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Princípio do Atendimento

às Mulheres em Situação
de Violência

1
APRESENTAÇÃO

O curso é fruto das diretrizes previstas no Plano Nacional de Segurança Pública


e Defesa Social, aprovado pelo Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa
Social, instituído pelo Decreto nº 9.630, de 26 de dezembro de 2018, que prevê, dentre
os seus objetivos, a eficiência na prevenção e na repressão das infrações penais e
parte do compromisso brasileiro para redução de todas as formas de violência contra
a mulher, em especial a violência doméstica e o aprimoramento do atendimento por
parte dos órgãos operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) no
prazo de 10 (dez) anos – 2018 a 2028 - com a implementação de políticas e
estratégias.
A violência contra as mulheres manifesta-se de diversas formas e o profissional
que recebe este tipo de ocorrência deve estar preparado para identificá-la em seu
primeiro atendimento, tendo em vista a sensibilidade com que devem ser tratadas as
pessoas envolvidas na violência doméstica e, principalmente, a violência doméstica e
familiar contra a mulher.
É importante destacar que o Brasil tem um importante instrumento para o
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra as mulheres: a Lei Maria da
Penha - Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, que estabelece as atribuições legais
e os procedimentos a serem adotados pela autoridade policial, quando da iminência
ou prática desse tipo de violência.
Diante deste contexto, é muito importante que o profissional de segurança
pública perceba o seu papel no sistema de proteção e adote a atitude necessária para
que a vítima seja inserida no sistema de proteção de forma contributiva, para que
perceba que precisa sair do ciclo da violência e tenha apoio para isto. Para tanto, a
qualificação continuada dos profissionais de segurança pública (operadores da
proteção da mulher) é de extrema relevância para promover esta reflexão e evitar a
revitimização.
Elaborado com base nas atualizações recentes da Lei nº 11.340/2006 e nos
aspectos procedimentais que orientam a atuação do profissional de segurança
pública, espera-se que nesse curso o profissional encontre embasamentos possíveis
para contribuir no atendimento qualificado e direcionado à mulher vítima de violência.

Bom estudo!

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OBJETIVOS DO CURSO

Ao final do estudo deste curso, você será capaz de:

• Ampliar os conhecimentos sobre o tema a partir da análise de dados referentes


aos custos e aspectos econômicos, sociais e culturais relacionados às
desigualdades de gênero;
• Compreender as causas que levam as mulheres a entrarem e, por vezes,
permanecerem no ciclo da violência, bem como as causas desta violência em
sentido amplo;
• Compreender o conceito e as causas de revitimização em relação aos órgãos
de segurança pública;
• Compreender o conceito e identificar os casos de violência doméstica e
familiar;
• Identificar a legislação referente ao enfrentamento à violência contra as
mulheres e aos deveres do Estado brasileiro;
• Enumerar as medidas protetivas que devem ser tomadas em relação aos casos
de violência doméstica e familiar;
• Reconhecer a importância e as atribuições da rede de atendimento às mulheres
em situação de violência;
• Reconhecer a importância do primeiro atendimento dos profissionais de
segurança pública e defesa social para com as mulheres em situação de
violência e com os autores da violência.

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ESTRUTURA DO CURSO

Para que os objetivos deste curso sejam alcançados, o conteúdo foi dividido
nos seguintes módulos:

Módulo 1 – Os dados e as causas da violência doméstica e familiar contra as


mulheres.
Módulo 2 – Os tipos e o ciclo da violência doméstica.
Módulo 3 – Análise dos aspectos legais.
Módulo 4 – Rede de Atendimento às Mulheres.

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Módulo 1 – OS DADOS E AS CAUSAS DA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES

Apresentação do Módulo

Neste módulo iremos estudar os dados da violência contra a mulher no Brasil


e traz os subtemas: “A complexidade do tema violência contra as mulheres”,
que traz à tona o motivo pelo qual o tema é complexo e constitui um desafio para a
agenda política da atualidade, e “As causas da violência contra mulheres”, onde
procura-se, com este tópico, compreender algumas possíveis causas que trazem
consequências traumáticas com repercussões físicas, psicológicas e sociais que
podem perdurar para vida toda e que tais consequências se estendem aos familiares.

Antes de iniciar o curso, veja os dados referentes à violência


contra a mulher:

<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da
_violencia_2019.pdf >

Objetivo do módulo

Ao final deste módulo, você será capaz de:

• Analisar dados referentes aos aspectos econômicos, sociais e culturais


relacionados à violência contra as mulheres;

• Compreender a definição e as causas da violência contra as mulheres a partir


da compreensão de estudos, diagnósticos e relatórios;

• Reconhecer a importância do atendimento profissional da segurança pública


no enfrentamento da violência contra as mulheres.

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Estrutura do módulo

Este módulo está dividido em:

Aula 1 – A complexidade do tema “violência contra as mulheres”; e

Aula 2 – As causas da violência contra as mulheres.

Bons Estudos!!!

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Aula 1 – A complexidade do tema “violência contra as mulheres”

1.1 – Por que o tema é complexo?

Por ser um tema que apresenta expressões e contextos diversos, constituindo


inclusive uma das principais formas de violação de direitos humanos, a violência
contra a mulher pode ser entendida como de ordem psicológica, física, moral,
patrimonial e sexual. Pode também estar relacionada aos crimes de tráfico de
mulheres e assédio sexual, entre outras formas e contextos, que exigem do Estado
atitudes baseadas no estabelecimento de políticas voltadas à prevenção e combate à
violência doméstica, que, muitas vezes, podem culminar no feminicídio.
A violência constitui um dos principais desafios da agenda política. No Brasil, o
número de homicídios, de natureza dolosa, alcançou em 2017 sua trágica marca
histórica, com o registro de 58.979 óbitos conforme os Dados Nacionais de Segurança
Pública, coletados por meio da plataforma Sinesp (Sistema Nacional de Informações
de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de
Material Genético, de Digitais e de Drogas) e disponibilizados pela Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp).
Segundo o Altas da Violência 2019, o Sistema de Informações sobre
Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS) aponta um número ainda mais
significativo para o ano de 2017: 65.602 homicídios, aí incluídos óbitos por agressão
e intervenção legal.

1.2 – Breve relato dos dados

Os dados de 2017 inferem uma taxa de aproximadamente 31,6 mortes para cada
cem mil habitantes. Já em 2019, segundo dados coletados pelo Sinesp verificou-se
uma redução de 21,2% para os homicídios dolosos em comparação com o ano de
2018.
No que diz respeito especificamente à violência contra as mulheres, pesquisas
indicam que 4.645 (quatro mil, seiscentos e quarenta e cinco) foram assassinadas em
2016, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras (Aqui

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é BRASILEIRAS mesmo? Ou BRASILEIROS?). Em dez anos, constatou-se
aumento de 6,4% (ONU, 2016).

Figura 1 - Taxa de Feminicídio do Mundo


Fonte: Desenho “Freepik”, texto: EaD/SEGEN

O Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social destaca que no ano de


2017 foram registrados 221.238 (duzentos e vinte e um mil, duzentos e trinta e
oito) boletins de ocorrência de lesão corporal dolosa no contexto da violência
doméstica, ou seja, uma média de 600 (seiscentos) casos por dia (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, 2018).

Fique atento: O Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 2018-


2028 está disponível no material complementar, amplie seu conhecimento!

Também em 2017, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de


Violência - Ligue 180 - realizou 1.170.580 atendimentos, confira:

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Figura 2 - Dados Estatísticos do Ministério dos Direitos Humano, 2018, p. 11.
Fonte: SCD/EaD/SEGEN

Para o ano de 2018, foi verificado que 16 milhões de brasileiras, com 16 anos
ou mais, sofreram alguma forma de violência, sendo que 76,4% das mulheres
afirmaram que o agressor era conhecido (aumento de 25% em relação ao ano de
2017) (DATAFOLHA citado por REVISTA VEJA, 2019).

Dentre os vínculos citados, destaca-se:

Figura 3- Vínculo do agressor com a Vítima


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

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Segundo dados de 2017, a vitimização prevalece entre as mais jovens,
alcançando 42,6% das mulheres entre 16 e 24 anos. Além disso, a maioria
afirmou sofrer a violência em casa (42%), e apenas 10% revela ter procurado
apoio em uma delegacia da mulher após o episódio mais grave de violência
sofrida nos últimos 12 meses. Mais da metade (52%) afirmou não ter feito nada,
mesmo percentual da pesquisa realizada 02 (dois) anos antes (FÓRUM
BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2017)

Dados como os mencionados acima revelam que a subnotificação dos casos


de violência doméstica deve ser especialmente considerada. A exata compreensão
das estatísticas torna-se infactível diante das barreiras experimentadas pelas
mulheres para registrar esses tipos de ocorrência, seja por medo, vergonha, culpa,
insegurança e até mesmo lealdade para com o agressor (FÓRUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, 2018).
Apesar dos índices alarmantes, é provável que esses dados sejam apenas a
ponta do iceberg, na medida em que não podem ser ignoradas as cifras negras, que
traduzem o distanciamento da realidade conhecida pelo sistema e a criminalidade
real.
Nesse aspecto, o papel da vítima, como primeira instância informal de controle
social, deve ser valorizado. Isso porque as cifras negras são mais impactantes quanto
menos esforço houver por parte das instâncias formais de controle social em construir
uma relação comunicativa e de cooperação com as vítimas.
Esse subdimensionamento da vitimização, também, decorre de fatores como a
inexistência de um sistema nacional e unificado de coleta de dados, baixa confiança
da população no desempenho das polícias, incluindo obstáculos para o registro de
ocorrência em razão da estrutura precária da polícia judiciária, pouca expectativa na
solução do caso pelo Poder Judiciário, e a carência de serviços ou organizações de
apoio às vítimas de crime (CÂMARA, 2008).

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Aula 2 – As causas da violência contra as mulheres

2.1 – Por que compreender as causas da violência doméstica?

Em regra, toda causa gera consequência, seja de ordem direta ou indireta,


singular ou múltipla. Não diferente ocorre com os atos de violência doméstica e familiar
contra a mulher.
Os crimes podem causar um efeito devastador às vítimas e aos familiares, os
quais poderão precisar de apoio para lidar com o impacto da vitimização.

Com o crime, revelam-se traumáticas consequências para as vítimas, com


repercussões de ordem física, psicológica e/ou social que poderão permanecer
para toda a vida. Problemas psicológicos como ansiedade e depressão são
comuns, assim como doenças psicossomáticas, transtornos de estresse pós-
traumático, pânico e risco de suicídio. Tais consequências, também, têm
potencial de impacto na saúde física e mental dos familiares das vítimas. No
caso de homicídios, não é incomum a perda violenta de uma pessoa desregular
a dinâmica das relações familiares (HARTH DA COSTA et. al., 2017).

