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rafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Ungua Portll/lll/!,\'II


de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original:
Customs in Common

Capa:
Ettore Bottini
SUMÁRIO
sobre detalhe de Ceifeiros (1785), óleo de
George Strebbs, Tate Gallery, Londres

índice onomástico:
Maria Cláudia Carvalho Mattos

Preparação:
Cristina Penz Pr fácio e agradecimentos . 9
Revisão:
Ana Maria Barbosa
Cecília Ramos I. Introdução: costume e cultura . 13
Carmen S. da Costa
, Patrícios e plebeus 25
Atualização ortográfica: I.
Página Viva
stume, lei e direito comum . 86

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) , A economia moral da multidão inglesa no século XVIII.......................... 150
(Câmara Brasileira do Livro, SP. Brasil)

Thompson. E. P.
conomia moral revisitada....................................................................... 203
Costumes em comum / E. P. Thompson ; revisão técnica
Antonio Negro, Crisrina Meneguello, Paulo Fontes. - São Paulo: (), Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial............................. 267
Companhia das Letras, 1998.

ISBN978·85·7164·820·3
7. A venda de esposas........................................................................................... 305
L Classes trabalhadoras - Inglaterra - História - Século 18 H. Rough music.............................................................................................. 353
2. Cultura popular - Inglaterra - História - Século 18 3. Inglaterra
- Condições econômicas - Século 18 4. Inglaterra - Condições
sociais - Século 18 5. Inglaterra - Usos e costumes - Século 18
I. Título.
Notas......................................................................................................... 407
98·4533 COD-306.0942090033

Índice para catálogo sistemático: Lista de ilustrações . 483


!.Inglaterra: Século 18: História social 306.0942090033
índice onomástico . 485
2016

Todos os direi tos desta edição reservados à


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historiadores sem nada para fazer. De ual .. .
da ex ressão "economia moral" d~ LI I 1011111. 111 1[1111 111 fui () (111
muito tem~ueceu a sua fi r no_ ISNCU!SO acad 'ITli 'U '01'1' ru l 1'1110 "
. .
gIalOnqade...?-!..não
sou mais r~sponsável
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laçao. ao rene o ma' I 'á . .
_'. J~ atlll III NUI
como isso vai c_onti;;ar. ,~- por suas açoes. Será lllteressant v I
6
TEMPO, DISCIPLINA DE TRABALHO
E CAPITALISMO INDUSTRIAL

Mantínhamos um velho criado, cujo nome era Wright, tra-


balhando todos os dias, embora fosse pago por semana,
mas ele fazia rodas por ofício [...]. Certa manhã aconteceu
que, tendo uma carroça quebrado na estrada [...], o velho
foi chamado para consertá-la no lugar em que o veículo
se encontrava; enquanto ele estava ocupado fazendo o seu
trabalho, passou um camponês que o conhecia, e o saudou
com o cumprimento de costume: Bom dia, velho Wright,
que Deus o ajude a terminar logo o seu trabalho. O velho
levantou os olhos para ele [...] e, com uma grosseria diver-
tida, respondeu: Pouco me importa se ele ajudar ou não,
trabalho por dia.
Daniel Defoe, The great law of subordination considered;
or the insolence and insufferable behaviour of SERVANTS in
England duly enquired into (1724)

Para a camada superior da humanidade, o tempo é um inimi-


go, e [...] a sua principal atividade é matá-lo; ao passo que,
para os outros, tempo e dinheiro são quase sinônimos.
Henry Fielding, An enquiry into the causes of the
late increase of robbers (1751)

Tess [...] começou a subir a alameda ou rua escura e torta que


nãofora feita para um caminhar apressado; uma rua traçada
antes que pequenos pedaços de terra tivessem valor, e quando
os relógios de um só ponteiro bastavam para subdividir o dia.
Thomas Hardy

266 267
f
l ' P IIH,I·, at qu , '()!II Nl WIUIl, tOJlU\ • nta d univ rs ,ti p 'lu 111Illd d()
, do xvin (s nnnrlilOs III Stcrn ) O relógio já alcan ara nív is muis IIti
. ~ lugar-comum que os anos entre 1300 e 1650 pl' S n ilararn mucenc I IDOS, Pois o pai de Tristram handy - "um dos homens mais regrad s '111
lfI1. ortant~s na percepção do tem o no âmbito da cultura intelectual da 'UI'Op I tud o que fazia [...] que já existiram" - "criara um hábito durante muitos
OCI~engtl. ~o~ Contos de Canterbury, o galo ainda aparece no seu papel im unos de sua vida - na noite do primeiro domingo de cada mês [...], ele dava
monal de relógio da natureza: Chantecler
-orda a um grande relógio que tínhamos no topo da escada dos fundos". "Aos
Levantou o olhar para o sol brilhante poucos também transferira alguns outros pequenos interesses familiares para O
Que no signo de Touropercorrera 11) smo período", o que tornou Tristram capaz de precisar a data de sua con-
Vinte e tantos graus, e um pouco mais, t' pção. Provocou também The clockma'ker's outcry against the author [O pro-
Ele sabia pela natureza, e por nenhuma outra ciência I sto do relojoeiro contra o autor]:
Que amanhecia, e cantou com voz alegre [...]1 '
As minhas encomendas de vários relógios para o interior foram canceladas; pOI'-
\U.)' ~ '-;';"':-Mas, e~bor~, "Pela natureza ele conhecesse cada ascensão/ Do equinócio 1111 que agora nenhuma dama recatada ousa falar em dar corda a um relógio sem s
s- •• ?'~í(f quela CIdade. ,~contraste entre o tempo9-a~na.!lILezLe.Q tempo do.relógio expor aos olhares maliciosos e às piadas da família [...]. Sim, agora a expressuo
apontado na Imagem - comum das prostitutas é: "Meu senhor, não quer dar corda ao seu relógio?",

Bem mais confiável era o seu canto no poleiro A matronas virtuosas (reclamava o "relojoeiro") estão enfiando os relógios n S
Do que um relógio, ou o relógio da abadia)' quartos de trastes velhos, porque eles "provocam atos carnais".'
Entretanto, é improvável que esse impressionismo grosseiro faça avançar a
Ess~ é ~ relógio mui~o. primitivo: Chaucer (ao contrário de Chantecl I') presente investigação: até que ponto,~e_que maneira, essa mudança no senso
era londrino, CIente dos horanos da Corte, da organização urbana e do "tempo
do mercador" qu~ Jacques le Goff, num artigo sugestivo em Annales, contrap s
de tempo af~ a disciplina de trabalho, e até q~l?-:!,ontoinfiuen~jou a ~ercepç~o
interna de tempo_dos trabalhadores? Se a tr~nsIça2..p~ra a SOCIedade mdustnal fi flVft\l
t,.r:~
ao tempo da Igreja medieval.?
madura 2.c~etou um~r~struturação rigorosa dos ~ábitos_de trabalho - novas pr~
, ~ão dese~o discutir até que ponto a mudança foi causada pela difusão d disc'!plin~vos estímulos, e uma nova natureza humana em que esses estímu- 1 rn
relógios a part~ d~ s.éculo~IV em diante, até que ponto foi ela própria o sintoma los atuassem efetivamente -, até que ponto tudo isso se relaciona com mudan- II.fI r
de u~a nova disciplina puntana e exatidão burguesa. Seja qual for o modo cI 11 ça'Slla notação interna do tem 07--
considerarmos, a mudança certamente existe. O relógio sobe no palco elisabctu
no, transformando o último solilóquio de Fausto num diálogo com o tempo: "tiS
estrelas .se movem silenciosas, o tempo corre, o relógio vai bater as horas". II
tem o ~Id~ral, presente desde oinício da literatura, com um único passo aban
do~ou o ceu para entrar !lQ§ lares. A mortalidade e o amor são sentidos de modo É bem conhecido ue, entre os ovo~rimitivo~ ~ m~di_ção_dº.tempo está
mais pungente quando o "progresso vagaroso do ponteiro em movimento'? cru comumente relacionada com os rocessos familiares nosicLo do trabalho ou das
~a o ~ostrador. Quando se usa o relógio ao redor do pescoço, ele fica próximo tarefas domésticaS. Evans-Pritchard analisou o senso de tempo dos nuer: "O
as batidas menos regulares do coração. São bastante antigas as imagens elisab re ogio diário é o do gado, a rotina das tarefas pastorais, e para um nuer as horas
tanas do tem o como deyorador, desfigurador, tirano san rento ceifeiro mas h do dia e a passagem do tempo são basicamente a sucessão dessas tarefas e a sua
um novo senso de imediatismo e ínsístêncía.' ,-' relação mútua". Entre os nandi, a definição ocupacional do tempo evoluiu,
À medida que o século XVII avança, a imagem do mecanismo do reló io abrangendo não apenas cada hora, mas cada meia hora do dia - às 5h30 da
manhã os bois já foram para o pasto, às 6 h as ovelhas foram soltas, às 6h30 O
(n Caste up his eyen to the brighte sonnej That in the signe ofTaurus hadde yronne/ Twenty
01 nasceu, às 7 h tomou-se quente, às 7h30 os bodes já foram para o pasto etc,
degrees and oon, and somwhat moorej He knew by kynde, and by noon oother loore/ That il WIIH - uma economia inusitadamente bem regulada. De modo semelhante, o t 1'-
pryme, and crew with blisful stevene [ ... [.
mos evoluem para a medição de intervalos de tempo. Em Madagáscar, o tern] O
(n) Wel sikerer was his crowyng in his logge/ Than is a clokke or an abbe I O'
, Y or ogge. podia ser medido pelo "cozimento do arroz" (cerca de meia hora) ou pelo "fritar

268 269
1I11no() O V nto do 111)11
,li V lha s nhora pr para as minhas I' r lç . 011\
d um afanh t " (um momento), Registr lI-S qu 11 nutlvos d 'I' tiS t ustam r gularidad ; mas, nos outro dias, ela frequentemente prepara m li
River dizem: "o homem morreu em menos tempo do que I va milho para 'há às três horas em vez da ei [.. .].10
assar" (menos de quinze minutos)."
m dúvida, esse descaso elo tem o d~lógio_só é possível numa comu-r ;"
Não é difícil encontrar exemplos dessa atitude mais próximos de nós em
nldudc de pequenos agricultores e pescadores, cuja estrutura de ~ercado e ad- (r I
termos de tempo cultural. Assim, no Chile do século XVII, o tempo era frequen-
1I11nistração é mínima, e na qual as tarefas diárias (que podem vanar da pesca aou!'AO ~
temente medido em "Credos": um terremoto foi descrito em 1647 como tendo
plantio, construção de casas, remendo das redes, fe,it~ra dos telha~os .-ge ,uml
du~ado o tempo de dois credos; enquanto o cozimento de um ovo podia ser
h I'ÇO oU de um caixão) parecem se dese~rolar, ~e~a lógica da necessIdjlde, dl~-
estimado por uma Ave-Maria rezada em voz alta, Na Birmânia," em tempos
ío I s olhos do pequeno lavrador." Mas a descnçao de Synge serve para enfati-
recentes, os monges levantavam ao amanhecer, "quando há bastante luz para
~l\l' o condicionamento essencial em diferentes notações do tempo gera~as por
ver as veias na mão" ,7 O Oxford English dictionary nos dá exemplos ingleses
Iliferentes situações de trabalho, e sua relação com os ritmos "naturais", E óbvio
-,pater noster wyle [a duração do Pai-Nosso], miserere whyle [a duração do
que os caçadores devem aproveitar certas horas da noite para colo,car as suas
~Is~rere] (1~50?, e (n? New English dictionary, mas não no Oxford English
IIrmadilhas, Os pescadores e os navegantes devem integrar as suas VIdas com as
dictionaryy ptsstng while [o tempo de uma mijada] - uma medição um tanto
marés. Em 1800, uma petição de Sunderland inclui as seguintes palavra,s: "con-
arbitrária,
/liderando que este é um porto marítimo em que muitas pessoas são ob~g~das a
Pierre Bourdieu investigou mais detalhadamente as atitudes dos cam-
ílcar acordadas durante toda a noite para cuidar das marés e de suas atívídades
poneses cabilas (na Argélia) com relação ao tempo em anos recentes: "Uma
n rio"." A expressão operacional é "cuidar das marés": a padronização do tem-
atitude de submissão e de indiferença imperturbável em relação à passagem
po social no porto marítimo observa os ritmos do mar; e isso ~are~e n,at~ral e
~o ~empo, que ninguém sonha em controlar, empregar ou poupar.i. A pressa
mpreensível para os pescadores ou navegadores: a compulsao e propna da
e VIsta como uma falta de compostura combinada com ambição diabólica",
O re,lógio é às vezes conhecido como "a oficina do diabo"; não há horas natureza, tJ) ~(fI

Da mesma forma, o trabil~o <!Q amanhecer até o creRúsculo p-ode p~ecer


precisas de refeições; "a noção de um compromisso com hora marcada é
"natd-;uma '~mul}idªº~_de agricultores, especialmente nos meses da co-
desconhecida; eles apenas combinam de se encontrar 'no próximo merca-
lheita: a natureza exige que o grão seja colhido ante~ que comecem as tempes- ()/
do'" , Uma canção popular diz:
~~es. E observ~-;s ritmos de trabalho "naturais", semelhantes acomp~nhando
É inútil correr atrás do mundo, Ninguém jamais o alcançará? utras ocupações rurais ou industriais: deve-se CUIdar das ovelhas na epoca do
Em sua descrição bem observada da ilha Aran, Synge nos dá um exem- parto e protegê-Ias dos predadores; as vacas devem ser ordenhada~; deve-se
plo clássico: uidar do fogo e não deixar que se espalhe pelas turfas (e ~s que queimam c~-
vão devem dormir ao lado); quando o ferro está sendo feito, as fornalhas nao
Enquanto caminho com Michael, alguém muitas vezes vem falar comigo para
perguntar que horas são, No entanto, poucas pessoas têm bastante familiaridade podem apagar, ' '
com ~ noção moderna de tempo para compreender de forma menos vaga a con- A nota ão do tem o ue sur~,J.1esses conte~tos ~e~ sido _descnt~~o 1 I
ve~ça~ das horas, e quando lhes informo a hora do meu relógio, eles não ficam orientação p~l~s tarefas, Talvez seja a orienta~ã~ maIS efica,z ~as_~cIeda~es
satisfeitos e querem saber quanto tempo ainda lhes resta até o crepúsculo," camponesas, e continua a ser im or!.ap~_nas alli'J.Q..adesdom~.stIc~,~~S :Ila-
Na ilha, o conhecimento geral do tempo depende, bastante curiosamente da di- rejos~ Não perdeu de modo algum toda a sua importância nas regiões r~ra1s da W' Q
reção do vento, Quase todas as cabanas são construídas [..,] com duas portas uma Grã-Bretanha de hoje, É possível propor três questões sobre a onentaçao pel~S O (f ';\
0
e~ frente da outra, e ~ ma,is abrigada das duas fica aberta durante todo o dia para tarefas, Primeiro, há a interpretação de que é mais humanamente compreensl- 1
delx~ entrar luz no mtenor, Se o vento é norte, a porta do sul fica aberta, e o vel do que o trabalho de horário marcado, O camponê~ ou trabalhador p,arec
mO~lmento da sombra do umbral sobre o chão da cozinha indica a hora; porém, cuidar do que é uma necessidade, Segundo, na comumdade em que a onenta-
assim que o vento muda para o sul, a outra porta é aberta, e as pessoas, que jamais - tre " t b lho" eU
ção pelas tarefas é comum parece haver po~ca s,eparaçao en re ,o ra a I
pensam em fazer um relógio de sol primitivo, ficam perdidas [..,],
"a vida", As relações sociais e o trabalho sao rmsturados - o dia de trabalh,
se prolonga ou se contrai segundo a tarefa - e não há grande senso de confli- IJIM
(111)
Atual Myanrnar.

