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Texto para teatro inspirado em Teorias de Allan Kardec

Concepção original de: Nelson Peixoto

Vidas Passadas: quem éramos e quem somos!


Versão original 1.8 (13 dezembro 2015)

Esta peça é mais que um roteiro de dramaturgia, é um poema que descreve


algumas vitórias empreendidas sobre nossas próprias fraquezas almejando
solidificar laços de afeto e de amor que temos tecido uns aos outros ao
longo das vidas sucessivas! - Nelson Peixoto.

"É preciso termos a coragem de recomeçar, e para que isto ocorra da forma mais
harmoniosa possível, faz-se necessário admitirmos que somos como valiosa taça de
cristal exposta na vitrine da vida procurando demonstrar seu brilho e seu valor; no
entanto, ao longo do tempo temos permitido estarmos cheios de outros elementos
que não fazem parte de seu contexto; é preciso esvaziarmos a taça, pois só assim ela
conseguirá demonstrar sua pureza, sua beleza e sua essência! ..." - Cristiane.

Campo Grande – MS, fevereiro de 2015


Vidas Passadas: quem éramos e quem somos!

“Resumiria o texto em: emoção, dinâmico, espiritual. Há tempos não lia uma peça com texto tão
profundo e bem feito. Emocionante e reflexivo sobre a vida. Eu diria que um mosaico de situações inusitadas e
instigantes. Vejo poesia, dramaticidade, religião colocadas em situações diferentes, mas que se esbarram em
produzirem respostas e significados. A questão é que quando o texto é bom, consegue arrastar o público
achando pontos de contatos com ele e atraindo-o para dentro da montagem. O que mais me encanta são as
coerências entre os elementos cênicos dialogando com a encenação, aliás isso sempre fez parte dos textos
concebidos por Nelson Peixoto e das montagens da companhia Arte “Boa Nova”. Muito bom, tenho certeza de
variados estímulos intensos, seja na consciência ou no explodir das emoções. Só tenho a enaltecer que mais
uma vez o melhor se fez concretizar. Mergulhar nos sentimentos pessoais é a grande magia do teatro, e isso
percebemos desde o início da leitura do texto, vejo que em algumas partes não consegui dissociar razão de
emoção. E para o teatro onde a troca é direta, imediata, isto é fantástico. Me colocou com a emoção lá em cima,
rsrsrs. Considerando que no teatro, precisa-se ser visto, ouvido e sentido, e creio que isto será atingido nas
cenas fortes, de picos e com efeitos. Parabéns a todos do Arte Boa Nova, à espiritualidade pela parceria de
sempre propiciando-nos materializar o bom e o belo para todos. Senti-me honrada pela leitura antes do público
ver a montagem. Sucessos a todos e, com certeza, será um grande espetáculo! ”

- Análise e crítica da Artista Plástica Marta Nogueira – em 09/09/2015 -

Ficha Técnica:
Título oficial: Vidas Passadas: quem éramos e quem somos!
Título Temático: A Igreja livre dos tempos de agora!
Título para grupos não religiosos: Confissões de um garoto de programa!
Assunto: Texto/roteiro para montagem teatral.
Autor: Nelson de Souza Peixoto
Direitos Reservados: Ao autor CP/DRT 0009813/MS.
Classificação Literária: Romance e Drama
Nível de complexidade: Pequeno
Classificação de censura: Maiores de 12 anos.
Palavras-chave/Tema central: Reencarnação.
Comentários: Dramaturgia Inspirada em teorias de Allan Kardec.

i
Artigo sobre Terapia regressiva evolutiva (TRE):

Como distinguir um transtorno mediúnico de um transtorno psiquiátrico?


Osvaldo Shimoda

"A grande maioria dos psiquiatras e psicólogos, por considerarem a


mediunidade um fenômeno anômalo, patológico, diagnostica os médiuns como portadores de
"distúrbios psiquiátricos". Por conta disso, não existe ainda um diagnóstico diferencial entre
um distúrbio mediúnico, que é normal, de um distúrbio mental, psiquiátrico, que é
patológico, doentio.

Desta forma, nem todos os pacientes que dizem ver e/ou ouvirem vozes de
seres espirituais, sofrem de uma desordem mental, psiquiátrica, sendo portadores de um
quadro de esquizofrenia.

Nas Faculdades de Medicina e de Psicologia é ensinado que reencarnação não


existe, que a vida começa no útero e que espíritos não existem; por isso, quem vê seres
espirituais e/ou ouve suas vozes é diagnosticado prontamente como sofrendo de um
transtorno mental grave, ou seja, psicose, esquizofrenia.

Como estudante de psicologia, aprendi assim; eu também fui treinado na


disciplina de psicopatologia a diagnosticar os pacientes dessa forma, mas sem nunca fazer
uma investigação mais ampla e cuidadosa para distinguir se o que eles diziam era real ou
imaginário, fruto de suas mentes enfermas. Não me passava pela cabeça que os pacientes
podiam estar falando a verdade, que realmente estavam vendo e/ou ouvindo os espíritos.

Portanto, depois de formado como psicoterapeuta, encaminhava ao psiquiatra


os pacientes que considerava "psicóticos" para serem medicados. Porém, quando comecei a
trabalhar em 1989 com a regressão de memória, ao me deparar com os relatos de meus
pacientes sobre as revivências traumáticas de suas vidas pretéritas e as manifestações de
seres espirituais obsessores a quem eles prejudicaram em suas existências passadas, a
princípio fiquei desconcertado, não sabendo como lidar com esses pacientes e suas
manifestações espirituais.

Após conduzir mais de 9000 sessões de regressão e ter criado minha própria
abordagem terapêutica, a TRE e presenciado inúmeras curas de pacientes rotulados por
muitos psiquiatras de "esquizofrênicos", "psicóticos", "bipolares", etc., constatei que o
paradigma médico e psicológico -ainda hoje ensinado nas Universidades-, está
profundamente equivocado, pois não trata o ser humano como um todo (mente, corpo e
espírito), adotando, portanto, um critério científico puramente organicista, não levando em
consideração a existência da alma, do espírito.

Por isso, a grande maioria dos psiquiatras e psicólogos não toma o cuidado necessário de se
fazer um diagnóstico diferencial entre um distúrbio mediúnico e um distúrbio psiquiátrico
propriamente dito. Ao contrário, essa possibilidade é até mesmo ridicularizada ou ignorada
por muitos profissionais da área de saúde mental, pois não incorporaram ainda em seu
ii
raciocínio de diagnóstico a tese da pluralidade da de vidas da alma (a reencarnação), bem
como a influência nefasta dos seres espirituais obsessores, desafetos dos pacientes, na
origem de seus problemas.

Embora exista uma sutil fronteira para diferenciar um distúrbio mediúnico de


um distúrbio psiquiátrico, constatei que os sintomas clínicos mais comuns de uma
mediunidade em desarmonia são:

1) Sensação de peso, pressão na cabeça, na nuca, nos ombros ou nas costas;

2) Insônia, desassossego, pesadelos constantes de estar sendo perseguido;

3) Nervosismo acentuado (irritação por motivos banais);

4) Calafrios e arrepios constantes no corpo ou partes do corpo (sensação de frio nas mãos e
pés);

5) Cansaço geral, desvitalização, desânimo;

6) Humor instável, alternância de humor extremada; tristeza profunda ou excessiva alegria,


sem razão aparente;

7) Ver e/ou ouvir seres espirituais, senti-los, principalmente, antes de dormir (estado de pré-
sonolência) e/ou ao acordar pela manhã.

Mas desejo ressaltar que o leitor atente para o sábio jargão médico: "Cada caso
é um caso"; por isso reafirmo que é importante realizar uma análise mais detalhada e
cuidadosa de cada caso para sabermos distinguir um evento mediúnico de um distúrbio
mental, psiquiátrico, que somente um terapeuta mais experiente tem condições de fazer."

Osvaldo Shimoda- (Terapeuta holístico – CRT: 43337 - Criador da TRE - Terapia


Regressiva Evolutiva. Endereço eletrônico: http://www.terapiaregressivaevolutiva.com/)

iii
Orientações sobre a Montagem Técnica:

Cenário: É citado nas rubricas alguns adicionais, porém sugerimos a análise da equipe de
cenário juntamente com a direção para criação e composição do mesmo, haja vista
tratar de épocas diferentes e locais diversificados. Essencial: Cenário geral de
ambientação único ou variável, módulos, uma mesa com cadeira, uma cama ou
módulo-cama e adicionais de rubrica.

Figurinos: Importante diferenciar os épicos dos atuais, principalmente os vinculados a ordem


clerical.

Sonoplastia: importante ler o texto de posse das músicas citadas nas rubricas porque isto auxiliará
na compreensão de intensidade com que foram concebidas as cenas e a obra em seu
original.

Iluminação: na medida do possível realizar as citadas nas rubricas, principalmente as que


acontecem restritas a focos ou quadros de luz, pois isto dispensa complexidade de
cenário, bem como dinamiza a narração.

Custo de Produção: as cenas foram compostas no seu original de concepção citando participações
de figurantes ou auxiliares cênicos, porém podem ser montadas com menos
componentes, ou mesmo eliminá-los, tornando assim o custo com recursos
humanos mais acessível.

iv
ÍNDICE DE CENAS: ................................................................................................................................................... PÁGINA

SEQUÊNCIA 01: LEILÃO. INCÊNDIO NAS PROPRIEDADES DA FAMÍLIA DE HENRICK.


PERSONAGENS: HENRICK – VALMOND – ERICK – MONSENHOR – LIANE – PAI – MÃE – FIGURANTES
......................................................................................................................................................................A

SEQUÊNCIA 02: VINÍCIUS OFERECE A ERICK UM PROGRAMA. ERICK DISCUTE COM FAMÍLIA. CHEGADA DA PRIMA CRISTIANE.
PERSONAGENS: ERICK – VINÍCIUS/VALMOND(OFF) – DANÇARINOS – RAPAZES – ELVIRA – MARA – CRISTIANE – HENRICK –
LIANE
....................................................................................................................................................................... I

SEQUÊNCIA 03: CRISTIANE E ERICK CONVERSAM NO QUARTO DELE.


PERSONAGENS: CRISTIANE – ERICK – VINICIUS – ANTÔNIO – MARA – MIRIAN – MÃE
..................................................................................................................................................................... O

SEQUÊNCIA 04: FAMÍLIA EM TORNO DA CRISE DE MARA


PERSONAGENS: MARA – ELVIRA – ANTONIO – ERICK – CRISTIANE – HENRICK – LIANE – RAPAZES E MOÇAS – VINICIUS
...................................................................................................................................................................... S

SEQUÊNCIA 05-A: ERICK CONVERSA COM TERAPEUTA


PERSONAGENS: ERICK
...................................................................................................................................................................... V

SEQUÊNCIA 05-B: ERICK E CRISTIANE DANÇAM. ELVIRA INICIA DISCUSSÃO.


PERSONAGENS: ERICK – CRISTIANE – DANÇARINOS – ELVIRA
.................................................................................................................................................................... W

SEQUÊNCIA 06: DESPEDIDA DE CRISTIANE.


PERSONAGENS: ERICK – CRISTIANE – ELVIRA
...................................................................................................................................................................... Y

SEQUÊNCIA 07: REGRESSÃO. A IGREJA LIVRE DE CRISTO. O VENCEDOR DO LEILÃO.


PERSONAGENS: HENRICK – MONSENHOR – ERICK – CRISTIANE – MONGES – VALMOND
.................................................................................................................................................................... CC

SEQUÊNCIA 08: HENRICK ASSASSINA O MONSENHOR E VAI AO ENCONTRO DE LIANE.


PERSONAGENS: ERICK – HENRICK – MONSENHOR – LIANE
................................................................................................................................................................... HH

SEQUÊNCIA 09: ATRAVESSANDO A PONTE.


PERSONAGENS: DANÇARINOS – MIRIAN – REPÓRTER – CÂMERA-MAN – ERICK
.................................................................................................................................................................... KK

FINAL: REENCONTRO COM CRISTIANE E O PRESENTE.


PERSONAGENS: CRISTIANE – ERICK
................................................................................................................................................................... OO

v
Vidas Passadas: quem éramos e quem somos!
/Música de ambientação - selecionar da coletânea "Best of Mozart" trechos que mais
se harmonizem com a cena/

Visão cênica inicial: Vemos ao centro da caixa cênica Henrick muito bem vestido
(traje à Francesa século XVIII, 1732), postado ao lado de um módulo ou assento.
Seu olhar está direcionado para o público que entra e se acomoda. Fica assim
imóvel durante todo o tempo. Suave foco de iluminação destaca-lhe o porte esguio,
tentando disfarçar o nervosismo com o corpo ligeiramente trêmulo.

Do lado direito temos Valmond, jovem de cabelos bem aparados e penteados. Falar
contagiante e negociador (traje à Francesa século XVIII, 1732). Tem próximo a si
uma mesa luxuosa e decorada, na qual lida com alguns objetos na sua negociata.
Enquanto o público se acomoda, ele estará fazendo sua oferta/

No mesmo módulo-assento em que Henrick está postado ao lado em pé, vemos Erick
sentado um tanto inquieto e demonstrando certo constrangimento emocional, na
respiração que oscila entre ofegante e cansada. Usa figurino atual - (ator da mesma
idade de Henrick: trata-se do mesmo personagem em épocas diferentes/

Sequência 01: Leilão. Incêndio nas propriedades da família de Henrick.


Personagens: Henrick – Valmond – Erick – Monsenhor – Liane – Pai – Mãe –
Figurantes

/De repente tudo paralisa: A música desaparece de súbito dando origem a um


profundo silêncio. Os personagens congelam expressões e apenas Erick se agita
demonstrando visível alteração emocional/

Erick: (Subjetivo ao público) ...Por que escuto vozes? Por que vejo vultos escuros? Por que
sinto que tem alguém sempre perto de mim? Quero me livrar disso, doutora! Será
que você me entende?! Não aguento mais, quero saber se realmente tenho problemas
psiquiátricos, ou se sou de alguma forma um médium. Venho de uma família católica
e devotada a igreja e a oração, por isso, quero deixar claro que não acredito nessas
coisas de mediunidade; porém, sei que existe algo de muito errado comigo, os
remédios que estou tomando me deixam como um zumbi, quero minha vida de volta!
(Para de repente, fixando a frente) ...Vivo num mundo de conflitos e medos sem que
eu possa justificar suas razões nos acontecimentos de agora! De repente é como se
estivesse convivendo com pessoas por uma segunda vez e tudo me parece
repetitivo... o que mais temo é cair nos mesmos erros e viver a mesma dor! Desde os
dez anos, tenho visões, e quando falei para meus pais, passaram a me bater e obrigar
a frequentar a igreja... foi quando contei a eles minha aversão à religião.... Me
levaram pro médico! Comecei a tomar remédios e, como não estava resolvendo, o
psiquiatra aumentou as dosagens...mais... mais e mais... e até hoje, doutora, as visões
e as vozes persistem! ... (Pausa)... A senhora me recomenda terapia de vidas
passadas? Acredita mesmo que devo me submeter a algumas sessões de regressão de
memória?! (Suspira profundamente) ...Olha, doutora, não me sinto em condições de

A
escolher qualquer caminho para a cura, só sei que preciso sair deste inferno em que
vivo!

/Volta o ambiente anterior com músicas e movimentação normal dos personagens


em cena. Valmond abre um sorriso, terminando de mexer com suas anotações. Com
pena e tinteiro à mão, toma de uma tábua e começa o leilão/

Valmond: Senhoras e senhores, temos imenso prazer em tê-los conosco nesta noite inesquecível
para os presentes e, em especial para o nobre vencedor, logicamente! Sim, sim!
Nossa modesta Tabacaria hoje brinda a todos com este bingo da década!
Preciosidade rara e bela! Vejam, podem apreciar e preparar vossos quinhões porque a
disputa promete ser acirrada...

/A música continua. Valmond volta a entreter-se com suas anotações/

/Pode-se adicionar, por entre o público, atores ou colaboradores previamente


ensaiados para darem os lances que o texto assinala/

Valmond: (abrindo novamente um sorriso) ... Muito bom, muito bom, senhores! Dois mil
francos é um bom começo! Sinto que já perceberam a preciosidade da peça leiloada
nesta noite! (Mostrando para Henrick) Se ainda não o fizeram peço que o façam sem
demora! Muitos já sinalizaram um certo frenesi para o primeiro lance! (Num breve
sorriso. Para de repente para dar atenção a alguém da plateia) ...Como, senhor?!...
(Como a dar atenção a uma pessoa da plateia) Não, não se trata de nervosismo
frustrante! Apesar da juventude e da aparente Inexperiência, tens aqui uma peça rara
capaz de satisfazer todas as expectativas de seu arrematador; seja ele um nobre e
respeitável senhor ou uma das admiráveis senhouras que brindam este local
reservado a poucos, porém privilegiados com o que há de melhor em nossa inóspita
sociedade... (num breve sorriso. Pequena pausa) .... Atenderemos ao pedido dos
senhores, no entanto, preciso ser motivado por melhores lances... (outra pausa) ...
Muito bom, muito bom! Dobramos o lance e já temos quatro mil francos... quem dá
mais, quem dá mais! ...

