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Alice Músculo + 2

(São quatros vozes esquizo entre pai, mãe, Alice, outras


mulheres e mãe-Preta).

Alice – ... a vida humana é uma espécie de seiva-mortalha.


É uma anunciadora da morte todos os dias, uma vez do lado
de cá e outra do lado de lá. Corta a vida do topo da cabeça
até o canto horizonte da vagina. Vai, mãe morte, monta sua
estrutura do osso à epiderme lascada de mulher forçada a
ser humana nessa terra molhada de pau-ouro homem. Nasci
mulher toda enviesada igual rede de pesca. Eu tenho meio
metro de pele...

Alice - Hoje te enterro pedaço de bicho-mulher que nasceu


além desse pedaço de terra escorado por água. Aqui é justa-
mente o contrário que comanda tudo-nós. Cansei de vê-la
sustentando a minha própria casa como mulher-mãe, sua meni-
na com “esprito” no corpo. És um espírito em vigília que,
às vezes, eu chamo de carcaça de mulher líquida. Deveria
ter te afogado pós-útero.

Alice - ... quero impregnar minhas digitais no teu corpo


com óleo interno, mãezinha. Mas você me vendeu aos homem
dessa terra batida. Eu estu falando menos que um cacho de
banana.

Alice – Eu sou feita de novelo de junta, minha filha.

Alice – Pari, minha mãe. É você pequena com olho preto, ca-
belo preto, cor da pele avermelhada igual urucum. Te chamo
de Alice, porque já fui mastigada pela Europa.

Alice – Carregas o quê, meia dúzia de quê? É humano? Pensa


em quantidade de quê? O que vem dentro de você é aquela pa-
lavra difícil de gente que quer poder? É pedaço de gente
cuspida naqueles bairros margens por mulher que mora bem
longe...

Alice - Chamo-me de Maria Preta. Eu vi você enterrando sua


filha, mulher vadia.

Alice – Eu não vou parir filho de filho da puta. Ele me es-


tuprou, mãezinha. Foi assim... Não quero contar em deta-
lhes, porque aprendi na escola algumas metáforas árvores.
Entrei numa casa grande toda vermelha urucum mastigada pe-
los cantos pela erosão da terra desmatada. Assisti uma mu-
lher numa mesa qualquer tomando chá de cor vermelha. Pensei
que estava olhando algo, mas na verdade tinha invertido mi-
nha retina para dentro e estava começando a ver um pedaço
da minha carne-vulva pós sovada por pau daquele maldito
dono de barranco. Desmaiei.

Alice – Corre...! Eu tenho medo dos buracos de cobras desse


sítio-pai, mãe preta.

Alice- Foge, menina. Cria teu rumo lá longe...! Cuidado com


a lagarta cospe fogo.

Alice – Mãe Preta, faz uma magia das grandes para eu cres-
cer e ser maior do que essa ilha carne aqui? Eu queria ter
nascido filho de índio e saber de cor se infiltrar na mata-
rio verde. O que é nós que mora entre o mato e o rio?

Alice - A gente é pedaço escorado de gente! Até Deus es-


queceu de nós, filha.

Alice - Tratou- tu de ficar cego todos os dias, Macho –


meu! É aquele que casei na igreja São Sebastião. Ele ia de-
vagar como onça atrás da sua cama enfiar dedo indicador bu-
ceta miúda. Eu te amamentava, mas sabia que você não chora-
va de fome, mas de alguma outra coisa que chamo de urgên-
cia-útero. Fui mãe aos pedaços igual casca de árvore oca.
Caio hoje miúda. Enterro meus medos todos como uma Antígona
simulada. Te enterro como um fistula apodrecida. Vai virar
tapuru, mas come inteiriça esse carne podre nessa terra
toda. Essa Amazônia inventada.

Alice – Alice, corre aqui. Ele é Dono do Seringal lá da


beira. Ele é teu pai. Ele é o dono do barco. Ele é nós...

Alice - Odeio esse homem, mãe Preta.

Fui prisioneira em poço de fundo de quintal de 250m2. Fi-


quei duas semanas. Um vez ao dia, era retirada com um bal-
de, outra vez, ficava escorada num pau qualquer que segura-
va a bomba d’água que alimentava a casa grande. Ouvia os
gritos da família à minha procura, morri sete vezes igual
ou pior que gato do mato.

