20416-Texto Do Artigo-35431-1-10-20181212

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Reconciliação com a História: Foucault do

Estruturalismo ao Pós-Estruturalismo

[Reconciliation with History: Foucault from Structuralism to Posts-


tructuralism]

Leonardo Masaro *

Resumo: Desde a década de 1980, convencionou-se rotular Foucault,


bem como outros pensadores franceses contemporâneos, de “pós-
estruturalista” . Neste artigo, indaga-se em que medida tal epíteto faz
sentido, buscando compreender até que ponto a noção foucaultiana
de epistémê é tributária da noção de estrutura. Para tanto, investiga-
se a invenção da noção de estrutura por Saussure; sua transformação,
por Lévi-Strauss, em conceito epistemológico; e sua utilização, por
Foucault de As Palavras e as Coisas, em modelo para a noção de epis-
témê. Neste processo, fica clara uma transformação deste conceito: a
ideia de estrutura enquanto sistema transcendental formado por opo-
sições binárias, presente em Saussure e Lévi-Strauss, é substituída em
Foucault pela noção de uma forma a priori “vazia” , isto é, sem pré-
determinantes. A mudança diacrônica é concebida por Foucault como
um acontecimento radical. Argumenta-se que a fase seguinte da obra
do filósofo, conhecida como “genealogia do poder” , ao voltar-se sobre
a intervenção humana sobre os discursos, corresponde a uma tenta-
tiva de re-inserir a dimensão histórica nos estudos do saber. Neste
sentido, mesmo adotando a ideia-mestra do estruturalismo, Foucault
vai além dele.
Palavras-chave: Foucault. Estruturalismo. Pós-estruturalismo. Ar-
queologia do Saber. Genealogia do Poder.

* Doutor em Filosofia pela USP. Mestre em Sociologia pela UNICAMP. E-mail: leonardomasaro@gmail.com

Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Brasília, v.6, n.1, jul. 2018, p. 379-400 379
ISSN: 2317-9570
LEONARDO MASARO

Abstract: During the 1980s, it became common to name Foucault,


and other contemporary french thinkers, as “poststructuralists” . In
this paper, it is asked if, and to which extent, such labelling makes
sense. For such, the relation between Foucault´s concept of epistémê
and the notion of structure is investigated. The invention of the
concept of structure by Saussure; its transformation, by Lévi-Strauss,
into an epistemological concepct; and its use, by Foucault, in Words
and Things, as a model to his notion of epistémê are traced. In this
process, it becomes clear a conceptual transformation: the idea of
structure as a transcendental system composed of binary oppositions,
present in Saussure and Lévi-Strauss, is substituted, in Foucault,
for the idea of an “empty” a priori form, that is, a form without
any pre-determination. Diacronic change is conceived, by Foucault,
as a radical event. It is argued that Foucault´s next intellectual
phase, commonly known as “genealogy of power” , as it focuses on
human agency upon the discourse, stands as a way of reinserting the
historical dimension into the study of knowledge. In this sense, even
thought adopting structuralism´s main idea, Foucault surpasses it.
Keywords: Foucault. Structuralism. Poststructuralism. Archeology
of Knowledge. Genealogy of Power.

Durante os anos 1980, 1990, e “movimento intelectual” , e ideias


2000, esteve em voga falar de pós- semelhantes? Isto se aplica sobre-
estruturalismo. Trata-se de uma tudo ao pós-estruturalismo que, ao
designação “guarda-chuva” para contrário de seu antecessor, não
o pensamento de diversos autores é um termo autóctone, quer di-
franceses ativos sobretudo durante zer, foi proposto não pelos (su-
as décadas de 1960 a 1990 (Fou- postos) membros do “movimento
cault, Derrida, Lyotard, Baudril- intelectual” , mas por seus leitores.
lard, Lacan, etc.), que possuíam em Contudo, o epíteto “pós-
comum uma referência intelectual estruturalista” acabou por firmar-
a outro “movimento” intelectual se no mundo acadêmico durante as
francês, o estruturalismo. Como referidas décadas de 1980 a 2000,
não poderia deixar de ser, ambas apesar do amplo conhecimento da
as designações, estruturalismo e generalidade e insuficiência de tal
pós-estruturalismo, são bastante nomeação. Por exemplo: num livro
polêmicas e controversas: afinal, publicado em 2000, Michael A. Pe-
se já é temerário identificar pon- ters afirma que
tos comuns na obra de pensado-
res deste quilate, que dirá agrupá-
los sob a identidade comum de um Devemos interpretar o pós-
“grupo” , “escola de pensamento” , estruturalismo como uma
resposta especificamente fi-
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PÓS-ESTRUTURALISMO

losófica aos status preten- bora nominalista, é muito interes-


samente científico do estru- sante: o que indicaria o prefixo
turalismo e à sua preten- pós? Uma superação completa,
são a se transformar em um além do estruturalismo, um
uma espécie de megapara- pensamento absolutamente hete-
digma para as ciências soci- rogêneo, ou uma espécie de su-
ais, (...) criticando a me- peração conservadora, que ultra-
tafísica que lhe estava sub- passaria o estruturalismo conser-
jacente e estendendo-o em vando dele características funda-
uma série de diferentes dire- mentais? Pós-estruturalismo ou
ções, preservando, ao mesmo pós-estruturalismo? (Eis o que
tempo, os elementos centrais está em questão, por exemplo, na
da crítica que o estrutura- definição de Micheal Peters acima
lismo fazia ao sujeito hu- citada).
manista (PETERS, 2000, p. Guiados por esta questão, pre-
10). tendemos aqui analisar breve-
mente um dos autores mais
De muito ajudou à aceitação do identificados com o “pós-
termo “pós-estruturalismo” a re- estruturalismo” : Foucault. Busca-
cepção dos autores franceses a remos mostrar que a influência do
ele identificados nos EUA a par- estruturalismo na obra do “jovem
tir do início dos anos 1980, onde Foucault” , isto é, no período de
recebeu também a alcunha de As palavras e as coisas, incidirá so-
French Theory (CUSSER, 2008). bre um problema fundamental: o
No início da década de 2000, a problema da mudança histórica,
existência de uma escola filosó- ou, em termos abstratos, da pas-
fica que vinha após (e em larga sagem do tempo, entendido no es-
medida contra) o estruturalismo, truturalismo com problema da di-
mesmo se vagamente definida, já acronia. Constituinte do estrutu-
era consenso; começam então a ralismo desde seu início, a ques-
surgir livros introdutórios ao pen- tão da historicidade da(s) estru-
samento pós-estruturalista, inclu- tura(s) foi vista por muitos como
sive para o público não-acadêmico, seu ponto mais frágil. Mostrare-
como o de Catherine Belsey, Post- mos como a passagem da arqueo-
Structuralism: a very short introduc- logia do saber à genealogia do po-
tion (BELSEY, 2002). der se configura principalmente,
O termo “pós-estruturalismo” embora não exclusivamente, como
(ao contrário de French Theory) dá tentativa de solução do problema
margem a uma questão que, em- da diacronia. Para tal percorre-

