XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano

COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Análise da Ameaça de Deslizamento do Talude de uma Barragem

de Terra no Estado do Ceará Utilizando a Teoria dos Conjuntos
Difusos e Métodos Determinísticos e Probabilísticos
Fernando Feitosa Monteiro
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com

Renato Pinto da Cunha

Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br

Silvrano Adonias Dantas Neto

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, silvrano@ufc.br

Yago Machado Pereira de Matos

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, yago_mpm@hotmail.com

RESUMO: Por meio de uma análise de estabilidade do talude de montante de uma barragem de
terra no estado do Ceará utilizando abordagens fuzzy e probabilísticas, o presente trabalho tem o
objetivo de apresentar algumas das principais metodologias para a avaliação do risco de ruptura
considerando a variabilidade dos materiais geotécnicos em um típico cenário brasileiro onde a
disponibilidade de informações é escassa. Observa-se que a escolha da melhor alternativa deve ser
subjetiva e pode variar para cada cenário analisado. A Teoria dos Conjuntos Difusos ou Fuzzy
permite considerar as incertezas relativas aos parâmetros de resistência ao cisalhamento dos solos
que são utilizados, comumente, nas análises de estabilidade de taludes através de operações com
números fuzzy. As análises foram feitas pelo método de Bishop Simplificado (1955). Os métodos
probabilísticos adotados foram Monte Carlo e FOSM. O estudo realizado mostrou que as
metodologias que permitem considerar as incertezas dos valores adotados para os parâmetros dos
solos podem auxiliar no cálculo da ameaça intrínseca dos projetos de engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: Barragens de Terra, Estabilidade de Taludes, Incertezas, Análise

Probabilística, Lógica Fuzzy.

