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Vice-presidente: Bartira Santos Trancoso (PR) Mara Eli de Matos (PR)
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Orientações Gerais
A REVISTA BRASILEIRA DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO, do Conselho Brasileiro para
Superdotação, tem como objetivo veicular artigos e resenhas inéditos na área das Altas
Habilidades/Superdotação e em outros temas que tenham relevância para a mesma área. A revista tem
periodicidade semestral. A Comissão Editorial reserva-se o direito de não publicar artigos referentes a
estudos que foram também submetidos a outros periódicos nacionais ou internacionais, bem como
aqueles encaminhados para livros ou capítulos de livros. O processo de submissão e avaliação de
artigos encaminhados é recebido através do site do CONBRASD. Ao serem submetidos, os trabalhos são
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Para publicação na edição do primeiro semestre, os artigos ou resenhas deverão ser enviados,
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1. A resenha deverá ter cerca de 2000 palavras.
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autor e realizar uma apreciação crítica, referindo sua contribuição para o contexto teórico e prático na
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Sobre a revista...............................................................................................................................2
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Apresentação ............................................................................................................................ 7
Susana Graciela Pérez Barrera Pérez
Editorial ...................................................................................................................................8-9
Mara Regina Nieckel da Costa
Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação: das confusões e outros entreveros ............. 21-30
Susana Graciela Pérez Barrera Pérez; Sheila Torma Rodrigues
Julho de 2013
Dra. Susana Graciela Pérez Barrera Pérez
Presidente do ConBraSD (2013-2014)
Recebido em 10/06/2013 – Aceito em 30/06/2013
descrevem uma pesquisa que investigou o mundo subjetivo das pessoas com AH/SD sobre si
mesmas e a importância deste conhecimento para a qualificação das oportunidades
educacionais a serem oferecidas para este grupo de alunos.
O Programa de Educação Tutorial é apresentado como O Processo De
Identificação de Indicadores de Altas Habilidades/Superdotação em acadêmicos do PET na
UFSM e destaca a importância da igualdade de oportunidades, o direito ao desenvolvimento
de potencialidades e o respeito aos alunos também nos contextos universitários. As vivências
das pesquisadoras Nara Joyce Wellausen Vieira, Taís Marimon Barbieri, Rose Carla Mendes
Oleques e Andressa da Silva Bobsin foram fundamentais para sua produção.
O texto A identificação de alunos para programas especializados na área das
altas habilidades/superdotação: problemas e desafios aborda questões muito pontuais do
atendimento à área, como a complexidade do processo de identificação, o atendimento aos
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alunos com AH/SD e distúrbios de aprendizagem, TDAH e Síndrome de Asperger. Angela
Virgolim provoca também reflexões sobre as singularidades da presença de meninas nos
programas especializados.
Outra contribuição desta edição é o artigo de Marisa Ribeiro de Araujo e Maristela
Lage Alencar A criatividade no ensino de atenção as diferenças: reflexões acerca da
educação de alunos com altas habilidades/superdotação, na qual é ressaltada a
necessidade de propostas e políticas que privilegiem as diferenças e o desenvolvimento do
potencial criativo dos alunos.
Em Filhos com Altas Habilidades/Superdotação: Sentimentos, Dificuldades e
Expectativas dos Pais, Paula Mitsuyo Yamasaki Sakaguti e Maria Augusta Bolsanello
apresentam seu estudo, no qual investigaram quais as percepções familiares na relação com
os filhos com AH/SD, ressaltando a relevância das orientações e da multiplicação de
conhecimentos sobre as características deste grupo no seu contexto.
Fechando esta edição, o artigo de Karina Inês Paludo A Alteridade na Constituição
da identidade da Pessoa com Altas Habilidades/Superdotação discute a importância do
“outro” significativo para a construção da identidade e justifica que relações alteras são
imprescindiveis no processo de construção da identidade da pessoa com AH/SD e na
percepção que tem de si mesma.
Como podemos perceber, a Revista Brasileira de Altas Habilidades/Superdotação
já representa uma fonte valiosa e dinâmica de conteúdo relacionado à temática. Muito nos
satisfaz saber que, em versão online, seremos lidos em qualquer parte do mundo, o que é
mais um motivo de orgulho e de responsabilidade. Sendo assim, esperamos maximizar as
possibilidades de aproximação entre os estudiosos na área, favorecendo a troca e
articulação de esforços científicos para novas conquistas. É a democratização do saber!
Por fim, agradecemos a todos e, em especial, aos membros do Conselho Editorial
que, com sua parceria, poderão atestar, ao longo desta gestão, a divulgação de bons
manuscritos científicos na área das AH/SD!
Boa leitura!
Muitas afirmações deixam-nos em discussão que estou certa que era a intenção
dúvida quanto à definição dos conceitos, dela ao trazer essas ideias para nós.
que ela ia explicando ao vivo enquanto
Por último, esclareço que para não
falava.
perder o caráter de memória desse
Como complemento a esse aperitivo documento, além de transcrevê-lo
que agora entrego, comprometo-me a literalmente, fiz cópias digitalizadas do
produzir um material de esclarecimento, que original, que alterno com a transcrição, para
possa ser publicado futuramente na revista, que vocês possam aproveitar também sua
não só para esclarecer melhor essa forma de meticulosa caligrafia.
pensar, mas também para promover a
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O jornalista Luli Radfahrer, em artigo recente publicado no jornal Folha de São Paulo
com o titulo de “O mundo pacato em que vivíamos”, comenta com muita lucidez: “o atual
mundo conectado surgiu como uma prótese e se transformou em uma infraestrutura, a ponto
de quase só ser percebido quando começa a falhar.” Defini-lo é quase tão difícil quanto
pensar na vida pacata e primitiva que se levava há pouco tempo atrás, quando não havia
uma rede de informações eficiente... No ano 2000 o próprio Google não existia, e não havia
a Wikipédia.
Mas... muita coisa mudou, todos se tornaram mais acelerados e angustiados, a internet
se tornou um organismo vivo e transparente, faz parte da vida de forma tão significativa que
tentar explicá-la demanda um enorme esforço, sabendo que num ambiente digital muita
coisa muda e, ao mesmo tempo, nada se perde.
E tudo mal começou.
Outro artigo da jornalista Marion Strecker, publicado nesse mesmo jornal em 23/092 tinha
como titulo “É complicado ser simples” e escreve que os computadores em geral,vêm com um
monte de fios e peças externas que precisam ser instaladas e conectadas, além de mantidas.
Depois, vêm as dificuldades do uso, o que também acontece com os celulares, as TVs que
estão sempre mudando e com controles diferentes, precisando conviver com várias tomadas
em cada parede. Daí surge a preocupação do mundo tecnológico em melhorar a
usabilidade dos produtos, fazendo com que o controle dos equipamentos seja quase intuitivo,
mas obrigando o usuário a aprender coisas que sabia fazer antes. Conclui: fazer o que já
sabemos fazer, mesmo que seja complicado é, muitas vezes, mais fácil do que fazer o mesmo
de uma maneira nova, ainda que mais simples.
2
23/09/2010, data em que Maria Helena escreveu e apresentou esse texto.
Revista Brasileira de Altas Habilidades/Superdotação, v. 1, n. 1, jan./jun. 2013 p.10-20
CUPERTINO, C. M. B. Maria Helena Novaes e a simplexidade
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Tais artigos ilustram bem a preocupação de todos com a “complexidade” das coisas, a
“complicação” do viver, e a dificuldade da simplicidade.
Sabemos que um “sistema complexo” é, ao mesmo tempo, mais e menos que a soma
de suas partes, devido à ocorrência de comportamentos coletivos, sempre surpreendentes e
até imprevisíveis. Daí o termo “complexidade da complexidade” ligado ao conceito de auto-
organização. Aliás, Proust, o grande escritos Frances, já dizia: “cada átomo da sociedade é,
por sua vez, complexo e, como num jogo de espelhos, traz um mundo inteiro dentro de si”.
Já um “pensamento complexo” é aquele que reconhece a causalidade complexa,
aceita e valoriza o papel do imprevisto e do caos, alem de se pensar pensante.
Para entender melhor um fenômeno complexo é preciso aceitar que entre causa e
efeito possa existir uma constante relação circular. Daí surgir a ideia de que o “simples” é não
mais fundamento de todas as coisas, mas apenas a articulação entre as complexidades
diversas.
Como essa discussão pode durar muito tempo, procurei aqui encontrar um novo
patamar de compreensão dessas diferenças que possam facilitar a adoção de medidas mais
eficazes e duradouras, respeitando as diferenças encontradas nas várias situações, bem
como os limites impostos pelo próprio sistema sociocultural.
Alain Berthoz, membro da Academia de Ciências e professor do Collège de France, co-
diretor do Laboratório de Fisiologia da percepção e da ação, em livro publicado em 2009,
trouxe uma grande contribuição ao propor o conceito de “simplexidade”, em Paris. Para ele,
consiste em nova maneira de levantar e solucionar problemas para se chegar a ações mais
rápidas e eficazes e até, segundo ele, “mais elegantes”.
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Tal conceito consiste num conjunto de soluções encontradas pelos organismos vivos
para que o cérebro possa preparar o “ato”, a “ação”, e projetar suas conseqüências. Está
baseado em princípios de modularidade antecipação, cooperação, redundância, que
levam à inovação e invenção.
Esse processo exige uma demanda do inibir, selecionar, ligar e imaginar para depois
então agir, adotando o “melhor” como parâmetro. Considera sempre a noção do tempo e
permite a mudança rápida do pensar e agir, criatividade maior e tolerância, respeitando os
limites da condição humana e da natureza, usando muito a intuição na busca constante do
novo. Consiste, em síntese, numa maneira de viver mais sutil e adaptativa, que parte da
energia do sujeito para explorar suas possibilidades.
Sem dúvida contrapõe-se ao conceito tradicional de “complexidade” e, sobretudo, ao
da “complicação”, o grande problema de todos eles. O mais importante é que leva à
compreensão de que o complexo é simples, se o dominarmos, como subentende o
paradigma da complexidade de E. Morin, que no seu tetragrama coteja ordem X desordem,
interação X organização, como que prenunciando outros elementos como o caos, a
circularidade das ações e a busca de criativas soluções.
O conceito de simplexidade de Berthoz pode ajudar a pessoa a enfrentar o acaso, o
imprevisto, de modo mais consistente, considerando a prevalência do instante e a dimensão
temporal dos espaços vazios e dos não-lugares, na dimensão espacial e as constantes
transformações que ocorrem no cotidiano do ser humano, diminuindo de forma expressiva a
ansiedade, o estresse, a sensação de estar sempre correndo atrás na constante trepidação
da vida moderna.
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Em suma, contradições e incertezas estão sempre presentes em nossas vidas. Apesar de
mais perplexos e vulneráveis, precisamos encontrar novos caminhos de renovação da
convivência humana, enfrentando o novo e o desconhecido que sempre assusta e nos obriga
a experimentar e inaugurar novas formas de nos adaptarmos a esse nosso mundo.
A própria revolução em marcha no mundo das ciências e da tecnologia prevê uma tal
metamorfose epistemológica, onde se admitirão sistemas irracionais, imprevisíveis e até
caóticos.
O ser humano ameaçado pela massificação, alienação, narcisismo e imediatismo,
sentimentos de ambigüidade constante deseja superar a desordem com o estabelecimento
de novas ordens mais criativas e eficazes. Nesse contexto, talvez o conceito de “simplexidade”
possa ajudá-lo a encontrar ações mais eficazes na busca de uma realização pessoal mais
autêntica e criativa. Como dizia um poeta, “a vida tende a dar certo, nós é que a
complicamos”.