2.2 – As principais causas de violência contra as mulheres

Estudos sobre violência contra as mulheres apontam que a violência pode


atingir todas as mulheres ao longo de suas vidas, mas existem características que
contribuem, ou podem contribuir, para que a violência contra as mulheres atinja com
mais frequência um grupo específico do que outro. Muitas vezes se referindo à classe
social, situação financeira, entre outros.
Vejamos alguns exemplos:

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Violência contra as mulheres baseada na RAÇA/COR
A raça e a cor têm sido fatores preponderantes para a compreensão e
enfrentamento do processo de violação de direitos das mulheres, dentro e fora de
casa. O mapa da violência 2019 mostra que 66% das mulheres assassinadas em
2017, no Brasil, são negras. Um número superior ao de outras raças apontadas no
mapa.
Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de
4,5% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%.
Em números absolutos a diferença é ainda mais brutal, já que entre não negras o
crescimento é de 1,7% e entre mulheres negras de 60,5%. Considerando apenas o
último ano disponível, a taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 3,2 a cada
100 mil mulheres não negras, ao passo que entre as mulheres negras a taxa foi de
5,6 para cada 100 mil mulheres neste grupo (IPEA, 2019).

Orientação sexual e DESIGUALDADE DE GÊNERO


A violência, baseada na desigualdade de gênero, é desencadeada pela não
aceitação de que as mulheres possam questionar ou não desempenhar os papeis
femininos que lhes são designados na sociedade (submissão, cuidado, entre outros),
tornando inaceitável que desempenhem outros papeis, principalmente no âmbito
profissional, que a própria sociedade impõe como sendo exclusivamente masculinos.
Esses papeis se constroem com base numa visão heteronormativa e biológica
do sexo, ou seja, reconhecem como “normal” e adequada a mulher que nasce com
sexo feminino e se relaciona sexual e afetivamente com homens.
Nesse sentido, a violência se agrava quando as mulheres têm orientação
sexual ou identidade de gênero diferentes daquela considerada normal. Quando uma
pessoa se identifica com um gênero diferente daquele que a ela foi designada quando
nasceu (como homem ou como mulher), ela pode ser uma pessoa transgênero ou
travesti. Uma pessoa que nasceu com um órgão sexual masculino ou que tenha sido
designada como do sexo masculino, mas que se identifica como mulher, é uma mulher
transexual.

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Durante o atendimento a pessoas travestis e transexuais deve-se adotar o nome
social, ou seja, designação pela qual essa pessoa se identifica e é socialmente
reconhecida. O cumprimento desse decreto é passo fundamental para
ampliação do acesso a direitos por parte da população transexual e travesti.

Violência contra as MULHERES E DEFICIÊNCIA

Além das expectativas relacionadas aos papeis sociais relacionados ao gênero,


as mulheres com deficiência deparam-se também com a corponormatividade, ou
seja, com padrões funcionais e corporais hegemônicos na sociedade. Essa realidade
tem reflexo na violência de gênero praticada contra essas mulheres. Segundo
estimativa feita pela Human Rights Watch (2012), mulheres com deficiência têm 10
vezes mais chances de sofrerem abusos.
“Mulheres e meninas com deficiência estão frequentemente expostas a maiores
riscos, tanto no lar como fora dele, de sofrer violência, lesões ou abuso, descaso ou
tratamento negligente, maus tratos ou exploração” (BRASIL, 2009).
Além dos tipos de violência cometidos contra mulheres em geral, existem tipos
de violência específicos praticados contra mulheres com deficiência, de acordo com o
estudo Violência contra Mulheres com Deficiência, da Rede Internacional de Mulheres
com Deficiência (SASSAKI, 2011).

Os seguintes atos e atitudes podem constituir violência contra mulheres com


deficiência:

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Figura 4 - Formas de Violência
Fonte: SCD/EaD/SEGEN

Cabe atentar, também, ao fato de que muitas mulheres, após serem submetidas
a violências de gênero, adquirem deficiências como sequela. Um caso emblemático é
o de Maria da Penha Maia Fernandes que, em decorrência de um tiro de espingarda
disparado pelo seu então marido, tornou-se paraplégica. Algumas barreiras para que
as mulheres com deficiência procurem ajuda são forte dependência (física, emocional,
financeira) em relação ao/à agressor/a (companheiro/a, membro da família,
cuidador/a), falta de informação, dificuldades de acesso aos serviços especializados,
medo de institucionalização, além das limitações institucionais pelos órgãos de
segurança pública em relação ao atendimento às pessoas com deficiência (NIXON,
2009).

CORPONORMATIVIDADE
É um conceito que acompanha as discussões sobre as discriminações de pessoas com deficiência, pois
são consideradas corpos “normais” aqueles que não apresentam deficiência, vendo as deficiências
como falhas. Assim, um corpo sem deficiência é considerado um padrão a ser seguido. Neste
movimento, ocorre a discriminação da pessoa com deficiência, pois ela é reduzida a sua condição de
“deficiente”, o que é visto como ruim.

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Causas Secundárias de Aumento da Violência Doméstica
A indiferença e o descaso estatal podem incrementar e perpetuar os efeitos
nocivos derivados do crime (vitimização secundária). De fato, a própria atuação das
instâncias de justiça criminal e a confrontação do agressor com a vítima são
experimentadas por esta como uma verdadeira humilhação.
Por este motivo, a vítima do crime converte-se, frequentemente, em vítima do
sistema legal. E esta vitimização secundária caracteriza-se por ser, em certa medida,
mais alarmante que a primária, eis que o próprio sistema legal prejudica, uma vez
mais, a vítima (PEIXOTO, 2012).

Além do impacto na vida da vítima e dos familiares, a violência apresenta seu


custo para o desenvolvimento socioeconômico do país. Conforme relatório de
conjuntura nº 04, “Custos Econômicos da Criminalidade no Brasil” (2018), o país está
entre os 10% de países com as taxas de homicídio mais altas do mundo.
Apesar de ter uma população equivalente a 3% da população mundial,
aproximadamente 14% dos homicídios perpetrados no mundo ocorrem em território
brasileiro. As taxas de homicídio brasileiras são semelhantes às de Ruanda,
República Dominicana, África do Sul e República Democrática do Congo.
No que tange especificamente à violência contra o público feminino, a
Organização das Nações Unidas informa o montante aproximado de 1,5 trilhão de
dólares para os países, o que corresponde a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global
(ONU, 2017).
Para o Brasil, o custo econômico decorrente das agressões sofridas pelas
mulheres trabalhadoras alcança o montante de 1 bilhão de reais, sendo apontados
como impactos mais significativos na vida laboral a falta de concentração, a
dificuldade para decidir, a ocorrência de erros ou acidentes, além do considerável
número de faltas ao trabalho (AGÊNCIA BRASIL, 2017).
Não se pode olvidar que a violência impacta em diversos aspectos da
sociedade, na dinâmica demográfica, na saúde das vítimas e dos familiares, além de
configurar obstáculo para o processo de desenvolvimento econômico e social do país.

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Acesse o material complementar o PDF do INSTITUTO DE
PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da Violência 2018
e amplie seu conhecimento.

Certo é que, para o enfrentamento à violência contra a mulher, no âmbito


doméstico e familiar, urge formular e implementar políticas públicas orientadas para
corrigir o desequilíbrio nas relações de respeito entre homens e mulheres, ainda que
o país tenha vivenciado evolução legislativa desde 2006, com a publicação da Lei n.
11.340/06, Lei Maria da Penha, que prevê, dentre outras, as medidas protetivas de
urgência.

O Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) 2018-2028,


estabelece que a atuação do Estado deve estar conectada às atividades de
segurança pública de natureza policial preventiva e repressiva de programas
bem estruturados de prevenção social, a compreenderem a alteração da forma
com que o Estado provê programas culturais, educacionais, sociais e de
planejamento territorial.

O PNSPDS está disponível no seu material complementar.

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Finalizando ...

Neste módulo você aprendeu que:

• A violência contra as mulheres constitui uma das principais formas de violação


dos direitos humanos, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde e à
integridade física;

• A subnotificação nos casos de violência doméstica deve ser especialmente


considerada;

• Entre as causas secundárias de aumento da violência doméstica, o papel da


segurança pública no primeiro atendimento da vítima constitui papel
preponderante quando se trata de combate à revitimização.

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Módulo 2 – Os tipos e o ciclo da violência contra as
mulheres

Apresentação do módulo

Neste módulo, você estudará os tipos e definições das diferentes violências


contra as mulheres, tanto no âmbito público como privado. Estudará, também, que a
violência doméstica e familiar vai além da violência física, incluindo diversos tipos de
violência. Por fim, verá que a violência contra as mulheres é um fenômeno complexo
e está envolta em ciclos que precisam ser entendidos para um atendimento qualitativo.

Objetivo do módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

• Diferenciar os diversos tipos de violência contra as mulheres;


• Definir violência doméstica e familiar;
• Reconhecer e identificar a existência do ciclo da violência contra as mulheres
e de que maneira esse entendimento pode influenciar no atendimento da
ocorrência e solução dos casos.

Estrutura do Módulo

Este módulo é formado pelas seguintes aulas:

Aula 1 – Tipos de violência contra as mulheres;


Aula 2 – Outros tipos de violência contra as mulheres; e
Aula 3 – O Ciclo da violência doméstica e familiar contra as mulheres.

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Aula 1 – Tipos de violência contra as mulheres

1.1 – Contextos relacionados à violência contra as mulheres

Em continuidade com o módulo anterior, a Convenção Interamericana para


Prevenir, Punir e erradicar a Violência contra a Mulher diz em seu artigo 1º que a
violência contra a mulher é entendida como:

“qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que lhe cause


morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a mulher,
tanto na esfera pública quanto na privada”.

Isto quer dizer que em todos a violência contra a mulher pode acontecer
em vários contextos tais como no âmbito familiar, na comunidade ou perpetrada ou
tolerada pelo Estado ou seus agentes.

Estude mais sobre isto, acesse:


http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/m.Belem.do.Para.htm

Já a lei nº 11.340/2006, em seu artigo 7º, traz as definições da violência


doméstica e familiar contra a mulher e as define como:

Violência Física – Quando há violação da integridade


física da mulher no contexto doméstico e familiar,
prevendo as cinco tipologias mencionadas. Exemplo:
Espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os
braços, estrangulamento ou sufocamento, lesões com
objetos cortantes ou perfurantes, ferimentos
causados por queimaduras ou armas de fogo,
torturas.

Figura 5 - Violência Física

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Violência Psicológica- Qualquer conduta que
cause dano emocional e diminuição da
autoestima; prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou
controlar suas ações, comportamentos, crenças
e decisões. Exemplo: ameaças,
constrangimento, humilhação, isolamento
(proibir de estudar e viajar ou de falar com
Figura 6 - Violência Psicológica
amigos e parentes), vigilância constante,
perseguição contumaz, insultos, chantagem, exploração, limitação do direito de ir
e vir, ridicularização, tirar a liberdade de crença, distorcer e omitir fatos para deixar
a mulher em dúvida sobre a sua memória e sanidade (Gaslighting).

Violência Sexual: Qualquer conduta que


constranja a presenciar, a manter ou a participar
de relação sexual não desejada mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
Exemplo: Estupro, obrigar a mulher a fazer atos
sexuais que causam desconforto ou repulsa;
impedir o uso de métodos contraceptivos ou
forçar a mulher abortar; forçar matrimônio,
Figura 7 - Violência Sexual
gravidez ou prostituição por meio de coação,
chantagem, suborno ou manipulação; limitar ou anular o exercício dos direitos
sexuais e reprodutivos da mulher.

