vida pág. 131)

Agora tenha um discernimento na compaixão. É a compaixão o fim de toda a vida? O fim de toda a morte? Parece sê-lo, porque a mente se esvazia de todas as cargas que o homem
se impôs a si mesmo (…). Portanto, você tem esse sentimento extraordinário, tem dentro de si essa coisa tremenda. Aprofunde-se nessa compaixão. E então há algo sagrado, não
contaminado pelo homem. E isso pode ser a origem de todas as coisas - que o homem mutilou. Entende? (Idem, pág. 131)

(…) A mente despida de todas as suas lembranças e óbices, funcionando espontaneamente, plenamente, a mente, vigilante e perceptiva, cria a compreensão, e isso é inteligência,
(…); isso para mim é imortalidade, atemporalidade. (…) (A Luta do Homem, pág. 60)

Inteligência é o discernimento do essencial, e para discernir o essencial temos de estar livres dos obstáculos que a mente “projeta” (…) (A Educação e o Significado da Vida, pág.
39)

A chama da inteligência, do amor, só pode ser despertada quando a mente está vitalmente apercebida do próprio pensamento condicionado, com seus temores, valores e desejos.
(Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 80-81)

(…) A inteligência pura é aquele estado mental em que há um percebimento isento de escolha, em que a mente está silenciosa. Nesse estado de silêncio só há o ser; nele, surge
aquela Realidade (…) maravilhosa atividade criadora, que está fora do tempo. (As Ilusões da Mente, pág. 35)

Por “percebimento”, entendo um estado de vigilância em que não há escolha. Estamos simplesmente observando o que é. Mas ninguém pode observar o que é, se tem alguma idéia
ou opinião a respeito do que vê, dizendo-o “bom” ou “mau”, (…) avaliando. (Experimente um Novo Caminho, pág. 99)

(…) Mas, acontece que a mente da maioria de nós está embotada, semi-adormecida; só certas partes dela se acham ativas - as partes especializadas, pelas quais funcionamos
automaticamente, pela associação, pela memória, tal como um cérebro eletrônico. A mente, para ser vigilante, sensível, necessita de espaço, no qual possa olhar as coisas sem
nenhum fundo de conhecimentos prévios; (…) (Idem, pág. 99-100)

Devemos ficar apercebidos, atentos. (…) Concentração é a convergência de todas as energias sobre alguma coisa na qual estamos interessados. (…) O começo do apercebimento é
a natural concentração do interesse em que não há conflito de desejos e escolha, e, por isso, há a possibilidade de se compreenderem os diferentes desejos que se opõem. (…)
(Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 101)

(…) Apercebimento é a compreensão total do processo do desejo consciente e inconsciente. No princípio mesmo do apercebimento, há a percepção do que é verdadeiro; a verdade
não é um resultado ou uma consecução, mas é para ser compreendida. (…) Esta compreensão não nasce da simples razão ou da emoção, porém é o resultado do apercebimento, da
perfeição da ação-pensamento. (Idem, pág. 102)

A compreensão não reside nos livros. Podeis ser estudiosos de livros (…), mas, se não souberdes como viver, todo o vosso conhecimento fenece; não tem substância nem valor.
Enquanto que, um momento de pleno apercebimento, de pleno entendimento consciente, produz uma paz real, perene; não uma coisa estática, mas esta paz que está continuamente
em movimento, que é ilimitada. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 72)

A percepção é o processo de libertar a mente-coração dos vínculos que causam conflitos e dores, e torná-la receptiva para o que está oculto. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 122)

Eu vos asseguro que, quando houver completa nudez, (…) falta de esperança, então, num momento assim, de vital insegurança, nascerá a chama da suprema inteligência, a
beatitude da verdade. (New York City, 1935, pág. 24)

Como disse (…), inteligência é a solução única que produzirá a harmonia neste mundo de conflito, harmonia entre a mente e o coração, na ação. (…) Vós próprios, mediante o
vosso apercebimento, (…) é que podereis discernir o verdadeiro significado destas múltiplas barreiras limitadoras. Só isso produzirá a inteligência perdurável, que vos há de
revelar a imortalidade. (Idem, pág. 27)
Isto é, se estiverdes plenamente despertos, apercebidos de uma ação que exija o vosso ser inteiro, então percebereis que todas essas perversões ocultas, inconscientes, virão à tona e
vos impedirão de agir plenamente, de modo completo. Será essa a ocasião, então, de lhes fazer frente e, se a chama do apercebimento for intensa, essa chama consumirá as causas
limitadoras. (Idem, pág. 32)

Ora, o apercebimento não é isso. O apercebimento é o discernir, sem julgamento, o processo de criar muros autoprotetores e limitações por detrás das quais a mente toma abrigo e
conforto. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 38)

(…) A compreensão surge somente pelo discernimento do processo do “eu”, com sua ignorância, suas tendências e temores. Onde houver profunda e criadora inteligência, haverá
reta educação, reta ação e relações retas com o ambiente. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 60)

A ação é vital, porém não (…) as opiniões e conclusões lógicas. (…) A autoridade do ideal e do desejo impede e perverte o verdadeiro discernimento. Quando há carência, quando
a mente está cativa dos opostos, não pode haver discernimento. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 13-14)

(…) As reações psicológicas impedem o verdadeiro discernimento. Se dependermos da escolha, do conflito dos opostos, criaremos sempre a dualidade em nossas ações,
engendrando assim a tristeza, (…) (Idem, pág. 14)

(…) O discernimento é a percepção direta, sem escolha, daquilo que é, e perceber diretamente é estar livre do fundo da carência. Isto só pode acontecer quando cessa o esforço (…)
entre os opostos. Os opostos são resultado da carência (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 22)

(…) Pelo discernimento sem escolha desperta-se a intuição criadora, a inteligência, que é a única a poder libertar a mente-coração dos múltiplos processos sutis da ignorância, da
carência e do medo. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 55)

Sentimento, Sensação, Distinção; Sensibilidade


“Sentir” é a capacidade de apreciar a curva de um ramo de árvore, (…) as coisas sórdidas, a lama da estrada, ser sensível ao sofrimento de outrem, assistir com enlevo ao
crepúsculo. Isso não é sentimento, nem mera emoção. Emoção e sentimento ou sentimentalidade podem converter-se em crueldade, e ser explorados pela sociedade; e o indivíduo
sentimental, impressionável, torna-se escravo da sociedade. Mas, necessitamos da capacidade de sentir intensamente; sentir a beleza, (…) a palavra e o silêncio entre duas
palavras. Dessa capacidade necessitamos, (…) torna a mente altamente sensível. (A Suprema Realização, pág. 17)

Assim como um sentimento pode ser interpretado, assim também é possível darmos a qualquer sentimento a aparência de Realidade. A tradução depende do intérprete e, se este for
influenciado por preconceitos, se é ignorante, se tiver sido moldado por um padrão de pensamento, a sua compreensão corresponderá a esse condicionamento. (…) (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 54)

(…) O sentimento de terdes conseguido algo, de serdes mais hábil que outro, (…) de vos terdes tornado um homem bem sucedido, respeitado, considerado, um exemplo para outros -
que indica tudo isso? Naturalmente, esse sentimento é acompanhado de orgulho (…). E, assim, quando existe esse sentimento da importância do “eu”, há o conflito, a luta, o
esforço para manter esse estado ininterruptamente. (Novos Roteiros em Educação, pág. 104-105)

Que entendeis por “emoção”? Sensação, reação, “resposta” dos sentidos? Ódio, amor, o sentimento de amor ou simpatia por outra pessoa: são emoções. A umas, como o amor e a
simpatia, chamamos positivas, enquanto a outras, como o ódio, chamamos negativas, (…). (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 57)

(…) O sentimento é endurecido pelo intelecto e pelas suas numerosas e sutis racionalizações, (…). Podeis compreender tudo isso, (…) mas de pouca importância será; somente o
conhecimento e o sentimento podem produzir a centelha criadora da compreensão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 43)

A sensação e a reação têm de gerar sempre conflito, e o próprio conflito é uma nova sensação. (…) A atividade da mente, em todos os seus diferentes níveis, é favorecer a sensação;
(…). (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 237)

A sensação é uma coisa, e a felicidade, outra. A sensação está sempre buscando mais sensação, em círculos cada vez mais largos. Não há fim para os prazeres da sensação; (…) há
sempre o desejo do mais, e a exigência do mais nunca tem fim. A sensação e a insatisfação são inseparáveis, porque o desejo do mais liga uma à outra (…) e, quando são
contrariadas, há cóleras, há ciúme, há ódio. (…) (Idem, pág. 237)

A mente não pode conhecer a felicidade. A felicidade não é uma coisa que se pode procurar e achar, como a sensação. (…) Felicidade lembrada é apenas sensação, (…). O que se
acabou não é a felicidade; a experiência da felicidade que se apagou é sensação, porque lembrança é o passado (…). (Idem, pág. 238)

Temos, não raro, emoções religiosas, vagas, às vezes, outras bem precisas. São emoções que nos infundem intensa devoção e alegria, que nos requintam a sensibilidade, que nos
dão um fugaz sentimento de união com todas as coisas. Procuramos, depois, com a ajuda dessas inspirações, resolver os nossos problemas e afeições. São numerosas tais
revelações, mas o pensamento, cativo do tempo, da confusão e da dor, procura servir-se delas como estimulantes que o ajudem a vencer os conflitos. (…) (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 231)

(…) Qualquer tipo de sensação, por mais requintada ou vulgar que seja, cria a resistência, (…). Ser sensível é morrer para cada resíduo da sensação; ser sensível, de maneira
absoluta e contundente, a uma flor, a uma pessoa ou a um sorriso, é estar livre das marcas da memória, responsáveis pela destruição da sensibilidade. Estar consciente de todo o
processo das sensações, dos sentimentos e das demais manifestações do pensamento, impede a formação de marcas e cicatrizes. As sensações, os sentimentos e os pensamentos são
sempre fragmentados, parciais e, portanto, de efeito destruidor. A sensibilidade é a síntese do corpo, da mente e do coração. (Diário de Krishnamurti, pág. 149)

A sensação e a sensibilidade são duas coisas diferentes. A mente escrava do pensamento, da sensação, das emoções, é uma mente residual. Ela aprecia o resíduo, pensa no mundo
dos prazeres, deixando cada pensamento uma marca, que constitui o resíduo. Essa marca contribui para embrutecer e insensibilizar a mente; e a disciplina, o controle e a repressão
ainda a tornam mais embrutecida. Estou dizendo que a sensibilidade não é sensação, (…) não deixa marca nem resíduo. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 85-86)

No mundo moderno, (…) tendemos a perder a sensibilidade. Pela palavra “sensibilidade” não entendo sentimentalidade, emocionalismo, nem mera sensação, porém a capacidade
de percepção, (…) de ouvir, de escutar, de sentir a ave que canta (…). É muito difícil à maioria de nós sentir as coisas com intensidade, porque temos tantos problemas! (…) (A
Suprema Realização, pág. 17)

A sensibilidade no mais alto grau é inteligência. Se o indivíduo não é sensível a tudo - a seu próprio sofrimento, ao sofrimento de um grupo humano (…); ao sofrimento de tudo que
vive (…), não pode resolver nenhum dos seus problemas. E temos muitos problemas, não só no nível físico, (…) econômico, (…) social, mas também nos níveis mais profundos de
nossa existência (…). E nossos problemas, tanto conscientes como inconscientes, embotam-nos a mente, roubam-lhe a sensibilidade. E perder sensibilidade é perder inteligência.
(Idem, pág. 17-18)

O conflito leva à insensibilidade. A mente pode dominar o corpo e suprimir os sentidos, mas, desse modo, torna o corpo insensível; e um corpo insensível torna-se um obstáculo ao
pleno vôo da mente. A mortificação do corpo absolutamente não leva à busca das camadas mais profundas da consciência; pois isso só é possível quando mente, emoções e corpo
não estão em contradição entre si, mas (…) integrados e em uníssono, sem esforço e sem que sejam forçados por qualquer conceito, crença, ideal. (O Verdadeiro Objetivo da Vida,
pág. 17)

Sensibilidade e sensação são duas coisas distintas. As sensações, as emoções e os sentimentos sempre deixam resíduos, cujo acúmulo acaba por deformar e embrutecer a mente. Por
serem contraditórias, as sensações sempre produzem conflito, e este, por sua vez, embota a mente e distorce a percepção. Apreciar a beleza das coisas em termos de sensação, de
gostar ou não gostar, é o mesmo que estar insensível ao belo; a sensação distingue o belo do feio; mas, a divisão é incapaz de perceber a beleza. (…) (Diário de Krishnamurti, pág.
149)
Ter sensibilidade significa ser sensível a tudo o que nos cerca - às plantas, aos animais, às árvores, ao céu, às águas do rio, aos pássaros; e também ao estado de humor das pessoas
que nos cercam, e dos estranhos pelos quais passamos. Essa sensibilidade acarreta a qualidade de ação não calculada, não egoísta, que é a verdadeira moral (…) e conduta. Sendo
sensível, a criança será franca, não será retraída em sua conduta; portanto, uma simples sugestão por parte do professor será aceita com facilidade, sem resistência nem atrito. (O
Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 13)

Em todo o mundo, (…) o aprender exige sensibilidade. Se não sois sensível a vós mesmo, a vosso ambiente, a vossas relações, (…) ao que se está passando em derredor de vós, (…)
então, por mais que vos disciplineis, vos ireis tornando cada vez mais insensível, (…) mais egocêntrico - e isso gera problemas (…). (A Luz que não se Apaga, pág. 76)

Por que sou eu ou por que sois vós tão insensíveis ao sofrimento de outro homem? Por que somos indiferentes para com o carregador que transporta uma pesada carga, para com a
mulher que tem nos braços o seu filho? (…) Não há dúvida de que é o sofrimento que nos torna insensíveis; por não compreendermos o sofrimento, tornamo-nos indiferentes a ele.
Se compreendo o sofrimento, torno-me sensível. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 111)

(…) Se existe falta de sensibilidade para a fealdade, para a tristeza, deverá existir também uma profunda insensibilidade para a beleza, para a alegria (…). (Palestras em Ommen,
Holanda, 1937-1938, pág. 42)

Assim, intelectualmente, estais sendo tolhido, sufocado, controlado, moldado (…), não há (…) libertação. Tampouco a há do ponto de vista emocional - mas não deis à palavra
“emocional” o sentido de sentimental. Um ente sentimental é perigoso, pode tornar-se cruel, estúpido, insensível. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 122)

Para se ver a beleza do rosto de uma pessoa, (…) de um rio, de uma folha caída, (…) de um sorriso, (…) de uma ave a voar, necessita-se (…) de alta sensibilidade, (…). (Idem, pág.
122)

Necessitais desse sentimento extraordinário, dessa sensibilidade para tudo: para o animal, (…) as podridões da miséria e do desespero humano. Deveis ser sensível, isto é, sentir
intensamente (…) - sensibilidade que não é emoção (…). Se não fordes tão completamente sensível, não haverá inteligência. A inteligência vem com a sensibilidade e a observação.
(O Despertar da Sensibilidade, pág. 136)

A sensibilidade não é resultado do saber e de ilimitados conhecimentos. Podeis conhecer todos os livros do mundo (…); mas isso não produz inteligência. O que produz inteligência
é aquela sensibilidade, a sensibilidade total de vossa mente, consciente e inconsciente, a sensibilidade de vosso coração, com sua extraordinária capacidade de afeição, de
compaixão e de generosidade. (Idem, pág. 136)

E, quando existe essa sensibilidade aliada à observação, há também inteligência, para observar, ver as coisas como são, sem nenhuma fórmula, nenhuma opinião; para ver a nuvem
como nuvem; ver vossos mais íntimos pensamentos, vossos secretos desejos, exatamente como são, sem lhes dar nenhuma interpretação, sem aceitá-los, sem rejeitá-los; (…) e para
observar, quando viajais num ônibus, o passageiro a vosso lado, seus modos, sua maneira de falar; observar, simplesmente. Dessa observação vem a clareza. (…) Como vemos,
pois, com a sensibilidade e a observação, vem aquela extraordinária inteligência. (Idem, pág. 136)

Não havendo sensibilidade, não pode haver afeto; o amor próprio não indica sensibilidade; podemos ter sensibilidade em relação às nossas famílias, (…) realizações, (…) nível
social e (…) talento, mas isso não quer dizer que sejamos sensíveis. Trata-se de estreita e limitada reação, (…). Ser sensível não é ter bom gosto, pois este é uma qualidade pessoal,
e a percepção da beleza está justamente no libertar-se de toda reação. Se não soubermos apreciar e sentir a beleza, não poderemos amar. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 168)

(…) Sentir a natureza, o rio, o céu, as pessoas, a estrada imunda, faz parte da afeição, cuja essência é a própria sensibilidade. Mas, a maioria das pessoas teme a sensibilidade, e
isso porque não querem sofrer; para evitar o sofrimento, preferem embrutecer-se, mas nem assim ele desaparece. (…) Amar é romper com essa cadeia interminável de reações
individuais; não há barreiras para o amor; ele não se limita a um ou vários objetos (…). Ao tomarmos consciência do fato, libertamo-nos da servidão; é justamente o medo do fato
que nos aprisiona. (…) (Idem, pág. 168)

Como é possível amar, sem sensibilidade? Sentimentalismo e emocionalismo negam a sensibilidade, porque são terrivelmente cruéis; são responsáveis pelas guerras. (…) (A Luz
que não se Apaga, pág. 76)

(…) Compreendeis o que entendo por “sensibilidade”? A maioria de nós deseja ser sensível ao belo - à boa música, aos belos quadros, etc. - mas não desejamos ser sensíveis às
coisas feias, barulhentas, (…). (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 147)

Para poderdes ser sensível num sentido, deveis ser sensível em ambos os sentidos. Não há verdadeira sensibilidade se sois sensível a uma coisa e insensível a outra. A pessoa que é
insensível a qualquer coisa na vida, não é totalmente sensível, (…), (Idem, pág. 147)

Não achais necessário que o pensamento claro e correto seja sensível? Para sentir profundamente, não é necessário um coração aberto? (…) Embrutecemos nossa mente, nosso
sentimento, nosso corpo, com as crenças e a malevolência, com estimulantes poderosos e insensibilizantes. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 17)

(…) Como podeis ser sensíveis, quando diariamente vos entregais a leituras ou assistis a filmes em que se vos apresentam matanças de milhares de indivíduos - carnificinas que vos
são descritas como lances sensacionais de um torneio esportivo? Talvez vos cause desgosto (…), mas a freqüente repetição dessas ferozes brutalidades acabam por
insensibilizar-vos a mente-coração, (…). (Idem, pág. 17)

Se não desejais sentimentos embotados e empedernidos, deveis pagar o preço disso. Urge abandonardes a pressa, a confusão, as profissões e atividades inadequadas. Deveis
tornar-vos cônscios de vossos apetites, de vosso ambiente delimitador, e começareis, então, com uma justa compreensão dos mesmos, a novamente despertar a sensibilidade. (…)
(Idem, pág. 18)

A pessoa que “experimenta” um pôr-do-sol não é sensível. Poderá dizer: “Que beleza, que maravilha” e ficar extasiada (…), mas essa pessoa não é sensível. Ser sensível implica
um estado mental em que só existe o fato, e não todas as vossas lembranças relativas ao fato. Esse perceber, esse ver, esse escutar de cada momento tem na vida uma ação
extraordinária. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. l36)

Amor; Não é Emoção, Prazer, Sentimentalismo


Já refletiste sobre o que é amor? É ele essa tortura que conhecemos? Essa espécie de amor poderá ser bela no começo - quando dizemos a alguém: “amo-te” - mas depressa se
deteriora, convertendo-se numa relação em que prepondera a posse, o domínio, o ódio, o ciúme, a ansiedade, o medo. (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 48)

Agora, que é amor, (…) que é ele realmente, e não como gostaríamos que fosse? O que gostaríamos que fosse o amor é uma mera idéia, um conceito. (…) Devemos começar com o
que é, e não com o que deveria ser. Devemos começar com o fato, e não com as opiniões e conclusões. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 167)

Assim, vamos agora investigar, (…) Que é realmente o nosso amor? Nele há prazer, dor, ansiedade, ciúme, apego, ânsia de posse, de domínio, e o medo de perdermos o que
possuímos. Há o amor existente nas relações entre duas pessoas, e há amor a uma idéia, uma fórmula, uma utopia, ou a Deus. (…) Por essa razão, há o casamento legal, instituído
pela sociedade para a proteção da prole. (…) (Idem, pág. 167)

O amor que temos é o conhecido, com todos os seus sofrimentos e sua confusão; nele, há a tortura do ciúme, os horrores e penas da violência, o prazer sexual. É isso que
conhecemos, (…) (Idem pág. 169)

A maioria de nós não sabe o que é amor. Conhecemos a dor e o prazer de amar (…); assim, o amor é, para nós, algo desconhecido, tal como a morte. Mas, com a mente livre do
conhecido, apresenta-se-nos aquilo que não é cognoscível por meio de palavras, de experiência, de visões (…). (Idem, pág. 172)

Devemos perguntar: É o amor prazer, desejo, pensamento? Pode o amor ser continuamente cultivado? Sem o amor, o sentimento de compaixão, sua chama, inteligência, tem a vida
muito pouco significado. Você pode inventar um propósito para a vida, a perfeição, conhecer tudo sobre a profissão, mas sem a beleza fundamental do amor, fica a vida sem
sentido. (…) (Mind Without Measure, pág. 28)

Para a maioria dos homens, amor é posse. Mas, havendo ciúme, inveja, existirá também crueldade, ódio. O amor só existe e cresce na ausência do ódio, da inveja, da ambição. Sem
amor, a vida é como terra estéril, árida, dura, brutal. Porém, no momento em que existe afeição, ela é como a terra que floresce com água, com chuva, com beleza. (…) (Ensinar e
Aprender, pág. 55)

Você sabe, uma de nossas dificuldades é que associamos amor com prazer, com sexo. Amor, para a maioria de nós, significa ciúme, ansiedade, possessividade, apego. A isso
chamamos amor. Mas o amor é apego? É o amor prazer? O amor é desejo? É o amor o oposto do ódio? Se é oposto do ódio, então não há amor. Você pode compreender isso?
Quando alguém tenta se tornar corajoso, esta coragem é nascida do medo. Portanto, o amor não pode conter o seu oposto. O amor existe onde não há ciúme, agressividade, ódio.
(The World of Peace pág. 96-98)

Que é amor? É prazer - prazer no reiterativo ato sexual, ao que geralmente se chama amor? O amor da esposa, no qual há grande prazer, posse (…), com base no desejo, é amor?
Quando existe um possessivo apego em relação ao outro tem que haver ciúme, temor, antagonismo. (…) Se não se compreende plenamente o significado do apego, jamais se poderá
descobrir a verdade do amor. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 148)

(…) Esperamos amar o homem através do amor de Deus, mas se não soubermos como amar o homem, como podemos amar a realidade? Amar o homem é amar a realidade.
Julgamos que amar a outrem é tão doloroso, tantos problemas complexos estão envolvidos nisso, que consideramos ser mais fácil e mais satisfatório amarmos um ideal, o que é
emocionalismo intelectual, não amor. (Idem, pág. 41)

Você sabe, para descobrir o que é, você deve negar totalmente o que não é. Através da negação do que não é, se chega ao que é. Deve-se descobrir se o prazer é amor. O amor é
desejo? O amor está associado ao sexo, e o sexo se tornou extraordinariamente importante, não é? Você o vê em todos os lugares; pega qualquer revista, caminha em qualquer rua,
infindavelmente vê este “amor”. Por que o sexo se tomou colossalmente importante, como ele está associado ao que chamamos “amor”? Por quê? Você alguma vez fez essa
pergunta? (…) (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 45)

O amor é pensamento? Pode o pensamento cultivar o amor? O amor não é prazer, não é desejo, não é recordação, ainda que essas coisas tenham seu lugar. Que é, então, o amor?
É ciúme? É o amor um sentimento de posse - minha mulher, meu esposo, minha noiva? (…) Contém medo o amor? Não é nenhuma dessas coisas, apaguem-nas completamente,
terminem com elas, pondo-as em seu lugar correto. Então há amor. (La Totalidad de la Vida, pág. 172)

O amor não é pensamento. Não é desejo, prazer, não é o movimento de imagens, e enquanto você tem imagens de outrem não há amor. E perguntamos: é possível viver uma vida
sem qualquer imagem? Só assim você entra em contacto com outro. (Mind Without Measure, pág. 80)

A inteligência requer liberdade, e a liberdade requer a cessação de todo conflito. Torna-se existente a inteligência e deixa de existir o conflito quando o “observador” é a coisa
observada, porque então não há divisão. Então, existe amor. Hesitamos em empregar essa palavra já tão terrivelmente “carregada”; o amor está associado ao prazer, ao sexo, ao
medo, ao ciúme, à dependência, ao desejo de posse. (…) (Fora da Violência, pág. 134)

Sem dúvida, o amor é estado de espírito em que o “eu” perdeu toda a sua importância. Amar é ser amistoso. (…) Quando amais, não tendes inimizade e não causais inimizade. E
vós causais inimizade ao pertencerdes a religiões, nações, partidos políticos. Se possuís muitas terras, imensas riquezas, enquanto outro pouco ou nada tem, causais inimizade,
ainda que freqüenteis os templos, ou mandeis construir templos com vossas riquezas. Não tendes afabilidade quando estais em busca de posição, poder, prestígio. (O Homem Livre,
pág. 181)

Dependemos da sensação para a continuidade do assim chamado amor, e, quando essa satisfação é negada, procuramos encontrá-la em outrem. (…) Sem compreender a ansiedade,
não pode haver plenitude do amor. (…) Para compreender essa plenitude, esse estado integral, precisamos começar a estar apercebidos do desejo como ganância e
possessividade.(…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 44)

O amor não é sensação. A sensação faz nascer o pensamento, por meio das palavras e dos símbolos. As sensações e o pensamento tomam o lugar do amor, tornam-se um substituto
do amor. As sensações são produtos da mente, como o são também os apetites sexuais. A mente gera o apetite, a paixão, através da lembrança, e recebe dessa fonte sensações. (…)
As sensações são agradáveis e desagradáveis, e a mente se prende às agradáveis, tornando-se escrava delas.(…) A mente é o fabricante dos problemas e, portanto, não pode
resolvê-los. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 99-100)

O pensamento é fragmentário, limitado; (…) não pode resolver o problema do que é o amor, e não pode cultivar o amor. Quando se cria uma abstração com o pensamento, cria-se o
afastamento de “o que é”. (…) Isto é o que se tem feito durante toda a vida; porém, jamais se saberá, mediante a abstração, o que é amor; nunca se conhecerá a imensa beleza,
profundidade e significação do amor. (La Totalidad de la Vida, pág. 149)

O processo do pensamento nega sempre o amor. O pensamento é que tem complicações emocionais, e não o amor. O pensamento é o maior obstáculo ao amor. O pensamento cria
uma divisão entre o que é e o que deveria ser, (…). Essa estrutura moral, criada pela mente para manter coesas as relações sociais, não é amor, (…). O pensamento não conduz ao
amor, não pode cultivar o amor; (…). O próprio desejo de cultivar o amor é ação do pensamento. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed. pág. 14)

O pensamento não é amor; mas o pensamento, como prazer, aprisiona o amor e traz a dor para dentro dessa prisão. Na negação do que não é, fica o que é. Na negação do que não
é amor, surge o amor, no qual cessa o “eu” e o “não eu”. (A Outra Margem do Caminho, pág. 98)

Onde há amor não existe problema de sexo. Isso só se torna um problema quando o amor é substituído pela sensação. Portanto, a questão realmente é: como controlar a sensação.
Se existisse a chama vital do amor, o problema do sexo cessaria. Atualmente o sexo tomou-se um problema devido à sensação, ao hábito e ao estímulo, (…). A literatura, os
anúncios, a conversa, o vestir - tudo isso estimula a sensação e intensifica o conflito. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 72)

Todos nós possuímos capacidade para um amor profundo e abrangente, porém, pelo conflito e pelas falsas relações, pela sensação e pelo hábito, destruímos sua beleza. (…) Não
podemos manter a chama artificialmente acesa, mas podemos despertar a inteligência, o amor, pelo constante discernimento das múltiplas ilusões e limitações que presentemente
dominam a nossa mente-coração, todo o nosso ser. (Idem, pág. 72)

(…) O amor não é sentimentalidade, não é emocionalismo, nem devoção. É um “estado de ser” lúcido, são, racional, incorrupto, do qual procede a ação total, a única que pode dar
a verdadeira solução a todos os nossos problemas. (…) (O Homem Livre, pág. 89-90)

Se ficardes vigilante, (…) vereis o papel importante que o pensamento representa na vida. O pensamento tem, naturalmente, seu devido lugar, mas não está em nenhum aspecto
relacionado com o amor. (…) Que é então o amor? O amor é um estado de ser em que não existe pensamento; a própria definição do amor é um processo do pensamento, (…) não é
amor. (Comentários sobre o Viver, pág. 14-15)

(…) Porque, em suma, quando realmente amamos alguém, nesse amor existe a isenção do sentimento de posse. Temos, em dadas ocasiões, raras, aliás, esse sentimento de intensa
afeição em que não existe a ânsia de possuir, de conquistar. E isso nos reconduz ao que disse (…), isto é, que existirá ânsia de possuir enquanto houver insuficiência, falta de
riqueza interior. E essa riqueza interior se encontra, não com acumulações, mas na inteligência, na ação vigilante em presença do conflito causado pela falta de compreensão do
ambiente. (A Luta do Homem, pág. 88)

(…) Podemos amar alguém em particular, mas não conhecemos aquele “estado de ser” extraordinariamente vivo e lúcido, que é o amor. A maioria de nós tem muito pouco amor no
coração, (…). Por não termos amor, encontramos em geral um meio de aliviar-nos, seguindo uma certa via de “autopreenchimento”, que pode ser sexual, intelectual, ou de ordem
neurótica; de maneira que nossos problemas crescem e se tornam mais e mais agudos. (Experimente um Novo Caminho, pág. 114)

Só pode haver amor quando se compreende o processo integral da mente. O amor não é coisa da mente, e não se pode pensar no amor. (…) O amor só pode existir quando ausente
o pensamento do “eu”, e o libertar-nos do “eu” só se consegue pelo autoconhecimento. (…) Vereis, então, que o amor nada tem que ver com os sentidos, e que ele não é um meio de
preenchimento. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 53-54)
(…) O amor é um modo de ser e, nesse estado, o “eu”, com as suas identificações, (…) angústias e (…) posses, está ausente. Não pode existir amor, enquanto as atividades do “eu”,
tanto as conscientes como as inconscientes, subsistirem. Eis por que importa compreender o processo do “eu”, o centro do reconhecimento (…). (Idem, pág. 54)

A mente que está livre do tempo - tempo que é pensamento, que é desejo - essa mente conhece o amor. Para a maioria de nós, o amor é sensual. Observai-o em vós mesmos. Para a
maioria de nós, amor é ciúme - uma contradição composta de ódio e amor. Não sabemos, com efeito, o que é amor. Conhecemos a comiseração, a piedade, (…). (A Suprema
Realização, pág. 51)

Só conheceis o amor sob o aspecto de contradição, dor e prazer, angústia e ciúme - a dor, a brutalidade, a violência do ciúme! (…) Se não conheceis a beleza, jamais conhecereis o
amor - não a beleza de uma mulher ou de um homem, não o sexo: a Beleza! (Idem, pág. 51)

(…) E quando se compreende a natureza do pensamento, começa-se a descobrir o que é amor. O amor não é desejo ou prazer. Mas, para nós, para quase todo mundo, o amor é
prazer e desejo. (…) Visto que o amor não é desejo e nem prazer, como podemos conhecê-lo? Evidentemente, nós não podemos cultivá-lo, (…): identifica-se a pessoa com uma
imagem que dizem ser o amor, (…). Como então conhecer essa coisa? Para conhecê-la, temos de descobrir o que é a beleza. (A Essência da Maturidade, pág. 95)

Ora, como alcançar o amor? (…) Vós necessitais do amor, assim como necessitais de água quando sentis sede. Como alcançá-lo? Por meio do tempo? (…) O tempo poderá dar-vos
aquele amor que é desvelo, (…) beleza? O amor e a beleza andam juntos, nunca estão separados. Infelizmente, para a maioria de nós, beleza significa sensualidade, sexualidade.
(…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 155)

O amor não é uma coisa da mente; o amor não é idéia. O amor só pode existir depois de extinta a atividade do “eu”. Vós, porém, chamais essa atividade do “eu” positiva; (…) leva
à destruição, à separação, à aflição, à confusão, (…). E, todavia, todos nós falamos de cooperação, de fraternidade. Basicamente, o que desejamos é ficar apegados às nossas
atividades egocêntricas. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 221)

Vemos os caminhos do intelecto: não vemos o caminho do amor. O caminho do amor não pode ser encontrado por meio do intelecto. O intelecto, com todas as suas ramificações,
(…) desejos, ambições, empenhos, tem de cessar, para que o verdadeiro amor venha à existência.

Não sabeis que, quando amais, cooperais, não estais pensando em vós mesmos? Essa é a mais alta forma de inteligência (…). Onde houver direitos adquiridos, não pode haver
amor; só há processo de exploração, que culmina no temor. O amor só pode começar a existir, quando a mente não existe. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 99-100)

(…) Amamos com a mente, e não com o coração; a mente pode modificar-se, o amor não; a mente pode fazer-se vulnerável, o amor não pode; a mente sempre pode retrair-se,
tornar-se exclusiva, pessoal ou impessoal, o amor não pode ser comparado nem delimitado. (…) Pode a mente, cuja essência mesma é o tempo, captar o amor, que é sua própria
eternidade? (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 39)

Ninguém pode ensinar-vos a amar. Se as pessoas pudessem ser ensinadas a amar, o problema do mundo seria então muito simples, (…). Se pudéssemos aprender a amar, num livro,
assim como aprendemos matemática, este nosso mundo seria uma maravilha; não haveria ódios, nem exploração, nem guerras, nem separação entre o rico e o pobre; viveríamos
todos muito amigavelmente, uns com os outros. (…)

Não podeis aprender a amar, mas o que podeis fazer é observar o ódio e, mansamente, o afastardes de vós. Não batalhareis contra o ódio, (…) mas vede o ódio em sua essência
própria e deixai-o extinguir-se por si mesmo. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 64)

Enquanto existir a atividade da mente, não pode, por certo, haver amor. Quando houver amor, não teremos mais problemas sociais. Mas o amor não é coisa adquirível. Pode a
mente esforçar-se por adquiri-lo, como uma nova idéia (…); mas a mente não pode achar-se num “estado de amor” (…). (A Renovação da Mente, pág. 12-13)

Assim, se puderdes ver tudo isso, compreendereis que é na realidade a mente que se opõe à existência do estado criador. Uma vez cônscia do seu próprio movimento, a mente cessa.
Só então pode realizar-se o estado criador; esse estado criador é a única salvação, porque ele é amor. O amor nada tem em comum com o sentimentalismo; (…) com a sensação;
(…) não pode ser fabricado pela mente. A mente só é capaz de criar imagens de sensação, de experiência; e imagens não são o amor. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág.
175-176)

Desejais saber o que é o amor de Deus, (…). Porque não sabeis o que é amor, adorais a Deus. (…) Mas, amor a Deus é amor ao homem; temos de começar pelo amor ao homem;
mas como não conhecemos este amor, voltamo-nos para certa coisa misteriosa que chamamos “Deus” e procuramos descobrir o que é amor. (…) (O Problema da Revolução Total,
pág. 93-94)

(…) Você ama alguém? Este amor contém ciúme posse, dominação, apego? Então não é amor. É apenas uma forma de prazer, entretenimento. Quando há sofrimento, não pode
haver amor e, portanto, nenhuma inteligência. O amor tem sua própria inteligência.

A compaixão possui sua qualidade de pura e não adulterada inteligência. Quando ela existe, opera no mundo. Esta inteligência não é resultado do pensamento; o pensamento é
apenas uma pequena ocupação dela. Quando você ouve isto, vê a verdade de tudo isto - se você assim procede - o perfume, o sentimento de estar amando completamente surge, ou
você volta para a velha rotina? (Mind Without Measure, pág. 28-29)

(…) Para o homem feliz, o homem que ama, não há divisões; ele não é brâmane, nem inglês, (…). Para esse homem não há divisões de “altos” e “baixos”. (…) Quando amais,
tendes um sentimento de riqueza que vos perfuma a vida e estais pronto a dividir o vosso coração com outro. Quando está cheio o coração, as coisas da mente fenecem. (A Arte da
Libertação, pág. 36)

Ora, que se entende por beleza, (…) por verdade? (…) Senhores, essa confiança se chama amor, afeição; e, quando amais alguém, não há diferenças, não há alto nem baixo.
Quando há amor, essa chama extraordinária, então ele é a própria eternidade. (Novo Acesso à Vida, pág. 84)

Senhores, não conheceis aquele “estado de ser” íntimo, aquela interior tranqüilidade, em que floresce o amor, a bondade, a generosidade, a piedade? Aquele estado de ser,
obviamente, é a essência mesma da beleza, e, sem ele, o simples decorar de nós mesmos significa dar realce aos valores (…) dos sentidos; (…) (Idem, pág. 84-85)

Ora, a velha reação procede do pensamento. (…) Porque, sem nos libertarmos do resíduo da experiência não é possível a recepção do novo. (…) Como é então possível o novo? Só
é possível, quando não há mais resíduo de memória, e há resíduo quando a experiência não é completada, concluída (…) Quando a experiência é completa, não deixa resíduo
algum; esta é a beleza da vida. O amor não é resíduo, o amor não é experiência - é um “estado de ser”. O amor é eternamente novo. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 72-73)

Senhores, desenvolvemos a nossa mente, somos o que se chama “intelectuais”, e isso significa que estamos cheios de palavras, de explanações, de técnicas. Somos polemistas, sutis
argumentadores e controversistas. Enchemos o coração com as coisas da mente, e eis por que nos achamos num estado de contradição. Mas o amor não é facilmente encontrável.
Tendes de trabalhar muito para alcançardes. (…) Isso significa que, para alcançar o que é amor, necessita-se de autoconhecimento - não o conhecimento de Sankara, Buda ou
Cristo, que se colhe em certos livros. (…) (O Homem Livre, pág. 90)

(…) Compreender as relações é compreender a mim mesmo, é fazer nascer aquela qualidade de amor na qual existe bem-estar. Se sei amar minha esposa (…) filhos ou meu
próximo, sei amar a todo o mundo. Visto que não amo a ninguém, estou permanecendo apenas no nível intelectual (…) O idealista causa enfado: ama a humanidade com o cérebro,
não a ama com o coração. (…) O amor só está no presente, não no tempo, (…) no futuro. Para quem ama, a eternidade é agora; porque o amor é sua própria eternidade. (A Arte da
Libertação, pág. 78)

Só o amor pode transformar o mundo. Sistema algum, seja da esquerda, seja da direita, por mais sabiamente, (…) convincentemente (…) concebido, pode trazer a paz e a felicidade
(…) O amor não é um ideal; ele surge onde existe o respeito e a compaixão de todos para com todos. Esse modo de ser se apresenta com a riqueza da compreensão. (O caminho da
Vida, pág. 22)

Fraternidade, Benevolência, Compaixão, Perdão


Aqueles de vós que falam em fraternidade são geralmente nacionalistas no coração. Que significa fraternidade, como idéia ou realidade? Como podeis realmente ter o sentimento
de amor fraternal em vossos corações, quando mantendes uma série de crenças dogmáticas, quando fazeis distinções religiosas? E isso é o que estais fazendo em vossas sociedades,
grupos. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 47)

Estais agindo de acordo com o espírito de fraternidade, quando existem tais distinções? Como podeis conhecer esse espírito quando tendes a consciência de classe? Como pode
haver unidade ou fraternidade, quando pensais somente em termos de vossa família, de vossa nacionalidade, de vosso Deus? (Idem, pág. 47)

(…) As religiões e as nacionalidades realmente engaiolam as pessoas, entravam-nas. Isso está evidenciado no mundo, através da história; e o mundo tem, agora, cada vez mais
seitas, (…) corporações fechadas por paredes de crenças, com seus guias especiais; e, no entanto, falais de fraternidade! (Palestras em Auckland, 1934, pág. 82)

Como pode haver verdadeira fraternidade quando o instinto possessivo é tão profundo e, por isso, necessariamente, deve conduzir a guerras, pois está baseando no nacionalismo,
no patriotismo. (…) Um homem que é realmente fraternal, afetuoso, não fala de fraternidade; vós não falais de fraternidade à vossa irmã ou à vossa esposa, porque já existe um
afeto natural. E como pode haver fraternidade, verdadeira unidade humana, quando existe exploração? (…) (Idem, pág. 82)

(…) Dizer que pelo nacionalismo seremos, no devido tempo, internacionais, teremos a fraternidade, é um processo de pensamento muito errôneo. Só depois de quebrardes os
estreitos limites da mente e do coração, podereis passar além; e quando as paredes estiverem por terra, se descortinará a vastidão do horizonte da vida. (A Arte da Libertação, pág.
104)

A dificuldade é ser fraternal, ser bom, ser benevolente, ser generoso; e isso é impossível, enquanto só pensarmos em nós mesmos. Estais pensando em vós mesmos quando atribuís a
máxima importância (…) como meio de vos proporcionar felicidade, (…) conservar vosso nome, vossa religião, vossas perspectivas, vossa autoridade, vossa conta no banco, vossas
jóias. (A Arte da Libertação, pág. 104)

Quando um homem está interessado só em si mesmo e no prolongamento de si mesmo, como pode ele ter amor no coração, como pode ter boa vontade? (…) O homem que não
pensa em si criará por certo um mundo novo, uma nova ordem, e é para esse homem que devemos volver os olhos (…) A boa vontade, a felicidade, a bem-aventurança, só virá
quando houver a busca do real. O real está perto, não distante. (…) (Idem, pág. 104-105)

(…) O amor não é suscetível de pensar-se, não pode ser cultivado (…) A prática do amor, (…) da fraternidade está sempre no terreno da mente (…) Porque não sabemos amar a um
só, o nosso amor à humanidade é fictício. Quando amais, não há um só nem muitos, só há amor. (…) (A Arte da Libertação, pág. 182)

(…) O amor é “extensivo” e por isso é possível amar ao que é particular. Mas a maioria de nós, não tendo esse amor “extensivo”, volta-se para o particular, e o particular destrói.
(A Arte da Libertação, pág. 214)

Que é amor? Que é compaixão? A palavra “compaixão” significa paixão por todos, afeição para com todos os seres - inclusive os animais que matais para comer. (…) Sabemos o
que significa amar, ou só conhecemos o prazer e o desejo, chamando-os “amor”? É certo que o prazer e o desejo se acompanham também de ternura, desvelo, afeição, etc., mas o
amor é prazer, desejo? (…) Um homem depende de sua esposa, ama sua esposa, mas se ela olha para outro homem, fica enraivecido (…) frustrado, infeliz (…) É isso que chamais
“amor” (…) (Fora da Violência, pág. 36)

Senhor, que é compaixão? Não é um estado de simpatia, piedade, consideração? E nesse estado, por certo, não há sentimento de estardes ajudando a outrem. (…) Nesse estado de
compaixão, podemos dar ajuda, dar simpatia a outro, mas não há conflito interior. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 198)

Sois responsáveis pelas misérias e pelos desastres que ocorrem no mundo, pois na vossa vida diária sois cruéis, opressores, ávidos e ambiciosos. (…) Abrigai em vossos corações a
paz e a compaixão, e aclarar-se-ão as vossas dúvidas. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 16) (…)

Se não extirpais de vós mesmos as causas da inimizade, da ambição, da avidez, são falsos os vossos deuses e vos conduzirão à desgraça. Só a benevolência e a compaixão são
capazes de promover a ordem e a paz no mundo; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 26)

Ora bem, (…) Num mundo como o atual, em que há tanta violência, (…) ódio e brutalidade, a palavra “compaixão” é quase sem significação. (…) Há violência em todos nós,
consciente ou inconscientemente. Existe agressividade, o desejo de ser ou “vir a ser” algo, o impulso para nos “expressarmos” custe o que custar, para nos preenchermos
sexualmente, nas relações sociais, no escrever, no pintar (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 49)

(…) O pensamento não pode, em circunstância nenhuma, cultivar a compaixão (…) Mas, se cada um de nós não tiver um profundo sentimento de compaixão, tornar-nos-emos cada
vez mais brutais e desumanos uns com os outros. (…) (Idem, pág. 51)

Para produzir ordem, vós mesmo deveis ter consideração e compaixão para com outrem. A ação nascida do ódio só pode criar futuros ódios. A raiva em todas as circunstâncias é a
ausência de compreensão e amor. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 46)

Não estais realmente preocupado com a injustiça; se estivésseis, jamais vos zangaríeis; (…) Se nas nossas relações humanas existirem a compaixão e o perdão, a generosidade e a
benevolência, como pode haver também brutalidade e ódio? Se não tivermos amor, como poderá haver ordem e paz? (…) (Idem, pág. 46)

(…) se quereis a paz, urge empregardes meios pacíficos (…) Só a benevolência e a compaixão tornarão possível a paz no mundo, não a força, nem a sagacidade, nem a simples
legislação. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 16)

Perdemos o sentimento de humanidade; reconhecemo-nos responsáveis somente perante a classe ou grupo a que pertencemos; (…) perante um nome, um rótulo. Perdemos a
compaixão, o amor ao todo, e, sem essa vivificante chama da vida, volvemo-nos para os políticos, (…) os sacerdotes, (…) Em nada disso há esperança. Só no interior de cada um de
nós reside a compreensão criadora, a compaixão, tão necessária para o bem-estar do homem. Os meios criam os fins justos; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 84)

Quando há compaixão, o sentimento da compaixão, ela não atinge apenas o pobre aldeão ou o animal faminto; sua intensidade é sempre a mesma onde quer que estejais, numa
choça ou num palácio (…) (O Homem Livre, pág. 109)

Como dissemos (…) o amor nada tem em comum com o tempo, nem com a memória. E essa excelência que chamamos amor é compaixão, a qual inclui a ternura, a bondade, a
generosidade, etc. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 61)

Acho, pois, necessário que a mente humana compreenda totalmente essa questão - o que é a bondade. A palavra “bondade' não é o fato, (…) não é a coisa (…) A bondade só pode
desabrochar, florir, na liberdade. A liberdade não é uma reação, (…) e tampouco é uma resistência ou revolta contra alguma coisa. É um estado de espírito; e esse estado de
espírito (…) não pode ser compreendido se não há espaço. A liberdade exige espaço. (O Descobrimento do Amor, pág. 117)

Aí está a razão por que importa descobrir se uma pessoa pode ser boa, (…) sem se esforçar para ser boa, sem lutar para libertar-se da inveja, da ambição, da crueldade (…) Pode
haver bondade, sem se fazer esforço para “ser bom”? Acho que só haverá, se cada um de nós escutar, ficar atento. (…) Esquecei todos os livros que lestes, tudo o que vos têm
ensinado, e prestai atenção à asserção de que não pode haver virtude, enquanto houver esforço para ser virtuoso. (…) (Realização sem Esforço, pág. 38-39)

(…) Qual é a relação entre amor e compaixão, ou são eles o mesmo movimento? Quando usamos a palavra “relação”, ela implica dualidade, separação, mas estamos perguntando
que lugar tem o amor na compaixão, ou é o amor a mais alta expressão da compaixão? Como pode ter compaixão se você pertence a alguma religião, segue algum guru, crê em
alguma coisa, em escrituras, etc., se estiver apegado a uma conclusão?

Quando você aceita um guru, chega a um desfecho, ou se você acredita fortemente em deus ou num salvador, nisto ou naquilo, pode haver compaixão? Você pode dedicar-se a
trabalho social, ajudar o pobre desamparado de piedade, simpatia, caridade, mas isso é tudo que compreende o amor e a compaixão? (Mind Without Measure, pág. 97)

Estamos tentando descobrir se é possível viver neste mundo sem nenhum medo, conflito, com um enorme senso de compaixão, o que exige grande soma de inteligência. Você não
pode ter compaixão sem inteligência. E essa inteligência não é atividade do pensamento. Você não pode ser compassivo se está ligado a determinada ideologia, a um particular
tribalismo estreito, ou a algum conceito religioso, porque tudo isso é limitação. A compaixão só pode surgir, despertar, quando há o fim do ressentimento, o que representa o fim do
movimento egocêntrico. (The World of Peace, pág. 86)

O amor é como a morte. Amor significa compaixão. Amor, compaixão, significam inteligência suprema, não a inteligência de livros, de estudiosos e da experiência. Isso é
necessário até certo ponto, mas só há a quintessência da inteligência total quando há amor, compaixão. Não pode haver compaixão e amor sem morte, que é o fim de todas as
coisas. Então há criação. Ou seja, o universo, não de acordo com os astrofísicos, é a suprema ordem. (…)

E essa inteligência não pode existir sem compaixão, amor e morte. Isso não é um processo de meditação, mas de profunda investigação. Inquirir com grande silêncio, não “eu estou
investigando”. Grande silêncio, grande espaço. O que é essencialmente amor, compaixão e morte é a aludida inteligência, que é criação. Criação existe quando estes outros dois
existem: amor e morte. Tudo o mais é invenção. (Last Talks at Saanen, 1985, pág. 127)

(…) No entendimento da natureza do amor, havendo a virtude da mente unida ao coração, surge a inteligência. A inteligência é o entendimento ou descoberta do que é o amor.
Inteligência nada tem a ver com o pensamento, esperteza, conhecimento. Você pode ser muito eficiente em seus estudos, no seu trabalho, ser capaz de discutir habilmente,
racionalmente, mas isso não é inteligência. A inteligência é acompanhada de amor e compaixão, e você não pode chegar a essa inteligência como um indivíduo (isolado).

A compaixão não é sua nem minha, da mesma forma que o pensamento não é seu nem meu. Quando há inteligência, não há eu e você. E a inteligência não fica em seu coração ou
em sua mente. Tal inteligência, que é suprema, está em toda parte. Ela é a inteligência que move a terra e os céus, as estrelas, porque ela é compaixão. (Mind Without Measure,
pág. 97)

E onde há qualidade de amor, então daí surge a compaixão; onde há compaixão há inteligência - não a inteligência do interesse próprio, não a inteligência do pensamento, não a
inteligência (…) do acúmulo de conhecimento, pois a compaixão nada tem a ver com conhecimento - mas a inteligência que proporciona segurança à humanidade, estabilidade e
um vasto sentido de expansão. (The World of Peace, pág. 98)

(…) Quando compreendo a mim mesmo, compreendo a vós, e dessa compreensão nasce o amor. O amor é o fator que está faltando - há falta de afeição, de cordialidade, nas
relações; e porque falta esse amor, essa ternura, essa generosidade, essa compaixão, em nossas relações, escapamo-nos para a ação em massa, que produz maior confusão e maior
miséria. (…) (A Arte da Libertação, pág. 63)

(…) O amor ultrapassa e sobreleva tudo isso; ele transcende o plano dos sentidos. É em si mesmo eterno e independente, e não um resultado. Nele há misericórdia e generosidade,
perdão e compaixão. Com o amor, surge a humildade e a brandura (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 90)

O amor não é oposto de coisa alguma. Não é o oposto do ódio ou da violência (…) Para o homem que ama não há erro; ou, se há, sabe corrigi-lo imediatamente. O homem que ama
não tem ciúme, (…) remorsos. Para ele não existe o perdão, porque nunca surge uma ocasião em que haja algo para perdoar. Tudo isso exige profunda investigação (…) (Fora da
Violência, pág. 37)

Vossa comiseração, pois, não é amor. E é amor o perdão? Que está implicado no perdão? Vós me insultais e eu fico ressentido e guardo isso na lembrança; depois (…) digo:
“perdôo-vos”. (…) Um homem que ama não guarda inimizade, sendo indiferente a todas essas coisas, (…) Enquanto a mente é o árbitro, não há amor; porque a mente só arbitra
segundo o interesse de posse (…) A mente só pode corromper o amor, não pode dar beleza. (A Arte da Libertação, pág. 180-181)

Chama sem Fumaça, Virtudes (Amor), Paixão sem Causa


Como é essencialmente simples a vida, e como a complicamos! O amor não é complexo, mas a mente o faz complexo. Vivemos demais com a mente e desconhecemos os caminhos do
amor. Conhecemos os caminhos do desejo e o ímpeto do desejo; desconhecemos, porém, o amor. O amor é a chama sem fumo. Estamos muito bem familiarizados com a fumaça; ela
enche a cabeça e o coração (…) Não somos simples, como a beleza da chama; torturamo-nos com ela. Não vivemos com a chama, acompanhando-a prestamente aonde quer que
nos leve. (Comentários sobre o Viver, pág. 208)

O amor, positivamente, é uma chama sem fumaça. É só a fumaça que conhecemos bem - a fumaça do ciúme, da ira, da dependência, (…) de apego. Não temos a chama, mas
estamos perfeitamente familiarizados com a fumaça; e aquela chama só podemos ter quando não houver mais fumaça. (Viver sem Confusão, pág. 60-61)

Será de fato difícil a transformação do indivíduo? É difícil ser bondoso, amar alguém? Afinal, é esta a essência de uma transformação radical. (…) Estamos de tal maneira
entranhados nos impulsos que incitam ao ódio, à antipatia, que perdemos a chama pura, ficou-nos só fumo; (…) Não possuímos mais (…) a chama da criação; tomamos o fumo pela
chama. (…) (Que Estamos Buscando, pág. 91)

O amor não é coisa da mente. A mente gera a fumaça do ciúme, da posse, da saudade, da evocação do passado, da ansiedade pelo amanhã, da tristeza e da preocupação; e essa
fumaça sufoca a chama, infalivelmente. Quando não existe fumaça, existe chama. As duas coisas não podem existir juntas. (…) Desejo é projeção do pensamento, e pensamento não
é amor. (Comentários sobre o Viver, pág. 199)

(…) A revolução só poderá realizar-se quando houver amor, e não antes. O amor é a única chama sem fumo; mas, infelizmente, enchemos os nossos corações com as coisas da
mente, e por isso os corações estão vazios e as mentes cheias. (Que Estamos Buscando, pág. 31)

(…) Quando amais a um, amais a outros, há cordialidade para com todos. Sois então sensível, flexível. (…) O amor não é coisa para ser cultivada; ele nasce, pronta e
imediatamente, quando não é impedido pelas coisas da mente. Estão vazios os nossos corações, e é por isso que não existe comunhão (…) Quando há amor - cordialidade,
generosidade, afabilidade, compaixão - não se necessita de filosofia alguma nem de instrutores; porque o amor é a própria verdade. (Idem, pág. 38)

(…) O amor é algo novo, eterno, de momento a momento. Nunca é o mesmo, nunca é como foi antes; e sem o seu perfume, (…) sua beleza, (…) sua bondade, procurar com a ajuda
de um guru aquilo que podeis achar por vós mesmo é de todo inútil. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 91)

Não é assim o amor. Ele é como aquele bosque do outro lado da estrada: sempre a renovar-se porque está sempre a morrer. Não existe nele a permanência que o pensamento busca
(…) A consciência do pensamento e a consciência do amor são duas coisas diferentes: uma leva à escravidão, e a outra, à floração da bondade. (…) O amor é anônimo (…) Sem ele,
não se pode encontrar a bem-aventurança da verdade. (A Outra Margem do Caminho, pág. 133)

Quando (…) Já se houver dedicação, bondade, solicitude, daí surgirá a finura, a polidez, a benevolência para com os demais, (…) a pessoa pensa cada vez menos em si (…) E
aquele que não tem preocupação egocêntrica é, na verdade, um ser humano livre. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 55-56)

Amor é um sentimento em que existe doçura, mansidão, ternura, consideração, beleza. No amor não há avidez, nem ciúme. (Idem, pág. 57)

(…) Para o homem feliz, o homem que ama, não há divisões; ele não é brâmane, nem inglês, nem alemão, nem hindu. Para esse homem não há divisões de “altos” e “baixos”. (…)
Quando amais, tendes um sentimento de riqueza que vos perfuma a vida e estais pronto a dividir o vosso coração com outrem. Quando está cheio o coração, as coisas da mente
fenecem. (A Arte da Libertação, pág. 36)

(…) O problema da desigualdade só poderá ser resolvido quando existir o amor (…) O homem que ama não está interessado em quem é superior nem inferior; para ele não existe
igualdade nem desigualdade; só há um “estado de ser”, que é amor. (…) (Visão da Realidade, pág. 196)

(…) Quando estais naquele “estado de amor”, não existe repugnância. Ele é como uma flor que exala o seu perfume (…) Um homem que ama está todo entregue ao seu amor, não
lhe importando se as pessoas têm “rostos inexpressivos” (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 133)
(…) Quando há amor, isso é de somenos importância. Embora observeis os fatos, (…) não vos repugnam. Não é o amor, mas, sim, o coração vazio, o espírito árido, o intelecto
endurecido, que é repelido ou atraído. E quando uma pessoa ama, não há escravização. Há sempre uma renovação, uma fresca vitalidade, uma alegria não no falar, mas naquele
próprio estado. (…) (Idem, pág. 133)

(…) O amor não tem códigos de moral, (…) não é reforma. Quando o amor se torna prazer, a dor é inevitável. O amor não é pensamento, e é o pensamento que dá prazer - prazer
sexual, (…) do sucesso. (…) O pensamento, pelo pensar nesse prazer, dá-lhe vitalidade (…) Essa exigência de prazer é o que chamamos sexo (…) Ele se acompanha de uma grande
abundância de afeição, ternura, desvelo, companheirismo, etc. (…) (A Outra Margem do Caminho, pág. 57)

Não sabeis que, quando amais, cooperais, não estais pensando em vós mesmos? Esta é a mais elevada forma de inteligência - e não quando amamos como uma entidade superior,
ou quando nos achamos em boa situação, o que nada mais é que temor. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 116)

(…) Sabemos o que o amor significa? O amor não pede nada a outrem. (…) O amor não reclama nada da esposa, do marido, nada reclama dos outros, nem física nem emocional
nem intelectualmente. Não segue a outrem, não tem um conceito para logo seguir esse conceito. Porque o amor não é ciúme (…) O amor não busca posição, status, prestígio. Porém
possui sua própria capacidade, destreza, inteligência. (La Llama de la Atención, pág. 49-50)

(…) Quando amais alguém, não pensais no que ireis ganhar dessa pessoa. Não amais a pessoa porque ele ou ela vos dá dinheiro, ou posição, ou outra espécie de satisfação.
Simplesmente, amais - se tal amor realmente existe. Ora, se amo verdadeiramente o que estou fazendo, não há ambição. Não me comparo com ninguém (…) Amo o meu trabalho e,
portanto, a minha mente, o meu coração, o meu ser inteiro está nele. (…) (Idem, pág. 220)

Deseja também saber (…) Ora, amar é ser livre. No amor, são livres ambas as partes. Se existe a possibilidade de sofrimento, não se trata então de amor, mas, sim, puramente, de
uma forma sutil do instinto de posse, (…) de aquisição. Se amais, se realmente amais alguém, não há possibilidade de lhe causardes dor (…) (A Luta do Homem, pág. 53-54)

(…) Mas, o estar cônscio de ser nada significa ser alguma coisa. Ser nada (…) não pode ser provocado; esse estado só se conhece havendo amor. Mas o amor não é uma coisa que
possa ser procurada; ele vem quando há em nós uma revolução interior, quando o “eu” já não é importante, já não é o centro da nossa existência. (Claridade na Ação, pág. 98)

Parece-me verdadeiramente importante viver completamente cada dia, com tanta plenitude, tão criadoramente, tão ricamente, que nunca tenhamos um amanhã. Isso, afinal, é amor.
(…) O amor não conhece o amanhã. (As Ilusões da Mente, pág. 105)

(…) A mente que está quieta conhecerá o ser, o amor. O amor não é pessoal nem impessoal. Amor é amor, e a mente não o pode definir ou descrever como inclusivo ou exclusivo. O
amor é a própria eternidade; ele é o real, o supremo, o imensurável. (O que te Fará Feliz? pág. 97-98)

Assim, sem se morrer não há amor, porque o amor é sempre novo e não uma rotina de sexo e prazer. Para a maior parte de nós, por todo o mundo, o sexo tornou-se um problema
enorme, (…) de que retiramos prazer (…) Até parece que o sexo acaba de ser descoberto pela primeira vez, sendo-lhe dado lugar em todas as revistas (…) (O Mundo Somos Nós,
pág. 132)

Se não sabeis o que é amor, morreis como um lastimável ente humano, sem conhecer aquela imensidade que se chama “vida”. E, no conhecer a plenitude da vida, encontra-se a
plenitude do “desconhecido”. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 66)

(…) A ação não deve ter motivo, (…) não deve ser a busca de um fim; e a ação que não busca um fim só pode vir quando há o amor. O amor não é coisa difícil. Só há amor quando
o intelecto compreende a si mesmo, (…) quando o processo de pensamento, com suas hábeis manobras, seus ajustamentos, (…) busca de segurança, deixa de funcionar, descobrireis
então que vosso coração é rico, cheio, abundante de felicidade, porque descobriu aquilo que é eterno. (A Arte da Libertação, pág. 105)

(…) Só a mente que percebeu o significado do tempo, da morte e do amor - os três estão relacionados entre si - só essa mente pode “explodir” no “desconhecido”. (Idem, pág. 66)

Que significa amar? Será algo ideal, (…) distante, inatingível? Ter a qualidade da simpatia, da compreensão, de ajudar os outros naturalmente, sem motivo algum, ser
espontaneamente bom, ter consideração por uma planta ou por um animal, sentir-se solidário com os camponeses, generoso com o amigo, (…) o próximo - não é isso o que
entendemos por amor? Não é o amor um estado em que não há ressentimento, mas eterno perdão? E não será possível senti-lo? (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 95)

Nossa educação, desde a infância, é desenvolvida em torno da idéia de vir a ser alguém, (…) e mui poucos dentre nós tivemos ocasião de aprender a amar o que estamos fazendo.
Quando amais o que estais fazendo, trabalhais sem motivo, sem ânsia de êxito. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 220)

O problema é: o que é o amor sem motivo? Pode acaso haver amor sem nenhum incentivo, sem que se deseje tirar algum proveito dele? Pode haver amor em que não haja mágoa
por ele não ser retribuído? Se eu lhe ofereço a minha amizade e você a recusa, não ficarei ferido? Esse sentimento de mágoa é o resultado de amizade, de generosidade, de
simpatia? Certamente, enquanto eu me sinto magoado, enquanto houver em mim medo, (…) ou o ajudar esperando que você me ajude - o que se chama serviço - não haverá amor.
(O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 97)

Ora, a menos que compreendamos a paixão, acho que não seremos capazes de compreender o sofrimento. A paixão é algo que mui poucos de nós realmente já experimentaram.
Poderemos ter experimentado entusiasmo, (…) num estado emocional (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 179)

(…) Nossa paixão é sempre por alguma coisa: pela música, pela pintura, pela literatura, (…) por uma mulher ou um homem; é sempre o efeito de uma causa. (Idem, pág. 179)

Quando vos apaixonais por alguém, sempre ficais num estado de grande emoção, o qual é o efeito daquela causa; e a paixão de que falo é paixão sem causa. É estar apaixonado
por tudo, e não simplesmente por uma certa coisa (…) (Idem, pág. 179)

Só quando temos liberdade, temos paixão. Não me refiro à paixão carnal, a qual tem seu lugar próprio; refiro-me a um estado de liberdade em que existe intensa energia e paixão.
(…) A paixão está sempre no presente; não é algo já passado ou que teremos amanhã, pois esta é a paixão criada pelo pensamento. (…) Ora, há diferença entre a paixão do prazer
e a paixão que nasce quando estamos completamente libertos da confusão, quando há claridade total. (A Importância da Transformação, pág. 38)

No estado de “paixão sem causa” há uma intensidade livre de todo apego; mas, quando a paixão tem causa, há apego, e apego é o começo do sofrimento. Em geral, temos apego - a
uma pessoa, um país, uma crença, uma idéia - e quando o objeto de nosso apego nos é retirado ou, ainda, quando perde o seu significado, vemo-nos vazios, incompletos. (O Homem
e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 179-180)

Acho que o terminar do sofrimento depende da intensidade da paixão. Só pode haver paixão, quando há total abandono do “eu”. Nunca pode uma pessoa “apaixonar-se” se não
houver a completa ausência disso que chamamos “pensamento”. (…) (Idem, pág. 181-182)

(…) E o auto-abandono de que falo é aquele estado de beleza sem causa, o qual, por essa razão, é um estado de paixão. E pode-se transcender tudo o que é resultado da causa?
(Idem, pág.182).

O problema agora é este: Que é o amor sem “motivo”? Pode haver amor sem “motivo”, sem incentivo algum, sem tirarmos dele nenhum proveito para nós mesmos? Pode haver
amor sem ressentimento, em que não haja sentimento de mágoa quando o nosso amor não é correspondido? Pode haver amor em que damos e não recebemos? Quando dais não
sentis mágoa, se a pessoa não retribuir? (…) Assim, pois, enquanto houver ressentimento, (…) temor, (…) vereis que o vosso incentivo não é o amor. Se compreendestes, aí tendes a
resposta. (Novos Roteiros em Educação, pág. 121)

Ora, que se entende por beleza, e que se entende por verdade? A beleza, de certo, não é um ornamento (…) Senhores, não conheceis aquele “estado de ser” íntimo, aquela interior
tranqüilidade, em que floresce o amor, a bondade, a generosidade, a piedade? Aquele estado de ser, obviamente, é a essência mesma da beleza (…) (Novo Acesso à Vida, pág.
84-85)

(…) Cada um de nós tem um templo, mas precisamos criar a imagem, o ídolo, a Beleza, em torno da qual possamos desenvolver o nosso amor e nossa devoção; porque, se
conservarmos o templo vazio, não poderemos criar. (O Reino da Felicidade, pág. 24)

É pela adoração, pelo amor, pela devoção, que criamos, que damos vida ao templo. Para mim esse templo é o coração. Se puserdes Aquele que é a encarnação do Amor e da
Verdade em vosso coração, se ali o criardes com as vossas próprias mãos, (…) mente, (…) emoções, esse coração, em vez de frio e abstrato e deserto, se torna real e vivo e radiante.
Tal é a Verdade. (O Reino da Felicidade, pág. 24-25)

Não emprego a palavra “paixão” no sentido de “prazer exaltado”; porém, antes, em referência àquele estado da mente que está sempre a aprender e, por conseguinte, sempre
ardorosa, viva, em movimento, nova e, portanto, apaixonada. Bem poucos de nós se apaixonam. Temos prazeres sensuais, luxúria, diversões; mas o sentimento de paixão, esse a
maioria de nós não tem. Sem paixão, no elevado sentido ou significado da palavra, como se pode aprender, (…) descobrir coisas novas, (…) investigar, (…) mover-se com a
celeridade que a investigação requer? (A Suprema Realização, pág. 128)

O amor, para a maioria de nós, é paixão, concupiscência (…) A fumaça (…) - o ciúme, o ódio, a inveja, a avidez - destrói a chama. Mas onde está o amor, aí está a beleza e a
paixão. Deveis ter paixão, mas não traduzais prontamente essa palavra em “paixão sexual”. Por “paixão” entendo a “paixão da intensidade”, essa energia que de pronto percebe
as coisas, claramente, ardentemente. Sem paixão, não há austeridade. (…) A austeridade vem com o desprendimento, e no desprendimento há paixão e, por conseguinte, beleza. Não
a beleza criada pelo homem; não a beleza artística (…) Mas refiro-me a uma beleza que transcende o pensamento e o sentimento. E esta só pode surgir quando há alta sensibilidade
(…) (O Passo Decisivo, pág. 276)

Paixão, para a maioria de nós, significa apenas satisfação mental ou física, a qual depressa declina e tem de ser sempre renovada. Em geral, as paixões são despertadas por
circunstâncias externas ou por nosso especial temperamento, (…) idiossincrasias e apetites. (…) Isso poderá, com efeito, proporcionar (…) um certo ardor, (…) mas referimo-nos a
uma paixão mais difícil de alcançar, porque a paixão que se requer para qualquer ação deve ser sem motivo. (…) Pode haver alguma ocasião rara em que a mente funcione sem
“motivo”, sem desejo de satisfação (…) (A Importância da Transformação, pág. 114-115)

O que é importante (…) A raiz da palavra “paixão” significa “sofrimento”. Mas não estamos a usar essa palavra no sentido de sofrimento, ou da energia que se manifesta por meio
da cólera, do ódio, da resistência. Estamos a usá-la no sentido daquela paixão que vem naturalmente e sem esforço, quando há amor. (O Mundo Somos Nós, pág. 75)

Sem amor, vivemos no sofrimento, na aflição, em conflito perene. E o amor, por certo, é sem conflito. (…) Nasce o amor ao começarmos a compreender realmente a totalidade de
nosso próprio ser. (…) Na mutação da ação há paixão, que é energia; e, com essa energia, que faz parte do amor, (…) da criação, tem a mente a possibilidade de ingressar num
estado jamais concebido ou formulado por ela própria, num estado desconhecido. (Experimente um Novo Caminho, pág. 115-116)

Qual é, pois, o problema? Como ter essa criadora alegria de viver, ser sem limitações no sentir, amplo no pensar, e ao mesmo tempo preciso, claro, ordenado, no viver? Creio que a
maioria não é assim, porque nunca sentimos nada intensamente, nunca aplicamos completamente a coisa alguma nosso coração e nossa mente. (…) Mas vós e eu nunca
conheceremos essa alegria, se não sentirmos as coisas profundamente, se não houver paixão em nossa vida - paixão (…) no sentido de sentirmos as coisas com toda a força; (…)
quando houver uma revolução total em nosso pensar, em todo o nosso ser. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 61)

Pensamento, Sentimento, Ação; Harmonia, Ação Integrada


Por que razão dividiu o homem a sua existência em compartimentos diferentes - o intelecto e as emoções? Cada um desses compartimentos parece independente do outro. Na vida,
essas duas forças motoras são muitas vezes tão contraditórias, que parecem dilacerar a própria estrutura de nosso ser. Harmonizá-las, de modo que o homem possa atuar como uma
entidade total, foi sempre um dos principais alvos da vida. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 100)

Exatamente: o pensar e o sentir são uma só coisa; sempre, desde o começo, foram uma só coisa, e é isso, precisamente, o que estou dizendo. Nosso problema, por conseguinte, não é
a integração dos diferentes fragmentos, mas, sim, a compreensão dessa mente e desse coração que são uma só coisa. (…) (Idem, pág. 102)

Desejo explicar, hoje, que há um modo de viver naturalmente, espontaneamente. (…) Quando viveis completamente na harmonia de vossa mente e coração, então o vosso agir é
natural, espontâneo, sem esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 130)

Afinal, sentir é pensar, não? As duas coisas são inseparáveis. (…) O sentimento sempre acompanha o pensamento. E sentimento é percepção-sensação-contato, etc. Sentir é ser
sensível; (…) (O Passo Decisivo, pág. 65)

Achais mesmo muito importante que a mente e o coração se unam? (…) Por que procurar uni-los? Essa preocupação é ainda do intelecto e não oriunda (…) de vossa sensibilidade,
que faz parte de vós. Dividistes a vida em intelecto e coração; intelectualmente observais o emurchecer do coração e, verbalmente, vos preocupais com isso. (A Outra Margem do
Caminho, pág. 21-22)

(…) Aquilo a que vos opondes é a periculosidade do intelecto, que endeusais. Essa periculosidade cria uma multidão de problemas. Vedes provavelmente os efeitos das atividades
intelectuais, no mundo - as guerras, a competição, a arrogância do poder - e talvez tenhais medo do que está para acontecer, do desespero do homem. (Idem, pág. 22)

(…) Enquanto existir essa divisão entre os sentimentos e o intelecto - um a dominar o outro - um destruirá o outro, inevitavelmente; não há possibilidade de uni-los. (…) O amor não
pertence a nenhum dos dois, porque o amor não é de natureza dominadora. Não é uma coisa fabricada pelo pensamento ou pelo sentimento. (…) O amor está no começo e não no
fim de algum esforço. (A Outra Margem do Caminho, pág. 22)

Separamos o intelecto do sentimento, desenvolvemos o intelecto à custa do sentimento. Somos como um tripé com uma perna mais longa do que as outras, não temos equilíbrio.
Somos educados para sermos intelectuais; (…) (A Educação e o Significado da Vida, pág. 79)

(…) O que pode produzir a transformação em nós, e por conseguinte na sociedade, é a compreensão do processo integral do pensar, que não é diferente do sentir. Sentir é pensar;
(…) (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 73)

Krishnamurti: (…) Só conheço dois movimentos: um, o de pensar - o movimento intelectual, racional; o segundo, o sentimento de benevolência, delicadeza, doçura; (…) São dois
movimentos separados? Ou porque os temos tratado como dois movimentos separados, surge todo nosso infortúnio, nossa confusão? (Tradición y Revolución, pág. 402)

Não achais necessário que o pensamento claro e correto seja sensível? Para sentir profundamente, não é necessário um coração aberto? Não se requer um corpo sadio para que as
suas reações sejam prontas e adequadas? Embrutecemos nossa mente, nosso sentimento, nosso corpo, com as crenças e a malevolência, com estimulantes poderosos e
insensibilizantes. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 17)

Se não desejais sentimentos embotados e empedernidos, deveis pagar o preço disso. Urge abandonardes a pressa, a confusão, as profissões e atividades inadequadas. Deveis
torna-vos cônscios de vossos apetites, de vosso ambiente delimitador, e começardes, então, com uma justa compreensão dos mesmos, a novamente despertardes a sensibilidade. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 18)

Com a observação constante de vossos pensamentos-sentimentos, cairão por terra as causas do egotismo e da estreiteza mental. Se desejais atingir um elevado grau de
sensibilidade e clareza, deveis trabalhar deliberadamente para esse fim; não podeis ser mundanos e ao mesmo tempo sinceros na busca da Realidade. (Idem, pág. 18)

Hipertrofiamos o intelecto, em prejuízo de nossos sentimentos mais profundos e claros, e uma civilização baseada no cultivo do intelecto há de produzir brutalidades e o culto da
prosperidade. O basear-se no intelecto ou só no sentimento conduz ao desequilíbrio (…) É necessário que compreendamos as tendências do intelecto, mediante vigilância
constante,(…) transcender o próprio raciocinar. (Idem, pág. 18-19)

(…) O culto do intelecto, em oposição à vida, conduziu-nos à nossa atual frustração, com suas inumeráveis vias de fuga. (…) A presente crise nasceu do culto do intelecto, e foi o
intelecto que dividiu a vida numa série de ações opostas e contraditórias; foi o intelecto que negou o fator de unificação que é o amor. (A Arte da Libertação, pág. 248)
O intelecto encheu o nosso coração, que estava vazio, com coisas da mente; e só quando a mente está cônscia do seu próprio raciocinar é capaz de transcender a si mesma, e só
então haverá enriquecimento do coração. Só o (…) enriquecimento do coração pode trazer a paz a este mundo louco e cheio de lutas. (Idem, pág. 248)

Com essa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos tornando
cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria não pode ser substituída pela erudição (…) (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed.,pág. 78)

(…) A erudição é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas, se a mente e o coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma
explicação, a vida se torna vazia e sem sentido. (…) (Idem, pág. 78)

Que quer dizer “razão”? Pode a razão separar-se do sentimento? Vós os separastes, porque desenvolvestes o intelecto e nada mais. E tendes, assim, uma espécie de tripé, com uma
perna muito mais longa que as outras duas e que por isso não pode ficar em equilíbrio. É o que aconteceu. Somos altamente intelectuais. (…) E temo-nos servido do intelecto como
meio para encontrarmos a Realidade. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 139)

Mas o intelecto representa uma parte, somente, e não o todo. Compreender a realidade e raciocinar são duas coisas diferentes. Sem razão (…) não podemos viver. Razão é
equilíbrio, integração. (…) Mas a razão, como a conhecemos, é operação intelectual e não pode produzir senão fragmentação, como estamos vendo no mundo todo (…) O intelecto
está produzindo toda esta devastação, degradação e miséria (…) A razão precisa transcender a si mesma, para encontrar a Realidade. (Idem, pág. 139)

Expressando-o diferentemente, com o raciocinar não se pode encontrar o real, porquanto o raciocinar é produto do passado, (…) depende do tempo, é reação no tempo e, por
conseguinte, o raciocinar não pode nunca ser o atemporal. É preciso que o raciocinar termine, porque só então poderá manifestar-se o atemporal. Quando a mente tem percepção
do seu existir, sobrevém um silêncio extraordinário, uma grande tranqüilidade (…) É nesse estado que pode dar-se a criação (…) (Idem, pág. 139-140)

(…) Separamos a mente dos sentimentos (…) a inteligência da mente e do coração, que para mim são uma só coisa. Inteligência é pensamento e sentimento em perfeita harmonia.
(A Luta do Homem, pág. 83)

(…) Entendo por pensamento, não o mero raciocínio intelectual, que é somente cinzas, mas o equilíbrio entre os sentimentos e a razão, entre os afetos e o pensamento; e esse
equilíbrio não é influenciado nem atingido pelo conflito dos opostos. (…) (A Luta do Homem, pág. 147-148)

(…) E a mente e o coração, que são para mim a mesma coisa (…) se debilitam e obscurecem pela memória (…) Mas, se fordes ao encontro do ambiente sempre renovados, sem a
carga dessa memória do passado, (…) vereis então surgir a compreensão de todas as coisas (…) (A Luta do Homem, pág. 113)

Assim, a própria ação destrói as ilusões, não a disciplina auto-imposta. (…) Isso abre imensas avenidas à mente e ao coração (…) Mas só podereis viver completamente quando
tiverdes percepção direta e a percepção direta não se atinge por meio de escolha (…) de esforço (…) Ela está na chama do apercebimento, que é a harmonia da mente e do coração
na ação. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 162-163)

Quando estiverdes apercebido, com a mente e o coração, da necessidade da ação completa, agireis harmoniosamente. Então todos os vossos temores, (…) barreiras, (…) desejo de
poder, de atingir - tudo isso se revelará, e as sombras da desarmonia dissipar-se-ão. (Idem, pág. 93)

Agora, já expliquei que o conflito não produz o pensar criador. Para se ser criador, para se produzir qualquer coisa, a mente precisa estar em paz, o coração cheio. (…) (A Arte da
Libertação, pág. 219)

Essa tranqüilidade da compreensão não é produzida por ato de vontade, porquanto a vontade é também parte do vir-a-ser, do ansiar. Só pode estar tranqüila a mente-coração
depois de cessar o tormento e o conflito do anseio. Assim como um lago se apresenta calmo após o vendaval, assim também está tranqüila a mente-coração, em sua sabedoria (…)
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143)

(…) Cumpre compreender esse anseio logo que se revele no nosso pensar-sentir-agir. Pela auto-vigilância constante, é possível compreender e transcender as tendências do anseio,
do vir-a-ser pessoal. Não dependais do tempo, mas buscai com ardor o autoconhecimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143-144)

(…) Poucos de nós estamos preparados para examinar um problema profundamente, e perceber o movimento de nosso próprio pensamento, sentimento e ação, como um todo geral,
integrado; (…) (A Arte da Libertação, pág. 133)

Mas, que é ação? Bem considerada, ela é aquilo que pensamos e sentimos. E enquanto não tiverdes percepção de vosso pensamento, de vossos sentimentos, tem de haver
insuficiência (…) (A Luta do Homem, pág. 81-82)

A ação é esse movimento que é, ele próprio, pensamento e sentimento (…) Essa ação é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Pois bem: se esse movimento do pensamento for
claro, simples, direto, espontâneo, profundo, não existirá então conflito no indivíduo, contra a sociedade, porque a ação é, nesse caso, a própria expressão desse movimento vivo e
criador. (A Luta do Homem, pág. 153)

Nessas condições, (…) Não há técnica de pensar, mas somente a espontânea ação criadora da inteligência, a qual é a harmonia da razão, do sentimento e da ação, não separadas
ou divorciadas entre si. (Idem, pág. 153)

Pensar criativamente é estabelecer harmonia entre a mente, o sentimento e a ação. Isto é, se estais convencidos de uma ação, em visardes a uma recompensa final, essa ação,
resultado da inteligência, afasta todos os óbices impostos à mente pela falta de compreensão. (A Luta do Homem, pág. 154-155)

Visto que a todos nós interessa a ação e que, sem ação, não se pode viver, é de toda necessidade entrarmos a fundo na questão e procurarmos compreendê-la plenamente. É uma
questão difícil, porque vivemos, em geral, uma vida desintegrada, seccionada (…) Assim, (…) precisamos verificar o que é atividade e o que é ação. (…) Há uma vasta diferença
entre atividade e ação. (…) (A Arte da Libertação, pág. 39)

(…) Muito importa compreender a distinção entre atividade e ação. Eu chamaria atividade à conduta de vida baseada em níveis independentes, (…) “desintegrados” - isto é,
queremos viver como se a vida estivesse num único nível, sem nos preocuparmos com os outros níveis, com outros campos da consciência. Se examinarmos tais atividades,
verificaremos que se baseiam em idéias, e a idéia é um “processo” de isolamento (…) e não de unificação. (…) (Idem, pág. 40)

(…) A “ação integrada” não nasce de uma idéia; nasce assim que compreendeis a vida como um processo total, não fragmentado em compartimentos separados, em atividades
separadas do todo da existência. (…) (A Arte da Libertação, pág. 41)

Nosso problema, portanto, é o de como agir “integralmente”, como um todo, e não em diferentes níveis não relacionados entre si. Para se agir como todo, (…) integralmente, é
óbvia a necessidade de autoconhecimento. O autoconhecimento não é uma idéia: é um movimento. (…) (Idem, pág. 41)

(…) Nessas condições, o homem sincero não deve deixar-se envolver na atividade, mas, sim compreender as relações, pelo processo do autoconhecimento. A compreensão do
processo do “eu”, do “meu”, na sua inteireza, traz a “ação integrada”, e essa ação é completa, não criará conflito. (Idem, pág. 41-42)

Existe uma ação que não seja resultado do movimento do pensar, (…) não condicionada por ideologias (…) criada pelo pensamento? Existe uma ação que esteja totalmente livre do
pensamento? Uma ação semelhante seria então completa, total, íntegra - não fragmentária, não contraditória. Uma ação assim seria uma ação total, na qual não haveria
arrependimento, nenhum sentido de “Eu houvera desejado não fazer isso”, ou “Tratarei de fazer aquilo”. A desordem surge quando opera o movimento do pensar; o pensamento
mesmo é fragmentário e, quando opera, tudo tem de ser fragmentário (…) Qual é uma ação sem pensamento? (La Totalidad de la Vida, pág. 196)

(…) Ação significa fazer agora, não fazer amanhã ou haver feito no passado. Como o amor, essa ação não é do tempo. O amor e a compaixão estão mais além do intelecto, (…) da
memória; são um estado da mente que assim atua [N.Revisor: há um erro gramatical aqui; examinar o texto em inglês], porque o amor e a compaixão são supremamente
inteligentes - e a inteligência atua. Onde há espaço há ordem, que é a ação da inteligência; esta não é minha nem de vocês, é inteligência que nasce do amor e da compaixão. O
espaço na mente implica que esta não se encontra ocupada; (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 196-197)

Estou, pois, alvitrando que só se tornará possível a verdadeira ação quando a mente compreender a totalidade de sua ocupação, tanto consciente como inconsciente, e conhecer o
momento em que cessou a ocupação. Vereis, então, que a ação resultante desses momentos de desocupação é a única ação “integrada”. Quando não está ocupada, a mente não
está contaminada pela sociedade, não é produto de inumeráveis influências, não é hinduísta nem cristã, nem comunista, nem capitalista. Por conseguinte, ela própria é uma
totalidade de ação, com que não tereis de ocupar-vos e em que não precisais pensar. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 78)

A ação é esse movimento, que é, ele próprio, pensamento e sentimento (…) Essa ação é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Ela é conduta, trabalho, cooperação, que
chamamos preenchimento. Isto é, quando a mente atua sem visar a uma culminância ou objetivo, e é portanto criador o seu pensar, esse pensar é ação (…) (A Luta do Homem, pág.
153)

(…) Intrinsecamente, o pensamento é um produto do tempo, é medida e, portanto, fragmentário. (…) Se o vêem claramente uma vez, então poderão descobrir que é a ação, uma
ação correta, precisa, na qual não há imaginação nem argumentações, nada senão o factual. (La Verdad y la Realidad, pág. 73-74)

Estamos tratando de descobrir que é a ação total, não fragmentária, a ação que não se acha presa no movimento do tempo, que não é tradicional e, portanto, não é mecânica. Quer
o indivíduo viver uma vida sem conflito, viver em uma sociedade que não destrua a liberdade e, assim, sobreviver, (…) (Idem, pág. 74)

Assim, a ação, como a conhecemos, é, na realidade, reação, incessante “vir-a-ser”, ou seja, negação, evitação do que é; mas quando estamos cônscios do vazio, sem escolha, sem
condenação, nem justificação, então, nessa compreensão do que é, há ação, e essa ação é o Ser criador. (…) (A Arte da Libertação, pág. 109-110)

Como disse (…), a inteligência é a solução única que produzirá a harmonia neste mundo de conflito, a harmonia entre a mente e o coração, na ação. (…) (Palestras em New York
City, 1935, pág. 27)

Ora, (…) A essência da inteligência reside na compreensão da vida ou da experiência com a mente e coração frescos, renovados e aliviados de fardos. (…) (Idem, pág. 49)

Compreendo a pergunta. (…) Quando há harmonia total - harmonia real, não imaginária - quando o corpo, o coração e a mente estão integrados de modo completo e harmonioso,
quando existe esse sentido de inteligência que é harmonia, e essa inteligência está usando o pensamento, haverá então divisão entre o observador e observado? Evidentemente, não.
Quando não existe harmonia, há fragmentação, e então o pensamento cria a divisão do “eu” e do “não eu”, o observador e o observado. (El Despertar de la Inteligência, pág. 177)

A harmonia é quietude. Existe uma harmonia entre o corpo, o coração e a mente, harmonia completa, sem dissonância. Ao passo que, se o corpo é sensível, se está ativo e não
deteriorado, tem sua própria inteligência. Deve o indivíduo possuir um corpo assim, vivo, ativo, não drogado. (…) (El Despertar de la Inteligencia, 1ª ed., pág. 174)

(…) E deve também ter um coração - não excitação, não sentimentalismo, nem emocionalismo, nem entusiasmo, senão esse sentido de plenitude, de profundidade, de qualidade e
energia que só pode existir quando há amor. E deve ter uma mente com um espaço imenso. Então há harmonia. (Idem, pág. 174-175)

Como, pois, há de a mente encontrar isso? [N.Revisor: É esse o sentido?] Estou seguro de que todos vocês (…) se perguntarão: como pode um indivíduo ter esse sentimento de
completa integridade, de unidade entre o corpo, o coração e a mente, sem sentido algum de distorção, divisão ou fragmentação? (…) Vocês vêem a realidade disso, (…) Vêem a
verdade de que devem ter completa harmonia dentro de si, na mente, no coração e no corpo. Como podem vocês chegar a isso? (El Despertar de Ia Inteligencia, II, pág. 175)

Pois bem, (…) Como dissemos, quando há harmonia há silêncio. Quando a mente, o coração e o organismo estão em harmonia completa, há silêncio; porém, quando um dos três se
deforma, se perverte, o que há é ruído. (…) Porém quando vocês vêem a verdade disso - a verdade, não o que “deveria ser” - quando vêem que isso é o real, então é a inteligência
que o vê. Portanto, é a operação da inteligência a que produzirá esse estado. (Idem, pág. 175)

O pensamento é do tempo, a inteligência não é do tempo. A inteligência é imensurável - não a inteligência científica, (…) a de um técnico, ou a de uma dona-de-casa, ou a de um
homem que conhece muitíssimo. Isso está dentro do campo do pensamento e do conhecido. Quando a mente se acha em completo silêncio (…) só então há harmonia total, imenso
espaço e silêncio. Somente então o imensurável é. (Idem, pág. 175-176)

Pergunta: A harmonia surge quando finda o conflito?

Krishnamurti: Quero descobrir o que é harmonia entre a mente, o corpo e o coração, a completa sensação de ser total, sem fragmentação, sem super-desenvolvimento do intelecto,
mas com o intelecto operando claramente, objetivamente, sã mente; e o coração operando não com sentimento, emocionalismo, exaltação histérica, mas com uma qualidade de
afeição, cuidado, amor, compaixão, vitalidade; e o corpo com sua própria inteligência, não influenciada pelo intelecto. O sentimento de que tudo está operando, funcionando
belamente como uma maravilhosa máquina é importante. É possível? (Exploration into Insight, pág. 52)

Há integração, quando somos capazes de observar os fatores da desintegração. A integração não está num ou noutro nível da nossa existência, ela é a reunião do todo. Antes que
isso seja possível, temos de descobrir o que significa desintegração (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 192)

Pergunta: Qual a maneira de alcançar a integração?

Krishnamurti: Que quer dizer integração? Não significa completar-se, viver sem conflito nem sofrimento? Em geral tentamos a integração nas camadas superficiais da consciência;
procuramos Integrar-nos a fim de funcionarmos normalmente dentro do padrão da sociedade; desejamos ajustar-nos a um ambiente, que aceitamos como normal; mas não
impugnamos o valor da estrutura social que nos circunda. A aquiescência a um padrão é considerado integração; a educação e a religião organizada facilitam-nos essa
aquiescência. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 132-133)

A integração não tem significado mais profundo do que o mero ajustamento à sociedade e seus padrões? (…) Não é a integração o ser puro, e não apenas a satisfação de nosso
desejo de nos tornarmos um todo, (…) “normais”? (…) O impulso à integração pode resultar da ambição, do desejo de mando, do temor à insuficiência, etc. (…) Há uns poucos que
reprimem o anseio de prosperidade material, mas dão guarida ao desejo de se tornarem virtuosos, serem mestres, alcançarem a glória espiritual. Também aqui não temos a
verdadeira integração. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 133-134)

(…) Dá-se a verdadeira integração quando, por todas as camadas da consciência, existe percepção e compreensão. Nossa consciência superficial é fruto da educação, de
influências, e é só quando o pensamento transcende as limitações por ele próprio criadas, que pode haver a verdadeira integração. As numerosas partes adversas e contraditórias
de nossa consciência só podem integrar-se quando já não existe a causa dessas divisões: dentro do padrão do “eu”, só pode haver conflito, nunca integração, plenitude. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 134)

Verifica-se a integração quando estamos livres do anseio. Não é ela um fim, em si, mas se buscardes o autoconhecimento, sempre com profundeza, tornar-se-á a integração o
caminho por onde alcançareis a Realidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 134)

Ora, a inteligência, sem dúvida, só pode surgir quando sois livres para pesquisar, livres para pensar, livres para impugnar todas as tradições, para que nossa mente se torne muito
ativa, muito lúcida e sejais, como indivíduo, uma entidade “integrada”, plenamente eficaz, - e não uma entidade assustada que nunca sabe o que lhe cumpre fazer e, por isso,
obedece, sentindo intensamente uma coisa e sendo obrigada a ajustar-se a outra exteriormente. (…) Por isso, interiormente, há um conflito constante. (Novos Roteiros em
Educação, pág. 33)

Ora, por certo, quando o falso é percebido como falso, o verdadeiro existe. Quando se está cônscio dos fatores da degeneração, não apenas verbalmente, mas profundamente, não
há integração? (…) A integração não é um alvo, um fim, mas um estado de ser; é uma coisa viva, e como pode uma coisa viva ser alvo, objetivo? (…) Quando não há conflito, há
integração. A integração é um estado de completa atenção. Não pode haver atenção completa quando há esforço, conflito, resistência, concentração. (Reflexões sobre a Vida, pág.
61)
Intuição (Insight); Verdadeira, Falsa, Impulso
Que entendemos por intuição? Por sentimento intuitivo, entendemos um sentimento não racionalizado, não muito logicamente pensado, um sentimento que atribuímos a uma fonte
situada fora da mente, a que chamamos um lampejo da consciência superior. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 200)

Sem compreender integralmente o processo do desejo, não podeis confiar na intuição, pois ela pode ser extraordinariamente enganosa. (…) Não alegueis que os cientistas têm a
percepção intuitiva de um problema. Os cientistas trabalham, impessoalmente, lutam com o problema, lutam, lutam, e, não conseguindo achar a solução, põem-no de lado; quando
recomeçam a trabalhar, vêem subitamente a solução - eis a sua intuição. (…) (Idem, pág. 201)

Acontece com a maioria de nós que a mente-coração não é capaz de permanecer aberta para tal êxtase. A “inspiração” é acidental, não provocada, grande demais para a nossa
mente-coração. A inspiração é maior do que aquele que a experimenta, e por isso procura ele baixá-la ao seu próprio nível, à órbita de sua compreensão. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 107)

Pergunta: “Insight” não é intuição? O senhor poderia discutir essa súbita clareza que algumas pessoas têm? (…)

Krishnamurti: Durante as várias palestras já realizadas, o orador tem usado a palavra “insight”. Isso significa ver dentro das coisas, dentro do mecanismo total do pensamento (…)
Não é análise, não é exercício da capacidade intelectual, nem resultado do conhecimento. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 20)

Essa palavra, “intuição”, é, pode-se dizer, uma palavra ardilosa, que muitos usam. A realidade da intuição pode ser resultado do desejo. Uma pessoa pode desejar algo e, então,
após alguns dias, ter uma intuição sobre isso. (…) Fica-se então em dúvida quanto a essa palavra, especialmente quando é usada por pessoas um tanto românticas, imaginativas,
sentimentais e que buscam algo. (Idem, pág. 20-21)

Portanto, o que é “insight”? É perceber algo instantaneamente, algo verdadeiro, lógico, sensato, racional. O insight deve operar instantaneamente. Não se trata de se ter um
insight e não se fazer nada a respeito. Se a pessoa tem um insight dentro da natureza total do pensamento, há uma ação instantânea. (Perguntas e Respostas, pág. 21)

Por outro lado, um insight significa que há uma ação que não é uma simples repetição do pensamento. Ter um insight (…) significa que se está observando sem recordações, sem
argumentação pró e contra, é somente observar o movimento e a natureza totais da necessidade (…) Uma pessoa tem um insight disso e, a partir daí, ela age. E essa ação é lógica,
sensata e saudável. Uma pessoa não pode ter um insight e agir de modo oposto; isso não é um insight. (Idem, pág. 21)

Insight é a percepção total de todo esse movimento complexo de mensuração. Você só pode ter esse insight quando percebe sem conhecimento prévio, pois, se estiver usando seus
conhecimentos, então ele é comparativo, mensurável.

O insight não é mensurável. Quando há o insight imensurável, o desdobramento de todo o mecanismo de comparação não só é dividido, mas cessa imediatamente. Você pode testar
isso; (…) (Perguntas e Respostas, pág. 113)

Pergunta: A intuição compreende a experiência passada e mais alguma coisa, ou somente a experiência passada?

Krishnamurti: Para mim, intuição é inteligência, e inteligência não é a experiência do passado, mas a compreensão dessa experiência. (A Luta do Homem, pág. 51)

Para mim, o passado é uma carga, e representa apenas lacunas na compreensão. (…) Mas, se houver ação espontânea no presente, em contínuo movimento, nela haverá
inteligência, e essa inteligência é intuição. A inteligência não pode separar-se da intuição. (Idem, pág. 51-52)

Como pode o indivíduo despertar essa inteligência, essa intuição criadora que compreende o significado da realidade sem o processo da análise e da lógica? Por intuição não
quero dizer preenchimento do desejo, como faz a maioria das pessoas. Se a moral, que significa relações mútuas, for baseada na inteligência e na intuição, então haverá riqueza,
plenitude e uma constante beleza na vida. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 31)

Para que possa vir à existência essa intuição criadora, todo anseio com seus temores deve cessar. A cessação da carência não é resultado da abstenção. Nem por meio da análise
cuidadosa pode o desejo ser racionalmente afastado. A libertação da carência, de seus temores e ilusões, vem por meio da percepção silenciosa e persistente, sem a escolha
deliberada da volição (…) (Idem, pág. 31-32)

Ora, quando é que compreendeis (…) Não sei se já notastes que só há compreensão quando a mente está muito quieta (…); dá-se o lampejo da compreensão quando não há
verbalização do pensamento. Experimentai-o e vereis que tendes o clarão da compreensão, aquela extraordinária rapidez da intuição, quando a mente está muito tranqüila, quando
o pensamento está ausente (…) (O Que te Fará Feliz? pág. 107)

Explicarei novamente (…) Se entenderdes isto, se realmente sentirdes com todo o vosso ser - isto é, emocional e mentalmente - a futilidade da escolha, então já não escolhereis;
então há discernimento; há resposta intuitiva que é livre de escolha, e isso é apercebimento. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 33)

É preciso muito cuidado com esta palavra “intuição”; nela se encerra muita ilusão, porquanto a intuição pode ser ditada por nossas próprias esperanças, temores, amarguras,
desejos, etc. Procuramos uma solução de ordem intelectual ou emocional, como se o intelecto fosse coisa separada da emoção, e a emoção, da reação física. (A Questão do
Impossível, pág. 41)

Não estou negando que haja intuição, porém o que a pessoa mediana, vulgar, denomina intuição, não é a verdadeira (Palestras em Auckland, 1934, pág. 76-79)

A palavra “intuição” (…) é perigosa em extremo. Desejo uma certa coisa muito profundamente; sinto que é um desejo justo, e chamo-o “intuição”. (…) Só de uma coisa sabemos:
que nossa mente, tal como os macacos, está sempre inquieta, a fazer algazarra, a saltar de um lado para outro, a mexer-se incessantemente, a pensar, a afligir-se. (…) Dizemos
então: “Como exercitá-la para quietar-se?”. Passamos anos e anos a exercitá-la para quietar-se e, ao cabo desse tempo, ela se torna um macaco de outra espécie. (O Mistério da
Compreensão, pág. 81)

Krishnamurti: Quando falamos de intuição, voz interior, que quer dizer isso? Essa voz interior pode ser completamente falsa. (…) Estou procurando averiguar se a intuição é
verdadeira ou falsa. Ora, sem dúvida, enquanto não compreendemos o processo do desejo, consciente (…) e inconsciente, não podemos fiar-nos na intuição, porque o desejo pode
conduzir-nos a certos “fatos” que não são fatos absolutamente. (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 37)

(…) Pelo discernimento sem escolha, se desperta a intuição criadora, a inteligência que é a única a poder libertar a mente-coração dos múltiplos processos sutis da ignorância, da
carência e do medo. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 55)

A crença não deve ser confundida com a intuição, e a intuição não é preenchimento de desejo. A crença (…) baseia-se na evasão, na frustração, na limitação, e essa mesma crença
impede a mente-coração de dissolver a ignorância autocriada. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 29)

(…) Não estando diretamente em contacto com um Mestre, precisamos depender ou dum intermediário, ou de nossa chamada intuição. A dependência de um intermediário destrói a
compreensão e o amor; (…) condiciona a mente; e a chamada intuição tem seus graves perigos, pois ela pode ser somente um desejo auto-enganador. (Palestras em Ojai e Saróbia,
1940, pág. 77-78)

O importante ,pois, é que se perceba a verdade num súbito clarão, que se esteja sensível num tão alto grau, que o fato revele instantaneamente a verdade. Mas isso requer muita
humildade; (Visão da Realidade, pág. 239)

(…) Quanto mais harmonizarmos os nossos sentimentos fortes e a mente penetrante pelo aperfeiçoamento e purificação, tanto mais aptos estaremos para ouvir essa Voz, a Intuição,
que é comum a todos, a Intuição que é da Humanidade e não de um indivíduo particular (…) (O Reino da Felicidade, pág. 9)
Assimilando esse ideal (…) Uma perfeita harmonia de emoções e da mente é essencial para que essa Intuição, essa Voz do vosso verdadeiro Ego (Self) se possa expressar. A
Intuição é o cochicho do Espírito. (O Reino da Felicidade, pág. 9)

(…) Se nesse momento entenderdes com todo o vosso ser, se nesse momento ficardes consciente da futilidade da escolha, então brotará daí a flor da Intuição, a flor do
discernimento. A ação que daí nasce é infinita; então a ação é a própria vida. (Palestra na Itália e Noruega, 1933, pág. 35)

Para cultivar essa Voz até se tornar o único Tirano, a única Voz a que obedecemos, temos de descobrir o nosso alvo e trabalhar incessantemente para atingi-lo. (…) A primeira
coisa essencial é o fortalecimento dessa Voz que de vez em quando se afirma por si mesma em cada um de nós. E ao cultivarmos e enobrecermos a Intuição, devemos aprender a
pensar e a agir por nós mesmos. O culto dessa Voz da Intuição quer dizer uma vida de acordo com os seus éditos. (O Reino da Felicidade, pág. 6)

(…) Quando tendes esse desejo, essa capacidade de vos encher com o Seu gênio, com a Sua força, com a Sua nobreza, então vós próprios vos enobreceis e aprendeis a refletir a Sua
divina originalidade, todas as fontes de beleza, de criação; e as tentativas de ser original, belo, criador, são de pouco proveito se não tivermos a compreensão e a capacidade de
alcançar a fonte das coisas. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 28)

A única autoridade que reconheceis, o único comando que admitis, deve ser a Voz dessa Intuição, que é inalterável, que coisa alguma no mundo pode abalar. Desse modo
desenvolvereis gradualmente esse senso de beleza, que é vossa própria criação (…) (O Reino da Felicidade, pág. 39)

Deveis viver lá vossa própria vida, obedecer à vossa própria Voz, achar vosso próprio Mestre (…) Não podeis ser felizes enquanto não fizerdes a felicidade de outros, e só podeis
tornar outros felizes, se houverdes entrado nesse Reino, se houverdes colhidos os murmúrios daquela Voz que é Eterna (…) (O Reino da Felicidade, pág. 58-59)

E, como disse antes, deve vir um tempo, virá um tempo, em que aquela Voz, aquele Tirano, vos dirá que renuncies a tudo e a sigais; e para esse tempo deveis estar preparados.
Deveis ter o vosso jardim bem sachado e cultivado, e as suas flores prontas a serem colhidas. Então podereis dar da vossa devoção, da vossa inteligência, com maior certeza, com
maior conhecimento de que elas serão aproveitadas, porque as exercitastes, porque as cultivastes, porque conheceis a capacidade delas; (…) (O Reino da Felicidade, pág. 76)

Enquanto marchardes com visão clara, enquanto ouvirdes essa Voz que é universal e a ela obedecerdes, não importa o que diga quem quer que seja no mundo; porque estareis com
a razão, quando estiverdes obedecendo ao Altíssimo. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 19)

Como o trovão é cheio de forças, ameaças e mistério, assim é a Voz da Verdade no homem forte. Como a voz do trovão é projetada de montanha em montanha, e como cada
montanha a recebe e devolve a outra, assim é a voz dEle - o nosso Governador, nosso Legislador, nosso Guia e nosso Amigo - no homem que está seguindo a Verdade absoluta, a
Verdade de sua própria criação. (O Reino da Felicidade, pág. 90)

Como, porém, posso ter essa visão intuitiva? O que devo fazer, ou não fazer, para ter essa visão intuitiva instantânea, que não pertence ao tempo, (…) à memória, que não possui
nenhuma causa (…)? Portanto, como a mente tem essa visão intuitiva? (…) Essa visão intuitiva torna-se possível se a sua mente estiver liberta do tempo. (A Eliminação do Tempo
Psicológico, pág. 77)

(…) Antes, a ação estava baseada no pensamento. Agora, quando existe visão intuitiva, há somente ação. (…) Porque a visão intuitiva é racional, a ação é racional. A ação se torna
irracional quando atua a partir do pensamento. Portanto, a visão intuitiva não usa o pensamento. (Idem, pág. 86)

Uma visão intuitiva parcial. Os cientistas, os pintores, os arquitetos, os médicos (…) têm uma visão intuitiva parcial. Estamos falando, porém, de “X” e de “Y”, que estão
procurando a base; estão se tornando racionais, e estamos dizendo que a visão intuitiva não possui tempo e, portanto, não possui pensamentos, e essa visão intuitiva é ação. (…)
(Idem, pág. 86)

É possível termos uma visão intuitiva total, o que representa o fim de “mim”, porque o “mim” é o tempo? O “mim”, meu ego, minha resistência, minhas mágoas, tudo isso. Esse
“mim” pode acabar? É somente quando ele acaba que ocorre a visão intuitiva total; foi isso que descobrimos. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 91)

Porque se você possui essa visão intuitiva, ela é uma paixão, e não apenas uma hábil visão intuitiva; ela é uma paixão que não permitirá que fique parado; terá de se mover, dar
seja lá o que for. (…) Você possui a paixão dessa visão intuitiva; e essa paixão é como um rio com um grande volume de água que transborda; ela tem de avançar da mesma
maneira. (Idem, pág. 105-106)

Não necessariamente. Poderíamos considerar que a visão intuitiva é um movimento mais amplo do que o processo material que ocorre no cérebro e, conseqüentemente, que o
movimento mais amplo pode agir sobre o movimento mais restrito, mas o mais restrito não pode agir sobre o mais amplo. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 139)

Sim, estamos dizendo a mesma coisa. (Idem, pág. 139) [N.Revisor: Este parágrafo não acrescenta coisa alguma à obra. Sugiro eliminá-lo.]

Uma coisa acaba de surgir na minha mente. O amor não tem nenhuma causa. O ódio tem uma causa. A visão não tem nenhuma causa. O processo material, como o pensamento,
tem uma causa. Certo? (Idem, pág. 143)

Uma vez que a visão intuitiva não possui causa, ela tem um efeito preciso sobre aquilo que tem causa. (Idem, pág. 143)

É um lampejo, naturalmente, e esse lampejo altera todo o padrão, opera sobre ele; usa o padrão, no sentido de que eu argumento, raciocino, uso a lógica, e tudo isso. (…) (Idem,
pág. 144)

O processo material está trabalhando na escuridão, no tempo, no conhecimento, na ignorância. Quando, surge a visão intuitiva, ocorre a eliminação daquela escuridão. Isso é tudo
que estamos dizendo. A visão intuitiva elimina aquela escuridão (…) Conseqüentemente, essa luz alterou, digo, ela pôs fim à ignorância. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág.
147)

(…) Essa escuridão existe enquanto o “eu” (self) está ali; ele é o criador dessa escuridão, mas a luz dissipa exatamente o centro da escuridão. Isso é tudo. (…) (Idem, pág. 149)

O pensamento tem atuado na escuridão, criando sua própria escuridão e funcionando nela; e a visão intuitiva é, como dissemos, como um lampejo que atravessa a escuridão.
Quando, então, essa visão intuitiva clareia a escuridão, o homem pode atuar, ou funcionar racionalmente? (Idem, pág. 159)

Dissemos que, enquanto o centro estiver criando a escuridão, e o pensamento estiver operando nela, haverá desordem e a sociedade será como é agora. Para nos afastarmos disso,
temos de ter a visão intuitiva. A visão intuitiva só pode ocorrer quando há um lampejo, uma luz, uma luz repentina, que elimina não apenas a escuridão como também o seu criador.
(A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 162)

Não está ligada ao tempo. Dissemos que a visão intuitiva é a eliminação da escuridão, que é o próprio centro do “eu” (self) (…) A visão intuitiva dissipa exatamente esse centro. (A
Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 160)

Naquela base não há escuridão como escuridão, ou luz como luz. Naquela base não há divisão. Nada tem origem na vontade, no tempo, ou no pensamento.

D.B. [N.Revisor: Essas iniciais não significam nada para os novos leitores. Precisamos especificar que é o David Bohm]: Está dizendo que aquela luz e aquela escuridão não estão
divididos?

Krishnamurti: Exatamente.

D.B.: O que é a mesma coisa que dizer que não há nem uma nem outra coisa?

Krishnamurti: Nem uma nem outra; é isso mesmo. Há algo mais. Há uma percepção de que existe um movimento diferente, que é “não-dualista” (A Eliminação do Tempo
Psicológico, pág. 171)
Quero me referir ao movimento, o movimento que não é tempo. Esse movimento não cria divisão. Portanto, quero voltar, chegar à base. Se, nessa base, não há nem escuridão nem
luz, não há divisão - o que acontece então? (Idem, pág. 171)

Dissemos que o movimento é energia total. Essa visão intuitiva captou, viu, esse extraordinário movimento, e ele é parte dessa energia. (Idem, pág. 179)

Progresso; Relativo na Alma, Não Ocorre no Espírito


Pensamos que há progresso, evolução, que através do tempo alcançaremos um resultado; (…) sendo esse resultado a união com a realidade. Falamos do progresso evolutivo do
homem, dizemos que, com o tempo, “viremos a ser” alguma coisa - se não nesta vida, na vida futura. Isto é, (…) evolvemos para algo maior, mais belo, mais digno, etc. (A Arte da
Libertação, pág. 134)

Pois bem, existe a possibilidade de vos tornardes mais sábio, mais belo, mais virtuoso, mais aproximado da realidade, pelo processo do tempo? É o que queremos dizer, quando
falamos de evolução. Existe, obviamente, uma evolução fisiológica, (…) mas existe um desenvolvimento psicológico, evolução psicológica, ou se trata apenas de uma fantasia de
nossa mente? (…) (Idem, pág. 134)

Ora, para vos tornardes alguma coisa, precisais especializar-vos (…) - e tudo o que se especializa, logo morre, declina, porque a especialização implica sempre falta de
adaptabilidade. (…) Isto é, o autoconhecimento é um processo de especialização? Se é, então esse processo de especialização destrói o homem - e é isso o que está acontecendo.
(…) (Idem, pág. 134-135)

Pergunta: Qual a vossa idéia de evolução?

Krishnamurti: É óbvio (…) o simples tornando-se mais complexo será evolução? Ao falardes em evolução não pensais apenas na evolução da forma. Pensais na sutil evolução da
consciência a que chamais o “eu”. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 82)

Disto surge a pergunta: Haverá crescimento, uma continuidade futura? Pode o “eu” tornar-se onicompreensivo, perdurável? (Idem, pág. 82)

Aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. O que é perdurável está indo-a-ser. Vós me perguntais se o “eu” evolui, se se torna glorioso, divino. (Idem, pág. 82)

(…) Com relação à continuidade, precisamos apreciar a idéia de que existe em nós uma essência espiritual, a qual é contínua. (…) Tudo quanto é, em essência, atemporal, eterno.
Se assim é, então é evidente que o atemporal, o eterno, é algo que transcende o nascer e o morrer. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 135)

Ora, que é isso que chamamos continuidade? Que é que continua? De duas coisas, uma: ou é uma entidade espiritual e, por conseguinte, fora do tempo, ou é, simplesmente, a
memória, dando continuidade a si mesma, por meio do resíduo da experiência. (…) Isto é, se sou uma entidade espiritual, então sou atemporal; logo, não há continuidade. Porque o
que é espiritualidade, verdade, divindade, está fora do tempo (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 61)

Se isso que eu sou é uma entidade espiritual, ela deve ser sem continuidade, não pode progredir, não pode crescer, não pode vir-a-ser (…) Então, a vida e a morte são uma coisa só,
há então atemporalidade, eternidade. (…) (Idem, pág. 61)

(…) O que continua não tem renovação, não tem frescor, não tem novidade, porque está apenas continuando o que foi ontem, numa forma modificada. (…) Não há renovação por
meio da memória, (…) da continuidade; só ocorre renovação quando há um término (…) quando há morte, quando a idéia cessa. Então, todos os dias há renovação. (…) (Da
Insatisfação à Felicidade, pág. 63)

Evolução, no sentido de extensão da própria individualidade através do tempo, é uma ilusão. O que é imperfeito, (…) ainda que multiplicado e aumentado, permanecerá sempre
imperfeito. (…) Ora, é vão aumentar ao enegésimo grau esta autoconsciência que é separação; ela permanecerá separada porque tem as suas raízes na separação. Portanto, a
amplificação deste “eu sou”, que é separação, não pode conduzir ao universal. (…) (Experiência e Conduta, em Carta de Notícias” de maio-junho de 1941, pág. 3)

Pergunta: A evolução nos ajudará a encontrar Deus?

Krishnamurti: Não sei o que entendia por “evolução” nem (…) por “Deus”. Essa questão me parece bastante importante (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 132)

E o interrogante deseja saber se, através do tempo, se pode chegar ao conhecimento daquilo que se acha além do tempo. (…) Somos escravos do tempo; nossa mente, toda ela, só
pensa em termos de ontem, de hoje ou de amanhã. (…) Existe alguma coisa na mente que está fora do tempo - o espírito (…) O que é suscetível de desenvolvimento, evolução,
“vir-a-ser”, não é parte do eterno (…) (Idem, pág. 133)

Pergunta: Acreditais no progresso?

Krishnamurti: Há o movimento da chamada progressão do simples para o complexo. Existe o processo de constante ajustamento ao ambiente, que promove transformações ou
mudanças, (…) “Progredimos”!:possuímos rádios, cinemas, rápidos meios de transporte (…) Temos habitações maiores e mais confortáveis, mais luxo, (…) entretenimentos (…)
Pode considerar-se progresso, isso? É progresso a expansão do desejo material? Ou reside o progresso na compaixão? (O Egoísmo e o problema da Paz, pág. 140-141)

Existe progresso no campo da ciência mecânica, e a conquista do espaço. Entretanto, não me refiro a essa espécie de progresso, porque o progresso na ciência mecânica será
sempre transitório (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 150-151)

Não pode haver preenchimento para o homem no progresso mecânico. (…) Quando falamos de progresso, aplicado ao que chamamos crescimento individual, que queremos dizer
com isso? Queremos dizer a aquisição de mais conhecimento, de maior virtude, que é preenchimento. (…) (Idem, pág. 151)

Vós adorais o sucesso. Vosso deus é o sucesso, que vos confere títulos, diplomas, posição e autoridade. Há uma constante batalha dentro de vós mesmos - a luta por alcançardes
aquilo que desejais. Nunca tendes um momento tranqüilo, nunca existe paz em vosso coração, porque estais sempre a esforçar-vos por vos tornardes alguma coisa, por
progredirdes. (Por que não te Satisfaz a Vida? pág. 50)

Não vos deixeis seduzir pela palavra “progresso”. As coisas mecânicas progridem, mas o pensamento humano nunca pode progredir senão no seu próprio “vir-a-ser”. Move-se o
pensamento do conhecido para o conhecido; mas isso não é crescimento, não é evolução, não é liberdade. (Idem, pág. 50)

(…) Não entendemos por evolver o constante vir-a-ser do indivíduo, do seu “ego”, que acumula e rejeita, que é ávido e quer ser não ávido - o movimento interminável do vir-a-ser?
A natureza mesma do “ego” é de criar contradição. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 100)

Entendemos também por progresso o constante expandir do desejo, do “ego” (…) Ora, nesse processo de expansão, de vir-a-ser, podemos em algum tempo chegar ao fim do
conflito e da aflição? (…) Se é para a continuação das lutas e dos sofrimentos, que valor tem o progresso, a evolução do desejo, a expansão do “ego”? (…) Mas, não é da própria
natureza do anseio criar e alimentar o conflito e o sofrimento? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 141)

O “ego”, esse feixe de lembranças, é o resultado do passado, produto do tempo; e esse “ego”, por mais que evolva, será capaz de conhecer o Atemporal? Pode o “eu”, com o
tornar-se maior e mais nobre, no correr do tempo, sentir o Real? (Idem, pág. 142)

Desejais “progresso” e felicidade ao mesmo tempo, e aí é que está a dificuldade. (…) Desejais a expansão de vosso “ego”, mas sem o conflito, o sofrimento que inevitavelmente a
acompanham. Temos medo de nos ver assim como somos; procuramos fugir da realidade e a essa fuga chamamos “progresso” ou busca da felicidade. (…) (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 205-206)
Acreditamos que, se não “progredirmos”, nos deterioraremos; que nos tornaremos indolentes, infensos ao pensar (…) Nossa educação e o mundo que criamos nos ajudam a fugir;
todavia, para sermos felizes, precisamos conhecer a causa do sofrimento. Conhecer a causa do sofrimento, e transcendê-la, significa encará-la, frente a frente, e não buscar refúgio
em ideais ilusórios ou outras atividades do “ego”. A causa do sofrimento é a expansão do “ego”. (…) (Idem, pág. 206)

Pergunta: Já dissestes que o esclarecimento jamais nos poderá vir pela expansão pessoal; mas não vem ele com a expansão da consciência individual?

Krishnamurti: O esclarecimento, a compreensão do Real, não poderá vir, nunca, pela expansão do “ego”, por um esforço realizado pelo “ego” no sentido de crescer, “vir-a-ser”,
alcançar algo - e esforço algum está separado da vontade, do “ego”. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 199-200)

Precisamos conhecer (…) É claro que há desenvolvimento físico, a plantinha se converte numa grande árvore; há o progresso técnico (…) Mas há progresso psicológico, evolução
psicológica? É disso que estamos tratando: se há um desenvolvimento, uma evolução do “eu” (…) Pelo processo da evolução, através do tempo, pode o “eu”, centro do mal,
tornar-se nobre, bom? Não pode (…) (Claridade na Ação, pág. 141-142)

Pensamos que, no processo do tempo, no crescer e transformar-se, o “eu” se tornará, no fim, realidade. (…) Que é esse “eu”? É um nome, uma forma, um feixe de lembranças,
esperanças, frustrações, ânsias, dores, sofrimentos e alegrias passageiras. Queremos que esse “eu” subsista e se torne perfeito (…) (Idem, pág. 142)

Se admitirmos a possibilidade e evolução e progresso psicológico, nesse caso temos de admitir também o tempo. Mas o tempo é produto do pensamento. E o pensamento (…) é
sempre velho. Ele pode transformar-se, modificar-se, ser aumentado ou diminuído, mas será sempre pensamento, reação da memória, pertence ao passado. (…) Se não há tempo
psicológico (como não há), estais então em contato com “o que é” e não com o que “deveria ser”. (…) Repito, “o que deveria ser” é uma invenção, uma fuga ao fato - “o que é”
(…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 144)

Essa idéia de crescer progressivamente é falsa, para mim, porque aquilo que cresce não é eterno. Já se demonstrou alguma vez, que quanto mais tendes, mais entendeis? (Palestras
em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 32)

Um homem aumenta sua propriedade e nela se encerra; outro aumenta seu conhecimento e por ele fica limitado. Qual a diferença? Esse processo de crescimento acumulativo é
superficial, falso desde o próprio começo, porque aquilo que é capaz de crescer não é eterno. (Idem, pág. 32-33)

(…) Quando pensamos em termos de progresso, desenvolvimento, não estamos pensando e sentindo dentro de padrão do tempo? Existe um vir-a-ser, um modificar e alterar, no
plano horizontal; esse vir-a-ser conhece a dor e a tristeza, mas conduzirá ele à Realidade? Não; porque o vir-a- ser condiciona-nos ao tempo. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 143)

Só há vir-a-ser e evolver no plano horizontal da existência, mas conduz isso ao Atemporal? A potência criadora só pode ser conhecida depois de abandonado o plano horizontal.
(…) Por meio do tempo não se pode conhecer o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 99)

Pensamos em termos de passado, presente e futuro (…) Pensamos e sentimos em termos de acumulação (…) “Ser” não é totalmente diferente de “vir-a-ser”? Só compreendendo o
processo e a significação de “vir-a-ser”, podemos “ser”. (…) Quando percebeis a imensidade do “ser”, há então silêncio (…) (Idem, pág. 142-143)

(…) Devemos pôr de lado todas essas coisas e chegar-nos ao problema central, que é: Como dissolver o “eu”, que nos prende ao tempo, e no qual não existe nem amor nem
compaixão? Só é possível passarmos além, depois que a nossa mente não mais se divida em pensador e pensamento, quando (…) pensador e pensamento são uma só unidade, só
então há silêncio, (…) não há fabricação de imagens, nem a expectativa de “mais” experiência. Nesse silêncio não há nenhum experimentador experimentando, e só então há uma
revolução psicológica criadora. (Claridade na Ação, pág. 145)

Uma vez cônscia de todo esse processo do “eu”, em sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação, só com a revolução - não pela evolução, não com o “eu” na
atividade de vir-a-ser, mas sim pelo completo findar do eu”, há o novo. O processo do tempo não pode trazer o novo; o tempo não é caminho da criação. (Quando o Pensamento
Cessa, pág. 220)

Assim (…) Dizeis: “eliminai, libertai a mente desta consciência de “mim mesmo”, como um “eu”, e então o que é que permanece?” O que resta quando sois sumamente felizes,
criativos? O que permanece é essa felicidade. (…) Existe este admirável sentimento de amor ou este êxtase. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 116)

(…) Digo-vos que não posso descrever (…) exprimir em palavras essa vivente realidade que está além de toda idéia do progresso, de crescimento. (…) (Coletânea de Palestras,
1930-1933, pág. 44)

Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas. Portanto, a idéia de que necessitais progredir em direção à realidade é uma idéia falsa. Não se pode
progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se
percebe a si mesma como separada. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 18)

Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não tem futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente.
Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranqüilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim, a realização desta verdade é a finalidade do
homem. (Idem, pág. 18)

Ordem, Desordem do Pensamento; Fatores, Efeitos


O pensamento é necessário em certas áreas, mas o pensamento psicológico sempre traz desordem. Quando o pensamento psicológico está ausente, a mente por si mesma está em
ordem. (The World of Peace, pág. 90)

O pensamento criou a desordem através do conflito entre o que “é” e “o que deveria ser”, o real e o teórico. O pensamento olha para a forma real, de um limitado ponto de vista e,
portanto, sua ação deve inevitavelmente criar desordem. Você encara isso como uma verdade, uma lei - ou apenas como uma idéia? Entende? Sou ambicioso, ávido - isso é “o que
é”. Mas o oposto - “o que deveria ser” - tem sido criado pelo ser humano na tentativa de entender “o que é”, e também como um meio de escapar ao “que é”. Mas só há “o que é”.
E quando você percebe “o que é” sem o seu oposto, então essa percepção traz a ordem. (Idem, pág. 90)

Pergunta: O cérebro tenta criar ordem. É isso um processo dualístico ou não-dualístico?

Krishnamurti: Vou explicar-lhe. As células do cérebro exigem ordem. Do contrário, não podem funcionar. Não há dualidade nisso. Durante o dia, há desordem porque o centro está
alerta, o centro é a causa da fragmentação; a fragmentação é conhecida somente por meio de fragmentos; não é consciente da totalidade dos fragmentos e, por isso, não há ordem;
conseqüentemente vive em desordem. É a desordem. (…) (Exploration into Insight, pág. 123)

Krishnamurti: As células do cérebro precisam de ordem; sem isso, se tornam neuróticas, destrutivas. Isso é um fato. As células do cérebro estão sempre exigindo ordem, e o centro
está sempre criando fragmentação. Essa ordem é negada quando há um centro, porque o centro está sempre produzindo destruição, conflito e tudo o mais, que é a negação da
segurança, (…) da ordem. Não há dualidade. Esse processo continua. O cérebro dizer: “devo ter ordem”, não é dualidade. (Idem, pág. 123)

Pergunta: Espere, você não está respondendo à minha pergunta. (…) Estou perguntando, como é que você fica consciente dessa desordem. Se é o centro que está consciente da
desordem, então é ainda desordem. (Exploration Into Insight, pág. 124)

Krishnamurti: Você percebe que, quando o centro está consciente de que isso é desordem, então ele cria a dualidade de ordem e desordem. Desse modo, como você observa a
desordem, sem ou com o centro? Se é uma observação com o centro, há divisão. Se não há observação do centro, então há somente desordem. (Idem, pág. 124)

(…) Onde há o centro, há desordem. A desordem é o centro. Como fica você consciente? Está o centro consciente da desordem ou há somente desordem? Se não há centro para
estar consciente da desordem, há completa ordem. Então os fragmentos chegam a um fim, obviamente, porque não há centro que esteja produzindo os fragmentos. (Exploration into
Insight, pág. 125)

Alguém vem e diz: Olhe, através de milênios o homem tem evoluído pelo conhecimento e hoje você certamente é diferente dos grandes macacos. E diz: Olhe, enquanto você está
registrando, está vivendo uma vida fragmentária, porque o conhecimento é fragmentário e o que quer que você faça a partir desse estado fragmentário do cérebro, é incompleto.
Portanto há dor, sofrimento. (Idéia, pág. 153)

Quando isso está claro, qual é, então, a causa da desordem? Esta tem muitas causas: o desejo de realização pessoal, a ansiedade de não realizar-se, a vida contraditória que se
vive, dizendo uma coisa e fazendo algo por completo diferente (…) Porém, poderia o indivíduo inquirir dentro de si mesmo e descobrir se existe uma causa fundamental. (…) A raiz,
a causa original, é o “eu”, o “meu”, o “ego”, a personalidade gerada pelo pensamento, pela memória, pelas múltiplas experiências, (…) palavras, (…) sentimento de separação e
isolamento; essa é a causa original da desordem. O “eu” é produzido pelo pensamento (…) (La Llama de la Atención, pág. 129)

Interlocutor: O fato de ver essa desordem, já implica que o observador, o indivíduo, se tenha afastado da desordem.

Krishnamurti: Há três coisas abrangidas nisto: a ordem, o afastar-se e a observação da desordem. Afastar-se da desordem, o mesmo ato de afastar-se dela, é ordem. (…) Como se
observa a desordem em si mesmo? Se olha a desordem (…) como a um estranho, como algo separado da ordem e, por conseguinte, há uma divisão: você e a coisa que está
observando? (La Verdad y la Realidad, pág. 82)

Krishnamurti: De modo que o afastar-se disso é estar totalmente envolvido no que se observa. E quando eu observo essa desordem, quando a observo sem todas as reações,
recordações, as coisas que afloram à mente, então, nessa observação total, há ordem, essa mesma observação total é ordem. (…) (Idem, pág. 85)

Que é o espaço? Pode haver espaço sem ordem? Quando há desordem em uma habitação, há espaço? Quando um indivíduo arroja suas roupas em qualquer lugar e tudo se acha
em desordem, há espaço? O espaço só existe quando tudo está no lugar que lhe corresponde. Isso externamente. Vejamos agora internamente. Nossas mentes se acham tão
confusas, toda nossa vida é contradição, desordem, estamos aprisionados em diversos hábitos: drogas, fumo, bebida, sexo, etc. Obviamente, os hábitos são mecânicos, e onde há
hábitos há desordem. Internamente, que é a ordem? É algo ditado pelo pensamento? O pensamento mesmo é um movimento de desordem. (La Totalidad de la Vida, pág. 196)

Assim, (…) nossa vida é toda de desordem, tanto exterior como interiormente. Vemo-nos em conflito, em contradição, exterior e interiormente. E a ordem não é possível quando há
conflito, ódio, inveja, avidez, competição, idéias brutais a respeito dos “outros”. E nós necessitamos de ordem, numa escala infinita. (…) (A Suprema Realização, pág. 176)

Só se pode criar a ordem negativamente. Isto é, a ordem não pode ser criada pela imitação ou pelo ajustamento. Vivendo, como estais, à beira do abismo, tendes de achar a solução
correta. (…) (Idem, pág. 176)

(…) A ordem deve começar dentro de nós mesmos, para depois manifestar-se exteriormente. Não se pode promover a ordem exteriormente, como o fazem os políticos e os
reformadores do mundo inteiro. Só pode haver ordem quando interiormente impera a ordem. Então, toda ação, todo movimento da vida é conforme a ordem, correta, racional.
Assim, para encontrarmos a ordem, devemos proceder negativamente. (…) (Idem, pág. 177)

A verdadeira ordem traz consigo um espaço imenso; espaço significa silêncio; desse silêncio surge este extraordinário sentido do vazio. Não se assustem com essa palavra “vazio”;
quando existe esse vazio, então certas coisas podem ocorrer. (La Totalidad de la Vida, pág. 197)

(…) A menos que a ordem seja estabelecida no mundo da realidade, não existem bases para uma ulterior investigação. É possível conduzir-se ordenadamente no mundo da
realidade, não de acordo com um padrão estabelecido pelo pensamento - o qual continua em desordem? (…) A ordem implica grande virtude; a virtude é a essência da ordem, não
o seguir um esquema de ordem, o qual se torna mecânico. (…) (La Verdad y la Realidad, pág. 202)

(…) Quem é, então, que vai produzir ordem neste mundo da realidade? O homem tem dito: “Deus trará a ordem. Crê em Deus.” Porém essa ordem se converte em algo mecânico,
porque nosso desejo é o de estar seguros, encontrar a forma mais fácil de viver. (…) (Idem, pág. 202)

Agora investigaremos (…) Pode o indivíduo observar esta desordem em que vive - que é conflito, contradição, desejos opostos, dor, sofrimento, medo, prazer, etc. - pode observar
toda essa estrutura da desordem sem o pensamento? (…) Porque se houver qualquer movimento do pensar (…) este vai criar mais desordem (…) (Idem, pág. 203)

Vamos ver se o pensamento, como tempo, pode cessar. (…) Esta é a essência mesma da meditação. Compreendem? (…) Só então há ordem e, portanto, virtude. Não a virtude
cultivada, que requer tempo e, por conseguinte, não é virtude (…) Isto significa que devemos inquirir (…) o que é a liberdade. (…) Se o tempo cessa, isso significa que o homem é
profundamente livre. (…) Quando a liberdade não está atada ao pensamento, então é absoluta. (…) (Idem, pág. 203-204)

Quando negamos - não a sociedade, mas interiormente em nós mesmos - quando negamos o medo, a ambição, a avidez, a inveja, a busca de prazer e de prestígio - tudo isso gera
desordem interior - então, na negação total dessa desordem, surge uma ordem, que é beleza, e não a que resulta de pressões ou comportamentos ambientais. Essa ordem é
absolutamente necessária e vereis que ela é retidão. (O Mundo Somos Nós, pág. 90)

(…) A ordem não pode ser criada pelo pensamento, através do tempo, num processo gradual. A virtude não é uma coisa cultivável, não é um hábito. Tal virtude é produto do tempo,
(…) do pensamento e, por conseguinte, não é virtude. (…) Mas, quando se compreende a natureza do pensamento e do tempo, surge daí a virtude com sua disciplina própria.
Porque disciplina é ordem, mas não a disciplina de imitação, de ajustamento, de obediência. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 94)

Há uma espécie de disciplina quando fazemos uma coisa pelo gosto de fazê-la. Mas a disciplina que é mero ajustamento a um padrão, nobre ou ignóbil, não é a verdadeira
disciplina, pois só gera desordem, caos. Mas, para compreender a ordem, que é virtude, precisa-se compreender a natureza do pensar. E a compreensão do pensar exige disciplina.
Observar qualquer coisa bem de perto, observar, prestar atenção (…) - esse observar, que só dura um instante, exige enorme disciplina, porque, do contrário, sois incapaz de olhar.
(Idem, pág. 94)

Estamos vendo, pois, que a ordem interior, a ordem na mente, em nosso ser, nunca pode ser produto do pensamento. O pensamento pode criar hábitos, ajustamento, obediência, e
isso, é bem de ver, só leva a uma desordem maior (…) É necessário compreender todo esse processo do pensamento: como pensamos, por que pensamos, observando-o
simplesmente. Se a ele dispensais atenção, não apenas intelectual ou emocionalmente, porém totalmente, nessa atenção total há imediata compreensão e, por conseguinte, ação
imediata. E quando se compreende a natureza do pensamento, começa-se a descobrir o que é o amor. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 94-95)

Já considerastes alguma vez (…) por que razão quase todos nós somos um tanto negligentes (…) no vestir, nas maneiras, no pensar, no modo de fazermos as coisas? Por que somos
impontuais e (…) desatenciosos para com os outros? E que é que põe ordem em todas as coisas, ordem no vestir, no pensar, no falar, na maneira de andar, (…) de tratarmos os que
são menos afortunados do que nós? Que é que produz essa ordem singular, que não resulta de compulsão, de plano nenhum, de nenhuma atividade mental deliberada? Já
considerastes isso? (A Cultura e o Problema Humano, pág. 60)

Sabeis o que entendo por “ordem”? É estar sentado e quieto, sem constrangimento, comer com elegância, sem sofreguidão, ser calmo, descansado, mas ao mesmo tempo exato,
claro no pensar e, ainda, sem limitações. Que é que produz essa ordem na vida? (Idem, pág. 60)

A ordem, por certo, só desponta com a virtude; porque, se não sois virtuoso, não apenas nas pequenas, mas em todas as coisas, vossa vida se torna caótica (…) Ser virtuoso, por si
só, tem muito pouca significação; mas, quando sois virtuoso, há precisão no vosso pensamento, ordem em todo o vosso viver, e essa é a função da virtude. (Idem, pág. 60)

Mas, que acontece quando um homem se esforça para se tornar virtuoso, (…) bondoso, eficiente, atencioso, (…) consome suas energias tentando estabelecer a ordem (…)? (…) Seus
esforços só o levam à respeitabilidade, causadora da mediocridade mental; esse homem, por conseguinte, não é virtuoso. Já olhastes atentamente para uma flor? Como é
admiravelmente simétrica (…); há nela, também, singular delicadeza, perfume, encanto. (…) Nosso problema, pois, é sermos precisos, claros e sem limitações. (A Cultura e o
Problema Humano, pág. 60-61)

Vede, o esforço para ser ordeiro, cuidadoso, tem forte influência limitante. (…) Torno-me “insuportável” para mim próprio e para os outros. (…) Essa pessoa poderá ser muito
ordeira, muito clara, poderá empregar as palavras com precisão, ser muito atenta e atenciosa, mas perdeu a criadora alegria de viver. (Idem, pág. 61)

Ordem, apuro, clareza no pensar, não são em si muito importantes, mas tornam-se importantes para o homem que é sensível, que sente profundamente, que se acha num estado de
perpétua revolução interior. Se sentis intensamente a sorte do infeliz, do mendigo (…), se sois altamente receptivo, sensível a todas as coisas, então essa própria sensibilidade traz
ordem, virtude; (…) (Idem, pág. 62)

A ordem não é hábito; o hábito torna-se automático e perde toda a sua vitalidade, quando (…) em estado mecânico. (…) Tem-se observado as pessoas que são muito ordenadas;
elas possuem certa rigidez, não são flexíveis, carecem de vitalidade; têm-se tornado mais duras, excêntricas, porque seguem um padrão particular que, na opinião delas, é ordem. E
isso se converte gradualmente em um estado neurótico (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 103)

De maneira que controle não é ordem. Nunca se pode ter ordem por meio de controle, porque ordem significa funcionar claramente, ver de modo total, sem distorção alguma;
porém onde há conflito deve haver distorção. O controle também implica repressão, conformidade, ajuste e divisão entre o observador e o observado. (…) (Idem, pág. 106)

Fragmentação da Consciência; Desvios, Neuroses


Vivemos em fragmentos. Há o fragmento chamado “vida espiritual”, o fragmento que é o intelecto, o fragmento que são as emoções, o fragmento que são os sentidos físicos.
Acha-se, pois, a mente fracionada em vários fragmentos, cada um deles encerrado num compartimento estanque e muito escassamente em relação com os outros. Por isso, existe
entre eles um perene conflito, o qual procuramos evitar mediante fuga. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 12)

(…) No escritório somos uma coisa, em casa somos outra coisa; falais de democracia e, no íntimo, sois autocrata; falais em amor ao próximo e, ao mesmo tempo, o estais matando
na competição; uma parte de vós está ativa, a olhar independentemente da outra. Estais cônscios dessa existência fragmentária em vós mesmos? E será possível ao cérebro (…)
tomar-se cônscio do campo inteiro? É possível olharmos o todo da consciência, completa e totalmente, o que significa sermos entes humanos totais? (Liberte-se do Passado, pág.
27)

A palavra “indivíduo” significa “indivisível”, não fragmentado. “Individualidade” significa uma totalidade, o todo, e a palavra “todo” significa “são”, “puro”. Mas, vós não sois
um indivíduo, porque não estais são, porque estais dividido, fragmentado, interiormente; estais em contradição com vós mesmo, partido, e, por conseguinte, não sois de modo algum
um indivíduo. Assim, em vista dessa fragmentação, como se pode exigir que um fragmento assuma a autoridade sobre os demais fragmentos? (Fora da Violência, pág. 11)

O homem é um ser fragmentário. Por que é que há tal divisão? Um fragmento se acha tremendamente ativo, o outro não funciona em absoluto. Um fragmento é vulgar, burguês,
mesquinho. Quando se une esses dois fragmentos para se tornarem uma energia harmônica, (…) não dividida? (Tradición y Revolución, pág. 53)

Quando cessa o fragmento de ser um fragmento? (…) O movimento de definir, do chegar a ser, é sempre (…) fragmentado. Existe um movimento que não pertença a essas
categorias? Veja o que ocorre se não houver movimento algum. (Idem, pág. 54)

A principal dificuldade é esta, que o homem vive fragmentado, não só em seu interior, mas também exteriormente: ele é cientista, médico, soldado, sacerdote, teólogo, especialista
desta ou daquela matéria. Interiormente, sua vida está fragmentada, fracionada; sua mente, seu intelecto, é sutil e sagaz; por vezes, ele é brutal, agressivo, enquanto outras vezes
pode mostrar-se bondoso, manso, afetuoso; esforça-se por ser um ente moral, embora a moralidade social seja de todo imoral, e seus inúmeros desejos antagônicos são a causa
dessa fragmentação existente por dentro e por fora, dessa contradição interior e exterior. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 77)

A maioria das pessoas funciona apenas com um fragmento, uma parte muito pequena do cérebro. Por isso, sua visão de vida é fragmentária. Somente uma parte do seu cérebro está
operando ativamente em suas vidas, de forma que o cérebro não está funcionando totalmente. Portanto, você pode descobrir se o cérebro pode operar de uma forma total, completa.
(…) (The World of Peace, pág. 50)

(…) O conteúdo da consciência é a consciência. Quando não há conteúdo não há consciência. Nesse conteúdo existem tremendos fatores de conflito, de fragmentação. Um
fragmento assume a autoridade, um fragmento não se identifica a si mesmo com os outros fragmentos. Ele se sente inseguro; há tão vastos conflitos, aí! Ele não se identifica com
nenhum fragmento; só o faz quando diz: “isto me agrada, isto não me agrada”. (Tradición y Revolución, pág. 149-150)

É onde quero chegar, vejo que estou fragmentado: digo uma coisa e faço outra, penso uma coisa e contradigo o que penso. E vejo claramente que não devo fazer disso um
problema. (The Future is Now, pág. 113)

(…) Se eu faço disso um problema, dizendo a mim mesmo que não devo ser fragmentado, essa declaração surge da fragmentação. Alguma coisa surgida da fragmentação é outra
forma de fragmentação. Mas o meu cérebro é treinado para criar problemas. Portanto, tenho de estar atento ao ciclo completo. Então o que devo fazer? (Idem, pág. 113-114)

(…) Não se ponha nessa posição; você chegou a uma conclusão; portanto, conclusão é outra fragmentação. Eu faço esta pergunta: Há uma maneira de viver não fragmentária, na
qual esteja envolvida a qualidade da mente religiosa, profunda bondade, sem nenhuma dualidade? (Idem, pág. 114)

Como pode a mente, que inclui o cérebro, ver uma coisa totalmente? (…) Nós vemos as coisas fragmentariamente, não é verdade? Trabalho, família, comunidade, indivíduos, minha
opinião, vossa opinião, meu Deus, vosso Deus - tudo vemos em fragmentos. (…) Se vejo a vida em fragmentos, porque minha mente está condicionada, é claro que não posso ver a
totalidade (…) Se me separo, por causa de minha ambição, de meus preconceitos pessoais, não posso ver o todo. (…) (A Questão do Impossível, pág. 122)

Apresenta-se, assim, a questão: Como pode a mente, tão enredada que está nesse hábito de ver e agir fragmentariamente, ver o todo? Claro que não pode. Se estou todo interessado
em meu próprio preenchimento, na realização de minha ambição, no competir e no meu desejo de sucesso, não posso ver a humanidade no seu todo. (…) Enquanto a mente
continuar a operar nesse campo da fragmentação, é óbvio, não poderá ver o todo. (…) (Idem, pág. 122)

Assim, para observar realmente o que é, ver o seu inteiro significado, a mente deve estar nova, clara, não dividida. E isso leva-nos a outro problema: Como olhar sem a divisão em
“eu” e “não eu”, “nós” e “eles”. (Fora da Violência, pág. 93)

Como dissemos, (…) Como é que escutais e observais outra pessoa, (…) a vós mesmo? A chave dessa observação se encontra em ver as coisas sem divisão. (…) Nossa existência
está toda fragmentada. Em nós mesmos estamos divididos, em contradição. Vivemos fragmentariamente.(…) (Idem, pág. 93)

Um fragmento, dentre os múltiplos fragmentos, julga-se capacitado para observar. Embora tenha assumido a autoridade, ele continua sendo um fragmento entre os demais
fragmentos. E esse fragmento olha e diz: “Eu compreendo; sei qual é a ação correta”. (Fora da Violência, pág. 93)

Senhor, (…) Agora prosseguiremos: como posso eu, que vivo em fragmentos, muitos fragmentos (…) “isto é bom, aquilo é mal”, “isto é sagrado, aquilo não é”, “a tecnologia”,
tudo isso carece realmente de importância, porém ir a um templo é infinitamente importante; como se pode viver sem fragmentação? (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 81)

(…) O interlocutor diz “Mediante a integração”, (…) integrando todos os fragmentos? (…) E quem é a entidade que vai reunir todos os pedaços? O Atman superior, o Cosmos, (…)
Jesus Cristo, Krishna? Tudo isso é fragmentação (…) (Idem, pág. 82)

Pergunta: Você vê, sinto-me de todo sem saída nesta situação. O fato é que há conflito, e a atuação do “eu” leva a maior conflito. Vendo a natureza disso, pode a mente
compreender que está totalmente em conflito? (Exploration into Insight, pág. 61)

Krishnamurti: Pode a mente estar consciente de um estado no qual não há conflito? É isso o que você está tentando dizer? Ou só a mente pode conhecer o conflito? Certo? Está a
sua mente de todo consciente do conflito, ou isso é apenas uma palavra? Ou há uma parte da mente que diz “estou consciente de que me acho totalmente em conflito, e há uma
parte de mim observando o conflito.” Ou há uma parte da mente desejando estar livre do conflito, de que forma, e há um fragmento que diz “não estou em conflito” e que se separa
da totalidade do conflito?
Se há um fragmento separado, então esse fragmento diz: “Devo fazer, suprimir, ir além. Então esta é uma pergunta legítima. Está a sua mente de todo consciente de que nada há
senão conflito ou há um fragmento que se sobressai e diz: “Estou consciente de que me acho em conflito, mas não total?”Portanto, o conflito é de um fragmento ou é total”? Há
escuridão total ou uma leve luz em algum lugar? (Idem, pág. 61)

Se se divide em fragmentos a consciência, um dos fragmentos indaga: “Que são os outros fragmentos?”. Mas, se só há um movimento total, não existe fragmentação e, por
conseguinte, não se faz tal pergunta. (…) Percebeis a consciência como um todo, ou a vedes como um fragmento a examinar os outros fragmentos? Vós a vedes parcialmente, ou a
vedes em sua inteireza, como um movimento total (…)? Que é então esse movimento? Como observá-lo? (A Questão do Impossível, pág. 152)

No presente não somos sensíveis; há imagens neste campo que são sensíveis quando nossa particular personalidade, (…) idiossincrasias, (…) prazeres são negados e então há uma
luta. Somos sensíveis em fragmentos, em marcas, mas não somos sensíveis completamente. Portanto, a pergunta é: Como pode o fragmento, que é parte do todo, que está se
tomando estúpido cada dia repetidamente, como pode essa parte tornar-se também sensível da mesma forma que é o todo? (…) (The Awakening of Intelligence, pág. 190-191)

Como dissemos, o pensamento criou o “eu”, e então, por ser o pensamento fragmentário em si mesmo, converte o “eu” em um fragmento. Quando se diz “eu”, “meu”, eu quero, eu
não quero, eu sou isto, eu não sou aquilo, isso é o resultado do pensamento. E como o pensamento mesmo é fragmentário - nunca é a totalidade - o que ele cria também se torna
fragmentário. “Meu mundo”, “minha religião”, “minha crença”, “meu país” (…) esse é o modo como isso se torna fragmentário. (La Verdad y la Realidad, pág. 73)

Compreendo. Olho, posso ver parte de meu condicionamento; ver que estou condicionado como comunista ou muçulmano, mas há outras partes. Posso investigar conscientemente
os vários fragmentos que compõem o “eu”, o conteúdo de minha consciência? Posso conscientemente olhá-lo? (The Future is Now, pág. 390)

Se a consciência se constitui de meus desesperos, minhas ansiedades, temores, prazeres, (…) esperanças, “sentimentos de culpa”, e da vasta experiência do passado, então,
nenhuma ação dela emanada poderá, em tempo algum, libertar a consciência de suas limitações. (A Questão do Impossível, pág. 165)

(…) Se se quer investigar profundamente a estrutura e natureza da consciência, quem fará a investigação? Um fragmento, dentre os muitos fragmentos? Ou existe uma entidade, um
agente transcendental capaz de observar a consciência? Pode a mente consciente, aquela que funciona todos os dias, observar o conteúdo das camadas inconscientes ou mais
profundas? E quais são as fronteiras, os limites da consciência? (A Questão do Impossível, pág. 149)

Pergunta: Você diz que esse centro é tempo-espaço, também parece postular a possibilidade de ir além do campo do tempo-espaço. O espaço é aquilo que opera. Ele não é capaz de
ir mais longe. Se pudesse, o tempo-espaço deixaria de ser conteúdo da consciência.

Krishnamurti: Vamos começar de novo. O conteúdo da consciência é consciência. Isso é irrefutável. O centro é o criador de fragmentos. O centro torna-se consciente dos
fragmentos quando os fragmentos são notados ou entram em ação; do contrário, o centro não fica consciente dos outros fragmentos. O centro é o observador dos fragmentos. Não
se identifica com os fragmentos.

Por isso, há sempre o observador e o observado, o pensador e a experiência. O centro é o criador de fragmentos e tenta reuni-los e ir além. Um dos fragmentos diz “dorme” e o
outro fragmento diz “fique atento”. No estado de manter-se atento, há desordem. As células do cérebro, durante o sono, tentam estabelecer ordem, porque não podem funcionar
efetivamente em desordem. (Exploration into Insight, pág. 122)

Uma insatisfação de tal natureza não nos torna neuróticos nem produz desequilíbrio. Existe desequilíbrio somente quando a insatisfação se transfere a algo, ou fica presa em
perturbação de uma ou outra classe; então há distorção, há todo gênero de lutas internas. (La Totalidade de la Vida, pág. 178)

Eu me pergunto (…) como há de cessar o pensamento sem que esse processo de terminar se perverta, dispare para algum estado imaginativo, tendendo para desequilibrado,
indefinido e neurótico? Como pode esse pensamento, que deve funcionar com grande energia e vitalidade, estar ao mesmo tempo completamente quieto? (El Despertar de la
Inteligencia, II, pág. 172)

Estamo-nos perguntando - vós e eu - se existe alguma maneira inteiramente nova de proceder, sem conflito, nem contradição. Onde há contradição, há esforço, e onde há esforço há
conflito - que é resistência ou aceitação. Resistência é abrigar-nos atrás de idéias; aceitação é imitação.

Estamos sempre contra a corrente; (…) Podemos mover-nos, viver, ser, funcionar de maneira tal que não tenhamos de lutar contra nenhuma corrente? Quanto mais conflito existe,
tanto mais tensão. Da tensão resultam neuroses e psicoses de toda espécie. (Encontro com o Eterno, pág. 74)

(…) Somos, assim, levados a perguntar: Temos possibilidade de libertar-nos desse medo, não apenas do medo e da dependência superficiais, existentes nas relações, mas do medo
profundamente radicado em nós? (…) Porque, se um homem teme, faz as coisas mais irracionais que se podem imaginar. Com medo, um homem está como que desequilibrado, num
estado de neurose e, portanto, incapacitado de pensar com clareza, de observar com exatidão. (O Novo Ente Humano, pág. 157)

Vós não sabeis quando sois neurótico? Alguém precisa dizer-vos que sois? (…) Sempre que há “exageração” de qualquer fragmento, há neurose. Se sois superiormente intelectual,
isso é uma forma de neurose, embora os indivíduos intelectuais sejam tidos em elevada conta. Estar apegado a certa crença (…) é uma forma de neurose. (…) Qualquer espécie de
medo é uma forma de neurose, todo ajustamento é uma forma de neurose e qualquer comparação de vós mesmo com outra pessoa é de fundo neurótico. (A Questão do Impossível,
pág. 153-154)

Logo, sois neurótico! (…) Deste nosso exame alguma coisa já aprendemos: toda “exageração” de qualquer fragmento da consciência (pois a vemos toda fragmentada), todo
empenho em realçar um dado fragmento, é uma forma de neurose. (…) (Idem, pág. 154)

Nós, como agora somos, dividimos a consciência, e nessa divisão há muitas fragmentações, muitas subdivisões - de ordem intelectual, emocional, etc; e atribuir importância a dado
fragmento é neurose. Isso significa que, exagerando a importância de dado fragmento, a mente se torna incapaz de ver com clareza. (A Questão do Impossível, pág. 154)

(…) Essa fragmentação - se nela se dá realce a um fragmento, a seus interesses, seus problemas, desprezando-se os demais fragmentos - leva não só ao conflito, mas também a
grande confusão, porque cada fragmento quer manifestar-se, salientar-se, e, se damos importância a um só, os outros começam a protestar, a clamar. Esse clamor é confusão; e,
dessa confusão, provêm impulsos neuróticos, desejos de preenchimento, de “vir-a-ser' , “realizar-se”. (Idem, pág. 154)

Sim. A neurose é apenas um sintoma, a causa pode achar-se no inconsciente. É claro que assim pode ser, e provavelmente é. (A Questão do Impossível, pág. 154)

O que devemos fazer? Como saber, num mundo que é de certa forma neurótico, no qual os amigos e parentes são ligeiramente desequilibrados (…)? Não se pode recorrer a
ninguém; portanto, o que acontece na mente de uma pessoa, agora que ela não depende mais de outras pessoas, de livros, de psicólogos, de autoridades? (Perguntas e Respostas,
pág. 33)

(…) A neurose é resultado da dependência. A gente depende da esposa, do médico; (…) de Deus ou dos psicólogos. Estabelecemos uma série de dependências (…), esperando que
nessas dependências estaremos seguros. E quando descobrimos que não podemos depender de ninguém, o que acontece? Produz-se em nós uma tremenda revolução psicológica,
que, geralmente, não queremos enfrentar. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 33)

Pergunta: Que é loucura?

Krishnamurti: (…) A maioria de nós somos neuróticos, não? Em geral, somos ligeiramente desequilibrados, temos idéias (…), crenças peculiares. Certa vez, conversávamos com um
católico fervoroso, e ele disse: “Vocês, hindus, são o povo mais supersticioso, fanático, neurótico; crêem em tantas coisas anormais”! (…) (Fora da Violência, pág. 126)

(…) Esse homem estava completamente inconsciente de sua própria anormalidade, suas próprias crenças, suas estúpidas idéias. Assim, quem é equilibrado? É, fora de dúvida, o
homem sem medo, (…) íntegro. O que é inteiro está são, e é sagrado; mas nós não o somos, somos entes humanos fragmentados e, por conseguinte, desequilibrados. (…) (Idem, pág.
125-126)
Mas veja que o próprio estado de dependência de outrem pode ser a causa de uma neurose psicológica profunda. Quando se quebra esse padrão, o que acontece? A pessoa sara!
Precisamos estar sãos para descobrir o que é a verdade. A dependência veio da infância (…) Não depender de nada, significa que estamos sozinhos, inteiros, íntegros - isso é saúde,
(…) que produz racionalidade, clareza, integridade. (Perguntas e Respostas, pág. 33-34)

(…) Significa uma mente em que não há divisão de espécie alguma; uma mente total, portanto, sã. Só o indivíduo neurótico é obrigado a controlar-se; e, quando chega ao ponto de
estabelecer o controle total de si próprio, está completamente neurótico, impossibilitado de mover-se livremente. (Fora da Violência, pág. 96)

Visão Global, Holística, da Consciência, da Vida


Nossas vidas acham-se fragmentadas, divididas, jamais somos algo total; nunca temos uma observação holística. Observamos sempre de um ponto de vista particular. Estamos tão
divididos internamente, que nossas vidas são em si mesmas contraditórias e, portanto, existe um constante conflito. Nunca olhamos a vida como uma totalidade completa e
indivisível. (La Llama de la Atención, pág. 69)

A observação holística é uma percepção sã, cordata, racional, lógica e total - total (whole) implica sagrada (holy). É possível para um ser humano como qualquer de nós, que é um
leigo, não é um especialista, é possível para ele olhar a contraditória e confusa consciência, olhá-la como uma totalidade? Ou deve olhar cada parte dela separadamente? (…) (La
Llama de la Atención, pág. 107)

Observar holisticamente é observar ou prestar atenção a todo o conteúdo de algo. Normalmente, olhamos as coisas de maneira parcial, conforme nosso prazer ou nosso
condicionamento, ou segundo algum ponto de vista ideal; sempre olhamos as coisas fragmentariamente. O político está (…) comprometido com a política, o economista, o cientista,
o homem de negócios, cada um tem seu próprio compromisso, geralmente ao longo de toda a vida.

Parece que jamais encaramos o movimento total da vida. Assim (…) podemos encarar a vida holisticamente, como um movimento total desde o princípio até o fim, sem
fragmentação nem desvio nem ilusão alguma. É importante compreender como a mente cria ilusões de auto-importância e todos os múltiplos tipos de ilusão (…) Olhamos algo com
uma idéia ou crença preconcebida, de maneira que nunca o vemos realmente, como um fato. (La Totalidad de la Vida, pág. 208)

A ordem implica harmonia na vida diária. A harmonia não é uma idéia. Nós nos achamos encerrados na prisão das idéias, e nisso não há harmonia. A harmonia e a claridade
implicam ver as coisas holisticamente, observar a vida como um movimento unitário total - não “Eu sou um homem de negócio no escritório e uma pessoa diferente em minha
casa;” não “Eu sou um artista e por isso posso fazer as coisas mais excêntricas e absurdas”; não esse despedaçar ou fragmentar a vida em múltiplas categorias, a elite e a não
elite, (…) o intelectual e o romântico, o que constitui nosso normal modo de viver.

Vejam o importante, que é encarar a vida como movimento total, no qual tudo está incluído, (…) não há divisões como o bem e o mal, o céu e o inferno. Vejam holisticamente, (…)
observem o amigo, a esposa ou o esposo, numa visão total. (La Totalidad de la Vida, pág. 209)

E, como dissemos, vemos tudo fragmentariamente e somos treinados desde a infância para olhar, observar, aprender, viver em fragmentos. E há a vasta expansão da mente que
nunca tocamos ou conhecemos; essa mente é extensa, imensurável, mas nunca a sentimos, não conhecemos sua qualidade, porque nunca olhamos para as coisas completamente,
com a totalidade de nossa mente, .(…) coração, nervos, olhos, ouvidos. Para nós, o conceito é extraordinariamente importante, não os atos de ver ou fazer. (The Awakening of
Intelligence, pág. 188)

É possível ver-se a totalidade da vida, a qual semelha um rio, a rolar infinitamente, sem descanso, cheio de beleza, impelido pelo enorme volume de suas águas? Pode-se ver
totalmente essa vida? Pois só vendo totalmente uma coisa, a compreendemos; mas não podemos vê-la totalmente, completamente, se há alguma atividade egocêntrica a guiar, a
moldar a nossa ação e os nossos pensamentos. É a imagem egocêntrica que se identifica com a família, com a nação, conclusões ideológicas, com partidos - políticos ou religiosos.
É esse centro que, dizendo-se em busca de Deus, da Verdade, impede a compreensão do todo da vida. E compreender esse centro, tal como realmente é, requer uma mente que não
esteja repleta de conceitos e conclusões. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 26)

Pode-se viver uma vida que seja total, não fragmentada? - uma vida em que o pensamento não se fragmente como família, escritório, igreja, isto ou aquilo? Uma vida em que a
morte tenha sido tão separada que, quando chega, estamos espantados com ela, incapazes de enfrentá-la, porque não temos uma vida total. (La Totalidad de la Vida, pág. 190)

O conhecimento é o “eu”, e quer o coloquemos no mais alto, quer no mais ínfimo nível, ele é sempre “eu” - experiência acumulada (…) O “eu” é incapaz de perceber a totalidade
dessa coisa extraordinária que chamamos de “vida”, e por essa razão é que fragmentamos o mundo (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 101)

Para pordes fim (…), deveis olhar todo o campo da existência; não apenas uma parte dele, sua totalidade. Em nosso estado atual, somos incapazes de observar o campo inteiro - o
todo - porque dividimos a vida em vida de negócios, vida de família, vida religiosa, etc; e, como cada uma dessas frações tem sua própria energia ativa, cada fragmento está oposto
aos outros fragmentos e, assim, essas energias fragmentárias estão dissipando nossa energia total. (O Novo Ente Humano, pág. 75)

Pode-se olhar o campo inteiro (…) Para percebê-lo totalmente, necessitamos de uma mente não fragmentada. Como consegui-la? Como pode a mente fragmentada sacudir todos os
fragmentos, para ter uma percepção total? (…) Não posso vê-lo, porque o intelecto é um fragmento e não posso servir-me de um fragmento para compreender o todo. Deve haver
uma diferente espécie de percepção e essa espécie de percepção só existe quando o observador está ausente, sem nenhuma imagem, (…) (Idem, pág. 75)

(…) Essas imagens são produzidas pelo observador (…) Assim, ao verdes a verdade de que há conflito sempre que há observador - e o observador é o produtor de imagens, é
tradição, é a entidade condicionada, é o censor - ao verdes essa verdade, estareis então observando sem observador e vendo a totalidade da existência. Tem a mente, então, uma
energia tremenda, porque sua energia não está sendo dissipada. (…) (Idem, pág. 75)

Podemos falar acerca da totalidade da vida? Pode-se perceber essa totalidade, se a mente se acha fragmentada? Você não pode dar-se conta do total, se só está olhando através de
uma pequena abertura. (La Totalidad de la Vida, pág. 9)

Interlocutor: Como sei que estou fragmentado?

Krishnamurti: Quando os desejos opostos, os anelos, os pensamentos opostos produzem conflito. Então a pessoa sofre, se torna consciente de sua fragmentação. (Idem, pág. 9)

Interlocutor: (…) Porém nesses momentos ocorre com freqüência que o indivíduo não quer desprender-se do conflito.

Krishnamurti: Esse é um assunto diferente. O que nos perguntamos é: Pode o fragmento dissolver-se? Porque só então é possível ver o total. (Idem, pág. 9)

Veja, senhor. Pode você dar-se conta de seu fragmento? Dar-se conta de que você é um norte-americano, (…) eu sou um hindu, um judeu, um comunista (…) - de que o indivíduo
vive somente nesse estado? (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 10)

Pode então dar-se conta realmente dos diversos fragmentos? De que eu sou um hindu, (…) um judeu, um árabe, (…) um comunista, um católico, um homem de negócios (…); de que
eu sou um artista, (…) um cientista - entende? Toda essa fragmentação sociológica. (Idem, pág. 10)

Podemos, pois, (…) dar-nos conta de que um indivíduo é isso? Eu sou um fragmento e, portanto, estou criando mais fragmentos, mais conflito, (…) infelicidade, confusão,
sofrimento; porque, quando há sofrimento, este afeta tudo. (Idem, pág. 10-11)

Este é realmente um grande descobrimento, se compreendemos a verdade de que o indivíduo é o passado, o presente e o futuro - o que é tempo como movimento psicológico. (…)
Observar holisticamente o movimento total da existência é viver tanto a vida como a morte. Porém a pessoa se aferra à vida e foge da morte; (…) (La Llama de la Atención, pág.
71-72)

Pode a mente observar seu conteúdo sem nenhuma escolha quanto a esse conteúdo - não escolhendo nenhuma parte do conteúdo, (…) o conjunto, mas observando totalmente? Ora,
como é possível observar totalmente? Quando o olho para o mapa da França, vindo da Inglaterra e cruzando o Canal, vejo a estrada que conduz a Gstaad. Posso citar as milhas
percorridas, (…) ver a direção, e isso é muito simples, porque está marcado no mapa e eu sigo. Ao fazê-lo, não olho nenhuma outra parte do mapa, porque conheço a direção na
qual desejo ir, e, por isso, essa direção exclui todas as outras. Da mesma forma, uma mente que está se orientando numa direção, não vê o todo. (Talks in Saanen, 1974-1975, pág.
14)

Se quero encontrar algo, (…) que penso ser real, então a direção é determinada e eu sigo naquela direção, e minha mente se torna incapaz de ver a totalidade. Pois bem, quando eu
olho o conteúdo de minha consciência - que é o mesmo da de vocês - estabeleço uma direção além da qual devo ir. Um movimento numa particular direção, atendendo a certo
prazer, não desejando isto ou aquilo, torna o indivíduo incapaz de ver o todo. Se sou um cientista, só vejo numa única direção. Se um artista, da mesma forma, se tenho certo talento
ou dote natural, olho igualmente só uma direção. (…) (Idem, pág. 14)

Assim, a mente se torna incapaz de ver o todo e a imensidade da totalidade, se houver um movimento numa particular direção. Portanto, pode a mente não ter direção alguma? Esta
é uma pergunta difícil - escutem-na. Evidentemente, a mente tem de ter direção quando vou daqui para casa, (…) tenho de dirigir um carro, (…) de exercer uma função técnica -
tudo isso são direções. (Idem, pág. 14)

Mas estou falando de uma mente que entende a natureza da direção e assim é capaz de ver globalmente. Quando ela vê o todo, pode então operar numa direção. Compreenderam?
Se tenho todo o quadro da mente, posso tê-lo nos detalhes; mas, se minha mente apenas funciona nos detalhes, então não posso dimensioná-la no todo. Se estou envolvido em
minhas opiniões, (…) ansiedades, no que desejo fazer, (…) no que devo fazer, não posso ver o todo, obviamente. (Idem, pág. 14-15)

Se venho da Índia com meus preconceitos, superstições e tradições, não posso ver totalmente. Dessa forma, minha pergunta é: Pode a mente estar livre de direção ? - o que não
significa que esteja sem direção. Quando ela opera totalmente, a direção se torna clara, muito forte e efetiva. Mas quando a mente só opera num sentido, de acordo com um padrão
por ela estabelecido, então não pode ver o todo. (Talks in Saanen, 1974-1975, pág. 15)

Há o conteúdo de minha consciência - o conteúdo constitui minha consciência. Ora, posso olhá-la como um todo ? - sem nenhuma direção (…) julgamento (…) escolha, apenas
olhá-la, o que implica em nenhum observador, pois esse observador é o passado - pode ele olhar com aquela inteligência que não é formada pelo pensamento, já que o pensamento
é passado? Faça-o! Isso requer tremenda disciplina, não a disciplina de supressão, controle, imitação ou conformidade, mas uma disciplina que é um ato no qual a verdade é vista.
A operação da verdade cria sua própria ação, que é disciplina. (Idem, pág. 15)

Pode sua mente olhar seu conteúdo quando você fala com alguém através dos seus gestos, da maneira como anda (…) senta e come, de seu comportamento? O comportamento
indica o conteúdo de sua consciência - se você está indo de acordo com o prazer, com a recompensa ou a dor, que são partes de sua consciência. (…) (Talks in Saanen, 1974-1975,
pág. 15)

O comportamento expõe o conteúdo de sua consciência. Você pode esconder-se atrás de um comportamento polido, cuidadosamente mantido, mas esse comportamento é
simplesmente mecânico. Daí surge outra pergunta: é a mente inteiramente mecânica - ou há uma parte de cérebro que não é de forma alguma mecânica? (Idem, pág. 15)

Continuemos (…) considerando a natureza e estrutura da consciência. (…) Se não compreendermos o conteúdo da consciência (e a possibilidade de o ultrapassarmos), toda
ação(…) produzirá necessariamente confusão. Releva, pois, compreender bem claramente a natureza fragmentária de nossa consciência - o dar-se demasiada atenção a um
fragmento, como o intelecto, uma crença, o corpo, etc. (…) (A Questão do Impossível, pág. 164-165)

Esses fragmentos que compõem a nossa consciência - de onde emana toda ação - produzirão inevitavelmente contradição e aflição. (…) Não tem sentido dizermos para nós mesmos
que todos esses fragmentos devem ser reunidos ou “integrados”, porque então aparece o problema relativo a quem tem a possibilidade de integrá-los (…) Assim, deve haver uma
maneira de olhar todo esse conjunto de fragmentos com uma mente não fragmentária. (A Questão do Impossível, pág. 165)

Percebo que minha mente - que também compreende o cérebro e todas as reações nervosas e psicológicas - percebo que a totalidade dessa consciência está fragmentada,
fracionada, pela cultura em que vivemos, (…) criada pelas gerações passadas e continuada pela atual. E toda ação, ou o predomínio de um fragmento sobre os outros, levará
inevitavelmente a uma enorme confusão. (Idem, pág. 165)

Assim, pergunta-se: “Há uma ação que não seja fragmentária e não possa contradizer outra ação que irá verificar-se daqui a um minuto?”. Vemos que o pensamento desempenha
um papel muito importante nessa consciência. O pensamento não só é a reação do passado, mas também a reação de todo o nosso sentir. Todas as nossas reações nervosas,
esperanças, temores, prazeres, sofrimentos, estão nele contidos. (…) (A Questão do Impossível, pág. 165)

Esta é uma questão muito séria (…) Temos de devotar nossa energia e paixão, e nossa vida, a compreendê-la (…) Quando se vê a vida como um todo, não há mais problema algum.
Só a mente e o coração que se acham fragmentados criam problemas. O centro do fragmento é o “eu”. O “eu” é criado pelo pensamento (…) O “eu” - “minha” casa, “minha”
desilusão, “meu” desejo de tornar-se importante - esse “eu” é produto do pensamento, que divide. (…) (A Questão do Impossível, pág. 44)

Assim, pergunta-se: Pode a mente, o cérebro, o coração, o ser inteiro, observar sem o “eu”? O “eu” vem do passado; não existe “eu” do presente. O presente não pertence ao
tempo. Pode a mente libertar-se do “eu”, para olhar toda a vastidão da vida? Pode, sim, e de maneira completa, total, quando se compreendeu fundamentalmente, com todo o ser, a
natureza do pensar. (…) Se não fordes capaz de observar sem o “eu”, os problemas continuarão existentes - cada problema em oposição a outro. (Idem, pág. 44)

(…) Não se trata de que os múltiplos fragmentos cheguem a integrar-se em nossa consciência humana (…) Porém, é possível olhar a vida como uma totalidade? Olhar o sofrimento,
o prazer, a dor, a ansiedade, a solidão, o ir ao escritório, o ter uma casa, o sexo, o ter filhos - olhar tudo, não como se fossem atividades separadas, senão como um movimento
holístico, como uma ação unitária? (La Llama de la Atención, pág. 69)

É isso possível (…)? Ou estamos obrigados a viver eternamente na fragmentação (…) no conflito? É possível observar a fragmentação e a identificação com esses fragmentos?
Observar, não corrigir, não transcender, não escapar disso nem reprimi-lo, senão observar. Não é um problema (…), porque se vocês tentam fazer algo a respeito, então atuam a
partir de um fragmento, estão cultivando mais fragmentos e divisões. (…) (Idem, pág. 69)

(…) Ao passo que se pode observar holisticamente, observar todo o movimento da vida como um movimento único, então não só chega ao fim o conflito, com sua energia destrutiva,
senão que dessa observação surge uma maneira totalmente nova de encarar a vida. (…) E, dando-se conta, pergunta-se então como se há de reunir tudo isto para formar uma
totalidade? E quem é a entidade, o “eu” que há de reunir todas essas diversas partes e integrá-las? Essa entidade não é por acaso também um fragmento? (…) (La Llama de la
Atención, pág. 70)

(…) O que estamos procurando fazer é juntar esses fragmentos de contradição, para com eles constituir uma totalidade, algo de inteiriço. Compreendeis? Vemos que nossa vida
está dividida em fragmentos e, portanto, tratamos de integrar esses fragmentos, de juntá-los num todo! Ora, isso é impossível. Porque um fragmento será sempre um fragmento,
ainda que lhe sejam acrescentados outros fragmentos. O estado de não contradição só é possível quando a mente funciona como um todo. (A Suprema Realização, pág. 201)

(…) Se examinardes essa palavra (integração) e descobrirdes todo o seu conteúdo, sereis forçados a perguntar a vós mesmos quem é a entidade capaz de realizar a integração. Por
certo, a própria entidade que irá integrar os múltiplos fragmentos faz parte deles e, portanto, não poderá efetuar sua integração.

Vendo-se isso claramente, ou seja, as parcelas de desejo, nesta nossa vida tão dividida e fragmentada, jamais poderão ser unidas, integradas, porque a própria entidade, o (…)
observador que está tentando ajuntá-las, faz parte da fragmentação - (…) torna-se óbvio que deve haver um diverso modo de proceder, e ele consiste em ver a contradição, os
fragmentos, as exigências e desejos contrários, observá-los, para ver se há possibilidade de ultrapassá-los, de transcendê-los. É esse transcender que constitui a revolução radical.
(Palestras com os Estudantes Americanos, pág. 77)

Assim, já que estamos fragmentados, divididos, em contradição, existe um conflito entre os numerosos fragmentos. Como pode essa fragmentação tornar-se um todo? Sabemos que,
para vivermos uma vida harmoniosa, ordeira, sã, essa fragmentação, essa separação entre “vós” e “mim” deve acabar. (Fora da Violência, pág. 93-94)

Muito facilmente somos persuadidos a fugir, porque não sabemos como essa fragmentação pode tornar-se um todo. Não dizemos integrar-se, porque integração supõe “alguém”
que faz a integração: um fragmento que junta todos os outros fragmentos! (Fora da Violência, pág. 94)
Tentamos muitos meios e modos, no desejo de acabarmos com a fragmentação. Uma das maneiras mais em voga é encarregarmos um analista de fazer esse trabalho para nós; ou,
também, analisarmos a nós mesmos. (…) Nunca indagamos quem é o analista. Obviamente, ele é um daqueles numerosos fragmentos, e quer analisar sua própria estrutura integral.
Mas o próprio analista, sendo um fragmento, está condicionado. (…) (Idem, pág. 94)

Um dos nossos condicionamentos é essa idéia de que devemos analisar-nos, olhar-nos introspectivamente. Nessa análise, há sempre o “censor”, a entidade que controla, guia,
molda; há sempre conflito entre o analista e a coisa analisada. (…) Se vos servis do conhecimento, da associação e acumulação, da análise, como meio de vos compreenderdes,
cessastes de aprender sobre vós. O aprender requer liberdade para podermos observar “sem o censor” (Fora da Violência, pág. 94-95)

Vede, (…) havendo análise, há o analista e a coisa analisada - um fragmento assume a autoridade e analisa a outra parte. E, nessa divisão, surgem o consciente e o inconsciente. É
então que perguntamos: Pode a mente consciente examinar o inconsciente? - e isso implica que a mente consciente se separa do resto (…) Partimos portanto, da falsa suposição de
que a mente superficial é separada da “outra”. (…) (A Questão do Impossível, pág. 153)

Enfrentar a vida é enfrentá-la como um todo, e não fragmentariamente; e isso só podeis fazer quando conheceis a vós mesmo. É porque não conheceis o inteiro processo de vós
mesmo que dividis a vida em fragmentos e, dessa maneira, perpetuais o conflito e o sofrimento. Não se pode construir um todo harmonioso juntando fragmentos, mas com o
autoconhecimento alcança-se uma plenitude, um senso da totalidade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 165)

A questão não é como integrar os diversos fragmentos, senão como é possível viver sem fragmentação. (Tradición y Revolución, pág. 116)

Que relação tem tudo isso com o amor? Qual é a relação que há entre mim, você e o artista? Penso que o amor é o núcleo essencial da relação. O amor tem sido rebaixado ao sexo
e toda a moralidade que o rodeia. Se não houver amor, a fragmentação haverá de continuar. (Idem, pág. 123)

Processos Psicológicos
Mente, Pensar, Preliminares; Investigação, Dúvida, Crítica
Qual é a origem do pensar? Esta é uma questão sobremodo complexa (…) No momento em que se descobre realmente a origem do pensar, o pensamento recebe o lugar que lhe
compete e não transbordará para outra esfera, outra dimensão, onde não há lugar para ele. Só nessa dimensão pode operar-se a transformação radical; só nela pode nascer uma
coisa nova, não produzida pelo pensamento. (Encontro com o Eterno, pág. 85)

Que é pensar? (…) Quando há “desafio” e “reação”, se a reação é imediata, não há “processo de pensar”. Se vos perguntam vosso nome, respondeis prontamente (…) Mas se vos
fazem uma pergunta mais complicada, precisais de tempo para responder; há um intervalo de tempo entre o desafio e a reação. Nesse intervalo, a mente fica em busca de uma
resposta, a pesquisar, a indagar, a esperar, a questionar. Esse intervalo é o que chamamos pensar. (A Suprema Realização, pág. 46)

E esse pensar depende de vossa raça, (…) família, do conhecimento, da memória, das marcas do tempo, de vossas experiências, (…) dores e sofrimentos, das inumeráveis pressões e
agonias da vida, ou seja, de vosso background. De acordo com ele, “reagis” ou respondeis. Por conseguinte, a reação ao desafio é sempre inadequada. (…) E essa insuficiência da
reação gera contradição. (Idem, pág. 46)

Por conseguinte, temos de compreender, não só o mecanismo do pensar, mas também esse depósito de conhecimentos acumulados, com os quais “respondemos” a um desafio, que é
sempre novo. Sempre respondemos ao novo com o “velho”: com a tradição hinduísta, se somos hinduístas; (…) com nossos conhecimentos, se somos cientistas, etc. Essa resposta
nunca é total, porém sempre fragmentária; por conseguinte, apresenta-se uma contradição, um conflito, uma dor ou um prazer (…) Tal é o ciclo de nossa vida. (Idem, pág. 47)

O pensamento é condicionado. A mente, que é o depósito de experiências, lembranças, das quais se origina o pensamento, é, ela própria, condicionada; e todo movimento da mente
(…) produz resultados peculiares e limitados (…) (Diálogos sobre a Vida, pág. 59)

Ora, todo pensar é mecânico, porquanto todo pensar constitui uma reação de nosso background de experiência (…) de memória. E, sendo mecânico, o pensar nunca pode ser livre.
Poderá ser razoável, sensato, lógico, conforme o seu background, sua educação, seu condicionamento; (…) (O Passo Decisivo, pág. 174)

Quando não me conheço a mim mesmo, e não sei que fazer ou que pensar, naturalmente estou envolvido no torvelinho da confusão. Mas quando me conheço a mim mesmo (…)
então, dessa compreensão, nasce a claridade, resulta a conduta correta. A compreensão de si mesmo traz amor(…) ordem. (…) (A Arte da Libertação, pág. 78)

Pergunta: Que entende o senhor por vulgar?

Krishnamurti: Ser como o resto dos homens; com as mesmas aflições, a mesma corrupção, violência, brutalidade, indiferença, insensibilidade. Querer uma colocação, apegar-se a
ela, quer sejamos competentes, quer não, morrer no emprego.

Eis o que se chama “ser vulgar” - nada ter de novo, original, nenhuma alegria na vida; não ter curiosidade, não ser “intenso”, apaixonado, não procurar esclarecer-se, mas
meramente conformar-se. É isso que entendo por “ser vulgar”, “ser burguês”. Uma maneira mecânica de viver, uma rotina, tédio. (Ensinar e Aprender, pág. 14)

Estivemos considerando (…) A mente vulgar, estreita, superficial, está sempre a buscar mais e mais experiências. Por “mente vulgar” entendo aquela que está sempre e só
interessada em si própria, em suas atividades egocêntricas, a mente pouco profunda.

Essa mente vulgar pode ser muito engenhosa, erudita, possuir uma grande capacidade técnica e analítica, entretanto permanece vulgar, superficial, desprezível, quer dizer,
essencialmente “burguesa”. (…) Essa mente - a mente da maneira de nós - com sua pesada carga de condicionamento, é um tanto limitada, achando-se bem firmada na tradição, na
experiência, no ajustamento às diárias exigências de sua vida (…) (A Essência da Maturidade, pág. 99)

O aprender não aproximará de vós a Verdade. E só a mente que se acha numa jornada de descobrimento constante, (…) que não está acumulando, que está morta para tudo o que
ontem acumulou, e está, portanto, nova, purificada, livre - só essa mente é capaz de descobrir o verdadeiro e promover uma revolução neste mundo. Só ela é capaz de amor e
compaixão (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 58)

Para descobrir, a mente deve estar livre; de outro modo, é incapaz de descobrir. Se vossa mente é medrosa, se é ávida, ambiciosa, fútil, assustada, isolada (…), como pode ela ser
livre para investigar? (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 84-85)

Em primeiro lugar, como dissemos, toda investigação exige paixão. Pode-se investigar acidentalmente ou por curiosidade ou, ainda, investigar com um motivo. Se investigais com
um motivo, ou por curiosidade, ou acidental e passageiramente, jamais tereis a paixão necessária para indagar e prosseguir indagando até o fim. E, para terdes paixão, necessitais
de energia. Como temos dito, o prazer e o entusiasmo não significam paixão. A paixão implica uma energia constante, persistente, não limitada ao campo de vossa mente
insignificante. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 134)

Ora, como investigar a verdade relativa a qualquer coisa? Por certo, um dos fatores essenciais em qualquer espécie de investigação, de indagação, é não pressupor nem postular
coisa alguma, não pensar partindo de uma conclusão (…) O pensamento que parte de uma idéia preestabelecida não é pensar, porém simples repetição. (O Homem Livre, pág. 75)

Pois bem. (…) o investigar, o compreender, o descobrir exigem, obviamente, liberdade - não liberdade no fim, porém (…) no começo. Sem liberdade, não se pode olhar, investigar,
(…) caminhar para o desconhecido. (…) Essa esfera não podeis alcançar com vossos conhecimentos, (…) preconceitos, ansiedades e temores, porque (…) farão cessar toda
investigação verdadeira. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 165)

Se, investigando esta questão, a estais investigando como cristão, budista, (…) vos vereis completamente confusos. E se, para essa investigação, trouxerdes o resíduo de vossas
numerosas experiências, o conhecimento adquirido dos livros e de outras pessoas, também assim não só ficareis desapontados, mas também algo confuso. (…) (Experimente um
Novo Caminho, pág. 88)

Vejamos (…) se nossa mente está entregue a dada experiência, (…) conclusão ou crença, que nos está tornando obstinados, inflexíveis, no sentido profundo. (…) Lemos o Gita, a
Bíblia, o Upanishads, (…) o qual deu certa tendência à nossa mente, (…) a que ela ficou amarrada. Uma mente em tais condições é capaz de investigar? (…) (Da solidão à
Plenitude Humana, pág. 26-27)

Certamente, até os maiores cientistas têm de abandonar todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova (…) O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de
abandonar as suas conclusões, porque percebe que só assim estará capacitado para investigar. (Idem, pág. 27)

Só pela investigação se pode descobrir, e para investigar necessita-se de liberdade. A maioria de nós perdeu - ou nunca possuiu - a energia necessária ao investigar. Preferimos
aceitar, continuar pelo velho caminho (…) No laboratório, o cientista investiga. Pesquisa, observa, indaga, duvida; mas, fora do laboratório, é um homem como os outros - nada
investiga! E sua auto-investigação requer não só liberdade, mas também uma extraordinária capacidade de percepção. (A Suprema Realização, pág. 13)

E o investigar requer a compreensão da natureza e do significado do medo, por que a mente que (…) sente medo é obviamente incapaz do rápido movimento exigido pelo investigar
(…) Não é livre o espírito que está sob o peso da tradição e da autoridade. Terá de transcender a civilização e a cultura, porque só então será capaz de investigar e descobrir a
verdade; (…) (Idem, pág. 14)

Antes (…) seja-me permitido salientar (…) que o importante é cada um descobrir a verdade por si mesmo. Isto é, vós e eu vamos investigar a verdade contida em cada problema,
descobri-la por nós mesmos, experimentá-la por nós mesmos; do contrário, ficaremos apenas no nível verbal (…) Se pudermos experimentar a verdade de cada questão, (…) talvez
o problema se resolva completamente (…) (Viver sem Confusão, pág. 37)

Investiguemos (…) Ora, por certo, se desejais compreender o problema, tendes de estudá-lo de maneira nova, num estado de espírito aplicado a investigar e não a crer, num estado
em que a mente diga: “Não sei, mas desejo investigar” (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 116)

O investigar requer mente equilibrada, sã, que não se deixe persuadir por opiniões, próprias ou alheias e, portanto, seja capaz de ver as coisas com toda clareza, em cada minuto de
seu movimento. (…) (A Suprema Realização, pág. 14)

Quando a mente leva a carga de uma conclusão, formulação, acabou-se a investigação. E é essencial investigar, não apenas como fazem certos especialistas, mas, sim, investigar
em si mesmo e conhecer a totalidade do próprio ser, o funcionamento da própria mente, tanto no nível consciente como no inconsciente, em todas as atividades da vida diária (…)
(O Homem Livre, pág. 154)

(…) Se a mente não estiver cônscia de sua própria totalidade, não como deveria ser, mas como realmente é; a menos que perceba suas conclusões, seus pressupostos, seus ideais,
seu conformismo, não há possibilidade de surgir o novo impulso criador da Realidade. (Idem, pág. 154)

Como disse, acho sobremodo importante ser sério. (…) Investigar o real até o fim e descobrir a essência das coisas, isso, afinal, é seriedade. Gostamos de discutir, de argumentar,
de estar em contato com idéias, mas parece-me que as idéias não nos levam a parte alguma, porquanto são muito mais superficiais, meros símbolos (…) (O Passo Decisivo, pág.
137)

(…) É árdua tarefa abandonar ou seguir idéias e, ao mesmo tempo, nos mantermos em contato com o que é, o estado real de nossa mente, nosso coração; e, para mim, penetrar aí
muito profundamente, completamente, isso é que constitui seriedade. Por esse processo de “ir até o fim” verifica-se o descobrimento da essência (…), a experiência da totalidade; e
tem então os nossos problemas significado todo diferente. (Idem, pág. 137)

Há três degraus de percepção, em qualquer problema humano: primeiro, a percepção de causa e efeito do problema; segundo, a percepção do seu processo dualista ou
contraditório; terceiro, a percepção do “ego” e a percepção do pensante e seu pensamento como um só todo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 93)

Não sei se já observastes por vós mesmos as três fases sugeridas, ao tentardes resolver um problema psicológico. Os mais de nós podemos estar cônscios da causa e do efeito (…),
de seu conflito dualista (…) a última (…) que o pensador e o pensamento são um só (…) Referi-me a três estados ou fases apenas por conveniência de linguagem: elas se confundem
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 144-145)

Estais, pois, percebendo que, para termos paixão, precisamos de energia; e essa energia deve ser inteiramente livre e não devemos pervertê-la. A mente torturada pelo conflito não
é, de certo, uma mente livre; sua energia está sendo sempre deformada, pervertida, condicionada, reprimida. E, em tais condições, como pode a mente investigar? Qualquer
investigação exige muita vitalidade, vigor, energia. E desperdiçamos toda a energia em conflito: o conflito da dualidade; o bom e o mau, isto é certo e aquilo é errado (…) Tendes,
pois, (…) de compreender essa dualidade (…) (Viagem Por um Mar Desconhecido, pág. 135)

Estamos acompanhando um ao outro? Não estamos tentando convencê-lo de coisa alguma; pelo contrário, você deve ter dúvida, ceticismo. Deve questionar, não apenas o que o
orador está dizendo, mas sua própria vida (…) suas crenças. Se você começa a duvidar, isso dá certa clareza. Não lhe dá um grande sentimento de auto-importância. A dúvida é
necessária em sua indagação sobre o problema total da existência. Torna são, claro, e com tal cérebro pesquisa. (The World of Peace, pág. 16)

(…) Para o entendimento, o primeiro requisito é a dúvida; dúvida não somente com relação ao que digo, mas, primordialmente, com relação às idéias a que vós próprios vos
apegais. Porém, haveis feito da dúvida um (…) mal que se deve banir, afastar (…) (Palestra em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 154)

(…) Porém, se, em lugar de buscardes um substituto, realmente começardes a inquirir sobre a própria coisa a que está presa a vossa mente - medo, maldade, aquisitividade - então
descobrireis a causa. E somente descobri-la, duvidando continuamente, interrogando por meio de uma atitude mental crítica e inteligente, (…) mas que tem sido destruída pela
sociedade, pela educação, pelas religiões (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 155)

Ora, ser capaz de criticar, (…) de inquirir, é o primeiro e essencial requisito para todo homem que pensa, para que ele comece a descobrir o que é falso e o que é verdadeiro (…), e
desse pensamento surge, assim, a ação e não a mera aceitação (Palestra em Auckland, 1934, pág. 8)

Inquirir é justo, porém fomos acostumados a não perguntar, a não criticar; fomos cuidadosamente adestrados a nos opor. Por exemplo, se eu vos disser coisa que vos desgoste,
começareis, naturalmente, a vos opor, porque a oposição é mais fácil do que averiguar se o que estou dizendo tem algum valor. (Idem, pág. 8)

(…) Isto é, se algo do que estou dizendo não vos agrada, levantais os vossos preconceitos profundamente arraigados e fazeis obstrução; (…) tomais abrigo por detrás desses
preconceitos, dessas tradições, desse fundo de idéias de onde reagis, e a essa reação denominais crítica. Para mim, isso não é crítica. É simplesmente hábil oposição que não tem
valor. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 9)

Se quiserdes compreender (…), ser crítico exige uma grande dose de inteligência. Criticismo não é cepticismo nem aceitação; essas coisas seriam igualmente insensatas. (…) Ao
passo que a verdadeira crítica consiste, não em atribuir valores, porém, em procurar descobrir os verdadeiros valores. (…) (Idem, pág. 9-10)

Para ouvir como convém, é preciso não haver oposição nem antagonismo. A maioria das pessoas possui um certo fundo de tradição, de preconceito, de esperança e de temor, que
usam como defesa; e a isso, que nada mais é que oposição, chamam crítica. (…) (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 9-10)

(…) Existe, contudo, uma forma ativa de crítica que exige mente esclarecida e aberta, isto é, a consciência dos nossos preconceitos, de nossas limitações, e que nos esforcemos, ao
mesmo tempo, por descobrir o valor intrínseco do que o orador tem a dizer. (…) (Idem, pág. 10)

Assim, quando falo de crítica, peço-vos não tomar partido. (…) Peço-vos (…) seguirdes com a mente aberta o que eu disser (…) Procurai não vos inclinardes para o lado do grupo
particular a que agora pertenceis, e tampouco procureis tomar o meu lado. Tudo o que tendes que fazer (…) é examinar, ser crítico, duvidar, verificar, pesquisar, aprofundar-vos
nos problemas existentes diante de vós. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 9)
(…) Em outras palavras, tendes certas crenças, (…) dogmas, (…) princípios com que vos oporeis a qualquer situação nova e de conflito, e imaginais que estais pensando, que sois
críticos, criadores. (…) Se fordes verdadeiramente crítico, criador, nunca vos oporeis sistematicamente; então estareis interessados em realidades. (Idem, pág. 10)

Para mim, pois, a verdadeira crítica consiste em procurar descobrir o valor intrínseco da própria coisa, e não em atribuir-lhe qualidade. (…) Isto, porém, destrói a verdadeira
crítica. Vosso desejo está pervertido (…) não podeis ver claramente. (…) (Idem, pág. 11)

Ser verdadeiramente crítico, não é estar em oposição. Nós, em maioria, fomos adestrados a nos opormos e não a criticar. A verdadeira crítica está em tentar compreender o pleno
significado dos valores, sem o obstáculo das reações defensivas. (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 65)

Há três condições da mente: “sei”, “acredito” e “não sei”. Ao dizerdes: “sei”, isso significa que sabeis por experiência própria e (…) vos tornais certos e convencidos de uma
idéia, (…) uma crença. Porém, essa certeza, essa convicção pode estar baseada na imaginação, num preenchimento do desejo que para vós gradualmente se torna um fato, e por
isso dizeis: “eu sei”. (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 77)

(…) E se não disserdes: “eu sei”, então dizeis: “acredito na reencarnação porque ela explica as desigualdades da vida.” Mais uma vez, essa crença, que dizeis fundada na intuição,
é o resultado de uma esperança oculta, de um desejo de continuidade. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 78)

Assim, pois, tanto o “sei”, como o “acredito” são inseguros e incertos, para que neles se confie. Se, porém, puderdes dizer “não sei”, compreendendo plenamente o significado
disso, então há para vós uma possibilidade de perceberdes aquilo “que é”. Permanecer num estado de “não saber”, exige grande desnudamento e um estrênuo esforço, porém não
é um estado negativo; é um estado vitalíssimo e ardente para a mente-coração que não se apega a explicações e afirmações. (Idem, pág. 78)

Interlocutor: Pois bem, essa questão está relacionada com a questão da mente e do cérebro. O cérebro é uma atividade no tempo, enquanto processo físico e químico complexo.

Krishnamurti: Acho que a mente está separada do cérebro. (O Futuro da Humanidade, pág. 64-65)

Krishnamurti: Separada no sentido de que o cérebro é condicionado, ao passo que a mente não é.

Interlocutor: Sim, (…) Mas veja, se cérebro não é livre, significa que ele não é livre para pesquisar de um modo imparcial.

Krishnamurti: (…) Examinemos o que é liberdade. Liberdade para pesquisar (…) para investigar. Somente em liberdade pode haver um discernimento profundo. (O Futuro da
Humanidade, pág. 65)

Krishnamurti: Desse modo, visto que o cérebro é condicionado, sua conexão com a mente é limitada.

Interlocutor: Qual é a natureza da mente? Está à mente localizada no interior do corpo, ou está no cérebro?

Krishnamurti: Não, ela não tem nada a ver com o corpo ou com o cérebro. (Idem, pág. 66)

Interlocutor: Ela tem alguma coisa a ver com o espaço ou com o tempo?

Krishnamurti: Ela tem a ver com o espaço e com o silêncio. Estes são os dois fatores (…)

Interlocutor: Mas não tem nada a ver com o tempo?

Krishnamurti: Não. O tempo pertence ao cérebro. (O Futuro da Humanidade, pág. 66)

Krishnamurti: (…) Assim sendo, será que o cérebro, com todas as suas células condicionadas, será que essas células podem sofrer alguma mudança radical?

Interlocutor: (…) Não se tem certeza de que todas as células estejam condicionadas. Por exemplo, algumas pessoas acham que apenas uma parte ou uma pequena parte das células
está sendo utilizada, e que as outras estão inativas, em estado latente.

Krishnamurti: De qualquer modo, quase sem uso, ou afetadas apenas ocasionalmente (Idem, pág. 67-68)

Interlocutor: (…) Mas as células que estão condicionadas, seja qual for a sua quantidade, é evidente que dominam a consciência neste momento.

Krishnamurti: Sim. Essas células podem ser alternadas?

Interlocutor: Podem.

Krishnamurti: Estamos afirmando que podem através de uma compreensão profunda, a qual independe do tempo (…) (Idem, pág. 68)

Interlocutor: (…) O que impede o cérebro de operar numa área mais ampla, numa área ilimitada?

Krishnamurti: O pensamento.

Krishnamurti: Ele só pode responder se estiver livre do que é limitado; do pensamento, que é limitado. (O Futuro da Humanidade, pág. 70)

Consciência, Cérebro, Elementos, Relações, Estágios


Assim a verdadeira experiência conduz ao discernimento do processo da consciência (…) Para discernirdes profundamente a causa do sofrimento, não vos podeis separar do mundo
e da vida e contemplar a consciência separadamente, pois só no próprio processo de viver é que podeis compreender a consciência. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 15)

A não ser que o indivíduo compreenda plenamente o processo da consciência, a ilusão pode momentaneamente proporcionar o necessário impulso para a ação, porém tal ação deve
inevitavelmente conduzir a miséria e frustração. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 34)

Quando começardes a perceber a completa futilidade da própria carência, então dar-se-á o despertar dessa inteligência que produz verdadeiras relações com o ambiente. Só então
poderá haver riqueza e beleza na vida. (Idem, pág. 34)

Que é a consciência? Há uma consciência de vigília, há uma consciência oculta; uma consciência de certas partes de mim mesmo, da mente superficial, e uma falta total de
percepção a respeito das camadas mais profundas da consciência. (Tradición y Revolución, pág. 335)

Podemos começar de outro modo? No entanto, há um centro que é consciente de si mesmo, esse centro pode expandir-se ou contrair-se. (…) Esse centro pode tentar ir mais além
das limitações que há posto em torno de si mesmo. Esse centro tem suas raízes profundas na caverna, e opera na superfície. Tudo isso é consciência (…) (Idem, pág. 336)(…) A
consciência é percepção, é ouvir, ver, escutar, e é a memória de tudo isso e o responder de acordo com essa memória. (…) Nessa consciência está o tempo, tempo que cria espaço
porque fica cercado. (…) Nisso há dualidade, não-dualidade, conflitos - eu devo, não devo - a totalidade desse campo é a consciência (…) E nisso não há espaço em absoluto,
porque o espaço tem fronteiras, limitações. (Idem, pág. 143-344)

Interlocutor: Sim, entendo que temos aqui duas coisas que, de certo modo, podem ser independentes. Há o cérebro e a mente, embora estejam em contato. Dizemos então que a
inteligência e a compaixão têm sua origem fora do cérebro. (…)
Krishnamurti: Ali! O contato entre a mente e o cérebro só pode ocorrer quando o cérebro está tranqüilo. (O Futuro da Humanidade, pág. 71)

Não se trata de uma tranqüilidade treinada. Não é um desejo autoconsciente, meditativo, de silêncio. É o resultado natural da compreensão do nosso próprio condicionamento.

Interlocutor: E desse modo, se o cérebro ficar quieto, ele poderia ouvir algo mais profundo?

Krishnamurti: Isso mesmo. Portanto, se ele está quieto, entra em contato com a mente. Nesse caso, a mente pode então funcionar através do cérebro. (Idem, pág. 71-72)

Interlocutor: Ou seja, essa atenção verdadeira entra em contato com o cérebro quando o cérebro está em silêncio.

Krishnamurti: Em silêncio e tem espaço. O cérebro não tem espaço agora, porque está preocupado consigo mesmo, está programado, é egocêntrico e limitado. (O Futuro da
Humanidade, pág. 81-82)

Interlocutor: Mas quando o pensamento está ausente, o cérebro tem seu espaço?

Krishnamurti: Sim, o cérebro tem seu espaço.

Interlocutor: Ilimitado?

Krishnamurti: Não. Só a mente tem espaço ilimitado.

O que aconteceu ao cérebro que está para agir? Dissemos que a inteligência nasce da compaixão e do amor. Essa inteligência atua quando o cérebro está quieto. (Idem, pág. 82)

Tudo se registra nas células cerebrais. Cada incidente, cada impressão se grava no cérebro; pode-se observar em nós próprios vasto número de impressões. Perguntamo-nos como
é possível irmos além e fazermos que se aquietem as células cerebrais. (Tradición y Revolución, pág. 199)

Investiguemo-lo. A capacidade de raciocinar, comparar, sopesar, julgar, compreender, investigar, racionalizar e atuar é tudo parte da memória. O intelecto formula as idéias, e daí
provém a ação. (Idem., pág. 200)

As células cerebrais são o depósito da memória. A reação da memória é o pensamento. O pensamento pode ser independente da memória. (…) (Idem, pág. 200)

(…) O intelecto só pode conhecer a liberdade dentro do campo, como o homem que conhece a liberdade dentro de uma prisão. (…) Assim o homem jamais pode ser livre. (Idem,
pág. 206)

Qual é o material sobre o qual deixa sua marca a experiência? Obviamente se trata do cérebro. De fato, as células são o material sobre o qual cada incidente, cada experiência -
consciente ou inconsciente - deixa sua pegada. (…) (Idem, pág. 222)

(…) as células cerebrais trabalham dia e noite. Só quando a pessoa se levanta, na manhã seguinte, sabe se está cansada ou se dormiu bem, etc. Todas essas são funções do cérebro.
Assim, o atman está dentro do campo do pensamento. Tem de estar. Nós dizemos que o atman é parte do cérebro. (…) (Idem, pág. 223)

Exporei (…) O cultivo de um cérebro, de qualquer cérebro, leva tempo. A experiência, o conhecimento, as recordações, são armazenados nas células do cérebro. Este é um fato
biológico. O cérebro é resultado do tempo. Pois bem, este homem ao chegar a um ponto quebra o movimento. Ocorre um movimento por completo diferente, o qual significa que as
mesmas células cerebrais experimentam uma mutação. (…) (Tradición y Revolución, pág. 275)

Um cérebro totalmente novo. (…) O velho cérebro está cheio de imagens, recordações, respostas, e estamos habituados a responder com o velho cérebro. A percepção não está
relacionada com velho cérebro. A percepção é o intervalo entre a velha resposta e a resposta nova, a resposta que o cérebro velho ainda não conhece. Nesse intervalo o tempo não
existe. (Idem, pág. 277-278)

Em geral, nosso cérebro é indolente. Nosso cérebro se tornou espesso, se embotou, por causa da educação, da especialização, do conflito, da luta psicológica interior em todos os
seus aspectos, e também por causa das compulsões externas. Nosso cérebro só funciona quando se apresenta uma exigência, uma crise direta. Mas, afora essas circunstâncias,
vivemos como que num estado hipnótico, monótono, funcionando indolentemente em nossos empregos e tarefas; por conseqüência, nosso cérebro não é penetrante, vigilante,
desperto, sensível, e não pode desenvolver sua capacidade máxima. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 120)

Se o cérebro não desenvolve sua capacidade máxima, não é capaz de ser livre. Porque a mente embotada, superficial, estreita, vulgar, só é capaz de reagir ao ambiente e, em
virtude dessa reação, se torna escrava desse ambiente. Daí nasce o problema de nos libertarmos do ambiente, de deixarmos de ser escravos de toda sorte de influências, diretrizes,
impulsos. Assim, o que é importante é sentir-nos totalmente livres. (Idem, pág. 121)

O pensar é um processo que nasce da experiência e do conhecimento. Escutem isso tranqüilamente, vejam se isso não é verdadeiro, real; então o descubram por si mesmos (…) O
pensar parte da experiência, que se converte em conhecimento, o qual se acumula como memória nas células do cérebro; depois, a partir da memória, surgem o pensamento e a
ação. (…) Essa seqüência é um fato real: experiência, conhecimento, memória, pensamento. Então dessa ação aprendemos mais; existe, pois, um ciclo, e essa é nossa cadeia. (La
Llama de la Atención, pág. 15)

Estamos inquirindo se o pequeno cérebro pode, sem nenhuma influência exterior - científica, governamental, ambiental, religiosa ou de qualquer outra modalidade - se pode o
limitado cérebro sofrer uma mutação. (…) Este é um problema sério. Não pode ser respondido com um simples sim ou não (…) Você deve olhar para a questão inteira como um
todo. Não de um ponto de vista racional ou (…) religioso, com seus supersticiosos contra-sensos, ou de acordo com sua particular disciplina ou profissão. Deve-se considerar o
todo da vida como um movimento unitário. (The World of Peace, pág. 16-18)

Antes de tudo, você admite que está condicionado? Está consciente - cônscio sem escolha - de que o seu cérebro está condicionado? Ou você aceita o que alguém diz e por isso
simplesmente repete: “Meu cérebro está condicionado”? Vê a diferença? Se estou consciente de que meu cérebro está condicionado, tem isso um valor completamente diferente.

Mas se imagino que estou condicionado, meramente porque você mo diz, então esse conceito é muito superficial. Portanto, você está cônscio de que está condicionado - pela
nacionalidade, por sua experiência, cultura, tradição, pelo meio ambiente, por toda a propaganda religiosa do cristianismo, budismo ou hinduísmo? (The World of Peace, pág.
18-20)

Mas o conhecimento também condiciona seu cérebro (…) como tradição, programado como você é por jornais, revistas, pela constante repetição de que você é inglês (…) Ou
quando você vai à França, à Índia ou outro lugar qualquer, ocorre a mesma coisa, essa constante repetição de sua nacionalidade. Por isso, o cérebro se torna estúpido, repetitivo,
mecânico. (…) (Idem, pág. 20)

Para sondar alguma coisa totalmente desconhecida, não preconcebida, não enredada em alguma ilusão sentimental ou romântica, deve haver uma qualidade do cérebro que seja
completamente livre; livre de todos os seus conhecimentos, programações, de todo tipo de influência e, portanto, um cérebro que seja altamente sensível e tremendamente ativo.

É isso possível? Você possui um cérebro assim, ou ele é lento, preguiçoso e vive em seus próprios autoconceitos? Como é ele? Porque vamos pesquisar algo que exige uma mente,
um cérebro, que esteja extraordinariamente vivo, não aprisionado em nenhuma forma de rotina, não mecânico. Você tem tal cérebro sem medo, livre de auto-interesse, não
autocentralizado, ativamente? (The World of Peace, pág. 84) [Nota Revisor: ativamente o quê?]

Mas, como, de que maneira e em que nível irá realizar-se essa revolução? (…) E observa-se, também, que a mente, o próprio cérebro se tornou mecânico e, por conseguinte,
repetitivo: ensine-lhe certo padrão de comportamento, certas normas de conduta, certas atitudes, desejos, ambições, etc., e ele ficará funcionando dentro desse canal, desse padrão.
(Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90-91)
Pode-se, por conseguinte, ver que a própria natureza do cérebro deve passar por uma tremenda revolução - revolução que vos interessa, não na qualidade de indivíduo unicamente
interessado em seu pequenino cérebro, porém na qualidade de ente humano. (…) (Idem, pág. 91)

A verdadeira questão, por conseguinte, é esta: É possível a vós e a eu promovermos essa mutação no uso do próprio cérebro, uma revolução que não seja processo gradativo, no
tempo, porém revolução, mutação imediata, resultante da compreensão imediata? (Idem, pág. 93) Assim, se vos aprouver, limitemo-nos (…) ao que eu já disse. Percebemos a
necessidade de uma revolução fundamental na própria estrutura do cérebro; “estrutura”, não no sentido biológico, porém a estrutura de nosso pensar (…) Para promover-se a
revolução fundamental, necessita-se de grande quantidade de energia; e essa energia só pode tornar-se existente, quando há madureza (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 95)

Agora espere, talvez o senhor esteja certo. Quando o velho cérebro vê que nunca pode entender o que é liberdade; quando vê que é incapaz de descobrir algo novo, essa verdadeira
percepção é a semente da inteligência, não é? (…) Pensei que pudesse fazer muitas coisas, e posso, em uma certa direção, mas em uma totalmente nova direção nada posso fazer. A
descoberta disso é inteligência, obviamente. (La Verdad y la Realidad, pág. 411)

Agora, qual é a relação dessa inteligência com a outra? Obviamente, o velho cérebro, em todos estes séculos, pensou que pudesse ter seu Deus, sua liberdade, (…) fazer tudo que
desejasse. E subitamente descobre que qualquer movimento do velho cérebro é ainda parte do velho; portanto, inteligência é o entendimento de que ele só pode funcionar dentro do
campo do conhecido. O descobrimento disso é inteligência, dizemos. Agora, o que é esta inteligência? Qual é a sua relação com a vida, com a dimensão que o velho cérebro não
conhece? (Idem, pág. 411-412)

Você vê, a inteligência não é pessoal, não é resultado de argumento, crença, opinião ou razão. A inteligência manifesta-se no ser quando o cérebro descobre sua falibilidade,
quando descobre do que é capaz e do que não é. Agora, qual é a relação dessa inteligência com aquela dimensão? Prefiro não usar a palavra “relação” (Idem, pág. 49)

Pergunta: Que meios se emprega no funcionamento de decisões?

Krishnamurti: Aquilo que opera através da escolha e do desejo. Decide-se o curso da ação que se vai tomar, e tal decisão não é baseada na clareza, nem na observação do campo
total, mas sim na satisfação e na distração, que são fragmentos daquele campo. E continua-se a viver nessa fragmentação. Este é um dos fatores de deterioração. Minha escolha de
ser cientista pode estar baseada em influências ambientais, familiares, ou no meu próprio desejo de alcançar sucesso em certa direção. (…) (Exploration into Insight, pág. 65)

Pergunta: Você está dizendo que o cérebro não funciona completamente, mas somente em uma direção?

K.: O cérebro global não está ativo, e penso que este é o fator de deterioração. Você pergunta, qual é o fator de deterioração, não se a mente é capaz de ver ou não totalmente.
Tenho observado, nestes muitos anos, que a mente que segue certo curso de ação, desconsiderando a totalidade da ação, se deteriora. (Idem, pág. 66)

A ênfase dada à compreensão da consciência individual não deve ser tomada como mais um encorajamento do egocentrismo (…) É somente por meio da compreensão do processo
da consciência individual que pode dar-se a ação espontânea e verdadeira, sem criar ou aumentar ainda mais a tristeza e o conflito. (…) Portanto, devemos compreender
profundamente o processo da individualidade (ente individualizado) com sua consciência. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 10)

Portanto, deve haver profunda percepção, isenta de escolha, para compreender o processo da consciência. Essa necessidade surge apenas quando há sofrimento. Para descobrir a
causa do sofrimento, a mente deve ser aguda, plástica, sem escolha (…) Se não houver discernimento do processo da consciência individual, então a ação criará sempre confusão,
limitação, e, portanto, produzirá sofrimento e conflito. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 14)

(…) não podemos descartar o nosso saber, nossas experiências e lembranças, pois essas coisas têm existência. (…) O homem que está observando o perpassar das suas
experiências, lembranças, conhecimentos, sem a essas coisas se prender, esse homem não aspira à virtude, não está acumulando. E quando a mente já não está acumulando, quando
a mente está desperta para todo o processo da consciência, com todas as suas lembranças e seus motivos inconscientes, todos os impulsos de gerações, de séculos, deixando tudo
isso passar por ela sem a prender - não se acha então a mente fora do tempo? (Poder e Realização, pág. 72)

O tempo é uma duração, um movimento. Está sempre a fluir do passado, através do presente para o futuro. O passado é o conhecimento, a experiência, a conclusão, a tradição, a
herança racial, etc., etc. (…) Todo esse processo, de ontem, hoje e amanhã; o condicionamento de ontem, que se modifica no presente e toma forma amanhã - esse processo , sem
dúvida, constitui a consciência. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 122)

Psicologicamente, a coisa é muito mais complexa. Toda a psique é feita de tempo, pertence ao tempo. Todo o processo do pensar é resultado do passado, (…) do conhecido, como
experiência, conhecimento, conclusões. (…) Essa consciência é: eu era, eu sou, eu serei - modificado, ampliado, alongado, limitado. Isso constitui a consciência, o que somos -
tanto o consciente como o inconsciente. Parecemos atribuir enorme significado ao inconsciente, mas o inconsciente é o passado. (…) (Idem, pág. 122)

Nosso problema, se estamos verdadeiramente atentos, é este: Se os conflitos, as atribulações e os pesares de nossa existência diária podem ser resolvidos por outra pessoa (…) Para
se compreender um problema, requer-se, evidentemente, certa inteligência; e essa inteligência não pode resultar da especialização (…) Ela só se manifesta quando estamos
passivamente cônscios de todo o processo de nossa consciência, o que significa estar cônscios de nós mesmos sem escolha. (…) Porque, quando estais passivamente vigilantes (…) o
problema assume um significado de todo diferente (…) não há julgamento e, por isso, o problema começa a revelar-nos o seu conteúdo. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág.
77-78)

Vós, homens, como indivíduos, desenvolveis vossos sentidos pela luta social, pela autopreservação, e dais início, assim, à consciência da separação. Desde a infância vos foi
incutida a idéia de que sois uma entidade separada; e dessa ilusão provém a divisão entre “vosso” e “meu”, no que pensais e no que sentis, no que possuís e em todas as coisas.
(Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág.18)

Em virtude de tal entendimento de separatividade, o “eu” torna-se todo poderoso; dessa consciência de separação nasce o medo. E onde quer que exista o medo, manifesta-se
imediatamente o desejo de buscar conforto, em lugar do entendimento que dissipa todo o temor. Pois o conforto adormece vosso temor inato de perder vossa identidade separada.
(Idem, pág. 19)

Nossa principal preocupação deverá ser, então, descobrir de que modo cada um poderá ficar cônscio desse eterno, dessa viva realidade que sustenta, nutre e eleva todas as coisas e
que se acha em nós mesmos. (…) (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 21)

Quando o homem está consciente de si próprio como entidade separada, continuamente busca o exterior para encontrar auxílio, para sua subsistência, para seu bem estar; e desse
modo cria ele a desordem em lugar da ordem, e por causa dessa desordem surgem as superstições, as ilusões, as cerimônias. (Idem, pág. 21)

Quando introduzis o elemento pessoal em vosso julgamento, inevitavelmente perverteis vossa compreensão. Necessitais distinguir entre o que é pessoal e o que é individual. O
pessoal é o acidental, (…) as circunstâncias de nascimento, o ambiente (…), vossa educação, vossas tradições, vossas superstições, vossas distinções de nacionalidade e classe (…)
(Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 23)

Enquanto houver tal consciência de separação, do “eu”, da personalidade, não pode existir a realização da verdade; antes, porém, que possais transcender essa consciência,
tendes de vos tornar plenamente autoconscientes. Tal significa que necessitais vos tornar conscientes de vós próprios como indivíduos, não como uma máquina (…) (Idem, pág. 24)

Antes que vos possais tornar plenamente conscientes, e, dessa forma, perder a autoconsciência, há três condições a passar, relativas à consciência. Na primeira delas, o indivíduo é
escravo dos sentidos e de seus anelos. Para satisfazê-los, torna-se ele simplesmente egoísta, dependendo, inteiramente, para sua felicidade, das coisas exteriores, das sensações e
excitações, (…) emaranhado na tristeza e na dor. (…) (Idem, pág. 24-25)

Toma cada vez maiores responsabilidades sobre si e torna-se, por essa forma, um simples escravo da ação. Tal homem não tem tempo nem inclinação para a quietação do
pensamento, para a reflexão, para o exame. Pois a verdadeira reflexão cria a dúvida, as investigações levam ao isolamento, ao afastamento, o que ele cuidadosamente evita.
(Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 25)

Depois, vem o segundo estádio, em que o homem se apercebe de suas faltas, de seus defeitos, de suas ilusões, de suas crueldades. Tornando-se, assim, consciente de sua própria
natureza, tenta desembaraçar-se, livrar-se do domínio dos sentidos e começa a libertar a mente e o coração. (Idem, pág. 25)

Começa por diminuir, gradualmente, as próprias responsabilidades, sem abandonar sua vida na torrente do mundo. A ação, nascida da consciência de si mesmo, e na qual existe a
separatividade, é embaraçante, limitadora, pesada; porém a ação que é resultado da liberdade, da individualidade (ente individualizado) é libertação. (Idem, pág. 25)

O individuo que possui, agora, o forte desejo de libertar-se, começa a disciplinar-se. Essa disciplina não lhe é imposta pelo exterior, não é resultado de repressão; antes, em virtude
do seu desejo de ser livre, de realizar a verdade, impõe ele a si próprio uma disciplina oriunda do entendimento - não oriunda do medo, não coagido pelas circunstâncias sociais ou
pelo ambiente. Deseja então libertar a mente, o coração e, desse modo, viver em harmonia. (…) (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 25-26)

Em seguida vem o terceiro estádio da consciência, em que o homem está completamente senhor dos sentidos, (…) do seu corpo. Isso não significa ser desenvolvido muscularmente
(…); será senhor do corpo, no sentido de não mais se emaranhar em seus anseios, suas sensações e excitações. (Idem, pág. 26)

Começa ele, então, a libertar-se do medo e das ilusões que ele próprio cria. Uma vez que estejais libertos das ilusões, do temor, de todas as outras qualidades, haverá para vós um
como retiro interior nascido da alegria, retiro nascido não do tédio, nem do retraimento, nem do intuito de fugir a este mundo de conflito, porém um retiro interno de alegria em
meio da ação. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 26)

Quando tal acontecer, a reflexão e a análise virão dar lugar a uma concentração tremenda; não a concentração sobre um objeto, mas a concentração em que não há sujeito nem
objeto, o pleno conhecimento em que não há mais contrastes. (Idem, pág. 26)

Ulteriormente, proveniente desse retiro, manifesta-se uma harmonia interior, a equanimidade entre a razão e o amor - o pensamento liberto das fantasias e teorias pessoais, o amor
liberto da especialização, amor que é como o perfume de uma flor. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 27)

Quando existe essa harmonia, não mais se inquire a respeito do futuro e do passado. (…) O passado, com suas faltas e tristezas, desaparece, e o futuro, com suas esperanças,
anseios e antecipações, desaparece também; oriunda desses dois termos, nasce a harmonia do presente, a qual é a realização dessa inteireza que existe em todas as coisas. Quando
ela for realizada, haverá tranqüilidade, haverá a realidade viva da felicidade. (Idem, pág. 27)

Agora, a questão é esta: Nosso cérebro é o resultado de dois milhões de anos, do animal até nossa presente situação, qualquer que seja ao grau de evolução que tenhamos atingido
- pois ainda somos “o animal”. (…) Vós tendes de libertar vossa mente do “animal” ou seja, da avidez, da inveja, do medo, da ambição - de todas as nossas estúpidas trivialidades
(…) Só então poderá a mente transcender a si própria e descobrir se há uma Realidade, Deus, alguma coisa de atemporal. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 26)

Vida, Movimento, Processo; Contato, Renovação, Riqueza


Desde que encontrei a felicidade - (…) visto que descobri a Verdade (…) - quisera mostrar-vos a senda. O caminho para a felicidade acha-se em vosso coração e em vossa mente, e
em sua purificação reside a consecução. Não há dependência de auxílio externo para vos apoiar. (…) Para compreender a Vida, tendes de purificar vossa mente e vosso coração e
estabelecer harmonia dentro de vós próprios. (…) (Uma Visão da Vida, em “A Estrela”, de março-abril de 1929, pág. 4)

Para poderdes alcançar a felicidade, precisais pôr de lado aquelas coisas que não são essenciais e olhar para a Vida nos campos abertos, a fim de vos guiardes. Somente com essa
visão da Vida podereis crescer, ser sustentados e nutridos. Se fordes alimentados por coisas não essenciais, dar-se-á a fadiga do coração e a corrupção da mente. Deveis cultuar
aquilo que é incorruptível, deveis dar o vosso amor àquilo que se acha para além da estagnação. (Idem, pág. 4)

Um rio que corre rápida e constantemente, procura caminho para os mares abertos, muitas vezes forma, às margens, poças de água estagnada que permanecem o ano inteiro, até
que a estação chuvosa venha e leve as águas paradas para a corrente principal. A Vida, para mim, é semelhante a esse rio, e sustento que é mais rápido e fácil entrar no mar aberto
da libertação e da felicidade nadando na corrente principal da Vida, do que permanecendo nas águas estagnadas, retardadas, onde a vida não existe, onde se criam crenças e
executam ritos (O Rio da Vida, em “A Estrela”, de março-abril de 1992, pág. 11)

Eu sempre desejei a liberdade. Sempre andei descontente com dogmas, crenças e credos. (…) Em uma floresta espessa, podeis notar como uma pequena planta luta para crescer: as
grandes árvores lançam sobre ela a sua sombra e não lhe permitem desfrutar a luz do sol e o ar fresco. (…) Assim como a semente que está sob a terra é forçada, pela vida interna,
a despedaçar o solo duro e defrontar a luz, do mesmo modo se alguém for impelido pelo desejo de atingir a liberdade, despedaçará todas as limitações circundantes. (Idem, pág. 12)

A Vida é livre, incondicionada, ilimitável e, para atingi-la, é preciso não trilhar um caminho limitado, restrito, qualquer que seja ele. Pois a Verdade é o todo - e não a parte. A ela
não podeis chegar com mentes não adestradas, apenas meio evoluídas e com semi-evoluídas emoções, pois ela é a perfeita harmonia, o perfeito equilíbrio da mente e do coração,
que é a Vida. (Krishnamurti em Eerde, em “Boletim Internacional da Estrela”, de setembro de 1929, pág. 22)

É possível estarmos totalmente atentos ao todo da vida, não apenas aos fragmentos, às partes, porém à sua totalidade? Examinai o que se está dizendo e, por vós mesmos, senti,
tomai conhecimento dessa ação fragmentária, para não considerardes sério aquilo que não é sério, e descobrirdes o que é uma mente realmente séria, que não funciona por
fragmentos, porém considera a todo. Esta, de certo, é a mente séria; a mente que está cônscia do processo total da vida, não em fragmentos, mas como um todo indiviso. (Encontro
com o Eterno, pág. 20-21)

Refiro-me a uma disciplina completamente diferente, uma disciplina que nasce espontaneamente quando se compreende esse extraordinário processo da vida, não em fragmentos,
mas como um todo indiviso. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 214)

Pergunta: Qual é a vossa idéia do infinito?

Krishnamurti: Existe um movimento, um processo de vida, sem fim, que pode ser chamado infinito. Pela autoridade e imitação, nascidas do medo, cria a mente para si própria
múltiplas falsas reações, e por meio delas limita-se a si própria. Identificar-se com essa limitação, é incapaz de acompanhar o movimento rápido da vida. (…) [Nota Revisor: Este
último parágrafo está aleijado. O sentido não seria este: Ao identificar-se com essa limitação, fica-se incapaz….?]

Enquanto a mente-coração não puder libertar-se dessas limitações em plena consciência, não pode ter lugar a compreensão desse contínuo processo de vir-a-ser. Portanto, não
pergunteis o que é infinito, porém descobri por vós mesmos as limitações que mantém a mente-coração em cativeiro, impedindo-a de viver nesse movimento da vida. (Palestras em
Ojai, Califórnia, 1936, pág. 19-20)

Para compreender a verdade, tem de haver observação silenciosa, e a descrição dela somente a torna confusa e limitada. Para compreendermos o infinito processo da vida, temos
de começar negativamente, sem afirmações nem postulados, e daí construir o arcabouço do nosso pensamento-sentimento, da nossa ação e conduta. (Palestras em Ojai, Califórnia,
1936, pág. 25)

Pergunta: Não conduz a experiência à plenitude da vida?

Krishnamurti: Vemos muitas pessoas passarem por experiências repetidas, multiplicando as sensações, vivendo as memórias passadas com antecipações futuras. Vivem esses
indivíduos uma vida de plenitude? (…) Ou só existe plenitude da vida quando a mente está aberta, vulnerável, completamente desnuda de todas as memórias autoprotetoras?

A memória guia-nos por meio das experiências. Acercamo-nos de cada nova experiência com a mente condicionada, (…) sobrecarregada de memórias autoprotetoras de temores,
de preconceitos e tendências. (…) Enquanto existirem memórias autoprotetoras e enquanto estas derem continuidade ao processo do “eu”, não pode haver plenitude de vida.
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 60-61)

Portanto, devemos compreender o processo da experiência (…) Embora a mente procure evadir-se do sofrimento, auxiliada por essas memórias, desse modo ela apenas acentua o
temor, a ilusão e o conflito. A plenitude da vida só é possível quando a mente-coração estiver integralmente vulnerável ao movimento da vida, sem nenhum obstáculo artificial e
auto-criado. A riqueza da vida advém quando a carência, com suas ilusões e valores, tiver cessado. (Idem, pág. 61)

Devemos ter freqüentemente nos perguntado se porventura existe algo dentro de nós que tenha continuidade, um princípio algo vivo que tenha permanência, uma qualidade que
seja perdurável, uma realidade que persista através de toda esta transitoriedade (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 89)

A vida está a todo momento em um estado de nascença, de surgir, de “vir-a-ser”. Nesse surgir, nesse “vir-a-ser”, por si mesmo não há continuidade, nada que se possa identificar
como sendo permanente. A vida está em constante movimento, em ação; cada momento dessa ação jamais existiu anteriormente e jamais existirá de novo. Cada novo momento,
porém, forma uma continuidade de movimento. (Idem, pág. 89-90)

Ora, a consciência forma a sua própria continuidade como individualidade (ente individualizado), pela ação da ignorância, e apega-se, numa ânsia desesperada, a essa
identificação. Que vem a ser esse algo ao qual cada indivíduo se aferra, esperando que ele seja imortal, que esconda o permanente ou que, para além dele, resida o eterno? (Idem,
pág. 90)

Este algo a que cada um se apega é a consciência da individualidade (ente individualizado). Essa consciência compõe-se de múltiplas camadas de lembranças, as quais vêm à
existência ou se mantêm presentes onde houver ignorância, ânsia e carência. A ânsia, a carência, a tendência sob qualquer das suas formas, tem de criar conflito entre ela mesma e
aquilo que a provoca, ou seja, o objeto da carência; esse conflito entre a ânsia e o objeto pelo qual se anseia, aparece na consciência como individualidade (ente individualizado).

Portanto, é realmente esse atrito que procura perpetuar-se a si mesmo. Aquilo que intensamente desejamos que continue nada mais é que o atrito, a tensão entre as várias formas do
anseio e seus agentes provocadores. Esse atrito, essa tensão é essa consciência que sustenta a individualidade (ente individualizado) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 90)

O movimento da vida não tem continuidade. Está a cada momento surgindo, vindo à existência, estando, portanto, num estado de ação, de fluxo perpétuos. Quando o indivíduo
anseia pela própria imortalidade, precisa discernir qual o profundo significado desse anseio e o que é que deseja que continue. A continuidade é o processo automantenedor da
consciência, do qual surge a individualidade (ente individualizado) por meio da ignorância, que é resultado da carência, do anseio; daí provém o atrito e o conflito nas relações
mútuas, na moral e na ação. (Idem, pág. 90-91)

Para entender aquilo que é, deverá a compreensão principiar pela de nós mesmos. O mundo é uma série de processos indefinidos, variados, que não podem ser plenamente
compreendidos, pois cada força é única em si mesma e não pode ser verdadeiramente perceptível em sua totalidade. O processo integral da vida, da existência no mundo (…) só
podereis compreender por meio desse processo que se acha focalizado no indivíduo sob a forma de consciência (Palestras em Ojai, 1936, pág. 115)

Ora, a ação é esse atrito, essa tensão que se dá entre a ignorância, o anseio e o objeto de seu desejo. Tal ação sustenta-se a si própria e é isso que dá continuidade ao processo do
“eu”. Portanto, a ignorância, pelas suas atividades auto-sustentadoras, perpetua-se sob a forma de consciência, que é o processo do “eu”. (Idem, pág. 117)

Com ele está, a todo instante, o fundo de preconceitos (herdados e adquiridos), de pensamentos, temores, desejos, anseios, esperanças, lembranças herdadas e adquiridas. (…) Com
esse fundo, com essa mente assim condicionada, o indivíduo aborda a vida, e esforça-se por compreender o constante movimento dela. Isto é, partindo de um ponto fixo, tenta ele ir
ao encontro da vida que está eternamente oscilando. (Palestras em New York City, 1935, pág. 43)

Só pode haver verdadeiramente entendimento, alegria real de viver, quando houver completa unidade, ou quando não mais existir o ponto fixo, isto é, quando a mente e o coração
puderem acompanhar as livres e rápidas ondulações da Vida, da verdade. (Idem, pág. 43)

(…) Não é, pois, importante que aquele que indaga da finalidade da vida descubra primeiro se o seu instrumento de pesquisa é capaz de penetrar o processo da vida, as
complexidades do seu próprio ser? Porque é só isso que temos: um instrumento psicológico modelado de acordo com as nossas próprias necessidades (Novo Acesso à Vida, pág. 52)

O que estou dizendo é que, para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reações autoprotetoras.
Tal se dá quando vos achais enamorados. Tendes, pois, de estar enamorados da vida. Isso exige grande inteligência, não informações ou conhecimentos, porém sim essa grande
inteligência que desperta quando defrontais a vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração estiverem por completo vulneráveis em face da vida. (Palestras em
New York City, 1935, pág. 60)

Como é essencialmente simples a vida, e como a complicamos! Sabemos demais, e esta é a razão por que a vida se nos esquiva sempre; e esse “demais” é tão pouco! Com esse
pouco nós encontramos o imenso; e como podemos medir o imensurável? Nossa vaidade nos embota, a experiência e o saber nos escravizam, e as águas da vida passam sem que
nos banhemos nelas. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 208)

Como há de o indivíduo viver de modo que a ação seja preenchimento? Como pode o indivíduo enamorar-se da vida? Para enamorar-se da vida (…) obter o preenchimento, é
preciso ter a mente livre, mediante a compreensão profunda das limitações que a deturpam e frustram (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 58-59)

Mecanismo do “Eu”; Anseio, Ilusão, Temor, Auto-sustentação


O processo do “eu” resulta da ignorância, e essa ignorância, à semelhança da chama alimentada pelo óleo, sustenta-se a si mesma por meio das próprias atividades. Isto é, o
processo do “eu”, a energia do “eu”, a consciência do “eu”, é resultado da ignorância, e a ignorância sustenta-se a si própria por meio das atividades por ela mesma criadas; (…)
por meio das próprias ações, ânsias e desejos. (…) (Palavras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 39)

Portanto, trata-se não de saber o que é a realidade, o que é Deus, a imortalidade, e se o indivíduo deve ou não acreditar nisso, porém, sim, de saber que coisa é essa que luta, que
carece, que teme e anseia? (…) Qual é o centro em que esse querer tem sua existência? O que é a consciência, a concepção da qual partimos e na qual temos o nosso ser? A partir
daí é que devemos iniciar a nossa investigação. (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 58)

(…) O processo do “eu” é, assim, auto-ativo. Isto é, não somente ele próprio se expande mediante seus voluntários desejos e ações, como se mantém por sua ignorância, tendências,
carências e anseios. A chama sustenta-se pelo seu próprio calor, sendo que esse mesmo calor é a chama. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 59-60)

Agora, exatamente do mesmo modo, o “eu” sustenta-se a si mesmo por meio da carência, das tendências e da ignorância. E, apesar disso, o próprio “eu” é a carência. O material
para produzir uma chama tanto pode ser uma vela como um pedaço de madeira; e o material para o processo do “eu” é sensação, consciência. Esse processo não teve princípio e é
único para cada indivíduo. (…) (Idem, pág. 60)

Pela carência criamos confusão, ignorância e sofrimento, e depois em movimento o processo da evasão. A essa evasão chamamos busca da realidade. Vós dizeis: quero encontrar
Deus, quero atingir a verdade, a libertação; procuro a imortalidade. Jamais perguntais a vós mesmos o que é esse “eu” que procura. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 61)

(…) O compreender esse processo do “eu”, em conjunto, exige de vossa parte verdadeira reflexão e profunda penetração, por meio do discernimento. Se compreenderdes o
surgimento, o vir-a-ser da consciência por meio da sensação, da vontade, e perceberdes que da consciência nasce a unidade denominada “eu”, (…) então despertareis para a
compreensão da natureza desse círculo vicioso. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 61)

Quando se der o entendimento do seu significado, então terá lugar uma nova compreensão, algo de novo que não está embaraçado pela carência, pela ânsia, pela ignorância.
Então podereis viver neste mundo inteligentemente, de maneira sã, em plenitude profunda, e, apesar disso, não serdes do mundo. (…) (Idem, pág. 61-62)

Se puderdes compreender profundamente esse processo auto-sustentador de ignorância que dá solidez ao “eu”, e do qual surge toda confusão e todo sofrimento, então a vida
poderá ser vivida plenamente sem as várias e sutis evasões e persecuções que, sem o saber, vós próprios haveis criado.

Então virá à existência esse algo extraordinário, uma plenitude, uma bem-aventurança. Antes, porém, (…) é preciso que haja entendimento profundo do processo do “eu”. A não
ser que haja essa compreensão, o processo do “eu” estará sempre criando a qualidade em si próprio, por meio do desejo. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 62)
O processo do “eu”, que busca perpetuar-se, nada mais é que acúmulo de anseios. Esse acúmulo e suas lembranças constituem a individualidade (entidade individualizada) a que
nos aferramos e que ansiamos por imortalizar. As múltiplas camadas de lembranças, tendências e carências acumuladas constituem o processo do “eu”; e nós desejamos saber se
esse “eu” pode viver para sempre, se pode ser tornado imortal.