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remos o seguinte trajeto: primei- permanente e universal, em todas


ramente veremos como, no seu as línguas e deduzir as leis gerais
surgimento com a Lingüística de às quais se possam referir todos os
Saussure, o estruturalismo só con- fenômenos peculiares da história”
segue pensar a modificação tem- das línguas (SAUSSURE, 1999, p.
poral da estrutura de modo está- 13). O modo como Saussure conce-
tico, por meio de cortes sincrôni- berá estas “leis gerais” é que dará
cos. Em seguida, veremos o que origem ao conceito de estrutura.
torna possível a promoção do es- Notemos, entretanto, qual a noção
truturalismo lingüístico a método de temporalidade aí subjacente: a
epistemológico por Lévi-Strauss, e estrutura linguística é algo da or-
em que medida e de que modo ele dem do “permanente e universal” .
se vê confrontado com a questão A partir disto, o objeto da lin-
da diacronia. Por fim, examinare- guística se constituirá duplicada-
mos Foucault, e mostraremos como mente: um, são as diversas línguas,
ele em certa medida absorve o mé- em suas mudanças contingentes
todo e a temática estruturalista em e influências recíprocas; outro, é
sua arqueologia do saber, porém a linguagem, enquanto estrutura
sem “resolver” o problema da pas- permanente e universal que de-
sagem histórico-temporal de uma termina as leis gerais de cada lín-
estrutura/epistémê a outra, quer gua. Saussure propõe uma teoria
dizer, sem propor uma lógica da não-correspondencionalista da lin-
sucessão histórica das epistémês; e guagem, calcada na arbitrariedade
como seu direcionamento à gene- do signo lingüístico. Para ele, um
alogia do poder visa cumprir esta signo lingüístico é uma junção ar-
função. bitrária de uma imagem acústica
(significante) a um conceito (signi-
ficado) (SAUSSURE, 1999, p. 79ss).
Saussure e o surgimento da noção
Nada há num significante que o
de estrutura
predestine a algum significado; as-
O conceito de estrutura, tal sim, por exemplo, o significante
como iria pautar o debate intelec- mar e o conceito mar se correspon-
tual francês das décadas de 1950 e dem por uma pura e arbitrária con-
60, deve seu surgimento à Lingüís- venção; de fato, o mesmo conceito
tica, disciplina criada por Saussure é expresso em francês por mer e em
e cujo principal texto, Curso de Lin- inglês por sea. Disso resulta que o
guística Geral, é de 1916. O obje- sistema dos signos da linguagem é
tivo de Saussure era “procurar as uma convenção.
forças que estão em jogo, de modo A noção de estrutura decorre di-

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PÓS-ESTRUTURALISMO

retamente desta teoria convencio- (SAUSSURE, 1999, p. 105).


nalista da linguagem. Se a rela- Uma estrutura é, pois, uma teia
ção do significante ao significado transcendental de elementos míni-
é completamente arbitrária, a es- mos relacionais opositivos, que de-
trutura da linguagem (isto é, as termina uma outra estrutura atual,
tais “leis gerais” de funcionamento na qual estes elementos mínimos
da linguagem) não deve ser pro- se configuram de uma determi-
curada nas línguas empíricas, com nada forma. A estrutura é dupla:
seus signos arbitrariamente variá- uma, virtual, na qual estão conti-
veis, mas numa dimensão outra, das todas as possibilidades de con-
“permanente e universal” , desco- figuração dos elementos mínimos;
lada dos acasos que o tempo im- outra, atual, na qual estes elemen-
prime na linguagem – uma dimen- tos adquirem uma configuração es-
são transcendental. Os desloca- pecífica própria. Na definição de
mentos de significante a signifi- Deleuze:
cado e de significante a significante
devem pois ser procurados num O todo [de elementos relaci-
terceiro1 , numa estrutura trans- onais que constitui a estru-
cendental de determinação, que é tura] não se atualiza como
essencialmente uma estrutura re- tal. O que se atualiza, aqui
lacional. e agora, são tais relações,
Assim, o que compõe a estrutura tais valores de relações, tal
da linguagem são relações entre repartição de singularidades;
elementos mínimos opositivos, os outras se atualizam alhu-
fonemas. Por meio de combinações res ou em outros momen-
e permutações fonemáticas, a lín- tos. (...) Portanto, devemos
gua se altera, e compreender a es- distinguir a estrutura total
trutura de uma língua é compreen- de um domínio como con-
der quais as combinações e permu- junto de coexistência virtual,
tações permitidas e quais as proibi- e as subestruturas que cor-
das. A estrutura é essencialmente respondem às diversas atu-
regulatória. Saussure a compara alizações do domínio (DE-
às regras um jogo de xadrez: a es- LEUZE, 1974, pág. 284).
trutura determina o que é permi-
tido e proibido ao jogador/falante Assim, por exemplo, em relação à

1 “O primeiro critério do estruturalismo é a descoberta e o reconhecimento de uma terceira ordem, de um ter-


ceiro reino: (...) para além da palavra em sua realidade e em suas partes sonoras, para além das imagens e dos
conceitos associados às palavras, o lingüista estruturalista descobre um elemento de natureza completamente di-
ferente, objeto estrutural” . (DELEUZE, 1974, pág. 273)

