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A (im)penhorabilidade dos bens responde a duas questões, não apenas no âmbito jurídico

quanto também no social.

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de


aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o;

O dispositivo correspondente no Código de 1973, o artigo 649, destacava em seu caput a


expressão "absolutamente", o que destaca uma mudança importantíssima ocorrida no
processo de execução no que tange à restrição da penhorabilidade de verbas alimentares.

Podemos então, considerar como um reflexo disso a decisão recente da Corte Especial do STJ,
que definitivamente reconheceu a exceção implícita à regra geral da impenhorabilidade para
os casos em que a penhora de parte dos vencimentos do devedor comprometa a dignidade ou
subsistência de sua família.

A matéria, foi apreciada em sede de embargos de divergência em recurso especial, abrangia a


questão de fundo e versava sobre a possibilidade ou não de penhora de parte do salário,
vencimento ou remuneração, para o pagamento de débito não alimentar.

Na ocasião, o colegiado relacionou a regra do inciso IV do artigo 833 do CPC, em nome dos
princípios da efetividade e da razoabilidade, consoante a isso constou no voto proferido pela
ministra Nancy Andrighi.

Anteriormente a vigência do CPC/2015, a Corte Cidadã flexibilizava a regra, somente no caso


de penhoras realizadas para verbas alimentícias, conforme o parágrafo segundo do artigo 649
do CPC/1973 (com correspondência no parágrafo segundo do artigo 833 do CPC/2015).

O entendimento prevaleceu nas Turmas integrantes da Primeira Seção do Tribunal após o


novo CPC:

"O entendimento do STJ é de que o salário, soldo ou remuneração são impenhoráveis, nos
termos do art. “

649, IV, do CPC/73, poderá ser exceção quando o montante do bloqueio possa ser razoável em
relação à remuneração por ele percebida, não interferindo e/ou ameaçando a dignidade ou a
subsistência do devedor e de sua família.

A Corte adotou o parecer de entendimento de que a impenhorabilidade admite exceções,


como a que permite a penhora em casos de dívida alimentar, diretamente e expressamente
prevista no parágrafo 2º do mesmo artigo, ou em casos de empréstimo consignado, limitado o
a 30% (trinta por cento) o bloqueio do valor recebido a título de vencimentos, soldos ou
salários.

Para o ministro Benedito Gonçalves, relator do caso, ressalta-se a complexidade dessa


discussão: "O caso dos autos é bastante ilustrativo da complexidade da questão relativa à
impenhorabilidade das verbas que representam a remuneração pelo trabalho ou proventos de
aposentadoria.”

Dado em um primeiro momento, as verbas destinam-se à manutenção do devedor e de sua


família, que têm do Código de Processo Civil proteção com o fim de manter sua subsistência,
seu mínimo essencial.
No caso mencionado, o direito a receber tratamento jurisdicional que possa equilibrar, de um
lado, o direito do credor ao crédito executado e, de outro, o direito do devedor a pagar seu
título, mantendo a dignidade de suas responsabilidades

Por maioria, a Corte decidiu que sob a ótica da preservação de direitos fundamentais, o direito
do credor não pode encontrar restrição injustificada, desproporcional ou desnecessária.

Portanto, aos casos de impenhorabilidade (e suas extensões), revela-se adequada,


proporcional e justificada a impenhorabilidade daquela parte do devedor que consiga garantir
a manutenção de sua dignidade e da de seus dependentes.

Hermes Zaneti Júnior. observa que "Nos casos concretos, precisará ocorrer uma análise da
constitucionalidade da restrição e das restrições à restrição. A regra geral da
impenhorabilidade é em princípio típica, mas é ampla por força da existência de direitos
fundamentais implícitos e posições jurídicas fundamentais não previstas nas hipóteses
casuísticas nela declinadas".

Na mesma linha de pensamento de Marinoni, Arenhart e Mitidiero: "O exagero no elenco de


bens a que se confere essa impenhorabilidade, ao contrário de proteger o devedor, acaba por
prejudicá-lo, pois o comércio exige maiores garantias para permitir que qualquer pessoa possa
realizar compras e financiamentos.”

A interpretação em questão deu-se de maneira teleológica, considerando-se a finalidade da


norma, qual seja a garantia de um padrão de vida mínimo ao credor, para si e para sua família,
capaz de garantir dignidade.

Não afetando o limite, concluiu o Tribunal que a penhora pode ser sobre o percentual de seus
vencimentos ou outras verbas de natureza alimentar, a fim de conceder tutela jurisdicional
que seja efetiva, na medida do possível e do proporcional, aos direitos do credor.

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