Será possível que essas lembranças autoprotetoras se tornem ou sejam tornadas permanentes? (…) Ou existirá o eterno para além desse atrito e limitação, que é o processo do
“eu”? Desejamos tornar permanentes as limitações acumuladas, ou imaginamos que, através de camadas de lembranças, de consciência, exista algo de perdurável. Ou imaginamos
que, para além dessas limitações da individualidade (ente individualizada), deva existir o eterno. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 91)

Qual a causa do conflito? O conflito surge quando a reação não é adequada ao desafio; esse desafio é a focalização da consciência do “eu”. O “eu”, a consciência, enfocado pelo
conflito, é experiência. Experiência é reação a um estímulo ou desafio; se não verbalizamos ou damos nome, não há experiência.(…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 171)

Novamente vos pergunto: podem as lembranças da ignorância acumulada, das carências e das tendências, de onde surgem o atrito e a tristeza, ser tornadas perduráveis? Essa é a
questão. Não nos é possível aceitar profundamente a asserção de que através da individualidade (ente individualizado) corre algo de eterno, ou que para além dessa limitação
exista algo de permanente, pois essa concepção só pode basear-se na crença, na fé, ou naquilo que denominamos intuição, e que é quase sempre preenchimento de desejo.
(Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 91-92)

Portanto, a questão importante é esta: pode o processo do “eu” ser tornado permanente? Pode a consciência das tendências, das carências e lembranças acumuladas, de onde
surge a individualidade (ente individualizado) ser tornada permanente? Por outras palavras, podem essas limitações tornarem-se o eterno? A vida, a energia acha-se em perpétuo
estado de ação, de movimento, no qual não pode haver continuidade individual. Como indivíduos, porém, anelamos perpetuar-nos (…) (Idem, pág. 92)

Ora, se o indivíduo puder discernir profundamente o surgimento do processo do “eu” e se tornar intensamente apercebido do construir das limitações e de sua transitoriedade,
então esse mesmo apercebimento produz a sua dissolução; e nisso está o permanente. A qualidade dessa permanência não pode ser descrita, nem tampouco pode o indivíduo
procurá-la. Ela vem à existência com o discernir o processo transitório do “eu”. A realidade do permanente só pode vir como um acontecimento, dá-se por si mesma, não pode ser
cultivada. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 93)

O indivíduo deve conhecer-se a si próprio e, conhecendo-se, será então capaz de discernir se existe ou não permanência. Nossa busca do eterno tem de levar-nos à ilusão; se,
porém, mediante um vigoroso esforço e experiência, pudermos compreender-nos profundamente a nós próprios, e discernir o que somos, somente então poderá surgir o permanente
- não a permanência de algo fora de nós, porém essa realidade que vem à existência quando o transitório processo do “eu” não mais se perpetuar. (Idem, pág. 94)

(…) O “eu” nada mais é que o resultado das lembranças acumuladas, que ocasiona atrito entre ele próprio e o movimento da vida, entre os valores definidos e os indefinidos. Esse
mesmo atrito é o processo do “eu”, e este não pode ser tornado o eterno. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 94)

Há duas espécies de vontade - a vontade que nasce do desejo, da carência, do anseio - e a vontade do discernimento, da compreensão. A vontade resultante do desejo baseia-se no
esforço consciente de aquisição, seja ela resultante da carência ou da não-carência. Esse esforço consciente ou inconsciente de querer, de ansiar, cria a totalidade do processo do
“eu”, e daí surgem o atrito, a tristeza e a cogitação do além. (Idem, pág. 94-95)

Desse processo surge também o conflito entre os opostos e, portanto, a luta constante entre o essencial e o não essencial, entre a seleção e a não seleção. E desse processo surgem
várias paredes autoprotetoras de limitação, que impedem a verdadeira compreensão dos valores indefinidos. Ora, se nos apercebermos desse processo, e de que havemos
desenvolvido uma vontade em virtude do desejo de adquirir, de possuir, e que essa vontade está criando conflito, sofrimento e dor contínuas, então dar-se-á, sem esforço consciente,
a compreensão da realidade, que pode ser chamada permanente. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 95)

Discernir que a carência está presente onde existir ignorância, e, portanto, produz sofrimento, e apesar disso não permitir à mente adestrar-se a não querer, é tarefa ingente e
difícil. Podemos discernir que o possuir, o adquirir, cria sofrimento e perpetua a ignorância, que o movimento do anseio impede o discernimento nítido. Se refletirdes a respeito,
percebereis que é assim. Quando não mais existir carência nem não-carência, dar-se-á a compreensão daquilo que é permanente. É um estado sutil e dificílimo de compreender;
não ser aprisionado entre os opostos, entre o renunciar e o aceitar, exige um esforço vigoroso e reto. (Idem, pág. 95)

Se formos capazes de discernir que os opostos são errôneos, que levam necessariamente ao conflito, então esse mesmo discernimento, esse aperfeiçoamento produz a iluminação.
(Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 95-96)

(…) A mente procura uma definição para com ela fazer um molde para si mesma, a fim de escapar àquelas reações da vida que determinam atrito e dor. Nisso não há compreensão.
(…) Internamente, o processo do “eu”, com suas solicitações, seus anelos, suas vaidades e crueldade, persiste e continua. Na compreensão desse processo reside a verdadeira e
esclarecida ação. (Idem, pág. 99)

Agora, a fim de discernir a verdade, o pensamento deve ser livre de tendências, a mente deve ser sem carência e sem escolha. Se vos observardes a vós próprios na ação, vereis que
a vossa carência do fundo da tradição, dos falsos valores e das memórias autoprotetoras, renova a cada momento o processo do “eu”, que impede o verdadeiro discernimento.
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 14)

A compreensão da causa do sofrimento produz na plenitude do nosso ser uma mudança de vontade isenta de escolha. Então a experiência, sem suas memórias de acumulação, que
impedem o entendimento e a ação, terá significação profunda. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 14-15)

A maioria de nós busca escapar ao sofrimento por meio de ilusões, de definições e conclusões lógicas, e assim, gradualmente, a mente se toma obtusa, incapaz de se perceber a si
mesma. Só quando a mente se percebe tal qual é, como vontade de si própria, com suas múltiplas camadas de ignorância, de temor, de carência, de ilusão, quando ela discerne
como, por meio de suas atividades volitivas, o processo do “eu” se vai perpetuando, só então há possibilidade de esse processo pôr fim a si próprio. (…) A terminação do processo
do “eu” é o começo da sabedoria, da beatitude. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 41)

Qual é a causa do medo? Como é engendrado o temor? (…) Haverá medo enquanto existir o processo do “eu”, a consciência da carência, que limita a ação. Toda ação nascida da
limitação da carência, cria apenas mais limitações. Essa contínua de carência, com suas múltiplas atividades, não liberta a mente do temor; dá apenas ao processo do “eu”
identidade e continuidade. A ação nascida da carência tem sempre de criar temor e assim embaraçar a inteligência e dificultar o ajustamento espontâneo à vida. (Palestras em
Ommen, Holanda, l936, pág. 64-65)

(…) Se discernirdes que o processo do “eu” se sustenta a si mesmo pelas próprias atividades volitivas nascidas da ignorância, da carência, do temor, então a experiência de outrem
muito pouco significado pode ter. Grandes instrutores religiosos declararam o que é moral e verdadeiro. Seus seguidores apenas os imitaram e por isso não realizaram o
preenchimento. (…) Os ideais criam dualidade na consciência e, assim, apenas continuam o processo do conflito. Se perceberdes que o despertar da inteligência é o fim do processo
do “eu”, então haverá espontâneo ajustamento à vida, relações harmoniosas com o ambiente (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 73-74)

A ignorância não tem começo, mas pode-se-lhe pôr termo. A própria compreensão de que a ignorância se sustenta a si própria, acaba com esse processo. Isto é, vós mesmos
observais como, por meio de vossas atividades, estais sustentando a ignorância; como, por meio do anseio, que gera o medo, a ignorância é mantida; e como isso dá continuidade
ao processo do “eu”, à consciência. Essa ignorância, esse processo do “eu”, mantém-se pelas próprias atividades volitivas nascidas da carência, do anseio. Com a cessação da
autonutrição, o processo do “eu” termina. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 16)

O processo do “eu” é automantenedor, auto-ativo, por sua própria ignorância, tendência, suas ansiedades. Ele tem de se destruir por meio da cessação dos próprios desejos
volitivos. Se compreenderdes profundamente o significado dessa integral concepção do “eu”, então vereis que não sois mero ambiente, opinião ou acaso, porém o criador, aquele
que dá origem à ação. Vós criais vossa própria prisão de tristeza e conflito. Por meio da cessação de vossas atividades volitivas, encontrareis a realidade, a felicidade. (Palestras
em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 56-57)

Deveis transcender o padrão da dualidade para resolverdes permanentemente o problema dos opostos. Dentro do padrão, não se encontra verdade alguma (…); se procurarmos a
verdade dentro de seus limites, iremos ao encontro de desilusões. Cumpre transcendermos o padrão dualista do “eu” e do “não eu”, do possuidor e da coisa possuída. Para além e
acima (…) da dualidade, encontra-se a verdade. Para além e acima do interminável problema dos opostos, causador de conflitos e dores, encontra-se a compreensão criadora. (…)
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 13)

Assim, direis agora: “se eliminardes esta concepção do “eu”, qual será o ponto focal da vida?” (…) Dizeis: “eliminai, libertai a mente dessa consciência de si mesma, como um
“eu”, e, então, o que permanece?” O que resta quando sois supremamente felizes, criativos? O que permanece é esta felicidade. Existe este admirável sentimento de amor ou este
êxtase. Digo que isto é real. Tudo o mais é falso. (Palestras em Auckland, 1934, pág.116)

Pensador, Observador e Pensamento, Coisa Observada


A liberdade não é uma idéia, uma filosofia. A liberdade não existe quando a mente está aprisionada no pensamento. (…) O pensamento é a resposta da memória, do conhecimento e
da experiência, é sempre produto do passado e não pode criar liberdade (…)(O Mundo Somos Nós, pág. 15)

Como provocar então psicologicamente, interiormente, essa mudança radical (…) fundamental, se ela não acontece por meio de um estímulo, nem por meio da análise e da
descoberta da causa? Uma pessoa pode facilmente saber por que é que está encolerizada, mas isso não faz com que ela deixe de se encolerizar. (Idem, pág. 17)

Quando se aprofunda essa questão, surge o problema inevitável do “analisador” e daquilo que é “analisado”, do “pensador” e do que é “pensado”, do “observador” e do
“observado”, e o problema de saber se essa divisão (…) é real, (…) um problema de fato, e não uma questão teórica. (O Mundo Somos Nós, pág. 18)

Será o “observador” - o centro a partir do qual se olha, se vê, se ouve - uma entidade conceptual que se separa a si mesma do “observador”? Quando se diz que se está
encolerizado, será a cólera diferente da entidade que sabe que está encolerizada? Estará essa violência separada do “observador”? A violência não faz parte do “observador”?
(…) (Idem, pág. 18)

O “observador”, e o “eu”, o “ego”, o “experimentador”, o “pensador”, será diferente do pensamento, da experiência, da coisa que ele observa? Quando olhamos uma árvore,
alguma vez a olhamos realmente? Ou será que a olhamos através das imagens pertencentes ao conhecimento adquirido, à experiência passada? (Idem, pág. 18)

Se existe uma divisão entre o “observador” e o “observado”, essa divisão é a origem de todo o conflito humano. Quando dizeis que amais alguém, será isso amor? Não haverá,
nesse amor, o “observador”, de um lado, e do outro a coisa amada, o “observado”? Esse “amor” é produto do pensamento. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 19)

Vejamos a questão de maneira diferente. Vive-se no passado, todo o conhecimento é do passado. (…) A nossa vida está essencialmente baseada no ontem, e o “ontem” torna-nos
impermeáveis, rouba-nos a capacidade da inocência, da vulnerabilidade. Assim, o “ontem” é o “observador”; no “observador” estão todas as camadas do inconsciente, assim
como o consciente. (O Mundo Somos Nós, pág. 19-20)

Uma das causas principais do conflito é a existência de um centro, um ego, um “eu”, resíduo de todas as lembranças, (…) experiências, (…) conhecimentos. E esse centro está
sempre tratando de ajustar-se ao presente ou de absorvê-lo (…) O que ele já conhece é todo o conteúdo de milhares de dias pretéritos, e com esse resíduo procura enfrentar o
presente. (…) E nesse processo do passado, que traduz o presente e cria o futuro, se acha aprisionado o “eu”, o ego. E nós somos isso. (O Passo Decisivo, pág. 112)

Assim, a fonte do conflito é o “experimentador” e a coisa que está “experimentando”. (…) Enquanto houver separação entre pensador e pensamento, experimentador e coisa
experimentada, observador e coisa observada, tem de haver conflito. (…) Ora, pode-se anular essa divisão ou separação, de modo que sejais o que vedes, sejais o que sentis? (O
Passo Decisivo, pág. 112)

Se você está prestando atenção, o que ocorre? Não há o “você” prestando atenção. Não há um centro que diga: “Estou prestando atenção”. (…) Se você está sério e prestando
atenção, logo descobrirá que todos os seus problemas se foram, pelo menos no momento. Resolver problemas é prestar atenção. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 67)

Digo: “Eu penso”. O pensamento é diverso da entidade que diz: “estou pensando”? Dizemos que as duas coisas são separadas, que o “eu” pensa ser diferente do pensamento.
Presumimos que o “eu” vem em primeiro lugar; o “eu”, o “ego” é o pensador; primeiro este, depois o pensamento, a mente. Separamos, pois, o “eu” e a mente. Mas, isso é um
fato? (…) (As Ilusões da Mente, pág. 114)

(…) Só depois de eliminado o pensante, se manifesta a Realidade. Essa unidade indivisível do pensante e do pensamento é para ser conhecida. Esse conhecimento traz-nos
libertação; existe nele uma alegria inexprimível. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 24-25)

Análise implica divisão - o analista e a coisa a analisar. Não importa se sois vós mesmo que vos analisais, ou se é um especialista quem o faz - de qualquer maneira há divisão e,
por conseguinte, já temos o começo do conflito. (…) Eis por que tanto importa compreender o “processo” da análise, a que a mente humana está apegada há tantos séculos. (A
Questão do Impossível, pág. 32)

Dentre os numerosos fragmentos em que nos achamos divididos, um assume a função de “analista”; a coisa que se vai analisar é outro fragmento. Esse analista se torna o
“censor”; com seus conhecimentos acumulados, avalia o bom e o mau, o certo e o errado, o que deve ou não deve ser reprimido, etc. Outrossim, o analista tem o dever de fazer
análises completas (…) (Idem, pág. 32)

Como já vimos, há separação entre o analista e a coisa a analisar, entre o observador e a coisa observada; esta é a causa básica do conflito. Quando observamos, sempre o fazemos
com base num centro, em nosso fundo de experiência e conhecimento; o “eu”, como católico, comunista ou “especialista” - está observando. Há, assim, separação entre “mim” e a
coisa observada. (…) Há, pois, “observador” e “coisa observada”; nessa divisão produz-se, inevitavelmente, contradição. Essa contradição é a raiz de todas as lutas. (Idem, pág.
33)

Ora, é o pensante diferente do seu pensamento? Se cessa o pensamento, onde fica o pensante? Se fossem retiradas as qualidades do pensante, do “eu”, continuaria ele a existir?
Assim, os pensamentos são o pensante, não estão separados. (…) O pensante separou-se de seus pensamentos para proteger-se (…) No momento em que o pensante começa a
modificar-se, deixa de existir. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 103)

Quando uma pessoa se analisa, há sempre “o analisador” e “a coisa analisada”. O analisador é aquele que está a olhar do lado de fora - a julgar, a avaliar, a controlar, a
reprimir, etc. Mas será possível uma pessoa ver-se intimamente, como realmente é? Ou seja, poderá a pessoa olhar para si mesma sem o pensador, o observador - o observador que
está sempre de fora, que é o censor, a entidade que avalia, que diz “isto está certo”, “isto está errado”, “isto deveria ser”, “isto não deveria ser” - o que torna a observação muito
limitada e meramente de acordo com o condicionamento social, ambiental e cultural. (O Mundo Somos Nós, pág. 126)

Os pensamentos criaram o “pensador”, porque os pensamentos são transitórios, e (…) dizemos que o pensador é permanente. Desse modo, na busca de permanência, os
pensamentos criaram o pensador. E então o pensador domina os pensamentos e molda-os. (…) Os pensamentos criaram o pensador (…) Ao ser percebida a verdade a esse respeito,
não há mais o controlar dos pensamentos, (…) só há o pensar. Se digo tal coisa e ela é compreendida, nisso já há uma revolução extraordinária; porque então já não existe o
“pensador” (…) Perceber a verdade a esse respeito é o começo da meditação. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 126)

E possível, pois, olhar-se não analiticamente e, portanto, observar sem que seja o “eu” aquele que observa? Quero compreender a mim mesmo e sei que o “eu” é muito complexo; é
uma coisa viva, não algo morto; é uma coisa viva, vital, em movimento, não apenas um acúmulo de recordações, experiências e conhecimentos. (…) Pois bem: é possível olhar sem
o observador que olha a coisa observada? (…) (El Despertar de la Inteligencia, pág. 116)

Se é o observador quem olha, então deve fazê-lo mediante a fragmentação, a divisão, e onde há divisão - dentro e fora de si mesmo - deve haver conflito. No externo, os conflitos
nacionais, os religiosos, os econômicos, e, no interno, está este campo imerso, não só no superficial, senão na área dilatada acerca da qual nada sabemos. De modo que, se no ato
de olhar existe essa divisão entre o “eu” e o “não eu”, entre o observador e o observado, o pensador e o pensamento, o experimentador e a experiência, então tem de haver
conflito. (Idem, pág. 116)
Como se pode observar sem o “observador”, sendo este o passado, a imagem? (…) O “fabricante” de imagens é o observador, e perguntamos se podeis observar vossa esposa, a
árvore, vosso marido, sem a imagem, sem o “observador”. Para se saber a resposta, impende descobrir o mecanismo formador de imagens. Que é que cria as imagens? Se o
descobrirdes, jamais criareis imagens e podereis observar sem o “observador”. (O Novo Ente Humano, pág. 115)

Vós me injuriais; se, nesse momento, houver “percepção total”, não haverá registro, não tenho vontade de bater-vos ou de xingar-vos, estou passivamente cônscio do insulto e, por
conseguinte, não há formação de imagem. A primeira vez (…) ficai totalmente cônscio, e vereis como a velha estrutura do cérebro se torna quieta (…) O “registrador” não faz
nenhum registro (…) O ver dessa maneira é o verdadeiro estado de uma relação. Por conseguinte, a mente capaz de observar com clareza é também capaz de observar o que é a
Verdade. (Idem, pág. 115-116)

Se se percebe que essa é a causa básica do conflito, logo se pergunta: Pode-se observar sem o “eu”, o “censor”, sem nenhuma de nossas experiências acumuladas, de aflição,
conflito, brutalidade, vaidade, orgulho, desespero, que constituem o “eu”? Podeis, sem o passado - memórias, conclusões e esperanças, trazidas do passado - observar sem esse
background? Esse background, sendo o “eu”, o “observador” - separa-vos da coisa observada. (A Questão do Impossível, pág. 33)

Mas, podeis olhar-vos interiormente sem “observador”? Tende a bondade de olhar-vos - vosso condicionamento (…) educação (…) maneira de pensar (…) conclusões e
preconceitos - sem nenhuma espécie de condenação, explicação ou justificação - observando, apenas. Quando assim se observa, não há observador e, por conseguinte, não há
conflito algum. (Idem, pág. 33)

Esse modo de vida difere totalmente do outro: não é o oposto do outro, nem uma reação a ele; é diferente. Nele, há liberdade infinita, abundante energia e paixão. Ele é observação
total, ação completa. (…) (Idem, pág. 34)

Por certo, (…) ao compreendermos de maneira completa a natureza da nossa mente, desaparece, então, inevitavelmente, a divisão entre o “pensador” e o pensamento, desaparece
o “observador” que está a observar aquela ansiedade ou temor e a esforçar-se por vencê-lo. Só há, então, aquele “estado de ser” que é o temor, ou a ansiedade, ou a solidão; não
há mais o “observador” do temor. (A Renovação da Mente, pág. 41)

Essa integração do “pensador” e do pensamento só se realiza quando a mente abandona de todo as fugas e não mais se esforça para encontrar uma solução. Porque, qualquer
movimento por parte da mente para compreender o problema central há de basear-se no tempo, no passado. E o tempo só vem à existência quando há temor e desejo. (Idem, pág.
42)

Cabe-nos, por conseguinte, observar esse processo dualista em ação, em nosso interior: a divisão em “eu” e “não eu”, observador e coisa observada. Foi o pensamento que efetuou
essa divisão. É ele quem diz: “Estou insatisfeito com o que é, e só poderei satisfazer-me com o que deveria ser. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 90)

Existe, pois, em cada um de nós, esse processo dualista, contraditório. Esse processo é um desperdício de energia. (…) Por que existe esse esforço constante: o que é e o que deveria
ser? (…) O observador é sempre o passado: nunca é novo. A coisa observada pode ser nova, mas o observador a traduz sempre de acordo com o “velho”, o passado, e, assim, o
pensamento nunca poderá ser novo e, portanto, livre. (Idem, pág. 90-91)

Assim, é possível a mente libertar-se do “observador”, do “censor”. Afinal, o “observador”, o “censor” é o “eu”, que quer sempre mais e mais experiência. Tive todas as
“experiências” que este mundo pode proporcionar. Por conseguinte, desejo novas experiências noutro nível, a que chamo “o mundo espiritual”; mas o “experimentador” continua
existente, o observador subsiste. (…) E pode o “experimentador”, o “eu”, deixar de existir completamente? Porque só então é possível a mente esvaziar-se e surgir o novo, a
Verdade, a Realidade criadora. (O Homem Livre, pág. 156)

Quando um indivíduo descobre o que realmente é, ele se pergunta: “É ele mesmo, o observador, diferente do que observa?” - psicologicamente falando (…) Eu estou irado,
cobiçoso, violento; é isso diferente da coisa observada, que é a ira, a cobiça, a violência? (…) Obviamente não é. (…) Portanto, eu sou a ira, o observador é o observado. A divisão
é ilimitada por completo. O observador é o observado e, por conseqüência, o conflito termina. (La Totalidad de la Vida, pág.138)

Se o pensador separa o seu pensamento de si próprio, (…) sobreviverá inevitavelmente o conflito e a ilusão. Não há saída (…), a não ser que se transforme o pensador. Essa
completa integração do pensador com o pensamento não é uma expressão verbal, senão uma experiência profunda que só se manifesta quando o pensador já não está colhido na
oposição dualista.

Pelo autoconhecimento e pela meditação correta, verifica-se a integração do pensador com o pensamento (…) Na verdadeira meditação, o sujeito que se concentra é a própria
concentração; (…) Na verdadeira meditação, não está o pensador separado do pensamento (…) É só então que há criação (…) eternidade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 147-148)

Quando há “experimentar”, não há o que experimenta nem a coisa experimentada. Nesse “estado de experimentar”, que é sempre novo, que sempre é ser (…) o indivíduo sabe que
a palavra não é a experiência, (…) não é a coisa, (…) nenhum conteúdo tem; só a própria “experiência” é repleta de conteúdo. (O que te fará Feliz, pág. 125-126)

O “experimentar” não é, pois, verbalização. “Experimentar” é a mais elevada forma de compreensão, porquanto é a negação do pensar. A forma negativa de pensar é a mais
elevada forma de compreensão; e não pode haver pensar negativo, quando há verbalização do pensamento. (…) (Idem, pág. 126)

Não se trata, pois, absolutamente, de controlar e pensamento, mas de se ficar livre do pensamento. É só quando a mente fica livre do pensamento, que há percepção daquilo “que
é”, do que é eterno, da Verdade. (Idem, pág. 126)

(…) O observador vê através da imagem, e tem continuidade no tempo. Portanto, não pode ver nada novo. Se olho a minha esposa com a imagem de anos, e a isso chamo relação,
nada de novo há nisso. (El Despertar de la Inteligencia, pág. 119)

É possível então ver algo novo sem o observador? O observador é tempo. Posso olhar “o que é” não fragmentado, sem o observador, que é tempo? Pode haver uma percepção sem
aquele que percebe? (Idem, pág. 119)

Como há de olhar-se um indivíduo? É possível olhar-se de modo total, sem a divisão entre o consciente e as camadas profundas da consciência, das quais talvez nem sequer nos
damos conta? É possível observar, ver todo o movimento do “eu”, do “mim mesmo”, de “o que sou”, com uma mente não analítica, de modo tal que, no observar a mim mesmo,
haja instantaneamente uma compreensão total? (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 116)

Ao percebermos a verdade de que o observador é a coisa observada, não há então dualidade e, por conseguinte, não há conflito (que, como dissemos, é desperdício de energia). Só
há então o fato: a mente condicionada. (…) (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 34)

Ora, pode-se perceber muito bem que o pensador é resultado do pensamento; porque não existe pensador se não existir pensamento, não há experimentador quando não há
experimentar. O experimentador, o observar, o pensar, produz o experimentador, o observador, o pensador. O experimentador não está separado da experiência, (…) do
pensamento. (…) O pensamento criou o pensador, como entidade separada, porque o pensamento está sempre a modificar-se, transformar-se, e reconhece a própria
impermanência. Sendo transitório, o pensamento deseja a permanência, e cria assim o pensador, como entidade permanente, fora da rede do tempo. (Viver sem Confusão, pág. 23)

Se percebemos a verdade desse fato - isto é, que o pensador é pensamento, que não existe pensador separado do pensamento, mas apenas o processo do pensar - o que acontece?
(…) Até aqui, sabemos que o pensador está operando sobre o pensamento, e isso gera conflito entre o pensador e o pensamento; mas, se percebemos a verdade de (…) que o
pensador é uma entidade arbitrária, artificial e inteiramente fictícia - que acontece? Não é então afastado o processo do conflito? (…) (Idem, pág. 23-24)

A raiz da contradição é a separação existente entre o pensador e o pensamento. Para a maioria de nós, existe um largo intervalo entre o “observador” e a “coisa observada”, entre
o “pensador” e o “pensamento”, entre o “centro que experimenta” e a “coisa que se experimenta”; e é esse intervalo, vão ou demora, que é a verdadeira fonte da contradição. (O
Descobrimento do Amor, pág. 68)

Temos, pois, de compreender a vida totalmente, para nos libertarmos de nosso sofrimento. (…) O viver não é então diferente do morrer. Não existe então esse vão, esse largo
intervalo de tempo criado pelo “pensador”, (…) sempre a gerar medo. Compreender o que é viver, é morrer todos os dias, sem discussão, para toda aflição, (…) problemas, (…)
prazeres (…) (Idem, pág. 71)

Devemos, pois, compreender a natureza da autocontradição, e só podemos compreendê-la observando a integral estrutura do “pensador” com seus pensamentos - o pensador que,
como censor, está a criar uma perene contradição entre si próprio e a coisa que em si mesmo observa. Por conseguinte, a observação do que é, exige muita seriedade (…) (O
Descobrimento do Amor, pág. 71)

Quando o “observador” é o “observado”, então o conflito cessa. Isso acontece (…) em circunstâncias de grande perigo, na qual não há “observador” separado do “observado”;
há ação imediata, há uma resposta instantânea nessa ação. (…) Há uma transformação imediata, psicologicamente, interiormente, quando a divisão entre o “observador” e o
“observado” deixa de existir. (O Mundo Somos Nós, pág. 19)

Quando uma pessoa diz que tem medo, é o observador que diz “tenho medo” e deseja fazer alguma coisa a respeito do medo. (…) O observador é a coisa observada. O observador,
o centro, com seu pensamento, suas lembranças aprazíveis e dolorosas, criou esse medo e o colocou fora de si próprio. Há conflito entre o observador, o centro que diz “devo ser
diferente, estou irritado e devo livrar-me da irritação” e a coisa observada. Há separação entre o observador e o objeto observado e, portanto, conflito. (A Importância da
Transformação, pág. 79-80)

Fator Tempo, Mecanismo; Cronológico, Psicológico


Temo-nos ocupado de vários assuntos, (…) mas parece-me que uma das questões mais importantes que devemos investigar e cuja significação devemos descobrir, é a questão do
tempo. (…) Assim, se me é permitido, desejo falar um pouco sobre o que é o tempo; porque a beleza e o significado daquilo que é atemporal, verdadeiro, só podem ser
experimentados quando compreendemos, no seu todo, o processo do tempo. (…) (A Arte da Libertação, pág. 159)

Nossas mentes são o produto de muitos dias passados, e o presente é apenas a passagem do passado para o futuro. Nossas mentes, nossas atividades, nosso ser, estão fundados no
tempo; sem o tempo não podemos pensar, porque o pensamento é resultado do tempo, (…) é produto de muitos dias passados, e não há pensamento sem memória. A memória é
tempo; porque há duas espécies de tempo: o tempo cronológico e o tempo psicológico. Há o tempo - o ontem marcado pelo relógio, e o ontem registrado pela memória. (Idem, pág.
160)

Psicologicamente, somos escravos do tempo - que é a memória de ontem, do passado, com todo o seu acúmulo de experiências; não só nossa memória como pessoa particular, mas
também a memória do “coletivo”, da raça, do homem através das idades. O passado é constituído dos sofrimentos do homem, individuais e coletivos, de suas aflições, alegrias, sua
tremenda luta com a vida, a morte, a verdade (…) a sociedade. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 89)

O tempo é coisa que foi construída pelo cérebro, e este, a seu turno, é resultado do tempo (…) Todo pensamento é resultado do tempo, reação da memória de ontem, das ânsias,
frustrações, fracassos, sofrimentos, iminentes perigos; e com esse fundo consideramos a vida, todas as coisas. Se há Deus, se não há, a natureza das relações, como superarmos ou
ajustarmo-nos ao ciúme, à ansiedade, ao sentimento de culpa, ao desespero, ao sofrimento - todas essas questões consideramos com aquele fundo temporal. (Idem, pág. 89)

Ora, o que quer que consideremos com esse fundo, se desfigura; e quando é muito grande a crise que nos exige atenção, e a olhamos com os olhos do passado, atuamos
neuroticamente, como o faz a maioria de nós, ou construímos para nós mesmos uma muralha de resistência a ela (à crise) (…) (Idem, pág. 89-90)

Pergunta: (…) Por que repetis sempre que no presente está o Eterno?

Krishnamurti: O presente é conflito e sofrimento, com um lampejo ocasional de fugaz alegria. O presente se entretece com o passado e com o futuro, num vaivém incessante, e, por
isso, está o presente em constante agitação. (…) Como podeis compreender o passado, a não ser pelo seu resultado, o presente? (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 66)

(…) Segundo a maneira como considerais o presente (…) no qual vossa mente está condicionada, revelar-se-vos-á o processo do passado (…) Quando vos compreenderdes como
agora sois, abrir-se-vos-á o rolo do passado. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 67)

É o presente da máxima importância; o presente, por trágico e doloroso que seja, é a única porta para a Realidade. O futuro é a continuação do passado, através do presente.
Quando se compreendo o presente, transforma-se o passado. (…) (Idem, pág. 67-68)

Pensamos e sentimos em termos de tempo, de viver, de vir-a-ser, ou de não vir-a-ser, ou de morte, ou do prolongamento desse vir-a-ser para além da morte. O
pensamento-sentimento move-se do conhecido para o conhecido, do passado para o presente, para o futuro (…) Somos prisioneiros do tempo, e como poderemos (…) conhecer a
Realidade Eterna, na qual a vida e a morte são uma só coisa? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 76)

O tempo é um fenômeno muito estranho. Espaço e tempo são uma só coisa; um não existe sem o outro. (…) O tempo quase não tem significação para o selvagem, mas, para o
homem civilizado, é de imensa significação. O selvagem esquece-se de um dia para outro dia (…) Para o cientista, o tempo é uma coisa, para o leigo, outra. Para o historiador, o
tempo é o estudo do passado (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 228)

Causa-efeito não é um processo único? Não há intervalo entre a causa e o efeito. Hoje é o efeito de ontem e a causa de amanhã; é um só movimento, um fluir contínuo. Não há
separação, não há uma linha distinta entre a causa e o efeito; mas, interiormente, nós os separamos com o fim de vir-a-ser, alcançar nossos objetivos. Sou isto e me tornarei aquilo.
Para me tornar aquilo, preciso de tempo - o tempo cronológico usado para fins psicológicos! (Idem, pág. 229)

Sou ignorante; transformar-me-ei, porém, em sábio. A ignorância a tornar-se sábia, é ignorância progressiva, apenas; porque a ignorância não pode tomar-se sábia, assim como a
avidez não pode fazer-se não avidez. A ignorância é o próprio processo de vir-a-ser. (Idem, pág. 229)

Não é o pensamento produto do tempo? O saber é a continuação do tempo. O tempo é continuidade. A experiência é saber, e o tempo é a continuação da experiência, como
memória. (…) A mente é a máquina do tempo. (…) O pensamento é sempre do passado; o passado é a continuidade do saber. O saber é sempre do passado (…) nunca está fora do
tempo (…) Essa continuação da memória, do saber, é a consciência. (…) (Comentário sobre o Viver, pág. 229-230)

O ontem, servindo-se do hoje como passagem para o amanhã; o passado, fluindo através do presente para o futuro, é um só movimento de tempo e não três movimentos distintos.
Conhecemos tempo cronológico e tempo psicológico - evolução e “vir-a-ser”. Há a evolução da semente à árvore, e há processo de “vir-a-ser” psicológico. O vir-a-ser psicológico
implica tempo. Sou isto e me tornarei aquilo, servindo-me do tempo como passagem (…); o que foi se movimenta para tornar-se o que será. (…) O pensamento, pois, é tempo - o
pensamento que foi e o pensamento que será, o que é o ideal. (…) A mente é a criadora do tempo, ela é tempo. (Reflexões sobre a Vida, pág. 120)

Que entendemos por continuidade? Que é que causa a continuidade? Que é que prende um momento a outro momento, como (…) as contas de um colar? O momento é o novo, mas
“o novo” se absorve no velho e forma-se, assim, a cadeia da continuidade. (…)

O velho só pode reconhecer sua própria “projeção”; pode chamá-la “o novo”, mas não é o novo. O novo não é reconhecível; é um estado de não-reconhecimento, não associação.
(…)O “experimentar” do novo só acontece na ausência do “velho”. A experiência e sua expressão é pensamento, idéia; o pensamento traduz “o novo” em termos de “velho”. É o
velho que dá continuidade; o velho é a memória, a palavra, ou seja, tempo. (Reflexões sobre a Vida, pág. 121)

(…) O desejo é pensamento; o desejo forja a cadeia da memória. O desejo é esforço, ação da vontade. O acumular é ação peculiar do desejo; acumular é “continuar”. (…) O centro
que acumula é o desejo (…) de mais ou de menos. Esse centro é o “eu”, colocado em níveis diferentes, conforme o condicionamento da pessoa. Toda atividade procedente desse
centro, tem o fim de promover a continuidade desse mesmo centro. (…) (Idem, pág. 122)

(…) Todo movimento da mente, sendo temporal, impede a criação. O atemporal não pode coexistir com a memória temporal. O ilimitado não pode ser medido pela memória, (…)
experiência. O Inefável, o Inominável só pode ter existência depois de cessar completamente a experiência, o conhecimento. Só a verdade liberta a mente do cativeiro em que
mantém a si própria. (Idem, pág. 122)

Estamos, pois, examinando o tempo. (…) A mente que está em ação pode existir sem o tempo. (…) A mente que está em ação com uma idéia, um motivo, uma finalidade, uma
fórmula, está enredada no tempo; sua ação, por conseguinte, não se completa e, portanto, dá continuidade ao tempo. Como sabeis, o tempo, para nós, é não só duração psicológica,
mas também continuidade da existência. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 149)

Serei isso futuramente - amanhã ou no próximo ano. Esse “ser futuramente” está condicionado não só ao ambiente, à sociedade, mas também à reação a tal condicionamento (…)
Quando uma pessoa diz: “Se hoje não sou feliz, se não sou rico interiormente, profunda, ampla, inexaurivelmente rico, eu o serei” - essa pessoa está na armadilha do tempo. (…)
(Idem, pág. 149)

É possível a mente achar-se sempre em ação, diretamente, espontânea e livremente, de modo que nunca tenha um momento de tempo? Porque o tempo é pensamento periférico.
Todo pensar é periférico, marginal (…) Pensamento é reação do acúmulo de memória, de experiência, de conhecimento; daí procede o pensamento, a reação ao passado. O
pensamento jamais pode ser original. (Idem, pág. 150)

(…) Podeis usar palavras, que pertencem ao passado, expressar o original, mas o original não pertence ao tempo. Por conseguinte, para descobrir o original, deve a mente estar
inteiramente livre do tempo - do tempo psicológico; da duração; da idéia de “serei”, “alcançarei”, “tornar-me-ei”. (Idem, pág. 150)

Assim, por havermos dividido a ação do tempo em passado, presente e futuro, por não ser a ação, para nós, completa em si mesma, mas por ser antes algo impulsionado por
motivos, por medo, guias, recompensa ou castigo, nossas mentes são incapazes de compreender o contínuo todo. (…) Sempre que a ação nasce da plenitude e não da divisão do
tempo, é ela harmoniosa e livre das malhas da sociedade, com suas classes, raças, religiões e posses. (Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág. 45)

Nessas condições, o presente é utilizado pelo passado como uma passagem para o futuro. (…) O futuro é sempre um “vir-a-ser”; e, nessas condições, o presente, no qual tão
somente pode haver compreensão, nunca é aprendido por nós. Enquanto há “vir-a-ser”, há conflito. E o “vir-a-ser” é sempre o passado a servir-se do presente, para ser, para
alcançar seus fins. No processo desse “vir-a-ser”, fica o pensamento aprisionado na rede do tempo. E o tempo não é solução para os nossos problemas. (…) (O que te Fará Feliz?,
pág. 103)

O tempo é uma ilusão, mas não o tempo cronológico, que é uma realidade. Por depender do tempo para efetivar a transformação interior, o pensamento enreda-se num círculo
vicioso, porque, então, realmente não ocorre transformação nenhuma, já que (…) é apenas continuidade modificada do que existiu. (…) O tempo deve simplesmente findar para que
ocorra mutação. Ela só se realiza ao negarmos o hábito, a tradição, as reformas, os ideais e todas as coisas transitórias. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 125)

(…) Existe realmente “amanhã”, psicologicamente? Ou o amanhã é criado pelo pensamento, porque este, percebendo a impossibilidade de uma mudança direta e imediata, inventa
o processo da gradualidade? Vejo por mim mesmo (…) quanto importa promover uma revolução radical na minha maneira de viver, de pensar, de sentir, e nas minhas ações, e
digo: (…) “preciso de tempo para isso” (…) É esse o tempo a que nos estamos referindo: a estrutura psicológica do tempo (…) O tempo é o passado, o presente e o futuro não
marcados pelo relógio. (…) Estou preso nesse círculo. É a isso que chamamos “viver”, (…) tempo. (A Importância da Transformação, pág. 50)

No momento em que tendes o tempo, que acontece? Não estais enfrentando o desafio real e concreto, que está à vossa frente, a exigir ação imediata. Só atuais imediatamente ao
sentirdes dor ou prazer intenso. (…) E a maioria de nós é incapaz de ver os fatos como são - o que é. O que é é o fato, ao qual nos chegamos com diferentes opiniões, idéias, juízos.
Isto é, com o passado, nos abeiramos do fato presente; por conseguinte, criamos a contradição, ou falta de compreensão do fato. (A Suprema Realização, pág. 49-50)

(…) Ambição implica “mais”; “mais” implica tempo; e tempo significa “chegar”, “alcançar”. Negar o tempo é estar livre da ambição. Não me refiro ao tempo cronológico; esse
não se pode negar, porque, se o fizermos, podemos perder o ônibus. Mas o tempo psicológico, que criamos para nós mesmos, a fim de nos tornarmos algo, interiormente - esse
pode-se negar. E isso significa, realmente, morrer para o amanhã, sem desesperar. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 17)

O presente é o eterno. No tempo não é possível o conhecimento do Atemporal. O agora é perpétuo; ainda que fujais para o futuro, estará sempre presente o “agora”. O presente é a
porta do passado. Se não compreendeis o presente, agora, ireis compreendê-lo no futuro? O que agora sois, continuareis a ser, se não compreenderdes o presente. (…) (O Egoísmo
e o Problema da Paz, pág. 45)

Não sei se já refletistes nisto. Se o amanhã não existe, realmente, psicologicamente, interiormente, então vossa atenção se acha, toda inteira, no presente; e vossa atitude perante a
vida é perfeitamente integrada, (…) inteiriça, não fragmentária. (…) Ao perceberdes o significado dessa idéia da existência de um amanhã (…); ao perceberdes a verdade de que
não existe amanhã, psicologicamente, então toda a estrutura cerebral, mental, emocional, psicológica, sofrerá uma tremenda transformação. A nosso ver, é essa a única revolução
possível (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 93-94)

Porque o que constitui o tempo é a ocupação da nossa mente com a memória, é a capacidade de distinguir diferentes lembranças. E é possível à mente permanecer fora do tempo,
fora do conhecimento, que é memória, que é experiência, palavra, símbolo? (…) Não há então, no centro, uma revolução, uma transformação fundamental? Porque então a mente
já não está lutando para alcançar um resultado, acumular, chegar a um fim. Então, não há mais temor. A mente, em si mesma, é o desconhecido (…) é o novo, “o
não-contaminado”. Por conseguinte, é o Real, o incorruptível, independente do tempo. (Poder e Realização, pág. 73)

Temos, pois, de examinar a questão do pensamento, do “processo” do tempo - do tempo como duração, existência - existência do desejo. Porque é o desejo que impõe o padrão,
como memória, ao qual nos ajustamos. Por conseguinte, ajustamento, desejo, pensamento e tempo estão relacionados entre si. Se não se compreende um deles, não se pode
compreender os demais. (A Suprema Realização, pág. 38-39)

(…) Pensamos que, no processo do tempo, no crescer e transformar-se, o “eu” se tornará, no fim, realidade. Tal é nossa esperança, nossa anelo: que o “eu” se tornará perfeito
através do tempo. (…) (Claridade na Ação, pág. 142)

Pois bem, para verificar se existe essa coisa - o eterno - é preciso compreender o que é o tempo. O tempo é uma coisa verdadeiramente extraordinária (…) Refiro-me ao tempo
como continuidade psicológica. É possível vivermos sem essa continuidade? O que dá a continuidade? O que dá a continuidade é, obviamente, o pensamento. (A Mente sem Medo,
1ª ed., pág. 114)

O tempo, que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno: a eternidade não é continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade está no momento presente. A
eternidade está no agora. O agora não é reflexo do passado. (O que te Fará Feliz?, pág. 129)

(…) E compete a todos libertarem-se, não aos poucos, do processo do tempo, que é o processo de acumulação (…) o desejo de “mais”. Tal só é possível quando compreendemos
todas as tendências da mente, como está ela constantemente em busca de segurança, de permanência, quer nas crenças, (…) quer no saber. (…) É então que começa a liberdade,
pois a mente já não adquire, já não acumula. (A Renovação da Mente, pág. 30)

Positivamente, o processo do tempo não é revolucionário. No processo do tempo não há nenhuma transformação, há somente uma continuidade e nenhum findar. (…) Só com a
completa cessação do processo do tempo, da atividade do “ego”, vem uma revolução, uma transformação, o nascimento do novo. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)

Uma vez cônscia da totalidade desse processo do “eu”, na sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação, (…) a revolução - não pela evolução, (…) não pelo
“vir-a-ser” do “eu”, mas pela completa extinção do “eu” - só assim o novo se apresenta. O processo do tempo não pode trazer-nos o novo, pois o tempo não é o caminho da
criação. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)

(…) Essa luta, esse constante esforço de ajustamento a um padrão, desenrola-se sempre dentro do âmbito da mente (…) Ora, só ocorrerá uma transformação radical quando, por
assim dizer, saltamos do processo do tempo para algo que não está no tempo. (Claridade na Ação, pág. 25)

Cessação do Tempo; Presente Atemporal, Eterno


O presente é Eterno. No tempo, não é possível o conhecimento do Atemporal. O agora é perpétuo; ainda que fujais para o futuro, estará sempre presente o “agora”. O presente é a
porta do passado. Se não compreendeis o presente, agora, ireis compreendê-lo no futuro? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 45)

O que agora sois, continuareis a ser, se não compreenderdes o presente. A compreensão só se manifesta no presente (…) Só é possível transcender o tempo na placidez do presente.
Essa tranqüilidade não pode conquistar-se por meio do tempo, com o “pôr-nos tranqüilos”; devemos “estar em quietude”, e não “pôr-nos em quietude”. (Idem, pág. 45)

Consideramos o tempo como um meio de vir-a-ser; esse vir-a-ser é infinito, mas não é Eterno, não é o Atemporal. O vir-a-ser é conflito incessante, conducente à ilusão. Na
tranqüilidade do presente está o Eterno. (Idem, pág. 45-46)

É o presente da máxima importância; por trágico e doloroso que seja, é a única porta para a Realidade. O futuro é a continuação do passado, através do presente. Quando se
compreende o presente, transforma-se o futuro. O presente é a única ocasião propícia à compreensão, porquanto ele se estende para o passado e para o futuro. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 67-68)

O presente é o tempo integral; na semente do presente está o passado e o futuro (…) O presente é o Eterno, o Atemporal. Mas consideramos o presente, o agora, como uma
passagem para o passado ou para o futuro; no processo de vir-a-ser, o presente é como um meio para alcançar um fim, perdendo com isso a sua imensa significação. (Idem, pág.
68)

O vir-a-ser cria a continuidade, a perenidade, mas não é o Atemporal, o Eterno. O anseio de vir-a-ser tece o padrão do tempo. Já não observastes, em momentos de grande enlevo,
a cessação do tempo - quando não há passado nem futuro, mas uma percepção intensa, um presente independente do tempo? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 68)

Estamos sempre voltando a essa questão (…) Pode a mente, a consciência do “eu”, que é produto do tempo, compreender ou sentir o Atemporal? Quando a mente procura,
encontrará a Realidade, Deus? Quando a mente afirma ser necessário estar aberta para a Realidade, é ela capaz de estar aberta? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 242)

Se se compenetrar o pensamento de ser ele um produto da ignorância, de um “eu” limitado, existe então possibilidade de que desista de formular, de imaginar, de se ocupar de si
mesmo. Só pela vigilância, pela percepção, pode o pensamento transcender a si próprio, e não pela vontade, a qual é outra forma do desejo de auto-expansão. (…) (Idem, pág. 242)

(…) Assim como um lago fica sereno quando cessam os ventos, assim também fica a mente tranqüila depois de cessarem os seus problemas. A mente não pode induzir a si própria a
ficar quieta, plácida; o lago não está calmo enquanto não param os ventos. Enquanto não cessarem os problemas criados pelo “eu”, não pode haver tranqüilidade. A mente deve
compreender a si própria e não procurar refúgio em ilusões (…) (Idem, pág. 242-243)

(…) A beatitude está sempre no presente. Jamais pode estar no futuro. Mesmo no futuro há sempre o presente. Se não podeis compreender o presente, não o compreendereis no
futuro. (…) A paz está sempre no presente (…) O pensamento precisa libertar-se do passado, presente e futuro contínuos; nessa libertação, aquilo que é, é imortal, fora do tempo.
(…) (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 91)

(…) O que é acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória é produto do tempo - do passado, do presente e do futuro. O tempo,
que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno; a eternidade não é continuidade. (…) A eternidade está no momento presente. A eternidade está no agora. (…) (O que te Fará
Feliz? pág. 129)

(…) Assim, pois, para descobrir o novo, o eterno, no presente, momento a momento, necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta, (…) que não vise a um resultado (…) não
interessada em “vir-a-ser”. A mente empenhada em “vir-a-ser” não conhecerá jamais a perfeita e suprema felicidade do contentamento; (…) o contentamento que se manifesta
quando a mente percebe a verdade no “que é”, e o falso no “que é”. (…) (Idem, pág. 129-130)

(…) Porque, afinal, para alcançar o “estado criador” - não a mera capacidade de escrever ou pintar um quadro, mas a ação criadora, livre do tempo, que não é invenção da mente,
(…) não é mera capacidade ou talento, mas força criadora que se renova incessantemente; para alcançar esse estado criador, não deve a mente ser capaz de investigação
entusiástica e persistente? (Poder e Realização, pág. 38)

Cumpre averiguar se é possível viver tão completamente que não haja ontem, nem hoje, nem amanhã. Para compreender isso, e vivê-lo, temos de examinar a estrutura da memória,
do pensamento. (…) Mas, é possível viver, dia a dia, livre do tempo psicológico, entendido como ontem, hoje e amanhã? Isso não significa viver no momento presente? (…) O
importante é viver o agora. O agora é o resultado de ontem: o que pensamos, o que sentimos, nossas lembranças, esperanças, temores, tudo o que se acumulou. Se tudo isso não for
compreendido e dissolvido, não poderemos viver no agora. (A Importância da Transformação, pág. 51-52)

(…) Assim, o processo do pensamento produz a progressão psicológica no tempo; mas é real esse tempo, real como o tempo cronológico? E podemos servir-nos desse tempo, que é
produto da mente, como meio de compreensão do eterno, do atemporal? Porque, como eu disse, a felicidade não vem de ontem (…) não é produto do tempo; a felicidade está
sempre no presente, é um estado atemporal. (…) (A Arte da Libertação, 161)

Não sei se já refletistes (…) Se o amanhã não existe, realmente, psicologicamente, interiormente, então vossa atenção se acha, toda inteira, no presente; e vossa atitude perante a
vida é perfeitamente integrada, (…) não fragmentária. E essa é uma das mais importantes mutações que se podem verificar. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 93-94)

(…) Se tiverdes observado vossa própria mente, não apenas a consciente, mas também a inconsciente, sabeis que ela é o passado, que nela nada existe de novo, nada que não esteja
corrompido pelo passado, pelo tempo. E há aquilo que chamamos de “presente”. Existe um presente não continuado pelo passado? Existe presente que não condicione o futuro?
(Experimente um Novo Caminho, pág. 90)

Ora, é possível viver no presente sem trazer para ele o tempo, que é o passado? De certo, só podeis viver nessa totalidade do presente quando compreendeis a totalidade do
passado. Morrer para o tempo é viver no presente; e só se pode viver no presente após compreender-se o passado - o que significa que devemos compreender nossa própria mente,
não apenas a mente consciente, que freqüenta diariamente o escritório, que acumula conhecimentos e experiência, que tem reações superficiais, mas também a mente inconsciente,
na qual estão sepultadas as tradições acumuladas da família, do grupo, da raça. Sepultado no inconsciente se acha também o imenso sofrer do homem e o medo à morte. (…) (Idem,
pág. 90-91)

(…) Viver no presente é morrer para o passado. No processo de compreensão de vós mesmo vos tornais livre do passado, que constitui vosso condicionamento (…) de comunista,
católico, protestante, hinduísta, budista; o condicionamento que vos foi imposto pela sociedade e por vossa própria avidez, inveja, ânsia, desesperos, pesares e frustrações. É vosso
condicionamento que dá continuidade ao “eu”, ao ego. (Experimente um Novo Caminho, pág. 91)

Eu, porém, digo que a mente pode libertar-se do passado e do passado ambiente, dos impedimentos passados e, portanto, podeis vós também libertar-vos do futuro, pois então
estareis vivendo dinamicamente, intensamente, supremamente, no presente. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1934, pág. 25)

(…) No presente está a eternidade e, para compreendê-la, necessita a mente estar livre do fardo do passado; e, para livrar a mente do passado, tem de haver intensa interrogação
do presente e não entrar em considerações sobre como o “eu” virá no futuro. (Idem, pág. 25)

Reconhecimento implica existência de experimentador, (…) do tempo. Para se reconhecer alguma coisa, o pensamento deve tê-la experimentando; e se a experimentou, nesse caso
essa coisa é o conhecido. O conhecido não é o atemporal, por certo. O conhecido está sempre dentro da rede do tempo. O pensamento não pode conhecer o atemporal (…) Não se
pode ir a ele. É um estado de ser em que não há pensamento, tempo. (Comentários sobre o Viver, pág. 230)

(…) A mente não pode formular o atemporal, moldá-lo para os seus fins; o atemporal não pode ser utilizado. A vida só tem significação quando há o atemporal; doutro modo, ela é
sofrimento, conflito e dor. O pensamento não pode resolver nenhum problema humano, pois o próprio pensamento é o problema. O findar do saber é o começo da sabedoria. A
sabedoria não é do tempo, não é continuação da experiência, do saber. A vida no tempo é confusão e sofrimento; mas, quando “o que é” é o atemporal, há a felicidade suprema.
(Idem, pág. 230-231)

Mas o julgar é do tempo; e os efeitos do atemporal podem ser julgados com as medidas do tempo? Se se compreender o que se entende por “tempo”, talvez seja possível conhecer a
existência do atemporal; mas é possível discorrer sobre a natureza desse atemporal? (…) Podemos falar sobre ele, mas a nossa “experiência” não será o atemporal. (…) O
atemporal é um estado que só pode apresentar-se quando não existe mais o tempo. (Reflexões sobre a Vida, pág. 119)

Quando estamos cônscios (…) Só pela percepção do que é verdadeiro, momento a momento, se dá o descobrimento do atemporal, do eterno. Sem autoconhecimento, não pode
existir o eterno. (…) Mas o atemporal não é uma recompensa ao autoconhecimento. O que é eterno não pode ser procurado; a mente não pode adquiri-lo. Ele se apresenta quando a
mente está tranqüila, (…) quando é simples, (…) já não está armazenando, condenando, julgando, pesando. Apenas a mente simples pode compreender o Real, e não a mente
repleta de palavras, de conhecimentos, de ilustração. (Percepção Criadora, pág. 106-107)

A mente, pois, só é livre quando capaz de enfrentar o fato - o que é. Quando ides ao encontro do fato sem nenhuma opinião, juízo, avaliação, estais vivendo completamente no
presente. Para a mente, então, não há tempo, de modo que ela pode agir. Porque o próprio fato exige ação urgente - e não as vossas opiniões, desejos e ideais. (A Suprema
Realização, pág. 50)

Há percebimento do processo total do tempo, do processo total e não do processo fragmentário, constituído de ontem, hoje e amanhã? (…) Se há percebimento do tempo, não há
então continuidade, como “estou cônscio” ou “estive cônscio” ou “estarei cônscio”. Quando estais completamente atento, com vossa mente, (…) coração, (…) nervos, (…) olhos,
(…) ouvidos - quando tudo está atento, não há nenhum tempo. Não dizeis, então: “Estive atento ontem, e hoje não estou atento. A atenção não é um movimento (momentum)
contínuo do tempo. Ou estais atento, ou não estais atento. Em geral, estamos desatentos (…) (A Importância da Transformação, pág. 43)

Estai, pois, cônscio do presente, quer triste, quer agradável; ele se desdobrará, então, como um processo temporal e, se for capaz, o pensamento-sentimento, de seguir as suas
tendências sutis e erradias, e de transcendê-las, essa própria percepção extensiva será o presente eterno, atemporal. Dai atenção ao presente, somente; não vos preocupeis do
passado, nem do futuro - porque o amor é o presente, o Eterno. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 68-69)

O conflito e a dor são necessários para que haja potência criadora? (…) O estado de potência criadora não significa estar livre de conflito, (…) de acumulações? (…) Só há
vir-a-ser e evolver no plano horizontal da existência, mas conduz isso ao Atemporal? (…) Por meio do tempo não se pode conhecer o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 99)

(…) Afinal, o atemporal, a eternidade inefável é isto: quando a própria mente é o desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do tempo, de ontem, do saber, de
experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente jamais chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Percepção Criadora, pág. 44)

(…) Por certo, uma vida que tem significação, que contém as riquezas da verdadeira felicidade, não pertence ao tempo. Como o amor, a vida é atemporal; e, para compreender
aquilo que é atemporal, não devemos procurar atingi-lo através do tempo, mas, ao contrário, compreender o tempo (…) Mas é isso, precisamente, o que estamos fazendo (…):
consumindo tempo, na tentativa de aprender o que é atemporal (…) (A Arte da Libertação, pág. 160)

Você diria que o pensamento é o processo do tempo? Isso porque o pensamento está baseado na experiência, no conhecimento, na memória e na resposta, que englobam a
totalidade do tempo. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 26)

No momento em que usamos a palavra “conhecimento”, o tempo está implícito. Quando acabamos com o tempo, no sentido a que estamos nos referindo, não há conhecimento como
experiência. (Idem, pág. 28)

Naturalmente, o futuro, o passado. Conhecimento - ciência, matemática, (…) - adquire-se através do tempo. Eu leio filosofia (…), isto ou aquilo, e todo o movimento do
conhecimento envolve tempo. Veja bem o que eu quero dizer! (Idem, pág. 27)

Espere. (…) O final é o início - certo? Veja bem, no final disse tudo - (…) no término do tempo há um novo começo. Por que isso? (…) Sou todo energia, (…) e o tempo findou. (…)
(A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 32)

Sim, mas se eu e você enxergarmos a verdade disso, (…) poderemos atuar de um modo que todos os assuntos sejam resolvidos instantaneamente, imediatamente, de forma que o
tempo psicológico seja abolido? E como indagamos ontem, quando chegamos ao ponto em que não existe nada e existe tudo, onde tudo isso é energia - quando o tempo finda, há
início de algo totalmente novo? Existe um início que não está enredado no tempo? (…) (Idem, pág. 35) (A Continuação acha em Energia Espiritual, Inércia(…)

Vir-a-ser, Não-vir-a-ser; Ser, Não-ser; Automistificação


A luta não se acha num único nível da existência, mas em todos os níveis. O processo de vir-a-ser é luta, conflito. O funcionário que luta para se tornar gerente, o vigário que luta
para ser bispo, o discípulo que luta para transformar-se em Mestre - esse vir-a-ser psicológico é esforço, conflito. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 192)

(…) A existência pode exigir esforço, mas só estamos considerando o processo de vir-a-ser, o impulso psicológico para ser melhor, vir-a-ser alguma coisa, lutar por transformar o
que é no seu oposto. Esse vir-a-ser psicológico pode ser o fator que torna doloroso, cheio de competição e de conflito, o nosso viver de cada dia. (…) Eu sou isto e quero tornar-me
aquilo. (…) Depois de me tornar aquilo, aparece outro aquilo, e assim por diante, infinitamente. (Idem, pág. 193)

(…) Vós sois isto, de que não gostais, e quereis ser aquilo, de que gostais. O ideal é uma autoprojeção; o oposto é um prolongamento do que é (…) A projeção provém da vontade do
“eu”, e conflito é a luta para alcançar a projeção. (…) Esse conflito é o que é, em luta para vir-a-ser o que não é; e o que é, é o ideal, a autoprojeção. Estais lutando para vos
tornardes uma coisa, e essa coisa é uma parte de vós mesmo. (…) (Idem, pág. 194)

(…) Estamos cônscios, em nossa vida, do dualismo e seu conflito constante: desejar e não desejar, céu e inferno, Estado e cidadão, luz e treva. Não surgirá o dualismo do próprio
desejo? A vontade de vir-a-ser, de ser, não encerra também a vontade de não-vir-a-ser? No desejo positivo existe também negação e, assim, o pensamento-sentimento se vê
envolvido no conflito dos opostos. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 35)

A completa integração do pensador com o seu pensamento não poderá dar-se se não existir compreensão do processo de “vir-a-ser” e do conflito dos opostos. Esse conflito não
pode ser transcendido por ato de vontade, só o podendo ser depois de cessar a escolha. Problema algum pode ser resolvido no seu próprio nível; só pode ser resolvido
duradouramente depois de o pensador desistir de vir-a-ser. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 94)

Pois bem; tentamos achar a verdade disso. Não nos será possível sairmos do tempo; não será isso possível, a todos nós aqui, não por algum meio de auto-hipnose, mas de fato? (…)
Enquanto pensardes em termos de “vir-a-ser” - “serei bom”, “serei nobre”, “serei amanhã algo que não sou hoje” - nesse “vir-a-ser” está implicado o processo do tempo e há
confusão. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 69-70)

Mas, em vez de “vir-a-ser”, podeis ser? - pois esse é o único estado em que pode haver transformação (…) radical. Vir-a-ser é um processo do tempo; o “ser” está livre do tempo. E
como já expliquei antes, só no “ser” pode haver transformação, e não no vir-a-ser; só no terminar há renovação, e não na continuidade. Continuidade é “vir-a-ser”. Quando
terminais alguma coisa, há um “estado de ser”, e é só no “ser” que pode haver transformação fundamental, radical. (Idem, pág. 70)

Nosso problema, pois, é o de pôr fim ao vir-a-ser - não o vir-a-ser cronológico, como o ontem “veio a ser” hoje, e hoje “virá a ser” amanhã - mas o “vir-a-ser” psicológico. Podeis
dar um fim instantâneo a esse “vir-a-ser”? Essa é a única maneira nova de tratar o problema (…) Todas as outras maneiras são velhas. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 70)

Ora, para se compreender o “estado de ser” em que não há luta, aquele estado de existência criadora, precisamos naturalmente investigar a fundo o problema do esforço. Isto é,
vivemos no presente com esforço, toda a nossa existência é uma série de lutas, com nossos amigos íntimos, (…) nossos vizinhos (…) (A Arte da Libertação, pág. 107)

Enquanto não compreendermos essa questão do esforço e suas conseqüências, não estaremos, naturalmente, em condições de perscrutar aquele estado criador, que, é óbvio, não
resulta de esforço. O pintor, o poeta, pode fazer esforço no momento em que pinta ou escreve, mas o encontro com o belo só ocorre quando a luta cessou de todo. (Idem, pág.
107-108)
Cumpre-nos, pois, investigar a questão do esforço, o que significa o esforço, o conflito, a luta por “vir-a-ser”. Por esforço, entendemos a luta em que nos empenhamos para nos
preencher, para tornar-nos alguma coisa (…) Sou “isto” e quero tornar-me “aquilo” (…) No tornar-me “aquilo”, há luta, batalha, conflito, peleja. Nessa luta, estamos,
inevitavelmente, interessados no preenchimento pela consecução de um fim; buscamos o preenchimento num objeto, numa pessoa, numa idéia, e isso exige batalha constante, luta,
esforço para “vir-a-ser”, realizar. (…) (A Arte da Libertação, pág. 108)

Talvez, se compreendermos o que é ação criadora, estejamos aptos a compreender o que significa esforço. É a criação resultado de esforço, e estamos cônscios nos momentos em
que somos criadores? Ou é a criação um estado de completo auto-esquecimento, aquele estado isento de agitação, em que estejamos de todo inconscientes do movimento do
pensamento, quando só há o existir, o ser completo, integral, cheio de riqueza? (A Arte da Libertação, pág. 107)

Esse estado é resultado de labor, de luta, de conflito, de esforço? Não sei se já notastes que, quando fazeis uma coisa com facilidade, (…) presteza, não existe esforço, mas, sim,
completa ausência de luta; mas como as nossas vidas, em geral, são uma série de batalhas, conflitos e lutas, somos incapazes de imaginar uma vida, um “estado de ser”, no qual
tenha cessado toda luta. (Idem, pág. 107)

Quando dizemos “fazer esforço”, entendemos sempre um dispêndio de energia com o fim de alcançarmos um resultado (…) Para a maioria de nós, o esforço ou é positivo ou
negativo, um processo de vir-a-ser ou não-vir-a-ser; e esse mesmo processo provém do centro do “eu” (…) Se sou invejoso e faço esforço para não o ser, não há dúvida de que a
entidade que faz tal esforço é ainda o “ego”, o “eu”. Todo esforço para dominar o “eu” (…) é ainda parte do “eu”, (…) só pode dar-lhe mais força. (…) (Percepção Criadora,
ps.31-52)

(…) Para transcender o sofrimento, é necessária a tranqüilidade da compreensão, e não o conflito e a dor de vir-a-ser. Quando o “ego” não se ocupa de seu próprio vir-a-ser, há
uma clareza inesperada, um êxtase profundo. Esse enlevo intenso é o resultado do abandono do “ego”. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 101)

O importante é o ser e não o vir-a-ser, um não é o oposto do outro; havendo o oposto ou a oposição, cessa o ser. Ao findar o esforço para vir-a-ser, surge a plenitude do ser, que
não é estático; (…) o vir-a-ser depende do tempo e do espaço. O esforço deve cessar; disso nasce o ser, que transcende os limites da moral e da virtude social. Essa maneira de ser é
a própria vida, não mero padrão social. (Diário de Krishnamurti, pág. 62)

Pode o “eu”, constituído que é de lembranças acumuladas, conhecer a liberdade? Pode o “ego”, (…) fator de ignorância e conflito, alcançar esclarecimento? (…) Enquanto o
“eu” (…) pensar em termos de ganho e de perda, vir-a-ser e não-vir-a-ser, estará o pensamento condicionado ao tempo. Jamais pode, o pensamento prisioneiro do passado, do
tempo, conhecer o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 142)

(…) Ao contrário, a memória é um empecilho à compreensão do que é. Não sei se já notastes que um pensamento novo, um sentimento novo só se manifesta quando a mente não está
presa na rede da memória. Quando há um intervalo entre dois pensamentos, entre duas lembranças, e quando é possível manter esse intervalo, dele surge um novo “estado de ser”,
que já não é memória. (A Arte da Libertação, pág. 113)

Pensamos em termos de passado, presente e futuro - eu era, eu sou, eu serei. Pensamos e sentimos em termos de acumulação; estamos continuamente a criar e a nutrir a idéia do
tempo, do “ser contínuo”. Ser não é totalmente diferente de “vir-a-ser”? Só compreendendo o processo e a significação do “vir-a-ser” podemos “ser” (Idem, pág. 142)

(…) Só quando o pensamento, pela diligente vigilância de si mesmo, se liberta do vir-a-ser, do passado, só quando está totalmente tranqüilo, existe o Atemporal. (Idem, pág. 143)

Esse “vir-a-ser” não é preenchimento, mas sim imitação, a cópia de um padrão, daquilo que se denomina perfeição; é proselitismo, obediência, a fim de conseguir o desejado e ter
êxito. (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 80)

O futuro é sempre um “vir-a-ser”; e, nessas condições, o presente, no qual, tão somente, pode haver compreensão, nunca é aprendido por nós. Enquanto há “vir-a-ser”, há conflito.
E o “vir-a- ser” é sempre o passado a servir-se do presente, para ser, alcançar seus fins. No processo desse “vir-a-ser”, fica o pensamento aprisionado na rede do tempo. (…) (O
que te Fará Feliz, pág. 103)

Existe um modo diferente de encarar a vida, não do ponto de vista dos opostos, da fé e da ciência, do temor e da mecanização (…) Isto é, cada um tem de discernir o processo de
vir-a-ser e o de cessação aparente, o processo de nascer e de morrer. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 34)

A transformação não é um fim, um resultado. Quando desejais ser transformado, estais ainda pensando em termos de vir-a-ser; quem está empenhado em vir-a-ser não pode saber o
que é ser. A verdade é ser momento a momento (…) A felicidade é aquele estado de ser que é atemporal. (…) (A Primeira e Última Liberdade, pág. 283)

(…) Isto é, (…) vós o fazeis quando vos encontrais frente a frente com um problema novo. Ora, este é um problema novo: como pôr fim ao tempo. Sendo novo, precisais estar
completamente novos em face do mesmo. Porque se pensais em termos do que é velho, estais então traduzindo o novo problema no velho, (…) interpretando-o erroneamente.
Quando tendes um problema novo, deveis tratá-lo de modo novo; e o que é novo não está no tempo. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 70-71)

A questão, pois, é seguinte: (…) Podeis estar cônscios daquele estado de ser em que não existe o tempo? Se estais cônscios, (…) vereis que há uma tremenda revolução, a qual se
verifica instantaneamente, porque o pensador deixou de existir. É o pensador que produz o processo de “vir-a-ser” (…) Porque o findar do pensamento é o começo da meditação
real; e só então há uma revolução, uma maneira fundamentalmente nova de considerar a existência. (Idem, pág. 71)

A nova maneira de tratar o problema é fazer findar o tempo; e eu digo que isso pode fazer-se instantaneamente, quando há verdadeiro interesse. Podeis sair do rio para a margem,
em qualquer ponto. O rio do “vir-a-ser” se acaba quando compreendeis o processo do tempo; para compreendê-lo, precisais aplicar-vos com toda a vossa mente e todo o vosso
coração. (…) (Idem, pág. 71)

(…) O método, o sistema é uma maneira positiva de negar, tornando-se, assim, o pensamento incapaz de encontrar sua própria essência. Para descobri-la, o pensamento tem de
cessar. A essência do ser é o não-ser, e para “ver” a totalidade do não-ser, deve o homem libertar-se do vir-a-ser. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 51)

(…) Essa solidão é a própria mutação da consciência, a completa transformação daquilo que foi. Ela é o vazio e a ausência do ser e do não-ser. A mente se renova, a cada instante,
na chama desse vazio. (…) Apenas à mente vulnerável é acessível o infinito, em que da destruição surge o novo, a criação e o amor. (Idem, pág. 92)

Parece-me, por conseguinte, importante compreendermos esse “processo de vir-a-ser” que existe em nós mesmos - e essa compreensão é, em essência, autoconhecimento.
Autoconhecimento é a compreensão do vir-a-ser, ou seja, o “eu”, e sem essa compreensão a mente nunca estará vazia e livre para compreender o Real. (O Homem Livre, pág. 177)

Pensamos em termos de passado, presente e futuro - eu era, eu sou, eu serei. Pensamos e sentimos em termos de acumulação; estamos continuamente a cria e nutrir a idéia do
tempo, (…) “Ser” não é totalmente diferente de “vir-a-ser”? Só compreendendo o processo e a significação de “vir-a-ser”, podemos “ser”. (…) Quando percebeis a imensidade do
“ser”, há então silêncio: a sua própria intensidade traz a placidez. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 142-143)

Devemos (…) compreender o processo de “vir-a-ser” e tudo o que nele está implícito, antes de podermos compreender o que é “ser”. (…) Julgamos que a Realidade ou Deus pode
ser alcançado com o tempo, com o vir-a-ser. (…) (Idem, pág. 175-176)

(…) Nosso pensamento-sentimento está colhido no processo horizontal do “vir-a-ser”; o que vem a ser está sempre acumulando, (…) adquirindo, (…) a expandir-se. O “ego”, o que
vem a ser, o criador do tempo, jamais pode conhecer o Atemporal. O “ego”, que quer vir-a-ser, é causa do conflito e do sofrimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 176)

O “vir-a-ser” leva-nos ao “ser”? Pode-se, pelo tempo, alcançar o Atemporal? Pode-se, pelo conflito, atingir a tranqüilidade? (…) Só depois de extinguir-se o vir-a-ser, há o ser; no
processo horizontal do tempo não se encontra o Eterno (…) (Idem, pág. 176)

Só há o ser quando não existe esforço, positivo ou negativo, de vir-a-ser. É só quando o que quer vir-a-ser está vigilante de si próprio e compreende o sofrimento e o inútil esforço
de vir-a-ser, e quando já não se serve da vontade - é só então que ele poderá estar em silêncio. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 177)
O desejo e a vontade se acalmaram; só então existe a tranqüilidade da suprema sabedoria. (…) “Vir-a-ser” implica movimento, e “ser” não. Todo movimento implica tempo; o
“ser” não é resultado, não é produto de educação, de disciplina e condicionamento. (…) Todo resultado é um processo temporal; (…) ora, através (…) do tempo, não é possível
atingir o Atemporal. (Idem, pág. 177-178)

Quando há “experimentador”, não há o que experimenta nem a coisa experimentada. Nesse “estado de experimentar”, que é sempre novo, que sempre é ser - embora se possa
comunicar esse ser mediante o uso de palavras - o indivíduo sabe que a palavra não é a experiência, a coisa (…) O “experimentador” não é, pois, verbalização.

“Experimentar” é a mais elevada forma de compreensão, porquanto é a negação do pensar. (…) Não se trata, pois, absolutamente, de controlar o pensamento, mas de se ficar livre
do pensamento. É só quando a mente fica livre do pensamento, que há percepção daquilo “que é”, do que é eterno, a Verdade. (O que te fará Feliz, pág. 125-126)

Para compreenderdes uma experiência completamente, precisais aproximar-vos dela com a mente límpida, (…) ter uma clareza ampla, simples, de mente e coração. (…) A memória
impede-nos de nos aproximarmos das experiências abertamente, claramente. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 127)

Porém, dizeis: “que devo fazer com todas as memórias que tenho?” Não as podeis repelir. Mas o que podeis fazer é defrontar a vossa próxima experiência completamente; então
vereis como as memórias passadas entram em ação, e é essa a ocasião de defrontá-las e dissolvê-las. (Idem, pág. 128)

Mas, que acontece quando a mente está tranqüila, (…) quieta, (…) não mais está empenhada em “vir-a-ser”, (…) já não “anda à procura de um fim, (…) está extraordinariamente
vigilante, passiva? Nesse silêncio, há um movimento, um “experimentar” no qual não existe o tempo. É um estado no qual não existe nem passado, nem presente, nem futuro. (…)
(O que te fará Feliz?, pág. 97)

Ter um objetivo, um fim para alcançar, impede o autoconhecimento; a vigilância diligente revela-nos as atividades do “ego”. (…) Nosso pensamento (…) está baseado no passado,
no condicionamento. Sem compreendermos o passado não há compreensão do Real. A compreensão do passado deve ser buscada através do presente. (…) O Real não tem causa, e
não o pode compreender o pensamento, que foi causado. (…) Todo pensar verdadeiro é, pois, resultado do autoconhecimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 62)

Não é a essência criadora da Realidade que é a norma? (…) É só na essência criadora da Realidade que se verifica o término do conflito e da aflição. Mas subsistirá a separação e
a desigualdade, enquanto houver “vir-a-ser” (…) Esse anseio de vir-a-ser nasce da ignorância, pois o presente é que é Eterno. É só na solidão da Realidade que se encontra a
plenitude; na chama da criação não há “outro”: só há o Ser único. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 139-140)

A vigilância leva-nos à meditação; na meditação dá-se a união do Ser com o Eterno. O “vir-a-ser” nunca poderá transformar-se no Ser. “Vir-a-ser” é expansão do “ego”, é
reclusão, e é necessário que se detenha essa atividade; veremos, então, manifestar-se o Ser. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 271)

Esse Ser escapa ao nosso raciocínio, ultrapassa a nossa imaginação; se nos pomos a pensar a seu respeito, esse mesmo pensar torna-se um empecilho ao conhecimento. O que o
pensamento pode fazer é somente estar cônscio de seu vir-a-ser, tão complexo e sutil, e estar cônscio de sua engenhosa inteligência e vontade. Com o autoconhecimento vem-nos o
pensar verdadeiro, a base da verdadeira meditação. (Idem, pág. 271-272)

(…) Assim, pois, quando a mente compreende o problema da transformação radical, momento a momento, há, então, aquele silêncio que não é silêncio produzido pela acumulação,
(…) pela memória, mas um “estado de ser” - silêncio que está fora do tempo (…) Se houver esse silêncio, vereis que haverá uma transformação radical no centro. (As Ilusões da
Mente, pág. 43)

(…) Esse estado de ser, de criação, surge só quando a mente está em completo silêncio. (…) não está à procura de recompensa. Há então paz permanente; e porque não sabemos
como se chega a esse estado, buscamos a satisfação (A Arte da Libertação, pág. 197)

Mas, se a mente se compreende a si mesma e descobre aquele estado em que há felicidade completa, há então criação; e essa criação é, ela própria, a finalidade total de toda a
existência. (Idem, pág. 197)

(…) Por mais pobre que sejais, por mais vazio ou estúpido, se puderdes ver a coisa tal como é, isso começará a transformar-vos. A mente, porém, que só quer “vir-a-ser” não pode
compreender o “ser”. É a compreensão do “ser”, (…) daquilo que somos, que produz uma extraordinária exaltação, a libertação do pensamento criador, da vida criadora.
(Debates sobre Educação, pág. 97)

Qual é a razão, qual é a base da automistificação? Quantos de nós estamos verdadeiramente cônscios de que estamos enganando a nós mesmos? (…) Sabemos que estamos
enganando a nós mesmos? Que pretendemos com essa mistificação? Julgo muito importante o problema, pois, quanto mais enganamos a nós mesmos, tanto mais cresce a força da
ilusão, a qual nos transmite certa vitalidade, (…) energia, (…) capacidade, que nos leva a impor aos outros a nossa própria ilusão. Assim, gradualmente, não estou impondo uma
ilusão a mim mesmo, mas também a outros. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 187)

O pensamento, em si, não é um processo de busca, uma procura de justificação, (…) de segurança, de automistificação, um desejo de ser tido em boa conta, (…) de posição, de
prestígio e poder? Esse desejo de ser - política, religiosa ou socialmente - não é, ele próprio, a causa da automistificação? (…) (Idem, pág. 187-188)

Aquele que busca está sempre impondo a si mesmo aquela ilusão; ninguém lha pode impor; é ele próprio que a impõe. Criamos a ilusão e depois nos tornamos seus escravos. Assim,
o fator fundamental da automistificação é esse desejo constante de ser alguma coisa, neste mundo e no outro. (…) (Idem, pág. 188-189)

Vemos que começamos a enganar a nós mesmos no momento em que existe esse impulso para ser, para vir-a-ser, conseguir. (…) É possível viver neste mundo e não ser nada?
Porque é só assim que podemos estar livres de todas as ilusões; só assim a mente não fica a procurar um resultado (…) (Idem, pág. 189)

Por certo, enquanto vivermos a enganar a nós mesmos, de alguma forma, não poderá existir o amor. Enquanto a mente for capaz de criar e impor a si mesma uma ilusão, ela terá,
evidentemente, de separar-se da compreensão coletiva ou integrada. Essa é uma das nossas dificuldades; não sabemos cooperar; o que sabemos é só trabalhar em conjunto visando
a um fim que nós mesmos criamos. (Idem, pág. 189-190)

“O que é”, “Não é”, “Deveria ser”; Fato Real, Ideal


É a palavra ou é o fato que desperta o temor? Se observardes todo esse processo, vereis que, quando não há desejo de fuga ao que é, não existe temor; e há então uma
transformação do que é, porque a mente já não tem medo de ser o que é. Nesse estado não existe o sentimento de estar só, de ser insuficiente: é o que é. (…) Mas, para chegar a esse
ponto, precisais compreender todo o processo da insuficiência interior, da fuga e da dependência. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 60-61)

Por outras palavras, a maioria de nós está consciente de que sentimos solidão; e, para escapar a essa solidão, ligamos o rádio, lemos um livro, apegamo-nos a uma pessoa. (…)
Essa fuga do “que é” proporciona várias experiências; (…) Então a propriedade, o nome, a posição, o prestígio, passam a ter grande importância. (…) Assim também, a instrução,
como meio de fugirmos a nós mesmos, torna-se extraordinariamente importante. (Nós Somos o Problema, pág. 64)

Assim, seguir um pensamento de princípio a fim, é ver como o pensamento se está enganando a si mesmo, fugindo do que é. Só podeis seguir um pensamento de maneira completa,
fechando todas as vias de escape e depois olhando-o (…) O descobrimento de como o pensamento se está enganando a si mesmo é que é importante; e ao descobrirmos que ele é
enganador, podeis então enfrentar o que é. Só então o que é revela a sua inteira significação. (A Arte da Libertação, pág. 144-145)

É possível ficarmos contente? Que é contentamento, de fato? O contentamento, sem dúvida, só aparece quando compreendemos o que é. O que produz o descontentamento é a
maneira complexa por que encaramos o que é. Por causa do meu desejo de transformar o que é em coisa diferente, existe a luta do “vir-a-ser” (…) Por certo, para compreender o
que é, requer-se vigilância passiva, sem o desejo de transformá-la em coisa diferente; significa isso que devemos estar passivamente cônscios do que é. Então é possível
transcendermos o mero aspecto exterior do que é. (Que Estamos Buscando?, pág. 73)
A dificuldade, pois, reside em compreender o que é, e não pode compreendê-lo uma mente que esteja distraída, uma mente que esteja à procura de algo diferente do que é, que
esteja tentando transformar o que é em outra coisa qualquer. (…) Sois ávidos e precisais tornar-vos não ávidos, e por isso lutais (…) Mas, se compreendêsseis o que é, não haveria
luta. (…)(Uma Nova Maneira de Viver, pág. 193)

Ora, por que criamos o padrão? Criamos o padrão porque desejamos evitar o fato (…) Como estamos insatisfeitos e não compreendemos o fato - o que somos - criamos as idéias do
que deveríamos ser, e por isso há uma divisão, uma contradição. No mundo inteiro se verifica esse processo, essa fuga ao que é, mediante a busca inspirada pela idéia do que
deveria ser. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 142)

Viver sem idéia é coisa muito diferente daquilo com que em geral estamos acostumados. Vivemos habitualmente com idéias, vivemos com os nossos pensamentos, nossos conceitos,
nossas formulações; (…) essa não é a verdadeira maneira de viver, porquanto cria conflito, sofrimento, confusão. Para viver totalmente, completamente, deve a mente estar livre de
toda ideação, a fim de ser capaz de enfrentar o fato - o que é - momento a momento, sem interpretar esse fato. Mas nós estamos pesada e profundamente condicionados (…)
Vivemos no mundo ideologicamente, (…) com idéias, com heróis, com exemplos, com padrões; buscamos o que deveríamos ser. (Idem, pág. 143)

E que é tempo? Afora o tempo cronológico (…) existe o tempo, interiormente, psicologicamente? Ou o pensamento inventou o tempo como meio de alcançar, de ganhar, a fim de
preencher o intervalo entre o que é e o que deveria ser? (…) O real, o fato, é o que é. Quando estamos frente a frente com o que é, não há medo.(…) O pensamento, o pensar acerca
do que é, eis o que gera o medo. E o pensamento é processo mecânico, (…) reação da memória (…) Pode uma pessoa morrer para todas as lembranças, experiências, valores, juízos
que acumulou? (O Passo Decisivo, pág. 253)

Temos, pois, a questão de como observar “o que é”. Como sabeis, “o que deveria ser” cria a autoridade. A mente que se libertou do que “deveria ser”, não depende de nenhuma
autoridade; está, portanto, livre de qualquer suposição que possa gerar a autoridade, livre para observar realmente “o que é” (…) (O Novo Ente Humano, pág. 16)

Investigar e aprender em comum, significa que não existe autoridade alguma. Ao perceberdes o que realmente é, o que existe, (…) podeis fazer alguma coisa a seu respeito; mas, se
observais “o que é” com uma série de conclusões, opiniões, juízos, fórmulas, jamais compreendereis “o que é” (…) (O Novo Ente Humano, pág. 62)

A compreensão de o que é, só se torna possível quando o ideal, o que deveria ser, foi apagado da mente; isto é, quando o falso foi percebido como falso (…) O que deveria ser é
também o que não deveria ser. (…) Para se compreender o real, é preciso estar em comunhão direta com ele; não pode existir relação com ele através da cortina do ideal ou (…) do
passado, da tradição, da experiência. (…) Isto significa, com efeito, que se precisa compreender o condicionamento, que é a mente. O problema é a própria mente, e não os
problemas que ela cria (…) (Reflexões sobre a Vida, 1ª ed., pág. 96-97)

Simplicidade é compreensão do que é. E só há compreensão do que é, quando a mente desistiu de lutar contra o que é, e desistiu de moldá-lo de acordo com suas fantasias. Na
compreensão do que é, revelam-se-nos os movimentos do “eu”, do “ego”; e isso, certamente, é o começo do autoconhecimento, não só no nível verbal, mas também naqueles níveis
em que o “eu” se acha profundamente oculto, e de onde sai espontaneamente nas ocasiões em que relaxamos a vigilância. (Percepção Criadora, pág. 105-106)

Aquela realidade jamais surgirá - acredito-o - sem o autoconhecimento; o autoconhecimento que se descobre a cada momento no espelho das relações, (…) com o qual nos
despimos de toda ilusão e a nossa mente não inventa mais fantasias e meios de fuga. Quando a mente já não está na sujeição das crenças, começa a compreender o que é - o que é
nas relações. Assim, pois, pelo constante percebimento do “eu”, do “ego”, em ação, podem-se descobrir as tendências da mente. (…) (Poder e Realização, pág. 11)

(…) Os mais de nós nos servimos da vida de relação como meio de fuga de nós mesmos, de nossa solidão, (…) incerteza e pobreza interior (…) Mas se, em vez de fugirmos através
da vida de relação, procurarmos considerá-la como um espelho e (…) perceber com toda clareza e sem preconceito (…) “o que é”, então, esse próprio percebimento torna possível
uma transformação do que é, sem o mínimo de esforço. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 78)

Assim sendo, a capacidade de compreender a vida só se realiza ao compreendermos a vida de relação. A vida de relação é um espelho. Ela deve refletir, não aquilo que desejamos
ser, ideal ou romanticamente, mas, sim, o que na realidade somos (…) É difícil perceber, observar em silêncio “o que é”, porque estamos afeitos a condenar, a justificar, a
comparar e a identificar. E nesse processo de justificação, condenação, aquilo “que é” não pode ser compreendido. Só na compreensão do que é, podemos ficar livres do que é. (O
que te Fará Feliz?, pág. 104)

Por que estais lutando contra o que é? (…) De nada serve rebelar-se contra o que é, contra o real. (…) Quando me submeto ao que é, vem-me não só a sua compreensão, mas
também certa tranqüilidade da superfície da minha mente. Se a mente superficial não está tranqüila, começa a entregar-se a obsessões, reais ou imaginárias; deixa-se empolgar por
certas idéias (…) É só quando está quieta a mente superficial, que o oculto pode revelar-se. O oculto tem de ser trazido à luz (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 112-113)

(…) A espontaneidade é a única chave que abre a porta do que é. A reação espontânea revela a mente tal como é; mas o que se revela é imediatamente adornado ou destruído, e,
com isso, se põe fim à espontaneidade. A destruição da espontaneidade é própria da mente vulgar (…) Só na espontaneidade, na liberdade, pode haver descobrimento. A mente
disciplinada não pode descobrir; poderá funcionar com muita eficiência (…); não pode, porém, desvendar o insondável. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 132)

Vede como é importante estarmos cônscios do que é, sem nos deixarmos dominar por aquilo que gostaríamos que fosse. É fácil criar uma ilusão e nela viver. (…) O viver no
passado, por mais agradável e (…) edificante que tenha sido, impede o experimentar de o que é. O que é, é sempre novo (…) (Reflexões sobre Vida, pág. 145)

Pode-se ver muito claramente quanto é contraditória e confusa a nossa vida diária (…) Podem-se inventar significados para ela; os intelectuais inventam uma significação e nós
outros nos pomos a segui-la (…) Mas, se só nos interessa “o que é”, e não (…) teorias e ideologias; se estamos sobremodo vigilantes - nossa mente é então capaz de enfrentar “o
que é” (…) (Fora da Violência, pág. 32-33)

Estamos descontentes por causa da comparação (…) porque desejamos alterar o que é; (…) não sabemos o que fazer com o que é. E, em virtude desse desconhecimento, criamos a
idéia do que deveria ser, o ideal, a utopia, os deuses. (…) Estou descontente com o que é, e desejo ser uma coisa diferente do que é. Essa coisa diferente é uma idéia, racional ou
irracional (…) (A Importância da Transformação, pág. 155)

Dá-se o conflito entre o que é e o que deveria ser. E, quanto maior a tensão entre o que é e o que deveria ser, maior a neurose; e (…) se tenho a necessária capacidade, tanto mais
forte o impulso a expressar verbalmente esse conflito: no teatro, na música, na arte, na literatura (…) É dessa maneira que fugimos do que é. (Idem, pág. 155)

Mas pode-se transformar radicalmente o que é? Eis a busca real (…) Para investigar essa questão de promover uma total revolução em o que é, necessitamos de extraordinária
capacidade de percebimento. (…) Entretanto, quando estamos cônscios do que é, desejamos alterá-lo, mantendo-nos em incessante atividade em torno dele. (A Importância da
Transformação, pág. 155-156)

Aí é que começa o sofrimento. Ora, no findar do sofrimento está o começo da sabedoria; e o fim do sofrimento é a compreensão de o que é. Mas, a compreensão de o que é só vem
quando o observamos, dele estamos cônscios e a mente é incapaz de alterá-lo (o que não significa estar satisfeita com o que é). (Idem, pág. 156)

Reconhecer “o que é”, é compreender “o que é”. Mas é difícil reconhecer “o que é”, porquanto a mente se recusa a ver, a observar, a aceitar “o que é”. O ver “o que é”, o
observar “o que é”, exige ação; e qualquer ideal ou processo de vir-a-ser é uma fuga à ação (…) Quanto mais penetrais em “o que é”, tanto melhor podeis ver a camada mais
profunda da consciência, ou seja, a vida, em diferentes níveis. Nisso existe a liberdade (…) que a verdade, como virtude, nos traz (…) (O que te Fará Feliz?, pág. 105)

Pois bem; como somos interiormente pobres, procuramos fugir dessa pobreza, recorrendo ao trabalho, ao conhecimento, ao amor (…) Escutamos o rádio, lemos o livro (…),
cultivamos uma idéia ou uma virtude, adotamos uma crença - tudo fazemos para fugir de nós mesmos. Nosso pensar é um processo de fuga ao que é (…) A verdade a esse respeito
só pode ser conhecida se não fugirmos (…) (Por que não te Satisfazer a Vida?, pág. 59)

(…) Todas as fugas, desde a fuga pela embriaguez até à fuga para Deus, são iguais, porque estamos fugindo do que é (…) É só quando realmente deixamos de fugir, só quando
ficamos frente a frente com o problema da solidão, da insuficiência interior (…) só então temos a possibilidade de compreendê-lo, e, portanto, de dissolvê-lo. (Idem, pág. 59-60)

Viver sem comparação é tirar uma carga tremenda. Se vocês se desfazem da carga constituída pela comparação, pela imitação, pela conformidade, pelo ajustamento, pela
modificação, então hão ficado com “o que é”. O conflito surge unicamente quando tratam de fazer algo com “o que é”, (…) tentam transformá-lo, modificá-lo, mudá-lo, reprimi-lo
ou (…) escapar dele. Porém, se têm discernimento sobre “o que é”, o conflito cessa e permanecem com “o que é”. (La Totalidad de la Vida, pág. 180)

E que ocorre com “o que é”? Qual é o estado da mente quando se está olhando “o que é”? Qual é o estado (…) quando não se foge (…) não se trata de transformar ou deformar “o
que é”? Qual é o estado da mente que está olhando e tem discernimento? A mente que tem discernimento se acha totalmente vazia. Está livre de fugas, (…) de repressões, análises,
etc. Quando todas essas cargas são eliminadas - porque se percebe o absurdo que implicam, (…) há liberdade. Liberdade significa vazio para observar. Esse vazio dá ao indivíduo
discernimento da violência, não das diversas formas de violência, mas da total natureza e estrutura da violência. Portanto, há uma ação imediata com relação à violência, a qual
consiste em estar livre por completo de toda violência. (La Totalidad de la Vida, pág. 180)

Que é o conflito? Quando não aceitamos os fatos, o que realmente é, quando fugimos para algo que chamamos de ideal - o oposto de “o que é” - então o conflito é inevitável.
Quando se é incapaz de olhar e observar o que realmente se está fazendo e pensando, então se foge do que é, e se projeta um ideal; em conseqüência, há conflito entre “o que é” e
“o que deveria ser”. (La Llama de la Atención, pág. 54)

Porque se nega “o que é” e se cria o ideal de “o que deveria ser”, há conflito. Porém, observar o que realmente é significa que não se tem opostos, só “o que é”. Se vocês
observam a violência e usam a palavra violência, sempre há conflito, a palavra mesma já está deformada (…) existe a violência e existe o oposto, a não-violência. O oposto existe
porque vocês conhecem a violência; o oposto tem sua raiz na violência. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 206)

Como vemos, a transformação não é resultado do tempo: é resultado de uma mente tranqüila, (…) calma, serena, quieta, passiva. A mente não está passiva quando busca um
resultado (…) Mas se a mente tem, simplesmente, a intenção de compreender o que é, e está assim tranqüila, vereis que nessa tranqüilidade há compreensão do que é, portanto,
transformação. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 125)

Nossa moral atual está baseada no passado ou no futuro, no tradicional ou no que deveria ser. O que deveria ser é o ideal, em oposição ao que foi; é o futuro em conflito com o
passado. A não violência é o ideal, o que deveria ser; e o que foi é a violência. O que foi “projeta” o que deveria ser; o ideal é de “fabricação doméstica”, sendo “projetado” pelo
próprio oposto - o real. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 95)

Processo de Pensar; Memória, Pensamento, Desejo


Nas últimas quatro palestras ou discussões, estivemos considerando a questão do autoconhecimento. Porque (…) se não estamos cônscios de nosso processo de pensar e de sentir,
não é possível, evidentemente, agirmos ou pensarmos de maneira correta. Assim sendo, o objetivo essencial destas reuniões ou discussões é ver se somos capazes, por nós mesmos,
de “experimentar” diretamente o processo de nosso pensar e ficar cônscios dele (…) É esse processo total que dá liberdade e compreensão (…) (Solução para os nossos Conflitos,
pág. 73)

Observai vosso próprio processo de pensar e verificareis que nasce de qualquer temor, da ansiedade, afeição, esperança, da sensação do que é meu e do que não o é. Em outras
palavras, o pensamento está escravizado pelo desejo insaciável. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 86)

Esse pensamento dependente divide-se em superior e inferior, o consciente e o subconsciente, e há conflito entre os dois. O consciente, influenciado pelo subconsciente, cria esta
faculdade a que chamamos intelecto: a faculdade de discernir, de discriminar, de escolher. A memória, a tradição, o valor imposto pela sociedade influenciam nosso discernimento.
(…) (Idem, pág. 86)

Antes de podermos responder “sim” ou “não”, é necessário, por certo, que descubramos o que é esse processo do pensar, (…) esse intelecto que temos em tão alta conta. Que é esse
pensamento que criou os nossos problemas e depois se esforça por resolvê-los? Por certo, enquanto o não compreendermos, não poderemos encontrar uma nova maneira de viver,
um novo modo de existência. (A Renovação da Mente, pág. 9)

O pensar, sem dúvida, é uma reação. Se vos faço uma pergunta, a essa pergunta vós reagis; reagis de acordo com vossa memória, vossos preconceitos, vossa educação, (…) o
clima, (…) o fundo do vosso condicionamento; (…) em conformidade com isso pensais. Se sois cristão, comunista, hinduísta, (…) esse fundo é que reage; e é esse condicionamento,
evidentemente, que cria o problema. O centro desse fundo é o “eu” com sua atividade. (Idem, pág. 10-11)

Enquanto não for compreendido esse fundo, (…) e pusermos fim a esse processo de pensamento, esse “eu”, que cria o problema, havemos inevitavelmente de ter conflitos, interior e
exteriormente, no pensamento, no sentimento, na ação. (…) E, ao percebermos esse fato, (…) como o pensamento surge e a fonte de onde brota, perguntamo-nos, então: Pode o
pensamento terminar? (Idem, pág. 11)

Pergunta: Como começa a existir a inteligência com que todos estamos familiarizados?

Krishnamurti: Ela começa a existir com a percepção, a sensação, o contacto, o desejo, a identificação, pois é tudo isso que dá continuidade ao “ego” por meio da memória. O
princípio do prazer, da dor, da identificação, está sempre sustentando essa inteligência, a qual jamais poderá abrir a porta da Verdade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 218)

Sem se compreender o processo do pensamento, a maneira como se origina o pensamento, as tendências de nosso próprio pensar individual, como o nosso pensamento é
impulsionado por motivos, desejos, ânsias - sem se conhecer toda a essência do pensamento, não se pode, de modo algum, produzir a tranqüilidade. Alvitrei certa vez que, se
registrásseis os vossos pensamentos, se vos familiarizásseis com o vosso próprio pensar, talvez daí resultasse o autoconhecimento. (A Renovação da Mente, pág. 43)

Porque, sem autoconhecimento, não há compreensão. Se não conhecerdes os meandros do vosso pensar, tanto no nível consciente como no inconsciente, (…), então, tudo o que
fizerdes, todas as vossas atividades superficiais de controle, de domínio, de ajustamento e com relação ao que deveis crer e o que não deveis crer, são inteiramente inúteis. (…)
(Idem, pág. 43)

Que é, pois, o pensamento? Ele é, obviamente, a reação da memória; se não tivésseis memória, não existiria pensamento. (…) Assim, o pensamento não só gera e sustenta o medo e
o prazer, mas é também necessário para podermos funcionar, agir eficientemente. (…) (Fora da Violência, pág. 26)

A memória é experiência acumulada, e o que está acumulado é o que se sabe, e o que se sabe é sempre coisa passada. Com essa carga de lembranças é possível descobrir o que está
fora do tempo, o Atemporal? (…) A sabedoria não é memória acumulada, porém, antes, suprema receptividade para o Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 178-179)

Há várias espécies de memórias: há a memória que vos impõe o presente, a memória que evocais ativamente e a memória do olhar em frente, no futuro. Todas elas vos impedem de
viver completamente. Mas, não comeceis a analisar as vossas memórias. (…) Quando perguntais (…) não agis; apenas examinais a memória intelectualmente e tal exame não tem
valor porque é feito em coisa morta. Uma coisa morta não traz compreensão. Mas se estiverdes plenamente consciente no presente, no momento da ação, então todas essas
memórias entram em atividade. Então não necessitais passar pelo processo de analisá-las. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 141)

(…) Há, portanto, duas facetas da memória - a psicológica e a factual. Elas estão sempre inter-relacionadas, não se separam nitidamente. Sabemos que a memória factual é
essencial para a manutenção de nossa subsistência. Mas é essencial a memória psicológica? (…) Que é que vos faz lembrar psicologicamente o insulto e a lisonja? (A Arte da
Libertação, pág. 111)

Por que conservamos certas lembranças e rejeitamos outras? (…) O desafio é sempre novo, nossa reação sempre velha, porque produto do passado. Assim, experimentar sem a
memória é um estado, e experimentar com a memória, outro estado. (…) Só quando há compreensão completa de uma coisa, essa coisa não deixa cicatriz da memória. (Idem, pág.
111)

(…) Se confiais na memória, como um guia de conduta, essa memória deverá entravar a vossa ação, a vossa conduta, porque, então, essa ação ou conduta será meramente o
resultado do cálculo, não tendo, portanto, espontaneidade nem riqueza, nem plenitude de vida. (…) (A Luta do Homem, pág.139)

Temos, pois, de compreender também essa estrutura do pensamento, e não rejeitá-la. Quando se rejeita ou se reprime uma coisa, cria-se contradição. Mas, quando se compreende
uma coisa, não há contradição alguma. (…) A natureza do pensamento é o fundo, a tradição, a experiência, de onde vêm nossas reações; e tais reações baseiam-se no prazer ou na
dor, ou em fatos proporcionadores de prazer. Conforme o prazer, reagimos, e a reação é pensamento. E o pensamento é o mesmo que o desejo cultivado. (A Suprema Realização,
pág. 207)

Pois bem. Como temos uma idéia? Trata-se obviamente de um processo de pensamento. Sem um processo de pensamento, não pode haver idéia alguma. É, portanto, necessário que
eu compreenda o processo do pensamento, antes que possa compreender seu produto, a idéia. Que se entende por pensamento? (…) O pensamento, sem dúvida, resulta de uma
reação neurológica ou psicológica. (…) É a imediata reação dos sentimentos a uma sensação, ou é de natureza psicológica - a reação das lembranças armazenadas na memória.
(Novo Acesso à Vida, pág. 100)

Há a reação imediata dos nervos a uma sensação, e há a reação psicológica da memória acumulada, as influências da raça, do grupo, do guru, da família, da tradição, etc., etc. - e
a tudo isso chamamos pensamento. O processo do pensamento é, portanto, reação da memória, não é? Não teríamos pensamentos, se não tivéssemos memória; e a reação da
memória a dada experiência põe em funcionamento o processo do pensamento. Tenho, por exemplo, as idéias acumuladas do nacionalismo, e me digo hindu. (Idem, pág. 101)

Esse reservatório de lembranças, de passadas ações, reações, inferências, tradições, costumes, responde ao estímulo de um muçulmano, um budista ou um cristão, e a reação da
memória ao estímulo ocasiona inevitavelmente um processo de pensamento. Observai o processo do pensamento operando em vós e podereis tirar diretamente a prova dessa
verdade. Fostes insultados por alguém e isso fica em vossa memória, constituindo parte do vosso fundo mental (background); e, quando vos encontrais com a pessoa, que é o
estímulo, a reação é a lembrança daquele insulto. (Idem, pág. 101)

Assim, a reação da memória, que é o processo do pensamento, cria uma idéia; por conseguinte, a idéia é sempre condicionada - e é importante compreender isso. Isto é, a idéia é
resultado do processo do pensamento, o processo do pensamento é reação da memória, e a memória é sempre condicionada. A memória está sempre no passado, e essa memória é
vivificada no presente por um estímulo. (…) E toda lembrança, quer latente quer ativa, é condicionada (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 101)

Mas, que é a memória? Se observardes, notareis que ela é factual, técnica, relacionada com conhecimentos adquiridos - engenharia, matemática, física, etc.; ou é o resíduo de uma
experiêndia não acabada, incompleta (…) Quando terminais uma experiência, quando a completais, não há memória dessa experiência, no sentido de resíduo psicológico. Só há
resíduo quando a experiência não é compreendida perfeitamente; e não há compreensão de uma experiência, porque olhamos cada experiência através de lembranças passadas e,
por conseguinte, nunca nos encontramos com o novo como novo, mas sempre através da cortina do velho. (…) (Idem, pág. 101-102)

Estamos vendo, pois, que as experiências que não são completamente compreendidas deixam um resíduo, a que chamamos memória. Essa memória, quando estimulada, produz
pensamento. Esse pensamento gera a idéia, e a idéia molda a ação. Por conseguinte, a ação baseada numa idéia nunca pode ser livre; e portanto não há libertação para nenhum de
nós, através de uma idéia. (…) (Idem, pág. 102)

Continuemos: Pode haver ação sem memória? (…) A única coisa que é constantemente revolucionária é a ação isenta da cortina da memória. (…) Nossa questão, pois, é se pode
haver ação livre do processo do pensamento, o qual cria a idéia, que, por sua vez, controla a ação.

Eu digo que pode, e que ela pode realizar-se imediatamente, tão logo percebamos que a idéia não é uma libertação, porém um obstáculo à mesma. Se percebo isso, minha ação não
será baseada em idéia alguma, e por isso fico em estado de completa revolução; (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 106)

(…) Só nos libertamos da memória que acumula quando cada pensamento, cada sentimento é completado, pensado até o fim. Isto é, quando cada pensamento e cada sentimento se
completa, se conclui, há um fim; entre esse findar e o pensamento seguinte há um espaço. Nesse espaço de silêncio encontramos renovação, uma nova força criadora. Ora, isso não
é teórico (…) Se tentardes completar cada pensamento e cada sentimento, descobrireis que isso é extraordinariamente praticável na vossa vida diária; porque então sereis novo, e o
que é novo é eterno, imorredouro. Ser novo é ter força criadora, e ter força criadora é ser feliz; e um homem feliz não se preocupa com se é rico ou pobre (…) Não tem guias (…)
não tem disputas nem inimizades. (Da Insatisfação à Fé , pág. 73-74)

Estamos vendo, pois, que a ordem interior, a ordem na mente, em nosso ser, nunca pode ser produto do pensamento. O pensamento pode criar hábitos, ajustamento, obediência, e
isso, é bem de ver, só leva a uma desordem maior, a maior confusão e angústia. É necessário compreender todo esse processo do pensamento: como pensamos, por que pensamos,
observando-o simplesmente. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 94-95)

Que é pensar? Quando há “desafio” e “reação”, se a reação é imediata, não há “processo” de pensar. Se vos perguntam vosso nome, respondeis prontamente (…) Mas, se vos
fazem uma pergunta mais complicada, precisais de tempo para responder; há um intervalo de tempo entre o desafio e a reação. Nesse intervalo, a mente rica em busca de uma
resposta, a pesquisar, a indagar, a esperar, a questionar.

Esse intervalo é o que chamamos pensar. E esse pensar depende de vossa raça, família, do conhecimento, da memória, das marcas do tempo, de vossas experiências, dores e
sofrimentos, das inumeráveis pressões e agonias da vida - ou seja, de vosso fundo. De acordo com ele “reagis” ou respondeis. Por conseguinte, a reação ao desafio é sempre
inadequada. (…) (A Suprema Realização, pág. 46)

Por conseguinte, temos de compreender, não só o mecanismo do pensar, mas também esse depósito de conhecimentos acumulados, com os quais “respondemos” a um desafio, que é
sempre novo. Sempre respondemos ao novo com o velho (…) Essa resposta nunca é total, porém sempre fragmentária; por conseguinte, apresenta-se uma contradição, um conflito,
uma dor ou um prazer, que desejamos continue; e daí resulta mais conflito. Vivemos, pois, nesse processo: desafio, reação inadequada, contradição, conflito, dor ou prazer, e a
exigência de que cesse a dor e de que o prazer continue. Tal é o ciclo de nossa vida. (Idem, pág. 47)

Se penetrardes mais nesta questão do pensar, alcançareis um estado mental em que dizeis: “Não sei”. Entendeis? Aí é que está a diferença entre o computador e a mente humana. A
mente humana pode dizer “não sei”, (…) não há simulação, não há espera de resposta. (…) E não é necessário dizermos “não sei”, para que a mente esteja sempre a aprender,
sempre fresca, inocente, jovem? (…) No momento em que sabeis, esse saber já se tornou parte do “velho”. (…) Se duvidais, isso significa que já estais à espera de uma confirmação
ou de uma negação. (…) (A Suprema Realização, pág. 47)

Tal é o pensamento. O pensamento só existe no tempo. Por “tempo” entendemos o “estado psicológico de adiamento”, a idéia psicológica de progresso, de evolução, de acesso a
uma altura, de acumular, e de desfazer a distância, ou seja, o intervalo de tempo-espaço entre “o que é” e “o que deveria ser”. A mente em que não há espaço é uma mente morta.
A mente necessita de espaço - que é vazio. Só nesse espaço pode tornar-se existente um novo estado; só nesse espaço pode ocorrer uma mutação, uma completa revolução. (Idem,
pág. 47-48)

(…) Vê-se, pois, que o pensamento inventa o tempo; que o pensamento é tempo. E o homem que compreende esse processo do desejo, pensamento e tempo é um ente humano que
está vivendo plenamente no presente. (…) (A Suprema Realização, pág. 49)

A mente, pois, só é livre quando capaz de enfrentar o fato - o que é - , de enfrentar a pobreza; (…) Quando ides ao encontro do fato sem nenhuma opinião, juízo, avaliação, estais
vivendo no presente. Para a mente, então, não há tempo, de modo que ela pode agir. Porque o próprio fato exige ação urgente - e não as vossas opiniões, desejos e ideais. (Idem,
pág. 50)

Acho necessário compreender todo o mecanismo do pensamento, porque, se não o compreendermos, haverá inevitavelmente irracionalidade, pensar desequilibrado (…) Precisamos
de uma razão clara, de pensamento lógico, preciso. Necessitamos de profunda compreensão de como funciona o mecanismo do pensamento. Porque a mente, o cérebro que é
incapaz de - verdadeiramente, desapaixonada e objetivamente - olhar, observar, sentir, com perfeito equilíbrio, de maneira sã, não pode evidentemente ir muito longe. Assim,
cumpre-nos descobrir (…) a contradição existente entre o pensador e o pensamento. (…) (A Mutação Interior, pág. 72)

Se observardes a vossa própria mente a funcionar, vereis que o movimento para o passado e para o futuro é um processo no qual o presente não existe. Ora é o passado um meio de
fuga do presente, que pode ser agradável; ora é o futuro, uma esperança que nos leva para longe do presente. (…) Isto é, a mente está condicionada pelo passado, (…) como
hinduísta, brâmane ou não brâmane, cristã, budista, etc., e essa mente condicionada se projeta no futuro; por essa razão nunca é capaz de olhar direta e imparcialmente um fato
qualquer. Ela ou condena e rejeita o fato, ou o aceita e com ele se identifica. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 175-176)
A pessoa pode ser muito inteligente e erudita; mas, para descobrir uma maneira de agir totalmente diferente, que traga felicidade à sua vida, ela deve compreender o inteiro
mecanismo do pensar. E, pela própria compreensão do que é positivo - o pensamento - a pessoa entra numa dimensão diferente, de ação, a qual é, essencialmente, amor. Quer
dizer: Para investigar a pessoa deve ser livre; do contrário, não pode investigar (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 152)

Portanto, é essencial compreender o processo integral de nosso pensar, pois é nele que se encontra a contradição. O próprio pensar tornou-se uma contradição, porque não temos
compreendido o processo total de nós mesmos, e tal compreensão só é possível quando estamos plenamente cônscios de nosso pensamento, não como um observador a operar sobre
o seu pensamento, porém integralmente e sem escolha (…) Só então pode dissolver-se aquela contradição tão nociva e dolorosa. (Por que não te satisfaz a Vida, pág. 38)

Enquanto estivermos tentando alcançar um resultado psicológico, enquanto desejarmos a segurança interior, tem de haver contradição em nossa vida. (…) A tranqüilidade da
mente é essencial para que se compreenda o significado integral da vida. O pensamento (…), produto do tempo, não pode nunca encontrar o que é atemporal, conhecer o que está
além do tempo. (…) (Idem, pág. 38-39)

Embora seja difícil (…) demonstrar como a mente funciona na realidade, vou tentar fazê-lo; e podeis experimentar, e ver por vós mesmos. Sabemos que o pensar é uma reação do
“fundo de condicionamento” (background). Vós sois esse background, não sois separado, pois não há pensador separado do background; e a reação desse fundo é o que chamais
pensar. Esse fundo, quer culto, quer inculto, instruído ou ignorante, está sempre correspondendo a algum desafio, a algum estímulo, e essa reação cria não apenas o chamado
presente, mas também o futuro. Tal é o nosso processo de pensar. (Que Estamos Buscando? 1ª ed., pág. 179)

Agora, se observardes com muito cuidado, vereis que, embora a reação, o movimento do pensamento pareça tão célere, existem vãos, existem intervalos entre os pensamentos.
Entre dois pensamentos há um período de silêncio não relacionado com o “processo” do pensamento. Se observardes, vereis que esse período de silêncio, esse intervalo, não é de
tempo; e o descobrimento desse intervalo, o completo “experimentar” do mesmo, vos liberta do condicionamento. Assim, a compreensão do processo do pensar é meditação. (Idem,
pág. 179-180)

(…) A compreensão não vem pela escolha; não vem pela comparação, nem pela crítica, nem pela justificação. Só vem a compreensão quando a mente, tendo ficado inteiramente
cônscia de todo o processo de si mesma, se tornou tranqüila. Quando a mente está de toda silenciosa, sem exigência alguma - só nessa tranqüilidade existe a compreensão, (…) a
possibilidade de experimentar o que transcende o tempo. (Viver sem Confusão, pág. 37)

O “como” implica que alguém pode dar-vos um método. (…) Pode a compreensão ser produzida por um método? Compreensão significa amor e sanidade mental. E o amor não
pode ser praticado nem ensinado. A sanidade mental só é possível quando há claro percebimento, quando se vêem as coisas tais como são, sem emocionalismo nem
sentimentalismo. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 31)

É óbvio que todos os problemas exigem, não solução, conclusão, porém compreensão do próprio problema. Porque a resposta, a solução do problema, está contida no problema; e,
para compreender o problema, qualquer que ele seja - pessoal ou social, ou geral - é essencial haver certa tranqüilidade, certa qualidade de não-identificação com o problema.
(Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 21)

(…) Essas três coisas são essenciais, quando se está em presença de um problema imenso. Não se deixe guiar pelas próprias inclinações, por mais agradáveis (…) - eis a primeira
coisa. (…) Em segundo lugar, não permita que suas atividades, sua vida seja moldada por seu temperamento, (…) seja intelectual ou emotivo, e (…) suas idiossincrasias. E, em
terceiro lugar, não se deixe impelir pelas circunstâncias. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 156-157)

Observa-se no mundo (…) a deterioração que está invadindo todos os níveis de nossa existência. E, observando esse fenômeno, somos naturalmente levados a investigar se não
existirá um caminho diferente, (…) uma revolução que projete todo o processo do pensar numa dimensão inteiramente nova. Em primeiro lugar, acho bem clara a necessidade de
uma mudança profunda, radical, no comportamento humano, nas relações humanas e, por conseguinte, no pensar humano. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90)

Dualidade, Opostos do Pensar-Sentir, Contradição


Ninguém pode ensinar-vos a verdade, de modo que não precisais seguir ninguém. A única coisa que se pode fazer é compreender, pela observação cuidadosa, o intricado
movimento do pensamento: como ele se divide, como cria seus próprios contrários e, por esse modo, traz contradição e conflito. (O Começo do Aprendizado, pág. 206)

Quando estamos conscientes, ficamos apercebidos de um processo dual que se opera em nós - querer e não querer, desejos expansivos e desejos reprimidos. (…) Ao percebermos as
conseqüências (…) nasce o desejo de refreá-los (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 102)

Assim, há conflito entre a vontade expansiva e a vontade de reprimir. Esse conflito tanto pode criar compreensão, ou confusão e ignorância. A vontade expansiva e a vontade de
reprimir são a causa da dualidade. (…) (Idem, pág. 103)

Se não compreendemos o que é que gera esse dualismo, essa oposição instintiva, não compreenderemos a significação do conflito que sentimos em nós. Estamos cônscios, em nossa
vida, do dualismo e seu conflito constante; desejar e não desejar, céu e inferno, Estado e cidadão, luz e treva. Não surgirá o dualismo do próprio desejo? (Autoconhecimento,
Correto Pensar, Felicidade, pág. 35)

A vontade de vir-a-ser, de ser, não encerra também a vontade de não-vir-a-ser? No desejo positivo existe também negação e, assim, o pensamento-sentimento se vê envolvido no
conflito dos opostos. Através dos opostos não há fugir ao conflito, à aflição. (Idem, pág. 35)

Nós somos pensamentos-sentimentos em perpétua mutação e contradição; amor e ódio, calma e cólera, inteligência e ignorância. (…) Mas, não será também esse “eu” o resultado
e a continuação do conflito de várias entidades? (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 154)

Foram todas essas entidades contraditórias que constituem o “ego”, que também fizeram nascer o outro “eu”, o observador, o analista. Para compreender a mim mesmo,
cumpre-me compreender as várias partes de que sou constituído, inclusive o “eu” que se tornou o observador, o “eu” que compreende. (…) (Idem, pág. 154-155)

É, pois, importante compreender o desejo de condenar ou aprovar, de justificar ou comparar, (…) que impede a plena compreensão do “todo”. Quem é esse juiz, essa entidade que
compara e analisa? Não é um aspecto, somente, do todo, um aspecto do “eu”, que está sempre a manter o conflito? (…) Só quando se compreende o todo, pode o pensar correto
abrir a porta que conduz ao eterno. (Idem, pág. 156)

E, agora, que entendemos por “processo dual”? Sabemos que existe um processo dual, o bem e o mal, o ódio e o amor, etc. (…) E por que criamos esse processo dual? Existe
realmente ou é uma invenção do intelecto, a fim de fugir ao fato? Sou violento (…) ou ciumento, e isso me incomoda. Não gosto desse estado; digo, portanto, que não devo ser
ciumento, violento - e isso é uma fuga ao fato, não achais?

O ideal é uma invenção do intelecto, que quer fugir ao que é; por isso existe dualidade. Mas, se enfrento integralmente o fato de que sou ciumento, então já não há dualidade.
Enfrentar o fato significa penetrar completamente o problema da violência e do ciúme; e então, ou descubro que isso me agrada (…) e nesse caso o conflito continua
necessariamente; ou, ainda, percebo tudo o que o problema implica e fico livre do conflito. (O Passo Decisivo, pág. 206)

(…) Não é possível a integração dos opostos, da avidez e da não avidez. Quem é ávido e procura tornar-se não ávido, continua a ser ávido. Não achais necessário que se abandone
tanto a avidez como a não avidez, para nos furtarmos à influência de uma e outra? Todo “vir-a-ser” implica “não-vir-a-ser”, e enquanto existir vir-a-ser existirá dualidade, com o
seu conflito infindável. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 23)

A causa da dualidade é o desejo, o anseio; pela percepção, pela sensação e pelo contato, surge o desejo, o prazer, a dor, a necessidade e a não necessidade, que por sua vez
motivam a identificação como “meu” e “vosso”, entrando, desse modo, a funcionar o processo dualista. (…) Enquanto separar-se o pensante do pensamento, perdurará o vão
conflito dos opostos; (…)(Idem, pág. 23-24)
A escolha entre desejos opostos faz somente prosseguir o conflito; escolha implica dualidade; na escolha não há liberdade, porquanto a vontade continua a produzir conflitos.
Como poderá, então, o pensamento transcender o padrão da dualidade? É só compreendendo o mecanismo do ansiar, do desejo de satisfação própria, que podemos transcender
(…) o conflito dos opostos. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 42)

(…) Mas, se desejamos achar a verdade contida num problema, nada significa a tradição e a autoridade. Pelo contrário, tornam-se um obstáculo (…) A verdade não se encontra no
oposto, porque um oposto é sempre o prolongamento do seu próprio oposto. A antítese é o prolongamento da tese, sob forma diferente. (…) Precisamos observá-la e perceber o seu
significado integral. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 83-84)

A compreensão da mente só é possível nas relações; relações com a propriedade, as pessoas e as idéias. Atualmente essas relações são reações; e um problema criado pela reação
não pode ser resolvido por outra reação; só pode ser resolvido quando compreendido todo o processo da reação, que é o “eu”. Vereis então que há uma ação que não é reação, que
é o próprio desafio, que é criadora; (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 214)

A própria natureza do “ego” é estar em contradição; e somente quando o pensamento-sentimento se liberta a si mesmo de seus desejos antagônicos, é que pode haver tranqüilidade
e alegria. Essa liberdade, com suas alegrias, se manifesta pela percepção profunda do conflito do desejo. Quando vos tornais cônscios do processo dualista do desejo e ficais
passivamente vigilantes, encontrais a alegria do Real, alegria que não é produto da vontade nem do tempo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 92)

Seria, por acaso, verdadeiro dizer que necessitais odiar para amar? (…) Amais, e porque no vosso amor há espírito de posse, surgem o malogro, o ciúme e o temor. Esse processo
desperta o ódio. Começa então o conflito dos opostos. (…) Todos os opostos devem criar conflito por serem essencialmente ininteligentes. O homem medroso desenvolve a bravura.
Esse processo de desenvolver a coragem é, realmente, uma evasão ao medo; se, porém, ele discernir a causa do medo, este cessará naturalmente. (Palestras em Nova York,
Eddington, Madras, 1936, pág. 12)

Os opostos geram o tempo. Há evidentemente (…) o tempo cronológico e o tempo psicológico. O tempo psicológico existe como “não ser” ou “vir-a-ser ou sou isto e serei aquilo,
sou violento e serei não-violento, ( A não-violência é o oposto da violência, e essa divisão produz conflito - (…) entre o que sou e o que deveria ser. (…) (Palestras com Estudantes
Americanos. pág. 130)

Pode a mente existir, sem raiz alguma? (…) Senhor, só a mente que não tem raiz pode conhecer o Real. (…) A mente, tal como é, está cheia de tradição, do tempo, de lembranças,
ódio, ciúme. Pode-se compreender essa mente sem condenação - isto é, sem se criar o oposto? No momento em que condenamos “o que é” não o compreendemos. A compreensão
do que é só pode ocorrer quando não há condenação; só então se pode estar livre do que é. (As Ilusões da Mente, pág. 85)

Quando estamos conscientes, ficamos apercebidos de um processo que se opera em nós - querer e não querer, desejos expansivos e desejos reprimidos. A concentração sobre os
desejos expansivos, e sua ação, cria um mundo de competição e divisão em mundanismo, amor possessivo e ansiedade pela continuidade pessoal. (Palestras em Ojai e Saróbia,
1940, pág. 102)

Ao percebermos as conseqüências desses desejos expansivos, que tanta dor e tristeza nos causam, nasce o desejo de refreá-los, com seu próprio tipo de vontade. Assim, há conflito
entre a vontade expansiva e a vontade de reprimir. Esse conflito tanto pode criar compreensão, como confusão e ignorância. A vontade expansiva e a vontade de reprimir são a
causa da dualidade, fato que não pode ser negado. (Idem, pág. 102-103)

Embora os opostos tenham uma causa comum, temos de compreendê-los para ficarmos livres do conflito dos opostos. Sendo invejosos e, por isso, conscientes do conflito e da dor,
procuramos cultivar o seu oposto, mas nisso não há libertação da inveja. (…) Ao passo que, se considerarmos profundamente a causa intrínseca da inveja e nos tornarmos
apercebidos de suas vária formas, com suas incitações, então, nesse entendimento, há libertação da inveja, sem criar seu oposto. (…) Quando há compreensão do processo dos
desejos expansivos, com sua denominada vontade positiva e repressiva, nasce a plenitude, o preenchimento que não é criação do intelecto. (…) O entendimento transcende a razão
e a emoção. (Idem, pág. 103-104)

(…) Os opostos não se podem fundir; eles devem ser ultrapassados pela dissolução do desejo. É preciso meditar e sentir plenamente cada um dos opostos, (…) porquanto será assim
que despertaremos uma nova compreensão não resultante do anseio ou do tempo. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 63)

Existe um modo diferente de encarar a vida, não do ponto de vista dos opostos, da fé e da ciência, do temor e da mecanização; (…) Isto é, cada um tem de discernir o processo de
vir-a-ser e o da cessação aparente, o processo de nascer e de morrer. Esse processo só é integralmente perceptível pelo indivíduo como consciência. (Palestras em Nova York,
Eddington, Madras, 1936, pág. 34)

(…) A realidade deve ser compreendida somente mediante o processo do “eu” como consciência, da qual surge a individualidade (ente individualizado). Isto é, o indivíduo tem de
compreender o processo do seu próprio vir-a-ser, que implica inteligência. (…) (Idem, pág. 34)

Pertencer a qualquer dos dois grupos oponentes de pensamentos que mencionei, só conduzirá, por último, a maior confusão e miséria. Todos os opostos impedem o discernimento.
Para o indivíduo discernir aquilo que é, precisa compreender a si próprio e, para efetuar isto, tem de atravessar todos os estorvos e limitações produzidos pela visão mecânica da
vida ou pela fé; (…) (Idem, pág. 35)

A ação é vital, porém não o são as opiniões e conclusões lógicas. Como indivíduos, tendes de compreender o processo da consciência por meio do discernimento direto, sem
escolha. A autoridade do ideal e do desejo impede e perverte o verdadeiro discernimento. Quando há carência, quando a mente está cativa dos opostos, não pode haver
discernimento. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 13-14)

Se não entendemos esse problema de opostos, com seus conflitos e misérias, improfícuos serão nossos esforços. Permanecendo vigilantes, podemos observar e compreender o desejo
de vir-a-ser, ou seja, a causa do conflito; a compreensão, porém, não se dará se houver identificação (…) aceitação, negação ou comparação. (Autoconhecimento, Correto Pensar,
Felicidade, pág. 20)

Enquanto o pensador se preocupar com seu pensamento, existirá dualismo; enquanto lutar com os pensamentos, continuará a haver conflito dualista. Existe solução para qualquer
problema, no conflito dos opostos? (…) O criador do problema não é mais importante do que o problema? (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 146)

(…) Enquanto houver um censor, uma entidade a traduzir o que vê, por meio de seu condicionamento - que é o passado - enquanto houver interpretação do que observais, do que
vedes, do que escutais, haverá necessariamente o centro, o objeto que cria espaço em torno de si e, portanto, uma dualidade. E, uma vez estabelecida a dualidade, está declarado o
conflito. Mas, se ficardes a observar simplesmente, vereis que existe espaço sem o objeto. (A Suprema Realização, pág. 74)

O oposto é dissimilar do que é? Como nasce o oposto? Não é ele uma projeção modificada do que é? A antítese não contém os elementos da própria tese? Uma não é
completamente dissimilar da outra, e a síntese é ainda a tese, modificada. (…) A atual sociedade está baseada na ganância individual; e o seu oposto é o que chamais a nova
sociedade. Na vossa nova sociedade, a ganância individual opõe-se à ganância do Estado. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 37)

(…) A antítese é o prolongamento da tese; o oposto contém o elemento do oposto respectivo. Sendo violenta, a mente projeta o seu oposto, o ideal da não-violência. Diz-se que o
ideal ajuda a dominar o seu oposto; mas é exato? O ideal não é uma maneira de evitar, fugir ao que foi ou ao que é? O conflito entre o real e o ideal é evidentemente um meio de
adiar a compreensão do real (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 95)

Enquanto escolherdes entre opostos, não há discernimento, e por isso deve haver esforço, esforço incessante, continuamente opostos e dualidade.(…) A vossa ação é sempre finita,
sempre visando conseguimento, por isso existirá sempre essa vacuidade que sentis. Mas, se a mente estiver livre da escolha, se ela possuir a capacidade de discernir, então a ação é
infinita. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 32-33)

(…) Nessa libertação dos opostos a ação já não é um conseguimento, mas preenchimento; ela nasce do discernimento, que é infinito. Então, a ação brota de vossa plenitude e em tal
ação não há escolha e, portanto, nenhum esforço. (Idem, pág. 33)

Ora, é possível ação sem conflito de espécie alguma? Sem dúvida, tal ação só é possível quando amamos aquilo que fazemos; (…) Não sei se já notastes que, quando gostais de
fazer certa coisa, não há conflito nenhum, a ação está completamente livre de elementos contraditórios (…) (Visão da Realidade, pág. 172)

Existe, entretanto, um meio diferente de encarar esse problema dos opostos. É discernir diretamente, perceber integralmente que todas as tendências e virtudes encerram em si seus
próprios opostos; e que desenvolver um oposto, é fugir à atualidade. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 11)

Pois bem, esse conflito de desejos traz compreensão? O problema é: Como surge a compreensão? Porque, existindo compreensão, não existe mais luta. O que compreendemos,
disso ficamos livres. (Nós Somos o Problema, pág. 68)

(…) Por “compreensão” entendo aquele estado sem esforço, no qual a mente está de todo cônscia, livre de obstáculos, (…) de tendências, sem nenhuma luta para compreender (…)
(O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 166)

E há também a contradição entre o pensador e o pensamento. Em todos nós existe essa dualidade. Importa compreendê-la. (…) Se temos de criar um mundo novo, uma nova
sociedade, um novo ente humano, essa sociedade só pode subsistir num estado de não-contradição; para o florescimento da bondade, tem de haver paz, e não guerra nem ódio.
Compreendeis? Vivereis sempre numa atmosfera de ódio, de agonia, desespero, ansiedade, se vossa ação não for total. (A Suprema Realização, pág. 205)

Por que vivemos com este senso de dualidade, opondo-nos uns aos outros, em todos os níveis de nossa existência, com resistência mútua, dando origem a conflito e guerra? Este tem
sido o padrão da atividade humana no mundo, provavelmente desde o início dos tempos, com senso de separação (…) Embora falem de amor e paz na terra, desta forma não pode
haver paz, o homem tem de estar em guerra com seu semelhante; e se pergunta se isto deve ser sempre assim. (Talks and Discussions at Brockwood Park, 1969, pág. 7)

Assim, é possível que o ser humano seja totalmente sério, descobrir se pode viver num estado de não-dualidade - não ideologicamente ou teoricamente, mas realmente, tanto na
forma como na essência? É possível, para mim e você, vivermos uma vida na qual este senso de dualidade cesse completamente, não apenas no nível verbal, mas também nos mais
profundos depósitos e recessos da própria mente? Sinto que, se isso não for possível, haveremos de continuar em guerra com os outros - você com sua opinião particular, crenças,
dogmas e conclusões, e eu com as minhas. Então não pode haver comunicação ou contato real. (Idem, pág. 7-8)

Se vos aperceberdes de que a vossa escolha originada nos opostos somente cria outro oposto, então percebeis o que é verdadeiro. (…) Na libertação dos opostos a ação já não é um
conseguimento, mas preenchimento; ela nasce do discernimento, que é infinito. Então, a ação brota de vossa própria plenitude (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 33)

Só podeis verificar isto quando realmente estiverdes atravessando uma crise. Não o podeis verificar intelectualmente, quando sentado a gosto e imaginando (…) Se nesse momento
entenderdes com todo o vosso ser, (…) fordes consciente da futilidade da escolha, então brotará daí a flor da intuição, (…) do discernimento. A ação que daí nasce é infinita; então
a ação é a própria vida. (…) (Idem, pág. 35)

Causa e efeito são inseparáveis: na causa está contido o efeito. O estar cônscio da causa-efeito de um problema depende de certa flexibilidade e agilidade da mente-coração,
porquanto a causa-efeito modifica-se constantemente. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 145)

Estamos dizendo que, onde há uma causa, ao efeito se pode pôr um fim, com a cessação da causa. (…) Toda a nossa vida é um movimento de causa e efeito; (…) Você me diz algo
desagradável, eu o odeio. Em todo esse movimento há causa e efeito (…) E nos perguntamos: Há uma vida, uma forma de viver na qual não exista causalidade? (…) Para investigar
isto bem a fundo, deve-se compreender o conflito dos opostos, da dualidade. (La Llama de la Atención, pág. 115-116)

Existe, assim, uma contradição em nós. Vivemos neste mundo de avidez, inveja e apetites sexuais, pressões emocionais, mecanização, e ao mesmo tempo desejamos encontrar algo
superior à mera satisfação física. Existe ânsia de encontrar Deus e também de viver mundanamente. Queremos trazer aquela Realidade para este mundo. (…) (O Homem Livre, pág.
133)

Estamos falando a respeito de seriedade, porque (…) precisamos eliminar a contradição existente em nós mesmos - fonte de todos os conflitos. A mente que se acha em conflito é
incapaz de perceber, de ver. É uma mente deformada; e a contradição, à medida que se vai tornando mais aguda, leva a várias formas de desequilíbrio (…) (Encontro com o Eterno,
pág. 21)

Pois bem; que é que produz contradição em cada um de nós? Por certo, é o desejo de vir-a-ser alguma coisa (…) Todos nós queremos tornar-nos alguma coisa; ter bom êxito no
mundo, e, interiormente, desejamos alcançar um resultado. Assim, enquanto pensarmos em termos de tempo, (…) de posição, tem de haver contradição. (…) (Por que não te Satisfaz
a Vida, pág. 37)

A contradição surge apenas quando a mente tem um ponto fixo de desejo, isto é, quando a mente não considera todos os desejos como passageiros, transitórios, mas se apega a
certo desejo e lhe dá caráter de permanência; só então, ao surgirem outros desejos, há contradição. (…) A mente, porém, estabelece um ponto fixo, por que considera todas as
coisas como meios de alcançar seus objetivos, meios de ganho; (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 70)

Por conseguinte, é essencial compreender o processo total do nosso pensar, porque é nele que se encontra a contradição. O próprio pensamento se tornou uma contradição, porque
não compreendemos o processo total de nós mesmos, e só é possível essa compreensão quando estamos plenamente cônscios do nosso pensamento (…) (A Primeira e Última
Liberdade, 1ª ed., pág. 71)

Para estarmos livres da contradição, temos de estar cônscios do presente, sem escolha. Como pode haver escolha, quando nos vemos frente a frente com um fato? Por certo, a
compreensão do fato se torna impossível, enquanto o pensamento está tentando operar sobre o fato em termos de “vir-a-ser”, modificar, alterar. O autoconhecimento, por
conseguinte, é o começo da compreensão. Sem autoconhecimento, continuará a existir o conflito e a contradição. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 72)

Mecanismo do Conflito; Idéia, Atrito, Transcendência


Mas já estamos tão acostumados com o conflito! Conflito com o mundo, com o nosso semelhante, com os filhos, a mulher, conflito no emprego, (…) entre grupos, (…) famílias,
sociedades, comunidades, nações; e o conflito entre desejos divergentes, contraditórios, entre as compulsões, os impulsos(…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 100)

Ao perceberdes esse conflito, desejais sair dele; não desejais compreendê-lo, não vos deixais ficar com ele, não cuidais (…) da compreensão do conflito; (…) não olhais o conflito
com afeição, em lugar do impulso para vos livrardes dele. (Idem, pág. 100)

Apresenta-se o conflito quando há contradição, quando há dois desejos a “puxar” em diferentes direções. (…) E, assim, tendes conflito, não só o conflito consciente, mas também o
conflito inconsciente (…), inerente à sociedade, (…) às ocupações que exerceis (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 100)

Existe, pois, conflito quando há autocontradição, quando, dentro de vós, existe a inclinação para fazerdes certa coisa e também, ao mesmo tempo, a inclinação para fazerdes outra
coisa - como, por exemplo, (…) para fumar, e ao mesmo tempo o medo de fazê-lo, porque os médicos anunciaram (…) que o fumo produz câncer. Desejais deixar de fumar e, ao
mesmo tempo, conservar o hábito. (…)(O Despertar da Sensibilidade, pág. 101)

Agora, uma coisa é necessário perceber (…), que o conflito da vida deve ser compreendido instantaneamente, e não a cada conflito. Porque não há tempo para analisardes
prontamente cada conflito que surja, penetrá-lo, descobrir-lhe a causa. (…) Entender todos os conflitos, um a um, significa mera fragmentação, e não se pode juntar vários
fragmentos de contradição para constituírem um todo. (…) (Idem, pág. 101)

Assim, o conflito só se torna existente quando há desatenção. (…) Vós não podeis exercitar-vos para estar atento. Mas podeis ficar cônscio de estar desatento. E quando estais
cônscio de estar desatento, estais atento. Assim, o que nos interessa é promover a mudança sem conflito nenhum - conflito na mente consciente ou nos níveis inferiores da
consciência (…)(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 105)

Antes de podermos compreender, necessitamos tornar-nos conscientes da espécie de esforço que fazemos “agora”. Não consiste, de fato, (…) na tentativa constante de nos
tornarmos alguma coisa, em fugirmos de um oposto para outro? Vivemos em uma série de conflitos de ação e reação, de querer e não querer. Consumimos esforço nesse intento
simultâneo de vir e de não vir-a-ser. Permanecemos, assim, num estado dual. Como surge a dualidade? (…)

Como surge em nós esse doloroso conflito entre o bem e o mal, a esperança e o medo, o amor e o ódio, o “eu” e o “não-eu”? Não é ele criado pelo desejo de chegar a ser isto ou
aquilo? Esse desejo se expressa na sensualidade ou na busca de fama pessoal ou na imortalidade. Procurando tornar-nos algo, não criamos o oposto? (…) Cumpre, portanto, usar
meios próprios para transcender esse conflito. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 19-20)

Não achais importante compreender e, assim, transcender o conflito? Vivemos, em regra, num estado de conflito interior que produz tumulto e confusão exteriores. Muitos se
refugiam desse conflito na ilusão, em atividade várias, na aquisição de saber e de idéias; outros se tornam indiferentes e deprimidos. Alguns há que, compreendendo o conflito,
ultrapassam as suas limitações. Sem a compreensão da natureza íntima do conflito (…) não é possível a paz, nem a alegria. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 40)

Os mais de nós achamo-nos colhidos numa série infinita de conflitos interiores, sem a solução dos quais é inútil e vazia a nossa existência. Temos percepção de dois pólos opostos
do desejo: o desejo positivo e o desejo negativo - o querer e o não querer. O conflito entre a compreensão e a ignorância (…) O conflito não nos leva à compreensão. Leva-nos (…)
à apatia, à ilusão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, 1ª ed., pág. 40-41)

O conflito, a luta pelo vir-a-ser e pelo não-vir-a-ser, não leva ao egotismo? Pois não gera ele o sentimento da personalidade, do “eu”? E a própria natureza do “eu” não é de
conflito e dor? Quando tendes consciência de vosso “eu”? Quando existe antagonismo. No momento da alegria, a consciência do “eu” é inexistente; (…) (Idem, pág. 41)

A escolha entre desejos opostos faz somente prosseguir o conflito; escolha implica dualidade; na escolha não há liberdade, porquanto a vontade continua a produzir conflitos.
Como poderá, então, o pensamento transcender o padrão da dualidade? É só compreendendo o mecanismo do ansiar, do desejo de satisfação, do interminável conflito dos opostos.
Estamos sempre a produzir o prazer e a evitar o sofrimento; o desejo constante de vir-a-ser endurece a mente-coração, produzindo luta e dor. (…) Aí, renunciar significa adquirir, e
a aquisição é a semente do conflito. Esse processo de renunciar e adquirir, de vir-a-ser e não-vir-a-ser, é uma cadeia contínua de sofrimentos. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 42)

(…) Para transcender o conflito, o desejo de vir-a-ser deve ser conhecido intimamente e compreendido. O desejo de vir-a-ser é complexo e sutil (…) Ficai intensamente cônscios do
desejo de vir-a-ser. Ficai cônscios do sentimento de vir-a-ser; com o sentimento vem a sensibilidade, a qual começa a revelar tudo quanto se contém no vir-a-ser. O sentimento é
endurecido pelo intelecto e pelas suas numerosas e sutis racionalizações (…) Podeis compreender tudo isso, verbalmente exposto, mas de pouca importância será; somente o
conhecimento e o sentimento podem produzir a centelha criadora da compreensão. (Idem, pág. 43)

Não condeneis o vir-a-ser, mas observai a sua causa e efeitos em vós. A reprovação, o julgamento e a comparação não trazem a compreensão; ao contrário, suprimem-na. (…)
Observai, em silêncio e quietude, o vir-a-ser; experimentai essa percepção tranqüila. “Estar tranqüilo” e “pôr-se tranqüilo” são dois estados diferentes. (…) É só no estado de
quietude que se transcende o conflito. (Idem, pág. 43-44)

Parece-me assaz evidente que, para compreender um problema complexo, e principalmente um problema psicológico, é necessária uma mente muito quieta, (…) tranqüila, mas não
(…) forçada; uma mente serena, silenciosa, capaz de compreender diretamente o problema complexo e sua solução. (Nós Somos o Problema, pág. 44)

O que impede essa tranqüilidade da mente é, sem dúvida, o conflito. Quase todos vivemos cheios de agitação (…) E é essencial (…) para a perfeita compreensão de um problema,
que se tenha uma mente silenciosa, (…) sem preconceito, (…) capaz de libertação tranqüila e que permita ao problema revelar-se, descobrir-se. E uma mente assim quieta é uma
coisa impossível, quando há conflito. (Idem, pág. 44)

Pois bem, qual é a causa do conflito? Por que vivemos nesse conflito, cada um de nós, e por isso também a sociedade (…)? Por que? De onde surge o conflito? Cessando o conflito,
é possível, evidentemente, haver uma mente serena; (…) E, no desejo de tranqüilidade, de uma certa sensação de paz, procuramos fugir do conflito por todas as maneiras
concebíveis (…) Mas é uma coisa evidente que toda fuga conduz à ilusão e a novo conflito.

As fugas só nos levam ao isolamento e, por isso, a maior resistência. Mas, se o indivíduo não procurasse fugir, ou estivesse bem consciente de suas fugas e fosse, portanto, capaz de
compreender diretamente o processo do conflito, haveria, então, talvez, tranqüilidade mental. (Nós Somos o Problema, pág. 44-45)

Nessas condições, se pudéssemos compreender o processo do conflito e a maneira como surge, haveria, então, talvez, uma possibilidade de a mente ficar livre, tranqüila. Mas a
dificuldade da compreensão do conflito consiste em que, em geral, estamos ansiosos por fugir dele, por transcendê-lo, por encontrar uma saída, por descobrir-lhe a causa; e eu não
creio que (…) resolve o conflito. Já se o indivíduo é capaz de compreender, na íntegra, o processo do conflito, de observá-lo de todos os pontos de vista, assim os psicológicos como
os fisiológicos; se tem paciência para investigar em silêncio, sem condenação nem justificação - então, talvez, lhe seja possível compreender o conflito. (Idem, pág. 45-46)

Afinal, o conflito surge (…) do desejo de sermos alguma coisa, de sermos diferentes do “que é”. Esse desejo constante (…) é um dos fatores de conflito: o que não significa que
devamos estar satisfeitos com “o que é” - pois nunca o estamos. Mas, para compreendermos “o que é”, precisamos compreender esse desejo de sermos diferentes do que é. Eu sou
uma coisa - feio, ganancioso, invejoso - e desejo ser outra coisa, o oposto daquilo que sou. Tal é, por certo, uma das causas de conflito - esses desejos opostos e contraditórios, de
que somos constituídos. (Nós Somos o Problema, pág. 46)

Penso que o simples fato de encarar o conflito, de tomar consciência de seu processo, já é, em si, libertação. Isto é, se estamos conscientes, sem atrito algum, sem escolha, (…)
simplesmente conscientes do “que é”; e se estamos igualmente conscientes do desejo de fugir do “que é” (…); se estamos simplesmente conscientes de tudo isso, então essa própria
consciência produzirá a tranqüilidade da mente. Podeis, aí, dar atenção ao que é; tendes a possibilidade de compreender “o que é” (Idem, pág. 46)

Por certo, o conflito é muito mais significativo do que o mero atrito dos opostos. Surge o conflito (…) quando queremos aproximar a ação de uma idéia. Estamos sempre
procurando ligar nossos atos a uma crença, um ideal, uma idéia. Tenho uma idéia sobre como eu deveria ser, ou como o Estado deveria ser (…) É a idéia mais verdadeira que a
ação? E, contudo, (…) as nossas ações estão baseadas em idéias. Temos primeiro a idéia, depois vem a ação. Só raramente surge uma ação espontânea, livre, não circunscrita por
uma idéia. (Idem, pág. 46-47)

É, possível agir sem idéia? Deveria haver só ação, e não idéia; assim, o indivíduo estaria vivendo ativamente no presente. Isso exige vigilância, ação não fragmentária e, por
conseguinte, ausência de contradição. Onde há contradição tem de haver esforço; (…) Assim, toda a nossa vida gravita em torno dessas três coisas: idéia, ação e contradição. (…)
(Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 28)

“Que entendeis por conflito?”

O conflito em todas as suas formas; entre marido e mulher, grupos de indivíduos com idéias opostas, entre o que é e a tradição, entre o que é e o ideal, o que deveria ser, o futuro. O
conflito é luta interior e luta exterior. (…) A compreensão exige certo estado de paz. A criação só pode ocorrer quando há paz e felicidade, e não por meio de conflito, de luta.
Nossa luta constante é travada entre o que é e o que devia ser, entre a tese e a antítese. (Reflexões sobre a Vida, pág. 59)

Aceitamos esse conflito como inevitável, embora possa ser falso. Pode o que é, ser transformado pelo conflito com seu oposto? Eu sou isto e luto para ser aquilo - o oposto; (…) O
oposto, a antítese, não é uma “projeção modificada” de o que é? O oposto não contém sempre os elementos do respectivo oposto? Pela comparação, pode haver compreensão de o
que é? (…) Se desejais compreender uma coisa, não deveis observá-la, estudá-la? Podeis estudá-la, se tendes algum preconceito contra ela ou a favor dela? (…) Por certo, se estais
em conflito com vosso filho, não há compreensão dele. (Idem, pág. 59-60)

O conflito, em qualquer esfera que seja, produz a compreensão? Não há uma cadeia contínua de conflito, no esforço, na vontade de ser, de vir-a-ser, positiva ou negativamente? A
causa do conflito não se torna efeito, e este por sua vez não se torna causa? Não há libertação do conflito, sem compreensão de o que é. O que é não pode ser compreendido através
da cortina da idéia; tem de ser apreciado de maneira nova. (…) Pela sua própria natureza, conflito é fator de separação, como o é toda oposição; e a exclusão, a separação, não é
fator de desintegração? (Reflexões sobre a Vida, pág. 60)

Ora, por certo, quando o falso é percebido como falso, o verdadeiro existe. Quando se está cônscio dos fatores de degeneração, (…) não há integração? (…) A integração não é
alvo, um fim, mas “estado de ser”; é uma coisa viva (…) A integração é um estado de completa atenção. Não pode haver atenção completa quando há esforço, conflito, resistência,
concentração. A concentração é uma fixação; (…) (Idem, pág. 61)

Para discernir a realidade, a mente deve ser infinitamente plástica. (…) Para compreender a realidade, a mente deve compreender suas próprias criações, (…) limitações. Para
discernir o processo da consciência (…) tem de haver pensamento integral. O pensamento integral não é resultado de treinamento, de controle ou de imitação. A mente que não é
dividida em opostos, que é capaz de perceber diretamente, não pode ser resultante de treinamento. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 67)

Não é resultado de uma vontade dominando outra vontade, de uma carência vencendo outra carência. (…) Treinamento e controle indicam um processo de dualidade na carência,
que produz conflito na consciência. Onde há conflito, subjugação, vencimento, combate de antíteses, não pode haver plasticidade, a mente não pode ser sutil, penetrante,
discernente. Pelo conflito dos opostos, a mente torna-se condicionada; e o pensamento condicionado cria outras limitações e, assim, o processo do condicionamento é continuado.
(…) (Idem, pág. 68-69)

Nessas condições, para se compreender o conflito, muito importa (…) que se conheça, na íntegra, o nosso processo de pensar, e que estejamos cônscios de que, na vida diária,
estamos sempre querendo ligar a ação à idéia. Ora, pode-se viver sem idéia? Pode-se viver sem o “eu”? (…) Creio que a isso podemos responder praticamente, não teoricamente,
quando compreendemos o processo do “eu”, aquilo que forma o “eu”. (…) Desse modo, quando nos conhecemos totalmente (…) quando estamos conscientes disso, dá-se a
libertação do “eu”; e só então é possível à mente ficar silenciosa. (Nós Somos o Problema, pág. 49-50)

Devemo-nos tornar apercebidos do conflito dos opostos que ocorre em cada um de nós, sem nos identificarmos com um dos opostos e sem intervirmos no conflito. O conflito revolve
a mente e, como a mente não gosta de ser agitada, busca um caminho artificial (…) Semelhante caminho só pode ser uma fuga ou um oposto, e apenas cria para a mente outra
limitação. (…) Estar em estado de conflito e, ao mesmo tempo, não buscar remédio ou fuga, produz pensamento integral. Isso é esforço correto. (Palestras em Ommen, Holanda,
1936 pág. 68)

Pode-se compreender, pode-se realmente criar alguma coisa em estado de conflito? Podeis escrever um livro, pintar um quadro, apreciar outro ser humano, sentir com ele, amá-lo,
se existe conflito? Sem dúvida, o conflito é a antítese da compreensão (…) Já admitimos (…) que o conflito é inevitável, e talvez estejamos completamente enganados ao aceitar tal
tese (…) Pode o conflito produzir uma síntese? (…) (Nosso Único Problema, pág. 64)

Por conseguinte, a primeira necessidade é de descobrirmos se é possível a cada um de nós, nas suas relações - no lar, no trabalho, em todos os setores da vida - acabar com o
conflito. Isso não significa isolar-se, tornar-se monge, refugiar-se num certo recesso da imaginação, da fantasia; significa, sim, viver neste mundo com compreensão do conflito.
(…) E só há clareza quando a mente, que é o todo - o organismo físico, as células cerebrais - quando essa totalidade que se chama “mente” se encontra num estado de “não
conflito”, funcionando sem atrito algum; só então pode haver paz. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 24)

(…) O conflito dissolve-se pela percepção de cada movimento do pensamento e do sentimento, e pela percepção da verdade relativa a tais movimentos. A verdade só é perceptível,
ou só pode vir à existência, quando já não existe condenação, justificação e comparação; só então está a mente tranqüila, só então se acaba a memória. (O que te fará Feliz?, pág.
96-97)

O fim do conflito e do sofrimento é alcançado quando compreendemos e transcendemos as tendências do “ego”, e quando descobrimos aquela Realidade imorredoura, que não é
criação da mente. É difícil o autoconhecimento, mas sem ele continua a existir ignorância e dor; (…) não pode findar a luta. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 165

Pergunta: Se não devemos ter ideais, se devemos nos libertar do desejo de nos melhorarmos, qual é então o propósito de viver? (…)

Krishnamurti: Os ideais, porém, atuam como simples padrões de medida; e como a vida desafia a mensurabilidade, deve a mente libertar-se dos ideais, a fim de estar apta a
compreender o movimento da vida. Os ideais são empecilhos, são embaraços. (…) Quando a mente se liberta de preconceitos, explicações e definições, é que se torna capaz de fazer
frente à causa do seu próprio sofrimento, de sua ignorância e de sua existência limitada. (…) A mera persecução de ideais, a ânsia da felicidade, a busca da Verdade ou de Deus, é
uma indicação de fuga ao movimento da vida. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 100-101)

Senhores (…) Se minha mente está atada à estaca da crença, da experiência ou do conhecimento, ela não pode ir muito longe; e a investigação implica que se esteja livre da estaca
(…) Se realmente estou a buscar, (…) amarrado a uma estaca, (…) preciso romper as amarras, cortar a corda. (…) (Da solidão à Plenitude Humana, pág. 28)

Correto Pensar; Atenção, Suspensão (pensar), Quietude


Antes de agir, precisamos saber pensar. Não há ação sem pensamento. A maioria de nós, porém, age sem pensar, e o agir sem pensar nos trouxe a esta confusão. Por conseguinte,
precisamos descobrir como pensar antes de saber como agir. Vós e eu precisamos encontrar a maneira correta de pensar. Se nos limitamos a citar o Bhagavad Gita, a Bíblia ou o
Alcorão, isso não tem significação; citar o que outra pessoa disse não tem valor algum. (A Arte da Libertação, pág. 13)

Para compreendermos a confusão e as misérias que nos atribulam, e compreendermos, assim, o mundo, cumpre acharmos, em primeiro lugar, dentro de nós mesmos, a clareza que
se origina do correto pensar. (…) O correto pensar não é produto do simples cultivo do intelecto, tampouco é submissão a padrões, por mais dignos e nobres que se afigurem. O
correto pensar nasce com o autoconhecimento. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 7)

(…) Só quando vós e eu descobrirmos a maneira de pensar corretamente, estaremos aptos a resolver os formidáveis problemas que nos desafiam. Se esperarmos que outros façam
esse trabalho para nós, esses outros se tornarão nossos chefes e nos levarão, como sempre, ao desastre. (A Arte da Libertação, pág. 13)

Ora, como começar a pensar corretamente? Para pensar corretamente, precisais conhecer-vos a vós mesmos (…) Se não vos conheceis, não tendes base para pensar corretamente
e, portanto, o que pensardes não terá valor (…) (Idem, pág. 13)

Assim, só nas relações podemos descobrir o que é pensar. Isto é, (…) descobrir como pensamos, momento a momento, quais são as nossas reações, e proceder assim, passo a passo,
ao desenvolvimento do pensar correto. Isso não é uma coisa abstrata ou difícil, i.e, o observar com exatidão o que está ocorrendo em nossas relações, quais são as nossas reações, e
assim descobrir a verdade contida em cada pensamento, em cada sentimento. (…) (Nosso Único Problema, pág. 18)

Só é possível aprender, no verdadeiro sentido da palavra, nesse estado de atenção em que não há compulsão exterior nem interior. O reto pensar só pode ocorrer quando a mente
não está escravizada pela tradição ou pela memória. É a atenção que permite que o silêncio sobrevenha à mente, o que representa a abertura da porta para a criação. Eis por que a
atenção é da mais alta importância. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 17)

Devemos tornar-nos cônscios desse complexo problema da dualidade mediante contínua vigilância, não para corrigir, mas para compreender; porque, se não souberdes cultivar o
correto pensar, origem do esforço verdadeiro, estaremos sempre a desenvolver opostos com seus conflitos infindáveis. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 36)

Só o pensar correto pode fazer-nos compreender e transcender o composto causa-efeito e o processo dualista. Quando integrados o pensador e o pensamento, pela meditação
correta, existe o êxtase do Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, 1ª ed., pág. 25)

O pensar correto é um processo contínuo, nascido do descobrimento de nós mesmos, da percepção de nós próprios. Não há começo nem fim nesse processo e, assim, o correto
pensar é eterno. O pensar correto transcende o tempo; não o limita o passado, (…) a memória, nem tampouco as fórmulas. Nasce da libertação do temor e da esperança. Sem a
qualidade vivente do conhecimento de nós mesmos, não é possível pensar com exatidão. Constituindo um constante processo de auto-revelação, o correto pensar torna-se criador.
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 49-50)

O pensamento correto é o pensamento condicionado; é um resultado, um artifício, um composto; geram-no os padrões, a memória, o hábito, a prática. É limitador, cumulativo,
tradicional. Forma-se mediante o temor e a esperança, a cupidez e o desejo de vir-a-ser, a autoridade e a limitação. (…) O pensar e o sentir verdadeiros situam-se acima e além dos
opostos, ao passo que o pensamento correto ou condicionado é por eles oprimido. (Idem, pág. 50)
O pensar justo vem no fluir constante da autovigilância, vigilância tanto das ações mundanas como das atividades meditativas. A potência de criar e o êxtase que a acompanha
surgem na liberdade, no estar livre do anseio. E isso é virtude. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 53)

Provém o pensar exato do conflito dos opostos, ou surge quando a causa dos opostos - o desejo - é compreendida mediante um pensar e sentir completo? Só podemos libertar-nos
dos opostos se o pensamento-sentimento for capaz de observar sem aceitar, sem recusar ou comparar suas ações e reações. Dessa percepção surge um novo sentimento, uma nova
compreensão livre dos opostos. Preso à dualidade, o pensamento-sentimento não pode compreender o infinito (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 36-37)

(…) O homem que deseja compreender a verdade deve aplicar-lhe toda a sua atenção, e essa atenção integral só vem quando não há escolha e, portanto, nenhuma idéia de
distração. Não há essa coisa chamada distração, porque a vida é um movimento, e temos de compreender esse movimento na sua totalidade, sem o dividir em interesses e
distrações. (…) Ao perceberdes a verdade disso, ela libertará a vossa consciência do passado. (A Arte da Libertação, pág. 120)

Como suscitar o estado de atenção? Ele não pode ser cultivado por meio de persuasão, de comparação, de recompensas ou castigos (…) A eliminação do medo é o começo da
atenção. O medo tem de existir enquanto houver impulso para ser ou vir-a-ser, que é o móvel do sucesso, com todas as suas decepções e tortuosas contradições. Você pode ensinar
a concentração, mas a atenção não pode ser ensinada (…) Assim, a atenção surge espontaneamente, tem a consciência da ação desinteressada que vem com o amor. (…)(O
Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 18)

Atenção não é concentração; nela não há distração; na atenção, não há conflito, não há busca de um fim; o intelecto, portanto, está atento, o que significa que não tem fronteiras;
está tranqüilo. Atenção é o estado mental em que desapareceu todo o conhecimento, e só há investigação. (O Passo Decisivo, pág. 176)

Havendo atenção não há esforço. Compreendei esse fato tão simples. Uma vez compreendido, tudo o mais se esclarecerá. Onde há atenção, aí não há esforço. Só a falta de atenção
produz esforço. Assim, quando estais totalmente atento à vossa vida - com aflições, conflitos, desejos, prazeres, lembranças, pensamentos, atividades - quando estais totalmente
vigilante, podeis ver cada fato como fato, em vez de traduzi-los em prazer ou dor, de dar-lhe continuidade como prazer. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 128)

No estado de atenção não há reação: a pessoa está simplesmente atenta. A mente explorou e compreendeu todos os seus próprios recessos, (…) os inconscientes motivos, exigências,
preenchimentos, ânsias, pesares; por conseguinte, (…) há espaço, há vazio; (…) Achando-se vazia a mente, não está projetando, buscando, desejando, esperando. Compreendeu
todas as suas reações e “respostas” (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 101)

(…) O que traz a liberdade é a atenção, que significa olhar o fato face-a-face, de dentro do vazio, e ver como as coisas são, sem nenhuma desfiguração. Nesse estado de atenção,
apresenta-se uma “inocência” que é virtude, que é humildade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 28)

Ora, quando se verifica a atenção completa? Por certo, só quando há amor. Havendo amor, há atenção completa. Não há necessidade de nenhum “motivo”, nenhum objetivo,
nenhuma compulsão: ama-se, simplesmente isso. (…) (O Homem Livre, pág. 89)

(…) A atenção plena e completa não é possível quando há condenação, justificação, ou identificação, quando a mente está obscurecida por conclusões, especulações, teorias. Ao
compreendermos os empecilhos, só então encontramos a liberdade. A liberdade é uma abstração para o homem que se acha numa prisão; mas a vigilância passiva torna claros os
empecilhos, e com a remoção desses empecilhos realiza-se a integração. (Reflexões sobre a Vida, pág. 61)

No cultivo da mente, nossa ênfase não deve estar na concentração, mas na atenção. A concentração é um processo de forçar a mente a focalizar-se num ponto, ao passo que a
atenção não tem fronteiras. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 17)

Assim sendo, a atenção é de primordial importância. (…) A atenção, é um estado em que a mente está sempre aprendendo, sem um centro em torno do qual o conhecimento gravite
como experiência acumulada. (…) (Idem, pág. 17)

Acho que é importante compreender que só há “ser” quando não existe mais o pensador, e que no “ser” pode haver radical transformação. (…) Só pode haver revolução radical
quando o pensador chega a uma pausa, quando o pensador deixa de existir. Quando é que tendes momentos criadores, um sentimento de alegria, um sentimento de beleza?
Certamente, apenas quando o pensador está ausente, quando o processo do pensamento se suspende por um segundo, por um minuto, por um período de tempo; então, nesse espaço,
há alegria criadora. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 65)

E existe um momento em que a morte deixa de causar medo e a vida já não seja uma batalha? E pode haver tal momento de parada do tempo e total suspensão do pensamento?
Esse momento existe: é o amor. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 96)

Para se descobrir alguma coisa totalmente diferente, não só é necessário compreender a origem do pensamento, o começo do pensamento, mas também descobrir se é possível o
pensamento cessar, a fim de que se ponha em movimento um novo processo. Esta é uma questão importantíssima. (Encontro com o Eterno, pág. 75)

O problema, por conseguinte, é este: “Conhecendo-se a função da mente, tal como é, pode essa mente renovar-se?” (…) Pode essa mente inquieta, volúvel, essa mente que vagueia
em todas as direções, que acumula, que rejeita (…) pode essa mente findar instantaneamente e tornar-se silenciosa? (Poder e Realização, pág. 84)

Esse instante criador produz revolução, que é um “estado de ser”. O pensamento cessa, não como resultado da transformação do pensamento, mas tão só pela compreensão dos
movimentos do pensador. Quando o pensador está cônscio dos próprios movimentos, quando a mente está cônscia de si mesma em ação (…) vereis, então, que ocorre um período
em que a mente fica absolutamente tranqüila, em que ela fica em estado de meditação, em que nada a distrai ou agita. Então, no momento em que o pensamento está em silêncio,
surge o ser criador. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 65-66)

Para fazer cessar o pensamento, cabe-me primeiro penetrar no mecanismo do pensar. (…) Impende-me examinar cada pensamento, não deixando escapar um só sem tê-lo
compreendido totalmente (…) Se eu acompanhar cada pensamento até a raiz, (…) verei que ele se desfaz por si. Nada tenho de fazer, nesse sentido, pois o pensamento é memória. A
memória é a marca deixada pela experiência. (Visão da Realidade, pág. 105)

(…) Entretanto, se perceberdes a verdade de que só com o findar do pensamento pode o problema ser resolvido, (…) descobrireis então o significado de todo o “o processo” do
pensar. O pensar, com efeito, fortalece o “eu”. O “eu”, que é o fator de perturbações, o fator de malefícios e sofrimentos (…) O pensar é produto do “eu”, acumulando durante
séculos; por conseguinte, o pensar não nos resolverá os problemas e, sim, pelo contrário, os multiplicará e causará mais sofrimentos. (Viver sem Temor, pág. 68-69)

Se percebemos a verdade desse asserto; se, pelo autoconhecimento, percebemos a verdade sobre como a mente funciona, tanto a mente consciente como a inconsciente - se estamos
cônscios do “processo” total, então esse próprio percebimento acarretará a cessação do pensamento, e, portanto, a tranqüilidade da mente. (Idem, pág. 69)

O findar do pensamento, pois, é essencial; porque a mente precisa estar de todo tranqüila, sem nenhum movimento para trás ou para diante, porque o movimento supõe o tempo e,
conseqüentemente, temor e desejo. Assim, quando a mente se acha de todo tranqüila (…) é possível vir à existência aquilo a que se não pode dar nome. (A Renovação da Mente,
pág. 45)

Se eu vos dissesse que se pode fazer cessar o pensamento, perguntaríeis: “Como posso alcançar esse findar do pensamento?” (…) O importante é descobrir a natureza do centro,
penetrá-lo e descobrir todo o processo do pensar, por vós mesmos (…); e nessa viagem não podeis levar nenhum companheiro. Nem esposa, nem marido, nem guru, nem livro algum
pode ajudar-vos. Essa viagem deve ser empreendida completamente a sós (…) (O Homem Livre, pág. 96)

Já vos sucedeu alguma vez encontrar-vos naturalmente num estado de total ausência de pensamento? Nesse estado, estais cônscios de vós mesmo como pensador, observador, e
experimentador? O pensamento é reação da memória, e o feixe de lembranças é o pensador. Quando não há pensamento, existe o “eu” (…)? Não nos referimos a uma pessoa em
estado de amnésia, ou a sonhar acordada, ou a controlar o pensamento a fim de silenciá-lo, mas sim à mente que está totalmente desperta, atenta. Quando não há pensamento nem
palavra, não está a mente numa dimensão de todo diferente? (A Outra Margem do Caminho, pág. 32)

(…) Só há percebimento do todo quando a mente está completamente tranqüila. Mas esse silêncio, essa serenidade não é provocada ou produzida por meio de disciplina ou
controle. Vem a serenidade só quando cessam as distrações, isto é, quando a mente toma conhecimento de todas as distrações. (…) (A Arte da Libertação, pág. 46)
Assim, uma mente tranqüila é essencial para a percepção do todo; e só está tranqüila a mente quando compreende cada pensamento e cada sentimento que surge. (…) Resistir,
levantar uma muralha de isolamento e viver nesse isolamento, isso não é tranqüilidade. A tranqüilidade que é cultivada, disciplinada, forçada,(…) é ilusória (…) (Idem, pág. 47)

Agora, para um homem que deseja encontrar a Realidade ou a compreensão que lhe revelará a Realidade, para esse homem o pensamento deve cessar - pensamento no sentido de
totalidade do tempo. E como pode cessar o pensamento? - mas não por meio de nenhuma espécie de exercício, disciplina, controle, repressão (…)(O Homem Livre, pág. 149)

Vê-se, pois, que o pensador e o pensamento são um só todo; sem pensamento não há pensador. E quando não há pensador e só há pensamento, há então um estado de percebimento
sem pensamento; o pensamento desaparece. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 119)

O relevante, pois, é que a mente (…) comece a investigar a si mesma (…) Se bem compreenderdes isso, vereis que a mente se torna sobremodo tranqüila, não apenas a mente
consciente, mas também a mente inconsciente (…) Mas só se verifica essa tranqüilidade total da mente quando há a tremenda energia do autoconhecimento. É o conhecimento que
traz essa energia (…) (O Homem Livre, pág.151)

Conhecer o processo integral da mente - todas as suas inclinações, “motivos”, propósitos, seus talentos e suas exigências, seus temores, frustrações e sucessos - conhecer todas
essas coisas significa estar tranqüilo e não permitir que elas atuem. Só então pode manifestar-se o que se acha além da mente. (…) Só a mente que compreende o processo total,
pode receber as bênçãos do Real. (As Ilusões da Mente, pág. 116)

Parece-me assaz evidente que, para compreender um problema complexo, e principalmente um problema psicológico, seja necessária uma mente muito quieta, (…) tranqüila, mas
não com uma tranqüilidade forçada; (…) (Nós somos o Problema, pág. 44)

O que impede essa tranqüilidade é, sem dúvida, o conflito. Quase todos vivemos cheios de agitação (…) E é essencial (…), para a perfeita compreensão de um problema, que se
tenha uma mente silenciosa, sem preconceito, capaz de libertação, tranqüila e que permita ao problema revelar-se, desdobrar-se. E uma mente assim quieta (…) é impossível
quando há conflito. (Nós somos o Problema, pág. 44)

(…) Mas, uma mente que está tranqüila, que não é posta tranqüila, que não é forçada ao silêncio; uma mente que está tranqüila porque tem verdadeiro interesse, porque divisou a
verdade, porque a verdade veio a ela, é inteligente e se liberta do conflito. (O que te fará Feliz?, pág. 96)

O conflito se dissolve pela percepção de cada movimento do pensamento e do sentimento, e pela percepção da verdade relativa a tais movimentos. A verdade só é perceptível, ou só
pode vir à existência, quando não existe condenação, justificação e comparação; só então está a mente tranqüila, só então se acaba a memória. (Idem, pág. 96-97)

Ora, pode-se compreender alguma coisa por meio de esforço? Para compreender, não há dúvida de que a mente tem de estar tranqüila, e ela não pode estar tranqüila se se acha
num estado de esforço. (…) (Visão da Realidade, pág. 75)

Assim sendo, não pode a mente que busca alimento para sua satisfação, viver num estado atemporal de não-aquisição, de modo que não esteja mais lutando e se encontre, por essa
razão, extraordinariamente tranqüila. Porque, nessa tranqüilidade, talvez possa surgir aquilo que é criador, que é atemporal. (Poder e Realização, pág. 29)

A simplicidade, portanto, só vem a existir no processo da compreensão de nosso complexo “eu”, (…) Quanto mais compreendo “o que é”, (…) tanto mais me liberto de conflitos e
de sofrimentos. (…) E assim como é tranqüila a superfície de um lago, assim também fica a mente tranqüila depois de compreender todo o processo do esforço. E, na tranqüilidade
da mente, manifesta-se o atemporal. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 98)

Só quando ausente o “eu”, existe a possibilidade de a mente estar quieta, e, portanto, apta a compreender, apta a receber aquilo que é eterno. (…) Mas, para que o eterno seja,
torna-se necessário, evidentemente, que as atividades, as fabricações, as projeções do “eu” cessem inteiramente. E o cessar dessa projeção é o começo da meditação (…) Porque a
compreensão de si mesmo é o começo da meditação; e sem meditação não há possibilidade de compreender-se o “eu”. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 60)

Em momentos de intensa criação, de grande beleza, há uma tranqüilidade absoluta; em tais momentos, verifica-se uma ausência completa do “ego” e de todos os seus conflitos; é
essa negação - a forma suprema do pensar-sentir - que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. (…) Depois de experimentar uma vez essa tranqüilidade viva, o
pensamento-sentimento prende-se à sua lembrança, impedindo assim a continuidade da experiência da realidade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 88)

Liberdade, Espaço, Silêncio (Psique-Mente-Coração)


Desejo falar sobre o que se entende por “viver”. Sei que muitos de nós só indagam do significado do viver quando (…) aflitos, quando, não percebendo no viver nenhuma
finalidade, se sentem desesperados, profundamente frustrados. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 120)

Para descobrirmos a sua realidade, o seu real significado, sua profundidade, sua beleza e plenitude, temos de investigar muitas coisas. Primeiramente, (…) o que é liberdade; em
seguida, descobrir a natureza do tempo e também o que se entende por “espaço”. (…) O viver, por certo, está sempre no presente ativo; a palavra “viver” significa “agora”. Não
significa viver no passado ou no futuro, porém no presente. (…) (Idem, pág. 121)

(…) Assim, perguntamos a nós mesmos: “Há meio de pôr fim ao tempo?” Se estamos sempre a funcionar na esfera do tempo, (…) não há nesse “processo” liberdade alguma;
seremos sempre escravos do ontem, do hoje e do amanhã. Nisso não há liberdade. A isso estamos presos, porque vivemos nessa divisão do tempo; tal a nossa vida: é isso que
chamamos “viver”. (Idem, pág. 123)

Conhecemos o espaço apenas visualmente; a distância daqui a nossa casa, (…) a Londres, ou a Marte (…) Um homem que vive prisioneiro em exíguo espaço, num apartamento,
(…) sente necessidade de espaço - espaço físico. Por isso, sai a passear no campo (…) Esse homem está preso; confinado na prisão de suas idéias, conclusões, crenças e dogmas; na
prisão de suas atividades egocêntricas, que lhe dão preenchimento e frustração; na prisão de seu próprio talento (Encontro com o Eterno, pág. 123-124)

Estais achando isso difícil ou abstrato demais? Há, em todo ente humano, um centro; esse centro cria um espaço em torno de si, assim como estas quatro paredes criam um espaço
em seu interior. Este salão, por causa das paredes, criou um espaço (…) O centro, que é o “ego”, criou espaço ao redor de si, e, nesse espaço, que é a consciência, ele vive,
funciona, opera, modifica-se e, por conseguinte, nunca é livre. (Idem, pág. 124)

Esta questão merece sério exame, porquanto a liberdade só pode existir onde há espaço, espaço não criado por um objeto. Se o espaço é criado pelo “ego”, na qualidade de
pensador, este continua a criar paredes ao redor de si, entre as quais pensa ser livre. Não importa o que ele faça dentro desse espaço criado pelo centro, não há liberdade. É como
um homem condenado a prisão perpétua. Poderá alterar as decorações, proporcionar-se (…) conforto, pintar as paredes, (…) mas, dentro dessas paredes físicas, ele nunca é livre.
(Idem, pág. 124-125)

Psicologicamente, criamos muralhas em torno de nós (…) de defesa, de esperança, de medo, avidez, inveja, ambição, desejo de posição, poder, prestígio. Essas muralhas são
criadas pelo pensador. O pensador criou ao redor de si o espaço em que vive e, por isso, nunca é livre. (…) A beleza não é resultado do pensamento, (…) Onde há amor, afeição,
não há lugar para o pensamento. (Encontro com o Eterno, pág. 125)

Da mesma maneira, o ser livre supõe a não existência de barreiras psicológicas criadas pelo centro. Liberdade significa espaço. A liberdade supõe também a cessação do tempo,
(…) Liberdade significa viver integralmente. (…) O passado é o consciente e também o inconsciente. (…) (Idem, pág. 125)

(…) A liberdade interior requer imensa inteligência, sensibilidade, capacidade de compreensão. Entretanto, é absolutamente necessário que cada ser humano, não importando sua
cultura, seja realmente livre. Como vêem, a liberdade jamais existe sem a ordem. (Ensinar e Aprender, pág. 27)

Se não há liberdade, toda percepção, toda visão objetiva se deforma. Só o homem totalmente livre pode olhar e compreender imediatamente. Liberdade subentende (…) a
necessidade de ter a mente completamente vazia. Esgotar a mente de todo o seu conteúdo essa é que é a verdadeira libertação. Libertação não é mera revolta contra as
circunstâncias, a qual cria novas circunstâncias, (…) influências ambientes, escravizadoras da mente. Estamo-nos referindo a uma liberdade que vem natural e facilmente, sem ser
solicitada quando a mente é capaz de funcionar em seu mais alto nível. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 120)

É só quando a mente, a consciência, não está a dar nomes, a armazenar mas apenas experimentando - é só então que há liberdade, libertação, (…) O processo da consciência está
experimentando, nomeando e guardando ou registrando; e, enquanto esse processo for mantido integral, não haverá liberdade. A liberdade, a libertação só pode vir quando o
pensante cessa - sendo o pensamento o produto da memória. (…) A liberdade só é possível quando há um percebimento completo, tranqüilo, de tudo o que se passa em redor e
dentro de nós. (…) (A Arte da Libertação, pág. 54-55)

Ora, para sermos livres necessitamos de imensa energia. A liberdade e a paz não são meros conceitos intelectuais ou ideais que deverão ser alcançados com esforço e luta. O
esforço e a luta para alcançar alguma coisa exigem também uma certa energia, (…) disciplina, controle, imitação; mas a liberdade a que nos estamos referindo não depende de
resolução, volição ou determinação. Ela se representa quando em nós mesmos existe clareza, quando estamos perfeitamente lúcidos. Achando-se confusos e em contradição, as
atividades resultantes (…) só podem causar maior confusão, mais contradições e falta de clareza. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 18-19)

Estamos falando de uma libertação que não é reação. A mente livre a nada está escravizada, a nenhuma circunstância, (…) a rotina; embora especializada para exercer uma certa
função, não está escravizada a essa função, não está presa na sua rotina; embora viva em sociedade, não faz parte da sociedade. E a mente que de contínuo se esvazia de todas as
acumulações e reações diárias - só essa mente é livre. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 121)

(…) Para se ver qualquer coisa plenamente, integralmente, necessita-se liberdade, e a liberdade não vem por meio de compulsão, de um processo de disciplina, de repressões, mas
só quando a mente se compreende a si mesma, o que é autoconhecimento. Essa forma superior de inteligência, que é o pensar negativo, só aparece quando o processo de
pensamento cessou; e, nessa vigilante tranqüilidade, percebe-se o todo do problema. E só então há a “ação integrada”, plena, correta, completa. (A Arte da Libertação, pág. 47-48)

Essa liberdade interior da Realidade não é uma dádiva; cumpre-nos descobri-la e conhecê-la. (…) Ela é um estado equivalente ao silêncio, à tranqüilidade, onde não há vir a ser,
onde existe a plenitude. (…) Essa liberdade não é um dom, nem produto do talento; encontra-se esse tesouro imperecível, quando o pensamento está livre da luxúria, da
malevolência e da ignorância; quando está livre da mundanidade e do desejo pessoal de ser algo. Essa liberdade pode ser conhecida com o justo pensar e a meditação justa. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 35)

A liberdade requer a total cessação de toda autoridade interna. Desse estado mental resulta uma liberdade externa toda diferente da reação de oposição ou de resistência. (…) A
mente, o cérebro está condicionado por causa da autoridade, da limitação, da obediência: eis o fato. O homem realmente livre não reconhece nenhuma autoridade interior; esse
homem sabe o que é amar e meditar. (A Questão do Impossível, pág. 23)

Por certo, investigar se a mente pode ser livre é como fazer sozinho uma jornada pelo desconhecido. Porque, obviamente, a Verdade, a Realidade, Deus, ou o nome que quiserdes, é
o Desconhecido; (…) Deveis chegar-vos a ele completamente sós, deveis empreender a viagem sem companheiro, sem Sankara, sem Buda ou Cristo. Só então descobrireis o que é
verdadeiro. (…) (O Homem Livre, pág. 83)

Ora, se o indivíduo não é livre, não vejo como possa ser criador. Não estou empregando a palavra “criador” no estreito sentido de “homem que pinta quadros, escreve poesias ou
inventa máquinas”. Tais indivíduos, para mim, não são criadores, absolutamente. Poderão ter momentânea inspiração; mas, criação é coisa muito diferente. Só pode haver criação
quando há liberdade total. Nesse estado de liberdade, há plenitude, e, então, o escrever uma poesia, pintar um quadro, ou esculpir uma pedra, tem sentido completamente diferente.
Já não é mera expressão da personalidade. (Experimente um Novo caminho, pág. 36)

Isto é, enquanto existir um centro que cria espaço em volta de si, enquanto não houver outro espaço, senão aquele que o objeto cria em redor de si, não haverá liberdade para o
homem. (…) O centro é o “eu”, que tanto é físico como emocional e intelectual. O “eu” cria o espaço que circunda, e se este é o único espaço que o homem tem possibilidade de
conhecer, neste caso não há liberdade nenhuma. (…) Só é possível a liberdade, quando há espaço sem o centro, sem o objeto. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 136)

Investiguemos, pois, este problema do “espaço sem objeto”. Porque só nesse espaço há liberdade; o “espaço sem objeto” é liberdade. Na investigação do espaço e da liberdade,
descobriremos também, por nós mesmos, o que é o amor. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 137)

Investiguemos, (…) Para podermos descobrir, precisamos criar espaço na mente. Temos de esvaziar a mente, é claro, a fim de dar-lhe espaço; não espaço num limitado setor do
pensamento, porém espaço ilimitado e espaço interior - se assim podemos dividi-lo, isto é, espaço na mente e espaço no coração; pois, de outro modo, não pode haver amor nem
liberdade. (…) (Idem, pág. 137)

Estamos, pois, investigando essa coisa extraordinária, que é o “espaço sem objeto”. E este espaço tem de existir, do contrário, não pode haver liberdade nem amor. E é só quando
se vê o falso como falso, e a verdade no falso, que se está começando a esvaziar a mente - melhor, a mente está então a esvaziar a si própria. Percebereis então a verdade na falsa
idéia de que a experiência irá libertar-vos. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 140)

Tudo isto (…) constituiu um desenrolar, um desdobrar do processo de pensar, do processo de consciência. E agora, se chegastes a este ponto, (…) - podeis começar a investigar a
questão do espaço e do vazio. Há necessidade de espaço, pois, do contrário, não pode haver liberdade. Na mente limitada não há espaço nenhum. A mente respeitável, “burguesa”,
educada com muito esmero e, portanto, cheia de problemas, ansiedades, temores, desesperos - não contém espaço nenhum. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 139)

Que é espaço? O espaço é criado pelo objeto. (…) Aqui está este microfone - o objeto. Por causa do objeto existe espaço ao redor dele; e o objeto existe por causa desse espaço.
(…) Dentro de nós há espaço porque existe um centro. Esse centro é o observador, o censor, o sujeito que busca, a entidade que diz “Eu fui”, “Eu sou”, “Eu serei”. Esse centro
cria espaço em redor de si; do contrário, ele não poderia existir. (Viagem por um Mar desconhecido, pág. 139-140)

Ora, pode haver espaço sem aquele centro? só se pode responder a esta pergunta sem “verbalização”, sem argumentação, sem se apresentar tal ou tal opinião. Só há possibilidade
de resposta sem o centro. E, se o centro existe e está a criar espaço, não há nesse espaço liberdade nenhuma; a pessoa está para sempre escravizada. (Viagem por um Mar
Desconhecido, pág. 140)

A libertação, por conseguinte, requer que cada um descubra por si próprio o que é o “espaço sem centro”. Onde existe o centro, o objeto, este está criando espaço, em redor de si;
e, visto que ele existe e só pode existir no espaço que o cerca, não tem liberdade de espécie alguma. Conseqüentemente, enquanto existir um centro - isto é, o observador, a entidade
que busca - não há liberdade, pois só pode haver liberdade quando há espaço absoluto e não um espaço encerrado entre os limites da mente. (Idem, pág. 140)

Um cérebro deve ter espaço. Então o que é espaço? Não apenas o espaço daqui até lá. Espaço indica “sem centro”. Certo? Se você tem um centro e se move do centro para a
periferia, seja ela longa ou ampla, é ainda limitada. Assim, espaço indica que não há centro nem periferia e, portanto, que não há fronteiras? Tem você um cérebro que não é parte
de nada, não está ligado a nada - a suas experiências, conclusões, esperanças, idéias? (The World of Peace, pág. 84)

Espaço indica vacuidade, inexistência. E este espaço, porque nada existe nele colocado pelo pensamento, tem uma energia tremenda. Isto é o que o cientista também está dizendo,
sendo esta apenas sua conclusão teórica, não sua vivência; porque ele, como todo ser humano, é ganancioso, presunçoso, ambicioso ou representa um governo. É exatamente como
qualquer pessoa, excetuando-se a conquista de uma extraordinária capacidade de acumular conhecimento numa certa área. (Idem, pág. 86)

Portanto, o cérebro deve ter a qualidade de completa liberdade e espaço. Isto é, devemos ser como nada. No entanto, todos somos alguma coisa. Somos analistas, psicoterapeutas,
doutores. E quando somos terapeutas, biólogos, técnicos, essa mesma identificação limita a totalidade do cérebro. (The World of Peace, pág. 86)

Eu não sei se alguma vez hão pensado acerca do espaço. Onde há silêncio, há espaço. Não o espaço criado pelo pensamento, senão o espaço que não tem fronteiras em absoluto,
um espaço que não é mensurável, que não pode ser alcançado pelo pensamento, (…) inimaginável. Porque, quando o homem tem espaço, (…) verdadeiro, extensão e profundidade,
e um imensurável sentido de extensão, quando existe essa classe de espaço, então há absoluto silêncio. (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 168)

(…) Pode-se reunir ambas as coisas? - a liberdade em que existe silêncio total e, portanto, espaço imenso, e os muros de resistência criados pelo pensamento com seu mesquinho e
pequeno espaço. Podem ambos reunir-se, fluir juntos? Este tem sido sempre o problema religioso do homem que indaga com grande profundidade. Posso aferrar-me a meu pequeno
ego. (…) espaço, às coisas que tenho acumulado, a meu conhecimento, experiência, esperanças e prazeres, e com isso mover-me em uma dimensão diferente onde um e outro
possam operar? (…) (idem, pág. 170)

(…) Nesse espaço, a mente, o pensamento, com suas memórias, experiências, ou seja, o mesmo centro que constitui o “eu” , o “ego” - esse centro, esse “ego”, cria espaço em torno
de si, o qual constitui a consciência. Por conseguinte, a consciência é sempre limitada. Assim, a mente que está sendo limitada pelo seu próprio centro é incapaz de descobrir o que
é verdadeiro.

Olha sempre as coisas em conformidade com sua própria limitação. (…) Estamos repletos de barulhos, tagarelices, incontáveis memórias, símbolos, opiniões, conhecimentos (…)
Não há espaço nenhum em nossa mente e, por conseguinte, não há liberdade. E, se não há esse espaço sem limites, a mente é incapaz de descobrir, de encontrar aquela realidade
imensurável. (A Essência da Maturidade, pág. 116)

Tal é o pensamento. Por “tempo” entendemos o “estado psicológico de adiamento”, a idéia psicológica de progresso, de evolução, de acesso a uma altura, de acumular, o intervalo
de tempo-espaço entre o que é e o que deveria ser. A mente em que não espaço é uma mente morta. A mente necessita de espaço - que é vazio. Só nesse espaço pode tornar-se
existente um novo estado; só nesse espaço pode ocorrer uma mutação, uma completa revolução. (A Suprema Realização, pág. 47-48)

Necessitamos de uma revolução, neste mundo - revolução psicológica, e não econômica ou social; uma profunda revolução religiosa. Uma revolução, uma mutação de tamanha
magnitude não pode verificar-se se a mente não estiver totalmente vazia, se nenhum espaço houver na mente. E a compreensão do tempo, (…) do desejo cria, sem o procurarmos,
esse extraordinário espaço (…) Só é livre a mente em que há espaço sem objeto. (A Suprema Realização pág. 48)

Uma vez livre dos problemas, das tensões, de todo controle, haverá espaço - espaço infinito - tanto na mente como no coração; só nesse espaço infinito é possível a criação. Porque,
então, o sofrimento, o amor, a morte e a criação constituirão a substância dessa mente. Ela estará livre do sofrimento, (…) do tempo e, portanto, num “estado de amor”. E quando
há amor há beleza. Nesse sentimento de beleza, nesse espaço vasto, infinito, ocorre a criação. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 158)

Por conseguinte, para que possa terminar o conflito, necessita-se de espaço interior, e nós perguntamos “Por que não existe esse espaço? Por que nunca está a mente vazia e,
portanto, cheia de espaço e de beleza nele existente?” (…) O isolamento cria seu espaço próprio. Isolamento é uma forma de resistência, e, onde há resistência, o espaço é
ilimitado. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 35)

Necessitais de mutação, de uma mente completamente nova, que não seja produto do ambiente, da sociedade, de reação do conhecimento, da experiência; nada disso traz a
inocência, a liberdade; nada disso cria aquele vasto espaço de que a mente necessita. Só nesse espaço pode verificar-se o movimento da mutação. E só essa mutação, pode salvar o
homem, porque é ela que faz nascer o indivíduo. (O Despertar da sensibilidade, pág. 178)

Ora, a Investigação desta questão do espaço é meditação. (…) A meditação, pois, é a investigação e descobrimento desse “espaço sem centro”; por conseguinte, não é (…) uma
experiência. Se se “experimenta” esse estado, há um centro, de onde se está experimentando; (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed, pág. 138)

Em seguida, se já alcançastes este ponto, vereis que há um estado mental fora do tempo e do espaço, em que, por conseguinte, se pode ver ou receber o imensurável. E o que se vê e
se sente, tal como o estado de experimentar, pertencem ao momento e não são para guardar na memória. (O Passo Decisivo, pág. 178)

Há duas coisas que é absolutamente necessário compreender: a natureza do espaço e a natureza do silêncio. (…) Não querermos referir-nos à distância entre a Terra e a Lua,
porém ao espaço psicológico, o espaço interior. A mente em que não há espaço é uma mente estreita, insignificante, vulgar, está presa numa armadilha, e aos movimentos que faz
dentro dessa armadilha chama “viver”. (…) Assim, (…) esse espaço psicológico só pode ser compreendido quando há compreensão do observador, do centro de onde parte a
observação. (A Essência da Maturidade, pág. 115)

O espaço implica também o vazio, um silêncio que possui uma energia imensa. (…) Se hão perguntado alguma vez o que resulta de ter uma mente que, de maneira natural,
permaneça totalmente quieta, sem um só movimento, e que não registre senão aquelas coisas que são necessárias, de modo que nossa psique, (…) a natureza interna se torne
absolutamente silenciosa? (La Llama de la Atencion, pág. 33)

Onde há silêncio, há espaço - não a distância de um ponto a outro, (…) Onde há silêncio não há ponto algum senão só silêncio. E esse silêncio tem a extraordinária energia do
Universo. (Idem, pág. 33)

Naquele silêncio há um movimento não constituído pela energia do conflito. Toda a nossa vida é conflito, e desse conflito derivamos energia. Mas, quando a mente compreendeu a
total natureza do conflito existente no mundo e dentro em nós mesmos, dessa compreensão nasce o silêncio. E nesse silêncio, por conseguinte, há uma energia poderosa. Não é o
silêncio do sono, da estagnação, porém um silêncio constituído de tremenda energia. (A Suprema Realização, pág. 160-161)

Devido a que há espaço, existe o vazio e o silêncio total - não o silêncio induzido, (…) que se pratica; estes são meramente o movimento do pensar e, portanto, carecem em absoluto
de valor. Quando vocês tenham passado por tudo isto (…) então nesse total silêncio há um movimento que é atemporal, que não está medido pelo pensamento (…) então existe algo
que é totalmente sagrado,que não pertence ao tempo. (La Totalidad de la Vida, pág. 170)

E, agora, cumpre compreender também o que é silêncio. Como sabeis, nunca estamos em silêncio; vivemos num perene dialogar com nós mesmos ou com outrem. O maquinismo do
pensamento está incessantemente ativo, a “projetar-se” (…) - a tagarelar e tagarelar, infinitamente; ou ajustar-se, a aceitar comparar julgar, condenar, imitar, obedecer.
Sabendo-se disso, criaram-se várias formas de meditação. (…) E só a mente silenciosa é capaz de perceber, de ver realmente; não a mente que está a tagarelar, a mente que está
sendo controlada, torturada, reprimida, (…) Só a mente muito silenciosa é capaz de ver realmente. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 116)

(…) Há o silêncio da mente, nunca perturbado por barulho algum, por nenhum pensamento, ou pela lufada passageira da experiência. Esse silêncio é que é “inocente” e, por
conseguinte, Infinito. Quando na mente existe esse silêncio, dele brota a ação, ação jamais causadora de confusão e sofrimento. (A Outra Margem do Caminho, pág. 30)

Surge então a pergunta: pode o pensamento estar completamente silencioso e funcionar só quando é necessário - no conhecimento tecnológico, no escritório, quando se fala, etc - e
o resto do tempo estar absolutamente quieto? Quanto mais espaço existe mais silêncio, tanto mais lógica, sã e judiciosamente pode ele funcionar no campo do conhecimento. (…)
(El Despertar de la Inteligência, II, pág. 171)

(…) De outro modo, o conhecimento se torna um fim em si, e produz caos, (…) O pensamento, que é resposta da memória, dos conhecimentos, da experiência e do tempo, constitui o
conteúdo da consciência; ele deve funcionar no terreno do conhecimento, porém só pode fazê-lo com a mais alta inteligência, quando há espaço e silêncio - quando o pensamento
funciona desde ali. (Idem, pág. 171)

Silêncio, não só do pensamento, mas também do cérebro. (…) O cérebro, isto é, os nervos, as células, tudo está em silêncio, porém extraordinariamente vigilante, atento. Por causa
desse silêncio, há espaços; e, porque há espaço, há amor. (A Suprema Realização, pág. 76)

Vereis, então, que o amor altera imediatamente todas as ações da vida. É ele o único “catalisador”, só ele e nada mais promoverá a mutação total da mente. Nós necessitamos
dessa mutação, (Idem, pág. 76)

Vazio Mental, Sentido; Criação Atemporal, Beleza


E temos também de investigar a questão do vazio, (…) Porque, se não houvesse vazio, nenhuma coisa nova poderia existir. Se só existe uma continuidade - que é tempo - então
nenhuma atividade, nenhuma ação decorrente dessa atividade, pode produzir coisa nova. (…) Só a mente que compreendeu o espaço, a mente que conhece esse vazio, dele está
perfeitamente cônscia, só ela é capaz de completa quietação. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 140)

A quietação, o silêncio, não é produto do pensamento. O silêncio existe fora do campo da consciência. Não se pode dizer: “Experimente um estado de silêncio”. Se o tendes
experimentado, isso não é silêncio. (…) Já se compreendestes a consciência, a dualidade, o tempo, e a questão da disciplina, da ordem, isso significa que investigastes e
descobristes por vós mesmo o que é espaço e o que é vazio. Na realidade, não podeis descobri-lo; ele desce sobre vós, torna-se presente. Do mesmo modo, assim como não se pode
experimentar o espaço e o vazio, não se pode experimentar o silêncio. Porque só nele pode haver uma energia completamente livre, incontaminada, não dirigida pelo prazer. (Idem,
pág.140-141)

E agora - se a mente percorreu toda esta distância (e isso faz parte da meditação) - apresenta-se um fato que não se pode expressar por meio de palavras. (…) O fato “amor” não é
a palavra. Mas, para podermos viver nesse estado de amor e de beleza, necessita-se de espaço, de vazio e de silêncio. Do silêncio vem a ação; (…) Nenhuma ação é então geradora
de conflito. Então a vida, o viver neste mundo, (…) se torna uma alegria, uma bem-aventurança que não é prazer, um êxtase não oriundo do tempo. (…) (Idem, pág. 141)

(…) Só quando a mente se acha nesse estado vazio, em que não há conhecimento, em que não há mais o experimentador, aprendendo, acumulando - só então existe aquele esforço
criador, podendo expressar-se através de vários talentos e artes, sem causar mais sofrimento. (Visão da Realidade, pág. 204)

A virtude, afinal, é ordem. A verdade real é uma coisa pura, mas não constitui um fim em si. (…) Por conseguinte, o cultivo da mente ou do desenvolvimento da virtude não é
importante, pois não constitui o esvaziamento da mente, necessário para o recebimento do Eterno. A mente precisa estar vazia, para receber o Eterno. (As Ilusões da Mente, pág.
78)

Também, só a mente religiosa sabe o que é o vazio mental. A “mente vazia” não se acha num estado de vacuidade, de inanidade: está extraordinariamente vigilante, atenta,
sensível; nenhum centro tem e, por conseguinte, cria espaço. Só a mente que nenhum centro tem, que tem o espaço da imensidade, só essa é a mente religiosa; e só a mente religiosa
é criadora. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 87-88)

A mente religiosa, pois, é criadora - não escrevendo poesia, prosa ou espalhando tintas numa tela; (…) A mente criadora é aquela em que se verificou uma total mutação. E só
então, nesse estado extraordinário, que nada tem de místico, que não representa uma fuga à vida, é possível a existência do Eterno. (…) (Idem, pág. 88)

Mas, a mente de todo vazia - vazia, porque se acha num estado de observação, de silêncio, por conseguinte, de amor, e compreensão da morte - a mente totalmente vazia é criadora.
A mente criadora está sempre vazia; desse vazio provém a sua ação, as palavras que pronuncia. Por conseguinte, essa mente é sempre verdadeira, (…) jamais criará ilusões dentro
de si mesma. Só essa mente religiosa pode resolver os problemas e aflições deste mundo. (A Suprema Realização, pág. 91)

Não há atenção sempre que há qualquer espécie de resistência. Se desejais compreender algo, deveis aplicar-lhe vossa atenção completa. Para vos tornardes cônscios de todo o
conteúdo do que se vai dizer, impende que vosso corpo, (…) mente, (…) emoções, (…) se devotem a esse fim. Então, esvaziando a mente de seu total conteúdo, descobrireis por vós
mesmos que se manifestará uma extraordinária energia. (…) (O Homem e seus Desejos em conflito, pág. 140)

(…) Só quando a mente está vazia, quando a mente está tranqüila, quando não tem problema algum, quando está vigilantemente passiva - só nesse vazio há criação. A criação só
pode verificar-se na negação, a qual não é o oposto da asserção positiva. “Ser nada” não é a antítese de “ser alguma coisa”; “ser nada” não tem relação com “ser algo”. Quando
o “ser algo” cessa completamente, há o nada. (…) Quando a mente está a observar em silêncio e portanto está passiva, surge o estado criador, e o estado criador é uma renovação
constante. Ele não é continuidade, é um “estado de ser” atemporal. Só nesse estado pode haver (…) revolução. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 223)

Pode um ente humano viver num estado mental tão ativo que seja vazio? Um tambor perfeitamente ajustado está sempre vazio e, quando o percutimos, dá o som adequado, Pode a
mente ficar, qual tambor, totalmente vazia? (…) É só “de dentro do vazio” que se pode ver a beleza da vida, (…) de uma árvore. Não a vereis, se não estiverdes vazio - livre de
padrões, sempre a aprender e nunca acumulando, sempre a observar, desperto, cônscio sem escolha e, portanto, dando ao que vedes extraordinária atenção. Já notastes que,
quando estais completamente atento, com vossos nervos, vossa mente, vosso coração, vossos ouvidos, que então compreendeis? Naquela atenção intensa não há pensar. É só
quando estais desatento que começa o jogo do pensamento. (O Mistério da Compreensão, pág. 58)

(…) Só a mente que se “esvaziou” do conhecido, é criadora. Esse estado é ação. O que a mente cria então não interessa a si própria. Esse estado, livre do conhecido, é o estado em
que a mente se acha em criação. Como pode a mente que se acha em criação estar interessada em si própria? Por conseguinte, para poderdes compreender aquele estado mental,
deveis conhecer a vós mesmos, observar o processo do vosso próprio pensar - observá-lo, e não alterá-lo, modificá-lo; observá-lo, simplesmente, assim como vos vedes num
espelho. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 43)

Ora, quando a mente está verdadeiramente tranqüila, portanto, ativa e livre, e não se está importando com a comunicação, a expressão, a realização - é então que há criação. Essa
criação não é uma visão. Os cristãos têm visões do Cristo; e os hinduístas (…) de seus pequenos (…) e grandes deuses. Estão reagindo de acordo com seu condicionamento; (…) (O
Passo Decisivo, pág. 177-178)

(…) Mas a mente atenta e silenciosa não tem visões, porque se libertou de todo o seu condicionamento. Destarte, essa mente sabe o que é a criação - que é coisa bem diferente da
chamada “ação criadora” do músico, do pintor, do poeta. (Idem, pág. 178)

O findar do pensamento é o começo da criação, (…) do silêncio; mas o findar do pensamento não pode dar-se pela compulsão, nem por nenhuma forma de disciplina, de
constrangimento. Já devemos ter tido momentos em que a nossa mente se achou muito tranqüila - espontaneamente tranqüila (…) Este extinguir-se do pensamento é renovação, é o
estado de novo, no qual a mente pode começar de maneira nova. (Viver sem Confusão, pág. 15-16)

A criação não é um estado de memória, (…) Não é um estado em que a mente está ativa. A criação é um estado mental, do qual o pensamento está ausente; enquanto o pensamento
funciona, não pode haver criação. O pensamento é contínuo, é o resultado da continuidade, e para o que tem continuidade não pode haver criação, renovação; o que é contínuo só
pode mover-se do conhecido para o conhecido, e, por conseguinte, nunca pode ser o desconhecido. (Viver sem Confusão, p,15)

O problema, por conseguinte, é este: Pode essa mente inquieta, volúvel, essa mente que vagueia em todas as direções, que acumula, que rejeita (…), pode essa mente findar
instantaneamente e tornar-se silenciosa? (Poder e Realização, pág. 84)

Porque, nesse silêncio, há renovação, aquela renovação não compreensível à mente que está ligada ao tempo. (…) Nesse silêncio, nesse estado, há criação, a criação que vem de
Deus, da Verdade. Essa criação não é contínua (…) (Idem, pág.84-85)

Parece-me, pois, que apenas nos estamos tornando cada vez mais atilados (…) mais instruídos. Somos criados com palavras, (…) idéias, teorias, conhecimentos, e resta muito pouco
espaço vago na mente, de onde se possa ver alguma coisa com clareza. Só a mente vazia pode ver com clareza, e não a mente abarrotada de informações e conhecimentos, não a
mente que está incessantemente ativa, no afã de buscar, alcançar, exigir. Mas a mente vazia não está “em branco”. (…) E só nesse vazio há compreensão; há criação. (O Homem e
seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 18)

(…) Ora, para descobrir se, além da mente, existe algo, não devo afastar de mim todo e qualquer desejo de estado contínuo? Porque, afinal, para alcançar o “estado criador” - não
a mera capacidade de escrever um poema ou pintar um quadro, mas a ação criadora, livre do tempo, que não é invenção da mente, (…) não é mera capacidade ou talento, for a
criadora que se renova incessantemente; para alcançar esse estado criador, não deve a mente ser capaz de investigação entusiástica e persistente? (Poder e Realização, pág. 38)

Pode-se, pois, descobrir o que é criação, ou Deus (…)? Porque esse é o único fator que renova todas as coisas. Embora eu habite com a morte, esta tem significação inteiramente
diferente quando há criação. A criação liberta a mente da mediocridade e da deterioração. E se é este o estado que procuro, necessito de visão muito clara, (…) Porque o estado
criador não pode ser chamado; ele tem de vir por si. Deus não pode ser chamado; ele deve vir. Mas não virá se a mente não for livre. Mas essa liberdade não é produto de
disciplina. (Idem, pág. 39-40)

Nós não sabemos o que é ser criador. Somos capazes de inventar (…) - uma máquina nova, (…) - mas não pode haver criação quando não se compreende o amor. O amor, a morte e
a criação andam “de mãos dadas”. O amor não é memória; não é uma idéia, não é um conceito. (…) E o amor não pode existir se não houver a morte de “ontem” e do minuto
passado porque, nesse caso, ele é apenas uma continuidade do que foi. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed, pág. 88)

Ora, que entendemos por capacidade criadora? A expressão de um sentimento, a realização de uma descoberta, o escrever um livro ou poema, o pintar um quadro - qualquer dessas
coisas é necessariamente criação? Ou é a criação coisa inteiramente diversa, independente da expressão? (…) Ou é a criação algo que em absoluto não provém da mente? (Viver
sem Confusão, pág. 38)
Afinal de contas, quando a mente exige, ela encontrará uma solução. Mas sua solução será a solução criadora? Ou, só há criação quando a mente está de todo silenciosa - quando
não pode, não exige, não investiga? (Idem, pág. 38-39)

Está visto, pois, que muito impende descobrir o que é ser criador; e a capacidade criadora só pode ser descoberta e compreendida, (…) quando compreendo o processo total de
mim mesmo. Enquanto houver uma projeção da mente, (…) não pode haver um estado criador. Só quando cada movimento do pensamento é compreendido e, por conseguinte, cessa
- só então existe a ação criadora. (Idem, pág. 40)

O estado de criação, naturalmente, consiste em experimentar algo que está além da mente, e esse estado de criação não pode manifestar-se enquanto a mente está apegada a
qualquer forma de segurança, interior ou exterior. (…) E nesse estado de incerteza, que não é isolamento, não é temor, há o estado criador. A incerteza é essencial ao estado
criador. (Viver sem Confusão, pág. 20)

Nosso problema, pois, não é de como agir, mas de como fazer surgir aquele estado de criação que é a verdadeira individualidade. Aquele estado, obviamente, não se baseia em
idéia alguma, porque a criação nunca pode ser uma ideação. A ideação tem de cessar, para que surja a ação criadora. Não pode haver ação criadora enquanto existir um padrão,
uma idéia; (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 142)

(…) Criação, para a maioria das pessoas, significa edificar casas, pintar quadros, escrever poesias. Isto não é verdadeira criação, (…) é somente criação do “eu” na limitação. A
verdadeira criação é resultante dessa harmonia que é perfeição, o delicado equilíbrio da razão e do amor. A própria vida é criação; a vida, mesma, é o maior dos artistas. (…)
(Boletim Internacional da Estrela, jan. de 1930, pág. 29)

(…) Por conseguinte, a ação da vontade não pode encontrar nunca o que é real. Notai que todo conhecimento, toda experiência fortalece a vontade, o conhecido; o “eu”, o “ego”,
e (…) nunca pode perceber claramente o que é verdadeiro, jamais achar Deus, (…) Só quando o espírito se encontra num estado de correspondência com o desconhecido, só então
há possibilidade de criação, que é a Verdade. (Viver sem Temor, pág. 17)

Espero que me esteja fazendo claro, (…) Dela depende a verdadeira liberdade, que é estar livre do “eu” - pois, quando não há mais uma entidade que acumula, encontramos o
estado criador. A acumulação não é criadora. (…) Só a mente livre é criadora, e nenhuma liberdade pode haver quando armazenamos cada experiência, porque aquilo que se
acumula torna-se o centro do “eu”, (Viver sem Temor, pág. 66-67)

(…) Expressando-o de maneira simples: quando ausente o “eu”, há criação; e, uma vez que vivemos no árido terreno do intelecto, não encontramos, aí, momentos de ausência do
“eu”. Pelo contrário, nesse terreno, nessa luta para ser, há uma exagerada expansão do “eu”, e, portanto, não há criação. (…) (A Arte da Libertação, pág. 67)

(…) Mas a criação a que me refiro não é para dar-nos satisfação, é algo totalmente desconhecido, (…) E virá apenas quando a mente, perfeitamente cônscia do processo total do
“eu”, compreende a significação deste e, por conseguinte, não mais o nutre de experiência. Percepção Criadora, pág. 60) ~, Por outras palavras: quando há ímpeto criador,
sentimento criador, não há luta, o que significa que o “eu”, com todos os seus preconceitos (…), condicionamentos, está ausente. Nesse estado de ausência do “eu”, manifesta-se a
capacidade de criação. (Nós Somos o Problema, pág. 47)

Ora, esse movimento do pensar criador não busca, na sua expressão, nem resultado, nem realização. (…) Ele jamais atinge culminância ou objetivo, porque é eterno o seu
movimento. A maioria das mentes visa a uma culminância, um. objetivo, uma realização, moldando-se pela idéia de sucesso, e por isso tal pensamento, está a limitar-se
continuamente. (…) (A Luta do Homem, pág. 152)

Isto é, o pensar criador cessa quando a mente se debilitou pelo ajustamento, a que a impele a influência, ou, quando ela funciona numa tradição (…) Enquanto existir tal limitação,
tal ajustamento, não haverá pensar criador, haverá inteligência, que, só ela, é liberdade. (Idem, pág. 152)

(…) É só quando o “eu” desiste de vir a ser, que se apresenta o Real. Para estarmos livres para descobrir, é necessário extinguir-se a memória do passado; é o que trazemos do
passado que nos dá continuidade, e continuidade é aquiescência. Não aquiesçais para serdes livres, (…) é só na liberdade que há criação. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.
137)

Assim, pois, depende da mente que a verdade seja absoluta ou eterna. … Mas a mente que está cônscia de tudo o que se passa internamente, e percebe a verdade aí contida, essa
mente é atemporal; só 'essa mente pode saber o que existe além das palavras, dos nomes, do permanente e do transitório. (Novos Roteiros em Educação, pág. 142-143)

Em momentos de intensa criação, (…) de grande beleza, há uma tranqüilidade absoluta; em tais momentos verifica-se uma ausência completa do “ego” e todos os seus conflitos; é
esta negação a forma suprema do pensar-sentir que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. (… ) (O Egoísmo e o Problema da Paz,pág. 88)

(…) A quietação da mente é, com efeito, uma coisa muito simples; e só nesse estado de quietude pode perceber-se a beleza (…) E, sem beleza, jamais achareis a Verdade, jamais
vereis a Verdade. (O Novo Ente Humano, pág. 172-173)

Sabeis o que significa beleza? Só na total ausência do “eu”, da vontade, ela se encontra. Há, então, paixão, e, nessa paixão, uma grande beleza. (…) (Idem, pág. 173)

O conflito e a dor são necessários para que haja potência criadora? (…) Não é inevitável o conflito quando há vir a ser, (…) expansão do “ego”? O estado de potência criadora
não significa estar livre do conflito, (…) da existência de acumulações? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 99)

(…) A acumulação, em qualquer degrau que seja da escala do vir a ser, traz-nos a potência criadora? Só há vir a ser e evolver no plano horizontal da existência, mas conduz, isso,
ao Atemporal? A potência criadora só pode ser conhecida depois de abandonado o plano horizontal. (…) (Idem, pág. 99)

Só se manifesta a potência criadora, quando o pensamento-sentimento não está prisioneiro de padrão algum nem de fórmula nenhuma. O “eu” é resultado de aquiescência, de
condicionamento, de lembranças acumuladas; por isso, nunca está o “eu” livre para descobrir; ele só. pode expandir-se dentro do próprio condicionamento, só pode organizar-se
para ser eficiente e sutil na sua positividade, seus objetivos e reclamos, (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 136-137)

Será interessante considerarmos a questão do saber, bem como compreender o que é criação; (…). Para a maioria de nós, a palavra “criação” significa muito pouca coisa pintar
um quadro, escrever um poema, gerar filhos, Ora, por certo ' a criação não é a mera expressão de um sentimento ou de uma técnica. (Visão da Realidade, pág. 200)

(…) Criação é coisa completamente diferente. É um estado mental em que o pensamento cessou de todo, estado que pode ser chamado a realidade, Deus, e, parece-me esse estado
de criação surge ao compreendermos isso que se chama saber. (Idem,p200)

Entendo por “criação” o “estado de ser” libertado do tempo, porque é só neste estado que se pode produzir a correta transformação social e o bem estar total do homem. (Da
Solidão à Plenitude Humana, 154)

(…) É quando a mente já não está acumulando, está desperta para todo o processo da consciência, com todas as suas lembranças e seus motivos inconscientes, (…) deixando tudo
isso passar por ela sem a prender não se acha então a mente fora do tempo? A mente já não está livre da rede do tempo? (Poder e Realização pág. 72)

… ) A mente silenciosa mas não silenciada só ela pode perceber o imensurável. (…) Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que está tranqüila encontrará o
atemporal. (…) A mente (…) que acumula saber, virtude, é incapaz de receber o eterno. (Nosso Único Problema, pág. 77)

(…) O atemporal só pode ter existência quando cessa a memória, que é o “eu” e o “meu”. Se percebeis a verdade aí contida isto é, que através do tempo não se pode compreender
ou captar o atemporal podemos então entrar no problema da memória?..) (A Arte da Libertação, pág. 114)

O presente é o Eterno. No tempo não é possível o conhecimento do Atemporal (…) Consideramos o tempo como um meio de vir a ser; esse vir a ser é infinito, mas não é Eterno, não
é o Atemporal. O vir a ser é conflito incessante, conducente à ilusão. Na tranqüilidade do presente está o Eterno. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 45-46)
D.B.: O senhor disse que a mente é universal e não está localizada em nosso espaço habitual, não é separada (…) Krish.: Isso mesmo. Só podemos entrar em contato com ela
quando o “eu” não existe. Para expressar isso de um modo bastante simples, quando o “eu” não existe,.há beleza, silêncio, espaço; então _~ inteligência, que nasce da compaixão,
opera através do cérebro. E muito simples. (O Futuro da Humanidade, pág. 92)

Percepção Livre, Simples, Clara, Instantânea, Direta


Krish.,. Pois bem vamos falar então da percepção. Só pode haver percepção quando ela não está impregnada de pensamento. Quando não há nenhuma interferência oriunda do
movimento do pensamento há percepção, que é uma compreensão imediata de um problema ou das complexidades humanas. (O Futuro da Humanidade, pág. 84)

Em primeiro lugar, (…) quando se trata de investigar, por nossos próprios meios, como pensar de maneira simples e direta, as definições, e explicações são verdadeiramente
prejudiciais. (…) Parece-me, pois, que devemos estar bem cônscios de nossa escravização às palavras, sem perdermos de vista, entretanto, que as palavras são necessárias para as
comunicações. (…) (O Passo Decisivo, pág. 163)

Krish.: O significado que o dicionário dá para “percepção” é; tornar-se consciente de, aprender, ou seja, quando você vê o copeiro, tem, um conceito prévio dele; isso não é
percepção. Existe um ver sem preconceito? Só uma mente que não tem conclusões prévias pode ver. (…) Olhar esse copeiro sem a prévia acumulação de preconceitos ou imagens
psico1ógicas é olhar. (Tradicion y Revolucion, pág. 180)

Krish.: Portanto, é possível ver sem observador. (…)A possibilidade torna-se uma teoria,(…) o observador é o resíduo do passado e por Isso não pode ver. (…)Se há de haver
percepção, o observador deve estar ausente. É isso possível? (Idem, pág. 181)

Krish.: O pensamento é conhecimento, o qual se há acumulado através da cultura, e esta diz que isto é beleza. O pensamento é resposta da memória (…) Tenho descartado tudo
isso, (…) A mente é livre, altamente sensível; já não está mais carregada com o passado, (…) nessa mente não há observador em absoluto, não há um “eu” que observe (…) O “eu”
é o observador, o “eu” é o passado. (…) E nos formulamos a seguinte pergunta: existe a percepção sem o conhecimento, sem o observador? Assim é que descartamos a ambos: o
objeto conhecimento; no perceber está a ação de descartar. (Idem, pág. 185)

Krish: (…) À parte do que têm dito os tradicionalistas, os profissionais e as interpretações, que significa a percepção? Que é perceber? È mero processo intelectual, uma captação
visual (…)? É um estado psicossomático ou é algo por completo diferente? (Tradicion y Revolucion, pág. 243) Krish.: Assim é que a formação de imagens e a conclusão são do
passado. A percepção é instantânea. (…) (Idem, pág. 246)

Krish.: Pode minha mente, que é tempo, que é o conteúdo da consciência(…), pertencendo por completo ao tempo, dissociar-se a si mesma da totalidade do campo? Ou há
uma,percepção que não é do tempo e, portanto, vê a totalidade? (Idem, pág. 320)

(…) Quase todos os homens são meros seguidores: consideram autoridade o criador de qualquer coisa e, através da propaganda, das influências, da literatura, imprimem na
delicada estrutura cerebral a necessidade de obediência. Que acontece a vocês quando obedecem? Param de pensar. Porque sentem que as autoridades sabem muito, são
poderosos, de grandes recursos,(…) (Ensinar e Aprender, pág. 35-36)

(…)Assim, vocês sucumbem, rendem-se, começam a obedecer,tornando-se escravos de uma idéia, de uma impressão, da influência. Ao conformar-se a um padrão de obediência, o
cérebro já não é capaz de manter sua originalidade, de pensar de maneira simples e direta. (Idem, pág. 36)

A compreensão não é um dom reservado a poucos, pois vem a todos os que se aplicam seriamente ao conhecimento de si mesmo. (… ) Quando a mente está comparando, não está
quieta, está ocupada. Uma mente ocupada é incapaz de percepção simples e clara. (Reflexões sobre a Vida, pág. 140)

É possível olhar, ver, sem essa atividade mental? A atividade mental é sempre pensamento, na forma de idéia, de memória; por conseguinte, não há percepção direta. Não sei se já
observastes vosso amigo, (…) esposa ou marido, olhando-o simplesmente. Sempre olhais ou escutais a outrem com todas as lembranças de infortúnios, insultos, etc. (…) (A
Importância da Transformação, pág. 13)

Pois bem. O percebimento ou experiência direta daquela realidade depende do tempo? (…) O percebimento pode ser imediato, independe do tempo, (…) Não há nenhum processo
gradual de “aprender e perceber”. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 7)

Agora, o que estamos tentando averiguar (…) é se pode haver experiência direta, destituída de todo e qualquer conhecimento, toda instrução, de modo que essa experiência seja
verdadeira, e não mera reação de nosso condicionamento como hinduísta,(…) budista, (…) cristão, (…) (Idem, pág. 9)

(…) Mas, tudo o que nos interessa aqui (…)é descobrir se a mente pode, de pronto, despojar-se desta crença, …) condicionamento, a fim de surja o percebimento direto. Podemos
viver mil vidas, praticando auto-disciplina, sacrificando, subjugando, meditando, mas por este meio nunca seremos levados ao direto percebimento, o qual só é realizável em plena
liberdade, (…); e só pode aparecer a liberdade, quando a mente se torna cônscia, de pronto, de seu condicionamento, pois então se verifica a cessação desse condicionamento. (Da
Solidão a Plenitude Humana, pág. 10)

Isso é difícil para a maioria de nós, porque pensamos que a compreensão é questão de tempo, de comparação, de acumulação de mais informações, mais conhecimento. Mas a
compreensão nada disso exige. Só uma coisa ela exige, que é o percebimento direto, o ver diretamente, sem interpretação ou comparação. Assim, não havendo compreensão do
medo, os nossos problemas crescem, invariavelmente. (O Passo Decisivo, pág. 181)

K: Veja, senhor, algo muito interessante surge disto. Você está aprendendo ou está tendo uma visão direta (insight) disso? Aprender implica autoridade. Você está aprendendo e
agindo a partir do aprendizado? (…) Então o conhecimento se torna a autoridade, seja autoridade do doutor, do cientista, do arquiteto ou seja a do guru que diz “eu sei”. (…)

Agora vem uma pessoa e diz: “Olhe, agir de acordo com o conhecimento é uma prisão; você nunca será livre; não pode elevar-se através do conhecimento.” E alguém como K. diz:
“Olhe para isso diferentemente, olhe para a ação com a visão direta (insight)- não acumule conhecimento para agir mas olhe com visão direta (Insight) e aja. Nisso não há
autoridade. (Exploration into Insight, pág. 23-24)

Krish.: Portanto, o problema é estar desperto, atento, alerta. Existe um método para isso? (…) Não, porque aí está implícita a rotina, a aceitação da autoridade, a repetição, e tudo
isso me embota pouco a pouco. De maneira que recuso o estar alerta como “prática” e digo que só na relação posso compreender a dor, e que a compreensão vem unicamente a
partir do estado de percepção alerta. (El Despertar de la Inteligência, II, pág. 199)

O abandono da personalidade, do “eu”, não se dá por ato de vontade; a travessia para outra margem não é uma atividade dirigida (…) A Realidade apresenta-se na plenitude do
silêncio e da sabedoria. Não podeis chamar a Realidade, ela deverá vir por si mesma;(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 84-85)

Devemos compreender o esforço, a tranqüilidade incondicional, o abandono próprio; por que é somente pela percepção correta que advém a tranqüilidade meditativa. (Idem, pág.
85)

Nosso esforço se despende em recusar ou aceitar, embotando-se o pensamento-sentimento nesse conflito interminável. (…) O esforço justo consiste em estarmos cônscios desse
conflito, 1mparcialmente, em observarmos, silenciosamente, e sem identificação. É essa percepção do conflito (…) que traz a liberdade. Nessa percepção passiva, tranqüila,
desponta a Realidade. (Idem, pág. 86)

Como enfrentar as coisas de maneira nova? (…)Ao apresentar-vos esta questão, qual é vossa reação? Se vossa reação é também nova, estais então passivamente cônscio, alertado,
vigilante. Esse estado é atemporal. Nesse estado, (…) com passiva vigilância, percebimento, não existe o tempo; dá-se uma experiência direta, o estímulo é compreendido
diretamente; por conseguinte, há liberdade de pensar. E essa liberdade é eterna; ela existe agora, e não amanhã. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 27)
(…) Quando desejo compreender, examinar uma coisa, não tenho necessidade de pensar: contemplo-a. No momento em que começo a pensar, a ter idéias e opiniões a respeito da
coisa, já me encontro num estado de distração que me desvia da coisa que desejo compreender. (…) Mas, sem dúvida, uma mente que está muito tranqüila, (…)que não está sendo
distraída pelo seu próprio pensar, (…) que se acha aberta, pode olhar para o problema de maneira muito direta e muito simples. (…) (A Renovação da Mente, pág.13-14)

(…) Pois bem: se for esse movimento do pensamento claro, simples, direto, espontâneo, profundo, não existirá então conflito no indivíduo, contra a sociedade, porque a ação é,
nesse caso, a própria expressão desse movimento vivo e criador. (A Luta do Homem, pág. 153)

Nessa condições, não há, para mim, arte de pensar, só há pensar criador. Não há técnica de pensar, mas somente a espontânea ação criadora da inteligência, a qual é a harmonia
da razão, do sentimento e da ação, não separados ou divorciados uns dos outros. (Idem, pág. 153)

Devemos ser capazes de discernir compreensivamente, em nós mesmos, a influência que a massa exerce por meio das tradições, dos preconceitos de raça, dos ideais e das crenças a
que nos entregamos consciente ou inconscientemente. Enquanto essas coisas nos dominarem, seremos individualmente incapazes de ação clara, direta, simples e compreensiva. (…)
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág.10-11)

(…) Mas só podereis viver completamente quando tiverdes percepção direta, e a percepção direta não se atinge através da escolha, (…)do esforço nascido da memória. Ela está na
chama do apercebimento, que é a harmonia da mente e do coração na ação. (…) (Palestras em Adyar, índia, 1933-1934, pág.162-163)

Cultivar a coragem quando não se é corajoso, não é libertar-se da covardia; mas, compreender a natureza e estrutura da covardia, em vez de tentar reprimí-la ou transcendê-la, é
ficar livre da covardia. (…) Isto é, a percepção direta, e não o cultivo do oposto, é liberdade. O cultivo do oposto exige tempo. (O Novo Ente Humano, pág. 146)

É maravilhoso uma pessoa descobrir por si mesma o que significa compreender uma coisa imediatamente, sem necessidade de palavreados; ver um fato como fato, completamente,
sem argumentação. Desse ato de perceber pode-se passar à argüição, à discussão, ao exame das minúcias; mas é necessário ter, primeiramente, essa extraordinária intensidade de
percebimento - percebimento sem pensamento que produz a transformação.(…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 14)

(…) E, para compreendemos a nós mesmos, precisamos de um percebimento inteiramente livre de compulsão, isento de justificação ou condenação uma consciência tranqüila, sem
vestígio algum de temor. Nesse estado assiste-se ao desenrolar do pensamento e do sentimento. E, aí, com a mente tranqüila - mas não posta tranqüila - dá-se-nos a possibilidade de
descobrir aquilo que é atemporal. (Nós Somos o Problema, pág. 24)

(…) Para experimentar essa liberdade, tem-se que compreender a vida profundamente, e discernir por si próprio o processo de criar e manter a ignorância e a ilusão. Isto exige a
mente alerta e percepção aguda, não a mera aceitação de uma técnica. Como, porém, se é indolente, depende-se de outrem para a compreensão, e, por esse modo, aumenta-se a
tristeza e a confusão. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 30)

(…)A mente que se entregou toda ao pensamento, às palavras, à memória, nunca será capaz de perceber o que é verdadeiro; ela não está tranqüila. É uma mente morta. Já a mente
que está de fato tranqüila é extraordinariamente ativa, viva, potente (…) Só esta mente está verbalmente livre, (…) da experiência, (…) do conhecimento. Essa mente pode perceber
o verdadeiro, (…) tem a percepção direta, fora dos limites do tempo. (O Problema da Revolução Total, pág. 92-93)

Para se compreender(…) necessita-se de uma mente esclarecida, mente capaz de percebimento direto. A compreensão não é nada misterioso; porém requer, penso eu, que a mente
seja capaz de olhar as coisas diretamente, sem preconceitos, sem tendências pessoais, sem opiniões.(…) É relativamente fácil explicar uma determinada técnica, empregando-se o
correspondente vocabulário técnico; mas aqui necessita-se de uma mente que esteja livre, para ver as coisas como são, mente capaz de examinar sem lhe dar o colorido de seu
próprio condicionamento. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 11)

A compreensão, independe do tempo. A compreensão está sempre no presente, nunca no amanhã; é agora ou nunca; (…) O “ver” (perceber) é Instantâneo; (…) Esse “ver” é
“explosivo”, isento de cálculo ou raciocínio. Na maioria da vezes, é o medo que impede a compreensão. (…) O “ver” não apenas vem do cérebro, mas também o transcende. A
percepção do fato cria sua própria ação, completamente diferente da ação baseada na idéia ou no pensamento; (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 64)

Mecanismo do Desejo: Percepção, Contato, Sensação, etc.


Que é desejo? Como surge ele? Vejo, lá fora, um carro, (…)reluzente, bonito, de linhas elegantes, (…) Há o ato de ver e, em seguida, a sensação resultante desse ato. Em seguida, o
contacto com o objeto que vimos e, em seguida a esse contacto, a sensação; essa sensação é o desejo. (…) Percepção, contacto, sensação e desejo; isso está sucedendo a cada
instante, em nossa vida. (A Suprema Realização, pág. 204) Por conseguinte, urge compreender o que é “ajustamento” e o que é “desejo”. Desejo é apetite não satisfeito. O desejo é
isto - um apetite a que se não soltaram as rédeas. E a sociedade diz que deveis conter, reprimir , guiar, controlar ou sublimar o desejo. O lado religioso da sociedade diz; “Praticai
várias formas de disciplina reprimi-vos a fim de achardes Deus (…). Dessa maneira implanta-se na psique, no ente humano, essa contradição(…) (A Suprema Realização, pág. 33)

Que é, pois, desejo? Vedes uma bonita casa, ou um belo carro ou um homem poderoso - gostaríeis de possuir aquela casa, de ser aquele homem de posição, ou de conduzir aquele
carro sob os olhares admirados da multidão. Como aparece esse desejo? (…) (Idem, pág. 35)

Há, pois, o ver, o perceber, que cria a sensação; em seguida, vem o contato, depois o desejo - o desejo de possuir - que dá continuidade àquela sensação. Isto é muito simples. Vejo
uma bela mulher ou um belo homem. Há então o prazer do ver, e todo prazer exige continuidade. Por conseguinte, penso nesse prazer, e, quanto mais penso nele, tanto mais
favoreço a sua continuidade. E (…) entra em cena o “eu” quero, não quero.(…) (A Suprema Realização, pág. 35)

Estamos vendo, pois, como nasce o desejo. Percepção, contato, sensação; depois, dá-se continuidade à sensação, e essa continuidade da sensação é o desejo. Mas, o desejo se torna
muito complicado quando se apresenta uma contradição, não no próprio desejo, porém no objeto por meio do qual ele busca preenchimento. (…) Apresenta-se, assim, a
contradição, isto é, devo ajustar-me aos padrões da sociedade, competindo, batalhando com meus semelhantes, a fim de subir mais alto que eles, (…) (Idem, pág. 35-36)

Que é desejo, e como continua? Vê-se como surge o desejo: percepção, visão, contacto, sensação. Mas, que é que dá continuidade ao desejo? Eis o problema. (…) Ora, não há
dúvida de que o pensamento dá continuidade ao desejo. Isto é, gosto de uma certa coisa, dá-me grande prazer contemplar o por do sol, ou ver um belo rosto, ou um homem de
posição, prestígio,(…) Penso. Gosto de vosso rosto; tendes um bonito sorriso,(…) Penso nisso, e, quanto mais penso, tanto mais força dou ao desejo, que busca seu preenchimento
em vossa pessoa - ou numa certa idéia ou objeto. (A Suprema Realização, pág. 44-45)

Assim, o pensamento dá continuidade ao desejo. Se não houvesse a continuidade do desejo, não haveria a busca de preenchimento. O desejo apareceria e tornaria a desaparecer.
Ele tem de aparecer, como uma reação. (…) O desejo, pois, viria como uma reação, e a essa reação não seria dada continuidade pelo pensamento. Observai esse fato em vossa
vida. (Idem, pág. 45)

Tendes um prazer, sexual ou trivial, e pensais nele; criais em vossa mente imagens, símbolos, palavras. E, quanto mais pensais nesse prazer, tanto mais intenso ele se torna. E essa
intensidade exige preenchimento. Mas nesse preenchimento há uma contradição, pois desejais também preencher-vos em outros sentidos. (…) Por conseguinte, para fugirdes à
contradição, à dor causada pelo conflito, dizeis ser necessário reprimir o desejo. Mas, não é importante reprimir o desejo, moldá-lo, sublimá-lo, porém, sim, compreendê-lo;
compreender o que lhe dá substância, intensidade, urgência de preenchimento. Compreendido isso, tem o desejo significado completamente diferente. (A Suprema Realização, pág.
45)

Pode-se ver de maneira muito simples como o desejo surge e como se lhe dá vitalidade, continuidade. O desejo, por certo, começa com o ver, ou sentir, ou provar, e a sensação
resultante desse contato. Depois, o pensamento intervém e diz que “isso” é bem agradável ou desagradável (…) Assim, o pensamento, dando continuidade à sensação, fortalece o
desejo. (…) Vemos um belo rosto, um belo carro, (…) Ver - sensação: entra em cena o pensamento e diz: “preciso conservar isso” (…) O mesmo acontece em relação ao sexo, e a
todas as outras formas de prazer. O pensamento dá continuidade ao prazer, tornando-o desejo. (A Essência da Maturidade, pág. 34)

Pode-se ver como nasce o desejo. Não é uma coisa muito complexa. Primeiro, percebe-se diretamente com os olhos; daí vem certo prazer, se a coisa é bela. Há primeiro a
percepção, em seguida a sensação, depois o contacto e, como resultado desse contacto, o desejo. Vedes um belo carro - essa é a percepção, o ver, e vem em seguida a sensação, o
contacto e o desejo. Começa então o pensamento a nutrir, a sustentar e a dar continuidade a esse desejo. E o desejo se torna então prazer. Tudo isso ocorre instantaneamente. (…)
Pode-se ver muito bem como nasce o desejo; vem então o pensamento e me faz dizer: “Eu o quero. Quero possuí-lo, quero que isso continue”. Assim, o pensamento não só dá
nutrição, sustento, ao desejo, mas também, pelo pensar repetidamente nele, lhe dá continuidade. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 103)

Se observo, em mim mesmo, todo o processo do desejo, vejo que há sempre um objeto para o qual a minha mente é dirigida, em busca de mais sensação; e que esse processo implica
resistência, tentação e disciplina. Há percepção, sensação, contato e desejo, e a mente se torna o instrumento mecânico desse processo, em que símbolos, palavras, objetos,
constituem o centro em torno do qual se formam todos os desejos, aspirações, ambições; e esse centro é o “eu”.

