Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ID
ÍNDICE S NT
E
I. Pontuar............................................................................................................................................................ 2
1. O que é a pontuação e para que serve?........................................................................................................ 2
2. O ponto (.): o sinal que não oferece dúvidas!.............................................................................................. 3
3. Quando, onde e por que razão devo usar a vírgula (,), aquele sinal “maldito”?............................... 3
a) Separar elementos de uma enumeração, com a mesma função, não unidos por e,
ou e nem .................................................................................................................................................4
b) Destacar/isolar elementos com funções diferentes e com um sentido explicativo
dentro da oração..................................................................................................................................6
c) Destacar/isolar alguns elementos que têm funções diferentes dentro da oração,
mas que estão numa posição inesperada......................................................................................7
d) Destacar/isolar elementos com funções diferentes dentro da oração semelhante
à da situação descrita em c)..............................................................................................................7
e) Destacar/isolar elementos que duplicam uma função já representada por outro
elemento na mesma oração............................................................................................................ 8
f) Destacar/isolar elementos intercalados..................................................................................... 9
g) Isolar palavras ou expressões exemplificativas e explicativas, como isto é, ou seja, por
outras palavras, sem dúvida, ou melhor, etc............................................................................... 9
h) Separar mas, porém, contudo, todavia, portanto, logo............................................................ 10
i) Isolar porém, contudo, todavia, portanto, logo, com efeito, na verdade, a meu ver, etc..1 1
j) Separar os advérbios sim e não, quando independentes da oração.................................... 12
3.1. Erros mais frequentes no uso da vírgula............................................................................................12
a) Uso da vírgula para separar o sujeito do predicado................................................................. 12
b) Uso da vírgula para separar o verbo dos complementos........................................................ 13
c) Uso da vírgula para separar uma oração que não é explicativa........................................... 13
4. Quando, onde e por que razão devo usar o ponto e vírgula (;)?.......................................................... 14
a) Separar, num período, elementos da mesma natureza, mas com alguma extensão....... 14
b) Separar diversos itens de enunciados enumerativos............................................................... 14
5. Quando, onde e por que razão devo usar os dois pontos (:)?.................................................................15
6. Ponto de interrogação (?)...............................................................................................................................15
7. Ponto de exclamação (!)..................................................................................................................................15
8. Reticências (...)................................................................................................................................................. 16
9. Aspas (« ») (“ ”).................................................................................................................................................... 16
10. Travessão (–)....................................................................................................................................................17
11. Parênteses ( ).....................................................................................................................................................17
I. Pontuar
1. O que é a pontuação e para que serve?
Ora, espero que não seja como Voltaire e reconheça que a pontuação é essencial para
perceber o que lemos e para que os outros entendam o que nós escrevemos. Há que
obedecer a um código convencionado, isto é, um sistema de regras: umas absolutamente
obrigatórias e outras flexíveis, sobretudo quando se trata de assinalar fenómenos expres-
sivos do oral. Por outras palavras, o uso dos sinais de pontuação, em muitas situações,
depende do estilo de cada um, e acima de tudo do grau de clareza e expressividade que
quem escreve quer dar à sua mensagem; noutras não tem mesmo discussão.
Ler, ter contacto com textos bem escritos, é uma boa maneira de assimilar as regras
da pontuação. Para além disso, deve sempre reler os seus textos. Vai ver que, decerto,
encontrará falhas na pontuação. Pode então corrigir, acrescentar, alterar e, desta forma,
criar a sensibilidade necessária para pontuar melhor.
O ponto (.) é, de todos os sinais de pontuação, aquele que menos dúvidas suscita. Na
verdade, ele usa-se para assinalar o final de uma frase declarativa, de um parágrafo
(chamado, por isso, ponto parágrafo) ou de um texto (ponto final propriamente dito).
Essas são as suas principais funções1.
Por exemplo, o parágrafo que acabou de ler é composto por três frases. Cada uma
acaba num ponto, sendo o último ponto parágrafo.
Ao contrário do ponto (.), a vírgula (,) é talvez dos sinais de pontuação mais difíceis de
dominar, já que muitas vezes ele é facultativo, sendo o seu uso, contudo, em muitos casos,
altamente aconselhado.
A vírgula serve para separar elementos de uma frase quer seja uma oração quer ele-
mentos de uma oração, com vista a tornar claro o que se escreve e, por conseguinte, faci-
litar a compreensão de quem lê.
