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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

ALGUNS MODELOS DE OPERAÇÕES UNITÁRIAS


em
PROCESSAMENTO DE MINÉRIOS

2ª PARTE – MODELOS DE SEPARAÇÃO

SUMÁRIO

1. MODELAGEM DOS PROCESSOS DE CLASSIFICAÇÃO

1.1 Modelos de Crivagem: recapitulação dos modelos probabilísticos de Lynch e


dos modelos cinéticos com dois regimes (saturado, de ordem zero, e sub-satu-
rado, de primeira ordem);
1.2 Modelos de Separação por Equivalência.
1.3 Modelos de Ciclonagem: o efeito de classificação e o arrastamento indiscrimi-
nado (soutirage); Curva de Partição Real e Curva de Partição Reduzida; mode-
lagem do arrastamento e possível interpretação para os efeitos de "fish hook";

2. MODELAGEM DOS PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

2.1 Introdução e conceitos gerais:


– O problema do atraso no desenvolvimento de modelos de separação;
– Dificuldades experimentais na determinação dos histogramas de teor dos
materiais;
– Análises de libertação usando líquidos densos, separação magnética no
separador isodinâmico Franz e ensaio de flutuação para "release analysis";
– Possibilidades actuais dos processos de Análise de Imagem e sua
dificuldade em descrever satisfatoriamente o comportamento de um
sistema de partículas, em termos de evolução dinâmica do teor das
partículas com a diminuição do calibre durante os processos de
cominuição;
– Necessidade de um modelo de evolução da libertação com a cominuição
2.2 Modelo de Libertação: a distribuição de teores condicionada ao calibre; Lei
Beta, justificação para o seu uso, forma analítica e mapa (p,q), linhas de iso-
teor e de iso-calibre para o caso da fragmentação não-discriminatória; Lei
Topológica para graduação das linhas de iso-calibre; utilização do algoritmo
Lei Beta / Lei Topológica

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3. MODELAGEM DOS PROCESSOS DE SEPARAÇÃO POR


FLUTUAÇÃO

3.1 Introdução e conceitos gerais; compartimento de agitação e leito de espumas;


o transporte de material colectado e o arrastamento indiscriminado para a zona
de espumas; efeito de drenagem como retorno dos arrastados
3.2 Cinética de extracção de massa de uma célula "batch"; curvas perdas de massa
vs tempo de residência; cinética de primeira ordem e sua incapacidade de
ajustamento à realidade; interpretação da não-linearidade como combinação
linear de cinéticas de primeira ordem com velocidades de extracção diferentes;
classes de flutuação;
3.3 Modelos de Flutuação: modelo de classe única - noção de recuperação limite
(ultimate recovery); modelo de duas classes (fast and slow); modelo de
distribuição rectangular; modelo com compartimento de agitação separado do
leito de espumas;
3.4 Ensaio de descrição fenomenológica: combinação linear de cinéticas de
primeira ordem definidas sobre classes fenomenológicas definidas a priori
com base em classes de calibre  teor; ligação do modelo de flutuação com o
modelo de libertação; definição das constantes cinéticas de cada classe como
produto das probabilidades de colisão pelas probabilidades de adesão após
colisão.

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ALGUNS MODELOS DE OPERAÇÕES UNITÁRIAS


em
PROCESSAMENTO DE MINÉRIOS

2ª PARTE – MODELOS DE SEPARAÇÃO

INTRODUÇÃO

Em momentos anteriores tivemos oportunidade de sistematizar o conhecimento


disponível sobre modelagem de operações unitárias. No que diz respeito às Separações, a
tipologia desses modelos pode sintetizar-se da seguinte forma:

- Simples ajustes empíricos de formulações matemáticas adequadas ao ajuste


de Curvas de Partição experimentais – neste sentido são apenas abordagens
estáticas do processo separativo, tendo apenas o condão de modelarem a forma da
Curva de Partição à custa de algumas da variáveis de controlo do processo, como
por exemplo, propriedade de corte, caudal de alimentação, geometria do
equipamento, etc.;
- Análises mais profundas do processo separativo que consideram explicitamente a
composição da carga no interior do aparelho e a velocidade de transferência dos
diferentes materiais do interior para os caudais de saída – esta via conduz,
efectivamente, a uma descrição cinética (porque dependente do tempo) do
processo de separação, admitindo que, em primeira aproximação, os valores p da
propriedade de separação P são suficientes para especificar, em termos
probabilísticos, o comportamento na separação dos lotes caracterizados por um
estreito intervalo de valor ]p,p+dp[ da propriedade P.