Posso dissolver esse centro do desejo - não determinado desejo, determinado apetite ou ânsia, mas toda a estrutura do desejo, do ansiar, do esperar, em que há sempre o medo da
frustração? Quanto mais frustrado me vejo, tanto mais força dou ao “eu”. Enquanto houver esse esperar, esse ansiar, haverá aquele fundo de temor, que, por sua vez, fortifica o
centro. E a revolução só é possível no centro, e não na superfície (…) (Claridade na Ação, pág. 117-118)

Observo esse processo do desejo a funcionar em mim mesmo, esse processo mecânico, uniforme, que mantém a mente numa rotina, tornando-a um centro morto do passado, um
centro em que não há espontaneidade criadora. E há, também, momentos repentinos de criação, de contato com aquilo que não procede da mente, da memória, da sensação, do
desejo. Que devo, pois, fazer? (Idem, pág. 119)

(…) O desejar “mais”, o cultivo de símbolos, palavras, imagens, com suas respectivas sensações - tudo isso precisa acabar. Só então será possível a mente ficar naquele estado de
criação em que o novo possa realizar-se constantemente. Se souberdes escutar sem vos deixardes hipnotizar por palavras, hábitos, idéias, (…) então, quiçá, compreendereis o
processo do desejo (…) (Idem, pág. 122)

Outra razão do temor é o desejo. Temos de observar a natureza e estrutura do desejo, e ver por que o desejo se há tornado tão extraordinariamente importante em nossas vidas.
Onde há desejo tem de haver conflito, concorrência, luta. (…) Porém, o desejo é uma força extraordinariamente poderosa em nossas vidas. Ou o reprimimos, ou fugimos dele, ou
substituímos suas atividades, ou o racionalizamos vendo como surge, qual é a sua origem. (…) (La Llama de la Atención, pág. 91)

A observação tem de ser livre, sem tendência ou motivo algum (…) O desejo origina-se na sensação. A sensação é contato, é o ver. Depois, o pensamento cria uma imagem dessa
sensação; esse movimento do pensar é o começo do desejo. (…) A atividade dos sentidos tem de existir. Quando surge a sensação do ver ou do tocar, o pensamento constrói a
imagem (…) Tão logo o pensamento cria a imagem, nasce o desejo. (La Llama de la Atención, pág. 92)

Pergunta: Todas as nossas tribulações parecem provir do desejo, mas podemos ficar livres do desejo? (…)

Krishnamurti: Que é “desejo”? E por que separamos o desejo da mente? (…) Temos de compreender o que é o desejo, em vez de perguntar como livrar-nos do desejo por ele nos
trazer tribulações, ou se o desejo é produto da mente. (…) Como nasce o desejo? (…) (Realização sem Esforço, pág. 14-15)

Como se origina o desejo? Pode-se dizer com segurança que ele nasce de perceber ou ver, do contato, da sensação - depois, o desejo (…) Primeiro, vedes um automóvel, depois vem
o contato, a sensação e, por fim, o desejo de possuir o carro, conduzi-lo. (…) A seguir, ao procurardes adquirir o carro, que é a manifestação do desejo, há conflito, há dor,
sofrimento, alegria, e cada um deseja manter o prazer e livrar-se da dor. (…) Queremos reter o prazer e livrar-nos da dor; mas é o desejo que cria as duas coisas. O desejo, que
nasce da percepção, contato-sensação, está identificado com aquele “eu” que deseja apegar-se ao que é agradável e afastar de si o que é doloroso. (…) (Idem, pág. 15)

Nosso problema, por conseguinte (…) é compreender, no seu todo, a natureza do desejo. Isso sugere a pergunta: Que é conflito? (…) A entidade a que chamamos “eu” “ego” a
mente que diz: “Isto é prazer, isto é dor, prender-me-ei ao agradável e rejeitarei o doloroso” - essa entidade não é desejo? Mas, se formos capazes de olhar com atenção todo o
campo do desejo (…) descobriremos, então, que o desejo tem um significado completamente diferente. (Realização sem Esforço, pág. 16)

O desejo cria a contradição, e a mente que é vigilante, muito ou pouco, não gosta de viver em contradição, e por isso tenta livrar-se do desejo. Mas, se a mente puder compreender
o desejo, sem tentar afastá-lo de si, (…) se puder conhecer todo o campo do desejo, sem rejeitar, nem escolher, nem condenar, ver-se-á, então, que a mente é desejo, não está
separada do desejo. Se compreenderdes realmente isso, a mente se tornará muito tranqüila; os desejos surgirão, mas não terão mais “poder de choque”, já não terão muita
significação. (…) Eis por que é importante compreendamos, no seu todo, o processo do desejo, processo em que quase todos estamos aprisionados. (Idem, pág. 16-17)

Presos nesse processo, sentimos a contradição, a dor infinita que ele causa, e, portanto, lutamos contra o desejo, e essa luta cria dualidade. Mas, se, por outro lado, pudermos dar
atenção ao desejo, sem julgamento, sem avaliação ou condenação, veremos que, então, ele não cria mais raízes na mente. A mente que faculta terreno propício aos problemas
nunca encontrará o que é Real. A questão, por conseguinte, não é de como dissolver o desejo, mas, sim, de compreendê-lo (…) Só a mente que não está ocupada pelo desejo, pode
compreender o desejo. (Idem, pág. 17)

Vamos, pois, investigar, descobrir o que é o desejo. Com a compreensão do desejo vem a disciplina - disciplina não imposta por ninguém, que não é ajustamento nem repressão,
porém uma disciplina inerente à própria compreensão do desejo. Como disse, o desejo é apetite, aspiração, ânsia não preenchida. E, ou cedemos a essa ânsia, a esse desejo, ou o
reprimimos, porque a sociedade nos diz que devemos reprimi-lo, porque as religiões preceituam que devemos transmutá-lo, etc. Há nesse “processo” uma constante batalha entre o
ente humano que quer compreender o desejo ou por ele se vê completamente dominado, e a sociedade (…) e as religiões organizadas (…) (A Suprema Realização, pág. 43)

Eis a primeira coisa que importa compreender: o desejo não é em si contraditório; há, porém, contradição entre os objetos de seu preenchimento. Entendeis? Satisfaço o meu
desejo numa certa direção, mais tarde desejo satisfazê-lo noutra direção. Essas duas direções, ou estados, é que são contraditórios. Desejo ser um homem rico e ao mesmo tempo
viver santamente (…) Muito mais difícil, porém, porque requer extraordinária inteligência e compreensão, é investigar o desejo e libertar-se do conflito que os objetos do desejo
provocam. A compreensão do “processo” do desejo requer muita inteligência. (Idem, pág. 43-44)

Temos desejo, que é, na realidade, reação a um apetite. Desejo ser uma coisa e “reajo”. Essa reação depende da intensidade do meu sentimento. Se é intenso o sentimento,
imperiosa a emoção, o preenchimento é então quase imediato, seja em pensamento, seja em ato. (…) (A Suprema Realização, pág. 44)

O desejo, reação a uma sensação a que se deu continuidade pelo pensamento, busca preenchimento; e, nas várias formas de preenchimento, há sempre contradição. Dessa
contradição vem o conflito; e, onde há conflito, há esforço. O desejo, pois, gera o esforço, se não compreendemos o seu “processo” total. (Idem, pág. 44)

Mas, para averiguarmos, temos de investigar muito profundamente. Não só temos de investigar o que é desejo e prazer, mas também investigar o pensamento e o pensador - em que
há também contradição; talvez mesmo aí se encontre a verdadeira essência da contradição. Porque, como sabeis, vivemos num mundo onde há divisões nacionais, idiomáticas,
religiosas, (…) onde o homem mata o homem em nome da paz, em nome da pátria (…) Há violência por toda a Terra. (…) O homem que deseje resolver o problema do sofrimento, e
pôr fim ao sofrimento, tem de compreender essa contradição. (…) (A Suprema Realização, pág. 201)

O que vamos, pois, fazer (…) é descobrir por nós mesmos a natureza do prazer, o que lhe dá continuidade e, por conseguinte, quando há prazer, há sempre a correspondente
contradição ou não prazer e, daí, sofrimento. E a essência mesma desse sofrimento é o sentimento de solidão, em que nenhum prazer existe. E para podermos descobrir o que é o
desejo, devemos observar-nos em ação. (…) Porque pensamos que o desejo gera perturbações, ansiedades de toda ordem; que o desejo acarreta desperdício de energia, é algo que
devemos afastar de nós. A compreensão do desejo, por conseguinte, requer clareza. (…) (A Suprema Realização, pág. 203-204)

Assim, tanto a resistência à dor como a busca do prazer dão continuidade ao desejo. E, uma vez compreendido isso, não cuido mais de reprimir o desejo, porque, quando o
reprimimos, ele inevitavelmente causa outros conflitos - como acontece quando se reprime uma doença. Não se pode reprimir uma doença; temos de deixá-la declarar-se, dar
atenção a ela, fazer tudo o que seja necessário. Se a reprimimos, ela aumentará em potência, tornar-se-á mais forte, e mais tarde nos atacará. (…) Mas isso não significa que
devamos entregar-nos ao desejo. Porque, se cedemos ao desejo, ele traz a dor ou o prazer que lhe são próprios (…) (A Suprema Realização, pág. 111)

Afinal de contas, nós vivemos pela sensação - contatos, percepção, sensação - de onde surge o desejo. E, quando o desejo não é preenchido, há conflito e há temor. Nessas
condições, o temor e o desejo criam o tempo, (…) a importância do “eu”, do “ego”. (…) O que, portanto, mais importa, em todas essas questões, é a investigação do processo do
nosso pensar - o que é autoconhecimento. (…) (A Renovação da Mente, pág. 64)

Um dos nossos maiores problemas é o referente à compreensão do desejo. (…) Se, em vez de procurarmos controlar, sublimar ou transcender o desejo, pudermos encarar, frente a
frente, o fato que é o desejo, e começar a compreender a sua índole, creio surgirá então uma ação de qualidade totalmente diversa. (…) (Visão da Realidade, pág. 154)

Examinemos com vagar este problema do desejo. O desejo, afinal, é energia dirigida para o exterior, e, sendo o desejo positivo, dominador, potente, a sociedade procura
controlá-lo e moldá-lo. A sociedade é produto desse mesmo desejo, o qual procura ajustar-se, (…) e funcionar dentro dos limites da moral social. (…) (Idem, pág. l55)

Nessas condições, aquela energia dirigida para o exterior esbarra numa muralha de moralidade social, de suposta religião, etc., e volta para dentro, ao seu ponto de partida. Esse
retrocesso não é um movimento livre: é simples reação. (…) Superficial ou profundo, esse movimento para dentro é sempre uma regressão, e todo esse “processo”, esse movimento
da energia “para fora” e “para dentro”, é o movimento do “eu”, do “ego”. (…) (Visão da Realidade, pág. 156-157)

(…) Quando o pensamento diz: Preciso reprimir, moldar, disciplinar o desejo, canalizar a energia (…), nesse mesmo processo a energia é diminuída e destruída; e nós necessitamos
de uma espantosa soma de energia livre, energia não disciplinada, para descobrirmos o que é verdadeiro, o que é Deus. Releva, pois, não reprimir, sublimar ou controlar o desejo,
mas, sim, que esse movimento “para dentro” e “para fora” do desejo finde totalmente. (Idem, pág. 157)

Que estamos fazendo, presentemente? Há uma energia dirigida para fora, a qual é desejo, pensamento; e, no seu movimento para o exterior, essa energia é obstada; daí resulta
frustração, dor, sofrimento. Por conseguinte, o desejo se recolhe e busca interiormente um estado em que não haja dor, um permanente estado de paz. Essa introversão da mente
(…) é uma simples reação; e, destarte, criam-se os opostos. (…) (Visão da Realidade, pág. 158)

(…) Mas, se essa energia que está permanentemente a dirigir-se para o exterior ou a recolher-se no interior, puder imobilizar-se, sob nenhuma compulsão, puder ficar quieta, livre
de qualquer movimento para o exterior ou para o interior, vereis então que, qual um rio, essa energia cria sua ação própria, porque está livre do “eu”. Estando imóvel, a energia
percebe o que é - a verdade; então, a própria energia é a verdade, e essa verdade cria seu movimento peculiar, que não é movimento para fora nem para dentro. (Idem, pág. 160)

Se isso tiver sido bem compreendido, então a disciplina terá uma significação de todo diversa; mas atualmente a disciplina é mero conflito, ajustamento, (…) está destruindo a
energia. (…) A tal ponto nos temos ajustado, que já não nos resta nenhuma energia criadora, (…) iniciativa; e só o homem que tem essa energia criadora, essa descomunal
iniciativa, só tal homem descobre o que é verdade; e não aquele que ajusta, disciplina e amolda os seus desejos. (Visão da Realidade, pág. 160-161)

O que estou expondo é um fato e não uma teoria ou mera idéia (…) Só há resolução quando aquele movimento de vaivém, do desejo, terminou, sem o emprego de compulsão. (…) Só
quando cessa o movimento, apresenta-se uma tranqüilidade cheia de riqueza, plenitude, vitalidade, e, nessa placidez, há abundância de energia e não diminuição de energia. (…)
(Idem, pág. 161)

Por que somos torturados pelo desejo? Por que fazemos do desejo um instrumento de tortura? Há desejo de poder, desejo de posição, desejo de fama, desejo sexual, desejo de
dinheiro, desejo de carro, etc. (…) (O Homem Livre, pág. 140)

(…) Reprimir o desejo, ou a ele ceder, é a mesma coisa, porque o desejo continua ainda existente. Podeis reprimir o desejo de uma mulher, de um carro, de uma posição; mas o
próprio estímulo a não ter essas coisas é, em si, uma forma de desejo. Assim, ao vos verdes presos na rede do desejo, deveis compreendê-lo, em vez de dizer que ele é correto ou
errado, justo ou injusto. (Idem, pág. 141)

(…) Mas temos de ir bem mais longe. Porque a vida é um movimento e, para poderdes acompanhar esse movimento, precisais de energia - energia que não conhece ajustamento;
energia que não produz conflito, energia que não é produto do pensamento, com todas as sua resistências, contradições; energia que não é escrava do tempo, que é “gradualidade”
(…) (A Suprema Realização, pág. 39)

Por conseguinte, a menos que a mente compreenda esse movimento do desejo - ajustamento, pensamento, tempo - nunca poderá ir mais longe. Só a mente livre é religiosa. E só a
mente religiosa resolverá os nossos problemas (…) Só a mente religiosa, que compreende todo esse “processo” e, por conseguinte, o conflito, é capaz de libertar aquela energia que
é imaculada. E só essa energia pode alcançar o Altíssimo. (Idem, pág. 39)

O desejo é a raiz de toda ignorância, toda aflição, e não é possível libertamo-nos da ignorância e da aflição, a não ser com o abandono do desejo. Não o podemos afastar com a
simples vontade, porque a vontade é parte do desejo; não o podemos afastar com a negação, porque esta é resultado dos opostos. Só é possível dissolver o desejo com a percepção
de suas múltiplas formas e expressões. Mediante observação e compreensão tolerantes, poderemos transcendê-lo. Na chama da compreensão consome-se o desejo. (Idem, pág.
35-36)

Processo da Insuficiência, Carência; Ânsia, Ilusão


Esclarecerei em resumo o que tenho dito (…) Cada um de vós sois consciente de um grande vazio, uma vacuidade interna, e, sendo consciente dessa vacuidade, tentais preenchê-la
ou escapar-lhe; ambas as ações significam a mesma coisa. Escolheis com o que preencher essa vacuidade, e a essa escolha chamais progresso ou experiência. (…) (Palestras na
Itália e Noruega, 1933, pág. 90)

Mas a vossa escolha se baseia na sensação, na ansiedade, daí não implicar discernimento, inteligência, sabedoria. Escolheis hoje o que vos dá maior satisfação, maior sensação
(…) Portanto, o que chamais escolha é meramente o vosso modo de fugir da vacuidade interna, e, assim, estais meramente adiando a compreensão da causa do sofrimento. (Idem,
pág. 90-91)

Onde há escolha tem de haver conflito, porque a escolha tem por base a ansiedade, o desejo de completar o vosso vazio interno ou dele escapar. (… ) Mas, digo, descobri qual a
causa do vosso sofrimento. Essa causa é, como verificareis, o constante querer, o contínuo ansiar que obscurece o discernimento. Se compreenderdes isso (…) então a vossa ação
estará livre da limitação da escolha; então estareis realmente vivendo, vivendo naturalmente, harmoniosamente (…) Se viverdes plenamente, a vossa vida não produzirá discórdia
porque a vossa ação surgirá da plenitude e não da carência. (Idem, pág. 91-92)

Mas (…) a experiência, sem dúvida, é uma distração, um processo de afastamento de nós mesmos. (…) Dentro de nós, quer o admitamos, quer não, quer o sintamos
conscientemente, quer não, existe um estado de pobreza, um vazio que procuramos encobrir, (…) evitar. (…) Isto é, o indivíduo sente em si (…) um vazio, um aniquilamento, uma
insuficiência. (Nós Somos o Problema, pág. 63-64)

Quase todos estamos conscientes disso, mas não nos agrada encará-lo de frente, (…) compreendê-lo; procuramos fugir a esse estado de vazio, (…) de aniquilamento, apegando-nos
à propriedade, ou ao nome, à família, ao saber. A essa fuga de nós mesmos chamamos de experiência; (…) Os meios de fuga (…) oferecem felicidade e, por isso, a experiência se
transforma num obstáculo à compreensão do “que é” (Idem, pág. 64)

Enchemos, pois, esse vazio, essa solidão, com instrução, relações e haveres; e por isso as posses, as relações e a instrução se tornam extraordinariamente importantes - já que sem
elas nos sentimos perdidos. Sem elas, ficamos face a face com nós mesmos, tais como somos; e, para fugir a isso, recorremos a todos os meios e acabamos ficando presos nas
experiências dessas fugas. (Idem, pág. 64-65)

Utilizamos tais experiências como padrões (…) para encobrir a realidade. Mas a realidade, ou Deus, é o desconhecido; não pode ser medida por nossa experiência, (…)
condicionamento; e, para atingi-la, temos de afastar todas as fugas e enfrentar “o que é” - nossa solidão, nosso extraordinário senso de sermos nada. (…) (Idem, pág. 65)

Ora, há em nós uma carência perpétua e um lutar perene pela satisfação a que chamamos “realidade”. Esforçamo-nos por nos amoldarmos à conformidade de um padrão, de
acordo com um sistema particular de conduta, de comportamento, que promete dar-nos o entendimento e a satisfação decorrentes (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág.
58)

Vedes algo, algo de atraente, e vós o quereis e o possuís. Está assim firmado esse processo de percepção, de carência e de aquisição. Esse processo é sempre auto-sustentador.
Existe uma percepção voluntária, atração ou repulsão, apegar-se ou rejeitar. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 59)
Essa carência é inteiramente diferente da busca. A carência indica vacuidade, o esforço para tornar-se alguma coisa, ao passo que a verdadeira busca conduz à compreensão
profunda. (…) O que é que está sempre em movimento de carência? O que é que está sempre ansiando, procurando o atingimento? (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 58)

Enquanto não houvermos compreendido isso, a carência será um processo infindável que impede o verdadeiro discernimento; e haverá um constante lutar sem entendimento, um
proselitismo cego, um temor incessante, cheio de muitas ilusões. (Idem, pág. 58)

Isso que está de contínuo ansiando é a consciência que se tornou perceptível sob a forma de indivíduo. Isto é, existe um “eu” que carece (…) Vedes algo (…) o processo do “eu” é
assim auto-ativo. Isto é, não somente ele próprio se expande, mediante seus (…) desejos e ações, como se mantém pela ignorância, pelas tendências, carências e anseios. (…) (Idem,
pág. 59)

Por que motivo ansiamos possuir ou dominar? Não é pelo temor à insuficiência? Por sermos tímidos, ansiamos por segurança; sentimental e mentalmente desejamos estar
abrigados e firmemente ancorados nas coisas, nas pessoas, nas idéias. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 132)

Enquanto o anseio, nas suas diferentes formas, não for compreendido, haverá conflito e sofrimento. (…) A solução definitiva se encontra no libertar-nos do anseio; (…) A batalha
incessante que se trava dentro de todos nós, e à qual chamamos vida, não terá desfecho enquanto não compreendermos e transcendermos o anseio. (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 166-167)

Esse problema não é só de um indivíduo, pois todo pensamento humano se sente solitário. (…) Como hei explicado, através do desejo criamos em nós próprios um processo dual,
donde surge o “eu”, o meu” (…) Criado pelo anseio, esse processo contraditório do “eu” e do “não-eu”, seu natural efeito é o insulamento, a solidão completa. (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 115)

O desejo engendra o temor, o temor nutre a dependência, seja de coisas, seja de pessoas ou idéias. Quanto maior a dependência, tanto maior a pobreza íntima. Tornando-vos
conscientes dessa pobreza, (…) solidão, procurais enriquecê-la, (…) preenchê-la com conhecimentos ou atividades, divertimento ou mistério. (…) O “eu” é insaciável e não há
como satisfazê-lo. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 115)

Dessa idéia de a vida ser uma escola, surge o constante desejo de conseguimento, de sucesso, e, em conseqüência, a procura de um fim, o desejo de encontrar a verdade última,
Deus, a perfeição final que vos dará (…) certeza, e daí as tentativas de contínuo ajustamento a certas condições sociais, a exigências éticas e morais, ao desenvolvimento do caráter
e ao cultivo de virtudes. Esses padrões e exigências, se neles realmente pensais, são apenas abrigos donde agimos, abrigos desenvolvidos pela nossa resistência. (Palestras na Itália
e Noruega, 1933, pág. 133)

(…) Dissemos que a ansiedade se exterioriza de três modos: pelo mundanismo, amor possessivo e desejo de imortalidade pessoal. (…) Naturalmente, há muitos problemas
envolvidos nisso, tais como ganhar a vida. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 67)

Para transcender as condições que limitam o pensamento e o mantêm em constante conflito, precisamos compreender a ansiedade expressa em nossas relações mútuas com outrem,
com a sociedade. Expliquei como isso deve ser feito, não pelo mero controle, não pela simples disciplina ou renúncia, mas pelo apercebimento constante do processo da ansiedade.
(Idem, pág. 68)

Isso requer aplicação extrema, paciência, vigilância constante. Ao tornar-vos ativamente apercebidos do processo da ansiedade, percebereis que a ânsia, assim como a
possessividade por pessoas ou coisas, sofre uma mudança fundamental. (Palestra em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 68)

Não tem o nosso pensamento sua fonte na ansiedade? Pela percepção, contato, sensação e reflexão, o pensamento se divide em gosto e desgosto, ódio e afeição, dor e prazer, mérito
e demérito - a série dos opostos, o processo do conflito. (…) (Idem, pág. 71)

A base do nosso pensamento é a ansiedade que cria o “eu”, e o pensamento se expressa na vaidade mundana, no amor possessivo e na crença da própria continuidade. (…)
Enquanto o pensamento estiver preocupado com sua própria importância e continuidade pessoal, é incapaz de tornar-se apercebido de seu próprio processo. (Idem, pág. 72-73)

Como disse, a experiência é, para a maioria de nós, “o caminho da vida”, e por quanto mais experiências passamos, mais desejamos (…) Para a maioria de nós, não há fim para a
experiência. Mas vemos que ela é “acumulativa”, e que o fundo de experiências acumuladas condiciona. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 118)

Temos, pois, essa carga acumulada de passadas experiências, tanto individuais como coletivas. (…) Esse fundo está sempre ditando nossas ulteriores experiências, moldando os
nossos pensamentos. Não vemos possibilidade desse findar (…) Mas é o fundo de experiência que gera a ansiedade, o sentimento de desespero, o medo de não “chegar”, não
realizar. Há sempre o sentimento de não completamento, de insuficiência e, por isso, queremos mais e mais experiência (…) (Idem, pág. 118)

Todos nós aspiramos a tornar-nos algo neste mundo ou no outro (…) interior ou exteriormente; e nosso propósito é bem definido, porquanto nossos desejos nos estão sempre
impelindo para determinado fim, a que chamamos de “preenchimento”. Se não compreendermos esses desejos, e, se eles são contrariados, há conflito, sofrimento, dor e, por
conseguinte, uma busca perene de preenchimento. Mas, se começamos a compreender todas as características do desejo, (…) impulsos, conscientes e inconscientes, não há mais a
questão do preenchimento. É o ” eu”, o “ego” que está sempre ansiando por preenchimento, quer no sentido de sermos as pessoas mais importantes (…) ou de nos preenchermos
interiormente (…) (Debates sobre Educação, pág. 234-235)

Buscar preenchimento é atrair a frustração. Não há preenchimento do “eu”, mas tão somente o seu fortalecimento pela posse daquilo que ele cobiça. A posse (…) faz o “eu”
sentir-se poderoso, exuberante, ativo, e essa sensação é chamada preenchimento; todavia, como acontece com todas as sensações, ela breve se apaga, para ser substituída por outra
satisfação. (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 79)

Por que existe essa idéia de posse? Não nasce ela da insuficiência, da falta de plenitude? E por causa dessa insuficiência assumem grande relevância os problemas do sexo e outros
(…) Na plenitude, que é a própria inteligência, não existe anormalidade. Mas, sendo insuficientes, incompletos, conhecendo a pobreza, a vacuidade, a absoluta superficialidade de
nossos pensamentos e sentimentos, dependemos de outras pessoas, dos livros, da literatura, das idéias, da filosofia, para enriquecer nossas vidas, e começamos, assim, a adquirir, a
armazenar. (…) (A Luta do Homem, pág. 115-116)

Que acontece quando vos sentis incompletos? Procurais preencher a insuficiência, (…) enriquecer-vos interiormente, e julgais que para vos tornardes completos, precisais de
recorrer a outrem, às idéias e à experiência de outrem. Mas isso não vos dará aquela riqueza, (…) suficiência ou preenchimento. (…) Mas, se vos tornardes atentos pela ação,
descobrireis então a causa da insuficiência. Isto é, em vez de procurardes preenchimento, criareis ação pela inteligência. (A Luta do Homem, pág. 81)

Mas, que é ação? Bem considerada, ela é aquilo que pensamos e sentimos. E enquanto não tiverdes percepção de vosso pensamento, de vossos sentimentos, tem de haver
insuficiência, e por maior que seja a vossa atividade exterior, não conseguireis o preenchimento. Isto é, só a inteligência pode eliminar aquela vacuidade, não a acumulação; e a
inteligência, como já frisei, é a harmonia perfeita da mente e do coração. (A Luta do Homem, pág. 81-82)

Assim, pois, se compreenderdes o funcionamento de vosso próprio pensar e das vossas próprias emoções e, desse modo, com essa ação, vos tornardes atentos, despertará então a
inteligência, que eliminará a insuficiência, não procurando substituí-la pela suficiência, pela plenitude, porque a inteligência, ela própria, é plenitude. (Idem, pág. 82)

Nessas condições, onde existe plenitude não pode existir compulsão. Mas a desarmonia, a insuficiência promove separação entre a mente e o coração. (…) Mas, para mim, pensar e
sentir são a mesma coisa. Assim, pois, envoltos em conflito e desarmonia, e tendo separado a mente dos sentimentos, efetuamos nova divisão, separando a mente da inteligência - da
inteligência que, para mim, é verdade, beleza, amor. (…) (A Luta do Homem, pág. 82)

Sempre que há intenso conflito, grande desarmonia, um vivo sentimento de vacuidade, ocorre a busca de beleza, verdade, amor, para influenciarem e orientarem as nossas vidas.
Isto é, conscientes dessa vacuidade, externais o belo na natureza, na arte, na música, e começais a rodear-vos artificialmente dessas expressões (…) para a aquisição de
apuramento, cultura e harmonia. (…) (Idem, pág. 83)

Como disse, em face do conflito, separamos a inteligência da mente e dos sentimentos, sobrevindo aquele sentimento de insuficiência e vacuidade, o preenchimento na arte, na
música, na natureza, nos ideais religiosos, e esperamos por tal maneira atingir aquela plenitude; esperamos, com a acumulação de experiências positivas, capacitar-nos para
dominar a desarmonia e o conflito. Isso é afastar-se cada vez mais da inteligência e, portanto, da verdade, da beleza e do amor, que são a plenitude mesma. (A Luta do Homem,
pág. 83-84)

É só quando a mente que se abrigou atrás das muralhas da autoproteção, se liberta de suas próprias criações, que se pode chegar àquela delicada realidade. Afinal de contas, essas
muralhas da autoproteção são criações da mente, que, consciente da própria insuficiência, levanta essas muralhas de proteção abrigando-se atrás delas. (A Luta do Homem, pág.
177)

(…) Estamos sempre lutando para ganhar uma recompensa, realizar boas obras, viver vida nobre, progredir, concretizar nossa aspirações. Não importa, pois, verificarmos o que é
esse “eu” que quer tornar-se maior, aperfeiçoar-se? (Claridade na Ação, pág. 101)

(…) Minha mente, percebendo a sua própria insuficiência, sua pobreza, põe-se a adquirir posses, diplomas, títulos, (…) e, desse modo, se fortalece o “eu”. Sendo o centro do “eu”,
a mente diz: “Preciso transformar-me” - e põe-se a criar incentivos para si, buscando o bom e rejeitando o mau. (Idem, pág. 107)

(…) Sempre que há desejo de preenchimento, em qualquer grau ou (…) nível que seja, há de fato luta. O desejo de preenchimento é o motivo, a força impulsora do esforço. Seja o
diretor de (…) empresa, ou a (…) dona-de-casa, ou o mendigo, em todos há essa batalha por “vir-a-ser”, realizar, continuar. (A Arte da Libertação, pág. 108)

Ora, por que existe esse desejo de nos preenchermos? Como é óbvio, o desejo de preenchimento, (…) de nos tornarmos alguma coisa, surge quando temos a consciência de não ser
nada. Porque não sou nada, porque sou insuficiente, vazio, interiormente pobre, luto por tornar-me alguma coisa; exterior ou interiormente, luto para me preencher - com uma
pessoa, um objeto, uma idéia. (Idem, pág. 108)

(…) Vemos, pois, que a luta por “vir-a-ser” só se manifesta quando há insuficiência, (…) consciência de um vácuo, de um vazio, em nós mesmos. (…) O encher esse vazio constitui
todo o processo de nossa existência. Cônscios de que somos vazios, (…) pobres, interiormente, entramos em luta, ou para acumular coisas exteriores ou para cultivar riquezas
interiores. (A Arte da Libertação, pág. 108-109)

Quando somos inferiores, temos o impulso a sentir-nos superiores; (…) Quer dizer: por mim mesmo, sou insignificante, vazio, superficial, e por isso desejo máscaras, para usar em
diferentes ocasiões: a máscara da superioridade e da nobreza, da seriedade, a máscara com a qual afirmamos procurar Deus, e assim por diante. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 209-210)

Podeis cultivar a virtude e praticar exercícios espirituais, mas, com o encobrirdes a vossa insuficiência, com a negardes, (…) nem por isso ela é transcendida. Até que seja
transcendida (…), toda atividade provém do “ego”, que é a causa do conflito e do sofrimento. (…) (Idem, pág. 210)

Estamos, pois, em busca de algo com que preencher nosso vazio; esse algo (…) chama-se conhecimento (…) Julgamos que, achando o que nos enriqueça a pobreza interior, estará
finda a nossa busca. Uns tratarão de fugir dele por meio de atividades, de estímulos, de ideologias, etc; outros estão conscientes desse vazio, mas não acharam um meio de o
encobrir. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 239-240)

Enquanto o pensamento estiver todo interessado na sua própria melhoria, (…) transformação, (…) progresso, tem de haver conflito e contradição. Voltamos, assim, ao fato evidente
de que o conflito, o sofrimento, existirão enquanto eu não me compreender a mim mesmo. (A Arte da Libertação, pág. 193)

(…) Essa contradição, pois, nasce daquele terrível sentimento de insuficiência, de vazio, de solidão. Por isso, vivemos a fazer esforços; e esforço é luta, competição. Tal é nossa
vida: uma luta perene para “vir-a-ser”, realizar coisas, ser bons, preencher-nos, conquistar prestígio, posição, poder, domínio, tornar-nos inteligentes. Enquanto não se
compreender a luta, nunca se terá paz. (A Suprema Realização, pág. 119)

Pelo seguir um ideal ou uma modalidade de conduta, ou submetendo-nos a uma autoridade, seja ela a de uma religião, (…) seita ou (…) sociedade, não pode dar-se o verdadeiro
preenchimento; e só por meio do preenchimento se encontra a beatitude da verdade. (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 76)

Para mim, a perfeição não é a consecução de uma meta, de um ideal, do absoluto, através dessa idéia de progresso. A perfeição é o preenchimento do pensamento, da emoção
(sentimento), e, portanto, da ação (…) Por isso, a perfeição é livre do tempo; não é resultado do tempo. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 114)

Bem, é esta a condição atual de nossas vidas - respeitabilidade, posses e vazio (…) Como haveremos de transcender essa solidão, esse vazio, essa insuficiência, essa pobreza
interior? (…) Estamos satisfeitos com o que somos; dá muito trabalho procurar uma coisa nova (…) Nessas condições, não desejamos (…) sair do “processo” de
auto-enclausuramento; o que procuramos é só substituição (…) Só muito poucos indivíduos se dispõem a romper e a ver o que existe fora dessa coisa que chamamos vazio, solidão.
(Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 124)

Ora, para se sair do estado de solidão, de vazio, precisamos compreender todo o processo da mente (…) Que é isso que chamamos solidão, vazio? (…) Ora, senhores, na maioria
sabemos o que é essa solidão (…) - essa solidão da qual estamos sempre procurando um meio de fugir. Os mais de nós estamos cônscios dessa pobreza interior, dessa insuficiência
interior. (…) (Idem, pág. 125)

(…) Portanto, em virtude de nosso próprio condicionamento, perdemos o entusiasmo (…), a vida se torna pesada e árida. (…) Quando nos tornamos apercebidos desse estado, e, em
lugar de combatermos esse vácuo sem esperança, ponderarmos profundamente as causas da frustração, então, sem nenhum conflito de antíteses, dá-se aquela mudança vital que é
preenchimento, a rica compreensão da vida. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 33-34)

Assim, digo, não procureis um caminho, um método. Não há método nem caminho para a verdade. (…) Então, nessa chama de apercebimento, todos esses obstáculos desmoronam
porque os penetrastes. Então podereis perceber diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A vossa ação será assim oriunda da plenitude e não da insuficiência da
segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização do eterno. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 27-28)

Para a maioria de nós, a idéia de evolução implica uma série de consecuções, isto é, consecuções surgidas da contínua escolha entre o que chamamos não-essencial e essencial.
(…) A essa série de consecuções contínuas, resultantes da escolha, chamamos evolução. Toda a estrutura do nosso pensar está baseada nessa idéia do progredir e do atingir
espiritual, na idéia de penetrar mais e mais no essencial como resultado da escolha constante. (Idem, pág. 29-30)

Ora, quando de tal modo consideramos o crescimento ou a evolução, naturalmente as nossas ações nunca são completas; estão sempre crescendo do mais baixo para o mais alto,
sempre subindo, avançando. Por conseqüência, se vivemos sob essa concepção, a nossa ação escraviza-nos; a nossa ação é um esforço constante, incessante, infinito, e esse esforço
está sempre voltado para a segurança. Naturalmente, quando há essa busca de segurança, há temor, e esse temor cria a contínua consciência do que chamamos “eu”. (Idem, pág.
30)

A maior beatitude - e isso para mim não é mera teoria - é viver sem esforço. (…) Para a maioria de vós, esforço é apenas escolha. (…) Mas, por que escolheis? (…) Digo que essa
necessidade de escolha existe enquanto se está consciente da vacuidade ou do isolamento interno; essa insuficiência força-nos a escolher, a fazer um esforço. (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 31)

Ora, a questão não é saber como preencher esse vácuo, mas antes verificar qual a sua causa. (…) A vacuidade aparece quando a ação se origina de escolha. E quando há
vacuidade, surgem as perguntas: “Como posso preencher esse vazio? Como posso desembaraçar-me desta solidão, deste sentimento de insuficiência? Para mim, não se trata de
preencher o vazio, pois nunca o podeis preencher. (Idem, pág. 31)

Existe a vacuidade enquanto a ação é baseada na escolha, no agrado ou desagrado, na atração ou repulsão. Escolheis porque não gostais disto e gostais daquilo (…) Ou temeis
algo e dele fugis. Para a maioria das pessoas, a ação é baseada em atração e repulsão, e, portanto, no temor (Idem, pág. 31-32)

Iluminação, Rendição do “Eu”, Plenitude Criadora


Como há de o indivíduo viver de modo que a ação seja preenchimento? Como pode o indivíduo enamorar-se da vida? Para enamorar-se da vida, (…) obter o preenchimento, é
preciso ter a mente livre, mediante a compreensão profunda das limitações que a deturpam e frustram (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 58-59)

O que estou dizendo é que, para viver com grandeza, para pensar criativamente, tem o indivíduo de estar por completo aberto à vida, isento de quaisquer reações autoprotetoras,
tal como se dá quando vos achais enamorados. Tendes, pois, de estar enamorados da vida. Isso exige grande inteligência, não informações ou conhecimentos, porém sim essa
grande inteligência que desperta quando defrontais a vida abertamente, completamente, quando a mente e o coração estiverem por completo vulneráveis em face da vida. (Palestras
em New York City, 1935, pág. 60)

A realização da verdade vem somente quando há plenitude de ação sem esforço. E a cessação do esforço vem através do estardes alerta contra os obstáculos, e não por procurardes
vencê-los (Coletânea de Palestras, pág. 54)

Pretendo ajudar-vos (…) a atravessar a corrente do sofrimento, da confusão e do conflito, por meio de um profundo e completo preenchimento. Esse preenchimento não se encontra
na auto-expressão egoísta, nem na compulsão, nem na imitação. (…) Pelo pensamento claro, pela ação inteligente, eis como atravessaremos a corrente da dor e da tristeza. Existe
uma realidade que só pode ser compreendida por meio de um profundo e verdadeiro preenchimento. (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 64)

Antes de podermos compreender a riqueza e a beleza do preenchimento, deve a mente estar livre do fundo de idéias da tradição, do hábito e do preconceito. (…) Esse fundo de
idéias tradicionais impede a compreensão completa da vida e, por isso, determina confusão e sofrimento. (Idem, pág. 64)

Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos com essa solidão, com esse vazio; e, com a aceitação desse vazio, veremos surgir um estado criador
completamente isento de luta e de esforço. O esforço só existe enquanto desejamos evitar o vazio interior; mas, se o olharmos bem, se o observarmos, se aceitarmos o que é, sem
nenhum desejo de evitá-lo, veremos surgir um “estado de ser” no qual cessou toda a luta. Esse estado de ser é o estado criador, que não resulta de luta alguma (A Arte da
Libertação, pág. 109)

Mas quando há compreensão do que é, que é nosso vazio, nossa insuficiência interior, quando nos deixamos ficar com essa insuficiência e a compreendemos plenamente, surge a
realidade criadora, a inteligência criadora, a única coisa que traz felicidade. (Idem, pág. 109)

(…) Só quando estiverdes cônscios da insuficiência interior, e ficardes com ela, isto é, não fugindo, mas aceitando-a integralmente, só então descobrireis uma tranqüilidade
extraordinária, (…) não produzida artificialmente, mas que vem com a compreensão do “que é”. Só nesse estado de tranqüilidade, há vida criadora. (A Arte da Libertação, pág.
110)

Assim, onde há escolha não pode haver discernimento. (…) Somente quando cessa a escolha há libertação, plenitude, pujança de ação, que é a vida mesma. A criação é sem
escolha, como a vida é sem escolha, como o entendimento é sem escolha (…) (Palestras na Itália e Noruega, pág. 50)

Preocupamo-nos com a ação a todo instante do dia; mas só conheceremos o êxtase desta ação não impedida quando a mente estiver a si própria se renovando por meio do
preenchimento. (…) (Palestras no Brasil, pág. 77)

(…) Agora, será acaso a iluminação (…) uma questão de tempo? (…) Será um processo gradual, isto é, (…) de tempo, (…) de evolução, a transformação gradual? (…) As chamadas
pessoas iluminadas não são iluminadas, pois no momento em que dizem: “Estou iluminada”, não estão. Trata-se de uma vaidade delas. É como se alguém dissesse: “Eu sou
realmente humilde” (…) A verdadeira humildade não é o oposto de vaidade. (…) Então você pergunta: o que é essa iluminação suprema? Uma mente que não possui nenhum
conflito, nenhuma sensação de luta, de atividade, de movimento, de realização. (Perguntas e Respostas, pág. 103)

Desejo diferençar o agir do conseguir ou atingir. Consecução é uma finalidade, ao passo que, para mim, a ação é infinita. (…) Antes (…) compreendamos o que queremos dizer por
evolução: um movimento contínuo, por meio de escolha, para o que chamamos de essencial, perseguindo sempre maiores consecuções. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág.
30)

Agora, que acontece quando afastais isso e escolheis aquilo? Estais buscando o vosso agir simplesmente na atração ou repulsão, e, por esse modo, criais opostos. (…) Enquanto
escolherdes, (…) tem de haver dualidade. Podeis pensar ter escolhido o essencial; mas (…) no querer e no temor, ela meramente cria outro não-essencial. (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 32)

Enquanto escolherdes entre os opostos não há discernimento, e por isso deve haver esforço, esforço, incessante, continuamente oposto e dualidade. (…) A vossa ação é sempre
finita, sempre visando conseguimento, e por isso existirá sempre essa vacuidade que sentis. Mas se a mente estiver livre da escolha, se ela possuir a capacidade de discernir, então a
ação é infinita. (Idem, pág. 32-33)

Se vos aperceberdes de que a vossa escolha originada nos opostos somente cria outro oposto, então percebeis o que é verdadeiro. (…) Nesta libertação dos opostos, a ação já não é
conseguimento, mas preenchimento; ela nasce do discernimento, que é infinito. Então, a ação brota de vossa própria plenitude e em tal ação não há escolha e, portanto, nenhum
esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 33)

Só podeis verificar isso quando realmente estiverdes atravessando uma crise. (…) Podeis conhecer a verdade disso somente quando estiverdes frente a frente com uma insistente
necessidade de escolha, quando tiverdes de tomar uma decisão (…) (Idem, pág. 35)

(…) Se nesse momento entenderdes com todo o vosso ser, (…) fordes consciente da futilidade da escolha, então brotará daí a flor da intuição, a flor do discernimento. A ação que
daí nasce é infinita; então a ação é a própria vida. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 35)

Pergunta: Não conduz a experiência à plenitude da vida?

Krishnamurti: Vemos muitas pessoas passarem por experiências repetidas, multiplicando as sensações, vivendo as memórias passadas com antecipações futuras. Vivem esses
indivíduos uma vida de plenitude? (…) Ou existe somente plenitude da vida quando a mente está aberta, vulnerável, completamente desnuda de todas as memórias autoprotetoras?
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 60)

Quando há ação integral, sem a divisão de múltiplas carências, há plenitude, inteligência, a profundeza da realidade. O mero acúmulo da experiência, ou viver na sensação da
experiência, não é mais que (…) sensação artificial de plenitude por meio de estímulo. O simples enriquecimento da memória não é plenitude de vida; (…) (Idem, pág. 60)

Portanto, devemos compreender o processo da experiência e perceber como a mente está sempre tirando da experiência lições que se tornam seu guia. Essas lições, esses ideais e
guias, que são apenas memórias autoprotetoras, constantemente ajudam a mente a fugir da atualidade. (…) (Idem, pág. 61)

A plenitude da vida só é possível quando a mente-coração estiver integralmente vulnerável ao movimento da vida, sem nenhum obstáculo artificial e autocriado. A riqueza da vida
advém quando a carência, com suas ilusões e valores, tiver cessado. (Idem, pág. 61)

(…) Enquanto a mente está ativa, formulando, fabricando, inventando, criticando, não pode haver criação; e eu vos asseguro que a criação vem silenciosamente, com
extraordinária rapidez, sem compulsão, ao compreenderdes a verdade de que a mente precisa estar vazia, para que se realize a criação. Ao perceberdes a verdade disso, então,
instantaneamente, há criação. (A Arte da Libertação, pág. 177)

(…) A criação só se realiza quando a mente, com seus motivos e sua corrupção, deixa de funcionar. (…) Assim, a única coisa necessária é que a mente, que é pensamento, deixe de
funcionar; e então, asseguro-vos, conhecereis a criação. Só há criação quando a mente, compreendendo sua própria insuficiência, (…) pobreza, (…) solidão, finda. Estando cônscia
de si mesma, ela põe fim a si própria; então, aquilo que é criador (…), imensurável, aparece, sutil e velozmente. (A Arte da Libertação, pág. 178)

Para pôr fim ao processo do pensamento, precisamos estar passivamente cônscios de nossa insuficiência, (…) pobreza, (…) vazio, sem lutar contra isso; (…) e o que não é produto
da mente, é criação. (Idem, pág. 178)
Quereis saber (…) O êxtase do entendimento vem somente quando há grande descontentamento, quando em torno de vós todos os falsos valores forem destruídos. (…) Mas, se
houver em vós essa revolta divina, então compreendereis quando digo que a vida não é uma escola para se aprender; a vida não é um processo de acúmulo constante (…) (Palestras
na Itália e Noruega, 1933, pág. 135)

(…) O que importa realmente é que essa vacuidade e essa solidão existem em vossa mente e vosso coração, e que há um vazio imenso; e pensais poder sair dele, fugir dele (…) Ao
passo que, se libertardes a mente dessa consciência do “eu”, pela descoberta dos retos valores do ambiente, (…) então, por vós próprios, conhecereis esse preenchimento que é a
verdade, (…) Deus (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 119)

Porque somos como mortos, tememos a morte; os que vivem não a temem. Os mortos estão onerados do passado, da memória, do tempo, mas, para os que vivem, o presente é
eterno. O tempo não é um meio para se chegar a um fim - o Atemporal - porque o fim está no começo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 173-174)

O “ego” tece a rede do tempo e o pensamento é colhido por ela. A insuficiência do “ego”, a sua dolorosa vacuidade, causa o temor da morte e da vida. (…) Mortos que estamos,
procuramos a vida - mas a vida não está na continuidade do “ego”. O “ego”, o criador do tempo, deve render-se ao Atemporal. (Idem, pág. 174)

A vigilância é de cada momento presente; não é o efeito cumulativo de lembranças autoprotetoras. A vigilância não é determinação, nem ação da vontade. A vigilância representa
uma rendição completa e incondicional à realidade, sem racionalização, sem separação entre observador e coisa observada. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 231-232)

(…) Procuramos vencer esse terror, esse vácuo; procuramos algo que cure a pungente agonia de nossa insuficiência interior. (…) Quando para vós despontar a verdade a respeito
da fuga, persistireis em procurá-la? É claro que não. Aceitareis, então, infalivelmente “o que é”, o que existe; é essa rendição completa ao “que é”, que nos traz a Verdade
libertadora, e não a consecução do objeto de nossa busca. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 240)

Não é a essência criadora da Realidade que é a norma? Apelais para outros, para vos darem esperanças e orientação, porque sois vazios e pobres; apelais para os livros, os
quadros, os mestres, os “gurus”, os salvadores, buscando inspiração e força. (…) É só na essência criadora da Realidade que se verifica o término do conflito e da aflição. (…) (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 139)

Ao perceberdes como o pensamento-sentimento forja sua própria prisão e dependência, ficando assim insulado; cientificando-vos do cultivo dos valores sensuais, que geram
inevitavelmente a pobreza interior, nessa percepção mesma (…) descobrireis a riqueza indestrutível. Da contínua percepção, adequadamente desenvolvida e cada vez mais ampla e
penetrante, advirá a serenidade e o contentamento da suprema sabedoria. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 115-116)

Isto é, depois que a mente se despoja de toda ilusão e ignorância, é capaz de discernir o infinito presente. É uma coisa que se não pode explicar, acerca da qual não se pode
raciocinar. Está para além de todos os argumentos. Tem de ser vivida. Exige grande persistência e constante firmeza de propósito. (Palestras em New York City, 1935, pág. 25)

(…) Porque sois, aí, vosso próprio instrutor e vosso próprio discípulo; a vida estará aberta para vós e ireis ao seu encontro todos os dias, com plenitude, riqueza, felicidade. Mas
isso não é possível se há qualquer forma de acumulação. O ver o fato simplesmente, sem avaliação, traz liberdade. (…) (Visão da Realidade, pág. 267)

Isto é, sentindo a nossa insuficiência, imperfeição, começamos a acumular, esperando completar-nos com essa colheita de experiências e utilização das idéias e padrões de outras
pessoas. Entretanto, para mim, a insuficiência só desaparece quando atua a inteligência, que é, ela mesma, a beleza e a verdade. Não poderemos perceber tal coisa enquanto
estiverem separados a mente e o coração. (A Luta do Homem, pág. 84)

(…) Quando fazeis algo, com todo o vosso ser, em que não há sentimento de frustração ou medo, nenhuma limitação, nesse estado de ação sois vós próprio, independente de
qualquer condição exterior. Digo, se puderdes chegar a esse estado, quando sois vós próprio na ação, então descobrireis o êxtase da realidade, Deus. (Palestras em Ommen,
Holanda, 1937-1938, pág. 76)

(…) O preenchimento não é um processo de racionalização, nem a mera colheita de informações, tampouco se encontra por meio de outrem (…) É a fruição do profundo
entendimento da nossa própria existência e das nossas ações. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 27)

Se quiserdes conhecer a beatitude da verdade, deveis tornar-vos plenamente apercebidos dessas barreiras autodefensivas e derrubá-las. Isso exige um esforço contínuo e firme. A
maior parte das pessoas não deseja fazer esse esforço. Querem antes que se lhes diga exatamente o que devem fazer, (…) assemelham-se a máquinas (…) Enquanto vós, (…)
voluntariamente, vos não libertardes dessas ilusões, não pode haver compreensão da verdade. Ao dissolver essas ilusões de autoproteção, a mente desperta para a realidade e para
o êxtase da realidade. (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 76-77)

Se, em lugar de buscardes a paz, a felicidade, ou de vos esforçardes por averiguar o que a verdade é, ou o que é a imortalidade, ou, ainda, se existe um Deus, a mente e o coração
se puderem libertar do medo, do preconceito, das perversões, das causas limitadoras, na chama desse apercebimento, então, essa consciência se tornará o real, êxtase da vida, da
verdade. (Palestras em New York City, 1935, pág. 33)

Para libertar essa nascente que se transformará em torrente e por isso vos levará a atingir a libertação que é a Verdade, que é o preenchimento da vida, deveis descobrir o que é
essencial para vossa compreensão e pôr de lado todas as coisas de importância secundária. (Vida em Liberdade, VII, em Carta de Notícias da I.C.K., nº 1 a 6, de 1945, pág. 22)

A consciência limitada é o conflito de inúmeras carências. Apercebei-vos desse conflito, desse incessante combate de divisão; não tenteis, porém, dominar parte da consciência com
suas carências, por meio de outra parte. Quando a mente se identifica com a carência ou com seus opostos, há conflito; então a mente tenta fugir por meio da ilusão e dos falsos
valores e, assim, apenas intensifica todo o processo da carência. Com o profundo discernimento, advém a cessação da carência, o despertar da inteligência, da intuição criadora.
Essa inteligência é a própria realidade. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 33)

(…) Quando rejeitais a autoridade e dela buscais libertar-vos, procurais apenas uma antítese; ao passo que a verdadeira liberdade, o estado inteligente e desperto da mente, está
para além dos opostos. E essa tranqüilidade vibrante do pensamento profundo, do apercebimento sem escolha, essa intuição criadora, que é a plenitude da vida. (Palestras em
Ommen, Holanda, 1936, pág. 69)

(…) O êxtase da Realidade encontra-se pela inteligência desperta e no mais alto grau de intensidade. Inteligência não significa cultivo da memória ou da razão, mas, sim, uma
percepção da qual é banida a identificação e a escolha. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 199)

(…) Só mediante vosso pessoal discernimento sobre a causa do sofrimento, e não pelas explanações de outrem, é que podem ser abertos os portais da máxima beatitude, que
conduzem ao êxtase do entendimento. (…) (Palestras no Brasil, pág. 72-73)

Fases do Padrão, Hábito; Esforço e Espontaneidade


A maioria de nós tem hábitos inúmeros. Temos hábitos e idiossincrasias, físicos, e, ao mesmo tempo, hábitos de pensamento. Cremos nisto e não cremos naquilo; somos patriotas,
nacionalistas; e observamos tenazmente o seu especial padrão de pensamento. (…) Uma vez firmada numa série de hábitos, a mente parece funcionar um pouco mais livremente,
mas, na realidade, ela é irrefletida, “não cônscia”. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155)

Em parte por nossa educação escolar, em parte pelo condicionamento que a sociedade psicologicamente nos impõe, e também por nossa própria indolência, a nossa mente funciona
numa série de hábitos. Se não aprovamos determinado hábito de que estamos bem cônscios, lutamos para quebrá-lo, e, quando quebramos um hábito, formamos outro. Parece não
haver momento em que a mente esteja livre do hábito. (…) (Idem, pág. 155)

Consideremos um hábito muito simples, que muita gente tem: o hábito de fumar. Se fumais e desejais abandonar o hábito, a idéia de abandoná-lo cria uma resistência contra o
fumar. Agora, pelo conflito ou pela resistência, podeis quebrar um hábito, mas isso não liberta vossa mente do processo formador de hábitos; o mecanismo criador dos hábitos não
deixou de existir. (…) (Idem, pág. 155-156)
Temos hábitos de pensamento, hábitos sexuais - uma infinidade de hábitos, que tanto podem ser conscientes como inconscientes; e é sobretudo difícil ficarmos cônscios dos hábitos
inconscientes. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 156-157)

Se não estamos libertos do passado, não há liberdade nenhuma, porque, assim, a mente nunca está nova, fresca, “inocente”. (…) A liberdade nada tem que ver com a idade da
pessoa (…) com a experiência; e quer-me parecer que a própria essência da liberdade reside na compreensão de todo o mecanismo do hábito, consciente e inconsciente. (…) (Idem,
pág. 158)

Mas, como, de que maneira e em que nível irá realizar-se essa revolução? (…) E observa-se, também, que a mente, o próprio cérebro se tornou mecânico e, por conseguinte,
repetitivo: ensine-se-lhe certo padrão de comportamento, certas normas de conduta, atitudes, desejos, ambições, etc., e ele ficará funcionando dentro desse canal, desse padrão.
(…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90-91)

O problema, pois, consiste no seguinte: Meu pensamento está condicionado, fixado num padrão; e a qualquer estímulo, que é sempre novo, o meu pensamento só pode reagir de
acordo com o seu condicionamento, transformando o novo no velho, modificado. Dessa maneira, o meu pensamento nunca pode ser livre. Meu pensamento, que é o produto de
ontem, só é capaz de reagir nas mesmas condições de ontem. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 26)

(…) A mente subordinada à autoridade, sujeita à compulsão, não pode absolutamente ter ordem. Vede, pois, que o ajustamento a um padrão, por melhor, mais nobre e mais
completo que seja, não produz ordem. Por conseguinte, temos de investigar, dentro de nós mesmos, todo esse “processo” de submissão a um padrão de vida, pois é isso, de fato, o
que está acontecendo. Estais na sujeição de uma idéia, como nacional de um país, como hinduísta, como muçulmano. (…) Estais submisso a uma idéia e, portanto, ajustado a uma
tradição. (…) (A Suprema Realização, pág. 178)

Ora, essa mente, até onde posso ver, funciona tão só como atividade egocêntrica; quer meditando em Deus, quer buscando satisfação sexual, praticando o ideal da “não-violência”,
lançando-se a reformas sociais. (…) E é possível a mente libertar-se dessa atividade egocêntrica, sem compulsão, sem a disciplina do ajustamento a um padrão? (O Homem Livre,
pág. 146)

O estado criador não exige, por certo, luta alguma; pelo contrário, sempre que há luta não há estado criador. Quando o “eu” está totalmente ausente, dá-se então a possibilidade
de se manifestar esse estado criador. E enquanto a idéia predomina, tem de haver luta, (…) conflito. Isto é, o moldar a ação de conformidade com uma idéia gera, necessariamente,
o conflito. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 48)

A maior parte das pessoas está sempre empenhada em viver de acordo com uma idéia. Primeiro surge a idéia - ser nobre, ser bom, ser espiritual, etc., etc. - e procuramos daí por
diante viver de acordo com essa idéia. (…) Por que isso? Todo o processo de ideação não é produto do “eu”? (…) O “eu” cria o padrão. O “eu” é uma idéia, e, em conformidade
com essa idéia, nós vivemos e tentamos proceder. (Idem, pág. 48)

A idéia, portanto, é sobretudo resultado da importância atribuída ao “eu”. (…) E tendo determinado a importância do “eu”, do “meu”, isto é, o padrão de comportamento,
procuramos viver de acordo com ele. Daí a idéia de controlar a ação, impedir a ação. Considerai, por exemplo, a generosidade, (…) a do coração. Se uma pessoa fosse viver de
acordo com essa generosidade, seria muito perigoso, (…) ocasionaria atritos de toda ordem com os padrões em vigor. Assim, a idéia intervém e controla a generosidade. (Idem,
pág. 48-49)

Nestas últimas semanas temos considerado o problema da transformação. A meu ver, para realizar essa transformação, uma das coisas mais difíceis é cessar o esforço. Porque,
para nós, a transformação implica sempre esforço. (…) Associamos o esforço à transformação. (…) É possível, porém, modificarmo-nos radicalmente, profundamente,
fundamentalmente, sem nenhum esforço? Por outras palavras: só pode haver revolução radical com a completa cessação do esforço? Desejo examinar esse problema. (O Problema
da Revolução Total, pág. 81)

A transformação, para a maioria de nós, implica esforço. Sou isto e, para me tornar aquilo, preciso fazer esforço. Na escola, depois de adultos (…) nos é inculcado esse “processo
do esforço” consciente; estamos condicionados por essa idéia. (…) Dizemos que se necessita um esforço correto, constante exercício, controle, disciplina, um constante moldar da
mente com palavras, explicações, diretrizes; (…) (Idem, pág. 81-82)

(…) Nessas condições, não é necessário compreendermos todos esses problemas (…) e verificar se existe a possibilidade de transformação sem a ação da vontade? Eu afirmo ser
possível a transformação sem a ação da vontade. Essa é a única transformação. (…) Porém, para se compreender isso, requer-se muita penetração, muita meditação (…) a
meditação que revela o processo completo do esforço. (Idem, pág. 87)

Talvez, se compreendermos o que é ação criadora, estejamos aptos a compreender o que significa esforço. É a criação resultado de esforço, e estamos cônscios nos momentos em
que somos criadores? Ou é a criação um estado de auto-esquecimento (…) isento de agitação, em que estamos de todo inconscientes do movimento do pensamento, quando só há o
existir (…) cheio de riqueza? (…) (A Arte da Libertação, pág. 197)

Não sei se já notastes que, quando fazeis uma coisa com facilidade, com presteza, não existe esforço, mas, sim, completa ausência de luta; mas como as nossas vidas, em geral, são
uma série de batalhas, conflitos e lutas, somos incapazes de imaginar uma vida, um “estado de ser”, no qual tenha cessado toda luta. (Idem, pág. 107)

Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos com essa solidão, com esse vazio; e, com a aceitação desse vazio, veremos surgir um estado criador,
completamente isento de luta e de esforço. O esforço só existe enquanto desejamos evitar o vazio interior. (…) (Idem, pág. 109)

Mas quando há compreensão do que é, que é nosso vazio, nossa insuficiência interior, quando nos deixamos ficar com essa insuficiência e a compreendemos plenamente, surge a
realidade criadora, a inteligência criadora, a única coisa que traz felicidade. (Idem, pág. 109)

(…) Todo esforço não significa luta por transformar a coisa “que é” naquilo que ela não é, ou naquilo que deveria ser ou deveria “vir-a-ser”? Isto é, vivemos a lutar para não
olhar de frente “o que é”, ou procuramos fugir a ele, ou transformá-lo, ou modificá-lo. O homem que sente o verdadeiro contentamento é o homem que compreende o “que é” e
atribui-lhe a sua significação própria. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 122)

O esforço, pois, representa uma distração que nos afasta do que é. (…) No momento em que aceito o que é, cessa a luta. Toda forma de luta ou de esforço denota distração, e a
distração, que é esforço, existirá necessariamente enquanto eu desejar transformar a coisa “que é” no que ela “não é”. (…) (Idem, pág. 123)

Assim, desejo considerar (…) como poderemos realizar uma revolução, uma revolução psicológica, sem esforço. Estou empregando a palavra “esforço” no sentido de lutar, tentar
alcançar ou vir-a-ser algo; emprego-a em referência à mente que, vendo-se envolvida em contradição, luta para superar, disciplinar, adaptar, ajustar, produzir uma modificação
em si própria - estou empregando a palavra “esforço” em referência a tudo isso. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 13)

Ora, é possível efetuar uma revolução total sem esforço, não apenas na mente consciente, mas também nas camadas profundas, no inconsciente? Porque, quando fazemos esforço
para promover em nós mesmos uma revolução psicológica, isso implica pressão, influência, motivo, direção, e tudo isso é resultado de nosso condicionamento. (Idem, pág. 13)

A realização da verdade vem somente quando há plenitude de ação sem esforço. E a cessação do esforço vem pelo apercebimento das limitações - não quando tentais vencê-las. Isto
é, quando estiverdes inteiramente consciente, integralmente apercebido em vosso coração e em vossa mente, quando estiverdes apercebido com todo o vosso ser, então, por meio
desse mesmo percebimento, estareis livre de limitações. Experimentai e vereis. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 27)

A vossa concepção da vida é baseada nesse princípio. O vosso esforço pelo atingimento, crescimento espiritual, é a conseqüência de vossos desejos de novas seguranças, novo
engrandecimento, nova glória, e daí essa luta contínua e incessante. (Idem, pág. 27)

(…) Poderá o viver em conformidade com um padrão condutor, com um ideal, seguindo-o implacavelmente, meditando sobre ele, trazer-vos à descoberta de vós mesmo? Pode o que
é real ser percebido através da disciplina ou da vontade? Isto é, pela compulsão, pelo esforço do intelecto, curvando-se, controlando, disciplinando, guiando, forçando o
pensamento em uma direção particular, podeis conhecer-vos? (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág.77)
Tudo isso é esforço da vontade, que considero mecânico, um processo do intelecto. Podeis conhecer-vos pelo emprego desses meios - por intermédio de meios mecânicos? Todo
esforço mecânico, ou da vontade, é formador de hábitos. Mediante a formação de hábitos, podeis ser capazes de criar certo estado, (…) mas como é resultado de esforço intelectual,
ou esforço da vontade, é inteiramente mecânico e por isso não verdadeiro (…) (Idem, pág. 78)

Pode-se ver que a ação da vontade produz de fato certo resultado. Se desejo algo muito ardentemente, se o persigo pacientemente, tê-lo-ei. Mas isso implica o funcionamento da
vontade, e a vontade é essencialmente um “processo” de resistência, e a mente cuja disciplina é puramente processo de resistência não pode de modo nenhum compreender a outra
espécie de disciplina. (O Homem Livre, pág. 145)

Está cada um apercebido do processo mecânico do intelecto, da vontade, que destrói o espontâneo, o real? Não podeis responder imediatamente, mas podeis começar a pensar
sobre o intelecto, sobre a vontade, e especialmente sentir a sua qualidade destrutiva. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 81)

Já que o medo não vos permite ser vós próprio, como, então, se pode dominar esse medo - medo de todos os tipos, não de um tipo particular? (…) Se estais inconsciente do medo,
tornai-vos consciente dele; (…) O processo mecânico ou da vontade pode apenas ocultá-lo (…) guardá-lo e (…) restringi-lo, permitindo apenas as reações da moralidade
controlada. Sob esse padrão de comportamento controlado, o medo sempre continua. Esse é o resultado inevitável do processo mecânico da vontade, com suas disciplinas, desejos
(…) (Idem, pág. 82-83)

A ação da vontade é o “eu”; e, seja qual for a roupagem, a transformação que o “eu” deseja, sejam quais forem suas esperanças, insucessos, pesares - estamos sempre na esfera do
“eu”. Nessa esfera não pode haver revolução, visto ser o “eu” a ação da vontade. Quando o 'eu” diz: “Não devo ser ambicioso, não devo ser invejoso”, a vontade (…) está
desejando ser outra coisa, positiva ou negativamente. Por conseguinte, aí está presente o “eu”. Se tiverdes realmente compreendido, quer dizer, se estais realmente escutando -
vereis que a “vontade de ação” termina; e com esse terminar há uma transformação radical; não mais vos preocupa, então, a transformação do “eu”. (O Problema da Revolução
Total, pág. 87-88)

Assim, a espontaneidade só pode surgir quando o intelecto não se está defendendo, (…) protegendo, quando já não teme por si; e isso só pode suceder partindo do interior. Isto é, o
espontâneo deve ser o novo, o desconhecido, o incalculável, o criativo, o que deve ser expressado, amado, em que a vontade, como processo do intelecto, controlando, dirigindo,
não toma parte. Observai os vossos próprios estados emocionais e vereis que os momentos de grande alegria, de grande êxtase, não são premeditados; eles acontecem, misteriosa,
obscura, desconhecidamente (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 79)

Há sempre guerra entre o espontâneo e o mecânico. Para mim, o que estou dizendo é vitalmente novo e não pode ser torcido para se adaptar aos vossos preconceitos particulares
do “eu” superior e inferior, do transitório e do permanente, do “eu” e do “não-eu”. (…) A maioria de nós, infelizmente, quase destruiu essa espontaneidade, essa alegria criativa
do desconhecido, a única de que pode resultar ação sábia. (…) (Idem, pág. 79-80)

(…) O processo da disciplina, da violência, do domínio, da resistência, da imitação - tudo isso é a resultante do desenvolvimento do mero intelecto, que tem suas raízes no medo. O
mecânico é (…) dominante em nossas vidas. Nele está baseada a nossa civilização e a nossa moralidade; em raros momentos, quando a vontade está adormecida, esquecida, há a
alegria do espontâneo, do desconhecida (Idem, pág. 80)

Portanto, qual é a condição interna necessária para sermos nós mesmos, para sermos espontâneos? A primeira condição interna necessária, é que o mecanismo formador de
hábitos deve cessar. Qual é a força motriz atrás desse mecanismo? (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 87-88)

O desejo dá uma falsa continuidade ao nosso pensamento, e a mente apega-se a essa continuidade, cujas ações são apenas o seguimento de padrões, ideais, princípios, e o
estabelecimento de hábito. Assim, a experiência jamais é nova, fresca, alegre, criativa. (…) (Idem, pág. 88)

Se existe esse hábito (da vaidade), quando dele vos tornardes conscientes, ele desaparecerá se realmente amais todo esse processo de viver. (…) Mas aqueles de vós que se acham
profundamente interessados, (…) observai como este ou qualquer outro hábito cria uma cadeia de memórias que se tornam cada vez mais fortes, até que somente permanece o “eu”,
o “mim”. Esse mecanismo é o “eu”, e, enquanto existir esse processo, não pode haver o êxtase do amor, da verdade. (Idem, pág. 93-94)

O poder-motor que está por trás da vontade é o medo, e, quando começamos a compreender isso, o mecanismo do hábito intervém, oferecendo novas fugas, novas esperanças. (…)
Quando há apenas medo, sem nenhuma esperança de fuga, nos mais negros momentos, na mais completa solidão do medo, aí surge, como do interior de si próprio, a luz que o
dissipará. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 104)

(…) Ninguém pode, por modo algum, forçar a espontaneidade. Nenhum método vos dará a espontaneidade. Todos os métodos apenas criam reações mecânicas. Nenhuma disciplina
produz a alegria espontânea do desconhecido. Quanto mais vos esforçardes para ser espontâneo, tanto mais a espontaneidade se afasta e se torna oculta e obscura, e menos pode
ser compreendida. (…) Tendes de vos aproximar dela negativamente, não com a intenção de capturar o desconhecido, o real. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 81)

Desejo explicar hoje que há um modo de viver naturalmente, espontaneamente, sem a constante fricção da autodisciplina, a constante batalha do ajustamento. (…) Precisais
senti-lo, pois podeis realizar o preenchimento da vida somente quando as vossas emoções bem como os vossos pensamentos agirem em harmonia. Quando viveis completamente na
harmonia de vossa mente e coração, então o vosso agir é natural, espontâneo, sem esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 130)

O ciúme, em quase todos nós, tornou-se um hábito e, como todo hábito, tem continuidade. Quebrar o hábito significa, meramente, estar cônscio do hábito. (…) Estar cônscio de um
hábito significa não o condenar, porém, simplesmente, observá-lo. (…) Nesse estado de total percebimento (…) descobrireis terdes eliminado completamente aquele sentimento
habitualmente identificado com a palavra “ciúme” (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 151)

É só a mente embotada, sonolenta, que cria o hábito e a ele se apega. A mente que está atenta momento a momento - atenta para o que ela própria está dizendo, atenta para o
movimento de suas mãos, de seus pensamentos, de seus sentimentos - descobrirá que se terá acabado a formação de hábitos. (…) A mente que se limita a freqüentar a igreja, a
recitar orações, que está apegada a dogmas ou que abandona uma seita para ingressar noutra, não é uma mente religiosa. (…) Religiosa é a mente livre, num estado de constante
“explosão”. (…) (Idem, pág. 158)

Um indivíduo é hinduísta, cristão, alemão, russo, suíço, americano, etc., com o respectivo conjunto de hábitos, do qual em geral está inconsciente. Como poderá o indivíduo ficar
cônscio desse condicionamento? Como podereis tornar-vos cônscio do inconsciente, onde se encontra essa imensa série de hábitos não revelados? Como podereis ficar cônscio do
padrão inconsciente que se acha profundamente enraizado em vós? Ireis procurar um psicanalista (…) para que ele vos “arranque” o padrão do inconsciente? Isso adiantará? Ou
vós mesmos vos analisareis? (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 163)

O importante é romper essa muralha de condicionamento, de hábito. E muitos de nós achamos que poderemos rompê-la por meio da análise, quer feita por nós mesmos, quer por
outrem; mas isso não é possível. A muralha do hábito só pode ser rompida quando a pessoa está completamente cônscia, sem escolha, negativamente vigilante. (Idem, pág. 164)

Existe um “método de quebrar o hábito”? Ora, método implica tempo, movimento de um ponto de partida para um ponto de chegada. Se virdes por vós mesmo que o tempo não vos
liberta do hábito e que, por conseguinte, os métodos e sistemas para nada servem, ficareis então frente a frente com a realidade, o fato de que vossa mente está enredada no hábito.
(…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 175-176)

E, então, que acontece? Não estais procurando modificar o hábito, não estais tentando quebrá-lo. Estais simplesmente em presença do fato de que vossa mente funciona na rotina
do hábito. (…) Se não tentardes alterá-lo, o próprio fato vos dará uma extraordinária energia, com a qual podeis quebrá-lo completamente. Compreendeis? (…) Por conseguinte,
vossa atenção é completa, toda a vossa energia se concentrou, e essa energia destroça totalmente o fato. (Idem, pág. 176)

Não sei se já vos observastes no ato de fumar. Com “observar-vos” quero dizer “estardes cônscio de cada movimento que fazeis”: como a vossa mão vai ao bolso, retira um
cigarro, coloca-o na boca, volta ao bolso para apanhar os fósforos, acende o cigarro, e como, então, “puxais umas fumaças” e atirais fora o fósforo. O importante é dar-vos conta
de todo esse processo, sem resistir-lhe, sem rejeitá-lo, sem desejardes ficar livre dele - estando, apenas, totalmente cônscio de cada movimento inerente ao hábito. (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155-156)

De modo idêntico, podeis estar cônscio do hábito da inveja, do hábito de adquirir, do hábito do medo; e então, observando, podereis ver o que está implicado nesse hábito. Vereis
instantaneamente tudo o que a inveja implica; mas não podereis ver tudo o que a inveja implica, se, na vossa observação da inveja, entrar o elemento tempo. (…) (Idem, pág. 156)

Pensamos que podemos libertar-nos da inveja gradualmente e esforçamo-nos por afastá-la pouco a pouco, introduzindo assim a idéia do tempo. Dizemos: “Tentarei livrar-me da
inveja amanhã, ou um pouco mais tarde” - e, entrementes, continuamos invejosos. (…) Ou quebramos um hábito imediatamente, ou ele continua existente, embotando gradualmente
a mente e criando novos hábitos. (Idem, pág. 156)

Pergunta: Como se pode pôr fim aos hábitos?

Krishnamurti: Se pudermos compreender, nos seu todo, o processo do hábito, talvez tenhamos a possibilidade de pôr fim à formação dos hábitos. Pôr fim a determinado hábito,
apenas, é relativamente fácil, mas o problema não fica resolvido. Todos temos vários hábitos, dos quais estamos ou não estamos cônscios; por conseqüência, devemos descobrir se
nossa mente se deixou apanhar na armadilha do hábito, e a razão por que cria hábitos. (Realização sem Esforço, pág. 68)

O nosso pensar não é, na maior parte, “habitual”? Desde crianças, nos têm ensinado a pensar numa certa direção, como cristãos, comunistas (…) e não ousamos desviar-nos dessa
direção, porque qualquer desvio, em si, representa temor. Assim, o nosso pensar é basicamente “habitual”, condicionado; nossa mente está funcionando dentro de rotinas fixas, e
naturalmente temos também hábitos superficiais, que procuramos suprimir. (Idem, pág. 68-69)

(…) Se estais agora investigando, procurando descobrir se vossa mente pensa sob a influência dos hábitos, (…) então qualquer hábito, como, por exemplo, o de fumar, terá
significação toda diferente. Isto é, se vos interessa investigar o processo do hábito, que se acha num nível mais profundo, sabereis atender ao hábito de fumar de um modo
completamente diferente. (Idem, pág. 69)

Estando bem claro para vós, interiormente, que desejais pôr fim não só ao hábito de fumar, mas ao inteiro processo de pensar pela rotina dos hábitos, já não lutais contra o
movimento automático de apanhar o cigarro, etc., pois sabeis que, quanto mais combatemos um hábito, mais vitalidade lhe damos. Mas, se estais atento e bem cônscio desse hábito,
sem combatê-lo, vereis que ele desaparecerá por si, no tempo próprio; a mente não está mais ocupada com ele. (…) (Realização sem Esforço, pág. 69)

A mente detesta a incerteza e necessita, portanto, dos hábitos como meio de segurança. Mas nunca está livre do hábito a mente que se sente segura, e, sim, só aquela que se acha em
completa insegurança. (…) A mente que se acha na mais completa insegurança, incerteza; que está sempre a investigar e a descobrir algo; que morre para cada experiência, cada
aquisição, e por conseguinte se acha sempre num estado de “não saber” - só essa mente pode ser livre do hábito. (Idem, pág. 70)

(…) A questão não é de acabar com o hábito, porém, antes, de ver totalmente a estrutura do hábito. Deveis observar como se formam os hábitos e como, pela rejeição de um hábito
ou pela resistência a ele, outro hábito se forma. O relevante é estardes totalmente cônscio do hábito; porque então, como vós mesmos vereis, já não há formação de hábitos. O
resistir ao hábito, o combatê-lo, ou rejeitá-lo, só pode dar continuidade ao hábito. (…) Mas, se ficais simplesmente cônscio de toda a estrutura do hábito, sem resistência nenhuma,
vereis então que estareis livre do hábito e que, nessa liberdade, ocorre uma coisa nova. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 158)

Podem-se quebrar hábitos, sem se criar outro hábito? Meu problema, por certo, não se refere à possibilidade de abandonar um hábito doloroso, ou de conservar um hábito
aprazível, mas sim à possibilidade de me tornar livre de todo o mecanismo formador de hábitos. (…) Isto é, posso quebrar, abandonar o pensamento, o padrão que se formou, que se
criou através de séculos, sem criar um novo padrão? É isso o que, em geral, gostamos de fazer. (…) Se sou hinduísta, quebro esse padrão e me torno comunista. (…) (Poder e
Realização, pág. 73)

(…) Por conseguinte, para eu poder ser livre de todos os padrões, torna-se necessária uma revolta isenta de qualquer incentivo e de qualquer idéia nova. Tal revolta é criadora;
esse estado é o “estado de criação”, é o estado puro, não adulterado, não corrompido; porque, aí, não há (…) esperança, (…) oposição, sujeição a nenhum padrão. (Idem, pág. 75)

A formação da idéia a que a mente se apega, a adesão a uma crença, um hábito, um prazer - tudo isso cria, (…) forma o molde em que a mente se aprisiona. (…) O pensamento é o
criador do padrão; o pensamento é sempre condicionado; (…) porque o que penso é resultado do meu acervo mental, e todo pensar é reação a esse fundo. A questão, pois, não é de
saber “como libertar-me de um padrão ou hábito de pensamento”, mas, sim, “se a mente pode ficar livre da criação de idéias.” (…) Só então há possibilidade de quebrar o padrão
e ficar inteiramente livre de todos os padrões. (Poder e Realização, pág. 75)

Em geral, não estamos nada cônscios de nossos hábitos e, por isso, eles se tornaram inconscientes. No momento em que vos tornais cônscio de um hábito, vós o “arrancastes” do
inconsciente (…) Mas, no momento em que me torno plenamente cônscio desse hábito e não lhe resisto, mas me limito a observá-lo, então foi ele “arrancado” do inconsciente. (O
Homem e seus Desejos em Conflito, lª ed., pág. 162-163)

Ora, é porque quase todos os nossos hábitos são inconscientes, que nós não os despedaçamos, não os “dinamitamos”. (…) A questão, pois, é de como estarmos cônscios,
plenamente cônscios de todos os hábitos “animalescos”. (Idem, pág. 163)

Forma Positiva, Negativa, de Pensar; Negação Global


O modo de vida a que estamos habituados é o que se chama de “modo positivo”, porque podemos experimentá-lo, praticá-lo (…) repetidamente, baseados na imitação, no hábito,
no seguir, no obedecer, no sermos treinados pela sociedade ou por nós mesmos. Tudo isso é atividade positiva, onde há conflito e aflição. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido,
pág. 149)

Primeiramente, gostaria de considerar isso a que se pode chamar “pensamento negativo”. Somos pouquíssimos os que pensamos negativamente, e o pensar negativo é a mais
elevada forma de pensamento; é ver o falso como falso, ver o que é verdadeiro no falso, e ver o que é verdadeiro na verdade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
181)

Só é possível a compreensão quando não há comparação, nem julgamento, porém a simples percepção do fato real; e essa percepção é pensar negativo. (Idem, pág. 191)

(…) Por pensamento positivo entendo a aceitação da experiência de outros, ou nossas próprias experiências, sem compreendermos a mente condicionada que pensa. Propriamente
falando, todo o nosso pensar está atualmente baseado no nosso background - a tradição, a experiência, o saber (…) acumulado. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 23)

O método positivo busca uma explicação para o problema, sua racionalização, a maneira de fugir-lhe ou de fazer a coisa para não ficar preso em sua rede. É o que fazemos em
nossa vida diária. A esse processo chamo “pensar positivo”; ele é uma reação ao problema. (O Passo Decisivo, pág. 70)

Examinaremos (…) Não estou empregando as palavras “positivo” e “negativo” em sentidos opostos. Os mais de nós pensamos positivamente, acumulamos, adicionamos; ou,
quando achamos conveniente, proveitoso, subtraímos. O pensamento positivo é imitativo, acomodatício, ajustando-se ao padrão da sociedade ou àquilo que deseja; (…) Para mim,
tal pensamento não conduz a parte alguma. (O Passo Decisivo, pág. 172)

Deveis ter notado que o intelecto está constantemente muito ativo, constantemente reagindo; o intelecto tem de reagir, senão morre. E, no seu reagir, ele cria “processos” positivos
a que chama “pensar”; e todos esses processos são defensivos, mecânicos. (…) (O Passo Decisivo, pág. 173)

Quando há atenção completa, nunca considerais coisa alguma com distração. (…) É no movimento positivo da mente que existe a distração, a fragmentação; mas quando a mente
nenhum movimento tem e, por conseguinte, é negativa (…) a vida não se fragmenta. (…) Mas só se pode compreender essa totalidade quando cessa todo movimento positivo da
mente. (A Mente sem Medo, pág. 73)

Mas o pensamento negativo não é o oposto do pensamento positivo; constitui um estado, um processo completamente diferente; (…) Pensar negativamente é desnudar a mente de
todo; (…) é quietar o intelecto, o repositório de reações. (O Passo Decisivo, pág. 172-173)

O mais importante é manter o intelecto plenamente desperto e sensível, sem reagir; por essa razão, considere necessário pensar negativamente. Poderemos depois apreciar isso (…)
mas (…) vereis que o pensamento negativo não implica esforço algum, ao passo que o pensamento positivo exige esforço; e esforço é conflito e implica consecução de objetivo,
repressão, contradição. (Idem, pág. 173)

(…) Assim como amor não é o oposto de ódio, assim também esse “negativo” não é o oposto de “positivo”, que é exame, análise, esforço para alterar o padrão existente ou para
ajustar-se a um padrão diferente. Tudo isso consideramos “positivo”; e o “negativo” de que falamos não é o oposto disso. Não é, tampouco, uma síntese. Síntese implica reunião
dos opostos, mas isso produz novo conjunto de opostos. O “negativo” de que falamos é a total rejeição dos opostos. (…) e só nesse estado de negação a mente pode ser “inocente”.
Essa é a mente verdadeiramente religiosa. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 93-94)

Estamos, pois, conscientes desse processo positivo (…) Percebemos esse fato distintamente (…); e começamos, assim, a compreender a beleza do movimento negativo - o movimento
negativo da mente, que não é o oposto de positivo, porém se torna existente quando a mente compreendeu o significado do movimento positivo. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 71)

Nossa mente, pois, já não está presa ao movimento positivo e se acha, por conseguinte, num estado de negação. Isto é, percebendo - não fragmentariamente, porém completamente -
o significado do movimento positivo, a mente já não está agindo, atuando; por conseguinte, encontra-se num estado que se pode denominar “negativo” (…) (Idem, pág. 71)

Que é “negativo” e que é “positivo”? (…) Ser guiado parece positivo, construtivo, e, aos que foram condicionados para seguir, a verdade de que seguir é uma coisa má, parece
negativa, destrutiva. A verdade é a negação do falso e não do oposto do falso. A verdade é de todo diferente do “positivo” e do “negativo”, e a mente que pensa em termos de
opostos nunca será capaz de percebê-la. (Reflexões sobre a Vida, pág. 204)

Para responder a essa pergunta de maneira completa, temos de pensar negativamente, porque o pensar negativo é a forma mais alta do pensar. O mero pensar positivo significa
ajustamento a um padrão, e, portanto, não é pensar - é a adaptação a uma idéia, e toda idéia é apenas produto da mente e, por conseguinte, irreal. (…) (A Arte da Libertação, pág.
179)

Ora, eu sinto que existe uma maneira negativa de proceder, a qual não é reação, nem o oposto do método positivo. (…) Para mim, tal maneira de proceder (formas de fuga) não nos
ajuda a libertar-nos do conflito. E eu acho que existe uma maneira que não é a maneira positiva, (…) porém, antes, um processo negativo de compreensão, e não de reação. (…) (O
Passo Decisivo, pág. 71)

O exame dessa questão requer não só o ato de escutar, mas também o ato de perceber, de ver. (…) Para ver uma coisa mui claramente, ver uma rosa, uma árvore ou seus problemas
pessoais, a pessoa deve olhar negativamente. “Olhar negativamente” uma coisa significa olhá-la sem permitir que seja deformada pelo preconceito, pela opinião, a experiência, o
saber - pois tudo isso impede-nos o olhar. (Encontro com o Eterno, pág. 36)

A humildade provém da negação e, sem humildade, não há entendimento. Na compreensão negativa começamos a perceber a possibilidade (…) de concórdia (…), de relações
superiores e de mais elevado pensar. Quando a mente está criadoramente vazia, e não quando se acha dirigindo positivamente, há realidade. As grandes descobertas, todas, nascem
dessa vacuidade criadora, que só pode ocorrer ao cessar a contradição própria. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 31)

Ao empregar os termos “positivo” e “negativo”, não o faço opondo um ao outro. Principiando a entender aquilo que chamamos de positivo, produto da ignorância, veremos surgir
daí uma segurança na negação. Procurando-se compreender a natureza contraditória (…) do “eu” e de “o meu”, com seus desejos e renúncias positivas, sua persecução e morte,
nasce a vacuidade tranqüila, criadora. Ela não é o resultado de ação positiva ou negativa, mas, sim, um estado isento de dualidade. Só quando a mente-coração está tranqüila,
criadoramente vazia, é que há realidade. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 31)

A capacidade de ver o todo deriva do ato de negar. Este não é o oposto do pensar positivo, visto que todo oposto contém o seu contrário. Portanto, o ato de negar não admite
oposto. Ao negar, o cérebro torna-se apto a perceber o todo e cessa de interferir, com suas condenações e resistências (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 103)

Mas, como é importante negar; negar sem desejar recompensa, negar sem alimentar a amargura e a esperança, nascidas da experiência e do saber. Negar é ficar só, sem ocupar-se
com o amanhã. Da destruidora revolta surge a inocência do ser. É fundamental ficarmos sós, livres de qualquer padrão, (…) método, (…) experiência, único meio capaz de libertar
a consciência do jugo do tempo. Nesse estado, se eliminam, pela compreensão, todas as formas de influência, fazendo-se cessar o movimento temporal do pensamento. A negação do
tempo é a essência da eternidade. (Diário de Krishnamurti, pág. 67)

Assim, que se deve fazer? Dissemos que a reação do “velho cérebro” é imitativa, que nada do que ele faz constitui solução. E a essa reação do passado é que chamamos de
atividade positiva da vida - a qual só gera mais confusão e mais conflito. (…) Em conseqüência, toda ação positiva tem de cessar de todo; isso significa que o velho cérebro tem de
ficar num estado completamente negativo, quer dizer, completamente quieto. (…) O velho cérebro só pode quietar-se observando suas atividades à luz de seu próprio percebimento.
(…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 49)

Após investigar (…) Ora, quando a mente se acha num estado de completa negação, podeis abeirar-vos de todos os vossos problemas de maneira nova, e ver que podem ser
resolvidos total e completamente; porque foi a própria mente que esteve criando o problema. Esteve tratando de cada problema separadamente, fragmentariamente (…) Mas,
quando a mente está toda quieta, negativamente vigilante, não tem problemas de espécie alguma. (O Descobrimento do Amor, pág. 135-136)

E o novo só pode surgir da negação e não da asserção positiva do que foi. E só pode tornar-se existente o novo quando há aquele vazio total, que é o amor real. Descobrireis então,
por vós, mesmo, o que é ação isenta de conflito (…); essa é a renovação de que a mente necessita. Só quando a mente se tiver renovado por meio do amor, o qual é a total negação
(isenta de sentimentalismo, devoção ou obediência) da maneira de vida ditada pelo pensamento positivo, só então poderá ela construir um novo mundo, um novo estado de relação.
E só então estará capacitada para ultrapassar todas as limitações e ingressar numa dimensão totalmente diferente. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 152)

O inconsciente, que é “o oculto”, tem de ser considerado negativamente. Entendeis o que quero dizer com “método negativo” e “método positivo”? Quando temos um problema, a
maioria de nós a ele se aplica positivamente, e isso significa que procuramos modificar “o que é”, de acordo com certo padrão. Como somos pessoas “positivas”, nossa maneira de
considerar o inconsciente é também positiva (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 130-131)

Estar cônscio de uma coisa negativamente - como, por exemplo, o agitar-se daquela cortina ou o murmúrio daquele ribeiro - é olhá-la e escutá-la sem resistência, sem condenação,
sem rejeição. Do mesmo modo, é possível ficarmos cônscio, “sem escolha”, da totalidade do inconsciente - e esse é o percebimento negativo. Mas esse estado de negação não é o
oposto do “positivo”; nada tem que ver com o positivo, porquanto não é uma reação. (Idem, pág. 131)

Rejeitar a experiência e o conhecido é penetrar no desconhecido. É de efeito imediato, explosivo, o negar; não se trata de mero exercício intelectual (…) No próprio ato de negar há
energia, a energia da compreensão, que jamais cede diante do medo e do conformismo. (Idem, pág. 67-68)

É devastadora a negação; ela não mede conseqüências, nem exprime uma reação, não sendo, assim, o oposto da afirmação. Asseverar, no sentido positivo ou negativo, ainda é
reação, que não significa negar. Na contestação não há escolha e, portanto, ela não surge do conflito. A libertação do conhecido decorre da completa negação do pensamento, da
idéia e da palavra. Nasce o amor da total recusa à sentimentalidade e à emoção. O amor transcende o pensamento e o sentimento. (O Diário de Krishnamurti, pág. 68)

Assuntos Específicos I
Condicionamento; Velho, Apego, Expansão, Acúmulo
Nossa mente está condicionada pela moderna educação, pela sociedade, pela religião, pelos conhecimentos e pelas inúmeras experiências que temos acumulado; foi moldada não
só pelo ambiente, mas também pelas nossas reações a esse ambiente e a várias formas de relação. (Visão da Realidade, pág. 140)

(…) Se uma pessoa está cônscia, por pouco que seja, do seu próprio pensar, poderá ver que a mente condicionada, por mais esforços que faça, só poderá modificar-se dentro do seu
próprio condicionamento, e tal modificação, evidentemente, não é revolução. (…) Todo desafio é necessariamente novo e, enquanto a mente está condicionada, só corresponde ao
desafio em conformidade com o seu condicionamento; dessa maneira, nunca pode haver uma reação adequada. (Idem, pág. 140)

Pois bem. Todos sabemos que há atualmente uma grave crise no mundo - pobreza inaudita e constante ameaça de guerra. (…) Nosso pensar é obviamente condicionado; sempre
reagimos a qualquer desafio como hinduístas, maometanos, comunistas, socialistas, cristãos, etc., e tal reação é, fundamentalmente, inadequada; daí vem o conflito, não só
individual, mas também entre grupos, raças e nações. (…) (Idem, pág. 140-141)

(…) Os entes humanos estão condicionados; seus padrões de conduta, seus pontos de vista, suas atividades, sua agressividade, seus contraditórios estados mentais - ódio e amor,
prazer e dor, desespero e esperança - a batalha constante (…) no campo da consciência, a invenção de deuses, crenças, seitas - tudo isso é produto da mente condicionada. Nossas
nacionalidades, as divisões entre pessoas, raças, etc., tudo isso é resultado da educação que recebemos e da influência da sociedade. (…) (A Libertação dos Condicionamentos, pág.
38)

Não é o condicionamento inevitável - (…) no sentido de que se verifica continuamente? Condicionais os vossos filhos como budistas, sinhaleses, tamilianos, ingleses, chineses,
comunistas, etc. Há um constante martelar de influências - (…) econômicas, climáticas, sociais, políticas, religiosas, atuando sem cessar. (…) A mente é o passado, e o passado é a
tradição, a moral. Vossa mente, pois, está condicionada; essa mente condicionada atende ao desafio, ao estímulo, e reage, invariavelmente, de acordo com o seu condicionamento,
e é isso o que gera um problema. (Nosso Único Problema, pág. 71)

Por conseguinte, sempre que a mente condicionada enfrenta um estímulo, cria um problema, porquanto é sempre inadequada a reação de uma mente condicionada. (…) O problema
é sempre novo, o desafio, sempre novo; desafio implica coisa nova, do contrário não seria desafio. A mente condicionada, portanto, enfrentando o desafio, cria um problema, do
qual resulta conflito. (Idem, pág. 71-72)

Pelo que estamos lutando? (…) Um aspira, porventura, ao preenchimento e ao bom êxito, outro à riqueza e ao poder, outro à fama e à popularidade; desejam uns, talvez, acumular,
e outros renunciar; (…) Para nos libertarmos das confusões e das misérias existentes em nós e ao redor de nós, devemos estar cônscios de nossos desejos e tendências (…) (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 185-186)

(…) Por estarmos, na maioria, condicionados por influências sociais, econômicas, religiosas, etc., somos copistas, imitadores, e por isso não ligamos importância ao que é novo,
chamamo-lo revolucionário (…) Mas se pudermos examiná-lo, se o observarmos com inteira isenção de preconceitos, de limitações, então talvez seja possível compreender-nos
mutuamente e comungar uns com os outros. Só há comunhão quando não existe barreira alguma; (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 115-116)

Estamos dizendo que o condicionamento se verifica não só culturalmente, no sentido da religião, da moral social, etc., mas mediante o próprio conhecimento. Será possível ensinar
aos alunos e a nós mesmos a libertar a mente do conhecimento e, apesar disso, a usar o conhecimento sem obrigar a mente a funcionar de modo mecânico? (…) (O Começo do
Aprendizado, pág. 157)

Nós como seres humanos vivemos nesta bela terra, que está sendo aos poucos destruída, (…) - não indiana, não britânica ou americana - temos de viver inteligentemente, com
felicidade; mas isso aparentemente não é possível, porque estamos condicionados. Esse condicionamento é como um computador; estamos programados. Estamos programados
para ser hindus, muçulmanos, cristãos, católicos, protestantes. (…)

Portanto, nosso cérebro está profundamente condicionado e estamos perguntando se é possível ficarmos livres desse condicionamento. A não ser que estejamos totalmente,
completamente, livres de tal limitação, o simples inquirir ou perguntar qual é o novo instrumento, que não é o pensamento, carece de significação. (Mind Without Measure, pág.
77-78)

Como dissemos, estamos programados. O cérebro humano é um processo mecânico. Nosso pensamento é um processo materialista, e esse pensamento tem sido condicionado para
pensar como budista, hindu, cristão, etc. Portanto, nosso cérebro está condicionado. É possível ficar livre do condicionamento? Há os que dizem que não, porque (…) como pode
esse condicionamento ser completamente erradicado, de forma que o cérebro humano possa tornar-se extraordinariamente purificado, original, de infinita capacidade?

Muitas pessoas admitem isso, mas ficam satisfeitas em meramente modificar o condicionamento. Porém estamos dizendo que esse condicionamento pode ser examinado, observado,
e pode haver total libertação do mesmo. Para descobrir por nós mesmos se é possível, ou não, temos de inquirir sobre nossas relações. (Idem, pág. 78)

Em geral temos um problema, tendemos a preocupar-nos com ele, a fragmentá-lo, analisá-lo, achar uma fórmula para resolvê-lo. E o pensamento, como se pode observar, é sempre
reação do velho; portanto, nunca é novo, e o problema, entretanto, é sempre novo. Traduzimos o novo, o problema, em termos de pensamento, mas o pensamento é velho (…) (A
Essência da Maturidade, pág. 12)

(…) Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do que é velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. Assim, pois, para descobrir o novo, o
eterno (…), necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta, (…) que não vise a um resultado (…) não interessada em “vir-a-ser”. (…) (O Que te fará Feliz, pág. 129)

A palavra “apegar-se” significa pegar, agarrar, ter a sensação de que você pertence a alguém e de que alguém pertence a você. Cultivar o desapego dá origem à falta de afeição, à
frieza, (…) desenvolve o sentimento oposto (…) O desapego é um não-fato, enquanto o apego é um fato. (…) Quando há apego, cultivar o desapego e um movimento rumo à ilusão e
você se torna frio, duro (…) (Perguntas e Respostas, pág. 120)

Se estamos cônscios de que estamos apegados, vemos todas as conseqüências desse apego - ansiedade, falta de liberdade, ciúme, ira, ódio. No apego há também uma sensação de
segurança (…) E, assim, há o possuidor e o possuído (…) Estou apegado a você do fundo de minha solidão e esse apego (…) diz: “Eu amo você” (…) (Idem, pág. 121)

Você pode estar apegado a uma experiência, a um incidente, uma grande sensação de orgulho, (…) de poder, (…), de segurança (…) Se você percebe tudo isso, sem que ninguém
lho diga, sem nenhum motivo, (…) então você verá que o insight revela a coisa toda como num mapa. Havendo esse insight, a coisa desaparece completamente e você não está mais
apegado. (Idem, pág. 121)

Por que somos tão apegados a alguma coisa, nossos haveres, pessoas, idéias, crenças? (…) Não há um sentimento de temor, se não estamos apegados a alguma coisa? Se não estou
apegado a meu amigo, a uma idéia, uma experiência, um filho, irmão, mãe, esposa morta? (…) (Transformação Fundamental, pág. 14-15)

Vede, (…) eu sou apegado; meu apego resulta de temor, de variadas formas de solidão, de vazio, etc. (…) Quando a mente está assim vigilante, cônscia, pode então perceber o
inteiro significado do apego. Mas, não se pode discernir todo o significado interior do apego, se há qualquer forma de condenação, comparação, julgamento, avaliação. (Idem, pág.
15)

(…) O sexo, a bebida, a fama, a idolatria, com toda a sua complexidade; o desejo de autopreenchimento seguido da inevitável ambição e frustração; busca de Deus, da
imortalidade. Todas essas formas de íntimas exigências geram o apego, que é a origem do medo, do sofrimento e da dor da solidão. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 65)

É possível liberta-se do “eu”? (…) Em outras palavras: é possível ser totalmente livre de apegos - o que é um dos atributos, uma das qualidades do “eu”? As pessoas são apegadas
à própria reputação, ao próprio nome, às próprias experiências. (…) Se você quer realmente libertar-se do “eu”; isso significa ausência de laços; o que não quer dizer que você se
torne desinteressado, indiferente, insensível (…) (Perguntas e Respostas, pág. 11)

Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade egocêntrica, não só no nível das relações sociais, mas também no nível psicológico. É essa atividade do “eu”
que está causando males e sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais como em nossa existência como grupo e como nação. E só podemos pôr fim a tudo isso se
compreendermos inteiramente o processo do nosso pensar. (…) (Claridade na Ação, pág. 46)

São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é afirmação do “eu”, tal como o é a imitação. Chegar a uma conclusão é levantar o indivíduo uma muralha ao redor de si
mesmo (…) Uma mente oprimida pela acumulação é incapaz de acompanhar o célere movimento da vida, incapaz de uma vigilância profunda e flexível. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 249-250)

Interiormente, psicologicamente, todo o processo da memória, que é acumulação de experiência, de conhecimentos, é um meio pelo qual o “eu”, o “ego”, pode achar segurança e
perpetuar-se. (…) Pode haver, porém, preenchimento para o ego? (…) Certo, o “eu” é só uma idéia, não tem realidade.

O “eu” que busca a prosperidade, riqueza, posição, prazer, o “eu” que está sempre evitando a dor, que se esforça (…) para aumentar, vir-a-ser - essa entidade não é mais do que
uma idéia, um desejo que se identificou com dada forma de pensamento. (…) (Percepção Criadora, pág. 117)

Nessas condições, a liberdade, ou a verdade, ou Deus, é o aliviar da mente, que é, ela própria, inteligência, do fardo da memória. Já vos expliquei o que entendo por memória, (…)
a carga imposta à mente pela consciência do “eu” (…) A imortalidade não é a perpetuação dessa consciência do “eu”, mero resultado de um ambiente falso, mas a liberdade da
mente aliviada do fardo da memória. (A Luta do Homem, pág. 64)

Permiti-me (…) Não é certo que, por muitas de nossas ações, estimulamos, de maneira positiva, a expansão do “ego”? Nossa tradição, nossa educação, nosso condicionamento
social, tudo isso sustenta (…) as atividades do “ego”. Essa atividade positiva pode assumir forma negativa: não ser coisa alguma. Nossa atuação é, pois, sempre uma atividade
positiva ou negativa do “ego”. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 188)

O ansiar não é a raiz do “ego”? Como pode o pensamento, que se tornou o veículo da expansão pessoal, agir sem alimentar o “ego”, a causa do conflito e da dor? (…) Nutrimos o
“ego” por muitas maneiras e, (…) devemos compreender o seu significado. (…) Servimo-nos da religião e da filosofia como instrumentos da expansão do “ego”; nossa estrutura
social está baseada no engrandecimento do “ego” (…) (Idem, pág. 189-190)

O esclarecimento, a compreensão do Real, não poderá vir nunca pela expansão do “ego”, por um esforço realizado pelo “ego” no sentido de crescer, vir-a-ser, alcançar algo (…)
A consciência individual é produto da mente e a mente é resultado de condicionamento, de anseios, sendo, portanto, a sede do “ego”. Só depois de cessar a atividade do “ego”, da
memória, apresenta-se um consciência totalmente diferente (…) Essa consciência, por mais que venha a expandir-se, prende-se ao tempo e por isso não se encontra nela o
Atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 200)

Nessas condições, essa atividade expansiva do “ego”, essa inteligência, por mais atenta, por mais capaz e diligente que seja, não pode ultrapassar a própria escuridão e alcançar a
Realidade. Essa inteligência não pode, em tempo algum, resolver os seus conflitos e tribulações, porquanto estes resultam da atividade dela própria. É incapaz essa inteligência de
descobrir a Verdade (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 259)

(…) Quando observamos o que se passa em nossas vidas e no mundo, percebemos que a maioria de nós, por métodos sutis ou grosseiros, ocupamo-nos da expansão do “ego”.
Almejamos expansão pessoal (…); para nós, a vida é um processo de contínua expansão do “ego”, por meio do poder, da riqueza, do ascetismo ou da prática da virtude (…)
Estamos sempre a lutar dentro das grades do “ego” (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 186)

(…) Estamos condicionados, mas pode o pensamento ultrapassar as próprias limitações? Só o pode se estivermos cônscios de nosso condicionamento. Desenvolvemos certa
qualidade de inteligência, em nossa atividade de expansão pessoal: com a nossa avidez, (…) o nosso instinto aquisitivo, (…) os nossos conflitos e penas; criamos uma inteligência
voltada à proteção e à expansão do “ego”. Pode essa inteligência compreender o Real, o único capaz de resolver todos os nossos problemas? (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 201)

O que é conhecido não é o Real. Nosso pensamento está ocupado numa constante busca de segurança, de certeza. A inteligência que promove a expansão do “ego” busca, por força
de sua própria natureza, um refúgio, seja pela negação seja pela afirmação. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 264)

(…) O essencial é sabermos se essa inteligência que foi cultivada na expansão do “eu”, é capaz de perceber ou descobrir a verdade; ou existirá outra espécie de atividade, (…) de
percepção capaz de receber a verdade? Para descobrir a verdade, é necessário estarmos livres da inteligência que está ligada à expansão do “ego”, porquanto esta é sempre
circunscritiva, sempre limitante. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 201)

Acreditamos que, acumulando conhecimentos e experiências, estaremos capacitados para compreender a vida com todas as seu lutas complexas. (…) Com essa carga do passado,
não nos é possível ver as coisas diretamente; (…) Nunca enfrentamos coisa alguma de maneira nova, mas sempre em conformidade com o “velho” (…) (Percepção Criadora, pág.
100)

(…) Nosso pensamento-sentimento está colhido no processo horizontal do “vir-a-ser”; o que vem a ser está sempre acumulando, sempre adquirindo, sempre sempre a expandir-se.
O “ego”, o que vem a ser, o criador do tempo, jamais pode conhecer o Atemporal. O ego (…) é a causa do conflito e do sofrimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 176)

(…) Nós acumulamos as lembranças psicológicas e a elas nos apegamos, dando assim continuidade ao “ego”; conseqüentemente, o ” ego”, o passado, cresce continuamente, pois
está sempre acrescentando algo a si próprio. E essa memória cumulativa, o “ego”, que cumpre desaparecer;(…) enquanto a pensamento-sentimento continuar a vir-a-ser não
poderá conhecer a bem-aventurança do Real. (…) (Idem, pág. 179)

Identicamente, acumulamos conhecimentos na esperança de que nossa pequenina mente será ampliada e sua superficialidade superada, graças à acumulação cada vez maior de
erudição e saber. Mas pode o saber libertar a mente (…)? O saber, pois, se torna um obstáculo, em vez de ser um “processo” libertador. (Viver sem Temor, pág. 52) Se deseja um
indivíduo compreender um problema vital, não deve pôr à margem as sua tendências, preconceitos, temores e esperanças, o seu condicionamento, e ficar vigilante, simples e
diretamente? (…) Essa auto-revelação é de grande importância, porquanto nos desvendará o processo de nossos pensamentos-sentimentos. Devemos penetrar profundamente em
nós mesmos, para acharmos a verdade” (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 200-201)

(…) Você diz que o instrumento se aperfeiçoa por meio do pensamento. Para mim o enfoque tradicional de aperfeiçoar o instrumento pelo ato de pensar e assim ir mais além do
pensamento, e o ato de cultivar a inteligência e ir mais além do tempo, tudo isso continua na área do pensamento. (…) Portanto, nesse mesmo pensamento está o pensador. (…)
(Tradición y Revolución, pág. 36)

(…) Se aprendo com o fim de adquirir conhecimentos com base nos quais vou atuar, essa ação se torna mecânica. Porém, quando aprendo sem acumular - o que significa perceber,
escutar sem adquirir - a mente está sempre vazia (…) (Tradición y Revolución, pág. 48)

Pode a mente vazia estar alguma vez condicionada, e, se é assim, por que se condiciona? Uma mente que na verdade está escutando, pode alguma vez ser condicionada? Sempre
está aprendendo, sempre se acha em movimento. (…) Esse movimento não pode ter um começo e um fim. É algo vivo, jamais condicionado. Uma mente que adquire conhecimento
para funcionar é uma mente condicionada por seu próprio conhecimento. (Idem, pág. 48)

E o que nós dizemos é por completo diferente; dizemos que esse condicionamento pode ser totalmente erradicado para que o homem seja livre. (…) Vamos ver se esse
condicionamento - que está tão profundamente enraizado nos esconderijos da mente, e que também está ativo na superfície - pode ser compreendido de tal modo que o homem se
liberte de toda dor e ansiedade. (La Llama de la Atención, pág. 82)

Como quase todos nós estamos inconscientes do nosso condicionamento, não é essencial, antes de tudo, que nos tornemos cônscios dele? (…) Ora, é óbvio que são justamente essas
crenças e dogmas que criam inimizade entre os homens (…) (Viver sem Temor, pág. 23)

(…) O libertarmo-nos de todo condicionamento não significa procurarmos um condicionamento melhor. Acho que essa é a parte essencial da questão, porque só quando a mente
não está condicionada é ela capaz de resolver o problema do viver, como um processo total e não apenas num dado nível, num segmento da existência. (Idem, pág. 24)

Vendo-nos condicionados, inventamos um agente divino que, como piamente acreditamos, irá libertar-nos desse estado mecânico. (…) Assim, sentindo-nos incapazes de nos
descondicionarmos neste mundo, (…) pensamos que a liberdade se encontra no céu, em Moksha, no Nirvana. (…)

Atualmente os psicólogos estão também lutando para resolver este problema - e condicionam-nos mais ainda. Assim, os especialistas religiosos nos condicionaram, a ordem social
nos condicionou, a família (…) nos condicionou. Tudo isso é passado, que constitui todas as camadas claras e ocultas da mente (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 120-130)

(…) E podemos conhecer nosso condicionamento, nossas limitações, nosso background, sem procurar forçá-lo ou analisá-lo, sublimá-lo ou reprimi-lo? Pois tal processo implica a
entidade que observa e se separa da coisa observada (…) Enquanto houver observador e coisa observada, o condicionamento tem de continuar. Por mais que o observador, o
pensador, o censor, lute para livrar-se de seu condicionamento, continuará preso nesse condicionamento, uma vez que a divisão entre “pensador” e “pensamento”,
“experimentador” e “experiência”, é o próprio fator que perpetua o condicionamento; (…) (Realização sem Esforço, pág. 42)

Todos estamos condicionados - como ingleses, russos, hinduístas, cristãos, budistas (…) Somos moldados pela sociedade, pelo ambiente; nós somos o ambiente. (…) A totalidade do
condicionamento da mente é o “conhecido”, e esse condicionamento pode ser quebrado, mas não por meio de análise. Só pode ser quebrado quando considerado de maneira
negativa, e essa maneira negativa não é oposto da positiva. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 93)

Background, “Torre do Eu”, Centro, Muralha, Preconceitos


Embora seja difícil demonstrar como a mente funciona na realidade, vou tentar fazê-lo; e podeis “experimentar”, e ver por vós mesmos. Sabemos que o pensar é uma reação do
fundo de condicionamento” (background). Pensais como hinduísta, como parse, (…) não apenas no vosso pensar consciente, mas também no pensar inconsciente. Vós sois o
background, não sois separado, pois não há pensador separado do background; e a reação desse background é o que chamais pensar. (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 179).

Esse background, quer culto, quer inculto, instruído ou ignorante, está sempre correspondendo a algum desafio, a algum estímulo, e essa reação cria não apenas o chamado
presente, mas também o futuro. Tal é o nosso processo de pensar. (Idem, pág. 179)

(…) O que eu digo é que a experiência baseada no conhecimento, no nosso background, é meramente o prolongamento desse fundo e, por conseguinte, não é experiência nova. (…)
Só posso reagir ao desafio de maneira nova quando a minha mente compreendeu o background e dele se libertou. (…) (O Homem Livre, pág. 44)

(…) Quando pensais, o vosso pensar é, por certo, resultado do passado, do vosso condicionamento, da vossa crença, do vosso fundo consciente e inconsciente. De acordo com vosso
background reagis, e essa reação é chamada pensar; e por meio desse pensar quereis resolver os vossos problemas. E achais que, quanto mais adquirirdes, (…) mais acumulardes
experiência, tanto maior se vos tornará a capacidade de atender ao problema e resolvê-lo. (Viver sem Temor, pág. 68)

Vejamos agora a relação entre o educador e o educado. Será que o professor, consciente ou inconscientemente, mantém um sentimento de superioridade, colocando-se num
pedestal e fazendo o aluno sentir-se inferior, como alguém que tem de ser ensinado? Nesse caso, evidentemente, não há relacionamento. (Cartas às Escolas, I, pág. 24)

O pensar, sem dúvida, é uma reação. Se vos faço uma pergunta, a essa pergunta vós reagis; reagis de acordo com vossa memória, vossos preconceitos, vossa educação, (…) com
todo o fundo do vosso condicionamento; e em conformidade com tudo isso vós respondeis, pensais (…) O centro desse fundo é o “eu” com sua atividade (…) (A Renovação da
Mente, pág. 10-11)

A mente age sempre de um ponto em que está ancorada (…); mas há sempre um centro de onde ela age. Está ela sempre ligada a um ponto, que é o “eu”. O “eu” é a idéia. (…) A
mente, pois, está amarrada, ancorada, ligada a um background, a uma tradição, à memória; essa mente jamais poderá resolver o problema totalmente. A investigação, pois, deve
visar a como libertar a mente do “eu”, do seu background (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 25)

Por conseguinte, a mente não é um estado fixo. Nossos pensamentos são transitórios, modificando-se incessantemente; são a reação proveniente do background. Se fui criado em
certa classe social, certo meio cultural, reagirei a todos os desafios e estímulos de acordo com meu condicionamento. Na maioria de nós esse condicionamento tem raízes tão
profundas que a reação é quase sempre de acordo com o padrão. Nossos pensamentos são a reação do background. Nós somos o background. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 92)

Que é o centro? O centro é o “eu” - o “eu” que deseja ser pessoa importante, que tem tantas conclusões, temores e motivos. É partindo desse centro que pensamos, mas esse centro
foi criado pela reação do pensar. Pode, pois, a mente perceber o pensar, sem tal centro - observá-lo apenas? Vereis quanto é difícil olhar uma flor sem lhe dar nome, sem
compará-la com outras flores, sem avaliá-la conforme vos agrade ou desagrade. Experimentai (…) (Verdade Libertadora, pág. 40)

(…) O centro é um feixe de recordações, (…) de tradições, e esse centro tem sido originado pela tensão, pelas pressões e influências. O centro é resultado do tempo, (…) da cultura -
(…) hindu, muçulmana, etc. E esse centro (…) tem um espaço exterior a ele (…) E por causa do movimento tem também um espaço dentro dele. Se não houvesse movimento, não
haveria espaço. Careceria de existência. (…) Para expressá-lo de outro modo, o centro é a consciência. Ou seja, esse centro possui limites que ele reconhece como o “eu”. Ele trata
de estender esse espaço, que ele percebe como consciência, a fim de ampliá-lo mais e mais (…) (Tradición y Revolución, pág. 62)

O centro, evidentemente, é criado pela cultura em que vivemos, por nossas memórias e experiências condicionadas, por nossa própria fragmentação. (…) Pode esse centro
ultrapassar as fronteiras que ele próprio criou? Pode esse centro, silenciando a si próprio, controlando-se, meditando, seguindo um padrão, “explodir” e “ir além”? Não pode, de
certo. (…) (A Questão do Impossível, pág. 169)

Pergunta: Como surge esse centro? Porque tenho esse centro, criei o outro centro.

Krishnamurti: Estou chegando lá. No estado de observação, o centro cria o outro centro. Dessa forma, o problema global de relação aparece e, por conseguinte, a dualidade, os
conflitos, a tentativa de superar a dualidade. É o centro que cria essa divisão. Vê-se isso no estado de observação, porque há um centro e sua relação estará sempre dividida.
Divisão é espaço e tempo, e, onde há tempo e espaço como divisão, deve inevitavelmente haver conflito. Isso é simples, claro. Vê-se assim que, durante o estado de observação, o
que está acontecendo durante todo o tempo é ajustamento, comparação, violência, imitação. Quando o centro vai dormir, ele mantém a divisão, mesmo quando está dormindo.
(Exploration into Insight, pág.119)

É o centro, como pensador, como censor, que gera o tempo e, por conseguinte, o centro é a fonte da desordem. Não é o pensamento que cria a desordem, porém o centro, o censor,
o pensador, constituído através do tempo. E enquanto existir esse censor, esse centro, esse “fabricante” de esforço, não terá fim o medo. (O Descobrimento do Amor, pág. 148)

(…) Mas, se examinardes com (…) atenção, vereis que foi o pensamento que criou o pensador. O pensador, que dirige, que é o centro, o juiz, é produto dos nossos pensamentos. (…)
A maioria das pessoas está condicionada para crer que o pensador é separado do pensamento, atribuindo ao pensador a qualidade de eterno; (…) (Verdade Libertadora, pág. 39)

(…) Quando alguém desenvolve destreza em algo, isso proporciona certo sentimento de bem estar, de segurança. Essa destreza, nascida do conhecimento, em sua ação se torna (…)
mecânica. (…) Vivendo nesse campo todo o tempo (…) tal conhecimento e destreza se tornam não só acumulativos senão que terminam por constituir um processo mecânico e
reiterativo que, pouco a pouco, adquire seus próprios incentivos, sua própria arrogância e poder. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 214)

Atualmente, a sociedade nos exige mais e mais destreza - quer seja em um engenheiro, um tecnólogo, um cientista, um psicoterapeuta, etc., etc. - porém há grande perigo em buscar
essa destreza que provém dos conhecimentos acumulados, porque nesse crescimento não há lucidez. Quando a destreza se torna sumamente importante na vida, (…) então a
destreza produz invariavelmente certo sentimento de poder, arrogância e vaidade. (Idem, pág. 214)

Sem lucidez, a destreza chega a ser uma das coisas mais destrutivas na vida - que é o que está sucedendo no mundo; o homem pode ir à lua (…), porém isso não é algo que surja da
clareza; podemos matar-nos uns aos outros em guerras resultantes do extraordinário desenvolvimento da tecnologia, tendo tudo isso origem no movimento do pensar; e o
pensamento não é iluminado. O pensamento jamais pode compreender aquilo que é total, imensurável, atemporal. (La Totalidad de la Vida, pág. 215-216)

Vamos, por um momento, (…) contemplar o mundo (…) Vedes o homem aprisionado por muralhas inumeráveis, muralhas de religião, de limitações sociais, políticas e nacionais,
muralhas criadas pelas suas próprias ambições, aspirações, temores, esperanças, precauções, preconceitos, ódio e amor. Dentro dessas barreiras, está ele cativo, limitado (…)
pelos antagonismos raciais, (…) lutas de classe e distinções de grupos culturais.

Vede o homem (…) aprisionado, enclausurado pelas limitações, pelas muralhas que ele próprio criou. Por meio dessas muralhas e (…) dessas clausuras, procura ele expressar o
que sente e o que pensa, e dentro delas ele atua (…) (A Luta do Homem, pág. 92)

Como é que surge então esse muro de resistência, de divisão e de separação? Em tudo que fazemos, em todas as nossas relações, por muito íntimas que sejam, há essa divisão, a
criar confusão, sofrimento e conflito. Como é que aparece essa barreira? Se somos realmente capazes de compreender isso - não verbalmente, não intelectualmente, mas capazes de
vê-lo e senti-lo de fato - descobrimos que a barreira deixa então de existir. (O Mundo Somos Nós, pág. 115)

O muro surge, por certo, mediante o mecanismo do pensamento. Não? Antes de se pronunciarem, observem, apenas observem o pensamento. Se não houvesse pensamento acerca da
morte, não se teria medo dela. Se não fôssemos educados como cristãos, católicos, protestantes, hindus, budistas; (…) se não estivéssemos condicionados pela propaganda, pelas
palavras, pelo pensamento, não teríamos barreira alguma. (…) Com as suas atividades egocêntricas, o pensamento cria não só o muro, mas também a nossa própria atividade
dentro do nosso muro. (Idem, pág. 115-116)

Assim, o pensamento gera tanto o prazer como o medo. Não se pode ter o prazer sem o medo: ambos andam juntos porque são filhos do pensamento. E o pensamento é o filho estéril
de uma mente que apenas se preocupa com o prazer e com o medo. (…) (Idem, pág. 116)

Do mesmo modo, ver inteligentemente toda essa estrutura, a natureza dessa divisão, o conflito, a luta, o sofrimento, o egocentrismo - ver realmente o seu perigo significa o seu fim
(…) (Idem, pág. 117)

Vedes o homem aprisionado por muralhas inumeráveis, muralhas de religião, de limitações sociais, políticas e nacionais, muralhas criadas por suas próprias ambições, aspirações,
temores, esperanças, precauções, preconceitos, ódio e amor. Dentro dessas barreiras está ele cativo, limitado (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 92)

Nessas condições, carecendo dessa inteligência criadora que é a compreensão do ambiente, começa o homem a entreter-se dentro das muralhas da prisão, (…) a embelezá-la e
decorá-la, para tornar confortável a sua situação dentro de suas muralhas; (…) (A Luta do Homem, pág. 100)

(…) A esse embelezar, reformar, entreter-se, a essa busca de conforto dentro das muralhas da prisão, ele chama viver, atuar, agir. E como não existe aí inteligência nem êxtase
criador, está ele fadado a ser sempre esmagado pela falsa estrutura que ergueu. (…) (Idem, pág. 100)

(…) A liberdade deve ser procurada com diligência. Libertai-vos dos que se dizem salvadores, mestres, guias; libertai-vos das muralhas egocêntricas do bem e do mal; libertai-vos
de autoridades e modelos; libertai-vos do ego, o causador de conflito o sofrimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 166)

Não é importante descobrir a maneira de escutar? (…) Escutamos por detrás de várias cortinas de preconceitos, examinando o que se diz como hinduísta, (…) muçulmano, (…)
cristão, com uma opinião já formada. (…) Ouvimos com a intenção de concordar ou discordar, ou (…) predispostos à argumentação; não ouvimos com o propósito de descobrir. A
mim me parece importantíssimo saber ouvir, (…) ler, ver, observar (…) (O que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 115)

A maioria de nós é alimentada com certos preconceitos, tradições,temores, forçada pelo ambiente a seguir e obedecer, e pensamos e agimos a partir dessa base. (…) E desse centro
inconsciente começamos a pensar, sentir e agir. Todas as nossas ações (…) tornam-se, naturalmente, cada vez mais limitadas, (…) estreitas, (…) condicionadas.

Assim, o ser inconsciente, aqueles pensamentos e sentimentos habituais que não havemos discutido ou compreendido, estão sempre pervertendo, intrometendo-se e obscurecendo as
ações conscientes. Se não compreendermos e não nos tornarmos livres desse fundo de idéias com as quais crescemos (…), esses preconceitos (…) temores, intervirão no ser
consciente, limitando-o. (…) (Coletânea de Palestras, pág. 64-65)

Isso é realmente muito simples (…) Se, por exemplo, o indivíduo é educado na tradição e no nacionalismo, essa atitude inevitavelmente tem de criar barreiras na ação. A
mente-coração, estreitada e limitada (…) pelos preconceitos, tem de criar limitações crescentes. (…) Se tendes crenças, traduzis e modelais as vossas experiências de acordo com
elas, e com isso estais continuamente forçando e limitando o pensamento-sentimento, e essas limitações tornam-se o processo do “eu” (…) (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936,
pág. 40)

Possuímos muitos preconceitos, sutis e grosseiros, e cada indivíduo, por ser único, sustenta sua própria ignorância mediante suas atividades volitivas. Se não compreenderdes
plenamente essa ignorância auto-ativa em toda a sua inteireza, estareis de contínuo criando barreiras, resistências, e aumentando (…) a miséria. Precisais, pois, tornar-vos
apercebidos desse processo (…) (Idem, pág. 71-72)

Sabemos, pois, por que nascem os preconceitos, como são gerados para nossa própria proteção, o que representa um processo de isolamento. (…) Vós pertenceis a esta ou àquela
sociedade, (…) Acreditais que vossa experiência é superior à minha, ou tão boa quanto a minha (…) Tudo isso denota (…) formas de preconceito, (…) de exclusão, de defesas, de
autoproteção, mui cuidadosamente cultivadas. (…) Conseqüentemente, no intuito de nos protegermos, levantamos muralhas “projetadas” de nós mesmos ou criadas para nós por
outros e por nós aceitas. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 22)

(…) O “eu” não pode experimentar o desconhecido; só lhe é possível experimentar o conhecido, o que foi projetado de si mesmo (…) Só uma mente livre pode conhecer “o que é” -
essa coisa indescritível que não pode ser expressa em palavras. Descrevê-la significa cultivo da memória; (…) verbalizá-la é situá-la no tempo, e o que é do tempo nunca pode ser o
atemporal. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 36)

Imagens Mentais Errônes, de Si Próprio, dos Demais


Não só olhamos a natureza com olhos que acumularam conhecimentos a seu respeito (…), com uma imagem, mas também olhamos os outros entes humanos com nossas diferentes
conclusões, opiniões, juízos e valores. Assim, quando olhais ou observais a vós mesmos, a vossa vida, estais observando através da imagem e das conclusões que já formastes.
Dizeis que isto é bom, aquilo é mau, ou que isto é certo e aquilo, errado. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 119)

Assim agindo, não estais em relação direta com o que vedes. Olhais com o conhecimento trazido do passado, (…) vossas imagens, com a tradição, (…) as experiências humanas
acumuladas; tudo isso vos impede de ver. Este é um fato que precisa ser compreendido, ou seja, que, para observardes realmente a vida, deveis olhá-la com olhos novos, isto é, (…)
sem condenação, (…) ideal, (…) desejo de dominar ou alterar o que vedes, em suma, observar. (…) (Idem, pág. 119)

Todos nos colocamos em níveis diversos e estamos constantemente a cair dessas alturas. Dessas quedas nos envergonhamos. A auto-apreciação é a causa de nossa vergonha, (…)
queda. Essa autoapreciação é que precisa ser compreendida, não a queda. Se não existe um pedestal, sobre o qual colocastes a vós mesmos, como pode haver queda? (…)
(Comentários sobre o Viver, pág. 143-144)

(…) Sem o dito pedestal, sereis o que sois. Se não mais existe o pedestal, do alto do qual olhais para baixo ou para cima, então sois aquilo de que sempre estivestes fugindo. É essa
fuga ao que é, ao que sois, que dá origem à confusão e ao antagonismo, à vergonha e ao ressentimento. (Idem, pág. 144)

Tanto a pobreza como a riqueza são escravidão. O desejo de prestígio, posição e poder - o poder que se conquista por arrogância, a humildade, o ascetismo, o saber, a exploração
e abnegação - esse desejo é sutilmente persuasivo e quase instintivo. O sucesso (…) é poder, e o insucesso (…) a negação do sucesso. (Comentários sobre o Viver, pág. 75)

(…) O sucesso neste mundo e o poder que trazem o controle e a negação de si mesmo, são coisas que devem ser evitadas, pois ambos deformam a compreensão. (…) O homem de
sucesso é um homem endurecido, egocêntrico; está cheio de sua própria importância, suas responsabilidades, realizações, lembranças. (…) (Idem, pág. 75)

O cérebro está sempre ativo, sonhando acordado, ocupando-se com uma ou outra coisa, ou criando quadros e idéias por meio da imaginação. Desde a infância, nós construímos
gradualmente a estrutura de imagem que é “eu”. Cada um de nós está fazendo isso constantemente; é essa imagem, que é o “eu”, que se fere. Quando o “eu” é ferido, existe a
resistência, a construção de um muro em volta de nós mesmos (…); e isso cria mais medo e isolamento (…) (A Rede do Pensamento, pág. 65)

(…) Cada um de nós tem uma imagem daquilo que “deveríamos ser”, uma idéia de que somos grandes ou muito insignificantes, estúpidos, medíocres, ou temos o sentimento de
sermos extraordinariamente afetuosos, superiores, cheios de sabedoria, de conhecimentos. Essas imagens que temos de nós mesmos negam totalmente o percebimento do imediato,
do que é. (Como Viver neste Mundo, pág. 70)

Existe um conflito entre a imagem e o que é, e, a meu ver, a madureza é um estado mental em que nenhuma imagem existe e só há o que é; nela não há conflito de espécie alguma. A
mente que se acha em conflito não está amadurecida - conflito com a família, com nós mesmos, com nossos desejos, ambições, preenchimentos. Em qualquer nível que seja, o
conflito denuncia sempre uma mente não amadurecida, não esclarecida. (…) (Idem, pág. 70)

A mente está cheia de imagens, palavras, símbolos. Ela pensa,e, através de tudo isso, vê. (Tradición y Revolución, pág. 49)

Não. Eu tenho uma imagem de você, e olho através dessa imagem. Isso é distorção. A imagem é meu condicionamento. (…) (Idem, pág. 49)

Seria produção psicológica de imagens o mecanismo do pensamento? Sabemos que o pensamento não está envolvido, talvez num alto grau, na reação física de autoproteção. Mas a
produção psicológica de imagens é resultado da constante desatenção, que é a própria essência do pensamento. (…) A atenção não tem centro, (…) Quando há atenção total, não
há movimento do pensamento. Só na mente desatenta é que surge o pensamento. (Perguntas e Respostas, pág. 52)

O fato, não minha reação ao fato. Não teorias românticas e irreais (…) É um fato que, enquanto houver imagens, não haverá paz no mundo, nem (…) amor no mundo - veja a
imagem de Cristo, (…) de Buda, ou a imagem dos muçulmanos - entendem? (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 94)

Pergunta: Eu tenho uma imagem de mim, e a tenho de você no sentido de como deveria ser sua relação comigo. E então essa imagem se vê frustrada e lastimada, e assim
sucessivamente. (Idem, pág. 97)

Krishnamurti: Porém como hei de mudar essa imagem? Como hei de demoli-la? Vejo muito bem que tenho uma imagem e que esta há sido formada, construída através de gerações.
Sou bastante inteligente, (…) consciente de mim mesmo e vejo que tenho essa imagem; como hei de demoli-la? (La Totalidad de la Vida, pág. 97)

Devo, pois, como ser humano comum, dar-me conta de que o mais importante é ter relação correta com tudo.

Interpelante: Seria conveniente se pudéssemos dizer o que ocorre quando não a temos.

Krishnamurti: Não só se desmorona tudo, senão que causo estragos a meu derredor. Posso, então, desprezar o fumar, o beber, a conversa interminável (…) - posso reunir essa
energia? Concentrarei essa energia que me ajudará a enfrentar a imagem, a representação mental que tenho? (Idem, pág. 98)

A relação com minha esposa, com meu vizinho, no escritório (…) - e também com a natureza - não creio que estejamos compreendendo a importância de uma relação simples,
tranqüila, plena, rica, feliz - a beleza disso, sua harmonia. Podemos então explicá-lo ao espectador comum (…) a grande importância que isso tem. (Idem, pág. 99)

Sim, senhor. (…) Sei que estou formando imagens todo o tempo. Sou bem consciente disso, porque o tenho discutido com você, tenho-o investigado. Desde o começo mesmo, me
tenho dado conta (…) de que a relação é o mais importante que há na vida. Sem essa relação a vida é um caos. (La Totalidad de la Vida, pág. 104)

Isso há sido impulsionado dentro de mim. Vejo que cada lisonja e cada insulto se registram no cérebro, e que então o pensamento se apodera disso como uma recordação e cria
uma imagem e a imagem fica ferida. (Idem, pág. 104)

Interpelante: A imagem é, portanto, ferida (…)

Krishnamurti: Por conseguinte, Dr. Bohm, que se há de fazer? Há duas coisas implicadas nisso - uma é evitar feridas ulteriores, e a outra é estar livre de todas as feridas que tenho
tido. (Idem, pág. 104)

Senhor, sejamos agora bem simples. Dissemos que temos imagens; sei que tenho imagens e você me diz que as olhe, que esteja atento a elas, que perceba as imagens. É o que
percebe diferente do percebido? (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 110)

Porque, se o que percebe é diferente, então todo o processo continuará indefinidamente - correto? Porém, se não há divisão, se o observador é o observado, então muda todo o
problema.

De acordo? É, então, o observador diferente do observado? Obviamente, não o é. Posso, pois, olhar a imagem sem o observador? Porque o observador produz a imagem, ele é o
movimento do pensar. (Idem, pág. 110)

Exatamente. Se não há um experimentador, há experiência? De modo que você me há pedido que olhe minhas imagens, o que é uma exigência mui séria e mui penetrante. Você diz:
“Olhe-as sem o observador, porque o observador é o que fabrica as imagens, e, se não há um observador, (…) um pensador, não há pensamento, correto? Por conseguinte, não há
imagem.” (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 110-111)

Digo, pois, que minha consciência é a consciência do mundo porque, essencialmente, está repleta das coisa do pensamento - pensar, medo, prazer, desespero, ansiedade, apego,
esperança - é um torvelinho de confusão. Tudo isso produz um sentimento de profunda agonia. E nesse estado não posso ter relação alguma com nenhum ser humano. (La Totalidad
de la Vida, pág. 111)

Então você me diz: “Ter a máxima e mais responsável das relações é não ter imagem alguma”. Você me há assinalado que, para estar livre de imagens, o fazedor das imagens deve
achar-se ausente. O fazedor de imagem é o passado, é o observador que diz: “Gosto disto”, “Não gosto disto”; e também: “Minha mulher”, “meu marido”, “minha casa” - o
“meu”, o “eu” é que é a essência da imagem. (…) (Idem, pág. 111)

Agora, a pergunta seguinte é: Estão as imagens tão ocultas que eu não possa abordá-las, (…) pôr-me em contato com elas? Todos vocês, os especialistas, me hão dito que há
dezenas de imagens ocultas, enterradas; e eu digo: “Por Deus! eles devem sabê-lo. (…) Porém, como hei de desenterrar essas imagens, como hei de expô-las? (…) (Idem, pág. 111)

Assim é. Portanto, a consciência que eu conheço - na qual tenho vivido - tem experimentado uma tremenda transformação. Têm-na experimentado vocês? É assim com vocês? E se
posso perguntar também ao Dr. Bohm - (…) a todos nós: ao dar-nos conta de que o observador é o observado e que, portanto, já não existe o fazedor de imagens e, por conseguinte,
o conteúdo da consciência - que constitui a consciência - não é como o conhecemos, que se passa então? (La Totalidad de la Vida, pág. 112)

Formulo esta pergunta porque nela está incluída a meditação. Faço esta pergunta porque todas as pessoas religiosas, as pessoas realmente sérias que hão investigado esta questão,
vêem que, enquanto continuamos vivendo nossas vidas diárias dentro da área desta consciência - com todas as imagens e com o fazedor das imagens, - qualquer coisa que façamos
estará ainda nessa área. Correto? Um ano posso tornar-me um budista zen, e no outro ano posso seguir algum guru, e assim sucessivamente, porém isso se encontra sempre dentro
dessa área. (Idem, pág. 112)

Que se passa, pois, quando não há movimento do pensar, o qual fabrica as imagens (…)? (…) Quando o tempo, que é o movimento do pensar, cessa, que é que há? Porque vocês me
hão levado a este ponto. Eu o compreendo (…) Hei tentado a meditação zen, a meditação hindu, (…) toda sorte de outras práticas infelizes, e então ouço vocês e digo: “Por Deus! -
é algo extraordinário o que essas pessoa estão dizendo.” Dizem que, no momento em que não existe o fazedor de imagem, o conteúdo da consciência experimenta uma
transformação radical e cessa o pensamento (…) Chega ao fim o pensamento, o tempo se detém. Então, quê? É isso a morte? (Idem, pág. 112)

Interpelante: É a morte do “eu”

Krishnamurti: Não (…) Quando o pensamento se detém, quando não existe o fazedor de imagens, há uma completa transformação da consciência, porque não há medo, (…)
ansiedade, (…) persecução do prazer, (…) nenhuma das coisas que criam divisão e conflito. Que é, então, o que surge? (…) Cabe averiguá-lo (…) (La Totalidad de la Vida, pág.
113)

Isso tem sido minha vida. Tenho-me aferrado ao conhecido e, portanto, a morte é o desconhecido, de modo que dele tenho medo. E vêm vocês e dizem: “Olhe, a morte é em parte o
fim da imagem e do fazedor de imagem, porém a morte tem uma significação muito maior (…)

Porque é o fim de tudo. A cessação da realidade e de todos os meus conceitos, minhas imagens - a cessação de todas as recordações. (Idem, pág. 118)
Não, não. (…) Escute a pergunta: “Pode cessar a produção de imagens?” Agora examinamos, analisamos todo esse processo que constitui a fabricação de imagens - o resultado
disso é a infelicidade, a confusão, as coisas aterradoras que estão sucedendo. O árabe tem sua imagem, o mesmo que o judeu, o hindu, o muçulmano, o cristão, o comunista. Existe
essa tremenda divisão das imagens, dos símbolos. Se isso não se detiver, vocês terão um mundo caótico (…) Entendem? Eu vejo isso, não como abstração, mas como realidade (…)
(La Totalidad de la Vida, pág. 93)

Pois bem. Solidão e isolamento são dois estados diferentes. O isolamento resulta das atividades diárias, nas quais toda ação emana do centro ou imagem. A imagem é,
essencialmente, em centro que se formou pela rejeição da dor e a não rejeição do prazer. Nossos valores estão baseados no que nos dá prazer, e não no fato, “no que é”. (O
Descobrimento do Amor, pág. 129)

Assim, enquanto existir essa imagem, cujos valores se baseiam no prazer, haverá necessariamente isolamento do centro, pois este cria seu espaço próprio. O centro cria espaço ao
redor de si em suas relações com pessoas, coisas, idéias, e esse centro (…) é o isolamento - um estado de que podemos estar conscientes ou não. (…) (Idem, pág. 130)

A imagem é, essencialmente, um centro que se formou pela rejeição da dor e não rejeição do prazer. Nossos valores estão baseados no que nos dará prazer, e não no fato, no que é.
(…) A mente (…) atingiu seu atual estado de desenvolvimento, tal como os animais, pelo cultivo dos valores baseados no prazer. (…) Deseja ela viver continuamente num estado de
prazer e, por conseguinte, o próprio espaço que cria em torno de si constitui sua própria limitação. (O Descobrimento do Amor, 1ª ed., pág. 130)

Pode-se viver a vida no mundo moderno sem uma só imagem? Quem lhes fala pode dizer que isso é possível. Porém requer muita energia para descobrir (…) e, além disso, se é
possível viver uma vida na qual não haja nem uma só crença; porque são as crenças que dividem os seres humanos. Pode-se, pois, viver sem uma só crença e não ter jamais uma
imagem de si mesmo? Essa é a verdadeira liberdade. (La Llama de la Atención, pág. 110-111)

Se um indivíduo tem uma imagem de si mesmo e o chamam de néscio (…) a reação se produz instantaneamente. (…) Ou seja (…) quando ele escuta com atenção completa, não há
reação. É a falta de um escutar agudo e sensível que faz surgir a imagem e, portanto, a reação. (…) Quando há atenção total, não se forma um centro. É só a desatenção que cria o
centro. (…) Quando há atenção total, a afirmação de que o indivíduo é néscio perde completamente toda significação. Porque, quando há atenção, não existe um centro que esteja
reagindo. (Idem, pág. 111)

Expressões Psíquicas: Egoísmo, Desejo, Avidez, Prazer


Para compreendermos o que é essa atividade egocêntrica, é claro que devemos examiná-la, observá-la, estar cônscios do processo total. Uma vez cônscios dele, torna-se possível a
sua dissolução; mas (…) é preciso ter certa compreensão, certa intenção de enfrentar a coisa tal como é, sem a interpretar, modificar, condenar. (…) (A Primeira e Última
Liberdade, 1ª ed., pág. 123-124)

Quase todos sabem que essa atividade egocêntrica produz malefícios e caos, mas só estão cônscios disso em certas direções. Ou a observamos noutras pessoas, ignorando nossas
próprias atividades (…) Para poder compreender (…) temos de ser capazes de observá-la (…) em diferentes níveis, tanto conscientes como inconscientes (…) (Idem, pág. 124)

Só tenho consciência dessa atividade do “eu”, quando estou em oposição, quando a consciência é contrariada, quando o “eu” está desejoso de alcançar um resultado (…) Ou estou
cônscio desse centro quando o prazer termina e desejo repeti-lo. Há, então, resistência e um propositado moldar da mente a determinado fim que me dá deleite, satisfação. (…)
(Idem, pág. 124)

Reparemos na atividade egocêntrica que cria divisões; a atividade egocêntrica em torno de um princípio, de uma ideologia, de um país, de uma crença, em torno da família, etc.
Essa atividade egocêntrica é separativa e, portanto, causa conflito. Ora, poderá esse movimento da fórmula - que é o “eu” com suas memórias, o centro à volta do qual se
constroem os muros - poderá esse “eu”, essa entidade separada com a sua atividade egocêntrica, terminar por completo, não por uma série de atos, mas por um só ato? (…) (O
Mundo Somos Nós, pág. 112)

Vemos que essas divisões, essas fórmulas de “eu” e “não-eu”, “nós” e “eles', por detrás das quais vivemos, originam medo. E se pudermos tomar consciência desse medo global,
(…) total, poderemos compreender então qualquer medo particular. (…) (Idem, pág. 114)

O conflito, a luta pelo vir-a-ser e pelo não-vir-a-ser não leva ao egotismo? Pois não gera ele o sentimento da personalidade, do “eu”? E a própria natureza do “eu” não é de
conflito e dor? Quando é que tendes consciência de vosso “eu”? Quando existe oposição, (…) atrito, (…) antagonismo. No momento da alegria, a consciência do “eu” é inexistente
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 41)

Nosso pensamento-sentimento está colhido no processo horizontal do “vir-a-ser”; o que vem a ser está sempre acumulando, sempre adquirindo, sempre a expandir-se. O “ego”, o
que vem a ser, o criador do tempo, jamais pode conhecer o Atemporal. O ego (…) é a causa do conflito e do sofrimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 176)

As atividades do “eu” são atrozmente monótonas. O “eu” é fonte de tédio (…) Seus desejos opostos e em conflito entre si, suas esperanças e frustrações, suas realidades e ilusões,
são escravizantes e, no entanto, vazias; as atividades conduzem-no ao cansaço. O “eu” está sempre subindo e caindo, sempre querendo alcançar e sendo frustrado, sempre
ganhando e perdendo; e, dessa ronda fastidiosa e fútil, está sempre a procurar um meio de libertar-se. Busca fugir por meio de atividades exteriores, de soluções agradáveis, da
bebida, do sexo, do rádio, dos livros, do saber, dos divertimentos, etc. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 97)

(…) Seu poder de criar ilusões é enorme e complexo. Essas ilusões são por ele mesmo fabricadas, de si próprio projetadas; são elas o ideal, a idolátrica concepção de mestres e
salvadores, o futuro como meio de autoglorificação, etc. Na tentativa de fugir de sua própria monotonia, busca o “eu” sensações e excitações exteriores, as quais são substitutos da
negação do “eu”. (…) (Idem, pág. 97)

Toda ansiedade e qualquer experiência que dela nasça, constituem o processo automantenedor do “eu”. Esse processo do “eu”, com seus desejos e tendências, cria o medo o daí
surge a aceitação do conforto e da segurança. (…) (Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 53-54)

O pensamento-sentimento está limitado por sua própria causa, o desejo de vir-a-ser, que se aprisiona ao tempo. O desejo, por meio da memória identificante, cria o “eu” e o “meu”
É o ator que assume papéis diferentes, segundo as circunstâncias (…) Enquanto não compreendermos e solvermos o desejo, causa da ignorância e do sofrimento, continuará o
conflito da dualidade (…) O desejo se expressa pela sensualidade, pelo apego às coisas materiais, pela busca de imortalidade pessoal e de autoridade, de mistérios e milagres. (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 53)

Já que somos egotistas e vivemos entre conflitos e sofrimentos, é essencial que estejamos intensamente vigilantes, porquanto, por meio do autoconhecimento, liberta-se o
pensamento-sentimento dos empecilhos que ele próprio criou e que são a malevolência e a ignorância, a mundanidade e o desejo. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 161)

Que é sensação? Há um estímulo. Vê-se um rosto bonito, uma bela cor. Esse percebimento (do estímulo) é seguido pela sensação, depois é o contato, e depois o desejo, com o
pensamento finalmente a intervir e a dizer: “Ah, quem me dera ter aquilo!”. E assim temos todo esse movimento - percebimento (do estímulo), sensação, contato, desejo - que é
fortalecido pelo pensamento: “quero ou não quero aquilo”; “é meu” e “não é meu”. (O Mundo Somos Nós, pág. 119)

Surge então o problema de saber se pode haver a percepção de um belo rosto, de um lindo pôr-do-sol, etc., sem a interferência do pensamento, ou, por outras palavras, se será
possível um estado de “não-experiência”, e apenas de percepção - que é maior do que todas as experiências. Consegui explicar (…)? Finalmente intervém o pensamento, e todo o
mecanismo do prazer e da dor começa. Ora, será possível observar esse rosto sem a interferência do princípio do prazer e da dor? (…) (Idem, pág. 119)

O desejo pode fracionar-se em muitos impulsos opostos e em conflito entre si, mas tudo é sempre desejo. Esses impulsos numerosos concorrem para a formação do “eu”, com suas
memórias, ansiedades, temores, etc., e a atividade total desse “eu” está limitada à esfera do desejo; (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 131)

Quando estamos conscientes, ficamos apercebidos de um processo dual que opera em nós - querer e não querer, desejos expansivos e desejos reprimidos. Os desejos expansivos têm
a sua forma própria de vontade. Ao percebermos as conseqüências desses desejos expansivos, que tanta dor e tristeza nos causam, nasce o desejo de refreá-los, com seu próprio tipo
de vontade. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 102)

(…) Assim, há conflito entre a vontade expansiva e a vontade de reprimir. Esse conflito pode criar compreensão ou confusão e ignorância. A vontade expansiva e a vontade de
reprimir são a causa da dualidade, fato que não pode ser negado. (Idem, pág. 102-103)

Investiguemos, pois, essa questão do desejo (…) Desejo significa impulso para preencher apetites de vária natureza, que exige ação - o desejo sexual, ou o desejo de ser um grande
homem, (…) de possuir um carro ou uma casa. (…) (A Suprema Realização, pág. 34)

O amor não tem nenhum problema (…) O desejo possui uma extraordinária vitalidade, (…) persuasão, impulso, alcance; todo o processo do vir-a-ser, do sucesso, está baseado no
desejo - desejo que faz com que comparemos, (…) imitemos (…) (A Rede do Pensamento, pág. 93)

Ora, que é que dá origem à ilusão? Não é o desejo, a vontade de buscar conforto, satisfação, salvação, (…) segurança (…)? Porque, na base desse desejo, se acha o acervo
(background) do nosso condicionamento, dos inúmeros impulsos, temores, ansiedades(…) (Poder e Realização, pág. 52)

Enquanto houver desejo de ganho, de realização, de “vir-a-ser”, em qualquer nível que seja, tem de haver, inevitavelmente, ansiedade, sofrimento, medo. A ambição de ser rico, de
ser isto ou aquilo, só desaparecerá quando perceberdes o caráter malsão, a natureza corruptora da própria ambição. No momento em que percebemos que o desejo de poder, em
qualquer forma, é essencialmente mau, já não temos o desejo de ser poderosos. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 26)

É possível a um indivíduo libertar-se da avidez e viver numa sociedade que nada mais é que o resultado da avidez, da violência? (…) Afinal, a avidez se manifesta sob muitas formas
- ânsia de verdade, avidez de posição, ambição de felicidade, avidez de coisas, de segurança. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 30)

Tudo isso é um processo de ver o fato (…) E agora - indo mais longe - o “eu”, o observador, está experimentando a avidez? A inveja é uma coisa separada de mim, que sou o
observador? E quando não existe observador, existe a palavra “avidez”? - palavra que é, em si, uma condenação. Quando não existe observador, só então há possibilidade de
desaparecer aquele sentimento. (A Renovação da Mente, pág. 35)

(…) A tensão produzida pela avidez, pelo temor, pela ambição, pelo ódio, é perniciosa, é causadora de males psíquicos e físicos, e, para que possamos transcender essa tensão,
requer-se vigilância com abstenção de escolha. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 164)

Nossa vida - a maior parte dela - baseia-se no prazer; este constitui a necessidade fundamental da vida; prazer em todas as formas: conforto, segurança, prestígio, poder, domínio,
sucesso, (…) lugar mais alto - tudo isso está incluído na palavra prazer. Esse prazer gera, invariavelmente, a dor (…) Para compreender o prazer, temos de compreender, em seu
todo, a questão do desejo. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 33)

Deveis perceber que o prazer é justamente o princípio pelo qual o nosso cérebro funciona. Todos os nossos valores baseiam-se no prazer. Nossos interesses, (…) motivos, (…)
princípios, tudo está essencialmente baseado no prazer. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 103)

(…) Vamos agora examinar o que é o prazer, no qual está baseada a nossa moralidade social, (…) a nossa busca, a nossa atividade? Toda essa exigência, a busca da realidade e
todo esse contra-senso, apoiam-se no prazer. Vossos deuses, (…) virtudes, (…) moralidades, estão firmados no prazer. O que é, então, o prazer que todo ser humano reclama? (…)
Existe também o prazer do sexo. O pensamento constrói a imagem, todos os estímulos são sustentados pelo pensamento e seu preenchimento amanhã. Dessa forma, o pensamento
mantém o medo e dá continuidade ao prazer. (La Llama de la Atención, pág. 41)

O prazer é diferente do temor? Ou o prazer é temor? São como duas caras da mesma moeda quando se compreende a natureza do prazer, o qual também é tempo e pensamento.
Uma pessoa há experimentado algo mui belo no passado (…) Então deseja que esse prazer se repita; o mesmo que quando se recorda do temor de um acontecimento passado e
deseja evitá-lo. (…) (Idem, pág. 45)

É o que fazemos. Carregamos os nossos prazeres e os nossos medos. Como ser humano, você, o “eu”, o “meu”, é a carga do medo e do prazer. E você tem medo de perder essa
carga. Uma mente que compreende a natureza e a estrutura do pensamento está livre do medo. E porque ela entende o medo, compreende também o prazer, o que não significa que
você não possa ter prazer. Quando você olha para uma nuvem ou uma folha, é um prazer olhá-la; a beleza de alguma coisa é um prazer, mas carregá-la para o dia seguinte gera
sofrimento. (…) (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 44)

Tendes um prazer; sexual ou trivial, e pensais nele, criais em vossa mente imagens, símbolos, palavras. E, quanto mais pensais nesse prazer, tanto mais intenso ele se torna. E essa
intensidade exige preenchimento. (…) Mas, não é importante reprimir o desejo, moldá-lo, sublimá-lo, porém, sim, compreendê-lo, compreender o que lhe dá substância, intensidade,
urgência de preenchimento. Compreendido isso, tem o desejo significação completamente diferente. (A Suprema Realização, pág. 45)

O prazer, para a maioria de nós, é de suma importância, e todos os nossos valores, e ânsias, e buscas, visam a mais prazer. (…) Prazer é gozo, deleite; também fruição sexual. Se
alguma vez olhardes para o céu (…) encontrareis deleite no olhar aquela nuvem, aquela luz refletida na água; há deleite em ver um belo rosto todo iluminado de sorrisos e de
inocência. (…) Em tudo isso há prazer intelectual, prazer emocional, prazer físico. Mas o amor é coisa muito diferente. (…) (A Suprema Realização, pág. 129-130)

Ora, o prazer criou o atual padrão social. Encontramos prazer na ambição, na competição, na comparação, na aquisição de saber, na conquista de poder, posição, prestígio. E essa
busca de prazer por meio da ambição, da competição, da avidez, da inveja, da posição, do domínio, do poder, é considerada respeitável. Podeis (…) ser um ente humano cruel; e a
sociedade aprova isso, porque (…) ou sois o que se chama “um homem de sucesso”, cheio de dinheiro, ou sois um “fracassado”, um ente humano frustrado. A moralidade social,
portanto, é imoralidade. (Idem, pág. 131-132)

Ciúme, Inveja, Orgulho, Vaidade, Aflição, Tristeza


É a mente, a vontade, com seus apegos, desejos, temores, que cria o conflito entre si e a emoção. O amor não é a causa da miséria; são os temores, os desejos, os hábitos da mente
que criam a dor, a agonia do ciúme, a desilusão. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 99)

Tomemos, para exemplo, um sentimento muito comum: o ciúme. Todos sabemos o que é ser ciumento. (…) Quando observais um sentimento, vós sois o observador do ciúme. (…)
Tentais modificar o ciúme, alterá-lo. (…) Há, portanto, um ser, um censor, uma entidade separada do ciúme, a qual o observa. Momentaneamente, o ciúme poderá desaparecer,
porém volta. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 149-150)

O ciúme, em quase todos nós, se tornou um hábito, e, como todo hábito, tem continuidade. Quebrar o hábito (…) significa estar cônscio do hábito. (…) Nesse estado de total
percebimento descobrireis terdes eliminado completamente aquele sentimento habitualmente identificado com a palavra “ciúme”. (Idem, pág. 151)

O ciúme implica insatisfação com o que sois e inveja a outros. O próprio descontentamento com o que sois é o começo da inveja. Desejais igualar-vos a outro que tem mais
conhecimentos, ou que é mais belo ou possui uma casa maior, ou que tem mais poder, uma posição melhor. (…) Vosso desejo de mudança gera inveja, ciúme; ao passo que, na
compreensão do que sois, há uma transformação do que sois. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 28-29)

Sabem o que é a inveja? Ela começa quando vocês ainda são bem pequenos - sentem inveja de um amigo mais bonito (…), que tem melhores coisas ou uma posição melhor. Vocês
ficam com ciúmes se outro menino ou menina lhes passa à frente na classe, se tem pais mais ricos ou pertence a uma família mais distinta. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida,
pág. 106)

À medida que crescem, a inveja fica cada vez mais forte. Os pobres invejam os ricos, e os ricos (…) os mais ricos. Há a inveja (…) do escritor que quer escrever ainda melhor. (…)
Queremos estar mais chegados do que outros a algum alto funcionário do governo, ou sentir que, no íntimo, somos espiritualmente mais evoluídos. (…) (Idem, pág. 106)

A inveja é (…) difícil de descobrir em nós mesmos, porque a mente é o centro da inveja. (…) A própria estrutura da mente é edificada sobre as bases da cobiça e da inveja. (…)
Assim sendo, cupidez, inveja, pensamento comparativo, tudo isso produz descontentamento. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 107-108)

(…) Evidentemente, é necessário que nos libertemos da inveja, porquanto é ela fator de deterioração, é anti-social, etc. Por inúmeras razões, estamos cônscios de que a inveja é
uma qualidade, um impulso, uma reação que precisa ser extirpada. (A Renovação da Mente, pág. 53-54)

Compreendeis estas duas palavras: “orgulho” e “êxito”? Já considerastes o que significa ter bom êxito, como escritor, (…) poeta, (…) pintor, (…) negociante, (…) político? (…)
Naturalmente, esse sentimento é acompanhado de orgulho - “Eu realizei algo. Eu sou muito importante”. Esse sentimento do eu é, na sua própria essência, o sentimento de orgulho.
O orgulho, pois, cresce juntamente com o bom êxito. (…) O orgulho é uma coisa que produz sempre uma grande porção de vaidade egotista (…) (Novos Roteiros em Educação, pág.
104-105)

Ora, você é arrogante? O homem que está tentando se tornar alguma coisa psicologicamente, é arrogante. Uma pessoa é arrogante quando tenta se tornar algo que não é. O
tornar-se algo é o movimento da arrogância (…) Isso nega totalmente o sentido de humildade. Quando você está vendo fatos, deve então ser totalmente modesto, ao invés de
cultivar a humildade.

Só o vaidoso cultiva a humildade. Quando é vaidoso, arrogante, pode cultivar a humildade, mas essa humildade é apenas arrogância. Estamos percorrendo o mesmo caminho de
nos tornarmos algo e, portanto, nos comportando como desonestos, fingindo ser o que não somos. Visto isso, uma mente correta olha para o fato, o fato de que você é violento,
arrogante. (…) (Mind Without Measure, pág. 114)

(…) A maioria das mentes estão peadas pela vaidade, pelo desejo de impressionar os outros, (…) de serem algo ou (…) de atingir a verdade, ou de se evadirem do seu ambiente, ou
ainda de expandirem sua consciência. (…) Todas essas coisas impedem a mente de perceber diretamente o pleno merecimento do ambiente; (…)

E como a maioria das mentes estão imbuídas de preconceitos, a primeira coisa de que nos devemos tornar conscientes é das nossas limitações. (…) Quando reconheceis que sois
brutalmente orgulhosos ou vaidosos, na própria consciência da vaidade começa ela a dissipar-se, pois vedes o absurdo dela; se, porém, começardes apenas a disfarçá-la, criará ela
outros males ulteriores, (…) reações. (Palestras em Ojai, 1934, pág. 36)

(…) Quando a confiança provém de ação exercida dentro da estrutura social, é sempre acompanhada de uma estranha arrogância. (…) A confiança do homem que sabe “fazer
coisas”, que é capaz de alcançar resultados, traz sempre o colorido dessa arrogância do “eu”. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 92)

Já notastes como são arrogantes os idealistas? Os líderes políticos que logram certos resultados, (…) reformas - já não notastes como são presunçosos, “cheios de vento”, com seus
ideais e suas realizações? (…) (Idem, pág. 92)

(…) O sentimento do “eu” é, em sua própria natureza, uma sensação de orgulho. Assim, o orgulho cresce com o sucesso; uma pessoa se orgulha de ser muito importante em
comparação com outras. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 87)

O orgulho traz muita vaidade. (…) Quando passam num exame e sentem que são um pouco mais inteligentes, (…) experimentam uma sensação de prazer. Ocorre o mesmo quando
vencem alguém numa discussão (…) Essa sensação de importância do “eu” inevitavelmente acarreta conflito, luta, dor. (…) (Idem, pág. 87)

(…) É desse modo que começamos a depender de outros, pelo prazer de ouvir-lhes os elogios e louvores. (…) E depois, que acontece? Ao vos tornardes mais velho, desejais que o
que fazeis seja admirado por muita gente. (…) Daí nasce o orgulho. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 50)

Como podeis viver no presente sem a dor (…) as penas da aflição? A aflição tem de ser resolvida, não no curso do tempo, mas pela compreensão; só pode ser resolvida no presente.
(…) Vem-nos uma atividade e uma vitalidade extraordinária quando há observação direta do que é. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 108)

(…) A aflição pode terminar imediatamente; a liberdade não está no fim, porém no começo. Para compreender-se isso, necessita-se o começo da liberdade, para ver o falso como
falso. (…) (Idem, pág. 108)

Qual é a causa, pois, da tristeza? (…) Tristeza e alegria, dor e prazer, luz e sombra, são a mesma coisa. A tristeza precisa existir, assim como o prazer. É inútil tentar fugir a
qualquer delas. Somente quando estiverdes absolutamente isentos de ser perturbados por qualquer dessas coisas, é que a verdadeira perfeição morará em vosso coração e na vossa
mente. (Boletim Internacional da Estrela, janeiro de 1930, A Causa da Tristeza, pág. 28)

O “eu” está sempre ascendendo pela auto-afirmação. (…) Ele afirma “eu sou”, à medida que vai subindo a montanha da experiência. Essa auto-afirmação do “eu sou”, cria ecos,
e esses ecos voltam como tristeza, dor, prazer. (…) (Idem, pág. 28)

A tristeza não purifica. Por que é que há tristeza? Quando a mente que está estagnada, narcotizada, adormecida pelas crenças, peada pelas limitações, é despertada pelo
movimento da vida, a esse despertar chamamos de sofrimento. (…) (Palestras no Chile e México, pág. 29-30)

A tristeza nada mais é que um indício de limitação, de algo que é incompleto. (…) Tendes de compreender a causa e os efeitos. (…) Desses múltiplos obstáculos, dessas memórias
auto-defensivas, nasce a consciência limitada, o “eu”, que é a verdadeira causa do sofrimento. (Idem, pág. 30)

Conhecemos a tristeza; está sempre ao nosso lado, é a nossa companheira constante; parece não ter fim - o sofrimento sob diferentes formas, em níveis diferentes, físicos e
psicológicos (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 79)

Medo, Ambição, Cólera, Violência, Agressividade


Como sabeis, há muito do animal em nós. Os biólogos nô-lo dizem, mas não precisamos ouvir os biólogos, se observarmos a nós mesmos e os animais. Em nós há muita
animalidade. Somos autoritários, brutais, violentos, sem consideração (…), agressivos - e assim são os animais. (…) (A Suprema Realização, pág. 179-180)

Estivemos considerando o problema do medo. Vimos que a maioria de nós tem medo, e que o medo impede a iniciativa, porque faz com que nos apeguemos às pessoas e às coisas,
da mesma forma que uma planta trepadeira se apega a uma árvore. Apegamo-nos aos pais, aos maridos, aos filhos, às filhas; às esposas e às nossas posses. (…) (O Verdadeiro
Objetivo da Vida, pág. 30-31)

(…) Esta é a forma exterior do medo. Estando interiormente amedrontados, receamos ficar sós. Podemos ter muitas roupas, jóias ou outras propriedades; mas, interiormente,
psicologicamente, estamos muito pobres. Quanto mais pobres interiormente, tanto mais procuramos enriquecer exteriormente, apegando-nos a pessoas, a uma posição, às
propriedades. (Idem, pág. 31)

Que entendemos por medo? Medo de que? Medo de não ser? Medo do que sois? Medo de perder, de ter prejuízo? O medo, quer consciente, quer inconsciente, não é abstrato: ele só
existe em relação com alguma coisa. (…) Temos medo de estar inseguros (…) economicamente (…) interiormente. Isto é, tememos a solidão, (…) o ser nada (…) (Por que não te
Satisfaz a Vida?, pág. 32)

Desejo falar sobre o medo, porque o medo perverte todos os nossos sentimentos, pensamentos e relações. É o temor que impele a maioria de nós a tornar-nos (…) “espiritual”; é ele
que nos impulsiona para as soluções intelectuais que tantos oferecem; é ainda o temor que nos leva a praticar ações estranhas e peculiares. (…) O medo existe por si só? Ou só há
medo em conseqüência do pensamento (…)? (O Passo Decisivo, pág. 234)

Assim, o que agora me cabe inquirir é como ficar livre do temor inspirado pelo conhecido, que é o temor de perder minha família, minha reputação, meu caráter, meu depósito no
banco, meus apetites, etc. Direis que o temor surge da consciência; mas vossa consciência é formada pelo vosso condicionamento, pode ser insensata ou sensata; a consciência,
pois, também é resultado do conhecido. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 94)
Existe temor enquanto há acumulação do conhecido, que gera o medo de perder. Por conseguinte, o temor do desconhecido é, na realidade, o medo de perder o conhecido, por nós
acumulado. A acumulação, invariavelmente, importa em temor, o qual por sua vez importa em sofrimento; (…) (Idem, pág. 95)

Nasce o temor quando desejo permanecer em determinado padrão. Viver sem temor significa viver sem padrão algum. Quando desejo determinada maneira de viver, esse desejo,
em si, é uma fonte de temor. (…) Não posso quebrar o molde? Só posso quebrá-lo ao perceber essa verdade; que o molde está causando temor, e que o temor está reforçando o
molde. (…) (Idem, pág. 96)

O medo é tempo psicológico. Não há medo, quando não temos o tempo psicológico. (…) Nasce o medo quando o pensamento se projeta no futuro, ou se compara com o que ele
próprio foi no passado. Psicologicamente, o tempo é pensamento, tanto consciente como inconsciente; e é o pensamento que cria o medo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª
ed., pág. 22)

(…) O medo está sempre em relação com alguma coisa, não existe sozinho. Temos medo do que ontem sucedeu e que pode repetir-se hoje. (…) O pensar a respeito da dor de ontem
“projeta” o medo de tornar a senti-la amanhã. Por conseguinte, é o pensamento que produz o medo. O pensamento gera o medo, e também cultiva o prazer. Para compreenderdes o
medo, precisais compreender também o prazer, ambos estão relacionados. (Fora da Violência, pág. 60-61)

Há medo do escuro (…) do marido ou da mulher, ou do que os “outros” dizem, ou pensam ou fazem; medo da solidão ou do vazio da vida, do tédio (…); medo do futuro, da
incerteza e insegurança do amanhã (…); (…) da morte, do findar da vida. Há temores em inúmeras formas - tanto neuróticos, como racionais, sãos.(…) A maioria de nós teme
neuroticamente o passado, o hoje e o amanhã; de maneira que o tempo está implicado no medo. (Fora da Violência, pág. 58)

Há não só temores conscientes, (…) mas também temores profundamente jacentes, ocultos nos recessos profundos da mente. Como investigar tanto os temores conscientes como os
ocultos? O medo, por certo, é um movimento de afastamento de “o que é”; é fuga, evasão, evitação da realidade, de “o que é”. Essa fuga é que produz o medo. Também, quando há
qualquer espécie de comparação, cria-se medo (…) O medo, pois, se encontra no movimento de afastamento do real. (…) (Idem, pág. 58)

O medo destrói a liberdade. (…) O medo perverte todo pensamento, destrói toda relação. (…) Medo da opinião pública, (…) de não ser bem sucedido, medo da solidão, (…) de não
ser amado; e há ainda o comparar-nos a nós próprios com o herói do que “deveria ser” (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 114)

O temor existirá sob diferentes formas, grosseira ou sutilmente, enquanto existir o processo auto-ativo da ignorância, gerado pelas atividades de carência. (…) Se existir medo não
pode haver inteligência, e, para despertar a inteligência, é preciso compreender plenamente o processo do “eu” na ação. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 41-42)

(…) Quando a mente não está presa no conflito dos opostos, ela é capaz de discernir sem escolha o processo do “eu” em sua íntegra. Enquanto esse processo continuar, tem de
haver medo, e a tentativa de fugir dele apenas aumenta e fortifica o processo. Se vos quiserdes libertar do medo, deveis compreender plenamente a ação nascida da carência. (Idem,
pág. 42)

Todos os opostos devem criar conflito por serem essencialmente ininteligentes. O homem medroso desenvolve a bravura. Esse processo de desenvolver a coragem é, realmente, uma
fuga ao medo; se, porém, ele discernir a causa do medo, este cessará naturalmente. (…) (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 12)

O problema, portanto, não é de como libertar a mente do temor, ou de como tê-la tranqüila, para dissolver o temor, mas se o medo pode ser compreendido. Embora eu tenha medo
de várias coisas (…) esse medo, em si, é resultado de um processo total (…) Isto é, o “eu”, o ego, em sua atividade, “projeta” o medo. A substância é o pensamento concernente ao
“eu”, e sua sombra é o medo; e, evidentemente, não adianta batalhar contra a sombra, a reação. (…) (Percepção Criadora, pág. 108-109)

Quando há alguma oculta sombra de medo, ela deforma todo o pensamento, toda a vida, destrói a afeição, o amor e, portanto, temos de realmente entendê-lo. (…) (Talks and
Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 38)

Vamos, portanto, examinar a questão do que fazer em relação ao medo. Se não resolvermos esse medo, viveremos na escuridão, (…) na violência. Uma pessoa que não tem medo
não é agressiva; um ser humano que não tenha nenhum sentimento de medo, de espécie alguma, é verdadeiramente livre e pacífico. (O Mundo Somos Nós, pág. 64)

O pensamento criou um centro, o “eu”; eu, minha pátria, minha opinião, meu Deus, minha experiência, minha casa. (…) Eis o centro de onde agis. Esse centro divide. Esse centro e
essa divisão são as causas do conflito (…) Vós observais desse centro e continuais nas garras do medo, porque o centro se separou da coisa a que chama “medo”; diz ele: “quero
livrar-me do medo”, “quero analisá-lo”, “quero dominá-lo” (…) etc.; com ele estais tornando mais forte o medo. (Fora da Violência, pág. 62)

Pode a mente olhar o medo sem esse centro? Podeis olhar o medo sem lhe dar nome? No momento em que dais nome a qualquer coisa, a separais de vós. Podeis, pois, observar sem
aquele centro, sem dar nome à coisa chamada “medo”, no momento em que surge? Isso requer extraordinária disciplina, porque, então, a mente está olhando sem o centro a que se
habituou, e o medo, tanto o oculto como o manifesto, está acabado. (Idem, pág. 62-63)

A ambição gera a mediocridade da mente e do coração; a ambição é superficial, porque está incessantemente a buscar um resultado. O homem que quer ser santo, ou político
notável, ou grande administrador, está interessado em seu preenchimento pessoal. Quer identificado com uma idéia, uma nação, (…) um sistema religioso ou econômico, o impulso
para se ser bem-sucedido fortalece o “eu”, o ego (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 180)

(…) O problema é este: percebo que sou ambicioso. (…) A ambição, inclusive a espiritual, implica um estado em que não existe amor. O desejo de ser alguém, espiritualmente, é
sempre ambição. Percebendo bem isso, é possível apagar instantaneamente a ambição, abandonando essa luta perene (…)? (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 12)

(…) Cônscios da ambição, percebemos a sua positividade, sua crueldade na competição, seus prazeres e dores; percebemos igualmente os seus efeitos na sociedade e na vida de
relação; sua (…) amoralidade social e comercial; suas sutis e ocultas tendências, causadoras de disputas. A ambição gera a inveja e a malevolência, o poder de dominar e de
oprimir. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 50)

Assim, pois, o importante é que se esteja cônscio, que se perceba o fato de que a ambição, sob qualquer forma, gera inveja, antagonismo, e que, com seu preenchimento, vem o
medo. (…) (Visão da Realidade, pág. 266)

Se o nosso objetivo é o (…) desejo de auto-engrandecimento, consciente ou inconsciente, é necessário ambição para consegui-lo. Tal ambição, sendo a expressão da ansiedade pelo
sucesso pessoal, deve produzir ação anti-social e tristeza nas relações humanas. (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 132)

O mal de todos nós é querermos ir “muito longe”. Queremos alcançar um resultado; queremos o mais. Por conseguinte, experimentamos sempre com o intuito de “chegar”. (…) O
que importa, pois, é compreender esse motivo, essa força propulsora. (…) (A Renovação da Mente, pág. 26)

Como vedes, a dificuldade está em que somos tão profundamente ambiciosos. (…) A ambição, pois, é o motivo; (…) E, em vez de compreendermos essa ambição e darmos fim a ela
definitivamente, empenhamo-nos para nos tornarmos “mais e mais” (…) E enganamo-nos, assim, a nós mesmos e criamos ilusões. (…) (Idem, pág. 27)

Nessas condições, (…) não procureis ir “muito longe”; mas investigai o motivo, (…) as atividades da mente que deseja ir longe. (…) Ou é porque desejamos fugir de nós mesmos, ou
porque ambicionamos influência, prestígio, posição, autoridade. (…) (Idem, pág. 27)

(…). Como disse, (…) a cólera pode resultar de causas físicas ou psicológicas. Zangamo-nos, talvez, porque estamos sendo frustrados, nossas reações defensivas estão sendo
quebradas, nossa segurança, (…) cuidadosamente construída, está sendo ameaçada, etc. (…) (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 43)

Não estais realmente preocupado com a injustiça; se estivésseis, jamais vos zangaríeis; ficais zangado, porque há satisfação emocional no ódio e na raiva; senti-vos dominados pelo
ódio e pela raiva. (…) (Idem, pág. 46)

A cólera tem essa peculiar qualidade de isolamento; como a tristeza, isola e - pelo menos temporariamente - cessa, por completo, o estado de relação. A cólera tem a força e a
vitalidade passageiras dos que estão isolados. Há um estranho desespero na cólera; porque isolamento é desespero. (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 67-68)
Quando resistis à cólera ou ao ódio, o que foi que realmente sucedeu? Construístes um muro contra o ódio, mas o ódio continua existente; o muro está apenas a escondê-lo de vós.
Ou vos determinais a não vos irritar, mas essa própria determinação faz parte da cólera, (…) dá mais força à cólera. (…) Quando resistis, controlais, reprimis, (…) tudo isso vem a
dar no mesmo, porque todos esses atos provêm da vontade (…) (A Outra Margem do Caminho, pág. 61)

A mesma coisa se verifica (…) Pensai na cólera de maneira completa, olhai-a de frente, sem procurar escusas. No momento em que olhais o fato de frente, começa a transformação.
(…) Assim, acompanhar um pensamento do princípio ao fim significa ver o que é, sem desfiguração; e, quando percebo o fato diretamente, só então ele se transforma. Não é
possível realizar a transformação enquanto estiver me evadindo, fugindo do que é (…) (A Arte da Libertação, pág. 143-144)

(…) Permanecendo conscientes, descobrimos, por exemplo, que estamos encolerizados porque alguém está contradizendo a nossa crença. Examinando-a (a cólera) mais
detidamente, inquirimos a nós mesmos (…) Com esse modo amplo de observar e compreender a significação íntima da cólera, ela cedo se desvanecerá e a mente se tornará mais
penetrante, (…) tranqüila e sábia (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág.144)

Um dos nossos maiores problemas é a violência, não só no exterior, mas também no interior. A violência não é apenas física, pois a estrutura da psique está baseada na violência.
Esse esforço incessante, esse constante ajustamento a um padrão, a perene busca dos prazeres, por conseguinte, o desejo de evitar tudo o que causa dor (olhar, observar o que é) -
tudo isso faz parte da violência. A agressividade, a competição, a constante comparação entre o que é e o que deveria ser - tudo isso (…) são formas de violência. (…) (A
Importância da Transformação, pág. 9)

A violência, como podemos observá-la em nós mesmos, faz parte de nossa herança animal. Uma boa parte de cada um de nós é animal e, se não compreendemos nossa estrutura de
entes humanos totais, e apenas tratamos de acabar com a violência, separadamente, daí resultará mais violência ainda. (…) (A Questão do Impossível, pág. 39)

A violência é uma forma de vontade. E pode-se viver neste mundo sem o perpétuo exercer do querer e do não querer, do gostar e do não gostar? Isso, em suma, significa viver
pacificamente. Mas nós temos de agir neste mundo e, assim sendo, é possível agir sem a vontade, a qual assume tantas formas, tais como ambição, competição, impulso de realizar,
preencher, rejeitar, resistir, é possível isso? (…) (A Essência da Maturidade, pág. 153)

A fonte da violência é o “eu”, o ego, que se expressa de muitos e vários modos - dividindo, lutando para tornar-se ou ser importante, etc.; que se divide em “eu” e “não eu”, em
consciente e inconsciente; que se identifica, ou não, com a família, a comunidade, etc. (…) Enquanto subsistir o “eu”, em qualquer forma que seja, sutil ou grosseira, haverá
inevitavelmente violência. (Fora da Violência, pág. 67)

(…) A violência é uma forma de energia; é a energia que, utilizada de certa maneira, se torna agressão. (…) (Idem, pág. 68)

Pois bem, vemos que a violência existente no mundo é em parte medo, em parte, prazer. Há uma extraordinária busca de sensações; nós as desejamos e incitamos a sociedade e
nô-las dar. (…) Ora, na própria compreensão e no percebimento da verdade a esse respeito, essa energia se torna inteiramente diferente. (Idem, pág. 73)

Vós percebeis a existência da violência em vossa vida diária. Se a condenardes, criareis o seu oposto, o ideal da não violência, o qual perpetua a violência (…) Mas na percepção
plena e flexível da violência e suas várias conseqüências, reside a nossa libertação dela, e não na mera substituição por outra forma de violência. (O Caminho da Vida, pág. 22)

Mas, há o condicionamento mais profundo, como, por exemplo, uma atitude agressiva perante a vida. A agressividade implica tendência de domínio, busca de poder, de posses, de
prestígio. (…) Pode uma pessoa julgar que não é agressiva, mas se (…) ela tem algum ideal, ou opinião, ou escala de valores, existe então tendência para a arrogância, que se
tornará gradualmente agressiva e violenta. (…) Esse condicionamento agressivo precisa ser descoberto, para vermos se o herdamos do animal ou se nos tornamos agressivos pelo
prazer de nos impormos aos outros, de tomar-lhes a frente. (A Questão do Impossível, pág. 61)

É possível viver sem agressão e, conseqüentemente, sem defesa? Significa todo esforço apenas uma série de ataques e defesas? Pode a vida ser vivida sem esse esforço destruidor?
(…) Todo esforço por vir-a-ser não redunda inevitavelmente em afirmação e expansão pessoais, do indivíduo, e, portanto, também do grupo ou da nação, conduzindo ao conflito, ao
antagonismo e à guerra? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 95-96)

(…) Esse “vir-a-ser” aquisitivo cria o oposto correspondente, tornando-se, assim, o ataque e a defesa, uma parte de nossa existência diária. Nenhuma solução se encontrará
enquanto pensarmos o sentirmos em termos de defesa e ataque, que só servem para nutrir a confusão e a luta. (Idem, pág. 96)

É possível pensar-sentir sem defesa nem ataque? Só será possível tal coisa quando houver amor, quando cada qual abandonar a cupidez, a malevolência, a ignorância, que se
expressam pelo nacionalismo, pela ambição de poder (…) Se o indivíduo desejar resolver permanentemente esse problema, é claro que o pensamento-sentimento deve libertar-se de
toda ânsia de posse e de todo temor. (Idem, pág. 96-97)

Intervenção, Vontade do Ego; Atrito, Conflito


Para compreender (…) ou experimentar a realidade, tem de haver discernimento. Discernimento é esse estado de pensamento-sentimento integrado, no qual cessam toda ansiedade
e escolha. (…) O desejo condiciona o pensamento-sentimento que, assim, torna-se incapaz de discernimento direto. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 53)

Portanto, o indivíduo tem de considerar, em primeiro lugar, quais as tendências e ansiedades que continuam e perpetuam o processo do “eu”. (…) Porque todo desejo age como
empecilho ao discernimento; toda ansiedade deturpa a percepção. (Idem, pág. 53)

Toda ansiedade e qualquer experiência que dela nasça, constituem o processo automantenedor do “eu”. Esse processo do “eu”, com seus desejos e tendências, cria o medo e daí
surge a aceitação do conforto e da segurança que a autoridade oferece. (…) Existe a autoridade do exterior, a autoridade de um ideal e a autoridade da experiência ou da memória.
(Idem, pág. 53-54)

Expondo isto por palavras diferentes, direi que existe a vontade de desejo, que é esforço, e a vontade de compreensão, que é discernimento. (…) A vontade de desejo está sempre em
busca de recompensa, de lucros, e assim cria os seus próprios temores. A moral social baseia-se nisso (…) (Palavras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 55-56)

O indivíduo é a expressão da vontade de desejo, e, no processo de sua atividade, o desejo cria o seu próprio conflito e sua tristeza. Daí o indivíduo tenta escapar indo para o
idealismo, para as ilusões, para as explicações e, desse modo, mantém ainda o processo do “eu”. Começa a existir a vontade de compreensão quando o desejo e suas experiências,
sempre recorrentes, deixam de existir. (Idem, pág. 56)

Se houver correta compreensão do fato de que não pode existir verdadeiro discernimento enquanto persistir a vontade de desejo, essa mesma compreensão faz com que o processo
do “eu” seja destruído. (…) Porém, a própria percepção do processo do “eu”, o discernimento de sua insensatez, de sua natureza transitória é que o destrói. (Palestras em Nova
York, Eddington, Madras, 1936, pág. 56)

Vejamos, pois, o que se entende por “vontade”. A vontade (…) é o prolongamento do desejo. (…) Desejo uma coisa e trato de obtê-la. Se é coisa agradável, trato de consegui-la
muito mais vigorosamente. (…) Ou, se é dolorosa, opondo-lhe resistência. Tanto-a resistência como o esforço de obtenção, tanto a busca do prazer como a fuga à dor, tanto o
desejo de alcançar uma coisa como o de repeli-la, implicam ação da vontade. (A Suprema Realização, pág. 109)

(…) A vontade é inteligência a serviço da expansão do “ego”, e a atividade da vontade para ser ou não ser, para adquirir ou renunciar, é sempre atividade do “ego”. Estar cônscio
do processo do ansiar, com a sua memória acumulativa, é estar em contacto com a Verdade, a única que liberta. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 271)

A vontade se manifesta também como arrogância, prepotência, ambição, desejo de poder, posição, prestígio. (…) Vede bem isto (…) que, enquanto a mente estiver agindo dentro de
uma área limitada, fechada, haverá necessariamente conflito. (O Novo Ente Humano, pág. 35)

Que significa esforço? Para a maioria de nós, esforço implica ação da vontade. (…) A revolução total tem de ser completamente inconsciente, não voluntária, não produzida por
nenhuma ação da vontade. A vontade de ação é ainda o desejo e, por conseguinte, ainda é o “eu”; e quando me reprimo com o fim de ser bom, com o fim de alcançar uma coisa,
(…) de ser mais nobre, isso ainda é desejo, ação da vontade, que procura modificar-se, vestir uma roupagem diferente. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 83-84)

Por exemplo, sou invejoso e atuo sobre a inveja com o fim de modificá-la, de modificar “o que é”. Mas, se houver compreensão da inveja, cessa a “vontade de ação” e então há só
o fato: sou invejoso. Se não há mais obstrução, resistência, julgamento, condenação - sendo tudo isso processo da vontade - então aquele fato já não tem significação, já não influi
no “processo” do vosso pensar. Corta-se assim, pela raiz, o problema da “aquisitividade”. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 88)

Assim, como poderá um ente humano operar tal transformação? Em geral, pensamos que o meio de operá-la é a vontade; isto é, o exercício da vontade, como meio de alcançar um
resultado. E a vontade se expressa de diferentes maneiras: pela resistência, pelo controle, o ajustamento, a repressão, a sublimação, a negação. (…) (A Suprema Realização, pág.
l08)

Com a cessação do processo do “eu”, dá-se uma mudança de vontade, a única que pode acabar com o sofrimento. Nenhum sistema, nem disciplina pode produzir mudança de
vontade. Tornai-vos apercebidos do processo do “eu”. No apercebimento sem escolha, cessa a dualidade, que só existe na ação da carência, do temor e da ignorância. (…)
(Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 80)

O mero controle ou a compulsão, uma carência vencendo outra carência, a simples substituição, é apenas uma mutação na vontade, que jamais poderá pôr termo ao sofrimento. A
mudança na carência é uma mudança em limitação, condicionamento ulterior do pensamento, que resulta numa reforma superficial. (…) (Idem, pág. 80)

(…) Se houver mudança de vontade pela compreensão do processo do “eu”, então haverá inteligência, intuição criadora, da qual unicamente pode provir relação harmoniosa com
os indivíduos, com o ambiente. (…) Quando há plena compreensão e, portanto, a cessação do processo do “eu”, advém uma vida isenta de escolha, uma vida de plenitude, (…) de
felicidade. (Idem, pág. 80)

Nenhuma busca dirigida pela “vontade de ação” pode tornar a mente tranqüila; só está tranqüila a mente quando compreendeu o processo integral da vontade, a ação da “vontade
de ser”. (…) Compreendida ela, sobrevém uma extraordinária transformação, uma revolução verdadeiramente transcendental, não produzida pela mente. Só essa revolução pode
construir um novo edifício. (…) Por conseguinte, muito importa compreendermos integralmente, vós e eu, esse problema do esforço. (Idem, pág. 88-89)

Assim, não havendo compreensão da vontade, do intelecto e das criações da mente - que não constituem processos separados, porém um processo total - há inevitavelmente conflito,
e a compreensão da mente é autoconhecimento. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 210)

Se, quando escutais tudo isso, fazeis algum esforço, isso é ainda resultado do conhecido. (…) A vontade de vir-a-ser, de ser, é ação do conhecido. (…) Por conseguinte, a ação da
vontade não pode encontrar nunca o que é real. Notai que todo conhecimento, toda experiência fortalece a vontade, o conhecido, o “eu”, o “ego”, e que essa vontade, esse “eu”
nunca pode perceber claramente o que é verdadeiro, jamais achará Deus. (…) (Viver sem Temor, pág. 17)

(…) A vontade nada tem que ver com o real, com “o que é”, senão que ela constitui a expressão do desejo do “eu”. Pensamos que, de algum modo, por meio da vontade,
chegaremos ao outro. Assim é que dizemos: “devo controlar o pensamento, devo discipliná-lo”. Quando o “eu” diz “devo controlar e disciplinar o pensamento”, é o pensamento
que se há separado a si mesmo como “eu” e assim controla o pensamento como algo separado dele. (El Despertar de la Inteligencia, pág. 171)

“Que entendeis por conflito?” O conflito em todas as suas formas; entre marido e mulher, entre (…) indivíduos com idéias opostas, entre o que é e a tradição, entre o que é e o
ideal, o que deveria ser, o futuro. O conflito é luta interior e luta exterior. Presentemente, há conflito em todos os níveis da nossa existência, tanto conscientes como inconscientes.
(…) A compreensão exige certo estado de paz. A criação só pode ocorrer quando há paz e felicidade, e não por meio de conflito, de luta. (Reflexões sobre a Vida, pág. 59)

O conflito, em qualquer esfera que seja, produz compreensão? Não há uma cadeia contínua de conflito no esforço, na vontade de ser, de vir-a-ser, positiva ou negativamente? A
causa do conflito não se torna efeito, e este, por sua vez, não se torna causa? Não há libertação do conflito, sem compreensão de o que é. O que é não pode ser compreendido por
meio da cortina da idéia; tem de ser apreciado de maneira nova. (…) Pela própria natureza, conflito é fator de separação, como o é toda oposição. (…) (Reflexões sobre a Vida,
pág. 60)

Temos, pois, conflito exterior e conflito interior; e o exterior não difere essencialmente do interior. São ambos parte do mesmo movimento, semelhante ao vaivém da maré. (…)
Deveis atender ao problema como um todo, e não dividi-lo em “interior” e “exterior”; do contrário, nunca sereis capaz de compreendê-lo. (…) (Experimente um Novo Caminho,
pág. 27)

(…) Tentai ficar cônscio de vosso condicionamento. Não podeis conhecê-lo senão indiretamente, em relação com alguma coisa. (…) Nós só conhecemos o conflito. O conflito existe
quando não há integração entre o desafio e a reação. Esse conflito é resultado de nosso condicionamento. Condicionamento é apego: ao emprego, à tradição, à propriedade, a
pessoas, idéias, etc. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 11)

O conflito da aquisição manifesta-se nas atividades culturais, na vida de relação, na acumulação de bens materiais. A tendência aquisitiva, sob qualquer forma que seja, gera
desigualdade e brutalidade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 167)

Mas, já estamos tão acostumados com o conflito! Conflito com o mundo, com o nosso semelhante, com os filhos, a mulher; conflito no emprego; entre grupos, famílias, sociedades,
comunidades, nações; e o conflito entre desejos divergentes, contraditórios, entre compulsões, impulsos. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 100)

Apresenta-se o conflito quando há contradição, quando há dois desejos a “puxar” em diferentes direções. (…) E, assim, tendes conflito, não só o conflito consciente, mas também o
conflito inconsciente (…), inerente à sociedade, às ocupações que exerceis. (Idem, pág. 100)

(…) O conflito surge porque nós nos servimos do presente como de uma passagem para o futuro ou para o passado. (…) Sem o acervo do passado, sem o condicionamento, não
existe pensamento. Mas o pensamento, que é resultado do passado, não pode compreender o presente, uma vez que se serve apenas do presente como passagem para o futuro. (…)
(O que te fará Feliz?, pág. 103)

Enquanto há vir-a-ser” há conflito. E o vir-a-ser é sempre o passado a servir-se do presente, para ser, para alcançar seus fins. No processo desse “vir-a-ser” fica o pensamento
aprisionado na rede do tempo. E o tempo não é solução para os nossos problemas. (…) (Idem, pág. 103)

Que acontece quando vos achais em conflito? Pelo conflito, fatiga-se, embota-se, insensibiliza-se a mente-coração. O conflito fortalece os recursos da autoproteção; o conflito é a
substância em que se nutre e prospera o “ego”. Pela sua natureza intrínseca, o “ego” é a causa de todo conflito, e, onde existe “ego”, não existe criação. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 63)

Não achais importante compreender e, assim, transcender o conflito? Vivemos, em regra, num estado de conflito interior que produz tumulto e confusão exteriores. Muitos se
refugiam desse conflito na ilusão, em atividades várias, na aquisição de saber e de idéias; outros se tornam indiferentes e deprimidos. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.
40)

Afirmo existir um modo de vida em que cessa de todo o conflito, uma maneira de viver espontaneamente, naturalmente, estaticamente. Isso para mim é um fato, não é teoria. E eu
desejo ajudar os que estão em aflição, (…) os que procuram descobrir a causa desse conflito, os que estão à procura de solução (…) - desejo ajudá-los a despertar em si próprios
aquela inteligência que dissipa, pela compreensão, a causa do conflito. (…) (A Luta do Homem, pág. 112)

Mas, que é esse conflito? Conflito (…) só pode existir entre duas coisas falsas; não pode existir conflito entre o entendimento e a ignorância, entre o verdadeiro e o falso. Nessas
condições, o conflito do homem, suas dores e sofrimentos, jaz entre duas coisas falsas, entre o que ele considera essencial e não essencial. (Idem, pág. 112)

Enquanto não compreendermos o exato valor do ambiente, criador do indivíduo, que contra ele se bate, haverá luta, conflito, (…) restrição e limitação crescentes. (…) E a mente e
o coração, que são para mim a mesma coisa, (…) se debilitam e obscurecem pela memória, é o resultado da busca de segurança, do ajustamento ao ambiente. (…) (A Luta do
Homem, pág. 113)
(…) Mas, se fordes ao encontro do ambiente sempre renovados, sem a carga dessa memória do passado, (…) se sois essa inteligência, essa mente que de contínuo se recria, sem se
ajustar (…), então, nessa novidade, nessa vivacidade, vereis surgir a compreensão de todas as coisas. Cessa aí todo conflito, porque inteligência e conflito não podem coexistir.
Cessa de todo a desarmonia, porque a inteligência funciona, então, em toda a sua plenitude. (Idem, pág. 113-114)

Descondicionamento, Novo, do Passado, da Tradição


Pergunto-me (…) se estamos cônscios de estar condicionados. Sabemos, vós e eu, que estamos condicionados, como cristãos ou hinduístas, condicionados de acordo com certa
norma de pensamento, certo padrão de ação, condicionados pela rotina de nossas ocupações diárias e todos os temores e tédios a ela inerentes? Sabemos que somos produto das
inumeráveis influências da sociedade? (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 25)

Estamos cônscios de tudo isso? (…) Não há condicionamento nobre e honroso, há só condicionamento. (…) E é possível a mente descondicionar-se? Mas o que nós vamos tentar,
em primeiro lugar, é “experimentar”, não teoricamente, (…) mas (…) praticamente, o fato de estarmos condicionados. (…) E, a seguir, o que devemos investigar por nós mesmos,
sem dependermos de nenhuma autoridade, é se há possibilidade de a mente se tornar descondicionada. (…) (Idem, pág. 25)

Muitos de nós recebemos, como parte de nosso condicionamento, a idéia de que o descondicionamento da mente é um processo gradual, que se estende através de várias vidas,
exigindo a prática de disciplinas, etc. Ora, tal pode ser o mais errôneo modo de pensar e o descondicionamento da mente pode ser, muito ao contrário, uma coisa imediata. Eu acho
que ele é imediato, e isto não é mera opinião. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 89)

Esse descondicionamento é essencial, porque os tempos atuais exigem uma nova compreensão criadora, e não a mera reação de um condicionamento do passado. Qualquer
sociedade que não saiba reagir ao desafio novo de um indivíduo ou grupo, tal sociedade tem de deteriorar-se. E a mim me parece - se desejamos criar um mundo novo, uma
sociedade nova - (…) que devemos ter livre a nossa mente. E essa mente nova não pode nascer sem um verdadeiro autoconhecimento. (Idem, pág. 89-90)

O nosso pensamento está condicionado pelo passado; o “eu” é o resultado de experiências armazenadas, sempre incompletas. A lembrança do passado está sempre absorvendo o
presente; o “ego” (…) está sempre a acumular e rejeitar, forjando de contínuo novas cadeias para o seu próprio condicionamento. À lembrança agradável, ele se apega, rejeitando
a desagradável. O pensamento deve transcender esse condicionamento, para que o Real seja. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 149-150)

Só a mente que investiga a fundo a questão do autoconhecimento, afastando de si toda autoridade (…) - só essa mente é capaz de descobrir a Realidade. (…) Mas, para descobrir o
que é verdadeiro, (…) se há Deus, necessita-se de liberdade da mente, (…) completa, e isso significa que se deve descondicionar a mente de todo o passado. (Palestras na Austrália
e Holanda, 1955, pág. 89)

Procuramos servir-nos do novo como meio de (…) consolidar o velho, e com isso corrompemos o presente, em que palpita a vida. O presente renova, e dá-nos compreensão do
passado. É sempre o novo que dá compreensão, e, na sua luz, assume o passado um significado novo e vivificante. Quando ouvimos uma coisa nova, ou a sentimos em nós, nossa
reação instintiva é compará-la com o velho, com algo já conhecido e sentido. (…) Essa comparação dá força ao passado, desfigura o presente, e por essa razão se transforma o
novo sempre em coisa passada e morta. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 170)

O que importa é não controlar o pensamento, mas entendê-lo, saber a sua origem (…) O pensamento nunca é livre, ele é sempre velho. O pensamento nunca pode ser, ele mesmo,
livre; ele pode falar de liberdade, mas ele é resultado de memórias, experiências e conhecimento passados; portanto, ele é velho. Ainda assim, deve-se ter essa acumulação de
conhecimento, porque de outra forma não se poderia funcionar, não se poderia falar um com o outro, etc. (The Awakening of Intelligence, pág. 96)

(…) O desafio é sempre novo, a ação, sempre velha. Encontrei-me ontem convosco, e hoje vindes à minha presença. Estais transformado, (…) estais mudado, sois novo; mas eu
conservo a vossa imagem de ontem. (…) Não vos encontro de maneira nova, mas com o vosso retrato de ontem; por isso, minha reação ao desafio é sempre condicionada. (…) Isto
é, o novo está sempre se absorvendo no velho, nos velhos hábitos, costumes, idéias, tradições, memórias. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 72)

Nunca há o novo, porque ides sempre ao encontro do novo com o velho; o desafio é sempre novo, mas vós o enfrentais com o velho. Assim, pois, o problema contido na pergunta é:
Como libertar o pensamento do velho, para que seja novo todo o tempo? (…) (Idem, pág. 72)

Ora, a velha reação procede do pensador. O pensador não é sempre o velho? Porque o vosso pensamento está fundado no passado. Como é então possível o novo? Só é possível
quando não há mais resíduo de memória, e há resíduo quando a experiência não é completada, concluída, terminada, isto é, quando a compreensão da experiência é incompleta.
(Da Insatisfação à Felicidade, pág. 72-73)

(…) Não é certo que, por muitas de nossas ações, estimulamos de maneira positiva a expansão do “ego”? Nossa tradição, nossa educação, nosso condicionamento social, tudo isso
sustenta, de modo positivo, as atividades do “ego”. (…) Como pode o pensamento libertar-se desse condicionamento? Como pode ficar tranqüilo, em silêncio? Havendo essa
tranqüilidade, (…) mostra-se-nos a Realidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 188-189)

(…) Essa transformação é que é essencial, e ela não é alcançável por meio de nenhuma influência, de nenhum saber. O saber não resolve os nossos sofrimentos. Saber significa ter
explicações. Só suprimindo completamente o saber, só deixando de considerá-lo como meio de orientação, só então a nossa mente poderá sentir o inefável, será capaz de produzir
uma transformação fundamental, uma revolução verdadeira. (Claridade na Ação, pág. 91-92)

(…) Que se passa em vossa mente, ao compreenderdes que ela precisa ser nova, que o vosso passado tem de desaparecer? (…) Isto é, se desejais compreender um quadro moderno,
é claro que não deveis chegar-vos a ele com vossa formação clássica. Se reconhecerdes isso como um fato, que acontece à vossa formação clássica? Vossa formação clássica fica
ausente quando há a intenção de compreender um quadro moderno - o desafio é novo e reconheceis que não o podeis compreender através do crivo do passado. (A Arte da
Libertação, pág. 119)

Assim é que vamos averiguar se há alguma parte do cérebro que não esteja condicionada. Tudo isso é meditação, o descobri-lo. Pode uma pessoa dar-se conta do condicionamento
em que vive? Pode você verificar que está condicionado como cristão, capitalista, socialista, liberal, de que um crê nisto e outro não crê naquilo? - tudo isso é parte do
condicionamento. (La Verdad y la Realidad, pág. 208)

É o pensamento que se dá conta de que está condicionado? Ou existe uma observação, uma percepção alerta, na qual há pura observação? Existe um ato ou uma arte de puro
escutar? (Idem, pág. 208)

Importa não nos limitarmos a escutar o que se diz, e aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas que também observemos o “processo” do nosso pensar, em todas as nossas relações. Porque nas
relações, que são o espelho, vemo-nos a nós mesmos como somos realmente. E se não condenarmos nem compararmos, será então possível penetrarmos mais fundo no “processo”
da consciência. Só então pode ocorrer uma revolução fundamental. (…) O homem que se está libertando de todo condicionamento, que está plenamente vigilante - esse é um homem
religioso, e não aque1e que meramente crê. E só esse homem (…) é capaz de realizar uma revolução no mundo. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 90)

A coisa importante, por conseguinte, é o autoconhecimento, percepção de nós mesmos, como somos, no espelho das relações. É muito difícil observarmos a nós mesmos sem
desfiguração, porque fomos educados para desfigurar, para condenar, comparar, julgar; mas se a mente é capaz de observar a si mesma sem desfiguração - e ela o é - descobrireis,
pelo experimentar, que a mente pode descondicionar-se. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 9)

Ora, eu estou sugerindo que a mente pode ser descondicionada. Certo, essa possibilidade só existe quando percebemos que estamos condicionados e não aceitamos esse
condicionamento (…) A mente descondicionada é a única mente verdadeiramente religiosa; e só a mente religiosa pode realizar a revolução fundamental. (Idem, pág. 10)

Como vemos, (…) Uma mente inferior nunca descobrirá o que existe além da esfera mental; e mente condicionada é mente inferior, quer creia em Deus, quer não. É por essa razão
que todas as crenças e dogmas que defendemos, todas as autoridades, principalmente as (…) espirituais, têm de ser rejeitadas, porque só então se tornará possível o descobrimento
do que é eterno, atemporal. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 10-11)
(…) Vem a transformação quando há compreensão direta e, por conseguinte, certa espontaneidade e nenhum senso de compulsão. Mas isso só é possível quando sois capazes de
escutar muito tranqüilos, interiormente, com completa ausência de barreiras. Se vos modificais em conseqüência de argumentação, de imperativos lógicos, de influência, estais,
então, apenas condicionado numa direção diferente. (Claridade na Ação, pág. 91)

Portanto, é possível aos seres humanos, a você, realizar uma completa mutação? Tal mutação transforma as células do cérebro. Quer dizer, tem-se ido em direção ao norte por toda
a vida e alguém vem e diz: “Ir para o norte não faz sentido, não tem valor, não há nada lá. Vá para o leste ou o oeste ou para o sul”. E porque você ouve, (…) está interessado, (…)
determinado, você vai para o sul. Nesse momento, quando você vira e vai para o sul, há uma mutação nas células do cérebro.

Porque ir para o norte se tomou o padrão, a moda, e, quando você vai para o leste, você quebra o padrão, correto? É simples. Mas requer que escutemos, não meramente palavras,
não apenas com a audição do ouvido, mas que escutemos sem nenhuma interpretação, (…) comparação, escutemos diretamente, sem trazer à tona suas tradições, seu background,
sua interpretação. Então esse escutar verdadeiro quebra seu condicionamento. (Last Talks at Saanen, 1985, pág. 99)

Agora (…) vereis que, embora a reação, o movimento do pensamento, pareça tão célere, existem vãos, existem intervalos entre os pensamentos. Entre dois pensamentos há um
período de silêncio não relacionado com o “processo do pensamento”. Se observardes, vereis que esse período de silêncio, esse intervalo, não é de tempo; e o descobrimento desse
intervalo, o completo “experimentar” do mesmo, vos liberta do condicionamento. Assim, a compreensão do processo do pensar é meditação. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed.,
pág. 179-180)

(…) É só quando a mente não está dando continuidade ao pensamento, só quando tranqüila, com uma tranqüilidade não provocada, isto é, sem nenhuma ação causal - é só então
que estamos livres do background. (…) (Idem, pág. 180)

A compreensão do processo integral do condicionamento não nos vem por meio de análise ou de introspecção; porque, no momento em que temos o analista, esse mesmo analista
faz parte do “fundo” condicionado (background); a sua análise, portanto, não tem valor. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 178)

Creio que algo ocorre. Vejo que estou condicionado e me separo a mim mesmo do condicionamento, sou diferente do condicionamento. E vem você e diz: “Não, não é assim, o
observador é o observado”. Se posso ver, ter o discernimento - de que o observador é o observado - então o condicionamento começa a dissolver-se. (La Verdad y la Realidad, pág.
39)

Nossa investigação, por conseguinte, deve visar, não à solução de nossos problemas imediatos, mas, sim, a descobrir se a mente - não só a mente consciente, mas também a
inconsciente, (…) profunda, onde estão depositadas todas as tradições, lembranças, e herança racial - se a totalidade da mente pode ser posta de lado, abandonada. (…)
(Transformação Fundamental, pág. 10)

(…) E podemos estar cônscios desse condicionamento sem lhe opormos nenhuma reação, sem condená-lo, (…) alterá-lo, (…) para que o próprio “processo” de condicionamento
(…) seja “queimado” pela raiz? (…) (Idem, pág. 11)

Se a mente puder libertar-se do seu condicionamento, dos seus desejos, (…) disciplinas, padrões, acidentes, haverá então o libertar da mente do passado. Dessa liberdade virá o
silêncio, a tranqüilidade mental. Essa tranqüilidade não pode ser feita, mas ocorre quando a mente é livre. (…) O que está num movimento extraordinário, (…) está quieto. E dessa
tranqüilidade surge o mistério da criação, aquela verdade não mensurável pela mente. (As Ilusões da Mente, pág. 107)

(…) Porque (…) só do vazio pode provir uma coisa nova, e não da mente que está “carregada”, condicionada. O novo não é condicionado pelo velho. O novo não é reconhecível
pelo velho. (…) Só desse vazio extraordinário, vigilante, sensível, pode provir o novo. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 16)

Portanto, esta é a primeira coisa que se deve perceber: que não podeis contar com ninguém para vos descondicionardes. Ao percebê-la, ou vos assustareis, vendo que não podeis
contar com ninguém, mas só e unicamente com vós mesmos (…); ou, reconhecendo que ninguém pode valer-nos e, portanto, vós mesmos tendes de trabalhar, já não sentireis medo e
tereis vitalidade, energia, entusiasmo. (…) Sereis vosso próprio mestre, vosso próprio discípulo; estareis aprendendo, descobrindo. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 160)

O importante é a destruição, não a mudança; esta é apenas a continuidade modificada do que foi. Todas as reformas sociais e econômicas são meras reações. (…) Essa mudança
não destrói as raízes do egocentrismo. (Diário de Krishnamurti, pág. 13)

O que deve interessar-nos, pois, é destroçar a mente, para que algo novo possa ocorrer. (…) Há necessidade dessa revolução; torna-se necessária a total destruição de todos os dias
passados, pois, do contrário, não teremos a possibilidade de nos encontrarmos com o novo. E a vida é sempre nova, tal como o amor. O amor não tem ontem ou amanhã; é sempre
novo. (…) (O Passo Decisivo, pág. 123)

(…) Requer-se, pois, uma mente diferente, (…) verdadeiramente religiosa. Só a mente que ama é verdadeiramente religiosa, e a mente religiosa é que é revolucionária, e não a que
está sob o domínio de crenças e dogmas. Quando a mente está cônscia (…) de que se acha condicionada, nessa percepção apresenta-se um estado que não é condicionado.
(Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 27)

(…) Mas o condicionamento da mente deve quebrar-se por si, a mente nada pode fazer nesse sentido. Estando condicionada, não pode atuar sobre seu próprio condicionamento.
(…) Vós não podeis destruir o vosso condicionamento; mas o próprio percebimento do fato de estardes condicionado produz uma vitalidade que destrói o condicionamento. (Da
Solidão à Plenitude Humana, pág. 240)

Quando conhecerdes o seu processo integral - como raciocina ela, os seus desejos, “motivos”, ambições, ocupações, sua inveja, sua avidez, seu temor - então a mente poderá
transcender-se a si mesma e, fazendo-o, dar-se-á o descobrimento de algo que é totalmente novo. Essa qualidade de novo infunde um ardor extraordinário, um descomunal
entusiasmo, que dá origem a profunda revolução interior, e só essa revolução interior poderá transformar a mundo. (Visão da Realidade, pág. 18)

A percepção disso é o fim do condicionamento. Quando se der conta de que o observador é o observado, essa é a verdade. Então, nesse dar-se conta - que é a verdade - o
condicionamento desaparece. (…) (La Verdad y la Realidad, pág. 39)

Esvaziamento da Mente; Saber Ver, Sem o Pensamento


Para que haja o bem-estar do homem, faz-se necessária uma transformação, não no nível superficial porém no centro. O centro é o “eu”, que está sempre acumulando. (…) Nessas
condições, se vós e eu reconhecemos esse fato, surge então o problema: pode a mente despojar-se de todo o seu conteúdo, libertar-se de toda a carga que ela mesma se impôs ou
que lhe foi imposta?

Só quando a mente está vazia, existe a possibilidade de criação; mas não falo desse vazio superficial de que quase todos nós nos queixamos. (…) Não falo dessa espécie de vazio,
que é falta de reflexão. Pelo contrário, refiro-me ao vazio que resulta de uma extraordinária atividade de reflexão, quando a mente, percebendo a sua própria capacidade de criar
ilusões, passa além. (Claridade na Ação, pág. 154-155)

(…) Para ficarmos livres da acumulação, é preciso profundo conhecimento de nós mesmos, e não o conhecimento superficial das poucas camadas claras de nossa consciência. O
descobrir e conhecer todas as camadas de nossa consciência é o começo da verdadeira meditação. Na tranqüilidade da mente-coração, reside a sabedoria e a Realidade. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 77)

A Realidade é algo que devemos sentir, e não objeto de especulação. Mas só poderemos senti-la depois de a mente-coração haver cessado de acumular. A mente-coração não deixa
de acumular, pela simples negativa ou determinação, mas somente pela autovigilância; pelo autoconhecimento descobre-se a causa da acumulação. Só é possível sentir a Realidade
depois de cessar o conflito dos opostos. (…) (Idem, pág. 77)

O exame dessa questão requer não só o ato de escutar, mas também o ato de perceber, de ver. Em verdade, escutar é ver. Para ver uma coisa mui claramente, (…) a pessoa deve
olhar negativamente. “Olhar negativamente” uma coisa significa olhá-la sem permitir que seja deformada pelo preconceito, pela opinião, experiência, saber, pois tudo isso
impede-nos o olhar. (Encontro com o Eterno, pág. 36)

(…) A compreensão só ocorre ao ficarmos completamente livres de nosso condicionamento. O condicionamento é o preconceito. Por isso não vos preocupeis com a verdade, e
deixai que a mente se conscientize da própria prisão. A liberdade não está na prisão. A beleza do vazio é liberdade. (O Começo do Aprendizado, pág. 207)

Agora, se observardes com muito cuidado, vereis que, embora a reação, o movimento do pensamento, pareça tão célere, existem vãos, existem intervalos entre os pensamentos.
Entre dois pensamentos há um período de silêncio não relacionado com o “processo” do pensamento. Se observardes, vereis que esse período de silêncio, esse intervalo, não é de
tempo; e o (…) completo “experimentar” do mesmo vos liberta do condicionamento. Assim, a compreensão do processo do pensar é meditação (…) (Que Estamos Buscando?, pág.
180)

O consulente pergunta: “É possível esvaziar a consciência de todo o seu conteúdo - tristezas, conflitos, lutas, as terríveis relações humanas, brigas, ansiedades, ciúmes, afeição,
sensualidade? Esse conteúdo pode ser esvaziado? Se ele for esvaziado, haverá uma espécie diferente de consciência? (…) (Perguntas e Respostas, pág. 115-116)

É possível, sim, esvaziar completamente o conteúdo da consciência. A essência desse conteúdo é o pensamento, que construiu o “eu” - que é ambicioso, voraz, agressivo. Este
conferencista assegura-lhes que sim: ele pode ser eliminado completamente. Isso significa que não há um centro a partir do qual você está agindo. (Idem, pág. 116)

(…) Agora, para esvaziar o consciente - o que significa compreender, no seu todo, o “estado do ser”, (…) de consciência - temos de ver de que ele se compõe, temos de estar
cônscios das várias formas de condicionamento, que são as memórias da raça, família, grupo, etc, as várias experiências que não se completaram. (A Arte da Libertação, pág. 118)

Deve haver uma maneira diferente de descondicionarmos todo o nosso ser, dissolvendo as lembranças existentes, de modo que a mente seja nova a cada momento. Como conseguir
isso? (…) Ora, pode-se enfrentar o dia de hoje, o presente, sem o pensamento de ontem? (…) (Idem, pág. 118)

Que se passa em vossa mente, ao compreenderdes que ela precisa ser nova, que o vosso passado tem de desaparecer? (…) Isto é, se desejais compreender um quadro moderno, é
claro que não deveis chegar-vos a ele com vossa formação clássica. (…) (Idem, pág. 119)

Ao perceberdes a verdade aí contida, está dissolvido o passado. Só a verdade descondiciona completamente, e perceber a verdade do “que é” requer enorme atenção. (…) O
homem que deseja compreender a verdade, deve aplicar-lhe toda a sua atenção, e essa atenção integral só vem quando não há escolha e, portanto, nenhuma distração. (…) (Idem,
pág. 119-120)

Só a mente vazia pode ver com clareza, e não a mente abarrotada de informações e conhecimentos, não a mente que está incessantemente ativa, no afã de buscar, alcançar, exigir.
Mas a mente vazia não está “em branco”. (…) E só nesse vazio há compreensão, há criação. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 18)

Enquanto a mente está entravada pelo passado, pejada de saber, de lembranças, de juízos, o novo não pode existir. Enquanto a mente constituir o centro do “eu', que é resultado do
tempo, não há possibilidade de realizar-se o atemporal. (Claridade na Ação, pág. 153)

Podemos atacar esse problema de outra maneira? Pode a mente, a totalidade da mente, esvaziar-se a si mesma de tudo, do conhecimento e do não-conhecimento - o conhecimento
da ciência e da linguagem, e também o mecanismo do pensamento que está funcionando todo o tempo? Pode a mente esvaziar-se não só no nível consciente senão em suas camadas
mais profundas e secretas? A partir desse vazio, pode o conhecimento operar e também deixar de operar? (Tradición y Revolución, pág. 331)

Vejamos. Pode a mente esvaziar-se de todo o conteúdo - o passado - de modo que não tenha motivo algum? Pode esvaziar-se e pode esse vazio utilizar o conhecimento, tomá-lo,
usá-lo e abandoná-lo, porém permanecendo a mente sempre vazia? (Idem, pág. 331)

Vazia no sentido de que a mente é nada; um vazio que tem seu próprio movimento, que não é mensurável em termos de tempo. Um movimento que tem lugar no vazio e que não é o
movimento do tempo, pode operar no campo do conhecimento, e não há outra operação. Esse movimento só pode operar no campo do conhecido e em nenhuma outra parte. (Idem,
pág. 331-332)

A questão, pois, é: Como esvaziar a mente? Não há sistema, nem fórmula alguma. Deveis perceber a realidade deste fato: que a mutação é absolutamente necessária para a
salvação do homem, para vós e para mim, para nossa salvação, (…) liberdade, (…) libertação do sofrimento, das agonias da vida. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 177)

Esse vazio que é força criadora, essa passividade ardente, não se consegue por ato de vontade. (…) Se desejais compreender, cumpre esteja tranqüila a mente-coração. (…) Essa
percepção silenciosa (…) surge quando o pensamento-sentimento já não está preso na rede do vir-a-ser. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 87)

A mutação só é possível quando a mente está totalmente vazia de pensamento - assim como o ventre materno; (…) quando o ventre está vazio, (…) vem à luz um novo ser. A mente
deve estar vazia da mesma maneira; só no vazio pode verificar-se uma coisa nova - algo novo. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 177)

Cônscio de tudo isso, pergunto-me a mim mesmo se há possibilidade de a mente ser livre, de ficar completamente vazia do passado e capaz, por conseguinte, de ver algo que não
seja projeção dela própria, que não seja de sua mesma fabricação. Para descobrirdes se isso é possível, deveis experimentar. (…) (Claridade na Ação, pág. 154)

Cada decisão de controlar gera resistência. Na realidade, a meditação é o completo esvaziamento da mente (…) O conflito é criado pelo pensamento que se identifica com uma das
suas partes, que se torna o “eu”, e as várias divisões desse “eu”. (…) Só há o ver “o que é” e a própria percepção vai além do que é. O esvaziamento da mente não é uma atividade
do pensamento nem um processo intelectual. O contínuo ver o que é, sem nenhuma distorção, esvazia de modo natural a mente de todo pensamento e, no entanto, a própria mente
pode utilizar o pensamento quando necessário. (O Começo do Aprendizado, pág. 211-212)

(…) Para se ver qualquer coisa plenamente, integralmente, necessita-se de liberdade, e a liberdade não vem por meio de compulsão, (…) de disciplina, de repressão, mas só quando
a mente se compreende a si mesma, o que é autoconhecimento. (…) (A Arte da Libertação, pág. 47)

Liberdade significa esvaziar a mente do conhecido. (…) Isso não significa que a mente deva libertar-se do conhecimento “factual”, pois, em certo grau, necessitamos desse
conhecimento.(…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, pág. 214)

(..) Agora, para esvaziar o consciente - o que significa compreender, no seu todo, o “estado de ser” o estado de consciência - temos de ver de que ele se compõe, (…) de estar
cônscios das várias formas de condicionamento, que são as memórias de raça, família, grupo, etc., as várias experiências que não se completaram. (A Arte da Libertação, pág. 118)

Pois bem, podem-se analisar essas lembranças, tomar uma a uma as reações (…) desdobrando-as, examinando-as minuciosamente e dissolvendo-as; mas, para tal, necessita-se de
tempo infinito, paciência e atenção ilimitadas. (…) Deve haver uma maneira diferente de descondicionarmos todo o nosso ser, dissolvendo as lembranças existentes, de modo que a
mente seja nova a cada momento. (…) (Idem, pág. 118)

Como conseguir isso? É o seguinte: costumamos enfrentar a vida com as velhas lembranças, as velhas tradições, os velhos hábitos; enfrentamos o dia de hoje com o de ontem. Ora,
pode-se enfrentar o dia de hoje, o presente, sem o pensamento de ontem? (Idem, pág. 118)

Se prestastes atenção até aqui, ocorrer-vos-á naturalmente esta pergunta: “como posso libertar-me de toda acumulação do passado, de todo o meu condicionamento?” Não há
“como”; só há o descobrimento da Verdade. (…) (Transformação Fundamental, pág. 42)

(…) Enquanto a experiência deixar vestígio de memória, que é tempo, nunca será possível experimentar o que é eterno. A mente, portanto, deve deixar-se morrer, momento a
momento, para cada experiência. Efetivamente, só nesse estado ela é criadora (Idem, pág. 43)

Pergunta: Depois de nos “esvaziarmos” do “eu”, que há para preencher a mente?


Krishnamurti: (…) Primeiro, tratai de “esvaziar” a mente e, depois, descobrireis o que há(…) Temos muito medo do vazio e desejamos preenchê-lo.(…) É o fugir que gera o medo.
(…) Quando tiverdes compreendido essa solidão, depois de atravessá-la e ultrapassá-la, descobrireis por vós mesmos o que há quando o “eu” já não existe. (…) (O Homem e seus
Problemas em Conflito, 1ª ed., pág. 76-77)

(…) Mas (…) deveis começar pelo vazio. A taça só é útil quando vazia. Mas, para compreender esse vazio, é preciso atravessá-lo num clarão (…) e lançar a base correta. Então, vós
sabereis; nunca mais perguntareis o que há além daquele vazio. (Idem, pág. 77)

Muito importa, pois, aprender a ver, a observar. E que estamos observando? Não apenas o fenômeno externo, mas também o estado interior do homem. Porque, a menos que haja
uma revolução fundamental, radical, na psique, na raiz mesma de nosso ser, o mero apagar, (…) legislar na periferia é insignificante. Assim, o que nos interessa é descobrir se o
homem é capaz de efetuar uma radical transformação em si próprio - não de acordo com certa teoria, filosofia, porém vendo a si próprio tal como é. Esse próprio percebimento
produzirá a transformação radical. (…) (Fora da Violência, pág. 13)

E que se entende por ver? (…) Estou certo de que se pode ver qualquer coisa diretamente, independentemente de persuasão verbal, argumentação ou raciocínio intelectual. (…)
Para mim, ver é uma ação de caráter imediato, independente do tempo. (…) (O Passo Decisivo, pág. 210-211)

Ora, é possível a vós e a mim (…) olhar a totalidade, em vez dos fragmentos? Como olhar? O ato de olhar (…) pode não ser tão importante quanto a maneira de olhar - como olhar.
(…) Pode-se olhar o todo da consciência humana - que constitui a pessoa, o “eu” - sem nenhuma interferência, juízo, avaliação (…)? (…) Porque o importante é o ato de olhar e
não aquilo que olhamos. Se sabemos olhar, então aquilo que olhamos muda completamente de natureza. Isso se pode observar em nossa vida de cada dia. (A Essência da
Maturidade, pág. 150)

(…) E, para se poder ver claramente, sem nenhuma desfiguração, deve desaparecer toda espécie de imagem - a imagem de serdes americano ou católico, rico ou pobre - todos os
vossos preconceitos devem desaparecer. E tudo isso desaparece no momento em que vedes claramente o que está à vossa frente. (…) (Fora da Violência, pág. 13)

Ver sem a interferência do pensamento ou da palavra, sem a reação da memória, difere totalmente do “ver” baseado no pensamento e na sensação. É superficial o que se vê com o
pensamento. Ver sem o pensar é visão integral. Contemplar uma nuvem sobre a montanha, sem o pensamento e suas reações, é o milagre do “novo”; e isso (…) é imensamente
explosivo (…) Isso é a totalidade da vida, não o fragmento do pensamento. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 49)

A compreensão independe do tempo. A compreensão está sempre no presente, nunca no amanhã; é agora ou nunca. (…) O “ver” (perceber) é instantâneo. (…) Esse “ver” é
explosivo, isento de cálculo ou raciocínio. Na maioria das vezes, é o medo que impede a compreensão. (…) O “ver” não apenas vem do cérebro, mas também o transcende. A
percepção do fato cria sua própria ação.(…) (Diário de Krishnamurti, pág. 64)

Não sei se já pensastes alguma vez no que significa olhar, ver. Trata-se simplesmente da percepção visual, ou o ver, olhar, é algo muito mais profundo do que a percepção visual?
Para nós, em geral, “ver' implica algo imediato: o que hoje está sucedendo e o que irá suceder amanhã; e o que amanhã sucederá terá o colorido do ontem. Nosso modo de olhar,
portanto, é muito estreito, muito aproximado, muito circunscrito, e nossa capacidade de olhar, muito limitada. (…) (O Passo Decisivo, pág. 120)

Necessita-se de uma mente muito firme; e não é firme a mente que não está livre. E considero importantíssimo termos a capacidade de ver, não apenas aquilo que desejamos ver,
não apenas o que é agradável e conforme as nossas estreitas e limitadas experiências, porém ver as coisas como são. O ver as coisas como são liberta a mente. É algo realmente
extraordinário - perceber diretamente, simplesmente, totalmente. (Idem, pág. 120-121)

Quando dizeis: “vejo aquela árvore”, estais vendo-a realmente, ou vos estais satisfazendo apenas com a palavra “vejo”? (…) Dizeis: “aquilo é um carvalho, um pinheiro”, (…) e
passais adiante? (…) Isso é muito difícil - olhar - porquanto significa que o nome, a palavra, com todas as lembranças, reminiscências associadas à palavra, têm de ser postos de
lado. (…) Se puderdes despojar a mente de todo esse absurdo, podereis então ver - e esse “ver” é completamente diferente de ver através da palavra. (O Passo Decisivo, pág. 132)

Assim sendo, (…) só há liberdade quando não há pensar, o que não significa ficar com a mente “em branco”. Pelo contrário, é preciso inteligência no grau mais elevado para se
chegar à percepção de que todo pensar é reação, é resposta da memória, e, por conseguinte, mecânico. (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 105)

(…) O observar é meditação, e isso não significa que, para observar, temos de meditar. Observar significa, com efeito, estar cônscio da interferência do pensamento; perceber como
a imagem que tendes da árvore, da pessoa, (…) intervém no ato de olhar. (…) Assim, observar significa: observar sem a interferência de nosso background. (…) (A Essência da
Maturidade, pág. 17)

(…) Mas a mente pode libertar-se do seu fundo de tradição, de experiências acumuladas, e dos vários impulsos, conscientes e inconscientes, que representam reações daquele
background; e ficar completamente livre desse background significa rejeitar, pôr de lado, morrer para o conhecido. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, pág. 214)

Se não há liberdade total, toda percepção, (…) visão objetiva se deforma. Só o homem totalmente livre pode olhar e compreender imediatamente. Liberdade subentende (…) a
necessidade de ter a mente completamente vazia. (…) Estamo-nos referindo a uma liberdade que vem natural e facilmente, sem ser solicitada - quando a mente é capaz de funcionar
em seu mais alto nível. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 120)

Ver e compreender não é questão de tempo, (…) de gradação. Ou vedes, ou não vedes. (…) Quando estais cônscios de vosso condicionamento, deveis observá-lo sem escolha; deveis
ver o fato, sem emitir opinião ou juízo a respeito do fato. Por outras palavras, deveis olhar o fato sem pensamento. Há então um percebimento, um estado de atenção, sem centro,
sem fronteiras, no qual o conhecimento não pode interferir; e é nesse estado de atenção total que a mente pode compreender o incognoscível. (…) (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 56-57)

Vivência Sem Imagem, Recalque, Mágoa, Lástima


A palavra inocente significa não ferir, ter a capacidade de não magoar (lastimar?) nem ser magoado. Pode a sua mente descobrir o caminho de viver sem recalque? Não pela
resistência, não pelo isolamento, mas morrendo para todas as identificações, (…) apegos, dependências, internamente, porque inevitavelmente é o que terá de acontecer. Quando
vem a morte, você está doente, gagá ou inconsciente. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 61)

No entanto, agora, estando cheio de vitalidade, não neurótico, mas são, equilibrado, capaz de raciocínio, com energia, morrer para todas essas coisas que se têm acumulado. Do
contrário, não há liberdade. Morrer todos os dias é amar. Não se pode amar se não há liberdade. Não há liberdade se há o “mim”, que é acumulação, imagens, movimento de
identificação e separação; esse “mim” impede o amor. Deve-se morrer todos os dias, para se conhecer o que é o amor. (…) (Idem, pág. 61)

(…) Enquanto alguém tiver uma imagem de si próprio, ficará magoado. Essa é uma das infelicidades na vida; (…) E que é isso que se sente ofendido? É a imagem de si mesmo, que
cada um há construído. Se a pessoa estivesse totalmente livre de imagens, não seria afetado nem pelas ofensas nem pela adulação. (La Llama de la Atención, pág. 88)

Agora quase todos encontram segurança na imagem que hão construído de si mesmos, que é a imagem criada pelo pensamento. De modo que, observando isso, perguntamo-nos se
essa imagem, construída desde a infância (…), pode terminar completamente. Porque só então poderemos ter algum tipo de relação com os outros. Na relação, quando não há
imagem, não há conflito. (…) (Idem, pág. 88)

(…) Ao inquirir desse modo, como temos de reconhecer as confusões, as contradições, o movimento total da consciência? Temos de reconhecê-lo pouco a pouco? Tomem, por
exemplo, o estigma psicológico que cada ser humano experimenta desde a infância. Ele é ferido psicologicamente pelos pais, depois (…) na escola, na universidade, por causa da
comparação, da competência, (…) que ele tem que ser superior aos outros (…) Durante toda a vida, existe esse constante processo de ser reprimido. (La Llama de la Atención, pág.
108)

(…) Sabemos disto, (…) que todos os seres humanos se acham profundamente recalcados, ainda que possam não ser conscientes disso e que, por causa dessas marcas psicológicas,
surgem todas as formas de ação neurótica. Tudo isso é parte da consciência de cada um de nós; a parte oculta e a parte que se revela (…) (Idem, pág. 108)
(…) Pois bem, seria possível nunca ficarmos ofendidos? Porque, em conseqüência dessas marcas psicológicas, construímos um muro ao redor de nós mesmos e nos afastamos de
nossa relação com os demais, para que não voltem a nos reprimir. E nisso há temor e um paulatino isolamento. Perguntamo-nos, pois: seria possível não só ficarmos livres dos
estigmas passados, mas também jamais nos ferirmos de novo? - porém não mediante a insensibilidade, a indiferença ou o descuido de nossas relações. (Idem, pág. 108-109)

Deve o indivíduo investigar por que se sente complexado e que é sentir-se magoado. Essas marcas psicológicas fazem parte da consciência de cada um de nós, e delas emanam
diversas ações neuróticas e contraditórias. (…) Não é algo que está fora de nós, senão que é parte de nós mesmos. (…) (La Llama de la Atención, pág. 109) Que é que se sente
ferido? Um indivíduo diz: “Sou eu que estou magoado” Que é esse “eu”? Desde a infância tem construído uma imagem de si mesmo. Tem muitas, muitas imagens; não só as
imagens que as pessoas lhe fornecem, senão as que ele próprio fabrica; como americano - essa é uma imagem - ou como hindu, ou como especialista. Portanto, o “eu” é a imagem
que ele tem produziu de si mesmo como uma grande pessoa ou como uma pessoa muito boa; e essa imagem é que fica recalcada. (…) (Idem, pág. 109)

(…) Pode o indivíduo ter de si mesmo a imagem de um grande orador, um escritor, um ser espiritual, um líder. Essas imagens são a essência do “si mesmo”; quando ele diz que se
sente magoado, quer dizer que as imagens estão ofendidas. Se tem uma imagem de si mesmo, e vem outro e diz: “Não seja néscio!”, fica ele magoado. A imagem própria que há
fabricado é o “eu”, e essa imagem fica recalcada. Carrega-se essa imagem e essa ferida psicológica pelo resto da vida. (…) (La Llama de la Atención, pág. 109-110)

As conseqüências de nos sentirmos magoados são muito complexas. (…) Seria, então, possível não se ter nenhuma imagem de si mesmo? Por que tem ele uma imagem de si próprio?
Pode um indivíduo ter boa aparência, ser brilhante, inteligente, perspicaz, e um outro deseja ser como ele, e, se não é, se sente magoado. A comparação pode ser um dos fatores que
contribuem para que fiquemos psicologicamente recalcados. (…) (Idem, pág. 110)

(…) Existe, pois, uma maneira de encarar o fato sem que intervenha um só motivo? Ou seja, você não tem um motivo, e pode ser que sua esposa, sim, tenha um motivo. Então, se
você não tem motivo, como está olhando o fato? O fato não é diferente de você, você é o fato. Você é a ambição, é o ódio. (…) Há uma observação do fato que é você mesmo, na
qual não intervém nenhuma explicação, nenhum motivo. É isso possível? Porém, quando você vê o absurdo de uma acepção semelhante, então está obrigado a ver que todo esse
tormento é você mesmo; o inimigo é você, não sua esposa. (La Llama de la Atención, pág. 124-125)

Você se encontrou com o inimigo e descobriu que o inimigo é você mesmo. Pode, pois, observar todo esse movimento do “eu”, do “si mesmo” (…)? (…) Quando o indivíduo olha
para si mesmo sem um motivo, há o “eu”? O “eu” como a causa e o efeito,o “eu” como resultado do tempo, que é o movimento da causa ao efeito. Quando você se olha a si
mesmo, (…) sem uma causa, há algo que termina e há algo totalmente novo que começa. (Idem, pág. 125)

Voltemos à pergunta “que significa estar cônscio?” Existe um percebimento daquela árvore, (…) nuvem, do capim cintilante ao amanhecer; existe um percebimento (…) sem
nenhuma interferência do pensamento ou do conhecimento, que causam divisão. (…) Olhar para a esposa ou o marido, para a amiga ou o amigo, sem a respectiva imagem (…)? Já
vistes o que a imagem implica (…)? Aí está a chave de todo o problema. (…) Quando não há o observador e a coisa observada, não há conflito e, por conseguinte, há ação
imediata. (…) (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 41)

Cabe então indagar: é possível viver neste mundo sem auto-imagem? O ser humano torna-se médico, cientista, professor, físico, e serve-se dessa profissão para criar sua imagem e,
desse modo, produz conflito ao exercê-la. (…) (Ensinar e Aprender, pág. 49)

(…) Se (…) a criatura dança bem, se toca um instrumento qualquer, ela usa o instrumento ou a dança para projetar-se, para mostrar o quão maravilhosa ela é. É assim que a
maioria vive, ou seja, incentivando, fortalecendo o ego. Daí a intensificação do conflito; a pessoa, de tanto pensar em si, se embrutece, perdendo o sentido da beleza, da alegria, da
lucidez. (Idem, pág. 49)

A mente, pois, está cônscia de ter criado uma imagem de si própria, e que todo esforço para dissipar, dissolver ou fazer alguma coisa a respeito dessa imagem nasce de outra
imagem, existente num nível muito mais profundo e que diz: “não devo criar nenhuma imagem”. (…) Vejo que isso é um fato e, por conseguinte, minha mente não está fazendo
esforço algum para dissipar a imagem. (…) Visto que não faz esforço algum para alterar a imagem, a própria mente é essa imagem. Não existem separadas a mente e a imagem.
(…) A mente, por conseguinte, percebe que ela própria é a criadora da imagem. (O Descobrimento o Amor, pág. 98-99)

Se percebeis esse fato, realmente, a imagem perde então toda a importância. A mente está então apta a resolver qualquer problema, qualquer crise que surja, sem o auxílio de
nenhuma conclusão prévia, emanada da imagem. A mente está agora livre de todas as imagens e, por conseguinte, não se acha numa posição estática, sobre um pedestal. (…) Não
tenho nenhuma imagem, nenhum centro, nem conclusão, de onde estou olhando; por conseguinte, não há contradição, (…) não há problema. (Idem, pág. 99)

À lembrança de experiências, a mágoas, a apegos, a tudo isso. Ora, isso pode ter um fim? Naturalmente que sim. Eis a questão: isso pode ter um fim quando a própria percepção
indaga: “o que é isso?” O que é a mágoa? O que é o dano psicológico? A percepção disso é o fim disso; é não o levarmos adiante, que é o tempo. (…) (A Eliminação do Tempo
Psicológico, pág. 81)

Naturalmente. Se eu não estiver ferido, não saberei nada a respeito da separação ou da não-separação. Se eu estiver ferido, serei irracional enquanto mantiver essa mágoa. (Idem,
pág. 84)

Tenham um insight, por exemplo, das mágoas e sofrimentos que uma pessoa trouxe da sua infância. Todas as pessoas são magoadas, por várias razões, desde a infância até a morte.
Há essa ferida, nelas, psicologicamente. (…) Você pode ir a um psicólogo, a um analista, a um terapeuta, e ele poderá descobrir por que você está magoado; (…) mas não será pela
mera investigação da causa que a mágoa será resolvida. (Perguntas e Respostas, pág. 21-22)

Ela está lá. As conseqüências dessa mágoa são o isolamento, o medo, a autodefesa, para evitar que você seja ferido novamente; portanto, há o fechamento em si próprio. (…) Esse é
o mecanismo da mágoa. A mágoa é a imagem que você criou de você mesmo. Por isso, enquanto essa imagem permanecer, você estará ferido, obviamente. (Idem, pág. 22)

Pois bem, ter um insight disso tudo sem análise - percebê-lo instantaneamente - essa própria percepção é insight; ela exige toda a sua atenção e energia; nesse insight a mágoa é
dissolvida. Ele dissolverá sua mágoa completamente, não deixando nenhuma marca; portanto, ninguém jamais poderá feri-lo outra vez. A imagem que você criou de você mesmo
não existe mais. (Idem, pág. 22)

Se morrerdes para o “conhecido”, a imagem de vossa esposa, vosso marido, vosso filho, para as lembranças de tudo o que fizestes juntos, que vos restará? Nada. (…) E é o
conhecimento consciente ou inconsciente desse fato que vos faz medo. “Ficar sem nada” é um estado brutal, e a maioria de nós não deseja passar por esse estado; mas ele é a
morte. (…) Mas se se chega até aí, encontra-se o “desconhecido”, um movimento fora dos limites do tempo, fora do pensamento e do padrão “conceitual” da existência (…) (O
Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 84-85)

Fatores de Descondicionamento; Atenção, Observação


Todos os problemas humanos emanam desse centro extraordinariamente complexo e vivo que é o “eu”, e o homem que deseja descobrir seus sutis movimentos tem de estar
negativamente cônscio, observando sem escolher. Todo esforço para ver, toda (…) compulsão desfigura o que se vê, e, por conseguinte, não há ver. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 82)

Porque, não podemos pôr de lado o nosso saber, nossas experiências e lembranças, pois essas coisas têm existência. Mas podemos observá-las, no seu desfilar, sem nos apegarmos
a nenhuma delas, agradável ou desagradável. Isso não requer exercício. Porque, quando nos exercitamos, estamos acumulando; e sempre que há acumulação há fortalecimento do
“eu”. (…) (Poder e Realização, pág. 72)

Por trás dessa observação superficial, está a reação de nosso condicionamento. Eu gosto e não gosto. (…) Não podeis estar cônscio totalmente, se estais a escolher. Se dizeis “isto é
certo e aquilo é errado”, o “certo” e o “errado” dependem de vosso condicionamento. O que para vós é “certo”, no extremo oriente pode ser “errado”. (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 56)

Em tudo isso, o mal é a total falta de autoconhecimento. Conhecer a si próprio é pôr fim ao sofrimento. Temos medo de nos conhecermos porque nos dividimos em fragmentos bons
e maus, ignóbeis e nobres, puros e impuros. O “bom” está sempre a julgar o “mau”, e esses fragmentos vivem em guerra uns com os outros. Essa guerra é o sofrimento. Essa
fragmentação da vida em “alto” e “baixo”, “nobre” e “ignóbil”, “Deus” e o “demônio”, gera conflito e dor. (A Luz que não se Apaga, pág. 98)

Um dos fatores da consciência é o desejo. Por causa da percepção, o contato e a sensação, o pensamento cria a imagem, e a persecução dessa imagem é o desejo de realizar. Pois
bem, pode-se observar a sensação sem que isso termine em desejo? Simplesmente observar. Significa isso que se deve compreender a natureza do pensamento, porque é o
pensamento que dá continuidade ao desejo; o pensamento é que cria a imagem a partir da sensação, seguida pela persecução dessa imagem. (La Totalidad de la Vida, pág. 199)

O pensamento pretende conceber o imensurável, o atemporal, algo que está mais além dele mesmo, e assim projeta toda sorte de imagens ilusórias. Pode-se observar todo o
movimento do desejo, sem as imagens e a persecução dessas imagens, sem ficar de tal modo envolto na frustração, na esperança de realização, etc.? Simplesmente, observar o
movimento do desejo, dar-se conta dele. (Idem, pág. 200)

Pode-se ser livre psicologicamente, porém sem se ficar aprisionado na ilusão de que se é livre? Havendo compreendido a natureza do desejo e seu movimento, suas imagens, seus
conflitos, podemos então olhar o temor em nós mesmos. Então se pode investigar todo o problema do temor, não uma forma particular do temor, senão ir até a raiz mesma, o que é
muito mais simples e rápido que tomar os numerosos ramos do temor e podá-los. Ao observar a totalidade do temor, se chega então à raiz. E isso só pode fazer-se quando se
observam todas as diversas formas de temores. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 200)

Compreender-se a si mesmo é de suma importância. Porque o “eu” é desejo, é uma entidade ativa, sempre em movimento, sem estabilidade. (…) Deveis compreender o desejo logo
que surge, momento a momento; mas, como as nossas mentes são incapazes de rápido acompanhamento, pronta adaptação e imediata percepção (…), traduzimos esse desejo de
acordo com um padrão a que estamos habituados, e esse padrão se torna uma reação condicionada ao desafio (…). (A Arte da Libertação, pág. 137)

Para compreendermos o desejo, não devemos pensar em modificar esse desejo ou em alcançar um resultado. Olhai cada desejo que se manifeste, sem procurar traduzi-lo; deixai
que o conteúdo desse desejo vos comunique a sua significação. (…) Vereis, então, como o desejo vos deixa conhecer todo o seu significado; e só quando compreendeis o conteúdo
do desejo, é que tendes liberdade. (A Arte da Libertação pág. 137-138)

E (…) se “vivermos com ele” - sem rejeitá-lo ou dizer: “que farei com este desejo”? ( … ) É então o desejo algo que se deva lançar fora, destruir? Desejamos destruí-lo porque (…)
está em antagonismo com outro, criando conflito, sofrimento e contradição. (…) Assim, pode-se estar cônscio da totalidade do desejo? O que entendo por totalidade não é
simplesmente um desejo ou muitos desejos, mas a “qualidade total” do próprio desejo.

E só se pode estar cônscio da totalidade do desejo quando não há opinião a seu respeito. (…) Estar cônscio de cada desejo, ao surgir, não se identificar com ele nem condená-lo -
nesse estado de vigilância existe desejo ou o que existe é uma chama, uma paixão que nos é necessária? A palavra “paixão” é de ordinário reservada para uma coisa: o sexo. Mas,
para mim, paixão não é sexo. Precisamos de paixão, intensidade, para podermos viver realmente com uma coisa; para vivermos plenamente, contemplamos uma montanha, uma
árvore (…) Mas essa paixão, essa chama, é negada, quando estamos tolhidos por vários impulsos, exigências, contradições, temores. (…) (O Passo Decisivo, pág. 227-228)

(…) Se desejamos ficar livres de uma qualidade, precisamos compreender integralmente o processo do pensador e do pensamento, ( … ) perceber a verdade de que o pensador não
está separado do pensamento e que ambos constituem um processo singular, unitário. Se realmente perceberdes isso, vereis a extraordinária revolução que se realizará em vossa
vida. (…) Mas, logo que o pensador percebe que não é diferente do pensamento, vereis então que, radicalmente, profundamente, se opera uma transformação extraordinária;
porque então existe apenas o fato do pensamento, e não a interpretação desse fato conforme a agrado do pensador. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 19)

Pois bem; que há para se compreender num fato? Nada, decerto. Um fato é um fato. (…) Mas, se não existe o pensador, mas somente o fato, então este não precisa ser
compreendido - é um fato; e quando estais frente a frente com um fato, que acontece? Quando não há fuga, (…) não há pensador querendo dar ao fato um significado que lhe
convenha, ou moldá-lo, que acontece? Quando estais frente a frente com um fato, então, por certo, vós o compreendeis. (…) Por conseguinte, estais liberto dele. (…) (Idem, pág.
19-20)

Assim, (…) enquanto existir uma entidade separada, que observa que seu pensamento está condicionado, nunca haverá possibilidade de libertação do condicionamento, porque
tanto o observador como a coisa observada, tanto o pensador como o pensamento, estão condicionados.

Não há um pensador separado, não condicionado, porque o pensador é resultado do pensamento, e o pensamento, resultado de condicionamento - por conseguinte, o pensador não
pode descondicionar a mente (…) Quando o pensador percebe que ele próprio é pensamento, que o observador é a coisa observada (…) só então é possível descondicionar-se a
mente. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 26)

(…) Enquanto houver observador e coisa observada, o condicionamento tem de continuar. Por mais que o observador, o pensador, o censor lute para livrar-se de seu
condicionamento, continuará preso nesse condicionamento, uma vez que a divisão entre “pensador” e “pensamento”, “experimentador” e “experiência” é o próprio fator que
perpetua o condicionamento. (…) (Realização sem Esforço, pág. 42)

O importante é romper essa muralha de condicionamento, de hábito. E muitos de nós achamos que podemos rompê-la por meio da análise. (…) A muralha do hábito só pode ser
rompida quando a pessoa está completamente cônscia, sem escolha, negativamente vigilante. (O Homem e seus Desejos em Conflito, pág. 164)

(…) Se olhais realmente para uma coisa, a vossa mente se torna muito quieta, porque então já não estais julgando, (…) traduzindo o que vedes em termos de comparação. Estais
apenas olhando - e é isso o que eu entendo por observar negativamente. Se puderdes olhar a vós mesmos dessa maneira, vereis que todos os hábitos e condicionamentos
inconscientes se terão reduzido a uma só coisa, a qual, pela compreensão direta, tereis despedaçado completamente. (…) (Idem, pág. 165)

Parece-me, pois, que, ao tentarmos encontrar a solução de dado problema, estamos evitando a compreensão do próprio problema. Ora, se em vez de procurar solução para o
problema, começo a compreendê-lo, a esclarecê-lo, então, nesse mesmo processo, aparece a solução. Não tenho de procurá-lo fora do problema. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 78)

Assim, para compreendermos a nós mesmos, é preciso percebimento. Esse percebimento implica que não deve haver justificação, nem condenação, nem comparação. Justificação,
condenação e comparação estão dentro da esfera do tempo; são ditadas pelo nosso condicionamento. Olhamos as coisas como ingleses, hindus, cristãos ou comunistas. A
observação de nosso pensar está condicionada pelas influências culturais e educativas de nosso ambiente, e, se não estamos cônscios desse condicionamento, não podemos ver o
que ele é, (…) o fato. (…) (Idem, pág. 79)

Para verdes e compreenderdes a entidade sobremodo complexa que sois, deveis olhar-vos sem esse fundo de condenação, justificação e comparação. E quando olhardes a vós
mesmo sem esse fundo, ver-vos-eis totalmente. (Idem, pág. 79)

Ora, que acontece quando vejo o fato de que minto, ou de que sou ambicioso, ou invejoso ou ávido? Quando olho para o fato sem nenhuma opinião, (…) lembrança (…) já não há
então nenhum obstáculo à minha percepção do fato. Posso olhá-lo sem desvio nem desfiguração; e, então, esse próprio fato gera a energia de que preciso para tratar dele. (…)
(Idem, pág. 80)

Mas é preciso que “experimentemos” isso; não podemos ir mais longe sem “experimentar”. (…) Mas, uma mente que está tranqüila, que não é posta tranqüila, que não é forçada
ao silêncio, (…) que está tranqüila porque tem verdadeiro interesse, porque divisou a verdade, porque a verdade veio a ela, é inteligente e está liberta do conflito. O conflito se
dissolve pela percepção de cada movimento do pensamento e do sentimento, e pela percepção da verdade relativa a tais experimentos. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 96-97)

Isto é, se estiverdes plenamente despertos, apercebidos de uma ação que exija o vosso ser inteiro, então percebereis que todas essas perversões ocultas, inconscientes, virão à tona e
vos impedirão de agir plenamente, de modo completo. Será essa a ocasião, então, de lhes fazer frente, e se a chama do apercebimento for intensa, essa chama consumirá as causas
limitadoras. (Palestras em New York City, 1935, pág. 32)

O necessário é esse extraordinário estado de atenção, no qual olhais e escutais, sem decisão, sem motivo, sem finalidade - e isso é, realmente, atenção sem escolha. E o
conhecer-vos não é um processo de adição. É verdes a vós mesmo como sois: colérico, ciumento, lúbrico, invejoso; é observar simplesmente o fato; e essa observação sem análise
revela todo o conteúdo do fato, e não tendes de fazer nenhum esforço para descobri-lo. No momento em que fazeis esforço para analisar, para compreender, estais desfigurando o
fato; estais pondo em ação o vosso condicionamento, como analista, como cristão, como isto ou aquilo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 66)

Nesta manhã desejo falar sobre essa “qualidade” que é a liberdade (…) Por atenção entendo “estar completamente presente, com toda a mente e o coração”. (…) A liberdade vem
sem ser buscada, quando há atenção total. A atenção total é a qualidade própria de uma mente que não tem limites, não tem fronteiras. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito,
1ª ed., pág. 154-155)

Para compreender o significado da atenção plena, é necessário compreender, primeiro, o significado da distração; porque, quando um homem não está distraído, há atenção plena.
(…) (A Arte da Libertação, pág. 138)

Agora, que significa distração? Significa que escolheis uma idéia entre muitas idéias, (…) um interesse entre muitos interesses, e procurais fixar a mente nesse objeto particular.
(…) Nosso problema é compreender cada interesse, indiscriminadamente, e não escolher um interesse e procurar afastar os outros, que chamamos distrações. Se a mente é capaz de
compreender cada interesse que surge, e, portanto, de libertar-se de cada interesse, nessa liberdade encontrareis a plena atenção. (…) (Idem, pág. 139)

(…) Desse percebimento sem escolha vem a atenção; não é a “atenção a alguma coisa”, porém atenção pura e simples, um estado de total atenção, sem desejo de experiência.
Nessa atenção não há desejo de mudança. E, quando há essa atenção total, vê-se que já não há objeto; por conseguinte, existe espaço e, em virtude desse espaço, silêncio completo.
(A Suprema Realização, pág. 76)

Acho importante compreender a diferença entre “atenção” e “concentração”. A concentração implica escolha. (…) Estais procurando concentrar-vos e outros pensamentos estão
interferindo. (…) Na atenção não há enfocamento, (…) escolha; há percebimento completo, sem interpretação. E (…) essa mesma atenção produzirá o milagre da transformação, na
própria mente. (Realização sem Esforço, pág. 9-10)

A atenção não deve ser forçada, concentrada; a mente não deve ser impelida a prestar atenção a uma coisa. Vede (…): no momento em que tendes um “motivo” para prestar
atenção, não há mais atenção, porque é mais importante o motivo do que o prestar atenção. (…) Qualquer forma de atenção com um objetivo em vista, se torna desatenção, gera
indolência. (…) Esse é um dos fatores da desatenção; outro fator é a “verbalização” ou qualquer espécie de explicação. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 226)

Assim sendo, posso prestar atenção, sem ter motivo algum? Pode a minha mente existir sem nenhum incentivo, nenhum “motivo” para me transformar ou não me transformar?
Porque todo motivo resulta da reação de determinada cultura, (…) de determinado background. (…) (Transformação Fundamental, pág. 57)

(…) A mim me parece que a única coisa importante é a atenção. (…) A atenção que tem em mira um objetivo já não é atenção. (…) Nesse estado de atenção completa, não há
contradição dentro de nós mesmos, não há batalha entre o consciente e o inconsciente - é a atenção total. (Transformação Fundamental, pág. 42)

E é necessário esse espírito de observação, que ao mesmo tempo explora e observa, escuta e percebe. É nesse sentido que estou empregando a palavra “observar”. (…) (O
Despertar da Sensibilidade, pág. 72)

E desse observar, (…) escutar, ver, vigiar, nasce aquela extraordinária beleza da virtude. Não há outra virtude, senão aquela que vem com o autoconhecimento. (…) (Idem, pág. 72)

Estou aprendendo a respeito de mim mesmo (não de acordo com tal psicólogo ou especialista). Estou a observar-me, e vejo em mim mesmo certa coisa: não a condeno, não a julgo,
não a ponho de lado - observo-a, apenas. Vejo que sou uma pessoa orgulhosa (…) Não digo: “que coisa feia o orgulho; preciso afastá-lo” - observo-o, apenas. Observando, estou
aprendendo; observar o orgulho significa aprender o que nele está latente, como se originou ele. (…) (A Questão do Impossível, pág. 28)

Se você puder fazê-lo, então poderá observar seu condicionamento de forma total; então você pode olhar para ele com uma mente que não está marcada pelo passado, e assim a
própria mente fica livre do condicionamento. Para olhar a mim mesmo - como geralmente o fazemos - olho como um observador olhando para a coisa observada. (…) O observador
é o conhecimento, o passado, o tempo, as experiências acumuladas - ele se separa da coisa observada. (The Awakening of Intelligence, pág. 89)

Ao examinar o problema da consciência e seu conteúdo, é muito importante descobrir se é o indivíduo que está observando a consciência ou se, no ato de observar, é a consciência
que se dá conta de si mesma. (…) Então o pensamento se dá conta de que se observa a si mesmo, que não há “eu” (…) que esteja observando a consciência.

Só existe a observação; então a consciência começa a revelar seu conteúdo, não só da consciência superficial, senão das camadas profundas, o conteúdo total da consciência. Se o
indivíduo vê (…) de uma observação pura, absolutamente quieta, então a coisa floresce; a consciência abre suas portas. (La Totalidad de la Vida, pág. 93)

Aprende-se assim a arte de observar sem nenhuma distorção, nenhum motivo, (…) propósito - simplesmente observar. Nisso há extraordinária beleza, porque então não existe
deformação alguma. As coisas apresentam-se claramente, como são. Porém, se se faz delas uma abstração, convertendo-as em idéias e depois se observa através dessas idéias, isso
então é uma distorção. (Idem, pág. 193)

Livremente, sem nenhum fator de distorção, se penetra na observação da consciência. Não há nada oculto, e a consciência começa a revelar sua própria totalidade, seu conteúdo;
as feridas, a cobiça, a inveja, a felicidade, as crenças, as ideologias, as tradições passadas, (…) presentes (…) Portanto, pode-se observar a consciência, de modo que esta revele
seu conteúdo? - não pouco, mas a totalidade de seu movimento. Só então é possível ir mais além. (Idem, pág. 193-194)

(… ) A mente, observando o que faz, o que tem feito - ou seja, fortalecer o centro - mediante a simples observação torna-se extraordinariamente alerta. Correto? Você nada faz para
torná-la alerta, senão que, ao vigiar simplesmente o movimento do pensar, passo a passo, ela se torna extraordinariamente clara.

Então a mente formula a pergunta: “Como há de desaparecer o centro?” Já no momento de formular essa pergunta, a mente vê toda a estrutura do centro. Vê, visualiza realmente;
tal como vejo aquela árvore, também vejo isso. (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 67)

É possível esvaziar-se de todo a consciência, a totalidade da mente, com todos os seus artifícios e vaidades, (…) embustes, anseios e códigos de moral, etc. - tudo isso com base
essencialmente no prazer? Pode uma pessoa libertar-se totalmente, esvaziar a sua mente, de modo que possa olhar, agir, viver de maneira de todo nova, diferente? Digo que isso é
possível. (…) Só é possível se se percebe que o observador, o centro, é a coisa observada. (A Importância da Transformação, pág. 11)

Pode a mente olhar o fato não dualisticamente? Ou seja, eu, o observador, ao invés de relacionar esse fato a algo separado de mim, posso olhá-lo sem essa separação? Posso olhar,
e também a mente olhar, não como um observador ou uma entidade que deseje mudar ou transformar o que observa, mas olhar sem o observador? Pode a mente olhar somente o
fato - não o que o pensamento julga do fato - as opiniões, as conclusões, os preconceitos, o gosto e a aversão, o sentimento de frustração e desapontamento.

