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Tumores Benignos e Malignos

de Esôfago

Isabel Fonseca Santos - R1


Gastroenterologia
UFRJ
Lesões Benignas
 Frequentemente assintomáticas, sendo achado incidental da EDA.

 Sintomas:
o disfagia
o dor retroesternal
o pirose
o tosse
o odinofagia
o perda ponderal
o hemorragia digestiva

 Papel do endoscopistas na determinação de conduta.


Classificação da OMS

Tumores epiteliais Lesões Tumores


Pseudotumorais submucosos
Papiloma de céls escamosas Pólipos fibrovasculares Leiomioma
Papiloma viral Cistos Lipoma
Adenoma Pólipo inflamatório Células granulares
Acantose glicogênica Vasculares
Leiomiomatose difusa Neurogênicos
Heterotopias
Papiloma de Células Escamosas
 Lesão rara:
 Prevalência = 0,01 – 0,04%
 < 1% das EDAS

 > (2:1)

 Idade: 5ª - 7ª décadas

 Assintomático

 Lesão única em terço médio ou inferior do esôfago.

 Comumente atribuído à irritação crônica por RGE.

 Possível associação com hérnia de hiato – coincidência?


Papiloma de Células Escamosas
 EDA: lesão elevada, séssil, 3 – 5 mm,
de superfície rugosa e coloração
esbranquiçada.

 Histopatológico: neoplasia epitelial


benigna, com múltiplas projeções de
eixos fibrovasculares centrais, cobertos
por um epitélio escamoso estratificado, dando aspecto verrucoso.

 Diagnóstico diferencial: acantose nigricans, leucoplasia,


carcinoma verrucoso.
 Tratamento: remoção com pinça de biópsia/alça de polipectomia.

 Não há necessidade de acompanhamento endoscópico.


Papilomatose de Esôfago
 Lesão rara.
 Associação com HPV quando acomete esôfago proximal.
 Lesão pré-maligna?
 EDA: lesões múltiplas, ora esparsadas ora aglomeradas, com
tamanhos variados, coloração brancacenta e superfície rugosa.
Adenoma
 Associação importante com esôfago de Barret  forma polipóide
ou nodular da displasia.
 Podem surgir como lesões grandes (>1,5cm) ou múltiplas.
 Inspeção endoscópica da mucosa adjacente (NBI,
Cromoendoscopia)  biopsiar sempre.
 Tratamento:
 Na presença de epitélio de Barret:
 Displasia de baixo grau: IBP + controle com EDA em 6 meses.
 Displasia de alto grau: repetir EDA imediatamente + cirurgia.

 Na ausência de epitélio de Barret:


 Lesão < 1 cm: ressecção endoscópica com alça.
 Lesão > 1 cm e com displasia de alto grau: ressecção em monobloco.
Pólipos Fibrovasculares
 Incluem fibromas, fibrolipomas, miomas e lipomas.
 Raros: 0,5 – 1% das lesões de esôfago.
 > (3:1)
 Pediculados, localizados em esôfago proximal adjacentes ao
músculo cricofaríngeo (risco de aspiração da lesão se > 20 mm).
 TC e RM  massa intraluminal.
 Ecoendoscopia: avalia a presença de grandes vasos no pedículo e
a camada de origem (submucosa).
 Tratamento:
 Ressecção endoscópica: limitada em lesões muito proximais ou com
pedículo vascularizado.
 Cirurgia
Cistos
 Raros, porém são os segundos tumores benignos mais encontrados.

 Subtipos:
 Congênitos:
 duplicação
 Broncogênicos
 gástricos
 de inclusão

 Neuroentéricos
 Adquiridos (retenção)
Cistos de Duplicação
 Resultam de anomalias congênitas do período embrionário.
 Segunda malformação mais comum do TGI: 10 – 15% dos casos.
 Presentes no esôfago, no estômago e no intestino.
 > (2:1)
 Localização esofágica: distal (60%) > proximal > médio
 Características:
 Crescem com a parede do esôfago
 Cobertos por duas camadas musculares
 Epitélio escamoso ou tecido semelhante ao esôfago embrionário

 Geralmente não se comunicam com o esôfago.


