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Modelo Boliviano de Transformação em Microfinanças

Indiscutivelmente a maior contribuição da microfinanças boliviana


tem sido a sua capacidade inventiva , transformativa e de inovação
institucional. Esse capítulo focalizará em como, quando, e porque
instituições de microfinanças foram inventadas na Bolívia e como
essas transformações influenciaram o mundo da microfinanças.

Promoção e Desenvolvimento em Microcrédito (PRODEM):


O Início da Indústria de Microfinanças na Bolívia

O surgimento da indústria de microfinanças na Bolivia está


diretamente associado `a uma organização sem fins lucrativos:
PRODEM. Em 1985, PRODEM concede 20 empréstimos para quatro
mulheres ambulantes em La Paz. Foram empréstimos concedidos `a
pessoas que jamais se qualificariam para créditos bancários formais.
E isto é exatamente a idéia da microfinanças: financiar e capacitar os
pobres. PRODEM também foi responsável por uma outra inovação
dentro da indústria da microfinanças: BancoSol. A criação do
BancoSol tornou-se um marco no que hoje é mundialmnente
conhecido como o modelo boliviano de transformação em
microfinanças com o surgimento do primeiro banco privado de
microfinanças.

A Gêneses do Modelo Boliviano de Transformação em


Microfinanças

1
Uma outra inovação histórica resultante da dinâmica da indústria de
microfinanças boliviana foi a criação dos Fundos Financeiros
Privados(FFPs)

Fundos Financeiros Privados(FFPs): Estrutura Legal nos


Serviços de Microfinanças

Fundos Financeiros Privados(FFPs) são instituições financeiras


formais licenciadas para exercer uma variedade de serviços de
empréstimos e algumas atividades de poupança. FFPs têm
requerimentos mais baixos em termos de capital mínimo em
comparação com bancos comerciais, e não têm autorização de
oferecer certos serviços bancários. FFPs são intermediários legais
entre uma organização não-governamental (ONG) e um banco
comercial. A maior diferença entre um banco e uma FFP é que uma
FFP não tem autorização de receber depósitos. A Superintendência
Nacional de Bancos e Entidades Financeiras (SBEF) supervisona as
FFPs. As FFPs bolivianas são consideradas entidades financeiras fora
do setor bancário pelo fato de não serem autorizadas a oferecer contas
correntes e serviços de câmbio e consequentemente não participarem
no processo de expansão monetária da economia.

2
FFPs assim como outras entidades financeiras fora do setor bancário,
não são nem NGOs nem bancos privados, estão em um ponto
intermediário entre NGOs e bancos que oferecem serviços de
microfinanças.1

Grande parte dos esforços para a criação das FFPs se deveram ao Pro-
Crédito, que foi a primeira ONG a se transformar em FFP, chamando-
se Caja Los Andes. Caja Los Andes se transformou em um banco
privado mais recentemente.

MFI - PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO

1
www.mixmarket.org
3
PRODEM, Caja Los Andes e BancoSol são três MFIs que devem ser
estudadas juntas já que suas evoluções oferecem uma visão muito
clara do que o modelo de transformação significa.

Caja Los Andes S.A. FFP: Primeiro Fundo Privado de


Investimento

Caja Los Andes S.A. FFP é considerado o primeiro Fundo Privado


de Investimento e foi estabelecido em 1995. Caja Los Andes S.A.
FFP é o resultado da transferência de todas as atividades financeiras
da associação sem fins lucrativos Pro-Crédito. Caja Los Andes S.A.
FFP foi iniciada em 1992 como a associação Pro-Crédito que foi
criada pelo governo alemão aonde a microfinanças já havia sido
implementada. Desde seus primórdios, Pro-Crédito teve a meta de
entrar no setor financeiro formal.

4
GTZ (Deutshe Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit), da
Alemanha, tem sido o maior provedor de assistência técnica por toda
a história do Pro-Crédito e da Caja Los Andes.

Pro-Crédito permanece como o mais importante acionista controlador


da nova instituição, Caja Los Andes SA FFP que foi incorporada em
1995. Dez anos depois de operar com muito sucesso como Caja Los
Andes FFP, e se tornar uma das líderas no setor de microfinanças,
Caja Los Andes FFP transforma-se em um banco comercial de
microfinanças com o nome de Banco Los Andes ProCredit. Banco
Los Andes ProCredit é vinculado a ProCredit Holding que é uma rede
financeira de instituições que inclui 21 bancos e foi fundada em 1998.
ProCredit Holding administra os bancos ProCredit provendo
assistência crucial nas áreas de recursos humanos, financeira,

5
adminitração de riscos e bancária. ProCredit tem a responsabilidade
de manter o alto padrão estabelecido pelas autoridades financeiras
alemãs e ao mesmo tempo seguir as melhores práticas bancárias
determinadas pela Convenção de Basel.2

IPC (Invest Internationale Projekt Consult) é o mair acionista da


ProCredit Holding que inclui tanto acionistas públicos como privados.

Diferentemente do BancoSol, Cajo Los Andes entrou no mercado não


como um banco comercial mas como uma FFP. Em 1992, quando
BancoSol foi criado não havia ainda a figura das FFPs. No caso do
BancoSol o processo de transformação institucional foi composto de
duas etapas: uma ONG que se transforma em um banco comercial. No
caso da Caja Los Andes o processo foi composto de 3 etapas: uma
ONG que se transforma em um FFP e mais tarde em um banco
privado. Hoje em dia a instituição é uma das líderes no mercado com
62 filiais and duas matrizes. Os FFPs são novas gerações de MFIs que
resultaram da busca de alternativas institucionais para ONG-MFIs. A
lógica por trás desse processo de pode ser explicada em três níveis:

2
Deliberações de bancos centrais de vários países que publicaram um capital mínimo para os bancos.
(http://financial-dictionary.thefreedictionary.com)
6
• As ONG-MFIs não tinham suficiente capital próprio para serem
usados na aquisição de emprétimos;
• Doadores ou participação governamental são direcionados para
NGO-MFIs. A particpação do setor privado pode trazer a eficiência
operacional necessária mas só pode ser garantida se a MFI constitui
um status empresarial formalizado;
• Como uma instituição regulada , os FFPs têm a capacidade de
acessar depósitos, incluindo aqueles oriundos do público em geral, e
eventualmente prover outros tipos de serviços financeiros. Com isso ,
as MFIs ampliam suas alternativas financeiras. 3

Os FFPs não têm autorização para oferecer os seguintes serviços:

Contas Correntes
Cartão de Crédito
Câmbio
Factoring4, e
Serviços Fiduciário5

A Microfinança e a Restauração do Governo Civil

O advento da indústria de microfinanças na Bolívia é diretamente


associado à com a restauração do governo civil e democrático em
1982. O novo governo boliviano promove a liberação das taxas de
juros, eliminando os créditos diretos6 e fechamento de bancos

3
http://www.nabard.org/pdf/publications/reports/boliviastudyreport.pdf
4
A operação de Factoring é um mecanismo de fomento mercantil que possibilita à empresa
fomentada vender seus créditos, gerados por suas vendas à prazo, a uma empresa de Factoring .
(www.sinfacrj.com.br)
5
Diz-se dos valores fictícios, fundados na confiança com que foram emitidos: o cheque bancário é
uma moeda fiduciária.
6
São financiamentos concedidos pelos Bancos, ou pelas chamadas Financeiras, a pessoas físicas ou
jurídicas, para aquisição de bens ou serviços. A quitação do financiamento é feita normalmente em
prestações mensais, iguais e sucessivas. (www.bertolo.pro.br)
7
estaduais ineficientes. Contraditoriamente, no Capítulo 3, Brasil:
Bancos Públicos em Microfinanças, é comprovado que bancos
públicos podem ser eficientes na área de microfinanças. O Banco do
Nordeste no Brasil, com seu programa de microcrédito, CrediAmigo, é
um programa modelo de microfinaças administrado por um banco
público. O fechamento dos bancos públicos bolivianos está
intrinsicamente ligado `a relação ineficiente e corrupta desses bancos
com os governos bolivianos anteriores às mudanças ocorridas nos
anos 80s na Bolívia. Na verdade a América Latina como um todo
sofria do mesmo mal da hiperinflação e experimentava uma grande
onda de liberalização econômica.

Havia quatro bancos comerciais governamentais (SOCBs) na Bolivia


nos setores de agricultura, indústria, mineração e habitação. Por volta
de 1987 esses bancos foram fechados dentro de reformas estruturais
do novo governo deixando o setor bancário inteiramente nas mão do
setor privado. Como o setor privado bancário ainda não estava
devidamente desenvolvido na Bolívia, a maioria da população pobre e
aqueles que estavam nas áreas periféricas rurais ficaram nas mão de
empresas particulares de empréstimos para adquirir microcréditos.

A hiperinflação, contudo, afetava seriamente o setor financeiro


boliviano durante os anos 80 e início dos 90. A hiperinflação afetava
a indústria de microfinanças nos seu estágio inicial de duas maneiras
opostas:
i) primeiramente ao inviabilzar qualquer negócio em
microfinanças em função dos altos níveis de juros associados
com a alta inflação;
ii) por outro lado, a hiperinflação provocou o crescimento
acelerado do setor informal o que criava o ambiente propício
para projetos de microfinanças.
Quando a hiperinflação foi controlada pelas novas políticas
econômicas do governo boliviano, a indústria de microfinanças passou
a ser utilizada como uma política econômica autônoma que oferecia

8
uma alternativa para uma população e um setor informal cada vez
maiores. De fato, antes desse período as cooperativas já ofereciam
créditos para pequenos negócios, mas o modelo PRODEM alcançou
níveis jamais vistos na Bolivia até então. O modelo de crédito dos
grupos solidários do PRODEM são os mesmos adotados pelo
Grammen Bank em Bangladesh , pelo Banco do Nordeste no Brasil e
por muitas MFIs em todo mundo.

O fraco sistema financeiro boliviano era baseado em uma estrutura


comum em países em desenvolvimento. Os bancos comerciais eram
apenas braços financeiros de grupos privados pertencentes `a famíias
ricas e grupos com poderio econômico.

Esses bancos não ofereciam muitos serviços para o público em geral e


não eram apropriadamente supervisionados pelo governo que só
controlava as taxas de juros.