Alice - Eu vi aquele homem de barba grande, chapéu branco e


roupa branca. Ele - era foi é - tudo junto numa procrasti-
nação do sujeito, um fetiche histórico daqueles de livros
pobres infantis. Desaprendi a viver nesse tempo quando
falo. Gosto de me perder quando falo com alguém.... Sabia
intimamente que estava sendo vendida. Filhodaputa, mae.

Alice – Chorei dois rios abaixo.

Todos - (Apêndice de palavras solavancos)

Alice – Poderia tá falando do buraco ao lado do pau de ca-


gar. É desse lugar não-útero Sou metida a fantasia dessas
de criança que curte ver coisas da natureza e mistura tudo
em jogo de roda. Eu danço com os meus pensamentos ao som
daquela arvore que produz semente vermelha pinta corpo...
Não há no mundo alguém que retirará de mim esse pedaço de
espinha – consciência

Alice – Eu vou te oferecer um chá, menina.

Alice – Ficarei forte igual ao pé da castanheira, mãe Pre-


ta.
Alice – Só raio dos céus para ti partir em dois. Não há ho-
mens na terra que seja mais fortes do que tu. Faça dessa
terra necessidade sangrada. Vai, mas fica atenta, porque
homem macho pensa capital e sova tudo.

Alice – Te arruma, menina imunda.

Alice – O olho de homem é sempre de posse.

Alice – Eu te disse que não queria você pulando igual gato


do mato lá atrás do barraco erosivo, não foi?

Alice – Eu pulo os buracos da cobra d’agua quantas vezes eu


quiser. Nada, exatamente nada, fará metáforas acopladas a
imundice referencial, mãe.

Alice- Eu nunca entendo o que tu falas. Vamos logo, porque


o caminho é escuro. Vamos na casa do Dono do Seringal que
trabalha teu pai.

Alice- Não quero ir. Ponto final. A senhora – respeito que


aprendi copiando – num genocídio dos mins, me obrigou a fa-
lar SE – NHO – RA com três sílabas pesadas de égua paridei-
ra. O que tus e outras Marias fazem conosco meninas virgens
é um holocausto cinza. Nasci como resolução da tua covar-
dia. Me obriga ao respeito. Eu sei o que você vai fazer co-
migo.

Alice – Cala-te boca, menina. Tu não tens querer. Hoje já


faltou feijão para o baião e farinha para o jaraqui. Tu
queres morrer de fome – flexiono o verbo, assim, igual o
pessoal-pesquisador que aparece aqui de vez enquando...

Alice – (Silêncio de fonema e língua)

Alice - Corre e senta aqui.

Alice – Nasci tronco de pé de tucumã. Não satisfaço cipó de


macho. Aprendi com essa natureza em todos os tons de verde
que sou mulher de mim mesma.
Alice – Nasceu bruta igual animal vento, mas eu te domino.
Seja na cama ou pela morte. Vem logo. É uma ordem.

Alice – Eu beijo tua orelha de gado hoje, mas eu já sei o


que fazer com você. Acostumei com o correr do rio, sei como
tratar gente igual a tu.

Alice – Sai de cima de mim, menina-prega!

Alice – “Lasqueado” sob chapéu branco. Não se esconde, não.


A natureza – tua não é de lenda.

Alice - Ubiquista de língua é o nome que trato a minha pró-


pria natureza seiva, filhodaputa. Enfiou língua adentro na
vagina virgem de menina sem seios de macaca-prega pós-par-
to. Tu estás em tudo por efeito de transubstanciação, mas
eu sou justamente o contrário. Eu garanto sua morte cabeça,
pescoço e pau.

Alice – Mãe me enterrou ontem até o pescoço. Foi assim: uma


buraco, pá, enxada, eu e a covardia-medo dela de ser mãe
d’água e ocupar tudo e a todos. Ressurgiu igual fonte miú-
da antes de ser rio. Aqui são 50 famílias. 25 pais-alcovas
e 25 e doze avós de mães – útero. Toda a cultura oral da-
qui, que conta a história do leite de cada planta, é subs-
tituída pela aniquilação dos meus mins. É assim: com pau,
com dedo, com vassoura.

