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MÍNko DO O�ÍENTE
,
,.
:
Livros
Horizonte
C,A..MiHHO
DOOAiEHTE
do a c t u a l Beco dos To u c i n h e i ros - h i pó t e s e m a i s p l a u s íve l . Q u a n t o à
com a Estrada de Marv i l a , e d a í C a l ça d a do D u q u e de Lafõe s , a o u t ra
desc i a u m a p e q u e n a azi n h aga e m l i ga ç ã o entre a R u a do G r i l o e a
d i recção ao r i o , d e q u e as E s t r a d a de Marvi l a , s e r i a
Escad i n h as d e D. Gastão são uma i n i c i a l m e nte a v i a d e a c e s s o a o
tén u e r e m i n i s cên c i a . A l i á s , esta C o n v e nto d e S ã o B e n t o d e X a b r e g a s ,
ú l t i m a az i n h a g a parece ser o e i x o f l e c t i n d o p e l a p e q u e n a C a l ça d a d o
i n i c i a l m e nte e s t r u t u r a n t e da z o n a o l i va l , t u d o m a i s ta r d i a m ente
o r i g i n a l do G r i l o , d i v i d i n d o e n t r e s i a l terado e m s i m u l t â n e o c o m as
a s d u a s p r i n c i pa i s p r o p r i e d a d e s g r a n d e s obras r e a l izadas p e l o s
d e s t a p arte s u l da zo n a : a d e A n t ã o d u q u e s d e Lafõ e s . C i t e - s e , a i n d a o
de o l i v e i ra , d e p o i s Le i t e d e S o u s a , e p e q u e n o B e c o do G r i l o , d e l i m i t a n d o
o refe r i d o Penedo c i t a d o p e l a a s u l os t e rr e n os d a M a n u t e n ç ã o
c o n d e s s a d e Atoug u i a , M i l i t a r - o utrora a c e r c a das G r i l a s
D . F i l i p a , i n t e grado d e p o i s n o - e hoje sem saída, possível
conj unto d o s s e n h ores d a s I l h a s rem i n i s cên c i a d e o utra azi n h a g a
D e s e rt a s . Só com a p o s t e r i o r entre p r o p r i e d a d e s . O q u e p o d e m o s
a b e r t u r a da C a l ç a d a d o G r i l o , m a i s c o n c l u i r e n t r e t a n t a s i n c ó g n itas é
am p l a e desafogada, é q u e esta q u e a p a r t i r de m e ados do s éc u l o
estre ita azin h a g a s e t o r n o u o b s o l e t a , X V I toda esta zona conhece u m a
n ã o d e i x ando e s s e f a c t o d e profunda a l teração, q u e r na s u a
contr i b u i r para u m a m a i o r e s t r u t ura v i á r i a fun c i o n a l , q u e r n a
d i f i c u l d a d e d e l e i t ura da orgân i ca p r o p r i e d a d e , ass i s t i n d o à i n s t a l ação
de t o d a a zo n a . progres s i va de fam í l i a s da nobreza
A d a t a d e f i n i t iva da a b e r t u r a da i m ed i atam ente l i gada à corte.
C a l ç a d a d o G r i l o co n s t i t u i m a i s o utra A abertura a o l on g o d a praia da
i n có g n it a . No e n tanto , n o t e - s e q u e o actual Rua d e Xabregas, pro l o n gada
l i m ite s ul do Convento do G r i l o a o depo i s p e l a C a l çada d e D. G astão
l o n g o d a cal çada, erg u i d o e m e Rua do G r i l o , bem c o m o as v i a s
meados do século XVI I , obedece já p a r a o i n t e r i o r - c a l çadas d o
ao s e u traçado l ev e m e n t e o b l í q u o , G r i l o , do D u q u e d e Lafões e d o
p o d e n d o ass i m p e n s a r - s e q u e a obra O l i v a l - , v i eram d e fi n i r a orgâ n i ca
da n ova v i a púb l i ca que l i gava a de toda a á r e a , a i n d a h o j e
zona r i b e i r i n h a do G r i l o à I l h a d o i n a l terada, pontuada por a l g u m as
G r i l o e à Estrada d e Marv i l a s e r á const ruções m a i s s i gn i fi c ativas
Em cima: Escadinhas d� D. Gastão, antiga via pública de ligação à
a n t e r i o r a essa d a t a , o u , p e l o m e n o s , zona da Ilha do Grilo. que de s e g u i d a i re m o s con h e cer
Em baixo: muros antigos de caminhos publicas na zona de con
s i m u l t â n e a , o q u e tal vez s e j a a fluência de vias ainda hoje chamada a Ilha do Grilo. com m a i s deta l h e.
45
A Z O N A 00 G RILO N A C AR T A DE FILI PE
F O LQ U E ( 1 8 5 6- 5 8 ) .
A C alça d a d o G rilo, a b e rta
p o s s ivelm e n t e na se gun d a m et a d e
d o s éc ulo X V II,
s ep a r a duas á r e a s bem d i s t i n ta s .
P ara n o r t e fi c a m o s d o i s c o n ve n to s
a g o s t i n ho s d e sc alços - os G rilos
e as G r ilas - e , para sul, o e s p a ç o
é d o m i n ad o pelas d u as p r o p r i e d a d e s
d o s L e i te d e S o u s a ( d e p o i s
T a v a r e d e ) e d o s S e nhores das I lhas
D e s e rt as. S e p ar a n d o estas d u a s
últi m as n o ta-se o t r a ç a d o d a a n t i g a
a z i nhaga d o G r i lo, j á n esta d a t a
s e m fu n ção, s u b s t i t u ída pela m a i s
a m pla C alça d a d o G rilo.
e as d uas dos i rmãos D. Francisco e p o r i n i c i at i va d e D . L u ísa d e G usmão d e d ução, - que a mesma s e terá
D. Antó n i o Mascarenhas, e s ta ú l t ima o s d o i s c o n v e n t o s mas c u l i n o e d e f ixar n o s ít i o a i n da h oje chamado
d e p o i s dos d u q u e s de Lafõe s (24). femi n i n o d o s A g o st i n h o s D escalços, a I l h a do G r i l o, no t o p o da act ual
Na de G on ça l o Vasques da C u n ha, c h amados o s G r i l o s e as G r i las . C a l çada d o G r i l o. A í s e cr uzavam
do lado s up e r i o r da r ua, e n a Q ua n t o à exacta local izaçã o fís i ca n o i t i n er á r i o an t i go os cam i n h o s
d e D . Fra n c i sco Mascaren has, da o r igem do topón imo, e stamos em v i n d o s d e C h e ias e d e Xabregas
da banda do r i o, se v i r iam a e r g u e r c r e r - mai s uma vez por m e ra - e s t e pro l o n game n t o p e la rav ina
0 0 G R I L 0 A 0 B E AT 0
43
2 - FRANCISCO DE MELO DA CUNHA
DE MEN D O NÇ A E MENESES
I. Marquês de Olhão
o
Escola portuguesa, c. 1 8 1 8.
Membro do Conselho da Regência e
chefe do levantamento do Algarve contra
os franceses ( 1 808), o marquês de Olhão
foi figura com relevo político no largo
periodo em que a corte se encontrou no
Rio de Janeiro. Esta pintura, denotando
já idade avançada, deverá datar
exactamente desse período.
Desconhece-se o autor, certamente
um dos vários artistas de segunda linha
então a trabalhar em Lisboa. (L.A.)
41
o
I - P ED RO DA CUNH A E MENDONÇA
1 lANrrr. Corpo Cronológico. P. I, mç. 31, doe.108. 5 lANfIT, RP. Santa Engrácia, Casamentos, L.o I, n. I32V. '4 AMO, Núcleo Cunhas e Mendonças, Cx.9, doe. 169.
6
Publ.por Banha de Andrade. António A . . História de IANfIT, RP, Santa Engrácia, Casamentos, L. ° I, n. 124v. '5 IANfIT, CN, C-9A, L.0 340, fl.63-64v.
um fidalgo quinhen tista pOI·tugués - Tristão da Cunha. 1 lANfTT, RP, Santa Engrácia, Óbitos, Cx. 25, L.0 I, 16 AMO, Núcleo Meios, século XVlII, doe. 33.
Lisboa, Faculdade de Letras. 1974. pp. 224-225. fI. 128v. 11 AM O, Nüeelo Cunhas e Mendonças. Cx.IOA,
2 Andrade. Francisco de. Crónica de El-rei D. joão IIl, 8 lANfTT, RP, Santa Engrácia, Casamentos, Cx.16, L o I , doe.222a).
Coimbra. 1795. Vol.I. pp. 62. e Andrade. Ferreira de, n.207v. [8 AMO, Núcleo Cunhas e Mendonças, doe. 203.
Palácio Reais de Lisboa, Lisboa, 1949, p. 13. 9 IAN fIT, RP, Santa Engrácia. Casamentos, Cx.16, L. o I, 1 9 AMO, Núcleo Cunhas e Mendonças, ex.IOA, doe. 231.
AM 20 AM
3 O, Núcleo quinhentista, Cx. 2 , doe. 4. Publicado por fl. 225· O, Núcleo Cunhas e Mendonças, Cx. IOA, doe.230.
Banha de Andrade, António A., ob. cit., pp. 226-238; e 10 IANfTT , RP, Santa Engrácia, Casamentos, Cx. 16. I,L. o 21 AMO, Núcleo Cunhas e Mendonças, Cx. 12, doe.293.
por Arruda, Luisa, «O Palácio de Xabregas», fl. 23L "IANfIT, RGT, L. 0 198, fl,. 36v-37.
II
ln Claro-Escuro, n. O' 6 e 7, Maio-Novembro, 1991. Esta Meneses, Luís de, Conde de Ericeira, História de Portugal 'l3 Portugal, Fernando e Alfredo de Matos, Lisboa em 1758
autora estuda este palácio desenvolvidamente, em termos Restaurado, Lisboa, 16g8. T. I, p. 85 - Memól'ias PaJ'oquiais de Lisboa. Lisboa, 1974,
12 AM
históricos e artísticos, publicando inúmera documentaçào. O, Núcleo Melos, seculo XVII, Cx. 9 , doe. 8. p.II6.
4 lANfIT, RP. Santa Engrácia, Óbitos, ex. 25, LO I, '3 lANfIT, RP, Santa Engrácia, Casamentos, Cx. 17, L o 3,
fl·44v. f1. 6IV
39
- ou possivelmente redefinir -, a
rampa de acesso ao pátio, permitindo
-lhe não introduzir qualquer escadaria,
elemento central na matriz palaciana.
As opções expressas na orgânica esco
lhida, certamente menos dispendiosas,
não deixam de significar alguma ambi
guidade na conformação ao modelo
assumido do grande palácio aristocrá
tico , onde a escadaria é sempre um
dado essencial, mantendo-se aqui,
apesar da grandeza do conjunto , uma
certo tom de casa de quinta. Facto que
não deixa de ser sentido pelo prior após
o terramoto, ao escrever que a entrada
para o -pátio é agreste. Ou seja, falta
aparato , tão ao gosto do barroco aris
tocrático .
Conhecemos o nome do responsável
pelas medições, Manuel Pereira arqui
tecto das obras da Congregação do
Oratório, sendo de aceitar a sua autoria Uma das informações mais interessantes Do conjunto hoje visível, destacam-se
para todo o projecto . Infelizmente só constante da documentação é a citação os azulejos que revestem grande parte
um estudo mais aprofundado das estru do grande vestíbulo como a sala vaga. do interior, bem como algumas pintu
turas permitiria separar o que é então Ela permite-nos ter uma noção mais ras murais, de várias períodos do século
feito de novo e o que já existia, sendo aproximada da orgânica destas grandes XIX, em especial a intervenção de gosto
de ter em conta a informação que man casas, funcionando esse amplo vestíbulo neogótico de José Maria Nepomuceno
dou fazer ( .. .) uma parede na frontaria nobre - ao qual seriam possivelmente no grande salão (ver Guia do Azulejo) .
da estrada (. . .) toda velha no que toca às destinados os magníficos panos indo Destacam-se, ainda, alguns interessantes
duas antecâmaras (. . .) que era neces -portugueses com as armas dos Cunha retratos e os referidos panos armoriados,
sário fazer-se de novo até às sacadas - como um espaço vago, isto é, sem de que restam somente dois, dos quais
(oo.). Ou seja que já existiria uma função definida, simultaneamente li Luísa Arruda, que tem pormenorizado o
parede - uma muralha sobre o rio para gação entre os vários quartos - , partes estudo deste palácio , elaborou as respec
criar o necessário nivelamento -, específicas do todo - e local para tivas fichas. (JSM)
sendo agora feita de novo até às sacadas recepções e festividades familiares, além
e abrindo -se nesse novo quarto baixo as do qual só tinham acesso os mais ínti
indispensáveis estrebarias, cocheiras. mos ou de mais cerimónia.
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D u as p e q u e n as s a l a s d o p i s o i nfer i o r
d o P a l á c i o O lhão, r e s s a l t a n d o a s
p i n turas m u ra i s q u e c r i a m a i l u sã o
d e u m e s paço m u i to m a i o r ,
não datadas n e m a s s i nadas,
A pri m e i ra ( e m c i m a) recria
o a m b i e n te d e uma t e n d a ,
e n treven do-se u m a c a m p a n h a
m i l itar, S e r á even t u a l m e n t e u m a
l em b r a n ç a d o s fei t o s na G u ert'a
Pe n in s u l a l' do 1 ,° m arq u ê s d e O l h ão ,
d e p o i s u m d o s m e m b ro s d a
Regê n c i a d o R e i n o , r e a l i zada
p o s s i ve lm e n t e d u rante este
p e r ío d o , A s e g u n d a ( e m b a i x o ) ,
c o n t e m p o r â n e a d a p r i m e ira,
reprod u z o a m b i e n t e de um e s p a ç o
n a t u l'al n ão o r d e n a d o
- o j ardim/ s e l v a -,
já de s e n s i b i l i d a d e r o m â n tica, c u j o
gosto p a l'e c e ter s i d o i ntrod u z i d o
n a s v á r i a s estadas e m L i s b o a d o
p i n t o r fr a n c ês J ean P i l l e m e n t ,
E s t e s d o i s i n teres santes
a p o n ta m e n to s d eco rativ o s terão
s i d o r e a l i zados p o r um dos v á r i o s
c o n t in u ad o r e s d e s s e m e s t re fran c ê s
e m a c t i v i d ad e d u ran te e s te p e ri o d o ,
37
II - COMENTÁRIO conjura, como conta o conde da
Ericeira. Só em seguida, depois de uma
o enorme casarão que se alonga pela complexa trama de ligações matrimo
Rua de Xabregas com a sua imponente niais e processos de partilhas entre
fachada, resulta na sua imagem actual diversos ramos de descendentes de
das grandes obras de total reconstrução Tristão da Cunha, o primeiro proprie
levadas a cabo por Pedro da Cunha e tário conhecido , é que as casas de
Mendonça, 2 . o senhor de Valdigem, a Xabregas vêm a cair, em parte também
partir de 1717. Apesar de apresentado por compra a outros parentes, no
habitualmente como um perfeito exem referido Pedro da Cunha e Mendonça,
plar do gosto seiscentista, a verdade é a cuja iniciativa se deve como vimos a
que data j á portanto do século XVlII, total transformação . Para mais , seu
sendo o belo portal mesmo de 1724. neto homónimo, 4. o senhor de Val
Ora se tivermos em atenção que por digem, casou com uma parente filha do
essa mesma altura j á se construía o monteiro -mor, vindo o filho de am
Convento de Mafra, através do qual bos , o 1. o marquês de Olhão , a herdar
D . João V impunha com determinação também essa casa e o importante ofício.
a opção estética pelo barroco romano , Embora nada se saiba documental-
podemos pensar que tal atitude teve as mente, é natural que as primitivas casas
suas resistências, mantendo-se os estra de Tristão da Cunha, na sua posse des
tos aristocráticos ciosamente apegados de 1524, tivessem originalmente o seu
aos critérios estéticos anteriores, aliás acesso pela antiga via que corria sobre a
definidos no período áureo do seu ravina, de que o truncado Beco dos
poder social e político . Toucinheiros é ainda uma reminiscên-
A história desta propriedade , possível cia . A existência ainda hoje do pátio
de apurar graças à simpática dispo virado a poente, abrindo-se nele o
nibilidade de acesso ao arquivo dos portal principal de acesso directo ao
marqueses de Olhão , andava envolta andar nobre, parece sem dúvida confir
nalguma confusão, uma vez que no mar esta leitura, impondo simulta
século XVII ali encontramos como neamente algumas condicionantes à
proprietário o monteiro-mor do rei apreciação do projecto de alterações
no. Ainda por cima, quer Francisco de levado a cabo no século XVlII. Como
Melo , monteiro-mor, quer seu irmão foi corrente em toda esta zona, a aber
Jorge de Melo são figuras de primeira tura do caminho pela praia determi
linha no processo político da Restau nou a reorientação de todo o conjunto .
Alguns pormenores interiores do Palácio dos hfarqul!'sC's de
ração , realizando-se aqui em Xabregas Olhão, ressaltando o revestimento de a2uh�:j os setecentista e as Mas Pedro da Cunha manteve-se fiel à
pinturas murais oitocentistas, os dois dementas decorativos mais
algumas das reuniões preparatórias da ma.rcantes deste edifício. estrutura primitiva limitando-se a abrir
depois de descontadas as respectivas
tornas, e ampliá-las através de grande
campanha de obras iniciadas em 1713
prolongando-se pela década de vinte,
conferindo-lhe a imponência que
ainda hoje se aprecia. Em 1717, pela
sentença da acção contra o pedreiro
pela demora no avanço das obras
apura-se do compromisso deste (1713)
em fazer toda a obra do seu ofício assim
do quarto novo que se há-de fazer,
estrebarias, cocheiras e mais obras em o
quarto baixo das mesmas casas
conforme planta que tem tirado ( . ) e
. .
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Fachada do Palácio Olhão sobre a Rua de Xabregas, com o portão lateral de acesso â rampa que sobe para o pátio, e fachada sobre o pátio com o portal nobre de acesso â sala \'aga.
Esta propriedade até ao século XVIII no oratório de D. Francisca de Men de 1708, ainda morador à Bica do
entrou em vários processos de parti donça, ao Grilo'3 que se casa um filho Sapato'5, casou-se com uma filha de
lhas, pelo que, a sua posse coube, em do monteiro-mar com uma filha de Garcia de Melo , monteiro-mar, já de
parcelas, a mais do que um proprie Tristão da Cunha, irmão do referido funto , pelo que teve direito por conta
tário . Daí que as casas foram habitadas, Simão , governador de Angola e senhor de legítimas e legados , a mais de
em simultâneo , por vários elementos da de Valdigem. 7 contos de réis'6, vindo , mais tarde, a
casa do monteiro -mar, família com Ao sucessor do referido governador, ficar herdeiro de sua cunhada, também
ligações aos Mendonça de Santa Clara , Pedro da Cunha de Mendonça, se deve filha do monteiro-mor'7. Numa me
e que novamente se liga aos Cunha , o retorno definitivo de Xabregas à Casa mória que escreveu em 1712 fala das
descendentes de Simão , filho segundo dos Cunha. Herdando a casa de seu pai benfeitorias que fizera nas casas ao cais
do embaixador de D. Manuel, em cuja com grandes dívidas - sendo mais tarde do Carvão (ver Santa Apolónia) - que
posse ficaria definitivamente o Palácio compensado pela reabilitação de Tristão vende mais as da Bica do Sapato - e
de Xabregas. Esta união consuma-se da Cunha - via-se obrigado em 1702 na Quinta da Espiçandeira, bem como
pelo casamento (1655) de uma filha a pedir um empréstimo de 1 0 000 em outras fazendas'8 no Barreiro, na
do monteiro-mar Francisco de Melo , cruzados para com eles acudir ao reparo Quinta da Telhada e em todos os casais
D . Francisca de Mendonça, com Simão de suas fazendas e estado'4. Nos pri do morgado.
da Cunha que, em 1686, tinham os meiros anos de Setecentos, contudo, Habilitado às casas de Xabregas pela
seus aposentos junto ao convento de devido a vários processos de heranças e morte do tio Simão (1701), obrigadas
S. Francisco de Xabregas e, em 170 3 , é partilhas invertia-se a situação. No ano por inventário, acabou por comprá-las,
34
, . ,.,
o PA LAC I O 0 LI=IAO
33
Planta do piso térreo de São
Francisco de Xabl'egas,
levantada após a saída dos
frades em 1 834. AHMF,
Plantas do Ministério do
Reino, Cx. 5270, IV/C/ l 1 4(5 I),
Legenda: I - Corpo da
igreja; 2 - Sacristia;
3 - Casa De profundis;
4 - Refeitório;
DOO
5 - Cozinha;
6 - Arrecadações;
7 - Casa do Capítulo;
8 - celas; 9 - Claustro;
1 0 - pátios; I I - Portaria;
1 2 - Capela da Paixão;
1 3 - Capela; 1 4 - casa da
lenha; 15 - latrina;
1 6 - escadas para o 1 .0
plano; 1 7 - jal'dim;
1 8 - caixas de latrinas;
1 9 - poços.
IAlmeida, Fortunato de, Histól"ia da Igz'eja em 7 Lopes, Fernão, Crónica do Senhor Rei D. Fernando, 15 Senão, Vitor, "Documentos dos pI'otocolos notal"iais
POI'lugal, Porto - Editora Portucalense, 1967-71. Biblioteca de Clássicos Portugueses, VaI. III, de Lisboa C . . )", in Boletim Cultural, n . O 90, 1 . 0 e 2 . °
pp. 143-146. p . 62. Tomos, p p . 101-102.
6
2 IANrIT, Chancelaria de D . Monso V, L. ° XV, 3 Compilação das escripturas da Ordem de Christo 1 Andrade, Ferreira de, Palácios Reais de Lisboa,
fls. 118v. Doe. transcrito por Viterbo, Sousa, ordenada por Alvará dei-rei D. Sebastião; 2 . a parte. Lisboa, 1949, p. 51. Transcreve este autor várias
Diccion8l'io Historico e Documental dos Architectos, Escrituras de Doações, testamentos, etc. , n. o I, passagens da CI'ónica Suáfica e do Memol"ial.
Engenheiros (. . .), Lisboa, Imprensa Nacional, 19°4. fls. 120-121. 17 Branco, Manuel Bernardes, Histól"ia das DI'dens
pp. 499-5°1. 9 IANrrT, Colecção Especial, Diplomas Emanados do A.fonáslicas em Portugal, Lisboa, Livraria Editora d e
3 Soledade, Fr. Fernando da, Historia Serafica Poder Real. ex. 3 2 . n . 04-7. Tavares Cardoso e Irmão, 1 8 8 8 , p . 126. Transcreve a
Chronologica da Ordem de S. Francisco na Provincia 10 Conceyção, FI'. Apollinario da, Cla ustro Fnnciscano, CJ'ónica Seráfica, T. I. p. 187.
Lisboa, 1705, ParI. III, L.0 I,
de Portugal, Lisboa, Offi.cina de Antonio Isidoro da Fonseca, 1740, 1& Mendonça, JoachimJoseph Moreira de, Historia
Escrituras d e Doações, testamentos, etc., n . o 2, fls. '" Soledade, Fr. Fernando da, ob. cie Part. III, L.0 I, n Pereira. Luís Gonzaga, A.fonumentos Sacros de Lisboa
118v-1I9· Cap. XXXI . p . 133. em 1833. Lisboa, BNL, 1927. pp. 2II-212.
31
arquitectónico mais interessante é, sem
dúvida, a grande igreja de planta centra
lizada, prejudicada na fruição do seu
espaço magnífico por uma inestética
bancada provisória imposta pela adap
tação a teatro. Sem se pôr em causa a
acção meritória do Teatro Ibérico que ali
funciona, cuja persistência é de louvar,
seria conveniente que a sua continuidade
fosse conciliável com a salvaguarda de um
espaço daquela qualidade, sem dúvida a
mais notável igreja - a par com as da
Memória e dos Mártires - erguida em
Lisboa no período de reconstrução
pombalina. Seria indispensável reabrir a
grande tribuna do coro - outrora desti-
3°
- como o remate em frontão contra
curvado visível nas duas fachadas
parecem justificar essa aproximação e ,
sobretudo, o tratamento excepcional
que os franciscanos observantes pare
cem ter merecido da parte de um poder
político pouco inclinado às concessões
eclesiásticas. D. Frei Manuel do Cená-
culo surge, assim, como um dos mais
constantes esteios das reformas pom
balinas no campo do ensino e cultura,
recebendo com mãos largas os apoios
indispensáveis para obras de tal magni
tude , como as levadas a cabo nesses dois
conventos da sua Ordem.
D. Frei Manud do Cenáculo. principal impulsionador da «,cons
trução de São Francisco, segundo retrato publicado na ft,lemoria
O esquema adoptado na nova cons
descripti1'3 do Assalto, Entrdda e Saque da Cidade de E\·ord (. . .) 1887.
trução insere-se num padrão comum
Fachada da Igreja de São Francisco de Xabregas.
II - COMENTÁRIO em Lisboa, de que o inacabado projec
to de Santos-o-Novo ou o Mosteiro de sacadas, aliás de recorte idêntico a outras
A actual imagem externa de São Fran São Bento, ambos dos primeiros anos existentes na antiga parte conventual
cisco de Xabregas decorre da total re do século XVII, parecem ter sido os do referido Mosteiro de Jesus (hoje Aca
construção que o edifício sofreu depois modelos. Trata-se de uma grande fa demia das Ciências).
do terramoto, sob a égide de D. Frei chada rectangular com a igreja exaltada Apesar das profundas transformações
Manuel do Cenáculo e o apoio activo do ao centro e dois corpos simétricos de internas sofridas por este edifício devi
marquês de Pombal. Trata-se, pois, da cada lado . O traçado vertical da igreja do às adaptações industriais a partir de
mais importante construção conventual originariamente completado pela desa meados do século XIX, ainda subsistem
construída de raiz no período pomba parecida cobertura mais alta do corpo significativas estruturas da arquitectura
lino , devendo aproximar-se das obras central (como surge no desenho de primitiva, algumas delas em vias de
então também realizadas na outra casa Gonzaga Pereira) - é acentuado pelo recuperação - caso do claustro - por
da mesma congregação, o Convento de toque elegante - embora pesado - do iniciativa dos actuais responsáveis.
Jesus (hoj e freguesia das Mercês) cuja frontão contracurvado que contraria Cite-se a portaria, recentemente res
reconstrução (não total) se deve também o pendor horizontal do conjunto , taurada, a escadaria conventual, ainda
ao mesmo patrono - o referido D. Frei animando em gosto ainda barroco um revestida de azulejos pombalinos, e
Manuel - tendo essa casa a particulari prospecto marcado por uma sobriedade o referido claustro, de grande sobrie
dade de ser vizinha das propriedades chã. Essa insinuação barroca é pros dade nas suas arcarias de pilastras, até
de Pombal, na Rua Formosa (hoje de seguida no desenho cuidado do coroa hoj e coberto e subdividido em várias
O Século) . Algumas afinidades de gosto mento de algumas das janelas com dependências. Mas o apontamento
29
Na sua descrição, em 1833 , Gonzaga
Pereira diz que o mosteiro era compos
to por (. . .) quinze dormitórios, grande
livraria, enfermaria, casa de conclusões
como em poucas partes, e tudo con
servado (. . .)22 . O mesmo autor refere ,
entre outras peças, a existência de gran
de número de imagens de madeira,
l' ___ -.�...:... _
dirigidas por José de Almeida, a ins
Fachada de São Francisco de Xabregas e, ao lado, as armas reais inseridas na moldura do frontão superior do corpo da igreja.
tância de D. João V, a estampa de
Frei João dos Arcanjos registou a cele suas portas todas de caixilhos com vi Nossa Senhora das Dores, gravada por
bração das cerimónias da bênção da draças e da mesma sorte todas as janelas Francisco Bartollozzi e um quadro de
nova igreja (7.3 . 1771) , descrevendo-a da igreja e coro. Sobre estas está o órgão Guido Reni. Logo no ano seguinte era
(. . .) completamente acabada, assim de com uma bem guarnecida varanda que a sua igreja profanada e saqueada. Com
pinturas no tecto e quadros, como de ocupa toda a parede, ficando as outras a extinção das ordens monásticas e con
talha em todos os altares2I• No da duas paredes do dito coro todas guar sequente saída dos religiosos, o antigo
tribuna da capela-mor, junto às quatro necidas de retábulos. O arco para a edifício conventual foi ocupado por
colunas , erguiam-se quatro grandes parte do corpo da igreja o guarnece uma diversas corporações militares, depois
imagens: S. Domingos, S. Boaventura, grade de pedra sobre a qual está uma substituídas por actividades fabris que,
S. Francisco e Santo António, e nos dois charola de talha com um crucifixo juntamente com dois grandes incêndios
nichos que estão no meio da capela-mor grande de marfim. À trasladação do (1844 e 1878) , o descaracterizaram
uma estátua de S. Pedro , e outra de Santíssimo Sacramento da igreja velha profundamente. Primeiro, a indústria
S. Paulo. Assim descreve o xabregano o para a nova assistiram, entre várias de de fiação e lanifícios, depois, os tabacos
novo templo : Tem o corpo da igreja zenas de altos dignatários, Frei Manuel (ver Guia do Património Industrial) .
uma teia de pau-preto e amarelo, e das do Cenáculo, o principal Costa, os Actualmente acolhe serviços do Insti
mesmas madeiras oito confessionários marqueses de Pombal e o de Penalva, tuto de Emprego e Formação Profissio
com ralos de arame amarelo que saem os condes da Vidigueira, o de Vale de nal (IEFP) e na igreja está instalado o
da dita teia. Duas varandas de talha e Reis e o da Azambuja. Teatro Ibérico . (JFP)
nos arredores e das especiarias, açúcar e camareiro -mor de D. João III, recebeu
pescado dados pelo rei. A austeridade licença dos frades para fazer ali junto
dos xabreganos está bem patente no umas casinhas térreas para vir ter nelas
recheio das suas celas: barra, enxergão, as doenças (. . .) prometendo que por
colchão, 2 cobertas, 2-3 cadeiras, 2-3 sua morte as derrubaria. Seu filho não
tamboretes e 1-2 bancas'". Primitiva cumpriu tais disposições, antes fez um
mente de modestas dimensões o mos divertido jardim para seu recreio,
teiro teve de aumentar em tamanho para fazendo do edifício casas de jogo e o u
acompanhar o número crescente de reli tras demasias e desconcertos/5•
giosos. De 50 frades e 6 servidores em Refira-se a nota curiosa de, no ano de
155113, passou para 90 religiosos em 1557, (. . .) comunicava-se o mar ainda
1620 e 144 em 1758. naqueles tempos com o ribeiro que
Para o seu acrescentamento - edifício e corre junto à fonte da Samaritana, por
terrenos - contribuíram vários patro onde entrava (. . .) um braço dele, o
nos ao longo dos temposl4-, destacan qual distando pouco do convento, e
do-se a Casa de Atouguia com o seu não havendo ainda para aquela parte o
palácio encostado ao mosteiro , incor dormitório grande, esta foi a causa da
porado nos bens da Coroa em 1759 ruína que ainda hoje testemunham Portal latt:ral do Conv�nto de São Francisco, possivdmenle uma
das unicas reminiscências do conjunto anterior ao terramoto.
depois de o conde ter sido um dos alguns livros que se acham na livraria/7•
sentenciados do atentado a D. José. O terramoto de 1755 marcou a história D . Frei Manuel do Cenáculo , com
Tinha tribuna para a capela-mor - deste edifício . Moreira de Mendonça maiores dimensões e diferente estrutu
cujo retábulo foi dourado e estufado diz que (. . .) padeceu muito em igreja, ra e orientação. A nova igreja, de plan
pelo pintor de têmpera Tomé da Costa e dormitórid8• Já o cenário pintado ta centralizada, deixou de estar virada a
Resende (1648)15. Benfeitores da insti pelo prior da freguesia (1759)19 é mais sul , para passar a olhar o rio . A sua pri
tuição foram também D. Gonçalo de negro , dizendo que padeceu total ruína me ira pedra foi lançada em 2 4 . 5 . 1766
Castelo Branco, senhor de Vila Nova (. . .) em forma que necessita todo ree pelo secretário de Estado Francisco
de Portimão , a rainha D. Leonor, e dificado, estando os religiosos vivendo Xavier de Mendonça. A cerimónia, a
D . João II a quem os xabreganos com grande discómodo nas habita que assistiram seus irmãos, o conde de
ficaram a dever a sua cerca, estendida ções de madeira que na cerca fizeram, Oeiras e Paulo de Carvalho, além da
pelo monte que o rei lhes doara, e onde sendo -lhes impossível a restauração do mais fidalguia da Corte, foi realizada
fizeram uma ermida. Para enriqueci convento e igreja pelas limitadíssimas (. . .) no claustro velho deste convento
mento da igreja contribuíram os reis esmolas com que tem sido socorrido. (. . .) tendo-se colocado um cofre de
D. Sebastião e D . Catarina, D . Maria Só se tem reparado o princípio de um pedra cheio de relíquias (. . .) no lugar
Henriques, João Pestana, Estêvão Fer dormitório, o refeitório quase acaba em que vai a parede da tribuna por trás
reira da Gama e Gil Anes. Outros, do, e a cozinha em que se vai cuidando. do altar-mar, ao lado do Evangelho,
atraídos pelos bons ares de Xabregas, A casa franciscana foi reconstruída, sob cujo chão servia de claustro antiga -
como D . Francisco de Castelo Branco, a égide do marquês de Pombal e de mente20•
27
SÃo FRANCISC O D E X AB REG AS Guia da Azulejo), o aspecto geral resulta fundadora, D. Guiomar de Castro.