/A música anterior vai cedendo a uma música especial que demonstre o estado
emocional de Erick. O rapaz se agita ainda mais no módulo/

Erick: ... Não quero ver mais nada, está tudo muito escuro, sinto muito mal neste lugar...
tenho nojo de tudo e vontade de vomitar... tenho muito enjoo... Não quero sentir isso!
quero sair daqui! (Fala chorando).

/Enquanto Valmond caminha em direção a Henrick, Erick faz expressão corporal


demonstrando leveza do corpo perispiritual (mental), erguendo e sendo puxado,
saindo de cena/

Valmond: (falando em tom como se estive próximo do rapaz) Não, não! Os alcoólicos
depreciam-te a imagem! Eles querem algo diferente do que são! Portanto, demonstre
ingenuidade e pureza! (Pequena pausa) Todos estão percebendo que tremes!
Controla-te ou colocará tudo a perder! Se eles perceberem que seu nervosismo não se
trata de truque de venda, não conseguiremos mais que uns mirrados francos no
cabaré ao lado! Se colaborar poderemos fechar o lance em mais de dez mil francos...
Vamos, faça o que eles pedem. Isto irá açular a fantasia de todos e não vacilarão em
lances milionários...

B
/A música anterior começa a predominar novamente. Com movimentos sensuais,
Henrick senta-se sobre o módulo entreabrindo as pernas e ao mesmo tempo
acariciando as coxas sentido joelhos quadril, abrindo expressão para fora,
sustentando o corpo com os braços fixos no módulo/

Valmond: São apenas dezenove anos, de família nobre a que privamos declarar, por motivos
óbvios; compreensível naturalmente pelos senhores aqui presente que, igualmente
têm suas identidades resguardadas. Mas posso lhes garantir que arrematam peça
erguida na melhor educação imperial, um verdadeiro fidalgo... Diga-se de passagem,
inveja até mesmo os franzinos e desmotivados herdeiros da família real! Que não
saiba disto vossa majestade, o Rei Luis, nosso dignifico e bem-amado Imperador!
(Num sorriso irônico). Querem melhores estímulos para aquecer merecidamente o
lance? Pois muito bem, estimularemos com grande prazer, por estarmos convencidos
que o freguês tem o direito de avaliar o que compra...

/A música sensual invade o ambiente. O foco de Henrick torna-se mais nítido,


enquanto que o de Valmond vai para 50%. Henrick começa a retirar a roupa de
forma natural, sem qualquer expressão apelativa, mas o faz como se estivesse dentro
do seu quarto, preparando-se para o banho. Fica apenas com uma cueca tipo
samba-canção. Ao final, ergue-se, ficando de perfil, de maneira pensativa/

Valmond: (ainda mais animado) temos um lance ainda maior! Cinco mil francos! Percebo que
os senhores possuem excelente capacidade de avaliação! Seis mil francos, “dou-lhe”
uma, “dou-lhe” duas... dez mil francos... Quem dá mais? Quem dá mais? ... Doze
mil, lá no fundo; é o lance mais alto até agora... Vamos lá, vamos lá.... Quinze mil
francos... (dar ênfase) Senhores, quinze mil francos, quem desafiará esta oferta? ...
Dou-lhe uma, dou-lhe duas... quem dá mais? quem dá mais? …Dou-lhe uma, dou-lhe
duas... (pára admirado) Senhores, isto é muito bom, temos uma mão que se ergue e
dobra o lance: trinta mil francos! ...dou-lhe uma, dou-lhe duas... Dou-lhe três,
vendido!

/Música: "Le migliori opere del Canto gregoriano" entra no áudio/

/A iluminação vai se fechando num foco sobre Henrick. Valmond sai de cena. O
rapaz olha em direção ao público, esboçando um sorriso forçado e sofrível. A seguir
luz se fecha sobre ele que veste a calça e a camisa estilo camponês de forma natural.
De repente para em postura lateral quando a luz se abre, Monsenhor Fabiano de
Monte Carlo (figurino sacerdotal épico) já está sentado à mesa que antes era
ocupada por Valmond/

Monsenhor: ...Tomei a ousadia em comunicar ao Arcebispo de Madri o interesse da igreja em sua


adesão ao trabalho abnegado do clero que prospera a passos largos. Vislumbramos o
tempo em que a fé cristã dominará a terra e a transformará num rebanho obediente e
temente a Deus. Tens uma família e fortuna respeitável por todo vilarejo, com isto,
sua indicação ao sacerdócio agradou profundamente as autoridades episcopais! ....

Henrick: Monsenhor Fabiano, há muito temos demonstrando eu e minha família, nosso desejo
particular em recusar tão nobre convite, haja vista nossos planos em prosseguirmos
na vida do campo e meus sonhos particulares em consorciar-me com a prima Liane a
quem nutro o mais puro amor; amor esse fruto de nossos sonhos primeiros...

Monsenhor: É justamente desta maldição que quero te livrar a alma ingênua e nobre! Todo
vilarejo comenta dos poderes diabólicos dessa sua prima e noiva que a simples visita
C
aos doentes diversos leva cura instantânea e milagrosa! Muitos já me procuraram
intencionando denunciar o fato ao santo oficio visando logicamente parte dos bens de
suas propriedades; porém tenho trabalhado acirradamente procurando evitar que a
denuncia se formalize e o clero emita a bula condenatória...

Henrick: Não compreendo o fato do Santo Oficio condenar alguém que, devotada e fiel aos
princípios da Igreja, ora aos desamparados e doentes causando-lhes bem estar e
recuperação igualmente como o fizera o próprio Cristo... Se isto é o motivo das
denúncias, não te preocupes mais porque cessaremos qualquer visita ou oração a
quem quer que seja! Pretendemos viver em paz e cultivar a nossa fé no altar de
nossos próprios corações....

Monsenhor: Igualmente não compreendo sua recusa em seguir tão precioso oficio! A Igreja
prospera e com seu espírito dinâmico e empreendedor logo galgarás o alto escalação
do clero; poderás com isto servir muito mais a Deus e a tua própria família... Além
de contar com minha amizade e devotamento de sempre!

Henrick: Não posso abdicar de meus sonhos de construir uma família e de ser feliz. Acredito
que isto também é uma forma de servir a Deus! ...

Monsenhor: És jovem e inexperiente por isto sinto no dever de estar de teu lado e de tua família.
É muito ariscado recusar um convite do santo oficio!

Henrick: É um convite e, por se tratar de um convite me vejo no direito de recusar! Não tenho
interesse nos serviços da Igreja como ela atualmente se impõe....

Monsenhor: Então condenas o Santo Pontífice e seus postulados?! (Em tom um tanto severo)

Henrick: Não foi bem isto que quis dizer!

Monsenhor: Mas foi o que ouvi! Suas declarações me pareceram ocultar pensamentos subversivos
e heréticos...

Henrick: Perdoa-me, Monsenhor, procurarei me retratar...

Monsenhor: Jamais imaginei que foste juntamente com sua família de pensamento subversivo e
que, neste lar, onde sempre acolheram-me sob a égide da oração e princípios
católicos preponderasse intenções de traições e oposição a Igreja...

Henrick: Rogo-lhe clemência dando-me segunda chance em explicar-me as palavras que


proferi indevidamente!

Monsenhor: Interpreta-me igualmente de forma equivocada. Quem está interessado em sua


família, seus bens e em especial em ti é o clero do santo oficio. Quanto a mim estou a
agir como intermediador e amigo...

/Pausa de silêncio. Monsenhor caminha para sair em passos lentos, quando Henrick
diz quase aos sussurros/

Henrick: Que pesam contra mim e minha família de tão grave nos tribunais do santo Oficio?

D
Monsenhor: Graves denúncias! Como teu dom misterioso de curar e igualmente de sua prima
Liane, vossas visões constantes de anjos e demônios atormentando-vos os dias! Isto
incomodou os vizinhos que temem a convivência com endemoniados e seus aliados;
como argumentam nos inquéritos que chegaram ao clero! Com isto o Santo Oficio
passou a olhar com bons olhos essas propriedades e.... teus vizinhos igualmente
cobiçam-nas por considerá-las prósperas e produtivas. Sabem eles que, ao delatarem
cabem-lhes parte dos bens do herético em caso de condenação. Não hesitaram em
registrar algumas denúncias ainda não comprovadas pelos inquisidores que não
tardarão a aparecer por aqui, se eu não interceder, logicamente! ...

Henrick: Como podem denunciar-nos se somos vigilantes e tementes a Deus como determina
os preceitos canônicos?! Que graves denúncias são estas, Monsenhor?!

Monsenhor: O relatório dos delatores traz detalhes dos rituais de cura milagrosa utilizada por sua
prima e noiva nas suas pregações não autorizadas pelo clero e ainda registra que tem
o consentimento do senhor vosso pai e da senhora vossa mãe! O vilarejo teme os
poderes diabólicos desta casa e os classificam como bruxos e heréticos...

Henrick: Como puderam usar de tamanha blasfêmia e traição?! Acaso é pecado praticar a
caridade aos sofredores do caminho? Estaria então Jesus equivocado quando nos
ensinou a lição do Bom Samaritano? Ou esses delatores e inquisidores há muito
desprezaram as Sagradas Escrituras como sua verdadeira tábua de justiça?!

Monsenhor: São muitos os interesses em jogo, meu jovem Henrick! Eu, por minha vez, articulei
rapidamente intercedendo por vossa família. Ressaltei vossa figura de jovem
dedicado a igreja e ao trabalho honesto da lida do campo. Julgando a gravidade das
acusações argumentei que eram improcedentes devido teres manifestado há algum
tempo o interesse de filiar-te ao clero! Foi quando o bondoso Arcebispo resolveu
reverter as acusações caso procedesse dessa casa carta declaratória de fidelidade e
adesão à Santa Igreja com total obediência ao Santo Oficio e suas determinações,
alem do pagamento de doze mil francos no prazo máximo de duas colheitas!

Henrick: Isto é uma fortuna! Jamais conseguiremos isto em tão pouco tempo!

Monsenhor: Poderiam levantar essa importância com a venda da parte mais produtiva das
propriedades, porém, se há litígio clérigo sobre elas, poucos se interessam! ...

Henrick: (colocando-se a andar de um lado ao outro) Meu Deus, meu Deus, meu Deus!
(Sussurrando de forma quase desesperada)

Monsenhor: Não te desesperes! Adira ao oficio clerical, com isto, perdoarão a dívida e restituirá a
paz a vossa família!

Henrick: Querem que me dedique ao celibato se não é esta minha vocação?!

Monsenhor: Querem que dediques a Igreja! Dogmas e preceitos negociamos a posteriori!

/Henrick vira-se de inopino para o Monsenhor, fixando-o com profunda decepção/

Monsenhor: Sua vocação política, sua inteligência e sua argumentação teológica são requisitos
preciosos para os novos líderes que a Igreja deseja formar a fim de concretizar seus
ideais de exterminar o mal da terra para que o bem nela predomine! Nós somos o
bem e predominaremos sobre todos e sobre tudo com as bênçãos de Deus, todo
Poderoso!
E
Henrick: Se conseguirmos o valor do processo inquisitorial nos deixarão em paz?!

Monsenhor: Julgo que sim, porém, na condição de amigo e conselheiro da família asseguro que
sua aquiescência ao pedido da Igreja trará paz definitiva aos tormentos de agora. Às
vezes é preciso refletirmos com sabedoria para compreendermos os desígnios que o
Senhor traça, sabiamente, aos nossos destinos!

/O Monsenhor sai vagarosamente de cena/

/Luz central se fecha sobre Henrick que, senta-se numa cadeira e, de forma quase
frenética tenta proteger o corpo de alguém que imaginariamente tenta tocá-lo. Suas
expressões são de nojo e asco/

/Luz abre-se de forma mais ampla, quando Liane (trajando à camponesa) entra de
súbito no ambiente. Suas expressões são de profunda apreensão e ansiedade. O
rapaz mostra-se preocupado em recompor parte de suas roupas, ocultando a
aparente escassez de acessórios. Ela por sua vez demonstra também algum
constrangimento, porém a apreensão predomina/

Liane: Desculpe-me invadir seus aposentos desta maneira. Mas estou apreensiva com as
constantes visitas dos inquisidores do Santo Oficio às nossas propriedades. Temo por
nossa família e perseguições ainda maiores...

Henrick: Deves me procurar e colocar-me a par de todos os acontecimentos. Ademais,


estimo-te a presença confortando-me o coração apreensivo...

Liane: Eu e teus pais igualmente não entendemos o ódio repentino com que Monsenhor
Fabiano de Monte Carlo passou a devotar a nossa família. Antes demonstrava-nos
estima e consideração tendo, em particular por ti, velado carinho. Será sua recusa em
alistar-se a Igreja o motivo de sua revolta?

/Henrick avança para a moça abrigando-se em seus braços em quase lagrimas/

Liane: Meu Deus! O que está acontecendo? Sinto teu coração em desespero! Escondes algo
muito grave! /A moça o afasta de seu corpo, segurando firme em seus braços/ Não
deves ocultar nada de nós que te amamos tanto! Ademais estamos a nos consorciar
com o consentimento dos senhores teus pais que aprovaram nossa união e souberam
resistir as insistências daquele inquisidor diabólico e cruel... Que interesses movem-
no a condenar-te ao celibato detestável desta Igreja diabólica em que se transformou
os ensinos do Cristo nas mãos desses inquisidores usurpadores e assassinos!?

Henrick: Não posso te confidenciar nada além do que já sabes! Temo por sua segurança e
jamais me perdoarei se algo de ruim recair sobre nossa família... Fuja com meus pais
e aguarde resolução dos problemas que enfrentamos aqui. Hei de resolvê-los de
alguma forma...

Liane: Por que deves ficar?

Henrick: Enquanto perceberem-me aqui não levantaremos suspeitas sobre nossos planos de
fuga. Por ora não fales mais de suas visões, nem profira qualquer oração em favor de
quem quer que seja! Qualquer atitude neste sentido será prova suficiente para
condenar-nos a todos como bruxos!

F
Liane: E o que pretende fazer ficando aqui?

Henrick: Procurarei manter os agregados na lida normal do campo sem despertar suspeitas.
Enquanto isto procurarei levantar a quantia para quitar a divida expedida pelo
Conselho representativo do clero em nossa Comarca! Com isto afastarei os
inquisidores de nossas terras e sinalizarei para que retornem...

/Ouve-se fortes batidas à porta. Ambos se sobressaltam/

/Liane sai de cena. Henrick caminha rumo a algumas peças de roupas, pegando-as
do chão, quando Valmond entra novamente, sorridente/

Valmond: Pareces arrependido com o bom negócio que fizemos! Mas te digo meu caro, não
seria com o lucro de suas colheitas de trigo que conseguirias em tão poucas horas
açambarcar tamanha fortuna! Vamos, recomponha-te que entregarei o produto ao
comprador! (Sorri) Depois, que é uma noite dentre todas as infinitas outras que
virão?!

Henrick: Valmond... quem deu o lance mais alto?

Valmond: As regras da casa garantem o anonimato. Mas infelizmente só você saberá... e eu, se
depois me contar! Deve ser uma dessas matronas encalhadas e douradas de ouro a
procura de jovem camponês destemido e.... corajoso! (Irônico)

/Valmond aproxima do rapaz batendo-lhe aos ombros/

Valmond: Uma noite passa logo e quando o sol brilhar novamente estarás quites com essas
raposas que vestem batinas para roubar e subjugar o povo! Eles são a lei e o império
lhes é submisso e conivente; se querem ouro e poder que tenham contando que
recebam amealhados com nossos piores escarros e excreções! ...

/Pausa de silêncio. Valmond caminha rumo a uma coxia, postando bem a frente e
voltando para o público. Henrick acompanha seus movimentos, de súbito volta-se
para a coxia contrária como se visse alguém vindo em sua direção. Sua respiração
torna-se ofegante demonstrando profundo nervosismo/

Valmond: São trinta mil francos, uma pequena fortuna! Me paga os serviços de leilão e com o
restante quita a dívida de sua família com as cartas de penhora do santo oficio!...
(vira-se para o público falando em tom solene) Senhoras e senhores: lance final
trinta mil francos! Encerrado o leilão! (Sai de cena a seguir, desaparece foco)

/Foco central se fecha em Henrick, enquanto outro foco restrito abre-se do lado
direito do palco que, aos poucos vai recebendo a figura de Monsenhor Fabiano de
Monte Carlo/

/Blecaute se faz rápido. Efeitos sonoros de tumulto e de fumaça começa a invadir o


ambiente. Gritos vem de todos os lados/

/Cena do incêndio nas casas e propriedades da família de Henrick. Por entre os


personagens com texto na cena pode passar alguns figurantes carregando baldes em
madeira crua (típicos da época), demonstrando que várias agregados e colonos
tentavam apagar o fogo trazendo água nesses compartimentos. Seus gritos e frases
intercortadas podem mesclar por entre os diálogos da cena ativa abaixo. Pode-se, a
critério da direção, no momento que a cena se tornar mais densa e for dado tempo
G
suficiente para que o público se envolva emocionalmente, esses mesmos figurantes
entrar e sair por entre as possíveis entradas e saídas existentes no auditório,
envolvendo desta forma, mais diretamente o público assistente/

Liane: Fogo! Incendiaram nossas lavouras e nossa casa está em chamas! Deus Meu!
(Exaltada)

Pai: Fujam, fujam todos!