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270
NI/s lâlml/,I',/II/II'.v ,,',v,I'/1I11I/ 11,1' IIIISI /'S lli. /1/1/1'/('//11,
l( 'tlll" trubulh ", assar do dia". 'I 1" iro, uos 110111 li, 11'11 111111111111
I~'os c ,I ilros devo/vl'II/ li eco dos str pl,toS.
trabalho marcado pelo relógio, essa atitud para 0111 o 11 111
1111 I 1"11' I
ra no ar voam nossas armas nodosas,
dulãria e carente de urgência." Ora com igual força lá de cima c~em: _
Sem dúvida, essa distinção tão clara pressupõe, C 1110l/'I ti Para baixo, para cima, criam o ritmo tao ~em,
ponês ou artesão independente. Mas a uestão da ori ntnc () 111 I I 111 I Os martelos dos ciclopes melhor não soanam
torna muito mais complexa na situação em que se empr , m () 11 1111,11 I [ ...]
, P' a economia familiar do e ueno a ricultor ode ser ori ntadn pl I I 1111 I Em torrentes salgadas nosso suor acelerado desce,
~fltf: ~.~ f )Illas em seu interior pode haver divisão de trabalho, aioca i O di li 'I' I
Cai dos anéis dos cabelos, ou e.scorre pela face.
-;;";P l1l '\ ' disciplina de uma relação de empregador-empregado entre li II ',rllIlI Não temos pausa em nosso trabalho;
JiMO filhos. Mesmo nesSecasõ,-o tempo-está começando a se transfmuuu 111 A sala barulhenta da debulha não pode parar.
- -
nheiro, o dinheiro do em regador. Assim que se contrata mã d ohl I I1 I1 Se o mestre se ausenta, os outros brincam. a salvo;
visível a transformação da orientação pelas tarefas no trabalho di 11111 , Mas a sala adormecida da debulha se trai.
marcado. É verdade que a regulação do tempo de trabalho pod S I' 1I 1111 I Nem para se distrair do trabalho tedioso,
dependentemente de qualquer relógio - e, na verdade, pre d 11 ti 111 E fazer sorrir docemente os minutos que p~ss,a~,
Podemos, como os pastores, contar uma hlstona alegre.
desse mecanismo. Ainda assim, na metade do século XVII, os fazen I 1111 111
A voz se perde, afogada pelo mangual barulhento
calculavam as suas expectativas da mão de obra contratada em "dia: ,,, 111
[ ...]
balho" (como fazia Henry Best) - "Cunnigarth, com suas terras d 1111 I ,
requer quatro grandes dias de trabalho para um bom ceifeiro", "SI' 1111 Semana após semana jazemos essa t~refa monóton~,
exige quatro dias de trabalho indiferentes" etc." e o que Best fazia puI' I I li Exceto quando os dias de joeirar criam outra nova,
própria fazenda, Markham tentou apresentar de forma geral: Nova realmente, mas em geral pior, .
A sala da debulha só se submete às pragas do mestre.
Um homem [...] pode ceifar um acre e meio de cereais, como cevada lIVI II Ele conta os alqueires, conta a quantidade do dia,
Depois pragueja que vadiamos metad~ do temp~.
as plantas forem grossas, pouco elásticas e rentes ao chão, e se ele trabalh 11 111 111
Olhem aqui, seus patifes! Acham que ISSO =: IV A

sem cortar as cabeças das espigas e deixando os talos ainda plantados, 11li 11I dlll.1
OS seus vizinhos debulham duas vezes mais que voces.
trabalho; mas se as plantas forem boas, grossas e bastante eretas, ele p ti I 1111
dois acres ou dois acres e meio num dia; agora se as plantas forem curtas 111111 . alo ação do prazer em trabalhar,
ele pode ceifar três e às vezes quatro acres num dia, sem ficar estafado I." 1,1 passagem parece descrever a monotoma, a ien . d fábri A
antagonismo de interesses comumente atribuídos ao SIstema as a ncas.
I'
o cálculo é difícil, depende de muitas variáveis. Sem dúvida, uma mediç \I di unda passagem descreve a colheita:
reta do tempo era mais conveniente."
b Tree Staves rebound,! And echoing Bams retum the
Essa medição incorpora uma relação simples. Aqueles que são conuut I h 1 (IV) From the strong Planks our Cra - FI '/ And now with equal Force descend
experienciam uma distinção entre o tempo do empregador e o seu "p '111 I , / N . th Air our knotty Weapons y,
uutling Sound. ow 10 e h T' ,! The Cyclops Hammers could no truer
. o well they keep t e ime
tempo. E o empregador deve usar o tempo de sua mão de obra e cuidar parn qlll 110m high.' Down one, one up, s
bri St
ds apacev D ops from our Locks, ar trickles down
s our Sweat descen s apace r .
chlrne [ ...]// In nny ream k ./ Th oisy Threshall must for ever go.! Their
não seja desperdiçado: o que e,redomina não é a tarefa, mas o valor do I 11'1"1 , ..' our Work we now, e n I
our Face.! No IOterrmSSlOn 10 • Th h 11 doth itself betray.! Nor yet the tedious
quando reduzido a dinheiro. O tempo é agora moeda: ninguém passa o t mp".1 Mnster absent, others safely play;/ The sleepmg res a I ile ,' Can we like Shepherds, tell a
. d k th assing Mmutes sweet y srm ,
sim o gasta. l,nbour to begUlle,l An ma e e p . FI'I [ ]// Week after Week we this dull Task
Voi . I t drown' d by the noisy ai ...
11\ rry Tale?/ The orce IS os , '/ A . deed but frequently a worse,l The
Podemos observar um pouco desse contraste, nas atitudes para com () 11 111 . . D s produce a new new in ,
pursue,/ Unless when wínnowing ay 'th B shels counts how much a Day,l Then
po e o trabalho, em duas passagens do poema de Stephen Duck, "The thr Nh I' h M t ' Cursei/ He counts
'l'hreshall yields but to t e as er s v.urse: R
eu,
I D'ye think that this will do?/ Your
labour" [A lida do debulhador]. 17 A primeira descreve uma situação de trah ti li" swears we've idled half our Time away./ Why look ye, ogues:

que passamos a ver como norma nos séculos XIX e xx: Neighbours thresh as much again as you.

273
272
Porfim, ('1/1 ji! üras, os . 'I' 'ais b '111 .I' 't' Idos,

Uma na aprauvet, tudo pronto para o '1'imo ti 's s rel gi s m tivo I· Jis'u' 'ã; O r I gi ti si' ntlnuuv I 111 II 11

Nosso mestre satisfeito considera a visão com ai grla, ( m parte para acertar rcl gio) nos séculos XVII, XVIII e XIX.20
E nâs, para carregar os grãos, usamos toda a nossaforça. No século XVII, contiI),:!~~m a serfeitas, doações generosas (às v '/, d
A confusão logo toma conta de todo o campo, 120 tas-E0mo clockland [terra para _orelógio], ding dong land [terra para o ti n}
Os clamores atordoam os ouvidos dos trabalhadores' dong] ou curfew bellland [terra Rl![a o toque de recolher]) para que ass m ~
Os sinos e os golpes dos chicotes alternam os sons '
inos da manhã e os sinos de recolher," Assim, em 1664,.Richard Palm r ti
E as carroças estrepitosas estrondam sobre a terra'.
O trigo já entrou no celeiro, as ervilhas e outros grãos Wokingham (Berkshire) QoQ.ut~g'!§ a s~rem administradas com a finalidad ti
Têm o mesmo destino, e logo deixam o campo vazio: _)lagar o sacristã~, para que toç,ass~o gr~!ld!. s~q.o.~u~a':!.temeia hora, todas as
Em triunfo clamoroso, a última carga se move, noites às oito horas e todas as manhãs às quatro horas, ou tão próximo dessas
E um grande alarido de hurras proclama ofim da colheita." horas quanto possível, de 10 de s~embro a 11 de março de cada ano,

Essa é ce~tamente uma composição convencional, obrigatória na poesia não só para que todos os que morassem ao alcance do soar do sino pudessem s "
rural do seculo XVIII. E também não deixa de ser verdade que o moral ele- com isso induzidos a repousar a uma hora conveniente da noite, e a levantar c do
va~o dos trabalhadores era sustentado pelos altos ganhos na colheita. Mas de manhã para os trabalhos e deveres de suas várias profissões (horários geralm nt
sena um erro ,ver a situação da colheita como resposta direta a estímulos observados e recompensados com economia e competência no trabalho) [...],
econômicos. E igualmente um momento em que os ritmos coletivos mais
antigos irrompem em meio aos novos, e uma porção do folclore e dos mas também para que os forasteiros e outros que escutassem o som do sino nas
c.ostu~es r~ra~s pode ser invocada como evidência comprovadora da sa- noites de inverno "pudessem ficar sabendo a hora da noite e ter alguma orienta-
tIsfaç~ao pSIqUI~a ~ d~s funções rituais - por exemplo, a obliteração mo- ção para acertarem o seu caminho". Esses "fins racionais", pensava ele, "só
mentanea das distinções SOCIaIS- da festa do fim da colheita. "Como são podiam ser apreciados por uma pessoa judiciosa, a mesma prática sendo obser-
poucos os que ainda sabem", escreve M. K. Ashby, "o que era trabalhar vada e aprovada na maioria das cidades e cidades-mercados, e em muitos outros
numa c?l?eit~ há noventa anos! Embora os deserdados não tivessem gran- lugares do reino '[. .. ]". O sino também lembraria aos homens a sua morte, a UW ~ ,
de partrcipação ~os frutos, eles ainda assim partilhavam a realização, o Ressurreição e o Juízo Fina1.22 O som era mais eficaz ue ~ vis!2.z~sRecialmef!- ( ;r/l X)
profundo envolvimento e a alegria do trabalho.:"! te nos distritos manufatureiros em desenvolvimento. Nos distritos produtores de
roupas de West Riding, nos Potteries'" (e provavelmente em outros distritos),
ainda se empregava a trompa para acordar as pessoas de manhã." De vez em
lI! quando o fazendeiro despertava os seus trabalhadores nas choupanas; e sem
dúvida o costume de bater à porta para acordar os moradores terá começado
. ~ão é absolutame~t~ claro ~té que ponto se podia di~po~e hora pre- com os primeiros moinhos. I

cisa.unarcada pelo relog!Q._Q.iL~Rºc~da Revoluçio Industrial. Do século Um grande rogresso na exatidão dos relógios caseiros veio co~o I!~o do r J
--- - - -- I
)(~'{ em diante, construíram-se relógios Qe ig!:..ej~~ reló ios . úblicos nas êndulo a 6s 1658. Os relógios de pêndulo começaram a se espalhar a partir da A
cId~ges e n~ gr~~d~s_cida~es-~~rca~o§. A maioria das paróquias inglesas década de 1660, mas os relógios com os ponteiros dos minutos (além dos pon-
devia possuir relógios de Igreja no final do século XVI.19 Mas a exatidão teiros das horas) só se tornaram comuns depois dessa época." Quanto a modelos
mais portáteis, a exatidão do relógio de bolso era duvidosa antes de se aprimorar
(v) At length in Rows stands up the well-dry'd Com,! A grateful Scene, and ready for the o mecanismo de escape e de se introduzir o "cabelo" (mola helicoidal), o que
Bam./ Our well-pleas'd Ma~ter views the Sight with joy,! And we for carrying ali our Force aconteceu depois de 1674.25 Ainda se preferia o formato ornado e rico à simples
employ./ Confusion soon o er ali the Field appears,! And stunning Clamours fill the Work-
mens Ears;l The Bells, and clashing Whips, alternate sound,! And rattling Waggons thunder
funcionalidade. Um diarista de Sussex observa em 1688: "comprei [...] um reló-
o'er the Ground./ The Wheat got in, the Pease, and other Grain,! Share the sarne Fate, and gio de bolso com caixa de prata, que me custou três libras [...]. Esse relógio
soon leave bare the Piam:! In noisy Tr/umph the last Load moves on ! And loud H '
laim the Harvest done. ,uzza s pro-
(Vi) Distrito oleiro em Staffordshire. (N. R.)

