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CONSIDERAÇÕES SOBRE A GESTÃO ESCOLAR: PROCESSO

DEMOCRÁTICO E PARTICIPATIVO

FRANCIELE CRISTIANE MEIRA FIOR1

RESUMO:

O objetivo do trabalho é analisar em que medida as orientações contidas nas


Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Brasileira e sua gestão que se
manifestam na prática pedagógica das instituições de Ensino no Brasil. O presente
texto apresenta discussão teórica realizada para a compreensão sobre a
importância da participação efetiva de uma gestão escolar que oportunizada e
evidência relações que focam principalmente sobre o universo escolar, sua
estruturação como a construção e os objetivos do Projeto Político Pedagógico
(PPP). Frente a isto, buscou-se referenciar sobre a gestão democrática, a
participação da família na vida escolar do aluno e as atribuições de cada elemento
que constitui a escola. Neste sentido, sobre a função do diretor, que é o norte para
a realização e funcionamento de toda rotina dentro dos diversos espaços que a
escola demanda, favorecendo e garantindo que haja a participação de todos que
estão envolvidos neste contexto escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão Escolar. Participação Democrática. Trabalho


Coletivo.

ABSTRACT

The objective is to analyze to what extent the guidelines contained in the National
Curriculum Guidelines of the Brazilian Education and its management that manifest
themselves in the pedagogical practice of education institutions in Brazil. This paper
presents theoretical discussion held for the understanding of the importance of
1
Graduada em Pedagogia (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), graduanda no curso de
Direito (Centro Universitário Antônio Eufrásio de Toledo) e Pós- Graduada “Lato-Sensu” em Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Unicesumar.
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effective participation of school management that nurtured and evidence


relationships that focus mainly on the school universe, its structure such as
construction and the objectives of the Pedagogic Political Project (PPP). Facing
this, we attempted to reference on democratic management, family involvement in
the school life of the student and the duties of each element constituting the school.
In this sense, on the role of director, which is north to the establishment and
functioning of all routine within the various spaces that school demand, promoting
and ensuring that there is the participation of all who are involved in the school
context.

Keywords: School Management. Democratic participation. Collective work.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento deste trabalho foi um momento especial para


minha formação profissional, pois me proporcionou a oportunidade de articular a
teoria aprendida com minha prática enquanto profissional formadora de alunos.
Esta articulação me fez discutir e analisar quais são as práticas existentes e
correspondentes à teoria e quais dificuldades encontradas para que se efetivem
essas teorias, uma vez que estas trazem a direção sobre o papel da gestão junto
aos seus alunos no desenvolvimento de uma consciência sobre o mundo em que
vive e seu comprometimento com sua aprendizagem.
Quando conhecemos o trabalho do gestor na rotina da escola temos a
oportunidade de analisar a teoria e a prática desta função problematizando a visão
que tínhamos e a realidade que a gestão enfrenta em seu dia a dia de trabalho.
Compreende-se, então, que a gestão não é apenas o lado burocrático
do sistema, mas envolve todo o entorno de conteúdos, bem como a comunidade
escolar e a forma como seus ensinamentos estão sendo empregados e
transferidos para seu meio.
A gestão escolar pública, seja ela estadual ou municipal, deve ter o
princípio da democracia, garantindo a participação efetiva de todos, pois só assim
os objetivos da escola poderão ser atingidos.
Se o papel desta escola é formar cidadãos críticos, ativos,
responsáveis com suas atitudes e comprometidos com a sustentabilidade e o meio
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em que vivem, cabe então principalmente à gestão escolar, estar criando meios
efetivos para que este aprendizado ocorra.
Com a pesquisa pretende-se contribuir para a conscientização de que
só uma gestão democrática pode levar o educando a uma formação crítica e com
plena autonomia para a vida prática em sociedade, como por exemplo, no mercado
de trabalho competitivo, onde se destaca aquele que possui além de
conhecimento, uma maior autonomia de decisões e atos.
Pode-se citar como ações democráticas a participação do Conselho
Escolar na tomada de decisões, a interatividade entre educador e gestores,
norteada pelo projeto político pedagógico, a participação dos pais além da equipe
gestora e corpo docente no processo de elaboração do projeto político pedagógico,
a convocação de pais para tratar de assuntos referentes à vida escolar dos filhos,
reuniões periódicas de pais, professores e funcionários da unidade escolar e a
criação de grêmios e conselhos de alunos para que haja uma maior participação na
gestão da escola por parte dos alunos.
Por outro lado, como foco deste estudo, compreendemos que este
exercício de cidadania deve sim começar dentro da própria escola, através de uma
gestão que favoreça a participação, para que assim seus alunos tenham base para
a construção de um aprendizado de saber viver, conviver, dentro de um ambiente
democrático e justo para todos.
Enfim, a função da gestão escolar vai além de uma visão de
liderança, responsável por direcionar funções, regras e tudo que envolve o sistema
da direção.
Desta forma, Compreende-se a grande importância de uma gestão
democrática, que não acontece apenas pelas atitudes do diretor, mas sim pela
soma de as ações de todo o conjunto escolar: pais, alunos, professores e
funcionários.

1.1.1 OBJETIVOS

Este trabalho de pesquisa tem como objetivo conhecer e analisar em


que medida as orientações contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais da

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Educação Brasileira e sua gestão que se manifestam na prática pedagógica das


instituições de Ensino no Brasil

1.1.2 OBJETIVO GERAL


Compreender a função da Gestão Escolar dentro das Instituições de
Ensino Publica.

1.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS


 Ter a compreensão sobre o papel da escola para o desenvolvimento do
aluno;
 Abordar a relação da gestão em relação à autonomia de conhecimentos;
 Desenvolver o conhecimento acerca do Projeto Politico Pedagógico escolar,
bem como, a função que este documento tem para a funcionalidade de
todos os espaços que compõem a escola.
1.3 JUSTIFICATIVA

Inicia-se este estudo considerando pertinente colocar em especifico


sobre a formação de professores, tendo em consideração sua formação e seu
acesso a politicas educacionais que favoreceram de forma significativa, sua
construção de conhecimentos.
A importância que o curso de formação aos profissionais da educação
no contexto brasileiro remete-se a conhecer sua organização e seu funcionamento
de micro a macro, ou seja, dentro do ambiente escolar e para a sociedade. Em
relação ao do profissional da educação e seu curso de formação promova que:

(...) espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e


habilidades, atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente
irem construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das necessidades
e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano.
(PIMENTA, 2005, p.17-18).