Mãe: Chamem Henrick para nos ajudar! Meu Deus! (Levando as mãos à face em sinal de
desespero)

Pai: Precisamos de mais gente ajudando lá no paiol!

/Efeitos de chamas de fogo surgem por todos os lados/

/Henrick surgem em cena, aturdido com a situação/

Henrick: Meu Deus! Tudo está em chamas! Perdemos tudo!

/A mãe aproxima de Henrick segurando firme em seus braços/

Mãe: Não importa nossos bens, meu filho, importa nossas vidas e as pessoas que amamos;
por elas, devemos lutar até o fim!

Henrick: Fique aqui, não quero que nada aconteça a senhora! Cuidaremos das crianças!
(Desvencilha da mãe e procura por Liane) Liane... tente abrir as portas da casa e
solte as travas do paiol... (Desesperado-saindo de cena)

Pai: Não tentem apagar as chamas, não conseguiremos! Temos que salvar nossas vidas...
perdemos, perdemos tudo!

/Alguns rolam pelo chão envoltos em chamas/

Mãe: Incendiaram o paiol dos colonos... todos estão morrendo queimados!

Liane: Não vá lá. Não podemos fazer mais nada; as chamas estão muito alto...

Pai: Saiam, saiam todos daqui! A casa vai desmoronar....

Mãe: Preciso salvar as crianças, não posso deixa-las morrer presas no porão!

Liane: (Segura a mulher – mãe - pelos braços) Não podemos fazer mais nada por elas!

Mãe: Elas estão gritando, elas estão gritando... (sai de cena por entre o tumulto geral)

Liane: Oh, meu Deus, meu Deus! (Estática olhando em direção ao local da saída da mãe
como a avistá-la consumir-se por entre as chamas)

Henrick: Por que deixou que ela fosse?

Liane: Não consegui contê-la... ela entrou na casa em chamas!

Henrick: Preciso tirá-la de lá...


H
/Um rapaz prende Henrick aos braços, impedindo-o/

Henrick: Me solta... preciso salvar minha mãe!

Pai: Não adianta mais... as paredes ruíram... todos estão mortos!

Henrick: Não! (Grita em desespero)

/Música especial entra no áudio. As pessoas em cena vão paralisando expressões


como que transformadas em estátuas de cinza e carvão. Os efeitos sonoros e visuais
vão diminuindo gradativamente. Henrick está no centro sob foco mais nítido,
evidenciando sua figura traumatizada com a fatalidade/

/Silêncio se faz. Vemos entrar em cena a figura do Monsenhor Fabiano de Monte


Carlo trazendo uma batina à mão. Aproxima de Henrick e veste-o. O rapaz se
mantém impassível. Com gesto sacramental Monsenhor faz o sinal da cruz como a
abençoar todos a sua frente, em seguida realiza a genuflexão completa. Ergue-se e
fala ao público/

Monsenhor: O Santíssimo pontífice em cumprimento as suas soberanas e divinas atribuições


outorga-lhe o honorifico cargo de sacerdote-mor desta comarca com o oficio de
combater o paganismo defendendo a fé católica e punindo os crimes que ameaçam à
autoridade clerical em seus mais santificados objetivos. Sua vocação sacerdotal e sua
fé inabalável servirão de escudo e bandeira a ostentar os padrões cristãos impostos
pela Madre Igreja! Reverendíssimo Henrick de Catre, bem-vindo ao Episcopado e
aos ideais cristãos defendidos pela Santa Inquisição!

/Entra coro de vozes em canto gregoriano. Henrick e Monsenhor Fabiano de Monte


Carlo vão ao chão de forma lenta, deitando de bruços e espichando o corpo
realizando de forma completa o "ritual de consagração na igreja católica"/

/A música sai em fade-out. Blecaute total/

Sequência 02: Vinícius oferece a Erick um programa. Erick discute com família. Chegada
da prima Cristiane.
Personagens: Erick – Vinícius/Valmond(off) – Dançarinos – Rapazes – Elvira
– Mara – Cristiane – Henrick – Liane

/Por entre o silêncio e a escuridão que se faz ouve-se a voz um tanto opressiva de
Erick/

Erick: (subjetivo/off)...Percorro por um túnel escuro que parece não ter fim! Devo
prosseguir?... Sigo a frente e a velocidade parece ainda maior... Meu Deus!
(Admirado) Ouço músicas que não são de agora. Um vozerio abafado e a figura de
um cara vestido com uma roupa esquista que me sorri e me convida para entrar... é
uma especie de bar... ou melhor, parece uma boate, mas cheia de quinquilharia...
Avanço mais por entre o túnel... Eu me lembro... eu me lembro.... é um cabaré e
leiloam uma pessoa... especificamente um cara bem jovem... O leiloeiro parece bem
proximo de mim e deseja me ajudar a resolver um problema de família! Por que sinto
nojo dessas pessoas e deste lugar, doutora?...

Valmond: (Voz em off) Senhoras e senhores: lance final trinta mil francos: Vendido!
I
//Coreografia – Estilo máfia Americana – Tempos atuais//

/Entra música: "On Broadway - George Benson" - Luz vai surgindo e vários rapazes
trajando roupas pretas e chapéu dançam de forma coreografada. Por entre eles está
Erick. Caso a companhia de teatro trabalhe com número reduzido de componentes,
pode-se restringir a cena da coreografia com um foco sobre Vinicius que dança com
sensualidade/

/A coreografia é rápida e vai terminando com Vinícius (o mesmo ator que faz
Valmond, agora com figurino atual) sentando numa banqueta mais alta, contando
algumas cédulas de dinheiro com um charuto sem acender na boca, que manipula de
um lado ao outro e por várias vezes tenta acender com um isqueiro, porém não o faz
devido suas argumentações/

Erick: ...Vinícius, eu já disse que não! Não vou, tá legal! Cara, você pirou de vez. Tá
pensando o que? que agora vou virar galeto vendido em qualquer esquina!?

Vinícius: Pera aí, velho! Você não é nenhum galeto, não! Que baixa autoestima é esta, meu?!
Na verdade eu te considero um filé que chega caro na mesa do cliente, sacou!? (Sorri
Ironizando e fazendo micagem para o colega) E qualquer esquina não é bem o
negocio! Sabe que só mexo com coisa limpa, cara e rara! Você ja conhece o
esquema!

Erick: O suficiente pra cair fora!

Vinicius: Ah! Vai dizer que você não gosta!?... ou já não gostou?! Eh! Eh! Eh! (Ironiza com
uma gargalhada estranha)

Erick: Fui sacaneado por você, isto sim!

Vinicius: Tô sabendo! Eu te sacaniei por várias vezes com a mesma sacanagem e você foi
vítima em todas elas?! Minha velha mãe já dizia que apanhar uma vez pode ser até
descuido, agora, duas vezes da mesma pessoa, aí o cara já tá gostando! ... da surra ou
da pessoa!

Erick: Logo, logo os caras te enquadram no artigo 229 ou coisa pior e aí sim, você aprende
a buscar um trampo de verdade...

Vinicius: Que isso, parceiro!? To ralando pra levantar umas verdinhas... negócio rentável! E
agora a parceria é só com os gringos: dólar... só de olho na cotação do dia; conforme
o câmbio a gente investe as energias! ...

Erick: To fora, velho! não sei como eu ainda surfo na sua praia... fui... (saindo)

Vinicius: (Fixando as cédulas nas mãos) Se eu fosse você não recolhia a prancha logo agora
que a maré subiu e tá vindo os melhores picos... Não foi você quem disse que o bicho
pegou la na sua casa? Que seu velho perdeu o trampo e a maninha caiu de cama de
novo?!... na cama certa, é claro! Com devido respeito! ... (ironiza)

/Erick vacila em sair, volta-se para Vinicius, balança a cabeça num gesto de
desprezo, depois caminha na direção do amigo. Vinicius ajeita o chapéu na cabeça,
movimenta o charuto na boca expressando malandragem, a seguir pega uma nota de
J
cem dólares, alisa a mesma de um lado ao outro, dobrando levemente ao meio.
Suspende a altura da face do colega, virando de um lado ao outro, como se
brincasse com a mesma. Erick pega a nota e coloca no bolso/

Vinicius: Quer que eu fale o endereço ou vai por intuição?!

Erick: Desembucha!

/Música especial e sensual. A iluminação torna-se mais densa. Vinicius acena para
as coxias quando surge dois ou mais rapazes (Pode ser os mesmos que fizeram parte
da coreografia usando o mesmo figurino - montam em cena uma cama na parte
central do palco depois saem de forma ordenada. Simultâneo a isto Erick passa por
entre eles deitando-se: movimenta de um lado ao outro como a achar a melhor
posição, deita de bruços, encolhendo ligeiramente uma das pernas. Quando ele
demonstra dormir profundamente, corta a música e volta a iluminação normal/

/Ao voltar a iluminação Erick sobressalta-se da cama, assustado com a presença da


mãe, próxima e com um cinto na mão/

Erick: Mãe!?

Elvira: (fala demonstrando profunda frieza) Eu estou muito decepcionada com você, Erick!

Erick: Desculpe, mas tenho me esforçado por fazer o melhor! Perdoa-me se a decepcionei
em alguma coisa!

Elvira: Eu e seu pai temos insistido para que se afaste das más companhias, mas pelo que
parece nasceu com a sina maldita pro o vício e pra a malandragem de toda sorte! Que
fizemos nós para merecer passar por tamanha vergonha? Te educamos a base da
oração e dos bons costumes, no entanto parece odiar a nossa igreja e esconjuras
nossos rituais e sacerdotes...

Erick: Não me obrigues a ir naquele lugar novamente! (Encolhendo-se)

Elvira: Se tivesse frequentando a igreja não estaria nesta vida, nem vendo e ouvindo vozes e
demônios, mas nos ajudando nas dificuldades que passamos: seu pai desempregado,
sua irmã não sai daquela cama à base de remédios caros que não faz cessar suas
dores, eu me virando em serviços diversos pra conseguir algum dinheiro e você se
vendendo como um porco dependurado num açougue...

Erick: Paguei toda despesa do hospital, comprei os remédios da Mara e ainda fiz o mercado,
o que a senhora ainda quer mais?

Elvira: Dignidade, eu quero dignidade! Se não consegue assimilar isto com os exemplos que
te damos, então terá de outro jeito...

/A iluminação fica mais densa. Entra música ou efeitos sonoros apropriados/

/A mãe começa a bater em Erick com o cinto, desferindo vários golpes. O rapaz
geme a quase gritos, encolhendo-se na cama. Ao fundo surge a figura de Mara,
cadavérica e doente, com sinais visíveis de demência: suas expressões são um misto
de medo, susto e sofrimento. Os sons que saem de sua boca é um misto de gemidos e
sussurros provenientes de seu corpo e alma doentes e doridos/

K
/Os gemidos e gritos de dor provindos de Erick e de Mara mesclam-se por algum
instante no ambiente conturbado e sombrio que se cria/

Mara: (Sentando numa cadeira/módulo tremula e visivelmente abatida) Mãe... mãe! Me


ajuda, meu corpo dói, tenho frio... um frio que não passa nunca...enquanto meu corpo
arde em febre... Ai, meu Deus, como sofro... como sofro...!

/A mulher aproxima um pouco mais da filha/

Elvira: Não devia ter saído da cama, pode piorar! (vira-se para Erick) Não vê que atormenta
sua irmã? Talvez seja pela sua sina maldita o agravamento de suas dores! As vezes
pergunto a Deus por que não você a padecer numa cama ao invés desta coitada que
nada fez por merecer...

/Erick fixa a irmã e demonstra pavor nas visões que vem a sua mente. Faz
movimentos com as mãos, como tentando tampar as visões que lhe surgem a frente/

Elvira: Eu sei porque está agindo assim! Está vendo os demônios novamente, não é mesmo?
Mas eles não estão na coitada de sua irmã, eles estão a sua volta... porque você os vê,
porque você os conhece!

Erick: Eu sei porque Mara sofre... eles me contam e eu vejo seu passado! (Perturbado)

Elvira: Sua irmã é uma inocente, nasceu assim. Não tem culpa de nada! Sofre e o senhor se
apiedará dela!

Erick: (de maneira quase hipnótica) Tem, tem culpa sim! (Sussurra) ...Eu a vejo banhada
em ouro e vestes luxuosas adentrando os lares honrados de famílias promissoras e
felizes... também a vejo saindo deles levando consigo suas felicidades, sua paz e
harmonia... (passa para expressões de angustia a quase choro) ... É ela a mesma de
minhas visões, numa cidade antiga e distante; prostituída, viciada, velha e devassada
pela tuberculose a perambular pelos becos diversos mendigando um abrigo, um
pedaço de pão...

Elvira: Você está enlouquecendo! Sua irmã nunca saiu de perto de nós e as dores que sofre
não são de tuberculose ou de quaisquer outros vícios que nunca os teve. Os médicos
ainda não encontraram a causa de suas dores, mas tenho fé que ainda encontrarão
para devolver a minha filha a vivacidade, a felicidade e a cura! (Exaltada e
agressiva)

/Pausa de silêncio. A iluminação cai para tom mais sóbrio. A mãe entra no clima
psicológico de diálogo subjetivo, com foco de luz destacando-lhe a figura. A
movimentação é mais lenta. Ela caminha para frente do proscênio, sentando numa
cadeira/módulo. Parece um tanto constrangida e esfrega as mãos demonstrando um
certo nervosismo diante a entrevista/

Elvira: (subjetivo)...Eu sei que às vezes ajo um tanto agressiva com meus filhos, em especial
com Erick. Mas são tantos problemas que enfrentamos em família que vivo com os
nervos a flor da pele! (pausa) Sim, Erick sempre me deu muitas preocupações...
desde novinho manifestou tendências ao vício, à violência e aos desregramentos
sexuais... alem dos graves conflitos que não sei como resolver: vive atormentado
com visões, vozes e adivinhações que o desequilibram ainda mais... e o que mais me
preocupa é sua aversão a educação religiosa, agindo com agressividade a tudo que se
refere aos postulados da fé... Estou mais esperançosa depois que iniciou o tratamento
L
com a senhora...(pausa) ...É sim, parece mais controlado, porém quando soube que
sua prima viria morar conosco para concluir seus estudos de faculdade... passou a ter
profundas crises de tristeza... e temo por uma depressão que lhe pode ser fatal! Não
sei porque se comporta deste jeito quando nos referimos a Cristiane, talvez seja por
algum desentendimento que tiveram quando crianças nas poucas visitas que fizemos
a casa de seus tios... ademais doutora, precisamos de dinheiro e meu irmão se
comprometeu em nos ajudar com uma boa quantia enquanto a filha estiver morando
conosco. Não posso me guardar ao luxo de recusar uma ajuda dessa numa hora de
tamanha crise....

/Por entre a escuridão que se estabelece repentinamente retorna música ou efeitos


sonoros "padrão" utilizado para o processo de regressão de Erick/

Erick: (Subjetivo/off) ...Não sei se devo continuar percorrendo esse túnel que se alarga a
minha frente... O leiloeiro se aproxima do cara que está sendo vendido naquela
noite... o cara sou eu... eu tenho certeza que sou eu... sinto o coração bater forte na
espera interminável pelo arrematador. Que tipo de mulher adentraria aquela porta e
me mostraria o recibo de quitação?!... Eu precisava daquele dinheiro pra quitar a
dívida com as raposas que se escondiam atrás das muralhas da igreja visando ouro e
poder do seu rebanho submisso e indefeso...(mais angustiado) mas para minha
surpresa quem apresentou o recibo de direito sobre meu corpo e sobre meu destino
foi justamente aquele que vigiou-me a infância e a juventude ensinando-me as
primeiras lições de um carpinteiro que se fez servo de todos pedindo-nos em troca
apenas o esforço de nos amarmos uns aos outros, fazendo a todos o que desejamos
para nós mesmos...

/Ruídos/efeitos sonoros de banho, água caindo. Foco/pino recai sobre a figura


esguia de Henrick com figurino leve épico francês 1732. Respiração ofegante a
quase opressiva acompanha seus gestos desesperados em retirar as roupas,
começando a esfregar os braços, pescoço, tórax e abdômen. Desfazer apenas da
camisa e deixá-la dependurada cobrindo parte de seu quadril, já é suficiente para
mostrar a intensidade dramática da cena/

Henrick: ... Nojo, tenho nojo de todos eles e tudo que nos ensinam são mentiras e mais
mentiras! Preciso tomar banho... esfregar! Esfregar meu corpo até sair todas essas
marcas... que este banho jamais termine e que esta água jamais pare de jorrar sobre
meu corpo e sobre minha alma.