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IIIIIH'II11101'11 10 111, O rn s d uno, a tas do lua () fluxo o 1 llu o d IS 11111 II I 7 ,S.'n I uma parte sub tancial para m rcad ti XP()IU~' 0,11 1~1I111111 I
íun '101111 trinta h ra sem precisar de corda"." t 'Ilha durad apenas de julho de 1797 a março de 179 ,a t ntaüv l I IV HII
pr f ssor ipolla sugere 1680 como a data em que a fabri açr d r I I Pitt de taxar os relógios portáteis e não portáteis foi um mar d 'I VII 110
los portáteis e não portáteis ingleses suplantou (por quase um século) a do d stino da indústria. Em 1796, os profissionais já reclamavam da 01111 ti' I)
, nc rrentes europeus." b fabricação dos reló ios nascera das habilidad s do d s relógios portáteis franceses e suíços; as queixas continu~ a .cr S' I' 110
f rrciro," e a afinidade ainda podia se! observada nas centenas de reloj iros primeiros anos do século XIX. Em 1:..813,a Companh~a dos Relo~oelros ai nv I
independentes, trabalhando para atender encomendas locaisem suas próprias
que o contrabándo de relógios de ouro baratos ~ssumrra.proporçoe alarman~ ,
oficinas, dispersas pelas cidades-mercados e até ºela~grandes vilas da Inglat r- eram as joalherias, os armarinhos, as chapelanas, as lojas de moda, o bazar S,
ra, Escócia e País de Gales no século XVlII.29 Embora muitos deles não aspiras-
as perfumarias etc. que os vendi~ "9..u~~einteiramente para o uso das class 'S
sem a nada mais refinado do que o prosaico relógio de pêndulo da casa da fazen-
mais altas da sociedade". Ao mesmo tempo, mercadorias baratas contraban-
da, havia entre eles artesãos de talento. John Harrison, relojoeiro e antigo
deadas, vendidas por penhoristas ou caixeiros-viajantes, deviam chegar à clas-
carpinteiro de Barton-on-Humber (Lincolnshire), criou um cronômetro maríti-
ses ais p.~tbr.es.35 .
mo, e em 1730 podia afirmar que
É claro que havia muitos relógios portáteis e não portáteis por volta d
conseguira fazer com que um relógio chegasse mais perto da verdade do que se 1800. Mas não é tão claro quem os possuía. A dra. Dorothy George, escrevendo
imaginaria possível, considerando a enorme quantidade de segundos que existe sobre a metade do século XVIII, sugere que "os trabalhadores, assim como os
num mês, espaço de tempo em que ele não varia mais de um segundo [...]. Tenho artesãos frequentemente possuíam relógios de prata", mas a afirmação é indefi-
certeza de que posso fazê-lo atingir uma precisão de dois ou três segundos num , 36 O édi d
ano." nida quanto à data e apenas ligeiramente documentada. preço me 10 OS
relógios de pêndulo simples, fabricados localmente em Wrexham entre ~755 e
""l~(/-j..d,Em 18!0.' John TiJ:>bot,umJelojo~iro de_Ne:vtown"~MontgQmery§hke), criara 1774 era de duas libras a duas libras e quinze xelins; em 1795, uma lista de
íIJl60\p.um relógio que (afirmava ele) raramente vanava mais de um segundo em dois preços de Leicester para relógios não portáteis novos, sem caixas, vai de t~ês a
<. ~() anos.' , Entre esses extremos, havia os inúmeros artesãos e.ng~nh9sos e altamen- cinco libras. Um bom relógio portátil certamente não custaria menos." DIante
te competentes que desempenharam l'm .papel crucialmente importante na ino- das circunstâncias, nenhum dos trabalhadores cujo orçamento foi registr:do por
vação técnica durante as primeiras fases da Revolução Industrial. Na verdade, a Eden ou David Davies poderia ter cogitado esses preços, apenas o artesao urb~- A I) rn
descoberta dessa questão não foi deixada a cargo dos historiadores, pois ela era no mais bem pago. Na metade do século, o tem o marcado elo reló io sus~- pl
forçosamente discutida nas petições dos relojoeiros contra os impostos diretos --- .
ta-se ainda pertencia à gentry ; aos mestres, aos fazendeiros e aQ.sco.meIcIantes; (
~
em fevereiro de 1798. Assim, a petição de Carlisle: e talvez a complexidade do tQnn-ªto ea preferência pelo metal preCIOSOfossem.
[...] as manufaturas de algodão e lã são inteiramente gratas aos relojoeiros pelo uma maneira deliberada de acentuar o seu simbolismo de status. ,
estado de perfeição de sua maquinaria, pois, nos últimos anos, grandes números Mas a situação também parecia estar mudando nas últ~as década~ ~o se-
desses relojoeiros [...] têm sido empregados para inventar e construir, bem como culo. O debate provocado pela tentativa de se taxar ~odos os ~IP?Sde relógio em
para supervisionar essa maquinaria [...].32
1797-8 fornece algumas evidências. Talvez tenha SIdo o mais Impopular e cer-
A fabricação de relógios não portáteis nas pequenas cidades sobreviveu até tamente o mais fracassado de todos os impostos diretos de Pitt:
o século XVII, embora se tomasse comum nos primeiros anos desse século que o
Se ele te rouba o dinheiro - ora, as calças ainda te restam;
relojoeiro local comprasse as peças já prontas em Birmingham, montando-as
E as fraldas da camisa, se ele ficar com as calças;
\~(J\OS ç depois em sua própria oficina. Ao contrário a fabricaç~º_d~ relógios J2QI1áteis, E a pele, se te roubar a camisa; e os pés descalços, se te roubar os sapatos.
i\lll';if)., desde os primeiros anos do século XVlII, estava concentrada em.2!guns centros, Portanto, esqueça os impostos - Nos ,
derrotamos a frota ho1andesa., VII 38
dentre os quais os mais importantes eram Londres, Coventry, Presc..91~_Liy.er-
pool." Uma subdivisãoj?oIJIlenorizada do trabalho ocorreu cedo_n.essa ativida-
(VII) If your Money he take - why your Breeches remain;/ And the flaps of yo~r Shias, if:
de, facilitando a produção em grande escala e a redução dos preços: a produção your Breeches he gain;/ And your Skin, if your Shirts; and if Shoes, your bare feet.! Then, ncv ,
anual da indústria no seu auge (1796) era variadamente estimada em 120 mil e mind TAXES - We've beat the Dutch fieett

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() IIl1postos nun J dois X Ilns s ls p nc s br '11(111 1 11 til de 11I •
,lI) pOltl
t ti 011praia, dez x lin sobre cada relógio de ouro; in ' so r cada
111\,
Na v rdad , o imposto rn conald mel lou ura, riador d um slst 11111 dI ' plu
nag m, e um golpe .ontra a elas e média," Houve uma gl' v los '011 11111 dll
I' I gi não portátil. Nos debates sobre o imposto, as declaraç s d s mini tr
re . Os proprietário de relógios de 2!:!.rc~Jundiamas tampas e tI'O I'\VIU I 1\ I pOI
r~ notáveis ~el~s suas contradições, Pitt declarou esperar ~e O i~osto
prata ou metal barato." Os centros de comércio se viram mergulha I foi m 'I I
produzisse 200 mil libras por ano: "Na verdade, ele ILensava ue como havia
e depressão," Ao revogar a lei em março de 1798, Pitt disse tristemcnt lU I
700 mil casas <}!!e§!@v8!ll imILosto, e como em todlLc!!Sa havia Q!"ovavelmente
arrecadação do imposto teria ultrapassado os cálculos originalmente feitos; mu:
uma pessoa que usava relógio portátil, só o imposto sobre os reló ios ortáteis
não fica claro se ele se referia à sua própria estimativa (200 mil libras) u ti)
produziria esse vaíor't.Ao mesmo tempo, em resposta às críticas,.-QS ministros
ministro do Tesouro (700 mil libras)."
afirmavam que a posse de relógios portáteis e não portáteis era um sinal de xo.
Ainda continuamos sem saber (mas em boa companhia). Havia muito r •
O ministro do Tesouro via os dois lados da questão: os relógios portáteis e não
lógios no país na década de 179~a ênfase estava mJldandQ. do ~1uxo" para ti
portáteis "eram certamente artigos de conveniência, mas eram também artigos
"COrlVeniência"; até os colonos podiam ter relógios de madeira que custavam
de luxo [...] geralmente em mãos de pessoas que tinham capacidade de pagar
menos de vinte xelins. Na verdade (como seria de esperar), ocorria uma difusã
[:..]". "Entretanto, ele pretendia isentar os relógios não portáteis de tipo mais
geral de relógios portáteis enãoportáteis no-exato momento em que a Revolu-
sunples que estavam em geral nas mãos das classes mais pobres."> O ministro
ção Industrial re ueria maior sincronização do trabalho.
claramente considerava o imposto uma espécie de baú da sorte; suas estimativas
Embora começassem a aparecer alguns relógios muito baratos - e de
eram três vezes maiores que as de seu mentor:
qualidade inferior -, os preços dos relógios eficientes continuaram ainda por
várias décadas fora do alcance do artesão." Mas não devemos deixar que pre-
TABELA DE ESTIMATIVAS
ferências econômicas normais nos desorientem. O pequell(~. ins~r.!lmeJlto que
Artigos Imposto regulava os novos ritmos da vida ind..!:l~trial~~a ao mesmo tempo uma das mais
Estimativa do ministro Significaria
Relógios portáteis de dois xelins e ~rg~;;tes d;ntre as novas neces_si'!,ades qu<: <::,capitalism?, i~dustrial .exigia ~~a
10 mil libras 800 mil relógios
prata e metal barato seis pence impulsionar o seu ava~ço. Um relógio...!,1ão_era apenas útil; conferia presttgio
portáteis
Relógios portáteis de dez xelins 200 mil libras ao seu dõiiO,' e um homem podia s~ d!~2r a fazer economia parasom]2rar um.
400 mil relógios
ouro Ha-~ia várias fontes, várias oportunidades. Durante décadas, uma série de reló-
portáteis
Relógios não portáteis cinco xelins gios bons mas baratos passou das mãos do batedor de carteira para o recepta-
3 ou 4 mil libras em torno de
1 400 000 relógios dor, a casa de penhores, a taverna." Até os trabalhadores, uma ou duas vezes
não portáteis na vida, podiam ter um ganho inesperado e gastã-l o comprando um relógio: a
gratificação da milícia," os rendimentos da colheita ou os salários anuais do
Com os olhos brilhando à perspectiva do aumento de renda, Pitt revisou as suas criadc." Em algumas partes do país, fundaram-se Clubes do Relógio - para
de~nições: era possível possuir um único relógio portátil (ou cachorro) como compras em prestações coletivas." Além disso, o ~lógLo er~ o banc2, do pobre,
artigo de conveniência - mais do que isso eram "padrões de riqueza" .40 o investimento das poupanças: nos tempos difíceisJ10dia ser vendido ou pos-
_ ~nfeli~mente para os que quantificam o crescimento econômico, uma ~s- to no rego.52 "Este relógio aqui", dizia um tipógrafo cockney na década de
tao nao fOI levada em cQnta. O imposto enÜmpps.siY..el de e arrecadado." To- '1820, "me custou apenas uma nota de cinco libras quando o comprei, e já o
do: os che~es. de f~JIlllia reçeberam ordens d~~nviar alista dos r.,elógios portát~is empenhei mais de vinte vezes, ao todo consegui mais de quarenta libras com
e n~~J)ortatels existentes nas suas casas, sob ena de severas sanções. As decla- ele. É um anjo da guarda para um sujeito, é um bom guarda [relógio] quando
raçoes dos valoI.~ para_tributação deviam ser trimestrais: se está quebrado.t'"
~.!!!P~ ue um wp-o de trabalhac!ores e.n~a~..!!uma f~se d~ melhoria do
O.Sr. Pitt tem .ideias muito apropriadas sobre as demais finanças do país. Está deter- padr];o.de vida, a aquisição de reló ios e a uma das ,pri~jras ill!!d_an~as nota-
minado que. o imposto de meia coroa sobre os relógios portáteis seja coletado trimes-
das pelos observadores, Na famosa descrição de Radcliffe sobre a Idade de
tralmente. ~ grandioso e digno. Confere ao homem um ar de importância pagar sete
ouro dos tecelões manuais de Lancashire na década de 1790, os homens ti-
p n e e meto para sustentar a religião, a propriedade e a ordem socialw
nham "todos um relógio no bolso", e toda casa era "bem equipada com um

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. ári d t a' O arte ã H th vila e
n (o 'io 1111111i t' ti li de 1110 '1\0 iunt ou I' IIIIU lu",
.\ \ I 11111 MIIII 'ltl'HI I', iln- N rt ram igualmente pequenos propnet LO e err , ., . '.
'111 111 i HII()H 111tÜS tarde, me mo p nto atraiu a atenç d uni I' p 1'1 1':
d dicavarn a várias tarefas na construção, transporte de car~oça, carplntar~a, .os
trabalhadores domésticos deixavam o seu trabalho para ajudar na colheita; o
N nhum trabalhador de Manchester ficará sem relógio nem um minuto a mais d pequeno fazendeiro/tecelão dos Peninos. . CJ"tP l~
qu puder evitar. Vê-se, aqui e ali, nas melhores casas, aqueles relógios antiqua- É da natureza desse ti o de trabalho não admitir crono ramas recls~s e ry- 12I1l:~1U.~'
do de mo trador metálico e corda para oito dias; mas o artigo mais comum é de
resentativos. Mas alguns trech~s do di~o de um tecelão agricultor met~l~~~ [P TI
longe a pequena máquina holandesa, com seu pêndulo agitado balançando aberta
1782-3 podem nos dar uma ideia da vanedade das taref~s. Em outubro e ,
e candidamente diante de todo mundo."
ele ainda estava trabalhando na colheita e na debulha, alem ~e faz~r seu ~ab~~
Trinta anos mais tarde, o símbolo do Rrós ~ro.líder <iosindicato Lib-La Vlll era a de tecelão. Num dia chuvoso, ele podia tecer 8,5 ou nove jardas; no dta.14 .
dupla corrente de ouro de seu relógio; e por cinquenta anos de servidão discipli- outubro ele entregou a peça de tecido pronta, e por isso teceu apenas 4,75 jardas;
nada ~o trabalho, o empregãdor esciârecido dava ao seu empregado um relógio ' le "trabalhou fora de casa" até as três horas, teceu duas horas an~es do
no di a 23 , e b "t . d ardas
de ouro ra"y-ªdo. anoitecer "remendou o casaco à noite". No dia 24 de dezem ro, eci uas J inh
antes das 'onze horas. Empilhei o carvão, limp~i o telhado e as paredes ~a coz d a~
e adubei a terra até as dez horas da noite". Alem de trabalhar na co~elta e rad e.
id d . dim temos as seguintes entra as.
IV bulha, fazer manteiga, cavar v al a e cui ar o jar ,
18 de janeiro de 1783 Estive preparando o estábulo de um bezerro e buscando
Vamos voltar do relógio para a tarefa.A atenção ao tempo no trabalho de- as copas de três árvores que cresciam na vereda e
ende em rande arte da necessidade de sincroniza ão do trabalho. Mas na naquele dia foram derrubadas e vendidas para John
medida em ue a manufatura continuava a ser gerida em escala doméstica ou na Blagbrough. . .
pequena oficina, sem subdivisão com 1exa dos rocessos, o rau de sincroniza- Teci 2,75 jardas, pois, como a vaca teve bezer:ro,eXlgl~
21 de janeiro
muitos cuidados. (No dia seguinte, ele cammhou ate
ão exi ido efa" ~no, e a orientação elas tarefas ainda prevalecia." O siste-
Halifax para comprar remédio para a vaca.)
ma de trabalho em domicílio fputting-out system] exigia muita busca, transporte
e espera de materiais. O mau tempo podia prejudicar não só a agricultura, a No dia 25 de janeiro, ele teceu duas jardas, caminhou até u~a ~ila vizinha,
construção e o transporte, mas também a tecelagem, pois as peças prontas ti- realizou "diversos trabalhos na roda do tear e no quintal, e a nm.te escre:e;
nham de ser estendidas sobre a rama para secar. Quando examinamos cada tare- uma carta". Outras ocupações compreendiam vender mercadonas co~
fa mais detalhadamente, ficamos surpresos com a multiplicidade de tarefas sub- cavalo e uma carroça, colher cerejas, trabalhar na represa de um ~~~nh~;
sidiárias que o mesmo trabalhador ou grupo de farmlia devia realizar numa assistir à reunião de uma associação batista e a um enf~rcame~to p~b ICO..
única choupana ou oficina. Mesmo em oficinas maiores, os homens às vezes Essa irregularidade geral deve ser situada no âmbito do CIclo irregular
continuavam a realizar tarefas distintas nas suas bancadas ou teares, e - exceto da semana de trabalho (e, na verdade, do ano de trabalho) qu provocava
quando o receio de desvio de matériais impunha supervisão mais rigorosa - tantas lamentações por parte dos moralistas e mercant,il.istas d século XVII.
~demonstravam alguma flexibilidade no ir e vir. Um poema publicado em 1639 nos dá uma versão sattnca:
~~ Daí temos a irre ularidade característica dos adrões de trabalho antes da Sabemos que a segunda-feira é irmã do domingo;
•.i'1A introdu ão da indústria em rande escala movida a má uinas. Segundo as exi-
A terça-feira também;
~- ências erais das tarefas semanais ou uÍnzenais - a e a de tecido, tantos Na quarta-feira temos de ir à igreja e rezar;
~$. pregos ou Raies de saRato-;~ dia de trabalho odia ser rolon ado ou redu- A quinta-feira é meio-feriado; ,
<p ~ido. Além disso, nos primeiros desenvolvimentos da manufatura e da minera- Na sexta-feira é tarde demais para começar CI j/,nf','
, j' , L IX ~H
~~'çãO, ainda existiam muitas ocupações mistas: os mineiros de estanho da Cor- O sábado é outra vez meio- iriaaa.