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Violência Patrimonial: Qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou
total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades. Exemplo: controlar
dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia,
destruição de documentos pessoais, furto, extorsão

Figura 8 - Violência Patrimonial


ou dano, estelionato, privar de bens, valores ou
recursos econômicos, causar danos propositais a
objetos da mulher ou dos quais ela goste.

Violência Moral: Qualquer conduta que configure


calúnia, difamação ou injúria. Exemplo: acusar
mulher de traição, emitir juízos morais sobre a
conduta, fazer críticas mentirosas, expor a vida
intima da mulher, rebaixar a mulher por meio de
xingamentos que incidem sobre a sua índole,
desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.

Figura 9 - Violência Moral

Segundo
a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (2011, p.8),

“a violência contra as mulheres não pode ser entendida sem se


considerar a dimensão de gênero, ou seja, a construção social,
política e cultural da(s) masculinidade(s) e da(s) feminilidade(s),
assim como as relações entre homens e mulheres. A violência
contra a mulher dá-se no nível relacional e social, requerendo
mudanças culturais, educativas e sociais para seu
enfrentamento e um reconhecimento das dimensões de

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raça/etnia, de geração e de classe na exacerbação do
fenômeno”.

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Aula 2 – Outros tipos de violência contra as mulheres

2.1 – Assédio moral

É a exposição dos trabalhadores/as a situações humilhantes e


constrangedoras, geralmente, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho
e no exercício de suas funções. O assédio moral pode ser horizontal (entre colegas
de trabalho), vertical ascendente (realizado pelos subordinados contra um superior
hierárquico, mais raro) e vertical descendente (praticado por superior hierárquico,
caso mais comum).
O assédio moral constitui uma violência psicológica, causando
danos à saúde física e mental. Para que se configure assédio moral, é
preciso que a situação tenha se repetido, que tenha sido intencional,
direcionada a uma pessoa ou grupo, que tenha ocorrido durante algum
tempo e que tenha prejudicado as condições de trabalho.
É uma violência que não encontra correspondente no Código Penal,
mas existem leis no âmbito da administração pública nos estados e
municípios que coíbem essa prática e preveem punições administrativas.

2.2 – Assédio sexual

É um abuso de poder, um constrangimento para obtenção de favores sexuais


pelo superior hierárquico (chefe, por exemplo), com a promessa de tratamento
diferenciado em caso de aceitação, ou pelo uso de ameaça e atitudes concretas de
represálias no caso de recusa, como a perda de emprego, ou de benefícios.
Segundo o artigo 216-A do Código Penal, o crime de assédio sexual é descrito
como:
“Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua
condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função".

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Quem pode cometer esse crime?

Pessoas que estejam na posição de superior hierárquico/a, ou seja,


quem está, por qualquer motivo, em uma posição mais elevada que outra
pessoa. Em uma empresa, o/a dono/a, o/a gerente ou o/a chefe de seção
tem superioridade hierárquica sobre os/as empregados/as. Na igreja, o
padre e o pastor têm superioridade sobre os coroinhas ou os/as fiéis. Nas
instituições de Segurança Pública, investigadores chefes, delegados,
coronéis, entre outros.

2.3 – Aborto sem o consentimento da vítima (aborto praticado por terceiros)

É a interrupção da gravidez provocada por terceiro (aborto), sem o


consentimento da gestante (“feminicídio reprodutivo”). Nesse caso a mulher também
figura como vítima, pois a perda do filho pode lhe provocar danos físicos e
psicológicos. A lei, nesse tipo penal, protege não somente o produto da concepção
(feto), mas também a liberdade da mãe de ter seu filho.

Figura 10 - Artigo 125 - Código Penal Brasileiro


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

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2.4 – Cárcere privado

O cárcere privado é caracterizado pela privação da liberdade (CÓDIGO


PENAL, art. 148). Quando a vítima é mulher, essa violência se manifesta de diferentes
formas, como:
• O cerceamento da liberdade de ir e vir;
• O isolamento e a restrição de contato com familiares e/ou amigas/os;
• Possibilidade de sair apenas quando acompanhada;
• Privação de alimentos e de cuidados com a saúde;
• Além de estar associada a outros tipos de violência, como a física, a
psicológica e a sexual.

2.5 – Exploração sexual

A exploração sexual ocorre quando um indivíduo obtém lucro financeiro por


conta da prostituição de outra pessoa, seja em troca de favores sexuais, incentivo à
prostituição, turismo sexual, ou cafetinagem (rufianismo).
Em casos envolvendo crianças e adolescentes, o crime se torna agravado por
ser classificado como crime contra vulnerável. O crime está previsto no Código Penal,
art. 228:
“Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de
exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a
abandone”.

No Brasil, a prostituição NÃO constitui crime, desde que praticada


por pessoa maior de idade que não esteja sob ameaça ou coação, e que,
a própria pessoa fique com a renda da atividade.

As prostitutas não precisam de controle penal, e sim, de acesso a políticas


públicas, inclusive para proteção de seus direitos.

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2.6 – Feminicídio

O Feminicídio*, previsto na Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015


(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm), é o crime hediondo
relacionado ao assassinato de mulheres por razões de gênero. São crimes
decorrentes das desigualdades estruturais associadas aos papeis masculino e
feminino na sociedade. Assassinato relacionado à inferiorização e à subordinação das
mulheres aos homens, em uma estrutura social que estimula o desejo de controle e
posse sobre o corpo feminino, e que justifica o menosprezo pela condição social
feminina. Você estudará mais sobre o tema no módulo 3.

2.7 – Pornografia sem consentimento

Trata-se da divulgação não autorizada de fotos e vídeos íntimos. As fotos e


vídeos geralmente são feitas com o consentimento da mulher ou pela insistência,
coação ou chantagem emocional do namorado, companheiro ou marido.

Figura 11 - Pornografia sem consentimento


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

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2.8 – Tráfico de pessoas

O tráfico de pessoas é um crime de dimensões mundiais. Diz respeito ao


recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas,
recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à
fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à
entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de
uma pessoa que tenha autoridade sobre outra, para fins de exploração.

Que tal se aprofundar no assunto?


Então, leia Tráfico de Mulheres: Política Nacional de Enfrentamento.
Disponível no material complementar.

2.9 – Violência institucional

É aquela praticada, por ação e/ou omissão, nas instituições prestadoras de


serviços públicos. A violência institucional compreende desde a dimensão mais ampla,
como a falta de acesso aos serviços e a má qualidade dos serviços prestados, até
expressões mais sutis, mas não menos violentas, tais como os abusos cometidos em
virtude das relações desiguais de poder entre profissional e usuária.
É aqui que acontece a vitimização secundária pois as mulheres em situação de
violência são, por vezes, ‘revitimizadas’ nos serviços quando:

• são julgadas;
• não têm sua autonomia respeitada;
• são forçadas a contar a história de violência inúmeras vezes;
• são discriminadas em função de questões de raça/etnia, de classe e
geracionais.

27
Não podemos esquecer das mulheres encarceradas que também sofrem a
violência institucional na medida em que são privadas de seus direitos humanos, em
especial de seus direitos sexuais e reprodutivos.
Assim, a Violência Institucional muitas vezes é praticada por agentes que
deveriam garantir uma atenção qualificada, preventiva e reparadora de danos. Uma
forma comum de violência institucional ocorre em função de práticas discriminatórias,
em geral com base no gênero, raça, etnia, orientação sexual e religião.

2.10 – Violência obstétrica

De acordo com a pesquisa “Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público


e Privado” (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2010):

Uma em cada quatro mulheres sofre violência no parto. A violência


obstétrica existe quando os/as profissionais de saúde tratam as mulheres
de maneira imprópria e violenta durante a gestação, durante o parto, o
puerpério e durante o atendimento em situações de abortamento.

São comuns os relatos de tratamento desumanizado, abuso de medicalização,


tratamento de estados naturais do corpo como doença e desconsideração de escolhas
livres e informadas das mulheres no momento dos tratamentos.

O conceito é amplo, pois inclui todos os procedimentos, físicos ou não, pelos


quais as mulheres passam durante a gestação, trabalho de parto, parto, pós-parto e
abortamento, e que não estão de acordo com princípios da humanização. Alguns dos
tipos mais comuns são agressões verbais, recusa de atendimento, privação de
acompanhante, lavagem intestinal, raspagem dos pelos, jejum, episiotomia e
separação de mãe e bebê saudável após o nascimento.

28
2.11 – Violência sexual

Envolve práticas sexuais não consentidas seja por desconhecido, seja por
pessoa familiar/conhecida. Pode ser praticada por namorado, marido, vizinhos,
amigos, conhecidos, familiares ou estranhos. O crime de estupro está previsto no
Código Penal, como:

Figura 12 - Crime de Estupro


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

É comum encontrarmos pessoas que entendem que o namorado e,


principalmente, o marido podem praticar sexo com a mulher mesmo sem
consentimento dela. No entanto, qualquer prática sexual não desejada constitui uma
violência sexual e é considerada estupro. Ao estabelecer uma relação com outra
pessoa, a mulher não deixa de ter direito ao próprio corpo ou de ter liberdade para
decidir o que quer ou não fazer.

29
Que tal ampliar seu conhecimento?
Leia mais informações na cartilha “Mulher, Vire a página... e
seja protagonista de um final feliz!”
A cartilha está disponível no material complementar.

30
Aula 3 – O ciclo da violência doméstica e familiar contra as mulheres

3.1 – As fases/estágios do ciclo da violência

Na aula anterior nós estudamos que a mulher pode sofrer vários tipos de
violência no âmbito familiar e, também, fora dele. O que acontece muitas vezes nos
atendimentos policiais é que os profissionais de segurança pública tendem a não
entender o porquê dela se arrepender tantas vezes do registro ou sequer querer dar
prosseguimento.

Ocorre que ela pode estar passando pelo ciclo da violência doméstica e é
preciso entender que estas fases ou estágios são representados como sendo as
atitudes do autor logo após o cometimento da violência contra a mulher. Deve-se ter
uma atenção muito especial com este ciclo, pois geralmente culmina com o feminicídio
da vítima.

Figura 13 - Ciclo da Violência

31
Vejamos então as fases do ciclo da violência:

Aumento da tensão
A primeira fase é marcada pelo aumento da tensão, ou seja, acontece a
mudança de comportamento do agressor. Em outras palavras, ocorre a transformação
do “homem carinhoso” para “homem perigoso. É quando ele começa a se comportar
de maneira mais ameaçadora. Geralmente começa com uma crítica mais pontuada
em relação à mulher, uma frase ameaçadora, ofensas e perseguição às pessoas
próximas. Geralmente a mulher vítima não percebe esta fase porque ela geralmente
vem acompanhada de fatores externos tais como: jogo de futebol, alcoolismo,
problemas financeiros, problemas no trabalho dentre outros. Neste estágio é comum
a mulher sentir-se culpada por causa destes fatores externos e na maioria das vezes
a tendência é arrumar causas para perdoar o agressor.