Hoje encontramos muitas mudanças em relação ao inicio do curso de


formação, há a necessidade de configurar sobre os objetivos que configuram a
necessidade do currículo em consideração a diversidade que se encontra o campo
de atual do profissional da educação.

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Em relação à formação é necessário considerar a questão das


profissionais que fazem parte da estrutura organizacional para o funcionamento da
escola, ou seja, a equipe gestora e todo o grupo de funcionários, inserindo neste
contexto a questão da democracia nas ações. Ao longo dos tempos a escola
brasileira foi agregando diversos “modelos” de ensino, vindos também de diversas
partes do mundo, sendo que, após sua recente construção e reformas chegamos
aos dias de hoje. Ressalta-se ainda, as novas leis de Diretrizes e Base, onde os
vários aspectos que a educação atua e todo o entorno sobre a necessidade cada
vez maior de diversos tipos de profissionais da educação, envolvendo as práticas
pedagógicas necessárias para atender a demanda e sua diversidade em
sociedade.
Ao abordar sobre os caminhos e percalços que instituição escola
percorre para garantir que a democracia prevaleça e envolva os vários
seguimentos que estão contidos para o funcionamento dos ambientes escolares,
bem como, contextualizando os aspectos da educação em relação aos
profissionais que a escola necessita para sua funcionalidade.
A princípio podemos entender a organização escolar os procedimentos
que relacionam a ação de planejar o trabalho da escola, racionalizando o uso de
recursos materiais, financeiros e intelectuais, coordenando e avaliando o trabalho
das pessoas e almejando o alcance dos objetivos, ou seja, fazer com que meu
aluno tenha um conhecimento crítico necessário para engajar mudanças com fins
de atitudes de sustentabilidade e cuidados ao meio ambiente. Nas palavras de
Loureiro (2004), aprimoramos nosso entendimento ao considerar:

[...] as proposições críticas admitem que o conhecimento é uma


construção social, historicamente dotada, não-neutra, que atende a
diferentes fins em cada sociedade, reproduzindo e produzindo relações
sociais, inclusive as que referem à vinculação entre saber e poder
(LOUREIRO, 2004, p. 52).

A gestão democrática está baseada numa relação mais abrangente que


não envolve somente o diretor e o orientador, mas, todos os demais membros da
equipe escolar e a comunidade. Ela valoriza a busca de objetivos comuns, pois há
o compromisso de todos em alcançá-los, dado o trabalho coletivo nos momentos
de tomada de decisões, em foco para este estudo, a busca de uma gestão

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amparada por uma administração autônoma e democrática, que seja realmente


efetivada dentro do ambiente escolar.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) é o diagnóstico real da unidade
escolar. Nele justifica-se quem são os alunos, como é o entorno social em que está
inserida, como vivem seus alunos e suas famílias e quais estratégias elaboradas
para atendê-los durante o período de sua vigência. Assim, pode-se considerar
como principal instrumento que a escola usa para que sua gestão seja democrática
é a efetivação e a construção do Projeto Político Pedagógico, bem como seu uso
efetivo na prática e na rotina escolar.
Em sua construção se discute e se registra o currículo a ser trabalhado,
qual o tipo de formação se tem objetivado e quais os meios de avaliação. Inserem-
se neste também os planos de ações de diretores e orientadores quanto à
formação continuada dos professores e gestores. Vasconcellos (1995, p. 145)
compreende o Projeto Político Pedagógico (PPP):

[...] como a sistematização numa definida, de um processo de


planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na
caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer
realizar. É um instrumento teórico-metodologico para a transformação da
realidade.

Desse modo, o PPP é um documento obrigatório, que deve existir para o


funcionamento de todas as escolas, sendo sua elaboração uma exigência legal,
considerado um importante instrumento pelo qual podemos conhecer a escola e a
sociedade a qual está inserida, suas reais necessidades educacionais e quais
recursos serão empregados para a formação e transformação desta comunidade.

1.4 PROBLEMA

Através de leituras, diversos autores foram norteando o trabalho acerca


do tema que envolve a função da gestão dentro da escola e a necessidade de
oportunizar aos alunos o desenvolvimento diante de seu meio. Sabendo que a
função social da instituição escolar é preparar o aluno para ser um cidadão, como
vem sendo desenvolvidos os recursos que a escola oferece? De que forma

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indivíduo necessita para sua vivência os valores culturais, morais e sociais para
que posso de forma equilibrada viver em conviver em sociedade?

2 A ESCOLA COMO PRINCIPAL INSTITUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO


HUMANO EM SOCIEDADE 

Para que a escola se torne um espaço aberto de discussão e análise


dos seus problemas cotidianos, acredita-se que deva implementar ações e atitudes
pelas quais a democracia seja um dos princípios básicos. Tais ações seriam
delegadas aos gestores que, por sua vez, reunir-se ia por segmento, para formular
as ações e as atitudes que a escola passaria a desenvolver coletivamente.
Sendo assim, estariam pré-estabelecendo uma prática democrática
através das relações entre os segmentos, com a finalidade de atingir o consenso.
O estudo que ora se desenvolve, contribui para uma reflexão crítica da
atividade-meio que a escola (re) produz na busca de relações democráticas,
através da formação dos envolvidos no meio escolar e, consequentemente em sua
gestão.
A importância do estudo reflete as condições em que se dão o processo
de participação das comunidades na escola e seu envolvimento nas questões de
maior relevância para elas, incluindo-se a visão dos professores da escola
envolvida no âmbito deste estudo e pesquisada e dos pais dos alunos no que tange
a participação e a autonomia da instituição de ensino.
Nota-se, porém, que o processo de participação da comunidade interna
e externa, a autonomia e a gestão estão presentes nas escolas públicas em função
do financiamento da educação, com poderes restritos pela própria legislação, o que
é antagônico quando se busca a autonomia administrativa e pedagógica da escola
pública por meio do debate e da construção de uma consciência coletiva dos
problemas que envolvem a educação no Brasil.
As concepções de gestão escolar variam de acordo com as concepções
históricas, culturais, sociais e políticas almejadas. Podemos citar em um extremo a
concepção técnica - científica e no outro extremo a concepção sociocrítica
(LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007).