)\/1 nualha também participavam da pesca da sardinha; os mineiros de chumbo do hat Munda is Sundayes broth r;1 Tu RUOyi li h 11110lh ,';1 Wcdnesday you
I~~ , (IX) You knohw t .j T:urSday is half-holidny;1 11 Pddoy It I lOollIl 10 beglO to spin./
d
must go to Churc an pray,
(VIII) Aliança política entre o Partido Liberal e o Partido Trabalhista. (N. R.) The Saturday is half-holiday again.

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281
HIII I lHI, J hn 11 u 'ht n 110Sdá ti v I'S' indi 'nu Ia: A mulh I' ntinua, falund "rnai rápid / D qu minha bro 11 111 dlllltl dI
uand fabricantes de malhas ou de meias de s da c IlS lIi IIllum m pr ço s xta-f ira", para demon trar a demanda efetiva do con umid r:
pelo eu trabalho, observava-se que raramente trabalhavam nas S lindas-feiras
e nas terças-feiras, mas passavam a maior parte de seu tempo na cervejaria ou "Olha só o espartilho que tenho,
no boliche [...]. Quanto aos tecelões, é comum vê-Ios bêbados nas segundas- Olha o meu par de sapatos,
-feiras, com dor de cabeça nas terças, e com as ferramentas estragadas nas quartas. Vestido e saia meio esfarrapados,
Quanto aos sapateiros, eles preferem ser enforcados a esquecerem são Crispim Nenhum ponto inteiro na malha da minha meia [...]" .XI
na segunda-feira [...] e isso geralmente se prolonga enquanto têm no bolso uma
Para dar o aviso de uma greve geral:
moeda de um penny ou crédito no valor de um penny."
O adrão de trabalho sem re alternava momentos de atividade intensa e de "Sabes que odeio discussões e brigas,
Mas não tenho nem sabão, nem chá;
ociosidade quando 5~~!oE1e~sdeti~am o controle de sua vida produtiva. (O pa-
Ou te endireita, Jack, abandona o barril,
~v_ drãq persiste ainda hoje.~~1!e~~autônomos - artistas, escritores, pequen~ri- Ou nunca mais vais dormir comigo. "X1l63
f-l~.A cultores e talvez até estudantes - e propõe a guestão de saber se não é um ritmo
f)t- t)íl "gatural't de trabalho humano.) Na segunda-feira e na terça-feira, segundo a tradi- A Santa Se unda-Feira arece ter sido observada uase universalm~ em
Mef> ção, o tear manual seguia o canto de Plen-ty of Time, Plen-ty of Time [Tempo de todos os lu ares em ue existiam indústrias de pequena escala, doméstica e
sobra, Tempo de sobra]; na quinta e na sexta, A day r lat, A day t' lat [Um dia atra- fora da fábrica. Essa tradi ão era eralmente encontrada nos o os das ~as, e
sado, Um dia atrasadoç'" A tentação de dormir uma hora a mais de manhã estica- às vezes continuava na manufatura e na indústria esada." Pe etuou-se na In-
va o trabalho até a noite, horas iluminadas pelas velas." São oucos os ofícios ue glaterra
--
até o século XIX - e, na verdade, até o século XX65 -. por complexas
.-------
não respeitam a Santa Segunda-Feira: sapateiros, alfaiates, mineiros de carvão, ti- razões econômicas e sociais. Em aI uns ofícios, os ró rios e uenos mestres
pógrafos, ole~os, tecelões, fabricantes de malhas, cuteleiros, todos os coclcneys. aceitavam a instituição e usavam a segunda-feira ara receber ou entreg~nco..::
Apesar do empreg.2...Pl~node muitQ§_profissionais londrinos durante as Guerras mendas. Em Sheffield, onde os'cuteleiros tenazmente observaram o feriadodu-
Na oleônicas uma testemunha reclamava ue "vemos a Santa Se unda-Feira tão rante séculos, ele se tomara "um hábito e costume estabelecido" que até as usi-
religiosamente observada nesta rande cidade ... em eral também se uida or nas siderúrgicas observavam (1874): "Em alguns casos, essa ociosidade naseg
?ma Santa Terça-Feira':.62 Se dermos crédito a "The jovial cutlers", uma canção de unda-feira é imposta pelo fato de que a segunda-feira é o dia reservado para os
Sheffield do final do século XVN, essa prática não se dava sem tensões domésticas: consertos das máquinas nas grandes siderúrgicas" .66 Onde o costume est~
Quando numa boa Santa Segunda-Feira, fundamente estabelecido, a segunda-feira era o dia reservado para faz~m-
Sentados à beira do fogo da forja, pras e para os negócios essoais. Igualmente, como Duveau sugere a respeito
Contando o que se fez no domingo, dos trabalhadores franceses, "le dirnanche est le jour de Ia famille, le lundi celui
Com alegria jovial conspiramos, de l'amitié" [o domingo é o dia da farrulia, a segunda-feira, o da amizade]; e à
Logo escuto a porta do alçapão se erguer, medida que avançava o século XIX, a celebração desse dia era uma espécie de
Na escada está minha mulher:
privilégio de status do artesão mais bem pago,"
"Ao diabo, Jack, vou bater na tua cara,
Tu levas uma vida de bêbado irritante, É no relato de "O velho oleiro", publicado ainda em 1903, que temOSal-
Ficas aí sentado em vez de trabalhar, gumas das observações mais perspicazes sobre os ritmos irregulares de traba-
Com o cântaro sobre o joelho; lho que continuavam a existir nas olarias mais antigas até a metade do século.
Maldito, tudo contigo é sorrateiro. Os oleiros (nas décadas de 1830 e 1840) "tinham um respeito devoto pela
E eu a trabalhar para ti como uma escrava" .x Santa Segunda-Feira". Embora prevalecesse o costume do contrato anual, a
(x) How upon a good Saint Monday./ Sitting by the smithy tirej TeJling what's been done o't
unday,' And in cheerful mirth conspire,! Soon I hear the trap-door rise up,' On the ladder stands (XI) "See thee, look what stays I've gottenj See thee, what a pair of shoes;/ Gown and petti-
my wife:/ "Damn thee, Jack, 1'11 dust they eyes up,' Thou leads a plaguy drunken life;/ Here thou coat half rottenj Ne'er a whole stitch in my hose [.. .]"
Its instead of workingj Wi' thy pitcher on thy knee;/ Curse thee, thou'd be always lurking./ And (XII) "Thou knows I hate to broil and quarrelj But I've neither soap nor tea;/ Od burn thee,
I muy slave myself for thee". Jack, forsake thy barrelj Or nevermore thou'st lie wi' me."

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1('II\l1l1 1'11'( o S IIltll1UI I'H P I núm r d p 'US, ), 01 111 qu dlU '\I( s I "luas s 'is IIllOH,ll'lllllhllllUO, quand tinha alguma c isa a faz I',d dI Z I I ~,\l
t horas por dia; quando, p Ia causa acima mencionada, já o O c os gui» xmíluu II
1111 I" ravarn a criança e trabalhavam, c !TI pua su] rv li ( ,n se li pr •
trabalhando, costumava fugir O mais rápido possível para Highgatc, lIal1'1l si IId,
pri ritmo. As crian as e as mulheres vinham trabalhar na S runda-f ira na Muswell-hill ou Norwood, e depois "retomava a meu vômito" [...). Isso a IIl"
terça-feira mas predominava "um sentimento de feriado" e o dia de trã'i);ihõ com todos os trabalhadores que conheço; e quanto mais sem esperança é o aso d
era mais curto ue o normal ois os oleiros se ausentavam a maior part o um homem, mais frequentes serão esses acessos e de maior duração."
tempo, bebendo o ue tinham anho na semana anterior. Entretanto, as crian-
Por fim, odemos notar ue a irre ularidade do dia e da semana de tra-
ças tinham de preparar trabalho para o oleiro (por exemplo, as asas dos potes
balho estava estruturada, até as rimeiras décadas do século XIX, no âmbito
que ele iria moldar), e todos sofriam com a jornada excepcionalmente longa
da irre ularidade mais àbran ente do ano de trabalho, pontuado pelos seus
(catorze e às vezes dezesseis horas por dia) que cumpriam de quarta-feira a
feriados e feiras tradicionais. Ainda assim, a esar do triunfo do sábado sobre
sábado: "Penso desde então que, se não fosse o alívio no começo da semana
os antigos dias dos s2~t~ século XVlI,?O o ovo se a arrava tenazmente às
com a ajuda das mulheres e dos meninos no trabalho da olaria, o esforço
suas festas e cerimônias _c..2usagradas elo costuI!!.e_na paróq!!ta, e até ode
mortal dos últimos quatro dias não poderia ser mantido". "O velho oleiro",
lhes ter dado maior vigor e dimensão."
I1\QJ\~ um regador metodista leigo de visão liberal-radical, via esses costumes (que
Até que ponto esse argumento pode ser estendido da manufatura aos
:J.llAllJA:~ledeplorava) como consequência da falta de mecaniza ão das olarias; e
trabalhadores rurais? Diante das circunstâncias, parece haver trabalho diário
:::. insistia u~ a ~es~~ indis.,Çiplina no trabalho diário influenciava toda a vida
e semanal implacável nessa área: o trabalhador rural não tinha Santa Segun-
e_as 0Jg-ª!llZ-ªÇ.Qe..S
da clas.§e..tr@alhadora dos Potteries. "As máquinas signifi-
da-Feira. Mas ainda falta uma discriminação detalhada das diferentes situa-
cam disciplina nas operações industriais":
ções de trabalho. A aldeia do século XVII (e XIX) tinha seus próprios artesãos
Se uma máquina a vapor começasse a funcionar todas as segundas-feiras de ma- independentes, bem como muitos que eram empregados para fazer tarefas
nhã às seis horas, os trabalhadores se disciplinariam com o hábito do trabalho irregulares." Além disso, na área rural sem cercamentos, o argumento clássi-
regular e contínuo [...]. Também observei que as máquinas parecem inculcar o co contra o campo aberto e as terras comunais era a sua ineficiência e desper-
hábito do cálculo. Os trabalhadores dos Potteries eram lamentavelmente defi- dício de tempo, porque o pequeno agricultor ou colono:
cientes a esse respeito; viviam como crianças, sem nenhuma previsão calculada
de seu trabalho ou de seu resultado. Em alguns dos condados mais ao norte, esse [...] se lhes oferecem trabalho, eles respondem que têm de ir cuidar das suas ove-
hábito de calcular o trabalho os tornou agudamente sagazes de muitas maneiras lhas, cortar tojo, tirar a vaca do curral, ou, talvez, dizem que têm de mandar ferrar
bem visíveis. Suas grandes sociedades cooperativas nunca teriam surgido, nem o cavalo, para que ele possa levá-Ias a uma corrida de cavalos ou a uma partida
se desenvolvido de modo tão imenso e frutífero, se não fosse o cálculo induzido de críquete. [Arbuthnot, 1773]
pelo uso da máquina. Uma máquina em operação durante tantas horas na semana
Ao perambular atrás de seu gado, ele adquire um hábito de indolência. Um
produzia tantos metros de fio ou tecido. Os minutos eram experienciados como
quarto do dia, a metade do dia e às vezes os dias inteiros são imperceptivel-
fatores influentes nesses resultados, enquanto nos Potteries as horas, ou às vezes
mente perdidos. O trabalho diário se torna desagradável [...]. [Relatório sobre
até os dias, mal eram experienciados como fatores influentes. Havia sempre as
manhãs e as noites dos últimos dias da semana, com as quais sempre se contava Somerset, 1795]
para compensar a perda devido à negligência do início da semana." Quando o trabalhador se torna dono de mais terras do que ele e a sua família
conseguem cultivar à tarde [...] o fazendeiro já não pode depender dele para
Esse ritmo irregular é comumente associado com bebedeiras no fim de trabalho constante [...]. [Commercial & Agricultural Magazine, 1800]13
semana: a Santa Segunda-Feira é o alvo em muitos folhetos vitorianos sobre
a temperanç~. Mas até o mais sóbrio e disci li nado dos artesãos odia sentir A isso devemos acrescentar as queixas frequentes dos adeptos do aprimoramen-
a necessidade dessas alternâncias de ritm~.ã.o...s.eJ...c.omQ descrever a aver- to agrícola a respeito do tempo desperdiçado, tanto nas feiras sazonais como
são e o no' o gue às vezes toma conta do .1r--ª.balhador inca acitando o com- (antes da introdução do armazém da aldeia) nos dias de mercado semanais."
pletamente a realizar as tare!as habituais durante um período mais longo ou O criado da fazenda, ou o trabalhador ~~t~l}lar ..llemlll}eracLQ, que
,m;ti§.fuJto", escreveu Francis Place em 1829; e acrescentou uma nota de ro- trabalhava, impecavelmente, todas as horas regulamentares o_uaté mais gu~
dapé com seu testemunho pessoal: não tinha direitos ou terra comuns, e ue (g, nãoJl1o.J-ªs~~_p.Jl~a.sª-.dJ) patrão)

