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Índice
1Biografia
2Obras
3Referências
4Bibliografia
5Ligações externas
Biografia
Iluminura de um manuscrito da De Consolatione Philosophiae, feita em Itália no ano de 1385,
mostrando Boécio a ensinar os seus pupilos.
Anício Mânlio Severino Boécio nasceu em Roma por volta do ano 480, quando o Império
Romano do Ocidente vivia os seus últimos anos e quando na Europa a Antiguidade
Clássica já cedia lugar à Idade Média. Era filho de Flávio Mânlio Boécio, pertencente a
uma importante e antiga família patrícia dos Anícios, cristianizada há mais de um século,
que tinha dado a Roma vários cônsules e o imperador Anício Olíbrio. Na linha paterna
contava, pelo menos, dois papas e a linhagem materna incluía alguns imperadores
romanos. O pai seria feito cônsul em 487, já depois de Odoacro depor o último imperador
romano do ocidente. O pai faleceu pouco depois de ter sido nomeado cônsul, deixando
órfão Boécio com apenas sete anos, que em resultado foi educado por Quinto Aurélio
Mêmio Símaco (Quintus Aurelius Memmius Symmachus), amigo da família, também ele
um patrício e cristão pio.
Desconhece-se onde Boécio aprendeu a língua grega com tamanha proficiência e
profundidade e onde adquiriu os profundos conhecimentos sobre os autores clássicos
greco-latinos que a sua obra demonstra. Os documentos históricos conhecidos são
ambíguos, mas alguns estudiosos apontam como muito provável que tenha estudado
em Atenas ou em Alexandria, sendo esta última hipótese mais provável dado existirem
referências a um Boécio, talvez o seu pai, que seria, por volta do ano de 470, proctor de
uma escola daquela cidade.
Qualquer que tenha sido a sua origem, os conhecimentos de grego e de literatura e
filosofia grega que Boécio demonstrou estava muito além do que era então a norma,
mesmo para a classe mais educada, até porque se vivia um período de grande
conturbação social, marcado pelo desmoronar do Império e pelas invasões bárbaras, em
que o ensino estava em decadência e havia um marcado recuo no conhecimento da
filosofia clássica.
Casou com Rusticiana, uma filha do seu mentor Símaco, tendo, pelo menos dois filhos.
Seguindo a tradição familiar, era senador e em 510 foi escolhido cônsul, já quando Roma
se encontrava sob domínio dos ostrogodos.
Face à crescente escassez de pessoas com formação avançada, resultado das
convulsões do tempo e do declínio dos estudos clássicos, o jovem Severino Boécio entrou
ao serviço do rei ostrogótico Teodorico, o Grande (r. 474–526), sendo encarregado de
múltiplas funções de grande responsabilidade.
Por volta do ano 520, quando tinha cerca de 40 anos de idade, Severino Boécio já
ocupava a posição de mestre dos ofícios, posição correspondente à de governador da
corte e chefe dos serviços governamentais do rei Teodorico, o Grande. Reflectindo a
importância política e o prestígio do pai, os seus dois filhos foram escolhidos para co-
cônsules no ano de 522.
Acabou por se tornar amigo e confidente daquele rei, o que o não livraria de no ano
de 523 ser preso por sua ordem. A prisão ocorreu supostamente por Boécio ter defendido
abertamente o senador Albino, caído em desgraça e acusado de traição por ter escrito
uma missiva ao imperador bizantino Justino I queixando-se da governação de Teodorico.
Outras fontes acusam-no de estar envolvido numa conspiração para restaurar a república,
com o favor do imperador bizantino.
Estas acusações têm como enquadramento a profunda rivalidade política e religiosa
existente entre Justino I, um cristão ortodoxo imperador bizantino e Teodorico, que
defendia as teses do arianismo e pretendia manter o domínio sobre Roma. Apesar de no
ano de 520 se ter conseguido ultrapassar o cisma religioso existente entre o Império
Bizantino e Roma, as relações eram tensas e seguramente o helenismo de Boécio fazia
dele um alvo óbvio. Foi acessoriamente acusado de magia, por estar envolvido em
estudos de astrologia, algo então considerado como sacrílego, mas que ele negou
veementemente, atribuindo a sua prisão a difamação pelos seus rivais pessoais.
Qualquer que tenha sido a causa, foram-lhe retiradas todas as honras, viu os seus bens
confiscados e foi aprisionado em Pavia, onde foi torturado. Ainda assim, pôde escrever na
prisão a obra De Consolatione Philosophiae, um dos seus melhores trabalhos, na qual
reflecte sobre a instabilidade de um Estado cujo governo depende de um único homem,
como era o caso do rei Teodorico, e sobre conceitos metafísicos, entre os quais o conceito
de eternidade.
Por ordem de Teodorico, ratificada pelo Senado aparentemente sob coacção, foi
executado em Pávia em finais do ano de 524 ou princípios de 525, sem chegar a ser
julgado. Considerado desde logo como um mártir cristão, morto pela sua ortodoxia face
ao arianismo do rei, os seus restos mortais foram recolhidos e ainda hoje repousam
como relíquias num altar da basílica de San Pietro in Ciel d'Oro de Pavia.
Considerado o "Último dos Romanos" e o primeiro dos filósofos escolásticos, a fama de
Boécio foi duradoira, propagando-se através da suas obras, as quais serviram durante
a Idade Média europeia como forma de acesso à filosofia, à matemática e à música
da Antiguidade Clássica, com destaque para os autores greco-latinos.
O Bem-aventurado Severino Boécio é, também, afamado teólogo e padre da Igreja.
Venerado como mártir pela Igreja Católica Romana, Leão XIII sancionou seu culto público
para a Diocese de Pavia aos 25 de dezembro de 1883, Natal. É celebrado a 23 de
Outubro.
Em sua homenagem, o nome de Cratera Boécio foi dado a uma estrutura
da orografia da Lua e de Mercúrio.
Obras
De categoricis syllogismis
De consolatione philosophiae ou Philosophiae consolatio
De differentiis topicis, comentário a Topica de Cícero
De divisione
De fide catholica
De institutione arithmetica
De institutione musica
Quomodo trinitas unus Deus ac non tres dii ou De Trinitate
Geometria Euclidis a Boethio in latinum translata
Introductio ad syllogismos categoricos
Liber contra Eutychen et Nestorium
Tractatus Theologici
Quomodo substantiae in eo, quod sint, bonae sint ou De hebdomadibus
Utrum Pater et Filius et Spiritus sanctus de diuinitate substantialiter
praedicentur
In Porphyrii Isagogen commentorum editio prima, tradução e comentário
à Isagoge de Porfírio
Tradução e comentário dos tratados de lógica de Aristóteles