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RESUMO: Esse artigo é resultado parcial de uma pesquisa em andamento cuja é intenção é contribuir com os
debates sobre a formação de professores. Indaga-se: até que ponto a ausência da disciplina de História da
Educação nos Cursos regulares de Licenciatura da Unimontes, no período de 01/01/2003 a 31/12/2006, contribui
para a hegemonia da ideologia dominante vigente na sociedade contemporânea? A hipótese é que a ausência da
disciplina, na formação, traz em si expressivos prejuízos para os profissionais da educação. A metodologia
pauta-se nos princípios quantitativo-qualitativo, com base na lógica histórico-dialética racional. A pesquisa
bibliográfica, a partir de BERGO 1979, FÁVERO 1999, GATTI JÚNIOR 2005, LIBÂNEO; OLIVEIRA 1998,
LOMBARDI 2001, LOMBARDI; SAVIANI 2009, MIALCHI 2003, MORAIS; PORTES; ARRUDA 2006,
MANACORDA 2006, SANFELICE; SAVIANI; LOMBARDI 1999, SAVIANI 1999 e 2002, SAVIANI;
LOMBARDI; SANFELICE 1998, SCHAFF 1995 e SILVEIRA ROGRIGUES 2006. Na pesquisa de campo,
entrevista estruturada envolvendo coordenadores e alunos destes cursos.
Palavras chave: História da Educação. Emancipação. Ideologia. Formação docente. Política
educacional.
ABSTRACT: That article is resulted partial of a research in process whose is intention is to contribute with the
debates about the teachers' formation. It is investigated: to what extent does the absence of the discipline of
History of the Education in the regular Courses of Degree of Unimontes, in the period from 01/01/2003 to
31/12/2006, contribute to the hegemony of the effective dominant ideology in the contemporary society? The
hypothesis is that the absence of the discipline, in the formation, brings in itself expressive damages for the
professionals of the education. The methodology is ruled in the quantitative-qualitative beginnings, with base in
the logic rational historical-dialectics. The bibliographical research, starting from BERGO 1979, FÁVERO
1999, GATTI JÚNIOR 2005, LIBÂNEO; OLIVEIRA 1998, LOMBARDI 2001, LOMBARDI; SAVIANI 2009,
MANACORDA 2006, MIALCHI 2003, MORAIS; PORTES; ARRUDA 2006, SANFELICE; SAVIANI;
LOMBARDI 1999, SAVIANI 1999 e 2002, SAVIANI; LOMBARDI; SANFELICE 1998, SCHAFF 1995 e
SILVEIRA ROGRIGUES 2006. In the field research, structured interview involving coordinators and students
of these courses.
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Artigo apresentado ao V Congresso Internacional de Filosofia e Educação (CINFE) da Universidade de Caxias
do Sul, no período de 17 a 20 de Maio de 2010.
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De acordo com Saviani (2002), é a própria dinâmica social que, no ápice de suas
forças, cria contradições cujas consequências são novas formas de produção humana. Diante
do exposto suscita questões há muito investigadas por pesquisadores de relevância e que
merecem destaque nesse contexto, tais como: quais as características dessa sociedade? Qual é
o impacto das proposições sócio-políticas neoliberais na organização das políticas públicas
sociais? De que forma esse contexto se faz presente no campo da educação? Que tipo de
homem a universidade está a formar. Ou ainda: que tipo de homem precisa ser formado para
viver nessa sociedade?
Entende-se também que em meio a uma trajetória política que alterna entre períodos
ditatoriais e democráticos, muitas reformas e movimentos importantes contribuíram para a
construção da trajetória histórica da prática pedagógica brasileira, e hoje, o cenário
sociopolítico e econômico contemporâneo que se delineia está a exigir novas ações, novas
políticas e necessariamente, um novo olhar sobre a educação. Consequentemente, identificar
os desafios que esta realidade coloca-nos é uma tarefa que está em aberto; principalmente se
considerar que o ideal de uma educação crítica e emancipadora continua a ser um grande
desafio, desafio esse, procurado por uma minoria de professores pesquisadores que se
dedicam a investigar as tramas historicamente produzidas e vivenciadas pelas políticas
educacionais.
Nesse sentido, esta reflexão está direcionada para a constatação de que a sociedade
brasileira está inserida em um tempo paradoxal, pois, de um lado ela está imersa em um
acelerado ritmo de transformação, e de outro, encontra-se paralisada diante do conhecimento
como regulação, o que significa que, na verdade, o que ela enfoca é o conhecimento como
instrumento de emancipação. Emancipação social e intelectual que pode promover uma
mudança nas estruturas pedagógicas que há muito foram cristalizadas e que dificultam um
desenvolvimento real e eficaz do processo pedagógico.