/Num processo de mixagem, a ambientação sonora do processo de regressão vai


sobrepondo os efeitos sonoros do banho de Henrick, ao mesmo tempo em que
desaparece o foco sobre ele e uma luz tênue destaca Erick deitado sobre uma
cama/divã ligeiramente inclinada de forma que podemos visualizar nitidamente suas
expressões faciais/

Erick: ... Lembro que quitei a dívida com o clero inquisitorial da comarca local, mas
Monsenhor Fabiano de Monte Carlo não queria apenas que eu saldasse a dívida, mas
que me alistasse nas fileiras dos abutres de oficio a fim de manter definitivo controle
sobre minha fé e sobre minhas escolhas. Recusei... recusei... não devia mais nada a
igreja e o produto do leilão ele já tinha recebido... agora eu estava livre para retornar
a minha família e aos braços de Liane... a mulher que sempre amei! (se agita ainda
mais) Fogo... fogo! (grita desesperado) Botaram fogo em nossas casas, em nossas
vidas... Monsenhor nos contou que foram eles, os inquisidores! Por mais negassem
envolvimento, foram eles e a única forma de parar suas perseguições era eu aceitar...
aceitar e aceitar!... (pausa) Aceitei! (Sussurrante e trêmulo) o que aconteceu depois
M
eu não quero ver, não quero lembrar, não posso lembrar, tenho medo e vergonha...
Me tire daqui...não quero ver mais... por favor me tirem daqui!... (angustiado e quase
em lagrimas).

/Blecaute geral se faz lentamente/

/Por entre a escuridão que predomina começa-se a ouvir o som de música


profundamente melancólica. A medida que a luz volta (em tom tênue) vemos Erick
tocando o teclado/piano envolvido emocionalmente com a melodia. Obs.: o
teclado/piano pode ser substituído pela música “Extreme – more than Words“ tirada
por gaita tocada pelo rapaz /

/A mãe entra e chama-lhe a atenção/

Elvira: Erick!

/Ele sobressalta, escorando no instrumento musical, voltando-se para a mãe com


respiração ofegante e olhar assustado/

Elvira: O que aconteceu pra se assustar desse jeito?!... Parece que não vai sair mais deste
quarto tocando essa maldita gaita (ou piano)! Estamos preocupados com sua ausência
la na sala. Sua prima Cristiane chegou a mais de duas horas e já perguntou por você
por umas dez vezes! Não custa ser gentil já que não se veem desde criança! E vá se
acostumando porque agora ela fará parte da família, pelo menos enquanto estiver
fazendo faculdade por aqui! Vê se trata bem a moça porque além de educada vai
trazer dinheiro pra dentro desta casa. viu?!

Erick: Ela não veio só!... eu sei que ela veio acompanhada! Não quero estar com elas!
(Extático)

Elvira: Sua prima chegou sozinha, sim. Ninguém veio com ela, seu tio já havia avisado!

Erick: Você não me entende! Eu não mereço estar com elas, principalmente com ela... eu
não mereço... não mereço! (Sussurra)

Elvira: (suspira) Vou avisar sua prima que você não está bem, que está em mais uma de suas
crises. É bom que ela já saiba logo de chegada das suas loucuras! Quando tiver
melhor vocês conversam...

/A mãe sai. Reina um silêncio profundo na cena. Erick volta a sentar na banqueta
com movimentos harmoniosos e suaves, inclina a cabeça suavemente sobre o
aparelho musical, quando percebemos seu corpo tremer levemente num pranto
abafado que surge de seu peito/

/Ouvimos passos de sandália feminina vindo do corredor e aos poucos a figura


suave e meiga de Cristiane vai surgindo da coxia. Ainda dá alguns passos, parando
em postura elegante e simples. Sua voz rompe o silêncio como uma canção suave e
calma/

Cristiane: Erick!...

/A música "Concrete Angel - Christina Novelli" entra no áudio/

N
/Ocorrências e montagem da cena: ao entrar a música criando o clima emocional
adequado, forma-se um corredor de luz no meio ou fundo palco para a montagem da
cena paralela épica, na parte da frente, está a cena ativa com Erick e Cristiane,
atual. Pode-se também criar duas faixas ou corredores de luz diferenciando apenas
os tons entre azul ao fundo e tons de lilás a frente. No corredor de luz (fundo) vemos
surgir de um lado a figura de Henrick e do outro a de Liane (Ambos com figurinos
épicos) - fixam-se emocionados e "embriagados" do mais terno sentimento de amor.
Erick move-se com suavidade por entre as emoções das lagrimas que se encontra
envolto. Fixa a prima e seus lábios entreabrem-se, trêmulos. Mas é dos lábios de
Henrick que ouvimos.../

Henrick: Liane!...

Liane: Henrick!...

Erick: Prima Cristiane?!...

Liane: ... Por que demoraste tanto tempo!? Esperava-te o retorno ansiosa...

Cristiane: Sinto uma felicidade inexplicável em poder te reencontrar depois de tanto tempo...

Henrick: Tenho o coração em profunda dor... perdoa-me! ... (começa a chorar, um pranto
abafado)

Erick: Éramos tão crianças... perdoa-me as brincadeiras inconsequentes!

Liane: Eu te esperei... e te esperarei sempre!

Cristiane: Só não te perdoarei se não me permitir te abraçar como antes... como sempre!

/Ambos casais, épico e atual, caminham um para o outro, e envolvem num abraço
terno e emotivo por entre a canção que ainda permanece por algum tempo. Aos
poucos a música vai cedendo ficando como ambientação ou sair totalmente
conforme opção da direção, e neste instante ouvimos apenas o choro abafado de
Henrick (nos braços de Liane) e de Erick (nos braços de Cristiane) /

/A iluminação torna-se mais tênue até desaparecer por completo juntamente com a
música/

Sequência 03: Cristiane e Erick conversam no quarto dele.


Personagens: Cristiane – Erick – Vinicius – Antônio – Mara – Mirian – Mãe

/Quando voltar a iluminação - registrar passagem de tempo: Adicionar peças de


roupas ao figurino de Cristiane, enquanto Erick está sem camisas e usa short/

Cristiane: (Escorada numa cadeira com um livro na mão) ...Já algum tempo convivo com
vocês nesta casa e pouco tenho te visto com eles. Não te agrada a convivência em
família?!

Erick: /Apossando de uma camiseta e vestindo-se/ Tenho estudado bastante para concursos
e saído as vezes para algumas entrevistas de emprego...

Cristiane: Tem estado melhor?


O
Erick: Mamãe contou-lhe algo sobre mim?! (Erguendo-se de ímpeto)

Cristiane: Alguns detalhes como o estado de melancolia e tristeza que se deixa abater, bem
como o tratamento com a terapeuta que, de certa forma, afirmou ela, estar ajudando
bastante!

Erick: Creio que estou precisando de emprego não de terapia!

Cristiane: Talvez uma coisa leva a consequência da outra! (num leve sorriso)

Erick: Traduzindo: desequilibrados não arrumam empregos! Só se for de recepcionista de


terapeuta: nos intervalos das consultas ele entra e faz a sua! (Sorri mais descontraído
com a própria brincadeira)

Cristiane: Que bom vê-lo sorrir! ...

/Erick fecha o sorriso/

/Pausa de silêncio. A moça caminha para o centro do palco/

Cristiane: ... aqui sempre foi o seu quarto?

/O rapaz escora no teclado/piano de ímpeto, segurando-o com as mãos voltadas


para trás como a se defender ou proteger-se, pondo-se em defensiva/

Erick: Sim! (Ressabiado)

/Ocorre uma movimentação: (Entra efeitos sonoros de suspense ou música


adequada) Erick movimentará fazendo um grande circulo aberto - 360 graus - em
torno da moça. Interessante observar que grande parte de sua movimentação ele
ficará de costas para o público e suas mãos postas para trás demonstrando que
encosta ou segura algo, tentando se proteger ou ocultar objetos. A cena demonstrará
que Erick não intenciona ocultar da prima objetos externos, mas sim o próprio
mundo emocional, temendo que a moça o perceba. Cristiane por sua vez fará um
movimento em torno de si mesma, porém também num ângulo de 360 graus (olhando
os detalhes a sua volta) - enquanto estiverem completando o movimento circular de
360 graus - de todas as coxias começam surgir personagens ligados ao mundo
emocional de Erick e, em algum ponto de sua movimentação circular, encontrarão e
interagirão com ele, nas características abaixo:/

Vinicius: (Entra com expressões de malandragem, jaqueta jogada ao ombro, chapéu


inclinado para o lado quase cobrindo-lhe um dos olhos, sorriso irônico; com
garrafa de uísque numa das mãos e na outra um copo com bebida segurando com o
mesmo varias cédulas de dinheiro. No cruzamento com ele diz:)

Vinicius: E aí, velho! Vive sacaneando os compromissos! Se a gente não fidelizar


os clientes a torneira vai secar! Tenho te acobertado as mancadas e
coberto suas faltas! Elas dizem que o material é bom! (Mostrando para o
próprio corpo), mas não atende ao seu padrão de qualidade! (Sorri com
ironia);

Antonio: (anda de um lado ao outro, num diâmetro pequeno devido estar num
contexto também limitado) Entendo que você queira sair, divertir e viver a sua
P
vida, mas não custa se esforçar pra seguir o mínimo que te pedimos! Três
coisas que lutamos com sacrifício para que nunca lhe faltasse: Uma Religião
que acolhe e educa, um esporte saudável e uma arte que enobreça e dignifique
a vida! Mas pelo jeito sua religião é a malandragem, seu esporte favorito é na
cama, e sua arte é a de se dar bem na vida do jeito mais rápido e fácil!

Mara: (Ajeitando as roupas e preocupada com os últimos retoques nos cabelos e


maquiagem) Não nasci pra viver nesses limites de dinheiro e de prazer. Eu
quero mais, eu sonho mais e vou conseguir isto sim! E quem é você pra me
dar conselhos? ... quer que eu leia seu currículo pros nossos pais?

Mirian: (Figurino de profissional da saúde - de preferência com jaleco branco.


Porém sua aproximação e ponto de cruzamento com Erick no círculo de
360 graus é bastante intenso no sentido sensualidade - a moça faz
expressões e toques no rapaz que demonstre para o público seus desejos
físicos por ele. Logicamente, sem entrar em expressões de mau gosto ou
que deprecie o belo da arte sob inspiração espírita)

/Assim que desfizer a intercena acima, Cristiane que estava temporariamente em


expressão-off volta a movimentar-se completando o giro sobre si mesma de 360
graus, enquanto realiza o movimento, diz o texto abaixo, com naturalidade/

Cristiane: Nossas coisas revelam um pouco de nós! É como se em cada detalhe dos métodos
que utilizamos para organizarmos o universo a nossa volta denunciasse um pouco do
que somos e do que sentimos!

/A moça faz pequena pausa, após ter observado o ambiente, fixa o primo e
demonstra preocupação ao perceber que ele está trêmulo/

Cristiane: Erick?!... você está bem? (com suavidade e aproximando do rapaz)

Erick: Não se aproxime de mim!... por favor! (quase aos sussurros)

Cristiane: Você está tremendo?!... são essas as crises que tia Elvira comenta?

Erick: Não quero falar mais sobre mim... por favor!

Cristiane: Não quero vê-lo assim... tenho saudades do sorriso brilhante que te iluminava a face
e alma nos dias primeiros de nossa infância... Não sei o que aconteceu neste tempo
que nos separamos mas seja o que for, não é maior que meu desejo em vê-lo
novamente brilhar...

/Obs. O emprego do pronome "te" ao invés de "lhe" é proposital nesta obra visando
tornar mais coloquial e natural os diálogos em ambientes atuais/

Erick: Desculpa-me... mas não sei explicar porque sinto isto quando estou ao seu lado...

Cristiane: E o que você sente?! (Intrigada)

Erick: (Volta-se para frente e entra em dialogo subjetivo, um tanto alterado) ... Como eu
poderia dizer pra ela o que eu sinto, se nem definir ao certo o que penso, consigo?
Não quero entrar em nova sessão de regressão porque o mesmo medo de descobrir o
que fiz com aquele maldito inquisidor é também o que sinto perante minha prima...
Q
Algo me diz que ela sabe o que vem depois do ponto que não quis ultrapassar...sabe
do que fui capaz de fazer... sabe sobre minha vida, sobre o que penso e que desejo!
Tenho medo de fazer comparações, doutora, mas seria minha prima de agora a
mesma que vejo no passado?!

Cristiane: Que passado é este que você esconde de todos nós?

Erick: Não sei, eu também não sei! (Agitado)

Cristiane: Você precisa de ajuda! Por que não retornar a terapia?!

Erick: Não, não! Não vou ultrapassar o limite de onde cheguei...

Cristiane: E que limite é esse?

/Senta na cama e agarra os próprios cabelos demonstrando estresse emocional/

Erick: O limite do que fui capaz de fazer... do que sou capaz de fazer!

Cristiane: Se não queres continuar com a terapia, deves aceitar ajuda de outras pessoas! ou....

Erick: Ou...?! (Intrigado)

Cristiane: ... A minha ajuda!

/Música sublime e adequada entra no áudio. Um foco em forma de raio de luz parte
de cima em direção ao crânio/face de Cristiane que sob a inspiração da canção lhe
sorri com meiguice e simplicidade, simultâneo a isto entra em cena a Mãe de Erick
da reencarnação anterior (figurino épico, porém de tecido tênue em cores suaves),
aproxima da moça colocando sobre seus ombros o mesmo xale ou acessório de
figurino épico que usava Liane/

Mãe (épico): (Após breve sorriso) Meu filho, os séculos tem nos ensinado a buscar o melhor;
fazendo-nos perceber que no afunilar de tudo que vivemos o que importa mesmo são
nossas vidas e as pessoas que conosco caminham; por elas, devemos lutar até o fim!

/A música vai saindo do áudio juntamente com a mulher que se oculta por entre as
coxias/

Erick: (subjetivo)... Eu falei para minha mãe que ela não tinha vindo só. Aquela mulher a
acompanhava... a mesma que vi consumir-se por entre as chamas de nossas casas
incendiadas num gesto louco de salvar meus irmãos menores e as crianças do paiol...
Eu continuava tendo as visões, doutora, mas agora elas já não eram tão sofríveis, mas
me acalmava o coração e me aproxima dos que eu amo!

Cristiane: ... É preciso termos a coragem de recomeçar, e para que isto ocorra da forma mais
harmoniosa possível, faz-se necessário admitirmos que somos como valiosa taça de
cristal exposta na vitrine da vida procurando demonstrar seu brilho e seu valor; no
entanto, ao longo do tempo temos permitido estarmos cheios de outros elementos que
não fazem parte de seu contexto; é preciso esvaziarmos a taça, pois só assim ela
conseguirá demonstrar sua pureza, sua beleza e sua essência! ...

R
Erick: Sinto de certa forma envergonhado por estar do lado de uma pessoa tão educada,
amável e sensível quanto você! Desculpa-me fazê-la conviver com meu mundo de
conflitos e trevas...

Cristiane: Não deves envergonhar de suas trevas, porque também são experiências adquiridas e
farão parte de você para sempre! Cabe-lhe trabalha-las fazendo com que se
transformem em luzes de sabedoria na conquista dos valores nobres da vida! Ame-se,
perdoe-se e avance: O exímio escritor de agora não prescindiu dos rascunhos das
primeiras letras! ...

Erick: (Subjetivo) Como lhe dizer do medo inexplicável de estar ao seu lado sem que esta
presença não viesse a lhe ferir os mais belos sentimentos?

/Cristiane caminha para sair, quando ele a interrompe/

Erick: Onde você vai?

/Ela pára, lhe sorri e diz com descontração/

Cristiane: Pra faculdade! Alguém tem que estudar nesta casa, não é mesmo?!

/Ele sorri quase debochado, abanda a mão estendendo o braço ligeiramente fazendo
um gesto característico de "pouco caso"/

/Blecaute/

Sequência 04: Família em torno da crise de Mara


Personagens: Mara – Elvira – Antonio – Erick – Cristiane – Henrick – Liane –
Rapazes e moças – Vinicius

/Por entre a escuridão que se faz ouve-se a voz sofrível e cheia de dores de Mara ora
num canto ora em outro/

Mara: Mãe! Mãe!... Não consigo respirar, preciso sair lá fora, pra ver se melhoro.... todo
meu corpo dói... mãe!

/Ouve-me efeitos sonoros ou barulho de objetos caindo ao chão, logo a seguir gritos
exaltados de Elvira (mãe) pedindo ajuda/

Elvira: Antonio, Erick, ajude aqui, sua irmã não está bem! .... Ajudem aqui, depressa,
depressa!

