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Apontamentos de Direito Constitucional e Ciência Política – DC e CP

Ciência Política e Direito Constitucional

Parte I

Nota introdutórias

Sendo a nossa cadeira denominada de “Ciências Políticas e Direito Constitucional”,


nada mais adequado do que iniciar por desenvolver os conceito e o objecto da Ciência
Política, por um lado e do Direito Constitucional, por outro, para se concluir com a sua
apreciação comparativa de ambos. Importa recordar que o homem é, por natureza, um
ser gregário (família patriarcal, clãs, tribos, senhorio, feudal, etc.) e a essa característica
está associada a tendência para a organização e o estabelecimento de normas de
conduta. Essas são formas societárias pré – estaduais.
O Estado é a forma típica (e mais complexa) de organização da sociedade política
moderna. O estado pode ser entendido em duplo sentido: Estado – comunidade
(sociedade de que fazemos parte e onde se exerce um poder para a realização de fins
comuns) e Estado – poder (o poder político manifestando através de órgãos, serviços e
relações de autoridade. Essa dupla perspectiva deve ser vista como uma unidade
fundamentada ou funda em normas jurídicas. Dito de outro modo, o Estado e demais
instituições públicas, tal como os cidadãos, governantes e governados, devem
obediência, estão sujeitos e subordinados ao Direito. o Estado, o poder político, a
autoridade dos governantes não pode ser entendida senão como decorrente de um
conjunto de normas fundamentais de uma constituição. A subordinação do estado ao
Direito é a base do Direito Público e em particular do Direito Constitucional.

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Ciência Política
Como fizemos referência ao “Poder Político” e à “Ciência Política” comecemos por
esclarecer os conceitos de “Poder”, de “Político”, Política, “Facto Político” e de “Poder
Político”.

Poder - a arte de comandar ou dominar a natureza e os homens.


a) Poder do homem sobre a natureza;
b) Poder do homem sobre o homem (a faculdade, a capacidade de alguém ou
alguns imporem a outros um determinado comportamento):
i. Poder paterno ou paternal poder do pai sobre o filho, no interesse
deste último limitado;
ii. Poder despótico ou absoluto, tirânico – poder absoluto do senhor,
no seu interesse exclusivo sobre o escravo;
iii. Poder político – poder do governante sobre os governados através
de instrumentos para exercer a força física;
iv. Poder económico – influência do possuidor de bens escassos
sobre quem não os tem;
v. Poder ideológico – influência de ideias de pessoas revestida de
autoridade.
Destes poderes, o poder político é o que mais influi nos comportamentos sociais.

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POLÍTICO
Para certos autores, Político é sinónimo de Estado, de estadual. Mas nem toda a
actividade desenvolvida no âmbito do estado tem carácter político. Por exemplo, a
actividade jurisdicional – função judicial e mesmo a actividade administrativa não
reconhecida como actividade política. Para outros, o político circunscreve – se ao
domínio da superestrutura jurídico – político do Estado, às relações de poder existentes
numa sociedade, sobretudo ao nível do Parlamento e do Governo – Poder Legislativo e
Poder Executivo, órgãos com poderes de legislar – função legislativa.

É verdade que o Político tende para o estadual, o Estado, mas é mais amplo do que este.
Por exemplo, a actividade dos Partidos Políticos, dos Sindicatos, dos Grupos de
Pressão, etc., são do âmbito político.

O político é, pois, um sistema relações relativas ao poder (poder Político). O poder


político exerce – se fundamentalmente a nível do Estado. É a nível do Parlamento e do
Governo que o exercício do poder político se traduz em directivas obrigatórias para
todas a sociedade (leis)

Política
Acepções ou sentidos do vocábulo Política:

a) Política como gestão (Policy) – busca de opções ou escolhas para resolver um


dado problema: política de ensino, política social, política económica, etc.;
b) Política como estratégia – as escolhas ou opções feitas por certos sujeitos:
“política do Partido A ou do Partido B”, “política do Governo”, etc.;
c) Política como factos específicos do domínio político (Politics) – existência de
factos com certas características que se incluem no universo político: “jogo
político”, “ comentário político”,etc. é este conceito (politics) que delimita o
universo político.
A palavra «Política» tem sido entendida, por alguns, como a técnica que visa “alcançar
melhores resultados com o menor dispêndio de esforços”. E, por outros, como a “arte de
governar”, isto é, “a arte que permite escolher entre dois males o menor”. (Apud
Fernades, 2010, p. 11)

