Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ramesh: Que pergunta! E você perguntando isto? Como poderia ser possível tal coisa
como Deus? Deus não é um objeto.
R.: Quero dizer que o Supremo - e cada um de nós (não como objetos fenomênicos) - é
a presença do que-nós-somos, que é a ausência do que-nós-pensamos-que-somos.
R.: Nossa total ausência objetiva fenomenal, que pode ser a subjetiva numenal
PRESENÇA DE DEUS.
P.: O senhor seguramente não quer dizer que os fenômenos objetivos
desaparecem?
R.: Claro que não. "Nossa total ausência objetiva" refere-se ao desaparecimento não de
um fenômeno objetivo como tal, mas da identificação com um fenômeno objetivo que
nós pensamos que somos. Em outras palavras, nós não somos "essa" coisa (que
pensamos que somos), mas Aquilo que não pode ser nenhuma "coisa".
R.: Se Deus fosse um objeto, ele seria um dos milhares de deuses objetivos, e não o
Supremo como você presumidamente indica.
P.: Não estou pensando nos ídolos, que são deuses objetivos.
R.: Eu apenas disse o que é obvio. Blasfêmia e ofensa podem ser admissíveis apenas na
mente em que tal noção surgiu. Então, o que é blasfêmia? Vou lhe dizer. Blasfêmia é
toda e qualquer ação feita de um modo diferente do que na presença de Deus. Isto está
claramente estabelecido no Bhagavad-Gita. E vamos deixar claro, na presença de Deus,
eu não quero dizer um objeto, um ídolo. Independente da presença ou ausência de um
objeto, um ídolo, o que a "presença de Deus" quer dizer é a ausência da presença do ser.
Isto significa a imanente divindade.
R: Um ser que ora humildemente para Deus, e um ser, sem qualquer identificação
pessoal, que É Deus, são essencialmente o mesmo. Vamos deixar claramente entendido
que "humildade" não significa "sem orgulho", porque então a humildade seria tão
somente o oposto do orgulho. "Humildade" metafisicamente implica a ausência de
qualquer ente sujeito à humildade ou ao orgulho.
P.: Tudo isto é extremamente esclarecedor, mas, o senhor sabe, percebo que o
senhor demoliu algo consagrado pelo tempo.
R.: Você sabe o que Nisargadatta Maharaj disse sobre esses símbolos de segurança?
Acho que ele nunca pediu para alguém abandoná-Ios mesmo que esse sentido de
segurança fosse falso. Ele apenas sugeria que a pessoa podia prosseguir como antes, até
que eles desaparecessem por si mesmos. O que ele queria transmitir era: "Vamos ao
menos compreender. Quando o sentido de culpa que pode surgir pelo deliberado
desaparecimento deles perder a força de seus condicionamentos, estes símbolos de falsa
segurança perdem importância".
P.: Claro que poderia haver outras considerações para o prosseguimento de tais
práticas.
R.: Certamente. O próprio Maharaj sinceramente realizava puja (oblações) três vezes ao
dia porque seu Guru pediu-lhe. Ele dizia que isto não fazia mal algum e poderia trazer
muitos benefícios àqueles não-dotados de inteligência suficiente para seguir no caminho
da autoinquirição.
P.: Parece-me que nesta discussão sobre Deus ignoramos certos conceitos - sim,
consagrados pelo tempo, como por exemplo, o "amor". Não é dito 'que Deus é
amor?
R: Você disse que amor é um conceito e que Deus é amor. Por consequência, Deus é um
conceito. E, é claro, "amor" é apenas o oposto de "ódio". Não estou desatento quanto ao
uso da
palavra no sentido convencional, mas uma palavra imprecisa pode causar confusão e
mal-entendidos.
P.: Qual a palavra que o senhor prefere?
R.: Também não vamos esquecer que "amor" é uma expressão de separatividade,
porque se espera que você ame os "outros". Na unicidade não amamos os outros - nós
somos os outros; e nossa relação fenomenal com "eles" é não-objetiva, direta,
espontânea e imediata.
R.: Claro, a oração. Você rezaria para - mais chuva e melhor colheita, ou talvez o
aumento da produção industrial? Ou para um substancial aumento das exportações?
R: Ah, asseguro-lhe que não sou. O que eu quis dizer era que a palavra oração
geralmente é entendida como uma solicitação, o que pode ser percebido pelo fato de a
palavra "oração" ser geralmente seguida de "para". Oração verdadeiramente significa
comunhão. De fato, oração é comunhão, do mesmo modo que meditação é quando não
existe o meditador e nada sobre o que se meditar.
P.: O que o senhor está tentando dizer?
R.: Nada, de modo algum - exceto talvez que não possa haver de fato nenhum
significado em se rezar para (e adorar) um conceito de uma deidade paternal e
misericordiosa como "Deus", ou em amaldiçoar e abominar um conceito de um inimigo
impiedoso como "o Demônio", pela simples razão que eles nada são além do que nós
Somos.
R.: Eu diria para você não fazer nada, ou não faça nada. Este é todo o ponto. Como
Nisargadatta Maharaj disse, a compreensão é tudo. APENAS SEJA. Isto seria
"experienciar" o Ensinamento.