Apenas observar, sem que o pensamento reaja ao que está sendo observado. Penso que isso seja a atenção total; observar com tal sensibilidade que o cérebro todo, que está tão
condicionado, tão consumido pelas próprias conclusões, idéias, prazeres e esperanças, esteja completamente quieto e, no entanto, vivo para aquilo que está observando. Estou me
tornando claro? (Talks and Discussions at Brockwood Park, 1969, pág. 10-11)

“O que é” só pode ser observado quando não há “eu”. No momento em que o cérebro opera, há distorção. Olhem algo sem mover os olhos e vejam como o cérebro se aquieta.
Observa-se então, não só com os olhos, senão com toda a atenção, afeição. Então há uma observação de fato - não a idéia do fato. Aborda-se “o que é”, fazendo-o com solicitude,
dedicação, e, portanto, não há juízo, (…) condenação; por conseqüência, se está livre dos opostos. (La Totalidad de la Vida, pág. 220-221)

Muito importa, pois, aprender a ver, a observar. Não apenas o fenômeno externo, mas também o estado interior do homem. Porque, a menos que haja uma revolução fundamental,
radical, na psique, na raiz mesma de nosso ser, o mero apagar, o mero legislar na periferia é insignificante. Assim, o que nos interessa é descobrir se o homem é capaz de efetuar
uma radical transformação em si próprio. Esse próprio percebimento produzirá a transformação radical. (Fora da Violência, pág. 13)

Para observar, necessita-se de liberdade. Em regra estamos fortemente condicionados pela sociedade em que vivemos, pela cultura em que crescemos. (…) Com a mente
condicionada, evidentemente não temos liberdade para observar. (…) A questão, pois, é se a mente tem alguma possibilidade de descondicionar-se, para que possa ser livre.
(Palestras com Estudantes Americanos, pág.14)
(…) Como libertar o pensamento da ansiedade? Percebemos a causa da ganância - o desejo de satisfação, de prazer, mas como dissolvê-la? Através da aplicação da vontade?
Então, de que espécie de vontade? Vontade de dominar, de refrear, de renunciar? Sendo ganancioso, avarento, mundano, não é o nosso problema desembaraçar o pensamento da
ganância? (Palestras em Ojai e Sarobia, 1940, pág. 25-26)

Se estiverdes alerta, observareis profundamente o processo da ansiedade; vereis que nessa observação há um desejo de escolher, de racionalizar, mas esse desejo ainda faz parte da
ansiedade. Deveis estar profundamente apercebidos das sutilezas da ansiedade e, pela experimentação, surge a compreensão integral, a única que liberta radicalmente o
pensamento da ansiedade. (…) (Idem, pág. 27)

(…) Se sou ciumento (…) tenho de ver esse fato integralmente, mediante observação total, e não parcial. Olho o meu ciúme - por que sou ciumento? Porque me vejo sozinho (…) e
subitamente me vejo frente a frente com meu vazio, meu isolamento, e isso me faz medo. (…) Posso compreender imediatamente essa solidão? Só posso compreendê-la,
observando-a, não fugindo dela; olhando-a, observando-a criticamente, com a inteligência desperta, sem procurar escusas, sem tentar preencher o vazio. (…) (O Vôo da Águia,
pág. 84)

Para olhá-la, tenho de estar em liberdade; quando há essa liberdade para olhar, estou livre do ciúme. Assim, o percebimento, a observação total do ciúme, e o libertar-me dele não
depende do tempo, mas, sim, de lhe dar atenção completa, percebimento crítico, observando (…) sem escolha, à medida que se apresenta. Há então liberdade - não no futuro, mas
agora - estamos então livres disso que chamamos “ciúme”. (Idem, pág. 84)

O mesmo se pode dizer da violência, da cólera ou de qualquer hábito, como o fumar, o beber, ou o hábito sexual. (…) Uma vez em ação esse percebimento, todas as coisas que
surgem - cólera, ciúme, violência, brutalidade, hipocrisia, inimizade - podem ser observadas, por inteiro, instantaneamente. Essa observação é libertadora, e a coisa (…) deixa de
existir. (…) A idéia de gradualidade não denota indolência, incapacidade para lidar com o passado no momento em que ele aparece? Quando se tem essa extraordinária
capacidade de observar o passado tão logo ele surge, aplicando-se por inteiro a mente e o coração a observá-lo, o passado deixa de existir. (Idem, pág. 84)

Qualidades, Virtudes: Alegria, Simplicidade, Humildade


A alegria é espontânea, não procurada, nem convidada, e quando a mente a analisa, para cultivá-la ou recapturá-la, então não é mais alegria. (…) (Palestras em Ommen, Holanda,
1937-1938, pág. 117)

Ora, fazeis esforço para descobrir a causa da alegria? Se o fazeis, então a alegria cessa de existir e somente as suas memórias e hábitos existem. (Idem, pág. 117)

Sem dúvida existe uma alegria. Há uma felicidade real no compreendermos uma coisa, (…) Se compreendo as minhas relações com o próximo, minha esposa, com a propriedade,
(…) dessa compreensão resulta, por certo, alegria, riqueza, e (…) podemos ir mais longe, penetrar mais fundo. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 54)

(…) Essa alegria, passados alguns momentos, se torna lembrança. A lembrança da alegria é uma coisa viva? Não; é coisa morta. (…) A memória não contém alegria; é apenas o
vestígio de algo que causou alegria. A memória, em si, não contém alegria. Temos alegria - a reação imediata à beleza de uma árvore; depois a memória intervém e destrói essa
alegria. (Novos Roteiros em Educação 1ª ed., pág. 107)

Assim, pois, se há constante percepção do belo, sem a acumulação de lembrança, há a possibilidade de alegria perene. (…) A memória não pode produzir a alegria perene. Só
temos alegria perene, quando há constante reação ao belo, ao feio, a todas as coisas, (…) quando há muita sensibilidade, interior e exteriormente - ou seja, quando temos o
verdadeiro amor. (Idem, pág. 108)

Assim, enquanto a mente pensar em termos de “vir-a-ser”, ela necessita do tempo. Pois bem. Se puderdes ver e compreender esse fato, então, nesse momento não existireis, sereis
nada, (…) não existirá o tempo. Não haverá (…) “eu” (…) mas só um “estado de ser”; e, daí, vem uma alegria extraordinária. (…) (Visão da Realidade, pág. 249-250)

(…) A alegria é uma coisa inteiramente diferente do prazer. Você pode convidar o prazer, pensar nele, sustentá-lo (…); mas isso não se pode fazer com a alegria, o êxtase. Este
acontece naturalmente, facilmente, sem convite algum (…), quando você compreende o medo e o prazer. A mente torna-se realmente livre destes últimos, ou, melhor interpretando,
uma mente assim nunca é violenta, ambiciosa, nunca procura posição, prestígio e demais contra-sensos. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 44)

Existe possibilidade de se encontrar alegria duradoura? Existe; mas, para vivermos essa alegria, é preciso haver liberdade. Sem liberdade, não pode ser descoberta a verdade; (…)
não é possível o conhecimento do Real. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 166)

(…) Quando tendes consciência de vosso “eu”? Quando existe oposição, quando existe atrito, (…) antagonismo. No momento da alegria, a consciência do “eu” é inexistente; na
felicidade, não dizeis: “sou feliz” (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 41)

Nesse estado de êxtase, de extrema alegria, tendo perdido a única coisa que vos prende em baixo, o “eu”, encontrareis a única fonte de inspiração, a única beleza de que
necessitais e a única verdade digna de a ela aderirdes, (…) de por ela lutardes, digna de que se sacrifiquem todas as coisas para obtê-la. (O Reino da Felicidade, pág. 62)

A própria natureza do “ego” é estar em contradição; e somente quando o pensamento-sentimento se liberta, a si mesmo, de seus próprios desejos antagônicos, é que pode haver
tranqüilidade e alegria (…) Quando vos tornais cônscios do processo dualista do desejo, e ficais passivamente vigilantes, encontrais a alegria do Real, alegria que não é produto da
vontade nem do tempo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 92)

(…) Enquanto o desejo, em suas múltiplas formas, não for compreendido e transcendido, não haverá a alegria da vida interior simples e plena. (Autoconhecimento, Correto Pensar,
Felicidade, pág. 120)

Em qualquer época, em especial nas de muito sofrimento e confusão, importa descobrir (…) a compreensão e a alegria interior e fecunda. Temos de achá-las (…) mas a busca dos
prazeres materiais, a prosperidade e o poder pessoal (…) impedem a paz e a felicidade criadoras. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 135)

Simplicidade significa não ter conflitos, não arder de desejos, não ter ambição. Você vê, queremos sempre a demonstração externa da simplicidade, enquanto internamente estamos
fervendo, ardendo e destruindo. E você pergunta: “Por que ocorre isso?” (Talks and Discussions at Brockwood Park, 1969, pág. 36)

Como dissemos, simplicidade implica honestidade, de tal forma que não haja contradição em si mesmo. E quando há tal estado de mente, há simplicidade real. (Idem, pág. 37)

(…) Simplicidade é ação sem idéia. Mas isso é raríssimo; significa ação criadora. (…) A simplicidade não pode ser cultivada nem experimentada. Ela vem - como a flor que
desabrocha - no momento oportuno; (…) Porque nunca pensamos a respeito, (…) nunca a observamos (…) damos valor às exteriorizações de poucas posses, mas isso não é
simplicidade (…)

Só vem à existência quando não mais existe o ” eu”, quando a mente não está toda entregue a especulações, conclusões, crenças, ideações. (…) Só a mente que é livre, pode achar a
verdade. Só essa mente pode receber o imensurável, o inefável. E aí está a simplicidade. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 266)

(…) Sem dúvida, precisamos começar pelo lado psicológico para descobrir o que é vida simples, pois é o interior que cria o exterior. É a insuficiência interior que faz as pessoas se
apegarem a seus haveres e suas crenças; é esse sentimento de insuficiência interior que nos força a acumular bens, roupas, saber, virtude. (…) (Nosso Único Problema, pág. 67)

Só quando a mente é simples e vulnerável, é possível ver as coisas claramente, em suas exatas proporções. Assim, a simplicidade da mente é essencial à simplicidade da vida. O
mosteiro não constitui solução. Surge a simplicidade quando a mente não tem apego, (…) não está adquirindo, (…) aceita o que é. Isso significa estar livre do background, do
conhecido, da experiência adquirida. Só então a mente é simples, e só então é possível ser livre. (…) (Idem, pág. 68)

E pensamos que vida simples significa usar tanga e alimentar-se uma vez ao dia; (…) Interiormente, o indivíduo pode estar (…) em concupiscência, na ânsia de dominar, de poder,
de ser considerado personalidade popular, de ser saudado como um “grande homem” (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 87)
(…) A verdadeira simplicidade não é austeridade disciplinada, (…) A simplicidade implica uma mente capaz de estar só, (…) não depende de nenhuma exterioridade. E só a mente
interiormente simples é capaz de estar só; só a mente simples, religiosa, é capaz de ver a beleza (…) (Idem, pág. 87)

Simplicidade não é mera ostentação exterior. O ajustamento a um padrão de simplicidade é exibicionismo; confere respeitabilidade ao homem que se cobre com uma tanga. Ser
saniasi é uma forma burguesa de respeitabilidade. Mas, o santo nunca conhecerá a simplicidade, porque não é simples; vive numa batalha perpétua, consigo mesmo.(…) (A
Suprema Realização, pág. 74)

Simplicidade, para a mente, é estar livre de crença, da luta pelo “vir-a-ser”, é permanecer com “o que é”. E a mente que está atravancada de crenças, de lutas, de esforços, no
empenho de alcançar a virtude, (…) não é simples. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 97)

(…) Só existe simplicidade quando não existe desejo de ser algo (…) por que aí o “eu” está ausente, (…) Se esse “eu” está de todo ausente, há então simplicidade, a qual se
expressa no mundo da ação. (…) (Idem, pág. 97)

(…) Ser simples não é uma conclusão, um conceito intelectual pelo qual lutamos. Só pode existir simplicidade quando cessa o “ego” e suas acumulações. (…) (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 249)

(…) Ser sensível interiormente requer muita simplicidade, que não significa andar de tanga, ou possuir poucas roupas, ou não ter carro; mas a simplicidade em que o “eu” e o
“meu” perderam toda a importância, não há o sentimento de posse; não mais existe “aquele que faz esforço”. (…) (A Conquista da Serenidade, pág. 41)

Vemos, pois, que a simplicidade do pensar não resulta de acumulação de conhecimentos. Pelo contrário, quanto mais sabemos, tanto menos simples é a nossa mente; e a mente tem
de ser (…) simples, para compreender o que é. (Percepção Criadora, pág. 104-105)

Simplicidade é compreensão do que é. E só há compreensão do que é quando a mente desistiu de lutar contra o que é, (…) de moldá-lo de acordo com suas fantasias. Na
compreensão do que é, revelam-se-nos os movimentos do “eu”, do “ego”; e isso, certamente, é o começo do autoconhecimento (…) (Idem, pág. 105-106)

(…) Podemos viver neste mundo, freqüentando o escritório e outros lugares mais, num estado de completa humildade? (…) Mas, penso que só nesse estado de humildade completa -
que é o estado da mente que está sempre pronta a reconhecer que não sabe - só nesse estado há a possibilidade de aprender. De outro modo, estaremos sempre acumulando (…) (A
Mente sem Medo, 1ª ed. pág. 13)

A anulação do conhecimento é o começo da humildade. Só a mente humilde pode compreender o que é verdadeiro e o que é falso e, assim, evitar o falso para seguir o verdadeiro.
(…) Esse conhecimento se torna nosso background, nosso condicionamento; ele nos molda os pensamentos e nos ajusta ao padrão do que foi. (…) (O Homem Livre, pág.164)

(…) Deveis tornar-vos cônscios de vossas trivialidades, limitações e preconceitos, a fim de compreendê-los; e somente o conseguireis com humildade, quando não houver
julgamento ou comparação, aceitação ou recusa. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 129)

Assim, sendo, (…) Por certo, só termina o sofrimento quando liberto a minha mente de toda avaliação, (…) comparação, (…) de todas as sanções sociais, (…) acumulações, de
modo que ela fique num estado de humildade, (…) em que a mente está vigilante e lúcida, mas nada sabe, (…) (Visão da Realidade, pág. 237)

(…) A humildade, como o amor, não é cultivável. Só o homem vão, (…) orgulhoso e pretensioso procura cobrir-se com a capa da humildade. Mas, quem quer aprender necessita
desse estado de humildade, de uma mente que não sabe, que não está sempre a adquirir, a galgar, alcançar, atingir. Só pode existir humildade quando o passado (…) desaparece. A
mente deve ser altamente sensível, ativa, vigorosa. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 45)

(…) O acúmulo de bens, experiências ou aptidões, nega a humildade. O ato de aprender está livre do processo de acumulação, mas não a aquisição de conhecimentos. (…) A
humildade não admite comparação; não podemos falar em mais ou menos humildade (…) A humildade e o amor transcendem os limites do cérebro. A humildade está no próprio ato
de findar. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 69-70)

Simpatia, Contentamento, Devoção, Felicidade, Paz


O apercebimento não é a ocupação com nossos próprios pensamentos e sentimentos. Tal ocupação, que é introspecção, torna a ação objetiva e calcula os resultados de um ato.
Nisso não pode haver simpatia nem plenitude de ser. Cada qual fica tão ocupado consigo mesmo, com suas próprias necessidades psicológicas, com sua própria segurança, que se
torna incapaz de simpatia. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 37-38)

(…) Buscais abrigo por detrás da parede protetora da fé, e essa parede vos impede o amor, a simpatia e a bondade; isso porque a vossa ocupação se refere a vós próprios, à vossa
salvação, ao vosso bem-estar, neste mundo e no além. (Idem, pág. 38)

(…) No compreender o atual, com seus sofrimentos, espírito de aquisição, crueldade, e no eliminá-los, está a verdadeira simpatia e o verdadeiro afeto. Esse apercebimento não é
ocupação com os nossos próprios pensamentos e sentimentos, porém um constante discernimento do que é verdadeiro, livre de escolha. (… ) (Idem, pág. 39)

Aqueles que desejem compreender a vida que os cerca, perceber a meta e assim estabelecer o Bem-Amado em seus corações, devem desenvolver grande amor e, no entanto, estar
desapegados do cativeiro desse amor. Devem ter grande simpatia e, contudo, não estar presos a essa simpatia. Devem ter grandes desejos e, todavia, não serem escravos desses
desejos. (Vida em Liberdade, em “Carta de Notícias” da ICK nº 1 a 6, de 1945, II, pág. 15-16)

(…) Mas, se não damos nome ao “que é”, opera-se a sua transformação; e com essa transformação vem o contentamento - não o contentamento resultante de uma aquisição, (…)
possuir alguma coisa, (…) alcançar um resultado, mas o contentamento que vem quando não há mais conflito; porque é o conflito que cria o descontentamento. (…) (Nós Somos o
Problema, pág. 84)

O contentamento não é uma coisa que possa ser alcançada (…) Que é que me faz descontente? Certamente é o desejo de um resultado, uma recompensa, uma realização, o desejo
de vir a ser alguma coisa. A ânsia de conseguir gera o medo de perder, e o próprio desejo de alcançar o contentamento traz o descontentamento. (Por que não te Satisfaz a Vida?,
pág. 28)

Existe, por certo, um processo de compreender o descontentamento; e, ao compreendê-lo , vereis que o descontentamento é a natureza mesma do “eu”. O “eu” é o centro do
descontentamento (…) A mente que está presa a um resultado, nunca poderá ser livre, e é só na liberdade que pode existir o contentamento. (Idem, pág. 29)

(…) O contentamento, que não é o oposto do descontentamento, é aquele estado no qual existe a compreensão do que é; e a compreensão do que é independe do tempo, não está no
movimento do passado para o futuro. A mente só pode ser livre quando é simples, pura, e só a mente nesse estado pode estar contente. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 131)

Você pensa que ficará contente quando tiver adquirido tudo o que quer. Você talvez queira ser um governador, ou um grande santo (…) Em poucas palavras, por meio da inveja
você espera chegar ao contentamento. (…) Contentamento não é satisfação. Contentamento é algo muito vital; é de um estado de criatividade em que há a compreensão daquilo que
realmente é. Se você começar, descobrirá que dessa compreensão advém uma extraordinária sensação de vastidão, de compreensão ilimitada. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida,
pág. 108)

Contentamento não é prazer. Você não pode pensar sobre o contentamento; pode pensar sobre ele e reduzi-lo a prazer, mas a coisa que é chamada contentamento, êxtase, não é
produto do pensamento. Você não percebeu que, quando há uma explosão de contentamento, não pode pensar sobre ele no dia seguinte; e, se o faz, isso já se tornou prazer? Dessa
forma, medo e prazer são alimentados pelo pensamento, e pelo mesmo continuado. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 41)

Quando o “eu” já não está lutando, consciente ou inconscientemente, para tornar-se algo, quando o “eu” está de todo inconsciente de si mesmo, nesse momento se verifica aquele
estado de devoção (…), de Realidade. Nesse momento, a mente é o Real, é Deus. (…) (Poder e Realização, pág. 71)
(…) A maioria de nós tem inclinação para viver uma vida de devoção, de alguma espécie; mas infelizmente esses exercícios de repetição a destroem. Muito importa compreender
que o caminho da devoção e o caminho da sabedoria não são separados. (…) Seguir um caminho, desprezando outro, significa desfiguração das coisas, um estado de contradição
interior. (A Arte da Libertação, pág. 37)

As manifestações que nos transmitem alegria inexprimível, ou devoção intensa, ou compreensão profunda, só podemos prová-las no estado em que não existe esforço algum. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 233)

Devoção é amor? (…) É um ato de sacrifício o consagrar-se a um objeto, ao saber, ao trabalho social ou à ação? É sacrifício de si mesmo, estar absorvido na devoção? Quando
estais completamente identificado com o objeto de vossa devoção, isso significa renúncia ao “eu”? (…) Devoção é a adoração de uma imagem, uma pessoa, um símbolo? (Reflexões
sobre a Vida, pág. 47)

Verifiquemos o que entendemos por devoção. Passais muitas horas por dia embebido nisso que chamais amor, contemplação de Deus. Isso é devoção? O homem que dedica a sua
vida à melhoria das condições sociais, é devotado ao seu trabalho; e o general, cuja função é planejar destruição, é também devotado ao seu trabalho. É devoção isso? (…) A
devoção precisa de objeto? (Idem, pág. 47-48)

A compreensão da fuga é libertação do que é. O que é só pode ser compreendido quando a mente já não busca resposta alguma. A busca de resposta é fuga ao que é. Essa busca
recebe nomes vários, um dos quais é “devoção”; mas, para compreender o que é, a mente deve estar em silêncio. (Idem, pág. 49)

Embora possais não ter grandes aptidões, nem grande inteligência, nem estar cheios, nem ter imensa energia, podeis pelo menos oferecer um caráter formado, (…) definido, uma
flor que tenhais cultivado em vosso próprio jardim (…) (O Reino da Felicidade, pág. 76)

(…) Dizemo-nos felizes quando temos dinheiro, posição, meios de proporcionar-nos sensações; mas isso, positivamente, não é felicidade. A felicidade é um “estado de ser” no qual
não existe dependência; porque sempre que há dependência há temor, e o homem que tem medo nunca pode ser feliz. Só há felicidade na liberdade (…) (Que Estamos Buscando?,
pág. 163)

(…) No momento em que (…) dependemos de bens materiais, de pessoas ou de idéias, essas coisas se tornam muito importantes e a felicidade nos foge. As mesmas coisas de que
dependemos para nossa felicidade, se tornam mais importantes do que a própria felicidade. (…) (Viver sem Confusão, pág. 33)

Mas a felicidade não pode ser buscada; ela é um resultado, (…) secundário. (…) A felicidade vem sem ser chamada; e, no momento em que vos tornais cônscio de ser feliz, já não
sois feliz. (…) Quando sentis subitamente muita alegria por causa de nada em particular, estais fruindo a liberdade de sorrir e ser feliz. (…) Só há felicidade quando o “eu” e suas
exigências foram postos à margem. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 65)

Antes (…) devíeis saber quais são as causas do sofrimento. Porque sofreis, dizeis que procurais a felicidade; a busca da felicidade, portanto, é uma fuga ao sofrimento. Só pode
haver felicidade quando cessa a causa do sofrimento; a felicidade é, pois, um elemento acessório, e não um fim em si. A causa do sofrimento é o “ego”, com o seu desejo de
expansão, de vir a ser, de ser diferente do que é; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 205)

(…) A felicidade é aquele estado que está fora do tempo. Esse estado atemporal só pode manifestar-se quando há extraordinária insatisfação - (…) que não tem possibilidade de
fuga,(…) não busca preenchimento. Só então, (…) pode despontar a Realidade. Ela tem de ser achada momento por momento, no sorriso, na lágrima, (…) nos pensamentos
erradios, na plenitude do amor. (O que te Fará Feliz?, pág. 130-131)

A felicidade não vem quando estais lutando para alcançá-la. (…) Coisa estranha, a felicidade: ela só vem quando a não buscais. Quando nenhum esforço estais fazendo para serdes
feliz, então, inesperadamente, misteriosamente, surge a felicidade, nascida da pureza, da beleza do viver pleno. (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 34)

Só um homem feliz pode criar nova ordem social; mas não é feliz aquele que está identificado com uma ideologia ou crença, ou que está todo absorvido em qualquer atividade
social ou individual. A felicidade não é um fim em si mesma. Ela vem com a compreensão do que é. Só quando a mente está livre de suas próprias projeções, é possível a felicidade.
A felicidade (…) é o estado que se torna existente com a Verdade, sempre nova, nunca contínua. (Reflexões sobre a Vida, pág. 83)

(…)O “homem de paz” é aquele que repele toda autoridade, que compreende, em todos os seus aspectos, a ambição, a inveja, que se desprende totalmente da estrutura desta
sociedade aquisitiva e de todas as coisas envolvidas na tradição. Só então a mente é nova. E é necessária uma mente nova para encontrar Deus, a Verdade (…) (Da Solidão à
Plenitude Humana, pág. 83)

Pode a mente, porventura, encontrar a paz? A mente não é, ela própria, uma fonte de perturbação? A mente só é capaz de juntar, acumular, negar, afirmar, lembrar e seguir. Será a
paz (…) algo realizável por meio de lutas, (…) por parte da mente? (Novos Roteiros em Educação, 1ª ed., pág. 170)

(…) Mas a mente não pode achar a paz, porque a mente só é capaz de pensar dentro dos limites do tempo (…) - sempre condenando, e julgando, (…) alimentando suas próprias
vaidades, hábitos e crenças. A mente nunca pode estar em paz, ainda que possa refugiar-se às vezes numa paz ilusória. Mas isso não é paz (…) (Idem, pág. 171)

A paz nasce no coração e não na mente. (…) É muito importante a maneira como falais; porque as palavras que empregais, os gestos que fazeis, revelam o grau de excelência do
vosso coração. Porque a beleza é algo que se não pode definir (…) explicar por palavras. (…) (Novos Roteiros em Educação, 1ª ed., pág. 172)

A paz, por conseguinte, só poderá vir quando compreendermos o que é o amor. (…) Mas, quando compreenderdes a paz na qual existe amor e beleza, compreenderdes a sua
extraordinária originalidade, tereis então essa paz - a paz que a mente não pode compreender. Esta é que é a paz criadora, a que implanta a ordem dentro de nós, dissipando toda
confusão. (…) (Idem, pág. 172-173)

Só a mente que se acha em paz (mas não dormindo), (…) que não se põe hipnoticamente num estado que ela considera ser um estado de paz - a mente que está realmente em paz, só
esta pode descobrir o que é a verdade, o que significa viver (…) morrer, e conhecer o amor em toda a sua profundeza e amplidão. (O Novo Ente Humano pág. 71)

Toda esta questão, (…) Existe um método, seja oriental, seja ocidental, de se alcançar a paz? Se a paz se obtém pela prática de um método, a coisa assim obtida (…) não é uma
qualidade viva, é uma coisa morta. (…)

A paz, por certo, não é uma coisa que se possa procurar; ela vem por si. Ela é um “subproduto”, e não um fim em si. Surge quando começo a compreender todo o processo de mim
mesmo, minhas contradições, meus desejos e ambição, meu orgulho. Mas, se faço da paz um fim em si, fico então vivendo num estado de estagnação. E isso é paz? (Claridade na
Ação, pág. 61-62) A paz é a cessação da violência interior - essa violência que se expressa pela ambição, pela competição. E estamos dispostos, vós e eu, a abandonar nossas
ambições, a sermos como “nada”? (Transformação Fundamental, pág. 89)

Para se ter paz, necessita-se de profunda compreensão das tendências do “eu”, do “eu” que está competindo, lutando para ser alguma coisa. (…) Na verdade, nós estamos a
destruir-nos, pelo tentarmos ser alguma coisa - seja como grupo, (…) indivíduos, nação, classe; (…) Mas, se pudermos compreender todo o processo dessa ânsia (…), talvez então,
no sermos “nada”, encontremos uma nova maneira de viver, (…) (Idem, pág. 91)

(…) A paz reside em nosso íntimo e não no exterior; só pode haver paz e felicidade no mundo quando o indivíduo - que é o mundo - resolver definitivamente alterar as causas
existentes em seu próprio íntimo, as quais produzem confusão, tristeza, ódio, etc. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 6-7)

Nessas condições, para se implantar a paz no mundo, (…) torna-se necessária uma revolução no indivíduo, em vós e em mim. (…) O que produzirá a paz é a transformação interior,
que conduz à ação exterior. A transformação interior não significa isolamento, (…) Pelo contrário, só pode haver ação correta quando há pensar correto, e não há pensar correto
sem autoconhecimento. Se não conheceis a vós mesmos, não há paz. (Novo Acesso à Vida, pág. 39-40)

Para pordes fim à guerra exterior, precisais pôr fim à guerra que há dentro de vós. (…) Elas (as guerras) só acabarão quando compreenderdes o perigo, (…) a vossa
responsabilidade, quando não passardes a outro esse encargo. Se perceberdes de fato o sofrimento, (…) a importância da ação imediata, (…) então transformareis a vós mesmos; e
a paz só virá quando fordes pacíficos, quando viverdes em paz com o vosso próximo. (Idem, pág. 40)

(…) O caminho da paz consiste em compreender a falácia da idéia de que a paz é resultado de luta, o epílogo de um conflito físico ou mental (…) A paz não resulta de luta; a paz é
o que permanece, depois de dissolver-se todo o conflito na chama da compreensão; a paz não é o oposto do conflito, nem a síntese dos opostos. (O Caminho da Vida, pág. 18)

A paz não é uma idéia oposta à guerra. A paz é uma maneira de vida; porque só haverá paz quando compreendermos o viver de cada dia. É só essa maneira de vida que pode
eficazmente reagir ao desafio da guerra, das classes e do contínuo progresso técnico (…). (A Arte da Libertação, pág. 248)

(…) Tendes de pagar o preço da paz. Tendes de pagá-lo voluntária e alegremente, e esse preço é o libertar-vos da luxúria, da malevolência, da mundanidade, da ignorância, do
preconceito e do ódio. Se ocorresse em vós mudança tão radical, poderíeis cooperar para o advento de um mundo pacífico e sensato. Para terdes paz, deveis ser compassivos e
condescendentes. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 27)

Dissolução do Ego; Viver, Contemplar Suas Atuações


Em última análise, a coisa que chamamos “eu”, o “ego”, é a entidade que está acumulando experiência. É essa a entidade que luta incessantemente? (…) Se escutardes
devidamente, vereis como, em presença da Verdade, acontece uma coisa extraordinária, a desintegração do “eu” e, em conseqüência, a possibilidade de uma mente nova, mente
que estará de fato experimentando o que é verdadeiro, sendo ela própria, por conseguinte, a Verdade. (O Problema da Revolução Total, pág. 120)

A mente que compreende, que percebe a verdade relativa ao “vir-a-ser”, ao ser, a verdade relativa ao acumular - essa é uma mente tranqüila; e a mente tranqüila pode
experimentar sem se corromper. E pode então, nessa tranqüilidade, penetrar mais fundo, (…) naquele estado maravilhoso que nenhuma mente consciente ou disciplinada (…) pode
atingir. Deus, a Verdade, não pode ser acumulado - Ele é de momento a momento. (…) (Idem, pág. 121)

(…) Todavia, esse “eu” está constantemente se afirmando, traduzindo toda experiência, (…) reação, (…) movimento do pensar em conformidade com seu próprio centro. O “eu”, o
“ego” é fonte de conflito e dor, de luta perene por vir a ser, realizar, alcançar; e, enquanto não percebermos esse fato, a nossa mente, por mais hábil, sutil e ilustrada que seja, só
haverá de criar mais problemas e (…) sofrimentos. Assim, pois, aqueles dentre nós que tiverem intenções realmente sérias, devem evidentemente orientar a sua indagação no
sentido de descobrir se esse “eu” pode chegar a um fim. (Percepção Criadora, pág. 54)

Uma vez cônscia da totalidade desse processo do “eu”, na sua atividade, que deve a mente fazer? Só com a renovação (…), a revolução - não pela evolução, ou pelo “vir-a-ser” do
“eu”, mas pela completa extinção do “eu” - só assim o novo se apresenta. O processo do tempo não pode trazer-nos o novo, pois o tempo não é o caminho da criação. (A Primeira
e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 125)

Porque, o que constitui o tempo é a ocupação da nossa mente com a memória, e a capacidade de distinguir diferentes lembranças. E é possível à mente permanecer fora do tempo,
fora do conhecimento, que é memória, que é experiência, palavra, símbolo? Pode a mente estar livre de tudo isso e, por conseguinte, fora do tempo? Não há então, no centro, uma
revolução, uma transformação fundamental? Porque então a mente já não está lutando por alcançar um resultado, acumular, chegar a um fim. Então não há mais temor. A mente,
em si mesma, é o desconhecido; (…) é o novo, “o não-contaminado”. Por conseguinte, é o Real, o incorruptível independente do tempo. (Poder e Realização, pág. 73)

(…) Mas, por certo, o que muito nos interessa é descobrir a verdade acerca dessa coisa que chamamos de “eu”, desse centro que é a causa do conflito, bem como averiguar se
existe a possibilidade de dissolver esse centro. (…) Mas podemos, de certo, averiguar se a mente pode ser livre, se pode achar-se naquele estado de “não saber”, em que não esteja
preocupada com acumulações e “projeções” do seu próprio saber. (…) O que se precisa fazer é só vigiar a si mesmo, penetrar nos arcanos da mente, observar as tendências do
“eu”, em sua atividade de acumulação e projeção. (A Renovação da Mente, pág. 25)

Pergunta: Como pode deter-se a ação do “eu”?

Krishnamurti: Só poderá deter-se se o virdes em atividade. Se o virdes em ação, ou seja, no estado de relação, esse ver será o fim do “eu”. Esse ver, não só é uma ação não
condicionada, mas também atua no condicionamento. (A Luz que não se Apaga, pág. 131)

Como poderá o “eu”, o “ego” - que constitui todo o processo do nosso pensar - terminar, cessar? (…) Nessas condições, enquanto cada um de nós - pela compreensão do processo
integral das relações, que nos são como um espelho - não descobrir a si mesmo (…); enquanto não estiver cônscio de todo o processo do “eu” - o que é autoconhecimento - tem
muito pouca significação a nossa luta. (O Problema da Revolução Total, pág. 25-26)

(…) Devemos pôr de lado todas essas coisas e chegar-nos ao problema central, que é: “Como dissolver o “eu”, que nos prende ao tempo, e no qual não existe nem amor nem
compaixão? Só é possível passarmos além, depois que a nossa mente não mais se dividir em pensador e pensamento. Quando pensador e pensamento são uma só unidade, só então
há silêncio (…) em que não há fabricação de imagens, nem a expectativa de “mais” experiência. Nesse silêncio (…) há uma revolução psicológica criadora. (Claridade na Ação,
pág. 145)

Pode o “eu”, em algum tempo, libertar-se da auto-escravização e suas ilusões? Não deve o “eu” deixar de existir, para que tenha existência o “sem nome”? E esse lutar constante
pelo alvo final não tem apenas o efeito de dar mais força ao “eu” (…)? Vós lutais pelo alvo final, outro anda atrás das coisas mundanas; (…) Reflexões sobre a Vida, 1ª ed., pág.
128)

(…) O homem que está observando o perpassar das suas experiências, lembranças, conhecimentos, sem a eles se prender, esse homem não aspira à virtude; não está acumulando. E
quando a mente já não está acumulando, quando a mente está desperta para todo o processo da consciência, com todas as suas lembranças e seus motivos inconscientes, todos os
impulsos de gerações, de séculos, deixando tudo isso passar por ela sem a prender - não se acha então a mente fora do tempo? A mente que, embora consciente das experiências,
não se prende a nenhuma delas, já não está livre da rede do tempo? (Poder e Realização, pág. 72)

Nada dissolverá o “eu” enquanto a mente estiver diligenciando dissolvê-lo, uma vez que a mente é incapaz de arrasar as barreiras, as muralhas que ela própria criou. Mas, quando
estou cônscio de toda essa complexa estrutura do “eu , que é o passado em cada movimento, através do presente, para o futuro; quando estou cônscio de tudo que se passa tanto
interior como exteriormente, tanto oculta como abertamente - quando estou de todo cônscio de tudo isso, então, a mente, que criou as barreiras, no seu desejo de sentir-se segura,
permanente, no seu desejo de continuidade, se torna extraordinariamente tranqüila, inativa; e só então apresenta-se a possibilidade de dissolução do “eu”. (Claridade na Ação,
pág. 90-91)

Assim, o que importa não é como ficar livre do orgulho, mas sim compreender o “eu”; e o “eu” é muito insidioso. (…) Portanto, enquanto existir esse centro do “eu”, o fato de uma
pessoa ser orgulhosa ou reputadamente humilde será de pequeníssima significação. Serão apenas diferentes casacos para vestir. Quando um dado casaco me atrai, visto-o; e no
ano seguinte, de acordo com minhas fantasias, desejos, visto outro. (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 88)

O que vocês têm de entender é como esse “eu” aparece. O “eu” surge por meio das várias formas da sensação de realização. Isso não quer dizer que vocês não devam agir; mas a
sensação de que vocês estão agindo, (…) realizando, de que (…) precisam abandonar o orgulho, precisa ser entendida (…) (Idem, pág. 88)

(…) Vocês precisam compreender a estrutura do “eu”. Precisam tomar consciência de seu próprio pensar (…) observar como tratam o criado, os pais, o professor; (…) como
consideram os que estão acima de vocês e os que estão abaixo de vocês, aqueles que vocês respeitam e aqueles que vocês desprezam. Tudo isso revela os processos do “eu”.
Entendendo os processos do “eu”, há a libertação do “eu”. (…) (Idem, pág. 88)

(…) Mas será tão difícil assim o estudo do “eu”? Será necessária a ajuda de outra pessoa, por mais adiantado, elevado que seja o nível (…)? Ninguém, por certo, pode ensinar-nos
a compreender o “eu”. Cabe-nos descobrir o processo total do “eu”; mas para isso requer-se espontaneidade. Não podemos impor-nos uma disciplina, um modo de operar; só
podemos estar cônscios de instante a instante, de cada movimento do pensamento, de cada sentimento, na vida de relação (…) (Viver sem Confusão, pág. 35-36)

Enquanto houver um padrão de pensamento, a contradição continuará a existir; e, para eliminar o padrão e, assim, a contradição, torna-se necessário o autoconhecimento. (…) O
“eu” precisa ser compreendido, na nossa linguagem diária, na maneira como pensamos e como consideramos o nosso semelhante. Se pudermos estar cônscios de cada pensamento,
de cada sentimento, momento a momento, veremos que, na vida de relação, compreenderemos as peculiaridades e tendências do “eu”. Só então podemos ter aquela tranqüilidade
da mente, (…) ver surgir a realidade final. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 40)

(…) Pode um homem viver, dia a dia, enfrentando cada fato que surge e nunca buscando refúgio; enfrentando “o que é” a todas as horas, todos os minutos do dia? Porque, então,
penso eu, descobriremos que não só o sofrimento termina, mas também a mente se toma sobremodo simples e clara, apta a perceber diretamente, sem ajuda das palavras, do
símbolo. (O Passo Decisivo, pág. 166)

“Viver com uma coisa” significa amá-la. Quando amais alguém, desejais viver com essa pessoa, estar em sua companhia, não? Da mesma maneira pode uma pessoa “viver com o
sofrimento, não sadicamente, porém sentindo-lhe a força, a intensidade, e também sua absoluta superficialidade; e isso significa nada poder fazer contra ele. (…) (O Passo
Decisivo, pág. 167)

(…) É facílimo fugir; pode-se tomar uma droga, uma bebida, ligar o rádio, abrir um livro, tagarelar com outros, etc. Mas “viver com uma coisa” - prazer ou dor - inteiramente,
totalmente, requer mente bem vigilante. E quando a mente é assim vigilante, ela cria sua ação própria - ou melhor, a ação nasce do fato, e a mente nada tem que fazer contra o fato.
(Idem, pág. 167-168)

(…) No momento em que se percebe a totalidade da coisa, esta se desvanece. Quando um coisa é percebida totalmente, está acabada. Ao conhecermos a estrutura completa do
sofrimento, (…) sua “interioridade”, sem formular teorias a respeito, porém observando o fato realmente, a sua totalidade - então o fato cai por si. A rapidez, a presteza do
percebimento depende da mente. Mas, se vossa mente não é simples, direta, e se está repleta de crenças, esperanças, temores, desesperos, desejando modificar o fato, “o que é”,
nesse caso estais prolongando o sofrimento. (O Passo Decisivo, pág. 170)

Há compreensão do “eu”, e liberdade, só quando posso olhá-lo completa e integralmente, como um todo; e isso só posso fazer quando, sem justificar, sem condenar, sem reprimir,
compreendo na íntegra o processo de toda a atividade do desejo, (…) porque o pensamento não é diferente do desejo. Se posso assim compreender, terei a possibilidade de
transcender as restrições do “eu”.(…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 64-65)

(…) Assim sendo, o que me parece importante é essa investigação do “eu” de “mim”, para se conhecer o “eu” tal qual é, com suas ambições, invejas, exigências agressivas,
falácias, divisão em “superior” e “inferior” - de tal maneira que não só seja revelada a mente consciente, mas também a inconsciente (…); o conhecimento da totalidade do “eu”
significa o seu fim. (…) (Transformação Fundamental, p .60)

Se houver correta compreensão do fato de que não pode existir verdadeiro discernimento enquanto persistir a vontade de desejo, essa mesma compreensão faz com que o processo
do “eu” chegue a ser destruído. Não existe outro ou mais alto “eu” que destrua o processo do “eu”; nenhum ambiente e nenhuma divindade pode acabar com esse processo.
Porém, a própria percepção do processo do “eu”, o discernimento de sua insensatez, de sua natureza transitória, é que o destrói. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras,
1936, pág. 56)

(…) Há uma atividade diferente que não procede do “ego” e que cumpre ser encontrada. Uma inteligência diferente é necessária para compreender o Atemporal, pois é só este que
nos pode libertar de nossas lutas e sofrimentos (…) A inteligência que agora possuímos é produto do desejo de satisfação e segurança, material ou espiritual; é resultado da
cupidez; (…) da auto-identificação. Tal inteligência é incapaz de compreender o Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 215-216)

Pergunta: Como podemos ultrapassar essa inteligência limitada?

Krishnamurti: Se ficarmos passivamente vigilantes de suas atividades complexas e inter-relacionadas. Com essa vigilância, as causas que nutrem a inteligência do “ego”
extinguem-se sem esforço autoconsciente. (Idem, pág. 216-217)

Pergunta: De que maneira pode ser cultivada a outra inteligência?

Krishnamurti: Não está errada essa pergunta? (…) Existem, naturalmente, certos requisitos óbvios e essenciais para libertar a mente dessa inteligência limitada; a humildade (…) e
a piedade, a ausência de avidez, que é ausência de identificação; o não ser mundano, que significa estar liberto dos valores materiais; e estar livre da estupidez e da ignorância,
que denotam falta de autoconhecimento, etc. Devemos estar cônscios das atividades sutis e erradias do “ego”, pois, quando as compreendemos, começa a existir a virtude (…) (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 217)

(…) Para vermos a luz pura, devemos primeiramente dar-nos conta de nossos óculos coloridos; essa própria percepção, se for intenso o desejo de vermos a luz clara, ajuda-nos a
retirar os óculos de cor. O retirá-los não representa a ação de uma resistência contra outra, mas, sim, uma ação sem esforço da compreensão. Devemos tomar conhecimento da
realidade, pois a compreensão do que é libertará o pensamento; essa própria compreensão dar-nos-á a receptividade franca, transcendendo a inteligência especializada. (Idem,
pág. 218)

Pergunta: Pode haver felicidade quando não há mais a consciência do “eu”? (…)

Krishnamurti: Primeiramente, que se entende por consciência do “eu”? Quando tendes consciência desse “eu”? (…) Estais consciente de vós mesmos como um “eu”, uma
entidade, quando estais em aflição, quando experimentais derrota, conflito, luta. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 137-138)

Dizeis: “Se este “eu” não existe, que é que existe?” Digo que descobrireis só quando a vossa mente estiver livre desse “eu”; (…) Quando a vossa mente e o vosso coração
estiverem em harmonia, (…) não (…) mais coibidos no conflito, sabereis. (…) Digo que descobrireis a vida não identificada como o “vós” ou o “eu”, a vida que é eterna, infinita,
somente quando essa consciência limitada se dissolver. Não a dissolveis; ela se dissolve a si mesma. (Idem, pág. 138)

(…) Só depois de cessar a atividade do “ego”, da memória, apresenta-se uma consciência totalmente diferente, a respeito da qual toda especulação é somente estorvo. O esforço
que visa à expansão é sempre atividade do “ego”, cuja consciência quer crescer, “vir a ser”. Essa consciência prende-se ao tempo e por isso não se encontra, nela, o Atemporal. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 200)

O que podemos perceber é, somente, que estamos fechados, que a atividade da vontade é resistência e que o próprio desejo de alcançar vigilância passiva é um obstáculo a mais.
(…) Estar atento para as atividades egocêntricas é anulá-las; (…) A vigilância passiva só nos vem quando tranqüila a mente-coração. Nessa tranqüilidade, vem o Real à existência.
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 214)

(…) O problema, pois, é este: pode a mente, que é resultado do tempo, a mente que é o “eu”, o “ego”, ainda que muito lhe agrade dividir-se em “eu” superior e “eu” inferior,
observador e coisa observada - pode o “eu”, cuja consciência, no seu todo, é resultado da acumulação de experiência, de memória, de conhecimentos, findar sem o desejarmos
(…)? (Poder e Realização, pág. 71)

E pode essa mente, que pertence ao tempo e não tem relação nenhuma com a Verdade (…) deter-se instantaneamente, para que possa existir a outra mente, o outro “estado de ser”,
a mente que experimenta a Realidade e é, por conseguinte, ela própria o Real? (Idem, pág. 71)

Em momentos de intensa criação, de grande beleza, há uma tranqüilidade absoluta; em tais momentos verifica-se uma ausência completa do “ego” e de todos os seus conflitos; é
essa negação - a forma suprema do pensar-sentir - que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 88)

Simplesmente Cônscio, Sem Esforço, Anula, Liberta, Exs.


O “eu” é um problema que o pensamento não pode resolver. Há de haver um percebimento que não proceda do pensamento. Estar cônscio, sem condenação nem justificação das
atividades do “eu” - estar simplesmente cônscio é suficiente. Porque, se estais cônscio com o propósito de descobrir como resolver o problema, (…) de transformá-lo, de produzir
um resultado, em tal caso estais ainda operando dentro da esfera do “eu”. (A Renovação da Mente, pág. 12)

A menos que ocorra uma transformação no centro, não uma substituição, mas uma total extirpação do “eu”, nenhuma possibilidade existe de transformação fundamental. (…)
(Claridade na Ação, pág. 104)

(…) Ao observar este complexo problema do “eu”, com todas as suas obscuridades, suas sombras e luzes, suas tensões e suas pelejas, posso eu, como observador, influir nessa coisa
que está sendo observada? Prestai atenção ao problema (…), sem tentar resolvê-lo; apenas prestai-lhe atenção, deixai-o penetrar em vós. (…) (Idem, pág. 110)

Se realmente não perdeis de vista o problema, se é vosso empenho de todos os dias e de todos os momentos descobrir como se pode efetuar uma transformação, e se, negativamente,
estais pondo de lado todas as coisas que tínheis por positivas - nesse caso, penso eu, haveis de achar aquele elemento que surge imperceptivelmente, sem o esperarmos. (…) Idem,
pág. 110)

Nessas condições, compreendendo bem isso, não é possível à mente, uma vez liberta daquelas fugas, observar-se a si mesma, não como “observador” a observar os seus
pensamentos (…) mas observar, simplesmente, o seu próprio estado, observar sem aquela divisão? Só se realiza esse estado integral quando não existe nenhum desejo de
experimentar algo “mais” do que “o que é.” (A Renovação da Mente, pág. 42)

(…) Quando observais todo o processo da mente, e estais cônscio das várias lutas, divisões, divergências, sem haver, no centro, nenhum movimento de transformação ou (…) de
remediar as divergências, o “observado” está, então, essencialmente tranqüilo. Não tem mais o desejo de transformar coisa alguma: está simplesmente cônscio de que essas coisas
estão ocorrendo. E isso requer paciência extraordinária (…) (Claridade na Ação, pág. 75)

Quando a mente está cônscia das suas próprias atividades, tanto conscientes como inconscientes, não tendes necessidade de examinar o inconsciente para trazer à superfície as
coisas ocultas - elas estão à vista. Mas não sabemos observar. (…) A quietude do centro só pode verificar-se quando estamos cônscios de tudo isso e vemos que nada podemos fazer
a seu respeito, porque tal é o fato. (Idem, pág. 76)

(…) Para aclarar essa confusão, tendes de observar a vós mesmo na vida de relação, que é ação; precisais estar consciente de vós mesmo, em ação, nas vossas relações, momento a
momento, observando cada palavra, cada pensamento, sem desfiguração, sem condenação, olhando-o simplesmente (…) (Nós Somos o Problema, pág. 94)

Do percebimento nasce a atenção. A atenção deflui do percebimento, quando nesse percebimento não há escolha; quando não se está escolhendo nem experimentando
pessoalmente, (…) porém simplesmente observando. E para se poder observar, necessita-se, na mente, de uma vasta porção de espaço. A mente que está toda enredada na ambição,
na avidez, na inveja, na busca do prazer e do autopreenchimento - com os inevitáveis pesares, dores, desespero e aflição que ocasionam - não dispõe de espaço para observar.
(Experimente Um Novo Caminho, pág. 100)

É portanto necessário que compreendamos com toda a clareza o problema da luta e do esforço. (…) Todo esforço não significa luta por transformar a coisa “que é” naquilo que ela
“não é”, ou naquilo que deveria ser ou deveria “vir a ser”? Isto é, vivemos a lutar para não olhar de frente “o que é”, ou procuramos fugir dele, ou transformá-lo, ou modificá-lo.
(…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 122)

O esforço, pois, representa uma distração que nos afasta do “que é” (…) No momento em que aceito “o que é”, cessa a luta. Toda forma de luta ou de esforço denota distração, e a
distração (…) existirá necessariamente enquanto eu desejar transformar a coisa “que é” no que ela “não é”. (…) (Idem, pág. 123)

Ao perceberdes que estais dominados pela cólera, a qual constitui “o que é””, e ao reconhecerdes a estupidez de transformar a coisa “que é” no que ela “não é”, continuareis
encolerizados? Se, ao invés de tentar dominar a cólera, modificá-la, ou transformá-la, vós a admitísseis (…), e ficásseis completamente conscientes dela, sem a condenar, nem a
justificar, operar-se-ia uma transformação instantânea. (Idem, pág. 124)

(…) Se compreendeis a cólera, isto é, se estais conscientes dela, plenamente, sem condenação, justificação ou identificação, simplesmente cônscios de que sentis cólera, de que sois
invejosos, de que sois ávidos, vereis, então, ocorrer uma coisa extraordinária. A vossa cólera ou vosso despeito se desvanecerá, extinguir-se-á espontaneamente. É somente quando
não estamos perfeitamente cônscios do “que é”, que fazemos esforço para transformá-lo. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 125)

O esforço, pois, representa falta de percebimento. No momento em que percebeis o que significa não condenar nem justificar, no momento em que aceitais, examinais e observais “o
que é”, não existe esforço; tem então a coisa que observais, “aquilo que é” (…) um significado extraordinário. E se aprofundardes esse significado de modo completo, levareis o
pensamento à sua conclusão, e assim a mente se libertará dele. (Idem, pág. 125)

Percebimento significa, pois, ausência de esforço; (…) ver a coisa tal como ela é, sem desfiguração alguma. Há desfiguração sempre que há esforço. Quando amais com toda a
plenitude, cada pensamento é acompanhado de grande alegria, claridade e felicidade. Tal só pode acontecer quando há integração e nenhum esforço. A madureza ou a integração
só é realizável quando há percebimento completo do “que é”. (Idem, pág. 125-126)

(…) Como posso dominar a cólera, o ciúme? Que acontece, quando dominais um inimigo? Eu posso dominar-vos, se sou mais forte do que vós, mas na próxima vez podeis estar
mais forte e dominar-me. Temos, assim, um jogo que consiste em dominar e voltar a dominar. Toda coisa que pode ser dominada tem de ser novamente dominada, indefinidamente.
(…) Entretanto, no momento em que compreendemos uma coisa, ela está acabada. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 127)

A mesma coisa se verifica com relação a qualquer outro pensamento. Consideremos a cólera. A cólera pode ser o resultado de uma reação fisiológica ou neurológica, ou sentis
cólera porque desejais esconder alguma coisa. Pensai na cólera de maneira completa, olhai-a de frente, sem procurar escusas. No momento em que olhais o fato de frente, começa
a transformação. (…) Assim, acompanhar um pensamento de princípio a fim significa ver o que é sem desfiguração; e quando percebo o fato diretamente, só então ele se
transforma. (…) (A Arte da Libertação, pág. 143-144)

Consideremos agora a violência. Sigamos esse pensamento de princípio a fim.(…) Se, compreendendo isso, ponho de lado o ideal, que é a não-violência, e olho para a violência e
me torno perfeitamente cônscio de que sou violento, o próprio fato de estar (…) cônscio da violência faz vir a transformação. Experimentai (…) (Idem, pág. 144)

Assim, seguir um pensamento de princípio a fim é ver como o pensamento se está enganando a si mesmo, fugindo do que é. Só podeis seguir um pensamento de maneira completa,
fechando todas as vias de escape e depois olhando-o - o que requer sinceridade extraordinária; (…) O descobrimento de como o pensamento se está enganando a si mesmo é que é
importante; e ao descobrirdes que ele é enganador, podeis então enfrentar o que é. Só então o que é revela a sua inteira significação. (Idem, pág. 144-145)

Pode-se perceber tudo o que a violência implica (…) Para vivermos pacificamente, não deve existir violência. (…) É possível extinguir a violência dentro de nós imediatamente,
instantaneamente (…)? Tão condicionados nos achamos, que dizemos: “Gradualmente me libertarei da violência.” Estamos acostumados com a gradualidade, a evolução, mas é
possível extinguir instantaneamente a violência existente em nós mesmos?

Digo que podemos terminar a violência imediatamente, quando somos capazes de observar esse fato completamente, com atenção total, em que não exista nenhuma espécie de
imagem. (…) Pode-se então olhar com absoluta serenidade, em completo silêncio. Verificar-se-á, então, uma total mutação do fato. (Encontro com o Eterno, pág. 16)

(…) O fato é a violência (…) Compreender “o que é” não requer tempo, senão somente observação completa. Na observação da violência, por exemplo, não há movimento algum
do pensar, senão só um sustar essa energia enorme que chamamos violência, e observá-la. (…) (La Llama de la Atención, pág. 94)

Reconhecendo que sou ambicioso, que devo fazer? Quaisquer explicações sobre a nocividade da ambição podem ajudar-me a ficar livre da ambição? Ou existe apenas um meio que
consiste em reconhecer, sem condenação, todas as conseqüências da ambição, ficar simplesmente cônscio do fato de que sou ambicioso, não apenas no nível consciente, mas
também nos níveis mais profundos do meu próprio pensar? (…) (Claridade na Ação, pág. 49)

Ora, sem dúvida tenho de estar inteiramente cônscio do fato, sem lhe opor nenhuma resistência, porque quanto mais luto contra ele, tanto mais vitalidade lhe insuflo. A ambição se
me tornou um hábito, e quanto mais eu resisto a um hábito, tanto mais forte ele se torna. Se, entretanto, me torno cônscio de fato e o vejo apenas como um fato, isso não opera uma
mudança radical? (…) (Idem, pág. 49-50)
(…) E esse percebimento não ocasionará uma mudança radical? Se reconheço que sou ambicioso e percebo as conseqüências, se o reconheço não apenas no nível verbal, mas
também interiormente, o que significa que estou cônscio da influência do hábito, da sensação, tradição, etc., que foi que aconteceu então? Minha mente se tornou quieta com
relação ao fato (…) Minha mente já não reage ante o fato: é um fato. E a tranqüila aceitação do que é constitui libertação desse fato (…) (Idem, pág. 50)

O medo dissolve-se com o conhecimento da causa do medo? Em geral, conhecemos a causa do medo: a morte, a opinião pública, coisas que praticamos e não desejamos sejam
descobertas, etc. A maioria das pessoas conhece a causa de seus temores, mas esse conhecimento (…) não põe fim ao medo. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
176)

(…) Se, com atenção completa, estais cônscio do fato - a existência do medo - vereis então que o observador e a coisa observada são um todo único, que não há separação entre os
dois. Não há observador que diz: “tenho medo”; só há medo (…) A mente já não está a fugir (…) tentando livrar-se do medo, (…) procurando a causa e, por conseguinte, já não
está escravizada às palavras. Só há, então, um “movimento de aprender”, proveniente da “inocência” - e a mente inocente não conhece o medo. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, pág. 177)

Uma das razões pelas quais temos medo é a comparação, o comparar-se a si mesmo com outrem. (…) O movimento de comparação é conformidade, imitação, ajuste; (…) Alguma
vez tentaram não se compararem jamais com outrem, seja física ou psicologicamente? Quando não se compara, então não se está tratando de “chegar a ser” (…) (La Llama de la
Atención, pág. 90)

A comparação, com toda a sua complexidade, bem como o desejo e o tempo, são os fatores do temor (…) Quando há observação e, por isso, não há movimento do pensar -
unicamente a observação do movimento total do temor - o temor chega totalmente ao fim; e o observador não é diferente do observado. (…) Quando se observa completamente, há
cessação do temor (…) (Idem, pág. 94-95)

(…) Ninguém tem de me dizer que sou arrogante, isso é óbvio. Da maneira como você fala, se comporta, se está de todo desperto, vê-se a natureza da arrogância. Vê-la,
compreendê-la, fixá-la, sem tentar escapar dela, é dissolvê-la. Quando há a percepção daquilo que é, no caso a arrogância, essa mesma percepção exige ação imediata.

Isso é inteligência. Se vejo algo perigoso - e a violência é um perigo tremendo para uma mente saudável, sã, racional, apaixonada - se há a percepção disso, essa mesma percepção
demanda ação imediata. Isso é o fim dela. A percepção não exige análise. Percepção é algo real, implicando entender, olhar, cessar o fato, e então daí você pode discernir. Esse
procedimento será lógico. Mas se você começa com lógica, raciocínio, para descobrir a causa, então usará o tempo, e a causa se multiplicará. (Mind Without Measure, pág.
114-115)

Por isso, (…) Do mesmo modo, se pudermos compreender a mente, (…) estar simplesmente cônscios de todos os seus movimentos, quando viajamos num ônibus, (…) conversamos
(…), a maneira como falamos, (…) como criticamos os outros, nossas fugas, devoções, orações - então, por meio de todas essas coisas, nos serão reveladas as profundezas da
consciência. (Viver sem Temor, pág. 41)

Em geral, não estamos nada cônscios de nossos hábitos e, por isso, eles se tornaram inconscientes. No momento em que vos tornais cônscios de um hábito, vós o “arrancastes” do
inconsciente. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 162)

Se (…) esse ato é automático e dele não estou cônscio, então, obviamente, trata-se de um hábito inconsciente. Mas, no momento em que me torno plenamente cônscio desse hábito e
não lhe resisto, mas me limito a observá-lo, então foi ele “arrancado” do inconsciente. (Idem, pág. 162-163)

(…) Como podereis tornar-vos cônscios do inconsciente, onde se encontra essa imensa série de hábitos não revelados? Como podereis ficar cônscios do padrão inconsciente que se
acha profundamente enraizado em vós? Ireis procurar um psicanalista (…) para que ele vos “arranque” o padrão do inconsciente? Isso adiantará? (Idem, pág. 163)

(…) Eis os fatos, e precisais estar cônscios deles. Sentireis, então, um novo alento, um nova consciência, e, no momento em que reconheceis o “que é”, opera-se uma transformação
instantânea. Ver o falso como falso é o começo da sabedoria, mas não podemos perceber o falso se não estivermos conscientes, a cada momento do dia, de tudo quanto dizemos,
sentimos e pensamos, e vereis a desse percebimento procede uma coisa extraordinária que se chama amor (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 133)

(…) Se a mente puder ficar simplesmente cônscia de todo esse processo, vereis que o pensamento se detém; nesse momento a mente está muito quieta, muito tranqüila, sem nenhum
incentivo, nenhum movimento em direção alguma, e nessa tranqüilidade desponta a realidade. (Visão da Realidade, pág. 116)

(…) Ficai, simplesmente, conscientes do “que é”, de todo o seu significado (…) Vede como tudo isso é monótono, estéril e estúpido. (…) Sentireis, então, um novo alento, uma nova
consciência, e, no momento em que reconheceis o “que é”, opera-se uma transformação instantânea. Ver o falso como falso é o começo da sabedoria, (…) e vereis que desse
percebimento procede uma coisa extraordinária que se chama amor (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 133)

Estados de Ser sem “Eu”; Ilusão, Estupidez do “Eu”


Sabemos agora o que é temor? (…) O temor, pois, é a não aceitação do “que é”. Como posso eu, que sou um feixe de todas essas reações, lembranças, esperanças, depressões,
frustrações, (…) o resultado do movimento da consciência, detido ante um obstáculo, passar além? (…) Sabemos que, quando não há obstáculo, há uma alegria extraordinária. (…)
(Quando o Pensamento Cessa, pág. 64)

E não sabeis que - quando a mente está completamente livre, desembaraçada, quando o centro do reconhecimento, como “eu”, não está presente - não sabeis que se experimenta
certa alegria? Já não experimentastes esse estado, em que está ausente o “eu”? (…) Por certo, para se encontrar a ação que não é resultado de isolamento, necessita-se ação
independente do “eu”. (…) (Idem, pág. 64)

Será possível o “eu” ficar de todo ausente, agora? Quais os ingredientes, os requisitos necessários? (…) A compreensão do “eu” requer grande soma de inteligência, de vigilância,
de atenção, incessante observação, para que não nos escape. Quando digo: “quero dissolver isto”, é também experiência do “eu”, que, desse modo, se fortalece. Como é possível o
“eu” não experimentar? Pode-se ver que o “estado de criação” não é, em absoluto, experiência do “eu”. Há criação quando o eu não está presente, porque a criação não é
intelectual, não é autoprojeção, e sim uma coisa que transcende toda experiência. É possível, então, achar-se a mente de todo tranqüila, num estado de não-reconhecimento, ou de
não-experimentar, em que possa se verificar a criação, isto é, num estado de inexistência, de ausência do “eu”? É esse o problema, (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed.,
pág. 78)

Em momentos de intensa criação, (…) de grande beleza, há uma tranqüilidade absoluta; em tais momentos verifica-se uma ausência completa do “ego” e todos os seus conflitos; é
essa negação - a forma suprema do pensar-sentir - que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. Mas são raros, para a maioria de nós, esses momentos em que
se transcendem o pensador e o pensamento; (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 88)

A alegria é espontânea, não procurada, nem convidada, e quando a mente a analisa, para cultivá-la ou recapturá-la, então não é mais alegria. (…) (Palestras em Ommen, Holanda,
1937-1938, pág. 117)

Quando estais alegre, feliz, no momento em que vos tornais cônscio de estardes feliz, já não estais feliz. Já notastes isso? (…) No momento em que vos identificais com a felicidade,
acabou-se a felicidade. Ela é então, apenas, uma lembrança. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 197)

Mas a felicidade não pode ser buscada; ela é um resultado, (…) A felicidade vem sem ser chamada; e, no momento em que vos tornais cônscio de ser feliz, já não sois feliz. (…)
Tornar-se consciente de ser feliz, ou buscar a felicidade, é acabar com a felicidade. Só há felicidade quando o “eu” e suas exigências foram postos à margem. (…) (A Cultura e o
Problema Humano, pág. 65)

(…) No momento, porém, em que dizeis “estou alegre”, sinto alegria, lá se foi o sentimento. Compreendeis? No momento em que dizeis “sou feliz”, não sois feliz. (Debates sobre
Educação, pág. 719)
(…) Quando sentis subitamente muita alegria por causa de nada em particular, estais fruindo a liberdade de sorrir e ser feliz. Mas, se vos tornais cônscio disso, nesse mesmo
momento o perdeis (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 65)

(…) No momento em que estais cônscio de que sois humilde, já não sois humilde. A felicidade não é coisa de se perseguir; ela vem. Se a procurais, ela se esquiva. (Novos Roteiros
em Educação, pág. 109)

Quando vos tornais cônscios de vossa humildade, ela não desaparece? Existe virtude quando deliberadamente praticamos a virtude? Esse praticar torna mais forte a atividade
egocêntrica, a qual põe termo à virtude. No momento em que estamos cônscios de ser felizes, deixamos de o ser. (…) (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 42)

Com efeito, (…) Considerai isto: A humildade pode ser cultivada? Se se cultiva a humildade, ela é vaidade. Se cultivais o percebimento de “o que é”, não há percebimento. (…)
Mas, se tentais exercitar-vos em prestar atenção ao que é, o que está em função é o pensamento, e não o percebimento. (Fora da Violência, pág. 52)

A maioria de nós não sabe realmente o que significa ser humilde (…) A humildade não é uma virtude cultivável. No momento em que se cultiva a humildade, já não há humildade.
(O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 212)

(…) O homem que diz: “devo esquecer-me de mim mesmo na virtude e, portanto, vou praticar a virtude”, está vestindo o seu “eu” com a capa da virtude; é o “eu” disfarçado de
“virtude” (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 58)

A virtude não pode ser praticada. No momento em que estamos cônscios de ser virtuosos, está destruída a virtude. A virtude vem sem disciplina, sem esforço, sem imitação, sem
exercício, (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 88)

(…) Ao contrário, porém, eu penso que no momento em que uma pessoa se torna cônscia de que sabe, já não sabe. Quando uma pessoa se torna cônscia de sua virtude, sua
humildade, já não é virtuosa (…) (Verdade Libertadora, pág. 26-27)

(…) Quem tem certeza é obstinado, irrefletido. Quem sabe, não sabe. O homem que se torna cônscio do próprio desprendimento, já não é desprendido; (…) (Autoconhecimento,
Correto Pensar, Felicidade, pág. 71)

(…) Positivamente, o homem que diz “eu sei”, não sabe. Entretanto, o homem que diz “não sei”, acha-se num processo de investigação (…) (Visão da Realização, pág. 95) 416

(…) Falamos a respeito do amor; dizemos que amamos pessoas, nossos filhos, (…) esposas (…); mas, no momento em que estou consciente de que amo, entrou em atividade o “eu”
e, conseqüentemente, o amor deixou de existir. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 211-212)

(…) E no momento em que o pensamento reconhece o silêncio, isso já não é silêncio; é algo pertencente ao passado, (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 31)

A quietação, o silêncio, não é produto do pensamento. O silêncio existe fora do campo da consciência. Não se pode dizer: “Experimentei um estado de silêncio”. Se o tendes
experimentado, isso não é silêncio. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 140)

(…) Quando a mente está cônscia de estar tranqüila, já não está tranqüila; quando a mente está cônscia de ser não-ávida, de estar livre da avidez, ela reconhece a si mesma nas
vestes da não-avidez, mas isso não é tranqüilidade. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 88)

E temos (…) a questão do “observador e coisa observada”. Se há um “vós” que experimenta o silêncio, não há silêncio. No momento em que percebeis que sois feliz, já não há
felicidade. No momento em que dizeis: “Encontro-me num extraordinário estado de humildade”, acabou-se a humildade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 31)

(…) Ser simples não é uma conclusão, um conceito intelectual pelo qual lutamos. Só pode existir a simplicidade quando cessa o “ego” e suas acumulações. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 249)

(…) Quando pensais em Deus, vosso Deus é “projeção” (…) Só se pode pensar no conhecido; não podeis pensar no desconhecido; (…) No momento em que pensais no
desconhecido, ele não é mais que o conhecido, de vós próprio projetado. (…) (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 15-16)

Mas essa “novidade” não é para ser reconhecida como “o novo”. No momento em que reconheceis o novo, ele já se tornou velho, já não é “o novo”. (…) Ou temos “o novo”, ou
não o temos. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 123-124)

(…) É o contentamento um resultado, uma coisa para ser alcançada? (…) logo que desejo alcançar o contentamento, já fiz nascer o descontentamento. (Por que não te Satisfaz a
Vida?, pág. 27)

Sem dúvida, no momento em que estou cônscio de estar contente, fico descontente (…) (Por que não te satisfaz a Vida?, pág. 28)

Existe, por certo, um processo de compreender o descontentamento; e, ao compreendê-lo, vereis que o descontentamento é a natureza mesma do “eu”. O “eu” é o centro do
descontentamento (Idem, pág. 29)

Quando um guru diz que sabe, ele não sabe. Quando um guru oriental ou um homem do ocidente diz: “Eu alcancei a iluminação” - então você pode estar certo de que ele não é um
iluminado; (…) (Perguntas e Respostas, pág. 70)

As chamadas pessoas iluminadas não são iluminadas, pois no momento em que dizem: “Estou iluminada”, não estão. Trata-se de uma vaidade delas. (…) (Perguntas e Respostas,
pág. 103)

(…) Quando um homem se diz inteligente, é bem evidente que é estúpido. Nessas condições, aquela parte da mente que tem consciência de si mesma como muito inteligente, é, de
fato, pouco inteligente; (…) (A Arte da Libertação, pág. 141)

(…) O que é inteligente não tem consciência de si mesmo; e no momento em que digo: “sou inteligente”, desço ao nível da estupidez (…) Mas quando uma mente reconhece que é
estúpida, (…) esse fato é de significação extraordinária; se digo que sou mentiroso, já começo a falar a verdade. (…) (Idem, pág. 142)

Em geral, pensamos que somos muito inteligentes. Pensamos ter alguma faceta brilhante. Ora, somos inteligentes? Ao contrário, somos estúpidos, mas nunca reconhecemos a nossa
estupidez, a falta de sensibilidade; (…) A inteligência pode ter consciência de si mesma? No momento em que digo “sou muito inteligente” é bem evidente que sou estúpido. (…) (A
Arte da Libertação, pág. 141)

Nessas condições, aquela parte da mente que tem consciência de si mesma como muito inteligente é, de fato, pouco inteligente; (…) Sem dúvida, quando a mente estúpida pensa que
contém em si uma soma de inteligência, ainda aqui temos a ação de uma mente estúpida. (…) (Idem, pág. 142)

Em geral, não gostamos de reconhecer que somos estúpidos; (…) Como pode um homem pouco inteligente conhecer uma coisa realmente inteligente? O que é inteligente não tem
consciência de si mesmo; e no momento em que digo: “sou inteligente”, desço ao nível da estupidez - como o está fazendo a maioria de vós. (…) O que de fato acontece é que
quando um homem estúpido entretém o seu pensamento com coisas brilhantes, rebaixa essas coisas brilhantes a seu próprio nível. (A Arte da Libertação, pág. 142)

Quando uma mente pensa em si mesma como sendo brilhante, ou ela é presunçosa, cônscia de si mesma, e portanto estúpida, ou é estúpida e pensa que é muito inteligente e, por
conseguinte, é ainda estúpida. (…) Se puderdes enfrentar o fato de que sois estúpido, então há começo de esclarecimento. (…) Mas, no momento em que reconheceis o fato de que
sois estúpido, dá-se uma transformação imediata. (Idem, pág. 142-143)

Mente Aberta, Inocente; Coração Cheio, Mente Vazia


Nesta manhã desejo falar (…) Afigura-se-me uma das coisas mais importantes da vida o esclarecer da mente, o esvaziá-la de toda experiência e pensamento, de modo que ela se
torne fresca, nova, inocente; porque só a mente inocente pode, com sua liberdade, descobrir o que é verdadeiro. Essa inocência não é um estado de permanência. (…) É o estado da
mente que, estando totalmente livre, é capaz de renovar-se a todo instante, sem esforço. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 98)

(…) A sabedoria é a compreensão do fluxo contínuo da vida ou da realidade, e somente é aprendida quando a mente está aberta e vulnerável, isto é, quando a mente não mais está
embaraçada por seus próprios desejos de autoproteção, reações e ilusões. (…) (Palestras no Brasil, pág. 48)

(…) Para perceberdes a verdade relativa ao nacionalismo, sem vos deixardes enredar nos argumentos pró e contra, tendes de examinar a questão com o espírito aberto a todas as
sugestões decorrentes desse problema. (…) (A Arte da Libertação, pág. 120)

(…) Mas, sem dúvida, uma mente que está muito tranqüila, uma mente que não está sendo distraída pelo seu próprio pensar, uma mente que se acha aberta, pode olhar para o
problema de uma maneira muito direta e muito simples. (A Renovação da Mente, pág. 14)

Que é que contamina a mente? Que é que torna a mente embotada, estúpida, trivial, acorrentada à rotina, ao hábito, à tradição? Que é que faz a mente declinar, envelhecer? Se a
mente puder conservar-se nova, sem deperecer, sem deteriorar-se, a experiência nunca a contaminará (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 118)

Por conseguinte, revela compreender o inteiro problema de por que a mente permanece em seus hábitos e rotinas, seguindo sempre determinada “linha”, qual um ônibus elétrico, e
tem medo de indagar, de investigar. (…) Fumar também vos torna semelhante a uma máquina, escravo do hábito, e é só quando se compreende tudo isso que a mente se torna
fresca, jovem, ativa, viva, de modo que cada dia é um dia novo (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 102)

Vede, senhores, estamos envelhecendo - e mesmo os jovens o estão - e quanto mais velhos nos tornamos, tanto mais solidamente nos fixamos em nosso condicionamento. Assim, não
é a mente sagaz, (…) ilustrada, nem aquela que se tornou filosófica e tudo racionaliza (…) - não é nenhuma dessas, mas só a mente livre, desimpedida, que é capaz de compreender,
(…) de conhecer ou perceber (…) “o desconhecido”, “o imensurável” (…) (Idem, pág. 100-101)

Afinal, que é essa experiência que nos proporciona tão forte sentimento de nobreza, de sabedoria, de superioridade? “Experiência”, sem dúvida, é a reação de nosso “fundo
mental” (background) a um “desafio”. A reação é condicionada por esse “fundo” e, portanto, cada experiência torna mais forte o “fundo”. (…) A experiência, pois, não liberta a
mente, não a torna jovem, fresca, “inocente”. O que se faz necessário é a destruição total do fundo. (O Passo Decisivo, pág. 212)

Não sei se já tendes considerado este problema; mas, se o fizerdes, vereis que a mente que está carregada, pejada de saber e de experiência, não é uma mente “inocente”, (…)
nova; é uma mente velha, decadente, que nunca será capaz de entrar em contato - livremente, plenamente, totalmente - com uma coisa viva. E, no mundo atual, tanto interior com
exteriormente, urge que tenhamos uma mente nova, fresca, jovem, para podermos resolver todos os nossos problemas (…) A mente velha é uma mente cansada, entravada; mas a
mente nova vê prontamente, sem distorção, sem ilusão: é penetrante, precisa, livre das limitações do conhecimento acumulado e da passada experiência. (O Passo Decisivo, pág.
211-212)

Afinal, todos nos tornamos mais velhos a cada dia, mas decerto é possível conservar a mente jovem, nova, inocente, não oprimida pelo peso tremendo da experiência, do
conhecimento, do sofrimento. Tenho para mim que uma mente nova, purificada, é absolutamente necessária para se poder descobrir o que é verdadeiro, se existe Deus (…) (O
Passo Decisivo, pág. 168)

Assim, que possibilidade tem um ente humano, vós e eu, de tornar a mente nova, vigorosa, inocente, viva? Nossa vida é toda um “processo” de desafio e reação; do contrário, a
vida seria como coisa morta; a maioria de nós, a bem dizer, está morta. A vida, com efeito, é um processo de desafio (…) E enquanto a resposta não for totalmente adequada ao
desafio, haverá atrito, batalha, tensão, sofrimento. (…) (Viagem por uma Mar Desconhecido, pág. 185)

Nessas condições, para fazermos surgir a realidade, é essencial que abandonemos as inumeráveis fugas a que nos habituamos e nas quais estamos presos. (…) A mente precisa estar
de todo vazia e tranqüila, para que a realidade possa despontar. Mas uma mente que vive alardeando o seu saber, (… ) afeiçoada a idéias e crenças e sempre a tagarelar, essa
mente é incapaz de receber “o que é”. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 66-67)

Assim, à mente que está aprendendo, em vez de só adquirindo conhecimento, só interessa o pensar, e não o pensador, porque este foi criado pelo pensamento. Considerai, pois, isto:
que todo o nosso pensar é mecânico; e que, sendo o pensamento mecânico, o mero cultivo do pensamento nunca libertará o homem; (…) O que vos cabe fazer é aprender tudo o que
concerne ao pensar e, dessa maneira, vos tornardes original. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 40)

Nós estamos aprendendo; por conseguinte, não pode haver julgamento e (…) avaliação. Quando se está aprendendo, a mente está sempre atenta e nunca acumulando; por
conseguinte, não há acumulação em que nos basearmos para julgar, avaliar, condenar e comparar. (…) Porque a mente que está aprendendo, é sempre nova; é sempre uma mente
indagadora, nunca comparativa, nunca disposta a aceitar a autoridade e a avaliar segundo essa autoridade. É uma mente jovem; e é inocente, nova, porque está sempre
aprendendo. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 32)

É, portanto, essencial que a mente esteja tranqüila, para compreender. A mente só é nova quando tranqüila; e só é livre, serena, quando não está condicionada pelo passado. É só
então que o desconhecido é instintivamente descoberto. (…) (Nosso Único Problema, pág. 75)

Para descobrirdes o que é novo, a ele deveis chegar-vos com uma mente “inocente” (…) fresca, jovem, não contaminada pela sociedade. A sociedade é a estrutura psicológica da
inveja, da avidez, da ambição, do poder, do prestígio; (…) a pessoa precisa morrer para toda essa estrutura (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 52)

“Quando a mente está livre do conhecido”, ela é uma mente nova, (…) “inocente”. Acha-se num estado de criação imensurável, inominável, fora do tempo. (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 222)

A mente é, então, sempre nova, juvenil, “inocente”. A mente inocente é aquela que não pode ser ferida. Uma mente sem marcas de ferimentos recebidos - eis a verdadeira
inocência; temos cicatrizes no cérebro e, com elas, queremos descobrir um estado mental sem ferimento algum. A mente inocente não pode ferir-se, porque nunca transporta um
ferimento de dia para dia. Não há, pois, nem perdão, nem lembrança. (O Novo Ente Humano, pág. 69)

Todos nós temos muitas experiências, e cada experiência deixa sua marca; (…) E é essencial morrermos para tudo o que temos experimentado, para que a mente se torne jovem,
fresca e “inocente”. Só uma mente “inocente” (…) pode perceber o que é verdadeiro e transcender as coisas fabricadas pelo homem. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito 1ª
ed., pág. 22)

Para se compreender a beleza e a extraordinária natureza da morte, é preciso estar-se livre do conhecido. (…) A mente que está morrendo a cada instante, que nunca está
armazenando experiência, é inocente e, por conseguinte, se acha num perene estado de amor. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 95-96)

Com a mente renovada, pode-se viver neste mundo (…) A questão é, realmente, se há possibilidade de tornar profunda a mente superficial. Eu acho que há. (…) Já se pudermos
compreender todo esse processo de experiência, de “desafio” e reação, tanto exteriores como interiores, ver-nos-emos, então, imediatamente, fora dele. Nossa mente é então jovem,
ainda que tenhamos um corpo velho; torna-se clara, penetrante, fresca, e é só nesse estado de inocência que o real pode existir. (Idem, pág. 101)

(…) Só a mente que, na sua totalidade, é impermanente, incerta, pode descobrir o que é verdadeiro; porque a verdade não é estática. A verdade é sempre nova, e só pode ser
compreendida pela mente que está morrendo para todas as acumulações, todas as experiências e é, por conseguinte, fresca, jovem, “inocente”. (Da Solidão à Plenitude Humana,
pág. 81)

Não achais necessário que o pensamento claro e correto seja sensível? Para sentir profundamente, não é necessário um coração aberto? Embrutecemos nossa mente (…)
sentimento, (…) corpo, com a malevolência, com estimulantes poderosos e insensibilizantes. É essencial que sejamos sensíveis, para que tenhamos reações prontas e adequadas,
mas os nossos apetites nos insensibilizam e empedernecem. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 17)

Agora, já expliquei que o conflito não produz o pensar criador. Para se ser criador, para se produzir qualquer coisa, a mente precisa estar em paz, o coração cheio. (…) (A Arte da
Libertação, pág. 219)

(…) A presente crise nasceu do culto do intelecto, e foi o intelecto que dividiu a vida numa série de ações opostas e contraditórias; foi o intelecto que negou o fator de unificação,
que é o amor. O intelecto encheu o nosso coração, que estava vazio, com as coisas da mente; e só quando a mente está cônscia do seu próprio raciocinar é capaz de se transcender
a si mesma, só então haverá o enriquecimento do coração. Só o incorruptível enriquecimento do coração pode trazer a paz a este mundo louco e cheio de lutas. (A Arte da
Libertação, pág. 248)

A verdade só pode vir a vós quando vossa mente e coração são simples e claros, e existe amor no vosso coração, e não se vosso coração está cheio das coisas da mente. (…)
Significa isso que precisais despojar-vos de todas essas coisas, para que a verdade possa manifestar-se. E ela só pode vir quando a mente está vazia, (…) desiste de criar. ( … ) Ela
surge súbita como a luz do sol, pura como a noite, mas, para a receber, deve o coração estar cheio e a mente, vazia. Vossa mente está agora cheia e vosso coração vazio. (O que te
fará Feliz?, pág. 79)

(…) Não é o amor, mas, sim, o coração vazio, o espírito árido, o intelecto endurecido, que é repelido ou atraído. E, quando uma pessoa ama, não há escravização. Há sempre uma
renovação, uma fresca vitalidade, uma alegria, não no falar, (…) mas naquele próprio estado. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 134)

(…) Porque os nossos corações estão vazios, as nossas mentes embotadas, cansadas, procuramos encher o coração vazio com as coisas feitas pela mente ou pela mão; (…) Quando
a mente não está criando, fabricando, quando não está cativa das idéias, só então o coração está vivo. (…) (Idem, pág. 134)

(…) Esse é o mundo moderno. Temos progresso técnico, sem um progresso psicológico equivalente, e, por esse motivo, há um estado de desequilíbrio; têm-se realizado
extraordinárias conquistas científicas, e, no entanto, continua a existir o sofrimento humano, corações vazios (…) Vosso mundo, que sois vós mesmos, é um mundo do intelecto
cultivado e do coração vazio. (A Arte da Libertação, pág. 189-190)

Viver e Morrer; Físico, Psicológico, Espiritual


Que é a morte? Pode-se “experimentar” a morte enquanto estamos vivos? Vós e eu podemos “experimentar” o que é a morte, não no momento em que, por doença ou acidente, se
dá a completa cessação do pensar, mas enquanto estamos vivos, cheios de vigor, perfeitamente lúcidos e conscientes? Vós e eu podemos descobrir o que significa morrer, “entrar
na mansão da morte”, enquanto estamos aqui. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 55)

Mas, se pudermos compreender a morte, não teremos mais medo dela e não buscaremos a imortalidade pessoal, nem neste mundo nem no outro. Então, a nossa percepção, a nossa
perspectiva, terão sofrido uma revolução completa. A crença, pois, de nada serve para o descobrimento do verdadeiro, e agora vamos investigar o que há de verdadeiro com
relação à morte. (Idem, pág. 55)

Que significa isto: morrer? Significa, evidentemente, morrer para todas as coisas que acumulamos, todas as experiências, todas as lembranças, todos os laços que nos prendem.
Morrer é deixar de ser “eu”, “ego”, (…) É não ter mais idéia de continuidade do “eu”, (…) suas lembranças, suas mágoas, seus sentimentos vingativos, seu desejo de
preenchimento, de “vir a ser”. E é possível experimentar um tal momento de não-existência do “eu”. Nesse momento (…) conheceremos o que é a morte. (Idem, pág. 55)

Que entendemos por morte? É claro que tudo aquilo que é submetido a uso constante, chega a um fim; (…) Mas existe o “eu” que não é meu corpo, o “eu” que é minha
compreensão acumulada, as coisas que fiz na vida, as coisas pelas quais lutei, as experiências que acumulei, as riquezas que juntei - não o “eu” físico, mas o “eu” psicológico, que
é memória e que desejo continue a existir, que não desejo que finde. Na verdade, não é a morte que tememos, mas esse findar. Desejamos continuidade. (…) (A Arte da Libertação,
pág. 128)

(…) Enquanto a experiência deixar vestígio de memória, que é tempo, nunca será possível experimentar o que é eterno. A mente, portanto, deve deixar-se morrer, momento a
momento, para cada experiência. Efetivamente, só nesse estado ela é criadora. (Transformação Fundamental, pág. 43)

Outro dia estive falando sobre a morte. Precisais morrer para todo o conhecimento que tendes a vosso respeito; porque o “eu” nunca é estático, está sempre variando, não só
física, mas também psicologicamente. Não sois o que ontem fostes, embora o desejásseis ser; operou-se uma mudança, da gual podeis não estar cônscio. (O Homem e seus Desejos
em Conflito, 1ª ed., pág. 66-67)

A mente é o “conhecido”, resultado do conhecido, sendo “o conhecido” todas as experiências de incontáveis dias passados, e é só quando a mente se liberta do conhecido e,
portanto, se torna parte do Desconhecido, é só então que não há mais medo à morte. Não há mais a morte. A mente já não busca a imortalidade pessoal. (…) Só o Desconhecido é
criador, e o Desconhecido só pode despontar quando a mente está livre da perpetuação do “conhecido”. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 55)

Assim, pois, o que nós temos é apenas o nosso pensar, que é também sentir. Só temos o nosso nome, nossa forma, nossa família, nossas roupas, nossos móveis, nossas lembranças e
experiências, nossas reações, tradições, vaidades e preconceitos. Eis tudo o que temos; e isso nós queremos que continue. Tememos que isso se acabe (…) O que continua não pode
renascer, não pode renovar-se. Só há criação, quando há um fim. Mas temos medo de findar, temos medo de morrer. (…) Mas, por certo, só no morrer, e não no acumular,
encontra-se aquilo que está fora do tempo. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 83)

Para compreender o que é a morte, a mente deve estar completamente livre do medo. Deve achar-se num estado em que diz para si própria: “Eu não sei” - e não procura nem
deseja resposta alguma. Esse é o estado livre do conhecido. (…) Vereis, então, se aí chegardes, que toda idéia de continuidade cessa por inteiro. Morre a mente para todas as suas
insignificantes ansiedades, apetites, invejas, vaidades - morre para tudo isso imediatamente (…) Só quando há um fim, pode haver um novo começo. Com o “fim do passado”
desponta algo totalmente novo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 194)

O que chamamos “pensamento” dá à mente a idéia da continuidade - e isso é que é o “tempo psicológico”, porquanto todo pensamento resulta de nosso condicionamento, nossa
memória, nossa experiência. Todo desafio provoca uma “resposta” desse fundo, e essa resposta é o pensamento “em ação”; por conseguinte, não há espontaneidade, nunca há
“resposta” que esteja livre do passado. Mas, quando tem fim o nosso pensamento, nossa avidez, nossa inveja, nossa ambição e sede de poder, toda a estrutura psicológica da
sociedade, que constitui o “eu” - quando tudo isso termina, sem motivo algum, acha-se então a mente num estado de “não saber”, completamente vazia; e só então há morte. (Idem,
pág. 194-195)

(…) Em geral vivemos sob a pesada carga do conhecido, do ontem, das memórias, do “eu”, esse feixe das memórias ontem acumuladas, sem nenhuma realidade em si. Morrei para
essas memórias, morrei para um prazer, sem discussão - se sabeis o que significa morrer(…) E morrer cada dia, para todas as coisas que acumulastes, psicologicamente, é renascer
totalmente. (…) Ou sabemos morrer todos os dias - e morrendo, realmente, nossa mente se torna nova, firme, ardorosa, sumamente viva; ou ficamos com o feixe de memórias e sua
atividade egocêntrica, seus pensamentos, sua busca de preenchimento, seu desejo de ser importante, de imitar, de copiar. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 36)

Não sei se já experimentastes morrer para um prazer, sem argumentação, sem nenhum sentimento de sacrifício - largá-lo simplesmente de mão. Se já o fizestes, então deveis saber o
que é morrer, o que é terminar um prazer antes de começar o próximo prazer. Nesse intervalo, entre a morte do velho e o começo do pensamento, a exigência de um prazer
diferente, nesse intervalo está a renovação da mente. (A Essência da Maturidade, pág. 94)

Todos nós temos muitas experiências, e cada experiência deixa sua marca; cada pensamento, cada influência molda-nos (…) a mente. E é uma coisa essencial morrermos para tudo
o que temos experimentado, para que a mente se torne jovem, fresca e “inocente”. Só uma mente “inocente” (…) está morta, para o passado - só essa mente pode perceber o que é
verdadeiro e transcender as coisas fabricadas pelo homem. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 22)

Assim, para compreender a morte, experimentá-la realmente, é preciso morrer para ontem, para todas as suas lembranças, as feridas psicológicas, a lisonja, o insulto, a
mesquinhez, a inveja - é preciso morrer para tudo isso (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 54)

Temos, pois, de morrer para tudo, para cada dia, para todas as relações. Se não morrerdes para vossas relações, seja com vossa mulher, seja com vossos filhos ou vosso patrão,
continuareis meramente num hábito; e todo hábito embota a mente, torna-a insensível, incapaz de criar. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 64)
Para descobrir a verdade da morte, tem de haver um fim para o conteúdo da própria consciência. Então o indivíduo jamais perguntará: “Quem sou eu?” ou “Que sou eu?”. Ele é
sua consciência com seu conteúdo. Quando termina essa consciência com seu conteúdo, há algo por completo diferente, que não pode ser imaginado. Os seres humanos hão
buscado a imortalidade em suas ações; um escreve um livro, e nesse livro está a imortalidade do próprio como escritor; outro, um grande pintor, pinta um quadro e essa pintura se
converte na imortalidade desse ser humano. Tudo isso deve terminar - o que ninguém está disposto a fazer. (La Totalidad de la Vida, pág. 212-213)

(…) O homem de saber nunca pode conhecer a morte, que está fora do tempo, para além do conhecido. É somente quando morremos, momento a momento, para as coisas de ontem,
(…) é só então que se apresenta o desconhecido, o novo. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 84)

Naturalmente, precisamos do tempo cronométrico, senão perdemos o trem. Mas, enquanto vivermos presos a essa projeção da mente, que é o tempo psicológico, não haverá findar,
e o que tem continuidade não é imortal. Só o que acaba é atemporal, e só isso pode conhecer o imortal. (Idem, pág. 84)

(…) Morrer para o “conhecido” é uma coisa extraordinária - sendo o conhecido vossa experiência de ontem, as coisas a que estais apegado e que conservais zelosamente na
lembrança. Quando emprego a palavra “morrer”, isso significa “ficar tranqüilo” a respeito do “conhecido”. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 62-63)

“Morrer para o conhecido” significa dar fim ao conhecido. Esse morrer traz tranqüilidade; mas a tranqüilidade é coisa secundária, porquanto dessa morte maravilhosa nasce uma
“inocência” que é, em si, tranqüilidade da mente. A mente “inocente” é mente tranqüila; e só a mente tranqüila pode descobrir o que existe nessa tranqüilidade. (Idem pág. 63)

A morte tem um sentido mais profundo do que o simples acabar do organismo físico: o de psicologicamente chegar ao fim - o súbito acabar do “eu”, do “tu”. Esse “eu, esse “tu”,
que acumula conhecimentos, (…) sofre, (…) vive com lembranças agradáveis e dolorosas, (…) com os conflitos psicológicos (…) A luta psicológica, as lembranças, o prazer, as
dores - tudo isso acaba. É disso realmente que se tem medo, e não do que está para além da morte. Nunca se teme o desconhecido; teme-se o acabar do conhecido. E o conhecido é
a nossa casa, (…) família, (…) idéias, (…) livros, (…) móveis (…) Quando isso acaba, a pessoa sente-se completamente isolada, sozinha - é disso que se tem medo. (…) (O Mundo
Somos Nós, pág. 82)

Ao compreendermos isso - não de maneira teórica, mas realmente - ao compreendermos que se tem medo de perder tudo o que se possui ou se criou, ou aquilo para que se trabalha,
perguntamos: “Não será possível morrer psicologicamente todos os dias, para tudo o que se conhece? Poder-se-á morrer todos os dias, para que a mente seja fresca, jovem e
inocente cada dia? Fazei-o realmente e vereis que coisas extraordinárias acontecem. Então a mente se torna inocente (…) (Idem, pág. 83)

Só a mente que abandona os seus fardos todos os dias, que todos os dias põe fim aos seus problemas, é inocente. Então a vida ganha um sentido totalmente diferente. Então se pode
descobrir o que é o amor. (Idem, pág. 83)

Pode-se descobrir o que realmente significa morrer, não no sentido biológico ou fisiológico, mas psicologicamente (…)? Porque é só no morrer que pode haver renovação (…) O
que tem continuidade é “repetitivo”, é do tempo. É só quando acaba o tempo, que pode verificar-se alguma coisa nova. A questão é esta: “pode a vida que conhecemos, a qual é
confusão, desordem, anarquia, acabar totalmente”? (A Essência da Maturidade, pág. 93)

Pois é isso que chamamos “morte”. Pode haver um morrer para todas as nossas lembranças (…)? Morrer todos os dias, para todos os problemas, (…) prazeres, nunca se levando
para amanhã problema nenhum, de modo que a mente permaneça sempre (…) atenta, ativa, lúcida. Isso só é possível ao morrermos diariamente para todas as acumulações
psicológicas. (Idem, pág. 93-94)

Nós não estamos fugindo ao fato com uma teoria; estamo-lo enfrentando sem medo. Que significa morrer psicologicamente, interiormente? Na morte do organismo, não há
discussão, não podemos dizer: “Por favor, esperai mais uns dias” (…) Não há discutir, a morte é peremptória. (…) Morrer interiormente significa que o passado deve terminar de
todo - tendes de morrer para todos os vossos prazeres, (…) memórias (…) as coisas que vos são caras; e deveis morrer todos os dias, realmente. E viver dessa maneira, com a mente
sempre nova, pura, inocente, e sempre vulnerável, é meditação. (Palestras com Estudantes, pág. 105)

(…) Afinal, tememos a morte por estarmos apegados ao conhecido. A morte é o desconhecido, e nós só funcionamos dentro dos limites do conhecido. “Meu nome”, “minha
família”, “meu emprego” (…) Ora, pode a mente libertar-se do conhecido, do passado, de todas as tradições, (…) conhecimentos? (…) Livre do conhecido, não se torna a mente
capaz de compreender ou de experimentar o desconhecido, que é a morte? Se pudermos experimentar o desconhecido, imediata e diretamente, isso terá uma significação
extraordinária nas nossas relações; criaremos então uma ordem social completamente diferente. (Visão da Realidade, pág. 37-38)

Vemos, pois (…) E existe de fato satisfação permanente, um permanente estado de paz? Ou só existe um estado em que nada é permanente? Só a mente que, na sua totalidade, é
impermanente, incerta, pode descobrir o que é verdadeiro; porque a Verdade não é estática. A Verdade é sempre nova e só pode ser compreendida pela mente que está morrendo
para todas as acumulações, (…) experiências e é, por conseguinte, fresca, jovem, “inocente”. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 80-81)

(…) Mas, para compreender realmente a coisa chamada “morte”, que deve ser algo extraordinário, incognoscível, impensável, inimaginável, precisamos procurar conhecê-la,
“viver com ela”, precisamos chegar-nos a ela sem conhecimento e sem medo. E eu digo que isso é possível, que uma pessoa pode morrer para todos os dias passados. (…) E quando
morremos para o passado, a mente fica vazia; (…) Mas, se se puder morrer para o prazer e a dor - não determinado prazer ou determinada dor - a mente fica então fora do tempo e
do espaço. E essa mente contém então o tempo e o espaço, sem o conflito do tempo e do espaço (…) (O Passo Decisivo, pág. 85)

Pode o cérebro, a consciência humana, libertar-se desse medo à morte? (…) Pode-se viver com a morte e compreender o significado da terminação? Isso implica compreender o
significado da negação; terminar com nossos apegos, (…) nossas crenças (…) Quando se nega algo, quando se termina com isso, há algo totalmente novo. Pode-se, então, enquanto
se está vivendo, negar o apego completamente? Isso é viver com a morte. A morte significa o fim. (La Llama de la Atención, pág. 75-76)

Não estou falando de teorias. Viver sem medo bem pode significar imortalidade, ficar livre da morte. Morrer para as lembranças, (…) para o ontem e para o amanhã, isso, por
certo, é “viver com a morte”; e nesse estado não existe o medo à morte e invenções criadas pelo temor. (…) (O Passo Decisivo, pág. 254)

Para descobrir o que é viver, e também (…) o que é morrer, precisamos entrar em contato com a morte, isto é, temos de finalizar, todos os dias, tudo o que conhecemos. Temos de
destruir a imagem que formamos a respeito de nós mesmos, (…) de nossos conhecidos, (…) por meio do prazer, (…) de nossas relações com a sociedade; temos de destruir tudo (…)
(Encontro com o Eterno, pág. 99)

Saberemos então o que significa morrer e, também, o que significa viver, porque morreremos (…) para todas as aflições (…) conflitos, (…) lutas. Só no morrer há uma coisa nova.
(…) O novo só pode vir quando o tempo finda (…) O tempo, tal como o conhecemos, é ontem, hoje e amanhã. Nessa corrente do tempo estamos a debater-nos, tentando, dentro dela,
resolver os nossos problemas. (Idem, pág. 99)

Sabeis o que significa “entrar em contato com a morte”, morrer sem discussão? Porque a morte, quando chega, não “discute”. Encontrar-se com ela significa morrer todos os dias
para as agonias, a solidão, as relações a que estamos apegados! Tendes de morrer para o vosso pensamento, (…) os vossos hábitos, para vossa mulher, a fim de que possais vê-la de
maneira nova; morrer para vossa sociedade, para serdes um ente humano novo, vigoroso, juvenil e poderdes então compreendê-la. Mas não podemos encontrar-nos com a morte,
senão morremos psicologicamente todos os dias. Só quando morremos, existe amor. (…) (A Suprema Realização, pág. 64)

Só quando a mente sabe morrer para si própria, existe amor. (…) Só ele traz harmonia à vida, pois nenhum argumento intelectual, (…) filosofia, (…) livro sagrado ou profano pode
trazê-la.(…) E, quando há amor, tudo o que se faz é virtude, bondade, beleza. (Idem, pág. 65)

Quando um ser humano compreende o pleno significado da morte, há vitalidade, existe a plenitude que se acha por trás dessa compreensão; um ser assim está fora da consciência
humana. Quando vocês compreendem que a vida e a morte são uma só coisa (…) então estão vivendo com a morte, e essa é a coisa mais extraordinária que se pode fazer; não
existem nem o passado nem o presente nem o futuro; só existe esse constante terminar. (La Llama de la Atención, pág. 76-77)

Observar a morte é observar a vida. Nós não observamos o viver, nem somos capazes de observar a morte. Quando sabeis observar o viver, com todas as suas complexidades, (…)
temores, desesperos, agonias, dolorosa aflição, solidão, tédio, quando sabeis olhar o viver (…), sereis então capazes de observar a morte. Porque então não haverá medo. Então,
morrer é viver. (…) Morte significa renovação, mutação total na qual o pensamento não tem interferência, porque o pensamento é o “velho”. Mas, quando há morte, há uma coisa
totalmente nova. Sabei (…) que, quando a mente está vazia, está em silêncio, não está mais a tagarelar (…) Quando a mente está totalmente vazia, e, portanto, em silêncio, é capaz
de renovar-se inteiramente (…); ela é então uma coisa luminosa, incorruptível, e há nela uma alegria que não é prazer. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 188-189)

Para se compreender a beleza e a extraordinária natureza da morte, é preciso estar livre do conhecido. No morrer para o conhecido, está o começo da compreensão da morte,
porque a mente então se torna fresca, nova, e nenhum medo existe; (…) Assim, do começo até o fim, a vida e a morte são inseparáveis. O sábio compreende o tempo, o pensamento e
o sofrimento, e só ele é capaz de compreender a morte. A mente que está morrendo a cada instante, que nunca está armazenando experiência, é inocente e, por conseguinte, se acha
num perene estado de amor. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 95-96)

Vede, isso (…) Quando morreis para tudo o que conheceis, quando para vós já não existe ontem, nem amanhã, nem o presente, no sentido de tempo psicológico, que existe então?
(…) Verbalmente, posso dizer-vos que existe algo imenso, (…) extraordinariamente vivo; (…) A meu ver, a questão real é esta: “É possível eliminar o “eu”? (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 46)

(…) A morte, afinal de contas, é o “desconhecido”, e, para sondar esse desconhecido, temos de “entrar no reino da morte” enquanto vivos. (…) Do contrário, ao morrermos - de
doença ou acidente - já que perdemos a consciência, não há mais possibilidade de compreendermos o que se acha além. Mas, para sermos capazes, ativamente, enquanto estamos
vivos e plenamente lúcidos, de compreender, no seu todo, o problema da morte, é preciso espantosa soma de energia, capacidade, investigação. (Palestras na Austrália e Holanda,
1955, pág. 117)

Há, pois, um morrer e, portanto, um viver, quando o tempo, o esgaço e a distância são compreendidos em termos do “desconhecido”. Ora, nossa mente funciona sempre no campo
do “conhecido”, e nós nos movemos do conhecido para o conhecido; e nada mais conhecemos (…) (O Passo Decisivo, pág. 84)

(…) Se não sabeis morrer, não sabeis viver. Morrer significa o fim de tudo o que conheceis. O que conheceis é apenas memória, não? Vossos prazeres, vossas dores, vossa
ansiedade, vossos pesares, vossa solidão, lisonjas, insultos - tudo isso é memória armazenada. Tal é o centro (…) de onde agis: memória. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág.
64)

Morrer Como Findar-Renascer, Renovação-Criação


Como é necessário morrer todos os dias, morrer a cada minuto para todas as coisas, para todos os dias passados e para o momento que acaba de escoar-se! Sem morte não há
renovação, (…) não há criação. A carga do passado dá origem à continuidade do passado, e as apreensões de ontem dão mais vida às (…) de hoje. O dia de ontem perpetua o de
hoje, e amanhã é ainda ontem. Não há libertação dessa continuidade, senão na morte. No morrer, encontra-se alegria. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 13)

(…) Só no desconhecido há renovação; é no desconhecido que há criação e não na continuidade. Assim, precisais sondar o desconhecido, mas, para tanto, não podeis ficar apegado
à continuidade do conhecido; porque o “eu” e a constante repetição do “eu” recaem no campo do tempo, com suas lutas (…) (A Arte da Libertação, pág.130)

(…) Enquanto a mente está ocupada pela técnica, pelo saber, não pode haver criação. O saber é do passado, do conhecido; (…) Só pode haver criação no findar, e não na
continuidade. A maioria de nós não deseja findar, todos queremos continuar, e nossa continuidade não passa de continuidade da memória. (…) (A Arte da Libertação, pág. 177)

(…) Transportamos as nossas cargas de dia para dia, e não temos, nunca, um dia sem a sombra de muitos dias passados. Nossos dias são um movimento contínuo, em que o ontem
se mistura com o hoje e o amanhã; nunca há um findar. Temos medo de findar, mas, se não há fim, como pode haver coisas novas? Se não há morte, como pode haver vida? (…) O
fim do desejo é o novo. A morte é o novo, e a vida, como continuidade, é apenas memória, coisa vazia. Com o novo, a vida e a morte são uma só coisa. (Comentários sobre o Viver,
pág. 215-216)

A mente que, graças à sua própria lucidez, nascida do autoconhecimento, descobriu o que é o amor, pode também perceber a natureza e a estrutura da morte. Se não morremos
para o passado, (…) para o que veio de ontem, a nossa mente continua presa em suas ânsias, nas sombras de sua memória, em seu condicionamento e, portanto, não há claridade. O
morrer para ontem, facilmente, voluntariamente, sem discussão, justificação, exige energia. (O Descobrimento do Amor, pág. 197)

Discussão, justificação e escolha constituem um desperdício de energia, e, por isso, não temos possibilidade de morrer para os muitos dias passados, para que nossa mente se torne
vigorosa e nova. (…) Criação não é expressão pessoal, não é espalhar tintas sobre um pedaço de tela, nem escrever um (…) livro. Nada disso é criação. Só há criação ao existir o
amor e a morte. A criação só pode vir com o morrer, dia a dia, para todas as coisas, de modo que nunca possa haver acumulação de lembranças, na forma de memória (…) (Idem,
pág. 197-198)

Nossa dificuldade é de morrer para todas as coisas que acumulamos, as experiências de ontem. Considerando bem, isso é morte - o estar sempre na incerteza, na vulnerabilidade. O
homem que vive na certeza nunca poderá conhecer o que é imortal, o que está fora do tempo. O homem de saber nunca pode conhecer a morte, que está fora do tempo, para além
do conhecido. É somente quando morremos, momento a momento, para as coisas de ontem, (…) é só então que se apresenta o desconhecido, o novo. (Por que não te Satisfaz a
Vida?, pág. 84)

(…) A criação é renovação constante. O que ontem foi, não será novamente, nunca mais. Só pode haver o hoje, e não a memória, a que damos vida. A memória não é criação, (…)
não é vida. A memória não nos proporciona a compreensão, e, todavia, a ela nos apegamos, (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 131)

(…) O que continua não pode renascer, não pode renovar-se; só pode ter continuidade. Só o que acaba pode renovar-se. Só há criação, quando há um fim. Mas temos medo de
findar, temos medo de morrer. (…) Mas, por certo, só no morrer, em não acumular, encontra-se aquilo que está fora do tempo. (Por que não te Satisfaz a Vida? pág. 83)

Quando não mais sentirdes temor - porque a todos os minutos há um fim e, portanto, uma renovação - estareis então abertos para o desconhecido. A morte também é o
desconhecido. (…) O que tem realidade é o vermos a morte como é - como um fim; um fim no qual há renovação, renascimento; e não continuidade. Por que o que continua declina;
e aquilo que tem o poder de renovar-se é eterno. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 61)

Entretanto, se compreendermos a profundidade, a qualidade, e as várias modalidades de resistência existentes na mente (…) vereis então que o problema do medo nem chega a
nascer. A mente está então morrendo todos os dias, não está mais a acumular. E esse morrer para cada dia significa morrer para tudo o que se sabe, morrer para a experiência (…)
Só então existe a possibilidade de nascimento de uma mente nova, uma mente criadora. (As Ilusões da Mente, pág. 17)

Quando um homem deseja criar, deve perguntar a si mesmo e ver o que deseja criar: (…) Enquanto a mente está ativa, formulando, fabricado, inventando, criticando, não pode
haver criação; e eu vos asseguro que a criação vem silenciosamente, com extraordinária rapidez, sem compulsão, ao compreenderdes a verdade de que a mente precisa estar vazia,
para que se realize a criação. (…) (A Arte da Libertação, pág. 177)

(…) Negai totalmente tudo o que até agora considerastes vida - vossas experiências, vossa ambição, avidez, inveja - e vereis que nesse findar se encontra uma morte que é “criação
atemporal” e que se pode chamar “Deus”, o “imensurável”, o “desconhecido” (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 195)

(…) Pode a mente morrer para todo o passado - suas memórias, anelos, vários condicionamentos, temores e qualidades “respeitáveis”? (…) Pode a mente inquieta, volúvel, essa
mente que vagueia, (…) acumula, rejeita (…) pode essa mente findar instantaneamente e tornar-se silenciosa? (Poder e Realização, pág. 83-84)

(…) Se cada manhã nascêsseis de novo, renovados, não com todas as lembranças de ontem, (…) todos os fardos, (…) incrustações do passado, então cada dia seria novo, fresco,
simples e a capacidade de assim viver é a libertação do tempo. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 44)

Estende-se o presente para o passado e para o futuro; sem compreendermos o presente, fica-nos fechada a porta para a compreensão do passado. (…) Morrer para todos os dias
passados, viver cada dia renovadamente - tal só é possível se formos capazes de ficarmos passivamente vigilantes. Nessa vigilância passiva, nada se nos acrescenta; nela há uma
tranqüilidade intensa, na qual se assiste ao desenrolar perene do novo, na qual o silêncio se estende infinitamente. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 169-170)

Que é que impede essa constante renovação em nossa vida, (…) o novo de realizar-se? Não será porque não sabemos morrer cada dia? Porque vivemos em estado de continuidade,
num constante processo de transportar de dia para dia as nossas memórias, nossos conhecimentos, nossas experiências, nossas tribulações, nossas penas e sofrimentos, nunca
entramos num dia novo, sem a lembrança do anterior. (…) Positivamente, só é possível a renovação quando compreendemos, na sua inteireza, o processo do desejo de continuar; e
só quando cessa tal continuidade como entidade, como “eu”, no pensamento (…) (Viver sem Confusão, pág. 14)

Afinal, nós somos um feixe de lembranças;(…) Somos resultado da identificação com determinado grupo - francês, holandês, alemão ou hindu. Sem essa identificação com um
grupo, com uma casa, um piano, uma idéia ou uma pessoa, sentimo-nos perdidos; apegamo-nos, por isso, à memória, à identificação, e essa identificação dá-nos continuidade, e a
continuidade impede a renovação. Positivamente, só há possibilidade de renovar-nos quando sabemos morrer e renascer dia a dia, isto é, quando estamos livres de toda
identificação, que dá continuidade. (Idem, pág. 14-15)

A criação não é um estado de memória, é? Não é um estado em que a mente está ativa. A criação é um estado mental, do qual o pensamento está ausente; enquanto o pensamento
funciona, não pode haver criação. O pensamento é contínuo, e para o que tem continuidade não pode haver criação, renovação; o que é contínuo só pode mover-se do conhecido
para o conhecido, e, por conseguinte, nunca pode ser o desconhecido. (…) O findar do pensamento gera a criação, e nesta há renovação; mas, enquanto existir pensamento, não
haverá renovação. (Viver sem Confusão, pág. 15)

O findar do pensamento é o começo da criação, (…) é o começo do silêncio; mas o findar do pensamento não pode dar-se pela compulsão, nem por nenhuma forma de disciplina, de
constrangimento (…) A mente, num tal estado, deixa de existir; isto é, o pensar, como reação de um condicionamento, deixa de existir. Esse extinguir-se do pensamento é
renovação, é o estado do novo, no qual a mente pode começar de maneira nova. (Idem, pág. 15-16)

Ora, pode o fim, que é a morte, ser conhecido enquanto vivemos? (…) É porque somos incapazes de experimentar o desconhecido, enquanto vivemos, que o tememos. Daí nossa luta
para estabelecer uma relação entre nós, que somos o resultado do conhecido, e o desconhecido, a que chamamos morte. (…) E por que separamos as duas coisas? Não é porque a
nossa mente só pode funcionar dentro do campo do conhecido, do contínuo? (Viver sem Confusão, pág. 30)

Ora, o que continua não tem renovação. Não pode haver nada novo, nada criador, naquilo que tem continuidade (…) Só quando termina a continuidade, torna-se possível aquilo
que é sempre novo. Mas é esse findar que nos apavora, por não percebermos que só no findar pode haver renovação, criação, o desconhecido - e não no transportar de dia para dia
nossas experiências, nossas lembranças e desventuras. É só quando morremos dia por dia para tudo o que é velho, que pode haver o novo. (…) (Idem, pág. 31)

Ora, é possível, enquanto vivemos, morrer - o que significa terminar, ser qual nada? É possível, enquanto vivemos neste mundo (…) conhecer a morte? Isto é, será possível extinguir
todas as lembranças (…) que acumulamos, armazenamos, e nas quais buscamos segurança, felicidade? É possível dar fim a tudo isso - o que significa morrer para cada dia, de
modo que possa haver uma renovação amanhã? É só assim que conhecemos a morte, enquanto vivos. Só nesse morrer, nesse findar, nessa eliminação da continuidade, há
renovação, há aquela criação, que é eterna. (Idem, pág. 32)

(…) Se cada manhã nascêsseis de novo, renovados, não com todas as lembranças de ontem, com todos os fardos (…) do passado, então cada dia seria novo, fresco, simples e a
capacidade de assim viver é a libertação do tempo. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 44)

(…) Morrer - por essa palavra se entende chegar ao fim (…) Em geral vivemos a pesada carga do conhecido, de ontem, das memórias, do “eu”, esse feixe das memórias ontem
acumuladas (…) E, morrer cada dia, para todas as coisas que acumulastes, psicologicamente, é renascer totalmente. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 36)

Mas quando tiverdes morrido para tudo, psicologicamente, quando tiverdes alcançado esse ponto, vereis que do morrer surge um viver (…) Esse viver é o estado de criação, e essa
criação não conhece o tempo. É o imenso, o imensurável, o incognoscível. E só a mente que morreu para si própria e para todas as coisas conhecidas, conhecerá o Incognoscível.
(A Mutação Interior, pág. 166)

Agora, todavia, a morte não trouxe nada de novo (…) É a morte absoluta e final. E, então, nada existe, nem passado nem futuro. (…) Coisa alguma está nascendo. Contudo, não
existe desespero ou busca; é a morte completa, livre do tempo; a morte que contempla do profundo vazio do nada. É a morte sem o velho e sem o novo. (…) A morte tudo apagou,
sem nada deixar. (…) A morte é o nada absoluto. Ela deve estar presente, porque é dela que desabrocha a vida, o amor. A criação existe nesse vazio. Sem morte total, não há
criação. (Diário de Krishnamurti, pág. 58-59)

Nós não sabemos o que é ser criador. Somos capazes de inventar (…) mas não pode haver criação quando não se compreende o amor. O amor, a morte e a criação andam “de mãos
dadas”. (…) Mas quando o ódio, o ciúme, a inveja, a avidez, a ambição e o desejo de poder deixam de existir, porque se percebe a verdade no falso, então, desse percebimento
nasce o amor. E o amor não pode existir se não houver a morte do “ontem” e do minuto passado - porque, nesse caso, ele é apenas continuidade do que foi. (Uma Nova Maneira de
Agir, pág. 88)

A morte não só é algo misterioso, senão que é um grande ato de purificação. O que continua dentro de um padrão repetitivo é degeneração. (…) Quando há uma cessação da
continuidade, algo novo pode ocorrer. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 152)

(…) Quando se convida a morte, o que significa terminar com tudo aquilo a que o indivíduo se aferra, morrendo para isso cada minuto, então se descobre (…) que há um estado que
pertence a uma dimensão atemporal, na qual o movimento que conhecemos como tempo não existe. Isso significa esvaziar o conteúdo da própria consciência de modo tal que não
haja tempo; o tempo chega a seu fim, o que significa morte. (Idem, pág. 154)

Porque somos como os mortos, tememos a morte; os que vivem não a temem. Os mortos estão onerados do passado, da memória, do tempo, mas para os que vivem, o presente é
eterno. O tempo não é um meio para se chegar a um fim - o Atemporal - porque o fim está no começo. O “ego” tece a rede do tempo e o pensamento é colhido por ela. A
insuficiência do “ego”, a sua dolorosa vacuidade, causa o temor da morte e da vida. (…) Mortos que estamos, procuramos a vida - mas a vida não está na continuidade do “ego”.
O “ego”, o criador do tempo, deve render-se ao atemporal. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 173-174)

Vem a compreensão quando todo o nosso ser está em vigilância profunda e silenciosa. A vigilância silenciosa não se consegue nem pela compulsão nem pela persuasão; nessa
tranqüilidade, a morte rende-se à criação. (Idem, pág. 175)

Na bem-aventurança do Real, não existe “experiente” nem “experiência”. Uma mente-coração sobrecarregada de lembranças do passado não pode viver no eterno presente. Deve
a mente-coração morrer dia a dia, para que haja Eternidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 169)

Morrei para vossa experiência, vossas lembranças. Morrei para vossos preconceitos, agradáveis ou desagradáveis. Morrer assim é tornar-se incorruptível; tal estado não é de
aniquilamento, porém de criação. É essa renovação que (…) dissolverá os nossos problemas (…) Só na morte do “ego” haverá vida. (Idem, pág. 171)

(…) Devemos morrer dia a dia para todas as experiências e acumulações do dia (…) Temos de viver cada dia as quatro estações: a primavera, o verão, o outono e o inverno da
passividade. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 86-87)

Esse vazio que é força criadora, essa passividade ardente, não se consegue por ato de vontade. (…) Essa percepção silenciosa não é um ato de determinação, mas surge quando o
pensamento-sentimento já não está preso na rede do vir-a-ser. (…) (Idem, pág. 87)

(…) Devemos ser capazes de viver as quatro estações num dia: ficar intensamente vigilantes, sentir, compreender e desfazer-nos das acumulações de cada dia. No fim de cada dia,
deve a mente-coração esvaziar-se de todos os prazeres e dores acumulados no seu decorrer. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 125)

Como é necessário morrer todos os dias, morrer a cada minuto para todas as coisas (…) Sem morte não há renovação, (…) criação. (…) Andamos carregados com a memória de
ontem, que nos ensombra a existência. Enquanto a mente for a máquina automática da memória, não terá descanso, nem tranqüilidade, nem silêncio; estará a gastar-se
continuamente. O que está quieto pode renascer, mas o que se acha em constante atividade se gasta e se torna inútil. A fonte perene se encontra no findar, e a morte está tão perto
de nós como a vida. (Reflexões sobre a Vida, pág. 13-14)
Segurança, Insegurança; Permanência, Impermanência
Assim, a mente, na busca da certeza interior por meio da propriedade (…) das pessoas, das idéias, não deseja ser perturbada e levada à incerteza. Já não notastes muitas vezes
como a mente se revolta contra qualquer coisa nova - uma idéia nova, uma experiência nova, um estado novo? Quando a mente experimenta um novo estado, ela o traz logo para o
seu próprio campo, isto é, para o campo do conhecido. A mente (…) está sempre funcionando dentro do campo da certeza, (…) do conhecido, (…) da segurança, que é a projeção
dela própria (…) ( (Viver sem Confusão, pág. 20)

(…) O estado de criação, naturalmente, consiste em experimentar algo que está além da mente, e esse estado de criação não pode manifestar-se enquanto a mente está apegada a
qualquer forma de segurança, interior ou exterior (…) E nesse estado de incerteza, que não é isolamento, não é temor, há o estado criador. A incerteza é essencial ao estado
criador. (Idem, pág. 20)

Se considerardes os vossos pensamentos e os atos deles originados, verificareis que, onde existir o desejo de fuga, deverá coexistir a busca de segurança; (…) Mas, realmente, não
há segurança na vida - nem física, nem intelectual, nem emocional, nem espiritual. Se vos sentirdes seguro, jamais podereis encontrar essa realidade vivente; contudo, a maioria de
vós está procurando segurança. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 20-21)

Alguns de vós estais procurando segurança física por meio da riqueza, do conforto e do poder sobre outrem (…); estais interessados em diferenças e privilégios sociais que vos
assegurem uma posição da qual obtenhais satisfação. A segurança física é uma forma (…), mas (…) o homem tem-se voltado para a forma sutil de segurança a que chama espiritual
ou religiosa. (…) (Idem, pág. 21)

(…) Assim, conquanto seja necessária a segurança física, não existe segurança psicológica permanente. E, no momento em que tendes essa segurança, que é projetada por vós
mesmos, vos tornais indolentes, satisfeitos e estacionários. Mas, quando não há segurança alguma, tendes então necessidade de uma mente que esteja vivendo momento a momento,
(…) portanto, na incerteza; e a mente que é incerta, (…) que não sabe, que não busca a satisfação, essa mente é criadora. Esse “estado de ser”, de criação, surge só quando a
mente está em completo silêncio, não está à procura de recompensa. Há, então, a paz permanente (…) (A Arte da Libertação, pág. 197)

Assim, pois, cumpre compreender a aceitação da autoridade, que realmente exprime exigência psicológica de segurança, de certeza, de garantia de que se está seguindo o caminho
correto. Em geral detestamos a incerteza a respeito de qualquer coisa, principalmente a respeito de nós mesmos. Mas, notai, precisamos estar incertos para podermos descobrir o
que é verdadeiro. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed, pág. 133)

(…) O desejo de segurança implica conformismo; e só quando a mente está de fato insegura, completamente incerta, quando não depende de autoridade alguma, nem exterior nem
interior, quando não está imitando um exemplo, um ideal, ou aferrada à autoridade do que foi - só então está a mente isenta de conformismo e, portanto, livre para descobrir, e só
então há criação. (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 142)

Conhecemos tudo isso como um fato diário. E todavia persistimos nas nossas crenças (…) A mente deseja constantemente estar em segurança, achar-se num “estado de
conhecimento”, saber, e a crença oferece uma segurança muito conveniente. Crença em alguma coisa, (…) em determinado sistema econômico (…) Ou crença (…) em determinado
sistema espiritual; também aí a mente se sente segura, certa. (A Renovação da Mente, pág. 29)

A crença, afinal de contas, é uma palavra. A mente vive de palavras; das palavras tira a sua substância; e nelas se abriga e encontra a certeza. E uma mente que se acha abrigada,
segura, certa, é, sem dúvida, incapaz de compreender qualquer coisa nova ou de receber aquilo que não é mensurável. A crença, pois, atua (…) como obstáculo a algo que é
criador, que é novo. (Idem, pág. 20)

Mas, achar-se num estado de incerteza, de não saber, de não adquirir, é extremamente difícil, (…) Talvez não seja difícil, mas requer um certo interesse, sem distração alguma,
interior ou exterior. Mas, infelizmente, os mais de nós desejamos estar distraídos interiormente; e as crenças, as cerimônias, os ritos nos oferecem distrações boas, respeitáveis.
(Idem, pág. 29)

Sem compreender o problema da insegurança, não é possível a segurança. Se buscamos segurança, não a encontraremos; a busca da segurança acarreta a destruição da própria
segurança. É necessária a insegurança para a compreensão da Realidade, porém uma insegurança que não seja o oposto da segurança. O desejo de segurança gera a indolência;
torna a mente-coração inflexível e insensível, timorata e sem penetração; impede o estar acessível à realidade. Na profunda insegurança, é-nos dada a percepção da Verdade. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 111)

(…) Perdemos, na segurança das coisas produzidas pelo intelecto, aquela felicidade da Realidade criadora, cuja natureza intrínseca é a insegurança. A mente que busca a
segurança, vive em perene temor, nunca tem alegria, nunca experimenta o estado de potência criadora. A forma suprema do pensar-sentir é a compreensão negativa, e a sua
verdadeira base, a insegurança. (Idem, pág. 112-113)

Eis um problema complexo (…) Em primeiro lugar, é necessária a segurança física (…) Necessitamos de alimento, roupas, morada (…) Mas as necessidades físicas são utilizadas
como meio para a nossa própria expansão psicológica (…) Isto é (…) como meio para firmar sua própria posição, seu progresso e autoridade. (Por que não te Satisfaz a Vida?,
pág. 29-30)

Ora bem, enquanto estivermos à procura de segurança psicológica ou interior, evidentemente negaremos a segurança externa. Isto é, enquanto somos nacionalistas, temos de criar
a guerra, destruindo dessa maneira a segurança exterior (…) Assim sendo, enquanto estiver eu à procura de segurança interior, sob qualquer forma, tenho de provocar o caos e o
sofrimento no exterior. (Idem, pág. 30-31)

Pois bem, a segurança interior é um estado inexistente, e, quando a procuramos, o que fazemos é apenas isolar-nos, fechando-nos numa idéia, (…) esperança, (…) padrão. Isto é,
encerramo-nos ou na experiência e no conhecimento coletivos, ou em nossa experiência e conhecimento próprios, e nesse estado gostamos de permanecer, porque nos sentimos
seguros. (Por que não te Satisfaz a Vida? pág. 31)

Ora, que é que condiciona a mente? (…) E quando a mente nada tem para perder, ela está em perfeita segurança (…) - o que significa que na própria insegurança está a sua
segurança. Enquanto a mente busca segurança, permanência, sob qualquer forma, ela cria influências que a condicionam (…) A vida é insegura, impermanente. A resistência, a
negação do fato (…), gera a oposição (…) e, por conseguinte, cria o medo, e o medo condiciona a mente (…) (Visão da Realidade, pág. 102)

O desejo de segurança, nas coisas e nas relações, só produz conflito e sofrimento, dependência e temor. (…) Sem autoconhecimento, torna-se a vida de relação uma fonte de lutas e
antagonismos, um expediente com que encobrimos a nossa insuficiência, (…) pobreza interior. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 149)

O anseio de segurança, sob qualquer forma, não denota insuficiência interior? Não nos obriga essa pobreza interior a procurar, aceitar e apegar-nos a fórmulas, esperanças,
dogmas, credos, bens materiais? Nossa ação não é então meramente imitativa e forçada? (…) (Idem, pág. 149)

(…) Só a mente que, na sua totalidade, é impermanente, incerta, pode descobrir o que é verdadeiro; porque a Verdade não é estática. A verdade é sempre nova e só pode ser
compreendida pela mente que está morrendo para todas as acumulações, (…) experiências e é, por conseguinte, fresca, jovem, “inocente”. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág.
81)

Devemos, pois, viver com a incerteza. Porque só a mente que está incerta é criadora, e não aquela que tem continuidade; não a mente que precisa estar em perfeita segurança (…)
Quando estiverdes vivendo naquele estado de completa insegurança interior, vereis como sabereis enfrentar com clareza, (…) presteza, qualquer problema da vida, não importa em
que nível, qualquer crise (…) desafio (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 116)

A completa segurança está na inteligência compassiva - segurança total. Porém nós desejamos segurança nas idéias, nos conceitos, nos ideais; (…) Onde há compaixão, com sua
suprema inteligência, há segurança (…) Na realidade, onde há compaixão, onde existe essa inteligência, não há problema algum de segurança. (La Llama de la Atención, pág. 35)
Mas, não tendes de perder-vos, para descobrir? Nós temos medo de perder-nos, de ficarmos na incerteza, e por isso vivemos a correr atrás dos que prometem o céu (…) Por
conseguinte, eles estão em verdade incentivando o medo e nos conservando prisioneiros desse medo. (A Outra Margem do Caminho, pág. 36)

Qual é, então, o verdadeiro problema (…)? (…) Posso dizer-vos: não deveis ser ávidos, (…) ambiciosos, (…) ter crenças, e deveis libertar a mente de todo e qualquer desejo de
segurança e viver na incerteza completa; (…) O problema é o de experimentar diretamente o estado de completa incerteza, e não ter nenhum sentimento de segurança, e isso será
possível, apenas, se compreenderdes o processo total de vosso próprio pensar, ou se souberdes escutar com todo o vosso ser, com atenção plena e sem resistência alguma. (Visão da
Realidade, pág. 152)

Estar livre de preconceito é viver num estado de incerteza, de insegurança. (…) E óbvio que necessitamos de segurança física, nos limites razoáveis, pois do contrário seria de todo
impossível viver. Mas negamos essa segurança física quando buscamos a segurança psicológica (…) Quando queremos estar psicologicamente seguros, no nacionalismo, numa
crença (…) - é esse desejo psicológico, (…) interior de certeza, de segurança, de dependência, que cria a insegurança exterior. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 23)

É possível a uma pessoa viver em relação, sem estar interiormente segura, psicologicamente certa? (…) A maioria de nós busca a segurança psicológica, independentemente da
segurança física. Precisamos de segurança física, muita ou pouca, conforme o nosso ambiente, etc. Mas há necessidade de segurança psicológica? (…) Embora estejamos
procurando, (…) não é esse um jeito errôneo de encarar a vida? Existe segurança interior? (…) (Nós Somos o Problema, pág. 31)

E se estou bem seguro nas minhas relações, existem verdadeiramente relações? Se estou bem seguro a vosso respeito, como minha esposa, meu patrão, ou meu amigo - seguro no
sentido de estar-me servindo de vós como instrumento de (…) segurança interior - existe alguma relação entre nós?

Existe relação entre vós e mim quando eu me utilizo de vós? (…) Sois apenas um utensílio para mim. (…) Sois uma peça de mobília para meu uso. Isto é, interiormente,
psicologicamente, eu sou pobre, vazio, insuficiente; por essa razão sirvo-me de vós como de um apoio, (…) meio de fuga de mim mesmo. E a tal utilização damos o nome de amor,
etc. (Nós Somos o Problema, pág. 32)

A essa fuga chamamos relação, quer se trate de relação com a propriedade, com pessoas, quer com idéias. E, sem dúvida, tal relação não pode deixar de criar conflito, sofrimento e
desastres. E esse é o estado em que vivemos - servindo-nos das pessoas, das coisas, como meio de encobrir nossa própria pobreza interior. (…) E a mim me parece que, enquanto
andarmos em busca de segurança psicológica, nunca chegaremos a compreender a nós mesmos (Idem, pág. 32)

Não Saber, Ser Nada, Ninguém; Grandeza e Anonimato


Um dos empecilhos ao viver criador é o medo; e a respeitabilidade constitui manifestação desse medo. Os indivíduos respeitáveis, moralmente agrilhoados, não conhecem o
integral e o verdadeiro significado da vida. Estão encerrados dentro dos muros da sua virtude. (A Educação e o Significado da Vida, pág. 147)

Ora, pode a mente permanecer, de fato, (…) no estado em que ela diz: “não-sei”? (…) Pode a mente ficar livre das lembranças, e todas as acumulações do passado? Se vos
abstiverdes de teorias e especulações, de asserções positivas ou negativas, então só podeis achar-vos num estado de “não-saber”. Se a mente puder permanecer nesse estado, ela
não estará (…) então livre do passado? (…) Todo movimento da mente é reação do passado, e só quando está em silêncio, imóvel, tem a mente a possibilidade de ser pura, nova e
totalmente lúcida. (Visão da Realidade, pág. 207-208)

Nosso problema, pois, é o de encararmos o fato sem avaliação; e isso requer um profundo senso de humildade. Mas ninguém, dentre nós, é humilde; todos sabemos, (…) temos
valores, nunca nos chegamos ao fato sem o nosso saber. “Não saber” é um estado de humildade, (…) O saber não está em nenhuma relação com a sabedoria. A sabedoria vem à
existência quando não há saber, isto é, quando a mente (…) não é a entidade que avalia, (…) julga, (…) compara. (…) (Idem, pág. 234)

(…) O homem que diz “eu sei” é o mais destrutivo dos entes humanos, pois, na verdade, ele não sabe. Que sabe ele? Se uma pessoa está cônscia, ciente, de se ter transformado, ela
não está transformada. (O Problema da Revolução Total, pág. 15)

Nestas condições, pode a mente achar-se num estado de não-conhecimento? E não deve a mente estar sempre nesse estado? Positivamente, o homem que diz “eu sei”, não sabe.
Sabe, tão somente, as coisas que ocorreram e estão acabadas e, por conseguinte, ele está carregado de lembranças. Entretanto, o homem que diz “não sei” acha-se num processo
de investigação, de constante indagação, e sua mente, por conseguinte, nunca acumula, para reagir, depois, de acordo com essa acumulação. (Visão da Realidade, pág. 95)

(…) Só quando completamente livre de esforço, pode a mente achar-se em paz, que é, na verdade, um estado extraordinário, mas que pode ser alcançado por qualquer um que a isso
se aplique de coração e com toda a atenção. A mente que não está lutando, tentando “vir a ser” alguma coisa, social ou espiritualmente, a mente que está reduzida a “nada” - só
ela pode receber “o novo”. (Realização sem Esforço, pág. 39)

Um homem que vive conforme a crença não está vivendo verdadeiramente; é limitado em suas ações. Mas o homem que, por entender, está realmente livre da crença e do fardo do
conhecimento, para ele há êxtase, (…) há verdade. Acautelai-vos do homem que diz: “eu sei”, porque ele só pode saber o estático, o limitado, nunca o vivo, o infinito. (…)(Palestras
em Adyar, Madras, Índia, 1933-1934, pág. 159)

Sempre nos aplicamos a uma coisa armados de saber, de conclusões já formadas, e com esses padrões de pensamento atravessamos a existência; o saber, por conseguinte, se torna
um obstáculo ao descobrimento da Verdade. Se desejo conhecer a verdade a respeito de mim mesmo, tenho de descobrir a mim mesmo, a cada minuto, exatamente como sou (…)
(Viver sem Temor, pág. 15)

Assim, pois, a mente que quer descobrir o que é verdadeiro, tem de estar livre do saber. (…) Nossas mentes nunca estão livres, para serem tranqüilas, porque estão repletas de
conhecimentos, de saber. Sabemos demais, mas na verdade nada sabemos sobre coisa alguma, e com essa imensa carga às costas, queremos ser livres. (…) (Idem, pág. 15-16)

Ora, por certo, o saber é um empecilho, um obstáculo ao descobrimento do que é verdadeiro. A Verdade tem de ser uma coisa viva, totalmente nova a cada segundo, e como pode a
mente que acumula saber, conhecimentos, compreender o que é desconhecido? Chamai-o Deus, chamai-o Verdade (…) (Idem, pág. 16)

Nessas condições, pode a mente pôr-se num estado de “não saber”? Porque só então a mente pode investigar, e não quando diz “sei”. Só a mente que é capaz de estar num estado
de “não saber” (…) está livre para descobrir a realidade. (…) O saber nos dá força, importância, um centro ao redor do qual o “eu” pode manter-se ativo. A mente que não recorre
ao saber, que não está vivendo na memória, que está totalmente vazia do passado, morrendo para qualquer espécie de acumulação, momento a momento - só essa mente pode
achar-se num estado de não saber (…) (Verdade Libertadora, pág. 49)

A anulação do conhecimento é o começo da humildade. Só a mente humilde pode compreender o que é verdadeiro e o que é falso e, assim, evitar o falso para seguir o verdadeiro.
Mas a maioria de nós quer abeirar-se da vida com o conhecimento (…) Esse conhecimento se torna nosso background, nosso condicionamento; ele nos molda os pensamentos e
faz-nos ajustar-nos ao padrão do que foi. (O Homem Livre, pág. 164)

Se desejamos compreender qualquer coisa, devemos chegar-nos a ela com humildade; e é o conhecimento que nos faz “não-humildes”. Não sei se já notastes que, quando sabeis,
deixais de examinar o que é. Se já sabeis, não estais vivendo, absolutamente. A mente que desfaz tudo o que acumula (…) só essa mente é capaz de compreensão; pois, para a
maioria de nós, o conhecimento se torna a autoridade, o guia que nos mantém dentro do santuário da sociedade, dentro das fronteiras da respeitabilidade. (…) (Idem, pág. 165)

Porque é a autoridade do conhecimento que nos dá arrogância, vaidade, e só pode haver humildade quando essa autoridade é expulsa, não em teoria, porém realmente, a fim de
que possa aplicar-me a todo esse complexo processo da existência com uma mente que não sabe. (…) (Idem, pág. 165)

Psicologicamente, terminar o conflito é “ser nada”; e a maioria de nós tem medo de enfrentar o “ser nada” - literalmente nada. Mas, afinal de contas, que sois vós? Que são todos
os VIPs - a gente muito importante? Tirem-se-lhes os títulos, as posições, as condecorações, todas essas bugigangas, e eles ficam reduzidos a nada. (…) (O Homem e seus Desejos
em Conflito, 1ª ed., pág. 40-41)
(…) Mas, o estar cônscio de ser nada significa ser alguma coisa. Ser nada é um estado que não pode ser provocado; esse estado só se conhece havendo amor. Mas o amor não é
uma coisa que possa ser procurada; ele vem quando há em nós uma revolução interior, quando o “eu” já não é importante, já não é o centro da nossa existência. (Claridade na
Ação, pág. 98)

Quando um guru diz que sabe, ele não sabe. Quando um guru oriental, ou um homem do ocidente, diz: “Eu alcancei a iluminação”, então você pode estar certo de que ele não é um
iluminado; a iluminação não é para ser alcançada. Ela não é algo que você consegue passo a passo, como se estivesse subindo uma escada. A iluminação não está nas mãos do
tempo. (…) A compreensão de “o que é” é imediata; (…) (Perguntas e Respostas, pág. 70)

Só quando, interiormente, sois “como nada”, por serdes um ente livre, encontra-se a possibilidade de não se fazer uso da desigualdade para engrandecimento próprio, para
implantar a ordem e a paz. Mas “ser como nada” não é uma simples frase; (…) e isso só é possível quando a mente não está entregue ao “vir-a-ser”. (As Ilusões da Mente, pág. 49)

Mas há um “não sei”, um estado de não saber, de significado completamente diferente. Até agora existiram sempre o pensador e o pensamento. Dizeis “não sei”, mas na verdade
estais esperando saber. Quando, afinal, o sabeis, o que viestes a saber será acrescentado aos conhecimentos que já acumulastes, e estareis apto a responder prontamente, na
próxima vez que vos fizerem a mesma pergunta. Assim, vosso “não sei” é, realmente, processo de acumulação. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 73)

Ora, há um “não sei” que é completamente diferente, no qual não há pensador nem acumulação de pensamento. Trata-se de um fato: não sabeis. E, para a maioria de nós, esse
estado de não saber é um tanto assustador. Realmente nunca dizemos “não sei”; há sempre essa vaidade de saber, o sentimento de “superior e inferior”, etc. Mas quando dizemos
“não sei”, sem nenhuma tendência para desejar ou esperar saber, não há então pensador nem pensamento. Esse é um estado de completa negação. Nesse estado de negação,
pode-se olhar negativamente o inconsciente, o total conteúdo da consciência. Não há então condicionamento, nem conflito entre pensador e pensamento; por conseguinte, a mente
está fresca, jovem, nova, viva. (Idem, pág. 73)

O estado de “nada” tem de ser, naturalmente, um estado inconsciente. Não é um estado consciente. Uma pessoa não pode dizer “sou o mesmo que nada”. Quando uma pessoa tem
consciência de que é “nada”, já é alguma coisa. (…) Quando uma pessoa está cônscia de que é virtuosa, torna-se respeitável; a pessoa respeitável nunca poderá achar o que é real.
(…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 219-220)

Só pode haver cooperação quando vós e eu somos “o mesmo que nada”. (…) Que significa esse estado de nulidade? Só conhecemos o estado de atividade do “eu”, (…) egocêntrico.
Esse estado, evidentemente, cria malefícios, infelicidade, agitação, confusão e falta de cooperação. (…) (Idem, pág. 220)

(…) Tendes de começar como se nada soubésseis, pois só assim realizareis um descobrimento fecundo e libertador; só assim encontrareis, com o vosso descobrimento, a felicidade e
a alegria. (…) (A Arte da Libertação, pág. 27)

(…) Afinal de contas, nós nos conformamos porque somos ignorantes e sentimos medo; mas não é um fato que o não-saber é essencial para que se manifeste o desconhecido? (…)
(Nosso único Problema, pág. 49-59)

(…) Esse estado de criação só se manifesta quando o “eu”, que é o processo do reconhecimento e da acumulação, deixa de existir; porque, afinal de contas, a consciência como
“eu” é o centro do reconhecimento (…) Mas temos medo de ser nada, porque todos desejamos ser alguma coisa. O homem pequeno quer ser um grande homem, o não-virtuoso quer
ser virtuoso, o fraco e obscuro aspira ao poder, à posição, à autoridade. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 25)

Interlocutor: Por que tenho medo de não ser nada?

Krishnamurti: Olhe (…) o medo pode ser a causa dessa agressão, porque a sociedade está construída de modo tal que o cidadão que ocupa uma posição de respeito é tratado com
grande cortesia, enquanto o homem que carece de posição é tratado a pontapés (Índia) (…) Por que, pois, somos agressivos? É porque temos medo de ser ninguém? (…) (El
Despertar de la Inteligencia, II, pág. 40)

É estranho como ninguém jamais diz: “não sei”. Para que possamos realmente dizer e sentir isso, é preciso haver humildade; mas ninguém admite o fato de nada saber. É a
vaidade que busca o conhecimento. (…) Porém, ao reconhecermos a nossa ignorância a respeito de alguma coisa, interrompemos o processo mecânico do saber. (…) (Diário de
Krishnamurti, pág. 171)

(…) Mas, interiormente (…) queremos ser alguém, na família, num grupo, na sociedade, na nação. Ambicionamos o poder. Não nos contenta ser nada, porque somos arrastados
pelo desejo de estimulantes externos, de aparato exterior, porque interiormente estamos vazios - e isso nos horroriza. Por essa razão, vivemos a amontoar posses (…) E é justamente
quando nos contentamos em “ser nada”, quando nos contentamos com o que é, o que requer uma compreensão extraordinária de todas as vias de fuga, só então haverá paz. (Nós
Somos o Problema, pág. 20)

(…) Precisamos romper o nosso condicionamento e ser como nada. Temos medo de não ser nada, e por essa razão nos evadimos, alimentando assim o nosso temor com a avidez, o
ódio e a ambição. O problema não é a maneira de nos defendermos, mas, sim, (…) de transcendermos o desejo de expansão pessoal, o anseio de vir a ser. Só os indivíduos que
abandonarem as suas paixões, seus anseios de fama e imortalidade pessoal, poderão concorrer para uma paz e uma felicidade fecundas. (O Egoísmo, e o Problema da Paz, pág. 98)

Existe o desejo de ser pessoa importante, mundanamente, espiritualmente. É possível atingirmos e desarraigarmos essa coisa, para nunca mais seguirmos um guia, não termos mais
o sentido de nossa própria importância, não desejarmos mais ser alguém (…)? Podemos ser ninguém, mesmo quando a corrente de existência esteja toda a mover-se em sentido
contrário e a impelir-nos (…) a nos tornarmos alguém? (…) E é possível nos libertarmos desse espírito de competição (…) instantaneamente (…)? (Da Solidão à Plenitude Humana,
pág. 224)

(…) Não sois ninguém; mas quando dizeis que sois budista, sois alguém. Isso vos dá colorido. Conseqüentemente, o vosso desejo de ser alguém, (…) de identificar-vos com algo que
é grande, vos condiciona. Por certo, ser o que é, constitui o começo da virtude; o contentamento é a compreensão do que é. (Nosso Único Problema, pág. 73)

Vós sois nada. Podeis ter vosso nome e vosso título, propriedades e depósitos nos bancos, podeis ter poder e fama; todavia, apesar de todas essas defesas, sois o mesmo que nada.
Podeis não estar perfeitamente cônscio desse vazio, desse nada, ou podeis simplesmente não desejar estar cônscio dele; ele existe, entretanto, não importa o que façais para
evitá-lo. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 89)

Quanto maior a ostentação exterior, maior a pobreza interior, mas a libertação desta pobreza não é a tanga. A causa do vazio interior é o desejo de vir a ser; e tudo o que fizermos
nunca será capaz de encher este vazio. Podeis fugir dele de maneira rudimentar ou requintada; ele continuará, porém, tão perto de vós como a vossa sombra. ( … ) Com suas
atividades interiores e exteriores, procura o “eu” enriquecimento, que ele chama experiência (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 51)

O “eu” não suporta o anonimato; poderá cobrir-se com um manto novo, tomar um nome diferente; a identidade, entretanto, é sua própria essência. (…) Todo esforço do “eu” no
sentido de ser ou não ser é um movimento para longe do que é. Separado do seu nome, seus atributos, idiossincrasias e posses, que é o “eu”? (…) Existe ainda o “eu”, se lhe são
retiradas as suas qualidades? É o medo de ser nada que impele o “eu” à atividade, mas ele é nada, ele é um vazio. (Idem, pág. 51-52)

Se formos capazes de enfrentar esse vazio, de ficar em companhia daquela solidão dolorosa, então o medo desaparecerá completamente e ocorre uma transformação fundamental.
Para que isso possa acontecer, precisamos conhecer aquele estado de ser nada, o que não é possível se existe o experimentador. O conhecer o que é, sem lhe dar nome, é que traz a
nossa libertação do que é. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 52)

Toda a nossa educação (…) está baseada no cultivo do temor. Vós desejais ser alguém; do contrário, não sois ninguém; por isso, lutais, competis e vos destruís. Só o homem que
não tem medo é ninguém. Ser ninguém é que é a verdadeira educação. Há o espírito do anonimato nas grandes coisas da vida criadora. A verdade é anônima (…) (As Ilusões da
Mente, pág. 74)

Pergunta: Um grande homem, depois de morrer, torna-se famoso e são-lhe prestadas honras.

Krishnamurti: Que é um grande homem? Descobri, vós mesmo (…) É aquele que busca a fama? É aquele que atribui a si mesmo uma tremenda importância? É aquele que se
identifica com uma nação e se torna o seu líder? (…) Eis o que todos queremos; (…) aspiramos a ser grandes homens. A grandeza consiste em ter publicidade, ter o nome nos
jornais, exercer autoridade sobre outros, impor-lhes obediência graças a uma vontade forte, (…) uma mente astuciosa? Ora, sem dúvida, a verdadeira grandeza é coisa muito
diferente. (Debates sobre Educação, pág. 160-161)

Grandeza é anonimato, e ser anônimo é a maior das coisas. As grandes catedrais, as grandes coisas da vida, as grandes esculturas, são obras anônimas. Não pertencem a ninguém,
em particular, tal como a Verdade. A Verdade não pertence nem a vós, nem a mim; ela é de todo impessoal e anônima. Se afirmais possuir a Verdade, não sois então anônimo, e
sois muito “mais importante” do que a Verdade. Mas uma pessoa anônima pode não ser, jamais, um grande homem. (Idem, pág. 161)

Provavelmente nunca será um grande homem, porque não deseja ser grande, no sentido mundano ou mesmo no seu mundo interior, - porque ele é ninguém. Ele não tem seguidores.
Não tem santuários e não anda cheio de vento. Infelizmente, porém, nós, em geral, queremos encher-nos de vento, ser grandes, conhecidos, ter muito sucesso. O sucesso conduz à
fama, mas a fama é coisa vazia (…) É só cinzas. Todo político é muito conhecido; seu ofício é fazer-se conhecido, e, portanto, ele não é grande. A grandeza está em ser
desconhecido, ser nada, tanto interior como exteriormente; e isso exige muita penetração, (…) compreensão e afeição. (…) (Debates sobre Educação, pág. 161)

O que geralmente chamamos de criatividade é o que é feito pelo homem: pintura, música, literatura, (…) arquitetura (…) tecnologia. (…) Muitas coisas feitas pelo homem são muito
belas; (…) e nós não sabemos nada das pessoas que as construíram. Mas agora, entre nós, o anonimato quase que desapareceu. Com o anonimato há uma espécie diferente de
criatividade, não baseada no sucesso, no dinheiro (…) (Perguntas e Respostas, pág. 47)

Estar Só; Sentido Interno, Externo; Retiro, Relações


Estar só, sem se retirar da sociedade, sem se tornar eremita, é um estado extraordinário. A pessoa está só porque compreendeu a influência, a autoridade. Compreendeu
inteiramente a questão da memória, do condicionamento e, (…) torna-se existente uma solidão inatingível pela influência. E não tendes idéia de quanta beleza há nessa solidão, e
que extraordinário sentimento de virtude, que é vitalidade, virilidade, força. Mas isso requer imensa compreensão de todo o nosso condicionamento. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 138)

Requer isso (…) estejamos livres de toda autoridade; que não estejamos a seguir, a imitar, a ajustar-nos interiormente. (…) Nós cedemos, ajustamo-nos, aceitamos, por que,
profundamente, temos medo de ser diferentes, de estar sozinhos, de investigar. Interiormente, queremos, sentir-nos em segurança, (…) ser bem sucedidos, (…) estar do lado certo.
Por conseguinte, criamos várias formas de autoridade, (…) padrões de pensamento, tornando-nos assim seres imitativos, ajustando-nos exteriormente (…) (Palestras na Austrália e
Holanda, 1955, pág. 112)

Esse “estar só”, esse “desprendimento”, não é de modo nenhum contrário às nossas relações com a coletividade. Se somos capazes de “estar sós”, é bem provável, então, que
possamos ajudar a coletividade. Mas se somos apenas uma parte do corpo coletivo, é bem óbvio que só seremos capazes de fazer reformas, (…) alterações no padrão da
coletividade. Ser verdadeiramente individual é estar completamente fora da coletividade (…) Um indivíduo assim é capaz de realizar uma transformação no coletivo. (…) (Idem,
pág. 112)

(…) Tendo medo, necessitamos de guias, autoridades, escrituras, salvadores (…) - com o que tornamos a mente incapaz de descobrir alguma coisa sozinha. E nós precisamos estar
sós, para descobrirmos o que é verdadeiro. (…) Porque a Verdade só pode ser descoberta pela mente que está só - não no sentido de solidão, isolamento; (…) (Palestras na
Austrália e Holanda, 1955, pág. 88-89)

(…) Porque o rejeitarmos todas as coisas que nos foram impostas, e abandonarmos as várias (…) crenças, equivale a rejeitarmos a sociedade, opormo-nos à sociedade (…) Aquele
que está fora da sociedade, que já não está na sujeição da sociedade - só esse é capaz de descobrir o que é Deus, (…) a Verdade. (…) (Idem, pág. 89)

Para acharmos por nós mesmos o que é verdadeiro, não devemos rejeitar toda e qualquer autoridade? Não devemos repudiar a autoridade do livro, (…) do sacerdote, (…) dos
Mestres, dos Salvadores, dos vários instrutores religiosos, daqueles que praticam a ioga, etc? Isso, na verdade, significa que devemos ser capazes de estar sós, desamparados, sem
dependermos de ninguém para nenhuma espécie de estímulo. Isso é como fazer uma viagem desacompanhado de um guia. Quando não tem guia, a mente precisa estar atenta, no
mais alto grau, para toda forma de ilusão, e e só quando nos emancipamos completamente da idéia da autoridade, que estamos aptos a examinar-nos sem medo. É o medo que nos
faz recorrer a outros, para sermos por eles guiados. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 30)

O fato de não terdes encontrado refúgio pode ser vossa salvação. Pelo medo que têm de ficar sós, de se sentirem isoladas, certas pessoas dão para beber, outras para tomar drogas,
enquanto muitas outras se lançam na política (…) Os que a evitam causam muito dano no mundo; são pessoas realmente nocivas, porquanto atribuem importância a coisas que não
são da mais alta significação. (…) (Diálogos sobre a Vida, pág. 206)

Que entendemos por medo? Medo de quê? Medo de não ser? Medo do que sois? Medo de perder, de ter prejuízo? O medo, quer consciente quer inconsciente, não é abstrato: ele só
existe em relação com alguma coisa. O que tememos é o estarmos inseguros (…) Isto é, tememos a solidão, (…) o ser nada, (…) o sentimento de completo desnudamento (…) (Por
que não te Satisfaz a Vida?, pág. 32)

(…) Mas, quando vemos o que é a solidão, quando conhecemos o que significa estar só, sem fugir, temos então possibilidade de superá-la; porque estar só é inteiramente diferente
de solidão. É necessário “estarmos sós”; mas hoje (…) nunca estamos sós. Não somos indivíduos, somos apenas um feixe de reações coletivas (…) (Idem, pág. 33)

Pois bem, para compreendermos o que é “estarmos sós”, precisamos compreender todo o processo do temor. A compreensão do temor traz, no fim, esse estado no qual nos vemos
completamente vazios, (…) sós; isto é, ficais, frente a frente com uma solidão insaciável, impreenchível, da qual não há possibilidade de fuga. Vereis então que é possível superar a
solidão - e, então, não existe nem esperança nem desesperança, porém um estado de solidão isento de temor. (Idem, pág. 33)

Mas, se formos capazes de compreender o desejo de segurança interior, o seu processo, se, pela vigilância atenta, estamos cônscios de todas as reações do “eu”, e percebemos que
não existe segurança interior (…); nesse estado de completa insegurança da mente, surge uma liberdade na qual se encontra a única possibilidade de se descobrir “o que é”. (…)
(Idem, pág. 33-34)

(…) Mas, se há verdadeiro empenho (…) em descobrir a verdade, (…) ou Deus, temos (…) de nos libertar (…) de todos os nossos condicionamentos. Significa isso que precisamos
ser capazes de estar totalmente sós e de encarar a verdade relativa ao que é, sem fuga. (…) (Verdade Libertadora, pág. 24)

(…) Se experimentardes isso, vereis que a mente (…) disposta a examinar o seu próprio vazio, (…) totalmente, sem desejo de fuga - vereis que essa mente se torna muito tranqüila,
só, livre, criadora. (…) Esse estado pode ser (…) o Real. (Idem, pág. 24-25)

E há o sofrimento da solidão. Não sei se alguma vez sentistes a solidão: o perceber-se subitamente que não se está em relação com ninguém - percebimento não intelectual, porém
real, (…) e que faz o indivíduo sentir-se isolado de tudo. O pensamento e as emoções como que bloqueados; vemo-nos fechados por todos os lados e sem a possibilidade de apelar
para ninguém; (…) (A Suprema Realização, pág. 62-63)

“Estar só” tem significação inteiramente diferente; tem beleza. Quando o homem se liberta da estrutura social - de avidez, inveja, ambição, arrogância, sucesso, posição - quando
de tudo isso se liberta, está então completamente só. (…) Há então grande beleza, sentimento de grande energia. (Idem, pág. 63)

Senhores, para a mente incapaz de “estar só”, a busca nenhuma significação pode ter. “Estar só” é ser incorruptível, simples, livre de toda tradição, todo dogma, toda opinião, do
que os outros dizem, etc., etc. Essa mente não busca, porque nada há que buscar; sendo livre, ela é serena, sem desejos, imóvel. (Realização sem Esforço, pág. 28)

Mas, tal estado não pode ser alcançado, não é uma coisa que se adquira com disciplina; ele não se manifesta pelo fato de (…) praticardes uma certa ioga. Só se manifesta quando
se tem a compreensão dos movimentos do “eu”, do “ego”, que se revela pela mente consciente, nas atividades de cada dia, bem como no inconsciente. (…) (Idem, pág. 28)

Pergunta: Que entendeis por “estar só”?


Krishnamurti: Investiguemos, senhor. (…) Tomai consciência (…) Ficai simplesmente vigilante, atento, e descobriremos juntos o que significa “estar só”.

Acho que (…) sabemos o que é solidão - esse medo extraordinário, essa ansiedade resultante do processo egocêntrico da mente. Nunca tivestes, na vida, o sentimento de completo
isolamento? (Visão da Realidade, pág. 181-182)

(…) Vendo-nos sozinhos, queremos ser amados; sentimo-nos solitários, ligamos o rádio, vamos ao cinema, buscamos distrações (…) Não queremos fazer frente ao estado de solidão
e escapamo-nos, pomo-nos em fuga daquela solidão. Buscamos companhias, (…) amor, (…) marido ou esposa, (…) etc.; pomo-nos, de alguma forma, na dependência de outrem,
porque então não temos de enfrentar, dentro de nós mesmos, aquele estado de solidão, de vazio, em torno do “eu”. (…) (Idem, pág. 182)

Agora, se puderdes enfrentar o vazio, esse estado de isolamento de todas as relações, (…) enfrentá-lo sem fugir, (…) sem medo, sem fazer esforço algum para preenchê-lo ou
alterá-lo, estareis então só, num estado de completo abandono da sociedade; e esse “estar só” não é fuga à sociedade, (…) não necessita de reconhecimento por parte da sociedade.
(…) (Visão da Realidade, pág. 182-183)

(…) Compreendeis o que isso significa? A sociedade é um “processo” de reconhecimento; sou reconhecido como santo, como escritor, (… ) homem bom (…) Tornando-se
independente de tudo isso, a mente fica completamente só - não solitária, porém só. (…) (Idem, pág. 83)

(…) Não está mais sendo influenciada pela sociedade - está completamente dissociada de qualquer espécie de reconhecimento, e é capaz, portanto, de “estar só”. Ora, é necessário
o “estar só”, para que a realidade tenha existência na nossa mente. (…) (Idem, pág. 183)

Só a mente que está só, não corrompida, que é pura, (…) só essa mente é capaz de perceber o que é Deus, a Verdade. E essa possibilidade nos é dada apenas quando enfrentamos a
solidão (…) (Idem, pág. 183)

Quando (…) a mente se deixa ficar em presença desse processo (…) egocêntrico, limitante, vazio, então esse próprio vazio lhe dá a oportunidade de “estar só”. A mente é então
nova, única, pura; só nesse estado, a mente é capaz de receber o “eterno”. (Idem, pág. 183)

Não pode haver um imenso espaço para a mente funcionar, se ela não está inteiramente só. “Estar só” e “estar isolado” são, naturalmente, dois e diferentes estados. Sabemos
muito bem o que é isolamento: esse estado em que nos vemos insulados, sem companheiros, sem relações, mesmo que estejamos cercados de nossa família e vivendo ativa e
prosperamente. Apesar de tudo isso, manifesta-se um estranho sentimento de isolamento (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 129)

A mente, é bem de ver, evolveu através do tempo. Deseja ela viver continuamente num estado de prazer e, por conseguinte, o próprio espaço que cria em torno de si constitui sua
própria limitação. A solidão, pelo contrário, não é produto do prazer. (…) Só estou assinalando que, se a mente tudo está avaliando pelo padrão do prazer - o que denota a
existência de um centro, cujos valores, juízos, conceitos, atividades, estão todos baseados no prazer - então esse próprio centro se torna criador de conflito e contradição; (…)
(Idem, pág.130)

Assim, enquanto existir essa imagem, cujos valores se baseiam no prazer, haverá necessariamente o isolamento do centro, pois este cria seu espaço próprio. O centro cria espaço ao
redor de si, em suas relações com pessoas, coisas, idéias; e esse centro que cria espaço em torno de si é o isolamento - um estado de que podemos estar conscientes ou não. “Estar
isolado” é coisa muito diferente de “estar só”. A solidão não é resultado de nenhuma atividade da mente. (Idem, pág.130)

Nunca estamos sós; estamos rodeados de pessoas e de nossos próprios pensamentos. Mesmo na ausência de pessoas, vemos as coisas através do crivo dos nossos pensamentos. Não
há momento, ou o há muito raramente, de ausência do pensamento. Não sabemos o que é “estar só”, livre de toda associação, continuidade, palavra e imagem. Somos solitários,
mas não sabemos o que significa “estar só”. A dor da solidão enche-nos o coração, e a mente é abafada com o medo. A solidão, esse profundo isolamento, é a sombra que nos
entenebrece a vida. (Reflexões sobre a Vida, pág. 98-99)

O “viver só” requer muita inteligência; (…) e ser ao mesmo tempo flexível (…) Viver só, sem as muralhas das satisfações egocêntricas, requer extrema vigilância; porque uma vida
solitária favorece a indolência, hábitos confortantes (…) Uma vida solitária favorece o isolamento, e só os sábios podem viver sós, sem causarem mal a si próprios e a outros. (…)
O retirar-se ou isolar-se, com o fim de achar, é pôr fim ao descobrimento. (…) Precisamos de uma solidão que não seja aquela em que a mente se fecha em torno de nós, mas a
solidão da liberdade. O que está completo está sozinho, e o incompleto busca o caminho do isolamento. (Reflexões sobre a Vida, pág. 114)

Verbalmente, podereis concordar (…) Assim sendo, consciente ou inconscientemente, vossa mente se rebela contra a idéia de ficar completamente só, a fim de descobrir. Estar
completamente só é estar livre de contaminação pela sociedade - a sociedade, que é constituída de inveja, avidez, vaidade, desejo de poder e prestígio, ânsia das coisas mundanas e
das chamadas extramundanas - e só essa mente está livre para investigar e descobrir a verdade ou a falsidade daquilo que a supera. Assim, o autoconhecimento é o começo da
sabedoria. (…) (O Homem Livre, pág. 76)

Não sei se já experimentastes o que é estar completamente só, sem nenhuma pressão, (…) motivo ou influência, sem a idéia do passado e do futuro. Estar inteiramente só é muito
diferente do estado de solidão. Há solidão quando o “centro de acumulação” se sente isolado em suas relações com os outros. (…) Falo daquela solitude em que a mente não está
contaminada, porque compreendeu o processo da contaminação, que é a acumulação. Quando a mente se acha de todo só porque, pelo autoconhecimento, compreendeu o “centro
de acumulação”, vê-se então que, por estar vazia, não influenciada, ela é capaz de ação não relacionada com a ambição, a inveja ou com qualquer dos conflitos que conhecemos.
(…) (O Homem Livre, pág. 168)

(…) Essa mente, sendo indiferente, no sentido de que não está buscando resultado, pode viver com compaixão. Mas esse estado mental não é adquirível, nem é possível
desenvolvê-lo. Ele nasce com o autoconhecimento, com o conhecerdes a vós mesmos - não um certo “eu” enorme, superior, mas aquele pequeno “eu” invejoso, ávido, vulgar,
colérico, violento. O necessário é conhecer a totalidade dessa mente (…) Para irdes longe, tendes de começar com o que está perto, e o que está perto sois vós (…) E quando
começardes a compreendê-lo, vereis ocorrer a dissolução do conhecimento e a mente tornar-se totalmente atenta, vigilante, vazia, sem aquele centro; e só essa mente é capaz de
acolher o que é a Verdade. (Idem, pág. 168)

Como sabeis, para a maioria de nós “estar só” é uma coisa terrível. Não me refiro aqui à solidão, que é coisa diferente. Refiro-me ao “estar só”: estar só com alguém ou com o
mundo; estar só com um fato. Só, no sentido de que a mente não está sujeita a influências, já não se acha presa ao passado, nem tem futuro, nem busca, nem teme: está só. O que é
puro está só; a mente que está só conhece o amor, porque já não se enreda nos problemas do conflito, do sofrimento e do preenchimento. Só essa mente é nova, (…) religiosa. (…)
(O Passo Decisivo, pág. 115)

Negar é estar só, livre da influência, da tradição, da carência psicológica, do apego, da dependência. Estar só é negar o condicionamento e o passado conteúdo da consciência.
Observar sem discriminar e a renúncia ao condicionamento conduzem à solidão, que não é isolamento ou atividade egocêntrica. Tampouco significa fuga da existência. Pelo
contrário, é a libertação total do sofrimento e do conflito, do medo e da morte. Essa solidão é a própria mutação da consciência, a completa transformação daquilo que foi. Ela é o
vazio e a ausência do ser e do não-ser. A mente se renova, a cada instante, na chama desse vazio. Apenas à mente vulnerável é acessível o infinito, em que da destruição surge o
novo, a criação e o amor. (Diário de Krishnamurti, pág. 92)

O homem deve ser só, mas esse “ser só” não é isolamento. Significa estar libertado do mundo da avidez, do ódio e da violência, de seus métodos sutis, e da dolorosa solidão e
desespero humano. Estar só é estar “de fora”, não pertencer a nenhuma religião ou nação, a nenhuma crença ou dogma.

É essa solidão que alcança uma inocência completamente imune à maldade do homem. Só a inocência pode viver no mundo, com toda a desordem nele existente, e ao mesmo tempo
não pertencer a ele. Ela não se reveste de galas especiais. A flor da bondade não se encontra ao longo de nenhum caminho, porque não há caminho para a Verdade. (A Outra
Margem do Caminho, pág. 45-46)

Esse estar só não é a dolorosa e temível solidão. É o recolhimento do ser, em si mesmo - um estado não corrompido, rico, completo. (…) O estar só é o expurgo de todos os motivos,
todas as atividades do desejo, todos os fins. O estar só não é um produto final da mente. Não se pode desejar estar só. Tal desejo é meramente fuga à dor de se não poder comungar.
(Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 15-16)

A solidão, com seus temores e tormentos, é isolamento (…) Esse processo de isolamento, quer amplo, quer estreito, é gerador de confusão, conflito, sofrimento. Do isolamento
nunca pode nascer o estar só; um tem de desaparecer, para que o outro possa existir. O estar só é indivisível, e o isolamento é separação. Aquilo que está só é flexível (…)
Unicamente o que está só pode estar em comunhão com aquilo que é sem causa, o imensurável. Para o que está só, a vida é eterna; (…) não existe a morte. (…) (Idem, pág. 16)

O homem que deseja realmente descobrir se há, ou não, um estado além da estrutura do tempo, deverá estar livre da civilização; (…) da “vontade coletiva”; deverá estar só (…) (A
Cultura e o Problema Humano, pág. 45)

Pergunta: Tendes estado em retiro (…) Podemos saber se há nisso alguma significação?

Krishnamurti: Não desejais, também, às vezes, recolher-vos à quietude, para fazer um balanço das coisas, a fim de não vos tornardes simples máquina de repetição, um discursador,
um explicador, um expositor? (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág.19)

(…) Julgo essencial que entreis, de vez em quando, em recolhimento, deixando tudo o que estais fazendo, detendo por completo as vossas crenças e experiências, e olhando-as de
maneira nova, em vez de ficardes a repetir, como máquinas, o que credes ou o que não credes. Deixaríeis, assim, entrar ar fresco em vossas mentes (…) Isso significa que tendes de
estar inseguros (…) (Idem, pág. 20)

(…) Se fordes capazes de tanto, estareis abertos aos mistérios da natureza e para as coisas que sussurram ao redor de nós, (…) encontrareis o Deus que aguarda o momento de vir,
a verdade que não pode ser chamada, mas vem por si mesma. Não estamos abertos ao amor e a outros processos mais delicados que se verificam dentro de nós, porque vivemos
fechados em nossas ambições, (…) realizações, (…) desejos. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 20)

Nesse retiro, não mergulheis noutra coisa qualquer, não abrais livro algum, absorvendo-vos em novos conhecimentos e novas aquisições. Rompei completamente com o passado, e
vereis o que acontece. Fazei-o (…) e conhecereis o deleite. Descortinareis as imensidões do amor, da compreensão, da liberdade. Quando vosso coração está aberto, então é
possível a vinda da realidade. (…) Eis por que é salutar entrarmos em retiro, recolher-nos e fazer parar a rotina - não só a rotina da existência exterior, mas também a rotina que a
mente estabelece para sua própria segurança e conveniência. (Idem, pág. 20-21)

Solidão, Fuga do “Eu”; Vazio Que Precede a Criação


Mas, a experiência revela a Verdade (…)? A experiência, sem dúvida, é uma distração (…) Dentro de nós, quer o admitamos quer não (…) existe um estado de pobreza, um vazio,
que procuramos encobrir, (…) evitar. E no processo de encobrir o vazio temos experiências diversas; (…) Isto é, o indivíduo sente em si, consciente ou inconscientemente, um vazio,
um aniquilamento, uma insuficiência. (Nós Somos o Problema, pág. 63-64)

Quase todos estamos conscientes disso, mas não nos agrada encará-lo de frente, (…) compreendê-lo; procuramos fugir a esse estado de vazio, (…) de aniquilamento, apegando-nos
à propriedade, ou ao nome, à família, ao saber. A essa fuga de nós mesmos chama-se experiência (…) Os meios de fuga oferecem felicidade e, por isso, a experiência se transforma
num obstáculo à compreensão do “que é”. (…) (Idem, pág. 64)

Por outras palavras, (…) sentimos solidão; e, para escapar a essa solidão, ligamos o rádio, lemos um livro, apegamo-nos a uma pessoa (…) Essa fuga do “que é” proporciona
várias experiências; e a elas nos apegamos. Então a propriedade, o nome, a posição, o prestígio, passam a ter grande importância. (…) Assim também a instrução, como meio de
fugirmos a nós mesmos, torna-se extraordinariamente importante. (Idem, pág. 64)

Enchemos, pois, esse vazio, essa solidão, com instrução, relações e haveres; (…) - já que, sem essas coisas, nos sentimos perdidos. (…) Mas a realidade, ou Deus, é o desconhecido;
(…) e, para atingi-la, temos de afastar todas as fugas e enfrentar “o que é” - nossa solidão, nosso extraordinário senso de sermos nada. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 64-65)

A solidão não é isso; é o sentimento de estar completamente isolado de tudo. (…) Quanto mais desperto vos achais, quanto mais indagais, procurais, exigis, tanto mais a sentis: nas
profundezas da consciência, em todos os níveis, vos vedes completamente isolados. E esta é uma das coisas mais tristes: nos vermos enredados nesse tremendo sentimento de
solidão, com sua potente energia, e não sermos capazes de transcendê-lo. (A Suprema Realização, pág. 63)

Esse sentimento tem vitalidade, força, pertinácia, fealdade; e dele fugimos de todas as maneiras possíveis. Se somos indivíduos muito talentosos, escrevemos (…); ou tratamos de
divertir-nos, para não termos contato com ela. E, assim, ela continua existente, emboscada, como um câncer, a aguardar a oportunidade de declarar-se. É necessário entrar em
contato com a solidão. (…) (Idem, pág. 63)

Essa solidão é também uma forma de morte. Como dissemos, morre-se (…) também quando não encontramos a solução, a saída que procuramos. Esta é também uma forma de
morte: ver-se perpetuamente trancado na prisão do próprio egocentrismo. Quando vos vedes acorrentado a vossos pensamentos, vossa agonia, vossas superstições, à mortal rotina
do hábito e da indolência, isso também é morte. (…) (Idem, pág. 63)

A solidão, afinal, é um estado de auto-isolamento, porque a mente se fecha e segrega de todas as relações e de todas as coisas. Nesse estado, ela conhece a solidão; mas, se, sem
condenar a solidão, a mente ficar vigilante, então, sem dúvida alguma, a solidão sofre uma transformação. (…) (As Ilusões da Mente, pág. 89)

(…) Essa transformação poderá chamar-se “estar só” (…) Nesse “estar só” não há temor. A mente que se sente solitária porque se isolou por meio de várias atividades, teme
aquela solidão. Entretanto, se há um percebimento completamente isento de escolha - (…) de condenação - então a mente já não está solitária, porém “só”, estado em que não há
corrupção nem (…) auto-isolamento. (…) (Idem, pág. 89)

(…) Precisamos estar sós, é necessário esse “estar só”, no sentido que lhe damos. A solidão é um estado de frustração, o “estar só” não é; mas “estar só” não é o oposto da
solidão. (As Ilusões da Mente, pág. 89-90)

Pergunta: Sinto-me muito só, e aspiro a certa forma de relações humanas (…) Não podendo encontrar (…) que devo fazer?

Krishnamurti: Uma das nossas dificuldades, sem dúvida, é essa de querermos ser felizes por meio de alguma coisa, (…) de uma pessoa, de um símbolo, de uma idéia, da virtude, da
ação, da companhia de alguém. (…) (Poder e Realização, pág. 58)

Assim, pois, vendo-me só, desejo encontrar alguém, ou alguma idéia, por intermédio da qual eu possa ser feliz. Mas a solidão permanece, apesar disso; ela está sempre presente,
acobertada. (…) Imaginamos que, por meio de coisas - como sejam móveis, uma casa, livros, pessoas, idéias, ritos, símbolos (…) alcançaremos a felicidade. (…) (Idem, pág. 58-59)

Não é muito importante, portanto, que eu compreenda essa solidão, essa dor do extraordinário vazio (…)? Desde que, se eu compreender isso, então, talvez, não me servirei mais de
coisa alguma para encontrar a felicidade; (…) (Idem, pág. 59)

(…) A coisa que me está corroendo o coração é esse sentimento de temor, essa (…) solidão e vazio. Posso compreendê-la? Posso dissolvê-la? (…) Podemos fazer o que quisermos:
nem rádio, nem livros, nem política, nem religião - nada disso pode disfarçar aquela solidão. (…) (Poder e Realização, pág. 59-60)

(…) É justamente quando fugimos à solidão que se cria o temor, e não quando a examinamos. Para poder examiná-la, estar em contato com ela, não devo condená-la. E quando sou
capaz de encará-la, sou então capaz de amá-la e observá-la. (Idem, pág. 60)

Esta solidão (…) Não é ela, com efeito, um estado essencial, a porta, talvez, que me conduzirá à compreensão? Essa porta pode levar-nos mais adiante, habilitando a mente a
compreender aquele outro estado em que a mente deve “estar só”, livre de contaminação. (…) (Idem, pág. 60)

(…) Se a mente puder viver em contato com a solidão, sem condená-la, talvez possa encontrar, através dela, o “estar só” - o estado em que a mente não está solitária, porém “só”,
independente, em que não precisa de coisa alguma para achar o que procura. (Poder e Realização, pág. 61)

Não é necessário “estar só” para conhecer aquela solidão que não é criada pelas circunstâncias, (…) que não é isolamento, (…) que é criação, na qual a mente já não busca
felicidade, nem virtude, nem cria resistência alguma? É a mente que está “só” que é capaz de achar - e não a mente que se contaminou, (…) (Idem, pág. 61)

(…) Assim, pois, essa solidão de que todos estamos bem cônscios, talvez possa, se soubermos compreendê-la, abrir-nos a porta da Realidade. (Idem, pág. 61)

Que entendeis por solidão? (…) A solidão, por certo, não é um estado equivalente ao “estar só”. (…) É essencial compreender que “estar só” não significa isolamento. Isolamento
é o sentimento de estar fechado, (…) de ausência de relações, (…) de estar segregado de todas as coisas. Isso é inteiramente diferente do estar só, que é um estado de extraordinária
vulnerabilidade. Quando nos vemos solitários, apodera-se de nós um sentimento de temor, de ansiedade, de dor ao isolamento. Amais alguém e sentis que, sem esse alguém, estais
perdido; (…) (Nosso Único Problema, pág. 68-69)

Chegamos, pois, à questão real, que é o desejo de fuga. Que temeis? Por que tendes medo ao desconhecido, àquela insuficiência ou àquele vazio? Se temeis, por que não
investigais? Por que esse temor de perder nossos haveres, (…) ligações, contatos? (…) Nunca fazemos frente ao conflito de nossa insuficiência: estamos sempre empenhados em
sufocá-lo, reprimi-lo, em fugir a ele, não conhecemos o que é. Mas se enfrentássemos o conflito sem temor, sem condenação, encontraríamos, então, a verdade a seu respeito; (…)
(Idem, pág. 70)

(…) Por medo à insuficiência, a mente atua sobre o pensamento, em vez de o olhar - e, só quando temos a capacidade de olhar para o pensamento, encontramos a possibilidade de
compreender aquilo que formou esse pensamento, com o que se nos revela todo o processo de fuga ao que é. Então a solidão se transforma em “estar só”. E esse “estar só” é um
estado de vulnerabilidade capaz de acolher o desconhecido, o imponderável, o imensurável. (…) (Idem, pág. 70)

Naturalmente, a grande maioria das pessoas vive a fugir de si mesma. Mas, pelo fugirdes de vós mesmos, vos tornastes dependentes. A dependência se torna mais forte e as fugas
mais essenciais, em proporção com o medo do que é. A esposa, o livro, o rádio, adquirem extraordinária importância; as fugas se tornam da mais alta significação, (…) valor. (…)
(Comentários sobre o Viver, pág. 198)

Isso está bastante claro. (…) Mas por que foge uma pessoa? De que foge? De sua própria solidão, (…) vazio, daquilo que é. Se fugirdes do que é, sem o verdes, é bem evidente que
não o compreendereis; portanto, em primeiro lugar, deveis parar, deixar de fugir, pois, só então podereis observar a vós mesmos, tal como sois. Mas não se estais sempre a
criticá-lo (…) Vós o chamais solidão e fugis dele; e a própria fuga ao que é, é medo. Tendes medo dessa solidão, (…) vazio, e a dependência é o manto em que o cobris. O medo,
portanto, é constante, (…) enquanto estiverdes a fugir do que é. (…) (Idem, pág. 198)

Nada podeis fazer a respeito. Tudo o que fizerdes será sempre uma atividade de fuga. Esta é a coisa mais essencial: cumpre compreendê-la. Podereis ver, então, que não sois
diferente ou separado daquela vacuidade. Sois aquela insuficiência. O observador é o vazio observado. Depois, se fordes mais longe, não lhe dareis mais o nome de solidão, cessou
a verbalização; e, se fordes mais além, o que é um tanto difícil, a coisa conhecida como solidão não existirá mais; ocorrerá o completo desaparecimento da solidão, do vazio, do
pensador, do pensamento. Só isso põe fim ao temor. (Comentários sobre o Viver, pág. 198-199)

Ora, se se reconhece que todos os meios de fuga são iguais, e se percebe a significação de dado meio de fuga, pode-se ainda fugir? (…) E, se não estais fugindo, há ainda conflito?
(…) É a fuga ao que é, o esforço para alcançar uma coisa diferente do que é, que cria o conflito. Assim, para que a mente possa transcender esse sentimento de solidão, essa súbita
cessação da lembrança de todas as relações, as quais envolvem ciúme, inveja, ânsia de aquisição, esforço de ser virtuoso, etc. - primeiro ela tem de enfrentá-lo, passar por ele, de
modo que o medo em todas as suas formas definhe até desaparecer de todo. (O Passo Decisivo, pág. 74-75)

Dessarte, pode a mente perceber, em dado meio de fuga, a futilidade de todas as fugas? Não há então conflito (…) Porque já não há nenhum observador da solidão: há só o
experimentar dela. (…) Essa solidão é o cessar de todas as relações; as idéias já não têm importância; o pensamento perdeu toda a valia. (…) (O Passo Decisivo, pág. 75)

Onde não existe medo, está a beleza - não a beleza de que falam os poetas, (…) os artistas que pintam, etc., porém coisa bem diferente. E, para descobrir a beleza, o homem terá de
conhecer esse isolamento completo - ou, melhor (…) ele já existe. Vós fugistes dele, mas ele continua existente e vos segue sempre. Ele lá está em vosso coração e em vossa mente,
nos mais profundos recessos de vosso ser. (…)

E a mente tem de passar por ele, como quem se submete à purificação pelo fogo. Ora, pode a mente passar por ele sem reação (…)? No momento em que há reação, torna-se
existente o conflito, (…) A mente, pois, tem de passar por ele (…) A mente é então aquela solidão (…) No momento em que dizeis: “De que maneira (…) devo olhá-la?” - nesse
momento já vos achais de novo em conflito. (Idem, pág. 75)

Há uma diferença entre solidão e isolamento. Isolamento conduz à neurose, a várias formas dela, porque no isolamento há exclusão, separação; mas a mente que está de todo
atenta, completamente só, é, por conseqüência, capaz de ver o que é a verdade. Até aí se pode verbalizar, colocar em palavras, mas, depois disso, nada pode ser dito. O homem que
diz “eu sei”, não sabe. Ele não conhece aquilo que está além, que não foi acumulado pelo pensamento, (…) condicionamento. (…) Meditação é simplesmente abrir a porta. O que
está além não pode nunca ser expresso em palavras, e aquele que o faça não está atento, não sabe. A mente religiosa tem compaixão, amor, não tem medo, é capaz de permanecer
completamente sozinha. Conseqüentemente, ela encontrará a realidade que não é mensurável. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 77)

Pergunta: Além do temor superficial, existe uma angústia profunda, que me foge à compreensão. Parece ser o próprio temor à vida - ou, talvez, à morte. Ou é o imenso vazio da
vida? (Viver sem Confusão, pág. 73)

Krishnamurti: Parece que a maioria de nós sente isso; tem um forte sentimento do vazio, (…) da solidão. Tentamos evitá-lo, (…) fugir, procuramos segurança, permanência, longe
dessa angústia. Ou tentamos ficar livres analisando os vários sonhos, (…) reações. (…) (Idem, pág. 73)

Para a maioria de nós, a dificuldade consiste em não ter consciência de nossas fugas. (…) Tomando consciência daquele vazio, estamos constantemente a encobri-lo com várias
atividades - artísticas, sociais, religiosas ou políticas. (Viver sem Confusão, pág. 76-77)

Mas o vazio nunca pode ser definitivamente encoberto: tem de ser compreendido. Para o compreendermos, precisamos ficar cônscios dessas fugas; e, quando compreendermos as
fugas, estaremos então capacitados a enfrentar o nosso vazio. (Viver sem Confusão, pág. 77)

Veremos, então, que o vazio não é diferente de nós mesmos, que o observador é o objeto observado. Nessa experiência, (…) integração do pensador e do pensamento, desaparece
esse vazio, essa angústia. (Idem, pág. 77)

O “eu”, pois, é o criador daquele vazio. O “eu” é o vazio; o “eu” é um processo egocêntrico, no qual estamos cônscios daquela extraordinária solidão. Assim, estando cônscios
dela, tentamos a fuga por meio de várias formas de identificação. A essas identificações chamamos preenchimento. Na realidade não existe preenchimento, porque a mente, o “eu”,
nunca pode preencher-se; pela sua própria natureza, o “eu” é egocêntrico. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 178)

Nossa dificuldade, por conseguinte, consiste em estarmos cônscios desse vazio, desse isolamento. Nunca nos vemos frente a frente com ele. Não sabemos como ele é, quais são as
suas qualidades; porque vivemos continuamente a fugir dele, retraindo-nos, isolando-nos, identificando-nos. Nunca estamos em presença dele, diretamente, em comunhão com ele.
Por isso, somos “observador” e “coisa observada”. Isto é, a mente, o “eu”, observa o vazio; e, então, o “eu”, o pensador, trata de livrar-se desse vazio, ou de fugir. (Quando o
Pensamento Cessa, pág. 179)

Podemos, pois, encarar (…) nosso vazio psicológico, nossa solidão, causador e tantos outros problemas? Parece-me que aí é que reside a dificuldade - em nossa incapacidade para
observarmos a nós mesmos sem julgamento, sem condenação, sem comparação; (…) só ao perceber a futilidade, o absurdo de tudo isso, a mente se torna capaz de observar-se.
(Verdade Libertadora, pág. 125)

Então, aquilo que temíamos, por ser solidão, vazio, já não é vazio. Já não há, então, dependência psicológica de coisa alguma; então, o amor já não é apego, porém coisa
totalmente diferente, e as relações têm outra significação. (Idem, pág. 125)

(…) Essa solidão é a essência mesma da consciência do “eu”. E, quando a transcendemos, apresenta-se o estado de atenção em que há solidão completa, que não é isolamento, nem
separação, não é retirada. Porque é só nessa solidão que a mente já não é um joguete do pensamento, pois o pensamento foi compreendido totalmente, originando-se então o estado
de solidão. Esse é o estado de inocência, essa inocência não sujeita à mortalidade. Só essa inocência pode descobrir o novo, aquilo que é sempre novo, atemporal. (…) (A Essência
da Maturidade, pág. 106)

(…) Nesse percebimento passivo, descobre-se aquele extraordinário sentimento de solidão. Estou certo de que a maioria de vós já o experimentou - esse sentimento de um vazio
absoluto, impossível de preencher-se. (Nós Somos o Problema, pág. 65)

É só quando permanecemos nesse estado em que todos os valores deixaram completamente de existir; apenas quando somos capazes de estar sós e de enfrentar essa solidão sem
nenhuma tendência para a fuga - só então a realidade surge. Porque os valores são mero resultado de nosso condicionamento; (…) (Idem, pág. 65)

Eu vos asseguro que, quando houver completa nudez; completa falta de esperança, então, num momento assim de vital insegurança, nascerá a chama da suprema inteligência, a
beatitude da verdade. (Palestras em New York City, 1935, pág. 24)

Agora, se puderdes enfrentar o vazio, esse estado de isolamento de todas as relações, (…) sem fugir, (…) sem medo, sem fazer esforço algum para preenchê-lo ou alterá-lo, estareis
então só, num estado de completo abandono da sociedade, e esse “estar só” não é fuga à sociedade, mas não necessita de reconhecimento por parte da sociedade. (…)

Tornando-se independente de tudo isso, a mente fica completamente só - não solitária, porém só. Não está mais sendo influenciado pela sociedade - está (…) dissociada (…) de
reconhecimento, e é capaz (…) de “estar só”. Só a mente que está só, não corrompida, que é pura, (…) só essa mente é capaz de perceber o que é Deus, a Verdade. (…) (Visão da
Realidade, pág. 182-183)

Quando, percebendo a futilidade de tudo isso, a mente se deixa ficar em presença desse processo (…) egocêntrico, limitante, vazio, então, esse próprio vazio lhe dá a oportunidade
de “estar só”. A mente é então nova, única, pura, só nesse estado a mente é capaz de receber o “eterno”. (Idem, pág. 183)

Nunca estamos sós; estamos rodeados de pessoas e de nossos próprios pensamentos (…) Não há momento, ou o há muito raramente, de ausência de pensamento. Não sabemos o que
é “estar só”, livre de toda associação, toda continuidade, toda palavra e imagem. Somos solitários, mas não sabemos o que significa “estar só”. A dor da solidão enche-nos o
coração, e a mente é abafada com o medo. A solidão, esse profundo isolamento, é a sombra que nos entenebrece a vida. (Reflexões sobre a Vida, pág. 98-99)

Fazemos todo o possível para evitá-la, precipitando-nos em todas as vias de fuga que conhecemos, porém ela nos persegue incansavelmente. O isolamento é a norma de nossa vida;
raramente nos unimos intimamente uns com os outros, porque, interiormente, estamos dilacerados, feridos. Interiormente, não somos inteiros, completos, e a fusão com outros só é
possível quando há integração interior.

Temos medo à solidão, porque nos mostra a nossa insuficiência, a pobreza do nosso próprio ser, mas é quando estamos completamente sós que se cura a ferida voraz da solidão.
“Estar a sós”, livre do pensamento e do cortejo dos desejos, é ultrapassar as raias da mente. É a mente que isola, que separa e impede toda comunicação. A mente não pode ser
“inteirada”; não pode fazer-se completa, porque esse próprio esforço é um processo de isolamento (…) A mente é produto da multiplicidade (…) “O só” não é resultado do
pensamento. Só quando o pensamento se imobiliza de todo, se realiza o vôo do “só” para o “só”. (Idem, pág. 99)

Esclarecerei em resumo o que tenho dito (…) Cada um de vós sois consciente de um grande vazio, uma vacuidade interna, e, sendo consciente dessa vacuidade, tentais preenchê-la
ou escapar-lhe; ambas as ações significam a mesma coisa. Escolheis com o que preencher essa vacuidade, e a essa escolha chamais progresso ou experiência. (…) (Palestras na
Itália e Noruega, 1933, pág. 90)

(…) Mas o experimentar desse estado de solidão, até o fim, sem procurar fugir nem verbalizar - e isso significa “ficar com ele” completamente - isso requer grande soma de energia
(…) Essa energia não contaminada é a solidão que deveis alcançar; e, dessa negação, desse vazio total, surge a criação. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 55)

Por outras palavras: em momentos verdadeiramente criadores do pensamento ou da expressão, não há consciência do “eu”. É só em momentos de conflito, de sofrimento, que a
mente se torna consciente de sua própria limitação a que chama de “eu”; (…) (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 38)

Não podeis (…) ver se a mente é capaz de ser livre, vazia? Ela só pode estar vazia ao compreender todas as projeções de si própria, momento a momento. Então, infalivelmente,
tereis a resposta, vereis como a transformação vem, sem ser pedida, e que o estado de “vazio interior” não é coisa cultivável; ele se manifesta, chega imperceptivelmente, sem ser
chamado. Só nesse estado há possibilidade de renovação, revolução. (Claridade na Ação, pág. 157-158)

Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos com essa solidão, com esse vazio; e, com a aceitação desse vazio, veremos surgir um estado criador
completamente isento de luta e de esforço. O esforço só existe enquanto desejamos evitar o vazio interior; mas, se o olharmos bem (…) sem nenhum desejo de evitá-lo, veremos
surgir um “estado de ser” no qual cessou toda a luta. Esse estado de ser é o estado criador (…) (A Arte da Libertação, pág. 109)

É só quando somos criadores que há felicidade completa, generosa. Mas a criação não provém de esforço, visto que o esforço é uma fuga do que é. Mas quando há compreensão do
que é, que é nosso vazio, nossa insuficiência interior, quando nos deixamos ficar com essa insuficiência e a compreendemos plenamente, surge a realidade criadora, a inteligência
criadora, a única coisa que traz felicidade. (Idem, pág. 109)

Porque, nesse silêncio, há renovação, aquela renovação não compreensível à mente que está ligada ao tempo. (…) Nesse silêncio, nesse estado, há criação, a criação que vem de
Deus, da Verdade. (…) (Poder e Realização, pág. 84)

Assuntos Específicos II
Autoconhecimento; Base da Sabedoria, Libertação
Deveria ser proveitoso descobrirmos qual é a função de nosso pensar, porque, sem a compreensão do processo total do nosso pensamento consciente e inconsciente, a mente não
pode estar livre para descobrir o que é verdadeiro. Nosso pensar é evidentemente considerado como o guia da nossa ação, mas nossa ação é atualmente tão automática que
dificilmente pode haver, nela, reflexão. (…) (Visão da Realidade, pág. 106)

Por conseguinte, é obviamente importantíssimo, para todos nós, descobrirmos como operam as nossas mentes, o que significa ter autoconhecimento. Se não conhecemos as
peculiaridades do nosso pensar; se não estamos cônscios das nossas reações e de como está condicionado o nosso pensamento (…); se a mente não investigar a fundo as bases de
seu funcionamento (background) ou seja o “eu”, o “ego”, então não há dúvida de que todos os conhecimentos, exceto talvez os mecânicos, serão prejudiciais e maléficos. (Idem,
pág. 107)

Ora, que é pensar? Pode o pensamento ser original, ou é sempre um processo de repetição, reação do fundo? Pode o pensamento levar-nos à realidade, Deus, àquela coisa
extraordinária que se acha além do processo da mente e a que chamamos de realidade final e absoluta, ou é o pensamento um obstáculo ao descobrimento dessa realidade? (Idem,
pág. 107)

Não há dúvida de que o que chamamos pensar é reação da memória. Isso é bastante óbvio. Fostes educados numa certa tradição, como hinduísta, cristão, budista, comunista, (…)
tendes várias associações, memórias, crenças, e esse background reage a qualquer desafio, chamando-se isso de “pensar”. O background, por conseguinte, não é diferente do
pensar; o pensamento é o background. (…) Reagis de acordo com vosso background especial (…) (Visão da Realidade, pág. 119-110)

(…) Essa mente só é capaz de experimentar aquilo para que foi condicionada. Se a mente não estiver livre de todo e qualquer condicionamento, sua busca será meramente uma
reação sociológica e a mente só descobrirá aquilo para que foi condicionada. Como poderei então libertar-me do condicionamento? Existe uma entidade que me ajudará a
libertar-me do condicionamento? Isto é, existe em mim um pensador (…) não contaminado pelo meu condicionamento? (Idem, pág. 110-111)

Vede, até agora, temos presumido existir um pensador separado do pensamento (…) Estamos afeitos à idéia de que há dois processos separados, sendo um deles um estado
permanente, como pensador, analista, observador, e o outro, o movimento do pensamento. (…) Não há dúvida, o pensamento cria o pensador, e não é o pensador que cria o
pensamento. Importa muito que cada um compreenda isso por si mesmo (…) (Idem, pág. 111)

Porque a mente, o cérebro que for incapaz de verdadeiramente, desapaixonada e objetivamente - olhar, observar, sentir, perceber, com perfeito equilíbrio, de maneira sã, não pode
evidentemente ir muito longe. Desse modo, cumpre-nos descobrir o que é pensar e (…) a contradição existente entre o pensador e o pensamento. (A Mutação Interior, pág. 72-73)

Como há de conhecer-se o indivíduo a si mesmo? Ele próprio é uma estrutura (…), um movimento muito complexo; como há de conhecer-se sem enganar-se a si mesmo? Só
podemos conhecer-nos em nossa relação com os outros. Nessa relação (…) pode-se descobrir que se é ciumento, dependente (…) Por conseguinte, a relação atua como um espelho,
no qual pode cada um conhecer a si mesmo. Igual coisa ocorre externamente; o externo é um reflexo dele próprio (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 217-218)

Só podemos compreender algo se olhamos “o que é” e não fugimos dele, se não tentamos convertê-lo em alguma outra coisa. É possível permanecer com “o que é”, observá-lo,
vê-lo - e nada mais? Dou-me conta de que sou cobiçoso (…) A cobiça é um sentimento, e eu a hei observado (…) A palavra não é a coisa (…) (Idem, pág. 219)

“O que é” só pode ser observado quando há “eu” (…) No momento em que o cérebro opera, há distorção. Olhem algo sem mover os olhos e vejam como o cérebro se aquieta.
Observa-se, então, não só com os olhos, senão com toda a atenção, afeição. Então há observação do fato - não a idéia do fato. Aborda-se “o que é” com solicitude, dedicação, e,
portanto, não há juízo (…) condenação; por conseqüência, está-se livre dos opostos. (Idem, pág. 220-221)

Mas se puderdes observar as operações de vossa mente, sem tendência para julgar, avaliar, sem condenação ou comparação - observar simplesmente, como se observa uma estrela,
desapaixonadamente, tranqüilamente, sem ansiedade - vereis então que o autoconhecimento não depende do tempo, não é processo de penetração do inconsciente (…) (Da Solidão
à Plenitude Humana, pág. 54)

(…) Quando há autoconhecimento completo, o conhecido termina, e a mente fica completamente vazia do conhecido. Só então a verdade pode vir a vós, sem ter sido chamada (…)
(Que Estamos Buscando?, pág. 16)

(…) A compreensão de nós mesmos não se consegue pelo processo de nos retirarmos da sociedade (…) Se vós e eu nos dedicarmos a estudar o assunto ( … ), veremos que só
podemos compreender a nós mesmos em relação e não no isolamento. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 100)

(…) Viver é estar em relação. É só no espelho das relações que compreendo a mim mesmo - o que significa que devo estar sempre sobremodo atento, em todos os meus pensamento,
sentimentos e ações na vida de relação. (…) (Idem, pág. 100)

(…) O autoconhecimento não se baseia em idéias, crenças ou conclusões. Deve ser uma coisa viva, porque, do contrário, não é autoconhecimento, e sim mero conjunto de
conhecimentos. Há diferença entre o conhecimento de fatos, que é saber, e a sabedoria, que é o conhecimento dos processos dos nossos pensamentos e sentimentos. (…) (Nosso
Único Problema, pág. 18)

Para descobrirmos o processo total do autoconhecimento, temos de estar muito vigilantes nas relações com os outros. As relações são o único espelho que temos, um espelho que
não desfigura, (…) no qual podemos ver, com toda a fidelidade, o nosso pensamento desdobrar-se. (…) O isolamento, sem dúvida, impede a compreensão das relações: relações
com as pessoas, com as idéias, com as coisas. (…) (Idem, pág. 18)

(…) Surge o autoconhecimento ao investigarmos e experimentarmos as tendências dos nossos próprios pensamentos, sentimentos e atos, o que significa estarmos cônscios de nosso
“processo” total nas relações, instante a instante. (…) (A Arte da Libertação, pág. 24-25)

É muito difícil para uma pessoa (…) lançar fora tudo isso e pensar de maneira simples, por si mesma, e descobrir. Ela não poderá pensar de maneira simples, se não conhecer a si
mesma, se não tiver autoconhecimento. E ninguém pode dar-nos o autoconhecimento - nenhum instrutor, nenhum livro, nenhuma filosofia, nenhuma disciplina. O “eu” está num
movimento constante; enquanto ele vive, precisa ser compreendido. (Transformação Fundamental, pág. 81)

E só pelo autoconhecimento, só pela compreensão do processo do meu próprio pensar, observado no espelho de cada reação, posso descobrir que, enquanto houver qualquer
movimento do “eu”, da mente, em direção a um objetivo - Deus, a verdade, a Paz - essa mente não é uma mente quieta, pois está querendo realizar, apanhar, alcançar certo estado.
Se houver qualquer espécie de autoridade, de compulsão, de imitação, a mente não pode compreender. (…) (Idem, pág. 81)

Um guru, portanto, não é essencial. Muito ao contrário, o guru é um empecilho. O autoconhecimento é o começo da sabedoria. Nenhum guru pode dar-vos o autoconhecimento;
(…)(Nosso Único Problema, pág. 12)

(…) Do autoconhecimento provém o pensar correto e, portanto, a ação correta, a qual, com efeito, é extraordinariamente simples quando estamos vigilantes (…) Entretanto, é só
por meio do autoconhecimento, o conhecimento de tudo quanto fazemos, pensamos e sentimos, que podemos fazer nascer a ordem e a paz (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág.
209)

(…) Sem autoconhecimento, não podemos passar além das projeções ilusórias da mente. O autoconhecimento (…) implica não somente a ação nas relações entre um indivíduo e
outro, mas também a ação das relações com a sociedade; e não pode existir uma sociedade completa e harmoniosa sem esse autoconhecimento. (…) (Solução para os nossos
Conflitos, pág. 39)

E preciso compreender (…) Para a maioria de nós, a experiência é uma reação, é a “resposta” de nossa memória a um desafio. Essa memória (…) pode ser antiga ou moderna,
superficial ou profunda (…) As novas experiências vão sendo acumuladas, armazenadas e tornam, assim, cada vez mais forte o background. (O Homem e seus Desejos em Conflito,
2ª ed., pág. 166)

Ora, quando há um “clarão de compreensão”, isso não constitui nenhuma “resposta” daquele background. Nesse momento, o background se mantém em silêncio. O “clarão de
compreensão” não é contínuo, não é permanente. (…) O clarão de compreensão só pode ocorrer na mente alerta; e que continua alerta, mesmo quando nenhum clarão ocorre. Essa
mente está sempre desperta, vigilante (…) vendo tudo o que se passa - isso é bem mais importante do que aguardar o clarão da compreensão. (Idem, pág. 166)

(…) O compreender-nos requer paciência, tolerante vigilância; o “eu” é um livro de muitos volumes e não podeis lê-lo num só dia, mas, iniciada a leitura, deveis ler cada palavra,
cada frase, cada parágrafo, pois neles está a revelação do todo. O seu começo é também o seu final. Se souberdes lê-lo, achareis a suprema sabedoria. (Autoconhecimento, Correto
Pensar, Felicidade, pág. 82)

(…) No autoconhecimento, o primeiro passo é o último passo, o começo é o fim. (…) Ninguém pode ensinar-vos “autoconhecimento”: vós tendes de descobri-lo sozinho; (…) (Visão
da Realidade, pág. 164)

Quanto mais uma pessoa se conhece, tanto mais clareza existe. O autoconhecimento é infinito; nunca se chega a um arremate, (…) a uma conclusão. É um rio sem fim. Estudando-o
e penetrando-o mais e mais, encontramos a paz. Só quando a mente está tranqüila - em virtude do autoconhecimento e não de autodisciplina imposta, só então, nessa tranqüilidade,
nesse silêncio, pode manifestar-se a realidade. Só então pode haver bem-aventurança, ação criadora (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 31)

(…) Por conseguinte, o autoconhecimento é o começo da sabedoria. A sabedoria não se compra nos livros; a sabedoria não é experiência, (…) não é acumulação (…) de virtude,
nem o evitar o mal. A sabedoria só vem pelo autoconhecimento, pela compreensão (…) de todo o processo do eu. (Viver sem Confusão, pág. 32)

Há grande alegria no compreendermos e descobrirmos o que somos, o integral conteúdo de nós mesmos, minuto a minuto. O autoconhecimento é o começo da sabedoria. Sem
autoconhecimento nada podeis conhecer - ou, se conheceis algo, dele fareis mau uso. (…) Se observais passivamente, a coisa que observais começa a desdobrar-se e há então
compreensão, a qual se renova momento a momento. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 78-79)

(…) A verdade só está presente na mente de todo silenciosa. A verdade não é coisa que possa ser procurada, experimentada, conservada e adorada. Só é possível “experimentar” o
atemporal, quando a mente está liberta de todo condicionamento. Assim, o autoconhecimento é a compreensão do condicionamento. (Idem, pág. 136-137)
É por isso que, como disse, importa compreender o processo, as tendências de nosso pensar. O autoconhecimento não pode ser adquirido de outra pessoa, de um livro, de uma
crença, da psicologia, ou do psicanalista. Ele tem de ser achado por vós mesmos, porque é vossa vida; e sem ampliar e aprofundar esse conhecimento do “eu”, o que quer que
façais (…) será sempre um terreno propício ao desespero, à dor e ao sofrimento. Para ultrapassardes as atividades egocêntricas da mente, precisais compreendê-las; e
compreendê-las significa estar cônscio da ação na relação (…) com as pessoas e as idéias. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 72)

Afinal, se desejais compreender qualquer coisa, precisais ficar numa disposição passiva (…) Precisais ficar num estado de sensibilidade suficiente para receberdes o seu conteúdo.
(…) Nesse processo, começamos a compreender a nós mesmos - não apenas as camadas superficiais de nossa consciência, mas também as camadas mais profundas, o que é muito
mais importante, porque lá estão todos os nossos impulsos ou intenções, ocultas pretensões, ansiedades, temores e apetites. Externamente, podemos ter todas essas coisas sob
controle, mas, interiormente, estão em efervescência. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 76-77)

(…) Assim, pois, o começo da liberdade está no autoconhecimento, e o autoconhecimento não se acha na fuga à vida, mas, sim, nas relações de nossa existência de cada dia. As
relações são o espelho em que nos podemos ver como de fato somos, sem desfiguração alguma; (…) Só então a mente se torna quieta, silenciosa. (…) (Visão da Realidade, pág. 143)

Esse autoconhecimento não pode ser aprendido de outrem. Eu não posso dizer-vos o que ele é. Mas pode-se ver como a mente opera, não apenas a mente que está ativa todos os
dias, porém a totalidade da mente - a mente consciente e a mente oculta. Todas as numerosas camadas da mente têm de ser percebidas, investigadas, mas não pela introspecção. A
auto-análise não revela a totalidade da mente, porque há sempre a separação entre o analista e a coisa analisada (…)(Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 54)

Sem sondarmos profundamente em nós mesmos, é impossível o autoconhecimento. (…) Sem essa sondagem de nós mesmos, sem essa vigilância profunda, não pode existir
compreensão. (…) A função da mente não é apenas de sondar, penetrar, senão também de estar silenciosa. No silêncio, existe compreensão. Nós estamos sempre sondando, porém
raramente em silêncio; em nós, são raros os intervalos de tranqüilidade vigilante e passiva. Sondamos e cedo nos fatigamos, porque nos falta o silêncio criador. (…) Se penetrarmos
profundamente em nós mesmos e ficarmos, então, tranqüilos, nessa tranqüilidade, (…) receptividade, está a compreensão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 246-247)

Se tendes o laboratório, inteirinho, dentro de vós mesmo, por que quereis “estudar o homem”? Estudai-vos, o ente humano total, toda a complexidade, e beleza, e sensibilidade em
vós existentes. (…) Resumis a humanidade. (…) Pensais que, lendo os livros escritos sobre o homem, mergulhando em estudos sociais, vos compreendereis? Não seria muito mais
simples começardes em vós mesmo? (…) Em vosso interior, tendes toda a história humana (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 37-38)

O relevante é que a mente - resultado do tempo - comece a investigar a si mesma (…) É só quando começa a investigar a si própria que a mente se torna cônscia de seus processos e
do significado de seu pensar. (…) Se bem compreenderdes isso, vereis que a mente se tornará sobremodo tranqüila, não apenas a mente consciente, mas também a mente
inconsciente, com toda a sua herança, seus motivos, dogmas e ocultos temores. Mas só se verifica essa tranqüilidade total da mente quando há a tremenda energia do
autoconhecimento. É o autoconhecimento que traz essa energia (…) (O Homem Livre, pág. 151)

Mas o autoconhecimento não é “cumulativo”, é o descobrimento do que sois de momento a momento. A mente está então tranqüila, e nessa tranqüilidade há grande beleza, da qual
nada sabeis. Há nela um espantoso movimento que destrói a germinação da mente. Esse silêncio tem uma atividade própria, seu modo próprio de atuar sobre a sociedade, e ele
produzirá ação (…) Graças a essa compreensão, há o verdadeiro “abandono” (passividade) e só então se apresenta esse extraordinário sentimento de silêncio. (Idem, pág.
151-152)

A mente livre do temor é uma mente criadora; e essa mente, graças ao percebimento, (…) ao autoconhecimento, não pode perder a Realidade. A mente só pode ser livre em virtude
do autoconhecimento - não o autoconhecimento de especialista, (…) de Ramanuja, ou Buda, ou Cristo; tal conhecimento não é autoconhecimento. (…) Entretanto, não podeis estar
cônscios do processo total, ver a plenitude desse percebimento, se comparais, se escolheis (…) (As Ilusões da Mente, pág. 46)

O importante, pois, é que se perceba a verdade num súbito clarão, que se esteja sensível num tão alto grau, que o fato revele instantaneamente a verdade. Mas isso requer muita
humildade; (…) (Visão da Realidade, pág. 239)

Assim, essa compreensão de nós mesmos não significa que devamos retirar-nos da vida, ingressando num mosteiro, ou recolhendo-nos em alguma espécie de meditação religiosa.
Pelo contrário, compreender a nós mesmos é compreender as nossas relações com as coisas, com as pessoas e com as idéias. (…) (Viver Sem Confusão, pág. 53)

O autoconhecimento, pois, só pode vir pelas relações e não pelo isolamento. Relações significam ação, e o autoconhecimento é resultado de um lúcido percebimento na ação. (…)
Não tendes ninguém que vos ensine a maneira de começar - nem guru, nem livro, nem instrutor (…) Só podeis começar por vós mesmos (…) O mero citar autoridades não
representa autoconhecimento, descobrimento do “processo” do “eu”, e, por conseguinte, de nada vale. Tendes de começar como se nada soubésseis, pois só assim realizareis um
descobrimento fecundo e libertador; só assim, encontrareis, com o vosso descobrimento, a felicidade e a alegria. (…) (A Arte da Libertação, pág. 27)

Vemos, pois, que a transformação do mundo decorre da transformação de nós mesmos; (…) Para transformarmos a nós mesmos é essencial o autoconhecimento; (…) Cada um
precisa conhecer a si mesmo, tal como é, e não como deseja ser. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 74-75)

Assim, para conhecerdes a vós mesmos, é preciso lucidez, vigilância, por parte da mente, com completa isenção de crenças e idealizações, pois as crenças e os ideais são óculos de
cores que perturbam a nítida percepção. (…) (Idem, pág. 75)

(…) Por conseguinte, o autoconhecimento é o começo da sabedoria, e podemos encontrá-la sem ler um livro, sem recorrer a um guia ou seguir um iogui. Exige ele enorme
persistência e vigilância mental, e asseguro-vos que, ao começardes a explorar-vos, encontrareis um deleite e um êxtase incomparáveis. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 84)

(…) O autoconhecimento advém com a percepção isenta de escolha e, quando o desejo já não perverte o pensamento-sentimento, então, nessa plenitude, em que a mente se acha
totalmente tranqüila, criadoramente vazia, o Supremo se manifestará. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 154)

Vigilância Passiva, Percebimento Livre, Alerta


Para que sejamos capazes de observar a nós mesmos, de ver como opera nosso pensamento, precisamos estar sobremodo vigilantes. Assim, começando a perceber cada vez melhor
as complexidades do nosso pensar e das nossas reações e sentimentos, teremos uma compreensão mais clara, não só de nós mesmos, como dos outros, com quem estamos em
relação. Conhecer a si mesmo é estudar a si mesmo em ação, que é relação. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 30-3l)

Que entendemos por vigilância? Estar vigilante é saber que eu estou de pé aqui, e vós sentados aí. Temos consciência das árvores, das pessoas, dos ruídos (…) Mas, se penetrarmos
um pouco mais fundo, tornamo-nos cônscios de que a mente está reconhecendo, registrando, associando, verbalizando, dando nomes; está constantemente a julgar, condenar,
aceitar, rejeitar, e o perceber esse processo (…) faz também parte do estado de vigilância. (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 14-15)

Se nos aprofundarmos mais ainda, começamos a perceber os motivos ocultos, o condicionamento cultural, os impulsos, as compulsões, as crenças, a inveja, o medo, os preconceitos
raciais, que se acham sepultados no inconsciente e dos quais em geral não estamos cônscios. (…) A vida, pois, é a percepção desse processo em operação, tanto na consciência
exterior como na consciência que está oculta; e podemos estar cônscios dele nas relações, quando sentados à mesa, quando comemos, quando viajamos num ônibus. (Idem, pág. 15)

Ora, existe alguma coisa além disso? A vigilância é algo mais do que o mero percebimento do processo da consciência? Esse “algo mais” não poderá ser descoberto se não
tiverdes compreendido todo o conteúdo de vossa consciência, por que todo desejo de achar “algo mais” será sempre mera projeção dessa consciência. Assim sendo, deveis em
primeiro lugar compreender a vossa própria consciência, (…) o que sois, e só podeis compreender o que sois quando estais vigilante, o que significa: verdes a vós mesmos no
espelho das relações. (…) (Idem, pág. 15)

Se um indivíduo deseja compreender um problema vital, não deve pôr de lado suas tendências, seus preconceitos, temores e esperanças, o seu condicionamento, e ficar vigilante,
simples e diretamente? Considerando, em conjunto, os nossos problemas, estamo-nos revelando a nós mesmos. Essa auto-revelação é de grande importância, porquanto nos
desvendará o processo de nossos próprios pensamentos-sentimentos. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 200-201)
(…) E se estais verdadeiramente vigilantes, estais também cônscios de como reagis a essas coisas, não só à superfície, mas também profundamente. Tendes certos valores, ideais,
“motivos”, impulsos, em diferentes níveis do vosso ser; e estar cônscios de tudo isso faz parte do estar vigilante. Julgais o que é bom e o que é mau, o que é correto e o que é
errado; condenais, avaliais, em conformidade com vosso background, isto é, conforme a educação que recebestes e o meio cultural (…) Perceber tudo isso faz parte do estar
vigilante, não? (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 246)

(…) A função da mente não é apenas de sondar, penetrar, senão também de estar silenciosa. No silêncio existe compreensão. Nós estamos sempre sondando, porém raramente em
silêncio; em nós, são raros os intervalos de tranqüilidade vigilante e passiva. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 246)

Assim, pois, pela vigilância (…) de cada um de seus pensamentos-sentimentos, vem-se a conhecer e compreender as tendências do “ego”. Essa autovigilância, com a respectiva
auto-observação e vigilante passividade, lhe proporcionará um conhecimento de si mesmo profundo e vasto. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 31-32)

(…) Com a constante vigilância de nós mesmos, surge uma observação passiva, o estudo do “eu” sem julgamento. Por meio dessa vigilância, descobriremos e compreenderemos as
múltiplas camadas da própria consciência. Do conhecimento de nós próprios, dimana o correto pensar (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 54)

Estar numa vigilância constante, dia a dia, momento a momento, sem tirar nem guardar nenhuma conclusão; estar vigilante nas relações, sem julgamento, sem comparação, com
uma lucidez constante - isso requer muita persistência. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 26)

São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é afirmação do “eu”, tal como o é a imitação. Chegar a uma conclusão é levantar (…) uma muralha ao redor de si mesmo
(…) Quando não há acumulação, não existe “eu”. Uma mente oprimida pela acumulação é incapaz de acompanhar o célere movimento da vida, (…) de uma vigilância profunda e
flexível. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 249-250)

Vigiai a vós mesmos, e isso vos revelará os móveis ocultos da imitação - a inveja, o temor, o anseio de segurança, de poder, etc. Essa vigilância, quando livre de auto-identificação,
traz a compreensão e a tranqüilidade que nos levam à realização da suprema sabedoria. (Idem, pág. 254)

O “eu” não é uma entidade estática, porém muito ativa, hábil e vigilante (…) na busca de seus objetivos; para seguir e compreender o movimento contínuo do “eu”, é necessária
uma mente-coração penetrante e flexível, (…) capaz de intensa auto-vigilância. Para compreender, deve a mente penetrar fundo, devendo (…) saber quando manter-se
vigilantemente passiva. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 30)

(…) Para descobrirmos a verdade, devemos estar passivamente vigilantes. Uma vez que somos medrosos ou estamos fechados, devemos dar-nos conta das causas que criam a
resistência (…) do desejo de perpetuação do “ego”, causador do conflito. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 225)

(…) Essas experiências (…) Só servem para fomentar a expansão do ego e de sua inteligência peculiar. Mas, volvamos ao nosso problema: Como pode ser eliminada essa
inteligência que cultivamos tão diligentemente? Ela só pode ser eliminada pela vigilância passiva. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 231)

Começais (…) por estar vigilantes em tudo o que fazeis. (…) Quanto maior vigilância sobre vós mesmos, tanto mais recolhidos em vós próprios vos tornais; fazei-vos mais
silenciosos, mais intensos na percepção. (…) Ao tornar-nos cônscios das ações e reações, não só interiores, senão (…) das superficiais, cessarão naturalmente todas as aflições, e
uma vida simples inevitavelmente despontará. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 64)

(…) Só pela vigilância, pela percepção, pode o pensamento transcender a si próprio, e não pela vontade, a qual é outra forma do desejo de auto-expansão (…) Assim como um lago
fica sereno quando cessam os ventos, assim também fica a mente tranqüila depois de cessarem os seus problemas. (…) Enquanto não cessarem os problemas criados pelo “ego”,
não pode haver tranqüilidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 242-243)

(…) Estar cônscio do que é, sem fugir para ilusões e fantasias, é o começo da compreensão. Devemos importar-nos com o que é (…) com o que existe - o anseio de auto-expansão -
sem procurar transformá-lo, porque transformar é ainda ansiar, que é ação do “ego”. A própria percepção do que existe traz-nos a compreensão. O estar vigilante, a cada
momento, traz-nos a sua luz própria. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 224)

O importante é romper essa muralha de condicionamento, de hábito. E muitos de nós achamos que poderemos rompê-la por meio da análise, quer feita por nós mesmos, quer por
outrem; mas isso não é possível. A muralha do hábito só pode ser rompida quando a pessoa está completamente cônscia, sem escolha, negativamente vigilante. (O Homem e seus
Desejos em Conflito, pág. 164)

A vigilância leva-nos à meditação; na meditação dá-se a união com o Ser, com o Eterno. O “vir-a-ser” nunca poderá transformar-se no Ser. “Vir-a-ser” é expansão do “ego”, é
reclusão, e é necessário se detenha essa atividade; veremos, então, manifestar-se o Ser. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 271)

(…) Só quando o pensamento, pela diligente vigilância de si mesmo, se liberta do vir-a-ser, do passado, só quando está totalmente tranqüilo, existe o Atemporal. (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 143)

(…) A vigilância é a verdadeira meditação, e sem meditação não pode haver autoconhecimento. (…) Quanto maior for o nosso interesse, tanto maior é a nossa capacidade para
sondar e perceber. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 260)

(…) A autovigilância e a verdadeira meditação revelarão o processo do vir-a-ser. A meditação não é um meio de cultivar o que quer “vir a ser”, porquanto o autoconhecimento
elimina o meditador, o que quer vir a ser. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 178)

(…) Esse autoconhecimento pela vigilância passiva, é de cada momento presente e, pois, sem acumulação; ele é infinito, verdadeiramente criador. Pela vigilância, vem-nos a
capacidade para receber a Verdade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 237)

A vigilância (…) não é efeito cumulativo de lembranças autoprotetoras. A vigilância não é determinação, nem ação da vontade. A vigilância representa uma rendição completa e
incondicional à realidade, sem racionalização, sem separação entre observador e coisa observada. Sendo (…) não acumuladora, não residuária, ela não constrói o “ego” (…) (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 231-232)

(…) O autoconhecimento é o começo da sabedoria, e sem esse autoconhecimento não podemos prosseguir e buscar o absoluto, (…) Deus, a verdade (…), é simples busca de uma
satisfação projetada de nós mesmos. Por conseguinte, precisamos começar perto de nós, examinando cada palavra que pronunciamos, cada gesto, nossa maneira de andar, de
comer - dando atenção a tudo, sem condenação. Então, nessa vigilância, conhecer-se-á o que tem existência real, o que é (…) o que constitui o começo da libertação. (…) (Que
Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 54)

Assim sendo, vereis como é extraordinariamente criadora a vigilância (…) o homem vigilante compreende diretamente o que “é”, e nessa compreensão do que “é” ocorre uma
transformação extraordinária (…) instantânea, que é criação. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 106-107)

(…) pela autovigilância e pelo autoconhecimento vem o reto pensar; é somente então que o pensamento é capaz de transcender as camadas condicionadas da consciência. A
meditação é então o “ser”, o qual tem seu próprio movimento eterno; é a própria criação. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 184)

Pergunta: Qual é a diferença entre introspecção e vigilância?

Krishnamurti: A introspecção começa quando há desejo de modificar o “eu”. (…) Se sou infeliz, observo-me interiormente a fim de descobrir a causa da infelicidade. Introspecção
significa (…) transformar-se em conformidade com as exigências ambientes ou religiosas. (…) Nesse processo existe condenação. Não gosto disso e quero tornar-me aquilo. Sou
ávido e preciso transformar-me em não-ávido. Toda experiência é traduzida de acordo com o padrão do “eu”, que está sempre a examinar, a traduzir, a interpretar, a rejeitar as
coisas que lhe desagradam, e a aceitar as que deseja. A introspecção, pois, é uma luta contínua por modificar o que é, ao passo que a vigilância significa o reconhecimento do que
é, e, portanto, a compreensão do que é. É só quando estais tranqüilos que começa a descerrar-se o que é. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 105)
Disse eu que, para nos compreendermos completamente, torna-se necessário certo percebimento, o percebimento de nós mesmos tais como somos; e não podemos ter esse
percebimento, se condenamos ou justificamos o que vemos em nós. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 79)

Assim, para compreendermos a nós mesmos - por nobres ou ignóbeis, sensíveis ou insensíveis que sejamos - é preciso percebimento. Esse percebimento implica que não deve haver
justificação, nem condenação, nem comparação, justificação, que estão dentro da esfera do tempo; são ditadas pelo nosso condicionamento. (…) (Idem, pág. 79)

Percebimento significa estardes plenamente cônscio de vossas reações ao vos defrontardes com um fato. Significa observar todas as vossas reações aos “desafios” - (…) os desafios
de cada dia. (…) (Idem, pág. 80-81)

Ora, para se poder estar cônscio, sem escolha, desse processo total, necessita-se de um estado mental negativo; (…) O estado positivo é aquele que condena, julga, avalia, aprova,
nega, concorda ou discórdia, e ele é resultado de vosso particular condicionamento. Mas o processo negativo não é o oposto do positivo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª
ed., pág. 81)

Se desejais compreender (…) deveis escutar negativamente, não? “Escutar negativamente” significa não aceitar nem rejeitar o que se diz, nem compará-lo com o que está escrito
na Bíblia, ou com o que diz o analista. Escuta-se simplesmente. Nesse “escutar negativo”, estais cônscios de vossas próprias reações, sem julgá-las; por conseguinte, começais a
compreender a vós mesmo (…) (Idem, pág. 81)

O percebimento, pois, é um estado de atenção sem escolha. (…) Todos os problemas humanos emanam desse centro extraordinariamente complexo e vivo que é o “eu”, e o homem
que deseja descobrir seus sutis movimentos, tem de estar negativamente cônscio, observando sem escolher. Todo esforço para ver, desfigura o que se vê (…) não há ver. (Idem, pág.
81-82)

Ouvis certa palavra e vossa mente vos diz que é um insulto, vossos sentimentos vos dizem que ela é desagradável; mais uma vez vossa mente intervém, para controlar, justificar, etc;
e, de novo, o sentimento entra em ação, no ponto em que a mente se deteve. Dessa maneira, um fato provoca uma reação em cadeia, de diferentes partes de vosso ser. (Idem, pág.
57)

O que ouvistes dizer foi dividido e, se vos concentrais num desses fragmentos, perdeis de vista o “processo total” do ouvir aquela palavra. O ouvir pode ser fragmentário ou pode
afetar-se com todo o vosso ser, (…) totalmente. Assim, por “percepção do todo”, entende-se percepção com os olhos, (…) os ouvidos, (…) o coração, (…) a mente; em vez de
percepção com cada uma dessas coisas, separadamente. É atenção integral. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 57)

Para se descobrir isso, é necessário investigar o que é percebimento. E também, cumpre descobrir o que é “estar atento” (…) E, assim conscientes, começais a descobrir por vós
mesmos, sem a ajuda de nenhum pregador, (…) instrutor, (…) livro, (…) filosofia, (…) teólogo, sacerdote ou psicólogo - começais a descobrir a natureza e a estrutura de vosso
próprio “eu” (…)

Só nessa atenção pode a virtude florescer. E, havendo essa atenção, descobrireis que dela resulta a solidão completa (…) Essa solidão é a essência mesma da consciência do “eu”
(…) Porque é só nessa solidão que a mente já não é um joguete do pensamento (…) Só essa inocência pode descobrir o novo, aquilo que é sempre novo, atemporal. (…) (A Essência
da Maturidade, pág. 105-106)

(…) Ao perceberdes a verdade aí contida, está dissolvido o passado; (…) Deveis perceber a verdade de que o passado não pode traduzir o presente. Só a verdade descondiciona
completamente; e perceber a verdade do “que é”, requer enorme atenção. Uma vez que não há atenção completa enquanto há distração, que se entende por distração? Ocorre
distração quando, dentre vários interesses, escolhemos um só e nele fixamos a nossa mente, porque então a todo interesse que afaste a vossa mente do interesse central chamais
distração. (…) (A Arte da Libertação, pág. 119)

Uma percepção alerta e sem opções implica dar conta de tudo, tanto exterior como interiormente, sem preferir coisa alguma. Simplesmente perceber as árvores, as montanhas, a
natureza - só perceber. Não escolher, dizendo: “Gosto disto”, “Não gosto daquilo”, ou, “Desejo isto”, “Não desejo aquilo”. É observar sem o observador. O observador é o
passado, o qual se acha condicionado e sempre está olhando a partir desse condicionado ponto de vista; em conseqüência, há agrado, desagrado (…) Estar alerta sem opiniões
significa observar tudo quanto nos rodeia (…); simplesmente perceber, (…) observar sem que nessa observação haja decisão, vontade ou preferência. (La Totalidad de la Vida, pág.
176)

Qual é a natureza do pensamento, que cessa quando há completa atenção e surge quando não há atenção? É preciso compreender o que é estar alerta, de outro modo não se poderá
entender completamente o significado da atenção. Há uma idéia de percepção alerta, ou fica o indivíduo alerta? Existe diferença entre a idéia de estar alerta e o estar alerta. Estar
“alerta” implica ser sensível, perceber vivamente as coisas ao redor, a natureza, a gente, a cor, as árvores, o meio circundante, a estrutura social, econômica, a coisa em sua
totalidade; implica conhecer, observar, estar sensivelmente atento a tudo quanto sucede no externo; e também ao que sucede psicologicamente, no interno. (…) (La Totalidad de la
Vida, pág. 217)

(…) Se não estamos atentos ao que sucede externamente, e começamos a ficar atentos internamente, tomamo-nos na verdade neuróticos. Porém, se o indivíduo começa a dar-se
conta, o máximo possível, do que exatamente está ocorrendo no mundo, e logo a partir daí se move para o interno, então há equilíbrio (…) Começa o indivíduo por estar atento ao
que sucede fora, e depois se move no interno - um movimento constante, como o fluxo e o refluxo da maré - e desse modo não há engano possível, há discernimento. (Idem, pág.
217)

Para descobrir o que é a percepção alerta, devemos investigar a questão da ordem e da desordem. Vê-se que exteriormente existe muitíssima desordem, confusão e incerteza. O que
há produzido essa incerteza, desordem? Quem é o responsável? Nós mesmos? (…) Portanto, se o indivíduo se sente responsável pela desordem externa, não é por acaso essa
desordem uma expressão originada da própria desordem interna? (Idem, pág. 218)

(…) como dissemos outro dia, o primeiro passo é o último passo. A primeira percepção é a última percepção, e a cessação da primeira percepção é a nova percepção. (…) Nesse
intervalo não há movimento de pensar. Haveria movimento do pensar se subsistisse a recordação da primeira percepção (…) Não pode a mente esvaziar-se de cada percepção? Não
pode morrer para cada expressão? E quando o faz, onde fica a raiz do “eu sou”? Quando a mente é isso, há algum padrão em movimento? (Tradición y Revolución, pág. 75-76)

(…) o ato de perceber é luz para a mente. Ela não se interessa mais na percepção, porque, se se interessa, essa percepção se converte em recordação. Pode a mente, que vê algo
com absoluta claridade, terminar com essa percepção? Então, aqui o primeiro passo é o último passo. A mente está fresca para olhar. (…) (Tradición y Revolución, pág. 47)

(…) Há uma percepção que é chama, que há destilado a essência (…) Só existe a essência. Então, essa essência pode atuar ou pode não atuar. Se atua, não tem nenhuma classe de
fronteiras. Não há um “eu” atuando. Isso é óbvio. (Tradición y Revolución, pág. 210)

Por certo. Veja a beleza disso. Esqueça-se da ação. Veja o que há ocorrido em você. A percepção sem nenhuma qualificação é uma chama. Destila tudo o que percebe. (…) Não é
uma percepção sensorial. (…) Porém nessa ação não há um “eu”, não existe motivo algum. (Idem, pág. 411)

Auto-análise, Psicanálise; Autoridade, Ineficácia


O extraordinário estado que a verdade revela - a imensidão da Realidade - não vos pode ser dado por outrem. Não há autoridade, não há guia. Tendes de descobri-lo por vós
mesmo e dar, assim, algum sentido a esse caos que chamamos de “vida”. É uma jornada que deveis fazer completamente só (…) Só podeis iniciar essa jornada depois de
perceberdes claramente a verdade de que tendes de viajar completamente só - e percebê-lo é estar só; (…) por verdes o fato de que é absolutamente necessário caminhar só. (A
Mente sem Medo 1ª ed., pág. 14)

Para aprenderdes a respeito de vós mesmo, para conhecer-vos, deveis observar-vos num “estado de novo”, de liberdade. Nada podeis aprender sobre vós mesmo pela mera
aplicação de conhecimentos, isto é, observando-vos com os conhecimentos adquiridos de algum instrutor, de algum livro ou de vossa própria experiência. (…) Uma vez
compreendida, percebida a sua verdade, já estais liberto de pesado fardo; deixastes de contar com os outros para vos dizerem o que deveis fazer. Já está então em começo a
liberdade, com seu inefável perfume! (Idem, pág. 14)

Há, de certo, diferença entre percepção e análise. A análise poderá ajudar-vos a ajustar-vos à sociedade, a remover algumas de vossas peculiaridades, de vossas idiossincrasias, de
vossas neuroses; (…) Estamos falando de coisa muito mais fundamental do que o mero ajustamento a uma sociedade corrompida. Análise supõe analista e coisa analisada. O
analista é o censor, o juiz que examina, que interpreta, que condena ou aprova o que está vendo, e, por conseguinte, cria mais conflito. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág.
26)

Para mim, a auto-análise frustra a ação, destrói a plenitude da vida. Talvez não concordeis com isso, mas, por favor, ouvi o que tenho a dizer (…) Digo que esse contínuo processo
de auto-análise, que é autodisciplina, constantemente põe limitação ao fluxo livre da vida, que é ação. Pois a autodisciplina se baseia na idéia do conseguimento, não na idéia da
plenitude da ação. Vedes a distinção? Numa, há uma série de consecuções, e, portanto, uma finalidade, enquanto, na outra, a ação é oriunda do discernimento, e tal ação é
harmoniosa e, por isso, infinita. (…)(Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 39-40)

Ora, ninguém pode compreender a si próprio mediante auto-exame, introspecção, análise. (…) A mente, de modo nenhum, pode compreender a si própria por meio de análise,
porque, na análise, há separação entre o analista e a coisa analisada, e, por conseguinte, conflito crescente e contínuo. Toda análise, todo esforço de sondagem, indagação,
pesquisa, parte do centro, já condicionado, carregado das acumulações do tempo, que é o conhecido. Por mais que tente penetrar o inconsciente, o analista faz sempre parte do
“conhecido”. (Experimente um Novo Caminho, pág. 42)

(…) Portanto, senhor, eu quero me entender. Não sei o que sou; realmente não sei. Devo descobrir. (…) Devo aprender sobre mim mesmo, não de acordo com o que os outros dizem,
os peritos, os psicólogos, os analistas, os freudianos, e os junguianos, e todos os demais. (…) Por favor, veja a importância disto. Não de acordo com profissionais; eles podem estar
errados ou certos. (…) (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 112)

Como sabeis, os próprios discípulos de Freud e de Jung, e os analistas, estão começando a modificar suas idéias. Começam a achar que não é necessário levar meses e anos a
analisar um indivíduo (…) Isso custa muito dinheiro; só os ricos podem fazer tais despesas. Por isso, andam à procura de novos métodos. Em vez de fazerem o paciente “tagarelar”,
dia a dia, mês a mês, alguns deles estão experimentando drogas, agentes químicos, secundados por um método de acesso direto, pessoal. (…) (O Passo Decisivo, pág. 72-73)

(…) No trabalho de análise, a menos que o analista seja muito cauteloso, observando minuciosamente e nunca deformando o que observa, está arriscado a deixar passar ou a
interpretar falsamente alguma coisa, e o exame subseqüente acentuará mais ainda o erro. Prestai atenção a isso e vereis que a análise, a “retalhação”, não é a maneira correta de
proceder. Tampouco o é o controlar, o fugir. (Idem, pág. 73)

De que maneira podem ser trazidos à luz os temores ocultos? Podemos conhecer os temores conscientes (…); mas há os temores ocultos, talvez muito mais importantes. (…) Podem
eles ser revelados pela análise, pela investigação da causa? Pode a análise libertar a mente do medo, não de um dado temor neurótico, mas da estrutura do medo? Na análise está
implicado não apenas o tempo, mas também o analista; e ela exige muitos e muitos dias, anos, talvez a vida inteira; (…) (Fora da Violência, pág. 59)

(…) Se fôssemos indivíduos neuróticos (e talvez a maioria de nós seja um pouco desequilibrada), um pouquinho de análise poderia ser de alguma utilidade, mas o descobrimento da
causa, a análise de um fato, não nos liberta dele. No descobrir o fato e dar-lhe toda a atenção, não há análise, nem há intervalo de tempo para examinar, investigar a sua causa.
Quando aplicamos nossa atenção, total e completamente, e, por nós mesmos, aprendemos ou descobrimos “o que é”, ocorre em nós uma extraordinária revolução. (…) Na atenção,
não há pensamento; não há tempo; não há observador e objeto observado. (…) (O Mistério da Compreensão, pág. 64)

Pergunta: É hoje um fato definitivamente estabelecido que muitas de nossas doenças são de natureza psicossomática, causadas por profundas frustrações e conflitos interiores de
que muitas vezes não estamos cônscios. Devemos agora correr para os psiquiatras ou há um caminho pelo qual o homem pode libertar-se de sua agitação interior? (Realização sem
Esforço, pág. 29-30)

Krishnamurti: Isso suscita a pergunta: Qual a posição dos psicanalistas? (…) A doença é produzida por nossas perturbações emocionais (…)? Quase todos estamos confusos,
agitados, mesmo os mais prósperos e, como não sabemos de que maneira atender às perturbações, elas reagem inevitavelmente no nosso físico, produzindo doença. (…) E a questão
fica sendo: Devemos correr para os psiquiatras para nos ajudarem a livrar-nos de nossos distúrbios e recuperar a saúde, ou é possível descobrirmos por nós mesmos como não nos
deixarmos perturbar, (…) agitar por ansiedades e temores? (Idem, pág. 30)

Ora bem, podemos, vós e eu, libertar-nos de toda essa agitação e confusão? A confusão existe somente quando há o fato e mais aquilo que eu penso a respeito do fato: minha
opinião relativa ao fato, minha desatenção ao fato, minha fuga ao fato, minha avaliação do fato, etc. Nossas opiniões, nossas crenças, nossos desejos, nossas ambições, são tão
fortes, e tão grande o seu peso, que somos incapazes de olhar o fato. (Realização sem Esforço, pág. 30-31)

Podemos, então, individualmente, ficar cônscios de nossa confusão, nossa agitação, e “viver com ela”, compreendê-la, sem procurar livrar-nos dela, afastá-la, fugir dela?
Enquanto ficarmos a (…) condená-la, fugir-lhe, essa própria condenação, (… ) fuga constitui o “processo” de confusão. (…) (Idem, pág. 32)

Que subentende o processo de auto-análise? Quando vos analisais, há divisão entre o observador e o objeto observado (…) E o observador está tão condicionado com aquilo que
observa; há pois, conflito entre ambos, entre o analista e a coisa analisada. O analista está sujeito a interpretar erroneamente o que está examinando e, se resiste a dado hábito ou
procura transformá-lo de acordo com suas idiossincrasias, etc., com isso só dará mais força ao hábito. Por conseguinte, a auto-análise não é, tampouco, o caminho que se deve
seguir. Que fazer então? (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 163)

Tende presente (…) que estamos falando sobre como abrir o livro do inconsciente, para trazer à luz todo o seu conteúdo. A análise por parte do profissional não é a maneira correta
de abri-lo (…) E, como já expliquei, a análise introspectiva também não é o caminho correto. (…) (Idem, pág. 163-164)

E que significa isso, senhor? Se já não estais enredado nessa falaciosa idéia da análise, só há então observação (…) Só há o estado de ver, sem estar traduzindo o que se vê. Então,
vedes apenas. (Idem, pág. 164)

Portanto, digo, a auto-análise, a análise para descobrir a causa no passado, é falsa. Nunca a podeis descobrir pelo exame do que está morto, mas só do que está vivo; e o que está
vivo sempre se acha no presente e não no passado. O que precisais fazer é defrontar o presente com pleno conhecimento. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 121)

A auto-análise e o apercebimento são duas coisas diferentes; uma é mórbida, enquanto o apercebimento é alegre. A auto-análise ocorre depois que a ação passou; além dessa
análise, a mente cria um padrão a que a futura ação é forçada a se conformar. Assim, surge uma rigidez de pensamento e ação. A auto-análise é a morte e o apercebimento é a vida.
A auto-análise somente conduz à criação de modelo e à imitação, assim não há libertação do cativeiro e do malogro. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 147-148)

(…) O apercebimento está no momento da ação; se estamos apercebidos, entendemos compreensivamente, como um todo, a causa e o efeito da ação, o processo imitativo do medo,
suas reações, etc. Esse apercebimento liberta o pensamento das causas e influências que o limitam e prendem, sem criar mais cativeiro, e assim o pensamento torna-se
profundamente flexível, o que é ser imortal. A auto-análise ou a introspecção ocorrem antes ou depois da ação, preparando, assim, o futuro e limitando-o. Apercebimento é em
constante processo de libertação. (Idem, pág. 148)

E há também a autocrítica. Criticar a si mesmo, condenar ou justificar a si mesmo, traz a compreensão de si mesmo? (…) A introspecção, que é uma forma de autocrítica, nos
revela o “eu”? O que torna possível a revelação do “eu”? A constante atitude analítica, meticulosa, crítica, não concorre, naturalmente, para revelá-lo. O que traz a revelação do
“eu”, em virtude do qual começamos a compreendê-lo, é o constante percebimento dele, sem condenação e sem identificação alguma. Tem de haver espontaneidade; não podeis
estar constantemente a analisá-lo, a discipliná-lo, a moldá-lo. (…) (A Primeira e Última Liberdade, pág. 198)

Para ficar livre da contradição, precisa a pessoa estar cônscia do presente, sem escolha. (…) Assim, pois, o autoconhecimento é o começo da compreensão; (…) Conhecer o
processo integral, a totalidade de nós mesmos, não requer a ajuda de nenhum especialista, nem de nenhuma autoridade. O seguimento da autoridade só gera o temor. Nenhum
técnico, (…) especialista pode ensinar-vos a compreender o processo do “eu”. Cada um precisa estudá-lo por si mesmo. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 39)

(…) E, a meu ver, nenhum analista pode resolver esse problema. Poderá ajudar-vos temporariamente a acomodar-vos a certo padrão social, a que ele chama “existência normal”,
mas o problema é muito mais profundo e ninguém, senão vós mesmos, pode resolvê-lo. Vós e eu fizemos esta sociedade; (…) e enquanto ficarmos meramente a procurar reformar o
produto, sem compreensão da entidade que o produziu, teremos mais doenças, mais caos e mais delinqüência. A compreensão do “eu” produz sabedoria e ação correta. (Realização
sem Esforço, pág. 52)

Antes de entrarmos nessa questão (…) A análise nada tem que ver com a observação, com o ver. Na análise, há sempre o analista e a coisa analisada. O analista é um fragmento
dentre os muitos fragmentos de que somos compostos. Um fragmento assume a autoridade, como analista, e começa a analisar. Ora, que é que isso implica? (Fora da Violência,
pág. 23)

O analista é o censor, a entidade que se presume dotada de saber e, por conseguinte, autorizada a analisar. A menos que ele analise de modo completo, exato, sem nenhuma
deformação, sua análise não terá valor algum. (…) A análise não implica um só analista separado da coisa analisada, mas também o tempo. A pessoa tem de analisar
gradualmente, peça por peça, toda a série de fragmentos de que é constituída, e isso leva anos. E, quando se faz uma análise, a mente deve estar perfeitamente clara e livre. (Idem,
pág. 23)

Há, pois, várias coisas implicadas nesta questão: o analista - um fragmento que se separou dos outros fragmentos e diz: “Vou analisá-los”; e também o tempo - dia após dia,
olhando, criticando, condenando, julgando, avaliando, lembrando-se. Implicado está também o drama dos sonhos. (…) (Fora da Violência, pág. 23-24)

Mas, quem é o analista? Uma parte de vós mesmos, uma parte de vossa mente que vai examinar as outras partes; é o produto das experiências, conhecimentos, avaliações do
passado, é o centro de onde vai ser feita a análise. (…) Esse centro é medo, ansiedade, avidez, prazer, desespero, esperanças, dependência, ambição, comparação; é ele que nos faz
pensar e agir. (…) Nesse centro há muitos fragmentos, um dos quais se torna o analista - um absurdo, porque o analista é a coisa analisada. (…) (Idem, pág. 24)

Devemos libertar-nos da idéia da análise, pois esta é inteiramente sem valor. Deveis perceber isso, não porque o orador o está dizendo; deveis ver a verdade sobre o processo da
análise. Essa verdade trará compreensão; ela é a compreensão da falsidade da análise. Ao vermos o que é falso, podemos afastá-lo de nós completamente. (…) (Idem, pág. 24)
Assim, se isso está realmente claro - isto é, que a totalidade não pode ser compreendida mediante fragmentação - operou-se, então, uma mudança (…) Pois bem. Temos de
abeirar-nos da mente inconsciente de maneira negativa, pois não sabemos o que ela é. Sabemos o que outras pessoas têm dito a seu respeito e ocasionalmente temos conhecimento
dela por meio de sugestões interiores, intuições. (…) (O Passo Decisivo, pág. 184)

(…) Durante o chamado “sono”, quando o cérebro se acha relativamente quieto, o inconsciente comunica certas coisas através de sonhos, de símbolos, e, depois, ao despertar, a
mente consciente diz: “Sonhei e preciso interpretar os meus sonhos”. Por se achar muito ocupada durante o dia, a mente consciente só tem possibilidade de descobrir o conteúdo
do inconsciente por meio dos sonhos. (Experimente um Novo Caminho, pág. 44)

Por essa razão, o analista atribui aos sonhos desmedida importância. Mas, vêde só as complicações daí decorrentes! Os sonhos requerem interpretação correta, e, para dar a
correta interpretação, deve o analista conhecer o conjunto (background) de vossa consciência, todo ele, porque, do contrário, sua interpretação será falsa.