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Política - são as práticas, a luta política; é a acção, movimento, fundamentalmente em


direcção ao poder do Estado, ao poder político; são as decisões soberanas e
coercivamente sancionáveis, de “factos e acontecimentos políticos”.
Sendo que Facto Político é todo o acontecimento ligado à instituição, existência e
exercício do poder político.[ CITATION Man08 \l 2070 ] e está ligado aos seres humanos
nas suas relações inter – individuais e colectivas. Ou no dizer de Marcelo rebelo de
Sousa, “Todo o facto social relacionado com o acesso, a titularidade, o exercício e
controlo do poder político.” Ou ainda “ Tudo o que se pretende directa ou
indirectamente com o poder político”. De notar que alguns autores falam em “fenómeno
político” como sinónimo de “ facto político” ou de factos e acontecimentos políticos”.

Poder Político
O poder político é “uma autoridade de domínio, uma autoridade que impõe obediência a
quantos pertencem à sociedade política, constrangendo – os à observância de normas
jurídicas e quebrando resistências eventuais” ou mais resumidamente, é uma autoridade
de domínio que impõe obediência a todos quantos pertençam à sociedade política.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o Poder Político é um “poder de injunção dotado de
coercibilidade material” ou seja, “um poder de natureza vinculativa marcado pela
susceptibilidade, quer do uso da força física quer da supressão, não resistível, de
recursos vitais” – pressão material.

O poder político é, normalmente, exercido por entidades que são criadas no âmbito do
Estado ou com a sua participação (Autarquias Locais, Organizações Internacionais, etc.)
O poder político poder ser exercido a três níveis:
a) O Poder político estadual: exercido pelo Estado;
b) O Poder político infra – estadual: exercido pelas autarquias Locais;
c) O Poder político supra – estadual – exercida pelas Organizações Internacionais.

O Poder Político é um poder juridicamente enquadrado e regulado (lei e costume) e, ao


mesmo tempo, é criador de regras de Direito, de regras jurídicas através de áreas
especializadas.

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Ciência Política. Definição e objecto

Ciência Política é a ciência do poder, não de todas as formas de poder, apenas do poder
político, mas de todo o poder político em todas as suas formas. É a disciplina que “
estuda os problemas do estado e do poder político na actualidade através da observação
dos factos e da sua explicação racional mediante conceitos.” [CITATION Dio10 \p 33 \l 2070
]. É a disciplina que “estuda o facto político na actualidade através da sua observação e
subsequente conceptualização”[ CITATION Mar78 \l 2070 ] . É a disciplina que estuda,
ordena, sistematiza e dá a conhecer a realidade Política, os fenómenos políticos (aqueles
que propõem uma relação de poder, uma relação entre governante e governados)

Objecto de estudo
A Ciência Política tem por objecto “o estudo do facto político, isto é, todo o facto
social relacionando com o acesso, a titularidade, o exercício e o controlo do poder
político”[CITATION Sou84 \p 1188 \l 2070 ] . A Ciência Política estuda o fenómeno político
em si, as estruturas governativas e as estruturas de participação política, os sistemas de
poder. O objecto da Ciência Política é o poder político, são o Estado e as relações
políticas de poder, é o facto político. O Estado é o objecto de estudo mais importante do
poder político mas não o único. Existe também Poder político em sociedades pré –
estaduais e infra – estaduais, bem como na comunidade Internacional.

Listagem das matérias de Ciência Política

a) UNESCO
Teoria Política; Instituições Políticas; Partidos; Grupos e Associação; Opinião
Pública e Relações Internacionais.
b) APSA (American Political Science Association)
Teoria e Filosofia Políticas; Partidos Políticos; Opinião Pública; Grupos de
Pressão; Poder Legislativo; Direito Constitucional; Direito Administrativo;
Administração Pública; Economia Política; Direito e Relações Internacionais e
Instituições Políticas Comparadas.
c) Universidade Portuguesas

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Teoria Geral do Estado; Eleições e Sistemas Eleitorais; legitimidade e


Legalidade; Formas de Governo; Regimes Políticos; Sistemas de Governo;
Partidos e Sistemas de Partidos e Formas de Estado.