1 INTRODUÇÃO comportamento do solo é assumido como o de

As análises de estabilidade de taludes podem
ser realizadas por metodologias baseadas no
equilíbrio limite ou no comportamento tensão-
deformação de uma massa de solo. Usualmente,
essas análises se baseiam na Teoria do
Equilíbrio Limite admitindo que a massa de
solo se encontra em condições iminentes de
ruptura generalizada ao longo de uma superfície
preestabelecida e todos os pontos dessa
superfície possuem a mesma resistência ao
cisalhamento. De uma forma geral, o
um material rígido perfeitamente plástico
segundo o critério de Mohr-Coulomb cujos
parâmetros de resistência, normalmente,
consistem nos valores médios fornecidos por
ensaios de laboratório sem considerar sua
variabilidade intrínseca. Contudo, devido às
incertezas existentes e, principalmente, às
diferentes condições de composição dos solos,
esses dados podem, em alguns casos, não ser
representativos do material, tornando esse tipo
de abordagem, denominada determinística,
arriscada se empregada isoladamente.
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A carência de dados de campo ou de
laboratório e o conhecimento insuficiente, ou
até mesmo a falta dele, sobre os conceitos
relacionados com a variabilidade dos
parâmetros em um projeto geotécnico talvez
sejam algumas das principais causas para a
maioria dos engenheiros adotar abordagens
desse tipo.
Diante disso, o objetivo do presente trabalho
é apresentar algumas das principais
metodologias para a avaliação do risco de
ruptura de barragens de terra que permitem
considerar a incerteza e a variabilidade das
propriedades dos materiais geotécnicos em um
típico cenário brasileiro onde a disponibilidade
de informações sobre os parâmetros de projeto
do solo é escassa. Para isso, será realizada uma
análise de estabilidade do talude de montante de
uma barragem de terra no estado do Ceará
durante sua fase final de construção por meio da
Teoria dos Conjuntos Difusos e de
metodologias determinísticas e probabilísticas.
2 INCERTEZAS EM ANÁLISES DE
ESTABILIDADE DE TALUDES
Segundo Duncan (2000), existe coerência na
ideia de os fatores de segurança adotados na
prática geotécnica convencional serem baseados
na experiência. No entanto, a prática frequente
de utilizar o mesmo valor de fator de segurança
para um determinado tipo de aplicação sem
considerar o grau de incerteza envolvido em seu
cálculo é um recurso inconsistente.
Em análises de estabilidade de taludes, os
métodos mais amplamente utilizados
consideram uma abordagem determinística do
problema com base na Teoria do Equilíbrio
Limite. Nesse tipo de abordagem, as incertezas
são consideradas de modo implícito através de
um valor único e, em geral, médio o qual é
assumido como representativo de todo o talude
sem quantificar a variabilidade intrínseca dos
parâmetros.
Montoya (2013) relata que os problemas de
estabilidade de taludes com que se depara o
engenheiro são, em geral, muito complexos e as
soluções propostas normalmente apresentam
alto conteúdo de incerteza. Fenton e Griffiths
(2008) relatam que a variabilidade inerente aos
solos e rochas torna os sistemas geotécnicos
altamente suscetíveis a interpretações
estatísticas.
2.1 Métodos Probabilísticos
Guedes (1997) afirma que, normalmente, uma
análise de estabilidade de talude probabilística é
realizada admitindo um valor de fator de
segurança médio como uma função das
variáveis aleatórias e independentes, as quais
podem ser representadas pelo parâmetros
geotécnicos por exemplo. Nesse caso, a
variabilidade dos parâmetros envolvidos pode
ser retratada por curvas de distribuição normal
(Priest e Brown, 1983; Sandroni e Sayão, 1992).
Porém, Dantas Neto et al. (2016) afirmam
que uma análise de estabilidade de taludes
fundamentada somente no valor numérico do
fator de segurança pode ser arriscada e
recomendam uma avaliação em conjunto com
outras ferramentas disponíveis. Uma delas é a
probabilidade de falha que corresponde à área
sob a curva de distribuição do fator de
segurança que atende ao critério de falha, ou
seja, na região onde o fator de segurança é
menor ou igual a um.
Apesar de ser muito útil na avaliação da
segurança de taludes, a probabilidade de falha
possui o incoveniente de não oferecer um
significado tão explícito como a medida do
fator de segurança. Dessa maneira, alguns
autores (Baecher, 1982; Nielsen et al., 1994;
Wolff, 1996) propuseram alguns valores
aceitáveis de probabilidade de falha. Baecher
(1982) e Nielsen et al. (1994) declaram que