 Sintomas: disfagia, dor epigástrica, dor retroesternal, sintomas
respiratórios (mais comuns na infância).
 Tratamento cirúrgico para casos sintomáticos.
Cistos Broncogênicos
 Malformações da árvore brônquica, podendo ser periesofágicos,
mediastinais ou intrapulmonares.

 Características: composto por epitélio ciliado ou cartilagem, com


apenas uma camada muscular. Contém material de aspecto leitoso.

 Tamanho médio: 4 cm.

 Elevação dos níveis de CA 19-9 e CA 125.

 Podem levar à disfagia.

 EDA: protusões subepiteliais, cobertas por mucosa normal.


Cistos Gástricos
 Localização no lado direito do esôfago e no mediastino posterior.

 Intra-luminais.

 Apresentam uma ou mais camadas musculares, recobertas por


epitélio gástrico.

 Cursam com compressão brônquica e secreção ácida na mucosa.

 Diagnóstico nos primeiros meses de vida.


Cistos de Inclusão
 Intra-murais.

 Contêm epitélio respiratório ou escamoso.

 Tamanho: 5mm a 20 cm.

 Clínica:
 Assintomáticos em 25% dos casos.

 Terço superior: sintomas respiratórios.

 Terços médio e inferior: disfagia, dor torácica, tosse.


Cistos Neuroentéricos
 Localizados no mediastino posterior, podendo estar aderidos a
pleura, pericárdio ou esôfago.

 Formados por camadas musculares bem desenvolvidas, cobertas


por mucosa gástrica ou gastrintestinal.

 Sintomas causados pela atividade da mucosa.

 Associação com anormalidades da coluna vertebral.


Cistos Adquiridos (retenção)
 Presentes em até 17% das autópsias.

 Formados pela obstrução dos ductos glandulares na mucosa e


submucosa do esôfago.

 Raramente causam sintomas.

 Normalmente únicos, com localização


em terço superior.

 Podem ser múltiplos: esofagite cística


provável associação com refluxo.

 Conduta expectante.
Pólipos Inflamatórios (Sentinela)
 Lesões raras.

 Correlação aparente com refluxo ácido do estômago.

 Localizados na junção esofagogástrica, podendo estar próximos a


erosões ou ulcerações esofágicas.
 Geralmente são achados incidentais.

 Diagnóstico diferencial com adenomas em esôfago de Barret.

 Histopatológico: epitélio colunar com inflamação aguda e crônica.

 Tratamento:
 Medidas antirrefluxo: tendência de diminuição da lesão.
 Ressecção em casos sintomáticos.
Acantose Glicogênica
 Etiologia desconhecida.

 Presente em até 15% das EDAs e em 100% das autópsias.

 Assintomática.

 EDA: múltiplas placas uniformes, de 2 – 10 mm, arredondadas,


esbranquiçadas, mais frequentes em terço médio.

 Cromoscopia com lugol: lesões fortemente coradas de marrom.

 Histopatológico: grande número de células epiteliais alargadas


com grande acúmulo intracelular de glicogênio.
Heterotipias
 Podem ser de epitélio gástrico, glândulas sebáceas, tecido
pancreático ou nódulos tireoidianos.
 Características: lesões elevadas, brancacentas, cobertas por
mucosa normal.

