Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introducao Ao Esoterismo Ocidental Livro
Introducao Ao Esoterismo Ocidental Livro
O ESOTERISMO OCIDENTAL
E SUAS INICIAÇÕES
INCLUINDO
Seguido de uma
LISBOA, 2013
À Carla,
Mais tarde, depois de ter exercido uma actividade, durante cerca de 20 anos,
de criminalista químico no Laboratório de Polícia Científica da P.J., e de ter continuado
uma actividade docente, durante 18 anos, no Departamento de Antropologia da
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL)
– tendo leccionado durante dois anos, no final desse período, a cadeira de
Antropologia da Religião e do Ritual -, acabei, já depois de deixar a docência na
FCSH/UNL, por me Doutorar nessa mesma Faculdade e Universidade em Antropologia
(Social e Cultural) da Religião, particularmente no domínio dos Novos Movimentos
Religiosos e das Espiritualidades Alternativas e concretamente estudando os grupos
que praticam a alquimia em finais do século XX e princípios do século XXI – Tese que
foi publicada em 2009 na Ed. Ésquilo com o título “A Alquimia, os alquimistas
contemporâneos e as novas espiritualidades”. Devo dizer, neste contexto, que sou
membro (desde praticamente a sua fundação) da ESSWE – European Society for the
Study os Western Esotericism, criada pelo Prof. Wouter J. Hannegraaff da Universidade
de Amsterdão e por outros académicos como o veterano destes estudos, o Prof.
Antoine Faivre da parisiense EPHE (Sorbonne).
O presente livro segue o formato dos diversos cursos que dei, dedicados a estes
temas, de entre os quais saliento os primeiros, de 1989 a 2008 no ex-ISER (Instituto de
Sociologia e Etnologia das Religiões) da FD/UNL, fundado e dirigido pelo Professor
Moisés Espírito Santo, e alguns desde 2000 no Centro Nacional de Cultura presidido
pelo Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, mas foram estes cursos no Âmbito Cultural do El
Corte Inglês que atingiram uma audiência maior, com um total de cerca de 1000
alunos ao longo destes últimos 6 anos, dando-me ainda uma maior experiência para
atingir um público mais alargado, grande parte do qual sem grande preparação e
sintonia com estas áreas. No entanto, devo dizer que a exposição oral destes temas
pode ser mais fácil de digerir que a leitura de um livro, por menos “universitário” que
ele pretenda ser, com este. Mesmo assim procurei, neste livro, dar um tom coloquial
possível e ao mesmo tempo apresentar a minha visão do esoterismo que decorre não
só dos meus estudos académicos, como também dos meus interesses e da minha
vivência pessoal nestes mundos – cada vez mais a aproximação “reflexiva” e
autobiográfica está presente nos estudos actuais das Ciências Sociais e Humanas.
Agradeço por fim à Editorial Arranha Céus a publicação deste livro e a paciência
com que esperaram por ele, mas não só continuo a ter uma vida muito ocupada como
os anos vão cada vez mais pesando… Felizmente que tive a possibilidade de ter livre o
mês de Agosto deste ano e dediquei as minhas “férias” a escrever este livro, grande
parte de memória, já que o conteúdo destas aulas, com dois cursos por ano nos
últimos 5 ou 6 anos, estão bem presentes no meu espírito.
Notas:
3 – Uma vez que estão esgotados os meus livros sobre a Quinta da Regaleira
(em 2ª. Edição) e sobre o Esoterismo de Fernando Pessoa (em 3ª. Edição) decidi incluir
as ideias essenciais do primeiro, tendo dado mais espaço ao esoterirmo pessoano pois
Fernando Pessoa foi um profundo conhecedor e entusiasta das diversas correntes do
esoterismo, sendo interessante fazer uma revisitação a estes temas pela visão genial –
ao mesmo tempo histórica e mítica - do Poeta; sobre o esoterismo pessoano daremos
conta da nossa perspectiva actualizada, ultrapassando algumas dúvidas iniciais, face às
importantes descobertas de jovens investigadores da “arca de Pessoa”, especialmente
Jeronimo Pizarro e Stephan Dix.
- Introdução
Bibliografia
Bio-bibliografia do autor
Iª. P A R T E
- O que é o esoterismo?
Esoterismo é uma palavra que indica “interior”, por contraste com exoterismo
que remete para o exterior, logo doutrina interna, reservada a alguns, os “iniciados”,
por oposição aos “profanos”, comunicada, discreta ou secretamente – “sub rosa”, sob
o silêncio iniciático, que transcende o silêncio profano -, aos membros ou discípulos
dessa organização ou corrente, através de uma linguagem simbólica e mítica.
Podemos avançar, desde já, com a aproximação de Jean-Pierre Laurent (cf. “Le
regard ésotérique”), para o qual o esoterismo é uma doutrina interior acerca da
constituição oculta do Homem, da Natureza e do Cosmos, nos diversos planos da
realidade.
Definição de Antoine Faivre (cf. “L’Ésotérisme”, 1ª. Edição, 1992, 5ª. Edição,
2012; já foi publicada uma edição em português).
Este académico (agora jubilado) da École Pratique des Hautes Études/ Section
de Sciences Réligieuses (Sorbonne) – meu amigo e mestre que já tive a oportunidade
de convidar para dois colóqiuios em Portugal, ambos sobre o Esoterimo em Fernando
Pessos, um no ano de 2000, em Cascais e o outro na Casa Fernando Pessoa, em 2008
- ,estruturou o conceito de esoterismo assentando-o em quatro componentes
principais, a saber:
Para além das quatro características principais, a definição de Faivre apresenta mais
duas características acessórias:
- O número e a sua simbólica; a simbólica dos números e das letras não existe
apenas na cabala hebraica e é um processo cifrado para conservar e comunicar
conhecimento
- As artes e as ciências ocultas e a hermenêutica; desde logo a hermenêutica, a
interpretação das coisas – hermenêutica, de Hermes, o instrutor e o mensageiro dos
deuses – e artes e ciências ocultas para ocultar os conhecimentos àqueles que não
estão preparados para os receberem
No que diz respeito, já não à doutrina (de que ocupam as doutrinas anteriores),
mas sim à estrutura do grupo esotérico, há que considerar a definição (estrutural) de
Olaf Hammer (“Claiming Knowledge. Strategies of Epistemology from Theosophy to
the New Age”, 2001), para o qual o esoterismo, com as partições iniciados/profanos,
conhecimento reservado/conhecimento aberto, etc., assegura um poder simbólico ao
grupo, ao seu líder e seus membros, reforçando ao mesmo tempo a coesão do grupo
face à sociedade exterior - comportamento que poderíamos denominar de “sectário” e
que não é, na sua forma extrema, típico de todos os grupos esotéricos.
Não posso deixar de dizer que a definição de esoterismo mais aceite pelo
mundo universitário, a de Faivre, está muito centrada na perspectiva hermetista e
alquímica do esoterismo. E – porque sou discípulo que o respeita e o admira muito,
mas que guarda a sua independência intelectual - ouso incluir e explicitar nela, sem a
contradizer, mas em homenagem ao Mestre, a dimensão gnóstica, a outra coluna do
esoterismo ocidental, particularmente no que diz respeito a dois temas fundamentais:
Por outro lado, faremos ainda referência a símbolos e mitos, pois se é verdade
que nem todos os mitos e símbolos são esotéricos, também é verdade é que alguns o
são explicita ou implicitamente, tendo havido ao longo dos séculos interpretações
esotéricas deles – darei como exemplo as obras setencentistas “Fables égypciennes et
grecqes” e “Dictionnaire mytho-hermétique” do Abade Dom Pernety, dando apenas
dois exemplos portugueses: os mitos do Sebastianismo e o Quinto Império que em
Portrugal tiveram leituras esotéricas, alquímicas, como veremos.
As iniciações
Este caminho das iniciações através de símbolos e mitos foi o que Dionísio o
Aeropagita denominou de via positiva – por contraste com a via negativa, a via da
transcendência absoluta. A primeira, como salienta Arthur Versluis (op. cit., p. 11) está
ptesente nas tradições dos mistérios egípcios e os greco-romanos que lhe sucederam.
A “via positiva”, acrescentaremos, está ainda presente nas iniciações esotéricas
ocidentais e nos respectivos rituais elaborados ao longo dos séculos – rosacrucianos,
maçónicos, etc.
Nota:
Falemos sobretudo das primeiras, mas em nosso entender é preciso referir que
existe uma ainda tradição anterior a esses Mistérios que os influencia, assim como
influenciará mais tarde, num plano simbólico, os “mistérios” das fraternidades
iniciáticas, tradição essa que é o Xamanismo.
RELIGIÕES DE MISTÉRIOS
- Mistérios de Osiris
Osiris é raptado pelo seu irmão Seth – no final de um banquete em que este se
propunha oferecer uma caixão finamente decorado a quem nele coubesse, sendo
Osiris o verdadeiro destinatário, pois Seth já lhe tinha tirado as medidas…Osiris- acaba
por ser morto pelos esbirros de Seth e o seu corpo dividido em 14 pedaços os quais
foram espalhados pelo Egipto – tema de decomposição que remete para o xamanismo
das origens. Foi Isis, irmã e esposa de Osiris que andou a recolher os 13 pedaços do seu
corpo, reintegrando-o de certa maneira – o Feminino integrador - mas faltando o 14º.,
o falo de Osiris, que simboliza a virilidade iniciática e também a fecundidade da “terra
negra” (Chem), o Egipto e as suas margens banhadas pelo Nilo.
- Eleusis/Demeter
Proserpina ou Perséfone, filha de Deméter, andava pelos campos colhento lírios
quando Hadés, o rei dos mundos subterrâneos, a raptou sequestrando-a nessas
regiões inferiores. Isto tinha sido combinado com Zeus o rei dos deuses, mas perante o
espectáculo do sofrimento de Deméter que, numa gruta – onde mais tarde seriam
celebrados os mistérios – chorou durante largo tempo a perda da sua filha, ele
comove-se e propõe um acordo a ambos, Deméter e Hadés, acordo que consistiu na
condição da Proserpina ter de ficar durante uma parte do ano debaixo da terra e outra
parte à sua superfície. Trata-se de uma referência clara à vida de uma planta que
começa quando a semente que se coloca debaixo de terra apodrece, “morre”, para dar
origem às raízes mas também ao caule que surge à superfície progressivamente com
folhas, flores e frutos. Trata-se de uma religião de mistérios baseada na meditação
sobre os mistérios da Natureza e na maravilha que estes causavam no Homem antigo.
O seguidor dessa religião, o iniciado nos mistérios (o “mixto”), era convidado a imitar a
vida da semente e, portanto da Perséfone, num processo sacrifciial simbólico de morte
e ressurreição, de descida e ascensão. Os mistérios de Eleusis, celebrados na Grécia,
tinham duas festividades, uma no Equinócio da Primavera – os Mistérios Menores –
onde aos candidatos à iniciação era ministrada oralmente uma instrução e outra no
Equinócio de Outono – os Mistérios Maiores – onde se vivia através do ritual uma
experiência radicalmente transformadora do iniciado.
- Dionísio
Dionísio – equivalente grego do romano Baco - foi morto pelos Titans que o
cortaram em 14 pedaços, conseguindo reintegrar o seu corpo, ressuscitando – outra
vez uma clara referência ao desmembramento xamânico e à
recomposição/reintegração/”ressurreição”. De notar o desmembramento em 14
pedaços em Osíris e em Dionísio e também, significativamente, que o processo
sacrificial do Deus-Filho Jesus o Cristo se desenrola em 14 estações da Via Sacra.
É evidente que a Magia pela qual o esoterismo se interessa não é essa magia
das sociedades primitivas e longínquas no tempo, no espaço e na cultura – estudada
por célebres antropólogos como Malinowski, Evans-Pritchard ou Griaule, entre outros,
mas sim a mais recente e com uma dimensão filosófica. Há, no entanto, uma zona de
transição entre esses dois universos, a qual merece a atenção do Esoterismo e dos
seus estudos (esoterologia), como por exemplo a magia caldaica e mesopotâmica, a
magia egípcia, a magia grega, a magia do hermetismo de Alexandria, a magia cristã
copta, etc..
Astrologia
- Orfeu
Orfeu é um herói que ama Eurídice a qual morre, “desce aos infernos”. Armado
de coragem espiritual e física, desencadeada pelo amor, Orfeu desceu aos infernos em
demanda da sua amada e conseguiu resgata-la parcialmente, mas não totalmente pois
ela olhando para trás, sofre uma segunda morte. Lembremo-nos o que sucedeu à
mulher de Lot que, por isso, ficou transformada numa estátua de sal. Lição: quando se
sai dos infernos devemos olhar para a Luz e abandonar as Trevas….
(…) Mas tu, ganha coragem, pois os mortais são uma raça divina (…)
E na libertação da alma medita sobre cada coisa exercendo o teu juízo (…)
- Platão e os neo-platónicos
- GNOSE E GNOSTICISMOS
As correntes gnósticas são diversas e os seus principais nomes vão desde Simão
de Samaria – gnóstico não cristão -, a Valentino – gnóstico cristão.
A Gnose não cristã
Contra os gnósticos
Foi Justiniano quem escreveu o maior ataque contra os gnósticos não cristãos,
concretamente contra os “gnósticos licenciosos”. Os Padres da Igreja viam com maus
olhos as correntes gnósticas não cristãs e denunciavam as práticas orgiásticas dos
grupos radicais minoritários, fazendo-as passar por toda a Gnose não cristã. No célebre
texto de Justiniano ele refere que para além das orgias sexuais estes pequenos grupos
gnósticos extremos, tentando não trazer a este mundo mau mais seres humanos,
comiam os fetos.
A GNOSE CRISTÃ
HERMETISMO DE ALEXANDRIA
“Eis porquê, único de entre todos os seres que vivem na terra, o homem é duplo,
mortal pelo corpo, imortal pela sua própria essência. Imortal e soberano sobre todas
as coisas….”