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linguagem, segundo Deleuze, da ordem do psiquismo inconsci-


ente. Para Saussure, “a imagem
verbal não se confunde com o pró-
não há língua total, encar- prio som, ela é psíquica, do mesmo
nando todos os fonemas e modo que o conceito que lhe está
relações fonemáticas possí- associado” (SAUSSURE, 1999, p.
veis; mas a totalidade vir- 20). Ser da ordem do psíquico não
tual da linguagem atualiza- significa ser consciente: se é ver-
se segundo direções exclu- dade que o sujeito falante é ativo2
sivas em línguas diversas, e escolhe conscientemente os sig-
cada uma encarnando cer- nos empregados num ato de fala,
tas relações, certos valores de aquele que escuta só o é limitada-
relações e certas singulari- mente, pois se ele tem consciência
dades dessa linguagem (DE- do signos em jogo naquela mensa-
LEUZE, 1974, pág. 284). gem em particular, ele é por outro
lado puramente passivo3 no que
tange à estrutura da língua, sua
Nisto consiste a distinção saussuri-
compreensão não depende de sua
ana entre língua e linguagem: esta
consciência das regras da língua.
diz respeito à estrutura enquanto
Há “uma faculdade de associa-
todo virtual; aquela, à estrutura
ção e de coordenação que se mani-
enquanto uma determinada atu-
festa desde que não se trate mais
alização particularmente configu-
de signos isolados, e que desem-
rada deste todo relacional possível.
penha o principal papel na organi-
A estrutura é um certo vazio: en-
zação da língua enquanto sistema”
quanto pura virtualidade, ela em si
(SAUSSURE, 1999, p. 21). Esta fa-
mesma nada é além de uma forma
culdade é uma estrutura psíquica
sem conteúdo fixo, um conjunto
inconsciente, uma rede categorial
de lugares variavelmente ocupá-
que precede a fala e que determina
veis num desenrolar do tempo,
e organiza suas possibilidades de
mas sem que o tempo influa sobre
combinação simbólica.
eles. Dissociada completamente
de qualquer determinação empí-
rica por si perpetrada, a estrutura As leis linguísticas desig-
é um puro transcendental. nam um nível inconsciente
No que tange ao falante, isto sig- e, neste sentido, não refle-
nifica dizer que a estrutura é algo xivo, não histórico do espí-

2 isto é, parte de um conceito em direção a uma imagem acústica. (SAUSSURE, 1999, p. 21)
3 isto é, determinadas imagens acústicas suscitam-lhe determinados conceitos (SAUSSURE, 1999, p. 21)

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rito; este inconsciente não o estudo da língua, mas nunca du-


é o inconsciente freudiano rante o exercício de comunicação
da pulsão, do desejo em sua cotidiano.
potência de simbolização; é Portanto, a língua é algo não
mais um inconsciente kanti- da ordem privada dos indivíduos,
ano do que freudiano, um in- mas da ordem social, que coabita
consciente categorial, combi- o psiquismo inconsciente; isto é
natório. (...) Inconsciente possível porque cada língua é uma
kantiano, mais visto somente atualização determinada de uma
por sua organização, pois se estrutura transcendental compar-
trata de um sistema cate- tilhada, que determina a compre-
gorial sem referência a um ensibilidade dos signos lingüísti-
sujeito pensante (RICOUER, cos.
1997, p. 37).
Com o separar a língua e
Atentemos para esta distinção a fala, separa-se ao mesmo
saussuriana entre língua e fala: a tempo o que é social do que
língua é um transcendental trans- é individual. (...) [A lín-
individual, realizado empirica- gua] é a parte social da lin-
mente na fala de um indivíduo. Na guagem, exterior ao indiví-
língua “a parte psíquica não entra duo, que, por si só, não pode
(...) totalmente em jogo: o lado exe- nem criá-la nem modificá-la;
cutivo [ativo] fica de fora, pois sua ela não existe senão em vir-
execução jamais é feita pela massa; tude duma espécie de con-
é sempre individual e dela o indiví- trato estabelecido entre os
duo é sempre senhor; nós a chama- membros da comunidade”
remos fala (parole)” (SAUSSURE, (SAUSSURE, 1999, p. 22).
1999, p. 21). A fala é um ato in-
dividual, enquanto a língua é algo
de coletivo, um sistema comparti-
A linguagem é, pois, um fato so-
lhado por todos e que possibilita a
cial, mas não um fato empírico, e
expressão por meio da fala. “A lín-
sim transcendental:
gua não constitui uma função do
falante: é o produto que o indiví-
duo registra passivamente; não su- Sendo a língua uma insti-
põe jamais premeditação, e a refle- tuição social, pode-se pensar
xão nela intervém somente para a a priori que ela esteja regu-
atividade de classificação” (SAUS- lada por prescrições análo-
SURE, 1999, p. 22), ou seja, para gas às que regem as coleti-
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vidades. Ora, toda lei so- 96). Os falantes não possuem di-
cial apresenta duas caracte- mensão da historicidade da língua:
rísticas fundamentais: é im-
perativa e é geral; impõe-se
para o indivíduo falante, a
e se estende a todos os ca-
sucessão dos fatos da lín-
sos, dentro de certos limites
gua no tempo não existe: ele
de tempo e lugar, bem enten-
se acha diante de um es-
dido (SAUSSURE, 1999, p.
tado. Também o lingüista
107).
que queira compreender esse
estado deve fazer tábula rasa
de tudo quanto produziu e
A questão da diacronia ignorar a diacronia. Ele só
pode penetrar na consciência
Se a língua é fato social, suas dos indivíduos que falam su-
mudanças no correr do tempo não primindo o passado. A in-
dependem dos que a praticam. De- tervenção da História apenas
certo que é através da fala que lhe falsearia o julgamento
a língua é modificada, porém os (SAUSSURE, 1999, p. 96).
falantes não possuem consciên-
cia de assim o fazerem. “Se, com Com isto uma questão se coloca:
relação à idéia que representa, o qual a relação a ser estabelecida
significante aparece como esco- entre o estudo sincrônico e o di-
lhido livremente, em compensa- acrônico da língua? Sabe-se que
ção, com relação à comunidade lin- o linguista deve partir expressa-
guística que o emprega, não é livre: mente do ponto de vista sincrônico
é imposto” (SAUSSURE, 1999, p. e, num primeiro momento, igno-
85). rar a diacronia. Isto significa que
Por causa disso, Saussure se virá estudar a língua será estudar seu
forçado a dividir a linguística em momento sincrônico. A questão é
duas: a linguística sincrônica, que saber o que ocorre numa mudança
estuda a língua enquanto sistema diacrônica, isto é, o que é modifi-
num determinado momento, e lin- cado na passagem de um momento
guística diacrônica, que estuda a sincrônico a outro – como na mo-
língua em suas transformações no dificação histórica por que passam
decorrer do tempo. “É sincrônico as línguas.
tudo quanto se relacione com o as- Ora, o que muda numa língua
pecto estático de nossa ciência, di- neste caso não é todo o seu sis-
acrônico tudo que diz respeito às tema de inter-relações, mas sim as
evoluções” (SAUSSURE, 1999, p. relações entre alguns elementos.
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PÓS-ESTRUTURALISMO