NO P AINEL D O MUSEU D O AZ ULEJ O das grandes obras levadas a cabo por Frei A capela-mor era o panteão da família, ali
(F OTO A.N.F.) Diogo César, no século XVII, adaptando sendo sepultada, entre outros membros
Como esta imagem nos elucida, ao romano a primitiva construção, como desta antíga casa, a condessa D. Filipa de
o Convento de São Francisco de Xabregas conta o cronista da Ordem. Realce-se Vilhena, figura lendária da Restauração.
anterior ao terramoto nada tinha a ver o pórtico de três arcos, conhecido por O palácio desapareceu no processo de
com o edifi c io de hoje. Além de mais pórtico capucho dada a sua constante reconstrução do novo convento
modestas proporções, a fachada da igreja utilização nas construções das várias pós-terramoto. Dessa construção
estava orientada a sul, abrindo sobre o congregações franciscanas. Junto ao primitiva a única reminiscência será u m
Terreiro de Xabt'egas. Como este painel é convento, com tribuna sobre a portal de desenho mais antigo ainda
de finais do século XVI I (segundo a capeia-moI', erguia-se o Palácio dos subsistente na fachada, possível porta
recente atribuição de José Meco - ver Condes de Atouguia, herdeiros da lateral da primitiva igreja. OSM)
� C 0 n V E nT0 D E S . F RA n C I S C 0 D E X A B R E GA S
de terra nossa que é horta, tudo junto Fernão Lopes diz que estes (. . .) quei - em 17.4.1460 receberam o novo mos
com os ditos paços para em eles mandar maram uns graciosos paços d'el-rei, teiro, entregue solenemente pela con
fazer o dito mosteiro'. cerca da cidade, junto com o mar, onde dessaIl , com as condições de sempre se
Vários cronistas fazem referência a estes chamam Xabregas, no começo de um manter na família dos observantes e da
antigos paços - já com os ameaças vale de muitas e aprazíveis hortas (. . . )7. capela-mm' do templo ficar reservada
da ruína estavam totalmente desampara D. João I ainda pensou na sua recons para seu jazigo e de seus descendentes.
dos3 onde �s monarcas da I. a dinastia
- trução , trocando umas casas suas por A igreja não só acolheu o panteão dos
se recreavam, retirando-se dos rebuliços duas almuinhas com seus chãos e vínha condes de Atouguia, seus patronos e vizi
da corte e para divertimento pelo agra da Ordem de Cristo (. . .) em Xabregas nhos durante séculos, como a sepultura
dável da vista< (. . . ) ou (. . .) por ser o sítio onde o dito senhor rei queria fazer uns de muitas outras figuras, como o vizi
mais são, deleitoso e alegre que têm Paçosjunto de outros quejá aí tinha (. . .) nho Tristão da Cunha, o cronista Duarte
todos os arredores de LisboaS. D. Pedro I e que as ditas suas almuinhas podiam Gaivão , ou o pintor Vieira Lusitano .
possuiu-os de facto , pois refere uma receber dano da feitura dos ditos paços e Não tendo rendas o convento manti
sentença sobre umas almuinhas em da pousada delesB• Contudo , tal recons nha-se de esmolas, cuja soma rendia
Xabregas, que partiam com (. . .) rossio trução não se verificou, encontrando 4650 cruzados anuais, provenientes de
do concelho e com caminho que vai -se os paços em ruínas quando , em missas, dos alforges, benesses particu
de Lisboa para os meus paços que são 1426, o mesmo monarca fez doação a lares, vinho , azeite e carne, que pediam
25
T a l v ez p o r o v e l h o p a ç o d e
X a b r e g a s t e r fi cado d a n i f i c a d o p e l o
t e rr a m o to , o 4 . ° c o n d e d e U n h ã o ,
m o rto e m 1 7 5 9 , m an d o u i n i ci a r
uma nova residência n a extensão
p o e n te d a s u a q u i nt a , c h a m a d a a
A m o r o s a , a b r i n d o d i re c t a m e n te
s o b r e a E str a d a d e C h e i as .
E s t e e d i fí c i o , q u e o s R e g i s t o s
d a D é c i m a, a par t i r d e 1 7 6 2 ,
d e s i g n a m p o r q uarto i n a c a b a do,
n u n ca c h eg o u a s er c o m p l e t a d o ,
fal t an d o - l h e o i m pr e s c i n d ív e l
a n d a r n o b re d e sacadas,
bem c o m o o utr o s cor p o s .
N o e n tanto, a n ec e s s i d a d e d a s u a
c o n s t r u ç ã o p ar e c e confi r m ar s e t e c e n t i s t a s . Parece, ass i m , d es c o n t a d o s o s a r r a n j o s
o m a u e s t a d o e m q u e se e n c o n tr a v a i n fer i r- s e , a p e s a r d a a u s ê n c i a d e e m o d i f i c a ç õ e s o i to c e n t i s t a s ,
o v e l h o p a ç o , q u er por for ç a d o c o n fi r m a ç ã o d o c u m en t a l , a i d e i a datará d a i n s t a l a ç ã o defi n i t i v a d o s
s i s m o , q u er d e v i d o à i n a d e q u a ç ã o d e q u e a a c t u a l i m a g e m exter n a m ar q u e s e s d e N i s a , o u seja,
a o s r e q u i si t o s p a l a c i a n o s d o P a l á c i o d e X abr egas, d o ú l t i m o q u a rt e l d o século X V I I I .
I Sousa, Frei Luís de, Anais de D . João III, Livraria 13 Barbosa, Vilhena, Az'quú'o PitaI'csco, VaI. VI , p . 8 6 . �6 Andrade, Ferreira de. Palácios Reais de Lisboa,
Sá da Costa - Editora. Lisboa, 1938, p. 39. 1 1 IANfTT, C . M . D . , C x . I , Doe. 3 6 . ob. cit.. p . 3 8 .
:I Ferreira de Andrade, Palácios Reais de Lisboa, 15 IANfTT, C . M . D . , C x . I , N . o 3 3 . 27 IANfTT, Chancelaria d e D . João V , L. ° IOO,
Lisboa,Editorial Império, 1949. pp. 1 3 - 1 9 . 16 IANfTT, C . M . D . , Cx, I , D o e . 3 6 . fls. 243-243v, L . 0 1 0 5 , fls. I09V-IIO, L . 0 107,
3 B.N. C o d . 11352, p p . 46-48. '7 IANfTT, Chancelarias de D . Filipe I I , L . 0 1 2 , fls. 266v-267v. L. ° 117, fls. 315v-316.
4 IANfIT, CSFX. Tombo das obrigações das capelas, /Js. 353v-354, L . 0 10, /Js. 355v, L . 0 1 6 , /Js. 31, L . 0 1 7 , 1111 Portugal, Fernando e Alfredo de Matos, Afemóáas
fls. 8Sv e segs. fls. 101, L . 0 2 0 , fls. 231, L.0 4 5 , f l s . 2 6 0 ; D . Filipe III, Paroquiais, Lisboa, Coimbra Editora, 1974, p. 114.
5 Veloso, Queiroz, D. Sebastião, Lisboa, 1935. Empresa L.0 5, /Js. 254, L . 0 2 5 , /Js. 82 e 8 6 , L.0 27, /Js. 2 9 1 ; '9 IANITT, RGT, L. ° 271, /J. 43V.
Nacional de Publicidade, p . 2 9 . Chancelaria de D . João IV, L. o 1 8 , f l s . 152v-154v 30 IANfIT, RGT, L. ° 2 7 1 , fls. 4I-44v.
6 Machado, Diogo Barbosa, Memórias d e el-z-ei e L. o 20, fl. 2 1 8 , 31 Barreto, D. José Mascarenhas, Alemórias do A'[arquês
D. Sebastião, Parto I, L . o I, C. VI, p . 7 7 . •8 IANITT, C . M . D . , C x . I, Do". 3 5 , 39, 4 0 , 7 2 , 7 3 , 74. de FI'onteiJ'a e d 'Alol'na, (1802-1824), Coimbra•
7 Livro I de Canso e d e c . de el r e i D . Sebastião. n. I 19 lANfTT. C . M . D . , Cx. 1 , Doe. 34. '926, p. 102.
(Arquivo Municipal). �o lANfTT, C.M.D., Cx. I , Doe. 36. Vid. does. 34 e 3 7 . 32 Noronha, Eduardo d e , O último mal'qués d e Nisa,
8 B . N . Cod. 938. cap. 39. pp. 5 1 - 5IV - Memorial de 111 IANfTT, C.M.D . , C x . I , N . o 3 5 . Porto, 1909, p. 2 0 .
Pêro Raiz Soares, iniciado em 1565. �2 IANfTT, Chancelaria de D . Filipe II, L. O 2 , fls. 232v, 3 3 Idem, p . 4 0 .
9 Belem, Frei Jeronymo de, Chronica SeI'afica da Santa L . 0 3 . fls. 232v e 356, L . 0 7 , fls. 88v. L.0 9 , fls. 8 2 , 31 Guimarães, J . Ribeiro, Sum31'io d e 'faria HistoJ'ia,
Provincia dos Algarves, Lisboa, 1755, Tomo III, L.0 2 5 , /Js. 2 6 v ; D . Filipe III, L . 0 1 3 , /Js. 243, Lisboa, Rolland & Seuiond, 1 8 7 5 , p . 184.
p . 160. L. ° 2 5 , /Js. 8 6 .
la
B . N . C a d . 938. cap. 7. p p . 12- 12v. �3 lANfTT. Chancelaria de D . Filipe I I I . L . ° 2 5 .
" B .N. Cod. 938, cap. 3', pp. 46-46v. /Js. 8 7 - 8 7 v
111 Holanda, Francisco, Da Fábáca Que Falece à Cidade �4 C . M . D . , C x . I, Doe. 3.
de Lisboa , ln Renascença Portuguesa , VaI. IV, Porto, �5 Meneses, Luis de, Conde d a Ericeira , História
1879. p . 10 - ed. critica ao autógrafo de 1571. de pOI·tugal Restaurado, Lisboa, 1698, VaI. 11,
fols. I4v-15v. p . 108.
23
fendida de gosto clássico é a principal Registos da D écima, referindo -se a
reminiscência existente da construção construção inacabada pelo 4. o conde
joanina. Aliás, realce-se que o mesmo de Unhão de um novo palácio na parte
corre sensivelmente à mesma altura que alta da propriedade da Amorosa, sobre
o piso da nova Igrej a da Madre de Deus, a Estrada de CheIas, decorrendo possi
reforçando a ideia de unidade entre os velmente desta iniciativa a confusão
dois conjuntos. sobre a existência de obras no velho
Já em tempo dos Filipes, e por influên edifício junto ao rio . O quarto cons
cia de D . Cristóvão de Moura, foi o truído por esse senhor ainda se pode
paço doado em dote à sobrinha deste, apreciar na esquina da referida Estrada
D. Margarida de Távora, para casar de Chelas com a Rua da Amorosa.
com D. Martim Afonso de Castro , N o interior, resistiram ao incêndio e às
depois vice-rei da Índia. A essa senho adaptações o grande pátio quadrado , a
ra se deveITl grandes obras de transfor escadaria interior - talvez um dos
mação , erguendo-se então o tal andar poucos apontamentos mais antigos, de
nobre que nunca chegara a construir desenho muito sóbrio de matriz clássi
-se. Vários autores referem que as ca -, e a cozinha abobadada de dimen
grandes obras de transformação e sões pouco habituais em palácios
acabamento das fachadas do palácio que privados, mais ajustada ao movimento
Pormenor da cimalha e coruchêu. compõem a sua imagem actual se deve de um paço real. Quanto à capela, infe
Outra dúvida sobre o paço constitui a ram ao 4 . o conde de Unhão, infor lizmente em situação que não permite
referência que lhe é feita por Francisco mação que seguimos em obra anterior fotografá-la em condições, são nulas
de Holanda. Dela inferiu Jorge (Lisboa, Um Passeio a Oriente) . No as informações sobre a data da sua
Segurado a atribuição ao mesmo do entanto , parece de corrigir tal infor construção . Realcem-se os alçados com
proj ecto inicial, o que ele próprio mação por duas notícias contem serliana das tribunas laterais da capela
parece contrariar afirmando apresentar porâneas. Em 1758 é afirmado que pelo - moro (JSM)
algumas imperfeições, ou descuidos no terremoto padeceu ruína o quarto alto,
desenho, afirmação descabida em obra o qual se mandou lançar abaixo estando
própria. Mas o mais importante hoje o palácio só no segundo quarto, o
consiste no desenho de lembrança que que parece confirmar que a actual
Holanda anexa ao seu texto, onde se imagem externa resulta de obras poste
exalta o grande soco em que ainda hoje riores a esta data, muito possivelmente
o edifício se suporta . Aliando esta após o Palácio de Xabregas se ter torna
imagem à informação posterior das do residência principal dos marqueses
freiras de que o edifício não passara dos de Nisa, uma vez que perderam com
entressolhos pode aceitar-se que esse o terramoto o seu palácio junto a São
soco de cantaria almofadada de junta Roque. A segunda notícia consta dos
22
termo. A criadagem constituía um bata II - COMENTÁRIO
lhão33. Jogador, perdia numa noite o pa
trimónio de uma família, sem pestanejar! o velho paço de Xabregas é um edifício
- esbanjou a fortuna da Casa de Nisa, que tem andado envolto nalguma
incluído o Palácio de Xabregas, vendido nebulosidade histórica quer na sua
depois de hipotecado - após ter hospe génese, quer nos sucessivos proprie
dado o político espanhol general Primo tários. D . João III adquiriu (1556) os
Deste fidalgo boémio partiu a iniciativa terrenos ribeirinhos que ficavam entre
na Câmara dos Pares da lei de abolição São Francisco e a Madre de D eus a fim
dos morgadias. de construir um paço junto a este últi
Depois de vendido a um particular mo convento, e mantendo até São
(I862) o palácio foi adquirido pelo Francisco um vasto logradouro , defini
Estado em I867, ano em que sofreu um tivamente batido e ampliado em I575 ,
grande incêndio que o descaracterizou já por D . Sebastião. Ora se pensarmos
totalmente, poupando apenas a capela. que é da iniciativa do mesmo D. João III
Um dia depois escrevia Ribeiro de a transformação da modesta casa inicial
Guimarães acerca do edifício : o governo das Clarissas, fundação de D. Leonor,
Porlal nobre de acesso ao pátio.
adquiriu em praça o palácio, pela quantia construindo a nova igreja sobrelevada e
de 22 contos de réis, se bem nos lembra, o magnífico claustro , paredes-meias à própria Ribeira , construções de
e foi à praça porque estava hipotecado a com o novo paço , não se pode deixar de D. Manuel eivadas de barbarismos para
um credor da casa de Nisa, destinando -o conjecturar na relação entre eles, desti a opção estética pelo gosto ao romano
desde logo a asilo para a mendicidade. nando -se possivelmente a nova igreja de D . João III. Hoje não se pode deixar
O governo já havia feito obras consi do padroado real a servir na dupla de lastimar que o tempo de um ano
deráveis no palácio, talvez no valor de função de templo monástico e capela entre o início das obras (r556) e a
mais de 20 contos (. )34 A instalação do
. . . real, pressupondo uma ligação física morte do rei (I557) tenha sido curto
Asilo D . Maria Pia, em I87I, com capaci entre os dois edifícios, que de facto para acabar o novo paço , pois , como
dade para recolher 800 individuas - ao ainda existia na planta anexa - anterior nos elucida um documento da Madre
qual foi anexado o edifício do extinto às grandes transformações do século de D eus , não passara ( . ) dos entres
. .
Convento da Madre de Deus - implicou XIX - e o cronista da Ordem confirma solhas (. ) e assim se vê em algumas
. .
grandes obras, entregues a José Maria (I75 5) , dizendo que a rainha D . Cata partes da dita obra que o intento era
Nepomuceno, que não foram as últimas rina intentou continuar os seus paços ( ) fazer-se no alto deles o aposento
. . .
do século XIX. Em I884 a capela e par a té ele, como mostra ainda hoje o seu real. De facto , o seu acabamento teria
te do edifício foram cedidos à Escola risco. O projecto régio de Xabregas, ditado um tratamento diferenciado do
Industrial Afonso Domingues. Já no que ganha assim outro enquadramen sítio de Xabregas, já que seria mais difí
século XX , por decreto de 31.I2 . I942, o to , estabelecia um novo pólo urbano cil ao progresso liberal construir uma
conjunto foi integrado na Casa Pia, agora de referência na cidade, funcionando linha de comboio ao nível do primeiro
Colégio de D . Maria Pia. (JFP) como alternativa quer a Belém quer andar de um paço real.
21
(futuro duque) de Palmela, e D. Fran
_,o
cisca Xavier, com o 3 . o marquês de
o
I �� llJ ii
Castelo Melhor. Este último casamento
1
i 'II I -�D;
( _�
0" 00 f 1 constituiu - segundo o marquês de
D oa Fronteira31 - um dos últimos que
I
_ I DO D ·
----- houve nesta capital, em que se obser
r� vassem os antigos costumes e etiquetas
aristocráticas. E acrescenta : o palácio
magnificamente mobilado pelo pai da
noiva, não era inferior a uma l'esidên-
cia real. Compôs-se o cortejo de 60
equipagens, que se o visse um estran
geiro ( . . ) pouco conhecedor dos nossos
costumes, julgaria que era o casamento
d'algum príncipe de sangue. Tinham
os marqueses na cocheira, nos primei
ros anos do século XIX, 12 bestas de
Pátio do palácio.
carruagem, três cavalos de acompanhar
sem que mais nela se trabalhasse. No 5. o conde de Unhão , viveu e morreu e 1 besta de servir a casa.
testamento referiu-se o conde à ermida (1768) em Xabregas, e casou com a 4. a D. Domingos Xavier, 9. o marquês, nota
que faço tenção de fazer na terra que marquesa de Nisa, unindo assim as duas bilizou-se quer pelo talento quer pelas
hora se chama Siqueiro, junto das casas casas, passando o edifício de Xabregas excentricidades, numa aura acentuada
que determino fazer na estrada que a ser conhecido como Palácio dos Mar pela perda de um olho no manejo das
vai da Cruz da Pedra para Chelas'9• queses de Nisa. A propriedade, com armas. Tinha fama de estúrdia incor
Esta obra é confirmada pelos livros de posta do palácio , horta, mais casas e rigível. Mais alto que baixo, bem pareci
Arruamentos que referem o palácio que lojas, estendia-se até à Samaritana, do, com acentuado porte fidalgo, com
está por acabar na propriedade do prolongando -se pela Estrada de CheIas, inimitável distinção de maneiras era,
marquês de Nisa, no lado direito da com outra na Rua da Amorosa, com nessa época, simultaneamente o homem
Estrada de CheIas. casas e horta. Em 1773 foi avaliada em mais estimado dos que partilhavam do
O testamento de D. Rodrigo (1759)30 4 6 8 4 0 0 réis. A D . Eugénia, 7 . a seu convívio ( . .) e mais temido pela
demonstra as dívidas da Casa de Unhão, marquesa de Nisa (1784), condessa da burguesia de Lisboa, que o supunha a
afirmando possuir um bastão que esteve Vidigueira e de Unhão, sucedeu o filho própria incarnação do Lucifel{J'. Fundou
na mão de S. Francisco Xavier determi D . Tomás, 8 . o marquês, que teve um a «Sociedade do Delírio» que deu brado
nando se guardasse em morgado perpé único filho, D. Domingos, 9.0 mar em Lisboa. A vivenda do marquês de Nisa
tuo com a condição de os sucessores quês de Nisa. Após as Invasões Fran ( . .) imitava os antigos palácios dos
imediatamente ao nome da pia usem cesas, a 7 . a marquesa casou duas filhas sumptuosos patrícios romanos - regur
do apelido de Xavier. D . João Xavier, no palácio: D. Eugénia, com o conde gitava de «clientes» no sentido latino do
20
hipótese de ali se construir um novo
convento de Comendadeiras de Avís,
solução que se tornou mais uma dor de
cabeça para as freiras, alegando que o
novo convento cresceria forçosamente
em edifícios altos (. . .) aumentando o
inconveniente dos edifícios que agora
estão feitos por Dona Margarida.
E acrescentavam que naqueles paços e
casas anexas vivia inúmera gente secular
à sombra do amparo do rei - e assim se
hão -de ir dos paços perto de 200
almas, e muitas delas pobres" .
A D . Margarida sucedeu sua filha
D. Francisca de Távora, igualmente
dama da rainha, que recebeu - entre
outras mercês •• - em dote de D . Filipe Fachada norte do palácio sobre o Largo do Marqul!s de Nisa. antigo Terreiro de Xabregas. com o portal de aceno ao pátio.
III o título de conde para quem com ela
casasse . O contemplado foi Fernão 4. O conde de Unhão, fez obras no palácio. O terramoto afectou bastante o edifício
Teles de Meneses com o título de conde Ferreira de Andrade, desconhecendo que, segundo descrição coeva (1758) ,
deJuro e Herdade e uma vez fora da lei com que fundamento, cita Braamcamp tinha a sua entrada para a parte do
mental da sua vila de Unhão·3 (1630) . Freire que imputa àquele fidalgo, ape nascente, obra antiga e tosca, de duas
O palácio , agora na Casa de Unhão , sar de ter a Casa sobrecarregada de ordens de galeria para o Sueste, e Leste,
voltou a sofrer obras no século XVII. dívidas e hipotecas, a edificação do pa pelo terremoto padeceu ruína o quarto
Refere um documento (r694) que por lácio de Xabregas·6• De facto , na dé alto, o qual se mandou lançar abaixo
ocasião da marquesa de Unhão fazer cada de quarenta, por várias vezes estando hoje o palacio só no segundo
obras nas casas de Xabregas se tirou D . Rodrigo pediu licença régia para quarto·8• Contudo , ficou em estado
daquele lugar o açougue que desde que o brigar bens de morgado , face às habitável, aí morrendo D . Rodrigo
se lembra a memória dos homens esteve grandes despesas e dívidas com que se (17 5 9 ) . Refere a mesma fonte que
nele tão próxim o ao Convento da debatia a sua casa. Os 15 000 cruzados D . Rodrigo , depois do terramoto,
Madre de Deus e ao de S. Francisco·4• anuais que recebera para alimentos determinou fundar outro palácio nas
Após a Restauração aqui esteve presa a (1735) e os mais de 30 000 cruzados de mesmas terras pertencentes ao do sítio
duquesa de Mântua, antes da transfe rendas hipotecadas aos credores não lhe de Xabregas na borda da estrada, que vai
rência para o Convento de Santos·5 • bastavam para suprir os gastos , porque da Cruz da Pedra para Cheias, e com
Os velhos paços de Xabregas per depois disso tinha (. . .) feito algumas efeito se principiou esta obra magnífica
maneceram nesta casa mais de dois despesas muito precisas na sua Casa de que se vê com grandeza um dos quar
séculos. N o século XVIII, D. Rodrigo , (. . .) (r741)·7. tos. Suspendeu-se há muito tempo
19
D. Cristóvão de Moura, o que lhe valeu
inúmeras mercês para efeito do seu
casamentaI), entre elas a doação ao
marido dos Paços de Xabregas. Invoca
vam as freiras, não só os privilégios
concedidos pelos reis, proibindo a
edificação de casas entre a Cruz da Pedra
e o Mosteiro de S . Francisco, nem da
banda do mar, nem da banda de terral8,
bem como a devassidão do mosteiro
perturbando-lhes a clausural9• Alega
vam (1605) que nestes chãos estão
principiados uns paços reais contíguos
com a cerca do dito mosteiro e há neles
quantidade de casas em que a rainha
Dona Catarina (. . .) viveu muito tempo,
A fazer fé no desenho de Francisco de Holanda. o soco em que assenta o actual Paládo dos Marqueses de Nisa será a única reminisc�nda do
(. . .) porém nenhuma casa se levantou
paço real inidado em 1556 por D. João III.
tanto que fosse mais alta que a cerca do
(ainda que com algumas imperfeições, da cortel3• Deste último quartel do sécu dito mosteiro e não passou a fábrica
ou descuidos no desenho) que por sua lo XVI pouco se sabe do palácio, por destes paços dos entressolhos (. . .) e
morte não ficaram acabados (. . . ) e se certo hospedando particulares, nas assim se vê em algumas partes da dita
lhe parecer m uito (. . .) acabe V. A. os palavras das freiras da Madre de Deus - obra que o intento era (. . .) fazer-se no
paços de Enxobregas (. . .). E se tiver depois os reis fizeram mercê a algumas alto deles o aposento real; e porém
saudade do m onte e da caça (enquanto pessoas nobres de moradas nos ditos vendo-se o prejuízo que se fazia com a
é obrigado a ter conta com Lisboa e Paços'4. Do litígio entre as religiosas e dita obra ao (. . .) mosteiro deixaram os
com sua corte) cerque meia légua de uma dessas moradoras, D . Margarida de reis de a continuar, e a que estava feita
terra dali até Chelas e a té além de Távora, que no palácio realizava grandes se cobriu com uma trouxa. Arrastan-
S. Bento, e faça um parque com (. . .) obras, pois as ergue a mais do que a rai do -se o litígio por mais de um ano ,
matas e arvoredos (. . .) muito melhores nha as tinhal5 , se sabe um pouco mais da D . Margarida, bem protegida, levou
que as que fez em Fontainebleau El-Rei sua história. Esta senhora era casada com por diante os seus intentos - fez (. . .)
de França". D . Martim Monso de Castro - falecido outras casas altas levantadas por cima
Em 1586 escrevia o padre Sande: o em Malaca em 1607, sendo vice-rei da dos m uros do dito mosteiro, as quais
extremo desta parte da cidade é afor Índia - a quem D. Filipe II fizera mercê poderão ter de alto 15 palmos, e com
moseado por outro magnífico palácio de que pudesse viver neles, e fazer alguns janelas menores que as dos paços, e
real que D. João III mandou edificar reparos se fossem necessários'6 . algumas para o dito mosteiro'o.
com grande dispêndio, com o fim de D . Margarida levantou mais um andar O facto de D . Margarida usufruir do
servir aos reis de Portugal para desvio no palácio . Era ela sobrinha do vice-rei palácio há pouco tempo justifica a
18
f) P A Ç 0 D E X A B R E G A S
17
o coro da �,íadre de Deus, com o caddral das freiras, exemplar notável da estêlica barroca portuguesa, nascida da harmonia contraditória entre a simplicidade estrutural da arquitectura e a exuberância da talha
e da pintura.
tuais da mesma responsabilidade nesta 9 Documentos do Arquivo Histórico da CML. Lisboa. Antonio Vicente da Silva, 1758, pp. 132.
