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Canclini prossegue frisando que o populismo propiciou aos estratos populares novas
possibilidades de interação em um mundo que se modernizava. Interações com as instituições
do Estado, bem como com demais esferas dominantes/hegemônicas, em um processo que
culminou com parte de seus anseios fossem supridos. Não obstante, Canclini irá elencar três
transformações históricas cujos efeitos fizeram arrefecer essa modalidade de formação
popular, a saber: os processos engendrados pela indústria cultural, incluso aí a elevação dos
custos das campanhas eleitorais, em um reordenamento dos embates e disputas político-
eleitorais a partir dos parâmetros da publicidade; recessões, crises econômicas e alavancada
de uma nova configuração do neoliberalismo capitalista, como observado nos anos 1980,
fatores que se constituem em obstáculos para as práticas populistas baseadas em atender às
demandas populares; o distanciamento das classes populares da política partidária, ao passo
em que se observa o recrudescimento da mediação simbólica feita pelos veículos de imprensa
em lugar dos embates políticos entre movimentos sociais e Estado.
Para o autor, pensar as questões do popular e da popularidade demanda do
investigador um olhar transdisciplinar, trazendo à baila a perspectiva gramsciana da
hegemonia e a teoria da reprodução como direcionamentos teóricos de destaque nesse campo.
Há, no entanto, como bem diz Canclini, o problema de se adequar esses conceitos na seara da
teoria social (CANCLINI, 2003, p. 274), uma vez que, segundo a perspectiva gramsciana, as
culturas populares se reapropriam de suas tradições e experiências nos próprios antagonismos
com os estratos hegemônicos. Por seu turno, a teoria da reprodução observa as culturas
populares como resultantes das apropriações heterogêneas e desiguais de bens simbólicos e
materiais por grupos cultural e socialmente subalternizados.