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Na concepção técnico-científica a “direção é centralizada em uma


pessoa, as decisões vêm de cima para baixo e basta cumprir um plano
previamente elaborado” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p.323), enquanto
que na concepção sociocrítica:

[...] a organização escolar é concebida como um sistema que agrega


pessoas, considerando o caráter intencional de suas ações e as
interações sociais que estabelecem entre si e com o contexto
sociopolítico, nas formas democráticas de tomada de decisões. A
organização escolar não é algo objetivo, elemento neutro a ser observado,
mas construção social levada a efeito pelos professores, pelos alunos,
pelos pais e até por integrantes da comunidade próxima. O processo de
tomada de decisões dá-se coletivamente, possibilitando aos membros do
grupo discutir e deliberar, em uma relação de colaboração. A abordagem
sociocrítica da escola desdobra-se em diferentes formas de gestão
democrática. (LIBÂNEO, 2003, p. 325)

Nesse sentido, evidencia-se o potencial das formas de gestão


democrática como um modo de abertura da escola para reconhecer as
necessidades do entorno escolar e dos envolvidos com o processo educativo.
Compreendemos que essa prática de gestão se efetiva por sua importância para o
sucesso da parceria entre escola e família. Segundo Libâneo, Oliveira e Toschi
(2003):

A organização e os processos de gestão assumem diferentes


modalidades, de acordo com a concepção das finalidades sociais e
políticas da educação em relação à sociedade e a formação dos alunos.
Situaremos agora as principais características de cada concepção de
organização e gestão escolar. (LIBÂNEO et. al. 2003, p. 323-325).

As transformações do mundo contemporâneo exigiram novas diretrizes


para a gestão escolar. Tais mudanças resultaram em práticas descentralizadoras,
enfocando uma gestão democrático-participativa (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI;
2007). Novas atribuições são direcionadas à escola conforme observamos nas
discussões de Perrenoud apud Leite e Di Giorgi (2007, p.141) “não lhe cabe
somente ensinar a ler, a escrever e a contar, mas também a tolerar e a respeitar as
diferenças, a coexistir, a raciocinar, a comunicar, a cooperar, a mudar, a agir de
forma eficaz”.

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A partir do início dos anos 1980, tem-se verificado, no Brasil, uma


saudável tendência de democratização da escola pública. Falar em gestão
democrática é perceber que uma educação com importância social se faz quando
toda a comunidade escolar e local se envolve no processo sistemático de
funcionamento da unidade escolar, que vai desde o setor administrativo até a área
que compreende o processo pedagógico da formação do cidadão.
A perspectiva e a busca por uma melhoria na qualidade do ensino e por
uma escola pública de boa qualidade é fator fundamental no processo de uma
gestão democrática.

[...] a escola pública de boa qualidade é algo defensável e necessário aos


seus usuários, primeiramente e acima de tudo não porque simplesmente
vai prepará-los para o trabalho ou para a universidade, contribuir para o
desenvolvimento econômico ou diminuir a delinqüência social etc. (PARO,
2005, p.87-88).

Em uma escola onde a gestão democrática se faz presente, é levada em


consideração a diversidade, abandonando a discriminação, e o conceito de que
somente em salas homogêneas a aprendizagem é bem sucedida, além de valorizar
toda a bagagem cultural que o educando traz consigo.

As escolas de qualidade são necessariamente abertas às diferenças e,


conseqüentemente, para todas as crianças . São escolas em que todos os
alunos se sentem respeitados e reconhecidos nas suas diferenças, ou
melhor, são escolas que não são indiferentes às diferenças (MANTOAN,
2003, p.51-52)

Para que a gestão democrática aconteça, o gestor deve abandonar a


ideia de que seu papel deve ser autoritário, de onde partem todas as ordens na
unidade escolar e passar a valorizar as ações coletivas, sabendo avaliá-las usando
do bom senso.

Este tipo de gestor contribui não apenas para a não implementação de


uma gestão democrática na escola, como forma uma imagem negativa da
pessoa do gestor, a qual é confundida com o próprio cargo; faz com que o
gestor tendencialmente busque os interesses dos dominantes agindo
contrariamente aos interesses dos alunos e comunidades (PARO, 2005,
p.12).

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A gestão democrática e participativa feita por todos os segmentos da


sociedade traz para dentro da escola os valores próprios desta sociedade e sua
cultura.

A participação em todos os níveis do processo educacional garantirá que a


apreensão de outros conteúdos culturais se faça a partir dos valores
próprios dessa comunidade. Essa participação se efetivará através da
integração do processo educacional às demais dimensões da vida
comunitária e da geração e operacionalização de situações de
aprendizagem com base no repertório cultural, regional e local (HORA,
2005, p.21).

O repertório cultural, regional e local do educando deve ser levado em


consideração por parte da escola ao invés de simplesmente obrigá-lo a adquirir
competências pré-selecionadas. De acordo com Mantoan (2003, p. 63):

Quando desconsideramos as habilidades naturais dos alunos, obrigando-


os a adquirir competências selecionadas e valorizadas arbitrariamente
pela escola, estamos excluindo os que têm talentos outros por meio dos
quais poderiam progredir tanto ou mais na aprendizagem, ou melhor, na
construção do conhecimento.

A escola democrática tem por obrigação permitir que o educando possa


desenvolver o hábito de pensar, de questionar, de ser crítico ante suas dúvidas e
aspirações.

A recomendação é que as escolas permitam ao aluno participar


ativamente de seu processo de aprendizagem, capacitando-o a digerir as
informações, segundo uma apreciação crítica dos dados disponíveis, a
questionar as idéias antes de adotá-las, a buscar autonomamente as
soluções de seus problemas e as explicações para os fatos vividos e
fenômenos observados. (MANTOAN, 2003, p.63).

