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Cardeno de

Apontamentos
Pediatria

1
Índice
Amigdalite Aguda 5
Amigdalite Aguda Bacteriana............................................................5
Amigdalite Aguda Viral......................................................................7
Anafilaxia 8
Angioedema 10
Asma (Agudização) 11
Asma (Crónica) 13
Bronquiolite 16
Candidíase do Períneo 18
Cefaleias 19
Celulite Orbitária e Periorbitária 22
Celulite Orbitária ou Pós-septal......................................................22
Celulite Periorbitária ou Pré-septal.................................................24
Conjuntivite 25
Ophthalmia neonatorum (Conjuntivite Neontal):..........................25
Conjuntivite Bacteriana...................................................................27
Conjuntivite Viral.............................................................................28
Conjuntivite Alérgica.......................................................................29
Convulsão Febril 30
Dermite das Fraldas 32
Desenvolvimento 33
Desidratação 35
Diarreia 36
Diversificação Alimentar 38
Doenças Exantemáticas 39
Eritema Infeccioso (5ª Doença/Megaloeritema)............................40
Escarlatina.......................................................................................41
Exantema Subitum (6ª Doença)......................................................42
Febre escaro-nodular......................................................................43
Rubéola...........................................................................................44
Sarampo..........................................................................................45
Síndrome de Kawasaki....................................................................47
Varicela............................................................................................49
Dor Abdominal 50
Estrófulo 52

2
Evicção Escolar 53
Exame Neurológico 54
Febre 59
Febre sem sinais de localização:.....................................................59
Formulário 61
Gastroenterite Viral 64
Infecção Urinária 66
Ingestão de Corpo Estranho 68
Meningite 70
Molusco Contagioso 72
Mononucleose Infecciosa 73
Náuseas e Vómitos 75
Obstipação 78
Otite Externa Aguda 80
Otite Média 81
Otite Média Serosa.........................................................................81
Otite Média Aguda..........................................................................82
Parasitoses 84
Lombrigas........................................................................................84
Oxiúros (Enterobiose).....................................................................85
Giardíase.........................................................................................86
Pneumonia 87
Púrpura de Henoch Schönlein 90
Sépsis 91
Traumatismo Crânio-Encefálico 94
Urticária 96
Vacinação 97
Valores de referência 98
Frequência respiratória e cardíaca..................................................98
Hipertensão:....................................................................................99
Hipotensão:.....................................................................................99
Taquipneia:......................................................................................99
Tensão arterial:.............................................................................100
Notas 104

3
4
Amigdalite Aguda
Amigdalite Aguda Bacteriana
Agentes: Streptococcus pyogenes é o agente mais frequente.
Aparece mais frequentemente em crianças em idade escolar ou em
crianças mais pequenas que tenham contacto com outras em idade
escolar.
Sintomas:
Início súbito, Odinofagia e disfagia, Febre e calafrios, Cefaleias,
Sintomas GI (náuseas e vómitos, dor abdminal), Adenopatias
cervicais anteriores, Mal-estar, Otalgia referida, Dores musculares.
Em crianças com <3 anos podem aparecer sintomas atípicos –
congestão nasal com rinorreia, febre baixa, adenopatias cervicais.
Em crianças com <1 ano pode manifestar-se como irritabilidade,
anorexia e febre baixa.
Sinais: Língua seca, Eritema, Exsudato.

Diagnóstico:
Alto grau de suspeição de amigdalite por S. pyogenes se:
Idade 5-15 anos,
Estação do ano: Inverno, Primavera,
Evidência de faringite aguda ao exame objectivo,
Adenopatia cervical anterior >1 cm, dolorosa,
Febre: 38.3° - 39.4°C,
Ausência de sinais e sintomas tipicamente associados a infeções
respiratórias virais.

Cultura de exsudado faríngeo é o exame de eleição.


Teste rápido S. pyogenes – menos sensível, quando negativo deve ser
realizado exame cultural.
Serologia - TASO (título de anti-estreptolisina O) – permite distinguir
entre criança portadora e infectada. Subida de AC acontece 2-3
semanas após início do quadro.

5
Complicações:
Abcesso (periamigdalino, retrofaríngeo); Glomerulonefrite pós-
estreptocócica; Febre reumática.

Tratamento:
Penicilina benzatínica IM (50 000 U/Kg ou 600 000 U se < 20 Kg e 1
200 000 U se >20Kg), toma única;
Ou
Amoxicilina 50 mg/Kg/dia, 12/12h, durante 7-10 dias.
Se hipersensibilidade imediata:
Eritromicina 40-50 mg/Kg/dia, 8/8h.
Ou
Clindamicina 20 mg/Kg/dia, 8/8h.
Ou
Claritromicina 15 mg/Kg/dia, 12/12h, durante 10 dias.
Ou
Azitromicina 10 mg/Kg/dia, 24/24h, durante 3 dias.

Considerar amigdalectomia se:


Abecsso amigdalino,
Mais de 6 episódios num ano,
Mais de 3-4 episódios/ano, em 2 anos consecutivos.

6
Amigdalite Aguda Viral
Agentes:
Adenovírus  pode aparecer conjuntivite e
febre (febre faringo-conjuntival),
Vírus Coxsackie  pode provocar herpangina
ou síndrome mão-pé-boca.
Síndrome mão-pé-boca: Febre + vesículas
orais + lesões vesiculares nas mão, pés, região
glútea e genitais. Resolução espontânea em 2
– 3 dias. Transmissão: por secreções nasais,
saliva, exsudado das bolha, e fezes. Deve haver evicção escolar nos
primeiros dias da doença se houver lesões expostas na boca ou na
pele. Herpangina: na faringe posterior podem aparecer pequenas
vesículas, de 1-2 mm, cinzentas e úlceras – muito dolorosas + febre +
odinofagia. Afecta crianças de 3 – 10 anos.
Vírus Epstein-Barr  exsudado, linfadenite cervical,
hepatoesplenomegalia, erupção cutânea, fadiga (mononucleose
infecciosa).
Vírus Herpes Simplex  febre alta e gengivoestomatite.

Sinais e sintomas:
Início mais gradual, Tosse, Rinorreia, coriza, rouquidão, exantema
viral, Diarreia.

Complicações:
Otite média aguda bacteriana.

Tratamento: de suporte.

7
Anafilaxia
Causas mais frequentes: alimentos (ovos, leite de vaca, frutos secos,
trigo); picadas de insectos e medicamentos (ß lactâmicos – Penicilinas
e Cefalosporinas, e AINEs).
Manifestações:
Cutâneas (90%): sensação de calor, eritema, prurido, urticária,
angioedema, pilo-erecção.
Respiratórios (70%): congestão ou prurido nasal, rinorreia, espirros;
prurido e sensação de aperto na garganta, disfonia, rouquidão,
estridor; dispneia; sensação de aperto no peito, sibilos, tosse,
cianose.
Gastrointestinais: náuseas, vómitos, dor abdominal tipo cólica,
diarreia, disfagia.
Cardiovasculares: pré-síncope, síncope, alteração do estado de
consciência, dor torácica, palpitações, taquicardia, bradicardia ou
outra disritmia, hipotensão, visão em tunel, dificuldades de audição,
incontinência fecal ou urinária, paragem cardiaca.
Diagnóstico: suspeitar se um dos seguintes critérios:
1 – Início agudo da doença (minutos a horas), com envolvimento
cutâneo e/ou das mucosas + compromisso respiratório OU PA ou
sintomas associados (hipotonia, síncope, incontinência).
2 – Aparecimento de pelo menos 2 dos seguintes, minutos a horas
após exposição a um provável alérgeno: envolvimento da pele e/ou
mucosas OU compromisso respiratório OU PA ou sintomas
associados OU sintomas GI.
3 – PA minutos a horas após exposição a um alérgeno conhecido.
(PA: 1m-1A <70mmHg; 1A-10A <70 + (2 x idade)mmHg; 11A-17A
<90mmHg).
Diagnóstico diferencial: Urticária generalizada ou angioedema;
Exacerbação da asma ; Síncope; Ataque de pânico ou ansiedade.
Tratamento:
Internamento para vigilância até estabilidade clínica.
Remover alergéneo.
Monitorização cardio-respiratória, permeabilização da via aérea. O2
por máscara facial 6-8 L/min.

8
Colocar em decúbito com elevação dos membros inferiores.
Adrenalina (1:1000) sc ou im 0,01 mg ou ml/Kg/dose se <40Kg; se
>40Kg 0,3-0,5 mg ou ml/dose. Pode repetir-se a cada 5-15 min, máx.
3 doses.
Se choque fazer bólus de SF 20 ml/Kg em 5-10 min. Repetir conforme
necessário.
Antihistamínicos H1/H2:
Clemastina 0,025 mg/Kg/dose (máx. 2mg), IM ou IV;
Hidroxizina 0,5-1 mg/Kg/dose IM ou 1-2 mg/Kg/dose po máx.
100mg;
Ranitidina 1,5 mg/Kg/dose IV ou po.
Corticóides sistémicos:
Hidrocortisona 5 mg/Kg/dose máx. 500 mg;
Metilprednisolona 1 mg/Kg/dose;
Prednisolona 1-2 mg/Kg/dose máx. 60 mg, IV ou po.
Broncodilatadores (se sibilos ou TE): Salbutamol MDI+CE com
máscara (4A) ou bucal (5A) – 4 puffs (5-10 cr/puff) ou nebulizado -
0,03 mL/Kg (mín 0,25 mL, máx 1 mL) + 3mL SF.
Aminofilina impregnação 6-10 mg/Kg diluído em 100 ml SF IV em 30
min, seguido de perfusão contínua 0,8-1 mg/Kg/h ou 15-18
mg/Kg/dia 8/8h.
Se sintomas refractários:
Adrenalina em perfusão: 0,1-1 mcg/Kg/min IV até 1,5 mcg/Kg/min.
Vasopressores: Dopamina 5-20 mcg/Kg/min.
Se doente a fazer ß bloqueantes ou IECAs: Glicagina 20-30 mcg/Kg
(máx 1mg) IV durante 5 min. Pode repetir-se a dose ou fazer-se
infusão de 5-15 mcg/min.

UpToDate; Protocolos de Urgência em Pediatria

9
Angioedema
Edema da pele e mucosas, que aparece em minutos a horas,
autolimitado (regressão das lesões, sem sequelas, em 72 horas),
tipicamente assimétrico.
Afecta normalmente a face, lábios, garganta, laringe, úvula,
extremidades e genitais, não se relacionando com áreas
gravitacionalmente dependentes. Angioedema da parede intestinal
manifesta-se como dor abdominal tipo cólica.
Associa-se a dor em vez de prurido.
Pode aparecer isoladamente ou em associação a urticária ou
anafilaxia.

Tratamento:
Se angioedema isolado é semelhante ao tratamento da urticária.
Se angioedema associada a anafilaxia faz-se tto da anafilaxia.
Se progressão rápida, considerar entubação endotraqueal precoce.

10
Asma (Agudização)
Ligeira Moderada Grave Emergente
Sintomas
Em repouso,
Dispneia Com a marcha, Em repouso,
inclinado para a
tolera o prefere estar
frente, recusa
decúbito sentado
alimentar
Discurso Normal Frases curtas Palavras Não reactivo
Geralmente Geralmente Confuso,
Agitação Normal
agitado agitado sonolento
Sinais
Diaforese Ausente Presente Presente Presente
Cianose Ausente Ausente Possível Presente
Freq Mt aumentada,
Aumentada Aumentada Diminuída
respiratória >30 cpm
Valores de referência
< 2 meses < 60 cpm
2 – 12 meses < 50 cpm
1 – 5 anos < 40 cpm
6 – 8 anos < 30 cpm
Uso dos
Movimento
músculos
Normalmente toraco –
acessórios e Presente Presente
ausente abdominal
tiragem supra-
paradoxal
esternal
Moderados,
Bem audíveis Audíveis
Sibilos por vezes só no Ausentes
em toda a E durante I e E
final da E
Tempo Muito
Prolongado Prolongado Difícil de avaliar
expiratório prolongado
Pulso < 100 bpm 100-120 bpm > 120 bpm Bradicardia
Valores de referência
2 – 12 meses < 160 bpm
1 – 2 anos < 120 bpm
2 – 8 anos < 110 bpm
Pode estar Geralmente Ausente por
Ausente (< 10
Pulso paradoxal presente (10-25 presente (20-40 fadiga dos músc
mmHg)
mmHg) mmHg) respiratórios
Avaliação Funcional
Normal, GSA  60 mmHg,
PaO2 (ar
geralmente GSA geralmente < 60 mmHg
ambiente)
desnecessária desnecessária
< 42 mmHg, < 42 mmHg,
PaCO2 (ar
GSA geralmente GSA geralmente  42 mmHg
ambiente)
desnecessária desnecessária
Sat O2  95% 93– 94%  92%

11
Avaliar: factores desencadeantes, duração do episódio, gravidade da
crise, resposta ao tto de crise, periodicidade das crises, terapêutica
de base, internamentos anteriores.
Exames complementares de diagnóstico: Deve considerer-se a
realização de RX tórax na presença de sinais focais ao EO (fervores ou
diminuição do MV), febre (>39°C) ou doença grave.
Tratamento:
Exacerbação Ligeira Exacerbação Moderada Exacerbação grave
O2 em óculos nasais ou máscara de maneira a obter
Salbutamol MDI+CE ou uma saturação  95% (normalmente 6-8L/min).
nebulizado
Repetir, se necessário,
1ª HORA

Salbutamol + Salbutamol +
cada 20 min (até 3 Brometo de Ipratrópio Brometo de Ipratrópio
doses). MDI+CE ou nebulizado nebulizado
Prednisolona se não Repetir, se necessário, Repetir, se necessário,
houver resposta ou se cada 20 min (até 3 cada 20 min (até 3
toma recente de doses). doses).
corticóide oral. Prednisolona. Prednisolona.

Salbutamol: MDI+CE com máscara (4A) ou bucal (5A) – 4 puffs (5-10 cr/puff) ou nebulizado -
0,03 mL/Kg (mín 0,25 mL, máx 1 mL) + 3mL SF.
Brometo de Ipratrópio MDI+CE – 4 puffs ou nebulizado 250-500 ug (250 ug se < 20Kg, 500ug se
>20Kg).
Prednisolona 1-2 mg/Kg/dose (máx 60mg/dose).
Reavaliar
Boa resposta (resposta mantida 60 min Mantém exacerbação moderada ou
após último tto, sem dif respiratória) grave
Salbutamol + Brometo de Ipratrópio
Alta medicado com:
1 – 3 HORAS SEGUINTES

MDI+CE ou nebulizado, a cada 60 min ou


Salbutamol: Ventilan Inalador® ou
contínuo
Salbutamol generis® 100ug 4 puffs,
Corticóide oral ou ev (Prednisolona ou
(aerochamber se 4A, volumatic se 5A)
Metilprednisolona) até 4/4h máx 48h
ou Ventilan® 5mg/ml diluído em 3-4 mL
Ponderar monitorização CR
de SF, 6/6h.
Ponderar internamento
Prednisolona: Lepicortinolo® 5mg ou 20
Internamento em UCIP se: PaCO 2 >55
mg, 1-2 mg/Kg/dia, 2x/dia durante 3-5
mmHg; PaO2 < 50 mmHg;
dias.
Sonolência/Obnubilação; Angústia
Reavaliação por médico assistente em 1-
respiratória; Palidez/cianose/sudação;
4 semanas.
Silêncio vesicular
Reavaliar
Sem melhoria:
Sulfato de magnésio 40 mg/Kg (máx 2g) IV em 20 min.
Aminofilina impregnação 6-10 mg/Kg diluído em 100 ml SF IV em 30 min, seguido de perfusão
contínua 0,8-1 mg/Kg/h ou 15-18 mg/Kg/dia 8/8h

Deve manter-se terapêutica de fundo durante a crise.

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Asma (Crónica)
Diagnóstico:
 História clínica - Pesquisar: Factores de risco (Htx de atopia, Hxt
familiar), Factores desencadeantes e exposição aos mesmos,
Sintomas, Tratamento (de fundo e em SOS), Necessidade de recorrer
a serviços médicos, Assiduidade e aproveitamento escolar, Actividade
física, Doenças anteriores.
Factores desencadeantes: Alérgenos (polen, bolor, animais);
Infecções respiratórias (principalmente por vírus); Irritantes (tabaco,
perfumes, químicos, sulfitos); Exercício (normalmente 10-15 min
após início); Inflamação das vias aéreas sup (sinusite, rinite); Clima
(humidade, chuva, vento, frio); Outros (RGE).
Sintomas: 80% tem sintomas <5A - Tosse – (nocturna, sazonal, em
resposta a factores desencadeantes ou > 3 semanas); Sibilância.
Sintomas sazonais – asma atópica.
 EO: se houver alterações suspeitar de asma grave, mal controlada
ou com atopia.
 ECD: Espirometria – em todas as crianças
>5A e com suspeita de asma. Se FEV1 < 80%
e FEV1/FVC < 85% - obstrução.
Deve ser realizada antes e após
administração de broncodilatador.
Reversibilidade se houver  FEV1>9%.
Diagnóstico diferencial – suspeitar de
diagnóstico  asma se:
Hxt: Início precoce dos sintomas; Dificuldade respiratória/suporte
ventilatório neonatal; Disfunção neurológica neonatal; Sibilância
associada à alimentação, vómitos ou sem resposta a BD; Diarreia; Má
progressão ponderal; Necessidade O2>1 semana após crise.
EO: “Failure to thrive”; Baquetamento digital; Sopro cardíaco;
Estridor; Sinais focais ou fervores na AP; Pólipos nasais; Cianose.
ECD: Alterações focais ou persistentes no RX; Anemia; Obstrução
irreversível da via aérea; Hipoxemia.

13
Avaliação da Gravidade:

Persistente
Intermitente
Ligeira Moderada Grave
Sintomas 2d/sem >2d/sem Diariamente Várias X/dia
SABA em SOS 2d/sem >2d/sem Diariamente Várias X/dia
Despertar 4 A 0 1-2X/mês 3-4X/mês >1X/sem
noturno 5-11 A 1-2X/mês 3-4X/mês >1X/sem 7X/sem
Interferência com a
Nenhuma Ligeira Alguma Muita
vida normal
Função FEV1 >80% >80% 60-80% <60%
pulmonar
(5-11A) FEV1/FVC >85% >80% 75-80% <75%

Despertar noturno 1X/mês 2X/mês >1X/sem


Mal
Controlo da Doença Controlada Pouco controlada
controlada

O tratamento faz-se por degraus, de acordo com a classificação da


asma:
Ligeira – degrau 2
Moderada – degrau 3
Grave – degrau 4, 5 ou 6

Deve usar-se medicação de base em:


 Crianças com asma persistente ou com risco de desenvolveram
asma persistente (0-4A: 2 crises/6m 5-11A: 2 crises/1A com
necessidade de corticóides sistémicos).
 Crianças com asma intermitente mas com exacerbações graves.