No texto famoso do filósofo, cienasta-ator Charles Chaplin intitulado “Quando me amei
de verdade” destacamos o seguinte trecho:
“quando me amei de verdade deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer
grandes planos. Abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo,
o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é simplicidade. Não
devemos ter medo de confrontos. Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.”
RESUMO
Apesar de somarem mais de 8 milhões de pessoas das quais 2,5 milhões – como mínimo – são alunos
matriculados nas escolas de Educação Básica e Superior, um número infinitamente menor –
aproximadamente 11.000 alunos na Educação Básica – foram registrados no Censo Escolar de 2012
como sendo alunos com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). A dificuldade de identificar essas 21
pessoas vem de longa data e está fundamentalmente atrelada à falta de informações e de formação
dos professores que deveriam atender esses alunos na Educação regular e em sala de recursos
multifuncional e aos mitos e crenças populares que a sociedade foi criando para as Pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação (PAH/SD). Além dessa representação cultural equivocada que temos como
sociedade, ainda existe um problema maior devido à frequente confusão das AH/SD com a
precocidade, a prodigalidade, a genialidade ou o bom desempenho acadêmico e, em um nível
ainda mais grave, devido à confusão com transtornos como o do Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno de Asperger, dentre os mais comuns. Neste artigo, apresenta-se a
fundamentação teórica de cada uma dessas condições e as razões que levam às confusões
mencionadas, com o intuito de contribuir com a identificação dos alunos com AH/SD e
fundamentalmente, com o atendimento educacional especializado ao qual têm direito.
ABSTRACT
Although they are over 8 million people out of which at least 2.5 millions are students attending schools
(from elementary through university), an infinitely smaller number – about 11,000 students in elementary
and high schools– is recorded in the 2012 Educational Census as being highly able/gifted (HA/GT)
students. The difficulty to identify these persons comes from long ago and is essentially linked to the lack
of information and education of teachers and professors who should serve these students both in the
regular classes and resource rooms, and to the myths and popular believes society has created for
Highly Able/Gifted Persons. In addition to this wrong cultural representation, there is also a greater
problem due to the frequent confusion between HA/GT and precociousness, prodigiousness, genius or
good academic achievement, and, even an more serious issue due to confusion with disorders such as
Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) and Asperger’s Disorder, among the most common ones.
This paper presents theoretical backgrounds for each of them and the reasons leading to the
abovementioned confusions, aiming at contributing to the identification of HA/GT students, and
especially to the special educational services they are entitled to.
3
Doutor em Educação (PUCRS), sócia fundadora e Presidente do ConBraSD, membro do Conselho Técnico da
AGAAHSD; membro e delegada de Brasil perante a Ficomundyt e membro do Grupo de Pesquisa CNPq da UNIP
Inteligência e Criação: práticas educativas para Portadores de Altas Habilidades. E-mail: susanapb@terra.com.br
4
Mestranda em Educação (UFSM), especialista em Educação de Bem-dotados (UFLA), professora da Sala de
Integração e Recursos de Altas Habilidades/Superdotação da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre,
membro da Comissão Técnica do ConBraSD, presidente da Associação Gaúcha de Apoio às Altas
Habilidades/Superdotação, membro da Ficomundyt. E-mail: shetorma@gmail.com
prejuízo na vida da criança podem traduzir flexibilidade, têm dificuldades no campo das
muito mais estilos de funcionamento ou relações sociais.
temperamento do que um transtorno
Conforme Moore (2005), as dificuldades
psiquiátrico” e que a avaliação de cada
de função executiva tornam-se evidentes
sintoma não é apenas a verificação da
quando se espera que os estudantes tomem
listagem de sintomas (RHODE; HALPEM, 2004,
conta dos seus pertences, lidem com tarefas
p. S63).
de etapas múltiplas ou façam tarefas em um
Também é importante recordar que há tempo determinado. Muitos têm problemas
PAH/SD que também apresentam o TDAH e, para começar e parar as atividades. Eles não
nesses casos, o diagnóstico é mais difícil de são preguiçosos e descuidados, apenas
fazer porque as características e carecem de habilidades cognitivas de se
comportamentos de AH/SD modificam os automonitorar e pensar de maneira flexível. 26
sintomas do TDAH e vice-versa, razão pela
A Teoria da Mente é a capacidade
qual é extremamente importante a avaliação
mental para interpretar as ações dos outros
por um profissional capacitado para fazer a
e, assim, poder modular as relações e o
identificação das AH/SD e o diagnóstico do
comportamento social. Para Beyer (apud
TDAH ou por uma equipe multidisciplinar que
BAPTISTA, 2002, p.113-125), essa capacidade
inclua ambos os profissionais.
está presente nas crianças a partir dos quatro
anos, quando evidenciam condições de
Da confusão com o Transtorno de Asperger
interpretar as intenções dos demais, tanto
Com a recente difusão dos reais quanto simuladas. O mesmo não se
conhecimentos sobre o Transtorno de verifica em sujeitos que apresentam déficit na
Aspeger (TA), não é raro encontrar pessoas Teoria da Mente, ou seja, aqueles com TGD.
com AH/SD equivocadamente Para Baron-Cohen, Leslie e Frith (apud
diagnosticadas com esse transtorno e vice- TREVARTHEN, 1996, p. 52), o principal fator
versa. dessa desordem é a incapacidade de
Dentro da categoria dos Transtornos atribuir crenças aos outros. A criança não
Globais do Desenvolvimento - TGD, o TA consegue formar uma imagem mental do
afeta, sobretudo, as relações sociais, fator que pode se passar nas mentes de outras
ocasionado pelo déficit na função executiva pessoas e isso deriva de uma deficiência na
e na teoria da mente. hora de pensar sobre seus próprios estados
mentais, assim como sobre os estados
De acordo com Fuster (apud ROTTA, mentais dos demais. A hipótese sobre a teoria
2006, p.375), as funções executivas são da mente normal é de que seja uma
consideradas "um conjunto de funções capacidade cognitiva inata que aparece
responsáveis por iniciar e desenvolver uma primeiramente no segundo ano de vida, o
atividade com objetivo final determinado". qual também é marcado pelo
Conforme Belisário e Cunha (2010), é o que desenvolvimento da capacidade de uma
permite flexibilizar os modelos de conduta criança brincar utilizando símbolos.
adquiridos pela experiência, para a
adaptação às variações nas situações do Embora tenham uma capacidade de
presente, bem como para a possibilidade de memorização destacada, precisam de ajuda
sincronizar as condutas em função das para guardar e acessar informações mais
intenções, considerando aspectos novos de complexas que expliquem fatos ocorridos e
cada momento e situação. Também estão as suas consequências.
implicadas as mesmas capacidades para O mesmo acontece com a leitura
adequar a escolha de assuntos, de palavras, precoce devido à hiperlexia, que é a
de atitudes, bem como para adiar ou deixar habilidade em decodificar um texto muito
de atender a impulsos para obter um fim cedo, mas sem compreensão no mesmo
social, como, por exemplo, ser bem aceito nível. Podem se alfabetizar aos três anos,
ou conquistar a amizade de alguém. As devido ao fascínio pelas letras e números,
crianças com TA, por não apresentarem esta podendo ler um romance desde cedo sem
conseguir entender o que leem.
Revista Brasileira de Altas Habilidades/Superdotação, v. 1, n. 1, jan./jun. 2013 p.21-30
PÉREZ, S. G. P. B.; RODRIGUES, S. T. Das confusões e outros entreveros
vez para falar em uma conversação, ALENCAR, Eunice M. S. de; FLEITH, Denise de S.
enquanto que as crianças com AH/SD podem Superdotados: determinantes, educação e
dominar uma conversação pelo entusiasmo ajustamento. São Paulo: EPU, 2001.
pelas ideias, embora às vezes sejam muito
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.
quietas e tenham que ser incentivadas a falar
Diagnostic and Statistical Manual of Mental
(STRIP; HIRSCH, 2000).
Disorders. Washington, DC: American
Finalmente, Strip e Hirsch (2000) referem Psychiatric Association, 1994.
aspectos relacionados à preocupação com
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DÉFICIT DE
a justiça, também diferenciados nas crianças
ATENÇÃO (ABDA). Sobre TDAH. 2012.
inteligentes e nas crianças com AH/SD. As
Disponível em:
primeiras têm opiniões firmes em relação ao
http://www.abda.org.br/br/sobre-tdah/o-que-
que é justo ou injusto, geralmente 29
e-o-tdah.html. Acesso em: 30 nov., 2012.
relacionadas a situações pessoais e
compreendem o raciocínio relacionado a BAPTISTA, Claudio R.; BOSA, Cleonice. Autismo
isso, enquanto que nas crianças com AH/SD, e educação: Reflexões e propostas de
a preocupação é com a justiça e com a intervenção. Porto Alegre: ArtMed, 2002.
equidade de uma forma mais global, tendo FELDMAN, David H. Child prodigies: A
uma compreensão das sutilezas de questões distinctive form of giftedness. Gifted Child
morais e éticas complexas, defendendo seus Quarterly, Fall 1993.
pontos de vista fervorosamente, focalizando e
discutindo a justiça de uma determinada GARDNER, Howard. Mentes Extraordinárias:
situação. Perfis de 4 pessoas excepcionais e um estudo
sobre o extraordinário em cada um de nós.
Passando a limpo Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
GUENTHER, Zenita C. Desenvolver
Se há algo em que todos os principais
capacidades e talentos: um conceito de
pesquisadores da área (mesmo que tenham
inclusão. Petrópolis: Vozes, 2000.
definições diferentes) - tanto internacionais
(ver, por ex. GAGNÉ, 1991, 1995, 2009; MOORE, S. T. Síndrome de Asperger e a
LANDAU, 2002; MÖNK, 1991; RENZULLI, 1978, escola fundamental: Soluções práticas para
1986, 1999, 2004; STERNBERG, 2003; WINNER, dificuldades acadêmicas e sociais. São
1998) quanto nacionais (por ex.: ALENCAR e Paulo: Associação Mais 1, 2005.
FLEITH, 2001 e 2007; CUPERTINO, 2008; MORELOCK, Martha J.; FELDMAN, David H.
FREITAS, 2006; FREITAS e PÉREZ, 2012; Prodigies, Savants and William Syndrome:
GUENTHER, 2006; PÉREZ, 2004, 2008, 2009; Windows into Talent and Cognition. In: HELLER,
VIRGOLIM, 2007) - concordam é justamente Kurt A. ; MÖNKS,Franz J. ; STERNBERG, Robert
que 1) as AH/SD não são equivalentes à J.; SUBOTNIK , Rena F. International Handbook
capacidade, potencial ou desempenho of Giftedness and Talent, Oxford: Pergamon,
acima da média somente e 2) que as AH/SD 2002.p. 227-242.
não são sinônimo de precocidade,
prodigiosidade nem genialidade e, claro, ROHDE, Luis A.; HALPERN, Ricardo. Transtorno
também não são sinônimos de TDAH e nem de déficit de atenção/hiperatividade
TA. (atualização). Jornal de Pediatria [Rio de
Janeiro], 2004: p. 61-70.