“Pois o homem é um animal divino que deve ser comparado, não aos outros animais
terrestres, mas aos do céu que nós chamamos deuses. Ou melhor, não receemos dizer
a verdade, o homem verdadeiro está acima deles, ou pelo menos igual a eles….Assim,
ousamos dizer que o homem é um deus mortal e um deus celeste é um homem
imortal”
“Não há nada mais divino e mais activo que o intelecto, nada de mais apto para unir os
homens aos deuses e os deuses aos homens. Feliz a alma que está plena deste
intelecto, infortunada a que está totalmente desprovida dele”.
- a crítica dos herméticos, optimistas, aos gnósticos, pessimistas, pois para estes o
mundo é uma obra má, ao mesmo que distinguem o Criador do Deus supremo.
IVº. CAPÍTULO
- O Nome de Deus/YHWH
- Bereschit/Génese
Ezequiel tal como Enoch e Elias transcendem a morte, ascendendo aos céus
sem passar por ela. A ascensão de Ezequiel aos céus num carro de fogo é tema de
meditação para uma imitação da ascensão luminosa, “em glória”, de cada um – a
palavra “glória” neste contexto, veio da Pérsia.
- Os Hekhaloth ou Palácios
Foram vários os que, antes de Cristo e durante e depois da sua vida, fugiram
das cidades e foram para os campos, para o deserto. João Baptista foi um deles, mas
não o único. Coberto de pelas de cordeiro, alimentando-se de gafanhotos e de mel,
este primo de Cristo foi quem o baptizou, anunciando que “ele teria de diminuir para
quo o outro (Cristo) crescesse”. Alguns grupos religiosos – os primitivos baptistas, os
mandeanos e sabeanos do Iraque, Síria, etc. – consideram que o Baptista é que era o
Mestre e que Cristo era apenas um discípulo.
- Os Terapeutas de Alexandria
A Cabala hebraica
Trecho do S. Yetzirah
Trecho do Bahir
“Quais são as dez palavras (os dez “sefirot” de que fala o “Sepher Yetzirah”))? A
primeira é a Coroa (Kether) suprema, Bendita e Glorificada seja o Seu Nom (YHWH)
assim como o seu povo (Israel)… A segunda palavra é a Sabedoria (Hockmah)….
Trecho do Zohar
O primeiro deles é o:
Os quatro sentidos das Escrituras são: Peshet, o literal, cuja inicial é P; Remetz,
o sentio alegórico, com inicial R; Derasha, sentido talmúdico, moral, com inicial D; Sod,
sentido secreto, cuja inicial é D. Ora PRDS são as iniciais de Pardés, Paraíso, o que quer
dizer que quando lermos os textos sagrados unindo todos eles no último, no mais
profundo deles, atingiremos o Paraíso.
Vº. CAPÍTULO
- Gnose cristã
Vejamos então algumas passagens dos Evangelhos Gnósticos cristãos (da escola
valentiniana), descobertos a seguir à 2ª. Guerra Mundial, no Alto Egipto, em Nag-
Hammadi, tudo indicando que pertencesse à biblioteca de um antigo mosteiro copta
da região:
“Aqueles que dizem que o Senhor primeiro morreu e depois ressuscitou estão
enganados, pois ele primeiro ressuscitou, depois morreu. Se a pessoa primeiro obtem
ressurreição não morrerá…”
“Enquanto existirmos neste mundo devemos adquirir ressurreição, a fim de que ao
despirmos a carne nos encontremos em repouso e não entremos no ponto do meio,
pois muitos se perdem ao longo do caminho”
“Três mulheres costumavam andar sempre com o Senhor - Maria, sua mãe, sua irmã, e
a Madalena, que é chamada sua companheira. Pois Maria é o nome de sua irmã e de
sua mãe e é o nome de sua parceira”
“Mas o Reino está dentro de vós. E está fora de vós. Qundo vos tornardes conhecidos
de vós mesmos então sereis reconhecidos. E compreendereis que vós é que sois filhos
do Pai vivente”
”Seus discípulos disseram-lhe: Quando virá o Reino? (Jesus disse): Não é por ser
esperado que ele virá. (…) O Reino do Pai está espalhado pela terra e as pessoas não o
vêm”
“Além disso, Jesus tendo sido gerado de uma virgem mediante intervenção de Deus,
era mais sábio, mais puro e mais justo que todos os outros seres humanos. O ungido
(Cristo), combinado com a Sabedoria (Sofia) desceu nele e assim foi feito Jesus Cristo
Mas a maior parte das correntes gnósticas eram cristãs e não tinham esse tipo
de comportamentos “licenciosos” dessas correntes minoritárias que – Ofitas,
Carpocratianos, etc. Pelo contrário, as comunidades gnósticas cristãs, maioritárias a
partir do 3º. século, eram ascéticas.
Evangelho de Filipe
É este Evangelho que refere que “Jesus costumava beijar Maria…” (alguns
perguntam-se se na boca) o que dará pretexto a muita especulação – desde a mais
feliz à menos feliz… - sobre a relação entre Jesus Cristo e Maria de Magdala (localidade
junto ao Lago Tiberíades ou Mar da Galileia). Maria Magdalena, era sem dúvida uma
mulher extraordinária que Jesus admirava – ela foi a primeira testemunha da
ressurreição de Cristo, o que é altamente significativo da sua qualidade espiritual e da
sua proximidade com Cristo - e amava. Sabemos pelo Credo cristão que Jesus era
“verdadeiro Deus e verdadeiro Homem”, pelo que pessoalmente admitimos, sem
escândalo, que o Filho de Deus pudesse amar Maria também fisicamente.
Ev. Tomé
O ISLÃO e os 5 pilares
Quando o Profeta morreu, sucedeu-lhe Abu Bakr e depois Omar, Osman e por
fim Ali que deveria ter sido o primeiro – era casado com a filha de Maomeh, Fátima –
mas foi preterido perante a indignação dos seus partidários, os “shia”. Ainda maiores
motivos de indignação foram dados aos “xiitas” quando Ali assumiu o califado e foi
morto, pouco depois, juntamente com o seu filho Hussein. Todos estes
acontecimentos para além da indignação que geraram, provocaram uma cisão que
perdura até hoje entre os Sunitas (maioritários) e os Xiitas (minoritários); além disso
anualmente nas cidades iraquianas, santuários dos xiitas, já que contêm os túmulos de
Ali e seu filho, são celebradas até hoje o seus martírios, com procissões de fiéis
flagelando-se com objectos metálicos e deitando sangue das feridas neles próprios
assim povocadas.
O Xiismo já admite uma interpretação das escrituras sagradas, isto é, para ele a
revelação corânica não está fechada. O Xiismo tem dois temas importantes: o imame
escondido, ocultado e o mahdi (uma espécie de messias)
- Al-Hallaj: proclamou a sua interioridade divina, “eu sou Deus” e por isso foi morto
pela ortodoxia muçulmana.
Falemos agora desse grande nome da política e da espiritualidade que foi Ibn’
Qassi de Silves que podemos filiar no sufismo da Andaluzia particularmente na escola
de Ibn’ Massarrah (cf. Histoire de la Philosophie islamique” de Henry Corbin). Rei do
Baixo-Alentejo e do Algarve (o Garb do Al-Andalus), de 1141 a 1151, nasceu em Silves,
reinou em Silves e morreu assassinado em Silves. Foi um destemido adversário dos
Almorávidas e sobretudo dos Almoadas, berberes tiranos que seguiam a versão mais
rigorista do Islão e que se opunham às outras correntes muçulmanas e também à
exuberância das formas culturais que se desenvolveram no Al-Andalus.
Há um enigma histórico em torno deste grande rei e sufi pois enquanto que os
livros muçulmanos coevos afirmam que D. Afonso Henriques, o “Ibn’ Anrique”, lhe
ofereceu um cavalo, uma lança e um escudo, nenhum dos livros cristãos menciona
esse eventual e subtil gesto de oferta de uma aliança entre o rei de Portugal e o rei de
Silves contra um inimigo comum, os Almoadas.
- Rumi e os Mawlanyia
Atribuem a Rumi a seguinte história: quando ele era jovem apaixonara-se por
uma bela rapariga, mas sendo ele muito tímido, não tinha coragem para lhe dirigir a
palavra, até que um dia transcendendo a sua timidez bateu à porta da casa da jovem
na esperança de a ver e de lhe falar. Bateu e logo ouviu a sua voz feminina que
perguntou “Quem bate?” ao que ele respondeu: “Eu sou Ibn’Arabi e gostaria de falar
um pouco contigo”, mas a porta não se abriu. Anos mais tarde e tendo crescido
espiritualmente, ele regressa e decide saber se ela ainda estava viva pois gostaria de a
rever. Bateu, então, à porta e uma voz feminina perguntou “Quem é?”, ao que ele
respondeu “Eu, que sou tu” e a porta abriu-se finalmente ao fim de tantos anos de
aprendizagem espiritual.
- Nashroddin
O Dihkr (Zihkr)
É uma prática espiritual que os sufis utilizam frequentemente e que consiste
em meditações com mantras. Como não faz parte da tradição corânica, os
fundamentalistas radicais – wahabistas e deobandistas - atacaram-na, atacando assim
o sufismo que eles detestam.
VIIº. CAPÍTULO
- Magia
Tem uma vertente, que á a sua origem, popular, rural e arcaica que é estudada
pela antropologia e a etnologia e outra, erudita mas também antiga, mais ligada ao
universo das religiões e da filosofia. Pode ser individual ou colectiva, benéfica ou
maléfica.
- Alquimia
Na Idade Média a maior parte dos textos alquímicos referem-se a uma prática
laboratorial de evolução da matéria através do despertar do “fogo secreto” contido no
seu interior. Para isso alguns sais serão adicionados à matéria primeira da Obra, a fim
de captarem o Espírito Universal.
- Astrologia
- Os Templários
É de referir que a ordem papal – e nessa altura havia dois papas, o de Roma
que o rei de França declarou como herético (!), e o de Avignon que era seu familiar e
que por isso o rei controlava, apesar dos esforços deste papa -, ordem de proibição dos
Templários, não foi cumprida pelo rei de Portugal, D. Diniz, esse grande Rei, nem em
Castela nem em Aragão. Os três reis da Península decidiram não acatar a ordem do
Papa e pedir a constituição de novas Ordens que substituíssem a do Templo. Em
Portugal foi a Ordem de Cristo que se constituiu em 1318 e que teve sede nos seus
primeiros quarenta anos, não em Tomar mas em Castro Marim, regressando sim a
Tomar posteriormente.
De notar que D. Diniz, para além de ter mandado plantar o Pinhal de Leiria –
que, para além de fixar as areias, daria madeira para a construção naval – contratou
um almirante genovês, Pessanha, ainda nós não tínhamos uma frota naval. A tradição
diz que vieram, na noite da prisão dos templários em França, alguns barcos templários
da frota que estava fundeada em La Rochelle, uns para Portugal, outros para a Escócia.
Uns dizem que o tesouro dos templários – outra tradição que não deixa de estar
presente em Tomar com a história de uma certa “louca”, referida por Maurice
Guingand em “O Tesouro dos Templários – Tomar ou Gisors?” - que mais
provavelmente veio para Portugal terão sido as cartas de marear da frota templária
que navegava no Atlântico norte e no Mediterraneo.…
De notar ainda que a Ordem de Cristo – que contou como Mestres como
Rodrigo Anes, Gil Martins, entre outros - teve um período de ouro em Tomar com a
administração do Infante D. Henrique que, congregando as competências técnico-
científicas e financeiras das outras comunidades, a judaica - em Tomar havia a Judiaria
e ainda há a Sinagoga, a mais antiga de Portugal - e a muçulmana, ambas com os seus
cartógrafos, navegadores e financeiros, planeou a empresa dos Descobrimentos. Cada
caravela era capitaneada por um Cavaleiro da Ordem de Cristo (nunca houve muitos, o
seu número nunca ultrapassou os cem).
Infelizmente no começo do século XVI, D. João III (que sucedeu a D. Manuel I),
ordenou a Frei António de Lisboa que procedesse a uma reforma da Ordem de Cristo,
que consistiu numa “castração” da mesma (a expressão é de António Quadros em
“Portugal, Razão e Mistério”), passando os monges-guerreiros a serem apenas
monges, rejeitando a acção e centrando-se exclusivamente na comtemplação e na
oração. Além disso, na senda de um Filipe o Belo, dando corpo a um indisfarçável ódio
pela Ordem do Templo, mandou retirar os túmulos dos Mestres dos Templários
portugueses que estavam sepultados na Igreja de Santa Maria do Olival (ou dos
Olivais), ainda em Tomar, do outro lado do rio Nabão., que era um verdadeiro panteão
templário. A única lápide tumular que subsiste é é a de Gualdim Pais, mas entretanto e
recentemente, uma organização templária, a Templanima, numa bela homenagem,
decidiu colocar nesta Igreja uma placa metálica com os nomes dos Mestres templários
que lá estavam sepultados
- Os Cátaros
Há uma anedota histórica que é referida amiúde e que nos conta que um
cruzado ao chegar a uma vila ou cidade cátara terá perguntado ao Bispo que
acompanhava a tropa: “Eminência dizei-nos, de entre a população, quais são os
cátaros para que podermos prendê-los ou mata-los? Ao que o bispo respondeu: Mata-
os todos, Deus reconhecerá os seus!”.
- Os Fiéis do Amor
As Cantigas de Amigo têm a ver com este universos e dentre elas lembremos
uma de D. Dinis, com o seguinte trecho:
“Leonoreta fin roseta bela sobre toda a flor/ fin roseta não me meta em tal coi
vossa amor…”
Leonor de Aquitânia era uma Fiel do Amor e organizava na sua corte saraus de
poesia trovadoresca e Cortes do Amor, provas de amor em que os amantes eram
julgados e condenados, se não amavam devidamente as/os suas/seus amadas/os.
- A Demanda do Graal
Este autor retoma o tema do Deus interior, tão caro à Gnose toda ela e ao
Cristianismo gnóstico em particular, e que S. Paulo foi o primeiro a afirma-lo no Novo
Testamento, “o Cristo em nós”, promessa da ressurreição espiritual que está acessível
ao Cristão.
Assim, Ângelus Silesius proclama (ver versão portuguesa intitulada “A Rosa sem
porquê”, traduzida, entre outros por José Augusto Mourão), numa grande e salutar
provocação:
“Que te importa a ti que Cristo nasça mil vezes em Belém, se ele não nascer
uma vez que seja no tu coração?”