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Tratamento: por degraus.

Asma
Asma Persistente
intermitente
Degrau 1 Degrau 2 Degrau 3 Degrau 4 Degrau 5 Degrau 6

CI em doses
altas
CI em doses +
0-4 Anos

CI em doses altas LABA ou


CI em doses médias + Montelukast
baixas CI em doses + LABA ou +
ou Cromolina médias LABA ou Montelukast Corticoides
SABA Montelukast
ou orais
Montelukast

Considerar imuno-terapia se asma alérgica

CI em doses
CI em doses baixas
baixas + CI em doses
SABA CI em doses
Cromolina, LABA ou LTRA CI em doses altas
médias altas
5-11 Anos

LTRA, ou Teofilina +
Nedocromil + + LABA ou LTRA
OU
ou Teofilina LABA ou LTRA LABA ou LTRA ou Teofilina
CI em doses
ou Teofilina ou Teofilina +
médias
Corticoides
orais

15
Bronquiolite
Etiologia: VSR (85%)
Clínica: Mais frequente nos 2 primeiros anos de vida
Pródromo (2-3 dias): Rinorreia mucosa anterior, obstrução nasal,
tosse, anorexia, febre moderada.
Fase aguda (5 dias): dificuldade respiratória (polipneia, tiragem, adejo
nasal), sibilos.
Em crianças <6m e no ex pré-termo pode apresentar-se como
episódios de apneia e cianose.
EO:
Contar Frequência respiratória – critério de gravidade
SatO2 - critério de gravidade. Manter Sat>92%.
Pseudo-hepatomegália por hiperinsuflação
AP: fervores dispersos e/ou sibilos.

Gravidade:
Ligeira Moderada Grave
Freq. <50 (<6m); 50-70(<6m); >70(<6m);
Respiratória <40 (>6m) 40-50 (>6m) >50 (>6m)
Tiragem Discreta Moderada Global
Sat O2 >92% 88-92% <88%
I:E – 1:2, Sibilos
Auscultação TE aumentado
bilaterais
Cianose, toxicidade
Estado Boa hidratação, boa sistémica, má perfusão
geral tolerância oral periférica, apneia
recorrente

Complicações:
Pneumonia, atelectasia, pneumotórax, apneia, insuficiência
respiratória aguda, otite (fazer otoscopia).

ECD: RX tórax se: Doença grave; Deterioração súbita; Evolução


arrastada; Patologia cardíaca ou respiratória; Sinais localizados na
auscultação. GSA se: Necessidade de apoio ventilatório. Hemograma
+ PCR se: Suspeita de infecção bacteriana; Deterioração clínica;
Evolução arrastada.

16
Tratamento:
Se possível no domicilio.
Medidas gerais (elevar a cabeceira, hidratação, alimentação
fraccionada, antipiréticos, desobstrução nasal com SF e aspiração 2-
3x/dia antes das refeições),
Aerossol com soro fisiológico (5 cc, 8/8h durante 3-5 dias),
Broncodilatadores (se prova positiva):
- só se > 6 meses,
- prova terapêutica com Salbutamol em câmara expansora - 1 puff
por cada 10 Kg.
Reavaliar após 20 – 60 minutos.
Aerossol de Salbutamol (0,03 ml/Kg/dose – min 0,3 e máx 1 ml,
diluido em 3-5 cc soro, 6/6h durante 3-5 dias).

Critérios de Internamento:
Bronquiolite moderada a grave, apneia;
Alimentação insuficiente com risco de desidratação;
Necessidade de Oxigénio para SaO2 >91%;
Ar tóxico, cianose (tardia);
Incapacidade para tratar no domicílio.
- quando o internamento é necessário faz-se identificação viral
(estudo epidemiológico) e RX de tórax de modo a diagnosticar
complicações.

Critérios de alta:
FR<70 cpm;
Estável sem O2;
Boa tolerância oral;
Capacidade e educação dos cuidadores.

17
Candidíase do Períneo

Se a dermite das fraldas for deixada sem


tratamento por mais de 3 dias pode aparecer
infecção secundária por Candida.
Aparacem placas eritematosas (vermelho
escuro), por vezes com aspecto exsudativo,
com inúmeras pápulas e pústulas de 1-2 mm,
e com lesões satélite dispersas
perifericamente.
Ao contrário da dermite não poupa as
pregas.

Tratamento:
Clotrimazol a 1% (10mg/g) tópico, 12/12h, durante 7 dias. Alternar
com pasta de óxido de zinco.

18
Cefaleias
As cefaleias podem ser primárias (enxaqueca, cefaleia de tensão,
cefaleia em cluster) ou secundárias.
Caracterização da cefaleia:
Localização (holo ou hemicraniana, fixa ou variável);
Tipo (pulsátil, opressiva, aguda, inespecífica);
Tempo de evolução (horas, dias, meses, >1 ano);
Periodicidade (aguda, aguda recorrente, crónica, progressiva);
Desencadeantes (exercício, trauma, menstruação…);
Acompanhantes (febre, náuseas, convulsões, alt neurológicas…).
Cefaleias primárias:
Enxaqueca Cefaleia de tensão Cefaleia em cluster
Normalmente Sempre unilateral,
bilateral em crianças normalmente
Localização Bilateral
e unilateral em começa na têmpora
adolescentes ou à volta do olho
Início progressivo,
Início rápido, que
em crescendo,
Pressão ou aperto alcança o pico em
pulsátil, moderada
Características que aumenta e minutos, dor
ou grave, agravada
diminui profunda, contínua,
por actividade física
explosiva
de rotina
Comidas, odores,
luzes fortes, barulho,
Stress, luzes fortes,
privação do sono,
Desencadeantes barulho, exercício Decúbito, descanso
menstruação,
extenuante
actividade
extenuantes
Prefere descansar
Aspecto do Pode estar activo ou
num quarto escuro e Mantém-se activo
doente preferir descansar
em silêncio
Duração 1-72 horas Variável 30 min-3 horas
Normalmente ao fim 2-3X/dia durante
Frequência 2-4X/mês
do dia meses
Lacrimejo ipsilateral,
hiperémia
conjuntival, nariz
Náuseas, vómitos,
Sintomas entupido, rinorreia,
fotofobia, fonofobia, Nenhuns
acompanhantes palidez, sudação,
pode ter aura
Síndrome de Horner,
sensibilidade ao
alcool

19
Sinais de Alarme:
Cefaleia que acorda a criança ou que surge ao acordar (Pressão IC
ou lesão ocupante de espaço);
Cefaleia associada a sinais e sintomas neurológicos (Pressão IC ou
lesão ocupante de espaço);
Cefaleia súbita grave (Hemorragia intracraniana);
Cefaleia que agrava com o decúbito ou o esforço, tosse, micção,
defecação;
Padrão crónico progressivo;
Alteração da gravidade, qualidade, frequência, ou padrão da cefaleia;
Cefaleia occipital (neoplasia da fossa posterior ou enxaqueca basilar);
Cefaleia localizada recurrente;
Factores de risco para patologia intracraniana (drepanocitose,
imunodeficiência, patologia maligna actual ou pregressa,
coagulopatia, doença cardíaca com shunt direito-esquerdo,
traumatismo craniano, neurofibromatose tipo 1, esclerose tuberosa
complexa).
Aspectos a ter em conta ao Exame Objectivo:
Aparência Alteração do estado Meningite, encefalite, hemorragia
geral consciência intracraniana, Pressão IC, Encefalopatia HT
Causa da cefaleia ou como consequência de
HT
Pressão IC
Sinais vitais
Por infecção, hemorragia intracraniana ou
Febre
neoplasia
P. Cefálico Macrocefalia Pressão IC lentamente progressiva
Curvas de
Trajectória anormal Patologia intracraniana
crescimento
Auscultação Sopros Por malformações arterio-venosas
Edema do escalpe Traumatismo
Palpação Sensibilidade dos seios Sinusite
Rigidez da nuca Meningite
Campos
Alteração Pressão IC ou lesão ocupante de espaço
visuais
Papiledema Pressão IC
Fundoscopia
Hemorragias Pressão IC ou traumatismo
Hiperémia, opacificação,
Otite média
Otoscopia abaulamento do tímpano
Hemotímpano Traumatismo
Orofaringe Sinais de infecção Faringite, abcesso dentário
Observação Lesões cutâneas Neurofibromatose, esclerose tuberosa
da pele sugestivas de síndromes complexa

20
neurocutâneaos
Possíveis causas de cefaleias
Comuns Potencialmente fatais 
Infecção viral, incluindo
Meningite bacteriana
meningite viral
Faringite Encefalite viral
Infecção
Otite média Abcesso orbitário ou cerebtal
Sinusite
Infecção dentária
Tumor
Pressão
Hidrocefalia
Intracraniana
Hemorragia intracraniana
Cefaleias Enxaqueca
primárias Cefaleia de tensão
Intoxicação por monóxido de
Outras causas carbono
Encefalopatia HT

Indicações para realização de exame de imagem:


Quando existem sinais de alarme deve realizar TC ou RM (2ª linha)
Indicações para realização de PL:
Suspeita de infecção, hemorragia sub aracnoideia ou HT intracraniana
idiopática.

Tratamento: (PUPS)
Analgesia com AINE se não houver suspeita de hemorragia.
Ibuprofeno 10 mg/Kg po.
Alternativa: Paracetamol (10-20mg/Kg/dose po ou iv, máx
90mg/Kg/dia).

21
Celulite Orbitária e Periorbitária
Celulite Orbitária ou Pós-septal
Atinge os tecidos localizados posteriormente ao septo orbitário.
Causa mais frequente: sinusite.
Agentes mais frequentes: Normalmente é uma infeção
polimicrobiana (Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus,
Streptococcus pyogenes).

Apresentação: Dor com os movimentos oculares; Diminuição da


motilidade ocular (oftalmoplegia); Proptose; Diplopia; Quemose
(inflamação edematosa da conjuntiva, que origina rebordo saliente
avermelhado à volta da córnea); Febre; Leucocitose com neutrofilia.

Diagnóstico Diferencial: Principalmente com celulite periorbitária.


Sinal/Sintoma Celulite Periorbitária Celulite Orbitária
Edema da pálpebra, com
Sim Sim
ou sem eritema
Sim, pode existir dor
Dor/Sensibilidade ocular Pode existir
profunda
Dor com movimentos
Não Sim
oculares
Normalmente presente,
Proptose Não
mas pode ser subtil
Oftalmoplegia +/- Diplopia Não Sim
Alterações da visão Não Podem estar presentes
Quemose Raramente Podem estar presentes
Febre Pode estar presente Normalmente presente
Leucocitose Pode estar presente Pode estar presente

Exames de imagem – não é consensual a realização de TC a todas as


crianças com celulite orbitária.
Segundo o Up To Date as indicações são:
Sinais e sintomas sugestivos de celulite orbitária (dor com os
movimentos oculares, diplopia, oftalmoplegia, proptose),
Edema que ultrapassa as margens das pálpebras,

22
Impossibilidade de avaliar a visão (normalmente < 1 ano),
Diminuição da acuidade visual,
Neutrofilia > 10 000/microL,
Sem melhoria após 24h a 48h após início de terapêutica adequada,
Sinais ou sintomas de envolvimento do SNC.

Complicações: Abcesso subperiósteo – terapêutica médica; Abcesso


da órbita – CIRURGIA URGENTE!; Meningite; Abcesso cerebral;
Trombose do seio cavernoso; Osteomielite; Cegueira.

O abcesso subperiósteo e da órbita são as duas complicações mais


frequentes. Para a sua exclusão, deve ser feito diariamente:
Avaliação da acuidade visual,
Teste do reflexo pupilar à luz – se ausente ou  indica envolvimento
do nervo óptico.

Tratamento(PUP):
Sempre em internamento.
Deve colher-se hemoculturas antes de iniciar AB.
AB de acordo com o foco primário de infeção:
Lesão cutânea: Flucloxacilina 100 mg/Kg/dia IV.
Outras causas: Amoxicilina+Ácido Clavulânico 50 mg/Kg/dose 6/6h
ou 8/8h (IV pelo menos durante 4 dias). Deve manter-se AB até que
todos os sinais de celulite desapareçam (pelo menos 2 a 3 semanas).
Se não houver melhoria após 24-48h de AB deve repetir-se TC.

23
Celulite Periorbitária ou Pré-septal
Atinge os tecidos localizados anteriormente ao septo orbitário.
Mais frequente nas crianças com <3 anos.
Causas: Lesão da pálpebra, Infeções contíguas (hordéolo,
dacriocistite, chalázio), Varicela, Picadas de insectos.
Agentes mais frequentes: Staphylococcus aureus e Streptoccocus
pyogenes. Também Streptococcus pneumoniae e anaeróbios.

Apresentação: Edeme e eritema da pálpebra; Dor; Febre ligeira (pode


não estar presente).

Diagnóstico Diferencial: Celulite orbitária, Alergia, Hordéolo,


Conjuntivite.

Indicações para TC: Edema das pálpebras marcado, Febre,


Leucocitose, Sem melhoria após 24-48h de antibioterapia adequada.

Indicações para internamento (tratar como celulite orbitária):


Idade < 1 ano de idade, Dificuldade no exame objectivo, Aparência de
doença grave.

Complicações: Progressão para celulite orbitária.

Tratamento(PUP):
Deve realizar-se hemoculturas antes de iniciar AB (em
internamento).
AB 7-10 dias. Se após este período persistirem sinais da doença deve
manter-se AB até que estes estejam praticamente resolvidos.
AB de acordo com o foco primário de infeção:
Hordéolo ou lesão traumática: Flucloxacilina 50-100 mg/Kg/dia 6/6h
PO ou IV;
Infeção respiratória ou conjuntivite: Amoxicilina + Ácido Clavulânico
50 mg/Kg/dia 8/8h PO ou IV.

24
Conjuntivite
Inflamação da conjuntiva, que se divide em conjuntiva bulbar (sobre
o globo ocular), e conjuntiva tarsal (sobre as pálpebras)3.
All conjunctivitis is characterized by a red eye, but not all red eyes are
conjunctivitis.3
Divide-se em3: conjuntivite infecciosa: bacteriana ou viral; não
infecciosa: alérgica ou não alérgica. Todas as causas de conjuntivite
podem causar sintomas dos olhos “colado” ao acordar.
Sinais de alarme: acuidade visual, hiperémia mais pronunciada no
limbo, fotofobia, sensação de corpo estranho muito intensa que
impede o doente de abrir o olho, opacidade da córnea, pupila fixa,
cefaleia grave com náuseas.

Ophthalmia neonatorum (Conjuntivite Neontal):


Conjuntivite em RN com < 4 semanas idade.
Manifesta-se por hiperémia conjuntival, quemose, edema das
pálpebras e exsudado que pode ser purulento.
Causas:
Nitrato de Prata (6-12h após nascimento, auto-limitada, resolve-se
após 24-48h);
N. gonorrhoeae (incubação 2-5 dias) inflamação ligeira e exsudado
sero-sanguinolento, que após 24h passa a espesso e purulento,
edema das pálpebras e quemose marcada ;
C. trachomatis (incubação 5-14 dias)  causa mais frequente nos
países desenvolvidos2. Provoca inflamação das pálpebras, de ligeira a
grave, com exsudado purulento intenso. A córnea raramente é
afectada;
S. aureus  semelhante a C. trachomatis;
P.aeruginosa (incubação 5-18 dias) rara, nosocomial. Edema e
eritema das pálpebras, exsudado purulento, endoftalmite, sépsis,
choque e morte.
Diagnóstico diferencial: Dacriocistite com Dacriocistocelo.

25
Complicações2: N. gonorrhoeae  cegueira, sépsis; C. trachomatis 
pneumonia.
Tratamento4:
N. gonorrhoeae  Internamento. Ceftriaxona, 25-50 mg/kg (máx 125
mg) IM em toma única, limpeza com SF inicialmente a cada 10-30
min, passando depois a intervalos de 2h até desaparecimento do
exsuado.
C. trachomatis  Eritromicina 40 mg/kg/dia 6/6h po durante 14 dias
ou Claritromicina 15 mg/Kg/dia 12/12h po durante 14 dias. Tratar os
pais: Eritromicina durante 14 dias ou Azitromicina em toma única.
S. aureus, S. pneumoniae, H. influenzae  Oxitetraciclina (pomada
oftálmica) ou Cloranfenicol (pomada oftálmica), 8/8h, durante 7 dias
e limpeza com SF.
P.aeruginosa  AB sistémico, incluindo Aminoglicosídeo,
Gentamicina local e limpeza com SF.

Profilaxia:
Tratamento da infeção materna antes do parto2.
Instilação de gotas de 0.5% Eritromicina ou 1% Nitrato de Prata nos
olhos dos RN após o parto.

26
Conjuntivite Bacteriana
Muito contagiosa3!
Manifesta-se por: Hiperémia conjuntival, Edema, Exsudado muco-
purulento, Desconforto ocular, que afecta um ou ambos os olhos2.

Causas: Haemophilus influenzae (associado a otite media ipsilateral),


Pneumococos, Estafilococos, Estreptococos, M catarrhalis2,3.

Tratamento:
Compressas mornas,
AB tópico:
Azitromicina 1 gota 2x/dia durante 3 dias.
Ou
Quinolona: Norfloxacina colírio 0,3% 1-2 gotas de 4/4h ou 6/6h,
conforme gravidade, durante 5-7 dias.
Deve fazer-se AB sistémico se houver infeção por C. trachomatis
(Eritromicina 40 mg/kg/dia 6/6h po durante 14 dias ou
Claritromicina 15 mg/Kg/dia 12/12h po durante 14 dias), N.
gonorrhoeae, ou N. meningitidis2.

27
Conjuntivite Viral
Muito contagiosa3!
Manifesta-se por: Exsudado aquoso, Hiperémia conjuntival, Sensação
de “areia” ou ardor, Folículos muito salientes.
Inicialmente afecta apenas um olho, mas normalmente torna-se
bilateral ao fim de 24-48h3.

