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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1059942-73.2019.8.26.0100 e código 157DD1B7.
Registro: 2021.0000406105

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1059942-73.2019.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GÊMEOS
PESCA ESPORTIVA LTDA - EPP, são apelados NAIRTON EVANGELISTA,
GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA e FOZVANS TURISMO – EIRELI.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE BENEDITO FRANCO DE GODOI, liberado nos autos em 27/05/2021 às 15:26 .
ACORDAM, em 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de
Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CESAR


CIAMPOLINI (Presidente) E ALEXANDRE LAZZARINI.

São Paulo, 26 de maio de 2021.

J. B. FRANCO DE GODOI
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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VOTO Nº: 50538

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APEL. Nº: 1059942-73.2019.8.26.0100
COMARCA : SÃO PAULO
APTE. : GÊMEOS PESCA ESPORTIVA LTDA EPP
APDOS. : NAIRTON EVANGELISTA E OUTRO
APDO. : GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE BENEDITO FRANCO DE GODOI, liberado nos autos em 27/05/2021 às 15:26 .
“AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER Marca - Utilização
da marca da autora em links patrocinados Inadmissibilidade
Empresas que trabalham no mesmo ramo de atividade
Possibilidade de causar confusão entre os consumidores
Prática inadmitida Dano material Indenização devida - Art.
210 da LPI Recurso provido.
RESPONSABILIDADE CIVIL Dano moral Utilização
indevida da marca da autora em links patrocinados Dano
moral configurado Valor da indenização fixado em R$
30.000,00 (trinta mil reais) Recurso provido.
MULTA DIÁRIA Pedido de fixação Admissibilidade
Multa diária que já havia sido fixada no Agravo de Instrumento
nº 2159197-93.2019.8.26.0000 Sentença que confirmou a
decisão que concedeu a tutela de urgência Manutenção da
multa diária fixada anteriormente - Recurso provido.”

1) Insurge-se a autora-apelante
contra r. sentença que julgou parcialmente
procedentes os pedidos formulados nos autos da
ação inibitória e indenizatória que moveu contra
os apelados, alegando, em síntese, que: faz jus à
reparação por danos materiais e morais pela
violação dos direitos industriais e pela prática
de concorrência desleal; necessária a fixação da
multa diária em caso de descumprimento da decisão
judicial; os apelados devem arcar com as verbas de
sucumbência.
Efetuou-se o preparo.
Recebido o recurso, a apenas a
'Google Brasil' apresentou resposta argumentando,
em síntese, que a r. sentença deve ser mantida.
Efetuou-se o preparo.
Houve oposição ao julgamento
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É o breve relatório.
2) Merece acolhimento o presente
recurso.
A autora ajuizou a presente ação
insurgindo-se contra o suposto uso indevido de sua
marca pelos correus 'Nairton' e 'Fozvans', que

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teriam contratado anúncios patrocinados no
'Google' utilizando sua marca como palavra chave.
O MM. Juiz “ a quo” indeferiu a
tutela de urgência ao Agravo de Instrumento nº
2159197-93.2019.8.26.0000 foi dado parcial
provimento para “(i) determinar à agravada Google
a remoção provisória dos anúncios indicados nas
atas notariais juntadas pela agravante com a sua
inicial, a partir dos URLs ali anotados, no prazo
máximo de 5 (cinco) dias contados da intimação
desta decisão; e (ii) determinar aos agravados
Nairton Evangelista e Fozvans Turismo que se
abstenham de contratar links patrocinados
utilizando, como palavra-chave, “GÊMEOS PESCA
ESPORTIVA” e “GÊMEOS PESCA”, sob pena de multa
cominatória de R$ 100,00 por dia de descumprimento
a partir da intimação desta decisão, limitada a R$
20.000,00.”
Após apresentação das contestações e
devida instrução processual, foi proferida a r.
sentença de fls. 1468/1478:
“Ante todo o exposto,
JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os
pedidos contidos na inicial da ação
proposta por GÊMEOS PESCA ESPORTIVA LTDA
EPP contra NAIRTON EVANGELISTA, FOZVANS
TURISMO EIRELI e GOOGLE BRASIL INTERNET
LTDA, para condenar-lhes na abstenção de
se utilizar da marca “GÊMEOS PESCA
ESPORTIVA” e “GÊMEOS PESCA” na
ferramenta de busca “Google Ads”, pena
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de imposição de sanções processuais. No