Ataque violento
Esta é fase mais extrema do ciclo. Nele o agressor cessa o ataque físico ou
sexual. Isto somado à série de outros ataques entre eles a violência psicológica, faz
com que a vítima procure ajuda de amigos, de alguns familiares e até mesmo da
polícia para o registro da ocorrência.

Lua de mel
Nesta fase o agressor tenta se redimir do feito. Ele costuma presentear a vítima,
mostrar-se arrependido, relacionar as agressões à uma série de eventos que ele acha
que vai justificar as agressões e, também, com promessas de que nunca mais vai
ocorrer violência.
Especialistas também chamam este ciclo de “calmaria” e pode ser neste ciclo
que vai ocorrer a renúncia do registro da ocorrência e consequentemente o primeiro
passo para a reincidência e a volta ao primeiro estágio um do ciclo.
Importante observar que as fases do ciclo podem se repetir por diversas vezes
e geralmente duram de 6 meses a 1 ano, mas tendem diminuir na medida em que se
repete. A mulher vítima pode ficar neste ciclo durante anos, por acreditar que o
companheiro agressivo um dia vai mudar. O fato de o companheiro ter mudado o

32
comportamento em um dado momento do relacionamento, traz para ela a esperança
de que ele retorne aos tempos em que não era violento.

A mulher vítima que está inserida no ciclo da violência raramente


percebe-se nele no primeiro momento. E é muito comum que no
primeiro atendimento ela desista de seguir em frente com o registro
da ocorrência. Assista ao vídeo disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=nE1jqK6gGLM

3.2 – Fatores preponderantes de uma relação violenta

Para entendermos o processo do ciclo da violência, é necessário que


entendamos que toda mulher tem seu tempo de percepção para sair de uma relação
violenta e isto pode depender do tipo de violência sofrida e de uma série de fatores
que contribuirão para que este tempo aumente ou diminua.

Podemos citar como fatores preponderantes na decisão:

I. Esperança de que o parceiro mude o comportamento;


II. Medo de romper o relacionamento;
III. Vergonha de procurar ajuda e de ser criticada;
IV. Baixa autoestima por acreditar que a culpa do mal relacionamento é
dela;
V. Sentimento de estar sozinha e de não encontrar pessoas que a apoiem;
VI. Pressão social para preservar a família;
VII. Medo de sofrer discriminação por estar “sem marido”;
VIII. Dependência econômica do parceiro para o sustento da família;
IX. Dependência emocional do parceiro;
X. Dificuldades para vivenciar um processo de separação; entre outros.

É preciso que se entenda que a mulher não tem culpa por não reagir ou pela
dificuldade de agir, isto decorre de um aprendizado emocional intitulado por

33
pesquisadores como a “síndrome do desamparo aprendido”. O Psicólogo Martin
Seligman o explica como sendo uma reação diante de experiências dolorosas das
quais as vítimas se sentem incapazes de lidar com elas, fazendo deste
comportamento um hábito.

Talvez isto explique o porquê de tantas mulheres suportarem relacionamentos


abusivos durante anos e não conseguirem dar-se conta de que precisa sair deles.

A repetição do “Ciclo da Violência Doméstica", frequentemente, leva a mulher


a acreditar que não pode controlar as agressões praticadas por seu companheiro ou
ex-companheiro. Isto pode gerar um intenso sentimento de desamparo e o
pensamento de que “não há saída”. Por estas razões, a mulher pode permanecer
muito tempo em uma relação violenta e enfrentar dificuldades para procurar ajuda.

Saiba mais assistindo o vídeo “O Desamparo Aprendido”,


disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sIayPeCxU_Q

Figura 14 - Ciclo violência contra a mulher

34
Por outro lado, a tendência do agressor é sempre negar a agressão e com a
ocorrência de momentos tensos no relacionamento, ele se aproveita para antes de
explodir, fazer críticas sutis que mais tarde serão o estopim para a ocorrência das
agressões físicas. A partir daí surge uma série de “motivos para a agressão”: o choro
da criança, a torneira pingando, a louça que está suja, a casa que não está limpa, o
amigo que liga direto, a mãe que se intromete no relacionamento, entre outros.

Neste diapasão, os agentes de segurança pública devem estar preparados


para que não acabe ocorrendo a vitimização, colocando-a no mesmo patamar
agressivo que o parceiro a colocou e dando início à sensação de desamparo
institucional.

3.3 – Mas como ocorre a vitimização?

Podemos entender como vítima qualquer pessoa que,

“sofre danos de ordem física, mental e econômica, bem como a


que perde direitos fundamentais, seja em razão da violação de
direitos humanos, seja por atos de criminosos comuns”
(OLIVEIRA, 1993, s.p).

A mulher quando em situação de violência em ambientes de âmbito domésticos


ou em suas relações pessoais ou afetivas, é reconhecida como vítima. Na ocorrência
de danos variados, materiais, físicos, psicológicos, observadas a natureza da infração,
personalidade da vítima, relação com o autor, extensão do dano, dentre outros,
podemos dizer que ela sofreu a vitimização primária, conforme o afirmado por
Carvalho e Lobato (2008).

A partir do momento em que a mulher busca a manutenção e preservação dos


seus direitos através da tutela do Estado, percebe-se que ela pode sofrer a vitimização
secundária ou sobrevitimização.

35
Isto pode ocorrer desde a fase do inquérito em que ela é obrigada a
reviver detalhadamente a violência através de seu relato na primeira oitiva,
até da judicialização, em que novamente ela tem que relatar o ocorrido se
deparando com situações constrangedoras e invasivas, logo após ter
passado um período perturbador com os exames periciais, perguntas e
outras situações que também lhes causaram sofrimento e dor por trazer à
tona sentimentos e momentos que ela preferia esquecer ou não relatar
tantas vezes.

Quando retorna ao meio social, e não bastando o sofrimento anteriormente


enfrentado, ela é obrigada enfrentar mais um grau da vitimização, a terciária. Neste
contexto, ressalta-se que ela as vezes não encontra o apoio ou assistência da família,
que muitas vezes prefere julgá-la colocando-a como culpada pelas agressões, término
do relacionamento preferindo ignorá-la ou excluí-la do seio familiar deixando-a
desamparada mais uma vez.

Enquanto isto, a sociedade por vezes contribui rotulando-a ou estigmatizando-


a através de episódios que a consideram como a única culpada pela situação, sem
perceber, no entanto, a especificidade da situação e que neste momento deveria
oferecer alternativas para que ela não retorne ao ciclo da violência.

36
Figura 15 - Os três tipos de Vitimização
Fonte: SCD/Ead/SEGEN

O artigo 11 da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006


(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm), cria mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e traz uma sequência de
providências que deverão ser observadas pela autoridade policial que visa minimizar
a vitimização secundária.

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência


doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras
providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário,
comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e
ao Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes
para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar
a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do
domicílio familiar;

37
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei
e os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária
para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação
de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou
de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº
13.894, de 2019)

A Vitimização diz respeito a fenômenos psicossociais. Nesse sentido,


quando o agente social de grande influência restringe as opções de
emancipação e fortalecimento de agentes sociais mais fracos ocorre o processo de
vitimização.

O Estado, como instrumento social, tanto pode fortalecer os agentes sociais


mais fracos como preservar a força de agentes sociais já privilegiados. O
estabelecimento e a garantia de direitos são um mecanismo eficiente para
proporcionar melhora no nível de vida de largas faixas sociais, mas demanda sua
concretização por meio da oferta de serviços públicos de qualidade e
quantidade suficientes para atender os cidadãos onde quer que se encontrem
(SANTOS, 2009, p 04).

Há ainda entendimentos como vitimização secundária, conforme Pagliuca


(2007, p.19):

Espelha as resultantes dos delitos com o sistema policial e


jurídico-penal do aparelhamento estatal diante da vítima. A
vitimização secundária, infelizmente, por muitas vezes, se torna
mais traumática que a experiência primária. Assim, ao invés de
reduzir os impactos maléficos da infração, o Estado conduz o
lesado a um ponto de maior estresse e insegurança, quiçá ainda
à total insegurança, não apenas material, mas também social,
haja vista a indiferença do Estado frente aos seus
jurisdicionados. O que seria para o lesado o ponto de partida
para o resgate de seu bem jurídico ofendido, pode tornar-se mais
um dissabor, desgaste físico ou moral e por que não, mais uma
vez econômico. Por isso, as vítimas devem ser tratadas pelos
órgãos responsáveis por sua interpelação, durma forma onde a
vitimização secundária seja repelida ao máximo.

É neste contexto que o profissional de segurança pública precisa fazer a


diferença. Do contrário, a violência contra a mulher pode ocorrer de diversas formas,

38
inclusive pela vertente institucional, através do atendimento realizado de maneira
diversa do pretendido.

A Violência contra a mulher é recorrente na contemporaneidade.


Entretanto, as instituições públicas precisam atuar em conjunto
para minimizar os seus efeitos.

Acesse o material complementar e leia o artigo “Violência de


Gênero e o Atendimento Policial às mulheres
(Re)Vitimizadas”.

O Decreto nº 9.586, de 27 de novembro de 2018


(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9586.htm), que
institui o Sistema nacional de Políticas para as Mulheres e o Plano Nacional
de Combate à violência doméstica, em seu artigo 9º, traz em seus objetivos
uma série de medidas, entre elas, a prevenção da vitimização.

39
Finalizando....

Neste módulo você aprendeu que:

• Existem vários tipos de violência contra as mulheres, que podem ocorrer em


relações interpessoais, na comunidade ou em instituições. Alguns desses tipos
mais comuns são: o assédio moral, o assédio sexual, o cárcere privado, a
exploração sexual, a pornografia sem consentimento, o tráfico de pessoas, a
violência institucional, a violência obstétrica e a violência sexual.
• A violência doméstica e familiar contra a mulher deve ser entendida como
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause à mulher morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial no
âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família ou em qualquer relação
íntima de afeto, na qual o/a agressor/a conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação (BRASIL, 2006).
• O agente de segurança pública precisa entender o ciclo da violência em que a
mulher se encontra para que os mitos sobre a violência contra as mulheres
possam ser desconstruídos e ele tenha condição de prestar um atendimento
qualificado, baseado no respeito e na autonomia das mulheres.
• A mulher sofre a vitimização na medida que o Estado e a sociedade não
cumprem o seu papel no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra
a mulher.

40
Módulo 3 – ANÁLISE DOS ASPECTOS LEGAIS

Apresentação do Módulo

A Lei Maria da Penha e diversas alterações legislativas, inclusive a Lei do


Feminicídio, trouxeram uma série de mecanismos para coibir e prevenir a violência
contra as mulheres. Você estudará sobre eles neste módulo.

Objetivo do Módulo

Ao final do módulo você será capaz de:

• Identificar a legislação referente aos deveres do Estado no enfrentamento à


violência contra as mulheres, direitos das vítimas e obrigações dos agressores;
• Conhecer quais medidas protetivas de urgência podem ser requeridas pelas
vítimas de violência doméstica e familiar.