/A iluminação volta em tom médio em combinação de cores que indique "noite".


Vemos Elvira com Mara caída ao chão e com a cabeça ao colo da mãe. Dar
preferência para que o posicionamento cênico das duas atrizes sejam próximo a uma
das coxias visando facilitar transição entre esta cena e a seguinte/

Antonio: O que aconteceu com ela?!

Elvira: Não sei, eu já a encontrei caída aqui na sala!

/Erick (vindo de seu quarto) surge em cena aturdido com os gritos da mãe. Figurino:
Pijama composto de duas peças, sendo short muito próximo à cueca "samba-
S
canção" ou a própria e camiseta regata simples. Esta exigência prende-se a
montagem da cena que se dará após esta/

Erick: Como ela levantou sozinha da cama?

Elvira: Estava reclamando de muitas dores e falta de ar!

Antonio: Ultimamente é o que ela mais faz é reclamar de dores e falta de ar... (um tanto
impaciente) ...O que quer que eu faça?

Elvira: Chame um taxi depressa!

Erick: Ela estava tomando a medicação corretamente?

Elvira: Claro, seu imprestável! Estava porque eu estava dando e me preocupo com ela, ao
passo que você vive na libertinagem....

Erick: Mãe, nós estamos cuidando da Mara, por favor! - /em tom grave/

Antonio: (mexendo com a cabeça de Mara que respira com dificuldade e parece
inconsciente) Elvira, por favor! (Repreendendo a mulher) E você... (virando pra
Erick) Veja se pelo menos numa hora desta não atormenta ainda mais! Que inferno!

Elvira: Sua irmã está morrendo e você não faz nada, seu imprestável?!

Antonio: Eu vou chamar o táxi. Temos que levá-la ao hospital! (Levantando-se e saindo)

Erick: Como que não faço nada? Não vê que estou aqui, ajudando!?

Elvira: Você nunca faz nada. Na verdade, está pouco se lixando pra sua família, pra todos
nós...

/Surge Cristiane um tanto assustada com a situação, parando próxima de Erick/

Cristiane: O que houve com a prima Mara!?... (Preocupada, mas muito mais controlada
emocionalmente que os demais)

Erick: Parece que estava andando aqui na sala e caiu num aparente desmaio...

Elvira: (voltando-se para Cristiane) ... Eu não sei o que aconteceu com ela, mas parece que
está morrendo! (Apertando a cabeça da moça contra seu peito)

Erick: (Segurando ligeiramente o braço de Cristiane) É só mais uma crise, ela vai ficar
bem!

Elvira: Como que ela vai ficar bem? Não vê que sua irmã está morrendo sem conseguir
respirar?

Erick: Ela não está morrendo, você que está sufocando a cabeça dela! (Agacha, tentando
retirar a irmã dos braços sufocantes da mãe)...Não a prende deste jeito!

Elvira: Não toque nela! Tire as mãos de cima da minha filha! (fala com rancor)...

Erick: Eu também sou seu filho! Será que se esqueceu disto?!


T
Elvira: Você não é meu filho, você é filho da rua! (Exaltada)

/Há uma pausa brusca na sequência dramática. Um silêncio profundo se faz. Erick
ergue-se lentamente demonstrando profundo baque emocional com as palavras da
mãe/

Cristiane: (Com suavidade) Erick, por favor... sua mãe está nervosa! Não foi exatamente isto
que ela quis dizer! Tenho certeza!

Erick: Sim! Não foi exatamente o que ela quis dizer... foi exatamente o que ela quis dizer!

/Vira o corpo dando entender que vai começar a andar para sair, quando a moça
intersecta/

Cristiane: Espera....

/Volta-se para Cristiane e baixa o olhar, envergonhado/

/Erick começa a caminhar para sair partindo do centro do palco para a coxia do
lado direito, quando surge a figura de Henrick (traje épico) saindo da coxia também
do lado direito e caminhando para o centro do palco, logo atrás surge Liane (épico)
vindo em seu encalço (expressão de ansiedade e angústia) estacando-se a seguir/

Liane: Henrick... Espera!...

/Henrick para virando-se para a moça/

Liane: ... Para onde você vai? (com profunda tristeza, intercedendo na saída de Henrick)

Cristiane: Pra onde você vai? (Com profunda tristeza, intercedendo na saída de Erick)

Henrick: Para os braços da família a quem me resta pedir amparo e proteção: As tabernas e
cabarés incontáveis deste condado!

Erick: Como disse minha mãe: para os braços maternais que me acolhem sempre sem
maiores exigências: as ruas!

/Música em estilo "Blue" (Coletânea Romantic Blueswmv-1ª faixa) entra no áudio


para a saída de Henrick e Erick que caminham em sentido contrario um do outro,
ocultando-se nas coxias/

/A música em estilo "Blue romântica suave" ou semelhante que entrou no áudio na


saída dos personagens acima, é introdutória da cena seguinte. O blecaute* ocorrerá
com a figura cênica de Elvira com Mara ao colo e as duas personagens femininas -
épica e atual - paralisadas em marcações individuais, expressando a carga
dramática de suas vivencias, cada uma em seu tempo, porém com a mesma
intensidade/

/(*) O blecaute referido acima deve acontecer na sequência fade-out/fade-in -


demorando o mínimo possível com ausência total de luz, o suficiente apenas para
que os personagens da cena anterior saiam e comecem entrar os da cena seguinte
que se forma/

U
/A iluminação retorna em tom bruxuleante e sob efeitos de fumaça leves que surgem
para expressar becos de viciações. Vinicius (atual) entra em cena sentando num
módulo ou cadeira de forma sensual.../

/Rapazes e moças (que podem ser os mesmos que compusera a coreografia inclusive
com o mesmo figurino - cada rapaz trará nos ombros uma peça do figurino de Erick
- camisa, calça e blaise) ocupando espaços diversos no palco e sob a inspiração da
música (Blue romântica suave*) trocam caricias e certa intimidade (atitudes que
mais lembrem coreografias que propriamente cena explicita de viciações, o
importante é passar a ideia de forma mais artística possível.../

/Erick entra na cena olhando para todos os detalhes, com certa revolta no olhar.
Quando estiver no centro do palco, para e volta o olhar para Vinicius.../

/Vinicius abre a carteira, retira algumas cédulas de dinheiro e parece exibi-las


remexendo nelas de um lado para o outro, depois guarda-as e retira alguns "cartões
de visitas" que também trás na carteira, estende os braços como a admirá-los, abre
os mesmos como se fizesse em cartas de baralho, retém por entre os dedos. Ergue-se
da cadeira e caminha para Erick em sua marcação central. Aproximando do colega,
estende-lhe o leque de cartões. Erick escolhe um como se num sorteio ocasional. Por
entre sorrisos irônicos e provocativos, Vinicius abre novamente a carteira, retira
varias cédulas, contando-as, depois estende para Erick que vacila, num primeiro
instante, depois toma das notas colocando-as num sub-bolso existente no próprio
short que usa. Vinicius vira-se para os casais em cena e faz um sinal para que
avancem para Erick, que por sua vez retira a regata, embolando numa das mãos e
atirando ao longe, demonstrando irritação e revolta. A música ergue o volume
enquanto um a um dos rapazes entrega-lhe, na sequência as peças de roupas, no
final dos movimentos realizados quase em estilo de coreografia, Erick deverá estar
totalmente vestido, porém com calça por abotoar o zíper, a camisa e bleiser
desabotoados - representando com isto os excessos e desequilíbrios com que se
permitiu adentrar. Todos saem de cena juntamente com a música em fade-out.../

/Erick caminha trôpego e vagaroso como que sob efeito de álcool, tropeça em
algumas coisas, olhando de um lado ao outro, como se estivesse retornando em casa
altas horas da noite. Age desta forma até aproximar de um módulo/cama. Retira o
blaise deixando cair ao chão e em seguida desaba (de bruços) sobre a cama,
demonstrando cansaço e lassidão.../

/Segue-se pequena pausa de silêncio, em seguida entra no áudio canção suave e


harmoniosa. Cristiane aparece em cena, aproximando do rapaz. Suas expressões
são de profunda tristeza e piedade diante a situação do primo. Agacha levemente,
toma do blaise que caiu ao chão, cobrindo-o de forma carinhosa e protetora.
Blecaute se faz em fade-out lento/

Sequência 05-A: Erick conversa com terapeuta


Personagens: Erick

//Troca de figurino > no rápido blecaute que separará uma sequencia da outra: O
Ator (Erick) substitui camisa social por camiseta normal e acrescenta um
"sapatênis" aos pés//

V
/Foco destaca a figura de Erick sentado numa poltrona divã com os tornozelos
fincados na altura das coxas e as duas mãos entrelaçadas à nuca. Ergue-se aos
poucos, fixando a frente como se falasse com alguém/

Erick: (Subjetivo)... Sabe, doutora, Ainda não me sinto preparado para prosseguir no
processo de regressão! Tenho medo de retornar aquele mesmo ponto e ter que seguir
enfrente! O que posso concluir é que, se realmente existe outras vidas e se o que
presenciei trata-se de fatos reais e de pessoas que convivi e provavelmente convivo
no presente... aí sim, posso concluir que aquele maldito inquisidor é, com certeza, a
principal personagem onde centralizo meus conflitos e incapacidade de libertar e ser
feliz. Justifica a sensação deu ter abandonado tudo e prosseguido com um único
objetivo: odiar e me vingar daquele que me roubou o prazer da vivencia religiosa, do
carinho da mulher amada e do tesouro da convivência em família.... Hoje me
pergunto: Se realmente ele existiu e existe, onde estará Monsenhor Fabiano de Monte
Carlo que me transformou num doente e infeliz?!

Sequência 05-B: Erick e Cristiane dançam. Elvira inicia discussão.


Personagens: Erick – Cristiane – Dançarinos – Elvira

/Blecaute total do foco. Entra música: " ET_Futuristc_Lover-Katy_Perry" - foco


restrito abre-se sobre Erick que dança, no centro da caixa cênica, com rebolado
excêntrico e cheio de sensualidade. Fica assim por alguns instantes, quando a
iluminação se abre de maneira mais ostensiva e visualizamos Cristiane sorridente,
aplaudindo-o/

Erick: Venha, dance comigo!

Cristiane: Eu não consigo! Você dança muito bem! (Sorridente)

Erick: Dançar muito bem fica por conta de seu excesso de gentileza! Mas o que sei eu te
ensino... vem! (Insiste)

Cristiane: Ah! Não! É verdadeiramente um desafio maior que meus sonhos de medicina!

Erick: Venha... você pega logo! Eu vou ficar muito feliz se pelo menos tentar....
/Cristiane começa a tentar seguir os passos do primo. Aproximando dele/

Erick: (falando mais alto devido o volume da música) ... Só não deve tentar isto quando
estiver com bisturi na mão!

/Ela sorri divertida/

/Ambos começam a dançar cada vez mais harmoniosos e quando tiverem dançando
de forma harmônica, a música aumenta o volume preenchendo todo o ambiente.
Neste instante todos os que compuseram a coreografia da sequência-2 passam pelo
palco dançando também, só que se ocultando nas coxias logo a seguir/

/Entra Elvira de ímpeto, exaltada e já descontrolada emocionalmente contra o filho/

Elvira: Desliga essa música, desliga isto, estou mandando!

/Corta-se a música subitamente/

W
Erick: Ah! mãe! A gente só tava ouvindo a música e resolvi ensinar alguns passos pra
Cristiane...

Elvira: Não quero que ouça esse tipo de música aqui dentro de casa e principalmente nessas
alturas. Por outro lado, onde te disseram que você pode ensinar alguma coisa boa pra
alguém?

Cristiane: Não foi culpa do Erick, não tia! Ele estava dançando e resolvi aprender alguns
passos, só isto!

Erick: Se é bom eu não sei, mas que posso ensinar muitas coisas, ah! isso eu posso! (com
tom irônico)

Elvira: E não fale deste jeito comigo senão...

Erick: Senão a senhora vai me bater novamente como já fez por esses anos todos!

Elvira: Porque sempre fez por onde merecer! Nasceu com a sina maldita pra nos dar
desgosto...

Erick: Tá legal mãe! tá legal! Já desliguei a música, a Cristiane já vai sair deste antro de
perdição que é o meu quarto e a paz vai reinar na sua cabeça... Ah! avisinho final: eu
acho que já estou bem crescidinho pra ficar levando palmadinhas no bumbum, ou
melhor, agora já não é mais bumbum, é bunda. Se quiser continuar com os
talquinhos, esse eu não vejo problema algum! (ironiza de forma natural)

Cristiane: Não vamos discutir mais! E por um problema sem importância!

Elvira: Éh! você já é bem grandinho mesmo pra assumir as consequências de seus atos. E
quanto a você Cristiane... (voltando-se para a moça) Confio na sua cabeça centrada,
porém, não quero que se envolva nos ambientes e nas ideias dele. Seus pais me
confiaram sua estadia aqui em casa, devo zelar por sua proteção...

Erick: Isto é um absurdo o que você tá falando! (Colocando as mãos no rosto


demonstrando sua decepção) Meu Deus, o que tem a prima conversar e estar
comigo?

Elvira: Não aqui no seu quarto, sozinha!

/Erick solta uma gargalhada quase forçada/

Erick: ... Porque se ela respirar aqui dentro engravida!?

Cristiane: Erick! (Em tom de quem pede para o primo não continuar provocando a mãe)

Elvira: Não, não é somente por isso! É porque ela não te conhece, ainda não sabe tudo sobre
você...

/Pausa de silêncio e todos parecem paralisar os movimentos bruscamente. Isto para


indicar mudança emocional da cena (obs. o que seria feito com entrada de música
suspense, fazer com as expressões citadas) /

X
/Após a breve pausa de silêncio indicada anteriormente, a música "Christina Novelli
- Concrete Angel" entra no áudio em volume crescente de forma que misture com os
impropérios que Elvira falará/

Elvira: ... Você é um perturbado, isto sim! Nunca aceitou ir pra igreja ou se aproximar de
Deus! Preferiu sempre a vadiagem e desde criança nunca escondeu essa sua sina. E o
que é pior, eu e seu pai ja sabemos de onde vem esses dinheiros extras que aparecem
aqui em casa... porque dos bicos honestos que de vez enquanto arruma, não é! Você
se vende; não porque precisa disto pra viver, se vende porque tá na suas veias esse
destino maldito... e o mesmo sangue maldito que corre nas suas veias parece correr
nas de sua irmã... Ah! que sina a minha, meu Deus... que sina!..

/Elvira sai de cena puxando Cristiane pelo braço/

/A música sai em fade-out lentamente/

/Erick caminha para frente e entra em diálogo subjetivo. Pode-se sentar, manter-se
em pé ou utilizar os dois recursos. Deixar livre ao ator a escolha para a melhor
situação psicológica da cena/

Erick: (Subjetivo) .... A convivência com Cristiane me abriu novos horizontes e a esperança
em reaver meus sonhos perdidos. Sua presença me inspira coisas simples como um
lar, filhos, o trabalho honesto e diário... e.. (sorri) quem diria, hem doutora?!.. Até
mesmo o desejo de sentarmos nos bancos surrados de uma igreja e ali orarmos
juntos... (exaltando-se um pouco mais) ... Não! Não vou me aproximar de Cristiane
porque ela sabe, eu tenho certeza que ela sabe muito mais sobre mim do que
consegue receber dos impropérios de minha mãe. Há uma barreira muito grande que
me impede sequer pensar em desfrutar de sua... proximidade! Eu sei, eu sei... esta
barreira está dentro de mim, faz parte de mim e o único meio de quebrá-la para
sempre é ultrapassar aquele ponto e enfrentar o que fui e talvez o que sou... mas não
tenho coragem de voltar a regressão... por favor não insista!...

Sequência 06: Despedida de Cristiane.


Personagens: Erick – Cristiane – Elvira

/A iluminação cai para tênue. Cristiane entra em cena com uma maleta, um echarpe
sobre os ombros que a deixam ainda mais bela e simples/

Erick: Cristiane?!... (com profunda tristeza)

Cristiane: Venho me despedir... só falta você! (Num sorriso)

Erick: Você já está indo?

Cristiane: Sim, o voo sai as dez! Pode me levar ao aeroporto? ... seu pai liberou o carro. É só
não correr muito, pois voar eu só prefiro em aviões!

Erick: (sorri quase forçado e ligeiramente) Sim, sim! Posso levar sim... é só o tempo de
colocar uma roupa... (com voz embargada)

Cristiane: Por que você está triste?

Erick: Não estou triste... apenas um pouco cansado!


Y
Cristiane: Então não precisa me levar ao aeroporto...

Erick: Não... não!

Cristiane: Não está cansado?!... Deve descansar. Eu chamo um taxi, sem problemas...

Erick: Não, não estou cansado...

Cristiane: Mas acabou de dizer que está cansado!