probabilidades de ruptura da ordem de 10-4
podem ser consideradas aceitáveis para o caso
de barragens. Já Wolff (1996) sugere uma
probabilidade de ruptura de 3.10-5.
As metodologias que permitem avaliar a
distribuição de probabilidades de uma variável
dependente em função do conhecimento das
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distribuições estatísticas de suas variáveis
independentes que a descrevem são definidos
como método probabilísticos (Montoya, 2013).
Entre os diversos métodos probabilísticos
existentes, pode-se afirmar que alguns dos mais,
comumente, aplicados a problemas de
engenharia são o métodos de Monte Carlos e
FOSM.
O Método da Aproximação de Primeira
Ordem da Variância – First Order Second
Moment (FOSM) – é chamado de Primeira
Ordem porque considera apenas a primeira
derivada da expansão em série de Taylor e
Segundo Momento por utilizar a variância da
função de desempenho. Harr (1987) descreve
que a ideia básica do método é expressar a
função de desempenho, o fator de segurança no
caso de estabilidade de taludes, como uma
função de diferentes variáveis aleatórias
consideradas na análise estatística. O
procedimento consiste em variar,
separadamente, cada parâmetro, avaliando-se a
variação correspondente do valor da função de
desempenho. A aproximação da derivada
parcial de cada parâmetro é obtida por meio da
razão entre a variação observada no fator de
segurança e a variação estipulada para cada
parâmetro.
O método de Monte Carlo pode ser
considerado uma metodologia mais robusta que
o FOSM por permitir a obtenção de uma
solução exata do problema dependendo de cada
caso. Assis et al. (2001) relatam que o objetivo
do método de Monte Carlo é encontrar uma
solução numérica aproximada da distribuição de
probabilidade da variável dependente (fator de
segurança), definida por uma função de
engenharia (Bishop, 1955) por meio de
amostragens aleatórias referentes a valores das
variáveis independentes (parâmetros
geotécnicos) e sucessivas avaliações da referida
função. Repetindo esse procedimento um certo
número de vezes, tem-se uma amostra de
valores discretos do fator de segurança, e,
portanto, pode-se calcular sua média e seu
desvio padrão, determinar seu histograma de
frequências e obter a distribuição de
probabilidade que apresenta o melhor ajuste.
Com o aumento do número de simulações do
método, as estatísticas amostrais (média, desvio
padrão etc.) e a forma da distribuição de
probabilidade do fator de segurança tenderão
para o valor populacional, isto é, a solução pode
ser considerada exata.
2.2 Teoria dos Conjuntos Fuzzy
O tratamento de informações imprecisas e
incertas pode ser feito pela Teoria dos
Conjuntos Fuzzy que permite considerar um
conjunto de valores possíveis para a
representação de uma grandeza. Essa teoria,
idealizada por Zadeh (1965), admite que uma
certa grandeza pode assumir um conjunto de
valores possíveis ao invés de um valor único.
Esse conjunto de valores é definido por uma
função que atribui a cada valor dessa grandeza
um grau de pertinência que varia entre zero e
um. Essa função é conhecida como função de
pertinência e relaciona os valores de uma
variável e seus respectivos graus de pertinência.
Existem vários tipos funções de pertinência,
como ilustra a Figura 1. Normalmente, as
funções apresentam uma parte onde o grau de
pertinência é crescente e outra onde ele decresce
com o aumento do valor da variável.
Ganoulis (1994) afirma que o uso da Teoria
dos Conjuntos Fuzzy é, especialmente, útil
quando o número de dados disponíveis não é
suficiente para caracterizar a incerteza por meio
da Teoria das Probabilidades. Realizando uma
comparação entre a Teoria dos Conjuntos Fuzzy
e a Teoria das Probabilidades, Ganoulis (1994)
declara que os números fuzzy são equivalentes
às variáveis aleatórias enquanto as funções de
pertinência correspondem às funções de
densidade de probabilidade (Figura 2).
Entretanto, a maneira como os conjuntos fuzzy
se associam é distinta das regras básicas da
aritmética da Teoria das Probabilidades,
fazendo com que as soluções a partir de cada
uma das teoria sejam incomparáveis do ponto
de vista formal. Essa diferença de cálculo torna
as duas metodologias perpendiculares entre si,
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ao invés de paralelas.
Figura 1. Exemplos de funções de pertinência mais
frequentes (Silva, 2015).
Figura 2. Comparação entre Teoria das Probabilidades e
Teoria dos Conjuntos Fuzzy.
Quando representados na forma de intervalos