Direito Constitucional
Definição, objecto e características

Direito Constitucional é o ramo de direito público, é a parcela da ordem jurídica que


rege o próprio Estado enquanto ente de poder e enquanto comunidade.
É o conjunto de normas – regras/ disposições e princípios jurídicos – que regulam as
relações no seio da comunidade política (indivíduos e grupos uns com os outros e em
face do Estado - poder), definem a titularidade do poder, os modos de formação da
vontade política, os órgãos do poder político, suas competências e os actos que deles
emanam. É o ramo de Direito (público); o conjunto de princípios e normas que regulam
a própria existência do Estado moderno, na sua estrutura e no seu funcionamento, o
modo de exercício e os limites de sua soberania, seus fins e interesses fundamentais…
(J.H. Meirelles Teixeira)
É o ramo de direito público interno formado pelo conjunto das normas constitucionais
do estatuto jurídico do político (sobretudo formalmente constitucionais), que
estabelecem os princípios políticos e jurídicos da sociedade, regulam material,
processual e formalmente a organização do poder político, consagram e garantem os
direitos e deveres fundamentais dos cidadãos e pessoas jurídicas e definem
positivamente a ordem – quadro, económica, social e cultural.[ CITATION Can03 \l 2070 ]

Objecto
O Direito Constitucional tem por objecto o “ estatuto jurídico do político” , ou seja, o
estudo das normas (regras e princípios) patentes nas Constituições (estudo da ordem
jurídica estadual), do Estado enquanto poder) mas também do Estado – Comunidade
(Direitos dos cidadãos perante o poder/Direitos Fundamentais e Direitos económicos,
sociais e culturais).

O direito Constitucional estuda o conjunto de normas jurídicas que definem:


a) A estrutura, os elementos (povo, território e poder político);
b) Os fins (segurança, justiça e bem – estar económico e social);

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c) E as funções do Estado (política, legislativa, judicial e administrativa);bem como


a organização (económica, social e política);
d) A titularidade (órgãos);
e) O exercício (processo de feitura e execução de leis e o controlo do poder político
(fiscalização da constitucionalidade, tribunais e Provedor de Justiça).
O Direito Constitucional tem por objecto as normas fundamentais do Estado,
isto é, as normas relativas à estrutura do Estado, forma do Governo, modo de
aquisição e exercício do poder, estabelecimento dos seus órgãos, limites de sua
actuação., direitos fundamentais do homem e respectivas garantias e regras
básicas da ordem económica e social.

Capítulos ou áreas do Direito Constitucional

Os capítulos das Constituições e do Direito Constitucional costumam assumir


denominações específicas como, por exemplo:
a) Direito Parlamentar;
b) Direito Eleitoral;
c) Direito Constitucional da economia ou Constituição Económica;
d) Constituição Financeira (e fiscal);
e) Constituição Social;
f) Constituição Cultural;
g) Direito Processual Constitucional, etc.

Características do Direito Constitucional


 Direito Público Interno
É direito coactivo (lei, regulamento, acto administrativo, sentença); O Direito
Constitucional é, antes de mais, Direito Público Interno. Desde logo porque integra com
outros ramos de Direito o denominado Direito Público por oposição ao Direito Privado.
É Direito Interno por oposição ao Direito Internacional. É o Direito que estabelece e dá
unidade à ordem jurídica de um determinado País. No caso presente, a ordem jurídica
Angolana. Como Direito Público, o Direito Constitucional:

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a) Determina a competência dos poderes públicos (na constituição ou por lei


ordinária);
b) Estabelece os princípios constitucionais que balizam a actividade dos
poderes públicos;
c) Estabelece mecanismos de controlo jurisdicional bem como jurisdições e
processos específicos (Tribunal Constitucional, Processos Administrativos).