O grande equívoco nas definições e
encaminhamentos resulta da falta de ROTTA, N. T. et. al. Transtornos da
informações e de formação sobre as AH/SD e aprendizagem: abordagem neurobiológica e
isso tem contribuído para considerar as AH/SD multidisciplinar. Porto Alegre: ArtMed, 2006.
uma patologia e até um transtorno SIMONTON, Dean K. Genius and Giftedness:
psiquiátrico e, o que é mais grave, tem sido, Same or Different? In: HELLER, Kurt A. ;
na escola, um dos grandes empecilhos para MÖNKS,Franz J. ; STERNBERG, Robert J.;
garantir o atendimento educacional SUBOTNIK , Rena F. International Handbook of
especializado que é oferta obrigatória. Giftedness and Talent. Oxford: Pergamon,
REFERÊNCIAS 2002. p. 111-122.
RESUMO
ABSTRACT
The discussions about the definition of High Abilities/Giftedness -AH/SD- are broad and are always being
updated, mainly due to the qualification of understanding about people with AH / SD, to better assist
them in their special educational needs. In this sense, this paper aims to highlight and analyze what
students think with AH/SD about what it means or how to understand who are the AH/SD. The methodology
of the study was based on qualitative research (Gil, 2010), from the content analysis (BARDIN, 2011) the
speech of 24 students, who attend three different extracurricular enrichment programs about what they
believe will be AH / SD. The main result was that the students' understanding of AH/SD results from a
combination of different definitions and concepts. Thus, it is shown how important to recognize what
these students think about AH/SD, which helps the organization of the different educational areas
frequented by them to better understand these subjects, thereby targeting the qualification of
educational opportunities, and even, socio emotional, given their special educational needs,
appreciating the uniqueness of each.
5
Mestre em Educação. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: re_kmargo@hotmail.com.
6
Prof.ª Dr.ª Departamento de Educação Especial. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) E-mail:
soraianfreitas@yahoo.com.br.
7
Programas de enriquecimento extraescolar são
espaços educacionais que oferecem atividades
educacionais direcionadas aos estudantes com AH/SD,
proporcionando experiências que geralmente não são
oferecidas na escola comum, que englobam
conteúdos, informações, materiais e metodologias que
contemplam as necessidades educacionais específicas
dos estudantes, bem como exigem profissionais
preparados para a atuação junto desses (GERSON e
CARRACEDO, 2007; SABATELLA e CUPERTINO, 2007).
36
Apesar das perguntas terem sido características que se destacam nas falas
direcionadas, de maneira geral, às AH/SD, dos estudantes, confirmando o que a
todos os estudantes incluíram-se como literatura (CHAGAS e FLEITH, 2010; ALENCAR, e
“parte” da resposta. Ao fazer isso, FLEITH, 2001) já aponta como predicados
demonstraram o seu entendimento sobre a comuns às pessoas com AH/SD.
temática, logo o seu reconhecimento no
Estas características provocam a
âmbito daquilo que diz respeito a sua
reflexão de como essas podem ser
singularidade combinada aos
incentivadas nos diferentes espaços
comportamentos de AH/SD, trazendo as
educacionais que estes estudantes
afirmações no sentido de “é assim que
frequentam. Que sejam instigados a pensar
acontece comigo”, abordando as AH/SD
em projetos, produtos, criações, que possam
como algo pertencente a sua caracterização
estar sendo efetivados na realidade a que
subjetiva, em outras palavras, a algo
pertencem, como propõe Renzulli (2005) e,
particular que os constitui.
especialmente, Armstrong (2001), Fleith (2007)
Elementos de todos os conceitos, e Gardner et al. (2010), através de exemplos
apresentados no Quadro 2, são verificados como: criação de projetos de jardinagem e
nas falas dos estudantes, especialmente horta na escola, círculos de debates para
quanto ao consenso percebido nos diferentes reflexão e propostas sobre os êxitos e
termos estudados, de que as pessoas com dificuldades enfrentadas coletivamente na
AH/SD possuem um potencial superior em escola, elaboração de um jornal informativo
uma ou mais áreas do conhecimento. na escola e/ou grupos/associações a que
possam pertencer.
É recorrente nas falas dos estudantes a
necessidade de mostrar que o fato de Bastante interessante destacar que
apresentarem AH/SD não os deve distanciar alguns estudantes (J, N, R e T) consideraram
das outras pessoas, mas que é algo que faz as suas invenções, atividades e/ou produções
parte deles e proporciona que desenvolvam como as mais criativas, aquelas que, em um
suas atividades de uma maneira diferente da primeiro momento, não parecem ter ligação
maioria. Por vezes, até negam seus com suas áreas de maior interesse. Porém, ao
comportamentos/indicadores de AH/SD, se pensar nos conceitos de habilidade
buscando assim se aproximarem dos outros. acadêmica e produtivo-criativo de Renzulli
O que se sabe sobre isso, é que tais atitudes (2005, 2004), verificou-se que, nesta
dificultam a identificação dos estudantes classificação mais ampla, a referida ligação
com AH/SD, podendo mascarar o seu pode ser identificada.
reconhecimento, impossibilitando que sejam
Os estudos de Renzulli (2005) revelam
dados os devidos encaminhamentos, de
que os comportamentos dos Três Anéis de
acordo com as demandas educacionais e
Superdotação ou as AH/SD podem
sócio emocionais que podem apresentar.
manifestar-se em duas formas essenciais:
O senso ético, a preocupação com o habilidades gerais e habilidades específicas.
meio ambiente, o perfeccionismo, a
As habilidades gerais são aquelas que
facilidade para aprendizagem são as
se aplicam em todos os campos (como, por
Revista Brasileira de Altas Habilidades/Superdotação, v. 1, n. 1, jan./jun. 2013 p.31-39
CAMARGO, R. G.; FREITAS, S. N. Altas Habilidades/Superdotação por Estudantes com Altas Habilidades/Superdotação
Isso se justifica pelo fato de que foram Frente à ideia de uma única inteligência tem
investigados diferentes contextos de surgido repetidamente a noção de que o
intelecto é mais bem explicado a partir de uma
atendimento aos estudantes com AH/SD,
natureza plural. (GARDNER, 2011, p. 69) 9
logo, foi evidenciado que questões
socioculturais de cada espaço, exercem [...] o intelecto10 não é precisamente a reunião
influencia no entendimento e de determinado número de capacidades gerais
– observação, atenção, memória, juízo, etc. –
reconhecimento da inteligência de uma mais sim a soma de muitas capacidades
pessoa que apresenta um diferentes, cada uma das quais em certa
habilidade/potencial elevado e, por isso, medida, independente das outras. (VIGOTSKI,
destaca-se em seu meio social. 2006, p. 108)
áreas do conhecimento, o que também está educacionais frequentados por eles a melhor
presente na referida teoria, em termos de entenderem estes sujeitos, visando assim, a
intelecto humano. qualificação das oportunidades
educacionais, e até mesmo, sócio
Assim, combinando o entendimento
emocionais, atendendo às suas
trazido pelos estudantes com AH/SD com os
necessidades educacionais especiais,
estudos teóricos na área, é possível melhor
apreciando a singularidade de cada um.
reconhecê-los, para, consequentemente,
poder melhor atendê-los nas suas
Referências
necessidades educacionais especiais.
ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S.
Considerações finais
Superdotados: determinantes, educação e
ajustamento. 2ª. ed. São Paulo: EPU, 2001. 38
Conhecer, para melhor reconhecer, é
essencial na constituição da Acessibilidade ARMSTRONG, T. As inteligências múltiplas na
Educacional dos estudantes com AH/SD. sala de aula. Tradução: Maria Adriana
Apesar de que muito dos dados encontrados Veríssimo Veronese. 2ª ed. Porto Alegre:
nas falas dos estudantes desta pesquisa Artmed Editora, 2001.
serem recorrentes na literatura, estes achados
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução:
fazem parte de uma atualização daquilo que
Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro, São Paulo:
auxilia a pensar e sistematizar a identificação
Edições 70, 2011.
das pessoas com AH/SD, bem como da
constituição da sua Acessibilidade BRASIL. Conselho Nacional de Educação.
Educacional, podendo ser retomados para Câmara de Educação Básica. Resolução
reflexão e implementação de estratégias CNE/CEB nº 02 de 11 de Setembro de 2001.
educacionais pertinentes às situações e Diretrizes Nacionais para a Educação
demandas específicas. Especial na Educação Básica. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 14 de set. de 2001.
Destaca-se a relevância destas falas
sem desconsiderar a importância de um CHACON, M. C.; PAULINO, C. E. Reflexões
embasamento teórico definido e no qual se sobre precoces, prodígios, gênios e as altas
acredita nas orientações para atuação. habilidades, com base na neurociência
Acima de perspectivas teóricas observadas, cognitiva. Revista Educação Especial, Santa
está a qualidade do atendimento oferecido Maria, v. 24, n. 40, p. 181-194, maio/ago.
aos estudantes com AH/SD. 2011
Este fato é destacado pelos estudantes, CHAGAS, J. F. Conceituação e fatores
especialmente, na diferenciação entre a individuais, familiares e culturais relacionados
apreciação das AH/SD, por exemplo, nos às altas habilidades. In: ALENCAR, E. M. L. S.;
Programas de Enriquecimento Extraescolar e FLEITH, D. S. (Org.) Desenvolvimento de
na escola. Logo, o reconhecimento em talentos e altas habilidades: orientação a
diferentes contextos trazem implicações para pais e professores. Porto Alegre: Artmed,
a constituição da sua acessibilidade 2007. cap. 1, p. 15- 24.
educacional e inclusão educacional. Porém, GARDNER, H. Estruturas da Mente: A Teoria das
concorda-se com Rangni e Costa (2011, Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes
p.480), quando afirmam que o principal a ser Médicas Sul, 1994.
considerado no estudo das AH/SD é que “[...]
ações educacionais se mantenham fiéis aos ______. Inteligencias múltiples: la teoria em la
sujeitos possuidores de altas práctica. Tradução por María Teresa Melero
habilidades/superdotação, os quais Nogués. 1ª ed. 4ª reim. Buenos Aires: Paidós,
necessitam dos serviços educacionais 2011
especiais”. ______. O nascimento e a Difusão de um
Sendo assim, reconhecer os estudantes “Meme”. In: GARDNER, H. et. al. Inteligências
com AH/SD, a partir de como eles se veem, Múltiplas ao redor do mundo. Tradução:
auxilia a organização dos diferentes espaços Ronaldo Cataldo Costa, Roberto Cataldo
Costa.Porto Alegre: Artmed, 2010. cap. 1, Uma retrospectiva de vinte e cinco anos.
p.16-30. Tradução: Susana Graciela Pérez Barrera
Pérez. Educação, Porto Alegre: RS, n. 1 (52),
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inteligências. 1ª ed. Buenos Aires: Magistério ______. The Three-Ring conception of
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superdotação, e como a desenvolvemos? Villalobos. 10ª ed. São Paulo: Ícone, 2006.
RESUMO
Este artigo tem por objetivo relatar as atividades do processo de identificação dos indicadores de altas
habilidades/superdotação (AH/SD) nos acadêmicos participantes do Programa de Educação Tutorial
(PET) na UFSM. Trabalhamos neste processo com dois suportes teóricos: a concepção de inteligências
múltiplas de Howard Gardner (2000) e a concepção dos três anéis da superdotação, de Joseph Renzulli
(2004 1986). A seleção desta população como alvo do trabalho se justifica pela proximidade dos
objetivos entre o PET e a proposta de atendimento educacional oferecida a estes alunos na educação
básica, intitulada pelo seu autor, Joseph Renzulli (2004), como Programa de Enriquecimento Curricular.