Os bancos de desenvovimento em geral se relacionavam com o as


classes média e a de baixa renda, mas operavam com perdas. Os
programas de crédito das ONGs e dos bancos de desenvolvimento
operavam com perdas em função da defasagem entres as taxas da
hiperinflação e as as taxas de juros efetivamente cobradas nos
emprétimos, que os transformavam quase em doações. [1]

De um modo geral, emprestar para o pobre é considerado uma


atividade intrínsicamente ineficiente e arriscada. Essa premissa na
verdade não tem nada a ver com o pobre em si e a microfinanças é
uma prova indiscutível desse fato. Muito frequentemente, os bancos
em desenvolvimento oferecem empréstimos para os pobres em
momentos de grandes necessidades como enchentes ou situações de
emergência. Por isso, os bancos de desenvolvimento não têm a
expectativa de serem lucrativos e gerarem bons retornos, mas sim de

9
operarem com prejuízo. Na verdade, tudo isso é apenas uma maneira
errada de fazer negócios, não tendo nada a ver com o pobre.

Os empréstimos na microfinanças operam de maneira bem diferente


dos empréstimos concedidos por bancos de desenvolvimento em
geral. O modelo da microfinanças é um modelo que funciona de baixo
para cima, ou seja conta com a parceria e com o compromisso ativo de
quem pega um empréstimo, funcionando como uma espécie de
parceria entre quem empresta e quem recebe o empréstimo. No caso
específico da Bolívia, décadas de incompetência na administração das
políticas macroeconômicas prejudicaram todo o sistema finaceiro do
país. Durante governos populistas, o governo boliviano provia
benefícios salariais totalmente insustentáveis. Durante governos
conservadores , imprimia dinheiro indiscriminadamente. No início dos
anos 80, banqueiros internacionais consideram a Bolívia um caso
perdido [5].

Modelo Boliviano de Criação na Microfinanças

A indústria boliviana de microfinanças é mundialmente conhecida por


sua capacidade de inovar e por suas instituições pioneiras como
PRODEM, ProMujer, e BancoSol. É conhecido como o modelo de
transformação boliviano em microfinanças pelo sua habilidade de
transformar a natureza de suas instituições de microfinanças. ONGs
se tornam FFPs, FFPs se tornam bancos comerciais. Porém, poderia
ser ainda mais apropriado chamar todo esse processo de modelo de
criação , multiplicação ou ramificação como foi o caso do BancoSol.
PRODEM não se transformou em um banco , e de fato permaneceu
como uma ONG. Mais tarde PRODEM se transformaria em um FFP.
É importante fazer a diferenciaçao entre transformação e criação.

10
A microfinanças na Bolívia originou-se com doações para ONGs que
mais tarde se transformaram em instituições financeiras, FFPs ou
bancos. Os objetivos em comum das ONGs que criaram ou se
transformaram em FFPs até o momento, incluem maiores acessos ao
capital comercial, a habilidade de mobilizar poupanças locais, a
melhoria no atendimento ao cliente, e a ampliação do alcance e

11
envergadura de seus serviços. Em geral, essas instituições
conseguiram atingir esses objetivos, mesmo que muitas vezes não na
escala esperada. [1].

No caso seguinte , PRODEM FFP, o modelo de transformação


boliviano de microfinanças adicionou uma nova maneira de
transformação institucional. Antes mesmo de se transformar em uma
FFP, PRODEM criou um banco separado, BancoSol, enquanto
continuava com suas atribuições de uma ONG. O fato é que naquele
momento não existia ainda a figura da FFP. Hoje em dia , PRODEM
FFP existe, mesmo com a existência de sua versão bancária :
BancoSol.

PRODEM FFP SA: Um Fundo Financeiro Privado


Regulamentado

A PRODEM-ONG foi criada na onda das MFIs bolivianas quando a


desregulamentação da indústria financeira em 1985 rompia com o
sistema feudal bancário vigente até então.

A PRODEM-ONG teve o apoio da ACCION International, uma


instituição baseada nos EUA que encorajava MFIs em toda a América
Latina. Foi exatamente a ativa participação da ACCION International
que atraiu e motivou o governo boliviano a implementar provisões
especiais que permitiam ONGs se transformarem em bancos privados
em microfinanças. Contudo, nenhuma outra ONG conseguiu adquirir
uma licença bancária nas linhas do PRODEM.

12
A PRODEM-ONG foi criada em 1986 como uma organização não
governamental sem fins lucrativos com a visão de introduzir serviços
de microfinança tanto nas áreas urbanas como rurais na Bolívia.

Em 1988 PRODEM-ONG, que ja administrava uma carteira de mais


de US$24 milhões , 47,000 clientes, e uma rede de agências por todo o
país percebeu a necessidade de criar uma instituição financeira
regulamentada com um amplitude financeira maior especialmente para
as áreas rurais.

13
Em 1992, PRODEM cria o BancoSol, considerado o primeiro banco
comercial no setor do microcrédito no mundo.

Porém, depois de mais de 10 anos atuando com muito sucesso como


uma ONG qua já havia multiplicado suas atividades com a criação do
BancoSol, PRODEM-ONG resolve evoluir para o próximo estágio
financeiro como um FFP. A PRODEM-ONG criou o BancoSol com
a missão de prover microcréditos para pequenos empresários. Porém,
ao constatar que o BancoSol talvez estivesse se desviando desse
objetivo, inicia um FFP em março de 2000: PRODEM FFP.

PRODEM se utilize tanto das metodologias de empréstimo individual


quanto do grupo solidário. Empréstimos individuais são normalmente
oferecidos para bons clientes de sucesso em que os empréstimos de
grupo solidário já não são o suficiente em termos de financiamentos.
Os empréstimos são utilizados como capital de giro e de investimento,
que com exceção de empréstimos de grandes porte, não têm controles
muito rígidos.
Uma profunda análise econômica de unidade familiar é executada em
aproximadamente uma semana a partir da solicitação de um
empréstimo por um agente finaceiro que adapta os montantes, os
termos de repagamento com os resultados das observações.
Empréstimos individuais são garantidos por hipotecas ou ativos
consignados enquanto os empréstimos de grupo são garantidos pelo
esquema de empréstimo solidário ( compromisso comunitário social).

14
O grupo consultor oferece treinanamento em microfinanças através de
seus especialistas que atuam dentro das comunidades e de lá mesmo
podem implementar os programas de computador para microfinanças.

As organizações financiadoras mais importantes para o PRODEM FFP


SA são a HTF IFC, TFSF, a e fundação Triodos–Doen.7
Dez anos depois de sua fundação a carteira de empréstimos brutos do
PRODEM FFP alcançou US$ 350 milhões.8

Em 2009, PRODEM FFP foi classificado em 12 lugar entre as 20


0

Primeiras MFIs em termos de penetração de mercado na América


Latina e no Caribe com mais de 110 mil empréstimos de
microcrédito.9

Os indicadores de alcance do PRODEM FFP mostram que desde 2006


o percentual de empréstimos para mulheres decresceu um pouco
passando de 50.45% para 46.62%, o que pode ser um sinal
preocupante se a tendência se acentuar posteriormente. No mesmo
7
www.mixmarket.org
8
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9
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período vericamos um aumento no número de empréstimos ativos em
mais de 30%. A variação mais significante aconteceu em termos da
carteira de empréstimos brutos que aumentou em mais de US$200
milhões nos últimos 4 anos.

Banco Solidário (BancoSol) S.A: Uma Nova Tendência em


Termos de Desenvolvimentoi Institucional

Com a criação do BancoSol, a indústria de microfinanças testemunha


o nascimento de uma nova tendência institucional em que ONGs
começam a se inserir no universo das instituições financeiras
regulamentadas [1].

A primeira instituição de microfinanças transformada, BancoSol, é


agora um banco privado licenciado de microfinanças. [8]. BancoSol
foi fundado em 1992. Apenas oito anos depois, BancoSol já tinha 34
filiais nas localidades de La Paz, Santa Cruz, Cochabamba, Oruro e
Chuquisaca, que cobriam 45% de todos os microempreendedores da
Bolívia. Em setembro de 1997, BancoSol se tornou a primeira
instituição de microfinanças a participar de um mercado aberto de
ações e uma entre apenas 12 companhias públicas negociadas nas
bolsa de valores boliviana. Apesar da liquidez pequena do mercado
boliviano, participar do mercado aberto boliviano significa um passo
importante na comercialização nas microfinanças. BancoSol pela
primeira vez iria participar no mercado aberto em 1997 quando emitiu
ações no valor de US$0.45 a unidade baseadas em seus ganhos que
totalizaram US$ 1.1 milhões e dividendos de mais de US$ 160 mil em
1996. [2].

16
BancoSol: Fin
Em 2010 BancoSol contava com 55 escritórios por todo o país. No
ano anterior, o banco alcançava a marca de mais de 129 mil
empréstimos e uma carteira bruta de empréstimos no valor de US$
351.8 milhões.10

Baseado em seu produto principal, empréstimo de grupo solidário,


BancoSol obteve uma performance que o eleva ao topo na indústria
bancária boliviana durante os anos 90s. De 2002 a 2010, BancoSol
mais que duplica tanto seus valores de carteira de empréstimos brutos
quanto em termos de Ativos Total.
Em 2009, em termos de Ativos Total, BancoSol chega a mais de US$
485 milhões.11

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Uma análise mais próxima do BancoSol mostra claramente a
importância das agências financiadoras na sua brilhante performance.

BancoSol se posicionou em 11o. lugar entre as 100 melhores MFIs na


América Latina e no Caribe em termos de alcance, transparência e
eficiência. BancoSol ficou em 13o lugar entre as 20 melhore MFIs
em termos de penetração de mercado com mais de 100 mil
empréstimos de microcrédito. Em termos de qualidade de carteira
crédito, BancoSol ficou em 10o lugar com uma taxa de 0.5% em
termos de coeficiente de abandono de dívidas em 2009.12

12
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O Modelo Boliviano de Transformação em Microfinanças

O imediato successo do BancoSol, considerado desde sua


implementação entre os melhores bancos na Bolívia, reforçou a noção
de que ONGs do setor de microfinanças poderiam se inserir no
universo das instituições financeiras regulamentadas.
O próximo capítulo nesse processo de desenvolvimento institucional
na indústria de microfinanças boliviana se dá com a gênesis de uma
nova entidade financeira em microfinanças entre uma ONG e um
banco privado: o FFP. Caja dos Andes FFP é considerado a primeira
FFP em todo o mundo.

A intenção de participar do sistema financeiro é um sinal de uma


ampla gama de objetivos de um ONG-MFI: redução da dependência
de financiadores e o potencial de multiplicar o número d clientes com
acesso à microfinanças [1]. Em alguns casos a mera existência de
um financiador pode mesmo representar um sinal de apoio e
credibilidade para um MFI e com isso pode ampliar suas chances de
mais financiadores. Esse ano, por exemplo, ProMujer recebeu US$5
milhões em fundos de financiamento com a facilitação da Fundação
Grameen. Além do mais, em alguns casos, para uma ONG se
transformar em um FFP ou um banco privado, pode significar um
abandono de sua missão primordial. Mas o fato é que apesar de que
uma série de ONGs tenham se transformado em FFPs para oferecer
melhor serviços de microcrédito , a grande parte da população , mais
especificamente as camadas pobres, não se beneficiou dessas
inovações.