Uma escola de qualidade realmente preocupada com o desenvolvimento


do aluno deve aguçar a vontade do educando em ampliar o seu conhecimento
tanto verticalmente quanto horizontalmente, estimulando-o a sempre buscar o novo
e o desconhecido de maneira motivadora e enriquecedora. Assim, Lenhard (2003)
cita:

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A participação direta dos cidadãos nas decisões grupais é tanto mais viável
quanto menor seja o número abrangido. Em uma unidade escolar pequena,
pode ser possível e conveniente o envolvimento de todos os participantes,
desde os pais até os funcionários administrativos, ou daqueles atingidos
pelas decisões tomadas. O grau máximo de democratização será, então,
alcançado, quando nas reuniões decisórias todos participam e têm o mesmo
grau de compreensão dos assuntos tratados e a mesma motivação e
capacidade para se comunicar. (LENHARD, 2003, p. 81)

A necessidade do Conselho Escolar e a importância da participação de


um número de pessoas mais heterogêneo possível se caracteriza pelas diversas
visões que esse agrupamento pode vir a ter e se formado, contribuir para que as
tomadas de decisões atinjam a diversidade entrada no espaço escolar.

A escola pública poderá, dessa forma, não apenas contribuir


significativamente para a democratização da sociedade, como também ser
um lugar privilegiado para o exercício da democracia participativa, para o
exercício de uma cidadania consciente e comprometida com os interesses
da maioria socialmente excluída ou dos grupos sociais privados dos bens
culturais e materiais produzidos pelo trabalho dessa mesma maioria. A
contribuição significativa da escola para a democratização da sociedade e
para o exercício da democracia participativa fundamenta e exige a gestão
democrática na escola. Caderno 3 do Programa Nacional de
Fortalecimento dos Conselhos Escolares, p. 18.

A gestão democrática participativa da escola também se realiza pelas


ações que o Conselho Escolar transforma as situações em oportunidades para o
envolvimento da comunidade escolar e as tomadas de decisões abertas a todos.
Diante disso, o caderno 5 do Programa de Fortalecimento dos Conselhos
Escolares em sua introdução aponta sobre a gestão escolar envolvendo a junção
de dirigir a Instituição Escola frente ações político-pedagógica, onde citamos suas
partes neste contexto:

I – Gestão democrática: a participação cidadã na escola – busca identificar


os pressupostos da gestão democrática na legislação, bem como o papel
social da educação e da escola. II – Gestão democrática: aprendizagem e
exercício da participação – conceitua o processo de construção da gestão
democrática como movimento permanente que não se decreta, mas
resulta de processos coletivos de tomada de decisão e de luta política e,
portanto, de participação. III – Gestão democrática e a escolha de
diretores – busca identificar as formas de escolha dos dirigentes escolares
e os mecanismos de participação na escola, destacando, especialmente, o
papel dos Conselhos Escolares. IV – Gestão democrática e a autonomia
da escola – busca consolidar os mecanismos de participação e
democratização da gestão escolar e fortalecer a autonomia da escola.
Nessa direção, propõe a ação articulada entre o diretor escolar e o
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Conselho Escolar, visando a efetivação de uma cultura de participação e


democratização das relações na escola.

Assim, um dos objetivos da escola é promover a consciência sobre a


participação de sua comunidade, dando-lhes oportunidades para que tenham
ciência sobre sua participação como cidadãos, onde reflitam sobre qual o caminho
a seguir e de que forma a escola pode percorrer.
É necessário despertar na comunidade escolar a importância de um
trabalho coletivo que proporcione um olhar mais crítico sobre sua atuação dentro
do contexto escolar. Freire (2001), aborda neste contexto que:

Despertar nelas a consciência da necessidade de um trabalho conjunto, de


tal forma que as dificuldades de uma unidade pedagógica fossem
conhecidas e estudadas por todas. As suas relações passariam a ser
sistemáticas e não espontâneas, como infelizmente de modo geral o são
entre nós. Esta “intimidade” com a análise de seus problemas iria
desenvolvendo nelas, cada vez mais, uma consciência crítica de sua
posição e de sua tarefa no seu contexto. (FREIRE, 2001, p. 115)

Uma administração participativa fortalece vínculos da comunidade


escolar com a instituição e com os ideais propostos. Para participar de maneira
efetiva, a comunidade escolar deve estar muito bem informada sobre o assunto.
Alonso (2003), completa que:

Entretanto, divulgar informações importantes para os professore e demais


membros da comunidade escolar não é uma prática muito comum em
nossas escolas. Ao contrário, existe uma certa reserva por parte dos
dirigentes no sentido de compartilhar informações por presumirem que,
assim fazendo, possam garantir sua autoridade e poder. No entanto, essa
atitude, favorece o descompromisso com relação ao trabalho realizado.
(ALONSO, 2003, p.89)

A escola vista como necessária e primordial para do desenvolvimento de


uma sociedade é de valor inquestionável em vários lugares do mundo. No entanto,
diante dos vários problemas que a Instituição Escolar enfrenta perante a sua
desvalorização, torna-se relevante fazer o seguinte questionamento: O que será
preciso para que a sociedade compreenda o valor da escola para que haja
melhores professores e assim os alunos e todos os objetivos da escola sejam de
fato alcançados?
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Nesse sentido, esse modelo administrativo divide tarefas, distribui


responsabilidades e leva em consideração, visões diversificadas sobre a gestão
escolar, incluindo o processo de ensino-aprendizagem.