- Jacob Boheme,
A Rosa-cruz histórica
“Não tínhamos ainda visto o cadáver de nosso Pai prudente e sábio. Por isso
afastamos para um lado o altar. Então pudemos levantar uma chapa forte de metal
amarelo, e ali estava um belo corpo célebre inteiro e incorrupto (…), e tinha na mão
um pequeno livro em pergaminho, escrito a oiro, intitulado T., que é, depois da Bíblia,
o nosso mais alto tesouro nem deve ser facilmente submetido à censura do mundo”
- os Rosa-cruz deviam reunir-se pelo menos uma vez por ano, na Quinta-feira Santa, na
Casa do Espírito Santo – expressão que revela a importância que a Terceira Pessoa da
Trindade cristã tinha para eles;
- os seus textos referiam por vezes a esperada vinda de Elias Artista, uma espécie de
Paracleto que viria tutelar a transmutação da sociedade, da natureza e do Cosmos.
Lema da Rosa-Cruz:
Sem que existisse uma organização mas apenas pessoas que aderiram ao seu
ideal, a Rosa-Cruz expandiu-se muito por acção de uma inteligente, mitificadora e
subtil propaganda. Essa expansão desenvolveu-se sobretudo nos meios intelectuais
protestantes mais ligados ao esoterismo. Em Paris surgiram cartazes afixados nas ruas
que diziam; “Nós, o Colégio invisível da Rosa-Cruz…”. Na Alemanha temos um grande
nome como o médico e alquimista Michael Maier, médico do Imperador Rudolfo II, de
Praga. Em Inglaterra Robert Fludd foi um dos eminentes seguidores desta corrente,
mas devemos destacar um “antiquário” inglês – pois estudava as tradições antigas,
havendo mesmo a Sociedade dos Antiquários -, Elias Ashmole de seu nome, que foi um
dos primeiros maçons aceites em Lojas operativas (as do pedreiros).
- Emanuel Swedenborg
A sua obra “A nuvem sobre o Santuário” (17…) afirma a existência de uma Igreja
Interior, no seio do Cristianismo e a possibilidade de desenvolvimento de um órgão de
visão espiritual interior ao homem, o “sensorium”, para acesso a realidades espirituais.
IXº. CAPÍTULO
- Origem templária – aqui ainda é mais difícil estabelecer uma ligação histórica
entre estes e os maçons modernos. No entanto é de referir que por vezes em tempos
medievais os templários foram patrocinadores de obras sagradas e outras construídas
por corporações de pedreiros. Mas a única pista que se encontrou, segundo temos
conhecimento, foi a presença do esquadro e compasso (para além da cruz templária e
da espada) em túmulos templários no cemitério de Kilmartin na Escócia. De resto
quando o Cavaleiro Ramsay afirma que os “cruzados” são os “antepassados” dos
maçons modernos, trata-se apenas do desejo de filiação espiritual com uma instituição
tão prestigiada como foi a Ordem do Templo. E o facto de os templários terem sido
extintos pela Igreja Católica não trazia nenhum problema para os criadores da
maçonaria, em grande parte protestantes – só a partir de meados do século XVIII é que
muitos maçons tiveram cuidado com esse problema, devido à entrada de muitos
católicos (alguns dos quais sascerdotes), como por exemplo a Estrita Observância
Templária do Barão Carl von Hund e o Regime Escocês Rectificado dos alemães Duque
de Brunswick e Príncipe Carlos de Hasse-Cassel e os católicos franceses Jean-Baptiste
Willermoz e Joseph de Maistre que incluíam muitos católicos nas suas fileiras. O Prof.
Ferrer-Benimelli, jesuíta e historiador refere, na sua obra “Les archives secrets du
Vatican et de la Franc-Maçonnerie”, a existência de milhares nomes de padres e
monges católicos, maçons, desde meados do século XVIII até à Revolução francesa,
incluindo em Abadias como a de Citeaux (França) e a de Melk (Áustria)
A dimensão social do iluminismo inglês assenta quer nos “Bill of Rights” quer no
“Acto de Tolerância”, documentos que asseguravam os direitos dos cidadãos e dos
seus representantes no Parlamento – e isto em 1691, cem anos antes da Revolução
francesa! Portanto, promovendo a “virtude social” e a crença em Deus – qualquer que
fosse a ideia que tivéssemos dele – a maçonaria nascente em começos do século XVIII
foi um factor de progresso social e da democracia, de tal modo que Voltaire e
Montesquieu viveram refugiados vários anos em Inglaterra, na altura país do
“progresso e das luzes”, pois pelo contrário a grande França da cultura não o era no
domínio político-social, com a sua monarquia absoluta, era pelo contrário e
simbolicamente um país das “trevas”.
Desde logo em França, onde se constituiu a Grande Loja de França que nas
vésperas da Revolução Francesa tinha como Grão Mestre o Duque Philippe de Orléans,
o “Filipe Égalité” que será uma das primeiras vítimas da guilhotina. É importante dizer
que a primeira Revolução Francesa, a de 1789, corresponde aos ideais da maçonaria e
nela se empenharam os maçons. Já a época do Terror, também chamada de segunda
Revolução Francesa, a qual começa em 1791, a maçonaria é perseguida e dizimada por
ultra-revolucionários radicais e intolerantes.
Em Portugal a maçonaria entrou nos anos 20 do século XVIII através de duas lojas de
estrangeiros (ingleses, escoceses, irlandeses, franceses…), a Casa Real dos Pedreiros
Livres da Lusitânia, que reunia os católicos nos fundos de um restaurante na Rua dos
Remolares, ao Largo de S. Paulo, junto ao Cais do Sodré, em Lisboa. Os protestantes
reuniam-se numa outra loja, para os lados da Cruz-Quebrada, perto de Algés, cuja
denominação se desconhece mas que era chamada pela Inquisição a “Loja dos
hereges mercadores”. Eram sobretudo comerciantes, padres e monges que
integravam esses lojas, mas também e progressivamente oficiais dos regimentos
ingleses estacionados em Portugal. Em diversas alturas a repressão exerceu-se sobre
os maçons que viviam em Portugal, tendo havido um caso célebre e dramático
acontecido com Jean Coustos que foi preso e condenado pela Inquisição tendo dado
relato do seu sofrimento num livro publicado em Londres – de que existe um exemplar
da edição original no Museu do Grémio Lusitano, no Bairro Alto, em Lisboa. No
domínio das lojas militares, saliência ainda para as lojas que o oficial prussiano e
maçon, o Conde de Lippe – que veio a Portugal reformar o exército português e dar-
lhe um regulamento disciplinar – estabeleceu dedsde Caminha até Elvas. Para além
dos Tarouca, pai e filho, do Marquês de Pombal e de General Gomes Freire de
Andrade, foram tantos os nomes ilustres de maçons portugueses que, no século XIX se
perguntava quem é que não era maçon (assim com hoje se pergunta quem é…).
Destacaremos desde logo o Abade Correia da Serra, natural de Serpa, secretário da
Academia das Ciências e Embaixador nos EUA, tendo sido iniciado em Filadélfia, e
amigo e conselheiro científico (minas e florestas) do segundo Presidente norte-
americano, Thomas Jefferson – que não sendo maçon tinha grande apreço pela Ordem
– sendo visita de casa dele em Monticello na Virgínia, onde existe o quarto onde ficava
o “Abée Correia” (como era conhecido em França e noutros países). Referência
também para Hipólito José da Costa que figura na história do esoterismo do século XIX
– ver o segundo capítulo do livro de Joselyn Godwin, “The Theosophical
Enlightenment” – em virtude do seu livro, publicado em Inglaterra, “Sketches for the
History of the Dionysian Arttificers” (“Esboço para a História dos Artífices Dionisíacos”)
que se egastava da “egiptofilia”, quase uma “egiptomania”, do século XVIII e seguintes
– que considerava (e bem) o Egipto como origem de muita da nossa tradição religiosa,
mas não toda; exemplo desta “egiptofilia” é a sublime ópera iniciática A Flauta Mágica
dos Irmãos da mesma Loja de Viena, Mozart e Shikaneder, Da Costa sustenta no seu
livro que as nossas tradições filosóficas, religiosas e iniciáticas se radicam na Antiga
Grécia, particularmente nos mistérios dionisíacos – recordemos que segundo o mito
Dionísio morreu e ressuscitou.
Rémi Boyer, num livro que eu tive o prazer e a honra de prefaciar – “La Franc-
Maçonnerie comme voie d’éveil” -, afirma a necessidade de uma vivência iniciática em todos
os graus e em todos os ritos maçónicos. Nesta perspectiva é indispensável a aquisição de
um estado de Presença, de presença consciente aquando da prática ritualística em
Loja, sem o qual o rito não é transformador do maçon.
- O Rito Sueco
O Rito Sueco deriva da Estrita Observância Templária alemã e foi desde cedo protegido
pela Coroa, quer na Suécia, quer na Noruega, sendo o Rei também Grão-Mestre como
Carlos XIII da Suécia ou então alto protector da maçonaria, sendo Grão Mestre um
membro da família real. O rito sueco é estritamente cristão e templário, sendo o seu
último grau (11º.) apenas conferido ao rei.
- Rito de York
O rito de York espalhou-se com grande êxito pelos futuros E.U.A. sendo actualmente o
segundo rito em número de praticantes.
- Rito de Zinnendorf
É o rito que existe na Grosse Landslodge des Freimaurer von Deustchland (Grande Loja
National alemã) que é uma das cinco Grandes Lojas da Grande Loja Federal Alemã.
- O Rito Escocês Antigo e Aceite (“Scotish Rite”) que é o mais divulgado no muno,
sendo o primeiro mundial em efectivos e também nos EUA.,
- o Rito Francês que tem uma versão mais antiga, rosa-cruz, cristã e outra mais
moderna, descristianizada, mesmo dessacralizada;
- o Rito “egípcio” de Cagliostro (que esteve em Lisboa onde foi recebido na residência
do Conde de Sobral, ao Calhariz, tendo partido apressadamente pois arriscava-se a ser
preso por Pina Manique), rito mágico-alquímico, não cristão, mas sagrado no contexto
o Hermetismo e do Gnosticismo, o qual dará origem a dois ritos “egípcios” no século
XIX nas versões:
Interessante é referir outros ritos, como o Rito Primitivo de Narbonne, o Rito dos
Arquitectos Africanos de Ecker und Eckofen, o Crata Repoa,
Xº. CAPÍTULO
Devido à pisão de Hipólito José da Costa e à apreensão, por Pina Manique, dos
documentos que ele trouxera de Inglaterra, os maçons portugueses voltaram-se para o
Grande oriente de frança, outra fonte de regularidade maçónica, e constituiram uma
obediência denominada de Grande Oriente Lusitano, cujo primeiro Grão mestre foi o
neto do Marquês de Pombal, o Juiz Sebastião Sampaio de Melo e Castro Lusignan.
Depois assumiu o Grão mestrado o General Gomes Freire de Andrade, o qual tendo
sido iniciado na Loja da Estrita Observância Templária de Mozart em Viena e recebido
o 4º. Grau de Mestre Escocês de Santo André na Loja de Lyon de Jean-Bptiste
Willermoz, fundador do Rito Escocês Rectificado, aparece depois como membro da loja
militar napoleónica dos Cavaleiros da Cruz – ele que era oficial do exército de
Napoleão, no contexto da Legião portuguesa – o que leva a supor que ele tivesse
acedido ao 6º. Grau do R.E.R., o de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (o 5º. Seria
apenas um grau de passagem, o de Escudeiro Noviço). O conflito entre franceses
invasores do território português, entre os quais havia vários maçons como por
exemplo Soult e os ingleses que estavam em Portugal auxiliando a Coroa portuguesa -
de entre os quais havia também mitos maçons ,entre os quais Beresford -,, mas que
para alguns eram vistos como tropa de ocupação, atinge a maçonaria portuguesa já
que esta fica dilacerada entre os dois partidos, a maior parte dos quais empenhados na
resistência contra o invasor, mas Gomes Freire está no epicentro desse conflito, sendo
acusado de conspiração e traição e em consequência disso é condenado e morto,
juntamente com outros oficiais. Refere a tradição que Beresford terá oferecido ao seu
Irmão Gomes Freire a possibilidade de fuga para escapar à morte, mas este recusou
com aquele espírito de honra e de militar que o caracterizava.
Não pode deixar de referis-se um rito português criado por Miguel António
Dias, o Rito Lusitano ou da Maçonaria Eclética, que celebrava ritualmente, nos seus
mais altos graus – Português e Perfeito Português –, o martírio de Gomes Freire.
Esoterismo ocultista
Algum preferem chamar de “ocultismo” a este esoterismo do século XIX. Mas nomes
como Fabe d«Olivet – “La langue hébraique restituée” – , Eliphas Lévi (“A Chave dos
grandes mistérios”, “A Hisória da magia”, etc. - Saint-Yves d’Alveydre – com “La
Synarchie”, “L’Archéometre”, “Mission des Indes”, “Mision des ouvriers”, etc. –
Stanislas de Guaita – com “A Serpente da Génese” e a sua “Ordem Kabalística da Rosa-
Cruz” sendo típicos de uma tentativa de visão global do esoterismo que é mais
sincrética do que sintética, não deixam de ter uma presença destacada na história do
esoterismo. No final do sélo XIX tremos de acrescentar Papus (Dr. Gérard d’Encausse)
que animou o Martinismo nessa mesma perspectiva, formando a Ordem Martinista.
Em 1877, a russa Helena Petrovna Blavatksky fundou em Nova Iorque, com o seu
companheiro, o Coronel Olcott, a Sociedade Teosófica, com o objectivo de estabelecer
um núcleo comum de todas as religiões e de todas as raças, desenvolver as
potencialidades ocultas do homem e aproximar a Ciência da Religião.
grande viajante (Europa, Egipto, Índia, Tibet e América do Norte) e uma incansável
Iorque, juntamente com H.S.Olcott e W.Q. Judge, a Sociedade Teosófica (S.T.) que,
mais tarde, mudará a sua sede para Adyar (Madras), na Índia, em 1883 e cujos
pela sua obra “Isis sem véu” (1877), vai dar origem a uma doutrina orientalizante,
viagem à Índia de H.P.B. e Olcott, em 1878. Desta segunda e última fase da doutrina
máximo.
espiritualidades “new age” foram influenciadas pela Teosofia, mito em particular o tema
instruem a Humanidade.
