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FAZ O

ID
ÍNDICE S NT
E

I. Pontuar............................................................................................................................................................ 2
1. O que é a pontuação e para que serve?........................................................................................................ 2
2. O ponto (.): o sinal que não oferece dúvidas!.............................................................................................. 3
3. Quando, onde e por que razão devo usar a vírgula (,), aquele sinal “maldito”?............................... 3
a) Separar elementos de uma enumeração, com a mesma função, não unidos por e,
ou e nem .................................................................................................................................................4
b) Destacar/isolar elementos com funções diferentes e com um sentido explicativo
dentro da oração..................................................................................................................................6
c) Destacar/isolar alguns elementos que têm funções diferentes dentro da oração,
mas que estão numa posição inesperada......................................................................................7
d) Destacar/isolar elementos com funções diferentes dentro da oração semelhante
à da situação descrita em c)..............................................................................................................7
e) Destacar/isolar elementos que duplicam uma função já representada por outro
elemento na mesma oração............................................................................................................ 8
f) Destacar/isolar elementos intercalados..................................................................................... 9
g) Isolar palavras ou expressões exemplificativas e explicativas, como isto é, ou seja, por
outras palavras, sem dúvida, ou melhor, etc............................................................................... 9
h) Separar mas, porém, contudo, todavia, portanto, logo............................................................ 10
i) Isolar porém, contudo, todavia, portanto, logo, com efeito, na verdade, a meu ver, etc..1 1
j) Separar os advérbios sim e não, quando independentes da oração.................................... 12
3.1. Erros mais frequentes no uso da vírgula............................................................................................12
a) Uso da vírgula para separar o sujeito do predicado................................................................. 12
b) Uso da vírgula para separar o verbo dos complementos........................................................ 13
c) Uso da vírgula para separar uma oração que não é explicativa........................................... 13
4. Quando, onde e por que razão devo usar o ponto e vírgula (;)?.......................................................... 14
a) Separar, num período, elementos da mesma natureza, mas com alguma extensão....... 14
b) Separar diversos itens de enunciados enumerativos............................................................... 14
5. Quando, onde e por que razão devo usar os dois pontos (:)?.................................................................15
6. Ponto de interrogação (?)...............................................................................................................................15
7. Ponto de exclamação (!)..................................................................................................................................15
8. Reticências (...)................................................................................................................................................. 16
9. Aspas (« ») (“ ”).................................................................................................................................................... 16
10. Travessão (–)....................................................................................................................................................17
11. Parênteses ( ).....................................................................................................................................................17
I. Pontuar
1. O que é a pontuação e para que serve?

A pontuação é um conjunto de sinais gráficos utilizados para marcar fronteiras,


articulações de palavras, orações, frases ou parágrafos. A pontuação serve sobretudo
para separar, organizar, destacar elementos na frase e no texto.

Assim, a pontuação é uma ferramenta para a construção do texto e, consequente-


mente, um auxiliar para a leitura. Aliás, ela foi criada nos primórdios da escrita precisa-
mente para ajudar na leitura dos textos. De facto, antigamente escrevia-se sem separar
as palavras e, por isso, era difícil distinguir os conjuntos que formavam uma ideia. Desta
forma, a leitura em voz alta era fundamental para se entender o sentido do texto escrito.
E, mesmo depois, quando foi criado um sistema de pontos que davam ao leitor as in-
dicações que hoje alguns dos sinais de pontuação nos dão, marcando, por exemplo, o
grupo de palavras com significado completo, indicando que uma frase se completaria
mais à frente, era difícil ler os textos escritos. Mais tarde, quando a separação de palavras
passou a ser feita com um espaço em branco, a pontuação adquiriu as várias funções que
tem hoje, mas não havia um padrão definido e seguido por todos. Com a invenção da
imprensa, porém, os editores impuseram uma padronização, embora no início a maio-
ria dos autores não se preocupasse em usar os sinais gráficos e alguns até os achassem
“pequenos vermes”, como o filósofo Voltaire, no século XVII.

Ora, espero que não seja como Voltaire e reconheça que a pontuação é essencial para
perceber o que lemos e para que os outros entendam o que nós escrevemos. Há que
obedecer a um código convencionado, isto é, um sistema de regras: umas absolutamente
obrigatórias e outras flexíveis, sobretudo quando se trata de assinalar fenómenos expres-
sivos do oral. Por outras palavras, o uso dos sinais de pontuação, em muitas situações,
depende do estilo de cada um, e acima de tudo do grau de clareza e expressividade que
quem escreve quer dar à sua mensagem; noutras não tem mesmo discussão.