1. MODELAGEM DOS PROCESSOS DE CLASSIFICAÇÃO


A operação de classificação é um processo separativo particular em que a propriedade
de corte é o calibre ou, em alternativa, uma outra propriedade correlacionável com o
calibre.
Industrialmente as classificações são realizadas, como foi já estudado em disciplinas
anteriores, segundo dois modos distintos: por CRIVAGEM e por EQUIVALÊNCIA.
No caso das crivagens, a menos da influência das propriedades secundárias, pode
continuar a pensar-se que a propriedade dominante é o calibre enquanto que, no outro
caso, a equivalência é claramente dependente do calibre e da massa específica
aparente das partículas em simultâneo, como propriedades principais. Neste sentido,

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nas classificações por equivalência, trabalha-se com uma propriedade total, escalar, e,
definida como:
e     m   x n
em que:
 - massa específica da partícula;
m - massa específica do meio de separação
x - calibre da partícula
n - constante característica do regime hidrodinâmico:
n =1 regime turbulento de Newton
n =2 regime laminar de Stokes

(O Aluno deve aproveitar para rever conceitos, deduzindo a expressão anterior)

1.1 MODELOS DE CRIVAGEM


A modelagem de operações de crivagem tem sido abordada segundo as duas ópticas
referidas anteriormente: por um lado, os modelos baseados em simples regressões
estatísticas e ajustes directos sobre Curvas de Partição experimentais e, por outro, a
modelagem cinética do processo de crivagem. O primeiro estilo de abordagem é muito
frequente em aplicações industriais de controlo, dado o seu carácter muito expedito,
enquanto a abordagem cinética pertence já à classe da modelagem fenomenológica.

MODELO PROBABILISTICO DE CRIVAGEM


Em Mount Isa Minas (Austrália), WHITEN (1972) desenvolveu um modelo pro-
babilístico para simulação do funcionamento dum crivo vibratório de regime contínuo,
baseado na probabilidade de uma partícula de calibre x, em uma tentativa, atravessar
uma rede de luz h, confeccionada com um arame de diâmetro d.
Para esse cálculo basta pensar que a área de separação correspondente a uma abertura da
rede de crivagem é dada por (h+d)2 (isto é, luz mais um arame !) e que só a área (h-x)2 é
realmente útil para a operação de crivagem (a partícula de calibre x só passará a rede
sem tocar nos arames se cair dentro da área referida como útil !).

x d

h
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Assim, a probabilidade de atravessamento ao fim de uma tentativa é dada por:

 h  x  
2

 h  d  
 

pelo que a probabilidade de retenção ao fim de n tentativas ( ou de passagem à


corrente do Supra) será dada por:
n
  h  x   2 
1    
  h  d   

Esta expressão é usada pelos autores como curva de eficiência do crivo, sendo referida
para ela uma boa aderência aos resultados industriais. O desenvolvimento do modelo
exige apenas alguma habilidade matemática para calcular o valor médio da
probabilidade de retenção dentro de cada intervalo discreto de calibre [xi,xi-1].
A amarração do modelo a alguns aspectos físicos e geométricos do processo é
conseguida por alguns autores fazendo depender o valor de n de alguns parâmetros do
processo, nomeadamente a eficiência técnica (constante K), o comprimento do crivo, l
e um factor de carregamento, f (que relaciona o caudal de alimentação do crivo com o
caudal nominal associado à superfície de crivagem previamente dimensionada – f>1
quando o caudal é inferior a esse valor nominal e f<1 na situação inversa).

n = K . l. f

MODELO CINÉTICO DE CRIVAGEM

Como é sabido, um lote de partículas sobre uma superfície de crivagem vibrante, em


regime contínuo, adquire características de um leito móvel cuja espessura depende das
dimensões do tabuleiro, em especial da sua largura, e do caudal de alimentação. À
custa do movimento de vibração o leito fluidiza-se de modo que as partículas adquirem
uma dada mobilidade, sem no entanto perderem relações de vizinhança entre si, o que
permite a ocorrência dum fenómeno de segregação de calibres que origina o conhecido
efeito de ESTRATIFICAÇÃO: os grãos finos, percolando através dos espaços vazios
entre os graúdos, atingem os níveis inferiores da camada, rejeitando para os estratos
superiores os mais graúdos.
A ocorrência de estratificação é condição necessária para uma boa condução da
crivagem industrial, visto acelerar a cinética do processo, criando condições para que as
partículas cujo destino é a passagem ao infracrivo (infra propriedade) tenham imediata
oportunidade de entrarem em contacto com a superfície de tamizagem.