1
Sincretismo esse que iremos encontrar em correntes do “new age”, algumas fortemente influenciadas
pela teosofia de Blavatsky.
2
Não só Gandhi foi fortemente influenciado pela S.T., como a discípula e continuadora de Blavatsky,
Annie Besant, deu um importante contributo a esta luta, assim como à da emancipação da mulher.
u-Mi e que começa com a solene advertência da doutrina do hinduísmo e do budismo:
“O mental é o grande inimigo do discípulo. Que o discípulo mate o inimigo!”.
O caso Coulomb afectou Blavatsky pela injustiça e pelo vexame e teve nefastos ecos no
ocidente, de que salientaremos René Guénon, com o seu livro “La Théosophie, histoire
d’une pseudo-religion” – preferido a denominação “teosofismo” à de Teposofia - e
Fernando Pessoa com textos do espólio – que se seguem ao seu grande fascínio inicial
- de reserva e de crítica face a Blavatksky, embora deixando escapar uma indisfarçável
admiração, como este: “Madame Blavatsky era um espírito fraldoso mas também é
verdade que recebera uma missão dos Suiperiores Incógnitos”.
Fundada em 1888, por esoteristas maçons britânicos – e nada tendo a ver com um
actual partido político grego neo-nazi com igual nome, “Aurora Dourada”- , esta
Ordem rosacruciana – pois pretende descender de documentos rosacruzes alemães de
um século antes – baseia-se na Cabala hebraica. De facto, esta rosacruciana e
cabalística Ordem Hermética da Aurora Dourada (“Golden Dawn”) foi criada por W.W.
Wescott, W. R. Woodman e S.L. Mc Gregor Mathers, tendo sido, mais tarde dirigida
pelo célebre escritor W. Yeats (1865-1939), mas veremos adiante quem foi A. Crowley
(1875-1947) que, neste domínio, mais influência terá tido em Pessoa - muio
provavelmente, através da sua organização a A.A..
Os seus Graus correspondem aos 10 sefirot da Árvore da Vida cabalística, um por cada
sefira, os 4 mundos
Será interessante referir uma das várias guerras entre ocultistas, ocorrida na
circunstância entre o grande poeta e futuro Prémio Nobel irlandês Yeats, que
encabeçou a resistência dos membros da HOGD contra a tentativa de Crowley – que
eles não achavam digno de pertencer e muito menos dirigi-la, devido às suas posturas
provocatórias, com incursões pela magia sexual - para tomar de assalto a Ordem.
Crowley, vai formar outra Ordem, a AA – Astrum Argenteum ou Silver Star (SS), com
ensinamentos semelhantes, embora num espírito diferente, de que Pessoa receberá
pelo menos um exemplar das circulares que eram enviadas aos seus membros (vide o
interessantíssimo “Um Encontro Magick – Fernando Pessoa/Aleister Crowley”, de Luís
Roza, na verdade Luís Miguel Rosa Dias, sobrinho do poeta). Isto prova que Crowley
iniciou Pessoa na AA.
XIº. CAPÍTULO
ESOTERISMO NO SÉCULO XX
Ordens neo-rosacrucianas
Aleister Crowley após ter falhado o seu plano de tomar de assalto a HOGD, com
a cumplicidade de McGregor Mathers, funda a A.A. – uma GD “thelemita”, já que a
Abadia de thelema de Rabelais era um dos seus modelos de comunidade livre – e
também uma ordem que se dizia neo-templária, a OTO – Ordo Templi Orientis que
conferia graus maçónicos de base, Aprendiz, Companheiro e Mestre e depois o de Arco
Real, Holy Royal Arch (o Sacro Real Arco de que fala Pessoa que o terá recebido de
Crowley), seguido de Rosa-Cruz e Templário. Este edifício iniciático – até aqui um
exemplo típico de uma “fringe freemasonry”, uma “maçonaria lateral”, como
qualificam os ingleses – era encimado por graus de magia sexual heterossexual, mas
depois de Crowley ter tomado conta da Ordem ele criou, segundo ele, um “nec plus
ultra” iniciático, um último grau de magia homossexual.
Ordens neo-templárias
- Os três grandes intelectuais do esoterismo: René Guénon, Carl Gustav Jung e Julius
Evola.
GUÉNON
JUNG
EVOLA
Paul LeCour foi o fundador, nos anos 30, da revista francesa “Atlantis” –
“revista de arqueologia tradicional” – que dura até aos nossos dias. Escreveu um livro
que um estudioso como o padre Jean Vernette (in “New Age”, Ed. Eiropa América)
considera que é um livro percursor do New Age, ao considerar – e a provar - que
estamos a entrar na Era do Aquário – recordemos a música do musical Hair (do
começo dos anos 70), this is the dawning of the Age of Aquarius, “esta é a alvorada da
era do Aquário”.
Alice Bailey é uma teósofa na linha de Blavatsky que pretende fazer a síntese
do hinduísmo e do cristianismo. Anuncia no seu livro “O retorno de Cristo” que está
para breve esse acontecimento, assim como o regresso do Buda Maitreya. Propôs
ainda a criação de Tríades de oração para que esses “avatares” possam vir até nós e
manifestarem-se. Criou ainda a “Boa Vontade Mundial” para o mesmo efeito.
NEW AGE
O New Age – que nasce da contra-cultura dos anos 60 com a recusa e a crítica
da sociedade capitalista vigente e as suas dimensões militaristas (a guerra do
Vietnam), “Make love nt war”, “Peace and Love” -. não é uma corrente mas sim um
conjunto muito diversificado de espiritualidades, religiões e filosofias. O começo do
New Age deu-se em dois locais diferentes: em Esalen na Califórnia Nova Ciência
defendendo e promovendo a síntese da Ciência e Religião, o estabelecimento de uma
Nova Psicologia que favorecesse a “expansão da consciência” e em Findhorn na
Escócia. Com o tema, posto em prática, do regresso à Natureza, uma ecologia sagrada
que vai ter desenvolvimento futuroa como a Hipótese Gaia.
Estes dois movimentos cedo entraram em contacto entre s, sendo uma das
características do New Age, a formação de pequenas comunidades e o trabalho em
redes, pelo que para além da dimensão de psicologia e de ciência alternativas, o
retorno à natureza marcou profundamente esta(s) nova(s) corrente(s).
(quadro)
De todas as tipologias que pretendem fazer uma distinção mais fina no interior dos
NMR, i.e., entre as suas diversas manifestações, parece-nos que a apresentada na
excelente obra de Christopher Partridge, Encyclopedia of New Religions, – com prefácio
de J. Gordon Melton, da Universidade de Santa Barbara, EUA, que também esteve em
2000, em Cascais, no Congresso sobre o esoterismo de Fernando Pessoa que eu
organizei -, é a mais adequada à descrição deste fenómeno complexo que são os NMR.
Assim, nesta tipologia proposta, teremos as seguintes divisões (seguida dos exemplos
mais significativos):
(fim do quadro)
Iiª. P A R T E
(caixa)
A QUINTA DA REGALEIRA, OS MISTÉRIOS E AS INICIAÇÕES
Para terminar esta breve incursão pelos mistérios simbólicos e míticos da Regaleira
deve referir-se que estas descobertas e indentificações que fiz nos primeiros trabalhoa partir
de 1990 (inclusive) e que revelavam um enorme interesse por parte do proprietário e
construtor (com Manini) da Quinta, foram confirmadas quando me foi oferecido (por Paulo
Pereira) o catálogo da Biblioteca do Congresso, em Washington, sobre os manuscritos de
Carvalho Monteiro, e onde estão listados manuscritos sobre Alquimia, Sebastinismo, Quinto
Império, Templários, Maçonaris, etc.
Mas, não estaria completa uma referência à Quinta da Regaleira sem mencionarmos o
facto de nos poemas explicitamente esotéricos que Fernando Pessoa escreveu de 1930 até
1935, estarem referências, em nosso entender, explícitas à Regaleira - “Estalagem do
assombro”, “o muro da estrada”, “o xadrez do chão ritual” (a que asiste…) na cripta da capela,
o “atro poço”, os “degraus” do mesmo, etc. etc. E os poemas “Na Sombra do Monte Abiegno”
e “Do vale à montanha”, ambos de 1932 e o poema “O último sortilégio”, publicado na revista
coimbrã “Presença” nº. 29, de 1930, são em qualquer caso uma bela descrição da geografia e
da atmosfera simbólica e mítica da Regaleira, podendo ser também referências à sua
dimensão iniciática e mesmo ritualistica. Vejamos o poema “Eros e Psique” publicado na
revista “Presença”, n~.41/42 de Maio de 1934, em que o Poeta apresenta em exergue um
trecho do que ele nos diz ser o “Ritual do Grau de Mestre do Átrio na Ordem Templária de
Portugal”:
Mas cada um cumpre o Destino -/Ela dormindo encantada,/Ele buscando-a sem tino/
E falso, ele vem seguro,/E, vencendo estrada e muro,/Chega onde em sono ela mora.
Não tens vestes, não tens nada: tens só teu corpo que és tu,
Teu corpo cessa, alma externa,/Mas vês que são teus iguais (…)
(poema sem data publicado na revista “Presença”, nº. 35, em Maio de 1935)
Salientemos que António Augusto Carvalho Monteiro morreu em 1920 e que em 1930
o seu filho Pedro já era proprietário da Quinta (embora com muitas dificuldades financeiras, de
tal modo que depois vende a Waldemar D’Orey) onde que provavelmente acolhia um pequeno
cenáculo iniciático, a “Ordem Templária de Portugal”, eventualmente maçónico-templária,
cenáculo que incluiria, além de Pedro Monteiro, Pessoa e o seu companheiro de andanças
esotéricas Augusto Ferreira Gomes (jornalista e autor do livro “Quinto Império” que o Poeta
prefaciou) e ainda Álvaro Ribeiro, nome importante da Filosofia portuguesa – que António
Telmo refere, em entrevista à revista “Ler”, aquele lhe ter dito que A. Ferreira Gomes era “o
companheiro de Pessoa da Loja do Arco Real”.
(fim da caixa)
FERNANDO PESSOA
Mas é em Fernando Pessoa que o esoterismo atinge uma grande dimensão espiritual e
filosófica não só em muitos dos seus poemas (exiplicitamente naqueles escritos de 30 a 35,
mas implicitamente em outros anteriores), como também em vários textos do espólio –
publicados, entre outros, por Ivette Centeno e António Quadros. Este último, ensaiou uma
periodização da sua obra ensaística m três “estádios”: após um estádio filosófico que durará,
segundo este estudioso, de 1905/6 a 1915/6, começa, para Pessoa um estádio neo-pagão que
durará até 1920, findo a qual começará um estádio gnóstico que acompanhará o poeta até ao
fim da sua vida, em 1935. (cf. António Quadros, Obras de Fernando Pessoa). A dimensão
esotérica do Poeta da “Mensagem” é tão grande, variada e profunda que ele merece neste
livro um capítulo inteiro – como mereceu da minha parte um livro, “Fernando Pessoa e os
Mundos esotéricos” (Ésquilo, Lisboa, 3ª. Edição, 2006) que espero reeditar brevemente, numa
edição revista e aumentada.
AGOSTINHO DA SILVA
Não posso deixar de referir o que António Telmo refere em entrevista, relativamente à
ocupação do Mundo pelo Quinto Império português, projecto – financiado por um capitalista -
que levou alguns portugueses a Brasília para receberem a “ordem de marcha” dada pelo
Professor. Perante um mapa-mundi, Agostinho distribuiu as áreas geográficas a cada um, após
o que António Telmo (que iria segundo me lembro patra Granada) perguntou: “e o que
teremos de fazer?”. “Nada, absolutamente nada!” disse o “coordenador” do Quinto Império
português. “Basta estar nesses diversos pontos do globo e assim procederemos à ocupação
quinto-imperial do mundo”. Ora esta é outra clara referência ao esoterismo chinês,
concretamente ao Taoismo, pois a sua doutrina do Wu Wei, diz que “a mais eficaz das acções é
a não-acção”. SE por um lado, na Inglaterra de Cromwell os ultra-puritanos “Men of the Fifth
Monarchy” andavam aos tiros, mais tarde em Portugal planeava-se uma ocupação do mundo,
pacífica, diremos mesmo, poética…
Obras de Agostinho da Silva: “Um Fernando Pessoa”, “Sete cartas a uk jovem filósofo” e
diversos volumes de Ensaios.
NATÁLIA CORREIA
Poetisa, melhor, poeta, muito voltada para os temas simbólicos e míticos, numa
perspectiva heterodoxa, ela assume uma dimensão expressamente esotérica no seu magnífico
livro de poesia “Sonetos Românticos” e com as “Núpcias”, ambos claramente inspirados pela
alquimia.
LIMA DE FREITAS
estrangeiros de nomeada, alguns deles universitários como Gilbert Durand – para além dos
seus quadros exemplares da uma visão estética simbólica e mítica, incluindo temas como “O
515”, o Prestes João, O Encoberto, O Jardim das Hespérides, etc., fez o resumo dos temas
míticos, simbólicos e esotéricos que estão presentes na tradição portuguesa, nos seus painéís
“da Estação do Rossio” (13 dentro da estação e mais 1 no acesso ao Metro), cujo conjunto é
visita de estudo indispensável para os que se interessam por estas dimensões. De entre estes
temas destacamos os que tem a ver com o culto do Espírito Santo, o Quinto Império e o
ANTÓNIO TELMO
António Telmo ganhou notoriedade, merecida, pelo seu trabalho pioneiro, logo
a seguir ao 25 de Abril, o seu livro “A História Secreta em Portugal” – reeditado como
título de “O Horóscopo de Portugal”. Mas outros livros se seguiram, de entre os quais
“O Desembarque dos maniqueus na ilha de Camões”, “O Bateleur”, “A gramática
secreta da língua portuguesa”, “Filosofia e Kabalah”, “O Mistério de Portugal na
História e n’Os Lusíadas”, “Congeminações de um neo-pitagórico”, “A Aventura
maçónica”.