2.1 A Participação do Aluno no Contexto Escolar Favorecendo sua Formação


Como cidadão

Mais do que formar seus alunos, a escolar deve garantir a aquisição


de conteúdos que os tornem seres politicamente ativos. Os momentos de formação
e participação em Grêmio Estudantil é uma dessas possibilidades, pois, envolve
todo um movimento que favorece a ampliação de conhecimentos culturais e
esportivos, favorecendo mais uma vez a formação global e enriquecedora aos seus
alunos.
O Grêmio é importante porque se trata da organização que
representa os interesses dos estudantes na escola. Ele permite que os alunos
discutam, criem e fortaleçam inúmeras possibilidades de ação tanto no próprio
ambiente escolar como na comunidade.
O Grêmio é também um importante espaço de aprendizagem,
cidadania, convivência, responsabilidade e de luta por direitos, seu principal
objetivo é contribuir para aumentar a participação dos alunos nas atividades de sua
escola, organizando campeonatos, palestras, projetos e discussões, fazendo com
que eles tenham voz ativa e participem – junto com pais, funcionários, professores,
coordenadores e diretores – da programação e da construção das regras dentro da
escola.
Diante disso, enfocamos também a importância da participação do
aluno e da família no contexto escolar, para que haja a sintonia entre escola e
família como fundamental para que criem uma força de trabalho capaz de provocar
a mudança da estrutura social. A parceria de ambas é necessária para que juntas
atuem como agentes facilitadores do desenvolvimento pleno do educando.
Alguns poderiam tentar explicar os resultados da pesquisa dizendo
que muitos brasileiros não tiveram condições de frequentar a escola, de aprender a
ler e escrever, de ter acesso ao conhecimento produzido, ao patrimônio cultural da
humanidade. Essa ideia poderia ser contestada da seguinte forma: o fato de não

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ter estudado não é, necessariamente, um empecilho para que as pessoas


valorizem a educação.
O professor que trabalha de forma a desenvolver o senso de
responsabilidade pelo seu aprendizado, deve possibilitar aos seus alunos o acordar
crítico, a posse da autoconfiança, o desenvolvimento da cidadania, e coloca-o
envolvido com os debates atuais sobre o meio ambiente (PESTANA, 2010).
Praticamente em todos os lugares a escola é o primeiro ciclo de vida
social que a criança frequenta após a família. É na escola que a criança se insere e
aprende sobre a cultura de forma que se relacione com o outro e com o
conhecimento de forma significativa.

Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade de


motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de
participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de
ampliação do controle social da coisa pública, inclusive pelos setores
menos mobilizados (JACOBI, 2006, s/p).

É parte de uma dinâmica, onde o sujeito organiza e interpreta suas


relações com o mundo interno e externo. É nela que aprendemos a ler e a
escrever, dois objetos socioculturais fundamentais numa sociedade letrada. Não ler
e escrever hoje significa não dispor dos instrumentos básicos para inserção e
participação social, para a constituição da cidadania.
Podemos ter uma melhor compreensão quando lemos Sauvé e
Orellana citados por Sato e Santos (2006), os professores que trabalham de
conscientização por sua realidade e meio, devem praticar os seguintes princípios
de ação diária:
a) compreensão de forma crítica das realidades sociais, ambientais,
educacionais e de suas práticas pedagógicas. Essa análise tende a buscar quais
os pontos positivos e as carências da prática cotidiana frente aos dilemas
ambientais, servindo de norte para a tomada de novas decisões e metodologias em
prol do desenvolvimento crítico e valorativo de novas ações;
b) práxis que une a prática e a teoria;
c) interdisciplinaridade. Uma análise desse tipo permite que o
professor possua uma visão ampliada sobre as questões que serão trabalhadas em
sala de aula.

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Nas palavras de Sauvé e Orellana (apud SATO; SANTOS, 2006, p.


281), “la confrontación de saberes de distintos tipos, pueden surgir otros nuevos,
que pueden revelerse útiles, pertinentes y que pueden tener uma significación
contextual”.
Compreende-se então, que a instituição escolar tem um papel
realmente importante na vida de uma pessoa. É na escola que o indivíduo começa
a ter a noção de uma educação profissional de qualidade e também é por ela que
todo mundo começa a formar a sua própria opinião e assim poder tomar decisões
por contar própria. Por outro lado, é a escola que tem como responsabilidade
formar cidadãos capazes de viver em sociedade e profissionais para o mercado de
trabalho. Sendo assim, a escola trabalha no presente para colher resultados no
futuro, ou seja, fazendo com que seus alunos consigam viver verdadeiramente em
sociedade.
Como função social, a escola é um local onde visa à inserção do
cidadão na sociedade, através da inter-relação pessoal e da capacitação para atuar
no grupo que convive. Forma cidadãos críticos e bem informados, em condições de
compreender e atuar no mundo em que vive. O papel da escola passa a ser mais
significativo ainda, uma vez que lida com um saber que, muitas vezes, precisa ser
repensado, reavaliado e reestruturado. Infelizmente, nem sempre ou quase sempre
a escola não tem cumprido o objetivo da educação que desejamos, de cunho
democrático, socializando o saber e os meios para aprendê-lo e transformá-lo, visto
que a sociedade encontra-se repleta de muitos conflitos que refletem de forma
insatisfatória dentro do ambiente escolar.

É necessário, pois, a implantação de uma escola cidadã, onde os alunos


tenham acesso a uma educação de qualidade, capaz de assegurar o
conhecimento historicamente acumulado, sem preconceitos, sem
discriminação, discutindo sua autonomia e educando para que o aluno
seja capaz de encontrar resposta do que pergunta (GADOTTI, 1995, s/p).

A esse respeito, Libâneo (1998) afirma que a escola com a qual


sonhamos deve assegurar a todos a formação que ajude o aluno a transformar-se
em um sujeito pensante, capaz de utilizar seu potencial de pensamento na
construção e reconstrução de conceitos, habilidades e valores.

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Para tanto, torna-se necessário ao professor, o conhecimento de


estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências
de pensar, além da abertura, em suas aulas, para a reflexão dos
problemas sociais, possibilitando aulas mais democráticas, através de um
saber emancipador. Pois, apropriar-se criticamente da realidade significa
contextualizar um determinado tema de estudo, compreendendo suas
ligações com a prática vivenciada pela humanidade (LIBÂNEO, 1998, p.
42).