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Após estratificação os estratos superiores desempenham um papel muito positivo ao


diminuírem o saltitar das partículas inferiores devido à vibração, aumentam a frequência
dos contactos com a rede forçando a passagem ao infracrivo.

Num crivo contínuo em funcionamento são observáveis duas ou três zonas distintas,
caracterizadas pelos respectivos fluxos de atravessamento das partículas através das
aberturas, conforme pode ser visto na figura seguinte.
Inicialmente o fluxo de atravessamento aumenta rapidamente até atingir o máximo, o
que denota a existência de excesso de partículas em condições de atravessar a superfície
relativamente ao número de aberturas disponíveis, dito de outro modo, há saturação do
crivo que se traduz no mecanismo de competição dos vários grãos pelos orifícios.
Um pouco mais adiante, já uma elevada fracção do undersize foi recuperada, restam
apenas sobre a rede as partículas de calibre próximo da luz que vão ter ainda uma série
de oportunidades de tentar a sua passagem até abandonarem definitivamente o crivo.

Alimentação

Fluxo de atravessamento

Sub-Saturação
Saturação

Estratificação

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Esta análise conduz ao reconhecimento que a separação por calibres sobre um crivo se
processa segundo dois regimes:
- um de saturação, que corresponde à estratificação;
- e outro de sub-saturação caracterizado por tentativas sucessivas;
pelo que um crivo industrial de trabalho contínuo pode ser concebido como composto
por dois andares de crivagem, cada um correspondente a uma dada fracção da área do
crivo, com tempos de residência distintos, conforme pode ser analisado no esquema
seguinte:

a(i) m1(i)
m2(i)
SATURAÇÃO
m3(i)
SUBSATURAÇÃO
u2(i) SOBRECRIVO
u3(i)

INFRACRIVO

Sendo:

a(i) – composição granulométrica da alimentação


m1(i), m2(i), m3(i) – massas do lote i, respectivamente, em regime de saturação, em
regime de sub-saturação e no sobrevivo final.
u2(i), u3(i) – massas do lote i que passaram ao infracrivo, respectivamente, nos
regimes de saturação e de sub-saturação.

Detenhamo-nos um pouco mais sobre as diferenças fenomenológicas evidenciadas por


estes dois regimes cinéticos diferentes.
O regime de saturação, como vimos, caracterizado por um mecanismo de competição,
corresponde às condições de máxima utilização da superfície de crivagem, operando
um eficaz trabalho de limpeza do sobrecrivo, tanto mais rápido quanto menores forem os
calibres em presença. Em termos quantitativos esta situação exprime-se formalmente
dizendo que cada classe granulométrica (classe propriedade), sob este regime, possui
uma velocidade de atravessamento constante e máxima, obviamente função do
próprio calibre, mas independente da sua frequência (ou da massa da classe) na
população que se encontra sujeita à separação, ou seja

