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O parentesco na Antropologia

(22/11/21)
Maria Luíza Mendonça Chamadoira – 2º período

Neste semestre, focamos em uma parte na organização social de povos ao redor


do mundo, explorando a estrutura cultural e da vida humana, mas também um aspecto
muito importante para esse sistema de relações complexas: o conceito de parentesco.
Para esse relatório, analisarei a visão de Malinowski, um dos fundadores da
antropologia social no século XX, que irá discutir a sexualidade e o parentesco dentro
do que ele chama de “sociedade selvagem”. Junto de seu estudo, podemos também
incluir visões de C. Lévi-Strauss e de Sigmund Freud, que nos traz uma perspectiva
psicanalítica ao abordar o assunto.

O parentesco é visto, nessa perspectiva, como um objeto fundamental da


Antropologia, principalmente quando estudamos sociedades tribais e povos nativos, já
que não tinham uma construção social ao redor de um Estado em si, mas se
organizavam pelo parentesco e outras estruturas familiares. Porém, esses dois conceitos
de parentesco e família são analisados de forma diferente, sendo um considerado uma
estrutura formal e outro um grupo social aplicado nessa estrutura.

Lévi-Strauss, por exemplo, confirma a ideia do parentesco como essa estrutura


formal universal em sua obra “Tristes Trópicos” (1955), seguindo a mesma ideia da
Antropologia estrutural na qual ele se encaixava e considerando essa cultura como uma
forma organizada de pensar. Já Freud, que teve sua tese de psicanálise como influência
para muitos estudos antropológicos que citarei aqui, pensa que essas estruturas se dão
como inconscientes, como uma formação de complexos familiares que surgem da
natureza dos instintos e emoções. Ainda assim, há este paralelo entre essas a forma de
pensar de Freud e Lévi-Strauss enquanto o parentesco ser um aspecto próprio do
humano.

Ao avançarmos no conceito do parentesco, entendemos que essa discussão se dá


ao considerarmos os diferentes elementos que compõem esse sistema e como se
articulam entre si, voltando então para a ideia da formação desses complexos familiares.
Do ponto de vista antropológico, essa estrutura do parentesco se dá como uma
combinação de três tipos de relações básicas: a descendência (relação da mãe ou pai
com sua prole), a consanguinidade (relação entre irmãos) e a afinidade e aliança
(casamento). Por mais que, a partir dessas relações, temos variabilidades que dependem
de tradições ou crenças dentro de cada povo estudado, esses são elementos presentes e
analisados em todos os estudos que envolvem o parentesco.

Esses sistemas e vínculos então são expostos como uma forma de organização e
hierarquização, nos dando diferentes caminhos que podemos seguir por conta dessas
variações comentadas anteriormente. Por exemplo, a filiação da figura paterna e
materna podem ser consideradas diferentes quando tratamos de sociedades que se
baseiam em descendências bilineares, matrilineares ou patrilineares. Por exemplo, o pai
pode ser o marido da mãe, como uma relação de aliança, porém não necessariamente o
pai social de sua prole, sendo considerado apenas biológico sem o papel paterno, isso
porque a descendência não tem necessariamente a ver com o vínculo biológico, mas
sim, funções sociais definidas entre essas relações familiares.

Malinowski, que estudou o povo Trombiand na Oceania, nos ajuda a entender


como se dão esses estudos. Segundo as crenças deste povo, a criança é colocada no
papel de espírito, sendo posto no útero da mãe pela ação de um outro espírito, uma
parenta morta da mãe, revelando que esses indivíduos estão incluídos na lógica de uma
descendência matrilinear. Junto de Freud e suas teorias, ele traz vários dos conceitos da
psicanálise, como o Complexo de Édipo, exemplificando uma estrutura não
necessariamente universal, mas sendo considerada inconsciente do indivíduo, e a
importância da figura materna. A colocando nesse pedestal, Malinowski ainda se
estende analisando o pouco envolvimento do pai no sustento cultural de uma família,
que não tem uma posição sociológica na linhagem quando se trata de ser uma
autoridade, sendo este o tio/irmão da mãe. O casamento, segundo ele, também está
desassociado da satisfação de necessidades sexuais, mas se encaixa em uma forma de
legitimar a prole e como uma aliança por trás da relação. Essa aliança costuma aparecer
ainda mais se considerarmos possíveis questões econômicas dentro de um grupo social e
uma futura divisão sexual do trabalho, que estabelece uma relação entre a figura
feminina e masculina e do que podem ou não podem fazer.

No final, concluímos por meio do estudo desse tríplice de autores que a


combinação de todos esses elementos nos traz uma noção básica da organização social e
de que como se dá em uma sociedade. Em todas as sociedades há casamento, relações
de parentesco (essas três relações) e divisões funcionais do trabalho, mas a combinação
desses e seu significado dentro dos termos da descendência, se tornando variado, porém
é essa variabilidade que torna esse assunto tão interessante de se estudar. Essas
perspectivas distintas de pensar no que realmente é a família se estende até os tempos
atuais, que são tempos de transformação quando pensamos nesse núcleo familiar. Com
mudanças na dinâmica de poder ou a diferença de elementos considerados dentro desse
núcleo, nos traz conhecimento de que a família não vem em só um modelo e vale ser
estudada em todas as formas.

Fontes:

Lévi-Strauss, C., “Tristes Trópicos”, 1955.

Malinowski, Bronislaw, “Sexo e Repressão na Sociedade Selvagem”, 1927.

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