Para estes alunos, o termo inclusão também significa igualdade de oportunidades enfocando,
principalmente o direito de desenvolver suas potencialidades e suplementar seus interesses. A
metodologia utilizada nessa ação esteve alicerçada no paradigma qualitativo, tendo como
procedimento metodológico o estudo de caso. Os procedimentos desenvolvidos foram: entrevistas
semiestruturadas individuais, aplicação de instrumentos padronizados, observação consistente e
persistente dos fenômenos registrados, autoindicação e indicação pelos colegas e discussões de
grupos focais filmadas em vídeo. A complementação do processo de identificação dos indicadores se
deu através do preenchimento de instrumentos padronizados pelos familiares e o professor/tutor destes
acadêmicos. Os dados até aqui apresentados são parciais, pois o procedimento de identificação
adotado necessita de acompanhamento ao longo do tempo para verificação da frequência,
intensidade e consistência com que os indicadores aparecem, porém, foi possível observar que quatro
alunos dos doze participantes da atividade, apresentaram indicadores de altas
habilidades/superdotação. Nesse sentido é importante salientar que não foi necessário propor a
intervenção com este grupo, pois suas necessidades já estão sendo supridas pelo programa, o que
reforça nossa ideia inicial de que o PET é uma boa proposta de atendimento aos alunos com AH/SD na
universidade.
ABSTRACT
This article aims at reporting the activities of the process of recognition the high ability/giftedness
indicators in academics who attend the Tutorial Education Program in UFSM. We have worked in this
11
Este trabalho obteve uma bolsa financiada pelo PROLICEN.
12
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Especial Noturno da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e estagiária do Núcleo de Apoio às Pessoas com Deficiência, Altas Habilidades/Superdotação e Surdez da
UFSM. E-mail: tais.marimon@hotmail.com
13
Graduada em Letras e Especialista em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e
acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Especial Noturno da UFSM. Bolsista PROLICEN/2013. E-mail:
rosecarlaoleques@yahoo.com.br
14
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Especial Noturno da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e estagiária do Núcleo de Apoio às Pessoas com Deficiência, Altas Habilidades/Superdotação e Surdez da
UFSM. E-mail: dessa_bobsin@yahoo.com.br
15
Professora adjunta do Centro de Educação da UFSM e coordenadora do Núcleo de Acessibilidade da UFSM. E-
mail: najoivi@gmail.com
process with two theoretical supports: Howard Gardner’s multiple intelligences conception (2000) and
Joseph Renzulli’s three ring conception of giftedness (2004, 1986).The selection of this population as work
target is justified by the closeness of purposes between the Tutorial Education Program of and the
proposal of educational services offered to these students on basic education, which has been
denominated by its author Joseph Renzulli (2004), as Schoolwide Enrichment Model. The term inclusion
for these students also means equal opportunities, focusing mainly on the right to develop their potential
as well as complementing their interests. The methodology applied in this action has been based on the
qualitative paradigm and had the case study as methodological procedure. The instruments used for
data collection were: single semi-structured interviews, application of standardized instruments,
consistent and tenacious observation of the phenomena recorded, self-indication and indication by
colleagues, and group discussions filmed on video. The complementation of the process of identification
of the indicators was made by the academics parents and their professor/tutor who filled the
standardized instruments. Data presented so far are partial once that the identification procedure 41
adopted requires accompaniment along time in order to verify the frequency, intensity and consistency
with which the indicators appear. Nevertheless, it was possible to observe that four out of twelve students
who took part in the activity have shown indicators of high ability/giftedness. Thus, it is important to
emphasize that it was not necessary to propose the intervention with this group, since their necessities are
already being supplied by the program, reinforcing our early idea that Tutorial Education Program is a
good work proposal for students with AH/SD on the university.
Recebido em 17/06/2013
Aprovado em 05/07/2013
ser crítico, opondo-se à forma de ensino mais trabalho destes futuros profissionais. Assim,
centrado, tornando-se mais independente. participaram desta atividade três alunas do
Curso de Licenciatura em Educação Especial
Com isso o programa
da UFSM, sendo duas estagiárias do Núcleo e
[...] visa realizar, dentro da universidade uma bolsista PROLICEN. O acompanhamento
brasileira, o modelo de indissociabilidade do
ensino, da pesquisa e extensão. Assim, além do
e a orientação da proposta foram de
incentivo à melhoria da graduação, o PET responsabilidade da coordenadora do
pretende estimular a criação de um modelo Núcleo e professora das alunas citadas.
pedagógico para a universidade, de acordo
com os princípios estabelecidos na Constituição Tal experiência consistiu numa
Brasileira e na Lei de Diretrizes e Bases da gratificante ação de ensino, pesquisa e
Educação (LDB) (BRASIL, 2006, p. 7). extensão para as estudantes participantes do
43
Considerando os pressupostos acima estudo, oportunizando sua aprendizagem no
mencionados, optamos por iniciar o processo que se refere ao processo de identificação
de identificação pelos alunos do grupo PET. dos indicadores de AH/SD, assim como
Entendemos, portanto, como justificada a puderam verificar na prática a importância
proposta apresentada, que tem como da proposição de um programa que
objetivo identificar os indicadores de AH/SD promove e potencializa as habilidades e
nos acadêmicos participantes do PET na interesses destacados dos acadêmicos com
UFSM. AH/SD, na busca de otimizar sua formação
profissional e pessoal.
A metodologia utilizada nessa ação
esteve alicerçada no paradigma qualitativo, Para compartilhar essa experiência,
tendo como procedimento metodológico o estruturamos o artigo apresentando
estudo de caso. A coleta dos dados para inicialmente os subsídios teóricos que
identificação dos sujeitos foi feita através de: fundamentaram nosso estudo; segue-se o
apresentação do projeto para o grupo e conhecimento do campo empírico, através
convite para participação; aplicação de do mapeamento dos grupos PETs/UFSM, relato
instrumentos padronizados, dentre eles a do processo de identificação com a
autoindicação e indicação dos colegas; aplicação dos instrumentos de identificação,
observação consistente e persistente dos a realização dos grupos focais, a aplicação
fenômenos registrados e discussões de de técnicas grupais para verificação dos
grupos focais, filmados em vídeo. Como domínios dos sujeitos. Por último, são
afirmam Freitas e Vieira (2011, p. 56) o apresentadas a análise e as conclusões.
processo de identificação desde uma
perspectiva qualitativa é “[...] um processo Referencial Teórico
contínuo, garantido pelo acompanhamento
A segunda grande ação e que
dos sujeitos ao longo do tempo e em
acompanhou todo o processo foi a revisão
diferentes situações do seu cotidiano”. Assim,
da literatura, pois em qualquer programa de
a continuidade do processo de identificação
atendimento às AH/SD o processo de
dos indicadores consistiu no preenchimento
identificação é, sem dúvida, um dos fatores
dos instrumentos padronizados pelos
mais importantes a se considerar. Tem-se
familiares e professor/tutor dos acadêmicos
conhecimento que os procedimentos
participantes do grupo selecionado.
utilizados usualmente para o reconhecimento
Desde 2009, a UFSM possui o Curso de destas pessoas não contemplam a totalidade
Licenciatura em Educação Especial que das suas potencialidades (VIEIRA, 2002,
forma professores na área da educação 2005b). Por um lado, os testes de inteligência
especial, no qual uma das ênfases é a área verificam áreas valorizadas pelo sistema
das AH/SD. Pela caracterização diferenciada acadêmico, e, por outro, não investigam
deste curso, o professor da educação áreas como o destaque no uso do corpo, a
especial não é formado para trabalhar criatividade, as expressões artísticas,
somente em escolas de educação básica, musicais, dentre outras.
ampliando desta forma o mercado de
dois grupos foram priorizados: o PET indígena quatro (4) foram mais citados como
e o PET educação no campo. destacados em seu grupo. São duas (2)
mulheres e dois (2) homens, todos solteiros, do
Procuramos estabelecer contato com o
interior do estado do RS, nenhum filho único e
primeiro grupo selecionado. Foram feitos
com média de idade entre 20 e 22 anos.
alguns contatos telefônicos com sua tutora.
Neles explicamos nosso objetivo e tentamos Os indicadores observados nestes
agendar um encontro para explicar melhor o sujeitos são: perfeccionismo, curiosidade,
que pretendíamos realizar, mas percebemos criatividade, liderança, persistência, senso de
bastante resistência por parte da mesma, humor, autonomia, preferência por desafios.
pois solicitou-nos que retornasse a ligação Como é possível observar, muitos destes
por três vezes e na última justificou sua indicadores são citados por Pérez (2008) e
45
dificuldade em participar do projeto por Delpretto (2009) como comuns em pessoas
excesso de atividade e por entender que o com AH/SD adultas.
grupo era muito visado na universidade e
Nos depoimentos relativos à entrevista,
que esta ação poderia prejudicá-lo ainda
abaixo apresentados, é possível perceber
mais.
que as duas alunas sentiram-se surpresas
Tentamos, então, contato com o com o resultado, porém os dois alunos já o
segundo grupo. A tutora prontamente esperavam. Os quatro estudantes e seus
consentiu em participar e agendou uma familiares percebiam seus comportamentos
reunião com todos os acadêmicos, no dia de diferenciados, porém não entendiam como
reunião do grupo. Nesta oportunidade foi sendo indicadores de AH/SD. Somente depois
apresentado o conceito de altas do processo estas situações adquiriram
habilidades/superdotação trabalhado pela sentido para eles.
equipe e a proposta do projeto. Todos os “Eu não esperava o resultado. Eu... sei lá... tipo...
participantes concordaram em participar da eu me via como um integrante normal... assim.
atividade e assinaram o termo de Eu sempre... eu tenho... eu tinha esta
consentimento livre e assistido. característica, estou percebendo muito mais
agora (...) eu percebi mais na faculdade,
As duas próximas reuniões foram grupos quando eu entrei que eu era mais líder da turma.
focais com o tema da escolha deste PET e (...)” (M.J., sexo F., 20 anos).
sua vida escolar pregressa. As reuniões foram “Eu não tinha pensado... Hãm... (...) mas tem
filmadas e transcritas. Na terceira reunião outras coisas que eu assim realmente não
alunos e tutora preencheram a Lista de esperava de me destacar em relação ao grupo.
Algumas características eu não me identifico,
Verificação de Identificação de Indicadores tipo criatividade que foi apontada que eu acho
de AH/SD – Área Corporal-Cinestésica (FREITAS que não” (L., Sexo F., 22 anos).
e PÉREZ, 2012). O resultado desta verificação “Massa... Eu achei interessante participar deste
foi a indicação de cinco alunos (três pelo projeto... não tenho muito o que dizer, sabe, mas
grupo e dois pela tutora) que possuem eu achei legal e é interessante saber se o cara
habilidades destacadas na área corporal- tem, pode ter a possibilidade de ter AH. ... a
cinestésica e indicadores AH/SD. Nesta parte da criatividade... eu sempre, todo mundo
fala pra mim que sou bastante criativo e tal... ”
reunião entregamos o Questionário para (A., sexo M, 21 anos).
Identificação de Indicadores de AH/SD em
“Foi bem tranquilo pra mim, assim. Na verdade
Adultos (FREITAS e PÉREZ, 2012) e solicitamos eu não tinha muita expectativa, assim, sabe...
que nos fosse trazido preenchido no próximo pra mim era uma coisa normal. Eu não esperava
encontro. Tal procedimento tinha a intenção muita coisa. Eu já sabia um pouco assim (das
de verificar o comprometimento com a tarefa características apontadas), teve um indicativo
destes acadêmicos. Todos trouxeram a ficha forte de... de... bah agora esqueci o nome...
de... perfeccionismo. (...) Às vezes eu me sinto
preenchida, menos uma aluna que faltou ao um pouco diferente assim, mas nunca me
encontro. passou pela cabeça que poderia ser alguma
habilidade” (G., sexo M, 22 anos).