 Na escola, os alunos devem entender-se como cidadãos ativos no


processo ensino-aprendizagem, socializando conhecimentos e construindo um
posicionamento crítico frente a qualquer assunto em estudo, seja ou não por eles
vivenciado. Para isso, todo conteúdo deve ser garantido de forma significativa ao
seu aprendizado.
Destarte, compreende-se a importância sobre a função e a formação
do Conselho de Escola, onde se percebe a competência máxima em sua
representação, pois agrupa todas as representações que constitui a escola, ou
seja, o conselho de classe da escola acontece através de um trabalho colaborativo
entre os sujeitos que fazem parte do espaço escolar, para que este se transforme
em um espaço importante de avaliação constante, abrangendo todos os segmentos
da organização escolar: atuação dos professores, equipe diretiva, desempenho do
professor e do aluno, envolvendo pais, conteúdos e recursos.
O conselho de classe torna-se realidade em um espaço de reflexão
pedagógica em que os pais, alunos e professores, têm a consciência do processo,
servindo para reorientar a reunião pedagógica a partir dos fatos que estão
elaborados no Projeto Político Pedagógico.
A escola deve desenvolver um processo de inovação no qual é
fundamental acompanhar as mudanças atuais de uma educação reflexiva e
participativa, em que a observação, a ação e a reflexão possam transformar a
elaboração do conselho de classe que hoje é apresentado para as escolas.

3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E DA


APRENDIZAGEM

A Constituição Federal de 1988, ao tratar da educação contempla


pela primeira vez, como observaram Camargo e Adrião (2002), entre seus
princípios, a gestão democrática (Art. 206, VI). A matéria esteve envolvida em
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controvérsias nas comissões e subcomissões que discutiriam o tema buscando


apoiar suas decisões em elementos fortalecedores da democracia.
Para Souza (2001), boa parte dessas controvérsias, pode ser
explicada pela configuração política dos membros da Assembleia Nacional
Constituinte, com base nas eleições de 1986, pois os eleitos demonstravam grande
heterogeneidade e, considerando-se a existência (ou não) de experiência política
anterior, parece ter sido fator relevante para que o processo de elaboração da nova
Constituição se desse, em grande parte, com a prevalência de negociações, as
quais culminariam ora em acordos, ora em consensos. Tal situação imprimiu no
processo maior possibilidade de participação de diversos atores nos processos
decisórios, o que elevou as possibilidades de conflitos e disputas.
Os autores, Camargo e Adrião (2002, p. 72) se referem à existência
de dois setores organizados da sociedade civil com representação no legislativo, e
que, encabeçaram o debate acerca do sentido a ser atribuído à gestão democrática
do ensino. Segundo estes autores:

O primeiro setor refere-se ao grupo identificado com as posições do Fórum


Nacional em Defesa da Escola Pública constituído por entidades de
caráter nacional cujo posicionamento, no tocante à gestão democrática da
educação e da escola, refletia a defesa do direito à população usuária
(pais, alunos e comunidade local) de participar da definição das políticas
educacionais às quais estariam sujeitos. Para esse setor, formar cidadãos
para uma sociedade participativa e igualitária pressuporia vivências
democráticas no cotidiano escolar, traduzidas na presença de
mecanismos participativos de gestão na própria escola e nos sistemas de
ensino. Esta proposição englobava tanto os estabelecimentos oficiais
quanto os da rede privada de ensino, em todos os níveis.
De modo oposto, o segundo setor, ligado aos interesses privados do
campo educacional e composto, tanto por representantes do chamado
empresariado educacional, quanto por representantes ligados às escolas
confessionais, contrapunha-se a tal formulação. Aqui, o grau “aceitável” de
participação resumia-se à possibilidade de famílias e educadores
colaborarem com direções e/ou mantenedoras dos estabelecimentos de
ensino.
As diferenças entre as duas orientações expressavam-se tanto na
qualidade da participação, como na forma de intervenção nos processos
decisórios ou como mera colaboração na implantação de medidas
previamente decididas, quanto na composição das futuras instâncias, com
a exclusão ou inclusão de diferentes segmentos da comunidade escolar
nos processos participativos e a proporção com que cada segmento seria
representado. (CAMARGO; ADRIÃO, 2002, p. 73-74)

Entende-se que junto aos esforços e anseios em busca de


democracia mais abrangente, ainda se encontrava enraizada, a força das elites

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economicamente dominantes, as quais não pretendiam abrir mão de quaisquer


espaços que pudessem interferir em sua capacidade de dominação, em busca de
uma culminância na qual, o princípio da gestão democrática se aplicaria apenas
aos estabelecimentos públicos de ensino.
É, portanto, fácil de se compreender a postura das classes
dominantes, pois aceitar para si as possibilidades da gestão democrática, (para se
referir às instituições privadas de ensino), implicaria, entre outras coisas, tornar
público seus balanços financeiros e, submeter à apreciação de seus clientes, por
exemplo, os reajustes das mensalidades escolares, o que poderia desencadear
forte reação em cadeia, de um lado, com os argumentos contrários das famílias
pelos possíveis aumentos e, de outro, com reivindicações de aumentos salariais,
por parte de professores e, demais funcionários.
Ao determinar os limites da gestão democrática apenas ao ensino
público, percebe-se que as possibilidades da educação, no sentido de ampliação
da visão de mundo, por intermédio de relações sociais mais transparentes, podem
ocorrer apenas no espaço público. Dessa forma, permanece preservado o
distanciamento entre as classes sociais e, também, os interesses econômicos do
setor privado.
Há um questionamento que ilustra como a questão da gestão
democrática foi tomada como subterfúgio pelos interesses privados, para limitar as
possibilidades de participação dos interessados em questões que poderiam no
limite, interferir no lucro.
É o que afirma Paro (2002, p. 80):

[...] o primeiro aspecto que salta aos olhos do educador minimamente


consciente da natureza da educação é o absurdo de se restringir a “gestão
democrática” ao ensino público. Significa isso que o ensino privado pode
se pautar por uma gestão autoritária? Numa sociedade que se quer
democrática, é possível, a pretexto de se garantir a liberdade de ensino à
iniciativa privada, pensar-se que a educação – a própria atividade de
atualização histórica do homem, pela apreensão do saber – possa fazer-
se sem levar em conta os princípios democráticos?

Mesmo circunscrita à esfera pública, tem-se, pois, que uma vez


estabelecido o princípio, definido por Camargo e Adrião (2002, p. 72) como termo,

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19

[...] empregado para designar, na norma jurídica escrita, os postulados


básicos e fundamentais presentes em todo Estado de direito, ou seja, são
afirmações gerais no campo da legislação a partir das quais devem
decorrer as demais orientações legais.

