Você está na página 1de 10

MÓDULO 0 TEMA

CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 1

Sente-me, Ouve-me, Vê-me


Helena Almeida, 1979-1980
Helena Almeida (1934-2018)

Helena Almeida nasceu em Lisboa, filha do escultor


modernista Leopoldo de Almeida.

Aos 21 anos termina o curso de pintura da Escola de


Belas-Artes de Lisboa.

Começa a expor individualmente, desenvolvendo um


trabalho entre o desenho e a pintura próximo da Arte
Conceptual que despontava na Europa e nos Estados
Unidos da América.

A partir da década de 1970 o seu trabalho sofre uma


nova orientação, afirmando uma rutura com as
linguagens tradicionais da pintura e do desenho.
Pintura Habitada, Helena Almeida, 1975.

Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 2

A sua obra exprime-se numa


convergência de várias disciplinas
– pintura, desenho, fotografia,
body-art e performance.

O corpo passa a ser o suporte das


suas intervenções, assumindo-o
como objeto e sujeito da obra.

Pintura Habitada, Helena Almeida, 1975.

Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 3

Sente-me, Ouve-me, Vê-me


Helena Almeida, 1979-1980

No final da década de 1970, a artista realiza


um conjunto de trabalhos em torno do
conceito «Sente-me, Ouve-me, Vê-me».

Uma pintura na qual o corpo se transforma em


matéria, em suporte da ação (performance),
depois registada em fotografia.

Em «Sente-me» é a pele (sensível) que serve


de suporte ao elemento plástico primordial – a
linha – convertendo-se no principal motivo da
obra:
- a mão que desenha;
- e a mão que recebe o desenho.
Sente-me, Helena Almeida, 1979.

Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 4

Sente-me, Ouve-me, Vê-me


Helena Almeida, 1979-1980
No seu projeto artístico a fotografia adquire
um papel ambíguo.

Por um lado, não se assume claramente como


suporte da obra, acabando por confundir-se
com o corpo.

Por outro lado, a fotografia é valorizada muito


para além de um simples meio de registo da
ação.

Ouve-me, Helena Almeida, 1979.


Esta ambiguidade é acentuada pela
introdução de elementos visuais (linhas,
manchas, palavras) e de outras técnicas de
manipulação (desenho, pintura) que vão
enriquecer o espaço da representação.

Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 5

Sente-me, Ouve-me, Vê-me


Helena Almeida, 1979-1980
Helena Almeida criou um projeto artístico no
qual se assume como «a obra em si mesma».

O seu trabalho reúne contribuições de várias


expressões artísticas, tais como, a pintura, o
desenho, a escultura, a fotografia, a
performance ou a body-art.

Ao referir «a minha obra é o meu corpo, o


meu corpo é a minha obra», a artista
pretende anular a distância entre o «corpo» e
a «obra».

O corpo rasga, deixa ver para o outro lado,


quebra barreiras, isto é, liberta o espaço da
obra para vários possíveis imaginários.

Vê-me, Helena Almeida, 1979. Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 6

D. Sebastião,
João Cutileiro (1937-) João Cutileiro, Lagos, 1973

João Cutileiro frequentou o curso de escultura da


Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, onde foi
aluno de Leopoldo de Almeida.

Em 1955 partiu para Londres para prosseguir os


estudos em escultura na Slade School of Art.

A partir de 1960 instalou-se em Lagos onde começou


a definir a sua linguagem escultórica muito peculiar.

Uma linguagem caracterizada por um acentuado


experimentalismo em termos técnicos, plásticos e
conceptuais.
Lago da Casa de Mateus, João Cutileiro,
Casa de Mateus, Vila Real, 1981.
Paulo Simões Nunes
História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 7

João Cutileiro adota meios mecânicos no processo


criativo, recorre ao «talhe direto» e utiliza
fragmentos de pedra colorida.

O seu trabalho adquire uma coerência formal,


concetual e plástica muito própria.

É autor de uma vasta obra que se encontra


Lago das Tágides, João Cutileiro,
patente em diversas coleções públicas e privadas, Parque das Nações, Lisboa, 1998.
em Portugal e no estrangeiro.

Em 1985 muda-se para Évora, onde instala


residência e oficina.

No seu trabalho são determinantes:


• as formas puras da tradição mediterrânica;
• a luz e a cor da paisagem alentejana;
• as figuras femininas, os corpos fragmentados;
• a carga erótica e sensual.
Estátua de S. João Batista, João Cutileiro,
Fonte da Praça da Ribeira, Porto, 2000. Paulo Simões Nunes
História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 8

D. Sebastião,
A estátua D. Sebastião está instalada na Praça Gil Eanes,
João Cutileiro, Lagos, 1973
em Lagos.

Tratou-se de uma encomenda por parte da Câmara


Municipal para assinalar as comemorações do IV
Centenário do Alvará da elevação de Lagos a cidade,
emitido por D. Sebastião.

A estátua rompeu com os cânones da estatuária oficial


do Estado Novo, destacando-se pelo seu caráter
inovador:

• afasta-se dos estereótipos iconográficos;


• rompe com as normas académicas e ideológicas
da estatuária comemorativa do Estado Novo;
• apresenta soluções técnicas, plásticas e expressivas
inovadoras.

Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 9

O rei é retratado no porte de um menino


inseguro e assutado, de olhar sonhador e
expectante.

O rei é representado na figura do anti-herói em


forma de boneca articulada, desafiando a
forma e a função simbólica normalmente
atribuídas a um monumento.

Também ao nível técnico apresenta inovações:


• a figura é executada com fragmentos de
mármores de cores diferentes;
• o corte mecânico da pedra deixa os cortes
e as marcas da serra elétrica à vista;
• ignora o polimento final.

A colocação da personagem junto ao solo, sem a


habitual elevação num pedestal, quebra todas as
regras de uma representação institucional.
Paulo Simões Nunes
História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.
MÓDULO 0 TEMA
CRIATIVIDADE E RUTURAS CASO PRÁTICO AULA 04 10

Na época, a irreverência, a ironia e a


provocação implícitas na estátua
despertaram uma onda de críticas à
sua exposição pública.

A colocação da obra em espaço público


só foi possível graças à abertura
política da chamada «Primavera
Marcelista» e à queda do regime do
Estado Novo na Revolução de 25 de
abril de 1974.

Paulo Simões Nunes


História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
© Raiz Editora, 2021. Todos os direitos reservados.

Você também pode gostar