Após realizarmos o levantamento do
formulário de indicação dos colegas e da Tal situação pode ser entendida pela
tutora, verificamos que dentre os 12 alunos, dificuldade que as pessoas do sexo feminino
demonstram em perceber-se com “Sempre fui uma das alunas mais quietas da
comportamentos indicadores de AH/SD. escola até a faculdade. (...) na metade da
faculdade comecei a interagir um pouco mais
Como refere Pérez e Freitas (2012, p. 679) com os outros, com os professores e até emitir
À mulher são associadas “virtudes” e mais opinião, antes eu tinha minha opinião mas
“qualidades” vinculadas à sensibilidade, à era muito quieta por ser muito tímida. Aqui não
intuição, à dependência, à solidariedade, à eu já conseguia discutir alguma(...) (L., Sexo F.,
compreensão, enquanto que o homem 22 anos).
manifesta sua masculinidade mediante atributos “[...] eu sempre fui aquela pessoa comportada,
como a fortaleza, a independência, a serena, nunca fiz bagunça nem nada (...) eu não
autonomia, a autoconfiança, a coragem, a sou aquela super inteligente, nunca fui aquela
tomada de decisões, a responsabilidade, dentre de fazer mil perguntas, eu não... nunca fui
outros. aquela de estudar, nunca... até hoje assim não
A característica deste grupo e em estudo muito, eu estudo o necessário, mas na 46
escola eu não estudava e passava, não sei
especial das duas alunas é ser oriunda de como, mas passava” (M.J., Sexo F, 20 anos).
municípios do interior do estado e quase
todos pertencentes a famílias que subsistem A entrada na faculdade foi um ponto
do meio agropecuário. Assim, ainda é importante para todos e como referem dois
comum nesta cultura a mulher ser preparada dos alunos: “Na universidade foi um marco
para as atividades domésticas e o homem na minha vida. totalmente... quebrou, é M. J.
para o provento da casa e da família. Neste antes e M. J. depois.(...). (M.J. Sexo F., 20
sentido, há uma valorização das atividades anos)” e “Ah eu acho que a mais prazerosa
masculinas em detrimento das femininas, o foi quando eu passei no vestibular” (G. Sexo
que explica esta situação de desvalorização M., 22 anos)”. Da mesma forma, a
dos potenciais femininos e reforça que o participação no PET permite que
pensamento exposto pelas autoras ainda desenvolvam projetos vinculados a suas
está presente em muitas famílias. áreas de estudo e interesse, apesar de um
dos participantes fazer uma avaliação
Chama atenção, também, a sensação importante do trabalho:
de estranhamento causada pela
“[...] eu acho que agora também é um momento
identificação destas características com a difícil porque a gente não conseguiu ainda
verbalização de não ser “normal”. Esta é uma emplacar o nosso trabalho. (...) é uma coisa
das características que faz com que o adulto muito nova esse trabalho com a população rural
com AH/SD mascare seus potenciais para e também inserir a educação física dentro da
não parecer diferente do grupo. Outro ponto área da saúde. Trabalhar com essa saúde mais
clinica... é um desafio grande, eu acho” (G.,
que chama atenção é a questão da Sexo M., 20 anos).
criatividade. Somente um dos participantes
se reconhece como criativo e nas Neste depoimento aparece com
contribuições dos demais clareza sua preocupação com a evolução
de uma proposta desafiante, mas que
Em relação às vivências escolares foi mesmo assim eles não desistem,
possível perceber pelos depoimentos dos evidenciando o comprometimento com a
estudantes alguns dos indicadores tarefa que caracteriza os sujeitos com altas
mencionados na literatura, tais como: habilidades/ superdotação.
facilidade na aprendizagem, apesar de
serem quietos e de estudarem pouco; Em relação ao que pensam sobre o
precocidade na leitura. atendimento às pessoas com AH/SD na
universidade é possível afirmar que todos
“[...] é obvio que eu estudava, mas eu tinha
facilidade em pegar o conteúdo... eu só
desconheciam o assunto e a primeira atitude
prestava atenção na aula e já ia super bem na que tomariam é aprofundar o estudo sobre a
maioria das provas... o mais curioso era em área e “[...] depois conhecer a pessoa e
matemática... eu nunca estudei matemática, eu através dela e de repente ver alguma forma
olhava para as fórmulas... tem gente que precisa de poder ajuda-la seja dentro do serviço,
fazer toda a conta para conseguir estudar..eu só
olhava para o papel e deu assim...eu nunca tive dentro da escola”. (L., Sexo F., 22 anos).
dificuldade para estudar nesse sentido” (L., Sexo Todos destacaram a importância de informar
F., 22 anos). à pessoa sobre suas características especiais,
Angela Virgolim18
RESUMO
A forma com que entendemos e conceituamos o fenômeno da superdotação tem grande impacto nos
serviços e oportunidades que oferecemos às nossas crianças e jovens com altas
habilidades/superdotação. A identificação de pessoas com alto potencial perpassa discussões 50
conceptuais do que entendemos como superdotação, potencial e desempenho, de como
caracterizamos os talentos e em quais grupos esperamos ver desabrochar comportamentos de
superdotação. O objetivo deste artigo é apontar algumas dimensões do complexo processo de
identificação deste grupo de crianças e jovens em uma perspectiva inclusiva, discutindo aspectos
como a necessidade de um atendimento educacional especializado, os propósitos da identificação, a
utilização de testes psicométricos e outras medidas e a diferenciação entre potencial e produção. A
identificação de grupos especiais, como os superdotados com distúrbios de aprendizagem, com
transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, com Síndrome de Asperger e ainda a identificação de
meninas para os programas especializados são também apontados e discutidos à luz das modernas
teorias sobre a superdotação.
ABSTRACT
The way we understand and conceptualize the phenomenon of giftedness has great impact on services
and opportunities that we offer to young people and children with high abilities / giftedness. The
identification of people with high potential pervades conceptual discussions of what we understand for
giftedness, potential and performance, how we characterize talents and in which groups we expect to
see blooming gifted behaviors. The purpose of this article is to point out some aspects of the complex
process of identification of this group of children and young people in an inclusive perspective,
discussing issues such as the need for specialized education, the purposes of identification, the use of
psychometric tests and other measures and the differentiation between potential and production. The
identification of special groups, such as gifted with learning disabilities, attention deficit / hyperactivity
disorder, Asperger Syndrome and identifying girls for specialized programs are also reported and
discussed in the light of modern theories of giftedness.
18
Doutora em Educational Psychology, pela University of Connecticut, Professora do Departamento de Psicologia
Escolar e do Desenvolvimento – PED do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. E-mail:
angela.virgolim@gmail.com
não-ser superdotado, o que leva a uma 2000). Renzulli e Reis (1997) assinalam que o
desnecessária rotulação de alunos e aluno capaz de produzir comportamentos de
dicotomização do termo (DAVIS, 2006) e de superdotação são os que já possuem ou são
se concentrar mais esforços na formulação capazes de vir a desenvolver (por meio de
de programas específicos para atender as oportunidades educacionais variadas)
necessidades dos jovens com maior habilidades acima da média, criatividade e
potencial entre os diferentes extratos comprometimento com a tarefa. Sternberg
socioeconômicos e culturais. (1993) afirma que, “para ser rotulada como
superdotada, a pessoa deve ter potencial
Propósitos da identificação para o trabalho produtivo em algum domínio.
Pessoas sem este potencial, não importa o
Quais seriam então os propósitos da quão excelentes são em algum aspecto ou
identificação? Alguns pontos essenciais são quão raro este aspecto seja, não são 54
salientados por diversos pesquisadores da rotuladas como superdotadas” (p. 187).
área de atas habilidades/superdotação e
serão discutidos a seguir. Embora esta diferenciação seja crucial,
vemos que a distinção entre desempenho e
1. Localização de potenciais. A potencialidade tem se perdido nas últimas
principal meta da identificação de alunos definições adotadas pelo Ministério da
superdotados é a localização de potenciais Educação – por exemplo, na Resolução nº
que não estão sendo suficientemente 02, de 11 de setembro de 2001, da Câmara
desenvolvidos ou desafiados pelo ensino de Educação Básica do Conselho Nacional
regular; se estes alunos não são identificados, de Educação, que estabelece:
o mais provável é que não desenvolvam seus
Art. 5º Consideram-se educandos com
interesses e habilidades neste contexto necessidades educacionais especiais os que,
(ALENCAR, 2012; HANY, 1993, JOHNSEN, 2009; durante o processo educacional, apresentarem:
PFEIFFER, 2008; ROBINSON, 2002). III - altas habilidades/superdotação, grande
No Brasil, a conceituação de altas facilidade de aprendizagem que os leve a
dominar rapidamente conceitos, procedimentos
habilidades/superdotação constante no e atitudes. (BRASIL, 2001, p. 70)
documento elaborado pelo Grupo de
Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº Focalizando ainda na questão do
555 (BRASIL, 2008) sinaliza a questão do potencial, Gubbins (2005) lembra que o
potencial: desenvolvimento do talento se dá em três
estágios: o estágio manifesto, o emergente e
Alunos com altas habilidades/superdotação
demonstram potencial elevado em qualquer o latente. Para algumas pessoas estes
uma das seguintes áreas, isoladas ou talentos aparecem de maneira óbvia. É o
combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, caso da criança pré-escolar precoce que já
psicomotricidade e artes, além de apresentar lê e entende textos de maior complexidade,
grande criatividade, envolvimento na
aprendizagem e realização de tarefas em áreas
ou que manifesta grandes habilidades para
de seu interesse. (p.9, grifo nosso) resolver problemas em matemática ou para
criar músicas originais. No entanto, outras
O conceito de “notável desempenho crianças podem apresentar habilidades ou
e/ou elevada potencialidade” em aspectos talentos em estágios iniciais de emergência,
isolados ou combinados das diversas áreas precisando então de atenção especial e
do conhecimento humano, enfatizado pela encorajamento para que possa atingir
política de Educação Especial traçada em plenamente os requisitos necessários para a
1971 pelo MEC,corresponde ao que ainda é emergência destas capacidades. E ainda há
hoje defendido nos Estados Unidos e alguns aqueles talentos e capacidades que podem
países da Europa em termos de educação estar em estágio latente devido aos níveis de
dos superdotados (DELOU, 2007). Ou seja, desenvolvimento ou pela falta de
uma criança com alto potencial pode ainda experiências e da devida exposição aos
não estar mostrando suas habilidades de domínios.
forma plena, mas para tal necessita ser
descoberta e estimulada (GALLAGHER; Assim, o potencial não se concretiza
GALLAGHER, 1994; FELDHUSEN; JARWAN, sem reconhecimento e suporte. Silverman
(2013) acredita que “habilidades invisíveis” – A literatura tem ainda demonstrado que
ou seja, aquelas que ficam enterradas, de a superdotação, por si só, não garante
forma completamente inconscientes tanto sucesso educacional ou produtividade
para o indivíduo que as possui, quanto para criativa; e que são as condições
o mundo que o rodeia – se não forem relacionadas ao ambiente familiar e escolar,
nutridas, podem nunca florescer em forma de assim como as relações com os colegas, os
realização. A falta de incentivo, de maiores determinantes do desempenho
experiências de aprendizagem ou de vida acadêmico do superdotado, seja em
enriquecedoras, a falta de reconhecimento direção das suas reais possibilidades, ou em
das capacidades e potencialidades de uma direção ao sub-rendimento e fracasso
criança, poderão, por sua vez, concorrer escolar (KARNES; JOHNSON, 1991; RIMM,
para o desuso destas habilidades e sua 1991). Renzulli (1986) argumenta que talvez
consequente estagnação (GALBRAITH; sejam a persistência em atingir um resultado 55
DELISLE, 1996). ou ideal, a autoconfiança e a vontade de
realizar alguma coisa, que verdadeiramente
Richert (1997) comenta sobre os vários
façam da criança um adulto produtivo.