Causas: Adenovírus  sensação de corpo estranho, prurido e ardor.


Associa-se frequentemente a faringite, com adenopatia pré-auricular
(febre faringo-conjuntival)2. Enterovírus, Herpes simplex 2  Rash
vesicular com envolvimento das pálpebras. Associada a infeções
sistémicas-Sarampo.

Tratamento:
Sem tratamento  é auto-limitada. Normalmente os sintomas
pioram nos primeiros 3-5 dias, mas depois há uma melhoria
progressiva durante 2-3 semanas3.
Anti-histamínicos: Ácido cromoglicídico colírio, 1 gota em cada olho
6/6h durante 7 dias.
A querato-conjuntivite (com inflamação da córnea) por adenovirus é
contagiosa desde o seu aparecimento até 10 a 14 dias depois. As
crianças devem ficar em casa até que deixe de haver hiperémia e
lacrimejo.
A conjuntivite herpética deve ser tratada (Trifluridina 1% ou
Vidarabina 3%, tópico)2.

28
Conjuntivite Alérgica
Manifesta-se por: Prurido intenso, Lacrimejo Edema da conjuntiva.
Normalmente associa-se a outros sintomas alérgicos, como espirros e
rinite.

Tratamento4:
Ácido cromoglicídico colírio, 1 gota em cada olho 6/6h durante 7 dias.
Se houver rinite associada: Ácido cromoglicídico spray nasal, 1
nebulização em cada narina 8/8h, durante 7 dias.

1
Nelson, 2Current, 3Up To Date, 4Terapêutica Pediátrica em Ambulatório

29
Convulsão Febril
Convulsão associada a febre > 38°C.
Normalmente aparece em crianças com idade entre 6m-6A (+ freq
12-18 m). Deve excluir-se infecção ou inflamação do SNC; alterações
metabólicas agudas; história prévia de convulsões não febris.
Normalmente surge no 1º dia de febre.
Podem estar associadas a vacinações: no dia de imunização com DTP
e até 8-14 dias após imunização com VASPR.
As convulsões febris dividem-se em simples e complexas.
Convulsão febril simples: Duração <15 min; Sem alterações focais ou
paralesia pós-crise; Se em série, duração total <30 min.
Normalmente são crises clónicas generalizadas, mas também podem
ser atónicas ou tónicas.
Excluir sempre patologia primária do SNC - sinais e sintomas
sugestivos: Alteração do estado de consciência mantida, sem
recuperação ou com agravamento nas 2 horas após a crise; Sinais
meníngeos; Sinais neurológicos focais persistentes; Sinais de HT
intracraneana; Convulsões focais repetidas; Repetição de crises
convulsivas em 24h; Convulsão inaugural prolongada (>15 min).
Quando se deve realizar PL?
Sinais e sintomas meníngeos ou alterações que façam suspeitar de
meningite ou infecção intracraneana; Crianças 6-12 m com vacinação
contra Hib ou S. pneumoniae ausente ou duvidosa; Crianças sob AB;
Convulsão após 2º dia de febre; Satus epilepticus (crise >30min).
O limiar para realização de PL deve ser menor em crianças com <1
ano.
Quando realizar exame de imagem (TC/RMN)?
Exame neurológico anormal; Crises repetidas com carácter focal;
Sinais e sintomas de HT intracraneana.
Tratamento:
Se duração >5 min.
Diazepam rectal (0,5 mg/Kg/dose ou <1 ano: 2,5 mg/dose; 1-3 anos:
5mg/dose; 4 anos: 5-10 mg/dose) ou IV (0,1-0,3 mg/Kg/dose máx.
5mg se <5anos, 10mg se 5 anos) .

30
Ou Midazolam IV (0,1-0,2 mg/Kg/dose) ou nasal (0,2-0,4
mg/Kg/dose).
Pode repetir-se a dose após 10 minutos.
Se a crise persistir deve fazer-se Fosfenitoína IV 15-20 mg/Kg/dose.
Em ambulatório:
Diazepam rectal 0,5 mg/Kg/dose ou <1 ano: 2,5 mg/dose; 1-3 anos:
5mg/dose; 4 anos: 5-10 mg/dose. Stesolid ® tubo cânula 5mg/2,5ml
e 10mg/2,5ml.
Prognóstico:
Risco de recorrência. Maior se criança com idade baixa (<1A), História
familiar, Febre baixa, Intervalo curto entre o aparecimento da febre e
a convulsão.
Risco de sequelas neurológicas baixo. Ligeiro aumento de risco de
epilepsia.
Tratamento profilático: geralmente não está indicado. Só se criança
com <12-18 meses, com crises frequentes e prolongadas.
Valproato de sódio 20 mg/Kg/dia ou Fenobarbital 3-5 mg/Kg/dia.

31
Croup ou Laringotraqueíte
Causas: vírus (+ comum: parainfluenza principalmente tipo 1, mas
também tipo 2 e 3; VSR; adenovírus). Por vezes pode ser provocado
por bactérias (Mycoplasma pneumoniae). Infecção secundária: S.
aureus, S. pyogenes, S. pneumoniae.
Idade: mais frequente em crianças 6 – 36 meses.
Estação do ano: Outono e Inverno.
Sintomas: início gradual dos sintomas, inicialmente com irritação e
congestão nasal, coriza. Nas 12-48 horas seguintes aparece febre,
rouquidão, tosse seca (“ladrar”), estridor. Taquipneia com aumento
do tempo inspiratório. Sintomas duram 3 – 7 dias.
Avaliação: Aspecto geral (sem ar tóxico); Qualidade da voz
(rouquidão); Dificuldade respiratória – fazer oximetria (taquipneia,
hipoxemia, tiragem, adejo nasal, utilização de músculos acessórios);
Volume corrente (boa expansão torácica?); Auscultação (estridor –
em repouso ou com agitação?); Estado de hidratação.
Diagnóstico: clínico.
ECD: só são necessários se houver dúvidas no diagnóstico.
Gravidade: Score de Westley – pouco útil
0 1 2 3 4 5
Normal
Estado de
(incluindo Desorientado
consciência
sono)
Com
Cianose Ausente Em repouso
agitação
Com
Estridor Ausente Em repouso
agitação
ar ar
Inspiração Normal
inspirado inspirado
Tiragem Ausente Ligeira Moderada Grave
Croup ligeiro ≤2; Croup moderado 3-7; Croup grave 8.
Mais páctico:
Croup ligeiro: sem estridor ou tiragem supra-esternal significativos
em repouso;
Croup moderado: estridor e tiragem supra-esternal em repouso mas
sem agitação;
Croup grave: estridor e tiragem supra-esternal em repouso com
agitação ou letargia.

32
Diagnóstico diferencial:
Doença Sintomas Raio X
AP (sinal “campanário”) e
lateral (estreitamento sub-
Croup 6 – 36m, tosse seca, estridor
glótico e distensão da
hipofaringe)
1 – 3 A, sem pródromo nem febre,
Croup espástico
recorrência dos sintomas
Febre, ar tóxico, ansiedade marcada,
Epiglotite posição em tripé, sialorreia. Sem tosse “de lateral (sinal do polegar)
cão”. Rara se vacinação contra Hib
Traqueíte membranas e irregularidade
Febre, ar tóxico, má resposta à adrenalina
bacteriana da parede da traqueia
Crianças mais velhas e adolescentes,
Abcesso
sialorria, trismo, voz abafada, edema da Não se faz
periamigdalino
amígdala com desvio da úvula, ar tóxico
Alargamento do espaço
2 – 4 A, dor cervical, febre, odinofagia,
Abcesso retrofaríngeo, reversão da
sialorreia, trismo, edema da parede
retrofaríngeo curvatura normal da coluna
posterior da faringe, ar tóxico
cervical
Pneumonia
Sinais de infecção respiratória baixa
bacteriana Infiltrados pulmonares,
(fervores, consolidação)
grave derrame pleural
Aspiração de Visuliazação do corpo
Início súbito, engasgamento, rouquidão
corpo estranho estranho
Anafilaxia Edema dos lábios e da língua, urticária
Tratamento:
Manter a criança calma e confortável;
Dose única de dexametasona oral (0.6 mg/Kg; máx. 10 mg). Pode
dar-se âmpola IV (4mg/ml) por via oral. Alternativa: nedulização de
Budesonido em dose única (2 ml) ou dexametasona IM 0,6mg/Kg.
O2 se hipoxémia (SatO292%);
Se croup moderado a grave: Adrenalina 1:1000 0,5ml/Kg/dose (máx.
5ml), em 3mL SF, nebulização em 15 minutos. Pode repetir-se a cada
15 – 20 minutos. Acção por 2 horas. Monitorização cardíaca
principalmente se 2 doses.
Antipiréticos (Paracetamol ou Ibuprofeno), aerossóis (sem ar quente
pelo perigo de queimaduras), ir para a casa de banho com água
quente a correr para criar vapor, deixar a criança respirar o ar fresco
da noite, hidratação.

A criança deverá ficar em observação por 3-4 horas.

33
Critérios de Internamento:
Croup moderado a grave que não melhora ou piora após tratamento
com adranalina e corticóides; hipoxémia com necessidade de O2;
Tiragem moderada e taquipneia; Ar tóxico; Sem tolerância oral; Idade
<6 meses; Vindas recorrentes ao SU no espaço de 24h.
Critérios de alta:
Sem estridor em repouso; Oximetria normal; Cor normal (sem
cianose ou palidez); Estado de consciência normal; Tolerância oral.
Voltar ao SU se:
Dificuldade respiratória; Palidez ou cianose; Tosse grave; sialorreia ou
disfagia; Incapacidade de falar ou chorar por dificuldade na
inspiração; estridor em repouso; tiragem.
Contagiosidade: até 3 dias depois do início da doença ou até terminar
a febre.

34
Dermite das Fraldas
Lesão inflamatória do períneo, na zona
das fraldas, que poupa o fundo das
pregas. Resulta do contacto mantido de
fezes e urina com a pele.
A área aparece
eritematosa e descamativa, muitas vezes
com lesões papulovesiculares ou bolhosas,
fissuras e erosões.
As manifestações podem variar de eritema
assintomático a lesões dolorosas.
Diagnóstico: Clínico.
Tratamento:
Mudança frequente das fraldas, a cada 2-3h ou se estiver suja
(preferir fraldas descartáveis);
Lavagem do períneo com água morna a cada muda de fralda, secar
com palmadinhas com pano seco. Evitar toalhetes;
Aplicar pasta de óxido de zinco - Halibut ® (não remover a cada muda
de fralda, colocar nova camada por cima da anterior. Se for
necessário remover pode utilizar-se óleo mineral);
Exposição ao ar;
Não se deve colocar pó-de-talco;
Pode usar-se antifúngico se a dermite está presente há mais de 3 dias
(maior risco de infecção);
Regra geral não se deve usar corticóides tópicos. Em casos
selecionados (grande inflamação) pode usar-se hidrocortisona 1%,
em pequena quantidade, 2x/dia (pode aplicar-se juntamente com os
outros cremes) por um período de tempo limitado (3-5 dias). Não se
deve usar cremes com associações fixas.

Complicações:
Ver Candidíase do períneo.

35
36
Desenvolvimento
Funções Nervosas Superiores
Nasc Fixa o olhar por momentos.
2 – 3m Sorriso social, “gorgolejos”.
Segue objecto visual brilhante a 180°. Vira-se. Segura a cabeça
3m
quando é puxado de deitado a sentado. Pestanejo de defesa.
4 – 5m Alcança objectos.
6m Senta-se.
8 – 9m Pinça fina. Aponta com o indicador.
9 – 10m Gatinha, balbucia, sons inespecíficos mama, papa.
10 – 11m Levanta-se, anda com apoio.
12 m Compreende ordens simples. Dá pelo nome.
13 – 14m Anda sozinho, usa 2-3 palavras.
18 – 19m Aponta partes do corpo, usa frases simples.
24 m Nomeia 2-3 partes do corpo, diz a idade, usa frases.
24 – 36 m Conceito de self, refere-se a si próprio como “eu”, diz o nome e idade
36 m Anda de triciclo, faz perguntas, nomeia 3 cores, conta até 3.
4–5A Conceito de alfabeto e números.
5–6A Lê palavras simples. Conta até 10.
6A Copia um triângulo.
6–7A Faz somas e subtrações simples, lê palavras polissilábicas.
7A Copia um hexágono.
Conceitos de divisão, multiplicação, geografia, informação geral como
7–8A
cidades, rios, oceanos..
Sinais de Alarme:
Ausência de tentativa de controlo cefálico. Demasiado “mole” ou “rígido”.
6s Nunca segue a face humana. Não vira os olhos ou a cabeça para o som. Muito
irritado ou sonolento.
Mãos sempre fechadas. Pobreza de movimentos. Não fixa, nem segue objectos
3
com o olhar. Não sorri. Sobressalto ao menor ruído. Chora e grita sempre que
m
se lhe toca.
MI rígidos e passagem directa à posição de pé quando se tenta sentar;
6 assimetrias. Não olha nem pega nos objectos; estrabismo manifesto e
m constante. Não interessado pelo que o rodeia, irritável, estremece sempre que
se lhe toca. Não reage aos sons. Não vocaliza.
Não se senta. Permanece sentado e imóvel; assimetrias. Não tem preensão
9 palmar, nem leva objectos à boca. Não reage aos sons. Vocaliza de um modo
m monótono ou perde vocalização. Engasga-se com facilidade. Não estabelece
contacto, apático.

37
Não aguenta o peso nas pernas. Não procura mudar de posição. Não pega nos
12
brinquedos ou fá-lo só com uma mão. Não responde à voz; não palra. Não
m
brinca, não estabelece contacto. Não mastiga. Assimetrias.
Não se põe de pé, anda em pontas; assimetrias. Não faz pinça fina, atira com
18 os objectos ou leva-os sistematicamente à boca. Ausência de resposta à voz.
m Não vocaliza espontaneamente. Não se interessa pelo que o rodeia. Não
estabelece contacto.
Deita objectos fora e não constrói nada. Não parece compreender; não tem
2 palavras. Não procura imitar, não se interessa pelo meio envolvente, não
A estabelece contacto. Não aponta, não mostra, não pede. Birras excessivas e
desajustadas. Problemas de educação: sono, alimentação, rotinas, regras.
Anda sistematicamente em pontas. Não parece compreender o que se lhe diz.
3 Não junta 2 palavras. Não se interessa pelo meio envolvente, não estabelece
A contacto. Não aponta, não mostra, não pede. Não socializa adequadamente.
Não constrói nada.
Desajeitado, hiperactivo, distraído, dificuldades de concentração. Perturbações
4,
do comportamento: opositivo. Problemas de interacção social. Linguagem
5,6
incompreensível, substituições fonéticas, gaguez. Suspeita de défice auditivo.
A
Suspeita de défice visual.

38
Desidratação
Ligeira (3 – 5%) Moderada (6 – 9%) Grave (10%)

Pulso Normal Rápido Rápido e fraco


PA sistólica Normal Normal a baixa Baixa
Profunda, FR pode Profunda,
Respirações Normal
estar  taquipneia, ou 
Viscosa a
Mucosa oral Seca Seca
ligeiramente seca
Fontanela
Normal Deprimida Muito deprimida
anterior
Olhos Normais Encovados Muito encovados
Turgor
Normal Diminuído Prega curtânea
cutâneo
Pele Normal Fria Fria, acrocianose
Débito Normal ou
Muito  Anúria
urinário ligeiramente 
Sinais Irritabilidade,
Sede Letargia, coma
sistémicos apatia

39
Diarreia
Diarreia = 3 ou mais episódios por dia de fezes líquidas ou mais moles
que o normal.
Causa mais frequente – Gastroenterite!

As principais causas de diarreia variam consoante a idade:


Crianças mais velhas e
Lactentes e crianças pequenas
adolescentes
Infecções GI Virais ou bacterianas; Colite pseudomembranosa 
Infecções não OMA; ITU; outras infecções
Infecções sistémicas
GI sistémicas
Alterações da “Overfeeding”; Alergia alimentar;
“Starvation stools”
dieta “Starvation stools”
Alterações Invaginação; Doença de
Apendicite; Semi-oclusão
anatómicas  Hirschprung; Semi-oclusão
DII  Megacolón tóxico
Medicamentos Diarreia associada a AB
Síndrome do colón irritável;
Outras causas SHU 
Alterações psicológicas

Síndrome Hemolítica Urémica (SHU) – Deve ser considerado em


crianças com <5 anos que se apresentam com diarreia sanguinolenta.
Caracteriza-se por: Anemia hemolítica microangiopática;
Trombocitopénia; Insuficiência renal aguda. Ao EO observa-se palidez
e púrpura. Laboratorialmente aparece aumento da ureia ou
creatinina e hematúria.
Colite Pseudomembranosa – Causada por Clostridium. Caracteriza-se
por diarreia aquosa, associada a dor abdominal nos quadrantes
inferiores, febre baixa, e leucocitose, com aparecimento pouco
depois ou durante a toma de antibiótico.
Apendicite – normalmente surge obstipação mas pode aparecer
diarreia (normalmente mucosa e em pouco volume).

Avaliação: A diarreia pode ser aguda (5 dias), ou crónica.


Exame Objectivo: ter em atenção sinais de desidratação (ver
“desidratação”) e ar tóxico. Se há toxicidade generalizada ou choque
suspeitar de: sépsis ou SHU. Se há uma massa palpável suspeitar de:
apendicite, invaginação ou megacólon tóxico (menos comum).

40
Febre?
Sim  Diarreia sanguinolenta?
Sim  GE bacteriana
Não  GE viral
Não  Diarreia sanguinolenta?
Sim  invaginação, SHU, colite pseudomembranosa 
Não  GE viral

Laboratorialmente: Pedir coprocultura em criança febril com diarreia


francamente mucosa ou sanguinolenta.