Erick: Mas... mas...não pra isso!... (balança os braços um tanto sem jeito)... pra te levar ao
aeroporto!

/Pausa de silêncio. Erick caminha alguns passos ficando de costas para a garota/

Cristiane: Não quer realmente me dizer porque está triste...?

/Outra pausa/

Erick: Não queria que você fosse... tenho a sensação de perdê-la para sempre....!

Cristiane: Não entendi o que disse!

Erick: (Vira-se para a garota um tanto mais exaltado) É isto mesmo que ouviu, entendeu?!
Não gostaria que fosse desta casa.... de nossas vidas....da minha vida...

Cristiane: Erick... (pausa)...você está apaixonado por mim?! (quase num sorriso)

Erick: Você pirou... enlouqueceu de vez! Só me faltava esta, eu me apaixonar pela prima:
Romeu e Julieta, agora só falta o veneno!

Cristiane: (sorri quase divertida) Só isto justificaria sua tristeza repentina diante minha viagem
de férias na casa de meus pais!...

/Pausa de silêncio/

Erick: (desajeitado e constrangido) ... Já estamos atrasados... me espera la na sala, é só o


tempo deu trocar a camisa...

Cristiane: Eu espero aqui mesmo!... Convivo com você nesta casa o tempo todo sem camisas!

/Ele fica desajeitado, caminha de um lado para o outro, sem saber de imediato o que
fazer. Balança as mãos num gesto característico de incerteza com a decisão de ter
que tirar a camisa na frente da garota/

Erick: Ok! Sem problemas.... é que...

Cristiane: ... É que...?

/Música " Sam Smith - Stay With Me" entra no áudio/

/Erick vira as costas para a garota, como que envergonhado. Dá alguns passos e
pega a camisa social que já está próxima, joga-a novamente sobre o módulo/cama.
Z
Com ambas as mãos retira a camiseta de forma lenta e harmônica à canção no
áudio. A garota dá alguns passos em direção do rapaz, que mesmo sem estar vendo
seus movimentos, a pressente. Vira-se rapidamente, colocando a camisa a sua frente
como a se proteger/

Erick: Não se aproxime de mim... por favor!

Cristiane: Erick, é preciso permitir que as pessoas se aproximem de nós!

Erick: Desculpe-me... não sei explicar... mas existe algo que me impede de estar com você
de forma natural... lembra do que tenho lhe relatado sobre as sessões de regressão de
memória que doutora Mirian tem me propiciado realizar...?

Cristiane: ... E do ponto que não consegue ultrapassar....

Erick: Tenho medo do que possa vir depois...

Cristiane: Porque não enfrentar? Fugir do problema nunca trouxe sua solução! E por mais
doloroso que seja, a verdade sobre nós é o alicerce mais seguro para erguer nossos
sonhos de felicidade....

Erick: Crês mesmo que devo prosseguir?

Cristiane: Vá, Erick, doutora Mirian está te propiciando atravessar a ponte de acesso a
retomada de seus sonhos...

/Pausa de silêncio/

Erick: Tenho medo que você possa se afastar de mim depois que souber das possíveis trevas
além daquele ponto...

Cristiane: Só se afastam de nós as pessoas que, em nenhum momento de nossas vidas,


estiveram realmente próximas!

/A moça caminha até a maleta que trazia a mão, abre-a e retira de lá um livro
caprichosamente embrulhado para presente e estende-o a Erick/

Cristiane: É um presente especial... porém, peço que o abra somente depois que tiver
ultrapassado aquele ponto delicado que as sessões de regressões te apresentam... este
presente te explicará muito sobre mim e sobre o que sinto e desejo pra você....

Erick: Gostaria que estivesse comigo nesta ultima sessão...

Cristiane: Quando eu retornar quem sabe já não tenha ultrapassado essa ponte que diz existir...
aí então poderá me responder sem maiores dificuldades se... está apaixonado por
mim!

Erick: (após um sorriso tímido) ... Perdoa-me, mas não conseguirei te responder isto
agora... porém não medirei esforços para atravessar a ponte... e... trazer pra você,
embrulhada como este presente, a resposta a esta pergunta... difícil....!

/Cristiane sorri. A música entra novamente no áudio. A moça pega a maleta às


mãos, voltando-se para o rapaz/
AA
Cristiane: Eu tenho uma resposta bem fácil pra te dar...

Erick: Resposta?

Cristiane: Sim!

Erick: Que eu me lembre, não ti fiz nenhuma pergunta!

Cristiane: Considere como uma sequência da sua possível resposta ao questionamento que te
fiz: eu estou apaixonada por você!

/A música aumenta o volume. Erick fica estarrecido e não sabe o que fazer, anda de
um lado ao outro, pega a camiseta pra vestir novamente, depois percebe que já está
vestido, procura as chaves.../

Erick: Onde estão essas chaves? (procurando nas próprias vestes do corpo)... as chaves do
carro... Você trouxe as chaves do carro?

Cristiane: Estão lá na sala! (com naturalidade)

Erick: Ah! Claro... Então!... então!... (procurando em vão por algo) os sapatos... os meus
sapatos, é isto! Você viu eles por aí? (Visivelmente encabulado)

Cristiane: Estão nos seus pés! (Num leve sorriso)

Erick: Ah! Sim... é... é... (tentando se recompor).... bem, eu acho que....

Cristiane: ... Já estamos atrasados!

Erick: Sim... há mais de seis meses... quero dizer, ha mais de seis minutos....

/Ambos param um de frente ao outro, porém guardando certa distância, e quando


ambos aproximam intencionando apaixonando, romântico e ingênuo beijo, entra
Elvira de súbito/

Elvira: Cristiane, você já está atrasada! Seu tio teve que sair com o carro, mas já chamamos
um taxi! Te acompanharei até o aeroporto...

Erick: Eu... não precisarei mais levá-la?

Cristiane: Mas pode nos acompanhar, se preferir....

Elvira: Não! Você não pode nos acompanhar! (virando-se para Erick) Tem aquela entrevista
de emprego que o Padre Tomaz nos indicou daqui a meia hora. É bom se apressar!
(voltando-se para Cristiane) Fique tranquila minha filha, que te acompanho, sem
problemas... Vamos, senão perdemos o voo!

/Elvira sai de cena/

Cristiane: ... O livro, a ponte e a sua resposta! São os nossos segredos!

/Cristiane caminha para ele intencionando dar-lhe um abraço, quando ele recua/

BB
Erick: Não quero que me abrace... me sinto sujo! Mas prometo que me esforçarei e quando
voltar, nada me impedirá de te responder todas as dúvidas e te agasalhar em meus
braços... (quase num sussurro)

/A música aumenta. Cristiane sai de cena. Erick abraça o presente fixando a frente
por alguns instantes. A música entra em fade-out final. Ele caminha para frente, fixa
o público de forma decidida/

Erick: (Subjetivo) Doutora Mirian, eu aceito prosseguirmos com a terapia de regressão!

Sequência 07: Regressão. A igreja livre de Cristo. O vencedor do leilão.


Personagens: Henrick – Monsenhor – Erick – Cristiane – Monges – Valmond

/Tudo se faz escuro de repente. Eventos de ventos, trovões, relâmpagos e


tempestades, em segundo plano surge fundo musical "Canto Gregoriano" para
ambientação psicológica para a cena/

/Os focos que destacarão os personagens na sequência a seguir deverão estar em


potência máxima de 5 a 10%, até segunda determinação. Em casos de
impossibilidade de utilizarem focos, usar iluminação geral na mesma proporção,
porém acrescentar leves efeitos de fumaça/

/Henrick está num dos focos com o olhar apreensivo a frente, tendo Monsenhor
Fabiano andando de um lado ao outro ou em torno dele. Não se preocupar se ora ou
outra ele ficar em sombras ou escuro/

Monsenhor: ...E então! Já ponderaste sobre o convite que a Madre Igreja te faz há muito para
ingressares nos postulados do sacerdócio?!

Henrick: Afeiçoo-me e encanto-me igualmente ao trabalho redentor proposto pelas hostes do


oficio cristão porém meu coração a cada tempo mostra-me outra vocação também
encantadora e agradável aos olhos de Deus!

Monsenhor: Acaso estás convicto que exista algo mais agradável aos olhos de Deus que servir a
Igreja?!

Henrick: Também creio que não, mas entendo que a Igreja se estende por todos os círculos da
atividade humana e que também o lar seja um braço importante que a sustenta!

Monsenhor: Seus argumentos trazem uma visão revolucionaria do que seja os serviços da Igreja
junto ao povo de Deus, jamais ouvi tal comparação! Não posso afirmar que seja
subversiva, no entanto, pode trazer dupla interpretação ao zelo da cúpula papal, que
certamente entende ser o oficio direto as hostes do Clero conforme o interpretamos e
executamos, o serviço mais nobre e agradável ao Todo Poderoso!

Henrick: Falo ao monsenhor por entende-lo amigo e zeloso de minha família desde os meus
tenros anos de idade. Sinto-me à vontade em narrar-te minhas experiências com
Liane junto aos mistérios Divinos! Acreditas que vemos e presenciamos os anjos do
Senhor pairar sobre as cabeças dos enfermos quando oramos por eles, assim como na
pentecoste dos sagrados escritos?! Luzes misteriosas ofuscam-nos a visão e uma
alegria que não se explica invade nossos corações?!... São por esses motivos,
acredita-me o Monsenhor, que nos alarga o entendimento dos serviços proposto pela

CC
religião; de certa forma, todos podemos igualmente servir a Deus conforme o
entendimento das Escrituras e ainda usufruir dos prazeres em família!

Monsenhor: Afirmas com isto que desfruta de visões privilegiadas do reino dos céus?

Henrick: Não as sinto como privilégios mas como o carisma pregado pelo apóstolo Paulo aos
Coríntios renovando-nos o entusiasmo e a fé no crescimento para Deus! ...

/Em marcação bem afastada da caixa cênica principal deverá estar Erick em estado
de Regressão de memória - fica a cargo da direção definir a melhor postura do ator
para que demonstre a carga emocional necessária/

Erick: (Subjetivo-On) ... Vejo que estou em acomodações privativas de um padre conhecido
e amigo. Ele se mostra zeloso e preocupado com minha vocação... mas algo me diz
que não é só esta a intenção que movem seus interesses sobre mim e sobre minha
família... chove muito, e o que mais desejo e voltar pra casa, mas as mãos dele
seguram meu braço, seguram meu braço... Ah! Meu Deus, meu Deus...! (Suspira
constrangido)

/Efeitos de trovões e chuva/

Henrick: Monsenhor, já se faz tarde e a tempestade pode nos reter aqui por muito tempo. Meus
pais já devem estar preocupados!

Monsenhor: O menino Henrick não tem porque se preocupar! Os senhores seus pais confiam-me
plenamente sua guarda e proteção. Afinal, estamos num lugar seguro e santo. Não
confias na proteção do senhor mesmo quando sob teto sagrado do divino templo?

Henrick: Confio, sim senhor! Porém cai a tarde e a noite logo se fará impossibilitando-nos o
retorno de charrete pelas estradas tortuosas que nos leva às propriedades do campo!

Monsenhor: Então podes ficar mais esta noite ainda aqui conosco! Não me incomoda tê-lo em
meus aposentos! Te mostrarei o prazer e o conforto que desfrutarás aqui bem como a
segurança e o orgulho a sua nobre família por ter entre os seus uma autoridade
eclesiástica que, com certeza, logo te tornarás!

Henrick: Ser-me-ia de bom agrado a convivência com o estimado Monsenhor, porém prometi
a minha prima Liane retornar sem demora para visitarmos um casal de amigos que a
febre teima em resistir... quem sabe se orarmos por eles, conceberemos a graça da
cura!

Erick: (Subjetivo) ... Sim, eu quero voltar e o que mais desejei foi sempre voltar para minha
família e para os braços daquela que fazia meu coração vibrar no mais puro
sentimento pela vida e pelo próximo... com ela o prazer de viver a Igreja livre e santa
era completo, pleno e intenso...

/Música " Aethera Et Terra" entra no áudio/

/Cristiane com vestes idênticas a de Liane, grita-lhe sorridente por entre o público
ou se preferir a direção, no outro extremo das coxias/

Liane: Henrick... venha!

Henrick: (Abre num sorriso intenso) Liane... Liane minha querida... espere por mim!
DD
Liane: Eu espero e esperarei por você sempre... venha, vamos viver o nosso amor e a nossa
fé na Igreja livre que o Cristo veio implantar em nossos corações!

/A música se faz intensa. Canhões de luz em forma de flashes voltam-se para a


plateia e a banha de variados tons coloridos belos e festivos. Henrick salta do palco
correndo ao encalço da garota, envolve em seus braços, rodopiando-a para logo
depois sair correndo para outra extremidade, abrindo os braços/

Henrick: Rejubilemos na nossa igreja livre....

Liane: Divulguemos o reino dos céus a todos os corações! O Espírito do Senhor está
conosco! Não há o que temer! Deixemos brilhar nossa luz diante dos homens e
diante de Deus!

Henrick: Imponha as mãos aos que sofrem e aliviem suas dores; console os desesperados e
tende misericórdia para os que margeiam nos escombros do ódio e da vingança, pois
bem aventurados sereis quando vos transformardes em promotores da paz porque
sentireis vossa origem divina e por isto sereis chamados filhos de Deus!

Liane: Esta é a Igreja livre que o Cristo veio nos ensinar...

Henrick: Que suas bases seguras se ergam nos céus de nossa consciência e faça aí brilhar os
sonhos da mais pura felicidade.

Liane: Eu vos dou a minha paz, eu vos deixo a minha paz, disse o senhor... eu te dou o meu
coração e vos deixo o meu amor para sempre!

Henrick/Érick: Liane, eu te amo... eu te amo! (diz o texto em conjunto)

Liane: Sim, Eu também te amo e só a Igreja livre do Cristo nos garantirá perpetuar o nosso
amor por toda eternidade!

//Henrick corre ao encalço da moça que se encontra próxima da coxia de saída, e


envolve-a num terno abraço, ocultando-se nas coxias/.
/Musica Gregoriana. Enquanto isto no palco vemos vários monges beneditinos
fazerem genuflexão e logo após deitarem ao chão de bruços. Fabiano está no meio
deles, permanece em pé e por entre a música gregoriana que se faz vemos Valmond
entrar e pegar das mãos do Monsenhor uma bolsinha com moedas. O rapaz vibra de
contentamento diante do pagamento, em seguida faz genuflexão beijando as mãos do
Padre, saindo a seguir. Os Padres (com capuz tipo franciscanos) estão levantando-
se e dispersam-se saindo por várias coxias sem mostrar os rostos. O blecaute é
geral. Passamos a ouvir a voz embargada e sofrível de Erick durante a sessão de
regressão//

Erick: (Subjetivo)... Fez-se noite por entre o sol de nossas esperanças! Depois das trágicas
perseguições que julguei serem impostas por denúncias anônimas às autoridades
inquisitoriais em que nos vimos endividados e saqueados, senti-me como responsável
por encontrar uma saída que pudesse salvar a todos que amava... foi quando apareceu
Valmond com proposta que, apesar de imoral, sinalizava como possível porta de
saída a prisão que nos encontrávamos... seria apenas uma noite nos braços de uma
possível dama da corte imperial sedenta de prazer e aventura... só não imaginava que

EE
o arrematador seria aquele monsenhor asqueroso e nojento que jamais desistiu de ser
dono e senhor de minha vida e de meu destino...

/Volta a luz no palco. A mesma cena do início quando entra Fabiano de Monte Carlo
no quarto de Henrick após o remate de leilão, agora dando sequência/

Henrick: (Surpreso) Monsenhor Fabiano de Monte Carlo!?... Meu Deus, estarei num
pesadelo?

Monsenhor: Espero que doravante ponderes um pouco mais sobre os alvitres do caminho bem
como às soluções que o Senhor nos apresenta mesmo quando enlouquecemos nos
devaneios da vida! O que tens a me dizer?

Henrick: Que a Igreja desmoronou sobre minha cabeça, senhor! E o que sempre me pareceu
sagrado e inviolável agora amealhou-se na lama do profano e do sórdido. Que deseja
o prezado Monsenhor colher dos frutos de sua dedicação a minha família, onde
sempre representou a presença amiga e fraterna d'Aquele que um dia nos ensinou a
dedicação esmerada de nos transformarmos em verdadeiros servidores. Que, de
maneira conivente, demonstra o verdadeiro interesse da Igreja e seus representantes
sobre seu povo: às sovinices e a buscas frenéticas de prazeres da carne transitória e
podre, tão podre quanto aqueles que a tem como objeto principal e sonhos primeiros!

Monsenhor: Articulas muito bem as palavras e mesmo quando enfurecido mantém o controle, o
esmero e a nobreza dos verdadeiros cristãos, por isto o meu interesse exacerbado por
ti. E posso lhe afirmar que foi esse interesse que me levou a protegê-lo das atitudes
insanas e incompreensíveis que tomaste como solução dos problemas que enfrentam!

