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A autocomposição no novo Código de Processo Civil

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Observando-se a importância da autocomposição no Processo Civil, o legislador
promulgou a Lei nº 13.140/15, instituindo a mediação e legitimando sua utilização na
solução de conflitos.

Por Kelvyn Luiz Neves


Com objetivo de assegurar importantes garantias constitucionais, tais como, o
contraditório e a ampla defesa, o Novo Código de Processo Civil inovou ao estimular o uso
da autocomposição na solução de conflitos.

Hodiernamente, percebe-se que o Judiciário se encontra em um momento de crise e


transtorno devido a quantidade vultosa de ações judiciais pendentes.

Além dos problemas enfrentados pelo sistema judicial, há outros destacáveis fatores que
comprometem a resposta da prestação da tutela jurisdicional, no qual Figueiredo (2001),
de maneira prática e explícita, expõe alguns desses fatores: (a) fatores econômicos que
interferem no custo do procedimento, e outros custos periciais para levantamento de
provas; (b) fatores sociais que contribuem para a duração excessiva do procedimento, a
falta de , juízes e promotores, dificultando o acesso aos fóruns devido a pobreza e a
desigualdade social; (c) fatores culturais que levam ao desconhecimento do , ao
analfabetismo e a ausência política na disseminação do ; (d) fatores psicológicos que
motivam a recusa do envolvimento com a justiça, que leva ao temor do Judiciário e a
solução de conflitos por conta própria; (e) fatores legais que conduzem a uma legislação
com excesso de recursos e lentidão na outorga da prestação jurisdicional.

Atentando-se com as dificuldades, o legislador, com o intuito de promover a ordem do


sistema judicial, promulgou a Lei nº 13.105/15 instituindo o Novo Código de Processo
Civil que estabeleceu uma série de mudanças significativas, dentre elas, o incentivo ao uso
de formas não adjucatórias de resolução de conflitos.

O marco inicial que promoveu as mencionadas mudanças foi a resolução nº 125/2010 do


Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que atribuiu ao Judiciário, o encargo de incrementar
maiores atividade de conciliação e mediação na resolução de conflitos, sendo que, antes
de qualquer decisão adjudicada mediante sentença, deve-se oferecer previamente os
métodos de soluções de conflitos, em especial os chamados meios consensuais, como a
mediação e a conciliação, assim como prestar auxílio e orientação ao cidadãos.

Pelo efeito da resolução nº 125/2010 publicada pelo Conselho Nacional de Justiça,


estimulou-se a busca por soluções na resolução de conflitos, propiciando a criação do
Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores, visando apoiar tribunais que
não tenham desenvolvido o cadastro estadual.

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Não obstante, é fato consolidado que a resolução nº 125/2010 foi um importante passo na
criação de diretrizes na solução de conflitos, estimulando os tribunais a criarem os
chamados NUPEMECs (Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de
conflitos).

Esses núcleos, coordenados pelos magistrados tem como principais atribuições, o


desenvolvimento de políticas judiciais capazes de resolver conflitos de interesses, como
também no treinamento e capacitação de conciliadores e mediadores na solução de
conflitos e propor aos tribunais a realização de parcerias com entes públicos e privados.

Em conformidade com as alterações propostas pelo CNJ, o Novo Código de Processo Civil
trouxe a previsão legal para que os tribunais criem centros judiciários para resolver os
conflitos, conforme preceitua a norma do seu art. 165, a criação dos CEJUSCs (Centros
Judiciários de Solução de Conflitos) responsáveis na instauração de sessões de audiências
de conciliação e mediação no desenvolvimento de programas capazes de orientar e
estimular, o uso da autocomposição.

Tal previsão legal ofereceu uma nova roupagem ao direito de acesso à justiça,
proporcionando novas formas de inserção no Judiciário e novos caminhos para solução
dos conflitos, conferindo aos litigantes a liberdade de se posicionarem no conflito,
objetivando um resultado benéfico e recompensador a todos os envolvidos.