41
Diversificação Alimentar
Papa sem glúten: 4 meses. 150 ml de água + papa “a olho”. Ir
alternando sabores diferentes.
Puré de legumes: 5 meses. Fazer sopa com batata, cebola e cenoura
+ 1 fio de azeite. Ir acrescentado legumes, 1 diferente a cada 3 - 4
dias (abóbora, alface, alho francês, agrião, xuxu, feijão verde, nabiças,
agriões, etc. Evitar beterraba, espinafres, nabo, feijão, grão, favas,
tomate, pimentos, pepino).
Fruta: 5 meses. Fruta crua, 1º maça, pêra, banana.
Carne: 5 – 6 meses. 20-30g/refeição. Começar com carnes velhas:
borrego, galinha, peru, coelho, vaca, 1 diferente/semana.
Inicialmente retira-se a carne antes de se bater a sopa.
Papa com glúten: 6 meses.
Outras frutas: tropicais (manga e papaia), uvas e cerejas (sem pele),
melão, ameixa: 7 meses
Peixe: 7 – 9 meses (evitar peixe espada, cação, atum…). Cozer à
parte, altenar com a carne. Após adaptação ao peixe dá-se 2
sopas/dia. (iniciar peixe só aos 10 meses em caso de atopia).
Iogurte natural: 7 – 8 meses (só aos 8 – 10 meses se atopia).
Leguminosas secas (feijão, grão, ervilhas): 8 meses.
Frutas mais alergénicas: Citrinos, morangos, kiwis: 8 – 10 meses (só
>12 meses em caso de atopia).
Gema de ovo cozida: 8 – 10 meses (substitui carne ou peixe, começar
com 1/2).
Arroz, massa, puré: 10 meses. Nesta fase fazer 4 refeições: 2 lácteas
e 2 não lácteas.
Clara de ovo: 12 meses (só aos 15 meses se atopia).
Carne de porco: 12 – 18 meses.
Leite de vaca: >12 - 24 meses.

42
Doenças Exantemáticas
Diagnóstico diferencial numa criança com febre + exantema:
Enterovirus (coxsackievirus, echovirus): podem causar vários tipos de
exantema.
Eritema infeccioso: exantema “em bofetada”.
Escarlatina: Exantema “em papel de areia”, acompanhado de
amigdalite e língua em framboesa.
Exantema Subitum: Febre alta seguida de exantema, inicialmente no
tronco e posteriormente com expansão para o resto do corpo,
poupando a face.
Febre reumática: eritema marginatum (lesões maculares transitórias
com palidez central que se localizam nas faces extensoras dos
extremidades proximais e tronco) e nódulos subcutâneos localizados
nas proeminências ósseas.
Infecção por Epstein-Barr: febre, mal estar, sudorese, anorexia,
náuseas, arrepios, odinofagia, linfadenopatia cervical posterior,
esplenomegalia e exantema maculopapular (especialmente no
tronco, podendo atingir mãos e pés), especialmente após
administração de ampicilina.
Infecção por Mycoplasma: podem aparecer alterações cutâneas,
incluindo exantema ligeiro eritematoso, maculopapular ou vesicular,
eritema multiforme ou Síndrome de Stevens-Johnson.
Rubéola: exantema semelhante ao do sarampo, mas em criança com
bom estado geral. Adenopatias cervicais e occipitais.
Sarampo: Exantema maculopapular vermelho escuro, com início na
cabeça e pescoço que se expande centrifugamente + febre, tosse,
coriza e conjuntivite.
Síndrome de Kawasaki: doença de etiologia desconhecida,
normalmente em crianças com <4 anos. Aparece febre > 5 dias +
hiperemia conjuntival bilateral, eritema ou fissuras dos lábios,
eritema da faringe ou língua “em morango”, eritema das palmas das
mãos e plantas dos pés, edema das mãos ou pés ou descamação
periungueal generalizada, exantema e linfadenopatia cervical.
Varicela: lesões vesiculares sobre base eritematosa, em vários
estadios de evolução.

43
Eritema Infeccioso (5ª Doença/Megaloeritema)
Agente: parvovírus B19 (período de incubação 7-20 dias). Tropismo
para precursores eritróides.
Epidemiologia: idade escolar (4-12 anos). Mais no Inverno e
Primavera.
Transmissão: via aérea. Só há infecciosidade antes do aparecimento
do exantema.
Manifestações:Sintomas semelhantes aos da gripe com início cerca
de 10 dias antes do aparecimento do
exantema (período de infecciosidade).
Caracteristicamente não há febre após
aparecimento do exantema. Criança com
bom estado geral. Exantema maculo-
papular de cor vermelha acentuada
localizado na região
malar (doença da bofetada) e que poupa a
região peri-bucal. Padrão “semelhante a renda”.
Após 24h extende-se à porção proximal dos
membros e posteriormente à restante superfície
corporal. As palmas e plantas são poupadas. O
exantema da face regride em 4 dias mas as
restantes lesões permanecem visíveis entre 5-20
dias. Exacerbação após o banho ou exposição
solar. Por vezes é pruriginoso. Pode haver
enatema do palato e da orofaringe.
Complicações:
Artrite em adolescentes, aparece após exantema e permanece por 2-
6 semanas. Anemia grave em doentes com anemia hemolítica crónica
(antecede o exantema). Crise aplástica.
Diagnóstico: Serologia.
Ligeira leucopénia seguida de leucocitose e linfocitose.
Tratamento: Sintomático.
Não implica evicção escolar!

44
Escarlatina
Agente: Estreptococos beta-hemolítico (ou do grupo A). Período de
incubação de 3-5 dias.
Epidemiologia: crianças 2-10 anos.
Transmissão: via aérea.
Manifestações:
Febre alta durante 3-5 dias.
Vómitos e odinofagia.
Exantema maculo-papular, eritematoso, generalizado,
confluente, em “papel de areia”, que desaparece com a
pressão digital, mais exuberante nas pregas cutâneas
(linhas de Pastia). Poupa região peribucal (sinal de
Filatow). Aparece 1-2 dias após a
febre. Desaparece após 4-5 dias, com
descamação. A pele das mãos
descama em “dedo de luva”.
Faringite ou amigdalite simultânea com
exantema.
Inicialmente a língua tem um aspecto em
“morango branco”. Fica então com aspecto de
framboesa após 4 ou 5 dias do início do quadro.
Complicações:
Febre reumática; Glomerulonefrite pós-estreptocócica.
Diagnóstico: Teste rápido S. pyogenes; Leucocitose.
Tratamento:
Penicilina benzatínica
<15 Kg – 600 000 UI i.m. toma única;
>15 Kg - 1 200 000 UI i.m. toma única.
Amoxicilina 50 mg/Kg/dia, 8/8h, 10 dias.
Se alergia aos b-lactâmicos:
Azitromicina 10 mg/Kg/dia, 24/24h, 3 dias.
Claritromicina 15 mg/Kg/dia, 12/12h, 10 dias.
- 24 horas após o início do AB a contagiosidade termina.

45
Exantema Subitum (6ª Doença)
Agente: Herpesvirus 6 (10 dias de incubação).
Epidemiologia: mais frequente dos 7 aos 13 meses - doença
exantemática mais frequente antes dos 2 anos.
Transmissão: via aérea.
Manifestações:
Febre alta (pode ser >40°), que cede mal aos antipiréticos, 3-4 dias.
A febre desaparece subitamente, surgindo o exantema macular ou
maculopapular, eritematoso, não pruriginoso, no tronco.
Posteriormente estende-se de forma centrífuga, poupando a face.
Regride em 48-72h.
Normalmente há dissociação entre sintomas sistémicos e a febre
(febre alta mas criança bem). Letargia e irritabilidade.
Também pode aparecer: edema das pálpebras, sintomas
respiratórios, sintomas GI (vómitos, diarreia), fontanela abaulada.
Complicações:
Por estar associado a febre alta pode dar origem a convulsão febril.
Diagnóstico:
Clínico. Pode ser feita avaliação laboratorial se características atípicas:
Neutropénia relativa e ligeira linfocitose. Se a criança tiver convulsão
febril é importante excluir meningite bacteriana.
Diagnóstico diferencial: Rubéola (febre e exantema simultâneos);
Sarampo (pródromo, manchas de Koplik, exantema começa na face);
Infecção por enterovírus (surtos no verão e outono e em crianças de
todas as idades); Eritema infeccioso (exantema malar em crianças em
idade escolar); Escarlatina (Exantema confluente precedido por
amigdalite).
Tratamento:
Doença auto-limitada. Tratamento sintomático (antipiréticos, banhos
de arrefecimento).
Não implica evicção escolar!

46
Febre escaro-nodular
Agente: Rickettsia conori (período de incubação: 1 semana)
Epidemiologia: Predomina na Primavera, Verão e início do Outono.
Principalmente crianças 1-4 anos.
Transmissão: carraça do cão.
Manifestações: Período prodrómico: 4-5 dias com febre alta (39-
40°C), cefaleias intensas, mialgia e prostração.
Fase aguda: 3-5 dias após início do quadro surge o exantema maculo-
papulo-nodular que se inicia nos membros inferiores, e que não
poupa as palmas nem as plantas dos pés. Dissemina-se em 24-36
horas e persiste 15-20 dias. Tâche noire (persiste 10-20 dias). Tríade
clássica de febre (sem tratamento dura 8-10 dias), exantema e escara
de inoculação.
Complicações: Púrpura cutânea; Cardiovasculares (pericardite,
miocardite, arritmias, tromboflebite); GI (hepatite, pancreatite,
hemorragia digestiva alta); Respiratórias (pneumopatia, pleurite);
Renais (nefrite com IRA); Neurlógicas (meningoencefalite, AVC,
radiculonevrite); Hematológicas (anemia, trombocitopénia, CID);
Oculares (uveíte, retinite); Reumatológicas (artrite); Forma maligna
(vasculite generalizada, encefalopatia, choque, IRA, CID) – fatal, mais
frequente se deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, DM ou
doença hepática crónica.
Diagnóstico: Imunoflurescência indirecta – seroconversão num
intervalo de 2-4 semanas. A IgM só fica positiva a partir do 7º dia do
exantema – diagnóstico retrospectivo. Shell-vial. PCR – confirmação
do diagnóstico em fase aguda.
Tratamento: Se >8A: Doxiciclina, p.o. 1º dia: 4mg/Kg (máximo 200
mg) em 1 ou 2 tomas; dias seguintes: 2 mg/Kg/dia em 1 toma.
Tratamento durante pelo menos 5 dias, até que o doente esteja
apirético há pelo menos 2 dias. Toxicidade óssea e dentária se < 8A.
Se  8 anos: Azitromicina 10 mg/Kg/dia, 3 dias ou Claritromicina 15
mg/Kg/dia, 12/12h, durante 7 dias.
Profilaxia: Roupas; DEET em crianças com 12 meses; Remoção dos
parasitas (matar com éter ou cloreto de etilo e retirar com pinça de
bordos lisos).
É uma doença de declaração obrigatória!

47
Rubéola
Agente: Rubella virus (15 dias de incubação).
Transmissão: gotículas respiratórias (5 dias antes do aparecimento do
exantema até 5 dias depois do desaparecimento).
Actualmente a incidência é baixa porque a vacina está incluída no
PNV (aos 15 meses e entre os 11-13 anos). No entanto apesar de a
infeção ser improvável, é possível mesmo em indivíduos vacinados.
Manifestações: Período prodrómico: normalmente inexistente nas
crianças. Pode aparecer febrícula e catarro.
Fase aguda: Febre ligeira (antecede o exantema em <24h).
Adenopatias sub-occipitais, auriculares posteriores e cervicais. Sinal
de Theodor: adenopatia cervical posterior. Normalmente antecedem
o exantema. Exantema maculo-papular eritematoso, generalizado.
Inicia-se na face e pescoço, extendendo-se até às extremidades
inferiores em 24 horas. Pode ser pruriginoso. Desaparece pela ordem
inversa, ao 3º dia. Manchas de Forcheimer: petéquias no palato
mole.
Complicações: raras! Artrite e artralgia (mais em adolescentes e
mulheres); Encefalite; Púrpura trombocitopénica.
Diagnóstico: Laboratorial (serologia).
Pode aparecer leucopenia e trombocitopénia.
Tratamento: Sintomático.
Isolamento respiratório até 1 semana após desaparecimento do
exantema (a criança não deve ir à escola nos 7 dias após
aparecimento do exantema).
Rubéola Congénita:
Alterações cardíacas: cardiopatia (persistência do canal arterial ou
estenose da artéria pulmonar). Alterações oculares: cataratas,
microftalmia, glaucoma. Alterações cerebrais e sensoriais: encefalite,
microcefalia, surdez, atraso psicomotor. Alterações hematológicas:
trombocitopénia, linfopénia

48
Sarampo
Agente: Paramixovírus (15 dias de incubação).
Epidemiologia: mais comum entre 5-9 A, em crianças não vacinadas.
A incidência tem vindo a diminuir porque a vacina está incluída no
PNV (15 meses e depois aos 5-6 anos).
Transmissão: via aérea.
Manifestações: Período prodrómico (contagioso): 3-4 dias. Febre alta
mantida, tosse, rinorreia anterior, espirros, conjuntivite não
purulenta, fotofobia, lacrimejo.
Fase aguda: Febre: pico máximo após aparecimento do exantema,
desaparece após 2-3 dias. Exantema maculo-papular
com início ao 4º dia (quando os sintomas respiratórios
são mais intensos) na região retro-auricular e linha de
inserção do cabelo. Extende-se ao resto do corpo de
forma centrífuga. Torna-se generalizado (poupa palmas
das mãos e plantas dos pés), de forma confluente, no
período de 3 dias. Desaparece 4-6 dias após o
início. Manchas de Koplik: ponteado branco
nacarado sobre fundo eritematoso na mucosa
jugal. Surgem 1-2 d antes do exantema e
desaparecem em 24-48h.

Complicações:
Sobreinfeção bacteriana (Otite média aguda, Pneumonia) – suspeitar
se febre persiste 3-4 dias após rash ou se há leucocitose. Diarreia,
vómitos e dor abdominal. Púrpura. Encefalite. Panencefalite
esclerosante subaguda (PES) – complicação tardia (após 7 anos), fatal
em 6-12 meses.
Diagnóstico: Serologia (IgM específica). Linfopénia é característica.
Radiografia de tórax normalmente mostra hiperinsuflação, infiltrados
para-hilares, infiltrados algodonosos dispersos.
Tratamento: Sintomático (antipiréticos, hidratação oral, quarto na
penumbra, respeitar anorexia). Normalmente há resolução do
quadro 7-10 dias após início dos sintomas. É contagioso 1-2 dias
antes do começo do quadro e até ao 3º dia de exantema.

49
Ribavarina pode ser eficaz em imunocomprometidos infectados.
Vitamina A em crianças subnutridas. Ribavarina i.v. em altas doses +
INFα intratecal na PES. Vacinação ou Imunoglobulina em indivíduos
susceptíveis após contacto.

50
Síndrome de Kawasaki
É uma das vasculites mais frequentes nas crianças. Causa:
desconhecida. Factores de risco: idade 6 m – 5 A, sexo masculino,
ascendência asiática, história familiar de SK.
Diagnóstico: Febre5 dias (tipicamente>38,5° e com má resposta aos
antipiréticos) + 4 dos seguintes critérios (normalmente não aparecem
simultâneamente):
1. Hiperémia conjuntival bilateral;
2. Alterações da mucosa oral, incluindo eritema ou fissuras
dos lábios, eritema da faringe, ou língua “em morango”;
3. Alterações das extremidades, incluindo eritema das
palmas das mãos e plantas dos pés, edema dorsal das mãos e dos pés
(fase aguda) e descamação periungueal (fase de convalescença);
4. Exantema polimórfico;
5. Linfadenopatia cervical (1 nódulo >1,5cm de diâmetro).
Frequentemente aparece também vómitos, dor abdominal, diarreia,
tosse, rinorreia, fraqueza, irritabilidade, dor articular.
Por vezes nem todos os critérios estão presentes – síndrome de
Kawasaki atípico – ver algoritmo na página seguinte. É mais frequente
em lactentes, os quais têm maior risco de sequelas CV. Em crianças
6m com febre 7 dias deve excluir-se SK.
Laboratorialmente (não é necessário para o diagnóstico mas pode ser
útil em caso de dúvida no diagnóstico): PCR e VS, leucocitose,
trombocitose. Anemia normocitica e normocrómica. ligeiro a
moderado das transaminases. Piúria de origem uretral.  trigliceridos
e LDL, HDL. Pode aparecer hiponatrémia (sódio <135 mEq/L) que
está associada a maior risco de aneurismas das artérias coronárias.
Tratamento: Dose única de Ig IV 2mg/Kg em 8 – 12h; Aspirina em
altas doses: 80 – 100 mg/kg/dia 6/6h (max 4 g/dia). 48h após
resolução da febre a dose passa a 3 – 5 mg/kg/dia. Manter
terapêutica até marcadores de fase aguda normalizarem. Não se
administram corticoides por rotina.
Complicações:
Envolvimento cardiovascular. Deve realizar-se ecocardiograma na fase
aguda e 6 – 8 semanas após início da doença.

51
52
Varicela
Agente: vírus varicela zoster (incubação 14 a 21 dias).
Epidemiologia: Indivíduos não imunes (existe vacina mas não faz
parte do PNV. Pode ser dada a partir dos 12 meses).
Transmissão: via aérea ou pelo conteúdo das vesículas. A
contagiosidade inicia-se 1-2 dias antes do aparecimento do
exantema.
Manifestações: Período prodrómico: 1-2 dias,
febrícula ou febre, sintomas respiratórios,
cefaleias.
Fase aguda: Sintomas sistémicos inespecíficos, de
acordo com o exantema. Exantema maculo-
papular e vesicular generalizado (incluindo couro
cabeludo e mucosas), muito pruriginoso,
evoluindo para crosta, fase em que cessa a contagiosidade.
Exantema em diferentes fases (evolução de mácula-papúla-vesícula-
pústula-crosta em 5-6 dias). Normalmente inicia-se na face, couro
cabeludo ou tronco extendendo-se depois até extremidades.
Complicações:
Sobreinfeção bacteriana das lesões cutâneas (impétigo, celulite,
fasceite, abcessos, escarlatine, sépsis) – mais frequente.
Meningoencefalite, Cerebelite com ataxia. Trombocitopénia (varicela
hemorrágica).
Diagnóstico:
Laboratorialmente pode aparecer leucopénia ou valores normais de
leucócitos. Leucocitose sugere sobreinfeção bacteriana. Pode haver
ligeiro aumento das transaminases.
Tratamento:
Sintomático (hidratação, antipiréticos): Paracetamol 10-15
mg/Kg/dose 6/6h-8/8h, em SOS.
Antihistamínicos (pode mascarar a ataxia): Hidroxizina 1-2 mg/Kg/dia
(0,5-1 ml/Kg/dia), 8/8h-12/12h, 3-5 dias. Dimetindeno 0,1 mg/Kg/dia
(2 gotas/Kg/dia), 8/8h, 3-5 dias.
Banhos diários, com água tépida e farinha maizena. Cortar as unhas.
Desinfeção das lesões infectadas com Betadine.

