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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
ENGENHARIA QUÍMICA
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 ESTRUTURA DO HIDROCICLONE
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No funcionamento do hidrociclone, age sobre o seu escoamento uma força de arraste que
desloca parte das partículas para a corrente de underflow, independente do campo centrífugo
(QUINTINO, 2019). Este fenômeno promove naturalmente a divisão de fluxo da suspensão entre
os orifícios de overflow e underflow, sendo suficiente e capaz de por si só arrastar parte dos
sólidos para o underflow (VIEIRA, 2006). Tal fenômeno é conhecido como efeito “T” e é
descrito matematicamente pelo quociente entre as vazões de alimentação e de underflow, em
termos mássicos ou volumétricos, denominando-se razão de líquido (𝑅𝐿 ), representada pela
Equação 1. A razão de líquido é uma variável importante na correção da eficiência total de
separação, sendo necessária considerá-la para quantificação do efeito da divisão de fluxo que
ocorre no equipamento (MOGNON, 2015).
Sendo:
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A eficiência total reduzida (𝜂′) é uma grandeza que descreve a eficiência de coleta apenas
do campo centrífugo, excluindo as implicações do efeito “T”, portanto descontando-se a razão
de líquido nos cálculos. Já para o caso em que se considera tal efeito, define-se a eficiência global
(𝜂) de coleta alcançada pelo hidrociclone. A eficiência total e a eficiência total reduzida são
representadas através da Equação 2 e Equação 3, respectivamente.
𝑊𝑢 𝑐𝑤𝑢 (2)
𝜂=
𝑊𝑐𝑤
𝜂 − 𝑅𝐿 (3)
𝜂′ =
1 − 𝑅𝐿
1.4 VISCOSIDADE
A classificação reológica dos fluidos é realizada por relações entre a tensão de cisalhamento (τ’)
aplicada ao fluido e sua respectiva taxa de cisalhamento (γ) (CREMASCO, 2014). A variação da tensão
de cisalhamento pela taxa de cisalhamento expressa a viscosidade (𝜂), conforme Equação 4. Esta
grandeza é constante e denominada absoluta, ou dinâmica, para fluidos newtonianos e definida como
aparente, para fluidos não newtonianos. Dentro deste grupo, ainda é possível classificar certos fluidos
conforme a variação da sua viscosidade (𝜂) perante a taxa de cisalhamento. Os fluidos em que a
viscosidade aparente aumenta com o aumento da taxa cisalhante são chamados fluidos dilatantes. Já
para o caso em que há um decréscimo na viscosidade do fluido, frente ao crescimento da taxa de
cisalhamento, recebem o nome de fluidos pseudoplásticos. A Figura 3 mostra as relações reológicas
citadas anteriormente.
τ′ = 𝜂 ∗ γ (4)
Sendo que:
τ′ é a tensão de cisalhamento;
γ é a taxa de cisalhamento;
𝜂 é a viscosidade do fluido em (N.s/m2).
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De acordo com os estudos realizados por Hoff e Stein (2002), a viscosidade da suspensão tratada
no processo de hidrociclonagem pode influenciar nos parâmetros operacionais, tais como na queda de
pressão, eficiência total e eficiência total reduzida. Os mesmos autores relataram em sua pesquisa que
maiores valores de viscosidade induziam uma atenuação da eficiência do campo centrífugo,
acompanhada de menor intensidade do vórtice formado e consequente menor queda de pressão. Tais
resultados são corroborados no trabalho de Marthinussen (2014). Os autores modificaram a
viscosidade de uma suspensão aquosa utilizando sacarose, adquirindo soluções entre 1cP e 15,1cP.
Experimentalmente, a eficiência total e a eficiência total reduzida de hidrociclonagem diminuíram com
o aumento da viscosidade, conforme se nota, respectivamente, nas Figura 4 e Figura 5. Pela Figura 6,
a queda de pressão também decresceu elevando-se a viscosidade e tal comportamento foi coerente com
os resultados teóricos e computacionais (obtidos via CFD).
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Figura 6 – Queda de pressão em função da viscosidade por método experimental, numérico e analítico.
amplos problemas envolvendo escoamentos, eliminando as barreiras das soluções analíticas que
exigem equacionamentos diferenciais muitas vezes com alta complexidade matemática. Além disso,
oferece predições valiosas para o engenheiro, descartando a necessidade de experimentos em escalas
impraticáveis.
O método dos volumes finitos (MVF) é uma técnica de solução numérica aprimorada,
fortemente, para tratar problemas convectivos, que outrora não eram contemplados profundamente por
outros métodos, tais como o método das diferenças finitas (MDF) e método dos elementos finitos
(MEF). O MVF é utilizado para discretização do domínio em diversos volumes de controle e solução
das suas equações algébricas estritamente conservativas. Sua aplicação na mecânica dos fluidos foi
potencializada à medida que o poder computacional também cresceu e o desenvolvimento de sistemas
de coordenadas generalizadas ganhou notoriedade na década de 70 (MALISKA, 2017).