Apesar de que a independência financeira deve ser uma importante


meta para qualquer MFI, esse fato não pode comprometer o principal
objetivo de toda MFI que é o de servir como um modelo de recuperão
para as pessoas marginalizadas que na sua grande maioria não têm
acesso `a qualquer forma de crédito.Uma ONG-MFI pode funcionar

19
como um intermediário entre um financiador em um extremo do globo
em uma mulher pobre no outro.

O sucesso boliviano atraiu uma grande onda de interesse entre


especialistas, financiadores e outros setores no potencial das ONG-
MFIs em participarem no setor financeiro regulamentado.
Existe uma tendência das ONG-MFIs em se tornarem FFPs e então
bancos privados. Em geral, ONGs como CRECER e ProMujer, que
têm uma forte especialização em investimento em capital humano
através de educação e treinamento tendem a permanecer como ONGs
e se associarem a FFPs e bancos privados em microfinanças.
Uma das características mais interessantes do modelo de
transformação é que o mesmo demanda uma mudança não só na
forma como emprestar para o pobre mas em toda a legislação que
precisa se revisitada e reinventada para absorver as novas instituições
finaceiras de microfinanças. Além do mais, sendo o modelo de
microfinanças , um modelo democrático com uma abordagem ‘de
baixo para cima”(bottom-up), é baseado numa participação de todos
os agentes envolvidos nos financiamentos: financiadores,
intermediários financeiros, bancos locais e internacionais e
principalmente quem está recebendo o empréstimo. Novas estruturas
administrativas e institucionais têm que ser criadas para supervisonar e
viabilizar o mercado de microfinanças. Esses fatores fazem da
microfinanças um modelo diferente de tudo – não existem fórmulas
para resolução de problemas já que todas as comunidades são
diferentes. Contudo, a única maneira que o modelo de microfinanças
pode obter sucesso é com a completo engajamento dos recipientes dos
empréstimos: o pobre. O capital social 13 é um dos maiores atributos
de uma estrutura de empréstimo em microfinanças. Os sistemas de
banco de aldeia, crédito de grupo e crédito solidário são todos
baseados em garantias coletivas dentro das comunidades.É um modelo
muito descentralizado quase como um modelo tribal.

13
Envolvimento individual em atividades coletivas, construção de redes de confiança recíproca e de
virtudes cívicas. (www.capitalsocialsul.com.br/)
20
O entusiasmo em relação aos esquema da microfinanças têm atraído
legisladores e especialistas em vários países na criação de leis que
facilitem o processo de transformação de ONGs e c surgimento de
uma classe completamente de intermediários financeiros a servico do
pobre.
Alternativas legislativas têm sido estabelecida em vários países através
das agências que supervisionam as instituições financeiras na
coordenação exclusiva dessas novas MFIs agora regulamentadas.
A Superintendência Nacional De Bancos (NSB) na Bolívia introduziu
uma legislação que criou os FFPs ou Fondos Financieros Privados em
meados dos anmos 90. A estrutura dos FFPs foi especificamente
criada para prover uma adequação legal às instituições financeiras
para servirem pequenos e médio empreendimentos [1].

Legislação Bancária de 1993: Reforma Financeira e o


Crescimento da Microfinanças

Na Bolívia ficou claro que é mandatório que haja um agente


econômico dedicado às necessidades finaceiras dos pobres. Quando a
situação financeira na economia boliviana se encontrava em um total
caos, com hiperinflação e instituições públicas sendo fechadas, a
indústria e microfinanças surgiu para preencher esse vazio
institucional. As reformas na economia boliviana culminaram na
legislação bancária de 1993 que transformou o oligopólio no setor
bancário em um indústria moderna. A Superintendência Nacional De
Bancos (NSB) foi criada para auxiliar na organização de um sistema
financeiro firme. O Novo Programa Econômico boliviano logrou
controlar a hiperinflação e liberou as taxas de juro, criando as

21
precondições para o crescimento da microfinanças boliviana. A
liberação das taxas de juros permitiu que os empréstimos tivessem
taxas competitivas necessárias no pagamento dos altos custos
operacionais do microcrédito. Uma outra medida importante nas
reformas financeiras foi o fechamento dos bancos públicos de
desenvolvimento. Até meados dos anos 90s, não existia a figura dos
FFPs o que explica o fato de que o PRODEM-ONG ter criado um
banco, BancoSol, e não um FFP. O que é mais comum é uma ONG-
MFI se transformar em um FFP e depois em um banco como
explicado anteriormente.
As reformas revitalizaram e ressuscitaram a economia boliviana que
estava engessada pela hiperinflação, corrupção no setor público e
ineficiência associada com uma economia orientada por um setor
estatal muito forte. Contudo, a mudança de um extremo para outro, de
uma economia estatal para uma economia de mercado total provou
não ter sido benéfica para a economia boliviana no longo prazo. Essa
mudança gerou uma grande euforia , uma impressão de modernização
e progresso que ao final culminou no colapso do sistema financeiro e
na falência da incipiente indústria de microfinanças boliviana.

As reformas levaram a uma melhoria da economia como um todo em


seus primeiros momentos. Em 1998, a produção econômica do país
cresceu mais de 4.7% superando o crescimento de todos os países da
América do Sul naquele momento, enquanto que as economia
doméstica alcançava 12.1% do Produto Interno Bruto(PIB). [6].

Essa performance ocorreu graças ao alto nível de investimentos tanto


domésticos quanto internacionais, ao aumento das exportações, ao
rápido crescimento dos setores da agro-indústria, mineração,
manufatureiro e de serviços. A sólida implemenação das reformas
estruturais contribuiram para um aumento em investimentos
estrangeiros diretos.[6].

22
Essa abundância de oferta de dinheiro pode ter revitalizado a
economia boliviana ao baratear o dinheiro e tornar os empréstimos e
investimentos mais acessíveis, porém da mesma maneira reduziram a
autonomia dos agentes econômicos domésticos e semearam o que
seria uma tremenda crise econômica alguns anos mais tarde.
Como MFIs desregulamentadas, ONGs em geral não têm tido muito
sucesso na atração de recursos finaceiros por falta de garantias de
patrimônio. Sem essas garantias, bancos comercias sentem-se
relutantes em prover empréstimos que ultrapassem muito o valor
partrimonial das ONGs desregulamentadas.

MICROFINANCE AMERICAS: TOP 100 2010 14, é uma publicação


técnica com amostras de MFIs que se destacaram na América Latina, e
incluiu Banco Los Andes ProCredit, BancoSol, e FIE ( Centro para o
Desenvolvimeto de Iniciativas Econômicas) da Bolívia entre essas
melhores instituições de microfinanças em termos de alcance,
eficiência e transparência. As informações pesquisadas são baseadas
em dados do MicroRate, uma agência de avaliação de riscos , que é
especializada na avaliação de MFIs na América Latina e na África e
vem analisando a performance das MFIs na América Latina em 2010 e
anos anteriores.

Caja de Los Andes é um exemplo da total transformação de uma


ONG em um banco. Muitas outras ONG-MFIs se transfomaram em
FFPs mas não têm a intenção de se tornarem bancos privados.
Contudo, mais uma vez, há uma tendência entre as FFPs em se
transformarem em bancos regulamentados como se verifica nos caso
da FIE ( Centro para o Desenvolvimeto de Iniciativas Econômicas)
que acabou de se transformar em banco em 12 de fevereiro de 2010.

14
MicroEnterprise Americas 2010: www.iadb.org
23
FIE SA ( Centro para o Desenvolvimeto de Iniciativas
Econômicas): Uma instituição Regulamentada de Microfinanças
na Bolívia

FIE-ONG foi uma das ONGs pioneiras que mergulharam nessa nova
experiência na Bolívia nos anos 80s: a implementação de uma
indústria de microfinanças na Bolívia. Por volta de 15 anos mais tarde
funcionando com muito sucesso como uma ONG, FIE-ONG se
transforma em FFP FIE SA.

FFP FIE SA foi estabelece uma parceria com a ONG ProMujer que
possibilitou mulheres de baixa renda terem a chance de pouparem
junto à instituições finnaceiras regulamentadas. FFPs, ONGs and
Bancos-MFIs são entidades complementares na indústria de
microfinanças. Cada uma tendo a capacidade de alcançar diferentes
tipos de consumidores usando diferentes tipos de modelos e produtos.

Como um FFP , FIE SA atua com micro-empreendedores em mini-


mercados e feiras que prestam serviços em áreas urbanas.

24
Como resultado dos esforços pioneiros do FFP FIE SA, atividades
econômicas produtivas de pequenos e médios empreendimentos famil
famíliares e também de grupos de baixa renda com acesso limitado a
créditos formais ou treinamento, são muito estimulados.

FFP FIE SA manteve-se leal à sua missão inicial de apoio a micro-


empreendedores. Exatamente a capacidade do microempreendimento
em empregar uma quantidade substancial de mão-de-obra local e
fornecer produtos e serviços em mercados populares do país que fez
da atuação do FFP FIE SA indispensável.

25
Os clientes da FFP FIE SA são em geral micro-empreendedores e na
maioria dos casos mulheres.

BANCO FIE

No dia 23 de julho de 2009, FFP FIE SA começou o seu processo de


transformação em um banco privado em microfinanças junto ao
Serviço Financeiro Regulador Boliviano (ASFI). No dia 12 de
fevereiro de 2010, depois de submeter-se com sucesso a todos os
requerimentos da ASFI, FFP FIE SA recebe a autorização para se
estabelecer como um banco comercial, BANCO FIE.

Depois de apenas 6 meses, BANCO FIE tem o maior alcance em


número de novos clientes entre todas as MFIs bolivianas.

26
A senhoras Vania Ruth Roca Mercado e Decia Roca Mercado são mãe
e filha respectivamente, e são um bom exemplo de quem o BANCO
FIE está podendo ajudar oferecendo créditos para mulheres sem
nenhum acesso ao crédito formal. As senhoras Vania e Decia vivem
no bairro Guaracachi, em Santa Cruz. A senhora Vania trabalha em
loja de departamentos e sua filha ganha a vida como faixineira em
casas de famílias. São mulheres muito respeitadas por sua
honestidade e integridade. Vania cuida não só de sua filha mas de 4
sobrinhos de sua irmã que mora na Espanha e que não têm como criar
as crianças. Com a ajuda do BANCO FIE essas mulheres investiram
em um negócio próprio que tem servido para complementar suas
rendas e viverem melhor.15

Mesmo trabalhando com a classe mais baica da população boliviana


em termos poder de compra, em 2009, BANCO FIE atingiu um total
de US$ 313.5 milhões em sua carteira de empréstimos brutos e
US$124, 657 milhões em total em ativos.16

Além do mais , BANCO FIE se posicionou entre as 20 melhores


MFIs em termos de penetração de mercado em toda a América Latina
e Caribe com 84,245 empréstimos de microcrédito em 2009.