 Heterotipia Gástrica:
 A mais comum.
 Localizada em terço superior do esôfago.
 Patogênese desconhecida.
 Capaz de produzir ácido e hormônios.
 Áreas planas, ovaladas, de coloração alaranjada; lesões em espelho.
 Histopatológico: tecido colunar gástrico.
 Complicações: erosões, ulcerações, estenoses, fístulas, metaplasia
intestinal, adenocarcinoma.
 Conduta expectante.
Leiomioma

 Idade: 20 – 59 anos / > (1,6:1)


 Tumor benigno não-epitelial mais frequente do esôfago.
 Originado da muscular própria ou da muscular de mucosa (raro).
 Localização: terços médio e inferior do esôfago.
 Possui consistência endurecida, superfície lisa e mucosa normal.
 Geralmente assintomático.
 Diagnóstico presuntivo  biópsia não atinge a profundidade.
 Ecoendoscopia: lesão hipoecogênica na camada muscular própria,
bem delimitada, sem invasão ou adenomegalia.
 Conduta:
 Acompanhamento endoscópico.
 Ressecção em casos sintomáticos ou dúvida diagnóstica.
Lipoma
 Lesão rara.

 Localizado em região cervical e esôfago torácico alto.

 EDA: abaulamento regular da mucosa, macio à compressão com


pinça, às vezes amarelado, séssil ou pediculado se de grande
tamanho.

 Ecoendoscopia: lesão hiperecogênica da submucosa, de margens


lisas e regulares.

 Conduta:
 Casos assintomáticos: expectante.
 Casos sintomáticos ou diagnóstico incerto: ressecção endoscópica ou
cirúrgica.
Tumores de Células Granulares
 Pode acometer pele, língua, mama e TGI (10% dos casos).

 No TGI, o esôfago responde por > 65% dos casos.

 Idade: 45 anos / >

 Cursa com disfagia em > 1/3 dos pacientes.

 EDA: lesão única, elevada, séssil, branco-amarelada, endurecida,


com mucosa lisa. Biópsia tecnicamente difícil.

 Ecoendoscopia: lesão hipoecogênica na submucosa, bem


delimitada.

 Conduta: ressecção endoscópica  pequeno potencial de


malignização.
Tumores Vasculares - Hemangiomas
 Raros.
 =
 Geralmente lesões únicas, mas podem ser múltiplas em algumas
síndromes (ex: Doença de Osler-Weber-Rendu).
 Localização mais frequente em terço inferior.
 Características: tamanho variável (2-3 cm), pediculadas ou não,
azuladas ou vinhosas, com esvaziamento durante pressão local.
 Ecoendoscopia: lesão anecóica na submucosa.
 Raramente cursam com sintomas: hemorragia digestiva,
disfagia, dispnéia.
 Tratamento: ressecção cirúrgica em pacientes sintomáticos.
Glândulas Sebáceas Heterotópicas
 Raras.

 Patogênese incerta – metaplasia reativa em tecido heterotópico


no esôfago?

 EDA: placas cinza-amareladas, frequentemente aglomeradas.

 Histopatológico: lóbulos de células com diferenciação sebácea


dentro da lâmina própria.

 Não apresentam potencial maligno  sem indicação de


vigilância endoscópica ou ressecção.
Melanose de Esôfago
 Extremamente rara.

 Também pode ocorrer em duodeno, íleo, cólon e reto.

 No esôfago, pode se associar a malignidades: melanoma,


carcinoma escamoso.

 EDA: área plana, enegrecida.

 Histopatológico: mucosa escamosa com acantose e discreto


acúmulo de melanina na camada basal.
Xantelasma de Esôfago
 Muito raros.

 Também podem aparecer no estômago e no duodeno.

 Geralmente assintomáticos.

 Diagnóstico diferencial com as glândulas sebáceas heterotópicas.

 EDA: lesões planas, superficialmente elevadas, únicas ou


múltiplas, < 10 mm.

 Histopatológico: adipócitos dentro do tecido conjuntivo.