Porém, como já foi alertado na introdução a esta secção, no uso dos sinais de pon-
tuação há mais regras facultativas do que obrigatórias. Quando dizemos que um deter-
minado sinal de pontuação “serve para” ou “é usado para”, é apenas para ter isso como
referência, já que, quando constrói um texto, o encadeamento das frases, das ideias é que
dita o uso dos sinais de pontuação.
1
O ponto também se usa depois de qualquer palavra escrita de forma abreviada (abreviatura), como Sr., Dr. Se
escrever uma palavra abreviada no final da frase, o ponto de abreviatura serve igualmente de ponto que marca
o final da frase.
a) Separar elementos de uma enumeração, com a mesma função, não unidos por
e, ou e nem
SITUAÇÃO
ONDE? Entre os elementos enumerados que não estão ligados por e, ou e nem.
PORQUÊ? Porque de outra forma as frases não teriam uma leitura clara e cor-
reta, podendo até suscitar interpretações diferentes das pretendidas.
Ora repare: no Ex. 1, se não se separasse Pedro e Maria com vírgula, qualquer leitor
pensaria que estava a falar do Pedro Maria e do José – Pedro Maria e José frequentam
o 11.o ano. Ora, não era isso que se queria dizer, pois não?
Atenção:
Há casos em que a vírgula poderá ser usada antes de e, nem e ou, apesar de lhe
terem dito já, com toda a certeza, que tal não é possível, pois e já é, ele próprio, um
elemento de ligação.
No entanto, a decisão de usar ou não a vírgula antes de e, nem e ou depende de
vários fatores: da extensão do elemento que se liga ou simplesmente do nível de des-
taque que se quer dar à parte da frase introduzida por essas palavras. Se não tiver
confiança no que está a escrever, o melhor é não arriscar. Dou-lhe apenas alguns
exemplos em que a vírgula antes do e, ou e nem é aceitável:
Ex. 8: O tempo não para, e às vezes apetece-nos não olhar para o relógio.
Neste outro caso, as orações estão ligadas por e, mas têm sujeitos diferentes,
o que pode fazer subentender uma pausa na leitura e, portanto, justificar a vírgula
na escrita.
Finalmente, nestes dois últimos exemplos, a vírgula serve para separar duas
ideias que não são verdadeiramente alternativas. De facto, a segunda é uma alter-
nativa (indesejada) à consequência desejável. Neste caso, faz-se uma pequena pausa
para introduzir precisamente a oração que corresponde à consequência.
SITUAÇÃO I
PORQUÊ? Porque, de outra forma, a frase não teria uma leitura fácil e, portanto,
uma boa compreensão. Tente lê-la em voz alta, sem pausas, e verá o que acontece!
Aliás, talvez até nem consiga lê-la sem fazer uma pausa antes e outra depois do ele-
mento que se encontra intercalado.
SITUAÇÃO II
2
Este modificador do nome apositivo corresponde, quando é representado por uma oração, às chamadas
orações subordinadas adjetivas relativas explicativas. Como já aprendeu, estas orações introduzem uma
explicação acessória relativamente ao antecedente. É por isso mesmo que elas são isoladas na escrita atra-
vés de vírgulas.
6 Projeto SENTIDOS • ASA
Pontuar e Acentuar Quando? Onde? Porquê?
SITUAÇÃO
PORQUÊ? Porque de outra forma a frase não se leria tão bem e, portanto, não se
compreenderia também facilmente.
SITUAÇÃO
QUANDO? Quando temos uma palavra ou expressão antes do verbo que tem a
mesma função de outro elemento já presente na oração e, por isso, se assume como
uma duplicação. No exemplo, o bolo tem a mesma função do pronome -o. Trata-se
do que habitualmente se chama o complemento direto pleonástico.
PORQUÊ? Porque é preciso destacar que se trata de um elemento que tem de ser
lido com certa entoação, pois de outra forma pareceria que se tratava do sujeito,
que, habitualmente, se encontra antes do verbo. A ausência da vírgula prejudicaria a
compreensão: O bolo comeu-o o Tomás. Digamos que, à primeira vista, não fica claro
o “quê/quem comeu o quê”. Foi o bolo que comeu o Tomás ou o Tomás que comeu o
bolo? Claro que sabemos bem que o bolo não pode comer o Tomás, mas, se em vez de
Tomás, tivéssemos aranha, e, em vez de bolo, tivéssemos mosca, talvez a confusão se
instalasse: * A mosca come-a a aranha / A mosca, come-a a aranha.