Essa interpretação poderá ser freudiana ou junguiana, ou refletir as opiniões de outra autoridade qualquer, mas não será correta; e isso é o que, em geral, acontece, visto que o
analista não conhece todo o vosso background (todo o conjunto de vossa consciência), nem pode conhecê-lo. (…) (Idem, pág. 44)

Essa coisa que chamais de “inconsciente” é desconhecida - desconhecida, no sentido de que não estais familiarizado com ela, desconheceis o seu conteúdo. (…) Tendes tentado
compreendê-lo com uma mente que foi exercitada para acumular conhecimentos, e com esses conhecimentos observar. Mas descobristes agora que não é dessa maneira - isto é, por
meio da análise - que se pode sondar o inconsciente. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 44)

(…) Isso podeis fazer em qualquer lugar - sentado num ônibus, no escritório, quando vos fala o patrão, quando falais com vossa mulher, (…) filhos, (…) vizinho, quando ledes o
jornal. Com essa mente, pode ser observada cada reação do inconsciente; e, se o fizerdes intensamente - não apenas ocasionalmente (…) - se vos conservardes sobremodo vivo,
vereis que não mais sonhareis. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 45)

Assim, para desvelarmos o inconsciente, precisamos primeiramente ver com toda a clareza, por nós mesmos, esta verdade: que só com uma mente vazia temos possibilidade de
observar uma coisa que desconhecemos. Foi-nos recomendado analisar, mas a análise não vos conduziu a parte alguma, a nada, nada; percebeis, pois, por vós mesmos, que a
análise não é o verdadeiro caminho. (…) Esse estado, por certo, é o estado de negação; nele, a mente pode observar, porque não está então traduzindo, interpretando, julgando,
porém apenas observando. (Idem, pág. 45)

Assim, para haver completa transformação na consciência, é necessário rejeitar a análise, a busca e não mais estar sujeito a nenhuma influência (…) A mente, percebendo o que é
falso, rejeita completamente o falso, sem saber o que é verdadeiro. Se já sabeis o que é verdadeiro, nesse caso estais apenas trocando o que considerais falso pelo que imaginais
verdadeiro. Não há renúncia se já se sabe o que se vai obter em troca. Só há renúncia quando abandonamos uma coisa sem saber o que irá acontecer. Esse estado de negação é
completamente necessário. Acompanhai isso com atenção, porque, se chegastes até este ponto, podeis ver que nesse estado de negação se descobre o verdadeiro; porque negação é
despejar da consciência o conhecido. (O Passo Decisivo, pág. 247)

A consciência, afinal, se baseia no conhecimento, na experiência, na herança racial, na memória, nas coisas que foram experimentadas. As experiências são sempre do passado, e
estão operando no presente, sendo modificadas pelo presente e continuadas no futuro. Tudo isso é consciência, o vasto reservatório dos séculos. Ela tem sua utilidade tão só no
viver mecânico. Seria absurdo rejeitar todos os conhecimentos científicos (…) Mas, para se produzir uma mutação na consciência, uma revolução em toda essa estrutura, há
necessidade de um vazio completo. E esse vazio só se torna possível com o descobrimento, o real percebimento do que é falso. Pode-se então ver, se tiverdes chegado até aí, que o
próprio vazio produz uma revolução completa na consciência: ela já se realizou. (Idem, pág. 247)

Eu vos garanto que todas as coisas nascem do vazio; todas as coisas novas procedem desse vasto, imensurável, insondável sentimento de vazio. Isso não é romantismo, não é
nenhuma idéia, nem imagem, nem ilusão. Quando se rejeita completamente o falso, sem se saber o que é verdadeiro, ocorre uma mutação na consciência, uma revolução, uma
transformação total. Talvez então já nem haja a consciência tal como a conhecemos, porém algo inteiramente diferente; essa consciência, esse estado pode viver neste mundo,
porque não há rejeição do conhecimento mecânico. (…) (Idem, pág. 248)

Geralmente admitimos que o inconsciente existe e que ele é algo escondido, obscuro, desconhecido. Sem se compreender a totalidade desse inconsciente, arranhar meramente a
superfície pelo exame analítico tem muito pouca significação, quer ele seja feito por profissionais, quer pela investigação pessoal. Temos, portanto, de penetrar não só na mente
consciente, mas também na mente profunda, secreta, oculta, que nunca está exposta à luz da inteligência, (…) da investigação. (O Mundo Somos Nós, pág. 87)

Tudo isso - tanto o processo consciente como o inconsciente - é tempo psicológico: tempo como conhecimento, tempo como experiência, (…) de preencher-se, de “vir a ser”. A
mente consciente é moldada pela inconsciente; e é muito difícil compreender os secretos motivos, intenções e compulsões do inconsciente, porque não somos capazes de conseguir
acesso ao inconsciente pelo esforço consciente. É negativamente que devemos abeirar-nos dele, e não pelo processo positivo da análise. O analista está condicionado pelas suas
lembranças; e seu método positivo (…) é muito pouco significativo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 50-51)

(…) Penso que todo o processo de análise é errôneo. Um indivíduo se interessa por essa ação que se vai acumulando através de uma série de exames analíticos, de inferências
analíticas em que está envolvido o tempo (…) É difícil analisar, examinar, com a mente consciente, as camadas ocultas. Por isso eu sinto que todo esse processo intelectual seja
incorreto. Isso que digo não implica, de modo algum, falta de respeito. (Tradición y Revolución, pág. 159)

(…) Eu lhes digo que a análise não é o caminho para a compreensão. Dou-lhes as seqüências lógicas utilizando a razão. Essas são somente explicações. Por que não vêem vocês a
verdade de que a análise não é o caminho? (Idem, pág. 160)

(…) Não são (os instrumentos) adequados. O processo de análise implica tempo e, portanto, tem que ser parcial. O parcial é produto do intelecto porque o intelecto é só uma parte
da estrutura total. (Idem, pág. 161)

Vejo, pois, que a mera análise do inconsciente a nenhum parte conduz. Poderá ajudar-me a ser um pouco menos neurótico, um pouco mais amável com minha mulher, meu próximo
- ou outra superficialidade semelhante; mas não é disso que estamos falando. Percebo que o processo analítico (…) não pode libertar o inconsciente; por conseguinte, rejeito
completamente o processo analítico. (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 50)
A menos que a pessoa seja um tanto neurótica e desequilibrada, não considero muito importante examinar o inconsciente. É desperdício de tempo. Sei que o que estamos dizendo é
condenado pelos especialistas porque se pode ganhar muito dinheiro com essa idéia (do inconsciente); (…) (A Essência da Maturidade, pág. 149)

(…) Que necessidade há de sonhos simbólicos, quando a cada minuto do dia o inconsciente vos está revelando as suas reações, descerrando o seu condicionamento, suas
“memórias”, suas ansiedades - quando tudo está sendo revelado, ao mesmo tempo que estais observando? A mente é então semelhante a uma tela em branco, na qual o inconsciente
projeta o seu retrato, de momento a momento; de modo que, quando dormis, a mente, o cérebro, repousa. (…) A mente, o cérebro, que, durante o sono, se acha em absoluto repouso,
se renova. Tem a energia necessária para ir mais longe ainda (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 45-46)

Construímos muitos obstáculos que se tornaram abrigos onde nos refugiamos no momento da dor. Esses abrigos são apenas vias de fuga. (…) Mas, para descobrirmos esses
abrigos, (…) falsos valores (…) que nos retêm e nos aprisionam, não devemos tentar analisar as ações que surgem desses abrigos. Para mim, a análise é a própria negação da ação
completa (…) Não há entendimento na análise de uma experiência passada, pois ela está morta; há entendimento só na ação viva do presente. Por isso, a auto-análise é destrutiva.
(Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 166-167)

(…) Mas descobrir as inumeráveis barreiras que vos cercam é tornar-vos plenamente consciente, (…) lúcido em qualquer ação que ocorra ao vosso redor, ou no que quer estejais
fazendo. Então todos os obstáculos passados, como tradição, imitação, temor, reações defensivas, desejo de segurança, de certeza - tudo isso entra em atividade; é só no que é ativo
que há compreensão. Nesta chama de apercebimento, a mente e o coração libertam-se de todos os obstáculos, (…) falsos valores; então há libertação na ação, e esta libertação é a
liberdade da vida, que é imortalidade. (Idem, pág. 167)

(…) Mas, sem dúvida, esse desejo de recorrer a outras pessoas só nos faz ficar dependentes; e quanto mais dependentes somos, tanto mais afastados estamos do autoconhecimento.
E só pelo autoconhecimento, pela compreensão do processo integral de si mesmo, encontra o indivíduo a libertação; nesse libertar-se do seu processo de enclausuramento, de
limitação, de isolamento, encontra o indivíduo a felicidade. (Viver sem Confusão, pág. 36)

(…) Freud, Jung, Adier e outros analistas, que estudaram o assunto e proclamaram alguns fatos, reportaram toda a conduta ao condicionamento na infância, etc. - estabeleceram
certo padrão; podeis investigar nessa direção e obter informações adicionais, mas com isso nada aprendeis sobre vós. Estareis aprendendo de acordo com outra pessoa. (…) (O
Começo do Aprendizado, pág. 123)

(…) Que entendemos por psicologia? Não é o estudo da mente humana, de nós mesmos? Se não compreendermos a nossa própria constituição, nosso ser psíquico, o nosso pensar e
sentir, como poderemos compreender outra coisa qualquer? (…) A psicologia não é um fim em si mesma, é antes um começo. No estudo de nós mesmos, estabelecemos a base
adequada à estrutura da realidade. (…) No entanto, sem uma base verdadeira, haverá ignorância, ilusão e superstição (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág.
46-47)

A compreensão de nós próprios exige muito desprendimento e sutileza, muita perseverança e penetração, e nenhum dogmatismo ou asserto, (…), nenhuma negação ou comparação,
que conduzem ao dualismo e à confusão. Deveis ser o vosso psicólogo (…), pois de vós vem todo conhecimento e sabedoria. Ninguém pode ser perito em relação a vós. Tendes de
descobrir por vós e, assim, libertar-vos; nenhuma outra pessoa poderá auxiliar-vos na libertação da ignorância e do sofrimento. (…) (Idem, pág. 47-48)

O eterno é sempre o desconhecido para a mente que acumula. O que se acumula são lembranças - e a memória é sempre o passado (…) O que resultou do tempo não pode
compreender o Atemporal, o Desconhecido. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 222)

Estaremos sempre em presença do desconhecido, enquanto não compreendermos o cognoscível, que somos nós. Essa compreensão não vos pode ser dada pelo especialista, pelo
psicólogo, pelo padre; deveis procurá-la por vós mesmos, em vós mesmos, pela autovigilância. (…) (Idem, pág. 222)

O processo analítico é obviamente limitado, e não é, portanto, o caminho certo. Deve haver uma maneira de nos olharmos totalmente, sem as complicações da análise introspectiva,
etc.; deve haver um estado, uma maneira de olhar, de observar, capaz de revelar-nos todo o conteúdo de nossa consciência. (…) (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 38)

É de efeitos desastrosos considerar os nossos complexos problemas humanos num só nível determinado e permitir que os especialistas governem a nossa vida. Nossa vida é um
processo complexo, a exigir uma compreensão profunda de nós mesmos (…) (O Caminho da Vida, pág. 25)

Nosso condicionamento, consciente e inconsciente, é muito profundo e poderoso (…) Somos cristãos, hinduístas, ingleses, franceses (…), pertencemos a esta ou aquela igreja (…)
raça, com toda a sua carga histórica. (…) A mente consciente é educada de acordo com a cultura em que vivemos (…) Mas muito mais difícil é “descondicionar” o inconsciente,
que desempenha um papel muito mais importante em nossa vida do que a mente consciente. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 14)

Isso não é questão de análise, porquanto não se pode analisar o inconsciente. Há especialistas, bem sei, que tentam fazê-lo, mas não o creio possível. O inconsciente não pode ser
examinado pelo consciente. Já vos digo por quê. Através de sonhos, sugestões, de símbolos, de mensagens diversas, tenta o inconsciente comunicar-se com a mente consciente.
(Idem, pág. 15)

Essas sugestões e mensagens requerem interpretação, e a mente consciente as interpreta conforme seu próprio condicionamento, suas peculiares idiossincrasias. Nessas condições,
nunca há completo contato entre as duas, e nunca uma perfeita compreensão do inconsciente. (…) Entretanto, se não compreendermos e nos libertarmos do inconsciente, com sua
carga “histórica” (…) haverá sempre contradição, conflito. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 15)

Ora, esta é uma de nossas dificuldades, talvez a principal dificuldade: o ficar livre de todo o conteúdo do inconsciente. É possível tal coisa? Não sei se já tentastes analisar a vós
mesmos - analisar o que pensais, o que sentis, e também os motivos, as intenções que dão origem a vossos pensamentos e sentimentos. Se já o fizestes, estou certo de que
descobristes que a análise não pode penetrar muito profundamente. (Idem, pág. 15)

Depois de atingir certa profundidade, se detém. Para penetrar muito profundamente, é necessário dar fim a esse processo, que é “o analista analisando continuamente”, e, em
troca, começar a ouvir, a ver, a observar cada pensamento e cada sentimento, sem dizer “isto é correto e aquilo é errado” - sem condenação ou justificação. Quando se observa
dessa maneira, descobre-se que não há contradição e, por conseguinte, nenhum esforço; há compreensão imediata. (Idem, pág. 15)

A questão, por conseguinte, é realmente esta: Como pode uma pessoa viver neste mundo sem produzir conflito, exteriormente e principalmente interiormente? Porque o conflito
interior dita o conflito exterior. Só a mente que está verdadeiramente livre de conflito, em todos os níveis, por não ter problemas psicológicos de espécie alguma - só essa mente
pode descobrir se algo existe além dela própria. (O Homem e seus Desejos em Conflito, pág. 16)

A compreensão do processo integral do condicionamento não nos vem por meio da análise ou da introspecção; porque, no momento em que temos o analista, esse mesmo analista
faz parte do “fundo” condicionado (background); e sua análise, portanto, não tem valor. Isso é um fato, e cumpre-nos eliminá-lo. O analista, que examina, que analisa a coisa que
está observando, faz parte também do estado condicionado, e, portanto, qualquer que seja a sua interpretação, a sua compreensão, a sua análise, a mesma faz sempre parte daquele
“fundo”. Por esse caminho não há possibilidade de fuga; e é essencial quebrar o “fundo”, o background, porque, para corresponder ao desafio novo, a mente precisa ser nova, (…)
não contaminada pelo passado. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 178)

Analisar o passado, chegar a conclusões, por meio de uma série de experimentos, fazer asserções e negações, e tudo o mais, isso, de certo, implica, na sua verdadeira essência, a
continuação do fundo sob formas diferentes; e, ao perceberdes a verdade desse fato, descobrireis então que o analista deixou de existir. O “fundo” continua, mas o analista findou.
Não existe então nenhuma entidade separada do fundo; só há pensamento, constituindo o fundo, sendo o pensamento reação da memória, tanto da consciente como da inconsciente,
tanto da individual como da coletiva. (Idem, pág. 178)

Meditação; Verdadeiro Sentido, Conceito, Teoria


Que é meditação e que é pensar? Se vamos investigar o que é meditação, temos também de saber o que é pensar. Senão, meditar sem conhecer o processo de pensar é criar uma
fantasia, uma ilusão, sem (…) realidade. Assim, para compreender ou saber o que é meditação, não bastam simples explicações, que pouco significam (…) (Ensinar e Aprender,
pág. 125)

O pensar é uma resposta da memória. Os pensamentos se tornam escravos de palavras, (…) de símbolos, de idéias, e a mente é a palavra, e ela passa a depender de nomes como
deus, comunista, (…) aldeão, cozinheiro, etc. (…) Se se pronuncia o termo sannyasi, ele de pronto desperta (…) uma atitude respeitosa. (…) Vivemos e pensamos dentro de uma
estrutura condicionada (…) (Idem, pág. 125)

Porém, haverá pensamento sem palavra? Existe um pensar sem a palavra e, portanto, fora do tempo? A palavra é tempo. Mas, se a mente for capaz de separar de si própria a
palavra e o símbolo, haverá, então, um perquirir sem objetivo, e essa pesquisa será de ordem atemporal. (Idem, pág. 125)

Primeiro, olhemos o quadro todo. A mente que não tem espaço de onde observar, não possui a qualidade de percepção. Havendo o pensar, não há observação. A maioria de nós vê
através das palavras, porém será que isso é ver? (Ensinar e Aprender, pág. 125

Ao contemplar uma flor e dizer: “é uma rosa”, vejo mesmo a rosa ou ocorre-me a idéia que a palavra evoca? Então, poderá a mente, que pertence ao tempo e ao espaço, investigar
em um estado isento de espaço e de tempo, por ser esse o único estado em que é possível haver criação? (…) A mente que não dispõe de espaço, de vazio de onde ver, é sem dúvida
incapaz de viver em um estado não-espacial, atemporal. (…) (Idem, pág. 125)

A meditação é uma das coisas mais importantes na vida; não como meditar, não a meditação conforme um sistema, não a prática da meditação, senão principalmente o que a
meditação é na verdade. Se um indivíduo pode descobrir, mui profundamente, a significação, a necessidade e a importância que tem a meditação para si mesmo, então descartará
todos os sistemas, métodos, gurus, junto com todas as coisas peculiares que se acham envolvidas nesse tipo oriental de meditação. (La Totalidad de la Vida, pág. 137)

Pensamos ser incapazes de compreender a extraordinária importância que é ver o que somos, ver-nos de fato, como se nos estivéssemos olhando psicologicamente em um espelho, o
que produz uma transformação na própria estrutura interna. Quando se realiza fundamentalmente, profundamente, uma transformação ou mutação semelhante, então essa mutação
afeta toda a consciência do homem. (Idem, pág. 137)

Para ver o que o indivíduo realmente é, torna-se vital que haja liberdade, liberdade com relação a todo o conteúdo da própria consciência - sendo o conteúdo da consciência todas
as coisas acumuladas pelo pensamento. Libertar-se do conteúdo da própria consciência, das cóleras e brutalidades, das vaidades e da arrogância, libertar-se de todas as coisas em
que a pessoa se acha enredada, é meditação. (Idem, pág. 137-138)

Ora, senhores, (…) Isto é um processo de meditação, e sem meditação não há sabedoria. A sabedoria nasce com o autoconhecimento. (…) Meditação é estar cônscio de todos os
conflitos, no espelho das minhas atividades, relações, estados. (As Ilusões da Mente, pág. 114)

Os que desejam compreender o profundo significado da meditação, devem partir de si próprios, porquanto o autoconhecimento é a base do verdadeiro pensar. (…) Deveis partir de
vós mesmos, para chegardes longe. É difícil a auto-observação; é difícil penetrarmos até o fundo de cada pensamento-sentimento, mas essa percepção de cada
pensamento-sentimento porá fim às divagações da mente. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 119)

A meditação só tem significado quando a mente-coração está vigilante, descendo até o fundo de cada pensamento-sentimento que surge, sem comparar nem identificar. Porque o
identificar e comparar sustenta o conflito da dualidade. (…) Na tentativa de concentrar-nos, são os pensamentos-sentimentos antagônicos reprimidos, ou afastados, ou superados, e
não é possível a compreensão. (Idem, pág. 120-121)

(…) Que é meditação? Não é ela a compreensão das atividades de nosso “ego”, não é ela autoconhecimento? Sem autoconhecimento, sem a percepção do processo do “eu”, em
sua inteireza, carece de realidade a base sobre que formais o vosso caráter, (…) o objetivo pelo qual lutais. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 158-159)

(…) A meditação não é um processo de vir a ser pessoal; uma vez que se inicia com o autoconhecimento, traz-nos a tranqüilidade e a suprema sabedoria, abrindo-nos a porta para
o Eterno. Tem a meditação por fim fazer-nos conhecer o “ego” no seu todo. O “ego” é resultado do passado e não existe no isolamento. (…) As muitas causas que lhe deram
existência precisam ser compreendidas e transcendidas. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 160)

Destrua o pequeno estímulo egocêntrico, ele não existe! A partir daí você pode se mover infinitamente. E isto é meditação. Não simplesmente sentar-se de pernas cruzadas, ou em
posição sobre a cabeça, ou fazer o quer que seja, mas tendo o sentimento de completa totalidade e unidade da vida. E isso só pode vir quando há amor e compaixão. (The Word of
Peace, pág. 96) ` Meditação é estar cônscio de cada pensamento e de cada sentimento, nunca dizer que ele é certo ou errado, porém simplesmente observar e acompanhar seu
movimento. Nessa vigilância, compreendeis o movimento total do pensamento e do sentimento. E dessa vigilância vem o silêncio. O silêncio criado pelo pensamento é estagnação,
coisa morta, porém o silêncio que vem quando o pensamento compreendeu a sua própria origem, (…) natureza, (…) esse silêncio é meditação na qual o meditador está de todo
ausente, porque a mente esvaziou-se do passado. (Liberte-se do Passado, pág. 103)

Ora, compreender a si próprio é absolutamente necessário. Meditar é esvaziar a mente, e, nesse estado de vazio, ocorre a “explosão” que nos lança no desconhecido. (…) A mente
que está repleta, (…) carregada de problemas, (…) em conflito, que não explorou as profundezas de si própria, não tem possibilidade de esvaziar-se. E a meditação é o esvaziar da
mente, não no final, porém imediatamente, fora do tempo. (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 73-74)

Meditação é o apercebimento de cada pensamento, de cada sentimento, de cada ato, e esse percebimento só é possível quando não há condenação, nem julgamento, nem
comparação. Vedes, simplesmente, cada coisa como é, e isso significa que estais cônscio de vosso condicionamento - tanto do consciente como do inconsciente - sem desfigurá-lo ou
alterá-lo. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 98)

Conhecer o processo integral da mente - todas as suas inclinações, “motivos”, propósitos, seus talentos, suas exigências, seus temores, frustrações e êxitos felizes - conhecer todas
essas coisas significa estar tranqüilo e não permitir que elas atuem. Só então pode manifestar-se o que se acha além da mente. E essa coisa só pode manifestar-se quando não é
chamada; (…) quando não é procurada. (…) Só a mente que compreende o processo total, pode receber as bênçãos do Real. (As Ilusões da Mente, pág. 116)

E quando livres do medo, da amargura, da ambição, da avidez, da inveja, do desejo de êxito, da existência de poder, posição, prestígio (…) o cérebro se torna então tranqüilo. Mas
só podeis compreender e livrar-vos de toda essa agitação, se dela vos conscientizardes sem nenhum esforço. (…) Está agora bem claro que, para a mente poder achar-se no estado
de meditação, é imprescindível a eliminação do conflito. (…) Enquanto não se compreender a estrutura e a anatomia desse centro, haverá sempre conflito; (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 2ª ed., pág. 166)

A meditação é a purificação da mente de todas as suas acumulações; é expurgá-la da capacidade de adquirir, de identificar-se, de vir a ser; expurgá-la da expansão do “eu”, do
preenchimento do “eu”. A meditação é o libertar a mente da memória, do tempo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.269)

Quando procurais meditar, não notais que vossa mente divaga e “tagarela” incessantemente? De pouca valia é o afastardes todos os pensamentos, com exceção de um só,
procurando concentrar-vos nesse único pensamento por vós escolhido. Em vez de procurardes submeter à vossa vontade esses pensamentos errantes, tornai-vos cônscios deles,
aprofundai cada um deles, pensando e sentindo, apanhai o seu significado, quer agradável, quer desagradável; (…) (Idem, pág. 119)

Cada pensamento-sentimento que for estudado dessa maneira, vos confiará o seu significado e, assim, compreendendo os próprios pensamentos repetidos e erráticos, esvazia-se a
mente de suas próprias formulações. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 119)

No estado de meditação, a mente está vendo - observando, escutando sem a palavra, sem comentário, sem opinião - atenta ao movimento da vida em todas as suas relações, do
começo ao fim do dia. E à noite, quando o organismo descansa, a mente modificadora não tem sonhos, porque esteve desperta todo o dia. Só os indolentes têm sonhos; só os que
andam semi-adormecidos precisam ser advertidos de seu estado. Mas a mente que está vigilante, escutando o movimento da vida - o externo e o interno - a essa mente vem um
silêncio não fabricado pelo pensamento. (A Outra Margem do Caminho, pág. 19)

Só quando ausente o “eu”, existe a possibilidade de a mente estar quieta, e, portanto, apta a compreender, (…) a receber aquilo que é eterno. Mas formar uma representação da
eternidade, conceber uma idéia a seu respeito, (…) é, verdadeiramente, autoprojeção, (…) ilusão (…) Mas, para que o eterno seja, torna-se necessário, evidentemente, que as
atividades, as fabricações, as projeções do “eu” cessem inteiramente. E o cessar dessa projeção é o começo da meditação (…) (Nós Somos o Problema, pág. 50)
Quando estamos cônscios de nós mesmos, não é todo o movimento do viver uma forma de revelar o “eu”, o “ego”? (…) Tudo isso revela o estado condicionado do nosso próprio
pensar; (…) Só pela percepção do que é verdadeiro, momento a momento, se dá o descobrimento do atemporal, do eterno. Sem autoconhecimento não pode existir o eterno. (…)
(Percepção Criadora, pág. 106)

A meditação exige uma mente sobremodo vigilante; a meditação é a compreensão da totalidade da vida, na qual não existe mais nenhuma espécie de fragmentação. Meditação não
é controle do pensamento (…); mas, quando se compreende a estrutura e a origem do pensamento, (…) o pensamento então não mais interfere. Essa compreensão da estrutura do
pensar é sua própria disciplina, que é meditação. (Liberte-se do Passado, pág. 103)

A mente, pois, percebe que, sem espaço, sem espaço infinito, não há liberdade, e que só há espaço infinito quando não há nenhum criador de espaço. (…) O espaço é infinito, desde
que não haja objeto; por conseguinte, a liberdade é infinita. (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 141)

É, pois, esse o começo da meditação; isto é, a mente, depois de desejar e procurar espaço no exterior, e (…) de compreender esse espaço exterior, volta-se (…) para o seu próprio
interior e observa. E, rejeitando o falso (…) alcança a mente um estado de verdadeira serenidade. Porque compreendeu tudo aquilo, já nada busca, nada pede, nada exige. (…)
(Uma Nova Maneira de Agir, pág. 144)

Deve, pois, a mente compreender cada um dos valores por ela acumulados, e nesse processo as numerosas camadas da consciência, tanto as claras como as ocultas, são
descobertas e compreendidas. Quanto mais nítida for a percepção das camadas conscientes, tanto mais facilmente virão à superfície as camadas ocultas. Se as camadas conscientes
estiverem confusas e turvas, não poderão as camadas mais profundas da consciência penetrar no consciente, senão pelos sonhos. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 121-122)

A meditação é o viver, momento a momento, dia a dia. Não significa isolar-nos num a aposento ou numa caverna, pois, dessa maneira, nunca podemos conhecer a Realidade. A
realidade encontra-se na vida de relação (…) nas relações de nossa vida cotidiana. (…) E a verdade encontra-se nas nossas relações, que representam ação, (…) um espelho em
que nos miramos. (O que te Fará Feliz?, pág. 97)

A meditação é a inocência do presente e, em conseqüência, é sempre só. A mente totalmente só, ilesa do pensamento, cessa de acumular. Portanto, o esvaziar da mente está sempre
no presente. Para a mente que está só, o futuro - que pertence ao passado - deixa de existir. (…) (A Outra Margem do Caminho, pág. 85)

(…) Porque o findar do pensamento é o começo da meditação real; e só então há uma revolução, uma maneira fundamentalmente nova de considerar a existência. A nova maneira
de tratar o problema é fazer findar o tempo; e eu digo que isso pode fazer-se instantaneamente, quando há verdadeiro interesse. Podeis sair do rio para a margem, em qualquer
ponto. O rio do “vir-a-ser” se acaba quando compreendeis o processo do tempo; (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 71)

Não penseis que a meditação seja prolongamento e expansão da experiência. Na experiência existe sempre a testemunha, (…) ligada ao passado. A meditação, ao contrário, é a
completa inação que põe fim a toda experiência. A ação da experiência tem suas raízes no passado (…), envolve o tempo; leva à ação que é inação e produz desordem. Meditação é
a total inação da mente que percebe o que é, não entrelaçado com o passado. Essa ação não é reação a nenhum desafio, mas, sim, é a ação do próprio desafio, na qual não existe
dualidade. A meditação é a eliminação da experiência e funciona a todas as horas, consciente ou inconscientemente; (…) não é uma ação restrita a certo período do dia. É uma
ação contínua, da manhã à noite - observação sem observador. (A Outra Margem do Caminho, pág. 46)

A meditação, pois, não consiste meramente em ficardes sentado, imóvel, controlando a vossa mente. (…) Sem autoconhecimento, conhecimento do “eu”, não há meditação, sendo
“eu” a maneira como a mente opera (…) O “eu” é a vossa mente, e tendes de compreender como ela opera, (…) funciona. (…) Mas, por meio do autoconhecimento (… ) sabe-se
como opera o “eu”, e então se está no começo da meditação. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 127)

(…) Assim, a vossa meditação não se limita a umas poucas horas ou a uns poucos momentos durante o dia; será, antes, uma contínua vigilância da mente e do coração, durante o
dia inteiro; e isso, para mim, é a verdadeira meditação. Nisso há paz. Nisso existe alegria. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 133)

Assim, a meditação tem um significado. Deve-se ter essa qualidade meditativa da mente, não de maneira ocasional, senão durante todo o dia. E isso que é sagrado afeta nossas
vidas, não só durante as horas de vigília, mas durante o sono. E, nesse processo de meditação, aparece toda classe de poderes; um se torna clarividente, o corpo (…)
extraordinariamente sensível. (…) (La Verdad y la Realidad, pág. 213)

(…) Nessas circunstâncias, a clarividência, o poder de curar, a transferência de pensamento, etc., resultam por completo insignificantes; todos os poderes ocultos se tornam tão
carentes de importância (…) E quando vocês perseguem esses poderes, estão perseguindo algo que finalmente haverá de conduzir à ilusão. (…) (Idem, pág. 213-214)

(…) Para meditar, precisa-se compreender o meditador; este é o primeiro requisito, e não o como meditar. Porque o “como meditar” implica concentração, que é exclusão. (…)
Meditação é processo de autoconhecimento, isto é, conhecimento do meditador - não do “meditador superior” que está meditando, do “eu superior” que está buscando. (…) (As
Ilusões da Mente, pág. 75-76)

Meditação é estar cônscio das atividades da mente - da mente do meditador, de como a mente se divide em meditador e meditação, (…) em pensador e pensamento, o pensador
dominando, (…) controlando (…), moldando o pensamento. Existe, pois, em todos nós, o pensador separado do pensamento; o pensador se tornou o “eu superior”, o “eu mais
nobre”, mas isso é ainda a mente dividida em pensador e pensamento. (…) (Idem, pág. 76)

(…) A meditação, portanto, é o “processo de descondicionamento” da mente; significa estar cônscio sem condenação, sem justificação ou resistência, de cada pensamento, cada
sentimento, cada fantasia que surge, conforme as nossas idiossincrasias e tendências pessoais. É a memória do passado que condiciona a nossa reação, e meditação é o processo de
libertar a mente do passado. (A Arte da Libertação, pág. 33)

A meditação sem padrão estabelecido, sem causa ou motivo, sem direção ou propósito é um fenômeno extraordinário. Não é somente uma tremenda e purificadora explosão, mas é
também a morte sem retorno. Trata-se de uma ação devastadora que penetra por todos os cantos mais distantes e secretos do pensamento. Sua pureza é extremamente vulnerável
(…) Como o amor, ela é pura porque desconhece a resistência. Assim como a morte, é inevitável; não existe, na meditação, o amanhã. (…) Eis o que é meditação, e não a (…)
atividade do cérebro em sua busca de segurança. A meditação destrói a segurança. Nela existe grande beleza. (…) Todas as coisas surgem e fluem do vazio desse silêncio. (…)
(Diário de Krishnamurti, pág. 70)

Os limites da consciência são anulados pela meditação; ela destrói o processo do pensar e sentir, urdido pelo pensamento. (…) Abundante energia é liberada pela meditação, mas
ela é deformada e destruída pelo controle, pela disciplina e pela repressão. Meditação é a chama que arde sem formar cinzas. As palavras, o sentimento, o pensamento, sempre
deixam resíduos, e o mundo vive das cinzas do passado. Meditar é viver em perigo, pois nada escapa àquela destruição (…); e é da amplidão insondável desse vazio que surgem o
amor e a criação. (Diário de Krishnamurti, pág. 91)

Pensamos ser incapazes de compreender o extraordinariamente importante que é ver o que somos, ver-nos de fato, como se nos estivéssemos olhando psicologicamente em um
espelho que produz uma transformação na própria estrutura interna. Quando se realiza fundamentalmente, profundamente, uma transformação ou mutação semelhante, então essa
mutação afeta toda a consciência do homem. (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 137)

Parte da meditação é eliminar completamente todo conflito no interno e, portanto, no externo. Para eliminar o conflito, deve-se compreender este princípio básico: O observador
não é, no psicológico, diferente do observado. Quando há ira, não há o “eu”, porém, um segundo depois, o pensamento cria o “eu” e diz:

“Tenho estado irado”, e assim introduz a idéia de que não deveria estar irado. (…) Quando não há divisão entre o observador e o observado e, portanto, só existe a coisa que é, ou
seja, a ira, que ocorre? Continua a ira, então? Ou a ira cessa totalmente? (…) Quando o observador é o observado, a ira floresce, se desenvolve e morre naturalmente (…) (La
Totalidad de la Vida, pág. 138)

Um indivíduo vive na ação; ação conforme um motivo, um ideal, (…) um padrão, ação por hábito ou (…) tradicional, sem investigação alguma. Uma mente que medita, deve
descobrir o que é a ação. Um dos problemas principais na própria vida é o conflito, e do conflito se origina toda sorte de atividades neuróticas. (…) (La Totalidad de la Vida, pág.
138-139)
(…) Porém, ao dar-se conta dos próprios pensamentos, não há concentração; a percepção alerta não consiste em escolher o pensamento de agrado do indivíduo; ele fica
simplesmente alerta. Dessa percepção alerta surge a atenção. Na atenção não existe um centro a partir do qual se esteja atuando. Isso (…) é a essência da meditação. Na
concentração, há um centro a partir do qual se está concentrando (…) ou uma representação mental, ou alguma imagem, etc.; (Idem, pág. 140)

(…) Para eliminar totalmente o conflito, deve o indivíduo dar-se conta, sem opção alguma, de seus pensamentos; então não há contradição nem resistência com relação a nenhum
pensamento. Daí surge a percepção alerta; percepção de todo movimento do pensar. A causa dessa percepção alerta advém do estado de atenção. Quando se está atento a algo, de
verdade, profundamente, não existe um centro, não há um “eu”. (La Totalidad de la Vida, pág. 140)

A meditação é atenção na qual não existe um registrar. Normalmente, o cérebro está registrando quase tudo, o ruído, as palavras (…) - registra como um gravador magnetofônico.
Pois bem, é possível ao cérebro nada registrar senão o que for absolutamente necessário? Por que devo registrar um insulto? (…) Por que devo registrar uma lisonja? (…) Por que
devo registrar qualquer tipo de feridas psicológicas? É desnecessário. (…) Na meditação não há registro psicológico, exceto o registro dos fatos práticos do viver (…) (Idem, pág.
140-141)

A meditação não consiste em buscar uma finalidade (…) Da meditação surge um imenso silêncio; não um silêncio cultivado, (…) entre dois pensamentos, (…) dois ruídos, senão um
silêncio que é inimaginável. O cérebro chega a estar extraordinariamente quieto quando se acha nesse processo de investigação interior; quando há silêncio, existe grande
percepção. Nesse silêncio há vazio, um vazio que é a soma de toda energia. (La Totalidad de la Vida, pág. 193)

Quanto mais vigilante for a nossa meditação, nas chamadas horas de vigília, tanto menos sonharemos e tanto menor o temor e a ânsia relativamente à interpretação de nossos
sonhos. Porque, na autovigilância das horas de vigília, as diferentes camadas da consciência vão sendo descobertas e compreendidas, e, no sono, há continuação da vigilância. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 161)

A meditação não é para determinado período somente; ela deve ser praticada tanto nas horas de vigília como nas de sono. Quando dormimos, em virtude da adequada vigilância
meditativa das horas de vigília, pode o pensamento descer a profundidades deveras significativas. A meditação continua mesmo durante o sono. (Idem, pág. 161)

Observar o movimento do pensar, faz parte da meditação. A meditação não é mera e absurda repetição de palavras; não consiste em dedicar a isso uns cinco minutos pela manhã, à
tarde e à noite. A meditação faz parte da vida. Meditar é descobrir a relação entre pensamento e silêncio - a relação entre pensamento e aquilo que é atemporal. A meditação faz
parte de nossa vida cotidiana, tal como a morte e o amor fazem parte de nossa vida. (La Llama de la Atención, pág. 84)

(…) A meditação, portanto, é o “processo de descondicionamento” da mente; significa estar cônscio sem condenação, sem justificação ou resistência, de cada pensamento, cada
sentimento, cada fantasia que surge, conforme as nossas idiossincrasias e tendências pessoais. A meditação, pois, significa libertação do passado. (…) (A Arte da Libertação, pág.
33)

Efetuar uma mutação total, uma total revolução na vida diária - eis a função da meditação. Não consiste ela em sentarmo-nos a meditar, para depois agirmos, porém em viver, em
compreender, em estar o indivíduo cônscio de todos os seus atos e palavras e gestos, de sua maneira de falar, enfim, de toda a sua existência de cada dia. Isso é que é meditação.
(…) (A Suprema Realização, pág. 72)

É extraordinariamente importante conhecer e compreender a profundidade e a beleza da meditação. (…) Existe algo imutável, sagrado, absolutamente puro, não contaminado por
nenhum pensamento, por nenhuma experiência? (…) Para descobrir isso, para dar com isso, é imprescindível a meditação. Não a meditação repetitiva; isso carece por completo de
sentido. Quando a mente se acha livre de todo conflito, de qualquer afã do pensamento, existe então uma energia criadora que é autenticamente religiosa. Dar com essa energia
que não tem princípio nem fim, é a verdadeira profundidade e beleza da meditação. Isso requer libertação de todo condicionamento. (La Llama de la Atención, pág. 34-35)

De modo que existe uma fonte, uma causa original da qual surgem todas as coisas, e essa causa original não é a palavra. A palavra nunca é coisa. E a meditação consiste em dar
com essa causa que é a fonte original de todas as coisas e que está totalmente livre do tempo. Esse é o caminho da meditação. E bem-aventurado é quem o descobre. (Idem, pág. 35)

O imensurável só pode surgir por si, pois não pode ser chamado; e só surgirá se a mente não estiver exigindo mais nada, não estiver mais rezando, pedindo, suplicando; quando
estiver livre, livre do pensamento. O cessar do pensamento é a peculiar função da meditação. Precisamos estar livres do conhecido, para que possa existir o desconhecido. (…) (As
Ilusões da Mente, pág. 78-79)

Mas, se quem pratica a meditação começa por compreender a si próprio, tem então grande importância a sua meditação. Pela autovigilância e o autoconhecimento vem o reto
pensar; é somente então que o pensamento é capaz de transcender as camadas condicionadas da consciência. A meditação é então o “ser”, o qual tem seu próprio movimento
eterno; é a própria criação, porquanto o meditador deixou de existir. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 184)

(…) A meditação não é coisa que exista separadamente: é a compreensão da totalidade da vida, compreensão em que cessou todo tipo de fragmentação da vida. E é também
contemplação - contemplar a vida, não de um centro, (…) porém, sim, contemplar o movimento total da vida: a aflição, o conflito, a confusão, as (…) tribulações do homem;
observar a vida como um movimento total. (…) Tal contemplação é meditação. Mas não se pode contemplar, nem meditar, se não há silêncio. (A Essência da Maturidade, pág.
118-119)

PRÁTICA DE MEDITAÇÃO

Na obra “Ensinar e Aprender”, ensina Krishnamurti a meditação a sós:

“Vocês nada sabem sobre meditação. Os que já “sabem”, terão de desaprendê-la, para, então, aprender. (…) Para aprenderem a meditar, devem observar a atividade de sua
mente. Têm de observá-la, tal como observam uma lagartixa a andar pela parede. (…) Do mesmo modo, observem o movimento do seu pensar. Não tentem corrigi-lo nem
controlá-lo. Apenas observem - agora, não amanhã.

Em primeiro lugar, fiquem bem quietos. Sentem-se comodamente, cruzem as pernas, mantenham-se imóveis e fechem os olhos, procurando evitar que se movam. (…) Os globos
oculares tendem (…) a mover-se: conservem-nos quietos. (…) Então, nesse estado de quietude, reparem o que faz seu pensamento. Observem-no, da mesma maneira como
observaram a lagartixa. Atentem para os pensamentos, seu curso, um atrás do outro. Assim se começa a aprender a observar.

Estão observando seus pensamentos, vendo como um sucede ao outro, enquanto o próprio pensar vai dizendo: “Este pensamento é bom, este é mau.” À noite, ao se deitarem, ou
quando passeiam, observem o seu pensamento. Apenas o observem, não o corrijam; desse modo, começarão a aprender a meditar. O aprender, uma vez iniciado, não tem fim.
(Idem, pág. 15)

Adiante, no mesmo livro (Ensinar e Aprender), volta Krishnamurti ao assunto, com outros dados:

(…) A meditação, se bem realizada, é algo maravilhoso. Falemos um pouco sobre ela.

Em primeiro lugar, sentem-se tranqüilamente; (…) A seguir, observem seu pensamento. Atentem em que estão pensando: se em seus sapatos, seus saris (…) Acompanhem tais
pensamentos e averígüem por que surgiram. Não procurem mudá-los. Verifiquem a razão por que certos pensamentos surgem na mente; o significado de cada pensamento e de cada
sentimento. Mas não o condenem, não o considerem certo ou errado, bom ou mau. Limitem-se a observar. (…)

Conhecerão os pensamentos recônditos, os velados motivos, todo e qualquer sentimento, sem distorção, sem classificá-los de um ou de outro modo. Quando observam (…) penetram
fundo (…), torna-se a mente mais sutil e viva. Nenhuma parte adormecida, mas (…) desperta.

Isso é apenas o fundamento. Então, com a quietude mental, todo o ser se tranqüiliza. A seguir, observem profundamente essa serenidade: isso constitui o processo da meditação.
Meditação não é sentar-se a um canto, repetindo (…) palavras, não é olhar figura, (…) êxtase imaginário.

Compreender o inteiro curso do próprio pensar e sentir é libertar-se de todo pensamento, (…) sentimento, e, desse modo, a criatura se aquieta. (…) E, com essa quietude, você verá
melhor a árvore, as pessoas, (…) o céu e as estrelas. Eis a beleza da vida. (Ensinar e Aprender, pág. 40-41)

O Que Não É Meditação; Disciplina, Auto-hipnose, Etc.


Meditação é uma palavra que tem sido usada recentemente no Ocidente, e que de forma infeliz entrou em moda. Há vários expositores do que seja meditação, e cada um oferece um
sistema que conduz à iluminação. Deve-se descobrir o significado de sistema - não de um sistema ou método particular, mas de sistema simplesmente. Dizem que, pela prática
diária de certo sistema, você chegará ao estado da mente que receberá tudo quanto possa assimilar. Sistema implica repetição, repetir sempre e sempre aquilo que alguém disse
constituir o sistema, e você o segue na esperança de obter algo.

Isso significa que a mente se torna repetitiva, mecânica. Como pode uma mente mecânica ver alguma coisa não mecânica, que está extraordinariamente viva, em constante
movimento? Se você Se você vê a verdade do fato, qualquer sistema, seja ele de natureza científica ou tecnológica ou da área da meditação, torna a mente estupidificada (…)
insensível. Portanto, se posso usar a palavra “estúpido” (só a mente obtusa aceita sistemas) - se você vê a verdade disso, então a sua mente não mais está seguindo a prática, mas
se torna constantemente atenta, viva, não mecânica. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 71-72)

Há os sistemas Zen - vocês os conhecem? Que desperdício de tempo, não é? Porque todos oferecem sistemas e, uma vez que você tenha visto a verdade de um sistema, não mais se
servirá dele - não importa quem o ofereça. Há agora novamente uma recente moda, da chamada meditação transcendental, que é um absoluto contra-senso, porque - necessito eu
falar acerca disso? Como se sabe, uma mente estúpida, repetindo certa palavra para chegar a um estado extraordinário, permanecerá uma mente estúpida. Não? (Talks and
Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 72)

Há na Índia esse sistema, e asseguro que, sempre que vou lá, tenho combatido todas essas práticas estúpidas. Existe no país (Índia) o chamado Mantra Yoga, que prescreve a
repetição de uma palavra secreta fornecida ao discípulo, e ele repete dita palavra dez mil vezes por dia, ou coisa assim. Pela repetição da palavra, espera ele atingir uma
formidável experiência. Agora essa prática foi trazida para este país (Austrália) (…), e você paga para isso. A palavra mais secreta é a mais cara. E nós gostamos de ser
explorados. (Idem, pág. 72)

Pergunta: A veneração das imagens, o puja e a meditação são coisas naturais e (…) úteis ao homem. Por que as repudiais (…)?

Krishnamurti: Que entendemos por meditação? Na meditação estão implicadas muitas coisas: prece, concentração, busca da verdade (…), desejo de consolação, etc. (A prece é
uma forma de súplica. Uma pessoa se vê em dificuldades e pede socorro a outra. (…) Obtém, evidentemente, uma resposta, pois do contrário não rezaria. Obtém certa consolação.
(A Arte da Libertação, pág. 28-29)

Quando se ora, a resposta vem de Deus, de uma entidade superior, ou vem de outra parte? (…) Pela repetição de palavras (…) produzis um estado de quietude na mente. Se
repetimos uma coisa sem cessar, é claro que a mente há de ficar embotada, quieta; e, estando quieta, recebe uma resposta. (…) Orais, evidentemente, porque vos achais em alguma
dificuldade, em algum estado que vos causa dor e sofrimento, e por isso desejais uma solução. (Idem, pág. 29)

Quando fazeis isso, que acontece realmente? A mente superficial acha-se em estado de tranqüilidade, de inatividade - então o inconsciente nela se projeta, e tendes a resposta. Ou,
(…) tendes um problema que vos atormenta e perturba (…) e não achais solução. Ides então dormir. (…) Ao despertardes, na manhã seguinte, tendes a solução do problema. Que
aconteceu? A mente consciente (…) põe-no de parte, dizendo: “Não quero mais preocupar-me com isso”. (A Arte de Libertação, pág. 29-30)

E quando a mente consciente está quieta em relação ao problema, o inconsciente pode projetar-se no consciente e levar-lhe a solução. Essa resposta, podeis chamá-la “a voz
tranqüila e suave”, a voz de Deus. (…) É o inconsciente que transmite a mensagem, é ele que envia a solução do problema; e a oração é um simples expediente para aquietar a
mente consciente, a fim de que possa receber a resposta. Mas a mente consciente obtém uma resposta de acordo com o seu desejo consciente. Se a mente é condicionada, a resposta
será condicionada. (Idem, pág. 30)

Vem a seguir o problema da concentração. (…) Concentrar-se num objeto, numa idéia, significa repelir e excluir todos os outros pensamentos que se insinuam na mente. Escolheis
uma idéia e procurais focar a mente nessa idéia, resistindo a todos os outros pensamentos. (…) Quando fazeis isso, que acontece realmente? A concentração se torna um constante
conflito de resistência. (A Arte da Libertação, pág. 30-31)

Mas se seguis e compreendeis cada pensamento que surge, importante ou não (…) não há então necessidade de focardes o pensamento em uma única idéia. A concentração não é
então limitante, mas (…) criadora. (…) Mas se examinardes cada pensamento, cada sentimento que se manifesta, sem condenação, nem justificação, nem resistência, então (…) a
mente se torna muito quieta, (…) serena, livre. Meditação, como vemos, não é concentração, (…) não é prece. (A Arte da Libertação, pág. 31)

Ora, há enorme diferença entre concentração e atenção. A mente então nenhuma fronteira tem, (…) ela pode concentrar-se sem exclusão de nada; mas quem aprendeu a
concentrar-se não pode estar atento. Esse estado de atenção sem resistência, sem conflito, sem forçar a mente num canal predeterminado, é absolutamente necessário. E, quando
tiverdes atingido esse ponto, vereis por vós mesmos com que facilidade e suavidade se torna existente o silêncio da mente. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 2ª ed., pág.
175-176)

Atenção e concentração são duas coisas diferentes. Concentração é exclusão, é estreitar a mente ou o intelecto, para focá-la na coisa que se deseja estudar, observar. (…) Toda
concentração implica distração, conflito e esforço. E só há esforço quando se deseja ganhar, alcançar, evitar, buscar ou rejeitar. (O Passo Decisivo, pág. 262)

(…) A atenção é “inclusiva”. Só se pode estar atento quando não há barreiras para a mente. (…) Na atenção não há distração. Na atenção pode haver concentração, mas essa
concentração é sem exclusão. (…) Isso talvez seja algo novo para vós; mas, se o experimentardes vós mesmos, vereis que existe uma qualidade de atenção capaz de escutar, de ver,
de observar sem nenhum senso de identificação; nela há visão completa. (…) (Idem, pág. 262)

(…) Quando desejais concentrar-vos naquilo que pensais ser correto e justo, em vossa especial imagem, Deus, idéia, frase, tentais focar a mente nesse objeto. Mas a mente foge, e a
fazeis voltar; de novo foge, de novo a fazeis voltar. E nesse jogo ficais empenhado o resto da vida. É isso que chamais “meditação”. (…) E, se percebêsseis isso, (…) a verdade aí
contida, ou a falsidade desse processo, nunca pensaríeis em concentrar-vos. (…) Não vos concentreis, pois isso implica exclusão, cria resistência, um foco que dá mais força ao
centro e, por conseguinte, limita o espaço. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 142)

Tampouco devoção é meditação. Sois devoto enquanto aquilo a que vos devotais vos traz satisfação; logo que cessa a satisfação, passais adiante. Mudais de guru, (…) de idéia. O
instrutor, o guru, a imagem, é a própria “projeção” do devoto. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 93-94)

A meditação não é disciplina. O mero disciplinar a mente é limitar a mente, é levantar uma muralha em torno dela. (…) Essa a razão por que uma mente que foi disciplinada, (…)
moldada, controlada, reprimida, que encontrou substitutos, (…) sublimação, é sempre uma mente incapaz de libertar-se. (O que te Fará Feliz?, pág. 94)

Existe algum método, (…) sistema, (…) caminho a percorrer, para chegarmos à compreensão do que é meditação, do que é a percepção da realidade? Infelizmente, há certas
pessoas vindas do Oriente, com seus sistemas e métodos, e que nos dizem: “Fazei isto”, “Não façais aquilo”, “Praticai o Zen e alcançareis a iluminação”. Algum de vós talvez já
tenham ido à Índia ou ao Japão, ou lá passado anos a estudar, a disciplinar-se, concentrando a atenção no dedo grande do pé ou no nariz, a exercitar-se interminavelmente, a
repetir palavras que têm a virtude de quietar a mente, (…) terem a percepção de algo transcendente ao pensamento. Tais artifícios podem ser praticados por uma mente que se
tornou muito estúpida e embotada. Emprego a palavra “estúpido” com o sentido de “entorpecido” - uma mente entorpecida. (…) (A Questão do Impossível, pág. 71)

Por meio de um expediente, podemos tornar a mente tranqüila; tomamos uma droga ou um copo de vinho, praticamos ritos, adoramos, rezamos. Mas estará a mente tranqüila (…)?
(…) Alguns de vós orais, Repetis o Gayatri, rezais em coro, para aquietar a mente, ou juntais as mãos (…), até cairdes num estado a que chamais de paz. (Que Estamos Buscando,
1ª ed., pág. 156)

O auto-hipnotismo pela repetição de palavras é muito simples. Quando ficamos a repetir certas palavras, nossa mente se torna muito tranqüila, (…) quieta; com o assumir certas
posturas, respirar de determinada maneira, forçar a mente, podemos (…) reduzir a atividade da mente. Isto é (…) quando fazemos a mente ficar tranqüila, está ela de fato
tranqüila? (…) (Idem, pág. 156)

Acha-se em estado de hipnose. Quando orais, repetis certas frases; isso serve para aquietar a mente; e nessa quietude dão-se certas reações, ouvis vozes, as quais atribuís ao
Supremo. Esse “Supremo” atende sempre ao vosso pedido (…) e a sua resposta vos proporciona satisfação. (…) E a maioria gosta desse estado hipnótico, porque nele a pessoa (…)
está (…) fechada, isolada e insensibilizada. Nesse estado, a pessoa está inconsciente. (Que Estamos Buscando, 1ª ed., pág. 156-157)

Quando a mente é posta tranqüila artificialmente, a camada superficial da mente pode receber mensagens, não apenas do seu próprio inconsciente, mas também do inconsciente
coletivo; e essas mensagens são traduzidas segundo o condicionamento da mente. Por essa razão, pode um Hitler afirmar que é guiado por Deus. (…) (Idem, pág. 157)

Por conseguinte, quando a mente é forçada à tranqüilidade por meio de concentração, de conformismo, (…) qualquer espécie de disciplina ou auto-hipnose, fica ela (…) incapaz de
descobrir a realidade. Ela pode projetar a si mesma e ouvir a sua própria voz, (…) que chamamos a voz de Deus - mas isso (…) é coisa de todo diversa do estado de uma mente que
está de fato tranqüila (Idem, pág. 157)

Se observardes o “processo” dessa chamada “meditação”, vereis que ela é uma forma de fuga da realidade. E a realidade é o viver e cada dia, e não a fuga para certo estado de
misticismo que esperais alcançar pelo forçar, pelo controlar, pela repetição de palavras, pela concentração num quadro, numa imagem ou símbolo. (A Suprema Realização, pág.
70)

Afinal de contas, um método só serve para exercitar a mente a funcionar em certa direção. Tal prática gera a auto-hipnose: o indivíduo tem visões, sensações de toda ordem - por
conseguinte, gradualmente, ela o habilita a fugir da vida. Assim, existe uma distância entre o viver e a busca da meditação. (…) (Idem, pág. 70-71)

(…) Assumir uma postura estudada ou executar certos atos para meditar, deliberada e conscientemente, implica apenas que estais em atividade no campo de vossos próprios
desejos e de vosso condicionamento; isso, por conseguinte, não é meditação. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 73)

Observando-se devidamente, pode-se ver muito bem que aqueles que costumam meditar, têm imagens de toda espécie; vêem Krishna, Cristo, Buda, e pensam ter ganho alguma
coisa (…); trata-se de um fenômeno muito simples e claro: “projeção” do condicionamento da pessoa, de seus temores, suas esperanças. (Idem, pág. 73)

Nada há de extraordinário em tais visões. São produto do inconsciente, condicionado. Se uma pessoa se torna relativamente quieta, lá desponta ele (o inconsciente), com suas
imagens, símbolos, idéias. Assim, pois, visões, “êxtases”, imagens, idéias não têm o mínimo valor. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 73)

(…) É o mesmo que um homem recitar certo mantra ou certa frase dúzias de vezes. Quando repetis um nome seguidamente, o resultado é bem óbvio: embotais e embruteceis a
mente; e, nesse embrutecimento, ela se torna quieta. O mesmo resultado se obtém tomando uma droga e, nesse estado de quietação, de narcose, podem-se ter visões. (…) (Idem, pág.
73)

Agora, a palavra “meditação” significa, em geral, pensar a respeito de uma coisa, investigá-la, refletir profundamente nela, ou pode significar um estado mental contemplativo,
independente do processo do pensamento. (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 102)

A meditação, para mim, não é nenhuma dessas coisas. Meditação é o total “esvaziamento” da mente - e não se pode esvaziar a mente à força, de acordo com algum método. (…)
(Idem, pág. 102)

Toda busca de visões, todo intento de aumentar a sensibilidade por meios artificiais - drogas, disciplinas, adoração, oração - constitui atividade egocêntrica. (Idem, pág. 102)

(…) Sem compreendermos a nós mesmos, torna-se a meditação um processo de auto-hipnose, em que atraímos o nosso estado de alma de acordo com o nosso condicionamento, com
a nossa crença. Quem sonha deve compreender a si próprio, e não os seus sonhos: deve despertar e pôr termo a eles. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 182)

Assim, rezas, visões, o sentar-se a um canto, de dorso erecto, respirando corretamente, fazendo exercícios com a mente são coisas imaturas, meras infantilidades; nada significam
para o homem que deseja realmente compreender o pleno significado da meditação. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 74)

(…) Mas a meditação a que se associa postura, respiração, repetição de palavras, concentração, várias maneiras de provocar visões, sensibilidade exaltada, não é meditação: é
apenas auto-hipnose. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 138)

As várias posturas que uma pessoa assume na chamada meditação - respirar corretamente, sentar-se corretamente, e demais exterioridades superficiais - têm certo afeito de quietar
o corpo. Naturalmente, (…) o organismo físico se torna quieto; mas sua mente continua superficial. Não se pode tornar a mente ampla, profunda, sã, vigorosa, lúcida, por meio da
respiração. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 71)

E há também as novas drogas que se estão experimentando (…) Mescalina, L.S.D., etc. Muitas pessoas as tomam para terem uma experiência extraordinária do real; pensam que
(…) se transportarão ao nirvana. O efeito dessas drogas (…) é este: tornam, temporariamente, o sistema nervoso supersensível, superaguçado. (…) (Idem. pág. 71)

A meditação, como geralmente a compreendemos e praticamos, é uma atividade de expansão do “ego”. Ela é, freqüentemente, uma forma de auto-hipnose. Na chamada meditação,
o esforço é dirigido, muitas vezes, no sentido de nos igualarmos a um mestre, o que é imitação. Toda meditação dessa espécie leva-nos à ilusão. (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 270-271)

Meditação não é repetição de palavra, nem o experimentar de uma visão, nem cultivo do silêncio. A conta do rosário e a palavra podem de fato quietar a mente tagarela, mas isso é
uma forma de auto-hipnose. O mesmo efeito se obteria com uma pílula. (A Outra Margem do Caminho, pág. 18)

Qual o problema compreendido na meditação? Nela só existe o ente que “vem a ser”; na meditação, temos o pensador e o pensamento. O problema da meditação é o “meditador”.
O meditador, porém, tem muitos pensamentos. Os pensamentos e o “meditador” buscam “vir a ser”. (…) É só o que conhecemos: o pensador que procura modificar seus
pensamentos, (…) elevar os seus pensamentos, subir, subir. Quem faz o esforço é o pensador, o “eu” - moldando, controlando, guiando, aspirando, freando o pensamento. É isso
que chamais de meditação. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 125)

(…) Pois bem; compreendereis a vós mesmos a sós, ou em companhia de muitos? Esses muitos podem ser um empecilho à meditação, como também o pode ser o estar só. O próprio
peso da ignorância de muitos que não compreendem a si próprios, pode subjugar o indivíduo que esteja empenhado em compreender-se pela meditação. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 159)

O grupo poderá estimular o indivíduo, mas estímulo é meditação? A dependência de um grupo gera conformidade; a adoração ou prece em conjunto nos torna acessíveis a
sugestões e influências, privando-nos do pensar. (Idem, pág. 159)

A meditação no isolamento pode, também, criar empecilhos e fortalecer os preconceitos do indivíduo e o seu apego aos padrões a que se submeteu. Não havendo flexibilidade, (…)
ardorosa vigilância, o mero “viver só” fortalece as tendências e idiossincrasias da pessoa, solidifica os hábitos e aprofunda as rotinas do pensamento-sentimento. Sem compreender
o significado da meditação, o meditar solitário pode redundar em egocentrismo, no estreitar da mente-coração. (…) (Idem, pág. 159-160)

Pergunta: Credes que a repetição de palavras, por mais sagradas, seja meditação?

Krishnamurti: A meditação não pode produzir-se mediante repetição de palavras nenhumas, por meio daquilo que os hinduístas chamam mantras e vós chamais “oração”. Orações
e mantras só servem para entorpecer a mente. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 97)

Pelo engrolar (murmurar incompreensivelmente) repetidamente uma série de palavras, podeis pôr-vos a dormir muito agradavelmente. (…) Nessas condições soporíferas,
sentimo-nos num estado extraordinário; mas isso não é meditação. Significa, apenas, narcotizar-se com palavras. Um homem pode também narcotizar-se tomando certos
preparados químicos ou bebidas alcoólicas. (…) (Idem, pág. 97-98)
Pergunta: Tenho procurado meditar da maneira por vós sugerida. (…) Penetrei, com esse meditar, a certa profundidade. Parece-me haver alguma relação entre a meditação e os
sonhos. Que achais?

Krishnamurti: Para os que praticam a meditação, é ela um processo de vir a ser, (…) de construção, de rejeição ou limitação, de concentração. Adotam (…) técnicas variadas para
não se deixarem prender (…); mas o meio lhes molda a mente-coração, e acabam (…) escravos dele. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 116-117)

Se desejais alcançar determinado fim, procurais e encontrais (…), mas esse fim não é o Real. O Real surge espontaneamente, não podemos procurá-lo; ele deve vir por si, não o
podemos atrair. (…)(Idem, pág. 117)

Mas a meditação, como geralmente se pratica, é anseio de vir a ser ou de não vir a ser, uma forma sutil de expansão e afirmação do “eu”, dentro do padrão da dualidade. O
esforço por vir a ser, positiva ou negativamente, não põe termo ao conflito; só com a extinção do anseio se obtém a tranqüilidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 117-118)

Quando você medita, tem esperança de alcançar um resultado, de se tornar alguma outra coisa, além do que você é. Essa é a qualidade da medida, que é comparação. E
comparação é desordem. Quando estou comparando a mim mesmo com o que eu deveria ser, estou tentando ser melhor do que realmente sou. Isso cria um constante conflito, não
é? Por isso, é possível viver sem comparação alguma, não apenas biologicamente, fisiologicamente, mas, como é mais importante, psicologicamente, interiormente - nunca
comparando a si próprio com outra coisa, outra pessoa, porque assim a mente, o cérebro, se torna livre do conflito dos opostos? (…) (The World of Peace, pág. 90-92)

Pergunta: Pode a mente religiosa ser adquirida pela meditação?

Krishnamurti: A primeira coisa que se deve compreender é que ninguém pode adquiri-la, (…) obtê-la, e que ela não pode ser produzida pela meditação. (…) O senso de alcançar,
realizar, adquirir, comprar, deve cessar totalmente, para que ela seja. (…) Descobrir a cada momento da vida diária o que é verdadeiro e o que é falso, isso é meditação. A
meditação não é certa coisa para a qual fugimos, (…) em que se nos dão visões e toda sorte de sensações; isso é auto-hipnose, infantilidade. Mas observar cada momento do dia,
ver como o vosso pensamento está funcionando, (…) o mecanismo de defesa em ação, ver os temores, ambições, a avidez, a inveja - observar tudo isso, investigá-lo a todas as horas,
isso é meditação, ou faz parte dela. (…) (O Passo Decisivo, pág. 196)

Perg.: Qual, é o melhor método de tranqüilizar a mente? A meditação e a repetição do nome de Deus são o único método reconhecido. Por que as condenais? (…)

Krishnamurti: Qual é a finalidade da meditação? É a de aquietar a mente? O processo de exclusão é meditação? Entremos na questão negativamente, visto que não sabemos o que
é meditação correta. (…) É por meio de uma série de negações do pensamento, ou por meio de resistência, que se alcança a quietude mental? (O que te fará Feliz?, pág. 88-89)

Isto é, a mente é errática, ela divaga incessantemente; e vós tratais de seguir uma direção, resistindo a todas as outras, o que representa um processo de exclusão, de rejeição.
Levantais uma muralha de resistência, pela concentração num pensamento que haveis escolhido, e procurais repelir todos os demais. É o que fazeis. (…) (Idem, pág. 89)

Pergunta: Qual a diferença entre meditação e contemplação?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, que entendeis por contemplação? Se a contemplação supõe uma entidade que está tentando contemplar, (…) focar a própria mente, então a
contemplação é a mesma coisa que a chamada meditação em que há um “meditador” a tentar obter um certo resultado. (…) Enquanto há observador, pensador, “experimentador”,
não há possibilidade de meditação. Meditação não é coisa que se possa aprender de um livro e depois praticar. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 101)

Krishnamurti: Sim. Existe uma meditação que não é criada, determinada, que não constitui prática, prática, prática, que não tem nada a ver com tudo isso? Porque dessa forma eu
a pratico para me tornar um homem rico, eu tenho um propósito deliberado. Portanto, não pode ser meditação como a fazem agora. Talvez exista uma meditação que não tenha
nada a ver com tudo isso, e eu digo que existe. (The Future is Now - Last Talks in India, pág. 35)

Portanto, (…) examinemos o que é meditação - não “como” meditar. (…) Quando se pergunta “como”, o que se deseja é um sistema, um método, um esquema. (…) Quando alguém
nos diz como meditar, essa pessoa não sabe o que é meditação. O que diz: “Eu sei”, não sabe. (…) Porque se o observarmos, vemos que, quando se pratica algo repetidamente, uma
e outra vez, a mente se torna mecânica. Já é mecânica, (…) assim, pouco a pouco, nossa mente se atrofia. (…) (La Llama de la Atención, pág. 29)

A mente tem de ser livre, totalmente silenciosa e não sujeita a controle algum. Quando a mente é por completo religiosa, não só é livre, senão que é capaz de investigar a natureza
da verdade, para a qual não existe guia nem caminho algum. É só a mente religiosa, (…) livre, a que pode dar com aquilo que está mais além do tempo. (Idem, pág. 32)

(…) A meditação não é coisa separada da vida cotidiana, nem consiste em aprender certo artifício num mosteiro, seja do Zen, seja de outra religião; a meditação é uma maneira de
vida e faz parte daquele imenso silêncio a que nos estamos referindo. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 82)

(…) Todo homem deseja mais e mais experiência, porque está farto da “experiência” que lhe oferece a rotina diária. (…) Desejando mais experiência, recorre a drogas e
estimulantes de toda espécie, para ter uma nova experiência, novas visões, novos estados de exaltada sensibilidade. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 138)

Assim, a mente que está em busca de mais experiência está apenas perpetuando o centro criador de espaço e, por conseguinte, nunca é livre. A experiência só vem (…) de um
“desafio” e uma “resposta”. E o inadequado da “resposta” faz desejar mais experiência. (…) Por conseguinte, a mente que busca, deseja ou precisa de experiência, é aquela que
não compreendeu a experiência; e isso escraviza mais ainda a mente. (…) (Idem, pág. 138-139)

Deveis, por conseguinte, livrar-vos dessa ânsia de experiência, pois, conforme expliquei, no momento em que desejais experiência, estais fortalecendo o centro, o observador, e
criando um limitado espaço ao redor dele, espaço em que ficais vivendo. Nesse espaço tendes as vossas relações, a vossa família, o padrão de moralidade, etc; mas (…) esse espaço
nunca vos proporcionará a liberdade. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 139)

Vede (…) que estamos investigando a questão da liberdade, do espaço e do amor, e esta investigação é um processo de meditação. Por conseguinte, estou eliminando tudo o que
não é meditação: experiência, oração, repetição de palavras, de mantras, (…) recitação de um rosário. O repetir palavras e revolver contas acalma o espírito. (Idem, pág. 140)

Se ficais a repetir seguidamente a mesma coisa, qual uma máquina, vossa mente de certo se torna quieta - isto é, se entorpece. (…) Mas isso não é meditação. Ficar sentado na
posição adequada, com o tronco ereto, respirando regularmente - isso proporciona certa quietude ao corpo, mas não é meditação. (…) A mente vulgar, (…) superficial (…) estreita,
(…) sufocada pelo ciúme, pelo furor, pela cólera, amargura, agonia, (…) que não tem nenhum senso da beleza (…) essa mente não está meditando: está (…) a morrer. (…) Nada
disso é meditação, porque a meditação é algo que ocorre naturalmente, não é preciso provocá-la (Idem, pág. 140)

A ânsia de experiência é o começo da ilusão. Como agora percebeis, vossas visões eram, tão só, uma projeção de vosso próprio fundo, (…) condicionamento, e eram essas projeções
que estáveis experimentando. Isso, por certo, não é meditação. O começo da meditação é a compreensão do fundo, do “eu”, e, sem essa compreensão, o que se costuma chamar
meditação, por mais aprazível ou dolorosa que seja, é simples forma de auto-hipnose. Praticastes autodomínio, controle do pensamento, e vos concentrastes em fomentar a
experiência. Isso é ocupação egocêntrica, e não meditação. O percebimento da verdade nos liberta a mente do falso. (…) (Diálogos sobre a Vida, pág. 14)

O meditador é o censor, o observador, o produtor do esforço “correto” e do esforço “errado”. Ele é o centro, e desse centro tece a rede do pensamento; mas o próprio pensamento
o criou; o pensamento criou a separação entre pensador e pensamento. A menos que desapareça essa divisão, a chamada meditação só robustece o centro, o experimentador que se
considera separado da experiência. O experimentador está sempre ansiando por mais experiência. (…) Dessarte, a mente está sempre condicionando a si mesma.(…) (Diálogos
sobre a Vida, pág. 151)

As experiências extraordinárias são totalmente sem importância e perigosas. A mente saciada de experiências quer uma experiência mais ampla, maior, mais transcendente. O mais
é inimigo do bom. O bom só floresce na compreensão do “que é”, não no desejo de mais experiências. (…) Em meditação há coisas que acontecem, para as quais não há palavras;
e, se falardes sobre elas, deixarão de ser o real. (Diálogos sobre a Vida, pág. 205)

Todas essas formas de meditação estão baseadas no cultivo do silêncio do pensamento, na quietação do pensamento. Ou seja, há um controlador que vai controlar o pensamento
através de um sistema, de uma prática, de um certo tempo diariamente dedicado à quietação, etc. Há sempre o atento controlador. Mas ele é por si mesmo atividade do pensamento.
Então você anda ao redor e ao redor em círculo, como um cão perseguindo a própria cauda. E isso é chamado de meditação! (The World of Peace, pág. 88)

Ora, meditação é algo inteiramente diferente. Você tem de ter estabelecido os fundamentos da ordem em sua vida - ordem, entende? Não pode haver ordem se há medo, (…) se há
algum tipo de conflito. Sua casa, não a externa, mas a interna, deve estar em completa ordem, de tal forma que haja grande vigor, estabilidade, (…) ordem. Só então você pode
perguntar o que é a verdadeira meditação. {Idem, pág. 88)

(…) Você pode sentar-se às margens do Ganges ou em outro lugar e realizar todo tipo de artifícios com você mesmo. Mas isso não é meditação. A meditação é algo que se vincula à
vida diária. É seu movimento de vida, e então há nele liberdade, ordem e o despertar de grande silêncio. Só quando se chega a esse ponto, descobre-se que há alguma coisa
absolutamente sagrada. (Mind Without Measure, pág. 32)

Estamos preocupados com a compreensão total do homem. E isso é meditação. Meditar não é fugir do “que é”. É compreendê-lo e ir além dele. Sem compreender “o que é”, a
meditação torna-se apenas uma forma de auto-hipnose e fuga em visões e vôos imaginativos de fantasia. A meditação é a compreensão de toda a atividade do pensamento que dá
origem ao “eu”, ao “ego”, como fato. (…)(O Começo do Aprendizado, pág. 204)

Meditação não é concentração (…) não é prece, não é devoção, (…) não é processo de disciplina. Que é ela então? (…) A compreensão dessas coisas significa o descobrimento do
vosso próprio processo pensante, o que representa autoconhecimento. (…) Por conseqüência, a meditação é o processo da compreensão de vós mesmos. Não há meditação sem
autoconhecimento; eis o que acabamos de descobrir. (O que te fará Feliz?, pág. 95)

Atenção, Tranqüilidade, Silêncio, Vazio, Paz, Alegria


No cultivo da mente, nossa ênfase não deve estar na concentração, mas na atenção. A concentração é um processo de forçar a mente a focalizar-se num ponto, ao passo que a
atenção não tem fronteiras. (…) A atenção não tem limites; ela está livre das fronteiras do conhecimento. O conhecimento ocorre através da concentração (…) dentro de suas
próprias fronteiras.

No estado de atenção, a mente pode usar e usa o conhecimento, o qual é, necessariamente, resultado da concentração; mas a parte nunca é o todo, e a soma das várias partes não
produz a percepção do todo. O conhecimento (…) não acarreta a compreensão do imensurável. O total nunca pode ser abrangido por uma mente concentrada. (O Verdadeiro
Objetivo da Vida, pág. 17)

Assim sendo, posso prestar atenção sem ter motivo algum? Pode a minha mente existir sem nenhum incentivo, nenhum “motivo” para transformar-me ou não me transformar?
Porque todo motivo resulta da reação de determinada cultura, (…) de determinado fundo. (…) (Transformação Fundamental, pág. 57)

(…) A mim me parece que a única coisa importante é a atenção. (…) A atenção que tem em mira um objetivo já não é atenção. (…) Nesse estado de atenção completa, não há
contradição dentro de nós mesmos, não há batalha entre o consciente e o inconsciente - é a atenção total.

Por conseguinte, não há necessidade de percorrer todo o “processo” psicanalítico, examinando, uma a uma, as lembranças, para ficarmos livres delas. (Transformação
Fundamental, pág. 42)

Como suscitar o estado de atenção? Ele não pode ser cultivado por persuasão, por comparação, por recompensas ou castigos. (…) A eliminação do medo é o começo da atenção. O
medo deve existir enquanto houver um impulso para ser ou vir a ser, que é o móvel do sucesso, com todas as suas decepções e tortuosas contradições. Você pode ensinar a
concentração, mas a atenção não pode ser ensinada. (…) Assim, a atenção surge espontaneamente, (…) e tem consciência da ação desinteressada que vem com o amor. (…) (O
Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 18)

(…) A meditação - não como praticada (…) por diferentes grupos, porém a meditação real - observa cada coisa com toda a atenção; (…) totalmente, e não apenas partes dela. A
atenção não é fragmentária, porém uma coisa total. (…) Uma pessoa se concentra, e isso é um esforço: é excluir, é fechar-se entre muros. Mas a atenção não tem muros, e assim é a
meditação. Eis o que é meditação - quando a mente está totalmente em silêncio. (A Essência da Maturidade, pág. 118)

Não há começo nem fim na meditação; tampouco bom êxito ou malogro, ganho ou perda; é um movimento livre de objetivos que transcende o tempo e o espaço. Não se pode
experimentar a meditação; o ato de experimentar é limitado pelo tempo, pelo espaço, pela memória e pelo reconhecimento. O meditar surge da observação passiva, livre de
autoridade, ambição e medo. Sem liberdade e autoconhecimento, a meditação nada significa. (…) Surge a compreensão do que é, quando cessa o conflito da escolha. O movimento
da meditação nasce da completa atenção. (Diário de Krishnamurti, pág. 75)

Como dissemos, a atenção é de todo diferente da concentração. O percebimento e a atenção (não a concentração) são inseparáveis. A mente bem atenta pode observar com toda a
clareza, sem nenhuma deformação, (…) resistência e, todavia, funcionar eficientemente, objetivamente. (…) A meditação é uma coisa que “acontece” naturalmente. A mente que
está investigando chega inevitavelmente à meditação, a mente vigilante, que observa em si própria “o que é”, essa mente está compreendendo, conhecendo a si própria. (Fora da
Violência, pág. 48-49)

Ora, quando se verifica a atenção completa? Por certo, só quando há amor. Havendo amor, há atenção completa. Não há necessidade de nenhum “motivo”, nenhum objetivo,
nenhuma compulsão: ama-se simplesmente isso. (…) (O Homem Livre, pág. 89)

Assim, a atenção só passa a existir quando há busca não baseada em progresso pessoal ou em satisfação. (…) Você descobrirá, quando houver amor - o qual se exprime através de
humildade, de cortesia, de paciência, de delicadeza - que já está livre das barreiras levantadas pela insensibilidade. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 19)

(…) A quietude vem à existência quando a mente está livre de todo esforço, quando já não está subordinada ao padrão da disciplina, do medo, da realização de um fim. Não há
então acumulação de lembranças, não há resíduo algum, não há experimentador. (…) Quando a mente se acha tranqüila, quando não há movimento de esforço (…) só então se
manifesta a verdade, presente momento a momento. (Visão da Realidade, pág. 214)

(…) Não podeis criar tranqüilidade à força, (…) tornar a mente serena, (…) forçar o pensamento a parar. Cumpre-nos compreender o processo do pensamento e transcender o
pensamento; só então a verdade libertará o pensamento do seu próprio processo. (A Arte da Libertação, pág. 124)

Nessas condições, só quando a mente é capaz de perceber a si mesma em sua relação com todas as coisas, é-lhe possível ficar quieta, tranqüila. A mente tranqüilizada por um
processo de isolamento, de sujeição, de controle, não está tranqüila, porém morta; só se está conformando a um padrão. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 20)

A mente só pode estar quieta quando não está experimentando, isto é, quando não está dando nomes, registrando ou depositando na memória. Esse dar nome e registrar é um
processo constante das diferentes camadas da consciência, e não apenas da superficial. Mas, quando a mente superficial está quieta, a mente mais profunda pode enviar suas
sugestões. Quando a consciência total está silenciosa e tranqüila, livre de todo vir-a-ser, o que é espontaneidade, só então o imensurável se apresenta na existência (…)
(Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 42)

(…) A tranqüilidade só vem quando compreendemos todo o processo do pensamento; porque compreender o processo é eliminar o processo, é o fim do processo (…) é o começo do
silêncio. Só quando a mente está completamente silenciosa, não só no nível superficial, mas profundamente, (…) até os mais profundos níveis da consciência - só então pode o
desconhecido despontar na existência. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 183-184)

Nessas condições, só o homem que compreendeu a mente pode saber o que é a Realidade, o que é Deus. (…) Mas se vós e eu estudarmos este vasto problema da mente, se
devassarmos a sede do “eu”, veremos então que, dessa investigação, resulta a tranqüilidade da mente, (…) não provocada, (…) surgida espontânea, natural e livremente; e nessa
tranqüilidade surge a visão da Totalidade. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 26-27)

Se a mente puder libertar-se do seu condicionamento, dos seus desejos, (…) disciplinas, padrões, acidentes, haverá então o libertar da mente do passado. Dessa liberdade virá o
silêncio, a tranqüilidade mental. Essa tranqüilidade não pode ser feita, mas ocorre quando a mente é livre. (…) O que está num movimento extraordinário, numa velocidade
extraordinária, está quieto. E dessa tranqüilidade surge o mistério da criação, aquela verdade não mensurável pela mente. (…) (As Ilusões da Mente, pág. 107)

(…) Quando a mente está de todo tranqüila, quieta, sem senso de aceitação ou rejeição, (…) aquisição ou acumulação, quando existe esse estado de tranqüilidade, no qual o
experimentador não existe - só então sentimos aquilo a que podemos chamar de Deus. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 36)

(…) Quando está presente o “experimentador”, então já não há tranqüilidade, mas, apenas, uma continuidade de sensação. A meditação é todo esse processo que produz um estado
no qual a mente se torna tranqüila, não mais “projetando”, não mais desejando, defendendo, julgando, experimentando. Nesse estado, o novo pode existir. “O novo” não pode ver
verbalizado; não há palavras que o exprimam; portanto, ele não é comunicável. É algo que se manifesta quando a mente é também nova; e todo esse complexo “processo” de
autoconhecimento é meditação. (Claridade na Ação, pág. 165)

Essa tranqüilidade da compreensão não é produzida por ato da vontade, porquanto a vontade é também parte do vir-a-ser, do ansiar. Só pode estar tranqüila a mente-coração
depois de cessar o tormento e o conflito do anseio. Assim como um lago se apresenta calmo após o vendaval, assim também está tranqüila a mente-coração, em sua sabedoria,
depois de compreender e transcender o anseio e a distração. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143)

Somente pela percepção e meditação profundas, pode verificar-se a libertação do anseio, do “ego”. É só aí que há a verdadeira solidão. (…) Quando o pensador e seu pensamento
são um só, tendo transcendido toda e qualquer formulação, existe aquela tranqüilidade na qual, tão somente, se encontra o Real. Meditar é penetrar as múltiplas camadas
condicionadas e disciplinadas da consciência. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 160-161)

Não sei se alguma vez ficais em silêncio, interiormente. Nesse estado de silêncio interior, quando caminhais pela rua, vossa mente está completamente serena, observando e
escutando, sem pensamento. Conduzindo vosso carro, olhais a estrada, as árvores (…) sem nenhuma interferência do mecanismo do pensamento. Quanto mais funciona o
mecanismo do pensamento, tanto mais a mente se gasta; nenhum espaço fica para a “inocência”, e só a mente “inocente” pode perceber a Realidade. (A Mente sem Medo, 1ª ed.,
pág. 43)

(…) Nessas condições, só a mente que está em silêncio pode receber o desconhecido, porque o desconhecido é imensurável. O que se mede não é o desconhecido; é coisa conhecida,
(…) não é verdadeira, não é real. (Nosso Único Problema, pág. 76)

Se as palavras “serenidade” e “tranqüilidade” significam “fim psicológico” ou morte, então elas servem perfeitamente. (…) Se há Deus, a Verdade, (…) isso só pode ser
encontrado quando estamos livres do “conhecido”. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 62)

Assim, para compreenderdes o que é o silêncio, deveis estar livre da submissão e da imitação (…) da autoridade, (…) das experiências de ontem, que acumulastes. (…) Também, é
necessária a terminação do pensador e do pensamento como duas entidades separadas, (…) o conflito da dualidade. (…) Só a mente “inocente” é silêncio. Alcançado esse estado,
há, então, nesse silêncio, um movimento extraordinário, sem nenhum observador a observar o movimento; só há o movimento. O tempo se tornou inexistente. (Idem, pág. 31-32)

Agora, que é silêncio? É o “espaço” que produzis e chamais “silêncio”, pelo controle, pela repressão do barulho? O cérebro está constantemente ativo, reagindo, com seu próprio
barulho, aos diferentes estímulos. (…) É silêncio a cessação do barulho produzido pelo “eu”? A cessação da “tagarelice”, da verbalização, de todo e qualquer pensamento? Mesmo
quando já não há verbalização e o pensamento aparentemente cessou, o cérebro continua em movimento. Não é silêncio, por conseguinte, tanto a cessação do barulho como a
completa cessação de todo movimento? Observai isso, penetrai-o. (Fora da Violência, pág. 84-85)

O silêncio, pois, nasce da solidão. Esse silêncio está além da consciência. Consciência é prazer, pensamento; é o maquinismo (consciente ou inconsciente) do prazer e do
pensamento. Nesse campo nunca é possível o silêncio, e qualquer ação que nele se verifique terá sempre confusão, (…) sofrimento, criará sempre aflição. (Viagem por um Mar
Desconhecido, pág. 86)

Quando reina esse silêncio, manifesta-se então um estado extraordinário, um estado criador. (…) Mas esse silêncio não pode ser um alvo a atingir. (…) Ele começa a existir
somente depois de compreendidas as tendências do “eu”, e depois que o “eu”, com todas as suas atividades e perversidades, deixa de existir. Isto é, logo que a mente cessa de
criar, começa a haver criação. (…) (Nós somos o Problema, pág. 77-78)

O silêncio e a liberdade são inseparáveis. Só a mente que está toda em silêncio (…) pode responder àquela pergunta. Só o silêncio total produzirá a revolução total na psique - não
o esforço, nem o controle, nem a experiência, nem a autoridade. Esse silêncio é extraordinariamente ativo; não é mero silêncio estático. (…) (A Importância da Transformação,
pág. 68)

Só quando (…) O silêncio, em si, é ação - não, primeiro silêncio e depois ação. Provavelmente, isso nunca vos aconteceu: estar completamente em silêncio. Se estais em silêncio,
podeis falar de dentro desse silêncio, embora tenhais vossas lembranças, experiências e conhecimentos. (…) Mas, quando há silêncio, desse silêncio procede a ação, ação que
nunca é complicada, nem confusa, nem contraditória. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 86-87)

Naquela noite, (…) Há o silêncio da mente, nunca perturbado por barulho algum, por nenhum pensamento, ou pela (…) experiência. Esse silêncio é que é “inocente” e, por
conseguinte, infinito. Quando na mente existe esse silêncio, dele brota a ação, ação jamais causadora de confusão e sofrimento. (A Outra Margem do Caminho, pág. 30)

Já alguma vez observastes em silêncio? (…) Escutastes em silêncio ou com o barulho da opinião, do julgamento, da avaliação, aceitação ou rejeição? (…) Porque, se escutastes em
silêncio, compreendestes a totalidade da vida. (…) Observai em silêncio um pássaro, uma árvore, o movimento das nuvens. E (…) observai em silêncio vosso marido ou esposa,(…)
porque tendes imagens dele ou dela. Só no silêncio existe relação, porque no silêncio e pelo silêncio há amor. (A Essência da Maturidade, pág. 119-120)

E, quando se compreendeu esse princípio do prazer, do pensamento, da solidão, e o vazio do silêncio; quando se alcançou esse ponto (…), então, por haver atenção total, há uma
ação proveniente do silêncio (no qual há inação total - e essa inação é ação); e, em virtude dessa total inatividade do silêncio, dá-se uma explosão. Só ao ocorrer essa explosão
total, pode aparecer algo totalmente novo - um “novo” não reconhecível (…), não experimentável. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 87)

A mente que medita contém todas essas variedades, mutações e movimentos de silêncio. Esse silêncio da mente é a essência da verdadeira mente religiosa, e o silêncio dos deuses é
o silêncio da terra. A mente que medita flutua nesse silêncio, e o amor é o modo de ser dessa mente. Nesse silêncio há bem-aventurança e alegria. (A Outra Margem do Caminho,
pág. 30)

O silêncio é absolutamente necessário, para olhardes, escutardes, observardes; se vossa mente está a fazer barulho - e nossa mente está perpetuamente a tagarelar - que
possibilidade tendes de escutar? É muito importante olhar, ver, sem a imagem, e deveis estar em silêncio para olhardes vosso marido ou vossa esposa. É só em silêncio que se
aprende, e o Amor é o silêncio absoluto. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 82)

É um silêncio que o observador não pode experimentar. Se o experimenta e reconhece, isso já não é silêncio. O silêncio da mente que medita não se encontra entre os limites do
reconhecimento, porque é um silêncio sem fronteiras. (O Problema da Revolução Total, pág. 19)

Na atenção - se se chegou até aí - fica o indivíduo livre de todos os afãs do pensamento, com seus temores, suas agonias e seu desespero. (…) Então se está esvaziando o conteúdo
da própria consciência, que está sendo liberada. Este é o significado e a profundidade da meditação: esvaziado de todo o conteúdo, pensamento acaba. (La Totalidad de la Vida,
pág. 140)

A meditação é um movimento dentro do silêncio. O silêncio da mente é o veículo da ação. A ação nascida do pensamento é inação e gera desordem. (…) As células cerebrais, que
durante tanto tempo foram condicionadas a reagir, projetar, defender, afirmar - só se tornam quietas ao verem o que realmente é. Só desse silêncio - em que deixou de existir o
observador, o centro, o experimentador - pode vir a ação não causadora de desordem. Então, ver é agir. Só se pode ver de dentro de um silêncio no qual cessaram toda a avaliação
e todos os valores morais. (A Outra Margem do Caminho, pág. 50)

Meditação é o total esvaziamento da mente. O conteúdo da mente é resultado do tempo, da chamada evolução. (…) A mente anda tão carregada do passado - pois todo saber é o
passado, toda experiência é o passado, e toda lembrança é o resultado acumulado (…) de experiências eis o conhecido. (…) Pode a mente, que é ao mesmo tempo, o “consciente” e
o “inconsciente”, esvaziar-se totalmente do passado?

Nisso é que consiste o movimento da meditação. Se a mente está cônscia de si própria, sem escolha, se está vendo o seu próprio movimento - pode esse percebimento esvaziá-la do
conhecido? Porque, se resta qualquer vestígio do passado, não pode a mente ser inocente. Assim, a meditação é o total esvaziamento da mente. (Fora da Violência, pág. 115)

Para que o desconhecido venha à existência, a mente precisa estar completamente vazia; não pode haver o experimentador (…) o “eu”, com todas as suas lembranças acumuladas,
tanto conscientes como inconscientes. (…) O “eu” não pode experimentar o desconhecido; só lhe é possível experimentar o conhecido, o que foi projetado de si mesmo (…) (Por
que não te Satisfaz a Vida, pág. 35-36)

A meditação, pois, é o esvaziar da mente de todas as coisas que juntou. Se o fizerdes, (…) vereis abrir-se um extraordinário espaço em vossa mente, e esse espaço é liberdade. (…)
Deveis buscar o significado da liberdade. (…) Vereis, então, que meditação é criação. (Experimente um Novo Caminho, pág. 105)

Esse vazio que é força criadora, essa passividade ardente, não se consegue por ato de vontade. É extremamente difícil esse estado para os que são escravos da distração, (…) a
lutar por virem a ser. (…) Essa percepção silenciosa não é ato de determinação, mas surge quando o pensamento-sentimento já não está preso na rede do vir-a-ser. (…) (O Egoísmo
e o Problema da Paz, pág. 87)

Só quando a mente está vazia, existe a possibilidade de criação; mas não me refiro a esse vazio superficial que quase todos conhecemos. Em geral estamos vazios, superficialmente,
e daí o nosso desejo de distração. Queremos distrair-nos e apelamos para os livros, o rádio, (…) conferências e autoridades; a mente está sempre a encher-se. Não é desse vazio que
estou falando, o qual é falta de reflexão. Pelo contrário, refiro-me ao vazio que resulta de uma extraordinária atividade pensante, em que a mente percebe seu poder de criar ilusões
e passa além. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 137)

Foi ao acordarmos (…) A consciência não pode conter a imensidão da inocência; está apta a recebê-la, mas não pode buscá-la nem cultivá-la. A totalidade da consciência tem de
aquietar-se, cessando todo desejo e busca. Aquilo que não tem começo nem fim surge quando a consciência silencia. Meditar é esvaziar a consciência, não com o intuito de receber,
mas para despojar-se de toda finalidade. É preciso haver espaço para o silêncio, não o espaço criado pelo pensamento e suas atividades, mas aquele que vem por meio da negação
e da destruição, quando nada mais resta do pensamento e de suas projeções. Só no vazio ocorre a criação. (Diário de Krishnamurti, pág. 45)

(…) Porque, se a mente não está vazia, é mecânica; só repete. Só desse vazio extraordinário, vigilante, sensível, pode provir o novo. O novo - se se pode usar essa palavra - é Deus.
(…) Mas é naquela mente vazia que pode ocorrer a criação; só nela pode existir o amor. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 16)

Ao atravessarmos a ponte, no meio do bosque (…), a meditação adquiria novo significado. Um silêncio espontâneo vinha da ausência de desejo. (…) O pequeno córrego, que vinha
de longe, transbordava de alegria. (…) Infinita e ilimitada imobilidade, que brotava da mente total. (…) O silêncio é sempre novo. (…) A meditação é a ausência da consciência,
resultado do tempo e do espaço. O pensamento (…) não pode de maneira nenhuma provocar esse silêncio; deve ser espontâneo o findar do intrincado e sutil mecanismo cerebral.
(…) O silêncio é essencial para que ocorra a explosão da criação. (Diário de Krishnamurti, pág. 63)

Primeiro, olhemos o quadro todo. Então, poderá a mente, que pertence ao tempo e ao espaço, investigar em um estado isento de espaço e de tempo, por ser esse o único estado em
que é possível haver criação? A mentalidade técnica, que adquiriu conhecimentos especializados, pode inventar, adicionar, mas jamais criará. A mente que não dispõe de espaço,
de vazio de onde ver, é sem dúvida incapaz de viver em um estado não-espacial, atemporal. (Ensinar e Aprender, pág. 125)

Assim sendo, não pode a mente que busca alimento para sua satisfação, viver num estado atemporal, de não-aquisição, (…) e se encontre, por essa razão, extraordinariamente
tranqüila?Porque, nessa tranqüilidade, talvez possa surgir aquilo que é criador, que é atemporal. (Poder e Realização, pág. 29)

( … ) Ora, vós por certo saís do tempo quando estais vitalmente interessado - e entrais naquela existência atemporal, que não é uma ilusão, uma alucinação por nós produzida.
Quando isso acontece, não tendes problema algum, porque o “eu” não está então preocupado consigo mesmo; e ficais, então, afastado da onda de destruição. (…) (Da Insatisfação
à Felicidade pág. 22)

Quando a mente está assim cônscia, totalmente cônscia, então não há busca; a mente já não está (…) buscando satisfação, pensando em termos de realização. Não é a mente então,
ela própria, atemporal? Enquanto a mente compara, condena, julga, está condicionada, e está no tempo; mas, quando tudo isso tiver cessado, de todo, não se acha então a própria
mente naquele estado que se pode chamar “eternidade”? (…) (Transformação Fundamental, pág. 87)

Nasce a sabedoria só quando há liberdade da mente; e a mente que está tranqüila encontrará o atemporal, que é o imensurável, surgido na existência. Esse estado não é um estado
de experiência. (…) O que lembramos, repetimos, e o imensurável não é repetível, não é cultivável. A mente tem de ser induzida a recebê-lo de maneira nova, (…) e a mente que
acumula saber, virtude, é incapaz de receber o eterno. (Nosso Único Problema, pág. 77)

Por que sentis que deveis meditar? (…) Digo que há uma alegria, uma paz, na meditação sem esforço, e isso só pode acontecer quando a vossa mente estiver livre de toda escolha,
(…) já não criar uma divisão na ação. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 85)

(…) Se realmente viverdes, se tentardes libertar a mente e o coração de toda limitação - não pela auto-análise e introspecção, mas pelo apercebimento no agir - então os obstáculos
que presentemente vos impedem a plenitude da vida ruirão. Esse apercebimento é a alegria da meditação - meditação que não é o esforço de uma hora, mas que é ação, que é a
vida mesma. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 87)

Suponde que vos esforçais para vos concentrardes em uma idéia. Completai cada pensamento, não tenteis bani-lo. Assim, a vossa meditação não se limitará a umas poucas horas ou
a uns poucos momentos durante o dia. Será, antes, uma contínua vigilância da mente e do coração, durante o dia inteiro; e isto, para mim, é a verdadeira meditação. Nisso há paz,
nisso existe alegria. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 133)

(…) Sem a liberdade interior da Realidade, não encontrareis nem a alegria nem a paz. Na busca e na descoberta daquela Realidade interior, podemos não somente contentar-nos
com pouco, mas também adquirir o conhecimento de algo que ultrapassa todos os padrões. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 34)

Deveis ter uma mente virtuosa. (…) Da atenção completa vem o silêncio total, não só no nível da mente consciente, mas também no nível do inconsciente. (…) Todo experimentar
terminou. (…) Estando totalmente desperta, a mente é a luz de si própria. Nesse silêncio, encontra-se a paz. (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 106)

Só a mente que se acha inteiramente em paz (mas não dormindo), que não se põe hipnoticamente num estado que ela considera ser um estado de paz - a mente que está realmente
em paz, só ela pode descobrir o que é a verdade, o que significa viver, (…) morrer, e conhecer o amor em toda a sua profundeza e amplidão. (O Novo Ente Humano, pág. 71)

(…) Digo que há uma alegria, uma paz, na meditação sem esforço, e isso só pode acontecer quando a vossa mente estiver livre de toda escolha, (…) já não criar uma divisão na
ação. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 85)

(…) A meditação é a destruição do próprio pensamento e não o produto do pensamento, enredado em suas mesmas e infrutíferas buscas, complexidades e visões. Estilhaçando-se no
confronto com a sua própria nulidade, o pensamento finda na explosão da meditação, cujo movimento é livre e espontâneo. (…) Era um processo mental integrado, que emergia do
infinito vazio do nada. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 135)

Meditava-se no vazio imensurável do nada. Incapaz de acompanhar o seu movimento avassalador, o pensamento não ia além do estreito limite do tempo. Livre do sentimento, que
desfigura o amor, era o vazio da ausência de espaço. Imóvel, o cérebro não participava do processo da meditação; apesar de quieto, ele se movia para dentro e para fora de si
mesmo, sem penetrar na vastidão daquele vazio. (…) Toda forma de pensamento é dissipação de energia, e, para que haja energia, é preciso cessar de pensar e sentir. Ainda que
seja uma barreira ao ato de meditar, o pensamento só deixa de existir com a meditação. (Diário de Krishnamurti, pág. 133)

(…) Sim, (…) Porém existe uma coisa muito mais imensa do que isso. O vazio, o silêncio e a energia são imensos, realmente imensuráveis. Mas existe uma coisa - estou usando a
palavra “maior” do que isso. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 49)
(…) Sim. Assim, se eu disser que existe uma coisa maior do que todo esse silêncio, essa energia - você aceitaria isso? (Idem, pág. 49)

(…) Não existe nada além. Eu me mantenho fiel (…). Sinto que isso é o começo e o fim de tudo. O fim e o início são a mesma coisa - certo? (Idem, pág. 49)

Comunicação, Comunhão; Diferença, Palavra, Carga, Efeito


Há certas coisas que devem desde já ficar assentadas. Primeiro, temos de compreender o que é “comunicação”. (…) Para que dois de nós, vós e eu, possamos comunicar-nos, deve
haver não só compreensão verbal do que se diz, no nível intelectual, mas também, e conseqüentemente, o ato de escutar e de aprender. (…)

Em segundo lugar, cada um de nós tem, de certo, o seu fundo de conhecimento, de preconceito e experiência, e também seus sofrimentos e os inúmeros e complexos problemas
inerentes à vida de relação. Tal é o fundo (background) da maioria de nós, e com ele pretendemos escutar. (…) (Como Viver neste Mundo, pág. 7)

Não sei se alguma vez examinastes a maneira como escutais, não importa o quê - uma ave, o vento entre as folhas, a correnteza das águas, (…) as conversações (…) em vossas
relações. Quando tentamos escutar, achamo-lo muito difícil, porque estamos sempre a projetar nossas opiniões e idéias, nossos preconceitos, nosso fundo, nossas inclinações,
nossos impulsos. (…) Só se pode escutar e, por conseguinte, aprender, quando nos achamos num estado de atenção, (…) de silêncio, em que todo aquele fundo está em suspenso,
quieto; então (…) há possibilidade de comunicação. (Idem, pág. 8)

O problema da comunicação entre pessoas apresenta sempre grandes dificuldades. O comungar uns com os outros a respeito de assuntos sérios, requer (…) atenção de especial
natureza. Porque, em geral, acontece que, quando tentamos comunicar alguma coisa a outrem, nós mesmos não estamos vendo a coisa com clareza, e o outro não está realmente
prestando atenção ou escutando; está todo ocupado com seus próprios problemas, ânsias, (…) temores. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 106)

(…) Logo, a comunicação implica também escutar, não só o significado das palavras, senão a intenção do que fala, usando as palavras. (…) Quando usamos a palavra, esta deve
ter uma qualidade de retidão sem duplo sentido, e também um verdadeiro impulso por comunicar algo. Nesse impulso, tem de haver afeto, solicitude, consideração - o sentimento de
que você deve compreender, não de que eu sou superior e você inferior. (…) (Tradición y Revolución, pág. 350)

Para me pôr em contato com um problema, quer se trate de problema intelectual, emocional, psicológico, quer de problema “espiritual”, (…) tenho por certo de compreender, em
primeiro lugar, o significado e a função das palavras; porque as palavras nos impedem de entrar em contato com o problema. (…) Não sei se já notastes como as palavras, em si,
provocam determinado sentimento. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 13)

É sempre um tanto difícil entrar em comunicação. Tem-se de fazer uso de palavras, e cada palavra tem determinado sentido. Mas devemos ter sempre presente que a palavra não é
a coisa, não transmite o significado total da coisa. Para podermos entrar, real e profundamente, em comunicação, requer-se não só atenção, mas também certa afeição. Mas isso
não significa que devamos aceitar, indiscriminadamente, tudo o que se diz.

Não só devemos manter-nos intelectualmente vigilantes, mas também devemos evitar a armadilha das palavras. Para se estabelecer a verdadeira comunicação entre pessoas (…),
requer-se também (…) plena capacidade de investigação e exame. Só então há comunicação, comunhão. (…) (A Importância da Transformação, pág. 7)

Há várias coisas a considerar. Se escutais com o fundo ou a imagem que formastes a respeito do orador, (…) então é bem evidente que não estais escutando. Estais escutando a
“projeção” que à vossa frente colocastes, e esta vos impede de escutar. (…) (Evidentemente, a verdadeira comunicação ou comunhão só pode verificar-se quando há silêncio.

Quando duas pessoas desejam seriamente compreender certa coisa, aplicando por inteiro a mente, o coração, os nervos, os olhos, os ouvidos, a compreendê-la, então, nessa
atenção, existe certo silêncio; verifica-se então a verdadeira comunicação (…) comunhão. Aí, não há apenas aprender, mas também completa compreensão. (…) (Como Viver neste
Mundo, pág.8)

Krishnamurti: É isto que você está tentando comunicar, Pupul?

P.: Uma das dificuldades em entender e ir adiante é que se recebe sua palavra, falada ou escrita, e ela se torna uma abstração, da qual apenas nos aproximamos. Há, no entanto,
por outro lado, o processo do autoconhecimento, no qual a verdade de sua linguagem pode ser revelada; mas normalmente não acontece desse modo. Parece-me sempre que ouvi-lo
sem obstáculo, pode realizar mudança na natureza da mente como tal, mas a descoberta do real sentido das palavras que o senhor usa pode tão só ser revelada no processo de
autoconhecimento. (Exploration into Insight, pág. 14)

Há (…) grande diferença entre “estar em comunicação” e “estar em comunhão”. Estar em comunicação é partilhar idéias, por meio de palavras, agradáveis ou desagradáveis, (…)
de símbolos, de gestos; e as idéias podem ser traduzidas ideologicamente, ou interpretadas conforme as peculiaridades, as idiossincrasias, o fundo de cada um. (…) (A Mente sem
Medo, 1ª ed., pág. 32)

Na comunhão não há partilhar idéias, ou interpretação de idéias. Pode-se estar ou não estar em comunicação com os outros por meio de palavras, mas estar em relação direta com
o que se está observando; e estar em comunhão com a própria mente, com o próprio coração. Pode-se comungar com uma árvore, por exemplo, ou com uma montanha, um rio. (…)
(Idem, pág. 32)

Com a palavra “comunhão”, refiro-me a um estado mental de sensibilidade, vigilância, observação, em que a mente nem aceita nem rejeita, porém se acha em extraordinária
atividade e é, portanto, capaz de afastar o falso e seguir o verdadeiro. Afinal, é também isso que entendemos por “participar”. Participar de um problema significa que vós e eu o
investigamos juntamente.

E “juntamente” não significa que vós ficais de lado, a escutar explicações (…), porém, sim, que me ides acompanhando e, através das palavras, (…) compreendeis e sentis tudo o
que a palavra sugere. E, mediante essa comunicação verbal, estabelece-se a comunhão; então, estamos participando, compartilhando. (A Suprema Realização, pág.19)

A comunhão, como deveis saber, só é possível quando nos aplicamos com vigor, com verdadeiro empenho à compreensão de uma questão. Sem essa intensidade, (…) exame
vigoroso, deslisaremos facilmente para a argumentação intelectual, diremos que compreendemos intelectualmente, porém não seremos capazes de apreender realmente o que se
está dizendo. Cessa, então, de todo, a comunhão. (Encontro com o Eterno, pág. 35)

Para haver comunhão em relação a um assunto tão difícil e complexo como este, ambas as partes devem escutar. Escutar é uma arte, e a maioria de nós não escuta realmente.
Escutamos nossas próprias opiniões, juízos, avaliações, e mal temos tempo para escutar uns aos outros. No ato de escutar (…) aplicamos a mente, o coração, os ouvidos, tudo, à
compreensão de algo. (…) (Idem, pág. 35)

Bem, até agora vós e eu temos estado em comunicação, e talvez também estabelecido entre nós uma certa comunhão. Mas (…) considero importante compreender o que entendemos
por comunhão. Se alguma vez andastes entre as árvores de uma floresta, ou pela margem de um rio, e sentistes a quietude, tivestes o sentimento de estardes vivendo completamente
com todas as coisas, com as pedras, (…) as flores, (…) o rio, (…) as árvores, (…) o céu - sabereis então o que é comunhão. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 49)

(…) O “vós” - com seus pensamentos, (…) ânsias, (…) prazeres, lembranças, desesperos - cessou completamente. Não existe “vós” como observador, separado da coisa observada;
há só aquele estado de completa comunhão. (…) Ela não é um estado hipnótico. (…) Quando comungais com uma árvore (…), vossa mente não está ocupada com a espécie dessa
árvore, ou com a sua utilidade. Estais em comunhão direta com a árvore. Analogamente, deve-se estabelecer esse estado de comunhão entre vós e o orador. (…) (Idem, pág. 49)

Estar em comunhão consigo mesmo requer silêncio completo, para que a mente esteja silenciosamente em comunhão consigo mesma, a respeito de todas as coisas. Daí vem a ação
total. Só do vazio pode provir a ação total, criadora. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 114)

Como pode ser livre o homem embotado, (…) respeitável, (…) não virtuoso? (…) Estar isolado na riqueza ou na pobreza, no saber ou no sucesso, na idéia ou na virtude, é estar
embotado, é ser insensível. Os homens embotados, (…) respeitáveis, não podem comungar, e, quando o fazem, comungam com as “projeções” deles próprios. Para comungar, é
preciso sensibilidade, vulnerabilidade, libertação do “vir-a-ser”, (…) do medo. (…) Quem está empenhado em “vir a ser”, não pode comungar, pois está sempre a isolar-se. O
amor é o vulnerável, (…) o aberto, o imponderável, o desconhecido. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 180)

Esta manhã vamos “discutir”, e deve ficar bem claro o que significa “discussão”. Considero ( … ), em nossa permuta de palavras, ver claramente o padrão de nosso próprio
pensar, isto é, se pudermos abrir-nos, não para os outros, mas para nós mesmos, e vermos o que realmente somos, e o que está sucedendo interiormente. (…) (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 35)

(…) Uma discussão, para ser valiosa, deve servir-nos de espelho, no qual nos vejamos claramente, minuciosamente, sem desfiguração, observando o quadro inteiro e não apenas
determinado fragmento dele, pois em geral desfiguramos o que vemos, (…) buscamos prazer. (…)(Idem, pág. 35)

(…) Porque (…) temos propensão a pensar fragmentariamente; raramente fazemos alguma coisa totalmente, com todo o nosso ser. (…) Vejamos, pois, se seremos capazes de
ultrapassar o nível verbal, o mero intercâmbio intelectual, para penetrarmos profundamente no inconsciente. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 35)

(…) Nessas condições, pois, se pudermos (…) discutir serenamente, sem nos bombardearmos mutuamente com idéias, (…) com sensatez, inteligência, vereis que, sem necessidade de
esforço, ocorrerá a revolução. Essa revolução se tornará realidade, porque a Verdade foi percebida e essa Verdade é que liberta, e não a mente à procura de uma solução. (O
Problema da Revolução Total, pág. 12)

(…) Como já apontei, a investigação que visa apenas a achar a solução de um problema, é uma fuga ao problema. (…) Compreender um problema é muito mais importante do que
resolvê-lo. Compreensão não representa a capacidade ou habilidade da mente que adquiriu várias formas de conhecimento analítico (…); compreender é estar em comunhão com o
problema. (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 34-35)

(…) O estar em comunhão com alguém ou alguma coisa exige espaço, silêncio; vosso corpo, vossos nervos, vossa mente, vosso coração, todo o vosso ser deve estar quieto,
completamente sereno. Vede, simplesmente, que não há comunhão se está em função o mecanismo do pensamento - o que não significa pôr-se a dormir. (A Mente sem Medo, 1ª ed.,
pág. 41)

Assim, precisamos não só compreender a palavra, de que maneira ela cria ou domina, ou dá colorido no sentimento, mas também devemos estar cônscios de que a palavra não é a
coisa. (…) E, também, devemos compreender nossas várias vias de fuga, porquanto um problema só se torna intenso, agudo, quando é uma coisa que exige imediata e plena
atenção. (O Descobrimento do Amor, pág. 13-14)

Bem, (…) Alguém me elogia ou me insulta: isso é agradável ou é penoso. Mas se estiver atento, estarei perfeitamente consciente (…): verei tudo isso com muita lucidez. E então fica
terminado. (…) Na próxima vez que alguém me elogiar ou me insultar, isso não me afetará. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 108)

Por que guardamos a lisonja e o insulto, a ofensa e a afeição? Sem essa acumulação de experiências e das respectivas reações, não existimos; nada somos, se não temos nome. (…)
É o medo de ser nada que nos compele a acumular; e é justamente esse medo, consciente ou inconsciente, que (…) provoca a nossa desintegração e destruição. Se pudermos ficar
cônscios da verdade relativa a esse medo, essa verdade nos libertará dele. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 89)

Violência não é meramente assassinar. Há violência no uso de uma palavra áspera, num gesto de desprezo, na obediência motivada pelo medo. A violência, portanto, não é apenas
a carnificina (…), em nome de Deus, da sociedade, da pátria. A violência é muito mais sutil e profunda. (…) (Liberte-se do Passado, pág. 47)

(…) Tomemos um problema: alguém me insulta, chama-me “idiota”. Imediatamente, o velho cérebro reage, dizendo: “idiota é você”. Se, antes de o cérebro reagir, me torno
perfeitamente cônscio do que foi dito (…) abro um intervalo, de modo que o cérebro não pode logo precipitar-se para a arena. (…) (A Questão do Impossível, pág. 76)

Pergunta: Quando se percebe que a mera verbalização é estática, que caminho seguir daí por diante?

Krishnamurti: (…) É possível percebermos a limitação da palavra, e dela nos livrarmos? Toda verbalização é processo de pensar. Pode-se pensar sem palavra, sem símbolo, sem
imagem? E como pode findar a palavra? (…) Em geral, somos tão escravos das palavras que somos incapazes de olhar o fato. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
73-74)

Senhor, o “dar nome”, o verbalizar, é um processo muito complexo. Quando compreendeis que a palavra não é a coisa, estais então em contacto com a coisa, não por meio da
palavra, mas direta e vitalmente. E que acontece então? (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 74)

Enquanto passardes pelo processo de reconhecimento, que é olhar para a coisa nova traduzindo-a nos termos do que antes existiu, é inevitável o conflito; por conseguinte, não há
renovação, não há nada novo. (…) Se penetrardes fundo em vós mesmos, vereis tudo isso num clarão. (…) (Idem, pág. 75)

Ao lançardes fora a carga das palavras, ao vos libertardes de toda essa estrutura de símbolos, idéias, para olhardes diretamente a coisa em si, encontrareis rejuvenescimento,
frescor, algo totalmente novo acontece. (…) Deveis libertar-vos da palavra a fim de descobrirdes o que realmente é. (Idem, pág. 75)

Auto-revelação; As Relações Como Espelho Psíquico


Importa não nos limitarmos a escutar o que se diz, e aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas que também observemos o “processo” do nosso pensar, em todas as nossas relações. Porque nas
relações, que são o espelho, vemo-nos a nós mesmos como somos realmente. E, se não condenamos nem comparamos, será então possível penetrarmos mais fundo no “processo” da
consciência. Só então pode ocorrer uma revolução fundamental. (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 90)

A maior parte de nós não quer conhecer a si mesma. (…) Teme descobrir aquilo que somos - o feio e o belo. (…) O “eu” permanece para nós como uma porta fechada, enquanto
buscamos conforto na vida de relação. E é desse desejo de conforto que se originam (…) as complicações (…) - o domínio, o ciúme, as discriminações. (…) Só há transformação
possível quando se compreende a vida de relação. (Nós Somos o Problema, pág. 82)

Assim, o importante é a intenção de descobrir, na vida de relação, “o que é”. (…) E, no compreender “o que é”, sem condenação, sem justificação, dá-se-nos a possibilidade de
transcendê-lo. É essa capacidade de encarar, com toda a clareza, “o que é” - o ciúme, a ganância, (…) na vida de relação; é essa capacidade (…) sem nenhuma tendência para a
fuga, que nos dá a possibilidade de transcender “o que é”. E é só então que se torna possível uma transformação radical. (Idem, pág. 82-83)

Quase sempre nos revelamos a outrem, mas o que é importante é ver-vos como sois ou revelar-vos a outros? Estive tentando explicar que todas as relações mútuas agirão como um
espelho em que perceberemos claramente aquilo que é torto e aquilo que é direito. Dão a focalização necessária para ver penetrantemente, mas (…) se estamos cegos pelo
preconceito, opiniões, crenças, não podemos ver claramente, sem distorção. Então as relações mútuas não são um processo de auto-revelação? (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940,
pág. 57)

Nossa consideração primordial é: o que nos impede de perceber verdadeiramente? Não estamos aptos a perceber porque nossas opiniões a respeito de nós mesmos, nossos temores,
ideais, crenças, esperanças, tradições, tudo isso age como véus. (…) Nossa consideração capital deveria ser, não a alteração ou a aceitação do que é observado, mas
apercebermo-nos das muitas causas que produzem essa perversão. (…) (Idem, pág. 57-58)

(…) Mas a qualquer momento em que se sinta um empenho sério, momento que poderá durar só meia hora, (…) nesse momento existe a percepção sem escolha, o percebimento de
nós mesmos como num espelho, sem deformação, o percebimento da coisa exatamente como é. Esse próprio percebimento do fato produz a libertação, a liberdade. (…) Mas, se
ficardes simplesmente cônscios da imagem refletida naquele espelho, vereis desaparecer tudo o que foi, e esse percebimento traz a liberdade, uma quietude da mente em que há
felicidade. (As Ilusões da Mente, pág.108)

(…) Ora, não são todas as relações mútuas um processo de auto-revelação? Isto é, nesse processo (…) estais vos revelando a vós mesmos, (…) descobrindo (…) o feio e o agradável.
Se estais apercebidos, as relações são como um espelho, refletindo mais e mais os vários estados dos vossos pensamentos e sentimentos. Se compreendermos (…) então elas terão
um significado diferente. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 39)

As relações mútuas agem como um espelho refletindo todos os estados do nosso ser, se o permitirmos; mas (…) queremos ocultar-nos a nós mesmo; a revelação é dolorosa. Nas
relações mútuas, se estivermos apercebidos, ambos os estados, o consciente e o inconsciente, são revelados. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 146)

Essa auto-revelação cessa quando nos “utilizamos” das pessoas como necessidades, quando “dependemos” delas, quando “as possuímos”. Na maioria das vezes, as relações
mútuas são utilizadas para encobrir nossa pobreza interior; tentamos enriquecer essa pobreza psicológica apegando-nos uns aos outros, adulando-nos uns aos outros. Há conflito
nas relações mútuas, mas ao invés de compreendermos a sua causa e, assim, transcendê-la, procuramos escapar dela buscando satisfação. (…) (Idem, pág. 146)

(…) Afinal, conhecer a vós mesmos é observar o vosso próprio comportamento, as palavras que usais, as ações que praticais, em vossas relações diárias - e só. Começai por aí, e
vereis como é extraordinariamente difícil estar vigilante, observar as vossas maneiras de proceder, as palavras que usais com vosso criado, (…) vosso patrão, as vossas atitudes
com relação a pessoas, idéias e coisas. (Visão da Realidade, pág. 165)

Procurai observar os vossos pensamentos, os vossos “motivos” no espelho das relações e vereis que, no mesmo instante em que vos observais, quereis corrigi-los, dizendo: “isto é
bom, isto é mau, devo fazer isto, não devo fazer aquilo”. Ao vos mirardes (…) vossa atitude é de condenação ou justificação, e, desse modo, desfigurais o que vedes. (Idem, pág.
165)

Mas se observardes com simplicidade, naquele espelho, a vossa atitude com relação a pessoas, idéias e coisas, se encarardes o fato simplesmente, sem julgamento nem condenação
ou aceitação, verificareis que essa mesma percepção tem ação própria. Tal é o começo do autoconhecimento. (Idem, pág. 165)

Para descobrirmos o processo total do autoconhecimento, temos de estar muito vigilantes nas relações com outros. As relações são o único espelho que temos, um espelho que não
desfigura, um espelho no qual podemos ver, com toda fidelidade, o nosso pensamento desdobrar-se. O isolamento é uma forma sub-reptícia de opor resistência às relações. O
isolamento sem dúvida impede a compreensão das relações: relações com as pessoas, as idéias e as coisas. (Nosso Único Problema, pág. 18)

Mas não existe compreensão da vida de relação, porque nós nos servimos dela unicamente como meio de promover o nosso êxito, (…) satisfação, (…) o “vir-a-ser”. Mas a vida de
relação é um meio de autodescobrimento porque estar em relação é ser, é existência (…) A vida de relação, portanto, é um espelho no qual posso mirar-me. Esse espelho pode
refletir com desfigurações, ou pode refletir “tal qual” (…) aquilo “que é”. Mas, em geral, nós vemos nesse espelho (…) somente aquilo que nos agrada ver; não vemos “o que é”.
Preferimos idealizar, (…) fugir (…) viver no futuro, a compreender aquele estado de relação no presente imediato. (O que te fará Feliz?, pág. 102-103)

Assim sendo, a capacidade de compreender a vida só se realiza ao compreendermos a vida de relação. A vida de relação é um espelho. Ela deve refletir, não aquilo que desejamos
ser, ideal ou romanticamente, mas, sim, o que na realidade somos; e é muito difícil percebermos a nós mesmos tais como somos realmente, porque estamos habituados a fugir
daquilo “que é”. É difícil perceber, observar em silêncio “o que é”, porque estamos afeitos a condenar, a justificar, a comparar e a identificar. E nesse processo (…) aquilo “que
é” não pode ser compreendido. Só na compreensão do “que é”, podemos ficar livres do “que é”. (Idem, pág. 104)

As relações baseadas na sensação nunca podem ser um meio de rompimento das cadeias do “eu”; entretanto, a maior parte das nossas relações se baseia na sensação, é produto do
nosso desejo pessoal de vantagem, conforto e segurança psicológica. Embora possam oferecer-nos uma momentânea fuga do “eu”, essas relações só têm o efeito de reforçá-lo, em
suas atividades isolantes e escravizantes. As relações são um espelho em que se pode ver o “eu” em todas as suas atividades, e só quando forem compreendidos os movimentos do
“eu”, nas reações da vida de relação, dar-se-á a criadora libertação do jugo do “eu”. (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 64-65)

Mas, qual é o verdadeiro significado da vida de relação? Não é ela um processo de auto-revelação? Não é a vida de relação um espelho, no qual, estando vigilantes, podemos
observar, sem deformação, nossos secretos pensamentos e motivos, nosso estado interior? Na vida de relação revela-se o processo sutil do “ego”, e só mediante vigilância
imparcial é possível transcender a insuficiência interior. O conflito extingue-se na solidão da Realidade. Esse transcender é o amor. O amor não tem móvel; ele é a sua própria
eternidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 132)

(…) Se pudermos estar cônscios de cada pensamento, de cada sentimento, momento a momento, veremos que na vida de relação compreenderemos as peculiaridades e tendências
do “eu”. Só então podemos ter aquela tranqüilidade da mente, na qual (…) pode surgir a realidade final. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 40)

Como dissemos, essa compreensão de nós mesmos só é possível quando ficamos atentos ao nosso relacionamento. Só no relacionamento a pessoa pode realmente observar-se; nele
todas as reações, todos os condicionamentos se revelam. Assim, na relação a pessoa apercebe-se do seu verdadeiro estado. E, ao observar-se, toma consciência desse imenso
problema do medo. (O Mundo Somos Nós, pág. 64)

A meu ver, a revolução a que me refiro só é possível quando a mente se acha muito tranqüila, (…) silenciosa. Entretanto, essa quietação da mente não se obtém por meio de
esforço; vem ela com toda a naturalidade e facilidade, quando a mente compreende o seu “processo” de ação. (…) Assim, pois, o começo da liberdade está no autoconhecimento.
As relações são o espelho em que nos podemos ver como de fato somos, sem desfiguração alguma; (…) só então a mente se torna quieta, silenciosa. (Visão da Realidade, pág. 143)

Senhor, o “ego” não é uma entidade objetiva, que se possa estudar ao microscópio, ou aprender nos livros, ou compreender por meio de citações. (…) Ele só pode ser
compreendido na vida de relação. Afinal de contas, o conflito existe nas relações (…) com a proriedade, com uma idéia, com vossa esposa, ou com vosso vizinho. (O que te fará
Feliz?, pág. 115)

Se ficarmos cônscios dessa atividade agressiva do “eu”, em nós mesmos, e compreendermos suas conseqüências, existirá então a possibilidade de se estabelecerem relações
pacíficas e felizes entre os homens. A própria percepção do “que é”, representa um processo libertador. (…) A percepção mesma do que eu sou, produz transformação, traz a
liberdade da compreensão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 251)

Se há tensão entre vós e os vossos pais, essa contradição tem de ser enfrentada, se desejais viver criadoramente, com felicidade. (…) Não queremos encontrar perturbações nas
relações. Sem dúvida, quando um homem está em busca de prazer, satisfação, conforto, segurança, nas relações, essas relações são uma coisa sem vida; ele as converte numa coisa
morta. (…) (A Arte da Libertação, pág. 224)

As relações são um processo de auto-revelação; mas, se a auto-revelação é desagradável, insatisfatória, perturbadora, não temos vontade alguma de continuar a encará-la.
Tornam-se, assim, as relações um simples meio de comunicação, e, por conseqüência, uma coisa morta. Mas se as relações são um processo ativo, no qual há auto-revelação, no
qual me descubro a mim mesmo, como num espelho, então, (…) também delas provém o esclarecimento e a alegria. (Idem, pág. 224)

(…) O que é possível conhecer são as minhas relações com a propriedade, com as pessoas, as idéias. Temos, portanto, que o começo do autoconhecimento está na compreensão das
relações, e que as relações funcionam em todos os níveis. (…) As relações são o espelho no qual vejo a mim mesmo assim como sou, e o ver-me tal qual sou é o começo da
sabedoria. A sabedoria não é coisa adquirível, nem por meio de livros nem de um guru. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 134)

Saber Escutar, sem Prejulgar, Concordar, Discordar


Desejo agora dizer uma coisa que considero importante: é de suma relevância a maneira como escutais. Em geral, ou ouvis só as palavras, concordando ou discordando,
intelectualmente, ou ouvis com a mente ocupada em interpretar, traduzindo desse modo o que ouvis em conformidade com vossos preconceitos pessoais. Escutais (…) comparando o
que ouvis com o que já sabeis. Essa maneira de ouvir impede-vos o escutar (…) Mas se, ao contrário, escutardes sem condenar nem aceitar, (…) com certo grau de atenção, assim
como escutais o murmúrio do vento entre as folhas, se escutardes com todo o vosso ser, (…) vosso coração e vossa mente, então talvez possamos estabelecer entre nós um estado de
comunicação. Teremos então a possibilidade de entender-nos mutuamente, de maneira muito simples e direta. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 13)

Em geral nós escutamos de maneira casual, ouvindo apenas o que desejamos ouvir, não damos atenção ao que é penetrante ou perturbador e prestamos ouvido unicamente às
coisas que nos são agradáveis, que nos satisfazem. (…) É uma verdadeira arte o escutar sem preconceito, sem (…) defesas, (…) pôr de parte todos os nossos conhecimentos
adquiridos, nossas idiossincrasias e pontos de vista, com o intuito de descobrir a verdade contida em cada questão. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 5)

Em regra, escutamos porque desejamos que nos digam o que devemos fazer, ou a fim de nos ajustarmos a dado padrão, ou, ainda, escutamos com o simples intuito de colher mais
conhecimentos. Se aqui estamos com tal atitude, nesse caso o “processo” de escutar terá pouco valor (…) (O Homem Livre, pág. 153)

Não sabemos escutar para descobrir o que é; queremos impingir a outro as nossas idéias e opiniões, forçar o outro no molde do nosso pensamento. Nossos pensamentos e juízos são
muito mais importantes, para nós, do que o descobrimento do que é. (…) Para escutar, devemos estar livres. (…) Devemos estar livres para ficarmos silenciosos, porque só então há
possibilidade de escutar. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 243-244)

Pode-se dizer que, em geral, não escutamos; ouvimos uma grande quantidade de palavras, interpretando o que ouvimos com nossas opiniões, rejeitando-o ou aceitando-o. Mas, por
“escutar” eu entendo: escutar realmente, sem tradução, sem interpretação, sem opinião; escutar (…) sem espírito de condenação - o que não significa necessariamente
“aceitação”. Ao contrário, (…) fazemo-lo, com efeito, com um sentimento de afeição e amor; por que, sem atenção e interesse não é possível escutar coisa alguma. (…) (A Essência
da Maturidade, pág. 61)

Ora, pode-se ouvir de diferentes maneiras. Podemos ouvir, procurando interpretar o que o outro está dizendo, ou comparando o que se está dizendo com o que já sabemos. Podeis
ouvir com todas as reações de vossa memória ativa. Mas só há uma única maneira de escutar realmente, que é escutar sem a “tagarelice” de nosso próprio pensamento. (O Homem
e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 13)

Não sei se já experimentastes escutar simplesmente uma coisa agradável ou desagradável, sem “projetardes” o vosso próprio processo de pensar. (…) Assim, talvez possais (…)
escutar simplesmente, sem concordar nem discordar do que se diz, sem “projetar” vossas próprias idéias ou interpretações - mas sem que com isso estejais sendo hipnotizados. Pelo
contrário, o escutar exige atenção completa.

Mas atenção não é concentração. Concentrar-se é enfocar, excluir, e nessa exclusão cria uma barreira ao escutar. (…) Quando escutais com naturalidade e calma, sem exclusão,
estais escutando tudo, não apenas as palavras, e estais também cônscios de vossas próprias e interiores reações. As palavras são então o meio de abrir a porta através da qual
podeis olhar a vós mesmos. (Idem, pág. 13-14)

Não sei se alguma vez já observastes - quando estais a ouvir alguém que conheceis há muitos anos, com quem tendes certa familiaridade - o pouco que escutais. Já sabeis o que a
pessoa vai dizer. Já tendes opinião formada, (…) certas conclusões, imagens, que impedem o verdadeiro escutar.

Penso que, se soubésseis escutar (…) também tudo o que vos cerca na vida diária; (…) todos os barulhos, o incessante tagarelar de vosso amigo, (…) esposa ou marido, as
murmurações de vossa mente, o monólogo que ela entretém continuamente, sem condenar nem justificar, (…) esse escutar traria uma ação bem diferente da ação do pensamento
calculista e disciplinado. (A Importância da Transformação, pág. 46)

Vede, por favor, que vós e eu estamos aprendendo juntos; e, para aprender, é necessário escutar. Escutar é aprender. (…) Escutar é ação. Se vós e eu soubéssemos escutar os
sucessos humanos, tudo o que está ocorrendo no mundo, as filosofias, os dogmatismos, (…) a televisão - se tudo soubermos escutar, então o próprio ato de escutar se tornará ação;
e nisso consiste, a meu ver, a arte de escutar.

Se sabeis escutar o trem que passa, (…) vosso vizinho, o rádio, a vós mesmos; (…) o sofrimento, a confusão, o enorme conflito entre os homens (…) então, talvez, esse próprio
escutar será ação. E é disso que necessitamos: ação. Mas, para agir, necessitamos de simplicidade (…) A simplicidade nasce da alta sensibilidade e da compreensão do sofrimento.
(O Descobrimento do Amor, pág. 153-154)

Não é importante descobrir a maneira de escutar? Parece que, em geral, não escutamos coisa alguma. Escutamos por detrás de várias cortinas de preconceitos, examinando o que
se diz como hinduísta, (…) muçulmano, (…) cristão, com uma opinião já formada. Não ouvimos livremente, calmamente e em silêncio. Ouvimos com a intenção de concordar ou
discordar, ou (…) predispostos à argumentação; não ouvimos com o propósito de descobrir. A mim me parece importantíssimo saber ouvir, (…) ler, ver, observar. (…) (Que
Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 115)

Temos tantos preconceitos, conclusões e opiniões, temos conhecimentos acerca de tantos assuntos, os quais obviamente impedem a percepção. Quero saber o que você está falando
a respeito. Devo escutar, e escutar implica que não deve haver interpretação, mas que devo realmente escutar. Isso implica que, enquanto eu estiver escutando, não deve haver
comparação com aquilo que anteriormente aprendi, porque você pode estar dizendo alguma coisa inteiramente diferente. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 85)

Então, eu devo ter a capacidade e a arte de escutar, senão eu não posso entender o que você está falando sobre o assunto. Da mesma forma, deve-se observar claramente o que está
ocorrendo externa e internamente, sem nenhuma imagem; é isso possível? Significa observar realmente, sem condicionamento, não como um cristão, um comunista, um hippie, um
quadrado e tudo o mais; escutar tão completamente que se possa ver sem distorção alguma. É isso possível? (Idem, pág. 85)

Se escutastes tudo isso realmente, vereis que vem um despertar e, observareis então que vossa mente é purificada pelo extraordinário milagre que se opera quando escutamos uma
coisa que é um fato. Escutando o fato, sem resistência, tereis uma mente nova, (…) não mais enredada nas conclusões do passado, (…) sem temor. Estando só, essa mente é o eterno,
o real, porque a verdade está só, a cada momento. (…) Só a mente que está só, purificada, sozinha, pode ver a verdade (…) (Visão da Realidade, pág. 169)

Posso garantir-vos que temos possibilidade de livrar-nos da velha “fita”, da velha maneira de pensar, de sentir, de reagir, dos inúmeros hábitos que adquirimos. Isso é possível
quando se presta realmente atenção. Se a coisa que estamos escutando é, para nós, verdadeiramente séria, (…) então haveremos de escutar de tal maneira que o próprio ato de
escutar apagará tudo o que é velho. Experimentai isso (…) (A Questão do Impossível, pág. 14)

Senhores, quando falo de influência, refiro-me a todas as qualidades de influência, e não a uma determinada influência. Ao escutarmos, temos de estar intensamente cônscios, para
não nos deixarmos influenciar, nem conduzir. (…) Mas, (…) se puderdes escutar um fato sem resistência, seja uma coisa dita por vossa mulher, (…) filho, por um carregador, seja
(…) deste orador, descobrireis então por vós mesmos que podeis ultrapassar toda influência, que podeis livrar-vos completamente dessa destrutiva influência da sociedade. (O
Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 136-137)

Nessas condições, poderia uma pessoa escutar sem nenhum preconceito, nenhuma conclusão, sem interpretação? Porque, é bastante evidente, nosso pensar é condicionado (…)
Estamos condicionados como hinduístas, comunistas ou cristãos, e tudo o que escutamos, seja novo, seja velho, é sempre apreendido através da cortina desse condicionamento; por
conseguinte, nunca, nunca conseguimos chegar-nos a um problema com a mente nova. Por essa razão, torna-se importantíssimo saber escutar. É bem clara a necessidade de uma
revolução total no indivíduo; (…) (Visão da Realidade, pág. 138-139)

(…) Vós escutais de dentro da vossa experiência: tendes conclusões, passastes por experiências inumeráveis, provações, sofrimento, aflições, e é com esse fundo que estais
escutando; estais escutando com uma conclusão. Isso é escutar? Se escuto o que dizeis, que talvez seja novo, diferente, com a mente já entrincheirada em certa ideologia, (…)
experiência, num conhecimento específico, pode a minha mente escutar? (…) Há, pois, uma arte de escutar, e eu acho essa arte muito importante (…) (O Problema da Revolução
Total, pág. 115)

(…) A mente condicionada não pode escutar, não é livre para escutar. Mas se fordes capazes de escutar de maneira total, creio que se verificará então uma revolução fundamental,
não produzida por nenhuma ação do “eu”, a qual, por conseguinte, será uma verdadeira transformação. (…) (Viver sem Temor, pág. 18)

Quando escutais uma canção, de que maneira escutais? Acompanhais a significação das palavras (…) escutais as notas e o silêncio entre as notas, (…) Não há então censor, nem
juiz, nem avaliador; e quando a mente se aquieta assim, por si mesma, espontaneamente, descobris então o que significa estar alegre. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 39)

Ora, quando escutamos - e isso é uma verdadeira arte - é necessária certa tranqüilidade do intelecto. Como acontece com a maioria de nós, o intelecto está incessantemente ativo,
sempre a reagir ao desafio de uma palavra, idéia ou imagem; e esse constante processo de reação e desafio não produz compreensão. (…) (O Passo Decisivo, pág. 200)

Escutar, se posso dizê-lo, não é processo de concordar, condenar, interpretar, mas, sim, de olhar cada fato totalmente, globalmente. Para isso, o intelecto deve estar quieto, porém
muito vivo, capaz de seguir (o que se diz) correta e racionalmente, não sentimental ou emocionalmente. Só então é possível considerar os problemas da existência humana como um
processo total, e não fragmentariamente. (Idem, pág. 200)

Interlocutor: Escutar é coisa difícil, tenho achado.

Krishnamurti: Quero saber por quê. Você alguma vez escutou? Ou você escuta parcialmente? Há duas coisas envolvidas (…) Há o ouvir e o escutar. Quando você ouve, concorda
ou discorda, e diz: “eu concordo com ele, (…) gosto ou não gosto, ele é convincente ou não é convincente”. Mas, quando você está realmente escutando - isto é, dando sua
completa atenção - o que acontece? O que ocorre (…), sendo a atenção sua mente, coração, nervos, corpo, tudo (…) escutando? Sua mente está completamente quieta? (Talks and
Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 123)

Não argüindo concordando, discordando, opondo ou formando nenhuma opinião. É um ato de completo escutar. Nesse ato de escutar há comunhão real, não há? Comunhão no
sentido de completo relacionamento. Não há desentendimento. (…) Nunca damos nossa total atenção a coisa alguma. Mas apenas aprendemos o que é se concentrar. Concentração
significa exclusão. Por conseguinte, concentração não é atenção. Na atenção não há fronteiras. (Idem, pág. 123)

Não sei se alguma vez examinastes a maneira como escutais (…) Quando tentamos escutar, (…) estamos sempre a projetar nossas opiniões e idéias, (…) preconceitos, nosso fundo,
(…) inclinações, (…) impulsos; (…) Só se pode escutar quando nos achamos num estado de atenção, (…) silêncio, em que todo aquele fundo está em suspenso, quieto; então há
possibilidade de comunicação. (Como Viver neste Mundo, pág. 8)

Há várias coisas a considerar. Se escutais com o fundo ou com a imagem que formastes do orador, se o escutais atribuindo-lhe certa autoridade (…) então é bem evidente que não
estais escutando. Estais escutando a “projeção” que à vossa frente colocastes, e esta vos impede de escutar. Assim (…) é impossível a comunicação. (…) (Idem, pág. 8)

Nessas condições, se sabeis escutar, (…) quando compreendemos o condicionamento da nossa mente - então a compreensão mesma do nosso condicionamento liberta a mente.
Percebei claramente que sois um hinduísta (…) Assim sendo, só é possível escutar e estudar o problema de maneira correta quando a mente é capaz de operar sem estar ancorada
em algum fundo de conhecimento ou experiência (background) (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 11)

A mente, pois, tem de estar livre, fantasticamente livre, dos interesses de “eu” e das âncoras do conhecimento, para que possa observar o problema e, desse modo, produzir uma
revolução total. (Idem, pág. 11)

(…) Nessas condições, pois, se pudermos discutir serenamente, sem nos bombardearmos mutuamente com idéias, examinando cada problema meticulosamente, com sensatez,
inteligência, vereis que, sem necessidade de esforço (…) ocorrerá a revolução. (O Problema da Revolução Total, pág. 12)

Talvez tenhais escutado (…) Se souberdes escutar tranqüilamente, sem esforço, sem interpretação, o que se está dizendo, e, bem assim, tudo o que vos circunda, verificareis que
estais escutando não só o que está muito perto de vós, mas também coisas que estão (…) muito longe - aquilo que não tem medida, nem espaço, que não está aprisionado em
palavras nem no tempo. (…) Quando a mente se acha de fato tranqüila, por estar toda enlevada pela canção do seu próprio escutar, só então desponta na existência o imensurável,
o eterno. (Visão da Realidade, pág. 260)

(…)Tendes de escutar com a totalidade do vosso ser, sem esforço algum, sem luta, e com a intenção de compreender, de explorar, de descobrir, de achar realmente a Verdade ou a
falsidade (…) A meu ver, tal ato de escutar é meditação. (…) (As Ilusões da Mente, pág. 37)

(…) Só podeis escutar quando vossa mente está quieta, quando não “reage” imediatamente, quando há um intervalo entre a reação e o que se ouve dizer. Então, nesse intervalo, há
quietude, silêncio. Só nesse silêncio há a compreensão que não é compreensão intelectual. (…) Esse intervalo é o cérebro novo. A reação imediata é o cérebro velho (…) (O
Magistério da Compreensão, pág. 10)

Mente Livre, Tranqüila; Não Verbalizar, Tagarelar


Nesta manhã (…) Quase todos nós somos escravos das palavras, que se tornaram desmedidamente importantes. As palavras são necessárias como meio de comunicação, mas, para
a maioria de nós, a palavra é a mente, e das palavras nos tornamos escravos. Enquanto não compreendermos essa profunda questão da “verbalização” e a importância da palavra,
e enquanto formos servis às palavras, continuaremos a pensar mecanicamente, quais computadores. O computador é a palavra e o problema. Sem o problema e a palavra, o
computador não existiria (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 48)

Não sei se estamos bem cônscios de quanto estamos escravizados à palavra, ao símbolo, à idéia. Nunca pomos em dúvida a importância ou o significado da palavra. Empregando o
termo “palavra”, tenho em mente o símbolo, o “processo de dar nome”, com sua extraordinária profundeza ou superficialidade, processo mediante o qual pensamos ter
compreendido todo o significado da vida. Não parecemos perceber, nenhum de nós, a extensão em que a mente (…) se acha na dependência da palavra, do símbolo, do nome, do
termo; (…) (Idem, pág. 48)

Como tenho tentado explicar, acho que a crise surgida no mundo não é econômica, nem social, porém uma crise na mente, na consciência; e não pode haver solução para essa
crise, a menos que se verifique mutação profunda, fundamental em cada um de nós. Mas tal mutação só se tomará possível, se compreendermos o inteiro processo da
“verbalização”, ou seja, a estrutura psicológica da palavra. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 50)

Ora, se removermos a palavra, que resta? A palavra representa o passado (…) As inumeráveis imagens, as camadas de experiência, estão todas baseadas na palavra, na idéia, na
memória. Da memória provém o pensamento, e ao pensamento atribuímos importância desmedida; mas eu contesto decididamente essa importância. O pensamento não pode (…)
cultivar a compaixão. Teremos mentes mecânicas, semelhantes a computadores, exercitadas unicamente para executar certas funções; continuaremos a buscar a segurança física e
psicológica, e perderemos a extraordinária profundeza e beleza, o significado integral da vida.(Idem, pág. 50-51)

É essencial ter uma mente tranqüila (…) Quanto maior for o vosso interesse por alguma coisa, quanto maior a vossa intenção de compreender, tanto mais simples, clara e livre
estará a mente. Cessa, então a verbalização. Afinal, o pensamento é a palavra, e a palavra é que perturba. É “a cortina de palavras, a memória, que se interpõe entre o desafio e a
resposta”.(…) Assim sendo, a mente que vive a tagarelar, a verbalizar, não pode compreender a verdade - a verdade nas relações (…) (O que te fará Feliz?, pág. 107-108)

(…) A comunicação não é a verbalização, não é o vestir a experiência. Se vestimos a experiência, se lhe pomos uma vestimenta, se a moldamos, perder-se-á o seu perfume e
profundeza. Só pode haver, portanto, uma mente fresca, (…) nova, quando o experimentar não é revestido de palavras. (…) A verbalização é acumulação. É extremamente difícil e
árduo expressar e ao mesmo tempo não nos deixarmos prender na rede das palavras. (O que te Fará Feliz, pág. 110)

Que é pensamento? Sem a memória não há pensamento (…) O pensamento é resultado da experiência acumulada, que é o passado (…) Isto é, o pensamento, indubitavelmente, é
reação da memória. Mas, que é memória? A memória, a conservação da lembrança, é a verbalização da experiência (…) (Idem, pág. 122-123)

Há desafio e reação - o que significa experiência - e essa experiência é verbalizada. Essa verbalização cria a memória; e a reação da memória ao desafio é o pensamento. Portanto,
pensamento é verbalização (…) (O que te fará Feliz?, pág. 123)

Não sei se já tentastes pensar sem palavras. O pensamento é a palavra. Sem a verbalização, sem a palavra, o pensamento (…) não existe. Se perceberdes, pois, que a palavra - a
verbalização - é o processo do pensamento, não se trata então de controlar o pensamento, mas sim de fazer desaparecer o pensamento como “verbalização” (…) (Idem, pág. 123)

Por que pomos em palavras as nossas respostas e reações? Por uma razão muito óbvia: para comunicarmos, para contarmos a outrem o nosso sentimento. Verbalizamos, também,
com o fim de fortalecer o sentimento, com o fim de fixá-lo, de contemplá-lo, de recapturar o sentimento que nos fugiu. (…) (Idem, pág. 123-124)

A palavra tomou o lugar do sentimento que se foi. Assume, desse modo, a palavra toda a importância, em lugar do próprio sentimento, da reação, da experiência. (…) Dessarte, a
palavra se torna pensamento, o qual obsta ao “experimentar”. (O que te fará Feliz?, pág. 124)
Nosso problema, pois, é o seguinte: é possível deixarmos de “verbalizar”, de dar nome, de determinar? (…) Vós o fazeis com freqüência, porém, inconscientemente. Quando
defrontais uma crise, com um súbito desafio, não há verbalização. Vós a enfrentais de modo completo. (…) (Idem, pág. 124)

(…) Isso é possível, portanto, mas somente quando a palavra deixa de ser importante, o que significa: quando o pensamento, a idéia, deixa de ser importante. Quando uma idéia se
torna importante, torna-se então importante o padrão, a ideologia (…) (O que te fará Feliz?, pág. 124)

Nessa condições, a palavra só se torna importante quando não é importante o experimentar, quando não há o “estado de experimentar”, que é enfrentar o desafio sem
verbalização, sem a cortina protetora das palavras. (…) (Idem, pág. 124-125)

Assim, pois, restam-nos apenas pensamentos, tendo desaparecido o pensador. (…) E o pensamento cria o pensador, o qual, então, comunica o seu pensamento. O pensador é
meramente a “verbalização” do pensamento. (Idem, pág. 122)

Toda verbalização do pensamento é produto do tempo, da memória, e por meio desse processo a mente não pode, em tempo algum, descobrir nada novo. (…) (Palestras na Austrália
e Holanda, 1955, pág. 19-20)

(…) Como pode a mente tornar-se quieta? No momento em que vos fazeis essa pergunta, realmente, com verdadeiro interesse, qual é o estado da vossa mente? Não está ela quieta?
Já não está “tagarelando”, analisando, julgando; está vigilante, observando, porque “não sabeis”. O próprio “estado de não saber” é o começo da tranqüilidade. (…) (Claridade
na Ação, pág. 164)

A meditação é todo esse processo que produz um estado no qual a mente se torna tranqüila, (…) “O novo” não pode ser verbalizado; não há palavras que o exprimam; (…) não é
comunicável. É algo que se manifesta quando a mente é também nova; e todo esse complexo “processo” de autoconhecimento é meditação. (Idem, pág. 165)

Assim, a mente que está atenta se acha num estado de não-contradição (…), em que nenhum esforço existe. (…) Do contrário, (…) a mente não pode ser esvaziada. (…) A mente, em
geral, é “barulhenta”. Está sempre a “tagarelar”. Sempre monologando, ou dizendo repetidamente o que irá fazer, o que fez, o que deve fazer, etc. Nunca está quieta. (…) (Uma
Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 75)

É essencial ter uma mente tranqüila, a fim de compreender (…) Cessa, então, a verbalização (…) É “a cortina de palavras”, a memória, que se interpõe entre o desafio e a resposta.
É a palavra (…) o que chamamos intelectualização. Assim sendo, a mente que vive a tagarelar, a verbalizar, não pode compreender a verdade nas relações (…) (O que te fará
Feliz?, pág. 107-108)

(…) A mente anda sempre tão ocupada e distraída, constantemente tagarelando, sem nunca ver nem escutar! Mas, quando a mente está quieta, o escutar e o ver nenhum esforço
requerem. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 108)

Pergunta: Por que minha mente está tagarelando, tão irrequieta?

Resposta: Você já fez essa pergunta a si mesmo? Por que sua mente é tão irrequieta e está sempre tagarelando, indo de uma coisa para outra, movendo-se de uma distração para
outra? (Perguntas e Respostas, pág. 68)

Então, o que você deve fazer? Pode examinar as causas da tagarelice, como a tagarelice é parte de uma mente ocupada. A mente, incluindo toda a sua estrutura, o cérebro, precisa
ocupar-se com algo (…) Se ela não se ocupa, você não se sente inseguro (…)? Você se sente vazio, sente-se perdido; você começa a perceber que há uma tremenda solidão interior.
(Idem, pág. 68)

(…) Mas quando você percebe que sua mente está tagarelando e enfrenta isso, se fixa nisso, então você verá o que acontece. (…) Você diz: “Está bem; tagarele”. Você está atento,
o que significa que não está tentando tagarelar; (…) está apenas atento a essa tagarelice. Se você o fizer, verá o que acontece: sua mente fica lúcida e provavelmente esse é o
estado de um ser humano “normal”, saudável. (Perguntas e Respostas, pág. 69)

É importante ter uma mente que não esteja constantemente ocupada, tagarelando sem cessar. Em uma mente que não está ocupada, pode germinar uma nova semente do aprender -
algo por completo diferente do cultivo do conhecimento e do atuar a partir desse conhecimento. (La Totalidad de la vida, pág. 203)

(…) Porém, quando se compreende a natureza do tagarelar, do comparar, do interminável “falatório” que se verifica dentro de cada um de nós, só (…) então, em virtude desse
percebimento, dessa vigilância, a mente se torna sobremodo quieta. Isso não significa que ela adormeça ou fique num estado de vacuidade.

Isto é, quando foi negado totalmente o mundo, o mundo psicológico - de que faz parte: a avidez, a inveja, a brutalidade, a violência, o ciúme, o ódio - então, com essa negação total,
há espaço e silêncio. E só então a mente é uma mente religiosa (…) - só então é capaz de ver o imensurável. Essa mente (…) é a luz de si própria. (A Essência da Maturidade, pág.
117)

Como sabeis, a mente de quase todos nós está cheia de barulho, sempre a “tagarelar” consigo mesma, a monologar a respeito de alguma coisa (…) Mas, toda ação nascida do
barulho produz mais barulho ainda, mais confusão. Entretanto, se observastes e aprendestes o que significa “estar em comunicação” (…) que é o estado em que a mente não
“verbaliza” quando transmite ou recebe uma comunicação - então, sendo a vida movimento, vos movereis, em vosso atuar, natural, livre, facilmente, sem nenhum esforço, para
aquele estado de comunhão. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 114)

Pois bem, por que tagarela a mente? Com “tagarelar” queremos dizer que ela está sempre ocupada com alguma coisa - o rádio, seus problemas, seu emprego, suas visões, suas
emoções, seus mitos. Ora, por que está ela ocupada e que aconteceria se não estivesse ocupada? Já tentastes alguma vez não estar ocupado? Porque isso significa “estar só” (…) O
cessar da ocupação faz-vos descobrir que estais completamente só, isolado, e isso gera medo; eis por que a mente prossegue tagarelando, tagarelando. (O Passo Decisivo, pág.
207)

Perguntamos: Qual a natureza da mente que alcança esse estado naturalmente, sem esforço algum? (…) Só podemos escutar se não há nenhum barulho “projetado” de nós
mesmos. Quando estais a tagarelar com vós mesmos, comparando o que se está dizendo com o que já sabeis, não escutais. Ao observardes com vossos olhos e havendo a
interferência de preconceitos de qualquer espécie, e do conhecimento, não estais então observando realmente. Assim, observar e escutar realmente - isso só se pode fazer em
silêncio. (Fora da Violência, pág. 49)

Relações Humanas, Sociais; Verbo, Atrito, Harmonia


Que se entende por relações? Que significa “estar em relação”? (…) Relações significam contato, estar junto - estar relacionado, em contato direto com outro ente humano,
conhecer-lhe as dificuldades, seus problemas, sua aflição, sua ansiedade, que é também nossa. E, compreendendo a vós mesmos, compreendeis o ente humano e, conseqüentemente,
podeis operar uma transformação radical na sociedade. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 91-92)

Assim, torna-se de essencial necessidade a radical transformação do ente humano. Porque quase todos nós ainda somos animais. Se observardes os animais, vereis que somos
parentes muito próximos. Observai um cachorro, um animal de estimação! Como são ciumentos! Como gostam de adulação, de afagos, etc., exatamente como os entes humanos (…)
A menos que seja totalmente transformado o animal em nós existente, por mais que nos esforcemos, ainda que nos liguemos às mais extravagantes ideologias (…) - nunca
resolveremos esse problema. (Idem, pág. 92)

Importa, pois, compreender o que significam as relações. Estamos em relação? (…) Por “relações” entendemos: estar em contato intelectual, emocional e psicologicamente.
Estamos assim em contato? Ou só há contato, relação, entre a imagem que tendes de vós mesmo e a imagem que tendes de outro? A respeito de vós mesmo, tendes uma imagem,
idéias, conceitos, experiência etc. Tendes vossas idiossincrasias, tendências, que constituem a vossa imagem de vós mesmo. (…) Existe essa imagem de vós mesmo, e a outra pessoa
também tem uma imagem de si própria. E quando entram em contato as duas imagens, chamamos a isso relações. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 92-93)
(…) Para a maioria de nós, “relações” é um termo que significa conforto, satisfação, segurança; e nessas relações servimo-nos da propriedade, das idéias e das pessoas para nossa
própria satisfação. (…) Quando nos servimos de outras pessoas, exigimos a posse, física ou psicológica; e, ao possuirmos alguém, criamos todos os problemas do ciúme, da inveja,
da solidão e do conflito. (Nosso Único Problema, pág. 19)

Assim, nossa dificuldade e nosso crescente problema decorrem da falta de compreensão das nossas relações, compreensão que, essencialmente, é autoconhecimento. (…) Por
conseqüência, é importante que compreendais fundamentalmente as vossas relações com vossa esposa, vosso marido, vosso vizinho; porque as relações são uma porta através da
qual podemos descobrir a nós mesmos, e compreender o que é o pensar correto. (Idem, pág. 19)

Uma sociedade baseada no uso mútuo é a raiz da violência. Quando fazemos uso de outrem, só temos diante dos olhos o fim que desejamos conseguir. O fim, o ganho, impede as
relações, a comunhão. (…) (Nosso Único Problema, pág. 89)

Uma sociedade cuja estrutura está baseada na mera necessidade, quer física, que psicológica, gera, forçosamente, conflito, confusão e sofrimento. A sociedade é a projeção de vós
mesmos em relação com outrem (…) (Idem, pág. 89)

Nossas relações atuais são realmente muito confusas, desditosas, contraditórias, isoladas; nelas, cada um trata de estabelecer para si, em torno de si, e dentro de si, uma muralha
inacessível. Examinai-vos - não o que deveríeis ser, mas o que realmente sois. Como sois inacessíveis, cada um de vós! - pois tendes tantas barreiras, idéias, temperamentos,
experiências, aflições, cuidados, preocupações! E vossa atividade de cada dia está sempre a isolar-vos; ainda que casado, com filhos, estais sempre a funcionar, a atuar
egocentricamente. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 78)

E a vida diária, tal como a conhecemos, é uma batalha constante, uma aflição, uma confusão interminável, com ocasionais lampejos de alegria, de íntimo prazer. Assim, a menos
que ocorra uma revolução fundamental em nossas relações, a batalha prosseguirá e, por esse caminho, nunca se achará solução alguma. (…) (Idem, pág. 79)

Mas, vendo-nos em conflito, tratamos de fugir-lhe mediante vários sistemas de filosofia, de bebidas, do sexo, de toda espécie de entretenimento intelectual ou emocional. Assim, a
menos que, interiormente, haja uma revolução radical nas nossas relações (…), a menos que haja uma radical mutação nas relações, tudo o que se fizer (podemos ter as mais
nobres idéias, falar e discursar infinitamente acerca de Deus, etc.) será sem significação alguma, porque é mera fuga. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 79)

Apresenta-se, assim, o problema: Como posso eu, que vivo em relação, operar uma mutação radical nas minhas relações? Eu não posso fugir das relações. (…) Viver é estar em
relação. Assim, tenho de compreender e de alterar as relações. Tenho de descobrir um meio de operar uma transformação total de minhas relações; porque, afinal de contas, elas
estão produzindo guerras (…) (Idem, pág. 79)

É importante, por conseguinte, compreendermos as nossas relações (…) Enquanto nos servimos da propriedade como meio de engrandecimento próprio, haverá conflito, (…) uma
sociedade baseada na violência. (…) Não estais usando a propriedade, as comodidades, a autoridade, como meios de auto-engrandecimento? O saberdes que tendes certa quantia
(…) no banco, que possuís um título, um patrimônio - isso não vos confere importância, um sentimento de poder? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 128-129)

Vemos, pois, que baseamos as nossas relações no auto-engrandecimento. E enquanto nos servimos de pessoas, de idéias, de coisas, para nosso engrandecimento próprio, tem de
haver violência. O problema não pode ser resolvido por meio de nenhum padrão de ação econômica ou social, pois o que se requer é a compreensão de todo o nosso ser
psicológico; por essa razão se torna necessária uma revolução interior, e não apenas uma revolução no exterior. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 129)

(…) “Olhar sem conhecimento” vossa esposa, filhos, os fatos ocorrentes nas relações, é vê-los sem as mágoas, inimizades, crueldades, insultos, imposições, anteriormente
experimentados. Tudo isso, que faz parte do conhecimento, desapareceu, e vós olhais diretamente o que é. Esse mesmo olhar, em que não há experiência nova, é a mais elevada
forma de sensibilidade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 136)

Pode alguém achar a paz, quando busca a segurança atrás das muralhas de seus temores e esperanças? Em toda a vossa vida, tendes procurado retrair-vos, porque desejais estar
protegido, fechado nas muralhas de uma relação limitada que tendes o poder de dominar. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 101)

Se pudésseis dominar a causa de vossa atual perturbação, teríeis paz; mas como não podeis fazê-lo, estais muito apreensivo. Todos queremos dominar o que não compreendemos.
Queremos possuir ou ser possuídos, quando existe o medo a nós mesmos. A incerteza a respeito de nós mesmos faz nascer um sentimento de superioridade, de exclusão e isolamento.
(Idem, pág. 101)

Ser é estar em relação; (…) A vida de relação é um conflito interior e exterior; o conflito interior, generalizando-se, torna-se conflito mundial. Não há insulação e não há objeto
que não esteja relacionado. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 131)

Sabeis que na vida de relação existe conflito, que existe luta constante entre vós e outrem, entre vós e o mundo. (…) Não resulta ele da ação recíproca da dependência e da
aquiescência, do desejo de domínio e do desejo de posse? (…) (Idem, pág. 131)

Nós aquiescemos, dependemos, possuímos, porque existe em nós uma insuficiência interior, que dá origem ao temor. (…) A vida de relação é uma tensão, sendo necessária
percepção profunda para compreendê-la. (Idem, pág. 131)

Por que há conflito entre pessoas? Ora, não são todas as relações mútuas um processo de auto-revelação? Isto é, nesse processo de relação, estais vos revelando a vós próprios,
estais descobrindo todas as condições do vosso ser, o feio e o agradável. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 39)

Se estais apercebidos, as relações são como espelho, refletindo mais e mais os vários estados dos vossos pensamentos e sentimentos. Se compreendemos profundamente que as
relações mútuas são um processo de auto-revelação, então elas terão um significado diferente (…) (Idem, pág. 39)

Nas relações mútuas, procuramos satisfação, prazer, conforto, e, se houver qualquer oposição profunda a isso, procuramos mudar nossas relações. Assim, as relações, em vez de
serem uma ação progressiva de constante apercebimento, tendem a tornar-se um processo de auto-isolamento. (…) (Idem, pág. 40)

Nas relações mútuas, a causa primária do atrito está em nós próprios, no “eu”, que é o centro da ansiedade unificada. Se, porém, pudermos compreender que o mais importante
não é como os outros agem, mas como cada um de nós age e reage, e, se essa reação e ação podem ser fundamental e profundamente compreendidas, então as relações mútuas
sofrerão uma mudança profunda e radical.

Nessas relações mútuas com outrem, há não somente o problema físico, mas também o do pensamento e do sentimento em todos os níveis, e podemos estar em perfeita harmonia
com outrem somente quando estamos integralmente em harmonia com nós mesmos. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 54-55)

Nas relações mútuas o que tem importância (…) não é o outro, mas nós mesmos, o que não significa que precisamos nos isolar, mas que devemos compreender profundamente, em
nós mesmos, a causa do conflito e da tristeza. Enquanto dependermos de outrem para nosso bem estar psicológico, intelectual ou emocional, essa dependência deve,
inevitavelmente, criar temor, do qual provém a tristeza. (Idem, pág. 55)

Estou insistindo (…) Se basearmos nossa compreensão meramente na razão, então nela haverá isolamento, orgulho, ausência de amor, e, se a alicerçarmos apenas na emoção,
então nela não haverá profundeza, haverá somente uma sentimentalidade que logo se evaporará, e não amor. Somente nessa compreensão pode existir plenitude de ação. (…)
(Idem, pág. 55-56)

O problema, pois, é de relação. Sem relações, não há existência; ser é estar em relação. (…) O que sou eu projeto; é óbvio que, se não me compreendo a mim mesmo, toda a vida de
relação é só confusão, a estender-se em círculos cada vez mais amplos. (A Arte da Libertação, pág. 62)

Nessas circunstâncias, as minhas relações assumem extraordinária importância, não as relações com as chamadas “massas”, mas no mundo de minha família e meus amigos (…) -
(…) com minha esposa, meus filhos, meus vizinhos. Num mundo de vastas organizações, (…) movimentos de massa, temos medo de agir em escala pequena, temos medo de ser
pessoas insignificantes (…) (Idem, pág. 62)
Uma sociedade cuja estrutura está baseada na mera necessidade, quer física, quer psicológica, gera, forçosamente, confusão e sofrimento. A sociedade é a projeção de vós mesmos
em relação com outrem. (…) Como podeis estar em comunhão com outrem, se o utilizais como peça de mobília, para vossa conveniência e vosso conforto? (…) (Nosso Único
Problema, pág. 89)

Nós não compreendemos a vida de relação; o processo total do nosso ser, do nosso pensamento, nossa atividade, favorece o isolamento, o qual impede o estado de relação. O
ambicioso, o astuto, o crente, não pode estar em relação com outra pessoa. Só pode servir-se dela, o que gera confusão e inimizade. (…) (Idem, pág. 89)

(…) Essa confusão e essa inimizade existem na presente estrutura social; e continuarão a existir (…), a menos que haja uma revolução fundamental, em nossa atitude perante outro
ser humano. Enquanto fizermos uso de outrem como meio para nossos fins, por mais nobres que sejam eles, haverá inevitavelmente violência e desordem. (Idem, pág. 89-90)

Ora, para a maioria de nós, as relações com outrem estão baseadas na dependência econômica ou psicológica. Essa dependência cria temor, gera em nós possessividade, dá lugar
a atrito, suspeita, frustração. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 52)

Que é então a relação? A mim me parece que esta é uma das coisas mais importantes na vida, porque o viver é relação. Se não há relação, o viver não existe em absoluto; a vida se
converte então em mera série de conflitos que termina em separação, solidão com seus temores, ansiedades, problemas de apego, e todas as coisas envolvidas nesse sentimento de
achar-se completamente isolado. (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 132)

(…) Mas, se fordes ao encontro do ambiente sempre renovados, a carga dessa memória do passado (…); se sois essa inteligência, essa mente que de contínuo se recria, como o sol,
em cada aurora, então, nessa novidade, (…) vivacidade, vereis surgir a compreensão de todas as coisas. Cessa, aí, todo o conflito, porque inteligência e conflito não podem
coexistir. Cessa de todo a desarmonia, porque a inteligência funciona, então, em toda a sua plenitude. (A Luta do Homem, pág. 113-114)

Quando o procedimento, a civilidade, a consideração não revelam profundeza nem afeição, nada significam. Já se houver dedicação, bondade, solicitude, daí surgirá a fineza, a
polidez, a benevolência para com os demais, demonstrando isso que a pessoa pensa cada vez menos em si. (…) E aquele que não tem preocupação egocêntrica é, na verdade, um ser
humano livre (…) (Ensinar e Aprender, pág. 55-56)

Agora, o interrogante (…) Ora, o que tem importância é a minha própria condição e não a dos outros. Se minha mente é mesquinha, estreita, limitada, eu hei de enxergar a mesma
coisa nos outros. Esse desejo de criticar os outros é verdadeiramente extraordinário. Como posso saber o que outra pessoa é, se não sei o que eu próprio sou? Como posso julgar
outra pessoa, se minha medida é defeituosa? (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 164-165)

Não sei se você penetrou nessa questão com profundeza, para por si próprio descobrir se se pode viver com outra pessoa em total harmonia, em completo acordo, de forma que não
haja barreira, divisão, mas um sentimento de completa unidade. Porque relação significa estar em relacionamento, não em ação, não com algum projeto, não com uma ideologia -
mas estar totalmente unido no sentido de que a divisão, fragmentação entre indivíduos, dois seres humanos, não mais exista em nenhum nível. (The Awakening of Intelligence, pág.
76)

A menos que se descubra esse relacionamento, parece-me que, quando tentamos produzir ordem no mundo, teórica ou tecnologicamente, criamos não apenas profundas divisões
entre o homem e o homem, mas também nos tornamos incapazes de evitar a corrupção. A corrupção começa onde há falta de relacionamento; penso que esta seja a raiz da
corrupção. Relacionamento, como agora o conhecemos, é a continuação da divisão entre os indivíduos. (Idem, pág. 76)

(…) O que se torna necessário, (…) é que se opere uma transformação fundamental em nós mesmos; (…) deve atingir não somente as nossas relações pessoais, mas também nossas
relações com a sociedade. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 149)

A realidade não é algo abstrato ou teórico, (…) está na compreensão da vida de relação, no estarmos cônscios a todos os momentos do nosso falar, da nossa conduta, da maneira
como tratamos as pessoas, (…) como consideramos os outros; porque a conduta correta significa virtude (…) (Idem, pág. 150-151)

Muito importa, pois, que se compreenda integralmente o processo do “eu”; (…) Se uma pessoa quer compreender a sociedade e promover uma revolução fundamental na estrutura
social, ela tem, obviamente, de começar em si mesma; porque nós não somos diferentes da sociedade. (Idem, pág. 15)

Pelo contrário, a verdadeira revolução não é realizável pelos movimentos coletivos, e sim por uma interior reavalização das relações - só isso constitui verdadeira reforma,
revolução radical (…) Ora, precisamos começar a resolver o problema em escala pequena, e essa escala pequena é o “eu” e o “vós”. Quando compreendo a mim mesmo,
compreendo a vós, e dessa compreensão nasce o amor. (A Arte da Libertação, pág. 63)

(…) No momento em que vos acercais de outra pessoa com a mira em algum proveito financeiro ou espiritual, interceptais de todo a comunhão com ela. O falso respeito que
costumamos ostentar é indicativo de compreensão? Vós me tratais com deferência, às vezes, mas geralmente demonstrais, com os vossos servos, vossas esposas e vosso próximo,
desdém, desconsideração, indiferença ou insensibilidade.

Tem valor isso? Ser respeitosos com um homem de quem esperamos alguma coisa, e desdenhosos, duros e brutais com os outros? E constituirá o saber a essência da nossa vida? Se
assim pensamos, interpretamos erroneamente a existência. Mas, se pudermos compreender, momento a momento, o integral significado da existência, talvez encontremos, então,
alegrias e felicidade. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 119-120)

Ora, se examinarmos a nossa vida, as nossas relações com os outros, veremos que são um processo de insulamento. Na realidade, não nos importamos com os outros. (…) Por
outras palavras, só existem relações enquanto nos dão prazer. Pode parecer severo isso, mas, se realmente o examinardes, vereis que é um fato; (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 143)

(…) Assim, se examinarmos a nossa vida e observarmos as nossas relações, vemos que elas constituem um processo em que levantamos resistência uns contra os outros, em que
erguemos uma muralha, por cima da qual olhamos e observamos os outros; mas conservamos sempre a muralha e permanecemos atrás dela, quer seja uma muralha psicológica,
quer uma muralha material, econômica, nacional. (Idem, pág. 143-144)

Não é possível isolarmo-nos do mundo, porquanto ser é estar em relação. Sem compreensão da vida de relação, não há ação verdadeira (…) A vida de relação é comunhão, e essa
comunhão é impedida quando forte o processo de insulamento. (…) Embora julguemos estar em relação, o que na realidade fazemos é olhar por cima da muralha, mas
permanecendo sempre nessa clausura e, conseqüentemente, provocando maiores sofrimentos para nós mesmos e para outros. (…) (O Caminho da Vida, pág. 13)

(…) É porque não somos criadores, (…) que somos tão anti-sociais, em todos os diferentes níveis de nossa consciência. Para ser muito prático e muito eficiente nas relações sociais,
(…) com todas as coisas, o indivíduo precisa ser feliz; e não pode haver felicidade se não houver um findar, se houver “vir a ser”. No findar, há renovação, renascimento, novidade,
frescor, alegria. (…) (Da Insatisfação à Felicidade pág. 74)

Nessas condições, (…) É a falta de relações corretas que produz conflito; por conseguinte, é essencial que compreendamos o conflito nas relações. (…) Logo, a compreensão de
todo o processo de nós mesmos, em relação com a sociedade, é o primeiro passo para a compreensão do problema do conflito. O autoconhecimento é o começo da sabedoria;
porque vós sois o mundo, não estais separado do mundo. A sociedade são as vossas relações com vossos semelhantes. (…) (Nosso Único Problema, pág. 65-66)

(…) A verdadeira revolução vem de dentro, quando compreendeis as vossas relações, as vossas atividades diárias, vossa maneira de proceder, de pensar, de falar, vossa atitude
para com o próximo, para com vossa esposa, vosso marido, vossos filhos. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 197)

(…) Quando amais alguém, estais em comunhão com esse alguém; não tendes idéia alguma, relativamente à pessoa que amais. De modo idêntico, se nos for possível estabelecer
uma relação de verdadeira comunhão entre nós, de maneira que vós e eu compreendamos o problema juntamente, teremos então a possibilidade de uma radical revolução no
mundo. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 116)

Imagens Recíprocas nas Relações; Insultos, Lisonjas


A menos que ponhamos ordem no mundo da realidade, não podemos ir mais além. Vivemos uma vida desordenada em nossas atividades cotidianas. (…) E é possível produzir ordem
no mundo da realidade, (…) do pensamento, socialmente, moralmente, eticamente, etc.? E quem é que vai produzir ordem no mundo da realidade? Se eu vivo uma existência
desordenada, posso produzir ordem em todas as atividades da vida cotidiana? Nossa vida diária baseia-se no pensamento, (…) na imagem de você (…), na imagem de mim, e a
relação é entre ambas as imagens. (…) (La Verdad y la Realidad, pág. 201)

(…) Na relação que existe entre dois seres humanos casados ou não - alguma vez há um verdadeiro contato psicológico? (…) Eles dizem que estão relacionados, porém isso não é
verdadeiro (…) porque cada um tem uma imagem de si mesmo. E, agregada a essa imagem, está a imagem que cada um tem da pessoa com quem vive. Na realidade, tem duas
imagens - ou múltiplas imagens. Ele há criado uma imagem dela e ela há criado uma imagem dele. (La Llama de la Atención, pág. 87)

(…) Como operam o pensamento e a memória? Sejamos simples. Você me diz: que maravilhosa pessoa eu sou. Eu gosto. Construí uma imagem e você se torna meu amigo. Você diz
algo que eu não gosto, formei outra imagem. Portanto, a imagem padrão é construída através do prazer e da dor. Por gostar, você me transmite uma coisa agradável; e por não
gostar você não se torna amável comigo. Observe isso em você mesmo. Construí uma imagem por que você disse algo agradável ou não agradável. Carrego tal imagem. (…) Sou
essa imagem. Da próxima vez que eu o encontrar, você é meu amigo e assim por diante. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970 pág. 120)

(…) Essas imagens se produzem por causa das reações que se recordam, as quais se convertem na imagem - a imagem que ele tem a respeito dela e a que ela tem a respeito dele. A
relação estabelece-se entre essas duas imagens, que são os símbolos das recordações, dos padecimentos. Portanto, de fato não existe relação alguma. (La Llama de la Atención,
pág. 87)

Assim é que o indivíduo se pergunta: é possível não ter nenhuma imagem do outro? Enquanto ele tiver uma imagem dela, e ela tiver uma imagem dele, tem de haver conflito, porque
o cultivo das imagens destrói a relação. Por meio da observação, podemos descobrir se é possível não ter imagem alguma de si mesmo ou de outrem - estar por completo livre de
imagens? (La Llama de la Atención, pág. 87)

(…) Se você investigar realmente, profundamente, descobrirá que há criado uma imagem de sua esposa, e ela, também, uma de você. Cada um criou uma imagem do outro, um
quadro acerca do outro. Esses dois retratos, imagens, palavras, ficam em mútua relação. Onde há imagens, uma estampa do outro, deve haver conflito. Tenho a certeza de que
vocês têm uma imagem do orador. (…) Por quê? Não o conhecem. Nunca podem conhecer o orador, mas criaram uma imagem dele; que é religioso, não religioso, estúpido, muito
esperto, bonito, é isto e aquilo. (…) (Mind Without Measure, pág. 40)

(…) E com essa imagem você olha para a pessoa. A imagem não é a pessoa. Ela é a reputação, e conceitos são facilmente criados; a reputação pode ser boa ou má. Mas o cérebro
humano, o pensamento, cria a imagem. Torna-se esta última a conclusão, e vivemos por meio de imagens e imaginações. (…) (Mind Without Measure, pág. 40)

Quando você observa uma árvore, entre você e a árvore há tempo e espaço, não há? E também há o conhecimento botânico dela, a distância entre você e ela - que é tempo - e a
separação que surge - através do conhecimento sobre a árvore. Para olhar a árvore sem conhecimento, sem a qualidade do tempo, não quero dizer identificar-me com a árvore,
mas observá-la tão atentamente que os limites do tempo de nenhuma forma venham à tona; o surgimento do tempo ocorre somente quando você tem conhecimento sobre a árvore.
(…) (The Awakening of Intelligence, pág. 88)

(…) Você pode olhar para sua esposa ou seu amigo, ou o que queira, sem imagem? A imagem é o passado, que foi reunido pelo pensamento como resmungos, brigas, dominação,
prazer, companheirismo e tudo o mais. É a imagem que separa; é a imagem que cria a distância e o tempo. Olhe para aquela árvore ou flor, nuvem, esposa ou esposo, sem imagem!
(Idem, pág.88-89)

Bem, como posso olhar sem imagem? Porque, se você olha com uma imagem, isso implica, evidentemente, uma distorção. Você se desentendeu comigo ontem, e então eu criei uma
imagem de você, que por isso deixou de ser meu amigo. (…) Se olho você com essa imagem na próxima vez que o encontro, ela deformará minha percepção. Essa imagem é do
passado, como o são todas as imagens. (…) Pode, pois, a mente observar sem imagem alguma (…)? (El Despertar de la Inteligencia, pág. 123)

É a imagem que produz conflito na relação. (…) Pode a mente olhar, observar sem nenhuma imagem acumulada pelo tempo? (…) Pode ela observar sem o observador - que é o
passado, o “eu”? Posso olhá-lo sem a interferência dessa entidade condicionada, que é o “eu”? (Idem, pág. 123)

Na observação há relacionamento direto, mas, quando você tem uma imagem sobre ela ou ele, você não está se relacionando. Certamente, o amor é aquele relacionamento no qual
não há imagem. Portanto, a pergunta é: é possível observar a si mesmo e ao mundo sem distorção, (…) símbolo,(…) fórmula? Se posso observar nesse sentido, então a ação é
imediata, porque não há separação entre o observador e o observado - o relacionamento é então direto. (…) E isso, afinal, é amor. (…) (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália,
1970, pág. 11-12)

Pode-se observar sem o observador, que é a essência de todas as recordações, experiências, reações, etc., tudo o que pertence ao passado? Se olhamos algo sem a palavra e as
recordações do passado, estamos olhando sem o observador. Quando fazemos isso, só existe o observado e psicologicamente não há divisão nem conflito. Pode-se olhar a esposa ou
o mais íntimo amigo sem o nome, a palavra e todas as experiências que se hão acumulado nessa relação? Quando se olha assim, está-se olhando para ela ou para ele pela primeira
vez. (La Totalidad de la Vida, pág. 205)

Quando se tem essa imagem própria, cria-se uma divisão entre um indivíduo e outro. É importante compreender muito profundamente o que é a relação. (…) A relação que temos
com nossa esposa é meramente sensorial, é uma relação sexual? É uma associação romântica, conveniente? (…). Se nossa relação se baseia na ferida psicológica, então estamos
utilizando o outro para escapar desse estigma. A relação que temos baseia-se em imagens mútuas? Cada um criou uma imagem do outro; a relação se estabelece, então, entre duas
imagens formadas pelo pensamento. (La Llama de la Atención, pág. 16-17)

Podem vocês olhar (…) sem as palavras “minha esposa”, “meu marido, meu sobrinho” ou “meu filho”, sem a recordação de todas as ofensas acumuladas, sem toda a memória das
coisas que pertencem ao passado? Façam isso agora, enquanto estão sentados aí, observem. E quando se é capaz de observar sem o passado, vale dizer, (…) sem todas as imagens
formadas de si mesmo e do outro, então há uma verdadeira relação com a esposa ou o marido. (La Llama de la Atención, pág. 58-59)

E agora, podem olhar a esposa, o marido, sem a palavra, (…) sem as recordações da relação que têm com eles, por íntima que haja sido, sem toda memória acumulada do passado,
seja de dez dias ou de cinqüenta anos? (…) (La Llama de la Atención, pág. 58)

(…) De modo que (…) vamos aprender juntos como observar uma flor. Se o indivíduo sabe como olhar uma flor, esse olhar contém a eternidade. (…) Se sabem como olhar uma
estrela, um espesso bosque, então vêem que nessa observação há espaço, eternidade atemporal. Porém, para observar a esposa ou o marido sem a imagem que deles têm criado, é
preciso começar de perto. (…) (Idem, pág. 58)

(…) Que é que realmente ocorre em nossa vida diária? Você está casado ou vive com uma pessoa: há sexo, prazer, dor, insultos, aborrecimentos, fastio, indiferença, zanga ,
provocações, domínio, obediência, etc. Tudo isso tem fabricado em você uma imagem da outra pessoa, e é através dessas imagens que vocês se olham mutuamente. (…) (El
Despertar de la Inteligencia, II, pág. 15)

(…) É tudo parte dessa imagem, senhor, somar e subtrair. (…) Você tem uma imagem dele, e essa imagem está baseada na reputação dele, no (…) que ele disse anteriormente, no
que ele condena ou aprova, etc. Você criou uma imagem. E por meio dessa imagem você escuta ou olha. (…) Essa imagem aumenta ou diminui de acordo com seu prazer ou sua
dor. E é óbvio que tal imagem está interpretando o que se diz. (Idem, pág. 16)

(…) É o que intentamos descobrir, senhor. Não só desse modo olhamos a gente ou as árvores, senão que também o fazemos de acordo com conceitos, (…) a ideologia comunista,
(…) socialista, etc. (…) Conceitos, crenças, idéias, experiência, ou o que seja que nos atraia. (…) Tem alguma significação na vida diária? Vida significa viver, viver significa
relação; relação significa contato; contato significa cooperação. Têm os conceitos (…) algum significado, nesse sentido, no da relação? Não obstante, a única relação que temos é
conceitual. Correto? (Idem, pág. 16)

(…) Há um viver conceitual e há um viver espontâneo (…); porém, quando estou tão condicionado, quando tenho herdado tantas tradições, permite isso alguma espontaneidade?
(…) (Idem, pág. 17)
Do mesmo modo, para vermos as coisas, não deve haver interferência de nenhuma imagem (…) Cada um de nós tem uma imagem de si próprio e imagens do “outro”. Não estais a
olhar-me realmente. Estais olhando para a imagem que tendes de mim. (…) Nossas relações - assim chamadas - são entre essas imagens. Quando queremos escutar ou olhar, as
imagens interferem. Imagens de ofensas, de coisas ditas, lembranças, experiências acumuladas, tudo isso interfere e, por conseguinte, não se pode olhar, nem pode haver
verdadeiras relações entre duas pessoas. Só pode estabelecer-se um estado de relação entre pessoas quando não existe imagem alguma. (Encontro com o Eterno, pág. 15)

Então, em nosso relacionamento, cada um criou, através dos anos, uma imagem do outro. Essas imagens que ela e ele criaram um do outro é a atual relação. Podem estar dormindo
juntos, mas o fato é que ele e ela têm uma imagem um do outro, e, nessa relação de imagens, como pode haver uma real, efetiva relação com o outro? Todos nós, desde a infância,
criamos imagens de nós mesmos e dos outros. Estamos indagando sobre mui séria questão - podemos viver sem nenhuma imagem em nosso relacionamento? Certamente vocês têm
uma imagem a respeito do orador, não têm? Obviamente que sim. Por quê? Vocês não o conhecem. (Mind Without Measure, pág. 80)

Se tenho uma relação com outra pessoa - e a relação, evidentemente, é ação - ao longo de dias, semanas ou anos, dessa relação criei uma imagem dela e atuo de acordo com essa
imagem, enquanto a pessoa atua segundo a imagem que tem de mim. Por conseguinte, a relação não é entre nós, porém entre essas duas imagens. (…) (El Despertar de la
Inteligencia, II, pág. 133)

Por muitos anos construí imagens acerca de mim próprio e acerca de outrem, isolei-me mediante minhas atividades, (…) crenças, etc. Assim, minha primeira pergunta é: como
posso ficar livre dessas imagens? As imagens de meu Deus, de meu condicionamento, (…) de que devo alcançar a fama ou a iluminação (…), de que devo lograr êxito - pelo que
temo o fracasso. (…) (Idem, pág. 133)

Como posso evitar a formação de imagens? Evidentemente, não criando uma super-imagem. Tenho muitas imagens, e ao não poder livrar-se delas, por infortúnio a mente inventa
uma super-imagem, o “eu” superior, o atman. (…) Vejo que, se tenho uma só imagem, não há possibilidade de relação alguma, porque as imagens separam, e onde existe separação
deve haver conflito entre os seres humanos, isso é claro. (…) (Idem, pág. 134)

Assim é que devo averiguar se posso romper com o mecanismo mental que constrói imagens e, ao mesmo tempo, investigar a questão do que é estar alerta; porque isso pode
resolver meu problema, que consiste em terminar com todas as imagens. Isso dá liberdade, e, só quando há liberdade, é possível ter uma relação verdadeira, na qual cesse toda
forma de conflito. (El Despertar de la Inteligencia, pág. 135)

As imagens, pois, se formam quando a mente não está atenta; e na maioria as mentes estão desatentas. (…) Quando vocês estão perceptivamente atentos a uma imagem, e também
ao mecanismo que constrói as imagens e ao modo em que este opera, então nessa atenção todo o mecanismo das imagens chega ao fim. (Idem, pág. 136)

(…) Não ser magoado implica não criar resistência. Não fazer resistência significa não haver imagem. Não ser ferido representa vitalidade, energia, e essa energia é dissipada
quando tenho imagens. Essa energia é desperdiçada quando me comparo com você, comparo minha imagem com a sua imagem. Essa energia é dissipada em conflito, na tentativa
de me tornar a sua imagem, que eu projetei em mim. Essa energia é perdida quando estou imitando a imagem que projetei de você. Portanto, o desgaste de energia prende-se a esse
fator. E quando estou energizado, o que só acontece quando há atenção, não sou atingido. (The Awakening of Intelligence, pág. 439)

Vós me ofendeis, e isso é uma experiência; guardo a ofensa, e isso se torna minha “tradição”. Dessa “tradição” é que olho para vós; (…) é que reajo. Tal é o processo ordinário da
minha mente e da vossa mente. Ora, é possível que, embora me ofendais, deixe de verificar-se o processo acumulativo? (…) (Debates sobre Educação, pág. 113)

Se me dirigis palavras insultuosas, isso me ofende; mas se não dou importância à ofensa, ela deixa de tornar-se o “fundo” de onde parte minha ação; dessarte, posso encontrar-me
convosco de maneira nova. Isso é educação real. (…) Porque (…) a minha mente não fica condicionada. (Idem, pág. 113)

(…) Pode esse mecanismo parar? Isto é, quando você me insulta, permanecer eu de todo atento nesse momento, no sentido de que o escuto totalmente sem reação nenhuma, nem
aceitando nem rejeitando o seu insulto, apenas escutando completamente; significa ficar em completa atenção. E, da mesma forma, quando você me elogia, escutar tão
integralmente que nada deixe marca na mente, de maneira que o mecanismo que cria imagem não tenha vitalidade, nenhum julgamento. A mente escutando o insulto e o elogio não
deixa registro, imagem, e portanto é uma mente muito sensível, alerta, observadora, na qual “mim” não existe, porque “mim” é a imagem. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália,
1970, pág. 120)

Existe essa consciência. (…) Todo esse fundo vos impede de olhar um fato. Cumpre-nos, portanto, examinar esse fundo e dissolvê-lo. (…) Tive ontem uma experiência, fui insultado
ou elogiado, e essa experiência condiciona-me o pensar de agora; e quando amanhã eu me encontrar convosco, ela estará moldando o meu conceito sobre vós. Dessarte, como
estamos vendo, o passado se serve do presente para se tornar futuro. (A Mutação Interior, pág. 63)

Quanto mais nos defendemos, tanto mais somos atacados; quanto mais buscamos segurança, tanto menos a temos; quanto mais desejamos paz, tanto maior o nosso conflito; quanto
mais pedimos, menos temos. Tendes-vos esforçado para vos fazerdes invulnerável, à prova de choque. Interiormente, vos fizestes inacessível, exceto para uns poucos, e fechastes
todas as portas à vida. Isso é lento suicídio. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 102)

De modo que (…) pode haver relação sem conflito algum, o que significa amor. O amor não é algo que possa ser cultivado, não depende da memória. Pode viver a vida de todos os
dias sem nenhum tipo de preocupação egocêntrica, já que essa preocupação em relação a mim mesmo é minha maior imagem? Posso viver sem essa imagem? É então que a ação
não gera solidão, isolamento e dor. (El Despertar de la Inteligência, pág. 138)

(…) Essa é a coisa mais prática. (…) A coisa prática é observar claramente o que somos, e atuar a partir daí. Dá-se conta uma pessoa de que tem uma imagem do outro? E se dá
conta de que tem uma imagem de si mesmo? (…) Isso é algo simples: eu o ofendo. (…) Eu lhe proporciono prazer. (…) E, conforme essa ofensa ou prazer, você reage: e essa reação,
por ser fragmentária, deve ser inexata, não total. (…) (La Verdad y la Realidad, pág. 151-152)

(…) Que faz você, então, com a imagem que construiu do outro? Dou-me conta de que tenho uma imagem de mim mesmo e de que tenho uma imagem de você; tenho, pois, duas
imagens. (…) Pois bem, (…) por que se há formado essa imagem? E quem é o que formou essa imagem? (…) (Idem, pág. 152)

(…) O pensamento criou, pois, essa imagem através do tempo. (…) E vejo que, em minha relação com outrem, essa imagem tem um papel extraordinário. (…) É possível estar livre
da imagem? Tenho uma imagem de mim como comunista (…) ou como católico (…) Todo esse fundo cultural, social e econômico também construiu essa imagem, e eu reajo
conforme ela. (…) (Idem, pág. 154)

(…) É bastante simples. Somos muito sensíveis, por uma dúzia de razões. Tenho uma imagem de mim mesmo, e não quero magoar essa imagem. Penso que sou um grande homem,
você vem e me dá uma espetada e isso me fere. Ou me sinto terrivelmente inferior, e o encontro com você, que se sente extraordinariamente superior, me deixa zangado. Você é
esperto, eu não. Eu fico magoado. O conhecimento de ser ferido, não apenas fisicamente mas psicologicamente, internamente, deixa uma marca no cérebro como memória. (…)
(The Awakening of Intelligence, pág. 434)

Memória é conhecimento. Por que deveria eu livrar-me desse conhecimento? Se eu ficar livre, você vai me magoar de novo. Então esse conhecimento age como resistência,
muralha. E o que acontece no relacionamento entre seres humanos quando há essa barreira entre você e eu? (Idem, pág. 434)

(…) Não, senhor. Olhe, eu me aproximo de você inocentemente. O significado-raiz da palavra inocente é de que você não pode ser ferido. Portanto, venho a você aberto,
amigavelmente, e você me diz algo que me magoa. Não é isso o que ocorre com cada um de nós? E o que acontece? Isso deixa uma marca, que é conhecimento. O que está errado
com esse conhecimento? Esse conhecimento age como uma muralha entre você e mim. É claro! Senão, o que posso dizer? (Idem, pág. 435)

Percebeis a necessidade de ser acessível e vulnerável? Só pela compreensão do falso como falso, podemos libertar-nos dele. Mantende-vos passivamente vigilante de vossas reações
habituais; ficai cônscio delas, simplesmente, sem resistência; observai-as passivamente. (…) A própria vigilância passiva é um estado que nos livra de nos defendermos, de
fecharmos as portas. Ser vulnerável é viver, retrair-se é morrer. (Reflexões sobre a Vida, pág. 103)

Quando a mente está de fato muito quieta, de modo natural, sem esforço, deixa de existir o observador, o pensador. Tornam-se então completamente diferentes as relações entre um
homem e outro. Já não são uma lembrança que se guardou; já não é uma imagem que se encontra com outra, uma lembrança que com outra se encontra: é o verdadeiro estado de
relação. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 51)
É possível observar sem o pensador? Olho cada coisa com uma imagem, um símbolo, com a memória, o conhecimento. Olho meu amigo, minha esposa, meu vizinho, meu patrão,
com as imagens que o pensamento formou. Olho minha mulher com a imagem que dela tenho, e ela, por sua vez, me olha com a imagem que tem de mim. A relação existente é entre
as duas imagens. (…) O pensamento formou esses símbolos, imagens, idéias. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 87)

Mas, posso olhar sem nenhuma imagem para um ente humano com quem vivo intimamente, a quem chamo minha esposa, meu marido, meu filho? Se não posso, não há então o
verdadeiro estado de relação. A única relação existente é entre as imagens que ambos temos um do outro. (…) Ainda que me tenhais insultado, magoado, que me tenhais dito coisas
ofensivas ou elogiosas, posso olhar-vos sem a imagem ou a lembrança do que me fizestes e dissestes? (Idem, pág. 87)

Vede a importância que isso tem; porque só a mente que conservou a lembrança de mágoas e insultos, só essa mente está pronta a perdoar, se a tal se sentir inclinada. A mente que
não está conservando os insultos ou lisonjas que recebeu, nada tem para perdoar ou não perdoar; por conseguinte, nela não existe conflito. (…) Podem as “imagens” desaparecer e
o pensamento “olhar” para todas as coisas da vida de maneira nova? Se fordes capaz disso, vereis que, sem nenhum esforço (…), a mudança se operará, a mudança radical! (…)
(Encontro com o Eterno, pág. 87-88)

É necessário examinar e descobrir como a imagem se torna existente e se é possível deter o mecanismo que a cria. Só então se tornará possível a correta relação entre os entes
humanos; tal relação não pode existir entre duas imagens, duas entidades mortas. (…) Vós me lisonjeais, me respeitais; e eu tenho de vós uma imagem, criada pela lisonja ou pelo
insulto. (…) Mas a imagem e eu não somos diferentes: o eu é a imagem, o “pensador” é a imagem. É o pensador que cria a imagem. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág.
96)

Começamos, pois, a perceber que, com efeito, as nossas reações se baseiam, pela maior parte, nessa formação de imagens; tendo formado a imagem, a pessoa estabelece ou espera
estabelecer relações entre duas imagens. E, naturalmente, entre duas imagens não pode haver relações. Se vós tendes uma opinião de mim, e eu tenho uma opinião de vós, que
relação pode haver entre nós? As relações só podem existir quando estamos livres dessa atividade formadora de imagens. (…) Só quando quebrada a imagem e cessada a formação
de imagens, teremos o fim do conflito, sua total extinção. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 97)

(…) Olhar sem conhecimento vossa esposa, vossos filhos, os fatos correntes nas relações, é vê-los sem as mágoas, inimizades, crueldades, insultos, imposições, anteriormente
experimentados. Tudo isso, que faz parte do conhecimento, desapareceu e vós olhais diretamente o que “é”. Esse mesmo olhar, em que não há experiência nova, é a mais elevada
forma de sensibilidade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 136)

Autoridade, Saber Alheio, Não Extensível a Outros


Um homem que queira compreender o que é a liberdade deve negar totalmente a autoridade, (…) Podemos rechaçar a autoridade de um guru, (…) sacerdote, de uma idéia, porém
estabelecemos uma autoridade dentro de nós - ou seja: “Eu penso que isso é correto, eu sei o que digo, essa é minha experiência”. Tudo isso confere ao indivíduo autoridade para
afirmar, que é a mesma coisa que a autoridade do guru e do sacerdote. (La Verdad y la Realidad, pág. 205)

Pode a mente ficar livre da autoridade, da tradição, o que significa não aceitar a outrem como guia - como alguém que lhe dirá o que deve fazer - exceto no campo tecnológico?
(…) O indivíduo obedece e aceita a autoridade, porque dentro de si mesmo há incerteza, confusão, isolamento (…) (Idem, pág. 206)

(…) E existe alguma coisa criada pelo pensamento, que seja duradoura, permanente? (…) Será possível a liberdade, vivendo-se neste mundo? Uma vida sem autoridade, sem
imagem, sem o sentido de dependência? É a liberdade o libertar-se de algo, ou é liberdade per se? (Idem, pág. 206)

Podemos, pois, ter liberdade no mundo da realidade? Porém, pode haver entre os seres humanos uma relação de completa liberdade? (…) Essa liberdade só pode existir em
relação, quando há ordem; não a ordem conforme você ou outrem, senão ordem no sentido da observação da desordem. E essa observação não é movimento do pensar, porque o
observador é o observado; só então há liberdade em nossa relação. (Idem, pág. 206-207)

Visto que nossas mentes estão enleadas na rede das crenças organizadas, com todo o seu sistema de autoridades, sacerdotes e gurus, todos engendrados pelo temor e pelo desejo de
certeza, visto que estamos presos nessa rede, é evidente que não devemos limitar-nos a aceitar o que se nos oferece; precisamos investigar, olhar diretamente, experimentar
diretamente (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 87-88)

Positivamente, o homem que se acha em tais condições, que está psicologicamente na dependência dos outros e por isso é timorato, o homem em tais condições é incapaz de
descobrir o que é a verdade. (…) A realidade não o procurará, porque está enclausurado em seus próprios preconceitos e temores. (…) Vós precisais da autoridade porque estais
confusos, em dificuldades, angustiados, rodeados de solidão, sofrendo. (…) (Idem, pág. 88)

Sois vós, pois, que criais a autoridade; e, tendo criado a autoridade, vos tornais seus escravos. A crença é um produto da autoridade; e porque desejais fugir da confusão, ficais
presos à crença, e continuais (…) em confusão. Vossos guias ou chefes são o produto de vossa confusão, e, por conseguinte eles devem estar confusos. Não seguiríeis outra pessoa
se fôsseis lúcidos, livres de confusão, e capazes de experimentar diretamente. (…) (Idem, pág. 88-89)

Temos de aceitar a desigualdade como um fato; mas é muito mais importante quebrar a atitude hierárquica perante a vida - o alto e o baixo, o mestre, o guru, a veneração da
autoridade, (…) é muito mais importante eliminarmos essa tendência para a aceitação, para seguir. (…) Tendes inúmeros exemplos de Santos e Salvadores; e vós os imitais,
procurais segui-los. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 99-100)

Assim, pois, enquanto houver autoridade, haverá justificação psicológica do superior e do inferior, do que sabe e do que não sabe, (…) aquele que não sabe seguirá sempre o outro,
para se sentir protegido, em segurança. Tal é a razão por que seguimos. Todos os nossos sistemas de autoridade baseiam-se no seguir. (…) (O Problema da Revolução Total, pág.
100)

Não estou falando com referência a um engenheiro, que sabe construir; ele é simplesmente um engenheiro e eu o considero como (…) uma função; psicologicamente, não o sigo.
Porém, se criamos o valor autoritário, psicológico, interior, (…) uma hierarquia de idéias, de pessoas, não criaremos um mundo novo. (Idem, pág. 100)

Eis, pois, a situação. Rejeitamos totalmente a autoridade externa - se a temos - percebendo que essa autoridade é uma das causas da desordem. Vemos que estivemos seguindo certo
“instrutor”, filósofo, salvador, e que o seguíamos por medo e não por amor. Se tivéssemos amor, não seguiríamos ninguém. (…) Uma pessoa segue, aceita, obedece, essencialmente
porque tem medo - medo de não alcançar os seus fins, de errar o caminho, etc. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 23-24)

Interiormente, é dificílimo rejeitar a autoridade - a autoridade de outrem e também a autoridade de nossos próprios conceitos, (…) das experiências vividas. Relativamente fácil é
rejeitar a autoridade da sociedade; os monges o têm feito de várias formas e a moderna “geração mais nova” o está fazendo de diferente maneira. (Idem, pág. 24)

Mas o livrar-nos da autoridade de nosso próprio condicionamento, (…) experiências, (…) do passado em nós existente (…), isso é bem mais difícil. E afastar essa autoridade é
sobremodo importante, é essencial, porque é ela que gera a autoridade externa e também o medo, dado o nosso desejo de certeza, segurança, proteção. (Idem, pág. 24)

A autoridade assume formas variadas. Há autoridade dos livros, da igreja, (…) do ideal, (…) da vossa própria experiência, (…) do saber que acumulastes. (…) Tecnicamente, há
necessidade de autoridades; (…) Mas, estamos falando sobre o estado psicológico da mente; (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 13)

Apega-se à autoridade, evidentemente, porque se teme a incerteza, a mudança; teme o desconhecido, o que poderá acontecer amanhã. E podemos nós viver sem autoridade de
espécie alguma - autoridade no sentido de dominação, arrogância, dogmatismo, agressividade, desejo de sucesso e de fama, desejo de vir a ser alguém? (…) (Idem, pág. 13)

Se confiais em autoridades, estais perdido. O especialista é uma pessoa “desintegrada”, e o que ele diz de sua especialidade não pode levar à “ação integrada”. Porque, se citais
um psicólogo e um outro cita outro psicólogo, de opinião contrária, em que ficais? O que pensais e o que eu penso valem mais do que todos os psicólogos juntos. Tratemos, pois, vós
e eu, de descobrir por nós mesmos, abstendo-nos de citar o que dizem os psicólogos e os especialistas. (…) (A Arte da Libertação, pág. 48)
Há também a autoridade da tradição. Tradição significa: “transportar do passado para o presente” - tradição religiosa, (…) familiar, (…) racial. E há tradição da memória. Vê-se
que seguir a tradição em certos níveis tem valor; noutros níveis não tem valor algum. As boas maneiras, a cortesia, a consideração, nascidas do estado de vigilância da mente,
podem converter-se gradualmente em tradição; uma vez fixado o padrão, a mente o repete (…) Mas, tendo-se tornado tradição, esses atos já não procedem do estado de vigilância,
de percepção, de lucidez. (A Questão do Impossível, pág. 22-23)

O mundo está senhoreado pela autoridade - a autoridade do sacerdote, do político, do especialista. Mas as autoridades não podem ajudar-vos a vos compreender, e, se não
compreendeis a vós mesmos, não podeis ficar liberto do conflito, ainda que freqüenteis o templo, (…) que mediteis (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 148-149)

Ou, suponhamos que temos abandonado as autoridades externas; então desenvolvemos uma autoridade interna que chamamos intuitiva, espiritual - mas que, para mim, pouco
difere da externa. Isto é, quando a mente está presa à autoridade - seja externa ou interna - não pode estar livre, portanto não pode conhecer o verdadeiro discernimento. Daí, onde
há autoridade nascida da busca de segurança, nessa autoridade se acham as raízes do egoísmo. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 24)

Consideremos a mente cativa da autoridade. Existe a autoridade da compulsão externa, dos grupos, dos líderes, das opiniões, das tradições. Talvez cedais a essa autoridade sem
compreendê-la plenamente (…); se, porém, realmente vos examinardes a vós mesmos, vereis que nessa deliberação existe um desejo profundo de segurança, que cria o medo, e,
para vencerdes esse medo, submetei-vos à autoridade. Há também a autoridade sutil, subjetiva, de memórias acumulativas, de preconceitos, temores, antipatias, carências, que se
tornaram valores, ideais e padrões. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 68-69)

Parece-me (…) A maior parte do chamado “pensar” não é original, mas só repetição - o que disse Sankara, Buda, Cristo, Marx ou outro qualquer. Para se pôr de parte realmente
toda e qualquer autoridade e todos os livros, e tentar descobrir por si mesmo o que é verdadeiro, requer-se boa porção de inteligência criadora (…) E, para fazê-lo, não deve a
mente estar livre de todo e qualquer condicionamento - hinduísta, budista, cristão, comunista (…)? (Visão da Realidade, pág. 29-30)

( … ) Só tal revolta faz nascer o pensar criador, a compreensão criadora, e isso é que é essencial atualmente, e não que apareçam mais líderes, espirituais ou políticos. Cada um de
nós tem de descobrir exatamente, por si mesmo, o que é a verdade, e não se pode descobrir o que é a verdade, a menos que nos achemos numa revolução total. (…) (Idem, pág. 30)

Por que fazeis citações, (…) comparações? Costumais dizer: “Citando, posso comparar e compreender; mas citais porque, na vossa mente, não sois nada mais do que citação. (…)
Um disco de gramofone repete o que outra pessoa disse. Tem isso algo de vital na busca da verdade? Compreendeis citando os Upanishads ou outro livro qualquer? (Que Estamos
Buscando?, pág. 188)

(…) Afirmando o que outra pessoa já disse, não precisais mais pensar no caso (…) Afinal, se lestes os Upanishads ou o Bhagavad-Gita, e pensais tê-los compreendido, podeis
dar-vos por satisfeito, e ficar a repeti-los, e isso não terá efeito algum em vossa vida diária; podeis continuar a ler e a citar, sem ser perturbado, em perfeita segurança. Sois então
uma pessoa muito respeitável Em verdade, estais evitando perturbações; (…) (Idem, pág. 189)

(…) Compreendemos a vida, se temos a mente cheia de coisas ditas por outras pessoas, se seguimos a experiência, o saber alheio? Ou só vem a compreensão quando a mente está
quieta? (…) Com o indagar, procurar, perscrutar, a mente se torna, evidentemente, tranqüila e então o problema revela todo o seu significado; (…) Positivamente, senhor, o homem
de saber, o letrado, nunca pode conhecer a verdade; pelo contrário, o saber e a erudição devem cessar. (Que Estamos Buscando? 1ª ed., pág. 190)

A mente precisa ser simples para compreender a verdade, e não estar cheia do saber de outras pessoas (…) Tereis de observar-vos com atenção, de compreender a maneira como
funciona vossa mente; porque a mente é o único instrumento que possuís, e, se não compreendeis esse instrumento, como podereis transcendê-lo? Certamente, senhor, os que
escreveram os originais dos livros sagrados não podiam ter sido copistas (…) Eles não citaram palavras alheias. Mas nós citamos, porque os nossos corações estão vazios, porque
somos áridos, nada temos em nós. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 190)

Fazemos muito barulho, e a isso chamamos sabedoria; e com esse conhecimento queremos transformar o mundo (…) Eis porque muito importa que a mente realmente desejosa de
realizar um transformação fundamental esteja livre de cópia, de imitação, de padrões. (Idem, pág. 190-191)

(…) Podeis rejeitar a autoridade externa, mas resta a autoridade interior da experiência, (…) baseada no vosso condicionamento. É muito fácil rejeitar a autoridade externa;
continuaremos, porém, a ser ainda resultado (…) da tradição, da sociedade, da cultura, da civilização em que vivemos. Rejeitar o “exterior” e seguir o “interior” não significa
estar livre da autoridade. (…) (Percepção Criadora, pág. 40)

Ouvi com atenção (…) A compulsão, a resistência, a disciplina, o seguir a autoridade, resultam do temor; e pode um espírito embargado pelo temor, ser livre? Só quando o espírito
é livre, pode haver individualidade; (…) O desejo e o esforço são reações ao nosso condicionamento; e reação não é liberdade. (…) (Idem, pág. 41)

(…) Preciso de uma carga de conhecimento, (…) da autoridade da experiência, para descobrir o que é verdadeiro? Para compreender, não deve a mente estar de todo livre do
passado? Não deve desistir de traduzir a experiência imediata de acordo com o seu conhecimento anterior, erigido em autoridade? (…) (Percepção Criadora, pág. 41)

A vida é muito complexa, e a mente mais complexa ainda e dotada de extraordinárias capacidades; e para compreender qualquer problema humano, não deve a mente considerá-lo
de maneira nova, como coisa nova, e não partindo de um centro que armazenou, que acumulou? Isso é o que é compreensão criadora (…) O centro que acumula é o “eu”, o ego”,
e, portanto, toda ação procedente desse centro poderá, apenas, aumentar o problema. A Realidade, Deus, (…) deve ser algo totalmente novo, nunca dantes experimentado,
completamente original. (…) (Idem, pág. 42)

Pois bem. Pode a mente ser livre (…)? Afinal, o atemporal, a eternidade inefável é isto: quando a própria mente é o desconhecido. Por ora, a mente é o conhecido, resultado do
tempo, de ontem, do saber, de experiências e crenças acumuladas, e, nesse estado, a mente jamais chegará a conhecer o desconhecido. (…) (Idem, pág. 44)

Que nos está impedindo de ser criadores? (…) Toda nossa educação consiste em aprender uma técnica - o que significa um processo de imitação, (…) de cópia. Afinal de contas, o
conhecimento é imitação, é cópia; e não é essa uma das principais cargas que nos estão impedindo de ir ao encontro das coisas de maneira nova? A autoridade de qualquer
espécie, espiritual ou mundana, exterior ou interior, não constitui um empecilho à compreensão criadora? (Viver sem Confusão, pág. 65)

(…) E por que temos autoridades? Porque, sem uma autoridade, julgamo-nos perdidos. Precisamos de uma âncora. Assim, no desejo de segurança, interior e exterior, criamos a
autoridade; e essa própria autoridade, que evidentemente implica imitação, destrói a força criadora, a originalidade. (Idem, pág. 65)

Não sei (…); o que verdadeiramente me interessa é descobrir a verdade de todo e qualquer problema - não de acordo com os Upanishads, o Bhagavad-Gita, a Bíblia ou Sankara.
Quando procuramos a verdade de um problema, é estúpido repetir o que outros disseram. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 189)

(…) E vós gostais de ser hipnotizados, mesmerizados, seja por outra pessoa, seja por vós mesmos, porque nesse estado ficais a salvo de perturbações; e, enquanto procurardes um
estado sem perturbações, ao qual chamais paz de espírito, encontrareis sempre o meio de alcançá-lo: o guru, (…) Esse estado chama-se hipnose. Por certo, não é isso o está
ocorrendo aqui, é? (…) Pelo contrário, eu digo: despertai de vossa hipnose; quer estejais hipnotizado pelos vossos Upanishads ou pelo guru mais na moda, ficai livre deles. (Idem,
pág. 191-192)

(…) Tal é o fato que não quereis ver; e enquanto não quiserdes ver o fato, sereis sempre hipnotizados, não por mim, mas pelo vosso próprio desejo, que sempre procura uma
maneira de não ser perturbado, de seguir pelo caminho habitual, e de se tornar respeitável. Senhor, o homem respeitável, o homem dito religioso, é o homem hipnotizado, porque o
seu refúgio supremo é a sua crença; e essa crença (…) dá satisfação, nunca perturba, porque, do contrário, ele não a conservaria. (Idem, pág. 192)

Só estareis livre de vossa auto-hipnose, ao compreenderdes o processo total, o processo integral de vós mesmos; por conseguinte, o autoconhecimento é o começo da liberdade, e
sem autoconhecimento estais perpetuamente em estado de hipnose. (Idem, pág. 193)

(…) Nenhum instrutor vos ajudará a achar a verdade, é óbvio; cada um tem de achá-la dentro de si mesmo, tem de submeter-se à dor, ao sofrimento, tem de indagar, de descobrir e
compreender as coisas por si mesmo. Mas, com vos tornardes discípulos de determinado instrutor, não cultivastes a inércia, a indolência, não obscurecestes a vossa mente? E,
naturalmente, os vários instrutores, com seus respectivos grupos, se acham em contradição, fazendo concorrência uns aos outros, (…) propaganda - vós conheceis todas as
incoerências que há nessa coisa (Claridade na Ação, pág. 60-61)
(…) Sem liberdade, não pode ser descoberta a verdade; não é possível o conhecimento do Real. (…) Libertai-vos dos que se dizem salvadores, mestres, guias; libertai-vos das
muralhas egocêntricas do bem e do mal; libertai-vos de autoridades e modelos; libertai-vos do “ego”, o causador de conflito e sofrimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág.
166)

(…) A religião, como a experiência de uma autoridade qualquer, pode ligar vários indivíduos entre si, mas, inevitavelmente, há de gerar antagonismo; (…) a experiência alheia não
é verdadeira, mesmo que o “experimentador” seja um grande homem. (…) A experiência de um guru, um instrutor, um santo, um salvador, não é a verdade que vos cumpre
descobrir. A verdade alheia não é a verdade. (…) (Nosso Único Problema, pág. 81)

A experiência alheia não é válida para a compreensão da realidade. Entretanto, as religiões organizadas no mundo inteiro baseiam-se na experiência alheia, e, por essa razão, não
estão libertando o homem, mas unicamente prendendo-o a um padrão que lança o homem contra o homem. Cada um de nós tem de começar de novo; porque o que somos o mundo
é. (Nosso Único Problema, pág. 81-82)

(…) O instrutor com o qual o aluno está em contato diretamente, fisicamente, observa o aluno enquanto o ajuda e guia. (…) Ora, os “Mestres” não estão em contato direto, físico,
com o aluno, exceto, aparentemente, com aqueles que proclamam ser seus intermediários. (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 76-77)

Afinal, os Mestres e os devas são nossa própria projeção; quando os seguimos, estamos seguindo (…) projeções. (…) Vós desejais que eu vos ajude a entrar em contato com os
Mestres (…) Fala-se muito a respeito deles, e isso se tornou um meio engenhoso de explorar os outros. (…) Há muita mistificação nisso. (…) Quando nossos corações estão vazios,
enchemo-los com as imagens de Mestres, o que significa que não existe amor. (…) (Que Estamos Buscando? 1ª ed., pág. 74-75)

O problema, pois, não é de como entrar em contato com os Mestres e devas, e, sim, de como transcender a noção de desigualdade; (…) Quando conheceis a vós mesmos, conheceis
o Mestre. Um Mestre verdadeiro não pode ajudar-vos, porque vós mesmos tendes de compreender-vos. Vivemos em busca de Mestres falsificados; buscamos conforto, segurança, e
projetamos a espécie de Mestres que desejamos, esperando que esse Mestre nos dê tudo o que desejamos. (…) (Idem, pág. 76)

O autor da pergunta (…) Não sigais pessoa alguma, nem a mim próprio. Não façais de outrem vossa autoridade. No momento em que reconheceis outro indivíduo como vosso
mestre, e a vós mesmo como seu discípulo, estais negando a verdade. Na busca da verdade, não há mestre nem discípulo. A busca da verdade é que é importante (…) Se estais
esclarecido, se interiormente sois uma luz para vós mesmo, não seguireis ninguém. Por conseguinte, tratai (…) de dissipar a vossa própria confusão, tornando-vos uma luz para vós
mesmo, e então desaparecerá o problema. (O que te fará Feliz?, pág. 120-121)

(…) Quando rejeitais a autoridade e dela buscais libertar-vos, procurais apenas uma antítese; ao passo que a verdadeira liberdade, o estado inteligente e desperto da mente, está
além dos opostos. É essa tranqüilidade vibrante do pensamento profundo, do apercebimento sem escolha, essa intuição criadora, que é plenitude da vida. (Palestras em Ommen,
Holanda, 1936, pág. 69)

Estais também trabalhando, (…) Não aprendeis nada do orador, porque ele nada tem para vos ensinar. Não tem absolutamente nada para ensinar-vos, porque não admite a relação
de “mestre e discípulo”, geradora de autoridade; pois, onde há autoridade, há divisão: “o que sabe” e “o que não sabe”. E o homem que diz que sabe, não sabe. (…) (O Novo Ente
Humano, pág. 67)

O Buddha, o Cristo, e outros grandes instrutores do mundo, foram ter à fonte da vida. Tornaram-se Artistas Mestres. Uma vez conhecendo a natureza e a suprema grandeza da
Fonte, Eles mesmos se tornaram essa Fonte, o Caminho e a Encarnação da Sabedoria e do Amor. Essa deveria ser a nossa finalidade.

(…) Uma vez que tenhais compreendido a glória do Reino d'Eles, então podereis abrir caminho por vós mesmos nessa linha particular de criação (…) Então sereis os maiores
escritores, ou os maiores artistas, ou os maiores cientistas; então tereis a língua dos eruditos. (…) Sêde independentes - não só emocional e intelectualmente - mas também de todos
os estorvos físicos. É esse o único caminho para se chegar à maior das felicidades (…) É o único meio de viver no Reino da Felicidade. (O Reino da Felicidade, pág. 54-55)

Gurus; Doutrina, Sujeição, Insuficiência, Desilusão


Esta é uma das questões mais importantes (…) Invariavelmente, desejamos achar um instrutor, um guia, para moldar a conduta de nossa vida; e, no momento em que vamos pedir a
outrem uma norma de conduta, uma maneira de viver, criamos uma autoridade e a ela ficamos escravizados. Atribuímos a tal pessoa uma alta sabedoria, extraordinária ciência. E
com essa atitude (…) gera-se, invariavelmente, o medo (…) E ela não determina também o disciplinamento de nós mesmos, de acordo com a autoridade de uma idéia ou pessoa?
(Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 28)

Qual é a intenção de vossa busca? (…) Se a intenção é de encontrar a paz, encontrá-la-eis; mas não será a paz, pois vossa mente se verá torturada no próprio processo de achá-la e
conservá-la. (…) Toda religião, toda organização, todo livro, instrutor, guru, vos diz que deveis ser bom, sujeitar-vos, ajustar-vos, aquiescer, disciplinar a mente para não divagar;
e, por essa razão, há sempre restrições, repressão, medo. (…) (Visão da Realidade, pág. 220)

Ora, não vos parece de todo fútil essa busca? Estar-se cativo na gaiola de uma disciplina, o ser impelido de uma gaiola (…) para outra, isso, evidentemente, não tem significação
alguma. Assim sendo, devemos investigar (…) por que buscamos. A busca pode ser um “processo” totalmente errôneo. Pode ser justamente um desperdício de energia (…) (Idem,
pág. 220)

Nenhum guru nem sistema pode ajudá-los a se compreenderem a si mesmos. Sem a compreensão de si mesmos, não tem razão de ser o descobrir aquilo que constitui a ação correta
na vida (…) que é a verdade. Ao investigar a própria consciência, se está investigando a totalidade da consciência humana - não só a própria - porque o indivíduo é o mundo e,
quando se observa a própria consciência, está-se observando a consciência da humanidade; não é algo pessoal e egocêntrico. (La Totalidad de la Vida, pág. 199)

(…) Se nossa relação é a de um que dá instrução e de outro que a recebe e segue, nesse caso nunca fareis descobrimento nenhum, e sereis um mero seguidor. Não há então criação,
renovação em vós mesmo. (…) (Poder e Realização, pág. 41)

Mas se, enquanto escutais, estais descobrindo como a vossa mente pensa, opera, funciona, (…) então, se descobris e compreendeis tal coisa, vossa presença aqui tem muita
importância (…) Se, quando escutais, dá-se um despertar, uma revolução, (…) uma revolução interior, (…) psicológica, profunda, que vos traga uma compreensão mais ampla e
mais significativa, então é importantíssima a vossa presença aqui. (Idem, pág. 41)

Ora, esta pergunta sobre se alguém necessita de um guru é repetida constantemente (…) Senhores, a vasta maioria de vós tendes gurus; essa é uma das coisas mais extraordinárias
neste país. (…) O interrogante pergunta: “Um coração amante necessita de um guia?” - Estais compreendendo? Por certo, um coração amante não tem necessidade de guia algum,
porque o verdadeiro amor é o real, é o eterno. (…) Mas a maioria de nós não tem um coração assim. Nossos corações estão sempre vazios (…) Nossos corações estão cheios das
coisas da mente. E porque estão vazios (…), dirigimo-nos a outra pessoa para os encher. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 90)

(…) E, uma vez que procurais satisfação, encontrais afinal um guru que vos satisfaça; mas o que ganhais não é a compreensão, não é a felicidade, não é o amor. Pelo contrário,
destruís o amor. O amor é algo novo, eterno, de momento a momento. Nunca é o mesmo, nunca é como foi antes; e sem o seu perfume, sem a sua beleza, sem a sua bondade,
procurar com a ajuda de um guru aquilo que podeis achar por vós mesmos, é de todo inútil. Nosso problema, portanto, não é se um guru visível ou invisível nos ajudará, mas, sim,
como fazer nascer aquele “estado de ser” no qual conhecemos o amor. (…) E é só quando há liberdade que o eterno pode vir à existência. (Da Insatisfação à Felicidade, pág.
91-92)

A questão, pois, não é se o guru é necessário, mas, sim: por que precisamos dele? (…) Não queremos, realmente, compreender o que é a verdade, por isso buscamos o guru, a fim de
que nos dê a satisfação que almejamos; (…) Quando escolhemos um guru porque estamos em confusão, esse guru também há de estar confuso (…) O compreender a si mesmo é
essencial, e um guru digno desse nome terá de dizer-vos a mesma coisa. (…) O que buscamos não é a verdade, mas, sim, o conforto; e o homem que nos dá conforto, escravizamos.
(Nosso Único Problema, pág. 11)

Pode a verdade ser transmitida a outrem? Posso fazer-vos a descrição de uma coisa já acabada, já passada e que, por conseguinte, já não é real; (…) mas não podemos
comunicar-nos uns com os outros a respeito de uma coisa que não estamos experimentando. Toda descrição pertence ao passado, e não ao presente; (…) Conhecimento não é
sabedoria. (…) O que pode ser descrito não é a verdade. A verdade tem de ser “experimentada”, momento a momento; (…) (Idem, pág. 11-12)

Um dos nossos numerosos problemas parece ser o da dependência - essa nossa dependência de pessoas, para nossa felicidade, dependência de capacidade, dependência que nos
obriga a ficar apegados a alguma coisa. E a questão é: Pode a mente (…) estar totalmente livre de toda dependência? (…) (Transformação Fundamental, pág. 69)

Por que é que dependemos? Psicologicamente, interiormente, dependemos de uma crença, um sistema, uma filosofia; pedimos a outrem uma norma de conduta; procuramos
instrutores, em busca de um modo de vida (…) certa esperança, certa felicidade. (…) Tem a mente possibilidade de libertar-se dessa idéia de dependência? Com isso não quero
dizer que a mente deva conquistar a independência, o que só seria uma reação à dependência. (…) (Idem, pág. 69)

(…) Na verdade, penso que o problema não é a dependência; a meu ver, há outro fator mais profundo, que nos faz depender. (…) Qual é, pois, esse fator mais profundo? É a mente
detestar e temer a idéia de estar só. (…) Dependo de alguém, psicologicamente, interiormente, por causa de um estado que estou tentando evitar. (…) Por isso, a minha dependência
de uma pessoa - de quem desejo amor, estímulo, orientação - se torna imensamente importante (…) (Idem, pág. 71)

(…) Mas, se sou capaz de perceber o fator que é o meu depender de uma pessoa, de Deus, da oração, de certa capacidade, certa fórmula (…) - talvez então eu possa descobrir que
tal dependência resulta de uma exigência interior, a que em verdade nunca prestei atenção, nem levei em conta. (Idem, pág. 71)

Considero (…) essa questão sumamente importante. Porque, enquanto aquela solidão não for realmente compreendida, sentida, penetrada, dissolvida (…), enquanto persistir esse
sentimento de solidão, será inevitável a dependência, nunca seremos livres (…) (Idem, pág. 71)

Pergunta o interrogante: “Não sois vós mesmo um guru?” Podeis fazer de mim um guru, mas eu não o sou. Não quero ser guru, pela simples razão de que não há caminho para a
verdade. (…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho - só para as coisas mortas pode haver um caminho. Porque a verdade não tem caminho,
para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? Se procurais um guru é porque
não sois aventuroso (…) (A Arte da Libertação, pág. 123-124)

Vereis, então, como o desejo vos deixa conhecer todo o seu significado; e só quando compreendeis o conteúdo do desejo é que tendes liberdade. Em suma, (…) a especialização da
psique significa morte. Se desejais conhecer a vós mesmos, não podeis recorrer a nenhum especialista, (…) livro, porque vós sois o vosso próprio mestre e o vosso próprio discípulo.
(…) (Idem, pág. 138)

Cada um de nós deve ser, para si próprio, tanto o instrutor com aquele que é instruído. Isso só se torna possível quando se percebe a importância de vermos, de observarmos, por
nós mesmos, as coisas tais como são. Em geral, estamos pouco cientes de nosso interior. Não sei se já observastes as pessoas que estão sempre a falar de si; da posição que a si
próprias atribuem na vida. (…) (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 10)

(…) Eu não sou vosso guru; porque, se me escolheis como guru, fareis de mim um novo meio de escape (…) A verdade é uma coisa que cumpre ser descoberta instante a instante,
em cada movimento da vida. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 37)

Em primeiro lugar, o seguidor destrói o guia. Seguir alguém não é achar a verdade. Se se quer compreender o que é a verdade, não pode haver nem seguidor nem instrutor. Não há
guru que possa levar-nos à verdade, e seguir qualquer pessoa é negar aquela liberdade que a virtude confere. (…) Procurai perceber a verdade aí contida, isto é, que seguir a
autoridade, de qualquer espécie que seja, é negar a inteligência. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 164)

Nós seguimos porque estamos em confusão, e, por causa de nossa confusão, escolhemos um guia; por conseguinte, o guia só pode estar confuso. (…) Escolheis o guru para
satisfazer a vossa ânsia de segurança, e o que seguis é vossa própria “projeção”, vossa própria satisfação, e não a verdade. (…) (Idem, pág. 164)

Eu não tenho seguidores, nem tampouco sou instrutor de ninguém; se o fosse, vós me destruiríeis e eu vos destruiria. Em tal caso, não haveria amor entre nós, só haveria
acompanhamento; porque os que seguem e os que conduzem não têm amor no coração. (Idem, pág. 164)

Pode a verdade ser transmitida a outrem? Posso fazer-vos a descrição de uma coisa já acabada, já passada, e que, por conseguinte, já não é real (…); mas não podemos
comunicar-nos uns com os outros a respeito de uma coisa que não estamos experimentando. Toda descrição pertence ao passado, e não ao presente; o presente, por conseguinte,
não pode ser descrito; e a realidade existe somente no presente. (…) (Nosso Único Problema, pág. 11-12)

Conhecimento não é sabedoria. Pode-se descrever, no nível verbal, conhecimento de fatos, mas é impossível descrever algo que está em constante movimento. O que pode ser
descrito não é verdade. A verdade tem de ser “experimentada”, momento a momento; e se fordes ao encontro do dia de hoje com a medida de ontem, não compreendereis a
verdade. (Idem, pág. 12)

Um guru, portanto, não é essencial. Muito ao contrário, o guru é um empecilho. O autoconhecimento é o começo da sabedoria. Nenhum guru pode dar-vos autoconhecimento; (…)
Mas quando a mente, graças ao autoconhecimento, está livre de todos os empecilhos e limitações, então a verdade se manifesta. (Idem, pág. 12)

No que respeita aos guias, aos gurus, etc., vós os seguis por terdes um “motivo”, um incentivo, que é o vosso desejo de serdes felizes, de encontrardes Deus. Estais, por isso, sempre
a buscar, e o guru, segundo se supõe, vos ajudará a achar. Mas pode um guru ajudar-vos a achar o que é real? A realidade deve achar-se fora da esfera do tempo, deve ser uma
coisa totalmente nova, não contaminada pelo passado ou pelo futuro. (Visão da Realidade, pág. 119-120)

Se ela está fora do tempo, nesse caso a mente, resultado do tempo, nunca poderá achá-la. Enquanto estiverdes seguindo alguém com o fim de descobrirdes a realidade, Deus,
estareis seguindo, tão só, os desejos da vossa própria mente. (…) Eis porque é importante não seguir ninguém, não ter gurus. Quando buscais, a vossa busca é resultado de vosso
próprio desejo (…) Quando a mente não está buscando, quando se acha verdadeiramente quieta, completamente tranqüila, sem incentivo de espécie alguma, só então se apresenta
aquela coisa que a mente não pode captar, que não pode ser encontrada nos livros, e que nenhum guru conhece; porque saber é não saber. (Idem, pág. 120)

Que necessidade há de um guru? Ele sabe mais do que vós? E, que sabe ele? Se diz que sabe, não sabe realmente (…) Pode alguém ensinar-vos aquele extraordinário estado da
mente? Poderá descrevê-lo para vós, despertar o vosso interesse, vosso desejo de possuí-lo, de experimentá-lo - mas não vô-lo pode dar. Vós tendes de caminhar sozinho, tendes de
viajar desacompanhado e, nessa jornada, ser vosso próprio mestre e discípulo. (A Outra Margem do Caminho, pág. 35)

Eles se tornam a autoridade e, de acordo com eles, o que tendes de fazer é apenas seguir, imitar, obedecer, aceitar a imagem, o sistema que oferecem. Desse modo, perdeis toda a
iniciativa, toda percepção direta. Estais meramente seguindo o que eles pensam ser o caminho da verdade. Mas, infelizmente, não há nenhuma via de acesso à Verdade. (A Outra
Margem do Caminho, pág. 36)

Os entes humanos são condicionados pela propaganda, pela sociedade em cujo meio foram criados - garantindo cada religião que o caminho que oferece é o melhor de todos. E há
um milhar de gurus a sustentar, cada um deles, que seu método, seu sistema, seu modo de meditação é o único caminho conducente à verdade. (…) O homem inventou uma grande
quantidade de caminhos, e por isso o mundo está todo fracionado. (Idem, pág. 36)

Pergunta: E difícil entender-vos, e acho mais fácil seguir as pessoas que compreenderam os vossos ensinamentos e nô-los podem explicar. (…)

Krishnamurti: Sempre que alguém deseja seguir, encontra um guia, e o segui-lo destrói a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. Quando a mente segue alguém, está
seguindo o seu próprio interesse, que é de não compreender o que é verdadeiro. Por certo, não me estais seguindo, pois apenas tento mostrar-vos as operações da mente. Quando
seguis alguém, não estais investigando as atividades da vossa própria mente (…) (Visão da Realidade, pág. 116)

Quando galgais uma encosta elevada e encontrais pelo caminho indicadores de direção, vós vos detendes para adorar esses indicadores, ou prosseguis a marcha, deixando-os para
trás? Ponderai (…) Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 5)

(…) Bem sei que tereis dúvidas sobre o que estou dizendo, (…) eu digo que a Verdade nada tem que ver com as personalidades mesquinhas e tirânicas que adorais (…) A Verdade
transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas. (Idem, pág. 5)

Senda da Verdade; sem Roteiros, Original, Individual


Senhores, examinemos (…) essa questão relativa aos vários caminhos conducentes a uma verdade fundamental. Ora, um caminho só pode conduzir a algo que já é conhecido, e o
que é conhecido não é a verdade. Quando conheceis alguma coisa, deixa ela de ser a verdade. (…) Por essa razão, o que é conhecido está enredado no tempo, e, por conseguinte,
não é a verdade, não é o real. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 92)

Mas, a realidade é o imensurável, o desconhecido. Se a pudésseis medir, ela não seria a verdade. Porque, nada do que haveis aprendido nos livros ou por afirmações de outros, é
real; é mera repetição, e o que se repete não é mais a Verdade. (Idem, pág. 92)

Existe, pois, um caminho conducente à Verdade? Até agora, pensávamos que todos os caminhos conduzissem à Verdade. Conduzirão mesmo? O caminho do ignorante (…)
conduzirá à Verdade? (…) O homem devotado ao saber não pode achar a Verdade, porque o que lhe interessa é a erudição, e não a Verdade. (…) O homem de ação encontrará a
Verdade? É óbvio que não, pela simples razão de que, quando nos interessamos somente por uma parte, não podemos achar o todo. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 92-93)

Assim, pois, o homem que de fato busca a realidade, precisa do devotamento, do saber e da ação. Não representam essas coisas três caminhos separados, conduzindo a algo
extraordinário chamado Realidade. Todavia, o devotamento a uma coisa não passa de simples fantasia. Retire-se o objeto do devotamento, e eis o homem perdido (…) Por
conseguinte, isso já não é devotamento. É apenas uma válvula emocional, ajustada a uma coisa (…); mas o homem realmente devotado está devotado à busca, em si, e não ao
conhecimento. (Idem, pág. 93)

(…) Só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que alcançou a madureza não segue caminho algum, seja o caminho dos adeptos, (…) do saber, da ciência, do
devotamento ou da ação. O homem que foi posto num caminho, não está amadurecido e não encontrará, jamais, o Eterno, o Atemporal, porquanto a parte (…) pertence ao tempo.
Através do tempo nunca é possível encontrar o Atemporal. (…) (Idem, pág. 94)

Não há caminho para Aquilo que existe acima de todos os caminhos abertos e percorridos pelo homem. Para se encontrar aquela realidade a que nenhum caminho conduz, é
necessário ver a verdade no falso. Se percebeis que é falso o caminho que estáveis percorrendo (…), então esse próprio percebimento do falso é percebimento do verdadeiro. Não
há necessidade de seguirdes o verdadeiro; o verdadeiro vos liberta do falso. (Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 139-140)

Quando falais de um caminho para a verdade, isso implica que a verdade, essa realidade viva, não está no presente, mas algures distante, em um certo lugar no futuro. Pois bem,
para mim, verdade é preenchimento, e para o preenchimento não pode haver caminho. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 110)

Assim, parece (…) que a primeira ilusão em que estais aprisionados é esse desejo de segurança, (…) de certeza, essa indagação de qual o caminho, a maneira, o modo de viver pelo
qual podereis atingir a meta desejada, que é a verdade. (…) (Idem, pág. 110)

Quando inquiris sobre o que é a verdade, estais realmente pedindo que vos digam o caminho que a ela conduz. Desejais, então, saber qual sistema seguir, qual maneira, qual
disciplina vos auxiliará no caminho para a verdade. (Palestra em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 110)

Mas, para mim, não há caminho para a verdade; a verdade não é para ser entendida por meio de nenhum sistema, de nenhum caminho. Uma senda implica uma meta, um fim
estático, e, por isso, um condicionamento da mente e do coração para esse fim (…) E o estar buscando uma meta indica que a vossa mente está procurando segurança, certeza. (…)
(Idem, pág. 110-111)

Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do coração, mas um
preenchimento constante, um preenchimento na ação. (…) Digo que cada um deve descobrir por si próprio o que é a verdade (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 111)

(…) A verdade é o movimento do eterno vir-a-ser, e assim não é uma finalidade, não é estática. Por isso, a busca de um caminho é nascida da ignorância, da ilusão. Mas quando a
mente está flexível, livre de crenças e memórias, liberta do condicionamento da sociedade, então, nessa ação, nessa flexibilidade há o movimento infinito da vida. (Idem, pág. 112)

Como disse outro dia, o verdadeiro cientista é aquele que, sem um resultado em vista, está continuamente experimentando. Ele não busca resultados, que são apenas subprodutos
da sua pesquisa. Desse modo, quando estais buscando, experimentando, a vossa ação se torna simplesmente um subproduto desse movimento. (Palestras em Adyar, Índia,
1933-1934, pág. 112)

(…) Somente quando pesquisardes sem o desejo de sucesso, de consecução, é que a vossa vida se tornará continuamente livre, rica. Isso não quer dizer que em vossa busca não
haverá ação, resultado; significa que a ação, os resultados, não serão a vossa primeira consideração. (Idem, pág. 113)

Estou falando sobre aquele centro que pensa num estado permanente, que pensa em Deus ou na Verdade, e que também conhece a atividade diária de dor e prazer, de ambição,
avidez, inveja, e desejo de poder, prestígio. Tudo isso constitui o centro (…) E é possível esse centro terminar? Vede, por favor, que a menos que termine esse centro, conhecereis
sempre a impermanência e o sofrimento (…) (O Homem Livre, pág. 94-95)

Vós e eu vamos agora viajar nesse centro, sem saber aonde a viagem nos levará. Se já sabeis aonde ela levará, já preconcebestes o ponto de chegada, o qual, por conseguinte, não
será o Real. A mente limitada, ainda a mais instruída e apta a discutir eruditamente, é incapaz de buscar algo totalmente novo. O que pode fazer é apenas “projetar” suas próprias
idéias ou provocar um estado “devocional” ou estático.

Estamos, portanto, entrando num mar desconhecido, e cada um tem de ser seu próprio capitão, piloto e marujo. Cada um, por si, tem de ser tudo. Não há guia, e essa é a beleza da
existência. Se tendes companheiros e guias, nunca viajais sozinhos e, portanto, não estais fazendo viagem nenhuma. Essa viagem é um “processo” de autodescobrimento e, se
começardes a compreendê-la, vereis a extraordinária relação que ela tem com vossa presente existência. (O Homem Livre, pág. 95)

Assim, só podereis fazer essa viagem quando começardes a compreender-vos, (…) a compreender a natureza de vossa própria mente, a penetrá-la, passo a passo. E não podereis ir
longe, se condenardes, se avaliardes o que descobrirdes. (…) Para inquirir, penetrar as profundezas de um pensamento ou uma emoção, desdobrá-los, não deve haver julgamento
ou avaliação (…) Temos de acompanhar-lhes o movimento; e essa investigação do “eu”, do centro, é meditação. (…) (Idem, pág. 95)

Se eu vos dissesse que se pode fazer cessar o pensamento, perguntaríeis: “Como posso alcançar esse findar do pensamento?” (…) O importante é descobrir a natureza do centro,
penetrá-lo e descobrir todo o processo do pensar, por vós mesmos e não de acordo com outro qualquer; e nessa viagem não podeis levar nenhum companheiro. Nem esposa, nem
marido, (…) nem guru, nem livro algum pode ajudar-vos. Essa viagem deve ser empreendida completamente a sós, e não há nenhuma espécie de organização religiosa que possa
ajudar-vos. (…) (O Homem Livre, pág. 96)

Assim, para empreenderdes essa viagem, deveis libertar-vos (…) de todas as organizações religiosas, de toda tradição. E eu vos asseguro que isso é muito difícil, porquanto exige,
não simples revolta, mas grande soma de atenção, reflexão e investigação. No processo da investigação, vereis surgir dificuldades de todo gênero - medo, insegurança, incerteza -
e, porque não somos capazes de enfrentá-las, pomo-nos em fuga e vamos falar a respeito de Deus e da Verdade. Porém, para o homem que está séria e realmente interessado, o
empreender dessa viagem traz solidão, que não é isolamento (…) (Idem, pág. 96)

Porque compreendeu o centro e não está transferindo esse centro para um diferente nível de consciência, a mente, nesse estado de solidão, é capaz de ação individual total -
individual no sentido de não estar relacionada com determinada sociedade ou cultura. Essa mente se torna silenciosa, de todo tranqüila, e nessa própria tranqüilidade há um
movimento extraordinário, (…) não por ela gerado. Esse movimento desprovido de centro, sem direção ou objetivo, é criação; (…) é o real, transcendente às medidas do tempo e do
homem. (Idem, pág. 96)

(…) É assim que o temor tem sido empregado como meio de controlar o homem; é o que têm feito as religiões, e (…) a sociedade com seu código de moralidade. (…) O homem que
busca a verdade tem de navegar por mares sem roteiros. Não vai à procura de portos ou refúgios; vai explorar. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 134)

É só quando o pensamento está liberto dos valores materiais, criados pela mão ou pela mente, que nos é dada a visão da verdade. Não há senda conducente à Verdade. Tendes de
navegar por mares sem roteiros para a encontrardes. A Realidade não pode ser comunicada a outrem, porquanto o que se comunica é o que já se sabe, e o que é sabido não é Real.
(…) (O Caminho da Vida, pág. 10)

Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do coração, mas um
preenchimento constante, (…) na ação. O inquirirdes sobre a verdade implica que acreditais em um caminho para a verdade, e essa é a primeira ilusão a que estais presos. Nisso há
imitação, deformação. (…) Digo que cada um deve descobrir por si próprio o que é a verdade, mas isso não significa que cada um deva delinear um caminho para si próprio (…)
(Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 111-112)

(…) Quando procurais um guru, um instrutor religioso, com o fim de aprender, que é que aprendeis? Ele só poderá ensinar-vos um sistema, um padrão de pensamento. (…) (Da
Solidão à Plenitude Humana, pág. 56)

(…) De maneira semelhante desejais aprender o caminho que leva a Deus, à Verdade, desejais que alguém vos mostre a via que conduz àquele estado extraordinário. É claro que
não existe caminho algum para aquele estado, pois aquele estado não é estático, e se alguém vos diz que há um caminho para lá, vos está enganando. (…) e aí é que está a beleza da
coisa. Mas a mente repele esse fato, porque deseja sentir-se em segurança (…) (Idem, pág. 57)

Mas quando se põe de parte toda autoridade - e é preciso fazê-lo, porque autoridade implica medo - quando se abandona o guru, o instrutor espiritual, o agente exterior, fica-se só
consigo mesmo. Mas isso é uma coisa que assusta: estar só consigo mesmo - sem se tornar neurótico ou ter quaisquer perturbações emocionais. (O Mundo Somos Nós, pág. 99)

Torna-se necessária uma revolução, não dentro do padrão da sociedade, porém dentro de cada um de nós (…) Temos de empreender a jornada sozinhos, completamente
desacompanhados, sem ajuda de ninguém, de nenhum influência (…) A própria jornada representa o “motivo”, e só os que a empreendem produzirão algo novo (…) (Da Solidão à
Plenitude Humana, pág. 83)

Não sigais pessoa alguma, nem a mim próprio. Não façais de outrem a vossa autoridade. Vós mesmos tendes de ser mestre e discípulo. (…) Na busca da verdade, não há mestre nem
discípulo. (…) (O que te fará Feliz?, pág. 120)

(…) Não tenho discípulo; não tenho seguidores; mas, se compreenderdes a Verdade que vos ofereço, em toda a sua simplicidade e grandeza, e amardes essa Verdade pela sua
própria beleza, tornar-vos-eis então discípulos dessa Verdade. (Que o Entendimento Seja Lei, pág. 4)

(…) Espero, pois, que esteja agora perfeitamente claro que não necessito de discípulos nem de seguidores; porque eu sustento que ser discípulo de um indivíduo qualquer é trair a
Verdade. A única maneira de alcançar a Verdade é ser discípulo da própria Verdade, sem (…) intermediário.(…) (Idem, pág. 4)

(…) Não sou vosso protetor ou guia. Vós sois vosso próprio instrutor e vosso próprio discípulo. (…) Aqui estais para aprender de vós mesmos a respeito dos problemas que tendes, e
não para serdes instruído por mim. Portanto, não me coloqueis nessa posição falsa (…). Se o fizesse, me tornaria um guia, um guru, e iria aumentar as muitas inutilidades com que
se explora o próximo (…) Este orador não vos está instruindo, nem dizendo-vos o que deveis fazer - isso seria completa falta de madureza. (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 26-27)

Tendes, pois, de ser vosso próprio mestre e vosso próprio discípulo, porquanto, fora de vós, não existe nenhum, instrutor, (…) Salvador, (…) Mestre; vós mesmos tendes de
transformar-vos e, por conseguinte, cabe-vos aprender a observar e a conhecer-vos. Esse aprender acerca de si próprio é uma atividade fascinante, proporcionadora de grande
alegria; (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 81)

Por isso é bom ser cético: dá-se-vos oportunidade para descobrir por vós mesmo (…) O importante é que sejais vossa própria luz, vosso próprio mestre e discípulo, que sejais a um
tempo instrutor e discípulo. Quando se está aprendendo, não há instrutor algum. Só quando cessais de investigar, de descobrir, de compreender (…) (A Cultura e o Problema
Humano, pág. 49-50)

Digo que não há nenhuma fonte permanente que possa dar entendimento a alguém. Para mim, a glória do homem é que ninguém o possa salvar, exceto ele mesmo. Por favor, se
observardes o homem, (…) vereis que ele sempre recorreu a outrem para ser ajudado. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 108)

(…) Porque sois, aí, vosso próprio instrutor e vosso próprio discípulo; a vida estará aberta para vós e ireis ao seu encontro todos os dias, com plenitude, riqueza, felicidade. Mas
isso não é possível se há qualquer forma de acumulação. O ver o fato simplesmente, sem avaliação, traz liberdade. (…) (Visão da Realidade, pág. 267)

Luz de Si Mesmo; Autoconfiança e na Fonte Eterna


Eis por que muito importa que cada um de nós descubra por si mesmo, deixando de seguir Sankara, Ramanuja, Buda ou Cristo. Para por nós mesmos descobrirmos, (…) temos de
ser livres; (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 82)

Torna-se necessária uma revolução, não dentro do padrão da sociedade, porém dentro de cada um de vós, (…) Temos de empreender a jornada sozinhos, completamente
desacompanhados, sem ajuda de ninguém, de nenhuma influência (…) A própria jornada representa o “motivo”, e só os que a empreendem produzirão algo novo (…) (Idem, pág.
83)

(…) Acho que esta é a coisa verdadeiramente importante, (…)indivíduos que sejam capazes de compreender todo esse conflito, (…) de o perceberem com lucidez, com a mente não
corrompida, indivíduos que, por essa razão, são uma luz para si mesmos. (Viver sem Temor, pág. 54)

Não podeis ser luz para vós mesmos se sois tão somente um acessório da máquina social (…) Penso que a verdadeira revolução não é a revolução econômica, ou política, mas a
revolução psicológica, profunda, que vos faz reconhecer o falso como falso, fazendo, assim, surgir o novo, o real, o verdadeiro. (Idem, pág. 54)

Não temos luz dentro de nós mesmos: temos a luz artificial dos outros: a luz do saber, a luz que o talento e a capacidade dão. Essa espécie de luz empalidece e se torna dor. A luz do
pensamento torna-se sua própria sombra. Mas a luz que nunca esmorece, o profundo e interno resplendor (…), não pode ser mostrada a outrem. Não podemos cultivá-la, (…)
imaginá-la ou a seu respeito especular, porquanto ela não se acha ao alcance da mente. (A Outra Margem do Caminho, pág. 90)

O que estivemos dizendo leva-nos a certo ponto, ou seja: cada um de nós deve ser a luz de si próprio. Nós não o somos porque dependemos de outros. (…) Mediante cuidadoso
exame vos libertais de toda dependência e sois a luz de vós mesmo. E isso significa que estais completamente só. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 85)

Quando falamos de revolta (…) Só tal revolta faz nascer o pensar criador, a compreensão criadora (…) Cada um de nós tem de descobrir exatamente, por si mesmo, o que é a
verdade, e não se pode descobrir o que é a verdade, a menos que nos achemos numa revolução total. (…) (Visão da Realidade, pág. 30)

Ora, pode a mente achar-se num estado de revolução total (…)? (…) Pode ocorrer uma revolução total em nosso pensar? Parece-me que nossa única salvação está em sermos a luz
de nós mesmos. Um navio que está ancorado não pode fazer-se ao mar, e a mente amarrada a qualquer crença ou ideologia é incapaz de descobrir o que é a verdade. (…) (Idem,
pág. 30-31)

Porque alguém maior que tudo isso está conosco, é-me caro e precioso que entendêsseis na plenitude do vosso coração e mente, e assim criásseis a luz que deverá ser vosso guia,
que não é a luz de outrem, mas a vossa própria. (…) (Vida em Liberdade, em “Carta de Notícias” nº 6, de 1945, IX, pág. 30)

Se estais esclarecido, se, interiormente, sois uma luz para vós mesmo, não seguireis ninguém. Mas como o não sois, seguis (…) Vossos guias, tais como vós mesmo, estão confusos,
(…) Por conseguinte, tratai em primeiro lugar de dissipar a vossa própria confusão, tornando-vos uma luz para vós mesmo, e então desaparecerá o problema. (…) (O que te fará
Feliz?, pág. 121)
(…) Porque só podeis achar a verdade por vós mesmo, e não por meio de outra pessoa. (…) Quando percebeis a coisa tal como é realmente, começais então a despertar, mas não
quando sois forçado por outra pessoa. Não há salvador algum, a não ser vós mesmo. (…) (A Arte da Libertação, pág. 240)

(…) Se desejais conhecer-vos a vós mesmos, não podeis recorrer a nenhum especialista, a nenhum livro, por que vós sois vosso próprio mestre e vosso próprio discípulo. (…) (A
Arte da Libertação, pág. 138)

Quase todos nós necessitamos de certa autoridade para moldar a nossa vida, o nosso próprio ser. Porque interiormente estamos muito incertos e confusos, sentimos necessidade de
ser guiados por outros, (…) Pensamos que os outros sabem mais do que nós (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 28)

Ora, esse processo me parece completamente falso. Porque, se pudéssemos encontrar a luz dentro de nós mesmos, não teríamos necessidade de autoridade alguma (…) (Idem, pág.
28)

Esta é uma das questões mais importantes (…) Invariavelmente, desejamos achar um instrutor, um guia, para moldar a conduta de nossa vida; (…) criamos uma autoridade e a ela
ficamos escravizados. (Idem, pág. 28)

Atribuímos a tal pessoa uma alta sabedoria, extraordinária ciência. E com essa atitude de “Eu sou ignorante, mas vós sabeis, sois mais experiente - dizei-me o que devo fazer” -
com essa atitude gera-se, invariavelmente, o medo (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 28)

(…) Conseqüentemente, começamos a disciplinar-nos a fim de, mediante gradual evolução da mente, alcançarmos aquilo que pensamos verdadeiro. Esse processo, para mim, é
inteiramente falso. Porque o Verdadeiro não pode manifestar-se mediante controle da mente, disciplina, ou pelo seguirmos uma autoridade. (Idem, pág. 29)

Por certo, enquanto tivermos uma autoridade para seguir e imitar, nossa mente nunca poderá ser livre. (…) Aquela coisa extraordinária, que podemos chamar Verdade, Amor, (…)
nunca poderá manifestar-se pela obediência a uma autoridade. (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 29)

Ora, é possível acharmos essa luz dentro de nós mesmos, para que nunca precisemos recorrer a outros? Penso que é possível, e que esse é o único caminho. O disciplinar da mente,
o seguir vários instrutores, o praticar a ioga - tudo isso são coisas vãs, (…) inúteis para o homem que é sério, porque o autoconhecimento, o que é real, só pode ser achado por nós
mesmos e não por meio de outrem. (Idem, pág. 29-30)

Para acharmos por nós mesmos o que é verdadeiro, não devemos rejeitar toda e qualquer autoridade? Não devemos repudiar a autoridade do livro, (…) do sacerdote, (…) dos
vários instrutores religiosos, daqueles que praticam a ioga, etc.? Isso, na verdade, significa que devemos ser capazes de estar sós, desamparados, sem dependermos de ninguém (…)
(Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 30)

(…) Isso é como fazer uma viagem desacompanhado de um guia. Quando não tem guia, a mente precisa estar atenta, no mais alto grau, para toda forma de ilusão, e é só quando
nos emancipamos completamente da idéia da autoridade, do desejo de guia, que estamos aptos a examinar-nos sem medo. É o medo que nos faz recorrer a outros, para sermos por
eles guiados. (Idem, pág. 30)

Ora, se o pensamento divide, de que maneira o faz? Se realmente observardes isso em vós mesmos, vereis a extraordinária descoberta que fareis. Sereis a luz de vós mesmos, sereis
um ente humano, “integrado”, e não necessitareis de ninguém para dizer-vos o que deveis fazer, (…) pensar, e como (…) pensar. O pensamento pode ser admiravelmente racional;
ele deve raciocinar conseqüentemente, logicamente, objetivamente, sãmente; (…) Raciocinar é necessário; a sanidade mental faz parte da capacidade de raciocinar. (A Questão do
Impossível, pág. 41)

Por conseguinte, para o homem sério, que deseja aprender, o primeiro requisito é que esteja livre para investigar - isso significa não ter medo; que esteja livre para olhar,
observar, criticar; que seja inteligentemente cético, não aceite opiniões (…) Como antes dissemos, quando caminhamos com a luz de outrem, essa luz nos levará à escuridão - não
importa quem seja o que nos oferece a luz. Mas, para podermos caminhar com a luz de nossa própria compreensão, requer-se atenção e silêncio e, por conseguinte, muita
seriedade. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 110)

Quando um ser humano abandona toda autoridade - e se torna assim mestre e discípulo de si próprio e não de outrem, em que ponto está então? Quando não tem ideais nem
ninguém para o guiar - porque todas as pessoas que tentam guiar o homem o induzem ao erro, deixando-o igualmente infeliz, (…) confuso, ansioso e atemorizado - quando se chega
até aí, onde é que se está? Quando se abandona o guru, o instrutor espiritual, a autoridade, o ideal - quando realmente se não depende psicologicamente de ninguém - que é que se
faz então? Haverá alguma coisa que se possa fazer? (O Mundo Somos Nós, pág. 100)

Para conhecer o desconhecido, deve a mente ser, ela própria, o desconhecido. A mente tem sido até agora resultado do conhecido. Que sois vós senão uma acumulação de coisas
conhecidas: vossas tribulações, (…) vaidades, (…) ambições, dores, realizações e frustrações? Tudo isso é conhecido, o conhecido do tempo e do espaço; e enquanto a mente estiver
funcionando dentro da esfera do tempo, do conhecido, jamais poderá ser o desconhecido; (…) (Percepção Criadora, pág.87)

Os que sentem verdadeiro interesse, os que não são meros diletantes, que não estão apenas a brincar com essas coisas, têm uma importância extraordinária na vida, porquanto eles
se tornarão uma luz para si próprios e, por conseguinte, para outros também. (…) (Percepção Criadora, pág. 89)

O que estivemos dizendo leva-nos a um certo ponto, ou seja: cada um de nós deve ser a luz de si próprio. Nós não o somos, porque dependemos de outros. (…) Mediante cuidadoso
exame vos libertais de toda dependência e sois a luz de vós mesmo. E isso significa que estais completamente só. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 85)

Com a iniciativa vem a confiança; mas, toda iniciativa dentro do padrão só produz presunção, que é coisa muito diferente da confiança em que não existe “eu”. Sabeis o que
significa ter confiança? Se fazeis uma coisa (…) isso vos dá a confiança de serdes capaz de fazer algo. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 91)

Mas, vede, a confiança, como atualmente a conhecemos, está sempre dentro da prisão que a sociedade - comunista, hinduísta, cristã - construiu ao redor de nós. (…) Mas esse
sentimento de confiança, que vem com a capacidade de ser bem sucedido dentro da estrutura social, (…) é, em verdade, presunção; (…) vós vos sentis importante quando o fazeis.
(Idem pág. 91)

Mas se, ao contrário, pela investigação, pela compreensão, vos libertais da estrutura social, de que sois parte integrante, vem uma confiança de espécie toda diferente, na qual não
há sentimento da própria importância; e compreender a diferença entre as duas - a presunção e a confiança livre do “eu” - penso que isso será altamente significativo em vossa
vida. (Idem, pág. 91-92)

(…) Quando a confiança provém de ação exercida dentro da estrutura social, é sempre acompanhada de uma estranha arrogância (…) A confiança do homem que sabe “fazer
coisas”, que é capaz de alcançar resultados, traz sempre o colorido dessa arrogância do “eu” (…) Idem, pág. 92)

Senhores, (…) como nasce a confiança? A confiança é de duas espécies. Há a confiança que nasce da aquisição de conhecimentos técnicos. (…) Isso nos dá uma espécie de
confiança: a confiança meramente superficial, técnica. (Novo Acesso à Vida, pág. 83)

Mas há outro tipo de confiança, a qual nasce do autoconhecimento, de nos conhecermos inteiramente, tanto a nossa mente consciente como a inconsciente (…) Digo que é possível
vos conhecerdes completamente, e que daí provém uma confiança que não é agressiva, nem arrogante, que não é astuciosa (…) (Idem, pág. 83)

Essa confiança vem à existência de maneira natural, quando o pensamento não está baseado nas realizações pessoais, no engrandecimento pessoal, (…) e quando cada coisa revela
o seu verdadeiro significado. Estais então escorado na sabedoria (…) (Idem, pág.83)

Por conseguinte, não há o mestre e o discípulo, não há o guru sentado numa tribuna, e vós sentados abaixo dele. Senhores, essa confiança se chama amor, afeição; e quando amais
alguém, não há diferenças, não há alto nem baixo. Quando há amor, essa chama extraordinária, então ele é a sua própria eternidade. (Idem, pág. 84)

Ora, confiamos demais no saber. O homem que escreve um livro sobre a mente (…), aceitamo-lo como autoridade. (…) Nunca nos pomos a investigar o inteiro processo do nosso
pensar, para o descobrirmos por nós mesmos. E é por isso que temos tantos líderes, cada um fazendo valer a sua autoridade, e nos dominando. (Viver sem Temor, pág. 14)

Interlocutor: O que entendeis por auto-confiança?