Alice – Nós viramos as costas para a natureza daqui. Fomos


mobilizados para dentro, porque acreditamos fielmente na-
quilo que reside aqui dentro que eu chamo de “nomes pró-
prios”.

Alice - Te atrepa em mim, menina vaga. Eu sou feito de pau


espinhoso igual candiru, disse o outro sujeito. Reconta
esse apoderar de mim? Para de falar coisas estranhas. Aqui
você é vala de porco. Eu fuçarei tua buceta antes de pene-
trar.

Alice – Tem quantos anos?


Alice- 12, 18, 13...

Alice – Músculo - ...e eu passo a minha mão como o desejo


de óleo marcando tua pele. Quero teu território íntimo.
Quantos anos?

Alice – Quinze! Tu me comes enquanto criança porque sua


proto-memória denunciou sua própria morte antes de ser bi-
cho grande. Nasceu já morto. Quer se apropriar de mim para
parecer gente que vive, não é? Mas aqui não. Eu sou sua
morte. Eu quero vê-lo jorrando sangue igual peixe-boi san-
grado. Vou cortar cada músculo do teu pescoço igual galinha
caipira.

Alice - Tu devias ter pau entre as pernas.

Alice - Não nasci para ser porra nenhuma.

Alice – Não é assim que se fala com mãe de Alice, menina


imunda ariada com esponja de aço. Vou te rasgar até chegar
no tutano do osso, menina bruta.

Alice - É tudo mais simples, mãe – Rainha.

Alice – Hoje conversei com animal velho gordo perto da mar-


gem daquela clareira. Aprendi rapidamente a andar como qua-
drupedes numa espécie de inteligência terra que me faltava
para lidar com as provocações dedo-pau dessa gente que anda
de branco comendo gente miudinha. Fui banhada de um sol tão
quente que virei gato selvagem cor de fogo-dourado.

Alice - Não costumo divergir das coisas da natureza. Comi


meu sujeito – cultura antes de nascer, menina! Tudo colado
após a placenta é cultural.

Alice Músculo - Tu és um plutônio interno de gente que nas-


ceu para ter consciência de vértice para baixo, essa é mi-
nha mãe, aquela que me enterrou há doze minutos. Menina-
doze quartoze e - ou vinte oito, não importa, não há corpo
mais vigiado do que o corpo de nós-mulher. Nunca mais serei
bolsa de porra para esses filhosdaputa covardes com esses
olhos comedores de gente transeunte.

Alice - Conta logo o que tu és, filha demônio.

Alice – Eu desaprendi a conta a minha própria história,


porque estão nos ensinando que gente que nasce não tem mais
história. Eu consumo a ti e tu a mim e todos os tis são bo-
cas musculosas como o aqui e agora.

Alice - Dos 32 dentes podres comedores de todos os meus


tus, pai.

Alice - Você veio como animal fetiche comer tudo e a todos,


meu senhor!

Alice – Eu decidi não entrar em percurso – buraco nenhum.


Criei um rito invertido numa tentativa de obstruir esse
ethos cristão de gente maldita comedora de gente pequena.
Tratei o tempo que passa como performance do espaço e, nis-
so, tratei de uma nova ordem comungada por aquilo verde ao
redor. Cavei como anta em várzea os buracos necessários
para construir o meu próprio território, porque amanha-aqui
tratarei esse terra como lugar de mulher ventre de verdade
e agora só vamos gerar os nossos tus.

Alice - Não.

Alice Músculo - Eu vi matar tudo aquilo podre-cultura que


todos aqui nessa maldita terra galvanizada em verde em tons
do caralho por dinheiro.

Alice: É que a senhora sempre teve medo da morte da língua!


Nunca me disse palavras-afeto, porque sempre fui zigoto ta-
puru.

Alice – Essa exploração é sócio-histórica. Dessa, Baniwua,


Baré lá da cabeça do cachorro no extremo norte lamentam
essa coisa toda que é subdivida pela coisas da justiça por
abuso sexual, estupro, pedofilia e
Alice - Eu te enterrei ontem para salvá-la.

Alice – Sabes qual o teu problema, meu pai (pergunta).