Talvez as únicas regras essenciais e obrigatórias no domínio da pontuação sejam


que não se deve separar o sujeito do verbo e o verbo do(s) seu(s) complemento(s). Tudo
o mais são possibilidades, diria. Por isso, na pontuação, a fronteira entre o certo e o errado
nem sempre é clara. Há, quase sempre, mais do que uma possibilidade.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

Ler, ter contacto com textos bem escritos, é uma boa maneira de assimilar as regras
da pontuação. Para além disso, deve sempre reler os seus textos. Vai ver que, decerto,
encontrará falhas na pontuação. Pode então corrigir, acrescentar, alterar e, desta forma,
criar a sensibilidade necessária para pontuar melhor.

2. O ponto (.): o sinal que não oferece dúvidas!

O ponto (.) é, de todos os sinais de pontuação, aquele que menos dúvidas suscita. Na
verdade, ele usa-se para assinalar o final de uma frase declarativa, de um parágrafo
(chamado, por isso, ponto parágrafo) ou de um texto (ponto final propriamente dito).
Essas são as suas principais funções1.

Por exemplo, o parágrafo que acabou de ler é composto por três frases. Cada uma
acaba num ponto, sendo o último ponto parágrafo.

3. Quando, onde e por que razão devo usar a vírgula (,),


aquele sinal “maldito”?

Ao contrário do ponto (.), a vírgula (,) é talvez dos sinais de pontuação mais difíceis de
dominar, já que muitas vezes ele é facultativo, sendo o seu uso, contudo, em muitos casos,
altamente aconselhado.

A vírgula serve para separar elementos de uma frase quer seja uma oração quer ele-
mentos de uma oração, com vista a tornar claro o que se escreve e, por conseguinte, faci-
litar a compreensão de quem lê.

Porém, como já foi alertado na introdução a esta secção, no uso dos sinais de pon-
tuação há mais regras facultativas do que obrigatórias. Quando dizemos que um deter-
minado sinal de pontuação “serve para” ou “é usado para”, é apenas para ter isso como
referência, já que, quando constrói um texto, o encadeamento das frases, das ideias é que
dita o uso dos sinais de pontuação.

1
O ponto também se usa depois de qualquer palavra escrita de forma abreviada (abreviatura), como Sr., Dr. Se
escrever uma palavra abreviada no final da frase, o ponto de abreviatura serve igualmente de ponto que marca
o final da frase.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

Encontra, de seguida, um conjunto de situações que lhe mostram e explicam


QUANDO, ONDE (o local exato) e PORQUE deve usar a vírgula (e por que razão pode
não a utilizar em determinados contextos).

A vírgula usa-se, então, para:

a) Separar elementos de uma enumeração, com a mesma função, não unidos por
e, ou e nem

SITUAÇÃO

Ex. 1: Pedro, Maria e José frequentam o 11.o ano.


Ex. 2: O Pedro comprou cadernos, canetas e lápis.
Ex. 3: O António é trabalhador, afável e prestável.
Ex. 4: O Tomás correu, saltou e divertiu-se imenso.
Ex. 5: O Ricardo disse que iria ao cinema, que depois passaria no supermercado e
que finalmente regressaria a casa.

QUANDO? Quando existe uma enumeração de vários termos (palavras, expres-


sões, orações), que têm a mesma função, estão dependentes de um mesmo elemento
e não estão unidos por e, ou e nem.

Ex. 1: Pedro e Maria;


Ex. 2: cadernos e canetas;
Ex. 3: trabalhador e afável;
Ex. 4: correu e saltou;
Ex. 5: que iria ao cinema e que depois passaria no supermercado.

ONDE? Entre os elementos enumerados que não estão ligados por e, ou e nem.

PORQUÊ? Porque de outra forma as frases não teriam uma leitura clara e cor-
reta, podendo até suscitar interpretações diferentes das pretendidas.

Ora repare: no Ex. 1, se não se separasse Pedro e Maria com vírgula, qualquer leitor
pensaria que estava a falar do Pedro Maria e do José – Pedro Maria e José frequentam
o 11.o ano. Ora, não era isso que se queria dizer, pois não?