CML, 1964, Livros de Reis, VIII, doe. n. ° 3 6 , 1� Castro, João B . de, A1appa de Portugal Antigo e
Zona Oriental, caso provável da capela p · 40. lIfoderno, Lisboa, Officina de Francisco Luiz. Ameno,
la Cardoso, Jorge, Agiologio Lusitano, Lisboa, ofr. 1763, T. III. P. V, pp. 273-274.
da Quinta do Roma ou das pinturas Craesbeckiana, 1652, coI. 2. a , T.I, pp. 375. 19 Telles, Liberato, A-fosteiro e egreja da Madre de Deus,
II
Belem, Fr. Jeronymo de. oh. cit.. L.0 XIII. Cap. II. Lisboa, Imprensa Moderna. 1899.
cenográficas documentalmente certifi pp· 5
" IANITT. CN, C - 12A. L.0 279. fl,. 57v-58v.
cadas do Palácio Olhão . (JSM)
13
parece ser o primeiro grande projecto
divulgador em Lisboa da arquitectura ao
romano, atitude deliberada do referido
12
(. . . ) a despesas (. . . ) de D . José 1'6. de Santa Auta, retratando a chegada
Moreira de Mendonça diz que (. . . ) teve das relíquias de Santa Auta a Xabregas.
algumas ruínas nas paredes exteriores7. O portal ficou como entrada da igreja
J. B . de Castro testemunha que (. . . ) construída por D . João III . Foi também
grande ruína experimentou a igreja deste com este arquitecto que se retirou a
mosteiro, a qual quase milagrosamente cúpula da torre da igreja. As obras foram
se susteve aos impetuosos abalos (. . . ) . continuadas, até ao fim do século, pelo
Levaram as religiosas toda a força dele no condutor de obras públicas, Liberato
Coro (. . . ) . Apearam-se meias paredes da Teles, que delas deixou memória19 . Em
capela-mor, a parede do coro corres parte da Escola Profissional de D . Maria
pondente à igreja, e algumas oficinas do Pia - que substituiu o Asilo (1928) -
interior da clausura, que tudo se acba instalou-se o Museu do Azulejo (1965)
quase reparado com mão larga ( . . ) do
. que , em 1980, passou a Museu Nacional
rei D . J osé'8. De referir que um dos do Azulejo. (JFP)
grandes problemas deste mosteiro foi a
falta de água, ao que lhe acudiram os II - COMENTÁRIO
padroeiros régios : D . Leonor fez à
sua custa a Fonte da Samaritana (151o) ; O Convento da Madre de Deus é um dos
D . Sebastião mandou abater todas mais importantes monumentos de Lis
as árvores juntas aos canos (r568) ; boa cuja história e riqueza patrimonial
D . Catarina fez mercê de dois poços de têm sido bem valorizadas pelo Museu da
água no vale de CheIas (r566 e 157:Ü ; e Azulejo que nele se alberga, pelo que
em 1609 recebeu o mosteiro uma outra remetemos a informação mais detalhada
fonte . para os estudos específicos que dele
No ano de 1872 , pouco depois da morte tratam (ver ainda o Guia do Azulejo) .
da última freira, o mosteiro foi anexado Convirá aqui realçar o seu relevo na
Claustro de D . João III. no Mosteiro da Madre de Deus, uma
pelo vizinho Asilo D. Maria Pia, pelo definição do sítio de Xabregas, criando das primeiras afirmações em Lisboa da estética renascentista
(pormenor).
que, juntamente com a igreja, recebeu um pólo que veio a determinar a evolu
obras de restauro e adaptação, dirigidas ção da zona. É natural que o acesso ao de engrandecimento que levou a cabo
durante anos por José Maria N epo mosteiro tenha levado à reconversão das na casa das Clarissas, parecem delinear
muceno - cujo trabalho gerou acesa vias públicas e ao incremento de movi um programa de grande envergadura.
polémica. Entre outras intervenções, a mento por terra e rio em toda a área de com o propósito de dotar Lisboa final
fachada exterior foi refeita e reintegrada Xabregas, conduzindo a uma atenção mente - como acentua Francisco de
no estilo manuelino - depois da alegada régia sobre este núcleo lisboeta. O pro Holanda - de um palácio real obedecen
descoberta do primitivo portal da igreja jecto posterior de D. João III, após 1556, do aos padrões clássicos então em voga.
.da fundadora entaipado numa parede de erguer um paço paredes-meias com O conjunto da intervenção régia joani
da sala capitular - com base nos painéis o convento, aliado às profundas obras na em Xabregas - convento e paço -
Il
pedraria, e devotíssimas capelas, sepa a fábrica da nova sacristia para que muito
radas umas das outras, onde as religiosas concorreu!3. As suas esmolas foram bem
atraídas do amor do céu, gastam a maior aproveitadas pelo sacristão da igreja, o
parte do tempo, que lhes fica livre das padre José Pacheco , a quem - segundo o
obrigações da comunidadelI• citado cronista - se deve o mais precioso
Na Madre de Deus se mandaram sepultar desta igreja, em que se tem gasto muitos
D . Leonor e a irmã D. Isabel, duquesa de mil cruzados. Ele fez todos os ornatos de
Bragança, e a infanta D. Maria estipulou talha sobre o arco da capela-mal', os do
em testamento que ficaria no capítulo interior da mesma, tecto e COlpO da igre
novo da Madre de Deus até ir para a Luz. ja, tudo dourado. A nova sacristia é obra
No ano de 1626, D . Frei João de Portu muito do seu particular empenho (. . . )
gal, bispo de Viseu, sagrou o altar-mOl'. procurou que tudo fícasse igual em
Foi, no entanto, com D. Pedro II que o correspondência . (o o .) Mudo u -lhe a
mosteiro e, sobretudo, a igreja, conhe serventia para a parte da epístola da
ceram grande riqueza decorativa, no capela -mal'. ( ) Chegou o custo desta
o o .
10
() rll 0 S T E I R 0 D A rll A D R E D E D E U S
9
An t e r i o r m e n t e a t a l data, a l i gação F O N T E DA S A M A R I T A N A
6
de três grandes pontos de referên c i a m ed i evais em Xabregas, o n d e d e p o i s
- B e l ém, na z o n a o c i d e n t a l , a s e ergueu o refer i d o C o n v e n to
R i b e i ra, ao centro, e Xabregas , na de São Fran c i s c o , i n formação q u e não
zona o r i e n ta l , defi n i n do - s e os n ovos s i gn i f i ca necessa r i a m e n te cons truções
l i m i tes geográficos da área envolvente de grande aparato, pois paço é,
da c i d a d e . O facto é q u e o Terre iro en tão, toda a casa onde o rei p o usa.
de Xabregas gan h a foros d e local C o m o v i m os, o topón i m o a l argava - s e
n obre d a corte, sendo a l argado e i n i c i a l mente a u m a á r e a m a i s v a s t a ,
reg u l ar i z ado por D. S e b a s t i ã o em 157 5 estando h o j e rest r i n g i da à f a i x a
para o c é l ebre torn e i o de Xabregas , r i b e i r i n h a e n t r e a Cruz da Pedra
descrito p or J orge Ferreira de e o i n ício da C a l çada d e D . G a s tão,
Vasco n c e l o s . Terre iro este que começo da a c t u a l zona d o G r i l o .
o a c t u a l v i ad u to d o c a m i n h o - d e - ferro A p r i m e ira construção q u e começa a
l i m i to u ao actual Largo do Marquês dar form a ao l oc a l é o Convento
de N i s a , p á l i d a rem i n i s c ê n c i a do d e São Fran c i sco d e Xabregas ( 1 8 ) ,
am p l o l ogradouro pri m i t iv o . Mas i n i c i ado n o s é c u l o XV, c u j a estrut ura
sobre que rea l i dade s e exerceu essa p r i m i t iva t i n h a outra o r i e n t ação, com
s u c e s s i v a vontade rég i a ? O sítio d e o pórt i co vi rado a sul, ou seja, sobre
Xabregas - o u Enxobregas c o m o o e s t e i ro e o futuro terre i r o .
a p a r e c e n a documentação m a i s A transformação defin i t i v a do s í t i o é
a n t i g a - res u l t a do povoamento da obra como v i m o s de D. J o ã o I I I , q u e
Troço da calçada já existente em 1509, depois chamada Rua
pequena reentrâ n c i a d o e s t e i ro do rio adqu i r i u os terrenos e n t r e São Direita da Madre de Deus.
que o r i g i n ar i amente subia até C h e i as, Fran c i sco e a Madre de D e us e aí terra até ao r i o parece l im itado à
cujo a s s o reamento levou ao i n i c i o u a construção d e um paço real A z i n h a ga (hoje rua) da Amorosa,
desenvo l v i m e n t o deste n ú c l e o urb a n o ( I Ú j unto ao ú l t i m o destes l i gação e s t r e i t a e s i n uosa que desce
m a i s j un t o a o r i o . A i n d a e m 1557 s e conventos, então submetido também d o troço s up e r i or da Estrada de
r e l at a n um d o c u m e n t o de São a profunda reconversão. Q u an t o à C h e i as, bordejando a propriedade
Fran c i s c o (18 ) que o mar ainda rede v i á r i a a n t e r i or ao Caminho do d e p o i s a d q u i r i d a por D. J oão I I I ,
naqueles tempos (com un i cava) com Oriente, as i n formações concretas são e a i n d a i n t egrada n o conjunto dos
o ribeiro que corre junto à fonte da bastante escassas, agravadas p e l a m arqueses d e N i sa (hoje Casa P i a ) .
Samari tana, por onde entrava (. . . ) i n ex i stên c i a d e cartas a n t e r i o res a o Para o l ad o oposto, s u b i a p o r detrás
u m braço dele. São c o n h e c i das sécu l o X I X e, a i n d a por c i m a , d e S ã o Francisco uma estreita via que
d i versas q u i ntas p r i m i t i va s , a l g u m a s profundamente a d u l teradas p e l as d ava acesso às q u i n tas l o ca l i zadas
d e l a s a d q u i r i das, quer por D . Leonor, m o d i f i cações i m postas p e l o traçado sobre a barroca - como a de Tristão
quer p o r D. J oão I I I , para a e x e c ução da l i n h a férrea. Antes da abertura d a C u n h a (de p o i s O l h ão) (19) - da
dos seus sucessivo s proj ectos, e há d a R u a da Madre de Deus e da q u a l o a c t u a l Beco dos To u c i n h e i ros,
m e s m o referê n c i a s a uns p aços rea i s a c t u a l Rua d e Xabregas, o acesso por t r u n cado p e l o c o m b o i o , const i t u i a
F o l h a n° 2 3 da Carta Topográfic a d e
F i l i pe F o l q u e ( 1 8 5 6 - 5 7 ) , referente à
z o n a de X abregas. N ote-se
a d o m i n ante dos três grandes
conj u ntos - M ad re de D e u s, P aço e
São F t'a n c is c o -, cuja relação e ntre s i
e c o m o r i o é j á então c o n d i c i o nada
pelo traçado d a l i n h a d o c a m i n ho-de
-ferro, recent e mente i n au g u rada.
A n e c ess i d a d e d e c ri ação de tal u d e s ,
q u e r fro nteiro à M ad re d e D e u s , q u e r
j unto a S ã o Francisco, b e m co m o o
l a n ç a mento do viad uto sobre
o Largo do Marquês de N is a ,
des c a racterizaram p o r c o m pl eto esta
área, tornando i rreco n h e c ível a i d e i a
d e u m terreiro a m plo, frontei r o a o
r i o . A l é m disso, tru n c o u a função d a
ant i g a R u a d o s T o u ci n h e i ro s , d epois
t ra n sfor m a d a e m s i m p l es beco.
D e real çar, ainda, o carácter
e m i n entem ente r i b e i r i nh o deste
n ú cl eo c o m escas s a penetração para
o i nterior, só resolvida pela abert u r a
n o l eito d o antigo esteiro fl u v i a l d a
R u a G uald i m Pais, e m 1 93 3 . N esta
t'e presentação o fu ndo do Largo d o
M at'q uês d e N isa é a i n d a fech ado p o r
u m renq u e d e construções, d e p o i s
arrasadas p a r a a b r i r a n ova r u a .
A l iás, n ota-se no d e s e n h o o traçado
d e u m a d e p ress ã o i rregu lat· a sul de
São Francisco, pos sível rem i n i s c ê n c i a
d o traçado do refet"ido esteiro q u e ,
c o m o s a b e m o s paI' d o c u m entação
do c itado convento, corria
exacta m e nte ju nto d e l e.
4
XA B R E GA S
A o contrário do que aconteceu com o num poder essen c i a l m ente m a r ít i m o . que o rei tran sform ava a R i b e i r a e
topó n i m o de S a n t a Apo l ó n i a, c ujo E s s a vontade d e a b r i r d e v e z a c i dade B e l ém , a r a i n h a v i úva erguia m es m o
âmbito s e foi a l argando com o correr a o r i o, perm i t i d a com certeza por s o b r e o r i o o s e u Convento da Madre
do tempo, com o de Xabregas d e u - s e u m a m a i o r segurança n o controle da d e D e us (1 6), correndo até o risco de
o fen ó m e n o i nverso. Até a o s é c u l o n avegação f l uv i a l - a construção d a o ver i n undado n as i n vern i a s . A l ém
XVI a d e s i gnação abran g i a u m a área Torre de B e l ém tem n e s s e processo d i sso d i s p u n h a res i d ê n c i a p ró p r i a
m u i to m a i s vasta do que a q u e l a que u m papel e m b l e m á t i c o - n ão se a n e x a ao m e s m o convento, que
hoje con h ecemos, esten d e n d o - s e, de l i m i t o u, n o entanto, à i n i c i at i v a esco l h e u para sep u l t ura, n ã o sendo
facto, a t o da a f a i x a r i b e i r i n h a entre desse m o n arca. O u m e l h or, e l a de exc l u i r a h ipótese de se dever à
a C r u z d a Pedra e o l i m ite de Marv i l a, i n sere-se n um a d i n â m i c a anteri or, s u a i n i c i at i va a abertura da R ua da
ou sej a, desde a Madre de D e u s até c u j o s p r i m e i ros s i n a i s se encon tram Madre de Deus, já c i tada em 1509,
a o Beat o . Prova-o a d e s i g n ação do exactamente nessa vasta zona p o u c o depo i s Rua D i r e i t a da Madre de De us,
Convento de S ã o Bento de Xabregas, m a i s que despovoada que d a v a e n t ão i n i c i a n d o ass i m o processo de
a i n d a em uso n o s é c u l o XV I I I, só p e l o n o m e genérico de Xabregas. a l teração viária de toda a zona c o m
depo i s d e f i n i t ivamente subst i t u ída C o m efei to, as fun dações e m m eados o l ançamento da nova estrada
p e l a de o Beato, em m em ó r i a d o seu d o s é c u l o XV d o Convento dos L ó i o s r i b e i r i n h a, que agora se baptizo u
reco n s t r u tor, o padre A n tó n i o da - São Bento de Xabregas (Beato), p o r c o m o Caminho do Oriente. Ao d e i xa r
Conce i ç ã o, m a i s con h e c i do pelo Beato i n i c iat iva da r a i n h a D. I s a b e l , m u l h er o s e u convento n o padroado rég i o,
Antón i o. Esta progress i va repart ição de D . Afonso V e mãe de D . J oão I I, c r i o u a obrigação de os r e i s o l h arem
topo n ím i ca a part i r do séc u l o X V I, e de São Fran c i sco de Xabregas, com com atenção p ara essa zona da
autonom i zando des i gn ações l oc a i s a p o i o de D. Afonso V e o patro c ín i o c i dade, acção i m ed i atamente
i n i c i a l m e n te m u i t o res tritas - c o m o d a condessa de A t o u g u i a, D . G u i om ar prossegu i d a p e l o s e u herdeiro
é o caso d o G r i l o - é o s i n a l m a i s de C a s tro, ambos l o c a l izados n a i m e d i ato, o sobri n h o D. J oã o I I I .
s i n t o m á t i c o d o escasso povoamento parte b a i x a j unto a o r i o e com acesso Este r e i protag o n i z a n a verdade o
i n i c i a l da m argem i m e d i ata d o r i o, f l uv i a l , const i t uem n a verdade o grande projecto de transformação d e
que s ó se desenvo l ve a partir dos i n í c i o de uma m udança rad i c a l na Xabregas, cujos det a l h es ana l isaremos
i n íc i os d o referido s é c u l o X V I . orgân i ca f u n c i o n a l de todo este a d i an t e ao tratarmos d o paço q u e
C o m o j á a trás se s i n a l i z o u, a esco l h a arra b a l d e l i sboeta, começando a a q u i c o m e ç o u a construir (17).
da R i be i r a p o r D . Man u e l p ara n e l a m a rgem do r i o a trans form a r - s e A d i a n t e - s e desde já que o monarca
erguer o s e u p a ç o n ovo, acentuada l e n tamente n a f a c h a d a n o b r e d a parece ter t i do em mente a def i n ição
p e l a l o ca l i zação n a pra i a do Reste l o própria c i dade. E s t a verd a d e i r a de um p ó l o a l tern a t i vo ao Terre i ro d o
d o Most e i ro d o s J er ó n i m os, v e i o dar «revo l uç ã o » da relação da c i dade Paço, d e s e j a n d o transformar o
u m novo e s t i m u l o à zona r i b e i r i n ha, c o m o r i o seria assumida de forma terreiro de Xabregas em verdade i ra
a l iás perfeitamente aj ustada m u ito n ít i d a pela ra i n h a D . Leon o r, praça real, n u m a redefi n i ção da
à cap i t a l de u m Estado estribado i r m ã de D . M a n u e l . Ao mesmo t e m p o frente r i b e i r i n h a d o r i o dotada agora
3
� Q U i n TA L E I T E D E S 0 U S A
I- RESENHA HISTÓRICA
49
e Oliveira'·. Pastor de Macedo refere o
«Pátio de Luís Side» (1724) e o « Pátio
do Side» (1738) , ano em que ali mor
reu o abade José Moura'3.
Os bens de Luís Cid passaram para sua
irmã, D. Constança da Silva Azevedo e
Castro , 5 . a senhora da Lagoa do
Cardo , no Algarve, casada com Fernão
Leite de Sousa Matos, 9 . ° senhor do
morgado de Nossa Senhora da Espe
rança. O neto destes, Fernão Leite
de Sousa, sargento-mor de Lisboa, em
1748 já vivia na sua quinta do sítio do
Grilo'4. Natural da Ameixoeira (1717) e
habilitado pelo Santo Ofício'5, por
morte da avó D. Constança - legítima
administradora dos quatro morgados
Fachada sobre o pátio da Quinta Leite de Sousa, arranjo datável da segunda metade do século XVIII. Notem-se as duas janelas cegas,
correspondentes a duas paredes mestras mais antigas, evidenciando o carácter do arranjo palaciano que sofreu esta casa de quinta. que instituíram o reverendo cónego
refere Luís Cid como administrador do de que se não seguia prejuízo algum António de Alm eida, D. Maria de
do morgado instituído por Antão de no imediato sucessor que era um filho Azevedo, D. Inês Maria da Silva e Lopo
Oliveira seu terceiro avô8, que tinha, de idade de I4 anos. No ano Roiz de Almeida'6 - ficou como admi
Este Luís Cid, filho de Francisco de Al de 1717, viu -se na necessidade de sub nistrador da casa , apesar da oposição
meida da Silva e de D , Isabel de Lacer- -rogar umas casas do morgado de Antão de seu tio mais novo, José Leite de
da, irmã do cardeal Pereira de Lacerda, de Oliveira - várias propriedades que Sousa. Receoso que este (. . .) se u tili
bispo do Algarve, ampliou a proprie fizera no chão junto à sua quinta do zasse dos seus rendimentos despedira
dade do Grilo, pertença do morgado - Grilo (. . .) pela grande conveniência logo alguns soldados do seu regimento
uma quinta extramuros desta cidade com que ficava o dito morgado (. . .) a cobrar com alguma violência todos os
no sítio do Grilo em a qual quinta e terem estas casas menos perigo de caídos que se achassem na província de
ele suplicante tinha acrescentado duas incêndios e ruínas, por serem de abó Além Tejo, donde estavam as mais
moradas de casas que hoje rendiam bada, ao que as do dito Foro estavam Fazendas dos ditos morgados. Entre os
IDO 000 réis em cada um an09. Obri- expostas como já lhe sucedera (. . .) e bens de morgado encontravam-se (. . .)
gou este rendimento para segurar a constar valer de principal o Foro do umas casas nobres sitas na sua quinta do
tença que permitiria a profissão na Luz morgado reFerido I70 000 rslO• A viúva Grilo (. . .) cujas casas precisavam de
de uma filha natural, D . Margarida, de Luís Cid, D . Mariana da Silva e muitos reparos e juntamente de lhes
necessitando de provisão régia (r7n) , Sousa, faleceu nas casas da quinta, acrescentar mais três casas e outras
pelas tais benFeitorias estarem Feitas em (172 6)lI, quatro anos depois do filho , obras de que necessitavam para aco
o chão da dita quinta que era de morga - Francisco Dionísio de Almeida da Silva modação do suplicante e sua Família'7,
5°
Para conseguir realizar as obras, uma vez Sem geração , caiu a casa (1829) na
que se encontrava sem meios, contra posse de uma prima, lO. a senhora de
tou-se com os mestres João Duarte, Tavarede e das Lezírias de Buarcos -
pedreiro, e Manuel Luís da Costa, car sucessora no morgado de Nossa
pinteiro , consignando-lhes �OO 000 Senhora da Esperança em Santarém - e
réis anuais nos rendimentos da quinta e mãe do r . o conde e barão de Tavarede,
mais bens do morgado (1747) . Igual João de Almada e Quadros . Manteve-se
mente levaram obras as casas pequenas a Casa de Tavarede na posse da Quinta
que ficam à face da rua . É possível que o do Grilo durante a maior parte do
pintor-dourador Bernardo da Costa século XIX Antes da viragem do século
.
A Fernão Leite de Sousa sucedeu (1799) tinho , se dividiam dos dois lados da via Esta enorme quinta ocupava toda a
sua filha natural, r . a viscondessa de pública, levou-nos à identificação ini frente da Rua de Xabregas e o começo
Condeixa, pelo casamento com Pedro cial desta quinta como sendo as casas da da Calçada de D. Gastão, desde a Quinta
Ataíde e Melo, que viveram no Grilo . banda de cima referidas em vária docu- dos Cunha (Olhão) até à pequena
51
de cantaria rusticada, gosto muito em informação de construções anexas
voga desde finais do século XVI, abobadadas nos inícios do século
poderemos avançar com a datação XVIII, e , sobretudo , a existência de
provisória da construção desde esse uma grande campanha de obras a
período até inícios do século XVIII, partir de 1747, depois da quinta cair
dado não se ter encontrado nenhum na posse de Fernão Leite de Sousa ,
documento que afirme inequivoca falecido já na década de noventa .
mente uma data precisa . No entanto, Deverá ser da iniciativa deste o acesso
as informações recolhidas que remon pelo portão a nascente - hoj e desman
tam a 1582, parecem apoiar a hipótese telado para entrada de viaturas - e a
de uma presença de casas nobres já abertura no referido muro de suporte
vinculadas desde inícios do século de um portal fronteiro ao pátio em
XVII . O mais certo é a realização de declive , dando acesso ao vestíbulo e à
o portão de acesso ao pálio da Quinta Leite de Sousa, hoje cm
parle desmanchado para facilitar a entrada de viaturas, dado que o sucessivas obras e alterações, como a escadaria , cuj a articulação interior
pátio funciona hoje como logradouro público.
documentação aliás parece também denota o carácter de adaptação não
azinhaga que subia a encosta , hoje difi co nfirmar. Mais tarde , em confor muito cuidada. Sobre a estrutura anti
cilmente reconhecível nas apertadas mação da rede viária e da conco ga fez-se correr uma nova fachada
Escadinhas de D. Gastão. A existência mitante subalternização dos velhos nobre palaciana, cujo rigor simétrico
desta azinhaga, que ligava ao esquema caminhos, ou meSlno o seu desapa de 13 aberturas de sacada não condiz
viário mais antigo , é determinante recimento físico , o conjunto vai ser com a anterior estrutura dos suportes
para se compreender a divisão da reorientado organicamente , abrin do muro , obrigando a que duas dessas
propriedade , bem como a organização do-se ao rio e à via pública. Temos j anelas sejam cegas por coincidirem
primitiva do edifício nobre da quinta.
Este, que hoj e apresenta a sua entrada
para nascente, virava -se primitiva
mente a poente , definindo uma estru
tura muito comum em U em torno de
um pátio. Dado o declive da ravina ,
era suportada a parte traseira sobre
o rio por um muro sustentado em
arcaria e forte cunhal rusticado -
espécie de criptopórtico -, o qual
permitia o indispensável nivelamento
das dep endências superiores e a
existência de armazéns na parte baixa ,
sem comunicação interna inicial. Pelo
desenho evidenciado por esse cunhal Pormenor do primeiro lanço da escadaria interior do palácio. com reycstimento de azulejos da segunda metade do sêculo XVIII.
52
cOln anteriores paredes mestras. Estas
obras ter-se-ão arrastado por bastante
tempo, dado que o modelo das guardas
de ferro dessas sacadas e os azulej os que
decoram a parte acrescentada são já
posteriores ao terramoto, com interes
santes exemplares entre estes últimos de
padrões ditos pombalinos (ver Guia do
Azulejo) .
Não foi possível apurar a data exacta em
que por meados do século XIX os
condes de Tavarede , últimos detentores
do vínculo , parcelaram a quinta em
várias propriedades. Na parte rural,
sobre a Rua de Xabregas, foi erguida
uma importante unidade têxtil (ver
Guia do Património Industrial) onde ASSISTÊNCIA ESCOLAR DO BEATO E OLIVAIS crianças, dispondo ainda de gabinete de
hoje se situa um supermercado e um Faiança portuguesa, s/marca, cerca de assistência médica e instalações
inestético prédio de rendimento . 1913 sanitárias pat'a banhos q uentes e d ispen
Quanto ao conjunto da casa e A antiga Escola Central n .0 20 da Vila sário com roupa, tudo acondicionado
dependências foi transformado em víla Zenha (hoje Escola Primária n .0 2 1 ) , que em edificio então constt'uído de raiz
operária - hoje Maria Luísa -, com funciona na Q uinta Leite de Sousa, era fechando o antigo pátio poente da casa
profundas transformações e acrescen frequentada pelos filhos dos operários da dos Leite de Sousa. Este serviço de
tos . Num anexo que fechou o antigo Zona Oriental, com naturais carências j antar, com múltiplas peças, mantém-se
pátio superior da casa funcionou um de vária ordem. Em 1 9 1 3, foi fundada a n u m grande armário possivelmente
Centro Republicano e no seu corpo Assistência Escolar do Beato e O livais, destinado de origem à sua guarda, ainda
principal estão agora sediadas uma esco inaugurada pelo então pt'esidente da hoje perfeitamente conservado pela
la primária pública e outra privada, o República, Manuel de Arriaga. Anexa à atenção da actual responsável da escola
Colégio Camilo Castelo Branco . (JSM) escola é construída uma cantina para 1 44 na antiga cozinha da q uinta. (LA)
I IANfTT, Chancelaria de D. João III, L o 61, fI. I32v. 6 IANfTT, Chancelaria de D. Pedro II, L.o 55. O . q·9\'. I]
...
Pastor de 1 1acedo, Lisboa de Lês a Lês, Lisboa, Cl\,[L,
2 Tombo das obrigações das capelas do Convento de 7 lANfIT, Chancelaria de D. Pedro II, L. ° 54. O. 115. 1985, VaI . 111, pp. 293- - lANfIT, RP. Santa Engrácia.
S . Francisco de Xabregas. ln Andrade, Ferreira d e , 8 IANfIT, Chancelaria de D . João V, L . 0 37, Óbitos, Cx. 26, L. ° 3, fls. 156 e L. ° 4 , fl . 130.
Palácios Reais de Lisboa, Lisboa, 1 9 4 9 . pp. 55· Os. I O O - I OO\'. l-j. IANfTT, CN, C - I z B , Cx. 65, L. 0 647, fls. 2 0 - 21\'.
:I Andrade, Ferreira de, Palácios Reais de Lisboa, Editorial '.l IANrrT, Chancelaria de D . João V. L.0 3 7 , " IANfTT. HSO. Mç. 2 . di!. 3 7 .
Império, 1949. p . 5 5 · O S . I O O - - IOO\'. ,6 IANfIT. Chancelaria de D . João V. L.0 9 8 , fls. 22"-229.
-t Santa Maria, FI'. Agostinho de, Salltuario l\lariano. 'o lANfIT, Chancelaria de D . João V. L.0 4 5 , n. 2 6 2 . 17 IANfTT. Chancelaria de D. João V, L.0 117, fls. 37\'-38.
Lisboa. Officina de Antonio Pedrozo Galram, 1 7 0 7 . !! IANfTT, RP, Santa Engrácia, Óbitos, Cx. 2 6 , L O 3 , ,8 IANfTT, RGT, L.0 240, fls. I24V-127v.
pp. 1 9 7 - 1 9 8 . 11. 1 i 6 . '9 AHTC, D C , Santa Engrácia. Arruamentos. Mç_ 430.
20
5 Index d a s Notas de vários Tabeliàes de Lisboa, Lisboa, l :t IANrrr, RP, Santa Engrácia, Óbitos. Cx. 2 6 , L.0 3 , AHTC, D C , Santa Engrácia, Arruamentos, l\,[ ç. 449.
BNL. 19'19. T. 'I. p . 6. O . I 2 2\'.
53
,
G P A L A C I 0 D 0 S S E n H 0 R E S D A S I L H A S D E S E RT A S
I- RESENHA HISTÓRICA
55
dispêndios registou numa memória,
declarando nào só as dívidas que dei
xara ao morgado , como (. . . ) as despesas
que fez na compra do foro desta quinta
do Grilo, e outras mais obras e benfei
torias da mesma quinta'3. No primeiro
quartel do século XVIII , à imagem de
outras grandes casas senhoriais, por
várias vezes a das Ilhas Desertas recor
reu ao expediente de sub- rogar bens de
morgado e da Coroa - com o respecti
vo aval régio - para contornar proble
mas de solvência financeira e de
suportar as onerosas campanhas de
obras. Nas benfeitorias que tinha feito
Fachada sobre o antigo Largo de D. Gastão do Palácio dos Senhores das Ilhas Desertas, composta por dois corpos justapostos possivelmente de
na Quinta do Grilo sub-rogou (1713)
épocas diferentes e hoje bastante descaracterizadas na sua estrutura original.