 Direito Político
As normas constitucionais incidem com destaque sobre o Estado, o político. O Direito
Constitucional é o estatuto do político, o seu estatuto jurídico: estabelece
nomeadamente:
a) Os princípios constitucionais estruturantes (Princípio do estado de Direito,
Princípio Democrático, etc.)
b) A forma e a estrutura do Estado e do Governo;
c) A competência constitucional dos órgãos do poder político e
d) As formas e processos fundamentais da formação da vontade política.

Ramo de Direito Fundamental


 Ramo de Direito Fundamental
O direito constitucional é ramo de direito fundamental
a) As normas de direito constitucional estão sujeitas a uma forma e
procedimentos de aprovação distintos das normas infra – constitucionais.
Emanam de um Poder Constituinte originário ou derivado.
b) As normas constitucionais estão sujeitas a controlo jurisdicional e processos
e jurisdições diferentes dos utilizados nos Tribunais Comuns (Tribunal
Constitucional, Tribunais ou secções Administrativas, Tribunal de Conta).
c) Ocupa uma posição hierárquico – normativa superior em relação aos demais
ramos de direito. isso implica que:
i- Enquanto os demais ramos de direito buscam fundamento na
Constituição, as normas do Direito Constitucional encontra o
fundamento de validade em si próprias (Auto - primazia normativa);
ii- As normas do Direito Constitucional são a fonte de produção jurídica
das outras normas (infra – constitucionais). São normas de normas ou
“normae normarum”, a fonte primária de todo o direito positivo;

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iii- Todos os actos dos poderes públicos devem estar em conformidade


com a Constituição;
iv- O Direito constitucional é um supra ordenamento que confere
unidade a todo o ordenamento jurídico que confere unidade e
estabelece a hierarquia entre as normas. Nenhum ramo do direito é
autónomo em relação ao Direito Constitucional. O Direito
Constitucional é “como um tronco do qual se separam os demais
ramos do Direito” ou “ tronco comum, o começo de todo o Direito”;
v- Qualquer norma que não esteja em conformidade com as normas
constitucionais é inconstitucional.

O objecto da Ciência Política e o objecto do Direito


Constitucional
A realidade política envolve “factos” e “normas”. A Ciência Política tem por objecto o
político, o facto político, a componente fáctica da realidade política. O Direito
Constitucional tem por objecto a componente normativa da realidade política, o estatuto
jurídico do político. A Ciência Política é uma disciplina factual enquanto o Direito
Constitucional, é uma ciência normativa. Existem, no entanto, várias matérias, vários
pontos de contacto, em que ambas interagem no estudo da mesma realidade. É o caso
das Formas de Governo, Sistemas Eleitorais e dos Partidos Políticos, a título
exemplificativo.

O Direito Constitucional
Direito Constitucional – é o conjunto de normas jurídicas que regulam a estrutura do
estado, que designam as suas funções e definem as atribuições e os limites dos órgãos
do poder político. O direito público é o que disciplina e tutela directamente o interesse
púbico, embora indirectamente e, em segundo plano, possa titular interesses
particulares. O direito privado é o que disciplina e tutela fundamentalmente interesses
particulares, embora, em segundo plano, possa igualmente condicionar o interesse
público.

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O Direito Constitucional e Ciências Afins


O Direito Constitucional relaciona – se com outras ciências, algumas constitucionais e
outras não normativas.
A História Constitucional estuda a sucessão das normas constitucionais e das
constituições, o seu lado histórico, para melhor compreender as instituições. [CITATION
Mir \p 25 \l 2070 ]
O Direito Constitucional Comparado estuda, numa perspectiva teórica, as normas
jurídico – constitucionais positivas (mas não necessariamente vigentes) de vários
Estados, destacando as particularidades e os contrastes entre Estados ou grupos de
Estados e concorre para as conclusões do Direito Constitucional Geral (Teoria do
Direito Constitucional) e para o aperfeiçoamento do Direito Constitucional interno ou
particular (Doutrina do Direito Constitucional)[CITATION Sil \p 35 \l 2070 ]
A comparação pode ser simultânea, ou seja, de sistemas que coexistem numa dada
época (sincrónica) ou que pertencem a momentos diferentes num ou mais países
(comparação sucessiva ou diacrónica). É sobretudo um método de trabalho. [CITATION
Mir \p 35 \l 2070 ]
O Direito Processual Constitucional aparece ligado à fiscalização jurisdicional da
constitucionalidade através de Tribunais Constitucionais com processo e regras
específicas[CITATION Mir \p 19 \l 2070 ].
A Política Constitucional visa essencialmente analisar, criticar e apresentar estratégias
relacionadas com a necessidade de mudanças para adaptar a Constituição à rápida
evolução da realidade e conjuntura política, económica, social, cultural, científica,
tecnológica e internacional dos tempos modernos.