Krishnamurti: As religiões organizadas não nos fizeram autoconfiantes, porque nos ensinaram a procurar a salvação por meio de outrem, (…) de salvadores, mestres,
personalidades deificadas,(…) sacerdotes, (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 61)

Mas há um grave perigo de essa autoconfiança converter-se em ação individualista, cada um por si. Porque a presente estrutura social resultou dessa ação individualista,
agressiva, temos sua reação no coletivismo, no culto do Estado. A verdadeira ação coletiva e cooperativa só se realizará quando, psicologicamente, o indivíduo for autoconfiante.
(…) (Idem, pág. 61)

(…) Quando confiamos psicologicamente em outrem, num grupo, ou num líder para nossa compreensão, para nossa esperança, o que nos acontece? Isso não cria medo?
Atemorizados, não dependemos de outrem para o nosso bem-estar? (…) (Idem, pág. 62)

(…) A verdadeira autoconfiança, não a autoconfiança com o propósito de mera expressão agressiva do “eu”, pode produzir-se somente pela compreensão do processo da ansiedade
com seus valores limitadores, temores e esperanças; então a autoconfiança tem grande significação, porque pelo nosso próprio e intenso apercebimento surge a totalidade, a
plenitude. (Idem, pág. 65)

(…) E, como eu disse antes, deve vir um tempo, virá um tempo, em que aquela Voz, aquele Tirano (intuição, espírito) vos dirá que renuncieis a tudo e a sigais; e para esse tempo
deveis estar preparados. Deveis ter o vosso jardim bem sachado e cultivado, e as suas flores prontas para serem colhidas. (O Reino da Felicidade, pág. 76)

Então podereis dar da vossa devoção, (…) inteligência, com maior certeza, (…) conhecimento de que elas serão aproveitadas, porque as exercitastes, (…) as cultivastes, (…)
conheceis as suas capacidades; e vós próprios sereis então os senhores dessas coisas. (Idem, pág. 76)

Energia Física e Psíquica; Conflito, Desperdício


Falamos (…) e agora desejo examinar mais profundamente a questão da energia - necessidade de uma energia não criada pelo conflito ou pela resistência. Essa energia é de suma
importância, porque dela necessitamos para podermos penetrar com profundeza naquele estado que transcende toda experiência (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed.,
pág. 139)

(…) Mas existe, inquestionável e indubitavelmente, além da razão e da inteligência, uma energia que se manifesta quando é eliminado o conflito, de qualquer espécie que seja. O
próprio conflito gera certa forma de energia, nascida da reação, da resistência, da repressão, da contradição, mas é necessário que o conflito desapareça total e completamente,
para que se torne existente aquela outra energia. (Idem, pág. 139)

Não há atenção sempre que há qualquer espécie de resistência. Não há atenção, se há esforço ou luta para compreender. Se desejais compreender algo, deveis aplicar-lhe vossa
atenção completa. Para vos tornardes cônscios de todo o conteúdo do que se vai dizer, impende que vosso corpo, vossa mente, vossas emoções, todo o vosso ser se devote a esse fim.
E então, esvaziando a mente de seu total conteúdo, descobrireis por vós mesmos que se manifestará uma extraordinária energia. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed.,
pág. 140)

Há dois tipos de energia. Há a energia que se gera pela resistência, pela contradição, pelo conflito em nossas diárias relações (…) E há outro tipo de energia, que não é produto de
resistência, contradição, conflito; mas não se pode saltar de um tipo para o outro, sem se compreender o conflito (…) Esse outro tipo de energia só se torna possível com a total
cessação do conflito. (Idem, pág. 141)

Evidentemente, todos temos energia física e mental em variados graus. (…) A energia física, naturalmente, é necessária; mas estamos agora falando sobre a energia mental, sem a
qual não podemos ter uma mente penetrante, clara, capaz de pensar sadiamente, sem tendências ou ambigüidades, sem idéias fantásticas, românticas ou ilusórias. E só pode haver
essa energia, essa clareza mental, quando não há conflito de espécie alguma. (Idem, pág. 141)

(…) E essa energia nos chega mediante os alimentos, ( … ) os raios solares. Essa energia física de que nos suprimos diariamente pode naturalmente ser aumentada com
alimentação adequada, etc. Ela, de certo, é necessária. Mas essa mesma energia, que se converte em energia psíquica, em pensamento, é desperdiçada quando, nela própria, há
alguma contradição. (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 120)

Tende a bondade de prestar atenção. (…) Se não procedermos logicamente, sãmente, racionalmente, não alcançaremos aquela força tremenda, a energia em sua mais alta potência,
na qual - e só nela - existe o movimento sem tempo. E desperdiçamos nossa energia, essa energia psíquica, a energia que produz o pensamento, (…) que armazena lembranças, (…)
que são memórias (…) (Idem, pág. 120)

Sempre que essa energia se choca com uma contradição, e não a compreende e dela se liberta, essa energia se dissipa, se desperdiça (…) Quando falamos rudemente com outra
pessoa, e posteriormente nos arrependemos de o ter feito, esse arrependimento é desperdício de energia (…) (Idem, pág. 120)

(…) Todo trabalho requer energia, energia física, e essa energia física cria aflições, com seus alvos ambiciosos, e produz conflitos psicológicos. (…) Esses conflitos produzem
diferentes formas de fuga, contradições e uma certa base de segurança, que não temos vontade de abandonar. (…) A energia que atualmente estamos despendendo está causando
muitos males e aflições. Enquanto ela não se focar correta e completamente, será forçosamente nociva. (…)(Encontro com o Eterno, pág. 32)

Socialmente, fazemos esforços, movidos por ambição, avidez, inveja; o ódio, o desejo de prazer, e tais esforços, são desperdício de energia. (…) E sexualmente, o mesmo processo se
torna um tremendo problema para a maioria das pessoas. (…) (Idem, pág. 121-122)

Em geral, temos pouquíssima energia; gastamos nossa energia no conflito, na luta, desperdiçando-a de diversos modos; não só sexualmente, mas também grande porção de nossa
energia é desperdiçada em contradições e na fragmentação de nós mesmos, produtora de conflito. O conflito, positivamente, é um grande desperdício de energia; reduz a
“voltagem”. Não só a energia física é necessária, mas também o é a energia psicológica, que requer uma mente sobremodo lúcida, lógica, sã, não deformada, e um coração em que
não haja nenhuma espécie de sentimentalidade, (…) emoção, mas abundância de amor e de compaixão. (…) (Fora da Violência, pág. 45)

Em nossa vida há conflito e desperdício de energia, energia de que necessitamos, em grande abundância, para resolvermos cabalmente os nossos problemas. Considerai o enorme
desperdício que há no falar incessantemente a respeito de nada, no distrair-se continuamente com leituras; e, exteriormente, quanto desperdício de energia na produção de
armamentos (…) (A Essência da Maturidade, pág. 31)

Necessitamos de energia para resolver os numerosos problemas de nossa vida e, no entanto, desperdiçamos energia no conflito entre a idéia e a ação. Havendo “ideação” - um
ideal ou uma fórmula segundo a qual atuamos, vivemos - há então um intervalo entre a “ideação” e o ato: nesse intervalo há conflito, causador de desperdício de energia. (…) (A
Essência da Maturidade, pág. 30)

Se não há “ideação” de espécie alguma, nenhum ideal ou modelo, (…) padrão ou fórmula - não há então contradição ou conflito e, em conseqüência, acumula-se energia. (…)
Nossa vida se tornou mecânica, “imitativa” e um caldo-de-cultura da contradição entre o que é e o que pensamos deveria ser. (Idem, pág. 30)

Para a criação de uma boa sociedade, os entes humanos precisam mudar. Vós e eu temos de achar a energia, o ímpeto, a vitalidade necessária para operar essa radical
transformação da mente, que não é possível se não temos suficiente energia. Necessitamos de muita energia para operar uma mudança em nosso interior; entretanto, desperdiçamos
toda a nossa energia em conflitos, resistência, ajustamento, aceitação, obediência. (…) Para conservarmos energia, temos de estar atentos a nós mesmos, à maneira como estamos
dissipando energia. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 59)
Todo movimento do pensamento, toda ação exige energia. Tudo que fazeis ou pensais requer energia, e essa energia pode dissipar-se por efeito do conflito, de pensamentos
desnecessários e atividades sentimentais e emocionais. A energia se dissipa com o conflito, que surge na dualidade, no “eu” e “não eu”, na separação entre o observador e a coisa
observada, entre o pensador e o pensamento. Quando cessa o desperdício, há uma qualidade de energia que se pode chamar “percebimento” - percebimento sem avaliação,
julgamento, condenação ou comparação; (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 158)

Examinemos com vagar esse problema do desejo. O desejo, afinal, é energia, energia dirigida para o exterior, e, sendo (…) dominador, potente, a sociedade procura controlá-lo e
moldá-lo. A sociedade é produto desse mesmo desejo, o qual procura ajustar-se (…) (Visão da Realidade, pág. 155)

Nessas condições, aquela energia dirigida para o exterior esbarra numa muralha de moralidade social (…) e volta para dentro, ao seu ponto de partida. Esse retrocesso não é um
movimento livre: é simples reação. Isto é, a energia que tende a exteriorizar-se, ao chocar-se (…) produz interiormente uma reação (…) (Idem, pág. 156)

Superficial ou profundo, esse movimento para dentro é sempre uma regressão, e todo esse “processo”, esse movimento de energia “para dentro”, é o movimento do “eu”, do
“ego”. (Idem, pág. 156-157)

Tende a bondade de escutar (…) Quando o pensamento diz: “Preciso reprimir, moldar, disciplinar o desejo, canalizar a energia, a fim de torná-la eficiente, moral, socialmente
respeitável, etc. - nesse mesmo processo a energia é diminuída e destruída; e nós necessitamos de uma espantosa soma de energia livre, energia não disciplinada para descobrirmos
o que é verdadeiro, o que é Deus. Releva, pois, não reprimir, sublimar ou controlar o desejo, mas, sim, que esse movimento “para dentro” e “para fora” do desejo finde totalmente.
(Visão da Realidade, pág. 157)

Se nenhum conflito tenho, terei a meu dispor uma extraordinária carga de energia. (…) A maior parte de nossa energia se dissipa no conflito, na incessante batalha que travamos
dentro de nós e com os nossos semelhantes. Se esse conflito termina, que acontece com essa energia enormemente acrescentada? Obviamente, isso a pessoa descobrirá por si
própria, quando o conflito terminar (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 43)

Ora, que se entende por energia? Conhecemos a energia gerada pelo conflito. Um homem ambicioso impele a si próprio, luta tenazmente para atingir o seu alvo, e isso gera certa
qualidade de energia, dureza; todos sabeis o que a ambição implica. Mas, quando a ambição cessa totalmente, (…) existe uma energia que nada tem em comum com a energia
própria do conflito. (Idem, pág. 43-44)

A energia do conflito, da competição, do ódio, não pode, evidentemente, comparar-se à energia da afeição; (…) a afeição ou o amor não é o oposto do ódio. Quando existe a
abundante energia oriunda da libertação de todo conflito, a pessoa poderá continuar a exercer o seu emprego (…), negócios; ou poderá despender essa energia de maneira
totalmente diferente. (Idem, pág. 44)

O homem tem feito uso da energia, a qual, afinal, é “vontade”; essa vontade cria conflito, que também é energia. E o homem tem vivido em conflito e tem aceito o conflito como
parte necessária da vida (…) O homem vive em conflito há dois milhões de anos; por conseguinte, já nos acostumamos com ele (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 104)

Toda coisa viva é força, energia, única para si mesma. Essa força ou energia cria seus próprios materiais, que podem ser chamados corpo, sensação, pensamento ou consciência.
Essa força ou energia, em seu desenvolvimento auto-ativo, torna-se consciência. Disso surge o processo do “eu”, o movimento do “eu”. Depois começa o turno da criação da sua
própria ignorância. O processo do “eu” principia e continua na identificação com as suas limitações autocriadas. O “eu” não é uma entidade separada, como a maioria de nós
pensa; é ambas as coisas: a forma da energia e a própria energia. (…) Porém, mediante apercebimento e compreensão constantes, esse processo do “eu” pode chegar a termo.
(Palestras em Ojai, 1936, pág. 30-31)

Vede, senhor! Energia é vida. Tudo que fazemos, que pensamos, que sentimos, faz parte daquela energia. Privados de energia, estaríamos mortos. Mas aquela energia está a criar
conflito a todas as horas. (…) Nossos pensamentos, (…) sentimentos, (…) ambições, e tudo que fazemos, geram conflito. É possível libertar essa energia, de modo que nesse próprio
ato cesse o conflito? (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 104)

Essa questão exige intensa percepção, vitalidade, energia. Examiná-la passo a a passo, como o fizemos, sem perder nenhuma particularidade, requer uma energia tremenda.
Vejamos, agora, como se torna existente essa energia. (…) Para se fazer qualquer coisa, a energia é necessária, e essa energia pode ser dissipada, desperdiçada de diferentes
maneiras. Perguntamos, pois: pode essa energia de que necessitamos (…) para exercermos uma profissão, discutirmos, (…) brigarmos, funcionarmos sexualmente - pode essa
energia ser intensificada e mantida completa, sem sofrer nenhuma deformação? (O Novo Ente Humano, pág. 54)

Devemos estar bem esclarecidos a esse respeito, a fim de não misturarmos as duas espécies de energia: elas não podem misturar-se. Quando cessa a energia do conflito, então
talvez se venha a conhecer uma diferente espécie de energia. Essa energia, e nenhuma outra, é que resolverá os nossos problemas humanos (Encontro com o Eterno, pág. 78)

(…) Pergunta-se então: A vida foi criada para ser assim (…) batalha, batalha? Não haverá outra forma de energia que não seja produto da dor, do sofrimento, da agitação, da
ansiedade, do medo, do sentimento de culpa? Há, sim - quando sabemos aprender, (…) olhar realmente o que é. Não podemos olhar o que é, se não temos liberdade; por
conseguinte, temos de cientificar-nos do nosso condicionamento. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 117)

Sou ambicioso; desejo preencher-me, alçar-me ao posto mais alto; (…) ser famoso no mundo (…); aspiro à celebridade, e essa aspiração insufla-me tremenda energia. (…) Existe a
energia da violência e, ao tornar-me cônscio dessa violência, crio uma ideologia da não-violência. (…) Toda energia cria o correspondente oposto, e nisso ficamos enredados. (…)
(Encontro com o Eterno, pág. 77-78)

Devemos perceber muito claramente o que entendemos por energia criada pelo conflito. Considerai a energia consumida por um homem de negócios (…) Essa energia é criada pelo
condicionamento social, pela ambição, (…) desejo de êxitos, prazeres, aquisições - novos carros, casas - mais e mais e sempre mais. (…) (Idem, pág. 78)

(…) Enquanto não tiver fim essa energia psíquica, não pode tornar-se existente a outra energia. As duas não podem coexistir. A ambição do homem que cultua o sucesso, a posição,
o prestígio, (…) que quer expressar sua personalidade, tem sua energia peculiar, mas essa energia não pode (…) compreender o que é o amor. (Encontro com o Eterno, pág. 78)

Tudo isso exige muita energia. Afinal, o prestar atenção a qualquer coisa, ao que se diz, requer energia. Mas, se não vos sentis interessado (…), tudo o que aqui se está dizendo
constitui para vós uma coisa enfadonha e, portanto, um desperdício de energia; (…) Só quando existe essa energia total, pode a mente olhar o que é; e vereis então, por vós
mesmos, que, em virtude dessa atenção (…) tereis a possibilidade de ficar completamente livre do medo. (O Descobrimento do Amor, pág. 34)

(…) Por que você separa a vida religiosa da vida diária, monótona e solitária? (…) Isto é dois tipos de energia, uma para a vida religiosa e outra para a vida mundana. Vamos
descobrir se o que estamos falando é verdade. (The Future is Now - Last Talks in India , pág. 93)

Você diz que aquelas pessoas que são religiosas, que usam roupas excêntricas, precisam de um tipo de energia diferente daquela de um homem que viaja e ganha dinheiro, ou do
nobre na cidade. Por que você divide as duas? Energia é energia, certo? É energia elétrica, energia solar ou energia do fluxo de um rio. Por que você divide a energia? Será que o
homem com roupas estranhas tem mais energia, ou será que ele está tentando concentrar sua energia num assunto particular? (Idem, pág. 93)

Vede, senhor! Energia é vida. Tudo o que fazemos, que pensamos, que sentimos, faz parte daquela energia. Privados de energia, estaríamos mortos. Mas essa energia está a criar
conflito a todas as horas. (…) É possível liberar essa energia, de modo que, nesse próprio ato, cesse o conflito? (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 104)

Em primeiro lugar, como liberar essa energia? - uma energia não deturpada, não resultante de tortura; uma energia livre; uma energia não encerrada no espaço do nosso
pensamento, de nosso desejo, de nosso prazer. E o liberar dessa energia não contaminada pelo pensamento, requer muita atenção, total autoconhecimento. A energia é dissipada
pelo conflito, tanto exterior como interior. Para acumular essa energia, diz-se que é preciso fazer certas coisas: a pessoa tem de ser celibatária, de conter, de controlar, de regular,
de treinar a energia. Fazer isso é moldar a energia, (…) imprimir-lhe uma direção conforme o motivo. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 134)

Como o sexo faz parte da vida, tendes de compreendê-lo, e não de reprimi-lo, de negá-lo ou ceder às suas exigências. (…) Quando não se encontra nenhuma possibilidade de
descarga (da energia) por meio do intelecto, das emoções, da sensibilidade, é ele a única coisa que nos resta e que pode proporcionar-nos satisfação, prazer. Não estamos
advogando a incontinência. (…) (Idem pág. 134-135)
Energia Espiritual, Inércia, Ação Sem Motivo
O pensamento criou filosofias e fórmulas (…) Criou uma estrutura psicológica de prazer (…) O pensamento não pode criar um mundo novo. Mas isso não significa que o sentimento
o criará (…) Temos de encontrar uma energia nova, energia não criada pelo pensamento, uma energia diferente, que funcione numa nova dimensão. As próprias atividades dessa
energia deverão desenvolver-se naquele mundo diferente (…) (Encontro com o Eterno, pág. 76)

Quando a mente, a entidade total, aplica toda a sua atenção a compreender a estrutura do pensamento, começamos então a adquirir uma energia de espécie diferente. Isso nada
tem que ver com autopreenchimento, com o buscar, desejar; tudo isso desaparece. (…) (Idem, pág. 76)

(…) O pensamento pode funcionar plena e completamente, racional e sãmente, livre de estados neuróticos (…); mas há uma esfera na qual o pensamento não funciona, em absoluto;
nessa esfera pode realizar-se uma revolução, surgir o novo. (Encontro com o Eterno, pág. 77)

Vou expressá-lo diferentemente. (…) E percebo, também, que a mente que vive em paz é uma mente extraordinária: toda carregada de energia. Não há dissipação de energia, em
nenhum nível; e só a mente que, conscientemente, vive em paz, completamente, em sua totalidade, pode funcionar. Sua ação é beleza, amor, virtude, porque nela não há a menor
parcela de resistência. (Encontro com o Eterno, pág. 24)

E, para encontrarmos essa energia, temos de compreender a inércia (…) a inércia que tão ocultamente existe em todos nós. Por inércia entendo “falta de energia intrínseca para
agir” (energia inerente a si mesma). Observando bem, vê-se que existe em nós uma área de profunda inércia. Não quero dizer indolência, preguiça, que são coisas muito diferentes.
(…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 66) Essa inércia é desprovida da força da ação intrínseca. “Ação intrínseca” é ação não procedente do que se acumulou, como
conhecimento, idéia, tendência, temperamento, (…) dom ou talento. Essencialmente, qualquer dom, talento, conhecimento, é inércia - inércia que fortalecemos por meio da
resistência, em várias formas. (…) (Idem, pág. 67)

Que fazer, pois? Como pode ser quebrada essa inércia? Em primeiro lugar, tenho de estar consciente dela. (..) Podeis traduzi-la como insuficiência de atividade física, (…) mental
ou de estímulo. Mas não é disso que estamos tratando. Estamos falando sobre uma coisa que se passa num nível muito mais profundo, ou seja, que o todo da consciência é inerte,
porque o todo da consciência está baseado na imitação, no ajustamento, na aceitação, na rejeição, na tradição, no acumular (…) (Idem, pág. 68-69)

Estamos vendo, pois, que todo movimento, em qualquer direção, em qualquer nível da consciência (consciente ou inconsciente), só tem o efeito de fortalecer esse quantum, esse
campo, essa área de inércia; por conseguinte, a mente tem de estar totalmente quieta, e bem assim o cérebro. Pois só no silêncio total há ação não motivada pela inércia. (…)
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 71)

A mente deve estar completamente quieta (…) Descobrireis então (…) aquele estado no qual aquilo que chamamos amor, (…) sofrimento, (…) morte, são a mesma coisa. Já não
haverá divisão entre o amor, o sofrimento e a morte; e, não havendo divisão, haverá beleza. Mas, para compreendermos, para nos acharmos nesse estado de êxtase, necessita-se
daquela paixão resultante do total abandono do “eu”. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 184)

Enfrentar algo acerca do qual não se sabe absolutamente nada requer grande energia (…) Isso só posso fazê-lo quando não há exercício da vontade, nem resistência, nem opção,
nem desperdício de energia. (…) Quando a mente se enfrenta com o desconhecido e todas essas coisas desaparecem, há uma energia imensa. E quando há essa suprema energia,
que é inteligência, existe a morte? Descubram-no. (El Despertar de la Inteligencia, pág. 161)

O problema só poderá ser resolvido quando o tempo terminar - o tempo como ontem, hoje e amanhã. Temos de morrer para a memória, para as ofensas, para todas as imagens que
formamos com o pensamento - imagens relativas a nós mesmos, aos outros, ou ao mundo.

Entra-se então em direto contato com a realidade, a qual é tanto o viver como o morrer, e na qual não existe medo nenhum. Essa realidade só pode verificar-se na total inação - na
inação em que o pensamento, tendo compreendido o lugar que lhe compete, nenhuma existência tem numa diferente dimensão. (Encontro com o Eterno, pág. 99-100)

(…) Inacessível à ação destruidora da memória, aquela abençoada energia era também invulnerável às tentativas do pensamento em alcançá-la e retê-la. Tinha o poder da chama
ardente que consome o tempo e a eternidade sem formar as cinzas da memória. Meditar é esvaziar a mente, sem nenhum motivo, no mais completo despojamento do ser; meditar é,
em verdade, deixar a mente vazia de todo o conhecido, consciente ou inconsciente (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 190)

E temos vários meios e modos de encarar a morte. (…) A menos que compreendamos esse fenômeno - psicologicamente, e não fisiologicamente - jamais alcançaremos aquela
consciência de uma ação nova, nascida do silêncio total (…) Eis porque temos de morrer para tudo o que conhecemos: a consciência, o passado (…) Porque só na morte, na morte
total, pode haver uma coisa nova, um silêncio total em que se poderá viver uma vida diferente. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 72)

(…) Todo movimento, radiação, qualquer movimento do pensar, qualquer ação é energia. Quando se torna intensa a energia? Quando pode fazer as coisas mais surpreendentes?
Quando pode ser dirigida, para que faça coisas incríveis? (Tradición y Revolución, pág. 51-52)

(…) Você pergunta se existe uma qualidade de energia que transforme a mente humana. Essa é sua pergunta. Pois bem, por que não ocorre isso no artista, no músico, no escritor?
(Tradición y Revolución, pág. 52)

(…) O artista continua sendo cobiçoso, ambicioso, um burguês. (Idem, pág. 52-53)

(…) O homem usa a energia e opera plenamente em uma direção, enquanto na outra permanece inativo. A energia está inativa em uma parte de sua existência, e na outra parte está
ativa. (Idem, pág. 53)

(…) Correto. Se você está preparado para desprender-se dessas coisas, que ocorre então? Isso significa que você se desprende do talento, da realização, da perpetuação do “eu”.
Pois bem, quando é que ocorre essa mutação que a energia produz nas células do cérebro? (Tradición y Revolución, pág. 55)

(…) Veja que, onde a energia se dissipa através do talento e de outros canais, ela não pode ser completamente retida. Quando essa energia não se move em absoluto, então penso
que algo ocorre, então essa energia tem que estalar. Penso que, então, muda a qualidade da célula cerebral mesma. (…) (Idem, pág. 55-56)

(…) Quando não há movimento, nem interna nem externamente, quando não há desejo de experimentar nem de despertar nem de ver, nem movimento de nenhuma classe, então a
energia se acha em seu máximo nível. (…) Quando isso ocorre, a energia está completamente quieta, e isso é silêncio. (Idem, pág. 56)

Eternamente presente, sua intensa e vital energia fluía espontaneamente, sem atrito, sem esforço ou direção. Sua intensidade, de tão forte, tornava inúteis as tentativas do
pensamento e sentimento em ajustá-la às suas fantasias, crenças, experiências e exigências. (…) O que destrói aquela energia é a ambição, a inveja e a avidez, origem de todo
conflito e sofrimento; (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 112)

E, ao passarmos (…) Aquela bênção nada tem de extraordinário ou enigmático, mas o seu mistério consiste no fato de transcender o tempo e o pensamento. Influenciada pelo tempo
e pelo pensamento, a mente torna-se incapaz de perceber aquela imensidão. Incompreensível e inexplicável como o amor, essa bênção é também fundamental para a existência;
ausente aquela paixão criadora da atividade humana, a vida se torna um fardo doloroso e sem sentido. (Diário de Krishnamurti, pág. 137)

(…) Já que dispõe de abundante energia, tranqüila e silenciosa, a mente se torna, ela própria, o sublime, não há “experimentador” do sublime, não há entidade que diz:
“Experimentei a realidade”. (…) Necessita-se da cessação total desses movimentos, (…) e não de supressão da energia. (…) (Visão da Realidade, pág. 198-199)

(…) Quando a mente está completamente tranqüila, quando a energia não é dissipada nem alterada pela disciplina, essa energia é então amor, e então aquilo que é real não está
separado da própria energia. (Idem, pág. 199)

(…) Mas, se essa energia que está perenemente a dirigir-se para o exterior ou a recolher-se no interior, (…) puder ficar quieta, (…) vereis então que, qual um rio, essa energia cria
sua ação própria, porque está livre do “eu”. Estando imóvel, a energia percebe o que é a verdade; então, a própria energia é a verdade (…) (Visão da Realidade, pág. 160)

(…)Para que a mente possa estar tranqüila, é necessário grande abundância de energia, e essa energia deve achar-se em quietação. E se alcançardes verdadeiramente esse estado
em que não há esforço, vereis que a energia deixada tranqüila tem seu movimento próprio, que não resulta de compulsões ou pressões sociais. (…) (Visão da Realidade, pág. 198)

Peço-vos observeis isso, vós mesmo; estamos examinando algo de verdadeiramente profundo. (…) Chegareis assim àquela energia extraordinária que se renova sem o mínimo de
esforço, que renova a mente, mantendo-a sempre juvenil, fresca, inocente. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 121)

(…) Vamos começar novamente; existe o fim do “mim” como tempo e então não há esperança; tudo isso está acabado, terminado. No final, há aquela sensação do nada. E o nada é
todo este universo. (A Eliminação do Tempo Psicológico, pág. 41)

(…) Sim. Nós dissemos que é o nada, que o nada é tudo, e assim também o é aquilo que é energia total. Ela é energia não diluída, pura, não corrompida. Existe algo além disso?
(Idem, pág. 42)

(…) Sim, mas dissemos que a desilusão existe enquanto houver desejo e pensamento. Isso é simples; o desejo e o pensamento são partes do “eu”, que é tempo. Quando desejo e
tempo terminam completamente, então não há absolutamente nada, e, conseqüentemente, isso é o universo, esse vazio, que está cheio de energia. Podemos colocar uma parada ali
(…) (Idem, pág. 43)

(…) Existe algo além daquilo. Como podemos falar a respeito? Veja, a energia existe somente quando há o vazio. Eles caminham juntos. (Idem, pág. 43)

(…) Nela nada há de fatalismo, mas exprime o absoluto; energia plena, livre e gratuita, ela não representa a força derradeira, mas é, em si, a energia universal. Toda atividade do
homem deve cessar para que aquela bênção possa florescer, livre e espontânea, como princípio e fim de toda ação. Emergindo da morte e do aniquilamento do conhecido, com sua
busca de segurança, ela não se limita a promover uma revolução superficial, mas depende, para existir, do vazio absoluto e criador. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 137-138)

Nessas condições, é necessário que haja uma maneira de proceder inteiramente diferente. (…)Estamos vendo que a ação baseada numa idéia não conduz à Verdade, que a ação
baseada em experiência é ação limitada. O que é suscetível de medir-se não pode compreender o imensurável(…) (O que te fará Feliz?, pág. 83)

(…) A ação que não resulta de uma idéia é espontânea, quando o processo do pensamento, que se baseia na experiência, não está controlando a ação. (…) Esse é o único estado em
que existe compreensão: quando a mente, que se baseia na experiência, não está guiando a ação; quando o pensamento, que se baseia na experiência, não está moldando a ação.
(Idem, pág. 84)

Ora bem, quando há amor, há ação (…) E tal ação não é libertadora? Ela não resulta de atividade mental (…) A idéia é sempre velha (…) Quando há amor, que não é atividade
mental, que não é idéia, que não é memória, que não é produto da experiência, de uma disciplina habitual, então esse próprio amor é ação. Essa é a única coisa que liberta. (…)
(Idem, pág. 85)

(…) O pensamento pode então ajustar-se ao ambiente, mas o amor nunca pode ajustar-se. (…) Quando há amor, há ação que é relação; e onde há ajustamento nas relações não há
amor. (…) O amor não está subordinado a coisa alguma; ele é único, mas não isolado. Tal amor é ação, que é relação; não é suscetível de corrupção, como o é a atividade mental,
porque existe ajustamento.(…) (O que te fará Feliz?, pág. 86)

Estamos vendo, pois, em essência, como a mente desperdiça energia, e como essa energia é necessária para compreendermos a totalidade da vida, e não apenas os seus fragmentos.
(Como Viver neste Mundo, pág. 24)

Agora, façamos a nós mesmos a seguinte pergunta: Existe um movimento, uma busca, sem nenhuma “causa”, nenhuma pressão, nenhum “motivo”? (…) Podeis então perguntar a
vós mesmos: “Existe um movimento da vida que não seja reação ao movimento comum, e que não tenha centro, como “causa”, “motivo”? (…) A vós é que cabe descobrir. Eu digo
que existe (…) e que não é mera lembrança de coisas do passado. Se puderdes descobri-lo, vereis que ele é completamente dissociado do movimento de contentamento e
descontentamento, desse impulso para o preenchimento, com sua sombra de frustração. (O Homem Livre, pág. 101)

(…) A ação não deve ter motivo, não deve ser a busca de um fim; e a ação que não busca um fim só pode vir quando há amor (…) Só há amor quando o intelecto compreende a si
mesmo, quando o processo do pensamento, com suas hábeis manobras, seus ajustamentos, com sua busca de segurança, deixa de funcionar; descobrireis então que vosso coração é
rico, cheio, abundante de felicidade, porque descobriu aquilo que é eterno. (A Arte da Libertação, pág. 105)

Qualquer motivo nos impede de agir e não há ação sem motivo; daí sermos destituídos de amor. Tampouco existe amor naquilo que fazemos. Pensamos ser impossível agir, viver,
existir sem um motivo (…) O apego serve apenas para encobrir nosso próprio vazio, (…) solidão e insuficiência interior; (…) O amor é sem motivo e, quando o amor está ausente,
toda sorte de motivos se instalam. É tão simples viver sem motivos; basta ser íntegro, sem jamais se conformar com idéias ou crenças. Ser íntegro é ter autocrítica, é estar
consciente de si próprio de momento a momento. (Diário de Krishnamurti, pág. 182)

Agora, existe descontentamento sem objetivo, sem “motivo”? (…) Ou empreguemos uma palavra diferente (…), digamos que é um movimento sem causa, sem “motivo”. Penso que
tal movimento existe, e isso não é mera especulação (…) Quando a mente compreende o descontentamento que tem “motivo” (…); quando percebe, realmente, a verdade relativa a
esse descontentamento, vem então à existência “a outra coisa”. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 81)

Ora, se a mente está cônscia de todo esse processo (…), vereis então manifestar-se um movimento sem “motivo” algum - um movimento, uma ação, uma coisa não estática, que se
pode chamar Deus, a Verdade (…) Nesse movimento há beleza infinita, e ele se pode chamar “amor”; porque, afinal, o amor é sem “motivo”. (Da Solidão à Plenitude Humana,
pág. 81-82)

O problema agora é este: Que é o amor sem “motivo”? Pode haver amor sem motivo, sem incentivo algum, sem (…) nenhum proveito para nós mesmos? Pode haver amor sem
ressentimento, em que não haja sentimento de mágoa quando (…) não é correspondido? Pode haver amor em que damos e não recebemos? (…) Quando vos ofereço minha amizade
e me voltais as costas, fico ressentido? (…) Se compreendestes, aí tendes a resposta. (Novos Roteiros em Educação, pág. 121)

(…) Se eu vos amo e desejo algo de vós, isso não é amor (…) porque, aí, há “motivo”. A atividade social ou religiosa baseada em “motivo”, ainda que a denominemos “serviço”,
não é serviço (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 82)

Se penetrardes profundamente essa questão (…) penso que descobrireis um movimento sem “motivo”, um movimento sem causa alguma, e é esse movimento que traz a paz ao
mundo (…) O homem em quem se verifica esse movimento sem causa é um homem religioso, é um homem que ama e, portanto, pode fazer o que desejar. (…) (Idem, pág. 82)

Assim, como dissemos, é necessário energia, energia sem “motivo” (…) direção. Para tê-la, devemos ser interiormente pobres, não ser ricos das coisas da sociedade que nós
formamos. (…) O que a sociedade formou em nós (…) é avidez, inveja, cólera, ódio, ciúme, ansiedade (…) Torna-se a pobreza uma coisa maravilhosa e bela, quando a mente está
livre da estrutura psicológica da sociedade, por que então já não há conflito (…) Só essa pobreza interior pode ver a verdade existente numa vida inteiramente livre de conflito.
Essa vida é uma bênção (…) (Como Viver neste Mundo, pág. 24-25)

As terríveis condições em que se acha o mundo exigem uma mente nova, fresca, pois, do contrário, os problemas irão aumentar. (…) Para tanto, necessita-se de vigorosa energia -
energia que não seja produto de conflito, energia isenta de motivo. E só pode ser despertada essa energia demolidora, libertadora, clarificadora, depois de terdes compreendido e
resolvido, em vós mesmos, todas as formas de conflito. Só termina o conflito quando há autoconhecimento(…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 115)

Sexo; Aspectos Biológico, Teológico, Problemas


Pergunta: Qual a vossa atitude em face do problema do sexo, em nossa vida diária?
Krishnamurti: Isso só se tornou um problema pelo fato de não haver amor. Não é assim? Quando realmente se ama, não existe problema, há um ajustamento, um entendimento. Só
quando perdemos o senso do verdadeiro afeto, desse profundo amor no qual não há sentimento de posse, é que o problema do sexo surge; é só quando, por completo, nos
entregamos à mera sensação, que os múltiplos problemas relativos ao sexo vêm à existência. Como a maioria das pessoas já perdeu a alegria do pensar criador, voltam-se,
naturalmente, para a mera sensação decorrente do sexo, que se torna, então, um problema que lhe devora a mente e o coração. (Palestras no Brasil, pág. 28)

Em primeiro lugar, por que razão se tornou o sexo um problema para a maioria de nós? Por que razão, na época atual, praticamente em todas as partes do mundo (…) homens e
mulheres estão à mercê do prazer sexual? (…) Precisamos ser celibatários porque os livros o preceituam? Devemos levar uma vida desregrada, porque outros livros a
recomendam? (…)

O problema, portanto, é: Por que o sexo se tornou um problema tão candente? Em primeiro lugar, obviamente, porque ele é estimulado por todos os meios possíveis na sociedade
moderna; todos os jornais, (…) as revistas, os cinemas e os quadros estimulam o erotismo. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 84)

Vivemos debaixo de um contínuo bombardeio de estímulos sexuais. Isso é um fato. E a sociedade, a civilização, na época atual, é essencialmente o resultado do valor sensorial. As
coisas (…) mundanas se tornaram extraordinariamente importantes nas nossas vidas; a posição, a riqueza, o nome, assumiram vital significação, porque são meios para se alcançar
o poder (…), a chamada liberdade. Os valores sensuais se tornaram predominantemente significativos nas nossas vidas, e essa é também uma das causas desse avassalador
problema do sexo. (…) (Idem, pág. 84)

Por essa razão, emocionalmente, interiormente, não há criação, não há reação criadora; só há monotonia (…) Que é o vosso pensar, a vossa existência? Uma rotina oca, vazia (…)
- ganhar dinheiro, jogar cartas, ir ao cinema, ler livros baratos ou tratados eruditos. Mas, que é isso? Não é exatamente uma máquina a funcionar, sem profundeza, sem
pensamento, sem compaixão, sem receptividade? Como pode ser criadora uma mente em tais condições? Assim, que acontece à vossa vida? Sois estéril (…), um imitador, um
copista; em tais condições, é natural, o único prazer que vos resta é o sexo, que se torna a vossa fuga. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 85)

Não estamos tentando resolver o problema; só queremos compreendê-lo; (…) Só há criação quando libertarmos o pensamento criador, o ser criador, a existência criadora, o que
significa promover uma revolução radical em nossa vida; não uma revolução verbal, mas uma revolução interior, uma completa transformação de nossas vidas. Só então esse
problema adquirirá um significado diferente; terá a própria vida um significado diferente. (…)

Por certo, sem amor não há pureza, e só um coração puro pode encontrar a realidade; (…) Todavia, o homem que sabe amar, (…) ser bondoso, generoso, que sabe consagrar-se
completamente a uma coisa, sem pensamento egoísta, esse homem conhece o amor, e esse amor é casto. Onde existe esse amor, deixa de existir o problema. (Idem, pág. 85-86)

Pergunta: A instituição do matrimônio é uma das principais causas de conflito social. Há outra maneira de resolver o problema do sexo?

Krishnamurti: Pois bem, o sexo é um problema? (…) Para refrear o impulso sexual, conservá-lo dentro de certos limites, criou-se a instituição do matrimônio; e, no matrimônio, a
portas fechadas, entre quatro paredes, pode cada um fazer o que quiser, conservando, ao mesmo tempo, uma fachada respeitável. (A Arte da Libertação, pág. 64-65)

Fazendo uso de vossa esposa para satisfação sexual, podeis transformá-la numa prostituta, e isso é perfeitamente respeitável. Sob o disfarce do matrimônio, podeis ser piores do
que um animal; e, sem o matrimônio, não tendo freio, não conheceis limites. (…) (Idem, pág. 65)

Quando se tem uma fonte de prazer constante, quando se tem uma renda certa, que acontece? Tornamo-nos embotados, fatigados, vazios, exaustos. Já não notastes que pessoas
cheias de vitalidade antes do casamento, depois de casarem se tornam embotadas? Todas as fontes de vitalidade secaram, nelas. (…) (Idem, pág. 66)

É um fato patente que, quanto mais intelectual a pessoa é, tanto mais sexual (…) E que, quanto mais sentimento, afabilidade, afeição, existe, tanto menos há de sexo? Porque toda a
nossa cultura social, moral e educativa está baseada no cultivo do intelecto, o sexo se tornou um problema cheio de confusão e de conflito. (…) (A Arte da Libertação, pág. 66)

Não sei se já notastes que, em momentos de grande crise, de grande felicidade, a consciência do “eu” e do “meu”, que é produto da mente, desaparece. Nesse momento de dilatada
apreciação da vida, de intensa alegria, há criação. Expressando-o de maneira simples: quando ausente o “eu”, há criação; (…) (Idem, pág. 67)

Pelo contrário, (…) nessa luta para ser, há uma exagerada expansão do “eu”, e, portanto, não há criação. Por conseguinte, o sexo se torna o único meio de criar (…); e logo que o
mero ato sexual se torna um hábito, torna-se também fatigante e dá mais força à continuidade do “eu”; e assim se converte o sexo num problema. (Idem, pág. 67)

(…) Quando há amor, o sexo não é problema; é a falta de amor que faz dele um problema. (…) Quando amais alguém verdadeiramente, profundamente - não com o amor da mente,
mas com aquele amor que vem do coração - vós lhe dais, a ele ou ela, de tudo o que tendes (…) Na vossa tribulação, pedis-lhe ajuda, e ela vô-la dá. Não há divisão entre homem e
mulher quando amais alguém, nas existe um problema sexual quando não conheceis esse amor. (…) (A Arte da Libertação, pág. 69)

O problema do sexo, pois, não é simples e não pode ser resolvido no seu próprio nível. Querer resolvê-lo biologicamente, apenas, é absurdo; abeirar-se dele pela religião, ou tentar
resolvê-lo como se ele fosse mera questão de ajustamento físico, de funcionamento grandular, ou cercá-lo de tabus e condenações, é muito pueril e estúpido. Esse problema exige
inteligência de ordem superior. (…) (Idem, pág. 69)

Sem amor, a vida não tem significação (…) Envelhecemos sem ter amadurecido; (…) Lemos e falamos acerca do perfume da vida, sem nunca chegarmos a conhecê-lo. Só cuidar de
ler e de verbalizar, isso indica total ausência daquele ardor do coração, que enriquece a vida (…) Amar é ser casto. O mero intelecto não é castidade. Só o homem que ama é casto,
puro, incorruptível. (Idem, pág. 70)

Pergunta: Como poderemos resolver o problema do sexo?

Krishnamurti: Onde há amor, não existe problema de sexo. Isso só se torna um problema quando o amor é substituído pela sensação. Portanto, a questão realmente é: como
controlar a sensação. (…) Atualmente o sexo tornou-se um problema por causa da sensação, do hábito e do estímulo, pelos muitos absurdos da moderna civilização. A literatura, os
cinemas, os anúncios, a palestra, o vestuário - tudo isso estimula a sensação e intensifica o conflito. O problema do sexo não pode ser resolvido separadamente (…) É fútil procurar
compreendê-lo pela moral científica ou do procedimento. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 72)

O sexo se torna um problema sobremodo difícil e complexo (…) O ato em si nunca pode ser um problema, mas o pensamento referente ao ato cria um problema. O ato, vós o
salvaguardais; viveis licenciosamente, ou soltais as rédeas dos vossos apetites no matrimônio, fazendo de vossa esposa uma prostituta, o que é tudo aparentemente muito
respeitável, e ficais satisfeitos em deixar as coisas como estão. O problema naturalmente só poderá ser resolvido quando compreenderdes todo o processo e toda a estrutura do
“eu” (…): minha esposa, meu filho, minha propriedade, meu carro, meu preenchimento, meu êxito. Enquanto não compreenderdes e dissolverdes tudo isso, o sexo permanecerá um
problema. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 223)

(…) De um lado, estais criando, alimentando e expandindo vosso “eu”; de outro lado, tentais esquecê-lo, perdê-lo de vista, ainda que por um breve momento. Como podem esses
dois estados coexistirem? Vossa vida é uma contradição: dando proeminência ao “eu” e procurando esquecer o “eu”. O sexo não é um problema. Problema é a contradição
existente em vossa vida; e a contradição não pode ser anulada pela mente, porque a própria mente é contradição. (…) (Idem, pág. 223)

E por que se tornou o sexo tão desmedidamente importante em nossa vida? Por que, senhores, (…) no mundo moderno, e também na antiguidade, fizemos do sexo uma coisa de
colossal importância? (…) (O Novo Ente Humano, pág. 77)

Em primeiro lugar, cumpre investigar o que é o prazer. Vedes os suaves raios da lua a rutilar sobre as águas com tanta beleza e, logo a seguir, chega o pensamento, dizendo: “Que
bela experiência! preciso repeti-la amanhã” (…) O pensamento, que é reação da memória, ao ter aquela bela experiência, diz: “Quero repeti-la amanhã”.

No momento da percepção daquela luz espelhada na água, nada havia - nem prazer, nem desejo de repetição. Era a plena e absoluta percepção da beleza. (…) Já se trata, pois, de
prazer, a repetição de uma experiência que o pensamento reduziu a prazer; é desse modo que o pensamento dá continuidade e força ao prazer. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 77)

Só uma coisa possuís fora dessa existência de competição e repetição: o sexo. Mas vós o reduzistes a um hábito que vos alivia do tédio da vida. Convertestes, pois, o amor numa
coisa mecânica, numa fonte de prazer. Isso é amor? Para descobrirdes o que é o amor, tendes de rejeitar tudo o que ele não é. Essa rejeição implica compreensão do que é o prazer.
(…) (Idem, pág. 78)

Pergunta: Toda carícia não é sexual? (…) Por que verberais o sexo, associando-o ao vazio das nossas vidas?

Krishnamurti: Receio que só as pessoas vazias conheçam o sexo, porque o sexo, para elas, é uma fuga (…) Chamo vazia a pessoa que não tem amor; e para ela o sexo se torna um
problema (…) O coração está vazio quando a mente está repleta de suas próprias idéias, invenções e mecanizações. Porque a mente está cheia, o coração está vazio; e é só coração
vazio que conhece o sexo. (Novo Acesso à Vida, pág. 134)

Senhores, ainda não o notastes? Um homem afetuoso, um homem cheio de ternura, de bondade, consideração, não é sexual. É o homem intelectual, o homem cheio de saber,
diferente de sabedoria - (…) que está cheio de intelecto, (…) de produtos da mente - é esse homem que é dominado pelo sexo. (Idem, pág. 134)

Porque sua vida é superficial e seu coração, vazio, o sexo cresce de importância: é o que está sucedendo na civilização atual. Cultivamos em excesso o intelecto, e a mente ficou
presa às suas próprias criações (…) Para a mente assim cativa só há uma possibilidade de libertação, que é o sexo. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 135)

Assim, religiosamente, no mundo dos negócios, em vossa educação, em vossa vida cotidiana, que está acontecendo realmente? Não há “estado de ser” criador. Não sois felizes, não
tendes vitalidade, não tendes alegria. Intelectual, religiosa, econômica, social e politicamente, sois entes embotados, arregimentados (…) (Idem, pág. 135)

Essa arregimentação é produto de vossos próprios temores, esperanças, (…) frustrações. E como, para o ser humano assim cativo, não há possibilidade de libertação, ele
naturalmente recorre ao sexo, como meio de libertação; nele pode satisfazer-se, (…) buscar felicidade. Torna-se assim o sexo, automaticamente, um hábito, uma rotina, um
processo de embrutecimento. (Novo Acesso à Vida, pág. 135-136)

Assim, como pode ser criadora uma mente que não está vigilante, que não tem vitalidade? Como pode ser criador um coração que não é afetuoso, que não está cheio? E como não
não sois criadores, buscais estímulo no sexo, nos divertimentos. (…) Quando não há criação, a única libertação é através do sexo, e, conseqüentemente, aviltais a vossa esposa ou o
vosso marido. (…) (Idem, pág. 136)

(…) Por conseguinte, se um homem deseja resolver o problema do sexo, precisa desembaraçar-se dos pensamentos por ele próprio criados; nesse estado de liberdade, há força
criadora, que é a compreensão nascida do coração. Quando um homem ama, há castidade; é a falta de amor que é impura, e, sem o amor, nenhum problema humano pode ser
resolvido. (…) (Idem, pág. 138)

Precisamos perceber que estamos aprisionados na máquina da rotina; e, para nos libertarmos dela, é necessário compreensão, autoconhecimento. O problema do sexo, atualmente
tão importante, perde o seu significado quando existe a ternura, o calor, a bondade, a compaixão do amor. (Idem, pág. 138)

Pergunta: Considerais pecado (…) desfrutar relações sexuais ilegítimas?

Krishnamurti: Por que se tornou o sexo um problema em nossa vida? Por que existem tantas distorções, perversões, inibições, supressões? Não é porque estamos famintos mental e
emocionalmente, porque somos incompletos em nós mesmos, por nos termos tornado apenas máquinas imitadoras, e a única expressão criadora que nos foi deixada, a única coisa
em que encontramos felicidade é a que chamamos sexo? (…) (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 76-77)

Se puderdes libertar o pensamento criador, a emoção criadora, então o sexo já não será um problema. Para libertar completa, integralmente, essa inteligência criadora, deveis
investigar o próprio hábito de pensar, (…) a própria tradição (…), as próprias crenças que se tornaram automáticas, espontâneas, instintivas. (…) (Idem, pág. 77-78)

Onde há amor, verdadeiro amor, não existe questão de pecado, de legalidade ou ilegalidade. Entretanto, a menos que realmente penseis profundamente sobre esse ponto, (…) para
evitar mal-entendidos sobre o que eu disse, isso poderá conduzir a todos os tipos de confusão. (…) Para mim, a cessação dos problemas do sexo está, não na simples legislação, mas
na liberação da inteligência criadora, em ser completo na ação, não separando a mente do coração. O problema somente desaparece quando se vive completa, plenamente. (Idem,
pág. 79)

Pergunta: Que sugestão ou conselho daríeis a uma pessoa que luta com o empecilho de forte sexualidade?

Krishnamurti: Pensando bem, quando não existe expressão criadora da vida, costumamos atribuir exagerada importância ao sexo, que se torna um problema agudo. Nessas
condições, o que interessa saber não é o conselho ou sugestão que eu daria, ou a maneira de dominar a paixão, o desejo sexual, mas sim a maneira de liberar o viver criador (…) (A
Luta do Homem, pág. 143-144)

Nas vossas atividades, sois impedidos pelas circunstâncias, (…) condições, de vos expressardes fundamentalmente com força criadora, do que resulta a necessidade de uma saída
para a vossa expressão, e essa saída se torna o problema do sexo, ou do alcoolismo, ou outro qualquer, idiota e fútil. (…) (Idem, pág. 144)

Assim, pois, enquanto não compreenderdes integralmente as vossas aspirações religiosas, políticas, econômicas e sociais, e os entraves que se lhes opõem, as funções naturais da
vida assumirão importância imensa e o primeiro plano na vossa vida. Essa a razão por que todos os inumeráveis problemas da cobiça, do desejo de possuir, do sexo, (…) têm a sua
medida e o seu valor falsos. (Idem, pág. 145)

Mas se, no trato com a vida, deixásseis de considerá-la nas suas partes para considerá-la no seu todo, compreensivamente, fecundamente, com inteligência, veríeis desaparecerem
os problemas que debilitam a mente e destroem o viver criador, passaria a inteligência a funcionar normalmente e experimentaríeis as doçuras do êxtase. (Idem, pág. 145)

Pergunta: Perturba-me seriamente o impulso sexual. Como poderei dominá-lo?

Krishnamurti: Senhores, esse problema é vastíssimo. Seu alcance é extraordinariamente profundamente e amplo. Nessa pergunta encerram-se muitas coisas, e não apenas o sexo
(…) (Uma nova Maneira de Viver, pág.127)

(…) Tratemos primeiramente de compreender o problema do “dominar”. Como posso dominar a cólera, o ciúme? Que acontece quando dominais um inimigo? (…) Eu posso
dominar-vos, mas a próxima vez podeis estar mais forte, e dominar-me. Temos, assim, um jogo que consiste em dominar e voltar a dominar. (…) Entretanto, no momento em que
compreendemos uma coisa, ela está acabada. (…) (Idem, pág. 127)

Outra coisa de imensa importância que perdemos (…) é o amor. Senhores, o amor é casto, e, sem amor, não tem significado algum querermos somente dominar o sexo, ou ceder a
ele. (…) Bem sei que os livros religiosos dizem que precisamos tornar-nos um Brahmacharya (o que faz voto de castidade) para acharmos a Deus. (…) (Idem, pág. 129-130)

Vemos, pois, que o problema só pode ser resolvido se compreendermos a nós mesmos e (…) a completa esterilidade de nossa vida; e é somente pelo autoconhecimento que será
possível a criação, e essa criação é a Realidade, ou Deus (…) Acontece, de fato, às vezes, abrir-se um intervalo nas nuvens, através do qual podemos olhar. Mas, na maior parte do
tempo, estamos fechados em nossos desejos, necessidades e temores, e, naturalmente, a única válvula que nos resta é o sexo, que degenera, que debilita, e se torna um problema.
(Uma Nova Maneira de Viver, pág. 132)

Assim, pois, ao examinarmos esse problema, começamos a descobrir o nosso próprio estado, ou seja, o que “é”; descobrimos, não a maneira de transformá-lo, mas a maneira de
ficarmos conscientes dele. Não o condeneis, não tenteis sublimá-lo, não procureis substitutos, não tenteis dominá-lo.

Ficai, simplesmente, conscientes do “que é”, de todo o seu significado (…) Vede como tudo isso é monótono, estéril e estúpido. (…) Sentireis, então, um novo alento, uma nova
consciência, e, no momento em que reconheceis o “que é”, opera-se uma transformação instantânea. Ver o falso como falso é o começo da sabedoria (…) e vereis que desse
percebimento procede uma coisa extraordinária que se chama amor, e o homem que ama é casto, (…) é puro e conhece a vida. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 132-133)

Pergunta: É o casamento compatível com a castidade?


Krishnamurti: Investiguemos (…) A castidade não é produto da mente (…) não resulta de disciplina, (…) não é um ideal para alcançar-se. Tudo o que é produto da mente, criado
pela mente, não é casto; porque a mente, ao criar o ideal da castidade, está se esquivando do “que é”; e a mente que está tentando tornar-se casta não é casta. (…) (O que te fará
Feliz? pág. 111)

O problema, portanto, não é o sexo, mas, sim, como ficarmos livres do “ego”. Vós provastes aquele estado em que não existe o “ego” (…); e onde está o “ego” está o conflito, o
sofrimento, a luta. Por isso, existe o constante desejo de repetição (…) (Idem, pág. 113-114)

E como podeis ter amor? Positivamente, o amor não é coisa da mente. O amor não é o mero ato sexual (…) O amor é algo que a mente não pode (…) conceber. (…) E, sem amor,
contraís relações, sem amor vos casais. E depois, na vida conjugal, “vós vos ajustais um ao outro”. (…) Ela é obrigada a conviver convosco. Detesta a casa, o ambiente, a vossa
brutalidade, mas diz: “sou casada e tenho de conformar-me com isso”. (…) (Idem, pág. 117-118)

Nessas condições, uma mente que está apenas a ajustar-se, nunca pode ser casta. Uma mente que busca a felicidade no sexo nunca será casta. (…) A castidade só existe quando há
o amor, sem amor, não há castidade. E o amor não é coisa suscetível de cultivar-se. (O que te fará Feliz?, pág. 118)

Só há amor quando há completo esquecimento de si mesmo (…) Então, havendo amor, tem o ato sexual significação inteiramente diferente. Esse ato não é, então, uma fuga, um
hábito (…) Só onde está o amor está a castidade, a pureza; mas uma mente que “vem a ser” (…) não tem amor. (Idem, pág. 118-119)

Bem e Mal, Luz e Trevas, Amor e Ódio, Céu e Inferno


O bem não é o oposto do mal. Se o bem nasce do mal, então o bem contém o mal. Consideremo-los mui cuidadosamente, (…) o que realmente ocorre externa e internamente.
Quando são invejosos, vivam com esse fato, observem-no. (…) (La Llama de la Atención, pág. 62)

(…) Ser bom quer dizer também ser completamente honesto, o que significa que a pessoa se comporta, não de acordo com alguma moda ou tradição, senão com um sentimento de
grande integridade - integridade que possui sua própria inteligência. Ser bom significa também ser total, não fragmentado. (Idem, pág. 63)

(…) Pergunto-me que é que você quer significar. Está o arbusto com seus muitos espinhos - chama você a isso de mal? É para você o mal uma serpente venenosa? Nenhum animal
selvagem é mal - nem o tubarão nem o tigre. Que é então o (…) mal? (…) Algo que pode ocasionar uma tremenda aflição, um grande sofrimento? Algo capaz de destruir ou impedir
a luz da compreensão? Chamaria você a guerra de mal? (…) (Tradición y Revolución, pág. 25)

(…) A resistência ao mal reforça o mal. Por isso, se a mente vive na bondade, não há resistência e o mal não pode alcançá-la. De modo que não há contenção ao mal. (Idem,
pág.30)

Mas o desconhecido é a Realidade. O céu é um estado de desconhecimento; e o inferno é o estado de conhecimento. E nós estamos presos entre as duas coisas: o conhecer e o
desconhecer. E como toda a nossa vida é um estado de conhecimento, tememos sempre aquilo que é o desconhecido. Deus, o Real, o céu, é o desconhecido. (…) (Poder e
Realização, pág. 76)

(…) Só quando podemos ver toda a vastidão, a imensidão, a magnificência do céu, há a possibilidade de paz - e não quando simplesmente andamos no encalço da paz, o que
representa atividade do pensamento, da mente. (…) (Novos Roteiros em Educação, pág. 169)

Perg.: Que é bem, e que é mal?

Krishnamurti: Por que pensamos sempre em termos de dualidade, (…) do oposto? Por que somos tão condicionados pelo pensamento (…)? (…) Por certo, se pudermos
compreender o processo do desejo, compreenderemos esse problema (…) (Viver sem Confusão, pág. 61-62)

A divisão de bem e mal é uma contradição que existe em nós. Somos apegados ao bem, porque é mais agradável; e estamos condicionados a evitar o mal, porque é doloroso. Ora, se
pudermos compreender o processo do desejo, (…) talvez sejamos capazes de ficar livres do conflito dos opostos. (Idem, pág. 62)

Ora bem, se podemos compreender o que é a virtude, o que significa que compreendemos o desejo, estamos libertos dos opostos; (…) Enquanto condenarmos o desejo, haverá o
conflito dos opostos, do bem e do mal (…); enquanto resistirmos ao desejo, haverá o conflito da dualidade. (…) (Viver sem Confusão, pág. 63)

(…) Mas, se observarmos o desejo tal como é, sem nenhum critério de comparação, condenação, ou justificação, veremos então que o desejo se extinguirá. (Idem, pág. 65)

Por conseguinte, o começo da virtude é a compreensão do desejo. Manter-se no conflito dos opostos só significa fortalecer o desejo; e a maioria de nós não deseja entender o desejo
em sua totalidade; gostamos do conflito dos opostos. Ao conflito dos opostos chamamos virtude, espiritualização, mas isso não passa de continuidade do “eu”; (…) (Idem, pág. 63)

Por que existe esse conflito no psicológico? Desde a antiguidade, e tanto social como religiosamente, tem existido uma divisão entre o bem e o mal. Existe realmente essa divisão?
Ou só existe “o que é”, sem seu oposto? Suponhamos que há ira; esse é o fato, “o que é”, porém “eu não ficarei irado” é uma idéia, não é um fato. (La Totalidad de la Vida, pág.
204)

Interlocutor: Não compreendo bem como a mente se dividiu em amor e ódio.

Krishnamurti: Há o bem e o mal, a luz e a treva. A luz e a treva não podem coexistir. Uma destrói a outra. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 65)

Se a luz é luz, então a treva, o mal, deixa de existir. O esforço é desnecessário, ele é então inexistente. Mas nós estamos em um estado de esforço contínuo, porque o que para nós é
luz, não é luz (…)

Quando a vontade se destrói, espontaneamente, há então uma verdade que está além de todo esforço. O esforço é violência; o amor e a violência não podem coexistir. (Idem, pág.
65-66)

O conflito (…) não é uma luta entre o bem e o mal, entre o eu e o não-eu. A luta está em nossa própria dualidade auto-criada, entre os nossos vários desejos autoprotetores. Não
pode haver conflito entre a luz e a treva; onde há luz, não há treva. (…) (Idem, pág. 66)

Isso são meras idéias, opiniões e, portanto, sem validade. (…) Onde há luz, não há treva. A escuridão não pode encerrar a luz; se o faz, não há luz. Onde existe ciúme, não existe
amor. (…) O amor é chama sem fumo. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 130)

É considerado inteligente estar no conflito dos opostos: a luta entre o bem e o mal (…) ela é julgada necessária para a evolução do homem; o conflito entre Deus e o Demônio é
admitido como um processo inevitável. Mas esse conflito entre os opostos conduz à Realidade? Não conduz, antes, à ignorância e à ilusão? Pode o mal ser transcendido pelo seu
oposto? Não deve o pensamento transcender o conflito de ambos? (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 37-38)

Esse conflito entre opostos não conduz à virtude, à compreensão (…) Talvez esteja o criminoso, o pecador, mais próximo da compreensão do que o homem que alardeia virtude (…)
(Idem, pág. 38)

O criminoso poderia vir a reconhecer o seu crime, havendo, portanto, esperança para ele, mas o indivíduo que se presume virtuoso, no conflito dos opostos, está simplesmente
perdido na sua mesquinha ambição de vir a ser (…) (Idem, pág. 38)

Pergunta: Acreditais haver o mal no mundo?


Resposta: (…) Não estais consciente dele? Não são evidentes suas conseqüências (…)? Quem o criou senão cada um de nós? (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág.
62)

Assim como criamos o bem, também criamos o mal, este, porém, em grande escala. O bem e o mal fazem parte de nós e de nós igualmente independem. Ao pensar e sentir com
mesquinhez e inveja, cobiça e ódio, aumentamos o mal já existente, que então se volta contra nós e nos fere. (…) (Idem, pág. 62)

Os opostos não se podem fundir, eles devem ser ultrapassados pela dissolução do desejo. É preciso meditar e sentir plenamente cada um dos opostos, (…) porquanto será assim que
despertaremos uma nova compreensão não resultante do anseio ou do tempo. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 63)

O mal que há no mundo, assim como o bem nele existente, é fruto de nossa contribuição (…) A sabedoria está no perceber a causa do mal e do bem, pois, compreendendo-a,
desembaraçaremos dela o pensar e o sentir. (Idem, pág. 63)

Pergunta: É óbvio que uma pessoa deve conhecer o mal, para poder conhecer o bem. Isso implica (…) evolução?

Krishnamurti: Precisamos conhecer a embriaguez para conhecer a sobriedade? (…) Precisais passar por guerras (…) para saber o que é a paz? Ora, essa é uma maneira de pensar
totalmente errônea. (Claridade na Ação, pág. 141)

Mas há progresso psicológico, evolução psicológica? Pelo processo de evolução através do tempo, pode o “eu”, centro do mal, tornar-se nobre, bom? Não pode, está visto. O que é
mau - o “eu” psicológico - há de permanecer sempre mau. Mas não queremos olhar esse fato de frente. Pensamos que, no processo do tempo, no crescer e transformar-se, o “eu” se
tornará, no fim, realidade.(…) (Idem, pág. 142)

(…) Em tudo isso, o mal é a total falta de autoconhecimento. Temos medo de nos conhecermos porque nos dividimos em fragmentos bons e maus, ignóbeis e nobres, puros e
impuros. O “bom” está sempre a julgar o “mau”, e esses fragmentos vivem em guerra uns com os outros. (…) Essa fragmentação da vida em “alto” e “baixo”, “nobre” e
“ignóbil”, “Deus” e “Demônio”, gera conflito e dor. (A Luz que não se Apaga, pág. 98-99)

Tendes toda a razão (…) Quando cessa o ódio, nasce o amor. O ódio só pode cessar quando lhe prestais toda a atenção, quando estais aprendendo, e não acumulando
conhecimentos a seu respeito. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 96)

Pergunta: Qual deveria ser minha atitude para com a violência?

Krishnamurti: Cessa a violência pela violência, o ódio pelo ódio?

O ódio gera ódio, má vontade gera má vontade. Muito freqüentemente, em nossas relações mútuas, individuais ou sociais, o espírito de represália produz somente mais violência e
mais antagonismo. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 74-75)

O espírito de vingança é predominante no mundo. Sentimo-nos poderosos sendo violentos. (…) O mundo ao nosso redor está nessa condição febril de ódio e violência, por causa da
sua força astuta e deliberada, e, a menos que nós, nós próprios, nos libertemos do ódio, somos facilmente arrastados pela brutal correnteza. (…) Compreendendo a causa do ódio,
nasce o perdão, e a bondade. O amor e a compreensão surgem pelo apercebimento constante. (Idem, pág. 75-76)

O ódio não é dissolvido pela experiência, nem por nenhum acúmulo de virtude, nem pode ser dominado pela prática do amor. Tudo isso apenas encobre o medo, o ódio.
Apercebei-vos disso, e então haverá uma tremenda transformação em vossa vida. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 58)

(…) O ódio não pode ser destruído pelo ódio, embora muitos dentre vós gostem de ocultar o ódio sob palavras que soem agradavelmente. Não podeis matar para ter paz e ordem;
para terdes paz, precisais criar paz em vosso íntimo e nas relações mútuas com outrem, que são a sociedade. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 29)

Pergunta: Não pensa o senhor haver na vida um princípio de destruição, uma vontade cega, (…) independente do homem, sempre latente, pronta para entrar em ação (…)?

Krishnamurti: Sabemos, com certeza, da existência em nós dessas duas faculdades opostas: a de destruir e a de criar, de ser bom e de ser maléfico. (Autoconhecimento, Correto
Pensar, Felicidade, pág. 111)

Que é que nos faz destruir? Que é que nos torna coléricos, ignorantes, brutais? Que é que nos impele a matar, a buscar vingança, a enganar? É uma vontade cega, qualquer coisa
sobre a qual não temos domínio nenhum - chamemo-la “demônio” - uma força do mal independente, ou uma ignorância incontrolável? (…) (Idem, pág. 111)

(…) Podemos ainda dizer existir em nós, em estado potencial, a maldade, poder em si mesmo destruidor; que, embora possamos ser afetuosos, generosos, compassivos, esse poder
(…) impessoal busca uma erupção ocasional. (…) (Idem, pág. 112)

Será exata tal conclusão? Não podemos, pela compreensão de nós próprios, perceber as causas interiores que nos levam a criar e a destruir? Se primeiro clarearmos a confusão
existente na camada superficial da mente consciente, as camadas mais profundas da consciência, com seu conteúdo, poderão nela projetar-se (…) (Idem, pág. 112-113)

Ocorre o esclarecimento da camada superficial quando o pensamento-sentimento já não se identifica com o problema, mas permanece apartado dele, e, por conseqüência, em
condições de observar sem comparação ou julgamento. (…) (Idem, pág. 113)

Um dos nossos problemas fundamentais alude à escolha entre “o bom” e “o mau”. Escolha significa conflito, e o conflito, sem dúvida, é um elemento destrutivo, desperdício de
energia. Conhecemos esse conflito existente em nossa vida de cada dia, essa luta incessante para conservar “o bom” e evitar “o mau”; (…) parece-me não só dissipação de energia
esse conflito, mas também destrói o impulso criador. (…) (Visão da Realidade, pág. 170)

Vemos, pois, que o conflito entre “o bom” e “o mau” é destrutivo, causador de degeneração, como o são todos os conflitos; e é possível não termos mais o conflito entre “o bom” e
“o mau”, e conservarmos sempre “o bom”, sem intromissão do elemento escolha? (Visão da Realidade, pág. 171)

Ora, é possível ação sem conflito de espécie alguma? Sem dúvida, tal ação só é possível quando amamos aquilo que fazemos; (…) Não sei se já notastes que, quando gostais de
fazer certa coisa, não há conflito nenhum, a ação está completamente livre de elementos contraditórios; (…) (Visão da Realidade, pág. 172)

É possível, pois, amarmos “o bom” e não termos esse incessante conflito entre “o bom” e “o mau”? Notai: Não há método nenhum para isso. (…) O mais importante é dar à mente
a possibilidade de estar suficientemente quieta, para ser capaz de receber o que é verdadeiro. (…) (Idem, pág. 173)

O desejo é energia, e quando o consideramos como coisa má, que é necessário reprimir, controlar, moldar de acordo com as sanções da religião e da sociedade, o desejo se torna
destrutivo - o que não significa devamos ceder a toda e qualquer forma de desejo. (…) Na energia criadora está contida uma vida repleta do “bom”, uma vida de onde não está
ausente o eterno; tal vida, porém, só é possível quando compreendemos, por inteiro, o processo do conflito. (Visão da Realidade, pág. 173)

Existe conflito enquanto existe o “movimento para fora”, do desejo, que, encontrando frustração, se recolhe. (…) “O bom” só pode tornar-se existente quando a mente está de fato
muito tranqüila, e só pode vir essa tranqüilidade havendo abundância de energia. (Idem, pág. 174)

Deixemos as escrituras fora desta discussão; porque, quando começais a mencionar as escrituras em apoio de vossas opiniões, estai certo de que o Demônio também poderá
encontrar textos, na escritura, para apoiar o ponto de vista inteiramente oposto! (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 40)

As religiões organizadas (…) Talvez vos lembreis da história acerca do Diabo, que andava a passear com um amigo. Viram um homem à sua frente inclinar-se e apanhar alguma
coisa no chão. Quando a apanhou e a olhou, tinha no rosto uma grande alegria. O amigo do Diabo perguntou a este o que é que o homem apanhara, e o Diabo respondeu: “Foi a
verdade”. O amigo disse: “Isto é muito mau para ti, não é?” E o Diabo respondeu: “De modo nenhum, vou ajudá-lo a organizá-la (…)” (O Mundo Somos Nós, pág. 85)
Caráter, Ética, Moral; Base no “Eu”, Padrão Social
Pergunta: O homem que permanece inalterado em face dos perigos e experiências da vida, (…) é sempre um homem de vontade firme e de caráter puro. (…) Que tendes a dizer
sobre a vontade e o caráter, e qual o seu verdadeiro valor para o indivíduo?

Krishnamurti: (…) Que quereis dizer por vontade? Vontade é resultado de resistência. Se não compreendeis uma coisa, desejais conquistá-la. Toda conquista é apenas escravidão,
e, por isso, resistência; e dessa resistência cresce a vontade, a idéia de “devo e não-devo”. Mas a percepção, o entendimento, liberta a mente e o coração da resistência, e, assim,
dessa constante batalha do “devo e não devo”. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 148-149)

A mesma coisa se aplica ao caráter. O caráter é unicamente a força de resistir às múltiplas compulsões que a sociedade exerce sobre vós. Quanto mais vontade tiverdes, maior é a
autoconsciência, o “eu”, porque o “eu” é resultado do conflito e nasce da resistência que cria a autoconsciência. (…) (Idem, pág. 149)

É bastante óbvio que a maioria de nós está confusa, intelectualmente. (…) Tudo em torno de nós parece desintegrar-se: os valores morais e éticos tornaram-se simples questão de
tradição, sem muito sentido. (…) Mas, se um homem está confuso, como pode agir? Tudo que ele faça (…) há de ser confuso, e essa ação criará maior confusão. (…) (A Arte da
Libertação, pág. 59-60)

(…) Necessita-se de liberdade, e a liberdade só pode vir quando se compreende todo o problema da inveja, da avidez, da ambição, do desejo de poder. É a libertação de tudo isso
que permite o surgir dessa coisa maravilhosa que se chama caráter. Aí o homem tem compaixão, sabe o que é amar, e não quando meramente repete palavras e mais palavras
acerca da moralidade. (O Homem Livre, pág. 120)

O florescimento da bondade, por conseguinte, não é possível dentro da sociedade, porquanto a sociedade, intrinsecamente, é sempre corrupta. Só o homem que compreende toda a
estrutura e todo o “processo” da sociedade e dela se está libertando, só esse homem tem caráter e só ele pode ser bondoso. (Idem, pág. 120)

O caráter é produto da imitação (…) do que os outros dizem ou não dizem. O caráter é mero resultado do fortalecimento de nossas tendências oriundas de preconceitos (…)
tradição da Europa, da Índia (…)? É isso que geralmente se chama caráter - ser um “homem forte”, um homem respeitado. (Novos Roteiros em Educação, pág. 153)

Pergunta: Será a palavra “caráter” outro nome para “limitação”?

Krishnamurti: O caráter torna-se limitação se for meramente defesa egoística contra a vida. Esse desenvolvimento de resistência contra o movimento da vida torna-se um meio de
autoproteção. Nele não pode haver inteligência. (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 19)

O homem que quiser viver, alcançar plenitude, tem de possuir inteligência. O caráter acha-se em oposição à inteligência. O caráter é somente um obstáculo, uma limitação, e, em
seu desenvolvimento, não pode haver plenitude. (Idem, pág. 19)

O caráter é resultado da imitação, de ser controlado pelo medo do que as pessoas irão dizer. (…) Será o caráter o simples fortalecimento de nossas próprias tendências e
preconceitos? Será a manutenção da tradição, seja da Índia, da Europa ou da América? Isso é o que geralmente se considera ter caráter - ser uma pessoa forte, que apóia a
tradição local e que é, portanto, respeitada pela maioria. (…) Imitar, seguir, adorar, ter ideais - essa rota leva à respeitabilidade, mas não à compreensão. (…) (O Verdadeiro
Objetivo da Vida, pág. 117)

Nessas condições, sem vocês se compreenderem, sem tomarem consciência de tudo que está acontecendo em sua própria mente (…), não pode haver inteligência. E é a inteligência
que cria o caráter, não a adoração de heróis ou a busca (…) de um ideal. (…) (Idem, pág. 117)

O caráter pode ser modificado, alterado, tornado harmônico, mas o caráter não é a Realidade. Deve o pensamento transcender a si próprio, para compreender o Atemporal.
Quando pensamos em termos de progresso (…), não estamos pensando e sentindo dentro do padrão do tempo? Existe um vir-a-ser, um modificar e alterar no plano horizontal. Só
quando o pensamento, pela diligente vigilância de si mesmo, se liberta do vir-a-ser, do passado, só quando está totalmente tranqüilo, existe o Atemporal. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 143)

(…) Podemos possuir todas as coisas exteriores que dão conforto (…) mas, interiormente, somos pobres, insuficientes, infelizes; estamos confusos, não sabemos o que fazer, onde
encontrar a felicidade, a salvação. (…) (Poder e Realização, pág. 5)

Em vista de tudo isso, devemos tratar de aclarar o que se entende por “vida moral”. É a moral compatível com o progresso? Pode-se (…) planejar e cultivar a conduta moral,
harmonizando-a com o extraordinário progresso (…)? (…) (Idem, pág. 5-6)

(…) É cultivável a moral? E (…) ela nos leva à felicidade, ao estado criador, à liberdade? Ou a moral não é algo que se cultiva, mas sim, uma revolução - uma revolução
inconsciente? (Poder e Realização, pág. 6)

Ainda que tenhamos (…) todo o bem-estar (…) estamos cônscios da falta geral da afeição, do amor; e há também medo. (…) Cultivamos a virtude, a moral, a fim de
correspondermos ao progresso (…) mas esse cultivo da moral pelo intelecto produzirá bem-estar humano? (Idem, pág. 7)

Ao examinardes esse processo, discernireis que o “eu” se está reformando a si mesmo a cada momento, pelas suas atividades volitivas baseadas na ignorância, na carência e no
medo. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 21)

Quando começardes a verificar que o “eu”, portanto, não é permanente, haverá mudança vital em nossa conduta e moral. Então não poderá haver subserviência, aquiescência, mas
somente a ação da inteligência desperta. (…) (Idem, pág. 21)

Cada um de vós deve tornar-se apercebido do processo da ignorância. Esse apercebimento não é o poder de uma compreensão superior dirigindo outra inferior, (…) porém é
aquela compreensão sem escolha, resultante da ação persistente, sem temor nem carência. (Idem, pág. 21)

Dessa percepção isenta de escolha, surge a verdadeira moral, as relações e a ação verdadeiras. A conduta então não é mera imitação de um modelo, de um ideal ou de uma
disciplina, mas sim resultado da verdadeira compreensão do processo do “eu”. Esse discernimento é inteligência desperta que, não sendo hierárquica ou pessoal, ajuda a criar uma
nova cultura de preenchimento e cooperação. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 21-22)

Existe a moral do ideal e a moral do real. O ideal é amarmos uns aos outros, não matar, não explorar e assim por diante. Porém, na realidade, a nossa conduta baseia-se em uma
concepção diferente. A ética de nossa existência diária, a moral das nossas relações sociais, baseia-se, fundamentalmente, no egoísmo, no espírito de aquisição, no temor e na
autoproteção. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 44)

A moral cotidiana é realmente imoralidade, e o mundo está enredado nessa imoralidade. Várias formas de aquisição, de exploração e de matança são condecoradas pelos governos
e pelas organizações religiosas e constituem a base da moral aceita. Em tudo isso não há amor, mas somente medo disfarçado (…) palavras idealistas que impedem o
discernimento. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 45)

Para ser verdadeiramente moral, isto é, para ter verdadeiras relações com outrem, com a sociedade, é preciso que cesse a imoralidade do mundo. Essa imoralidade foi criada pelos
anseios de autoproteção e pelos esforços de cada indivíduo. (Idem, pág. 45)

Agora, perguntareis como se pode viver sem ansiedade, sem espírito de aquisição. Se compreenderdes profundamente o significado de vos libertardes do espírito de aquisição, se
fizerdes experiências nesse sentido, então, por vós mesmos, vereis que podeis viver no mundo sem pertencer ao mundo. (Palestras em Nova York, Eddington, Madras, 1936, pág. 45)

Digo-vos, ainda, que esse medo é criado pela busca de segurança. (…) A sociedade nada mais é que a expressão do indivíduo multiplicada por milhares. Afinal, a sociedade não é
alguma coisa misteriosa. Ela é o que vós sois. Ela comprime, controla, domina, torce. (…) Essa sociedade oferece segurança por meio da tradição. (…) Assim, a moralidade é mera
conveniência. Não a reta percepção das coisas, mas o hábil ajuste às circunstâncias - é o que denominamos moralidade. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 18-19)

(…) Assim, cumpre-nos descobrir até que ponto nos emancipamos da moralidade ditada pela autoridade, da imitação, do ajustamento e da obediência. Não é o medo a base de
nossa moralidade? (…) Pode-se ver, pois, que todo ajustamento a um padrão, sancionado ou não pela tradição, não representa conduta virtuosa. Só da liberdade pode vir a virtude.
(A Luz que não se Apaga, pág. 60)

Se observardes desapaixonadamente as coisas, verificareis que a moral dos nossos dias está baseada num profundo egoísmo, na busca de segurança (…) Em virtude da
aquisitividade, do desejo de possuir, estabelecestes certas leis, opiniões a que chamais morais. Se, voluntariamente, estiverdes livres da possessividade, da aquisitividade, coisa essa
que exige profundo discernimento, daí advirá a inteligência, que é a guardiã da verdadeira moral. (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 18)

Vós direis: “Isso está muito bem para nós, que somos educados, que não necessitamos de ninguém para nos apoiar nessa moral; porém, o que será do povo, da massa?” Quando
encarais os outros como indivíduos não cultos, é que vós próprios o não sois: pois dessa pretensa consideração para com os outros nasce a exploração. (Palestras no Chile e
México, 1935, pág. 18)

Se houvésseis compreendido a falsa moral da atualidade, com sua crueldade sutil, então haveria a verdadeira inteligência. Só essa inteligência constitui a segurança da moral
benévola, que tudo abrange e é isenta de temor. (Idem, pág. 19)

Pergunta: Que é “ser virtuoso”? (…) Qual a base da moralidade?

Podemos pôr de parte a moralidade social que, na verdade, é completamente imoral? A moralidade social se tornou uma coisa respeitável, aprovada por sanções religiosas. (…)
Essa moralidade é ir para a guerra, matar, ser agressivo, buscar o poder, dar ensejo ao ódio; é a crueldade e a injustiça da autoridade estabelecida. (A Luz que não se Apaga, pág.
59)

Mas, podemos realmente dizer que ela não é moral? Porque, consciente ou inconscientemente, nós fazemos parte dessa sociedade. A moralidade social é nossa moralidade (…) A
facilidade com que a pomos de lado é o sinal de nossa moralidade; não o esforço que nos custa o pô-lo de lado, não a recompensa ou a punição desse esforço. (…) (Idem, pág.
59-60)

Se nossa conduta é dirigida pelo ambiente em que vivemos, por ele moldada e controlada, então essa conduta é mecânica e fortemente condicionada. E se nossa conduta resulta de
nossa própria reação condicionada, é moral? Se vossa ação se baseia no medo à punição e no desejo de recompensa, é virtuosa? Se procedeis virtuosamente em conformidade com
certo conceito ou princípio ideológico, pode-se considerar virtuosa tal ação? (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 60)

Criamos a sociedade e essa sociedade nos condiciona. As nossas mentes são deformadas e pesadamente condicionadas por uma moralidade que não é moral; a moralidade da
sociedade é imoralidade, porque a sociedade admite e estimula a ambição, a violência, a competição, a avidez, etc., que são essencialmente imorais. Não existe amor, atenção para
com o outro, afeição, ternura, e a “respeitabilidade moral” da sociedade é uma desordem extrema. A mente, que foi treinada (…) para para aceitar, (…) obedecer e ajustar-se, não
é capaz de ser altamente sensível e, portanto, altamente virtuosa. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 33)

Vê-se, pois, que o pensamento sustenta e alimenta tanto o medo como o prazer. (…) E, se se observar, toda a moralidade social - que é realmente imoral - está baseada no prazer e
no medo, no prêmio e no castigo. (Idem, pág. 66)

Podemos varrer para o lado toda a moralidade social, a qual é mais ou menos necessária (…); mas, independentemente dessas coisas, virtude ou moralidade é, em geral, uma capa
de respeitabilidade. A mente que se ajusta, (…) que obedece,(…) que segue a autoridade, a convenção, não é, por certo, uma mente livre; é uma mente vulgar, estreita, limitada. (…)
A moralidade social se baseia essencialmente na autoridade e na imitação. (…) (O Passo Decisivo, pág. 51-52)

Parece-me que a bondade (…) nunca se verificará enquanto a mente for apenas “respeitável”, adaptada ao padrão social, a certo padrão ideológico ou religioso, quer imposto de
fora, quer interiormente cultivado. Resulta aí a questão: por que é que o homem segue? Por que segue não apenas o padrão social, mas também o padrão que estabeleceu para si
próprio, pela experiência, pela repetição de certas idéias, (…) normas de conduta? (…) (Idem, pág. 52)

Ora, é verdadeiramente possível ficarmos livres da influência (…) de tudo o que nos cerca? (…) A sociedade, com seu código de ética, (…) seus valores tradicionais, exige
insistentemente que o indivíduo se ajuste ao padrão estabelecido, e a esse ajustamento chama moralidade; e imoral é a pessoa que se desvia do padrão. Mas, por certo, precisamos
ficar totalmente livres do padrão, libertar-nos completamente da estrutura psicológica da sociedade - e isso significa que temos de ficar cônscios de toda essa estrutura em nós
mesmos, tanto na mente consciente como na inconsciente. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 129)

(…) E, sem amor, não sois um ente moral; podeis ser “respeitável”, isto é, um homem que se ajusta à sociedade: que não rouba, (…) não faz isto ou aquilo. Mas isso não é
moralidade, não é virtude, porém mero conformismo, que dá respeitabilidade. A respeitabilidade é a coisa mais terrível, mais repelente que há na Terra, porque serve para encobrir
muitas iniqüidades. Mas, quando há amor, há moralidade. Tudo o que fazeis é sempre moral, se houver amor. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 144-145)

Conduta Natural, Livre Espiritual; Igualdade


A experiência pode condicionar ainda mais o pensamento ou libertá-lo das limitações. Experimentamos de conformidade com o nosso condicionamento, mas esse condicionamento
pode ser rompido, o que pode dar (…) uma liberação integral. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 15)

A moralidade, que deveria ser espontânea, tem sido feita para seguir um padrão, um princípio que se torna certo ou errado segundo as crenças que o indivíduo mantém. Para
alterar esse padrão, alguns recorrem à violência, esperando criar um padrão “verdadeiro”; outros se voltam para (…) remodelá-lo. Ambos esperam criar a moralidade “reta”
através da força e da conformidade. Mas tal constrangimento não é mais moralidade. (Idem, pág. 15)

O mais que podemos perceber é o caráter, modificado, controlado e moldado pelo ambiente. Só poderemos descobrir se há algo mais, quando forem compreendidas e rompidas as
influências ambientes e os respectivos efeitos. A mente limitada, isto é, a mente condicionada pelo ambiente, é incapaz de descobrir a “qualidade adicional”. (…) (O que te fará
Feliz?, pág. 58)

Vemos muito bem o que está acontecendo pelo mundo. A “qualidade adicional” nunca pode ser controlada ou modificada, nem pode ser colhida na rede do tempo; mas o caráter
pode ser modificado. Nasceis em determinado país; nele existem certas influências, certos moldes de caráter, certos fatores que vos moldam a mente; e noutro país a moldagem se
processa de modo diferente. (…) (Idem, pág. 58-59)

Por certo, esse caráter não é a qualidade adicional; por conseguinte, para compreender a qualidade adicional, é preciso que desapareça o caráter, ou condicionamento. Mas isso
não significa que devais tornar-vos vagos ou inconsistentes; o mais que podemos fazer é tornar o caráter fluido, não estático, capaz de imediata adaptação. (…) (O que te fará
Feliz?, pág. 59)

Vemos, pois, que o caráter pode ser modificado, alterado, moldado, e isso se está processando, consciente ou inconscientemente, a todo momento. Mas, a qualidade adicional é o
que procurais. Não podeis “crer” nela (…) porquanto crer é um processo de pensamento. O pensamento não poderá nunca encontrar o que está além, aquilo que representa a
qualidade adicional. (…) (Idem, pág. 59)

(…) Pode esse homem que tem medo, que não é inteligente, ter caráter? - sendo caráter algo que é original e não simples repetir de prescrições tradicionais. “Caráter” é
respeitabilidade? (…) O pecador está mais próximo de Deus do que o homem respeitável, porque o homem respeitável está fechado pela hipocrisia. (Novos Roteiros em Educação,
pág. 152-153)
Quando estiverdes enamorados da Vida e puserdes esse amor acima de todas as coisas, e julgardes por esse amor, e não pelo vosso temor, desaparecerá então essa estagnação que
chamais moral. O que ocupará vosso pensamento será, então, o quanto estais enamorados da Vida, e não quanto mal e quanto temor existe no vosso coração. Ou, melhor, vós
julgareis pelo vosso amor, e não pelo vosso temor. Eu sei que vos proíbem de julgar. (…)

E, para julgar segundo a Verdade, é preciso que estejais apaixonados pela Vida; mas, então, nunca julgareis, em circunstância alguma. Porque não estais enamorados da vida, vós
julgais pelos vossos padrões de moralidade; pelo bem e pelo mal, pelo temor de céu e inferno. (…) (Que o Entendimento seja Lei, pág. 12)

Pergunta: Qual o verdadeiro valor da igualdade? É a igualdade um fato ou uma idéia?

Krishnamurti: Para o idealista, é uma idéia; para o homem que observa, um fato. Existe a desigualdade: vós sois (…) mais inteligente (…); tendes capacidades maiores; (…) pintais
(…); tendes riquezas (…). Há também a desigualdade de função. (…) (As Ilusões da Mente, pág. 47)

Existe não só a desigualdade psicológica, mas também a evidente desigualdade exterior. (…) Entretanto, se se compreender que (…) é necessário estar cada um completamente
livre de todo e qualquer conceito autoritário (…), terá então a desigualdade um significado de todo diferente. (Idem, pág. 48)

Se o indivíduo for capaz de apagar completamente a desigualdade psicológica, que em si mesmo criou mediante sua condição pessoal, sua capacidade, suas idéias, desejos,
ambições; se houver a completa eliminação dessa luta psicológica para ser alguma coisa, (…) haverá então a possibilidade de se conhecer o amor. Mas, enquanto estou lutando
(…) psicologicamente, estou usando a função como meio de me tornar alguém; enquanto houver um vir-a-ser do “eu”, sempre existirá desigualdade. (…) (As Ilusões da Mente, pág.
48)

Só quando, interiormente, sois “como o nada”, por serdes um ente livre, encontra-se a possibilidade de não se fazer uso da desigualdade para engrandecimento próprio, para
implantar a ordem e a paz. Mas “ser como nada” não é uma simples frase; temos de sê-lo completamente, interiormente. (…) (Idem, pág. 49)

(…) A igualdade de posses não é a saída pela qual nos livraremos das tribulações e da estupidez que, em escala tão vasta, nos circundam e envolvem. (…) O espírito de
exclusividade (…) não pode ser abolido mediante reforma exterior, (…) compulsão ou disciplinamento. É, todavia, esse espírito de exclusividade que gera desigualdade e dissenção.
A tendência aquisitiva não lança o homem contra o homem? Pode implantar-se a igualdade e a compaixão por qualquer meio concebido pela mente? Não é necessário procurá-las
em outra parte? Não cessa a exclusividade, apenas, quando reina o Amor (…) a Verdade? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 167-168)

Pergunta: Por que será que neste país parecemos sentir tão pouco respeito pelos outros?

Krishnamurti: (…) Na Índia, as mesmas pessoas que nos cumprimentam com profundas inclinações e nos oferendam grinaldas e flores, maltratam os vizinhos, os criados e os
animais. Isso é respeito? Aqui, como na Europa, há respeito ao homem possuidor de automóvel caro e palacete; há respeito para com os considerados superiores e desprezo aos
demais. (…) (Percepção Criadora, pág. 74)

Todos queremos sentir-nos iguais aos que estão mais alto. (…) Queremos ombrear com os famosos, os ricos, os poderosos. Quanto mais industrializada uma civilização, tanto mais
prevalece a idéia de que os pobres podem tornar-se ricos, (…) chegar a presidente, (…); e, acredito, se pudermos compreender o problema da igualdade, estaremos aptos a
compreender a natureza do respeito. (Idem, pág. 74)

Ora, existe igualdade? Embora todos os governos (…) salientem que todos somos iguais, somos de fato iguais? Tendes uma cabeça melhor, uma capacidade maior, sois mais
prendado (…); sabeis pintar e eu não sei. (…) Poderá haver igualdade de oportunidade: nós dois (…) comprarmos um carro; isso, porém, é igualdade? (Percepção Criadora, pág.
74-75)

O problema, por certo, não é de como promover a igualdade econômica, mas sim descobrir se a mente pode ficar livre dessa noção de superior e inferior, dessa tendência a venerar
o homem que tem muito e desprezar o que tem pouco. (…) Acatamos o patrão, o homem que pode proporcionar-nos (…) uma missão política; ou respeitamos o sacerdote, outra
espécie de patrão (…) espiritual. Estamos, pois, sempre respeitando e desprezando. (Idem, pág. 75)

Observai bem a vossa mente, e descobrireis não existir respeito enquanto prevalece o sentimento de superioridade e inferioridade. E o que quer que façam os governos com o fim de
igualar-nos, nunca haverá igualdade, pois todos nós temos capacidades diversas, diferentes aptidões; mas o que pode haver é um sentimento muito diferente, um sentimento de
amor, talvez, no qual não existe desprezo, nem julgamento, nem noção de superior e inferior. (Percepção Criadora, pág. 75)

O mais importante não é saber por que umas pessoas têm respeito e outras não, mas sim, o despertar aquele sentimento, (…) afeição, amor (…) em que cessa totalmente a noção de
“alto” e “baixo”. Mas, no momento em que a mente interfere (…), surge o conflito entre o que deveria ser e o que é; introduzimos então ideais e a imitação desses ideais, e nunca
descobrimos por nós mesmos aquele estado em que existe o desejo de ser mais, e não existe, por conseguinte, o desprezo. (Idem, pág. 76)

O problema da desigualdade é mais fundamental. Há desigualdade de capacidade, de pensamento, de ação - desigualdade entre o gênio e o néscio, (…) o homem livre e o que está
preso a uma rotina. Já se tem tentado quebrar essa desigualdade, com revoluções de toda espécie. (…) O problema é como transcender a noção da desigualdade, do inferior e do
superior. Isso é espiritualidade verdadeira. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 75-76)

A desigualdade só pode ser transcendida quando compreendemos a nossa atitude perante ela. Enquanto resistirmos ao feio e nos identificarmos com o belo, será inevitável toda
essa miséria. Mas se considerarmos a desigualdade com uma atitude isenta de condenação, de identificação ou de julgamento, então nossa reação é de todo diferente.
Experimentai-o e vereis como se opera uma extraordinária transformação em vossa vida. A compreensão do que é traz o contentamento (…) (Idem, pág. 77)

(…) Senhores, que se entende por “sociedade sem classes”? Enquanto posição e função andarem emparelhadas, isso não deixará de criar uma sociedade com distinções de classe.
(…) Por esse motivo, assim que se começa a criar uma sociedade sem classes, o comissário logo se torna importante, pois sua função lhe confere posição, o que significa certos
privilégios, distinções, autoridade. (Visão da Realidade, pág. 70-71)

Que se entende por igualdade? Sei que todos dizem ser necessário haver igualdade; mas pode, em algum tempo, haver igualdade? Existe igualdade de função? (…) Se o governador
despreza o cozinheiro, (…) como pode haver igualdade? Tendes (…) uma cabeça melhor do que eu, conheceis mais gente (…), pintais, escreveis poemas, sois artista, cientista (…)
Como pode haver igualdade? (Idem, pág. 71)

Por certo, está perdida a chama criadora quando a posição se torna importante, ou quando se impõe o padrão da igualdade, que não passa de teoria. (…) Senhor, acredito que a
igualdade nasce quando existe amor nos nossos corações, quando o coração está vazio das coisas da mente. Quando existe amor, não há o senso de grandes e pequenos. (…) Por
não amarmos, esquecemos de todo a significação da igualdade. (Visão da Realidade, pág. 72)

Mas o amor não é coisa que se possa fazer por encomenda, pelas medidas de Marx. (…) Nasce quando compreendemos as atividades da nossa mente. Com o autoconhecimento, vem
o amor, não o amor dos sentidos (…), mas o simples sentimento de amar, sentimento em que há bondade, respeito, e nunca há medo. (Idem, pág. 72)

(…) Na essência, nós somos iguais, mas, no mundo da forma, somos diferentes; e, de acordo com essas diferenças, varia a nossa compreensão da Verdade. Quanto maiores fordes,
(…) mais houverdes sofrido, (…) mais houverdes gozado, mais próximos estareis da unidade com essa Essência. Essa é a única Lei (…) que vos pode guiar para o Reino da
Felicidade. Só o reconhecimento de uma mesma Essência nas coisas, todas diferentes nas formas exteriores, e o viver à luz desse conhecimento, nos podem trazer felicidade
duradoura. (O Reino da Felicidade, pág. 65)

Temperamento, Movimento Exterior e Interior


Pergunta: Há diversos caminhos para a Realidade?
Krishnamurti: (…) Há em cada indivíduo uma tendência dominante, seja intelectual, seja emotiva ou sensitiva; tendência para o conhecimento, para a devoção ou para a ação.
Todos apresentam complexidades e atribulações próprias. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 150)

Se seguirdes uma, exclusivamente, rejeitando as outras, não descobrireis a plenitude, a realidade; mas, se vos tornardes cônscios das dificuldades inerentes a cada tendência,
passando, pois, a compreendê-las, alcançareis o todo. (Idem, pág. 150)

Ao perguntarmos se há vários caminhos para a realidade, não queremos aludir às dificuldades e empecilhos que cada tendência defronta, bem como ao desejo de transcendê-los
para descobrir o real? Para transcendê-los, necessitais de vos cientificar de cada tendência, e observá-la com vigilância passiva e desinteressada (…) (Autoconhecimento, Correto
Pensar, Felicidade, pág. 150)

Mediante contínua percepção meditativa, compreenderemos as nossas tendências com seus impedimentos e alegrias, enfeixando-as num todo. (Idem, pág. 150)

(…) Mas não é possível haver uma só vocação para todos nós; não atitudes divergentes, não interesses divergentes, mas um interesse genuíno, comum a todos nós, ou seja: “a
compreensão do que é verdadeiro, do que é real”? Esta é, por certo, a verdadeira vocação de todos nós - a qual não significa tornar-se engenheiro ou marinheiro, ou soldado ou
advogado.

A verdadeira vocação de cada um de nós é, indubitavelmente, a de encontrar a Realidade. Porque, nós somos entes humanos que sofremos e buscamos; e se pudermos ter aquela
verdadeira vocação, por meio de adequada educação (…) por meio da liberdade, etc., haveremos então de cooperar em liberdade, sem estarmos sujeitos a ser condicionados
eternamente pelo pensamento coletivo, e obrigados a agir em conjunto. Se, como entes humanos, pudermos achar aquela Realidade, será então possível a verdadeira ação criadora.
(Poder e Realização, pág. 90)

(…) Quando consideramos o que está ocorrendo no mundo, começamos a compreender que não há processo exterior nem processo interior, há só um processo unitário, um
movimento integral, total, sendo que o movimento interior se expressa exteriormente, e o movimento exterior, por sua vez, reage no interior. Ser capaz de olhar esse fato - eis o que
é necessário, só isso; porque, se sabemos olhar, tudo se torna claríssimo. O ato de olhar não requer nenhuma filosofia, nenhum instrutor. Ninguém precisa ensinar-vos como olhar.
Olhai, simplesmente. (Liberte-se do Passado, pág. 15)

Pergunta: Os homens nascem desiguais. (…) Por que dizeis então que vossa mensagem é para todos (…)?

Krishnamurti: Senhor, é bem óbvio que todos somos desiguais. (…) Mas há diferença quando amais alguém? (…) Para o homem que busca a realidade não há divisões. Buscar a
verdade é estar ativo, é ter sabedoria, é conhecer o amor. (A Arte da Libertação, pág. 34-35)

O que estou dizendo é para todos, sem levar em conta a posição de cada um na vida, sem levar em conta o seu temperamento. Todos nós sofremos (temos problemas, estamos
carregados de preocupações e em conflitos incessantes. (…) (Idem, pág. 35)

Nesta manhã (…) devemos compreender que o movimento exterior e o movimento interior da vida são essencialmente a mesma coisa. (…) É quando dividimos esse movimento da
vida em “exterior” e “interior”, “material” e “espiritual” que começam todos os conflitos e contradições. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 212)

Mas, se experimentarmos (…) esse movimento como um processo unitário, incluindo tanto o “interior” como o “exterior”, então não há conflito. O movimento interior já não é,
então, uma reação ao “exterior”, uma fuga ao mundo e, portanto, não precisamos retirar-nos para um mosteiro. (…) (Idem, pág. 212)

Quando compreendemos o significado do “exterior”, o movimento interior deixa de ser o oposto do exterior, não é uma reação e, portanto, pode penetrar muito mais
profundamente. Penso, pois, que esta é a primeira coisa que cumpre compreender: que não podemos separar o interior do exterior. Trata-se de um processo unitário. (…) Mas, para
podermos penetrar mais amplamente nesse processo unitário, precisamos compreender a natureza de humildade. (Idem, pág. 212)

Não há divisão entre o externo e o interno, entre o mundo que os seres humanos hão criado externamente, e o movimento que se dá internamente - é como uma maré, saindo e
entrando, é o mesmo movimento. Não existe uma divisão como o externo e o interno, é um só movimento contínuo. Para compreender esse movimento, temos de observar juntos
nossa consciência. (La Llama de la Atención, pág. 79)

O homem que se volta para fora diz que todos os problemas humanos podem ser resolvidos dominando o ambiente. Isto é, diz que o pensamento humano pode ser modificado,
alterado, controlado por meio de organizações, quer do trabalho, quer dos meios da produção e distribuição Ele tem o homem como se fosse barro, para ser moldado pelo ambiente
(…) (Palestras em New York City, 1935, pág. 13)

A seguir, tendes o homem voltado para o interior, o qual diz que a vida nada mais é que espírito. Deixai isso e (…) permiti que siga o que há de mais alto, como é ensinado pelos
instrutores, (…) sistemas filosóficos; deixai que ele se torne mais religioso (…), que tenha disciplina, que entre em organizações espirituais e obedeça às autoridades (…) (Idem,
pág. 14-15)

O homem que diz que o ambiente tem a primazia e o homem que diz que, em primeiro lugar, vem o espírito, pelos seus exageros e suas ênfases falsas destroem seus próprios fins.
Enquanto, para mim, a solução (…) reside no perfeito equilíbrio entre as duas coisas; para além e acima das duas está o equilíbrio, na sua modalidade simples e direta. (Idem, pág.
15-16)

Fazeis parte do ambiente, parte desse movimento exterior que flui para o interior. Não se trata de duas coisas separadas. Se não compreenderdes o exterior, não compreendereis o
interior, deveis partir do exterior para o interior - e não começar do interior. (…)(O Despertar da Sensibilidade, pág. 102)

Está-se vendo (…) Necessitamos de ordem social e (…) também de ordem interior. Mas, não se trata de ordens diferentes. Nós é que, infelizmente, dividimos a vida em “exterior” e
“interior”. E, ou desprezamos o “exterior” para concentrar-nos no “interior”, ou rejeitamos o “interior” para aceitar o mundo tal como é, e dele tirar o melhor proveito possível.
(Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 100)

Não percebemos que se trata de um movimento único, um movimento unitário - exterior e interior. Se não há ordem interior, não há ordem exterior. E, para se promover a ordem
exterior, cumpre compreender o mundo exterior, (…) (Idem, pág. 100)

Ora, se se percebe com toda a clareza a verdade contida em tudo isso, ocorre então um movimento que é tanto exterior como interior, não há divisão. É um movimento: movimento
que consiste em ver as coisas exteriores precisa, clara e objetivamente, tais como são; e esse mesmo movimento se verifica também interiormente, não como reação, porém como o
movimento das marés, que é o fluxo e refluxo das mesmas águas. (O Passo Decisivo, pág. 103)

O movimento para fora significa ter os olhos, os sentidos, todo o nosso ser, abertos, vivos. E o movimento para dentro é o fechar dos olhos (…); ninguém precisa ficar de olhos
fechados. O movimento para dentro é a visão interior. Depois de compreender o exterior, os olhos se voltam para dentro; mas não como reação. E a visão interior, a compreensão
interior significa quietude, tranqüilidade completas; porque nada mais há para buscar, para compreender. (Idem, pág. 103)

Não gosto de empregar a palavra “interior” (…) Esse estado interior é que é criação. Ele nada tem em comum com o poder humano de inventar, de produzir coisas, etc. É o estado
de criação. Esse estado de criação só se manifesta quando a mente compreendeu a destruição, a morte. E só quando a mente vive esse estado de energia, que é amor, só então há
criação. (Idem, pág. 103)

Examinemos (…) essa questão (…) O movimento exterior é também o movimento interior (não são dois movimentos separados); é como o movimento “para dentro” e “para fora”,
da maré. Compreender esse movimento não separado, não dividido - nisso consiste a beleza da meditação. Portanto, o que se requer para vivermos totalmente livres de luta e de
contradição é equilíbrio e harmonia, e a meditação é o caminho que leva a esse estado. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 98)

Assim, se desejais descobrir o que é verdadeiro, deveis quebrar todos os elos que vos prendem, para investigardes não só o exterior, vossas relações com coisas e pessoas, mas
também o interior, i.e., conhecer a vós mesmos - tanto superficialmente, na consciência desperta, como no inconsciente, nos ocultos recessos do intelecto e da mente. Requer isso
observação constante; e, se observardes dessa maneira, vereis que não existe uma separação real entre o exterior e o interior; porque o pensamento, como a maré, tanto flui para
fora como para dentro. (O Passo Decisivo, pág. 202-203)

Tudo constitui um só processo de autoconhecimento. Não podeis rejeitar o exterior, porquanto não sois uma entidade separada do mundo. O problema do mundo vos concerne, e
“exterior” e “interior” são as duas faces da mesma moeda. Os eremitas, os monges, e os chamados religiosos que renunciam ao mundo, estão apenas, com todas as suas disciplinas
e superstições, fugindo para suas próprias ilusões. (Idem, pág. 203)

Cada um de nós tem muitos problemas, tanto externos como internos, e os problemas interiores excedem os exteriores. Se compreendermos os problemas interiores, se os
penetrarmos profundamente, os problemas exteriores se tornarão então bastante simples e claros. Mas o problema exterior não difere do problema interior. (O Passo Decisivo, pág.
180)

Assim, podemos começar a “entrar em nós mesmos”, isto é, partindo do exterior, percebendo as coisas exteriores - as árvores, a pobreza, suas causas, toda a estrutura social e
econômica existente - e compreendendo-as. (A Suprema Realização, pág. 85)

Podeis, então, “entrar em vós mesmo”. Mas, antes de fazê-lo, deveis compreender esta coisa principal: que sejais rigorosamente honesto em relação a vós mesmo, de modo que não
se crie ilusão de espécie alguma. É tão fácil nos iludirmos! (…) (Idem, pág. 85)

Há uma incomparável beleza no viver. Essa beleza se mostra na natureza - ao observarmos uma árvore, ao estarmos em comunhão com ela. E, se não sabeis “olhar para fora”,
olhar por onde estais andando, observar o que estais dizendo, externamente, os gestos que fazeis, vossa maneira de mostrar respeito e desrespeito - se nada disso observais, como
podereis “olhar para dentro”? (A Suprema Realização, pág. 86)

Como se vê, esse desejo de alterar o que é constitui uma dissipação de energia. Já se olhardes o que é, o que há realmente - vossa cólera, vosso ciúme, vossa lascívia, vossa
violência - sem nenhuma interpretação, tereis então energia. (A Suprema Realização, pág. 87)

Também, para olhar, deve a mente estar em absoluto silêncio. Quando o cientista está a observar com o microscópio (…) acha-se num estado de silêncio, e não num estado de
conhecimento. O que vê, traduz então em conhecimento; por conseguinte, há ação. Mas é “de dentro do silêncio” que ele observa. (Idem, pág. 88)

Daí, podemos ir mais longe. Isto é, mediante a observação das coisas exteriores, alcançarmos o interior. “Interior” e “exterior” não são dois estados diferentes; são o mesmo
estado de observação “de dentro do silêncio”. (Idem, pág. 89)

ACESSO AO ETERNO; DISCIPLINA E VIA ESPONTÂNEA

Quando a mente busca, não pelo desejo de resultado, mas pela simples necessidade de buscar, porque percebeu a falsidade do que estava fazendo - então esse processo de
investigação é disciplina que nenhuma relação tem com auto-aperfeiçoamento. (…) A verdade é para ser achada, e não para se crer, e para achá-la a mente deve ser livre. (…) (O
Homem Livre, pág. 147)

A virtude, pois, é essencial para se compreender a Realidade, e virtude não é respeitabilidade. Ser virtuoso, sem procurar tomar-se virtuoso, exige extraordinária investigação,
lúcido pensar. Descobrireis, então, que existe uma disciplina não relacionada com a disciplina da moralidade social; uma disciplina que é essencial, porquanto torna a mente capaz
de seguir com incomum velocidade o célere movimento da Verdade. (…) (Idem, pág. 147)

Se desejais compreender o que é a Realidade, vossa mente deve ser capaz de extraordinária lucidez, silêncio, velocidade; e não é lúcida, não é silenciosa, não é veloz a mente
quando agrilhoada a qualquer forma de disciplina. (…) Ao compreenderdes isso, vereis que existe uma disciplina, uma austeridade não resultante de atividade egocêntrica; e essa
disciplina é que é essencial, para que a mente possa seguir o rápido movimento da Verdade. (Idem, pág. 147)

Ora, a mente que busca a Realidade encontra, nessa própria busca, um “processo” de disciplina em que não há experimentar por parte do “experimentador”. Para que o
“experimentador” não tenha experiências, requer-se extraordinária lucidez, espantosa firmeza de pensamento, de compreensão; e dessa compreensão da totalidade da mente, que é
autoconhecimento, provém uma disciplina, uma conduta, um comportamento produtivo daquela austeridade tão essencial ao “abandono” (de si mesmo). Com esse “abandono” (…)
encontra-se a Beleza. Só a mente que de todo se abandona é realmente austera, e ela é que pode compreender a Verdade, a Realidade. (O Homem Livre, pág.148)

Pergunta: Não é necessária a prática de uma disciplina regular?

Krishnamurti: Um dançarino ou um violinista pratica muitas horas por dia a fim de manter os dedos macios e os músculos flexíveis. Ora, é possível mantermos a mente maleável,
reflexiva, compassiva, com o praticar determinado sistema de disciplina? Ou só podeis conservá-la aberta, aguda, com a percepção constante do pensamento-sentimento? (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 170)

Ao passo que, se nos tornarmos conscientes e compreendermos que pensamos em termos de sistemas, fórmulas e padrões, então o pensamento-sentimento, libertando-se deles,
tornar-se-á pouco a pouco flexível, alerta e agudo. Se considerarmos plenamente (…) seremos capazes de compreender e sentir ampla e profundamente. (…) (Autoconhecimento,
Correto Pensar, Felicidade, pág. 170-171)

Essa larga e profunda percepção traz a própria disciplina, disciplina não imposta, exterior ou interiormente (…) resultante do conhecimento de nós mesmos, (…) do correto pensar,
da compreensão. Tal disciplina é criadora, não forma hábito nem estimula a indolência. (Idem, pág. 171)

Pergunta: Todas as religiões têm encarecido a necessidade de alguma espécie de disciplina. (…) Mas pareceis dar a entender que tais disciplinas constituem um obstáculo. (…)

(…) O que em geral acontece é que escolheis o que é mais conveniente, (…) satisfatório; simpatizais com o homem, sua aparência, suas idiossincrasias. (…) Mas, deixemos de lado
tudo isso. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 79-80)

Que implica a disciplina? Por que nos disciplinamos (…)? A disciplina e a inteligência são compatíveis uma com a outra? (…) A maioria das pessoas acha que precisamos,
mediante dada espécie de disciplina, subjugar ou controlar o bruto, o ignóbil que está em nós. Mas esse bruto, essa coisa ignóbil, é suscetível de controle mediante disciplina?
(Solução para os nossos Conflitos, pág. 81)

Que entendemos por disciplina? (…) Um padrão de conduta que, se praticado com diligência, aplicação e muito ardor, me dará, no fim, aquilo que desejo. Poderá ser penoso, mas
estou decidido a segui-lo. Isto é, o “eu”, essa entidade agressiva, interesseira, hipócrita, cheia de ansiedades e temores; esse “eu”, que é a causa do bruto que em nós existe, nós o
desejamos transformar, subjugar, destruir. (Idem, pág. 81)

E como se consegue isso? Conseguir-se-á pela disciplina, ou pela compreensão inteligente do passado do “eu”, da identidade do “eu”? (…) Isto é, devemos destruir o bruto (…)
pela compulsão, ou pela inteligência? E a inteligência se consegue pela disciplina? (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 81-82)

Outrossim (…) O temor está no fundo de nosso desejo de ser disciplinados, mas o desconhecido não pode ser colhido na rede da disciplina. Pelo contrário, o desconhecido necessita
de liberdade e não do padrão da vossa mente. Essa a razão por que é essencial a tranqüilidade da mente. Quando a mente está cônscia de estar tranqüila, já não está tranqüila; (…)
(Solução para os nossos Conflitos, pág. 88)

(…) Pode o que é real ser percebido através da disciplina ou da vontade? Isto é, pela compulsão, pelo esforço do intelecto, curvando, controlando, disciplinando, guiando, forçando
o pensamento em uma direção particular, podeis conhecer-vos? E podeis conhecer-vos por meio de padrões de conduta, torcendo o vosso pensamento e o vosso sentimento aos seus
ditames (…)? (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 77)

Há, então, o outro estado, que é espontâneo. Podeis conhecer-vos somente quando estiverdes despreocupados, quando não estiverdes calculando, nem protegendo, nem
constantemente observando para guiar, para transformar, para subjugar, para controlar; quando vos virdes inesperadamente, isto é, quando a mente não tiver preconcepções com
relação a si mesma, quando estiver aberta, não preparada para defrontar o desconhecido. (Idem, pág. 78)

Assim, a espontaneidade só pode surgir quando o intelecto não se está defendendo, (…) protegendo, quando já não teme por si; e isso só pode suceder partindo do interior. Isto é, o
espontâneo deve ser o novo, o desconhecido, o incalculável, o criativo. (…) Observai os vossos próprios estados emocionais e vereis que os momentos de grande alegria, de grande
êxtase, não são premeditados; eles acontecem, misteriosa, obscura, desconhecidamente. (…) (Idem, pág. 79)

A humildade, pois, não é uma coisa que se deve alcançar com esforço. Alcançá-la-eis naturalmente, facilmente, “graciosamente”, uma vez percebido como um processo total esse
movimento do exterior e do interior. Então começareis a aprender. Aprender é o estado da mente que jamais acumula experiência como memória. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 213)

E vereis que da humildade provém a disciplina. Em maioria, não somos disciplinados. Submetemo-nos, ajustamo-nos, reprimimos, sublimamos. (…) Submissão não é disciplina e,
sim, meramente, um produto do medo; por conseguinte, torna a mente estreita, estúpida, embotada. (Idem, pág. 213)

Refiro-me a uma disciplina que se torna existente espontaneamente, quando há esse extraordinário senso de humildade, e a mente, por conseguinte, se acha num “estado de
aprender”. Não é então necessário impor à mente nenhuma disciplina, porquanto o “estado de aprender” é, em si mesmo, disciplina. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed.,
pág. 213)

Espero estar explicando isso bem claramente. Refiro-me a uma disciplina completamente diferente, uma disciplina que nasce espontaneamente, quando se compreende esse
extraordinário processo da vida, não em fragmentos, mas como um todo indiviso. Quando compreendeis a vós mesmo, não “especializado” como músico, artista, orador, iogue,
etc., mas como ser humano total, então há um “estado de aprender”, e esse mesmo “estado de aprender” é disciplina na qual não há ajustamento, imitação. A mente não está sendo
moldada de acordo com nenhum padrão e, portanto, é livre, e nessa liberdade há um espontâneo senso de disciplina. (Idem, pág. 213-214)

(…) Podemos viver mil vidas, praticando a autodisciplina, sacrificando, subjugando, meditando, mas por esse meio nunca seremos levados ao direto percebimento, o qual só é
realizável em plena liberdade, e não por meio de controle, de subjugação, de disciplinas; e só pode aparecer a liberdade quando a mente se torna cônscia, de pronto, de seu
condicionamento, pois então se verifica a cessação desse condicionamento. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 10)

Quase todos nós desejamos encontrar uma pessoa autorizada que nos ensine o que devemos fazer. (…) Ora, pode-se chegar a Deus - essa entidade suprema, inefável, indefinível -
(…) pela disciplina, pela observância de um padrão de ação? Queremos alcançar determinado alvo pela disciplina, reprimindo, sublimando ou substituindo (…) (A Primeira e
Última Liberdade, 1ª ed., pág. 155-156)

Que implica a disciplina? Por que nos disciplinamos (…)? Podem coexistir a disciplina e a inteligência? A maioria das pessoas crê que podemos, por meio de certa disciplina,
subjugar ou controlar o bruto que em nós reside. Esse bruto, (…) monstro, pode ser controlado pela disciplina? O “eu”, entidade agressiva, egoísta, hipócrita, inquieta, medrosa
(…), esse “eu”, que gerou o bruto em nós, queremos transformá-lo, subjugá-lo, destruí-lo. (Idem, pág. 156)

Como consegui-lo? Pode-se conseguir isso por meio de disciplina, ou só pela compreensão inteligente do passado do “eu”, da natureza do “eu”, sua origem, etc.? Será destruído o
bruto que existe no homem pela compulsão, ou só pela inteligência? Inteligência é questão de disciplina? (…) (Idem, pág. 156)

Antes de tudo, deve a mente estar tranqüila, (…) não perturbada, para que possa compreender qualquer coisa, principalmente aquilo que não conheço, (…) que minha mente é
incapaz de descobrir, ou seja (…) Deus. (…) Pode essa tranqüilidade profunda ser atingida por meio de qualquer forma de compulsão? (…) A resistência, pois, não é o caminho. (A
Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 157)

O primeiro requisito, não como disciplina, é evidentemente a liberdade; só a virtude pode dar essa liberdade. Avidez é confusão; cólera é confusão; malevolência é confusão. Ao
perceberdes isso, estais livre dessas coisas; não mais lhes resistis, porque vem a compreensão de que só em liberdade podeis descobrir, e que toda forma de compulsão não é
liberdade, não permite descobrimento. (Idem, pág. 158)

A palavra “disciplina” significa aprender de um homem que sabe; supõe-se que vós não sabeis e tendes de aprender dele. É isso o que implica a palavra “disciplina”. Mas, aqui,
não a vamos empregar com o sentido de aprender de outrem, mas, sim, com o significado de observar a si próprio. A observação de si próprio exige uma disciplina em que não haja
repressão, imitação, obediência ou, sequer, ajustamento; (…) O próprio ato de aprender é, em si, disciplina, já que requer muita atenção, grande energia e “intensidade” e
instantaneidade de ação. (Fora da Violência, pág. 21)

As atitudes cultivadas da moça, e aquelas disciplinadas do asceta chamado religioso, são, igualmente, resultados deformados de uma mente vulgar, pois ambos repelem a natural
espontaneidade. Temem-na, um e outro, porque a espontaneidade os revela, a si próprios e a outros, tais como são; ambos estão diligenciando destruí-la, e a medida do seu sucesso
é o completo ajustamento ao padrão. (…) A espontaneidade é a única chave que abre a porta do que é. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 132)

A reação espontânea revela a mente tal como é; mas o que se revela é imediatamente adornado ou destruído, e, com isso, se põe fim à espontaneidade. A destruição da
espontaneidade é própria da mente vulgar. Só na espontaneidade, na liberdade, pode haver descobrimento. A mente disciplinada não pode descobrir; poderá funcionar com muita
eficiência (…); não pode, porém, desvelar o insondável. É o medo que cria a resistência, chamada disciplina; mas o espontâneo descobrimento do temor é libertação do temor.
Ajustar-se a um padrão é medo, e este só pode gerar conflito, confusão e antagonismo. (Idem, pág. 132)

Sem espontaneidade não pode haver autoconhecimento; e sem autoconhecimento a mente é moldada por influências passageiras. (…) O que se junta peça por peça pode ser
desfeito, e o que não foi ajuntado só pode ser descoberto pelo autoconhecimento. O “eu” é uma coisa que foi ajuntada, e, só quando se desmancha o “eu”, pode aquilo que não é
resultado de influência, que não tem causa ser conhecido. (Idem, pág. 132-133)

“Parece uma coisa interminável, essa constante análise, introspecção, vigilância. Tudo já tentei: gurus de caras raspadas, gurus barbados, sistemas de meditação - o “repertório”
que bem conheceis. No fim de tudo, a gente fica de boca seca e oco por dentro.”

Por que não começar pelo outro lado, o lado que desconheceis - a outra margem que não podeis enxergar desta margem? Começai com o desconhecido, em lugar do conhecido,
pois o constante exame e análise só têm o efeito de condicionar mais ainda o conhecido. Se vossa mente viver com suas raízes no outro lado, todos os vossos problemas deixarão de
existir. (A Outra Margem do Caminho, pág. 124)

“Mas, como posso começar do outro lado? Eu o desconheço, não posso vê-lo.”

Essa pergunta - como posso começar do outro lado? - tem sua base neste lado. Portanto, não a façais, e parti do outro lado, que desconheceis completamente, de uma outra
dimensão que pensamento, malgrado sua sagacidade, é incapaz de apreender. (A Outra Margem do Caminho, pág. 124)

“Não vejo como posso começar daquele lado. Em verdade, não compreendo essa vaga asserção. Eu só posso me dirigir a um lugar que conheça.”

Mas, que é que conheceis? Só conheceis uma coisa já terminada, acabada. Só conheceis o ontem, e nós estamos dizendo: parti daquilo que desconheceis, vivei com vossas bases lá.
(…) Mas, se viveres com o desconhecido, estareis vivendo em liberdade, agindo com base na liberdade, e isso, afinal, significa amor. Se disserdes: Eu sei o que é o amor” - nesse
caso não sabeis o que é ele. (…) Já que não é isso, vivei então com aquilo que desconheceis. (A Outra Margem do Caminho, pág. 125)

“Não sei o que é isso de que estais falando. (…)”

Estou fazendo uma pergunta muito simples. Estou dizendo que, quanto mais se cava, mais há para cavar. Esse mesmo ato de cavar é condicionamento, e cada porção que se retira
com a pá forma um degrau - degraus que não levam a parte alguma. Quereis que outros façam para vós os degraus, ou quereis vós mesmo fazer os degraus que vos levarão a uma
dimensão de todo diferente? (…) Portanto, abandonai tudo e parti do outro lado. Mantende silêncio, e o descobrireis. (A Outra Margem do Caminho, pág. 125)

Desejo explicar hoje que há um modo de viver naturalmente, espontaneamente, sem a constante fricção da autodisciplina, do ajustamento. Quando viveis completamente na
harmonia de vossa mente e coração, então o vosso agir é natural, espontâneo, sem esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 130)

(…) Ninguém pode, de modo algum, forçar a espontaneidade. Nenhum método vos dará a espontaneidade. (…) Nenhuma disciplina produz a alegria espontânea do desconhecido.
Quanto mais vos esforçardes para ser espontâneo, tanto mais a espontaneidade se afasta e se torna oculta e obscura. (…) Tendes de vos aproximar dela negativamente, não com a
intenção de capturar o desconhecido, o real. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 81)

Se não tiverdes simpatia nem afeição, jamais podereis alcançar ou identificar-vos com a meta. A mente que está contente e satisfeita nunca adquirirá simpatia, nem tampouco dará
entendimento a outrem. Tenho observado pessoas que desejam muito ajudar a outrem, mas não sabem como fazê-lo. São incapazes de se colocar no lugar de outrem, e assim
perceber seu ponto de vista. (Vida em Liberdade, em “Carta de Notícias” da ICK nº 1 a 6, de 1945, II, pág. 15)

Assuntos Específicos III


Acesso ao Eterno; Disciplina e Via Espontânea
Quando a mente busca, não pelo desejo de resultado, mas pela simples necessidade de buscar, porque percebeu a falsidade do que estava fazendo - então esse processo de
investigação é disciplina que nenhuma relação tem com auto-aperfeiçoamento. (…) A verdade é para ser achada, e não para se crer, e para achá-la a mente deve ser livre. (…) (O
Homem Livre, pág. 147)

A virtude, pois, é essencial para se compreender a Realidade, e virtude não é respeitabilidade. Ser virtuoso, sem procurar tomar-se virtuoso, exige extraordinária investigação,
lúcido pensar. Descobrireis, então, que existe uma disciplina não relacionada com a disciplina da moralidade social; uma disciplina que é essencial, porquanto torna a mente capaz
de seguir com incomum velocidade o célere movimento da Verdade. (…) (Idem, pág. 147)

Se desejais compreender o que é a Realidade, vossa mente deve ser capaz de extraordinária lucidez, silêncio, velocidade; e não é lúcida, não é silenciosa, não é veloz a mente
quando agrilhoada a qualquer forma de disciplina. (…) Ao compreenderdes isso, vereis que existe uma disciplina, uma austeridade não resultante de atividade egocêntrica; e essa
disciplina é que é essencial, para que a mente possa seguir o rápido movimento da Verdade. (Idem, pág. 147)

Ora, a mente que busca a Realidade encontra, nessa própria busca, um “processo” de disciplina em que não há experimentar por parte do “experimentador”. Para que o
“experimentador” não tenha experiências, requer-se extraordinária lucidez, espantosa firmeza de pensamento, de compreensão; e dessa compreensão da totalidade da mente, que é
autoconhecimento, provém uma disciplina, uma conduta, um comportamento produtivo daquela austeridade tão essencial ao “abandono” (de si mesmo). Com esse “abandono” (…)
encontra-se a Beleza. Só a mente que de todo se abandona é realmente austera, e ela é que pode compreender a Verdade, a Realidade. (O Homem Livre, pág.148)

Pergunta: Não é necessária a prática de uma disciplina regular?

Krishnamurti: Um dançarino ou um violinista pratica muitas horas por dia a fim de manter os dedos macios e os músculos flexíveis. Ora, é possível mantermos a mente maleável,
reflexiva, compassiva, com o praticar determinado sistema de disciplina? Ou só podeis conservá-la aberta, aguda, com a percepção constante do pensamento-sentimento? (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 170)

Ao passo que, se nos tornarmos conscientes e compreendermos que pensamos em termos de sistemas, fórmulas e padrões, então o pensamento-sentimento, libertando-se deles,
tornar-se-á pouco a pouco flexível, alerta e agudo. Se considerarmos plenamente (…) seremos capazes de compreender e sentir ampla e profundamente. (…) (Autoconhecimento,
Correto Pensar, Felicidade, pág. 170-171)

Essa larga e profunda percepção traz a própria disciplina, disciplina não imposta, exterior ou interiormente (…) resultante do conhecimento de nós mesmos, (…) do correto pensar,
da compreensão. Tal disciplina é criadora, não forma hábito nem estimula a indolência. (Idem, pág. 171)

Pergunta: Todas as religiões têm encarecido a necessidade de alguma espécie de disciplina. (…) Mas pareceis dar a entender que tais disciplinas constituem um obstáculo. (…)

(…) O que em geral acontece é que escolheis o que é mais conveniente, (…) satisfatório; simpatizais com o homem, sua aparência, suas idiossincrasias. (…) Mas, deixemos de lado
tudo isso. (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 79-80)

Que implica a disciplina? Por que nos disciplinamos (…)? A disciplina e a inteligência são compatíveis uma com a outra? (…) A maioria das pessoas acha que precisamos,
mediante dada espécie de disciplina, subjugar ou controlar o bruto, o ignóbil que está em nós. Mas esse bruto, essa coisa ignóbil, é suscetível de controle mediante disciplina?
(Solução para os nossos Conflitos, pág. 81)

Que entendemos por disciplina? (…) Um padrão de conduta que, se praticado com diligência, aplicação e muito ardor, me dará, no fim, aquilo que desejo. Poderá ser penoso, mas
estou decidido a segui-lo. Isto é, o “eu”, essa entidade agressiva, interesseira, hipócrita, cheia de ansiedades e temores; esse “eu”, que é a causa do bruto que em nós existe, nós o
desejamos transformar, subjugar, destruir. (Idem, pág. 81)

E como se consegue isso? Conseguir-se-á pela disciplina, ou pela compreensão inteligente do passado do “eu”, da identidade do “eu”? (…) Isto é, devemos destruir o bruto (…)
pela compulsão, ou pela inteligência? E a inteligência se consegue pela disciplina? (…) (Solução para os nossos Conflitos, pág. 81-82)

Outrossim (…) O temor está no fundo de nosso desejo de ser disciplinados, mas o desconhecido não pode ser colhido na rede da disciplina. Pelo contrário, o desconhecido necessita
de liberdade e não do padrão da vossa mente. Essa a razão por que é essencial a tranqüilidade da mente. Quando a mente está cônscia de estar tranqüila, já não está tranqüila; (…)
(Solução para os nossos Conflitos, pág. 88)

(…) Pode o que é real ser percebido através da disciplina ou da vontade? Isto é, pela compulsão, pelo esforço do intelecto, curvando, controlando, disciplinando, guiando, forçando
o pensamento em uma direção particular, podeis conhecer-vos? E podeis conhecer-vos por meio de padrões de conduta, torcendo o vosso pensamento e o vosso sentimento aos seus
ditames (…)? (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 77)

Há, então, o outro estado, que é espontâneo. Podeis conhecer-vos somente quando estiverdes despreocupados, quando não estiverdes calculando, nem protegendo, nem
constantemente observando para guiar, para transformar, para subjugar, para controlar; quando vos virdes inesperadamente, isto é, quando a mente não tiver preconcepções com
relação a si mesma, quando estiver aberta, não preparada para defrontar o desconhecido. (Idem, pág. 78)

Assim, a espontaneidade só pode surgir quando o intelecto não se está defendendo, (…) protegendo, quando já não teme por si; e isso só pode suceder partindo do interior. Isto é, o
espontâneo deve ser o novo, o desconhecido, o incalculável, o criativo. (…) Observai os vossos próprios estados emocionais e vereis que os momentos de grande alegria, de grande
êxtase, não são premeditados; eles acontecem, misteriosa, obscura, desconhecidamente. (…) (Idem, pág. 79)

A humildade, pois, não é uma coisa que se deve alcançar com esforço. Alcançá-la-eis naturalmente, facilmente, “graciosamente”, uma vez percebido como um processo total esse
movimento do exterior e do interior. Então começareis a aprender. Aprender é o estado da mente que jamais acumula experiência como memória. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 213)

E vereis que da humildade provém a disciplina. Em maioria, não somos disciplinados. Submetemo-nos, ajustamo-nos, reprimimos, sublimamos. (…) Submissão não é disciplina e,
sim, meramente, um produto do medo; por conseguinte, torna a mente estreita, estúpida, embotada. (Idem, pág. 213)

Refiro-me a uma disciplina que se torna existente espontaneamente, quando há esse extraordinário senso de humildade, e a mente, por conseguinte, se acha num “estado de
aprender”. Não é então necessário impor à mente nenhuma disciplina, porquanto o “estado de aprender” é, em si mesmo, disciplina. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed.,
pág. 213)

Espero estar explicando isso bem claramente. Refiro-me a uma disciplina completamente diferente, uma disciplina que nasce espontaneamente, quando se compreende esse
extraordinário processo da vida, não em fragmentos, mas como um todo indiviso. Quando compreendeis a vós mesmo, não “especializado” como músico, artista, orador, iogue,
etc., mas como ser humano total, então há um “estado de aprender”, e esse mesmo “estado de aprender” é disciplina na qual não há ajustamento, imitação. A mente não está sendo
moldada de acordo com nenhum padrão e, portanto, é livre, e nessa liberdade há um espontâneo senso de disciplina. (Idem, pág. 213-214)

(…) Podemos viver mil vidas, praticando a autodisciplina, sacrificando, subjugando, meditando, mas por esse meio nunca seremos levados ao direto percebimento, o qual só é
realizável em plena liberdade, e não por meio de controle, de subjugação, de disciplinas; e só pode aparecer a liberdade quando a mente se torna cônscia, de pronto, de seu
condicionamento, pois então se verifica a cessação desse condicionamento. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 10)

Quase todos nós desejamos encontrar uma pessoa autorizada que nos ensine o que devemos fazer. (…) Ora, pode-se chegar a Deus - essa entidade suprema, inefável, indefinível -
(…) pela disciplina, pela observância de um padrão de ação? Queremos alcançar determinado alvo pela disciplina, reprimindo, sublimando ou substituindo (…) (A Primeira e
Última Liberdade, 1ª ed., pág. 155-156)

Que implica a disciplina? Por que nos disciplinamos (…)? Podem coexistir a disciplina e a inteligência? A maioria das pessoas crê que podemos, por meio de certa disciplina,
subjugar ou controlar o bruto que em nós reside. Esse bruto, (…) monstro, pode ser controlado pela disciplina? O “eu”, entidade agressiva, egoísta, hipócrita, inquieta, medrosa
(…), esse “eu”, que gerou o bruto em nós, queremos transformá-lo, subjugá-lo, destruí-lo. (Idem, pág. 156)

Como consegui-lo? Pode-se conseguir isso por meio de disciplina, ou só pela compreensão inteligente do passado do “eu”, da natureza do “eu”, sua origem, etc.? Será destruído o
bruto que existe no homem pela compulsão, ou só pela inteligência? Inteligência é questão de disciplina? (…) (Idem, pág. 156)

Antes de tudo, deve a mente estar tranqüila, (…) não perturbada, para que possa compreender qualquer coisa, principalmente aquilo que não conheço, (…) que minha mente é
incapaz de descobrir, ou seja (…) Deus. (…) Pode essa tranqüilidade profunda ser atingida por meio de qualquer forma de compulsão? (…) A resistência, pois, não é o caminho. (A
Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 157)

O primeiro requisito, não como disciplina, é evidentemente a liberdade; só a virtude pode dar essa liberdade. Avidez é confusão; cólera é confusão; malevolência é confusão. Ao
perceberdes isso, estais livre dessas coisas; não mais lhes resistis, porque vem a compreensão de que só em liberdade podeis descobrir, e que toda forma de compulsão não é
liberdade, não permite descobrimento. (Idem, pág. 158)

A palavra “disciplina” significa aprender de um homem que sabe; supõe-se que vós não sabeis e tendes de aprender dele. É isso o que implica a palavra “disciplina”. Mas, aqui,
não a vamos empregar com o sentido de aprender de outrem, mas, sim, com o significado de observar a si próprio. A observação de si próprio exige uma disciplina em que não haja
repressão, imitação, obediência ou, sequer, ajustamento; (…) O próprio ato de aprender é, em si, disciplina, já que requer muita atenção, grande energia e “intensidade” e
instantaneidade de ação. (Fora da Violência, pág. 21)

As atitudes cultivadas da moça, e aquelas disciplinadas do asceta chamado religioso, são, igualmente, resultados deformados de uma mente vulgar, pois ambos repelem a natural
espontaneidade. Temem-na, um e outro, porque a espontaneidade os revela, a si próprios e a outros, tais como são; ambos estão diligenciando destruí-la, e a medida do seu sucesso
é o completo ajustamento ao padrão. (…) A espontaneidade é a única chave que abre a porta do que é. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 132)

A reação espontânea revela a mente tal como é; mas o que se revela é imediatamente adornado ou destruído, e, com isso, se põe fim à espontaneidade. A destruição da
espontaneidade é própria da mente vulgar. Só na espontaneidade, na liberdade, pode haver descobrimento. A mente disciplinada não pode descobrir; poderá funcionar com muita
eficiência (…); não pode, porém, desvelar o insondável. É o medo que cria a resistência, chamada disciplina; mas o espontâneo descobrimento do temor é libertação do temor.
Ajustar-se a um padrão é medo, e este só pode gerar conflito, confusão e antagonismo. (Idem, pág. 132)

Sem espontaneidade não pode haver autoconhecimento; e sem autoconhecimento a mente é moldada por influências passageiras. (…) O que se junta peça por peça pode ser
desfeito, e o que não foi ajuntado só pode ser descoberto pelo autoconhecimento. O “eu” é uma coisa que foi ajuntada, e, só quando se desmancha o “eu”, pode aquilo que não é
resultado de influência, que não tem causa ser conhecido. (Idem, pág. 132-133)

“Parece uma coisa interminável, essa constante análise, introspecção, vigilância. Tudo já tentei: gurus de caras raspadas, gurus barbados, sistemas de meditação - o “repertório”
que bem conheceis. No fim de tudo, a gente fica de boca seca e oco por dentro.”

Por que não começar pelo outro lado, o lado que desconheceis - a outra margem que não podeis enxergar desta margem? Começai com o desconhecido, em lugar do conhecido,
pois o constante exame e análise só têm o efeito de condicionar mais ainda o conhecido. Se vossa mente viver com suas raízes no outro lado, todos os vossos problemas deixarão de
existir. (A Outra Margem do Caminho, pág. 124)

“Mas, como posso começar do outro lado? Eu o desconheço, não posso vê-lo.”

Essa pergunta - como posso começar do outro lado? - tem sua base neste lado. Portanto, não a façais, e parti do outro lado, que desconheceis completamente, de uma outra
dimensão que pensamento, malgrado sua sagacidade, é incapaz de apreender. (A Outra Margem do Caminho, pág. 124)

“Não vejo como posso começar daquele lado. Em verdade, não compreendo essa vaga asserção. Eu só posso me dirigir a um lugar que conheça.”

Mas, que é que conheceis? Só conheceis uma coisa já terminada, acabada. Só conheceis o ontem, e nós estamos dizendo: parti daquilo que desconheceis, vivei com vossas bases lá.
(…) Mas, se viveres com o desconhecido, estareis vivendo em liberdade, agindo com base na liberdade, e isso, afinal, significa amor. Se disserdes: Eu sei o que é o amor” - nesse
caso não sabeis o que é ele. (…) Já que não é isso, vivei então com aquilo que desconheceis. (A Outra Margem do Caminho, pág. 125)

“Não sei o que é isso de que estais falando. (…)”

Estou fazendo uma pergunta muito simples. Estou dizendo que, quanto mais se cava, mais há para cavar. Esse mesmo ato de cavar é condicionamento, e cada porção que se retira
com a pá forma um degrau - degraus que não levam a parte alguma. Quereis que outros façam para vós os degraus, ou quereis vós mesmo fazer os degraus que vos levarão a uma
dimensão de todo diferente? (…) Portanto, abandonai tudo e parti do outro lado. Mantende silêncio, e o descobrireis. (A Outra Margem do Caminho, pág. 125)

Desejo explicar hoje que há um modo de viver naturalmente, espontaneamente, sem a constante fricção da autodisciplina, do ajustamento. Quando viveis completamente na
harmonia de vossa mente e coração, então o vosso agir é natural, espontâneo, sem esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 130)

(…) Ninguém pode, de modo algum, forçar a espontaneidade. Nenhum método vos dará a espontaneidade. (…) Nenhuma disciplina produz a alegria espontânea do desconhecido.
Quanto mais vos esforçardes para ser espontâneo, tanto mais a espontaneidade se afasta e se torna oculta e obscura. (…) Tendes de vos aproximar dela negativamente, não com a
intenção de capturar o desconhecido, o real. (Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 81)

Se não tiverdes simpatia nem afeição, jamais podereis alcançar ou identificar-vos com a meta. A mente que está contente e satisfeita nunca adquirirá simpatia, nem tampouco dará
entendimento a outrem. Tenho observado pessoas que desejam muito ajudar a outrem, mas não sabem como fazê-lo. São incapazes de se colocar no lugar de outrem, e assim
perceber seu ponto de vista. (Vida em Liberdade, em “Carta de Notícias” da ICK nº 1 a 6, de 1945, II, pág. 15)

Ioga, Ascetismo; Mantras; Sacrifício, Serviço


Todos vós, provavelmente, sabeis algo a respeito da ioga. Sobre ela se tem escrito livros e mais livros, e qualquer um que passe alguns meses na Índia toma lições de ioga e se torna
iogue. A palavra “ioga” tem vários significados: ela designa uma maneira de vida e não apenas a prática de certo exercícios para manter jovem o corpo. Implica uma maneira de
vida em que não há divisão e, por conseguinte, não há conflito - e essa é a maneira de ver deste orador acerca da ioga. (Fora da Violência, pág. 47)

Naturalmente, exercícios adequados, praticados com regularidade, são benéficos e conservam o corpo flexível. Eu próprio os pratiquei durante anos, não com o fim de atingir certo
estado maravilhoso por meio do ritmo da respiração, etc., porém a fim de manter flexível o corpo. É necessário o exercício adequado, a adequada alimentação, que não consiste em
nos fartarmos de carne - e, em conseqüência, nos tornarmos brutais e insensíveis. Cada um deve descobrir o regime que lhe convém, e experimentá-lo, pô-lo à prova. (Idem, pág.
47)

Outro artifício que vos foi inculcado é isso que se chama “mantra ioga”. Por quinze ou trinta dólares ensina-se alguma coisa de mantra - uma repetição de palavras,
principalmente em sânscrito. Os católicos têm o rosário e repetem ave-marias e outras coisas mais. Sabeis o que sucede quando se repete constantemente uma série de palavras? A
pessoa hipnotiza a si própria para se pôr num estado de tranqüilidade. (Fora da Violência, pág. 47-48)

Ou é “levada” pelo som da palavra. Quando se fica repetindo certa palavra, ela produz um som interiormente. Esse som interior - se lhe prestais atenção - continua a vibrar,
torna-se sobremodo vivo, e pensais ser isso uma coisa maravilhosa. Mas não é tal, pois se trata apenas de uma forma de auto-sugestão. Isso, também, deve ser rejeitado
completamente. (Idem, pág. 48)

A repetição de uma palavra, por melhor que ela soe, é evidentemente um processo mecânico. (…) Quando tomais a palavra “Aum” e ficais a repeti-la, que acontece à vossa mente?
Se ficais repetindo essa palavra todos os dias, vem-vos um certo estímulo, (…) sensação, (…) É um processo mecânico; e pensais que uma mente que fica a repetir uma palavra é
capaz de penetração ou de pensar com presteza? Costumais repetir mantras, e é vossa mente penetrante, flexível, ágil? (A Arte da Libertação, pág. 48-49)

Vós o fazeis porque alguém vos disse que a repetição dessas palavras, desses mantras, vos será útil. Para se achar a verdade, não se necessita de guru (…); para termos a mente
lúcida, devemos examinar a fundo cada questão, (…) pensamento, sentimento. Visto que não desejais achar a verdade, tendes esse providencial entorpecente, que é o mantra, a
palavra. (…) (Idem, pág. 49)

Você tem sido hipnotizado por muitas gerações, e agora também está sendo hipnotizado por esta palavra “mantra ioga”, a repetição de uma palavra. Senhor, por que se pratica
tanto isso? Repetir a palavra “pepsi cola” ou “coca cola” satisfaz igualmente, e você não tem de pagar trinta ou cem dólares. Pegue qualquer palavra, “ave maria” ou outra e a
repita, e o senhor verá o que acontece à sua mente. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 81)

Mas, a coisa que buscamos - por mais interessada que seja a nossa busca, traz-nos a tranqüilidade? (…) O eremita, o monge, o homem que busca o prazer de diferentes maneiras,
cada um deles está muito interessado. Mas esse interesse é realmente sério?

Existe sério interesse quando empreendemos uma busca com o fim de adquirir alguma coisa? (…) Ou só pode haver um interesse sério quando não se está visando a um fim?
(Realização sem Esforço, pág. 34-35)

Se pudermos compreender o processo da busca, (…) por que buscamos e o que buscamos - e essa compreensão só é possível pelo autoconhecimento, (…) percepção do movimento
do nosso próprio pensar, (…) reações, (…) diferentes impulsos - talvez possamos, então, descobrir o que é “ser virtuoso” sem nos disciplinarmos para sermos virtuosos. (…)
(Realização sem Esforço, pág. 35)

Leva algum tempo obter tal realização; e, para compreenderdes a Verdade, cumpre-vos exercitar a vontade, empregar a vossa inteligência, porque a inteligência é que guia. (…) Se
tiverdes discernimento, se vossas experiências e vossos sacrifícios vos houverem ensinado a distinguir o real e o irreal, o permanente e o transitório, então podeis ser guiados por
essa única Lei, (…) marchar por essa única senda solitária. Então cessais de fazer experimentos inúteis, porque tereis aprendido a sacrificar tudo pela única Felicidade. Aprendei a
sacrificar-vos a vós mesmos, a vossas predileções, (…) preconceitos, (…) afeições egoísticas e estreitas (…) vínculos mundanos, para marchardes por esse caminho que conduz à
Felicidade. (O Reino da Felicidade, pág. 66)

Não trilhareis esta senda em virtude do que eu vos asseguro, (…) das descrições que eu vos possa oferecer, nem por vos abrigardes à autoridade de outrem. Vós a trilhais por ser
isso o vosso próprio desejo (…) anseio (…) vontade de investigar a Verdade. Vós cresceis como cresce a flor, com naturalidade e beleza, porque é de sua própria natureza
desdobrar-se e ser bela e feliz (…) (Idem, pág. 66-67)

Que se entende por “misticismo”? Algo oculto, misterioso? Algo que provém da Índia? Algo que sentis quando não está funcionando a vossa mente racional? Algo vago, impreciso,
de que têm falado os profetas e os instrutores? Ou é a experiência de algo real, algo que é a soma da razão e ao mesmo tempo transcende a razão, algo que não é verbal, uma
experiência que não é simples projeção da mente? (…) (Claridade na Ação, pág. 77)

Para acharmos a realidade, Deus, não devemos transcender os símbolos do cristianismo, do hinduísmo, do budismo? Não devemos libertar a mente de todos os hábitos, tradições,
todas as ambições pessoais e coletivas? Podeis, se quiserdes, chamar isso “misticismo” e dizer que parece irracional; mas só quando a mente está reduzida a nada é capaz de
receber o que é novo. (…) Ao reconhecer tudo isso, não é possível a mente passar além e descobrir o que é novo, atemporal? (Idem, pág. 78)

Pergunta: Não concordais que o homem alcançará o reino do céu por meio de uma vida igual à de Jesus, inteiramente dedicada ao serviço?

Krishnamurti: Espero que não fiqueis escandalizados quando eu vos disser que o homem não alcançará o reino do céu desse modo. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 145)

Ora, vejamos o que dizeis: “Por meio do serviço obterei algo que quero”. A vossa declaração significa que não servis completamente; esperais uma recompensa pelo serviço.
Dizeis: “Por meio de uma conduta justa, podereis conhecer a Deus”. Isto é, estais realmente interessado, não na conduta justa, mas em conhecer a Deus (Idem, pág. 145-146)

(…) Mas nem por meio do serviço, nem do amor, nem da adoração, nem da prece, mas unicamente na própria ação destes, há a verdade, Deus, compreendeis? Quando perguntais
(…) o vosso serviço não tem significado, porque estais interessado principalmente no reino do céu, (…) em obter algo em troca; (…) (Idem, pág. 146)

(…) E, quando oferecerdes um sacrifício - se puder ser chamado sacrifício, pois estais seguindo vossa própria delícia, (…) felicidade, e nisso não há sacrifício - quando vierdes com
essas flores para o templo, então o Sumo Sacerdote desse templo, que é a vossa própria Voz interior, o vosso próprio Governador, as receberá, em regará, nutrirá e tornará mais
belas, e respirará sobre elas e lhes dará divindade. (O Reino da Felicidade, pág. 77)

Embora não possais ter grandes aptidões, nem grande inteligência, nem estar cheios de devoção, nem ter imensa energia, podeis pelo menos oferecer um caráter formado, um fato
definido, uma flor que tenhais cultivado em vosso próprio jardim, conservada viva em horas tormentosas. (…) (Idem, pág. 76)

Pergunta: Dizem que as iniciações ocultas, tais como as descritas pela Teosofia e outros antigos ritos e mistérios, formam os vários estágios da jornada da vida espiritual. Isso é
verdade? Tendes lembrança de qualquer súbita mutação da consciência ocorrida em vós próprio?

Krishnamurti: A consciência sofre constante mutação dentro de suas restrições e limitações. Dentro do seu próprio círculo, ela vai flutuando, expandindo-se, contraindo-se, e essa
expansão é chamada, por algumas pessoas, de avanço espiritual. Mas ela está ainda dentro dos confins da sua própria limitação, e essa expansão não é uma mutação da
consciência, mas apenas uma mutação na consciência.

Essa mutação da consciência não é resultado de ritos misteriosos ou de iniciações. Somente aquele que discerne a futilidade da mutação na consciência, pode produzir a mutação
da consciência. Para discernir e mudar fundamentalmente, é preciso constante apercebimento. (…) Portanto, não nos preocupemos com a mutação imediata, mas somente com a
mutação fundamental da consciência, e para isso é preciso que o processo do “eu”, com sua ignorância, tendências, carências e temores, se finde a si próprio. (Palestras em
Ommen, Holanda, 1936, pág. 37)

(…) Aqueles que são pessoas importantes no mundo, que têm posição, prestígio, não desejarão, naturalmente, fazer nenhuma experiência nesse sentido, porque é muito perigoso. Só
as pessoas comuns, aquelas que não têm nem poderio nem posição, e que lutam e se esforçam por compreender, são essas, talvez, as que começarão a experimentar e a descobrir
por si mesmas. (Viver sem Temor, pág. 23)
Retiro, Ashram, Comunidade; Experiências Diversas
Já se foi o tempo em que se abandonava o mundo pelo ascetismo ou pelo convento. Chegou a época da vida espontânea e da compreensão clara, e eu desejaria falar dessa
compreensão que encontrei (…) (Vida em Liberdade, IV, pág. 15 - em “Carta de Notícias” da ICK, nº 1 a 6, de 1945)

Só pondo em prática (…) Antigamente, os que desejavam encontrar a verdade renunciavam ao mundo e se retiravam para a vida monástica ou ascética. Se eu tratasse de formar um
grupo limitado e exclusivo de ascetas, talvez vos unísseis a ele - porém isso seria simplesmente um reconhecimento superficial do que quereis realizar. O esforço para compreender
deve ser feito onde estais, dentro de vós mesmos, rodeado de toda espécie de confusões, de idéias contraditórias e do que chamais tentações. (…) (Experiência e Conduta, em
“Carta de Notícias” de ICK, nº 3, de 1941, pág. 12-13)

Pergunta: Em vez de falardes a multidões heterogêneas, em muitos lugares, (…) por que não fundais uma comunidade ou colônia, criando um centro de aplicação prática da vossa
maneira de pensar? Temeis que isso seja irrealizável?

(…) Não desejo fundar nenhum ashram ou comunidade, como desejais. Ora, por que desejais tal comunidade? Vou dizer-vos por quê. (…) Vós o desejais, porque gostaríeis de
juntar-vos a outros para criar uma comunidade, mas não desejais criar uma comunidade “com vós mesmo”. Desejais que outra pessoa crie uma comunidade para, depois de tudo
pronto, ingressardes nela. (A Arte da Libertação, pág. 145-146)

Em outras palavras, senhor, receais tomar a iniciativa, e por isso desejais tal “centro”. (…) Senhor, aí mesmo onde estais, podeis fundar uma comunidade, mas isso só será possível
quando tiverdes confiança em vós mesmo. A dificuldade é que não a tendes (…) Por quê? Pela razão muito simples de que nunca experimentastes. (Idem, pág. 146)

Se pesquisardes, esse pesquisar vos dará confiança, porque a vossa mente se tornará sutil, ágil, flexível; e então, aí mesmo onde estiverdes, haverá um ashram; vós mesmo sereis a
comunidade. (…) Sois mais importante de que qualquer comunidade. Se vos ligardes a uma comunidade, continuareis a ser como sois: tereis alguém que vos dará ordens, tereis leis,
regulamentos e disciplinas. Sereis um homem comum (…) (Idem, pág. 146)

Só desejais uma comunidade, porque desejais ser dirigido, instruído sobre o que deveis fazer. O homem que deseja ser dirigido, está bem cônscio de sua falta de confiança em si
mesmo (…) Senhor, o “centro” que desejais, está em vós mesmo; experimentai (…) Sois o único centro idôneo, e não a comunidade; e, quando a comunidade se tomar o vosso
“centro”, estareis perdido. (A Arte da Libertação, pág. 146-147)

Espero que muitas pessoas queiram juntar-se para experimentarem em comum - pessoas que tenham toda a confiança era si mesmas. (…) Mas se ficais de fora e me perguntais “por
que não fundais uma comunidade, para eu ingressar nela”, fazeis uma pergunta tola. Não desejo ashram nenhum, pela simples razão de que vós sois mais importante do que o
ashram (…) (Idem, pág. 147)

Senhor, que se passa num ashram? Lá, o instrutor é que é importante; não é aquele que busca, mas sim o guru é que tem importância. O guru é todo autoridade, e vós lhe
conferistes essa autoridade. Por conseguinte, quando ingressais nesses ashrams, destruí-vos a vós mesmo. (…) (A Arte da Libertação, pág. 147)

Se desejais formar uma comunidade, com o fim de experimentar, ela não deverá tornar-se o vosso “centro”; porque, no momento em que ela se torna vosso “centro”, vossa
autoridade, já não estareis em busca da verdade; estareis aproveitando a luz de outrem, da atividade de outrem. É isso que desejais. (…) (Idem, pág. 147)

Se estais procurando a verdade, nunca ingressareis num ashram, nunca tereis um centro representado por outra pessoa. Sereis o vosso próprio “centro”. (…) Quando um homem
experimenta, não sabe qual vai ser o resultado; essa é a beleza do experimentar. Se sabeis o que vai resultar, não estais experimentando. (A Arte da Libertação, pág. 148)

A dificuldade, pois, quando se tem um instrutor, uma comunidade, um ashram, é que fazeis dele vosso “centro” e vosso abrigo. A culpa não é tanto do guru, mas do seguidor. Fazeis
do vosso guru vosso “centro” (…) para serdes instruído sobre o que deveis fazer. Nenhum homem pode dizer-vos o que deveis fazer. Se o diz, ele não sabe: um homem que sabe, não
sabe. (Idem, pág. 148)

Não busqueis nenhum “centro”, nenhum abrigo, mas experimentai, tornai-vos confiante, e tereis o vosso “centro , que é a verdade. Percebereis, então, que vós sois a comunidade,
que sois vosso próprio ashram. “Aí onde estais” - (…) a verdade está muito perto de vós, bastando que olheis. (Idem, pág. 148)

Ela fora escritora, e seus livros tinham ampla circulação. Disse que só após muitos anos encontrara possibilidade de vir para a Índia. (…) Tinha ido primeiro para certo ashram ou
retiro, a respeito do qual havia lido. O guru, lá, era um velho suave, que tinha tido certas experiências religiosas, das quais vivia agora, e repetia (…) certas frases sânscritas, (…)
Foi bem recebida (…) e achou fácil ajustar-se às suas regras. Passou lá vários meses, mas, não encontrando a paz desejada, anunciou, um dia, que ia partir. (…) (Reflexões sobre a
Vida, pág. 114-115)

(…) Dirigiu-se então a um ashram situado nas montanhas, onde ficou algum tempo, feliz a princípio, pois o lugar era belo, com suas árvores, seus cursos d'água (…) A disciplina
era um tanto rigorosa, o que, todavia, não lhe causava desprazer. Mas também aqui os vivos eram do número dos mortos. Os discípulos veneravam uma sabedoria morta, uma
tradição morta, um instrutor morto. Ao partir dali, mostravam-se também chocados (…) (Idem, pág. 115)

Foi, em seguida, para um retiro muito afamado; onde se repetiam certas asserções religiosas e se praticavam meditações prescritas; mas, gradualmente, descobriu que se estava
deixando prender e destruir numa armadilha. Nem o instrutor nem os discípulos queriam a liberdade, conquanto falassem a respeito dela. (…) Mais uma vez, rompeu as amarras e
foi-se para outra parte; mais uma vez se repetiu a mesma história, com (…) variações. (Reflexões sobre a Vida, pág. 115)

“Posso assegurar-vos que estive na maioria dos ashrams importantes, e em todos queriam prender-me, adaptar-me à força ao padrão de pensamento que chamam “A Verdade”.
Por que nos querem forçar a ajustar-nos a um padrão, ao modo de vida instituído pelo instrutor? Por que nunca dão a liberdade, mas só prometem a liberdade? (Idem, pág. 115)

A submissão dá satisfação; garante segurança ao discípulo e confere poder tanto ao discípulo como ao instrutor. Pela submissão fortalece-se a autoridade, secular ou religiosa; e a
submissão leva a um estado de embotamento, a que chamam Paz. (…) A submissão anestesia a mente ao conflito. (…) Seria insensato de vossa parte descobrir qualquer coisa por
vós mesma, quando o instrutor que vos conforta já o conhece; (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 115-116)

(…) Ninguém vai, realmente, a um ashram para ter liberdade (…) Vai-se lá para ser confortado, viver uma vida fechada na disciplina e na crença, para adorar e ser também
adorado; e a tudo isso se dá o nome de “busca da verdade”. Não podem oferecer a liberdade, porque esta seria a sua própria ruína. A liberdade não pode ser encontrada em retiro
algum, em nenhum sistema de crença (…) A imitação, como meio de alcançar a liberdade, é a própria negação da liberdade (…) (Idem, pág. 116)

“Atualmente, evito todos os ashrams (…) Fui a eles em busca de paz e o que me deram foi compulsão, doutrinas autoritárias e vãs promessas. (…) Como somos cegos! (…) Num
desses lugares - onde o instrutor está subindo em reputação e popularidade - quando eu disse que vinha ver-vos, ergueram as mãos para o céu e alguns tinham lágrimas nos olhos.
Mas esse foi o último capítulo! Vim aqui para falar a respeito de uma coisa (…) Trata-se do seguinte: a dor da solidão excede as minhas forças; não me refiro à solidão física, que
esta é agradável, mas à profunda dor interior de estar sozinha. Que devo fazer (…)? Como devo considerar esse vazio? (Reflexões sobre a Vida, pág. 116-117)

Quando perguntais pelo caminho, vos tornais seguidora de um guia. Porque existe essa dor da solidão, desejais ajuda, e o próprio desejo de ser conduzido por um guia abre a porta
à compulsão, à imitação e ao temor. (…) Enquanto não houver compreensão completa da dor da solidão, não pode haver paz nem descanso, mas só uma luta interminável; (…) Esse
medo está em relação somente com o passado, e não com o que é. O que é tem de ser descoberto (…) pelo experimentar. Para compreendê-lo, não devemos chegar-nos a ele
livremente, despojados de todos os conhecimentos antigos a seu respeito? Não devemos fazê-lo com uma mente nova, não obscurecida pelas lembranças (…) reações “habituais”?
(…) (Idem, pág. 117)

Para compreender o novo, não deve a mente, com todas as suas conclusões e precauções, deixar de funcionar? Não deve ela estar tranqüila, sem procurar nenhuma via de fuga
dessa solidão, (…)? Não é necessário observar o movimento da solidão, (…) do desespero e da esperança? Não é justamente esse movimento que leva à solidão e ao medo que ela
faz? A própria atividade da mente não é um processo de isolamento, de resistência? (…) O problema, por conseguinte, não é a dor da solidão, mas a própria mente, que projeta o
problema. (Reflexões sobre a Vida, pág. 117)

(…) A compreensão da mente é o começo da libertação. A liberdade não é algo que está no futuro, ela é o primeiro passo. A atividade da mente só pode ser compreendida no
processo de reação a qualquer espécie de estímulo. (…) A acumulação, sob qualquer forma, de conhecimento, de experiência, de crença, impede a libertação; e é só quando existe
liberdade, que pode existir a Verdade. (Idem, pág. 117-118)

Pensais achar a felicidade retirando-vos da vida, isolando-vos? Renunciar com o fim de achar, não é renúncia; (…) A renúncia que tem um fim em vista é apenas rendição ao
desejo de um novo ganho. Mas, pode-se achar a felicidade no isolamento, na segregação? A vida não é associação, contato, comunhão? Podemos afastar-nos de uma associação,
para buscarmos felicidade noutra, mas não podemos fugir completamente de todo e qualquer contato. (…) (Reflexões sobre a Vida, pág. 87)

Por conseguinte, compreender o problema significa compreender a nós mesmos; (…) Assim, a solução do problema não pode ser encontrada no isolamento, em recolher-nos a um
mosteiro, uma montanha ou uma caverna, mas, sim, na perfeita compreensão do problema de nós mesmos em relação com outros. Não se pode viver em isolamento; ser é estar em
relação. (…) A compreensão de nós mesmos, que é o autoconhecimento, é o começo da sabedoria; (…) não pode ser procurado em livro algum (…) (Nosso Único Problema, pág. 9)

Assim, essa compreensão de si mesmo não significa que devamos retirar-nos da vida, ingressando num mosteiro, ou recolhendo-nos em alguma espécie de meditação religiosa. Pelo
contrário, (…) é compreender as nossas relações com as coisas, as pessoas, as idéias. (Viver sem Confusão, pág. 53)

Religião, Teoria, Conformismo; Diversidade, Conflito


Tendes professado diferentes crenças, aderido a vários dogmas, entregue a vossa vida e vossos pensamentos aos credos e à servidão das religiões, e em nada disso tendes
encontrado a felicidade perene. Tendes passado de uma limitação para outra (…) mas não tendes experimentado o desejo de despedaçar todas as prisões, de partir as grades que
limitam, que destroem e torturam. (A Finalidade da Vida, pág. 6)

Porque, em vez de dardes primazia à vida, vós a destes às crenças, aos credos, aos dogmas (…), criastes a estagnação. A religião, como eu a entendo, é pensamento que se
cristalizou, que se congelou, e com o qual os homens edificaram os seus templos e as suas igrejas. No momento em que atribuís à autoridade uma lei e uma ordem espiritual e
divina, estais limitando, sufocando aquela mesma vida que desejais preencher (…) (Idem, pág. 6)

Havendo limitação, há prisão e, portanto, sofrimento. O mundo atual é a expressão da vida numa prisão. Assim, pois, de acordo com meu ponto de vista, as crenças, as religiões, os
dogmas e os credos nada têm que ver com a vida, e, portanto, (…) com a Verdade. (Idem, pág. 6)

A trama da vida é tecida das coisas ordinárias da vida, e essas coisas comuns vós podeis controlar. Podeis imprimir-lhes originalidade, criar grandes coisas com elas, ou podeis
destruí-las com a vossa falta de compreensão. (…) Se transferis a outrem o controle de vossa vida, encontrareis a infelicidade, ficareis sujeito à autoridade (…) (A Finalidade da
Vida, pág. 6-7)

Na sombra do presente está o homem preso, envolvido e criando, assim, o sofrimento. É a vida para ele uma luta contínua, um atrito contínuo, um choque contínuo. Cavar uma
passagem, através do presente, para o eterno, eis a finalidade do homem. Deve todo ser humano entregar-se à tarefa de perfurar esse túnel, que representa o caminho direto para se
alcançar a vida. E esse túnel, que é o único caminho que conduz ao preenchimento da vida, está dentro de vós mesmos (…) (Idem, pág. 8)

E, uma vez tenhais estabelecido esse alvo, que é o preenchimento da vida, que é a vossa libertação de todos os desejos, (…) experiências, (…) tristezas, penas e lutas, encontrareis,
então, no abrir desse túnel, um verdadeiro êxtase. (Idem, pág. 8)

Todos os domingos, as pessoas vão à igreja para orar e praticar o amor fraternal. Durante o resto da semana empenham-se em desenfreada exploração e crueldade (…) Tornamos,
assim, a religião uma conveniente evasiva, à qual recorremos nos momentos de dificuldade e de desgraça. (Palestras no Brasil, pág. 84)

Dizemos que as religiões unificam. Ao contrário. Contemplai o mundo dividido em pequenas e estreitas seitas, lutando umas contra as outras para aumentarem o número de seus
adeptos, suas riquezas, sua posição, sua autoridade, imaginando que isso é a verdade. (…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 17)

Não sei se já observaram (…) como elas têm dividido os homens. Tu és católico, eu sou protestante. Para nós o rótulo é muito mais importante do que o verdadeiro estado de
afeição, de amor, de bondade. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 64)

Que é o templo? Um lugar de devoção onde há um símbolo de Deus (…) A Verdade pode ser encontrada (…) numa pedra à beira do caminho, nas águas que refletem (…), nas
nuvens, no sorriso da mulher que carrega um fardo. No mundo inteiro se encontra a Realidade, e não necessariamente no templo; (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 79)

(…) Para vós, a realidade está personificada, limitada, confinada em um templo. Para vós, a realidade é um símbolo, seja ele cristão ou budista, esteja ele associado ou não com
uma imagem. Mas a realidade não é um símbolo. Ela é. Não podeis esculpi-la como uma imagem, limitá-la em uma pedra, em uma cerimônia ou uma crença. (Palestras em Adyar,
Índia, 1933-1934, pág. 128)

Quando tais coisas já não existirem, terminarão as disputas entre homem e homem (…) Os templos, com todas as suas superstições, com os seus exploradores, (…) foram criados
por vós. Os padres não podem existir por si próprios. O sacerdócio pode existir como meio de vida, mas isso em breve desaparecerá (…), e os padres mudarão de profissão. (…)
(Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 128-129)

Todos vós credes, de maneiras diferentes (…) Além disso, a crença invariavelmente separa as pessoas; há o parse, o hinduísta, o budista, o cristão, o comunista, o socialista, o
capitalista, etc. A crença pode reunir determinado número de pessoas num grupo, mas esse grupo está oposto a outro grupo. Assim, as idéias e as crenças nunca são unificadoras;
pelo contrário, são separativas, desintegrantes, destrutivas. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 181)

Pergunta: (…) Mas não tiveram eles (os brahmanes) um importante papel na civilização da Índia?

Krishnamurti: Podem ter tido. Mas que tem isso? Uma pergunta dessas denuncia orgulho hereditário (…) O que importa, pois, não é que sejais brahmanes, ou não; (…) é o que sois
atualmente (…) Primitivamente, toda sociedade, em qualquer parte do mundo, tinha um grupo de indivíduos devotados a uma realidade. Vós os chamais Brahmanes, outros os
chamam Hebreus, Cristãos, etc. Mas o interesse essencial desses indivíduos era o culto do Real, e não os preocupava o que estivesse fazendo a sociedade à sua volta. (…) (Uma
Nova Maneira de Viver, pág. 33-34)

Foram esses homens que deram à sociedade a sua cultura, e não os indivíduos que se agitam nas complicações da sociedade, como políticos, advogados ou mercadores de guerra.
(…) Os que pregam a verdadeira civilização são os que amam a paz (…) Houve, pois, no passado, indivíduos assim, despidos de ambições, desinteressados do poder, das posições,
da propriedade e dos sistemas. Houve-os não somente aqui, mas em toda parte. Aqui houve uns poucos desses desinteressados; na China, grupos maiores (…) (Idem, pág. 34)

Quando vos intitulais hinduístas e dizeis que pertenceis a determinada religião, não estais disputando por causa de palavras? Que se entende por hinduísmo? Um conjunto de
crenças, dogmas, tradições e superstições. Religião é a busca da verdade (…) Aquele que busca a verdade é o homem religioso, que não tem necessidade de etiquetas, tais como
“hinduísta”, “muçulmano”, “cristãos”. (…) Se tivéssemos amor, (…) caridade em nossos corações, não faríamos o menor caso de títulos (…) Porque os nossos corações estão
vazios, enchem-se de coisas pueris (…) Francamente, isso é falta de maturidade. (…) (A Arte da Libertação, pág. 19-20)

(…) Afinal, quem é brahmane? De certo, não é aquele que põe as vestes sagradas. Brahmane é o homem que compreende, que não tem autoridade na sociedade, que é independente
da sociedade, que não tem ganância, que não busca o poder, que está à margem de toda espécie de poder (…) Somos pessoas assim? Não somos (…) Por que então nos rotulamos
com um nome sem significação alguma? Fazemo-lo porque isso traz proveito, nos dá uma posição na sociedade. Um homem sensato não pertence a grupo algum, não ambiciona
posição na sociedade, pois isso só produz guerra. (Idem, pág. 20)
Ora (…) Que entendemos por religião? Não se trata, naturalmente, da religião organizada (…) com sua propaganda, catequese, proselitismo, compulsão, etc. (…) Poderá ela
sorver ou colher a verdade nas sua malhas, mas (…) em si não é verdadeira. (…) Vós sois muçulmano, eu sou hinduísta, outro é cristão ou budista - e vivemos brigando e nos
massacrando mutuamente. (…) Senhor, para se achar Deus, (…) a realidade, há necessidade de virtude. A virtude é liberdade, e só pela mão da liberdade encontraremos a
realidade (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 116-117)

As religiões organizadas provavelmente tiveram, a princípio, certa utilidade no tornarem o homem um pouco mais civilizado; mas hoje elas já nada significam, porquanto o homem
perdeu de todo a noção de civilidade. Está disposto a matar milhares de seus semelhantes. (…) Assim, vós e eu temos de averiguar, por nós mesmos (…) se alguma coisa existe além
das criações da mente. (…) No momento em que desejais experimentá-la, deixais de duvidar, já não tendes ceticismo, (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 122)

Mas, como sabeis, somos criados na base de autoridade. Toda nossa vida está baseada na autoridade do passado - (…) do que ensinaram vários instrutores religiosos, e a
autoridade dos sacerdotes, que têm “direitos adquiridos” (…) Assim, somos atualmente entes humanos “amansados”, condicionados pelo medo, pela autoridade da igreja, do
templo, do sacerdote, e a religião se tornou coisa morta com que costumamos entreter-nos aos domingos. A ela recorremos quando nos vemos em profunda aflição e desejamos
conforto, consolação. (…) (Idem, pág. 123)

Não vos estou pedindo que abandoneis a vossa igreja, nem que pertençais a alguma igreja. Para mim, tudo isso são atividades infantis, que nada significam. Assim como o
nacionalismo separa os homens e gera guerras, assim também as religiões, as igrejas, dividem os homens e geram antagonismo. Elas não conduzem à verdade. Embora todo mundo
diga que há muitos caminhos para a Verdade, não há caminho nenhum (…) É à mente que é livre, à mente que está só, à mente não corrompida, não influenciada - é só a essa mente
que a Verdade se manifesta; essa mente (…) é uma mente sem medo. (Viver sem Temor, pág. 61)

Por conseguinte, nada se pode oferecer a uma pessoa que quer sair de uma gaiola para entrar noutra. Não nos interessa nenhuma dessas gaiolas, mas, tão só, a compreensão de
nós mesmos. Não estamos na senda da compreensão simplesmente quando estamos livres de determinada igreja, (…) organização (…) crença, mas só quando somos totalmente
livres, sem medo, e só então a mente pode receber aquilo que é eterno, atemporal. (…) (Idem, pág. 61-62)

Identicamente, a religião tem insignificante importância em nossas vidas. Podeis ir ao templo, praticar o puja, vestir as vestes sagradas, recitar palavras e mantras, (…) mas isso
não significa que sois uma pessoa religiosa. Isso é mera expressão de uma mente mecânica (…) (A Arte da Libertação, pág. 98)

(…) A religião, por certo, consiste em buscar a verdade, a realidade, e não em nos cercarmos de substitutos e de valores falsos. A busca da realidade não está longe de nós, mas
muito perto - no que fazemos, (…) pensamos, (…) sentimos. A verdade, por conseguinte, tem de ser encontrada, não além do vosso horizonte, mas em vós, em vossas palavras, (…)
ações, relações e idéias. (…) (Idem, pág. 98)

(…) Eu não sou contra todas as organizações. Sou contra aquelas (…) que impedem o preenchimento individual, especialmente a organização que se chama religião, com seus
temores, crenças (…) Supõe-se que ela auxilia o homem, porém, de fato, embaraça profundamente o seu preenchimento. (Palestras no Chile e México, pág. 17)

(…) No pensamento, no sentimento, vós deixastes de ser criadores; sois simples máquinas de imitação (…) Vossa religião é mero hábito: seguir a autoridade, a tradição, cultivar o
temor, copiar o livro, observar a regra, o exemplo, o ideal. Ela se tornou uma rotina. A religião se tornou simples murmurar de palavras, ir ao templo, ou praticar uma disciplina,
sendo que tudo isso implica um processo de repetição, cópia, imitação, (…) hábito. E que acontece à vossa mente e ao vosso coração, quando apenas sois imitadores? Murcham,
naturalmente (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 84-85)

Ora, sem dúvida (…) A mente que pertence a qualquer espécie de igreja - hinduísta, budista, cristã - está apenas a submeter-se, a ser condicionada pelo seu próprio ambiente, pela
tradição, pela autoridade, pelo medo, pelo desejo de salvação. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 103)

Ora, pode a mente em que foram gravadas as culturas e as tradições, os dogmas do cristianismo, do hinduísmo, do budismo, conhecer o seu condicionamento? Pode ficar cônscia
desse condicionamento e libertar-se dele, tornando-se, assim, apta a descobrir se há algo mais do que a (…) esfera do conhecido? (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955,
pág. 60)

Se compreenderdes (…) Imaginais que qualquer sociedade ou livro vos pode dar sabedoria? Livros e sociedades podem fornecer-vos noções; se, porém, disserdes que uma
sociedade vos pode dar sabedoria, estareis, simplesmente, depositando nela a vossa confiança (…) Se a sabedoria pudesse ser adquirida por meio de uma seita ou sociedade
religiosa, todos seríamos sábios, pois as religiões existem há milhares de anos. (…) A sabedoria é a compreensão do fluxo contínuo da vida ou da realidade, e somente é aprendida
quando a mente está aberta e vulnerável (…) (Palestras no Brasil, pág. 48-49)

Religião, pois, é compreensão da vida diária, e não uma teoria ou um processo de isolamento. Um homem religioso que recita certas palavras e ao mesmo tempo explora a outros,
sem misericórdia, é obviamente um “escapista”; sua moral, sua respeitabilidade não tem significação. A compreensão do “eu” é o começo da sabedoria, (…) não é reação. Só
quando compreendo todo o processo da reação, que é condicionamento, só então existe um centro sem ponto, que é sabedoria. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 215)

A verdadeira religião é o “experimentar”, que nada tem que ver com a crença. É aquele estado mental que, no processo do autoconhecimento, descobre a verdade instante a
instante. A verdade nunca é contínua, nunca é a mesma (…) E só a mente religiosa, e não a mente ideológica, é capaz de resolver o problema. Citar palavras de outras pessoas não
tem valor algum. A mente que cita, seja Platão, seja Buda, é incapaz de “sentir” a realidade. Para experimentar (…)a mente deve estar de todo desnuda; (…) (Que Estamos
Buscando?, 1ª ed., pág. 82-83)

Religião, pois, não é crença; religião não são cerimônias; religião não é idéia (…) Religião é o “experimentar” a verdade do que é, momento a momento. A verdade não é um fim
supremo (…) A verdade se encontra no que é; está no presente, nunca é estática. (…) Todas as religiões, tal como são atualmente, dividem os homens. As crenças dessas religiões
não são a verdade. A verdade (…) só pode ser conhecida quando há um findar, o findar que está implicado na morte. (…) Por conseguinte, nem o crente nem o incrédulo podem
experimentar a realidade. (Idem, pág. 83)

Quando vedes as coisas como são, sem preconceito, sem louvor, nem condenação, em relação direta com o que é, há ação. Quando intervém a idéia, há o adiamento da ação. A
mente que é a estrutura de idéias e resíduo de todas as lembranças e pensamentos, nunca pode achar a realidade. A realidade tem de vir por si. Só podeis procurar uma coisa que
conheceis; não podeis procurar a realidade. (…) Vosso “eu” é pensamento, e pensamento é memória; experiência é memória transmutada em pensamento. (…) Só a mente que
nenhuma idéia possui é capaz de experimentar a realidade. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 83-84)

(…) Acho que vale a pena concentrar-nos, todos nós, neste problema: Que significa ser “religiosamente livre”? É possível libertar a mente (…) da tirania das igrejas, das crenças
organizadas, dos dogmas, dos sistemas de filosofia, das várias práticas da ioga, (…) e, livres de tudo isso, descobrirmos por nós mesmos se existe “liberdade religiosa?” Porque
(…) só a liberdade religiosa pode oferecer (…) a solução de todos os nossos problemas, tanto individuais como coletivos. (Transformação Fundamental, pág. 6)

Isso, com efeito, significa: Pode a mente descondicionar-se? Porque, em última análise, nossa mente é resultado do tempo, da tradição, (…) experiência (…) A questão, pois, não é
de como enobrecermos o nosso condicionamento, como melhorá-lo (…), porém, antes, de libertarmos completamente o nosso espírito de todos os seus condicionamentos. (…) (Idem,
pág. 6)

As próprias experiências que colhemos têm de ser postas fora, porque elas manufaturam, constroem o tempo. (…) Assim sendo, pode-se ser, de fato, livre, religiosamente - no
sentido mais profundo da palavra “religião”? Porque religião, é bem de ver, não são ritos, dogmas, não é moral social, freqüentar a igreja todos os domingos, a prática da virtude,
o bom comportamento, que levam à respeitabilidade. Nada disso é religião (…) Religião é muito mais do que isso, coisa muitíssimo diferente. (Transformação Fundamental, pág. 7)

E não só existe a corrupção em todos os níveis de nossa vida, mas também a morte na religião. Digo que não somos entes religiosos. Podeis freqüentar templos, ler o Gita, citar
interminavelmente Sankara ou outro instrutor e executar um sem-número de rituais. Mas não sois entes religiosos. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 98)

(…) Religião, pois, é um estado da mente em que o “eu” está ausente; e nesse vazio deixado pelo “eu”, surge a Realidade. Esse “eu”, porém, não é nenhuma coisa misteriosa; esse
“eu” é constituído de vossos ciúmes, ambições, inveja, desejo de poder, posição e intrigas. (O Problema da Revolução Total, pág. 69)

A religião é coisa completamente diferente. Ela consiste em descobrir a raiz das coisas, em descobrirdes por vós mesmos o que é a verdade, nela viverdes infinitamente, de modo
que cada palavra, cada ato, cada gesto tenha significação, beleza. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 98)

(…) A função da maioria das religiões tem sido esta de amansar nele (o ente humano) o animal feroz. Entretanto, subsiste ainda muito do animal na maioria de nós. E, em vista de
tanta degradação e corrupção - moral, espiritual, ética e também estética - como atualmente existe, torna-se bem óbvia a necessidade de promover, ou, melhor, de nos tornarmos
cônscios, dos fatores que reclamam uma radical transformação no vosso pensar e sentir. (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 52)

Religião é uma ação completa, total, que abarca a vida em seu todo, e não dividida em “vida de negócios”, “vida sexual”, “vida científica”, “vida religiosa”. Estamos vivendo num
mundo de ações fragmentárias, contraditórias, e isso não é vida religiosa, porquanto gera antagonismo, aflição, confusão, sofrimento. Por conseguinte, compete a cada um
descobrir, por si próprio, (…) essa ação que é completa em cada minuto, onde quer que ela se exerça (…) Essa ação é vida religiosa (…) Havendo essa ação, haverá uma vida de
harmonia, de união entre os homens (…) (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 92)

A religião tem, então, um significado totalmente distinto (…) Foi o pensamento que criou as diversas religiões e, por conseguinte, cada religião está fragmentada e em cada
fragmento há múltiplas subdivisões. Tudo que se chama “religião”, incluindo as crenças, os temores, as esperanças, o desejo de estar seguro em outro mundo, etc., é resultado do
pensamento. (La Totalidad de la Vida, pág. 141)

Que é, então, religião? É a investigação da qual participa toda a atenção do indivíduo, a soma de toda a energia - para descobrir aquilo que é sagrado, para encontrar o que é
santo. (…) Aquilo que é santo, sagrado, (…) a verdade, só advém quando há completo silêncio (…) Nesse imenso silêncio está aquilo que é sagrado. (Idem, pág. 141)

(…) A religião como experiência de uma autoridade qualquer, pode ligar vários indivíduos entre si, mas, inevitavelmente, há de gerar antagonismo; a experiência alheia não é
verdadeira (…) A verdade nunca pode ser produto de autoridade. (…) (Nosso Único Problema, pág. 81)

A experiência de um guru, um instrutor, um santo, um salvador, não é a verdade que vos cumpre descobrir. A verdade alheia não é a verdade. Podeis repetir para outra pessoa a
expressão verbal da verdade; mas esta se transforma no processo de repetição. (Idem, pág. 81)

A experiência alheia não é válida para a compreensão da realidade. Entretanto, as religiões organizadas, no mundo inteiro, baseiam-se na experiência alheia e, por essa razão, não
estão libertando o homem, mas, unicamente, prendendo-o a um padrão que lança o homem contra o homem. (Nosso Único Problema, pág. 81-82)

A humanidade não pode ser integrada por uma idéia, por mais nobre e ampla que essa idéia seja. Porque idéia é simples reação condicionada; (…) ante o desafio da vida, é
necessariamente inadequada, trazendo conflito e confusão. (…) (Idem, pág. 81)

Todas as religiões falharam. Religião nada tem em comum com crenças e dogmas; (…) Nossa necessidade atual não é volver ao passado (…) Tendes de estar vivo, (…) para
poderdes descobrir, por vós mesmo, o que é Verdade. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 104-105)

Que é então, religião? Quando se varrerem da mente todas as imagens, (…) crenças, símbolos, (…) mantras e repetições, e todo temor, então o que virdes será o Real, o Atemporal,
o Eterno (pág.37)

(…) Mas se necessita, para tanto, de discernimento, compreensão e paciência fora do comum, e só aos que investigam interessadamente o que, é religião, (…) será dado saber o que
é a verdadeira religião (…) (Idem, pág. 37-38)

Todas as crenças - a cristã, a hinduísta, a maometana - são fontes de inimizade entre as pessoas. É ser intolerante apontar esse fato evidente? Mas, se estais apegado à vossa
crença, dizeis que eu sou intolerante, porque não quereis olhar de frente o fato. É tão patente o fato de que, enquanto estivermos divididos em muçulmanos, hinduístas, cristãos,
existirá necessariamente antagonismo entre nós! Somos entes humanos, e não uma massa de crenças em conflito. (…) (Visão da Realidade, pág. 118-119)

(…) Ser verdadeiramente individual é estar completamente fora da sociedade, é ter compreendido toda a significação do coletivo. Um indivíduo assim é capaz de realizar uma
transformação no coletivo. Acho importante ter isso presente no espírito, já que tanto nos interessa isso que chamamos de “as massas”, a coletividade, o grupo (…) (Palestras na
Austrália e Holanda, 1955, pág. 112)

(…) Evidentemente, o grupo não pode transformar-se a si mesmo; isso nunca aconteceu historicamente, nem está acontecendo hoje. Só o indivíduo capaz de desprender-se
completamente do grupo, da coletividade, pode produzir transformação radical. Mas o indivíduo só pode desprender-se totalmente, quando está em busca daquilo que é Real. (…) O
que significa que ele tem de ser uma pessoa verdadeiramente religiosa - mas não com a religião da crença, (…) dos dogmas, dos credos. Só o indivíduo livre do coletivo pode
descobrir o que é verdadeiro. (…) (Idem, pág. 112-113)

Formulando o problema (…) existe uma maneira diferente de considerá-lo? A velha maneira não nos oferece, evidentemente, nenhuma solução. Isso temos de perceber com
absoluta clareza, a fim de abandonarmos definitivamente a velha maneira, o velho caminho que nos oferecem as religiões, com suas crenças, dogmas, salvadores, mestres, vigários,
arcebispos, etc. Quer se trate de religião católica, quer da protestante, hinduísta, budista, esse caminho tem de ser abandonado inteiramente, uma vez que não leva o homem à
libertação. (…) (Encontro com o Eterno, pág. 73)

Quando a religião se torna universal, deixa de ser religião. Se religião é questão de crença, de conversão, de pertencer a um grupo que propugna certas idéias, já não existe então a
semente religiosa. Porque religião é algo que precisa ser compreendido por cada indivíduo no “processo” do viver, nas atividades da vida diária e, por conseguinte, nenhuma
relação tem com o educar a mente para funcionar segundo determinado padrão de pensamento. (O Homem Livre, pág. 143)

Dogma, Crença, Adoração, Cerimônia, Restrição, Fuga


Ora, que entendemos por religião? Tal como a entendemos, é crença, dogma, ação segundo um padrão. (…) A crença organizada é a experiência de alguém coordenada de acordo
com um padrão de ontem; e vós estais condicionados por essa crença. Isso é religião? (…) Evidentemente, a crença, com suas autoridades e seus dogmas, com suas pompas e
sensações, não é religião. (…)

O que é conhecido já recuou para o passado. O que se necessita é a experiência direta do que é; e, para isso, o primeiro requisito é a liberdade, o que significa que deveis estar
livre do falso, que é a crença (…) O começo da sabedoria é a compreensão de si mesmo, isto é, meditação. (Nosso Único Problema, pág. 15-16)

Verifiquemos o que se entende por idéias; (…) Que se entende por (…) crença, (…) por ideologia? (…) A idéia, obviamente, é a versão verbal do pensamento. O pensamento é
reação ao condicionamento (…) Sois sinhaleses, budistas, cristãos, isso ou aquilo, e vosso pensamento é condicionado de acordo com esse fundo. Esse fundo é constituído pela
memória, evidentemente; a memória reage ao estímulo, ao desafio, e a reação da memória ao desafio denomina-se pensar. (Idem, pág. 12-13)

Não há dúvida de que pensais de acordo com o padrão segundo o qual fostes criado (…) O pensamento examina as idéias e, como está condicionado, reage de acordo com esse
condicionamento (…) Assim, as idéias unem as pessoas, conforme o padrão em que estas foram criadas; mas não há dúvida de que há idéias contrárias umas às outras. (Nosso
Único Problema, pág. 13)

(…) A ação baseada em idéia divide os homens. É por isso que há miséria no mundo, que há fome, sofrimentos, guerras. (…) No mundo inteiro, as idéias estão separando os
indivíduos, criando inimizade entre os homens. As idéias a que rendemos culto são a própria negação do amor, (…) não podem operar uma transformação radical. Para realizar-se
essa revolução fundamental, precisais começar compreendendo a vós mesmo: só então sereis capaz de criar a unidade, e não por meio de idéias. (Idem, pág. 14)

Uma das coisas (…) é a questão das crenças. Não vou atacar as crenças. O que vamos fazer é tentar descobrir por que aceitamos crenças. Se pudermos compreender os motivos, as
causas da aceitação, estaremos então, talvez, aptos, não só a compreender por que o fazemos, senão também a nos livrarmos das crenças. Pode-se ver como as crenças políticas e
religiosas (…) separam os homens, geram conflitos, confusão e antagonismo. (…) Há a crença hinduísta, a cristã, a budista, (…) várias ideologias políticas, todas em luta entre si
(A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 155)
Pode-se ver muito claramente que a crença está separando os homens, fomentando a intolerância. É possível viver sem crença? Só podemos responder estudando a nós mesmos em
relação a uma crença. (…) Afinal, a verdade é isto: termos a capacidade de nos encontrar com todas as coisas de maneira nova, momento a momento, sem a reação condicionada
do passado, de modo que não haja efeito cumulativo atuando como barreira entre nós e aquilo que é. (Idem, pág. 55)

Se refletirdes, vereis que o temor é uma das razões do desejo de aceitar uma crença. Se nenhuma crença tivéssemos, que nos aconteceria? Não ficaríamos aterrorizados (…)? (…)
Essa aceitação de uma crença não é uma das maneiras de encobrirmos o nosso temor - o temor de sermos nada absolutamente, de estarmos vazios? (…) Pela aceitação da crença,
compreendemos a nós mesmos? Ao contrário. Uma crença, religiosa ou política, impede-nos, obviamente, a compreensão de nós mesmos. É como que uma cortina, através da qual
nos olhamos a nós mesmos. (…) Se não tivermos crenças com que a mente esteja identificada, então, livre dessa identificação, ela é capaz de olhar a si mesma tal como é; começa
aí, sem dúvida, a compreensão de nós mesmos. (A Primeira e Última Liberdade, pág. 56)

Como pode uma mente que resultou da insuficiência e do temor, conhecer qualquer atividade que não seja do “ego”? Como pode uma mente aquisitiva e tímida, vinculada pelo
dogma e pela crença, conhecer a Realidade? Não o pode. (…) Se me permitis, sugiro que (…) procuremos estar cônscios desse cativeiro resultante da auto-expansão, porquanto
essa limitação, esse “eu” que se expande, não será capaz, em tempo algum, de sentir ou descobrir o Real. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 211)

A crença (…) E uma mente que se acha abrigada, segura, certa, é, sem dúvida, incapaz de compreender qualquer coisa nova ou de receber aquilo que não é mensurável. A crença,
pois, atua não somente como barreira entre o homem e o homem, mas também (…) como obstáculo a algo que é criador, que é novo. (A Renovação da Mente, pág. 29)

Mas, achar-se num estado de incerteza, de não saber, de não adquirir, é extremamente difícil, (…) Talvez não seja difícil, mas requer certo interesse, sem distração alguma, interior
ou exterior. Mas, infelizmente, os mais de nós desejamos estar distraídos interiormente; e as crenças, as cerimônias, os ritos nos oferecem distrações boas, respeitáveis. (Idem, pág.
29)

Estes são os fenômenos que ocorrem no mundo (…) E incluem o isolamento, não só o que ocorre em cada ser humano, senão o isolamento dos grupos que se acham amarrados a
uma crença, a uma fé, (…) a conclusão ideológica; (…) Os ideais, as crenças, os dogmas e os rituais estão separando a humanidade. (La Llama de la Atención, pág. 97-98)

(…) Assim, o condicionamento religioso deve ser despedaçado, para que possais ver a verdade no falso e libertar assim a vossa mente (…) A mente religiosa, pois, não tem crença
nenhuma, o que não significa que seja ateísta - pois isso constitui uma forma de crença; um crê, e outro não crê; ambos são idênticos (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 85)

E esse conformismo se expressa na chamada vida religiosa. (…) para alcançardes a Deus, deveis ser sanyasi, ou monge, (…) levar certo gênero de vida, ser (…) eremita (…) A
chamada vida religiosa do sanyasi, do monge, etc., é uma fuga à vida (…) (Idem, pág. 85)

Necessita-se de uma mente nova (…) Necessita-se de uma mente lúcida (…) Assim, o homem religioso, ou a vida religiosa, ou a mente religiosa, não se empenha em fugir da vida - a
vida que é fome, sexo, avidez, ambição, alegria, (…) Dela não se pode fugir por meio de (…) misticismo. O místico foge por meio de uma fantasia, (…) experiência; ou hipnotiza-se
para entrar em certo estado. (Idem, pág. 85-86)

Prestai atenção (…) Todas as religiões se baseiam na idéia do saber, do experimentar, do crer, e, assim, desde a meninice, somos condicionados para crer. Já temos conhecimento
prévio, e adoramos isso que já conhecemos. Sempre nos assusta o desconhecido. (…) A mente que está “vivendo com o conhecido” nunca pode achar-se em estado de revolução,
(…) aquele estado que a torna acessível à Verdade. (Viver sem Temor, pág. 16)

É evidente que as nossas mentes estão condicionadas pelas crenças - cristãs, hindus, budistas, etc. A não ser que se esteja completamente liberto de crenças (…), não é possível
observar, descobrir, por si mesmo, se há uma Realidade que não pode ser corrompida pelo pensamento. E é preciso também estar liberto de toda moralidade social, porque a
moralidade da sociedade não é moral. A mente que não é profundamente moral, que não está enraizada na retidão, não é capaz de ser livre. É por isso que é importante (…)
conhecermo-nos a nós próprios (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 87)

(…) A religião se tornou um caso de dogma, crença e ritual, uma coisa totalmente divorciada do viver diário. Podeis crer ou não em Deus, mas vossa crença é muito pouco
significativa na vida diária, em que enganais e destruís semelhantes, em que sois ambiciosos, ávidos, ciumentos, violentos. Credes em Deus ou num Salvador ou num guru e, no
entanto, mantendes essa crença à distância (…) (Fora da Violência, pág. 43)

(…) Queremos ser entretidos espiritualmente e, assim, freqüentamos a igreja, ou o templo, ou a mesquita, e isso não está em nenhuma relação com nosso sofrimento diário (…)
confusão e ódio. O homem realmente sério, que deveras deseja descobrir se algo existe de superior a esta (…) existência, deve, obviamente, estar de todo livre do dogma, da crença,
da propaganda, (…) da estrutura em que foi criado, para ser então um homem religioso. (Fora da Violência, pág. 44)

Agora, o que estamos tentando averiguar nesta palestra, e bem assim nas próximas, é se pode haver experiência direta, destituída de todo e qualquer conhecimento, toda instrução,
de modo que essa experiência seja verdadeira e não mera reação de nosso condicionamento como hinduísta, (…) budista, (…) cristão (…) O percebimento não pode ser verdadeiro,
quando baseado em algum método (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 9)

Se percebemos que todo método é falso, ilusório, produto do tempo, e que o tempo não pode levar à experiência direta, então esse próprio percebimento nos liberta do tempo. Nossa
relação é então toda diferente. O importante é que se liberte a mente do conhecimento e do método, das práticas baseadas naquele conhecimento, que só nos podem levar à coisa
que ansiosamente desejamos. (Idem, pág. 9)

(…) Deveis, entretanto, tornar-vos apercebidos de que o vosso pensamento está limitado pela crença, de que estais agindo apenas de conformidade com certos grupos de crenças,
de que vossa ação está mutilada pela tradição. Nessa liberdade de apercebimento está a plenitude da ação. (Palestra em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 38)

(…) Para compreender esse movimento do pensamento, essa plenitude da ação, que nunca pode ser estática como um padrão, como um ideal, a mente deve estar livre da crença;
pois a ação que busca recompensa não pode compreender a sua plenitude, o seu preenchimento. (…) Somente quando já não estiverdes aprisionados pela crença, conhecereis a
plenitude da ação. (Idem, pág. 38-39)

(…) O homem está sendo moldado, condicionado para pensar segundo certo padrão, e pode-se ver que é necessária uma revolução (…) verdadeiramente religiosa. Não me refiro à
religião do hinduísta, do budista ou do cristão. Isso não é religião, em absoluto, porém mero dogma, sistema de crenças oriundas do medo, do desejo de segurança (…) Religião é
coisa bem diversa, e, para se achar a vida religiosa, necessita-se de revolução total em nosso pensar. (…) (O Homem Livre, pág. 12)

Assim, a revolução religiosa a que me refiro não é o ressurgimento ou a reforma de dada religião, porém a completa libertação de todas as religiões, o que, em verdade, significa
libertação da sociedade que as criou. (…) Assim, a mente precisa não só despojar-se de todas as cerimônias, crenças e dogmas, mas também estar livre da inveja. A liberdade total
do homem está na revolução religiosa, porque só então será ele capaz de considerar a vida de maneira inteiramente diferente (…) (O Homem Livre, pág. 14)

Que quererá dizer “uma vida espiritual”? Uma pessoa se torna espiritual quando celebra cerimônias e ritos, quando tem inúmeras crenças ou princípios, de acordo com os quais
procura viver? Isso vos faz espiritual? (A Renovação da Mente, pág. 27-28)

As cerimônias e os ritos talvez proporcionem, às vezes, no começo, certa sensação, certa “elevação”. Mas são práticas que se repetem sempre da mesma maneira, e toda sensação
que se repete, em pouco tempo se esgota por si mesma. (Idem, pág. 28)

(…) Não vos sirvais de mim como de uma autoridade, não digais que Krishnamurti desaprova as cerimônias. Eu não aprovo nem desaprovo. Se desejais celebrar cerimônias, vós as
celebrareis, e essa é uma razão suficiente em si mesma; se não desejais celebrá-las, não as celebrareis, e também essa é uma razão suficiente em si mesma. (…) (Que o
Entendimento seja Lei pág. 7)Pergunta: Pode uma cerimônia ser benéfica (…) não limitadora? Krishnamurti: ( … ) Portanto, a cerimônia, tal como a usais, tem um significado mui
definido. Uma cerimônia, no meu entender - de acordo com o uso que fazeis dessa palavra - é uma coisa por meio da qual esperais avançar espiritualmente, mediante a sua
eficácia, ou então a assistis para espalhar pelo mundo forças espirituais. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 72-73)

Ora, podemos pensar que, por freqüentar uma igreja, nos sintamos soerguidos, cheios de vitalidade e com uma sensação de bem-estar. (…) Tomando uma bebida ou ouvindo uma
leitura estimulante, sentis a mesma coisa; mas, por que dais a uma cerimônia um lugar mais importante, mais vital, mais essencial (…)? (…) Assistindo a uma cerimônia, esperais
que, por algum processo miraculoso, todo o vosso ser se purifique; (…) Cada um tem de descobrir isso por si mesmo. (…) (Idem, pág. 74)

O culto de uma imagem criada pelas mãos ou pela mente, e os dogmas e rituais da religião organizada, com o seu sentido de beleza, são considerados muito veneráveis e sagrados.
Assim o homem, na sua busca daquilo que está para além de toda a medida, (…) de todo o tempo, é iludido, logrado e aprisionado, porque está sempre na esperança de encontrar
algo que não seja inteiramente deste mundo. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 85)

(…) Os ritos, o “puja”, as formas consagradas de meditação, as palavras e frases constantemente repetidas, ainda que proporcionem certas reações agradáveis, não libertam a
mente do “eu” e das suas atividades; porque o “eu” é, na essência, produto dos sentidos. (A Educação e o Significado da Vida, pág. 74)

Sem dúvida, só é possível descobrir o que é real, ou se existe Deus, quando a mente está livre de todo condicionamento. (…) Religião, pois, não é freqüentar a igreja, ter certos
dogmas e crenças. (Realização sem Esforço, pág. 7)

A religião deve ser uma coisa de todo diversa, pode significar a total libertação da mente de toda (…) tradição; porque só a mente livre é que pode achar a verdade, a realidade,
aquilo que transcende todas as projeções mentais. (Idem, pág. 7)

Religião, conseqüentemente, não é crença nem dogma; é a compreensão da verdade, que se deve descobrir na vida de relação, momento a momento. Religião que é crença e dogma
não passa de fuga da realidade das relações. (…) (Nosso Único Problema, pág. 80)

A substituição de uma ideologia por outra não constitui a solução para os nossos problemas. O problema não consiste em saber qual seja a melhor ideologia, mas sim no
compreendermos a nós mesmos como um processo total. (…) Uma idéia pode servir para formar um grupo, mas esse grupo fica contra outro grupo, que tem uma idéia diferente (…)
As ideologias, as crenças, as religiões organizadas, separam os homens. (Idem, pág. 81)

(…) Pelo contrário, eu digo: despertai da vossa hipnose; quer estejais hipnotizado pelos Upanishads ou pelo guru mais em moda, ficai livre deles. Observai os vossos problemas
(…) mais próximos, e não os mais distantes, e compreendei as vossas relações com a sociedade. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 191-192)

(…) Tal é o fato que não quereis ver; e enquanto não quiserdes ver o fato, sereis sempre hipnotizado (…) pelo vosso próprio desejo, que sempre procura uma maneira de não ser
perturbado, de seguir pelo caminho habitual, e de se tornar respeitável. Senhor, o homem respeitável, o homem dito religioso, é o homem hipnotizado, porque o seu refúgio supremo
é a sua crença; (…) (Idem, pág. 192)

(…) A crença, pois, atua não somente como barreira entre homem e homem, mas também, por certo, como obstáculo a algo que é criador, que é novo. (…) (A Renovação da Mente,
pág. 29)

Todas as religiões falharam. A religião nada tem em comum com crenças e dogmas; (…) Nossa necessidade atual não é volver ao passado, ressuscitar o passado. Não se pode
ressuscitar os mortos; o que está morto foi-se, acabou-se. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 104-105)

Tendes de estar vivo, totalmente, para poderdes descobrir, por vós mesmos, o que é a Verdade. Não tendes guia, (…) guru, (…) instrutor. Tendes de descobrir a flor da bondade, a
beleza infinita. E aquela realidade que transcende todas as palavras, todos os padrões do pensamento - vós mesmos é que deveis descobri-la. (Idem, pág. 105)

(…) O homem sempre buscou certa coisa superior ao viver diário, com suas dores, prazeres e tristezas; (…) E, na busca dessa coisa inominável, construiu templos, igrejas,
mesquitas. Coisas incríveis se fizeram, em nome da religião. Houve guerras pelas quais as religiões foram responsáveis; entes humanos foram torturados, queimados, destruídos;
porque a crença era mais importante do que a verdade, o dogma, mais essencial do que a percepção direta. Se a crença se torna da máxima importância, o indivíduo está pronto a
tudo sacrificar por ela; (…) (Fora da Violência, pág. 42)

Como vemos, a nossa busca dentro do campo do condicionamento não é busca nenhuma (…) Uma mente inferior nunca descobrirá o que existe além da esfera mental, e mente
condicionada é mente inferior, quer creia em Deus, quer não. É por essa razão que todas as crenças e dogmas que defendemos, todas as autoridades, principalmente as (…)
espirituais, têm de ser rejeitadas, porque só então se tornará possível o descobrimento do que é eterno, atemporal. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 10-11)

(…) As velhas soluções, (…) argumentos, crenças, tradições e dogmas são totalmente inúteis. Não importa se sois cristão ou hinduísta (…); é a crença que está dividindo o mundo
(…) A crença é que divide os homens em protestantes e católicos, místicos e ocultistas (…) Requer-se, pois, uma mente diferente, (…) verdadeiramente religiosa. Só a mente que
ama é verdadeiramente religiosa, (…) é revolucionária, e não a que está sob o domínio das crenças e dos dogmas. (…) (Idem, pág. 27)

Religiosidade, Mente Religiosa, Inocência, Sagrado


Para mim, o mais importante na vida é termos uma mente religiosa, porque, então, tudo o mais entra no correto estado de relação - tudo: ocupações, saúde, casamento, sexo, amor,
e os inumeráveis problemas e tribulações que a vida nos oferece - tudo é compreendido. A mente religiosa não é coisa facilmente alcançável, mediante a leitura de uns poucos
livros (…) séries de palavras, ou pelo nos exercitarmos para certa postura. (Experimente um Novo Caminho, pág. 22)

A questão, pois, é: Pode a mente, que é resíduo, o resultado do conhecido, do saber, da experiência, libertar-se do conhecido e achar algo além? (…) Quando falamos de
experiência religiosa, entendemos um estado que transcende o “eu”, o “ego”, o “conhecido” (…) Para mim, o homem religioso é aquele que está cônscio do “conhecido” e não
permite nenhuma interferência do conhecido na sua busca do Desconhecido. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 58)

A mente deve estar livre (…) Religião, pois, é um estado da mente em que o “eu” está ausente; e, nesse vazio deixado pelo “eu”, surge a Realidade. Esse “eu”, porém, não é
nenhuma coisa misteriosa; é constituído de nossos ciúmes, ambições, inveja, desejo de poder, posição, e intrigas. (O Problema da Revolução Total, pág. 69)

(…) Essa capacidade de enfrentar o novo com o novo se chama estado criador, e é, sem dúvida, a forma mais elevada de religião. A religião não é apenas uma crença, (…) ritos e
dogmas (…) A verdadeira religião consiste em experimentar um estado em que há criação; só surge quando há liberdade, quando estamos livres do “eu”. Essa liberdade só pode
existir pela compreensão do “eu” nas relações, pois não é possível a compreensão no isolamento. (Nosso Único Problema, pág. 31-32)

As múltiplas religiões hão dito que existe uma verdade permanente, eterna; (…) Deve o indivíduo descobri-la por si mesmo, não teórica, intelectual ou sentimentalmente (…) Por
religião entendemos o ato de reunir ao mesmo tempo toda a energia necessária para investigar algo: (…) alguma coisa que seja sagrada. (La Verdad y la Realidad, pág. 198)

A mente, portanto, pode alcançar aquele estado religioso. Estou empregando a palavra “religioso” com um novo sentido, indicando algo não relacionado com as religiões do
mundo (…) Assim, a mente religiosa é aquela que só pode “viver com a morte”, com a extraordinária e poderosa energia do amor. (…) Só a mente religiosa pode voltar-se para
dentro; e esse “voltar-se para dentro” não está em relação com o tempo e o espaço. É ilimitado, infinito, não pode ser medido por uma mente aprisionada no tempo. E só a mente
religiosa resolverá os nossos problemas, porque ela não tem problemas. (…) (O Passo Decisivo, pág. 104-105)

Assim, no sentido “religioso”, é necessário uma revolução em cada um de nós - revolução total e não parcial. Toda reação é parcial; e a revolução a que nos referimos não é
parcial e, sim, uma coisa total. E só essa mente pode ter intimidade com a Verdade. Só essa mente pode ter “amizade” com Deus. Só essa mente pode participar da Realidade.
(Idem, pág. 105)

Para descobrir o que é uma mente religiosa, temos de descobrir o que é a verdade; a verdade não tem caminhos que conduzam a ela. Não há caminho algum. Quando se tem
compaixão - a compaixão é inteligência - dar-se-á com aquilo que é eternamente verdadeiro. Porém não existe uma direção; não há capitão que nos dirija neste oceano da vida.
(…) A mente religiosa não pertence a nenhuma organização, a nenhum grupo, a nenhuma seita, e tem a qualidade de uma mente global. (La Llama de la Atención, pág. 28)

A mente religiosa é uma mente que se acha por completo livre de toda atadura, de qualquer classe de conclusões ou conceitos; só trata com o que realmente é; não com o que
“deveria ser”. (…) A mente religiosa está livre de preconceitos, de tradição, de todo sentido de direção. (Idem, pág. 28-29)
Por conseguinte, a mente religiosa não tem crença. Só lhe interessam os fatos, e não as crenças ou opiniões a respeito dos fatos. A vida se torna muito simples quando só lidamos
com fatos, com o que há dentro de nós e fora de nós. Quando não tendes opiniões, “projeções”, preconceitos, conclusões sobre os fatos, estais apto a lidar com eles equilibrada,
racional e eficientemente. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 82)

A mente religiosa é sempre jovem, isto é, está sempre aprendendo e, por conseguinte, fora do tempo. Só essa é a mente religiosa. Não aquela que vai aos templos (…); não a que lê
livros e está sempre a citar e a pregar moral; não é essa a mente religiosa. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 41)

(…) Um homem verdadeiramente religioso não tem medo, psicologicamente, interiormente. Por “homem religioso” entendo um “homem total”, e não aquele que é meramente
sentimental ou que foge ao mundo, narcotizando-se com idéias, ilusões, visões. A mente de um homem religioso é muito tranqüila, sã, racional, lógica; e dessa mente é que
necessitamos, e não de uma mente sentimental, emotiva, medrosa, enredada em seu especial condicionamento. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 23)

(…) A sociedade, a tradição, os valores estabelecidos, tudo nos obriga a ajustar-nos e a copiar. Para podermos funcionar na sociedade, é claro que temos de aceitar o padrão da
sociedade, ajustar-nos aos seus valores. Mas o homem verdadeiramente religioso é livre da sociedade, sendo a sociedade os valores criados pela avidez, a inveja, a ambição, o
desejo de sucesso, o medo. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 31)

O homem verdadeiramente religioso não é o que pratica a chamada religião, que está apegado a certos dogmas e crenças, (…) ritos ou cultivando o saber (…) O homem
verdadeiramente religioso é completamente independente da sociedade (…) (Visão da Realidade, pág. 147)

(…) A mente verdadeiramente religiosa é aquela que é livre e que, sendo livre, está tranqüila, serena, de modo que a Realidade pode manifestar-se. E aquela Realidade, criando sua
ação própria, resolverá os problemas do mundo, que não podem ser resolvidos pela mente que está carregada de saber (…) (Viver Sem Temor, pág. 62)

Ora bem, pode o indivíduo (…) transformar-se radicalmente? A mente que está condicionada segundo certo padrão a que chama religião - hinduísta, cristã, budista, ou outra - não
é uma mente religiosa, por mais que pratique todos os chamados ideais religiosos. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 118)

Para mim, a mente que não tem a luta da dualidade é que é a mente verdadeiramente religiosa, e não a que está lutando para vencer a cólera (…) lutando para se tornar não
violenta; esta só está vivendo na luta do oposto. É só a mente verdadeiramente religiosa que não tem o conflito do oposto; ela não conhece a frustração; não luta para se tornar
alguma coisa; é “o que é”. (As Ilusões da Mente, pág. 86)

Aquele que busca a verdade é um homem religioso e não tem necessidade de etiquetas, tais como “hinduísta”, (…) “cristão”. Se tivéssemos amor; (…) caridade em nossos
corações, não faríamos o menor caso de títulos - e isso é que é religião. Porque os nossos corações estão vazios, enchem-se de coisas pueris (A Arte da Libertação, pág. 19-20)

A mente religiosa é aquela que compreende a família e sua posição em relação com o todo; aquela que não busca poder e posição; que não está presa a nenhum ritual, igreja
organizada ou templo; que já não tem a propriedade de criar ilusões. É também aquela que olha os fatos e, por conseguinte, nenhum esforço faz em qualquer trabalho que executa.
(A Suprema Realização, pág. 89)

Assim,(…) é necessária uma mente religiosa. E, sem dúvida, a mente religiosa é aquela que se depurou de todas as crenças e de todos os dogmas; essa mente é capaz de um
percebimento, uma compreensão interior que dá certa tranqüilidade, serenidade. E há intenso percebimento de tudo o que se passa fora dela. (…) (O Passo Decisivo, pág. 108)

Já explicamos com muita clareza que a mente religiosa não é a mente cristã, hinduísta ou budista, ou pertencente a alguma seita (…) com fantásticas crenças e idéias; a mente
religiosa é aquela que, tendo percebido interiormente sua própria validade, a verdade de suas percepções, sem desfiguração, é capaz de resolver, lógica, racional e sãmente os
problemas que surgem, não permitindo que nenhum deles crie raízes. (…) (Idem, pág. 109)

Assim, quando uma pessoa penetra profundamente no descobrimento de si mesma, existe a mente religiosa; (…) Ela é a mente, (…) separada de todas as humanas lutas, exigências,
ânsias e compulsões individuais, etc. (…) Por conseguinte, essa mente religiosa pode receber aquilo que não é mensurável pelo intelecto. Essa coisa é inominável; nenhum templo,
(…) sacerdote, (…) igreja, (…) dogma pode conter. Rejeitar tudo isso é viver naquele estado, essa é que é a verdadeira mentalidade religiosa. (O Passo Decisivo, pág. 196)

Importa não nos limitarmos (…) O homem que se está libertando de todo condicionamento, que está plenamente vigilante - esse é um homem religioso, e não aquele que
simplesmente crê. (…) Só esses entes humanos religiosos - que estão livres, não-condicionados - podem criar um mundo novo. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 90-91)

Assim, investigando o que é a mente religiosa, temos de estar vigilantes, para conhecermos aquele estado extraordinário que é a beleza; e só podemos conhecê-lo quando há
abandono total do “eu” e, por conseguinte, ardor, paixão; de outro modo, não pode haver amor. (…) A mente religiosa é aquela que conhece o movimento da virtude e da
disciplina. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 44)

E pensamos (…) A mente religiosa, pois, deve saber o que é a verdadeira simplicidade. A verdadeira simplicidade não é austeridade disciplinada, porque ser simples, realmente,
interiormente, é ser austero. A simplicidade implica uma mente que é capaz de estar só, (…) não depende de nenhuma exterioridade. E só a mente interiormente simples é capaz de
estar só; só a mente simples, religiosa, é capaz de ver a beleza. E, sem a beleza, não há vida religiosa. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 87)

Também, só a mente religiosa sabe o que é o vazio mental. A “mente vazia” não se acha num estado de vacuidade, de inanidade: está extraordinariamente vigilante, atenta,
sensível; nenhum centro tem e, por conseguinte, cria espaço. Só a mente que nenhum centro tem, é que tem o espaço da imensidade, e só a mente religiosa é criadora. (Idem, pág.
87-88)

A mente religiosa, pois, é criadora - não escrevendo poesia, prosa ou espalhando tintas numa tela; essa não é uma mente criadora. A mente criadora é aquela em que se verificou
total mutação. E só então, nesse estado extraordinário (…) que não representa fuga à vida, é possível a existência do Eterno. E só essa mente é capaz de resolver os problemas do
homem. (Uma Nova Maneira Agir, 1ª ed., pág. 88)

À mente religiosa, portanto, não interessa o progresso, o tempo; (…) Porque (…) vereis que a mente religiosa é destrutiva; pois sem destruição não há criação. (…) O perceber o
falso como falso (…) é a destruição do falso. (…) A mente religiosa é destrutiva e, por ser destrutiva, é criadora. Criação é destruição. (O Passo Decisivo, pág. 275)

(…) Religiosa é a mente livre, e a mente livre acha-se num estado de constante “explosão”; e nesse estado de constante explosão há o percebimento daquela verdade existente além
das palavras, além do pensamento, além de toda experiência. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 158-159)

A mente religiosa, pois, é tudo isso; e, também, conhece - melhor dizendo - vive num estado de criação, de momento a momento. É uma mente sempre ativa, graças àquele
extraordinário estado de vazio. (A Suprema Realização, pág. 90)

(…) E nela existe o sentimento da beleza e do amor, que são inseparáveis. (…) E não é necessário dizer que ele se acompanha, naturalmente, de um sentimento de paixão. Não se
pode ir muito longe sem paixão (…) Não é um estado de entusiasmo; e a mente religiosa, (…) nesse estado, tem uma força e uma qualidade peculiares. (O Passo Decisivo, pág. 195)

(…) A sociedade poderá reformar-se, operar certas mudanças, mas só o homem religioso pode operar uma transformação fundamental (…) Mas o homem verdadeiramente religioso
está totalmente fora da sociedade, porque não é ambicioso, não tem inveja, não está seguindo dogma ou crença; (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 68)

Por revolução “religiosa” entendo uma revolução completa, total, não fragmentária. Trata-se da realidade total, e não da realidade econômica, (…) social, (…) psicológica, que
são realidades fragmentárias. E toda revolução fragmentária só levará à repetição do que foi, apenas modificado; (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 94)

Só o homem religioso tem a possibilidade de levar a efeito uma revolução fundamental, mas o homem que tem uma crença, um dogma, (…) não é um homem religioso. O homem
religioso é aquele que compreende, no seu todo, esse “processo” que chamamos religião (…) (Visão da Realidade, pág. 141)

Um indivíduo dessa qualidade liberta-se da estrutura da religião organizada, do dogma, da crença, para buscar o que está acima de tudo; esse indivíduo é que é verdadeiramente
revolucionário, visto que qualquer outra forma de revolução é fragmentária (Idem, pág. 141)
(…) O homem verdadeiramente religioso é aquele que prescinde da sociedade e do reconhecimento da sociedade (…) livre da sociedade (…) Só a mente que se acha em tal estado é
capaz de criar uma nova cultura. Reformar a velha cultura significa, tão só, adornar a prisão. (Visão da Realidade, pág. 208)

A mente religiosa não é fragmentária, não divide a vida em compartimentos. Ela abarca a totalidade da vida - a vida de prazeres e dores, a vida de alegrias e satisfações
passageiras. Uma vez que está totalmente livre da estrutura psicológica da ambição, da avidez, da inveja, da competição, de toda exigência de mais, acha-se a mente religiosa num
estado de “inocência”; e só assim a mente pode transcender a si própria, e não quando apenas crê num além ou nutre uma hipótese relativa a Deus. (O Homem e seus Desejos em
Conflito, 1ª ed., pág. 94)

Mais uma vez, senhor, voltais à questão de se existe alguma coisa atemporal, além dos limites do pensamento. O que está além do pensamento é a inocência, e o pensamento jamais
a alcançará, porque (…) é sempre velho. A inocência, tal como o amor, é eterna, mas, para que venha, necessário é que a mente fique livre de todos os milhares de “ontens”, com
suas lembranças. (…) (A Outra Margem do Caminho, pág. 33)

(…) A criança não é inocente. A criança é ignorante. A criança anseia por mais experiência, à medida que se desenvolve e amadurece. Não estamos falando da inocência da
infância - isso é para os poetas. Falamos da “inocência” da mente amadurecida - a mente que passou por agonias, lutas, sofrimentos, intensas ansiedades, dúvidas, e deixou tudo
isso para trás, morreu para tudo isso. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 102)

(…) Cada um de nós tem um templo, mas precisamos criar a Imagem, o Ídolo, a Beleza, em torno dos quais possamos desenvolver o nosso amor e devoção; porque, se conservarmos
o templo vazio, como muitos de nós fazemos, não poderemos criar. (O Reino da Felicidade, IV, pág. 24)

É pela adoração, pelo amor, pela devoção, que criamos, que damos vida ao templo. Para mim, esse templo é o coração. Se puserdes aquele que é a encarnação do Amor e da
Verdade em vosso coração, se ali o criardes com as vossas próprias mãos, com a vossa própria mente, e com as vossas emoções, esse coração, em vez de frio, abstrato e deserto, se
torna real, vivo e radiante. Tal é a Verdade. (…) (Idem, pág. 24-25)

(…) Sois o templo externo, e, ardendo dentro de vós, está o Eterno, o Santo dos Santos, no qual podereis entrar e adorar à vontade, longe do mundo, longe de todos os tumultos e
perturbações. (Idem, pág. 25)

Inocência e amplitude são a florescência da meditação. Não há inocência sem espaço. Inocência não significa imaturidade. Pode o homem estar amadurecido fisicamente, mas o
vasto espaço que vem com o amor não é possível se sua mente não estiver livre das inúmeras marcas da experiência. São essas cicatrizes da experiência que impedem a inocência.
Libertar a mente da constante pressão da experiência é meditação. (A Outra Margem do Caminho, pág. 99)

Mas como poderá operar-se essa revolução, sem esforço (…)? Só se pode perceber o que é novo num estado de “inocência”, isto é, quando o passado deixou de ter significação
psicológica. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 92)

(…) A verdadeira “inocência”, como o amor, não é um oposto. O amor não é o oposto do ódio. Só nasce o amor quando o ódio, em todas as suas formas, desapareceu. Do mesmo
modo, a mente deve ser “inocente” (…) Para que a mente realize esse estado de “inocência”, devem terminar as acumulações de experiência - as quais são ainda o passado, ainda
fazem parte do fundo inconsciente. (Idem, pág. 92)

(…) Mas, quando não há defesas, nem simulações, nem máscaras, há uma ação de qualidade totalmente diferente (…) Há então uma mente nova, juvenil, inocente. A inocência não
tem máscaras, não tem defesa nenhuma. Ela é totalmente vulnerável e, dessa inocência, dessa vulnerabilidade, deflui uma ação verdadeiramente extraordinária, na qual não há
sofrimento, nem dor, nem prazer, porém um estado de extraordinário júbilo. (Idem, pág. 68)

(…) A maioria de nós jamais experimentou um estado de “inocência”, ainda que estejamos dispostos a argumentar, discutir, escrever, “sutilizar” a respeito de tudo isso (…) O que
traz a liberdade é a atenção, que significa olhar o fato face a face, de dentro do vazio, e ver como as coisas são, sem nenhuma desfiguração. Nesse estado de atenção, apresenta-se
uma “inocência” que é virtude, que é humildade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 27-28)

(…) Para a maioria dos cristãos, essa palavra “inocência” é só um símbolo; mas eu falo sobre o real estado de inocência, que significa “não ter medo”; nesse estado a mente se
torna num instante amadurecida, sem passar pelo processo do tempo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 172)

E isso só é possível quando há atenção total, percebimento de cada pensamento, de cada palavra, de cada gesto. A mente está ativa, sem a barreira das palavras, sem interpretação,
justificação. Essa mente é a luz de si própria; e a mente que é a luz de si própria não conhece o temor. (Idem, pág. 172-173)

Foi só ao acordarmos (…) A consciência não pode conter a imensidão da inocência; está apta a recebê-la, mas não pode buscá-la nem cultivá-la. A totalidade da consciência tem
de aquietar-se, cessando todo desejo e busca. Aquilo que não tem começo nem fim surge quando a consciência silencia. (Diário de Krishnamurti, pág. 45)

Meditar é esvaziar a consciência (…) É preciso haver espaço para o silêncio, não o espaço criado pelo pensamento e suas atividades, mas aquele que vem através da negação e da
destruição, quando nada mais resta do pensamento e de suas projeções. Só no vazio ocorre a criação. (Idem, pág. 45)

(…) A mente que descobriu o Sagrado se acha em constante revolução - não revolução econômica ou social, porém uma revolução interior, com a qual está a purificar-se
infinitamente. Seu atuar não se baseia em nenhuma idéia ou fórmula. Como o rio, ajudado pelo seu enorme volume de água, se purifica em seu curso, assim se purifica a mente após
haver atingido aquele estado religioso do Sagrado. (O Descobrimento do Amor, pág. 198-199)

A revolução religiosa é o começo de uma nova religião - a qual não pode ser organizada, não pode ter um clero, ou um presidente (…) e propriedades. (…) A religião a que me
refiro é o sentimento do sagrado, que não é sentimentalidade. É uma coisa que vem mediante árduo trabalho, mediante o penetrar de todas as ilusões (…) (O Homem Livre, pág.
106)

(…) Podem ser mui ordenados, (…) livres, porém a menos que exista essa coisa que é totalmente sagrada, (…) que não está contaminada pelo pensamento, a vida carece de uma
profunda significação. (…) Existe algo que o pensamento jamais pode alcançar e que, portanto, é incorruptível, atemporal, eterno e sagrado? (…) (Idem, pág. 213)

Para dar com isso, a mente deve estar completamente quieta, o que significa que o tempo chega ao fim; e nisso tem de haver liberdade completa com relação a todo preconceito,
opinião, juízo - entendem? Só então se encontra essa coisa extraordinária, que é atemporal e que é a essência mesma da compaixão. (Idem, pág. 213)

Há então alguma coisa sagrada, não inventada pelo pensamento? Nada há de sagrado no templo, na mesquita, nas igrejas. É tudo invenção do pensamento. Quando você se livra
disso, há alguma coisa sagrada que é inominada, atemporal, resultado de grande beleza e ordem total produzida em nossa vida diária? Eis por que a meditação é o movimento da
vida. (…) (Mind Without Measure, pág. 32)

Existe algo que seja sagrado, santo? Obviamente, as coisas que o pensamento há criado no sentido religioso - conferindo santidade às imagens, às idéias - não são sagradas em
absoluto. Aquilo que é sagrado, não tem divisão alguma, não separa um indivíduo como cristão, outro como hindu, budista, muçulmano (…) O que o pensamento há produzido
pertence ao tempo, é fragmentário, não é total e, por conseguinte, não é santo; ainda que vocês adorem uma imagem na cruz, isso não é sagrado; tem sido revestido de santidade
pelo pensamento; o mesmo sucede com as imagens criadas pelos hindus, budistas e assim sucessivamente. (La Totalidad de la Vida, pág. 197-198)

Pode a compaixão, o sentimento de bondade, o sentimento do sagrado da vida, (…) pode esse sentimento ser gerado pela compulsão? (…) A transformação, pois, dever ser “sem
causa”; a modificação que se opera em virtude de uma causa não é compaixão e, sim, mera transação. (…) (O Homem Livre, pág. 114)

Que é então o sagrado? Pode-se descobri-lo só quando o pensamento há encontrado, por si mesmo, seu lugar exato, sem esforço, sem o exercício da vontade, e quando existe esse
imenso sentido de silêncio; o silêncio da mente na qual não há nenhum movimento do pensar. (…) (Idem, pág. 198)

Para mim, a palavra “Sagrado” tem extraordinária significação. Mas (…) não quero fazer propaganda dessa palavra (…) Tendes de percorrer sozinho esse caminho, não
verbalmente, porém realmente. Tendes de morrer verdadeiramente para tudo o que conheceis - vossas lembranças, (…) tribulações, (…) prazeres. E, quando não houver mais
ciúme, nem inveja, nem a tortura do desespero, sabereis então o que é o amor e vos encontrareis com aquilo que pode ser chamado de Sagrado. (…) (O Descobrimento do Amor,
pág. 198)

(…) Como sabeis, um grande rio pode poluir-se quando, em seu curso, atravessa uma cidade; mas, se não for demasiada a poluição, poucas milhas além suas águas estão de novo
limpas, frescas, puras. De modo idêntico, depois que a mente se encontra com o Sagrado, todo ato seu é então um ato purificador. Com seu próprio movimento, a mente se está
tornando inocente e, por conseguinte, não está acumulando. (Idem, pág. 198)

Espiritualidade, Austeridade, Abandono, Imortalidade


Que entendeis pela palavra “espiritual”? Algo relativo ao espírito, independente do tempo (…) não fabricado pela mente (…) Ora, por certo, o Real, aquilo que é verdadeiramente
espiritual, não é coisa construída pela mente (…) E pode a mente, que é resultado do tempo, encontrar aquilo que é atemporal e ilimitado? Podeis praticar virtude à vontade, mas
isso, por certo, não é espiritual. (Viver sem Temor, pág. 60)

Quando a mente, compreendendo todo o processo do “vir-a-ser”, está inteiramente livre de toda e qualquer forma de ambição - o que, com efeito, significa: quando a mente está
tranqüila de todo e, portanto, não se está projetando no futuro - só então se apresenta, aquilo que se pode chamar de “espiritual”. Mas, enquanto estivermos lutando para ser
“espirituais”, continuaremos vulgares (…) (Idem, pág. 60)

Espiritualidade não é usar tanga, ou tomar uma só refeição por dia, ou repetir certo mantra ou frase fútil, ainda que estimulante. É mundanidade renunciar ao mundo e,
interiormente, continuar a fazer parte desse mundo de inveja, avidez, medo, de aceitação da autoridade, de separação entre o homem que sabe e o que não sabe. E também é
mundanidade buscar preenchimento, seja na fama, seja nisso que se pode chamar de ideal, ou Deus, ou outro nome qualquer (A Outra Margem do Caminho, pág. 45)

(…) Ora, por espiritual, entendemos uma coisa que não está sujeita a condicionamento, (…) que não é projeção da mente humana, que não está encerrada na esfera do pensamento,
que não está sujeita à morte. Pois bem, será o “eu' uma entidade espiritual dessa ordem? Se é uma entidade espiritual, tem de estar fora do tempo (…) O pensamento não pode
pensá-lo; (…) Se o pensamento é capaz pensar o “eu”, então este faz parte do tempo; por conseguinte, esse “eu” não é livre do tempo, logo não é espiritual, evidentemente. (Nosso
Único Problema, pág. 54)

Se pensais que sois uma entidade espiritual ou realidade, o que significa isso? Não implica um estado imortal, fora do tempo, um estado eterno? Se ele é eterno, então não tem
crescimento; pois aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 95)

Assim, temos agora de examinar o que entendemos por austeridade. O que é austeridade? O mundo inteiro, especialmente o religioso, tem usado essa palavra, estabelecido conceito
a respeito, particularmente em relação aos monges de vários mosteiros (Na Índia não há mosteiros, exceto para os budistas. Não há mosteiros organizados, felizmente). Portanto, o
que entendemos pela palavra austero, que supõe grande dignidade? Olhamos a palavra no dicionário. Ela vem da Grécia, significa manter a boca calada, isto é, ser mudo, sério
(…) Severo quer dizer austero? Intransigente, negar-se o luxo de um banho quente, ter poucas roupas, ou usar um tipo especial de traje, ou fazer voto de celibato, ser nobre, seguro
ou sentar-se continuamente com a coluna reta, controlar todos os desejos. Certamente, nada disso é austeridade. Isso é o que exteriormente se revela. (Last Talks at Saanen, pág.
88)

A austeridade não consiste em nenhum ato ou símbolo exterior - usar tanga ou o hábito monástico, tomar uma só refeição ao dia, ou viver vida de eremita. Essa simplicidade
disciplinada, por mais rigorosa que seja, não é austeridade; é mera ostentação exterior, sem realidade interior. Austeridade é a simplicidade da íntima solidão. Simplicidade de
uma mente purificada de todo conflito, livre das chamas do desejo, mesmo o desejo de coisas sublimes. Sem essa austeridade, não pode existir amor; e a beleza vem do amor.
(Diálogos sobre a Vida, 1ª ed., pág. 29)

Nessa total maturidade existe austeridade. Não a austeridade da penitência ou do hábito religioso, mas a displicente e espontânea indiferença com as coisas mundanas, perante
suas virtudes, seus deuses, sua respeitabilidade, suas esperanças e valores. Cumpre negar tudo isso para que desponte a austeridade contida no “estar só”. Nem a sociedade nem a
cultura podem influir nessa solidão. (Diário de Krishnamurti, pág. 52-53)

(…) Mas ela deve existir, não concebida pelo cérebro (…) Tem de surgir como um raio, sem se saber de onde vem. Sem austeridade, é impossível haver plena maturidade. O
isolamento - que é a essência da autocompaixão, da autodefesa, da vida reclusa baseada no mito, no conhecimento e na idéia - nada tem de comum com o “estar só”; no
isolamento, busca-se incessantemente a integração, porém mantendo-se a divisão. Estar só é viver livre de qualquer influência. E é essa solidão que é a essência da austeridade.
(Idem, pág. 53)

Este tem sido, em todo o mundo, o ponto de vista das pessoas religiosas: comprometam-se com Deus e então terão ordem perfeita. E cada religião, cada seita, traduz o que é Deus
segundo suas próprias crenças e, fragmentados nessa crença, aceitamos tal interpretação. Porém se você realmente quer descobrir se existe tal coisa como Deus, (…) algo que é
inominável, (…) então esse mesmo interesse há de criar ordem. (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 99)

(…) Para descobrir essa realidade, deve o indivíduo viver de maneira diferente: deve existir austeridade sem dureza; tem de haver amor. E o amor não pode existir se há medo, (…)
prazer. Para descobrir, pois, essa realidade, deve ele compreender a si mesmo, a estrutura e a natureza do “eu”; (…) (Idem, pág. 99)

Pergunta: Dizeis que, para ser criador, há necessidade de um estado de completo abandono e, no entanto, a austeridade é também necessária. Podem as duas coisas existir juntas?