600 000 réis, quantia equivalente à da
detentor da grande quinta vizinha segundo do segundo matrimónio do venda de umas casas do morgado a Santa
(depois dos Leite de Sousa) , que já ofe terceiro capitão, Simão Gonçalves da Justa que (o o .) não podia reedificar por
recera a pedra e o chão para a cons Câmara, com D. Isabel da Silva, filha de não ter dinheiro e estar fazendo obras
trução do adro da ermida de D. Gastão . D . João de Ataíde, da Casa de Atouguia. mais precisas na quinta do Grilo, cabeça
Anos depois, comprou-lhe D . Luís a D . Gastão José (8. ° senhor) sucedeu a do dito morgado, cujas benfeitorias
pedreira e terra que se lhe seguiaIO. seu pai nas Ilhas Desertas, no morgado importavam em mais de 4000 cruzados,
Acresceu a este conjunto fundiário os do Grilo e outros, a que juntou, por o que tinha feito, e importaria em mais
penhascos integrados no morgado de linha materna, os de Punhete, instituí de ou tros quatro as benfeitorias que ia
Vaqueiros (1519) as casas que estão
- do por D . Francisco de Sande , e o da continuando na dita quinta'4. A falta de
junto de Xabregas do PenedoI1 pela - Taipa, por D. Maria da Silva, viúva bens livres capazes de segurar o dote e
2 . a condessa de Atouguia, D . Filipa de de João Rodrigues Pereira, senhor de arras 20 000 cruzados - para a rea
-
Azevedo , morgado esse que veio a cair Cabeceiras de Basto, dando corpo à lização do casamento do primogénito ,
nesta casa das Ilhas Desertas , ali vivendo grande casa dos senhores das Ilhas D . Luís (9 . °) , com D . Isabel de Men
e morrendo o referido Francisco Gon Desertas, com a propriedade hereditária donça, filha dos condes de Vale de Reis,
çalves da Câmara e Ataíde'2 • de Regalados , a alcaidaria-mor de levou D . Gastão (8.°) a obrigar bens
D . Luís Gonçalves da Câmara Cou Torres Vedras e o ofício de vedor da de morgado e da Coroa <r715)I 5 .
tinho , foi 7. ° senhor donatário das Casa das Rainhas. Este D. Gastão (8 . ° ) , Ascendendo as dívidas da casa a 70 000
Ilhas Desertas - morgado separado da estribeiro-mor da rainha, fez grandes cruzados, em 1732 , por especial graça,
Casa dos Capitães do Funchal em 1519 a obras no Grilo, onde seu pai já tinha fez novo empenhamento de bens de
favor de Luís Gonçalves de Ataíde, filho feito alguns melhoramento s , cujos morgado , por tempo de 30 anos'6•
A Gazeta de Lisboa, que com frequên
cia noticiava as cerimónias religiosas na
Ermida de Nossa Senhora do Rosário ,
regista a morte de D. Gastão (1736)1"
aos 74 anos. No ano seguinte noticiava
a visita à ermida , do rei, do príncipe
e do infante D. Pedro , que depois da
oração fizeram a honra ao padroeiro
dela, D. Luís (9 . 0 ) , de lançar água ben
ta na sepultura de seu papB. No dia
seguinte foi a vez da rainha com a prin
cesa do Brasil ali assistirem aos festejos
da rainha Santa Isabel. Em 1745 rea
lizou-se o casamento de D. Leonor
Josefa da Câmara, filha de D. Luís , com
D. António Álvares da Cunha, depois RC510S das antigas quatro moradias para os capelães, fronteiras ao palácio e abrindo sobre o primitivo Largo de D . Gastão. Estas casas foram
renovadas no século XVIII pelo principal D. Francisco de Sales da Câmara, filho segundo desta família que nelas morou. Nota-se. ao fundo.
1. ° conde da Cunhal9. uma dessas antigas casas, com quatro sacadas no piso nobre. lendo a seguinte sido transformada em armazém. A Qutra construção de topo é
A um dos filhos de D . Gastão ( B . O) , um acrescento posterior. erguido em parle sobre o traçado original da antiga via pública, hoje Escadinhas de D. Gastão.
mento (1736), declarando que o Prin para o poente, que mandou fazer o casas em que reside (. )23 Nesse ano . . .
cipal (. . .) tem feito muitas benfeitorias excelentíssimo Principal D. Francisco D . Gastão sub-rogou 985 000 réis nas
nas casas em que mora defronte das em de Sales, e um embarcadouro excelen obras que fizera na propriedade, tendo
que eu vivo , e também na quinta te com sua porta no mesmo palácio. (. ) acrescentado no seu palácio no
. .
con tígua às mesmas casas20• Estas obras A entrada que fica ao norte na mes sítio do Grilo, cabeça do mesmo morga
não foram alheias à promessa - a que ma calçada que vai para o Grilo não do, um quarto que reedificara de novo
anuiu o sucessor da casa - de que em corresponde à magnificência do novo «a fundamentis» , com o qual se tinha
sua vida fosse senhor e possuidor tanto quarto, cuja galeria cai sobre a dita a umentado o dito prédio nas melhores
dessas casas, como da quinta. D . Fran varanda2I• a comodações para os sucessores do
cisco de Sales usufruiu dessa proprie Entretanto , viúva desde 1744, D . Isabel mesmo vínculo. Constou ainda no auto
dade até falecer, em 1755, juntamente Libânia partilhou o palácio sobre o rio de vistoria (. . ) ter-se feito de novo um
.
com a que possuía em Almeirim , onde com seu filho D. Gastão (1 0 . ° ) até à cais pela frente do mar revestido todo de
instituiu capela. morte do Principal, depois do que enxelharia tanto por esta parte como
Do palácio diz o prior Luís Barbuda se instalou D. Libânia nas casas nobres por cima todo lajeado, e também a
Cr759) que (. . . ) situado ao Grilo na fronteiras ao «Largo de D. Gastão» mesma reformação desta rede nova; e
57
novo em 2 50 0 000 réis, e o reparo das descobrindo o túmulo de D. Gastão
casas místicas em 400 000 réis2�. Coutinho, que está do lado da Epístola,
A Quinta do Grilo é descrita entre a é que senti uma certa comoção que
segunda metade do século XVIII e n unca pude explicar e que me fez dizer
meados do século XIX'5, do lado do a minha sogra que a capela era magnífi
rio : palácio , armazéns, terce nas e as ca, mas que o lugar onde se recebiam as
quatro moradas de casas onde assistem bênçãos nupciais, entre dois túmulos,
os capelães da ermida, sita no palácio ; era triste29.
do lado oposto : casas com cocheira e o 1 2 . ° senhor das Ilhas Desertas,
estrebaria, o palácio, ou casas nobres, D . Gastão da Câmara Coutinho Pereira
com cocheira, loja e quarto por cima e de Sande, baptizado na ermida em
a quinta. Do palácio deixou colorido 17933°, L ° conde da Taipa (r823),
testemunho, no primeiro quartel do casado com D . Francisca de Almeida,
século XIX, o marquês de Fronteira, viúva do L ° marquês de Valada , reuniu
que ali namorou e casou com D . Maria em 1863 todos os morgados de sua casa
Constança, filha de D. Luís Gonçalves sob o título de Vaqueiros31 . Castilho , a
da Câmara Coutinho (II. 0 ) e irmã do propósito da transferência da freguesia
conde da Taipa . No faustoso palácio dos de S. Bartolomeu para o Grilo (1836) ,
sogros - diz o marquês - se encon alude à (. . .) influência do conde da
travam ali os primeiros talentos musicais Taipa, que então morava num palácio
de Lisboa e, muitas vezes, se dançava até histórico (hoje transformado) no vizi
de madrugada26• Fala das representações nho Largo de D. Gastã032• Entre re
nas salas do Grilo , num período em que construções e mutilações, é bem visível
o teatro era muito frequentado pela so do exterior a estrutura, outrora sobre o
ciedade, onde esteve hospedada durante rio , da varanda e do embarcadouro da
anos a família Mieterni, protegida por casa que em outros tempos se impunha
sua sogra - e acrescenta: O teatro do a quem andava pelo rio . Da capela -
Grilo era dirigido por artistas distin citando Manuel Bernardes B ranco
Dois outros aspectos da grande varanda/cais do Palácio dos
Senhores das Ilhas Desertas. vendo-se a antiga varanda sobre que
tos da época. O famoso Bontempo, o (1883) - nem vestígios se encontram33•
abriam as salas nobres. hoje com barracões escolares.
primeiro rabeca Pin to Palma, e os (JFP)
que por cima do cais onde havia um Jordanis, tomavam parte nas partidas
quintal, se reformaram duas casas, musicais que ali havia27. Na capela do
m uito bem acabadas e forradas de Grilo recebeu as bênçãos nupciais
chumbo, e que no pardieiro que havia (1821)'8, naquele que foi o último casa
no pátio, fizera o suplicante quatro mento ali realizado . Da cerimónia dei-
casa� com paredes quase todas novas, xou a sua impressão : Só quando me
avaliando -se toda esta obra feita de levantei e beijei a mão de minha sogra,
II - COMENTÁRIO
59
toda a sua variedade e riqueza, num só as diversas propriedades dos dois
efeito de surpresa tão ao gosto barro lados da via pública.
co que não deixa, também, de insi O elemento mais importante deste
nuar um certo culto pelo secretismo conjunto era, sem dúvida, a grande
intimista sensível na tradição palaciana capela , j azigo durante dois séculos de
lisboeta. todos os membros desta família. As
Se quanto ao conjunto edificado as constantes visitas régias e as divf!rsas
dúvidas são imensas, o mesmo se passa cerimónias nela desenroladas, sobre-
quanto à estrutura das duas proprie tudo a festa da padroeira a 2 de Julho ,
dades de cada lado da rua. Sabemos fizeram época nos anais lisboetas,
que a condessa de Atouguia integrou acentuando o relevo de se tratar de
em 1519 no morgado de Vaqueiros as um dos poucos monumentos vivos
casas que estão junto de Xabl'egas do à Restauração de 1640, sempre lem
Penedo. Sabemos que esse morgado , b rada nas bandeiras expostas que
no século XVlI, estava na posse de D . Gastão Coutinho ganhara nas suas
Francisco Gonçalves da Câmara e campanhas militares. Deste interes
Ataíde, 6 . o senhor das Ilhas D esertas, sante monumento nada resta , não
casado com D . Filipa Coutinho , irmã deixando de constituir um enigma
de D. Gastão Coutinho, fundador da A actual Rua da Manutenção, outrora cais de embarque da como é que ela desapareceu sem deixar
propriedade dos senhores das Ilhas Desertas.
Ermida de Nossa Senhora do Rosário traços na documentação, já que até
da Restauração , e criador com sua a capela foi fundada no tal penedo ao presente nada foi encontrado . As
mulher , D . Isabel Ferraz, do morgado do morgado de Vaqueiros, lançando b andeiras e o enorme túmulo de
do Grilo que tinha por cabeça essa alguma confusão sobre a conjugação mármore de D. Gastão Coutinho , um
mesma capela. Sabemos, por outros das várias propriedades em questão . dos quarenta do I. o de Dezembro -
documentos, que os terrenos da pe Parece, todavia, pouco provável que que tanto impressionou o marquês
dreira para erguer o adro da capela e D . Gastão pudesse instituir um vín de Fronteira que nesta capela casou
as casas fronteiras para os capelães culo num terreno propriedade do em 1821 -, mais a devota imagem de
foram adquiridos (1656) pela referida cunhado , o qual, por variada infor Nossa Senhora do Rosário da Res-
D . Isabel ao vizinho António de Oli- mação , sabemos que viveu com ele em tauração sumiram-se para sempre na
veira de Azevedo , senhor da quinta permanente litígio . Só o eventual poeira de uma memória colectiva
depois dos Leite de Sousa, parecendo , aparecimento do arquivo desta casa infelizmente muito pouco interessada
pois, que D. Gastão fundou a capela poderia resolver esta complexa em em cuidar de si.
em terrenos diversos daqueles que brulhada, que definidamente perdeu Como informação complementar de
possuía seu cunhado, o referido Fran sentido uma vez que D. Luís Gonçalves interesse histórico , diga -se que o I . o
cisco da Câmara. N o entanto , Frei da Câmara Coutinho, 7. o senhor das senhor das Ilhas Desertas, então parte
Agostinho de Santa Maria afirma no rihas Desertas, foi o único herdeiro do integrante da capitania do Funchal,
século XVlII (ver texto anexo) que pai e do tio materno, reunindo numa foi João Gonçalves Zarco da Câmara ,
60
o celebrizado povoador da ilha da
Madeira. Mais tarde, seu neto, Simão
Gonçalves da Câmara, 3 . o capitão ,
veio a separar as Ilhas D esertas em
senhorio autónomo a favor do filho
do seu segundo casamento, Luís Gon
çalves de Ataíde, portanto 4. o senhor
das Ilhas D esertas, neto pela mãe dos
condes de Atouguia. O neto deste,
o referido Francisco Gonçalves da
Câmara , 6. o senhor, tentou suceder
na capitania do Funchal como pri
meiro descendente por varonia da
família , ao extinguir -se no século
XVII a linha principal, a dos condes da
Calheta , perdendo vários processos
para a Casa C astelo Melhor , que veio a
ser a herdeira. No entanto , e como
representantes da linha varonil pri CAIS DOS SENHORES DAS ILHAS DESERTAS ao longo da margem . Os I'estos do cais
mogénita da descendência dos capitães o progressivo avanço da margem do rio dos senhores das I lhas Desertas,
do Funchal, os sucessivos senhores fez desaparecei' uma das i m agens mais na actual Rua da Manutenção, é u m a
desta casa usaram exclusivamente as marcantes da Zona Oriental de Lisboa, das poucas reminiscências dessa
armas de Câmara em chefe , sem mis marcada pela sucessão d e var i ados cais realidad e d e outrora, cuja lembrança
turas , apesar de todos os outros mor de acostagem, alguns públicos está bem viva nas referências
gados que na casa caíram. (JSM) e o u tros de carácter privado, que lhe faz o marquês de Fronteira
servindo as diversas casas d ispostas nas suas Memórias.
l lANlTT, Chancelaria de D. Sebastião, L.0 23. Os. 279. II IANfTT, Vínculos, Santarém, n. o 21, ns. 6 . 25 AHTC, D C , Santa Engrácia, Livros de Arruamentos,
:I lANlTT, RP, Casamentos, L. o I , n. 3°'1. I� IANfTT, RP, Santa Engrácia, Óbitos, Cx. 25, L . o I . mçs. 420-465.
3 Macedo. Luís Pastor de. Lisboa de Lés a Lés, Lisboa, 1] lANfTT, RGT, L . o 2 1 0 , n s . 70v. 26 Barreto, D . José Mascarenhas. Memórias do Marquês de
CML. Vol. IV. p . 123. I{ IANfTT, Chancelaria de D . João V. L.0 38, n. 165v. Fronteú'a e d'A/orna, Coimbra, Imprensa da
4 lANfIT. Vínculos, Santarém, n. o 21. IS IANfTT. Chancelaria de D. João V, L.0 42. n . 297. Universidade, 1926, P. I, (1802-1818), p. 156.
5 Index das nolas de vários tabeliães de Lisboa, Lisboa, 16 IANfTT, Chancelaria de D . João V, L. 0 82. n. 12v. 27 Barreto, D . JOSé Mascarenhas, oh. dI. P. II, (z818-
BNL. 1944. T. 3. p . 170. 17 Gazeta de Lisboa de 30.8.1736; e lANfIT, RP, Santa -1824). p. 181.
6 IANITT. RP. Santa Engrácia, Óbitos, ex. 25. L o I . Engrácia, Óbitos, Cx. 26, L . ° 4, n. 43v. 2S lANfIT. RP, S . Bartolomeu, Casamentos, L. o 4 .
7 Costa, P. Antonio Carvalho d a , COI'ografia Portuguua. IS Gazeta de Lisboa de 11.7.1737. n . 2v.
Braga, Typographia de Domingos Gonçalves Couvea. 19 Gazeta de Lisboa de 16.3.1745; e lANfTT, RP. Santa '29 Barreto, D. JOSé Mascarenhas. oh. dI. P. II, (1818-
1868-69. p . 262. Engrácia, Casamentos, ex. 19, L. o 6 , n. 26v -1824). p. >23·
II Santa Maria. P. Francisco de. eco Abel'to na Tens, off. 20 lANfTT, RGT, L. ° 210, n. 7IV. ]0 IANfIT, RP, S . Bartolomeu, Baptismos, L. 0 3 , n. 5 5 .
de Manoel Lopes Ferreyra, 1697. L.0 2, p. 493. 2 1 Portugal, Fernando e Alfredo de Matos, Lisboa em 1758 31 IANrIT, Vínculos, Santarém, n. o 21.
9 Index das notas de vários tabeliães de Lisboa, Lisboa, - ,Memórias Paroquiais, Lisboa, Coimbra Editora,I974, 32 Castilho, Júlio de. Lisboa Antiga - Baiuos Orientais,
BNL. 1949. T. 4. p . 6 . p . 1I6. Lisboa. CML. 1938. Vol. XI. p.71.
10 Santa Maria, Fr. Agostinho de , Santual'io Mariano, 2 2 IANrIT, RP. Beato, Óbitos, L.0 I , n . 26. 31 Branco, Manuel Bernardes, História das Ol·dens
Lisboa, Officina de Antonio Pedrozo Galram, 17°7, " lANfIT. RGT. L. 0 315. !ls. 160'161. Afonásticas em Portugal, Lisboa, Livraria Editora de
pp. 197-198. 2� IANrIT, Chancelaria de D. Maria I, L. ° 16, n. 3I3v. Tavares Cardoso e Irmão, 1888, VoI. III, p. 256.
61
França, com o regente D, Pedro e os seus
amigos, facto que determinou a exclusão
de D. Gastão da expedição do M indelo.
Reintegrado na Câmara dos Pares, mas
afastado do exército, o conde da Taipa fez
dessa tribuna o local adequado para as
suas violentas diatribes, que não
pouparam ninguém, fazendo época n a
sociedade lisboeta a s u a verve sempt'e
cáustica, de que Costa Cabral seria a viti
ma seguinte, Depois da Regeneração o
conde afastou-se da vida pública, residindo
fl'equentemente nas suas propriedades de
Almeirim. N u ma das suas viagens ribate
janas teve como companheiro Almeida
Garrett, surgindo citado como o conde
D, GASTÃO DA CÂMARA COUTINHO PEREIRA T. nas Viagens na Minha Terra. caso de José Elias Garcia. O Estado Novo
DE SA ND E i n tegrou os centros republicanos no
I , ° conde da Taipa, 1 3, senhor das Ilhas
° ELIAS GARCIA ensino particular, exercendo um activo
Desertas ( 1 795-1 866) Busto de José Elias Garcia controle sobre as suas actividades, em
(Fotografia publicado tiO HISTÓRIA DE PORTUGAL de Alberto Nunes, I BBB especial o ensino, i mpondo algumas
Pitlheiro Chagas), Mármore branco t'egras que constituíram um manifesto
Militai' brilhante e oradO!' truculento, o Pertenceu este busto ao Centro Escolar retrocesso, como a separação dos sexos
conde da Taipa é uma figUl'a marcante da Republicano Elias Garcia, que funcionou no ensino primário, contrária à tradição
instauração do regime l iberal. Apesar de na Calçada de D. Gastão, n.O 1 5 , 1 .° DtO., destes centros.
ser um dos autot'es da Vila-Francada em pal'te do antigo Palácio dos Senhores Ao Centro Elias Garcia pel·tencia este
( I B23), q ue lhe valeu o título de conde, das Ilhas Desertas. O centro foi fundado busto realizado pelo escultor Alberto
depressa se ligou a outros aristocl'atas que em 20 de Abril de 1 90B, destinando,se, Nunes, bem como fotografias de notáveis
lutaram pela causa da l iberdade - como muitos outros que então existiram republicanos, caso de Manuel de Arriaga
Terceit'a, Palmela, Saldanha ou Fronteira, em Lisboa, à propagação e promoção das ou Afonso Costa, assinadas por Júlio
este último seu cunhado - de acordo, ideias republicanas, difusão da instrução Navais, assim como óleos do mesmo
aliás, com as reticências que a sua classe pelos seus associados e à promoção de fotógrafo executados a pat·tir das
sempre levantou aos excessos do despo, palestras sobre temas políticos. Este centro fotografias. A salvaguat'da deste
tismo pombalino, No entanto, ficaram funcionou até Abt'jJ de 1 975. património deve,se ao cuidado do
também explícitas as divergências com os Habitualmente estes centros escolhiam Sr. João Mendes, actual locatário do
liberais radicais, sendo disso paradigma o para evocação algumas das grandes edificio, que também preservou o arquivo
corte dramático, ainda no exilio em figuras do ideário republicano, como é o do Centro Elias Garcia. (LA)
moça muito simples, mas muito devota da nova casa (o o .) em que hoje se vê a
Senhora do Rosário da Restauração de N. a Sr. a a quem o tempo ocultou o ermida (o o .) que então era um quintal
que se venera na sua Ermida do Grilo nome, deixando-lhe só o de Antunes, daquelas mesmas casas e quinta do
(in Frei Agostinho de Santa Maria, com que sempre entre a gente da casa Grilo.
Santuario Mariano, Lisboa, 1707, T. I) era nomeada. ( ) o o . A ela apareceu a (. . .) Continuou a obra com tanto fervor
( )
o o . Depois daquele memorável sábado mandou dissesse a D. Gastão Coutinho na sua ermida no dia de São João
(. . .) saíram vários fidalgos a render as do-lhe a casa que lhe prometera. (o o.) oratório em procissão as mesmas comu
fortalezas que à cidade de Lisboa ficavam Na manhã do dia seguinte acharam a nidades ( )
o o . . No ano de I65� ins
vizinhas. Um destes foi D. Gastão imagem sobre a cama da moça, tendo a tituíram D. Gastão Coutinho
Coutinho, que tinha sido um dos Senhora as contas ao pescoço e três mulher (o o .) um morgado (o o .) e dis
(o o .). E este fidalgo tocou ir voltas em um braço da mesma moça. puseram em seus testamentos que depois
render a fortaleza de Cascais, em que Divulgou-se o sucesso pela casa e vizi de mortos lhe dessem sepultura à vista
dentro dela em os dez do mesmo mês. Xabregas e Beato) com grande concurso nho lhes mandou lavrar dois majestosos
E tratando de ir dar graças (o o .) foi à de povo e com procissão levaram a Santa túmulos de ricos mármores com ele
ermida da mesma fortaleza, em cujo Imagem da câmara em que a moça gantes epitáfios e armas de sua nobreza.
altar achou uma imagem de N. a Sr a. do dormia para o oratório das casas, (o o .) e Também (. . . ) deixaram quatro capelães
Rosário ( ) à
oo. qual depois de lhe dar ali repetidas vezes a viram suar, e fazer perpétuos que quotidianamente dizem
graças pela mercê que Deus lhe tinha muitas maravilhas; porque deu vista a missa pela alma deles instituidores e de
feito ( )
o o . pediu favor à mesma para a cegos, sarou coxos e aleijados e deu seus ascendentes e descendentes (. . .) e
continuação da começada empresa da saúde a muitos enfermos que vindo de dispuseram que a festa principal (. . .)
lhe desse bom sucesso nela lhe faria uma de sua lâmpada voltavam livres das N. a S. a. A tudo isto deu inteira satisfação
casa onde com mais decência fosse enfermidades (o o .). Adoeceu a moça Luís Gonçalves Coutinho da Câmara,
venerada. Antunes gravemente em o princípio do mandando edificar as casaspara moradas
Feito este voto (o o .) tomou a imagem da ano de I643 ( ) o o . e pouco antes da sua dos capelães, defronte da mesma ermida
Senhora do altar ( ) o o . por prémio da última hora mandou dizer a D. Gastão (. . .) com a perfeição que ainda hoje se vê
vitória, (deixando em seu lugar outra Coutinho que se não queria edificar (o o .). No dia da festa, além da armação da
que para isso mandou fazer logo), e a (. . . ) a casa que prometera, tornasse a ermida, se põem nela as bandeiras que
mandou a sua mulher D. Isabel Ferraz, levar a imagem à mesma parte de onde D. Gastão Coutinho ganhou assim aos
para que a colocasse no oratório da a tirara. (o o .) Quis logo dar princípio e galegos na província de Entre Douro
quinta do Grilo, que era de seu cunhado vendo-se perplexo na escolha do sítio e Minho (. . . ) como em Tânger aos
Francisco Gonçalves da Câmara (o o .). (o o .) se sentiu um tremor de terra e mouros. É visitador desta capela o geral
Na referida quinta do Grilo deÍxou sua se viram milagrosamente abertas umas da Congregação dos Cónegos de São
mulher, em cujo serviço havia uma covas que mostravam ser os alicerces João Evangelista. (. o o )
$ C 0 n V E nT0 0 0 G R I L0
.
rização para concretizar a sua ideia mesma senhora fundou no dito sítio
(25 .4. r663) passando-se patente em
r 6 · 5 ·1663'· ./
) ( . . ) e em efeito se tomou a dita quinta
e nela estão já os ditos religiosos8
r
Os cinco reformadores - vigário, con (r6. 6 . 1665) . Entretanto , falecendo o
fessor, capelão , sacristão , e um outro, aponta o ano de r6643, e justifica vendedor, coube aos seus sucessores
vindos do Convento da Graça - que se o orago de Monte Olivete por uma a efectivação da venda, cujo valor im
haviam de descalçar e vestir o hábito devota imagem de N. Senhor orando portou à rainha 4000 cruzados, depois
reformado dos Agostinhos , pararam na no Horto, que estava em uma capeli de emanado o alvará de desobrigação ,
ermida de D. Gastão Coutinho de onde nha, a qual hoje se venera na portaria por a propriedade ser de morgado .
saíram em procissão à igreja e capela da deste convento. A existência desta cape A igreja já devia estar concluída dois
sereníssima rainha, juntamente com as linha é confirmada por Frei Agostinho anos depois, visto que no dia r9· 7 .
religiosas. Aqui pregou aquele que que fala de uma capela que tinham na r668, Fernão d e Castilho d e Mendonça
ficaria por prelado, Frei Manuel da cercé. Este segundo autor, cronista doou ao convento a sua Quinta da
Conceição, confessor da rainha e que a coevo , vigário-geral da Ordem e im Tourada, na Caparica, com obrigação
aconselhara sobre aquela fundação . portante fonte para a história desta de o sepultarem na capela -moI' do dito
Escreveu ele a Clemente IX que per instituição, refere o dia 2 . 4 . r663 para a convento no carneiro que está nela
suadira a rainha que fizesse uma obra sua fundação e a de 15 . 5 . 1666 para feit09. Anos depois (2 3 . ro . r683) so
que seria m uito agra dável a Nosso o lançamento por D. Monso VIs da freu um grande incêndio que, em
Senhor; e foi que introduzisse naquele primeira pedra do edifício , projectado menos de duas horas, destruiu a igreja
Reino a Reformação dos Descalços de como o das Grilas, por João Nunes e a maior parte do convento . Da igreja
meu Padre Santo Agostinh02• Tinoco , arquitecto da casa da rainha primitiva diz-nos Frei Agostinho que
A data da fundação não está determi (I665)6, em cuja edificação terá parti era pequena, e baixa (porque ainda vi
nada com precisão . Carvalho da Costa cipado , como pedreiro , João Antunes7• viam os religiosos no convento velho)
consta de parreiras, e um bocado de
vinha, poucas árvores de caroço, e
alguns tabuleiros para horta ; tem duas
noras, e um poço . Confronta pela
parte do poente com a calçada do
Grilo, estrada de Marvila . Pelo lado
oposto com a cerca das freiras Grilas.
Pelo nascente com o convento, igreja
e armazénsI5• Igualmente se inventa
riou o cartório - cujo paradeiro se
desconhece - e fez-se uma relação dos
juros e dívidas do convento , contan
do-se entre os devedores o marquês de
Pombal, por uma dívida de 1 660 000
réis'6.
A Igreja do Gril o , restaurada em
1896, foi destinada a sede da freguesia
Sacrisitia da Igreja do Grilo. hoje freguesia de S. Bartolomeu. Além dos azulejos e do magnifico arcaz setecentista, realce-se a pintura mural
do século XVIII. recentemente descoberta e restaurada por iniciativa do actual prior, Padre Manuel Carvalho. de S. Bartolomeu (183 5 ) , transferida
e era também a igreja forrada de pinho que ficaram livres de ruínasI3 - per do templo do Convento do Beato -
de FlandresIO• Não demorou muito mitiu ao convento preservar a sua completamente degradado - o nde
a reconstrução, com inevitáveis altera estrutura , mantendo elementos como estava sedeada desde 175 5 , originando
ções no conjunto edificado, sofrendo a o corredor onde se abrem as anti a errónea designação de freguesia de
sua estrutura seiscentista intervenções gas celas e a escadaria conventual , S. Bartolomeu do Beato , dando aso a
ao longo do segundo quartel do século cujo tecto moldado em estuque foi chamar-se hoje d? Beato esta igrej a
XVII I . feito em 174-6 e retocado em 1 87 0. dos Agostinhos. No antigo edifício
No ano d e 1735 a Capela de Nossa C astilho louvou o esplendor desta conventual instalou - se o Recolhi
Senhora da Copacabana (ver caixa) foi escadaria'4. mento de Nossa Senhora do Amparo ,
pintada e dourada por Bernardo da Quando da extinção em 1834, segun fundado por D . João N, então situa
Costa B arradas e João Crisóstomo do o inventário dos seus bens , o con do na Mouraria. O Almanaque Esta
Ribeiro , segundo encomenda do con vento constava de dois dormitórios, tístico de Lisboa de 1848 já refere a
tador-moI' Luís Manuel Castanheda primeiro e segundo andar, os quais sua existência no Grilo'7, o que não se
de Mourall. O altar-moI' foi consagra olham para o mar. Há m ais um verifica no de 1843. Esta instituição
do em 1 9 . 4 . 1739 por D. Frei Leandro pequeno dormitório, e noviciado para esteve na base do actual Recolhimento
da Piedade, religioso desta congre a parte da terra . Há um refeitório, do Grilo , integrado no CRSSLVT,
gação e bispo da ilha de São Tomé". cozinha, e dispensas. Dentro da por que acolhe senhoras, em habitações
O facto de não ter sido afectado pelo taria há qu atro casas aboba da das. próprias, dispostas nas antigas celas
terramoto - um dos edifícios grandes, A sua cerca é de figura triangular, que dos frades . (JFP)
66
Vista de conjunto do Convento do Grilo. Note-se o antigo muro de suporte da via publica, caindo primitivamente sobre a margem do rio,
II - COMENTÁRIO hoje Rua da Manutenção. Ao lado: uma das portas das celas, com revestimento de azulejos de belo efeito decorativo.