Teoria da Constituição, Teoria Geral do Direito


Constitucional ou Direito Constitucional Geral – “estuda os
princípios fundamentais da organização política que se identificam por meio da análise
comparativa das Constituições em vigor. Da comparação entre os direito positivos extrai
– se o que há de comum a todos eles, reunindo – se assim os princípios universalmente
respeitados em matéria constitucional”[CITATION Fil \p 17 \l 2070 ]. Visa fixar conceitos,
categorias e institutos que servem de enquadramento teórico ao estudo do Direito
Constitucional particular. “ É a disciplina que delineia uma série de princípios, de

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conceitos e de instituições que se acham em vários direitos positivos ou em grupos delas


para os classificar e os sistematizar numa visão unitária”.[CITATION Sil \p 36 \l 2070 ]. “É
uma ciência que visa generalizar os princípios teóricos do Direito Constitucional
Particular e, ao mesmo tempo, constatar os pontos de contacto e interdependência do
Direito Constitucional positivo dos Vários Estados que adoptam formas semelhantes de
Governo.[CITATION Sil \p 36 \l 2070 ]
Quando a comparação incida sobre um número relativamente grande de ordenamentos
jurídicos, tendo em vista uma crescente generalização com base em elementos comuns,
O Direito Constitucional Comparado tende a passar a Direito Constitucional Geral ( em
contraste com o Direito Constitucional Particular de cada Estado) e, no limite, pode
chegar a identificar – se com a Teoria Geral do Estado. [CITATION Mir \p 27 \l 2070 ]
Assim, quando fazemos o estudo dos sistemas de fiscalização da constitucionalidade,
em geral, e aí enquadramos o angolano, estamos em sede do Direito Constitucional
Geral, da perspectiva teórica constitucional. Já se estudarmos o sistema de fiscalização
de constitucionalidade no Direito Constitucional angolano, estaremos no âmbito da
dogmática constitucional da Doutrina do Direito Constitucional, do Direito
Constitucional Particular ou ainda do Direito Constitucional Positivo se se quiser
sublinhar a vigência e a eficácia das normas constitucional de um dado Estado. Este
dedica – se apenas, à analise da ordenação constitucional de um Estado concreto. Estuda
apenas a estrutura, fins e funções, a organização, titularidade, exercício e controlo do
poder político nesse mesmo Estado.[CITATION Mar \p 14 \l 2070 ]