284 285
vivi I IIUIIII ihoupana \ Ia vin ulad , stava S !TI lúvldn 11' to I 1111111 Inl liSO
po. Iss s r V Ia no ti h II sntrc os dcfens r s da 111 de br~\ I' ",\,lIl~ nuln
.orn mpr go regular s ti -fen ores do "trabalho por empr itada isto ,
di .lplina I trabalho, tanto no século XVII como 11 XI • Murkluuu ti S 'r v LI
trabalhadores empregados para tarefas específica~ e pagos pelo trabalh xc-
spiritu arnente o dia de um lavrador (que morava na casa d patrt ) III J 636:
cutado). Na década de 1790, Sir Mordaunt Martin desaprovou o recurs ao
"l...J o lavrador deve se levantar antes das quatro horas da madrugada, e depois
de dar graças a Deus pelo seu descanso e orar pelo sucesso de seu trabalho, deve trabalho por empreitada
entrar no estábulo [...]". Depois de limpar o estábulo, tratar dos cavalos, alimen- que as pessoas aprovam, para não ter o trabalho de vigiar os seus.empregados:
tã-Ios e preparar os seus apetrechos, ele talvez tomasse o café da manhã (às seis resultado é que o trabalho é malfeito, os trabalhadores se vanglonam na cerveja-
ou seis e meia da manhã) e devia arar até as duas ou três horas da tarde, quando ria do que eles podem gastar numa "mijada contra a parede" , cnando desconten-
tirava meia hora para o almoço; devia cuidar dos cavalos etc. até as seis e meia tamento entre os homens com remunerações moderadas.
da tarde, quando então podia entrar para o jantar: "Um fazendeiro" se opõe a essa visão com o argumento de que o trab~o por em-
[00'] e depois do jantar, ele devia consertar os sapatos à beira do fogo, tanto os seus preitada e o trabalho remunerado regular podiam ser judiciosamente rmsturados:
como os da família, bater o cânhamo ou o linho, colher e esmagar maçãs silves-
Dois trabalhadores se comprometem a cortar a grama de um pedaço de terra: co-
tres para fazer cidra ou suco de frutas, ou então moer o malte no moedor manual,
brando dois xelins ou meia coroa por acre; mando ao campo, com as suas foices,
colher junco para fazer velas, ou realizar alguma tarefa doméstica dentro de casa
dois de meus criados domésticos; sei que posso contar com o .fato de que seus
até baterem as oito horas [oo.].XJIJ
companheiros os farão acompanhar o ritmo de trabalho; e aSSImeu ganho [00']
Então ele devia mais uma vez cuidar de seu gado e ("dando graças a Deus pelos de meus criados domésticos as mesmas horas adicionais de trabalho que meus
benefícios recebidos naquele dia") podia ir dormir," criados contratados voluntariamente lh e de diicam.78
Mesmo assim, temos direito a demonstrar um certo ceticismo. Há dificul- No século XIX, O debate foi em grande parte decidido a favor do trabalho
dades óbvias na natureza da ocupação. Arar não é uma tarefa feita o ano inteiro. remunerado semanalmente, suplementado pelo tr~bal~o por tar.efas qua~-
As horas e as tarefas devem flutuar com o tempo. Os cavalos (se não os homens) do havia necessidade. O dia do trabalhador de Wiltshire , descnto P?r RI-
devem descansar. Há dificuldade de supervisão: os relatos de Robert Loder in- chard Jefferies na década de 1830, não era menos lon~o do q~e o descnto por
dicam que os criados (quando fora da vista dos patrões) nem sempre estavam de Markham. Talvez por opor resistência a esse labutar Implac~v~l, esse traba-
joelhos agradecendo a Deus pelos seus benefícios: "os homens trabalham quan- lhador se distinguia pelo "caminhar desajeitado" e pela "lentldao mortal que
do lhes apraz, e por isso podem vadiar" .76 O próprio fazendeiro devia fazer horas parece impregnar tudo o que ele faz" .79
extras se quisesse manter todos os seus trabalhadores sempre ocupados." E o O trabalho mais árduo e prolongado de todos era o da mulher do ~raba-
criado da fazenda podia reivindicar o seu direito anual de partir se o trabalho não lhador na economia rural. Parte desse trabalho - especialmente o CUIdado
lhe agradasse. dos bebês - era o mais orientado pelas tarefas. Outra parte se dava nos ca~-
Assim, tanto os cercamentos como o desenvolvimento a ricola se reocu- pos, de onde ela retomava para novas tarefas domésticas. Como Mary Colher
pavam, em certo sentido, com a administração eficiente do tempo da força de reclamou numa réplica inteligente a Stephen Duck:
trabalho. Os cercamentos e o excedente cada vez maior de mão de obra no fi-
[00'] e quando chegamos em casa,
nal do século XVIII arrochavam a vida da ueles Ç}uetinham um emprego reg"u-
Ai de nós! vemos que nosso trabalho mal começou;
lar. Eles se viam diante da se uinte alternativa: em re o areial e assistência Tantas coisas exigem a nossa atenção,
aos obres, ou submissão a uma disci]21ina de trabalho mais exi ente.~ Tivéssemos dez mãos, nós as usaríamos todas.
uma questão de técnicas novas mas de uma erce ão mais a u ada dos em- Depois de pôr as crianças na cama, com o maior carinho
~adores ca italistas em reendedores uanto ao uso arcimonioso do tem- Preparamos tudo para a volta dos homens ao lar:
Eles jantam e vão para a cama sem demora,
E descansam bem até o dia seguinte;
(XIII) [00'] and after supper, hee shall either by the tire side mend shoes both for himselfe and Enquanto nós, ai! só podemos ter um p,0uco de sono
their Family, or beat and knock Hemp or Flax, or picke and stamp Apples or Crabs, for Cyder or
Porque os filhos teimosos choram e gritam
Verdjuyce, or else grind malt on the qurnes, pick candle rushes, or doe some Husbandly office
within doors till it be full eight a clock [00']' [00']

287
286
E1!.i1ltodo
i trabalho (nós) t 'mo"
- o 110"""" vi'
ssa ae C'C/
P(/rI,,,
, c.esde O tempo em que a colheita se' . . I I 1'11101''1'1 Nin1[ I 1'111 111 l)lndll", III\lU ViNtO p
II'OfUl1cJH <.JOS I' 11 III IIOS •
li'
Até . trucia
- o trigo ser cortado e armazenado íornn 1 anãlls trlvial, Â '111111de tud não é para o "industrialisrno"
.a tran ição
Nossa labuta é todos os dias tão extrema tnut iourt, mas para. 'apitalismo industrial ou (no século xx) para sistemas
Que quase nunca há tempo para sonhar. XIV 80 ilt rnativos cujas características ainda são indistintas. O ue estamos examinan-
Esse ritmo só era tolerável porque parte do traba . do n ste ponto não são a enas mudan as na técnica de manufatura ue exi em
se revelava necessário e ínevíraveí _ . lho, com as cnanças e em caso, maior incroniza ão de trabalho e maior exatidão nas rotinas do tem o em ual- rfOlYlP;Il~ fi r'
, e nao uma unposiçã tI' quer sociedade, mas essas mudan as como são ex erienciadas na sociedad~Jlt.t.A~{T".,.".
a ser verdade até os dias de h . o ex erna. sso contmua
. _ oje, e, apesar do tempo d I
televisão, o ritmo do trabalho feminino em _ a esco a e do tempo ela 'upitalista industrial nascente. Estamos preocupados simultaneamente com aÚf _»'I'" ~
medição do relógio A mãe de . casa nao se afina totalmente com a p erce ão do tem o em seu condicionamento tecnoló ico e com a medi ão do ~;; NA /'f'1
. crianças pequenas tem - .
do tempo e segue outros ritmos hum EI' uma percepçao Imperfeita I m o como meio de ex lora ão da mão de obra. It4(A ~
- anos. a ainda não ab d Há razões para a transição ter sido peculiarmente demorada e carregada de 1f
convençoes da sociedade "pré-industrial". an onou de todo as
c nflitos na Inglaterra. Entre as ue são fre uentemente observadas.,...p.a.demos
itar: a primeira Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra e não havia ::
v dillacs, siderúrgicas ou a arelhos de televisão ara servir_~~gemonstra ãQ..~ o WJIl~ JI
bjetlvo da o era ão. Além disso, as reliminares da Revolu ão Industrial foram iY-tJ) ,r
Coloquei "pré-industrial" entre as as' e - ' tão lon as ue se desenvolvera, nos distritos manufatureiros no início do século~10 - 01' '
transição para a sociedade indust . I d P . p.or uma razao. E verdade ue a XVI[[, uma cultura o ular vi orosa e reconhecida, ue os ro a andistas da dis- /.A o
ciológica como econoArru'ca C r~at esenvolvlda re uer uma análise tanto so- ~iplina consideravam com aflição. Josiah Tucker, o deão de Gloucester, declarou
- . once! os como" f, A .
oferta de mão de obra de incli
---o -- - - - - ----
--=- ,re
maçao retro rada" sã
erenCIa de tem o" e "curva da
. fr
em 1745 que "as pessoas das classes inferiores" eram totalmente degeneradas. Os
~\\l/.'-~ tentativas desajeitadas de encontrar- term-;;s econ A .ao mUIto e e e e te, estrangeiros (pregava) consideravam "as pessoas comuns de nossas cidades po-
~it \) mas ..§o.Ç:iológlcos. Mas, da mesma form .r>: ~rrucos m: a descrever roble- pulosas os miseráveis mais dissolutos e depravados na face da Terra": "Tanta
~ tl 1\ delos simples para um ~roc-;;;- =: .' -~ e sus eIta a tentatIva de fornecer mo- brutalidade e insolência, tanta libertinagem e extravagância, tanta ociosidade, fal-
'I~. d---
eterminado
_ '
-
conhecido
_
L SOUllICO,su ostamente neut
como ": d . I'
_ _ _ _1~ ~stna na ão"."
tecnolooí
ro ecno o icamenre ta de religião, blasfêmias e pragas, tanto desprezo por tudo quanto é regra e auto-
Nao se trata a enas de ue as manufat ridade [...]. O nosso povo se embebedou com a taça da liberdade't P
~nte ~~ e o modo de vida I uras altamente desenvolvidas e tec- Os ritmos irre@lares do trabalho descritos na se ão anterior nos a'udam a
ra do século XVIII só o~s~ se~ d or.te as sustentado na Fran a e na In later- com reender a severidad~<:ias doutrinas mercantilistas Q!!anto iLnece~idade d~
escn as como " ré indu t . . " manter os salários baixos ara revenir o ócio, e a enas na se unda metade do
tortura se1ll.âQt.lca.(E tal descriç.ão abre a . - , s ~als oromeio de <~~~~--~~---~~--~----~~~--~~--~~----~~~
J/lb entre sociedades que se enco tr -~~~para I~fi~daye!s analogiaS falsgs século XVIII os incentivos salariais "normais" do ca italismo arecem ter come-
,- \ T - - -- - - n am em llIvelS econorru .. I

~-I).jI,Y rata-se também de qu -h---- cos mUIto diferentesJ sado a se tornar amplamente efetivos." Os confrontos a respeito da disciplina já
~ l-- A e nunca OUve nenhum tipo is I d d "
_ l'\ ênfase da transição recai sobre toda a cultura: . ~ a .0 ,e transição". A foram examinados por outros estudiosos." A minha intenção é abordar mais
i>1lL aceitação nascem de toda a cultura E ltun a reslstencla a mudança e sua particularmente várias questões que dizem respeito à disciplina de trabalho. A l;1:..f pJliC-
as relações de pro riedade as insti~uiÇs~acu ~r~ ex ressa os sistemas de oder, primeira é encontrada no extraordinário Law book [Livro de leis] da Siderúrgica v I
---"-~-=':::...L::..:::t~~~~!..,~~~~ oes re I IOsas etc. e não atentar ara es-
Crowley. No próprio nascimento da unidade manufatureira de grande escala, o ri

(XIV)
[",] when we Home are come I AI' .
velho autocrata Crowley achava necessário projetar todo um código civil e pe- "'1'1 4::?D0
l' RfvJ r
!~,I
as nal, que chegava a mais de 100 mil palavras, para governar e regular a sua forçaVI)(\ vltt4 I
Things for our Attendance call lHas w t' H , we find our Work but just begun;1 So many
. ,e en ands we co Id I
put to Bed, with greatest Care/ We ali Th' forv, u ernp oy thern ali Our Children de trabalho rebelde. Os preâmbulos às Normas 40 (sobre o diretor da fábrica) e j, (jJJ
go to Bed withour delay,! And rest yourse;~;: t~~ ~hour coming Home prepare:1 You sup, and 103 (sobre o supervisor) tocam na nota predominante da fiscalização moralmen-
Sleep can have,! Because our froward Child I e ensumg day;1 While we, alas! but little
I
proper Share;1 And from the Time that H ren cry and rave [ .. ,]11 In ev'ry Work (we) take our
te justa. Da Norma 40:
, t . arvest doth begi I U 'I
111, Our Toil and Labour's daily so ext I Th m ntr the Com be cut and carry'd Tenho sido horrivelmente enganado, com a conivência dos funcionários do es-
reme, at we have hardly ever Time to drearn.
critório, por várias pessoas que trabalham por dia, e tenho pago por muito mais