EcoFuturo FFP: Dinheiro em Microfinanças como um Sólido


Investimento

O sucesso das MFIs bolivianas é um realidade inegável. No entanto, o


impacto que as MFIs alcançaram dentro da economia boliviana é um
assunto que precisa ser mais bem elaborado , devido ao alto grau de
pobreza ainda existente no país , e o pequeno percentual relativo da

15
www.bancofie.com.bo
16
www.mixmarket.org
27
populaçao que de fato tornou-se recipiente de fundos da microfinanças
até o momento.

Todavia, fundos internacionas continuam entrando na Bolívia, como o


anunciado em 11 de maio de 2010 quando Vision Microfinance Fund
investiu US$ 2 millões no EcoFuturo da Bolívia.17

Vision Microfinance Fund é um fundo com base na Suiça que atua


junto com MFIs em países emergentes na América Latina, Leste
Europeu e Ásia.

Como definido em sua página na internet18, Vision não considera que


a microfinanças deva basear-se em doações. Vision aborda o dinheiro
na microfinanças como um sólido investimento que pode ser uma
alternativa contra a pobreza. Vision é um participante relativamente
novo nos negócios da microfinanças. Vision resolveu investir nesse
mercado em 2005, o Ano Internacional do Microcrédito segundo as
Nações Unidas.

Vision estabeleceu um fundo em 2006 denominado Dual Return Fund,


que é um fundo especializado em financiar instituições de
microfinanças. Vision emprestou mais de US$200 milhões desde
então e possibilitou que por volta de 250.000 familias em países em
desenvolvimento escapassem do fantasma da pobreza. 19

17
Posted by Stefanie Rubin in Category: Deals, Investment Funds, Latin America at 12:03
am www.microcapital.org
18
www.visionmicrofinance.com
19
www.microcapital.org id
28
Os US$ 2 milhões que Vision Microfinance Fund investiu no
EcoFuturo da Bolívia é um tipo de investimento competitivo que deve
ser administrado por uma companhia de investimento austríaca,
Absolute Portfolio Managementy (GmbH)20, que comprova que a
microfinanças pode se beneficiar do melhor de todos os mundos: ser
lucrativa e ajudar o pobre.

EcoFuturo FFP é uma instituição de microfinanças com 43.489


empréstimos ativos e um total de US$ 118 milhões em ativos totais em
2009. Em 2009, EcoFuturo teve um retorno de 0.99% sobre seus
ativos e um retorno patrimonial de 10.13%.21

EcoFuturo FFP é mais um exemplo de uma MFI transformada.


EcoFuturo foi criada em 1999 por um grupo de ONGs financeiras e
um grupo de empresários com a ajuda do governo suíço.

20
www.absolutepm.at
21
www.mixmarket.org
29
Hoje em dia, EcoFuturo oferece a maioria dos serviços financeiros
autorizados a um FFP e está presente em todo o território boliviano
com por volta de 60 escritórios em Pando, La Paz, Beni, Santa Cruz,
Cochabamba, Chuquisaca, Tarija, Potosi e Oruro.

EcoFuturo também tem planos de desenvolver e diversificar seus


produtos financeiros, como por exemplo, o pagamento de impostos e
contas de luz e água. O maiores financiadores do EcoFuturo são
Interchurch Organization for Development Cooperation (ICCO)22 and
Oikocredit.23

22
www.icco.nl
23
www.oikocredit.org
30
EcoFuturo apresentou um marcante crescimento em suas
características institucionais no que diz respeito ao número de
escritórios e empregados e no total de seus ativos. Com apenas 13
escritórios em 2006 , depois de abrir mais de 40 novos escritórios nos
anos seguintes, chega a 60 unidades em 2010. Ao mesmo tempo,
EcoFuturo contrata mais de 400 pessoas no mesmo período, com
aumento de seu contingente de pessoal de 183 para 638. Em termos
de total de ativos , chega a US$ 127 milhões em 2010 comparados
com US$ 29 milhões em 2006.

Além do mais, EcoFuturo se colocou em 39o lugar entre as 100


melhores MFIs na América Latina e Caribe em termos de alcance,
transparência e eficiência.

De certa maneira, chega-se a um ponto em que as diferenças e


similaridades entres as MFIs bolivianas são muito mais relacionadas
com a posição geográfica de seus clientes. A abordagem e os tipos de
empréstimos vão variar mais de acordo com o perfil sócio-econômico
da clientela que é extremamente determinado por onde essas pessoas
vivem. Este é exatamente o caso do AgroCapital, uma MFI que visa a
população rural boliviana.
31
AgroCapital (Fundación AgroCapital)24: Substituição da
Produção de Coca

Em geral, a maioria das pessoas que vive nas áreas rurais em países
pobres tem um nível educional mais baixo e é pobre e sem acesso à
linhas de créditos. E este é exatamente o público-alvo da AgroCapital
como pode ser constatado pelo depoimento de funcionários em uma
agência de uma área rural na Bolívia25.
A agência da AgroCapital nesta localidade se assemelha a qualquer
pequena agência bancária , mas essa é a única similaridade com um
instituição comum de financiamento. O senhor Ronny Maeshiro, sub-
gerente de crédito na AgroCapital expressa seu sentimento de
satisfação de poder ajudar as pessoas da localidade quando recebem
seus primeiros empréstimos. O modelo de empréstimo da AgroCapital
é o do grupo solidário. Como o senhor Maeshiro explica, o
sentimento mais recompensante durante o processo de aplicação do
empréstimo, é quando ele percebe a alegria nos rostos das pessoas que
pela primeira vez em suas vidas são aprovadas para uma linha de
crédito. Ele explica que é relativamente simples diferenciar uma boa
pessoa de uma pessoa ruim. O agente financeiro tem somente que dar

24
www.agrocapital.org.bo
25
http://www.youtube.com/watch?v=-PQfMyt2J2w&feature=player_detailpage

32
umas voltas nas redondezas de onde essa pessoa mora e pedir por
referências na vizinhança. Todo mundo conhece todo mundo. Jorge
Calderon, um agente financeiro na AgroCapital, explica que as
pessoas pobres são em geral muito honestas e imediatamente abrem
suas vidas e contam suas histórias e tratam-no como um amigo. Todos
os funcionários da AgroCapital expressam essa mesma sensação ao
interagir com a comunidade , e a satisfação de ver essas pessoas se
desenvolvendo , crescendo e tendo êxito.
AgroCapital tem uma parceria com Kiva26 que participa no
financiamento dos empréstimos. Kiva é uma comunidade de
financiadores que têm uma plataforma on line de financiamento.
Kiva foi nominada uma da melhores iniciativas em 2006 pela New
York Times Magazine. É uma abordagem inovadora e revolucionária
que usa a mídia social e a internet para levantar financiamentos para
milhões de MFIs em todo o mundo. ProMujer também se utiliza da
plataforma da Kiva.

26
http://www.kiva.org/
33
Kiva tem parceria com um total de mais de 126 MFIs no momento e
um valor total em termos de empréstimos de US$190 milhões em
2010. 27

27

www.kiva.org
34
AgroCapital foi criada em 1992 a partir de uma parceria entre o
governo boliviano e a USAID28, com a assistência técnica oferecida
pela Agricultural Cooperative Development International (ACDI)29
com a meta principal de auxiliar os fazendeiros na substituição da
produção de coca.

Apesar das minas e as grandes reservas de gás e petróleo bolivianos


, o país é um dos mais pobres da América Latina e ainda vive de uma
economia de subsistência.

Apesar de ter melhorado sua performance econômica , uma boa parte


da população ainda depende de ocupações precárias , condições de
28
www.usaid.gov
29
www.acdivoca.org
35
saúde ruins, baixo nível educacional, e baixos níveis de produtividade
no trabalho tanto nas áreas rurais quanto urbanas. Esse dados podem
explicar porque aproximadamente 38% da população boliviana vive
em estado de pobreza absoluta30.

A Bolívia está entre as 20 nações mais pobres do planeta. Nessa lista


seletiva, estão Serra Leoa e os Palestinos da Faixa de Gaza. A
economia boliviana experimentou um ano de 2010 difícil em função
dos cortes dos benefícios de comércio com os EUA, de um declínio de
preço de suas mercadorias desde 2008 e dos efeitos da recessão
mundial em 2009. Diferente do Brasil, a Bolívia foi duramente afetada
pela recessão mundial. Nesse contexto, é crucial contar com a
microfinanças como uma alternativa de financiamento, recuperação e
proteção para as camadas pobres na viabilização de acesso ao
crédito.31

30
www.tradeport.org
31
http://www.theodora.com
36
O Brasil e os EUA ocupam quase ¾ do total das exportações
bolivianas em 2009. A economia boliviana é em todos os aspectos
muito dependente dos mercados estrangeiros e é muito frágil em
função de não ter uma produção muito diversificada na economia
com poucos parceiros comerciais.

Café, algodão e as riquezas minerais bolivianas constituem o grosso


de sua exportação, apesar de que a soja e o mercado de jóias também
ocuparem uma posição importante na área de exportação.

37
Portanto, devido a essa falta de recursos e uma economia declinante,
o governo boliviano é levado a uma batalha com vários setores da
sociedade em sua luta pelo poder e influência econômica em um país
instável e pobre, especialmente depois da crise da indústria de estanho.
Por exemplo, entre 1979 e 1985, houve 3 eleições, 6 presidentes, 3
golpes de estado que tiveram sucesso e mais de 6 que fracassaram. [7].

Grande parte da população vive do cultivo ilegal da coca, fonte da


cocaína. Um programa governamental de erradicação da coca se
iniciou no final dos anos 90 e provocou uma recessão econômica nas
áreas em o produto é um elemento importante na economia local. A
Bolívia é o terceiro maior produtor de coca ( depois de Colômbia e
Peru) no mundo. A Bolívia é um intermediário na produção de
produtos de coca e cocaína exportados ou transportados através da
Colômbia, Brazil, Argentina e Chile para os EUA e outras mercados
de drogas internacionais. Contudo, todos os esforços de erradicação
da coca com a implementação de programas de produção alternativa
não foi capaz de diminuir a produção significativamente durante o
governo de Sanchez de Lozada32 , haja visto que os fazendeiros se
viram obrigados a retornar ao cultivo da coca quando houve a crise
agrícola em 1998 and 199933 ( Graph 8).