“É o que tem por objecto o estudo dos princípios e normas de uma Constituição
concreta, de um Estado determinado… ex.: Direito Constitucional angolano, brasileiro,
francês, inglês, mexicano, etc. de acordo com as respectivas Constituições)” [CITATION Sil
\p 35 \l 2070 ]. Hoje, fala – se também no Direito Constitucional Comunitário Interno ou
de Integração como o conjunto das normas constitucionais que recebem na ordem
interna de um Estado ou estabelecem regras relacionadas com uma organização supra-
estadual regional (ex.: União Africana, SADC, União Europeia, etc.), a par do Direito
Constitucional Comunitário Institucional. Este último consistiria no conjunto de normas
reguladoras da organização, da competência e do funcionamento dos órgãos e das
instituições de determinada organização supra – estadual regional (ex.: o tratado
constitutivo da SADC ou da União Europeia, os correspondentes Estatutos ou
Constituições, a regulamentação sobre a Presidência, o Parlamento, o Conselho de
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Ministro, Tribunal, os parceiros não – estatais, etc.). Num sentido mais alargado, poder
– se – á fixar a distinção ou a dicotomia paralela entre Direito Constitucional Interno e
Direito Constitucional Internacional na perspectiva e hipótese de aceitação da
emergência de um Constitucionalismo Internacional ou Global a par de um
Constitucionalismo Interno ou Nacional.[ CITATION Adé \l 2070 ]
O Direito Constitucional determina o rumo a ser seguido pelo Direito Administrativo,
sendo este um ramo do Direito Público que rege a estrutura e a acção da Administração
Pública (o Poder Executivo). É hoje por vezes difícil traçar com nitidez as fronteiras
entre ambas as disciplinas.
O Direito estatal, o Direito do Estado e o Direito Político são expressões e conceitos
muitas vezes utilizadas como sinónimo.[CITATION Mir \p 14 \l 2070 ] Ao Direito
Constitucional “ chama – se também Direito Político por essas serem normas que
reportam, específica e directamente ao Estado e que constituem o estatuto jurídico do
estado ou do político, que exprimem um particular relacionamento entre e instância
política e instância jurídica das relações humanas”[CITATION Mir \p 14 \l 2070 ] Outras
vezes, visa – se com esse conceito referir o direito do Estado – poder por oposição ao
Estado – comunidade.
Fala – se em Direito Estatal ou Direito do Estado, essencialmente, a propósito do ensino
do Direito constitucional na Alemanha. O Direito do Estado “… estuda o complexo de
normas de direito público respeitante os princípios estruturantes do Estado, à sua
organização e funcionamento e às relações fundamentais entre o Estado e os
Cidadãos”[CITATION Can03 \p 163 \l 2070 ] Estuda igualmente questões de política,
sociologia, história, etc., incluindo normas constantes de diplomas legais como a Lei
eleitoral, a Lei da Nacionalidade, os regimentos parlamentares e Leis sobre a
organização do Governo. O Direito do estado estuda pois as normas materialmente
constitucionais (Direito Constitucional material) e não apenas as normas constitucionais
em sentido formal (Direito constitucional Formal). De igual modo, é sobretudo na
Alemanha que a Teoria do Estado ou Teoria Geral do Estado é ensinada como disciplina
autónoma. A Teoria Geral do estado é uma ciência que tem por objecto “ a unificação do
conhecimento sobre o Estado…” e que fornece ao Direito Constitucional dados sobre
problemas capitais como o do reflexo das ideias políticos sobre o funcionamento dos
sistemas do Governo.[CITATION Fil \p 19 \l 2070 ]
É a disciplina que estuda (cientificamente) o estado numa perspectiva próxima da do
Direito mas não normativas e se ocupa de definir o conceito de Estado, seus elementos,

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formas, fins, funções, órgãos e poderes, bem como a tipologia dos regimes políticos e os
sistemas de governo.[CITATION Mar \p 189 \l 2070 ] Visa o Estado em si, a sua realidade
política e social ou apenas a sua construção jurídica, mas de certo tipo de Estado e não
um Estado, em concreto, para uns autores[CITATION Mir \p 24 \l 2070 ] ou exactamente a “
exposição sistemática de uma ordem jurídica – estatal concreta, a interpretação
ordenada de uma determinada realidade política”, para outros. [ CITATION Adé \l 2070 ]
Mas não é tudo. É comum, por exemplo, fazer – se alusão à distinção entre Direito
Constitucional Material e Direito Constitucional Formal, a qual corresponde a distinção
entre Constituição Material e Constituição Formal a respeito das Constituições Escritas
e, sobretudo rígidas, como já se referiu atrás. Por outro lado, e para além das já
referidas, deve – se assinalar que o Direito Constitucional tem relações com outras
ciências sociais do Direito Constitucional, a Ciência Política, a Sociologia do Direito
Constitucional, a Ciência Política Comparada e História Política Comparada, a História
Constitucional Comparada ou ainda a Economia e a Filosofia.
Destas, importa destacar a Ciência Política cujo estudo se remete para a matéria
correspondente constante da parte inicial dos presentes Apontamentos. Mas não sem
antes se clarificar que a Sociologia Política[CITATION Mar \p 189 \l 2070 ]. É a ciência
social que resulta da aplicação dos métodos próprios da Sociologia ao estudo dos
fenómenos políticos e que a par da Teoria Geral do Estado, constituem a ossatura da
Ciência Política.

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