Esse texto resulta de uma pesquisa em andamento cuja intenção é contribuir com os
debates sobre a temática da formação de professores para a Educação Básica, temática esta,
presente na realidade educacional e na pesquisa em História da Educação no Brasil. O tema
aqui proposto é “A História da Educação e a Formação Docente: possibilidades e
contribuições para uma prática emancipada e emancipadora”. Esclarece-se que, entre as várias
situações que provocaram a escolha deste tema de modo a tornar-lo objeto de estudo, pode-se
destacar a observação da ausência da mencionada disciplina na grade curricular dos cursos de
licenciatura na Unimontes. Tal realidade suscitou uma inquietação que se refere em pensar o
quanto o conteúdo de História da Educação é indispensável na formação de futuros
professores. Assim esclarece-se que o envolvimento no contexto do curso de formação de
professores da mencionada universidade detonou problematizações a respeito da importância
do ensino da História da Educação para a formação emancipada do professor. E assim, como
sujeitos inseridos no contexto acadêmico, delimita-se como objeto de estudo, as contribuições
da História da Educação na Formação emancipada dos acadêmicos e futuros docentes.
Nesse contexto indaga-se: “Até que ponto a ausência da disciplina de História da
Educação nos Cursos regulares de Licenciatura da Universidade Estadual de Montes Claros –
Unimontes, no período do 1º (primeiro) mandato do presidente Lula, a saber, 01/01/2003 a
31/12/2006, contribui para a hegemonia da ideologia dominante vigente na sociedade
contemporânea?”.
Diante dessa questão central esclarece-se que a hipótese que fundamenta esta pesquisa
está no fato de que a ausência da disciplina de História da Educação nos supracitados cursos
traz em si, expressivos prejuízos na formação dos profissionais da educação, visto que esta
disciplina subsidia o professor no que se refere ao significado do conhecimento da educação
em seu país, em seu espaço de atuação, no contexto social externo à sala de aula, e também
subsidia o entendimento de pertinência da problematização que com certeza inspira e norteia
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o trabalho de ensino e pesquisa nessa área. Problematização esta que se entende como o fato
de não poder perder de vista que o projeto político no qual se inclui o projeto pedagógico
destes cursos está articulado com a teoria em termos históricos e epistemológicos, uma vez
que “o saber produzido não é indiferente à história e ao lugar social que possibilita e mesmo
demanda a sua produção, através dos ‘aparelhos’ sociais que oferecem condições para que
este saber seja construído” (Cardoso, citado por Gatti, 2005, p.56. Grifo do autor).
Para realizar este estudo optou-se por uma metodologia que está fundamentada nos
princípios dos métodos quantitativo-qualitativo; metodologia esta que se fundamenta em uma
lógica histórico-dialética racional, que justifica o engajamento político do pesquisador em
relação ao espaço investigado, bem como, com o interesse de desvelar os elementos implícitos
na constituição do objeto estudado, situação que se encontra em consonância com o
pensamento de Sánchez Gamboa (2007), quando este afirma que,
As opções são mais complexas e dizem respeito às formas de abordar o objeto, aos
objetivos com relação a este, às maneiras de conceber o sujeito, ou os sujeitos, aos
interesses que comandam o processo cognitivo, às visões de mundo implícitas
nesses interesses, às estratégias da pesquisa, ao tipo de resultados esperados etc. Em
outras palavras, fazem referências à complexidade das alternativas epistemológicas.
(GAMBOA, 2007, p. 9)
A metodologia quantitativo-qualitativa é aqui adequada porque proporciona o
levantamento de dados necessários para investigar fatos e fenômenos implícitos e explícitos
no objeto estudado, em uma visão de totalidade, sem ignorar o contexto histórico-político-
econômico e social, de forma a conceber que, a produção científica é inseparável da própria
história do homem e de sua produção material. A pesquisa científica está influenciada pelas
condições históricas de sua produção (inter-relações materiais, culturais, sociais e políticas).
(GAMBOA, 2007, p.73), em forma de práxis que de acordo com Kosik,
Adentrar o século XXI é uma boa razão para se fazer uma discussão sobre práticas
pedagógicas, sobre a intenção dessas práticas, sobre Teorias educacionais e princípios
epistemológicos que se impõem nestes novos tempos. Discutir essa temática que se impõe
nesse tempo contemporâneo é também discutir valores e práticas que caracterizam os
diferentes momentos da história educacional, história esta que marca possibilidades e
perspectivas para o presente, bem como para um tempo em prospecção.
Naturalmente, a história da educação não pode e não deve ser a declinação histórica
da disciplina pedagógica presente. No enfoque histórico, as temáticas se configuram
diversamente em relação ao objeto, as finalidades de conhecimento são diferentes
bem como são diferentes os métodos de pesquisa e os procedimentos. O ponto
decisivo permanece aquele das categorias e das relações com as quais a temática é
descrita e interpretada. Assim, em cada pesquisa histórica, aquilo que é relevante e
explicativo não é a descrição de um campo ou de um tema, não é a enumeração dos
fatores históricos, mas, preferivelmente, as suas relações quantitativas, qualitativas e
dinâmicas com o objeto (que, justamente, é assim descrito e explicado na sua
relevância e dinâmica). (SANFELICE; SAVIANI; LOMBARDI, 1999, p.23-24).
(...)