53
Dor Abdominal
A causa de dor abdominal é normalmente uma situação minor, auto-
limitada, como obstipação, GE ou síndrome viral. O mais importante
é identificar os doentes com dor abdominal por situações sérias,
potencialmente fatais, tal como apendicite, obstrução (por volvo,
invaginação ou bridas) ou infeções (faringite estreptocócica ou
pneumonia).
As principais causas de dor abdominal relacionam-se com a idade
da criança.
RN 2m–2A 2A–5A >5 A
GEA, GEA,
Causas GEA, Virose, Virose,
Cólicas
comuns Virose Obstipação, Obstipação,
Faringite Faringite
Apendicite,
Trauma, Trauma, Trauma,
Hérnia Apendicite, Cetoacidose
Causas Volvo encarcerada, Invaginação, diabética, Úlcera
potencial/ Enterocolite Invaginação, Corpo estranho, perfurada,
fatais necrotizantre Doença Bridas, Bridas,
 Bridas Hirschprung, SHU, SHU, Miocardite
Bridas, Peritonite ou pericardite,
SHU bacteriana 1ª Peritonite
bacteriana 1ª

Sinais de Alarme: hemorragia, obstrução e/ou perfuração, sinais


peritoneais, massa palpável.
Situações potencialmente fatais:
Trauma: após acidente de viação, atropelamento ou maus tratos;
Apendicite; Invaginação: dor tipo cólica, com choro intenso, com
flexão das pernas, em crianças dos 2 meses aos 2 anos; Volvo por má
rotação do intestino médio; Hérnia inguinal encarcerada; Bridas com
obstrução; Enterocolite necrotizante: em RN, manifesta-se por
apneia, anorexia, letargia, distensão abdominal, retenção gástrica,
vómitos, diarreia sanguinolenta; Úlcera péptica; Gravidez Ectópica.
Diagnóstico: Ver algorítmo na página seguinte.

54
55
56
Dor Torácica
Sintoma comum em crianças e adolescentes.
Causas mais frequentes:
1. Idiopática – causa mais frequente;
2. Músculo-esquelética: traumática ou não traumática –
costocondrite (normalmente unilateral, mais à esquerda, 4º
cartilagem esterno-costal, dor aguda que surge em repouso, dura
segundos a minutos) mialgia, costela “deslizante”(8ª, 9ª e 10ª
costelas, ressalto, sensação de deslizamento, dor com inspiração
profunda ou dobrar o corpo);
3. Por hiperventilação/psicogénica (mais em crianças >12
anos, hiperventilação, cabeça “zonza”, parestesias);
4. Respiratória: pneumonia, bronquite, asma, pneumotórax,
pneumomediastino;
5. GI: RGE, ingestão de corpo estranho;
6. Doença vascular pulmonar: embolia pulmonar, HT
pulmonar, síndrome torácico agudo na drepanocitose (temperature
>38.5°C, taquipneia, sibilos, ou tosse)
7. Cardíaca (principalmente se dor recorrente ou durante o
exercício, síncope, tonturas ou arritmias): miocardite (retroesternal
com irradiação ao ombro esquerdo), pericardite, dissecção da aorta
(dor muito forte com irradiação para o dorso), alteração das
coronárias (dor em aperto), ruptura de aneurisma dos seios de
valsalva, taquiarritmias
8. Outros: mamas (mastite, doença fibro-quística, telarca),
drogas (cocaína, tabaco)
Avaliação
História: localização da dor, tipo, grau, irradiação, factores
precipitantes, sintomas associados;
Exame objectivo: palpação da parede torácica e das mamas,
auscultação cardíaca a pulmonar);
ECD : raramente necessários. Em alguns casos faz-se Em alguns casos
faz-se RX tórax, ECG, ecocardiograma, provas de função pulmonar,

57
cintigrafia ventilação-perfusão, cateterização cardíaca, prova de
esforço, hemograma, pesquisa de tóxicos.

58
Estrófulo
Dermatose infantil causada por hipersensibilidade à picada de
insecto.
Lesões papulares eritematosas, por vezes com vesícula central ou
bolha, altamente pruriginosas, com distribuição por vezes
assimétrica. Pode ser bolhoso.
Geralmente aparecem nas áreas
expostas: região distal dos
membros e área da cintura.
Criança com bom estado geral!
Exacerbação na primavera.
Crises agudas e autolimitadas,
geralmente causadas por pulgas
ou mosquitos.
Tratamento:
Medidas gerais: Banho diário (emolientes) - Xeramance ® Stelatopia®
(15-17€); Higiene do ambiente: diminuir exposição a acáros,
afastamento de animais; Usar repelentes (apenas em crianças mais
velhas – risco de levarem dedos à boca);
Desinfecção local 2x/dia – iodopovidona (Betadine®);
Antipruriginoso local com calamina (Caladryl®) – eficácia duvidosa;
Antihistamínicos sistémicos: Hidroxizina (Atarax ® xarope 2mg/mL)
2mg/kg/dia em 3 doses. Antihistamínicos não sedativos não são
eficazes no controlo do prurido.
Não aplicar antihistamínicos tópicos (risco de sensibilização).
Não aplicar corticóide tópico a não ser em casos seleccionados (risco
de infecção).

59
Evicção Escolar
Amigdalite
Até 24h após início de AB
bacteriana
Conjuntivite Até resolução da hiperémia e lacrimejo (pode
viral demorar 10 - 14 dias)
Até 3 dias depois do início da doença ou até
Croup
terminar a febre
Eritema
Não implica
infeccioso
Escarlatina Até 24h após início de AB
Exantema
Não implica
Subitum
Herpangina 1ºs dias da doença se lesões expostas
Mononucleose Não implica. Evitar desportos de contacto durante
infecciosa 4 semanas
Rubéola Até 7 dias após início do exantema
Sarampo Até 3-4 dias após início do exantema
Até que todas as lesões estejam em costa (10 dias
Varicela
após início do exantema)

60
Exame Neurológico
1. Avaliação do Estado de Consciência
Score de Glasgow:
Espontânea 4
Abertura dos A pedido, ao som 3
Olhos À dor 2
Sem abertura 1
Criança orientada, alerta, interage, segue
5
objectos, sorri, palra, fala como lhe é normal
Criança confusa, irritável, choro consolável 4
Resposta
Delirante, choro persistente inapropriado 3
verbal
Sons incompreensíveis, gemido em resposta à
2
dor
Sem resposta 1
Obedece a ordens, movimentos normais
6
(espontânea)
Responde ao toque (localizadora) 5
Resposta
Resposta à dor (de fuga) 4
motora
Flexão anómala 3
Extensão anómala 2
Sem resposta 1
Total 3/15 – 15/15

2. Funções Nervosas Superiores


Ver “Desenvolvimento”.
3. Marcha
Em calcanhares, nas pontas dos dedos, em linha.
4. Motricidade
Postura e movimentos
Pesquisar simetria, presença de tremores, mioclonias, fasciculações,
tiques.
Tónus – resistência a movimentos passivos. Pode haver hipotonia
(lesão cerebelosa, do 2º N ou aguda do 1º N) ou hipertonia (rigidez –
lesão dos gânglios da base, ou espasticidade – lesão crónica do 1º N).
Força Muscular
Global – Braços estendidos. Barré/Mingazzini

61
Braços estendidos Barré Mingazzini MI
Segmentar:
Grau
0 Sem movimento
1 Contração muscular
2 Movimento a favor da gravidade
3 Movimento contra a gravidade
4 Movimento contra a gravidade que supera alguma resistência
5 Força mantida, há movimento contra a gravidade e resistência
Manobras: abdução dos braços, flexão e extensão do antebraço,
flexão e extensão do punho, abdução e adução dos dedos, abdução e
adução da anca, flexão e extensão do joelho, dorsiflexão e flexão
plantar do pé.
Coordenação:
Dismetria - Prova Dedo-nariz / Perseguição, Prova Calcanhar-joelho,
Objectos de encaixe;
Adiadococinésia – movimentos rápidos alternados;
Disartria;
Sincinésias – movimentos em espelho.
5. Reflexos
Reflexos Primitivos
Reflexo Desaparecimento
Galant 1–2m
Tónico assimétrico do pescoço
2–3m
Pontos cardeais
Preensão palmar
5–6m
Moro
Preensão
Grau plantar 9 – 10 m
Paraquedas Toda a vida
0 Sem resposta
1 Diminuido
2 Normal
Reflexos Osteo-tendinosos
3 Aumentado
4 Hiperactivo 62
5 Clonus mantido
Podem estar aumentados (por lesão crónica 1ºN) ou diminuídos (por
lesão aguda 1ºN ou lesão arco reflexo - 2ºN ou N sensitivo).
Pesquisar reflexos Bicipital, Tricipital, Radial, Rotuliano, Aquiliano.

Reflexos cutâneos
Plantares (lesão da via piramidal - Sinal de
Babinski: extensão 1º dedo), Abdominais (de
fora para dentro) e Cremasteriano (de cima
para baixo).
O Sinal de Babinski esta presente em
crianças até 12 meses de vida, devido a
mielinização incompleta do SNC.

6. Sistema Sensitivo
Impreciso nas crianças. Não é confiável em crianças com <5-6 anos.
Superficial (Táctil – com algodão, Dolorosa – não se pesquisa e
Térmica).
Profunda (Proprioceptiva – movimentos dos 1º dedos para cima e
para baixo. Primeiro criança com olhos abertos, depois com olhos
fechados. Romberg - pés unidos e olhos fechados. Se for normal o
Romberg é negativo. Vibratória – com diapazão que se encosta a
proeminência óssea).
7. Sinais Meníngeos
Rigidez da nuca, sinal de Brudzinski, sinal de Kernig.

63
8. Pares Cranianos

I – Olfativo – avaliar o olfato dando a cheirar à criança alcool ou


menta.
II – Óptico
Acuidade Visual – Observar como a criança alcança os objectos. Em
crianças maiores pode avaliar-se com tabela optométrica e contagem
dos dedos.
Campos Visuais - por confrontação.
Reflexos fotomotor – a constrição da pupila do olho iluminado é o
reflexo directo e do olho contralateral é o reflexo consensual. Este
reflexo implica a acção dos II e III pares craneanos.
Fundoscopia.
III – Motor ocular comum – Enervação dos músculos recto superior,
recto interno, recto inferior, pequeno oblíquio.
IV – Patético – Enervação do grande oblíquo.
VI – Motor ocular externo – Enervação do recto externo.
Estes 3 pares avaliam-se pedindo à criança para seguir um brinquedo.
Deve avaliar-se a presença de estrabismo.
V – Trigémio – A raiz sensitiva é avaliada testando-se a sensibilidade
dos 3 andares da face através do toque com algodão. Deve testar-se
também o reflexo córneo (via aferente).
A raiz motora é avaliada pedindo-se à criança para abrir a boca contra
resistência (músculos mastigadores).
VII – Facial – mimica facial: avaliação da simetria das rugas da testa,
força das pálpebras, pregas naso-labiais, mostrar os dentes, assobiar.
Deve testar-se também o reflexo córneo (via eferente). A parte
sensitiva é avaliada pela sensibilidade dos 2/3 anteriores da língua.
Uma lesão central provoca compromisso do andar inferior da face
enquanto que uma lesão periférica provoca compromisso de toda a
face.
VIII – Auditivo – nas crianças mais pequenas fazer sons baixos perto
do ouvido, tal como amachucar papel. A partir dos 5-6 meses a
criança já consegue localizar o som. Nas crianças mais velhas pode
perdir-se para decriminar o diálogo com voz sussurrada.

64
Mau controlo da cabeça, desequilibrio do tronco, ataxia da marcha,
nistagmo horizontal, náuseas e vómitos podem signficar disfunção do
sistema vestibular.
IX – Glossofaríngeo e X – Pneumogástrico – responsáveis pela
deglutição e sensilidade (IX) e mobilidade (X) do palato mole. Testam-
se provocando o reflexo do vómito. A disfunção do X par pode causar
rouquidão.
XI – Espinhal – Enervação do trapézio e do esterno-cleido-mastoideu.
Avalia-se pedindo para elevar os ombros e virar o pescoço contra
resistência.
XII – Grande Hipoglosso – avalia-se pedindo á criança para deitar a
língua de fora. Quando há lesão a língua aponta para o lado
paralisado.

9. Cabeça
Perímetro cefálico (macrocefalia se > P97, microcefalia se < P2 ou P3),
Configuração do crânio (deve palpar-se suturas coronal e sagital para
pesquisar cavalgamento ou afastamento, craniossinostoses),
Fontanelas (FA não deve estar abaulada - Pressão IC nem deprimida
- desidratação), Auscultação de sopros (globos oculares, fossas
temporais, apófises mastoideias).

10. Coluna
Mobilidade, Desvios (escolioses, cifoses, lordoses), Disrafias ocultas
(tufos de pêlos, manchas, depressões, saliências).

Como descrever um Exame Neurológico Normal:


Vigil, orientado, discurso adequado. Pupilas iocóricas e isorreactivas,
sem alterações dos campos visuais ou movimentos oculares. Sem
assimetria facial, desvio úvula ou língua. Sem outras alterações dos
pares cranianos.
Força mantida, tónus adequado, ROTs presentes e simétricos, RCP
com flexão bilateral.
Sem alt da sensibilidade superficial ou profunda. Sem alt da
coordenação. Sem alt da marcha. FA normotensa.
Sem sinais focais, meníngeos ou de hipertensão intracraniana.

65
Febre
Aumento anormal, mas controlado, da temperatura corporal.
Temperatura rectal ou timpânica >38° e 41° (se >41° 
hipertermia); Temperatura axilar > 37,5°; Temperatura oral >37,8°;
Temperatura na testa >38°.

A criança com febre queixa-se de frio, tem pouco ou nenhum suor,


tem vasoconstrição cutânea, as extremidades frias, pilo-ereção, e
frequentemente calafrios.
Como avaliar a febre? Início; Como se instalou? (subitamente ou de
forma insidiosa); Qual a intensidade?; Qual o padrão? (Varia de dia
para dia? Tem intervalos de apirexia?); Qual o predomínio horário?
(vespertina/matinal), Quantos picos tem diariamente?; Qual a
tolerância da criança à febre?; Qual a resposta aos antipiréticos?; Há
sinais ou sintomas acompanhantes?

Febre sem sinais de localização:


Doença febril de início recente (< 1 semana), na qual a etiologia não é
aparente após a história clínica e exame objectivo.
Criança com < 3 anos  risco de bacteriémia oculta (maior quanto
menor a idade da criança, maior se temperatura > 39,5°).

Agentes mais frequentes de bacteriémia oculta: Streptococcus


pneumoniae, Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis,
Salmonella, Streptococcus do grupo A.

Exame objectivo – Valorizar: Sinais vitais; Estado geral (“ar tóxico”) –


Escala de Yale.

66
Escala de Yale:

Normal – 1 ponto Alt. moderada - 3 Alteração grave - 5


Tipo de Forte, com tom Choramingando ou Fraco ou gemido de
choro normal, ou sem choro soluçando alta intensidade
Reação Choro contínuo ou
Chora um pouco e
aos Choro intermitente respondendo mal aos
pára ou não chora
estímulos estímulos
Se acordado mantém- Olhos semi-cerrados,
Sono- se vigil. Se a dormir e acorda com Sonolência profunda
vigília estimulado, acorda estimulação ou não acorda
facilmente. prolongada
Pálida, cianótica,
Extremidades pálidas
Cor Rosada marmoreada ou
ou acrocianose
acinzentada
Turgor diminuído,
Pele normal, olhos Pele e olhos normais,
prega e mucosas
Hidratação normais, mucosas lábios ligeiramente
secas e/ou olhos
húmidas secos
encovados
Não sorri, triste,
Resposta a Sorriso discreto ou
Sorri ou atento ( 2 ansiosa, inexpressivo
estímulos pouco atento ( 2
meses) ou indiferente ( 2
sociais meses)
meses)

 6 pontos: criança sem doença grave;


 10 pontos: 2,7% com doença grave;
11-15 pontos: 26,2% com doença grave;
 16 pontos: 92,3% com doença grave;
 18 pontos: criança com necessidade de vigilância em hospital; forte
probabilidade de doença grave;
25-30 pontos: criança com doença grave.

Critérios de Rohester:
Baixo risco de infeção se:
Leucócitos 5000-15000/mm3
Bastonetes < 1500/mm3
1º mês bastonetes/neutrófilos < 0,2
Sedimento urina: leucócitos < 10/campo
PCR < 3 mg/dL; VS < 30 mm
Fezes: leucócitos < 5/campo.

