Você está na página 1de 3

Sabonetes de Glicerina

Luciana Amiralian, Claudia Regina Fernandes


Phisalia Produtos de Beleza Ltda., Osasco SP, Brasil

os syndets são preparados com ten-


soativos sintéticos e apresentam pH
próximo a 7.
Os sabonetes alcalinos podem con-
ter também aditivos que os tornam mais
suaves para a pele, minimizando a sen-
sação de ressecamento. Os aditivos são
materiais que, ao ser incorporados às
formulações, agem como doadores de
propriedades específicas ao produto fi-
nal. As propriedades mais importantes

O
s cuidados com a higiene pessoal a sujeira ambiental, as secreções do corpo são a formação de espuma, a fragrância,
são hábitos muito antigos. Regis- e o agente tensoativo. o pouco desgaste do produto e o não
tros arqueológicos mostram que, Para atender o consumidor, cada vez desenvolvimento de rachaduras neste
na Mesopotâmia, há mais de 6 mil anos, mais exigente e sofisticado, e a cultura durante o uso.
já se sabia da importância da limpeza para globalizada, foram necessárias mudanças
a manutenção da saúde. E no Egito antigo e adaptações no mercado de sabonetes. Propriedades e
já eram feitas misturas à base de cinzas e Essas mudanças originaram categorias Componentes
argila, geralmente perfumadas, para usar específicas de sabonetes para determi- O sabonete tem como principal fun-
como sabão nos banhos diários do faraó e nados usos, como os para bebês, os para ção a limpeza da pele e, para otimizar essa
dos membros de família. pele sensível, os vegetais, os glicerinados função, é necessário escolher corretamen-
No Brasil, esse hábito veio das tribos e os bactericidas. Essas categorias visam te a gordura e os óleos a serem transforma-
indígenas que usavam produtos vegetais, atender a tipos ou classes de consumidores dos em massa-base de sabonete.
como o óleo de andiroba e o extrato de específicos e, com esse objetivo, tornam Entre as gorduras mais utilizadas para
pitanga, em seu banho, produtos que sabonetes ainda mais atrativos por meio a fabricação da massa de sabonete estão
ainda hoje são utilizados na indústria de de formatos diferentes. o sebo bovino e as gorduras vegetais,
higiene pessoal. Esses hábitos permea- Na categoria sabonete em barra há os que possuem composições diferentes,
ram a cultura brasileira e, dentro do seg- sabonetes tradicionais, os glicerinados e produzindo uma misturas de sabões com
os syndets. propriedades distintas.
mento de produtos para banho no Brasil,
Os sabonetes tradicionais e glicerina- Na Tabela 1 estão as características
o consumo de sabonetes em barra ainda
dos são constituídos de sais alcalinos de dos sabões formados pelas principais gor-
é dominante no país.
ácidos graxos com propriedades deter- duras. Na Tabela 2 estão as características
O Brasil ocupa o quarto lugar de venda
gentes, resultantes da saponificação entre dos sabões formados pelos principais
produtos para banho no mundo, e nessa
um produto alcalino com ácidos graxos óleos vegetais.
categoria estão inseridos os diferentes
(sebo bovino ou óleos vegetais, como
tipos de sabonete em barra.
óleo de palma, de babaçu e de coco) e
seus glicerídeos. São formados ainda por Saboentes de Glicerina
Definição e Aplicação agentes tensoativos, fragrância, corantes, Geralmente, os sabonetes de glicerina
A limpeza da pele é necessária para antioxidantes e aditivos. são transparentes ou translúcidos e com-
a higiene e para manter a saúde pessoal. Em sua maioria, os sabonetes tradi- postos de uma base de óleos vegetais ou
Durante esse processo ocorre interação cionais e glicerinados têm pH em torno sebo bovino saponificados, e no processo
entre a superfície da pele (estrato córneo), de 9 a 10, ou seja são alcalinos, enquanto de sua fabricação são utilizados glicerina,
Tabela 1. Características de sabões obtidos a partir de gorduras animais e vegetais

