18/05/2021 Gestores adotam postura cautelosa com criptomoedas

Gestores adotam postura

cautelosa com
criptomoedas

Alguns investidores estão dispostos a

aceitar a volatilidade por verem o
bitcoin como uma oportunidade de
longo prazo
1 de 1 Jessop, da Fidelity: “Investidores estão dispostos a aceitar volatilidade por verem bitcoin como oportunidade de
longo prazo” — Foto: Christinne Muschi/Bloomberg

Jessop, da Fidelity: “Investidores estão dispostos a aceitar volatilidade por verem

bitcoin como oportunidade de longo prazo” — Foto: Christinne
Muschi/Bloomberg

A volatilidade recente dos preços do bitcoin desencadeada por Elon Musk, da

Tesla, provocou novas dúvidas entre os gestores de fundos institucionais sobre o
futuro das criptomoedas enquanto classe de ativo.

UBS Wealth Management, Pimco, T. Rowe Price e Glenmede Investment

Management estão entre as firmas que nos últimos dias expressaram reservas
quanto ao potencial dos investimentos em criptomoedas.

A reação veio depois que a Tesla disse que não vai mais aceitar pagamentos em
bitcoins por seus veículos elétricos por causa de preocupações ambientais e de
Musk jocosamente ter se referido à dogecoin, uma criptomoeda concorrente,
como um “golpe”, durante participação no programa de TV “Saturday Night
Live”.

“Nossa posição com os clientes é a regra dos postes de três metros: fique longe
deles”, disse Jason Pride, diretor de investimentos de fortunas privadas da
Glenmede. “Não acho que o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] e

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outras autoridades reguladoras sejam fãs da atual estrutura do mercado de

criptomoedas.”

Rob Sharps, presidente e diretor de investimentos da T. Rowe Price, disse ao

“Financial Times”: “As criptomoedas têm um impacto nos mercados de capitais e
nós somes especialistas em mercados de capitais. Basicamente, os mandatos que
gerimos para os clientes não são adequados para investir em criptomoedas e
reconhecemos o alto grau de especulação nesse ambiente”.

Demonstrando sua volatilidade extrema, o bitcoin foi negociado a pouco mais de

US$ 44 mil, cerca de US$ 20 mil a menos que o recorde atingido há apenas um
mês. O mais novo tumulto foi desencadeado depois que Musk aparentemente
insinuou no Twitter que a Tesla vendeu ou iria vender sua participação acumulada
em bitcoins. Posteriormente, ele esclareceu que a montadora “não vendeu nenhum
bitcoin”.

Certamente, o bitcoin ganhou terreno junto aos investidores nos últimos anos e os
negócios com contratos futuros passaram a ter mais liquidez. As autoridades
reguladoras dos Estados Unidos também estão considerando a possibilidade de
aprovar os fundos de criptomoedas negociados em bolsas de valores.

Mas gestores de ativos afirmam estar preocupados com os sinais de que as

criptomoedas não estão conseguindo atender às expectativas de que ficariam
menos voláteis com o tempo, ou que ofereceriam proteção aos investidores contra
turbulências nos mercados de ações ou com a inflação.

“A volatilidade das criptomoedas é estratosfericamente alta e sempre vemos isso

quando as ações caem, e o bitcoin também, e isso significa que ele não é bom
diversificador de carteiras”, afirmou Pride. Nicholas Johnson, gerente de carteiras
de commodities da Pimco, discorda dos defensores do bitcoin, que saudaram o
ativo como uma proteção contra a inflação depois da grande valorização das
criptomoedas enquanto o preço do ouro caía.

“Essa ideia de que as criptomoedas são um ativo de inflação é curiosa. Os ativos

de inflação tiveram um desempenho inferior nos últimos anos, enquanto as
criptomoedas se saíram muito bem. As pessoas estão buscando um motivo para
justificar a alta das criptomoedas”, disse.

A inquietação com as criptomoedas foi exacerbada ainda mais nesta semana,

quando uma importante autoridade reguladora americana alertou os investidores
de que comprar cotas de fundos mútuos expostos a contratos futuros de bitcoin “é

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um investimento altamente especulativo” - e alertou os fundos de que sujeitará

seus envolvimentos com as criptomoedas a uma análise rigorosa.

A Divisão de Gestão de Investimentos da Securities and Exchange Comission

(SEC) disse: “Os investimentos no mercado futuro de bitcoin devem ser buscados
apenas por fundos mútuos com estratégias apropriadas que suportem esse tipo de
investimento e com transparência total dos riscos materiais”.

“Esperamos uma política e controles reguladores mais rigorosos para as

criptomoedas na medida em que elas foram fazendo mais parte do mainstream”,
disse o UBS Wealth Management, acrescentando que a volatilidade dos preços
que se seguiu ao anúncio da Tesla “reforça os riscos que as empresas enfrentam
quando expõem seus balanços às criptomoedas”.

Tom Jessop, diretor de ativos digitais da Fidelity, que tem sido mais receptiva às
criptomoedas, alertou que esses investimentos ainda estão num estágio inicial de
desenvolvimento. “Nos referimos ao bitcoin como uma aspiração a reserva de
valor e como um adolescente em termos de seu desenvolvimento por causa da
volatilidade extrema. Alguns investidores estão dispostos a aceitar a volatilidade
por verem o bitcoin como uma oportunidade de longo prazo”, afirmou Jessop.

A Fidelity fornece um serviço de corretagem que permite a mais de cem

investidores institucionais como fundos de hedge e escritórios familiares comprar
criptomoedas, e oferece a eles serviços de custódia. A Fidelity possui um pequeno
fundo que aplica em ativos digitais para clientes e já solicitou à SEC o lançamento
de um fundo de bitcoins negociado em bolsa de valores.

Mesmo com gestores de ativos evitando as criptomoedas, as oscilações de seus

valores são uma preocupação para o setor por causa do poder crescente dos
operadores de varejo de causar volatilidade no mercado de ações, algo conhecido
como “efeito substituição”.

“Observar o que os pequenos investidores estão fazendo é tão importante quanto o

fluxo de bônus para os gestores agora”, disse Viraj Patel, analista da Vanda
Research. “Eles estão perguntando: se o capital millennial está comprando
bitcoins, isso significa que eles vão parar de comprar ações americanas mais
arriscadas e de maior potencial de retorno?”, questionou.

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