32
Gonzalo Sánchez de Lozada era o presidente da Bolívia de 93-97 e outra vez de
2002-03.
33
www.tradeport.org
38
De 2008 a 2009 constata-se o menor crescimento da produção de
cocaína na Bolívia no último anos. O aumento da produção em 2006
em relação ao ano anterior foi de 8%, 5% em 2007, 6% em 2008 e 1%
em 2009. As forças de mercado diminuíram a rentabilidade da
produção de coca ultimamente. Em 2009, os produtores de cocaína
bolivianos ganharam 10% menos para a folha de coca - US$ 265
milhões em 2009, comparados com US$293 milhões em 200834.

AgroCapital está transcendendo seu original foco de erradicação da


produção de coca. AgroCapital tem como objetivo se tornar um FFP,
supervisionado pela Superintendência de Bancos, e já está aplicando
com as documentações necessárias para o mesmo. AgroCapital está
entre as 50 melhores MFIs na América Latina e no Caribe em termos
de alcance, eficiência e transparência em 2009.

A missão atual da AgroCapital é ajudar o setor produtivo rural


através da provisão de empréstimos de curto e médio prazos para a
produção rural, processamento, transporte e distribuição, assim como
outros serviços complementares direcionados aos micro-
empreendedores rurais em 2 segmentos: investimentos e
microcréditos. Os empréstimos de investimentos são direcionados para
microemprendedores com mais experiência e com negócios de
sucesso, e que em geral requerem empréstimos mais altos (US
$13,800 em média). Esses empréstimos têm um prazo de maturação de
1.5 até 5 anos ( em média 3.2 anos) e taxas de juros anuais entre
12.5% e 27% de acordo com o montante do empréstimo. Linhas de
microcrédito são direcionadas para empréstimos menores (US $1,700
em média). Eles têm uma taxa anual de juros de 21% a 42% e prazos
de pagamentos de 60 a 730 dias (356 dias em média). Os
financiadores mais importantes são Luxmint–ADA35 and Oikocredit.36

34
www.UNOCD.org
35
www.etika.lu
36
www.mixmarket.org
39
O Complexo Mercado Boliviano de Microfinanças

As instituições de microfinanças existentes na Bolívia compõem um


mercado sofisticado e complexo sem igual em qualquer outro país ,
com a possível excessão da Indonésia. Serviços de microfinanças são
oferecidos por ONGs , bancos comerciais, cooperativas, fundos de
mutuários ( setor imobiliário) e categorias de instituições especiais, os
FFPs. As MFIs podem funcionar como bancos de aldeia(VB), grupos
solidários(SG), Credor Individual(In) e associações (AS) [1].
A metodologia de empréstimo do banco de aldeia (VB), em que os
clientes são em geral mulheres, é baseada em grupos de 10-30
pessoas que são formados e têm uma maneira autônoma de delegar a
liderança, que fica responsável pela direção do grupo, regulamentos,
contabilidade, gerenciamento dos fundos e supervisão dos
empréstimos. O grupo canaliza fundos para serem utilizados para
empréstimos para negócios, poupança e suporte mútuos (despesas
eventuais) , sendo o grupo integralmente responsável em garantir os
empréstimos.

Os grupos solidários(BS) são mecanismos de empréstimos que


possibilitam que um grupo de indivíduos – frequentemente chamados
de grupo solidário ou no caso da ProMujer , grupos comunitários, que
funcionam como fiadores ou garantias dos empréstimos através do
compromisso de todo o grupo em honrar os pagamentos. O incentivo
de honrar o pagamento é todo baseado na pressão social do próprio
grupo sobre cada indivíduo – se um membro fica inadimplente , um
outro membro do grupo honra o pagamento.

40
Em consequência da falta de uma política pública de microcrédito na
Bolívia desde seus momentos primordiais nos anos 80s, o mercado de
microfinanças se tornou muito complexo para poder atender ao pobre
dentro dessas circunstâncias. Essa complexidade pode também ser
atribuída ao fato de que a microfinanças na Bolívia foi um
empreendimento inovador criado em um ambiente de mercado livre e
aberto nos anos 80s na Bolívia. Para poder atender ao pobre com
linhas de microcrédito, instituições de microfinanças foram criadas
como os FFPs e os bancos comerciais de microfinanças mencionados
previamente. Os serviços de microfinanças acabaram sendo
promovidos por diferentes MFIs: ONGs, bancos comerciais,
cooperativas, fundos mutuários(setor imobiliário) e os FFPs.

41
ONGs Bolivianas: Combate a Pobreza Rural

O setor de microfinanças boliviano também inclui fortes ONGs que


não têm a intenção de se transformarem em instituições
regulamentadas. As ONGs tendem a ter uma orientação mais direta
no combate a pobreza rural que as outras MFIs mais comerciais e
regulamentadas. Apesar de que as ONGs formam menos de 25% do
total da carteira de microcréditos, muitas ONGs apresentam um
crescimento vigoroso , e juntas representam por volta de 40% dos
membros ativos em microfinanças na Bolívia. [2]. De fato, a maioria
dessas ONGs vai permanecer ONGs. Porém, elas foram diretamente
afetadas pela onda de comercialização da indústria de microfinanças
com um todo. [1].

ProMujer (Programas para Mulheres)

Em 2010, ProMujer completou 20 anos aparelhando mais de


1.000.000 pessoas na América Latina a se tornarem micro-
empreendedoras.

A idéia da ProMujer é que vale à pena o investimento na mulher, já


que as mulheres tendem a reinvestir em suas famílias. Somente em
2009, ProMujer desembolsou US$159 milhões em empréstimos com
um valor médio de US$266.00. Com um alto grau de repagamentos
dos empréstimos, somente 1.9% da carteira de portfólio de
empréstimos está em risco de inadimplência. ProMujer é uma
42
organização internacional de desenvolvimento sem fins lucrativos cuja
missão é ajudar mulheres a se salvarem de situações de pobreza e com
isso beneficiar suas famílias. Nos últimos 20 anos, mais de U$700
milhões em microcréditos já foram efetuados. 37
O programa da ProMujer se expandiu para outros países como
Argentina, Peru, México e Nicarágua. ProMujer oferece treinamento
e microcrédito para mulheres que querem abrir ou melhorar seu
pequenos negócios e consequentemente melhoras suas rendas.

O programa foi lançado em 1990 por Lynne Patterson e Carmen


Velasco. Essas duas mulheres faziam trabalhos com mulheres
bolivianas que estavam recebendo ajudas em alimentação. Patterson e
Velasco batalharam para oferecer treinamento a essas mulheres em
como se capacitarem e aumentarem a qualidade de saúde,
planejamento familiar e educação infantil em suas vidas. O programa
começou a crescer , e os próprios participantes demandaram mais
37
https://promujer.org
43
ajuda para melhorarem suas rendas. Velasco e Patterson bolaram um
programa de desenvolvimento comercial que acabou sendo a gênesis
de um programa de sucesso mundial para mulheres na Bolívia.38

No final de 1993, mais de 3.000 mulheres bolivianas vivendo em El


Alto tinham recebido treinamento no programa, mas apenas 24 bancos
de aldeia haviam sido estabelecidos. De 2000 até 2010, o número de
clientes cresceu de 23,866 para 90,999 . Por volta de 95.59% dos
clientes eram mulheres.

Graph 4: Source: www.mixmarket.org.

Em uma década , ProMujer atingiu um marcante crescimento em 3


importantes indicadores: por volta de 60,000 novos clientes, mais de
38
www.mixmarket.org
44
600% de crescimento tanto em termos da carteira bruta de
empréstimos como em total de seus ativos. 39

Uma interessante característica do ProMujer é o fato de que é uma


organização internacional sem fins lucrativos sediada em Nova York,
atuando localmente na América Latina de forma direta. É uma
organização muito especializada em termos de público alvo , isto é,
mulheres latino-americanas. Tem parcerias com todos os tipos de
MFIs e é uma ONG que não tem o ideal de se tornar um FFP ou
banco. CRECER, a próxima MFI, apresenta uma série de
similaridades com ProMujer já que o seu público-alvo também são
mulheres, mas tem uma ênfase maior em educação e é uma ONG
privada boliviana.

CRECER ( Crédito com Educação Rural) : Método do


Banco de Aldeia

CRECER é uma ONG privada estabelecida em 1990, que


exclusivamente oferece serviços de créditos a mulheres que podem se
benefiar desse acesso financeiro aliado a serviços educacionais para
crescimento em termos de potencial humano. CRECER é uma
organização completamente diferente da ProMujer. Enquanto a
primeira é uma organização internacional sem fins lucrativos,
CRECER é uma organização privada. Contudo, as duas organizações
têm metas e público-alvo semelhantes, o que torna a comparação das
duas organizações interessante.

39
www.mixmarket.org.
45
O programa CRECER manteve uma média de 100,000 empréstimos
ativos nos últimos 4 anos. O programa apresentou um pequeno
declínio de 2007 para 2008 nesse quesito. Em termos de variação de
crescimento , apresenta uma inclinação bem diferente do programa
ProMujer. Apesar de ser um program menor que o CRECER,
ProMujer apresentou uma variação positiva em termos de novos
empréstimos bem mais acetuada que a realizada no programa
CRECER como indicado no Graph 2.

CRECER tem uma abordagem direcionada para o investimento em


capital humano . CRECER não oferece simplesmente microcrédito a
seus membros mas os ajuda a se tornarem mais produtivos através de
treinamento e educação. Investindo para criar valores humanos, acaba
afetando a auto-estima e senso de independência de seus participantes.

46
Porém, o segredo do sucesso do CRECER está em como o programa
administra unificadamente crédito e educação de uma forma que um
reforce o outro. O dinheiro ajuda os participantes a realizarem seus
sonhos, a se tornarem independentes e produtivos, além de
construírem dentro da própria comunidades um senso de realização
que afeta positivamente todo o grupo.

CRECER se utiliza dos empréstimos como uma forma de incentivar as


pessoas em 4 importantes áreas temáticas: saúde total, direitos do
cidadão, educação financeira e educação em empréstimos de grupo
solidário.

CRECER estabelece parcerias com instituições públicas e privadas


que oferecem serviços de saúde aos seus participantes com preços
acessíveis.

O produto de educação e crédito do CRECER é baseado no banco de


aldeia (VB). O sistema do banco de aldeia consiste em associação de
poupança e crédito que são gerenciados por credores que dividem um
mesmo ideal. Esses bancos de aldeias basicamente servem mulheres
que por motivos diversos não têm acesso a serviços financeiros
formais. O maior desafio do CRECER é alcançar 140,000 clientes
em 2011 cobrindo nove distritos na Bolívia ( atualmente CRECER
trabalha em 7 distritos).