Estrutura do Módulo

Este módulo contempla as seguintes aulas:

Aula 1 – Lei Maria da Penha e suas alterações;


Aula 2 – Medidas Protetivas de Urgência; e
Aula 3 – Lei do Feminicídio.

41
Aula 1 – Lei Maria da Penha e suas alterações

Aspectos históricos

Somente a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, a


mulher passou a ter reconhecida sua igualdade, em direitos e obrigações em relação
à sociedade conjugal, notadamente em relação ao homem (Art. 226, §5º).

O Art. 226 também determinou ao Estado que criasse mecanismos para coibir
a violência doméstica:

“Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada


um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações” (ART. 226, § 8º).

Veja os principais eventos na construção de políticas de enfrentamento da


violência contra as mulheres:

Figura 16 - Linha do Tempo


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

Em 07 de agosto de 2006, o então Presidente da República sancionou a Lei nº


11.340: Lei Maria da Penha (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-

42
2006/2006/lei/l11340.htm), que criou mecanismos para coibir e prevenir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, posteriormente atualizada por diversos diplomas


legais.

Dispôs sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra


a Mulher, alterando dispositivos do Código Penal, Lei de Execuções Penais e a que
estabelece notificação compulsória de caso de violência doméstica contra a mulher
que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados, estabelecendo medidas
de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Por que Maria da Penha?

Esta lei foi denominada “Lei Maria da Penha” em homenagem à luta


de Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de violência doméstica e, que,
durante quase 20 anos, lutou para que o sistema de justiça criminal punisse
o seu agressor (seu ex-marido), que tentou matá-la por duas vezes,
deixando-a tetraplégica após desferir tiros em suas costas, enquanto
dormia, e tentando eletrocutá-la durante o banho.
Somente após a responsabilização do governo brasileiro junto à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos – que, dentre outras
recomendações, apontou a necessidade da devida reparação simbólica e
material à Maria da Penha – foi promulgada uma legislação que propusesse
medidas efetivas de enfrentamento da violência doméstica e familiar.

Veja um vídeo em que a Maria da Penha conta sua história


(Disponível em: youtu.be/TRSfTdaBbvs) e leia um breve
histórico da criação da Lei (Encontre-o nos anexos dentro do
curso).

43
A Lei Maria da Penha trouxe várias conquistas. Entre elas
podemos destacar:

• Proibiu a aplicação da Lei nº 9.099/95, Lei do Juizado Especial Criminal (criada


para crimes de menor potencial ofensivo), que, entre outras determinações,
previu que, no âmbito criminal, seja instaurado Inquérito Policial, impedindo a
elaboração de Termo Circunstanciado.
• Não permite que a mulher seja a responsável de entregar ao/à agressor/a a
intimação para comparecimento na delegacia, o que gerava mais problemas
para essa mulher, que muitas vezes desistia de denunciar o/a agressor/a. Hoje
o parágrafo único do Art. 21 da lei determina que: “a ofendida não poderá
entregar intimações ou notificação ao agressor”.
• Proibiu a aplicação de penas de cesta básica ou outra prestação pecuniária.
O/a agressor/a não temia o processo criminal, pois sabia que seria condenado
ao pagamento de cesta básica, o que, muitas vezes, era usado como forma de
humilhar a mulher e fazê-la desistir do processo.
• Trouxe a possibilidade da decretação da Prisão Preventiva do/a agressor/a,
conforme o disposto no Art. 20 da Lei. Essa medida foi possível de ser adotada
porque o Art. 42 da Lei Maria da Penha modificou o Código de Processo Penal.
• Os artigos 35 e 45 da Lei Maria da Penha foram inovadores ao tratarem dos
serviços de responsabilização (disponível em www.cepia.org.br/relatorio.pdf)
para homens autores de violência doméstica e familiar contra as mulheres
como ação que objetivava a mudança dos comportamentos violentos e
prevenção de novas ocorrências.
• O artigo 11 da Lei determina às autoridades policiais a realização de todos os
procedimentos policiais cabíveis para a elucidação do fato-crime (inquérito
policial) e ainda:
I. Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao
Ministério Público e ao Poder Judiciário;
II. Encaminhar a mulher aos estabelecimentos de saúde e ao Instituto Médico
Legal;

44
III. Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou
local seguro, quando houver risco de vida;
IV. Se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus
pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;
V. Informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços
disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o eventual
ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial, de
divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável.
• Em 2012, a Lei Maria da Penha foi considerada pela Organização das Nações
Unidas (ONU) um dos exemplos mais avançados de legislação sobre violência
doméstica e familiar;
• A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem direito a prioridade
de atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e
preferencialmente por servidores do sexo feminino.
• Penaliza o descumprimento da medida protetiva de urgência, com pena de 3
(três) meses a 2 (dois) anos, sem possibilidade de arbitramento de fiança pelo
delegado de polícia.
• Havendo risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher, a
Autoridade Judicial, o Delegado de Polícia ou o policial, poderão afastar o
agressor do lar ou do domicílio imediatamente.

Embora a lei não utilize o termo “rede de atendimento”, sobre as quais você
estudará mais à frente, percebe-se que ela tem como pano de fundo, ou
princípio, o atendimento da mulher em situação de violência doméstica ou
familiar em “rede”, ou seja, estabelece medidas integradas de prevenção
da violência doméstica e familiar.

45
Aula 2 – Medidas Protetivas de Urgência

A Lei Maria da Penha traz um rol de medidas que podem ser decretadas pelo
(a) juiz(a) por meio de requerimento do Ministério Público ou a pedido da mulher, por
meio do delegado de polícia. Essas medidas visam garantir maior efetividade à lei e
proteção à mulher em situação de violência, resguardando sua integridade física além
de proteger seus bens.

Para garantir que esse instrumento de fato proteja a mulher em


situação de violência, é obrigatório que, após feito o registro da ocorrência
e requerimento de medidas protetivas de urgência, a autoridade policial
remeta, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao/à juiz/a o pedido para a
análise de concessão ou não de medidas protetivas de urgência (conforme
inciso III do artigo 12 da Lei Maria da Penha).

2.1 – Em relação ao agressor

O(a) juiz(a) pode aplicar ao(à) agressor(a), conforme o disposto no art. 22 da


Lei:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com


comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
II - Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e
o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por
qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a
integridade física e psicológica da ofendida;

46
IV - Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou
serviço similar; e
V - Prestação de alimentos provisionais ou provisórios;
VI - comparecimento do agressor a programas de recuperação
e reeducação;
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de
atendimento individual e/ou em grupo de apoio.

2.2 – Em relação à mulher

Em relação à mulher, o/a juiz/a poderá, segundo o Art. 23 da Lei:

Figura 17 - Artigo 23 - Lei Maria da Penha


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

47
2.3 – Outras Medidas Protetivas possíveis

De todo modo, deve-se destacar que o rol de medidas trazidas pela Lei Maria
da Penha não se caracteriza como taxativo, mas sim exemplificativo. Ou seja, não
existe restrição aos representantes legais ou do próprio Ministério Público em solicitar
e nem mesmo ao juiz em conceder somente as medidas elencadas na lei. A partir de
avaliações, pode-se adotar outras medidas como forma de assegurar a eficácia
daquelas previstas expressamente pelo legislador.

Sendo assim, as “Diretrizes nacionais de investigação criminal com perspectiva


de gênero” (EUROSOCIAL, 2016) apresentaram algumas sugestões de atuação das
instituições de segurança pública e do sistema de justiça, que poderão colaborar com
a garantia de direitos e a proteção das mulheres em situação de violência doméstica
e familiar. Entre elas, têm-se orientações que auxiliam a comunicação entre o
Ministério Público e a segurança pública, tais como as listadas abaixo:

• O Ministério Público deverá fomentar a criação de programas, no âmbito dos


serviços policiais, de colaboração para o acompanhamento e vigilância do
cumprimento das medidas protetivas de urgência ou cautelares decretadas. Tais
programas têm como propósito permitir que as Polícias Civil e Militar tenham acesso
à informação sobre o deferimento ou revogação de medidas protetivas de urgência,
se possível com informações da ofendida e do/a suposto/a agressor/a, bem como
sobre a intimação deste.

• Se o risco for considerado médio ou alto, além do plano de segurança já


exposto, os serviços policiais serão avisados para que mantenham frequentemente
contatos telefônicos ou por qualquer outro meio.

• Além disso, deve-se atentar para a possiblidade de realização de visitas


periódicas de vigilância ao domicílio e ao local de trabalho da mulher, bem como
vigilâncias das entradas e saídas da escola, caso haja risco para a/o(s) filha/o(s).

• A Promotoria de Justiça ou autoridade policial deverá ser informada do


resultado do acompanhamento a cada 15 (quinze) dias.

48
Essas e outras orientações sobre a adoção ou solicitação de medidas
protetivas de urgência ou cautelares, sobre avaliação de risco, sobre a
elaboração do plano de segurança para as mulheres em situação de
violência doméstica e familiar podem ser encontradas nas Diretrizes
Nacionais De Investigação Criminal com perspectiva de gênero:
Princípios para atuação com perspectiva de gênero para o ministério
público e a segurança pública do Brasil (EUROSOCIAL, 2016), disponível
no material complementar.

49
Aula 3 – Lei do Feminicídio

Antes de iniciarmos o assunto, escute a música Rosas,


disponível em:

https://youtu.be/F05D12ckxb8.

Os altos índices de assassinatos de mulheres são motivados somente pela


condição de ser mulher. Infelizmente, esta não é uma realidade apenas brasileira e o
aspecto cultural do machismo é a principal causa dessas mortes violentas. Entre os
25 países com taxas altas ou muito altas, 14 são da América Latina (SMALL ARMS
SURVEY, 2012).

Figura 18 - Rank violência no Brasil


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

O assassinato de mulheres tem grande correspondência, no Brasil, com a


violência doméstica e familiar e a sexual, uma realidade empírica e cotidiana ao longo
da vida das brasileiras e que têm na morte o desfecho fatal diante da realidade de

50
uma série de episódios em que se tem danos irreversíveis à saúde física e mental
dessas mulheres em situação de violência.

Deve-se ter em mente que o aumento dos índices de morte violenta de


mulheres, identificável a partir desses números absolutos, não são suficientes para
revelar que esse crescimento poderia, ainda, ser muito maior, se não houvesse um
processo de implementação e fortalecimento de políticas preventivas e de
acolhimento às mulheres em situação de violência.

Segundo pesquisa do Ipea de 2015, em que se avaliou a efetividade


da Lei Maria da Penha, concluiu-se que a Lei evitou cerca de 10% dos
homicídios contra mulheres, praticados dentro das residências das vítimas.
Considerando que essa violência letal é apenas o topo da pirâmide da
violência, o estudo afirma que “a Lei Maria da Penha foi responsável por
evitar milhares de casos de violência doméstica no País” (AGÊNCIA
BRASIL, 2015).

Apesar de o contexto de violência doméstica e familiar constar como


significativo no total de homicídios de mulheres, sabe-se que a morte violenta das
mulheres por serem mulheres não se circunscreve unicamente a esse contexto.

