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BANHOS COM ERVAS

Vamos tomar um banho de arruda e guiné, para afastar qualquer mau-olhado. “

Os banhos são recursos encantadores dentro da Umbanda. Seguem o princípio


das lavagens de chão, porém para nós. Todo trabalhador de Umbanda deve, ao menos,
tomar um banho durante a semana antes da gira. Mas os banhos são muito mais que
apenas de um dia, eles podem ser feitos em vários dias e com vários propósitos.

Podemos usar tanto as ervas frescas, quanto as secas. Alguns dizem que as ervas secas
não tem o poder (axé) necessário, outras já dizem que as secas concentram o poder em
maior grau. Veja, na culinária os temperos secos são realmente muito mais potentes que os
temperos frescos, sendo utilizado em menor quantidade. Por que nos banhos seriam
diferente?

Para mim, conforme meus guias me explicam, tanto faz. Dê preferência para a fresca, pela
vitalidade ainda ativa da terra, do sol, etc. Mas se não tiver, use a seca, basta apenas ativar
as propriedades da erva, rezando-a. Iremos explicar esse processo mais a frente.

Também existe a questão da quantidade das ervas e do número de ervas. Segundo Adriano
Camargo, o erveiro da Jurema, isso tudo é mito. Devemos seguir a nossa intuição a
princípio, e caso houver algum empecilho dogmático, do tipo: “Aprendi que era assim, com 3
ervas e não com 1 só!”. Siga o que você aprendeu, por uma questão de conforto.

Geralmente eu uso ervas em número ímpar, para limpezas e banimentos. Já em número par
para atrair algo ou energizar. Mas isso é uma convenção minha, eu a adotei assim e me
sinto confortável com isto. Porém, já houveram momentos em que tive que tomar um banho
de energização e só tinha 1 erva em casa! Deixo pra lá? Faço outro dia? Não, usei ela
mesma e foi muito funcional.

Existem variações dos banhos, como as lavagens de coroa, chamados de Amacis e também
os escalda-pés. Não vou entrar em detalhe do Amaci agora, por ser algo mais ritualístico e
litúrgico e não se encaixar como um processo mágico, porém os escalda-pés podem ser
feitos no mesmo princípio dos banhos.

Escalda-pé é um preparo aromático que pode incluir ervas, óleos essenciais e outros
itens (sal, pimenta, azeite, vinagre, etc), além da água quente. Fazemos um preparo com os
itens que escolhemos e colocamos os pés dentro desse preparo, deixando-os lá, relaxando.
O processo funciona através da reflexologia podal, levando energia para o local que precisa
e desagregando as energias no mesmo processo.

Como rezar suas ervas secas.

Existem duas formas que aprendi para rezar o banho.

1. Com uma vela verde acesa ao lado da vasilha que irá preparar o banho, coloque
todas as ervas dentro de uma cuia e deixe repousando ao lado da vela. Faça uma
evocação, pedindo a Deus que permita que determinada força seja despertada. Ex: “Deus
Pai Criador, clamo a ti, para que permitas que as forças dessas ervas aqui dispostas sejam
despertadas em seus atributos e potencialidades, e sirvam para o meu benefício”. Cruze as
ervas e espere a vela queimar totalmente.Esse é um processo demorado, pois a vela palito
pode demorar até quatro horas (às vezes mais ou menos) para queimar totalmente. Numa
situação que não há tempo hábil, eu opto pela segunda reza.
2. Em uma cuia ou coitê , coloque as ervas, posicione suas mãos sobre elas e faça
uma evocação simples: “Em nome de Deus, eu peço licença para que as forças da mãe
natureza, possam despertar os atributos e as potencialidades destas ervas aqui dispostas,
para meu benefício e para o meu melhor”. Fazendo o sinal da Cruz por sobre as ervas, reze
um Pai Nosso e uma Ave Maria, ou cante um ponto que fale sobre o intuito do banho. Após
o término das preces, pode preparar seu banho.