68
quarenta do século XVIII. Quanto ao raramente preservado na sua unidade
tecto, onde consta a data de 1746, será original, merece bastante mais atenção
possivelmente obra de Grossi, introdu do que aquela que lhe tem sido pres
tor em Lisboa deste tipo de decoração tada para entendermos esse momento
em estuque, aqui chegado nesta mesma charneira da arquitectura e do gosto
década, sendo esta, portanto , uma das lisboeta , marcado pela opção delibera
suas primeiras realizações lisboetas. da de D. João V da pela estética barro
Este conjunto de grande qualidade, tão ca de matriz romana. (JSM)
1 Madahil, António da Rocha, A CI"ónica inedita da • IAN !IT. CN. C-9A. Cx. 41. L.0 196. Os. 37-39.
Congugação dos Agostjnhos Descalços, Coimbra. 1938, 9 Index das Notas de vários Tabeliães de Lisboa, Li sbo a,
Coimbra Editora. pp. 10-12. BNL. 1949. T. 4. O. 37.
2 M adahil , António da Rocha. o h . cit., p. 9 - nota. 1 0 Santa Maria, FI'. Agostinho de. ob. cit., T. VII, p. 13.
II IANfTT, CN, C-J2B, ex. 52, LO 582, Os. 35v-36v.
1 Co st a . A. Carvalho da, Corografia POl"t ugueza, Braga,
12
Typographia de D o m ingo s Gonçalves Gouvea, 1868, Lê-se numa inscrição atrás do altar-mor.
Vol. III. p. 413. 13 Mendonça. JoachimJoseph Moreira de, Historia
I Sa nta Maria, Fr. Agostinho de. Santuado Mariano, lisboa, Uni,'cnal dos Terrcmotos. Lisb oa , Officina de Antonio
Off. de Antonio Pedrozo Galram, 1721. T. VII, p. 14. Vicente da Silva. 1758. p . 135·
li Santa Maria, Fr. Agostinho de. ob. cit . . Lisboa. 17°7. I I Castilho, Júlio de, Lisboa Antiga - BailTos Orientais,
69
p ara q u e os p o n h a m a razõo de juro
em p a rt e m u ita segura, d a n d o- o s a o s
p a d r e s p ara a m i ssa e s e r m ão d a s u a
festa a n u a l , a a p l i c a r p e l a sua a l m a .
A o b r a d a c a p e l a fo i e n c o m e n d a d a
p o r seu fi l h o , o c o n ta d o r - m oI'
L u í s M a n u e l Castanh e d a de M o ura,
que ali tinha o seu j az i go e
d e t e rm i n o u q u e sel'ia fei t a com
todo o primor da arte p o ndo-lhe n o
cimo as suas A rmas>, p e l o p r e ç o
de 350 000 réis, com talha pintada
C astan h e d a d e Moura e mãe e d o urada p o r B e r n a r d o d a Costa
d e L u í s M an u e l d e Casta n h e d a Barradas e J o ão C r i s ó s t o m o R i b e i r o .
d e M o u ra P e r e i r a T e l e s , t a m b é m A i magem de N ossa Senhora
a l i s e p u l ta d o . N o testamento d e Copacabana não está h oje na
CAP E L A DE N . ' S R . ' DE COPACABAN A mandou que o s e u c o rpo fos s e capela, substituída por u m a imagem
N esta capela encontra-se a lápide sepultado n a capela de N o s s a Senh ora d e São Teotó n i o , assinad a por M a n u e l
d a sepu l tura d e D. F rancisca P e re i ra de C o p a c a v a n a e aos pés do seu a ltar, d e Almeida Portuense (em cima, à
Teles - 1716 - fi l h a de L u ís P e re i t'a d e ix a n d o 5 0 0 0 0 I'é i s p a l'a as o b ras e esquerda), Frei Agostinho de Santa
de B arros, m u lher d e Plácido 1 00 0 0 0 à "'m a n d a d e de C o p a c a b a n a Maria d e d i c o u o 1 .° t o m o d o
7°
Santuario Maria n o a M aria Santíssima
debaixo d o seu milagroso título de
Copacabana. O cronista relata
a h i s t ó r i a dessa i m agem d e origem
p e ru ana, da v i l a d e Copacab a n a,
traz i d a para o Porto e m m e a d o s d o
sécu l o X V I I , d o n d e se d i s s e m in o u
p e l o reino. F o i intt'o d u z i d a nesta
igreja ( I . I 1 . 1 7 0 6 ) pela condessa d e
Santa C r u z , D . T e r e s a d e M o s c o s o
S an d o va l . C o m 5 p a l m o s d e a l t u l'a,
escu l p i d a e m m ad e i ra n a forma das
togadas, e copiada por autra q u e veio
do Peru. Está obrada c a m grande
perfeição, túnica branca semeada
de flores de o uro, m a n t o a z u l bordado
de m atizes de pedras, e pérolas; tem
em sua m ã o direita ceptro, e n a
cabeça c o roa i mperial de prata rica
mente o brada; e m o braço esquerdo
o M e n i n o Deus; vestido de uma rica
tela, e a m b as as imagens são de uma
grande formosura. O m e n i n o está
olhando p ara os que chegam à s u a
presença com tanta graça, q u e rouba
os coraçõ es. A Senh ora está sobre
um tro n o de n uvem c o m a lua aos pés
so bre uma represa, e n q u a n t o
se lhe n ã o f a z o seu retábulo).
E s t a i m ag e m - p o s s i ve l m ente
a o ri g in a l , e m bora restaurada
- está h oje assen t e numa p e anha
à entrada d a s a c r i s t i a. ( J F P )
I- RESENHA HISTÓRICA
aonde havia mandado dispor o conven convent07• assim de principal custos e benfeitorias
to para as religiosas, em uma parte do Sabe-se que a rainha em 1 6 . 6 . 1665 que n ela havia feito o dito Marquês
seu mesmo paláci04 - com porta para comprou uma quinta que Gonçalo depois que entrou na posse (. . . ) . Este
o mosteiro . J . B. de Castro, por seu Vasques da Cunha tinha no sítio de fidalgo arrematara a quinta em praça,
turno , diz que a rainha (. . .) lhe deu Xabregas para nela se fazer gasalho para em consequência da acção que Luís
princípio em 2.4.1663, sendo a 1. a confessor, capelães e mais religiosos Álvares de Andrade movera contra os
fundadora a venerável madre Sor Maria que haviam de assistir no mosteiro das herdeiros de D . Francisco Mascarenhas
da Apresentação, que veio com outras religiosas recole tas capuchas de Santo (1661) , governador de Macau, donde
cinco religiosas do mosteiro de Santa Agostinho que a mesma senhora fun trouxe a primeira laranjeira doce para a
Mónica de LisboaS. Frei Cláudio da dou n o dito sítio8• Depois a rainha sua Quinta do Grilo . Num tombo de
Conceição , escrevendo no século XIX, mandou que se tomasse (22. 5 . 16 65) S. Bento de Xabregas (1716) lê-se que o
seguindo as citadas fontes, apenas (. . .) a quinta adiante de Xabregas, onde convento e cerca das religiosas Agos
acrescenta que o conde da Ponte ofere chamam o Grilo, a Francisco de Melo , tinhas Descalças se fundou em uma
ceu à rainha uma quinta para o novo marquês de Sande e conde da Ponte, quinta dos Mascarenhas'o.
73
/
o mosteiro, erguido entre a praia e a via
\
um passadiço em arco sobre a estrada. Em
r734 as religiosas contraíram um emprés
timo de 3000 cruzados para a continua
ção das obras do dito seu convento e
regularidade da clausura dele (. . . )'7. Da
/ igreja sabe-se que era escura e de reduzi
das dimensões, mas muito rica em
pedraria e obras de talhaIS. Em r833, o
conjunto é assim descrito: encostado à
beira -mal', no rio Tejo, sobre fortíssimas
muralhas, cujo convento termina com o
cais do Duque pelo nascente (. . .) a igreja
é ornada de quadros, os quais se conser
vam com muito zelo, e mostram ser
pinturas de André Gonçalves (isto é as
mais modernas), e as antigas são de Bento
Fachada actual da �(allutenção Militar, remodelação oitocentista a partir do primitivo edifício conventual, segundo projecto do Eng.Joaquim Coelho da SilveiraI9.
Renato Baptista. O corpo central, com frontão triangular parece corresponder ao primitivo corpo da igreja, tendo sido então acrescentado
novo corpo para sul simétrico às antigas dependências conventuais. Já com os terrenos da cerca cortados pelo
A primeira pedra do novo templo foi lan Falecida a rainha, D. Monso VI mandou caminho-de-ferro, com a morte da últi
çada por D. Frei Domingos de Gusmão continuar as obras das duas fundações da ma freira (r888) , a propriedade foi desti
arcebispo de Évora, sobrinho da rainha mãe, escrevendo desde logo aos prelados nada ao Ministério da Guerra. No antigo
fundadoraI1, segundo traça do arqui dos dois mosteiros garantindo-lhes igual edifício conventual - reedificado segun
tecto João Nunes Tinoco, por atri cuidado ao prestado pela rainha. No dia do projecto do Eng. Joaquim Renato
buição de Reynaldo dos Santos'2 . As da conclusão das obras da igreja das frei Baptista, do qual se vêem ainda o frontão
religio sas foram acompanhadas em ras Grilas (28.8.r706) (. . . ) nela houve e o relógio da fachada - e na cerca, ins
carroças por damas da Corte até à pomposa festa com assistência d'el-rei talou-se a Manutenção Militar (ver Guia
ermida de D . Gastão , de onde saíram D. Pedro II e de toda a corteIf. Uma vez do Património Industrial) . A adaptação a
em procissão . D. Luísa de Gusmão aqui concluído o jazigo , em r7r3 , D. João V fez fábrica de moagem, bolacha e padaria
fez testamento (26 . 2 . r666) , no qual cumprir a vontade da avó, ali depositando sacrificou inevitavelmente a igreja que
estipulou que o seu corpo fosse depo seus ossos até FinalJuÍzoI5. Na trasladação chegara a albergar 600 fiéis. Em r889
sitado na Igreja do Sacramento , en - em um caixão de madeira, que ali esta procedeu-se à trasladação para S. Vicente
quanto Sua Majestade lhe não fizesse a va forrado por fora de veludo negro, e de Fora dos restos mortais da rainha
sua Igreja, e sepultura no mosteiro das duas fechaduras de uma banda, e dentro fundadora, sepultada atrás do altar-mor
(. . .) descalças de S. Agostinho, de quem um de chumbo'6 - estiveram presentes o da primitiva igreja, verificando-se então
se apartava com tanto sentimento'3. duque de Cadaval e a prioresa. que o ataúde tinha sido violado20. (JFP)
74
II - COMENTÁRIO
I Madahil, António da Rocha. A Crónica inédita da 7 Conceição, Fr. Claudio da, Ob. cit., T. III, p . 294- 15 1ANfT'T. Fundo das Gavetas, gaveta 16. mç.. 2 ,
Congugaçào dos Agostinhos Descalços, Coimbra. ' 1AN1TT, CN. C-9A. Cx. 41, L.0 1 96. IIs. 3 7 - 3 9 . n . o 3 0.
16
1938. p . 2 4 · ' 1AN1TT. CN. C-9A. Cx. 4 1 , L . 0 196. IIs. 54-55v. IANfT'T, Fundo das Gavetas. gaveta 16, rnç. 2 .
2 Freire. F r . Sebastião, Vitimas Acçoens d a SeJ"enissima 'o 1AN1TT. CSBX, L. ° 1 5 , II. 1 2 . n.o 29.
II 11
Rainha D. Luiza Francisca de Gusmam, Lisboa, Costa, A. Carvalho da, Corografia Portugueza, Braga, lANfT'T, C N . C - I I . L. 0 525. Cx. 1 2 0 , OS. 49V-51.
Gffidna de Diogo Soares de Bulhoens. 1666. Typographia de Domingos Gonçalves Gouvea, 1868, 18 Branco. Manuel Bernardes. oh. cit., Vol. III,
4 Santa Maria, Fr. Agostinho de. Sanruario A{al'iano. Portuguesa, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, em 1833, Lisboa, BNL. 1927. pp. 2 2 1 - 2 2 3 .
20
Lisboa, Offic:ina de Antonio Pedrozo Galram. 1721. Vol. II. p. 2 1 7 . Oliveira, E. Freire de, Elementos paI"a a História do
T. VlI. pp. 1 0 - 1 1 . I] Freire. Fr. Sebastião, o h . cir. Alunicipio de Lisboa, Lisboa, Typographia Universal,
5 Castro, João B. de. Afappa d e pOl·tugal Antigo e I! Branco, Manuel Bernardes, Historia das Ordens 1894. T. VlIl. p . 585.
Moderno, Lisboa. 1763, Vol. lU, p. 4-81. Alonasticas em pOI·tugal, Lisboa, livraria Editora
6 Conceição, Fr. Claudio da, Gabinete Historico, de Tavares Cardoso e Irmão. 1888, VaI. III.
Lisboa, Impressão Regia, T. lU, p. 284. p. 255·
75
,
� PA L A C I 0 LA F 0 E S
I - RESENHA HISTÓRICA
UI · 4 .. ..
frontava com a quinta, outrora dos
A pmpriedade dos duques de Lafões na carla de Filipe Folque (1856-57). estando bem demarcado o perimctro inicial entre a Estrada de
Mascarenhas, onde se fundou o mos �(an'ila c a Rua do Grilo. Olhando este mapa e o corte brutal que o traçado da via férrea constituiu, não pode ddxar de se lamentar a
quarto das casas e salas que caem COln pomar e jardins e parte da vinha (. )2 . . . aceitar o domínio directo da outra me-
janelas rasgadas para a mesma horta, Em 1497 já os Lóios possuíam meta tade que era sua livre e de tudo lhe
onde fica também o poço e nora da de desta propriedade , emprazando-a queria fazer prazo enfatiota pondo -lhe
mesma horta, e todas as mais casas então a um Pêro Rodrigues de Alfama. o foro que quisessem porque ele havia
ficam já na terra do outro prazo; fica Esta metade (. . . ) a comprou Henrique por bem e queria que para sempre
mais nesta medição a dita horta com seu de Figueiredo ao dito Pedro Rodrigues ficasse toda a propriedade obrigada
chafariz, 110 meio parreiras, a roda, e pediu ao mesmo convento quisesse a o dito for03• Aceitaram os frades
77
mulher Catarina Gonçalves que faleceu marquesinha de Arronches, levando à
sem nele nomear alguém, emprazan citação da Quinta da Marquesinha,
do-o os frades (9 . 12 .1522) a D . Filipa (17156 e 17397) , designação que persistia
de Figueiredo , filha dos sobreditos, em 1752 - ao Grilo nas casas da
mulher de Francisco de Távora. Esta Marquesinha8 - já depois desta senhora
senhora vendeu a propriedade a D. João falecida (1743) . Sua filha D . Luísa, teve
Mascarenhas que a possuiu em segunda honras de duquesa (1718) depois de casar
vida e, por sua morte, o filho D . Nuno com um filho natural de D. Pedro II, o
Mascarenhas, em terceira vida. Na posse infante D . Miguel de Bragança, com
do prazo sucedeu, após renovação pelo tratamento de Alteza e honras de prín
convento (8 . 7 . 1619) , D . António Mas cipe. Deste casamento nasceu D. Pedro
carenhas, filho de D. Nuno , que pouco de Bragança, a quem D. João V, seu tio,
depois (1623) comprou o outro prazo, agraciou no dia do baptismo com o títu
composto pelas duas courelas no olival lo de duque de Lafões. Figura carismá
dos frades, ao filho do fidalgo Diogo tica, foi admirável a educação que a
Ribeiro Soares, a quem os padres satis duquesa sua mãe lhe deu e a todos os
fizeram o pedido de edificar casas junto seus filhos, aplicando -os de tenros anos
ao convento , criando o prazo (1590) , na às Ciências e Artes Liberais em que
condição de não (. . ) abrir porta nem
. o Duque fez singulares progressos, ins
janela para o olival dos padres. truindo-se nas belas letras e na Filosofia
D . António Mascarenhas, o Sujo, de ( )9
. . . .
78
seguinte, indo a sepultar no seu jazigo desconhecidas, as obras iniciadas pelo
a Santa Catarina de Ribamar". Desco irmão . Durante a sua ausência esteve
nhece-se o estado em que ficou o palácio a quinta arrendada a João Lobo da
do Grilo após esta primeira campanha Gama, que ocupou a parte de cima das
de obras, contudo , sabe-se que entre casas, avaliadas pelos oficiais da Décima
as dívidas declaradas no testamento em 90 000 réis. Neste período (1762-
(21 . 2 . 1758) o duque refere (. . .) algumas -1779) a propriedade é descrita nos
parcelas a oficiais que têm trabalhado em livros de Arruamentos'5 como quinta
serviço de minha casa e estas se satisfarão composta por casas nobres com lojas
pelos róis jurados pelos mestres dos e l. o andar, com seu pátio, e nele uma
respectivos ofícios'·. barraca, vinha, parreiras e horta, algu
Ao L o duque de Lafões sucedeu o mas árvores de fruta de caroço (. . . ).
irmão, D . João , exilado desde 1757. Só no ano de 1791 se lhe faz referência
Enquanto não regressou ao reino , a como palácio e várias acomodações'6•
irmã D . Joana Perpétua, marquesa Sabe-se que no século XIX o palácio
de Cascais, com honras de duquesa, levou grandes obras, entre as quais a
administrou a opulenta casa. Em 1758, construção do salão grande sobre os jar
ainda em vida do irmão primogénito, dins, e que em 1839 foi alvo de restauros.
passou-lhe procuração para todos os D. Ana Maria de Bragança, 3 . a duquesa
seus assuntos, enquanto estivesse au de Lafões, que sucedeu na casa com
sente em reinos estrangeiros'3• Da apenas nove anos, foi responsável por
administração desta senhora, que rece grande parte da rica decoração do inte
bera de D . Pedro a Quinta de Alpriate, rior do palácio, onde faleceu em 1851.
para viver nela, conhecem-se inúmeras Em 182 3 , pela morte de D. Pedro, seu
escrituras notariais de arrendamentos tio materno e último marquês de
de propriedades, comendas e morga Marialva , herdou grande parte desta
dos. De regresso do exílio (1779) , onde casa. Depois disso, a propriedade viu-se Palácio Lafõt:s: duas vistas das fachadas sobre o pátio. Em cima, o
conjunto possivelmente erguido já no st:culo XIX . com acesso ao
em correspondência para sua irmã teria desmembrada pelo caminho-de-ferro - salão sobre o jardim; em baixo. fachada lateral com o revestimento
em junta fendida, a (mica que obedece ao desenho do projecto de
aludido, segundo Norberto de Araújo, cortando a quinta a meio - e, posterior reconstrução pós-terramoto.
79
de Arronches. Conhecemos, também, documentais, COlno será o caso de os
através de uma série notável de dese- referidos desenhos se encontrarem
nhos de plantas e alçados hoje guarda numa pasta onde é citado o nome de
dos no Museu da Cidade, o projecto de Eugénio dos Santos, morto em 1760.
transformação radical da casa primitiva, Infelizmente a continuidade da inves
com uma largueza pouco habitual que tigação não permitiu a confirmação
teria feito deste palácio o mais impor segura desta atribuição, se bem que a
tante conjunto palaciano privado algu expressa citação pelo L o duque no seu
ma vez iniciado em Lisboa . Sabemos, testamento a oficiais que têm trabalha
ainda, através de uma dessas plantas, do em serviço de minha casa e estas se
qual a exacta dimensão da casa primiti satisfarão pelos róis Jurados pelos
va, ainda hoje aliás intacta. Mas se sabe mestres dos respectivos ofícios, não
mos tudo isto, convenha-se que caso deixe de reforçar o carácter plausível
raro nesta Zona Oriental e mesmo na dessa afirmação, naturalmente sujeita
restante cidade, falta-nos todavia a ainda a ulterior confirmação. Registe
confirmação do dado central, funda -se, ainda, a empenhada acção constru
mental para a história particular deste tora desse senhor, visível ainda nas
edifício e, sobretudo, para melhor se obras também inacabadas da Granja de
compreenderem as opções estéticas Alpriate e da Torre Bela (em Alcoen
assumidas e o lneio em que as mesmas tre), cuja consideração atenta se deverá
foram produzidas : qual a data certa do ter em conta para uma análise mais
início dessa reconstrução? aprofundada do Palácio do Grilo, que
Em texto anterior (Lisboa, Um Passeio um trabalho genérico como este natu
a Oriente, 1994), optou-se pela atri ralmente não permite.
buição da iniciativa a D . Pedro de O Palácio dos Duques de Lafões tem,
Bragança , L o duque de Lafões, possi assim, dois níveis diferentes de abor
velmente entre 1755 e 1760, a partir da dagem. Em primeiro lugar, devemos
II - COMENTÁRIO conjugação de uma série de dados deter-nos sobre aquilo que efectiva
dispersos de vária ordem, desde fami mente lá se encontra , resultado de
Sabemos com algum detalhe a história liares - como a citação feita do exílio sucessivas adaptações de um projecto
da evolução desta grande propriedade pelo 2 . o duque de Lafões aos referidos megalómano que, curiosamente, apesar
dos duques de Lafões, na Rua do Grilo , desenhos -, ou políticos - decorrentes de inacabado, não foi desvirtuado nas
originada na fusão num único mor do papel de primeiro plano que o suas linhas estruturais . Em segundo
gado de vários prazos distintos por L o duque desempenha como regedor lugar, uma análise sucinta sobre o
D . António Mascarenhas , morgado esse das ]ustiças no período pós-terramoto , próprio projecto em si, cuja apreciação
depois integrado por casamento de sua sendo o primeiro responsável pela se pode fazer pela leitura conjugada das
filha na grande casa dos marqueses reconstrução da cidade -, a meramente diversas plantas e alçados.
80
Quanto ao edifício existente, em parte trabalho foi levantada a hipótese de
hoje transformado em prédio de rendi autoria de Gian-Carlo Bibiena , arqui
mento , destaca-se sobretudo o grande tecto cenógrafo italiano residente em
corpo virado a sul, correspondente Lisboa desde I752 , aqui chegado por
essencialmente à antiga casa de quinta. iniciativa da rainha D. Mariana Vitória
É sobretudo notável o conjunto de pin de Bourbon, e cuja actividade entre nós
turas murais interiores, datáveis de várias se encontra envolta nalguma obscuri
épocas, devendo citar-se a intervenção dade. É natural que a sua vinda estej a
de Cirilo Volkmar Machado na sala cha- ligada a o projecto d e São Francisco de
ma da da Academia, por encomenda Paula, na Pampulha , iniciativa da
do 2 . 0 duque de Lafões. Sabemos que mesma rainha, embora o seu nome
outras pinturas serão da iniciativa já da nunca tenha sido inexplicavelmente
3 . a duquesa, a partir de I839, datando citado em relação a esta igreja, apesar
possivelmente dessa mesma campanha o de repetidamente se afirmar ter sido a
arranjo final do grande salão a poente mesma completada, a partir de I76I,
sobre os jardins, previsto no projecto ano da morte de Bibiena, pelo ajudante
primitivo , embora alterando-se profun que com ele veio , o também italiano
damente a gramática estética decorativa, Giacomo Azzollini. As obras sempre
substituindo a carga barroca do desenho referidas são a desaparecida Ó pera do
original por uma sobriedade mais Tejo e o projecto inicial de Igreja da
despojada de sabor neoclássico . Cite-se Memória, trabalhando depois do terra
ainda a capela, com arranjos actuais moto como arquitecto do rei, devendo
também atribuíveis a esta última cam- -se -lhe os arranjos da imensa Barraca
panha de obras, de boas dimensões e Real da Ajuda .
bem articulada no conjunto, já prevista Esta proximidade da Casa Real, sobre
também no projecto inicial. São de tudo da rainha D . Mariana, cuja acção
referir ainda alguns azulejos, sobretudo política nesse período conturbado não Alguns aspectos itlleriores do Palácio dos Duques de Larões:
os adaptados na escada para esse salão, tem sido convenientemente avaliada, e o grande salão sobre os jardins. a capela e duas salas com pinturas
murais oitocentistas.
provenientes talvez de outras dependên a sua ligação a uma das mais prestigiadas
cias da antiga casa, uma vez que são famílias de arquitectos cenógrafos ita primo o infante D . Pedro. A transfor
muito anteriores (ver Guia do Azulejo) . lianos e à então celebrada Academia mação que este último então realizou
No respeitante ao proj ecto de transfor Clementina de Bolonha, na qual fora em Queluz, sob a tutela cosmopolita do
mação , cuja datação entre I755 e I760 professor, tornam Bibiena o aliado de decorador francês Robillon, conjugada
não surgiram razões para abandonar, prestígio indispensável para quem com este projecto do Grilo, também
junto se publicam de novo os citados ambicionava, segundo tudo leva a crer, ele profundamente marcado por novi
desenhos, merecendo algumas reflexões à mão da princesa do Brasil, futura D . dades cosmopolitas - mais francesas as
pontuais de ordem genérica. No citado Maria l , e m directa competição com seu primeiras e mais italianas as segundas -,
81
parecem trazer à luz do dia uma compi tos pressupostos de base da estética
ta de opções de gosto travada entre dois rocaille, numa acção deliberada de se
eventuais proj ectos de poder. Sabemos procurar atingir a unidade final a partir
que nenhum ganhou, ambos abafados da articulação subtil de um jogo de apa
pela forte acção de Sebastião José de rentes contrários.
Carvalho e Melo , cuja iniciativa arqui Foram estas preocupações eruditas , bem
tectónica ficou indelevelmente ligada inseridas numa mais vasta prática
ao nome de Carlos Mardel. Se, entre cosmopolita em que Bibiena participa
dois perigos, o futuro Pombal optou por formação escolar e familiar, que
pela aliança com o infante , levando a levaram a afastar a indicação da nota na
que as obras em Queluz continuassem, pasta em que os desenhos se guardavam,
ganhando mesmo depois uma nova indicando o nome de Eugénio dos
dimensão de residência régia, já o Santos. A sua ligação ao duque era fun
Grilo ficou irremediavelmente preju cional, pois este era responsável pela
dicado , sobretudo após a expulsão do reconstrução de Lisboa, encontrando
duque da Corte em I760, por não ter -se também nessa pasta de facto alguns
iluminado a residência por ocasião do outros desenhos não executados para os
casamento que tentara contrariar, alçados prediais dos edifícios da Baixa,
morrendo no ano seguinte - o mesmo hoje igualmente no Museu da Cidade.
em que faleceu Bibiena - na sua Granja É portanto natural que todos fossem
de Alpriate. Como sempre sucedeu, as depois guardados em conjunto, sendo
opções estéticas são um inesgotável arriscado inferir desse facto a autoria
manancial para a compreensão apro do capitão-engenheiro para todos os
fundada das alternativas de poder em desenhos que nela se encontram. Resta
presença, passando por elas a necessária ainda provar, e esse será um dos desa
imagem mediática indispensável em fios colocados à historiografia da arte
tempos de aparato cortesão. inserem esta proposta nas correntes portuguesa por estes desenhos revela
No entanto, são o carácter cenográfico então mais em voga nos meios eruditos dos em I982 pelo empenho entusiasma
dos desenhos propostos, fazendo suce de influência italiana, em que Bibiena do de Irisalva Moita, que Eugénio dos
der encosta acima uma série de fachadas naturalmente se insere. Preocupa-os o Santos, produto acabado de uma sóli
todas diferentes, abertas sobre espaços rigor intelectual da fusão ambígua de da formação de cariz essencialmente
autonomizados, e o sentido eminente referências, numa prática dominada militar, pragmática e funcional, esta
mente ecléctico das opções de cada uma por um apurado sentido elegante no ria ou não habilitado para explanar
dessas fachadas, oscilando entre o manuseamento e conjugação desses de uma forma tão explícita e segura
barroquismo evidente na fachada do diversos valores. Ambiguidade e ele as elaborações estilísticas eruditas con
salão sobre o jardim e o rigor já quase gância que não deixam naturalmente substanciadas nestes desenhos do Grilo .
neoclássico da frontaria sobre a rua, que de sugerir alguma aproximação a cer- (JSM)
A P I N T U R A D E C O RA T I V A S o br e e st e s d e fi n e- s e em trom p e
Um dos aspectos m a i s i nteressantes " o eil c o m m ot i v o s ar q u it e ct ó n i c o s .
d o P a l á c i o Lafões é o acervo de N o s e s p aç o s d e stas m o l d ur a s estão
p i nt u r a m ur a l d ec o r at i v a e x i st e n t e p i nt a d o s i n str u m e nt o s m u s i ca i s
e m v ár i as d as s u a s s a l a s . p e n d entes d e tr e p a d e iras, c o m
C o m o e l e p r ó p r i o o afir m a, fl o r e s e fr utos, t u d o p i nt a d o c o m
a S a l a d a A c ad e m i a fo i p i nt a d a por gr a n d e d e ta l h e , d o m i n a n d o a s
C i r i l o V o l l< m ar M a c h a d o , e m tor n o t o n a l i d ad e s p a st é i s . E sta s a l a ter á
d e t e m a s c o m a l e go r i a s às Art e s . s i d o p r o v av e l me n t e i nfl u e n c i a d a n a s
I nt e r e s sante t a m b é m é u m a s a l a s c h inesas d e p o r c e l a n a s d e
p e q u e n a s a l a c o m vitr i n as A r an j u ez o u d o P a l á c i o d e
p o s s i v e l m ente d e st i n adas a o b j e ctos C ap o d i mo nt i , e m N áp o l e s , a m ba s
c h i n es e s, d o n d e o n o m e d e S a l a d o m e s m o autor n a p o l it a n o e d ata
C h i n e s a , co m u m a profu sa d a época d o 2.0 d u q u e d e Lafõ e s ,
d e c or a ç ã o i n s p ir a d a n o s gr o t e s c o s , m ant e n d o a m e s m a proporção
u r n a s e c a n d e l ab r o s , d i r e ct a m e nte m i n i at u r a l dos e x e m p l o s o l' i g i n a i s ,
i n fl u e n ci ad o s , q u e l' p e l a o b l'a verdadeiras salas de passagem com
de Rafa e l no V at i c a n o , q u er , f u n ç ã o m er a m ente estét i c a .
s o b r et u d o , p e l a s p i nt u r a s r o m a n as A s restantes s a l as c o m p i nt u r a s ,
r e c e nt e m e nte d e s c o b ertas e q u e c o m i nt e r v e n ç õ e s m u ito m a i s l e v e s
corr i a m a E u r o p a e m est a m pas que a chamada Sala Chinesa, p o d e m
m u it o a p r e c i a d a s e com profu n d a s er atr i b u íd a s a J e l'ó n i m o B ar r o s
i nfl u ê n c i a n a s arte s d ec o r at i v a s e m Ferr e ira, p i n to r de o rn atos, q u e
g e r a l . E sta s a l a é o r g a n i z a d a a tr a b a l h o u n a Q u i nta d a C r u z d a
partir d e u m r o d a p é d e m o l d ur a P ed r a , d o s P e r e i r a F o r j a z , o n d e s e
c o m e s p i r a i s g r e gas e n o c e ntro A Afúsica e A Pint ura , duas das alegorias murais da autoria de e n c o nt r a m a i n d a r e s t o s d e p i nt u r as
Cirilo Volkmar Machado na Sala da Academia, do Palácio dos
m o t i v o s de gr i n al d a s . Duques de Lafões. afi n s . (LA)
I IANfTT. CSBX. L . 0 1 5 , fIs. 10'0'-11. 7 lANfTT, RP, N. Senhora dos Olivais, Óbitos, ex. 9, l':.t lANfTT, RGT, L O 277, fls. 90v.