A Lei do Feminicídio trouxe a amplitude para as causas de morte pelo


menosprezo à condição de mulher e permite o fortalecimento da política e das ações
de prevenção a todas as formas de violência contra mulher.

A Lei de Feminicídio foi criada a partir de uma recomendação da


Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou a violência
contra as mulheres nos Estados brasileiros, de março de 2012 a julho de
2013.

51
O que mudou com a Lei de Feminicídio:

Figura 19 - Alterações com a Lei do Feminicídio


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

As categorias de análise apresentadas, abaixo, referem-se às modalidades de


feminicídio e ajudam a compreender as várias causas que, associadas ao gênero,
podem levar à morte violenta de mulheres:

Íntimo

Morte de uma mulher cometida por uma pessoa com quem a vítima tinha, ou
tenha tido, uma relação ou vínculo íntimo: marido, ex-marido, companheiro(a),
namorado(a), ex-namorado(a), amante ou pessoa com quem tem filho(a)s. Inclui-se a
hipótese do amigo que assassina uma mulher – amiga ou conhecida – que se negou
a ter uma relação íntima com ele (sentimental ou sexual).

52
Não íntimo

Morte de uma mulher cometida por uma pessoa desconhecida, com quem a
vítima não tinha nenhum tipo de relação. Por exemplo, uma agressão sexual que
culmina no assassinato de uma mulher por um estranho. Considera-se, também, o
caso do vizinho (a) que mata sua vizinha sem que existisse, entre ambos, algum tipo
de relação ou vínculo.

Infantil

Morte de uma menina com menos de 14 anos de idade, cometida por uma
pessoa no âmbito de uma relação de responsabilidade, confiança ou poder conferido
pela sua condição de adulto sobre a menoridade da menina.

Familiar

Morte de uma mulher no âmbito de uma relação de parentesco entre vítima e


agressor. O parentesco pode ser por consanguinidade, afinidade ou adoção.

Por conexão

Morte de uma mulher que está “na linha de fogo”, no mesmo local onde uma
pessoa mata ou tenta matar outra mulher. Pode se tratar de uma amiga, uma parente
da vítima – mãe, filha – ou de uma mulher estranha que se encontrava no mesmo
local onde o agressor atacou a vítima.

Sexual sistêmico

Morte de mulheres que são previamente sequestradas, torturadas e/ou


estupradas. Pode ter duas modalidades:

53
• Sexual sistêmico desorganizado – Quando a morte das mulheres está
acompanhada de sequestro, tortura e/ou estupro. Presume-se que os sujeitos ativos
matam a vítima num período determinado;

• Sexual sistêmico organizado – Presume-se que, nestes casos, os sujeitos


ativos atuam como uma rede organizada de feminicídios sexuais, com um método
consciente e planejado por um longo e indeterminado período.

Por prostituição ou ocupações estigmatizadas

Morte de uma mulher que exerce prostituição e/ou outra ocupação (como
strippers, garçonetes, massagistas ou dançarinas de casas noturnas) cometida por
um ou vários homens. Inclui os casos nos quais o(s) agressor(es) assassina(m) a
mulher motivada pelo ódio e misoginia que a condição de prostituta, da vítima,
desperta nele(s). Essa modalidade evidencia o peso de estigmatização social e
justificação da ação criminosa por parte dos sujeitos: “ela merecia”; “ela fez por onde”;
“era uma mulher má”; “a vida dela não valia nada”.

Por tráfico de pessoas

Morte de uma mulher que foi recrutada, transportada, transferida, abrigada ou


recebida por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto,
de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou
de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma
pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração, sexual ou
não.

Por contrabando de pessoas

Morte de mulheres produzida em situação de contrabando de migrantes. Por


“contrabando”, entende-se a facilitação da entrada ilegal de uma pessoa em um
Estado, do qual não seja cidadã ou residente permanente, no intuito de obter, direta
ou indiretamente, um benefício financeiro ou outro benefício de ordem material.

54
Transfóbico

Morte de uma mulher transgênero ou transexual, na qual o(s)agressor(es) a


mata(m) por sua condição ou identidade de gênero transexual, por ódio ou rejeição.

Lesbofóbico

Morte de uma mulher lésbica, na qual o(s) agressor(es) a mata(m) por sua
orientação sexual, por ódio ou rejeição.

Racista

Morte de uma mulher por ódio ou rejeição à sua origem étnica, racial ou aos
seus traços fenotípicos.

Por mutilação genital feminina

Morte de uma menina ou mulher resultante da prática de mutilação genital.

Dada a sua realidade social, política e jurídica, o Brasil foi


selecionado como país-piloto para o processo de adaptação do Modelo de
Protocolo latino-americano para investigação das mortes violentas de
mulheres por razões de gênero (femicídio/feminicídio).

O documento das Diretrizes tem como objetivo orientar a prática de


profissionais das áreas da Segurança pública, Defensoria Pública,
Ministério Público e Magistratura para que apurem, a partir de uma
perspectiva de gênero – ou seja, treinando o olhar para identificar a
presença de elementos que indiquem motivação de gênero – o crime. Seja
em sua forma consumada ou tentada.

55
Conheça as Diretrizes Nacionais Feminicídios: investigar,
processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de
mulheres. Disponível no material complementar.

Leia Mais sobre o tema, acesse:

Conheça o Dossiê sobre Feminicídio - disponível em:


www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossies/feminicidio/

Conheça um pouco da campanha argentina “Ni Una Menos”,


que ganhou repercussão internacional pela mobilização contra
a violência misógina e aos crimes de feminicídio. Disponível
em:
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2017/03/08/nascido-
de-tragedia-argentina-ni-una-menos-tenta-parar-mulheres-por-direitos-e-
leis.htm

56
Finalizando...

Neste módulo você estudou que:

• Em 07 de agosto de 2006, o Presidente da República sancionou a Lei nº 11.340:


Lei Maria da Penha, criando mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, dispondo sobre a criação dos juizados de
Violência Doméstica e familiar contra a mulher, alterando dispositivos do Código
Penal e da Lei de Execuções Penais e estabelecendo medidas de assistência e
proteção às mulheres em situação de violência doméstica;

• A lei Maria da Penha traz um rol de medidas que podem ser decretadas pelo juiz,
a requerimento do Ministério Público ou a pedido da mulher. Essas medidas
visam garantir maior efetividade à lei e proteção à mulher em situação de
violência, resguardando sua integridade física além de proteger seus bens.

• Em 09 de março de 2015, a Presidenta da República sancionou a Lei nº 13.104:


Lei do Feminicídio, criando a qualificadora do feminicídio, quando o homicídio
ocorrer por razões de gênero, ou seja, quando envolver violência doméstica e
familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Esses crimes
devem ser investigados, processados e julgados com base nas Diretrizes
Nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as
mortes violentas de mulheres (feminicídios).

57
Módulo 4 – Rede de Atendimento às Mulheres

Apresentação do módulo

Neste módulo você estudará a composição da Rede de Atendimento às


mulheres em situação de violência e os princípios para o atendimento qualificado
dessas mulheres.

Objetivos do Módulo

Ao final desse módulo, você será capaz de:

• Reconhecer a importância e as atribuições das redes de atendimento à mulher


em situação de violência;
• Descrever as características de um atendimento qualificado às mulheres em
situação de violência.

Estrutura do módulo

Este módulo é formado pelas seguintes aulas:

Aula 1 – A Política Nacional de Enfrentamento à violência contra a mulher;

Aula 2 – Como atender mulheres em situação de violência.

58
Aula 1 – A Política Nacional de Enfrentamento à violência contra a mulher

A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres tem o


objetivo de estabelecer conceitos, princípios, diretrizes e ações de prevenção e
combate à violência contra as mulheres, e garantir os direitos às mulheres em situação
de violência, conforme normas e instrumentos internacionais de direitos humanos e
legislação nacional.

Sua estrutura surgiu a partir do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres


(PNPM), elaborado com base I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres,
realizada em 2004 pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e pelo
Conselho Nacional de Direitos da Mulher. O PNPM possui como um de seus eixos o
enfrentamento à violência contra a mulher.

A Política Nacional encontra-se em consonância com a Lei


11.340/2006 (Lei Maria da Penha) e com convenções e tratados
internacionais, tais como: a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948), a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará 1994), a
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher (CEDAW, 1981) e a Convenção Internacional contra o
Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas (Convenção de Palermo, 2000).

Assim, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência tem o objetivo de


explicitar os fundamentos conceituais e políticos do enfrentamento à questão e as
políticas públicas que têm sido formuladas e executadas - desde a criação da SPM
em janeiro de 2003 - para a prevenção e combate à violência contra as mulheres,
assim como para a assistência às mulheres em situação de violência.

59
Figura 20 - Eixos Estruturantes da Política Nacional de enfrentamento à Violência contra a Mulher

1.1 – O que é a Rede de enfrentamento e Rede de atendimento

O enfrentamento da violência contra as mulheres exige o envolvimento da


sociedade em seu conjunto: os três poderes, todos os entes federativos (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios), os movimentos sociais e as comunidades.
Isso significa construir uma rede, a que chamamos de Rede de Enfrentamento à
Mulher em Situação de Violência: uma ação que reúne recursos públicos e
comunitários em um esforço comum para enfrentar a violência doméstica e contra a
mulher em nosso país.

A Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência faz


referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em
especial, da assistência social, do sistema de justiça, da segurança pública
e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do
atendimento, à identificação e ao encaminhamento adequado das
mulheres em situação de violência e à integralidade e à humanização do
atendimento.

60
1.2 – Principais Características da Rede de Enfrentamento e da Rede de
Atendimento às Mulheres em Situação de Violência

Veja a seguir as principais características de cada uma das Redes:

Rede de Enfrentamento

• Contempla todos os eixos da Política Nacional (combate, prevenção,


assistência e garantia de direitos);
• Inclui órgãos responsáveis pela gestão e controle social das políticas de
gênero, além dos serviços de atendimento;
• É mais ampla que a rede de atendimento às mulheres.

Rede de Atendimento

• Refere-se somente ao eixo da Assistência/Atendimento;


• Restringe-se a serviços de atendimento (especializados e não especializados);
• Faz parte da rede de enfrentamento da violência contra as mulheres.

Fonte: SPM, 2011, Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.

A complexidade do enfrentamento da violência contra as mulheres se expressa


nas diferentes formas que essa violência assume: violência sexual, doméstica, física
e emocional, violência psicológica e violência social e os diversos tipos de violência
contra as mulheres que você estudou no módulo 2.

É importante notar que o trabalho em rede requer dos serviços e


dos/as profissionais envolvidos/as a atuação conjunta para buscar
soluções, articulação dos equipamentos e das instituições da rede de
atendimento, atendimento qualificado e profissionais capacitados/as.

O trabalho em rede favorece o estabelecimento de vínculos positivos por meio


da interação entre indivíduos e entre instituições; favorece reflexão, troca de
experiências e busca de soluções para problemas comuns; estimula o exercício da
solidariedade e da cidadania; mobiliza pessoas, grupos e instituições para utilizar os

61
recursos da própria comunidade; aumenta a resistência a partir de entrelaçamentos;
fortalece vínculos comunitários e estimula o protagonismo social (AFONSO, 2005).