Lesões Malignas
 8º câncer mais comum no mundo.
 Incidência: 481.000 casos/ano
 No Brasil:
 6ª causa de câncer em homens e 9ª causa em mulheres
 96% dos casos são do tipo escamoso
 Subtipos:
Epiteliais Não-epiteliais
Carcinoma epidermóide Sarcomas
Adenocarcinoma Linfomas
Carcinoma cístico adenóide Apudomas
Carcinoma adenoescamoso Melanoma primário
Carcinoma mucoepidermóide Metástases
Carcinoma Epidermóide
 Mortalidade: 5,42 /100.000/ano (sexo masculino; BR)
 > (3:1); predomínio em negros (6:1).
 Idade: a partir da 5ª década.
 Localização: esôfago torácico médio.
 Fatores de risco:
 Tabagismo
 Etilismo
 Hábitos alimentares (nitritos, mate quente, baixa ingestão vitamina C)
 Estenose cáustica
 História prévia de carcinoma escamoso de cabeça e pescoço
 Acalásia
 Síndrome de Plummer-Vinson
 Tilose palmo-plantar
Adenocarcinoma
 > (7:1); predomínio em brancos (4:1).
 Localização: esôfago distal
 Fatores de risco:
 Refluxo gastroesofágico, com desenvolvimento de epitélio de Barret
– aumento do risco em 30x
 Obesidade
 Tabagismo
Lesões Malignas
 Manifestações clínicas: doença avançada

 Disfagia progressiva

 Regurgitação

 Perda ponderal

 Pneumonia aspirativa

 Rouquidão

 Anemia

 Abscessos pulmonares, tosse produtiva – fístulas


Lesões Malignas
 Diagnóstico: EDA + biópsia
 Carcinoma superficial:
 pequena lesão que parece restrita às camadas superficiais (mucosa e
submucosa)  equivalente endoscópico de carcinoma precoce.
 Classificação de Paris:

Profundidade Apresentação
M1 (epitélio) 0-IIb (100%)
M3 (muscular) 0IIa/IIb/IIc
Submucosa 0IIa (50%)

Lesões 0-I e 0-III: quase certa


invasão de submucosa.
Lesões Malignas
 Alterações das lesões precoces: desaparecimento do padrão vascular,
elevação/depressão com hiperemia ou nacaramento, granularidade da
superfície mucosa.
 Suspeita de lesão: cromoscopia com lugol ou NBI.

 Carcinoma avançado:
 Lesões friáveis, ulceradas, ocupando parte ou toda a luz do órgão, com
margens pouco definidas.

 Outros métodos:
 TC tórax e abdome – estadiamento
 Ecoendoscopia
Lesões Malignas
 Estadiamento: TNM
Lesões Malignas
 Tratamento:
 Carcinoma superficial:
 Coagulação bipolar, plasma de argônio, laser  evitar
 Mucosectomia
 Dissecção da submucosa: retirada em bloco  permite análise das
margens e da profundidade de invasão; menor recorrência.

OBS: após dissecção de submucosa, manter IBP por 8 semanas e avaliar uso
de antibióticos na suspeita de perfuração.
Lesões Malignas
 Carcinoma avançado:
 Ressecção cirúrgica

 RT

 QT

 Terapia endoscópica para alívio sintomático:


 Dilatação por balão ou vela de Savary-Gilliard

 Injeção de álcool: ablação da porção vegetante

 Injeção de cisplatina/epinefrina

 Coagulação com plasma de argônio: resposta fugaz

 Crioablação
Lesões Malignas
 Stents metálicos auto-expansíveis:
• Método de escolha;.
• Mais bem indicados para lesões em terço médio.
• Preferencialmente recobertos (evitar invasão tumoral da malha metálica).
• Realizar esofagograma 24h após inserção para avaliar posicionamento e
expansão da prótese.
• Complicações: reobstrução, migração, dor torácica, refluxo, pneumonia.
Lesões Malignas
 Seguimento:
 EDA com lugol anualmente em pacientes de grupos de riscos.
 Pós-dissecção endoscópica: reavaliação a cada 3 meses no primeiro
ano, semestralmente no segundo ano e anualmente por 5 anos.

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