É possível entender a gestão democrática do ensino público não mais


como uma opção registrada por algumas experiências exitosas e atributo de
educadores progressistas para se conformar, ao menos em tese, – e, com os
imperativos do princípio – na construção de processos participativos cada vez mais
amplos, em favor da transformação social.
Assim, importante é a lição de Meirelles (2006, p. 913) acerca da
violação de princípio:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma


qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É
a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o
escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o
sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia 2 irreversível
a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.

Essa advertência, comparada à necessidade de busca do


fortalecimento do aprendizado democrático esclarece as discussões que ainda
precisam ser travadas e, dentre eles, primeiramente contra as atitudes pessoais
que dificultam a concretização da gestão democrática, mostrando a possibilidade
de auto identificação como hospedeiros de opressores, conforme ensina Freire
(1987), concomitantemente, contra todas as demais formas de injustiças que se
subtraem das crianças, jovens, homens, mulheres e idosos à sua vocação para a
humanidade.
Destarte, é imprescindível democratizar não apenas o conhecimento,
mas, também, as informações, para que se torne mais frequente a interferência do
Sistema Judicial na garantia da preservação e, da realização dos direitos sociais
(OLIVEIRA; ADRIÃO, 2002).
Observando-se a acepção de princípio e, a crítica de Paro (2002),
parece evidente que, diante da dicotomia entre público e privado, presente no texto
constitucional, o setor privado se coloque de maneira contrária às possibilidades de
dirigir suas ações por princípios da gestão democrática, pois negá-los se constitui

2
Contumélia – afronta, injúria – Dicionário Eletrônico Houaiss.
19
20

como forma de preservação dos seus interesses econômicos, já que a educação,


como mercadoria, rege-se pelos princípios da livre iniciativa, razão pela qual a sua
aquisição está diretamente relacionada à capacidade financeira de seus potenciais
consumidores (GENTILI, 1998).
Evidencia-se que a negação do princípio democrático, pelo setor
privado, não se constitui em ilegalidade, já que legislação concedeu à iniciativa
privada, a possibilidade de agir de forma diferenciada, o que contribui para que
este setor se mantenha distante e fechado em relação às posturas democráticas.
Por outro lado, conforme Oliveira (2005), ao tratar da questão do
público e privado constante na nossa Carta Magna, a postura fechada não se
aplica, quando se trata das possibilidades de obtenção de recursos públicos.
Segundo o autor, a incerteza conceitual dos dois termos, tomados em seu sentido
tradicional, relacionados à propriedade e não à visibilidade, vem permitindo uma
espécie de ambiguidade nas fronteiras entre um e outro.
Esta situação adicionada aos discursos feitos especialmente com o
intuito de enfraquecer o Estado e, relacionados à baixa qualidade e a eficiência dos
serviços público-estatais e, em que pese uma parcela de verdade, constrói-se a
ideia de um Estado pouco eficiente em providenciar políticas públicas sociais,
facilitando o surgimento de outros segmentos da sociedade, financiados com
recursos públicos, os quais a propósito de preencherem as lacunas deixadas pela
insuficiência do Estado ampliam as privatizações.
Observa-se que o comportamento conveniente aos interesses
destacados pelos autores mencionados, deixa clara a tensão existente entre os
interesses do Estado em sua versão neoliberal de Estado Mínimo, e, a
concretização da democracia substantiva, entendida e sintetizada como a plena
realização dos direitos sociais e eliminação das desigualdades sociais.
Desse modo, negar a democratização do ensino é um caminho
bastante favorável para que o capital imponha os seus ditames, e, amplie as
condições opressoras que afastam as classes trabalhadoras, dos bens sociais e
históricos produzidos, reiterando e reproduzindo um ciclo social de injustiças.
Pinto (2002), ao destacar a alteração feita na redação dos incisos I e
II, do Art. 208, da CFB/88, os quais determinam que é dever do Estado, garantir o
ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram

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21

acesso na idade própria e, a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade


do ensino médio, retirou do Estado, a obrigatoriedade expondo a forma como o
este se eximiu de sua responsabilidade e, declinou da oportunidade que
certamente contribuiria para construir uma sociedade democrática:

Ora, ao retirar a obrigatoriedade para os alunos, por consequência, o


Estado também acaba se desobrigando da oferta àqueles que não
reivindicam a matrícula. Embora possa parecer antidemocrático obrigar
alguém com mais de 20 anos, por exemplo, a frequentar o ensino
fundamental, há que se entender que esta escolarização não deve ocorrer
apenas no interesse do indivíduo, mas sim da construção de uma
sociedade democrática, daí a importância da obrigatoriedade. (PINTO,
2002, p. 115).

Diante do exposto, não se ignora que, além da necessidade de


investimentos para sustentar tais propostas, outras adaptações e arranjos
institucionais, teriam que ser feitos no atendimento da proposta inicial dada pelo
texto constitucional. No entanto, as opções adotadas para o atendimento a esta
parcela da população, especialmente na Educação de Jovens e Adultos (EJA), cujo
cômputo do número de matrículas foi vetado, para efeito de financiamento, sob a
alegação de ser “temerário” (sic), pois:

A garantia de contabilização do alunado do ensino supletivo, para efeito de


recebimento dos recursos, poderá provocar, no âmbito dos governos
estaduais e/ou municipais, uma indesejável corrida no sentido de se criar
cursos dessa natureza, sem rigor nem a observância dos critérios técnicos
pedagógicos requeridos por essa modalidade de ensino, com o objetivo de
garantir mais recursos financeiros ao respectivo governo, em detrimento
da qualidade do ensino e, por conseguinte, da adequada formação dos
educandos. (CÂMARA FEDERAL, 1996)

O veto se deu em função de que essa contabilização poderia se


constituir numa espécie de “barateamento” dessa parcela de serviço, cuja oferta
ficou para os Estados e Municípios, em caráter discricionário. Pode-se dizer que o
“barateamento” dessa modalidade de ensino foi mais sentido nos Municípios que,
ao oferecê-la, dividiu os recursos destinados à educação infantil.
É perceptível que as normas legais refletem um conjunto de
interesses de classes sociais e econômicas, entende-se que, ao desobrigar o
Estado da oferta desse serviço, estava-se optando por deixar para outra
oportunidade, o resgate da histórica dívida social com essa parcela da população.