tipos de confusões sobre o propósito da
identificação e mitos recorrentes na área. Um 2. O conceito de superdotação. Outro
destes mitos estabelece que apenas alunos importante ponto indicado na literatura sobre
com traços manifestos de altas habilidades a identificação de alunos com altas
devam ser selecionados; e que estes traços habilidades/superdotação para programas
podem predizer a superdotação na idade especiais é que os indicadores e instrumentos
adulta. Vários autores têm rebatido este de medidas usados para a identificação
equívoco, na medida em que entendem devem refletir o conceito de superdotação
que: adotado, os tipos de talentos ou habilidades
a serem identificados, e os conteúdos e
(a) a superdotação surge ou
objetivos propostos pelo programa
desaparece em diferentes épocas e sob
(CALLAHAN, 2009; HANY, 1993; GALLAGHER;
diferentes circunstâncias da vida de uma
GALLAGHER, 1994; PFEIFFER, 2008; RENZULLI;
pessoa; assim, os comportamentos de
REIS, 1997; SILVERMAN, 2013). Callahan (2009)
superdotação podem ser exibidos em certas
assinala que as diferentes concepções de
crianças (mas não em todas elas) em alguns
superdotação no campo da educação
momentos (não em todos os momentos) e sob
costumam focalizar dois diferentes conceitos
certas circunstâncias (e não em todas as
em sua base: potencial e produção.
circunstâncias de sua vida) (RENZULLI; REIS,
1997); Na concepção de superdotação como
potencial, a criança é vista como possuidora
(b) a inteligência não é apenas plural;
de qualidades e capacidades latentes que
ela está relacionada ao contexto em que a
supostamente a levarão a obter sucesso na
pessoa vive e trabalha e distribuída entre
escola e na vida. A identificação neste tipo
vários recursos além do indivíduo (GARDNER;
de abordagem utiliza metodologias diversas
KORNHABER; WAKE (1998);
e medidas de aptidão que possam predizer o
(c) o ambiente inicial da criança – lar, desempenho futuro. Já na concepção de
escola e comunidade – tem uma superdotação como produção, o foco se dá
importância fundamental no na produção atual e manifesta da criança e
desenvolvimento de suas habilidades na sua capacidade atual de demonstrar
intelectuais posteriores (GALLAGHER, 1997); habilidades superiores em uma área do
(d) um currículo inadequado, conhecimento. A identificação neste tipo de
educadores não-suportivos, dificuldades abordagem utiliza testes padronizados de
sócioemocionais, pressão dos pares e um inteligência e medidas do desempenho
inadequado estilo parental de educação escolar (CALLAHAN, 2009).
têm a força de extinguir o potencial para a Gallagher e Gallagher (1994) apontam
alta realização das crianças e adolescentes que a indecisão sobre o uso destes dois
superdotados (COLANGELO; DAVIS, 1997).
ou tópico com maior profundidade sob a materiais e meios mais relevantes para a
supervisão de um professor na sala de expressão daquelas habilidades que
recursos. Deve ser explicado tanto aos pais apresentam de forma mais acentuada, em
quanto para o próprio aluno, durante a detrimento de suas áreas fracas ou menos
entrevista de admissão deste ao programa, desenvolvidas (VIRGOLIM, 2007b).
que o aluno poderá continuar a frequentar a
A grande crítica que se faz aos testes
sala de recursos até que seu projeto seja
psicométricos criados nas primeiras décadas
completado; depois deste tempo ele pode
do século XX é que estes se centram
ou não continuar no atendimento,
primariamente na linguagem e na
dependendo basicamente de duas
matemática, abarcando apenas a
condições: (a) de continuar demonstrando
inteligência acadêmica e deixando de fora
alto nível de envolvimento e criatividade para
outras capacidades humanas fundamentais 57
continuar a desenvolver pesquisas mais
para a resolução de problemas. Desta forma,
avançadas na área de interesse; (b) da
estes testes penalizam aquelas crianças que
avaliação da equipe diagnóstica e dos
pensam de forma criativa ou imaginativa, ou
professores envolvidos, que deve apontar
que tendem a demorar-se analisando com
para a continuidade dos ganhos para o
profundidade uma questão. As perguntas nos
aluno de sua permanência no programa.
testes de QI, além de serem apresentadas
fora do contexto, enfatizam mais a memória
A identificação por meio de testes
e a lembrança de fatos, em detrimento do
psicométricos e outras medidas
pensamento de ordem superior e das
Uma postura largamente adotada pelos habilidades de solução de problemas que
modernos especialistas na área (por poderão ser úteis ao indivíduo no mercado
exemplo, BERNAL, 2009; GARDNER; de trabalho (GARDNER; KORNHABER; WAKE,
KORNHABER; WAKE, 1998; RENZULLI; REIS, 2000; 1998). Mesmo assim, a aferição do QI está
STERNBERG, 1996), é que os testes de entre as principais preocupações de pais e
inteligência (QI) podem prever razoavelmente leigos quando buscam por serviços
o êxito acadêmico do aluno; contudo, estão educacionais na área da superdotação
longe de serem as únicas medidas possíveis (JOHNSEN, 2009).
para esta tarefa. Existem várias outras No entanto, Borland (1986) argumenta
habilidades cognitivas exigidas para que um que os testes de QI são uma valiosa fonte de
indivíduo seja bem-sucedido no mundo informação no que diz respeito às decisões
escolar e do trabalho, que não apenas que envolvem os alunos em programas para
aquelas habilidades medidas nos testes de QI superdotados – por exemplo, para a
(JOHNSEN, 2009). identificação de alunos sub-realizadores
Noções já ultrapassadas enfatizavam (underachievers), que possuem alto potencial
que sair-se bem em um teste de inteligência acadêmico, mas que por problemas
era sinal de inteligência. As modernas teorias motivacionais, emocionais ou de
de inteligência preconizam hoje que a aprendizagem não apresentam bom
inteligência pode ser melhor percebida pela desempenho escolar. Este autor reflete que o
observação das pessoas funcionando nos problema com os testes de QI não reside no
seus ambientes cotidianos, e pela instrumento, mas sim no seu uso inapropriado
competência no desempenho de tarefas que e abusivo. Assim, Borland sugere: a) evitar a
estimulam o intelecto dentro da cultura de utilização isolada dos testes de QI para o
cada um e em seu ambiente real (GARDNER; diagnóstico ou entrada do aluno no
KORNHABER; WAKE, 1998). A forma mais programa e utilizá-los sempre associados a
efetiva de se medir a inteligência deve outras fontes de informação; b) combinar
contemplar a utilização de vários tipos de dados advindos de várias fontes (como
medidas, como escalas de comportamento, escalas de comportamento) para se obter
observação, análise de produtos e de uma visão mais ampla das várias habilidades
desempenho em tarefas reais, em adição a dos alunos em áreas diversas; c) reconhecer
tradicionais testes lápis-e-papel. Desta forma, que os testes de QI são sensíveis às
deve-se permitir aos alunos que usem os diferenças étnicas, linguísticas e
e Toy (2009) recomendam que as pessoas ideias, fascinações e atividades. Por outro
que cercam as crianças e jovens com dupla lado, podem apresentar talentos
excepcionalidade, especialmente extraordinários que necessitam apoio e
professores e coordenadores da área de desenvolvimento a fim de levarem vidas mais
Educação Especial, se familiarizem bem com produtivas.
as características da pessoa com altas
As meninas superdotadas - As meninas
habilidades/ superdotação e criem situações
são outro grupo negligenciado na
onde as pessoas com deficiências ou
identificação dos superdotados. Tanto no
dificuldades possam mostrar suas habilidades
Brasil quanto na América do Norte e em
e talentos. Eles também recomendam que
países da Europa, o fenômeno se repete:
seja utilizada uma abordagem
meninas são menos indicadas para os
multidimensional na identificação de alunos
programas especiais do que os meninos 60
com dupla excepcionalidade, utilizando-se
(VAN-TASSEL BASKA, 1998). A educação
de testes formais de inteligência e de
feminina tem recebido uma baixa prioridade
aptidão, da nomeação por professores ou
no decorrer da história, onde o papel de
pais e plena observação do aluno em seu
mãe, subserviente ao homem, com a escolha
ambiente de aprendizagem, de forma a
por carreiras ditas “mais femininas” (como a
facilitar uma visão equilibrada e holística das
área da saúde e da pedagogia) limitou as
habilidades deste grupo.
oportunidades educacionais e profissionais
O superdotado com síndrome de para este grupo. Estereótipos com relação ao
Asperger - Nesta mesma linha de papel sexual predominante na cultura
pensamento, também crianças brilhantes ocidental e espelhados nos meios de
com Síndrome de Asperger podem se comunicação e livros-textos tendem a
beneficiar de uma educação especial apresentar a mulher como mais adequada
quando bem direcionada por mentores, para determinadas funções e profissões e
como advoga Temple Grandin (2009). Aos apontar determinadas atividades como mais
três anos, Grandin apresentava todos os apropriadas para o sexo feminino (ALENCAR;
sintomas de autismo, como ausência de fala VIRGOLIM, 2001). Muitas meninas têm sido
e de contato pelo olhar, ataques de birra e histórica e sistematicamente desencorajadas
agressividade e brincadeira solitária. por seus pares, pela família e pela escola a
Contudo, ela se formou em Psicologia e fez usar seus talentos de forma produtiva, sendo
mestrado e doutorado em Zoologia pela sutilmente ensinadas a evitar as áreas de
Universidade de Illinois. Hoje ministra cursos ciência e tecnologia (DAVIS; RIMM, 1994).
na Universidade Estadual do Colorado a
Segundo Phelps (2009), ainda hoje,
respeito de comportamento de rebanhos e
expectativas culturais e sociais que inculcam
projetos de instalação, além de prestar
valores, crenças e comportamentos,
consultoria para a indústria pecuária em
continuam a limitar a realização acadêmica
manejo, instalações e cuidado de animais.
e colocar barreiras no desenvolvimento do
Ela comenta sobre a grande ênfase que as
talento para as meninas que, por sua vez,
escolas colocam nas deficiências, e a falta
escondem suas habilidades usando uma
de ênfase nas áreas fortes, como por
variedade de estratégias de defesa. Também
exemplo, nos padrões de pensamento viso-
são relatados diferenças de gênero nas
espacial ou auditivo que estas pessoas
escolas, onde professores chamam mais os
podem apresentar; e fortemente recomenda
meninos do que as meninas para
estratégias a serem utilizadas com ajuda de
responderem a questões, reforçam mais
mentores para o desenvolvimento deste
prontamente os meninos por seus
grupo. Lovecky (2005) aponta que crianças
comportamentos assertivos do que as
com Síndrome de Asperger apresentam
meninas, avaliando mais os trabalhos dos
muitas dificuldades na área de comunicação
meninos por sua criatividade e das meninas
e de habilidades sociais; embora possam se
pela organização, e fornecendo mais do seu
interessar por outras crianças, geralmente
tempo e orientação para os meninos em
têm dificuldade em fazer amizades. O que
resolução de problemas, mas dando a
realmente importa a eles são suas próprias
resposta correta para as meninas. À medida
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RESUMO 67
O Brasil tem se destacado, na última década, pela vanguarda acerca dos projetos inclusivos. A atual
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva se difere das demais, ao
assegurar a educação a todos os alunos em escolas comuns com a devida complementação do
ensino especial. Todavia, o atendimento destinado aos alunos com altas habilidades/superdotação tem
encontrado inúmeras barreiras. Dentre elas, a presença de mitos e crenças de que esses alunos,
apesar de comporem o público alvo da Educação Especial, não necessitam de atendimento
especializado. Nesse cenário, o presente artigo expõe algumas contribuições da literatura sobre o
tema, ressaltando a necessidade de se elaborar propostas e políticas de ações que substituam a
homogeneidade e a uniformidade presentes nas práticas escolares, privilegiando, nesses contextos, a
diferença e o desenvolvimento do potencial criativo dos alunos. Concluímos enfatizando que,
alicerçados na perspectiva da educação inclusiva, diversas estratégias didáticas e mediações
pedagógicas propostas aos alunos com altas habilidades/superdotação poderão impulsionar as
transformações necessárias à construção de uma escola de qualidade para todos.