para cada grau de pertinência considerado, os
conjuntos fuzzy podem ser, aritmeticamente,
manipulados, utilizando regras da Matemática
Intervalar. Silva (2015) e Dantas Neto et al.
(2016) fornecem uma descrição detalhada sobre
a representação e as operações com conjuntos
fuzzy para problemas de análise de estabilidade
de taludes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A barragem analisada está localizada no
município de Aquiraz, no estado do Ceará.
Litologicamente, ocorrem na sua região de
implantação gnaisses do Complexo Caicó,
material areno-argiloso do Grupo Barreiras e os
Aluviões. A área é recoberta por, praticamente,
95% do material areno-argiloso do Grupo
Barreiras com horizontes silte-arenosos à argilo-
arenos-pedregulhoso com fragmentos de seixos
de quartzo. A unidade de gnaisse do Complexo
Caicó se apresenta como solos altamente
diagenizados sem conservar as características da
rocha de origem, com profundidade variando de
2 a 9 m e com coloração cinza clara. Os
Aluviões estão restritos ao leito do Riacho Catu
e a alguns córregos auxiliares com espessura
variando, de um modo geral, entre 2 e 5 m
(SRH, 1998).
3.1 Estudos Geotécnicos
Baseando-se nos estudos técnicos e
econômicos, a análise das alternativas para o
barramento selecionou o arranjo geométrico
apresentado na Figura 3. A seção transversal
típica da Barragem Catu possui inclinações
suaves de 1(V):2(H) para os taludes de
montante e de jusante e altura aproximada de 16
metros. O maciço é constituído de um solo de
alteração de origem gnáissica proveniente das
escavações do vertedouro. Esse solo é
caracterizado como areia argilo-siltosa de
granulometria variada e com pedregulhos
constituídos de quartzo, feldspato e mica.
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Figura 3. Seção típica da Barragem Catu.
Os parâmetros de resistência do maciço
foram obtidos por meio de cinco ensaios de
cisalhamento direto realizados no material da
jazida de acordo com as condições de
compactação da obra. No que diz respeito aos
solos residual e de fundação, seus parâmetros
foram estimados por correlações com o NSPT
(Tabela 1).
Tabela 1. Parâmetros médios dos solos analisados.
Maciço Solo residual
g (kN/m³) f' (º) c' (kPa) g (kN/m³) f' (º)
17,6 27,4 6,4 18,5 30
Todas as análises foram realizadas para a
fase final de construção da barragem,
considerando a mesma superfície potencial de
ruptura, cuja configuração foi obtida pelo
método de Bishop Simplificado (1955)
empregando uma abordagem determinística do
problema. Para o tratamento da variabilidade
das propriedades dos materiais geotécnicos,
foram utilizados a Teoria dos Conjuntos
Difusos e os métodos probabilísticos de Monte
Carlo e FOSM.
3.2 Abordagem Determinística
A obtenção da superfície crítica do talude de
montante da Barragem Catu na sua fase final de
construção foi feita com auxílio do software
Slide (Figura 4) por meio do método de Bishop
Simplificado (1955). É importante observar que
a superfície crítica não passou pelo solo de
fundação..
Figura 4. Superfície potencial de ruptura do talude de
montante por Bishop Simplificado (1955).
O fator de segurança obtido foi de 1,416 para
a superfície com raio de 45 m aproxidamente.
Avaliando esse resultado, verifica-se que,
segundo USACE (2003), o talude de montante
Solo fundação
da barragem analisada pode ser considerado
c' (kPa) g (kN/m³) f' (º) c' (kPa)
estável para a fase final de construção.
0 18,5 30 0
3.3 Abordagem Probabilística
Para os métodos probabilísticos, devido à
pequena quantidade de dados consistentes
relativos aos parâmetros geotécnicos dos
materias da barragem, optou-se por utilizar
valores usuais de coeficiente de variação (CV)
para determinar o desvio padrão de cada uma
das propriedades dos solos. Ou seja, CV de 3%
para o peso específico, CV de 10% para o
ângulo de atrito efetivo e CV de 40% para a
coesão efetiva.
As análises foram feitas considerando a
mesma superfície crítica fornecida pelo método
de Bishop Simplificado (1955) na abordagem
determinística.
3.3.1 Método FOSM
As variações nas propriedades dos solos, as suas
respectivas contribuições relativas e o índice de
confiabilidade () estão apresentados na Tabela
2. Seguindo as sugestões de Farias e Assis
(1998) sobre a adoção de incrementos entre 5 e
15% nos parâmetros dos solos, optou-se por
utilizar incrementos de 10% para a
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determinação da variância do fator de Ficou evidenciado que, com o aumento do