Também no Ex. 3 a confusão se poderia instalar, se não fosse a presença da vír-


gula. A mensagem transmitida sem vírgula seria: O António é (um) trabalhador afável
e prestável, o que é diferente do que se pretende efetivamente dizer – O António é,
para além de trabalhador, afável e prestável.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

Atenção:
Há casos em que a vírgula poderá ser usada antes de e, nem e ou, apesar de lhe
terem dito já, com toda a certeza, que tal não é possível, pois e já é, ele próprio, um
elemento de ligação.
No entanto, a decisão de usar ou não a vírgula antes de e, nem e ou depende de
vários fatores: da extensão do elemento que se liga ou simplesmente do nível de des-
taque que se quer dar à parte da frase introduzida por essas palavras. Se não tiver
confiança no que está a escrever, o melhor é não arriscar. Dou-lhe apenas alguns
exemplos em que a vírgula antes do e, ou e nem é aceitável:

Ex. 6: Fala, e chora, e ri, e reza…


Ex. 7: A mulher não era bela, nem elegante, nem inteligente, mas tinha o seu charme.

Nestes casos e e nem estão repetidos na frase (enumeração). Pois é! Trata-se de


um recurso expressivo, o polissíndeto, que, decerto, se lembra de já ter encontrado
em textos literários.

Ex. 8: O tempo não para, e às vezes apetece-nos não olhar para o relógio.

Neste outro caso, as orações estão ligadas por e, mas têm sujeitos diferentes,
o que pode fazer subentender uma pausa na leitura e, portanto, justificar a vírgula
na escrita.

Ex. 9: É bom irmos hoje à aula de apoio, ou não?


Ex. 10: Afinal, o ladrão és tu, ou são vocês?
Ex. 11: Não diz a verdade, nem que o matem!

A intenção do uso da vírgula nos Exs. 9, 10 e 11 é meramente estilística: realçar,


dar ênfase ao que é introduzido. Tal realce pede uma pausa mais longa e, por con-
seguinte, a vírgula.

Ex. 12: O Sporting marca um golo, ou não ganha o campeonato.


Ex. 13: Estuda, ou não conseguirás boas notas.

Finalmente, nestes dois últimos exemplos, a vírgula serve para separar duas
ideias que não são verdadeiramente alternativas. De facto, a segunda é uma alter-
nativa (indesejada) à consequência desejável. Neste caso, faz-se uma pequena pausa
para introduzir precisamente a oração que corresponde à consequência.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

b) Destacar/isolar elementos com funções diferentes e com um sentido explicativo


dentro da oração

SITUAÇÃO I

Ex. 1: Ricardo Pinto, o diretor do jornal, está confiante no futuro.


Ex. 2: Rosa Mota, que foi campeã olímpica da maratona, esteve em Macau em 2015.

QUANDO? Quando temos um elemento (palavra, expressão ou oração) que ex-


plica, especifica o termo anterior (o chamado modificador do nome apositivo2),
como no Ex. 1 (o diretor do jornal) ou no Ex. 2 (que foi campeã olímpica da maratona).

ONDE? Antes e depois do elemento que explica ou especifica o termo anterior.

PORQUÊ? Porque, de outra forma, a frase não teria uma leitura fácil e, portanto,
uma boa compreensão. Tente lê-la em voz alta, sem pausas, e verá o que acontece!
Aliás, talvez até nem consiga lê-la sem fazer uma pausa antes e outra depois do ele-
mento que se encontra intercalado.

SITUAÇÃO II

Ex. 1: Ricardo, porque não respondes?


Ex. 2: Ajuda-me, filho, a pôr a mesa para o jantar!
Ex. 3: Vem cá, João?

QUANDO? Quando temos um termo ou uma expressão, vocativo, que é exterior à


oração e que serve para nos referirmos diretamente a um interlocutor (Ex. 1: Ricardo;
Ex. 2: filho).

ONDE? Depois da palavra ou expressão (vocativo), se ela estiver no início da frase


(Ex. 1), antes e depois, se ela estiver no meio de outros elementos da oração (Ex. 2) ou
antes da expressão, se ela ocorrer no final da frase (Ex. 3).

PORQUÊ? Porque se trata de um elemento à parte da oração e, por isso, precisa


de ser isolado para que se compreenda a sua função e não perturbe a compreensão
da frase.

2
Este modificador do nome apositivo corresponde, quando é representado por uma oração, às chamadas
orações subordinadas adjetivas relativas explicativas. Como já aprendeu, estas orações introduzem uma
explicação acessória relativamente ao antecedente. É por isso mesmo que elas são isoladas na escrita atra-
vés de vírgulas.
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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

c) Destacar/isolar alguns elementos que têm funções diferentes dentro da oração,


mas que estão numa posição inesperada

SITUAÇÃO

Ex. 1: No ano passado, fui de férias para a Tailândia.