67
Formulário
Medicamento Via Dose Máx Tomas Formulações
Amoxicilina 3g/ Susp oral 250mg/5ml e
50 – 100 3 (c/
po dia 500mg/5ml; Cap 500mg; Cp
mg/Kg/dia ref)
500mg e 1g; Saq 3g.
Amoxicilina – 50
po 2-3
Amigdalite mg/Kg/dia
Amoxicilina – 80-100
po 3
Otite mg/Kg/dia
Amoxicilina – 90 4g/
po 2–3
Pneumonia mg/Kg/dia dia
Amoxicilina + Susp oral 125+31,25mg/5ml,
Ácido 40-50 3 (c/ 250+62,5mg/5ml. Cp
po
Clavulânico mg/Kg/dia ref) 500+125mg.
4:1
Amoxicilina + Susp oral 400+57mg/5ml; Cp
Ácido 40-90 2–3 875+125mg.
po
Clavulânico mg/Kg/dia (c/ ref)
7:1
Amoxicilina +
Ácido 70
po 2
Clavulânico mg/Kg/dia
7:1 – ITU
Amoxicilina + Susp oral 600+42,9mg/5ml.
Ácido
po
Clavulânico
14:1
Amoxicilina + 7:1 a 14:1
Ácido
80
Clavulânico – po 3
mg/Kg/dia
Otite
resistente
Azitromicina 10 1 (3 Susp oral 40mg/ml; Cp 500mg
po
mg/Kg/dia dias)
Azitromicina - 500
pneumonia 10 mg/Kg mg
1º dia, 1º 1 (5
po
depois dia; dias)
5mg/Kg/dia 250
mg
Brometo de Inal 60 – 120 Sol pressurizada 20mcg/dose
3– 12
Ipratrópio oral mcg
Brometo de Sol nebulização 0,25mg/1ml e
250
Ipratrópio <20 neb 4–8 0,25mg/2ml
mcg/dose
Kg

68
Brometo de
500
Ipratrópio neb 4–8
mcg/dose
>20 Kg
Cefuroxima 500 Susp oral 125mg/5ml e
30 – 40
axetil oral mg/ 2 250mg/5ml; Cp 250 e 500mg
mg/Kg/dia
dia
Claritromicina 15 Susp oral 25 mg/ml e 50
oral 2
mg/Kg/dia mg/ml; Cp 250 e 500 mg
Clindamicina 10 – 25 2g/ Cáps 150mg
oral 3–4
mg/Kg/dia dia
Clindamicina - 30 – 40 1,8g
oral 3–4
pneumonia mg/Kg/dia /dia
Diazepam 0,5 Sol rectal 5mg/2,5ml e
rectal mg/Kg/dos 10mg/2,5 ml
e ou <1
ano: 2,5
rec mg/dose; 1-
3 anos:
5mg/dose;
4 anos: 5-
10 mg/dose
Ibuprofeno 5 Susp oral 100mg/5ml (20
po mg/Kg/dos 3–4 mg/ml); Cp 200, 300, 400,
e 600mg; Saqueta 400 e 600mg,
Eritromicina 40 – 60 Susp oral 250 mg/5ml; Cp
po 2–4
mg/Kg/dia 500mg; Saq 1000 mg
Eritromicina –
30 – 50
pneumonia po 4
mg/Kg/dia
<5A
Eritromicina –
40 – 50
pneumonia po 4
mg/Kg/dia
>5A
Flucloxacilina 50 – 100 Susp oral 250mg/5ml; Cáps
po 2
RN<7 dias mg/Kg/dia 500mg
Flucloxacilina 75 – 150
po 3
RN 7-21 d mg/Kg/dia
Flucloxacilina 100 – 200
po 4
RN>21 dias mg/Kg/dia
Flucloxacilina 50 – 200 1,5g
po 3–4
>1 mês mg/Kg/dia /dia
Paracetamol 90 Sup 125, 250, 500 e 1000mg;
10-20
mg/ Cp 80 e 500mg;
po, mg/Kg/dos
Kg/ 1–6 Susp oral 160mg/5ml,
rec e
dia 200mg/5ml; Cp efervescente
500mg.
Penicilina im 50 000 Toma
benzatínica U/Kg ou única
600 000 U

69
se < 20 Kg e
1 200 000 U
se >20Kg
Salbutamol Susp pressurizada
Inal 300 – 800
MDI+CE com 3–6 100mcg/dose
oral mcg/dia
máscara (4A)
Salbutamol Susp pressurizada
Inal 600 – 1200
MDI+CE com 3–6 100mcg/dose
oral mcg/dia
bucal (5A)
Salbutamol 0,03 máx Sol inalação 5mg/ml
mL/Kg/dose 1
neb (mín 0,25 mL/ 1–4
mL) + 3mL dos
SF. e

70
Gastroenterite Viral
Agente mais frequente: Rotavírus. Outros vírus: Calicivírus,
Astrovírus, Adenovírus grupo F, Picornavírus.

Manifestações: Aparece mais frequentemente em crianças entre 3


meses e os 2 anos de idade.
Mais frequente no Inverno.
Intolerância Modo de
Vírus Estação Idades Duração
lactose transmissão
Rotavírus Outono/Inverno 6 – 24 m 5 – 7 dias Sim Fecal – oral
Fecal – oral,
Calcivírus Todo o ano Todas 1 – 4 dias Não água,
marisco
Fecal – oral,
Astrovírus Inverno Todas 3 dias Sim
água
Adenovírus
Verão Crianças 6 – 9 dias Sim Fecal – oral
entérico

Sintomas: Náuseas e vómitos; Diarreia aquosa, sem sangue ou muco;


Febre; Anorexia; Mialgias; Cefaleias; Cólicas abdominais, com
duração de 3 a 7 dias.

Avaliação: Exclusão de outras causas, potencialmente graves:


meningite, abdómen agudo, DM, intoxicação. Exame Objectivo –
pesquisa de sinais de hipovolémia (ver desidratação).

Avaliação Laboratorial: Hemograma (para pesquisa de anemia ou


hemólise); Electrolitos; Estudo das fezes – presença de leucócitos
sugere etiologia bacteriana ou parasitária. pH<6 e a presença de
substâncias redutoras sugere etiologia viral.

Diagnóstico: Clínico.

Tratamento: De suporte: Pausa alimentar de 4-6 horas; Rehidratação


oral: 5 ml 5/5 min ou 10/10 min - Dioralyte ® (diluir 1 carteira em 200

71
ml água) ou Miltina Electrolit ®. Dieta (BRAT- bananas, arroz, maçã ou
pêra cozida, tostas; puré de cenoura).

Prevenção: Lavagem das mãos; Troca de fraldas em local separado do


da preparação de alimentos; Vacinação contra Rotavírus (RotaTeq ou
Rotarix).

Atenção!
Idade <6 meses ou peso <8 Kg; História de prematuridade, doença
crónica ou simultânea; Febre (38° se <3 m ou 39° 3 – 36 meses);
Fezes com sangue; Diarreia muito abundante, frequente ou com >7
dias; Vómitos persistentes; desidratação; alteração do estado de
consciência; má resposta ou incapacidade de rehidratação oral.

72
Infecção Urinária
Agente mais frequente: E. coli
Cistite hemorrágica em crianças >2 anos – suspeitar de Adenovírus
(hematúria 12-24h após disúria e polaquiúria. Os sintomas do trato
respiratório podem preceder os do trato urinário).

Manifestações: febre, icterícia conjugada nos RN, má progressão


ponderal, vómitos e recusa alimentar, irritabilidade, letargia,
sintomas urinários (disúria, incontinência, urgência, poliaquiúria,
hematúria), dor abdominal ou lombar.

EO: importante avaliar temperatura, TA, palpação abdominal, genitais


externos, região lombar para pesquisa de sinais de mielodisplasia,
evolução estaturo ponderal, outros possíveis focos de febre.

Indicações para a colheira de urina:


 Todas as crianças com < 2 anos com febre sem foco;
 Presença de sintomas urinários
 Febre em criança com alteração do trato urinário ou Hxt familiar de
ITU.

Diagnóstico:
Combur  Piúria (esterase dos leuc +) e Bacteriúria (Nitritos +) ou
Urina II  Piúria (10 leucócitos/mm3) e Bacteriúria e
Urocultura (bacteriúria significativa se 100 000 colónias/mL em
urina colhida por jacto médio, 50 000 colónias/mL em urina colhida
por algaliação, qualque número de colónias em urina colhida por
punção supra-púbica).

Realizar ecografia renal e vesical se:


Up To Date AAP NICE*
< 2 anos, ITU recorrente, Hxt familiar de < 6 meses, ITU
< 2 anos
doença urológica, Atraso do crescimento ou recorrente, ITU
HT, Sem resposta ao tto. atípica

73
Realizar cistografia de eliminação se:
Up To Date AAP NICE*
< 6 meses e ITU
 2 ITU febril, Hxt familiar ITU atípica ou grave,
recorrente ou atípica,
de doença urológica, eco mostra cicatrizes
6m-3 anos com ITU
Atraso do crescimento ou renais ou alterações
recorrente ou atípica e
HT, sugestivas de refluxo
Htx familiar ou dilatação
Microorganismo  E. coli ou obstrução.
na eco.

Realizar cintigrafia com DMSA se:


NICE*
<3 anos com ITU recorrente ou atípica, 3 anos com ITU recorrente.

*ITU recorrente.: 2 infecções altas, 1 infecção alta + 1 infecção baixa, 3 infecções baixas
ITU atípica: doença grave, diminuição do fluxo urinário, massa abdominal ou vesical,
aumento da creatinina, sépsis, infecção por microorganismo que não E. coli, sem resposta ao
tto após 48h

Indicações para Internamento: Idade < 2 meses, Imunossupressão,


Vómitos ou intolerância oral, Patologia nefro-urológica, Dificuldade
no follow-up, Sem resposta ao tratamento em ambulatório.

Tratamento:
1. Em internamento:
RN – Se 7 dias de vida: Cefotaxima 100mg/Kg/dia IV 12/12h +
Gentamicina 4 mg/Kg/dia IV 24/24h
Se >7 dias de vida: Cefotaxima 150mg/Kg/dia IV 8/8h + Gentamicina
4 mg/Kg/dia IV 24/24h
PNA: Amoxicilina+Ácido Clavulânico 50 mg/Kg/dose IV 8/8h ou
Cefuroxima 100 mg/Kg/dia IV 8/8h
2. Em ambulatório - PNA ou cistite:
AB empírica: Amoxicilina+Ácido Clavulânico 70 mg/Kg/dia po 12/12h
(formulação 7:1) – Betamox Plus 400® (100 ml) ou Clavamox DT 400®
ou Augmentin Duo® (70 ml) ou Cefuroxima axetil 40 mg/Kg/dia po
12/12h – Zoref® ou Zipos® 125mg/5ml ou 250mg/5ml, frascos de 100
ml. Durante 5 a 7 dias se cistite, durante 10 dias se PNA.
Aumentar a ingestão hídrica.

74
Ingestão de Corpo Estranho
>50% entre os 6M e 3 anos.
Cerca de 80% são eliminados espontaneamente.
10-20% requerem remoção endoscópica.
ECDTs:
Pedir raio-x de tórax e abdómen (AP e lateral). Considerar também do
pescoço.
EDA pode ser importante para avaliar corpos estranhos
radiolucentes.
SINAIS DE ALARME – requerem remoção urgente do corpo
estranho!
1. Objecto afiado, longo ou constituído por ímanes!
2. Pilha em disco (tipo relógio) no esófago. Uma pilha
alojada no esófago que contacte com os seus dois polos com a
parede esofágica vai conduzir electricidade resultando em necrose de
liquefacção e perfuração. Pilhas retidas também podem levar a
problemas por libertação de material cáustico (contém metais
pesados como mercúrio ou lítio e hidróxido de sódio ou potássio). É
importante remover a pilha antes de 2 horas pelo risco de
perfuração.
3. Compromisso da via aérea (compressão da traqueia)-
dispneia, cianose!
4. Evidência de obstrução do esófago (incapaz de engolir
secreções) – disfagia, dor retroesternal!
5. Se há sinais ou sintomas sugestivos de inflamação ou
oclusão intestinal (febre, dor abdominal ou vómitos).
6. Se o objecto está no esófago e a ingestão suspeita
ocorreu 24 ou mais horas antes da apresentação, ou se o tempo de
ingestão não é conhecido. (no caso de permanência por longos
períodos no esófago pode ocorrer perda ponderal, pneumonia de
aspiração, febre ou sinais e sintomas de perfuração esofágica como
pneumomediastino ou hemorragia digestiva).
Pacientes que ingiram objectos sem estas características e
assintomáticos podem ter intervenção atrasada durante 24 horas.
Moedas, impactação alimentar e objectos arredondados geralmente
passam espontaneamente o estômago e restante tubo digestivo.

75
Objectos que já passaram o esófago proximal são inacessíveis por
EDA e geralmente progridem sem complicações. O seu progresso
pode ser monitorizado por radiografias seriadas, se forem
radiopacos. Só devem ser removidos se persistirem no estômago 3 -
4 semanas ou se houver sintomatologia sugestiva de úlcera ou
obstrução pilórica.
Moedas
Objecto mais ingerido por crianças.
Uma pequena percentagem fica alojada no esófago. 2/3 estão no
estômago à apresentação.
Se a moeda é visualizada no esófago e o doente está assintomático, a
criança pode ser observada 24horas após a ingestão (30% das
moedas progridem neste período de observação – mais comum em
crianças mais velhas).
Se a criança com moeda no esófago tem sintomas, o tempo de
ingestão é desconhecido ou está assintomática há mais de 24 horas, a
moeda deve ser removida.
Como as moedas não são tóxicas ou afiadas, se chegarem ao
estômago podem ser abordadas de forma conservadora. A maioria
passará o tubo digestivo dentro de 1 ou 2 semanas.
Geralmente verifica-se a localização desta moeda com uma
radiografia uma vez por semana.
Ímanes
Ingestão de ímanes requere avaliação urgente, especialmente se
forem múltiplos! Se acessíveis devem ser removidos sempre.
Dois ou mais ímanes, especialmente se ingeridos separadamente,
podem aderir através de camadas do intestino, levando a necrose de
pressão, fístula, oclusão ou perfuração. Por isso se acessíveis devem
ser imediatamente removidos.
Um íman isolado não acessível pode ser tratado de forma
conservadora com os seguintes cuidados: excluir a presença de
múltiplos ímanes, radiografias seriadas para avaliar progressão,
afastar a crianças de metais ou materiais electromagnéticos.

76
Meningite
Viral (80%) – + freq por enterovírus (conjuntivite, faringite, rash,
herpangina, síndrome mão-pé-boca) ou vírus da parotidite
epidémica; + freq em crianças com <1 ano ou 5-10 anos.
Bacteriana (20%): Neisseria meningitidis (meningocos),
Streptococcus pneumoniae (pneumococos), Haemophilus influenzae
do tipo b (raro se vacinação ou >5 anos).
Manifestações:
No lactente: pode não haver febre; fontanela anterior abaulada, mais
tensa e mais pulsátil; choro gritado; “ar doente”, gemido; olhar fixo e
desvio dos olhos ou nistagmo, recusa
alimentar.
Na criança mais velha: febre; prostração ou
irritabilidade; cefaleias (constantes,
intensas, acompanhadas de náuseas e
fotofobia, podem aliviar com os vómitos);
vómitos, recusa alimentar; convulsões,
alteração do estado de consciência;
exantema, petéquias ou equimoses; sinais
meníngeos (rigidez da nuca, sinal de
Brudzinski, sinal de Kernig).
Diagnóstico:
Punção lombar e análise do LCR.

Meningite
Meningite viral Meningite tuberculosa
bacteriana
Límpido ou ligeiramente
LCR Turvo Límpido ou ligeiramente turvo
turvo
Proteinas > 80 mg/dL > N (> 40 mg/dL) > N (>40 mg/dL)
Glucose < 30 mg/dL N (40-80 mg/dL) << N
Predomínio PMN; Predomínio linfócitos e Predomínio linfócitos e
Células
>1000/microL monócitos; <1000/microL monócitos; 1000/microL
Inicialmente pode haver
neutrofilia no sangue periférico
Alterações Evolução mais arrastada,
Notas e predomínio de PMN no LCR.
hemodinâmicas. grave.
Melhoria após PL.
Sinais vitais estáveis.

77
Contra indicações à realização de PL:
Instabilidade hemodinâmica; dificuldade respiratória; sinais focais;
infeção no local da punção; coagulopatia; sinais de HT intracraneana
(cefaleias; alt estado de consciência; vómitos; abaulamento ou
diastase das fontanelas; paralesia do III, IV e VI pares craneanos; HT,
bradicardia e depressão respiratória - tríade de Cushing - terminal).
Antes da PL deve colher-se sangue para hemograma, PCR, glicemia,
ionograma, ureia, creatinina, coagulação se CID e 2 hemoculturas p/
aeróbios (se fôr + deve ser repetida quando se souber o resultado).
Repetir PL se:
 Má resposta após 24-36h de AB,
 Febre persistente (8 dias) ou recorrente,
 Após 2-3 dias de AB se infecção por bacilos Gram -.
Realizar avaliação imagiológica (TC ou RMN) se:
 Sinais focais; PC; obnubilação, irritabilidade ou convulsões por >
72h,
 Culturas de LCR persistentemente +,
 neutrófilos no LCR (>30-40%) após completar tto,
 Meningite recorrente,
 Meningite por Gram -.
Tratamento:
AB:
Vancomicina (60 mg/Kg/dia IV, máx 4 g/dia, 6/6h) +
Cefotaxime (300 mg/Kg/dia IV, máx 12 g/dia, 6/6h ou 8/8h) ou
Ceftriaxone (100 mg/Kg/dia IV, máx 4 g/dia, 12/12h ou 24/24h).
Alargar espectro se imunodeprimido, neuro-cirurgia recente,
traumatismo perfurante da cabeça, alterações anatómicas.
 Dexametasona se Hib (sem benefício se >1h após AB).
 Se não há choque nem desidratação deve fazer-se restrição de
líquidos (1200 ml/m2) até exclusão de secreção inapropriada de ADH.

78
Molusco Contagioso
O vírus do molusco contagioso (VMC) pertence ao género
Molluscipox da família Poxviridae.
Período de incubação: de 2-7 semanas.
Transmissão: O contágio ocorre por contacto directo com a pele.
Contacto casual geralmente não é suficiente para a transmissão da
doença. Normalmente a transmissão é feita por partilha de roupa ou
toalha e em desportos de contacto.
Autoinoculação: ao coçar as lesões transmite-se para outras zonas do
corpo.
Lesões: pequenas pápulas firmes (2-5mm)
com umbilicação central, que drenam
conteúdo cremoso de cor branca. Atingem
mais frequentemente tronco, pescoço,
face, extremidades proximais e pregas. É
uma doença habitualmente benigna e
auto-limitada, desaparecendo as lesões ao fim de 6-12 meses. (pode
demorar 2 anos!)
Tratamento:
As principais armas terapêuticas são a curetagem, crioterapia e ácido
salicílico.
Algumas destas técnicas podem ser dolorosas, podendo ser
necessária a administração tópica de anestésico (Emla®), cerca de
uma hora antes do procedimento.
A remoção das lesões diminui a transmissão.
Medidas de prevenção de contágio:
Não partilhar escovas de cabelo, escovas dos dentes, relógios de
pulso, sabão, tolhas com indivíduos doentes e evitar tocar, espremer
ou coçar as pápulas. As mãos devem ser lavadas frequentemente.
Complicações:
Sobreinfecção bacteriana.

79
Mononucleose Infecciosa
Mais frequente em adolescentes.
Agentes: Vírus Epstein-Barr (90%)  incubação 4-8 semanas,
Citomegalovírus e outros vírus (10%).