Aqui, nesta casa, sua soberania é de rei consorte. Quem
sempre mandou aqui é fui-eu-mim. A Rainha nos abandou para
ser essa rainha ausente, porque me fez rapidamente serva-
princesa de ti. Teria mais vergonha dela por ter me vendido
a ti.

Alice - Compreendi rapidamente que nasci bicho-útero. Faço


florescer o alfa e o ômega! São duas letras outras dessa
língua minha.

Alice – Tu falas igual ao bicho-capiroto!

Alice - Eu aprendi ontem no livro velho de quarta série.


Apesar de todas essas palavras do menino francis uma virgu-
la nada acontecerá...

Alice - Salvou sua própria covardia de gente escorregadia!


Inventou essa história de gravidez boto...

Alice - Eu te salvei daquele homem que te estuprou! Isso é


ser gente...

Alice: ....deveria ter me salvo da cama do meu próprio pai,


mãe! Eu poderia falar mãezinha, mas tu mereces secar. Virar
uma espécie de pau-tempo esquálido! Até a altura das pernas
fui forcada a ser palafita. Entre elas, passa agua, merda,
peixe e porra de homens daqui e de acolá. Eu chamo de pai,
as vezes, prefeito ai dair ( sai dá ir ).

Alice - Me abraça? Faz-ser um pouco de mãe! (Silêncio) –


Cadê pai?

Alice - Aterram-me. Estive sob a terra até a altura da ca-


beça. Já não podia escutar nada. Ali, debaixo daquela terra
ácida, o tempo extinguiu-se e o entorno parecia espaço.
Ela, juntamente como aquilo-pai provocaram esse infanticí-
dio, mas minha carne nasceu para morrer de tanto olhar esse
rio-tempo próprio passar. Juntei as duas mãos em formas de
conchas-tatu e comecei a cavar. É bem simples fazer
isso.... Agarrei-me num primeiro rastro de raiz e, aos pou-
cos, tapureimizei. Voltei!

Alice - Arruma as tuas coisas, pedaço de fêmea, porque vou


te vender!

Alice: Posso levar o quê?

Alice - Leva a roupa de cama, a escova de dentes e as


fraldas com crochê.

Alice: Quero um pedaço de terra para morar, mãe.

Alice - Pega um pedaço do jirau-podre. Lá vai ser sua


ilha, sua Amazonas invertida. Coloca teu ventre morte e
esse bicho peixe dentro da moela da galinha! Entrego a ti
um pedaço de sacola de fibra. Fibra músculo. 
Isso é tua sacola vida! Lá com barranco, filho boto, areia
e pedra você vai ser "amoelada"...

Alice - Eu estou cansada de dançar esse animal morto aqui


dentro. É pura interpretação de si. Quero mesmo é dançar na
beirada do rio - no barzinho buraco da minhoca dance show.
Só lá meu corpo dançaria os multiversos e eu enfiaria meu
punho no cu de cada homem que fez minha vagina sangrar. Se-
gunda foi João do açougue. Terça e Quarta é meu irmão tre-
pador de açaí. Quinta e sexta é papaizinho. Domingo é dia
de feria - muvuca pau pelos bucentauros-prefeitos das três
comunidades acima daqui. Não foges não, mãe-bofe! Não fica
com vergonha, porque depois que eu aprender a ler e escre-
ver, eu vou "cartilhar" tudo isso...! Homem não mora mais
aqui- corpo.

Alice – Você deve ser servida igual caça capiturada (com


i ), sua quenguinha de barranco. Não penses que será dife-
rente, porque aqui nesse pedaço de chão agua quem manda sou
eu. Venha logo, abre essa bucetinha de criança.

Alice - Sonhei com Maria filha dos índios lá do barranco


velho atrás daquele igarapé. Ela estava gigante como um
grande ovo. Assustei-me e me coloquei como cachorra de
quintal a rodar atrás das crias pelo espaço tentando enten-
der o que acontecia. Pus-me ( foi o que saiu da minha buce-
ta após ser carne comungada entre homens do bar ) – Eu en-
tendi que Maria indiazinha tinha virado um ovo-larva-pupa,
porque nasceu para ser uma espécie de borboleta de cores
variadas, mas nada aconteceu, como de costume.