Os “fatos diacrônicos não tendem é possível) da duplicidade da es-


sequer a alterar o sistema. Não trutura, ao mesmo tempo atual e
se quis passar de um sistema de virtual; de um lado, do ponto de
relações para outro; a modifica- vista da estrutura virtual, a mu-
ção não recai sobre a ordenação, e dança de um elemento não altera
sim sobre os elementos ordenados” a estrutura mas sim, pelo contrá-
(SAUSSURE, 1999, p. 100). Numa rio, está nela subsumida, pois o
mutação diacrônica, o que muda que se alterou foi apenas a posi-
não é a estrutura transcendental ção de um elemento4 em relação
da língua, mas a posição nela ocu- aos outros no interior da estrutura;
pada por certos elementos. Pro- de outro lado, do ponto de vista
blema vira pobrema: o encontro da estrutura atual, é uma nova es-
consonantal bl transforma-se em trutura linguística que surge, pois
br, e a sílaba pro é simplificada todos os seus elementos estão inter-
para po – o que não engendra uma relacionados.
nova língua portuguesa. Contudo, A diacronia é pensada portanto
na medida em que se tenha um como uma sucessão de sincronias,
novo arranjo linguístico de vali- e a cada vez a mudança é interna
dade para toda a língua, têm-se ao sistema sincrônico mas lhe ad-
a vigência de uma estrutura. O vém de fora:
latim perde substitui declinações
por preposições: surgem as línguas
italiana, romena, espanhola. Por Sem dúvida, cada alteração
isso Saussure afirma que, na pas- tem sua repercussão no sis-
sagem de uma sincronia a outra, tema; o fato inicial, porém,
“não foi o conjunto que se deslo- afetou um ponto apenas; não
cou, nem um sistema que engen- há nenhuma relação interna
drou o outro, mas um elemento do com as consequências que se
primeiro [sistema sincrônico] mu- pode derivar para o conjunto
dou e isso basta para fazer surgir (SAUSSURE, 1999, p. 102-
outro sistema” (SAUSSURE, 1999, 3). (...)
p. 100).
Esta dupla mudança – de um Na perspectiva diacrônica,
elemento no interior de um sis- ocupamo-nos com fenômenos que
tema e de um sistema em outro – não tem relação alguma com os sis-
se superpõe a cada momento dia- temas, apesar de os condicionarem
crônico. Isto decorre (e só por isso (SAUSSURE, 1999, p. 101).

4 No caso da língua, sempre um par opositivo

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Não há, portanto, nenhuma cau- tre esses tempos (DELEUZE,


salidade interna na passagem de 1974, pág. 285).
um momento sincrônico a outro,
que possibilite elaborar uma lei da
mudança diacrônica; “a antinomia Lévi-Strauss: da ciência da língua
radical entre o fato evolutivo e o à ciência do homem
fato estático tem por consequên-
cia fazer com que todas as noções Com Lévi-Strauss, o estrutu-
relativas a um ou ao outro sejam, ralismo passa de ciência da lin-
na mesma medida, irredutíveis en- guagem a método epistemológico
tre si” (SAUSSURE, 1999, p. 107). de uma antropologia etnológica.
A diacronia é “um acontecimento” Como isso é possível?
(SAUSSURE, 1999, p. 107) impre- Com Saussure, a linguagem é
visível a partir da dentro da estru- concebida não como um meio de
tura. designação de objetos por um su-
É toda uma concepção do que jeito irradiador do sentido, mas
é o tempo que subjaz a este mo- como uma entidade autônoma, que
delo: a história é pensada como fala nos sujeitos, que significa in-
uma sucessão de momentos está- dependentemente do sujeito; o su-
ticos. Como bem resume Deleuze: jeito é que é meio da linguagem,
e não a linguagem meio do sujeito
atingir a significação. Com isto, a
o tempo é sempre um tempo
linguagem extrapola a individua-
de atualização, segundo o
lidade e se mostra como coletiva,
qual se efetuam, em ritmos
como algo da ordem do social.
diversos, os elementos de co-
Se a linguagem é fato social,
existência virtual. O tempo
e é pensada como uma estrutura
vai do virtual ao atual, isto
inconsciente, então também ou-
é, da estrutura às suas atua-
tros fatos sociais podem ser pen-
lizações, e não de uma forma
sados como estruturas. Para Lévi-
atual a outra forma. Ou,
Strauss,
pelo menos, o tempo conce-
bido como relação de suces-
são de duas formas atuais a linguagem aparece tam-
contenta-se em exprimir abs- bém como condição da cul-
tratamente os tempos inter- tura, na medida em que esta
nos da estrutura ou estrutu- última possui uma arquite-
ras que se afetam em profun- tura similar à da lingua-
didade nessas duas formas, gem. Ambas se edificam por
e as relações diferenciais en- meio de oposições e correla-
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PÓS-ESTRUTURALISMO

ções, isto é de relações lógi- Esta é a estrutura elementar do


cas. Tanto que se pode consi- parentesco, composta de pares
derar a linguagem como um como pai-filho, esposo-esposa,
alicerce destinado a receber brasileiro-brasileira, etc., e que
as estruturas às vezes mais se atualiza diferentemente con-
complexas, porém do mesmo forme a cultura, segundo atitu-
tipo que as suas, que cor- des de “mutualidade, reciproci-
respondem à cultura enca- dade, direito e obrigação” (LÉVI-
rada sob diferentes aspectos STRAUSS, 1996, p. 67). Esta estru-
(LÉVI-STRAUSS, 1996, p. tura forma um sistema; numa dada
86). cultura, a relação entre pai e filho,
por exemplo, não pode ser com-
Assim, Lévi-Strauss buscará en- preendida independentemente da
contrar estruturas elementares de relação entre germano e germana
sociabilidade em certas culturas e entre esposo e esposa. Muito re-
não-ocidentais, estruturas estas de sumidamente, é assim que Lévi-
formas análogas às das estrutu- Strauss absorve a linguística como
ras linguísticas, ou seja, pensadas método da antropologia estrutu-
como um sistema de pares oposi- ral. O que interessa aqui é exami-
tivos. Tomemos, por exemplo, as nar a questão da diacronia dentro
estruturas elementares de paren- do pensamento etnológico de Lévi-
tesco. Strauss.
Percebemos que para Lévi-
Para que uma estrutura de Strauss a estrutura (virtual) per-
parentesco exista, é necessá- manece imutável; todos os da-
rio que se encontrem presen- dos empíricos de uma determi-
tes nela os três tipos de rela- nada pesquisa sócio-etnológica po-
ções familiais sempre dados dem ser subsumidos a uma mesma
na sociedade humana, isto é estrutura, independentemente da
uma relação de consangui- cultura em questão. Neste nível
nidade, uma relação de ali- (da estrutura virtual) não pode ha-
ança, uma relação de filia- ver espaço para a diacronia; po-
ção; em outras palavras, uma rém, quando se pensa um largo
relação de germano com ger- período de tempo numa determi-
mana, uma relação de es- nada cultura, a diacronia reapa-
poso com esposa, uma rela- rece – embora só possa ser pensada
ção de pai (ou mãe) com fi- como passagem de uma totalidade
lho (LÉVI-STRAUSS, 1996, sincrônica a outra:
p. 64).
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A lei sincrônica de correla- alização desta estrutura, atualiza-