segurança, cujo valor médio usado foi de 1,416. número de simulações, ocorreu a estabilização
As contribuições relativas no fator de dos valores da média e do desvio padrão do
segurança foram determinadas por novas fator de segurança, condição que valida os
análises de estabilidade considerando as resultados do método.
respectivas variações de cada parâmetro Contrariando o resultado da abordagem
individualmente. determinística, o método de Monte Carlo
mostrou a possibilidade de ruptura do talude da
Tabela 2. Resultados do método FOSM. barragem. Evidentemente, esse fato deve estar
( d FSi/ d Xi)² Contribuição
Solo Parâmetro Xi d Xi d FSi V [Xi]
. V [Xi] (%)
relacionado com a desconsideração da
g (kN/m³) 17,60 1,76 -0,019 0,28 0,0000 0,12 variabilidade dos parâmetros geotécnicos na
Maciço f (o) 27,40 2,74 0,133 7,51 0,0177 67,05 análise determinística convencional.
c (kPa) 6,40 0,64 0,023 6,55 0,0085 32,08
g (kN/m³) 18,50 1,85 0,002 0,31 0,0000 0,00
Residual f (o) 30,00 3,00 0,014 9,00 0,0002 0,74 3.4 Abordagem Fuzzy
c (kPa) 0,00 0,00 -0,089 0,00 0,0000 0,00
V [FS] = 0,0264 100
Por não necessitarem da definição de medidas
estatísticas padrões, como média e desvio
3.3.2 Método de Monte Carlo padrão, para caracterizar a incerteza do
problema, os cálculos pela Teoria dos
Buscando a estabilização dos valores da média Conjuntos Difusos consideraram os resultados
e do desvio padrão do fator de segurança, foram dos ensaios de cisalhamento direto do maciço e
realizadas análises com 1000, 10000, 100000, as correlações com o NSPT do solo residual da
1000000 e 10000000 números de simulações, (Tabela 4) para construção das funções de
variando os cinco parâmetros geotécnicos da pertinência dos parâmetros desses materiais
barragem (três do maciço e dois do solo (Figuras 5 e 6). É válido ressaltar que, como a
residual) que constituem o cálculo do fator de superfície crítica não passou pelo solo de
segurança para a superfície crítica fundação, não foram consideradas suas funções
preestabelecida. de pertinência nas análises.
Os cálculos consideraram as medidas de
desvio padrão obtidas pela relação entre a média Tabela 4. Parâmetros dos solos considerados na
e o coeficiente de variação relativo a cada uma abordagem fuzzy.
das propriedades dos solos. Como ilustra a Maciço Solo residual
Tabela 3, foram adotados valores relativos (Cisalhamento direto) (SPT)
mínimo e máximo iguais ao dobro do desvio g (kN/m³) f' (º) c' (kPa) g (kN/m³) f' (º) c' (kPa)
17,4 26,2 7,8
padrão estimado. Além disso, foi considerado
17,2 28,2 5,9
que todos os parâmetros possuíam curvas de 17,7 29,0 5,9 18,5 30,0 0,0
distribuição normal com nível de confiança de 17,8 28,0 5,4
95%, o que equivale a um intervalo de dois 17,7 25,6 6,9
desvios padrão.