Os maiores financiadores do CRECER são Consorzio Etimos40


(Consorzio Etimos S.c.a r.l.) and Oikocredit, enquanto a ProMujer
recebe fundos do governo boliviano e agencias internacionais de
desenvolvimeto com a USAID.41

CRECER se colocou em 31o lugar entre as 100 melhores MFIs na


América Latina e Caribe em termos de alcance, transparência e

40
www.etimos.it
41
www.mixmarket.org.
47
eficiência. (Table I). Em termos de carteira de empréstimo bruto
alcançou US$ 46.067.523 em 2009 situando-se entre as 20 primeiras
MFIs em termos de tamanho da carteira de microempreendimetos. A
carteira de empréstimos bruto do CRECER aumentou em 5 vezes
quando comparados os anos de 2004 e 2009.42

Enquanto CRECER é uma ONG privada, Banco Económico, o


próximo caso, é 100% uma empresa privada que optou em entrar no
setor de microfinanças para expandir sua carteira de clientes.

Participação do Setor Privado em Microfinanças: Banco


Económico

42
id
48
Até o momento, o modelo de transformação em microfinanças tem
atraído em sua maioria um número reduzido de instituições do setor
privado. Apesar de que todas as ONG-MFIs analisadas neste capítulo
terem alguma participação do capital privado, essa participação
percentual é bem pequena nas instituições que se transformaram em
MFIs.

Banco Económico43

A Microfinanças não é uma solução para todas as instituições. O


Banco Económico é um banco privado que depois da primeira
tentativa de estabelecer um programa de microfinanças, decide desistir
do empreendimento por não considerar que era compatível com seus
objetivos como empresa.

Em 1981, 18 empresários do setor privado lançaram o Banco


Económico, um banco comercial dedicado a servir pequenos e médios
empresários em Santa Cruz, Bolívia. Em 1997, o Banco Económico
inaugura sua primeira divisão em Presto especializada em
microcrédito. Em dois anos, com a crise da microfinanças boliviana e
do setor creditício como um todo , o Banco Económico resolve fechar
sua atividades em Presto e retirar-se definitivamente do mercado de
microcrédito.
O Banco Económico entra e sai rapidamente do mercado de
microcrédito quando o produto se mostrou inadequado as expectativas
de lucratividade necessárias a um banco comercial. O público-alvo
do Banco Económico desde a sua criação tem sido os pequenos e
médios empreendimentos em Santa Cruz. Em seus primeiros anos de
existência, o Banco Económico foi extremamente lucrativo, gerando
uma média anual de retorno sobre seu patrimônio de 26.2% entre
1993 e 1997 [3]. O banco continua sendo um importante participante
no mercado financeiro boliviano e foi considerado o número 1 pela
43
www.baneco.com.bo
49
FELABAN (Federação de Bancos Latino Americanos)44 por seu
alcance de mercado em 200745. Durante o primeiro ano de suas
operações em Presto, a qualidade de sua carteira de empréstimos
estava muito forte. Contudo, a inadimplência da carteira cresceu de
maneira preocupante e rapidamente em 1999. O declínio da qualidade
da sua carteira de crédito não foi causado exclusivamente pela
recessão econômica e a inadimplência de sua clientela que afetaram a
indústria boliviana de microfinanças como um todo, mas a mudança
de todos o sistema tributário visando a erradicação do mercado negro
e contrabando na Bolívia , especialmente oriundos do Brasil e
Argentina. Muitos dos clientes do Banco Económico baseavam seus
negócios na venda desses produtos contrabandeados, e o aumento da
carga tributária sobre produtos de importação afetou drasticamente o
poder de pagamento desses clientes, que acabaram afetando
diretamente a qualidade da carteira de empréstimos do Banco
Económico. Em outubro de 1999, a divisão do banco em Presto é
fechada , e todas as operações inadimplentes são lançadas como
perdas no passivo da empresa. O banco decide interromper todas as
operações de microcrédito da empresa, já que essas operações
começaram a ser encaradas como de altíssimo risco devido ao
problema enfrentado por toda a indústria de microfinanças na Bolívia
naquele momento. [2].

As Maiores Instituições Financiadores na Microfinanças:


Agências Públicas de Desenvolvimento e Organizações Sem Fins
Lucrativos

Agências públicas de desenvolvimento e as as organizações sem fins


lucrativos continuam sendo os maiores investidores no processo de
transformações das MFIs. Fundos especializados patrimoniais são
44
www.felaban.com
45
www.baneco.com.bo
50
outra grande fonte de investimentos. Um fundo patrimonial em geral
atrai recursos de um grande número de investidores e aplica em ações
das bolsas de valores, baseado nas pespectivas internas de
investimentos desses fundos. A performance dessas carteiras é
medida pelo aumento ou descréscimo do valor líquido patrimonial
(NAV). Fundos especializados patrimoniais como o ProFund46, o
ACCION Gateway Fund47 e IMI AG (International Micro
48
Investitionen AG) não são exclusivamente investidores privados,
ainda assim eles têm um papel fundamental na transição em direção
do investimento comercial em microfinnanças [4]. Apesar de
primordialmente capitalizado pelo setor público, esses fundos são a
prova cabal de que investir em MFIs é viável e não podem ser um
impedimento para investimentos privados em MFIs.

46
www.profunds.com
47
www.accion.org
48
?
51
Microfinanças e o Neoestruturalismo Boliviano

52
O novo governo eleito em 2006 com a liderança do senhor Ivo Morales,
oriundo do setor rural, mais especificamente um trabalhador rural nas vastas
plantações de coca na bolívia, obviamente representa uma revolução na
história da Bolívia. Sem dúvida esse fato teve consequências diretas em como
o governo encara o setor da microfinanças no país atualmente. O goverono
Morales tem a clara intenção de aumentar as oportunidades econômicas para a
população de classe mais humilde na Bolívia usando abordagens solidárias que
se encaixam totalmente no modelo democrático da microfinanças. A crise
financeira de 2008 reforçou a necessidade da presença do setor governamental
como um árbitro na economia. A reeleição do senhor Morales para um
decisivo segundo mandato apoiado em uma contundente vitória nas urnas com
64% do voto popular é um sinal evidente da vontade de mudança dos
bolivianos. Quase 90% do eleitorado compareceu as urnas. Essa vitória marca
uma sequência de outras vitória políticas que incluem os 67% de apoio a atual
administração em um referendum convocado em 2008 em que 61% votaram a
favor da nova constituição, votação ocorrida em janeiro , dia 25 de 2009. A
permanência do senhor Morales no poder representa um marco histórico no
processo político boliviano que não presenciava a reeleição de nenhum
governo em muita décadas. A microfinanças e as camadas mais pobres da
população boliviana foram diretamente atingidas por esta instabilidade
administrativa.

53
A história da microfinanças na Bolívia está diretamente relacionada com a
busca de uma estabilidade democrática e de uma liberação econômica que se
iniciou em 1985. O novo regime político e o ambiente econômico coincidem
com o todelo de transformação boliviano em microfinanças.

A Bolívia recebeu seu nome em homenagem ao revolucionário Simon Bolivar


que foi o pivô do rompimento do país com Espanha em 1825. Porém, muita da
história que se sucedeu a partir daí consiste em uma lamentável repetição de
golpes e contra golpes. Finalmente nos anos 80s, regimes democrátivos
começaram a se estabelecer no país mas assim mesmo havia uma grande
dificuldade das lideranças em solucionar os sérios problemas de pobreza que
afligiam o país, como a instabilidade social, a produção de drogas e a
hiperinflação49

As razões econômicas para a crise hiperinflacionária podem ser associadas à


crise da dívida, a uma moeda supervalorizada e à expansão monetária
indiscriminada. O modelo instaurado na revolução de 1952 na Bolívia, de fato
transformou o país em uma economia dependente de financiamente externo
destinada `a falência. A coalisão populista que controlava a nação boliviana
desde a revolução de 1952 intencionava abrir a economia e o sistema político
para um maior espectro da população, primeiramente a classe média urbana
emergente, e secundariamente a classe baixa pobre. O Movimento

49
CIA World Factbook 2004: https://www.cia.gov
54
Revolucionário Nacionalista (MNR), o partido por trás da revolução,
nacionalizou as três companhias mineradoras de estanho. O MNR promoveu
uma reforma agrária e distribui as terras das haciendas(propriedades) para os
pequenos agricultores, liberando a massa da população rural das amarras
latifundiárias. Nas próximas três décadas, o governo boliviano almejou
estabelecer um capitalismo de estado.
A Bolívia experimentou mais de 190 revoluções e golpes desde a declaração
de independência em 1825. O governo civil e democrático restaurado em
1982, quando Siles Zuazo voltou ao poder se manteve no poder até 1985
quando Victor Paz Estenssoro o sucedeu. O novo governo que se instaura
então, desmantela completamente o capitalismo de estado ainda vigente na
Bolívia que existia desde a revolução de 1952. Durante os anos 80s,
instituições internacionais como o Banco Mundial e outros especialistas
consideraram a Bolívia um modelo de reforma econômica. Contudo, a
microfinanças, mesmo nunca tendo sido uma iniciativa governamental na
Bolívia, teve um grande impacto nas reformas econômicas nesse momento. O
modelo de microfinanças então torna-se uma referência mundial. A
emergência da microfinanças na Bolívia está totalmente intrincada com as
reformas do governo de Estenssoro. Não é mera coincidência que a indústria
de microfinanças boliviana começa em 1985 [5].

Dentro da história política boliviana, chega a ser uma contradição o

fato de que o mesmo MNR, agora liderado por Paz Estenssoro,

55
implementa o Nova Política Econômica no combate à hiperinflação e

ao mesmo capitalismo de estado corrompido que o mesmo partido

ajudou a criar algumas décadas atrás. Porém , a nova política

econômica diferia dramaticamente dos ideais do MNR de 1958. A

nova equipe de governo era composta por economistas neo-liberais

incluindo especistas formados pelas Universidade de Chicago e Yale.

Em um sumário, a Nova Política Econômica representava nada mais

nada menos que o desmonte completo do sistema do capitalismo de

estado perpetuado pelos governos anteriores.

O que é interessante constatar é o aspecto híbrido da indústria de

microfinanças. É um modelo tão flexível de financiamento,

investimento e desenvolvimento que pode ser aplicado em qualquer

orientação política de governo – funciona tanto em um governo mais

estatizante quanto para um governo mais privatizante. E aí mora um

das maiores qualidades dos modelos de microfinanças. É um modelo

quase imune a oscilações governamentais enquanto um esforço perene

56
e incessante de assistência à população de baixa renda, sendo

claramente útil para qualquer tipo de governo.