Ex. 2: Quando o professor chegou, os alunos já estavam sentados.
Ex. 3: Se estudares, terás bons resultados.

QUANDO? Quando temos uma expressão, uma oração (subordinada) antecipada,


isto é, que não aparece no seu lugar habitual, geralmente no início da frase.

ONDE? Logo a seguir à palavra, expressão ou oração antecipada.

PORQUÊ? Porque de outra forma a frase não se compreenderia facilmente. Na


verdade, as partes da frase aparecem numa determinada sequência: sujeito + verbo
+ complemento + modificador (= [Eu] + [escrevi] + [um livro] + [no ano passado]. Caso
algum dos elementos não esteja na sua posição habitual dentro da sequência, isso
deve ser marcado na escrita, para facilitar a leitura. Se os elementos aparecessem
no seu lugar habitual, a vírgula seria dispensável, embora, em alguns casos, a sua
utilização continue a ser aconselhada por razões de clareza:

Ex. 4: Fui de férias para a Tailândia no ano passado.


Ex. 5: Os alunos já estavam sentados quando o professor chegou.
Ex. 6: Terás bons resultados se estudares.

Atenção: No Ex. 1, se em vez de uma expressão como no ano passado, ocorrer,


por exemplo, uma só palavra (um advérbio como ontem, por exemplo), a vírgula é
dispensada: Ontem fui de férias para a Tailândia.

d) Destacar/isolar elementos com funções diferentes dentro da oração semelhante


à da situação descrita em c)

Ex. 1: Terminada a reunião, o Presidente despediu-se de todos os presentes.


Ex. 2: A não ser que estudes, não conseguirás bons resultados.

QUANDO? Quando temos uma oração (subordinada) semelhante às enunciadas


em c), mas com uma estrutura diferente e no início da frase.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

ONDE? Logo a seguir à oração.

PORQUÊ? Porque de outra forma a frase não se leria tão bem e, portanto, não se
compreenderia também facilmente.

Atenção: A posição mais habitual para os elementos sublinhados é aquela que


se apresenta nos exemplos dados. Em todo o caso, para dar clareza à mensagem, e
marcar as fronteiras sintáticas entre os elementos da frase, a vírgula é necessária.
Também poderia escrever:

Ex. 1b: O Presidente despediu-se de todos os presentes, terminada a reunião.


Ex. 2b: Não conseguirás bons resultados, a não ser que estudes.

No entanto, sobretudo no caso do Ex. 1b, a compreensão da mensagem seria mais


difícil.

e) Destacar/isolar elementos que duplicam uma função já representada por outro


elemento na mesma oração

SITUAÇÃO

Ex.: O bolo, comeu-o o Tomás.

QUANDO? Quando temos uma palavra ou expressão antes do verbo que tem a
mesma função de outro elemento já presente na oração e, por isso, se assume como
uma duplicação. No exemplo, o bolo tem a mesma função do pronome -o. Trata-se
do que habitualmente se chama o complemento direto pleonástico.

ONDE? Antes e depois da palavra ou expressão, de forma a isolá-la.

PORQUÊ? Porque é preciso destacar que se trata de um elemento que tem de ser
lido com certa entoação, pois de outra forma pareceria que se tratava do sujeito,
que, habitualmente, se encontra antes do verbo. A ausência da vírgula prejudicaria a
compreensão: O bolo comeu-o o Tomás. Digamos que, à primeira vista, não fica claro
o “quê/quem comeu o quê”. Foi o bolo que comeu o Tomás ou o Tomás que comeu o
bolo? Claro que sabemos bem que o bolo não pode comer o Tomás, mas, se em vez de
Tomás, tivéssemos aranha, e, em vez de bolo, tivéssemos mosca, talvez a confusão se
instalasse: * A mosca come-a a aranha / A mosca, come-a a aranha.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

f) Destacar/isolar elementos intercalados

SITUAÇÃO

Ex. 1: Os alunos, quando o professor chegou, calaram-se de imediato.


Ex. 2: No verão, como faz muito calor em Portugal, todas as pessoas vão para a praia.
Ex. 3: Amanhã, julgo, terminarei o livro que estou a escrever.

QUANDO? Quando temos uma oração ou parte de uma oração intercalada no


meio de uma oração principal.

ONDE? Antes e depois da oração ou parte da oração intercalada.