Krishnamurti: Senhor, que é a beleza e como nasce o estado de beleza criadora? Obviamente, é necessária a existência do amor. E o amor significa abandono completo (…) Não o
estado de abandono criado pelo desejo, mas aquele abandono sem restrições, sem esperança de resultados, em que (…) não há medo. Só pode haver esse abandono completo
quando não existe o “eu”, o “ego”; e quando já não existe “eu”, não há, no estado de abandono, austeridade, simplicidade? (Visão da Realidade, pág. 175-176)

A Realidade só pode ser compreendida com completo “abandono”, e não podeis abandonar-vos enquanto existir qualquer forma de atividade egocêntrica. Não se pode ser austero
quando se cultiva a austeridade, porque então a mente está em busca de resultado. Há uma austeridade de espécie diferente, que nenhuma relação tem com o abandonar uma coisa
a fim de alcançar outra coisa (…) (O Homem Livre, pág. 146)

(…) Se desejais compreender o que é a Realidade, deve vossa mente ser capaz de extraordinária lucidez, silêncio, velocidade; e não é lúcida, não é silenciosa, não é veloz a mente
quando agrilhoada a qualquer forma de disciplina, paralisada pela moralidade social. Ao compreenderdes isso, vereis que existe uma disciplina, uma austeridade não resultante de
atividade egocêntrica; e essa disciplina é que é essencial, para que a mente possa seguir o rápido movimento da Verdade. (Idem, pág. 147)

Mas o autoconhecimento não é “cumulativo”; é o descobrimento do que sois de momento a momento. A mente está então tranqüila, e nessa tranqüilidade há grande beleza, da qual
nada sabeis. Há nela um espantoso movimento que destrói a germinação da mente. Esse silêncio tem uma atividade própria, seu modo próprio de atuar sobre a sociedade (…)
Graças a essa compreensão, há o verdadeiro “abandono” (passividade) e só então se apresenta esse extraordinário sentimento de silêncio. (O Homem Livre, pág. 151-152)

Para a maioria das pessoas, austeridade significa a destruição de tudo o que é belo ao redor delas. Exteriormente, essas pessoas rejeitam todas as coisas mundanas e só possuem
umas poucas coisas, mas, interiormente, elas não são simples, absolutamente; pelo contrário, são extraordinariamente complexas, consumidas de desejos, ansiando por certo
resultado. Isso, por certo, não é austeridade. (…) Só há estado de abandono quando não existe o “eu”, mas o “eu” não pode ser destruído pelo simples expediente de reprimir o
desejo. (Visão da Realidade, pág. 176)

Necessitamos de uma energia extraordinária para que a mente tenha a possibilidade de ficar quieta e descobrir o que é Deus, o que é a verdade; e se aquela energia está sendo
controlada, moldada pelo medo, (…) um condicionamento qualquer, ela não pode fluir “com abandono”, não pode ser livre; (…) essa energia, quando livre, criará sua peculiar
austeridade. (Idem, pág. 176)

É esse estado de abandono, com austeridade, que leva à beleza, e esse estado é amor. Se não temos amor, como podemos apreciar a beleza ou criar o que é belo? Mas não pode
haver amor enquanto não houver aquele abandono, que só se tornará existente quando não mais existir o “eu”, o “ego”. Está visto, pois, que esse estado criador só pode surgir ao
existir amor, “abandono” e austeridade; mas, a simples austeridade sem abandono, sem amor, nada significa. (Idem, pág. 176-177)

(…) Como sabeis, dividimos o amor em coisa divina e coisa terrena, e criamos assim uma batalha entre as solicitações da carne e a ânsia do divino, entre o amor virtuoso e o amor
físico. Mas é possível amar, não sentimental ou fisicamente, mas amar com aquela bondade e aquele perfume do amor no nosso coração, esvaziado de todas as coisas da mente?
Ora, por certo, isso só é possível quando entregamos completamente o nosso coração a uma coisa; não há então conflito: há abandono, e esse estado de abandono cria sua peculiar
austeridade (…) (Visão da Realidade, pág. 177)

No entanto, há uma austeridade que não seja sensação, (…) concebida, lisonjeada, que não diga: “Serei austero a fim de (…)?” Há uma austeridade que não seja visível por todos?
Estão entendendo? Há uma austeridade que não tenha disciplina - que tenha um sentido de totalidade, internamente, na qual não haja desejo, quebra, fragmentação? Com essa
austeridade surge a dignidade, a quietude. (Last Talks at Saanen, pág. 88)

(…) Quando a mente está a libertar-se constantemente, pelo morrer para o conhecido, momento a momento, daí provém uma disciplina espontânea, uma austeridade nascida da
compreensão. A verdadeira austeridade é uma coisa maravilhosa; não é a disciplina seca, e sem nenhum valor, da renúncia destrutiva, que em geral imaginamos. (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 215)

Não sei se já alguma vez experimentastes esse extraordinário sentimento de “ser completamente austero” - coisa que nada tem em comum com a disciplina de controle,
ajustamento, submissão. E essa austeridade deve existir, porque nela há grande beleza e intenso amor. É essa austeridade que é apaixonada; e só se apresenta essa austeridade
quando há solidão interior. (Idem, pág. 215)

O abandono da personalidade, do “eu”, não se dá por ato de vontade; a travessia para a outra margem não é uma atividade dirigida para um fim ou ganho. A Realidade
apresenta-se na plenitude do silêncio e da sabedoria. Não podeis chamar a Realidade, ela deverá vir por si mesma; não podeis escolher a Realidade, ela é que deverá escolher-vos.
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 84-85)

Conheceis a palavra “paixão”; essa palavra significa, muitas vezes, “sofrimento”. (…) Não é nesse sentido que estamos empregando a palavra “paixão”. No completo estado de
negação, encontra-se a mais elevada forma da paixão; essa paixão implica “total abandono de si próprio”. Para esse “total abandono” necessita-se de austeridade em alto grau;
austeridade que não seja a rudeza do sacerdote para com os que o cercam; que não seja a austeridade dos santos, que a si próprios torturam (…).

Austeridade é, com efeito, simplicidade no mais alto grau - não simplicidade no vestir, no comer, porém simplicidade interior. Essa austeridade, essa paixão, é a negação total, a
negação na forma mais elevada. (…) Podeis então fazer o que quiserdes - porque haverá amor! (A Essência da Maturidade, pág. 57)

Ao verificardes as limitações que o ambiente colocou ao redor de nós, ao discernimos o seu verdadeiro significado, e em virtude dele mesmo desarraigarmos essas coisas estúpidas,
começamos a verificar o que é a verdadeira inteligência. E a expressão dessa inteligência na ação é imortalidade, é a bem-aventurança do viver no presente. (Palestras em New
York City, 1935, pág. 11)

Tendes múltiplas idéias concernentes à completação da vida e à imortalidade. Para mim, porém, essa imortalidade, essa riqueza, essa vida completa, só pode ser compreendida e
vivida quando a mente estiver integralmente livre das limitações, dos absurdos que o ambiente, tanto o passado como o presente, tanto o herdado como o adquirido, continuamente
colocam ao redor de nós. (Idem, pág. 11)

A imortalidade é um contínuo vir-a-ser, não dessa consciência a que chamamos de “eu”, porém dessa inteligência que se libertou tanto do individual como do coletivo, dessa
consciência que cria distinções. (Palestras em New York City, 1935, pág. 25)

Isto é, depois que a mente se despoja de toda ilusão e ignorância, é capaz de discernir o infinito presente. É uma coisa que se não pode explicar, acerca da qual não se pode
raciocinar. Está para além de todos os argumentos. Tem de ser vivida. Exige grande persistência e constante firmeza de propósito. (Idem, pág. 25)

Para a maioria das pessoas, é este o problema: ser capaz de discernir o verdadeiro significado da vida com seus conflitos e tristezas, sem criar um novo conjunto de ilusões -
portanto, vivendo direta e simplesmente - ou então só esperar, marcar passo. Uma das coisas conduz ao êxtase da imortalidade; a outra à completa desordem, à superficialidade, ao
tédio, à vida fútil que a grande maioria vive (…) (Idem, pág. 26-27)

Compreender a imortalidade, a Vida, é coisa que exige grande inteligência. (…) Isso exige incessante discernimento, que só pode existir quando houver bastante penetração,
demolição das paredes da tradição, da aquisitividade e das reações autoprotetoras. (…) (Palestras em New York City, pág. 44)

(…) Assim, pois, para averiguar o que é verdadeiro, qual o significado da vida, o que é a imortalidade, (…) tendes de possuir inteligência; e, para despertar essa inteligência,
necessitais de despojar a mente e o coração das coisas estúpidas (Palestras em New York City, pág. 22)

Digo-vos que há uma realidade vivente, uma imortalidade, uma eternidade que não pode ser descrita; e que só pode ser entendida na plenitude de vossa própria ação individual, e
não como parte de qualquer estrutura (…) social, política ou religiosa. (…) Enquanto não agirdes a partir dessa eterna fonte, haverá conflito (…) divisão e contínua luta.
(Coletânea de Palestras, 1930-1935, pág.46)

Atitude Científica e Espírito Religioso, Correlação


Vai ser dificílimo “discutir”, isto é, investigar. Investigar é uma verdadeira arte. Não é como dizer: “Creio e desejo, ou vou fazer isto”. Investigar, tal é o método científico: olhar,
observar, sentir, apreender os fatos. Quando dizeis: “Desejo alcançar a Deus, farei isso”, não estais amadurecido, não tendes espírito científico. O espírito científico nunca aceita:
ele olha, observa, considera. Só assim a mente é capaz de descobrir. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 102-103)

A mente científica é objetiva. Sua missão é descobrir; perceber. Vê as coisas através de um microscópio, de um telescópio; tudo tem de ser visto exatamente como é; dessa
percepção, a ciência tira conclusões, constrói teorias. Essa mente move-se de um fato para outro fato. (…) Os cientistas existem para explorar a matéria, investigar a estrutura da
terra, das estrelas e dos planetas, descobrir meios para curar os males do homem (…) (Ensinar e Aprender, pág. 16)

Há, também, a verdadeira mente religiosa, que não pertence a nenhum culto, nenhum grupo, nenhuma religião.

(…) A mentalidade religiosa não é a mentalidade hindu (…) cristã (…) budista, muçulmana. (…) A mente religiosa é completamente só. Ela já compreendeu a falsidade das igrejas,
dos dogmas, das crenças, das tradições. (…) É explosiva, nova, fresca, sã. A mente sã, jovem, é extraordinariamente maleável, sutil, não tem âncora. Somente ela pode descobrir o
que se chama “Deus”, o que é imensurável. (Idem, pág. 17)

Só é verdadeiro o ser humano quando alia o espírito científico ao autêntico espírito religioso. Então, os homens criarão um mundo justo (…) O genuíno brahmane é o novo ente
humano, que tem simultaneamente a mentalidade científica e a mentalidade religiosa, sendo, portanto, harmônico, sem nenhuma contradição interior. Para mim, o objetivo da
educação é criar essa nova mentalidade, que é explosiva e não se adapta a nenhum padrão estabelecido pela sociedade (Idem, pág. 17)

É criativa a mente religiosa. Não lhe basta acabar com o passado, tem também de explodir no presente. Ela, diferentemente da que só interpreta os livros sagrados e a bíblia, é
capaz de perquirir, bem como criar uma realidade explosiva. Aí não há interpretação nem dogma. (Ensinar e Aprender, pág. 17)

É sobremodo difícil alguém ser religioso e ter uma mente lúcida, objetiva, científica, intrépida, alheia à própria segurança, aos próprios temores. Não podemos ter uma mente
religiosa sem a compreensão total de nós mesmos (…) Para descobrir e superar tudo isso, torna-se indispensável encarar o problema com uma mente científica, que é objetiva,
clara, sem preconceitos, que não condena, que observa, que vê. Com essa mentalidade, somos efetivamente um ser humano culto (…) que conhece a compaixão. Tal ente humano
sabe o que é estar vivo. (Idem, pág. 17)
(…) A mente religiosa é, deveras, uma mente científica; científica no sentido de que é capaz de observar os fatos sem desfigurá-los, de ver a si mesma tal como é. O libertar-se do
condicionamento requer, não uma mente crédula, uma mente disposta a aceitar, porém uma mente capaz de se observar racionalmente, sãmente, e de perceber que, a menos que
seja despedaçada a estrutura psicológica da sociedade, ou seja o “eu”, não pode haver “inocência”; e que, sem inocência, a mente nunca poderá ser religiosa. (O Homem e seus
Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 94)

Parece-me que, neste nosso mundo atual, onde vemos tanta confusão, aflição e agitação, são necessárias a mente científica e a mente religiosa. Esses dois, sem dúvida, são os
únicos estados mentais reais; pois não é real o estado da mente que crê, (…) condicionada, quer pelo dogma do cristianismo, do hinduísmo, quer por qualquer outra crença ou
religião. Afinal, temos problemas imensos e a vida se tornou muito mais complexa. (…) (O Passo Decisivo, pág. 98)

Assim, para vivermos neste mundo - com suas rotinas, seu tédio, a existência superficial da classe média, da classe superior ou da inferior - e resolvermos os nossos problemas,
ultrapassá-los, penetrar profundamente em nós mesmos, só há dois caminhos: o científico ou o religioso. O “caminho” religioso inclui o científico, mas o científico não contém em
si o religioso. (Idem, pág. 98)

Mas necessitamos do espírito científico, uma vez que este é capaz de examinar rigorosamente todas as causas da miséria humana; o espírito científico poderá promover a paz
mundial, objetivamente - alimentar a humanidade, dar-lhe casas para morar, roupas, etc. - não apenas aos ingleses ou aos americanos, mas a todo o mundo. Não se pode viver na
prosperidade, numa extremidade da terra, enquanto na outra extremidade existe degradação, doença, fome e esqualidez. (…) (O Passo Decisivo, pág. 98-99)

Sabemos o que é “espírito científico”: espírito de investigação, nunca satisfeito com seus achados, sempre variável, nunca estático. Foi o espírito científico que criou o mundo
industrial; mas esse mundo industrial, sem revolução interior, produz uma medíocre maneira de viver. Sem essa revolução interior, todas as glórias e belezas da chamada vida
intelectual só podem tornar a mente mais embotada, mais contentada, satisfeita, segura. O progresso em certos sentidos é essencial, mas também destrói a liberdade. (Idem, pág.
99)

Não sei se já notastes que, quanto mais coisas tendes, tanto menos livres sois. E, por isso, os homens religiosos do Oriente têm dito: “Renunciemos às coisas materiais, pois não
importam. Busquemos a outra coisa.” Mas eles tampouco acharam essa “outra coisa”. Sabemos, pois (…) o que é o espírito científico - o espírito que existe no laboratório. Não me
refiro ao cientista como indivíduo; este é provavelmente igual a vós e a mim, entediado da existência de cada dia, avarento, ávido de poder, posição, prestígio. (O Passo Decisivo,
pág. 99)

Agora, muito mais difícil é averiguar o que é espírito religioso. (…) Queremos saber o que é espírito religioso - não esse estranho espírito que prevalece nas religiões organizadas,
porém o genuíno espírito religioso. Como proceder? (Idem, pág. 99)

Só se começa a descobrir o que é verdadeiro espírito religioso por meio do pensar negativo, porquanto, para mim, o pensar negativo é o pensamento em sua forma mais elevada.
Entendo por pensar negativo aquele que despreza, que rompe e destroça as coisas falsas, construídas pelo homem para sua própria segurança, seu sossego interior; (…) as defesas
e o mecanismo de pensamento construtor dessas defesas. (O Passo Decisivo, pág. 99-100)

É preciso destroçar tudo, isso, ultrapassá-lo, (…) para ver se algo existe além. E o ultrapassar dessas coisas falsas não é uma reação ao que existe. Certo, para descobrirmos o que
é o espírito religioso e dele nos abeirarmos negativamente, precisamos ver no que cremos, e por que cremos, por que aceitamos todos os inumeráveis condicionamentos que as
religiões organizadas do mundo inteiro impõem à mente humana. (…) (Idem, pág. 100)

Direis, porventura, que, se ultrapassarmos todas essas chamadas estruturas positivas, atrás das quais a mente se abriga, ultrapassá-las sem desejar encontrar algo mais - nada mais
restará senão desespero. Mas eu acho que temos de passar também pelo desespero. Só existe desespero quando há esperança - a esperança de nos pormos em segurança,
permanentemente confortados, perpetuamente medíocres, perenemente felizes. (O Passo Decisivo, pág. 100)

Para a maioria de nós, o desespero é reação à esperança. Mas, para se descobrir o que é o espírito religioso, acho que essa investigação deve realizar-se sem nenhuma provação,
(…) reação. Se vossa busca é apenas reação - porque desejais mais segurança interior - nesse caso vossa busca visa apenas a um conforto maior, seja numa crença, numa idéia,
seja no conhecimento, na experiência. E a mim me parece que tal modo de pensar nascido da reação, só pode produzir mais reações, (…) não oferece a libertação do processo de
reação, que impede o descobrimento. (…) (Idem, pág. 100)

Assim, para descobrir o que é o verdadeiro espírito religioso, a mente deve achar-se num estado de revolução, e isso significa a destruição de todas as coisas falsas que lhe foram
impostas, seja por pressão externa, seja por ela própria; pois a mente está sempre em busca de segurança. (O Passo Decisivo, pág. 100-101)

Afigura-se-me, pois, que o espírito religioso encerra esse constante estado mental que nunca constrói para sua própria segurança. Porque se a mente constrói com essa ânsia de
segurança, então ela fica vivendo detrás de seus próprios muros e, portanto, é incapaz de descobrir algo novo. (Idem, pág. 101)

Por conseguinte, faz-se necessária a morte, a destruição do “velho”: destruição da tradição, libertação total do que foi, abandono das coisas acumuladas como memória, através
de séculos. (…) E esse “limpar da lousa” - que significa morrer todos os dias e de momento a momento, para as coisas acumuladas - requer abundante energia e profundo
discernimento; e isso faz parte do espírito religioso. (Idem, pág. 100)

Outra parte do espírito religioso é o “espírito-força”, que inclui a ternura e o amor. (…) E, com cada palavra “força”, quero referir-me a algo completamente diferente do impulso
para ser poderoso, do desejo de dominação, controle; do poder que a abstinência confere; ou do poder de uma mente sagaz, cheia de ambição, avidez, inveja, ávida de perfeição.
(…) Existe essa força, esse poder, uma coisa “exterior”, não produzida por nossa vontade ou desejo. Nesse poder reside aquela coisa extraordinária que é o amor; e este faz parte
do espírito religioso. (O Passo Decisivo, pág. 101-102)

O amor não é sensual; nenhuma relação tem com a emoção; não é reação ao medo; não é amor materno, amor conjugal, etc. (Idem, pág. 102)

Segui bem isso, penetrai-o, sem nada aceitar nem rejeitar (…) Direis, talvez: “Tal amor (…) estado mental não baseado em lembranças, é impossível.” Mas eu acho que ele pode
ser encontrado. É um poder existente por si só; é energia não causada. Difere inteiramente da energia gerada pelo “eu” em sua ânsia de alcançar as coisas que deseja. (…) (O
Passo Decisivo, pág. 102)

(…) Tomai, por exemplo, o caso de um cientista, um grande cientista, e não um pseudo-cientista. Um verdadeiro cientista está continuamente experimentando sem buscar
resultados. Em sua pesquisa há o que chamamos de resultados, mas ele não está preso a isso, pois continua sempre experimentando. Nesse mesmo momento da experimentação ele
encontra alegria. Essa é a verdadeira meditação (…) (Palestras em Adyar, Madras, 1933-1934, pág. 91-92)

Agora, a parte nunca é o todo. (…) Não podemos alcançar o todo por meio de uma parte. (…) Ao terdes esse percebimento total, então, nesse sentimento total, está incluída a morte,
a destruição, o sentimento de força pelo amor, e a criação. E isso é a mente religiosa. Mas, para alcançar esse estado religioso, a mente deve ser precisa, pensar com clareza,
logicamente, nunca aceitando (…) conhecimento, experiência, opinião, etc. (O Passo Decisivo, pág. 103)

Vemos, pois, que a mente religiosa encerra em si a mente científica; mas a mente científica não contém a mente religiosa. O mundo vem tentando consorciar as duas, mas isso é
impossível; (…) (Idem, pág. 103)

Indivíduo, Conceito; Ser Total, Livre, Independente


Atualmente, não sois indivíduos, mas simples máquinas de imitar, produto de certo meio cultural, (…) sistema educativo. Sois o corpo coletivo, não sois indivíduo (…) Todos sois
hinduístas ou cristãos, isto ou aquilo, com certos dogmas, crenças, o que significa que sois produto da massa. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 80)

Quando sois controlado por outro indivíduo, pelo poder do dinheiro, da posição, do prestígio, está sendo completamente negado, destruído o sentimento de que sois um indivíduo,
um ente humano, uma unidade independente. (…) (Debates sobre Educação, pág. 132)
Nós não somos indivíduos. Temos nomes separados. Vós tendes um corpo separado; (…) mas, interiormente, psicologicamente, não sois um indivíduo. Pertenceis à raça, à
comunidade, à tradição, ao passado, e, por conseguinte, deixastes de ser criador. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 178)

Porque não somos indivíduos, não sabemos o que significa amar. Só compreendemos o amor que contém ciúme, ódio, inveja (…) E o homem que deseja compreender essa coisa
chamada “amor”, deve, antes de tudo, compreender o que significa ser livre. (Idem, pág. 178)

(…) Porém, nós não somos indivíduos em absoluto; somos resultado da cultura na qual vivemos. Um indivíduo significa uma entidade que não está fragmentada, que é total; nós
não somos isso. Estamos divididos, fragmentados, em estado de contradição dentro de nós mesmos. Portanto, não somos indivíduos. (El Despertar de la Inteligencia, 1ª ed., pág. 94)

Pode-se ver que, enquanto nos estamos ajustando ao padrão da sociedade e somos apenas produtos do coletivo, não pode haver liberdade, mas só avidez e conflito (…) entre
diferentes grupos e entre os chamados “indivíduos” dentro de cada grupo. O conflito, a disciplina, o desejo de expansão, etc., estão dentro do padrão da sociedade (…) (Palestras
na Austrália e Holanda, 1955, pág. 24)

Quando compreendemos esse padrão e ficamos, assim, livres de todas as crenças impostas pela sociedade, seja ela comunista ou capitalista, seja cristã ou hinduísta, talvez então
possa surgir o indivíduo genuíno, aquele que está completamente só, porém não isolado. (…) (Idem, pág. 24)

O homem isolado está todo entregue à sua atividade egocêntrica (…) fechado no seu egoísmo (…) Mas eu me refiro a coisa muito diferente, à solidão que é incorruptível. Nesse
estado há liberdade. (Idem, pág. 24)

Você, como inglês, francês, americano, russo, indiano ou seja qual for a nacionalidade ou grupo ao qual pertença - é diferente do resto da humanidade? É um indivíduo separado,
lutando isoladamente - almas separadas, cada uma buscando seu próprio preenchimento, felicidade, salvação, identificando-se com algo nobre, ilusório, imaginário? Você está
vivendo em isolamento nesta terra, cada um sozinho - separado do resto da espécie humana? Essa separação, denominada “individualismo”, pode ser uma das causas pela qual o
ser humano não vive em paz, nem em suas relações internacionais nem com seu vizinho. (The World of Peace, pág. 32)

Ora, para se agir, requer-se evidentemente individualidade verdadeira; mas (…) não somos, com efeito, verdadeiros indivíduos; psicologicamente, estamos separados. Não somos
indivíduos, no sentido exato da palavra, pois somos constituídos de muitas camadas de memória, de tradição, conflito e padrões, tanto conscientes como inconscientes; (…) Nessas
condições, se examinamos atentamente o indivíduo, não encontramos individualidade alguma, não encontramos originalidade. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 139)

Um ser humano que não esteja dividido, não fragmentado, é realmente um indivíduo. Mas a maioria de nós não é indivíduo; pensamos que somos e, por conseguinte, há a oposição
do indivíduo em relação à comunidade. Temos de entender não apenas o significado da palavra individualidade, na acepção que dá o dicionário, mas no sentido em que não há
nenhuma forma de fragmentação. Isso implica perfeita harmonia entre a mente, o coração e o físico. Somente então existe a individualidade. (The Awakening of Intelligence, pág.
76)

Afinal, sois, ou não, indivíduos? Ora, o que é um indivíduo? Não o é um ser humano que é arrastado à ação pelo ambiente, pelas circunstâncias. Digo que a verdadeira
individualidade consiste em libertar a mente do que é falso no ambiente e, assim, tornar-se verdadeiramente individual, e, então, haverá cooperação. (Palestras em Auckland, 1934,
pág. 127)

Por favor, (…) neste mundo, tal como se acha constituído, cada indivíduo está lutando contra o seu próximo, em busca da própria segurança, proteção, preservação. Dessa maneira
não pode haver cooperação. (…) Somente haverá cooperação que seja inteligente, humana, criativa, não egoísta, quando vós, como indivíduos, vos tornardes indivíduos plenos. (…)
(Idem, pág. 127)

O que nos está conservando separados é o nosso preconceito, a nossa falta de percepção dos justos valores (…); e é somente como indivíduos que podemos derrubar esse sistema.
Isso significa que não podeis ter nacionalidade alguma, nem sentimento de possessividade, embora tenhais vestuários e casa. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 128)

Esse sentimento de posse desaparecerá quando houverdes descoberto vossas necessidades reais, quando toda a vossa atitude não for a de possessiva consciência de classe. Quando
cada indivíduo tomar interesse pelo bem-estar da coletividade, então poderá haver verdadeira cooperação. Presentemente, não há cooperação porque sois arrastados, como
carneiros, em uma direção ou em outra, pelas circunstâncias, e vossos líderes vos eclipsam porque sois apenas meios de exploração (…) (Idem, pág. 128)

Ser indivíduo é ser único, interiormente distinto, tranqüilo, só. A mente que está só encontra-se liberta de todo o seu condicionamento. E qual a sua relação com a mente que se
acha condicionada? (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 21)

Todavia (…) Já expliquei o que entendo por individualidade. O estado em que a ação se realiza com entendimento, liberta de todos os padrões - sociais, econômicos ou espirituais
(…) por ser ação nascida da plenitude do entendimento. (…) (Coletânea, de Palestras, pág. 52)

Mas, se compreendêssemos a verdadeira função da individualidade, então atacaríamos a causa raiz de todo esse caos no mundo, (…) que existe porque não somos verdadeiramente
individuais. Por favor, compreendei o que quero dizer por ser individual; não quero dizer individualista. (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 110)

(…) Mas se cada um, individualmente, começar a libertar-se de toda imitação, e dessa forma começar a realizar esta vida criadora, esta energia criadora que é livre e espiritual,
então, eu sinto que não procurará nem dará tanta preeminência, seja ao possuir ou ao não possuir. (…) (Idem, pág. 111)

Para pôr termo ao caos do mundo, à inexorável agressão e exploração, não podeis ter em vista nenhum sistema. Somente vós mesmos podeis fazer isso quando vos tornardes
responsáveis (…) quando estiverdes realmente criando, quando já não imitardes. Nessa liberdade, haverá a verdadeira cooperação, não o individualismo que agora existe. (Idem,
pág. 112)

Só a mente livre de escolha é capaz de perceber o que é verdadeiro (…) Só quando estamos livres do fundo do condicionamento, existe a verdadeira individualidade; e isso requer
muita reflexão e investigação. (As Ilusões da Mente, pág. 103)

Cada um de nós é uma entidade coletiva, ou um indivíduo separado, distinto? Vós e eu somos indivíduos separados, totalmente diferentes um do outro? Não é isso que entendemos
por individualidade: uma mente não contaminada pelo coletivo, não moldada pelas circunstâncias, pelo ambiente, pelo passado? (Verdade Libertadora, pág. 128)

Vós e eu somos indivíduos assim? Evidentemente, não somos. Podemos pensar que somos indivíduos, mas, na realidade, as nossas crenças, tradições, nossos valores, modos de vida,
são os mesmos do todo coletivo. Sois cristãos, ou hinduístas, ou budistas, ou comunistas, e isso significa que fostes contaminados, condicionados para serdes tais; e cada um se
empenha em converter os outros. (Idem, pág. 128)

Ora, tal condicionamento do indivíduo é criador? Embora nos submetamos a esse condicionamento, nunca somos felizes interiormente; há sempre uma resistência. Porque, nessa
submissão ao coletivo, não há liberdade; (…) E o indivíduo, vendo-se aprisionado pelas convenções e pela tradição, está sempre procurando expressar-se e preencher-se por meio
da ambição. Trata então a sociedade de freá-lo, do que resulta conflito entre o indivíduo e a sociedade, uma guerra perene. (Poder e Realização, pág. 90)

Quase todos nós somos resultado do “coletivo”. Não há pensar individual. (…) Penso que a individualidade é completamente diferente da coletividade, e não é reação ao
“coletivo”; mas a individualidade como coisa inteiramente separada do “coletivo” não existe. O que chamamos “individualidade” é apenas uma reação, e reação não é ação total.
Toda reação produz mais limitação, condiciona mais ainda a mente. (O Homem Livre, pág. 91)

Não emprego, pois, a palavra “individualidade” no sentido de “oposição ao coletivo”; estou-me referindo a um estado mental totalmente independente, dissociado do processo
coletivo de pensar. (…) O “coletivo” só pode reagir consoante o velho condicionamento, o velho padrão de pensamento; o importante, de certo, é que se verifique o despontar da
individualidade, a qual é exterior à atual estrutura social e não faz parte do padrão coletivo do pensamento, com seus dogmas e crenças (…) (O Homem Livre, pág. 91-92)

Não sei se estais bem cônscios (…) Pode-se ver que a velha reação coletiva não se tem mostrado adequada (…) cria novos problemas (…) Nosso problema, portanto, é descobrir se
a mente, resultado do coletivo, pode libertar-se e tornar-se individual - mas não no sentido de reação, de revolta contra o coletivo (…) Pode a mente, pela compreensão do
“coletivo”, pelo investigar, pesquisar o seu inteiro processo, dissociar-se do coletivo e, com essa profundeza de compreensão, promover, não intelectual porém realmente, ação
imediata? Pode a mente libertar-se e atuar como individualidade total? (…)(O Homem Livre, pág. 92)

Esse problema vos concerne (…) Pode a mente libertar-se do “coletivo”, ou seja, de seu próprio condicionamento? Libertar-se do coletivo não é simplesmente (…) renunciar
verbalmente a determinado estado mental; significa libertar-se de todo o conteúdo emocional de palavras tais como “hinduísta”, “budista”, “cristão”, “comunista”, “hindu”,
“russo”, “americano” , etc. Podeis despojar a mente da etiqueta verbal, mas lá fica certo “conteúdo íntimo”, um íntimo sentimento de ser algo, em determinada cultura ou
sociedade. (…) (O Homem Livre, pág. 92)

(…) Por outro lado, a pessoa que se liberta do coletivo, que é a prisão do condicionamento, é verdadeiramente individual, criadora, e só essa pessoa pode ajudar a criar uma
civilização de espécie diferente, uma nova cultura, pois nela própria não existe contradição. Sua ação é inteira, total, não está sendo dividida por idéias, não há hiato entre a ação
e o pensamento, (…) Só tal pessoa está integrada e é capaz de compreender totalmente o processo da contradição; (…) (Visão da Realidade, pág. 64)

O homem que percebe a prisão do seu próprio condicionamento e se revolta, não dentro da prisão, mas totalmente, de maneira que a própria revolta o impila para fora da prisão -
esse homem é que é um verdadeiro revolucionário (…) (Idem, pág. 64-65)

Pensar Coletivo, Submissão, Jugo Mental, Emancipação


Creio que a maioria de nós percebe a necessidade de uma revolução radical, de que resulte uma nova dimensão do pensamento, isto é, que comecemos a pensar num nível
completamente diferente, pois, de modo nenhum podemos continuar como estamos, (…) ou seja, repetindo um padrão e “funcionando” dentro de seus limites. (…) funcionar dentro
de um padrão constitui uma continuidade do que foi; (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90)

Pois bem (…) O mundo se acha numa crise tremenda, sem precedentes, e, se agirdes como coletividade, vossa reação não será nova, e, por conseqüência, não produzirá a ação
criadora que o desafio exige. Vossa reação só pode ser nova se estiverdes completamente fora dos limites de vossas tradições, se já não fordes hinduísta, nem cristão, nem budista,
nem comunista. (Visão da Realidade, pág. 39)

Examinemos (…) Existe pensar pessoal e pensar coletivo? Ou tudo é pensamento coletivo, mas acontece que o “personalizamos”? Vós sois ingleses: isso é pensamento coletivo.
Todos sois cristão: isso é pensamento coletivo. Só há pensar individual quando um homem se liberta do “coletivo”, quando já não está confinado, limitado, condicionado. Assim,
por certo, nós só somos indivíduos no sentido de haver um organismo separado de outro organismo (…) Todo o nosso pensar não é coletivo? (…) (O Passo Decisivo, pág. 86)

(…) Mas a questão é: existe pensar individual, separado do coletivo? O que estou tentando dizer é isto: Sou educado como hinduísta, (…) cristão, budista (…), e creio em tudo que a
sociedade crê, sendo eu parte dela. Existe pensamento separado desse todo? Todo pensamento separado só pode ser uma reação (…) Posso libertar-me da estrutura do “coletivo” e
me declarar separado, mas isso, em verdade, é apenas uma reação dentro daquela estrutura (…) Eu estou falando a respeito da rejeição total da estrutura (…) Se é possível, há
então pensamento individual, que não é mera reação ao “coletivo”. (Idem, pág. 86)

Positivamente, a liberdade deve começar no indivíduo, que é um processo total, não antagônico à massa. (…) Mas se o indivíduo, (…) embora resultado da massa, do todo - se o
vizinho se transforma a si mesmo, se transforma a sua vida, para ele haverá então liberdade; e, sendo resultado de um processo total, logo que se liberta do nacionalismo, da
avidez, da exploração, pode exercer ação direta sobre o todo. A regeneração do indivíduo não é para o futuro, mas para agora; e se adiais para amanhã a vossa regeneração,
atraireis a confusão, sereis colhido pela onda de escuridão. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 139)

Não somos ainda um corpo seleto de pessoas fora deste mundo em conflito. Somos parte dele, com sua confusão, miséria, incerteza, com seus grupos políticos em oposição, com
seus ódios raciais e nacionais, com suas guerras e crueldades. Não somos ainda um grupo à parte, nem tampouco indivíduos definidamente ativos que, com profunda compreensão,
sejam contra a presente civilização. (…) (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 9)

Observa-se no mundo (…) a deterioração que está invadido todos os níveis de nossa existência. E, observando esse fenômeno (…) somos naturalmente levados a investigar se não
existirá um caminho diferente, uma maneira diversa de considerar o problema da existência e das relações humanas, se não haveria a possibilidade de uma revolução que projete
todo o processo do pensar numa dimensão inteiramente nova. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90)

Mas, como, de que maneira e em que nível, irá realizar-se essa revolução? Vede o que está ocorrendo neste país: industrialmente, talvez esteja progredindo muito; cientificamente,
um pouco atrasado (…); mas moral, intelectual e religiosamente, acha-se estagnado. (…) E observa-se, também, que a mente, o próprio cérebro, se tornou mecânico e, por
conseguinte, repetitivo: ensine-se-lhe certo padrão de comportamento, certas normas de conduta, (…) atitudes, desejos, ambições, etc., e ele ficará funcionando dentro desse canal,
(…) padrão.(Idem, pág. 90-91)

Ora, observando-se tudo isso, percebe-se a necessidade de radical transformação da própria natureza do cérebro. O cérebro (…) existe há dois milhões de anos. E podemos
continuar por outros dois milhões de anos a repetir o mesmo padrão: sofrimento, dor, mulher, família, filhos, marido, disputas, nacionalidades, (…) a asserção de (…) Deus, de que
devemos ser virtuosos (…) (Idem, pág. 91)

Pode-se ver, por conseguinte, que a própria natureza do cérebro deve passar por uma tremenda revolução - revolução que vos interessa, não na qualidade do indivíduo unicamente
interessado em seu pequenino cérebro, porém na qualidade do ente humano. Não sei se se pode diferenciar entre o indivíduo e o ente humano - eu pelo menos quero diferenciar.
(Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 91)

Sempre que falamos a respeito de mudança, referimo-nos à mudança individual. Isto é, vós mudais e eu mudo, promovendo uma diferente atividade, estabelecendo um diferente
padrão em nosso insignificante cérebro - cada um de nós, como indivíduo, vive a lutar e a lutar por tornar-se um pouco melhor, possuir um pouco mais de caráter, (…) de
inteligência, ser um pouco mais bondoso (…) etc; como indivíduo, a funcionar na estreita esfera de sua própria consciência. (Idem. pág. 91)

É isso que em geral se chama de “indivíduo”; e, se nessa existência insignificante e condicionada, a pessoa se torna um pouco atenta, vigilante, então trata de fazer algo que
resulte em transformação (…) dentro da limitada esfera de sua própria consciência. É isso que chamamos e ” indivíduo”, em oposição a “coletivo”, sendo este a multidão, a
sociedade, a nação, a raça, etc. (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 91-92)

Pelo exame de fato, pode-se ir ao encontro de algo completamente diferente, algo que não é nem o “indivíduo” nem o “coletivo”, porém que se acha além, muito além de um e
outro. E (…) só o descobrimento dessa coisa produzirá aquela extraordinária mutação no próprio cérebro. (Idem, pág. 92)

A verdadeira questão, por conseguinte, é esta: É possível, a vós e a mim, promovermos essa mutação no uso do próprio cérebro, uma revolução que não seja processo gradativo, no
tempo, porém revolução, mutação imediata, resultante da compreensão imediata? Ela implica, por conseguinte, a inexistência do amanhã. Buscar a compreensão por meio das
idéias supõe o tempo, (…) (Idem, pág. 93)

Percebe-se a necessidade dessa revolução; (…) que, para realizá-la, requer-se ardor, madureza e energia. (…) O indivíduo está amadurecido - não em relação ao tempo, à idade,
etc. - amadurecido, rico, completo, quando é capaz de olhar, de observar, de viver sem amargor, sem medo, sem desejo de preenchimento, pois tudo isso denota falta de madureza.
(…) Porque só depois de lançardes fora todos esses absurdos, estará amadurecida a vossa mente. Tereis então, infalivelmente, energia - a energia de que necessitais para promover
aquela extraordinária mutação. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 95)

Penso que há necessidade de uma revolução total; não mera reforma, porque as reformas geram sempre novas reformas, e esse é um processo interminável. Mas eu sinto quanto é
importante, quando agora, (…) em presença de uma crise formidável, que haja uma revolução total na nossa mente, no nosso coração, na nossa atitude perante a vida. (…)
(Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 109)

Uma revolução dessa ordem só pode ser realizada religiosamente. Isto é, só quando uma pessoa é verdadeiramente religiosa, é possível haver tal revolução. A verdadeira religião
não pode ser coletiva. Ela tem de ser produto do esforço individual, da investigação individual, da libertação individual. Não se pode achar a Deus coletivamente. Qualquer forma
de coletivismo na investigação, só pode ser uma reação condicionada. (… ) (Idem, pág. 110)

Acho importante compreender isso, porque estamos sempre preocupados com a reação das “massas”. (…) Se vós e eu nos pudermos separar do pensar coletivo, do pensar como
holandeses, cristãos, budistas ou hindus, ficaremos habilitados a resolver o problema da revolução total em nós mesmos. Porque é essa total revolução interior do indivíduo que
pode revelar a Realidade Suprema. (Idem, pág. 110-111)

É extraordinariamente difícil separar-nos do coletivo, uma vez que temos medo de estar sós. Temos medo de que nos julguem diferentes dos outros, medo do público, medo do que
os outros possam dizer (…) (Idem, pág. 111)

Vemos, pois, que vossa mente resulta do “coletivo”. Ela reage, não como “indivíduo” (…) porém como expressão do “coletivo”, o que significa que está agrilhoada pela tradição,
pelo inteiro processo de condicionamento. Vossa mente está sob o peso de certos dogmas, crenças, rituais, a que chamais religião, e com esse fundo tenta reagir a algo
essencialmente novo e vital. Mas só a mente que está livre de seu fundo pode corresponder ao desafio, e só essa mente é capaz de criar um novo mundo, uma nova civilização, uma
maneira de viver inteiramente nova. (O Homem Livre, pág. 93)

Ora, pode-se libertar a mente de seu fundo, que é o “coletivo”, não em reação, oposição, mas por se perceber a imperiosa necessidade de uma mente que não seja mero mecanismo
de repetição? (…) Atualmente, somos resultado do que nos foi ensinado (…) Desde a infância ensinaram-nos a crer ou a não crer em algo, e nós repetimos tal ensino; (…) Quer viva
no mundo comunista, (…) socialista, (…) hinduísta, esse centro que chamamos “eu”, “ego”, é o processo de repetição e acumulação própria do “coletivo”. (Idem, pág. 93)

Não se necessita, pois, de nenhum treinamento especial. O necessário é que presteis atenção (…) à vossa própria mente; (…) Como não se pode observar o funcionamento da mente
a todas as horas, podeis “pegá-la”, observá-la e “soltá-la” de novo. Se observardes a vós mesmos dessa maneira, vereis que a atenção terá significado todo diferente e que é
possível libertar a mente do “coletivo”.

Enquanto a mente for simples “registro” do coletivo, não tem mais valor do que uma máquina. Os novos computadores são em extremo eficientes em certos sentidos, mas os entes
humanos são algo mais do que isso. Eles têm a possibilidade daquela extraordinária potência criadora que não é apenas escrever poemas ou livros, mas que é a ação fecunda da
mente desprovida de centro. (O Homem Livre, pág. 98)

(…) Quando a mente, tornada cônscia de si mesma e do seu movimento coletivo, se acha numa revolução total contra o coletivo e está, por conseguinte, descobrindo a sua própria
incorruptibilidade - só então é ela capaz de descobrir o que é verdade (…) (Visão da Realidade, pág. 33)

(…) Por outro lado, a pessoa que se liberta do coletivo, que é a prisão do condicionamento, é verdadeiramente individual, criadora, e só essa pessoa pode ajudar a criar uma
civilização de espécie diferente, uma nova cultura (…) (Idem, pág. 64)

Pergunta: Percebo que estais pregando a exaltação do indivíduo e que sois contra a massa. Como pode o individualismo ser conducente à cooperação e à fraternidade?

Krishnamurti: Não estou fazendo nada disso. Não estou, em absoluto, pregando o individualismo. Estou dizendo que só pode haver verdadeira cooperação quando houver
inteligência; mas, para despertar essa inteligência, cada indivíduo tem de ser responsável pelo seu próprio esforço e ação. (Palestras no Chile e no México, 1935, pág. 81)

Não pode haver um verdadeiro movimento em massa, enquanto cada um de vós estiver encerrado na prisão das defesas egoístas. Como pode haver ação coletiva para o bem-estar
de todos, se cada um de vós alimenta (…) o desejo de aquisição (…)? Como pode haver cooperação inteligente, quando tendes esses preconceitos e desejos secretos? (Idem, pág.
81)

Para trazer à existência a ação inteligente, ela tem de começar por vós, individualmente. (…) Quando vós, como indivíduos, verificardes a estupidez e a crueldade do ambiente
social e religioso inter-relacionados, então, por meio de vossa inteligência, será possível uma ação coletiva sem exploração. (Palestras no Chile e no México, 1935, pág. 82)

Assim, pois, o que é importante, não é a exaltação do indivíduo ou da massa, porém o despertar daquela inteligência que é a única que pode trazer à existência o verdadeiro
bem-estar do homem. (Idem, pág. 82)

Muito importa, por conseguinte, compreenda cada um o inteiro processo de si mesmo, tome conhecimento do “eu”, do “ego”, do pensador; porque, quando um homem é capaz de
observar todo o processo de seu viver, poderá libertar a sua mente do coletivo, do grupo, e tornar-se assim um verdadeiro indivíduo. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág.
113)

Tal indivíduo não está em oposição ao coletivo; porque oposição é só reação. E quando a mente compreender o processo consciente e inconsciente de si própria, ver-se-á que existe
um estado de todo diferente - um estado que não diz respeito nem à coletividade, nem à entidade separada, o indivíduo. (…) (Idem, pág. 113)

E eu acho que ser verdadeiro revolucionário é a coisa essencial. Tais indivíduos são criadores, capazes de fazer surgir um mundo diferente. (…) (Idem, pág. 113)

Afinal, a morte é libertação do “coletivo”. A morte é um libertar-se da estrutura em que existe pensar coletivo e reação a esse pensar coletivo, a qual chamamos “pensar
individual”, mas que continua a fazer parte do “coletivo”. Morrer para tudo isso, pode e deve ser algo completamente diferente (…), algo incognoscível, desconhecido (…) O
incognoscível só se torna possível quando morremos para o conhecido. (O Passo Decisivo, pág. 87)

Não parecemos compreender o pleno significado da libertação individual do “coletivo”. (…) É possível o indivíduo emergir do coletivo? Afinal, embora tenhamos nomes diferentes,
depósitos particulares no banco, residências particulares, características pessoais, etc., não somos realmente indivíduos, mas, sim, resultado do “coletivo”. (…) É no instante em
que nos libertamos do “coletivo” que surge o indivíduo criador; (…) só então pode-se descobrir se existe uma realidade atemporal, um estado a que se possa chamar de “Deus”.
(…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 154-155)

(…) Afinal, vós e eu somos resultado do “coletivo”, não? E há necessidade de entes humanos completamente libertos do “coletivo”, da sociedade, livres de condicionamentos, não
em certas camadas ou em certos pontos, porém totalmente livres, porque só esses indivíduos podem descobrir o que é Deus ou o que é a Verdade. (…) (O Homem Livre, pág. 72)

Eis o verdadeiro estado de coisas no mundo. Vossa mente é moldada como hinduísta, budista ou socialista; estais condicionados para crer ou para não crer, e mudar simplesmente
(…) de crença (…) Apenas passamos de um palavreado para outro palavreado (…) (O Homem Livre, pág. 72)

Agora, que deve ser o homem que percebe exatamente o que se está passando no mundo e realmente deseja descobrir se Deus, a Verdade, é uma realidade? (…) Afinal, vós e eu
somos resultado do “coletivo”, não? E há necessidade de entes humanos completamente libertos do “coletivo”, da sociedade, livres de condicionamento, não em certas camadas ou
em certos pontos, porém totalmente livres, porque só esses indivíduos podem descobrir o que é Deus ou o que é a Verdade - e não o homem que segue a tradição (…) (Idem, pág. 72)

Existe uma ação capaz de tocar o “não-pensante coletivo” de modo que ele comece a pensar de maneira completamente nova? (…) Isto é, pode o estudante ser ajudado a
compreender toda a variedade de influências existentes a seu redor, de maneira que não se submeta a nenhuma influência e possa, assim, fazer surgir uma nova geração com uma
compreensão da vida totalmente diferente? Porque os da velha geração já estão “de saída” e evidentemente não podem transformar-se. (…) (O Homem Livre, pág. 116)

Fragmentação Cultural, Social, Religiosa, Profissional


Vamos primeiramente investigar (…) Não sei se estais cônscio, se vedes que interiormente estais fragmentado, dividido. Sois (…) artista e, ao mesmo tempo, ávido e invejoso,
buscais poder, prestígio, fama. Sois cientista e também um ente humano como os outros, insignificante e vulgar. Como entes humanos, estamos fragmentados, interiormente
divididos; e a menos que vos torneis cônscios de estardes realmente fragmentados, (…) que compreendais totalmente esse fato, vossa mente será incapaz de percepção. (O Novo
Ente Humano, pág.71)

Tampouco é fácil negardes que sois francês, hindu, russo ou americano; (…) Mas se rejeitais todas as prisões, e não sabeis aonde a rejeição vos levará, então vos vedes só. E
parece-me absolutamente essencial que nos vejamos completamente sós, livres de influências; porque só então seremos capazes de descobrir por nós mesmos o que é verdadeiro
(…) Só então saberemos se existe uma realidade transcendente ao espaço e ao tempo; e esse descobrimento é criação. (O Passo Decisivo, pág. 20<2)

Como antes dissemos, nossa vida está fragmentada; sois artista e nada mais sois; sois especialista num determinado campo, que conheceis a fundo, e nada mais sabeis; (…) no
escritório, tendes inúmeros problemas (…) Nossas culturas diferem, como diferem nossos temperamentos e tendências; nosso condicionamento (…) varia conforme somos católicos,
protestantes, comunistas, capitalistas, (…) empresários, cientistas, professores, etc. (…) Podemos observar esses fatos óbvios - vivemos em fragmentos, em distintos campos de
atividade, todos em contradição entre si - embora possam tocar-se ocasionalmente. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 121)

A principal dificuldade é esta, que o homem vive fragmentado, não só em seu interior, mas também exteriormente: ele é cientista, médico, soldado, sacerdote, teólogo, especialista
desta ou daquela matéria. Interiormente, sua vida está fragmentada, fracionada; sua mente, seu intelecto, é sutil e sagaz; por vezes, ele é brutal, agressivo, enquanto outras vezes
pode mostrar-se bondoso, manso, afetuoso; esforça-se por ser um ente moral, embora a moralidade social seja (…) imoral, e seus inúmeros desejos antagônicos são a causa dessa
fragmentação existente por dentro e por fora, dessa contradição interior e exterior. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 77)

Não agir antes de compreender, antes de ter visto. Assim, precisais primeiro ver, observar, perceber. Se olhais o mundo como hinduísta, não estais então olhando os fatos, estais
olhando com os vossos preconceitos de hinduísta e, portanto, não o vedes. Se olho o mundo como comunista, estou apenas a olhá-lo de certo ponto de vista, através de uma
conclusão. Por conseguinte, sou incapaz de olhar este imenso problema do viver. (…) Vendo a casa em chamas, todo mundo em chamas, quereis apagar o incêndio como hinduísta,
muçulmano, parse (…) (O Novo Ente Humano, pág. 136)

O problema é este: Qual a ação ou inação que realizará a mutação radical? Pelo que respeita à maioria de nós, a ação é sempre fragmentária: atuamos como cientistas,
comerciantes, escritores, (…) políticos, (…) Atuamos conforme nosso condicionamento; se estamos condicionados como hinduístas, cristãos, muçulmanos, comunistas, etc., nossa
maneira de ver as coisas (…), embora modificadas pelas tendências e temperamento de cada um, serão sempre pautadas pelo nosso fundo original de condicionamento. (Encontro
com o Eterno, pág. 93)

Assim, pela palavra “sério” entendemos coisa muito diferente. (…) Por “mente séria” entendo aquela que percebe o que é verdadeiro, mas não de acordo com certo padrão de
crença (…) As condições mundiais, essa glorificação do “tribalismo” que se chama nacionalismo, as várias divisões na religião - catolicismo, hinduísmo, budismo, ele - os partidos
políticos - comunistas, socialistas, capitalistas, etc. - e as divisões econômicas, científicas, tecnológicas, e as diferentes fragmentações da vida - tudo isso está a exigir uma solução
completamente diferente para esses problemas. (A Suprema Realização, pág. 11-12)

Veja o que está acontecendo no mundo - estamos sendo condicionados pela sociedade, pela autoridade, pela cultura em que vivemos, e essa cultura é produto do homem - nada há
de total, divino ou eterno na cultura. Cultura, sociedade, livros, rádios, tudo que escutamos ou vemos, as várias influências, conscientes ou inconscientes, tudo nos encoraja a viver
dentro de um fragmento muito pequeno, pertencente ao vasto campo da mente. (The Awakening of Intelligence, pág. 189)

(…) Você vai à escola, à faculdade e aprende uma técnica para ganhar a vida; pelos seguintes quarenta ou cinqüenta anos você gasta sua vida, seu tempo, sua energia, seu
pensamento, naquele pequeno campo de especialização. Não obstante, há o vasto campo da mente. A menos que realizemos uma mudança radical nessa fragmentação, não pode
haver revolução em absoluto; haverá modificações econômicas, sociais e na chamada cultura, mas o homem continuará sofrendo, em conflito, guerra, miséria, lamentações e
aflições. (Idem, pág. 189)

Ao abandonarmos a idéia (…) Mas, foi de certo o pensamento que criou todas essas contradições. O pensamento, que é reação da memória, (…) do conhecimento acumulado, esse
próprio pensamento é um fragmento. E é sempre um fragmento porque ele resulta do passado (…) Assim, o pensamento (…) é necessariamente fragmentário e produzirá sempre
divisão. Sem dúvida, é ele o “observador” (…) Por conseguinte, o próprio observador é a causa da fragmentação. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 122)

É evidente que nossas mentes estão condicionadas pelas crenças - cristãs, hindus, budistas, etc. A não ser que se esteja completamente liberto de crenças, não é possível observar,
descobrir por si mesmo, se há uma Realidade que não pode ser corrompida pelo pensamento. E é preciso também estar liberto de toda a moralidade social, porque a moralidade da
sociedade não é moral. A mente que não é profundamente moral, que não está enraizada na retidão, não é capaz de ser livre. (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 87)

Obviamente, (…) Observa-se a divisão, fragmentação que ocorre, não apenas no nível físico, mas também no nível religioso. Fisicamente, geograficamente, há divisão entre
nacionalidades, governos poderosos com seus exércitos, defesa, etc.; há a divisão econômica, (…) entre brancos e negros, e entre as próprias pessoas de cor. Há também divisão
entre as pessoas religiosas. Católicos contra protestantes, hindus contra muçulmanos e assim por diante. Por todo o mundo há fragmentação entre o homem de negócio e o artista,
(…) o leigo e o cientista e, ainda, entre o homem comum e o de especialização técnica. (…) (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 3-4)

Antes de tudo, temos de descobrir o que é a ação, uma ação total, completa e não-fragmentária, pois nossa vida, como se apresenta hoje, é fragmentada. Há a ação do homem de
negócios desassociada do artista, e a do artista isolada do cientista, e a do cientista afastada do homem religioso e o homem religioso separado do trabalhador, etc. Há várias
fragmentações da religião, o hinduísta, o budista, o cristão, etc. Há fragmentações na política, divisão nacional, econômica, moral. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970,
pág. 66)

Estamos indagando (…) A pessoa que em geral consideramos séria é um ente humano parcialmente sério, isto é, sério em relação a certa coisa. Sua mente funciona
fragmentariamente. É muito “sério”, por exemplo, em relação à pintura; (…) mas da outra parte da mente não está cônscio, não a leva sequer em consideração. (…) (O Encontro
com o Eterno, pág. 20)

(…) Suas atividades sociais, (…) reações diárias, etc., são sem importância, porque ele se consagrou de corpo e alma a certo fragmento da existência. Poderá ser artista, cientista,
poeta, escritor, porém, enquanto, política ou religiosamente, sua mente funcionar fragmentariamente e se mantiver ligada a esse fragmento, tal atividade fragmentária, de certo,
não indica seriedade, porquanto contradiz a outra parte da existência. (Idem, pág. 20)

Seria possível ficarmos totalmente atentos ao todo da vida, não apenas aos fragmentos, às partes, porém à sua totalidade? Se uma pessoa é verdadeiramente séria, não existe
contradição. (…) Examinai o que se está dizendo e, por vós mesmos, senti, tomai conhecimento dessa ação fragmentária, para não considerardes sério aquilo que não o é,
descobrirdes o que é uma mente realmente séria, que não funciona por fragmentos, porém considera o todo. Esta, de certo, é a mente séria: a mente que está cônscia do processo
total da vida. (Encontro com o Eterno, pág. 20-21)

Um dos mais importantes problemas, ainda por resolver, é o de estabelecer uma unidade completa, algo que esteja além do fragmentário e egocêntrico interesse no “eu”, em
qualquer nível que seja - social, econômico ou religioso. O “eu” e o “não-eu”, o “nós” e “eles” são os fatores da divisão. (Fora da Violência, pág. 139)

Há possibilidade de alguma vez ultrapassar-se a atividade do interesse egocêntrico? Se uma coisa é “possível”, temos grande abundância de energia; o que desperdiça energia é o
sentimento de não ser ela possível e (…) ficarmos vagando ao sabor da corrente (…) (Idem, pág. 139)

Como é possível ultrapassar a atividade do interesse egocêntrico - reconhecendo-se que há no ente humano uma grande porção da agressividade e da violência do animal, (…) de
sua atividade irracional e daninha; e reconhecendo o quanto o ente humano está emaranhado em crenças, dogmas e teorias “separativas” (…)? (Idem, pág. 139)

Assim, ante essa vasta fragmentação, existente tanto interior como exteriormente, a única solução é o ente humano produzir em si próprio uma revolução radical, profunda. Este é
um problema muito sério, uma questão concernente a toda a nossa vida; ela implica a meditação, a verdade, a beleza e o amor. (Fora da Violência, pág. 150)

(…) Nossa vida, toda ela, é ação em estado de fragmentação. Somos entes humanos fragmentados, tanto exterior como interiormente. Vede o que está acontecendo na Índia (…) É
uma fragmentação contínua, não só politicamente, mas também na religião - católicos contra protestantes, hinduístas contra muçulmanos - e na vida pública e particular. (…) (O
Novo Ente Humano, pág. 12)

Na vida particular sois uma coisa e, em público, sois outra coisa. Viveis num estado de fragmentação. (…) Podeis ver que isso está sucedendo no mundo inteiro e também dentro de
vós, essa fragmentação - observador e coisa observada, analista e coisa analisada. (Idem, pág. 12)

Cada um tem sua própria profissão particular, (…) crença, (…) convicção e experiências, às quais se apega; portanto, cada um está se isolando a si mesmo. Essa atividade
egocêntrica se expressa exteriormente como nacionalismo, como intolerância religiosa (…) E, ao mesmo tempo, cada um de nós se isola a si mesmo dos demais. (La Llama de la
Atención, pág. 98)

Portanto, se somos conscientes de tudo isto, qual é nossa resposta (…) a todo fenômeno que sucede no mundo? Deve o indivíduo considerar somente sua própria vida pessoal, como
viver em algum rincão uma vida tranqüila, serena, sem perturbações? Ou se interessa ele pela existência humana total, pela humanidade total? Se ele se interessa somente pela
própria vida particular, (…) então não compreende que a parte pertence ao todo. Deve-se olhar a vida, não a vida americana ou a asiática, senão a vida como totalidade. (…).
(Idem, pág. 99)

(…) Já expliquei (…) Dividimos nossas vidas em muitos fragmentos, não é? - o cientista, o homem de negócios, o artista, a dona-de-casa, etc. Qual é a base, a raiz dessa
fragmentação? A raiz dessa fragmentação é o observador separado da coisa observada. Ele fragmenta a vida: sou hindu e você católico, sou comunista e você, burguês. Então essa
divisão, no decorrer do tempo, sempre ocorre. E eu indago: “por que há essa divisão, e qual a causa?” - não apenas no externo, econômico, na estrutura social, mas muito mais
profundamente. Essa divisão é realizada pelo “eu” e pelo “não-eu” - o “eu” que quer ser superior, famoso, maior - que considera você como diferente. (The Awakening of
Intelligence, pág. 71-72)

Ao observarmos as diversas atividades dos diferentes campos de nossa vida, somos inevitavelmente levados a perguntar se existe alguma possibilidade de juntá-los, uni-los,
produzir uma integração, de modo que o que fizermos em casa ou no escritório - qualquer coisa que façamos - revele coerência, não seja contraditório e, por conseguinte, não crie
dor. Isto é: existe uma ação verdadeira e plena em todos os campos? Não sei se já refletistes nesse problema, ou seja, se existe possibilidade de integrar, unir, harmonizar as ações,
desejos, propósitos e impulsos contraditórios de nossa vida. Afinal, (…) onde há contradição há dor, há luta, sofrimento e aflição. (Palestras com Estudantes Americanos, pág.
121-122)

E deveis ver, também, que necessitais energia, não? Ora, a energia que temos está dividida, é também fragmentária. (…) Em cada fragmento há energia (…) Dividimos, pois, a
energia em fragmentos, ao passo que a energia humana, a energia cósmica, toda e qualquer espécie de energia é um movimento unitário. Como dissemos, necessitamos de energia
para compreendermos a estrutura e a natureza do conflito e fazermo-lo cessar. Necessitamos de intensa energia, e não de energia fragmentária (…) quando dizemos: “Preciso
libertar-me do conflito”. (O Novo Ente Humano, pág. 73)

Quem é o “eu” que diz “devo livrar-me do conflito” ou “devo reprimi-lo”? É uma fração de energia a falar de outra fração de energia. São, portanto, energias em conflito.
Estamos indagando qual é a causa desse conflito. É bem fácil achá-la: a causa é o observador separado da coisa observada. (…) (Idem, pág. 73)

Para pordes fim a essa batalha, deveis olhar todo o campo da existência; não apenas uma parte dele: sua totalidade. Em nosso estado atual, somos incapazes de observar o campo
inteiro - o todo - porque dividimos a vida em vida de negócios, (…) de família, vida religiosa; e como cada uma dessas frações tem sua própria energia ativa, cada fragmento está
oposto aos outros fragmentos e, assim, essas energias fragmentárias estão dissipando nossa energia total. (O Novo Ente Humano, pág. 75)

Vemos o quadro inteiro, ou apenas uma parte dele, um detalhe? Essa é uma pergunta muito importante (…), porque nós vemos as coisas em fragmentos e pensamos em fragmentos.
(…) Temos, pois, de investigar o que significa ver totalmente. Perguntamos se nossa mente pode ver o todo, apesar de ter sempre funcionado fragmentariamente, como nacionalista,
(…) coletividade, (…) católico, alemão, russo, francês ou (…) numa sociedade tecnológica, funcionando numa especialidade, etc. - tudo dividido em fragmentos, com o bem oposto
ao mal, o ódio ao amor (…) (Como Viver neste Mundo, pág. 21)

Assim, para se ver alguma coisa totalmente, (…) a mente deve estar livre de toda fragmentação, porquanto a origem da fragmentação é justamente aquele centro de onde estamos
olhando. O fundo, a cultura, na qual o indivíduo é (…) protestante, comunista, socialista (…), é o centro de onde se está olhando. Assim, enquanto estamos a olhar a vida de certo
ponto de vista, ou de dada experiência (…) que constitui nosso fundo, nosso “eu”, não podemos ver a totalidade. (…) (Idem, pág. 21)

(…) Só se pode ver a totalidade de uma coisa quando o pensamento não interfere, porque então não se vê verbalmente nem intelectualmente, porém realmente (…) Vemos então a
realidade, i.e., que somos dependentes (…) Observamos, e fazemo-lo sem termos um centro, (…) estrutura do pensamento. Quando há observação dessa espécie, vê-se o quadro
inteiro e não um simples fragmento dele; e quando a mente vê o quadro inteiro, há liberdade. (Como Viver neste Mundo, pág. 22)

Acabamos de descobrir duas coisas. A primeira, que há dissipação de energia quando há fragmentação. (…) A segunda (…) foi que esse descobrimento dá-nos energia para
enfrentar todos os fragmentos que forem surgindo e, conseqüentemente, observando-os à medida que surgem, eles vão sendo dissolvidos. (Idem, pág. 22)

Descobriu-se a própria origem da dissipação de energia e que toda fragmentação, divisão, conflito (…) é desperdício de energia. Todavia, pode-se pensar que não há desperdício
de energia no imitar e aceitar a autoridade, no depender do sacerdote, (…) do dogma, do partido, (…) da ideologia - porque então a pessoa aceita e segue. Mas o seguir e o aceitar
uma ideologia (…) representa uma atividade fragmentária e, por conseguinte, causa conflito. (Idem, pág. 22)

Quanto melhor percebemos (…) Para compreender e libertar-se do problema das relações, necessita-se de abundante energia, não só energia física e intelectual, mas também uma
energia não “motivada” nem dependente de estímulos psicológicos ou de drogas (…) Para se ter essa energia, é necessário compreender primeiramente a maneira como dissipamos
energia. (…) (Como Viver neste Mundo, pág. 18)

Evolução Horizontal e Vertical, Explosão, Salto, Libertação


Para a maioria de nós, a idéia de evolução implica uma série de consecuções, isto é, consecuções surgidas da contínua escolha entre o que chamamos não-essencial e essencial.
(…) Toda a estrutura do nosso pensar está baseada nessa idéia de progredir e atingir espiritualmente, na idéia de penetrar mais e mais no essencial, como resultado de escolha
constante. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 29-30)

Ora, quando de tal modo consideramos o crescimento ou a evolução, naturalmente as nossas ações nunca serão completas; estão sempre crescendo do mais baixo para o mais alto,
sempre subindo, avançando. Por conseqüência, se vivemos sob essa concepção, a nossa ação escraviza-nos; a nossa ação é um esforço constante, incessante, infinito, (…) voltado
para a segurança. (Idem, pág. 30)

Naturalmente, quando há essa busca de segurança, há temor, e esse temor cria a contínua consciência do que chamamos “eu” (…) A mente da maioria das pessoas está presa nessa
idéia de conseguir, de atingir, de subir mais e mais alto, isto é, na idéia de escolher entre o essencial e o não-essencial. (…) (Idem, pág. 30)

Não devemos pensar e sentir horizontalmente, e sim verticalmente. Isto é, em lugar de seguirmos o curso do pensamento-sentimento preguiçoso, egoísta e ignorante, como é o do
gradualismo, de esclarecimento lento através do tempo; em vez de continuarmos nessa corrente de miséria e conflito ininterruptos (…); longe, em suma, de pensarmos e sentirmos
em linhas horizontais, - por que não o fazemos verticalmente?

Não será possível libertar-nos desse ritmo de continuidade horizontal, de confusão e luta, e pensar e sentir fora dele, de maneira nova e sem noção de tempo, i.e., verticalmente?
Não podemos pensar e sentir diretamente, com simplicidade, sem a idéia de evolução (…)? (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 124)

E, no mundo científico, observa-se que os cientistas possuem umas poucas chaves que abrem as portas; eles estão sempre a mover-se no sentido horizontal, com essas chaves, e a
transpor aquelas portas; mas mui poucos perguntam: É possível uma “explosão” em sentido vertical, em vez de um movimento horizontal? (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 10)

Ora, é possível a mente libertar-se instantaneamente dessa idéia de “chegar gradualmente a uma parte”, de gradualmente transcender uma coisa, gradualmente tornar-nos livres?
Para mim, a liberdade não é questão de tempo; não há nenhum amanhã, no qual ficaremos livres da inveja ou adquiriremos certa virtude. (…) Há só um “viver completo” no
agora; o tempo deixou de existir completamente (…) Com a palavra “agora” refiro-me ao presente imediato (…) Ora, por certo, toda existência se acha no agora (…) (O Homem e
seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 157)

Se examinarmos o que é iluminação, a voz da verdade, então precisaremos tratar com cuidado a questão do tempo. As chamadas pessoas iluminadas dizem que você só a consegue
com o tempo, gradualmente, vida após vida (…) até chegar ao ponto em que se torna um iluminado - a respeito de tudo. Elas dizem que se trata de um processo gradual de
experiência, de conhecimento, um movimento constante do passado para o presente e o futuro: um ciclo. (…) (Perguntas e Respostas, pág. 102-103)

Para compreender o medo, cumpre examinar também a idéia, que todos temos, de gradualidade - isto é, a idéia de que podemos ficar livres do medo gradualmente. Não existe essa
possibilidade (…) Ou há logo a completa libertação dele, ou nenhuma libertação; não há gradualidade, que requer tempo (…) O tempo é a verdadeira essência do medo (Fora da
Violência, pág. 21)

Devemos (…) compreender (…) Julgamos que a Realidade, ou Deus, pode ser alcançado com o tempo, com o vir-a-ser. Imaginamos a vida como uma escada, pela qual
ascenderemos a alturas cada vez maiores. Nosso pensamento-sentimento está colhido no processo horizontal do “vir-a-ser”; o que vem a ser está sempre acumulando, (…)
adquirindo, (…) a expandir-se. O “ego”, o que vem a ser, o criador do tempo, jamais pode conhecer o Atemporal. O “ego”, que quer vir a ser, é a causa do conflito e do sofrimento.
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 175-176)

O problema, pois, é de saber se esse centro pode ser “dinamitado”, de modo que nenhum outro possa formar-se, e surja uma ação que seja total e não simples atividade de “eu”.
Afinal, a mente é agora um processo de atividade egocêntrica (…) Sois hinduísta, muçulmano, cristão ou budista (…), mas o centro de vosso pensar é um processo de acumulação
(…) (O Homem Livre, pág. 93)

O conflito e a dor são necessários para que haja potência criadora? O sofrimento é necessário para que haja compreensão? Não é inevitável o conflito, quando há o vir-a-ser,
expansão do “ego”? O estado de potência criadora não significa estar livre de conflito (…) de acumulações? (…) Só há vir-a-ser e evolver no plano horizontal da existência, mas
conduz, isso, ao Atemporal? A potência criadora só pode ser conhecida depois de abandonado o plano horizontal. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 99)

Transformamos a vida em uma escola de contínuo aprendizado. Mas, para mim, a vida não é uma escola; não é um processo de colheita. A vida é para ser vivida naturalmente,
plenamente, sem essa constante batalha de conflitos. (…) Dessa idéia de ser a vida uma escola, surge o constante desejo de conseguimento, de sucesso, e, em conseqüência, a
procura de um fim, o desejo de encontrar a verdade última, Deus, e a perfeição final que nos dará (…) certeza, e daí as nossas tentativas para um contínuo ajustamento a certas
condições sociais, (…) éticas e morais, ao desenvolvimento do caráter e ao cultivo de virtudes. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 133)

O homem vive há (…) quase dois milhões de anos; biologicamente acumulou tanta experiência, tanto conhecimento, atravessou tantas civilizações, (…) pressões e tensões. Vós sois
esse homem, (…) E, ou continuais a evolver lentamente, à custa de infinitos sofrimentos, ansiedades, conflitos de toda natureza, ou saltais para fora dessa corrente, em qualquer
ocasião, como quem salta de um barco para a margem do rio; (…) Mas só pode fazê-lo a mente livre. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 122)

Pergunta: Qual a vossa idéia de evolução?

Krishnamurti: E óbvio que existem a simplicidade e a grande complexidade; simplicidade e grande complexidade de forma; simplicidade e grande sutileza de pensamento; (…) O
simples tornando-se complexo será evolução? Ao falarmos em evolução, não pensais apenas na evolução da forma. Pensais na sutil evolução da consciência a que chamais “eu”.
Disso surge a pergunta: Haverá crescimento, uma continuidade futura, para a consciência individual? Pode o “eu” tornar-se onicompreensivo, permanente, perdurável? (Palestras
em Ommen, Holanda, 1936, pág. 82)

Aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. O que é perdurável, verdadeiro, está sempre vindo-a-ser. É movimento sem escolha. Vós me perguntais se o “eu” evolui, se se
torna glorioso, divino. (…) Enquanto a mente estiver ligada ao tempo, haverá conflito e tristeza. Enquanto a consciência se identificar a si própria, reformando-se e renovando-se a
si mesma, pelas suas próprias atividades do temor, que ligam ao tempo, tem de haver sofrimento. (Idem, pág. 82)

A ânsia de experiência, de oportunidade e comparação de memórias, não podem trazer à existência a plenitude da vida, o êxtase da verdade. A ignorância procura a perpetuidade
do processo do “eu”; e a sabedoria vem à existência com a cessação da renovação auto-ativa da consciência limitada. A mera complexidade da acumulação não é sabedoria,
inteligência. O mero acúmulo, o crescimento, o tempo, não produzem a plenitude da vida. Estar isento de medo é o começo do entendimento (…) (Idem, pág. 82-83)

Vejo, pois, que, quando há ação deliberada, destinada a produzir qualquer mudança em mim mesmo, não há nenhuma mudança real, porém apenas desperdício de energia. Por
conseguinte, só pode realizar-se a mudança quando não há esforço consciente para mudar. (O Descobrimento do Amor, pág. 110)

Ocorre a mudança quando se compreende integralmente o padrão da imagem e como foi ele criado - da imagem baseada no desejo do prazer e de evitar a dor psicológica, do que
resulta a escolha e o exercício da vontade na ação. Esse padrão se repete incessantemente, e é dentro do campo desse padrão que desejamos a mudança; (…) é uma resistência, um
desperdício de energia e, por conseguinte, não é mudança nenhuma. (Idem, pág. 110)

Mudança, no genuíno sentido da palavra, significa “explosão” e, para “explodir”, necessitais de energia, e, para terdes energia, não deve haver resistência nenhuma. É uma
mudança na qual nenhuma interferência tem o pensamento, como vontade. A mudança é como a virtude. A virtude que se cultiva deixa de ser virtude. (O Descobrimento do Amor,
pág. 110)

Se estou cheio de vaidade e, deliberadamente, começo a esforçar-me para ser humilde e a praticar diariamente a virtude da humildade, isso nada significa. Mas, despedaçar a
vaidade, numa “explosão”, sem o exercício da vontade, inconscientemente, significa ter plena energia para olhar essa coisa que se chama “vaidade”; nisso há humildade. (Idem,
pág. 110)

Vede, sempre que tem de enfrentar um problema, a mente procura uma saída; esforça-se para o resolver, superar, contornar, ultrapassar ou transcender; (…) Se não se movesse em
direção alguma; se nenhum movimento houvesse, nem interno nem externo, porém apenas o problema, ocorreria então uma “explosão” no problema. Experimentai-o uma vez, e
vereis a realidade do que se está dizendo (…) (A Suprema Realização pág. 172)

O importante é a destruição, não a mudança; esta é apenas a continuidade modificada do que foi. Todas as reformas sociais e econômicas são apenas reações, continuidade
modificada do que sempre existiu. Essa mudança não destrói as raízes do egocentrismo. (Diário de Krishnamurti, pág. 13)

A destruição, no sentido em que empregamos a palavra, é sem motivo, é uma ação que não visa a objetivos nem resultados. A destruição da inveja é um processo total; tal ação,
isenta de motivo, elimina a repressão e o controle. (Idem, pág. 13)

É possível realizar essa destruição; basta, para tanto, ver a totalidade da inveja. Essa percepção é instantânea; ela não depende do tempo e do espaço. (Idem, pág. 13)

Ora, o compreender a si próprio é absolutamente necessário. Meditar é esvaziar a mente, e, nesse estado de vazio, ocorre a “explosão” que nos lança no desconhecido. (Uma Nova
Maneira de Viver, pág. 73)

Em vista de tudo isso, não nos interessa descobrir como poderemos saltar por sobre a barreira intangível que se ergue entre o processo do tempo e “atemporal”, entre as projeções
da mente e aquilo que não é da mente? (…) (Claridade na Ação, pág. 30)

Porque, como é possível, com tamanha carga que é toda do tempo, experimentar algo que está fora do tempo? Por conseguinte, preciso purgar-me completamente disso tudo, o que
significa que preciso estar só - não isolado numa torre de marfim, mas naquela outra espécie de solidão em que me é possível perceber todos os processos, (…) os turbilhões da
mente. (…) Todas essas coisas desapareceram, e a mente se tornou muito tranqüila, reduziu-se a nada. Essa é a coisa que não pode ser ensinada. Essa coisa tem de ser
experimentada (…) (Idem, pág. 31-32)

Dizeis (…) que desejais modificar-vos (…) Desejais que eu descreva a maneira de vencer os obstáculos; mas precisamos achar um meio de saltar a barreira; se possível, precisamos
lançar-nos à corrente, ousadamente, aventurosamente, em vez de ficarmos sentados na margem a especular. Que nos está impedindo de dar o salto? O que nô-lo impede é a
tradição, que é memória, (…) experiência (…)

Tanto nos satisfazemos com palavras, com explicações, que não damos o salto, mesmo percebendo a necessidade de saltar. Alvitra-se que não ousamos lançar-nos à corrente
porque temos medo do desconhecido. Mas (…) é possível conhecer o desconhecido? (…) Nunca me será dado conhecer o desconhecido, se não me aventuro. (Que Estamos
Buscando?, 1ª ed., pág. 93-94)
(…) O cérebro total sempre há estado silencioso. O que tenho chamado silêncio é a cessação do “eu”, do pensamento que tagarela constantemente. O constante tagarelar é o
pensamento. (…) Quando a tagarelice chega ao fim, há uma sensação de silêncio, porém isso não é silêncio. O silêncio surge quando a mente total, o cérebro - ainda que
registrando - está completamente quieto, porque a energia está quieta. Ela pode estalar explosivamente, porém a base da energia é quietude. (Tradición y Revolución, pág. 309)

Pois bem, a paixão existe só quando não há movimento de dor. (…) A dor é energia. Quando há dor, existe o movimento de escape mediante a compreensão dessa dor, de sua
supressão. Porém, quando não há movimento algum na dor, produz-se um estalido na paixão. A mesma coisa sucede (…) quando não há movimento do silêncio que o “eu” há
criado (…) Quando há absoluto silêncio, silêncio total e, portanto, não há movimento de nenhum gênero, quando tudo está completamente quieto, há um tipo por completo diferente
de explosão. (…) (Idem, pág. 309-310).

(…) Em vez de tentarmos sempre o acesso à realidade por meio de disciplinas, conflito, aceitação, rejeição, de todas as coisas que o homem tem praticado através dos séculos para
descobrir “certa coisa”, há possibilidade de “explodirmos” e, dessa explosão, nascer uma mentalidade inteiramente nova? Pode nossa velha mente, que ainda conserva o
“animal”, (…) que está sempre a buscar conforto e segurança, sempre medrosa, ansiosa, insulada, dolorosamente cônscia de suas limitações, pode essa mente acabar
imediatamente e uma nova mente começar a operar? (Encontro com o Eterno, pág. 74)

(…) A simples reforma, dentro do padrão, não é transformação nenhuma. Só há transformação quando nos libertamos do padrão e descobrimos algo novo (…) O que é de vital
importância é o sermos capazes dessa extraordinária e explosiva força criadora, fora do padrão. Essa “explosiva” força criadora tem sua ação própria, a qual poderá ou não
influir na sociedade, mas, certamente, criará uma cultura totalmente nova, uma nova maneira de pensar, independente do padrão. (…) (O Homem Livre, pág. 75)

(…) Entediados com a existência que nós mesmos criamos, tentamos inutilmente dar um significado àquela (…) vulgar beleza. Dessa maneira, a música passou a ser cultivada como
fonte de emoção, (…) a emoção e o sentimento se transformam facilmente em ódio. Mas, o amor não é apenas sensação ou sentimento. Na completa atenção, sem resistência, está o
milagre daquela explosão que destrói as coisas conhecidas; atentar, de maneira espontânea e natural, para aquela explosão é penetrar em regiões intangíveis e inacessíveis ao
pensamento e ao tempo. (Diário de Krishnamurti, pág. 151)

O viver não significa, de certo, toda aquela agitação e sofrer, (…) aquela carga que trazemos de ontem; significa o percebimento do pleno significado do passado. (…) Pode-se ver,
num relance, toda a trivialidade do passado. Quando estamos totalmente cônscios do passado, só então temos liberdade para viver no presente. Daí podermos partir, ou ingressar
numa dimensão totalmente nova. Mas, (…) só quando há liberdade, pode surgir uma coisa nova. A liberdade exige energia, e, só ao dar-se a explosão da energia, pode aparecer o
novo, o que está fora do tempo. (Encontro com o Eterno, pág. 127)

Se não sabeis o que é amor, morreis como um lastimável ente humano, sem conhecer aquela imensidade que se chama “vida”. E, no conhecer a plenitude da vida, encontra-se a
plenitude do “desconhecido”. Só a mente que percebeu o significado do tempo, da morte e do amor - os três estão relacionados entre si - só essa mente pode “explodir” no
“desconhecido”. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 66)

(…) Porque, quando existe a mente verdadeira, a mente criadoramente “explosiva”, então, dessa “explosividade” criadora, resulta a ação correta. (…) (Da Solidão à Plenitude
Humana, pág. 194)

(…) E nisso havia incrível beleza, não a beleza cultivada pelo pensamento e pelo sentimento. E, com aquela música, surgia repentinamente a meditação, contendo em si todas as
coisas do universo, ampliando e aprofundando cada vez mais aquela explosão. Toda explosão é em si destruidora e a destruição faz parte da terra e da vida que é o próprio amor.
(…) (Diário de Krishnamurti, pág. 151)

(…) Porque o que se necessita, no mundo, não é mais planejamento, mais líderes ou guias espirituais, porém indivíduos “explosivamente” criadores - criadores, não apenas no
sentido de capacidade inventiva, porém indivíduos possuidores daquela extraordinária qualidade de criação que vem quando a mente está livre das tradições, das avaliações, das
imposições de determinada sociedade ou cultura. Só quando cada um de nós for um indivíduo assim, será possível criar um mundo novo, uma nova civilização (…) (O Homem Livre,
pág. 83)

(…) A libertação não é um fim. A libertação se encontra momento a momento, na compreensão do que é - quando a mente é livre, sem a termos feito livre. Só uma mente livre é
capaz de descobrir, e não uma mente moldada por crença (…) Não pode haver liberdade quando há conflito, porque o conflito é a fixação do “eu” nas relações. (Que Estamos
Buscando?, 1ª ed., pág. 54)

Como já disse, a libertação não é um fim, (…) um alvo; é a compreensão dos verdadeiros valores, (…) eternos. A inteligência se recria perenemente, não tem objetivo nem
finalidade. No desejo de alcançar uma altura, existe um sutil anseio de perpetuação própria, continuação glorificada do “eu” pessoal; (…) Essa plenitude de compreensão, que é a
libertação, não deve ser entendida como coisa que se adquire pelo esforço. Todo esforço denota desejo de adquirir, conquistar. Mas a libertação não é coisa que se conquiste; a
verdade não é adquirível. (…) (A Luta do Homem, pág. 56-57)

(…) Dessarte, onde existe desejo de libertação, de culminância, de consecução, existe também, infalivelmente, esforço para sustentar, preservar, perpetuar aquela consciência que
chamamos “eu”. A essência mesma do “eu” é um esforço por atingir uma culminância, porque ele vive numa série de movimentos da memória e se dirige para um alvo. (Idem, pág.
57)

Pergunta: A libertação pode ser realizada por todos?

Krishnamurti: De certo. Ela não é dada a uns poucos. O estado de libertação não é uma espécie de “aristocracia”; está ao alcance de quantos queiram investigá-lo. Lá está, com
beleza e força sempre mais ampla e profunda, quando há autoconhecimento. E cada um pode começar a conhecer-se observando a si próprio, como quem vê ao espelho. O espelho
não mente; mostra-vos vossas feições exatamente como são. Começais então a descobrir-vos. (O Passo Decisivo, pág. 232)

Digo que a libertação pode ser alcançada em qualquer degrau da evolução, pelo homem que compreende, e que não é essencial render culto a esses degraus, como vós o fazeis.
(Que o Entendimento seja Lei, pág. 8)

(…) Assim como tendes, na vida mundana, um sentimento de classe, que vos infunde reverência pelos títulos aristocráticos, assim também tendes um sentimento de classe de ordem
espiritual; não há muita diferença entre essas duas coisas. (…) (Idem, pág. 8)

(…) Por essa razão, deveis desenvolver a compreensão e o desejo de alcançar vosso alvo, e esquecer todos esses graus e as pessoas neles situadas. Que valor têm eles para vós?
(Idem, pág. 8)

Porque perdeis de vista o alvo da vida, porque não desejais alcançá-lo com todo o ardor, com todo o interesse e energia, esses graus, com os seus rótulos, vos prendem e
escravizam. (Idem, pág. 8)

Podereis alcançar a libertação em qualquer degrau da evolução, se possuirdes um desejo ardente de alcançá-la, se nutrirdes o anelo de rejeitar todas as coisas que não são
essenciais e de vos agarrardes, tão fortemente como a morte, às coisas que são vitais, essenciais. (…) (Idem, pág. 9)

Guarda-me dentro do teu coração, /Porque eu sou a Libertação, /a felicidade infinita da Vida. (A Canção da Vida, XXIV, 4ª ed., pág. 41)

Virtude, Falsa, Verdadeira; Não Constitui Fim Em Si


O problema relativo às idéias é inteiramente diverso. Os ideais são fictícios, não são realidades; são a “projeção” da mente. (…) Vós tendes o ideal da fraternidade, (…) da
não-violência, (…) do amor, (…) da benevolência. (…) Se o fôsseis, não teríeis ideais. (O Problema da Revolução Total, pág. 75)

Ora, por certo, quando seguis um ideal, estais evitando “o que é” (…)? “Eu odeio, ou sou violento; estou-me exercitando na “não-violência”; tal é o meu ideal. (…) (Idem, pág. 76)
(…) A virtude, senhores, é uma coisa que não pode ser praticada. E, se se pratica, não é mais virtude. Porque a virtude é inconsciente e não pode ser mentalmente cultivada. Se o
for, isso será apenas uma capa diferente (…) sob que se esconde o “eu”. (Idem, pág. 77)

(…) O homem que diz: “devo esquecer-me de mim mesmo na virtude e, portanto, vou praticar a virtude”, está vestindo o seu “eu” com a capa da virtude; é o “eu” disfarçado de
virtude. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 58)

(…) Afinal, a virtude é a capacidade de pronta adaptação, não é o cultivo de uma idéia; o cultivo de uma idéia não é virtude. A virtude não é a negação do vício, ela é um modo de
ser (…) O homem que cultiva a virtude não é virtuoso. (…) (O que te Fará Feliz, pág. 59)

(…) A antítese é o prolongamento da tese; o oposto contém o elemento do oposto respectivo. Sendo violenta, a mente projeta o seu oposto, o ideal de não-violência. (…) O conflito
entre o real e o ideal é evidentemente um meio de adiar a compreensão do real, e esse conflito apenas cria outro problema, que ajuda a esconder o problema imediato. O ideal é
uma maravilhosa e respeitável fuga ao real. O ideal da não-violência, tal como o da Utopia coletiva, é fictício; o ideal, o que deveria ser, ajuda a esconder e a evitar o que é. (…)
(Reflexões sobre a Vida, pág. 95)

(…) Quando lutais para serdes não violento, esse mesmo processo de luta é violência. Isto é, no esforço por vos tornardes não violento, estais imitando o ideal da não violência (…)
O ideal, pois, é de vossa própria fabricação, produto da vossa própria violência. (Nosso Único Problema, pág.75)

Sendo violento, criais o oposto; mas todo oposto contém sempre o seu oposto respectivo, e, por conseguinte, o ideal da não-violência tem de conter, forçosamente, o elemento da
violência - as duas coisas não são diferentes. (…) (Idem, pág. 75)

Virtude é a compreensão do que é, sem fuga. Não podeis compreender o que é, se lhe resistis; porque a compreensão requer liberdade da reação condicionada ao que é. (…) A
virtude é um estado de liberdade, porque a virtude traz ordem e clareza. A virtude é livre de vir-a-ser; ela é a compreensão do que é. (…) (Idem, pág. 75-76)

Compreender o fato é ser virtuoso. A cólera é um fato, e o compreendê-la, sem a condenar, sem tentar defendê-la ou justificá-la, nos liberta do fato; e a nossa libertação do fato é
virtude. (Que Estamos Buscando?, pág. 162)

(…) A virtude, pois, não é um fim para ser alcançado. A compreensão do fato é virtude, e sem virtude não pode haver liberdade. (…) A liberdade é virtude, e a virtude é a
compreensão do fato, do que somos (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 162)

A compreensão do que somos, (…) - feios ou belos, iníquos ou perversos - a compreensão de nós mesmos, sem nenhuma desfiguração, é o começo da virtude. A virtude é essencial,
pois dá liberdade. (…) É só na virtude que podemos descobrir, que podemos viver - não no cultivo de uma virtude, pois isso só tem o efeito de nos tornar respeitáveis. (…) (Novo
Acesso à Vida, pág. 75)

Há diferença entre ser virtuoso e tornar-se virtuoso. Ser virtuoso é um estado que advém da compreensão do que é, enquanto o tornar-se virtuoso (…) é encobrir o que é com aquilo
que desejamos ser. (Idem, pág. 76)

Desconhecemos aquele amor. Ele, de certo, não pode ser cultivado. Cultivá-lo é como cultivar a humildade; só o homem vaidoso, arrogante, poderá cultivar a humildade - uma
capa para cobrir-lhe a vaidade. Assim como a humildade não pode cultivar-se, assim também não se pode cultivar o amor. Mas, nós temos de tê-lo, o amor. Se não o tendes, não
podeis ter virtude, (…) nem ordem (…) Repito, pois, que se não tendes amor, não tendes virtude; e, sem a virtude, só há desordem. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 155)

A ordem, por certo, só desponta com a virtude; porque, se não sois virtuoso, (…) em todas as coisas, vossa vida se torna caótica (…) Ser virtuoso, por si só, tem muito pouca
significação; mas, quando sois virtuoso, há precisão no vosso pensamento, ordem em todo o vosso viver, e essa é a função da virtude. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 60)

A virtude é que, realmente, põe a mente em ordem; e nosso problema é como criar a virtude, sem “cultivar virtude”. Se eu a cultivo, ela deixa de ser virtude; entretanto, sem a
virtude não existe ordem. A virtude não é um fim em si. Ela apenas torna a mente clara, livre, não contaminada pela sociedade. (…) (O Homem Livre, pág. 143)

A virtude liberta a mente, e a mente não está livre enquanto não há virtude. Mas a chama da virtude em que quase todos nós baseamos a nossa conduta é pura conveniência social;
e a sociedade, radicada que está na aquisição, na compulsão, no egotismo, nenhuma possibilidade tem de compreender a virtude de ser e não de vir a ser. (Idem, pág. 144)

Se não compreendemos o que é ser virtuoso, nunca estará a mente livre para investigar, descobrir a Realidade. A virtude é essencial como conduta, comportamento; mas o
comportamento baseado na compulsão, no conformismo, no medo, já não é ação de uma mente virtuosa. (…) (O Homem Livre, pág. 144)

O homem que cultiva a virtude está sempre a pensar em si mesmo; só se preocupa com seu próprio progresso, seu melhoramento pessoal, e isso é ainda atividade do “ego”, do
“eu”; e essa atividade, evidentemente, nada tem em comum com a virtude, que é um “estado de ser” e não de “vir a ser”. (Idem, pág. 144)

(…) Devemos estar cônscios das atividades sutis e erradias do “ego”, pois, quando as compreendemos, começa a existir a virtude, porém a virtude não é um fim em si. O interesse
egoísta não pode cultivar a virtude; ele só pode perpetuar a si mesmo, sob a máscara da virtude. Acobertada pela virtude, continua a atividade do “ego”. É como se quiséssemos
ver a luz clara e pura através de óculos coloridos que estivéssemos usando sem o saber. Para vermos a luz pura, devemos primeiramente dar-nos conta de nossos óculos coloridos;
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 217-218)

A virtude, pois, é a negação do “vir-a-ser”; e essa negação só ocorre na compreensão do “que é”. E uma vez realizada, pelo autoconhecimento, essa transformação radical, tem-se
a possibilidade de viver criadoramente. Porque a verdade não é uma coisa alcançável pelo esforço, não é um fim (…) Não é resultado de conhecimentos acumulados e
armazenados, que é simples memória, condicionamento, experiência. (…) Porque, quem acumula é o “eu”, e ele acumula para se impor, para dominar, para expandir-se, para
preencher-se. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 85-86)

(…) A virtude é aquele estado de liberdade em que não há quem faça esforço. Por conseguinte, a virtude é um estado no qual cessou de todo o esforço; mas, se fazeis um esforço
para vos tornardes virtuoso, esse esforço não é virtude. (A Conquista da Serenidade, pág. 37)

A virtude traz liberdade, a qual dá ao pensamento tranqüilidade para compreender o Real. A virtude não é, pois, um fim em si; só a Verdade o é. Ser escravo da paixão é não estar
livre (…) O desejo de Realidade é a mesma coisa que o desejo de posses. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 265)

(…) A virtude, portanto, é aquele estado que se manifesta depois de termos transcendido “o que é”. Mas esse transcender, esse passar além do “que é”, não pode realizar-se se
fazemos esforço para ser algo. (…) Queremos mais compreensão, mais felicidade, mais sabedoria. O próprio desejo de ser algo é a negação do “que é”. (…) (Nós Somos o
Problema, pág. 83)

(…) Por certo, ser “o que é” constitui o começo da virtude; e contentamento é a compreensão do “que é”. O desejo de ser algo invariavelmente condiciona (…) (Nosso Único
Problema, pág. 73)

A percepção mesma daquilo que sois, de como sois, no momento da ação, nas vossas relações, traz-nos a libertação daquilo “que é”. Só na liberdade é possível o descobrimento.
Afinal, a ausência de virtude significa desordem, conflito, mas a virtude é liberdade, é a clareza do percebimento, que vem com a compreensão. (…) Virtude é a percepção imediata
do “que é”. Assim sendo, o autoconhecimento é o começo da sabedoria; (…) (O Caminho da Vida, pág. 30)

Assim, (…) A atividade criadora é gerada pela liberdade, e só pode haver liberdade quando há virtude, e a virtude não é resultado do processo do tempo. A virtude vem quando
começamos a compreender o que é, em nossa existência de cada dia. (Novo Acesso à Vida, pág. 82)

Pois bem, para ser livre para investigar, não se requer virtude? Mas a virtude que nos dá liberdade não é a virtude que se pode perseguir, prender e cultivar, pois essa só cria
respeitabilidade, que é o signo da mediocridade. (…) O descobrir exige liberdade na investigação, requer aquela extraordinária vitalidade mental (…) Para investigar,
necessitamos de liberdade; e a virtude dá-nos essa liberdade (…) (Poder e Realização, pág. 38-39)
Estamos (…) examinando, no seu todo, a questão da virtude. Se compreendermos corretamente a virtude, ela libera uma enorme vitalidade, e é dessa vitalidade, dessa energia, que
necessitamos para realizar a transformação completa (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 132)

A virtude pertence ao coração, não à mente. Quando a mente cultiva a virtude, isso é cálculo sutil; é autodefesa, maneira hábil de ajustar-se ao ambiente. O auto-aperfeiçoamento é
a negação mesma da virtude. Como pode haver virtude, se há medo? O medo é coisa da mente, não do coração. E se oculta debaixo de formas diferentes: virtude, respeitabilidade,
ajustamento, beneficência, etc. (…) Para o encontro com a vida, necessita-se de vulnerabilidade e não da muralha respeitável da virtude, onde o “eu” se isola. O Supremo não pode
ser alcançado; não há caminho, não há aperfeiçoamento (…) progressivo para se chegar lá. A Verdade tem de vir, ninguém pode ir a ela (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed.,
pág. 31)

Na compreensão do processo da mente, que é o “eu”, nasce a virtude. A virtude não é resistência acumulada; é percebimento espontâneo, compreensão do “que é”. A mente não
pode compreender; poderá traduzir o que foi entendido em ação, mas é incapaz de compreensão. (…) Virtude não é conflito e realização, exercício prolongado e consecução,
porém, antes, um estado de ser que não é produto de desejo projetado. (…) (Idem, pág. 32)

Virtude não é, evidentemente, a conduta repetitiva do ajustamento a um padrão que se tornou “respeitável”, e que o sistema (…) aceita como moralidade. Temos de ser muito
claros em relação ao que é a virtude. Ela surge; não pode ser cultivada, tal como não se pode cultivar a humildade ou o amor. A virtude surge - com a sua beleza, (…) ordem
natural - quando sabemos o que ela não é; pela negação, descobrimos o positivo. (O Mundo Somos Nós, pág.34)

A virtude, pois, é essencial para se compreender a Realidade, e virtude não é respeitabilidade. Ser virtuoso, sem procurar tornar-se virtuoso, exige extraordinária investigação,
lúcido pensar, e não terdes nenhuma forma de medo. (…) Descobrireis, então, que existe uma disciplina não relacionada com a disciplina da moralidade social; uma disciplina que
(…) torna a mente capaz de seguir com incomum velocidade o célere movimento da Verdade. (…) (O Homem Livre, pág. 147)

Pergunta: Devo ser pacifista?

Krishnamurti: (…) Averigüemos o que se entende por pacifismo. Opõe-se o pacifismo à violência? A paz é a negação do conflito? O bem é o oposto do mal? Quando rejeitais o
vício e passais para o seu oposto, isso é virtude? (…) O oposto implica conflito, não é verdade? (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 47-48)

Assim, pois, enquanto vós e eu estivermos em conflito internamente, psicologicamente, tem de haver a projeção desse conflito no mundo, sob a forma de guerra. Sem
compreenderdes o vosso conflito interior, o vos tornardes pacifista ou o ingressardes numa organização em prol da paz nenhuma significação tem. O homem que apenas resiste à
guerra e permanece em conflito psicológico, está simplesmente criando maior confusão. (…) (Idem, pág. 48-49)

Mas, se realmente compreenderdes esse processo total do conflito interior, o qual se projeta no mundo sob a forma de guerra, então, obviamente, não sois nem mercador de guerra
nem mero pacifista - sois algo diferente; como estais em paz com vós mesmos, estais em paz com o mundo. Estando em paz interior e, por conseguinte, exterior, é óbvio que não
pertencereis a nacionalidade alguma, a nenhuma religião, a nenhum grupo ou classe (…) (Idem, pág. 49)

Filantropia, Caridade, Divulgação da Verdade


Pergunta: Que pensais da caridade e da filantropia social?

Krishnamurti: A filantropia social restitui à vítima um pouco daquilo que o filantropo violentamente lhe arrancou. Primeiro, vós a explorais, (…) amontoando grande riqueza (…), e
depois voltai-vos com magnanimidade, e dais um pouco à pobre vítima. (Palestras no Brasil, pág. 60)

Talvez não sejais astutos, hábeis, violentos o bastante para amontoar riquezas; (…) porém, espiritualista e idealisticamente amontoais aquilo que chamais conhecimento. A
caridade é inconsciente de si própria; não há acúmulo prévio nem distribuição consecutiva. É semelhante a uma flor: natural, aberta, espontânea. (Idem, pág. 60)

Pergunta: Desejo auxiliar e servir meus semelhantes. Qual a melhor maneira de fazê-lo?

Krishnamurti: A melhor maneira é começar por compreender-vos e modificar-vos. No desejo de auxiliar e servir a outrem, oculta-se o orgulho e a vaidade. Se tiverdes amor,
auxiliareis. A ajuda clamorosa nasce da vaidade.

(…) Como podereis saber quais as necessidades de outrem, sem conhecer-vos? Se não compreenderdes a vós mesmos, não podereis compreender nem servir a outrem. Faltando-vos
autoconhecimento, agireis com ignorância (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 80)

Pergunta: Já me convenci de que a minha infelicidade se deve à grande vontade que tenho de ajudar (…)

Krishnamurti: Quer dizer que sois infeliz porque não podeis ajudar a outros! (…) Logo, tirais a vossa felicidade do ajudar a outros. Fazeis uso dos outros para obterdes vossa
própria satisfação. (A Renovação da Mente, pág. 30-31)

Ora, a ação de ajudar não é coisa da mente. A generosidade da mente não é a generosidade do coração. Mas, visto que perdemos a generosidade do coração, somos generosos com
a mente, que, quando encontra resistência, se revolta e sofre. (…) (Idem, pág. 31)

Pergunta: Desejo ajudar os outros. Qual a melhor maneira de o fazer?

Krishnamurti: Eu quisera saber por que desejais ajudar os outros. É porque amais o próximo? E, se o amais, precisais perguntar (…)? (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 153)

Há diversas maneiras de “servir” os nossos semelhantes (…) O comércio serve as pessoas; o médico, o advogado, o cientista, o lavrador - todos estão “servindo” os outros, não é
exato? O desejo de servir ao próximo tornou-se uma profissão, ligado a uma recompensa. (…) Assim, pois, quando dizeis que desejais “ajudar” os outros, que significa essa
palavra? (…) Em que nível desejais ajudar os outros? No nível econômico, ou no chamado espiritual ou psicológico? (…) Mas, uma simples reforma cria sempre a necessidade de
outra reforma, e nunca se acabará de reformar. (…) Mas, para ajudar o próximo no sentido psicológico ou espiritual, não será preciso, primeiro, que compreendais a vós mesmo?
(Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 154)

Se desejais pôr termo ao conflito, à confusão e às tribulações, (…) de onde deveis partir? Do mundo, do exterior, procurando reorganizar os seus valores (…)? Ou deveis partir de
vós mesmos, a fim eliminardes radicalmente as causas de todos os conflitos e sofrimentos? Se fordes capazes de desvencilhar-vos da paixão e da mundanidade, em que se baseia a
atual civilização, descobrireis e compreendereis o valor eterno, esse valor que não se ajusta a molde algum. Sereis então, quiçá, capazes de ajudar a outros a se libertarem da
servidão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 115)

O mendigo que encontramos ao descer a rua nenhum auxílio recebe, mas falamos muito alto sobre a necessidade de socorrer os desvalidos. Ingressais em grupos, aderis a sistemas,
e o necessitado continua de mãos vazias. (…) (A Arte da Libertação, pág. 101)

Pergunta: Se um homem está passando fome e eu sinto que posso ajudá-lo, é isso ambição, ou é amor?

Krishnamurti: Tudo depende do motivo pelo qual você o ajuda. Alegando ser favorável ao amparo à pobreza, o político chega a Nova Delhi, vive numa bela casa e exibe-se. Isso é
amor? (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 75)

Ele está faminto e você o ajuda com comida. Isso é amor? Por que você deseja ajudá-lo? Não terá você outro motivo, nenhum outro incentivo, além do desejo de ajudá-lo? Você
não obtém nenhum benefício daí? (…) Se você está procurando algum benefício, político ou não, benefício interior ou exterior, então você não o ama. Se você o alimenta para
tornar-se mais popular, ou na esperança de que, assim, seus amigos o ajudarão a chegar a Nova Delhi, então isso não é amor, é? (Idem, pág. 75)
Mas se você o ama, você o alimentará sem abrigar nenhum motivo oculto, sem querer nada em troca. Se você o alimenta e ele se mostra ingrato, você se sente magoado? Se assim
for, você não o ama. Se ele diz (…) que você é um homem maravilhoso, e você se sente muito lisonjeado, isso significa que você está pensando em si mesmo, e certamente isso não é
amor. Portanto, é preciso estar muito alerta para descobrir se estamos auferindo algum tipo de benefício ao ajudar os outros. (…) (Idem, pág. 75-76)

Se uma pessoa teme, não tem iniciativa. Sabeis o que é iniciativa? Será muito difícil averiguá-lo? Ter iniciativa é fazer algo original, espontaneamente, com naturalidade, sem ser
guiado, nem forçado, nem influenciado; fazer as coisas por amor a elas. Às vezes, quando passeais pela cidade, vedes uma pedra no meio da rua e um carro passar sobre ela, com
abalo mais ou menos violento. Já alguma vez tirastes essa pedra do caminho? (Novos Roteiros em Educação, pág. 10-11)

Já observastes, quando passeais, os pobres, os camponeses, os aldeões? Já fizestes alguma coisa por eles, espontaneamente, com naturalidade, com bondade, do fundo do vosso
coração, sem que alguém vos diga o que deveis fazer? Mas, se há temor, todas essas coisas vos ficam vedadas; tudo isso desaparece da vossa existência; não percebeis o que se
passa ao redor de vós, sois incapazes de observá-lo. (…) (Idem, pág. 11)

(…) Assim, pois, para realmente ajudar o mundo - tal como falais em ajudá-lo - se realmente estais disposto a ajudá-lo a libertar-se de todos os seus compromissos, de seus
interesses adquiridos, de seus ambientes, então tendes de verificar que jamais falareis em ajudar o mundo; então não vos colocareis sobre um pedestal para ajudar alguém à
distância e mais abaixo. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 82)

Que valor tem a vossa compreensão, vossos nobres e elevados pensamentos, vossa vida pura, se não ajudais aqueles que estão em contínuo sofrimento, nas trevas e em confusão?
Que valor tem a verdade que vislumbrastes, se não podeis dar daquela verdade aos que estão famintos e sedentos do eterno? (“Vida em Liberdade”, III, pág. 21, em “Carta de
Notícias”, nº 1 a 6, de 1945)

Pergunta: É difícil entender-vos, e acho mais fácil seguir as pessoas que compreenderam os vossos ensinamentos e nô-los podem explicar. Não achais que há necessidade de tais
pessoas, para divulgação do vosso ensino? (…)

Krishnamurti: Sempre que alguém deseja seguir, encontra um guia, e o segui-lo destrói a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. (…) (Visão da Realidade, pág. 116-117)

E não precisais divulgar o meu ensino, porque, se não compreendeis a vós mesmo, não podereis divulgá-lo. Podeis por ventura comprar e distribuir uns poucos livros, mas isso por
certo não é tão essencial como o compreenderdes a vós mesmo. Compreendendo a vós mesmo, havereis de disseminar a compreensão no mundo (…) (Idem, pág. 118)

Pergunta: Posso compreender mais facilmente o que dizeis, ensinando-o a outros?

Krishnamurti: Comunicando-o a outros, podeis, talvez, aprender uma nova maneira de expressar as coisas, de transmitir o que desejais dizer; mas, francamente, isso não é
compreensão. Se não compreendeis a vós mesmo, como (…) podeis expressá-lo a outros? Isso é apenas propaganda. (Solução para os nossos Conflitos, pág. 13-14)

Vós não compreendeis uma coisa, mas falais sobre ela a outras pessoas; (…) Podeis comunicá-lo verbalmente; mas podeis contar a outros o que foi a vossa experiência (…) da
coisa? (…) Podeis descrever a experiência, mas não se pode transmitir o estado de experimentar. Assim, pois, verdade repetida não é mais verdade.(…) (Idem, pág. 14)

Nessas, condições (…) Quereis ensinar a outros, sem experimentardes; e esperais que, ensinando, possais experimentar (…) A experiência é muito mais importante, (…)
significativa do que a comunicação verbal. (Idem, pág. 14)

Pergunta: Como podemos ajudar melhor a humanidade a compreender e viver vossos ensinos?

Krishnamurti: É muito simples: vivendo-os vós mesmos. (…) Todos desejamos prestar auxílio ao mundo, porém jamais começamos por nós mesmos. (…) Principiais, portanto, por
libertar a mente e o coração do sentimento de posse. Isso exige, não apenas renúncia, porém o discernimento, a inteligência. (Palestras no Brasil, pág. 27-28)

Pergunta: Eu gostaria de vos ajudar, fazendo propaganda de vossos ensinamentos. Podeis aconselhar-me a melhor maneira de o fazer?

Krishnamurti: (…) Não podeis repetir a verdade, porque a verdade não é constante. A verdade é um estado de experimentar (…) O propagandista é mero repetidor, e não um arauto
da verdade; (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 179)

Agora, com essa compreensão, que podeis fazer (…) para divulgar os meus ensinamentos? O que podeis fazer é, unicamente, vivê-los. (…) Então, como uma flor num jardim, esse
próprio viver espalha o seu perfume. Não precisais fazer propaganda do jasmim. O jasmim faz a sua própria propaganda: sua beleza, seu perfume, sua delicadeza, dizem tudo. (…)
(Idem, pág. 180)

Pergunta: Qual é o mais sábio caminho a seguir - proteger e abrigar o ignorante, por meio de conselho e orientação, ou deixá-lo descobrir, por experiência e sofrimento próprios
(…)?

Krishnamurti: Eu diria: nenhum dos dois (…) auxiliai-o a ser inteligente, o que é coisa inteiramente diferente. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 135-136)

Se puderdes auxiliar outrem a tornar-se inteligente, isso é tudo quanto necessitamos fazer. A inteligência é livre, desimpedida, sem temor ou superficialidade. Somente podemos
auxiliar alguém a libertar-se da aquisitividade, das muitas ilusões e empecilhos que o aprisionam, quando começamos a nos libertar a nós próprios. Temos, porém, essa
extraordinária atitude de desejar melhorar as massas enquanto nós próprios somos ainda ignorantes. (…) (Idem, pág. 136-137)

Trabalha, trabalha pela humanidade, Serve, serve os teus semelhantes, Segue esta Senda, mas cuidado nela, Cumpre a vontade de Deus, Segue cegamente, (…) tenho a chave de
Sua morada, Aproveita esta oportunidade que Ele te oferece, A tristeza e a dita a Ele levam, Se isto fizeres tua busca cessará - E então O encontrarás, bradaram muitos. (O Amigo
Imortal, pág. 49)

Cooperação, Boa Vontade; Quando Deve Ser Exercida


Estamos vivendo num mundo completamente fragmentado (…) onde se vê luta constante de um grupo contra outro grupo, de uma ideologia contra outra, uma classe contra a outra,
etc. Tecnologicamente, observa-se um assombroso progresso e, contudo, há mais fragmentação do que nunca. E, observando-se objetivamente o que está ocorrendo, percebe-se a
essencial necessidade de o homem aprender a cooperar. (A Libertação dos Condicionamentos, pág. 28)

Não conseguimos trabalhar juntos em coisa alguma - a questão da “escola nova”, (…) das relações entre os homens, (…) de pôr fim às guerras monstruosas (…) - se cada
indivíduo, se cada um de nós está a isolar-se numa ideologia, num princípio, numa disciplina, numa técnica, numa crença, num dogma; (…) (Idem, pág. 28)

Um dos problemas básicos que o mundo está enfrentando é o da cooperação. Que significa a palavra “cooperação”? Cooperar é trabalhar juntos, construir juntos, sentir juntos, ter
algo em comum, livremente. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 112)

Entretanto as pessoas, em geral, não se sentem inclinadas a cooperar natural e espontaneamente, felizes; assim sendo, são forçadas a cooperar por vários meios de persuasão -
ameaça, intimidação, castigo, recompensa. (…) (Idem, pág. 112)

Nas chamadas nações civilizadas, somos persuadidos a cooperar mediante o conceito de “pátria” ou em prol de alguma ideologia (…) largamente propagada (…); ou ainda (…)
para a execução de um plano (…) um projeto de utopia. (Idem, pág. 112)

Pois bem; eu não chamo a isso de cooperação. De modo nenhum (…), porém uma forma de avidez, (…) de medo, de compulsão. Atrás de tudo está a ameaça de que (…) o governo
não o reconhecerá, ou o “plano qüinqüenal falhará”, ou ele será mandado para um campo de concentração (…) (Idem, pág. 113)
Para mim, cooperação é coisa muito diferente. Cooperação é a alegria de “estar juntos e atuando juntos” (…) A verdadeira cooperação nasce (…), porém, com a alegria, o
sentimento de união, (…); porque, nesse sentimento, não há a obstinação das idéias e opiniões pessoais. (Idem, pág. 113-114)

Quando conhecerdes essa qualidade de cooperação, sabereis também quando não se deve cooperar - o que é igualmente importante. (…) Mas (…); porque, se não formos sensatos,
podemos cooperar com líderes insensatos, cheios de planos grandiosos e idéias fantásticas como Hitler e outros tiranos (…) (Idem, pág. 114)

A maioria de nós está habituada a cooperar nos moldes da autoridade estabelecida. Reunimo-nos para idear um conceito, (…) desenvolver um ideal, e isso exige convicção,
persuasão, propaganda (…) Essa cooperação no sentido de realização de um conceito ou da busca de um ideal é totalmente diferente da cooperação que advém de se enxergar a
verdade e da necessidade de pôr essa verdade em prática.

Operar sob o estímulo de alguma autoridade (…) não equivale a uma real cooperação. Uma autoridade dominante, que sabe muita coisa ou que tem forte personalidade e está
obcecada por certas idéias, pode forçar ou sutilmente convencer os outros a cooperar (…); mas isso certamente não representa a cooperação de indivíduos alertas e dinâmicos. (…)
Aquele que coopera porque vê a verdade como verdade, o falso como falso, e a verdade no falso, também saberá quando não cooperar - o que é igualmente importante. (O
Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 20)

É possível cooperarmos, mantermo-nos coesos, sem termos um alvo, um resultado? Podemos, vós e eu, cooperar, sem estarmos em busca de resultado? Essa, sem dúvida, é que é a
verdadeira cooperação (…) Nossas mentes estão de acordo, nossos pensamentos, nossas mentes intelectuais estão, naturalmente, de acordo; mas, emocionalmente, todo o nosso ser
pode estar resistindo, do que resulta mistificação, (…) conflito entre vós e mim. Esse é um fato evidente e observável (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 190)

Vós e eu combinamos executar juntos certo trabalho, e intelectualmente estamos de acordo; mas, inconscientemente, profundamente, estamos a batalhar um contra o outro; eu
desejo um resultado que me dê satisfação; quero dominar, quero que meu nome sobressaia ao vosso (…) Dessarte, nós dois, que somos os criadores do tal plano de cooperação,
somos na realidade adversários, embora exteriormente estejamos de acordo quanto ao plano. No íntimo, estamos em guerra um com o outro, embora, conscientemente, possamos
estar em harmonia. (Idem, pág. 190-191)

Pergunta: Qual é o verdadeiro espírito de cooperação?

Krishnamurti: Senhores, que é que chamais “cooperação”? Cooperais com a autoridade, com aqueles que pensais ter as idéias corretas, o plano infalível (…)? Isso é cooperação?
Quando aceitais certa autoridade e com ela cooperais, é isso cooperação? (…) (Visão da Realidade, pág. 33-34)

Quando hostilizais a esquerda, como a lei exige, estais cooperando? (…) Se compreendemos o que é cooperação, saberemos também quando não devemos cooperar, e ambas as
coisas são importantes, pois cooperar com outros pode, em certas circunstâncias, conduzir a destruições e sofrimentos. (Idem, pág. 34)

Cooperar significa “trabalhar juntamente”, não é? Se há um plano, porém, um traçado imposto pela autoridade, não há então cooperação, mas, simplesmente, compulsão.
Trabalhar em conjunto, por medo, por causa de uma recompensa, por necessidade, por compulsão, não é, evidentemente, cooperação. Que é então cooperação, e como nasce ela?
(Visão da Realidade, pág. 34)

(…) Podemos ficar livres da parolagem (tagarelagem) nacionalista, do separatismo racial e religioso, e termos esse espírito de cooperação, construindo juntos? Isso é uma coisa
completamente diversa da chamada cooperação sob compulsão de qualquer espécie, ou medo de punição (…) Essa coisa significa, com efeito, ausência do “eu”, do “mim”. E,
quando há esse espírito de cooperação, existe ao mesmo tempo o discernimento de quando se não deve cooperar, o que é igualmente importante. (…) (Idem, pág. 35)

Não sabemos o que significa cooperar. Sabemos cooperar com o Estado, que nos proporciona o meio de subsistência, ou com uma idéia em prol de uma utopia que nos
proporcionará vantagens; ou conhecermos a cooperação subordinada à autoridade, que significa compulsão, ajustamento. Mas a cooperação a que nos referimos é coisa toda
diferente. Essa cooperação só se verifica quando há zelo. (…) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 97)Tendes de compreender a verdade contida nesta breve palavra - zelo - de
escutar essa palavra, compreendê-la. Significa ela ser sensível - sensível para com outrem; sensível ao céu, à ave, à arvore, à beleza (…). Se não sois inteiramente sensível,
vulnerável, jamais conhecereis o amor. Podeis ser casado, ter filhos, ter relações, mas não tereis amor. O começo da realidade está justamente no primeiro passo - no ser zeloso.
(Idem, pág. 98)

Só o homem que é livre pode cooperar. E é o homem livre que também diz: “Não cooperarei!” A cooperação, como geralmente se entende, significa cooperar em torno de uma
pessoa, de uma idéia, de uma utopia, (…) da autoridade de uma pessoa, (…) de uma idéia representada pelo Estado. Se se observa (…), vê-se que não é cooperação (…) E quando
muda a autoridade, vós também mudais (…); trata-se, pois, de uma compulsiva forma de ajustamento. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 176-177)

Mas estamos falando de uma cooperação totalmente diferente; pois o homem precisa cooperar. Não se pode viver sem cooperação. (…) Mas a cooperação requer liberdade. (…)
Liberdade não significa fazer cada um o que entender; (…) Só o homem que é livre para amar, que não tem ciúme, nem ódio, que nada deseja para si próprio (…) - só o homem que
é livre e conhece o pleno significado do amor e da beleza, é capaz de cooperar. (Idem, pág. 177)

Quando um homem está interessado só em si mesmo e no prolongamento de si mesmo, como pode ele ter amor no coração, (…) ter boa-vontade? (…) Senhor, um homem de
boa-vontade não tem autoridade, não pertence a nenhuma sociedade, (…) religião organizada, não adora a riqueza e os títulos. O homem que não pensa em si criará por certo um
mundo novo, uma nova ordem, e é para esse homem que devemos volver os olhos, se queremos a felicidade, (…) um novo estado de civilização, e não para os ricos ou aqueles que
adoram a riqueza. A boa-vontade, a felicidade, a bem-aventurança, só virá quando houver a busca do Real. (A Arte da Libertação, pág. 104-105)

Devemos cooperar, pois do contrário não podemos existir. Não há sociedade, (…) estado de relação, sem cooperação. É isto o que está acontecendo neste país: não existe
cooperação; cada grupo (…) cada parte da nação só pensa em si. E essa fragmentação com que estamos bem familiarizados, ou seja o “tribalismo” ou nacionalismo, é de certo um
estado de não-cooperação e, por conseguinte, de desintegração, destruição, deterioração. Só se pode viver quando há cooperação, trabalho em conjunto. (A Suprema Realização,
pág. 68)

É possível trabalharmos juntos, sem medo de punição, sem esperança de recompensa, sob nenhuma compulsão? Parece-me que, pela própria natureza e significado da palavra, a
verdadeira cooperação só existe quando há afeição, (…) amor. (…) (Idem, pág. 68)

Parece-me que não tentastes compreender o significado da palavra “participar”. No participar não há autoridade, pois não há nem vós nem eu. Não há consciência de dar ou de
receber, só há o ato de participar, que não confere importância nem a quem dá nem a quem recebe (…) Não sei se alguma vez conhecestes esse sentimento de completa união, (…)
comunhão existente no ato de participar, que é com efeito um ato de grande afeição e compaixão. (A Suprema Realização, pág. 115)

Que pretendeis dizer com a palavra serviço? Quem pode dizer o que é serviço? O homem que pertence ao exército, preparando-se para matar (…), diz que está servindo ao país.
(…) O explorador, que detém os meios de produção (…) e que a monopoliza, diz que está servindo à comunidade. O homem que explora as crenças (…) diz que está servindo ao
país, à comunidade.(…) (Palestras em Auckland, 1934, pág. 31)

Podemos ainda encarar isso de modo perfeitamente diferente. Pensais que uma flor, uma rosa, esteja sempre considerando que está servindo à humanidade, que está ajudando o
mundo com sua existência, com o ser bela? Ao contrário, pelo fato de ser bela, supremamente linda, inconsciente de sua magnificência, é que verdadeiramente ela ajuda. Não assim
o homem que percorre as ruas clamando que está servindo ao mundo. (…) (Idem, pág. 31-32)

Para servir realmente, precisamos estar supremamente livres da consciência limitada que denominamos de “eu”, de ego, a consciência egocentralizada; e enquanto esta existir,
não estais realmente servindo ao mundo. (…) (Idem, pág. 32)

Corpo, Cuidados; Alimentação, Vícios, Doença


O corpo precisa ser sumamente sensível; esta é uma coisa das mais difíceis, porque estragamos a inteligência corporal com o beber (…) o fumar, cedendo a nossos apetites,
entregando-nos ao prazer. Embrutecemos o nosso corpo. Olhai o vosso corpo, que devia ser tão cheio de vida e sensibilidade, e vereis o estado a que o reduzistes! (Fora da
Violência, pág. 45)

O corpo está em relação com a mente e a mente em relação com o corpo e, por essa razão, é uma coisa essencial a sensibilidade do corpo, do organismo. Essa sensibilidade não
pode ser criada submetendo-nos a jejuns e praticando artifícios de toda espécie. A mente deve observá-lo desapaixonadamente (…) não o deixando para “amanhã ou depois” (…).
(Idem, pág. 45)

Pergunta: O regime alimentar e a regularidade têm alguma influência (…)?

Krishnamurti: Têm naturalmente. Tendes atualmente o alimento adequado (…)? Mas os que têm recursos são tão pouco inteligentes a respeito da alimentação que lhes convém;
comem simplesmente para agradar ao paladar, gostam de comer. (…) Comeis o que estais habituados a comer. Se estais acostumados com alimentos fortemente condimentados e
fordes privados deles, estareis perdidos. Não tendes pensado deveras no assunto da alimentação. (A Arte da Libertação, pág. 99)

Se o fizerdes, descobrireis facilmente como é simples saber o que se deve comer. Não posso dizer-vos o que deveis comer, é claro, porque cada um tem de determinar e organizar o
regime que melhor lhe convém. Por conseqüência, é preciso experimentar, durante uma semana, durante um mês. (…) (Idem, pág. 99-100)

Assim, alimentação conveniente e regularidade são necessários, não só à criança, mas a cada um de nós. Para verificar o que é necessário, precisamos investigar, (…)
experimentar, primeiro em nós mesmos. (…) Podemos, pelo menos, dar-lhe alimentos puros e cuidar de que tenha horas regulares (…) (Idem, pág. 101)

Não apenas a mente, mas também o corpo, têm de estar altamente sensíveis. Não se pode ter um corpo embotado, indolente, pesadamente alimentado de carne e de vinho, e tentar
depois meditar - não tem sentido. (…) Portanto, (…) veremos que a mente tem de estar altamente desperta, sensível e inteligente (…) (O Mundo Somos Nós, pág. 33)

Por conseguinte, para que se possa gerar aquela paixão, aquela energia de que tanto necessitamos para penetrar qualquer coisa profundamente, infinitamente, cada dia e cada
minuto, há certas coisas muito óbvias que têm de ser feitas. Temos de comer o que nos faz bem e não o que o nosso paladar exige. Podeis estudar esta questão e descobrir a
alimentação conveniente; (…) (A Suprema Realização, pág. 84)

Pergunta: Advogais o vegetarianismo? Faríeis objeção à inclusão de um ovo em vosso regime alimentar?

Krishnamurti: É realmente um problema muito importante, se devemos ou não comer um ovo? Talvez tenhais (…) a preocupação de não matar. (…) Mas talvez comais carne ou
peixe. Para evitar o matar, ides ao açougue e transferis a culpa para o magarefe, o matador (…) (Nosso Único Problema, pág. 32)

Não desejais matar animais para o vosso estômago, mas não vos repugna apoiar governos que estão organizados para matar (…) Não vos repugna apoiá-los e, entretanto, fazeis
objeção à terrível calamidade de se comer um ovo (…) Afinal, o problema diz respeito não somente à matança de animais, mas, o que é mais importante, à matança de entes
humanos. (…) (Idem, pág. 32-33)

Mas direis que não respondi a pergunta relativa ao ovo, que não disse se se pode ou não comer ovos. Ora, a inteligência é o que tem importância; não o que nos entra pela boca,
mas, sim, o que dela sai; (…) Nosso problema é de como produzir uma transformação naquilo que é superficial e estreito; e essa transformação só é realizável pela compreensão.
(…) Estudai o problema em nível muito mais profundo, e encontrareis a solução. (Nosso Único Problema, pág. 35)

Pergunta: Desejo perguntar-vos se comeis carne ou peixe.

Krishnamurti: Isso vos interessa realmente? Pois bem, em toda a minha vida nunca toquei em carne ou peixe, nunca os provei; nunca fumei ou bebi; isso para mim não tem encanto
nem significação. Ora, o que acabo de dizer vos fará vegetariano? (…) Descobri vós por que comeis carne, por que gostais de fumar e de beber, por que não podeis viver uma vida
simples (…) (Fora da Violência, pág. 54)

Temos muitos hábitos, tanto físicos como psicológicos. Um particular hábito, como o fumar ou o comer carne, apesar de tudo é um hábito. Pode ser ele esquecido imediatamente,
(…) ou deve ser isso feito gradualmente? É preciso indagar, entrar na questão do tempo. Há uma vivência, uma ação (…) total, que não esteja envolvida no processo de
consecução? Ocorre falarmos sobre o tempo, e a maioria de nós está relacionada com ele, no ficar idoso, no realizar, no entender, no se preencher, no ser livre, etc. (…) (Talks and
Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 52)

Vossa pergunta foi: A mente imatura não é aquela que está enredada nos hábitos? (…) Se percebeis que sois imaturo, que estais enredado nos hábitos, como acontece com a
maioria das pessoas, então a questão seguinte é como vos tornardes “amadurecido” imediatamente, isto é, como vos libertardes do hábito completamente (…) já. (…) (O Homem e
seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 175)

(…) Esse hábito pode ser quebrado de imediato, ou deverá ser gradualmente eliminado através dos anos ? Se digo que isso “levará tempo” (…), qual é (…) o estado de minha
mente? Evidentemente, ela está num estado de letargia, embotamento, irreflexão, não percebimento. (Idem, pág. 175)

(…) Se não tentardes alterá-lo, o próprio fato vos dará uma extraordinária energia, com a qual podeis quebrá-lo completamente. Compreendeis ? Quando estais frente a frente com
o fato, diretamente, vossa mente já não se está dissipando com fugas, renúncias, esforços para modificar o fato através do tempo, etc; por conseguinte, vossa atenção é completa,
toda a vossa energia se concentrou, e essa energia destroça totalmente o fato. (Idem, pág. 176)

Pergunta: Sou um fumante inveterado (…) Como poderei deixá-lo (o hábito) (…)?

Krishnamurti: Não luteis por abandoná-lo; tal como se dá com muitos outros hábitos, a luta contra ele só tenderá a fortalecê-lo. Compreendei o problema do hábito, sob seus vários
aspectos - mental, moral, físico (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 35-36)

(…) A luta visando apenas a dominar um hábito, sem descobrir o seu significado mais profundo, torna a mente-coração incapaz de pensar (…) Identicamente, o conflito entre os
opostos insensibiliza a mente-coração, (…) que impede a compreensão do problema. (…) (Idem, pág. 37)

(…) O abandono de um hábito virá naturalmente, com a plenitude da razão e da sensibilidade (…) Assim, pois, se desejais fumar, fumai, mas ficai intensamente cônscio de tudo que
está implícito no hábito - exclusão do pensar, dependência, solidão, medo, etc. (…) Não luteis (…), mas tomai conhecimento de sua inteira significação. (O Egoísmo e o Problema
da Paz, pág. 37)

Não vos percais no conflito e no sofrimento dos opostos. Não compareis nem luteis para vos tornardes o oposto do que sois. Ficai atentos, integralmente, imparcialmente, para o
que “é” - vosso hábito, (…) temor (…) - e nessa chama singela da percepção se transformará aquilo que “é”. (…) (Idem, pág. 38)

Pergunta: Tenho lutado muito para deixar de beber (…) Que devo fazer?

Krishnamurti: Cada um de nós tem muitas maneiras de fugir. (…) Beber pode ter o seu valor social, e pode também ser mais nocivo; (…) (Nós Somos o Problema, pág. 34)

Ora, é bem evidente a razão da fuga: não estamos satisfeitos com nós mesmos (…) externa ou internamente. (…) Quando conhecemos a causa da fuga, paramos de fugir? (Idem,
pág. 35)

Quando sei que bebo porque não me entendo com minha esposa, ou porque tenho um emprego detestável (…) deixo de beber? (…) Só deixo de beber quando estabeleço relações
adequadas com minha mulher, com meu próximo, afastando assim o conflito que me causa sofrimento. (Nós Somos o Problema, pág. 35)

(…) E enquanto estiver a mente no empenho de se preencher, como “eu”, tem de haver frustração (…); enquanto eu for o centro de todas as coisas, dos meus pensamentos, (…)
reações, enquanto atribuir importância a mim mesmo, tem de haver frustração. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 36)
Assim sendo, não nos preocupemos com o meio de que nos servimos para fugir (…) O importante é compreender que, enquanto uma pessoa tenta o preenchimento no campo do
“eu”, tem de haver infelicidade e luta; e esse sofrimento não pode ser evitado enquanto a pessoa, o “eu”, for importante. (Idem, pág. 36)

Direis, porventura: “Que tem o hábito de beber com tudo isso”? Penso que o problema da bebida, como qualquer outro (…), só pode ser (…) eliminado depois de compreendido o
processo do “eu”, isto é, quando temos autoconhecimento. (…) (Nós Somos o Problema, pág. 36)

Pergunta: Sou fumante e desejo livrar-me do hábito (…) Podeis ajudar-me?

Krishnamurti: O hábito é um problema, torna-se um problema quando desejo abandoná-lo; (…) Fumar transformou-se, para mim, num fator de perturbação, por isso quero
livrar-me do vício.(…) (Nosso Único Problema, pág. 24)

(…) Quero deixar de fumar, livrar-me do hábito, abandoná-lo; nessas condições, minha atitude(…) é de resistência, de condenação. (…) Pois bem, é possível considerarmos o
problema sem a tendência para condenar, justificar ou reprimir? (…) (Idem, pág. 24-25)

(…) Porque, se compreendeis que fumar é uma coisa estúpida, um desperdício de dinheiro, etc. - se o reconhecerdes verdadeiramente, deixareis o hábito e não haverá mais
problema. Fumar, beber, ou qualquer outro hábito é fuga de outra coisa qualquer; (…) É uma fuga ao nosso próprio nervosismo, a um estado de perturbação; (…) (Nosso Único
Problema, pág. 25)

Pergunta: Por que é tão difícil viver sem a “fome de ser”?

Krishnamurti: Há fome de ser, fome de publicidade (…), fome de tornar-se alguém neste mundo ou no (…) espiritual, fome de pão, fome de sexo, etc. E já tentastes alguma vez
abandonar qualquer dessas “fomes”? (O homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 85)

Já tentastes alguma vez abandonar algo que vos proporciona prazer, ou que se tornou um hábito - abandoná-lo, simplesmente? Muitos fumam, dentre vós. (…) Já tentastes
abandonar esse hábito, morrer para ele, sem esforço, sem compulsão (…)? (Idem, pág. 85)

Por conseguinte, devo primeiramente compreender a inutilidade da resistência (…) Torno-me cônscio do hábito (…) Se fumo, observo-me quando o faço. Cônscio fico de que (…)
tiro um do maço, (…) ponho-o na boca, acendo-o, (…) ponho-me a soltar baforadas de fumaça. (…) Descobrireis (…) quando o hábito é visceralmente corruptor. (O Homem e seus
Desejos em Conflito, pág. 86)

(…) O fumar também vos torna semelhante a uma máquina, escravo do hábito, e é só quando se compreende tudo isso que a mente se torna fresca, jovem, ativa, viva, de modo que
cada dia é um dia novo (…) (A Cultura e o Problema Humano, pág. 102)

Quanto mais lutamos contra um hábito, tanto mais vida lhe damos. O hábito é uma coisa morta - e não deveis lutar contra ele nem resistir-lhe; mas, com a percepção da verdade
sobre o descontentamento, o passado terá perdido toda a sua significação. (Reflexões sobre a Vida, pág. 167)

Vede, senhor. Tendes um certo hábito: o hábito sexual ou de beber, de fumar, de falar (…) Podeis morrer para isso, abandonar completa e instantaneamente o fumo, a bebida, o
prazer? (…) Pôr fim a um hábito é acabar com ele completamente. Isso acontece quando a morte chega. Com ela não se discute. (A Importância da Transformação, pág. 55)

Há também, o problema das drogas. Na Índia, na antiguidade, havia uma substância chamada soma - uma espécie de cogumelo, cujo suco era bebido, produzindo tranqüilidade ou
experiências alucinatórias de todo gênero, (…) resultado do condicionamento da pessoa. (…) Mas perdeu-se o segredo daquele cogumelo (…) Desde então, apareceram na Índia,
tal como aqui, várias drogas, tais como haxixe, L.S.D., maconha, tabaco, bebida, heroína (…) Há também o jejum. No jejuar, verificam-se certas reações químicas (…) (Fora da
Violência, pág. 85)

Se temos a possibilidade de viver bem sem o auxílio de drogas, por que tomá-las? Mas aqueles que as tomam dizem-nos que elas provocam certas alterações; surge certa vitalidade
(…) energia, e desaparece o espaço entre o observador e a coisa observada; as coisas são vistas com muito mais clareza. Diz um deles que (…) se vêem as cores mais esplendorosas
então. Mas podem-se ver as cores com igual intensidade sem o auxílio da droga, desde que se preste atenção, que se observe sem o espaço entre o observador e a coisa observada.
Quando se tomam drogas, fica-se na dependência delas e, mais cedo ou mais tarde, se farão sentir os seus desastrosos efeitos. (Idem, pág. 86)

Se sofremos organicamente, cuidemos desse estado da melhor maneira possível (…) Nossas ilusões, tensões, conflitos, incompatibilidades, de fundo psicológico, causam maior
sofrimento do que os males orgânicos. Tentamos eliminar sintomas, em vez de suprimir-lhes a causa. A causa pode ser o valor material. Não tem fim a satisfação dos sentidos, e
dela resulta somente perturbação (…) Tal modo de viver culmina, inevitavelmente, em desordens mentais e físicas (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 126-127)

Essa transformação radical dos valores deve efetuar-se por meio da compreensão da existência psíquica. Se não vos modificardes, recrudescerão, infalivelmente, vossas ilusões e
males orgânicos; faltar-vos-á equilíbrio, vivereis deprimidos e dareis constante trabalho aos médicos. Não havendo essa profunda revolução dos valores, torna-se a doença e a
ilusão uma distração, uma fuga, um ensejo para serdes indulgentes com vós mesmos. (…) (Idem, pág. 127)

O predomínio dos valores sensuais não pode trazer sanidade mental e física. É necessário purificar a mente-coração, o que não se consegue por meio de agente externo. (…) A
tensão não é forçosamente prejudicial; o que se requer é esforço mental adequado. Só a tensão inadequada produz transtornos psíquicos, ilusões, doenças e perversões. (O Egoísmo
e o Problema da Paz, pág. 127-128)

A vida é complexa e dolorosa, uma série de conflitos internos e externos. Requer-se percepção das atitudes mentais e emocionais, que são a causa das perturbações externas e
físicas. (…) Para que estejais cônscio de vosso estado psicológico, necessitais de períodos de tranqüila solidão, de retraimento do tumulto e da pressa do viver cotidiano e suas
rotinas. É essa tranqüilidade ativa essencial, não somente para o bem-estar da mente-coração, senão também para o descobrimento do Real (…) (Idem, pág. 128)

Não devemos estar tensos, se desejamos compreender? A vigilância não consiste numa tensão de adequada intensidade? (…) O afrouxar da tensão é necessário e às vezes benéfico,
mas, para que haja profunda compreensão, não é necessária vigilância, i.e., tensão adequada? Não é necessário retesar as cordas de um violino, para afiná-las? (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 162-163)

Se as distendemos em excesso, elas se partem, e, se as não distendemos na medida exata, não produzirão o tom adequado. Identicamente, nós nos alquebramos quando submetidos a
tensão excessiva os nosso nervos; e tensão que excede a capacidade de resistência, produz desordens mentais e físicas de vária ordem (Idem, pág. 163)

Pergunta: Como procederíeis, em face de uma doença incurável?

Krishnamurti: Os mais de nós não nos compreendemos; não compreendemos as nossas variadas tensões e conflitos, nossas esperanças e temores, que muitas vezes produzem
desordens físicas e mentais. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 125-126)

De primacial importância é a compreensão de nossos estados psicológicos, e o bem-estar da mente-coração, que estará, então, apta para ocupar-se dos acidentes da doença. Assim
como um instrumento se gasta pelo uso, assim também se gasta o corpo, porém, para aqueles que se apegam aos valores materiais, esse desgaste constitui grande sofrimento; (…)
(Idem, pág. 126)

Sofrimento, Dor, Físicos, Psicológicos, Cessação


Pergunta: Que é o sofrimento?

Krishnamurti: Investiguemos a questão. Existe a dor física, que gradualmente se converte em sofrimento mental, do qual a mente se serve para criar situações, (…) problemas. E há,
também, o sofrimento que nos vem de não sermos amados suficientemente, isto é, da nossa necessidade de amor; e há o sofrimento ocasionado pela morte, quando amamos alguém
e essa pessoa se vai para sempre; há o sofrimento causado pela frustração, (…) que resulta do sermos ambiciosos e não podermos alcançar o alvo (…); há sofrimento quando
perdemos os nossos haveres, a nossa saúde. (Claridade na Ação, pág. 160-161)

(…) Quando vos tornais cônscio de que estais fechado, aprisionado, isso não é sofrimento? Não existe sofrimento quando estais cônscio de vós mesmo, de vossas batalhas, vossas
lutas, vossas frustradas ambições? Quanto mais envolvido vos vedes nos conflitos do “eu”, tanto maior o vosso sofrimento. O sofrimento, por conseguinte, é uma reação do “eu”; e,
para compreendermos bem o sofrimento, precisamos procurar compreender, na íntegra, o processo do “eu” (…) (Idem, pág. 161)

E qual é a finalidade da vida? Desejo mostrar-vos que, para preencherdes a vida, como eu a preenchi, deveis acolher alegremente em vossos corações toda experiência, quer
agradável, quer desagradável, para que façais vossa vida completa (…) (A Finalidade da Vida, pág. 3)

Temeis o sofrimento, julgando-o terrível, humilhante. A experiência do sofrimento dá-vos força, força para vos sustentar na luta (…) Acolhei de todo o coração o sofrimento; não o
rejeiteis; porque o sofrimento traz o perfume da compreensão, ele é o criador da afeição e vos põe numa harmonia imensa com a vida. A dor e o prazer, o mal e a virtude só têm
significação quando determinamos o nosso alvo; (…) nos dá constantemente a ajuda de sua compreensão. (Idem, pág. 3-4)

A tristeza não purifica. Quando a mente que está estagnada, narcotizada, adormecida pelas crenças, peada pela limitações, é despertada pelo movimento da vida, a esse despertar
chamamos sofrimento. Quando se perturba a nossa segurança pela ação da vida, a isso chamamos sofrimento. (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 29-30)

(…) Porque sofreis, dizeis que procurais a felicidade; a busca da felicidade, portanto, é uma fuga ao sofrimento. Só pode haver felicidade quando cessa a causa do sofrimento; a
felicidade é, pois, um elemento acessório, e não um fim em si. A causa do sofrimento é o “ego”, com o seu desejo de expansão, de vir a ser, de ser diferente do “que é”. (O Egoísmo
e o Problema da Paz, pág. 205)

Desejais “progresso” e felicidade ao mesmo tempo, e aí é que está a dificuldade (…). Desejais a expansão do “ego”, mas sem o conflito e o sofrimento que inevitavelmente a
acompanham. Temos medo de nos ver assim como somos; procuramos fugir da realidade e a essa fuga chamamos “progresso” ou busca da felicidade. (Idem, pág. 295)

(…) Conhecer a causa do sofrimento, e transcendê-la, significa encará-la, frente a frente, e não buscar refúgio em ideais ilusórios ou outras atividades do “ego”. A causa do
sofrimento é a expansão do “ego”. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 206)

Quando não há o observador que sofre, o sofrimento está separado de vós? Vós sois o sofrimento. Não estais separado da dor, sois a dor. Que acontece, então? Já não lhe colocais
um rótulo, já não lhe dais nome, varrendo-a assim para um lado; sois simplesmente aquela dor, aquele sofrimento, aquela agonia. Quando a sois, que acontece? (…) Se o centro
está em relação com ela, está com medo dela. (…) Mas, se o centro é ela, que fazeis então? Não há nada que fazer, há? (…) Dizeis então que sofreis? Por certo, ocorreu uma
transformação fundamental. Não há mais “eu sofro”, porque não há mais um centro para sofrer. (…) (A Primeira e Última Liberdade, pág. 167)

O problema, portanto, é este: podemos extinguir a tristeza, o sofrimento, pelo esforço, por um processo de pensamento? Compreendei que não me estou referindo por ora ao
sofrimento fisiológico, à enfermidade dolorosa, mas, sim, ao sofrimento psicológico. (…) A dor física pode ser vencida pelo esforço, pelo investigar das causas da doença. Podem o
sofrimento, a dor, a ansiedade, a frustração, os inúmeros males psicológicos ser vencidos pelo esforço, pelo pensamento? Temos, pois, em primeiro lugar, de indagar o que é
sofrimento, o que é esforço, o que é pensamento. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 79-80)

Que é, pois, o sofrimento? Não é o desejo de vir a ser, com todas as suas frustrações? O sofrimento não é resultado do nosso desejo de ser diferente do que somos? As ações
baseadas nesse desejo não conduzem à desintegração, ao conflito, à interminável onda de confusão? Assim, a tristeza, o sofrimento, é o desejo de vir a ser (…) Ora, pode esse
desejo de vir a ser (…) extinguir-se por meio do esforço? É o que tentamos fazer (…) (Idem, pág. 80)

(…) Eu sou isto e quero tornar-me aquilo. Essa mudança, esse movimento de mudar (…) chama-se esforço. (…) Mas o oposto é a continuação do que sou, sob forma diferente.
Assim, pois, o oposto, no qual há sempre esforço, é a continuidade modificada do seu próprio oposto. (…) E pode o pensamento, (…) o processo do pensamento, pôr fim ao
sofrimento? (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 80-81)

(…) Que é então que faz cessar o sofrimento? Quando compreendeis o processo do pensamento, (…) do esforço, (…) da memória, (…) quando estais cônscios desses três processos,
que acontece então? (…) Não há justificar nem identificar. Estais simplesmente cônscios. (…) Agora, (…) sem os três processos a funcionarem no sentido de vencê-lo, sem
condenação, vereis então que surge uma passividade vigilante, um percebimento passivo (…) Estais muito vigilante; (…) e nessa lucidez há perceptividade, quietude, tranqüilidade,
observação livre de preconceito (…); e vereis, então, como o sofrimento chega ao fim. (…) (Idem, pág. 82)

O sofrimento perverte e deforma a mente. O sofrimento não é o caminho da Verdade, da Realidade, de Deus (…) Temos tentado enobrecê-lo, dizendo-o inevitável, necessário,
alegando que traz a compreensão, etc. Mas a verdade é que, quanto mais intensamente uma pessoa sofre, tanto mais ansiosa se torna de fugir, de criar uma ilusão, de encontrar
uma saída. Parece-me, pois, que a mente sã, saudável, deve compreender o sofrimento e ficar completamente livre dele. E isso é possível? (O Passo Decisivo, pág. 110)

Uma das causas principais do conflito é a existência de um centro, um ego, “eu”, resíduo de todas as lembranças, (…) experiências, (…) conhecimentos. E esse centro está sempre
tratando de ajustar-se ao presente (…) Está sempre a traduzir tudo o que encontra nos termos daquilo que já conhece. (…) Por conseguinte, ele modifica o presente, (…) criando
assim o futuro. E nesse processo do passado que traduz o presente e cria o futuro, se acha aprisionado o “eu”, o ego. (…) (O Passo Decisivo, pág. 112)

Assim, a fonte do conflito é o “experimentador” e a coisa que ele está “experimentando”. (…) Enquanto houver separação entre o pensador e pensamento, experimentador e coisa
experimentada, observador e coisa observada, tem de haver conflito. Divisão é contradição. Ora, pode-se anular essa divisão ou separação, de modo que sejais o que vedes, (…) o
que sentis? (Idem, pág. 112)

Que acontece quando vos tornais cônscios do conflito? Que acontece quando nessa intensidade de sofrimento vos tornais plenamente cônscios da batalha, da luta que vai
prosseguindo? A maioria das pessoas desejam um alívio imediato (…) Querem pôr-se ao abrigo desse sofrimento e para isso acham vários meios de evasão (…) (Palestras em Ojai,
1934, pág. 14)

O sofrimento torna-nos conscientes desse conflito, e apesar disso, o sofrimento não levará o homem a essa plenitude, a essa riqueza, a esse êxtase da vida de que tenho falado,
porque o sofrimento, no fim de tudo, só pode despertar a mente dando-lhe grande intensidade. E ao ficar a mente aguda, começa ela a interrogar o ambiente, as condições atuais, e
nesse interrogar funciona a inteligência, e é somente a inteligência que há de levar o homem à plenitude da vida e à descoberta do significado da tristeza. (…) (Idem, pág. 14)

A inteligência começa a funcionar no momento em que se dá a agudeza do sofrimento, quando a mente e o coração não mais se evadem (…) Se cuidadosamente observardes, sem
preconceito, vereis que, enquanto existir um meio de fuga, não tereis solucionado, (…) defrontado face a face o conflito, e, portanto, o vosso sofrimento é apenas acúmulo de
ignorância. (…) (Idem, pág. 14-15)

Há sofrimento em nossas relações com outrem. Ele é criado por uma ânsia interna de conforto, de segurança, de posse. Depois há esse sofrimento criado pela profunda incerteza
que nos propele a procurar a paz, a segurança, a realidade, Deus. Ansiando pela certeza, inventamos muitas teorias, criamos muitas crenças, e a mente fica limitada e enredada nas
suas malhas, (…) e por isso é incapaz de se ajustar ao movimento da vida. (Palestras em Ojai, Califórnia, 1936, pág. 52-53)

No entanto, o pensamento é incapaz de curar a dor do sofrimento. Apesar dos esforços em racionalizá-lo, a dor não cede jamais. (…) Estranho como o amor, o sofrimento, porém, é
um impedimento ao amor. (…) O sofrimento é autocompaixão, seguida de ansiedade, de medo e do sentimento de culpa; mas, o pensamento é incapaz de libertar-nos de tudo isso,
pois ele cria o pensador, gerando o sofrer. Mas, ao libertar-se o homem do passado, finda o sofrimento. (Diário de Krishnamurti, pág. 191)

O sofrimento está enraizado na autocompaixão. Para se compreender o sofrimento, torna-se necessária uma impiedosa “operação” da autocompaixão. Não sei se já observastes
como tendes pena de vós mesmos, ao dizerdes: “Estou sozinho no mundo.” No momento em que há autocompaixão, está preparado o solo em que o sofrimento lançará suas raízes.
(…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 91)

(…) Assim, para que um homem possa compreender o sofrimento, deverá começar livrando-se dessa brutal e egocêntrica trivialidade que é a pena de si mesmo. Podeis sentir
autocompaixão por motivo de doença, a morte de alguém que vos era caro, ou por não vos terdes realizado e, por conseguinte, vos sentirdes frustrado, embotado, mas, não importa
qual seja a sua causa, a autocompaixão é a raiz do sofrimento. (…) (Idem, pág.91-92)

Dizemos que o sofrimento faz parte do amor. Que, quando se ama alguém, isso gera sofrimento. Perguntamo-nos se é possível ficar livre de todo sofrimento. Quando a consciência
do ser humano está livre do sofrimento, essa liberdade produz uma transformação que afeta todo o sofrimento da humanidade. Isso é parte da compaixão. (La Totalidad de la Vida,
pág. 181)

Quando há sofrimento, vocês não podem amar. Essa é uma verdade, uma lei. Quando amamos alguém e ela ou ele faz alguma coisa que desaprovamos totalmente e por isso
sofremos, tal coisa demonstra que não amamos. (…) Tornamo-nos iracundos, ciumentos, invejosos, nos enchemos de ódio; ao mesmo tempo dizemos: “Eu amo (…)! Um amor
semelhante não é amor. É possível, então, não sofrer e, no entanto, experimentar o florescimento de um imenso amor? (Idem, pág. 181)

Qual é a natureza e a essência do sofrimento? (…) Não é o sofrimento a expressão total, nesse instante, de uma existência completamente egocêntrica? A essência do sofrimento é a
essência do “eu” (…) do ego, a pessoa, o limitado, o encerrado, a existência que resiste, a qual chamamos “eu”. (…) Se não houvesse um “eu”, haveria sofrimento? O indivíduo
ajudaria, faria toda classe de coisas, porém não sofreria. (…) (Idem, pág. 181)

O sofrimento é a expressão do “eu”; ele inclui a autocompaixão, o isolamento, o tratar de escapar, (…) de estar com o outro que se há dito - e tudo o mais que isso implica. O
sofrimento é o próprio “eu”, que é a imagem, o conhecimento, a recordação do passado. Que relação tem, pois, o sofrimento, a essência do “eu”, com o amor? Há alguma relação
entre o amor e o sofrimento? O “eu” é produzido pelo pensamento, porém o amor resulta do pensamento? (Idem, pág. 181-182)

É o amor produzido pelo pensamento? - as recordações de dores, de deleites e a persecução do prazer, sexual ou de outra classe, de possuir alguém e de alguém que deseja ser
possuído - tudo isso é a estrutura do pensamento. O “eu” com seu nome, sua forma, sua memória, é produzido pelo pensamento. (…) Mas, se o amor não é produzido pelo
pensamento, então o sofrimento não tem relação alguma com o amor. Portanto, a ação que surge do amor é diferente da ação que provém do sofrimento. (La Totalidad de la Vida,
pág. 182)

Que lugar ocupa o pensamento em relação ao amor e (…) ao sofrimento? Ter discernimento nisso implica que não se está fugindo (…) desejando bem-estar, não se tem medo de
ficar só, isolado; significa, pois, que a mente é livre, e o que é livre está vazio. Se vocês têm esse vazio, penetram inteligentemente no sofrimento e então o sofrimento desaparece.
Há uma ação instantânea, porque isso é assim; a ação surge então do amor, não provém do sofrimento. (Idem, pág. 182)

Quando a mente compreende a natureza do tempo e do pensamento, quando desarraigou a autocompaixão, a sentimentalidade, o emocionalismo, etc., então o pensamento - que
criou toda essa complexidade - termina, e o tempo não mais existe; por conseguinte, ficais direta e intimamente em contato com essa coisa a que chamais sofrimento. (…) (A Mente
sem Medo, 1ª ed., pág. 93)

(…) O sofrimento só se conserva quando há fuga dele, quando há desejo de fugir-lhe ou de divinizá-lo. Mas quando não houver nada disso, por estar a mente em direto contato com
o sofrimento e, por conseguinte, completamente silenciosa em relação a ele, descobrireis, então, por vós mesmos, que ela se libertou de todo o sofrimento. (…) (A Mente sem Medo,
1ª ed., pág. 93)

(…) Desde que a mente esteja inteiramente em contato com o sofrimento, esse fato, por si só, dissolve todas as qualidades geradoras de sofrimento, inerentes ao tempo e ao
pensamento. Por conseguinte, estará terminado o sofrimento. (Idem, pág. 93)

Ora, se ao enfrentar o sofrimento a mente tem um motivo, isto é, se deseja fazer algo a respeito do sofrimento, não é possível compreendê-lo, assim como também não é possível
haver amor, se há motivo para amar. (…) Isto é, suponhamos que eu tenha perdido alguém, por morte; profundamente, psicologicamente, já não posso obter o que essa pessoa
desejava, e vejo-me a sofrer. Se nenhum motivo tenho, ao olhar o sofrimento, ele é ainda sofrimento, ou coisa totalmente diferente? (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 78)

Digamos que meu filho morre, e eu estou a sofrer porque me vejo só. Nele eu depositava todas as minhas esperanças e, agora, todo o meu mundo desabou. (…) Por certo, não deve
haver motivo algum, se desejo compreender o sofrimento, (…) descobrir a profundeza plena e a significação do sofrimento - ou do amor, pois os dois andam sempre juntos. A morte,
o amor e o sofrimento são inseparáveis, (…) e também os acompanha a criação; (…) Só posso viver com o fato e compreendê-lo, quando nenhum motivo tenho. (…) (Idem, pág.
78-79)

(…) E se, passo a passo, examinardes bem o fato, vereis que há um findar do sofrimento - um findar real, e não simplesmente verbal, não o findar superficial, resultante de fuga, de
identificação com um conceito ou devotamento a uma idéia. Vereis que nada há para proteger, porquanto a mente está toda vazia e já não reage no sentido de preencher o seu
vazio; e quando assim o sofrimento termina completamente, tereis encetado outra jornada. (…) Existe uma imensidade que ultrapassa todas as medidas, mas nesse mundo não
ingressareis sem a prévia e total extinção do sofrimento. (Idem, pág. 80)

Conhecemos o sofrimento em níveis diferentes. (…) O sofrimento físico, a dor física, o sofrimento causado pela morte, o sofrimento que vem quando não há satisfação, o sofrimento
resultante de um estado de vazio, o sofrimento causado pela não satisfação da ambição (…) Conhecemos (…), igualmente, as várias vias de fuga: bebida, ritos, recitação de
palavras, observância da tradição, a expectativa do futuro, de dias melhores (…) Afastais o sofrimento com explicações; a explicação tem para vós maior importância do que a
profundeza, o significado, a vitalidade do sofrimento. (…) (Quando o Pensamento Cessa, pág. 113)

Vós, pois, sois o criador do sofrimento; sois a entidade que sofre, e não estais separado do sofrimento, da dor. Enquanto houver separação entre vós e o sofrimento, só haverá
compreensão parcial (…); o que significa que tendes de abandonar todas as explicações prévias; (…) que vos vedes frente a frente, não como dois processos, separados, mas como
um processo uno, como a coisa a que chamais sofrimento. Quando realmente amais, não existe barreira alguma; há então comunhão. (…) Não existe identificação no amor. Ele é
apenas um “estado de ser” (Idem, pág. 115)

Enquanto o desejo não for plenamente compreendido, assimilado, tem de haver sofrimento; (…) A razão não pode dissolver o sofrimento, (…) o desejo. Por conseguinte, é
necessário compreender o problema no seu todo, mas não por dedução, por raciocínio, mas pelo percebimento integral da coisa, o que significa amar deveras o problema, (…) o
sofrimento. (…) Quando amais, não há identificação, mas, sim, comunhão; (…) (Idem, pág. 117)

Outra coisa desastrosa que fazemos é buscar o conforto: não apenas conforto físico, mas também conforto psicológico. Desejamos abrigar-nos numa idéia, e quando essa idéia
falha, ficamos desesperados (…) gera sofrimento. A questão, pois, é esta: Pode a mente viver, funcionar, existir sem abrigo, sem nenhum refúgio? Pode um homem viver, dia a dia,
enfrentando cada fato que surge e nunca buscar refúgio; enfrentando “o que é” a todas as horas, todos os minutos do dia? Porque então, penso eu, descobriremos que não só o
sofrimento termina, mas também a mente se torna sobremodo simples e clara, apta a perceber diretamente, sem ajuda das palavras, do símbolo. (O Passo Decisivo, pág. 166)

Da última vez (…) Esta manhã desejo falar sobre a terminação do sofrimento; porque o medo, o sofrimento e aquilo que chamamos amor, andam sempre juntos. Se não
compreendemos o medo, não podemos compreender o sofrimento, nem tampouco (…) aquele estado de amor no qual não existe contradição nem atrito. (O Homem e seus Desejos
em Conflito, 1ª ed., pág. 178)

Através dos séculos, o amor e o sofrimento sempre andaram de mãos dadas, predominando ora um, ora outro. Aquele estado a que chamamos “amor” depressa passa e de novo nos
vemos enredados em nossos ciúmes, (…) vaidade (…) temores, (…) angústias. Sempre houve essa batalha entre o amor e o sofrimento; (…) (Idem, pág. 178)

Ora, a menos que compreendamos a paixão, acho que não seremos capazes de compreender o sofrimento. A paixão é algo que mui poucos de nós realmente já experimentaram. (…)
Nossa paixão é sempre por alguma coisa: pela música, (…) pintura, (…) literatura, por um país por uma mulher ou um homem; é sempre o efeito de uma causa. (…) (Idem, pág.
179)

(…) Quando vos apaixonais por alguém, sempre ficais num estado de grande emoção, o qual é o efeito daquela causa. Mas a paixão de que falo é paixão sem causa: é estar
apaixonado por tudo, e não simplesmente por certa coisa; (…) (Idem, pág. 179)

Acho que o terminar do sofrimento depende da intensidade da paixão. Só pode haver paixão, quando há total abandono do “eu”. Nunca pode uma pessoa “apaixonar-se” se não
houver a completa ausência disso que chamamos “pensamento”. Como vimos outro dia, o que chamamos pensamento é a reação de vários padrões e experiências da memória, e
onde existe essa reação condicionada não há paixão, não há intensidade. Só pode haver intensidade com a completa ausência do “eu”. (O Homem e seus Desejos em Conflito, pág.
181-182)

Terminar o sofrimento é enfrentar o fato de nossa própria solidão, de nosso apego, de nossas pequenas exigências de fama, nossa fome de ser amados; é estar livre do interesse
egocêntrico e da puerilidade da autocompaixão. E, depois de ter ultrapassado tudo isso, e, talvez, de ter terminado o próprio sofrimento pessoal, resta ainda o imenso sofrer
coletivo, o sofrer do mundo. Uma pessoa pode pôr fim a seu próprio sofrimento, enfrentando em si própria o fato e a causa do sofrimento. (Idem, pág. 183)

Mas, uma vez terminado tudo isso, há ainda o sofrimento que vem da extraordinária ignorância existente no mundo - ignorância que não é falta de instrução, de conhecimentos
tirados dos livros, porém a ignorância que o homem tem de si próprio. A falta de compreensão própria é a essência da ignorância, causadora do imenso sofrimento existente no
mundo inteiro. (Idem, pág. 183)

Existe uma energia capaz de produzir essa unidade, essa unificação da humanidade? Dizemos que essa energia é gerada na meditação, porque na meditação não há centro. O
centro é criado pelo pensamento, porém ocorre alguma outra coisa por completo diferente, que é a compaixão. Esse é o fator de unificação da humanidade (…) (La Verdad y la
Realidad, pág. 238)

Isso só pode ocorrer quando não há centro, sendo o centro aquilo que foi criado pelo pensamento (…) Há só um fator, que é o sentimento de grande compaixão. E essa compaixão
existe quando compreendemos a plena amplitude e profundidade do sofrimento. Por isso é que temos falado muito do sofrimento - não só o sofrimento de um ser humano, senão do
sofrimento coletivo da humanidade (…) (Idem, pág. 238)

Para discernir o processo do sofrimento, cada qual deve compreender-se a si mesmo. O compreender-se a si mesmo é uma das mais difíceis tarefas (…), exige o mais ingente dos
esforços, uma vigilância constante (…) Temos mais oportunidade para dissipar as nossas energias em divertimentos absurdos, conversas fúteis e finalidade vãs (…) (Palestras em
Ojai, Califórnia, 1936, pág. 74)

É bem perceptível o processo do sofrimento, o que nós entes humanos temos sofrido, por todo este mundo - guerras, incertezas, falta de relações, falta de amor. E, faltando-nos
amor, o prazer assume toda a importância. Não só existe essa espécie de sofrimento, mas há também (…) o sofrimento causado pela ignorância.

Há ignorância, mesmo quando somos bem ilustrados, dotados de vasta cultura e experiência, das aptidões com que se ganha fama, notoriedade (…) A ignorância não se dissipa
com o acumular fatos e informações: isso o computador pode fazer muito melhor (…) Essa ignorância engendra toda espécie de superstição, perpetua o medo, gera a esperança e o
desespero e todas as invenções e teorias da mente astuciosa. (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 138-139)

A autocompaixão é um dos elementos do sofrimento. Outro elemento é estar apegado a alguém e estimular ou nutrir nessa pessoa apegado a vós. O sofrimento não vem apenas
quando o apego nos trai, mas sua semente já se encontra bem no início do apego. Em tudo isso, o mal é a total falta de autoconhecimento. Conhecer a si próprio é pôr fim ao
sofrimento. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 98)

(…) Pôr fim ao sofrimento é ver o fato, e não inventar o seu oposto, já que os opostos se contêm mutuamente. Percorrer a galeria de opostos é sofrimento. Essa fragmentação da
vida em “alto” e “baixo” e “ignóbil”, “Deus” e “Demônio”, gera conflito e dor. Quando há sofrimento, não há amor. O amor e o sofrimento são incompatíveis. (Idem, pág. 99)

Todos conhecemos a dor física que provém de uma má saúde, enfermidade. (…) O pensamento, refletindo acerca da dor passada, projeta a dor futura e, portanto, teme o futuro.
Assim é que, quando sobrevém a dor física, vivam com ela e terminem com ela - não a levem consigo. Se não se puser fim a ela instantaneamente, aparece o temor (…) Para
terminar com a dor, o indivíduo deve viver com ela, não dizer: “Como posso escapar dela?” (…) Quando experimentam dor, podem viver com ela sem autocompaixão e sem
lamentações? (…) É o pensamento que a transporta; (…) Significa estar por completo alerta (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 148)

(…) Existe uma relação entre a paixão e a dor? (…) Há tal coisa como a dor sem causa? Nós conhecemos a dor que é causa e efeito. Morreu meu filho; nisso está envolvida minha
identificação com o filho (…) Nisso há autocompaixão, medo. (…) Nisso há uma pena que é a causa de minha dor. (…) (Tradición y Revolución, pág. 13)

(…) Há amor quando não existe o movimento para escapar da dor. A paixão é a chama da dor, e essa chama só pode despertar quando não há fuga nem resistência. Isso significa
que a dor não tem em si a qualidade da divisão. (Idem, pág. 15)

(…) É então possível dar fim a essa dor? Porque se a dor não termina, não há amor, não há compaixão. (…) Quem lhes fala sustenta que há uma cessação para a dor, (…) total;
(…) A cessação da dor, do sofrimento, implica o começo do amor (…) Quando perguntam “como?”, o que desejam é um sistema, um método, um processo. (…) (La Llama de la
Atención, pág. 46-47)

Já discorremos (…) Como disse outro dia, o amor, o sofrimento e a morte “andam juntos”, são inseparáveis. Isso não é mero conceito filosófico (…) Mas, se penetrardes em vós
mesmos muito profundamente, vereis que o amor não pode ser separado do sofrimento e o sofrimento não pode ser separado da morte, pois os três, na realidade, são um só todo.
Também não há nenhuma possibilidade de se compreender a beleza e a imensidão da morte, se existir qualquer vestígio de medo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
190)

Pois bem, (…) O sofrimento não pode ser compreendido se fugimos dele, mas, sim, quando o amamos e compreendemos. (…) Compreendeis vossa esposa quando a amais,
compreendeis o vosso próximo quando o amais - o que não significa deixar-se arrebatar pela palavra “amor”. A maioria de nós foge ao sofrimento por meio dos inúmeros artifícios
da mente. O sofrimento só pode ser compreendido quando estamos frente a frente com ele. (A Arte da Libertação, pág. 35-36)

E disso que desejo tratar (…) Como entes humanos, (…) temos a possibilidade de descobrir por nós mesmos uma diferente maneira de viver, de pensar, de agir? Para a
descobrirmos, devemos primeiramente investigar as verdadeiras condições em que (…) estamos vivendo presentemente; (…) E, não só devemos tornar-nos cônscios disso, mas
também tratar de pôr fim ao sofrimento; porque a mente que sofre não pode pensar claramente, ver com clareza. O findar do sofrimento é o começo da sabedoria, e só da sabedoria
é possível nascer o que é novo. (O Descobrimento do Amor, pág. 151)

Enquanto o pensamento estiver todo interessado na sua própria melhoria, sua própria transformação, seu próprio progresso, tem de haver conflito e contradição. (…)
Compreender-se a si mesmo, por conseguinte, é mais importante do que saber a maneira de dominar o sofrimento e o conflito.

(…) Para se compreender o sofrimento, têm de cessar todas as fugas, porque só então estamos aptos a olhar-nos de frente, na ação; compreendendo-vos a vós mesmos, na ação, que
é relação, encontrareis uma maneira de libertar o pensamento, completamente, de todo conflito e de viver num estado de felicidade, de realidade. (A Arte da Libertação, pág. 193)

Krishnamurti: Compaixão. É ela o resultado da terminação da dor universal?

Interlocutor: Dor universal? Você diz, a terminação da dor. Agora você está falando da pessoa que vive na dor.

Krishnamurti: Sim. (La Totalidad de la Vida, pág. 124-125)

Interlocutor: E nessa pessoa chega ao fim essa dor universal? É o que você sugere?

Krishnamurti: Mais que isso.

Interlocutor: Mais que isso? Bem, (…) porque se um indivíduo diz: “A terminação da dor universal”, o que causa perplexidade é o afirmar que essa dor continua existindo,
entende?

Krishnamurti: Eh (…)? (Idem, pág. 125)Interlocutor: De modo que, em certo sentido, a dor universal termina, porém em outro sentido persiste.

Krishnamurti: Sim, assim é.


Interlocutor: Podemos dizer que, se um indivíduo tem um discernimento, uma penetração lúcida e profunda da essência da dor, da dor universal, então a dor termina nesse
discernimento? É isso o que você quer dizer?

Krishnamurti: Sim, correto. (Idem, pág. 125)

Krishnamurti: Você perdeu a dor do pensamento.

Interlocutor: Correto. A dor do pensamento passou, porém há uma dor mais profunda.

Krishnamurti: (…) Eu digo: Há uma compaixão que não esteja relacionada com o pensamento? Ou, dito de outro modo: Essa compaixão nasce da dor? (La Totalidad da la Vida,
pág. 125)

Interlocutor: Nascer da dor (…)

Krishnamurti: Nascer no sentido de que, quando a dor acaba, há compaixão.

Oração, Prece, Súplica; Atendimento, Implicações


Que entendemos por prece? Por certo, só oramos quando sofremos, quando estamos na infelicidade, quando há conflito, confusão, dor. Rezamos quando estamos felizes, quando
sentimos alegria, quando nossos corações transbordam? Certamente que não. Só oramos quando estamos atribulados, (…) incertos, (…) não sabemos o que fazer; voltamo-nos,
então, para alguém, pedindo socorro. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 68)

A prece, pois, em geral, é súplica (…) É petição, é desejo, é um ato psicológico de estender a mão para que a segurem, (…) a encham. E quando pedis, recebeis (…) Mas o que
recebeis é sempre o que desejais, nunca o que não desejais; portanto, o que recebeis é vossa própria projeção. O que recebeis, em resposta à prece, é moldado pela vossa fantasia,
vossa limitação, vosso condicionamento. Quanto mais pedirdes, tanto mais recebereis da vossa própria projeção; e com isso vos satisfareis. (Idem, pág. 69)

Mas é a prece um processo de satisfação pessoal? Que acontece quando orais? Repetis certas palavras, assumis determinada postura; e quando há constante repetição de palavras
e frases, é claro que a mente se torna quieta. (…) A mente não está de fato tranqüila, pois está querendo alguma coisa; (…) Quereis ser socorrido porque estais confuso, incerto, e
recebereis aquilo que desejais. Mas essa resposta à vossa súplica não é a voz da realidade: é a resposta de vossa própria projeção, e também da projeção coletiva. (Idem, pág. 69)

Ora, a prece, a súplica, a petição, jamais poderá revelar o que não é projeção da mente. Para encontrar-se aquilo que não é fabricação da mente, precisa a mente estar quieta - não
posta quieta pela repetição de palavras, que é auto-hipnose (…) A tranqüilidade que é (…) forçada, não é tranqüilidade. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 70)

(…) O forçar, de qualquer modo que seja, nunca pode produzir tranqüilidade. A tranqüilidade da mente só pode surgir com a cessação do pensamento; e o pensamento cessa
quando se compreende o pensador (…) Por conseguinte, (…) sem autoconhecimento, o simples orar tem muito pouca significação. A prece não pode abrir a porta do
autoconhecimento. (Idem, pág. 70-71)

O que abre a porta do autoconhecimento é a vigilância constante - não o exercício de vigilância, mas, sim, o estar vigilante, momento a momento, e descobrindo. O descobrir nunca
pode ser cumulativo. (…) O descobrir é sempre novo momento a momento (…) (Idem, pág. 71)

Pergunta: Para que serve a oração?

Krishnamurti: (…) Só orais quando estais em confusão, (…) em dificuldade, e então a vossa prece é um pedido. Um homem atribulado reza, o que significa que está pedindo, está
necessitado de ajuda. (…) Assim, o homem que está contente, (…) feliz, (…) que percebe a realidade com toda a clareza, e a compreende, nas atividades de cada dia - esse homem
não necessita da prece. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 38)

Ora, pode alguma força exterior socorrer-me? A força exterior pode ajudar-me a sair do conflito, (…) a fugir dele; mas enquanto eu não compreender a minha confusão, criarei
nova confusão. (…) Assim, enquanto eu não compreender o produtor da confusão, que sou eu mesmo, enquanto eu não lançar luz nessa confusão, por mim mesmo, o simples
recorrer a uma força exterior é de muito pouca valia. (Idem, pág. 40)

Que acontece quando orais? Que fazeis, quando orais? Recitais certas palavras, certas frases. (…) Pela repetição de frases, fazemos a mente ficar tranqüila. Ela não está tranqüila:
foi posta tranqüila. (…) A mente posta tranqüila, a poder de repetição, é compelida, hipnotizada para o silêncio. Ora, que acontece quando a mente é artificialmente posta
tranqüila? (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 41)

Assim, quando orais e fazeis a mente ficar quieta, por meio de palavras, estais em busca de uma solução que vos proporcione satisfação. Já concebestes a solução de antemão, a
qual tem de ser satisfatória; (…) Vede (…) a importância disso. Vós criais aquilo que desejais (…) O problema está liquidado, portanto, e dizeis que a solução veio de Deus. (…)
(Idem, pág. 41-42)

Assim, que acontece quando uma mente se recusa a compreender o problema e busca a solução numa força exterior? Consciente ou inconscientemente, obtém uma solução
satisfatória - pois se o não fosse, a mente a rejeitaria. (…) Quando fazemos a mente ficar quieta por meio de prece, o inconsciente, que é o resíduo de nossas próprias conclusões
satisfatórias, se projeta em nossa mente consciente, sendo assim atendida a nossa prece. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 42)

Vemos, pois, que, quando oramos, estamos à procura de um meio de fuga (…); e a força exterior que nos dá a resposta é a nossa satisfação, nosso consciente ou inconsciente
identificado com o desejo que queremos satisfazer. (Idem, pág. 42)

Assim, o homem que deseja compreender qualquer problema, só pode compreender com a mente quieta, imparcial. (…) De modo idêntico, a prece, sem autoconhecimento, conduz à
ignorância, à ilusão. Autoconhecimento é meditação, e sem autoconhecimento não há meditação. (…) (Idem, pág. 43)

Pergunta: Que é, para vós, oração e meditação?

Krishnamurti: Meditação é sinônimo de oração? (…) Vós rezais? (…) Por que rezais? Quando estais na claridade, quando sentis alegria, felicidade, rezais? Ora, essa alegria, essa
felicidade, são, em si mesmas, uma forma sublimada da inteligência e do viver. Só rezamos quando nos vemos em confusão, em aflição, quando desejamos alguma coisa. (…) E
quando nos vemos em aflição, irremediavelmente perdidos, frustrados, incompletos - só então precisamos que alguém nos ajude e, por conseguinte, rezamos. Recitamos,
repetidamente, frases, forçamos a mente a tornar-se tranqüila (…) (Viver sem Temor, pág. 74-75)

O impulso que nos faz rezar, é o nosso desejo de dominar o medo ou a aflição, e naturalmente obtemos uma resposta. Quando pedis, recebeis, e o que recebeis depende do estado da
vossa mente, do vosso desejo, do vosso sofrimento. Quando rezais, assumis dada postura, repetis certas frases e quietais, assim, a mente consciente; e, quando a mente consciente
está quieta, pode o inconsciente enviar uma resposta para a solução do vosso sofrimento, do vosso problema; ou a resposta pode vir à mente consciente, não de dentro, mas de fora
de vós mesmos. Mas isso, por certo, não é meditação. Meditação é tornar a mente vazia de tudo o que é conhecido. (…) (Viver sem Temor, pág. 75-76)

(…) Uma petição, uma prece, poderá dar-vos alegria; a prece suplicante, dirigida àquele que chamais o desconhecido, poderá ser atendida conforme desejais, mas essa resposta à
vossa súplica pode proceder do vosso inconsciente, ou do reservatório geral, do depósito de todos os vossos desejos. A resposta não é a voz silenciosa de Deus. (O que te Fará
Feliz?, pág. 91)

Que acontece quando orais? Pela repetição constante de certas frases e pelo controle dos vossos pensamentos, a mente se torna quieta (…) Pelo menos a mente consciente (…) Vós
vos ajoelhais como os cristãos, ou vos sentais como os hindus, e começais a repetir, repetir, e, em virtude dessa repetição, a mente se aquieta. (O que te Fará Feliz?, pág. 92)
Nessa quietude, vem-nos uma comunicação. Essa comunicação de algo que suplicastes, pode proceder do inconsciente ou pode ser a reação de vossas lembranças. Mas, por certo,
não é a voz da realidade (…) Não podeis atraí-la à vossa estreita gaiola, pela execução do puja, do bhajan, (…) pela oferta de flores, pelo apaziguamento, pela repressão de vós
mesmos ou pela emulação com outros. (Idem, pág. 92)

Tudo isso são formas de auto-hipnose. Mas, depois de adquirirdes a habilidade de aquietar a mente, existe o perigo - a não ser que estejais plenamente vigilante, para ver de onde
procedem as sugestões - existe o perigo de ficardes preso; (…) Nessas condições, uma mente aquietada pela prece não é uma mente tranqüila, uma vez que é uma coisa feita e que
pode ser desfeita. (O que te Fará Feliz, pág. 92)

O que realmente acontece é que a camada consciente da mente, aquietada mediante apaziguamento, embotada pela repetição, recebe uma resposta ao pedido feito; e o que pedis
obtendes - mas não é a Verdade. Se desejais e pedis, obtereis; mas no fim tereis de pagar por isso. (Idem, pág. 92-93)

Qual é o “processo” da oração? Em primeiro lugar, evidentemente, oramos porque estamos confusos. Um homem feliz não ora (…) Um homem que sente alegria, deleite, não reza.
Assim, o homem que reza está em confusão, em aflição, em tribulação. E que acontece quando ele reza? (…) Vós vos ajoelhais ou vos sentais quieto, tomais certa postura (…) Ou,
enquanto andais, vossa mente reza. Pois bem, que se passa nesse “processo”? (Que Estamos Buscando?, 1ªed., pág. 198-199)

Quando rezais, a vossa mente está repetindo certas palavras, certas frases cristãs ou sânscritas; e a repetição dessas frases torna a mente tranqüila (…) Experimentai-o e vereis (…)
O que não representa uma tranqüilidade real, porém uma forma de hipnose. Ora, quando a mente superficial é aquietada artificialmente, que acontece? Sem dúvida, as camadas
mais profundas da mente enviam suas mensagens (…) Todos os níveis mais profundos da consciência (…) tudo isso está sempre em atividade. (…) (Idem, pág. 199)

Mas não há dúvida de que as camadas mais profundas da consciência estão sempre em atividade; sempre à espera, sempre vigilantes; é quando a mente superficial (…) se torna um
tanto quieta, ou a fazemos ficar quieta; então, naturalmente, as memórias interiores enviam suas mensagens; e a essas mensagens chamamos de voz de Deus. (…) Quando nos vêm
essas mensagens, elas devem ser, evidentemente, o resultado da experiência coletiva e individual, da memória racial (…) (Idem, pág. 199)

As memórias coletivas, os instintos coletivos, as idiossincrasias e reações coletivas - tudo isso projeta na mente tranqüila a sua sugestão, mas esta provém sempre da entidade
limitada, da consciência condicionada, e não de uma esfera exterior. Eis como são atendidas as vossas preces. Vós sois parte do coletivo, e vossas preces são atendidas pelo
coletivo que está em vós; (…) (Idem, pág. 200)

Tivestes a “experiência” de vossas particulares devoções a ídolos fabricados pela mão ou pela mente. (…) E a tal experiência chamais de estado místico, extraordinário. O homem
que (…) chama isso “misticismo” está iludindo a si próprio; está apenas a projetar seus próprios desejos, condicionamentos, exigências não preenchidas, (…) sob a aparência de
virtude, nobreza, visões. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 139)

Identicamente, a fuga mediante preces, repetição de palavras, se assenta em razões bastante óbvias: estais desgostoso da vida de aflição, sofrimento, conflito (…) Por isso, orais a
alguém - a um ser que chamais Deus - pedindo alívio, consolação. Derramais lágrimas, rogais, sufocado por vosso próprio desejo de ignorar o que é. (…) (Idem, pág. 139)

Quando orais, estais suplicando, pedindo, rogando, estendendo a mão a alguém (…); e, em geral, há sempre alguém que o faz, que vos enche a mão. Porque buscais preenchimento,
pedis, rogais, procurais alguém que vos dê algo, que vos encha as mãos, o coração, a mente; e esse preenchimento vos é concedido. (Idem, pág. 139)

Assim, pela compreensão da “experiência” e o percebimento da verdade a seu respeito, a mente fica livre da exigência de experiência. Pela compreensão e observação, pelo
percebimento da falsidade da oração, das diferentes posturas preconizadas, da respiração - pelo percebimento da falsidade, e da verdade a esse respeito, ficais livre. Livre dessa
necessidade de suplicar, de vos absorverdes em brinquedos (…) (Idem, pág. 142)

Pergunta: Numa de vossas palestras dissestes que, quando uma pessoa reza, recebe, mas terá de pagar, no fim. Qual é a entidade que atende às nossas preces (…)?

Krishnamurti: Não vos alegra verificar que nem tudo o que pedis por meio da prece vos é concedido? (…) É bem evidente que só orais quando estais confusos, atribulados, (…)
infelizes. Não orais quando sentis alegria, mas só quando sentis medo e (…) dor. (Que Estamos Buscando?, pág. 79)

Que acontece quando orais? (…) Quando orais, tranqüilizais a mente com a repetição de certas frases; isto é, a mente é posta quieta, narcotizada, pela repetição (…) de palavras
ou pela fixação do olhar num retrato ou numa imagem. (…) (Idem, pág.79-80)

(…) Quando a mente superficial está tranqüila, nessa camada superior da mente insinua-se a resposta mais satisfatória. A prece coletiva tem idêntico efeito. Vós suplicais, estendeis
o chapéu para receber; desejais satisfação, (…) uma fuga da vossa confusão. (…) (Idem, pág. 80)

Assim, quando a mente está anestesiada ou parcialmente adormecida, nela se projeta, inconscientemente, a resposta satisfatória, a qual é a influência geral do mundo que vos
rodeia. Existe o reservatório coletivo da ganância, do desejo universal de livrar-se do que é; (…) Mas esse reservatório será Deus, a verdade suprema? Por favor, examinai bem
(…) com toda a atenção, e vereis. (Que Estamos Buscando?, pág. 80)

Quando orais a Deus, orais a algo com que estais em relação, e só podeis estar em relação com uma coisa que conheceis; logo, o vosso Deus é uma projeção de vós mesmo,
herdada ou adquirida. Quando a mente suplica, terá uma resposta, mas essa resposta (…) criará novos problemas. É este o preço que pagais. (…) (Idem, pág. 80)

Sonhos, Significado; Superficiais e Profundos


Pergunta: Sonho muito. Têm os sonhos alguma significação?

Krish.: Este é realmente um problema de extraordinária importância (…) Primeiro, estamos geralmente despertos, parcialmente despertos ou adormecidos? Quando estais
despertos? (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 189)

Ora bem, qual é o significado dos sonhos? O significado é, por certo, o seguinte: A mente consciente, durante o dia, está ativamente empenhada no ganhar dinheiro, no executar
tarefas rotineiras, no aprender, ou está aplicada a alguma ocupação técnica. Está, pois, a mente consciente, durante o dia, ativamente ocupada com coisas superficiais, como ir ao
templo, (…) ao escritório, discutir com a esposa ou com o marido, pensar, ler, evitar, deleitar-se; está constantemente ativa. (Idem, pág. 190)

Quando a mente adormece, que sucede? A mente superficial fica moderadamente tranqüila. Mas a consciência não é só a camada superficial. A consciência é constituída de muitas
e muitas camadas (…): impulsos ocultos, desejos, ansiedades, temores, frustrações, etc. E essas camadas da consciência podem projetar-se, e de fato se projetam, na mente
consciente; e, quando esta desperta, diz: “Tive um sonho”. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 190)

Há, é claro, sonhos superficiais e há sonhos que têm significação real. Os sonhos superficiais são aqueles criados pelas reações corporais: dispepsia, excesso de alimento, etc. Tais
sonhos não precisamos considerar. Outros sonhos representam comunicações procedentes das camadas mais profundas da consciência. (…) Acontece freqüentemente que, enquanto
sonhais, a interpretação se processa. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 190-191)

Não sei se já o notastes. Isto é, os sonhos são, realmente, símbolos, imagens, representações, que a mente consciente traduz (…) São símbolos e impulsos ocultos que, ao se
projetarem no consciente, são traduzidos em símbolos que vos transmitem uma significação, ao despertardes. (…) (Idem, pág. 191)

Por que sonhamos e o que são os sonhos? Nos sonhos, se a pessoa os observa, e quer fazer uma experiência, pode anotar num papel todas as manhãs os sonhos que teve, e
descobrirá que há uma relação consecutiva (associativa) entre cada sonho. Eles são a continuação de sua vida diária, apenas de forma simbólica, com cenas, variações, formas de
subterfúgios, porém a continuação de nossa vida diária - lutas (…), conflitos, (…) irritações, (…) medos, prazeres. É o mesmo movimento, em palavras, cenas, símbolos. (…) (Talks
and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 21)

(…) Penso que a maioria das pessoas com isso concordaria, exceto os neuróticos, para os quais os sonhos implicam muita significação. Através dos sonhos, tem-se a esperança de
encontrar alguma espécie de universo misterioso, mas é realmente um movimento de nossa vida diária. (Idem, pág. 21)

O cérebro, que é resíduo da memória, tanto a consciente como a inconsciente, funciona como uma máquina e, portanto, nunca tem sossego. É como um motor que está
constantemente em atividade, dia e noite, infindavelmente. Portanto, que acontece? Tal cérebro se torna cansado, age erraticamente, erroneamente, preso à ilusão; ele não tem
vitalidade, energia. Os sonhos tornam-se desnecessários, se você aprende a observar o movimento da vida durante o dia, se você se acha totalmente atento ao que está fazendo na
vigília. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 22)

Então o cérebro se torna extraordinariamente ativo, sensível, atento a todo movimento do pensamento. Você descobre todos os motivos, também os ocultos, os impulsos sutis, as
complexidades. (…) As palavras usadas, os gestos, o desprezo, o desrespeito, a violência, a brutalidade, a competição, a vulgaridade transparecem, se você fica atento a tudo isso
durante o dia. Então o cérebro, a total estrutura dos nervos, o corpo, o organismo, permanecendo assim alerta, quando você vai dormir, tudo isso fica muito quieto. Ele se aplicou
durante o dia a compreender o que ia acontecendo. Então, quando dorme, não tem o cérebro de se ordenar. (Idem, pág. 22)

Você percebe que os nossos cérebros são, na maioria, desordenados. Funcionamos com apenas uma pequena parte desse cérebro, e temos grande desordem e muita confusão.
Assim, o cérebro só pode funcionar apropriadamente, sãmente, quando há ordem. Se tem observado, quando vai dormir, o cérebro tenta se organizar antes de dormir; tem
percebido isso? Você tenta observar o que aconteceu durante o dia, num retrospecto, e diz: “Bem, eu deveria fazer isto - (…) ter feito aquilo” (…) Eu não deveria ter feito isto” (…)
Eu devo ter (…), “isto é certo, é errado”. Ele tenta realizar alguma ordem e, como você não conseguiu ordem durante o dia, o cérebro a realiza durante a noite. Isso são fatos, pode
experimentar consigo mesmo e descobrirá. Nada há de misterioso acerca disso. (Talks and Dialogues, Sidney, Austrália, 1970, pág. 22-23)

Pode a compreensão surgir por meio dos sonhos? Vale dizer: podem os sonhos revelar-nos, enquanto dormimos, as camadas profundas do inconsciente, a coisa que permanece
oculta? Os especialistas dizem que se deve sonhar e que a não ocorrência de sonhos indica certo tipo de neurose. Também sustentam que os sonhos ajudam a compreender todas as
atividades ocultas da mente. (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 118)

Durante o dia, a mente está ocupada com todas as trivialidades da cotidianidade - o trabalho no escritório, o doméstico, as disputas e irritações (…), umas imagens em luta contra
outras imagens, etc. Então, antes de dormir, vocês fazem um inventário de tudo quanto ocorreu ao largo do dia. Não é isso que sucede (…)? (Idem, pág. 118-119)

Pois bem (…) A mente repassa as atividades do dia porque quer ordenar tudo; de outra maneira, quando vocês dormem, o cérebro continua trabalhando e trata de induzir ordem
em si mesmo, porque o cérebro só pode funcionar sãmente, normalmente, quando se encontra em completa ordem. Por conseguinte, se não existe ordem durante o dia, o cérebro
trata de estabelecê-la enquanto o corpo permanece quieto, dormindo, e o estabelecimento dessa ordem é parte dos sonhos. (…) (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 119)

Pergunta: O sono é necessário ao funcionamento adequado do corpo físico. Afora isso, qual é a função do sono?

Krishnamurti: Obviamente, o sono é essencial não só ao bem-estar físico, mas também ao bem-estar psicológico. Porque, é evidente que, durante esse período, a mente consciente,
ativa, comum, que vai ao escritório, essa mente está tranqüila, realmente tranqüila, quando dormis. Entretanto, essa é apenas uma parte da mente, a parte mais superficial. O resto
da mente continua a funcionar. (Poder e Realização, pág. 29-30)

(…) A mente, sem dúvida nenhuma, jamais dorme. Isso pode observar-se quando temos um problema profundo, uma perturbação ou ansiedade profunda, uma questão fundamental,
(…) sem encontrar solução; entretanto, depois de desistirmos de encontrá-la, a mente mais profunda, que nunca dorme, continua a indagar, a investigar. E porque investiga livre da
interferência da mente superficial (…) a mente mais profunda está mais apta a investigar. (Idem, pág. 30-31)

Eis, porque, às vezes, despertando subitamente pela manhã, exclamamos: “Extraordinário! Aqui está a solução”. Ou, também, se apresenta uma idéia nova, uma nova perspectiva,
uma impressão nova. Essa nova impressão surge (…) quando a chamada mente superficial está tranqüila. Luto com um problema, considero-o sob todos os aspectos, converso e
discuto a respeito dele; e quando, desistindo de encontrar a solução, adormeço, surge a solução correta. (Poder e Realização, pág. 31)

Conseqüentemente, o sono é muito importante. Entretanto, quase todos nós vivemos e agimos no nível superficial da mente, sem nunca tocarmos a outra parte. Talvez, em certas
ocasiões, por meio de sonhos, a outra parte apresente sugestões; mas essas sugestões são traduzidas pela mente trivial; e a própria tradução transforma em coisa trivial aquilo que
tem significação. (Idem, pág. 31)

Assim, pois, tanto o dormir como o estar desperto, o estar completamente desperto durante o dia, tem igual significação (…) Não me é possível, durante o dia, não ser escravo da
mente superficial, mas manter-me vigilante de todo o “processo” da mente, de todos os diferentes níveis da consciência; (…)? Não podemos, durante o dia, estar conscientes do
processo total da mente e não apenas de um segmento dele? Esse processo pode ser compreendido mais claramente no sono; e, assim, a consciência da vigília se torna, também,
muito mais significativa. (Poder e Realização, pág. 31-32)

Nessas condições, o que é importante não é o que acontece durante o sono, nem a interpretação dos sonhos, (…) mas, sim, o estar vigilante, observando o processo integral da
mente, da consciência, durante o dia, de modo que, de noite, o sono se transforme numa compreensão mais profunda, mais penetrante, de tudo o que se passa. Durante o sono,
apresenta-se um grande número de sugestões que a mente consciente nunca é capaz de conhecer. (Idem, pág. 32)

Mas enquanto houver um intérprete, o tradutor, o censor, aquele que julga e condena, o processo total da consciência não será compreendido. Não pode haver uma entidade
distinta, observando a consciência e traduzindo as sugestões. O processo total não pode ser compreendido pela parte, pela entidade que observa e traduz. Eis por que é necessária
uma mente silenciosa, (…) que não condena, (…) não julga. Então o processo total da consciência se revela em cada ação e em cada palavra. Por conseguinte, tanto a consciência
que está desperta como a que dorme são muito importantes; (…) (Idem, pág. 32)

Que é esse inconsciente tão venerado, de que toda gente fala? Será preciso, para o saber, percorrer todos os livros escritos pelos especialistas? Será necessário recorrer a um deles
para que nos diga o que é o inconsciente? Ou queremos sabê-lo por nós mesmos - completamente, e, não, parcialmente, ou em fragmentos? (O Mundo Somos Nós, pág. 88)

Diz-se que é necessário sonhar, se não enlouquece-se, porque os sonhos são avisos, mensagens do inconsciente e das camadas secretas, inexploradas, da mente. Os sonhos serão,
portanto, uma expressão dessas camadas mais profundas; e, desse modo, se a própria pessoa ou o analista for capaz de interpretar os sonhos, poder-se-á então expor, esvaziar o
inconsciente. (Idem, pág. 88)

Depois de fazermos a pergunta, vamos investigar se é possível não sonhar, porque o inconsciente é o depósito do passado, a herança racial e familiar, a tradição social, as várias
fórmulas e sanções, os motivos, a herança vinda do animal - está tudo lá. (O Mundo Somos Nós, pág. 88)

Através dos sonhos, tudo isso é revelado, pouco a pouco, mas a pessoa terá de ser capaz de os interpretar corretamente, o que sem dúvida é impossível. Há especialistas que
poderão traduzir todos esses sonhos - mas de acordo com o seu condicionamento, (…) com os seus conhecimentos, com a informação que obtiveram de outros. (Idem, pág. 88)

A consciência implica, como é óbvio, não só o que está à superfície, mas também o que está subjacente - tudo isso. Se durante a parte do dia em que se está acordado, o conteúdo da
mente puder ser observado, olhado com atenção, então quando se dorme não haverá necessidade de sonhar. (O Mundo Somos Nós, pág. 89)

Veremos então, se o fizermos com seriedade, (…) intensidade, paixão para descobrir, que as nossas noites serão cheias de paz, sem um único sonho, de tal modo que ao acordar a
mente estará fresca, lúcida, sem distorção alguma. O elemento pessoal é dissolvido, e ela pode assim observar completamente; isto é possível, não por se aplicar o que os
especialistas dizem, mas pelo estudo de nós próprios, olhando como nos olhamos ao espelho (…) Descobriremos então que todo esse inconsciente é tão limitado, pouco profundo e
embotado como a mente superficial, não contendo assim nada de vulnerável. (Idem, pág. 89)

Pergunta: Os sonhos têm significação? Se têm, como devemos interpretá-los?

Krishnamurti: Que se entende por “sonho”? Quando dormimos, nossa mente está funcionando; e, ao despertar, lembramo-nos de certas impressões, certos símbolos, expressões
verbais ou quadros. É isso o que entendemos por “sonho” (…) essas expressões de que nos recordamos ao despertar, esses símbolos, sugestões, alusões apresentadas à mente
consciente e relativas a coisas que não foram compreendidas completamente. (A Arte da Libertação, pág. 163-164)
Isto é, nas horas em que estamos despertos, a consciência, a mente está de todo ocupada em ganhar a vida, com as relações imediatas, (…) divertimentos, etc. A mente consciente,
pois, leva uma vida muito superficial. Mas nossa vida não é apenas a camada superficial, ela está em movimento, nos diferentes níveis, a todas as horas. (Idem, pág. 164)

Esses níveis diferentes estão constantemente se esforçando por transmitir o seu significado à nossa mente consciente; e quando a mente consciente está tranqüila, como acontece
durante o sono, as sugestões e mensagens do oculto são transmitida sob a forma de símbolos, e, ao despertarmos, esses símbolos persistem em nossa lembrança como sonhos (…) (A
Arte da Libertação, pág. 164)

Ora, há necessidade de sonharmos? Há sonhos muito superficiais. Se comeis demais à noite, (…) tendes sonhos violentos. Há sonhos que são o resultado de refreamento do apetite
sexual e de outros apetites. Quando reprimidos, esses apetites se declaram enquanto dormis, e vos lembrais disso como sonho, quando desperto. Há muitas formas de sonhos, mas
(…) temos necessidade de sonhar? (Idem, pág. 164)

Se é possível não sonhar, não há então nada que necessite ser interpretado. Dizem os psicólogos (…) que é impossível não sonhar. Julgo que é possível não sonhar, e podeis
experimentá-lo com vós mesmo (…) Como disse, sonhais porque a mente consciente não está cônscia do que está realmente acontecendo a cada minuto, (…) de todas as sugestões,
alusões, impressões e reações que sobem constantemente à superfície. (Idem, pág. 164-165)

Mas será possível ficar passivamente cônscio, de modo que tudo seja logo percebido e compreendido? É possível, sim. É só quando há percebimento passivo de cada problema, que
ele é resolvido imediatamente, em vez de ser transferido para o dia seguinte. Ora, quando tendes um problema e este causa muita preocupação, que acontece? Ides deitar-vos
dizendo: “Vou deixá-lo para amanhã.” (A Arte da Libertação, pág. 165)

Na manhã seguinte, voltando ao problema, verificais que pode ser resolvido e ficais livre dele. O que de fato sucede é que a mente consciente, depois de muito procurar e
atormentar-se, se torna quieta; e, então, a mente inconsciente, que continua a ocupar-se com o problema, envia as suas sugestões, suas mensagens, e, ao despertardes, o problema
está resolvido. (Idem, pág. 165)

Pergunta: Só é possível estar consciente durante as horas de vigília?

Krishnamurti: Quanto mais estiverdes conscientes de vossos pensamentos e emoções, mais percepção tereis de todo o vosso ser. Em tais condições, as horas de sono se tornam uma
intensificação das horas de vigília. Até no chamado sono, como sabemos, a consciência funciona. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 83)

Tornam-se, assim, discerníveis as sugestões das camadas mais profundas da consciência e, ao despertardes, o problema parece haver-se tornado mais claro e mais fácil de resolver.
Conseqüentemente, quanto mais cônscios estiverdes de vossos pensamentos-sentimentos durante o dia, (…) tanto mais serena e vigilantemente passiva se torna a mente,
habilitando-se assim a responder e compreender as sutis insinuações. (…) (Idem, pág. 83-84)

Quanto mais alerta vos mantiverdes durante as horas de vigília, menos sonhos haverá. Os sonhos indicam pensamentos-sentimentos e ações incompletas, não compreendidas, que
requerem interpretação nova, ou pensamento ansioso e frustrado que necessita ser plenamente compreendido. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 84)

Nem todos os sonhos merecem atenção. Cumpre interpretar os significativos e isso depende de vossa capacidade de com eles não vos identificardes (…) de aguda inteligência.
Mantendo-vos penetrantemente alerta, desnecessária é a interpretação; (…) se tendes posses, preferis ir a um especialista de sonhos (…) Ficareis, assim, gradativamente na sua
dependência (…) (Idem, pág. 84)

Embora vos ocupeis com vossos deveres e dispenseis atenção à existência cotidiana, a percepção interna continua; tal como chapa fotográfica, ela vai gravando toda e qualquer
impressão, todo pensamento-sentimento, para ser estudado, assimilado e compreendido. É de suma importância essa faculdade, esse novo sentimento, pois revelará o eterno. (Idem,
pág. 85)

(…) Qual é a importância do dormir? Consiste em passar-se sonhando nas horas em que se dorme? Ou é possível não sonhar nunca? Que são os sonhos, por que sonhamos? E é
possível a uma mente não sonhar, de modo que, enquanto dorme, tenha ela um repouso total que, dessa maneira, gere nela uma classe por completo diferente de energia? (La
Verdad y la Realidad, pág. 214)

Se durante as horas de vigília prestamos completa atenção a nossos pensamentos, (…) ações, (…) conduta, se estamos totalmente alertas, então, são necessários os sonhos? Ou os
sonhos são continuação de nossa vida cotidiana, em forma de quadros, imagens, acontecimentos - uma continuidade dos movimentos conscientes ou inconscientes que se
desenvolvem durante o dia? (La Verdad y la Realidad, pág. 211)

De modo que, quando a mente chega a estar por completo alerta durante o dia, vê-se que os sonhos deixam de ter importância; (…) portanto, já não se sonha. Há unicamente
completo dormir; isso significa que a mente descansa em sua totalidade, que pode renovar-se a si mesma. (…) (Idem, pág. 214)

(…) Há um estado de percepção alerta quando você dorme, assim como quando está desperto? (…) Vale dizer: durante o dia, o indivíduo está superficial ou profundamente atento a
tudo que ocorre em seu interior; é consciente de todos os movimentos do pensar, a divisão, o conflito, a infelicidade, a solidão, as exigências próprias do prazer, a persecução da
ambição, da inveja, da ansiedade (…), está ele atento a tudo isso. Quando você está assim alerta durante o dia, continua essa percepção alerta durante a noite sob a forma de
sonhos? Ou não há sonhos, mas unicamente um estado de percepção alerta? (El Despertar de la Inteligencia, II, pág. 178)

Por favor, escute isto: estou eu, está você atento durante o dia a cada movimento do pensar? Seja honesto (…): não está. Está atento em intervalos. O indivíduo está atento por dois
minutos, logo há uma grande lacuna, e, depois uns poucos minutos, ou meia hora mais tarde, me dou conta de que me esqueci de mim mesmo e o tomo de novo. Há brechas em
nosso estado de percepção alerta - nunca estamos continuamente alertas, e pensamos que deveríamos estar alertas todo o tempo. Pois bem, em primeiro lugar, existem grandes
espaços entre um e outro momento de percepção alerta, não é assim? (…) (Idem, pág. 178)

Eu sei o que ocorre quando estou alerta. (…) não ocorre nada. Estou ativo, vital, em movimento; nisso nada pode ocorrer porque não há preferência com relação a algo que haja
de ocorrer. Pois bem, quando estou inatento, (…) não estou alerta, então sim ocorrem coisas. Então digo coisas que não são verdadeiras, (…) fico nervoso, ansioso, perturbado e
caio no desespero. Por que sucede isso? (…) (Idem, pág. 178-179)

Vejo que não estou alerta, e vou vigiar o que sucede nesse estado em que não estou alerta. Estar alerta do fato de que não estou alerta é o estado de percepção alerta. Sei quando
estou alerta; quando existe o estado de percepção alerta, isso é algo por completo diferente. E sei quando não estou alerta; torno-me nervoso, retorço as mãos, faço toda sorte de
coisas estúpidas. Se houver atenção nessa inatenção, toda a coisa termina. (…) Eu necessito estar alerta todo o tempo. (…) De modo que (…) então todo o movimento experimenta
uma mudança. (Idem, pág. 179)

Bem, que ocorre durante o sono? Há percepção alerta quando você dorme? Se, durante o dia, está alerta em intervalos, então isso continua enquanto dorme - é óbvio. Porém,
quando você está quanto alerta, e também o está quanto ao fato de que se acha inatento, ocorre um movimento de todo diferente. Então, quando você dorme, há uma percepção
alerta de completa quietude. A mente está alerta a respeito de si mesma. (…) Veja, quando a mente está alerta de maneira profunda durante o dia, esse estado de percepção alerta
em profundidade produz uma qualidade de absoluta quietude na mente durante o sono. (Idem, pág. 179)

O cérebro exige ordem (…) Porém quando você está atento durante o dia, e atento à sua falta de atenção, então ao finalizar o dia existe ordem; então o cérebro não tem de lutar
durante a noite para produzir ordem. Portanto, o cérebro descansa, está quieto. E na manhã seguinte o cérebro é algo extraordinariamente vivo, não uma coisa morta, corrupta,
drogada. (Idem, pág. 179-180)

Pergunta: Talvez possamos ficar nesse estado de inocência ou meditação, enquanto despertos; mas que acontece quando dormimos?

Krishnamurti: Estamos despertos durante o dia? Presumimos que sim. Estamos despertos, se estamos aprisionados em hábitos de pensamento, em atividades e condutas rotineiras?
Se estais constantemente condenando, comparando, julgando, avaliando, ou vos considerando como pertencente a certa raça, nacionalidade, “cultura” ou religião - estais
desperto? (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 208)
Se estais dominado pelo hábito e, por conseguinte, não estais desperto durante o dia, o sono, nesse caso, é apenas uma continuação desse mesmo estado mental. Faz, então, muito
pouca diferença se, fisicamente, estais dormindo ou acordado. (Idem, pág. 208)

Podeis freqüentar assiduamente a igreja, recitar orações, ou cantar um mantra (…); ou podeis repetir frases feitas (slogans), como os políticos, ou contemplar a vida do ponto de
vista artístico; mas constitui qualquer dessas coisas um estado de inteligência desperta? (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 208)

Estar nesse estado de “inteligência desperta” é ser a luz de si mesmo. Não se tem então nacionalidade, nem igreja (…); não se depende da música, da pintura (…) E quando uma
pessoa está tão completamente desperta, que é então o sono? Que significação tem o sono, quando tanto o consciente como o inconsciente estão totalmente despertos? (Idem, pág.
208)

É a mente embotada, envolvida em conflito, que sonha. Os sonhos são apenas sugestões do inconsciente. A mente que está totalmente desperta durante o dia, tudo observando,
dentro e ao redor de si mesma - mas não de um “centro” de julgamento ou condenação - essa mente, quando dorme, nenhum sonho tem. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª
ed., pág. 208)

Se quando estais desperto (…), ficais cônscio, imediatamente e sem reação, de cada sugestão ou mensagem do inconsciente, (…) então, quando ides dormir, vossa mente está
quieta; (…) E vereis que esse estado de profundo silêncio, durante o sono, traz frescor, inocência e, assim, o dia seguinte é um dia diferente, traz consigo algo novo. (…) (Idem, pág.
209)

Quanto mais vigilante for a nossa meditação nas chamadas horas de vigília, tanto menos sonharemos e tanto menor o temor e a ânsia relativamente à interpretação de nossos
sonhos. Porque, na autovigilância das horas de vigília, as diferentes camadas da consciência vão sendo descobertas e compreendidas, e, no sono, há a continuação da vigilância.
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 161)

A meditação não é para determinado período, somente; ela deve ser praticada tanto nas horas de vigília como nas de sono. Quando dormimos, em virtude da adequada vigilância
meditativa das horas de vigília, pode o pensamento descer a profundidades grandemente significativas. A meditação continua mesmo durante o sono. (Idem, pág. 161)

Pergunta: Como posso compreender o significado dos meus sonhos?

Krishnamurti: O que importa não é compreender a significação dos sonhos, mas, sim, por que sonhais. Por certo, esse é que é o problema, e não como interpretar os símbolos, as
imagens projetadas pela mente inconsciente, quando se acha adormecida a mente consciente. (…) (Visão da Realidade, pág. 225)

Afinal, vossa consciência não é só a mente superficial que vai ao escritório, (…) possui certas virtudes, (…) roupas (…); vossa consciência é, também, o inconsciente. Quando
dormis, a mente superficial está mais ou menos em repouso e, assim, o inconsciente atua e tendes sonhos; (…) (Idem, pág. 226)

(…) Mas se, ao contrário, durante as horas de vigília, puderdes estar cônscio de todas as coisas que vos cercam e de vossas reações a elas; (…) vereis então que deixareis de
sonhar, porque vossa mente estará ocupada em compreender, a todas as horas, e não apenas quando estais dormindo; e os símbolos, por conseguinte, já nada significarão. (Visão
da Realidade, pág. 226)

Se, durante o dia, ficardes passivamente vigilantes para cada pensamento, cada sentimento, cada reação, observando-os sem interpretá-los, condená-los ou julgá-los, de modo que
sejam compreendidos, a mente se tornará, então, muito tranqüila e, ao dormirdes, não tereis mais sonhos. Nesse sono sem sonhos, a mente pode descer a profundidades muito
maiores e experimentar algo completamente inacessível à consciência desperta. (Idem, pág. 226-227)

Deve, pois, a mente compreender cada um dos valores por ela acumulados e, nesse processo, as numerosas camadas da consciência, tanto as claras como as ocultas, são
descobertas e compreendidas. Quanto mais nítida for a percepção das camadas conscientes, tanto mais facilmente virão à superfície as camadas ocultas. Se as camadas conscientes
estiverem confusas e turvas, não poderão as camadas mais profundas da consciência penetrar no consciente, senão pelos sonhos. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 121-122)

Mas, se for o indivíduo incapaz de aprofundar, completamente e plenamente, cada pensamento-sentimento, começa então a sonhar. Os sonhos requerem interpretação, e o
interpretar demanda inteligência livre e aberta; (…) É só na percepção profunda e extensa que se porá fim aos sonhos e à ânsia de interpretá-los. (Idem, pág. 122-123)

Isso não é questão de análise (…) O inconsciente não pode ser examinado pelo consciente. Já vos digo por quê. Através de sonhos, de sugestões, de símbolos, de mensagens
diversas, tenta o inconsciente comunicar-se com a mente consciente.

Essas sugestões e mensagens requerem interpretação, e a mente consciente as interpreta conforme seu próprio condicionamento, suas idiossincrasias. Entretanto, se não
compreendermos o inconsciente e não nos libertarmos dele, com sua carga “histórica” (…) haverá sempre contradição, conflito (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed.,
pág. 15)

O inconsciente tem um papel muito importante em nossa vida. A maioria de nós não conhece o inconsciente, a não ser através de sonhos, (…) de ocasionais sugestões ou mensagens
relativas a coisas que estão ocultas. Eu acho que não é absolutamente necessário sonhar; isso é um desperdício de energia. Se estais desperto, cônscio, sem escolha, momento a
momento, e, portanto, não estais acrescentando nada ao que antes conhecestes; se estais observando tudo o que vos cerca, bem como todo movimento de pensamento dentro de vós,
descobrireis, então, que o sonhar cessa completamente (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 86)

Se não estais semi-adormecido durante o dia, porém completamente desperto, observando tudo o que se passa ao redor e dentro de vós - cada movimento do pensamento, cada
sentimento, cada reação - descobrireis, então, que, quando dormis, não sonhais. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 67)

Interlocutor: Disseram-me certos especialistas que sonhar é tão importante como pensar e estar ativo durante o dia, e que o meu viver diário estaria sujeito a enorme pressão e
tensão se eu não sonhasse. (…) Desejo também perguntar por que razão a linguagem dos sonhos é simbólica.

Krishnamurti: A própria linguagem é símbolo, e nós estamos habituados aos símbolos: vemos a árvore (…), vemos o nosso próximo através da imagem que a seu respeito temos.
Aparentemente, uma das coisas mais difíceis para o ente humano é olhar qualquer coisa diretamente, e não através de imagens, opiniões, conclusões - tudo isso símbolos. E, assim,
nos sonhos, os símbolos representam um papel muito importante e, por esse motivo, podem ser muito enganosos e perigosos. O significado de um sonho nem sempre é claro, embora
compreendamos que ele se compõe de símbolos, que tentamos decifrar. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 118)

(…) Somos incapazes de percepção direta e imediata, prescindindo de símbolos, palavras, preconceitos e conclusões. A razão disso é também perfeitamente óbvia: é que isso faz
parte da atividade egocêntrica, com suas defesas, resistência, fugas e temores. Há uma “resposta” cifrada da atividade cerebral, e os sonhos, naturalmente, são simbólicos, porque,
durante as horas em que estamos despertos, somos incapazes de reação em percepção direta. (Idem, pág. 119)

(…) Os símbolos são um expediente do cérebro para proteger a psique, que é a totalidade do processo do pensamento. O “eu” é um símbolo, e não uma realidade. Tendo criado o
símbolo do “eu”, o pensamento se identifica com sua conclusão, sua fórmula, e defende-a; daí provém toda aflição e sofrimento. (Idem, pág. 119)

(…) Durante as horas em que estamos despertos, há sempre o observador diferente da coisa observada, o agente separado de sua ação. Da mesma maneira, há o sonhador separado
do seu sonho. Pensa que o sonho está separado de si; e por isso necessita de interpretação. Mas o sonho é separado do sonhador, e há necessidade de interpretá-lo? Quando o
observador é a coisa observada, que necessidade há de interpretar, de julgar, de avaliar? (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 120)

(…) As expressões da mente são fragmentos da mente. Cada fragmento se expressa de sua maneira própria e contradiz outros fragmentos. Um sonho pode contradizer outro sonho,
uma ação, outra ação, um desejo, outro desejo. A mente vive nessa confusão (…) Assim, cada fragmento tem seu observador próprio, sua atividade própria; em seguida, um
super-observador procura juntá-los todos harmonicamente. O “super-observador” é também um fragmento da mente. São essas contradições, essas divisões, que dão origem aos
sonhos. (A Luz que não se Apaga, pág. 123)

A verdadeira questão, pois, não é a interpretação ou compreensão de dado sonho, porém, sim, a percepção de que esses numerosos fragmentos estão contidos no todo. Vedes, então,
a vós mesmo como um todo, e não como fragmento de um todo. (Idem, pág. 123)

(…) A consciência é o homem inteiro e não pertence a ninguém pessoalmente. Quando há consciência pessoal, surge o complexo problema da fragmentação, da contradição, da
guerra. Quando, durante as horas de vigília, há no ente humano a percepção do movimento total da vida, que necessidade há então de sonhos? Esse percebimento total, essa
atenção, põe fim à fragmentação e à divisão. Não existindo conflito de espécie alguma, a mente não necessita sonhar. (Idem, pág. 123-124)

Arte, Beleza; Expressão Vulgar; Fatores Tempo, “Eu”


Que é a beleza? A beleza está no objeto, na arquitetura, na árvore, no rosto formoso de uma pessoa, na luz refletida na água? Encontra-se ela no exterior, ou será uma coisa não
dependente do observador e do objeto observado? E como pode verificar-se uma coisa em que não existe observador nem objeto observado? (…) Ora, por certo, a beleza se torna
existente quando há o total abandono de “nós mesmos”. (A Essência da Maturidade, pág. 95)

Ao observardes, por exemplo, uma montanha com seu manto de neve, sua luminosidade, sua profundeza, beleza e majestade, essa própria coisa expulsa momentaneamente todos os
pensamentos; por um segundo ficais atordoado ante tal espetáculo, e vossa mente se torna de todo quieta. Nesse estado, sente-se certa coisa que não pode ser expressa em palavras,
mas que é da natureza da beleza. Então, a montanha, o rio ou a flor (…) expulsa, por um segundo, todos os vossos pensamentos, inquietações, impressões. (Idem, pág. 95)

E pode uma pessoa morrer para tudo quanto pensou a respeito de si própria, para todos os seus prazeres e preocupações, no instante do total abandono de si própria? Isso exige
grande austeridade (…) Só se manifesta a austeridade quando a mente compreende a natureza daquele intervalo entre o observador e a coisa observada, e já não nutre o
observador por meio do pensamento. Isso produz uma sensibilidade e extraordinária natureza. E a mente que não é sensível, atenta, jamais saberá o que é o amor. (A Essência da
Maturidade, pág. 95-96)

Ora, que se entende por beleza, por verdade? A beleza, de certo, não é um ornamento; a mera ornamentação do corpo não é beleza. Todos queremos ser belos, (…) ser
apresentáveis - mas não é isso o que entendemos por beleza. (Novo Acesso à Vida, pág. 84)

Vestir-se com gosto e alinho, ser asseado, cortês, atencioso, etc., faz parte do belo (…) Todos os dias (…), cuidamos de enfeitar o exterior. Os astros cinematográficos, e vós que os
copiais, cuidais de ser belos exteriormente; mas, se nada tendes interiormente, a decoração externa, a ornamentação, não é beleza. (Idem, pág. 84)

Senhores, não conheceis aquele “estado de ser” íntimo, aquela interior tranqüilidade, em que floresce o amor, a bondade, a generosidade, a piedade? Aquele estado de ser,
obviamente, é a essência mesma da beleza, e, sem ele, enfeitar a nós mesmos significa dar realce aos valores sensoriais, os valores dos sentidos; (…) (Novo Acesso à Vida, pág.
84-85)

Pergunta: A beleza deve ser cultivada, adquirida? Que significa a beleza para vós?

Krishnamurti: A beleza, de certo, não é uma coisa da mente, (…) não é sensação. A maioria de nós procura a sensação, que chama de beleza. (…) O vestir um sari com correção, o
arquear os lábios, caprichosamente, com batom, o andar de certa maneira - isso é beleza? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 147-148)

Conquanto seja necessário dispensar certa atenção e cuidados à forma exterior - asseio, etc. - em parte por necessidade e em parte por razões estéticas, tal coisa, por certo, não é
beleza. A beleza que é sensação é coisa da mente, e a mente pode fazer bela ou feia qualquer coisa; (…) (Idem, pág. 148)

A mente, pois, está sempre pintando, imaginando o belo, que é sempre do passado. Mas a beleza está no tempo? (…) Vós e eu podemos ver a beleza externamente; mas o mero
apreciar dessa expressão não é a beleza. A beleza, portanto, é algo que está fora da mente, fora da sensação, fora dos limites do tempo (…); e esse percebimento ilimitado (…) é
beleza - o que significa ser realmente, infinitamente sensível. (…) (Idem, pág. 149)

Que é a beleza? Acha-se esta numa pintura, em um museu, em um poema? Está no perfil das montanhas contra o céu? Em uma extensão de água que reflete a magnificência das
nuvens (…)? A glória externa há exaltado o mesquinho e insignificante “eu” (…) Quando o “eu” se acha por completo ausente, há beleza. Então a relação do indivíduo com a
natureza muda totalmente. (La Totalidad de la Vida, pág. 197)

(…) A beleza não é produto da inteligência humana; as realizações do homem provocam sentimentos e emoções, o que nada tem a ver com a beleza. O belo não está nas coisas
manufaturadas nem nas coisas construídas, tampouco se acha ele nos museus. É preciso transcender tudo isso, abandonar todos os gostos pessoais, (…) forma de escolha e (…) as
emoções, para que o amor exista, ele que é a própria beleza. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 189)

A beleza faz parte dessa compreensão, mas ela não é apenas uma questão de proporção, de forma, de gosto e de comportamento. A beleza é aquele estado em que a mente
abandonou o centro do ego na paixão da simplicidade. A simplicidade não tem fim; e só pode haver simplicidade quando há uma austeridade que não é resultado de disciplina
calculada e de autonegação. Essa austeridade é desapego, o que só o amor pode produzir. (…) Só a mente inocente pode pesquisar o desconhecido. (…) (O Verdadeiro Objetivo da
Vida, pág. 21-22)

Do completo silêncio que se seguiu, surgiu aquela coisa singular, tornando sem sentido a meditação (…) Só que não havia nem tempo nem espaço; aquela “coisa” simplesmente
existia como a inquebrantável força, a arrasadora vitalidade que é a beleza em si, o amor. Nem a mais rica imaginação seria capaz de inventá-lo, ou o mais secreto impulso, de
projetá-lo. Toda forma de pensamento, de sentimento, de desejo, ou compulsão estavam completamente ausentes. Tampouco se tratava de uma experiência, pois experimentar
implica o reconhecimento, um centro que acumula, a memória e a continuidade. (…) (Diário de Krishnamurti, pág. 189)

Para a maioria de nós, a beleza é questão de proporções, forma, tamanho, contorno, cor. Vemos um edifício, uma árvore, uma montanha, um rio, e dizemos que é belo; mas aí está
ainda a “entidade exterior”, o experimentador que está observando essas coisas e, por conseguinte, o que chamamos “beleza” acha-se ainda na esfera do tempo. (A Mente sem
Medo, 1ª ed., pág. 113)

Mas eu sinto que a beleza está fora do tempo e que, para se conhecer a beleza, o experimentador deve deixar de existir. O experimentador não é mais do que simples acumulação de
experiência, que serve para julgar, avaliar, pensar. Quando a mente contempla um quadro, ou ouve música, ou observa a correnteza de um rio, ela geralmente o faz apoiada
naquele fundo de experiência acumulada; (…) (Idem, pág. 113)

Conhecer a beleza, ou seja, descobrir o que é eterno, só é possível quando a mente está totalmente só (…) A mente deve estar totalmente livre de influência, de contaminação por
parte da sociedade, dessa estrutura psicológica de avidez, inveja, ansiedade, medo. (…) (Idem, pág. 113)

A beleza e aquilo que é eterno não podem ser separados. Podeis pintar, escrever, observar a natureza, mas se há qualquer forma de atividade do “eu” - qualquer movimento
egocêntrico do pensamento - então o que percebeis deixa de ser beleza, porque ainda compreendido na esfera do tempo; (…) Para descobrirdes o que é eterno, o que é imortal, deve
vossa mente estar livre do tempo (…) (A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 114)

Mas a mente que tem sério interesse, que deseja realmente descobrir, abandonará totalmente a atividade egocêntrica do isolamento e alcançará (…) um estado no qual se verá
completamente só; e, somente nesse estado de solidão total, pode ocorrer a compreensão da beleza, do que é eterno. (Idem, pág. 114)

(…) A beleza surge quando há beleza interior; e só há essa beleza interior quando não há mais conflito, quando há amor, (…) caridade, (…) generosidade. Então vossos olhos têm
expressão, vossos lábios têm riquezas, vossas palavras significação. Porque essas coisas nos faltam, satisfazemo-nos com uma ostentação exterior de beleza, compramos jóias e
quadros. (…) (A Arte da Libertação, pág. 97)

(…) A apreciação da beleza, da vida, só vem quando há enorme incerteza, quando damos atenção a cada movimento da verdade, (…) de cada pensamento e cada sentimento (…) Só
vem quando a mente é flexível no mais alto grau; (…) quando não mais está amarrada a uma forma de crença (…) Quando a mente é livre para observar (…) (Idem, pág. 98)
(…) É o redescobrimento da beleza e da realidade o que mais importa. Esse redescobrimento só ocorrerá quando reconhecermos o vazio da nossa mente e do nosso coração,
quando estivermos cônscios não apenas desse vazio, mas também de sua profundeza, e quando não mais procurarmos evitá-lo. (…) (Idem, pág. 99)

Só a inteligência criadora, a compreensão criadora, pode fazer vir uma nova cultura, um novo mundo, uma felicidade nova. (Idem, pág. 99)

(…) Ninguém vos poderá transformar num artista; só vós próprios podereis fazê-lo. É isto que desejo dizer: posso dar-vos tinta, pincéis e tela, mas vós próprios tendes de vos tornar
o artista, o pintor. Não vos posso fazer pintor. (…) Alguns vos podem dar os materiais, os utensílios, mas ninguém vos pode dar a chama da vida criativa. (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 40-41)

(…) Mas a mente sensível é sensível tanto para o feio como para o belo (…) E com essa mente descobrimos que existe uma beleza inteiramente diferente das avaliações feitas pela
mente limitada. Deveis saber que a beleza requer simplicidade, e a mente muito simples, que vê os fatos tais como são, é uma mente muito bela. Mas não podemos ser simples se não
houver passividade, e não há passividade se não há austeridade. (O Passo Decisivo, pág. 92)

Não me refiro à austeridade da tanga, das longas barbas, do monge, do tomar só uma refeição por dia, porém à austeridade da mente que se vê como é e segue infinitamente aquilo
que vê. E esse seguir é passividade, porquanto a mente a nada está apegada. A mente deve ficar completamente passiva, para ver “o que é”. (Idem, pág. 92)

Assim, o percebimento da beleza requer a paixão da austeridade. (…) Necessita-se de intensidade, e (…) de penetração. A mente embotada não pode ser austera, (…) simples e, por
conseguinte, é sem paixão. É na chama da paixão que se percebe a beleza, que se pode viver com a beleza. (Idem, pág. 92)

E, agora, que é beleza? Cabe à mente religiosa descobrir o que é a beleza, porque sem ela, não há amor. Ao perceberdes o que é a beleza, sabereis o que é o amor. Esse estado de
beleza e de amor é próprio da mente religiosa. (…) A beleza requer expressão, precisa ser posta em palavras, numa pedra, num edifício? Ou é a beleza coisa inteiramente diversa?
Para descobrir o que é a beleza e, por conseguinte, o que é o amor, torna-se necessária a compreensão do “eu”, o conhecimento de nós mesmos (…) (O Novo Ente Humano, pág.
43)

Sabeis o que significa beleza? Não me refiro à beleza da arquitetura, das formas no espaço, da pintura, nem à beleza de um rosto ou de um sari, mas, sim, à beleza que surge
quando já não há nenhum movimento do “eu” (…) volitivo, (…) do tempo. Só na total ausência do “eu”, da vontade, ela pode ser encontrada. Há, então, paixão, e, nessa paixão,
grande beleza. (…) Lá não existe experiência nenhuma; só existe aquilo que é inominável. (O Novo Ente Humano, pág. 173)

O chamado artista poderá pintar uma árvore ou escrever uma poesia a respeito dela, mas estará realmente em comunhão com a árvore? No estado de comunhão não há
interpretação, idéia de comunicação, (…) maneira de expressão. Se expressais ou não essa comunhão em palavras, numa tela, ou no mármore, pouco importa; mas, no momento em
que desejais expressá-la, a fim de exibi-la, (…) de vos tornardes famoso, etc., começa a ter importância o “eu”. (A Mente Sem Medo, 1ª ed., pág. 35-36)

Para se ver a beleza do rosto de uma pessoa, a beleza de um rio, (…) de uma folha caída à beira da estrada, (…) de um sorriso, (…) de uma ave a voar, necessita-se de paixão, de
alta sensibilidade. Mas não temos essa sensibilidade. (…) Vivemos sufocados, tolhidos, porque, para nós, beleza é sexualidade (…) (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 122)

Pergunta: Diz-se que o artista é um homem que possui essa compreensão de que falais, pelo menos enquanto cria. Mas, se alguém o perturba ou contraria, é ele capaz de reagir
violentamente. (…)

Krishnamurti: A quem chamais artista? Ao homem que só momentaneamente é criador? Para mim, tal homem não é artista. Ao homem que só em momentos raros tem o impulso
criador e expressa o seu poder de criar pela perfeição da técnica, positivamente não podemos chamá-lo artista. (…) (A Luta do Homem, pág. 149)

Para mim, o verdadeiro artista é aquele que vive completamente, harmoniosamente, que não separa a sua arte da vida, cuja vida mesma é expressão, seja na tela, ou na música, ou
na sua conduta; é o homem que não divorciou a sua expressão de seu viver cotidiano. (…) (Idem, pág. 149-150)

Nisso se revela inteligência e harmonia no mais alto grau. Para mim, o verdadeiro artista é o homem que possui essa harmonia. Ele a expressa na tela ou pela palavra, ou não a
expressa por forma alguma, sentindo-a somente. Mas tudo isso requer delicado equilíbrio, percebimento intenso (…) (Idem, pág. 150)

(…) Porque (…) o grande artista é aquele que vê o todo e não a parte apenas. Ele pinta ou escreve poemas ou cria maravilhas, porque vê o todo e depois elabora os pormenores.
Que é que, fundamentalmente, está impedindo a percepção do todo, do problema total? (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 24)

Assim, nossa investigação visa, não a encontrar a solução do problema, mas a descobrir o que nos impede, a cada um de nós, de apreciar o problema de maneira total. Não é
fundamentalmente o “eu”, o “meu”, o “ego”, o que constitui o fundo psicológico? Não é o “eu”, a mente, que é a sede do “eu”? (…) (Idem, pág. 24)

O verdadeiro artista está acima da vaidade e das ambições do “eu”. Quando o indivíduo possui brilhante capacidade de expressão, e ao mesmo tempo está enredado nos interesses
mundanos, isso tende a tornar-lhe a vida cheia de contradições e de lutas. O louvor e a adulação, quando se lhes atribui muita importância, enchem de vento o “ego” e destroem a
receptividade; e o culto do bom êxito, em qualquer terreno, é evidentemente prejudicial à inteligência. (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed., pág. 155)

Toda tendência ou talento que concorra para o isolamento, toda espécie de auto-identificação, por mais estimulante que seja, desfigura a expressão da sensibilidade e produz o
embotamento. Embota-se a sensibilidade quando o talento se torna “pessoal”, quando se atribui importância ao “eu” e ao “meu”. Eu pinto, eu escrevo, eu invento. Só quando
estamos cônscios de cada movimento de nossos pensamentos e sentimentos, em nossas relações com pessoas, com coisas e com a natureza, só então a mente está aberta e flexível,
não vinculada a desejos e interesses de autoproteção (…) (Idem, pág. 155-156)

Pergunta: O artista, o músico, estão ocupados com uma futilidade? (…)

Krishnamurti: Este é um problema muito complicado. (…) Como diz o interrogante, há dois tipos de pessoas, aquelas que são inerentemente artistas e aquelas que se interessam
pela arte ou pela música. (A Conquista da Serenidade, pág. 21)

Os que se interessam, evidentemente o fazem ou porque desejam sensação, exaltação, (…) formas de fuga, ou apenas por distração, por gosto. (…) E há o outro tipo: o artista, (…)
Inerentemente, espontaneamente, ele pinta, toca ou compõe música, etc. (Idem, pág. 21-22)

Pois bem, que acontece a essa pessoa? Vós deveis conhecer pessoas assim. (…) O risco que correm todas as pessoas dotadas de certa capacidade, certo talento, é, em primeiro
lugar, o de pensarem que são superiores. (…) (Idem, pág. 22)

São pessoas especialmente escolhidas do alto; e, com esse sentimento de separação, (…) vêm todos os males: tornam-se anti-sociais, individualistas, agressivas,
extraordinariamente egocêntricas - quase todas as pessoas talentosas são assim. (A Conquista da Serenidade, pág. 22)

Em tais condições, o talento, a capacidade representam um perigo (…) Não quero dizer que se possa evitar o talento, a capacidade; o que é necessário é que o indivíduo esteja
cônscio das suas conseqüências, dos seus perigos. Podem essas pessoas reunir-se (…), mas existe sempre essa barreira entre eles e as outras pessoas (…) (Idem, pág. 22)

Não estou desfazendo de ninguém, visto que isso seria por demais estúpido; mas é preciso ficar cônscio de tudo isso. (…) Antes de tudo, são bem poucos os verdadeiros artistas.
Gostamos de passar por artistas, uma vez que é lucrativo, dá-nos certo glamour, certa evidência (…) (Idem, pág. 22)

A dificuldade consiste, portanto, em conservar a sensibilidade a todas as horas, em estar vigilante, quer sejais verdadeiro artista, quer simples diletante. E essa sensibilidade se
embota quando atribuís importância a vós mesmos como artista. (Idem, pág. 23)

Podeis ter uma visão e possuir a capacidade de reproduzir essa visão na tela, no mármore ou pela palavra; mas, no momento em que vos identificais com ela, estais perdido, está
tudo acabado. Perdeis aquela sensibilidade. O mundo se compraz em louvar-vos, em dizer que sois um artista maravilhoso; e isso vos dá gosto. (Idem, pág. 23)
E, para a maioria de nós, que, inerentemente, não somos grandes artistas, a dificuldade é a de não nos deixarmos perder em sensações, visto que as sensações insensibilizam; (…) O
“experimentar” só pode manifestar-se quando há relação direta: e não há relação direta quando existe a cortina da sensação. (…) (Idem, pág. 23-24)

Esta é, por certo, a verdadeira revolução - experimentar integralmente, como ente humano integral, pois, experimentando, terá o indivíduo a capacidade de criar, isto é,
experimentando a arte, a beleza, ele criará, inevitavelmente, a técnica de pintar, de escrever. (O que te Fará Feliz?, pág. 63-64)

Entretanto, se for ele capaz de experimentar um sentimento, esse sentimento encontrará expressão, e ele achará então o seu estilo próprio; se escrever um poema de amor, será
verdadeiramente um poema de amor, e não, simplesmente, versos bem medidos. (Idem, pág. 64)

(…) Exige alguma forma de expressão a mente perceptiva? Não, porque perceber é expressar, atuar. O artista, o pintor, o construtor, buscam a auto-expressão, que é fragmentária,
e, portanto, a expressão disso não é a beleza. Uma mente condicionada, fragmentária, expressa esse sentimento do belo, porém este se acha condicionado. É beleza isso? Portanto,
o “eu”, que é a mente condicionada, nunca pode ver a beleza, e qualquer coisa que expresse deve ter sua própria qualidade. (Tradición y Revolución, pág. 110)

(…) As pessoas que se ocupam da auto-expressão estão em sua maioria interessadas nelas mesmas. O artista, famoso ou não, pertence a essa categoria. É o “eu” o autor da
fragmentação. Na ausência do “eu”, há percepção. A percepção é ação, e isso é beleza. (Idem, pág. 110)

(…) A beleza é a total abnegação do “eu”, e, com a total ausência do “eu”, surge “aquilo”. Nós tratamos de capturar “aquilo” sem a ausência do “eu”, e a criação se converte
então em mero assunto de ostentação. (Idem, pág. 111)

(…) O artista é claro em seu sentimento, porém fracassa em sua expressão, porque está condicionado pelo objetivismo, o não-objetivismo e tudo isso. Pode, pois, o ser humano viver
neste mundo não fragmentariamente, não como hindu, budista, cristão, comunista, senão como ser humano? (Idem, pág. 117)

Pergunta: Sou artista, e preocupa-me sumamente a técnica de pintar. É possível que esta própria preocupação constitua obstáculo à genuína expressão criadora?

Krishnamurti: Eu quisera saber por que é que a maioria de nós, inclusive os artistas, tanto se preocupa a respeito da técnica. (…) Cultivamos a técnica, porque desejamos
resultados. Quero ser grande artista, (…) grande músico, alcançar fama, notoriedade. (…) (Transformação Fundamental, pág. 60-61)

Pode um artista, cultivando uma técnica, tornar-se um verdadeiro artista? Mas, se amamos a coisa que estamos fazendo, não somos então artistas? (…) Posso amar uma coisa por
ela própria, se sou ambicioso, se desejo tornar-me conhecido? Se desejo ser o melhor pintor, o melhor poeta (…), se estou em busca de um resultado, posso amar realmente uma
coisa, por ela própria? Se sou invejoso, imitativo, se há medo, competição, posso amar aquilo que estou fazendo? (Idem, pág. 61)

Se amo uma coisa, posso então aprender a técnica - como misturar as tintas, etc. Estamos cheios de ambição, inveja; desejamos ser “um sucesso”. E assim, estamos a aprender
técnicas e a perder a coisa real (…) O importante é amarmos totalmente o que estamos fazendo, e esse próprio amor será o nosso guia. (Transformação Fundamental, pág. 61)

Pergunta: Toda arte tem uma técnica própria, e é preciso esforço para dominar a técnica. Como se pode harmonizar a criação com a perfeição técnica?

Krishnamurti: Não se pode harmonizar a criação com a perfeição técnica. Podeis tocar piano com perfeição, e não ser criador; podeis tocar piano brilhantemente, e não ser
músico. Podeis saber manejar as cores, espalhar tintas na tela com muita habilidade, e não ser um pintor criador. A criação vem em primeiro lugar, e não a técnica (…) (A Arte da
Libertação, pág. 175)

Aprendemos todas essas técnicas, mas nossos corações e nossas mentes estão vazios. Somos máquinas de primeira ordem, (…) mas não sabemos amar. (…) Para podermos
expressar algo, é necessário que haja algo para expressar, precisamos ter uma canção no coração, para cantar. (…) (Idem, pág. 175)

Assim, (…) Aprendemos do cantor a técnica da canção, mas não temos a canção; e eu vos digo que a canção é essencial, que a alegria de cantar é essencial. Quando existe a
alegria, a técnica pode ser formada do nada; inventareis vossa própria técnica, não precisareis estudar elocução ou estilo. (…) (A Arte da Libertação, pág. 176)

Criação Espiritual; Atemporal, Ausência de "Ego"


A arte tem seu lugar próprio, é claro; mas a coisa não acaba aí. Só quando sois capaz de ultrapassar a arte, (…) a beleza criada pelo homem, só então conhecereis por vós mesmo
aquela beleza inexprimível. E estando presente aquela beleza, nada mais necessitais buscar. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 34)

Ora, como dizia, na atenção total há uma criação que não pode se expressar em palavras, símbolos, idéias. Ela é energia total. Eu posso ter o dom de escrever poesias; mas como
posso expressar em palavras essa energia total, essa coisa extraordinária chamada criação? (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 33)

Uma pessoa sente, talvez, que existe essa coisa - um movimento de criação, imensidade, eternidade. Mas como expressar em palavras o imensurável? E, mesmo quando o
expressamos, a expressão não é a própria coisa. (…) Quem bebeu na fonte da criação, de que mais necessita ainda? (Idem, pág. 33)

Penso ser este o problema real (…) O problema básico é que o homem não é criador, não descobriu por si mesmo a extraordinária fonte de criação, não inventada pela mente; e só
quando se descobre essa fonte criadora, atemporal, é que se encontra a suprema felicidade. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 55)

Pergunta: No meu entender (…) Entretanto, falais freqüentemente da pessoa que cria. Quem é ela, senão o artista, o poeta, o arquiteto?

Krishnamurti: O artista, o poeta, o arquiteto é necessariamente criador? Ele não é também lascivo, mundano, ansioso de prosperidade? Não está, assim, contribuindo para o caos e
as misérias do mundo? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 51)

Não é responsável pelas suas catástrofes e sofrimentos? Ele o é, quando ambiciona a fama, quando é invejoso, quando é mundano; quando os seus valores são dos sentidos; (…) A
circunstância de possuir certo talento faz o artista criador? (Idem, pág. 51)

Criar é coisa infinitamente superior à mera capacidade de expressão. A simples expressão de efeito feliz, e os aplausos que suscita, não representam, por certo, manifestações da
atividade criadora. (…) (Idem, pág. 51-52)

A potência criadora surge quando estamos livres da servidão do anseio, com o seu conflito e seus pesares. Pelo abandono do “eu”, com sua positividade e crueldade, com suas
lutas incessantes por vir a ser, surge a Realidade criadora. (Idem, pág. 52)

Na beleza de um pôr-do-sol ou de uma noite calma, já não sentistes uma alegria intensa e criadora? Num momento desses, estando o “eu” temporariamente ausente, ficais
suscetíveis, abertos à Realidade. Essa é uma ocorrência rara, não buscada (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 52)

Todos nós temos conhecido momentos de ausência do “eu”, sentindo (…) o extraordinário êxtase de criar, mas, em vez desses instantes raros e fortuitos, não será possível
efetivarmos o verdadeiro estado no qual a Realidade é o eterno ser? Se buscais com diligência aquele êxtase, poderão, dessa atividade do “ego”, advir certos resultados, que não
serão, entretanto, aquele estado que vem com o pensar e a meditação corretos. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 52-53)

(…) Quando sentimos esse pujante êxtase criador? Só depois de cessar todo conflito, só na ausência do “ego”, só na tranqüilidade completa. Não é possível sentir-se essa
tranqüilidade, quando a mente-coração está agitada, em conflito. (…) (Idem, pág. 63)

Pergunta: O que é a verdadeira criatividade (…)?