Palavras-chave: Altas Habilidades/Superdotação. Inclusão. Criatividade.
ABSTRACT
Brazil has excelled, in the last decade, by forefront about inclusive projects. The current National Policy
on Special Education in the Perspective of Inclusive Education differs from the others, to ensure the
education to all students in ordinary schools with the complementation necessary of special education.
However, the service for students with high abilities/gifted has found numerous barriers. Among them, the
myths and beliefs of that these students, despite compose the target audience of Special Education, do
not require specialized complementary educational service. In this scenario, this paper presents some
contributions of the literature about the subject. Emphasizing the need to develop proposals and policies
of actions to replace the homogeneity and uniformity present school practices, focusing, in these
contexts, the difference and the development of the creative potential of students. We conclude by
emphasizing that, grounded in the perspective of inclusive education, various teaching strategies and
pedagogical mediations offered to students with high abilities / giftedness may drive the changes
necessary to build a high-quality education for all.
20
Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2000). Especialista em Psicopedagogia
Clínica e institucional pela Universidade Estadual do Ceará – UECE (2005). Mestre e Doutoranda em Educação
Brasileira pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2011). Professora da Sala de Recurso Multifuncional – SRM, da
Prefeitura Municipal de Fortaleza. Endereço profissional: Universidade Federal do Ceará. E-mail:
marisa.rdearaujo@yahoo.com.br.
21
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (1980). Doutora em Educação e Psicologia pela
Universidade Minho (2000). Professora Adjunto IV da Universidade Federal do Ceará/ Faculdade de Educação. E-
mail: lagealencar@secrel.com.
Recursos Multifuncionais (SRM)23 deve ser submetida este alunado na escola regular
compreendida, como uma das atribuições advém da escassa oferta de serviços
desse profissional. Silveira e Figueiredo (2010, educacionais que permitam a identificação
p.20) coadunam com essa perspectiva, ao e atendimento, aliados à falta de formação
ressaltar a importância do desenvolvimento adequada de professores. Acreditamos que
de uma cultura colaborativa, nas instituições o desconhecimento e o predomínio de
escolares. Destarte, afirmam: “[...] quando inúmeros mitos acerca das necessidades e
funcionam, as culturas colaborativas características dos alunos com altas
contribuem para transformar o aprendizado habilidades/superdotação poderão ser
individual em coletivo”. superados por meio de experiências que
priorizem a formação continuada dos
O Atendimento Educacional Especializado professores, possibilitando a ampliação da
para alunos com altas compreensão sobre o tema. Ourofino e 71
habilidades/superdotação no Brasil Guimarães (2007, p.51) advertem que,
O paradigma da inclusão representa igualdade
Não obstante as garantias legais para o de oportunidades e se concretiza nas ações dos
Atendimento Educacional Especializado aos movimentos inclusivos. Estes movimentos
alunos com altas habilidades/superdotação, centrados na diversidade deverão promover,
a existência de antigos mitos e preconceitos também, o acesso aos programas especiais a
alunos com altas habilidades/superdotação. O
tem constituído significativos obstáculos para indivíduo superdotado requer um
a assistência educacional adequada ao seu acompanhamento especializado que contribua
perfil de necessidades. Nesse cenário, a para o desenvolvimento de suas habilidades,
população, e também profissionais da para o fortalecimento de suas características
Educação, ainda acreditam que produtivas e que o incentive a valorizar sua
sensibilidade, criatividade e aprendizagem em
investimentos nessa área são desnecessários, busca de uma vida mais produtiva e feliz.
sobretudo, quando se ressalta a demanda
relativa ao atendimento de alunos com Portanto, ao ampliarmos as discussões
deficiências ou transtornos globais do acerca das características e necessidades
desenvolvimento. dos alunos com altas
habilidades/superdotação, favoreceremos a
Pérez e Freitas (2009), ao realizarem implementação de ações destinadas a esses
uma pesquisa sobre o estado do educandos. Nessa direção, a criatividade -
conhecimento na área de altas ao ser valorizada e estimulada no contexto
habilidades/superdotação, nas últimas escolar, e sendo compreendida como um
décadas no Brasil, evidenciam que os mitos traço marcante nesses indivíduos - poderá
existentes em torno desses alunos - dentre contribuir, significativamente, para que suas
eles, ideias de que altas habilidades possam emergir e se desenvolver
habilidades/superdotação constituem um de forma harmoniosa.
fenômeno raro - comprometem a
compreensão e, até mesmo, a produção Criatividade: algumas considerações acerca
científica na área. Citam as estatísticas do conceito
oficiais oriundas dos censos escolares,
demonstrando haver um reduzido número de O tema criatividade é caracterizado
alunos com essas características por sua complexidade e, a despeito das
efetivamente atendidos. inúmeras definições presentes na literatura
Pérez (2004) demonstra dentre outros, especializada, Wechsler (2001) elucida a
que a invisibilidade a qual tem sido presença de certo consenso entre os atuais
estudiosos no que se refere à compreensão
23
“As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços desse conceito como fenômeno
localizados nas escolas de educação básica, onde se multidimensional, a exemplo das discussões
realiza o Atendimento Educacional Especializado - AEE. em torno da inteligência. Conforme revisão
Essas salas são organizadas com mobiliários, materiais de literatura, a criatividade tem sido
didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e
equipamentos específicos para o atendimento aos
estudada sob distintas linhas de pesquisas,
alunos público alvo da Educação Especial, em turno sendo a ênfase dada em alguns trabalhos a
contrário à escolarização”. (ROPOLI et al., 2010, p. 31).
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Editora Loyola, 2011.
RESUMO
O presente trabalho investigou os sentimentos, dificuldades e expectativas dos pais em relação aos
filhos com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). Foram entrevistados doze pais (dois pais e dez
mães), cujos filhos frequentavam a Sala de Recursos para Altas Habilidades/Superdotação de uma 78
escola pública da cidade de Curitiba, Paraná. Após análise qualitativa dos dados, observou que os
pais: (a) expressam sentimentos de insegurança, medo, angústia, preocupação frente à educação e
ao futuro de suas crianças, em contraponto com sentimentos de privilégio, felicidade e orgulho. A
desmotivação pela escola, o desajustamento social e o sub-rendimento escolar são algumas das
situações apresentadas pelos pais, nas quais refletem sua ansiedade e preocupação em relação aos
filhos com AH/SD; (b) esperam que seus filhos façam as escolhas a partir do potencial que possuem, que
sejam felizes, “normais”, desfrutem de políticas públicas que valorizem as AH/SD; (c) relatam suas
dificuldades em lidar: com o desenvolvimento sócio-emocional dos filhos; com a discrepância entre o
alto potencial dos filhos e o desenvolvimento motor; com o sub-rendimento escolar; com a curiosidade
dos filhos que fazem muitos questionamentos e nem sempre conseguem responder; a solidão de não
poderem compartilhar com outros pais suas angústias e dúvidas. Conclui pela relevância de se apoiar
os pais e a família por meio de informações e orientações; equipar os pais com subsídios teóricos para
poderem lutar por seus filhos, multiplicando o conhecimento e modificando o que a sociedade pensa
a respeito das pessoas com AH/SD.
ABSTRACT
The research investigated feelings, difficulties and expectations of highly able/gifted (HA/GT) children
parents. Twelve parents whose children attended a High Ability/giftedness resource room at a public
school based at Curitiba, Paraná, Brazil, were interviewed (two fathers and ten mothers). After a data
qualitative analysis, it was observed that parents: (a) expressed feelings of unsureness, fear, anguish,
concern as to their children education and future, as a counterpart of feelings of privilege, happiness
and proud. Lack of motivation in school, social unfitness and school underachievement are some of the
situations presented by parents, which make them anxious and concerned about their HA/GT children;
(b) expect their children to make choices based on their potential, to be happy, “normal”, to enjoy
public policies valorizing HA/GT; (c) report their difficulties in dealing with their children’s social-emotional
development; discrepancy between high potential and motor development; school underachievement;
curiosity of their children who make a lot of questions, which they not always manage to answer; and
loneness, because they cannot share their anguishes and doubts with other parents. The study shows the
relevance of supporting parents and the family of HA/GT children, providing information and guidelines;
equipping parents with theoretical background in order they could fight for their children, multiplying
knowledge and modifying society’s thoughts about HA/GT people.
Keywords: family; high abilities/giftedness; special education.
24
Mestre em Educação (UFPR); Professora da Sala de Recursos de Altas Habilidades/Superdotação do Instituto de
Educação de Curitiba, PR. E-mail: paulasakaguti@uol.com.br
25
Doutora em Psicologia, Professora da Faculdade de Educação da UFPR. E-mail: mabolsanello@yahoo.com.br
Metodologia
QUADRO 1: Perfil dos pais quanto à idade, sexo, estado civil, escolaridade e profissão/ocupação
tem dezoito anos e daí a gente não se dá caracteriza-se pela “discrepância entre o
muito bem nesta parte”. Comenta que é desempenho escolar do superdotado e
diferente de sua prima com a mesma idade, manifestações de seu alto potencial”. As
mais carinhosa e obediente. Revela sua autoras descrevem as pesquisas realizadas
dificuldade em lidar com a adultez da filha, por Reis sobre o baixo rendimento escolar
que apresenta desenvolvimento intelectual dos alunos com AH/SD, que indicam:
avançado e atitudes desafiadoras, (a) o início de um desempenho aquém do
comparadas à prima da mesma idade, o potencial do aluno começa nas séries iniciais do
que acaba afetando a dinâmica familiar. ensino fundamental, (b) uma relação direta
Pode-se observar que o impacto da parece existir entre conteúdo muito fácil ou
inadequado e baixo rendimento escolar na
diferença pode estar associado a um modelo segunda etapa do ensino fundamental e ensino
internalizado pelos pais de um filho ideal médio, (c) o auxílio de colegas próximos pode
(MANNONI, 1988). ajudar na prevenção e reversão desse tipo de
83
desempenho, (d) adolescentes que estão
Pesquisas realizadas por Solow (1995) envolvidos em atividades extracurriculares são
indicam que essa adultez é uma das menos propensos a apresentar um baixo
características que pais observam em seus rendimento escolar, e (e) alunos podem
filhos superdotados. Persuadidos pelo forte apresentar um baixo desempenho acadêmico
em função de um currículo escolar inapropriado
vocabulário, habilidosa argumentação e ou desmotivador (ALENCAR; FLEITH, 2001, p.108-
articulação de ideias, por vezes os pais 109).