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dm1 i 
  K f i 
dt

sendo Kf(i) o respectivo fluxo de atravessamento médio das partículas da classe


granulométrica i, de unidades [massa/unidade de tempo], t o tempo, indicando o sinal
negativo que a massa m1(i) varia no sentido decrescente. A este regime cinético é dada
a designação de CINÉTICA DE ORDEM ZERO, fenomenologicamente descritora dum
regime saturado ou inibido, como por vezes é também referido.
Por sua vez, no regime de sub-saturação, a competição dá lugar a um mecanismo de
tentativas sucessivas, que vai ser aproveitado para a classificação dos calibres mais
difíceis de tratar, ou seja os que se encontram próximos do calibre de corte e, como tal,
sujeitos ao fenómeno do desgarramento (misplacement). Ao contrário do caso
anterior, a superfície de crivagem está sub-utilizada, de modo que é concebível que o
fluxo de atravessamento de cada classe granulométrica seja proporcional à respecti-
va frequência (ou massa). Um processo cinético em que a variação temporal da massa
é proporcional à própria massa, designa-se por CINÉTICA DE PRIMEIRA ORDEM, e
é formalmente descrito por:
dm2 i 
  Bi   m2 i 
dt
representando B(i) a constante cinética que mede a velocidade média de passagem das
partículas da classe de propriedade i.
A integração de ambas as equações diferenciais anteriores, considerando Kf(i) e B(i)
constantes, é imediata por separação de variáveis, obtendo-se, respectivamente:
m2(i) = - Kf(i) . TR0 + m1(i)

m3(i) = exp( -B(i) . TR1 ) . m2(i)

sendo TR0 e TR1 os tempos de residência médios das partículas nos regimes de saturação
(cinética de ordem zero) e de sub-saturação (cinética de primeira ordem), respec-
tivamente.

Como vimos, o caminho seguido para construção das equações diferenciais, cujas inte-
grações no tempo conduziram às duas equações imediatamente anteriores, consistiu na
escrita matemática e formal das fenomenologias físicas identificadas como intervenien-
tes no processo de crivagem contínuo de uma população de partículas. Nessas formu-
lações surgem duas constantes cinéticas Kf(i) e B(i) (distribuídas ao longo da escala do
calibre) que nos dão a oportunidade de continuar a incluir no modelo parâmetros
técnicos relevantes para a descrição do processo, porventura ainda não contemplados.
Para conseguir este objectivo, é possível lançar mão da técnica de condensação de
parâmetros, (já anteriormente usada na construção das funções Destruição e Formação
do modelo de fragmentação), procurando para essas constantes cinéticas dependências
nesses parâmetros técnicos fisicamente legítimas ou, no mínimo, interpretáveis.

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Assim, no Regime de Saturação, reinante durante o fenómeno da estratificação, o valor


do fluxo médio de atravessamento, Kf(i), para cada calibre, pode considerar-se
dependente:
- da probabilidade das partículas desse lote entrarem em contacto com o tamiz,
Pc(i), que fundamentalmente depende da quantidade de partículas da classe de
calibre em questão e das inferiores, uma vez que, quanto maior for essa
quantidade, menor a probabilidade de contacto para as partículas desse lote:
Pc(imax) = 1;
Pc(i) = Pc(i+1) . [1 - Kc. ji a(j)]
sendo Kc um parâmetro condensado aferidor da eficiência da estratificação;
- da probabilidade de passagem após contacto, Pp(i), que depende da luz do
crivo, segundo a lei da expressão anteriormente deduzida para o Modelo de
WITHEN (pág. 5):

n
  h  x   
 2

Pp i   1  1  

  hd  
  

na qual o número de tentativas, n, vai depender do tempo de residência e da


frequência de vibração do crivo:
n = Kt . frequência . TR0
sendo Kt um novo parâmetro condensado, que actua como factor de escala,
relacionado com propriedades das partículas, v.g., forma, rugosidade, etc.;
- da fracção da carga do crivo, W, que se encontram em saturação, dependente
do caudal de alimentação ao crivo:
W = (caudal alimentação/caudal máximo)Ks (1)

onde, Ks é um outro parâmetro condensado que comanda a forma da função


transporte das partículas sobre o tamiz, fenomenologicamente ligado ao tipo de
vibração (circular, elíptica, linear, etc.). Uma vez calculado o valor de W a carga
total de partículas em saturação, Cs, será a fracção W da carga admissível por
um crivo industrial (2). Finalmente, o tempo de residência médio nesta zona do
crivo é calculado por:
TR0 = Cs / caudal
Com esta estrutura de 3 parâmetros condensados, Kc, Kt, Ks, calcula-se o valor
procurado do vector fluxo de atravessamento da cinética de ordem zero:
Kf(i) = Pc(i) . Pp(i) . Cs . a(i)

1 - O cálculo do caudal máximo admissível para um tabuleiro de crivagem terá de ser calculado de forma expedita, sendo
corrente admitir que a carga máxima suportável por um crivo poderá oscilar entre 2 a 4 ton/h por m2 e por cada mm de luz.