Por isso (...) – a utilidade e importância da história da educação – entendida no seu
sentido geral – na formação de professores serão tanto maiores quanto mais ela for
histórica e quanto menos ela for intencionalmente pedagógica para fins de
conformação ideológica. Se a idéia de ensino é uma idéia elevada, que, ao lado de
competências operativas de primeiro nível, prevê a presença de segundo nível, de
projeção e controle da própria atividade específica, não se pode não prever também
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Pressupõe-se que os cursos que contam em sua grade curricular com esta disciplina
têm uma fundamentação maior e mais sólida para discutir os diferentes momentos históricos e
a organização e intenção da educação em seu contexto. A partir daí, a percepção e o
conhecimento dos desafios que a realidade social nos impõe como profissional que questiona,
problematiza, que procura possibilidades; e que nessa procura, depara-se com as contradições
postas pelas políticas que influenciam na vivência do dia a dia.
Uma das formas pelas quais a universidade pode desenvolver bem o ensino e a
pesquisa é através da formação de profissionais aptos a exercerem papeis
especializados em diferentes áreas do conhecimento. Tal formação deve
caracterizar-se como a preparação de sujeitos pensantes, que buscam continuamente
novos caminhos. Portanto, a universidade, alem de ser uma instância de produção de
conhecimento, de cultura e de tecnologia, é também a instituição onde se devem
formar pessoas, cidadãos e profissionais. No caso de uma universidade pública, mais
que habilitar estudantes para atuar como profissionais no mercado de trabalho, ela
deve formá-los para influir sobre a realidade onde vão atuar numa perspectiva de
mudança, a partir de uma visão crítica da realidade. (FÁVERO, 1999, p. 252)
Até a presente data, ainda em conversa informal com alguns professores da Instituição
e destes cursos regulares de licenciatura, pode-se perceber dificuldades na prática dos
professores que ministram as disciplinas de História da Educação, Didática, Estrutura e
Funcionamento da Educação Básica, Organização Escolar e Educação e Sociedade.
Disciplinas estas de cunho político, que requerem do aluno uma maior condição de reflexão e
análise de contexto sócio-histórico à luz dos paradigmas sociais contemporâneos. Pode-se
perceber também, ainda que informalmente, que o aluno cujo curso de formação tem a
disciplina de História da Educação, apresenta um maior entendimento das relações que se
estabelecem entre a escola e a sociedade, a partir dos paradigmas sociais atuais.
Também em caráter ainda informal, percebe-se no exercício profissional de pedagogo,
nas escolas de Educação Básica, que os professores cujos cursos apresentam a disciplina de
História da Educação em sua grade curricular, têm maior interesse e maior facilidade em
participar das reuniões pedagógicas. Também se evolvem com mais prazer, espontaneidade e
atuação na discussão e/ou atualização dos instrumentos de democratização da escola, como
por exemplo, o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar.
Em síntese, a ausência da disciplina de História da Educação dos currículos dos cursos
regulares de Licenciatura na Unimontes acarreta uma lacuna na formação dos professores.
Esta possibilidade vem sendo até então apontada no levantamento de dados do trabalho que
ainda está no início de seu desenvolvimento formal.
Estas considerações parciais ainda estão fundamentadas no senso comum, ou seja, nos
conhecimentos anteriores à constatação que só advirá com a conclusão do trabalho de
pesquisa.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SAVIANI, Dermeval. Ensino Público e algumas falas sobre Universidade. 5. Ed. São
Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991.
SCHAFF, Adam. História e verdade. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
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ISLEI GONÇALVES RABELO (isleirabelo@ig.com.br ou isleirabelo@hotmail.com) é pedagoga pela
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes (www.unimontes.br). É Especialista em Metodologia do
Ensino Superior e Metodologia Científica e Epistemologia da Pesquisa pela Unimontes. Atualmente é Professora
de Ensino Superior do Departamento de Educação do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual de
Montes Claros Unimontes, membro do Comitê Departamental de Pesquisa, pesquisadora do GEPEDS na linha
de pesquisa “Políticas públicas e inclusão social” e Coordenadora do Campus Avançado da Unimontes em
Brasília de Minas. Já atuou como Professora de Língua Estrangeira (Francês) para o Ensino Fundamental e
Médio; Professora das Matérias Pedagógicas do Magistério de 1º grau no Ensino Médio; Diretora D3A;
Supervisora Pedagógica; Secretária Municipal de Educação; Coordenadora do Programa Um salto para o futuro
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ROSÂNGELA SILVEIRA RODRIGUES (rosangesr@gmail.com). Doutorado em Educação, área História e
Filosofia da Educação pela UNICAMP (2006) e Mestrado em Educação: Docência do Ensino Superior pela
PUC-CAMPINAS (1998). Graduada em Pedagogia pela UNIMONTES. Professora adjunta UNIMONTES
(www.unimontes.br) e pesquisadora do GEHS – Grupo de Estudo e Pesquisa em História, Educação e Sociedade
com pesquisa em andamento financiada pela FAPEMIG e CNPQ na área da História da Educação no Brasil, cujo
titulo é Cultura e propagação dos modelos de professor entre a Europa e Brasil: a influência das teorias
pedagógicas de Pestalozzi, Froebel e Herbat na segunda metade do século XIX. Autora do livro: A Didática na
formação dos educadores: uma articulação dialética.