Propriedade Dureza do sabonete


Gordura Tipo de espuma Ação sobre a pele Saponificação
de limpeza sólido
Razoavelmente
Banha Razoavelmente lenta, duradora e espessa Boa Muito moderada Duro
fácil
Espuma rapidamente com muitas bolhas Ação mordente,
Coco Excelente Rápida Extremamente duro
não persistentes enruga a pele
Espuma lentamente com bolhas pequenas
Palma Muito boa Muito moderada Muito fácil Muito duro
e duradouras
Espuma rapidamente com bolhas largas, Ação mordente,
Palmiste Excelente Rápida Extremamente duro
não persistentes enruga a pele
Razoavelmente
Sebo Razoavelmente lenta, duradoura e espessa Boa Muito moderada Muito duro
fácil

Tabela 2. Características de sabões obtidos a partir de óleos vegetais

Propriedade de Dureza do sabonete


Óleo Tipo de espuma Ação sobre a pele Saponificação
limpeza sólido
Oleosa, abundante e com
Algodão Boa Moderada Razoavelmente fácil Macio para duro
durabilidade média
Amêndoas
Oleosa, pequenas e persistentes Regular para boa Bastante moderada Razoavelmente fácil Muito macio
doces
Espuma consistente com bolhas Ação mordente,
Babaçu Excelente Rápida Extremamente duro
largas, não persistentes enruga a pele
Oleosa, com bolhas pequenas e
Canola Regular Moderada Razoavelmente fácil Macio
duradoras
Soja Oleosa, abundante e duradora Regular Moderada Razoavelmente fácil Macio
Gordurosa, com bolhas pequenas
Oliva Regular para boa Muito moderada Razoavelmente fácil Muito macio
e persistentes
Mamona Espessa e duradora Regular Moderada Muito fácil Macio
- a formação de granizo durante o processo de extrusão;
Tabela 3. Exemplo de uma formulação básica de
sabonete de glicerina
- o controle do peso – os sabonetes tendem a perder peso após
a fabricação (estocagem), devido à evaporação de água.
Componente Uso (%)
Massa-base de sabonete qsp 100,0 Conclusão
Água desmineralizada 2,0 O desenvolvimento de um sabonete glicerinado deve ser
Açúcar cristal 5,0 realizado de forma consistente, levando em consideração as
Ácido esteárico 1,0 interações entre seus materiais e verificando sua estabilidade
Trietanolamina 1,1 durante o shelf life. Seu processo de fabricação deve ser estável
Glicerina 4,0 para que o produto mantenha as características de desempenho
Corante qs desejadas pelo público-alvo ao qual se destina.
Fragrância 2,0
Referências
álcool ou solução de sacarose, a fim de obter a transparência do 1. Abihpec. Panorama do Setor 2017. Disponivel em: https://abihpec.
org.br/publicacao/panorama-do-setor-2017. Acesso em: 6/11/2018
produto.
2. Barata E. Cosméticos: arte e ciência. 1. ed., Lidel-Edições Técnicas,
Para a produção de sabonetes utiliza-se a massa-base de Lisboa, 2002
sabonete pronta, que é comercializada por grandes empresas 3. Daltin D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações, 1ª.
produtoras dessa matéria-prima, o que facilita sua fabricação. reimpressão, Editora Edgard Blücher, São Paulo. 2012. Disponível
A formulação básica de sabonete de glicerina está representada em: www.usp.br/massa/2014/qfl2453/pdf/Tensoativos-livrodeDecio-
Daltin-Capitulo1.pdf. Acesso em: 7/11/2018
na Tabela 3.
4. Diez MA, Carvalho GSC. Aditivos para sabonetes em barra. Oxiteno
S/A Indústria e Comércio, São Paulo, 2000
Processo de Fabricação 5. Gomes RK, Gabriel M. Cosmetologia: descomplicando os princípios
ativos, Livraria Médica Paulista – LMP, São Paulo, 2006