Os ajustamentos estruturais da administraçação de Paz Estenssoro


incluíam a redução no longo prazo de instituições públicas que
deveriam ser substituídas pela iniciativa privada. O governo apoiaria a
expansão do setor privado em detrimento da iniciativa pública. Esses
ajustamentos continuaram nas administrações que sucederam
Estenssoro e sobreviveram até a mudanças partidárias nas mãos da
ADN ( Ação Democrática Nacionalista). Apesar da queda da inflação
imediata e o final da hiperinflação, o crescimento da economia
boliviana continuava muito lento. O problema da abordagem do
capitalismo de Estado na Bolívia estava muito além do controle do
governo. Os preços das exportações da indústria boliviana de estanho
despenhacavam e sendo o produto chave de exportação do país
provocou um tremendo entrave para qualquer recuperação e evolução
da economia da Bolívia, e prejudicava diretamente a poupança do
país. O estanho era de longe o produto mais importante da Bolívia,
seguido da prata que havia sido o principal produto da indústria de
minério da Bolívia no passado, assim como produtos como tungstênio,
cobre, manganês, bismuto, antimônio, zinco, plúmbeo, ferro e ouro
que também pertencem ao patrimônio mineral boliviano. Os nomes
de vária cidades bolivianas são baseados em minerais como Potosi e
Oruro, mundialmente conhecidas. A indústria do estanho tem
enfrentado uma crescente concorrência de países do sudeste asiático
resulando no fechamento de várias minas de estanho. Os EUA, o
Japão, o Reino Unido e o Brasil são grandes parceiros da Bolívia na
área de minério e em outras áreas. Em 1996, a Bolivia torna-se um
membro associado do MERCOSUL.50.

Durante as reformas dos anos 90s, o novo governo da Bolívia


presenciou uma expansão econômica imensa na oferta monetária e na
50
http://www.infoplease.com
57
demanda por serviços e investimento em sua economia, mas no longo
prazo esse mesmo fato, por ter origens exógenas à economia
doméstica e local, criando um padrão de desenvolvimento de
dependência do capital estrangeiro, termina por oferecer um tremendo
risco ao desenvolvimento do país.

Enquanto que as MFIs bolivianas surgiram para preencher um vácuo


no mercado financeiro para as camadas mais pobres da sociedade, as
MFIs seriam vítimas do mesmo mercado que acabou se
desenvolvendo de uma forma caótica. Mais cedo ou mais tarde esse
mesmo mercado tenderia a expurgar essas MFIs considerando a
dinâmica perversa do mercado financeiro quando não devidamente
monitorado. A maior vítima no entanto aqui seria o próprio pobre que
tem um resistência precária a essas oscilações de mercado. Por isso
que essa ilusão de mercado livre criado pelo novo sistema de governo
iniciado em 1985 tinha os dias contados com consequências
perversas para a população mais carente, que de forma geral pagam
os preços mais duros dessas crises. Mesmo assim , o crescimento da
economia poderia ter sido maior e mais sustentável não tivesse o país
enfrentado vário desatres naturais naquele período, e também de uma
deteriorização significante de seu comércio que sofreu uma queda de
38% nos anos 90s. Em 1999, indicadores econômicos preliminares
assinalavam para um crescimento econômico de apenas 1% , um
reflexo da crise internacional naquele ano, adicionalmente a inflaçao
chegava a 3% e o déficit fiscal a 4.1% impulsionado pela reforma da
previdência social no mesmo ano. Essas estatísticas confirmam a
enorme vulnerabilidade da economia doméstica boliviana aos choques
internacionais devido à dependência exagerada da economia boliviana
ao setor de exportação de matéria prima do seu setor primário
( agricultura, mineração e hidrocarbonos). [6]

O Governo Boliviano na Microfinanças

58
A tendência atual do governo boliviano é a de concentrar suas
atividades de microfinanças nas mãos do Banco de Desarrollo
Productivo ou Banco de Desenvolvimento Produtivo (BDP)51.
Nos anos 90s quando o governo boliviano percebeu a vantagem
comparativa de sua participação no mercado microfinanceiro, foi
lançado uma iniciativa de microcrédito com três organizações:
Nacional Financiera Boliviana ou Financeira Nacional Boliviana
(NAFIBO), Fundo de Desenvolvimento do Sistema Financiamento e
Apoio do Setor Produtivo (FONDESIF), e acriação da pasta de Vice-
Ministério para o Microempreendimento dentro do Ministério do
Trabalho.

Desde sua concepção até o início dos anos 90s, o governo boliviano
ignorou a indústria da microfinnaças. Sendo os anos 90s um período
de reestruturação, a indústria da microfinanças atraiu o governo pelo
seu aparente futuro promissor. A idéia de transformação institucional
afetou também a dinâmica institucional do governo boliviano. Em
2007 houve uma mudança importante na indústria de microfinanças na
Bolívia com o início das atividades do banco de desenvolvimento
51
www.bdp.com.bo
59
boliviano quando a Nacional Financiera Boliviana S.A.M (NAFIBO)
transforma-se em Banco de Desarrollo Productivo (BDP SAM).

NAFIBO era até então a instituição responsável por canalizar as


linhas de créditos de doação. NAFIBO era responsável em administrar
as linhas de créditos do Inter-American Development Bank, do
German Kreditanstalt für Wiederaufbau, do governo espanhol e
outros, em um montante médio de US$ 30 milhões. Como um banco,
passa a oferecer empréstimos para investimento e capital de giro,
microcréditos, hipotecas, e outros serviços financeiros para indivíduos,
firmas e pequenos e médios empreendimentos (SMEs).

BDP SAM é uma instituição de refinanciamento de propriedade do


governo boliviano e pela Corporação Andina de Fomento (CAF)52.
Em dezembro de 2009, a maioria dos acionistas do banco era o
Ministério da Economia e Finanças Públicas da Bolívia com 80% dos
dividendos.

52
Criada em 1968, a Corporación Andina de Fomento (CAF) é uma instituição financera multilateral
que apóia o desenvolvimento de seus países acionistas e a integração regional: Bolivia, Colombia,
Ecuador, Perú, Venezuela e, ademais, conta entre seus sócios com a Argentina, Brasil, Chile, Costa
Rica, Espanha, Jamaica, México, Panamá, Paraguai, República Dominicana, Trinidad & Tobago,
Uruguay e 15 bancos privados da região.
60
Titularização em Microfinanças: NAFIBO Sociedade de
Titularização SA (NAFIBO ST)

A titularização é uma maneira alternativa de atrair investimentos para


uma firma comparável com aumento de capital através de
empréstimos, emissão de obrigações, bônus ou venda de ações. Os
instrumentos de titularização são considerados investimentos de baixo
risco considerando que entre o investidor e quem detem o capital
patrimonial existe a figura do SPV (o emissor ), que é uma companhia
com isenção tributária ou um fundo fiduciário formado
especificamente com a finalidade de financiamento de ativos.

Quando os ativos são transferidos para o SPV não há caminho de


volta, isto é, se o proprietário dos ativos declara falência não vai afetar
o negócio titularizado. A Bolívia tem sido colocada no topo do
mundo em termos da indústria da microfinanças com a NAFIBO ST
( não confundir com Nacional Financiera Boliviana S.A.M) na
vanguarda. Essa firma cresceu muito rápido e ganhou prestígio no
mercado mundial de titularização como uma plataforma de fluxo de
capitais e instituições ímpares

NAFIBO ST é de propriedade do Banco de Desarrollo Productivo


(BDP SAM). Depois do Banco Central Boliviano, através da
titularização, NAFIFO ST e a segunda instituição no mercado de
titularização controlando 99% desse mercado.

NAFIBO ST é um SPV, um emissor, considerada a mais inovadora


companhia de titularização da Bolívia e em toda a América Latina,
que tem titularizado o fluxo de capital futuro de pequenas

61
companhias, cooperativas de microcréditos e ONGs-MFIs. O aspecto
revolucionário da NAFIBO ST é que além de deter recursos de
investimentos de fundos de mutuários locais, fundos de pensões e
investimentos internacionais, também detem uma grande quantidade
de investimentos em comércio em valores menores de US$100.
NAFIBO ST conseguiu incluir pessoas comuns em um mercado
elitizado de titularização. Incrivelmente, NAFIBO ST foi capaz de
cobrir 100% de garantias de capital se utilizando apenas de ativos
locais. O segredo nesse caso foi a compra de títulos do tesouro
boliviano por fundos de pensão locais combinados com fluxo de
caixas e outros ativos de risco que ao final elevaram NAFIBO ST ao
grau AAA em termos de titularização com risco quase nulo de
inadimplência.

NAFIBO ST está voltada para a atração do governo boliviano como


um cliente preferencial. O governo boliviano implementou uma
reformulação em toda a sua estrutura econômica e está buscando
fundos de investimento com muita agressividade , o que abre uma
grande oportunidade para a participação da NAFIBO ST. com seu
esquema revolucionário de titularização inclusiva.

Como um dos países mais pobres no mundo, a Bolivia tem


demonstrado um crescimento considerável em suas transações de
titularização em seu mercado doméstico. Grande parte desse
crescimento é devido a atuação da NAFIBO ST .

“Se nós pudermos simplesmente atrair 10% das necessidades de


financiamento do Estado boliviano, poderemos nos tornar uma das
maiores firmas de titularização de toda a América Latina” comenta
Jaime Dunn De Avila, fundador e CEO da NAFIBO ST.

62
Microfinanças Governamentais Concentradas em duas
Entidades: Um Banco de Desenvolvimento e um Fundo de
Desenvolvimento

Atualmente a participação do governo boliviano na indústria de


microfinanças acontece através de duas instituições: um banco de
desenvolvimento, Banco de Desarrollo Productivo (BDP), e um fundo
de desenvolvimento, Fundo de Desenvolvimento do Sistema
Financiamento e Apoio do Setor Produtivo (FONDESIF).

A missão do FONDESIF é a de participar como um instrumento


público no apoio ao desenvolvimento da indústria de microfinanças na

63
Bolívia, visando a democratização dos fundos dessa indústria no
beneficiamento dos setores menos privilegiados da população.
A visão atual do FONDESIF é gradualmente se tornar parte integrante
do (BDP SAM).

Basicamente, o governo atual da Bolivia tem a intenção de centralizar


suas iniciativas no setor da microfinanças no Banco de Desarrollo
Productivo (BDP SAM). BDP SAM já absorveu a NAFIBO e em
breve fará o mesmo com o FONDESIF.

Em dezembro de 2007, mais da metade da carteira do FONDESIF era


financiada por 11 organizações internacionais ( em termos de
empréstimos ativos totalizava USD 73.5 milhões e na carteira de
empréstimos para assistência técnica somava USD 13.2 milhões).53

FONDESIF é o orgão do governo que oferece assessoria financeira e


técnica para as MFIs, regulamentadas ou não pelo SBEF. FONDESIF
seleciona MFIs sustentáveis e as assiste financeiramente a
expandirem-se em termos de alcance geográfico, especialmente em
regiões sem acesso a serviços de finaciamento, ou para que essas
MFIs se estabeleçam em áreas com um grande potencial para projetos
de microfinanças. Assim como era o caso da NAFIBO, FONDESIF
canaliza recursos governamentais de origem internacional em direção
das MFIs bolivianas.