288
289
li 'li livra d r dSllo dI l mp devia er entregue todas as t r as-C ins
.om a rcguinte declaraç o: " , te registro do tempo é feito sem favorecim nt ,
n m irnpatia, má vontade ou ódio, e realmente acredito que as pessoas acima
E da Norma 103: 111 ncionadas trabalharam no serviço do cavalheiro John Crowley as horas aci-
ma debitadas"." . !)ll,dl,/H/
~Iguns têm alegado uma espécie de direito à ociosidade, pensando que pela sua Nesse ponto,já em 1700, estamos entrando na aisa em familiar do ca i- <;f ~,1) ,~J I
presteza e capacidade fazem o suficiente em menos tempo do que os outro'. tali mo industrial disciplinado, com a folha de controle do tem o, o controla- pJyl ~~
Outros têm sido bastante tolos a ponto de pensar que a simples presença no local
de trabalho sem nada fazer já é suficiente [...]. Outros ainda são tão desavergo-
dor do tempo, os delatores e as multas. Uns setenta anos mais tarde, a mesma rr; 11
disciplina deveria ser imposta nas algodoarias primitivas (emboraas próprias
nhados que se orgulham de sua vileza e reprovam a diligência dos demais [...].
máquinas fossem um poderoso complemento ao controlador do tempo). Sem
~om a fi~~lidade de detectar a preguiça e a vilania, bem como recompensar os a ajuda das máquinas para regular o ritmo de trabalho nas olarias, esse disci-
Justos e diligentes, achei conveniente criar um registro de tempo feito por um su- plinador supostamente formidável, Josiah Wedgwood, ficava reduzido a tentar
pervisor; assim determino, e fica pelo presente determinado, que das cinco às oito impor a disciplina aos oleiros em termos surpreendentemente ineficientes. Os
horas e das sete às dez horas são quinze horas, das quais se tira 1,5 para o café da deveres do secretário da fábrica eram:
manhã, o almoço etc. Haverá portanto treze horas e um serviço semirregular [...].
Ser o'primeiro a estar na fábrica de manhã e acomodar as pessoas em suas ati-
Esse serviço deve ser calculado "depois de descontadas todas as idas às tavemas vidades à medida que chegam para o trabalho - estimular aqueles que chegam
cervejarias, cafés, o tempo tirado para o café da manhã, almoço, brincadeiras: regularmente na hora, dando-lhes a entender que sua regularidade é devidamente
so?ecas, f~mo, cantorias, leitura de notícias, brigas, lutas, disputas ou qualquer registrada, e distinguindo-os, com repetidos sinais de aprovação, do grupo menos
ordeiro dos trabalhadores, por meio de presentes ou outras distinções apropriadas
COIsaalheia ao meu negócio, e outra forma qualquer de vadiagem".
à sua faixa etária etc.
O su ervisor e o diretor da fábrica tinham ordens ara manter uma folha de
c~ntrole ~o tempo de cada diarista, com registros anotados com precisão de Aqueles que chegam mais tarde do que a hora determinada devem ser notificados,
minutos ~nformando "Entrada" e "Saída". Na norma do supervisor, a Instrução e se depois de repetidos sinais de desaprovação eles não chegam na hora devida,
31 (uma adição posterior) declara: deve-se fazer um registro do tempo que deixaram de trabalhar, e cortar a quantia
correspondente de seus salários na hora do pagamento, se forem assalariados, e,
Con~i~~ran~o ~s i.n~ormações que tenho recebido de que vários empregados do se forem pagos pelo número de peças feitas, devem ser mandados de volta, depois
esc~Ito~l~sao ta? Injustos a ponto de calcular o tempo pelos relógios que andam de frequentes avisos, na hora da primeira refeição."
mais rápido, o ~InOtocando a~tes da hora do fim do expediente, e pelos relógios
que andam mais ~eva~ar, o SInOtocando depois da hora do início do expedien- Esses regulamentos tomaram-se depois um tanto mais rigorosos: "Qualquer
te, e ~ue esses dOIStr.aldores Fowell e Skellerne têm conscientemente permitido trabalhador que forçar a entrada pelo cubículo do porteiro depois da hora per-
tal COIsa;fica determinado que a esse respeito nenhuma pessoa deve calcular o mitida pelo mestre paga uma multa de 2/-d" .87 McKendrick mostrou como
te_mpo'por nenhum ~utro relógio de parede, sino, portátil ou relógio de sol que
Wedgwood lutou com o problema da fábrica Etruria e introduziu o primeiro
nao seja o do supervisor, o qual só deve ser alterado pelo guarda do relógio [...].
sistema registrado de relógio de ponto." Mas assim que a presença forte do
próprio Josiah desaparecia de vista, os incorrigíveis oleiros pareciam voltar a
I • muitos de seus antigos hábitos.
~masiado fácil, entretanto, ver esse roblema apenas comanma.questão
duti§.ciplina na fábrica ou na oficina, e podemos examinar rapidamente a tenta:
Tod~ manhã, às cinco horas, o diretor deve tocar o sino para o início do trabalho, lixa_de se im or o "uso-econômico-do-tem o" nos distritps manufatureiros do-
às OItOhoras para o café da manhã, depois de meia hora para o retorno ao traba- mésticos, bem como o cho ue dessas medidas com a vida social e doméstic . 11 ,',
lho, ao meio-dia para o almoço, a uma hora para o trabalho e às oito para o fim do Quase tudo o que os mestres queriam ver imposto pode ser encontrado nos limi- 'I
expediente, quando tudo deve ser trancado. tes de um único folheto, Friendly advice to the poor [Conselho amigável ao 'fpJff.{>I
10/1
290
«u» I
291 tT /'11 4
/I> 11
/fI
pobr s], do rev, J. layton, "escrito publicado a 1 xlldo 1011 nlltl OH utun I~ rlk 'fi orno "um espctã ulo de ordem e regularidade", e citava um fabri t~l1t
funcionários da cidade de Manchester" em 1755. "~o preguiçoso escondo us d ' mhamo e linho de Gloucester que teria afirmado que as escolas haviam
mãos no colo, em vez de a licá-las ao trabalho; se ele asta o s 'u t mpo 111 pIO luzido uma mudança extraordinária: "eles se tomaram [ ...] mais tratáveis e
asseios, prejudica a sua constituição pela preguiça, e entorpece o seu flpfl'lto \lI) di ntes,e menos briguentos e vingativos"," Exortações à pontualidade e à
pela indolência [...]", então ele só pode esperar a pobreza como recomp nsa. I' ularidade estão inscritas nos regulamentos de todas as pré-escolas: "Toda.
trabalhador nãõ'deve tíãiíãr na praça do mercado, nem per er tempo' az n 10 estudante deve estar na sala de aula aos domingos, às nove horas da manhã e a
compras. Clayton reclama que "as igrejas e as ruas [estão] apinhadas de indm • 11 ma e meia da tarde, senão ela perderá o seu lugar no domingo seguinte e ficará