- Dalila Pereira da Costa, mística portuense, destacou-se com vários livros que
aliam o mito e o símbolo ao esoterismo, dos quais destaco, para além do já citado
“Introdução à Saudade” (com Pinharanda Gomes), “O Esoterismo de Fernando Pessoa”
– o primeiro livro sobre este tema publicado ainda antes do 25 de Abril -, “A Nau e o
Graal”, “Da Serpente à Imaculada”
Adalberto Alves é um estudioso arabista que publicou vários livros sobre esta
tradição portuguesa, de entre os quais “O meu coração é árabe”, “Al-Mutamid: poeta
do destino”, “Portugal e o Islão iniciático”, etc. e o notável estudo sobre o sufi Ibn’Cassi
de Silves, com o título “As sandálias do Mestre”, publicado primeiro na Hugin e depois
na Ésquilo.
Paulo Pereira, Mestre em História de Arte, foi Vice-Presidente do IPPAR e tem
escrito muito sobre o simbolismo de monumentos e lugares sagrados de Portugal,
começando pela Simbolismo dos Jerónimos (com Ana Cristina Leite), passando pelo “A
Quinta da Regaleira, história, mito e símbolo”, com Denise Pereira da Silva e eu próprio
e terminando na monumental e utilíssima obra (em diversos volumes ou num só,
consoante a edição) “A História da Arte em Portugal”.
Paulo Loução, dirige a Editora Ésquilo, onde publiquei vários dos meus livros –
e é responsável também pela associação “Nova Acrópole”. Mais recentemente criou
ainda a Editorial Eranos. De entre a sua obra destacam-se livros sobre as raízes arcaicas
de Portugal e sobre os templários e os descobrimentos: “A Alma secreta de Portugal”,
“Os templários na formação de Portugal”, “Dos templários à Nova Demanda do Graal”,
“Portugal terra de mistérios”, etc.
Na linhagem dos ensinamentos da Nova Acrópole é de citar ainda José Carlos
Fernandez e ainda um dos seus antigos responsáveis portugueses, Eduardo Amarante
que tem publicado livros sobre as raízes arcaicas de Portugal e os descobrimentos.
Fiama Hasse Pais Brandão, destcada escritora e poetisa publicou nas páginas
da revista “História” alguns textos sobre história mítica portuguesa, dos quais destaco
um sobre a interpretação simbólica e esotérica das Capelas Imperfeitas da Batalha.
Paulo Borges, Professor universitário (FLL), é Presidente da União Budista e
anima o grupo de protecção dos amimais….. É autor de livros importantes sobre
Agostinho da Silva.
Luís Carlos Matos, co-fundador (com Jorge Matos) da revista Quinto Império é
autor de um livro sobre Maçonaria regular cristã.
O “Fecho da Abóbada”:
Como chamou a atenção Jorge de Sena (no “Diário de Notícias” de Março de 1957 e
depois no “Estado de S. Paulo” de Março de 1963 e no “Comércio do Porto” de Janeiro de
1964) “O capítulo das relações e convicções esotéricas de Fernando Pessoa é, ainda hoje, com
ser fundamental, um dos menos compreendidos. Não é possível compreender-se aquilo que
não se toma a sério (…) É porém, indispensável tomarmos a sério, criticamente, aquilo que
Pessoa assim tomava. Porque grande equívoco é (…) não situar no seu contexto europeu um
interesse pelo Oculto que Pessoa partilhou com quase todos os grandes pares do post-
simbolismo. Ele, Yeats, George, Rilke, Milosz, e tantos outros, não podem ser compreendidos
e valorizados, se forem pudicamente amputados do que, com características várias, foi parte
integrante das suas visões do muindo” (citado por Vítor Belém in “O Mistério da Boca do
Inferno”, p. 43). De facto, é conhecido o interesse de vários escritores e artistas pelo
esoterismo, Referiremos, de passagem, Goethe, com o conto da “Serpente Verde” e o
“Fausto”, Edward Bullwer-Lytton e os seus livros “Zanoni” e a “Raça Futura, Yeats e a sua
pertrença à H.O. Golden Dawn, os já mencionados “ Salons de la Rose Croix” de Sâr Péladan
com Èric Satie e Gustave Moreaux, a “Ars Magna” de Oscar Milosz e ainda o interesse de
nomes como Rimbaud, Baudelaire e Gérard de Nerval (este com Voyage en Orient, Les initiés),
os Surrealistas (Breton, Max Ernst. Kandinski, etc.) e ainda obras como o “Golem” de Gustav
Meyerink, “O Mago” de Sommerset Maugham, “Aleph” de Jorge Luís Borges. etc., etc.
Esta importante faceta de Pessoa que dura quase a sua vida toda, de jovem adulto
até à sua morte, mereceu a atenção de livros de estudiosos como Dalila Pereira da Costa,
António Quadros e Yvette Centeno e de outros académicos como Teresa Rita Lopes, Robert
Bréchon, Manuela Parreira da Silva, Richard Zenith, Jeronimo Pizarro, Stephen Dix, etc. que
publicaram e estudaram os diversos temas que mereceram sucessivamente a atenção do
Poeta: Espiritismo, Astrologia, Teosofia, Gnosticismo, Hermetismo, Magia, Alquimia, Cabala,
Rosacrucianismo, Templarismo e Maçonaria, dando também atenção a mitos nacionais com
ressonância esotérica como o Sebastianismo e o Quinto Império. Para além dos poemas o
Poeta escreveu trechos e obras esotéricas, de grande interesse (mesmo que incompletas),
como o “Ensaio sobre a Iniciação”, “Átrio”, “Subsolo” e o notável “O Caminho da Serpente” –
“o livro que não o é”… - mas os poemas explicitamente esotéricos – onde a literatura se cruza
com o esoterismo - escritos entre 1930 (ano da visita do mago inglês Aleister Crowley a Lisboa,
para o conhecer e iniciar) e 1935 (ano da sua morte), como “O último sortilégio”, “Na sombra
do Monte Abiegno”, “Eros e psique” - -apresentanto em exergue um trecho do “ritual do grau
de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal” -, “No túmulo de Christian Rosencreutz”,
“Iniciação” e “S. João”.
A TEOSOFIA EM PESSOA
A teosofia criada por HPB em 1875 (ver o nosso capítulo sobre o esoterismo no século
XIX) desempenha em Pessoa um papel de grande importância, pois é ela que - com a sua
concepção de um Tradição Primordial, núcleo comum a todas as tradições religiosas e
iniciáticas - vem sustentar, de algum modo, o neo-paganismo essencial de Pessoa, pois todos
os deuses são iguais quanto à sua dignidade espiritual, visto que têm um tronco comum. Por
outro lado, ao poder ser lida como um sistema ultra-cristão (como ele diz), é ela que
curiosamente vai permitir a Pessoa, a passagem do estádio neo-pagão para o estádio gnóstico,
que começará em 1920 (utilizando as denominações de António Quadros - cf. Obra de Frnando
Pessoa, Vol III).
Numa carta a Mário de Sá Carneiro, datada de 6 de Dezembro de 1915, escreve o
Poeta, em plena fase de fascínio pela doutrina blavatskiano: ”A (crise intelectual) que apareceu
agora deriva da circunstância de eu ter tomado conhecimento das doutrinas teosóficas (...)
conheço a essência desse sistema. Abalou-me a um ponto que eu julgaria hoje impossível (...)
O carácter extremamente vasto desta religião-filosofia (...) perturbou-me muito (...)”. E depois
de ter confessado que “cousa idêntica” lhe acontecera “há muito tempo com a leitura de um
livro inglês sobre “Os Ritos e os Mistérios da Rosa-Cruz”, Pessoa afirma que está perturbado
ou mesmo assustado (“hanté”) pela “possibilidade de que ali, na Teosofia, esteja a verdade
real”. Nessa mesma carta, Pessoa explicita a razão da sua perturbação ou “crise”, pois ao
considerar a Teosofia como um “sistema ultracristão - no sentido de conter os princípios
cristãos elevados a um ponto onde se fundem não sei em que além-Deus”, ela estaria em
contradição com o seu “neo paganismo essencial”. Mas, por outro lado, ao admitir “todas as
religiões”, a Teosofia teria “um carácter inteiramente parecido com o do paganismo que
admite no seu panteão todos os deuses”, o que constituiria “o segundo elemento” da “grave
crise de alma” de Pessoa (ibidem).
É sabido que Pessoa critica posteriormente a Teosofia, mas deixemos esse tema para
os interessados que poderão encontrar elementos no meu livro “Fernando Pessoa e os
Mundos Esotéricos” (3ª. Ed.) e no meu prefácio à “Voz do Silêncio” de Blavatsky, traduzido por
Pessoa e publicado em Portugal prla Assírio e Alvim. Após essa crítica da Teosofia – e também
da mediunidade e do Espiritismo, quer numa quer noutra, com argumentos semelhantes aos
que Guénon expressa nos seus livros – Pessoa entra em peno estádio gnóstico, claramente o
mais interessante e fecundo sob o ponto de vista esotérico, “empenhando-se”, como escreve
A. Quadros, “a fundo, no estudo das chamadas ciências ocultas ocidentais” (ibid.), ito é
esotéricas, chegando ao ponto de se afirmar como cristão gnóstico.
No entanto, e apesar das reservas formuladas pelo Poeta-esoterista, muito do
pensamento doutrinário de Blavatsky persistirá em Pessoa, aflorando aqui e além nas suas
reflexões esotéricas posteriores. Desde logo, nos poemas “O Guardador de Rebanhos” e mais
tarde, por exemplo, no seu Ensaio sobre a Iniciação, onde o Poeta escreve que «o significado
real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e um sombra, que
esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras
palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar – um dissipar gradual e parcial
– desa ilusão (in Y. Centeno, Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, op. cit, pp 60-61; o
sublinhado é nosso). Ora, esta doutrina do desvendar dos véus, que se encontra, é certo, no
Ocidente, quer na Cabala, quer na Gnose, em muito a ver, ate pelo modo como é exposta por
Pessoa, com a afirmação do Hinduísmo de que o mundo é maya (“ilusão”) – Hinduismo
veiculado até ao Poeta pela teosofia blavatskiana. Então poderemos dizer que, em Pessoa,
apesar de Blavatsky, ainda Blavatsky, o que se poderá aplicar também a muitos dos que, no
campo do esoterismo, criticam e distanciam-se desta mulher ímpar, não deixando, no entanto,
de ser fortemente influenciados por ela e pelas suas ideia, apesar de contraditória e polémica.
Decorrente desta postura orientalista – hinduísta e budista - que FP recebe de HPB e
da sua teosofia, é – em nosso entender o longo poema “O Guardador de Rebanhos” (escrito
em 1915), atribuído por ele ao Mestre Caeiro.
“Não tenho ambições nem desejos,…” – o “desapego” hindo-budista, que não significa
indiferença, é um dever, uma via do discípulo, um método iniciático.
“Creio no mundo como num malmequer,/ porque o vejo. Mas não penso nele/ porque
pensar é não compreender…/ O Mundo não se fez para pensarmos nele (…)/Mas
paranolharmos para ele e estarmos de acordo… - pensar, conceptualizar as coisas é não as
compreender, pois só a percepção directa delas nos dá esse entendimento.
Gnose e gnosticismo
A Gnose é um movimento religioso e iniciático do começo da nossa era, que
preconiza a salvação pelo Conhecimento. Não se trata de um Conhecimento
intelectual ou especulativo, mas sim de um Conhecimento espiritual que libertará o
Homem e o conduzirá aos planos divinos. Por vezes, utiliza-se (indevidamente) o termo
gnóstico para qualificar toda a corrente esotérica ou oculta, mas na realidade não se
pode aceitar essa denominação para identificar uma corrente hermética ou alquímica -
o Hermetismo e a Gnose são duas correntes contemporâneas mas distintas,
mantendo, no entanto algumas características comuns, sendo a primeira mais
optimista que a segunda já que admite a salvação do mundo através da sua
espiritualização enquanto que a Gnose é pessimista em relação ao mundo, já que só
admite a salvação fora dele.
Fernando Pessoa afirmou o postulado gnóstico da Queda do Homem - Ser
espiritual, caído na Matéria e, portanto, estando nesse estado, dividido, separado,
exilado, afastado da “casa do Pai”, do mundo celestial de onde proveio e no qual ele
era Inteiro, mas para onde deve regressar -, quer em textos, como por exemplo, «O
homem não estava destinado a ser o que é: foi pela Queda que se tornou tal.» (in
Teresa Rita Lopes, Pessoa por conhecer, II, op. cit., p. 97). Mas Pessoa abordou
também a temática gnóstica em poemas como No Túmulo de Christian Rosencreutz:
«Quando, despertos deste sono, a vida, / Soubermos o que somos, e o que foi/ essa
queda até Corpo, essa descida/ Até à Noite que nos a Alma obstrui.» (F. Pessoa, op.
cit., Vol.I, p. 1131), mas ainda do poema sem data “Iniciação” mas publicado na revista
“Presença” nº. 35, em Maio de 1935: “O corpo é a sombra das vestes/Que encobrem
teu ser profundo”. Clara referência ao tema gnóstico da interioridade divina do
homem é ainda o poema de Pessoa datado de 1932 em que ele refere esse “germe da
divindade”: “A Presença Real sob o disfarce da minha alma presente sem intento”,
“presença que pode ser descoberta e revelada com a “técnica dos intervalos” (divisão
da consciência, por exemplo, mas também técnicas de meditação), como diz o Poeta
(poema também de 1932): “Sou entre mim e mim o intervalo…”.