SITUAÇÃO
PORQUÊ? Porque de outra forma a frase não teria leitura. De facto, o que está
intercalado perturba a compreensão da ideia principal. No Ex. 1, os alunos calaram-
--se de imediato é a ideia principal. Tudo o que perturba a leitura sequencial dos ele-
mentos que formam esta ideia deve isolar-se entre vírgulas. Isto é, a pausa indicada
pela vírgula, ao isolar o que está intercalado, é fundamental para se perceber que
aquela parte é estranha à ideia principal que se quer transmitir, ou melhor, é uma
informação adicional.
SITUAÇÃO
QUANDO? Quando temos expressões como isto é, ou seja, por outras palavras, ou
melhor, etc.
PORQUÊ? Porque estas expressões têm um teor explicativo, não fazem parte,
portanto, de nenhum elemento que ligam, e, por isso, devem ser isoladas. Podemos
dizer que são marcas do próprio discurso.
SITUAÇÃO
QUANDO? Quando mas, porém, todavia e contudo são conectores que ligam seg-
mentos de frase.
ONDE? Antes de mas, porém, contudo, todavia, quando surgem no meio da frase;
antes e depois deles, quando surgem no interior do segmento que conectam.
É claro que pode haver casos em que mas, porém, contudo, todavia, parecem iso-
lados por vírgulas, mas não estão. O que está verdadeiramente isolado é o elemento
intercalado que surge imediatamente a seguir (cf. alínea f). Ora veja o exemplo:
Ex. 3: Ele é muito bom rapaz, mas, quando o irritam, não é nada simpático.
Vejamos um exemplo:
Ex. 4: Estuda quando quiseres, sabe, porém, que tens de cumprir na escola.
Ex. 5: O atleta cumpriu os objetivos; merece, portanto, um lugar no pódio.
Ex. 4b: Estuda quando quiseres, porém sabe que tens de cumprir na escola.
Ex. 5b: O atleta cumpriu os objetivos, portanto merece um lugar no pódio.
i) Isolar porém, contudo, todavia, portanto, logo, com efeito, na verdade, a meu ver, etc.
SITUAÇÃO
ONDE? Depois de porém, contudo, todavia, portanto, logo, etc., caso apareçam no
início da frase; antes e depois destas expressões, caso apareçam no meio.
SITUAÇÃO
Ex. 1: A mãe perguntou ao filho se o teste tinha corrido bem e o filho respondeu:
— Sim, correu bem.
Ex. 2: O funcionário perguntou ao patrão se podia sair. O patrão respondeu:
— Não, espere.
Ex. 1: O Pedro trabalha na empresa do tio. Ex. 1: O Pedro, trabalha na empresa do tio.
Ex. 2: O João, o Joaquim e o irmão deste Ex. 2: O João, o Joaquim e o irmão deste,
tiveram um acidente ontem. tiveram um acidente ontem.
Ex. 3: O homem que encontrei ontem no Ex. 3: O homem que encontrei ontem no
cinema era o pai do meu melhor amigo. cinema, era o pai do meu melhor amigo.
Pois é! Muitas vezes, o uso indevido da vírgula entre o sujeito e o predicado tem
que ver com a dimensão de um e do outro. O sujeito do Ex. 1 é pequeno em termos de
dimensão – O Pedro –, ao passo que no Ex. 2 é mais complexo e extenso O homem que
encontrei ontem no cinema. Esse facto pode ajudar a explicar o erro.
O funcionário que foi expulso da em- O funcionário que foi expulso da em-
presa por suspeita de fraude e de su- presa por suspeita de fraude e de su-
borno disse que tinha atuado de forma borno disse, que tinha atuado de forma
ingénua. ingénua.
Ex. 1: Ex. 1:
a) Os alunos que faltaram às aulas tive- a) Os alunos, que faltaram às aulas, ti-
ram falta. (= Apenas os alunos que fal- veram falta. (= Apenas os alunos que
taram às aulas tiveram falta.) faltaram às aulas tiveram falta.)
b) Os alunos, que faltaram às aulas, tive- b) Os alunos que faltaram às aulas tive-
ram falta. (= Os alunos (todos), porque ram falta. (= Os alunos (todos), porque
faltaram às aulas, tiveram falta.) faltaram às aulas, tiveram falta.)
Este é um erro muito frequente e a maior parte das vezes é difícil de detetar, so-
bretudo em casos como o do Ex. 1a) e 1b), em que ambas as leituras são possíveis.