podem apresentar dificuldades em lidar com
Escribano (2003) mostra que o fracasso
seus filhos que, emocionalmente, são apenas
escolar dos alunos com AH/SD representa um
crianças ou adolescentes.
desafio complexo tanto para professores
Outra dificuldade apresentada é o quanto para pais. A atmosfera familiar, os
sub-rendimento escolar aliado ao sentimento conflitos entre pais e filhos, a falta de coesão
de impotência como mãe, relatado por e distanciamento emocional entre os
Cristina: membros da família são características
“Até hoje tenho dificuldade em encarar isso. Ele familiares que ocorrem frequentemente em
continua indo mal na escola e eu não sei como famílias de alunos com baixo rendimento
ajudar” (Cristina). escolar que haviam sido identificados como
O depoimento de Cristina denota alunos superdotados.
impotência e frustração frente à condição do A ansiedade dos participantes pode
filho. Extremiana (2000) descreve a frustração estar relacionada com o assincronismo que,
de muitos pais ao verem que seus filhos segundo Extremiana (2000), refere-se à
apresentam um rendimento escolar manifestação de comportamentos próprios
insatisfatório, mesmo com elevado potencial. de indivíduos com idade superior à sua em
Soma-se o relato de Luciana, que às vezes atividades intelectuais, mas tendem a se
“não entende algumas reações do filho, comportar social e emocionalmente, de
coisas pequenas pra gente”, referindo-se a acordo com a sua idade, o que afeta suas
algumas tensões familiares vividas por ela. respostas no relacionamento interpessoal
As características apresentadas pelos assim como no âmbito de aprendizagem.
filhos de Luciana, Cristina, Silvia como o É o que Hollingworth descreveu sobre as
inconformismo, o sub-rendimento crianças que sofriam de isolamento social,
acadêmico, a supersensibilidade, dentre pois tinham o intelecto de um adulto e as
outros, são para Alencar e Fleith (2001), emoções de uma criança (WINNER, 1998).
situações vivenciadas pela criança com
AH/SD que acabam afetando suas relações Esta dificuldade em lidar com as
interpessoais. O inconformismo é uma das discrepâncias que ocorrem entre o
características afetivas apresentadas por desenvolvimento intelectual e emocional dos
algumas pessoas com AH/SD, ao questionar filhos superdotados, bem como às
regras e autoridades. O sub-rendimento capacidades motoras é, para Landau (2002),
escolar, investigado por Davis e Rimm, um problema comumente apontado pelos
descrito por Alencar e Fleith (2001, p. 108), pais de crianças superdotadas.
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Recebido em 15/06/2013
Aprovado em 05/07/2013
26
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. E-mail: karina_paludo@hotmail.com.
o “eu” não existe por si só e nem a partir da como este pensa e age. Portanto, se torna
contemplação do “outro”. Versa sobre uma humano na ótica da alteridade.
relação dialética, marcada em essência
Diante do explanado, reitera-se a
pela reciprocidade, por meio do trânsito de
importância das relações alteras para uma
sentidos, no qual o outro propicia e demarca
formação saudável da identidade da pessoa
o eu, e ambos se confirmam (TUNES,
com AH/S. De acordo com Virgolim (2007), a
BARTHOLO, 2004). Nesse contexto, pode-se
família exerce uma função preponderante
inferir que a pessoa não é a oportunidade
sobre a maneira como o sujeito superdotado
primeira do Ser, antes a sua sensibilidade à
se percebe.
alteridade.
Ainda que a pessoa com AH/S goste de
A influência da alteridade faz repensar
si e aceite sua identidade, se as respostas
e valorizar os espaços de relacionamento, 89
direcionadas a ela se derem ora positiva ora
como família, escola, instituições, etc. Para
negativa, ou pior, sempre negativa,
Lévinas (2009), a alteridade implica
possivelmente terá uma autoimagem
responsabilidade, isto quer dizer que cada
depreciativa. Porquanto na medida em que
ser tem compromisso pelo “outro”, contudo,
a pessoa se desenvolve, vai incorporar as
frequentemente não se têm as necessidades
informações que recebe do meio,
afetivas atendidas porque os indivíduos não
culminando em algo seu.
compreendem o impacto, as marcas, que
ocasionam um no outro, o que pode ser uma Bahia (2011) chama a atenção para o
justificativa para o caos nas relações fato de que sub-rendimento de alunos com
humanas. Assim, é necessário que o AH/S pode ter como base práticas familiares.
potencial de produção de sentidos que a Nesse sentido, Alencar (2007) elucida que
rede de apoio social (família, escola, etc.) baixas expectativas, excessiva pressão e
abarca seja usada para o profícuo atitudes contraditórias, podem ser o germe
desenvolvimento do ser. de sentimentos de insegurança e
incompreensão, afetando seu
A alteridade permite, em
desenvolvimento.
contraposição, o conhecimento de si mesmo,
na medida em que se tem no outro as Para além da família, acredita-se que
necessidades retratadas. Assim, sem as todos os ambientes que compõem a rede de
relações seria impossível a permanência da apoio social (escola, comunidade, etc.) têm
espécie, não devido ao não suprimento de papel importante para a formação saudável
necessidades essenciais de subsistência, mas da pessoa com AH/S, de maneira que ela
porque não se reconheceria como humano, possa compreender seu potencial e se
e o que disso procede: a humanidade (LOOS; aceitar como pessoa singular e especial.
SANT’ANA; NÚÑEZ-RODRÍGUEZ, 2010). Desse Reitera-se, deste modo, a necessidade
modo, as figuras significativas para o sujeito das relações qualitativas desde a mais tenra
(mãe, pai, irmão, professor, etc.) ocupam, idade da pessoa. Assim, faz-se essencial um
sem dúvida, um espaço particular, pois contexto marcado por relações humanas
atuam no sentido de confirmar o ser como positivas, para conservação e valorização do
sujeito, outorgando-lhe seu valor como “eu”. Contexto marcado pela inexistência de
pessoa. O “outro” é imprescindível para o ameaças ou situações que impeçam o
desenvolvimento das dimensões que sujeito de desenvolver um autoconceito
unificam o ser (cognitiva, emocional e social). positivo, um ambiente no qual a pessoa se
A constituição do ser humano implica sinta amada, aceita e respeitada, onde
sua relação com família, escola, ideias e atitudes são apreciadas
comunidade, contextos que permeiam positivamente.
valores e ideologias presentificadas na
cultura. O “outro” é fundamental nesse Método
processo, afinal, a percepção do “eu
mesmo”, quem sou, o que sente, pensa e O método adotado para
como agir, perpassa a percepção do outro, desenvolvimento da presente pesquisa foi o
“Bem, é bom. Porque sinto que eles querem algo “Um episódio muito prazeroso foi quando fiz, no
a mais de mim e sabem que eu posso ano passado, minha festa de aniversário em
conseguir.” (Júpiter) casa e foram seis pessoas do colégio. Senti que
eu podia fazer amigos.” (Miguel)
É por meio das respostas do “outro” que
a pessoa (re) elabora a percepção de “si O “outro” é crucial na construção das
mesmo” (quem é, o que se sente, quais crenças sobre o “si mesmo”. Contudo, não se
atributos possui, como pensa e como age). A aceita o assujeitamento e inércia do
alteridade tem função moduladora, pois atua desenvolvente no processo. A constituição
diretamente na (re) construção da psicológica não pode ser entendida como
autopercepção do ser, como pode ser causa direta e decidida estritamente pelo
observado nas falas seguintes, as quais ambiente externo, o que desconsidera o
apresentam indicadores da mudança e da processo de autorregulação e seu constante
validação das crenças do sujeito: movimento e transformação nas interações 91
do sujeito. O “outro” não pode ser visto como
“Foi uma época da minha vida que pensava em
me suicidar, principalmente por não conseguir elemento suficiente, pois, se assim fosse,
ter amigos. Ultimamente minha vida tem ignorar-se-ia a capacidade autogeradora da
melhorado bastante, acredito que pela vontade mente humana e a complexa e dialética
de estudar e agora meu pai tem motivo para se relação entre o ser e o “outro”, o interno e o
orgulhar de mim... Porque dizia “mas, teu irmão
já fez muito mais coisas para eu me orgulhar”.
externo (GONZALEZ-REY, 2004; MARTINEZ,
Agora acho que posso fazer que ele tenha 2004; SOUZA, 2004; PALUDO, 2012).
orgulho de mim.” (Miguel)
Ao encontro do explanado,
“Em matemática quero o máximo porque gosto Bronfenbrenner (1996; 2011) enfatiza a
e para ser admirado por minha mãe. Isso é bom pessoa como um ser ativo e dinâmico, que
porque a mãe dos meus amigos não tá nem aí.”
(Patati) reestrutura, constitui e é constituída dentro do
contexto social. O desenvolvimento humano
“Minha mãe sempre acreditou em mim, mesmo
antes de ter o documento dizendo que sou
deve ser visto como dialético, vivenciando
superdotado. Ela falava você é capaz, você interações assinaladas por reciprocidade.
consegue. E daí sentia que era mesmo capaz. É
isso.”(Patati)
O ser não é um mero resultado passivo
das relações que vivencia. É, antes, produto
“Sou bagunceiro, daí os caras dizem que sou e produtor, cada sujeito dentro de uma
burro. Mas daí chega na aula de matemática
sou um dos primeiros a resolver. Daí começava a relação influencia a maneira como o “outro”
tirar da cara das pessoas que achavam que sou se porta e responde. Por ser um movimento
burro. Os caras dizem o que é isso - de natureza dialética, acredita-se que as
superdotado?! Queria ser como você. Os caras características encontradas no sujeito com
dizem que queriam ter a habilidade que eu
tenho. O que as pessoas falam faz a diferença.
AH/S, influenciam as respostas das pessoas
Eu tô mal humorado e o cara fala isso, daí já fico que convivem junto dele. Dito isso, as
feliz. Se fala mal, fico bravo com a pessoa, mas respostas das pessoas próximas ao sujeito
não acho que sou o que ele falou.” (Patati) com AH/S afetam a constituição das crenças
Por meio da interação eu-outro a que o superdotado constrói sobre si.
pessoa se avalia, (re)estrutura e (re)significa o De acordo com Siqueira (2006), as
que pensa sobre si mesmo, provocando a diferentes formações dos microssistemas
reorganização do sistema de crenças culminam na rede de apoio social, tão
autorreferenciadas. Nesse sentido, o olhar do importantes para o desenvolvimento da
outro se reveste de grande importância na pessoa, atuando no sentido de reforçar e
construção do self, repercutindo na fortalecer a eficácia pessoal. Isso foi
identidade do sujeito: constatado na presente pesquisa na medida
“Sim e é muito importante [sentir-se aceito pela em que se pode apreender das falas dos
família]. Isso me torna melhor, uma pessoa adolescentes a importância que atribuem à
melhor, mais confiante, não tão agressivo.” família e a escola.
(Matheus)
“Tudo o que quebrava minha vó colocava a
Diante do explanado, infere-se sobre a
culpa em mim e por isso até hoje sou destrutivo.” necessidade da alteridade para uma
(Jon) profícua constituição da pessoa, porquanto