2 - Industrialmente admite-se como aceitável que sobre um tabuleiro de crivagem possa permanecer uma camada de
partículas com uma possança 10 vezes o valor da luz da rede.

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Similarmente, na zona em que reina o Regime Subsaturado, modelado pela cinética de


primeira ordem, o problema é ligeiramente mais simples visto que o contacto com a rede
de crivagem, por definição, está garantido (a probabilidade de contacto tem, valor 1!).
Assim, a velocidade média de passagem depende exclusivamente da probabilidade de
passagem por unidade de tempo, podendo ser expressa como anteriormente, uma vez
que essa probabilidade com o contacto garantido depende apenas do calibre da partícula,
da luz da rede e do diâmetro do arame. O tempo de residência TR1 também poderá ser
calculado da mesma forma com base na velocidade de caminhamento, ou seja:

B(i) = Pp(i) e TR1 = TR0 . (1 - W)/W

Exploração do modelo
Com este modelo foram conduzidos alguns ensaios de experimentação numérica para
avaliação da qualidade das previsões, sob as seguintes condições operatórias:
- crivo de 4 m x 1.5 m (comprimento x largura);
- caudal máximo na base de 4 ton/h/mm/m2;
- calibre de corte (luz) = 8 mm
- fixaram-se os valores dos parâmetros condensados;
- ensaiaram-se dois regimes de alimentação: 50 e 100 ton./h.
Os resultados podem ser analisados na tabela seguinte, concluindo-se:
- que o caudal de 100 ton./h é manifestamente excessivo, observando-se uma
saturação de 75 %;
- que a 50 ton./h a saturação é de 51 %, aumentando-se a eficiência de limpeza do
isocrivo (classe granulométrica ]5.660,8.000[;
- que ao diminuir o caudal de alimentação aumentaram os tempos de residência,
mesmo na zona de saturação que entretanto viu diminuir a sua influência em
favor do regime subsaturado;
- que o regime de saturação é decisivo para o rápida expurgo dos finos do
sobrecrivo devido à estratificação, enquanto a subsaturação desempenha um
papel extremamente importante no trabalho de limpeza do sobrecrivo das
partículas "difíceis" do isocrivo; as colunas "% clean 2" e "%clean 3", referem
precisamente as eficiências de crivagem dos dois regimes de trabalho;
- finalmente, estes resultados estão bem patentes nas duas Curvas de Partição
que foram obtidas directamente sobre os dados granulométricos previstos pelo
modelo para os produtos finais.
A título de encerramento deste parágrafo, convém referir que a penúltima conclusão é
um bom indício que vai em favor da tese de que este modelo cinético pertence à classe
dos modelos fenomenológicos. A conclusão prática mais importante é a de que as
rotinas expeditas para a selecção das áreas de crivagem devem contemplar o cálculo
duma área adicional para o desenvolvimento do trabalho sob condições de subsaturação
que, como se viu, é extremamente importante para reduzir a percentagem de partículas
desgarradas e consequente aumento da eficiência total do processo.

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RESULTADOS DO MODELO CRIVO CONTÍNUO


CRIVAGEM A 8 MM
Ensaios a dois caudais diferentes: 50 e 100 ton/h

Ensaio SCRE2NEX Hole size = 8 mm LcxWc = 4.0 x 1.5


M = 0.786 W = 0.510 Q = 50 Qmax = 192
Parâmetros: KC = 0.5 KT = 0.05 KS = 0.5
tt = 21.164 t = 20.308
I mm ALIM OVERS UNDERS PARTIC m1(i) m2(i) m3(i) %limp2 %limp3
1 22.630 0.130 0.160 0.000 1.000 509.490 509.490 509.490 0.000 0.000
2 16.000 0.270 0.332 0.000 1.000 1058.180 1058.180 1058.180 0.000 0.000
3 11.310 0.260 0.320 0.000 1.000 1018.990 1018.990 1018.990 0.000 0.000
4 8.000 0.135 0.166 0.000 1.000 529.090 529.090 529.090 0.000 0.000
5 5.660 0.065 0.018 0.267 0.230 254.750 119.540 58.670 0.530 0.240
6 4.000 0.035 0.002 0.177 0.054 137.170 19.620 7.370 0.860 0.090
7 2.830 0.035 0.001 0.183 0.023 137.170 8.590 3.160 0.940 0.040
8 2.000 0.010 0.001 0.053 0.004 39.190 0.390 0.140 0.990 0.100
9 1.410 0.060 0.000 0.320 0.000 235.150 0.000 0.000 1.000 0.000