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O método RANS trabalha apenas as grandezas médias do escoamento, com todas as escalas de
turbulência sendo modeladas. A Equação 5 expressa as equações de Navier-Stokes em termos de suas
médias temporais, sendo que o termo (−𝜌𝑢 ̅̅̅̅̅̅̅̅̅
′ ′
𝑖 𝑢𝑗 ) representa a influência turbulenta no escoamento e é
denominado tensor de Reynolds. Esta abordagem reduz o esforço computacional notavelmente,
podendo ser aplicada tanto para escoamentos turbulentos, quanto para escoamentos transientes
(VIEIRA, 2006). Dentre as técnicas usuais para modelagem dos tensores de Reynolds, encontra-se o
método RSM (Reynolds Stress Model). Embora tal modelo requeira um maior custo computacional,
visto que considera a viscosidade turbulenta como uma grandeza escalar não isotrópica, é uma escolha
adequada para escoamentos turbulentos de altas vorticidades, como aqueles presentes nos
hidrociclones (VIEIRA, 2006).
∂(𝑢 ̅̅̅̅̅
̅̅̅̅̅) ∂(𝑢 𝑗) 2 ̅̅̅̅̅)
∂(𝑢
̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅ ∂[𝜇( ∂𝑥 𝑖 + ∂𝑥 −3𝛿𝑖𝑗 ∂𝑥𝑖 )] ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
′ ′
∂(𝜌𝑢 𝑖) ∂(𝜌𝑢 𝑖 𝑢𝑗 ) ∂(𝑝) 𝑗 𝑖 𝑖 ∂(−𝜌𝑢 𝑖 𝑢𝑗 )
+ = − + + (5)
∂t ∂𝑥𝑗 ∂𝑥𝑖 ∂𝑥𝑗 ∂𝑥𝑗
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Variáveis filtradas podem ser selecionadas a partir da Equação 6. Tais variáveis são, então,
modeladas com técnicas numéricas que adotam certas considerações. Enquanto, as pequenas escalas
são menos dependentes da geometria do problema e tendem à isotropia, as grandes escalas são
intensamente influenciadas pelas condições de contorno e geometria, estando mais fortemente
relacionadas com o transporte das propriedades físicas (BICALHO, 2011).
Dentre os principais critérios para se avaliar a qualidade de uma malha, encontra-se o aspect
ratio. Este parâmetro é uma medida do alongamento das células da malha e está associado à razão
entre suas arestas, conforme Figura 8. Com isso, permite avaliar desproporções no tamanho de
elementos adjacentes (DOS ANJOS, 2016).
A Figura 8 mostra o cálculo do aspect ratio para uma célula cúbica unitária. A determinação é
feita através da razão entre o máximo valor e mínimo valor entre qualquer uma das grandezas: distância
normal “B” entre o centroide da célula e o centroide da face e a distância “A” entre o centroide da
célula e um de seus nós (FLUENT INC, 2006).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A geometria do hidrociclone utilizada para as simulações foi construída a partir daquele
empregado no trabalho “Otimização Geométrica e Análise Operacional em Hidrociclones Modulares
Utilizando Fluidos Newtonianos” de Quintino (2019). A geometria foi gerada no software GAMBIT®.
O hidrociclone contém um tubo de alimentação não usual: uma seção cilíndrica que converge em uma
seção retangular na entrada do equipamento. Assim, o duto de alimentação do hidrociclone foi retirado
das simulações em um primeiro momento com o intuito de construir uma malha estruturada em toda
geometria, condição que não seria permitida pela forma irregular do duto. A geometria gerada e suas
dimensões podem ser conferidas através da Figura 9.
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Com o intuito de realizar o teste de malhas, a partir da geometria gerada, cinco malhas com
diferentes refinamentos foram criadas. Todas elas foram constituídas na forma estruturada e o número
de células geradas podem ser conferidas, para cada malha, na Tabela 1. Pela Figura 10 é possível
observar uma das malhas confeccionadas para a geometria do hidrociclone.
As simulações foram realizas através do software FLUENT ANSYS®. Esta fase constituiu de
duas etapas. A primeira visou encontrar um valor de partida para o problema de hidrociclonagem e,
para tanto, um case foi definido em estado estacionário para cada malha cuja solução foi utilizada, em
seguida, como condição inicial para cada simulação transiente.