PORQUÊ? Porque de outra forma a frase não teria leitura. De facto, o que está
intercalado perturba a compreensão da ideia principal. No Ex. 1, os alunos calaram-
--se de imediato é a ideia principal. Tudo o que perturba a leitura sequencial dos ele-
mentos que formam esta ideia deve isolar-se entre vírgulas. Isto é, a pausa indicada
pela vírgula, ao isolar o que está intercalado, é fundamental para se perceber que
aquela parte é estranha à ideia principal que se quer transmitir, ou melhor, é uma
informação adicional.

g) Isolar palavras ou expressões exemplificativas e explicativas como isto é, ou seja,


por outras palavras, sem dúvida, ou melhor, etc.

SITUAÇÃO

Ex. 1: A pontuação é fundamental para garantir a clareza do discurso, isto é, para


permitir a compreensão da mensagem transmitida. A vírgula, por exemplo,
é um elemento fundamental para garantir a harmonia da mensagem.
Ex. 2: O Paulo é, sem dúvida, o melhor amigo que tive até hoje.

QUANDO? Quando temos expressões como isto é, ou seja, por outras palavras, ou
melhor, etc.

ONDE? Antes e depois da expressão.

PORQUÊ? Porque estas expressões têm um teor explicativo, não fazem parte,
portanto, de nenhum elemento que ligam, e, por isso, devem ser isoladas. Podemos
dizer que são marcas do próprio discurso.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

h) Separar mas, porém, contudo, todavia, portanto, logo

SITUAÇÃO

Ex. 1: O Pedro é muito rico, mas/porém/contudo/todavia não é vaidoso.


Ex. 2: Ele estuda, logo/portanto tem boas notas.

QUANDO? Quando mas, porém, todavia e contudo são conectores que ligam seg-
mentos de frase.

ONDE? Antes de mas, porém, contudo, todavia, quando surgem no meio da frase;
antes e depois deles, quando surgem no interior do segmento que conectam.

PORQUÊ? Porque facilita a ligação de segmentos de frase e, consequentemente,


também facilita a leitura e a compreensão. Ex. 1: O Pedro é muito rico/não é vaidoso.;
Ex. 2: Ele estuda/tem boas notas.

É claro que pode haver casos em que mas, porém, contudo, todavia, parecem iso-
lados por vírgulas, mas não estão. O que está verdadeiramente isolado é o elemento
intercalado que surge imediatamente a seguir (cf. alínea f). Ora veja o exemplo:

Ex. 3: Ele é muito bom rapaz, mas, quando o irritam, não é nada simpático.

Há no entanto situações em que porém, contudo, todavia podem aparecer ver-


dadeiramente isolados. Leia agora o ponto seguinte, para ficar a perceber por que
razão isso acontece.

Atenção: porém, contudo, todavia, no entanto, portanto aparecem, por vezes,


deslocados, isto é, depois do verbo e, por isso mesmo, devem aparecer entre vírgulas.

Vejamos um exemplo:

Ex. 4: Estuda quando quiseres, sabe, porém, que tens de cumprir na escola.
Ex. 5: O atleta cumpriu os objetivos; merece, portanto, um lugar no pódio.

A ordem direta das orações seria:

Ex. 4b: Estuda quando quiseres, porém sabe que tens de cumprir na escola.
Ex. 5b: O atleta cumpriu os objetivos, portanto merece um lugar no pódio.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

i) Isolar porém, contudo, todavia, portanto, logo, com efeito, na verdade, a meu ver, etc.

SITUAÇÃO

Ex. 1: O Pedro todos os dias sai de casa às 7:30 da manhã. Porém/contudo/todavia,


ontem saiu às 7:00.
ou
O Pedro todos os dias sai de casa às 7:30 da manhã. Ontem, porém/contudo/
todavia, saiu às 7:00.

Ex. 2: As pessoas protestam na rua contra o banqueiro. Na verdade/Com efeito, não


querem aceitar que não verão mais o dinheiro das suas poupanças.
ou
As pessoas protestam na rua contra o banqueiro. Não querem, na verdade/
com efeito, aceitar que não verão mais o dinheiro das suas poupanças.

QUANDO? Quando ligam frases e não partes de frases.

ONDE? Depois de porém, contudo, todavia, portanto, logo, etc., caso apareçam no
início da frase; antes e depois destas expressões, caso apareçam no meio.

PORQUÊ? Porque é necessário marcar a fronteira entre o que é efetivamente a


frase nova e o que a liga à frase anterior.