1.000 1.000 1.000

Ensaio SCRE2NEX Hole size = 8 mm LcxWc = 4.0 x 1.5


M = 0.786 W = 0.510 Q = 100 Qmax = 192
Parâmetros: KC = 0.5 KT = 0.05 KS = 0.5
tt = 14.965 t = 5.771
I mm ALIM OVERS UNDERS PARTIC m1(i) m2(i) m3(i) %limp2 %limp3
1 22.630 0.130 0.157 0.000 1.000 720.530 720.530 720.530 0.000 0.000
2 16.000 0.270 0.327 0.000 1.000 1496.490 1496.490 1496.490 0.000 0.000
3 11.310 0.260 0.315 0.000 1.000 1441.070 1441.070 1441.070 0.000 0.000
4 8.000 0.135 0.163 0.000 1.000 749.250 748.250 748.250 0.000 0.000
5 5.660 0.065 0.033 0.218 0.417 360.270 202.300 150.200 0.440 0.140
6 4.000 0.035 0.004 0.183 0.091 193.990 34.510 17.710 0.820 0.090
7 2.830 0.035 0.001 0.196 0.029 193.990 13.100 5.540 0.930 0.040
8 2.000 0.010 0.000 0.058 0.004 53.430 0.590 0.230 0.990 0.100
9 1.410 0.060 0.000 0.345 0.000 332.550 0.020 0.010 1.000 0.000

1.000 1.000 1.000

1.200

1.000

0.800

0.600

0.400

0.200

0.000
9 8 7 6 5 4 3 2 1
Classes de calibre

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1.2 MODELOS DE SEPARAÇÄO POR EQUIVALÊNCIA

CASO DO CALIBRE: STOKES HYDROSIZER E HIDROCICLONE

A modelagem destes processo de classificação encontram-se ainda numa fase


embrionária, centrando-se a raiz deste facto na complexidade crescente dos processos e
na necessidade de descrição multidimensional dos produtos com que se trabalha. Como
vimos atrás, a equivalência como propriedade total exige, pelo menos, uma descrição
bidimensional em termos de calibre e de massa específica das partículas.
Devido a estas dificuldades ainda não existe qualquer formalismo para a descrição
cinética do processo, recorrendo-se, invariavelmente, a modelos probabilísticos
comandados por condensações de parâmetros nem sempre bem conseguidas.
A título de exemplo apresentaremos de seguida uma tentativa de modelagem de um
hidroclassificador de canal de vários produtos, do tipo Hydrosizer.

STOKES HYDROSIZER
A separação num hidroclassificador de canal pode ser representada esquematicamente
do modo seguinte:

aij d1ij d2ij d(n+1)ij

Alimentação Overflow

b1ij b2ij bNij

Spigot (1) (2) (N)

Como é sabido, estes classificadores são muito usados na preparação das polpas para
tratamento em mesas hidrogravíticas, pelo que, em geral, são usados não tanto para
obter um corte granulométrico, mas sobretudo um corte por equivalência.
Pela razão exposta, o desenvolvimento do modelo pressupõe uma descrição bivariável
da alimentação ao classificador em classes de calibre e de massa específica. Seja aij o
caudal mássico da fracção de massa específica i e de calibre j. A descrição probabilística
do modelo resume-se a exprimir cada caudal mássico de saída, bkij, pelos vários spigots
k, na forma:

bkij = Tkij . aij

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em que Tkij mede a probabilidade de transferência de cada classe de propriedade (calibre


e massa específica) da alimentação para a saída k e, para cada classe, é função das
variáveis operacionais e geométricas do equipamento -- água de injecção, densidade
aparente de polpa de descarga, caudal e densidade aparente da polpa de
alimentação.
Do esquema imediatamente resulta que:

d1ij = aij - b1ij


e
dkij = d(k-1)ij - bkij = aij – [b1ij + ... + b(k-1)ij]