ros espectadores" nos casamentos e funerais, "os quais apesar da miséria d AlIlI 110 flm da fila" .93Uma vez dentro dos R0rtões da escola a crian a entrava no
condição faminta [...] não têm escrúpulos em desperdiçar as melhores horas do 1I0vOuniverso do tem o disci linado. Nas escolas dominicais metodistasem
dia só para admirar o espetáculo [...]". A mesa do chá é "esse vergonhoso dCY - York, os professores eram multados por impontualidade. A primeira regra que o
rador de tempo e dinheiro". Julgamento que também se aplica às festas da 81"- Ntudante devia aprender era: "Devo estar presente na escola [...] alguns minutos
ri5 ~ uia, aos feriados e às festa_s.~uais das sociedades de amigos. E também "ess IIl1t s das nove e meia [...]". Uma vez na escola, obedeciam..,9 re ras militarJ::§.:
i\)f? . hábito pr~.!!!çoso c!~J?ª.~~EI" a ll!ªMª!lª çm!~~:"A necessidade de levantar c do
~v.,,~;~ forçaria o pobrea ir para a cama cedo; ~ cornisso imp-ediria o perigo de folias
o supervisor deve tocar o sino mais uma vez - quando, a um sinal de sua mão,
toda a escola deve levantar de seus assentos; a um segundo sinal, os estudantes se
~,~ l't l!!eia-noite".:.9 hábito de levantar ce.doLamll.~QL"introduziria um e 'da viram; a um terceiro, movem-se lenta e silenciosamente para o lugar indicado on-
~:. \;)/., rig~rosa n1ls famílías.uma Orgel!lmm;ª-vjlh9l'.a na sua economia". de devem recitar suas lições - ele então pronuncia a palavra "Comecem" [...].94
JÇ1()tJ'\fS,? O catálogo é familiar, e poderia ser igualmente tirado de Baxter no século ~ - púptiiA~
~ anterior. Se podemos confiar em Early days [Primeiros tempos] de Bamford, A investida, vinda de tantas direções, contra os a~tig.os hábitos de trabalho ~~.f}l A
:(t)~"t() Clayton não conseguiu convencer muitos tecelões a abandonar o seu anti o do povo não ficou certamente sem contesta!;;'ões. Na Rnmerra eta2a, encontramos plçaf'UNA '
:('~:~. 'f.. modo de vida. Ainda assim, qJong.Q coro matinal dos moralistas é um relüdio 11 simples resistência.95 Mas, na eta a se uinte, uando é im osta a nova qisci-
• ao ~t:..aqueJnuito contundente aos costumes ...e~p.Qrtes e feriados o ulares feito pllna de trabalho, os trabalhadores começam a lutar, nã~~_teIp.po, mas
1l0Súltimos anQs.dQ .século XVIII ~ pos P!i!p~iros l!nos do século XIX. obre ele. As evidências nesse ponto não são completamente claras. Mas nos
Havia outra instituição não industrial que podia ser usada para inculcar () ore ro;;rtesanais mais bem organizados, especialmente em Londres, não há dú-
"uso-econômico-do-tempo": a escola. ela ton reclamava ue as ruas de Man- vida de que as horas eram progressivamente reduzidas à medida que avançavam
hester viviam cheias de "crianças vadias esfarra2adas' ue estão não só des- IIIi fi sociações. Lipson cita o caso dos alfaiates de Londres que tiveram suas
,oJV:Qn perdiçando o seu tempo, mas também aprendendo hábitos de jogo" etc. El lima reduzidas em 1721, e mais uma vez em 1768; em ambas as ocasiões, os
~~~ ~ogiav~ ..as es~olas de_~ar~dade.EQ! ensinarem o trabalho, a frugalidade, a 01'- II\t rvalos no meio do dia para almoçar e beber também foram reduzidos - o dia
IC
.;.) "tf.il- - dem e a regularidade: "os estudantes ali são obrigados a levantar cedo e a ob- loi omprimido." No final do século XVIII, há alguma evidência de que alguns
I' ~ervar as horas com grande 20ntualidade".89 Ao advogar, em 1770, que as "r ios favorecidos tinham ganho algo em tomo de dez horas por dia.
crianças pobres fossem enviadas com quatro anos aos asilos de pobres, ond Essa situação só podia persistir em ofícios excepcionais e num mercado de
seriam, empregadas nas manufaturas e teriam duas horas de aulas por dia, 1111 O de obra favorável. Uma referência num panfleto de 1827 ao "sistema inglês de
Willíâ'm Temple foi explícito sobre a influência socializadora do processo: trubalhar das seis damanhã às seis da tarde?" pode ser uma indicação mais con-
É considerável a utilidade de estarem constantemente empregadas, de algum modo, IIIV 1 da expectativa geral quanto às horas dos artesãos e artífices fora de Londres
pelo menos durante doze horas por dia, ganhando o seu sustento ou não; pois, por 1111 década de 1820. Nos ofícios desprezíveis e nos trabalhos fora da fábrica, as
esse meio, esperamos que a nova geração fique tão acostumada com o trabalho cons- hOl'HS (quando havia trabalho) estavam provavelmente seguindo tendência oposta.
tante que ele acabe por se revelar uma ocupação agradável e divertida para eles [...1,(111 pra exatamente na uelas atividade.~=~}ábricas têx~eis e as oficinas
Em 1772, Powell também via a educação como um treinamento para adquirir () sm que se im unha ri orosamente a nova dis~!Elina d~ teJEEo .9E~~dispu-
"hábito do trabalho"; quando a criança atingia os seis ou sete anos, devia estar 111 Nobre o tempo se tomava mais intensa. No princípio, os piores mestres ten-

"habituada, para não dizer familiarizada, com o trabalho e a fadiga" .91Escreven- IIIVlIl'll'expropriar os trabalhadores de todo conhecimento sobre o tempo. "Eu
do de Newcastle em 1786, o rev. William Tumer recomendava as escolas d truhalhava na fábrica do sr. Braid", declarou uma testemunha:

292 293
Ali trabalhávamo enquanto ainda podíamos enxergar IlO v .' 0, ' 11 o S ib .'11\ hnp sta, at III ponto USslIlllldn', L) vem s, talvez, virar probl IBUU) 'Olltl"
dizer a que hora parávamos de trabalhar. Ninguém a nos I' O !TI str /Jlho
rk n ais uma vez, e situ -I dentro da evolu ão da ética uritana. N s pod
do mestre tinha relógio, e nunca sabíamos que horas eram. Havia um hom !TI
iflrmar que haja algo radicalmente novo na pregação da diligência ou na crúi 'U
que tinha relógio [...]. Foi-lhe tirado e entregue à custódia do mestre, porqu el
informara aos homens a hora do dia [...].98 111 ral da ociosidade. Mas há talvez um novo tom de insistência, uma inflext o
mais firme, uando esses moralistas que já tinham aceito a nova disciplina par~
Uma testemunha de Dundee dá um depoimento bastante semelhante: si me mos passaram a im à-Ia aos trabalhadores. Muito antes de o relógio por-
[...] na realidade não havia horas regulares: os mestres e os gerentes faziam co- I til ter chegado ao alcance do artesão, Baxter e seus colegas ofereciam a cada
nosco o que desejavam. Os relógios nas fábricas eram frequentemente adiantados h mern o seu próprio relógio moral interior.l'" Assim Baxter, em seu Christian
de manhã e atrasados à noite; em vez de serem instrumentos para medir o tempo, directory [Guia cristão], apresenta muitas variações sobre o tema de Redimir o
eram usados como disfarces para encobrir o engano e a opressão. Embora isso mpo: "empregar todo o tempo para o dever". As ima ens do tem o como di-
fosse do conhecimento dos trabalhadores, todos tinham medo de falar, e o traba-
nheiro são fortemente acentuadas, pois Baxter art?cia ter em mente uma aUQiên-
lhador tinha medo de usar relógio, pois não era incomum despedirem aqueles que
ousavam saber demais sobre a ciência das horas.?' cia de mercadores e comerciantes: "Lembrai-vos de ue Redirnir o Tem o é lu-
rativo [...] no comércio ou em ua! uer ne ócio; na administr~ão ou u~!:!er
~~<.. \' \ : ,!>equen.os tru'l~_~~.~~ I;!~.~.<!<?,,!,E.~~
dimi})l!ir a hora do almo o e aumentar atividade lucrativa, costumamos dizer, de um homem.9ge ficQJ!..[içQS<QJJLO seu
I'~t\ y.<jll 9 dia..:.-'~To~oindustrial quer logo ~~.!lm cavalheiro" disse uma testemunha pe- trabalho, que ele fez bom uso &~tem 0".'04 Oliver Heywood, em Youth's
:"V'" t. rante a Comissão de Sadler:
monitor [Guia da juventude] (1689), está se dirigindo à mesma audiência:
~p..,,\;
f' r ------

?J' e, e eles desejam se apossar de tudo o que for possível, assim o sino toca para a saída
Observai o tempo do comércio, atentai para vossos mercados; há certas estações
dos trabalhadores meio minuto depois da hora, e eles querem que todos entrem
especiais, que se mostrarão favoráveis a que executeis as vossas atividades com
na fábrica dois minutos antes do tempo [...]. Se o relógio é como costumava ser, o
facilidade e sucesso; há momentos precisos, em que, se vossas 'ações acontecem,
ponteiro dos minutos é controlado pelo peso, de modo que, ao passar pelo ponto
elas podem acelerar vosso passo: estações de fazer ou receber o bem não duram
da gravidade, ele cai três minutos de uma só vez, o que lhes concede apenas 27 para sempre; a feira não continua o ano todo [...].105
minutos, em vez de trinta.'?"
A retórica moral transita rapidamente entre dois polos. De um lado, após-
Um cartaz grevista de Todmorden, mais ou menos do mesmo período, empre-
trofes à brevidade da vida mortal quando colocada ao lado da certeza do Juízo
ga palavras mais grosseiras: "se esse porco sujo, 'o encarregado das máquinas
Final. Assim Meetness for Heaven [Pronto para o Paraíso] de Heywood (1690):
do velho Robertshaw' , não cuidar da sua vida e nos deixar em paz, vamos só
lhe perguntar há quanto tempo ele não recebe um copo de cerveja por trabalhar O tempo não perdura, mas voa célere; porém, o que é eterno dele depende. Neste
dez minutos fora do expediente" .101 A primeira geração de trabalhadores nas mundo, ganhamos ou perdemos a felicidade eterna. O grande peso da eternidade
#fl'l fim f~bricas a rendeu com ~e~s mestres a im ortância do tem o; a segunda gera- pende do pequeno e frágil fio da vida [...]. Este é o nosso dia de trabalho, o nosso
li ~ il> ao fo~ou os seus corrutes em rol de menos tempo de trabalho no movimen- tempo de mercado [...]. Oh, meus senhores, se dormirem agora, vão despertar no
inferno, onde não há redenção.
1)l~~jJ ,l ~o pela Jornada de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras

(tA ,"il il ou pelo a amento de um ercentual adicional (1,5 %) elas horas trabalhadas Ou mais uma vez do Youth 's monitor: o tempo "é uma mercadoria demasiado
~-Q...,.Ijj'I)A fora do ex ediente. Eles tinham aceito as cate orias de seus em re adores e preciosa para ser subestimada [...]. É a corrente de ouro da qual pende uma
:)J . ªwendido a revidar os gº-l~'§Jl~ntro desses I2receitos. Haviam aprendido mui- sólida eternidade; a perda de tempo é intolerável, porque irrecuperável" .106 Ou
to bem a sua liçi!Q.,a de-9ue tem o é dinheiro.t'? do Directory de Baxter: "Oh, onde está a mente desses homens, e de que metal
são feitos seus corações empedernidos, esses que podem vadiar e com brinca-
deiras desperdiçar o tempo, esse pouco tempo, esse único tempo, que lhes
VI dado para a salvação eterna de 'suas almas?" .107
Por outro lado, temos as admoestações mais rudes e mundanas sobre H
Vimos até agora um pouco das pressões externas que impuseram essa dis- administração do tempo. Assim Baxter, em The poor man's family book I()
ciplina. :t:-'Ias que dizer da intefI)alização dessa disci lina? Até que ponto era livro de farmácia do pobre], aconselha: "Que o tempo de seu sono seja ap nu

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o lU a saéd xigc, pois o tempo precioso nã d v r d sp I'(II~Ido '(1111 d( ('olllns .1..,1,' uando p 1" I O qu um d m us horn os não fez jus ao sal rio
pr guiça desnecessá.ria"; "vista-se rapidamente"; "e faça as suas utlvld I I qw ti via I' caber, porqu andou vadiando numa feira; que outro perdeu um dia
pw' h I dcira [...] não posso deixar de dizer para mim mesmo, chegou a noite;
com diligência constante" .108 Ambas as tradições se estenderam, por m 10 do
1111\ ou a noite de sábado. Nenhum arrependimento, nenhuma diligência da parte
Serious cal! [Vocação] de Law, até John Wesley. O próprio nome d "111 111 dI HH H pobres homens podem agora compensar o mau trabalho de uma semana.
distas" enfatiza essa administração do tempo. Em Wesley, temos igualm 111 JlHH I S mana passou para a eternidade."!
esses dois extremos - a estocada no nervo da mortalidade, a homilia pr ti 'li,
Foi a primeira (e não os terrores do fogo do inferno) que emprestou às v 'I. Muit antes da época de Hannah More, entretanto, o tema da administra-
uma força histérica a seus sermões e provocou em seus prosélitos urna 1'( «I I, lesa do tempo deixara de ser exclusivo das tradições puritanas, wesleya-
pentina consciência do pecado. Ele também continua as imagens de tempo IUI ou vangélicas. Foi Benjamin Franklin, que durante toda a vida alimentou
-dinheiro, mas de forma menos explícita como tempo do mercador ou do m 11111 1111resse técnico por relógios e que contava entre seus conhecidos John
cado: Whll durst, de Derby, o inventor do relógio "automático", quem deu ao tema
11 1111 xpressão secular mais inequívoca:
Cuide para andar de forma circunspecta, diz o apóstolo [00'] redimindo o tempo;
poupando todo o tempo possível para os melhores propósitos; arrebatando todo orno o nosso tempo é reduzido a um padrão, e o ouro do dia cunhado em horas,
momento fugaz das mãos do pecado e de Satã, das mãos da preguiça, da indo I 11 aqueles que trabalham sabem como empregar cada unidade de tempo com real
cia, do prazer, dos negócios mundanos [00']' proveito em suas diferentes profissões: e quem é pródigo com as suas horas esbanja
Wesley, que nunca se poupou, e até os oitenta anos se levantava todos os dias na realidade dinheiro. Lembro-me de uma mulher notável, que tinha uma noção
perfeita do valor intrínseco do tempo. Seu marido era sapateiro, excelente artesão,
às quatro da madrugada (ele deu ordens para que os meninos de Kingswood
mas nunca prestava atenção aos minutos que passavam. Em vão ela tentou inculcar
School fizessem o mesmo), publicou em 1786 uma brochura com o seu sermão nele que tempo é dinheiro. Ele era brincalhão demais para 'Compreender o que ela
The duty and advantage of early rising [O dever e as vantagens de levantar dizia, o que veio a ser a causa de sua ruína. Na cervejaria, entre os companheiros de
cedo]: "Ficando de molho [00'] tanto tempo entre os lençóis quentes, a carne é lazer, se alguém observava que o relógio dera onze horas, ele dizia: Que significa
como que escaldada, e torna-se macia e fiácida. Os nervos, nesse meio-tempo, isso para nós? Se ela mandava o menino avisá-Io que já eram doze horas: Diga
ficam bem debilitados". Isso nos lembra a voz do vadio de Isaac Watts. Sem- para ela não se preocupar, não pode ser mais que isso. Se ele avisava que batera
pre que Watts olhava para a natureza, a "abelhinha diligente" ou o sol nascen- uma hora: Que ela se console, pois não pode ser menos que isso"?
do à "hora apropriada", ele lia a mesma lição para o homem irregenerado .109
A lembrança provém diretamente de Londres (suspeita-se), onde Franklin tra-
Ao lado dos metodistas, os evangélicos adotaram o tema. Hannah More con-
11I1'houcomo tipógrafo na década de 1720 - mas jamais segu!ndo o exem 10
tribuiu com versos imortais em seu "Early rising" [Acordar cedo]:
li eus colegas de trabalho que observavam a Santa Segunda-Feira, ele nos
Assassino calado, oh preguiça, IIsseguraem sua Auiõbiography. ' m certo sentioo,e apropna o que o I eóIOgô
Pare de aprisionar minha mente; que deu a Webero texto central para ilustrar a étlCaCãj)i1ãhstal13 nao VIesse do
E que eu não perca outra hora
V lho Mundo, mas do Nov~ -=-0 mundo que devia inventar o relógio TepOn-
Contigo, oh sono perverso. xv llO
to, preparar o caminho para o estudo de tempo-e-movimento, e atingir o seu
Em uma de suas brochuras, The two wealthy farmers [Os dois fazendeiros ri- apogeu com Henry Ford.1I4
cos], ela consegue introduzir as imagens de tempo-dinheiro no mercado de
mão de obra:
Quando mando meus trabalhadores entrarem sábado à noite para pagá-los, lem- VII
bro-me frequentemente do grande dia da prestação geral de contas, quando eu,
você e todos nós seremos convocados para o nosso grandioso e terrível ajuste Por meio de tudo isso - pela divisão de trabalho, supervisão do trabalho,
multas, sinos e relógios, incentivos em dinheiro, pregações e ensino, supressão
(xv) Thou silent murderer, Sloth, no morei My mind imprison'd keep;1 Nor let me waste d~as e dos eS120rtes - formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-s
another hourl With thee, thou felon Sleep. uma nova disci lina de tem o. A mudan a levou às vezes várias gerações Qanl

296 297
fj .on r tizar (c mo nos Potteries), send P ssfv -I duvldur at 11 ponto 11'111 11 brochuras d stinados ao consumo da classe trabalhadora. Ou de um

foi plenamente realizada: ritmos de trabalho irregulares 'fi ram p rp tuudOM pOI1I'O d vista positivo ode-se notar ue à medida ue a Revoluç_ãoIndus-
(e até institucionalizados) no século atual, es ecialmente em 011 res nos 11 11avança, os incentivos salariais e as campanhas de expansão do consumo
g~_n<ks portos:I-IS---- - OS I' om ensas palpáveis pelo consumo produtivo dot;-;p"(;-~~o;'a de
.-J.f'I- Durante todo o século XIX, a propaganda do uso-econômico-do-tempo Ih)VIlS atitudes "profética.s',' para com o futuro 11 8 - são Elaramente eficientes .
\"'JI\~l;Pcontinuou ~ ser diri~ida ao~ trabalhadores, a retó:ica tornando-se ~.ais avi!- Por v Ita das décadas de 1830 e 1840, observava-se comum~nt~l.le oJraba-
l~~~ l.1Y tada, as apostrofes a eternidade tornando-se mais gastas, as homilias mais Ihndor industrial inglês se distinguia de seu cole a irlandês.?não só~lU!l~o.r
~ mesquinhas e banais. Quando se examinam os primeiros panfletos e textos ('/lpacidade de t;!abalho, mas ~la regularidade, pelo dispêndio metódico de
;fcriO AtIÂ vitorianos dirigidos às massas, fica-se engasgado com a quantidade de ma- 111 rgia, e talvez ta~bém pela re ressão, não dos divertimentos,)]!,as ~liu;.a a-
, \) (1'\ft-l terial. Mas a eternidade se transformou nesses infindáveis relatos piedosos cldade de relaxar se undo os an.!igQ§...bAlÜiO des.illillidos.
S /(1Il
de leitos de moribundos (ou de pecadores atingidos por um raio), enquant Não há como quantificar a percepção de tempo de um trabalhador, nem a J-1I,/lf;,jVl
as homilias se tornaram pequenos fragmentos a Samuel Smiles sobre ho- ti milhões de trabalhadores. Mas é possível oferecer uma prova de tipo com- (JNljIJ~ ,
mens humildes que tiveram sucesso porque se levantavam cedo e trabalha- P uatívo. Pois o que os moralistas mercantilistas disseram sobre o fato de os
vam diligentemente.LAs classes ociosas começaram a descobrir o "proble- Ingleses pobres do século XVIII não reagirem aos incentivos e às disciplinas é '