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mais, extingo a ação com resolução do
mérito, fundado no art. 481, I, do CPC.
Sucumbente em metade,
condeno a parte autora ao pagamento de
metade das custas e demais despesas
processuais, bem como honorários
advocatícios aos patronos da parte

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requerida no importe de 10% do valor
condenatório a que sucumbiu
[R$50.000,00], atualizados pela Tabela
Prática do TJSP, a partir da publicação
da sentença, e com juros moratórios de
1% a contar do trânsito em julgado da
decisão, nos termos do art. 85, §16, do
CPC.
Ainda, condeno a requerida
ao pagamento da outra metade das custas
e demais despesas processuais, bem como
honorários advocatícios aos patronos da
autora, que fixo em 10% do valor
atualizado da causa, pela Tabela Prática
do TJSP a partir do ajuizamento [Súmula
nº 14 do STJ] e com juros moratórios de
1% ao mês a contar do trânsito em
julgado.”
Irresignada a autora interpôs o
presente recurso postulando a condenação dos
correus 'Nairton' e 'Fozvans' ao pagamento de
indenização por danos materiais e morais em razão
da prática de concorrência desleal, além da
fixação de multa diária em caso de descumprimento
da decisão judicial que determinou que os correus
se abstenham de utilizar sua marca na ferramenta
de busca 'Google Ads'.
Assiste razão à autora.
Com efeito, restou incontroverso nos
autos que os correus 'Nairton' e 'Fozvans'
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utilizavam a marca da autora como palavras chaves

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no 'Google Ads' de propriedade da corré 'Google
Brasil'.
E, de acordo com o disposto no
artigo 195, III, da Lei nº 9.279/96, o uso
desautorizado de marca concorrente notória na
internet, com o intuito de desviar a clientela,
caracteriza concorrência desleal.

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Ora, verifica-se que no caso em tela
ambas as empresas trabalham no mesmo ramo de
atividade.
Tal fato é suficiente a caracterizar
confusão aos olhos do consumidor que ao procurar o
site da empresa autora, acaba sendo redirecionado
ao site da ré.
E, no tocante às marcas, a
legislação visa proteger não apenas o seu titular,
mas principalmente os consumidores, conforme
entendimento do C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
“No que diz respeito às
marcas, reitere-se que sua proteção não
tem apenas a finalidade de assegurar
direitos ou interesses meramente
individuais do seu titular, mas
objetiva, acima de tudo, proteger os
adquirentes de produtos ou serviços,
conferindo-lhes subsídios para aferir a
origem e a qualidade do que for ofertado
no mercado de consumo, tendo por escopo,
ainda, evitar o desvio ilegal de
clientela e a prática do proveito
econômico parasitário (REsp
1.327.773/MG, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, julgado em
28.11.2017, DJe 15.02.2018).
Por esse motivo, essa C. Câmara vem
entendendo que tal prática é abusiva:
“Apelação. Direito
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Empresarial. Direito Marcário.

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Concorrência desleal. Ação cominatória
de obrigação de não fazer cumulada com
indenização por danos materiais e
morais. Utilização de marca alheia
em anúncios publicitários na plataforma
de vendas "Mercado Livre". Possibilidade
de desvio de clientela. Conduta

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parasitária que deve ser coibida.
Indenização moral e material devida.
Precedentes. Danos materiais gerados
pelo uso indevido da marca da autora a
serem apurados em liquidação de
sentença. Inteligência do art. 210, II,
da Lei nº 9.279/96. Dano moral "in re
ipsa". Súmula 227 do STJ. Arbitramento
de danos morais. Quantum compatível.
Sentença mantida. Apelo desprovido.”
(Apel. nº 1014922- 92.2018.8.26.0068
Rel. Des. PEREIRA CALÇAS j. 04.12.20)
“Ação cominatória e
indenizatória Vocábulo "Grão de Gente"
Marca mista de titularidade da autora
Vinculação, por meio da ferramenta
"Google AdWords", a anúncios de
concorrente Uso indevido de expressão
componente da marca Concorrência
desleal caracterizada Usurpação da
função publicitária da marca - Ato
ilícito Dever de indenizar presente
Danos materiais e morais ônus
sucumbenciais invertidos Sentença
reformada Recurso provido.” (Apel. nº
1004439-39.2019.8.26.0562 Rel. Des.
FORTES BARBOSA j. 30.09.20)
JOSE DE OLIVEIRA ASCENSÃO, professor
da Faculdade de Direito de Lisboa deixou-nos em
suas 'LIÇÕES” ensinamentos a serem adotados na
atualidade , a saber:
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“O poder de exigir a