Além disso, ele declarou, no final da sua vida, num texto em tom anti-clerical
muito típico da época, que era «Cristão gnóstico, e portanto oposto a todas as igrejas
organizadas e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão
implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a
Tradição Secreta em Israel (a Santa Kaballah) e com a essência oculta da Maçonaria»
(in Quadros, op. cit. Vol. III, p. 461). Além disso, como refere Yvette Centeno, «Nos
documentos do espólio (ele) alude muitas vezes à via hermética que através da
chamada Igreja Gnóstica é transmitida aos Templários (Esp. 54-10). Esta é, para ele, a
verdadeira Igreja, e a via hermética, a verdadeira via». Mas esta estudiosa do
esoterismo pessoano acrescenta que «já na documentação publicada em Páginas
Íntimas e de Auto-Interpretação e Sobre Portugal, existem referências à Gnose e aos
gnósticos» (Y.K. Centeno, Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, p.12), sendo um
exemplo destes textos, o seguinte: «Esta heresia não desapareceu nunca. Opressa,
esmagada exteriormente, essa seita de ocultistas tornou-se secreta, desapareceu da
evidência histórica, mas não da vida. Não é impossível encontrar, aqui e ali, evidência
da sua permanência secreta. E essa permanência oferece aspectos de conflito com o
cristianismo oficial e sobretudo com o católico. A par do cristianismo oficial, com os
seus vários misticismos e ascetismos e as suas magias várias, nós notamos,
episodicamente vindo à superfície, uma corrente que data sem dúvida da Gnose (isto
é da junção da Cabala judaica com o neoplatonismo) e que ora nos aparece com o
aspecto dos cavaleiros de Malta, ou dos Templários, ora, desaparecendo, nos torna a
surgir nos Rosa-Cruz, para, finalmente, surgir à plena superfície na Maçonaria (...)». -
aqui, Pessoa utiliza claramente a designação Gnose, quer para a Gnose antiga quer
para as suas manifestações tardias (gnosticismos diversos).
Alquimia e Hermetismo
A Alquimia é, como vimos, uma sabedoria tradicional (ciência ou arte sagrada) que
aspira à transmutação dos corpos por meio da sua espiritualização, com a concomitante
corporificação do espírito. Tem uma faceta laboratorial - a histórica - em que se pretende a
transmutação dos metais “imperfeitos” em ouro, por meio do pó transmutatório, e a
elaboração do Elixir da Longa Vida, ambos resultantes da Pedra Filosofal, a meta suprema da
Obra Alquímica. A Alquimia, mesmo na sua dimensão física, laboratorial, tem, pelas suas
técnicas e pelo seu simbolismo, uma dimensão sagrada, “espiritual”, que parece difícil separar
da sua dimensão “material”. O psicólogo Carl-Gustav Jung acentuou no entanto, na sua vasta
obra, a dimensão psíquica e espiritual da alquimia.
É muito rica a reflexão de Pessoa sobre a Alquimia (dada a conhecer em grande
parte por Yvette Centeno). A partir dos livros existentes na sua biblioteca, na sua
maioria de origem inglesa (Waite, Mathers) esperar-se-ia uma interpretação
exclusivamente “espiritual” ou “psíquica” da alquimia, aliás de acordo com as
concepções da “Golden Dawn” – e da sua equivalente Cowleiana A.A. criada por
Crowley e mesmo da O.T.O., “Ordo Templi Orientis” que Crowley chefiou e transfomou
e para a qual a alquimia seria de cariz sexual.
De facto, esta interpretação da alquimia, claramente na perpectiva do
rosacrucianismo da Golden Dawn, existe em Pessoa. Por exemplo, ao referir os quatro
estados da Grande Obra alquímica - na qual, segundo ele, se verifica «a transmutação
do inferior no Superior, sem alteração...» (Esp.54-95), Pessoa refere que: «Os quatro
processos da Obra (são): 1) Putrefacção (...); 2) Branqueamento, a purificação do eu
inferior que se segue à putrefacção (...) branqueamento (que) significa a emergência
do eu superior e verdadeiro, depois de se ter afastado pela putrefacção o eu inferior e
falso; 3) gradação (...) conhecimento gradual do Eu superior. Esta é a verdadeira
iniciação, a obtenção gradual do conhecimento e da Conversação do Santo Anjo da
Guarda; 4) Rubificação, realização completa.» (Esp. 54A- 56). Reforçando esta
interpretação, ele refere noutro texto que na putrefacção, «o iniciado tem que morrer
para si mesmo, ou, antes, que morrer-se» (Esp. 53B-83). Então, para o Poeta, a
alquimia é, nesta perpectiva, «a transmutação do próprio homem», mas a essência e
o segredo desta operação realiza-se «por meio do contacto com os símbolos
magicamente carregados» (Esp. 53-13). E em consonância com isto – o “contacto”
íntimo com os símbolos e os mitos -, voltemos ao fragmento do espólio 53 A-25, onde
escreve Pessoa: «Um mito pode não ser verdade, mas ser verdadeiro (…) Nisto – em
que um mito pode ser Verdade – está uma das chaves da Alta M.(agia) A “alquimia”
está nisto» (in P. Teixeira da Mota, Rósea Cruz, op cit., p. 181).
Ora, este último parágrafo – que refere o “contacto com os símbolos
magicamente carregados” e, com os mitos, quer sejam verdadeiros, ou Verdade - vai
estabelecer a ponte para a interpretação, por parte de Pessoa, da alquimia laboratorial
- que ele conhecia, pelo menos, através do Tratado português do século XVIII, Ennoea,
ou a Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal, de Anselmo Caetano de Abreu
Munhoz e Castelo Branco, livro que pertencia à sua biblioteca. Yvette Centeno - que
patrocinou e apresentou a reedição do “Ennoea” na Gulbenkian, em 1987, ano em que
sai, em Mafra, uma outra reedição, com prefácio de Manuel Gandra - é responsável
pela publicação (entre muitas outras valiosas peças) de um interessantíssimo
fragmento do espólio pessoano, justificativo da alquimia laboratorial: «os elementos
que compõem a matéria têm um outro sentido; existem não só como matéria, mas
também como símbolo. Há, por exemplo um ferro-matéria; há porém, e ao mesmo
tempo, e o mesmo ferro, um ferro-símbolo. Cada elemento simboliza determinada
linha de força super-material e pode, portanto, ser realizada sobre ele uma operação
ou acção, que o atinja e o altere, não só no que elemento, mas também no que
simbolo (...) assim o alchimico, ao operar, materialmente quanto aos processos, mas
transcendentemente quanto às operações, sobre a matéria, visa transformar o que a
matéria symboliza, e a dominar o que a matéria symboliza para fins que não são
materiais.» (Esp. 54-84). René Alleau, no seu livro Aspects de l’Alchimie Traditionelle
(1953), afirmará mais tarde - em notável acordo com a tese pessoana - que a alquimia,
ao constatar que tudo o que é observável é simbólico, afirma que tudo o que é
simbólico é observável.
Alguns textos de Pessoa, parecem estar de acordo com a afirmação dos
rosacrucianos de que a Alquimia espiritual e a alquimia material são respectivamente,
o Ergon e o Parergon. Por exemplo, aquele excerto que tem a ver com as proximidades
divina e satânica das duas alquimias:«a alquimia material é satânica, a espiritual é
divina». Neste contexto, cite-se Álvaro de Campos que , na Ode Marítima, irá evocar o
«Deus dum culto ao contrário, /Um Deus monstruoso e satânico, um Deus dum
panteísmo de sangue» (in Álvaro de Campos - Livro de versos, introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Editorial Estampa, 1993, p. 116). Mas
ao mesmo tempo Pessoa escreve que «Tudo é um. O satânico é tamsómente a
materialização do divino» (Esp. 54B-19). Esta perspectica global e integradora dos
diversos planos da realidade - bem característica da alquimia - está bem clara no
poema que Dalila Pereira da Costa cita no seu livro pioneiro: «”Sursum Corda” Erguei
as almas! Toda a matéria é espírito,/ Porque Matéria e Espírito são apenas nomes
confusos/ Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho/ E funde em
Noite e Mistério o Universo excessivo!», como o está no texto anteriormente citado e
que atribui como «verdadeira criação da Pedra Filosofal», o «fazer dentro de si mesmo
a união os dois princípios», o material e o espiritual, o masculino e o feminino, o
racional e o emocional, etc., etc.
Magia, Cabala e vias tântricas
São diversos os livros sobre estes assuntos, que Pessoa possuía na sua
biblioteca (para além dos de A. Crowley, como veremos adiante) dos quais citaremos,
a título de exemplo, os seguintes: (The) Kabbalah unveiled, de Knorr von Rosenroth,
traduzido por Mac Gregor Mathers (um dos cisionistas da “Golden Dawn”, contra o
poeta e Prémio Nobel, W.Yeats, tendo sido acompanhado na sua rebelião por A.
Crowley), Magic white and blak, de Franz Hartman (teósofo e rosacruciano alemão,
fundador em 1888, da “Rosa-Cruz Esotérica”) e Le Kama soutra, de Vatsyayana (o
popular tratado de divulgação de técnicas tântricas).
São de referir as reflexões pessoanas sobre a Magia – sobretudo através dos
textos publicados por Yvette Centeno (in Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética),
para o “Ensaio sobre a iniciação”, dos quais destacámos o seguinte: O Misticismo
busca transcender o intelecto (por intuição). A Magia a transcender o intelecto pelo
poder; a Gnose a transcender o intelecto por um intelecto superior mas, continua
Pessoa, para transcender uma coisa devidamente, é preciso primeiro passar por essa
coisa (Esp. 54A-51). No mesmo “Essay on the Initiation”, podemos ler Há três tipos
distintos de iniciação – simbólica ou exterior, intelectual (exterior à interior) e vital
(interior)….Nas iniciações vitais, que reforçam a emoção e, portanto, conduzem à
Alquimia como realização, o candidato vive aquilo que sente e sabe (Esp. 54A – 52).
Temos aqui que Fernando Pessoa considera uma Magia “vital”, que passa pela
sensação, e além disso, reconhece que “para se transcender uma coisa devidamente, é
preciso primeiro passar por essa coisa” – estes são princípios básicos do Tantrismo
(oriental ou ocidental, gnóstico ou hermético). No entanto, no mesmo Ensaio, mas
noutro fragmento, o Poeta escreve: A primeira tentação a ser vencida, para que sejam
evitados os Erros do Caminho, é o Mundo. A segunda tentação a ser vencida, para que
sejam evitados os Erros da Pousada é a Carne. A terceira tentação a ser vencida, para
que sejam evitados os Erros da Cripta, é o Diabo. As tentações são comuns a todos os
caminhos, mas o místico está mais sujeito à tentação do Mundo, o mágico à
tentação da Carne, o gnóstico à tentação do Diabo. (Esp. 54A – 62) – o dizer-se que o
mágico está mais sujeito à tentação da carne, implica seguramente que ele utilize pelo
menos um tantrismo da mão direita. E, no mesmo fragmento – revelando um bom
conhecimento da história de uma das personalidades fundadoras da “Golden Dawn” –
refere Pessoa: Dificilmente haverá um mágico que não sucumba a coisas que revelam
a fraqueza da vontade. O fim terrível de MacGregor Mathers embrutecido pelo álcool é
um caso pungente. Ele poderia talvez controlar os diabos de Abremalin; não foi capaz
de controlar os seus (- fossem eles a luxúria, a bebida ou a desonestidade).
Portanto, Fernando Pessoa reconhece a Carne como uma “tentação” a ser
“vencida” pelo Mago (a “carne” está perto do mago…), mas – segundo ele próprio
afirma no mesmo Essay - não a evitando, no entanto, mas “passando por ela”,
“vencendo-a”, de modo a transcendê-la, pois, como ele diz, «quem sabe, por
exemplo, o significado místico e transcendente da cópula?(…) isto é mais sério que
quanto de sério ´há na vida aparente» (Hermetic Philosopher – Esp. 27 19 M3 (dt), in
P. Teixeira da Mora, op. cit., p. 30). Ao mesmo tempo reflecte criticamente (e quem
sabe com que dor) sobre o caminho de Mathers que não conseguiu “controlar os seus
demónios … a luxúria, a bebida…”.
No entanto, numa “página solta, sem data”, citada por António Quadros (“A
procura da verdade oculta”), revela uma reflexão complementar – um esclarecimento
a posteriore ou a priori, não sabemos - a esta compreensão de uma Magia integradora
do plano material: Tudo é um. O satânico é tão-somente a materialização do divino.
A magia é uma só; a magia negra não é mais que a magia branca feita materialmente.
(O culto fálico, quando entendido como símbolo, é divino; quando tomado literalmente
é orgíaco, e portanto satânico.) Se conhecermos os processos da magia negra e os
interpretarmos como símbolo, chegaremos ao conhecimento dos processos da magia
branca.
Deus é um espírito, diz a Bíblia: e o divino é (em relação a este mundo)
espiritual. O Diabo é a matéria (corpo) e a Trindade Satânica: o Mundo, a Carne e o
Diabo. O Diabo (Saturno) é a Limitação. . (Note-se que na biblioteca de Pessoa existia
um livro de Franz Hartman, intutilado Magic, white and black). Então, para Pessoa, a
Magia “material”, satânica, é apenas a materialização da Magia divina. Ela é
“satânica”, apenas porque material.
Escreveu Pessoa, num dos fragmentos para o Ensaio sobre a Iniciação, que «O
Misticismo busca transcender o intelecto (por intuição). A Magia a transcender o
intelecto pelo poder; a Gnose, a transcender o intelecto por um intelecto superior.» (in
Y.K.Centeno, Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, op. cit., p.59). Quem se
distinguiu, na época de Pessoa, pelo poder mágico que possuía e desenvolvia, foi
Aleister Crowley - o Mago Therion, a “Besta 666”, como se denominava a si próprio -
que, vindo da “Golden Dawn” (para onde entrou em 1898), fundou a “Astrum
Argentum” (ou “Stella Matutina”) em 1903 e foi o máximo responsável pela “O.T.O. -
Ordo Templi Orientis”, organização pseudo-templária (criada por Carl Kellner em 1901)
que, na realidade praticava uma magia sexual (particularmente desenvolvida por
Theodor Reuss e depois por A. Crowley).
0º Minerval; Iº Man; IIº Magician; IIIº Perfect Magician; IVº Holy Royal Arch
(correspondendo os graus 1, 2, 3 e 4, aos três primeiros graus da Maçonaria azul,
acrescidos do grau de Maçon do Royal Arch – que Pessoa denominava de Sacro Real
Arco – correspondendo também à Loja de Perfeição – 4º - 14º - do R.E.A.A.)