Alice - A liturgia entre ar e asas morreu logo depois de


eclodir um bucho enorme filho daquele homem da esquina, mas
a comunidade insistia em chamar de filho do boto. Eu cho-
rei. Ela se matou três dias depois...

Alice - Filho do boto!

Alice - Cansa-me esse teu senso de mulher – amazonas.

Alice - Se você se deitar comigo, eu te levo para ver o rio


lá de baixo.

Alice - Nasci mulher-yara e queres me ensinar a vê o rio


(pergunta)

Alice - Todas as palavras que aquele pedaço de monstro pro-


feriu não chega a metade do que eu nomeio. Hoje a minha va-
gina e anus viraram uma coisa só. Fui estuprada cedo, pela
manhã, após o café com farinha piracuí com aquela farinha
doce redondinha igual os planetas que aprendi no livro de
quarta-serie da professora Erenilda. Eu chamo de Uarini –
rio sol limões. Água que escorre entre as bolas. É porra
pura de pau de seringalista. Essa boca musculosa que parece
ser vagina. Mae saiu e dois ou três dedos romperam musculo,
carne e órgãos. Eu falo assim, porque não sou Alice. Fui
Maria filha de Joana lá de Coari e – ou de qualquer outra
cidade desse Brasilzão.

Alice - Degradação do sujeito- tu. Tu és uma carcaça. Eu


fui forçada a ser mae antes de ser menina de quintal. Eu
sempre sonhei em pé melado. Diz por aí que a vida sexual
das meninas matutas da beira daqui diminuíram o início de
tudo que penetra e goza. Tá, contra outra historia, gente
inteligente de lugar quadrado, mas, aqui, tudo começa muito
antes... Amanha, eu mesmo faço...

Alice- Arrancam-me unhas, pés e pernas. Digital, ossos-


falanges, mãos, braços. Eu sou uma boneca viva. Um cano de
escape-homem para o prazer do centro oligárquico. Poderia
ter crescido igual uma imperatriz da floresta, uma testemu-
nha ocular. Cortaram-me em pedaços. Eu fui vendida no mer-
cado negro por mãe miúda. Eu canto uma música estranha com
quatro notas apenas.

Alice - O controle do sexo sempre é masculino.

Alice - Deslocamento-me meu sujeito – gente.

Alice - Política sexual sobre o feminino. Mata.

Alice - Nunca pensei em teoria e pratica como as mulheres


que falam aquelas línguas estranhas. Quem me ensinou ser o
alfa e ômega foram os animais. Essa multidão de animais
dessa flora verde – todas moram dentro de mim – eu criei
uma vagina equatorial.
Alice - Modos de subjetivação daqui mistura todos e a flo-
resta.

Alice - Eu te protegi com os pedaços que eu conseguia.

Alice - Você sempre foi um pedestal.

Alice - Pedestal invertida, minha filha. Cavaram dois me-


tros e meio de buraco e colocaram-me numa tora de buriti-
zeiro e fizeram de lá meu pedestal. Fui criada em embaixo
de pau de escora, pau de cagar! Todos os dias esses modus
operandi -homens cagavam e, lá embaixo, eu servia de al-
goz para aquilo que morava dentro dos homens daquele pedaço
de terra.

Alice - A casa grande nunca deixou de ser a senzala. Tudo


segue literalmente como aquele grande outro autor que des-
cobri por acaso numa aula qualquer da professora que falta-
va um dente da frente. Aqui é um abatedouro de carne-
mulher!

Alice - Vem logo e senta ao meu lado. Você quer ser minha
mulherzinha?

Alice - Nascemos beco-pia-biqueira de lugar. Uma espécie de


lugar fechado bem pertinho de um lago que algumas pessoas
chama de açude- Bauman. Não nasci para ser mulher de homem-
casa desenhada por homens que falam outras línguas-conti-
nente. Os meus óvulos cá dentro não geram dinheiro igual as
bolas de borracha. Tudo que é rubro pau Brasil está cá den-
tro vulcanizado. Esse maldito homem sovou vagina-cu ontem
sobre o assoalho feito tal qual Paris, meu senhor! Chamo-
lhe senhor, porque sou forçada a ser civilizada nesta tua
sociedade Bárbara.