2 lANfTT, CSBX, L.0 15. fIs. IIv-12". . L.° 7 . n. 177. 13 lANlTT, DF, Estremadura, Mç. 2062. doe. 24.
It
' lANfIT, CSBX, L.0 15. n,. fh.
13-13v. 6 IANfTT, RP, N. Senhora dos Olivais. Óbitos, ex. 9, Araújo, Norberto de, lm'entário de Lisboa, Lisboa. CML,
t lANrrr, RP. N. Senhora dos Olivais. Óbitos, ex. 8. L. 0 8, n. 14'0'. 1944, p. 34·
L.0 3. fIs. 94 e 102. 9 Sousa. António Caetano de, Histôria Genealógica da Casa '5AHTC. DC. Olivais, Livros de Arruamentos. mçs. 852
:i lANfTT, RP, N . Senhora dos Olivais. Baptismos. ex. 3. Real, T. VII, p. 292. a 863.
L.0 II, n. 14'0'. IO lANfIT, RGT, L.0 277, fIs. 90-9Iv. 16 AHTC,
DC, Olivais. Livros de Arruamentos, mç. 868.
' lANfIT. CSBX, L. ° 15. n. 10. " lANrrT, RP, Vialonga, Óbitos, Cx. 7. LO 4, El. I22-I22v.
Plantas e a l g u n s d os a l çados do
projecto d e renovação do Palácio
Lafões, e x i stentes h oj e no M useu da
\
Cidade e revelados pela pri meira vez
por Irisalva M o ita na exposi ção
c o m e m orativa do 2.0 Centenário da
\
M orte de P om bal ( 1 9 8 2).
I - P l anta d a casa d a q uinta dos
Mascarenh as, sobre as quais foram
pensadas as alterações. N ote-se a
ex istência de um pátio central, servido
por rampa para a Rua do Grilo, mas
q u e poderá admitir-se, tal como se
constatou no Palácio Olhão, teria
serventia inicial pela Estrada de
M arvi l a. C o m p arando co m a p lanta
em baixo, pode constatar-se a
O per m a n ê n c ia deste corpo, nela
s inalizado a ver m e l h o , mantendo-se
incl u s ivamente a m es m a d ivisão
o
poente do piso nobre correspondem
ao edifíci o anterior, as únicas ainda
existentes. Q u anto ao piso térreo, foi
todo revestido a cantarias almofadadas
d e acordo com o projecto, O aspecto
m a i s marcante desta fachada é a
grande s o briedade das l in h as e o jogo
subtil entre a s abel'tul'as , revelando
já uma a p roxi mação aos futuros
m odelos neoclássicos,
• II,
4 - Fachada l ateral norte � Este corpo -
� ���������'�'��
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novo do e d i fício nunca chegou a ser
constl'uído na s u a totalidade, existindo
somente o extremo poente, antiga
cozinh a do palácio, Ao centro, aberto
sobre o pátio da calçada, u m pequen o
corpo m a i s c u i dado no desenho
al bergava u m a pequena sala redonda,
l igando d irectamente ao pátio interior.
5 - Fachada poente proposta para o
Palácio Lafões. Ao centro um grande
salão d e cinco aberturas � mais tard e
em parte construído com o utra
gramática decorativa �, constitu ia o
ponto c u l m i nante de todo o projecto,
aproveitando com mestria o próprio
desnivel d o terreno. Note-se a
dominante volu m é trica do desen h o
proposto d e forte s ensibili d ade
barroca, com colunas salientes e óculos
ovais, jogando contrad itoriamente com
a sobriedade p l an i m étrica d a fachada
nobre sobl'e a Rua do G t'ilo, Realce-se,
ainda, a perfeita integração com o
ed ifício preexistente, encostado a sul
e m plano inferior, onde s e encontra a
citada Sala da Academia,
G u a r d a m -se no P a l á c i o d o s D u q u es N outl'a s a l a , e n c o ntra-se o retrato A d u q u e s a ostenta no p e ito u m
de L afõe s grande n ú m ero d e d a d u q u e s a de L a fõ e s , D, H en r i q u eta m e d a l h ã o c o m o retrato d o d u q u e
p i nturas, s o bret u d o retratos d e d e M e n e se s , c o m s e u s d o i s fi l h o s , s e u m a r i d o , T rat a-se d e u m a
várias é p ocas, Entre e l es aq u i se o d u q u e d e M i ra n d a d o C or v o o b ra i n g é n u a n a s u a feit u ra,
I'eproduzem o retrato de D , J o ão V e a fut u r a 3,a d u q u e s a d e Lafõ e s , m an t e n d o o fo r m u l á r i o da
( e m c i m a) , ó leo s o b r e tela oval, O br a n ã o a s s i n a d a n e m retratist i ca t l'ad i c i o n al b al'roca,
réplica d e m u ito b o a q u a l idade d o d at a d a , d e v e l' á t e r s i d o p i nt a d a com t'e p o s t e i r o , c o l u n a e fu n d o d e
I'etrato real izado p o r Jean Ranc, cerca d e 1 802-03, dado q u e j al'd i m , m a s b e m d at a d a p e l o
cujo o l' i g i n al se perdeu n o i n c ê n d i o o j o v e m d u q u e h e r d e i r o n as c e r a vestu át' i o e g r a n d e c a d e i rão a o
d o A l cazar d e M a d ri d , e m 1 7 3 4 , em 1 797, gosto L u í s X V I . ( LA)
86
G RU P O DE FAM i L l A DOS 3 .°5 D U Q U E S para onde convergem as linhas La Fontaine que a duquesa mostra a
D E LAFÕES. dominan tes d a composição, e a suas outras duas fil has. A tela não está
E s t e retrato d e carácter intimista, de continuidade na familia do cu ltivo assinada nem datada, pelo menos à
grandes dimensões, pretende captar um das Artes, das Ciências e das Letras, vista pois se encontra a grande altura
m omento da vida fam i l iar destes representadas respectivamente pela no salão dos óculos sobre o jardim. No
senhores, acentuando dois propósitos própria pintul'a em si e pela pauta entanto, sabendo que a filha primogéni
fundamen tais: a permanência da tutela e violino, pelo globo e o com passo que ta nasceu e m 1 820, é natural que tenha
d a grande figura familiar, o 2.° duque de o duque consorte, D. Segismundo, sido pintada cerca d e 1 825-26, devendo
Lafões, representado com sua mulher manuseia e m lição à fil h a primogénita, ter sido executada e m Lisboa, dado que
(ambos então j á falecidos) no medalhão e, finalmente, pelas fábulas i lustradas de à data os duques aqui residiam. (JSM)
� C 0 nV E nT0 00 B E AT 0
9°
mente 30 religiosos - em 1551 tinha que tem a Corte pela sua alegre e
379 e, em 1669, quando da visita de espaçosa vistaI'. Repetindo parte desta
Cosme d e Médicis , 40 cónegosIO • descrição , em 1712, acrescenta o padre
Dispunha de três dormitórios, cujas Carvalho da Costa ( . .) a porta para o
.
janelas caíam sobre a horta comum, sudoeste com seu adro, que fecha umas
em torno dos quais existia um circui grandes e bem feitas grades de ferro
to de várias capelinhas com imagens (. . .) boas capelas com grandes orna
de santos. Um dos dormitórios, a nas mentos e muitas peças de prata para o
cente, (. . .) pouco há se lhe deu prin serviço da igreja (. . .). E nas torres
cípio, no local onde D . Manuel sineiras (. . .) um relógio com seu
construíra o quarto separado . O maior mostrador. Tem um bom claustro e
fora feito no reinado de D. Sebastião , vistosos dormitórios com sua cercaI3•
antecipando-se os frades à necessidade Quanto ao terramoto de 1755, a so
de fazenda por parte do rei, obtendo lidez do edifício conventual e sua igre
3000 cruzados pelo derretimento da ja evitou danos graves. Registe-se, pelas
sua magnífica cruz de ouro, com os palavras de coevos (1758) , que este
quais fizeram o novo dormitório, que mosteiro (. . .) de S. Bento dos padres
ficou chamado o Grande. Situava-se de Santo Elói teve pouca ruínaI4 e a
este a poente, com 2 2 celas de um lado igreja se acha inteiramente ilesa, como Pormenor da arcaria gótica encontrada numa das paredes do
actual claustro do Beato.
e do outro (. . .) cinco janelas grandes, também todas as suas partes adja
a distâncias proporcionadas, no fim centes'5. No ano de 1764 pediam os quantidade de imagens e um grande
dele se vê a casa chamada dos bispos religiosos um empréstimo de 3000 presépio no jardim'7 . Utilizada uma das
(. . .) desta casa se sai para um eirado, cruzados para acabarem a obra do duas alas como Hospital Real Militar, o
que fica senhoreando a estrada e o dormitório novo e armazéns - situa- edifício do extinto convento albergou
Tejo (. . .). O terceiro era o dos Gerais, dos por baixo do dormitório - que temporariamente um batalhão militar.
situado a sul, com 12 celas". têm mandado fazer no mesmo seu A igreja deíxou de ser sede de freguesia
É este templo de uma só nave, grande, conventd6• Pouco depois (r770) , pelo (1835) aventando-se a hipótese - não
formoso e m uito alegre escrevia Frei
- Plano de remodelação das freguesias, a concretizada - de vir a servir de Panteão
Agostinho de Santa Maria em 1707 -, de S. Bartolomeu foi sedeada na Igreja dos Nobres. Sofreu então a antiga casa
tem uma majestosa capela -mal' e um do Beato , onde permaneceu por 65 conventual pesados estragos provocados
espaçoso cruzeiro. É, finalmente, de anos. por um incêndio, de que se livraram o
perfeitíssima arquitectura de ordem Antes da extinção das ordens religiosas noviciado, o refeitório e as cozinhas.
dórica moderna e tem um soberbo testemunhou Gonzaga Pereira os ricos Pouco depois o negociante João de
frontispício com duas elegantes torres, painéis de pintura do convento e igreja, Brito comprou boa parte do conjunto
e tudo de pedra lioz muito fino e claro, destacando-se os quadros de Bento instalando uma moderna unidade
com excelentes sinos. O sítio do con - Coelho, de Joaquim Manuel da Rocha e fabril, na origem da marca « Nacional»
vento verdadeiramente é dos melhores de Fernão Gomes, ao que acrescia a (ver Guia do Património Industrial) .
91
dispor para as suas frequentes deslo
cações, situadas, pelo que as infor
mações permitem conjecturar, onde
hoje se ergue o grande corpo dos
dormitórios, sobre a Rua do Beato .
Obras recentes levadas a cabo no actual
claustro levaram à descoberta, embe
bidos na grossura das paredes, de vários
restos da primitiva construção , possi
velmente da igreja. Destaca-se parte
de uma bela arcada gótica ainda do
século XV eventualmente erguido
,
92
dessa ravina se abre ainda um pequeno
largo no cotovelo da Calçada do Olival,
em cujo topo fechado se poderá conj ec
turar que nasceria então a via de acesso
ao convento, descendo daí pela encosta
em declive , mais tarde, como vimos,
cortada a pique. Mais uma vez se chama
a atenção para o facto de a inexistência
de qualquer carta antiga ou de infor
mações mais precisas não permitir mais
que um mero esforço recriativo , natu
ralmente problemático e falível .
A abertura definitiva d o Caminho do
Orien te, a nova via ribeirinha, que
várias referências dispersas nos per
mitem fixar como um processo que se
arrastou ao longo do século XVI , com
especial incidência na sua segunda
metade, veio com certeza colocar aos
Lóios o desafio de conformar a sua casa
com a nova disposição da rede viária,
virando-a à rua que a pouco e pouco
se tornava o eixo principal de toda a
Zona Oriental, vindo a nova realidade
a justificar a mudança de nome pelo
qual passou a ser conhecido - o Beato .
Com efeito, coube essa tarefa à inicia
tiva do padre António da Conceição ,
conhecido pelo Beato António , ainda
no último quartel do século XVI ,
concretizando -se a transformação so
bretudo nas duas primeiras décadas do
século XVII , quando se iniciam as
sucessivas campanhas de obras que se
arrastaram por muitos anos, sabendo
nós que ainda em I764 não estavam
Em cima: antiga biblioteca do Convento do Beato.
acabados os dormitórios e armazéns Em baixo: arcaria de acesso à escadaria (início do século XVIII).
93
sobre a Rua do Beato, edifício onde
depois funcionou a Fábrica de Rações.
A principal mudança levada a cabo em
todas essas obras foi , portanto, a altera
ção da orientação de todo o conjunto ,
bem como o natural engrandecimento
das dependências, tudo construído com
uma escala pouco habitual entre nós.
Tal facto não poderá desligar-se do
patrocínio do vice-rei D. Cristóvão de
Moura, marquês de Castelo Rodrigo ,
cuja intervenção em Lisboa parece
sobressair pela escala gigantesca que
deliberadamente cultivou - lembre-se
o seu próprio Palácio do Corte-Real,
na Ribeira, o Mosteiro de São Bento ,
destinado a panteão familiar, e, sobre
tudo , o projecto inicial de Santos-o
-Novo , o maior edifício até então
proj ectado em Lisboa. Se a estes jun
tarmos as obras régias, que ele próprio
acompanhou - o torreão da Ribeira e
São Vicente de Fora - parece estarmos
perante um dos mais activos e significa
tivos períodos arquitectónicos de
Lisboa, dificilmente conciliável aliás
com ideia propalada após a Restauração
de um país espezinhado pela tirania
estrangeira. Pelo menos vistas largas,
vontade e dinheiro não faltavam. Além
de Cristóvão de Moura, cumpre realçar
a figura da D . Joana de Noronha,
construtora da magnífica capela-mor,
destinada a panteão de sua família, os
condes de Linhares (ver adiante) .
São Vicente de Fora parece ter sido ,
Em cima: corredor do primeiro andar do claustro.
Em baixo e na página ao lado: vista geral e pormenor da arcaria do claustro do Beato, erguido já no início do século XVIII. aliás , o modelo seguido na construção
94
da nova igrej a. Tal facto é sobretudo
evidenciad o pelo alçado esguio da
fachada, com duas torres com pináculos
e coruchéus - pelo menos assim sur
gem desenhadas na informação gráfica
disponível - infelizmente apeadas em
1878, numa escolha estética ao tempo
carregada de sentido, já que contraria
va a prática jesuítica tão em voga de
recuar a torre sineira para a cabeceira
do templo , como ainda podemos ver
no antigo Colégio de São Roque, da
Companhia de Jesus. No interior, a
igreja era de dimensões pouco habi
tuais, marcada sobretudo por algum
desequilíbrio maneirista nas pro
porções entre o comprimento, a largu
ra e a altura excessiva a que foi lançada a
abóbada de caixotões, resultando um
espaço em que a maj estade das pro
porções deveria causar ao visitante a
estranha sensação de entrar numa
imensa caverna sem fim . Dizemos deve
ria porque a recente divisão horizontal
do templo em três pisos, por placas de
cimento armado , não permite a fruição
global deste espaço, que, curiosamente,
essa inesperada intervenção fez ganhar
uma nova aura perturbante: ao dese
quilíbrio inicial de laivos maneiristas
substitui-se um toque surrealista, acen
tuado pelo forno de malte instalado
no centro da magnífica capela-mor,
envolto pelos mármores cuidados
do panteão dos condes de Linhares.
A Igreja do Beato , de momento ainda
em riscos de sobrevivência, é assim ao
95
Em cima: piso türeo abobadado do corpo dos antigos dormitórios, depois Fábrica de Rações do Beato. Estas salas focam restauradas no âmbito
do Programa Caminho do Oriente, destinadas a exposições.
Ao lado: o antigo sino da Igreja do Beato que contém a seguinte legenda: LUDUV1CUS GOMES DE OLIVA FECIT MIHI (A) DOMINI 1686.
Em baixo: arcaria de acesso à escadaria conventual (pormenor).
presente um dos espaços mais estranhos em que foi construída, ou seja, após
e extraordinários de Lisboa , misturan 1 6 9 7 . Quanto ao claustro , também
do sensibilidades e funcionalidades ainda inexistente nessa data em que
num resultado que merece rapidamente escreve o cronista, é bastante mais só-
uma intervenção salvadora. brio nas linhas da arcaria de pilastras,
Quanto às restantes dependências podendo talvez aventar-se a explicação
sobressaem aquelas que têm sido alvo de de se tratar de projecto mais antigo que
um meritório processo de restauro pela as dificuldades financeiras atrasaram na
Nacional, actual proprietária: o claus execução .
tro , o corpo do refeitório e da bibliote Quanto à posterior história deste con
ca, duas magníficas salas sobrepostas junto, sobretudo depois da sua aqui
ligadas pela escadaria, para a qual o sição por João de Brito, consulte-se o
adjectivo mais apropriado é espam Guia do Património Industrial. (JSM)
panante, aliás de acordo com o gosto
cenográfico barroco vigente ao tempo
96
Frontispício do 1 .0 volume de O Céu
Aberto na Terra, do padre Francisco
d e Santa Maria ( 1 697). Gravura com
a assinatura de Ph. Bouttats ln. fecit
Antuerpiae. Trata-se de u m a das poucas
I'epresentações do futuro D. João V ainda
principe do Brasil, I'odeado por cartelas
com retratos de algumas figuras
de relevo na história da Congregação
dos Lóios, Cónegos Regrantes de São
J oão Evangelista. Na coluna do lado
direito do observadol' estão
representados o Beato António,
renovador da casa (o primeiro em cima),
e D. Afonso Nogueira, al'cebispo
de Lisboa ao tempo em que o convento
foi fundado no século XV
(o último e m baixo).
7 Sanla Maria, Fr. Francisco de, oh. dt., VaI. II, p. 1107.
8 Santa Maria, FI'. Francisco de, oh. cir., VaI. II, pp. 1108-9.
97
lêll@@@@@@l lêl
SEPVLTVRA DE D O M . ANTO N I O . DE N O R O N HA . PRIMEIRO . FILHO . D O
S E GVNDO . C O NDE . DE LINHARES . D O M FR. c O E DA C O NDESSA . D O NA
VI O LANTE . Q,VE . O S MOVR O S . MATARÃO . EM . C E ITA . A . � 9 . DE AB RIL . DE
I S S 3 . ANN O S . SENDO . ELLE . DE 1 7 . D O N NA . I OANNA . DE N O RONHA . SVA
IRMAM . Q,VE . NVN CA . CAS OV . LE FEZ . ESTA . CAPELLA . A SVA . CVSTA . C OAND O
ACAB OV . Q,VE . F O I . N O . ANN O . DE . 1 6 u . TRE S LAD OV . SEVS . O S O S . DA . S E
DE C EITA AE STA . SEPVLTVRA . E NAÕ DEV . A O S . MAIS . IRMAÕS . S EVS
P O R . Q, . DOVS . DELLES . M O RRERAÕ . EM . AFRI CA . C O M . E LREI . D O M . SE
BASTIAÕ . E OVTR O S . D OVS . NAS . PARTES . DA I NDIA E D OVS . SAÕ
RELIGI O S O S . DA . O RD E M . DE . SANT O . AGVSTI NH O .
lêll@@@@@@l lêl
CA P E L A - M O R DO B E A T O p a n t e ã o d e s u a fam í l i a , d i s p o n d o e m d o t e . D . J oa n a p r o p õ e - n o s , t r e z e n
A p e ç a m a i s c e l e b ra d a a o l o ngo r e d o l' e m b e b i d a s n a g r o s s u r a d as tos e c i n q u e n ta a n o s d e p o i s , u m a
dos t e m p o s n a I g reja d o Beato foi p a r e d e s as l á p i d e s d o s s u ce s s i v o s refl ex ã o s o b r e o s c u st o s h u m a n o s e
a m ag n ífi ca c a p e l a - m o r , t o d a de t ú m ulos, desde seu avô, a d i m e n s ã o d a d O I' q u e a c o m p a n h o u
m ármore s bran c o s e jaspes verm e l h o s , D. António de N oronha, 1 .° conde e s s a a v e n t u ra p l a n e t á r i a c u jo
t e r m i n ad a em 1 6 2 2 e erguida por d e L i n h ar e s , a o s p a i s e i rm ã o s . m o m e n t o a l to c e l e b l' a m o s n e s t e
i n i c i a t i v a d e D. Joana de N o r o n h a , E n t r e e l e s d estaca-se o a n o d e 1 9 9 8 . E s ta l á p i d e d o B e a t o
fi l h a d o s c o n d e s d e U n h a r e s , fam í l i a d e D . A n t ó n i o de N o ro n h a, o i r m ã o s u rg e c o m o u m a e s p é c i e d e s ú m u l a
e n t ão p r o p ri e t á r i a d a g r a n d e q u i nta p r i m og é n i t o , m orto e m C e u t a s e n t i d a d a História Trágico-Marítima,
ali p e r t o ao P o ç o do B i s p o , d e p o i s aos 1 7 a n o s , e m c u j a l á p i d e D . J o a n a (J S M )
dos condes de Valadares. deixou bem expl ícita a s u a vontade
A s u a d i m e n sã o , a j u s t a d a à s de reunir n o sono derradeiro uma
p r o p o r ç õ es d a p r ó p r i a i g reja, faz i a fam í l i a q u e m o rrera r e p a l' t i d a p e l o s
d e l a u m e s p a ço m aj es t o s o , e m b o r a cantos do m u ndo. Não se lê tal
d e g r a n d e s o b ri ed a d e , e n o b r e c i d o escrito, hoje ainda por cima no
somente pelo jogo subtil das a m b i e n t e s u rreal d e u m fo r n o
p i l a s t r a s e m o l d u ras arq u i tectó n i cas i n d u s t r i a l , s e m a fo rte c o m o ç ã o
ao m o dern o , I'e a l ç ad a p e l a v a r i e d a d e d i t a d a p e l o respe i to p o r e s t a fi g u r a
s u av e d a s t o n a l i d ad e s d o m á r m o r e . de m u l her que não casou, dedicada a
I nfe l i z m e n te n ã o d i s p o m o s rec o l h e i' n u m ú l t i m o a b ra ç o o s
d e q u a l q u e r i n fo r m aç ã o s o b re d e s p oj o s fam i l i a re s , a p l i c a n d o n es s e
o r e t á b u l o do a l tar- m o I'. m o n u m en to à m e m ó r i a d o s s e u s
D e s t i n o u -a a q u e l a s e n h o r a a parte s u b s t a n c i a l d o s e u i m e n s o
- - ----- - ------ ---. __. ._--
ALAMEDA DO B EATO
é a alameda do Beato. Antigamente, antes acampavam no Beato era o famoso viagens em / 846: Assim o povo, que tem
do alargamento da cidade, os patuscas de embrechado, ao lado da igreja já reedificada sempre melhor gosto e mais puro do que
Lisboa frequentavam muito estes sítios. pelo padre António da Conceição: bem essa escuma descorada que anda ao de cima
Pelo que respeita ao século XVIII diz o pitoresco lugar esse, em verdade, porque das populaçães, e que se chama a si mesma
irmão, e editor, de Manuel de Figueiredo além do pavimento em mosaico, feito de a Sociedade, os seus passeios favoritos são a
que os tocadores de viola iam aos domingos conchas e pedras miúdas, havia capelinhas Madre de Deus e o Beato e Xabregas e
de tarde à Penha e ao Beato, com a banda que prendiam a atenção, e sombra de Marvila e as hortas de Cheias. Pimentel,
direita do capote traçada sobre o ombro arvoredo copado. Todos estes sítios Alberto, A Estremadura Portuguesa, ln
esquerdo, e que atrás deles seguia muito continuaram a ser passeio predilecto dos Portugal Pitoresco e /Ilustrado, Lisboa,
povo a ouvir a tonadilha da fofa e do moradores de Lisboa até depois da primeira Empresa da História de Portugal, 1 908,
fandango. O lugar onde os alegres ranchos metade do século X/X. Garrett dizia nas I ." parte, p. 87.
99
Il1 A R V I L A
o termo Marvi l a, j un ta m e n t e com os de São Bento C . ' ), a qual parte com d e São B e n t o e o Poço d o B i spo a
d e Xabregas e C h e i as, c o n st i t ue m os o mar, desde o Poço do Bispo até ao q u i n t a parte com o mar. A estrada
topón i m os m a i s a n t i gos d a Zona dito mosteiro C . . ) vindo pelo muro
, que vai da cidade é e n t ã o só uma,
O r i e n t a l . Logo após a c o n q u i sta de do dito mosteiro ter à Estrada que a q u e l a q u e a i n d a hoje c o n h e c e m o s
L i sboa, D. Afonso H e n r i q u e s doou à vai da cidade, e atravessando a dita c o m o a E s t r a d a d e Marvi l a .
M i tra de L i s b o a todas as rendas e Estrada, partindo com vinhas do Pergunta r - s e - á e n t ã o q u a n d o terá
terras de M ar vila que possuíam as Cabido C . ' ) indo ter à cerca dos s i do batido o cam i n h o p e l a praia até
mesquitas de mouros, part i l h a n d o currais e palheiros que estão junto ao Poço do B i spo, a n o s s a a c t u a l R u a
l og o n o a n o s e g u i n t e o b i spo m e tade com as casas e assento da dita d o A ç ú c a r ? R a l p h D e l ga do, n o s e u
da propriedade com o C a b i do, quinta C . . ) cerrando onde primeiro i m port a n t e e s t u d o s o b r e o s O l i v a i s,
angar i a n d o - s e a s s i m a base de começou, ficando o dito Poço do em c u j a freg u e s i a Marv i l a estava
s usten tação da m a i s a l ta estrutura Bispo dentro das ditas divisões. i n tegrada desde a sua c r i a ç ã o , em
e c l es i ás t i ca d e Lisboa. S a b e n do nós N o texto a d i a n t e sobre o pa l á c i o dos 1 3 9 8 , a f i r m a q u e e m 1 5 7 3 , D . I n ês de
q u e o va l e d e C h e i as perte n c i a e m Marqueses d e Abrantes ( 3 1 ) , cabeça N o r o n h a, v i úva d e J o ã o da Cos ta,
grande p arte às a n t i gas f r e g u e s i a s o r i g i n a l desta i m e n s a p r o p r i e d a d e - s e n h o r d e Pancas, renovou o p l a n o
c o l e g i adas d e L i s boa, sem q u e s e j á n aq u e l a data as casas e assento da dos aforam e n t os d e t o d a a q u i nta,
con heça n e s t e c a s o q u a l q uer doação, dita quinta - , p o r m e n o r i zar- s e - á a f a l a n d o - s e d e u m a Quinta Nova,
ta lvez se possa c o l ocar a h i pótese de e v o l ução do s e n h o r i o desta e x a c t a m e n t e com serv e n t i a já p e l o
o acto d e 1 1 4 9 não ser m a i s q u e a propri edade, transformada e m foro c a m i n h o r i b e i r i n h o . O u s e j a , poderá
c o n f i r m a ç ã o de u m a s i t uação perpétuo n o séc u l o XVI, q u e f o i a d m i t i r - s e que en tre 1 49 5 e 1 5 7 3 , essa
preex i s t ente, l an ç a n d o a l gu m a l u z i n i c i a l m e n t e dos s e n h ores d e Pancas nova v i a foi s e n d o con s o l i dada ao
sobre a orgân i c a s o c i a l e e m a i s tarde i n t egrada n o morgado l o n g o d o p ra i a, i m po n d o
adm i n i s t r a t i v a m i l e n ar d o Esporão, q u e veio a cair por n at ur a l m e n t e u m a u t i l i zação d i versa
da c i d a d e de L i s b o a . h e rança n a g r a n d e casa d e V i l a Nova d a propr i ed a d e que a bordejava e m
O s l i m i t e s d e Marv i l a - s o b r e t u d o o s d e Port i m ão/Abra n t e s . Aqui i n teressa t o d a a e x t e n são, a l teração essa
da Q u i n t a dos A r c e b i s p o s - são bem s o b r e t ud o traçar o s contornos a d m i n i s t ra t i v a m e n t e consagrada n a
c o n h e c i dos, d e fi n i dos com p r e c i s ão g e n é r i cos q u e o termo abran g i a e ú l t i m a d a t a refe r i d a . S e l i garmos
em 1 49 5 , no contrato de perceber- l h e a e v o l ução, quer da e s t a i n formação a o utras j á atrás
e m p r a z a m e n t o que o a r c e b i s p o s ub d i v i são da propr i ed a de, q u e r r e u n i das p o d e m o s d e facto começar
D . J orge da Cos ta, o cé l ebre c a r d e a l d a e v o l ução v i á r i a. U m a das a a f i rmar com a l g um a s e g ura n ç a,
d e A l p e d r i n h a, fez a s u a i rm ã, i n formações mais i m portantes a p esar da a u s ê n c i a de d o c u m e n tação
D. C a t a r i n a de A l b u q u e r q u e , de toda c o n t i das n e s s a descrição d e 1 49 5 é a e x p l íci ta, que a via r i b e i r i n h a , agora
a propr i e da de, a s s i m c o n s t i t u í d a : a us ê n c i a d e q u a l q u e r referên c i a a b a p t i zada d e Caminho do Oriente, foi
uma quinta que se chama de u m a v i a p ú b l i ca r i b e i r i n h a, g a n h a n do c o n s i s t ê n c i a a o longo do
Ma rvila, que está além do mosteiro a f i r m a n d o - s e q u e entre o M o s t e i r o s é c u l o XVI, a l i ás n o s e g u i m e n t o da
101
Pormenor d a Carta das linh a s de
fortificação de Lisboa ( 1 8 3 5 ) s e n d o
b e m v i sivel o t r a ç a d o antigo d a
Es trad a d e M ar v i l a e a da v i a j u n to
ao I" i o , h o j e R u a do A ç ú c a r até ao
Poço do B is p o , d o m i nado a i n d a
p e l a g r a n d e q u i n t a d o s condes
d e V a l a d a r e s . P al'a lá do P o ço do
B i s po nota-se b e m a bi fu rcação
d o s c a m i n h o s do V a l e F o rm o s o
d e B a i xo e d e C i m a . C o m o p o n t o s
d e refe r ê n c i a , e s t ã o repl"esentados
o Palácio da M i tra, j u nto ao rio,
e ° C o n v e nto d e M a r v i l a ,
e as q u i n tas d o s m a r q u es e s
d e Abran tes e d e M arialva,
n a R u a D i reita d e M al·v i l a .