Vº Soberano Príncipe Rosa-Cruz (18º); VIº Cavaleiro Kadosh (Templário) 30º;
VIIº Soberano Grande Inspector Geral (33º); VIIIº Perfeito Pontífice dos
Illuminati;
IXº Iniciado no Santuário da Gnose; Xº Rex Summus Sanctissimos.
É de notar, em primeiro lugar, que Pessoa, num dos seus textos sobre a
iniciação maçónica e a progressão através dos seus altos graus, refere uma parte
importante desta estrutura da O.T.O. quando diz: «A FM tem essencialmente, ou 3
pontos, ou 5 pontos – 3 se considerarmos os 3 tempos essenciais (Mestre, Real Arco,
e Rosa Cruz) – 5 se incluirmos os dois primeiros graus que são necessários mas só
preparatórios», ficando aqui de fora (no que diz respeito à componente maçónica) o
grau de Cavaleiro Templário (6º. Na OTO, 3º., no REAA). É de referir que a magia sexual
da O.T.O. (presente a partir do IXº grau) - incluia um tipo de espermofagia,
particularmente na “Santa Missa Gnóstica” – eles próprios se denominavam de
“espermo-gnósticos”, admitindo como o faziam alguns dos gnósticos antigos, que o
esperma era o veículo do Logos (cf. o Logos spermatikos) - e que Crowley introduziu
um grau XIº “em vários sistemas da O.T.O”, do qual existe uma versão “lunar” (usando
sangue menstrual) e outra “mercurial” (homosexual). Já no que diz respeito à
sexualidade mágica proposta e realizada por Crowley é de salientar que ela incluía,
para além de práticas homoeróticas, práticas auto-eróticas e que o onanismo, esse sim
(tal como a homossexualidade, pelo menos em potência e pacialmente), poderia esta
em sintonia com o mundo sexual do Poeta - «és um homem que se masturba e que
sonha com as mulheres à maneira dos masturbadores», Fernando Pessoa, Escritos
autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal, editados por Richard Zenith, p.
227.
Portanto, sendo possível ter havido uma transmissão de Mestre (Crowley) a
Discípulo (Pessoa) pelo menos dos graus maçónicos da O.T.O., incluindo o de Arco
Real, de rosa-Cruz e de Cavaleiro Templário, ou Cavaleiro Kadosh, sem excluir uma
eventual transmissão de magia sexual, que era apenas dispensada aos titulares dos
VIIº, IXº e Xº graus da O.T.O. (e ao grau 7º= 4º da A:.A:., como vimos).
Vamos agora observar o que passou do lado de Pessoa, a fim de
descortinarmos alguma zona comum entre ambos. Quanto a saber se a doutrina
“telemita” terá eventualmente influenciado Pessoa, é importante estudar os textos
esotéricos de Pessoa, tentando encontrar neles reflexos das teorias e práticas de
Crowley – apesar de muitos deles não se encontrarem datados, o que por vezes
dificulta a elaboração de uma sequência evolutiva no seu pensamento. Yvette Centeno
escreveu: Na biblioteca de Fernando Pessoa, encontram-se As Confissões do mago
inglês Aleister Crowley, por quem o poeta se interessou ao ponto de trocar
correspondência com ele, lhe traduzir um longo poema mágico, o Hino a Pã, de
escrever outros, como o ùltimo Sortilégio, de nítida marca ritual e sob sua influência,
tudo isto culmina no encontro lisboeta e na farsa do desaparecimento do mago na
Boca do Inferno, a que o nosso poeta deu também cobertura. Por intermédio de
Crowley e da Ordem rosicrucista da Golden Dawn, a que este pertenceu, juntamente
com S.L. MacGregor Mathers (a tradução da Kaballa de Knorr von Rosenroth encontra-
se na biblioteca de Pessoa), se abre a porta da alta magia para Pessoa. (para nós, a
Golden Dawn a que Y. Centeno alude é a A:.A:., como já referimos).
Para sistematizarmos (embora de um modo não exaustivo) possíveis influências
de Crowley sobre os textos ensaísticos de Pessoa, iremos agrupá-los em três classes:
a) - textos influenciados pela estrutura em graus e pelo conteudo iniciático,
cabalístico a mágico, da Golden Dawn (provavelmente veiculados por
Crowley, via A:.A:.) –são vários e referem à exaustão o gaus da G.D./A.A.:
Adeptus Major, Adeptus Exemptus, Philosophus, etc., etc. ;
b) – textos que revelam a influência do lema “telemita”, “Faz o que queres essa
é a única Lei”, “O Amor é a Lei, o Amor sob a Vontade”; refira-se, desde já que
Vitor Belém foi o primeiro a identificar o lema do Livro da Lei, num texto
pessoano: A principal regra da Ordem Astrum Argentinum era “Do what thou
wilt shall be the whole of the Law”, máxima que está na origem de uma das
considerações esotéricas de Fernando Pessoa;
b) – textos que denotem algum tipo de tantrismo (em Pessoa, mais da “mão
direita”, do que da “mão esquerda”), particularmente os que se intitulam
“O Caminho da Serpente” (que referiremos em detalhe no capítulo final
sobre a Iniciação em Pesoa), introduzido por Yvette Centeno, tendo Lima de
Freitas chamado a atenção para a analogia com a serpente Kundalini do
Yoga tântrico hindu.
Na página 390 do livro de Miguel Roza (Luis Miguel Rosa Dias, sobrinho do
Poeta), initulado Encontro Magick (Hugin, 2001), pode ver-se uma circular dessa
mesma organização, a A.A. (ostentando o carimbo da organização), dirigida aos seus
membros – com a palavra de passe e os exercícios – e que Fernando Pessoa terá
recebido (naturalmente como membro, pois estas instruções confidenciais são
restritas aos membros). Então o Poeta não só estava muito interessado nas doutrinas
“telemitas” de Crowley, como pertenceu (não sabemos durante quanto tempo) »as
suas organizações iniciáticas.
A MAÇONARIA EM PESSOA
Para se ter uma ideia do interesse que Pessoa tinha pela Maçonaria, vejam-se
os títulos de alguns dos livros da sus biblioteca: The Emblematic Freemasonry, de
Arthur E. Waite, The lost keys of Feemasonry, de Manly P. Hall, Manual do Franc-
Maçon do Rit(ual) Francês ou Moderno por um Cavaleiro Rosa Cruz (editado pelo
Grande Oriente Lusitano), (The) scotish workings of craft masonry, sem autor (mas
editado pela “Lewis masonic”, próxima da G.L.U. de Inglaterra), (An) Introduction to
Royal Arch Freemasonry (não indica o autor, mas é da iniciativa da Grande Loja Unida
de Inglatera), Les origines du rituel dans l’Église et dans la Franc-Maçonnerie, de H.P.
Blavatsy, Builders of the man: the doctrine and history of masonry or the romance of
the craft, de John G. Gibson, etc.
Com a proliferação de textos pessoanos sobre as mais diversas correntes
esotéricas, parece ser de admitir, como o faz Yvette Centeno, que Pessoa não terá
pertencido a nenhuma delas. Relativamente ao universo maçónico-templário, se ele
afirma, por um lado, que não pertenceu a nenhuma Ordem, a verdade é que não
poderemos esquecer declarações de, no mínimo profunda simpatia - mesmo que
apenas “poéticas” - como a do seu poema dedicado a S. João, publicado por Alfredo
Margarido: «Meu Irmão, se tu és maçon, eu sou mais do que maçon, eu sou
templário(...). Meu Irmão eu dou-te o meu abraço fraternal» mas também, não só
aquela citada por João Gaspar Simões na sua Vida e Obra de Fernando Pessoa:
«Iniciado por comunicação directa de Mestre a discípulo, nos três graus menores da
(aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.», mas sobretudo a que mais
adiante referiremos e que constitui uma explicação do célebre artigo publicado no
Diário de Lisboa em Fevereiro de 35.
Não é “poética” (nem é fantasia) a sua defesa da Maçonaria (feita nesse
artigo), a propósito do projecto-lei de proibição das “sociedades secretas” da autoria
de Costa Cabral. Pelo contrário, ela constitui um acto de coragem cívica exemplar, mas
também revela uma indisfarçável simpatia por essa Ordem Iniciática, apesar de ele a
considerar como uma Ordem preparatória, ou introdutória, uma Ordem do Átrio («Há
duas Ordens do Átrio, e só duas. Uma delas é a Maçonaria. Não direi qual é a outra»
- Esp. 54A-88/90), ou por uma Baixa Ordem: «A Maçonaria é formada pelas Baixas
Ordens todas, ou, se se preferir, as Baixas Ordens são formadas pela Maçonaria.
Baixos ou Altos Graus que seja, todos são das Baixas Ordens, e para todos é preciso
ser maçon. As Altas Ordens não necessitam todas que se seja ou houvesse sido maçon:
em algumas (como foi a Soc. Ros.) tem que se ser mestre-maçon para ser admitido ou
iniciado; em outras como a G.D. não e exige essa qualificação…» (Esp. 54-94).
Mas parece-nos ser impossível elaborar essa reflexão, sem ter em conta os
textos tardios de Pessoa, em particular este que, alás, confirma a declaração biográfica
de Pessoa a João Gaspar Simões: «Iniciado por comunicação directa de Mestre a
discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de
Portugal.» (acima citada).
No que diz respeito à relação de Fernando Pessoa com a Maçonaria, para além do
notável e corajoso artigo do “Diário de Lisboa” de 1935, de defesa da Ordem maçónica contra
o Decreto de proibição da “sociedades secretas” que o Deputado José Cabral preparava da
Assembleia Nacional, é de referir um “texto de réplica” publicado por António Quadros e que é
extremamente revelador do que terá levado o Poeta (um não maçon, como ele diz) a defender
a Maçonaria:
“Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria aos maçons e aos que, embora o não sejam,
viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz”.
Ora, “receber a mesma luz noutro templo” é ter recebido graus maçónicos, não numa
organização maçónica mas numa organização não maçónica – que as houve várias, aquilo a
que os maçons ingleses chamamde “fringe freemasonry”, maçonaria lateral. Tudo indica que
foram os graus maçónicos, dispensados a Pessoa por Crowley, no contexto da sua Ordem dos
Templários do Oriente – que tinha três níveis iniciáticos, o maçónico, o cavaleiresco e o mágico
– que determinaram da parte do Poeta uma expressão pública da sua solidariedade em
relação à Ordem maçónica, ele que no final da sua vida estava a escrever rituais maçónico-
cristãos (que já reproduzimos em parte neste livro).
De facto, cerca de um ano antes da sua vinda a Portugal, em 1930, Fernando Pessoa e
o poeta “luciferino” Raul Leal estabeleceram correspondência com o mago inglês Aleister
Crowley. Pessoa escrevera a Crowley no sentido de o informar de que o seu horóscopo
inserido na obra Confessions of Aleister Crowley (que o Poeta possuía na sua biblioteca),
estava errado. Esta demonstração de competência numa área do esoterismo terá
impressionado o mago que de seguida pensou expandir a sua “ordem” a Portugal e ao mesmo
tempo entregar-lhe a sua direcção: I was obliged to leave immediately for Lisboa in order to
establish there a headquarter for the Order under Don Fernando Pessoa (eu fui obrigado a
partir imediatamente para Lisboa para estabelecer aí uma sede da Ordem sob a autoridade de
Fernando Pessoa).
Relativamente a Raul Leal a opinião de Crowley não era tão favorável já que no seu
Diário ele escreve em 9/9/30: To Lisbon: Lunch with 4.000 esc. Met Leal; don’t like him.
There’s something very definitively wrong about him. At night initiation. (Marco Pasi, 2006,
223-231) – “”para Lisboa: almoço com 4.000 Escudos. Encontrar Raul Leal; não gosto dele. Há
qualquer coisa de definitivamente errado nele. À noite iniciação”.
É pois muito provável que Pessoa tenha estado presente nessa iniciação pois:
- ele escreveu, a propósito da sua relação om a Maçonaria – relativamente à qual ele afirma
“não ser maçon”, isto é não pertencer a nenhuma Ordem Maçónica – que, no entanto, tinha
“uma preparação especial cuja natureza me não proponho indicar” e, além disso, que
”recebeu a mesma luz noutro templo”, o que quer dizer que foi iniciado em graus maçónicos;
- Ctrowley – que escreve no seu diário “à noite iniciação” - não iria perder o seu tempo
fazendo uma iniciação apenas para Raul Leal, relativamente ao qual ele não tinha boa opinião
– “não gosto dele” - ao contrário de Pessoa que ele considerava;
- Crowley escreveu que, em Lisboa, ele ia “estabelecer uma sede da (sua) Ordem sob a
autoridade de Fernando Pessoa”; ora isso só seria possível se Pessoa fosse iniciado; logo a
intenção da vinda a Lisboa do mago inglês era clara e a sua concretização muito provável.
- de que Ordem fala Crowley? Uma vez que ele tinha duas, e sendo uma delas a A. A., uma
Ordem cabalística decorrente da Golden Dawn e cujos ensinamentos eram, em grande parte,
dados directamente por ele, por correspondência, aos seus discípulos, membros da AA – vide a
circular iniciática que Pessoa tinha no seu espólio e que o seu sobrinho Luis Roza (na verdade
Luís Miguel Rosa Dias) publicou em “Um encontro Magick” -, tudo indica que a Ordem de que
Crowley fala seria a OTO-Ordo Templi Orientis que tinha graus maçónicos, graus cavaleirescos
e graus mágicos e que necessitava de uma iniciação para a transmissão desses graus (por mais
curta que fosse).
- como refere Stephen Dix, no seu texto, Raul Leal escreveu um carta a João Gaspar Simões em
que ele acusa Crowley de ter realizado “uma certa vingança mágica”, “arrastando porfim o
Fernando para a Morte que poucos anos depois surgiu para ele subitamente (…) e apanhando-
me de ricochete de modo a provocar em mim uma horrível doença que também quase foi
mortal…”; seria mais provável, no dicurso de Leal, que essa influência “negativa” resultasse de
uma iniciação ou transmissão iniciática.