Sinais e sintomas:
Febre moderada a alta,
Faringite grave, exsudativa,
Linfadenopatias cervicais (anteriores e principalmente posteriores),
simétricas, ou difusas, normalmemte dolorosas,
Sintomas constitucionais importantes:
fadiga (pode persistir por meses), anorexia,
náuseas e vómitos, perda de peso,
Petéquias do palato, Edema periorbitário ou
palpebral bilateral (sinal de Hoagland),
Hepatoesplenomegália. Pode aparecer:
conjuntivite simultânea, exantemas virais, rash característico após
administração de ampicilina ou amoxicilina.
As infeções por EBV também são comuns em lactentes e crianças
pequenas, e normalmente são assintomáticas. Quando aparecem
sintomas estes podem incluir otite média, diarreia, queixas
abdominais, infeção respiratória superior ou mononucleose
infecciosa. Nestas idades pode não haver produção de AC anti-
heterófilo e o título dos testes específicos é mais baixo.

Diagnóstico Diferencial:
Amigdalite estreptocócica, Hepatite viral anictérica, Linfoma.

Diagnóstico:
Esfregaço de sangue periférico com linfócitos atípicos (> 10%),
Hemograma: leucocitose com linfocitose, trombocitopénia e
neutropénia, raramente anemia.
Bioquímica: VS aumentada, aumento das transaminases  nas
infeções por CMV a hepatite > faringite.

80
“Monospot” positivo – só é positivo 2 semanas após início da doença,
pode haver falsos negativos em crianças < 4 anos. Se negativo repetir
após 6 semanas.
Serologia  testes não específicos ou específicos (em doentes com
monoteste negativo após 6 semanas, monoteste negativo e <4 anos
ou suspeita de falso positivo no monoteste).
Não específicos – AC anti-heterófilo IgM;
Específicos – AC VCA (IgM é marcador de infeção aguda); AC anti-
EBNA (só positivo ao fim de 1-2 meses), AC anti-EA (sem utilidade
para o diagnóstico).

Complicações:
Locais: abecsso periamigdalino, obstrução da VA.
Neurológicas: meningite asséptica, encefalite, mielite, neurite óptica,
paralisia dos pares cranianos, mielite transversa, síndrome Guillain-
Barré.
Hematológicas: ruptura esplénica, trombocitopénia, agranulocitose,
anemia hemolítica, linfohistiocitose hematofagocítica.

Tratamento:
Sintomático – a maioria dos sintomas resolve em 1-2 semanas.
Evitar desportos de contacto até recuperação total (4 semanas) ou
até deixar de se palpar o baço.
Corticóides só se obstrução da via aérea ou complicações.
Não há necessidade de evicção escolar.

81
Náuseas e Vómitos
Etiologia: Podem ter origem no sistema GI, neurológico, renal ou
psiquiátrica.Causas graves: obstrução intestinal e aumento da
pressão intracraniana.

A causa de náuseas e vómitos depende da idade:


RN Lactentes Crianças Adolescentes
RGE GE,
EHP Apendicite
Obstrução intestinal GE DII
Gravidez
Invaginação
Ingestão de tóxicos
Um quadro de vómitos prolongados (>12h em RN, > 24h em crianças
com <2A, > 48h em crianças mais velhas) nunca deve ser ignorado.

RN e lactentes pequenos:
Refluxo GE – pode haver refluxo não patológico (bolçar).
Normalmente melhora no 1º ano de vida. O refluxo patológico está
associado a irritabilidade, agitação e recusa alimentar.
Estenose hipertrófica do piloro (EHP) – vómitos pós-prandiais
imediatos, em jacto, não biliosos, com início às 3-6 semanas de vida,
sendo mais frequente em rapazes.
Obstrução Intestinal – causas mais frequentes: Má rotação (cego no
quadrante superior direito) com ou sem volvo; Doença de
Hirschsprung ou Megacólon agangliónico congénito (atraso de >48h
na eliminação de mecónio); Invaginação; Atrésia intestinal,Estenose
do piloro.
Fontanela sob-tensão ou abaulada num RN deve levantar a suspeita
de meningite.
Lactentes mais velhos e crianças:
GE é a causa mais frequente!
Outras causas: Gastroparesia – vómitos várias horas após ingestão de
alimentos. Pode aparecer após infeção viral (gastroparésia pós viral) e
nesse caso resolve espontaneamente em 6-24 meses.

82
Invaginação – causa mais comum de obstrução intestinal em crianças
com 6-36 meses. É mais frequente o seu aparecimento entre 6-12
meses (a maioria dos casos surge nos 1ºs 2 anos de vida).
Manifesta-se por dor abdominal tipo cólica, intensa, de início súbito,
intermitente, acompanhada de choro inconsolável e flexão das
pernas sobre o abdómen, com episódios mais graves e frequentes ao
longo do tempo. Pode associar-se a diarreia sanguinolenta. Pode
palpar-se uma massa em forma de salsicha nos quadrantes direitos
do abdómen. O diagnóstico faz-se por ecografia.
Infeções – faringite (especialmente estreptocócica) e infeções
urinárias.
Adolescentes:
Apendicite – 1º aparece a dor, inicialmente epigástrica ou
periumbilical, que depois migra para o hipocôndrio direito. Só depois
aparecem as náuseas e vómitos.

As características dos vómitos e os sinais e sintomas acompanhantes


podem sugerir diferentes diagnósticos:
Sinais e sintomas associados:
Não digeridos Acalásia
Características
Biliosos Obstrução pós ampular
dos vómitos
Fecalóides Obstrução baixa
Regurgitação RGE
Esforço EHP, Obstrução, Doença
Em jacto
metabólica
Associação Alimentos Intolerância, alergia
Neurológicos: Cefaleia, vertigem,
Doença SNC
alterações visuais
HT intracraniana por massa no
Alterações na fundoscopia
SNC
Sintomas
Diarreia Enterite
associados
Icterícia Doença hepatobiliar, ITU em RN
Peristaltismo abdominal Obstrução, EHP
Abdómen agudo, apendicite
Sinais peritoneais
perfurada
Cefaleias, vómitos desencadeados por mudança de posição, ausência
de náuseas e/ou vómitos ao despertar deve sugerir a possibilidade de
hipertensão intracraniana.

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Distensão abdominal acentuada, anças intestinais visíveis, vómitos
com bilís verde ou amarelo, ausência ou aumento dos RHA (ruídos de
luta) deve levantar a suspeita de obstrução intestinal.

Avaliação diagnóstica:
Hemograma: Anemia e ferropénia podem estar associadas a
obstrução, DII, gastrite e úlcera; Leucocitose em associação com
infecção bacteriana e sépsis.
Electrólitos, ureia e creatinina: alterações associadas a EHP,
induficiência supra-renal e doença metabólica.
Marcadores hepáticos: Aumento de AST, ALT, Bilirrubina e GGT em
doença hepato-biliar.
Amilase, Lipase: Aumentadas na pancreatite.
RX abdómen: para excluir obstrução.
TC CE: para excluir massa intracraniana.
Ecografia abdominal: para excluir EHP, invaginação e alterações
hepato-biliares.
Endoscopia: para excluir inflamação.

Tratamento: Deve ser dirigido à doença de base.

84
Obstipação
Definição:
Pelo menos 2 dos seguintes critérios: 2 defecações/semana;
episódios de incontinência fecal; História de retenção fecal; História
de defecações dolorosas ou com fezes duras; Presença de fecaloma
no recto; fezes que entopem a sanita.
Causas mais comuns: idiopática crónica, dieta (tipo de leite artificial;
intolerância ao leite de vaca; dieta baixa em fibras; baixa ingestão de
líquidos) e defecação dolorosa (hemorróidas ou fissuras).
A obstipação é particularmente frequente em 3 fases: início de
diversificação alimentar, treino para deixar as fraldas e após início da
escola.
A excluir: fibrose quística (má progressão ponderal, sintomas
respiratórios); disrafismo espinhal (nevus, tufos de pêlos, lipoma,
sinus sobre a parte inferior da coluna) doença de Hirschprung
(eliminação tardia de mecónio, distensão abdominal, ampola rectal
vazia com esfíncter tenso).

Avaliação da criança com obstipação:


História clínica: Excluir eliminação tardia de mecónio (após 48h de
vida); Eliminação de sangue; História familiar.
Achados que suportam causa functional: Início dos sintomas
associado a alterações da dieta (por ex. introdução do leite de vaca),
controlo dos esfíncteres ou evacuação dolorosa; Retenção das fezes;
Boa resposta a laxantes.
Exame objectivo: Palpação abdominal, toque rectal e observação
perianal.
Excluir sinais peritoneais, massa abdominal; atraso de crescimento;
alterações da parte inferior da coluna ou do esfíncter anal.
Tratamento:
Aumentar consumo de fibras (pão de mistura, bolachas integrais,
leguminosas, maçã e pêra com casca, substituir cenoura por abóbora.
Evitar arroz e pão branco. Evitar leite e derivados); Aumentar aporte
de líquidos; Se houver impactação fecal tratar com supositório de
glicerina; Se não tiver havido defecação há vários dias pode fazer-se

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enema de fosfato de sódio; Suplementos de fibra; Laxantes (quando a
dieta e alteração dos hábitos não são suficientes):
Laxantes osmóticos:
Lactulose - Laevolac® ou Duphalac® xarope
1 mL/kg (máx 60mL) 1 ou 2x/dia
Laxantes de contacto (devem ser evitados):
Bisacodilo - Dulcolax® comp 5 mg ou sup 10 mg
<12 anos – ½ sup ou 1 comp 1x/dia
12 anos – 1-3 comp ou 1 sup 1x/dia
Gelatina + Glicerol – Bebegel®
Glicerol – Sup de Glicerina Lactente® (686 mg) e Infantil® (1100 mg)
Docusato de sódio + Sorbitol - Clyss-Go® solução rectal

86
Otite Externa Aguda
Inflamação do canal auditivo externo.
Agentes mais frequentes: Staphylococcus aureus e Pseudomonas
aeruginosa
Factores de risco: Humidade excessiva; Secagem excessiva; Patologia
cutânea (eczema, infeçã prévia); Trauma.

Sintomas: dor (que agrava com a manipulação do pavilhão auricular


ou do tragus), prurido. Pode haver corrimento.
Sinais: Edema e eritema do canal; Pode haver nódulos palpáveis e
dolorosos na região peri-auricular.
Se houver paralesia facial, outras alterações de pares craneanos,
perda de audição ou vertigem deve suspeitar-se de otite externa
necrotizente (maligna).

Tratamento:
Manter canal auditivo seco. Durante o banho proteger com algodão
com vaselina.
AB tópico: Polimixina/Neomicina/Corticóide tópico (Polydexa ® ou
Oto-Synalar®), 2 gotas 6/6h, durante 7 dias.
Para a dor dar Paracetamol ou Ibuprofeno.

Deve haver melhoria 36 a 48h após início do AB, e resolução


completa após 6 dias. Se não houver resposta após 3 dias deve fazer-
se cultura do canal.
O doente pode ser reobservado após 1 semana para garantir
resolução do quadro.

Se houver febre, celulite ou linfadenite dar AB sistémico


(Flucloxacilina) + AB tópico.

Prevenção:
Acidificar o canal antes e depois do banho.

87
Otite Média
Inflamação do ouvido médio, associada a exsudado.

Otite Média Serosa

Inflamação do ouvido médio com exsudado.


Normalmente o líquido do exsudado é estéril.
Causada por alterações da ventilação do ouvido médio.
Sintomas: Não dá febre! Normalmente é assintomática. Pode dar
alterações do sono, diminuição da audição e vertigem.
Nas crianças mais velhas pode haver sensação de preenchimento do
ouvido ou ligeiro desconforto.
Sinais:
Tímpano não abaulado (pode estar retraido ou normal);
Diminuição da mobilidade do tímpano;
O tímpano pode estar opacificado;
Nível hidro-aéreo ou bolhas;
Exsudado não purulento;
Pode haver diminuição da audição.

Complicações: Otite média aguda; Atelectasia do tímpano; Otite


adesiva; Colesteatoma; Surdez de condução e neurossensorial.

Tratamento:
Observação mensal até resolução do quadro.
Avaliação da audição (audiograma) se tiver duração  3 meses.
Segundo o UpToDate não está indicado a utilização de anti-
histamínicos, descongestionantes ou corticóides.
Referenciar para cirurgia: crianças com lesão estrutural do tímpano
ou ouvido médio, perda de audição ≥40 dB.
Ponderar referenciação se: perda de audição independente da OMS,
suspeita ou diagnóstico de alteração da linguagem ou atraso de
desenvolvimento, perda de audição ≥21 dB, OMS bilateral≥3 meses,
OMS unilateral ≥6 meses, duração cumulativa ≥12 meses.

88
Otite Média Aguda

Infeção do ouvido médio. Maior incidência em crianças entre 6 e 18


meses .

Agentes mais frequentes: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus


influenzae (responsável principalmente por episódios recurrentes),
Moraxella catarrhalis.
Factores de risco: Infeção respiratória alta (principalmente viral).
Considerar outras patologias quando há otites de repetição.
Sintomas:
Otalgia, sobretudo quando a criança está deitada;
Febre;
Hipoacúsia;
Otorreia se rutura do tímpano;
Choro, irritabilidade, prostração, anorexia, vómitos ou diarreia em
lactentes.
Pode associar-se a conjuntivite – Síndrome conjuntivite-otite a
Haemophilus influenzae
Sinais:
Fase inicial: tímpano normal e móvel, com hiperémia da pars flacida e
do quadrante postero-superior da pars tensa (alterações semelhantes
às provocadas pela febre, choro e tosse…).
Posteriormente: tímpano totalmente hiperemiado ou com alteração
da cor (branco, amarelo ou azul), opaco e com alterações da
mobilidade (imóvel, abaulado).

Complicações:
Mastoidite (dor, edema, eritema e tumefação retro-auricular.),
Hipoacúsia, Paralesia facial, Perfuração timpânica, Abcesso,
Meningite.

Tratamento:
Apenas terapêutica sintomática (desobstrução nasal com SF,
antipiréticos) se:

89
Criança > 12 meses (>2 anos no UpToDate),
Previamente saudável,
Acesso fácil a cuidados médicos.
Se persistirem os sintomas ao fim de 48-72h deve fazer AB:
Amoxicilina 80-100 mg/Kg/dia, 8/8h, durante 7 dias (10 dias de
houver sinusite associada ou se <2 anos);
Se alergia:
- Rash:
Cefuroxima Axetil (30-40 mg/Kg/dia) ou
Cefprozil (30 mg/Kg/dia).
- Outras reações alérgicas:
Claritromicina (15 mg/Kg/dia, 12/12h) ou
Azitromicina (15 mg/Kg/dia, 1 toma/dia, 3 dias).
Se terapêutica recente (<1 mês) com Amoxicilina ou OMA resistente
(mantém sintomas após 4 dias de AB):
Amoxicilina+Ácido Clavulânico (80 mg/Kg/dia, 8/8h),
Cefuroxima Axetil (30-40 mg/Kg/dia) ou
Ceftriaxona 50 mg/Kg/dia, IM (contra-indicado se <2 anos) ou IV,
durante 3 dias.

Indicações para Miringotomia (Nelson):


Dor grave refratária;
Paralesia facial;
Mastoidite, labirintite ou infeção do SNC.

Follow up (Nelson/UpToDate):
Episódio grave ou sem melhoria: reobservação após alguns dias;
Episódios recurrentes: reobservação após 2 semanas;
Episódio isolado em crianças pequenas (<2 anos): reobservação após
8 – 12 semanas;
Episódio isolado em crianças maiores: não requer reobservação.

90
Parasitoses
(Terapêutica pediátrica em ambulatório)

Lombrigas
Ascaris lumbricóides (nematode intestinal) transmitidos por água ou
alimentos contaminados com ovos.
Podem atingir 10 a 30cm de comprimento.
Sintomas inespecíficos: dor tipo cólica, dor periumbilical. Raramente,
tosse, febre, eosinofilia e infiltrado pulmonar (S. de Loeffler). Em
infestações macicas pode haver vómitos de lombrigas. Em casos raros
há obstrução intestinal ou icterícia (por obstrucção da via biliar)
Laboratorialmente: eosinofilia. Microscopia das fezes pode identificar
ovos mas não antes de 40 dias após infecção
Ciclo do parasita: ovos no intestino delgado transformam-se em
larvas que migram pela circulação portal para fígado e pulmões. Dos
pulmões sobem até à traqueia sendo novamente deglutidas.
Amadurecem até ao estado adulto no intestino delgado
O tratamento não deve ser administrado na fase respiratória porque
a inflamação associada a aos organismos mortos é pior do que os
sintomas da migração do parasita.
Tratamento:
Se tiver mais de 2 anos: Albendazol 400mg toma única (Zentel®) ou
Mebendazol 100mg 12/12h durante 3 dias.
Se tiver mais de 6M: Pamoato de pirantel 10mg/kg (máx. 1g) toma
única.

91
Oxiúros (Enterobiose)
Enterobius vermicularis.
Mais comum em crianças dos 5 aos 10 anos. Pouco comum em
crianças com <2 anos.
Ciclo de vida: fêmeas põem os ovos na região perianal e a
autoinfecção é feita através do coçar e colocar as mãos na boca. A
deposição de ovos geralmente ocorre à noite.
Na maioria dos casos é assintomático. O sintoma mais comum é
prurido perianal.
Eosinofilia geralmente não é observada.
Complicações: vulvovaginite por invasão local e infecções bacterianas
secundárias nas lesões de coceira.
Diagnóstico: observação directa do parasita na região perianal ou nas
fezes ou colando uma fita adesiva transparente nos bordos do ânus e
retirá-la na manhã seguinte. Observando a fita ao microscópio é
possível identificar os ovos.
Tratamento:
Se tiver mais de 2 anos: Albendazol 400mg toma única (Zentel®) ou
Mebendazol 100mg 12/12h durante 3 dias
Se tiver mais de 6M: Pamoato de pirantel 10mg/kg (máx. 1g) toma
única.
Deve-se repetir o tratamento 2 semanas depois para prevenir a
reinfecção. É comum a família estar também infectada pelo que se
deve tratar os contactos próximos. Lavar muito bem roupa de cama,
debaixo das unhas, lavar as mãos e tomar banho com frequência.

92
Giardíase
Giardia lamblia.
Mais frequente em crianças em infantários e em zonas com más
condições sanitárias.
Tem duas formas: quistos e trofozoítos.
Sintomas: diarreia, mal-estar, cólicas abdominais e perda de peso
(por má absorção). Intolerância à lactose adquirida ocorre em 40%
dos doentes.
Diagnóstico: exame microscópico das fezes. Serologia pode ser
utilizada quando a microscopia não é conclusiva.
Tratamento:
Tinidazol (comp de 500mg - fazigyn), 50mg/kg dose única (máx 2g).
Metronidazol – 5-10mg/kg 8/8h, durante 7 dias (>1 ano).
Albendazol – 10mg/kg 1x dia durante 5 dias (>2 anos).