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cessação da violação de um direito
privativo, porém, não pressupõe o dolo
nem a negligência do terceiro. Basta que
haja a invasão da esfera atribuída ao
titular para que este a possa fazer
cessar. A boa fé do terceiro é
irrelevante.” (DIREITO COMERCIAL-

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DIREITO INDUSTRIAL - vol.II – Lisboa -
“Lições compiladas no 4º ano letivo -
1987/1 988 - 1 994 - pág.370)
Configurada a prática de
concorrência desleal faz jus a autora à
indenização por danos materiais, que deverá ser
fixada por arbitramento nos termos do art. 210 da
Lei n. 9.279/96, acrescido de correção monetária
pelos índices da Tabela Prática do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
contados da data em que o valor for estabelecido
em liquidação, além de juros de mora de 1% ao mês,
a partir da citação.
Quanto aos danos morais, o C.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA pacificou o
entendimento de que o dano moral é 'in re ipsa' no
caso de uso indevido da marca por empresa que atua
no mesmo ramo do titular do registro:
“AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE
INDUSTRIAL. CONTRAFAÇÃO DA MARCA.
DANOS MORAIS. PRESUNÇÃO. TERMO INICIAL
DOS JUROS MORATÓRIOS. SÚMULA 54/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos da
jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, o dano moral por uso indevido
de marca deriva diretamente da
prova que revele a existência de
contrafação (dano moral in re ipsa),
dispensando a prova de efetivo
prejuízo. 2. No caso de
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responsabilidade extracontratual, o

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termo inicial dos juros de mora é a
data do evento danoso (Súmula 54/STJ).
3. Agravo interno não provido.” (AgInt
no REsp 1537883 / PR Quarta Turma
Rel. Min. RAUL ARAUJO j. 15.08.19)
“AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA

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DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL
PROVIMENTO AO APELO NOBRE. INSURGÊNCIA
DA DEMANDADA. 1. Nos termos da
jurisprudência desta Corte Superior,
comprovado o uso indevido de marca, por
empresa que atua no mesmo ramo da
titular
do registro, é devida indenização por
danos morais e materiais,
independentemente da demonstração do
prejuízo específico. Precedentes. 2.
Agravo interno desprovido.” (AgInt no
REsp 1742635 / RJ Quarta Turma Rel.
Min. MARCO BUZZI - j.04.05.20)
Na fixação do valor dos danos
morais devidos, este Relator entende que
estimativa do dano moral deve ser tal a
possibilitar a reparação mais completa,
considerando a conduta do ofensor e a repercussão
na esfera íntima do autor, sempre respeitando-se a
proporcionalidade da situação econômica de ambas
as partes.
Por essa razão, considerando-se as
peculiaridades do caso concreto e os precedentes
C. Câmara, fixa-se a indenização por danos morais
em R$ 30.000,00 (trinta mil reais), valor que
deverá ser corrigido monetariamente pela Tabela
Prática do TJ/SP a partir da publicação deste e
com incidência de juros de mora de 1% ao mês a
partir da citação.
No tocante ao pedido de fixação da
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multa diária em caso de descumprimento da

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obrigação inibitória, verifica-se que esta já
havia sido fixada no julgamento do Agravo de
Instrumento nº 2159197-93.2019.8.26.0000 e, tendo
sido confirmada a determinação inibitória, deve
ser mantida a multa diária arbitrada naquele
julgamento.
Em razão do resultado, arcarão os

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correus 'Nairton' e 'Fozvans' com as custas e
despesas processuais, além de honorários
advocatícios fixados em 10% sobre o valor da
condenação e a corre 'Google Brasil' com as custas
e despesas processuais, além de honorários
advocatícios fixados em 10% sobre o valor
atualizado da causa.
Ante o exposto, dá-se provimento ao
recurso.

J.B. FRANCO DE GODOI


Relator

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