Este entendimento encontra-se fundamentado na norma do art. 5º, LV do texto


constitucional, conferindo aos jurisdicionados, no processo judicial ou administrativo, o
contraditório e a ampla defesa.

O novo Código de Processo Civil, em consonância com a norma constitucional,


democratizou a relação jurídica processual ao promover a autonomia das partes dentro do
processo, harmonizando a conduta dos litigantes junto ao magistrado.

O Código de Processo Civil de 1973, na norma de seu art. 125, IV dizia que o juiz deve
tentar, independentemente do tempo, conciliar e promover o debate entre as partes.

Contudo, o Novo Código de Processo Civil foi além ao dispor na norma do seu art. 3º, §3º
que não somente ao juiz, cabe o dever de propor o uso da autocomposição, mas também
aos demais sujeitos processuais, dentre eles, membros do ministério público e defensores
públicos.

Observando-se a importância da autocomposição no processo civil, o legislador


promulgou a Lei nº 13.140/15, instituindo a mediação e legitimando sua utilização na
solução de conflitos.

Estabelece a norma do art. 2º da Lei nº 13.140/15 que a mediação é orientada pelos


seguintes princípios: (a) imparcialidade do mediador; (b) isonomia entre as partes; (c)
oralidade; (d) informalidade; (e) autonomia da vontade das partes; (f) busca do consenso;
(g) confidencialidade; (h) boa-fé.

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Cabe ressaltar a opção concedida pelo legislador ao instituir na norma do art. 3º da
referida Lei, ao traçar que na mediação o objeto do conflito pode versar sobre direitos
disponíveis, ou indisponíveis que admitem transação, como também atribui aos litigantes,
como mera faculdade, a participação da audiência de mediação.

Por fim, assevera-se que a autocomposição é de enorme valia, tendo em vista que o acordo
entre as partes, evidentemente, constitui-se no resultado mais benéfico, pois, mesmo com
o auxílio da jurisdição o inconformismo natural existente entre as partes ainda se
encontra presente.

A constatação de que a autocomposição deve compor o sistema judicial está presente


desde o momento em que o Estado proibiu o uso da autotutela, adquirindo para si a
responsabilidade de exercer a função jurisdicional, tornando-se encarregado de
solucionar os conflitos sociais. Sem embargo, o resultando disso foi a edificação de m
Estado sobrecarregado devido a grande quantidade de ações pendentes, provocando uma
resposta morosa na prestação jurisdicional.

As alternativas na solução da lide instituídas pelo atual ordenamento jurídico ainda não
são totalmente conhecidas e divulgadas pelos operadores do Direito e nos ensinos das
universidades, fato que, contribui para o desconhecimento de outras possíveis soluções
pacificas.

Decerto, os métodos de resolução de conflitos nem sempre constituirão meios adequados


na solução de conflitos. Em algumas situações gravosas ou que envolvam questões
exclusivas e únicas do Estado, este deverá realizar sua função jurisdicional, todavia, a
autocomposição é uma grande aliada para a busca da pacificação social, pois garante as
partes a liberdade de se posicionarem no conflito, objetivando um resultado benéfico e
recompensador a todos os envolvidos.

Com esta prática, anseia-se não excluir a atuação do Estado, mas sim contribuir para um
sistema judicial harmônico que promova a participação ativa dos litigantes, em prol da
harmonia e do bem-estar social.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código de Processo Civil – Lei nº 13.105, de março de 2015/ supervisão editorial
Jair Lot Vieria – 2º ed. – São Paulo: Edipro, 2016

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125 de 29 de novembro de 2010.


Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de
interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível em:. Acesso
em: 19 dez. 2019.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. – Brasília:


Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2018.

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 17 jan. 1973. Disponível em:. Acesso em: 22 dez. 2019.

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FIGUEIREDO, Alcio Manoel de Sousa. Acesso à Justiça – Uma visão socioeconômica.
2001. Disponível em: . Acesso em: 02 jan. 2020.

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