ção pode ser verificada dia- ção sempre sujeita, a qualquer ins-
cronicamente. Se resumimos tante, a uma mudança diacrônica.
a evolução das relações fa- “Seria um grave erro considerar a
miliais na Idade Média, (...) estática e a sincronia como sinôni-
obtém-se o seguinte esquema mos. O corte estático é uma ficção;
aproximativo: o poder do ir- é apenas um procedimento cientí-
mão sobre a irmã diminui, fico de auxílio e não um modo par-
o do marido prospectivo au- ticular de ser” (JAKOBSON, 1971,
menta. Simultaneamente, o p. 218).
elo entre pai e filho se debi- Contudo, se a rígida fixidez do
lita, o elo entre tio materno corte estático é ficcional, a fixidez
e sobrinho se reforça (LÉVI- relativa da sincronia não o é; se há
STRAUSS, 1996, p. 63). uma estrutura determinante, toda
a empiria deve necessariamente
ocupar nela seu devido lugar; é as-
Ao contrário de críticas feitas à
sim que, mesmo sujeita a mudan-
época, contra as quais se levan-
ças diacrônicas, a sincronia sempre
tou, por exemplo, Jakobson, (JA-
se restabelece.
KOBSON, 1971), este modo estru-
turalista de compreensão da his-
tória como saltos sincrônicos não Se uma ruptura de equi-
significa uma oposição entre uma líbrio do sistema [ou seja,
estática e uma dinâmica, mas sim o irromper de um aconte-
uma subordinação da diacronia à cimento diacrônico] precede
sincronia; “a diacronia não é signi- uma mutação dada, e se re-
ficante a não ser pela sua relação sulta dessa mutação uma su-
com a sincronia” (RICOUER, 1997, pressão do desequilíbrio, nós
p. 36). Isto porque “toda modi- não temos nenhuma dificul-
ficação deve ser tratada em fun- dade em descobrir a função
ção do sistema no interior do qual dessa mutação: sua tarefa é
ela tem lugar” (JAKOBSON, 1971, restabelecer o equilíbrio (JA-
5
p. 203) . A oposição entre diacro- KOBSON, 1971, pp. 218-9).
nia e sincronia não tem cabimento
porque a sincronia não é uma fi- Porém, uma dificuldade se coloca.
xidez imutável como é a estrutura Na linguística, os objetos – as lín-
virtual, mas uma determinada atu- guas – são todos de mesma natu-

5 Este texto de Jakobson é citado por Lévi-Strauss a propósito da discussão sobre diacronia e sincronia na pes-
quisa antropológica em (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 109)

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RECONCILIAÇÃO COM A HISTÓRIA: FOUCAULT DO ESTRUTURALISMO AO
PÓS-ESTRUTURALISMO

reza, e um solo comum está assegu- sos conscientes e inconscien-


rado para a sua compreensão. Mas tes, um sistema complexo de
o que dizer das culturas? Como referências, consistindo em
poderia o etnólogo realmente com- juízos de valor, motivações,
preender uma cultura outra, se ele centros de interesse, com-
não pode desvencilhar-se da es- preendendo aí a visão re-
trutura categorial de sua própria flexiva que a educação nos
e situar-se na perspectiva da cul- impõe do devir histórico de
tura estudada? Este a priori estru- nossa civilização, sem a qual
tural e irrefletido que determina esta se tornaria impensável
sua compreensão, ao invés de per- ou apareceria em contradi-
mitir uma objetividade – ao per- ção com as condutas reais.
mitir ao pesquisador perceber a Deslocamo-nos literalmente
presença de uma outra estrutura com esse sistema de referên-
similar em sua forma, porém di- cias, e as realidades cultu-
ferente em seu conteúdo, na ou- rais de fora só são observá-
tra cultura – não a impossibilita- veis através das deformações
ria? Afinal, o antropólogo pensa que ele lhes impõe, chegando
com as categorias empíricas de sua mesmo a colocar-nos na im-
própria cultura. Em outras pala- possibilidade de perceber o
vras: se cada cultura é uma estru- que quer que seja (LÉVI-
tura irredutível, ou um momento STRAUSS, 1993, p. 345).
sincrônico irredutível (o que dá no
mesmo), como poderia haver com- O problema só piora quando se
paração possível? Se o antropólogo pensa a auto-compreensão da his-
não pode elevar-se ao nível trans- tória segundo diversas culturas e
cendental onde habita a estrutura, verifica-se que “em algumas a his-
deve ser possível uma tradutibili- tória é estacionária; em outras,
dade entre as estruturas, ou o es- evolutiva” (LÉVI-STRAUSS, 1993,
truturalismo, ao invés de garantir p. 344). Como resolver este pro-
a cientificidade, a tornaria definiti- blema?
vamente impossível, descambando Ora, para Lévi-Strauss o pro-
para um culturalismo irredutível. blema da estacionariedade ou evo-
Lévi-Strauss é sensível a este lutividade histórica é um falso pro-
problema: blema, decorrente da nossa pers-
pectiva de análise; para nós, mem-
Desde nosso nascimento, bros de uma cultura que pensa a
nosso meio faz penetrar em história evolutivamente, “as ou-
nós, através de mil proces- tras culturas nos pareceriam es-
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ISSN: 2317-9570
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tacionárias, não necessariamente