1.3 – Rede de Enfrentamento da Violência Contra as Mulheres

As mulheres em situação de violência podem contar com uma série de serviços


especializados que após a promulgação da Lei Maria da Penha passam a ser
fortalecidos e ampliados, a saber:

Casas-Abrigo

São locais seguros que oferecem moradia protegida e atendimento integral a


mulheres em risco de vida iminente em razão da violência doméstica. É um serviço
de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias permanecem por um período
determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o
curso de suas vidas.

Casas de Acolhimento Provisório

São casas de abrigamento temporário de curta duração (até 15 dias), não-


sigilosas, para mulheres em situação de violência que não correm risco iminente de
morte (acompanhadas ou não de seus filhos) como, por exemplo, em casos de
mulheres que estão aguardando a concessão de uma medida protetiva (de acordo
com a Lei Maria da Penha) ou aguardando o benefício do pagamento de passagens
para retorno ao seu município de origem, migrantes em situação irregular, deportadas
e não admitidas.

Vale destacar que as Casas de Acolhimento Provisório não se restringem ao


atendimento de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, devendo
acolher também mulheres que sofrem outros tipos de violência, em especial àquelas
em situação de tráfico. O abrigamento provisório deve garantir a integridade física e
emocional das mulheres, bem como realizar diagnóstico da situação da mulher para
encaminhamentos necessários.

62
Saiba mais....

Leia as Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação


de Risco e Violência (https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-
violencia/pdfs/diretrizes-nacionais-para-o-abrigamento-de-mulheres-em-situacao-de-risco-e-de-

violencia).

Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180

A Central de Atendimento à Mulher é um serviço do Governo Federal que


auxilia e orienta as mulheres em situação de violência através do número de utilidade
pública 180. As ligações podem ser feitas gratuitamente de qualquer parte do território
nacional.

O Ligue 180 foi criado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da


Presidência da República em 2005 e funciona 24 horas diárias, inclusive nos feriados
e finais de semana - ocasiões em que o número de ocorrências de violência contra a
mulher aumenta. As atendentes da Central são capacitadas permanentemente em
questões de gênero, legislação, políticas governamentais para as mulheres. Cabe à
Central o encaminhamento da mulher para os serviços da rede de atendimento mais
próxima, assim como prestar informações sobre os demais serviços disponíveis para
o enfrentamento à violência. A Central Ligue 180 também recebe e encaminha as
denúncias das mulheres em situação de violência.

Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM)

São espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e


encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência, que devem proporcionar
o atendimento e o acolhimento necessários à superação de situação de violência,
contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania (BRASIL,
SPM, 2006).

O Centro de Referência deve exercer o papel de articulador das instituições e


serviços governamentais e não-governamentais que integram a Rede de
Atendimento. Assim, os Centros de Referência devem, além de prestar o acolhimento

63
e atendimento da mulher em situação de violência, monitorar e acompanhar as ações
desenvolvidas pelas instituições que compõe a Rede.

Consulte a Norma Técnica de Uniformização dos Centros de Referência de


Atendimento à Mulher em Situação de Violência
(http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_pessoas_violencia_sexual_norma
_tecnica.pdf).

Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam)

As DEAMs* são unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às


mulheres em situação de violência. As atividades das DEAMs têm caráter preventivo
e repressivo, devendo realizar ações de prevenção, apuração, investigação e
enquadramento legal, as quais devem ser pautadas no respeito aos direitos humanos
e nos princípios do Estado Democrático de Direito (BRASIL, SPM, 2010).

Com a promulgação da Lei Maria da Penha, as DEAMs passam a desempenhar


novas funções que incluem, por exemplo, a expedição de medidas protetivas de
urgência ao juiz no prazo máximo de 48 horas.

* No Estado de São Paulo, as DEAMs são denominadas DDMs – Delegacias


de Defesa da Mulher.

Saiba mais...

Leia aqui a Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas


de Atendimento Às Mulheres – DEAMs
(http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/dilma-vana-rousseff/publicacoes/orgao-
essenciais/secretaria-de-politica-para-mulheres/norma-tecnica-de-padronizacao-das-delegacias-

especializadas-de-atendimento-a-mulheres-25-anos-de-conquista).

Postos, Núcleos e Seções de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns

Constituem espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que,


em geral, contam com equipe própria) nas delegacias comuns.

64
Defensorias Públicas Especializadas ou Núcleos Especializados de Promoção
dos Direitos da Mulher (NUDEMs)

Têm a finalidade de dar assistência jurídica, orientar e encaminhar as mulheres


em situação de violência. É órgão do Estado, responsável pela defesa das cidadãs
que, por sua condição de gênero entrelaçada a outras – como de dificuldades
econômicas, raça, etnia etc. – estão expostas a diferentes situações de
vulnerabilidade.

A SPM tem investido na criação e consolidação de Defensorias da Mulher como


uma das formas de ampliar o acesso à Justiça e garantir às mulheres orientação
jurídica adequada, bem como o acompanhamento de seus processos.

Saiba mais...

Consulte o Protocolo Mínimo de Padronização do Acolhimento e


Atendimento da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar
(https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/Repositorio/41/Documentos/cartilha_condege-Protocolo-
M%C3%ADnimo.pdf).

Juizados e Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são órgãos da


Justiça Ordinária com competência cível e criminal, que são criados pela União (no
Distrito Federal e nos Territórios) e pelos Estados para o processo, julgamento e a
execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra
a mulher. Segundo a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) que prevê a criação
dos Juizados, esses poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar
a ser integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e da
saúde.

Saiba mais...

65
Consulte o Manual de Rotinas e Estruturação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher
(https://www.amb.com.br/fonavid/files/manual_rotinas.pdf).

Promotorias Especializadas

Têm como objetivo central promover a ação penal e oferecer a denúncia,


quando legalmente cabível. Além disso, atende as mulheres que necessitam de
amparo legal para a garantia de sua integridade física, psicológica, moral e
patrimonial. A atuação da Promotoria é determinante para possibilitar às mulheres a
fiel aplicação dos dispositivos legais referentes à violência contra as mulheres, e
também, para a promoção das medidas de proteção em favor da mulher, na
fiscalização das entidades de atendimento, ou na proposição de ações cíveis públicas
de interesse das mulheres.

Saiba mais...

Consulte aqui a cartilha O Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar


contra a Mulher: Uma Construção Coletiva
(https://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/nucleos/pro_mulher/o_enfrentamento_a_violencia_domesti
ca_e_familiar_contra_a_mulher.pdf), da Comissão Permanente de Combate à Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher (COPEVID).

Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência sexual

A área de saúde é responsável pela prestação de assistência médica, de


enfermagem, psicológica e social às mulheres que sofreram violência sexual, inclusive
quanto à interrupção da gravidez prevista em lei nos casos de estupro, conforme
estabelecido pela Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos
Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes
(http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf
), do Ministério da Saúde.

A Lei n.º 10.778, de 24 de novembro de 2003


(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.778.htm) estabelece a notificação

66
compulsória, no território nacional, dos casos de violência contra a mulher, atendidos
em serviços públicos e privados de saúde. O cumprimento da medida é fundamental
para o dimensionamento do fenômeno da violência sexual e de suas consequências,
contribuindo para a implantação de políticas públicas de intervenção e prevenção do
problema. Em casos de gravidez, suspeita ou confirmada, deve-se considerar a
demanda da mulher ou adolescente, identificando se manifesta desejo ou não de
interromper a gravidez. Cabe aos profissionais de saúde fornecer as informações
necessárias sobre os direitos da mulher e apresentar as alternativas à interrupção da
gravidez, como a assistência pré-natal e a entrega da criança para adoção.

Leia a Norma Técnica: Atenção Humanizada às Pessoas em Situação de


Violência Sexual com Registro de Informações e Coleta de Vestígios
(http://www.campogrande.ms.gov.br/semu/downloads/norma-tecnica-atencao-humanizada-as-
pessoas-em-situacao-de-violencia-sexual-com-registro-de-informacoes-e-coleta-de-vestigios-

cartilha/).

Casas da Mulher Brasileira

É um espaço de acolhimento e atendimento qualificado e tem por objetivo geral


prestar assistência integral e humanizada às mulheres em situação de violência,
facilitando o acesso destas aos serviços especializados e garantindo condições para
o enfrentamento da violência, o empoderamento e a autonomia econômica das
usuárias. Conforme as Diretrizes Gerais e Protocolos de Atendimento da Casa da
Mulher Brasileira
(http://www.mulheres.ba.gov.br/arquivos/File/Publicacoes/CasadaMulherBrasileira_DiretrizesGerais
eProtocolosdeAtendimento.pdf), constitui um serviço da rede de enfrentamento à violência

contra as mulheres e deve atuar em parceria com os serviços especializados da rede


de atendimento (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher/ DEAM, Centros
de Referência de Atendimento à Mulher, Casa-Abrigo, Defensoria Especializada,
Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e Promotoria
Especializada) e com os demais parceiros (rede socioassistencial, rede de saúde,
órgãos de medicina legal, entre outros).

Saiba mais...

67
Assista ao vídeo sobre a Casa da Mulher Brasileira (Disponível em:
https://youtu.be/bVQfdj6QNCs)

Unidades Móveis

São ônibus e barcos especialmente adaptados que levam serviços


especializados da Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência ao
campo, floresta e águas. Esses serviços incluem prevenção, assistência, apuração,
investigação e enquadramento legal. As unidades também têm função educativa, com
a promoção de palestras e esclarecimentos sobre a Lei Maria da Penha e sua
aplicação.

Em março de 2013, em continuidade às ações do Pacto Nacional


pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, foi lançado o Programa
“Mulher: Viver sem Violência, que tem por objetivo integrar e ampliar os
serviços públicos existentes voltados às mulheres em situação de violência,
mediante a articulação dos atendimentos especializados no âmbito da
saúde, da justiça, da segurança pública, da rede socioassistencial e da
promoção da autonomia financeira, DECRETO Nº. 8.086, de 30 de agosto
de 2013 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2013/Decreto/D8086.htm).

O Programa propõe o fortalecimento e a consolidação, em âmbito


nacional, da Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência,
por meio da articulação das diversas áreas envolvidas. O Programa
também promove a articulação entre órgãos e serviços públicos das três
esferas de Estado e instituições integrantes do sistema de justiça, como
coparticipes na sua implementação, e ampliou a concepção da Rede de
Atendimento com dois novos serviços: Casas da Mulher Brasileira e
Unidades Móveis.

68
1.4 – O Programa Patrulha, Ronda ou Guardiã Maria da Penha

Encontra-se em tramitação no Congresso Nacional, desde agosto de 2015, um


Projeto de Lei que visa à inclusão de artigo na Lei Maria da Penha que prevê a
instituição do Programa Patrulha Maria da Penha.