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3. DISCUSSÕES E RESULTADOS
Realizando a simulação em estado estacionário para cada malha, foram obtidos os resultados
para a corrente de underflow e pressão de entrada, sendo que estes resultados serviram como valor
inicial para as posteriores simulações em estado transiente. Malhas com maior refinamento
demandaram maior tempo de simulação e consequente esforço computacional.
Em termos do gradiente de pressão do escoamento transiente, nota-se que o perfil é similar entre
a malha mais grosseira e a malha mais refinada, diferindo pouco na intensidade do campo. Tal perfil é
esperado para o escoamento em hidrociclones, que possui regiões de alta pressão na parede, onde a
velocidade é nula, e regiões de baixa pressão na parte central, que é consequência da rotação da porção
de fluido contendo as partículas finas, que assumem menor velocidade tangencial. O campo de pressão
pode ser observado na Figura 12.
Através das Figuras 13, 14, 15, 16 e 17 pode-se observar os resultados simulados para a corrente
de underflow e pressão de entrada nas simulações em regime transiente. Nota-se que para as duas
respostas, independente do refinamento da malha, quando simulados aproximadamente 0,2s, há uma
estabilização dos resultados. Com esta observação, corrobora-se a escolha de simular o processo até o
tempo de residência de 0,53s.
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Para cada malha, através dos seus respectivos valores de pressão de entrada e de vazão mássica
de underflow no intervalo de tempo de simulação entre, aproximadamente, 0,2s e 0,53s, obteve-se o
valor médio para estas quantidades. Estes resultados encontram-se na Tabela 2, sendo que a vazão
mássica de underflow foi utilizada no cálculo da razão de líquido.
Tabela 2 – Resultados para a razão de líquido, pressão de entrada e seus respectivos erros
experimentais.
Figura 13 – Dados de pressão de entrada e vazão de underflow para malha de 62784 elementos.
Figura 14 – Dados de pressão de entrada e vazão de underflow para malha de 128632 elementos.
Figura 15 – Dados de pressão de entrada e vazão de underflow para malha de 232016 elementos.
Figura 16 – Dados de pressão de entrada e vazão de underflow para malha de 360000 elementos.
Figura 17 – Dados de pressão de entrada e vazão de underflow para malha de 481580 elementos.
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Os aspectos identificados nos resultados podem sugerir uma definição incorreta nos casos
simulados no software FLUENT ANSYS®, em termos de modelos ou condições de contorno. Ainda,
problemas com o refinamento das malhas podem estar associados com a divergência dos valores
encontrados. Para investigar potenciais interferências na qualidade dos resultados obtidos, determinou-
se os valores de aspect ratio para cada uma das malhas, conforme se observa na Tabela 3. Tais valores
demonstram que o aspect ratio não foi mantido para todas as malhas geradas, sugerindo que os
elementos não mantêm uma proporção e similaridade de uma malha para outra. Esta constatação
aponta para uma divergência no teste de malhas, sendo uma possível explicação para os erros
encontrados. Com isto, novas simulações podem ser realizadas a partir de malhas cujos valores para o
aspect ratio sejam próximos, realizando em seguida, um novo teste de independência de malhas.
0,180
0,160
0,140
0,120
RL
0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0,000
0 100000 200000 300000 400000 500000 600000
Número de células
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4. CONCLUSÕES
Os resultados numéricos para a vazão de underflow apresentaram erros relativamente pequenos
em comparação com o experimental. Em termos de razão de líquido, houve no máximo 26,92% de
erro para malha com 232016 elementos. Entretanto, não foi identificado o efeito esperado com o
refinamento de malhas, como seria o condizente com a literatura, uma vez que a malha mais grosseira
apresentou erro de 4,76% para razão de líquido, enquanto a malha mais refinada, com 481580
elementos, demonstrou um erro de 10,61%. Para a pressão de entrada, a divergência com o valor
experimental foi ampla, assumindo um valor máximo de 79,02%. Além disso, houve um aumento no
erro associado à solução numérica com o aumento do refinamento, também considerado um
comportamento irregular. Na avaliação dos resultados para a razão de líquido, o refino das malhas
não sugeriu uma diminuição nos erros associados. Também, não evidenciou uma tendência de
estabilização destes erros, assumindo um comportamento aleatório. Por fim, a diferença entre os
valores de aspect ratio das malhas geradas indica que a qualidade destas pode ter interferido na
convergência do teste de independência de malhas.
5. REFERÊNCIAS
MARTHINUSSEN, Svein-Arne et al. Removal of particles from highly viscous liquids with
hydrocyclones. Chemical Engineering Science, v. 108, p. 169-175, 2014.
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HOFFMANN, Alex C.; STEIN, Louis E. Gas cyclones and swirl tubes. Springer-Verlag Berlin
Heidelberg, 2002.
FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à Mecânica dos
Fluidos, 5ª edição. LTC Editora, 2001.
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