porque o são, mas porque sua li- contribuições que oferecem
nha de desenvolvimento nada nos um caráter de sistema. (...)
significa, não é mensurável nos Com efeito, as tentativas de
termos do sistema de referência acomodação só podem chegar
que utilizamos” (LÉVI-STRAUSS, a dois resultados: ou uma de-
1993, p. 344). Na verdade, a his- sorganização e um desmoro-
tória está presente em e para todas namento do sistema de um
as culturas, e “a diferença nunca é dos grupos; ou uma sín-
entre história cumulativa e história tese original, mas que, então,
não cumulativa; toda história é cu- consiste na emergência de
mulativa, com diferenças de grau” um terceiro sistema, o qual
(LÉVI-STRAUSS, 1993, p. 357); se torna irredutível em rela-
nós apenas não nos apercebemos ção aos outros dois (LÉVI-
disso por não estarmos cientes das STRAUSS, 1993, pp. 361-
especificidades próprias (estrutu- 2).
ralmente determinadas) segundo
as quais a história adquire sentido Irredutível, porém não ininfluen-
para as outras culturas. ciável. O modo de mudança
Desfeito o falso problema da re- diacrônico, que funciona através
latividade irredutível da noção de da passagem de um modelo sin-
história, a questão que resta é a crônico a outro, continua funcio-
da tradutibilidade inter-estrutural nando, quer se aplique a duas es-
como condição de possibilidade do truturas sincrônicas diferentes no
estatuto científico da antropolo- interior de uma mesma cultura,
gia. Para Lévi-Strauss ela existe, quer se aplique a duas estruturas
e por dois motivos: em primeiro sincrônicas de duas culturas dife-
lugar, as culturas não são estan- rentes. Duas estruturas se influen-
ques, isoladas. Elas se comunicam, ciarem, isto é o mesmo que passar
se influenciam reciprocamente; de uma sincronia a outra – esta in-
“nenhuma cultura está só, ela é fluência só pode se dar no tempo,
sempre dada em coligação com ou- e está, portanto, sujeita às leis di-
tras culturas, e é isto que lhe per- acrônicas de mudança. O próprio
mite edificar séries cumulativas” fato de haver influência recíproca e
(LÉVI-STRAUSS, 1993, p. 359). O comunicação entre culturas atesta
modo de coligação destas estrutu- para existência de uma espécie de
ras culturais distintas é o mesmo solo comum entre elas.
para qualquer estrutura sincrônica Em segundo lugar, a tradutibi-
numa mesma cultura: são lidade está assegurada pelo pró-
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RECONCILIAÇÃO COM A HISTÓRIA: FOUCAULT DO ESTRUTURALISMO AO
PÓS-ESTRUTURALISMO

prio conceito de estrutura: cada possibilidade de seus fenômenos


cultura é uma estrutura atual, e o do que seu modo de apresentação
que permite compará-las é a trans- positivo. Também este será o mote
cendentalidade vazia da estrutura do “jovem Foucault” , criador da
virtual. O verdadeiro lugar do arqueologia do saber: descobrir as
qual o antropólogo, enquanto cien- condições de possibilidade, as ori-
tista, fala, é o da estrutura virtual gens secretas dos discursos de uma
– portanto não de uma subjetivi- época, mesmo se tratando de dis-
dade fundadora de certeza eterna, cursos antagônicos; desvendar o
mas de uma subjetividade que se solo comum que possibilitou a pro-
sabe caso de uma estrutura univer- dução destes discursos, a raciona-
sal superior, que prevê subjetiva- lidade comum que permitiu com
ções outras - e embora “as realida- que eles, mesmo em sua divergên-
des culturais de fora só sejam ob- cia, pudessem ser pensados, deba-
serváveis através das deformações tidos, negados como falsos ou as-
que ele [nosso sistema categorial sumidos como verdadeiros; uma
estruturalmente determinado] lhes
impõe” (LÉVI-STRAUSS, 1993, p.
região ‘mediana’ [que], na
345). Quando a “impossibilidade
medida em que manifesta os
de perceber o que quer que seja”
modos de ser da ordem, pode
(LÉVI-STRAUSS, 1993, p. 345) não
apresentar-se como a mais
se coloca e algum conhecimento
fundamental: anterior às pa-
é possível, este possui sua cienti-
lavras, às percepções e aos
ficidade assegurada, já que o an-
gestos; (...) mais sólida,
tropólogo pode sempre contar com
mais arcaica, menos duvi-
a redução dos dados empíricos à
dosa, sempre mais ‘verda-
estrutura, que permite a compa-
deira’ que as teorias que lhe
ração. Assim, “cada vez mais, a
tentam dar uma forma explí-
Etnologia moderna dedica-se me-
cita, uma explicação exaus-
nos a erigir um inventário de tra-
tiva, um fundamento filosó-
ços separados, do que a descobrir
fico (FOUCAULT, 2000, p.
as origens secretas dessas opções”
xvii).
(LÉVI-STRAUSS, 1993, p. 349).
Só que agora não mais como es-
Foucault e a arqueologia do saber tudo antropológico, não mais a tí-
tulo de ciência ao mesmo tempo
Estranha positividade a dessa positiva das diversas diferenças en-
ciência humana, que se contenta tre as culturas e das condições de
mais em conhecer as condições de possibilidade da cultura em geral,
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e sim como uma arqueologia dos de uma totalidade sincrônica a ou-


saberes de nossa cultura ocidental. tra. Foucault identifica três episté-
Arqueologia porque mês na história do saber ocidental
desde o século XVI até seus dias.
Assim, por exemplo, a passagem
o que se quer trazer à luz
da epistémê renascentista à epistémê
é o campo epistemológico,
clássica – passagem do mundo da
a epistémê onde os conhe-
semelhança ao mundo da ordem
cimentos, encarados fora de
(FOUCAULT, 2000, pp. 1-295) –
qualquer critério referente a
será uma ruptura, um corte epis-
seu valor racional ou a suas
temológico: nada há em comum
formas objetivas, enraízam
entre elas, regias por lógicas pró-
sua positividade e manifes-
prias irredutíveis, a não ser o fato
tam assim uma história que
de possuírem uma tal lógica a pri-
não é a de sua perfeição cres-
ori de duração determinada.
cente, mas, antes, a de suas
E reencontramos aqui o pro-
condições de possibilidade;
blema da diacronia: Foucault ab-
neste relato, o que deve apa-
solutamente não explica o porquê
recer são, no espaço do sa-
nem o modo de passagem de uma
ber, as configurações que de-
epistémê a outra: trata-se de um
ram lugar às formas diversas
acontecimento diacrônico, de mo-
do conhecimento empírico.
tivo completamente indetermi-
Mais que de uma história no
nado. A ponto de, ao se perguntar
sentido tradicional da pala-
vra, trata-se de uma arqueo-
logia (FOUCAULT, 2000, p. donde vem bruscamente essa
xix). mobilidade inesperada das
disposições epistemológicas,
A arqueologia foucaultiana é um o desvio das positividades
tipo de análise estruturalista: umas em relação às outras,
busca pensar um período em fun- mais profundamente ainda a
ção não da positividade das pro- alteração de seu modo de ser?
duções de seu “espírito” , mas de Como ocorre que o pensa-
suas condições de possibilidade; mento se desprenda daque-
ao saber de cada época corres- las plagas que habitava ou-
ponde uma estrutura, um “a priori trora (...) e deixe oscilar no
histórico” (FOUCAULT, 2000, p. erro, na quimera, no não-
xxi) que a possibilita e determina; saber aquilo mesmo que, me-
a passagem de uma época a outra é nos de 20 anos atrás, es-
uma ruptura, tal como a passagem tava estabelecido e afirmado
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RECONCILIAÇÃO COM A HISTÓRIA: FOUCAULT DO ESTRUTURALISMO AO
PÓS-ESTRUTURALISMO