Atenção: O aparecimento destes elementos como conectores deve-se ao


facto de as ideias que queremos exprimir serem complexas. Quando não é possí-
vel dizer tudo numa só frase, temos de optar por uma sequência de frases. É aí que
aparecem os conectores — palavras que vão muito para além das conjunções que
aprendes e que ligam orações para formar frases.
Formar uma frase como O Pedro é rico, mas não é vaidoso é relativamente fácil,
porque as duas ideias (o Pedro é rico e não é vaidoso) correspondem a duas orações
curtas. A partir do momento em que queremos aumentar a quantidade de informa-
ção, as frases sucedem-se, as frases passam a ser mais longas, as várias frases cons-
tituem-se partes de um discurso mais longo e, para que haja coerência interna, essas
partes têm de se interligar de forma lógica. É aí que entram essas palavras, muitas
delas em tudo iguais às conjunções.
Estão nesse grupo expressões como enfim, com efeito, na verdade, de facto,
quanto a mim, a meu ver, etc.
Normalmente essas expressões podem aparecer no início de uma frase, mas a fun-
ção delas é ligar essa frase, isto é, essa parte do discurso, ao que foi dito anteriormente,
que pode ser uma só frase ou uma sequência de frases; um parágrafo, por exemplo.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

j) Separar os advérbios sim e não, quando independentes da oração

SITUAÇÃO

Ex. 1: A mãe perguntou ao filho se o teste tinha corrido bem e o filho respondeu:
— Sim, correu bem.
Ex. 2: O funcionário perguntou ao patrão se podia sair. O patrão respondeu:
— Não, espere.

QUANDO? Quando os advérbios sim e não são independentes da frase.

ONDE? Depois de sim e não.

PORQUÊ? Porque os advérbios sim e não são, neste contexto, independentes da


oração. Se não fossem separados pela vírgula, tal facto poderia pôr em causa a lei-
tura/interpretação correta da mensagem. Isso é óbvio no Ex. 2. Suprimindo a vírgula
— Não espere —, o significado da resposta é contrário àquele que o patrão pretendia
dar e que fica claro quando se utiliza a vírgula: Não (= não pode sair), espere.

3.1. Erros mais frequentes no uso da vírgula


Seguem alguns erros mais frequentes no uso da vírgula.

a) uso da vírgula para separar o sujeito do predicado

PONTUA-SE ASSIM NÃO SE PONTUA ASSIM

 Ex. 1: O Pedro trabalha na empresa do tio.  Ex. 1: O Pedro, trabalha na empresa do tio.
 Ex. 2: O João, o Joaquim e o irmão deste  Ex. 2: O João, o Joaquim e o irmão deste,
tiveram um acidente ontem. tiveram um acidente ontem.
 Ex. 3: O homem que encontrei ontem no  Ex. 3: O homem que encontrei ontem no
cinema era o pai do meu melhor amigo. cinema, era o pai do meu melhor amigo.

Pois é! Muitas vezes, o uso indevido da vírgula entre o sujeito e o predicado tem
que ver com a dimensão de um e do outro. O sujeito do Ex. 1 é pequeno em termos de
dimensão – O Pedro –, ao passo que no Ex. 2 é mais complexo e extenso O homem que
encontrei ontem no cinema. Esse facto pode ajudar a explicar o erro.

12 Projeto SENTIDOS • ASA


Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

b) uso da vírgula para separar o verbo dos complementos

PONTUA-SE ASSIM NÃO SE PONTUA ASSIM

 O funcionário que foi expulso da em-  O funcionário que foi expulso da em-
presa por suspeita de fraude e de su- presa por suspeita de fraude e de su-
borno disse que tinha atuado de forma borno disse, que tinha atuado de forma
ingénua. ingénua.

Este erro é muito frequente, sobretudo quando o sujeito é complexo e o comple-


mento é, por exemplo, uma oração.

c) uso da vírgula para separar uma oração que não é explicativa

PONTUA-SE ASSIM NÃO SE PONTUA ASSIM

 Ex. 1:  Ex. 1:
a) Os alunos que faltaram às aulas tive- a) Os alunos, que faltaram às aulas, ti-
ram falta. (= Apenas os alunos que fal- veram falta. (= Apenas os alunos que
taram às aulas tiveram falta.) faltaram às aulas tiveram falta.)
b) Os alunos, que faltaram às aulas, tive- b) Os alunos que faltaram às aulas tive-
ram falta. (= Os alunos (todos), porque ram falta. (= Os alunos (todos), porque
faltaram às aulas, tiveram falta.) faltaram às aulas, tiveram falta.)