FONDESIF é o maior financiador das duas próximas organizações:

Fundação para Alternativas de Desenvolvimento (FADES) e Fundo


para Desenvolvimento Comunitário (FONDECO)

53
fondesif.gov.bo

64
Fundação para Alternativas de Desenvolvimento (FADES)

Fundação para Alternativas de Desenvolvimento (Fundación para


Alternativas de Desarrollo or FADES) é uma ONG que foi criada em
1986 para apoiar e contribuir para organizações, cooperativas,
associações e pequenos grupos rurais e urbanos oferecendo
microcréditos.

FADES começou os empréstimos de microcrédito em 1988. A


fundação foi criada por 7 ONGs bolivianas e inicialmente , se
especializou em crédito para associações.54
O financiamento da FADES vem de vários países e instituições do
Canadá, Bégica, Suiça, Holanda, Dinamarca, da União Européia, do
Inter-American Development Bank, do Plano Internacional (Bolivia) e
outras instituições nacionais financeiras. Esse apoio financeiro é um
reconhecimento do sucesso da fundação. O principal objetivo da
FADES é suprir com microcréditos áreas carentes desse tipo de opção
financeira. FADES atualmente oferece dois tipos de empréstimos:
crédito associativo, direcionado para micro e pequeno
empreendimento ( também na área rural), associações e cooperativas
entre US$3.000 e US $60.000; e o segundo são empréstimos
individuais direcionados para microempreendimentos com
empréstimos que variam de US $50 `a US $10,000
FONDESIF é o maior financiador do FADES. Outras fontes de
financiamentos são a ALTERFIN, ANF (ASN-Novib Fonds),
CORDAID (Catholic Organization for Relief and Development Aid)
and Oikocredit. 55

54
www.developmentgateway.org.
55
www.mixmarket.org
65
Fundo para o Desenvolvimento Comunitário (FONDECO)

O Fundo para o Desenvolvimento Comunitário (Fondo de Desarrollo


Comunal or FONDECO) é uma MFI que FONDESIF também é a
maior fonte de fundos . FONDECO é uma ONG estabelecida em 1995
para ajudar agricultores e trabalhadores do setor rural, homens e
mulheres, a se inserirem na sociedade boliviana participando como
cidadãos através de ajuda financeira de microcrédito. Os recursos são
oriundos do CORDAID (Catholic Organization for Relief and
Development Aid) and NOVIB.

A Dinâmica do Endividamento: Comercialização e Crise nas


Microfinanças Bolivianas

A Bolívia é famosa por sua MFIs de extremo successo , que se


transformaram de ONGs em organizações regulamentadas, como o
BancoSol, o primeiro e provavelmente a mais famosa MFI de todos os
tempos. Contudo, a experiência da Bolivia na microfinanças alcançou
uma nova dimensão ao final dos anos 90s, quando o crescimento das
MFIs transformadas saturaram o mercado

Na mesma época a economia boliviana , como as outras economias na


América do Sul, sofreu um grande choque com a recessão que
diretamente afetoua indústria da microfinanças. De 1999 à 2000,
todas as MFIs diminuíam o crescimento consideravelmente,
principalmente comparando-se ao ritmo dos anos anteriores. BancoSol

66
perdeu 25% de seus clientes e PRODEM perdeu 45% durante esse
período. Muito dessa redução está ligada a clientes que efetuaram
empréstimos com múltiplas instituições. Os percentuais do BancoSol
em termos de retorno patrimonial caíram de 29% em 1998 para 4%
em in 2000. Os lucros da FASSIL caíram de 12% em 1998 para
níveis negativos de prejuizo em 2000. [2]

Delinquência e Resposta

Todas as instituições de microfinanças experimentaram uma


delinquência sem precedentes entre 1999 e 2000, já que ofereciam
empréstimos para consumidores competidores de outras MFIs, o que
ocasionava um endividamento exagerado de um mesmo cliente.

Em função dessa deformação do mercado, as MFIs aumentaram sua


ênfase na capacidade individual de honrar os empréstimos quando
comparada com a tradição da fórmula do grupos solidários, que
começa a ser preterida o que acaba ferindo uma das grandes bases da
microfinanças. As autoridades financeiras foram obrigadas a interferir
com maiores exigências de documentação , como recibos de venda.
Aos poucos, as diferenças entre a microfinanças e o sistema bancário
convencional foram desaparecendo lamentavelmente.
Talvez a grande ansiedade em relação a comercialização da
microfinanças é o receio de que a busca pelo lucro contamine as MFIs
a ponto de esquecerem do pobre. Por esse fato é que se torna
fundamental a existência de uma autoridade regulamentadora no setor
de microfinanças como é o caso de Bangladesh. Essa autoridade é
responsável em manter o microcrédito transparente e prevenir práticas
abusivas.

Reflexão sobre a Comercialização das Microfinanças

67
É muito importante separar-se a comercialização da microfinanças na
Bolívia com a crise que provocou a saturação do mercado de
microfinanças boliviano no final dos anos 90s. Na Bolívia, a
microfinanças comercial se direcionou dentro do mesmo modelo: a
transformação de ONGs em instituições financeiras. Empresas
privadas que entram no mercado de microfinanças, até o presente, são
praticamente inexistentes na Bolívia. [2].

Créditos ao consumidor na Bolívia começaram com a liberalização


das taxas de juros, a eliminação de créditos diretos e o fechamento dos
bancos públicos nos anos 80s. A desregulamentação da indústria em
1985, rompe com a última amarra com um sistema bancário feudal de
décadas. Como o sistema bancário estava atrofiado, o pobre precisava
recorrer a agiotas para aquisição de crédito. Esse fato criou distorções
no mercado de crédito e impediu o surgimento de inovações na área de
crédito ao consumidor.

O caso boliviano é um exemplo precioso de como a indústria de


microfinanças pode ser uma ferramenta utilizada pelo governo. Porém,
essa mesma indústria não pode ser exclusivamente voltada para a
maximização de lucros. Contraditoriamente, quem semeou a
problemática dentro da indústria de microfinanças bolivianas foi o
próprio governo, já que o mesmo era quem definia todas as normas do
sistema financeiro, e fracassou em supervisonar, monitorar e agir
quando ainda era tempo de evitar o colapso total. O ambiente
regulamentado fez com que o microcrédito fosse um produto atraente,
o que acabou por atrair mais participantes com novas tecnologias
bancárias, que acabaram por saturar o mercado. Consumidores se
davam ao luxo de escolher de onde pegar um empréstimo no que se
tornou uma bolha financeira que por final explodiu. A oferta de
empréstimos era feita de forma agressiva , e em muitos casos incidiam
diretamente nos salários dos clientes como garantia de repagamentos.

68
Porém com o reduzido número de pessoas empregadas com carteira
assinada , os empréstimos eram efetuados por pessoas autônomas ou
do setor informal da economia. Aos poucos toda a cultura da
microfinanças de repagamentos e solidariedade deu lugar `a cultura
que se aproximava mais de uma casino financeiro.

Uma das características mais importantes do modelo de microfinanças


é a visão do longo prazo e o foco no investimento nos capitais sociais
e humanos.
Os empréstimos têm que ser acompanhados com treinamento e
educação financeira, caso contrário, o objetivo máximo da
microfinanças que é combater a pobreza através da mobilização e
conscientização das pessoa fracassará.
A atitude dos consumidores bolivianos em relação às suas dívidas
contribuiu para a crise. Era um sinal de status a aquisição de
empréstimos múltiplos. A delinquência tornou-se alta. Acontecia uma
anarquia financeira completa. A matemática financeira estava certa,
mas os fundamentos éticos da microfinanças tinham sido
abandonados. Quando a recessão atingiu a América Latina, devedores
que não podiam honrar seus compromissos correram para as ruas,
implorando por perdão para suas dívidas e melhores condições de
pagamentos. Esses protestos políticos organizados por grupos
forçaram os autoridades financeira a reintroduzirem restrições nas
taxas de juros de mercado. Todavia, se o governo somente age
quando o sistema está a beira do colapso, é melhor nem começar a
implementar a microfinanças como uma política pública. Por isso, e
mais uma vez, é fundamental estabelecer-se uma autoridade
microfinanceira para supervisonar as MFIs.
As autoridades bolivianas rapidamente suspenderam suas tradições de
liberalização das taxas de juros e criaram tetos limites para a variação
dos juros durante alguns meses em 2002. Os limites para as taxas de
juros foram retirados mais tarde naquele ano, ao se perceber que as
taxas tendem a cair naturalmente em um mercado financeiro
competitivo, e que existem políticas mais eficientes para regular o

69
sistema financeiro. A retirada desses tetos para as taxas de juros, e a
melhoria das regulamentação das atividades de créditos, estabilizaram
o mercado e aumentaram a pressão para a aplicação de melhores
metodologias de crédito e a eliminação de agentes financeiros
inefientes do mercado.
Um mercado livre dentro de uma estrutura fianceira bem regulada e
supervisonada é a melhor maneira de evitar-se o endividamento
excessivo, promovendo um bom atendimento ao consumidor e acesso
ao crédito de maneira sustentável. A ampliação e o aprofundamente
da rede de crédito são fatores fundamentais para o sucesso da
microfinanças no longo prazo.
Enquanto isso a microfinanças não pára de crescer pelo mundo afora ,
possibilitando até a troca de informações e experiências entre MFIs de
diferentes países, que podem até mesmo trabalhar juntas em diferentes
projetos. Em dezembro de 2010, Grammen Foundation de
Bangladesh ( próximo capítulo) anunciou que havia facilitado o
empréstimo de US$ 5 milhões em financiamento para ProMujer. O
interessante nesta transação é que US$ 1.6 milhões desse mesmo
finaciamento foi gerado por 3 instituições bolivianas: Banco Nacional
de Bolivia, Banco de Credito de Bolivia and Banco BISA Bolivia.56
No presente caso, o Growth Guarantees Program da Grammen
Foundation ajudou a uma MFI de muito sucesso, ProMujer, a
conseguir financiamento de fundos de instituiçoes da própria Bolívia
em dinheiro boliviano.
Como será mais analisado no próximo capítulo sobre microfinanças
em Bangladesh, se as MFIs corretamente aplicam os diferentes
modelos de microfinanças para combater a pobreza, a indústria de
microfinanças tem o potencial de ter um desenvolvimento sustentável
e transformar-se em uma ferramenta importante na luta contra a
pobreza não somente em suas localidades mas em termos mundiais.

56
www. microfinanceafrica.net
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