Vamos lá explicar.
a) Separar, num período, elementos da mesma natureza, mas com alguma extensão
SITUAÇÃO
Ex. 1: O ponto final constitui uma pausa longa; o ponto e vírgula marca uma pausa
mais breve que o ponto final, mas mais longa que a vírgula; a vírgula é uma
pausa intermédia entre o ponto final e o ponto e vírgula.
SITUAÇÃO
PORQUÊ? Porque, desta forma, cada um dos itens se separa dos anteriores, aju-
dando à leitura do texto.
8. Reticências (...)
As reticências (...) marcam uma interrupção da frase, uma suspensão, que pode
significar:
a) hesitação, dúvida, surpresa, ironia, tristeza (Exs. 1 e 2);
b) que a ideia se prolonga, deixando a conclusão do sentido da frase à interpretação
de quem lê (Ex. 3);
c) destaque a dar a uma palavra ou expressão (Ex. 4).
Ex. 1: Não sei... mas... eu diria que ele tem razão!
Ex. 2: Não sei que te diga...
Ex: 3: Ela disse que não queria sair, mas...
Ex. 4: O seu maior defeito é... ser egoísta!
Atenção: Depois das reticências deve usar letra maiúscula se a ideia expressa antes
daquele sinal estiver concluída, mesmo tendo sido concluída com um sentido não pre-
ciso. Na frase seguinte deve apresentar, no entanto, uma nova ideia.
Ex. 5: De manhã, estudei História, Geografia, Português... De tarde, fui ao treino.
Pelo contrário, deve usar letra minúscula depois das reticências se a ideia expressa
antes das reticências não estiver concluída, sendo retomada na continuação da frase.
Ex. 6: Pensei, pensei, pensei... mas continuei sem saber o que fazer.
As aspas (« »)(“ ”) podem servir, tal como o travessão, para introduzir outra voz em
discurso direto ou uma citação; servem também para destacar expressões ou palavras
no texto ou para indicar o seu uso especial naquele contexto.
Ex. 1: Lembro-me muitas vezes do que o meu pai me dizia quando era pequena: “Ainda
hás de ir longe, filha!”
Ex. 2: Como o pai lhe chamava “bolinha de pelo” e “patinho feio”, Maria habituou-se a
olhar para si como uma mulher pouco sensual.
3
Em Portugal, usam-se tradicionalmente este tipo de aspas, aspas angulares ou em linha (« »). São as aspas da
tradição latina, usadas normalmente pelos tipógrafos. No entanto, como já deve ter reparado, o uso das aspas
altas (“ ”) é prática corrente. Isso deve-se provavelmente à língua inglesa e, consequentemente, à incapacidade
dos telemóveis, teclados de computador, etc., em representar as aspas angulares.
O travessão (–) marca a mudança de voz num texto, podendo introduzir o discurso
direto (Ex. 1); pode ainda ter uma função idêntica à dos parênteses, servindo neste caso
para isolar, num determinado contexto, palavras ou frases. Falamos neste último caso
de travessão duplo (Exs. 2 e 3). Por vezes, usa-se apenas um travessão para destacar a
parte final de um enunciado.
Ex. 1: O Pedro disse ao treinador:
– Amanhã não posso vir ao treino.
Ex. 2: – Acho – respondeu o treinador ao Pedro – que devias tentar não faltar ao treino.
Ex. 3: Depois de muitas tentativas de encontrar a sua vocação – já tinha tentado várias –,
Carlos chegou à conclusão de que o que queria ser mesmo era futebolista.
Ex. 4: As pessoas bem formadas costumam pôr em prática os valores universais – a so-
lidariedade e a fraternidade.
11. Parênteses ( )
Os parênteses ( ) servem para isolar um elemento dentro da frase ou até uma frase
que explica ou constitui um aparte, em relação ao que se disse. No entanto, essa forma
de apresentar a explicação ou aparte acaba por mostrar da parte de quem escreve uma
intenção nítida de pôr em destaque o que está entre parênteses.
Ex. 1: Depois de muitas tentativas de encontrar a sua vocação (já tinha tentado várias
e nenhuma parecia agradar-lhe), Carlos chegou à conclusão de que o que queria
ser mesmo era futebolista.
4
Atenção: não confunda o travessão (–) com o hífen (-). O travessão é um sinal de pontuação e é mais longo
do que o hífen, que é um sinal gráfico complementar.
Projeto SENTIDOS • ASA 17