21
22

Sob a ótica da democratização do ensino, fica evidente a importância que as lutas


empreendidas pelos movimentos sociais organizados, têm na conquista dos
direitos sociais, já que tal direito não se realizou legalmente por outorga do Estado.
Dessa forma, pode-se dizer que a matéria, “gestão democrática do
ensino”, não poderia ser de interesse para as elites. Para elas, a manutenção
desse exército de trabalhadores e trabalhadoras em situação de submissão
intelectual, no sentido de ausência ou insuficiência tanto do saber formal, quanto da
negação do acesso ao conhecimento, propicia parte das condições para o
exercício do clientelismo que as sustenta.
Fernandes (1998, p. 191) destaca que:

[...] educação e consciência social clara são os principais substratos dos


pobres na luta de classes. Uma população trabalhadora menos rústica não
seria reduzida à condição de substituta e sucessora da população escrava
e liberta por tanto tempo, se dispusesse de melhor nível educacional e
cultural. Além disso, há os efeitos circulares e reativos. A pressão
destrutiva da ignorância e da marginalidade cultural (em relação aos
padrões da civilização das classes dominantes) aumentou até limites
extremos a violência entre os próprios excluídos, a propensão à
capitulação passiva ou ziguezagues nos conflitos com os de cima.

A defesa da gestão democrática do ensino, com seu marco legal,


estabeleceu um divisor histórico. Entretanto, a sua plena realização, depende da
transformação de posturas individuais e coletivas, que se esforcem pela melhoria e
ampliação dos espaços participativos, associadas à pressão que deve ser exercida
sobre o Estado para que este se materialize por intermédio de políticas públicas
que favoreçam a todos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se iniciou esta pesquisa, o intuito maior era compreender como


o setor gestão escolar no atual sistema de ensino poderia oportunizar e favorecer
de maneira funcional as perspectivas sobre a importância da escola para a
sociedade.
Assim, durante a reflexão sobre a gestão escolar foi oportunizada a
observação através dos estudos de que a plena instauração do seu papel é

22
23

conteúdo e destinação da democracia política. Lutar por uma gestão que


oportuniza além do ensino a inclusão é lutar Através dos diversos teóricos
analisados e também pelos meios de comunicação que nos chegam dos mais
variados recursos
Se a escola se propõe a colaborar na construção da cidadania e do bem
comum, os gestores devem se preocupar em criar inúmeras condições para que
isso se efetive na instituição, tanto no trabalho dos professores como na relação
com a comunidade.
Isso leva-nos a observar que não basta apenas administrar e obedecer
às ordens dos órgãos superiores é preciso haver um consenso e respeito sobre a
realidade escolar e a funcionalidade em seu cotidiano.
O gestor para poder atuar em uma escola, precisa visar à participação
de todos, saber quais as necessidades da comunidade onde está estabelecida a
escola que vai atuar, ou seja, para evidenciar a especificidade da escola pública, e
a sua intensa relação com a comunidade. Ainda sobre a comunidade, ou seja, os
alunos, as famílias e todos participantes da vida escolar, muitos não estão
preparados para a prática da gestão democrática da escola, assim, como do
próprio exercício da cidadania.
Assim, quando me refiro à participação dos professores, pais, alunos e
representantes da comunidade, a democracia, pode ser elaborada sem sonhos,
basta que a comunidade queira participe e a administração da escola possibilite a
abertura para que a sociedade. Esta prática de colocar a questão educacional em
discussão no âmbito da escola, por si mesma. Vai permitir à sociedade discutir as
questões que julgam fundamentais, tanto no âmbito da educação como no de
outras políticas sociais a ser desenvolvida pela sociedade a qual pertencemos.
Neste aspecto, este trabalho buscou considerar a importância que a
gestão escolar tem não apenas para o funcionamento administrativo da empresa
escola, e sim, a sua parte humana, ou seja, todos os recursos que fazem a escola
funcionar para que o sistema atinja o principal objetivo da escola, integrar o aluno
na sociedade com potencial de aprendizado para o seu desenvolvimento.
Assim, cola-se em questão sobre a diversidade encontrada no percurso
de formação deste aluno, tendo o foco mais precisamente para a criança da
educação inclusiva. Ensinar uma criança portadora de necessidades especiais

23
24

exige muito mais conhecimentos e especificidades. Neste contexto, o professor


precisa estar devidamente apto para exerce sua função com êxito. Isto não
significa ver a criança como um problema em sala de aula, mas sim como um
desafio, onde o professor possa trabalhar com as potencialidades e possibilidades
das crianças respeitando os limites de suas necessidades especiais.
Portanto, incluir não é somente por o individuo junto aos demais, mas
buscar formas de fazê-lo sentir-se parte do grupo, as diferenças fazem parte da
condição humana e não os classifica em melhores ou piores, apenas nos mostra
que vivemos em um mundo de diversidades, onde cada indivíduo possui um valor
único.
Falar de inclusão é considerar todos os aspectos sobre a necessidade
de reorganização do espaço escolar, e isso inclui principalmente aceitar sobre as
possibilidades deste aluno, bem como, sobre os conceitos que envolvem o seu
entorno e sua diversidade.
Mesmo com toda informação e divulgação sobre as leis que regem a
nossa Educação, é importante considerar que sua execução na prática é
questionável, pois além da dificuldade sobre a capacitação do próprio corpo
humano que a escola deve ter, muitas famílias divergem sobre a real necessidade
de seu filho. Este fato se agrava muito mais, quando, por exemplo, no caso do
aluno autista, que seus diagnósticos são realizados por processos, e envolvem
uma gama de profissionais até que se chegue a um laudo de fato.
É fundamental a nossa prontidão para a mudança necessária, dentro de
nossas casas, família e os reflexos que irão refletir em sociedade, pois, a maioria
dos problemas é iniciada dentro de nossos próprios lares e como consequência,
absorvidos pelos filhos. Por isto, é tão necessária a junção família e escola, pois
com a participação dos pais na vida escolar de seu filho e o apoio da escola
podemos assim passar e construir jovens que saibam enxergar o próximo e assim
o respeitá-lo.

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