Este é um erro muito frequente e a maior parte das vezes é difícil de detetar, so-
bretudo em casos como o do Ex. 1a) e 1b), em que ambas as leituras são possíveis.
Vamos lá explicar.

No Ex. 1, que faltaram às aulas pode servir para restringir/selecionar do universo


de todos os alunos aqueles que faltaram às aulas (b), isto é, apenas os alunos que
faltaram às aulas tiveram falta; que faltaram às aulas não constitui, portanto, um
aparte, uma explicação, antes uma restrição. Ora, neste caso, o elemento que falta-
ram às aulas não pode aparecer entre vírgulas.

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Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

4. Quando, onde e por que razão devo usar


o ponto e vírgula (;)?
O ponto e vírgula (;) ao contrário do ponto (.) não marca o final do período. Estando
entre o ponto e a vírgula, o uso do ponto e vírgula depende muito do contexto.
Em todo o caso pode dizer-se que o ponto e vírgula se usa para:

a) Separar, num período, elementos da mesma natureza, mas com alguma extensão

SITUAÇÃO

Ex. 1: O ponto final constitui uma pausa longa; o ponto e vírgula marca uma pausa
mais breve que o ponto final, mas mais longa que a vírgula; a vírgula é uma
pausa intermédia entre o ponto final e o ponto e vírgula.

QUANDO? Quando os elementos a enumerar são relativamente extensos.

ONDE? Depois de cada elemento da enumeração.

PORQUÊ? Porque de outra forma não seria possível identificar os elementos


enumerados. A vírgula seria insuficiente porque não marcaria uma pausa tão longa,
necessária para marcar a separação entre elementos.

b) Separar diversos itens de enunciados enumerativos

SITUAÇÃO

Ex. 1: Os dois pontos têm várias funções:


a) separar, num período, elementos da mesma natureza com alguma extensão;
b) separar diversos itens de enunciados enumerativos, nomeadamente em leis,
decretos, portarias, regulamentos, etc.

QUANDO? Quando fazemos listas de vários itens, isto é, enunciados enumerativos.

ONDE? Depois de cada elemento da lista.

PORQUÊ? Porque, desta forma, cada um dos itens se separa dos anteriores, aju-
dando à leitura do texto.

14 Projeto SENTIDOS • ASA


Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

5. Quando, onde e por que razão devo usar


os dois pontos (:)?
Os dois pontos (:) têm várias funções.
Servem para:
a) introduzir a fala em discurso direto (Ex. 1);
b) introduzir uma enumeração explicativa (Ex: 2);
c) apresentar uma síntese, um esclarecimento ou uma consequência do que se disse
(Ex. 3).
Ex. 1: O Pedro disse ao treinador:
– Amanhã não posso vir ao treino.
Ex. 2: Ele tinha tudo para ser feliz: saúde, emprego e dinheiro suficiente para viver bem
durante o resto da vida.
Ex. 3: O objetivo deste livro é simples: ajudar os alunos a pontuar e a acentuar bem.
Usa-se dois pontos (mas também a vírgula) depois do vocativo que abre as cartas,
requerimentos ou ofícios, uma vez que esse vocativo pressupõe uma certa entoação
suspensiva.
Ex. 1: Exmos. Senhores:
Ex. 2: Prezado Senhor Doutor:

6. Ponto de interrogação (?)


O ponto de interrogação (?) serve para marcar as frases interrogativas diretas (Ex. 1),
mesmo que estas não exijam necessariamente uma resposta (Ex. 2).
Ex. 1: Para que serve o sinal de interrogação?
Ex. 2: Ó, vida, porque és tão complicada?

7. Ponto de exclamação (!)


O ponto de exclamação (!) marca frases exclamativas. No entanto, o seu valor de-
pende do contexto, cabendo a quem lê perceber qual é a intenção de quem escreveu:
pode tratar-se de uma expressão de espanto, de surpresa, de alegria, de entusiasmo, de
irritação, de dor, ou de outra natureza (Exs. 1 e 2). Costuma colocar-se também depois
de uma frase imperativa (Ex. 3).
Ex. 1: Ah! Eu não sabia que o Pedro era capaz de copiar num exame!
(admiração/espanto/surpresa)
Ex. 2: Sinto tanta a falta do meu filho que está no estrangeiro!
(tristeza/dor)
Ex. 3: Corram!
Projeto SENTIDOS • ASA 15
Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

8. Reticências (...)

As reticências (...) marcam uma interrupção da frase, uma suspensão, que pode
significar:
a) hesitação, dúvida, surpresa, ironia, tristeza (Exs. 1 e 2);
b) que a ideia se prolonga, deixando a conclusão do sentido da frase à interpretação
de quem lê (Ex. 3);
c) destaque a dar a uma palavra ou expressão (Ex. 4).
Ex. 1: Não sei... mas... eu diria que ele tem razão!
Ex. 2: Não sei que te diga...
Ex: 3: Ela disse que não queria sair, mas...
Ex. 4: O seu maior defeito é... ser egoísta!