no espaço luminoso do co- modo, uma mudança na estru-


nhecimento? A que aconte- tura fonemática da língua pode to-
cimento ou a que lei obede- mar várias formas – desfonologi-
cem essas mutações? (FOU- zação, na qual uma relação de di-
CAULT, 2000, pp. 297-8). ferença fonológica entre dois fo-
nemas é suprimida; fonologização,
a resposta seja apenas: “se, para a processo inverso no qual uma di-
arqueologia do saber, essa abertura ferença fonológica surge, etc. (JA-
profunda na camada das continui- KOBSON, 1971) – todas elas re-
dades deve ser analisada, e minuci- dutíveis a uma mudança na estru-
osamente, não pode ser ela ‘expli- tura atual, segundo a forma da es-
cada’, nem mesmo recolhida numa trutura virtual. Também, numa
palavra única. É um aconteci- manifestação cultural, por exem-
mento radical” (FOUCAULT, 2000, plo, no estudo antropológico dos
pp. 298). mitos, cada um pode ser subscrito
numa fórmula bem determinada,
De novo a diacronia, porém com não importa a cultura ou época
diferenças em questão (LÉVI-STRAUSS, 1996,
Seria o Foucault de As palavras cap. XI).
e as coisas um estruturalista, por- A historicidade do devir estrutu-
tanto? Não exatamente: há uma di- ral é entendida segundo um modo
ferença entre a concepção foucaul- de funcionamento bem determi-
tiana de estrutura (sob a figura da nado. Daí que recusar a histo-
epistémê) e a dos estruturalistas. ricidade estruturalista implica re-
Tanto para Lévi-Strauss quanto cusar esta noção de tempo como
para Saussure e os linguistas, uma atualização da estrutura virtual;
estrutura é uma virtualidade vazia, mas, aceita esta noção de tempo-
porém dona de uma forma posi- ralidade, o modo de temporaliza-
tiva muito bem determinada: toda ção das estruturas necessariamente
estrutura é formada por uma rede aparecerá como composta por sal-
de pares opositivos, e isso já pré- tos sincrônicos. Ora, esta concep-
determina o seu devir. Por causa ção de temporalidade é aceita pelo
disso, uma mudança diacrônica só Foucault de As palavras e as coi-
pode se dar através de um acon- sas, que pensa a história dos sa-
tecimento que gere uma mutação beres como composta de rupturas
pelo menos num destes elemen- epistêmicas aleatórias. Ele, porém,
tos fundamentais – quer dizer, so- introduz uma modificação no edi-
bre a relação entre dois elemen- fício epistemológico estruturalista
tos de um par opositivo. Deste – não na noção de devir histórico,

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ISSN: 2317-9570
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mas na noção de estrutura. subsumidos às regras formais das


Foucault elimina todas as bali- epistémês. Se a aleatoriedade abso-
zas transcendentais da estrutura, luta rege a gênese dos discursos –
some com sua forma a priori; de absoluta porque responsável tanto
fato, qual homologia formal have- pelo momento histórico determi-
ria por exemplo entre a epistémê nado de seu surgimento quanto
renascentista das similitudes e a pela forma engendrada – então es-
epistémê clássica da ordem? Fou- tudar discursos enquanto objetos
cault conduz a noção de estrutura históricos é tarefa que só fará sen-
a uma verdadeira, profunda e ra- tido se for esclarecido como, uma
dical vacuidade: não há absoluta- vez engendrado por um aconteci-
mente nada que pré-determine a mento, um discurso passa a ser ob-
forma da próxima estrutura epistê- jeto de ações de recusa, aceitação,
mica, nada que permita enquadrar controle, contenção, propagação, e
seu devir num modelo regulatório similares, por parte de agentes his-
prévio. tóricos. Diz o filósofo que
Com esta mudança, o problema
da diacronia – que a rigor, nos ou-
tros autores analisados, não era um Em toda sociedade, a produ-
problema, isto é, uma falha de fun- ção do discurso é ao mesmo
damentação ou coerência que colo- tempo controlada, selecio-
casse em risco, a partir de dentro, nada, organizada e redistri-
a teoria – em Foucault será uma la- buída por certo número de
cuna que chega a ameaçar toda a procedimentos que têm por
sua construção teórica: pois se a função conjurar seus poderes
passagem de uma epistémê a outra e perigos, dominar seu acon-
se dá num passe de mágica, como tecimento aleatório, esquivar
fugir das acusações de irraciona- sua pesada e temível materi-
lismo?6 alidade (FOUCAULT, 1996,
pp. 8-9).

A genealogia do poder
Se a irrupção de uma epistémê é
Resposta: com a elaboração um acontecimento aleatório, o des-
do que ficou conhecido como tino dado aos discursos elabora-
“genealogia do poder” , que vi- dos seguindo sua forma é determi-
sará explicar a historicidade dos nado por acontecimentos empíri-
saberes e seus discursos, enquanto cos, ou seja, históricos. Desta ma-