Como preparar o banho.

Existem duas formas de preparo básico do banho, quente ou frio. Para as ervas secas,
devemos sempre usar o método quente, respeitando as regras para os itens que precisam
ser preparados por decocção ou infusão. Para as ervas frescas, podemos optar por
qualquer uma das formas.

Preparo Frio:

Com as ervas frescas separadas, coloque ao menos 1 Litro de água mineral – o filtrada – e
friccione as ervas contra os nós dos dedos, para extrair seu sumo. Deixe repousar de 1 hora
até 24 horas, porém o ideal mesmo é no mínimo 8 horas. Após transcorrido o tempo, pode-
se coar o preparo e tomar banho. Pode-se “temperar” a água fria, com um pouco de água
morna para ficar agradável para a temperatura do corpo.

Preparo Quente:

Nesse caso temos que separar as questões das ervas. Com as ervas frescas separadas,
coloque em uma panela ao menos 1 litro de água mineral – na ausência prefira a filtrada – e
leve ao fogo, até começar a levantar fervura. Desligue o fogo, despeje por sobre das ervas
frescas a água, como no preparo de uma infusão, abafe (tampe) o recipiente por pelo menos
10 minutos.

No caso de ervas secas, devemos analisar qual o tipo da erva. Raízes, sementes, cascas ou
elementos duros, devem sempre serem preparados por decocção. Coloque a água no fogo,
já com os elementos mais duros dentro da mesma, ao levantar fervura, deixe por mais 5
minutos. Deixe repousar por no mínimo 2 minutos, antes de acrescentar as outras ervas
secas (folhas, flores, etc). Esse já é um processo de infusão. Se for usar só partes mais
“moles”, use o processo da infusão, aqueça a água até chegar a ponto de fervura, desligue
o fogo e despeje a água por sobre as ervas. Abafe e espere de 10 a 15 minutos.

Você ainda pode misturar os dois tipos de ervas, sempre respeitando os seus processos de
preparo. Você pode coar TODOS os banhos, salvo aqueles que os guias pedem para que
as flores ou folhas permaneçam e que devem escorrer pelo corpo.

Como rezar o banho.

Mesmo usando ervas frescas, ou já tendo feito a reza para “acordar” as ervas secas, é
necessário também rezar o banho já pronto. Cruze o banho – sinal da cruz sobre o
recipiente – e faça uma prece de seu coração, pedindo e determinando os objetivos que
você quer angariar com aquele banho. Por ex: “Deus, cruzo esse banho em seu nome e em
nome de meu pai Oxalá, pedindo purificação do meu corpo e do meu espírito. Que ele
possa me banhar, retirando as larvas astrais e miasmas, dissolvendo os cordões
energéticos negativos, removendo os cascões de energia estagnada e me proporcionando
luz cristalina em minha vida. Assim seja!”. 
Depois disto, basta despejar o banho da cabeça aos pés! SIM!!! Da cabeça aos pés. Visto
que na cabeça temos chakras importantíssimos (Coronário, Frontal, Laríngeo, da Nuca, das
Têmporas, etc). Aqui também cabe a questão da convenção. Se você  acredita que lhe fará
mal um banho na cabeça, é melhor não fazê-lo.

Esse mito tem uma origem, pois existem realmente ervas que não devem ser colocadas no
Ori (cabeça) por uma questão energética, por possuírem propriedades muito abrasivas.
Algumas por serem tóxicas e podem causar irritações e processos alérgicos ao entrar em
contato com as mucosas. Por isso é bom conhecer as ervas, além de respeitar o trabalho e
a orientação dos guias. Existem banhos que são universais e podem ser tomados por todos,
mesmo sem a indicação direta de um guia, mas nem todos são assim. Nesse caso cabe a
ressalva do Ministério da Saúde para medicamentos: “Consulte sempre um médico”; Aqui
mudamos para a ressalva do Ministério da Macumba: “Consulte sempre um
macumbeiro/guia/entidade/mirongueiro/raizeiro/benzedor/pai-de-santo”.