Alice - Bárbara era minha amiga de infância. Nós nunca en-


tendemos esse nome estranho de gente vinda de outro lugar.
Alguma ex-capitania hereditária de Antônio de Barros. Ape-
lidamos de macaxeira-Braba. Veneno-seiva saia entre os den-
tes igual surucucu. Ela era miúda com as pernas tão finas
como dois pés de açaí siamês. Brigava com qualquer homem
que tentasse buzinar em nossos ouvidos- bucetas.

Alice - Ela morre.

Alice - Encontraram-na?

Alice - Todo o conhecimento de Barbara do mundo era entre a


narina e os olhos. Eu sentia como se fosse uma Amazonas
imensa.

Alice - Empalaram-na vagina-pau quadrado de dois metros e


boca- lá no lago à beira da estrada que leva as mulheres
para lavar a roupa no jirau grande. Eu sabia que aquilo era
uma espécie de aviso as mulheres filhas daquela beira de
rio. Morreu Antonia, dia 04, perto do pau de cagar, logo
depois Maria do João-caçador atrás do bar engasga macho e
Ana no hospital flutuante de hemorragia interna por dedo e
logo após dedos no plural do Seringueiro.

Alice - Luto.

Alice - Homem-pai e mulher-mãe de casa calados por três


dias.

Alice - Rezei todas as orações que o padre me fez decorar.


Aliviou a dor de ter perdido as meninas que faziam brincos
com capim dourado e osso dentro da epiderme vinho do açaí.

Alice - Vou partir.

Alice - Se tu contares as falas buceta dedo e pau que jor-


raram seiva em teu útero. Mato como veneno até ficar cor de
sol invertido ao amanhecer. Vai e corre para sua mãe com-
prada por mim por um pedaço de carne seca e farinha d'Água!

Alice - Não te preocupas, mãe. Eu vou matar aquele homem


que fez esse estrago com todos os queridos eus que moram
aqui dentro de mim. Vagina, colo do útero e canal vaginal
praticamente não sobreviveram a tudo isso. Matarei, mas é
porque morri naquele dia como pessoa pequena que tinha aqui
dentro entre a pleura e o musculo lateral dos seios. Não
tive forças para me proteger dele...! Morri pelo domínio do
braço – homem. O que ele enfiou dentro de mim apenas rati-
ficou o braço.

Alice - O que tu queres pequena? É rola novamente dentro de


mim. Pulso as veias do pau quanto te vejo, pequena. E tua
mãe? Ela está satisfeita com o copo de açúcar que mandei
para ela pelo menino-mulher ontem...! Vai logo, diz...! Es-
tou com tempo pequeno, mas te comer.

Alice - Quero – tu dentro de mim novamente! Sou pequena,


mas sou mulher de aguentar corpo pesado de homem - bucho.

Alice - Não ligo para o que falas, porque aqui entre todos
esses terrenos de pau leite, mulher não manda. Aqui as Chi-
cas, as Antônias e Anas são buracos quentes para fazer dos
nossos filhos homens. Eu te fiz mulher e puta antes da ida-
de para não perder o tempo nesse ritual besta de menina de
outro lugar.

Alice - Tá, mas vem logo. Eu vou abrir minha perna uma úni-
ca vez...

Alice - Eu não entendo essa consciência de meninapequena do


tamanho de caroço de

Alice - ... e aos poucos essa seiva-mortalha resolveu me


pegar. Não se te enganes homem meio dúzia de paus tortos
encardidos, porque o jeito que tu me olhas não tem nenhuma
relação de desejo, mas é puro poder-barão-oligarquia!

Tu me comes por prazer-fingido! O que brota de mim é teu


ódio sendo sangue-meu. O ódio de não saber coisa nenhum se
não for pau e porra dentro de mulher-menina-criança, macho
escroto. Toma meia gota de sangue. É faca, pescoço... San-
gro goela de pato selvagem igual seringueiro. Te moves para
o buraco que você me deixou maldito. Aqui, entre aquilo
verde e aquilo que corre, esse pedaço de terra é meu. Aqui
jaz tua história-partenal e jorra suculenta a carne-mulher.

Fim

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