Tabela 3. Resultados do método de Monte Carlo.

Número de Simulações E [F] s[F] FSmín. FSmáx.

1000 1,43 0,141 1,064 1,848

10000 1,43 0,141 1,021 1,867
100000 1,43 0,141 0,984 1,902
1000000 1,43 0,141 0,989 1,898
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(a) Peso específico pelo método de Bishop Simplificado (1955)

respeitando as regras de operação entre números
fuzzy (Zadeh, 1965).

(b) Ângulo de atrito efetivo

Figura 7. Função de pertinência para o fator de segurança.

Finalmente, como o fator de segurança

(c) Coesão efetiva
Figura 5. Funções de pertinência dos parâmetros do
maciço.
(a) Peso específico
(b) Ângulo de atrito efetivo
Figura 6. Funções de pertinência dos parâmetros do solo
residual.
Em seguida, com as funções de pertinência
de cada parâmetro definidas, foi realizado o
cálculo do fator de segurança fuzzy (Figura 7)
obtido ainda consiste em um conjunto fuzzy,
faz-se necessário convertê-lo em um número
real que represente esse conjunto. Dessa forma,
considerou-se o fator de segurança igual ao
centro geométrico do trapézio da Figura 7 que
equivale ao valor de 1,437.
Todavia, apesar de ser relevante, considerar
somente os resultados dos fatores de segurança
em uma análise de estabilidade de taludes pode
ser arriscado. Por isso, a Figura 8 apresenta uma
ferramenta interessante para facilitar a tomada
de decisões sobre a situação da barragem, a
probabilidade de falha.
Na abordagem fuzzy, a probabilidade de
falha corresponde à relação entre a área total da
do fator de segurança fuzzy (trapézio) e a área
desse mesmo conjunto limitada até um valor
assumido como crítico (Ganoulis, 1994). Nesse
caso, onde o fator de segurança é menor que
um.
Os resultados do método de Monte Carlo
permite a determinação da probabilidade falha
de forma direta. No entanto, como o FOSM não
fornece a distribuição de probabilidade do fator
de segurança, seria necessário assumir um tipo
de distribuição de probabilidade para o cálculo
da probabilidade de falha. Para fins de
comparação, foi atribuída uma curva de
distribuição normal segundo os valores de
média e desvio padrão obtidos pelo FOSM.
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Figura 8. Valores de probabilidade de falha do talude de
montante da Barragem Catu.
Observou-se que as metodologias
fundamentadas na Teoria das Probabilidades
indicaram probabilidades de falha de 0,11% e
0,52%, respectivamente, para os métodos de
Monte Carlo e FOSM, resultados acima dos
valores sugeridos por Baecher (1982), Wolff
(1986) e Nielsen et al. (1994). Por outro lado, o
cálculo realizado por meio da Teoria dos
Conjuntos Fuzzy apresentou uma probabilidade
de ruptura nula. Refletindo sobre as orientações
de Ganoulis (1994), acredita-se que, por serem
menos sensíveis ao número de dados
disponíveis dos solos, os resultados obtidos pela
abordagem fuzzy seriam mais condizentes com
a realidade da barragem avaliada. Contudo, a
escolha do melhor resultado deve ser feita
sempre de acordo com o relatório de inspeção
de segurança regular da barragem.
Por fim, o principal objetivo do presente
trabalho foi apresentar algumas das principais
metodologias para a avaliação do risco de
ruptura de barragens de terra que permitem
considerar a variabilidade das propriedades dos
materiais geotécnicos em um típico cenário
brasileiro onde a disponibilidade de
informações é escassa. A escolha da melhor
alternativa deve ser subjetiva e pode variar para
cada cenário analisado. Entretanto, entende-se
que, na Engenharia Geotécnica, qualquer
recurso disponível que considere a variabilidade
intrínseca das propriedades dos solos, quando
aplicada de maneira adequada, seria mais
recomendado do que apenas uma abordagem
determínistica convencional do problema.
4 CONCLUSÕES
Por meio do presente trabalho foi possível
apresentar algumas das principais metodologias
para a avaliação do risco de ruptura de
barragens de terra que permitem considerar a
incerteza e a variabilidade das propriedades dos
materiais geotécnicos em um típico cenário
brasileiro onde a disponibilidade de
informações sobre os parâmetros de projeto do
solo é escassa.
Contrariando o resultado da abordagem
determinística, ficou evidenciado que as
metodologias fundamentadas na Teoria das
Probabilidades indicaram probabilidades de
falha acima dos valores sugeridos por Baecher
(1982), Wolff (1986) e Nielsen et al. (1994).
Porém, o cálculo realizado por meio da Teoria
dos Conjuntos Fuzzy apresentou uma
probabilidade de ruptura nula. A escolha do
melhor resultado deve ser feita sempre de
acordo com o relatório de inspeção de
segurança regular da barragem.
Por fim, entende-se que, na Engenharia
Geotécnica, qualquer recurso disponível que
considere a variabilidade intrínseca das
propriedades dos solos, quando aplicada de
maneira adequada, seria mais recomendado do
que apenas uma abordagem determínistica
convencional do problema. A utilização
associada de diferentes abordagens – fuzzy,
probabilística e determinística – pode auxiliar
na avaliação dos requisitos de segurança de
barragens, a fim de tornar os riscos envolvidos
mais perceptíveis.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFC pela licença do
software Slide e ao CNPq pelo apoio financeiro
e concessão de bolsas.
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Encostas, COBRAE, vol. 2, 523-536.

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