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Considere o caso seguinte: um deputado federal, um deputado estadual e um

vereador estão sendo investigados pois há indícios de que, sem ligação entre si,
cometeram crimes no exercício de suas funções. O Ministério Público pede que os
parlamentares sejam afastados cautelarmente dos seus mandatos, para evitar que
prejudiquem as investigações.
Como juiz competente para a causa, considerando as regras constitucionais e as
funções das imunidades parlamentares, bem como as posições do Supremo
Tribunal Federal a respeito do tema, decida fundamentadamente sobre a
possibilidade de afastamento de cada um dos membros do Poder Legislativo, nas
três esferas federativas.

De acordo com a decisão de 11/10/2017, o afastamento de deputados e senadores


de suas atividades, quando sob investigação, segue o preceito do Art. 53 CF. §2º:

“Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por


quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 35, de 2001)

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não


poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos
serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. “

Sendo assim a medida cautelar deve ser remetida à respectiva casa do investigado,
para que possa se manter a equidade entre as partes, até o final da investigação e o
transito em julgado.

O principal objetivo pela solicitação do afastamento é a influência do parlamentar


quanto às decisões sobre seu julgamento, em posse de suas funções o investigado
poderá influenciar, articular ou ainda coordenar diretrizes a seu favor, prejudicando a
imparcialidade e o justo julgamento do processo em questão.

Em 08/05/2019 o STF deu entendimento que o art. 53 não era apenas em âmbito
federal, estendendo suas prerrogativas aos deputados estaduais, através da ADI
5526, que estendeu aos deputados estaduais a mesma prerrogativa de julgamento
dos deputados e senadores, decidindo assim que medidas cautelares sejam
remetidas à casa competente em até vinte e quatro horas após o recebimento da
denúncia.

No caso do vereador envolvido diz a redação do Art. 29, inciso VIII, da CF/88, que
“os vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no exercício do
mandato e na circunscrição do município”, desfrutando somente de imunidade
absoluta, desde que as suas opiniões, palavras e votos sejam proferidos no
exercício do mandato (nexo material) e na circunscrição do município (critério
territorial).

Decidiu ainda o STJ, no RHC 88.804/RN, que é lícito ao juiz de primeiro grau impor
aos vereadores medidas cautelares de afastamento de suas funções legislativas
sem necessidade de remessa à Câmara de Vereadores para deliberação.

Há ainda outras decisões que remetem a esse entendimento quanto à imunidade


dos vereadores apenas em exercício de suas funções.

Como juiz competente, entendo que devemos remeter ás devidas Casas a


solicitação de medidas cautelares contra os deputados envolvidos e ainda, conforme
o entendimento, emitir medida cautelar contra o vereador em questão, para que a
imparcialidade da decisão possa ser mantida em todo o curso do processo.

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