Para efeitos de desenvolvimento do modelo, em vez de usar a probabilidade de


transferência Tkij directa da alimentação ao spigot k, é mais conveniente usar a
probabilidade que as partículas que ainda não foram descarregas têm de sair pelo
próximo spigot, T*kij, definida por:

T*kij = bkij / d(k-1)ij

relacionando-se T*K com Tk do seguinte modo:

T*1 = T1

T*k = Tk / [ 1 - n=1,k-1 Tn]

Este modelo foi desenvolvido na mina Wheal Jane, Cornualha, e os seus autores
(MACKIE, TUCKER & WELLS, 1987) propuseram o seguinte esquema para a
condensação de parâmetros destinada ao cálculo das probabilidades de transferência
de cada classe de propriedade:
1- T*k é calculado como soma de duas funções, T*k = F1 + F2, modelando F1 o
fenómeno da sedimentação perturbada e F2 o arrastamento de finos devido ao
caudal de água de descarga em cada spigot ("soutirage");
2- para cada spigot k é calculado um calibre d50 para o qual F1 vale 0.5:

d 50  P1 
água de injecção  factor tempo de residência
massa específica da partícula - massa específica da polpa
Esta expressão concorda com as leis da sedimentação de Stokes ou de Newton,
consoante o valor de  valer, respectivamente, 0.5 ou 1. O factor tempo de

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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

residência é determinável directamente sobre o caudal de alimentação e


geometria do canal em cada spigot. P1 é um parâmetro para ajuste;
3- para cada spigot é em seguida calculada uma dispersão dos valores de F1, para
cada calibre, em volta do d50 calculado na base duma lei de probabilidade;
4- finalmente os autores propõem para a modelagem do arrastamento
indiscriminado de finos, F2 uma expressão do tipo:

F2 = P2 . Wk . f(calibre)

em que, P2 é um parâmetro para ajuste, Wk é o volume de descarga de água pelo


spigot e f(calibre) é uma função monótona que decresce rapidamente para zero
quando o calibre sobe acima de 0.1 mm
Os ajuste conduzidos pelos autores nas lavarias de Wheal Jane e de South Crofty (ambas
na Cornualha) apontam para a ligação do parâmetro P1 com o caudal e a densidade de
polpa e funciona como avaliador da perfeição (sharpness) da classificação, enquanto P2
controla a participação do arrastamento de finos na imperfeição geral.

1.3 MODELO DE HIDROCICLONE

Os hidrociclones são os classificadores por equivalência mais usados em tratamento de


minérios e têm sofrido importantes melhoramentos de design nos últimos anos.
Todavia, tal como no caso anterior, em termos de modelagem, as aproximações que têm
sido desenvolvidas são invariavelmente do tipo probabilístico e empírico,
conceptualmente semelhantes ao caso anteriormente descrito. A aproximação cinética
pura, com explicitação do tempo de residência, neste caso também não faria grande
sentido, haja em vista que o corte granulométrico se efectua quase instantaneamente.
Trata-se, com efeito, dum separador que faz uma partição da alimentação em apenas dois
produtos, sendo reconhecido universalmente como um bom classificador do overflow,
mas que produz um underflow muito contaminado por partículas de calibre inferior ao
d50 de corte. Este efeito, já referido de passagem no caso anterior, designa-se por
"soutirage" ou arrastamento indiscriminado.

A formulação básica do modelo empírico de ciclonagem contempla, especificamente,


que:
- uma certa fracção de sólidos da alimentação seja curto-circuitada directamente
para a corrente do underflow;
- e só a restante fracção de sólidos entrados no ciclone é sujeita a uma real acção
de classificação, função do fenómeno de sedimentação.

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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

No caso mais corrente, os ciclones são usados com o objectivo de obter cortes
granulométricos efectivos, pelo que em uma análise mais restrita a modelagem
restringe-se às formulações monovariáveis da propriedade calibre. Na figura seguinte
esquematiza-se a base do algoritmo de modelagem.