ma" (sobre o qual muito se discute ho'e em dia) do lazer das massas. Depois 1'1' quentemente repetido, por observadores e por teóricos do crescimento eco-
de concluir o seu trabalho, uma considerável quantidade de trabalhadores n mico, a respeito dos povos dos países em desenvolvimento na época atual.
manuais (descobriu alarmado um moralista) ficava com As im os peões mexicanos nos primeiros anos deste século eram considerados
um "povo indolente e infantil". O mineiro mexicano tinha o costume de voltar
várias horas do dia para serem gastas quase como se lhe aprouvesse. E de que
• sua vila para o plantio e a colheita de cereais:
maneira [...] é esse tempo precioso empregado por aqueles que não têm cultura?
[...] Nós os vemos muitas vezes apenas matando essas porções de tempo. Durante A sua falta de iniciativa, sua incapacidade de poupar, suas ausências para celebrar
uma hora, ou horas a fio [ ] eles ficam sentados num banco, ou se deitam sobre muitos feriados, sua disposição para trabalhar apenas três ou quatro dias por se-
a ribanceira ou o morro, [ ] totalmente entregues à ociosidade e ao torpor [...] mana se isso satisfizesse as suas necessidades, seu desejo insaciável por bebidas
ou reúnem-se em grupos à margem da estrada, prontos para descobrir motivos de alcoólicas - tudo era apontado como prova de uma inferioridade natural.
risos grosseiros em tudo o que passar; dando mostras de impertinência, falando
palavrões e zombando de tudo, à custa dos passantes [.. .].116
Ie não respondia a incentivos diretos no pagamento do dia de trabalho, e
Sem dúvida, isso era pior que o bingo: uma não produtividade, combinada (como o mineiro inglês de carvão ou estanho do século XVIII) reagia melhor
com impertinência. Na sociedade capitalista madura, todo o tempo deve ser aos sistemas de empreitada ou subempreitada:
~nsumido, neg~~iad01..!:ltili;:ado;é uma ofensa ue a for a de trabalho me-
Dado um contrato de trabalho e a segurança de que receberá determinada quantia
ram~~~'Q?_~e o tem .Q~ de dinheiro por cada tonelada de minério que minerar, e a certeza de que não
Mas até que ponto essa propaganda realmente teve sucesso? Até que pon- importa quanto tempo ele vai levar para fazer o trabalho, ou quantas vezes vai
to temos o direito de falar de uma reestruturação radical da natureza social do se sentar p~ra contemplar a vida, ele trabalhará com um vigor extraordinário."?
homem e de seus hábitos de trabalho? Apresentei em outro trabalho algumas
razões para supor que essa disciplina foi realmente internalizada, e que pode- I Em generalizações fundamentadas por outro estudo das condições mexicanas
mos ver nas seitas metodistas do início do século XIX uma representação figu- de trabalho, Wilbert Moore observa: "O trabalho é quase sempre orientado
rativa da crise psíquica por ela causada. I I? Assim como a nova percepção do para tarefas nas sociedades não industriais [...] e [...] talvez seja apropriado
tempo desenvolvida pelos mercadores e pela gentry na Renascença parece en- vincular os salários às tarefas, e não diretamente ao tempo, nas áreas de desen-
contrar expressão na consciência intensificada da mortalidade, assim também volvimento recente" .120
- é possível afirmar - o fato de essa percepção se estender até os trabalha- O problema se repete sob inúmeras formas na literatura da "industrializa-
dores durante a Revolução Industrial ajuda a explicar (junto com o acaso e a ção" .Para o engenheiro do crescimento econômico, ele pode tomar a forma do
alta mortalidade da época) a ênfase obsessiva na morte encontrada em todos os absenteísmo - como a companhia deve lidar com o trabalhador im enit nt

298 299
1111,,11M I 't ) d amar s qu d lara:" mo I ti 'riu lIll1 110111 '111 li' ti 1111li' qu pr cisa s r dit lIU ue um m do de vida s [a m Ih I' d ([\11 I) fi Ir" ' "
d ss j it ,dia ap s dia, sem faltar nunca? Ele nã morr ria?".'!' outr ,ma ue esse é um onto de conflito de enQrme alcan e' que o r i 11 (011 "Ii I
histórico não acusa simplesmente uma mudan a tecnológica n~tra elnevit v I, (,nll '~; ~
l...
]todos os costumes da vida africana contribuem para que um nível lcvad ma também a exploração e a resistência à exploração; e ue os valores resist 111 o (: )11
sustentado de esforço numa determinada jornada de trabalho se transforme numa
a ser erdidos bem como a ser anhos. A literatura rapidamente crescent dll ~~ J I J
carga física e psicologicamente mais pesada do que na Europa."?
sociologia da industrialização é como uma paisagem que foi devastada por an s , f Y1
Os compromissos de tempo no Oriente Médio ou na América Latina são fr - de seca moral: é preciso viajar por dezenas de milhares de palavras crestadas
quentemente tratados bastante negligentemente segundo os padrões europeus; os pela abstração a-histórica entre cada oásis de realidade humana. Muitos dos CI!-
novos trabalhadores industriais só se acostumam gradativamente a observar um genheiros ocldentais do crescimento parecem totalmente resun osos ares ito
horário regular, a presença regular e um ritmo regular de trabalho; os horários do das dádivas de forma ão de caráter ue trazem nas mãos ara seus irmãos atra-
transporte ou a entrega de materiais nem sempre são confiáveis [...] .123 lados. A "estruturação de uma força de trabalho", dizem Kerr e Siegel:

o problema pode tomar a forma de adaptar os ritmos sazonais do campo, com [...] implica o estabelecimento de regras sobre o tempo de trabalhar e de mo
seus festivais e feriados religiosos, às necessidades da produção industrial: trabalhar, sobre o método e a importância do pagamento, sobre o movimento de
entrada e saída do trabalho e de uma posição para outra. Implica regras perti-
O ano de trabalho da fábrica se adapta necessariamente às necessidades dos tra- nentes à manutenção da continuidade no processo de trabalho [...], a tentativa de
balhadores, em vez de ser um modelo ideal do ponto de vista da produção mais minimizar a revolta individual ou organizada, o fornecimento de uma visão ele
eficiente. Várias tentativas dos gerentes no sentido de alterar o padrão de trabalho mundo, de orientações ideológicas, de crenças [...].127
não deram em nada. A fábrica volta a um horário aceitável para o cantelano.!"
WilbertMoore chegou até a redigir uma lista de compras dos "valores difun-
Ou talvez adote a forma, como nos primeiros anos dos cotonifícios de Bom- didos e das orientações normativas de alta relevância para o objetivo do desen-
baim, de manter uma força de trabalho à custa de perpetuar métodos ineficien- volvimento social" - "as seguintes mudanças de atitude e opinião são 'neces-
tes de produção - horários flexíveis, intervalos e horas de refeição irregulares sárias' se quisermos atingir um rápido desenvolvimento econômico e social":
etc. É muito comum que, nos países onde os vínculos da nova classe proletária
Impessoalidade: julgamento do mérito e do desempenho, e não dos antecedentes
da fábrica com seus parentes (e talvez com ro riedades de terra ou direitos à sociais ou de qualidades irrelevantes.
terraf'nas vilas são ~lUitO mais estreit~;--=-= e mantidos or muito mais tempo Especificidade de relações em termos de contexto e de limites de interação.
- do que na experiênciãinglesa, o roblema are a ser o de disci linar uma Racionalidade e capacidade de resolver problemas.
~~ de trabalh.o ~e- está a e~ arcial e tem orariamente "com rometida" Pontualidade.
com o modo de vida industrial.'" Reconhecimento da interdependência individualmente limitada, mas sistema-
As evidêncT;s são abundantes e nos lembram, elo método do contraste, até ticamente conectada.
Disciplina, deferência para com a autoridade legítima.
9.~ onto_nos habituamos a diferentes disci linas. Sociedades industriais madu-
Respeito pelos direitos de propriedade [...].
ras de todos os tipos são marcadas pela administração do tempo e por uma clara
demarcação entre o "trabalho" e ;;;;ida;~í26 Mas, dep.ois de levarmos tão longe Esses itens, junto com "a realização pessoal e as aspirações a uma mobilidade
o exame do problema, podemm nos p;rrnitir, à maneira do século xvrn, um pou- social", não são, como nos assegura o professor Moore, "sugeridos como uma
co de moralização sobre nós mesmos. Q.Qonto em discussão não é o do" adrão lista abrangente dos méritos do homem moderno [...]. O 'homem integral'
de vida". Se os teóricos do crescimento guerem de nós essa afirmação, podemos também amará a sua família, cultuará o seu Deus e saberá expressar os seus
aceitar que a cultura popular mais antiga era sob muitos as ectos ociosa, intelec- dons estéticos. Mas ele manterá cada uma dessas outras orientações 'no H u
tualmente vazia, desprovida de es fito e, na verdade, terrivelmente obre. Sem devido lugar"'.128 Não deve causar-nos surpresa que essa "provisão de orl ll-
'a disciplina do tempo~o ~os as ener ias ersistentes do homem indus- tações ideológicas", fornecida pelos Baxters de>século xx, tenha recebido 110/1
trial; e adotando as formas do metodismo do stalinismo ou do nacionalismo, acolhida na Fundação Ford. Que elas tenham aparecido tão frequent 111 IIll
essa disciplina chegará ao mundo em desenvolvimento. em publicações patrocinadas pela UNESCO, é mais difícil de explicar.

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VJll I I rdl .ad •p UPUU) usslm por diante. Ach qu jamais exp ri 11 iam m s-
1I1() S ntirn rito de lutar ntra o tempo ou de ter que coordenar a atividad sem
I passagem ab trata do tempo, porque seus pontos de referência são basicarnent
Esse é um roblema ue os ovos do mundo em de envolvirn nto ti VIII
lli pr prias atividades, que têm em geral caráter de lazer. Os acontecimentos se-
ef!.frentar em sua vida e em seu crescimento. Es era-se ~ue ele tom m '\I li ulll
u m uma ordem lógica, mas não são controlados por um sistema abstrato. não
com modelos convenientes e mani uladores, ue a resentam as massas 11' I1 I hav ndo pontos de referência autônomos a que as atividades tenham de se ajustar
lhadoras aI2enas como uma força inerte de trabalho. E sur e também nos JlII 'om precisão. Os nuer são felizes.!"
!!!dust~ais avançados a perce-.eçã<?de que esse deixou de ser um probl 1111
tuado no ~~aç!Q. roi~E.amos agora num onto em gue os sociólogos pu I em dúvida, nenhuma cultura reaparece da mesma forma. Se as essoas
ram a ~scutir o "r.r~~~~~.?~ laze~ E uma arte do roblema é: como () 1111", I v O t r de satisfazer ao mesmo tem o as exigências de uma indústria automa-
se tomou um roQ.lem~?/O uritanismo, com seu casamento de conveni nc I II:t.uda altamente sincronizada e de áreas muito am liadas de "tempo livre",
c<:?.~o cap~talismo industrial.:. foi o aKente ue converteu as essoas a nOVII ti v m de aI um modo combinar numa nova síntese element~o e d~
.avaliações do temQ.9; que ensinou as crianças a valorizar cada hora lumino I 11 V ,descobrindo um ima inário ue não se baseie nill'~estações. ne!!llliL.~-
desde os primeiros anos de vida; e que saturou as mentes das pessoas com 11 t' rd , mas nas necessigades humanas. A pontualidade no horário de trabalho
equação "tem o é dinheiro't.!" Um tipo recorrente de revolta no capitalismo expressaria respeito pelos colegas. E assar o tem o à toa seria com ortamen-
industrial ocidental, a rebeldia da boêmia ou dos beatniks, assume frequcnl ' 10 ulturalmente aceito.
mente a forma de zombar da premência dos valores de tempo respeitáveis. I, Isso dificilmente encontra aprovação entre aqueles que veem a história da
~rge ~~~_ ql!.~~~? in~~.!:.t?~_~~I!~":""'~~_
o puri!ani~!!lo era uma arte necessária do "industrialização" - em termos aparentemente neutros, mas, na realidade,
éthos do trabalho que deu ao mundo industrializad? a capacidade de se libertar profundamente carregados de valores - como a história da crescente raciona-
d_a~_e~~mo~~s do pass~~ ~ftigidas pela obreza, a avalia ão uritana do tem () lização a serviço do crescimento econômico. O argumento é pelo menos tão
com~ça ~ ~~ deteriorar 9.!la~o se abrandam as ressões da obreza? Já está s v lho quanto a Revolução Industrial. Dickens via o símbolo de Thomas Grad-
deteriorando? As pessoas vão começar a perder aquela premência inquieta, aqu - rind ("sempre pronto para pesar e medir cada fardo humano e dizer exata-
le desejo de consumir o tempo de forma útil, que a maioria leva consigo assim mente o resultado obtido") no "relógio estatístico mortal" em seu observató-
como usa um relógio no pulso? rio, "que media todo segundo com uma batida semelhante a uma pancada seca
Se vamos ter mais tempo de lazer no futuro automatizado, o problema não na tampa do caixão". Mas o racionalismo desenvolveu novas dimensões so-
é "como as pessoas vão conseguir consumir todas essas unidades adicionais de ciológicas desde a época de Gradgrind. Usando a mesma imagem favorita do
tempo de lazer?", mas "que capacidade para a experiência terão as pessoas com relojoeiro, foi Werner Sombart quem substituiu o Deus do materialismo mecâ-
esse tempo livre?". Se mantemos uma avaliação de tempo puritana, uma avalia- nico pelo empresário: "Se o racionalismo moderno é semelhante ao mecanis-
ção de mercadoria, a questão é como empregar esse tempo, ou como será apro- mo de um relógio, deve existir alguém para lhe dar corda" .131 As universidades
veitado pelas indústrias de entretenimento. Mas se a notação útil do emprego do ~dente estão hoje apinhadas de relo·oeiros acadêmicos, ansiosos or a-
tempo se toma menos compulsiva, as pessoas talvez tenham de reaprender al- tentear novas soluções. Mas até agora poucos têm ido tão longe quanto Tho-
gumas das artes de viver que foram perdidas na Revolução Industrial: como mas Wedgwood, o filho de Josiah, que traçou um plano para introduzir o tem-
preencher os interstícios de seu dia com relações sociais e pessoais mais enri- po e a disci lina de trabalho da fábrica Etruria nas próprias oficinas de
quecedoras e descompromissadas; como derrubar mais uma vez as barreiras formação da consciência da criança:
entre o trabalho e a vida. Nasceria então uma nova dialética em que algumas das
Meu objetivo é elevado - tenho procurado realizar um golpe de mestre que deve
antigas energias e disciplinas migrariam para as nações em processo de indus- antecipar em um ou dois séculos o progresso veloz do desenvolvimento humano.
trialização recente, enquanto as antigas nações industrializadas procuram redes- Quase todo passo anterior a esse progresso pode ser atribuído à influência de
cobrir modos de experiência esquecidos antes do início da história escrita: personalidades superiores. Ora, é minha opinião que, na educação das maiores
dessas personalidades, não mais que uma em dez horas tem sido posta a servi-
[...] os nuer não têm expressão equivalente a "tempo" na nossa língua, e assim não ço da formação daquelas qualidades de que depende essa influência. Vamos su-
podem, como nós, falar do tempo como se fosse algo real, que passa, que pode ser por que tivéssemos uma descrição detalhada dos primeiros vinte anos de vida de

302 303
ul' ms t nios xtra rdin rio'. u eu s d I 1" pç si 1 ••. 1 1111111 1111111 11!tI
me es prodigamente desperdiçados em oeupaç es irnprodutivnsl ti 1111111111111 111
de impressões formadas pela metade e de concepç cs frustnlduM1\11111111 1 111111111
massa de confusão [...].
Na mente mais bem regulada dos dias de hoje, não houve ru o h lodo 11 11 I
algumas horas gastas em fantasias, pensamentos desgovernad s S '11111111111' I·
7
o plano de Wedgwood era projetar um novo sistema de educaião ri o« I 11, 111 A VENDA DE ESPOSAS
cTonal, teórico: Wordsworth foi proposto como um possíVel supcrint ndlll!1
Sua resposta foi escrever "The prelude" [O prelúdio] - um ensaio sobr (l di
sen~olvim~~õ~~ c<2.ns0ê~cia de um poeta que era, ao mesmo temp , um I lU'
lêmica contra:

Os guias, os guardas de nossas faculdades


E intendentes de nosso trabalho, homens vigilantes I
E hábeis com a usura do tempo,
Sábios, que na sua presciência controlariam Até poucos anos atrás a memória histórica da venda de esposas na Inglater-
Todos os acasos, e ao caminho rn ' ria mais bem descrita como amnésia. Quem iria querer lembrar práticas tão
Que criaram nos confinariam, h rbaras? Por volta da década de 1850, quase todos os comentadores admitiam
Como máquinas [...]XVI 133
11 visão de que a prática era a) extremamente rara, e b) totalmente ofensiva à mo-
Pois não existe desenvolvimento econômico que não seja ao mesmo tem o d • rnlidade (embora, de forma a se justificar, alguns folcloristas começassem a
senvolvimento ou mudança de uma cultura. E o desenvolvimento da consciên- I rincar com a noção de resíduos pagãos).
cia social, como o desenvolvimento da mente de um oeta,jamais pode ser, em O tom do The book of days (1878) de Chambers é representativo. O qua-
última análise, laneiado. dro "é simplesmente um atentado à decência [...]. Só pode ser considerado como
prova da ignorância apatetada e dos sentimentos brutais de parte de nossa popu-
lação rural". E o mais importante era repudiar e denunciar a prática, porque os
"vizinhos continentais" da Grã-Bretanha tinham notado os "casos fortuitos de
venda de esposas", e "acreditam seriamente que é um hábito de todas as classes
de nosso povo, citando-o constantemente como evidência de nossa civilização
inferior".' Com sua habitual frivolidade rancorosa, os franceses eram os mais
agressivos a esse respeito: milorde John Bull' era representado, de botas e espo-
ras, no mercado de Smithfield, gritando "à quinze livres ma femme!" [minha
mulher por quinze libras!], enquanto a senhora, presa por uma corda, se manti-
nha de pé num pequeno cerca~o.z
,The book of days conseguiu reunir apenas oito casos, entre 1815 e 1839, e
esses casos, junto com mais três ou quatro, foram postos em circulação, sem
maiores investigações, por meIO de relatos de JornaIS ou de antiquários durante
cinquenta anos ou mais. A medida que crescia o esclarecImento, a çurIOsldad
diminuía. Na primeira metade deste século, a memória histórica geralmente s
(XVI) The Guides, The Wardens of our faculties z And Stewards of our labour, watchful men/

And skilful in the usury of time/ Sages, who in their prescience would controul/ Allaccidents, and
to the very road/ Which they have fashion'd would confine us down/ Like engines [ ...)' (I) Personificação do inglês típico. (N. R.)

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