93
Pneumonia
Etiologia: No primeiro ano de vida (principalmente nos primeiros 3
meses), as pneumonias não febris são normalmente provocadas por
Chlamydia trachomatis, CMV, Ureaplasma urealyticum e
Pneumocystis carinii (em imunodeficientes).
Em crianças com < 5 anos a causa mais frequente são vírus. Dentro
das bactérias as mais frequentes são S. pneumoniae, S. aureus, and S.
pyogenes. Em crianças > 5 anos os principais agentes são S.
pneumonia, M. pneumoniae, and Chlamydophila pneumoniae.
Clínica: Febre, tosse, tiragem, adejo nasal, taquipneia (<2m: >60cpm;
2 – 12m: >50cpm; 1 – 5 A: >40cpm; ≥5 A: >20cpm) .
Pneumonia bacteriana Atípica Viral
Idade Todas Todas mas + freq >5 anos Lactentes – 5 anos
Início Súbito Súbito Gradual
Mal-estar, mialgias,
Febre alta (>38,5°), ar
cefaleia, conjuntivite, Sintomas respiratórios
Sinais e doente, arrepios, dor
odinofagia, fotofobia, superiores prévios
sintomas torácica, dor abdominal,
exantema, tosse não (rinorreia), sem ar tóxico
associados rigidez da nuca.
produtiva progressiva e
prolongada
Dificuldade respiratória
Sibilos, fervores
EO e moderada a grave. Alterações difusas à
crepitantes difusos ou
auscultação Alterações focais à auscultação, sibilos
localizados
auscultação
Infiltrados intersticiais
consolidação lobar,
Infiltrados alveolares,
adenopatia hilar (sinais Infiltrados intersticiais,
RX consolidação segmentar ou
radiológicos com maior insuflação
lobar
gravidade que sinais
clínicos)
Gravidade:
Pneumonia ligeira Pneumonia grave
Febre <38,5° Febre 38,5°
Dificuldade respiratória moderada a grave:
Dificuldade respiratória ligeira ou ausente:
FR>70 até 6m ou >50 após 6m, tiragem
Aumento ligeiro da FR, Sem tiragem ou
moderada a grave (<12m) ou dificuldade
com tiragem ligeira, sem adejo nasal, sem
respiratória (12m), adejo nasal, apneia ou
apneia, dispneia ligeira.
dispneia.
Cor normal Cianose
Estado de consciência normal Alteração do estado de consciência
Sat O2 92% Hipoxémia (Sat O2 <90%)
Tolerância oral mantida Vómitos, intolerância oral, desidratação
FC normal Taquicardia
Enchimento capilar <2 seg Enchimento capilar 2 seg

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Diagnóstico: clínico.
Indicações para realização de RX (PA):
Doença grave; confirmação do diagnóstico; avaliação de
complicações; exclusão de pneumonia em crianças 3 m – 3 A com
febre >39°C, leucocitose e sem foco de infecção.

Critérios de internamento:
Idade < 4 meses; Aspecto tóxico/séptico; Hipoxémia; Dificuldade
respiratória moderada a grave (FR >70 até 6m ou >50 após 6m,
dispneia, apneia, gemido); Desidratação; Inviabilidade da via oral;
Doença subjacente; Pneumonia muito extensa ou com complicações;
Falência terapêutica (sem resposta após 24h-72h); Motivos sociais.
Nos doentes internados deve colher-se hemograma e hemocultura.
Tratamento
Antibiótico.
1-3m: Em internamento. Sem febre – Eritromicina, com febre –
Amoxi+Clav
3m-5a: Amoxicilina 90 mg/Kg/dia (máx 4g/dia) 8/8h ou 12/12h.
Se alergia a penicilina: Clindamicina 30 – 40 mg/Kg/dia 6/6h ou 8/8h
ou Claritromicina 15 mg/Kg/dia (máx 1g/dia) 12/12h ou Eritromicina
30 – 50 mg/Kg/dia 6/6h ou Azitromicina 10mg/Kg no 1º dia (máx
500mg) seguida de 5 mg/Kg/dia (máx 250mg) durante 4 dias.
Se suspeita de Mycoplasma – Claritromicina 15 mg/Kg/dia (máx
1g/dia) 12/12h.
Se suspeita de S. aureus – Flucloxacilina
>5 A: Amoxicilina 90 mg/Kg/dia (máx 4g/dia) 8/8h ou 12/12h.
Se alergia a penicilina: Clindamicina 30 – 40 mg/Kg/dia 6/6h ou 8/8h
ou Claritromicina 15 mg/Kg/dia (máx 1g/dia) 12/12h ou Eritromicina
40 – 50 mg/Kg/dia 6/6h ou Azitromicina 10mg/Kg no 1º dia (máx
500mg) seguida de 5 mg/Kg/dia 6/6h (máx 250mg).
Se suspeita de Mycoplasma ou C. pneumoniae – Claritromicina ou
Eritromicina 40 – 50 mg/Kg/dia 6/6h ou Azitromicina 10mg/Kg no 1º
dia (máx 500mg) seguida de 5 mg/Kg/dia (máx 250mg) durante 4
dias.
Se suspeita de S. pyogenes – Penicilina G cristalina.

95
Pneumonia de aspiração: Amoxi+Clav 40 – 50 mg/Kg/dia (máx
1750mg/dia de amoxi) 8/8h. Se alergia: Clindamicina 30 – 40
mg/Kg/dia (máx 1,8g/dia) 6/6h ou 8/8h

Duração do AB em crianças com > 6 m: 5 dias para Azitromicina e 7 –


10 dias para restantes AB. Se Mycoplasma: 14 dias. Follow up após 24
– 48h após início AB.

96
Púrpura de Henoch Schönlein
Vasculite mais frequente nas crianças.
Mais frequente entre os 3 e os 15 anos.
Mais frequente no inverno.
Precedida de infecção respiratória alta ou gastrointestinal,
imunização ou picada de insecto.

Diagnóstico:
Púrpura palpável e simétrica. Exantema
maculopapular urticariforme com rapida
transformação purpurica.
Localização: r. glutea, sup extensora dos
membros inferiores, tornozelos e
cotovelos.
Edema dos pés, mãos e couro cabeludo frequente.
Com pelo menos 1 de 4:
1. Artrite ou artralgia (transitória e migratória, mais
frequente joelhos e tornozelos);
2. Dor abdominal;
3. Envolvimento renal (hematúria, proteinúria, sind
nefrótico e/ou nefritico);
4. Biópsia com depósitos IgA.
Outras manifestações:GI: nauseas, vómitos, hemorragia, invaginação
intestinal; SNC: Cefaleias, convulsões; Episclerite; Edema escrotal com
risco de torção testicular.

Tratamento:
De suporte:Hidratação; Analgesia; Repouso.

97
Sépsis
Síndrome de resposta inflamatória sistémica (≥ 2 critérios):
 T>38,5°C ou <36°C,
 Taquicardia >2DP ou bradicardia <P10 nos lactentes,
 Taquipneia > 2DP,
 Leucocitose > 12.000 ou < 4.000 (ou > 10% bastonetes).
Sépsis: SIRS em resposta a infecção, suspeita ou documentada.
Sépsis grave: sépsis associada a disfunção cardiovascular ou ARDS ou
disfunção de ≥ 2 órgãos.
Choque séptico: sépsis grave com disfunção cardiovascular apesar da
reposição de volume.
Agente etiológico (em 50% não é possível isolar):
 Mais frequentes: meningococo e pneumococo.
 Recém nascido: Strepto grupo B, E. coli.
 Adolescentes: Strepto grupo A, Staphylo aureus.
Manifestações clínicas:
Fase inicial – inespecífica: Febre, Recusa alimentar, Diarreia, Vómitos,
Dor abdominal, Dor articular.
Factores de elevado grau de suspeição
 Aparência de doença grave,
 Diminuição da diurese,
 Alteração do comportamento,
 Irritabilidade,
 Prostração,
 Sensação dos pais de “não estar bem”.
Fase inicial de choque séptico (choque quente)
 Extremidades quentes (vasodilatação periférica),
 Pulsos amplos,
 Taquicardia,
 Petéquias e sufusões dispersas (sinal de CID).
Fase de choque frio
 Extremidades frias,
 Aumento do tempo de reperfusão capilar,
 Pulsos fracos,
 Sinais de hipoperfusão multiorgânica.

98
Laboratorialmente
 Leucocitose,
 Trombocitopenia, diminuição fibrinogénio, aumento TP e
aPTT, D-dímeros positivos (CID),
 Lactatos aumentados com acidose metabólica
(hipoperfusão com hipoxia tecidular).
Tratamento
1. Monitorização (SpO2, FC, PA, estado de consciência),
2. 2 acessos venosos,
3. colheita de sangue para análises e hemocultura (pelo
menos uma hemocultura com um volume mínimo de 1mL para
dividir por 2 frascos - aeróbios e anaeróbios – este baixo volume
detecta níveis altos de bacteriémia),
4. Antibiótico (ceftriaxona 100mg/kg/dia ou se RN ou
lactente <3M dar ampicilina + gentamicina),
5. Reperfusão hídrica (SF 20mL/kg) em 5-10min e repetir até
FC diminuir,
6. Estabilização hemodinâmica (com aminas),
7. Aumentar oxigénio,
8. IOT se insuficiência respiratória, edema agudo do pulmão
ou depressão do SNC.
Cada RN deve ser avaliado para a presença dos seguintes FR para
sépsis:
 Febre intraparto≥38°C,
 Parto <37S de gestação,
 Infecção intraamniótica (corioamnionite),
 Apgar ≤6 aos 5 min,
 Evidência de sofrimento fetal,
 Colonização materna com Strepto grupo B,
 Ruptura de membranas > 18h,
 Ausência de AB intraparto.
Punção lombar:
 Deve ser considerada em todos os RN para os quais foram
feitas hemoculturas por suspeita de sépsis;
 Segundo AAP 2012 deve ser feito em todas as crianças
com:

99
o Hemoculturas positivas,
o Achados clínicos altamente sugestivos de sépsis,
o Dados laboratoriais sugestivos de sépsis,
o Agravamento clínico durante antibioterapia.
Urocultura:
 Deve ser pedida na avaliação de sépsis em crianças com
>6 dias de vida (com ≤ 6 dias reflecte apenas bacteriémia maciça e
não uma ITU isolada).
Radiografia de tórax:
 Pedir se houver sofrimento respiratório.

100
Sibilos
Idade <2 anos 2 – 5 anos 5 – 15 anos
Causas Bronquiolite, aspiração Asma, aspiração corpo
Asma, Mycoplasma,
mais (RGE), asma, estranho, pieira
bronquiectasias
frequentes malformações transitória

3º episódio de sibilância – suspeitar de asma!

Causas de sibilância aguda:


Asma, bronquiolite, bronquite, laringotraqueobronquite, traqueite
bacteriana, aspiração ou ingestão de corpo estranho.

101
Tosse aguda
Definição: tosse com <3 semanas de evolução.
Classificação: quanto à sua localização pode ser:
Alta (rinofaringe, laringe, traqueia);
Baixa (brônquios, bronquíolos, pleura), normalmente com
expectoração (excepto pleura).
Causas mais frequentes:
Infecção respiratória, normalmente viral (bronquiolite, croup, gripe,
pneumonia) – causa mais frequente;
Aspiração de corpo estranho;
Asma;
Habituação (desaparece quando a criança está a dormir).
Avaliação:
Duração;
Sinais e sintomas acompanhantes (febre, pieira, dificuldade
respiratória);
Caracterização (seca ou produtiva, “de cão”, pigarrear);
Se há expectoração, qual o seu aspecto? (mucosa, purulenta, com
sangue);
Predomínio (nocturna, matinal; sem predomínio);
História familiar (atopia, doença respiratória crónica, familiares com
doença infecciosa, tabagismo).

Febre, expectoração purulenta, taquipneia,


Infecção
aumento do esforço respiratório, AP alterada
Coriza Constipação
Pieira, dificuldade respiratória, desencadeada
Asma
pelo exercício
Durante o após refeição, súbita Aspiração
Nocturna Rinorreia posterior, asma, RGE
Desaparece com o sono Psicogénica/habituação
Com rinorreia, prurido nasal e ocular, espirros Rinite alérgica

Exames complementares:
Broncoscopia se suspeita de aspiração de corpo estranho.
Radiografia de tórax se sinais de doença respiratória baixa, tosse
progressiva, hemoptises.
Tratamento:

102
Nas infecções virais desaparece espontaneamente ao fim de cerca de
14 dias, podendo demorar até 3 – 4 semanas. Seguimento até
resolução completa.
Anti-tússicos estão contra-indicados.

103
Traumatismo Crânio-Encefálico
Score de Glasgow: Ver Exame Neurológico.
Indicações para TC (NICE):
-Sinais focais no EN;
-Alteração do estado de -Suspeita de maus tratos;
consciência, sonolência, -Criança com <1A com
irritabilidade laceração, edema ou
-SG <14 se >1A ou <15 se contusão >5 cm;
<1A; -Lesão por mecanismo de
-Amnésia; alto risco (colisão com
-Perda do conhecimento objecto de alto impacto,
prolongada (> 5 min); colisão de veículos com
-Fractura aguda do crânio ou ejeção do doente, morte de
sinais de fractura basilar um outro passageiro,
(hemotímpano, “olhos de atropelamento de peão ou
panda”, rino ou otorráquia, ciclista sem capacete,
sinal de Battle); -queda > 0,9m se <2A ou
-Convulsão; >1,5m se 2A).
-Fontanela protuberante;
-Vómitos persistentes;
Quando NÃO há indicação para TC:
<2anos 2anos
Estado de consciência normal
Sem hematoma não frontal Sem vómitos
Sem perda de conhecimento
Sem fractura do crânio
Sem alterações do comportamento Sem cefaleias
Sem lesão por mecanismo de alto risco
Critérios de Alta:
Não há suspeita de maus tratos,
Criança facilmente despertável ao toque,
Exame neurológico normal,
Tolerância oral,
Competência dos cuidadores,
Sem necessidade de internamento por lesões extra cerebrais.

104
Re-observação imediata se:
Cefaleia persistente ou que piora,
Vómitos depois de 4-6h após a lesão,
Alteração do estado mental ou do comportamento,
Desequilibrio da marcha ou descoordenação motora,
Convulsões,
Sonolência exagerada, incapacidade de despertar a criança.
Após um TCE é comum, nas primeiras horas, o aparecimento de
cefaleias, náuseas e tonturas ligeiras.

Terapêutica sintomática:
Gelo por períodos de 20 minutos e Paracetamol (10-20mg/Kg/dose
(máx 90mg/Kg/dia), 6/6h-8/8h).
As crianças com lesão por mecanismo preocupante ou com sintomas
prolongados podem ser acordadas a cada 4h ou mais.

Deve ser realizado follow-up ao fim de 24h, mesmo que apenas pelo
telefone.

105
Urticária
Lesão típica: pápula eritematosa, com palidez central, muito
pruriginosa. Podem aparecer em qualquer parte do corpo, com
localização assimétrica, em “mapa”. Aparecem ao fim de alguns
minutos, aumentam, coalescem, e desaparecem ao fim de algumas
horas (1-24h).
Causas: Idiopática, Infecção viral ou bacteriana, medicamentos,
alimentos (tipicamente 30 minutos após a ingestão, os mais
frequentes são leite, ovos, amendoins, nozes, soja e trigo), picadas de
insectos, factores físicos (calor, frio, radiações).
Diagnóstico: História clínica e exame objectivo.
História Clínica: Excluir anafilaxia. Questionar sobre Sinais de alarme:
Dispneia; Rouquidão, sensação de “aperto” na garganta; Náuseas e
vómitos; Dor abdominal ou cólicas; Síncope. Observar cavidade oral!
Tratamento:
Evitar desencadeantes,
Anti-histamínicos.
6m-1A 1A-2A 2A-5A 6A-12A 12A
Hidroxizina – Atarax ®; solução
1-2mg/Kg/dia (0,5-1ml/Kg/dia) 2-4x/dia
10mg/5ml (2mg/ml), cp 25mg
Dimetindeno – Fenistil ®;
1 gota/Kg/dose (máx 20 gotas/dose), 3x/dia
solução 1mg/ml, cp 1 ou 4mg
Cetirizina - Virlix®, Zyrtec ®; 2,5mg 1x/dia (0,25 2,5-5mg
5-10mg 1-2x/d
solução 1mg/ml, cp 10mg mg/Kg) 1-2x/dia
Levocetirizina – Xyzal ®; solução 2,5mg 5mg
0,5mg/ml, cp 5mg 1x/dia 1x/dia
Loratadina - Claritine®; solução (<30 Kg) (>30 Kg)
1mg/ml, cp 10mg 5mg1/d 10mg 1x/dia
Desloratadina – Azomyr ®, 2,5mg 5mg
® 1mg 1,25mg 1x/dia (2,5
Aerius ; solução 2,5mg/5ml, cp 1x/dia 1x/dia
1x/dia ml)
5mg (5 ml) (10 ml)
Corticóides sistémicos devem ser evitados pelo efeito rebound,
excepto em casos graves (Prednisolona - Lepicortinolo® 5mg ou 20
mg, 0,5-1 mg/Kg/dia (máx 60 mg/dia). Suspeita de etiologia alérgica
(alimentar ou medicamentosa)  referenciar a alergologia.

106
Vacinação

107
Valores de referência
Frequência respiratória e cardíaca:

Frequência respiratória:
Valores de referência
< 2 meses < 60 cpm
2 – 12 meses < 50 cpm
1 – 5 anos < 40 cpm
6 – 8 anos < 30 cpm
Frequeência cardíaca:
Valores de referência
2 – 12 meses < 160 bpm
1 – 2 anos < 120 bpm
2 – 8 anos < 110 bpm

Hipertensão:
Pré – hipertensão: TA P90 ou TA>120/80mmHg (mesmo se P<90); Hipertensão: TA P95

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Hipotensão:
1 mês – 1 ano 1 – 10 anos 11 – 17 anos
<70mmHg <70 + (2 x idade)mmHg <90mmHg

Taquipneia:
<2meses 2 – 12meses 1 – 5 anos ≥5 anos
>60cpm >50cpm >40cpm >20cpm

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Tensão arterial:

110
111
112
Notas

113

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