Henrick: Minhas atitudes insanas de agora não abalam meus valores morais e meu
entendimento sobre as lições que vislumbro nos sagrados escritos, pois são elas
frutos de meu desespero e móvel de meus sentimentos de amor e proteção aqueles
que são a razão de meu existir...

Monsenhor: Trinta mil francos é uma boa paga pelos seus valores, não acha!?

Henrick: Sim, Monsenhor, ou senhor, ou ainda, se lhe for mais prazeroso, apenas Fabiano!
Trinta mil francos serão suficientes para quitar a divida com o Tribunal inquisitorial
e te proponho ainda uma negociação: devolver-te o restante para que te mantenhas
longe de mim e de minha família...

Monsenhor: Os valores que construímos no coração são impagáveis, meu jovem Henrick! Tê-lo
em meu colo desde os tenros anos da infância, vê-lo crescer e se fazer homem,
depois alimentar esperanças de vê-lo erguer-se para Deus e para a Igreja conforme os
ideais que cultivei... isto sim, são valores impagáveis!

/Pausa de silêncio/

Monsenhor: Não argumentas mais nada?! As palavras que saem de sua boca materializando os
víeis de sua aguçada inteligência e o perfume de seus sentimentos inocentes e puros
conduzem-me a um céu inenarrável de venturas e felicidades...

/Henrick começa a retirar a veste superior de seu figurino (camisa de manga solta,
rendada e trançados de cordão a altura do peito/

FF
Henrick: Perdoa-me o monsenhor mas estou ansioso para lhe saldar o lance generoso e depois
não vê-lo nunca mais por toda minha vida!

Monsenhor: Acredita-me perjuro e cruel a ponto de te arrematar num leilão imoral e adúltero sem
que propósitos dignos movessem-me a esta atitude extrema?! Pois, vista suas roupas!
Se aqui estou não é para te arremessar às valas de um prostíbulo imundo, mas sim,
resgatar-te a dignidade nos serviços iluminativos da fé, provando-te mais uma vez
meus mais bem-intencionados sentimentos. Só há um caminho digno para homens
sinceros e devotados como eu e você: o serviço e a abnegação aos desígnios da fé de
forma definitiva e irreversível.... Renuncia aos prazeres da carne e venha assumir o
que há muito o senhor lhe tem reservado...

Henrick: Então o monsenhor induz-me a acreditar que vieste a um cabaré disputar lance a
lance o leilão de um inocente camponês porque traz o coração condoído de piedade,
arrependido e cheio de boas intenções?!

Monsenhor: Agi sim, duramente com todos vocês, mas atrás desse gesto estava um homem
entregue ao sacrifício e a dor: intercedi junto ao tribunal a favor de sua família
procurando justificar as primeiras denúncias de heresias e perjúrios que impetraram
contra vocês. Apesar da proximidade, o Arcebispo incumbiu-me como prova de
fidelidade a Igreja, que eu executasse diretamente o andamento e aplicação da lei e
redigisse a bula condenatória...

Henrick: Doze mil francos!

Monsenhor: Ou sua adesão aos serviços do Santo Oficio! Sua influência na opinião popular, sua
sagacidade e inteligência, bem como a forma inovadora de interpretar os ensinos do
Evangelho fizeram com que as autoridades eclesiásticas se interessassem por você...

Henrick: Monsenhor Fabiano de Monte Carlo, não tenho interesse em servir a Igreja nos
moldes com que ela está sendo conduzida nos tempos de agora. E se tenho que pagar
um preço pela minha liberdade e de minha família, este preço eu estou disposto a
pagar mesmo que seja na condição de continuar retirando minhas roupas para saudar
o arremate de um leilão... Se estas bem intencionado como afirmas, pega essa quantia
e quite a divida com os tribunais! Se para deixar a mim e a minha família em paz é
ouro que eles querem, que o tenham da pior espécie!

/Henrick toma da bolsa com moedas e estende ao Monsenhor. Blecaute/

Erick: (Subjetivo) Devolvi a quantia para aquele que se dizia nosso defensor e amigo junto
as perseguições da Igreja. Porém, para trágica surpresa, as perseguições se
multiplicaram e agora desejavam tudo que tínhamos... (começa a gritar por entre o
escuro que se faz indo de um lado ao outro) fogo! ...atearam fogo em todas as nossas
casas... tudo arde em chamas... queimaram nossas plantações e mataram minha
mãe... Arrrrhhhhh! - (em gritos de fúria).

/Foco destaca Henrick desesperado numa cadeira, esfregando cabelos e braços


envoltos em revolta e fúria/

Henrick: .... Arrrrhhh! Desgraçados, demônios miseráveis! Destruíram nossas vidas... mataram
minha mãe, mataram meus irmãos... todos estão mortos! ... (chora desesperado)

/Surge Fabiano de Monte Carlo com expressão de profundo pesar/

GG
Monsenhor: Henrick!

Henrick: (Vira para o homem com extremado rancor) Suma de minha frente ou sentirá o peso
de meu ódio e de minha vingança!

Monsenhor: Por mais desacredite que eu esteja de teu lado, reconsidere e ouça-me!

/Henrick saca de uma arma/revolver mirando para Fabiano/

Henrick: Há muito eu devia ter feito isto!...

Monsenhor: Podes até disparar e por fim a minha vida, não importa, porém venho te prevenir dos
planos nefandos que articulam dar prosseguimento caso recuse a proposta do
Arcebispo; e pelo que sei, a determinação já não procede de iniciativa da diocese
local, mas do sumo pontífice! Eles jamais desistirão de você... infelizmente! Caso
continue resistindo ao pedido de clemência e arrependimento, planejam aprisionar a
jovem Liane e levá-la a fogueira inquisitorial, transferindo-a para Espanha onde o
veredito em caso de condenação por heresias e bruxarias é irreversível e sem
apelação, nem mesmo sob clemência de autoridades imperiais, que quase sempre
lhes são coniventes!

/Henrick desaba emocionalmente. Aos poucos abaixa o revólver e chora


copiosamente/

/A iluminação cai de tonalidade. Entra dois ou três padres que vestem um hábito em
Henrick, conduzindo-o para o centro do palco. Fabiano aproxima dele, faz uma
expressão de confiança, abraça-o num cumprimento cortês, logo após segura-lhe
pelos braços, num leve sorriso de aprovação por sua decisão/

Sequência 08: Henrick assassina o Monsenhor e vai ao encontro de Liane.


Personagens: Erick – Henrick – Monsenhor – Liane

/Voz de Erick por entre o blecaute que se estabelece/

Erick: ... Por favor, não quero encostar nessas paredes úmidas! O cheiro de mofo está por
todos os lados... estou deitado num ataúde sobre cobertores amassados e rudes. Uma
luz bruxuleante entra pela fresta da janela e reluz num crucifixo grande de madeira
onde a imagem do crucificado já se quebrou... a porta daquele local, que se diz um
dormitório, abre-se... e novamente vejo aquela mesma face a me sorrir... é o mesmo
monsenhor... agora ele entra ali quando quer e já não precisa de sacolas a peso de
ouro...nem disputas em leiloes, agora ele entra ali porque isto é bom e agradável aos
olhos de Deus... e sua dedicação a mim será para sempre! ... (sussurra) ... Preciso
tomar banho... preciso esfregar... me esfregar... limpar meu corpo e minha alma
impregnadas dessas mãos imundas que ostentam anéis de votos de castidade e ergue
as escrituras santas...

/Caminha para outro extremo do palco e sua voz parece mais opressa/

Erick: Doutora, conseguirei ultrapassar esse ponto?! Uma força avassaladora empurra para
eu desistir... mas não posso... tenho que prosseguir.... diviso a ponte que devo
atravessar... preciso atravessar....

HH
/Por entre a luz tênue que vem ao palco, vemos Henrick arrastar Fabiano de um
lado ao outro exaltado e em fúria/

Henrick: Eu te odeio, eu te odeio e odiarei sempre! Você me transformou num bicho e minhas
garras vão atolar na sua garganta miserável fazendo-a silenciar para sempre!

Monsenhor: O que aconteceu para enlouquecer deste jeito!?

Henrick: Eu descobri tudo! Valmond, aquele abutre me confessou no leito de morte, suas
tramas! O leilão foi previamente combinado, ele já sabia quem iria arrematar; nunca
houve denúncias de vizinhos e o santo oficio nunca tomou iniciativas para impetrar
as malditas bulas contra minha família. Todas as ordens, denúncias e bulas nasceram
de sua mente doente e diabólica a incitar o clero a promover! Você sempre desejou
se apoderar da minha vida... abutre miserável, levante-se que vou ter o prazer de te
mandar para o inferno, de onde você nunca deveria ter saído! ...

/Na escuridão que se faz ouve-se os gemidos de Fabiano/

Erick: (De maneira sofrível) Ah! Doutora, minhas mãos estão manchadas de sangue e
minha alma marcada para sempre... resta-me correr... correr... pra onde essas ruelas
me levarão....?

/Efeitos de trovões, chuvas e relâmpagos entra em áudio ativo. Aos poucos mixa a
música gregoriana que vai assumindo volume alto e emocionante em toda cena/

/Foco destaca a figura de Henrick com hábito de sacerdote, molhado pela chuva, em
expressão de estar correndo célere por entre as ruelas. Manchas de sangue está por
toda a face. Respira com dificuldade de forma ofegante. Quando entra Liane
abruptamente em foco central que se abre/

Liane: Deus meu! O que lhe aconteceu, Henrick?

/Ele entra no foco onde está a moça, totalmente transtornado, limpando a face e
parte dos lábios/

Henrick: Enlouqueço de revolta. Tenho o coração cheio de ódio e só a vingança poderá


aplacar a fúria que trago na alma... Ele conseguiu me destruir, me tirou tudo e acabou
com minha vida!

Liane: O que foste capaz de cometer se traz as mãos manchadas de sangue?

Henrick: Vinguei todos nós matando aquele que nos roubou a felicidade...

Liane: Henrick, como pudeste perder nossos valores desta forma? Ninguém nos rouba a
dignidade e a fé se elas fazem parte verdadeiramente de nossa alma...

Henrick: Ele roubou nossos sonhos de família, nossos filhos que jamais vieram e nossa alegria
de viver uma igreja livre conforme concebíamos nos ensinos primeiros do
carpinteiro!

Liane: Não amado meu, ninguém nos rouba os laços de família, porque eles se formam em
nossos corações ao longo das nossas experiências, nossos filhos são todos aqueles a
quem podemos estender proteção e amor e a Igreja livre que almejamos cultuar a

II
divina gratidão ao Criador é a nossa consciência em Paz com o dever retamente
cumprido!

Henrick: Reprovas-me, reprovas-me! (desesperado, andando de um lado ao outro)

Liane: Não te reprovo, compreendo-te! Porém não posso aquiescer-me com as decisões
infelizes que o teu desespero te conduziu....

Henrick: Não me aceitas, é isto? Repudias-me como assassino vulgar, declarando jamais poder
estar de meu lado! Tudo que planejamos e o amor que um dia vivenciamos não
passou de mentiras idênticas às daquele verme de batinas!

Liane: Não te condeno apenas lastimo nossos destinos e os rumos que demos para eles
apesar do ponto de vista de sofredores e vítimas. Eu te aceito sim, como alguém que
amarei sempre! Porém, não posso estar de teu lado nas mesmas condições de antes se
atualmente tenho um esposo e uma família por honrar e proteger...

Henrick: Ahrrr! (solta gemido de revolta esmurrando o espaço a sua frente)

/Henrick respira fundo, procura se recompor, olha as próprias mãos, depois vira-se
caminhando para sair, quando a moça o interrompe/

Liane: Espera...
/Henrick volta-se para a moça/

Liane: ... Pra onde você vai? (com profunda tristeza)

Henrick: Para os braços da família a quem me resta pedir amparo e proteção: As tabernas e
cabarés incontáveis deste condado!

/Eles saem e desfaz-se a cena. Foco tênue recai sobre Erick distendido sobre um
divã, um tanto ainda agitado/

Erick: ...vejo-me caminhar pelas ruelas incontáveis do vilarejo... /Sons de sanfona francesa
entra como ambientação/...sons de sanfonas em notas abafadas e distantes... caminho
naquela direção... vejo uma taberna, aproximo e bato na porta de madeira maciça que
logo de imediato se abre... uma mulher de sorrisos largos, roupas decotadas e visível
estado de embriagues me reconhece de imediato, dando-me as boas vindas... ouço
sua voz debochada dizendo: "Sabia que o camponês nunca teve vocação! Seu destino
era mesmo acabar aqui no meu salão!"... Reconheço sua voz e sua face não me é
desconhecida... Como pode ser?! É Mara... a irmã doente e desequilibrada de
agora... A mesma sedutora das festas luxuosas e ricas do ontem, que ali estava
abrindo-me as portas dos becos e das viciações incontáveis...

/O som de sanfona francesa perdura ainda por algum tempo. Blecaute ocorre de
forma gradativa e definitiva/

/Por entre o escuro que se forma, ouve-se a voz de Erick um tanto mais livre e feliz/

Erick: (Subjetivo-off) Senti que aquela era uma das últimas sessões de regressões que me
submeteria devido uma sensação de liberdade e entendimento invadir minha alma.
Inúmeras dúvidas e conflitos pareciam ter encontrado suas respostas e suas soluções
dentro do recôndito de minhas próprias emoções! Agora compreendia que a melhor
forma de vencer obstáculos é enfrentá-los, desalojando-os dentro de nós mesmos!
JJ
Sequência 09: Atravessando a ponte.
Personagens: Dançarinos – Mirian – Repórter – Câmera-man – Erick

/Música contemporânea entra no áudio. Luzes fortes e brilhantes predomina. Os


mesmos dançarinos da coreografia podem estar entrando e saindo, organizando o
espaço e adicionando alguns acessórios que indiquem luz para fotografia e
filmagens. Um rapaz (reporte) coordena a entrevista, dando orientação de ângulo
para um câmara-men; outro entra segurando uma haste com microfone a ser
utilizado à distância/

/Entra em cena Dra. Mirian (uma profissional de fisionomia bem jovem), vestida à
social, porém sem perder a naturalidade e simplicidade/

Repórter: Doutora Mirian, seja bem vinda! Estamos um pouco atrasados para a entrevista, mas
não tardaremos a dar início! (Sorriso)

/Aproxima cumprimentando a mulher, que retribui num sorriso/

Mirian: Obrigada! Fiquem à vontade. Aguardarei sem qualquer incômodo! Antes de tudo
agradeço pelo convite! É sempre um prazer colaborar com os avanços da ciência...

Repórter: Ciência que nem sempre tem ciência dos avanços incontestáveis e inevitáveis de si
mesma! (Brinca com as palavras)

Mirian: Faz parte do processo cientifico humano surpreender-se com o inusitado e muitas
vezes indiscutível! Aí chegamos a conclusão que a melhor forma de contestar uma
descoberta cientifica é apresentar outra igualmente racional, maior e incontestável...

/Ambos sorriem, cumprimentam-se descontraídos, enquanto simultâneo a isto


adentra duas bonitas cadeiras (onde repórter e entrevistada se acomodam), câmara-
men se posiciona, microfone de haste e estendido, tudo fica pronto de repente para o
inicio da entrevista/

Repórter: (Olha para os companheiros auxiliares) Tudo pronto?

Câmera-man: Perfeito! Vamos lá... Um...dois…três: gravando!

Repórter: Estamos entrevistando hoje a doutora Mirian Grouber, psicoterapeuta que trabalha
com técnicas de regressão de memória; atividade esta que vem sendo alvo de
curiosidades, pesquisas e estudos de variados profissionais da saúde, bem como de
renomados cientistas e pesquisadores da nossa atualidade nas mais diversas e
renomadas universidades americanas e europeias. Diante deste quadro, questionamos
a doutora: Por que associar a tese da reencarnação às práticas de tratamento
psicológico, psiquiátricos ou mesmo de tratamentos rotineiros da área de saúde?!

Mirian: A reencarnação funciona para nossas dúvidas e pesquisas semelhante ao emprego de


reticências onde acreditávamos cabível um indiscutível ponto final. Aponta-nos
novos horizontes onde acreditávamos o fim do túnel. E para muitos de nós,
representa a insegurança que não queríamos enfrentar! Pois é muito mais cômodo
fechar teses que admitir que minhas conclusões podem não passar de simples ponto
de vista extático, suscetível às transformações dependendo do ângulo em que eu me
posicionar...
KK
Repórter: Com isto a senhora afirma que um mesmo quadro clinico deve admitir vários
diagnósticos?!

Mirian: Várias probabilidades ou caminhos para se chegar a cura ou ao restabelecimento da


harmonia psicofisiológica que é o fim que todos almejamos. Este é o melhor
prognostico que a medicina atual tende a aplicar!

Repórter: Qual a maior barreira que a senhora reconhece atualmente existir para que teses
espiritualistas sejam adotadas e aceitas em escala maior pelo colégio cientifico da
atualidade!