O Programa prevê, em âmbito nacional, a realização de visitas


periódicas às residências de mulheres em situação de violência doméstica
e familiar, para verificar o cumprimento das medidas protetivas de urgência
do Art. 22 e reprimir eventuais atos de violência. A execução do Programa,
conforme o Projeto de Lei, será realizada pelos órgãos de segurança
pública dos Estados e do Distrito Federal, ou, no caso dos Municípios, pelas
guardas municipais de acordo com o disposto na Lei nº 13.022, de 8 de
agosto de 2014.

O programa tem como base as experiências exitosas de algumas cidades


brasileiras, como Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Campo Grande, Fortaleza,
Salvador e Manaus. Além dos serviços disponíveis para as mulheres, a Lei Maria da
Penha prevê a criação de serviços de responsabilização e educação do/a agressor/a,
responsável pelo acompanhamento das penas e das decisões proferidas pelo juízo
competente, no que tange aos/às agressores/as, conforme previsto na Lei n°
11.340/2006 e na Lei de Execução Penal.

Por meio da realização de atividades educativas e pedagógicas, que tenham


por base uma perspectiva feminista de gênero, o serviço deve contribuir para a
desnaturalização sobre a violência de gênero – sendo essa uma violação dos direitos
humanos das mulheres - e para a responsabilização pela violência cometida.

69
O serviço poderá contribuir para:

Figura 21 - Contribuição do Programa


Fonte: SCD/EaD/SEGEN

Não constitui um espaço de ‘tratamento’ dos agressores/as e deverá


se restringir ao acompanhamento das pessoas processados/as
criminalmente (apenados ou não), com base na Lei Maria da Penha.

Não cabe ao serviço a realização de atividades referentes ao


atendimento psicológico e jurídico dos agressores, à mediação, à terapia
de casal e/ou terapia familiar e ao atendimento à mulher em situação de
violência. (SPM, 2010)

70
Amplie seu conhecimento, leia um pouco mais sobre a Rede
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres:

https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-
violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-
contra-as-mulheres

Aula 2 – Como atender mulheres em situação de violência

O que a sociedade pensa sobre o atendimento realizado pela Segurança


Pública nos casos de violência contra as mulheres?

2.1 – O que a sociedade pensa?

As mais conceituadas polícias militares brasileiras passaram a adotar a


regulamentação das principais atividades operacionais de suas corporações, reunindo
em um documento único roteiros padronizados, com o objetivo de amparar a atuação
do policial militar e buscar a excelência nos serviços prestados pela instituição. A
construção destes manuais doutrinários constitui direção a ser definida para o policial.

71
Figura 22 - Para Refletir
Fonte: SCD/EaD/SEGEN

A implicação decorrente de um atendimento fora do previsto legal, doutrinário


ou mesmo merecido pela vítima poderá implicar em um processo de revitimização ou
vitimização secundária conforme já visto anteriormente.

Este processo ocorre quando a vítima de violência, ao procurar os mecanismos


previstos legalmente, percebe que não há amparo prático no estado, fazendo com que
seus anseios não sejam atendidos.

Uma análise preliminar sobre vítima e revitimização aponta o seguinte:

Uma das formas de diálogo estabelecidas com cidadãs e cidadãos


sobre os direitos das mulheres e sobre os serviços especializados da Rede
é a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, por meio das
reclamações. Em seis anos de atendimento (2010 a 2015), foram
realizadas cerca de 22.500 reclamações a respeito dos serviços. Nesse
período, considerando as DEAMs e os Departamentos de Polícia, 55,41%

72
dessas reclamações referiam-se à segurança pública. Quando somado ao
Disque 190, esse percentual chega a 73,98%.

2.2 – O primeiro contato

O primeiro contato entre o/a policial e a mulher é muito importante e pode


determinar o desenrolar da queixa-crime e/ou da investigação criminal. Desse modo,
a postura do/as policiais deve proporcionar um atendimento com base em algumas
premissas.

Seguem algumas diretrizes apresentadas na Norma Técnica de Padronização


das Delegacias Especializadas de Atendimento Às Mulheres – DEAMs:

• Certificar-se de que a sala de espera comporta ambientes separados


para a mulher em situação de violência e para o (a) agressor (a);
• Acolher as mulheres em situação de violência com atendimento
humanizado, levando sempre em consideração a palavra da mulher, em ambiente
adequado, com sala reservada, para manter a privacidade da mulher e do seu
depoimento;
• Atender, sem qualquer forma de preconceito ou discriminação, as
mulheres, independentemente de sua orientação sexual e identidade de gênero,
incluindo também as mulheres prostitutas, quando sujeitadas à violência de gênero;
• O atendimento inicial e o acolhimento devem ser feitos por uma equipe
de policiais qualificadas/os profissionalmente, preferencialmente do sexo feminino,
com compreensão do fenômeno da violência de gênero.
• Acolher as mulheres em situação de violência de gênero, mesmo nos
casos nos quais as Delegacias não tenham atribuições específicas (tráfico de seres
humanos - de mulheres), procedendo ao encaminhamento para a instância policial
competente;
• Atendimento de acordo com o perfil da mulher.

Como você estudou anteriormente, diferentes mulheres são submetidas a


diferentes formas de violências de acordo com os grupos sociais dos quais fazem

73
parte. Essas diferenças – para não serem tornadas desigualdades – devem ser
levadas em consideração no momento do atendimento. Para se aprofundar mais no
assunto, leia o capítulo “Direitos das mulheres em situação de violência doméstica e
familiar: informação, participação e acompanhamento ao longo do processo” das
Diretrizes nacionais de investigação criminal com perspectiva de gênero:
Princípios para atuação com perspectiva de gênero para o ministério público e a
segurança pública do Brasil
(http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Nucleo_de_Genero/GeneroProtocolosInternacionais/2
015%20-%20BRASIL%20e%20EUROSOCIAL%20-

%20Diretrizes%20Nacionais%20de%20Investigacao%20Criminal.pdf).

2.3 – Diretrizes para o atendimento às mulheres

As diretrizes da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as


Mulheres devem estar na base do atendimento às mulheres em situação de violência:

Igualdade e respeito à diversidade

Mulheres e homens são iguais em seus direitos. A promoção da igualdade


implica no respeito à diversidade cultural, étnica, racial, inserção social, situação
econômica e regional, assim como os diferentes momentos da vida das mulheres.

Equidade

A todas as pessoas deve ser garantida a igualdade de oportunidades,


observando-se os direitos universais e as questões específicas das mulheres.

Autonomia das mulheres

O poder de decisão sobre suas vidas e corpos deve ser assegurado às


mulheres, assim como as condições de influenciar os acontecimentos em sua
comunidade e seu país.

74
Laicidade do Estado

As políticas públicas voltadas para as mulheres devem ser formuladas e


implementadas independentemente de princípios religiosos, de forma a assegurar os
direitos consagrados na Constituição Federal e nos instrumentos e acordos
internacionais assinados pelo Brasil.

2.4 – Outras diretrizes

Outras diretrizes que devem basear o atendimento de mulheres em


situação de violência podem ser encontradas nas Diretrizes Nacionais e Protocolos
de Atendimento da Casa da Mulher Brasileira:

Qualificação no Atendimento

O conceito remete à consideração de sentimentos, desejos, ideias e


concepções da mulher, valorizando a percepção da usuária sobre a situação
vivenciada, suas consequências e possibilidades de enfrentamento. Além das
questões concernentes à relação entre os profissionais e a mulher atendida, a
qualificação requer que o profissional tenha a interlocução permanente entre os
serviços e a parceria com a rede.

Liberdade de escolha das mulheres

Os atendimentos devem respeitar o direito à autodeterminação das mulheres


em situação de violência, assegurando-lhes a participação nos processos de decisão
em todos os momentos do atendimento. Isso significa que o plano de intervenção deve
ser elaborado em conjunto com a usuária do serviço e que suas escolhas devem ser
respeitadas.

Respeito

O conceito se refere à atitude de reconhecimento de outra pessoa, sem juízo


de valores pessoais, morais ou sociais para com a questão apresentada. Respeitar é

75
a atitude que se manifesta nos gestos e nas palavras adequadas dirigidas a outra
pessoa.

Prevenção da Revitimização

A revitimização no atendimento às mulheres em situação de violência, por


vezes, tem sido associada à repetição do relato de violência para profissionais em
diferentes contextos, o que pode gerar um processo de traumatização secundária na
medida em que, a cada relato, a vivência da violência é reeditada. Além da
revitimização decorrente do excesso de depoimentos, revitimizar também pode estar
associado a atitudes e comportamentos, tais como:

• paternalizar;
• infantilizar;
• culpabilizar;
• generalizar histórias individuais;
• reforçar a vitimização;
• envolver-se em excesso;
• distanciar-se em excesso;
• não respeitar o tempo da mulher;
• transmitir falsas expectativas.

A prevenção da revitimização requer o atendimento humanizado e integral, no


qual a fala da mulher é valorizada e respeitada.

Inclusão/acessibilidade

Inclusão é o ato de aproximar, abranger, inserir, não distinguir outra pessoa por
sua condição física, intelectual ou de mobilidade, por seu idioma, escolaridade,
atividade laboral, orientação sexual, cultura ou nacionalidade. A acessibilidade refere-
se à adaptação de ambientes e capacitação de profissionais no sentido de favorecer
a mobilidade e a inserção de pessoas com deficiência. É a capacidade de ofertar bens
ou serviços à população de forma direta e simplificada.

76
A base de todo atendimento deve ser a escuta qualificada, sigilosa e não
julgadora. A escuta qualificada é o princípio básico do atendimento humanizado e
deve estar pautada no respeito, na ética, na busca do fortalecimento da mulher diante
da situação vivida, na orientação pelos parâmetros humanitários e de cidadania e no
compromisso do sigilo profissional.

A escuta qualificada, a ser realizada para o atendimento de mulheres em


situação de violência, está baseada nos modelos recomendados pela Política de
Humanização do SUS, nas vertentes do Direito Fundamental, na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e nas Políticas Públicas em Resolução Adequada de
Disputas (RES. 125 - CNJ, 2010).

Os componentes da escuta qualificada passam pela atenção


proporcionada à mulher em atendimento e pela tranquilidade e segurança da equipe
durante o processo para que a mulher compreenda que não é a responsável pela
violência.

(Fonte: SPM, 2015, Diretrizes Gerais Protocolos de Atendimento da Casa da Mulher Brasileira)

77
Finalizando...

Neste módulo você estudou que:

• A Rede de Enfrentamento à Mulher em Situação de Violência é uma ação que reúne


recursos públicos e comunitários em um esforço comum para enfrentar a violência
doméstica e contra a mulher em nosso país.

• A Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência faz referência ao


conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social,
do sistema de justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à
melhoria da qualidade do atendimento, à identificação e ao encaminhamento
adequado das mulheres em situação de violência e à integralidade e à humanização
do atendimento.

• O atendimento às mulheres em situação de violência deve ser humanizado e


baseado em alguns princípios, como: igualdade e respeito à diversidade, equidade,
autonomia das mulheres, laicidade do Estado, respeito, prevenção da revitimização,
inclusão/acessibilidade e escuta qualificada.

78
REFERÊNCIAS

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