102
j unto ao rio e o s e u pro l on gamento
para norte, d i s t i n g u i n do - s e com
n i t i dez d a parte a n t i g a mais a c i m a ,
j unto do ve l h o cam i n h o , q u e
m a n teve o n o m e Marvi l a , d e p o i s
reforçado p e l a construção do
Convento das Brígi das. Do l a d o norte
dessa a z i n h a g a e estendendo-se entre
o rio e o Vale Formoso de B a i x o ,
f i cava a g r a n d e q ui n t a que f o i d o s
condes d e L i n h ares, depois dos d e
V a l a d a r e s , i n i c i a l m ente con h e c i d a
t a m b é m por q u i n t a e m orgado d e
Marvi l a , a p e s a r de e s t a r fora d o s
terrenos abrangidos p e l a propr iedade
e p i s c op a l . Mais tard e , t a l v e z para
evitar confusões, gen era l i z a - s e a
Edifícios de Manila. Em c.ima: a Quinta do Roc.ha, como é c.hamada no séc.ulo X V III, na parte descendente da rua em direcção ao Poço do Bisp o . des ignação de Q u i n t a do Conde
com p átio , escada e.xterior e alpendre, bom exemplar de casa de quinta setecentista. Em baixo: pequena construção setecentista fronteira ao Convento
de ?o..falvila. Ao lado: portão do século XVIII junto à quinta dos marqueses de Mariah'i\, em frente da Azinhaga das Fontes, hoje dos Alfinetes. d e Val adares , ao Poço do B i spo.
103
Dispomos de um desen ho tosco, poente na então Estrada Nova do crer que o 9 correspon derá à chamada
fei to à mão e datado de 17 5 2 , da Alfundão. Entre estas vias, iso l a - se Quintinha, j á então na posse da Casa
subdivisão em foros de todos os uma vasta parc e l a de terreno, com o de Mar i a l va, que a adquirira em 17 1 7 a
terrenos da Quinta de Marvi l a , então n úm ero I, e designada por Quinta um tal Rebe l o de Campos, nome a que
propriedade de raiz do morgado Grande, correspondendo à o autor do desen ho se deve ainda referir
do Esporão, e que acompanha como propriedade principa l , então do confun d i n do - l h e o primeiro ape l ido,
exp l icação o auto de posse do referido referido conde de Vila N ova, depois transformando o Rebe l o em Costa.
morgado por Manuel Rafael de Távora, marquês de Abrantes. Mas é o espaço Q uanto ao lote 7 pertencerá então
em n o m e do f i l h o, o conde de V i l a a nascente entre a referida Rua de também já à Casa Mar i a l va, pois a
N ova, en tão men or. Este documento Marvi l a e a do Açúcar que partir de 176 2 , dez anos depois deste
precioso, po i s embora tosco é o mapa espec i a l m ente nos in teressa. Aqui desen h o , os Livros de Registo da
mais a n t i go desta zona, e l ucida-nos encontramos as seguintes parce l a s , Décima são bem expl ícitos sobre a
sobre a d ivisão da propriedade, referentes a quintas q ue adiante posse pelos marqueses de Maria lva de
perm i t i n do i den t i f i car com precisão i remos apreciar. Parti ndo d a front e i ra todos os terrenos à b e i ra da estrada
a l gumas q u i ntas hoje profundamente do Beato, e devidamente identif icadas para o Poço do Bispo a partir da Q u i nta
transform adas. Vamos o l h á - l o com na legenda, encontramos: com o das Murtas até á Q u i n ta da Mitra.
a l guma atenção, seguindo a l egenda n úm ero 20 a Q uinta das Murtas (26 ) , Possive l m ente, e a fazer fé neste
que o acompan ha, e identificando c o m o n úm ero 8 a do marquês de desen ho de memória, o único enclave
as parc e l as d a grande propriedade Marialva (2y ) , com o seu p a l á c i o bem den tro dos vários l otes reunidos pelos
de Marv i l a que mais d irectamente desen hado sobre a Rua de Marv i l a. Marialva seria o referente ao n úmero 5,
nos interessam. Começando por uma A este segue-se a propri edade aforada c itado n a l egenda como quinta
l e i tura g l oba l , individual izemos as à M i tra, não n um erada, onde se ergue defronte da Cruz ao sair da azinhaga
principais vias desen hadas. A nascente o p a l á c i o desse nome (28), vizin hando das Fontes. A cruz citada é a das
j unto ao rio, corre o caminho o l ote 3, referido como courela em Veigas, de que fal aremos ao tratar
ribei r i n h o , aqui chamada Estrada para frente do palácio, ou seja uma parce l a adiante s um ariam ente do troço i n i c i a l
o Beato. Entronca e l e n o Poço do Bispo, a i n d a então na posse d irecta do da Estrada de Marv i l a. Refira-se,
que por l apso se designa por Beato, sen horio. Depo is, o 18 corresponde ao a i nda, o l ote n úm ero l a, à direita de
onde começa a subir a Rua de Marvi la, lote do Betencourt (29), term i nando q uem sobe a Rua de Marv i l a , chamado
que atravessa em arco o desen ho, por fim n um cone imperfe ito com o então a Quinta do Rocha, cuja casa,
como eixo central de toda a n úm ero 19, onde então já se a c h ava apesar de em bastante mau estado, se
propriedade, aqui dita Estrada constru ído o Convento das Bríg i das de encontra ainda quase intacta, com o
chamada de São Bento para Marvi/a Marv i l a ( 30). A l guma confusão se seu pátio, escada exterior com
e antiga para Sacavém. D e l a nascem l evanta com os n úmeros 7 e 9, a l pendre e varan da. Part i c u l arizemos,
para poente duas azin hagas, a das apresentados respectivamente na em seguida, cada um destes con j u n tos,
Fontes ( d epois dos A l f i netes) e outra l egenda como casas na Rua de São resultantes do emparc e l amento
não nomeada, hoje Rua J osé do Bento e foro de Luís da Costa Campos, da enorme quinta original da M itra
Patroc ín i o , ambas cruzando-se a sem m a i s especificações. Estamos em de Lisboa.
104
o
M a p a dos Foros de M arvila ( 1 752) ( I A N /TT, ACA, M orgado do E s porão, n.o 1 94, doe. 4045).
E s ta p lanta desenhada à m ão é acom panhada pela seguinte l egenda: I Palácio e Quinta de Marvila: 2. - Casas defronte do jardim;
- o
3. o _Courela defronte do pátio; 4. - três moradas de casas na Rua Direita de Marvila; 5. - Quinta defronte da Cruz ao sair da Azinhaga
o o
das Fontes; 6. Vinha chamada da calçada; 7. o casas na rua de São Bento dos Láios para Marvila; 8. o - Marquês de Marialva; 9. - Luís da
o o
10 5
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M A R VILA E P o ç o D O BISP O , H O J E , ,
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o ... . e
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o
qui nta dos marqueses de M adalva, armazéns da Sociedade Vinícolo Abel d e armazéns d e José Domingos Barreiro
ergueu-se a Sociedade Nacional de Pereira da Fonseca, da autoria de N o rte (6), ocupando em parte os tet"renos
Sabões, onde ainda se encontra um J ún ior (3), com fachada para o largo, onde outrora se ergue u o Palácio da
antigo m i rante o i tocentista (5) que, reproduzindo-se aqui também uma das Qui nta dos Condes de Valadares.
segundo a tradição, serv i u para o rei fotografias do antigo cais, da autoria Quanto ao edifício sede
D. Pedro V assistir à passagem do de Mário Novais (gentilmente cedida d o Clube Oriental de Lisboa ( 4 ) ,
p r i meiro comboio, e m 1 856. pela Fundação Calouste G u lbenl<ian) trata-se da transformação de antigas
Mas é o Lat'go David Leandro d a Silva evidenciando a relação funcional dependências d o Convento d e M arvi la,
q u e reúne os mais i n teressantes original com a doca do Poço do Bispo (2). onde no século XIX funcionaram
exemplat'es, c o m o o conjunto da sede e Destaque-se ainda o grande conjunto pequenas u n idades i nd ustriais.
Este troço esten d i a-se até à Azinhaga
das Fontes, hoje dita dos Alfi netes,
onde a estrada se passava a chamar
Rua D i reita d e M arvila, pOI' se i n iciar
aí o n ú cl e o u rbano. Para poente
subiam duas azi n h agas d e l igação
II 'I
para o i nterior - a da Bruxa e a das
Veigas, e para nascente, sobre o rio,
a depois chamada Calçada do Duque
d e Lafões. Antes d e chegar à Azinhaga
das Fontes, a b re-se h oje um espaço
amplo, no qual abrem os portões da
Sociedade N acíonal d e Sabões,
e onde o utrora existiria um cruzeiro,
talvez d e s i n a l ização fluvial, chamado
a Cruz d as Ve igas. Em frente abria-se
E S T R A D A DE M ARV I LA u m a refe r ê n c i a e s pecífica. A partir d a a h o m ó n i m a A z i n h aga d as Vei gas,
O t r o ç o i n i c ial da E st rada de M a rv i l a, I l h a d o G r i l o , i n i cia-se a E strada d e d a n d o acesso à grande q u inta
q u e as l i m itações do programa M arvila, t a m b é m c h a m ad a n o s é c u l o tam b é m d o mesmo n o m e ( n a págin a
Caminho do Oriente n ão i nc l u iram X I X, c o m o c o n s t a n a carta d e F i l i p e s e g u i n t e ) , o n d e h o j e está i nstalada
n o s e u â m b i to, merece n o entanto F o l q u e , R u a Direita d o s A n an ases. a Casa d e S ã o V i ce n te, I nstitu i ção
108
11 1
de caridad e c e l e br i z a d a p e l a
m an u fact u ra d e tapetes d e Arrai o l o s .
Trata-se d e u m b o m e x e m p l ar d e
q u i n t a arraba l d i na, c o m g r a n d e casa
nobre e capela d e boas d i m e n s ões, e
u m i nteressa n te reve s t i me nto d e
a z u l e j o s ( v e r Guia do Azulejo).
Pertenceu no s é c u l o XVI I I à fam í l i a
G aivão de Lacerda, alguns deles
desembargadores, sendo vendida
no i n ício d o século segui nte a u m
J ácome Dolme, inglês. Deste passou
a uma fam ília também estrangei ra,
de nome M etzner. C i te-se ainda a
chamada Quinta das Pintoras (na página
anterior), com a sua casa alongada
sobre a estrada estreita, notável pelo entl'ever o a mb i ente paradisíaco com autoria d e Jorge Colaço (ver Guia do
seu parqu e perfeitamente conservado, que os antigos referiam por hábito a Azulejo). Os arranjos desta propriedade
verdadeiro oásis que tem sobrevivido à Zona Oriental. N otável tamb é m é a deveram-se a J oão B urnay, sendo
degradação e aos maus tratos q u e toda decoração de azulejos espalhada pela depois a q u inta propriedade
esta área tem sofrido e nos deixa qui nta, dos inícios deste século, da da fam í l i a Chatelanat.
r09
p a rt e t a m b é m o p a l á c i o em S a n ta
A p o l ó n i a . D e l a n as c e r i a a
d es i g n a ç ã o do a p e a d e i r o d o s
c a m i n h o s - d e -fe r r o e n o s
seus terrenos se ergueria a Fábrica
d e M at e r i a l M i l i ta r , p o r i s s o
c o n h e c i d o c o m o d e B ra ç o d e P rata.
A mais c e l e b r i za d a d es s a s q u i n tas
e r a a dos c o n d e s d e V a l a d ares, l ogo
no P oço B i s p o , t a m b é m c o m o v i m o s
c o n h e c i d a p o r m o rg a d o d e M at'v i l a ,
c u j a i m p l a ntaç ã o c o r r e s p o n d e r i a
grosso m odo a o s t e n e n o s h o j e
Do Poço DO B I S P O AO V A L E o cu p a d o s p e l o s A l' m a z é n s
F O RMOSO DE B AIX O . d e J os é D o m i n g o s B a r r e i ro ,
S a i n d o d o P o ç o d o B i s po , a b r i a - s e c o m fre n t e p a r a o L a r g o D a v i d
a R u a d o V a l e F o r m o so d e B a i x o , L e a n d r o d a S i lv a , o u tr o l'a c h a m a d o
a i n d a e m g r a n d e p a r t e i n tacta n o d o Poço d o Bispo, Essa q uinta, uma
s e u t r a ç a d o . O facto d e s e d as m a i s a n t i gas d o l o c a l , fo i
e n c o n tr a r j á fo ra d o p e r í m e t r o inicialmente dos condes d e
d o p ro g r a m a d e i n terven ç ão d o P o r t a l e g l'e, faz e n d o parte d o d o te
C a m i n h o do Oriente, n ã o p e r m i t i u d e D, J o an a d a S i lva, fi l h a d e s t e s ,
u m a i n ve s t i ga ç ã o m a i s i n te n s a n o m u l h e r d o 1 .° c o n d e d e L i n h a re s ,
s e n t i d o d e s e i d e n t i fi c a r e m c o m D . A n tó n i o d e N o r o n h a .
p r e c i s ã o as d i v e r s as q u i nt a s E ss a s e n h ora d e i x o u - a a s u a n eta
d i s po s t a s a o l o n g o d e s s e v e l h o h o m ó n i m a , que por t e s t a m e n t o a
c a m i n h o . N o e n t a n t o , d e a l g u m as v i n c u l o u a favo r d a d es c e n d ê n c i a d e
d e l a s r e s t a m a i n d a s i g n ificat i v o s seu tio, o 2,° conde d e Lin hares.
t r a ç o s arq u i te c tó n i c o s , A p r e s e n ç a d a fam il i a n e s ta z o n a
d e i x a n d o - n o s e n trev e r c o m a l g u m j u stifica a i n i ci at i v a d e D . J o a n a
e s fo r ç o a b e l e z a o ri g i n a l d o s it i o , d e N o r o n h a d e e s c o l h e r a c a p e I a
s e m p r e m u i t o l o u v a d o . A l i t i n h am - m o I' d o C o n v e n t o d o Beato para
q u i n ta o s c o n d e s de P o v o l i d e e o s panteão dos s e u s . Por e x t i n ç ã o
Lemos Pereira de Lacerda, d es t e r a m o , p a s s o u o m o rg a d o p a t'a
m o rgad o s d o V a l e F o r m o s o , d e p o i s D. C a r l o s de N o ro n h a, pai d o
v i s c o n d e s d e J u ro m e n h a , b e m c o m o 1 , ° c o n d e d e V a l a d a r e s , fi c a n d o
o B r a ç o d e P ra t a , s e n d o e s t a q u i n ta a q u i n t a n es t e s t i tu l ar e s a t é
a c a b e ç a d o m o rgad o d e q u e faz i a ao s é c u l o X I X .
lIO
� Q U i n T A D A S Il'1 U RT A S
113
II - COMENTÁRIO
' lANflT. CN. C-12B, L.0 307. fi. 38v . 8 IANrIT. ACA, MOI'gado do Esporão. N . o 191.
' lANflT, CN, C-12B. L. ° 307. fi. 38. doe. 3912.
3 lANrIT, RP. N . Senhora dos Olivais. Óbitos, Cx. 8, 9 lANfTT, ACA. Morgado do Esporão. N . o 194-,
L.0 3. fi. 55. doe. 4042.
10
' lANflT. CN, C-12B. Cx. 6. L.0 349. fi,. 61. AHTC. Dc=eima da Cidade. Olivais. Livros de
5 lANrIT, RP, N . Senhora dos Olivais. Baptismos. ex. 2. Arruamentos, mp. 852 a 862 .
II lAN
L.0 5, n. I1v. rrr, ACA, Morgado do Esporão, N. o 194-,
6 lANrIT. ACA. Morgado do Esporão, N. o 191, doe. 4025.
doe. 3912.
7 lANrIT. ACA. l\'f orgado do Esporão. N. o 194,
doe. 4042.
114
A
� Q U i n T A 0 0 rll A R Q U E S D E Jl1 A R I A LV A
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A Quintinha, a antiga casa nobre. destacando-se a varanda sobre o rio e restos d e suportes d e pedra d e uma latada. A o lado. uma porta no
A QUINTINHA patio da quinta.
118
os preços, estipulados pelo marquês , do
material a utilizar : tabuado em solha --
)JO:fll" 'I IItw-t7 �)�
aberto, em guarda -pó e em ferro grosso, f ,.( ,fi; �r11'1
11 9
EXTRACTOS D O DIÁRIO DE WILLIAM do Tej o . Foi aqui que há semanas ao longo do terraço. Sentia-me tão
BECKFORD me lembrou tão vivamente o lago de melancólico e apático que mal podia
(. .. ) Esta tarde atravessámos a cidade Genebra e tudo quanto me aconteceu arrastar as pernas. Este infeliz D . Pedro
de ponta a ponta, a caminho da casa de junto às suas margens . Como calculas, infeccionou-me. Enchemos a carrua-
campo do duque de Lafões. O povo fica portanto , este passeio antes serviu para gem de floridas vergônteas de j asmim,
va a olhar, pasmado, para a altura da deprimir que para levantar o meu esta arrancadas às estátuas mutiladas, e ao
boleia do coche, para a jaqueta curta do do de espírito . No entanto, acedi em chegarmos a casa íamos todos intoxica
postilhão e para outros anglicismos da acompanhar o grão-prior ao longo das dos com o delicioso mas asfixiante
equipagem. Como o duque não estava imensas avenidas e terraços desta um perfume. O chá foi para nós um re
em casa, continuámos a nossa jornada brosa tapada, cenário da sua infância. frigerante depois dos nossos passeios
pela margem do Tej o , ao longo dos O palácio , de que ele particularmente para baixo e para cima nos terraços
muros da Quinta de Marvila, proprie gosta, pátios e fontes, tudo está quase de Marvila e dos penosos solavancos
dade do velho marquês de Marialva. em ruínas, os maciços de murta con pelas mal pavimentadas ruas de Lisboa
Renques de frondosos ulmeiros tornam verteram-se em matagais bravios, bran (pág. 69) .
muito deleitosos estes sítios. AB pequenas cos de flores , e as estátuas estão meio ( . . . ) Quanto mais conheço o marquês,
colinas das vizinhanças estão cobertas de ocultas pelos jasmins. Há ali um pe mais razões tenho para gostar dele. Não
giestas espanholas. Negras nuvens, mos queno teatro de ópera construído com há dedicação mais sincera que a que
queadas de um vermelho de tormenta, certa elegância, e uma capela, não ele me consagra. Chega a esquecer,
pairavam sobre o rio - que nesta muito diferente de uma mesquita na inclusivamente, os deveres do seu
extremidade de Lisboa tem cerca de nove sua forma e nos arabescos que a orna cargo . Esta tarde, em vez de acompa
milhas de largura - e a margem oposta, mentam. Pendem das partes em volta os nhar Sua Majestade ao convento , aqui
que mal se via, banhava a pálida e colori troféus da b atalha de Elvas , entre nas vizinhanças do sítio onde moro ,
da luz, de um desmaiado arco-íris que o bandeiras espanholas , ganhos pelos saiu de carruagem comigo . Fomos a
Sol, no ocaso , mal já tinha forças para antepassados do Marialva. Uma longa Marvila, o jardim abandonado e selva
iluminar. A vasta superfície das águas, latada de videiras, assente em pilares de gem de que o grão-prior tanto gosta.
o matizado do céu, a frescura do ar e mármore, conduz do palácio à capela. A minha carruagem , seguida pelos
o contorno azulado das montanhas Há qualquer coisa de majestoso nesta paj ens de libré real que acompanham o
distantes trouxeram-me à lembrança a verdejante galeria, e a luz da tarde, estribeiro-mor, foi o pasmo de toda a
paisagem do lago de Genebra, e muitas coada através da folhagem, iluminava as cidade . Marvila tem coisas bonitas e
outras circunstâncias que rodearam a pálidas feições dos criados inválidos da pitorescas. AB árvores, velhas e fantás
perda daquela a quem eu amava mais do família, que acorreram, das suas an'ui ticas, debruçam-se sobre arruinadas
que à própria vida (pág. 50) . nadas habitações, caindo de joelhos fontes e mutiladas estátuas de heróis
. . . Em vez de seguirmos ao longo da diante do prior e de D . Pedro . Vagueá cujas armaduras o perpassar dos anos
costa de Belém, encaminhámo -nos, mos através deste abandonado e esque matizou de muitas cores : púrpura ,
através de Lisboa, para Marvila, uma cido jardim, cujo silêncio faz lembrar o verde e amarelo. No meio de matagais
propriedade do velho marquês de do Convento dos Cartuxos , até a quase impenetráveis, há estranhas pirâ
Marialva que domina a parte mais larga sombra dos altos ciprestes se estender mides de pedra, rodeadas de leões
120
de mármore, com o aspecto de símbolos
mágicos. O marquês tem sensibilidade
bastante para respeitar os toscos monu
mentos da idade em que os seus ante
passados realizaram tantas heróicas
empresas, e solenemente me prometeu
jamais sacrificar estas veneráveis som
bras ao gosto petulante e vistoso dos
modernos ajardinamentos portugueses.
Fiz uma grande provisão de jasmim
branco e amarelo , o mais forte e luxu
riante que até hoj e vi (pág. 77) .
(. . . ) Bezerra acompanhou-me esta tar
de a Man'ila. Estávamos ambos num
estado de espírito assaz romântico ,
exactamente o que convinha para apre
ciar o melancólico cenário deste arrui-
nado j ardim. O Sol entrava no ocaso
quando ali chegámos e a espessa mata
de murtas, ao crepúsculo, era negra
e triste. O aroma dos jasmins em
balsamava a atmosfera. Que vontade
eu tive de afastar de mim dolentes e
irritantes recordações! Sem dar por
isso, achei-me a declamar alguns dos
mais ternos e apaixonados recitativos da
minha ópera adorada, Quinto Fábio.
A noite caiu ainda estávamos em Mar
vila. Levantou-se então uma aragem
fria que fez ramalhar os ciprestes e
espalhou os brancos jasmins sobre os
D . Pedro de Alcântara d e Afene5es Coutinho, 6. o marquês de Mariall'a e 9 . o conde de Cantanhede. ültimo proprietário nesta família da
maciços de murtas, que pareciam flocos Quinta de �farvila. Este quadro. óleo sltela, possivelmente da autoria de Domingos Sequeira (?), pois nào está assinado. é datável da primeira
década do século XIX, dada a idade aparente do retratado, e encontra-se hoje no Palácio dos Duques de Lafões, ao Grilo, herdeiros da Casa
de neve (pág. 85) . de Marialva pela morte deste senhor em Paris, onde era embaixador. em 1823.
121
,
� P A L A C I 0 D A f'h I T R A
123
D . Tomás (1754) , hospedou-se aqui,
durante três dias , o marquês de Baschi,
embaixador de França. Do Tesouro
d' el-rei vieram as mais vistosas arma-
ções de parede, os mais belos cortina
dos, camas completas para o ministro e
seu séquito, a baixela de prata mais
opulenta (. . .) bizarrias portuguesas -
conclui Castilh09• (. . .) noutras salas
armaram -se mesas para os festins,
ricamente adornadas e providas (. . .)
o que havia de melhor na cozinha
elegante, e mais toda a sorte de limo
nadas e orchatas nevadas, vinhos ge
nerosos, chocolates, e ou tras várias
bebidas, tudo apareceu.
Vista t:xtt:rior do Palâcio da Mitra. o portão d t: act:sso a o pátio do Palác:io do Mitra.
Depois da revolução liberal, o palácio
uma calçada majestosa para a estrada. ainda albergou como residência patri um dos sócios Manuel Fuertes Peres
No ano de 1742, em consulta ao rei, a arcal, durante alguns anos, D . Frei criou uma outra, fundadora da fábrica
Câmara realça a importância (. . .) de se Patrício da Silva e D . Frei Francisco de Seixas, instalada no local das antigas
fazer o que resta do caminho de S. Luís, o cardeal Saraiva, ali falecido cocheiras do palácio , ocupado este
Marvila, porque não se malogre a em 1845. Vendida em hasta pública, a pelos escritórios da empresalI • Em
grande despesa que à sua custa tem propriedade foi comprada , por 10 1 9 3 0 , depois de servir diferentes
feito nele o Excelentíssimo cardeal contos de réis, pelo marquês de Sa actividades fabris , foi adquirido pela
patriarca; e será essa obra não só for lamanca , empresário das obras do CML que, após os restauros neces
mosa, mas muito ú til ao bem comum, caminho -de-ferro , (. . .) que reedifi sários , o transformou em biblioteca
porque com este novo caminho se evita cou o palácio e a quin taIO (. . .), segun municipal e, depois, na sede do Mu
não só o grande perigo em que está, do informação de Pinho Leal (r875) . seu Municipal, ali mantido até ser
mas a grande volta que os passageiros Mantendo -se como residência privada transferido para o Campo Grande.
dão pelo de cima7• foi , posteriormente, comprada pelo N os terrenos rústicos da antiga quinta
No ano de 1744, recebeu D . Tomás no diplomata americano Horácio Perry, instalou-se (1933) um asilo de mendi
Palácio da Mitra, já reedificado, num cuja viúva, a poetisa espanhola D . Ca cidade - Asilo da Mitra, ou popular
magnífico e sumptu oso banqu eté, rolina Coro nado - que ali escreveu mente, a Mitra. Alberga hoje a sede do
o cardeal Odi, núncio apostólico, e alguns dos seus poemas -, a vendeu ao Grupo dos Amigos e Lisboa e funciona
outras várias dignidades e senhores capitalista António Centeno . Mais como espaço de recepções da CML,
da corte com grande profusão e deli tarde, transitou para uma sociedade, instituição que classificou o antigo
cadeza. No ano seguinte à morte de desmembrada pouco depois, da qual Palácio dos Arcebispos. (IFP)
124
o terreno da Quinta da �fitra no Mapa dos Foros d� Alan'iJa o Palãcio da :Mitra segundo litografia publicada in Archim Pi!loresco. T. V11. 1864. Notam-se ainda os dois obeliscos que ladeavam o cais
(.752). privativo. uma das primeiras manifestações em Lisboa deste gosto decorativo romano.
II - COMENTÁRIO tesã, ainda voluntariamente presa aos edifício, tal aponta o seu início para
modelos decorativos seiscentistas . una anos antes, os sej a , os primeiros
Embora não se trate de uma cons Construídos sobretudo nas décadas da década, quando simultaneamente
trução de raiz, mas sim da adaptação de trinta e quarenta, estes três con António Cannevari dirigia as obras
de um edifício anterior, o Palácio da juntos ganham, pois , características do Toj al. A conjugação das datas po
Mitra , em Marvila , tem que ser apre modelares , acentuadas pela posição de conduzir à presunção de ter sido
ciado no âmbito da intervenção global hierárquica e política do próprio esse mesmo arquitecto , o preferido de
do r. o patriarca de Lisboa, D . Tomás construtor. D. Tomás, o autor inicial do proj ecto
de Almeida , um dos mais activos Embora não se saiba ao certo a data do de transformação em Marvila , como j á
construtores do período j oanino , início das obras que empreendeu em aventou J os é Meco . D iz-se inicial uma
responsável em parte pela difusão do Marvila, podemos apontar, no entan vez que Cannevari saiu de Lisboa em
barroco romano em Lisboa. Quer em to , a década de trinta, uma vez que em 1 7 3 2 , o que talvez possa justificar
Santo Antão do Tojal, quer depois 174 2 , como acima se refere , a Câmara alguns pormenores decorativos onde
no Palácio Lavradio , ao Campo de pede ao rei para poder continuar a se insinua um outro gosto .
Santa Clara, D . Tomás deixou-nos obra meritória feita na via pública De facto , quer o desenho do grande
alguns dos melhores apontamentos da pelo prelado , dispo ndo uma nova portão , de linhas perturbantemente
arquitectura civil desse período , onde calçada frente ao cais com obeliscos esguias face aos cânones aqui mais em
é sensível a opção erudita por essa que mandara erguer. Ora com se pode voga, quer o lançamento da magnífica
estética bem definida, ao arrepio da conjecturar que o arranj o da calçada escadaria, que parece duplicar a do
prática arreigada da aristocracia cor- fosse feito no seguimento das obras do Tojal, jogando deliberadamente com
125
P l anta da c a p e l a do P a l á c i o da M itra, características mais típicas de uma
p u b l i cada por José M e co i n O Palácio estética nem sempre conveniente
d a Mitra e o s seus a z ulejos ( . . . ) 1 98 5 . mente captada pelos primeiros res
A d i s po s i ção o rgânica d a capela, ponsáveis pela introdução em Lisboa
c o m e ntrada sobrelevada p e l o grande das novidades romanas.
p ortal n o patamar d a escadaria Realce-se , ainda, o magnífico acer
(hoje fechado) reforça o sentido vo de azulejos (ver Guia do Azulejo) ,
c e n o gráfico q u e p r e s i d i u ao pt'ojecto não podendo deixar de se realçar o
d e renovação, c r i a n d o uma s u cessão carácter arquitectónico daqueles que
d e e s paços n obres i n t e r l i gados. revestem a escadaria, acentuando pela
Sendo o palácio residência patriarcal, duplicação das balaustradas uma frui
j ustifica-se p l e na m en t e esta ção sem limites da noção do espaço ,
so brevalo rização d a capela n a impondo uma concepção global do
I
e c o n o m i a d o con j u n to . Realce-se, conjunto, em que os azulej os ganham
ainda, a for m a e líptica adoptada, uma nova virtualidade.
uma das pri m e i r a s afl o rações d este Refira-se , ainda, a proximidade entre
i for m u lário b a rroco e n tre n ó s , estes azulej o s e os que decoram
r
ace n t u a d a p e l a g a l e r i a q u e l h e corria a escadaria do Tojal, também estru
e m redor, reforçando-se, assim, o turantes de um mesmo sentido ce-
s e n t i d o espectacu l a r do c e r i m o n i a l nográfico deliberadamente espacial.
�---- i m po sto p e l a fig u r a d o patriarca. (JSM)
o efeito de surpresa tão do agrado da PaoIo, Roma Barroca) . E essa atri I IANrrT, ACA - Morgado do Esporão, Mç. 191. doe.