Mirian: Acredito que seja a negligencia do Homem em aceitar suas próprias limitações e
fragilidades! Sem humildade para aprender não se avança no entender. Por outro
lado, é preciso termos coragem para enfrentarmos os entraves do preconceito, do
exclusivismo e dos inúmeros equívocos oriundos do orgulho e do egoísmo
responsáveis por nos manter na instabilidade diante às descobertas dos novos
caminhos. É preciso nos abastecer de simplicidade e espírito de solidariedade, pois,
somente assim, conseguiremos conquistar outros horizontes...

Repórter: Com isto podemos concluir que...

Mirian: ... que verdades são janelas que se abrem dando acesso a outras infinitas janelas e
assim sucessivamente; levando-nos a concluir que, somente os que reconhecem nada
saber, sabem muito mais do que aqueles que se julgam tudo saber! ... (Num sorriso
amigável)

/Música ambiente entra no áudio dando a entender que a entrevista se alongou. Em


movimentação simultânea o quadro da entrevista é desfeito com naturalidade e deve
terminar com Mirian se despedindo do repórter num sorriso e, enquanto o rapaz é o
ultimo a sair de cena, um corredor de luz volta a se formar vindo das coxias/

/Vemos Erick entrar com passos lentos, estacando-se logo a seguir/

Erick: Doutora Mirian!

/A mulher se volta num sorriso surpresa com a presença do rapaz/

Mirian: Erick!?... Surpresa com sua presença!

Erick: Desculpa-me! Posso estar atrapalhando. Talvez eu não devesse ter vindo mesmo...

Mirian: Quando vamos a algum local nunca devíamos não ter ido ali, pois se ali fomos e
porque ali teríamos que ter ido! Mas fique à vontade, sente-se!

Erick: (sorri) A senhora é ótima no jogo das palavras! (Sentando-se)

/A mulher caminha até determinado local, apossando de seu avental branco e


vestindo-o com certa elegância e beleza/

/Ela senta-se, cruzando ligeiramente as pernas. Erick olha para elas, e tenta
disfarçar a indiscrição/

LL
Mirian: A que devo a honra de sua visita? Creio que não temos nenhuma agenda clinica
marcada para hoje...

Erick: Realmente não temos, doutora! E estou certo que aquela foi nossa última sessão de
regressão! Eis o motivo deu estar aqui...

Mirian: Não lhe foram satisfatórias? Deixou-lhe algum trauma... algum conflito pendente? Se
perceberes a existência ainda de alguns, devo lhe assegurar que eles fazem parte
natural do caminho e na maioria das vezes figuram como desafios positivos e
necessários ao nosso crescimento!

Erick: Não posso negar suas afirmativas devido os meus, apesar do aparente sofrimento
causado em mim; foram com certeza, instrumentos indispensáveis para uma nova
visão a respeito do universo que me cerca. Mas... sabe doutora, eu tinha que vir falar
mais uma vez com a senhora; só que desta vez, distante de suas técnicas
profissionais...

Mirian: Então não deveria ser aqui em meu consultório! Mas numa lanchonete, num
barzinho! (Sorri) A maioria das pessoas pensam que nós médicos não frequentamos
lugares comuns: vivemos só vestidos de branco, com agulhas e seringas nas mãos,
vagando nos corredores e CTI’s de infinitos hospitais!

Erick: (sorri mais feliz) ... E olha que... eu também pensava assim! Mas, vamos ao que
interessa. Não aguento mais segurar a ansiedade, além de que suas respostas poderão
me ajudar ainda mais!

Mirian: Fico feliz por poder ajudar! Mas, vamos, fale!

/O rapaz suspira, profundamente, coloca a cabeça quase rente as coxas e as mãos


na nuca, para logo a seguir erguer a face fixando a mulher/

Erick: Suas sessões piraram minha cabeça! ... (ela sorri) É, não ri não, pois é a mais pura
verdade! Fazendo um retrospecto: cheguei aqui graças a indicação de uma amiga de
minha mãe que soube de seu trabalho voluntario e gratuito e, para minha surpresa...
foi realmente uma surpresa descobrir que a terapeuta era a senhora! Quem diria,
hem?! (Com ligeira expressão de admiração a quase ironia) ...mas isto não vem ao
caso agora... (sorri ligeiramente) .... Cheguei aqui cético, perturbado, vendo visões,
ouvindo vozes, descrente em reencarnação e mediunidade... Hoje, como não
acreditar em reencarnação se a comprovação veio através de minha própria
conjuntura mental e emocional? Sem acrescentar seus métodos científicos que um
dia a ciência oficial há de render-se, convencida! Mediunidade, então?! Como não
crer que ela existe se depois de todo tratamento ainda continuo vendo e ouvindo os
mortos?!... (Sorri)

Mirian: Os mortos?

Erick: Não... digo, os... esses caras que estão do outro lado! Se são mortos, então
esqueceram de deitar e continuam dando uma de vivos alugando a cabeça da gente!
(Ironiza)

Mirian: Seu bom estado de humor denunciam-te os tempos novos em que te encontras...

Erick: Por que a senhora não disse: "Denunciam a minha cura?"

MM
Mirian: Porque você não estava doente! Estava apenas precisando de orientação e de alguém
que te auxiliasse a atravessar a ponte! ...

/Música entra no áudio. Erick ergue-se da cadeira, anda de um lado ao outro/

Erick: Tenho dúvidas cruéis se consegui realmente atravessar aquela ponte...

/Senta-se rapidamente/

Erick: Eu sei que não devemos ficar fazendo comparações de pessoas do ontem com as
possíveis do hoje, mas no meu caso, acho importante, quase que necessário para que
eu me sinta realmente do outro lado da ponte... Tenho certeza de algumas pessoas
como por exemplo minha prima Cristiane de hoje é a mesma Liane do passado; o
mesmo sentimento e os mesmos sonhos reavivam a cada instante... Minha irmã
Mara: a mulher inconsequente e viciada terminando seus dias comigo nas sarjetas...
Vinícius, é o mesmo Valmond que me trapaceou e leiloou sem quaisquer
escrúpulos... Minha mãe do passado vejo-a como anjo protetor auxiliando a
família.... Mas algo me incomoda muito, doutora... Onde estará Monsenhor Fabiano
de Monte Carlo?!... Tenho uma suspeita e isto me deixa muito mal.... Resta-me,
doutora duas pessoas: meu pai... e.... minha mãe Elvira!

Mirian: Ser-lhe-ia muito sacrifical aceitar que Fabiano de Monte Carlo continuasse tão perto
e de posse da influência sobre sua vida, seu destino e até mesmo sobre sua
felicidade?!

Erick: Não posso admitir... não posso! Minha mãe sempre me desprezou, me menosprezou
e espancou desde os tempos de menino... seria justo Deus me colocar a mercê de
meu pior inimigo?!

Mirian: Não estaria ai a misericórdia de Deus dando oportunidades novas tanto para a vitima
como para o algoz? A vitima de perdoar e reconhecer que na vida somos
dependentes uns dos outros, mesmo daqueles que aparentemente se colocam como
adversários ou instrutores, e o algoz para reavaliar suas atitudes e aproveitar a
oportunidade para refazer caminhos, plantar flores onde semeou espinhos ou...
restituir saúde onde instalou o desequilíbrio e a doença!?

/A mulher cruza as pernas num gesto natural, mas que não fica novamente
despercebido de Erick/

/Logo a seguir levanta-se da cadeira um tanto desconcertado diante a indiscrição


dos olhares para as pernas da profissional/

Erick: ... Sinto que não devo tomar mais o seu tempo! ... (suspira) Sabe, doutora... no fundo
eu sinto que não importa quem seja agora Monsenhor Fabiano de Monte Carlo pois a
senhora me ajudou a resolver os conflitos que retive por todo este tempo... e aqui
dentro do meu coração, a única certeza que tenho é de ter definitivamente
atravessado a ponte e estou pronto para os novos tempos e novas conquistas...

/Mirian ergue-se da poltrona e estende-lhe as mãos, num sorriso/

Mirian: Você é um de meus pacientes que mais me entristeceu chegar a última sessão...
aprendi muito com você... Posso lhe dar um abraço? (Num leve sorriso)

Erick: Claro, doutora! (Descontraído)


NN
/Música suave e romântica entra no áudio. Se abraçam ternamente, depois ele se
afasta rumo as coxias e antes de sair ela o intersecta/

Mirian: Erick... espera! ...

Erick: (Ele se volta e a fixa com olhar intrigante) Vai perguntar para onde eu vou?!

Mirian: (Sorri ligeiramente) ... Apenas te pedir que não me chame mais de "doutora"...
(enfia a mão no bolso da jaqueta, retirando um cartão de visitas) ... Mudei daquele
apartamento, aqui tem meu novo endereço. Se quiser aparecer por lá qualquer hora
desta ficarei feliz... só que desta vez tenho certeza que não me cobrará a visita e os
serviços da noite! (Sorri ligeiramente)

Erick: .... Prometo que da próxima vez será tudo por cortesia da casa! (Num breve sorriso e
mostrando com as mãos em direção aos órgãos genitais) .... Não cobrarei nem a
intermediação de Vinicius que naquela noite me cobrou comissão de cinquenta por
cento! (Sorri ligeiramente) Só que ele não sabia que estava me colocando no
caminho daquela que auxiliaria na solução de meus conflitos, devolvendo-me a
saúde, o equilíbrio e a paz!

Mirian: Pra você ver como funciona a justiça e a misericórdia da reencarnação, propiciando
ao algoz do ontem a sublime oportunidade de restituir saúde onde instalou o
desequilíbrio e a doença!

/A mulher sorri e sai caminhando para coxia contrária, como se retornasse para o
interior de seu consultório. Erick a acompanha com o olhar e seguindo até próximo
das coxias. Para de repente, passa a mão no queixo e, em seguida, acaricia
ligeiramente os órgãos sexuais, numa expressão maliciosa e quase irônica/

Erick: (Pensativo em quase sussurros) ... Doutora Mirian! ... ou simplesmente Mirian! ...
tocou-me o corpo antes mesmo de tocar-me a alma e conhecer meus conflitos e
dores... por todo este tempo me auxiliou, mas também me cortejou... (Vira a cabeça
pensativo e intrigado, de repente começa a abrir um sorriso malicioso) Não!
(Admirado).... Meu Deus! Eu não posso acreditar! ...Como não consegui deduzir isto
antes?!... É ela...Ela é o mesmo Monsenhor Fabiano de Monte Carlo e esteve o
tempo todo ao meu lado... e eu não o reconheci! Tudo parece tão lógico e perfeito.
Somente agora que atravessei a ponte definitivamente que os séculos nos aproximou,
vítima e algoz para que ambos avançássemos para Deus! (Ligeiramente pensativo,
intrigado e sorridente) ... Como não saquei isto desde o primeiro instante, como?!!! !
Meu Deus, como eu sou burro!!!... (Irônico a quase debochado).

/Sorri divertido e feliz caminhando para sair.../

FINAL: Reencontro com Cristiane e o presente.


Personagens: Cristiane – Erick – Liane e Henrique.

/Surge Cristiane que poderá vir de vários ângulos, de acordo com a opção da
direção, como: do fundo da plateia, por entre o público, das laterais ou da coxia
contraria a que Erick se encontra. Trás a mesma maleta e figurinos leves, suaves e
claros. Se for do fundo da plateia - canhões de luz coloridas devem bailar de um
lado ao outro durante a sequência cênica abaixo/

OO
Cristiane: Erick! (Diz de maneira divertida e sorridente) .... Espere! ...

/Música " Aethera Et Terra” começa a entrar no áudio/

Erick: Cristiane?!... Meu Deus, é a Cristiane!

Cristiane: Você abriu o meu presente?

Erick: O presente... o presente... (andando de um lado ao outro) ... eu abri...ou melhor... eu


vou abrir... mas primeiro preciso achá-lo! (Procura por todos os lados, enquanto a
moça sorri divertida)

/O Livro voa das coxias para as mãos de Erick ou ele encontra o presente ainda
embrulhado por entre o cenário. Afoitamente retira laços e papeis que o prendem e
estarrece diante a surpresa, fixa boquiaberto o livro na sua mão/

Erick: Você me ocultou isto por todo o tempo? Como pode?!... E o que significa isto?
(Erguendo o livro)

Cristiane: O livro? (Sorri, divertida)

Erick: Sim, o Livro! “Vidas Passadas: quem éramos e quem somos!” /Admirado/

Cristiane: Não é apenas um livro, são conceitos de liberdade, de amor e fraternidade para nós
humanos de todos os templos e de todos os tempos! Foram esses ideais que avivaram
meu coração na esperança de podermos viver a Igreja Livre dos tempos de agora...

Erick: Então você sabia de tudo o tempo todo, por isto compreendeu, amparou e esperou!

Cristiane: Sim, você tinha que atravessar a ponte a sós com sua consciência e com seus
valores... Eu estaria do outro lado te esperando para prosseguirmos do ponto onde
paramos no passado longínquo... Venha, meu querido, venha!

Erick: (Abre num sorriso intenso) Cristiane... Minha adorada Liane ... espere por mim!

Cristiane: Eu espero e esperarei sempre... venha, vamos viver a nossa fé na Igreja livre que o
Amor implantou definitivamente em nossos corações!

/A música se faz intensa. Erick salta do palco correndo ao encalço da garota,


envolve em seus braços, rodopiando-a, logo depois sai correndo para outra
extremidade, abrindo os braços/

Erick: Será possível uma Igreja Livre que reúna toda a Humanidade?

Christiane: Sim, o amor é o templo onde todos se reúnem para celebrar a vida!

Erick: Diante tantos livros sagrados que possuímos, qual o melhor a seguir? (Confuso)

Cristiane: O que trazemos na consciência! Nele está toda a Lei, santos e profetas!

Erick: Cara, tudo me parece muito incrível. Mas como encontrar motivação para tanta
interação com Deus?

Cristiane: O coração sustentará tua fé e apontará os novos caminhos!


PP
Erick: Ai, meu Deus, que saco! Mais caminhos?!

Cristiane: Os de sempre! Aqueles que levam o meu coração ao teu, o teu ao meu e os nossos
aos deles! (Sorrindo e mostrando para o público). Vamos! Preguemos o reino da paz
e da felicidade a todos os corações! Amemo-nos uns aos outros e façamos a todos o
que queremos que nos façam.... Brilhe a nossa luz diante dos homens e diante de
Deus!

Erick: ...(Erguendo os braços e a face ao alto) ...Imponham as mãos aos que sofrem e
aliviem suas dores.... Consolem os desesperados e amparem as vítimas da indiferença
e da dor. Bem-aventurados sereis quando promoveres a misericórdia e a paz pois
igualmente sereis reconhecidos como filhos de Deus! (Em gargalhadas)

Cristiane: Imortalidade da alma, evolução constante através das vidas sucessivas, consolidação
do bem em nossos corações por meio de obras e atitudes: Amai-vos, eis aí a Igreja
livre em que todos os templos devem se transformar....

Erick: Que suas bases seguras se ergam aos céus de nossa consciência e faça aí brilhar os
sonhos da mais pura felicidade...

Cristiane: Eu vos dou a minha paz, eu vos deixo a minha paz, diz-nos o inesquecível Avatar!
Eu te dou o meu coração e vos deixo o meu amor para sempre!

Erick: Cristiane... eu estou apaixonado por você! (Em êxtase)

/Liane (figurino épico) vai surgindo no palco, quando Henrique aproxima, surgindo
logo a seguir/

Liane: Creia, Henrique! O verdadeiro amor quando surge em nossos corações se torna tão
imortal quanto nossas próprias almas já o são na incomensurável imortalidade de
Deus! (Vão se aproximando até consumar um beijo romântico e emocionante)

Cristiane: Eu te amo! (Sorri fazendo ligeira caricia na face do rapaz)

Erick: Eu te amo! (Sorri fazendo ligeira caricia na face da moça)

/Ambos viram para o público, sorri felizes e dizem juntos/

Erick e Cristiane: Nós amamos vocês!

/Cumprimentam o público num gesto de agradecimento final. A música invade o


ambiente de forma ampla, contagiante e completa/

Fim!

Ave-Cristo, aos vinte e sete dias do mês de fevereiro do ano da


graça do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e quinze!

QQ
Personagens:
Épicos: Ator/Atriz Atuais: Ator/Atriz Obs.
Henrick Érick
Liane Cristiane
Monsenhor Mãe-Elvira
Mãe (épico) Pai-Antonio
Valmond/Vinícius Mara
Pai-épico Dra. Mirian

Coreografias: dança; sacras com padres; incêndio épico.


Dançarino 1 Padre figurante 1
Dançarino 2 Padre figurante 2
Dançarino 3 Padre figurante 3
Dançarino 4 Padre figurante 4
Dançarino 5 Padre figurante 5
Dançarino 6
Organização e ou adequação de elenco fica a critério da direção e ou companhia de Arte responsável pela montagem.

RR

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