F. fi (1-Ri).F. fi oi
BYPASS CLASSIFICAÇÃO

Ci.(1-Ri).F. fi

Ri.F. fi

sendo, respectivamente, Ri e Ci, as funções de passagem do BYPASS e do mecanismo


de CLASSIFICAÇÃO, isto é, probabilidades de transferência de cada classe de calibre
para o underflow e F e fi, respectivamente, o caudal e o vector composição
granulométrica da alimentação. Simples raciocínios de balanço de massa conduzem a:

U.ui = [ Ri + Ci.(1-Ri) ] . F.fi

em que U será o caudal de sólidos no underflow, pelo que o vector Curva de Partição,
Pi, será expresso por:

U  ui
Pi   Ri  Ci  1  Ri 
F  fi

O uso desta equação exige o conhecimento das funções de transferência no BYPASS, Ri


e na CLASSIFICAÇÃO, Ci. Porque para estas funções são usadas simples funções
analíticas que descrevem com particular rigor os resultados experimentais, diz-se que o
modelo é do tipo empírico.
Já na década de 50, KELSALL sugeria que o fenómeno do "soutirage" é proporcional à
fracção, Ru, de água da alimentação que é recuperada no underflow. Simulando um ar-
rastamento rigorosamente indiscriminado, KELSALL sugere que uma fracção constante
de cada classe de calibre é arrastada directamente ao underflow, proporcionalmente ao
"soutirage", ou seja:

Ri = Ru (constante e igual ao valor do "soutirage")

A vantagem desta aproximação é evidente, uma vez que, sendo conhecido o valor do
"soutirage" directamente da experiência, o cálculo é imediato, sem necessidade de
recurso a ajuste.

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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Mais recentemente, novas tentativas têm sido sugeridas, em particular AUSTIN &
KLIMPEL sugerem que junto das paredes do ciclone se forma uma camada de partículas
que actuam como filtro, de modo que não será estranho pensar que uma fracção de todos
os calibres fique retida nesse filtro e descarregue pelo underflow. Sustentam no entanto
estes autores que não há razão para invocar que essa fracção seja igual à recuperação Ru
de água no underflow e sugerem que esse valor se transforme num parâmetro de ajuste.
Com o desenvolvimento das modernas tecnologias laser para análise de granulometrias,
foi possível estender as curvas de partição até gamas de calibres da ordem do micron,
reconheceu-se que o fenómeno do arrastamento não é tão indiscriminado como se
pensava. Com efeito estão já identificados os fenómenos de "hook" ou "fishhook", que
correspondem a levantamentos do caudal terminal das curvas de partição, apresentando a
forma de anzol, que só podem ser identificados como fenómenos de arrastamento que
privilegiam calibres mais finos. Assim, autores como FINCH têm usado algumas
aproximações analíticas lineares para ajustar uma função de arrastamento decrescente
para calibres crescente.

A modelagem da função classificação, Ci, no caso em que se não contabilizam


diferenças de densidade entre as partículas em separação, tem sido feita por vários
autores usando aproximações analíticas monótonas crescentes com o calibre, controladas
por dois parâmetros condensados, um controlando o calibre de corte e outro a
perfeição da curva de partição corrigida. Por exemplo, LINCH usa:

expm  d i   1
Ci 
expm  d i   expm   2

em que m é o parâmetro forma e di é o quociente xi = xi/d50c entre o calibre xi e o calibre


de corte corrigido d50c.

Note-se de passagem, que a curva de partição reduzida, anteriormente definida no


âmbito das disciplinas de Processamento de Minérios, é coincidente com a função
classificação, Ci, aqui usada, o que concorda com a própria definição do modelo, visto
que nela não está incluído o arrastamento que, neste modelo foi isolado e incluído no
efeito designado por BYPASS. Com efeito, considerando que o arrastamento no supra
tem valor constante para todas as classes de calibre (isto é, aceita-se que se trata de um
fenómeno verdadeiramente indiscriminado), definido como AS, teremos que a partição
reduzida, Pci, será obtida resolvendo a equação da Curva de Partição Pi em ordem a
Ci:

Pi  Ri
Pc i  C i 
1  Ri

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OPTIMIZAÇÃO DE CIRCUITOS E PROCESSOS

Autores como PLITT descrevem bons resultados de ajuste deste modelo a resultados
experimentais. Dependendo a qualidade do ajuste do rigor com que a condensação de
parâmetros é feita.
Pela nossa parte estamos convencidos que o interesse científico deste tipo de abordagem
só poderá despontar a partir do momento em que for possível descrever algum tipo de
fenomenologia, em particular interferências não-lineares, invocadas para interpretar
efeitos, por exemplo, do tipo "fishhook".

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