3910.
estética barroca mais refinada, quer buição seria presumivelmente refor ' Santa Maria, FI'. Francisco de. eco aberto na Terra,
Lisboa, Off. de Manoel lopes Ferreyra 1697. Vai. II,
a adopção de obeliscos no cais - çada se pudessemos apreciar ainda a p. 1113 ·
3 De1gado, Ralph, «O lugar de Marvüa e a Quinta da
possivelmente a primeira presença em magnífica capela patriarcal - barbara Mitra » , ln Q}jsipo, Lisboa, 1963. n. o 103. p. 139.
4 Castro, João Bautista de. Mappa de POl'tugaJ, Antigo e
Lisboa desse elemento decorativo tão mente destruída neste século - com
Moderno, Lisboa, 1870, p. 481.
comum em Roma e miticamente cele- um desenho em planta de forma oval, 5 Castro, João Bautista de, ob. dr., pp. 482-48+.
apurada, marcada p o r uma certa pequeno templo seria assim um dos Históâco de D. Thomás de Almeida, Lisboa. Orf. de
Miguel Rodrigues, 1754. p. 131.
liberdade inventiva face aos rígidos primeiros exemplos aqui executados. '} Castilho. Júlio de. Lisboa Antiga - O BaúTo Alto,
126
� Q U i n TA 0 0 B E T E n C 0 U RT
12 9
sacadas que, para trás, é rés-do-chão,
abrindo sobre um terraço l ajeado.
A este andar se sobrepõe um mezanino,
de vão e aberturas muito pequenas. Ao
A Quinta do Betencourt no Mapa dos Foros de Man,j/a (752).
centro do piso térreo abre-se o portal
Ao ladot portal central de acesso ao vestíbulo, hoje prejudicado na proporções originais pela subida de nível do piso da via püblica.
- muito prejudicado nas suas propor
quando estes elementos arquitectónicos uma fábrica de açúcar, que veio a dar o ções pela subida do nível da rua - que dá
se vulgarizam entre nós. Poderemos nome à rua. Sabendo que dela faziam entrada para um vestíbulo - agora com
assim pensar tratar-se de uma campa parte algumas outras casas anexas, é partimentado - de onde nascia lateral
nha de obras da iniciativa do último possível que a referida fábrica - por mente a escada muito simples para o
membro da família Betencourt, Pedro certo de pequenas dimensões - se andar nobre. Ao fundo desse vestíbulo
de Almeida Betencourt, aqui residente localizasse nessas dependências e não na abre-se um arco de acesso a um corredor
nesse período pelo menos até I763 , casa nobre, a qual sabemos, pelos Li largo que vencia em rampa o desnível da
data em que na casa residia já Christian vros da Décima, habitada por Christian encosta, conduzindo ao referido terraço
Smith. O facto de sobre o portal se Smith até I782 . e deste por escada ao jardim e quinta -
encontrar ainda o suporte para a pedra A estrutura da construção é muito onde hoje funcionam viveiros camarários
de armas , entretanto desaparecida, simples, embora denote algum cuida - e na qual ainda se destaca o antigo poço
parece confirmar a hipótese de o do, quer nos pormenores decorativos, com a sua nora. (JSM)
construtor ser o referido senhor , dado quer na rigorosa obediência às regras da
' lANflT. RGT. L. o II. fls. 34v-36v.
que nenhum dos posteriores locatários simetria. Sobre um piso térreo - ini 2 lANrrr, RP. N. Senhora dos Olivais. Baptismos. ex. I.
L.0 4.
teria direito a uso de brasão. O citado cialmente destinado a cavalariças e 3 Index das Notas de varios tabelliães de Lisboa, Lisboa,
'944. T. III.
cidadão inglês instalou na propriedade armazéns - corre o andar nobre de
FELGUEIRAS GAYO , \lNOBIUÁRIO
DE FAMÍllAS DE PORTUGAL"
TíTuLo DE BETENCOURTS (T. II)
I.Pedro de Almeida Betencourt,
irmão deJoão Ferreira
Betencourt, foi Fidalgo da Casa
Real, Cavaleiro da Ordem de
Cristo, Guarda-Roupa do Rei
D . Pedro II e teve: 2 . José de
Almeida Betencourt, Cavaleiro
da Ordem de Cristo, Fidalgo
da Casa Real e teve: 3. Pedro de
Almeida Betencourt, Cavaleiro
da Ordem de Cristo, Guarda-
-Roupa do Rei D. João V,
Fidalgo da Casa Real, Sr. da
Quinta de Marvila.
E
STE convento foi erguido numa n ecessário para o novo edifício ficar
parcela de terreno fo reira em com maior perfeição já vendo que
2000 réis ao morgado do Esporão, eram bastantes para que acrescentan
correspondendo à extremidade nas do -se -lhe po ucas vivesse nelas com
cente da grande Quinta de Marvila dos comodidade - falando ainda - no
condes de Figueiró, e que pela sua gosto de lograr a recreação dela que era
forma era designada, no século XVI , a maior que se pode encarecer (. . .).
por a Cabeça. Vendida por Paulo de D . João IV, apesar das reticências
Tovar ao cónego Manuel Pimentel postas pelo grande número de casas
(r6n)', foi herdada por uma família religiosas em Lisboa, concedeu alvará
Tinoco (r623) a quem foi adquirida para a edificação da nova casa em
por Sancho de Faria e Silva seu pos 2 7 . 4 . 1655 à abadessa do mosteiro das
suidor já em r 642 quinta de Sancho
- do Bispo (. . .) que foi de Sancho de Inglesas para poder edificar e findar o
de Faria ao Poço do Bispo'. A D. Inês Faria (. . .) e a qual parte com quinta de de Marvila da mesma Ordem6, pelo
de Ayala, viúva daquele último pos Lázaro Lopes e com estradas públicas qual ficou estipulado que o número de
suidor, executou a quinta Alexandre (. . .) teve lugar em r 6 . 6 . 16 5 5 , apesar do religiosas jamais excederia as 8 0 , com
de Sousa Freire, comprando-a pouco eclesiástico já estar acertado com a 8000 cruzados de renda, entrando
depois em hasta pública (r648) uma- madre Brígida de Santo António desde nesta quantia o que fosse levado pelas
quinta chamada do Poço do Bispo3 o - Outubro de r654, para lhe doar e fazer que entrassem para sua sustentação .
arcediago Fernão Cabral que, por sua doação da sua quinta de Marvila em Falecida em 2 9 . 6 . r655 a madre aba
vez, a doou para a construção do novo lugar da compra que dela lhe queria dessa já não assistiu à instalação das
convento . fazer ela (. . .) para nela se fundar e primeiras freiras no inacabado con
A instalação das Brígidas portuguesas pelpetuar um convento da mesma vento em 18 . 3 . r6 6 0 . As fundadoras,
em Marvila deveu-se à iniciativa de Ordem de Santa Brigida com a invo acompanhadas por várias senhoras
madre Brígida de Santo António4 que, cação de N. Senhora da Conceição para da corte, atravessaram a cidade desde
após o incêndio no Convento de Santa religiosas portuguesas5• Retribuiu -lhe a o mosteiro no Mocambo (o Quelhas)
Brígida, ao Quelhas, em r652, tratou abadessa com a capela-mor e a missa até Marvila. No dia seguinte celebrou
de fundar casa distinta das freiras ingle conventual. -se a missa solene no mosteiro bapti
sas, até então todas juntas. Procurando Da localização privilegiada da quinta zado , conforme desejo de Brígida de
uma localização digna para tal efeito , diz o arcediago que gastava (. . .) nela Santo António , com o nome de Nossa
acabou por aceitar os pios propósitos dias contín uos e ininterruptos (. . .) e Senhora da Conceição .
do arcediago Fernão Cabral. A doação traçando por vezes várias casas de meu As obras iniciais foram, em grande
da quinta sita em Marvila junto ao Poço agasalho lá se me representava por mais parte, suportadas por Fernão Cabral,
1 33
--------------------
Coroamento com frontão de um dos corpos simHricos que fecham o pâtio de Marvila. com decoração de azulejos. Pedra de armas do arcediago Fernào Cabral. um dos patronos do
Mosteiro de Marvila.
1 34
mosteiro das Brígidas de Marvila. Por As religiosas, porfiando n a obtenção de
uma escritura de doação de r 6 7 9 , meios de subsistência e que lhes permi
D . Isabel considerando a impossibili tissem a ajuda para a conclusão das
dade em que se acha o mosteiro (. . . ) obras, emprestavam dinheiro a juros -
que a abadessa e religiosas dele não algum dinheiro para empregarem ou
podem continuar com as obras do dito darem a juro para lhe render para seu
mosteiro por falta de cabedais e de sustento - proveniente dos dotes rece
penderem de grande custo9, compro bidos com a entrada de novas freiras -
meteu-se a doar 4 000 cruzados à freira de véu preto e coro dele - dos
instituição , recebendo em troca um quais se conhecem várias escrituras,
lugar perpétuo no convento para a sua entre 1684 e r 6 9 2 , variando entre
descendência. No ano de r68r, viúva, 600 000 e 800 000 réis. Deste pe
encerrou-se nesta clausura, j unta ríodo (1686-1692) são igualmente co
mente com a filha, D. Juliana, e logo nhecidas escrituras de empréstimos
que nela entraram se começo u a ver a juros por parte das religiosas que
o efeito do seu zelo, porque a nova chegavam a atingir os 2 500 000 réis .
igreja de que só se haviam levantado as
paredes, se foi con tin uando com
grande calor até chegar à sua última
perfeição; e do mesmo modo se tratou
da reedificação do mais mosteiro, de
sorte que à generosa piedade destas
ilustres benfeitoras se deve toda a
fábrica de dormitórios, claustro e ofi
cinas'O• Igualmente contribuiu para a
ornamentação da sacristia e da igreja,
de sorte que orçando-se a despesa feita
com este mosteiro se tem por certo que
excedeu a quantia de 100 000 cruza
dos. Falecida em 1691, ainda hoje a sua
memória é evocada por uma lápide
na capela-mor, onde se lê: DONNA
IZAB/EL ENRIQVES MVL/HER Q
FOI DE DIOGO / LOPES TORRES
FIDAL/GO DA GAZA DE S. / MG.DE
MANDOV / FAZER E STA O/BRA A Em cima: pôrtic:o da igr�ja, construído em 1725.
Em baixo: o Convento de Man'ila segundo o desenho inserlO in Alonumentos Sacros de Lisboa em 1833 de Gonzaga Pereira. Note-se a arcaria
SVA CVS/TA ANNO D E r 6 9 0. que primitivamente fechava ao fundo o pátio de entrada. dando acesso directo ao claustro.
1 35
N a I g reja d e M a/'vi l a d e s ta c a m - s e o s
b e l o s m ár m o re s c o m e m b r e c h a d o s ,
sobretudo na capela-mar,
d atáv e i s d e 1 6 9 0 , s e g u n d o
a c a r te l a i ns cr i ta n a l á p i d e
d e D . I s a b e l H e n r i q u es e m b e b i d a
n a p a r e d e l at e r a l d a m e s m a c a p e l a
( n a p á g i n a s eg u i n te ) , e d e v i d o s
a o p a tr o c í n i o d e s t a s e n h o /·a.
No ano de 1695 estavam recolhidas 35 do mosteiro . Foi sepultada no coro no de linho, alca tifas, panos de rases.
freiras, com 865 600 réis de renda" . baixo da igreja, segundo estipulou no Em finais do século XVIII debatia-se a
Convento e igreja por esta altura ainda testamento (1707)'4, isto enquanto se instituição com falta de meios para
não estavam concluídos, prolongando não fizesse um carneiro no meio do a sua subsistência e para pagamento
-se os trabalhos, sobretudo os relativos coro baixo em que se metam os meus de dívidas contraídas pelo pagamento
à ornamentação do templo , ao longo ossos e os de minha mãe, onde ainda de alimentos e pensões de capela'5. E m
do primeiro quartel do século XVIII. hoje se lê numa lápide no chão : S. DAS 1808 , tal exiguidade de recursos obri
A pintura e talha das capelas ficaram a M . TO NO BRES I E VERTVOSAS gou as religiosas - pelo deplorável
dever-se a Roque Gonçalo da Rocha, S . RAS I D . IZABEL HENRIQ. ES E I estado a que se achavam reduzidas, sem
pai de duas recolhida s ; as capelas D . IVLIANA M.A DE S.TO I ANT.O terem com que se alimentar, nem com
laterais a duas sacristãs do convento ; e RE E D I F I CAD O I RAS INSIGNES que cumprir as obrigações do culto
o pórtico , datado de 1725, a João DES .TE I CONV.TO DA CONC .AM divino'6 - a solicitar um administrador
Vicente dos Santos" . Mas neste perío I DE MARV.A. Ao testamento, aprova régio para as remediar nas pendências
do coube o protagonismo a D . Juliana do em 1709, acrescentou dois codicilos com os credores, e em especial o
Maria de Santo António, filha e (1710) , abertos em 1714, deixando Hospital Real de S . José, a quem de
herdeira abastada de D . Isabel Hen- entre muitos legados pios, 150 000 viam mais de 15 contos de réis. Atra
riques, recolhida no mosteiro , con réis anuais de renda à comunidade de vés de um documento do respectivo
dição que manteve para não largar o Marvila, bem como todos os móveis processo do Desembargo do Paço é
morgado de seu pai, (. . . ) com cujas que se acharem n esta casa assim caixões possível conhecer-se o património de
rendas se ia continuando a obra (o o .)r3 como bufetes, escritórios, painéis, pa - que dispunha o cenóbio e o estado
deficitário das suas finanças. Os rendi
mentos dos bens patrimoniais impos
tos nos juros na Alfândega, Casa de
Bragança, Armazéns, Pau Brasil, sal
de Setúbal, Senado e de apólices, so
mados aos das casas, foros, ordinárias
e juros, atingiam 2 475 I25 réis, dos
quais deduzindo a despesa anual de
I 7 9 0 9 0 0 ré is - gastando as I5 reli
giosas I 2 0 réis por dia - sobrava
apenas perto de 700 000 ré is anuais
para satisfação dos mais de 20 contos
em dívida aos credores . Do inventário
dos seus b ens'7, feito no século XIX,
apurou-se a soma de 27 480 600 réis,
entre convento e anexos, a cerca, terras
de semeadura, casas da Rua de Marvila
e na Rua Direita do Poço do Bispo - Governo a Manuel Pinto da Fonseca, Campolide, chegando a albergar 470
onde estava instalada uma fábrica de capitalista e africanista, para a fun pessoas. Finalmente recebeu o recolhi
sabão - que tudo pagava ao morgadio dação de um asilo destinado a crian.ças mento de idosos denominado Mansão
do Esporão 3500 réis de foro , reduzi abandonadas, para o qual legou em de Santa Maria de Marvila, dependente
dos por uma subenfiteuse em I807 a testamento I40 contos de réis. Inau do Ministério da Saúde . A igrej a , rea
António Esteves da Costa. gurado anos antes , com o nome de berta ao culto em I 9 3 2 , está classifica
Depois da extinção das ordens reli D. Luís I, foi transferido para este da como Imóvel de Interesse Público ,
giosas, as freiras Brígidas permanece edifício em I875. Segundo os estatutos e é hoje sede da paróquia de Santo
ram no convento até à sua supressão , as crianças do sexo feminino recebem a Agostinho de Marvila . (JFP)
por decreto de I I . 4 . I8 7 2 , recebendo as instrução primária e a educação moral,
sobreviventes uma pensão de I20 000 civil e religiosa, e aprendem costura e
réis'8. Neste mesmo ano apossou-se outros misteres próprios do seu sexo;
também o Governo das instalações e as do sexo masculin o recebem a
quintal onde funcionava a fábrica de instrução primária, o desenho linear e
sabão, arrendados à Companhia dos a educação moral, civil e religiosa; e
Tabacos por 700 000 réis, valores fora do asilo o ofício mecânico para o
vendidos nesse ano em hasta pública. qual mostrarem maior inclinação'9.
No ano seguinte foi desactivada a Rebaptizado em I 9 I I como Asilo
capela. Pouco depois, em I874, o anti Manuel Pinto da Fonseca , sucedeu
go edifício conventual era cedido pelo -lhe, em I 9 2 8 , o Asilo de Velhos de
1 37
Interior da Igreja de Marvila e pormenor de um dos altares
laterais de talha.
II - COMENTÁRIO
perfeição; e do mesmo modo se tratou do Azulejo, onde serão tratados, tendo pátio , uma arcaria, hoje substituída por
da reedificação do mais mosteiro, de parte da pintura, da autoria de Bento portas e janelas, dava acesso às depen
sorte que à generosa piedade destas ilus Coelho da Silveira, sido recentemente dências conventuais , dispostas em
tres benfeitoras se deve toda a fábrica estudada no âmbito da grande expo torno de um claustro ainda intacto, de
de dormitórios, claustro e oficinas. Esta sição deste mestre realizada em Lisboa. grande sobriedade nas suas linhas
realidade torna o Convento de Marvila Interessa aqui realçar sobretudo a com de arcaria de pilastras muito simples.
uma das mais homogéneas realizações da ponente arquitectónica do conjunto , À esquerda de quem entra, dispõe -se
arte portuguesa desse período, a que com uma estrutura pouco habitual longitudinalmente a igreja, com portal
poderemos chamar o barroco de sensi entre as casas religiosas de Lisboa, pos de acesso lateral (datado de I725) , de
bilidade nacional, proveniente da evo sivelmente determinada pelas próprias acordo com a regra habitual dos con
lução local de alguns pressupostos características do terreno em que foi ventos de freiras em que o eixo maior se
estéticos, numa unidade expressa na implantado. O convento dispõe-se em dispunha entre o altar-mor e os dois
perfeita conjugação entre a arquitectura, U em torno de um pátio central, orgâ coros - alto e baixo - destinados estes
o azulejo, a talha, a pintura e os embre nica mais usual na arquitectura civil, o às recolhidas. A igreja é de grande
chados de mármore. que pode levar a pôr a hipótese de se simplicidade estrutural, simples caixa
Quanto ao excepcional conjunto de terem aproveitado algumas construções rectangular com arcaria pouco profun
revestimentos cerâmicos veja-se o Guia da quinta preexistente. Ao fundo desse da para altares laterais e o rectângulo
1 39
M a n u e l P i nto d a Fonseca,
b u sto d e m á r m o r e b ra n c o , a s s i n a d o
G. D u p re - F . / 85 2 , Fire n z e ,
q u e h o j e s e e n c o n t r a n a e n t rad a
d a M a n sã o de S a n t a M aria de
M arvila, h o s p í c i o e s t a t a l
d e apoio s o c i a l . M a n u e l Pi nto
d a Fonseca, a q u e m ch amavam
p o r a l c u n h a o M o n te Cris t o , d a d a
a o r i g e m i nc erta d a s u a fo r t u n a ,
l i g a d a ao c o m é r c i o afr i c a n o
o n d e d o m i n a v a a e s c r av a t u r a ,
fo i u m d o s n e g o c i a n t e s m a i s r i c o s
da praça d e Lisboa, celeb rizado
p e l as s u a s r e s i d ê n c i a s , c o m o
o a n t i go p a l á c i o p a t r i a r c a l ,
à J u n q u e i ra ( d e p o i s B u rn a y ) ,
q u e p rofu n d a m e n t e t r a n s fo r m o u , e
a Q u i n t a d o R e l ó g i o , e m S i n tl' a ,
q u e r e c o n s tr u i u d e r a i z ,
t r a n s fo l' m a n d o-a n u m d o s p r i m e i ro s
afl o r a m e n to s e n tre n ó s d o
revival i s m o exótico.
P i nto d a Fonseca foi também
b a n q u e i ro , d e v e n d o- s e - I h e a
fu n d ação d e u m a c a s a P i n to d a
F on se c a , d e p o i s B a n c o F o n se c a ,
S a n t o s e V i a n a . B e n e m ér i t o ,
fu n d o u o A s i l o D . L u i s I , d e s t i n a d o
à e d u ca ç ã o d e c r i a n ç a s po bres ,
i n s t a l a d o p o r d o a ção e s t a t a l
n o C o n v e n to d e M a r v i l a a p a r t i r
d e 1 8 74, depois d a saída
d a ú lt i m a frei r a .
A p ó s a i m p l an tação d a R e p ú b l i ca,
r e c e b e u o as i l o o n o m e
d o s e u fu n d a d o r . (J S M )
mais estreito da capela-moI', como se
a arquitectura não fosse muito mais
que um mero suporte para a fantasia
decorativa, expressa na exuberância
colorida de azulejos, pintura, talha e
mármores. Infelizmente o único ele
mento não original é a pintura do tecto
em abóbada simples, muito danificado
no terramoto .
Uma palavra mais para a congregação
das religiosas de Santa Brígida, cuja
história acidentada é uma súmula das
procelas religiosas que atormentaram a
Europa da Reforma e Contra-Reforma.
Ordem de origem inglesa - embora
Santa Brígida fosse sueca - onde era
sua casa a célebre mansão de Mont
Sion , depois propriedade particular dos, sobranceiros ao bairro do Mo
-, foram expulsas na sequência das cambo, depois conhecida por Convento
refo rmas anglicanas , optando por de Santa Brígida, ou do Quelhas.
passar aos Países Baixos. Daqui tive As Inglesinhas, como eram chamadas,
ram também de fugir perante o avan depressa se tornaram populares, jus
ço calvinista, contando a lenda que o tificando esse facto a construção desta
barco que as transportava as trouxe nova casa de Marvila, sob a evocação
por inspiração divina até Lisboa, nos de Nossa Senhora da Conceição , que
finais do século XVI. Aqui fundaram D . João N proclamara Padroeira do
uma primeira casa, em terrenos doa- Reino. (JSM)
I Delgado, Ralph, «O Mosteiro de MaIYila», ln Olisipo, 9 IANfIT, CN, C-I2A, Cx. 60, L. ° 250, 1I'.33v-34.
Lisboa, 1965. n . o 110, p. 113. 'OBNL, cod. 70, pp. 167-168.
II IAN
� IANrrr. RP, N . Senhora dos Olivais. Baptismos, ex. I, fIT, ACA, Morgado do Esporão, mç. 194.
L.0 4. II. 6. doe. 4016.
3 1ANfTT, A CA - Morgado do Esporão, mç. 194-. 12 Delgado, Ralph, ob. dt .• n . o 110, p. 116.
doe. 4017. '3 BNL, cod. 70, p . 148.
It IAN
4 Para a história desta figura vid. Notícia da Fundação fIT, RGT, L. o 143. OS. I-II.
deste Com'ento a'e Nos.sa Senh ora da Conceição de 15 IANfTT. DP. Estremadura, mç. 2126. doe. 14,
AfarviJa, fC.'/O. 1 6 1ANfTT. DP. Estremadura, mç. 2133. doe. 76.
5 IANfIT. CN, C -I2A, Cx. 47. L.0 182. II,. 47v-48v. 17 Delgado, Ralph. oh. cit., n . o 110, p. 117.
6 IANfIT, ACA. Morgado do Esporão, mç. 194. doe. 18 Delgado. Ralph. oh. cit. . n. o 110. p. u8.
4016. 19 Pereira, Esteves e Guilherme Rodrigues. Portugal
7 BNL, cod. 70, Madalena, Maria, Notícia fielmente Díccionario Hístorico, Chorografieo ( .. . ) , Lisboa.
relatada dos custosos meios C .. ), p. 60. João Romano Torres e C.a - Editores. 1909. VaI. N, Em cima: revestimento de azulejos no coro baixo.
Em baixo : porta para o antigo Asilo D. Luís I. que substituiu a
' IANfIT. CN. C -12A, Cx. 60, L . 0 246, II,. 99-99v. p . 894·
partir de 1874 a antiga arcaria de acesso ao claustro.
A
o Q U I n T A D CD rl1 A R Q U E S D E A B R A n T E S
1 45
ela anexo (. . . )10. Sucedeu-lhe o so
brinho, D. Pedro de Lencastre e seu
filho , D. José Luís de Lencastre, mo
radores em Santos, que tiveram gran
de pleito I I com a condessa viúva de
Figueiró , que instituíra herdeira a
condessa de Castelo Melhor : pois
minha sobrinha é parenta mais chega
da que tenho da linha dos Vasconcelos
e é verdadeira herdeira de minha casa
de Figueiró, que a tenho de juro e
herdade e fora da Lei Mental, ela
entre na 2. a vida e eu na I. a, que tenho
alvará de 2 vidas e no prazo e quin
-
Vista de conjunto da Quinta dos Marqueses de Abrantes. O grande portal central de acesso ao pátio é o elemento central enobrecedor do conjunto, sendo as duas janelas que o acompanham possivelmente mais tardias.
14 7
centamen tos nas casas e palácio de
Marvila junto e contíguo à sua quinta
que tem naquele sítio ( ) Da vistoria . . . .
1 49
dos tratados de arquitectura de matriz
renascentista. No piso térreo, sobre o
pátio, abrem-se três arcos sobre uma
ampla galeria de entrada, de onde nasce
a escadaria para o piso nobre, bastante
sóbria no lançamento dos seus dois
lanços. A peça mais interessante deste
conjunto , a sua verdadeira fachada, é o
grande portão de entrada do pátio , em
cantaria rusticada, cujo desenho origi
nal deverá ter sido recomposto quando
das grandes obras levadas a cabo no
início do século XVIII, de quando por
certo deverão datar as j anelas que
abrem do referido pátio para a via
pública.
Temos informação de duas principais
campanhas de obras realizadas nesta
quinta. A primeira, levada a cabo na
época de D. Helena de Noronha, na
transição do século XVI para o seguinte ,
de certo com a influência de seu terceiro
marido, Manuel de Vasconcelos, morga
do do Esporão e regedor das Justiças,
figura de grande relevo político e social
nesse período . Estamos em crer - por
mera intuição decorrente do gosto
sóbrio expresso e o evidente carácter de
pavilhão quadrangular, de dimensões
mais de recreio que propriamente pala
cianas - que é da responsabilidade deste
casal a estrutura base do edifício exis
tente, bem como o portal original do
pátio , aliás cópia de modelos então
vulgares nos tratados de arquitectura.
Casa da Quinta dos Marqu�s�s d� Abrant�s: fachada sobr� a rua. O acr�sc�nto de mais um piso. possivelmente já no século XIX. prejudicou
a harmonia dos tr�s corpos s�parados por pilastras. formando dois torr�õ�s ladeando um corpo c�ntral d� tr�s aberturas. tal como ainda s� A segunda campanha, posterior a 1705 ,
pode ver na fachada sobre o pátio. O jogo dos tdhado$ autónomos desses corpos constitula um dos dados mais característicos d�st� tipo d�
arquitHtura. introduzindo uma dinâmica volumétrica hoj� naturalmente desaparecida. iniciativa do 5. o conde de Vila Nova de
IS O
Portimão , limitou-se a alargar as de
pendências iniciais de um pavilhão de
recreio, demasiado apertadas para as
novas exigências da vida de cort�, e,
sobretudo , renovou o muro de entrada
no pátio , através da abertura de duas
janelas sobre a estrada com acentuados
frontões triangulares, e procedeu à
transformação do portão existente ,
conformando -o necessariamente ao
novo arranjo do muro , introduzindo
-lhe uma dinâmica formal barroca ,
originariamente ausente no desenho de
recorte mais clássico . Apesar de a leitu
ra deste conjunto ser naturalmente
falível, julga-se indispensável inseri-la
Coroamento do janelão gradeado do pátio, datável possivelmente de finais do século XV1I.
numa visão de conjunto que nos
permita começar a definir os modelos como será o caso deste de Marvila, ou a adorna com um novo visual, imposto
palacianos cortesãos - quer sejam casa de Manuel Quaresma, a Santa Apo pelas novas construções, fossem religio
urbanos, quer de recreio - cuja lenta lónia, ou, sobretudo, o Paço de Xabregas, sas ou civis. A Zona Oriental torna-se,
aclimatação entre nós se inicia sobretu iniciativa um pouco anterior do próprio assim, território privilegiado para a
do no último quartel do século XVI . rei. Além de ganhar neste período um explanação de um gosto novo, professado
A Zona Oriental de Lisboa guarda, novo eixo viário principal, com a con pela gente de corte que , a pouco e pouco,
assim, alguns dos primeiros exem solidação definitiva da via ribeirinha, o ganha características de verdadeira aris
plares, todos de nítido sabor erudito , nosso Caminho do Oriente, também se tocracia. (JSM)
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A G R A D E c M E N T o S
c o m destaque para o GE O ,
D E S C 0 B R I R <::> 0 R I E n T E . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 XA B R E GAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
I . E RIll I DA D0 S E n H 0 R I E S U S DA B 0A n 0 VA . . . 37 I S . C 0 nV E nT 0 DE S . F RA n C I S C 0
D E XA B RE GAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2. CASAS n 0 B RE S D0 BA n D E I RA . . . . . . . . . . . . . . 45
1 9 . PA LÁC I 0 0 L H Ã 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3 . CASA DE Ill A C H A D 0 DE C ASTR0 . . . . . . . . . . . . 49
D 0 G R I L0 A 0 B EAT0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4 . CASA DA C 0 VA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2 0 . Q U i nTA L E I T E D E S 0 U SA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5. E RIll I DA D E n 0 SSA S E n H 0 RA DA Ass u n ç Ã0
, I
E SAnT0 A nT0 n l 0 D 0 V A L E . . . . . . . . . . . . . . . 59 2 1 . PALÁ C I 0 D 0 S S E n H 0 R E S
DAS I L H AS D E S E RTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6 . 1ll 0 ST E I R0 D E SA nTA A P 0 L0 n 1 A . . . . . . . . . . . 63
2 2 . C 0 n V E nT 0 D 0 G R I L0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
7 . PA LÁ C I 0 Q U A R E S Ill A - A LV I T0 . . . . . . . . . . . . . 67
S . PALÁ C I 0 D E VAS C 0 L 0 U R E n ç 0 V E L0 S 0 . . . . 73
2 3 . C 0 n V E nT 0 DAS GRI LAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
9 . C 0 n V E nT 0 D 0 S B A RB A D I n H 0 S ITAL I A n 0 S 2 4 . PA LÁC I 0 LA F 0 E S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
. . 81
I I . CASAS n 0 B R E S D 0 « B RA Ç 0 D E P RATA » . . . . 1 03
Ill A RV I LA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
C R U Z DA P E D RA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
2 6 . Q U i nTA D A S Ill U RTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
1 59
C .A. M Í N H O D O O R Í E NTE
G U I A H I S T 0 R I C 0 II
l a s É S Ã R rn E n T O D E rn A T O S • l e R C E F E R R E I RA PAULO
© D E STA E D I ÇÃ0
Livros Horizonte, 1999
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Março 1999
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