Mas após ter recebido a visita (com uma muito provável iniciação) do mago inglês
Aleister Crowley, em Setembro de 1930, ele – que não foi discípulo de Crowley mas recebeu
dele um impulso para tratar outros temas - e escreve o lema crowleiano “Faz o que queres” e
outro textos como “O Caminho da Serpente” –“o livro que não o é” - , e tratar poéticamente
temas esotéricos como “No túmulo de Christian Rosencreutz”, “Eros e Psique”, etc.
ANEXO
1738 – Bula “In Eminenti” do Papa Clemente XII contra a Maçonaria, invocando razões
seculares.
1743 – Jean Coustos, suíço, Venerável da Loja protestante de Lisboa (que se reunia na Cruz
Quebrada) – cujo nome desconhecemos mas que era deominda pela Inquisição como a “Loja
dos Herejes protestantes” – foi preso juntamente com outro Irmão dessa Loja, Jacques
Mouton, tendo ambos sido torturados. Coustos era comerciante de pedras preciosas e
consegue ser libertado mas escreve depois um livro contando a hoistória da sua prisão e da
sua tortura.
1762 – O Conde de Lipppe, maçon alemão, vem reformar o Exército português e cria Lojas
militares, de Caminha a Elvas. O seu Regulamento de Disciplina sobreviveu até ao século XX.
O Reinado de D. José (1750-1777) é favorável à Maçonaria, por acção do Marquês de Pombal,
seu Prmeiro Minitro que teria sido iniciado em Londres, numa Loja da City, pelo próprio
Príncipe de Gales da altura – segundo refere Daniel Ligou no eu Diccionaire de Franc-
Maçonnerie. A rconsrução de Lisboa após o Terramoto de 1755 é confiada a maçons, Carlos
Mardel, Eugénio dos Santos, etc
1797 – as reuniões maçónicas eram feitas a bordo de barcos ancorados no Tejo; a Loja
“Regeneração” - núcleo de cinco outras lojas – reunia-se a bordo da fragata “Fénix”.
1801 – A Maçonaria em Portugal vai crescendo e neste ano há 5 Lojas maçónicas britânicas em
Lisboia – com oficiais do exército, comerciantes, sacerdotes, professores, etc. -, uma das quais
no Regimento dos Dragões Ligeiros ingleses .
1802 - Hipólito José da Costa é enviado a Londres para obter – junto da Maçonaria inglesa,
tendo-se dirigido, não sabemos porquê, à Grande Loja dos Antigos - a carta patente de
constituição da Grande Loja de Portugal (ou da Grande Loja de Lisboa), mas ao chegar a Lisboa
é preso por Pina Manique e depois interrogado pela Inquisição.Desta situação dramática ele
dará conta num livro que publicará em Londres para onde conseguirá fugir, por influência do
Duque de Sussex - então radicado em Lisboa -, futuro Grão Mestre da Maçonaria inglesa.
1809 – Segunda Invasão francesa comandada por Soult. Procissão maçónica dos maçons
ingleses em Lisboa. Continua a perseguiçãpo de Pina Manique e em 1810 dá-se a prisão de 30
maçons que logo são libertados por acção do Duque de Sussex. O General Beresford era o
Governador do Exército inglês.
1814 – O General Gomes Freire de Andrade – então oficial das tropas napoleónicas, tendo
constituído nesse contexto, a Loja Militar dos Cavaleiros da Cruz, do Grande Oriente de França
- regressa a Portugal e em 1816 é eleito 3º. Grão Mestre do Grande POriente Lusitano.
Em 1822 D. Pedro IV, Iº. do Brasil é iniciado na Maçonaria no Rio deJaneiro e será o primeiro
Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil, que se constitui regularmente em 1823, sendo logo
reconhecido pela Inglaterra – recorde-se que nesse ano o Duque de Sussex, que tinha vivido
em Portugal, procede à unificação dos “modernos” e dos “antigos”, sendo o primeiro Grão
Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra.
1823/4 – Reacção absolutista de D. Miguiel, D. Carlota Joaquina e seus partidários, dando-se
uma perseguição contra a maçonaria e os maçons.
1826 – A Carta Constitucional é aprovada por imposição do Duque de Saldanha, futuro Grõ
Mestre do “Grande Oriente do Porto”, exilado em França. Em Inglaterra estará exilado Silva
Carvalho, futuro Grão Mestre do “Grande Oriente de Passos Manuel”.
1871 – São criadas duas Constituições: a Maçónica (de Lisboa) e a Constituição do Norte
(Coimbra e Porto) o que constituiu nova dissidência. Também o Tratado entre o GOLU e o
Grande Oriente de Espanha, acarretou a chamada dissidência patriótica.
1882 – Criação da Grande Loja de Portugal do rito Simbólico, de tendência britânica, que
integra 6 Lojas vindas do GOLU. Os seus Grão Mestres foram Dias Ferreira e França Neto. Esta
G.L., em 1884, terá 18 Lojas.
1908 – Morte do rei D. Carlos e do Príncipe Luís Filipe. De 1860 a 1910 em pleno
desenvolvimento a acção republicana dentro da Maçonaria, com algumas características de
anti-clericalismo – respondendo segundo alguns ao demasido clericalismo vigente – e uma
afirmação política que conduziu a algumas divisões.
1913 – No ano do seu Congreso nacional, o GOLU – Grande Oriente Lusitano Unido conta 4300
membros com: 156 Lojas do REAA – Rito Escocês Antigo e Aceite, 69 do Rito Francês, 1 do Rito
Simbólico (Emulação?) e 1 do Rio de York.
1914 – O Supremo Conselho do Grau 33º. – organismo que tem a jurisdição dos altos gras do
REAA, proclama a sua independência e defende a Cosntituição de 1871 (face à nova
Constituição demasiado socializante, segundo ele). O Grão Mestre do GOLU é irradiado do
SCG33.
1915 – O Grão Mestre Magalhães Lima defnde o princípio “nem reacção, nem revolução”.
Grande actividade maçónica nos domínios da instrução publica e do Registo Civil.
1916 – Criação do Grémio Luso-Escvocês, como cisão do GOLU. O GOLU esteve representado
no Congresso das Maçonarias aliadas e neutrais (16 países).
1918 – O emblema do GOLU perde o “olho de Deus” no centro do triângulo, sendo aquele
substituído por um sol. O número de membros baixa para 2226. Os maçons são acusados de
terem organizado o atentado contra Sidónio Pais (que havia sido iniciado maçon).
1919/20 – Lutas internas não impedem o crescimento do GOLU: 2369 membros e 105 Lojas e
Triângulos.
1921 - Nova Constituição do GOLU que conta com 1826 membros. Nela se afirma que “A
Maçonaria é progressista e que embora possam ser maçons “indivíduios de ambos os sexos”,
“não são permitidas Lojas mistas”. O GOLU está presente no Congresso Internacional de
Genebra, juntamente com 17 países europeus e sul-americanos, grande parte dos quais latinos
e latino-americanos.
1924 – O Grão Mestre Magalhães Lima refere-se às diferenºas entre as duas tendências
maçónicas, a anglo-saxónica – que é “ritualística e crente no Grande Arquitecto do Universo” –
e a latina – que é “política e pouco ritualística”. O G.M. Magalhães Lima está presente em
Bruxelas no 3º. Congreso Internacional Internacional.
1925 – O GOLU tem 2528 membros dos quais mais de 50 membros do Parlamento. Não é esse
facto que levanta reservas à maçonaria anglo-saxónica mas sim o facto de a Maçonaria
portuguesa ser atravessada desde o século XIX por lutas político-partidárias.
1926 – Finalmente dá-se a união do GOLU com grande parte do GLE (alguns ainda ficam de
fora). O relatório do Conselho da Ordem diz que não foi possível restabelecer as relações –
“troca de Garantes de Amizade” – com as Grandes Lojas Estaduais dos EUA e com a Grande
Loja Unida de Inglaterra, “com as quais desde há muitos anos não temos relações”
1926 – Revolução de 28 de Maio. Um a no depois começa a perseguição da Maçonaria e dos
maçons – sobretudo dos que não estão com o Estado Novo.Lembremos, entre outros, que o
Marechal Carmon, futuro Presidente da República, foi maçon e que um nome como Bissaia
Barreto também o foi (e fazia a ponte do Estado Novo com IInglaterra).
1929 - Depois da morte do GM Magalhães Lima em 1928, é eleito o novo Grao Mestre,
António José de Almeida. Persiguição e crise na Maçonaria portuguesa. O maçon General
Norton de Matos critica o Estado Novo.
- 1937 – É eleito Grão-Mestre o Dr. Luís Rebordão. As reuniões dos maçons continuam na
clandestinidade.
- Anos 80 – Criação da Grande Loja de Portugal, com membros vindos do GOL: Vitor Marques,
Fernando Teixeira, etc, Este projecto não dura muito tempo. É criada em França (Bretanha), no
âmbito da GLNF-Grande Loja Nacional Francesa, a Loja Fernando Pessoa,maioritariamente
constituída por portugueses (Nuno Nazaré Fernandes, entre outros). Em 1989 é criado o
Distrito Portiguês da GLNF, reunindo três Lojas.
- 1991 – Criação da GLRP-Grande Loja Regular de Portugal, sendo o seu Grão Mestre, Fernando
Teixeira, ao qual sucede em 1996, Luís Nandin de Carvalho que é consagrado numa reunião no
então Hotel Estoril-Sol na presença de mais de uma dezena de Grão Mestres do Obediências
regulares de diversos continentes.
1996/7 – Em 1996 dá-se uma cisão na GLRP ficando o grup+o minoritário com essa
denominação – tendo José Medeiros como Grão Mestre - e constituindo-se a GLLP-Grande
Loja Legal de Portugal, continuando Luis Nandin de Carvalho como Grão Mestre. É esta Grande
Loja que vai receber, em poucos anos, os reconhecimentos da esmagadora maioria das
Obediências estrangeiras regulares.
Anos 2000 – sucedem-se os Grão-Mestres na GLLP: José M. Anes (2001), Trovão do Rosário
(2004), Mário Martin Guia (2007) e José Moreno (2010, reeleito em 2012). Aconteceram
algumas cisões no seio do campo da “regularidade”: a GLNP-Grande Loja Nacional Portuguesa
(vinda da GLRP), a Grande Loja Tradicional Portuguesa, mista, vinda da GLLP -– a qual depois
sofre sua vez uma cisão, formamndo-se o GOI-Grande Oriente Ibérico -. De salientar a criação
recente da Grande Loja Simbólica do Rito de Menfis e Misrim, cujo Grão Mestre é Pedro
Rangel.
“Last but not least”, é de registar a criação pela Grande Loja Feminina de França, já depois do
25 de Abril, da Grande Loja Feminina de Portugal, única Obediência Maçónica Feminina em
Portugal – com Grão Mestras como Maria Belo, Júlia Maranha, Feliciana Ferreira, etc.. Já
houve, entretanto, uma cisão protagonizada por uma sua ex-Grã-Mestra, a Prof. Maria Helena
Carvalho dos Santos, tendo criado uma Obediencia mista.
Saliência, ainda, também para uma Obediência histórica mista que existe em França desde
1900, criada por Marie Desraimes e que é o Direito Humano e que se estabeleceu em Portugal
também depois do 25 de Abril.
Bibliografia:
- L´´Esotérisme – Pierre A. Riffard – Paris, Laffont, 1ª. Ed., 1990 – já existe tradução em
português.
- Nouveau Dictionnaire de l´Ésotérisme – Piere Fiffard – Paris, Payot, 1ª. Ed., 2008
E ainda:
- Le Soufisme - - L’Originel
- “L’utopie Rose-croix”
Do autor:
José Manuel de Morais Anes, nascido em Lisboa a 21/6/44, licenciou-se - depois de ter
regressado do Serviço Militar Obrigatório em Angola - em Química, em 1974, pela Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo-se Doutorado, em 2009, em Antropologia Social
e Cultural pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi
Assistente de Biomatemática na Faculdade de Medicina de Lisboa (H.S.M.) e estagiou em
Madrid no Instituto de Química-Física Rocasolano do C.S.I.C. Foi Perito Superior de
Criminalística do Laboratório de Polícia Científica, durante 19 anos (1978-1997) e Assistente
convidado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, nos Departamentos de Antropologia e
de Ciência Política, durante 18 anos (1986/7-2004/5).
- “As Tentações de Bosh e o Eterno Retorno”, Lisboa, Museu de Arte Antiga, 1994;
- “Poesia e Ciência”, Lisboa, Cosmos/GUELF, 1994;
- “Caos e Meta-Psicologia”, Lisboa, Fenda/ISPA, 1994;
- “Religião e ideal maçónico”, Lisboa, ISER, 1995;
- “Seminário sobre Newton”, Évora, Universidade de Évora/CEHFC, 1995;
- "Masoneria y religión", Madrid, Ed. Complutense, 1996;
- “A Vivência do Sagrado”, Lisboa, Hugin, 1998,
- “A Quinta da Regaleira: história, símbolo e mito”, Fundação Cultursintra, 1998;
- “Portugal Misterioso”, Lisboa, SRD, 1998;
- "L'Âme secrète du Portugal", Paris, L'Originel, nº 9, 2000;
- “L’Homme à venir - Mémoire du XXe.siècle – nº.2”, Paris, Rocher, 2000;
- “Discursos e práticas alquímicas - I”, Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2001;
- “Esoterismo e Humanidades” –Colibri/Faculdade de Letras de Lisboa, 2001;
- “Discursos e práticas alquímicas – II” – Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2002;
- “O Homem do futuro – um ser em construção” – São Paulo –Br., Triom/USP,
2002;
- “A Creação – La Création” – Lisboa, Atalaia/Intermundos, 2003;
- “O Esoterismo da Quinta da Regaleira“ (entrevista conduzida por Vitor
Mendanha), Hugin, Lisboa, 1e éd.1998, 2e éd. 2000; 3ª. Ed., 2002; 4ª. Ed. 2003.
-"Templiers: les yeux du baphomet" - Monts, Rafael de Surtis/Éditinter, 2004