Atenção: Depois das reticências deve usar letra maiúscula se a ideia expressa antes
daquele sinal estiver concluída, mesmo tendo sido concluída com um sentido não pre-
ciso. Na frase seguinte deve apresentar, no entanto, uma nova ideia.
Ex. 5: De manhã, estudei História, Geografia, Português... De tarde, fui ao treino.

Pelo contrário, deve usar letra minúscula depois das reticências se a ideia expressa
antes das reticências não estiver concluída, sendo retomada na continuação da frase.
Ex. 6: Pensei, pensei, pensei... mas continuei sem saber o que fazer.

9. Aspas (« ») /(“ ”)3

As aspas (« »)(“ ”) podem servir, tal como o travessão, para introduzir outra voz em
discurso direto ou uma citação; servem também para destacar expressões ou palavras
no texto ou para indicar o seu uso especial naquele contexto.
Ex. 1: Lembro-me muitas vezes do que o meu pai me dizia quando era pequena: “Ainda
hás de ir longe, filha!”
Ex. 2: Como o pai lhe chamava “bolinha de pelo” e “patinho feio”, Maria habituou-se a
olhar para si como uma mulher pouco sensual.

3
Em Portugal, usam-se tradicionalmente este tipo de aspas, aspas angulares ou em linha (« »). São as aspas da
tradição latina, usadas normalmente pelos tipógrafos. No entanto, como já deve ter reparado, o uso das aspas
altas (“ ”) é prática corrente. Isso deve-se provavelmente à língua inglesa e, consequentemente, à incapacidade
dos telemóveis, teclados de computador, etc., em representar as aspas angulares.

16 Projeto SENTIDOS • ASA


Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?

Atenção: Muitas vezes há dúvidas e hesitações na posição das aspas relativamente


aos sinais de pontuação. Como pode ver nos dois exemplos dados, a regra é a seguinte:
a) se o sinal de pontuação pertence ao conjunto das palavras que estão entre aspas,
então estas colocam-se depois desse sinal, como acontece no Ex. 1;
b) se o sinal de pontuação não pertence ao que está entre aspas, estas devem aparecer
antes do sinal de pontuação, de acordo com a necessidade do texto principal (Ex. 2).

10. Travessão (–)4

O travessão (–) marca a mudança de voz num texto, podendo introduzir o discurso
direto (Ex. 1); pode ainda ter uma função idêntica à dos parênteses, servindo neste caso
para isolar, num determinado contexto, palavras ou frases. Falamos neste último caso
de travessão duplo (Exs. 2 e 3). Por vezes, usa-se apenas um travessão para destacar a
parte final de um enunciado.
Ex. 1: O Pedro disse ao treinador:
– Amanhã não posso vir ao treino.
Ex. 2: – Acho – respondeu o treinador ao Pedro – que devias tentar não faltar ao treino.
Ex. 3: Depois de muitas tentativas de encontrar a sua vocação – já tinha tentado várias –,
Carlos chegou à conclusão de que o que queria ser mesmo era futebolista.
Ex. 4: As pessoas bem formadas costumam pôr em prática os valores universais – a so-
lidariedade e a fraternidade.

11. Parênteses ( )

Os parênteses ( ) servem para isolar um elemento dentro da frase ou até uma frase
que explica ou constitui um aparte, em relação ao que se disse. No entanto, essa forma
de apresentar a explicação ou aparte acaba por mostrar da parte de quem escreve uma
intenção nítida de pôr em destaque o que está entre parênteses.
Ex. 1: Depois de muitas tentativas de encontrar a sua vocação (já tinha tentado várias
e nenhuma parecia agradar-lhe), Carlos chegou à conclusão de que o que queria
ser mesmo era futebolista.

4
Atenção: não confunda o travessão (–) com o hífen (-). O travessão é um sinal de pontuação e é mais longo
do que o hífen, que é um sinal gráfico complementar.
Projeto SENTIDOS • ASA 17

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