Krishnamurti: O que geralmente chamamos de criatividade é o que é feito pelo homem - pintura, música, literatura romântica e factual, toda a arquitetura e as maravilhas da
tecnologia. E os pintores, os escritores, os poetas, provavelmente se consideram criativos. (…) Muitas coisas feitas pelo homem são muito belas: as grandes catedrais, templos e
mesquitas; algumas delas são extraordinariamente belas e nós não sabemos nada das pessoas que as construíram. Mas agora, entre nós, o anonimato quase que desapareceu.
(Perguntas e Respostas, pág. 47)

Mas a maior parte da criatividade feita pelo homem, como o chamamos, surge do conhecido. Os grandes músicos, Beethoven, Bach e outros, agiram a partir do conhecido. Os
escritores e filósofos leram e acumularam; embora tenham desenvolvido seu próprio estilo, eles estiveram sempre se movendo, agindo ou escrevendo a partir do que eles
acumularam - o conhecido. E a isso geralmente chamamos criatividade. (Idem, pág. 47-48)

Por acaso, a criatividade é algo totalmente diferente, algo que todos nós possamos ter - e não somente o especialista, o profissional, o talentoso, o bem-dotado? Penso que todos
nós podemos ter essa mente extraordinária, realmente livre dos fardos que o homem se impôs. Dessa mente sã, racional, saudável, surge algo totalmente diferente, que pode não se
expressar necessariamente como pintura, literatura ou arquitetura. (…) A experiência implica uma mente que ainda está tateando, perguntando, procurando, (…) lutando no escuro
(…) (Perguntas e Respostas, pág. 48)

Haverá uma resposta total e completa à pergunta se dedicarmos a mente e o coração a ela; há uma criatividade que não é feita pelo homem. Se a mente é extraordinariamente
lúcida, sem uma sombra de conflito, então ela está realmente num estado de criação; ela não necessita de expressão, de realização, de publicidade e absurdos tais. (Idem, pág. 48)

Nós só conhecemos a ação que tem causa, motivo, que é um resultado. Se a relação se baseia em causa, ela é então sagaz adaptação (…), há de levar inevitavelmente a (…)
embotamento. O amor é a música, coisa que não tem causa, que é livre; ele é beleza, é aptidão, é arte. Sem, amor, não há arte. Quando o artista atua com beleza, não há “eu”; há
amor e beleza, portanto, arte. Arte é atuar com aptidão. Nesse atuar está ausente o “eu”. (A Luz que não se Apaga, pág. 107)

Por outras palavras, quando há impeto criador (…) temos o sentimento criador, não há luta, o gue significa que o “eu”, com todos os seus preconceitos, (…) condicionamentos, está
ausente. Nesse estado de ausência do “eu”, manifesta-se a capacidade de criação, e logo procuramos expressar esse sentimento de força criadora, esse estado criador, pela ação -
na música, na pintura, etc. Começa então a luta - o desejo de aplauso. (Nós Somos o Problema, pág. 47)

Ora, se o indivíduo não é livre, não vejo como possa ser criador. Não estou empregando a palavra “criador” no estreito sentido de “homem que pinta quadros, escreve poesias ou
inventa máquinas”. Tais indivíduos, para mim, não são criadores, absolutamente. Poderão ter momentânea inspiração; mas criação é coisa muito diferente. Só pode haver criação
quando há liberdade total. Nesse estado de liberdade, há plenitude, e, então, o escrever uma poesia, pintar um quadro, ou esculpir uma pedra, tem sentido completamente diferente.
Já não é mera expressão da personalidade, nem resultado de frustração, nem busca de compradores; é coisa toda diferente. (…) (Experimente um Novo Caminho, pág. 36)

Este é um dos problemas mais importantes da vida moderna, porque somos educados, exercitados, condicionados para permanecer na esfera do conhecido, na qual existe
ansiedade, desespero, sofrimento, confusão, aflição. Só os “inocentes” podem ser criadores, são capazes de criar algo novo, e não apenas produzir mecanicamente um quadro, um
poema (…) (Idem, pág. 39)

A nossa dificuldade, por certo, está em que a maioria de nós perdeu o senso da criação. O ser criador não significa pintar quadros ou escrever poemas, para nos tornarmos
famosos. Isso não é criação - é apenas a capacidade de expressar uma idéia, que o público aplaude ou menospreza. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 24)

(…) Não se devem confundir capacidade e potência criadora. Capacidade não é potência criadora. A atividade criadora é um modo de ser inteiramente diferente (…) É um estado
no qual está ausente o “eu”, a mente já não é um foco de nossas experiências, (…) ambições, (…) empenhos, (…) desejos. (Idem, pág. 24)

(…) A atividade criadora não é um estado contínuo; é nova de momento a momento, é um movimento no qual não existe “eu” e “meu”, (…) o pensamento não está concentrado em
torno de determinada experiência, ambição, realização, propósito ou motivo. É só quando não existe o “eu”, que existe ação criadora (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág.
24-25)

A compreensão do “eu” não é um resultado, uma culminação: é vermos o nosso “eu”, momento a momento, no espelho da vida de relação - em nossas relações com a propriedade,
(…) as coisas, as pessoas e as idéias. Esse estado de criação só se manifesta quando o “eu”, que é processo de reconhecimento e acumulação, deixa de existir (…) Mas temos medo
de ser nada, porque todos desejamos ser alguma coisa. (…) (Idem, pág. 25)

(…) Vosso próprio desejo de modificar a vossa mente medíocre, numa coisa superior, vos está impedindo de ser criador (…) Aquela criação que é atemporal, não ligada a nenhuma
classe, nenhum grupo, nenhuma religião, que é a verdade, que é Deus (…), aquela criação não pode ser alcançada pela mente medíocre, a mente que diz: “tenho de ser criadora,
tenho de conseguir tal coisa, tenho de saber mais”. A criação, porém, só vem quando a mente está frente a frente com o fato, e quieta. (O Problema da Revolução Total, pág. 44)

(…) Assim, o que é criação? Está (…) relacionada com o amor? Isto é, o amor não é ódio, ciúme, ansiedade, incerteza, o amor de sua esposa, pois este é o amor de uma imagem que
você formou sobre ela, ou de seu marido ou namorada, amigo, ou a imagem que você construiu sobre seu guru, pelo qual você tem grande devoção, ou a imagem de um templo,
mesquita ou igreja. Portanto, estamos perguntando: o amor é necessário à criação? Ou é o amor, que é também compaixão, criação? E está a criação relacionada com a morte?
Entendem vocês todas essas questões? (Last Talks at Saanen, pág. 126)

(…) A criação não é para os talentosos, para os bem-dotados; esses conhecem a criatividade, mas nunca a criarão. Criar é transcender o pensamento, a imagem, a palavra e a
expressão. A criação é intransmissível, porquanto não pode ser formulada, nem tampouco expressa em palavras. Podemos apenas senti-la em estado de total lucidez. (Diário de
Krishnamurti, pág. 43)

O cérebro, com suas inúmeras e complexas reações, não pode compreendê-la, porquanto não dispõe de meios para entrar em contato com a criação; ele é incapaz de fazê-lo. O
conhecimento é um obstáculo e, sem autoconhecimento, nada se cria. O intelecto (…) não pode conceber a criação. O cérebro (…) deve permanecer quieto, mudo, e, ao mesmo
tempo, alerta e silencioso. (…) (Idem, pág. 43)

Só então ocorre o espantoso movimento da criação. Ela surge da completa negação; sem ser um processo dependente do tempo, a criação transcende o espaço. Resulta da morte
total, do completo aniquilamento. (Idem, pág. 43)

(…) Portanto (…) Criação é engendrar, dar origem a algo totalmente novo. Em que nível? (…) Em nível sensorial, (…) intelectual, (…) da memória? (…) (Tradición y Revolución,
pág. 408)

(…) Ao sensorial? Tome uma pintura nova, que é não-verbal. Pode você pintar algo que seja totalmente novo? Ou seja, pode você dar origem a algo que não seja auto-expressão?
Se é auto-expressão, isso não é novo. (Idem, pág. 409)

O intenso brilho das estrelas realçava o encanto do amanhecer (…) Nada se movia na absoluta tranqüilidade (…); era a beleza da terra, do céu e do homem, dos pássaros (…)
Exprimindo qualidade impessoal, havia nela certa austeridade, um ar de simplicidade não proveniente do medo e da renúncia, mas da incorruptível integridade e pureza. Naquele
estado de meditação que transcende os estreitos limites do tempo, a beleza do céu cintilante (…) não emanava da busca individual de prazer; (…) (Diário de Krishnamurti, pág.
139)

(…) A beleza é desvinculada das emoções e da sensação agradável suscitada pela audição de um concerto, por um quadro ou por um espetáculo (…) Trata-se de uma beleza
atemporal e que supera as dores e os prazeres do pensamento. O tempo e o sentimento são fatores de dissipação de energia e isso impede a percepção da beleza. A abundante e
apaixonada energia é necessária para captar a beleza inacessível no mero olhar. Ela desaparece na presença do observador (…) (Idem, pág. 139)

A beleza do entardecer refletia-se na limpidez do céu e no colorido (…) Apesar do aparente silêncio, tudo parecia palpitar de vida: as pedras, os rochedos, (…) os arbustos (…)
Consciente do ambiente que o cercava, o cérebro permanecia imóvel, sem reagir aos estímulos externos. Na absoluta quietude do cérebro, as palavras dissiparam-se com o
pensamento, dando lugar àquela estranha energia, (…) profundamente ativa, sem motivo ou propósito algum. (Diário de Krishnamurti, pág. 131-132)

(…) Era a verdadeira e destruidora criação, não se tratava de um produto do cérebro humano, (…) O pensamento e o sentimento não serviam de instrumento para a compreensão
daquela extraordinária e inatingível força, indiferente a qualquer análise ou definição. (…) Mas, o êxtase era gratuito, sem motivo, simplesmente existia como um fato e não como
experiência a ser aceita ou não (…) Toda forma de busca deve cessar para que o êxtase se concretize mediante a ação devastadora do amor e da morte. (Idem, pág. 132)

Vedes, pois, que destruição é criação; e na criação não existe o tempo. A criação é aquele estado em que o intelecto, tendo destruído todo o passado, está completamente quieto e,
portanto, no estado em que não existe tempo nem espaço para crescer, expressar-se, “vir a ser”. E esse estado de criação não é a criação de uns poucos indivíduos prendados -
pintores, músicos, escritores, arquitetos. Só a mente religiosa pode encontrar-se num estado de criação. (…) O que faz a pessoa religiosa é a destruição total do conhecido. (O
Passo Decisivo, pág. 195)

Nessa criação há um sentimento de beleza; uma beleza não construída pelo homem; (…) que transcende o pensamento e o sentimento. Afinal, o pensamento e o sentimento são
puras reações; e a beleza não é reação. (…) Não se me afigura possível separar a beleza do amor. (…) Mas esse amor de que falamos é um estado em que se acha presente a chama
sem fumo. (Idem, pág. 195)

(…) A expressão de um sentimento, a realização de uma descoberta, o escrever um livro ou poema, o pintar um quadro - qualquer dessas coisas é necessariamente criação? Ou é a
criação coisa inteiramente diversa, independente da expressão? (…) Ou é a criação algo que não provém da mente? Afinal, quando a mente exige, ela encontrará uma solução. Mas
sua solução será a solução criadora? Ou só há criação quando a mente está de todo silenciosa - quando não pede, não exige, não investiga? (Viver sem Confusão, pág. 38-39)

Suponhamos que tenhais um problema novo - e os problemas são sempre novos - como vos aplicais a ele? (…) É como um desses quadros modernos, com que estais completamente
desacostumados. Que acontece, se desejais compreendê-lo? Se vos chegais a ele com a vossa formação clássica, será de rejeição a vossa reação ao desafio, que é aquele quadro;
(…) Precisais contemplar o quadro sem o vosso preparo clássico, com percebimento e vigilância da mente, e então o quadro começa a revelar-vos a sua significação. (…) (Nosso
único Problema, pág. 37-38)

(…) Enquanto a mente está ativa, formulando, fabricando, inventando, criticando, não pode haver criação; e vos asseguro que a criação vem silenciosamente, com extraordinária
rapidez, sem compulsão, ao compreenderdes a verdade de que a mente precisa estar vazia, para que se realize a criação. Ao perceberdes a verdade disso, então, instantaneamente,
há criação. Não tendes de pintar um quadro, (…) sentar-vos numa cátedra (…); porque a criação não requer necessariamente expressão. (A Arte da Libertação, pág. 177-178)

A própria expressão a destrói. Isso não significa que a não deveis expressar; mas se a expressão se torna mais importante do que a criação, então a criação se retira. Para vós, a
expressão é da maior importância: pintar um quadro e assinar o nome ao pé do mesmo. Depois, quereis ver os que o apreciam, quem o irá adquirir (…); e quando alcançais a
celebridade, pensais ter alcançado algo muito importante; isso não é criação (…) (Idem, pág. 178)

Assim, a única coisa necessária é que a mente finde ao compreender sua própria insuficiência, sua própria pobreza, sua própria solidão. Estando cônscia de si mesma, ela põe fim a
si própria; então, aquilo que é criador, (…) imensurável, aparece, sutil e velozmente. Para pôr fim ao processo do pensamento, precisamos estar passivamente cônscios de nossa
própria insuficiência, nossa própria pobreza, nosso próprio vazio, sem lutar contra ele; só então surge aquela coisa que não é produto da mente; e o que não é produto da mente é
criação. (Idem, pág. 178)

Karma, Reencarnação; Causa-Efeito, Resíduos; Cessação


Pergunta: Ao responderdes à pergunta sobre a maneira de resolver permanentemente um problema psicológico, falastes das três fases consecutivas da solução de tal problema (…)

Krishnamurti: Não sei se já observastes por vós mesmo as três fases sugeridas, ao tentardes resolver um problema psicológico. (…) Referi-me a três estados ou fases apenas por
conveniência de linguagem: elas se confundem (…) Há inter-relação entre causa e efeito, o conflito dualista, e a constatação de serem pensador e pensamento um só todo. (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 144-146)

Causa e efeito são inseparáveis; na causa está contido o efeito. O estar cônscio da causa-efeito de um problema, depende de certa flexibilidade e agilidade da mente-coração,
porquanto a causa-efeito modifica-se constantemente. O que antes era causa-efeito, pode estar agora modificado, e (…) necessita-se certamente da verdadeira compreensão. (…)
(Idem, pág. 145)

Atém-se a mente a conclusões, condicionando-se dessa forma ao passado. É mister vigilância desse condicionamento resultante da causa-efeito. Não é estática a causa-efeito, mas o
é a mente quando se prende a uma causa-efeito do passado imediato. “Karma” chama-se esse aprisionamento à causa-efeito. Como o próprio pensamento é resultado de múltiplas
causas-efeitos, deve ele soltar-se desses vínculos com que se prendeu. (Idem, pág. 145-146)

O problema da causa-efeito não é para ser observado superficialmente e ser deixado para trás. É a cadeia contínua da memória, com sua atividade condicionadora, que deve ser
observada e compreendida; ficar cônscio de que essa cadeia foi criada, e acompanhá-la através de todos os estratos da consciência, é difícil; cumpre, entretanto, investigá-la
profundamente e compreendê-la. (Idem, pág. 146)

Pergunta: Julgais que “karma” é a ação recíproca entre o ambiente falso e o falso “eu”?

Resposta: “Karma” é uma palavra sânscrita, que significa praticar, fazer, obrar, implicando também causa e efeito. Ora, karma é escravidão, é reação nascida do ambiente que a
mente não compreendeu. (…) (A Luta do Homem, pág. 48)

Torna-se, pois, necessário descobrir o que gera essa falta de compreensão, o que impede o indivíduo de perceber o exato significado do ambiente, quer se trate de ambiente
passado, quer(…) do atual. (…) (Idem, pág. 48)

A maioria dos espíritos está sob a influência da vaidade, do desejo de causar impressão em outros, com ser alguém; (…) ou fugir do ambiente, ou expandir a própria consciência
(…), ou está sob a influência de preconceitos nacionalistas. Esses desejos todos impedem a mente de perceber diretamente o verdadeiro valor do ambiente; (…) (Idem, pág. 49)

Quando verificamos que somos, com efeito, (…) orgulhosos e presunçosos, começa a presunção, pela própria consciência que dela temos, a dissipar-se (…) Mas, se tentardes,
encobri-la, ela criará novos males, novas reações falsas. (A Luta do Homem, pág. 49)

Dessarte, para vivermos cada momento num eterno presente, sem o fardo do passado nem do presente, sem essa lembrança deformadora gerada pela falta de compreensão, deve a
mente enfrentar as coisas de maneira original, i.e., prescindindo da tradição. (…) Assim, pois, (…) sabereis o que é viver sem conflito (…) (Idem, pág. 49-50)

Pergunta: Pratiquei uma ação iníqua e pecaminosa, que me deixou com verdadeiro sentimento de culpa. Como poderei superar esse sentimento?

Krishnamurti: Senhor, que entendeis por “pecado”? Os cristãos têm um conceito de pecado que vós não tendes, mas vós vos sentis “culpado” ao possuirdes mais dinheiro, ao
terdes uma casa maior (…) Quando passeais num carro confortável e avistais uma interminável fila de ônibus (…) (O Homem Livre, pág. 139)

Por que deveis sentir-vos “culpado”? Se estais vivendo intensamente, com todo o vosso ser, se percebeis plenamente tudo o que se passa ao redor de vós e dentro de vós, tanto
consciente como inconscientemente, onde há lugar para a “culpa”? O homem que vive fragmentariamente, que está interiormente dividido, esse, sim, sente “culpa”.

Uma parte dele é boa, outra parte corrupta; uma parte procura ser nobre, e a outra é ignóbil; uma parte é ambiciosa, cruel, e a outra fala de paz e de amor. Essas pessoas
sentem-se “culpadas” porque se acham ainda dentro do padrão que elas próprias fabricaram. Enquanto houver atividade egocêntrica, não podereis superar o sentimento de culpa.
(…) (O Homem Livre, pág. 139)

Pergunta: Pratiquei más ações no passado. Como agora alcançar a paz de espírito?

Krishnamurti: Todos nós cometemos erros (…) Todos temos ofendido outras pessoas e cometido erros graves. E eles deixaram uma marca, um pesar, um arrependimento. E, como
pode uma pessoa ficar livre do erro que cometeu? (…) (Poder e Realização, pág. 46)
(…) Nessas condições, a própria ocupação da mente com um erro já cometido torna-se outro erro. (…) Portanto, se me preocupo constantemente com aquela falta, aquele erro (…);
se minha mente se mantém ocupada com o caso - ele se torna uma idéia fixa, uma nova barreira (…) (Idem, pág. 47)

Mas, se, ao contrário, eu souber enfrentar os erros, as faltas que cometi, haverá então liberdade (…) Não posso, depois de cometer um erro, reconhecê-lo e, em seguida, largá-lo,
i.e, não me ocupar mais com ele? Porque com isso se dá liberdade à mente: estar cônscio do erro cometido, reconhecê-lo, fazer o que tem de ser feito e soltá-lo, não mais ocupar-se
com ele. (Idem, pág. 47-48)

Pergunta: Está (…) claro (…) que a consciência do “eu” é resultado do ambiente. Mas (…) não surgiu pela primeira vez na vida presente?

Krishnamurti: Sugere isso a idéia de “karma”. Sabeis o que ela significa: que arcais com um fardo, o fardo do passado, no presente. Isto é, trazeis para o presente o ambiente do
passado, e, porque levais esse fardo, influenciais também o futuro, moldais também o futuro. (A Luta do Homem, pág. 34)

Se refletirdes sobre isso, vereis que tem de ser assim, porque, se vossa mente está pervertida pelo passado, o futuro forçosamente será também desfigurado: porque, se não
compreendestes o ambiente de ontem, ele se estende necessariamente ao dia de hoje; e, conseqüentemente, como não compreendeis o dia de hoje, é claro que não compreendeis,
tampouco, o de amanhã. Vê-se, assim, o indivíduo, colhido num círculo vicioso e daí a idéia de contínuo renascimento, (…) da memória, (…) da mente continuada pelo ambiente. (A
Luta do Homem, pág. 34-35)

Mas, afirmo que a mente pode ficar livre do passado, do ambiente passado, dos obstáculos do passado, e que, conseqüentemente, podeis ficar livres do futuro, porque vivereis,
então, no presente, dinamicamente, intensamente, supremamente. (Idem, pág. 35)

No presente está a eternidade, e, para tal compreender, deve estar a mente liberta da carga do passado; e para alcançar essa libertação, requer-se intensa investigação do presente,
não a preocupação sobre como subsistirá o “eu” no futuro. (Idem, pág. 35)

Pergunta: Aceitais a lei da reencarnação e do karma como válida (…)?

Krishnamurti: Como provavelmente a maioria de vós crê na reencarnação e no karma, peço-vos que não oponhais resistência ao que vou dizer. (…) Em primeiro lugar, a crença, de
qualquer espécie, é a negação da verdade. A mente que crê não é uma mente que perscruta (…) nunca pode achar-se em estado de “experimentação”. (Que Estamos Buscando?, 1ª
ed., pág. 201-202)

Ora, que se entende por reencarnação? Que é que se reencarna? De duas, uma: ou é um entidade espiritual, ou é uma coisa que representa apenas uma acumulação de experiência,
de conhecimentos, de memória, não só individual, mas também coletiva, a qual toma forma de novo, numa outra vida. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 202-203)

(…) Existirá em vós uma entidade espiritual, algo que não é da mente, que está além da sensação, algo que não é do tempo (…) imortal? (…) Se dizeis que há em vós uma entidade
espiritual, esta, sem dúvida, é produto do pensamento (…) (Idem, pág. 203)

Falaram-vos a respeito dela; não é uma “experiência” vossa. Assim (…) também estais condicionado pela idéia de uma entidade espiritual (…) Ainda que vós mesmo tenhais
descoberto (…), ela por certo está ainda compreendida no domínio do pensamento; e o pensamento é resultado do passado, (…) é acumulação, memória. (…) (Idem, pág. 203)

Ora, se não existe entidade espiritual, que é então que se reencarna? E se existe entidade espiritual, pode ela reencarnar-se? (…) Se ela nasce, se é um “processo” no tempo, se
progride, então, de certo, não é nenhuma entidade espiritual; se não é do tempo, então não pode reencarnar, tomar uma nova vida. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 203-204)

Nessas condições, se não existe entidade espiritual, então o “vós” é apenas um feixe de lembranças acumuladas; (…) A acumulação das experiências do passado, em conjunção
com o presente, constitui o “vós”, tanto o consciente como o inconsciente, tanto o coletivo como o individual - esse feixe todo é o “vós”; e o feixe pergunta: “Reencarnar-me-ei,
terei continuidade?” Que acontecerá depois da morte? (…) (Idem, pág. 204)

(…) Ora, perguntais se o “vós” tem continuidade - o “vós” que é o nome, a propriedade (…) as lembranças, as idiossincrasias, as experiências, os conhecimentos acumulados. Tem
isso continuidade? Isto é, o pensamento condicionado tem continuidade? O pensamento, é claro, tem continuidade; (…) Tendes continuidade em vossos filhos, vossa propriedade,
em vosso nome; (…) isso sem dúvida continua (…) (Idem, pág. 204)

Mas essa continuidade não vos satisfaz (…) Desejais continuar como entidade espiritual, e não apenas como pensamento, como um feixe de reações (…) Mas, sois alguma coisa
mais do que isso? Sois mais do que vossa religião, vossa crenças (…) divisões de casta (…) superstições, tradições e esperanças do futuro? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed.,
pág. 204-205)

(…) Assim, quando investigais o problema da reencarnação, estais interessado, não no que está além, mas na continuidade do pensamento identificado como “vós”; e isso, de certo,
tem continuidade. (Idem, pág. 205)

A morte é sempre o desconhecido; mas o conhecido teme o desconhecido (…) A continuidade é criadora? Aquilo que é contínuo pode descobrir alguma coisa fora de si mesmo? (…)
O que continua nunca pode ser criador. É só no findar que se encontra o novo. Só quando o conhecido deixa de existir, há criação, há o novo, o desconhecido; (…) (Que Estamos
Buscando?, pág. 205)

Mas, enquanto estivermos apegados ao desejo de continuidade, que é pensamento identificado como “eu”, esse pensamento continuará, e tudo o que continua tem em si a semente
da morte e da deterioração, e não é criador. Só o que termina pode ver o que é novo, fresco, o todo, o desconhecido. (…) (Idem, pág. 205-206)

(…) Mas não ousais largar o velho, porque temeis o novo; porque temeis a morte é que tendes tantos meios de fuga. (…) Mas não vos caberia averiguar se aquilo que continua
pode, em algum tempo, conhecer o atemporal? O que continua implica um processo de tempo - o passado gerando, (…) com o presente, o amanhã, o futuro (…) (Que Estamos
Buscando?, 1ª ed., pág. 206)

(…) Só quando a mente findar, quando não estiver identificada como “eu”, conhecereis o que está além do tempo; mas o mero especular é desperdício de energia (…) Assim, aquilo
que tem continuidade nunca pode conhecer o real, mas o que finda conhecerá o real. Só a morte pode mostrar o caminho para a realidade - não a morte da velhice, nem a morte da
doença, mas a morte de cada dia, o morrermos a cada minuto, para vermos o novo. (Idem, pág. 207)

Compreendestes o que eu disse acerca da reencarnação? (…) Mas, se pensardes deveras no que acaba de ser dito, percebereis a extraordinária profundeza do findar, do morrer.
(…) Morrer significa apenas o findar do passado, que é memória (…); refiro-me ao findar da acumulação psicológica que constitui o “eu” e o “meu”. E nesse findar do pensamento
identificado, encontra-se o novo. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 207-208)

Desejais agora que eu responda à pergunta relativa ao karma. (…) Evidentemente, existe causa e efeito. A mente é o resultado de uma causa, vós sois o produto de ontem e de
muitos milhares de dias passados (…) A planta contém em si (…) causa e efeito. É especializada; uma determinada semente não pode tornar-se algo diferente. O que se especializa
pode ser destruído, qualquer coisa que se especialize tem de perecer, biológica e psicologicamente; (…) (Idem, pág. 208)

Vemos que a causa se torna efeito, e o que foi efeito se torna uma nova causa (…) Hoje é o resultado de ontem, e amanhã será o resultado de hoje; ontem foi a causa de hoje, e hoje
é a causa de amanhã. (…) Não há causa separada do efeito (…), porque a causa e o efeito se entrelaçam; e, logo que o indivíduo percebe o processo da causa e efeito, como ele
realmente opera, pode ficar livre dele. (Idem, pág. 208)

(…) Assim, enquanto o pensamento estiver preso no processo de causa e efeito, a mente só é capaz de operar dentro de sua própria clausura e, portanto, não há liberdade. Só há
liberdade quando percebemos que o processo de causa e efeito não é estacionário, estático, mas está sempre em movimento; uma vez compreendido, esse movimento cessa - e dá-se,
então, a possibilidade de passarmos além. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 209)

(…) A verdade não é um resultado, uma causa; é algo sem causa. Tudo o que tem causa é produto da mente, tudo o que tem efeito é produto da mente; e para se conhecer o
incausado, o eterno, o que está fora do tempo, cumpre que a mente, que é efeito do tempo, deixe de operar. O pensamento, que é efeito e causa, deve deixar de funcionar, pois só
então é possível conhecer aquilo que está além do tempo. (Idem, pág. 209)

Pergunta: Credes na reencarnação e no karma?

Krishnamurti: Vejamos (…) Pois bem, que entendeis por reencarnação? Que é que nasce de novo? (…) Vamos averiguar o que é que volta ou reencarna. (…) Ao dizerdes “eu
renascerei”, deveis saber o que é esse “eu”. (…) (Nosso Único Problema, pág. 52-53)

(…) Que é esse “eu” que deverá renascer? (…) Ou o “eu” é uma entidade espiritual, ou é apenas um processo de pensamento. Ou ele é uma coisa atemporal, a que chamamos
espiritual (…) ou está compreendido na esfera do tempo (…) da memória (…) (Idem, pág. 53-54)

(…) Ora, por espiritual entendemos uma coisa que não está sujeita a condicionamento (…) não é projeção da mente humana, (…) não está encerrada na esfera do pensamento, (…)
não está sujeita à morte. Pois bem, será o “eu” uma entidade espiritual dessa ordem? (Idem, pág. 54)

(…) Se é uma entidade espiritual, tem de estar fora do tempo e, por conseguinte, não pode renascer ou continuar. O pensamento não pode_pensá-lo; (…) Se o pensamento é capaz
de pensar o “eu”, então este faz parte do tempo; (…) esse “eu” não é livre do tempo; logo, não é espiritual. (…) (Nosso Único Problema, pág. 54)

Pergunta: Acreditais no karma e na reencarnação?

Krishnamurti: (…) Abordaremos primeiro a idéia do karma (…) Se o pensamento está agrilhoado, limitado, então toda ação nascida dele está também agrilhoada, limitada. (…) Se
odiais, o resultado disso é futuro ódio e violência (…) Se o pensamento é acanhado, pessoal, deve sempre criar (…) futura limitação (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág.
92-93)

(…) O resultado pode ser sempre alterado ou modificado, de acordo com a nossa compreensão (…) O pensamento não pode escapar de sua ação e reação limitadas, até
compreender o processo de sua própria servidão. (Idem, pág. 93)

Considerando, por exemplo, um hindu; o pensamento que ele expressa é limitado pelas crenças e tradições de um hindu. A idéia da reencarnação envolve o renascimento do “eu”.
(…) A esse “eu” é atribuída a faculdade de continuar a nascer várias vezes até alcançar a perfeição, a realidade, a libertação. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 94-95)

Se pensais que sois uma entidade espiritual ou realidade, o que significa isso? Não implica um estado imortal, fora do tempo, um estado eterno? Se ele é eterno, então não tem
crescimento; pois aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. (…) (Idem, pág. 95)

Se essa essência espiritual é supostamente amor, inteligência, verdade, então como pode ser cercada por essas trevas que confundem, (…) violência e ódios, (…) febril busca das
exigências do “eu”? (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 95)

Como expliquei, o pensamento condicionado deve continuar a criar futuras limitações para si próprio. O “eu” não é somente uma forma particular, física, mas, além de sua
aparência externa, há o eu psicológico. (…) (Idem, pág. 96)

Reino, Jardim, Nirvana, Felicidade, Êxtase, Beatitude


A maioria de nós tem tido profundas “experiências”, temos tido inspirações portadoras de êxtase sublime, de visões grandiosas, de intenso amor. Essas experiências nos invadem
com a sua luz e alento; mas não perduram; passam, deixando o seu perfume. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 106-107)

Acontece com a maioria de nós que a mente-coração não é capaz de permanecer aberta para tal êxtase. A “inspiração” é acidental, não provocada, grande demais para a nossa
mente-coração. A inspiração é maior do que aquele que a experimenta, e por isso procura ele rebaixá-la ao seu próprio nível, à órbita de sua compreensão. (Idem, pág. 107)

O intérprete, o tradutor da inspiração, deve ser tão profundo e vasto quanto ela, se a deseja compreender; não o sendo, deve desistir de interpretá-la, e para desistir ele precisa
estar maduro, ser judicioso na sua compreensão. Podeis ter uma “experiência” significativa, mas, como a compreendeis, como a interpretais, depende de vós, o seu intérprete; se
vossa mente-coração é limitada, acanhada, traduzis a experiência, então, conforme esse condicionamento. O condicionamento é que deve ser compreendido e desfeito, para que
possais apreender o pleno significado da “experiência”. (Idem, pág. 107-108)

(…) Em vez de serdes gigantes da ignorância, importa sejais gigantes criadores. (…) Se estiverdes de fato iluminados, podeis partir e vos tornardes mensageiros do Reino. Eu tenho
bebido na Fonte, e anseio por levar cada um de vós a ela; (…) (O Reino da Felicidade, pág. 45-46)

(…) Compreendereis em que grande êxtase podeis viver - em que êxtase equilibrado - se constantemente imaginardes que estais sempre vivendo nesse Reino e que estais em
companhia de grandes homens. Quantos de vós podeis estar com um grande homem, gênio, com Ele que é a incorporação desse Reino da Felicidade? (…) (O Reino da Felicidade,
pág. 52)

O Buddha, o Cristo, e outros Grandes Instrutores do mundo, foram ter à fonte da vida. Tornaram-se Artistas Mestres. Uma vez conhecendo a natureza e a suprema grandeza da
Fonte, Eles mesmos se tornaram essa Fonte, o Caminho e a Encarnação da Sabedoria e do Amor. (…) (O Reino da Felicidade, pág. 54-55)

Uma vez que tenhais compreendido a glória do Reino dEles, então podereis abrir caminho por vós mesmos nessa linha particular de criação (…) Então sereis os maiores escritores,
ou os maiores artistas, ou os maiores cientistas; então tereis a língua dos eruditos (…) (Idem, pág. 55)

Somente podeis entrar no Reino, se estiverdes levando vida nobre, e só vos podeis tornar cidadão desse Reino, se estiverdes lutando contra a estreiteza, (…) o espírito de exclusão.
E para esse fim deveis ter inteligência límpida, pura, capaz de entender tudo; (…) (Idem, pág. 57-58)

Porque se tiverdes tal inteligência, tereis igualmente emoções nobres e felizes; ao passo que, se fordes exclusivistas e (…) pensardes que sois diferentes - o que é apenas uma
afirmação do “eu” - então não entrareis no Reino da Felicidade. (Idem, pág. 58)

(…) O êxtase da Realidade encontra-se pela inteligência desperta e no mais alto grau de intensidade. Inteligência não significa cultivo da memória ou da razão, mas, sim, uma
percepção da qual é banida a identificação e a escolha. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 199)

(…) O êxtase do entendimento vem somente quando há grande descontentamento, quando, em torno de vós, todos os falsos valores forem destruídos. (…) (Palestras na Itália e
Noruega, 1933, pág. 135)

Nesse estado de êxtase, de extrema alegria, tendo perdido a única coisa que vos prende em baixo, o “eu”, encontrareis a única fonte de inspiração, a única beleza de que
necessitais, e a única verdade digna de a ela aderirdes, de por ela lutardes, digna de que se sacrifiquem todas as coisas para obtê-la. (O Reino da Felicidade, pág. 62)

(…) Não podeis ser felizes enquanto não fizerdes a felicidade de outros, e só podeis tornar outros felizes, se houverdes entrado nesse Reino (…) obedecido, (…) colhido os
murmúrios daquela Voz que é Eterna. Só desse modo podereis guiar homens, dar-lhes felicidade, (…) coragem na luta pela nobreza, animá-los para escutarem seus próprios
murmúrios da Divindade. (O Reino da Felicidade, pág. 59)

Lutando, eles sofrerão, mas todo sofrimento, todas as lutas, são parte do processo em direção ao (…) encontro da felicidade. Essa é a verdadeira brisa das montanhas que vos
embriaga de Eternidade, que vos dá a imensa força de estar de pé sozinhos. (Idem, pág. 59)

(…) Quando sentimos esse pujante êxtase criador? Só depois de cessar todo conflito, só na ausência do “ego”, (…) na tranqüilidade completa. Não é possível sentir-se essa
tranqüilidade quando a mente e o coração estão agitados, em conflito. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 63)

Então haveis de descobrir que a mente e o coração não estão em conflito e não se contradizem, sendo eles, ao contrário, a verdadeira fonte, a origem daquilo que estais buscando,
que é esse êxtase criativo - a verdade. (Idem, pág. 67)

O que chamamos felicidade ou êxtase é, para mim, o pensar criador. E o pensar criador é o movimento infinito do pensamento, do sentimento e da ação. Isto é, quando o
pensamento, que é sentimento, que é a própria ação, não é estorvado no seu movimento, não é compelido nem influenciado, nem está vinculado por uma idéia, nem procede do
acervo da tradição ou do hábito, esse movimento é então criador. (…) (A Luta do Homem, pág. 151)

Só quando a mente e o coração, vulneráveis, defrontam a vida, o desconhecido, o imensurável, é que se dá o êxtase da verdade. Quando a mente não se acha sobrecarregada de
valores, de lembranças, (…) e é capaz de defrontar o desconhecido, nesse mesmo defrontar nasce a sabedoria, a beatitude do presente. (Palestras em New York City, 1935, p. 50)

(…) Cada um de nós tem um templo, mas precisamos criar a imagem, o ídolo, a Beleza, em torno da qual possamos desenvolver o nosso amor e devoção; porque se conservarmos o
templo vazio, como muitos de nós fazemos, não poderemos criar. (O Reino da Felicidade, p. 24)

É pela adoração, pelo amor, pela devoção, que criamos, que damos vida ao templo. Para mim esse templo é o coração. Se puserdes Aquele que é a encarnação do Amor e da
Verdade em vosso coração, se ali o criardes com as vossas próprias mãos, mente, e emoções, esse coração, em vez de frio e abstrato e deserto, se torna real e vivo e radiante. Tal é
a Verdade. (…) (Idem, p. 24-25)

(…) A beatitude não está no passado ou no futuro, mas no presente, para aqueles que, pelo alegre apercebimento, compreendem, e assim estão livres da causa da ignorância, que é
a ansiedade. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, p. 98)

A beatitude está sempre no presente, e para compreendê-la é preciso ter interesse e apercebimento constante. A paz está sempre no presente, mas, para entendê-la, não devemos
estar preocupados com o tempo. (…) (Idem, p. 91)

(…) Eu digo que existe um êxtase da vida, uma eternidade, uma imortalidade que reside na realização do vosso viver diário e não em qualquer futuro distante (…) Digo que essa
perdurável realidade só pode ser compreendida na plenitude do presente. (Coletânea de Palestras, p. 33)

Não pode (…) ser fantasiado ou imaginado; (…) Esse êxtase da verdade vem espontaneamente, naturalmente, suavemente, sem o mínimo esforço, sem autodisciplina (…) Digo que
esse vivo êxtase da verdade existe sempre, e que eu o realizei. (Idem, p. 33-34)

Tendes, pois, de estar enamorados da vida. Isso exige grande inteligência, não informações ou conhecimentos (…) (Palestras em New York City, p. 60)

(…) Ó amigo! Se estais enamorado da vida, vós envolvereis todas as coisas nesse amor (…) (Que o Entendimento Seja Lei, p. 17)

(…) A Verdade, tal como a Vida, é como o raio do sol: se sois sensato, abrir-lhe-eis as janelas; se não sois sensato, descereis as cortinas. Se estivésseis enamorado da Verdade,
essas imagens não teriam mais valor nenhum para vós. (Que o Entendimento Seja Lei p. 11)

Uni-vos com a Vida, e vos unireis com todas as coisas. (…) Se estais enamorado da Vida, então vós vos unireis com a vida, quer a chameis Buddha ou Cristo (…) (Que o
Entendimento seja Lei, p. 19)

(…) Há somente uma Lei, somente um Nirvana, somente um Reino da Felicidade, somente uma Essência; (…) Quanto mais vos desenvolverdes, (…) pensardes, (…) sofrerdes, mais
perto estareis dessa Essência, (…) Unidade, eterna Verdade. (…) (O Reino da Felicidade, p. 64)

Na essência, nós somos iguais, mas, no mundo da forma, somos diferentes; e de acordo com essas diferenças varia a nossa compreensão da Verdade. (…) Essa é a única Lei (…)
que vos pode guiar para o Reino da Felicidade. (…) (Idem, p. 65)

Se me houverdes acompanhado com interesse, deveis ter compreendido que, para entrar nessa mansão da Felicidade, vos importa estar livres de todas as coisas que agrilhoam, que
vos prendem à terra (…); e que escapar delas e ser liberto significa obter a iluminação, é a aquisição do Nirvana, a obediência a essa única Lei e a entrada no único Reino da
Felicidade. (…) (O Reino da Felicidade, p. 173)

Há dois tipos de pessoas: as que estão nesse Jardim onde há frescor, doçura, beleza, tranqüilidade e o suave murmúrio de mil vozes; onde o ar todo está vivo com o sentimento da
Beleza Eterna, onde há a sensação de poder, (…) de paz e de admirável força e realidade. Ao outro tipo pertencem as que estão fora desse Jardim (…) (O Reino da Felicidade, p.
84-85)

(…) Nesse mundo cessais de viver como indivíduo. Sois parte de tudo; (…) da menor folha e da mais alta e majestosa árvore; porque sois parte dEle e aquele é o Seu jardim, é a Sua
morada, é o Seu Reino. (…) (Idem, p. 86)

(…) Se não houverdes feito pesquisas para encontrá-LO, lutado para alcançá-LO, não podereis saber o que ele significa, (…) conhecer o seu poder, (…) o êxtase, a embriaguez.
Não é mero sentimento, (…) mas é a Verdade mesma, é a Essência de todas as coisas. (…) (Idem, p. 87)

(…) Viver nesse jardim significa viver grandemente, viver nobremente, no cimo da vossa perfeição; e o que quer que seja feito de grande e duradouro deve ser feito dessa Mansão,
(…) provir dessa Fonte (…) ter a sua origem nesse Reino. (…) (O Reino da Felicidade, p. 87)

(…) Todos os ensaios, tentativas e fatos falham quando não são duradouros, quando são transitórios e mutáveis. Ao passo que se tudo o que fizerdes trouxer o selo desse Reino, será
aceitável a todos os homens, (…) deuses, (…) reinos da Natureza; porque esse Reino é o reino dos deuses, o reino dos ideais, a fonte de todos os sentimentos, de todas as ações.
(Idem, p. 87-88)

Enquanto puderdes refletir com a certeza, (…) o conhecimento, (…) como o próprio Reino; (…) só podeis refletir a pureza desse Reino quando houverdes encontrado o vosso
verdadeiro Ser (Self), quando viverdes eternamente nesse Reino e o tiverdes como Eterno Companheiro.(…) (O Reino da Felicidade, p. 89)

Então tereis em vós essa paz absoluta, a paz que dá imensa força e poder, porque tereis encontrado a vós mesmos, tendes vivido com as coisas que são permanentes, (…) eternas.
(Idem, p. 89)

(…) E quando já houverdes bebido desse néctar, desse elixir da vida, ele vos conservará eternamente jovens. (O Reino da Felicidade, p. 96)

Temas Sociais, Mutação


Família, Casamento, Filhos; Relações, “Eu” e Amor
Pergunta: A família é o arcabouço do nosso amor e da nossa avidez, do nosso egoísmo e da nossa divisão. Que lugar tem ela (…)?

Krishnamurti: (…) A vida é uma coisa viva, uma coisa dinâmica, ativa, não podeis encerrá-la num arcabouço. São os intelectuais que põem a vida num molde (…) Em primeiro
lugar, temos o fato de nossas relações com os outros, uma esposa, um marido ou um filho - as relações a que chamamos família. (…) (Novo Acesso à Vida, p. 40-41)

Pois bem, que é isso a que chamamos família? Trata-se, obviamente, de uma relação de intimidade, de comunhão. Ora, em vossa família, em vossas relações com vossa esposa,
vosso marido, há comunhão? (…) Relação significa comunhão sem temor, liberdade de mútua compreensão, de comunhão direta. (…) (Idem, p. 41)

Estais em comunhão com vossa esposa? Talvez estejais, fisicamente, mas isso não é relação. Vós e vossa esposa viveis dos lados opostos de uma muralha de isolamento (…) Tendes
os vossos alvos e ambições próprios e ela os seus. (…) (Idem, p. 41)

Ora, se existem relações reais entre duas pessoas, o que significa que existe comunhão entre elas, o que isso implica é de extraordinária significação. Porque então não há
isolamento, há amor, e não responsabilidade ou dever. Um homem que ama, porém, não fala de responsabilidade - ele ama. Por isso partilha com alguém a sua alegria, a sua
tristeza, o seu dinheiro. (…) (Novo Acesso à vida, p. 42)

Então, senhores, não é isso que está acontecendo? Em nossas famílias o que há é isolamento, e não comunhão; logo, não há amor. Amor e sexo são duas coisas diferentes (…) Se
tivésseis interesse pelo próximo, se estivésseis em real comunhão com vossa esposa, com vosso marido, o mundo não estaria nesta desgraça. (…) (Idem, p. 42-43)

Como, então, quebrar esse isolamento? Para quebrarmos esse isolamento, precisamos estar cônscios dele (…) Tomai nota da maneira como tratais vossa esposa, vosso marido,
vossos filhos; notai a insensibilidade, a brutalidade, as asserções tradicionais, a falsa educação(…) E, por não saberdes amar vossa esposa, vosso marido, não sabeis amar a Deus.
(Idem, p. 43)

Pergunta: O casamento é necessidade ou luxo?

Krishnamurti: Examinemos (…) Por que nos casamos? Em primeiro lugar, (…) por força da necessidade biológica, do impulso sexual, que a sociedade legaliza (…) A sociedade
deseja proteger a prole (…) Casamo-nos também por exigência psicológica. Preciso de um companheiro ou companheira, alguém que eu possua, e domine, e chame “meu” ou
“minha”. (Da Insatisfação à Felicidade, p. 199-200)

Aqui (na Índia) o sistema matrimonial faz da mulher uma escrava, para ser protegida, dominada, governada, possuída. A mulher é uma coisa que se possui; assim como possuo
bens, possuo minha mulher. Possuo-a sexualmente e a domino exteriormente. Psicologicamente, a posse me dá conforto, me dá segurança: minha propriedade, minha esposa, meus
filhos (…) (Idem, p. 200)

Tratamos seres humanos como tratamos as coisas materiais, sem consideração (…) E vós bem conheceis as coisas da vida, os horrores, as agonias, os sofrimentos dos que são
casados e não se amam. Como pode haver amor quando há instinto de posse? (…) (Idem, p. 200)

Como, na maioria, vivemos tão concentrados, tão absortos em nossas atividades comerciais, em ganhar dinheiro (…); como somos impiedosos no comércio e cruéis no mundo, como
é possível ter amor por alguém no lar? No entanto, é o que quereis fazer, e por isso não tendes amor. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 200)

O casamento é também uma forma de perpetuação do “eu”. Desejo continuidade, através dos meus filhos. Por conseguinte, os filhos se tornam muito importantes, não por eles
próprios, mas por causa de minha continuidade - meu nome, minha classe, minha casta. (…) (Idem, p. 200-201)

(…) Assim, para compreender todo esse processo humano, que é extremamente complexo e sutil, requer-se inteligência. Inteligência é também amor, e não apenas intelecto; e não
podemos ter amor se, por um lado, procedemos cruelmente em nossos negócios, na vida cotidiana, e, por outro lado, procuramos ser ternos, meigos e bondosos. Não podeis fazer as
duas coisas (…) (Idem, p. 201)

Só quando há amor, compaixão, que é inteligência - a forma mais elevada de inteligência - é que pode ser resolvido esse problema. (…) No momento em que nos considerarmos uns
aos outros como seres humanos, como indivíduos, não como algo para ser possuído, teremos então a possibilidade de compreender e de transcender esse conflito existente entre
dois cônjuges. (Idem, p. 201-202)

Pergunta: Não sois contrário ao matrimônio como instituição?

Krishnamurti: (…) A família é um processo de identificação particularista; e quando a sociedade está baseada nessa idéia da família como unidade exclusiva, em oposição a outras
(…), tal sociedade (…) há de produzir violência. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 248)

Usamos a família como meio de segurança para nós mesmos. (…) Essa exclusão é chamada “amor”, e, nesse chamado estado de família ou de matrimônio, existe realmente amor?
(…) Não estamos considerando o ideal do que ela deveria ser, mas (…) tal como a conhecemos. (Idem, p. 248)

Entendeis por “família”, vossa esposa e vossos filhos (…) É uma unidade (…), e nessa unidade sois vós quem tem importância - não a vossa esposa, nem os vossos filhos ou a
sociedade - mas somente vós, que estais em busca de segurança, de nome, de posição, de poder, tanto na família como fora dela. (…) (Idem, p. 248-249)

Dominais a vossa esposa, e ela vos é subserviente; vós ganhais e gastais o dinheiro, ela é vossa cozinheira e a progenitora dos vossos filhos. Criais, assim, a família, que é uma
unidade exclusiva (…) Por conseguinte, não pode haver reforma do coletivo enquanto vós, como indivíduo, fordes exclusivista e buscardes o auto-isolamento em cada uma de
vossas ações, limitando o vosso interesse a vós mesmos. (Idem, p. 249)

Ora, esse processo de exclusão não é, por certo, amor. O amor não é criação da mente. O amor não é pessoal (…) O amor é algo que não pode ser compreendido enquanto existir o
pensamento, que é exclusivista. O pensamento, que é reação da mente, nunca pode compreender o que é amor; o pensamento é invariavelmente exclusivista, separatista (…) (Que
Estamos Buscando?, p. 249)

A família, como a conhecemos, (…) é exclusivista, é um processo de engrandecimento do “eu”, que é resultado do pensamento; (…) Dizemos que amamos a verdade, (…) a esposa,
o esposo, os filhos; mas essa palavra está rodeada pelo fumo do ciúme, da inveja, da opressão, da dominação (…) (Idem, p. 249-250)

A solução reside, não na legislação, mas na vossa própria compreensão do problema; e o problema só é compreendido e, por conseguinte, desaparece quando há o verdadeiro
amor. Quando as coisas da mente não enchem o coração (…) e a ambição individual (…) não predominam, só então conhecereis o amor. (Idem, p. 250)

Que tem o casamento a ver com isso? Fazeis do casamento um embaraço, em vez de um auxílio; tende-o como um cativeiro. No fim de tudo, ele é um processo de assimilação de
experiência, não um cativeiro que vos force. Sei que ele vos aprisiona na maioria dos casos, porque não sabeis como utilizar, como assimilar a experiência dele. Tratai todos os que
vos rodeiam como amigos, por intermédio de quem e com quem cresceis. (…) (Viver Harmonioso, em “Boletim Internacional da “Estrela”, de janeiro de 1931, p. 8)

Pergunta: Por que a mulher tem a propensão de se deixar dominar pelo homem? (…)

Krishnamurti: Ora, (…) Quando o marido domina, a mulher gosta disso e considera-o afeição; e quando a esposa governa o marido, ele também gosta disso. Por quê? Denota isso
que a dominação proporciona certo sentimento de maior proximidade, nas relações. (…) Temeis a indiferença de vossa esposa ou de vosso marido (…) (A Arte da Libertação, p. 75)

E esse domínio dá um sentimento de relação, esse domínio gera o ciúme: se não me dominais, é porque estais com os olhos noutra pessoa. (…) Senhor, o homem que ama não é
ciumento. O ciúme é coisa do cérebro, mas o amor não pertence ao cérebro; e onde há amor não há domínio. Quando amais alguém, não sois dominante, sois parte dessa pessoa.
Não há separação, mas completa integração. É o cérebro que separa, e cria o problema da dominação. (Idem, p. 76)

Pergunta: Quais são os deveres de uma esposa?

Krishnamurti: (…) Neste país (Índia), o marido é o patrão; ele é a lei, o senhor, porque economicamente dominante, e é ele quem diz quais são os deveres de uma esposa. Podemos
considerar o problema do ponto de vista do marido ou da esposa. (A Arte da Libertação, p. 42-43)

Se considerarmos o problema da esposa, vemos que, porque não é livre, economicamente, a sua educação é limitada (…); e a sociedade lhe impôs regras e modos de conduta
estabelecidos por homens. (…) (Idem, p. 43)
Portanto, ela aceita o que se convencionou chamar direitos do marido; e como este é quem domina, por ser economicamente livre e ter capacidade para gastar dinheiro, quem dita
a lei é ele. (…) Quando o marido exige os seus direitos e quer uma esposa “cumpridora de seus deveres” (…) a relação entre os dois não passa evidentemente de contrato
mercantil. (…) (Idem, p. 43)

Enquanto as relações estiverem baseadas em contrato, em dinheiro, em posse, autoridade ou dominação, elas serão, forçosamente, questão de direitos e deveres. É evidente a
extrema complexidade das relações, quando elas resultam de um contrato, em que se estipula o que é correto, o que é incorreto e o que é o dever. (A Arte da Libertação, p. 43)

Mas não haverá uma outra maneira de considerar esse problema? Isto é, quando há amor, não há nenhum dever. Quando amais vossa esposa, vós lhe dais participação em tudo -
na vossa propriedade, nas vossas tribulações, vossas ansiedades e vossas alegrias. Não a dominais: não sois o homem e ela a mulher, para ser usada e posta de parte, uma espécie
de máquina procriadora. (…) (Idem, p. 44)

Se o homem que não tem amor no coração, fala em direitos e deveres, e, neste país, direitos e deveres tomaram o lugar do amor. Vossa esposa não tem participação em vossa
responsabilidade (…) porque considerais a mulher menos importante do que vós, como coisa para ser guardada e usada sexualmente, segundo vossa conveniência, quando o apetite
o exigir. (Idem, p. 44)

Sem amor, não percebo a utilidade de se terem filhos. Sem amor criamos filhos feios, imaturos, incapazes de pensar; (…) porque nunca se lhes deu afeição, porque só serviram de
brinquedo e de divertimento, e para conservar o vosso nome. (A Arte da Libertação, p. 44-45)

Para que venha a existir uma nova sociedade, uma nova civilização, não deve evidentemente haver dominação nem por parte do homem nem por parte da mulher. A dominação
existe em virtude da pobreza interior. (…) (Idem, p. 45)

Certamente, só sentimento afetuoso, o calor do amor, pode implantar uma nova condição, uma nova civilização. O cultivo do coração - não é um processo da mente. A mente não
pode cultivar o coração; mas, quando é compreendido o processo a mente, surge então o amor. (…) (Idem, p. 45)

Pergunta: O casamento é necessário para as mulheres?

Krishnamurti: Não sei por que será mais necessário para as mulheres do que o é para os homens. (…) Vamos tentar compreender o problema do matrimônio, o qual implica
relações de sexo, amor, camaradagem e comunhão. Evidentemente, não havendo amor, torna-se o matrimônio uma ignomínia. Torna-se, puramente, um meio de satisfação. (…)
(Uma Nova Maneira de Viver, p. 219-220)

E só existe amor quando o ego está ausente. Ao considerar o matrimônio, se ele é necessário ou não, é preciso primeiro compreender o amor. O amor é casto, e sem amor não
podeis ser casto; um indivíduo pode (…) ser celibatário, mas isso não significa que seja casto, puro, se não houver amor. ( … ) (Idem, p. 220)

(…) E, visto como à maioria das mulheres é negado o amor, buscam elas o preenchimento nas coisas ou nos filhos. Dessarte, as coisas e os filhos assumem toda a importância para
as mulheres, enquanto o homem busca o preenchimento no trabalho e nas atividades. (…) E por essa razão dou valor às coisas, às relações, às idéias. Atribuo-lhes valor superior ao
que têm (…) (Idem, p. 221)

(…) Podeis ter filhos, mas não existe amor, porque vós e vossa esposa estais isolados. Estais escondidos atrás de uma parede por vós mesmos edificada (…) e para haver essa
comunhão é necessário o amor. (…) Quando há amor, há castidade, pureza, incorruptibilidade. (Idem, p. 222-223)

É só para os poucos (…) que amam, que as relações matrimoniais têm significado; então, elas são inquebrantáveis, não representam mero hábito ou conveniência, nem estão
baseadas na necessidade biológica, na necessidade sexual. (A Arte da Libertação, p. 232-233)

Nesse amor, que é incondicional, as identidades se fundem (…) Para que haja a fusão de duas entidades separadas, tendes de conhecer a vós mesmo, e ela, a si mesma. Isso
significa amar. (Idem, p. 233)

Só há castidade quando há amor. Quando existe o amor, não existe o problema do sexo; (…) Senhor, isso significa que tereis de submeter vosso coração e vossa mente a uma
intensa busca, da qual resultará uma transformação em vosso interior. O amor é casto; e quando existe amor (…) então o sexo já não é um problema e tem significação
inteiramente diversa. (Idem, p. 237)

Sociedade, Estrutura, Crise; Mundanismo, Degradação


Qualquer um está bem cônscio, sem necessidade de muita discussão (…), de que existe um caos individual, bem como um caos coletivo, confusão e sofrimento. Isso acontece não
apenas na Índia, mas no mundo inteiro: na China, na América, na Inglaterra, na Alemanha (…) Trata-se, portanto, de uma catástrofe mundial (…) Uma vez cônscios dessa
confusão, qual é a nossa reação, atualmente? De que maneira reagimos? (Da Insatisfação à Felicidade, p. 16)

Há sofrimento político, social, religioso; toda a nossa vida psicológica está em confusão, e todos os guias políticos e religiosos falharam: todos os livros perderam o seu valor. Abri
o Bhagavad-Gita, ou a Bíblia (…) e verificareis que perderam aquela ressonância, aquela qualidade de verdade; tornaram-se meras palavras. Mesmo aqueles que repetem essas
palavras estão confusos e incertos (…) (Idem, p. 12)

Ora bem, qual é a causa dessa confusão, desse sofrimento? Tendes de descobrir por vós mesmos essa causa, conhecer a verdade nela encerrada, vê-la como realmente é (…) Ela
indica, por certo, a derrocada de todos os valores morais e espirituais, e a glorificação de todos os valores sensoriais, das coisas feitas pela mão ou pela mente. (…) Quanto mais
valor atribuímos às coisas dos sentidos, tanto maior é a confusão (…) (Idem, p. 18)

Vedes o processo de desintegração a estender-se pelo mundo. A ordem social desaba, as várias organizações religiosas, as crenças, as estruturas morais e éticas, tudo está
falhando. Na nossa chamada civilização - indiana, européia ou qualquer outra - generaliza-se a corrupção e vê-se toda sorte de atividades inúteis. (Visão da Realidade, p. 41-42)

Nessas condições, será possível, a vós e a mim, nos tornarmos cônscios de todo esse processo de desintegração e, retirando-nos dele, como indivíduos, adotarmos a séria intenção
de criarmos um mundo de espécie totalmente diversa, uma diferente espécie de cultura, de civilização? (…) (Idem, p. 42)

É bastante óbvio que a maioria de nós está confusa, intelectualmente. Vemos que os chamados guias ou chefes, em todos os setores da vida, não têm uma solução completa para as
nossas várias questões e problemas. (…) (A Arte da Libertação, p. 59)

Tudo em torno de nós parece desintegrar-se: os valores morais e éticos tornaram-se simples questão de tradição, sem muito sentido. A guerra, o conflito entre a direita e a esquerda
parece um fator constante (…); por toda parte vê-se destruição, confusão. (Idem, p. 59)

(…) Estamos assistindo à desintegração do mundo, e estamos igualmente cônscios da extraordinária deterioração que se processa em nós mesmos, à medida que envelhecemos:
falta de energia (…) rotinas de hábito (…) ilusões várias, etc. - constituindo tudo isso uma barreira à compreensão de nossa fundamental e radical transformação. (Claridade na
Ação, p. 99)

Tudo está a desmoronar. Pode-se ver neste pais, que é bastante jovem, cerca de 300 anos talvez, que já se verifica uma decadência antes de a maturidade ter sido atingida; há
desordem, conflito, confusão; e há medo e sofrimento, inevitavelmente. Esses fatos exteriores forçam necessariamente cada um a encontrar a resposta por si mesmo; tem de se
“apagar o quadro” e começar de novo, sabendo que nenhuma autoridade exterior pode ajudar, nenhuma crença (…) sanção religiosa, (…) padrão moral - nada. (O Mundo Somos
Nós, p. 24)

Para compreender a violência, cumpre haver percepção clara da violência em suas várias expressões. (…) O nacionalismo, o antagonismo de classe, o espírito de aquisição, a
desenfreada ambição de poder, as inumeráveis crenças de que sofre a nossa mente, eis os fatores da violência. O apetite de ganho, que é a base de nossa atual civilização, dividiu o
homem contra o homem. (O Caminho da Vida, p. 19)

Em nosso desejo de possuir, de dominar as idéias, os sentimentos e o trabalho alheios, fizemos uma separação de nós mesmos em classes, governos de classe, lutas de classe,
guerras de classe, e também em hindus e muçulmanos, americanos e russos, operários e camponeses. O domínio sobre as coisas feitas pela mão é o que menos desastres acarreta; é
a escravização mental (…) psicológica do homem pelo homem, que embrutece e desintegra. (…) (Idem, p. 19)

Que é a sociedade? Não é o produto de nossas relações (…)? A sociedade atual está em putrefação; é um processo de corrupção, de violência, no qual sempre impera a
intolerância, o conflito, o sofrimento e, para se produzir uma alteração fundamental (…), torna-se necessária a compreensão de nós mesmos. (…) (Viver sem Confusão, p. 12)

(…) Ainda que se proclame o contrário, a sociedade está notoriamente baseada na competição, na avidez, na inveja, no impulso agressivo de cada um, visando ao próprio
preenchimento, (…) aperfeiçoamento. (…) A sociedade, como hoje existe - quer da esquerda, quer da direita - é desordem, porque não se preocupa com a transformação
fundamental da mente humana. Essa transformação ou revolução interior só pode ocorrer quando há liberdade; (…) (O Descobrimento do Amor, p. 116)

Essa bondade do ente humano só pode florir na liberdade - na total liberdade. E, para compreender a questão da liberdade, temos de examiná-la não só em termos de ordem social,
mas também (…) de relação do indivíduo com a sociedade. A sociedade subsiste graças à manutenção de um simulacro de ordem. Se um indivíduo observa a sociedade em que vive
(…) percebe que ela exige ordem, relações sociais nas quais o indivíduo não explore desenfreadamente os seus semelhantes. (O Descobrimento do Amor, p. 116)

A sociedade é aquilo que vós e eu criamos, em nossas relações; é a projeção externa de todos os nossos estados psicológicos internos. Nessas condições, se vós e eu não
compreendermos a nós mesmos, de nada adianta transformar o exterior, que é projeção do interior; (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 21)

Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade egocêntrica, não só no nível das relações sociais, mas também no nível psicológico. É essa atividade do “eu”
que está causando malefícios e sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais como em nossa existência como grupo e como nação. (…) (Claridade na Ação, p. 46)

Por que está a sociedade a ruir, a desmoronar, como não há dúvida de que está? Uma das razões fundamentais é que o indivíduo - vós - deixou de ser criador. Explicarei (…) Vós e
eu nos tornamos imitativos, estamos copiando, tanto exteriormente como interiormente. (…) Para tornar-me engenheiro, preciso primeiro aprender a técnica, e depois saber aplicar
a técnica (…) Mas, por certo, quando há imitação interior, (…) psicológica, deixamos de ser criadores. (Da Insatisfação à Felicidade, p. 32)

Nossa educação, (…) estrutura social, nossa suposta vida religiosa, baseiam-se todas na imitação; isto é, eu me enquadro em determinada fórmula social ou religiosa. Deixei de ser
um verdadeiro indivíduo; psicologicamente, tornei-me simples máquina de repetição (…) (Idem, p. 32)

Observa-se no mundo - talvez melhor ainda neste país (Índia) - a deterioração que está invadindo todos os níveis de nossa existência. E, observando esse fenômeno, (…) somos
naturalmente levados a investigar se não existirá um caminho diferente, uma diversa maneira de considerar o problema da existência e das relações humanas, (…) numa dimensão
inteiramente nova. (Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., p. 90)

(…) A sociedade não pode viver de acordo com um ideal; tampouco o pode o homem, porque a sociedade é o homem. Se a sociedade procurar modelar-se segundo um ideal, se o
homem procurar viver de acordo com um ideal, nenhum estará verdadeiramente se preenchendo; estarão ambos em decadência. Mas se o homem estiver nesse movimento de
preenchimento, então a sua ação será harmoniosa, completa; (…) não será simples imitação. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, p. 113-114)

(…) A estrutura psicológica da sociedade é muito mais importante do que o seu aspecto orgânico; está ela baseada na avidez, na inveja, na ânsia de aquisição, na competição, na
ambição, no medo, na incessante exigência de segurança (…) em todas as suas relações: com a propriedade, as pessoas, as idéias. E a sociedade, psicologicamente, impõe essa
estrutura a cada um de nós. Ora, a avidez, a inveja, a ambição, a competição, constituem desperdício de energia, porquanto encerram sempre conflito; conflito interminável (…) (A
Suprema Realização, p. 166)

Nessas condições, uma simples reorganização das coisas em conformidade com qualquer padrão de ação pouco significará, se não compreendermos a confusão e a angústia
psicológica em que vive cada um de nós. (O Caminho da Vida, p. 13)

Assim, toda importância deve ser dada ao conflito que se trava dentro do indivíduo. De nada vale estarmos a tentar continuamente implantar a ordem na existência exterior; porque
o interior, o fator psicológico, dominará sempre o exterior (…) (Idem, p. 13)

(…) Logo, o nosso conflito interior, projetado no exterior, gera confusão no mundo. Importa, pois, (…) que se compreenda o conflito, que se perceba que o conflito, de qualquer
espécie, não produz o pensar criador, não produz entes humanos bem equilibrados. (…) (A Arte da Libertação, p. 199)

O que desejo dizer nesta tarde alude à revolução interior, à destruição da estrutura psicológica da sociedade, a qual somos nós mesmos. A sociedade, com suas ambições, sua
inveja, sua ânsia de sucesso, não é simples exterioridade. A sociedade é muito mais íntima, pois está radicada profundamente em cada um de nós. Essa estrutura psicológica da
sociedade nos aprisiona, molda nossa mente, nossos pensamentos, nossos sentimentos, e, se não a destruirmos completamente em nós mesmos, não teremos possibilidade de ser
livres para descobrir o que é verdadeiro. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., p. 11-12)

A estrutura psicológica da sociedade é o que nós somos, o que pensamos, o que sentimos - a inveja, a ambição, a perene luta da contradição, consciente e inconsciente - e nessa
estrutura nos vemos aprisionados. Para nos libertarmos dela, pensamos ser necessário fazer um grande esforço. Mas o esforço sempre implica conflito, contradição (…) Quando
não há contradição, não há esforço: viveis. Mas (…) enquanto toda essa estrutura psicológica não for perfeitamente compreendida e rompida, nenhuma possibilidade teremos de
viver uma vida plena ou de compreender o que se acha além da mente. (Idem, p. 12)

(…) Os economistas e os revolucionários querem alterar o ambiente sem alterar o indivíduo; mas a simples alteração do ambiente, sem a compreensão de nós mesmos, não tem
significação alguma. (…) Para se realizar uma transformação revolucionária na estrutura da sociedade, deve cada indivíduo compreender-se a si mesmo como um “processo
total”, e não como uma entidade separada, isolada. (A Arte da Libertação, p. 26)

Acho que é bem evidente a necessidade de uma transformação fundamental na sociedade, e essa transformação só pode começar com uma revolução radical, dentro de cada um de
nós; (…) O que somos, é o que a sociedade é. Os problemas do mundo não estão separados dos nossos problemas (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, p. 72)

Fomos nós que os “projetamos” e, por conseguinte, somos nós mesmos os responsáveis por eles; e a revolução fundamental das circunstâncias externas (…) só pode ser efetuada
depois de uma radical revolução em nós mesmos. (…) (Idem, p. 72)

Existe um caos econômico motivado pela exagerada importância atribuída aos valores materiais. Procuramos resolvê-lo com o aumento dos valores materiais, (…) produção de
utilidades. Apelamos para a máquina, na busca de maiores satisfações, conferindo assim importância às coisas, à propriedade, ao nome e à casta. (O Caminho da Vida, p. 12)

Em geral, estamos escravizados aos valores relativos aos sentidos, e o mundo ao redor de nós está organizado para aumentá-los e mantê-los. E como tais valores cada vez mais nos
subjugam, envelhecemos sem reflexão, extenuados pela atividade externa, mas inativos e pobres interiormente. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, p. 57)

(…) Quanto mais altamente situados estamos, tanto mais desejamos segurança, permanência, tranqüilidade, (…) ficar em sossego e manter as coisas como estão; contudo, elas não
podem ser mantidas como estão, pois não há nada a manter. Tudo está a desintegrar-se. Não queremos olhar de frente essas coisas, (…) o fato de que vós e eu somos responsáveis
pelas guerras. (…) (Novo Acesso à Vida, p. 38)

Ora, (…) por que coisas, propriedades, casas, roupas, etc., ocupam lugar tão importante em nossas vidas? É porque simplesmente delas necessitamos, ou porque dependemos delas
para a nossa felicidade psicológica? (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, p. 10)

Todos necessitamos de vestuário, alimento e abrigo. Mas por que essas coisas assumiram tão tremenda importância, significação? As coisas assumem tal valor e significação
desproporcionais, porque dependemos delas, psicologicamente, para o nosso bem-estar. (Idem, p. 10)
Elas nutrem a nossa vaidade; dão-nos prestígio social; fornecem-nos os meios de obtermos poder. Empregamo-las com o propósito de conseguir fins diversos dos que elas em si
próprias significam. (…) (Idem, p. 10)

Muitos pensam (…) Dependemos das coisas porque somos pobres internamente e cobrimos essa pobreza do nosso ser com coisas, e essas acumulações externas, essas posses
superficiais, tornam-se tão vitalmente importantes que por elas estamos dispostos a mentir, a fraudar, a lutar e a destruir-nos uns aos outros. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, p.
11)

Mas, por que não é possível organizar os meios de atender às nossas necessidades? (…) Não é possível porque nos valemos de nossas necessidades como meios para satisfação de
nossas exigências psicológicas. Porque interiormente somos estéreis, vãos, destrutivos, servimo-nos de nossas necessidades como meio de fuga. E assumem elas, por isso,
importância muito maior do que realmente têm. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, p. 112)

(…) Outras causas há, também, indicativas de uma crise sem precedentes. Uma delas é a extraordinária importância que se está atribuindo aos valores dos sentidos, à propriedade,
ao nome, à casta, à nação, à etiqueta que usamos. Sois maometano, ou hinduísta, cristão ou comunista. O nome e a propriedade, a casta e a nação, tornaram-se predominantemente
importantes, vale dizer, o homem está preso ao valor sensorial (…) das coisas feitas pela mente ou pela mão. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., p. 142)

Tão importantes se tornaram as coisas fabricadas pela mão ou pela mente, que, por causa delas, estamos matando, destruindo, massacrando, liquidando. Estamos nos abeirando de
um precipício; cada uma de nossas ações está nos levando para lá; toda ação política, (…) econômica, está fatalmente nos conduzindo para o precipício, arrastando-nos para
aquele abismo caótico. A crise, por conseguinte, é sem precedentes e requer ação sem precedentes. (Idem, p. 142)

Para afastar-nos dessa crise, para sairmos dela, é necessário uma ação atemporal, não baseada em nenhuma idéia, sistema, porque a ação que se baseia em sistema, ou idéia
levará inevitavelmente à frustração. Uma ação dessa ordem só nos levará de volta ao abismo, por outro caminho. Ela tem de verificar-se agora, e não amanhã, porque amanhã é
um processo de desintegração. Se penso em transformar-me amanhã, estou atraindo confusão (…) (Idem, p. 142)

O contentar-se com pouco resulta da compreensão de nossos problemas psicológicos, não da legislação ou do esforço determinado de ter poucas posses. (…) Mas, enquanto nos
servimos das coisas, das relações, ou das idéias como meios de satisfazer nossas sempre crescentes exigências psicológicas, haverá contendas e misérias. (Idem, p. 113)

A avidez é um problema complexo. Viver no mundo da ganância sem ser ganancioso requer uma compreensão profunda; viver com simplicidade, ganhando a vida justamente, num
mundo que está organizado sobre a base da agressão e da expansão econômica, só é possível para aqueles que estão descobrindo riquezas interiores. (O Egoísmo e o Problema da
Paz, p. 238)

Pergunta: Por que desejamos viver no luxo?

Krishnamurti: (…) Pois bem, sabeis o que vos acontece se amais o luxo, se tendes apego ao conforto, e quereis estar sempre sentado num sofá ou numa poltrona? Vossa mente
começa a dormir. É bom ter certo conforto físico, mas sem exagerar o conforto; atribuir-lhe importância é estar com a mente sonolenta. (A Cultura e o Problema Humano, p. 70-71)

(…) A mente que é muito ativa, alerta, vigilante, nunca se apega ao conforto; para ela, o “luxo” nada significa. Mas, o simples fato de ter poucas roupas não indica que a pessoa
tenha uma mente alerta. (…) O importante é ser interiormente simples, muito austero, quer dizer, não ter uma mente atravancada de crenças, de temores, de desejos inumeráveis,
porque só então a mente é capaz de descobrir realmente. (Idem, p. 71)

Mas se nos tornamos ricos em nós mesmos, então a vida fluirá em nós harmoniosamente; então os bens ou a pobreza já não terão grande importância para nós. Porque damos
exagerada importância às posses, perdemos a riqueza da vida; (…) (Palestras na Itália e Noruega, 1933, p. 65)

A todos nós tem de interessar muito o que está sucedendo no mundo. A desintegração, a violência, a brutalidade, as guerras e a desonestidade nas altas esferas políticas. Frente a
essa desintegração, qual é a ação correta? Que há de fazer um indivíduo para sobreviver em liberdade e ser totalmente religioso? (…) Que há de fazer o indivíduo, pois, neste
mundo que desintegra, corrupto e imoral? (…) (La Verdad y la Realidad, p. 69)

(…) Somos seres humanos, somos coletivos, não individuais, somos o resultado de diversas influências coletivas, forças, condicionamentos (…) Qual é a ação justa, correta? Para
averiguar isso, se o indivíduo é completamente sério (…) que é que há de fazer? Existe uma ação que seja total, completa, não fragmentada (…) correta e precisa, (…) compassiva,
religiosa no sentido que damos a essa palavra? (…) (Idem, p. 69-70)

(…) Para chegar longe, é preciso começar tão perto quanto possível (…) O indivíduo deve encontrar por si mesmo uma ação que seja total, não fragmentada, porque o mundo se
está tornando cada vez mais perigoso para viver nele, se está tornando um deserto, e cada um de nós tem de ser um oásis. Para produzir isso - não uma existência isolada senão
uma existência humana total - é que investigamos o problema da ação. (Idem, p. 72)

Nesse mundo da realidade, a conduta é algo por completo diferente. Isso ocorre quando se haja negado tudo isso, quando se haja negado o “eu”, que é produto do pensamento - do
pensamento que cria divisão, que há criado o “eu” e o “super-consciente”, e todas as fantasias, os pretextos, as ansiedades, a aceitação e a repulsão. (…) (La Verdad y la
Realidad, p. 80)

Podemos, pois, cada um de nós, como seres humanos que vivem neste mundo desordenado que se desintegra, podemos chegar a ser - de fato, não em teoria ou em imaginação - um
oásis no meio de um mundo que se está convertendo em deserto? (…) (Idem, p. 80)

(…) Significa examinarmos a nós mesmos, não de acordo com um psicólogo, senão olhar-nos como realmente somos e descobrir a vida tão desordenada que levamos - uma vida de
incerteza, (…) de dor, vivendo na base de conclusões, crenças, recordações. E, ao dar-nos conta disso, esse mesmo dar-se conta, essa mesma percepção, alerta, varre com tudo isso.
(Idem, p. 81)

São inevitáveis catástrofes e misérias, quando os valores temporais e sensuais prevalecem sobre o valor eterno. (…) A opressão e a exploração, a agressividade e a crueldade
econômica resultaram inevitavelmente da perda da Realidade. Vós a tendes perdido quando (…) justificais o homicídio, (…) o assassínio em massa, em nome da paz e da liberdade.
(…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, p. 58)

O mundo acha-se num caos porque temos andado em busca de valores errôneos. Havemos dado importância à sensualidade, às coisas materiais e transitórias, à fama ou à
imortalidade pessoal, e isso acarreta conflito e sofrimento. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, p. 107)

O mundo não está separado de nós, pois nós somos o mundo; nós o fizemos tal como ele é. A sua mundanidade ele adquiriu por nossa causa, e, para o deixarmos, urge alijarmos a
mundanidade. Só assim podemos viver com o mundo sem ser do mundo. (O Egoísmo e o Problema da Paz, p. 48)

Ainda que afirmeis que a vida de relação se baseia na fraternidade, no amor, nas idéias religiosas, etc., (…) vereis que ela está baseada nos valores sensoriais, isto é, as relações
mútuas são produto dos valores dos sentidos, valores criados pela mão ou pela mente. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, p. 37-38)

(…) Os valores sensoriais não são valores eternos. As relações baseadas nos valores sensoriais têm produzido, no mundo, guerras, catástrofes e caos. Quer se trate de uma
sociedade da direita, quer da esquerda, ela está, efetivamente, baseada nos valores sensoriais; (…) (Idem, p. 38)

Mas (…) Os valores dos sentidos se tornaram mais importantes do que os valores do real. Afinal, toda a nossa estrutura social, nossa civilização atual, está essencialmente baseada
nos valores sensoriais. Os valores sensoriais não são apenas valores dos sentidos, mas valores do pensamento, porque o pensamento é também produto dos sentidos; (…) (Novo
Acesso à Vida, p. 150)

A paz não é fuga ao mundo, a nossas cotidianas atividades (…) Como entes humanos que vivem neste mundo cheio de confusão, contradição e sofrimento, não devemos perceber
quão profunda é nossa necessidade de paz? (…) É bem de ver que não podemos continuar como estamos, com a nossa atual maneira de pensar e de agir (…) Ou teremos de assistir
a um tremendo desastre, ou os entes humanos terão de despertar para uma diferente maneira de pensar, de viver. (O Descobrimento do Amor, p. 151)
Vós é que tendes de resolver o problema, visto que estamos em presença de uma grande crise, uma crise de desintegração humana, de degradação humana. Por conseguinte, a
responsabilidade é vossa; como pai, como mãe, tendes o dever de vos transformardes. (…) Vemos a calamidade tão próxima e iminente, e (…) nada fazemos para evitá-la; (…) Sois
vós os responsáveis pela aterradora situação a que chegamos, e não quereis olhá-la de frente. (A Arte da Libertação, p. 230)

Ora, bem sabeis o que está acontecendo no mundo (…) Está havendo guerras, motins, desespero, incalculável sofrimento e confusão; uma ininterrupta fragmentação, não só
nacional e religiosa, mas ainda interiormente, em nós mesmos. Se vos observardes, vereis quanto sois contraditórios. Pensais uma coisa, dizeis outra, e fazeis outra. Nacionalmente,
estais divididos: sois hinduístas e muçulmanos, paquistaneses e indianos, alemães, russos, americanos. Conheceis essa divisão (…), com todos os seus conflitos, ambições e
competição. (…) (O Novo Ente Humano, p. 134)

(…) A crise, os desastres que nos ameaçam, não podem ser dissolvidos por outro conjunto de ideologias projetadas de nós mesmos, mas tão somente quando vós (…) perceberdes a
verdade a esse respeito e começardes, assim, a compreender o processo total do vosso pensar e sentir. (…) (O Caminho da Vida, p. 29)

(…) Se fordes capazes de desvencilhar-vos da paixão e da mundanidade, em que se baseia a atual civilização, descobrireis e compreendereis o valor eterno, esse valor que não se
ajusta a molde algum. (…) Infelizmente, desejamos combinar o eterno com toda uma série de valores que acarretam antagonismo, conflito e infelicidade. (…) (O Egoísmo e o
Problema da Paz, p. 115-116)

(…) A crise de que falo não é comparável a esses desastres periódicos. Essa crise não atinge particularmente dado país (…); é, assim, uma crise que atinge o próprio valor, a
própria significação do homem. Não devemos, por essa razão, pensar em reformas de retalhos (…) Para compreendê-la, é necessária uma revolução no pensar e no sentir. (…) (O
Caminho da Vida, p. 5)

(…) A esse estado de conflito e confusão fomos reduzidos pela predominância que temos atribuído aos valores materiais, porquanto estes produzem sempre o embotamento da mente
e do coração. Os valores materiais tornam a nossa existência automática e estéril. (O Caminho da Vida, p. 6)

O mundo está partido em múltiplos fragmentos, cada um deles a contender com os outros; o mundo está dividido pelo antagonismo, pela avidez e pela paixão; fracionado por
ideologias, crenças e temores, e a se guerrearem mutuamente. Nem a religião organizada, nem a atividade política pode trazer paz ao homem. O homem está contra o homem (…) O
mundo exterior é apenas uma expressão de nosso próprio estado interior. (O Egoísmo e o Problema da Paz, p. 165-166)

Se desejais pôr termo ao conflito, à confusão e às tribulações que se vos deparam por toda parte, de onde deveis partir? (…) Se fordes capazes de desvencilhar-vos da paixão e da
mundanidade, em que se baseia a atual civilização, descobrireis e compreendereis o valor eterno (…) que não se ajusta a molde algum. Sereis então, quiçá, capazes de ajudar a
outros a se libertarem da servidão. (O Egoísmo e o Problema da Paz, p. 115)

Ideologias, Partidos, Autoritarismo, Nacionalismo


No momento em que temos conhecimento da confusão, em que percebemos exatamente o que é, procuramos fugir. O sistema, a filosofia, a idéia, se tornam importantes, e não o
homem; e, no interesse da idéia, da ideologia, estamos prontos a sacrificar toda a humanidade. (…) Não se trata de simples interpretação minha; observai e vereis que é exatamente
isso o que está acontecendo. (…) Por conseqüência, como o sistema se tornou importante, o homem - vós e eu - perdeu a sua importância; (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 18)

(…) Nas várias crises anteriores, o que predominou foi sempre a exploração das coisas ou do homem; mas hoje o que predomina é a exploração das idéias, o que é muito
pernicioso, muito mais perigoso, porque a exploração de idéias é devastadora e destrutiva no mais alto grau. (…) o homem já não tem nenhuma significação. Podemos destruir
milhões de homens, desde que com isso se alcance um resultado, e o resultado é justificado pelas idéias. Temos uma magnífica estrutura de idéias para justificar o mal; e isso, sem
dúvida, é uma coisa inaudita. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 88)

As ideologias, por mais engenhosas que possam ser, (…) finalmente produzem ilusões perigosas - sejam as (…) da direita, do centro ou da esquerda, todas elas terminam nas
grandes burocracias que controlam o homem, ou nos campos de concentração, ou no destrutivo moldar do ser humano a dado conceito. Isso é o que sucede em todo o mundo (…)
(La Totalidad de la Vida, p. 192)

Temos sido prisioneiros das ideologias religiosas e dos dogmas - o dogma católico, o hindu, o budista, etc.; e os gurus, com suas modernas alterações das antigas tradições e
ideologias, são também prisioneiros daquelas ideologias. (Idem, p. 192)

Um dos nossos imensos problemas consiste em promover uma revolução fundamental na ordem atual. Ante a desproporcional e injusta distribuição de recursos, a estrutura
econômica de ricos e pobres, o conflito entre os que têm e os que não têm, etc., procuramos resolver os problemas econômico e social com um esquema, com uma idéia, com um
padrão. Temos o padrão, o sistema da esquerda ou da direita, sendo esses sistemas baseados, invariavelmente, numa idéia. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 117-118)

(…) Isto é, a esquerda se aplica à solução do problema com um sistema novo, que está em conflito com o da direita; e, enquanto estamos em conflito por causa de idéias, nas quais
todos os sistemas se baseiam, é bem evidente que não é possível solução alguma. Por outras palavras, temos o problema da fome, do desemprego, das guerras, e nos chegamos a
eles trazendo na mente certo sistema para resolver cada um deles. Pode algum sistema, seja da esquerda, seja da direita, resolver um problema? (…) (Idem, p. 118)

Tanto os que estão ligados à esquerda como os que estão ligados à direita, acham que possuem os sistema perfeito, definitivo, absoluto, e, assim, um e outro se aplicam ao problema
da fome, do desemprego e das guerras com uma idéia, com um preconceito. O resultado é que os sistemas, as idéias, as crenças, ficam em conflito entre si e os problemas
continuam. Se vós e eu desejamos realmente aplicar-nos à solução de um problema, devemos, por certo, examinar o problema diretamente, sem o preconceito ou a cortina de um
sistema; (…) (Idem, p. 118)

Ora, os sistemas se tornam mais importantes do que alimentar o povo, quando se interpõem entre o problema e vós. (…) Por que se tornaram importantes esses sistemas da
esquerda ou da direita? (…) Eles se tornaram importantes porque pensamos que resolverão o problema (…) pela compulsão externa por parte dos que detêm o poder (…)
Atribuímos importância aos sistemas, porque acreditamos que, pela compulsão (…) podemos acabar com a fome. Evidentemente, isso é verdade até certo ponto. Mas não é todo o
problema (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 34)

Assim, que é que está contido no problema? Afinal, a propriedade, por si só, tem muito pouca importância. Mas, psicologicamente, assume significado extraordinário, pois confere
posição, prestígio, nome, título. Assim sendo, visto que nos dá poder, autoridade, a ela nos apegamos; e sobre ela levantamos um sistema que destrói a equitativa distribuição das
coisas ao homem. (Da Insatisfação à Felicidade, p. 36)

Enquanto vós e eu, ou qualquer grupo de pessoas, nos servirmos do alimento, do vestuário e da moradia como meios de exploração, de poder, continuará a existir o problema da
fome. Um sistema não constitui solução para o problema, porque um sistema está nas mãos de uns poucos; por essa razão o sistema adquire importância. Não significa isso que não
deva haver sistema algum para regular o homem e a sua avidez; (…) (Idem, p. 36)

Pois bem, é a ação produzida por uma idéia? Tendes primeiro uma idéia e depois agis? Ou primeiro vem a ação e, depois, porque a ação gera conflito, construís uma idéia em
torno dela? (…) Se a idéia vem em primeiro lugar, a ação se ajusta a uma idéia, e, por conseguinte, já não é ação, porém imitação (…) A ação, portanto, é serva da idéia, e a
simples elaboração de idéias é evidentemente prejudicial à ação. (…) (Novo Acesso à Vida, p. 98)

Tudo isso poderá parecer um tanto abstrato, acadêmico, professoral, mas não é tal. (…) Um homem amadurecido não toma partido, procura resolver diretamente os problemas do
sofrimento humano, da fome, da guerra, etc. Só tomamos partido quando somos moldados pelo intelecto, cuja função é fabricar idéias. É, pois, de grande importância descobrirmos
por nós mesmos, e não de acordo com o que diz Marx, os Shastras, o Bhagavad-Gita (…) (Idem, p. 99)

Ora, podem as idéias produzir ação, ou as idéias só têm o efeito de moldar o pensamento e, por conseguinte, limitar a ação? Quando a ação é ditada por uma idéia, nunca pode
libertar o homem.
(…) O investigar da ideação, da formação das idéias, sejam as dos socialistas, dos capitalistas, dos comunistas, sejam as das várias religiões, é da mais alta importância (…) (Novo
Acesso à Vida, p. 99)

(…) Dessa maneira, a reação da memória, que é o processo do pensamento, cria uma idéia; por conseguinte, a idéia é sempre condicionada (…) Isto é, a idéia é resultado do
processo do pensamento, o processo do pensamento é reação da memória, e a memória é sempre condicionada. A memória está sempre no passado (…) (Idem, p. 101)

(…) Certamente, é isso que está acontecendo no mundo, hoje em dia. O homem não tem importância alguma; os sistema, as idéias se tornaram importantes. O homem já não tem
nenhuma significação. Podemos destruir milhões de homens, desde que com isso se alcance um resultado, e o resultado é justificado pelas idéias. (Da Insatisfação à Felicidade, p.
88)

(…) O homem perdeu toda a importância; os sistemas, as idéias tornaram-se importantes. O homem já não tem nenhuma significação. Podem-se destruir milhões de homens, desde
que se produza certo resultado, e esse resultado se justifica por meio de idéias. Temos uma soberba estrutura de idéias para justificar o mal, e isso, sem dúvida alguma, é de fato
inédito.(…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., p. 142)

Que está acontecendo, no mundo (…)? Há muitos líderes políticos, e cada um deles deseja reformar o mundo de determinada maneira, empurrá-lo para a esquerda ou para a
direita, ou manter neutralidade. (…) E há também os “gurus econômicos”, aqueles que oferecem uma Utopia terrena, no futuro, se cada um trabalhar com afinco para o partido e
sujeitar-se à autoridade do Livro. (…) (Visão da Realidade, p. 12)

(…) Os numerosos e antagônicos partidos políticos de direita ou de esquerda, não parecem ter encontrado a solução correta para as nossas dissenções nacionais e internacionais, e
vemos também, socialmente, processar-se uma destruição completa dos valores morais. Tudo em torno de nós parece desintegrar-se; os valores morais e éticos tornaram-se simples
questão de tradição. (…) (A Arte da Libertação, p. 59)

A maioria de nós, reconhecendo essa confusão, essa incerteza, deseja fazer alguma coisa (…) Mas se um homem está confuso, como pode agir? Tudo o que ele faça, qualquer que
seja o seu método de ação, há de ser confuso, e essa ação criará, naturalmente, infalivelmente, maior confusão. (…) Qual o seu primeiro dever: agir, ou dissipar a confusão dentro
de si e, portanto, fora de si? (…) (Idem, p. 59-60)

(…) Assim como a sociedade comunista é uma reação ao Estado capitalista, ao qual está sempre oposta, assim também o esforço da mente para aperfeiçoar-se é uma reação ao seu
próprio condicionamento; e a reação nunca é perfeita, sendo, como é, apenas prolongamento do conhecido. (Percepção Criadora, p. 57)

(…) Conhecemos os caminhos do poder: domínio, disciplina, compulsão. Pelo poder político esperamos realizar alterações fundamentais; mas essa força só pode produzir mais
escuridão, e desintegração, e males, e fortalecer mais ainda o “eu”. Conhecemos bem as várias formas de aquisição, tanto individuais como coletivas; mas nunca experimentamos
os caminhos do amor, e nem sequer sabemos o que ele significa. (…) (Claridade na Ação, p. 140)

Ora, que é governo? Afinal, um governo é, um governo representa o que nós somos. E que somos nós? Somos uma massa de reações condicionadas, violência, avidez,
aquisicionismo, inveja, volúpia de poder, etc. Naturalmente, o governo é o que nós somos. Isto é, a violência sob diferentes formas; (…)

Pode a realidade coexistir com a violência, que é o que chamamos governo? Pode um homem que busca ou que experimenta a realidade, ter qualquer coisa em comum com os
governos soberanos, com o nacionalismo, com uma ideologia, com a política de partidos, com um sistema de poder? (Da Insatisfação à Felicidade, p. 137)

O homem pacífico pensa que, aderindo a um governo, estará habilitado a prestar algum serviço útil. Que acontece quando ingressa no governo? A estrutura é tão poderosa que o
absorve, e ele muito pouco pode fazer (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 137)

Quando uma pessoa ingressa num partido, ou se candidata a uma eleição para o parlamento, (…) tem de aceitar o programa do partido. Por conseguinte, deixa de pensar. E como
pode um homem que se entregou (…) a um partido, a um governo, (…) achar a realidade? (Idem, p. 13)

(…) Um partido político se forma baseado numa idéia, num sistema; outro partido se forma em oposição ao primeiro ou em moldes totalmente diferentes (…) sempre baseado numa
idéia, num sistema, numa filosofia, num “interesse adquirido” (…) (O Problema da Revolução Total, p. 70-71)

Os partidos, portanto, não se interessam pelos indivíduos; interessa-lhes um sistema que trará benefícios ao povo, um sistema baseado numa idéia, numa filosofia - sendo isso,
essencialmente, uma reação condicionada. Vós sois comunistas e eu sou socialista ou capitalista; (…) Assim sendo, (…) já pensamos sobre tudo o que faremos, de acordo com
certos sistemas. (…) (Idem, p. 71)

Por conseguinte, nenhum de nós está interessado no povo (…) Estamos interessados em sistemas e em como pô-los em prática, porquanto (…) oferecem os meios, pessoais ou
utópicos. (…) (Idem, p. 71)

Enquanto tivermos sistemas, não estamos interessados no povo. (…) Se realmente sentísseis interesse pelo povo - i.e., vós e eu e o homem pobre - não teríeis sistemas, mas todos vós
estaríeis fazendo, executando, pensando o que é bom para o todo (…) (Idem, p. 71)

(…) Cada partido, cada sistema, da esquerda ou da direita, oferece uma solução em conflito com as outras, e vós e eu nos achamos igualmente no meio da luta, politicamente,
economicamente e socialmente. (…) (A Arte da Libertação, p. 12)

Todos os intelectuais que se têm ocupado com esses problemas e tentado mostrar-nos o caminho têm falhado. É esta a calamidade da moderna civilização (…) Os intelectuais
falharam, suas fórmulas são impraticáveis (…) (Idem, pág. 12)

Os sistemas, tanto filosóficos como econômicos, vão sendo concebidos a granel, pelos especialistas, e esses vários sistemas competem uns com os outros pela supremacia. Afinal, os
técnicos e os especialistas só nos podem oferecer as próprias opiniões; não podem oferecer a verdadeira solução, porquanto esta se acha inteiramente fora dos limites de todos os
sistemas. (…) (O Caminho da Vida, pág. 18)

(…) Ninguém deseja essa revolução total, e é dela que estou falando: da revolução total, que não é reação. O comunismo é simples reação ao capitalismo; por conseguinte, não é
verdadeiramente uma revolução. Enquanto houver nacionalismo, (…) distinções de classes, (…) patriotismo, identificação (…) com determinado grupo ou seita política, econômica
ou religiosa, não pode deixar de haver guerra. Precisamos extirpar todo esse pensar condicionado. (O Homem e sem Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 144)

(…) Nunca uma revolução baseada em algum sistema deu a liberdade ao homem: nem a Revolução Comunista, nem a Revolução Francesa, nem nenhuma outra (…) Senhor, para
encontrar a Realidade, Deus, a mente tem de ser livre, e não pode estar ancorada num sistema. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 19)

Vemos (…) Uma sociedade da extrema esquerda espera criar a ordem por meio de uma ditadura, da tirania e de um partido político; mas tal sociedade não pode criar ordem, nem
econômica nem social, (…) porque a ordem exige a liberdade do homem em seu próprio interior. (O Descobrimento do Amor, pág. 121)

A ordem só pode nascer do percebimento da desordem (…) O que podeis fazer é tornar-vos cônscios da desordem existente tanto no exterior como no interior. Uma mente
desordenada não pode criar nenhuma ordem (…) Poderá unicamente (…) criar um padrão a que chama “ordem” e, depois, tratar de ajustar-se a esse padrão. (…) (Idem, pág. 121)

Deveis ter uma mente virtuosa; mas a mente que trata de ajustar-se aos padrões sociais e religiosos de determinada sociedade, quer comunista, quer capitalista, não é virtuosa. (…)
(A Mente sem Medo, 1ª ed., pág. 106)

(…) A crise, os desastres que nos ameaçam, não podem ser dissolvidos por outro conjunto de ideologias projetadas de nós mesmos, mas, tão somente, quando vós, como indivíduo,
perceberdes a verdade a esse respeito e começardes, assim, a compreender o processo total de vosso pensar e sentir. (…) (O Caminho da Vida, pág. 29)

A atual desordem e miséria social há de chegar a seu desfecho. Mas vós e eu devemos enxergar a verdade que está na vida de relação, dando início (…) a uma nova forma de ação
não baseada na necessidade e na satisfação mútuas. (O Caminho da Vida, pág. 36)

(…) O nacionalista é uma maldição, porquanto, em virtude do seu espírito nacionalista, patriótico, está levantando uma muralha de isolamento. Tão identificado está com sua
nação, que ergue uma muralha contra outra nação. E que acontece (…) quando levantamos uma muralha contra alguma coisa? Essa coisa fica constantemente a chocar-se contra a
muralha. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 146)

(…) No mundo inteiro as idéias estão separando os indivíduos, criando inimizades entre os homens. As idéias a que rendemos culto são a própria negação do amor; (…) não podem
operar uma transformação radical. Para realizar-se essa revolução fundamental, precisais começar compreendendo a vós mesmo; só então sereis capaz de criar a unidade, e não
por meio de idéias. (Nosso Único Problema, pág. 14)

Para se compreender a natureza da sociedade que se desintegra, não carece indagar se vós e eu - o indivíduo - podemos ser criadores? Vemos que, quando há imitação, tem de
haver desintegração; quando há autoridade, tem de haver cópia. E uma vez que toda a nossa estrutura mental, (…) psicológica, está baseada na autoridade, urge libertarmo-nos da
autoridade, para sermos criadores. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 32)

(…) Já não notastes que, em momentos de criação, naqueles momentos de vital interesse, que nos proporcionam certa felicidade, não há tendência alguma para a repetição (…) a
cópia? Tais momentos são sempre novos, cheios de vida, criadores, felizes. Assim, uma das causas fundamentais da desintegração social é o copiar, vale dizer, o culto da
autoridade. (Idem, pág. 32)

Pergunta: Que virá, quando desaparecer o nacionalismo?

Krishnamurti: A inteligência, sem dúvida. Toda substituição representa um ato destituído de inteligência. (…) (A Primeira e Última Liberdade, pág. 145)

Como abolir o nacionalismo? Isso só acontecerá depois de compreendermos todas as suas conseqüências (…) Exteriormente, ele é fator de discórdias, classificações, guerras e
destruição (…) Interiormente, psicologicamente, essa identificação com uma coisa maior, com a nação, com uma idéia, constitui, sem dúvida, uma forma de auto-expansão. Quando
compreendermos o nacionalismo, seu processo total, ele se extinguirá por si. (…) (Idem, pág. 145)

Pergunta: Não pensa o senhor que existem nações amantes da paz e nações agressivas?

Krishnamurti: Não. A própria existência da nação é geradora de desunião, exclusivismo, constituindo, portanto, causa de contendas e de guerras. Não existe nação amante da paz:
todas são agressivas, dominadoras, tirânicas. Enquanto permanecer como unidade separada, (…) vangloriando-se de sua segregação, do patriotismo e da raça, gerará extrema
miséria para si e para as outras. Não podeis ter paz e ser ao mesmo tempo exclusivistas. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 107)

(…) Não podeis ter fronteiras econômicas e sociais, nacionais e raciais, sem dar origem à inimizade e ao ciúme, ao temor e à suspeita. Não podeis viver na abastança, enquanto os
outros estão famintos, sem que isso provoque violência. (…) A benevolência e a fraternidade não se conseguem mediante nacionalidades e fronteiras separatistas e exclusivistas:
estas devem ser postas à margem (…) (Idem, pág. 107-108)

(…) Por que concedemos importância tão extraordinária ao nacionalismo - que em essência é um sentimento tribal? (…) É porque, no aderirmos à tribo, ao grupo, há certa
segurança, integridade, plenitude? Se é assim, então a outra tribo também sente o mesmo; em conseqüência, há divisão, conflito, guerra (…) (La Llama de la Atención, pág. 104)

Compreendendo-se o que está implicado no nacionalismo, surge na mente consciente a ordem e a clareza, e nessa limpidez se manifestam as reações ocultas e acumuladas. Com o
estudo perseverante e inteligente dessas manifestações, toda a consciência se liberta da enfermidade do nacionalismo. Então (…) o que advém é uma consciência de unidade isenta
de nacionalismo, uma libertação dos títulos e nomes, dos preconceitos raciais e de classe. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 56)

(…) Assim, o problema individual é o problema mundial (…) E o problema mundial só poderá ter fim quando o indivíduo compreender a si mesmo, as atividades de sua mente, as
operações de sua consciência. Haverá então a possibilidade de se criar um mundo diferente (…) sem nacionalidades, sem fronteiras de crença, sem dogmas políticos ou religiosos.
(Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 6)

Está-se morrendo de fome na Ásia; lá, há miséria, pobreza, doenças, coisas terríveis que desconheceis (…) A ciência tem a possibilidade de fornecer alimentos, roupas e teto a todo
o mundo; mas, por que não se está fazendo isso? (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 100)

É porque somos nacionalistas. A glória da França, o estilo de vida dos americanos, o nacionalismo indiano, o nacionalismo africano, o imperialismo dos comunistas, bem como o
dos capitalistas - todas essas coisas estão dividindo os homens economicamente. (Idem, pág. 100)

Comunalismo, Massificação Social, Ação Passiva, Fim


Tantas coisas estão envolvidas na ambição! (…) A estrutura psicológica da sociedade exige que sejais competidor, ambicioso, ávido, sequioso de poder, etc. Se percebeis a
falsidade de tudo isso, não deveis rejeitar (…) a estrutura psicológica da sociedade? É a estrutura psicológica da sociedade que nos faz ajustar-nos, que nos torna embotados, (…)
estúpidos; por conseguinte, uma mente religiosa precisa estar livre da estrutura psicológica da sociedade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 198)

(…) A estrutura social, exterior, é resultado da estrutura psicológica, interior, das relações humanas, pois o indivíduo é resultado da experiência, dos conhecimentos e da conduta
do homem, englobadamente. Cada um de nós é o depósito de todo o passado. O indivíduo é o ente humano que representa toda a humanidade. Toda a história humana está escrita
em nós. (Liberte-se do Passado, pág. 12)

Qual a relação do indivíduo com a sociedade? Obviamente, a sociedade existe para o indivíduo, e não o inverso disso. A sociedade existe para que o homem possa frutificar, existe
para dar liberdade ao indivíduo e oferecer-lhe assim a oportunidade de despertar a mais alta inteligência. Essa inteligência não é mero cultivo de uma técnica ou ciência; ela
consiste no contato com aquela realidade criadora que não provém da mente superficial. (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 48)

A vontade coletiva e a sua ação, que é a sociedade, não oferece liberdade ao indivíduo; pois a sociedade, não sendo orgânica, é estática. A sociedade é formada, organizada, para a
conveniência do homem; não tem um mecanismo independente próprio. Certos homens podem apoderar-se da sociedade, guiá-la, moldá-la, tiranizá-la, conforme os seus estados
psicológicos; mas a sociedade não é o senhor do homem.

Pode influir sobre ele, mas o homem a quebra sempre. Há conflito entre o homem e a sociedade, porque o homem se acha em conflito dentro de si mesmo; e o conflito é entre o
estático e o vivo. A sociedade é a expressão exterior do homem. O conflito entre o homem e a sociedade é o conflito existente nele próprio. Esse conflito interior e exterior existirá
sempre, enquanto não for despertada a mais alta inteligência. (Idem, pág. 48)

Somos entidades sociais, bem como indivíduos; somos cidadãos e ao mesmo tempo homens, separados, interessados em vir a ser, sofrendo e gozando. Se queremos paz, temos de
compreender a correta relação entre o homem e o cidadão. O Estado, naturalmente, prefere sejamos só cidadãos. Ser um bom cidadão é funcionar eficientemente no padrão de
dada sociedade. Eficiência e ajustamento são exigidos do cidadão, para torná-lo rijo e cruel. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 48-49)

O homem inteligente criará uma sociedade boa; mas um bom cidadão não fará nascer uma sociedade em que o homem possa ser da mais alta inteligência. O conflito entre o
cidadão e o homem é inevitável, quando o cidadão predomina; e qualquer sociedade que deliberadamente despreze o homem, está condenada. Só haverá a reconciliação do homem
e do cidadão quando o processo psicológico do homem for compreendido. Ao Estado, à sociedade presente, não interessa o homem interior, apenas o homem exterior, o cidadão. O
Estado poderá negar o homem interior, mas este sempre suplantará o exterior. (…) (Comentários sobre o Viver, pág. 49)

O indivíduo é essencialmente coletivo, e a sociedade foi criada pelo indivíduo. O indivíduo e a sociedade estão interrelacionados. (…) O indivíduo ergue a estrutura social, e a
sociedade, ou ambiente, molda o indivíduo. Embora o ambiente condicione o indivíduo, este sempre pode libertar-se, romper as cadeias que o prendem a seu fundo. O indivíduo é o
criador do próprio ambiente de que se tornou escravo; mas ele tem também o poder de libertar-se e criar um ambiente que não lhe embote a mente, o espírito. (…) (Reflexões sobre
a Vida, pág. 94)

Se o indivíduo não compreende a sua relação com pessoas, com a propriedade e com as idéias ou crenças, a mera imposição de um padrão, coletivo ou de outra ordem, é
contraproducente. Para se tornar efetiva a imposição de um novo padrão, requer-se a chamada ação das massas. Mas o novo padrão é invenção de uns poucos indivíduos, sendo a
“massa” hipnotizada pelos mais novos chavões, pelas promessas de uma nova Utopia. A “massa” é a mesma de antes, só que agora tem novos dirigentes, novas frases, novos
sacerdotes, novas doutrinas. (…) Os muitos são impelidos à ação, à guerra, etc., pelos poucos. (…) Os padrões condicionam sempre (…) (Idem, pág. 94-95)

(…) Em virtude da vossa confusão, criais o guia ou chefe, a religião organizada, os cultos separados, que estão gerando tanta luta no mundo de hoje. Na Índia, isso está assumindo
a feição de conflitos comunais entre muçulmanos e hinduístas - na Europa, são os comunistas contra os direitistas, e assim por toda parte. Se examinardes com muito cuidado, se
analisardes, vereis que tudo isso está baseado na autoridade (…); e a autoridade é criada por vós e por mim, porque estamos confusos. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 89)

Que estamos, pois, tentando fazer? (…) E que é civilização? Ela, por certo, é produto da ação da vontade coletiva. (…) A civilização nasce da ação da vontade coletiva, e essa
civilização ou se ergue e transcende a mundanidade, para descobrir a verdade final, ou declina e soçobra. Só ocorrerá uma revolução fundamental quando houver radical
transformação na ação da vontade coletiva; mas a ação da vontade coletiva não pode transformar-se, se a vontade individual não sofrer, ela própria, uma transformação. (Visão da
Realidade, pág. 21)

Que é civilização, (…) cultura, tal como conhecemos atualmente? É resultado da ação coletiva, não? A cultura que conhecemos é a expressão de muitos desejos unificados pela
religião, por um código moral tradicional, por sanções de toda ordem. (Visão da Realidade, pág. 145-146)

Ora, dentro dessa sociedade aquisitiva, que é resultado da vontade coletiva, podem operar-se muitas reformas (…), mas tudo isso ocorre sempre dentro do padrão (…) (Idem, pág.
146)

Tudo isso suscita uma questão imensa. (…) Toda civilização hinduísta, cristã ou comunista, é evidentemente resultado da vontade coletiva, e a mente toda absorvida no coletivo,
não pode descobrir o que é a verdade.

Para ser individual, a mente precisa compreender o coletivo, e ficar livre dele, porque só então será ela capaz de descobrir a realidade suprema. Isso implica (…) uma revolução
total, porque o coletivo é tradição, crença, conhecimento, experiência e autoridade do Livro. (Visão da Realidade, pág. 32-33)

Afinal, o comunalismo é mera ratificação do nacionalismo. O pertencer a um país, uma raça ou grupo de indivíduos, ou a uma ideologia, cria uma tendência cada vez maior para
separar os indivíduos, para gerar antagonismo e ódio entre os homens. Nessas condições, o que cada um de nós pode fazer é abandonar o comunalismo: podemos deixar de ser
brâmanes, (…) de pertencer a qualquer casta ou a qualquer nação. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 6)

Assim sendo, parece-me que, para pôr fim ao conflito comunal, precisamos começar por nós mesmos, sem esperar pela ação de outra pessoa, da legislação ou do governo. Porque,
afinal, nem a compulsão nem a legislação resolvem o problema. O espírito de comunalismo, de separatismo, de pertencer a determinada classe ou ideologia, a uma religião, acaba
criando conflito e antagonismo entre os seres humanos. (…) (Idem pág. 7)

A benevolência não se instaura pela compulsão e, por certo, o recurso à compulsão não constitui solução alguma. Nessas condições, a solução consiste em que cada um, (…) cada
indivíduo, (…) vós e eu, nos desvencilhemos do espírito comunal, do nacionalismo. (…) (Idem, pág. 7)

Pergunta: Como é possível ação coletiva, quando existem tantos interesses divergentes?

Krishnamurti: Que entendemos por ação coletiva? Todos nós trabalhando juntos: criando, construindo uma ponte, pintando, escrevendo (…), ou arando juntos o campo? A ação
coletiva, por certo, só é possível quando há pensamento coletivo. O que entendemos, pois, não é “ação coletiva”, mas “pensamento coletivo”, o qual produzirá naturalmente uma
ação harmônica de todos nós. (Poder e Realização, pág. 88)

Pois bem, o pensamento coletivo é possível? É isso o que todos nós desejamos. Todos os governos, todas as religiões e filosofias organizadas, todas as crenças requerem
pensamento coletivo. Temos de ser todos cristãos ou comunistas ou hinduístas; e então o mundo será perfeito. (Idem, pág. 89)

Mas é possível o pensamento coletivo? Sei que o tornaram possível, atualmente, por meio da educação, da ordem social, da compulsão econômica, de várias formas de disciplina,
do nacionalismo, etc; tornou-se possível o pensamento coletivo, fazendo que todos sejamos ingleses, ou alemães, ou russos. (…) (Poder e Realização, pág. 89)

Desse modo, somos mantidos coesos, dentro do molde de uma ideologia. E quanto mais sólido e mais firme se torna o molde, tanto mais nos sentimos felizes, aliviados, porque
ficamos livres de responsabilidade. Assim, todo governo, toda sociedade quer fazer que todos pensemos de igual maneira. E, também, desejamos pensar de igual maneira, porque
nos sentimos mais seguros (…) Sempre temos medo (…) do que digam de nós, pois todos desejamos ser pessoas respeitáveis. (Poder e Realização, pág. 89)

E, desse modo, tornou-se possível o pensamento coletivo. E, por esse motivo, quando surge uma crise, todos nos unimos, como acontece em caso de guerra ou quando nos vemos
ameaçados religiosamente, politicamente (…) (Idem, pág. 89-90)

Ora, tal condicionamento do indivíduo é criador? Embora nos submetamos a esse condicionamento, nunca somos felizes interiormente; há sempre uma resistência. Porque, nessa
submissão ao coletivo, não há liberdade; a liberdade individual se torna então meramente verbal. E o indivíduo, vendo-se aprisionado pelas convenções e pela tradição, está
sempre procurando expressar-se e preencher-se por meio da ambição. Trata então a sociedade de refreá-lo, do que resulta conflito entre o indivíduo e a sociedade, uma guerra
perene. (Idem, pág. 90)

A maioria de nós está realmente ciente de tudo isso. Mas, interiormente, não mudamos em nada; continuamos a ser o que há séculos somos: medrosos, ansiosos, “culpados”, a
buscar o poder (…) satisfação sexual. Estamos perpetuando nossas tendências animais (…) dentro da estrutura psicológica da sociedade. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª
ed., pág. 20)

A questão é como quebrar de todo essa estrutura, como destruí-la completamente e ficar fora dela, sem se tornar insano e sem virar monge, freira ou eremita. Essa estrutura só
pode ser quebrada imediatamente (…) Ou o fazeis imediatamente, ou nunca. (…) (Idem, pág. 20)

Senhor, esse problema não existe só na Índia (…) Pois bem, um dos fatores de desintegração nasce quando as pessoas se dividem em grupos comunais, lingüísticos ou seccionais.
Parecem pensar (…); mas o nacionalismo (…) é uma exclusão, é ainda separatismo, e onde há separatismo há desintegração. (…) (Que Estamos Buscando, pág. 244)

(…) Como pode haver unidade onde há exclusão? A unidade implica que não deve haver separação de hinduísta e muçulmano. A unidade é destruída quando se torna exclusiva,
quando limitada a determinado grupo. (…) (Idem, pág. 244)

Ora, a idéia de um movimento em massa torna-se simplesmente um estribilho, se vós, como indivíduos, que sois parte da massa, não compreenderdes a vossa verdadeira função. A
verdadeira ação coletiva só pode existir quando vós, como indivíduos, que sois também a massa, estiverdes despertos e tomardes a plena responsabilidade da vossa ação, sem
compulsão. (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 66)

Só pode haver mudança fundamental e perdurável no mundo, só pode haver amor e inteligente preenchimento, quando despertardes e começardes a vos libertar da rede de ilusões
(…) que haveis criado em vosso redor, por causa do medo. Quando a mente se liberta desses obstáculos, quando ocorre essa mudança voluntária, interna e profunda, somente então
é que pode haver ação coletiva verdadeira, perdurável, na qual não haverá compulsão. (…) (Idem, pág. 67)

O homem que deseja realmente descobrir se há, ou não, um estado além da estrutura do tempo, deverá estar livre da civilização (…) da “vontade coletiva”; deverá estar só (…)
para não ficar dominado pela vontade de muitos ou pela vontade de um só e, por conseguinte, ser capaz de descobrir por si mesmo o que é verdadeiro. (A Cultura e o Problema
Humano, pág. 45)
Não dependais de ninguém. (…) O importante é descobrirdes por vós mesmos. Podeis ver que tudo ao redor de vós está a decompor-se, a ser destruído. Esta chamada civilização
não está sendo mantida coesa pela vontade coletiva; está a desintegrar-se. A vida vos está desafiando a cada momento e, se apenas “respondeis” (…) segundo vossa rotina
habitual, vossa resposta não tem então validade alguma. Só podeis descobrir se há, ou não, um estado atemporal (…), quando dizeis: “Não vou aceitar nada; vou investigar,
explorar”, o que significa que não tendes medo de estar só. (Idem, pág. 45)

Trata-se, pois, fundamentalmente, de um problema psicológico, e não econômico; é um problema da psique individual e, por conseguinte, é necessário compreendermos o processo
da individualidade, do “vós”. O “vós” que mora na América é diferente do “eu” que vive na Índia ou na Europa? (…) Ora, quando o “eu” busca segurança numa crença, essa
mesma crença fortifica o “eu”. Eu sou hindu, sou socialista, pertenço a determinada seita. O problema econômico nunca poderá ser resolvido enquanto nos separamos em
nacionalidades, em grupos religiosos, ou enquanto pertencermos a determinadas ideologias. (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 13)

(…) Queremos estar externamente em segurança, e por isso nos empenhamos pela segurança interior; mas, enquanto estivermos à procura de segurança interior, por meio de
crenças, de apegos, de ideologias, é bem de ver que criaremos ilhas de isolamento, separando-nos em grupos nacionais, ideológicos e religiosos, e vivendo, assim, em guerra uns
contra os outros. (Idem, pág. 14)

(…) Devemos ser capazes de discernir compreensivamente, em nós mesmos, a influência que a massa exerce por meio das tradições, dos preconceitos de raça, dos ideais e das
crenças (…) Enquanto essas coisas nos dominarem, seremos individualmente incapazes de ação clara, direta, simples e compreensiva. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág.
10-11)

Desembaraçai-vos primeiro a vós mesmos da psicologia da massa, da irreflexão coletiva. (…) A irreflexão e a estultície da massa existem em nós. Nós somos a massa, conscientes
de algumas das suas estultícies e crueldades, porém, na maior parte, inconscientes dos seus preconceitos, falsos valores e ideais que nos vencem. Antes de poderdes desenredar a
outrem, tendes de vos libertar vós mesmos do grande poder dessas carências e temores (…) Ao começardes a perceber os falsos valores que vos prendem e a discernir o seu
significado, sabereis que formidável mudança tem lugar em vós. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, pág. 81)

A divisão criada pelas nacionalidades, pelos políticos, pelas organizações religiosas, pela revolução tecnológica, pelo conhecimento técnico, tudo isso nos levou a aceitar o que é, a
aceitar uma sociedade essencialmente baseada na violência, a ajustar-nos psicologicamente à estrutura dessa sociedade. E isso, é bem de ver, não constitui uma revolução
fundamental, uma mutação na psique. (A Essência da Maturidade, pág. 179)

A sociedade é vós, e vós sois a sociedade. A estrutura psicológica da sociedade foi criada por cada ente humano, e nessa estrutura psicológica cada ente humano se vê aprisionado.
E, enquanto o ente humano não quebrar, dentro de si mesmo, completa e totalmente, essa estrutura psicológica, não será capaz de viver pacificamente, com intensa percepção da
realidade. Interessa-nos, pois, promover essa mutação em nós mesmos, (…) porquanto necessitamos de paz. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 22-23)

Enquanto pertencermos à cultura coletiva, à civilização coletiva, não poderá haver criação. (…) O homem que percebe o inteiro significado do coletivo e dele se liberta (…), tal
homem é um indivíduo criador e sua ação produz novas culturas. (Visão da Realidade, pág. 146-147)

Afastamento da Sociedade; Recolhimento, Inação-Ação


A vida é complexa e dolorosa, uma série de conflitos internos e externos. Requer-se percepção das atitudes mentais e emocionais que são a causa das perturbações externas e
físicas. Para compreendê-las, necessitais de tempo para reflexão tranqüila. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 128)

Para que estejais cônscios de vossos estados psicológicos, necessitais de períodos de tranqüila solidão, de retraimento do tumulto e da pressa do viver cotidiano e suas rotinas. É
essa tranqüilidade ativa essencial não somente para o bem-estar da mente-coração, senão também para o descobrimento do Real. (…) (Idem, pág. 128)

Infelizmente, a maioria de nós concede pouco tempo para o recolhimento sério e tranqüilo. Deixamo-nos automatizar; acostumamo-nos às rotinas, renunciando ao pensar;
aceitamos a autoridade (…); tornamo-nos simples dentes da gigantesca máquina da atual civilização. Perdemos a capacidade criadora. Perdemos a alegria interior. (…) O cultivo
do exterior não produz o bem-estar interior; só pela autovigilância, e pelo autoconhecimento constantes poderá haver tranqüilidade interior. Sem o Real, a existência é conflito e
sofrimento. (Idem, pág. 128-129)

(…) A sociedade, a tradição, os valores estabelecidos, tudo nos obriga a ajustar-nos e a copiar. Para podermos funcionar na sociedade, é claro que temos de aceitar o padrão da
sociedade, ajustar-nos aos seus valores. Mas o homem verdadeiramente religioso é livre da sociedade, sendo a sociedade os valores criados pela avidez, a inveja, a ambição, o
desejo de sucesso, o medo. (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 31)

Se agirdes como reformador, estareis remendando a sociedade, sempre em degenerescência, e, portanto, sustentando um sistema que sempre produziu guerras, divisões, separações.
(…) Tendes de estar “de fora” de todas as comunidades, (…) religiões e da moralidade social, senão vos vereis aprisionado no mesmo padrão velho, um pouco modificado, talvez.
(A Outra Margem do Caminho, pág. 112)

Mas só podereis “estar de fora” ao deixardes de ser invejoso e violento, (…) de adorar o sucesso ou o poder que ele confere. Só podereis “estar de fora”, psicologicamente, quando
vos compreenderdes como parte do ambiente, (…) da estrutura social que vós mesmos construístes (…) (Idem, pág. 112-113)

(…) Estou fora da sociedade e, por conseqüência, apto a ajudar a sociedade. Devemos desembaraçar-nos, libertar-nos da sociedade, a fim de que surja um novo grupo humano e,
por conseguinte, possa ser formada uma nova estrutura social. Não se pode reformar a velha sociedade; isso é retrocesso. (O Descobrimento do Amor, pág. 101)

A sociedade deseja sejais respeitável, submisso a ela, e não transbordante de pujança criadora, revolucionário no verdadeiro sentido da palavra. A verdadeira revolução não é a
(…) comunista ou qualquer outra (…) estúpida (…); é a revolução do pensamento, que só pode vir quando vos emancipardes completamente da sociedade. (Visão da Realidade,
pág. 224)

Nessa liberdade a vossa mente já não está a submeter-se, ajustar-se, defender-se, refrear-se, e, por conseguinte, é verdadeiramente religiosa; e o homem (…) o único
revolucionário. (Idem, pág. 224)

Por conseguinte, é de real importância, se desejamos operar uma transformação fundamental, estarmos totalmente livres da sociedade. E esta é que é a verdadeira revolução: a
revolução que vem quando começamos a compreender o padrão da sociedade de que fazemos parte. (…) A composição da sociedade é um misto de avidez, inveja, ambição, (…)
crenças condicionadas, baseadas no medo (…) (Verdade Libertadora, pág. 33-34)

Portanto, só o homem que se retira da sociedade, que se liberta da compulsão de seus semelhantes e da tradição, (…) inveja e ambição interiores - só esse homem é
verdadeiramente revolucionário (…) religioso, e só ele descobrirá se existe uma realidade além das projeções de nossa pequenina, insignificante mente. (Idem, pág. 34)

Sendo, pois, resultado do tempo, a mente só pode pensar em termos de expansão, realização; e pode a mente libertar-se do mais? Isso, com efeito, significa dissociar-se
completamente da sociedade. (…) Nossa ânsia de aquisição não se restringe às coisas materiais, mas se estende também aos domínios da chamada espiritualidade, onde desejamos
possuir mais virtude, estar mais próximo do mestre, do guru. Toda a estrutura, pois, do nosso pensar se baseia no mais; (…) e só o indivíduo que se dissociou de todo da sociedade,
pode influir na sociedade. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 54-55)

Só a mente que investiga a fundo a questão do autoconhecimento, afastando de si toda autoridade, todas as igrejas, todos os salvadores, todos os guias - só essa mente é capaz de
descobrir a Realidade. Porque o rejeitarmos todas as coisas que nos foram impostas, equivale a rejeitarmos a sociedade, opormo-nos à sociedade (…) Aquele que está fora da
sociedade, que já não está na sujeição da sociedade - só esse é capaz de descobrir o que é Deus, a Verdade. (…) (Palestras na Austrália e Holanda, 1955, pág. 89)

Em primeiro lugar, como já disse (…), toda atividade à beira do precipício só poderá gerar mais confusão (…) Nessas condições, o que podemos fazer é afastar-nos da confusão,
i.e., da confusão que reina em nós mesmos. E é isso o que estou fazendo; estou a afastar-me da confusão política, espiritual e psicológica, e dando a mão àqueles que também
desejam afastar-se dela. (…) Por certo, não está fugindo aos seus deveres quem assim procede. (…) Ao compreender que está cego e confuso, deve um homem primeiramente
libertar-se da confusão e dos laços que o estão prendendo e cegando. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 18)

É bastante óbvio que a maioria de nós está confusa, intelectualmente. (…) Dentro de nós estamos completamente confusos, embora não gostemos de admiti-lo; vemos confusão em
todas as coisas, e não sabemos ao certo o que devemos fazer. (…) Assim, para aqueles que já reconheceram que existe confusão neles próprios e ao redor de si, a ação se torna
extremamente importante. (A Arte da Libertação, pág. 59-60)

Mas, se um homem está confuso, como pode agir? Tudo o que ele faça (…) há de ser confuso, e essa ação criará naturalmente, infalivelmente, maior confusão. (…) Que deve fazer
então? (…) Qual o seu primeiro dever: agir, ou dissipar a confusão dentro de si e, portanto, fora de si? (…) Deve ele agir, confuso como está, ou conservar-se inativo? (…) (Idem,
pág. 60)

Ora, nós tememos estar inativos; e o recolher-se por um período de tempo para estudar todo o problema requer extraordinária inteligência. (…) Assim, é muito importante
compreender o problema da ação e da inação. Não é necessário ficar inativo, para considerar o problema no seu todo? (Idem, pág. 60-61)

É claro que precisamos continuar a atender à nossa diária responsabilidade de ganhar a subsistência; todas as coisas necessárias têm de continuar. Mas as organizações políticas,
religiosas, sociais, os grupos (…) - há necessidade de pertencermos a elas? (Idem, pág. 61)

Se temos muito empenho, não é necessário que reconsideremos, que tornemos a analisar todo o problema da existência? E, para tal, não é necessário, por ora, que nos afastemos, a
fim de estudar, ponderar, meditar? Esse afastamento não é, verdadeiramente, ação? Nessa chamada inação há a extraordinária ação de reconsiderar toda a matéria. (…) (A Arte
da Libertação, pág. 61)

É inação considerar novamente um problema? Claro que não. Sem dúvida, quem está evitando a ação é o homem que está ativo, sem ter reconsiderado o problema. Esse é que é o
verdadeiro “escapista”. Está confuso, e, para escapar à sua confusão, à sua insuficiência, atira-se à ação (…) Está na realidade, fugindo ao problema fundamental, que é a
confusão. (…) (Idem, pág. 61)

Nos nossos tempos, principalmente, em que todo o mundo se acha à beira do precipício e acontecimentos catastróficos estão se verificando, não se torna necessário que uns poucos,
pelo menos, fiquem inativos, e, deliberadamente, não se deixem colher por esta máquina (…) atômica da ação, que nada produz a não ser maior confusão, maior caos? (A Arte da
Libertação, pág. 61-62)

Certo, os que têm empenho hão de retirar-se, não da vida, não das atividades diárias, mas retirar-se a fim de descobrir, estudar, explorar, investigar a causa da confusão (…) Por
conseguinte, (…) o que mais importa, se desejarmos compreender a causa da confusão, é o autoconhecimento. (Idem, pág. 62)

Sem compreendermos a nós mesmos, não pode haver ordem no mundo; sem explorarmos a fundo o processo do pensamento, do sentimento e da ação, em nós mesmos, nunca haverá
possibilidade de paz mundial, de ordem e segurança. Por conseguinte, o estudo de si mesmo é de importância primordial e não constitui processo de fuga. Esse estudo de si mesmo
não é simples inação. Pelo contrário, requer uma percepção extraordinária em tudo que fazemos, uma percepção na qual não haja julgamento, condenação, censura. (Idem, pág.
62)

Essa percepção do processo total de si mesmo, na vida diária, não é limitativa, mas sempre expansível, sempre iluminativa; e desse percebimento surge a ordem, primeiro em nós
mesmos, depois exteriormente, em nossas relações. (Idem, pág. 62)

(…) É a verdade que transforma, e não a ação imediata; só o descobrimento da verdade, por cada um de nós, fará nascer a felicidade e a paz no mundo. Viver no mundo sem ser do
mundo - eis o nosso problema (…); não podemos retrair-nos do mundo (…) renunciar a ele; temos de nos compreender a nós mesmos. (…) Compreender-se a si mesmo é o começo
da sabedoria; (…) é compreender o indivíduo, a suas relações com as coisas, pessoas e idéias. (A Arte da Libertação, pág. 187)

Procederíamos sabiamente se depois de certa idade - digamos quarenta ou quarenta e cinco anos, i.e, antes de sermos demasiado idosos - nos isolássemos da sociedade. Que
aconteceria se vos retirásseis para a solidão, não para gozar os bens materiais acumulados, mas para descobrirdes a vós mesmos, para pensar e sentir profundamente, para meditar
e descobrir a realidade? (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 58)

Talvez pudéssemos salvar a humanidade do caminho dos sentidos e mundano que está trilhando, com toda sua brutalidade e dor. Poderia haver, assim, um grupo de pessoas
dissociadas do mundanismo, de suas práticas e de tudo que com ele se relaciona e, portanto, capazes de orientar e ensinar a humanidade. (Idem, pág. 58)

Uma vez libertos do mundanismo, careceriam de autoridade e de importância social, e assim não seriam arrastados para sua insensatez e calamidade. Porque o homem não liberto
da autoridade, das posições, não está apto a guiar, a ensinar a outrem. (…) Se tal grupo de pessoas vier a existir, criar-se-á um novo mundo, uma nova cultura. (Idem, pág. 58-59)

Está visto, pois, que devemos chegar àquele ponto em que nada há para aprender, porque lá a mente está livre da sociedade, (…) de todas as manifestações, (…) da luta pelo
reconhecimento de nossa posição social, etc.; e só nesse estado de liberdade, fora do alcance da sociedade, se pode criar uma nova cultura, inaugurar uma nova civilização. (…)
(Visão da Realidade, pág. 204-205)

Pergunta: Falastes seriamente ao sugerir que nos deveríamos retirar do mundo aos quarenta e cinco anos, mais ou menos?

Krishnamurti: Sugeri-o seriamente. Quase todos nós, até a morte, estamos tão presos ao mundanismo, que não temos lazer para pesquisar profundamente, para descobrir o real.
Para nos retirarmos do mundo impõe-se completa modificação nos sistemas educacional e econômico (…) Se vos retirásseis, estaríeis perdidos, sentir-vos-íeis solitários, não
saberíeis o que fazer convosco, pois vos retiraríeis sem o devido preparo. Formaríeis provavelmente novos grupos, novas organizações com crenças novas, emblemas e rótulos (…)
(Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 75-76)

Para retirar-vos do mundo, deveis estar preparados: por meio de educação apropriada, pela criação de ambiente propício, pelo estabelecimento do Estado adequado, pela correta
educação, etc. Com tal preparo, o retirar-vos então, do mundanismo, em qualquer idade, é a seqüência natural (…) Afastai-vos para mergulhar num estado de plena e profunda
consciência, retirai-vos não para o isolamento, mas para o encontro com o real; para auxiliar a transformação da sociedade e do Estado (…) (Idem pág. 76)

Tal grupo de pessoas estaria completamente dissociado da autoridade, da política, de todas as causa originadoras de guerra e antagonismo entre os homens. (…) As grandes
realizações, indubitavelmente, se alcançam assim. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 76)

(…) A vida solitária ou em pequeno grupo requer grande inteligência. Mas, se efetivamente julgásseis isso valioso, realizá-lo-íeis, não como maravilhosa ação de renúncia, mas
como algo natural e inteligente, próprio de pessoa que reflete. O extraordinariamente importante é que haja, ao menos, algumas pessoas não pertencentes a grupos, raça, religião
ou sociedade determinada. Elas criarão a verdadeira fraternidade entre os homens porque estarão buscando a verdade. (…) (Idem, pág. 77)

Por conseguinte, quando a mente não se acha verdadeiramente num estado de ação, porém num estado de inação, daí vem mais inação, que é do tempo. Há duas espécies de
inação: a inação gerada pelo tempo, e a inação que é o estado total da mente que se vê em presença de uma tremenda crise. Com o enfrentar uma crise tremenda, a mente se torna
completamente inativa, quer dizer, livre de todo pensamento; e dessa inação vem ação; esta é a única importante, e não a outra. (O Despertar da Sensibilidade, pág. 152)

Como indivíduos, deveis começar a perceber o verdadeiro significado do ambiente, quer do passado quer do presente, i.e., perceber o significado das circunstâncias em contínua
mutação. Mas, na percepção do verdadeiro ambiente, tem de haver grande conflito, e vós não desejais conflito; desejais reformas (…) (A Luta do Homem, pág. 106)

Tornai-vos vivamente cônscios desse conflito; não tenteis fugir dele, não procureis soluções para ele. Porque é na agudeza do sofrimento que podereis discernir o verdadeiro
significado do ambiente. Nessa claridade do pensamento não há ilusões. (…) (Idem, pág. 107)

Isso é inteligência, e essa inteligência é ação pura. Quando a ação nascer da inteligência, quando a ação mesma for inteligência, não procurareis então a inteligência. Será então a
plenitude, a suficiência, a riqueza interior, o sentimento daquela eternidade que é Deus. E essa plenitude, essa inteligência, impedirá por todo o sempre a criação de barreiras e
prisões. (Idem, pág. 107)

Meio de Vida Correto; Vocação, Incompatibilidades


O que é viver de maneira certa? Na sociedade como ela é agora, não há nenhum modo correto de viver. Você tem de ganhar o seu sustento; você se casa, tem filhos, torna-se
responsável. (…) Ou será a busca de um modo certo de viver apenas uma busca de Utopia, um anseio por algo mais? O que se deve fazer numa sociedade corrupta, que tem tantas
contradições em si mesma, na qual há tanta injustiça (…)? (Perguntas e Repostas, pág. 75)

É possível viver nesta sociedade, não apenas para ter um modo correto de subsistência, mas também para viver sem conflito? (…) Viver uma vida sem nenhum conflito requer
grande dose de compreensão de si mesmo e, portanto, grande inteligência - não a inteligência aguda do intelecto, mas a capacidade de observar, de ver objetivamente o que está
acontecendo, tanto externa como internamente (…) (Idem, pág. 75)

O que desejo discutir (…) é o problema da mente que se aplica a este vasto e complexo problema da existência. A existência não compreende apenas a obtenção ou a conservação
de um emprego, mas toda a esfera da existência psicológica, quase desconhecida para a maioria de nós. (…) O problema da existência é este vasto complexo de guerras, classes,
castas, divisão, a perpétua batalha do homem contra o homem, em competição. (…) (O Problema da Revolução Total, pág. 38)

Senhores, que significa “meio de vida”? É ganhar o suficiente para as nossas necessidades, que são alimento, roupa e moradia (…) A dificuldade (…) só surge quando nos servimos
das coisas essenciais à vida como meios de agressão psicológica. (Novo Acesso à Vida, pág. 149)

Isto é, quando me sirvo das necessidades, das coisas indispensáveis, como meios de engrandecimento pessoal (…); e a nossa sociedade está essencialmente baseada, não no
suprimento das coisas essenciais, mas no engrandecimento psicológico (…) (Idem, pág. 149)

Há suficientes conhecimentos científicos para suprir todas as necessidades do homem; isso já foi calculado, e tudo poderia ser produzido em tal escala que nenhum homem passaria
necessidade. Mas por que não se realiza isso? Porque ninguém se satisfaz apenas com alimento, roupa e moradia; cada um quer mais. E esse “mais” é poder. (Novo Acesso à Vida,
pág. 149-150)

Mas seria irracional ficarmos satisfeitos apenas com as coisas necessárias à vida. Ficaremos satisfeitos com as coisas necessárias, no seu sentido exato que é estar livre do desejo
de poder - quando tivermos encontrado o imperecível tesouro interior a que chamamos Deus, a verdade (…) Se puderdes encontrar essas riquezas imperecíveis dentro em vós, vos
sentireis satisfeitos com poucas coisas (…) (Idem, pág. 150)

Qual é então, o meio de vida correto? Essa pergunta só poderá ser respondida quando houver completa revolução na atual estrutura social, não uma revolução segundo a fórmula
da direita ou da esquerda, mas completa revolução de valores não baseados nos sentidos. (Idem, pág. 151)

Temos crescente desemprego, exércitos cada vez maiores, os grandes negócios (…) formando vastas empresas. (…) Dada essa situação (…) como ireis encontrar um meio de vida
correto? (…) Ou tendes de retirar-vos para formar com uns poucos uma comunidade autárquica, cooperativa, ou sucumbis (…) Mas, como sabeis, a maioria de nós não tem
verdadeiro empenho em encontrar o meio de vida correto, cada um está interessado em obter um emprego e nele se manter (…) (Idem, pág. 152)

(…) Assim, o meio de vida justo, em vasta escala, deve começar com aqueles que compreendem o que é falso. Quando batalhais contra o falso, estais criando o meio de vida justo.
Quando batalhais contra toda a estrutura da dissenção, da exploração por parte da esquerda ou da direita, ou contra a autoridade da religião (…) - essa é a profissão correta, no
momento atual. Porque os que assim procedem criarão uma nova sociedade, uma nova civilização. (Novo Acesso à Vida, pág. 153)

Mas, para batalhar, precisais ver com toda a clareza e precisão o que é falso (…) Para descobrirdes o que é falso, cumpre percebê-lo lucidamente, observar todas as coisas que
estais fazendo, pensando e sentindo; e, como resultado disso, não apenas descobrireis o que é falso, mas virá também uma nova vitalidade (…) energia, e essa energia determinará
que espécie de trabalho deveis ou não deveis fazer. (Idem, pág. 153)

A maioria das nossas ocupações são inspiradas pela tradição, pela avidez ou pela ambição. Em nossas atividades, somos desapiedados competidores, embusteiros, ardilosos e
altamente preocupados com nossa própria proteção. A qualquer momento (…) correremos o risco de soçobrar e por isso temos de ajustar-nos ao ritmo altamente eficiente da
insaciável máquina dos negócios. É uma luta incessante pela manutenção de uma posição (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 19-20)

Mas, na vida de relação está implicado um processo inteiramente diferente. Nela é indispensável que haja afeto, consideração para com os outros, ajustamento, abnegação,
condescendência; nela não se trata de vencer, porém de viver feliz. (…) (Idem, pág. 20)

Mas, como é possível conciliar duas coisas, como o egoísmo e o amor, os negócios e as relações com os semelhantes? Uma é desapiedada, competidora, ambiciosa; a outra,
abnegada, delicada, suave. (…) Com uma das mãos contamos dinheiro e derramamos sangue, enquanto procuramos com a outra afagar, testemunhar afeto e consideração (…) (O
Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 20)

A ocupação justa não se inspira na tradição, nem na ganância, nem na ambição. Quando cada um estiver verdadeiramente interessado em estabelecer a verdadeira vida de relação,
não só com um, mas com todos, achar-se-á, então, a ocupação justa. Esta resulta da regeneração, da transformação do coração, e não apenas da determinação intelectual de
encontrá-la. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 21)

Mas, embora importante e benéfica, a ocupação justa não constitui, em si, um fim. Podeis ter um justo meio de vida, mas se interiormente fordes incompletos e pobres, sereis uma
fonte de miséria para vós mesmos e, portanto, para os outros; sereis irrefletidos, violentos, egoístas. Sem a liberdade interior da Realidade, não encontrareis nem a alegria nem a
paz. Na busca e na descoberta daquela Realidade interior, podemos não somente contentar-nos com pouco, mas também adquirir conhecimento de algo que ultrapassa todos os
padrões. É isso o que cumpre procurar em primeiro lugar; as outras coisas virão na sua esteira. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 34)

Ora, nas condições em que a sociedade existe no presente, não há possibilidade da escolha entre o meio de vida correto e o (…) incorreto. Pegamos o primeiro emprego se temos a
boa sorte de achar um. (…) Mas, para aqueles e vós que não sofrem igual premência (…) qual o meio de vida correto numa sociedade que está baseada (…) nas diferenças de
classes, no nacionalismo, na ganância, na violência? (…) (A Arte da Libertação, pág.170)

É muito importante que cada um de nós descubra qual é a sua relação com a sociedade, se ela está baseada na ganância - que significa auto-expansão, preenchimento do “eu”, que
supõe poder, posição, autoridade - ou se simplesmente aceitamos da sociedade as coisas essenciais, tais como alimento, roupa e moradia. (Idem, pág. 173)

(…) Se vossa relação é de necessidade e não de ganância, encontrareis então o meio de vida correto, em qualquer lugar, mesmo numa sociedade corrupta. Como a atual sociedade
se está desintegrando rapidamente, precisamos descobrir; e aqueles cuja relação é só de necessidade criarão uma nova civilização, constituirão o núcleo de uma sociedade na qual
as coisas necessárias à vida serão distribuídas equitativamente, e não utilizadas como meio de auto-expansão. (…) (Idem, pág. 173-174)

Perguntais-me qual a profissão que vos aconselho (…) Que está acontecendo neste mundo? Há possibilidade de se escolher profissão? Cada um segura aquilo que pode. Já nos
consideramos felizes se achamos trabalho. Assim é em todas as partes do mundo. Porque temos um único alvo: ganhar dinheiro, seja como for, para viver. (Uma Nova Maneira de
Viver, pág. 95-96)

(…) O pensar correto gera a profissão correta e a ação correta. Não podeis pensar corretamente, sem autoconhecimento. (…) É extremamente difícil escolher uma profissão num
mundo civilizado desta espécie, em que toda ação conduz à destruição e à exploração. (…)(Idem, pág. 97)

A maioria das pessoas são forçadas a entregar-se a trabalhos, atividades, profissões, para as quais de forma alguma estão talhadas. Passam o resto da existência batalhando contra
essas circunstâncias, disparando assim todas as energias em lutas, dores, sofrimentos (…)
Outros homens rompem as limitações do ambiente, depois de compreenderem o seu verdadeiro significado, passando a viver inteligentemente, em atividades criadoras, seja no
mundo da arte, da ciência, seja nas profissões (…) (A Luta do Homem, pág. 94)

Eis porque é importantíssimo achar a vocação justa. Sabeis o que significa “vocação”? É a ocupação que desempenhamos com agrado, com naturalidade. Afinal, tal é a função da
educação (…) de uma escola como esta, a saber, ajudar-vos a crescer com independência, para que não sejais ambiciosos e possais achar a vossa verdadeira vocação. (…) (Novos
Roteiros em Educação, pág. 68)

(…) A verdadeira educação deve ter por fim ajudar-vos a ser tão inteligentes que (…) possais escolher uma ocupação a vosso gosto (…) ou passar fome, mas nunca fazer uma coisa
estúpida, que vos fará infeliz para o resto da vida. (Novos Roteiros em Educação, pág. 19)

Para a maioria dentre nós, a profissão está separada da nossa vida pessoal. Temos o mundo da profissão e da técnica, e a vida dos sentimentos sutis, das idéias, (…) e do amor.
Estamos adestrados para o mundo da profissão e só ocasionalmente (…) escutamos uns vagos murmúrios da realidade. (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 125)

O mundo da profissão tornou-se, gradualmente, exigente, tomando quase todo o nosso tempo, de modo a deixar pouca margem ao pensamento profundo e à emoção. Por esse modo,
a vida da realidade, da felicidade torna-se cada vez mais vaga (Idem, pág. 125)

Com raras exceções, o exercer uma profissão não é a expressão natural do indivíduo. Não é a plenitude ou a completa expressão do seu ser integral. Se examinardes isso, haveis de
averiguar que tal coisa é apenas o (…) adestramento do indivíduo no sentido de ajustar-se a um sistema rígido, inflexível. Esse sistema está baseado no temor, no espírito da
aquisição e na exploração. (…) (Palestras no Uruguai e na Argentina, 1935, pág. 126)

(…) Quanto mais planejamos e organizamos a nossa existência econômica, sem compreender e transcender as nossas paixões, temores e despeitos, tanto mais conflito e confusão
haverão de surgir. O contentar-se com pouco resulta da compreensão de nossos problemas psicológicos, não da legislação (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 113)

(…) Pois bem, a maioria de nós se embota nisso que se chama trabalho, emprego, rotina, (…) Tão identificado (…) que não pode vê-lo objetivamente; (…) Vive numa gaiola (…)
isolado (…) O seu trabalho, por conseguinte, é uma forma de fuga da vida: da sua esposa, de seus deveres sociais. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 127)

Se dizeis: “que aborrecimento, (…) preferiria fazer outra coisa qualquer” - o vosso espírito está evidentemente resistindo a esse trabalho. Uma parte da vossa mente está desejando
que estivésseis fazendo outra coisa. Essa divisão produzida pela resistência, causa o embotamento, porque estais desperdiçando esforço (…) (Idem, pág. 128-129)

(…) Mas, se aceitais a tarefa (…) e a executais o mais inteligentemente possível, que acontece então? Porque já não estais resistindo, as outras camadas da vossa consciência
continuarão ativas, independentemente do que estais fazendo; estais aplicando apenas a mente consciente ao trabalho, e a parte inconsciente, a parte oculta da mente, está ocupada
com outras coisas muito mais vitais (…) e profundas (…) (Idem, pág. 129)

Pergunta: De que maneira poderia um estadista que compreendesse o que dizeis, pô-lo em prática nos negócios públicos? Ou, não é mais provável que ele se retirasse da política,
reconhecendo falsos os seus objetivos e bases?

Krishnamurti: Se ele compreendesse o que digo, não separaria a política da vida na sua plenitude; e não vejo razões por que devesse afastar-se da política. É verdade que a política
é atualmente um instrumento de exploração; mas, se ele considerasse a vida como um todo, e não a política somente - uma vez que por política ele entende a sua pátria, o seu povo,
e a exploração dos semelhantes - e considerasse os problemas humanos não como problemas nacionais, porém mundiais, não como problemas americanos, ou hindus, ou
germânicos, nesse caso, se de fato correspondesse ao que digo, seria ele um verdadeiro ser humano, e não um político. (…) (A Luta do Homem, pág. 157-158)

Acho que aí é que está o mal. O político só cuida da política, o moralista de moral, o suposto mestre espiritual, do espírito, cada um deles se julgando autoridade, com exclusão de
todos os outros. Toda a estrutura de nossa sociedade se assenta nessa base, e, assim, esses líderes das diversas especialidades promovem devastação e miséria cada vez maiores.
(…) (A Luta do Homem, pág. 158)

Mas se nós, como entes humanos, percebêssemos a relação íntima entre todas essas coisas, entre a política, a religião, e a vida econômica e social, se enxergássemos essa relação,
não pensaríamos nem agiríamos, nesse caso, separativamente, individualistamente. (Idem, pág. 158-159)

Enquanto não houvermos descoberto o que é verdadeiro, o que é Deus, essa coisa extraordinária que enche a vida de grandeza, de bondade e beleza, todas as nossas atividades, em
qualquer nível que seja, só podem ter uma significação superficial. A menos que estejamos experimentando diretamente o que é verdadeiro, momento a momento, a nossa
civilização se torna mecânica e, portanto, destrutiva. Certo, o homem existe para encontrar-se com Deus, e não apenas para ganhar o seu sustento e ajustar-se a um padrão social.
(…) (Visão da Realidade, pág. 113)

Previsões, Ruínas (Velho), Guerras, Causas, Paz


Esta é uma questão muito complicada (…) Sabemos quais são as causas da guerra; (…) ganância, nacionalismo, desejo de poder, divergências geográficas (…), conflitos
econômicos, estados soberanos, patriotismo, ideologia da direita ou da esquerda impondo-se a outra, etc. As causas da guerra são engendradas por vós e por mim. A guerra é a
expressão espetacular de nossa existência de cada dia (…) (A Arte da Libertação, pág. 45)

(…) Quando começais a investigar todo o processo da guerra, como a guerra se origina, deveis então sentir-vos diretamente responsáveis por vossas ações. Porque a guerra só
surge quando vós, em vossas relações uns com os outros, criais conflito. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 135)

Sois responsáveis pela guerra; vós a criastes, com vossas ações cotidianas, ditadas pela cupidez, (…) malevolência e (…) paixão. Cada um cooperou para o erguimento desta
civilização de concorrência e crueldade (…) Cumpre erradicardes as causas da guerra, da violência, em vós mesmos, a para tal requer-se paciência e brandura (…) (O Egoísmo e o
Problema da Paz, pág. 15)

Não se corrige o que está errado com meios errôneos; só com meios justos é possível alcançar um fim justo. Se quereis a paz, urge empregardes meios pacíficos, pois o assassínio
em massa - a guerra - só pode conduzir a novos morticínios e sofrimentos. Só a benevolência e a compaixão tornarão possível a paz no mundo, não a força, (…) nem a sagacidade,
nem a simples legislação. (Idem, pág. 16)

A guerra é uma projeção espetacular e sangrenta de nossa vida e cada dia (…) A guerra é simples expressão exterior de nosso estado interior, uma ampliação de nossa ação diária.
(…) Sem dúvida, a guerra que nos ameaça não pode ser impedida por vós e por mim, porque já está em marcha; já começou, (…) por enquanto no nível psicológico. (Novo Acesso à
Vida, pág. 37)

Já se iniciou no mundo das idéias, mesmo que falte ainda algum tempo para sermos destruídos fisicamente. Visto que já está em movimento, não podemos mais detê-la - as questões
são numerosas demais, grandes demais e já foram comprometidas. Todavia, vós e eu, percebendo que a casa está ardendo, podemos sair dela e construir noutro lugar com material
diferente, não combustível, que não produza novas guerras. (Idem, pág. 37)

A menos que compreendamos os problemas relativos à origem da guerra, ver-nos-emos em confusão e incapazes de nos livrarmos desse desastre. (…) O fim inevitável da sociedade
atual é a guerra; ela está apetrechada para a guerra; a sua industrialização conduz à guerra; os seus valores promovem a guerra. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 69-70)

Meditando profundamente, ficaremos bem cônscios das causas das guerras: a paixão, a malevolência e a ignorância; a sensualidade, a mundanidade e o anseio de fama e
continuidade pessoal; a cupidez, a inveja e a ambição; o nacionalismo, com suas soberanias separadas (…) fronteiras econômicas, divisões sociais, preconceitos raciais e religião
organizada. (…) (Idem, pág. 71)

Evidentemente, o que causa a guerra é o desejo de poder, de posição, prestígio, dinheiro e também a enfermidade chamada nacionalismo, o culto de uma bandeira e a doença da
religião organizada, o culto de um dogma. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 38)

Nessas condições, para se implantar a paz no mundo, acabar todas as guerras, torna-se necessária uma revolução no indivíduo (…) Discutiremos a paz, projetaremos leis,
criaremos novas ligas, as Nações Unidas, etc.; mas não ganharemos a paz, porque não renunciaremos a nossa posição, nossa autoridade, nosso dinheiro, nossas propriedades,
nossa vida estúpida. (…) O que produzirá a paz é a transformação interior, que conduz à ação exterior. (Idem, pág. 39-40)

Para pordes fim à guerra exterior, precisais pôr fim à guerra que há dentro de vós. (…) Elas só acabarão quando compreenderdes o perigo, (…) a vossa responsabilidade, quando
não passardes a outrem esse encargo. Se perceberdes de fato o sofrimento, (…) a importância da ação imediata, se não adiardes, então transformareis a vós mesmos; e a paz só virá
quando fordes pacíficos (…) viverdes em paz com o vosso próximo. (Novo Acesso à Vida, pág. 40)

Pergunta: E que dizeis da bomba atômica e da bomba de hidrogênio? (…)

Krishnamurti: Essa pergunta implica todo o problema da guerra e de como evitar a guerra (…) (Visão da Realidade, pág. 43)

Devo dizer-vos, não me parece possível que os indivíduos possam deter a guerra. A guerra é como uma máquina gigantesca que, tendo sido posta em movimento, acumulou um
momento extraordinário e continuará provavelmente em movimento até sermos destruídos (…) (Idem, pág. 44)

(…) Mas, se desejamos realmente livrar-nos desse maquinismo da guerra, que devemos fazer? (…) Afinal, a guerra é simplesmente a dramática expressão exterior de nossa luta
interior (…) Porque, enquanto formos ambiciosos, seremos cruéis (…) Isso significa (…) que, enquanto vós e eu estivermos em busca de poder, (…) temos de produzir guerras. (…)
(Visão da Realidade, pág. 44-45)

(…) Pode-se restringir o uso de armas atômicas, mas o impulso para a guerra já foi dado e que podemos nós fazer? Acontecimentos históricos estão em movimento, e eu não creio
que vós e eu (…) possamos deter esse movimento. Quem nos dará atenção? Entretanto, podemos fazer coisa de todo diferente. (Visão da Realidade, pág. 48)

Podemos soltar-nos da atual máquina da sociedade, que se prepara incansavelmente para a guerra, e talvez então, em virtude de nossa própria revolução total interior, possamos
contribuir para o erguimento de uma civilização inteiramente nova. (Idem, pág. 48)

Pergunta: É inevitável a terceira guerra mundial?

Krishnamurti: (…) Não há inevitabilidade no que respeita à guerra, mas parece muito ser assim, porque os interesses em jogo são tão vastos. As ideologias - a esquerda e a direita -
estão em guerra (…) E isso suscita um problema muito complexo: se a esquerda não está baseada na direita, se não é uma continuação da direita; se todo oposto não é a
continuação do seu próprio oposto. (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 54-55)

Ora bem, qual é a causa dessa confusão (…)? Como surgiu esta aflição, este sofrimento, não apenas em nós mesmos, mas também fora de nós, este temor e esta expectativa da
guerra, da terceira guerra mundial, prestes a explodir? Onde, a causa de tudo isso? (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 18)

(…) A guerra é inevitável, enquanto formos nacionalistas (…) Enquanto existirem fronteiras, governos soberanos, exércitos separados, fatalmente há de haver guerra. Já que
existem divisões sociais e econômicas, o exclusivismo das (…) castas e classes, há de haver guerra, seguramente. (Nós Somos o Problema, pág. 18)

(…) Senhores, não me parece que compreendeis o estado catastrófico do mundo no momento presente, pois do contrário não vos mostraríeis tão despreocupados. Estamos à beira
de um precipício moral, social e espiritual. Não vedes que a casa está ardendo, e vós morais nela (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 44)

(…) Mas, por desventura, estais em comodidade, tendes medo, tendes conforto, estais embotados, (…) quereis satisfação imediata. Deixais as coisas ao sabor da corrente, e eis que
se aproxima a catástrofe mundial (…) (Idem, pág. 44)

A guerra catastrófica, que agora parece iminente, não pode ser evitada mediante convulsivos esforços diplomáticos, nem pelo jogo das conferências. Nem os pactos nem os tratados
serão capazes de deter a guerra. (O Caminho da Vida, pág. 23)

O que pode pôr cobro nessas guerras periódicas é a boa vontade. As ideologias são, por sua própria natureza, causadoras de conflito, antagonismo e confusão, e delas resulta a
destruição da boa vontade. (Idem, pág. 23)

O mundo está sempre à beira da catástrofe. Mas agora parece estar mais próximo ainda. Percebendo a catástrofe iminente, a maioria de nós busca refúgio na idéia. Pensamos que
essa catástrofe, essa crise, pode ser resolvida por uma ideologia. A ideologia é sempre um empecilho à relação direta, o qual torna impossível a ação. (…) Só haverá paz quando
cessar a confusão que vós e outros criastes. (…) Estamos em busca de novos padrões sociais e políticos, e não da paz; estamos muito interessados na conciliação dos efeitos, e não
em afastar as causas da guerra. (…) (Nosso Único Problema, pág. 86)

(…) E se vós, percebendo essa confusão social e econômica, esse caos, essa miséria, vos retirais para o que se chama vida religiosa, abandonando o mundo, podeis ter um
sentimento de união com esses grandes Mestres; mas o mundo continua com o seu caos, suas misérias e destruições (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 20)

Assim, pois, o nosso problema - vosso e meu - é o de sair desta miséria instantaneamente. Se, vivendo no mundo, vós vos recusais a ser parte dele, ajudareis os outros a saírem deste
caos - não no futuro (…) mas agora. (…) A guerra vem aí, provavelmente mais destrutiva e mais pavorosa do que nunca. Não podemos evitá-la, por certo, porque os acontecimentos
são fortes demais e estão próximos demais. (…) (Idem, pág. 20)

Pergunta: (…) Entretanto, já se fala de uma Terceira Guerra Mundial. Vedes a possibilidade de ser evitada essa nova catástrofe?

Krishnamurti: Como esperar evitá-la, enquanto subsistirem os elementos e valores causadores da guerra? A guerra agora terminada produziu alguma modificação profunda,
fundamental, no homem? (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 25)

O imperialismo e a opressão continuam como sempre (…); subsistem os estados soberanos separados; as nações manobram para novas posições de poder; os poderosos continuam
a oprimir os fracos; as minorias governantes continuam a explorar os governados; não cessaram os conflitos sociais e classistas; o preconceito e o ódio chamejam por toda parte.
(…) (Idem, pág. 25)

Operou-se alguma transformação radical em vós, em resultado da recente catástrofe? (…) Não continuais ambiciosos de posições de mando, de posses e riquezas? A devoção se
torna hipocrisia quando se cultivam as causas da guerra; vossas preces vos conduzem à ilusão, quando cedeis ao ódio e ao gozo das coisas materiais (… ) (Idem, pág. 26)

Talvez não possais evitar a Terceira Guerra Mundial, mas podeis libertar o coração e a mente da violência e das causas que geram a inimizade e repelem o amor. Haverá, então,
neste mundo lúgubre, alguns homens puros de mente e de coração, de cujas obras germinará, porventura, a semente de uma verdadeira civilização. (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 27)

Purificai vossas mentes e corações, pois é somente pelas vossas vidas e vossos atos, que poderá haver paz e ordem. Não vos percais na promiscuidade (…), mas conservai-vos
solitários e singelos. Não tenteis apenas evitar catástrofes, porém, antes, tratai, cada um de vós, de desarraigar inteiramente as causas que produzem antagonismos e contendas.
(Idem, pág. 27)

Pergunta: Como posso, como indivíduo, dominar e resolver a crescente tensão e a febre bélica entre a Índia e o Paquistão? A inação é crime. (…)

Krishnamurti: Senhor, por que chamamos crime à inação? Segundo vós, só há duas maneiras de atender a esse problema, a saber: ou tornar-se pacifista ou empunhar um fuzil. Em
outras palavras, desejais que a vossa ação seja aprovada, dizeis: “sou pacifista” ou “tenho um fuzil”, e essa etiqueta (…) vos satisfaz e pensais ter resolvido o problema. (…) (Que
Estamos Buscando?, pág. 219-220)
Visto isso, verifiquemos se a inação é crime - entendendo-se por inação o não operar segundo aquelas duas normas ou seus equivalentes. Por certo, o homem que empunha fuzil,
assim procede por causa da sua reação, a qual é produto do seu condicionamento como nacionalista; (…) hindu (…) (Idem, pág. 220-221)

Pois bem, o homem que em tempo de guerra nem se arma de fuzil nem se denomina pacifista, que fica inativo, (…) que não corresponde ao desafio por meio de reação - a esse
homem declarais inativo, (…) criminoso. Ora, é criminoso esse homem? Está ele inativo? Não sois vós os criminosos, tanto o pacifista, como o homem de fuzil? (…) (Que Estamos
Buscando, 1ª ed., pág. 221)

Pergunta: Dissestes (…) que cada um de nós é responsável por essas guerras terríveis. Somos igualmente responsáveis pelas abomináveis torturas (…)?

Krishnamurti : Não está bem evidente que cada um de nós é responsável pela guerra? As guerras não resultam de causas desconhecidas: elas têm origem bem determinada, e
aqueles que desejarem desvencilhar-se dessa loucura periódica (…) devem averiguar essas causas e libertar-se delas. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 81)

Matar o semelhante é o maior dos crimes, porquanto o homem é capaz de sentir o Supremo. (…) Cada um de nós é responsável pela guerra, porque cada indivíduo, consciente ou
inconscientemente, cooperou para a criação das condições atuais, com a sua atitude perante a vida, com os falsos valores que deu à existência. Perdido o valor eterno, crescem de
importância os transitórios valores materiais. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 82)

Quando a ânsia de possuir é estimulada de todas as maneiras, quando existem nacionalismo e estados soberanos, quando a religião divide, quando reinam a intolerância e a
ignorância, é então inevitável a matança do semelhante. A guerra é o resultado de nossa vida cotidiana. A paixão, a malevolência e a opressão são justificadas, quando patrióticas;
matar pelo Estado, pela pátria, por uma ideologia, é considerado necessário e nobre (…) Torna-se a guerra um meio de liberar os nossos instintos brutais e de fortalecer a
irresponsabilidade. (…) (Idem, pág. 82-83)

Perdemos o sentimento de humanidade; reconhecemo-nos responsáveis somente perante a classe ou grupo a que pertencemos; sentimo-nos responsáveis perante um nome, um
rótulo. Perdemos a compaixão, o amor ao todo, e, sem essa vivificante chama da vida, volvemo-nos para os políticos (…) Só no interior de cada um de nós reside a compreensão
criadora, a compaixão, tão necessária para o bem-estar do homem. Os meios justos criam os fins justos; os meios errôneos só podem trazer o vazio e a morte, não a paz e a alegria.
(O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 84)

Não pode haver paz se estamos em guerra uns com os outros, não só exterior, mas também interiormente - se sou agressivo, se sou violento, e estou empenhado em alcançar, a
qualquer preço, meu próprio preenchimento. (…) Ao descobrirdes essa violência - não apenas a violência física, mas a (…) da palavra, do gesto, a violência que se expressa em
crueldade para com os homens, na matança de animais, etc. - no ver essa violência, eu a nego. Dessa negação de “o que é” nasce a paz. (Onde está a Bem-Aventurança, pág. 56)

Os sistemas - interessados que estão inteiramente nos resultados e não nos meios - só nos podem oferecer padrões de ação e variações de idéias. Enquanto a paz for concebida
como resultante do choque de ideologias, não poderá haver paz. Enquanto a paz estiver na dependência do lado que vencer, estará o vitorioso condenado, inevitavelmente, ao
desastre, porquanto, para poder vencer, terá de desencadear forças que o escravizam. (O Caminho da Vida, pág. 17-18)

O caminho da paz consiste em compreender a falácia da idéia de que a paz é resultado de luta, o epílogo de um conflito físico ou mental entre antagonistas militares ou ideológicos.
A paz não resulta de luta; a paz é o que permanece depois de dissolver-se, de todo, o conflito na chama da compreensão; a paz não é o oposto do conflito, nem a síntese dos opostos.
(Idem, pág. 18)

(…) Enquanto não forem compreendidas essas relações de modo completo e profundo, não será possível a paz no mundo. (…) Para ser feliz e viver em paz, deve o indivíduo pagar o
preço. Esse preço poderá parecer exorbitante, porém, na realidade, não é tão grande assim; o preço que temos de pagar consiste, unicamente, na intenção clara e precisa de
abrigarmos a paz em nós mesmos e, conseqüentemente, de vivermos em paz com nossos semelhantes. (…) O preço da paz consiste em libertar-nos das causas que trazem em seu
séquito a hostilidade e a violência, o antagonismo e a inveja. A paz é um modo de vida, e não resultado da estratégia empregada por um indivíduo do grupo. (…) (O Caminho da
Vida, pág. 19)

A paz não é uma fuga ao mundo, a nossas cotidianas atividades (…) É bem de ver que não podemos continuar como estamos, com a nossa atual maneira de pensar e de agir; de
modo nenhum podemos continuar pelo caminho que atualmente estamos trilhando. Ou teremos de assistir a um tremendo desastre, ou os entes humanos terão de despertar para uma
diferente maneira de pensar, uma diferente maneira de viver. (O Descobrimento do Amor, pág. 151)

Ora, a paz é essencial no mundo, pois, do contrário, seremos destruídos. Uns poucos escaparão, mas haverá uma destruição sem paralelo, a menos que resolvamos o problema da
paz. (…) O fato real é que cada um está em busca do poder, de títulos, de oposições de mandato - sendo tudo isso disfarçado de várias maneiras (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 146)

(…) O “homem da paz” é aquele que repele toda autoridade, que compreende, em todos os seus aspectos, a ambição, a inveja, que se desprende totalmente da estrutura desta
sociedade aquisitiva e de todas as coisas envolvidas de tradição. Só então a mente é nova. E é necessário uma mente nova, para encontrar Deus, a Verdade. (…) (Da Solidão à
Plenitude Humana, pág. 83)

Mutação Total, Inadiável, do Homem, da Sociedade


No entanto, podemos viver em extrema simplicidade e sensatez, e, conseqüentemente, em paz (…) Cada um de nós deve interessar-se com empenho na criação de uma nova
sociedade ou uma nova civilização, resguardada das causas que estão destruindo e desintegrando o mundo em que vivemos. (…) Vossa própria transformação é de extrema
importância, porquanto vós sois, individualmente, a causa da confusão universal. (…) (O Caminho da Vida, pág. 20)

Sabeis (…) O que está acontecendo no mundo é uma projeção do que está sucedendo no interior de cada um de nós, pois o que somos o mundo é. (…) E é necessário criar um novo
mundo, (…) que não represente continuação, em forma diferente, desta mesma sociedade corrompida. (…) Considerai, pois, seriamente essas coisas, pois, em virtude dessa
consideração, nascerá um extraordinário sentimento de alegria, de felicidade. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 66)

Sem regeneração do indivíduo, não pode haver revolução fundamental. Sem uma revolução básica dos valores, não é possível uma ordem verdadeira e duradoura. É nosso empenho
promover essa revolução. Uma revolução no pensar e no sentir e, conseqüentemente, na ação. Essas três coisas não estão separadas, sendo, antes, um processo unitário. São
relacionadas entre si e mutuamente dependentes. (O Caminho da Vida, pág. 11)

Não é de grande relevância compreender cada um a si próprio antes de tudo o mais? (…) Da compreensão e conseqüente transformação de si próprio resultará inevitavelmente a
necessária e vital transformação do Estado e do ambiente. (…) O mundo é a projeção de vós mesmos; vosso problema é o problema do mundo. (Autoconhecimento, Correto Pensar,
Felicidade, pág. 37-38)

O mundo sois vós. Sem a transformação do indivíduo - que sois vós - não há possibilidade de uma revolução radical no mundo. Revolução na ordem social, sem a transformação do
indivíduo, só pode conduzir a novos conflitos e desastres. (…) (O Caminho da Vida, pág. 34)

Interlocutor: Podeis explicar o que a mudança implica?

Krishnamurti: Tenho de ser breve. Em primeiro lugar, observa-se no mundo (…) uma mudança fantástica. Aí temos a mudança tecnológica. Mas há necessidade de uma revolução
psicológica e, por conseguinte, social. (…) Psicologicamente, (…) porque atualmente somos ávidos, invejosos, ansiosos, medrosos, aflitos. (…) Precisamos libertar-nos (…) de tudo
isso; necessitamos de liberdade (… ), de uma completa mudança (…) de nosso pensar e de nosso sentir. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 127-128)

Nosso problema principal é este: podemos operar uma mudança imediata em nossa vida, de maneira que cada um possa sair deste salão transformado num ente humano novo,
“inocente”, puro, lúcido, incontaminado pelo tempo - não na forma de uma idéia, esperança ou ideologia, porém realmente? (Idem, pág. 128)

É isso o que está implicado na palavra “mudança”, e não apenas uma revolução econômica, social, que não leva a parte alguma. Já tivemos revoluções, comunistas e outras, e
todas estão voltando ao mesmo e velho padrão. (…) (Idem, pág. 128)

Ora, eu não estou falando a respeito de mudança de padrão, porém (…) de uma profunda revolução psicológica - e isso significa libertar-se completamente da estrutura psicológica
da sociedade. Mudança que se opera dentro do padrão da sociedade é um movimento do “conhecido” para o “conhecido”. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.
90-91)

A revolução implica, por certo, um percebimento total de toda a estrutura psicológica do “eu”, consciente e inconsciente, e que se esteja totalmente livre dessa estrutura sem
pensar em “tornar-se outra coisa”. Quer estejamos cônscios dela, quer não, a maioria de nós estabeleceu um padrão de pensamento e atividade (…) (Idem, pág. 91)

Como estive dizendo (…), se não há compreensão do inconsciente, toda “mudança” psicológica é simples ajustamento a um padrão estabelecido pelo inconsciente. E a crise atual -
não apenas a crise externa, mas também a crise existente na consciência - exige uma revolução. (Idem, pág. 91)

Não me refiro à revolução social ou econômica, porém à revolução no inconsciente - a completa libertação da estrutura psicológica da sociedade, total abandono da ambição, da
inveja, da avidez, do desejo de poder, posição, prestígio, etc. Esta é a única revolução, porquanto, sem ela, nada de novo pode existir. (…) (Idem, pág. 91)

(…) A realidade só pode existir quando a mente, que é produto do tempo, deixa de existir; há então o experimentar daquela realidade que não é fictícia, não é auto-hipnose. Só se
extingue o processo do pensamento quando compreendeis a vós mesmos. (…) A realidade, portanto, não está distante, a regeneração não depende do tempo. A regeneração, essa
revolução interior portadora de esclarecimento, só se concretiza ao perceberdes o que é. (…) Só quando a mente está tranqüila, é que vem a regeneração. (A Arte da Libertação,
pág. 57)

A experiência da realidade não é questão de crença; quem crê nela, não a conhece, e quem fala a seu respeito está apenas dizendo palavras. Palavras não são experiência (…) a
realidade. A realidade é imensurável, não pode ser ensinada com palavras floridas, assim como a vida não pode ser encerrada dentro das muralhas da posse. Só quando a mente é
livre, vem a criação. (Idem, pág. 57)

Para transformar qualquer coisa, (…) precisais primeiro compreender o que é; só então há possibilidade de renovação, regeneração, transformação. (…) Toda reforma sem
compreensão é retrocesso, porque não olhamos de frente o que é; mas se começarmos a compreender exatamente o que é, saberemos, então, como agir. Não podeis agir, sem antes
observar, investigar e compreender o que é. (…) (A Arte da Libertação, pág. 169)

Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade egocêntrica, não só no nível das relações sociais, mas também no nível psicológico. É essa atividade do “eu”
que está causando malefícios e sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais como em nossa existência como grupo e como nação. E só podemos pôr fim a tudo isso, se
compreendermos inteiramente o processo do nosso pensar. (Claridade na Ação, pág. 46)

Se, ao contrário, estais profundamente interessados no problema da transformação radical, fundamental, reconhecereis, então, diretamente, por vós mesmos, que essa
transformação é indispensável para que possa haver paz no mundo, para que não haja mais fome. (…) Para que haja bem-estar universal do homem, faz-se necessária uma
transformação, não no nível superficial, porém no centro. O centro é o “eu”, que está sempre acumulando. (…) (Claridade na Ação, pág. 154-155)

Assim, há necessidade de ação completamente dissociada da sociedade, uma maneira de pensar não contaminada pela sociedade, porque só então se tornará possível a verdadeira
revolução - que não é revolução superficial, num nível único, econômico, social ou de outra ordem. A revolução total tem de realizar-se no próprio homem, e só então a mente pode
resolver os crescentes problemas da sociedade. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 69-70)

(…) Porque as coisas não podem continuar nas condições atuais. (…) Como pode haver ação transformadora, não no correr do tempo, mas já? (…) Porque há tanta miséria, aqui
em Bangalore e por todas as partes no mundo; há crises econômicas, há falta de higiene, pobreza, desemprego, lutas comunais, etc., e a constante ameaça de guerra. (…) (Novo
Acesso à Vida, pág. 96)

Temos de compreender a totalidade dessa questão. Vai ser essa a nossa dificuldade porque (…) todos os problemas humanos estão interligados. Assim, provocar uma completa
revolução psicológica parece muito mais importante do que uma revolução de caráter econômico ou social - derrubar determinado sistema, quer neste país, quer na França ou na
Índia - porque os problemas são muito mais vastos, muito mais profundos do que apenas tornar-se um ativista, ligar-se a um grupo, ou recolher-se a um mosteiro para meditar, (…)
aprender Zen ou Yoga. (O Mundo Somos Nós, pág. 45)

Nessas condições, para transformar o mundo que nos circunda, com suas misérias (…) guerras, desemprego, fome, divisões de classes (…), urge uma transformação em nós mesmos.
(Por que não te satisfaz a Vida?, pág. 25-26)

A revolução deve começar dentro de nós mesmos, mas não de acordo com nenhuma crença ou ideologia; (…) Para se operar uma revolução fundamental dentro em nós, precisamos
compreender, integralmente, o processo de nossos pensamentos e sentimentos na vida de relação. É a única solução. (…) (Idem, pág. 26)

(…) Pensamos que, com uma revolução exterior, podemos criar um mundo novo, baseado no que deveria ser. Mas a revolução só pode ser no centro, na psique, e então produzirá a
verdadeira revolução no exterior. (…) (Que Estamos Buscando, pág. 130)

Nosso problema, portanto, não é de como criar um novo padrão (…) mas, sim, de como despertar a revolução radical em nós mesmos. Este é o verdadeiro problema; porque o que
sois, o mundo é. Vosso problema é o problema do mundo, não estais separados do mundo; vós e o mundo sois um processo integral. (…) (Idem, pág. 130)

(…) A maioria de nós não deseja transformar-se, ou só queremos modificar-nos superficialmente (…); mas só uma radical revolução interior terá o poder de transformar o mundo.
Ela deve começar, em vós, como indivíduo, pois não a podeis esperar da massa. (…) (Idem, pág. 130-131)

Os problemas do mundo são os nossos problemas ampliados e multiplicados. (…) Vós criastes o mundo, e a vós incumbe transformá-lo. É pela vossa conduta, pela vossa maneira de
viver, pela radical regeneração de vós mesmos, que sereis capazes de criar um mundo novo, onde não haja (…) lutas, nem explorações, nem guerras. (…) (O Caminho da Vida, pág.
21)

(…) Essa regeneração fundamental, essa completa transformação, virá no dia em que estiverdes cônscios de vossos pensamentos, sentimentos e ações. Tomai sentido de vossa
conduta diária. (…) Sem condenação nem justificação, olhai-vos como vós sois, observai-vos, pensando, sentindo e agindo, até começardes a compreender a vós mesmos. (…)
(Idem, pág. 21)

Pergunta: Não achais que, para alterarmos esse estado de coisas, necessitamos também de uma revolução externa?

Krishnamurti: Revolução interna e externa ao mesmo tempo. Não primeiro uma e depois a outra; as duas devem ser simultâneas. Deve ser uma instantânea revolução interior e
exterior, sem se dar mais relevo a uma ou à outra. Como realizá-la? Só quando se vê esta verdade, que a revolução interior é a revolução exterior. Quando a virdes de fato, e não
intelectualmente, verbalmente, idealmente, a revolução se realizará. Ora, existe em vós essa interior e total revolução? Se não existe e quiserdes promover a revolução exterior,
implantareis o caos. (…) (A Questão do Impossível, pág. 36)

Vemos, pois, que é essencial começarmos em nós mesmos a operar a transformação de nossa própria atitude, (…) ações, (…) orientação. Essa transformação (…) tem de começar
com o autoconhecimento; (…) sem autoconhecimento, torna-se impossível uma revolução radical (…) (Nós Somos o Problema, pág. 80)

Nós mesmos é que temos de transformar-nos, e não a sociedade; compreendei isso (…) Temos de efetuar em nós mesmos, do mais alto ao mais baixo nível, uma transformação de
todo o nosso pensar, viver e sentir; então, só então, será possível a transformação social; a simples revolução física, com o fim de alterar a estrutura externa da sociedade, traz
inevitavelmente (…) a ditadura ou o Estado totalitário, que negam totalmente a liberdade. (Fora da Violência, pág. 150)

Essa transformação radical de nós mesmos é um trabalho que dura toda a vida, e não uma coisa com que nos ocupamos por uns poucos dias e depois esquecemos; é uma aplicação
constante, um contínuo percebimento do que se está passando, interior e exteriormente. (Fora da Violência, pág. 150)
Pergunta: Que entendeis por transformação?

Krishnamurti: É bem óbvia a necessidade de uma revolução radical. A crise mundial a exige. Nossas vidas a exigem. Nossos incidentes, desejos, atividades, anseios de cada dia, a
exigem. Nossos problemas a exigem. Faz-se necessária uma revolução fundamental, radical, porque tudo ruiu ao redor de nós. Embora, aparentemente, exista ordem, observa-se
um lento declínio, uma lenta decomposição. A onda de destruição está superando constantemente a onda da vida. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 281)

É necessária, pois, uma revolução, mas não a revolução baseada em idéia. (…) Em vista da catástrofe que estamos presenciando - a constante repetição das guerras, o incessante
conflito entre classes, (…) pessoas, a horrível desigualdade econômica e social, (…) de capacidades e talentos, o abismo que se abre entre os que são muito felizes, livres de
perturbações, e os que se debatem nas malhas do ódio, do conflito e do sofrimento - em vista de tudo isso, há necessidade de uma revolução, de uma transformação completa. (…)
(Idem, pág. 281)

A transformação não está no futuro, não pode estar no futuro. Ela só pode ser agora, momento a momento. Assim sendo, que entendemos por transformação? Ora, é muito simples:
é ver o falso como falso, e o verdadeiro como verdadeiro. Ver a verdade no falso, e ver o falso naquilo que foi aceito como verdade. (…) Quando se vê que uma coisa é falsa, essa
coisa falsa se extingue. (…) Quando se vê que a distinção de classes é falsa, gera conflitos, cria miséria, divisão entre os homens, se se percebe a verdade a esse respeito, essa
própria verdade liberta. O próprio percebimento dessa verdade é transformação. (…) (Idem, pág. 282)

(…) E nós necessitamos deveras de uma mudança completa, de uma tremenda revolução. Necessitamos não de uma mudança de idéias, de padrões, mas, sim, da demolição, da
destruição total de todos os padrões. (…) E a mudança é necessária, pois não podeis continuar a viver com essas atitudes, crenças e dogmas tão insignificantes, estreitos, limitados.
Tudo isso precisa ser destroçado, destruído. (…) (O Passo Decisivo, pág. 243)

Creio que a maioria de nós percebe a necessidade de uma revolução radical de que resulte uma nova dimensão do pensamento, isto é, que comecemos a pensar num nível
completamente diferente, pois de modo nenhum podemos continuar como estamos e sempre estivemos, ou seja, repetindo um padrão e “funcionando” dentro de seus limites. (…)
(Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90)

Observa-se no mundo (…) a deterioração que está invadindo todos os níveis de nossa existência. E, observando esse fenômeno, (…) somos naturalmente levados a investigar se não
existirá um caminho diferente, uma diversa maneira de considerar o problema da existência e das relações humanas, (…) a possibilidade de uma revolução que projete todo o
processo do pensar numa dimensão inteiramente nova. (…) (Idem, pág. 90)

Quando, como atualmente, nos vemos em presença de uma crise tremenda (…) Dentro de nós tem de nascer um processo inteiramente diverso para podermos enfrentar essa crise, e
o nascimento desse processo não pode ser provocado pela mente consciente. (Viver sem Temor, pág. 35)

Temos, pois, de aprender de maneira nova e descobrir uma nova maneira de viver. Para isso, temos de investigar o atual estado da mente, da consciência, e ver se é possível operar
uma mutação fundamental e radical dessa consciência. (…) (Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 111)

O novo desafio que se apresenta aos entes humanos, que (…) vivem em tamanha aflição, agora aumentada por terríveis meios de destruição, o novo desafio é este, que deveis mudar
instantaneamente (…) Está visto, pois, que deveis reagir ao novo desafio de maneira nova. (…) (Palestras com Estudantes Americanos, pág. 22)

Reconhecemos necessária uma transformação fundamental em nossa maneira de pensar, uma radical transformação da mente e do coração do homem. Mas essa extraordinária
transformação não será realizada se fazemos continuar o que já existia, sob forma modificada. (…) (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 117)

Assim sendo, parece-me de grande importância compreender o “processo” total da individualidade. Porque, só quando o indivíduo se transforma radicalmente, pode haver uma
revolução fundamental na sociedade. É sempre o indivíduo e nunca a coletividade, que pode produzir uma mudança radical no mundo. (…) (Idem, pág. 118)

E mutação difere de mudança. (…) Mudança implica tempo, gradualidade, (…) continuidade do que foi; mas mutação implica uma quebra completa e a verificação de algo novo.
Mudança implica tempo, esforço, continuidade, modificação que requer tempo. Na mutação, não existe o tempo; ela é imediata. O que nos interessa é a mutação, e não a mudança.
O que nos interessa é a completa e imediata cessação da ambição, e essa quebra imediata da ambição é mutação. (A Mutação Interior, pág. 185)

Para sairmos desta crise, requer-se ação fora do tempo, (…) não baseada numa idéia, num sistema; (…) Assim (…) significa que a regeneração do indivíduo deve ser imediata, e
não um processo de tempo. Deve realizar-se hoje, e não amanhã; porque o adiar é um processo de desintegração. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, pág. 89)

A revolução só é possível agora, e não no futuro; a regeneração é hoje, e não amanhã. Se experimentardes o que estou dizendo, vereis que há regeneração imediata, um estado
novo, uma qualidade nova, porque a mente está sempre tranqüila quando está interessada, (…) tem o desejo ou a intenção de compreender. (…) Está em ação o mecanismo de
defesa, quando empregamos o tempo ou um ideal como meio de gradativa transformação. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 132)

(…) Sois responsável por tudo, e em vós é que deve verificar-se a “explosão”. Essa completa mutação deverá produzir uma transformação (…) Sabeis o que entendemos por
“mutação”? Há duas coisas importantes na vida: mudança e mutação. (…) Mudança implica a continuidade do que foi, modificado ou ampliado ou alterado. Mudança implica
movimento do conhecido para o conhecido, modificado. (…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 15)

(…) A mutação é coisa que não pode ser conhecida; porque, se já é conhecida, é apenas mudança. (…) A mutação é uma dimensão totalmente diferente; e, por conseguinte, deveis
ter olhos diferentes, um diferente coração, uma mente diferente (…) (Idem, pág. 15-16)

Assim, pois, estamos falando de uma mente capaz de servir-se do conhecimento, sem ser escrava do conhecimento; uma mente vazia e, por conseguinte, criadora. (…) Porque (…)
só do vazio pode provir uma coisa nova, e não da mente que está “carregada”, condicionada, etc. O novo não é condicionado pelo velho. O novo não é reconhecível pelo velho.
(…) (Uma Nova Maneira de Agir, pág. 16)

(…) Para se operar uma revolução fundamental dentro de nós, precisamos compreender, integralmente, o processo de nossos pensamentos e sentimentos, na vida de relação. (…) Se
pudermos compreender a nós mesmos, tal como somos, momento a momento, sem o processo da acumulação, veremos então como surge uma tranqüilidade que não é produto da
mente, (…) nem cultivada; e, só nesse estado de tranqüilidade, pode haver criação. (Por que não te Satisfaz a Vida? pág. 26)

Muito importa, pois, que se compreenda integralmente o processo do “eu”; porquanto, sem essa compreensão, não há possibilidade de ação nova e fundamental. Se uma pessoa
quer compreender a sociedade e promover uma revolução fundamental na estrutura social, ela tem, obviamente, de começar em si mesma; porque nós não somos diferentes da
sociedade. O que somos, a sociedade é. (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, pág. 152)

O que estou tentando comunicar-vos é muito simples. Compete-vos descobrir uma nova maneira de viver e de agir, descobrir o que significa o amor. E, para esse descobrimento,
não podeis servir-vos dos velhos instrumentos que possuís: o intelecto, as emoções, a tradição. (…) Têm seu valor próprio em certos níveis da existência, mas não valem nada
quando se trata de descobrir uma maneira de viver totalmente nova. Em outras palavras: a crise atual não se acha no mundo, mas em nossa própria consciência (…) (A Libertação
dos Condicionamentos, pág. 13)

Que significa compreender a totalidade? Significa, por certo, que devo compreender a totalidade de meu próprio ser, pois eu não sou diferente da sociedade. Sou produto da
sociedade, assim como a sociedade é uma “projeção” de mim mesmo; e para conseguir uma transformação fundamental da sociedade, devo transformar-me totalmente (…) (O
Homem Livre, pág. 19)

Poucas pessoas se interessam em si mesmas - a não ser quando se trata de seu êxito pessoal. (…) Refiro-me ao interesse que o indivíduo deve ter em transformar-se. Mas, em
primeiro lugar, a maioria de nós não percebe a importância, a verdade relativa à transformação; e, em segundo lugar, não sabemos como nos transformar, como produzir em nós
essa extraordinária, essa “explosiva” transformação interior. A transformação no nível da mediocridade - o trocar um padrão por outro - não é absolutamente transformação. (O
Homem Livre, pág. 136)

Aquela transformação “explosiva” deriva da concentração de toda a nossa energia, a fim de resolvermos o problema fundamental da inveja. Estou considerando este ponto como o
problema central, embora haja muitas outras coisas nele implicadas. Tenho a capacidade, a intensidade, a inteligência, a agilidade necessária para seguir os movimentos da inveja,
em vez de apenas dizer “não devo ser invejoso”? (…) Também (…) o ideal da “não-inveja” - o que é igualmente absurdo (…) (Idem, pág. 136-137)

(…) Mediante a legislação podeis alcançar certos resultados benéficos, mas, sem a alteração das causas internas, fundamentais, do conflito e do antagonismo, anular-se-ão tais
efeitos e surgirá novamente a confusão; as reformas externas requerem sempre novas reformas (…) Só estabelecendo interiormente a ordem e a paz é que poderemos criar
exteriormente um estado de ordem perdurável e a concórdia criadora.

(…) Sem extinguirmos em nosso íntimo, por nós próprios, a cupidez, a luxúria e a violência, a simples reforma exterior pode produzir resultados superficiais, mas serão destruídos
por aqueles que estão sempre buscando posição, fama, etc. Para se conseguir a mudança necessária e fundamental no mundo exterior, (…) deveis começar por vós e
transformar-vos profundamente. (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 105)

Homem Novo; Arquitetos, Agentes das Mudanças


Eis por que tanto importa, enquanto estais jovens, que não vos deixeis condicionar. (…) Os homens que investigam o que é a Verdade, o que é Deus - só esses homens podem criar
uma nova civilização, uma nova cultura, e não aqueles que se submetem ou se revoltam apenas dentro da prisão do velho condicionamento.

Podeis pôr as vestes de um asceta (…); mas, se não houver dentro de vós aquele movimento para descobrir o que é real, (…) a Verdade, vossos esforços serão sem significação.
Podeis ser muito ilustrados (…), mas tudo isso está dentro da prisão da tradição (…), não tem nenhum valor revolucionário. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 89)

Por homem civilizado não entendo aquele que conseguiu dominar o mecanismo da vida moderna. Civilização é o resultado de uma cultura (…), distinta da percepção individual da
Verdade. (A Finalidade da Vida, pág. 20)

Um homem civilizado, antes de tudo, não deve pedir a outros coisa alguma para si mesmo, e não deve necessitar de nada para si próprio. É esse o principal requisito, do meu ponto
de vista. (…) (Idem, pág. 20)

Pois bem: se esse homem não precisa pedir coisa alguma a outrem, significa isso que ele é um modelo para si mesmo, que é a sua própria luz - e, assim, não projetará sombras no
caminho de outrem. (…) (Idem, pág. 20)

Não o limita o temor da autoridade externa, o temor de um deus desconhecido, não o limitam as superstições e tradições, porque, no instante em que ele depender de alguém ou de
algo, a sua percepção da Verdade se atenuará. (Idem, pág. 20-21)

Também é necessário que ele seja dominado pela intuição, que é o ponto culminante da inteligência. (…) E se desejais despertar essa intuição (…) deveis manter a vossa
inteligência entusiasticamente desperta. (A Finalidade da Vida, pág. 21)

E deve, ainda, o homem civilizado, (…) culto, ser tolerante, capaz de examinar qualquer assunto imparcialmente, livre de preconceitos e influências, (…) capaz de um exame crítico
de toda coisa nova, antes de a rejeitar ou aceitar. (…) (Idem, pág. 21)

Esse homem chegou realmente ao alvo (…) embebeu realmente o seu coração nas águas da vida. (…) E esse estado só pode alcançar-se quando o alvo é o árbitro definitivo, a
autoridade decisiva. (…) (Idem, pág. 21-22)

Esse homem é simples, (…) é puro. Ele é lúcido e calmo (…) esse homem preencheu a vida, porque deixou a vida pintar o quadro que desejava e não foi ele quem, com sua
estreiteza, (…)suas limitações, deturpou e corrompeu a vida. (A Finalidade da Vida, pág. 22)

(…) E quando houverdes compreendido esse caminho, (…) realizado essa união, o tempo e todas as suas complicações deixarão de existir. (…) (Idem, pág. 22)

Sereis então vosso próprio Senhor, vosso próprio Deus, vossa própria Luz. E, uma vez realizado isso, todas as outras coisas serão secundárias, (…) desnecessárias. (Idem, pág. 22)

(…) São precisos novos arquitetos, novos construtores, para criar uma sociedade nova. A estrutura tem de ser edificada sobre alicerces novos, sobre fatos e valores novos, que
cumpre descobrir. Esses arquitetos não existem ainda. (…) Tal é o nosso problema. Vemos que a sociedade está ruindo e se desintegrando, e somos nós - vós e eu - que temos de ser
os arquitetos. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 3ª ed., pág. 36) (1ª ed., pág. 37)

Se o reformador (…) Quem quer reformar o mundo, deve primeiramente compreender-se a si mesmo, porquanto o mundo é ele. As atuais tribulações e degradações do homem são
acarretadas pelo próprio homem; e, se ele pretender reformar apenas o padrão do conflito, sem compreender-se fundamentalmente a si próprio, concorrerá somente para aumentar
a ignorância e o sofrimento. Se cada indivíduo procurar o valor eterno, chegará então o fim do conflito interior e descerá a paz sobre a terra. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz,
pág. 114-115)

Se desejais pôr termo ao conflito, à confusão e às tribulações que se vos deparam (…), de onde deveis partir? Do mundo, do exterior (…)? Ou deveis partir de vós mesmos, a fim de
eliminardes radicalmente as causas responsáveis por todos os conflitos e sofrimentos? Se fordes capazes de desvencilhar-vos da paixão e da mundanidade, em que se baseia a atual
civilização, descobrireis e compreendereis o valor eterno, esse valor que não se ajusta a molde algum. Sereis, então, quiçá, capazes de ajudar a outros. (O Egoísmo e o Problema da
Paz, pág. 114-115)

Nosso primeiro dever, por conseqüência, é descobrirmos o Real, porque somente ele nos dará paz e felicidade. Só nele pode cessar o conflito e a aflição; só nele se encontra a
potência criadora. Sem esse tesouro interior, pouca importância tem a organização das condições externas, por meio de legislação e (…) planos econômicos. Com a percepção do
Real, deixam de estar separados o “exterior” e o “interior”. (Idem, pág. 116)

(…) Conhecemos a fuga intelectual: racionalização, mais e mais planos engenhosos, técnica e mais técnica, mais e mais reações econômicas à vida, todas muito sutis e intelectuais.
E há a fuga pela via do misticismo, dos livros sagrados, da adoração de uma idéia estabelecida. Ora, tanto o intelectual como o místico são produtos da mente. O intelectual pode
ter a capacidade de falar, de expressar-se com mais clareza, mas também ele se recolhe nas suas idéias e ali vive muito tranqüilo, indiferente à sociedade, acalentando suas ilusões,
nascidas da mente. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 193-194)

(…) Somos nós, vós e eu, a gente comum, que temos de resolver este problema, sem sermos intelectuais nem místicos, sem escaparmos pela racionalização nem por meio de termos
vagos e de hipnose por palavras e métodos que são autoprojeções nossas. O que sois, o mundo é, e se não compreendeis a vós mesmos, o que criardes aumentará sempre a confusão
e o sofrimento; (…) (Idem, pág. 194)

(…) Ao falarmos em revolução, temos em vista a estrutura psicológica da sociedade em que nos vemos aprisionados (…) Há necessidade de pelo menos uns poucos indivíduos, não
um grupo organizado em torno de um dogma, uma crença ou um líder - indivíduos firmemente cônscios da própria psique e da sociedade, e cônscios, também, da necessidade de
uma revolução total, interior, para que não continuemos a viver neste estado de violência, de ódio, de antagonismo, de mera busca de prazeres e entretenimentos. (…) (Como Viver
neste Mundo, pág. 46-47)

Ora, (…) As revoluções fundamentais são produzidas pela massa, ou são elas iniciadas por uns poucos indivíduos de visão que, por seu verbo e sua energia, influenciam grande
número de pessoas? É assim que nascem as revoluções. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 89)

Afinal, a massa é uma entidade constituída de pessoas que estão enredadas, hipnotizadas por palavras, por certas idéias. (…) Não deveríamos manter-nos à margem da corrente e
tirar dela outros indivíduos, em número crescente, para, dessa maneira, influir na corrente? (…) (Idem, pág. 90)

Não é muito importante que se realize uma transformação fundamental no indivíduo, em primeiro lugar, (…) em vez de esperar que todo o mundo se transforme? Não é um ponto de
vista “escapista” (…) pensar que vós e eu não sejamos capazes de influir, por pouco que seja, na sociedade como um todo? (Idem, pág. 90)
Antes de agir, precisamos saber pensar. (…) Só quando vós e eu descobrirmos a maneira de pensar corretamente, estaremos aptos a resolver os formidáveis problemas que nos
desafiam. (Idem, pág. 13)

Ora, como começar a pensar corretamente? Precisais conhecer-vos a vós mesmos, não achais? (…) Vós que sois diferente do mundo; o problema do mundo é vosso problema, e o
vosso “processo” individual é o “processo” total do mundo. (…) (Idem, pág. 13)

O que tem importância (…) Vemos o que está acontecendo no mundo - o crescente conflito da destruição, da miséria. Esse conflito vós não podeis sustar; o que podeis fazer é
alterar a vossa relação com o mundo (…) o mundo de vossa esposa, vosso marido, vosso emprego, vosso lar. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 52)

Nesse mundo podeis operar uma transformação, e essa transformação se espalhará em círculos cada vez mais amplos; (…) Mas, se compreendemos o conflito da existência de cada
dia, podemos passar além, porque nisso se encerra todo o significado da vida. A mente em conflito é destrutiva, desperdiçada. (…) (Idem, pág. 52)

(…) Todos os intelectuais que se têm ocupado com esses problemas e tentado mostrar-nos o caminho, têm falhado. Os intelectuais falharam, suas fórmulas são impraticáveis. (…) O
que nos interessa, pois, é a ação, (…) o descobrimento de uma nova maneira de encarar esses problemas. Já vimos que, se os encararmos de acordo com as velhas e habituais
diretrizes, não conseguimos nenhuma modificação fundamental. (…) (A Arte da Libertação, pág. 12)

(…) É bem óbvio que não podemos ficar à espera de alguém, guru ou guia, que venha resolver nossas dificuldades. Isso é infantil, é um modo imaturo de pensar. A responsabilidade
é vossa e minha; e, uma vez que falharam os chefes e os guias (…) que nenhuma significação têm as fórmulas e os sistemas, não podemos ficar sentados como expectadores, à
espera de que nos digam o que fazer. (…) (Idem, pág. 12-13)

Antes de agir, precisamos saber pensar. Não há ação sem pensamento. A maioria de nós, porém, age sem pensar, e o agir sem pensar nos trouxe a esta confusão. Por conseguinte,
precisamos descobrir como pensar, antes de saber como agir. (…) Só quando vós e eu descobrirmos a maneira de pensar corretamente, estaremos aptos a resolver os formidáveis
problemas que nos desafiam. (…) (Idem, pág. 12)

Os problemas que se apresentam a cada um de nós e, portanto, ao mundo, não podem ser resolvidos pelos políticos ou pelos especialistas. Esses problemas não são resultado de
causas superficiais. (…) Nossos problemas são complexos; só podem ser resolvidos como um processo total das reações humanas ante a vida. Podem os especialistas oferecer-nos
planos de ação cuidadosamente elaborados, mas não são as ações planejadas que irão trazer-nos a salvação, mas tão somente a compreensão do processo total do homem, isto é,
de vós mesmos. Os especialistas só têm capacidade para tratar de problemas num nível exclusivo, com o que aumentam os nossos conflitos e a nossa confusão. (O Caminho da Vida,
pág. 25)

(…) Julgamos que muito pouco podemos fazer neste mundo, que os grandes políticos, os escritores famosos, os grandes guias religiosos são homens capazes de ação fora do comum.
Na verdade, entretanto, vós e eu somos infinitamente mais capazes de produzir uma transformação fundamental do que os políticos profissionais e os economistas. Se dermos
atenção às nossas próprias vidas, se compreendermos as nossas relações com os outros, teremos criado uma nova sociedade; do contrário, não faremos mais do que perpetuar a
atual desordem e confusão. (Nosso Único Problema, pág. 30)

A esperança de um novo mundo está naqueles de vós que começarem a ver o que é falso e a revoltar-se contra o falso, não apenas verbalmente, porém realmente. E esta é a razão
por que deveis buscar a educação correta; pois, só crescendo em liberdade, podereis criar um novo mundo não baseado na tradição ou moldado de acordo com a idiossincrasia de
certo filósofo ou idealista. (A Cultura e o Problema Humano, pág. 18)

(…) Para sermos livres, devemos pôr em dúvida a reação social, pois só então poderemos descobrir se o indivíduo é apenas o resultado da sociedade, ou algo mais. (…) Só os que
põem em dúvida são capazes de promover a revolução social. Tais indivíduos, uma vez livres de padrões, de crenças, de ideologias, estão aptos para ajudar a criar uma nova
sociedade, não baseada em condicionamento algum. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 8)

(…) Senhor, uma nova sociedade, uma nova ordem, não pode ser estabelecida por outras pessoas; ela tem de ser estabelecida por vós mesmo. Uma revolução baseada numa idéia
não é revolução, absolutamente. A verdadeira revolução vem de dentro, (…) só vem quando compreendeis as vossas relações, (…) atividades diárias, vossa maneira de proceder, de
pensar, de falar, vossa atitude para com o próximo, para com vossa esposa, vosso marido, vossos filhos. (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 196-197)

Se, como indivíduos, não produzirmos essa transformação, de que outra maneira se produzirá ela? (…) Os poderosos, os milionários, os homens de muitas posses, não o farão. Isso
tem de ser feito por gente comum, por vós e por mim. (…) Um homem pode ter coragem para opor-se aos ditames da sociedade; mas só o homem que compreende o complexo
problema da transformação (…) a estrutura da sociedade, que é ele próprio, torna-se um verdadeiro indivíduo, e não um simples representante do todo coletivo. Só o indivíduo que
não está preso à sociedade, pode influenciá-la. (…) (Verdade Libertadora, pág. 36)

Senhores, toda sociedade nova, toda civilização nova, deve ser começada por vós. Como foi que começou o cristianismo, o budismo, e todo movimento significativo? Pela iniciativa
de uns poucos inflamados pela idéia e pelo sentimento. Tinham eles os corações abertos a uma vida nova. Constituíam um núcleo, não tinham crença em determinada coisa, mas
tinham em si próprios a experiência da realidade - a realidade daquilo que viam. (…) (O que te fará Feliz, pág. 18)

Senhores, deveria existir uma classe de pessoas independentes do governo, não pertencentes à sociedade, à margem da sociedade - a atuarem como guias. Essas pessoas são os
“açoitadores”, os profetas, que vos apontam os vossos grandes erros. (A Arte da Libertação, pág. 95)

Mas não existe nenhum grupo desses, porque o governo, no mundo moderno, não pode apoiar tal grupo, um grupo sem autoridade, que não pertence ao governo, a nenhuma
religião, casta ou nação. É só um grupo desses que pode atuar como freio aos governos. (…) (Idem, pág. 95)

Em razão de os governos se estarem tornando cada vez mais prepotentes, pondo a seu serviço uma maioria de seres humanos, os cidadãos, em números cada vez maiores, se vão
tornando incapazes de pensar por si mesmos.(…) Assim, só quando existe um grupo desses, um grupo enérgico, inteligente, ativo, só então há esperança de salvação. (…) (A Arte da
Libertação, pág. 95)

Se não é, cumpre então que vos liberteis inteligentemente, despejando-vos do nacionalismo, da ganância, da inveja, do poder que a autoridade confere; e então, sendo um ser
inteligente, estareis habilitado para observar a situação mundial e contribuir para o estabelecimento de uma nova educação e uma nova sociedade. (Idem, pág. 95-96)

(…) Agora, aqueles que têm lazeres, como as pessoas mais idosas, aposentadas, poderiam agir como intermediários, como instrumentos para a realização da revolução mundial.
Dispõem de tempo, mas são indiferentes. E os que vivem empenhados em incessantes atividades, esses estão no meio da torrente e não dispõem de tempo para procurar as soluções
dos vários problemas da vida. (Novo Acesso à Vida, pág. 151)

Assim, aqueles que se interessam por essas coisas, pela realização de uma transformação radical no mundo, resultante da compreensão de si próprios - só deles se pode esperar
algo. (Idem, pág. 151)

Senhores, não vos parece ser esta uma pergunta importante que devemos fazer a nós mesmos? Pois estamos sempre satisfeitos com o conhecido; mas se arranhamos a crosta do
conhecido, não encontramos nada, depara-se-nos o vazio, o vácuo. E, por certo, é muito importante saiba a mente viver de modo integral dentro desse vazio, desse silêncio e, lá,
pensar e expressar-se, fomentar o pensamento e, conseqüentemente, a ação. (Visão da Realidade, pág. 204)

Eis por que devemos compreender o que significa “aprender”. Além de certo limite, nada mais podemos aprender, pois nada há que aprender, não há instrutor que possa
ensinar-nos. E a esse ponto temos de chegar - o que significa, realmente, ser completamente livre de todo desejo de nos tornarmos alguma coisa, todo desejo de mais. (Idem, pág.
204)

Só quando a mente se acha nesse estado de vazio, em que não há conhecimento, em que não há mais o experimentador, aprendendo, acumulando - só então existe aquele esforço
criador, podendo expressar-se através de vários talentos e artes, sem causar mais sofrimentos. (Visão da Realidade, pág. 204)

Está visto, pois, que devemos chegar àquele ponto em que nada há para aprender, porque lá a mente está livre da sociedade, livre de todas as mistificações, livre da luta pelo
reconhecimento de nossa posição social, etc.; e só nesse estado de liberdade, fora do alcance da sociedade, se pode criar uma nova cultura, inaugurar uma nova civilização. (…)
(Idem, pág. 204-205)

(…) Só existe a autoridade quando existe o medo. Com a compreensão do medo, da autoridade e da rejeição de todos os desejos de experiência - e essa é realmente a plenitude da
madureza - torna-se a mente completamente silenciosa. Só nesse silêncio que é sumamente ativo - pode verificar-se uma revolução total na psique. Só então está a mente apta a
criar uma nova sociedade, (…) comunidade, constituída de pessoas que, embora vivendo no mundo, a ele não pertençam. A vós cabe o dever de criar essa comunidade. (A
Importância da Transformação, pág. 69)

Mundo do Porvir; Nova Ordem, Princípios, Ensaios


O indivíduo, por conseguinte, é que é importante, e não a sua idéia ou aquele a quem segue, ou a sua pátria, ou a sua crença. Vós é que tendes importância, e não a ideologia ou a
nação, a bandeira ou o credo a que pertenceis; (…) Esses fatores de condicionamento podem, num dado nível, ser úteis como conhecimento; mas, noutro nível, (…) tornam-se eles
daninhos e destrutivos em extremo. (…) (Nosso Único Problema, pág. 82-83)

Se queremos ter paz no mundo, não podemos mais pertencer a nenhuma nacionalidade. Aqueles que são pessoas importantes no mundo, que têm posição, prestígio, não desejarão
naturalmente fazer nenhuma experiência nesse sentido (…). Só as pessoas comuns, aquelas que não têm nem poderio nem posição e que lutam e se esforçam por compreender, são
essas, talvez, as que começarão a experimentar e a descobrir por si mesmas. (Viver sem Temor, pág. 23)

(…) A submissão do homem aos interesses materiais equivale, em última análise, a provocar guerras e catástrofes econômicas e sociais. Procurar o enriquecimento por meio de
coisas, sejam elas manufaturadas, sejam produto do intelecto, é criar pobreza interior, (…) desventura. O acúmulo de tais riquezas e a relevância que lhes atribuímos privam o
pensamento-sentimento de compreender o real, o único fator capaz de trazer ordem, clareza, felicidade. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 152)

Por certo, toda mudança exige ordem. Vemo-nos atualmente num estado de desordem, e, para se sair da desordem, necessita-se de ordem: ordem social, ordem dentro de nós
mesmos, e ordem em nossos valores (…) perspectiva das coisas. Assim, pois, mudar (…) significa estar livre para estabelecer a ordem. (…) A sociedade teme que a liberdade
acarrete desordem, porque está satisfeita em viver nessa desordem a que chama “ordem”. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 26)

Assim, quando emprego a palavra “mudança”, entendo: “mudança da desordem para a ordem”; porque, como indivíduos humanos, não nos achamos em ordem. Estamos em
conflito, (…) confusos, ambiciosos, ávidos, invejosos (…) Temos medo, terror, de tantas coisas; e alterar inteiramente essa estrutura de medo, significa promover a ordem. (…)
(Idem, pág. 26)

(…) A ordem, portanto, não é produto de revolta, porque a revolta contra a sociedade é uma reação que só produzirá uma série de ações dentro dos limites da estrutura social, e,
como acontece com o comunismo ou qualquer outra espécie de reação, volta-se, com o tempo, ao ponto de partida. (Idem, pág. 26-27)

A ordem - que é em essência o começo e o fim da virtude - não surge (…) mediante ato deliberado. Qualquer ato deliberado para estabelecer a ordem é imoral (…) A ordem social
que estabelecemos em várias partes do mundo baseia-se (…) na competição, na inveja e na brutalidade. Nossa ordem social é desordem e, por conseguinte, imoral. Não estou
condenando a sociedade, porém apenas discriminando fatos. (O Descobrimento do Amor, p. 111)

Mas a ordem é negada por causa da própria estrutura básica, psicológica da sociedade. Ainda que se proclame o contrário, a sociedade está notoriamente baseada na competição,
na avidez, no impulso agressivo (…) Em tal sociedade não pode existir liberdade (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 116)

A ordem só pode nascer do percebimento da desordem. Não podeis criar a ordem; percebei bem esse fato. O que podeis fazer é tornar-vos cônscios da desordem existente tanto no
exterior como no interior. Uma mente desordenada não pode criar nenhuma ordem, porque não sabe o que significa ordem. Poderá unicamente (…) criar um padrão a que chama
“ordem” e, depois, tratar de ajustar-se a esse padrão. Mas, se a mente se torna cônscia da desordem em que está vivendo - ou seja, do negativo, sem projetar o positivo - a ordem se
torna então algo extraordinariamente criador, um movimento vivo. (…) (O Descobrimento do Amor, pág. 121)

A ordem que vem da compreensão da desordem, não segue nenhum plano previamente traçado (…) nenhuma autoridade, ou vossa própria experiência. Essa ordem, é óbvio, deve
surgir sem se fazer nenhum esforço - pois o esforço deforma -, sem se exercer nenhum controle. (Fora da Violência, pág. 78)

Controle supõe repressão, rejeição ou exclusão, separação entre o “controlador” e “a coisa controlada”, supõe conflito. (…) Dizeis: “como pode haver ordem sem controle, sem a
ação da vontade?” - mas, como já dissemos, controle implica separação entre “o controlador” e a coisa que vai ser controlada; nessa divisão, há conflito, deformação. Quando se
percebe isso realmente, está terminada a separação entre “controlador” e “coisa controlada” e, por conseguinte, há compreensão. (…) (Idem, pág. 78)

A ordem não é um plano, um padrão de vida. Ela só vem ao compreendermos o “processo” total da desordem. (…) Nossa vida é desordem, ou seja, contradição - dizer uma coisa,
fazer outra, (…) Essa é uma existência fragmentária e, dentro dessa fragmentação, queremos descobrir uma espécie de ordem. (…) A mente sujeita ao controle e à disciplina,
padrão estabelecido pela própria pessoa, pela sociedade ou por determinada cultura, não é livre, é (…) deformada. (…) E pela compreensão da desordem, de como se origina ela,
surge a ordem - uma coisa viva. (Fora da Violência, pág. 117)

A ordem, pois, é necessária, e a própria compreensão da desordem cria sua peculiar disciplina, e esta é ordem, sem repressão nem ajustamento. (…) Disciplina significa
“aprender”, e não acumular conhecimentos mecânicos; cumpre-nos aprender a respeito da vida desordenada que estamos levando (…) Se o estamos observando em nós mesmos,
surgirá então, naturalmente, a ordem, a liberdade; estaremos livres de toda e qualquer autoridade e, por conseguinte, do medo. Poderemos errar, mas saberemos corrigir
imediatamente os nossos erros. (Idem, pág. 117-118)

A ordem, conforme me parece, só pode realizar-se ao descobrirmos por nós mesmos o que gera desordem; da compreensão do verdadeiro fator da desordem, nascerá naturalmente
a ordem. (…) Assim, a ordem a que nos referimos não é um ato positivo, porém só se realiza pela compreensão e negação da desordem. Mas, da compreensão da desordem resulta
uma ordem natural. (…) (A Suprema Realização, pág. 222-223)

Cumpre-nos averiguar o que é que gera a desordem, tanto no mundo exterior como no interior. A compreensão da desordem exterior traz a compreensão da desordem interior. Mas
essa desordem que dividimos em “exterior” e “interior” é essencialmente uma só e mesma coisa; (…) porquanto cada um de nós (…) é ao mesmo tempo sociedade e indivíduo. O
indivíduo não está separado da sociedade; ele criou a estrutura psicológica da sociedade, e nela se acha todo enredado. Se trata de libertar-se dessa estrutura psicológica. (Idem,
pág. 223-224)

Ordem significa um estado mental em que não há contradição e, portanto, nenhum conflito. Isso não implica estagnação ou declínio. A ordem que obedece a uma fórmula, a um
ideal ou conceito é, simplesmente, desordem. Se um ente humano se ajusta a um padrão de pensamento - uma certa coisa ideal que ele deveria ser - nesse caso está meramente a
imitar, a ajustar-se, a disciplinar-se, a forçar-se, a fim de adaptar-se a um molde. (…) (A Essência da Maturidade, pág. 21)

Ora, (…) estamos começando a ver o que é necessário, e que a ordem, a absoluta ordem interior, é indispensável. Há duas espécies de ordem: a primeira é a ordem gerada pela
disciplina, a ordem do soldado, exercitado (…) para obedecer, ajustar-se, cumprir instruções. (…) Essa é (…) uma ordem puramente mecânica e insignificante. (Onde está a
Bem-Aventurança, pág. 56)

Mas, há outra ordem, de espécie totalmente diferente, não dependente de ajustamento, de imitação, de padrão algum. (…) Porque a liberdade é absolutamente necessária. (…) E a
liberdade não vem por meio da disciplina, mas por meio da ordem - não a ordem mecânica da respeitabilidade, (…) que a sociedade quer impor ao homem, (…) de uma sociedade
corrupta, em decomposição. A ordem a que nos referimos é de espécie e dimensão totalmente diferentes; ela vem com a compreensão da desordem. Da negação do que não é
verdadeiro, vem o positivo. (Idem, pág. 56)

Passemos, pois, a descobrir o que é a desordem. Toda a atual estrutura social baseia-se na desordem, com divisões de classe e de outra espécie. Quando cada homem só está a
trabalhar para si próprio, a competir, a endeusar o êxito e a fama - isso faz parte da desordem, tanto exterior como interior. Desordem significa conflito interior, profundo, na
estrutura psicológica; e conflito exterior, com o próximo, com a esposa ou marido. (Onde está a Bem-aventurança, pág. 56-57)

Existirá sempre conflito enquanto houver atividade egocêntrica. E o conflito gera, necessariamente, a desordem. Há a desordem decorrente das nacionalidades (…); a desordem
causada pelas religiões, separando as pessoas (…) E, para descobrirmos o que é a ordem (e ela existe dentro de nós, a ordem absoluta, e não uma ordem relativa, circunstancial:
ordem total e absoluta) - para descobrirmos o que é a ordem, temos de compreender o que é a desordem, (…) a desordem existente no mundo e os fatores que a produzem. (…)
(Idem, pág. 57)

A ordem, pois, é virtude. (…) A ordem, como a virtude, não é cultivável; se cultivais a humildade, não sois, de certo, humilde (…) O que se pode fazer é apenas ver a desordem total
existente dentro e fora de nós - vê-la! (…) Não se pode ver a desordem por meio de explicações, (…) de análise das várias causas da desordem. (Onde está a Bem-Aventurança, pág.
57)

O homem, no mundo inteiro, está sendo organizado - econômica, social e religiosamente. Vive em cidades densamente povoadas, em arranha-céus, em “gavetas”, em “caixas”. (…)
E, enredado nessa espantosa “eficiência” organizadora (…), busca o homem fronteiras mais longínquas, espaço mais amplo, (…) ilimitado, sem horizonte, sem margens. (…) (Uma
Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 135)

Vós não deveis seguir a ninguém, inclusive a mim mesmo. Pela vossa voluntária compreensão é que chegareis a criar qualquer organização que se torne necessária. Ao passo que,
se uma organização vos fosse imposta, tornar-vos-íeis meros escravos dessa organização e seríeis explorados. (…) (Palestras no Chile e México, 1935, pág. 16-17)

Eu não sou contra todas as organizações. Sou contra aquelas que impedem o preenchimento individual, especialmente a organização que se chama religião, com seus temores,
crenças (…) Supõe-se que ela auxilia o homem, porém, de fato, embaraça profundamente o seu preenchimento. (Idem, pág. 17)

(…) O problema é também vosso, porquanto todos nós necessitamos de roupa, alimentação e moradia. Essas coisas precisam ser organizadas em escala mundial, e não apenas
numa escala comunal, o que significa que necessitamos de homens que não estejam com o sentido no nacionalismo, etc., mas, sim, no próprio homem. Que tenham em mente (…) a
felicidade humana. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 14)

No entanto, podemos viver em extrema simplicidade e sensatez, e conseqüentemente em paz, se nossa mente e nosso coração não estão entranhados do desejo de posse, quer das
coisas feitas pela mão, quer das criadas pela mente. (O Caminho da Vida, pág. 20)

O de que necessitamos em matéria de alimentação, vestuário e teto, chegar-nos-á de maneira fácil e racional, quando as nossas vidas tiverem sido libertadas da violência. Essa
liberdade que nos abriga da violência é o Amor. (Idem, pág. 20)

O especialista, econômico ou religioso, político ou social, nos está conduzindo ao desastre. Cada um de nós deve interessar-se com empenho na criação de uma nova sociedade ou
uma nova civilização, resguardada das causas que estão destruindo e desintegrando o mundo em que vivemos. (…) (Idem, pág. 20)

(…) Podem os especialistas oferecer-nos planos de ação cuidadosamente elaborados, mas não são as ações planejadas que irão trazer-nos a salvação, mas tão somente a
compreensão do processo total do homem, isto é, de vós mesmos. (O Caminho da Vida, pág. 25)

(…) Isto é, ao invés de esperarmos por um milagre que altere este sistema, é necessário que haja uma completa mutação revolucionária cuja necessidade todos reconhecem.
(Palestras em Auckland, 1934, pág. 154)

(…) Quer isto dizer, senhores, que somente pode haver verdadeira liberdade de comércio, desenvolvimento das indústrias, etc., quando não mais houver nacionalidades no mundo.
(…) Enquanto houver muros tarifários protegendo cada país, haverá guerras, confusão e caos; (…) (Idem, pág. 155)

Ora, na minha opinião, a exploração manifesta-se quando os indivíduos buscam ter mais do que exigem as suas necessidades essenciais. (…) Naturalmente, necessitamos de
alimento, abrigo, vestuário e tudo o mais; porém, a fim de tornar essas coisas possíveis para todos, os indivíduos têm de começar a perceber quais são as suas próprias
necessidades, e organizar sobre elas todo o sistema de pensamento e ação. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 153)

Pergunta: O senhor, como outros orientais, parece ser contrário à industrialização. Por quê?

Krishnamurti: Não sei se muitos orientais são contrários (…), mas julgo já haver explicado (…) não ser a industrialização a solução para os problemas humanos e os conflitos e
aflições deles decorrentes. (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 92)

A mera industrialização estimula os valores materiais; banheiros e automóveis amplos e luxuosos, distrações, diversões e tudo o mais. Aos valores eternos se sobrepõem os
transitórios. Procura-se a felicidade e a paz por meio da posse, das coisas elaboradas pela mão e pela mente do homem. (…) (Idem, pág. 92)

Queremos nos distrair, divertir-nos, fugir de nós mesmos, tal a nossa miséria e pobreza interior, a nossa vacuidade e tristeza. E, desse modo, onde há procura, há produção e a
tirania da máquina. No entanto, julgamos poder solucionar o problema econômico e social com a simples industrialização (…) (Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade,
pág. 92)

Podeis fazê-lo temporariamente, mas com isso surgem as guerras, as revoluções, a opressão e a exploração, conduzindo a chamada civilização - a industrialização e tudo que ela
implica - a um estado de barbárie. (…) Para o indivíduo rico interiormente, a industrialização tem seu devido significado. (…) (Idem, pág. 92-93)

Sem o poder equilibrante da compaixão e da espiritualidade, teremos, com o simples aumento da produção de coisas, o aperfeiçoamento de obras e de técnica, guerras de maiores
proporções e mais bem organizadas, opressão econômica e fronteiras poderosas, bem como formas mais sutis de ludibriar, desunir e tiranizar. (Idem, pág. 93)

Senhor, este é o “nosso mundo”. Não é um mundo comunista, nem um mundo capitalista, mas um mundo nosso, para nele vivermos (…) e sermos felizes. (…) Mas quando existe o
sentimento de que esta é a nossa Terra, não haverá então empregador e empregado, não haverá o sentimento de que um é o “patrão” e outro, “o empregado”. (…) (As Ilusões da
Mente, pág. 61)

(…) O homem de negócios pergunta: “que posso fazer?” Se ele tiver aquele sentimento, poderá fazer centenas de coisas; poderá fazer ricos os pobres, dando-lhes participação no
negócio, tornando o seu negócio uma sociedade cooperativa. (…) (Idem, pág. 62)

Penso ser este o problema real (…) Temos agora as máquinas e as técnicas que permitem produzir tudo de que necessita o homem, e em breve, provavelmente, teremos uma
distribuição equitativa dos recursos para a satisfação das necessidades físicas, e a cessação da luta de classes; mas o problema básico continuará existente. O problema básico é
que o homem não é criador, não descobriu por si mesmo a extraordinária fonte de criação, não inventada pela mente; e só quando se descobre essa fonte criadora, atemporal, é que
se encontra a suprema felicidade. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 55)

Estão-se verificando importantes mudanças no mundo, no campo científico e no campo da medicina. Temos o computador, a automação, que irão proporcionar ao homem muito
lazer. Ainda não chegou talvez a hora de fruirmos esse lazer, mas está por chegar. O homem vai ter liberdade e lazer em abundância, para fazer o que quiser. A família, as relações
entre marido e mulher - tudo vai ser revolucionado. Na hora atual, ocorre uma extraordinária mudança no mundo, no terreno econômico, social, científico, médico. (Viagem por um
Mar Desconhecido, pág. 111)

(…) Porque, no final de tudo, o mundo tenderá mais e mais e mais no sentido da federação e não do constante fracionamento. (…) Nessas condições, o que cada um de nós pode
fazer é abandonar o comunalismo: podemos deixar de ser brahmanes, (…) de pertencer a qualquer casta ou a qualquer nação. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 6)

Posso expor os princípios básicos, (…) mas não tem valor algum. O que tem valor é vós e eu descobrirmos juntos os princípios básicos sobre os quais se deveria edificar uma
sociedade nova; porque no momento em que descobrirmos, conjuntamente, (…) existirá uma nova base de relações entre nós. (…) (Novo Acesso à Vida, pág. 154)
Já não serei o instrutor e vós o discípulo, ou vós o auditório e eu o conferencista (…) Significará isso ausência de autoridade (…) Seremos parceiros no descobrimento e, por
conseguinte, estaremos em cooperação; (…) (Idem, pág. 154)

Enquanto houver autoridade nas relações entre pessoas, haverá compulsão; e pela compulsão nada se pode criar. Um governo que compele, um instrutor que compele, um ambiente
que compele, não cria relações, mas apenas um estado de escravidão. (Idem, pág. 154)

(…) Quando não existe domínio, autoridade, compulsão, que significa isso? Significa, é claro, que há afeição, que há ternura, que há amor, que há compreensão. (…) (Novo Acesso
à Vida, pág. 155)

É muito importante que cada um de nós descubra qual é a sua relação com a sociedade, se ela está baseada na ganância - que significa auto-expansão , preenchimento do “eu”,
que supõe poder, posição, autoridade - ou se simplesmente aceitamos da sociedade as coisas essenciais, tais como alimentação, roupa e moradia. (…) (A Arte da Libertação, pág.
173)

(…) Como a atual sociedade se está desintegrando rapidamente, precisamos descobrir; e aqueles cuja relação é só de necessidade, criarão uma nova civilização, constituirão o
núcleo de uma sociedade na qual as coisas necessárias à vida serão distribuídas equitativamente, e não utilizadas como meio de auto-expansão. (…) (Idem, pág. 174)

Considerando-se o mundo - não só o que se passa neste país, na Ásia, mas também na Rússia, onde estão ocorrendo grandes mudanças (…) - considerando-se tudo isso, não
podemos deixar de perguntar-nos se a nova semente já estará a germinar, se já estará a nascer uma nova cultura, uma nova sociedade, uma mente nova, não moldada pelo velho
padrão, (…) isenta das infantilidades que hoje praticamos. (…) (A Importância da Transformação, pág. 103)

O desafio é imenso; temos de enfrentá-lo (…) com a compreensão de todo este mundo humano - de guerras, fome, nações subdesenvolvidas, superpovoamento, o luxo dos ricos e o
sofrimento dos pobres, etc., etc. (…) Se pudermos observá-lo totalmente, (…) penso que encontraremos então a resposta - a qual pode não corresponder a nosso gosto, pode não ser
a que desejamos. (…) (Idem, pág. 104)

(…) Digo-vos, porém, que não podeis resolver esses problemas separadamente; não podeis resolver o problema religioso isoladamente, nem o econômico, nem tampouco o social,
mas fá-lo-eis verificando a relação de interdependência que entre si têm os problemas religioso, social e econômico. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 5)

(…) Enquanto não tratarmos dos problemas social, religioso e econômico como um todo compreensivo e não dividido, percebendo antes a delicada e sutil conexão (…), não o
podereis resolver, apenas aumentareis a luta. (Palestras em Auckland, 1934, pág. 6)

Pergunta: Por que não alimentais os pobres, em vez de falar?

Krishnamurti: Agora, o interrogante quer saber por que falo. (…) Para que os pobres sejam alimentados, necessita-se uma revolução completa; não uma revolução superficial, da
esquerda ou da direita, mas uma revolução radical; (…) Uma revolução baseada em idéia não é revolução; pois qualquer idéia é mera reação a determinado condicionamento, (…)
não pode produzir modificação fundamental. (…) (Que Estamos Buscando, pág. 29-30)

Só quando vós e eu estivermos livres de idéias, poderemos produzir uma revolução radical, interiormente, e, portanto, exteriormente. Não se trata de ricos nem de pobres. O que há
é a dignidade humana, o direito de trabalhar (…) Não há, então, ninguém que tenha demais, para dar de comer aos que tenham de menos. Não há diferenças de classes. (…) (Idem,
pág.30)

Será uma realidade, quando houver aquela radical revolução interior. (…) Uma transformação fundamental dentro de cada um de nós. Não haverá então nem classes, nem
nacionalidades, nem guerras, nem separatismo destrutivo; e isso só poderá verificar-se quando houver amor em vosso coração. (…) (Idem, pág. 31)

A unidade humana só pode encontrar-se no amor, no esclarecimento que nos traz a verdade. Essa unidade do homem não pode estabelecer-se mediante simples ajustamento
econômico e social. (…) Esperamos que uma revolução externa, uma reforma exterior dos valores, transformem o homem.

Embora, sem dúvida, essas coisas produzam certos efeitos no homem, a sua vontade aquisitiva (…) continua a existir. Essa atividade aquisitiva, infinita e vã, não pode em tempo
algum trazer a paz ao homem, e é só quando o indivíduo está livre dela, que pode haver o estado criador. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 168)

Bibliografia
(Obras de Krishnamurti, edições consultadas)

Aos Pés do Mestre (At the Feet of the Master, 1910), RJ, 1957

A Educação como Serviço (Education as Service, Adyar, Índia, 1912) SP, Brasil 1949

The Path (A Senda), Ommen, Holanda, 1924; Adyar, Índia, 1924

The Citizen as a Divine Agent (O Cidadão como Agente Divino), Adyar, Índia, 1924

Towards Discipleship (Para o Discipulado), Adyar, Índia, 1925

Auto-Preparação (Self-Preparation, 1926), Ag. de "A Estrela" no Brasil, RJ, 1929

Temple Talks (Palestras no Templo), Madrasta, 1925-1926, SPT, 1927

A Busca (The Search), Londres, 1927, ICK, RJ, 1982 (4ª ed.)

O Reino da Felicidade (The Kingdom of Happiness) (Palestras em Ommen, Holanda, 1926-1927) Ag. de "A Estrela" no Brasil, RJ, 1928

A Ponte da Sabedoria (The Pool Wisdom; Who Brings the Truth; By what Authority: Three Poems) (Ommen, Holanda, 1926-1928) Ag. de "A Estrela no Brasil, RJ, 1931

The Meeting of East and West (O Encontro Oriente-Ocidente), Londres, 1927

Que o Entendimento seja Lei (Let Understanding be the Law) (Palestra em Ommen, Holanda, 1928) ICK RJ, 1949

Vida em Liberdade (Life in Freedom) (Palestras em Benares, Ojai e Ommen, 1928) ICK, RJ - Cartas de Notícias ns. 1 a 6, de 1945

A Finalidade da Vida (Life the Goal) (Palestra em Ommen, Holanda, 1928) ICK, RJ, 1949

O Amigo Imortal (The Immortal Friend) (Ommen, Holanda, 1928) Ag. de "A Estrela" no Brasil, RJ, 1929

Now (Agora) (Ommen, Holanda, 1929)

The Dissolution of the Order of the Star - Ommen, Holanda, 1929

Experiência e Conduta (Experience and Conduct) (Palestras em Ommen, Holanda, 1930) ICK, RJ - Carta de Notícias nº 3, de 1941
Pathless Reality (A Realidade sem Caminho) Ommen, Holanda, 1930

A Vision of Life (Uma Visão da Vida) (Hollywood, 1930)

L'Homme et les Problèmes de la Vie (Bruxelas, 1931)

Canção da Vida (The Song of Life) (Ommen, Holanda, 1931) ICK, RJ, 1982 (4ª ed.)

Palestras na Itália e Noruega, 1933 (Krishnamurti - Italy and Norway, 1933) ICK, RJ, 1939

Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934 (Krishnamurti - Adyar, Índia, 1933-1934) ICK, RJ, 1942

Palestras em Ojai, Oak Grove, Califórnia, 1934 (Krishnamurti - Ojai, Oak Grove, California, 1934) Ag. do SPS no Brasil, RJ, 1934

A Luta do Homem (Krishnamurti - Ojai, California, 1934) ICK, RJ, 1948

Palestras em Auckland, 1934 (Krishnamurti - Auckland, 1934) ICK, RJ, 1944

Teacher of the Direct Path (O Instrutor do Caminho Direto) - Karach, Índia, 1934

Palestras em Nova York, 1935 (Krishnamurti - New York City (Town Hall), 1935) ICK, RJ, 1935

Coletânea de Palestras (Ojai, Londres, Adyar, Itália, Auckland, Nova York, 1930-1935) Ag. de "A Estrela" no Brasil, RJ, 1935

Palestras na América Latina - Brasil, 1935. ICK, RJ, 1936

Palestras na América Latina - Uruguai e Argentina, 1935. ICK, RJ, 1936

Palestras na América Latina - Chile e México, 1935. ICK, RJ, 1936

Palestras em Ojai, Oak Grove, Califórnia, 1936 (Krishnamurti - Ojai, Oak Grove, Califórnia, 1936) Ag. do SPS no Brasil, RJ, 1936

Palestras em Ommen, Holanda, 1936 (Krishnamurti - Ommen Camp, 1936) ICK, RJ, 1938

Palestras em Nova York, Eddington, Madrasta, 1936 (Krishnamurti - New York, Eddington, Madras, 1936) ICK, RJ, 1938

Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938 (Krishnamurti - Ommen Camp, 1937-1938) ICK, RJ, 1940

Palestras em Ojai e Sarobia, 1940 (Krishnamurti - Ojai, Sarobia, 1940) ICK, RJ, 1943

Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade (Krishnamurti - Ojai, California, 1944) ICK, RJ, 1947

O Egoísmo e o Problema da Paz (Krishnamurti - Oak Grove, Ojai, California, 1945-1946) ICK, RJ, 1949

A New Approach to Life - The Way of Living - The Way of Peace, Índia (Madras, Bombay), 1947

Uma Nova Maneira de Viver (Krishnamurti's Talks in India (Madras), 1947) ICK, RJ, 1950

Notes of Groupes - Discussions at Madras during 1947 with J. Krishnamurti. KWI, India, 1947

Notes of Groupes - Discussions during April 1948 with J. Krishnamurti, Madras, 1948 - KWI, India, 1948

A Arte da Libertação (Krishnamurti's Talks in India (Poona - New Delhi), 1948) ICK, RJ, 1950

Da Insatisfação à Felicidade (Krishnamurti's Talks in India (Bombay), 1948) ICK, RJ, 1954

Novo Acesso à Vida (Krishnamurti's Talks in India (Bangalore), 1948) ICK, RJ, 1955

O que te fará Feliz? (Krishnamurti's Talks in India (Benares), 1949) ICK, RJ, 1950

O Caminho da Vida (The Way of Living - Talks Broadcast All - India, 1947-1950) ICK, RJ, 1951

Action Relationship (Krishnamurti - Broadcast talks in Colombo, Ceylon, 1949-1950)

Solução para os nossos Conflitos (Krishnamurti's Talks - Ojai, California, 1949 (1ª à 7ª) ICK, RJ, 1952

A Conquista da Serenidade (Krishnamurti's Talks - Ojai, California, 1949 (8ª à 13ª) ICK, RJ, 1952

Nós Somos o Problema (Krishnamurti's Talks - London, 1949) ICK, RJ, 1952

Nosso Único Problema (Krishnamurti's Talks - Ceylon, 1949-1950) ICK RJ, 1957

Que Estamos Buscando? (Krishnamurti's Talks in India (Rajamundry, Madras, Bombay) 1949-1950) ICK, RJ, 1956 (1ª ed.)

Por que não te Satifaz a Vida? (Conferências em Nova York e Seattle, 1950) ICK, RJ, 1953

Viver sem Confusão (Krishnamurti's Talks - Paris, 1950) ICK, RJ, 1956

Novos Roteiros em Educação (Krishnamurti's Talks to Boys and Girls of the Foundation for New Education - Rajghat, Banaras, 1952) ICK, RJ, 1956 (1ª ed)

Quando o Pensamento Cessa (Krishnamurtis Talks - Madras, India, 1952) ICK, RJ, 1957

A Renovação da Mente (Krishnamurti's Talks - London, 1952) ICK, RJ, 1956

Claridade na Ação (Krishnamurti's Talks - Ojai, California, 1952) ICK, RJ, 1957

A Educação e o Significado da Vida (Education and the Significance of Life, 1953) Cultrix, SP, 1957 (1ª ed.)

Autoconhecimento, Base da Sabedoria (Krishnamurti's Talks in India (Poona-Bombay), 1953) ICK, RJ, 1958

Poder e Realização (Krishnamurti's Talks - London, 1953) ICK, RJ, 1957


O Problema da Revolução Total (Krishnamurti's Talks in India (Madras), 1953) ICK, RJ, 1959

Krishnamurti's Talks - Ojai, California, 1953

Percepção Criadora (Krishnamurti's Talks - Ojai, California, 1953) ICK, RJ, 1958

As Ilusões da Mente (Krishnamurti's Talks in India (Bombay), 1954) ICK, RJ, 1959

Viver sem Temor (Krishnamurti's Talks in America - New York City, 1954) ICK, RJ, 1959

Debates sobre Educação (Krishnamurtis Talks in India (Banaras-Rajghat), 1954) ICK, RJ, 1960

Krishnamurti's Talks in India (Bombay), 1954

Talks by Krishnamurti in India (Madras, Banaras, Bombay), 1954-1955

Visão da Realidade (Talks by Krishnamurti in India (Madras, Banaras, Bombay), 1954-1955) ICK, RJ, 1959

Palestras na Austrália e Holanda, 1955 (Talks by Krishnamurti in Australia and Europe (Amsterdam), 1955) ICK, RJ, 1961

Primeira e Última Liberdade (The First and Last Freedom, 1955) ICK, RJ, 1958 (1ª ed.)

Realização sem Esforço (Talks by Krishnamurti in America (Ojai, Califórnia), 1955) ICK, RJ, 1961

Transformação Fundamental (Talks by Krishnamurti in Europe (London), 1955) ICK, RJ, 1962

Da Solidão à Plenitude Humana (Talks by Krishnamurti in India (Banaras, Madras, Madnapalle, Bombay), 1955-1956) ICK, RJ, 1962

Comentários sobre o Viver (Comentaries on Living, 1ª série, 1956) Cultrix, SP, 1961 (1ª ed.)

Verdade Libertadora (Talks by Krishnamurti in Europe (Stockholm, Brussels, Hamburg, Athens), 1956) ICK, RJ, 1963

O Homem Livre (Talks by Krishnamurti in India (New Delhi, Madras, Bombay), 1956-1957) Cultrix, SP, 1977

Talks by Krishnamurti in Ceylon (Colombo), 1957

Reflexões sobre a Vida (Comentaries on Living, 2ª série, 1958) Cultrix, SP, 1963 (1ª ed.)

Talks by Krishnamurti in India (Poona, Madras, Bombay), 1958

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Talks by Krishnamurti in India (Bombay, Banaras, New Delhi), 1960

Talks by Krishnamurti in India (New Delhi, Bombay, Madras), 1961

Diálogos sobre a Vida (Comentaries on Living, 3ª série, 1961) Cultrix, SP, 1965 (1ª ed.)

Talks by Krishnamurti in Europe (London, Saanen, Paris), 1961

Mutação Interior (Talks by Krishnamurti in India (Varanasi, New Delhi, Bombay, 1962) Cultrix, SP, 1976

O Homem e seus Desejos em Conflito (Talks by Krishnamurti in Europe (London, Saanen, 1962) ICK, RJ, 1965 (1ª ed.)

Experimente um Novo Caminho (Talks by Krishnamurti in Europe (Saanen), 1963) ICK, RJ, 1966

Talks by Krishnamurti in India (New Delhi, Varanasi), 1963

A Cultura e o Problema Humano (This Matter of Culture, também Think on These Things, Londres, 1964) ICK, RJ, 1967 (1ª ed.)

Uma Nova Maneira de Agir (Talks by Krishnamurti in India (New Delhi, Varanasi), 1964) Cultrix, SP, 1969 (1ª ed.)

A Mente sem Medo (Talks by Krishnamurti in Europe - Saanen), (1964, ICK, RJ, 1965, 1ª ed.)

O Descobrimento do Amor (Talks by Krishnamurti in Europe - Paris, Saanen), 1965) ICK, RJ, 1968

O Passo Decisivo (Talks by Krishnamurti in Europe - London, Saanen, Paris, 1965) Cultrix, SP, 1974

O Despertar da Sensibilidade (Talks by Krishnamurti in India - Madras, Bombay, 1964) ICK, RJ, 1967 (1ª ed.)

Suprema Realização (Talks by Krishnamurti in India - Madras, Bombay, New Delhi, Varanasi, 1965). (Cultrix, SP, 1974, (1ª ed.)

Viagem por um Mar Desconhecido (Talks by Krishnamurti in India - Madras, Bombay, New Delhi, 1966) Ed. Três, SP, 1973

O Mistério da Compreensão (Talks by Krishnamurti in Europe (Saanen, 1966) Cultrix, SP, 1970 (1ª ed.)

Discussions with Krishnamurti in Europe (Roma, Saanen, 1966)

Encontro com o Eterno (Talks by Krishnamurti in Europe (London-Paris, 1966) ICK, RJ, 1971 (1ª ed.)

A Importância da Transformação (Talks by Krishnamurti in America (New York, Ojai, 1966) Cultrix, SP, 1972 (1ª ed.)

Como Viver neste Mundo (Talks and Dialogues, Saanen, Suíça, 1967) ICK, RJ, 1971 (1ª ed.)

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A Essência da Maturidade (Palestras na Europa, 1967 - Paris, Amsterdam, Londres) ICK, RJ, 1979

Five Conversations (Conferências em Saanen, 1968) ICK - Carta de Notícias nº 3 e 4, de 1968

A Libertação dos Condicionamentos (Palestras em Saanen, Suíça, 1968) ICK, RJ, 1977
Onde está a Bem-Aventurança? (Palestras na Europa, 1968 - Roma, Paris, Amsterdã) ICK, RJ, 1977

Palestras com Estudantes Americanos (Talks with American Students, 1968) Cultrix, SP, 1978

Liberte-se do Passado (Freedom from the Know, 1969) Cultrix, SP, 1982 (6ª ed.)

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Eight Conversations, 1968-1969 (Oito Conversações) ICK, RJ - Carta de Notícias nº 1, 2, 3 e 4, de 1971, e 1 e 2, de 1972

Meditations (Meditações), Londres, 1969. ICK, RJ - Carta de Notícias nº 1, de 1971, e 3, de 1974

Talks and Dialogues, Sydney, Austrália, 1970. Netley, Austrália, 1970

Krishnamurti Reader (Seleções de The First and Last Freedom, Life Ahead e This Matter of Culture), Seleções Penguin, Londres, 1970

A Outra Margem do Caminho (The Only Revolution) (Palestras na Índia, Califórnia e Europa, 1970) ICK, RJ, 1972

A Luz que não se Apaga (The Urgency of Change, 1970) ICK, RJ, 1973

O Novo Ente Humano (Palestras na Índia, 1970-1971) ICK, RJ, 1975

O Vôo da Águia (The Flight of the Eagle) (Palestras em Londres, Amsterdã, Paris e Saanen, 1971) ICK, RJ, 1976

Tradición y Revolución (Tradition and Revolution, 1972) Edhasa, Barcelona, 1978

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Fora da Violência (Beyond Violence) (Palestras em Santa Mônica, San Diego, Londres, Brockwood Park e Roma, 1973) Cultrix, SP, 1976

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El Despertar de la Inteligencia: v. I - La Raiz del Conflito; v. II - La Persecución del Placer; v. III - La Conciencia Fragmentada. Ed. Saros, Buenos Aires, 1977

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Ensinar e Aprender (Krishnamurti on Education, 1974) ICK, RJ, 1980

O Começo do Aprendizado (Beginnings of Learning, Londres, 1975) Cultrix, SP, 1981

Diário de Krishnamurti (Krishnamurti's Notebook, 1976) Cultrix, SP, 1982

Love - A Dialogue with Oneself, Brockwood, 1977 ICK, RJ -Carta de Notícias nº 3, de 1978

O Florescer Interior (Inward Flowering, Londres, 1977) ICK, RJ - Carta de Notícias julho-setembro 1977

La Verdad y la Realidad (Truth and Actuality, Londres 1977) Edhasa, Barcelona, 1978

La Totalidad de la Vida (The Wholeness of Life, Londres, 1978) Edhasa, Barcelona, 1984

Meditations (Seleção de textos), Londres, 1979 - ICK, RJ - Carta de Notícias nº 255, 257

Exploration into Insight, Londres, Harper & Row, 1979

Cartas às Escolas (Letters to the Schools, I, 1981) Livros Horizonte, Lisboa, 1988

Poems and Parables, 1981 (Seleções de The Path, The Search, The Immortal Friend, The Song of Life, Parables, Prose Poems), Londres, 1981

Krishnamurti - Diário II (Krishnamurti's Journal, 1982) Edhasa, Barcelona, 1983

A Rede do Pensamento (Palestras em Saanen, Amsterdã, 1982) (The Network of Thought) Cultrix, SP, 1984

Perguntas e Respostas (Questions and Answers, 1982) Cultrix, SP, 1984

Mind Without Measure - Talks in India, 1982-1983

O Verdadeiro Objetivo da Vida (Life Ahead, 1983) Cultrix, SP, 1986

Cartas a las Escuelas, II (Letters to the Schools, 1985) Edhasa, Barcelona, 1986

Last Talks at Saanen, 1985 - Harper & Row, Londres, 1985

La Llama de la Atención (The Flame of Attention) Edhasa, Barcelona, 1985

Krishnamurti - Sri Lanka Talks, KFI, India, 1985

The Way of Intelligence - KFI, India, 1985

A Eliminação do Tempo Psicológico (The Ending of Time, 1985) Cultrix, SP, 1989

The World of Peace / Welt des Friedens (bilingüe) Verlag Karel, München, Alemanha, 1985

Krishnamurti en Los Alamos (Krishnamurti at Los Alamos) ICK, RJ - Carta de Notícias nº 1, de 1985

Washington, DC, Talks, 1985 Londres, 1988

O Futuro da Humanidade (The Future of Humanity, 1986) (Diálogos com David Bohm) Cultrix, SP, 1989

Krishnamurti to Himself - His Least Journal, 1987 - Harper & Row, Londres, 1988
Krishnamurti en las Naciones Unidas (Talk in United Nation) The Future is Now - Last Talks in India, 1987 Harper & Row Londres, 1988

O Mensageiro da Estrela, 1926-1927


A Estrela, 1928-1929
Boletim Internacional da Estrela, 1928-1931 (janeiro)
Boletim da Estrela, 1931-1933
Carta de Notícias, 1936-1991

The Herald of the Star


The Star Review
International Star Bulletin

As abreviaturas usadas nos textos acima correspondem ao que segue:

S.P.T. - The Star Publishing Trust (Adyar, Ommen)


I.C.K. - Instituição Cultural Krishnamurti (Brasil)
K.W.I. - Krishnamurti Writings, Inc. (sucessora da SPT)
K.F.A. - Krishnamurti Foundation of America
K.F.I. - Krishnamurti Foundation of India
K.F.T. - Krishnamurti Foundation Trust, Ltd, Londres
Cultrix - Editora Cultrix Ltda, SP, Brasil
Carta de Notícias - periódico da ICK

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cache, hostname, session, timestamp) VALUES (&#039;6qao6aj0gkjovbk5sprcce1rb1&#039;, 0, 0, &#039;201.29.53.142&#039;,
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