Esse processo consiste nas etapas descritas a seguir. 6. Mercadante R, Assumpção L. Massa-base para sabonetes: fabrican-
- Aquecer a água desmineralizada a 90°C, adicionar o açúcar do sabonetes sólidos. Projeto Gerart, 2009. Disponível em: https://
cristal, esperar que este dissolva completamente e adicionar o docplayer.com.br/174055-Massa-base-para-sabonetes-fabricando-
ácido esteárico, deixar fundir e resfriar a solução para a tempe- -sabonetes-solidos.html. Acesso em: 7/11/2018
7. Milet K. Sabonete em barra, o comeback de uma tendência na França.
ratura a 60° C e adicionar a trietanolamina para formar a reação. Brazil Beuaty News, on-line. Disponível em: www.brazilbeautynews.
- Adicionar a gliceri na, homogeneizar durante alguns minu- com/sabonete-em-barra-o-comeback-de-uma-tendencia-na,1817.
tos e manter a solução aquecida a 40° C até o momento de sua Acesso em: 06/11/2018
utilização (solução 1). 8. Moraes L. Sabonetes: inovando no desenvolvimento com tecnologia.
- Passar toda a massa-base (comercial) de sabonete a ser Cosm & Toil Brasil 19(6):62-71, 2007
9. Motta EFRO. Dossiê técnico. Fabricação de produtos de higiene
utilizada na fabricação pelo cilindro do misturador e, a cada 150 pessoal. Redetec Rede de Tecnologia, Rio de Janeiro, 2007
kg de massa, adicionar 24,827 kg da solução preparada anterior- 10. Salager JL, Miñana-Perez M, Pérez-Sánchez M, Ramirez-Gouveia
mente (solução 1). M, Rojas Lab CI. Surfactant-oil-water systems near the affinity in-
- Homogeneizar a massa-base com a solução e adicionar o version - Part III: the two kinds of emulsion inversion, Laboratorio
corante e a fragrância. Deixar esses ingredientes misturando por FIRP, Escuela de Ingenieria Quimica de la Universidad de los Andes,
Mérida, Venezuela
aproximadamente 25 minutos até surgir uma leve transparência. 11. Schlossman ML. The chemistry and manufacture of cosmetics, v.
Nessa operação, a temperatura da massa no misturador não deve 1 – Basic Science, 3. ed., Michael Schlossman, New York, 2000
ultrapassar 40–50º C.
- Em seguida, extrusar e prensar.
A linha de fabricação completa para um sabonete em barra é
composta, basicamente, pelos seguintes equipamentos:
- misturador sigma em aço inox;
- calandra;
- extrusora;
- prensa;
- embaladora.

Carcterísticas do Produto Final No artigo “Técnica de Remoção de Pelos”, publicado na edição


Os sabonetes de glicerina produzem menos espuma que os set/ou 2018, na página 37, “Aspectos Regulatórios”, considerar as
seguintes retificações:
tradicionais e apresentam pH alcalino entre 9 e 10. - O Decreto no. 79094/77 foi revogado pelo Decreto no. 8072/13
No desenvolvimento e no controle de qualidade dos sabo- e os grupos de produtos Depilatórios e Epilatórios passaram a ser
netes de glicerina é interessante avaliar algumas características, regulamentados única e exclusivamente pela RDC no. 7/2015;
- A RDC no. 215/05 também foi revogada, e a lista de substâncias
como:
permitidas nesses produtos, atualmente, consta da RDC no. 3/12;
- a formação da espuma; - Esses produtos são enquadrados como grau de risco 1 (remoção
- a perda de massa; mecânica) e grau 2 (remoção química). Ambos são isentos de registro.
- a formação de rachaduras; Agradecimentos a Artur Gradim, Thais Lima e Mariana Assao, da
Avisa, pelas observações. Pedimos escusas aos leitores.
- a umidade da massa-base;

Você também pode gostar