6 Por exemplo (HABERMAS, 2000, caps. IX e X)

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RECONCILIAÇÃO COM A HISTÓRIA: FOUCAULT DO ESTRUTURALISMO AO
PÓS-ESTRUTURALISMO

neira, se não faz sentido para Fou- (FOUCAULT, 1996, p. 69). Na me-
cault a busca de uma lógica his- dida em que um discurso é neces-
tórica na passagem de uma epis- sariamente produzido conforme o
témê a outra, deve-se pensar a rela- molde uma epistémê, seu estudo
ção do ser humano com os discur- toca no território da arqueologia
sos como eminentemente histórica. do saber – mas sem equivaler exa-
Os “procedimentos” utilizados por tamente a ela. A diferença está
agentes históricos para tentar con- no fato de que a arqueologia parte
trolar discursos cuja forma geral dos discursos em busca de sua
escapa ao controle humano, sendo forma a priori, ao passo que a crí-
determinada a priori por uma epis- tica foca na dimensão por assim
témê em geral inconsciente para su- dizer “empírica” do discurso, es-
jeitos discursivos, são obra da pura tudando seu aparecimento, orde-
empiria dos acontecimentos histó- nação, transformação, míngua, e
ricos: resultam da forma de reação assim por diante. Trata-se de um
de grupos sociais a esta produtivi- passo além da arqueologia, e que
dade da linguagem. Para dar conta revela uma nova dimensão, para
de estudar esta nova dimensão do além da transcendental, atuante
saber, Foucault precisará de novos no discurso: a dimensão do poder.
instrumentos de investigação. Pois, se não está em poder dos ho-
Logo, para estudar os discursos, mens fugir à forma a priori seguida
Foucault propõe, numa conferên- por um discurso, está sob seu al-
cia ministrada apenas quatro anos cance escolher produzir discursos
após a publicação de As palavras e ou buscar impedi-los de vir à luz;
as coisas (FOUCAULT, 1996), dois divulgá-los ou proibi-los; concor-
por assim dizer “métodos” : um dar ou discordar deles; e assim por
“conjunto crítico” e um “conjunto diante.
genealógico” . O conjunto crí- Logo, o se dá a conhecer, no pro-
tico compreende algo à primeira cedimento de crítica discursiva, é
vista parecido com a arqueologia a vinculação entre poder e saber.
do saber: “a crítica analisa os pro- Por exemplo, dentre os procedi-
cessos de rarefação, mas também mentos de exclusão do discurso, na
de reagrupamento e de unifica- interdição, na limitação de quem
ção dos discursos” (FOUCAULT, pode falar o que onde e quando,
1996, p. 65); ela “liga-se aos siste- descobre-se que o “discurso não é
mas de recobrimento do discurso; simplesmente aquilo que traduz as
procura detectar, destacar esses lutas ou os sistemas de dominação,
princípios de ordenamento, de ex- mas aquilo por que, aquilo pelo
clusão, de rarefação do discurso” que se luta, o poder do qual que-

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remos nos apoderar” (FOUCAULT, controle humano sobre o aconteci-


1996, p. 10); na separação entre mento radical que é o discurso, a
razão e loucura, descobre-se que genealogia discursiva se detém so-
o discurso da razão, para se fun- bre a produtividade que tal acon-
dar em sua identidade, necessita tecimento engendra, ou seja, sobre
excluir por completo sua alteri- seu poder de fomentar vários dis-
dade como desrazão; descobre-se cursos. Em resumo:
também que a oposição entre falso
e verdadeiro não é objetivamente
As análises que me proponho
neutra, mas radica-se numa von-
a fazer se dispõem segundo
tade de verdade, vontade de ver-
dois conjuntos. De uma
dade esta que não é um impulso
parte, o conjunto “crítico” ,
natural ou metafísico abstrato, mas
que põe em prática o prin-
que, “como os outros sistemas de
cípio da inversão: procurar
exclusão, apóia-se sobre um su-
cercar as formas da exclu-
porte institucional” (FOUCAULT,
são, da limitação, da apro-
1996, p. 17). Se o foco da arqueo-
priação [dos discursos] (...);
logia do saber era eminentemente
mostrar como se formaram,
epistemológico, estudando as con-
para responder a que necessi-
dições de possibilidade epocais dos
dades, como se modificaram
discursos, na etapa seguinte do
e se deslocaram, que força
pensamento foucaultiano, conhe-
exerceram efetivamente, em
cida como “genealogia do poder” ,
que medida foram contor-
o foco passa a ser sobretudo polí-
nadas. De outra parte, o
tico: está em foco a relação entre
conjunto “genealógico” que
poder e saber.
põe em prática outros três
Quanto ao segundo “método” de
princípios: como se forma-
estudo do discurso, chamado de
ram, através, apesar, ou com
“conjunto genealógico” , ele pro-
o apoio desses sistemas de
põe se deter “nas séries da forma-
coerção, séries de discursos;
ção efetiva do discurso: procurar
qual foi a norma específica de
apreendê-lo em seu poder de afir-
cada uma [das séries] e quais
mação, e por aí entendido (...) o po-
foram suas condições de apa-
der de constituir domínios de obje-
rição, de crescimento, de va-
tos, a propósito dos quais se pode-
riação. (FOUCAULT, 1996,
ria afirmar ou negar proposições
pp. 60-61)
verdadeiras” (FOUCAULT, 1996,
pp. 69-70). Se a crítica discur-
siva busca mapear as tentativas de

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RECONCILIAÇÃO COM A HISTÓRIA: FOUCAULT DO ESTRUTURALISMO AO
PÓS-ESTRUTURALISMO

Conclusão cursos, seja este destino “negativo”


, isto é, buscando limitá-lo, seja ele
O trajeto intelectual percor- “positivo” , buscando engendrar
rido sugere que pensamento do mais discursos segundo uma forma
“primeiro Foucault” , aquele da ar- geral dada.
queologia do saber, pode ser iden- Haveria, portanto, em Foucault
tificado ao estruturalismo com res- dois regimes de historicidade: a
salvas fundamentais: com ele com- aleatoriedade radical das epistémês,
partilha a noção de história en- e história da ação humana sobre os
tendida como diacronia, mas dele discursos conformados pelas epis-
discorda ao entender a mudança témês. Desta forma, tal concep-
histórica no domínio por ele estu- ção de história parece qualificá-
dado, o do saber, como puramente lo como pós-estruturalista: pós,
aleatória, isto é, sem seguir uma ao recusar qualquer lógica pré-
forma pré-determinada, mesmo determinada de mudança histórica
se tratando de uma forma pura- diacrônica; estruturalista, por coa-
mente “virtual” (DELEUZE, 1974). dunar com a noção de uma instân-
Coerente com esta sua concep- cia superior ao sujeito e à consci-
ção de tempo, Foucault compre- ência, atuando como condição de
enderá como de natureza propri- possibilidade dos discursos fala-
amente histórica o estudo do des- dos por sujeitos conscientes – um
tino dado pelo ser humano aos dis- transcendental sem sujeito.

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400 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Brasília, v.6, n.1, jul. 2018, p. 379-400
ISSN: 2317-9570

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