Brincadeiras à parte, os banhos são rituais sérios e muito poderosos se preparados da


forma correta. Mas podem ser extremamente nocivos se feitos com falta de respeito ou
simplesmente de uma forma não propicia. O uso do sal grosso é um exemplo, não deve ser
usado cotidianamente, só recomendado para banhos de descarregos muito poderosos.
Caso, você sinta a necessidade de um banho de sal, prefira ir tomar um banho de mar. Além
do sal na água, você terá a energia do sol, prânica, para te imantar, tomando lugar das
energias perdidas na lavagem com sal.

Mas caso não seja possível ir até o mar, prepare dois banhos, primeiro um só de Sal Grosso
e outro de ervas harmoniosas, leves e irradiadoras. Tome seu banho de higiene e logo
depois despeje o sal grosso por todo o corpo, respire profundamente por sete vezes e abra
novamente a água pra retirar o excesso de sal. Tome agora o banho de ervas harmoniosas
e irradiadoras. Pronto, é uma forma segura! O Sal retira tudo, inclusive as energias boas.
Imagina seu campo áurico e corpo astral com diversos pontos de energias nocivas, larvas e
miasmas. Quando você joga o banho de sal, tudo isso é desagregado, porém permanecem
os buracos. Por isso tomamos o banho harmonizador, para que ele “preencha” essas
lacunas.

Existem algumas ervas que são terminantemente proibidas de serem utilizadas como
banho: Comigo-Ninguém-Pode, Pimentas, Urtiga, Certas Aroeiras bravas, entre outras. Não
importa se um guia pedir pra você, não o faça!

Existem dois livros sobre ervas e suas propriedades. O livro Ewé: o uso das plantas na
sociedade Iorubá, de Pierre Fatumbi Verger, que apresenta mais de 400 fórmulas e
receitas de uso para as ervas na cultura Iorubá. Outro livro muito bom é o Rituais com
Ervas: Banhos, Defumações e Benzimentos, do erveiro da Jurema, Adriano Camargo. O
Livro do Verger é mais focado nos cultos de nação e candomblés, o do Adriano Camargo é
muito mais focado na Umbanda, mesmo ele sendo mais focado na vertente de Umbanda
Sagrada, porém os ensinamentos (com certas adaptações) são muito interessantes.

Alguns banho:

o Limpeza, Descarrego: Arruda, Alecrim e Guiné.


o Harmonização: Anis Estrelado, Alecrim e Manjericão.
o Alegria: Manjericão, Alecrim e Levante.
o Mediunidade: Sálvia, Folha de Pitanga, Cipó Caboclo e Casca de Jurema Preta.
o Atração material (amores e prosperidade): Canela, Cravo e Noz- Moscada.
o Purificação: Rosa Branca e Alfazema.
o Perfumar os caminhos: Rosa Branca, Rosa Amarela e Rosa Vermelha.
o Abrir os caminhos: Abre-Caminhos, Quebra-Demanda, Manjericão e Louro.
o Descarrego profundo (só deve ser usado em último caso e em uma emergência):
Fumo de Rolo, Casca de Alho, Casca de Cebola e Espada de São Jorge. Após esse banho
sempre recomendamos tomar um banho de purificação ou de alegria.

As ervas resultantes do preparo do banho podem ser jogadas fora, porém, pela tradição é
dito que o melhor é devolvê-las a natureza. Seja enterrando-as, seja colocando aos pés de
uma árvore. Porém lembre-se de nunca sujar as vias públicas e os rios. O banho de ervas é
algo tão incrível que hoje em dia muitos, mesmo os não praticantes de religiões naturais, o
utilizam, com outro nome, chamado Ofurô ou Jacuzzi, nas clínicas de estética e nos spas.

Acompanhe as outras matérias sobre Magia de Umbanda.

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